açúcar - JM Madeira

Transcrição

açúcar - JM Madeira
talvez a revista mais
doce da madeira
CRÓNICA
Arder à distância
Por Gonçalo Taipa Teixeira
BOCA DOCE
16 a perguntas
a Ana Luísa Correia
açucar 23 | este suplemento não pode ser vendido separadamente do JM
Reportagem
Agosto ainda nos arde.
Mas somos mais fogo
que cinza
a
2 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
ideias de quase nada
Arder à distância
e
cumprir o aprazível compromisso de escrever
mais uma crónica para
esta açucarada revista.
Informado de que este
número seria dedicado
aos incêndios, sem que
fosse obrigatório que
este meu contributo versasse sobre tão quente
assunto, achei justo contribuir para o tema. O
meu problema; gosto de
me armar em engraçadinho, mesmo quando não
tenho piada nenhuma, e
o assunto é pesado e demasiado presente para
palhaçadas. Ou talvez
não — o humor é, por natureza, disruptivo. A ver
como corre.
Tenho lido muito sobre
os incêndios na minha
Ilha, visto muitas reportagens e ouvido as histó-
naquela semana que devia ter sido de descanso,
sempre ao telefone com
o meu pai. Vivi por dentro, mesmo lá dentro,
sempre lesto a agradecer
a preocupação de quem
me sabe madeirense e
perguntou pela família.
Respondia com calma e
compostura despreocupada, que as más notícias viajam rápido e ainda não tinham chegado
— apenas as casas dos
outros ardiam, que realmente era uma pena e as
árvores e a laurissilva e
que há-de parar. Esforcei
o composto sorriso de
simpatia ao ver, na companhia de família do
lado da minha mãe, labaredas que consumiam
casas em horário nobre.
Escondi as lágrimas que
me traíam ao ver o meu
Funchal, em plano aberto, uma e outra vez, novamente asfixiado por
grossas colunas de fumo
que o vento insistia em
tombar por despeito. Por
dentro sentia-me envolto
naquele fumo, apertado
e suado até não poder
respirar e ter de me esconder daquelas imagens na menor intensidade de quem não vê arder parte de si.
Estou agora a horas de
aterrar na minha Ilha.
Sei que não vou aterrar
no meio de longas línguas de fogo, nem vou
ser recebido por pesados
turbilhões de fumo, mas
a antecipação do negro
das encostas peladas e
dos chisnados esqueletos
dos edifícios não me deixa prever uma normal
reunião estival com a minha terra natal. Vale-me
a certeza egoísta de que
vou reencontrar os meus
sem estragos de maior.
Vou matar saudades dos
vivos; vou matar saudade
do que a Ilha ainda guarda para mim. a
©Martim Leitão
Desta vez vi tudo
de fora, mas vivi
CRÓNICA
por dentro. Tinha
Gonçalo T. Teixeira
a minha mãe
[email protected]
comigo, sempre
composta, sempre
preocupada com
o que deixara para
trás naquela
semana que devia
ter sido de descanso, sempre ao
telefone com o
meu pai. Vivi por
aqui me vejo, de novo, na
dentro, mesmo lá
fraterna companhia do
meu teclado, tratando de dentro.
rias; desta vez vi tudo de
fora. Mas há seis anos
atrás estava lá, sob um
ameaçador tecto de nuvens alaranjadas que
apenas deixavam ver céu
por uma fina frincha sobre o mar, cobrindo as
cores com um filtro sépia. Estava lá e vi, fosse
para onde fosse na minha cidade natal, um
rasgão cor-de-fogo envolver as serras, num cerco
que nos asfixiava a convicção de que temos
tudo sob controlo. Estava lá e senti a angústia,
que disfarçava com ténues sorrisos cheios de
tiques, ganhar espaço na
consciência que se fixava na chuva de cinzas
que se abatia sobre tudo
o que não ardia.
Desta vez vi tudo de fora,
mas vivi por dentro. Tinha a minha mãe comigo, sempre composta,
sempre preocupada com
o que deixara para trás
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 3
a viajante
Uma semana
na Costa Brava
Um guia de viagem para famílias
Sofia Vasconcelos
www.frommadeiratomars.com
[email protected]
https://www.facebook.com/
Frommadeiratomars
Instagram@frommadeiratomars
d
iscordo quando as pessoas
dizem que ter filhos e viajar são duas op-ções opostas na vida.
Na verdade, ter os dois ao
mesmo tempo é como ganhar a lotaria.
Acrescente-lhe um destino
de férias perfeito e os seus
desejos tornam-se realidade - a felicidade existe.
Este ano, fomos à Costa
Brava.
Já tinha ouvido falar sobre
este destino e ao encontrar
um voo direto Funchal Barcelona (cerca de 3 horas) marcámos viagem.
Onde fica a Costa Brava?
A Costa Brava fica na costa
nordeste da Espanha, perto
de Barcelona, Catalunha.
Este destino de praia no
Mar Mediterrâneo tem o
chamado triângulo de Dalí,
composto pelo Teatro-Museu Dalí, em Figueres, a
Casa-Museu Dalí, em Portlligat (Cadaqués), e o Castelo Gala-Dalí, em Púbol.
O nosso hotel:
Ficámos alojados no Silken
Park Hotel San Jorge, Platja d'Aro.
Fica a 5 minutos a pé de
duas belas praias (Cap Roig
e Belladona).
Recomendo!
A gastronomia local:
Excelente e acessível. Onde
quer que vá, poderá encontrar menus de almoço e
jantar a um preço razoável, cerca de 15€. Pode
também en-contrar muitas
tapas e os famosos pimentos padrón. O Suquet de
peix foi um dos meus favoritos, um guisado de peixe
feito com diferentes tipos
de peixe e arroz preparado
com tinta de lula. As gambas de Palamós são um
pouco caras, mas sem dúvida as mais saborosas
a
4 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
que provei até hoje. Os vinhos são maravilhosos, bebem-se facilmente sem dar
por isso…
O nosso itinerário
Dia 1 - chegada a Barcelona
e ida para Costa Brava.
(cerca de 1h 30m de carro)
Poderá alugar um carro no
aeroporto de Barcelona ou
reservar um táxi, mas esta
última opção é muito mais
cara.
Dia 2 - Praia Cap Roig (5
minutos a pé do quarto)
Ainda me lembro como me
senti da primeira vez que vi
esta praia de sonhos…
Dia 3 - Girona (40 minutos)
Às vezes pode ser difícil fazer visitas guiadas com
crianças. Especial-mente
quando o sol queima e elas
estão constantemente a
perguntar quando é que vamos voltar para a piscina.
Mas quando se tem a sorte
de ter uma guia que fala diretamente para elas e envolve-as na descoberta à cidade, faz uma enorme diferença. Este foi o caso, assim como da maioria dos
passeios que fizemos na
Costa Brava - 5 estrelas.
De mapa na mão, cruzámos a ponte Eiffel, fomos
ver o bairro judeu e algumas áreas onde a série
“Guerra dos Tronos” foi filmada. Também subimos os
degraus da catedral e caminhámos ao longo das ruas
es-treitas e pitorescas.
Tarde: Castelo Púbol (35
minutos)
Este é um edifício medieval
que Salvador Dalí decorou
para oferecer à sua musa e
mulher - Gala. Este oásis
era o seu refúgio e as pessoas só podiam visitá-la por
convite escrito. Os três andares do castelo abrem
para um belo pátio interior
e um jardim com uma piscina e esculturas de Dalí.
Poderá admirar o belo teto
pintado na sala principal, a
cozinha, o quarto, a casa de
banho e até mesmo a sua
impressionante coleção de
vestidos Dior.
