sonhos de Dom Bosco Parte III

Transcrição

sonhos de Dom Bosco Parte III
Tradução de sonhos - 2003 // 1º Semestre
AS CASAS SALESIANAS DA FRANÇA (1880)
(MB 14, 608-609 = MBe 14, 518-519)
Em 1858, quando estive em Roma pela primeira vez e logo em outras ocasiões, Pio IX me
mandou que contasse ou escrevesse todo aquilo que tivesse, ainda que só fosse uma pequena
aparência de sobrenatural; este é o motivo de que conte alguma coisa e escreva outras e que me
satisfaz o que se pensam, pois sempre redundam a maior glória de Deus e o bem das almas.
Este sonho o tive acerca da natividade da Virgem: não o contei então, porque não lhe dei
importância alguma e queria ver antes alguns acontecimentos, porém, depois de observar algumas
coisas, que o que sonhei tem sua importância e por isso o contei.
Estávamos no tempo em que tanto se temia na França a supressão das congregações
religiosas; ainda mais, haviam sido já expulsos os Jesuítas e parecia que os demais religiosas iam
ocorrer a mesma sorte e, temendo eu por nossas casas, rezava e vazia rezar por esta intenção.
Quando eis que uma noite, enquanto dormia, me vi diante da Santíssima Virgem, colocada
no alto, tal e qual se encontra Maria Auxiliadora sobre a cúpula. Tinha um grande manto que se
estendia ao seu redor, formando como um salão imenso e, debaixo dele, vi todas nossas casas da
França: a Virgem olhava com expressão sorridente desta casa, quando eis aqui que se desencadeou
um temporal tão horrível, ou melhor, um terremoto com raios, granizos, monstros horríveis das
mais diversas formas, disparos, canhões que encheram todos de maior espanto.
Todos aquele monstros, raios e projectos vinham dirigidos contra os nossos, que haviam se
abrigado embaixo do manto de Maria; porém nenhum deles sofreu dano algum, estando ilesos
quando se acolheram a proteção de tão poderosa defensora; todos os dardos pediam sua eficácia ao
chocar contra o manto de Maria, caindo despontados ao solo.
A Santíssima Virgem, em um mar de luzes, com o rosto radiante e um sorriso de paraíso,
disse repetidas vezes: Ego diligentes me diligo: Eu amo aos que me amam. Pouco a pouco foi
cessando aquela borrasca e, dos nossos nenhum foi vítima daquele temporal ou tempestade ou
terremoto, como queira chamá-lo.
Eu não quis fazes grande caso deste sonho; porém escrevi imediatamente a todas as casas
da França, dizendo que estivesse tranqüilos.
Alguns me perguntaram:
- Como é que todos estão preocupadíssimo e somente você permanece tranqüilo em meio de
tantos perigos e de tantas ameaças?
Eu lhes respondia simplesmente que confiassem na proteção da Virgem. Porém não se fez
caso. Escrevi ao Padre Guial, pároco de São José, que não temesse, que as coisas se orientariam
favoravelmente, e ele me respondeu como quem não houvesse entendido minha carta. E, na
realidade, ao considerar as coisas agora que a borrasca já passado, se vê que o sucedido tem muito
de extraordinário. Vê expulsas e dispersas a todas as congregações francesas que, desde muito
tempo fazia se dedicavam a fazer o bem na frança e depois comprovar que a nossa, que é
estrangeira, que vivi do pão, fruto do suor dos franceses... ante uma prensa desatada que grita contra
o governo porque não nos expulsa, e nós tão tranqüilos, é coisa maravilhosa. Que isto nos sirva de
estímulo para depositar sempre nossa confiança na Santíssima Virgem. Todavia não nos
ensoberbamos, pois bastaria um simples ato de vanglória para que a virgem se sentisse descontente
de nós e permitisse a vitória dos maus.
- Entretanto também outras congregações tinham sido muito devotas da Virgem - disse Dom
Miguel Rua - ; como é que... ?
- A Virgem faz o que querem - contestou Dom Bosco - por outra parte, nossas coisas
começaram desta forma extraordinária, desde que eu tinha nove a dez anos. Me pareceu vê na era
da casa a tantos e tantos meninos! Então uma pessoa me disse:
- Por que não os instrui?
3
- Porque não sei - lhe repliquei.
- Põe-te a instruí-los; eu te ordeno.
E eu estava tão contente por aquele mandato que todos se deram conta de minha alegria.
OBSERVAÇÕES:
Tido ao redor da festa da natividade da Virgem, contado em 1o de dezembro ao conselho
Geral em São Benigno Canavese.
Na França havia perseguição contra ordens e congregações religiosas. Em 21 de setembro
de 1880 perguntaram a Dom Bosco se os Salesianos seriam expulsos também; ele respondeu: " não,
não, não". Porque esta seguridade? Só explicitou sua origem, ao contar o sonho de 1o de dezembro.
Historicamente, segundo Lemoyne, as coisas foram simples: o comissário encarregado de
levar a efeito o decreto de fecho das casas religiosas, teve que lutar até as dez da noite para deitar
abaixo as portas e desfazer as barricadas dos conventos dos Dominicanos da rua Monteaux, de
Marselha e, por ser tão tarde, não houve tempo de assaltar a casa salesiana de São Leão, que era a
última casa por fechar. No dia seguinte, o Ministério ordenou a suspensão da execução do decreto,
porque de tal modo o aconselhavam razões de política interna.
Resta um acontecimento claro: Dom Bosco acreditou neste sonho.
Euderley Mazarello
UMA ÁRVORE MARAVILHOSA ( 1875)
(MB 11,34 = MBe 11,36-37)
A noite passada dormi pouco. Tive um sonho que me cansou muito e foi este:
Me parecia estar em um jardim junto uma árvore com frutas de três tipos: havia figo,
pêssego e pêras. De pronto se levantou um vento violento e começou a cair sobre mim uma
granizada mesclada com pedras. Busquei nesta ocasião donde refugiar-me: porém apareceu um que
me disse:
- Depressa, recolhe a fruta.
Busquei um cesto, porém era muito pequeno, por o que o outro me disse a gritos:
- Busca outro mais grande.
E o cabia, porém, apenas havia tomado duas ou três frutas daquelas, o cesto ficou cheio. De
novo me gritou o outro, dizendo-me que buscasse um cesto maior. O encontrei, e o outro repetiu:
- Depressa, porque o granizo o destrói todo.
E me pus a recolher. Porém qual não foi minha surpresa quando, ao tomar uns figos
extraordinariamente grandes, percebi que estavam condenados por um lado. O desconhecido se pôs
então a gritar:
- depressa, escolhe-os.
Me pus então a escolher os bons e os fui colocando em três grupos em um cesto. Num lado
pus os figos, ao outro os pêssegos e no meio as pêras; porém aquela fruta, figo, pêssego e pêra era
do tamanho de dois punhados juntos de um homem e tão formosas que eu não me cansava de
contempla-las. Então o desconhecido me disse:
- Os figos são para o bispo; as pêras para ti e os pêssegos para América.
E dito isso, começou a dar palmadas e a gritar:
- Coragem, bravo, bravo, muito bem, bravo!
E desapareceu.
Então me despertei, porém ficou-me tão impresso este sonho que não pude separá-lo de
minha mente.
OBSERVAÇÕES:
4
Tido em 15 de março em Roma; contado na casa dos senhores Sigismondi, sentado a mesa e
estando presente Dom Berto, de quem é a relação. O cesto grande significa a amplitude do lugar
destinado a este fim; os figos para o bispo são os jovens destinados ao seminário; os pêssegos para
América são os missionários salesianos; as pêras do meio são os salesianos destinados a sede
central da congregação: a granizada de pedras são os contratempos que virão do alto, especialmente
de parte dos bispos, cujas cartas enviadas a Roma se conservam, tratando de impedir a aprovação
desta Obra.
Em 14 de abril de 1875 Dom Bosco falou sobre este tema a Pio IX que acabaria aprovando-a
com título de “Obra de Maria Auxiliadora”.
Euderley Mazarello
A MARMOTA ( 1858)
(MB 6,301 = MBe 6, 234-235)
"Umas das primeiras conversas que ouvi de Dom Bosco( 1859) foi a sobre a freqüência do
sacramentos. Esta, em geral, não estava todavia bem organizada ente os meninos recém chegado de
sua casa. Contou um sonho. E pareceu achar cerca da porta do oratório, observando os meninos.
Via o estado da alma em que cada um se encontrava aos olhos de Deus.
Quando aqui entrou no pátio um homem que chegava com uma caixinha. Se meteu entre as
crianças. Chegou na hora das confissões, e aquele homem abriu a caixinha, pegou uma
marmodinha e fazia dançar. Os meninos, em vez de entrar na Igreja, formaram um circulo ao redor ,
rindo e aplaudindo suas macaquices, enquanto o tal se ia retirando cada vez mais fazia o lado do
pátio mais afastado da Igreja.
Dom Bosco descreveu em primeiro término, sem nomear a nada, o estado da consciência de
alguns jovens; depois pujo de relevo os esforços e insídias empregadas pelo demônio para distrair e
separar da confissão.
Falando daquele, fez divertir-se muito a seu auditório, mas também o obrigou a refletir
seriamente sobre as coisas da alma. Tanto mais que, depois, manifestava privadamente aos que
pediam o que eles criam sem nada saber. E quanto a Dom Bosco dizia e manifestava o que era
certo.
Este sonho induziu a maior parte dos meninos a confessar-se com freqüência, geralmente
cada semana, chegando a ser as comunhões muitos numerosas".
OBSERVAÇÕES:
O biógrafo apresenta como fonte de sua narração a "um velho amigo daqueles tempos". (M.
Be 6, 234)
Gaudêncio Campos
O CONGRESSO DOS DIABOS( 1885)
(MB 17, 385-387 = MBe 17,333-335)
Me pareceu estar numa sala grande, onde muitos diabos celebravam um congresso, tratando
o modo de exterminar a congregação salesiana. Pareciam leões, tigres, serpentes e outras diversas
classe de animais, mas tinha uma forma indeterminada, mais bem semelhante a figura humana.
Pareciam sombra que, umas vezes, cresciam e, outras, minguavam, que se estabilizavam ou se
inchavam como sucederia com os corpos que estivesse detrás de si uma luz que fosse levada de uma
parte a outra, colocada a rasa ao solo ou levantada.
5
E eis aqui que um dos demônio se adiantou e abriu a seção. Para destruir a sociedade
salesiana propôs um único meio: a gula. Fez ver as conseqüência deste vicio: inércia para o bem,
corrupção de costumes, escândalo, falta de espírito de sacrifício, descuido dos jovens... mas outro
diabo replicou:
- Meio que propõe não es geral nem eficaz, nem se pode assaltar eles a todos as membros ao
conjunto, pois a mesa dos religiosos será sempre poupado e o vinho se servirá em medida discreta;
as regras assinalam suas comidas ordinárias; os Superiores vigiam para que não entrem desordem.
Quem se exagerar na comida ou na bebida, em vez de escandalizar, causaria desprezo. Não é esta a
ama que se há de empregar para combater os salesianos; eu proporia outro meio, que será mais
eficaz e com ele se poderá desejar melhor monstro intento: o amor as riquezas. Em uma
congregação religiosa quando entra o amor a riquezas, penetra também nela o amor as comodidade,
se busca a maneira de se dispor de dinheiro, se rompe o vinculo das caridade, não pensando cada
um mais que em si mesmo; se fecham o ouvido aos pobres para atender unicamente aos que tem
bens comuns de fortuna, se rompe a congregação...
Aquele quis continuar, mas surgiu um terceiro que exclamou:
- Mas, que gula, nem que riqueza! Entre os salesianos o amor a riqueza pode subjugar aos poucos.
Os salesianos são todos pobres, tem poucas ocasiões de procurara-se um dinheiro. Ademais, em
geral, estão constituído de tal forma e são tanto as suas necessidades por muitos jovens que atendem
e as casas que tem que abastecer, que qualquer quantidade, por grossa que fosse, seria
imediatamente ocupado. Não é possível que juntar dinheiro. Mas eu tenho um meio infalível para
ganhar a nossa causa a Sociedade Salesiana, e este é a liberdade. Induzir, pois, aos salesianos, a
desprezar as Regras, a despedir certas ocupações pesadas e pouco honoríficas, a produzir divisões
entre os Superiores com opiniões diversas, a ir a visitar os parentes, seu pretexto de invitações, e
coesas semelhantes.
Enquanto os demônios falavam , Dom Bosco pensava:
- Já, já me previno de todo quanto estais dizendo. Falava, falava, pois assim poderei frustrar
vossas tramas.
Entretanto, se adiantou um quarto demônio que disse:
- Mas se essas armas que propões são inúteis. Os superiores saberão por freio a essa
liberdade, despedindo da casa aos que se mostram rebeldes contra as Regras. Alguns será talvez
deslumbrado por o desejo da liberdade, mas a grande maioria se manterá, em o cumprimento de seu
dever. Eu tenho um meio para poder arruinar todos desde seus cimentos; um meio tal que a duras
penas os salesianos poderão precaver deles. Escuta-me com atenção. Persuadir de que a ciência
deve ser sua glória principal. Portanto, induzir a estudar muito para si, para adquirir fama e não
para praticar o que aprendem, não para usufruir a vantagem do próximo. Assim, procurar que tratem
com desprezo aos pobres e ignorantes e que não atendam ao absoluto a sagrado mistério. Nada de
oratório festivo, nem de catecismo aos meninos; nada de classe primária para instruir aos pobres
meninos abandonados, nada de largas horas de confessionário. Atenderão só a pregação, mas raras
vezes e de uma forma medida e estéril, pois nela buscarão somente um alívio da soberba com o fim
de alcançar aos elogios dos homens e não as salvação das almas.
Esta proposta foi recebida com aplausos gerais. Então Dom Bosco entreviu o dia em que
os salesianos poderiam chagar a crer que o bem da Congregação e sua honra tinha que consistir no
saber e se sentiu cheio de espanto só a pensar que seus filhos chegassem a proceder segundo a esta
idéia, proclamando a voz em coro que este deveria ser o programa seguir.
Também nesta ocasião o servo de Deus permanecia em um canto de sala, escutando e
observando tudo; quando um dos demônios o descobriu e, gritando, o revelou aos demais. Ao ouvir
aquele grito, todos se arrogaram contra ele esbravejando:
- Acabemos de uma vez!
Finalmente Era uma dança infernal de sombras que o empurravam, o agarravam com os
braços e pelas pessoa enquanto o servo de Deus dizia a gritos:
- Deixa-me! Auxilio!
