1 Latvija3 - a história como referencial teórico para a
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1 Latvija3 - a história como referencial teórico para a
Latvija3 - a história como referencial teórico para a criação de um gamearte4. Carlos C. Praude1 Fábio Liborio Rocha2 Resumo: O texto investiga como um olhar sobre a História da Europa Medieval da região do Mar Báltico, pode contribuir para a composição de um repertório de elementos que possam ser utilizados no desenvolvimento de um gamearte. Analisando aspectos linguísticos e antropológicos em contraste com interesses econômicos, que se desdobraram em guerras e disputas territoriais, entre os séculos XII e XV, na região da atual Letônia, estabelecemos uma pesquisa qualitativa, acerca de informações históricas, visando a identificação de atores, objetos e eventos para a definição do objeto proposto. Palavras-chave: estéticas tecnológicas, estética informacional, história, Letônia, gamearte. Introdução A motivação para o desenvolvimento deste trabalho surgiu à partir de interesses comuns que ambos pesquisadores compartilham sobre a região da Letônia5. Inicialmente definimos que o objetivo deste trabalho seria a identificação de fatos históricos, atores e objetos que poderiam servir para a criação de um roteiro e um repertório de elementos para a criação de um jogo digital relacionado com fatos históricos. O planejamento da revisão da literatura, conduziu um estudo etnológico, investigando, por meio da identificação de palavras-chave, a existência de textos históricos, concentrados entre os séculos XII e XV, contendo referências aos nomes Riga e Letônia além dos termos ―Países Bálticos‖, ―Cavaleiros Teutônicos‖ e ―Cavaleiros da Espada‖. Partindo do cenário geral que João Janis Praude6 (1994) apresenta sobre a Letônia, estabelecemos um recorte histórico para o desenvolvimento deste trabalho. Praude nos recorda que, desde a remota antiguidade, a Letônia foi habitada por povos pacíficos e agricultores, conhecidos como Semigalos e Letigalos. Em suas resenhas, Praude enfatiza o período do século XIII, quando a Letônia foi invadida pelos Cavaleiros Teutônicos, sob o pretexto de que seu povo era pagão. Destacando que, o verdadeiro motivo, era a intenção de se apossarem das terras férteis e dos melhores portos do Mar Báltico, Praude conclui que, após longa e inútil resistência, as clavas e os escudos de madeira dos Letos não suportaram às armas e às inúmeras investidas dos Cavaleiros Teutônicos (Figura 2) protegidos por resistentes armaduras de ferro. Praude resume que, aos poucos, através de promessas, batismos e traições, os invasores dominaram a região, que passou, sob domínio alemão, a ser conhecido como o Grão Ducado da Curlândia e Livônia. Introduziram um sistema 1 feudal nos padrões alemães e seus habitantes perderam suas terras, direitos e liberdades. Países vizinhos, sobretudo a Rússia, cobiçavam os portos marítimos e, nesse sentido, a região foi invadida inúmeras vezes pelos russos, suecos, lituanos e poloneses, sendo retomada, sucessivamente, por meio de guerras ou tratados articulados pelos barões alemães. Contextualização histórica O território da Letônia foi inicialmente populado por volta de 9000 a.C. Seus ancestrais Indo-europeus estabilizaram-se na costa leste do Mar Báltico cerca de 3000 a.C. e, ao longo da história, negociaram ornamentos de âmbar com os Gregos e com Império Romano (MCEVEDY, 1973). A partir de 638 d.C., com o estabelecimento, pelo ducado da Baviera, de um protetorado englobando os eslavos, na fronteira norte, desencadeou-se um movimento que resultou, em 758 d.C. Num movimento que abriu uma fenda entre os eslavos do sul e a maioria das tribos eslavas. Por volta de 825, os suecos, que já colonizavam a região do Mar Báltico desde há um século, estabeleceram-se no coração do território eslavo, com principados em Novgorod e Kiev, levando ao ―abandono das colônias escandinavas no golfo de Riga, menos vantajosas (MCEVEDY, 1990, p.50). Durante os séculos XII e XIII, o feudalismo se expandiu por toda Europa e a Letônia foi conquistada por organizações militares das cruzadas, a Ordem Teutônica e os Cavaleiros da Espada, que, por meio da força, perseguiram as tribos pagãs