Dia 4 - Figueres (1h de carro)
Passámos a manhã na
praia do hotel, não conseguimos evitar…
Às 12h fomos para Figueres. (O estacionamento foi
fácil na Costa Brava, há
muitos lugares para estacionar, quer pagos quer
gratuitos). Figueres é a cidade natal de Salvador
Dalí. Esta cidade é muito
bonita, mas o principal motivo que traz os visitantes
até cá é o famoso Museu de
Dalí.
mado uma decisão - Seria
em Figueres, a sua cidade
natal. Todo o museu é
espe-tacular e aqui poderá
sentir o seu grande trabalho e atenção aos detalhes.
A principal mensagem deste museu, para mim, foi de
que a arte não tem de ser
séria e que no mundo dos
sonhos tudo é possível criar é sonhar acordado.
Dia 5 - Palafrugell (40 minutos)
poderá fazer ca-minhadas
ao longo do famoso caminho à beira-mar ‘Cami de
Ronda ‘ cujas vistas são de
tirar o fôlego. Vemos muitas famílias a passear de
caiaque ao longo da costa,
mas nalgumas partes do
passeio não havia ninguém, só nós e o mar.
Dia 6 - Cadaqués + Cap de
Creus (2h de carro)
Cadaqués tem um pouco
da Grécia com casas caiadas de branco e portas
azuis-turquesa decoradas com
buganvílias.
sim a sua casa- museu.
Tarde: Cap de Creus
O ponto mais oriental de
Espanha - Cap de Creus. A
672 metros de alti-tude do
mar, este cabo está rodeado por vistas estonteantes
sobre o mar e sobre praias
de areia dourada, escondidas na sua baía.
Fiquei encantada.
Enquanto olhava o mar ao
longe, ia-me também deliciando com os rostos surpreendidos dos meus filhos e a satisfação dos
meus pais por terem tido o
prazer de conhecer esta
parte do mundo…
Dia 7 - Aeroporto de Barcelona (1h30m de carro)
Foi difícil deixar esta bela
parte do mundo.
Visita Guiada no
Teatro - Museu Dalí
O amor e entusiasmo da
nossa guia pela arte de Dalí
foram contagian-tes…
- Dalí era como uma criança pequena - disse ela. Sabem, como algumas crianças na escola, sempre a
chamar a atenção, como
que dizendo “olhem para
mim!” Mas a sua criatividade e imaginação eram geniais.
- Este não é um museu chato, é divertido! Irão ver!
Assim foi, guiando-nos
através deste museu, construído sobre as ruínas de
um teatro romano. As pessoas pediam a Dalí para
construir o seu museu em
Barcelona, Paris ou Nova
York, mas ele já tinha to-
Palafrugell tem ruas estreitas e animadas praças onde
as pessoas se cumprimentam. Fiquei com a sensação
de que esta pequena cidade
é daquelas onde “alguém
conhece alguém que sabe
quem tu és" - Senti-me em
casa. Também visitámos o
mercado e subimos à torre
moderna catalã de Can Mario. Quando chegamos ao
topo, a vista de 360º é surpreendente - arrebatadora!
Tarde: Praia de Llafranc.
Esta é uma área de praia,
muito agradável com muitos restaurantes, algumas
lojas e cafés. A partir daqui
Os pavimentos são
apedrejados e
estreitinhos. Tem
um pouco de Portugal,
com alguma semelhança
às vilas de pescadores do
Algarve e as suas enseadas
com praias ensolaradas à
beira-mar, lindíssima.
Tarde: Visitámos a Casa de
Salvador Dalí em Portlligat. Era aqui que vivia e
trabalhava. Ele gostava do
seu isolamento, das vistas
e da luz desta casa. A sua
casa é um labirinto. Foi
criada, pouco a pouco, adicionando um novo quarto
ao mesmo ritmo que cada
novo impulso surgia na
sua vida; louca e bonita
como o artista. Abandonou-a quando Gala, a sua
esposa, morreu. Nasceu as-
O melhor da Costa Brava?
As praias são absolutamente sedutoras e há uma atmosfera especial e convidativa no ar.
“Camin de Ronda” é como
um caminho de fadas ao
longo da costa, so-bretudo
no início da manhã, quando és só tu e o mar.
Além disso, seguir os passos de Dalí foi um privilégio.
Este é um destino verdadeiramente familiar. Poderá encontrar muitas atrações divertidas, excelentes
parques infantis e a maioria dos restau-rantes oferecem menus para crianças.
Algum conselho?
Uma semana sabe a pouco.
Se possível, fique pelo menos 10 dias ou 2 semanas,
ou então, regresse no ano
seguinte.
Conclusão?
Leve a sua família a visitar
a Costa Brava.
Mostre-lhes as vistas, conte-lhes as histórias, visite
os museus, leve-os a conhecer Dalí, desfrute das
praias, faça caminhadas e
partilhe belas refeições à
beira do Mar Mediterrâneo.A felicidade mora nesta Costa Brava. a
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 5
relatos do tudo e do nada
Vidas com fogo dentro
Nesta edição da Açúcar, contamos-lhe histórias de perda, mas também de coragem e resistência.
Nada a que os madeirenses não estejam habituados. Mas estas são também histórias da ternura
que se cirze à tragédia, do humanismo que se eleva nos homens e mulheres com fogo dentro.
E no fim, há a ternura de quem saber chorar no ombro de um estranho, essa doçura alastrada que
em nós vem pernoitar quando tudo arde. E nos descobrimos muito mais fogo que cinza.
REPORTAGEM
Susana de Figueiredo
a
[email protected]
reportagem de hoje é a
nossa sentida homenagem
a todos os heróis deste
agosto que nos feriu da
terra à pele. Este mês que
ainda nos arde.
Nem todos cabem neste
papel e nesta tinta, mas,
de um certo modo, não
deixam de aqui estar.
João e
Maria José
Abreu
«A nossa vida dava
um livro»
Uma casa, ou o que
ela significa
Com apenas 14 anos João
Abreu fugiu para Paris
atrás da namorada, Maria
José, o amor da sua vida,
com quem está casado há
41 anos. «39 pela Igreja,
41 pelo Civil», faz questão
de vincar Maria José. Não
consegue lembrar-se
como arranjou dinheiro
«Era preciso ter
mais coragem
para abandonar
a casa do que para
cá voltar»
para a viagem, mas chegou ao destino. Levava a
morada de Maria José
anotada num papel, mas
o taxista andou às voltas
por Paris sem conseguir
achar o prédio. Já tinha
desistido, ia regressar ao
aeroporto de Orly, quando
o impossível acontece. Do
táxi, avista a irmã de Maria José a entrar numa
loja: “Martinha! Sou eu, o
João”. Ambos naturais do
Curral das Freiras, foram
inúmeras vezes separados
pelas respetivas famílias,
que não se encaravam.
A viagem para França
fora apenas mais uma estratégia, engendrada pelos pais de Maria José,
para afastá-la de João.
Reencontraram-se na cidade da Luz, cinematograficamente [afinal, também a realidade pode ser
inverosímil]. Passaram
por muito, mas conseguiram ficar juntos. «A nossa
vida dava um livro», garantem. E eu não duvido.
Este fogo bom da história
quase nos desvia do
a
6 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
O terreno atrás da casa de João Ab
outro, mas acaba por
abrir diante de quem estiver atento uma espécie de
clareira, mostrando-nos
que não ardemos todos da
mesma forma. Nem do
fogo bom nem do fogo
mau.