6
Finalmente se despertou, com os pulmões desfeitos de tanto gritar”.
OBSERVAÇÕES:
Tido a 30 de novembro; contado a Viglietti no dia 2 de dezembro.
Gaudêncio Campos
PARIS – IGREJA – ITÁLIA (1870)
(Romero, 15-16; MB 9,779-783 = MBe 9,695-698; MB 10,59-63 = MBe 10,64-68)
Só Deus pode tudo, conhece tudo e vê tudo. Deus não tem passado nem futuro, para Deus
não há nada oculto, todas as coisas lhe são presentes.
Para Ele não há distância de lugar ou de pessoa. Só Ele, em sua infinita misericórdia e para
sua glória, pode manifestar as coisas futuras aos homens.
Na véspera da Epifania do corrente ano de 1870 desapareceram todos os objetos materiais de
minha habitação e me encontrei até a consideração de coisas sobrenaturais. Foi algo que durou
breves instantes, mas foram muitas as coisas que vi. Embora de formas e aparências sensíveis, não
se podem comunicar aos demais senão com muita dificuldade, com símbolos exteriores e sensíveis.
O que segue poderá dar uma idéia dele. Em tudo isto se encontra a palavra de Deus, acomodada à
palavra do homem.
Do sul vem a guerra, do norte vem a paz.
As leis da França não reconhecem ainda ao Criador e o Criador se fará conhecer e a visitará
três vezes com a vara de seu furor.
A primeira abaterá sua soberba, com as derrotas, o sangue e os estragos nas colheitas, nos
animais e nos homens.
Na segunda, a grande prostituta da Babilônia, que os bons chamam, suspirando o prostíbulo
da Europa, será privado do chefe e entregada à desordem.
Paris! Paris! Em vez de armar-te com o nome do Senhor, te rodeias de coisas de
imoralidades. Estas serão destruídas por ti mesmo. Teu ídolo, o Túmulo (Pantéon), será reduzido a
cinzas, para que se cumpra o que está escrito: Mentita est iniquitas sibi (a iniquidade se enganou a
si mesma).
Teus inimigos te cumularão de angústias, de fome, de espanto e te converterão na
abominação das nações. Porém, ai de ti se não reconheceres a mão que te fere! Quero castigar a
imoralidade, o abandono, o desprezo de minha lei, diz o Senhor.
Na terceira, cairá abaixo uma mão estrangeira: teus inimigos verão desde longe teus palácios
incendiados, tuas casas convertidas em montes de ruínas, banhadas no sangue de teus heróis, que
ainda não existem.
Porém, aqui que um grande guerreiro do norte leva uma bandeira, sobre destra que o
sustenta está escrito: “Irresistível é a mão do Senhor”. Naquele instante, o Venerando Ancião de
Lacio lhe sairá ao encontro, brilhando uma tocha de mão vivíssima. Então, a bandeira se estenderá
e, do negro que era, tornou-se branco como a neve. No centro da bandeira, estava escrito com letras
de ouro o nome de Quem tudo pode.
O guerreiro e os seus fizeram uma profunda inclinação ao Ancião e apertar-lhe-ão a mão.
E disse depois: a voz do céu se dirige ao Pastor dos pastores. Tu agora estás na grande
conferência com seus conselheiros; porém o inimigo do bem não guarda um momento de repouso,
estuda e pratica toda a classe de sutilezas contra ti. Semeará a discórdia entre teus conselheiros;
suscitará inimigos entre meus filhos. As potências do século vomitarão fogo e se desejará que as
palavras fossem sufocadas nas gargantas dos guardiães de minha lei. Porém isso não sucederá.
Farão o mal, porém em prejuízo de si mesmos. Tu dê pressa: se as dificuldades não se resolverem,
empregue meios heróicos. Se te sentes angustiado, não te detenhas, senão, ao contrário, continua
adiante até que lhe seja cortada a cabeça da hidra do engano.
Este golpe fará tremer a terra e o inferno, porém o mundo recobrará a segurança e todos os
bons se alegrarão. Conserva, pois, junto a ti, mesmo que sejam somente os conselheiros, porém a
7
qualquer parte que vás, continua e termina a obra que te foi confiada.
Os dias correm velozmente e teus anos aproximam do número estabelecido, porém a grande
Rainha será sempre teu auxílio, como nos tempos passados, também no possuir será sempre teu
auxílio e magnum et singulare in Ecclesia paresidium (grande e singular ajuda da Igreja).
E a ti, Itália, terra de bênção, quem te tem submergido na desolação? ... Não digas que teus
inimigos, mas teus amigos. Não olhas teus filhos que pedem o pão da fé e não encontra quem o
parta? Que há? Atacarei aos pastores, ajuntarei o rebanho, a fim de que os que se sentam na cátedra
de Moisés busquem bons pastos e o rebanho escute docilmente e se alimente.
Porém sobre o rebanho e sobre os pastores cairá a minha mão, a carência, a peste, a guerra,
existirão de maneira que as mães chorem o sangue dos filhos e dos esposos mortos em terra
inimiga. E de ti, Roma, que será? Roma ingrata, Roma efeminada, Roma soberba! Chegou a tal
ponto de insensatez que não buscas e admiras outra coisa em teu Soberano mais que o luxo,
esquecendo que tua glória e as suas estão na Gólgota. Agora, ele é ancião, senil, desarmado,
despojado; mas com sua palavra servidora, fará tremer a todo o mundo.
Roma... eu virei quatro vez sobre ti!
Na primeira, atacarei tuas terras e teus habitantes.
Na segunda, levarei o estrago e o extermínio até tuas muralhas.
Não abrirás ainda os olhos?
Virei pela terceira vez, abaterei defesas e defensores e, ao mandado do Pai, começará o
reinado do terror, do espanto e da desolação.
Embora meus sábios fogem, minha lei segue todavia desprezada; por isso farei uma quarta
visita! Ai de ti, se minha lei e continuar sendo morta para ti!
Há corrupção entre os doutores e entre os ignorantes.
Teu sangue e o de teus filhos lavaram as manchas que tem achado sobre a lei de teu Deus.
A guerra, a peste, o sangue são flagelos com que será castigada a soberba e a malícia dos
homens.
Onde estão, ó ricos, vossas magnificências, vossas casas, vossos palácios? Se tem
convertido em lixo das praças e ruas.
Mas vós, sacerdotes, por que não correis a chorar entre o vestíbulo e o altar, invocando a suspensão
dos flagelos? Por que não tomais um escudo de fé e não subis nos telhados das casas, nas ruas e nas
praças, inclusive nos lugares inacessíveis, não espalhais a semente de minha Palavra? Ignorais e
esta, a terrível espada de dois gumes que abaterá os meus inimigos e que desfaça a ira de Deus e dos
homens?
Estas coisas tenderão a suceder inexoravelmente, uma depois da outra.
As coisas procedem muito lentamente.
Porém o glorioso Reino do Céu está presente.
O poder de Deus está em suas mãos, dissipa como a neve a seus inimigos. Reveste o
Venerando Ancião de todos seus antigos hábitos.
Produzir-se-á um violento furacão.
A iniqüidade se há consumado, o pecado terá fim, antes de que transcorra a Lua cheia do
mês das flores, o arco da paz aparecerá sobre a terra.
O Grande Ministro verá a esposa de seu Rei vestida de festa.
Em todo o mundo aparecerá um Sol, tão luminoso, como jamais existiu desde as chamas do
Cenáculo até hoje, e nem se voltará a ver até o fim dos dias.
Esclarecimentos
Do sul vem a guerra. – Da França, que declarou guerra à Prússia.
Do norte vem a paz. – Do norte da Espanha, onde começou a guerra atual. Ademais Don
Carlos, que está ao norte da Itália.
O Túmulo (Panteón) será reduzido a cinzas. – Os periódicos contemporâneos diziam que
havia sido destruído com várias bombas. Mas os acontecimentos da França não se realizaram
8
totalmente.
Porém, há aqui um grande guerreiro. - Dom Carlos.
Do norte leva uma bandeira. - Desde o norte da Espanha.
Uma tocha de luz vivíssima. - A fé em Deus, que guia e sustenta ao grande guerreio em suas
obras.
Então a bandeira, que era negra, tornou-se branca como a neva. - Cessou o estrago: a cor
negra, símbolo da morte, o bem da perseguição, isto é, o Kulturkampf.
E no centro da bandeira, com caracteres de ouro, está escrito o nome de quem tudo pode. Dizem os estudiosos que, na bandeira de Dom Carlos, está pintado o Coração de Jesus por um lado
e por outro, a Imaculada Conceição.
Porém, a qualquer parte que tu vás. - Parece referir-se ao exílio do Pontífice, e imortal Pio
IX. Vê-se a segunda profecia.
As mães choram o sangue de seus filhos e dos esposos mortos em terra inimiga. - Isto deve
suceder.
Era uma quarta visita. - A quarta visita a Roma ainda há de acontecer.
Produzir-se-á um violento furacão. - Vê-se a profecia seguinte; faz-se alusão ao tempo
descrito ali por extenso.
Antes que transcorra a Lua cheia do mês das flores. - E neste ano 1874, no mês de maio tem
a Lua cheia. Um é o dia primeiro, o outro, é 31 do mesmo mês.
O arco da paz. - Uma esperança que parece começar a se realizar na Espanha, o presente
primeiro de março de 1874.
Em todo o mundo aparecerá um Sol tão luminoso. - O triunfo e expansão do cristianismo.
E na mão direita do que o levanta está escrito Irresistível mão do Senhor. - Dizem os
estudiosos que Dom Carlos empenhou suas obras com 14 homens, sem armas, sem dinheiro, nem
víveres; e que não obstante, hoje, primeiro de abril de 1874, conta com um exército de cem mil
soldados. E não se lê que até agora haja perdido uma batalha sequer.
OBSERVAÇÕES:
Acontecido em 5 de janeiro de 1870, a vigília da Epifania. Em 6 de janeiro celebrou-se a
Segunda sessão do Concílio Vaticano, cujo problema mais freqüente era a questão da infalibilidade
pessoal do papa, que levantou grande polêmica dentro e fora da aula conciliar.
Desta profecia teremos o texto mais completo em uma cópia de Dom Humberto, com
apostilas de Dom Bosco. Foi publicada duas vezes nas Memórias. Aqui se refere ao volume X, por
ser mais completo. Foi comunicada a Pio IX em 12 de fevereiro de 1870.
Enquanto a verificação da profecia, os fatos-chave sucedidos são a guerra franco-prussiana e
a caída de Roma, como se interpretou seu cumprimento? Rafael Ballerini, jesuíta, incita que a
profecia não se cumpriu, em um artigo da revista Civiltà Cattolica de 1872. Dom Bosco afirma sua
própria certeza, como manifestou na mensagem a Pio IX de 1873: os acontecimentos se cumprirão à
letra (MB 10,64). Em Valdocco existia a convicção de sua plena realização. Nem Stella nem
Romero adiantam nenhuma afirmação; a única é esta: "Nelas Dom Bosco se apresenta como
intérprete de suas próprias profecias e nos indica quanto considera cumprido e quanto, pelo
contrário, tem que esperar todavia" (STELLA II, 552).
Em contraste com esta omissão o silêncio dos espertos, está um artigo em três dedicações do
Boletim Salesiano de 1963, em que tudo aparece com inteira claridade: o assédio e os massacres de
Paris durante a guerra franco-prussiana, estão ali previstos com precisão impressionante. O
Pontífice está na grande conferência, Concílio Vaticano I, com seus assessores (bispos); trata de
encontrar o cabeça da hidra do engano (com a definição da infalibilidade pontifícia). Pio IX
conheceu esta "voz do céu" em 12 de fevereiro de 1870: por isto, empenhou-se na declaração da
infalibilidade, apesar da oposição dos Governos e por isso não abandonou Roma, apesar dos
conselhos de seus colaboradores mais íntimos. Roma seria visitada quatro vezes: cairia depois da
terceira visita. A quarta visita teria lugar durante a 2ª Guerra Mundial. Os acontecimentos também
9
se verificariam no século XX. E este século, Maria está presente: Fátima, Assunção, Consagração
do mundo ao seu Coração Imaculado, restituição do Estado do Vaticano (11 de fevereiro de 1929).
"Reveste o Venerando Ancião de Lazio de todos seus velhos hábitos" significa que lhe dá todas as
prerrogativas soberanas. Logo virá um violento furacão: na 2ª Guerra Mundial. Ao final, triunfo da
Igreja e o reconhecimento atual de todas as nações para o papa, o Concílio Vaticano II como
abertura a todos, diálogo ecumênico... Com estas "conclusões tão luminosas, Dom Bosco nos
aparece como o profeta dos tempos modernos" (ib. 403). Tudo isto, segundo o anônimo autor destes
três artigos.
Rafael e Herivelton.
DEVOÇÃO A MARIA
Nós cristãos cremos sem dúvida que a Santíssima mãe de Deus e mãe da igreja, continua
intercedendo por nós junto ao seu filho Jesus Cristo. Nós cristãos católicos cremos que Maria é
aquela que faz a ligação entre o céu e a terra, aquela que escuta a suplica de seus filhos que
necessitam de ajuda. Nossa senhora é conhecida por vários títulos, que os fiéis lhe outorgam e que
são conhecidos por toda a parte do mundo, como por exemplo: Nossa Senhora Aparecida, Nossa
Senhora de Lurdes, de Fátima , de Guadalupe e tantas outras.
Mas para nós salesianos existe um título que realmente nos marca a vida que é o de Nossa
Senhora Auxiliadora, aquela que conduz a congregação salesiana. É pela sua poderosa intercessão,
que conseguimos todas as graças materiais e espirituais, necessárias para a nossa salvação eterna,
único e realmente bem necessário, para ser feliz.
Foi nesta confiança e devoção a Nossa Senhora que Dom Bosco iniciou a sua obra entre os
jovens, Ela sempre lhe mostrava o caminho a tomar. Nossa Senhora freqüentemente aparecia nos
sonhos de Dom Bosco e foi a estrela do seu apostolado, sobretudo na fundação da nossa sociedade.
Trabalhando com seus jovens, muitas vezes Dom Bosco atravessava por dificuldades e quando
já estava sem saber o que fazer, como num passe de mágica as coisas começavam a clarear. Não
foram poucas as vezes que Dom Bosco teve que recorrer a Nossa Senhora Auxiliadora,
especialmente toda vez que precisava de um auxilio extraordinário para atender as necessidades dos
meninos pobres e abandonados, não só materiais, mas sobre tudo quando suas almas corriam
perigo.