do Mar Báltico (ANDERSON, 1989). Florestas foram removidas, o cultivo de cereais foi disseminado e um considerável comércio de exportação de madeira foi desenvolvido, estimulando a colonização e o crescimento das cidades e dos entrepostos ao longo da costa do Mar Báltico no século XIII. Centros urbanos como Riga, atual capital da Letônia, ―eram comunas independentes e turbulentas, com um próspero comércio exportador e animada vida política‖ (ANDERSON, 1989, p. 233). Em 1212, a ―Germânia transformou-se numa vaga federação de magnatas que o imperador não conseguia comandar, sobretudo nas fronteiras, onde o império estava ainda em expansão‖ (MCEVEDY, 1990, p. 72). Nesse sentido, a guerra travada contra a Dinamarca, assim como o avanço para o leste, eram ações dirigidas por forças locais. Estas situações eram incentivadas pelo Império Germânico e ―os Cavaleiros da Espada (uma organização permanente de cruzados na linha dos Templários e de outras ordens7 que se desenvolveram no Oriente) tomaram Riga em 1201‖ (idem). A figura 01 (anexo), apresenta a configuração da região em torno da cidade de Riga sob o domínio dos Cavaleiros da Espada por volta de 1212. A partir do século XII, os principados russos passaram a enviar suas exportações para o Mar Báltico, que, ―não só era veículo do comércio russo, como fornecia pescarias mais ricas do que as do mar do Norte; e como o peixe era um alimento obrigatório para os cristãos medievais, ocupava o 2 segundo lugar no mercado nórdico, logo a seguir à lã‖ (MCEVEDY, 1990, p. 76). Atendendo ao apelo de Conrado de Mazóvia, em 1226, os Cavaleiros Teutônicos conquistaram e colonizaram a Prússia, fundando cidades povoadas por alemães em pontos estratégicos e massacrando a população resistente à evangelização. Implantando grupos urbanos compactos e com a evangelização forçada, o crescimento demográfico alemão permitiu uma colonização maciça (DELORME, 1969). A faixa germânica do comércio ao longo do Mar Báltico prosperou-se rapidamente, tornando-se a mais importante e incentivando a criação de novas cidades alemãs mais para o leste, sobretudo nas regiões dominadas pelos Cavaleiros da Espada e pelos abades Cavaleiros Teutônicos, fundados segundo a versão da historiadora Espinosa (1981, p.292) ainda em setembro de 1122 d.C. Em 1230, os cruzados germanos, os Cavaleiros da Espada, avançaram ao longo do rio Daugava. Em 1237 o principado da Lituânia, que havia resistido sozinho aos Cavaleiros da Espada, agora incorporados aos Cavaleiros Teutônicos, protegeram os russos do noroeste (MCEVEDY, 1990, HEERS, 1977). As conquistas realizadas pelos Cavaleiros Teutônicos abriram acesso ao Mar Báltico, tornando o grão-mestre da Ordem, membro da Hansa8, o mais rico mercador de cereais do Mundo. ―A partir de 1280, os seus cereais chegavam ao Oriente em quantidades cada vez maiores, provocando uma enorme descida dos preços‖ (MCEVEDY, 1990, p. 92) . O grão-mestre da Ordem, negociava em âmbar, o mais antigo dos bens do Báltico. Em contrapartida, a Rússia e os estados do Báltico importavam têxteis. Em 1411, a batalha de Tannenberg marcou o ápice de duzentos anos de guerra entre os alemães, eslavos e bálticos, onde os Cavaleiros Teutônicos foram derrotados pelo exército conjunto da Lituânia e Polônia. Os Cavaleiros Teutônicos conquistaram a simpatia do Ocidente, que os ―considerava como cruzados abnegados num país pagão – opinião que seria já ingênua relativamente às primeiras empresas dos Cavaleiros, mas bastante absurda no início do século XV‖ (MCEVEDY, 1990, p. 86). Pressões diplomáticas exercidas sobre os conquistadores culminaram em um processo de paz, restando-lhes apenas a última província que tinha sido usurpada. A partir de 1430, a Lituânia passa a fazer parte da Polônia, e esta, apesar de ter esmagado os Cavaleiros Teutônicos na derradeira batalha, em 1466, não os eliminou completamente, deixando ―indício da sua fraqueza, e viria mais tarde a ser esmagada entre alemães e russos (MCEVEDY, 1990, p. 88). Sobre o povo Letão As fontes históricas sobre o povo Letão são bastante escassas. Elas emergem dos estudos antropológicos e históricos com imagens contraditórias. A Letão é classificado antropologicamente como um Ente de cultura Eslava, mas