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capa Shutterstock NO CORAÇÃO DAS 18 | Edição #37 | AMÉRICAS • por Fabio Steinberg Em entrevista exclusiva a Viagens S/A, Pedro Heilbron, CEO da Copa Airlines, conta como a companhia, com 300 voos diários para 74 cidades de 30 países, conquistou o status de poderosa organização, que contribui com 4% do PIB do Panamá, incrementa o turismo e gera 6,5 mil empregos | www.viagenssa.com | 19 Divulgação capa Trump Ocean Club International & Tower Panama, de 70 andares e maior edifício da América Central, foi premiado com o certitificado de excelência 2015 do Tripadvisor C omo irmãos siameses, nos parados teriam menor relevância, sim uma poderosa organização que últimos 70 anos a compa- juntos empresa e país fazem a dife- se tornou aliada estratégica do país. nhia aérea Copa Airlines e o rença. De um lado está um território Contribui com 4% do PIB, alavanca Panamá cresceram juntos e se be- de apenas 75 mil km com 3,5 mi- 6% do turismo, e gera 6,5 mil em- neficiaram mutuamente. Por isso, é lhões de habitantes. Do outro, uma pregos dos 10 mil colaboradores da impossível dissociar as duas traje- companhia aérea com 300 voos diá- aérea no mundo. “Depois do Canal tórias. Nessa simbiose do bem, hoje rios, que atendem 74 cidades de 30 do Panamá, a aviação é o maior ati- ninguém sabe mais quem depende países. A Copa Airlines não é uma vo do país”, afirma Pedro Heilbron, mais de quem. Não importa. Se se- simples empresa panamenha, e CEO da Copa Airlines. 20 | Edição #37 | 2 merciais da América Central faltava ainda fortalecer uma perna para completar o tripé. Era preciso viabilizar o transporte aéreo, somado ao terrestre e marítimo, não só para Na década seguinte, as boas facilitar o livre acesso ao território estradas panamenhas em territó- panamenho, como assegurar a sua rio tão diminuto fazem a empresa plena integração a todos os pontos concentrar-se exclusivamente no das Américas. Coube à Copa Airli- mercado internacional. Já contando nes exercer esse papel. com um velho Boeing 737-100, passa O Panamá entendeu que paí- a voar para o Haiti, República Domi- ses, assim como pessoas, possuem nicana, Porto Rico e Estados Unidos, talentos próprios. Alguns contam via Miami. Em 1992, já se somam apenas com a beleza natural a seu Venezuela, México, Chile, Equador, favor. Outros, têm características Peru, Argentina e Cuba. únicas que os destacam dos demais. Mas os mais bem-sucedidos MUDANÇA DE FOCO são os que não contam apenas com A história da Copa Airlines pode- esses fatores, mas também desen- ria ter um desfecho bem mais mo- volvem competências exclusivas, e desto, compatível com o esperado aprendem a tirar melhor proveito por uma companhia aérea regional de seus diferenciais em benefício do bem-intencionada, não fosse o ano desenvolvimento econômico. de 1992. É quando o jovem Pedro Foi sob as luzes desse conceito Heilbron assume a direção da em- que se desenvolveu uma poderosa presa, contando com a total confian- aliança entre o Panamá e a Copa ça dos acionistas, a família Motta, Airlines que perdura até hoje. Em- vizinhos e conterrâneos da cidade de presa aérea particular inexpressiva Colón, com quem o pai já fazia ne- até 1947, quando foi fundada com gócios. Aos 27 anos e com um MBA o nome de Companhia Panamenha no currículo, Heilbron trabalhava de Aviação, sua existência pode ser há sete anos para o grupo, seu úni- dividida em duas fases. A primeira co emprego na vida, e que buscava inclui os primeiros 20 anos, quan- sem sucesso um gerente geral para Pequeno istmo que une as do se limitou a ligar três cidades do a Copa. Afinal, os Motta resolveram Américas do Norte e do Sul, o Pana- Panamá através de velhos aviões adotar uma solução caseira. má entendeu desde a sua fundação, DC-3. A partir de 1966, inicia timi- A indicação de Pedro como CEO, em 1509, que a privilegiada posição damente operações internacionais o que inicialmente poderia ser inter- geográfica permitia exercitar com na direção de países vizinhos como pretada como pura sorte de quem vantagem competitiva a principal Costa Rica, Jamaica, Nicarágua e estava no lugar certo na hora certa, vocação do país: a conectividade. Colômbia. Durante os anos 70, a mostrou-se a mais acertada das de- Ao se consolidar como principal Copa continua a expansão para ou- cisões. “Quando assumi, a