Quando falamos de Maria Santíssima como Auxilio dos Cristãos, logo ela nos aparece como a
defensora da igreja, e de todos os cristãos. Ela é o modelo perfeito de todas as virtudes, nos ensina
com seu exemplo como devemos imitar o seu filho Divino, através do seu sim a Deus, e todas as
dificuldades que teve que enfrentar para cuidar do menino Jesus, até a sua morte pregado na cruz,
quando Jesus entregou sua mãe a Igreja, para que toda a igreja cuidasse dela com fé permanente e
amor filial. Ë por isso que rezamos todos os dias o terço e celebramos suas festas para nos estimular
a uma imitação mais convicta e pessoal.
É Maria que atende com cuidado maternal todas as necessidades da igreja, conduzindo-a pelos
caminhos da salvação. E se os devotos de Maria pensassem e meditassem as últimas palavras de
Jesus agonizante na cruz, “Eis a tua Mãe”. Ninguém no mundo poderia se queixar de orfandade e
solidão durante a vida, pois serão capazes, como Maria Santíssima de realizar com êxito sua missão
e sua vocação no lar, na vida social e na igreja.
Herivelton Breitenbach
Fonte
- Devocionário de Nossa senhora Auxiliadora.
- Constituições
MENSAGEM A LEÃO XIII (1878)
(Romero, 45-49; MB 13,488-489 = MBe 13,419-420)
10
Um pobre servo de senhor, que as vezes enviado ao Padre Santo, Pio IX, algumas coisas que
julgadas vinham do senhor, és o mesmo que agora, humilde, mas literalmente, comunica a S. S.
Leão XIII algumas coisas que parecem ser de certa importância para a igreja.
Prefácio das coisas mais necessárias para a igreja.
Disse uma voz: se querem destruir as pedras do santuário; derrubar a parede da fortaleza e assim
criar o caos na cidade e na casa de Sión; não conseguirão, mas causarão muitos dano.
O supremo governante da igreja na terra corresponde pôr remédio, reparar os danos que causam
os inimigos.
E mal começa pela falta de obreiros evangélicos.
É difícil encontrar levitas nas comunidades; pela qual, buscam com a máxima solicitude entre a
enxada e o martelo, sim apontar a idade e a condição. Reuni-los e educá-los até capacitá-los para
dar os frutos que os povos esperam.
Todo esforço, todo sacrifício feito com este fim sempre é pouco, em comparação com o mal que
se pode impedir e o bem que se pode obter.
Os filhos do pátio, que hoje vivem dispersos, são reunidos e, se já não podem formar dez casas,
industriem-se para construir uma ao menos, para com toda a observância regular.
Os filhos dos séculos, atraídos pela da observância religiosa, irão aumentar o número de filhos
da oração e da meditação.
As famílias religiosas estão pela necessidade dos tempos. Com a firmeza na fé. Co suas obras
materiais devem combater as idéias dos que somente vêem matéria no homem. Estes pequenos
desprezam ao que reza e ao que medita, porém se verão obrigados a crer nas obras das que são
testemunhas oculares.
Estas novas instituições necessitam ser ajudadas, sustentadas, favorecidas, por aqueles que o
Espírito Santo pôs para reger e governar a igreja de Deus.
Téngase, pois, presente que; promovendo, cultivando as vocações do Santuário; recolhendo os
religiosos dispersos e restituindo a observância regular; acompanhado, favorecendo, dirigindo as
congregações recentes, se terão operários evangélicos para as dioceses, para os institutos religiosos
e para as missões estrangeiras.
OBSERVAÇÃO:
Aonde Dom Berto copiou posteriormente, em o conhecido Ms.B da profecia dos 70, a
mensagem a Leão XII, não existe declaração explicita sobre a possibilidade de classificar o
conteúdo entre os sonhos. As expressões “algumas coisas que julgava que vinham do senhor” e
“disse uma voz” podem ser consideradas como alusão implícita ao seu caráter de sonho? ( Romero,
47).
A ESCRAVA DO SENHOR (1887)
(Romero,95-99; MB 18,253-254 = MBe 18,225)
Não sei se foi sonhando ou acordado nem tão pouco pude dar-me conta em que habitação
encontrava-me quando uma luz ordinária começou a iluminar aquele lugar.
Depois começou a ouvir uma espécie de ruído prolongado e apareceu uma pessoa rodeada
de muitas outras que se iam cercando. Aquelas pessoas levavam enfeites luminosos que toda a luz
anterior quieta como convertida e temido sendo impossível manter a vista fixa nos presentes.
Então, a pessoa que parecia servir as demais de guia, se adiantou um pouco e começou a
falar em latim desta maneira:
- ego sum humilis ancilla quam dominus misit ad sanandum ludovicum, tuum infirmum.
Ad requiem ille iam erat vocatus; nunc vero ut gloria dei manifestetur in eo, ipse animae
suae et suorum curam adhuc habebit. Ego sum ancilla cui fecit magna Qui potens est
11
sanctum nomen eius. Hoc diligenter perpende et quod futurum est intelliges. Amen
(Eu sou a humilde escrava mandada pelo Senhor para curar o teu enfermo Ludovico. Está
chamado ao descanso; mas, agora é feito, a fim de que se manifeste na glória de Deus, terá que
pensar em sua alma e na dos seus. Eu sou a escrava, com a qual foi feito coisas grades, aquele que é
poderoso e seu nome é santo. Reflete atentamente sobre isto e compreenderás o que deve suceder.
Amém.)
A noite seguinte, vi a mesma aparição que em latim alguns avisos para o bem dos jovens
e da congregação. Ei-los aqui:
- continuatio verborum illus, quae se dixerat ancillam domini:- ego in altissimis habito ut
ditem filios diligentes me et thesauros eorum repleam. Thesauri adolescentiae sunt
castimoniae sermonum et actionum. Ideo, vos ministri Dei, clamate nec uaqueam
cessate clamare: fugite partes adversas sive malas conversationes. Corrumpunt bonos
mores colloquia prova. Stulta et lubrica dicentes difficime corriguntur. Si vultis mihi
rem pergratam facere, custodite bonos sermones inter vos et praebete ad invicem
exemplum bonorumoperum. Multi ex vobis promilttunt flores et porrigunt spinas mihi et
filio meo.
- Cur saepissime confitemini peccata vestra et cor vestrum semper longe est a me? Dicte
et operamini iustitiam et non iniquitatem. Ego sum mater quae diligo filios meos et
eorum iniquitates detestor. Iterum veniam ad vos ut nonnullos ad veram requiem mecum
deducam. Curam eorum geram utigallina custodit pulos suos.
- Vos autem, opfices, estote oporarii bonorum operum et non inquitatis. Colloquiaprova
sunt pestis quae serpit inter vos. Vos Qui in sortem domini vocati estis, clamate, ne
cessetis clamare, donec veniat Qui vocabit vos ad reddendam rotione villicationis
vestrae. Deliciae meae esse cum filiis hominum, sed omne tempus breve sete: agite ergo
viriliter dum tempus habetis,etc.
(Continuação das palavras daquela que se chama a si mesma escrava do Senhor: Eu
tenho minha morada no mais alto dos céus para fazer ricos aos que me amam e lhes dar
seus tesouros. Tesouros dos jovens são as palavras castas e as ações puras. Por isso,
vocês, ministros de Deus, levantando a voz e não os canseis jamais de gritar: foge das
coisas contrarias e impede das más conversações. As más conversações corrompem os
bons costumes. Os que falam insensatamente e de maneira obscena, dificilmente se
corrigirá. Se queres fazer coisas agradáveis a mim, procuras te boas conversações entres
vocês e dá mutualmente exemplos de boas ações. Muitos de vocês prometem flores e só
oferecem espinhos a mim e a meus meninos.
Por que fazendo confissões tão freqüente vossos corações estar tão distante de mim?
Decide fazer o bem e não o mal. Eu sou uma mãe que amo meus filhos e detesto suas
culpas. Voltarei entre vocês para levar alguns ao verdadeiro repouso. E cuidarei deles
como a galinha cuida seus pintainhos.
E vocês, artesãos, sejam artistas de boas obras e não de iniquidade. As más
conversações são como uma peste que se infiltra entre vocês. Vocês, os chamados a
administrar a prosperidade do Senhor, levantando a voz, não canseis de gritar basta que
venha aquele que os chamará a dar conta da vossa admiração. Minha delicia é estar com
os meninos e os homens. Mas o tempo é breve portanto, tens tempo, trabalha com animo
esforçado.)
AS AFLIÇÕES DO INFERNO (1887)
(MB 18,284-285= MBe 18, 251-252)
O servo de Deus viu as aflições do inferno. Ouviu primeiro um grande barulho, como de um
terremoto. No momento não fez caso, mas o rumor foi crescendo gradualmente, até que ouviu um
12
estrondo horroroso e prolongado , misturado com gritos de horror e espanto, com vozes humanas
indescritíveis que, confundida com o estouro geral, produzia um estrondo espantoso.
Assustado, observei em meu redor para averiguar qual era a causa daquele fim de mundo,
mas não vi nada de particular. O rumor cada vez mais barulhento, ia aproximando-se, e nem com
olhos nem com o ouvido podia determinar o que sucedia.
Dom Bosco continuou assim seu relato:
_ Vi primeiramente uma massa uniforme que pouco a pouco foi tomando a figura de uma
espantosa tina de fabulosas dimensões: Dela saía os gritos de dor. Perguntei, espantado, o que era
aquilo e o que significava o que estava vendo. Então os gritos, até ali incompreensíveis,
intensificaram-se mais, de forma que pude ouvir essas palavras:
_ Muiti gloriar in terris et cremantur in igne.
Depois vi dentro daquela tina, pessoas indescritivelmente em formas. Os olhos saíam das
órbitas; as orelhas quase separadas da cabeça; os braços e as pernas estavam deslocados de modo
fantástico. Os gemidos humanos se uniam a angustiosos miados de gatos, rugidos de leões, uivo de
lobos e uivados de tigres, de ursos e de outros animais. Observei melhor, e entre aqueles
desventurados reconheci alguns. Então, cada vez mais aterrorizado perguntei novamente o que
significava tão extraordinário espetáculo. Respondeu-me:
_ Gemitibus inemarrabilibus famem patienur ut canes
Entretanto, com o aumento do ruído, fazia-se mais viva e mais precisa a vista das coisas. Conhecia
melhor aqueles infelizes, e escutava mais claramente seus gritos, e seu terror era cada vez mais
opressor.
Então perguntei em voz alta;
_ Más não é possível remediar ou aliviar tamanha desventura? Todos estes horrores e estes
castigos estão preparados para nós? Que devo fazer?
Sim replicou uma voz_ , há um remédio; somente um remédio. Apressar a pagar as próprias
dívidas com ouro e prata.
_Más isso são coisas materiais.
_Não; aurum et thus. Com a oração incessante e com a freqüente comunhão, poderá
remediar tanto mal.
Durante este diálogo fizeram-se mais estridentes e o aspecto daqueles que o emitiam eram
mais monstruosos, de forma que, de tanto terror, me despertei.
OBSERVAÇÕES:
Teve na noite do dia 2 de abril e contou a Viglietti no dia 3de abril.
Na manhã do dia 3de abril de (1877) , Dom Bosco diz a Viglietti que na noite anterior não pode
descansar, por causa de um sonho que teve. Ele causou em seu organismo um verdadeiro
esgotamento de forças.
_ Se os jovens , ele dizia, ouvisse o relato do que vi, daria uma vida santa e ficaria afastados
dos pecados até o fim. No entanto Não me é possível descreve-lo todo, pois seria muito difícil
representar em sua realidade os castigos reservados aos pecadores na outra vida.
Há alusões a cenas da vida de mais outros sonhos: Aparição de Comollo ( 1839), Mamãe
margarida (1860), As dez colinas (1864), A inundação (1866), A fé, nosso escudo e nosso triunfo
(1876), O jardim salesiano (1876), Luís Colle (1881_1885), A mensagem de Dom Provera (1883),
São Pedro e São Paulo (1884), A inocência (1884), As missões salesianas na América meridional
(1885), Morte de um clérigo e de um aluno do oratório (1885).
José Alves
SÃO PEDRO E SÃO PAULO (1884)
(MB17,27-29 = MBe17,33-35)
13
Me pareceu estar em casa em encontro com São Pedro e São Paulo. Vestiam túnicas que
chegavam até aos joelhos, e sobre a cabeça uma carapuça estilo oriental. Ambos sorriam para Dom
Bosco. Sendo perguntado se tinham alguma missão para encomendar-me ou algo a comunicar-me,
não respondia à pergunta, sem antes começar a falar do oratório e dos jovens. No entanto, chega ali
um amigo de Dom Bosco, muito conhecido entre os salesianos, mas o servo de Deus não recorda
quem era.
_ Olha estas duas pessoas, diz ao recém chegado.
O amigo as olhou e diz:
_ Que vejo? É possível? São Pedro e São Paulo estão aqui?
Dom Bosco repetiu a pergunta que havia feito aos apóstolos pouco antes que, apesar de
mostrar-se amabilíssimos, continuavam falando de outras coisas.
De repente São Pedro lhe perguntou:
_ E a vida de São Pedro?
E o outro:
_ E a vida de São Paulo?
_Está certo!- replicou Dom Bosco em atitude de humildade. Com efeito, havia um projeto
para imprimir as duas biografias, mas depois foram esquecidas.
_ Se não fazes ligeiro, depois não terás tempo – advertiu São Paulo. Entretanto, tendo São
Pedro descoberto a cabeça, apareceu calvo, com duas mechas de cabelo sobre a fonte lateral. Tinha
todo o aspecto de um ancião forte e simpático. E, tendo afastado um pouco, pôs-se em atitude de
oração.
_ Deixa-o que reze!- adiantou S. Paulo.
Dom Bosco replicou:
_ Queria saber primeiro em que material está ajoelhado.
Dom Bosco foi junto a ele e viu que estava diante de uma espécie de altar, embora não fosse, e
perguntou a S. Paulo:
_Mas não tens castiçais?_ não fazem falta onde está o eterno Sol- replicou-lhe o apóstolo.
_ Tão pouco se vê a mesa.
_ A vítima não se sacrifica, a não ser que vive eternamente.
_ Mas em suma, o altar não é o calvário?
Então S. Pedro, com a voz elevada e harmoniosa, mas sem chegar a cantar, fez esta oração:
_ Glória a Deus Pai Criador, a Deus Filho Redentor, Glória a Deus Espírito Santificador. A
deus seja somente a honra e a glória por todos os séculos dos séculos. A Ti seja o louvor, oh Maria.