UM FOGO MAIS
COMPLICADO QUE
TRÊS SEQUESTROS
E 18 ASSALTOS
João e Maria José estiveram emigrados na Venezuela durante quase três
décadas. Em Caracas, João
tinha um negócio de comércio de leite, iogurtes e
sumos. Monetariamente, a
vida corria-lhes de feição,
mas só num mês João foi
sequestrado três vezes, e
assaltos conta, ao longo
dos anos, dezoito. Diz, no
entanto, que enfrentar o
fogo que ameaçou a casa
onde vive há 15 anos, na
Madeira, no Caminho de
Ferro, mesmo abaixo do
Hospital Dr. João de Almada, que teve de ser evacuado, foi «bem mais complicado» que refazer-se dos
sequestros e assaltos. «Depois de um roubo ou sequestro, voltamos ao trabalho e recomeçamos,
agora, perdendo a casa…
Eu já tenho 58 anos, na
minha idade, nunca mais
conseguiria arranjar dinheiro para construir ou
comprar outra casa. Se
nem os novos têm condições para isso, quanto
mais eu...» Talvez por isso,
na terça-feira de 9 de agosto, João tenha voltado
para trás, depois de ter fugido do fogo com a mulher, o filho Juan e uma
tia. O compositor Pedro
Macedo Camacho, de 36
anos, vive na casa ao lado
da de João Abreu. Ao longo desta entrevista, não se
cansava de dizer «o Sr.
João é o grande herói desta história, se não fosse
ele, eu teria ficado sem
casa.», insiste «por favor,
escreva isto!»
O incêndio junto às casas
deflagra pelas 18h, dez
pessoas encetam uma
luta de nove horas contra
a força das chamas, perigosamente tangentes às
casas de Pedro e João
(cerca de 10 metros). O
grupo é formado por
João, o seu filho de 24
anos, que leva três amigos
(dois rapazes e uma rapariga), pelo genro, por Pe-
reu.
dro, que está com o cunhado, e ainda por três vizinhos da zona do Livramento, que vêm em seu
auxílio «sem que ninguém lhes tivesse pedido», frisa Pedro, demonstrando a sua gratidão.
A situação mais crítica
acontece pelas 23h, quando das mangueiras já não
sai uma única gota de
água. «Era fumo e labaredas por todo o lado, as
faúlhas pareciam borboletas por cima de nós.», diz
João, apontando para um
céu agora clareado num
azul aberto. Uma cor que
parece clonada da dos
seus grandes olhos de homem bom.
Conversamos no terraço
da casa que comprou há
cerca de vinte anos, enquanto ainda residiam na
Venezuela. Queriam ter o
seu «poiso» na ilha, esclarece a mulher, Maria José,
para, logo de seguida, recostando-se na cadeira, e
abrindo um sorriso quase
impossível, deixar escapar: «fui uma rainha na
Venezuela». João retribui
o sorriso, e nele vislumbro um orgulho todo pueril - por momentos, imagi-
no-o com 14 anos , cheio
dos seus olhos muito
azuis na chegada a Paris.
[Sim, Maria José continua
a ser a sua rainha], leva a
mão ao rosto e recorda os
gritos que lhe ouviu naquela terça-feira em que
tudo ardia. Uma das filhas
ia chegar dali a três dias,
porque na Venezuela «já
não há futuro». E agora?
Teriam aqui casa e futuro
para acolher a filha? Maria José descontrolara-se,
gritava de dor e desespero. Sem água, a guerra fazia-se agora com enxadas,
paus e pedras, um esforço
que depressa se tornou
inglório. Fugiram todos,
já passava das 23h.
Pedro recorda as palavras
do cunhado: «tens 3 ou 4
minutos para ires a casa
buscar qualquer coisa, a
seguir vamos embora.»
«Entrei, agarrei numa fotografia antiga da minha
família e saí. Nesse momento, parti com a certeza de que a casa ia arder,
mas não queria morrer...»
DE REGRESSO
AO INFERNO
João haveria de regressar
para defender o trabalho
de toda uma vida, o seu
«cantinho». «Quando cheguei à baixa e, de longe,
avisto o fumo junto à minha casa, não fui capaz de
ver aquilo… Era preciso
ter mais coragem para
abandonar a casa do que
para cá voltar, então, voltei.» Com ele, regressam o
filho e o genro e o grupo
de combate refaz-se. João
telefona a Pedro e convence-o a voltar a casa, entretanto, o inverosímil acontecera. João descobre que
um dos vizinhos, que vive
do outro lado da rua, tem
um reservatório de água
com motor. Um milagre
para uns, uma sorte para
outros. Os resistentes
prosseguem. O maior de
todos foi o Sr. João, vai
lembrando Pedro, «se
hoje tenho casa, a ele o
devo».
Naquela terça-feira, a cidade já despertara com
medo, ninguém, nesse
dia, saiu de casa sem um
travo a mau presságio na
garganta. Muitos foram os
que se preparam para a
tragédia, precavendo-se
conforme podiam. Antes
de sair para o trabalho,
Pedro Macedo Camacho
tirou a mulher e o filho de
três anos de casa, desligou aparelhos eletrónicos,
gás e retirou as botijas
para uma zona menos perigosa. Na casa ao lado,
João e o filho trataram de
unir várias mangueiras.
«Nestas circunstâncias, temos de agir como um jogador de xadrez, não basta pensarmos uma jogada
à frente, temos de pensar
cinco jogadas à frente.»
Apesar dos preparos para
o pior dos cenários, Pedro
admite: «nunca pensei
que o incêndio chegasse
tão perto de casa...»
Nunca ninguém falou em
chamar os bombeiros,
«nem sequer pensámos
nisso», diz Pedro. «Os homens estavam exaustos e,
além disso, tínhamos
consciência de que eles
não podiam estar em todas as frentes.» Ficaram,
então, por sua conta, deram-se a uma luta sem
tréguas, foram heróis sem
farda. A coragem era a
única alternativa.
NO FIM,
A PAZ POSSÍVEL...
Depois do fogo, o apaziguamento mistura-se com
o torpor de tantas horas
difíceis. Uma casa salva
pode salvar um homem,
porque sob a cal corre
também uma espécie de
sangue, as paredes doem
e o chão sustenta quem o
pisa por amor. Uma casa
sabe quem lhe quer bem.
«Este é o meu cantinho…
Sabe, até podem levar as
pessoas para uma casa de
luxo, mas essas pessoas
nunca serão verdadeiramente felizes, nada volta
a ser igual. Eu estou habi-
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 7
relatos do tudo e do nada
tuado às minhas plantas,
às minhas árvores… Fechado num apartamento
morria de tristeza.»
Quando o horror termina,
vem a paz possível, a dormência necessária à convalescença e, por vezes,
muitas vezes, há quem insista em ver para crer. Foi
o caso da mulher de João,
que sempre pensou que a
casa tinha ardido e só
acreditou que esta estava
salva quando o filho lhe
mostrou a fotografia que
tirara, no fim. E, felizmente, para uns por milagre, para outros por sorte,
tudo tornou a ser. Igual.
Rui Escórcio
«Julguei que, mesmo na aflição, teria
tempo de levar alguma coisa no bolso, mas naquela
hora nem pensei
nisso. Tinha de salvar o meu pai.»
aos ombros pelo beco escuro e estreito, ladeado
pelas chamas. Foi buscar
forças não sabe bem onde
[sabemos que só pode ter
sido ao coração]. Penetrou
o fumo negro. Sentiu o
ombro direito rasgar-se,
mas a dor não o deteve.
Durante o percurso, a violenta explosão de uma das
muitas botijas de gás que
jaziam no armazém, apaga-lhe um espaço da memória. Não se lembra
como chegou ao fim do
beco com o pai a salvo. Da
casa onde vivia desde que
nasceu, com os pais, a
irmã e a mulher, ambas
desempregadas, resta
pouco mais que as paredes. A casa onde foi menino e se fez homem, o lar
dos afetos e das brincadeiras, dos pais que tudo lhe
deram, assemelha-se agora a um corpo sem vida.