tal distinção é por demais genérica, descrita por exemplo na obra do filósofo Hans Joachim Störig com um pouco mais de profundidade e pelo antropólogo James Frazer com uma imparcialidade 3 longe do etnocentrismo. Assim, somado a este lugar cultural linguístico, existia a forte tradição histórica, mesmo erroneamente enciclopédica, de classificar em caráter homogêneo as culturas, como se toda sociedade não fosse constituída pelas heterogeneidades que hoje conhecemos e aceitamos de bom grado. Deste modo, a sociedade medieval europeia é constituída por germanos e eslavos, por celtas e judeus, que conviviam juntos durante mil anos na mesma Europa; na velha Europa e na nova, atual. No que tange etnicamente na Europa Oriental, ou mais especificamente na região marítima do Mar Báltico, tal fenômeno se entroniza e se repete, antropofagicamente, na medida em que novos atores são incorporados a cena cultural de uma específica nacionalidade – os Letões da Letônia – etnia predominantemente eslava que será no presente artigo investigada como uma sociedade complexa, em dialogismo cultural. Como dizia Fernando Pessoa (2011, p. 358), ―minha pátria é a língua portuguesa‖; e na língua dos Letões se encontram todos os fenômenos culturais ancestrais disponíveis aos estudos culturais atualizados. Assim, devemos dividir nosso estudo em três etapas: a primeira será linguística, a segunda deverá ser antropológica, e a terceira finalmente será econômica, porque ali entenderemos o porque da Igreja medieval perseguir os Letões em nome de uma conversão forçada em uma religiosidade que era completamente desconhecida para esta cultura tão rica e específica, em meados do ano de 1100 d.C. da Europa Medieval da região do Mar Báltico. 1. Sobre a fenomenologia linguística do idioma Letão. Um bom enigma para o historiador bem como para o antropólogo, é a busca por uma etnografia que explique a cultura dos Letões. Assim a questão linguística nos revela uma universalidade da família humana, se levarmos em consideração que o idioma Letão é um ramo eslavo do indoeuropeu tal qual o português e o alemão. Assim, segundo o filósofo Hans Joachim Störig (1990, p.42), o verbo do idioma português ―trazer‖ possui uma matriz sânscrita oriunda de ―bharami‖ que é semelhante ao eslavo ―bera‖ e ao antigo alemão ―biru‖. Estamos aqui ainda falando da grande matriz indo-europeia, mas devemos nos aprofundar no idioma eslavo. Assim, o idioma Letão é considerado por Störig (1990, p.49), como um grande corpus das línguas bálticas arcaicas ―(...) Porque conservam, mais fortemente que outras, determinadas características da pré-história do indo-europeu (...)‖. O Letão é portanto uma língua arqueológica viva, uma variante do idioma Lituano, praticamente tão antiga como o sânscrito da Índia, ou seja com mais de cinco mil anos, um importante prodígio de longevidade, pois línguas mais conhecidas como o latim de Cícero ou a Koiné do Grego antigo, por exemplo, já são consideradas línguas mortas. O Letão é um idioma que é uma variação da língua falada em outro país – a 4 Lituânia -, que apresenta varias vogais longas, entonações especiais que não são indicadas na forma escrita. O Letão por questões geográficas é também considerado uma língua báltica e é dentro da grande família indoeuropeia, comum em origem às línguas eslavas e germânicas. Como forma de apresentação do idioma, segue abaixo, um poema de Vizma Belsevica (2011): Miers Es saku – nu man beidzot ir labi. Bet roze asiņu asaras raud. Ko tur aizskalo ziedlapu sarkanais strauts? Es nezinu. Man ir labi. Es saku – nu man beidzot ir miers. No rozes palicis tikai kāts Un putekšņi sirmi. Vai maz raudāja kāds? Es nezinu. Man ir miers. Es saku – es negaidu vairs neko. Cik tāds pelēkums lēns un maigs. Mēmi akmeņi. Aizmidzis laiks. Es negaidu vairs neko. Mana pasaule sadilst un izplēnē. Es pasmaidu klusi – tik vien... Tu man iziesi cauri kādudien Un nepamanīsi to. Tas būs labi. E sua respectiva tradução para o português: Paz Eu digo, finalmente tudo está bem. Mas a rosa está chora pétalas de sangue. O que aquele fluxo vermelho lava? Eu não sei. Tudo está bem. Eu digo, finalmente, eu estou em paz. Tudo o que restou da rosa é apenas um tronco e um monte de pólen cinza. Derramaram lágrimas? Eu não sei. Eu estou em paz. Eu digo, eu não espero nada. Este cinza tão lento e suave. Pedras silenciosas. O tempo dorme. Não espero nada. Meu mundo se estreita à deriva Um sorriso em silêncio, nada mais. Um dia você passará por mim e não perceberá. 