O céu e a terra te proclama Rainha. Maria...Maria...Maria.
Pronunciado este nome, fazendo uma pausa entre uma e outra exclamação e com tal expressão de
afeto e com uma crescente emoção, que seria impossível descrever, começaram a chorar de ternura.
Quando S. Pedro levantou foi ajoelhar-se no mesmo lugar que S. Paulo, e com a voz clara começou
a rezar assim:
_ Oh profundade dos anjos divinos! Grande Deus, secreto e inacessível aos mortais.
Somente no céu poderão penetrar a profundidade e a majestade, unicamente ao alcance dos bemaventurados. Oh Deus uno e trino! A Ti o louvor, a saudação, a ação de graças, desde todos os
pontos do universo.
Que teu nome oh Maria, seja louvado e bendito. Os céus cantam sua glória, e que na Terra sejas Tu
sempre o auxílio , a salvação. Regina Sanctorum Om Nium, Alleluia, Alleluia.
Dom Bosco ao contar o sonho, concluiu;
- Esta oração, pela maneira de proferir as palavras, produziu em mim tal emoção que
comecei a chorar e me despertei. Depois senti em minha alma um consolo inexplicável.
OBSERVAÇÕES:
Teve no dia 13 de fevereiro. A situação pessoal de Dom Bosco era esta: Grande perca de
forças; princípios de bronquite; escarro de sangue na noite do dia 10de fevereiro; a inchação das
14
pernas que chegou até os quadris. No dia 12 o médico Albertotti o visitou e lhe obrigou a ficar de
repouso. Nessa mesma noite Albertotti e Fissore notificaram extrema debilidade percebendo apenas
a batida do coração. O cardeal Alimonda, arcebispo de Turim, enviava alguém duas vezes ao dia
para procurar saber o estado de Dom Bosco. Nesta circunstancia o sonho pode qualificar-se como
delírio coerente, pois apareceram suas obsessões conscientes: o Oratório e os meninos, a Virgem, o
Paraíso.
José Alves
AS DUAS COLUNAS (1862)
(MB 7,169-171 = MBe 7,153-155)
Quero contar-vos um sonho. É certo que o que sonha não raciocina; contudo eu, que
contaria a vós até meus pecados se não temesse que saíssem correndo assustados ou que se caísse a
casa, vou contá-lo para vosso bem espiritual. Este sonho o tive faz alguns dias.
Fazei de conta que vós estais comigo à brisa do mar, ou melhor, sobre um rochedo isolado,
desde o qual não percebeis mais terras a que tendes debaixo dos pés. Em toda aquela superfície
líquida, vê-se uma multidão incontável de naves dispostas em ordem de batalha, cujas proas
terminam em um afiado esporão de ferro à moda de lança que fere e transpassa tudo aquilo contra a
qual chega a chocar. Esses navios estão armados de canhões, carregados de fusis e armas de
diferentes classes; de material incendiário e também de livros, e se dirigem contra outra embarcação
muito maior e mais alta, tentando cravar-lhe o esporão, incendiá-la ou ao menos fazer-lhe o maio
dano possível.
A este majestoso navio, munido de tudo, fazem escolta numerosas naves menores que dela
recebem as ordens, realizando as oportunas manobras para defender-se da frota inimiga. O vento élhes contrário e a agitação do mar favorece aos inimigos.
Em meio da imensidão do mar, levantam-se, sobre as ondas, duas robustas colunas, muito
altas, pouco distantes uma da outra. Sobre uma delas sobressai a estátua da Virgem Imaculada, em
cujos pés vê-se um amplo cartaz com esta inscrição: Auxilium Christianorum (Auxílio dos
Cristãos).
Sobre a outra coluna, que é muito mais alta e mais espessa, há uma Hóstia de tamanho
proporcional ao pedestal e debaixo dela outro cartaz com estas palavras: Salus credentium
(Salvação dos que crêem).
O comandante supremo da nave maior, que é o Romano Pontífice, ao avaliar a fúria dos
inimigos e a situação apurada em que se encontram seus fiéis, pensa em convocar a seu redor os
pilotos dos navios subalternos para celebrar conselho e decidir o caminho a seguir. Todos os pilotos
sobem à nau capitã e se congregam ao redor do Papa. Celebram conselho, mas, ao comprovar que o
vento aumenta cada vez mais e que a tempestade é cada vez mais violenta, são enviadas a tomar
novamente o mando de suas respectivas naves.
Restabelecida por um momento a calma, o Papa reúne pela Segunda vez os pilotos, enquanto
a nau capitã continua seu curso, mas a tempestade se torna novamente espantosa.
O Pontífice empunha o timão e todos os seus esforços vão encaminhadas a dirigir a nave
rumo ao espaço existente entre aquelas duas colunas, de cuja parte superior pendem numerosas
âncoras e grossas argolas unidas a robustas correntes.
As naves inimigas dispõe-se todas a assaltá-la, fazendo o possível para deter sua marcha e
para afundá-la. Umas com os escritos, outras com os livros, com materiais incendiários dos quais
contam com grande abundância, materiais que tentam jogar a bordo; outras com os canhões, com os
fusis, com os esporões: o combate se torna cada vez mais sangrento. As proas inimigas chocam
conta ela violentamente, porém seus esforços resultam inúteis. Em vão repetem o ataque e gastam
energias e munições: a gigantesca nave prossegue segura e serena em seu caminho.
15
Às vezes sucede que, por efeito das acometidas de que se lhe faz o objeto, mostra em suas
laterais uma longa e profunda rachadura; mas apenas produzido o dano, sopra um vento suave das
duas colunas e as vias de água se fecham e as brechas desaparecem.
Disparam em meio a isto os canhões dos assaltante e, ao fazê-lo, despedaçam, rompem-se os
fuzis, ao mesmo tempo que as demais armas e esporões. Muitas naves se abrem e afundam no mar.
Então os inimigos, cheios de furor, começam a lutar empregando armas curtas, as mãos, os punhos,
as injúrias, as blasfêmias, maldições, e assim continua o combate.
Quando eis aqui que o Papa cai ferido gravemente. Imediatamente os que o acompanham
acodem a ajudá-lo e lhe seguram. O Pontífice é ferido uma segunda vez, cai novamente e morre.
Um grito de vitória e de alegria ressoa entre os inimigos; sobre as cobertas de suas naves reina um
grito indizível. Porém, apenas morre o Pontífice, outro ocupa o lugar vago. Os pilotos reunidos o
elegem imediatamente, de sorte que a notícia da morte do Papa chega com a eleição de seu
sucessor. Os inimigos começam a desanimar-se.
O novo Pontífice, vencendo e superando todos os obstáculos, guia a nau rumo às duas
colunas e, ao chegar ao espaço compreendido entre ambas, amarra-a com uma corrente que pende
da proa a uma âncora da coluna da Hóstia; e com outra corrente que pende da popa, segura-a da
parte oposta a outra âncora pendurada da coluna que serve de pedestal à Virgem Imaculada.
Então se produz uma grande confusão. Todas as naus que até aquele momento haviam
lutado contra a embarcação comandada pelo Papa, dão-se à fuga, dispersam-se, chocam entre si e
destroem-se mutuamente. Uma ao afundar-se procuram afundar as demais. Outras embarcações,
que combateram valorosamente às ordens do Papa, são as primeiras a chegar às colunas de onde
permaneceram amarradas.
Outras naus que, por medo do combate, haviam se retirado e se encontram muito distantes,
continuam observando prudentemente os acontecimentos, até que, ao desaparecer nos abismos do
mar os restos das naves destruídas, remam aceleradamente rumo às duas colunas e ali permanecem
tranqüilas e serenas, em companhia da nau capitã ocupada pelo Papa. No mar reina uma calma
absoluta.
Ao chegar a este ponto do relato, Dom Bosco perguntou a Pe. Miguel Rua:
– Que pensas desta narração?
Pe. Miguel Rua respondeu:
– Parece-me que a nave do Papa é a Igreja da qual é cabeça: as outras naus representam os
homens e o mar, o mundo. Os que defendem a embarcação do Pontífice são os fiéis à Santa Sé; os
outros, seus inimigos, que com toda sorte de armas tentam aniquilá-la. As duas colunas salvadoras
parece-me que são a devoção à Maria Santíssima e ao Santíssimo Sacramento da Eucaristia.
Pe. Miguel Rua não fez referência ao Papa caído e morto, Dom Bosco nada disse tão pouco
sobre este particular. Somente acrescentou:
– Disseste bem. Somente haveria que corrigir uma expressão. As naves dos inimigos são as
perseguições. Preparam-se dias difíceis para a Igreja. O que até agora tem sucedido é quase nada em
comparação do que tem que suceder. Os inimigos da Igreja estão representados pelas naves que
tentam afundar a nave principal e aniquilá-la se pudessem. Só restam dois meios para salvar-se em
meio a tanta desordem! Devoção a Maria. Freqüência de sacramentos: comunhão freqüente,
empenhando todos os recursos para praticá-los nós e para fazê-los praticar aos demais sempre e em
todo momento. Boa noite!
OBSERVAÇÕES:
Prometido em 26 de maio; contado em 30 de maio, chamando-lhe "parábola". "As
conjeturas que fizeram os jovens sobre este sonho foram muitíssimas, especialmente no que se
refere ao Papa; Dom Bosco não acrescentou nenhuma outra explicação" (MB 7, 171) .
Stella faz um excelente estudo sobre este sonho: trama, redações, coincidências culturais e
natureza. Falando da natureza do sonho, expõe as opiniões dos contemporâneos e conclui: "Os
ouvintes teriam suficiente motivo para considerá-lo precisamente um dos sonhos habituais de Dom
16
Bosco, um sonho de origem sobrenatural, a que se confiava uma mensagem divina revelada ao
predileto Cenáculo de Valdocco.
O comportamento de Dom Bosco, a natureza reservada da documentação e a generalidade
das obras permitem-nos ir mais além. Hoje não temos nada novo para estabelecer com maior
segurança se o relato esteve precedido efetivamente de um sonho verdadeiro e próprio. Em
comparação a Dom Lemoyne, não possuímos nada de decisivo que nos induza a identificar algumas
daquelas predições com fatos acontecidos" (STELLA II, 554).
Esta parece ser a posição certa. Mas as opiniões emitidas posteriormente têm sido tão
variadas como as expressadas pelos ouvintes diretos de Dom Bosco. Um exemplo claro é o do
Cardeal Schuster, arcebispo de Milão: foi legado pontifício no Congresso Eucarístico Nacional de
Turim em 1953. Em 13 de setembro pronunciou a homilia no solene pontifical de clausura,
interpretando assim o sonho: o chefe da nave capitã seria Pio IX, que convocou os jerarcas ao
Concílio Vaticano I; o novo Pontífice havia sido Pio X que, em 8 de dezembro de 1904,
qüinquagésimo aniversário da proclamação por Pio IX da Imaculada Conceição de Maria como
dogma, consagrou o mundo a Maria, foi propagador da Eucaristia e em cujo pontificado não teve
guerras.
Tão pouco há de se esquecer como certa imprensa referiu-se a este sonho quando o Papa
João Paulo II caiu ferido na Praça de São Pedro em 13 de maio de 1981. Ficam expostos estes
exemplos para comprovar como a hermenêutica popular apologética e homilética não se sujeitam a
normas científicas.
Rafael Zanata Albertini, 6/2003.
VOCAÇÕES TARDIAS (1875)
(MB 11,32-33 = MBe 11, 35-36)
Um sábado pela tarde me encontrava confessando na sacristia quando me distraí. Pensava na
escassez de sacerdotes e de vocacionados e na maneira de poder aumentar o seu número. Via diante
de mim muitos meninos que vinham para confessar-se, bons e inocentes rapazes, e me dizia:
− Quem sabe quantos deles alcançarão a meta, e o tempo que tardarão em alcançá-la os que
perseverarem. E, entretanto, a necessidade da Igreja é urgente.
Estava meio distraído com este pensamento e, todavia, continuava confessando. De repente
me pareceu que estava em meu escritório, sentado em minha mesa de trabalho e que tinha diante de
mim o registro de todos os que estavam em casa. E dizia para mim mesmo:
− Como se explica isto? Estou confessando na sacristia e estou, ao mesmo tempo, em meu
escritório diante da minha mesa... Estou sonhando? Não; este é precisamente o registro dos alunos,
esta é minha mesa de trabalho.
Ouvi, entretanto, uma voz detrás de mim que me disse:
− Queres saber como aumentar rapidamente o número de sacerdotes? Observa o registro e
por ele entenderás o que deves fazer.
Obedeci e logo disse:
Estes são os registros dos alunos deste ano e dos anos passados, e não vejo outra coisa.
Estava muito preocupado; lia nomes, pensava, olhava acima e abaixo para ver se encontrava
algo, mas... nada.
Então disse para mim:
− Estou sonhando ou estou acordado? Efetivamente estou sentado em minha mesa e a voz
que escutei é verdadeira.
E de repente, quis levantar-me para ver quem era aquela que me havia falado e, de fato,
levantei-me. Os rapazes que estavam ao meu redor para confessar-se, ao ver que me levantava tão
depressa e assustado pensaram que havia passado mal e se aproximaram para segurar-me; mas eu,
17
assegurando-lhes que não passava nada, segui confessando.
Uma vez terminadas as confissões, e de volta a minha casa, olhei e efetivamente vi sobre a
mesa o registro com os nomes de todos que há em casa, porém não vi nada. Examinei o registro,
mas não entendi como podia descobrir com ele a maneira de ter sacerdotes, muitos sacerdotes e
rápido. Olhei outros registros que havia na casa para ver se podia deduzir por eles alguma coisa;
mas no momento não pude deduzir. Pedi outros registros ao Pe. Carlos Ghivarello; mas foi inútil.
Sempre pensando nisto, eis que me passaram antigos registros para obedecer à ordem daquela voz
misteriosa e observei que, dos muitos jovens que começam seus estudos em nossos colégios para
seguir depois a carreira eclesiástica, apenas perseveravam uns quinze por cento; ou seja, nem sequer
dois de cada dez chegavam a receber o hábito eclesiástico; afastavam-se do santuário por assuntos
familiares, pelos exames no Liceu, por haver mudado de vontade, o que costuma ocorrer no curso
de Retórica. E, pelo contrário, os que vêm já maiores, quase todos, a saber oito em cada dez, vestem
a batina e chegam a ela em menos tempo e com menos trabalho.
Disse-me então:
− Destes estou mais seguro e podem chegar em menos tempo; isto era o que buscava. Terei
que ocupar-me especialmente deles, abrir colégios expressamente para eles e buscar o modo de
atendê-los de uma maneira especial.