Esqueleto de cinza e silêncio. A sala, os três quartos
e a casa de banho não são
mais que sucessivos silêncios, varridos de vestígios
de gente.
O QUARTO DO PAI
A cozinha resistiu, duas
panelas ainda repousam
no fogão. Naquele recanto
ainda cheira a casa. Rui
traz os olhos baixos, vazios, tremendamente líquidos. Diz-me compulsivamente que só quer devolver um lar aos pais.
«Eles sempre me deram o
melhor e é isso que eu
quero para eles, o melhor
que eu lhes puder dar. Comigo não me importo,
durmo debaixo da ponte
se for preciso… » Indicame o quarto do pai, o braço treme-lhe. «Era aqui
que ele passava os dias…
No seu quartinho, com a
televisão ao fundo.» Conta-me Rui que ver jogos
de futebol era dos poucos
prazeres que o pai ainda
tinha. Agora, nem isso. É
só desgosto.
E tudo o fogo levou
Para Rui Escórcio, de 44
anos, morador no nº 6 do
Beco do Matadouro, situado mesmo acima do armazém da antiga Corama, nada voltará a ser
igual. Na terça-feira à tarde, salvou sozinho o pai,
acamado há dez anos, na
sequência de uma trombose. Foi um martírio
conseguir tirar a mãe da
cabeceira do pai, descolar-lhes as mãos. Antes
disso, já ela havia gritado
por uma ambulância, ao
telefone. Não havia tempo. Nem para a espera
nem para o desespero.
Rui lá conseguiu separálos, a mãe e a irmã desceram para a Rua Nova do
Matadouro. O pai estava
agitado, Rui tentava acalmá-lo, arrancou-o ao
quarto que o fogo acabou
por consumir. Trouxe-o
Rui Escórcio na ruína
da casa onde nasceu
TUDO PERDIDO
A POUCOS DIAS
DE UMA VIDA NOVA
Rui não tem filhos, «estávamos a pensar em ter»,
confidencia-me. «Dentro
de um mês, eu e a minha
mulher íamos mudar-nos
para o andar de baixo da
casa. Faltava tão pouco...»
Esse futuro o fogo estancou. Levou-lhe também 5
mil euros que tinha amealhado e guardado no cofre;
outros 4 mil da mãe, as
alianças de casamento dos
pais, cuja perda foi «uma
dor» para a mãe, e algum
ouro herdado de avós e bisavós. O cofre ainda está
em cima da mesa cozinha,
completamente destruído
pelo fogo. «Julguei que,
mesmo na aflição, teria
tempo de levar alguma
coisa no bolso, mas naquela hora nem pensei
nisso. Tinha de salvar o
meu pai.»
Pela 1h00, Rui regressou
ao Beco do Matadouro e,
pegando na mangueira
dos bombeiros, ainda conseguiu extinguir o incêndio em duas casas da vizinhança. «Eles [os bombeiros] já não podiam mais…
Um deles estava exausto,
jogado na rua em baixo.»,
recorda. No seguimento
daquela cruel travessia,
Rui foi assistido no Hospital do Funchal, devido à
excessiva inalação de
fumo. Está a viver com a
mulher em casa de uns
amigos. Os pais e a irmã
estão em casa dos sogros.
As noites são complicadas,
acorda de meia em meia
hora, e a realidade é tão
dura quanto turva. «No
domingo vim até cá e tive
o impulso de ir buscar
uma toalha ao armário
para tomar um banho…»
Por um instante, voltara à
casa de antes. A dor não se
apaga como o fogo, e os
psicólogos já lhe disseram
que a sua arderá até ao
fim.
a
8 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
Gonçalo
Vieira
«Se tivéssemos
acatado a ordem de
evacuação da polícia, quer a minha
casa, quer outras
podiam ter sucumbido»
Contra as regras
e contra o fogo
O inferno também subiu
ao Livramento, nesta
zona várias pessoas perderam as suas casas. Podia ter sido o caso de
Gonçalo Vieira, de 36
anos, um dos proprietários da Padaria do Livramento e da Padaria dos
Marmeleiros. «Se tivéssemos acatado a ordem de
evacuação da polícia,
quer a minha casa, quer
outras podiam ter sucumbido», garante Gonçalo,
que vive na casa que fica
por cima da Padaria do
Livramento.
UMA MANHÃ COM O
DOR A TRAGÉDIA NO AR
«Na terça-feira, por volta
das 9h30, já sabíamos que
o fogo estava no Monte.
Eu, o meu irmão e o meu
primo encontrámo-nos na
Padaria dos Marmeleiros.
O ambiente estava estranho, havia pessoas a chegar com crianças, algumas delas vinham em pijama e, claro, percebemos
que as coisas se tinham
complicado. Entretanto, a
polícia começa a mandar
evacuar, para baixo do
cruzamento CorujeiraMonte e, ao meio-dia, o
ponto de evacuação passa
para a zona do Centro de
Saúde do Monte. Nós não
acatámos a ordem. Dissemos aos funcionários
para saírem, mas eu, o
meu irmão e o meu primo ficámos.» As chamas
avançam rapidamente e
chegam o jardim de uma
casa que fica mesmo atrás
da Padaria dos Marmeleiros, junto à do meu tio.
«De repente, avistamos o
vizinho que mora nessa
casa a descer a rua a correr, em tronco nu, en-
quanto grita «está a começar, fujam!» Dirigimo-nos
para lá, mas os portões estavam trancados. Connosco estavam três polícias,
que forçaram os portões
para conseguirmos entrar.
Pegámos nas mangueiras
que estavam lá dentro e
conseguimos controlar o
incêndio. Porém, nem
houve tempo para respirar, logo de seguida, tivemos de subir ao telhado
da casa do meu tio para
impedir que as chamas
que, entretanto, deflagraram num terreno do governo alastrassem. Felizmente, conseguimos.»
A DESCIDA
Gonçalo desce para o Livramento, ainda vai trabalhar para a padaria, mas o
primo dá o alerta. Há fogo
mesmo atrás da casa de
Gonçalo. «Disse à minha
Vista das traseiras da casa de Gonçalo Vieira, Livramento
mulher para sair de casa
com as crianças. A polícia
passou por aqui com altifalantes a dar ordem de
evacuação. Mais uma vez,
eu, o meu irmão e o meu
primo não obedecemos.»
O lume chegou a estar a
um metro da casa de Gonçalo, nessa altura confessa que pensou em desistir,
mas a coragem e a persistência venceram.
Por volta das 20h, Gonçalo é obrigado a voltar ao
Monte. «Estava tudo a arder junto à casa dos meus
pais… Só saí de lá de madrugada, perto das 2h.
Apesar de tudo, sinto-me
um felizardo. Só de pensar que há tantas pessoas
que perderam as suas casas…»
O DIA SEGUINTE
NA PADARIA
DO LIVRAMENTO
No dia seguinte, parecia
que as pessoas tinham
acabado de sair de um funeral, estavam anestesiadas, nem queriam acreditar no que acontecera. Algumas delas, cuja casa tinha ardido, diziam: «Ain-
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 9
relatos do tudo e do nada
Todos dependem de nós.»
O dia ainda arde, ali tão
alto, o sol mastiga-nos a
pele, o odor a terra queimada é intenso, e todo o
verde do vale é agora um
imenso manto morto dividido em negro e ocre. E o
silêncio, sempre o infernal
silêncio. Antítese de toda a
paz..
da vou ver a minha casa,
mas parece que incendiou.» Ora, se incendiou, é
porque está perdida, mas
muita gente precisou de
ver com os próprios olhos
para conseguir acreditar.»