9 Então tudo estará bem. 5 2. Sobre uma interpretação antropológica cultural dos Letões. Todos os historiadores que se debruçam sobre a religiosidade e a mitologia dos Eslavos medievais sabem que a grande divindade daquela cultura se chamava ―Novak”. Ocorre no entanto que a divindade máxima dos Letões se chamava ―Jurasmat‖– uma divindade protetora dos letões eslavos; que é traduzida para o português como a "Mãe do Mar". Adorar uma deusa feminina das águas tal qual uma Iemanjá africana ou uma Oxum, deve ser interpretado como algo cultural, como dizia o antropólogo americano Clifford GEERTZ (2002, p.13): ―[...] Se a interpretação antropológica está construindo uma leitura do que acontece, então divorciá-la do que acontece — do que, nessa ocasião ou naquele lugar, pessoas específicas dizem, o que elas fazem, o que é feito a elas, a partir de todo o vasto negócio do mundo — é divorciá-la das suas aplicações e torná-la vazia. Uma boa interpretação de qualquer coisa — um poema, uma pessoa, uma estória, um ritual, uma instituição, uma sociedade — leva-nos ao cerne do que nos propomos interpretar [...].‖ Isto porque como vemos em nosso mapa anexado neste artigo, a Letônia é banhada pelo Mar Báltico; assim, o mar é parte de tal natureza cultuada. Certamente, o antropólogo James Frazer (1981, p.338) foi o pesquisador que insistiu na interpretação mais imparcial ao tratar o paganismo letão em termos culturais, de culto à natureza como podemos observar na descrição abaixo: ―[...] Dados los principios de la magia homeopática o imitativa, podría pensarse que cuanto más alto subiesen los brahmanes al columpiarse, más alto crecería el arroz, pues la ceremonia se describe como un festival de recolección y el columpio es practicado por los letones de Rusia con la intención declarada de influir en el crecimiento de las mieses. En la primavera y a princípios de verano, entre la Pascua de Resurrección y el día de San Juan (solsticio de verano), se dice que todos los rústicos letones dedican sus horas de ocio a columpiarse diligentemente; cuanto más alto se eleven por los aires, más alto crecerá el lino en dicha estación [...].‖ 6 Tal concepção de culto à natureza levou a Igreja medieval europeia a atacar os Letões na temporada de caça anual, no verão. Durante trezentos anos, o braço armado da Igreja chamado de Cavaleiros Teutônicos atacaram os Letões. O objetivo era a da conversão forçada ao cristianismo. A Ordem dos Cavaleiros Teutônicos foi fundada em 1224 pelo Papa Inocêncio III, com o objetivo de acompanhar os cruzados em Jerusalém, mas foram emprestados ao rei da Polônia, Conrado de Mazóvia. Assim começa uma batalha secular para anexar o reinado Letão, inclusive por questões estratégicas militares do Mar Báltico e por questões econômicas. Deste modo, quando os Cavaleiros Teutônicos anexam a Prússia, a Letônia é anexada em conjunto. Delorme (1969, p.180) nos explica tal processo: ―[...] A Prússia é apenas um dos domínios onde se desenvolve a expansão germânica no século XIII, mas ela ilustra os métodos empregados: implantação de grupos compactos, sobretudo urbanos, e evangelização forçada. O crescimento demográfico alemão por si só permitiu esta colonização maciça [...].‖ Por outro lado, a Ordem dos Cavaleiros da Espada, ordem com um propósito semelhante ao dos Cavaleiros Teutônicos tomaram posse apenas da Letônia e de sua capital Riga, como podemos entender segundo as fontes de Perry Anderson (1989, p.232) e do atlas de Colin McEvedy (1990), o qual anexamos um mapa ilustrativo (ver anexo). Tal concepção do mundo rural euforizante e excludente, foi um dos problemas levantados pelo trabalho de James Frazer (1981); são os chamados cultos agrários que mesmo Carlo Ginzburg (1998, p.62) já havia estudado em sua obra Os Andarilhos do Bem como vemos a seguir: ―[...] Trata-se de um vínculo ulterior entre os benandanti que saem à noite, ‗em espírito‘, ara ver os mortos e os benandanti que saem ‗em espírito‘ para combater contra os feiticeiros pelas colheitas [...].