Pelo resultado se verá depois, se o que sucedeu foi um sonho ou uma realidade.
OBSERVAÇÕES:
Tido no começo de 1875; contado aos membros do Conselho Geral. Algum deles tomou
nota, e este relato é transcrição ao pé da letra. Neste momento Dom Bosco remoía o projeto de
fundar um seminário para vocação de adultos; e o realizará.
Rafael Zanata Albertini
AS VINTE DUAS LUAS (1854)
(MB 5,377-378 = MBe 5, 272-273)
“Encontrava-me em meio a vós no pátio e me alegrava o coração ao contempla-los tão
animado, alegres e contentes. Alguns saltavam, alguns gritava, outros corriam. Em seguida vi que
um de vós saiu por uma porta da casa e começou a passear entre os companheiros com uma espécie
de cestinho (ou cartola) ou turbante na cabeça. Era ele tal turbante transparente, estava iluminado
por dentro e ostentava no centro uma formosa lua e que aparecia gravado o número 22. Eu,
admirado, procurei imediatamente acercar-me dos jovens em questão para dizer-lhe que deixasse
aquele disfarce carnavalesco; porém tem aqui que, entretanto, o ambiente começou a escurecer e,
como a toque de sino, o pátio ficou deserto, vendo todos os jovens a reunir-se em filas debaixo dos
pórticos. Todos refletiam em seus rostos um grande temor e dez ou dose tinham a cara coberta de
mortal palidez. Eu passei diante de todos para examina-los e, entre eles, descobri que levava a lua
sobre a cabeça, na qual estava mais pálido que os demais; em seus ombros tinha um manto fúnebre.
Me dirigi a um para pergunta-lhe o significado de tudo aquilo, quando uma mão me deteve e vi um
desconhecido de aspecto grave e nobre continente, que me disse:
- Antes de aproximar-se dele, escuta-me; todavia, tem vinte duas luas de tempo, antes que
hajam passado, este jovem morrerá. Não o perca de vista e prepara-o.
eu quis pedir aquele personagem alguma outra explicação sobre o que acabava de dizer o
sobre sua repentina aparição, porém não consegui vê-lo mais. O jovem em questão, meus queridos
filhos me é conhecido e está em meio a vós.
Um vivo terror se apoderou aos ouvintes, tanto mais que era a primeira vez que Dom Bosco
anunciava em público e com certa solenidade a morte de um dos de casa. O bom padre não pode por
menos adverti-lo e prosseguir:
- Eu conosco e as luas, está no meio de vós. Porém não quero que o assuste. Como lhos
18
digo, se trata de um sonho e sabeis que não sempre se deve prestar atenção aos sonhos. De todas as
maneiras, seja como for, o certo é que devemos sempre estar preparados, como nos recomendou o
Divino Salvador no Evangelho e não cometer pecados; então a morte não nos causará espanto. Sede
todos bons, não ofendas ao Senhor, e eu, entretanto, não perderei de vista o número 22, e das vinte
duas luas e vinte dois meses, que isso quer dizer; e espero que tenho uma boa morte”.
OBSERVAÇÃO:
Contado num dia de festa do mês de março de 1854. Estavam presentes os rapazes
Caghiero, Turch, Anfossi, e os clérigo Revíglio e Buzzetti: deles ouvi o relato do P. Lemoyne. Esta
notícia assustou muito os meninos, todos procuravam manter-se na graça de Deus. Dom Bosco, de
vez em quando perguntava:
- Quantas luas faltam?
- Vinte, dezoito, quinze... Respondia. Alguns tentavam adivinhar, fazer prognósticos; porém
Dom Bosco guardava silêncio. Em 24 de dezembro de 1854 morreu o jovem Segundo Gurgo.
O GIGANTE FATAL (1859)
(MB 6,300 = MBe 6,234)
Porém naqueles dias, assegura o P. Rufino, Dom Bosco parecia preocupado. Havia contado
Ter visto em seus sonhos um homem de grande estatura dando volta pelas ruas de Turim e tocando
com os dedos nos rostos de uns e outros cidadãos. Os tocados ficavam negros e caíam morto. Era
caso de anúncio de uma epidemia mortal?
OBSERVAÇÃO:
Contado no final de 1859, no início do curso escolar de 1859-1860.
AMEAÇA MORTAL (1860)
(MB 6,828 = MBe 6,625)
Escreve Rufino e Bonetti em 12 de janeiro; esta manhã Dom Bosco chamou um jovem em
seus aposentos e lhe disse:
- Na noite passada vi a morte que te ameaçava. Quando estive ao teu lado a observei em
atitude de descarregar um golpe terrível sobre ti com sua tremenda foice. Ao ver isto, corri
imediatamente ao deter seu braço, porém ela dirigiu-se a mim e me disse:
- Deixa-me. Este não é digno de viver. Porque se há de tolerar que siga no mundo quem não
corresponde a teus cuidados que tal forma das graças do Senhor?
Mais eu insisti para que te perdoasse e ao fim te deixou.
Aquele pobrezinho, ao ouvir o relato deste sonho, ficou tão preocupado e comovido que,
entre lágrimas e soluçosa, fez sua confissão e formulou numerosos propósitos. Dom Bosco contou
naquela mesma noite o sonho e todo sucesso à comunidade, sem dizer que havia sido e quem havia
tido o sonho nem indicou a relação do mesmo a um aluno do oratório.
OBSERVAÇÃO:
Contato em 12 de janeiro. Nada mais acabar de falar Dom Bosco, o jovem Bartolomeu
Garelli se aproximou do clérigo Bonetti e lhe comunicou que era o jovem e que não se havia
confessado bem desde a primeira comunhão.
Rodrigo Costa Marciano
19
A NOVENA DA NATIVIDADE DA VIRGEM (1868)
(MB 9,337 = MBe 9,314)
Suponho que entra Dom Bosco em casa pela portaria, que vem até aqui embaixo nos
pórticos e se encontra com uma grande Senhora, que tem um caderno nas mãos. Sem que Dom
Bosco abre a boca, entrega-o, dizendo:
- Toma e lê.
Eu o tomei e li sobre sua capa: “Novena da Natividade de Maria”. Abri a primeira página e
vi escritos os nomes de uns poucos jovens com letras de ouro. Passei a folha e vi um número maior
escrito com tinta corrente passei o resto das folhas do caderno e estava tudo em branco até o final.
Agora pergunto a qualquer de vós que querem afirmar isto.
E pedi explicação a um jovem, que ajudou a responder dizendo:
- Naquele livro estavam escritos os nomes dos que fazem a novena. Os pouquíssimos escritos
em ouro são os que fazem bem e com fervor. A outra parte é as do que as fazem, porém com menos
fervor. E porque não estão escritos todos os demais? Quem sabe porque? Eu creio que tem sido os
passeios largos, que tem distraído tanto aos jovens que agora não são capazes de recolher-se. Se
viesse por aqui Domingos Sávio, Bessuco, Magone e Saccardi: que nos diriam?
Exclamariam: Como mudou o Oratório!
Assim pois, para contentar a Virgem fizemos tudo o que podíamos, recebendo os santos
sacramentos e praticando as flôrzinhas que Pe. João Batista Francesia e Eu o daremos. A flor para
amanhã será esta: “Façamos tudo com empenho”.
OBSERVAÇÃO:
Foi contado em 02 de Setembro, aqui nem sequer disse que é sonho. Simplesmente apelo a
imaginação dos ouvintes. Parece por um exemplo claro de apólogo educativo. Se é um sonho
inventado ou não, o interessante é que Dom Bosco, já desde 1868, começa a publicar a “História do
Oratório”, dividindo-a em dois: A “Época Áurea”( Quando Sávio, Magone...) e a “Época Atual”,
que deve olhar aquela como a época exemplar. Hoje diríamos que há de se regressar “As Origens”.
Rodrigo Costa
O PURGATÓRIO (1867)
(MB 8,853-858 = MBe 8,726-731)
“Ontem à noite, meus queridos filhos, me havia deitado e, não conseguindo dormir, pensava
na natureza e modo de existir da alma; como estava feito; como se podia encontrar e no falar na
outra vida separada do corpo; como se transladaria de um lugar a outro; como nós podemos
conhecer então uns aos outro sendo assim que depois da morte, só seremos espíritos puros. E quanto
mais refletia sobre isso, tanto mais misterioso me parecia tudo.
Enquanto sem rumo sobre esta e outra semelhante fantasias, me caí a dormir e me pareceu estar
num caminho que conduz a cidade do Purgatório e que a ela me dirigia. Caminhei durante um
momento; atravessei povos para mim desconhecidos, quando de pronto senti que chamavam por
meu nome. Era voz de uma pessoa que estava parada no caminho.
- Vem comigo - me disse -; agora poderá ver o que desejas.
Obedeci imediatamente. Aquela pessoa se movia com rapidez do pensamento e o mesmo eu.
Caminhávamos sem tocar com os pés no solo. Ao chegar em uma região que não sabia fixar, meu
guia se deteve. Sobre um lugar eminente se elevava um magnifico palácio de admirável estrutura.
Não sabia localizar onde estava, nem a que altura; não recordo se sobre uma montanha ou no ar,
sobre as nuvens. Era inacessível, e não se via caminho algum para subir. Suas portas estavam a uma
altura considerável.
20
- Olhe! Suba a este palácio! – me disse meu guia.
- Como fazer? – Exclamei – como apanhar-me? Aqui abaixo não a estrada e eu não tenho
asas.
- Entra! – me disse o outro em tom imperativo.
E, vendo que eu não me movia, aumentou:
- Faz como eu; levanta os braços com boa vontade e subirás.
Vem comigo.
E, dizendo isto, levantou no alto as mãos em direção ao céus. Eu abri então os braços e ao
mesmo instante me senti elevado no ar a maneira de uma ligeira nuvem. E me vi na entrada do
grande palácio. O guia me havia acompanhado.
- Que há dentro? – perguntei.
- Entra; visite-o e verás. Em uma sala, ao fundo, encontrarás quem te explicará.
O guia desapareceu e eu, havendo-me ficado só e guia de mim mesmo. Entrei num pórtico,
subi as escadas e me encontrei num departamento verdadeiramente régio. Recorri salas espaçosas,
habitações ricamente decoradas e largos corredores. Eu caminhava a uma velocidade fora do
normal. Cada sala brilhava como surpreendentes tesouros nela acumulados e, com grande rapidez,
recorri a tantos departamentos que havia sido impossível contá-los.
Mas, o mais admirável foi o seguinte. Apesar de que corria a velocidade do vento, não
movia os pés, sinal que permanecendo suspendido no ar e com as pernas juntas, desliza-me sem
cansaço sobre o pavimento sem toca-los, como se tratasse de uma superfície de cristal. Assim,
passando de uma sala a outra, vi finalmente, ao fundo de uma galeria, uma porta. Entrei e me
encontrei em um grande salão, magnifico sobre toda ponderação... ao fundo do mesmo sobre um
cadeirão, vi majestosamente sentado um Bispo, como quem espera a dar uma audiência. Me
aproximei com respeito e fiquei maravilhado a reconhecer naquele prelado um amigo intimo. Era
o Monsenhor... o Bispo de ... morto a dois anos. Parecia não sofrer nada. Seu aspecto luxuoso,
afetuoso e de uma beleza que não se pode expressar.
- Oh, Monsenhor! Vós aqui ? – lhe disse com alegria.
- Não me vês? – replicou o Bispo.
- Como os encontrais? Estás vivo toda via? Não havias morrido? – Sim havia morrido.
- Pois se morreste porque estais aqui sentado tão luxuoso e com tão boa aparência? Se estais
vivo todavia, diga-me por favor, pois do contrario nos veremos num grande caixão. Em A...há já
outro bispo, monsenhor...como regular este assunto?
- Está tranqüilo, não os preocupeis, que eu estou morto...
- Mais vale assim, pois já há outro em vosso lugar.
- Eu estou vivo. Não me vês aqui em corpo e alma?
- Pois eu estou.
- Isso os parece, mas não és assim.
E, ao chegar a este ponto da conversa, comecei a falar muito de pressa, fazendo perguntas, sem
obter constatação alguma.
- Como é possível – dizia- que estando eu vivo possa estar aqui com Vós que estais morto?
E tinha medo de que o prelado desaparecesse; por isso comecei a dizer-lhe com tom suplicante:
- Monsenhor, por caridade, não vá; necessito saber tantas coisas! O Bispo ao verme
preocupado:
- Não os inquieteis desse modo, disse esteja tranqüilo não o duvideis, não irei; falou.
- Diz- me Monsenhor, estais salvo?
- Olha-me – contestou -; observa quão forte luxuoso e resplandecente me encontro.
Seu aspecto me dava certa esperança de que se havia salvado; mas não contentado-me com isso
aumentei:
- Diz-me se o haveis salvado: sim ou não?
- Sim; estou num lugar de salvação.
- Mas estais no paraíso gozando de Deus ou no purgatório?
21
- Olha aqui!
E me mostrou um papel aumentando:
- Leia!
Tomei o papel na mão, o examinei atentamente, mas não vendo nada escrito, o disse:
- Eu não vejo nada.
- Olha o que há escrito; leia.
- Eu olhei e estou olhando, mas não posso ler, porque não há nada escrito.
- Olhe bem.
- Vejo um papel com desenhos em forma de flores celestes, verdes, violetas, mas não vejo
nenhuma letra.
- São cifras!
- Eu não vejo cifras nem números.
Olhou o prelado o papel que eu tinha na mão e disse depois: - já sei porque não compreendeis;
ponha o papel ao inverso.
Examinei a folha com maior atenção, o virei por ambos os lados, mas nem no lado direito, nem
no lado inverso não pude ler. Somente me pareceu apreciar que entre as voltas e as revoltas
daqueles desenhos floridos fizeram o numero 2.
O Bispo continuou:
- Sabeis porque és necessário ler as costas?
- Porque os juizes de Deus são diferentes que aos do mundo. Porque o homem tomam por
sabedoria as necessidades para Deus.
Não me atrevi a pedir-lhe uma explicação mais clara e disse:
- Monsenhor não vá embora; quero lhe perguntar mais coisas.
- Pergunta, que eu escuto.
- Me salvarei?
- Tenha esperança neles.
- Não me façais sofrer, diz-me em seguida se me salvarei.
- Não sei.
- Ao menos, diz-me se estou ou não na graça de Deus.
- Não sei.
- Por favor, o suplico que me diga.
- Havia estudo teologia, e por tanto podeis saber e dar a resposta a vós mesmo.