Freshbio,
um sonho
cortado
a meio
«Estamos ainda
atordoados, não
temos certezas de
nada…»
Pesadelo na Quinta
do Pomar
«Custa-me mais isto do
que se tivesse ardido a minha própria casa...», diz
Mariana Gonçalves, sócia
da empresa de agricultura
biológica Freshbio, cuja
exploração, instalada na
histórica Quinta do Pomar, (zona da Choupana),
sucumbiu ao incêndio. A
casa-mãe, onde vivia o
proprietário da quinta,
Roberto Huber, descendente do Visconde Cacongo, também não escapou
ao fogo. Reza a lenda que,
em tempos, os fantasmas
não arredavam pé da casa,
que foi preciso lá chamar
um esotérico para tratar
do “despejo”. Da casa agora esventrada, só me chega o assombro de um vastíssimo silêncio, entranhado na ausência arrepiante
do pio dos pássaros.
MUITO MAIS DO
QUE TERRA ARDIDA
Os cerca de 300 animais
(porcos, galinhas e ovelhas) da Freshbio sobreviveram, «por milagre», afirma Mariana, que se viu
obrigada a vendê-los. Na
Quinta do Pomar, arderam os 40 mil metros quadrados da exploração,
mas foi mais que isso. Ardeu um sonho que, há 4
anos, caiu em terra fértil,
um projeto em prol de
«um mundo melhor».
«Vermos as chamas consumirem tamanho investimento, não apenas material, mas também afetivo ,
é desolador».
A Freshbio conta com outros dois sócios, o marido
de Mariana, Carlos Gonçalves, e George Pierre, que
se juntou a eles há 2 anos.
«O primeiro impacto não
foi assim tão complicado,
mas no sábado, quando
vim fazer o levantamento
das perdas, a realidade
veio ao de cima, comecei a
interiorizar o investimento perdido, todo o empe-
nho que aqui depositámos.», lamenta George
Pierre. «Tudo o que está
aqui é investimento pessoal, primeiro da Mariana
e do Carlos e depois meu,
através da Madeira Garden, que é uma empresa
familiar. É como se tivéssemos aberto uma fossa e
deitado o dinheiro todo lá
para dentro. Estamos a falar de um valor total na ordem dos 100 mil euros, capitais próprios dos três sócios.»
«Não foi por orgulho, mas
sim porque não podíamos
estar à espera da banca
nem de fundos europeus
para avançarmos com o
projeto», esclarece o outro
sócio, Carlos Gonçalves.
«Dizem que os apoios serão a cem por cento, mas
o que significam efetivamente esses cem por cento? À partida, parece espetacular, contudo é só um
número... Se chegar a metade será uma sorte. O
problema é que, para trás,
ainda temos outros 50 por
cento para pagar...»
As contas são feitas de cabeça, a matemática como
que procura suplantar o
vazio em torno. «Nós vivemos disto...», as palavras
são de Mariana, emergem
de rompante, como se a
constatação tivesse surgido naquele preciso momento. E prossegue, «temos também os nossos
funcionários, os clientes…
E AGORA?
«Temos os braços atados»,
desabafa Carlos, «pela cabeça passa-nos muita coisa, mas estamos ainda
perdidos. Se ao menos pudéssemos começar de
novo. Isto é muito pior de
que começar de novo.»
George intervém, entende
que o estado lhes deveria
dar uma indemnização a
fundo perdido. «Obrigarnos a recomeçar aqui é injusto. É muito pouco provável que este local reúna
as condições necessárias
para ser reconstruido.»
Carlos confirma, «estamos
ainda atordoados, não temos certezas de nada, só
uma: sem apoios é impossível reconstruir o projeto
Freshbio.» George dá alento: «o comboio descarrilou, houve um desvio,
mas vamos levantar a cabeça.» a
Da casa senhorial, na Quinta do Pomar,
restam apenas as paredes
a
10 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
relatos do tudo e do nada
Voluntários - outros heróis. Heróis de outros
©Romeu Vieira
«Sentia que, mesmo dando-lhe as 24 horas do meu dia, nada era(m)»
Eduardo Pires tem 38
anos, é natural de San Sebastián (País Basco), mas
cresceu em Trás-os-Montes. O professor de português veio viver para a Madeira há 5 anos. Aqui,
sente-se em casa, como
ele mesmo diz, desde
sempre. «Quando sentimos uma ilha como nossa, havemos de tê-la
como casa. Foi assim que
me senti, desde sempre:
em casa, nesta ilha. E
acordamos um dia, e a
nossa casa está a arder…»
No dia em que «um louco
decidiu pegar-lhe fogo»,
Eduardo não pensa duas
vezes e apresenta-se no
RG3 como voluntário.
Missão: acomodar os desalojados que ali iam chegando. Eram 9h da manhã, as vítimas tinham
começado a chegar pelas
5h. «Comecei a ouvir nomes e a conhecer histórias de vida, de homens e
mulheres que, em minutos, viram anos de trabalho destruídos. Perante
tanta desgraça, a minha
preocupação era proporcionar-lhes o conforto
possível num novo espaço, atribuir-lhes e preparar-lhes uma cama ou
um colchão, dar-lhes
água e algum alimento, e,
ao ouvi-los, para poder
saber por que razão ali
estavam, dar-lhes algum
conforto. Difícil…», lembra Eduardo, não escondendo que foram muitas
Vista do miradouro da Travessa da
Terça, São Roque
as vezes que quis chorar.
«Nesses momentos, sentia que, mesmo dando-lhe
as 24 horas do meu dia,
nada era(m). Senti-me
sempre insuficiente.» Mas
era, afinal, tanto para tanta gente. Quem o assegura é outro voluntário,
Romeu Vieira, um geólo-
go de 39 anos que, tal
como Eduardo, fez do arquipélago a sua casa.
«Senti inveja por o Eduardo saber os nomes de
cada uma das pessoas
que faziam do RG3 a sua
casa.» Romeu é natural
de Matosinhos, mas, tal
como Eduardo, assumese um «apaixonado pela
Madeira e pelos madeirenses.» Por uma madeirense em particular, Joana Freitas, de 31 anos,
médica anestesiologista
no Hospital Dr. Nélio
Mendonça, outra heroína
desta história.
DO HUMANISMO
Romeu e Eduardo foram
companheiros de missão
no RG3, Joana foi integrada nas equipas médicas.
Entre os três gerou-se
uma empatia humanista
que os tornou numa espécie de família de campanha. Eduardo adiara as
suas férias no continente
três dias, já estava no RG3
desde o início da tragédia.
«Senti-me pequenino…»,
admite Romeu, «nesse
momento senti-me como
o ponta de lança que surge em cima da linha de
golo só para empurrar a
bola. Tive vergonha por
só aparecer ali porque alguém pediu auxílio... O
meu altruísmo tinha-se fi-
cado pela entrega, durante a semana, de alguns
bens essenciais no RG3».
A Romeu coube a importante tarefa de avaliar as
condições de habitabilidade das casas das pessoas
que estavam no RG3. O
objetivo era acelerar o regresso ou o realojamento
das vítimas. «Dada a minha experiência profissional, tinha como função
tentar avaliar os perigos
geotécnicos, de movimentos de massas e desmoronamentos, nas vertentes
envolventes às zonas afetadas pelos incêndios.»,
explica.
Custa a crer que Romeu
tenha posto em causa o
seu próprio altruísmo,
quando nos conta que
também ele e Joana se
debateram durante «6 horas loucas e desgastantes»
– entre as 23h do dia 8 e
as 5h do dia 9 – «sempre a
lutar contra fumo, fagulhas, calor e ventos cruzados.»