Copa era centro de negócios bancários e co- tros destinos na região. então formada por dois Boeing 737 | www.viagenssa.com | 21 Divulgação/Copa Airlines capa O Aeroporto Internacional de Tocumen, base de operação da Copa Airlines que oferece 12 voos para o Brasil – um 200 e outro 100 – de segunda Por exemplo, se alguém quisesse Tocumen, no Panamá, o Hub das mão, com uma renda anual de US$ voar da Nicarágua para Lima, no Américas, algo que prevaleceu até 20 milhões - recorda o discreto, mas Peru, não tinha opção de voo direto. hoje. O terminal moderno e rechea- sempre simpático dirigente. Apai- A ligação entre pontos como de São do nos corredores de lojas duty free xonado pelo que faz, ele brinca ao Paulo à capital de Honduras poderia lembra uma gigantesca centopeia, comparar o estilo pinga-pinga ao levar antes até três dias. Em outros onde cada pata é representada por de “aviões-leiteiros” dos dois a três casos, era necessário pegar até qua- um portão de embarque. A rotina voos diários, umas três vezes por se- tro voos. “Ligações de cidades como é parecida. No primeiro momento, mana para o Caribe e a Colômbia.” Recife a Nassau, nas Bahamas, era voos de todos os lugares chegam ao Qual foi, afinal, o grande mo- um sonho impossível. Com isso, era mesmo tempo ao local. Após inten- mento, o verdadeiro pulo do gato, inviável fazer negócios entre os pa- so troca-troca de passageiros e ba- e que acabou fazendo toda a dife- íses da região”, lembra Heibron. De gagens, as partidas ocorrem quase rença para o êxito da Copa Airlines? fato, durante muitos anos, Miami, que simultaneamente para os no- “Decidimos transformar a América nos Estados Unidos, foi o principal, vos destinos. “Quando adotamos o Latina, e não mais Miami, em nos- e não raro o único meio de conexão modelo e começamos a conectar sa prioridade”, ele revela. Ou seja, entre países latino-americanos. Isso os países da região, pensaram que as grandes companhias aéreas da mudou radicalmente com a Copa. estávamos loucos”, conta Heilbron. CENTOPEIA GIGANTE tras iniciativas de Heilbron estavam época subvalorizaram o potencial dos voos dentro da região. Por isso, O tempo provou que essa e ou- não havia conexões nem voos dire- A estratégia complementar foi corretas. Após uma aliança estra- tos entre os países do continente. fazer do aeroporto internacional de tégica com a Continental Airlines, 22 | Edição #37 | a Copa passa a projetar nova imagem, adotando programa de milhagem e o início da renovação da frota por aviões Boeing 737 Next Generation 700 e 800, e anos depois, adicionando aeronaves Embraer 190. Novos destinos se somam, e a partir de 2005 a empresa passa a ter ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York. Desde 2010, membro da Star Alliance, a Copa tem hoje 98 aeronaves. FROTA DE RESPEITO Desde 1998, a Copa Airlines mantém um programa de modernização contínua de seus hoje 98 aviões, formados por 18 Boeings 737-700, 54 modelos 737- 800 e 26 aviões Embraer 190. São 300 voos diários, incluindo 12 para os Estados Unidos, nove para a Colômbia, seis para Cuba, e 12 para o Brasil. A bordo, 12 canais de vídeo em espanhol, inglês e português. O serviço de refeições é honesto, com direito a vinhos e licores, e que se não chega a encantar, tampouco decepciona. Há ainda uma classe executiva com cozinha internacional, tratamento prioritário de bagagem e check-in. A empresa controla ainda a Copa Airlines Colombia. Ao longo dos anos, a empresa acumula seguidos prêmios, como o de melhor linha aérea da América Central e Caribe e serviço de bordo, para o viajante, como pontualida- do Aeroporto Internacional de To- concedidos pela SkyTrax. Ou como de, preço justo, aviões modernos e cumen. Como seu principal e único a melhor companhia aérea do Mé- limpos, espaço para as pernas, co- hub, o terminal, com uma admi- xico e America Central, reconhecida mida decente e bons serviços. Além nistração cheia de altos e baixos, pelo World Travel Awards. Ou ain- disso, há uma rede de alianças es- está sob total controle do governo da, a mais pontual da América Lati- tratégicas que expandem o alcance panamenho. Este é, por sinal, um na (a quarta do mundo), segundo a de suas asas a todos os pontos do problema que o Brasil está se libe- consultoria FlightStats. Foi reconhe- planeta. “Apesar de nossa obsessão rando, graças ao programa de con- cida