- Como? Estais em lugar de salvação e não sabeis estas coisas?
- Olha, o Senhor se faz saber a quem quer; e quando quer que se dá a conhecer estas coisas,
concede a licença e dá a ordem. De outra maneira, nada pode comunicar-se aos que agora vivem.
Eu me sentia impulsado por um desejo veemente de perguntar mais e mais coisas antes o medo
de que o monsenhor desaparecesse.
- Agora, diz-me algo de vossa parte para comunicar a meus meninos.
- Vós sabeis tão bem como é que hão de fazer. Tem a igreja, o evangelho, as demais
escrituras que contem tudo; diz-lhes que salvem a alma, que o demais nada interessa.
- Mas isso já o sabemos, que devemos salvar a alma. O que necessitamos conhecer os meios
que devemos empregar para consegui-los. Dá-me um conselho que nos há recordar esta
necessidade. Eu repetirei aos meus meninos em seu nome.
- Dizei-lhes que sejam bons e obedientes.
- E quem não sabes estas coisas?
- Dizei-lhes que sejam modestos e que rezem.
- Mas me diz algo mais prático.
- Dizei-lhes que se confessem freqüentemente e que façam boa comunhão.
- Algo mais concreto ainda.
- Os direi, caso assim quereis. Dizei-lhes que tem diante de si uma névoa e que simplesmente
o distingui-la já é uma boa coisa. Que se tirar esse obstáculo diante dos olhos, como se lê nos
22
Salmos: Nuvem Dissipa.
- E que é essa névoa?
- Todas as coisas do mundo, as quais impedem ver a realidade das coisas celestiais.
- E que devem fazer para que desapareça esta névoa?
- Considerar o mundo tal como ele é: Mundus totus in maligno positos est (o mundo inteiro
se encontra com o maligno), e então salvarão a alma; que não se deixem enganar pelas aparências
mundanas. Os jovens crêem que os prazeres, as alegrias , as amizades do mundo podem fazer-lhes
felizes e, por tanto, não esperam mais que o momento de poder gozar delas; mas que recordem que
tudo é vaidade e aflição de espírito. Que se acostumem a ver as coisas do mundo, segundo suas
aparências, se não como são a realidade.
- E de onde provem principalmente está névoa?
- Assim como a virtude que mais brilha no paraíso é a pureza, também a obscuridade e a
névoa são produzidas principalmente por pecado da imodéstia e da impureza. É como uma negra e
densa nuvem grande que tira de vista e impede os jovens de ver o principio que os ameaçam
devorá-los. Dizei-lhes, pois , que conservem zelosamente a virtude da pureza, pois os que dominam,
Florebunt sicut lilium in civitate Dei (Florescerão como lírio na cidade de Deus).
- E que se precisa para conservar a pureza? Dizei-me que eu, comunicarei a meus jovens de
vossa parte.
- É necessário: O retiro, a obediência, a fuga do ócio e a oração.
- E depois?
- Oração, fuga do ócio, obediência, retiro.
- E nada mais?
- Oração, fuga do ócio, obediência, retiro. Recomenda-lhe estes meios, que são suficiente.
Eu desejava perguntar muitas coisas mais, mas não me atrevi de nada.
De forma que, apenas o prelado havia terminado de falar, em meu desejo de repetir aquele
mesmo conselho, abandonei precipitadamente a sala e corri ao oratório. Voava com a rapidez do
vento e, um instante, me encontrei as portas de nossa casa. Seguidamente me detive e comecei a
pensar:
- Porque não estive mais tempo com o Bispo de ...? Me havia proporcionado novos
esclarecimentos! E isto mal desejando-me tão boa ocasião. Podia haver aprendido tantas coisas
formosas!
E imediatamente voltei atrás com a mesma rapidez com que havia vindo, temeroso de não
encontrar já o monsenhor. Entrei, pois, de novo naquele palácio e no mesmo salão.
Mas, que trocar se havia operado em tão breves instantes! O bispo, palidissimo como a cera,
estava estendido sobre o leito; parecia um cadáver, os olhos mostravam as ultimas lagrimas, estava
agonizado. Só por um movimento do senso, agitado por sobremesas ruídos, se compreendiam que
ainda tinha vida. Eu me aproximei a ele penosamente:
- Monsenhor, o que há acontecido?
- Deixa-me- disse dando um suspiro.
- Monsenhor, tinha muitas coesas que perguntar.
- Deixa-me só; sofro muito.
- Em que posso ajudar?
- Reza e deixa-me ir.
- Onde?
- Aonde a mão onipotente de Deus me Conduz.
- Mas, monsenhor, o suplico, dizei-me aonde.
- Sofro muito; deixa-me.
- Dizei-me, ao menos, que posso fazer em vosso favor –repetia eu.
- Reza.
- Uma palavra e nada mais: tem alguma obrigação a fazer-me para o mundo? Não tens nada o
que dizer ao vosso sucessor?
23
- Ide até o Bispo de... e dizei-lhe de minha parte isto e esto.
As coisas que me disse não os interessam a vós, meus queridos jovens. Portanto as omitiremos.
O prelado prosseguiu dizendo:
- Disse-lhes também a tais e tais pessoas, estas e estas coisas em segredo.
Dom Bosco falo também estas obrigações: mas tanto isto como o primeiro parece que se
referiam a avisos e remédios para certas necessidades daquela diocese.
- Nada mais? – continuei eu.
- Dizei aos vossos meninos que sempre são muito queridos; que enquanto vivi, sempre rezei
por eles e que também me recordo deles. Que roguem agora por mim.
- Tenha a segurança de que o direi e de que começaremos imediatamente a ajuda-los. Mas,
apenas o encontreis no paraíso, lembre de nós.
O aspecto do prelado denotava, entre tanto, um maior sofrimento. Dava pena de contemplar;
sofria muitíssimo, sua agonia era verdadeiramente angustiante.
- Deixai-me – voltei a dizer -, deixai-me que vou para onde o Senhor me chama.
- Monsenhor!... monsenhor!... – repetia eu cheio de inexplicável compaixão.
- Deixai-me!... deixai-me!...
Parecia que ia suspirar em quanto uma força invisível os levava dali as habitações mais
interiores, até que desapareceu de minha vista.
Eu, diante de uma cena tão dolorosa, assustado e comovido, voltei para retirar-me, mais
havendo tropeçado por aquelas salas com o joelho em algum objeto, me despertei e me encontrei
em minha casa na cama.
Como veis, queridos jovens, este é um sonho como os demais, relacionados com vocês não
necessita de explicação, para que todos entendais”.
Dom Bosco continuou dizendo:
“Neste sonho aprendi muitas coisas relacionadas com a alma e com o purgatório, que antes não
havia chegado a compreender e que agora vejo tão claros que não os esquecereis jamais”.
OBSERVAÇÕES:
Tido em 24 de junho; contado em 25 de junho de 1867. Lemoyne aumentou que ao recopiar do
sonho se havia passado uma circunstancia que ele se recorda: Dom Bosco perguntou ao prelado
quanto tempo tinha de vida; “o Bispo presenteou com um papel coberto de ramos entrelaçados,
segundo parecia, com oito, mas não tinha nenhuma explicação do mistério... indicava o numero
1888?” ( MB 8, 859).
Gaudêncio Campos e Samuel Carlos
OS COLABORADORES DE DOM BOSCO (1862)
(MB 7,336-337 = MBe 7,289-290)
Narro que havia tido um sonho no qual parecia ver-se rodeado de jovens e sacerdotes.
Havendo-lhes feito a proposta de escalar uma alta montanha pouco distante, todos condescenderão.
No topo estavam preparadas as mesas para um magnífico banquete, que devia ser alegrado
com música e uma esplendida festa. Empreenderam-se todos no caminho. A subida era inclinada e
pesada e as vezes desconfortável para quem ia subindo caçado, de modo que, a um certo ponto,
todos se sentarão, também Dom Bosco se sentou e, depois de discursar a seus acompanhantes para
anima-los a prosseguir a subida, se levantou e prosseguiu a marcha a passo ligeiro. Mas, a pouco, se
viro para olhar seus seguidores e observou que todos haviam voltado atrás e havia ficado só. Desceu
no momento do monte e foi buscar outros companheiros. Os encontrou, os guiou faziam aquelas
alturas, as vezes áspero, e de novo desapareceram todos.
- Então - disse Dom Bosco - Eu pensei: sim todavia devo chegar até em cima e não só, sim
acompanhado de muitos outros... Essa é minha meta... És minha missão... E como farei para
24
cumpri-la? Agora entendo: os primeiros foram seguidores piedosos, virtuosos, com boa vontade,
mas não provados e segundo meu espírito, não acostumados a superar os caminhos difíceis, não
vinculados entre si e comigo, com laços especiais e, por isto, me abandonaram. Mas eu remediarei
falei. Foi demasiado amargo desengano... vejo o que devo fazer... Não posso contar mais com os
que eu mesmo havia formado. Pôr tanto, voltarei no topo do monte, reunirei muitos meninos, há de
me querer, os destrarei a agüentar com entusiasmo problemas e sacrifícios. Me obedecerão de boa
vontade... Subiremos juntos ao monte do Senhor.
OBSERVAÇÃO:
Dom Bosco conto este sonho em uma conferência aos salesianos e foi recolhido por Dom
Paulo Albera. Dom Bosco teve muitas dificuldades para reunir colaboradores fieis: alguns de seus
primeiros ajudantes se lhe opuseram denotadamente. As dificuldades começaram em 1848, quando
estourou a primeira guerra de independência italiana. Levados do espírito nacionalista, arrastaram a
muitos meninos do Oratório, conseguindo que '"dos quinhentos e mais jovens que tinha nos dias
festivos, não restaram mais que sete ou oito" (MB 7,335).
Samuel Carlos
A INUNDAÇÃO (1866)
(MB 8,275-282 = MBe 8,241-246)
Me pareceu encontrar-me a pouca distância do um povoado, que por seu aspecto, parecia
Castelo de Asti, porém não o era os jovens do oratório faziam seu recreio alegremente em um prado
imenso, quando eis que vem aparecer, de repente as águas nos confins daquele campo, uma
inundação que ia crescendo a medida que avançava até nós, o rio “Po” submergia suas margens em
desmandada corrente de água fluía até nós.
Nós cheios de terror começamos a correr até a parte traseira de moinho, longe das moradias
e com muros grossos como o de u7ma fortaleza. Me detive no pátio do mesmo, no meio dos meus
queridos jovens, que estavam aterrorizados. Porém as águas começaram a invadir aquela superfície,
vendo-nos obrigados primeiramente a entrar na e depois subir os andares superiores. Desde as
janelas se apreciava a magnitude do desastre. A partir das colinas Superga até o Alpes, em lugar dos
prados e dos campos cultivados, e dos bosques, casas, aldeias e cidades, só se via a superfície de um
lago imenso. E a media que a água subia nós íamos de um andar para o outro.
Perdida toda esperança humana de salvação comecei a animar os meus queridos jovens,
aconselhando-lhes que se pusessem com toda confiança nas mão de Deus, e nos braços da nossa
querida mãe Maria.
A água havia quase chegado ao nível do ultimo piso. Então o espanto foi geral, não vendo
outro meio de salvação improvisamos uma balsa, em forma de navio que por ali flutuavam em
nossa direção.
Cada um com a respiração entrecortada por causa da emoção, queria ser o primeiro subir na
balsa, porém ninguém se atrevia, porque o aceso estava difícil. Um só meio podia nos facilitar, um
tronco de árvore; mas por azar um dos extremos do tronco estava enganchado, e não conseguia por
impulsa das ondas chegar até nós.
Tomando-me de coragem fui por primeiro, e para facilitar o transporte, aos jovens e dar-lhes
animo encarreguei alguns clérigos e sacerdotes, que desde o moinho sustentassem os que partiam na
“barca” estendessem a mão a quem chegava, depois de entregues a este trabalho os clérigos e
sacerdotes caiam de cansados. E os que substituíam corriam a mesma sorte. Maravilhoso o que
aconteciam com aqueles meus filhos, eu quis fazer o mesmo, e me senti tão esgotado que agüentava
ficar de pé.
Entretanto, numerosos jovens deixando-se levar pela impaciência, já por medo de morrer, e
por mostra vem animado por encontrar um outro pedaço de pau fizeram uma Segunda parte de, e
25
sem a nossa ajuda passaram a passar sem escutar os meus gritos.
Eu dizia, detenha-os antes que caias... e acontecendo que muitos caíram e foram tragados
pelas águas e nós não os vemos mais. E a ponte quebrou com todos os que estavam em cima.
Tão grande foi o desastre que a Quarta parte dos jovens caíram por causa dos seus próprios
caprichos.
Eu que ante então estava na extremidade do tronco da árvore. Enquanto os jovens passavam por
cima ao dar-me conta que a inundação havia passado por cima do morro, me coloquei a empurrar a
balsa até o moinho. Ali estava Dom João Cagliero, o qual, com um pé na janela e com o outro na
borda da embarcação ajudava os jovens que tinha ficado ainda nos andares que estavam sendo
submergidos.
Porém nem todos os jovens estavam a salvos. Certo número deles, estavam acuados no
telhado, onde se agrupavam permanecidos uns aos outros enquanto a inundação seguia crescendo
sem cessar cobrindo aos poucos o telhado.
Ao mesmo tempo a água subia na balsa eu, ver aqueles pobrezinhos em tão terrível situação,
os gritei que os rezasse de todo coração, que guardasse silêncio e que permanecessem unidos com
os braços entrelaçados um aos outros para não rodarem. E me obedeceram e logo conseguiram
passar também eles para balsa. Na balsa tinha uma boa quantidade de pão.
Já todos na balsa, mas ainda inseguro, por causa do perigo que ainda rondava eu lhes disse: Maria és a estrela do mar. Ela não abandona aos que confiam em sua proteção, vamos nos colocar
todos debaixo de sus proteção: A Virgem nos livra dos perigos e nos levará a um porto seguro.
E depois começamos a navegar serenamente e a balsa ia se afastando daquele lugar. ( facta
est quase instintores, de longe portans panei suum.) ( es como navio de mercadores que de longe já
da a providência.
E a água nos impulsionava-nos com força, e nos agarrava-nos uns aos outros para não cair, assim
formando um todo.
Depois de tempo correndo, a balsa começou a dar voltas em torno de si mesma parecia que
ia afundar. Até que parou, e o vento nos conduziu a uma praia. Os diziam que o senhor tinha
colocado o homem sobre a terra e não sobre as águas. E sem pedir permissão a ninguém foram
pisando naquela terra, e convidava, os outros a fazerem o mesmo. Sua alegrias duraram pouco, pois
um súbito vento fez com que as águas submergissem até a cintura. E gritando desesperado sumiram
entre as águas. Eu exclamei que quem segue seus próprios caprichos pagam caro.