Por volta das 3h da madrugada, a situação piorou. As chamas começaram a destruir as habitações de alguns vizinhos, e
a estrada era o corta-fogo.
Pelas 4h30, Romeu começa a sentir os efeitos dos
gases tóxicos, o cansaço
era extremo. «Senti que
não podia fazer muito
mais… Quando já me preparava para abandonar o
terreno das traseiras, dáse o primeiro rebentamento numa casa vizinha. O meu corpo gelou
com o som, e só reagi
quando a onda de calor
me atingiu. Instalou-se o
caos. As chamas alastraram a uma outra casa.
Quando olhei para trás já
esta segunda estava tomada pelo fogo.»
Romeu e Joana abandonaram a casa marcava o
relógio as 5h. Continuavam a ouvir-se explosões
e, por essa hora, o fogo já
lavrava nas duas encostas
da Fundoa. «O desespero
de perda apoderou-se de
nós...», recorda.
DEPOIS DO FOGO
O casal refugiou-se na
casa da avó de Joana, em
São Martinho. «Desesperados, desgastados, porém salvos… Lembro-me
do abraço forte e envolto
em lágrimas que partilhei com a Joana.»
O regresso a casa aconteceu no dia 11, quinta-feira, na véspera de se apresentarem no RG3. Além
da fuligem, alguns danos
em mobiliário de exterior
e o cheiro a fumo, a habitação tinha escapado. «A
crise na Madeira ainda
não tinha terminado,
mas em São Roque tudo
parecia voltar à normalidade. A resiliência dominava nas redondezas.» a
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 11
horas vagas
Sandra Sousa
http://estrelasnocolo.wordpress.com
U
ma noite para se
render, de Tessa
Dare, é um romance de época
muito divertido. Nesta história conhecemos a jovem
Susanna Finch, que vive
numa redoma ajudando,
na sua pequena localida-
Virgílio Jesus
[livro, filme, música]
livro
Uma noite para se render
de, jovens que, por alguma razão, não conseguiram arranjar um bom casamento. Quando aparecem vários cavalheiros e
um deles se torna conde,
através das influências do
próprio pai de Susanna,
ela mal pode acreditar no
que lhe está a acontecer. A
sua vida, numa questão de
horas, torna-se completamente diferente. Como seria de esperar, Susanna e
o jovem Conde Victor acabam por se envolver. Arriscam tudo para estar
juntos… Mas será que Vic-
Tessa Dare
tor conseguirá soltar as
amarras da guerra e ficar
junto a Susanna fazendo-a
feliz? Este é um livro muito engraçado, romântico,
divertido e com muitas
personagens alucinantes.
Uma leitura fácil e leve
para os dias de verão. a
[email protected]
televisão & cinema
ó ao evocar a memória de John F.
Kennedy e do momento do seu assassinato, em Até ao Fim, já
se percebem as barreiras
colocadas sobre a aprovação da Lei dos Direitos Civis, que visava garantir, a
todos os americanos e sem
discriminação racial, o direito ao voto. Seria apenas
com o início da adminis-
tração de Lyndon B. Johnson, o 36º presidente dos
Estados Unidos, que tal seria possível. Neste telefilme do canal HBO, nomeado a 8 Emmys, somos
apresentados a um político
dos Texas de acentuado sotaque sulista e de queixo
pontiagudo interpretado
por Bryan Cranston. A sua
transformação, seriamente
exigente, mostra-nos um
homem preocupado com
a vontade do povo - muito
ao encontro do biográfico
Lincoln, de Steven Spielberg. De facto, Até ao Fim
pode até ser exaustivo,
pela exímia informação
política, contudo são uma
vez mais assuntos contemporâneos, daí que não demorem as aparições de
Martin Luther King ou de
J. Edgar Hoover. a
logias digitais. Neste verão
cinematográfico tem sido
com particular curiosidade que temos vindo a assistir à componente de fábula nas aventuras familiares, desta vez com a
amizade entre um dragão
e um humano. Aliás, A
Lenda do Dragão oferece
uma das interpretações infantis mais requintadas do
ano: Oakes Fegley conse-
gue escapar aos clichés infantis. Nota-se, nos filmes
da Disney, um intenso
processo de casting no
que toca a menores. Vejase ainda as presenças de
Bryce Dallas Howard e sobretudo de Robert Redford, e uma banda-sonora
homogénea de Daniel
Hart, a transmitir a natureza paisagística da Nova
Zelândia. a
S
N
ovamente, a Disney continua repleta de magia.
Depois de O Livro da Selva e O Amigo Gigante, uma das maiores
produtoras americanas
aposta num remake de
uma das suas histórias
mais antigas, reimaginando com um toque modernista, obviamente ao encontro das recentes tecno-
Por E.V.
N
Até ao Fim
TV Cine 1
Domingo, 21 de agosto - 21h30
Realizado por: Jay Roach
Elenco: Bryan Cranston, Melissa Leo, Anthony Mackie
e Frank Langella
Género: Drama, Biografia
A Lenda
do Dragão
(já nos cinemas)
Realizado por: David Lowery
Elenco: Oakes Fegley, Bryce Dallas Howard,
Karl Urban, Wes Bentley e Robert Redford
Género: Família, Aventura, Família
música Air – Twentyears, o recuar ao tempo em que os franceses eram bons
ão sou muito de
coletâneas. Não
as acho criativas nem tão
pouco algo em que apeteça meter as garras,
neste caso os ouvidos, e
desconstruir até à exaustão, procurando ficar
surpreendido a cada faixa, como é normal num
disco. Bem, há sempre as
exceções.
Talvez pela nostalgia da
coisa, ou porque o tempo é propício a tal, este
twentyears dos franceses
Air faz com que me apeteça redescobrir o momento de adolescência
em que percebi que a
música eletrónica não
era só aquela que passava na discoteca, sim as
discotecas de cá do burgo, ainda hoje muito fustigadas pela pouca seleção musical que apresentam. Os grandes êxitos estão todos lá, mas
não nos são jogados à
cara, aliás como toda a
música de Air, são sub-
tis, são lançados ao ar e
cabe a nós fazer a ligação espiritual entre a
música e o cérebro, essa
ligação que me mandou
de regresso ao passado, a
um outro lugar, com outras pessoas, noutro ambiente, em que os franceses dominavam as pistas
de dança. a
a
12 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
feliz com menos
Débora G. Pereira
www.simplesmentenatural.com
J
á reparou no modo
como as crianças
vivem o agora?
Para elas, o passado e o futuro simplesmente não existem e somos nós, os adultos, que
pensamos muito e acabamos por complicar um
bocado as coisas. Como é
possível que não percebamos que há momentos
em que o que mais interessa é saltar para dentro
daquela poça de água tão
apetitosa e colocar as pequenas mãozinhas sob
aquelas gotas de água que
caem? Não, não me venham dizer que as poças
de água não são irresistíveis. Elas olham para nós
e fazem-nos aquele sorrisinho húmido e só nos
apetece pôr nem que seja
Faça do momento presente
um verdadeiro presente
a pontinha do pé para nos
rebelarmos um bocadinho. Mas eles, os pequenos, deixam-se se ir, não
controlam aquela emoção
e vão lá com a sua vida,
com toda a sua energia,
dão tudo o que têm naquele momento com os
dois pés juntos no meio
da poça e, nessa pequena
fração de segundo, isso é
tudo o que importa, é
esse sentimento que conta. Salta água por todos os
lados, molha tudo, faz
uns barulhos engraçados
e aquelas pequenas carinhas abrem uns grandes
sorrisos como se contivessem toda a felicidade do
mundo. Os nossos pequenos frutos simplesmente
usufruem, não se preocupam com o depois, com o
ter de trocar a roupa ou
mesmo eliminar nódoas
rebeldes, esse é um incó-
modo nosso, não deles.