também pela Airline Business por custos baixos e eficiência opera- cessões de aeroportos à iniciativa Strategy Awards como a principal cional, não somos uma companhia privada. No Panamá, no entanto, é liderança regional. Isso sem falar aérea low cost”, avisa o CEO. diferente. A estratégia logística e de no prêmio Lifetime Achievement Se há algum calcanhar de Aqui- crescimento da Copa está intima- Award outorgado pela revista Air- les na operação redonda da Copa mente associada aos investimen- line Business a Pedro Heilbron e à Airlines, é sua dependência imensa tos públicos realizados em infra- Copa Airlines por sua influência na transformação do setor da aviação. OPERAÇÃO EQUILIBRADA Qual o maior diferencial de sucesso da Copa Airlines? Não há nada espetacular por trás. Mais para feijão com arroz que caviar, a companhia jamais será lembrada por mimos exagerados, mas sim por uma operação honesta e equilibrada. Sem se desdobrar em ofertas mirabolantes ou excesso de mordomias aos passageiros, ela entrega o que a maioria das companhias aéreas promete, PANAMÁ, TERRA DA CONECTIVIDADE Tudo começou em 1509, quando o Panamá viabilizou através de seu privilegiado território o tráfego do ouro do Peru, além de pessoas e mercadorias entre as colônias e a Espanha. Com a separação da Colômbia, em 1903, e a inauguração do Canal do Panamá, o país mais uma vez promoveu o seu diferencial de conexão. Com foco em serviços no setor bancário, comércio, em especial o da zona livre de Colón e turismo – são 2,5 milhões de visitantes por ano - o país conta ainda com sua posição de centro de conectividade digital das Américas. Ali, sete importantes cabos submarinos de fibra óptica integram as telecomunicações e informática entre as Américas, e estas com o Caribe e o resto do mundo. mas cumpre. São fatores essenciais | www.viagenssa.com | 23 Bisgstock capa Orla da cidade do Panamá, que ocupa hoje o lugar de Miami nas conexões para a América Latina estrutura aeroportuária do país e ça dos presidentes do Panamá, Juan uma empresa que até 1998 faturava decisões políticas governamentais. Varela, e dos Estados Unidos, Barack U$ 20 milhões com seus dois aviões Assim, bastaria um atraso no cum- Obama. O valor é tão expressivo que usados, e hoje possui 98 aeronaves, primento do cronograma de ex- supera até os investimentos feitos que geram quase US$ 3 bilhões de pansão do aeroporto previsto para para a recente expansão do Canal do renda anual. terminar em 2017, ou a criação de Panamá, em torno de U$ 5.2 bilhões. uma sobretaxa para financiar a “Estaremos agregando oito aerona- Viagens S/A foi ao Panamá a con- construção, ou mesmo estimular ves por ano a partir de 2018”, come- vite da Copa Airlines e do seguro de a concorrência por outras com- mora Pedro Helbron. Nada mal para viagens GTA. panhias aéreas, para afetar diretamente os planos de negócios da Copa, hoje a maior beneficiária do terminal. No entanto, o risco parece no momento minimizado, a começar por reconhecimentos públicos que atribuem a Tocumen o título de melhor aeroporto da América Central, e um dos 100 melhores no mundo. Uma recente aquisição pela Copa Airlines de 61 aeronaves Boeing 737 MAX 8 e 9 por U$ 6,6 bilhões, parte para substituir aviões e outra para atender futuras demandas, mereceu manchetes no mundo inteiro. Pela importância, a assinatura da compra contou até com a presen- 24 | Edição #37 | ALIANÇAS ESTRATÉGICAS Uma andorinha sozinha não faz verão. Esse bem que poderia ser o lema das alianças estratégicas que a Copa Airlines mantém com outras companhias aéreas. Os oito voos diretos do Panamá a cidades brasileiras se integram a mais 29, fruto de acordo com a GOL. O mesmo ocorre com os 12 voos diretos ao Caribe, que por sua vez podem se complementam a 500 cidades nos Estados Unidos e no mundo por meio da United. Isso sem falar na Star Alliance, que agrega ao portfólio 1.100 destinos de 100 países. Quem está à frente desse jogo de xadrez, que tem o mundo como tabuleiro, é Pablo de La Guardia, diretor sênior de relações com o governo e alianças estratégicas da Copa Airlines. Além da GOL, United e Star Alliance, ele também negociou a ampliação da rede com a Aeromexico e KLM, entre outras. “Nossa meta é estabelecer a principal plataforma de conectividade logística das Américas, seja ela aérea, marítima, terrestre ou digital”, ele conclui.