E nossa embarcação mais uma vez corria risco de afundar, e os rostos dos jovens estavam
todos pálidos. Ânimo – gritei – Maria não abandonara e todos, rezamos de coração os atos de fé e
esperança, caridade e contrição, alguns Pai-nossos e Ave - Maria e a salve Rainha, e depois de mão
dadas continuamos a rezar. E principalmente com as nossas orações particulares. Mas todavia, tinha
alguns insensatos que riam-se de nós, e ficavam andando de um lado para o outro. O navio irou
fortemente, e jogou águas sobre aqueles que estavam de pé rindo, e como as águas eram profundas,
bastou um instante e já não se enxergava mais. Eles eram 30. Nós estávamos a salvos, mas do que
nunca invocamos a proteção de Nossa Senhora, a Estrela do Mar.
Sobreveio a calma e nosso pequeno navio começou a nos levar sem saber-mos para onde
íamos. Fizemos de tudo para que os jovens não caíssem nas águas, mas alguns jovens cruéis
convidavam a outros a irem até a borda e quando estes chegavam eram empurrados. Por isso alguns
sacerdotes prepararam algumas varas compridas, e ficavam atentos olhando para a água, a
escutarem e verem alguém pedindo socorro. Era só cair um jovem que logo agilizava se as varas, e
eram socorridos. Mesmo com muitos trabalhando, alguns ainda atrapalhavam o trabalho. O número
dos jovens era grande.
Eu estava ao pé de um “mastro” e rodeado de muitos rapazes, sacerdotes e clérigos que
obedeciam as minhas ordens. Enquanto forem dóceis e obedientes as minhas palavras, tudo irá
muito bem. Estávamos tranqüilos contentes e seguros.
Infelizmente todos começaram a se inquietar, preocupados onde iam parar com tão longa
viagem, será que teriam seguro. Eu tentava acalma-los. Eis que vemos outra balsa, ao longe, mas
26
com rota diferente da nossa. Então alguns começaram a seguir seu próprios caprichos, não me
escutando, e com pequenas tábuas começaram a saltar sobre as águas querendo ir em direção
daquelas outras balsas. Foi uma cena muito dolorosa para mim, ver aqueles infelizes que iam ao
encontro da sua ruína. Soprou o vento e as ondas começaram a crescer e eis que alguns emergiram
aprisionados por redemoinhos e arrastados ao abismos, outros chocavam com objetos que estavam
nas águas e desapareciam, alguns tentavam subir em outras embarcações, mas estas também
afundavam. A noite se fez negra e obscura, e de longe se ouvia os gritos dos naufragados. Todos
pareciam “in mare mundi submegentur homens illi quo non suscipt navis ista”. “este é o navio de
Maria Auxiliadora”. ( No mar do mundo afundou todos os que não ficaram neste navio).
O numero dos meus jovens diminui muito. Apesar disto com a confiança colocada na
virgem, depois de uma noite tenebrosa, o navio entrou em lugar estreito, entre praias cobertas de
limo, de mata, estilhaços, cascalho, ramagens, e várias coisas destroçadas...
Ao redor da barca pulavam tarântulas, sapos, serpentes, dragões, crocodilos, víboras e mil
outros repugnantes animais. Sobre uns salgueiros cujo os ramos caiam sobre a nossa embarcação,
tinha um tipo gatos que tentavam arranhar os jovens, mas estes se abaixavam, e escapavam daquela
ameaça.
Foi ali naquelas areias que vimos os nossos amigos que tínhamos perdido, as ondas os
empurraram até ali, e estavam todos decepados por causa das fortes das batidas, e outros estavam a
metade do corpo sepultados pelo pântano, e imos membros e mais membros flutuando, para vista de
todos. De repente gritavam: “aqui tem um monstro que está devorando a carne de fulano e ciclano.
E outro acontecimento diante dos nossos olhos, a pouca distância aparecia como um forno com fogo
devorador. E se via formas humanas, pés, braços, pernas, mãos, cabeças que subiam e baixavam
entre as chamas confusamente.
Olhamos atentamente e vimos ali, muitos dos nossos jovens ficamos espantados. E em cima
do fogo, em um lugar estava escrito “o sexto e sétimo conduzem aqui”. Havia por aos redores
algumas terras com árvores todas desordenadas, nelas estavam os jovens que tinham caído da balsa,
e também aqueles que tinham nos abandonados. E sem saber do perigo chegando perto daqueles
jovens pude observar que suas orelhas seu olhos e corações estavam cheios de insetos, que os
corriam lhes faziam muitas dores, Uns sofriam mais que os outros, quis ajuda-los, mas fugiam de
mim escondendo detrás das árvores. Vi também outros cheios de serpentes e outros que levavam
várias víboras no seu corpo.
Mostrei a eles uma fonte de água fresca, onde quem se banhava ficava curados, e podiam
voltar ao navio. A maior parte obedeceram o meu mando, mas alguns não. Juntamente com aqueles
que tinha se lavado, subimos na balsa, e um vento nos empurrou, de volta ao um mar sem limites.
Nos tristes com o fim que aqueles companheiros levarão começamos a cantar um canto a
Maria. Em ação de raças a mãe celestial, por Ter nos protegido até então. E num átimo de instante
como obedecendo a uma ordem da virgem cessou o vento e o navio começou a pegar velocidade em
cima daquelas águas tranqüilas.
Eis que seguidamente apareceu no céu um arco-íris , mais maravilhoso e esplandecente que
uma aurora boreal, a passar o qual vemos escrito com grandes caracteres de luz, a palavra
MEDOUM, sem entender seu significado. Para mim pareceu que cada letra era a inicial desta
palavra. Et Domina Omnis Universi Maria. ( Maria é a Mãe e Senhora do universo inteiro).
Depois de um longo trajeto, eis que no horizonte apareceu a terra; ao aproximar-mos dela,
sentíamos renascer pouco a pouco, no coração uma alegria indivisível. Aquela terra ameníssima,
coberta de bosques com toda espécie de árvores, oferecia o panorama mais encantador que se pode
imaginar. Iluminada pela luz do sol nascente atrás das colinas que a formavam. Era uma luz que
brilhava com inefável suavidade, semelhante a de um esplêndido entardecer, infundido no ânimo
uma sensação de tranqüilidade e de paz.
Finalmente, dando contra as areias da praias e deslizando-se sobre ela, a balsa deteve num
lugar seco ao pé de uma formosíssima vinha.
Bem se pode dizer desta embarcação. Eam tu, Deus, Portem fecisti quo a mundi fluetibus
27
trajicientes ad tranquillum Portum Tuum deviniamus. ( Tu, ó Deus fizeste dela uma ponte, por ela
que atravessando as águas do mundo cheguemos ao teu agradável porto.
Os meninos estavam com desejos de entrar naquela vinha e alguns, mais curiosos que
outros, de um pulo puseram-se na praia. Porém, avançaram apenas uns passos, a recordar a sorte
desgraçada dos que caíram fascinado pelo filhote que se levantava no meio do mar borrascoso,
voltaram apressadamente a balsa.
Os cuidadosos sabiam desviar, todos se faziam meu e na frente de cada um se lia esta
pergunta:
- Dom Bosco: Já é hora visto que diminuamos e paremos ?
- Diminuamos! Chegado o momento: a gora estamos seguros.
Houve um grito de alegria; os meninos, colocando o pé direito de alegria, entraram na vinha
em a qual reinava a ordem mais perfeita. As videiras penduravam cachos de uva semelhante aos da
terra prometida e nas árvores havia todas as espécies de frutos que se pode imaginar na bela estação
e de todo um sabor desconhecido.
Em meio aquela extensíssima vinha, se elevava um grande castelo rodeado de um delicioso
e magnífico jardim e cercado de fortes muralhas.
Nos dirigimos aquele edifício para visita-lo e se nos consentir a entrada.
Estávamos cansados e esfamiados e, uma ampla sala enfeitadas toda de ouro, estava
preparado para nós uma grande mesa abastecida com os mais esquisitos alimentos dos que cada um
pudesse servir-se a seu gosto.
Quando terminávamos de recrear, entrou na sala um ilustre jovem, ricamente vestido e de
uma formosa singular, o qual, com afetuosa e familiar cortesia, nos saldou chamando a cada um por
seu nome. Ao ver-nos pasmo e maravilhados perante sua beleza e as coisas que fazia-mos
contemplando, nos disse:
- Isto não é nada vinde e vereis.
O seguimos e desde os balcões da galeria, nós fomos contemplar os jardins, dizendo-nos que
éramos donos de todos eles, que os poderíamos usar para nosso recreio.
Nos levou depois de sala em sala; cada uma superava a anterior pela riqueza de sua
arquitetura, por suas colunas e decorações de toda espécie. Abriu depois uma porta, que dava com
uma capela, e nos convidou a entrar. Por fora parecia pequena, mas apenas cruzamos a entrada,
comprovamos que era tão amplo que de um extremo a outro apenas nos poderíamos ver. O
pavimento, os muros, as abóbadas estavam cobertas com mármore artisticamente trabalhado,
exclamei:
- Isto é uma beleza de céu! Me apronto para ficar aqui para sempre.
No meio daquele grande Templo, se levantava sobre um rico envasamento de coluna, uma
grande e magnífica estátua de Maria Auxiliadora. Chamei a muitos dos jovens que se haviam
dispersado por uma e outra parte para contemplar a beleza daquele sagrado edifício e se
concentravam todos perante a estátua de Nossa Senhora para fazer-lhe agradecimentos por tantos
favores como nos havia concedido. Então me dei conta da enorme capacidade daquela Igreja, pois
todos aqueles milhares de jovens pareciam formar um pequeno grupo que o ocupasse o centro da
mesma.
Muitos contemplavam aquela estátua, cujo rosto era de uma formosura verdadeiramente
celestial, a imagem pareceu animar-se de pronto e sorrir. E eis que ao se levantou uma voz entre os
meninos, apoderando-se de seus corações uma emoção inexplicável.
- A Virgem move os órgãos da visão! - exclamaram alguns.
Com efeito, Maria Santíssima recorria com sua maternal mirada aquele grupo de oriundos.
Seguidamente se falou a nova e geral exclamação:
- A Virgem move as mãos!
Com efeito, abrindo lentamente os braços, levantava o manto como para acolher a todos
debaixo dela.
Lagrimas de emoção caíram nos nossos rostos.
28
- A Virgem moveu os lábios - disseram alguns.
Houve um profundo silêncio; a Virgem abriu a boca e com uma voz argentina e suavíssima,
disse:
- Se vós sois para mim filhos devotos, eu serei para vocês uma Mãe piedosa.
Ao ouvir estas palavras, todos caímos de joelhos e entoamos o canto Louvor à Maria.
Se produziu uma harmonia tão forte e, ao mesmo tempo, tão suave, que agradecido
impressionado me despertei e assim terminou a visão.
OBSERVAÇÕES:
Contado em 1o de janeiro, Segunda feira, de 1866.
Em diversas ocasiões posteriores, Dom Bosco interpretou assim: o prado imenso é o mundo;
a inundação, os perigos do mundo. O moinho representa a Igreja Católica. O tronco de árvore que
serve de ponte, a cruz: o tronco empregados pelos jovens é o regulamento colocado. A embarcação
representa o oratório, casa de Maria. Os redemoinhos impetuosos são as perseguições. A ilha
submersível, os desobedientes. Os sacerdotes e clérigos representam a obediência e as obras
salvadoras realizadas por seu meio. O estreito, os gatos, os graciosos e demais monstros
representam as revoluções ou as incitações, a falta. Os insignificantes nas línguas e coração são as
olhadas perigosas, as conversações obscenas, os efeitos desordenados. A fonte ferruginosa
representa os sacramentos da confissão e comunhão. O lamaçal e o fogo são os lugares de pecado e
condenação. O arco-íris é Maria. O castelo, a vinha e o convite são a Pátria definitiva.
Euderley e Sérgio
DOM BOSCO, DESDE ROMA, VÊ A SEUS JOVENS DE TURIM (1870)
(MB 9,806-807 = MBe 9,717-718)
“Aqui em Roma ando ocupado totalmente com nossas coisas de nossos jovens. Meu
pensamento volta sempre para onde está meu tesouro em Jesus Cristo, a meus queridos filhos do
oratório. Vou visitar-lhes muitas vezes ao dia.
Vi D. João cercado de uma multidão de jovenzinhos que se confessam, a uns que recebem
a santa comunhão, a outros que rezam com fervor, e estes que pensam em D. Bosco, aqueles que
jogam com os companheiros. Vi também a muitos que durante o dia, vão visitar o Santíssimo,
Sacramento, e isso, constitui a minha maior alegria.
Mas com grande amargura em minha alma, vi coisas que causaria horror a todos, si as
posso confiar ao papel. Direi somente que entre os muitos bons que vi, havia alguns que pareciam
porcos, e levavam escrito na frente: quorum deus venter est (Aqueles cujo o Deus é o ventre).
Outros estavam escrito isto: jumentis insipientibus comparatus est (Foi comparado ao um jumento
insensato), e cada um comporta de acordo com estas escritas.
Porém, o que mais me admirou foi ver a muitos que chegavam como que cheios na língua
uma rosa fragrante, o bem numa cândida asçuncena, e estas eram muitíssimos. Porém, ai de mim!
Em meio de aquelas consoladoras visões, certo dia observei, não somente a um, sim a muitos
estudantes e aprendizes, que tinham na boca uma monstruosa serpente, que destilava baba imunda e
veneno mortal. Então comecei a gritar contra eles, porém sem querer me escutar. Os nomes? Me
limito a dar alguns nomes a D. Miguel rua para ver se é suficiente um aviso. Isto estavam escrito na
frente: corrumpunti bonus more colloquia prava ( as maus conversações corrompem os bons
costumes).
P.D é recebido em bom estado os livros para o padre santo. Espero poder entregá-los muito
pronto. Fala com D. Celestino Durando a fazer como melhor o pareça. Entregar-lhe a carta de
adjunta. Vê, da minha parte, a rogar ao senhor Marquês de Margone que parece ser o maior de
nossa festa e me avisas em seguida.
29
M...M...B...P...N..., e alguns outros, estão no número dos que têm venenun aspidis super
línguas eorum ( veneno de serpente em suas línguas)
E recebido também o caderno de Berto com o catálogo dos sócios. Está muito bem. Há
muitas coisas que vão bastante bem encaminhadas. Seguir rezando. Vale et valedic.