‖ 3. Sobre a questão macroeconômica interregional da Letônia. O historiador inglês Perry Anderson (1989, p.233) nos relata que a capital da Letônia, a cidade de Riga estava incluída em um novo padrão de crescimento do século XIII. Ele diz: ―[...] O crescimento das cidades e dos entrepostos de comércio ao longo da costa do Báltico no século XIII – Rostock, Dantzig, Wismar, Riga, Dorpat e Reval. Estes centros urbanos eram comunas independentes e turbulentas, com um próspero comércio exportador e animada vida política [...].‖ ( o grifo é nosso). 7 Devemos nos lembrar que o Mar Báltico é uma região rica na produção de joias de âmbar. O âmbar é uma resina fóssil muito usada para a manufatura de objetos ornamentais. Embora não seja um mineral, às vezes é considerado e usado como uma gema. Sabe-se que os pinheiros cuja resina se transformou em âmbar viveram há milhões de anos em regiões de clima temperado, que além de objeto cultuado como mágico por germanos e eslavos pagãos, tinha um valor altíssimo na Idade Média para a produção de joias, existam também outros produtos de alto valor econômico. A região do Mar Báltico fornecia arenque salgado, joias de ouro e prata e seda. O peixe era para toda a Europa nos dias santos que tinham abstinência de carne para os cristãos. No século XIII, muitas cidades dominadas pelos Cavaleiros Teutônicos pertenciam a Hansa, uma Liga comercial composta de ricas cidades mercantis do Mar Báltico, centralizada na Alemanha, mas com ramificações dos países vizinhos, que se tornou proeminente nesta época. Na ilha de Gotland, o porto de Visby com armazéns de alvenaria era um importante destes entrepostos do reino da Suécia com comboios de navios de grande porte e guindastes que içavam as mercadorias. Considerações finais O filósofo Max Bense (1971), considera que o processo de criação de um objeto artístico depende de um repertório de elementos materiais, o qual é seletivamente realizado por meio de um código de determinação semântica, capaz de proporcionar a comunicação, em um sistema portador de estados estéticos. Os instantes criativos são atingíveis por meio de processos seletivos. Bense (idem) postula que na produção de um objeto artístico, a passagem da distribuição dos elementos materiais de um repertório para o produto ocorre em um processo seletivo que se caracteriza também como um processo comunicativo. Estados estéticos são ―estados de ordem‖10 que ocorrem em um repertório de elementos materiais que podem encontrar-se em estado de desordem caógena ou em estado de ordem pré-definida. O autor caracteriza os casos extremos da ordem em caógena, regular e irregular11. Na primeira, os elementos materiais se encontram em estado de mistura máxima. Na segunda, ocorre uma repartição estrutural segundo uma sintaxe, uma regra, que organiza o conjunto de elementos em um modelo. Na última, há uma modelagem que permite que o conjunto de elementos materiais seja interpretado como um sistema de decisões que o classifica de forma singular (idem). Os estados estéticos, que podem ser observados nos objetos artísticos e na natureza, por meio de classes de signos, são caracterizados pela estética informacional, que opera com meios semióticos e matemáticos (BENSE, 1971). Neste sentido, a estética informacional, que agrega conhecimentos da teoria da informação e dos sistemas, foi concebida como uma estética objetiva e material, operando não com sentidos especulativos, mas sim com meios racionais, com interesse primário no objeto e na sua relação com aquele que interage com a obra. Dessa forma, o foco não se concentra em torno de uma ―estética do gosto‖, mas sim em uma ―estética 8 da constatação‖, onde os estados estéticos, seus repertórios e portadores são descritos de forma objetiva na linguagem abstrata de uma teoria geral empírica e racional. Nesse sentido, apresentamos, ao longo deste estudo, um repertório de itens, fatos históricos e uma compilação de entidades relacionadas a uma cultura. A seguir, propomos uma estética da constatação, onde a modelagem do objeto artístico considere conjuntos de elementos materiais que possam ser interpretados e classificados por meio de características