Lembro-me de muitos
momentos especiais na
minha infância, momentos que do ponto de vista
dos meus pais, ou qual-
quer outro adulto, seriam
apenas uma sequência lógica de acontecimentos
sem grande cor ou vida,
mas que para mim eram
extraordinários. Enquanto
adultos, às vezes, num dia
mais atarefado, esquecemos um pouco esse facto,
porém, ações que, para
nós, são rotineiras, a olho
nu sem importância, para
eles são as memórias especiais da infância das
quais se irão recordar
para sempre.
A maior parte de nós vive
de alguma forma no passado (devido a mágoas,
ressentimentos, sentimentos difíceis de ultrapassar
subjacentes a situações
complicadas que aconteceram) ou no futuro (com
a preocupação constante
do amanhã, a angústia da
incerteza, o medo do que
está por vir) esquecendose da dádiva que é o momento presente. Em relação ao passado há que fazer as pazes com ele, tomar consciência, compreender a irreversibilidade do tempo, aceitar, per-
Incêndios
Bruno Olim
Farmacêutico
[email protected]
F
omos assolados
pelo flagelo dos incêndios na nossa
magnífica ilha.
Sofremos em conjunto, o
terror, a destruição, o desespero, a perda, o sofrimento, pelo material, pelo
animal, pelo humano, a
sensação de impotência
face ao poderio da chama,
assoberbou-nos, deixandonos num estado de ansiedade e tristeza.
As repercussões dos incêndios, para além das mencionadas - destruição, perda humana e animal, que
causam uma enorme carga psicológica e emocional
(ira, revolta, dor, tristeza),
campo esse em que profissionais bem diferenciados,
como os psicólogos, têm
uma palavra a dizer, implicam graves riscos para a
saúde pública, devido ao
calor intenso, radiação e
fumo. O fumo é constituído por pequenas partícu-
las sólidas, gases e vapor
de água, apesar de este estar presente em maior
quantidade, os restantes
compostos, monóxido carbono, oxido nítrico, dióxido de carbono, tóxicos do
ar e partículas pequenas
são os verdadeiros responsáveis pelo potencial risco
para a saúde. Por exemplo,
o monóxido de carbono
produzido nos incêndios
entra na corrente sanguínea através dos pulmões e
reduz a quantidade de oxigénio entregue aos órgãos
e tecidos do corpo.
Daqui se depreende facilmente que, para além das
queimaduras, dos efeitos
do excesso de calor (por
doar talvez. Quanto ao futuro, por mais que trabalhemos para ele, que façamos tudo com o máximo
de cálculo, a máxima perfeição, ele é incerto e pode
sempre nos surpreender.
É apenas no agora que podemos ter alguma influência nas nossas ações, sem
esquecer, claro, que a felicidade não tem que estar
presente apenas nas grandes coisas e podemos convidá-la a marcar presença
em pequenos momentos
como estar com amigos,
passear o cão, brincar com
os filhos, cozinhar, ouvir
música ou ler.
As crianças não são seres
em stand by e, na realidade, tal como a nossa, a
vida deles já está a acontecer, a diferença, meus
amigos, é que eles aproveitam muito mais. Uma semana feliz. a
saúde
exemplo, golpe de calor), e
situações oculares, os problemas respiratórios assumem uma relevância
enorme, pois os seus riscos existem não só durante os incêndios, mas podem prolongar-se por vários dias, dependendo das
condições climatéricas, devido à deposição das pequenas partículas nas vias
respiratórias.
Existem algumas precauções a tomar perante um
incêndio: usar máscara ou
lenço molhado a cobrir
boca e nariz, usar óculos
(em caso de olhos irritados, proceder à lavagem
dos mesmos com soro fisiológico ou água fria lim-
pa), ingerir mais líquidos
(preferencialmente água),
permanecer no interior da
residência com portas e janelas fechadas e impedir
que as crianças ( especialmente as menores de 3
anos) estejam na rua, já os
adultos devem manter a
calma respirar devagar e
reduzir o esforço físico.
Uma palavra final de grande apreço e reconhecimento aos bombeiros, Protecção civil, e profissionais
de saúde, que no meio da
catástrofe lutaram com todos os meios e forças e
que com a sua coragem e
abnegação limitaram as
consequências dos incêndios. a
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 13
feliz com mais
É preciso ter lata...
SideDish Moustache
[email protected]
Portugal é um
dos países que
têm uma das
mais avançadas
indústrias de
conserva, sim,
hoje vamos por
aí, para as latas.
E, como em
tudo na vida,
há conservas
e conservas.
O
interessante nisto tudo é que,
atualmente, a noção de comida
enlatada tem vindo a mudar, de alimento para o
povo e para o desenrasque, aos pouco vira-se
para os foodies, chiques e,
bem, para todos. Deixou
de haver aquele complexo
de que as conservas só
servem para os preguiçosos, sem paladar, etc...
Anthony Bourdain, no seu
programa No Reservations, foi visto a petiscar
essa iguaria portuguesa,
por exemplo. Existe na
realidade um aproximar
dos enlatados ao mundo
da alta cozinha, não digo
que daqui a dias iremos
ter pratos Michelin confe-
cionados ou compostos
por conservas mas estamos cada vez mais perto
disso.
O principal problema das
conservas é, sobretudo,
psicológico quando vamos
comprar “as conservas”. É
certo e sabido que a maior
parte das latas de atum
tem um preço relativamente barato, também é
certo e sabido que essas
valem pouco ou nada,
mas ao crescer em torno
de uma realidade onde a
variedade era escassa habituamo-nos ao sabor dessas, e aqui fazemos um recuo no tempo para falar
da origem das mesmas. O
grande nascimento das
conservas surge no início
do século XIX com, como
tudo o que permite grandes expansões, as guerras
napoleónicas, e daí a comida enlatada continuar a
ser vista como algo de cariz militar ou de sobrevivência, o objetivo era que
a comida durasse e ponto
final. O sabor, esse, era sacrificado, o mesmo aconteceu nas grandes guerras, altura em que Portugal toma conta do mercado das conservas assumindo-se como um dos
maiores exportadores.
A expansão veio depois,
talvez o maior marco da
mesma será a lata de sopa
desenhada por Andy Warhol no início dos anos 60
do século passado. Mas
continuamos a ter dificuldade, direi, em gastar
mais um pouco por uma
simples lata de atum.
Como é óbvio, há casos
em que tal não compensa,
fazer a típica massa de
atum de universitários,
por exemplo, mas se preferir arriscar e comer o
atum só por si, só pelo sabor, paladar, textura, cheiro do mesmo, aí sim, vai
entrar num mundo completamente novo quando
decidir arriscar e gastar
mais um pouco na maldita lata de atum. E quem
fala de atum diz sardinhas, mexilhões, lulas e
por aí fora.
Agora pode perguntar,
caro leitor, o que sinto
quando abro uma lata de
atum? É simplesmente a
liberdade de saber que
consigo fazer um refeição
em segundos, sem me
preocupar com o resultado, é, no fundo, a resposta adequada à preguiça
que toma conta de mim
quando a paciência para
estar entre panelas e frigideiras é nula. Mas sei
que o prazer será o mesmo.
O meu conselho em relação a isto tudo é, mais
uma vez – estou seriamente a pensar em mudar o nome da crónica, se
puder experimente tudo.