inerentes a cultura e a língua. Vimos então que a resistência de um povo se manifesta também pela língua, sobretudo para uma nação que viveu mais de 400 anos de guerra ininterrupta com os Cavaleiros Teutônicos. A grande vitória é linguística pois a Ordem dos Cavaleiros Teutônicos foi extinta ainda no século XV e os Letões hoje são povos livres que ainda falam seu importante e antigo idioma neste século XXI; há uma vitória linguística. Segundo Dominique Maingueneau (1989, p.55), não existe a necessidade de respaldo exterior para um discurso que pertença a um grupo que não é geral (germânico, russo, céltico) e sim restrito (letão, báltico, eslavo, em termos de autonomia cultural regional). Ou seja, segundo Maingueneau (1989), não existe igualmente a necessidade de apoio externo para que um discurso específico (neste caso, o católico dentro de um reino ariano) se propague com êxito. O apoio externo não interfere no funcionamento do grupo em questão. O discurso se propaga quando há coesão interna, ouvidos – e os Letões ouviam o idioma Letão, suas canções e poesias e isto por si basta para manter uma cultura viva em oralidade (Figura 4), na medida em que as instituições jurídicas e linguísticas sempre serão as mais antigas de um povo coeso, em tempos de guerra e de ocupação forçada. Assim, para Pierre Bourdieu (1994, p.166) a dominação linguística pelo uso da força, tal como observamos delegada aos habitantes da Letônia pelos Germanos medievais (povos que viviam na época na atual Alemanha), deve ser entendida pelo conceito bourdieusiano de ―dominação linguística‖, nestes termos demonstrados abaixo: ―[...] É um artefato que, universalmente imposto pelas instâncias de coerção linguísticas, tem uma eficácia social na medida em que funciona como norma, através da qual se exerce a dominação dos grupos. Detendo os meios para impôla como legítima, os grupos detêm, ao mesmo tempo, o monopólio dos meios para dela se apropriarem [...]‖. Logo, nós educadores da arte quais podemos produzir o lúdico tanto no filme, como nos jogos digitais, devemos nos preocupar com a questão linguística para que as gírias e as novas formas de comunicação verbais, não sejam omitidas no idioma português, pois é sempre mais democrático permitir outras formas linguísticas sempre atreladas aos diferentes grupos sociais. O idioma Letão, como vimos, foi reprimido durante anos pelos regimes alemães e russos de tal modo que quase foi extinto na própria 9 Letônia. Vida longa a aquele país; vida longa a cultura da Letônia. Se os Jogos digitais são modos de linguagem, semiótica e interação cognitiva, podem ser veículos de manifestação cultural também. Nosso artigo intencionou esta reflexão cultural e linguística a um só tempo, como uma percepção educacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ANDERSON, Perry. Passagens da Antigüidade ao feudalismo. 2ªed. 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São Paulo: Edusp, 1990. PRAUDE, João Janis. Pequena biografia sobre a família Praude. Brasília: Livro- Documento manuscrito pessoal inédito da família Letã Praude (no prelo). 1994. STÖRIG, Hans Joachim. A aventura das línguas: uma viagem através da história dos idiomas do mundo. São Paulo: Melhoramentos, 1990. WEBGRAFIA: THE HISTORY FILES. European Kingdoms, Latvia (Latvija). Disponível em: <http://www.historyfiles.co.uk/KingListsEurope/EasternLatvia.htm#Russian Governors>. Acesso: 07/09/2011. 10 Fundamental Latvian ornamental elements and their meaning (in Latvian). Dievturība, folklora, vēsture. Latvian folklore/mythology (in Latvian). Latvian cultural calendar (Latvian high-schlool site, in Latvian). Peter Schmits' seminal 1940-1941 work, Latvian folk beliefs (in Latvian). ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL – Arte e Tecnologia. Disponível <http://www.cibercultura.org.br/tikiwiki/tikiindex.php?page=game+art>.Acesso: 07/09/2011. em: Fernando Pessoa. 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Dēkla - deusa da fortuna e do destino e era adorada principalmente no oeste da Letônia (na região da Curlândia). Ūsiņš - deus dos cavalos, abelhas e luz, mencionado por jesuítas Joannis Stribingius em 1606. Dievs - era o deus supremo. A mesma palavra refere-se à divindade cristã em língua letã moderna. Na mitologia antiga da Letônia, Dievs não era apenas o pai dos deuses, ele era a essência de todos eles. Jānis - divindade associada com Jani no festival de meio verão. Após a cristianização, ele foi associado com João Batista, através de um processo de sincretismo. Uma vez por ano, Jānis vem trazer sorte e fertilidade para o povo da Letônia. Jumis - deus do céu e da fertilidade. Ele é associado com "plantas", como duas hastes de culturas ou árvores que cresceram juntos e compartilham um tronco ou caule. Descrito como um homem baixo, com roupas que lembram espigas de trigo, lúpulo e cevada . Karta - foi uma de uma trindade de deusas associadas ao destino, que incluiu suas irmãs Dēkla e Laima. 11 Laima - era uma deusa dos letões e da mitologia lituana. Ela é a personificação do destino e da sorte, boas e más. Lauma - é uma bela moça nua, que não pode ter filhos. Então, muitas vezes ela rouba as outras crianças e azeda o leite de vaca. Māra - a mais poderosa deusa feminina. Martins - era um deus que protegia o povo letão e seus animais, durante os meses de inverno, de ladrões, do frio e da fome. Mēness - deus da lua e da guerra. Metenis - divindade misteriosa, ligada ao festival Meteņi, em que andava durante as celebrações em seu trenó. Meza VIRS - deus dos bosques, associado com os lobos. Mikelis - deus da astronomia, profecia e abundância. Perkons - deus do trovão, chuva, montanhas, árvores de carvalho, o fogo e o céu. Na Índia ele é conhecido como Indra , o chefe dos Devas . Ragana - profetisa e feiticeira, e uma deusa da magia. Após a cristianização, ela foi transformada em uma bruxa menor trazendo má sorte para os seres humanos e animais. Saule - foi a deusa do sol e da fertilidade, deusa padroeira do azar, incluindo os órfãos. Ela era a mãe de Saules Meitas, viveu no topo de uma montanha e voou através do céu em sua carruagem. Zalktis - deus do bem-estar e da fertilidade. Mates ou Mães: divindades femininas conhecidas como "mães": Cela mate - (Mãe das estradas) protetora dos viajantes na estrada. Dārza mate - (Mãe do Jardim) presidia os aspectos práticos da vida cotidiana. Gaušu mate - (Mãe do lento) era uma deusa que representa a preguiça. Juras mate - (Mãe do Mar) era a deusa do mar. Padroeira dos pescadores, marinheiros e médicos. Kapu mate - (Mãe de Túmulos), protetora de cemitérios e sepulturas. Krūmu mate - (Mãe de Arbustos), protetora de arbustos e mudas . Lapu mate - (Mãe das Folhas) deusa que coordenava a mudança de cores das folhas no outono. Lauku mate - (Mãe dos Campos), deusa dos campos. Lazdu mate - a deusa das árvores de avelã. Lietus mate - deusa da chuva. Linu mate - (Mãe de linho) uma deusa do linho . Lopu mate - (Mãe da Pecuária), protegia o gado e os animais. Meza mate - (Mãe das Florestas) a padroeira das florestas, dos animais, caçadores e lenhadores. Miglas mate – Mãe do nevoeiro; possuía domínio sobre os nevoeiros. Venerado pelos marinheiros. 12 Pirts mate - Mãe das saunas , que foram palco de muitos rituais e cerimônias importantes para registros de nascimentos, óbitos, casamentos e outras ocasiões. Rijas mate – associada à colheita de grãos. Sēņu mate – associada à produção e colheita de cogumelos. Smilsu mate - possuía domínio sobre a morte. Sniega mate - (Mãe de Neve), possuía domínio sobre a neve Tirgus mate - (Mãe do Mercado), exercia poderes sobre o mercado e o comércio. Ūdens mate - (Mãe das Águas), possuía domínio sobre águas, poços e lagoas . Upes mate – deusa dos rios. Veja mate - deusa dos ventos, florestas e aves, padroeira dos marinheiros. Velu mate - deusa dos mortos e Rainha da Viņsaule, o mundo dos mortos. Zemes mate - deusa da fertilidade, que também foi identificada com Velu mate, a deusa dos mortos. Ziedu mate - deusa das flores. Kuka mate – deusa do vinho Outros termos e conceitos: Austras Koks - árvore que tinha folhas de prata, raízes de cobre e ramos de ouro, localizado às margens do rio Daugava. Debeskalns - montanha sobre a qual os vários deuses e deusas viviam. AN EX OS : Fig ura – 1: Cen ário da regi ão em 121 212 13 Figur a– 2: Caval eiros Teutô nicos1 3 Figura – 3: Schwertbrüderorden, Irmãos da Ordem da Espada14 14 Figura – 4: Cena de dança folclórica da Letônia contemporânea 15 3 Latvija, no idioma letão, significa Letônia, pequeno país Báltico encravado entre Estônia, Lituânia, Rússia e Bielorrússia. 