Experimente a lata de
atum Tenório com tomate e manjericão ou uns
mexilhões em escabeche
da Pitéu. Não precisa de
ter lata para experimentar, esteja à vontade... a
a
14 | açúcar | SÁB 20 AGO 2016
mais açúcar
Strudel de Pêra e Chocolate
Joana Gonçalves
ingredientes
modo de preparação
6 folhas de massa filo
7 pêras
100gr açúcar
70gr avelã torrada
70gr chocolate
40gr de manteiga derretida
Descascar as pêras e fatiá-las o mais finamente possível.
Levar ao lume com o açúcar até ficarem macias. Retirar
do lume e adicionar a avelã picada grosseiramente.
Num tabuleiro forrado a papel vegetal, estender uma folha de massa filo e pincelar com manteiga. Sobrepor as
outra folhas de massa filo, pincelando todas com manteiga. Polvilhar a última camada com açúcar. Colocar a pêra
e por cima colocar o chocolate finamente picado. Enrolar
e pincelar com manteiga. Levar a forno pré-aquecido a
190º durante cerca de 35 minutos.
Para o molho, ferver o leite com a baunilha. Misturar as
gemas com o açúcar e amido de milho. Verter um pouco
do leite fervido e misturar. Juntar ao restante leite e levar
ao lume, mexendo sempre até espessar ligeiramente.
Molho de baunilha
20cl de leite
1 vagem de baunilha
2 gemas de ovo
50gr açúcar
1cc de amido de milho
a
Chef Pasteleira - Eleven, Lisboa
[email protected]
Iogurte de Framboesa, Rosa e Lichias
ingredientes
modo de preparação
8 iogurtes naturais
2 folhas de gelatina
90gr de lichias em calda
400gr de framboesa
10gr de açúcar em pó
25gr de xarope de rosa
Retirar o iogurte dos potes e refrigerar. Lavar e secar os
potes. Cortar as lichias em pequenos pedaços. Reduzir
as framboesas a puré. Aquecer 1/4 do puré de framboesa com o açúcar em pó e juntar a gelatina previamente
demolhada em água fria. Juntar á restante polpa de
framboesa e adicionar o xarope de rosa.
Dividir a compota pelos potes de iogurte. refrigerar por
uma hora. Colocar a lichias sobre a compota. Encher
com o iogurte. Reservar no frio até ao momento de servir.
a
Restaurante Atlantic - comida , bebida e … Mar!
E
screver uma crónica sobre o restaurante Atlantic,
situado no Clube
de Turismo, é a coisa
mais fácil do mundo e
sabe porquê, caro leitor?
Porque tem uma esplanada debruçada sobre o
atlântico com uma vista
de cortar a respiração, capaz de inspirar até este
aprendiz de cronista.
Porque tem um serviço
simpático e profissional.
Porque tem um menu inventivo de base portuguesa com influência mediterrânea, apesar de estar
situado em pleno atlântico.
Porque tem uma carta de
vinhos de qualidade, para
além de uma variedade
de sangrias originais, o
que é raro na nossa Ilha.
Porque, para além da esplanada, tem uma sala
“cool” para os dias mais
frios, isto porque, há mais
vida para além do verão e
este espaço também é lindo no inverno.
E porque, finalmente, o
Bernardo, o proprietário
deste espaço, é um ótimo
profissional e sabe muito
de restauração. Só assim
se explica tudo o que
atrás descrevo.
Em relação à comida,
destaco claramente o filete de cavala marinado e o
magnífico atum grelhado
com espinafres salteados,
puré de batata e tomate
com pinhões. Na carne,
opte por um seguro bife à
café de paris com batata
frita (o melhor da Madeira, garanto).
Para além da carne e do
peixe, existem ainda opções de massas e risotos e
umas entradas fantásticas, das quais destacaria
os peixinhos da horta
com molho tártaro.
É um espaço que merece
ser visitado e para quem,
por qualquer razão que a
própria razão desconhece, seguir estas crónicas,
sabe que dou muito valor
aos restaurantes que têm
clientes locais e turistas.
por
António Janela
Já me esquecia de um importante “pormaior”, este
restaurante também faz
jantares de grupo com
menu previamente combinado com o Bernardo e,
“last but not the least”, a
batata frita é caseira, o
que vai sendo uma raridade! a
a
SÁB 20 AGO 2016 | açúcar | 15
boca doce
Ana Luísa Correia
1
Assessora de comunicação da Secretaria Regional
da Economia, Turismo e Cultura
O que distingue um
madeirense de um
continental?
A fome de mar. A vontade
de ir sempre mais além,
mas para logo regressar
a casa. A forma como um
ilhéu olha o mundo
é diferente.
Três características
da sua personalidade que
melhor o definem?
Esta pergunta é difícil…
Teimosia, impulsividade
e alegria.
2
A crítica mais
construtiva que já
lhe fizeram?
E a mais injusta
ou absurda?
“Não escrevas para ti.
Escreve para os outros”.
Foi a primeira lição de
jornalismo que tive do
primeiro chefe, o Vítor
Rainho, quando estagiei
no Expresso. Críticas
injustas ou absurdas?
A de não ser uma jornalista imparcial ou uma
boa profissional.
3
A decisão mais
importante que teve
de tomar?
Acho que todos os dias
tomo a importante
decisão de acordar e enfrentar a vida. Mesmo
nos dias difíceis. Tudo o
resto vem por acréscimo.
4
A sua dúvida mais
persistente?
Se seria mais feliz se
tivesse escolhido outra
carreira. E se tivesse
ficado por Lisboa. E se….
Bem, dúvidas há sempre,
mas não gosto de pensar
muito nelas.
12
13
Que opinião tem dos
madeirenses que
escondem o sotaque?
O sotaque é, além de marca da nossa identidade,
uma caraterística pessoal.
5
Um arrependimento?
O meu melhor amigo
uma vez disse-me que
não havia experiências
boas ou más. Apenas experiências. Isso ficou entranhado em mim. Hoje
olho para trás sem arrependimentos.
6
Um ato de coragem?
Ser jornalista e ser jornalista na Madeira. Durante muito tempo foi
preciso coragem. No ano
passado, foi preciso coragem para mudar de
campo na área da comunicação. Agora, faltame coragem para
publicar um livro.
7
Uma atitude
imperdoável?
Duvidar da minha amizade e do meu profissionalismo e magoar
aqueles que me são
queridos. A essas pessoas
tenho mais dificuldade
em perdoar, acho que
nunca perdoo.
8
A companhia ideal para
uma conversa metafísica?
Fernando Pessoa, Mário
Sá Carneiro, Soren Kierkegaard, Primo Levi… Até
poderia ter uma conversa
metafísica com Pedro
Chagas Freitas, para
tentar perceber como é
que ele consegue ser um
dos escritores mais lidos
em Portugal…
9
Qual a sua maior
extravagância?
Viajar, viajar, viajar….
Falta o tempo (para não
dizer o dinheiro…)
10
Quem são os seus
heróis na vida real?
A minha avó Lurdes,
que me ensinou que um
diagnóstico não é uma
sentença de morte.
O meu avô Rui, que me
ensinou a boa cartilha
dos valores. A minha
avó Ida que me ensinou
a ler e a escrever.
11
Uma doce memória
da infância?
Fazer bolos de mel com
a minha avó Lurdes.
14
Que expressões
madeirenses usa com
maior frequência?
Não atremei! Sempre
a cramar! É melhor nos
deixarmos de bilhardices…
15
A quem gostaria
de pagar uma poncha?
A todos aqueles que se
precisam de se soltar
para revelarem o seu
verdadeiro ser .
16
Segredos da Ilha…
Local: Jardim Botânico
Engenheiro Rui Vieira
Hotel: Belmond Reid’s
Palace
Restaurante: Sabores
Alentejanos e Gavião Novo
Atividade ao ar livre: Praia
e Levadas
Loja: Bertrand e FNAC

Documentos relacionados