4 Projetos de caráter estético que utilizam recursos de jogos digitais de modo crítico e questionador, propondo reflexões inusitadas, ao proporcionar uma subversão crítica dos usos, sentidos e objetivos do jogo (ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL, 2011). 1 Carlos C. Praude: Doutorando em Arte e Tecnologia no Programa de Pós-Graduação em Arte da Universidade de Brasília. Mestre em Arte e Tecnologia pelo Programa de PósGraduação em Arte da Universidade de Brasília (2010). Pós-graduado em Engenharia de Software e Graduado em Tecnologia em Processamento de Dados pela Universidade Católica de Brasília. Professor e Pesquisador de Jogos Digitais no curso de Jogos Digitais no Centro Universitário UDF em Brasília. Contato:[email protected] , www.carlospraude.com. 2 Fábio Liborio Rocha: Doutor em História pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em Filosofia pela UGF-RJ, Graduado em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professor de Pensamento Político no curso de Ciência Política no Centro Universitário UDF em Brasília. Professor e Pesquisador de Estética do Filme, no curso de Cinema do IESB também em Brasília. Contato: [email protected], wimwenders.com.br. 5 Durante um evento institucional, ocorrido no Centro Universitário UDF, Fábio Libório, ao indagar sobre a origem do sobrenome de Carlos Praude, desencadeou uma sequência de diálogos que resultou na elaboração do presente trabalho. Libório é pesquisador em história antiga e medieval com profundo interesse pela história da Letônia e sua herança religiosa de culto à natureza, qual lembra muito o druidismo, no culto às árvores. Carlos Praude é pesquisador em arte e tecnologia e seu pai, João Janis Praude, escreveu diversas resenhas sobre a história da sua família e da Letônia, seu país de origem. O sobrenome Praude tem origem na palavra russa Pravda, que significa verdade e foi atribuído aos antepassados da família Ehrglis durante o processo de russificação (PRAUDE, 1994), ocorrido após o ano de 1865, quando a Letônia encontrava-se sob domínio do império russo (THE HISTORY FILES, 2011). 6 Relojoeiro e grande contador de histórias, nascido na cidade de Daugavpils, Letônia, em 21/12/1919 e falecido na cidade de Anápolis, GO em 15/06/1999. Migrou, com toda sua família, para o interior do estado de São Paulo em 16/07/1928, aos 8 anos de idade. 7 Outros cavaleiros que agrupam-se em ordem militar são os Porta-Gládios, ou irmãos da ordem da espada, Schwertbrüderorden (Figura 3), que usam no manto duas espadas vermelhas em cruz. ―Fundada em Brêmem, em 1197, pelo Bispo de Riga, a nova ordem combate os pagãos letões e livonianos, das margens do Golfo de Riga, do vale do Dvina, da Curlândia‖ (HEERS, 1977, p.192). Dvina, em russo, refere-se ao rio Daugava, que banha a cidade de Daugavpils (que em Leto significa Castelo de Daugava). 8 Cidades alemãs. Embora a Liga Hanseática só fosse definida um século mais tarde, a associação já existia e trabalhava para a realização de seus objetivos – a exclusão dos comerciantes estrangeiros do Báltico e o alargamento da hegemonia alemã até o mar do Norte (MCEVEDY, 1990, p. 76). 9 Tradução de Carlos Praude à partir da tradução de Mara Rozitis para a língua inglesa, Disponível em <http://mygrations.blogspot.com> Acesso em 09/09/2011. 10 Aspas do autor. 11 Max Bense (1971) associa as ordens caógena, regular e irregular com os esquemas ―mistura‖, ―estrutura‖ e ―configuração‖ estabelecendo uma relação com a Gestalt. Também conhecida como psicologia da forma, a Gestalt é uma corrente da psicologia que 15 considera os fenômenos psicológicos como um conjunto autônomo, indivisível e articulado por meio da organização, estrutura e configuração (ABBAGNANO, 2007). 12 MCEVEDY, 1990, p.73. 13 Imagem disponível em <http://miniatures.de/html/ger/italeri-6019-teutonicknights.html> Acesso : 09/09/2011. 14 Imagem disponível em <http://www.ordensstaat.de/orden/vorgeschichte/vg_ro_sb.htm> Acesso : 09/09/2011. 15 Imagem disponível em <http://www.rigasummit.lv/en/id/cats/nid/976/> Acesso : 09/09/2011. 16