Quem sabe se Segunda poderei receber parte das cartas?”
OBSERVAÇÕES:
Dom Bosco se encontra em Roma, no início de Fevereiro, escreve uma carta a Dom Rua,
parte desta carta é o texto transcrito acima. Também dá a noticia que assistido em seu leito de
morte a Leopoldo II, o grande duque de Toscana. Dom Rua leu uma noite a todos da comunidade a
carta, omitindo alguns escritos.
Sérgio Lisboa
MORTE DE PIO XI (1877)
(MB 13,42-44 = MBe 13,45-47)
Me pareceu que me encontrava de novo em Roma; me dirigi imediatamente ao Vaticano
sem pensar no almoço, nem de pedir audiência, nem de outra coisa alguma. Enquanto me
encontrava em uma sala eis que chega Pio IX e se senta em uma poltrona perto de mim. Eu,
maravilhado, tento pôr me de pé e render-lhe as homenagens, mas ele não o permitiu, mas com a
maior ternura me obrigo a que me sentasse a seu lado, começando imediatamente o seguinte
diálogo:
- Faz pouco que nos vemos.
- Com efeito; faz poucos dias – lhe contestei.
- De agora en diante nos veremos com mais freqüência, porque tem muitas coisas a ser
tratado. Entre tanto diz me o que tem feito desde de quanto partiste de Roma?
- Há havido pouco tempo: tem se renovados vários problemas. Mas tenho aqui que me
chega uma petição do cardeal Vicário, rogando-me que nos encarreguemo-nos da
direção do hospital da Consolação. Eis a primeira petição que nos diz o cardeal
queríamos ajudar mas nos sentimos limitados por causa da falta de pessoal
- Quantos sacerdotes haveis mandado aos conceptinos? E entretanto fui passear com ele,
dando me a mão.
- Temos enviado um só – lhe disse – e, estamos estudando a maneira de mandarmos
alguns mais, porém não sabemos de onde tirá-los.
- Antes de atender a outra coisa - prossegui o Papa – procurando de atender ao Espirito
Santo.
- Isso não é impossível – replico Pio IX – ao melhor pode ser realizado este desejo.
Porém de pronto, como se sentisse mal, apoiando-se em uma outra parte, se dirigiu a
sentar em uma poltrona, e depois de feito isso, escorou no braço da poltrona. Eu creio
que estivesse cansado, que queria sentar-se para descansar-se um pouco, por isso lhe
dei uma almofada para inclinar sua cabeça para o alto, ele não quis e estendendo as
pernas me disse:
- Traz um cobertor para me cobrir da cabeça aos pés.
Eu o olhava atônito e estupefado, não sabia o que dizer-lhe, e nem o que fazer. Não
entendia nada do quanto sucedia
Então o padre santo se levantou e disse:
- Vamos!
Ao chegar numa sala onde tinha muitos dignitários eclesiásticos, o padre santo, sem
que os demais se dessem conta, se dirigi-o ao uma porta fechada. Eu abri a porta para
que Pi IX, pudesse passar. Ao ver isto, um dos prelados começou a mover a cabeça
dizendo:
30
-
Isto não corresponde a Dom Bosco; a pessoas nomeadas para desenvolver estes
ministérios.
Me desculpei o melhor que pude, fazendo entender que eu não ocupava nem um
direito, até que havia aberto a porta, porque nem um outra o havia feito para o Papa não se
molestasse e tropeçasse. Quando o santo padre ouviu minhas palavras olhou sorrindo para
trás e disse:
- Deixa em paz sou eu quem o quer.
E o Papa uma vez que tem transposto na porta, não apareceu mais.
Eu me encontrei ali completamente só sem saber onde estava.
Ao mover-me olhando para ver onde estava eis que vi a Buzetti.
Isto me causo grande alegria. Queria lhe dizer algo quando ele me cercando me disse:
Olhe quem tem os sapatos velhos e esfarrapados.
E dizes: que queres? Já percorreu muita terra estes sapatos são os mesmo que tinha
quando fui a Lanzo; esteve pôr doze vezes em Roma, estiveram na França e a gora
estão aqui, é natural que se encontre em tão mau estado
- Pôr hora - replico Buzzetti - Não vê que os calcanhares já estão riscando no chão?
- Não te digo que não tenhas razão - contestei -, porém diga-me: sabes tu onde nos
encontramos? Sabes o que fazemos aqui? Sabes pôr que estamos aqui?
- Sim o sei.
- Diz me pois; Estou sonhando ou é realidade o que vejo? Diz me algo!
- Fique tranqüilo- replicou Buzzetti - que não estas sonhando. Tudo quanto vês é
realidade. Estamos em Roma no Vaticano. O Papa morreu. E é tanto verdade que, terá
dificuldades para sair daqui. Então eu me assumi a porta a janela e vi todas as partes da
casa em ruína e as escadas desfeitas em escombros.
- A gora estou convencido que estou sonhando - disse -; fazia pouco que estava no
Vaticano com o Papa e não tinha nada disso.
- Estas ruínas - Disse Buzzetti - estas ruínas foram produzidas pôr um terremoto
repentino que terá lugar depois da morte do Papa, pois toda a igreja se sentira sacudida
de uma maneira terrível ao saber sobre o seu falecimento.
Eu não sabia o que dizer, e nem o que fazer. Queria cobrir a toda costa do lugar onde
eu estava, porém temi rodar a um precipício.
Com tudo tentava descer, entretanto um me sustentavam pêlos braços, outros pelas roupas
e um tal pêlos cabelos, com tanta força que eu não podia dar um passo. Eu então comecei a
gritar:
- Ai! Que me fazem dano!
- E tão grande foi a dor que senti, que me despertei encontrando-me no leito de minha
habitação.
OBSERVAÇÃO:
Contou aos 7 de Fevereiro; aos diretores reunidos pôr ocasião das conferências anuais,
proibindo-lhes de falar sobre os mesmos, pois "de sonhos não se podia fazer caso."
O cardeal Mônaco la Vaneta, vigário do Papa para a cidade de Roma, havia pedido a Dom
Bosco que enviasse alguns salesianos para cuidar do hospital da consolação, a pouca distância do
foro de Roma, Porque a escassez de pessoal era grande, Dom Bosco desaba ardentemente
complacer-lhe.
Pio IX morreu na noite de 6 ao 7 de Fevereiro de 1878.
Sérgio Lisboa
O JARDIM (1867)
(MB 9,11-17 = MBe 9,24-29)
31
Em relação aos outros dias, os pais davam algo a seus filhos; o mesmo fazem os amigos
reciprocamente. Também acostumei fazer todos os anos, dando a estas noites a meus queridos
meninos um recado que lhes sirva de presente para o próximo ano.
Estava pesando, desde alguns dias, que presente daria aos meus queridos filhos, e apesar de
muitos esforços não encontrava um pensamento próprio para eles. Também a noite passada estando
já deitado, pesava uma outra vez e o que os deveria dizer como conselho saudável para o ano de
1868, mas, não me foi possível concentrar-me quando depois, de um momento agitado sempre pela
mais viva preocupação, me encontrei como semi dormindo em um sono ligeiro entre sonho e
vigília.
Era um sonho que permitia dar - me conta do que estava havendo, o que me dava a
responder e o que me perguntava. Ou seja, estava em um estado muito parecido ao sonho, mas que
não era. Me parecia achar- me em minha habitação. E por sair, em lugar de varanda, me encontrei
diante de um imenso jardim e o que havia enumeráveis rosas; o jardim estava rodeado de um muro
e a estrada do mesmo se via escrito com caracteres relativos ao número 68.
Um porteiro me introduziu naquele jardim e vi lá outros meninos que se entretinham
alegremente, gritando e saltando. Muitos ao ver-me, se puseram a rodear-me falando comigo de
muitas coisas. Começamos a percorrer juntamente o jardim, depois de um breve trajeto ao longo do
muro, vi ao lado numerosos meninos agrupados cantando e rezando em companhia de alguns
sacerdotes e clérigos. Me aproximei mais a eles; os apreciei e não os reconheci a todos; grande parte
me eram desconhecido; pude dar-me conta de cantavam o Miserere e outras preces de defuntos.
Aproximando-me um deles me disse: O que fazeis aqui? Por que rezais Miserere? Qual a causa do
vosso luto? Está morto acaso alguém?
Oh! – me disse – você não sabe?
Eu não sei nada.
Estamos rezando pela alma de um jovem que morreu tal dia e tal hora .
Mas, quem és?
Como? Replicaram - : não sabe quem és?
Não, não!
Acaso não havemos avisado? – disseram mutuamente.
E depois, dirigindo a mim: - pois bem, a de saber que está morto fulano.
E me disse o nome.
Como? Está morto esse?
Sim, mas teve uma boa morte; uma morte invejável.
Recebeu com grande satisfação e edificação os nossos sacramentos.
Resignado pela vontade de Deus, deu a mostra dos mais vivos sentimentos de piedade. Embora,
acompanhado a sepultura, rezemos por sua alma, mas também temos a esperança de que esteja no
céu e ele interceda por nós. Mas, estamos seguros de que estas no paraíso.
- Tudo, pois, uma boa morte? Que se cumpra simplesmente a vontade de Deus! Imitemos suas
virtudes e pedimos ao senhor que nos conceda também a nós a graça de Ter uma santa morte.
E dito isso mi alegro deles, rodeado sempre de uma grande quantidade de jovens. Seguimos,
pois, passeando por um jardim e depois de haver percorrido um bom trecho do caminho, chegamos
a um prado coberto de verdura. Eu, entretanto, dizia a mim mesmo:
- Mas, como é isto? Ontem a noite me encontrava em minha cama e agora encontro todos os
rapazes aparecendo cá e lá por este jardim?
Quando eis que veio outra numerosa multidão desordenada de rapazes, postos em circo, e
cujo centro havia algo que eu podia distinguir bem. Vi de quantas sem não obstante de que estavam
arrodeados; uns rezavam outros cantavam. Me certifiquei e pude comprovar que rodeavam um
alaúde, dizendo as preces de defunto e entoando o Miserere. Então lhes perguntei:
- Por quem rezais?
Todos eles, com olhar melancólicos, me responderam.
32
- que estava morto outro jovem e havia tido uma boa morte. Havia recebido com edificante
piedade os santos sacramentos e havia dado a mostras de sólida piedade. Neste momento o levaram
a sepultura, estava enfermo a oito dias e os padres vieram vê-lo.
Lhes perguntei o nome do defunto e me disseram, senti-me muito magoado e então
exclamei:
- Oh lamento! Era um que eu queria muito e nem pude dar-lhe meu ultimo adeus... tão pouco a
outro pude vê-lo antes que morresse... em que hora vão morrer a todos?... um morre aqui, outro lá ...
mas, é possível?
ontem um ... e hoje outro...
- Que disse? - me responderam. Ainda pouco havia morto um e outro agora? Lhe parece pouco
tempo e já são passado três meses que faleceu o primeiro?
Ai então pensei:
- Só é um sonho e logo desperto?
Parecia-me não sonhar e por outra parte, não sabia o que pensar no que estava vendo.
Começamos depois a entretê-lo por aqueles bosquinhos e atrás uns bons rastros de caminhada e aí
ouvi cantar de novo o Miserere. Voltei um passo e pararam os que me acompanhavam; vi outro
grupo numeroso de jovens que se aproximavam. Então perguntei aos que estavam perto de mim:
- Quem são estes? Onde vão?
Vinham de um lugar próximo e estavam todos desconsolados e com os olhos cheios de
lágrimas.
- Que tens? Lhes perguntei, saindo ao seu encontro.
- Ah se soubesse...
- O que aconteceu?
- A morto um jovem.
- Como? Mas há de haver mortos por toda parte? A quem haveis acompanhado a sepultura?
E os jovens, dando a mostra de estranheza exclamou:
- Como! Mas, não sabe nada? Não se havia informado de que morreu fulano?
- Também esse está morto? - perguntei.
- Sim, pobrezinho... seus padres não vieram vê-lo.
- Mas por quê? Acaso não havia tido uma boa morte?
- Não, havia morrido de forma pouco desagradável.
- Não receberam os sacramentos?
- A principio não queria recebe-los; depois ele aceitou, mas de gosto e sem amostra de
arrependimento.
Assim, havíamos permanecidos edificados e inclusos, duvidamos muito de sua eterna salvação;
sentimos muito que um jovem do oratório tinha gozado uma morte desagradável.
Então eu procurei consola-lo, dizendo:
- Se a recebeu os sacramentos, esperemos que se tenha salvado.
Não vai desesperar da misericórdia de Deus. És tão grande!
Mas não desejo consolar-lhe ao tentar infundir esta esperança.
Entretanto, cheio de dor e com a mente turvada, pensava no tempo que aqueles jovens haviam
morrido; quanto apareceu um personagem desconhecido para mim, o qual aproximou e me disse:
- veja: são três.
- Eu o interrompi.
- E quem és tu para me falar com tanta familiaridade, sem haver-me visto antes?
- Escuta-me - respondeu; - depois direi quem sou. Queres que te dê uma explicação de tudo o que
tem visto?
- Sim, que significa estes números?
- Tem visto - me replicou - o número 68 escrito sobre a porta do jardim? Significa o ano de 1868.
Durante o qual haverão de morrer os três jovens que tinham sido indicado. Como tem visto, os
dois primeiros estão bem preparados; o terceiro tu deves prepara-los.
33
E pensando no fato, seria certo que, no ano de 1868 morreriam três dos meus queridos filhos.
mas como podes dizer isso?
Observa atentamente se cumpri o que te disse verás me respondeu.
Diante de sua seguridade e amabilidade de suas palavras, compreendi que aquele personagem
me falava como um amigo e prossegui com ele o caminho, plasmado nas palavras que havia ouvido
dizer.
- acaso estou sonhando? - exclamei - mas aqui não há nada de sonho, estou bem acordado.
O meu acompanhante me disse:
- sim, sim; essa é a realidade.
Eu acrescentei;
- Realidade? Te peço me atendas, me tens falado de prevenir, fala-me agora de presente. O que
desejo que me digas é algo para repeti-los a meus jovens como presente amanha para a noite.
E ele me respondeu:
- diz a teus jovens que, assim como os dois primeiros que ao morrer estavam preparados, porque
freqüentavam com as devidas disposições a santa comunhão durante a vida, também a ponto de
morrer à receberam com edificação de todos. O ultimo em compensação não comungava em vida,
quando gozava de saúde e por isso no estado supremo a recebeu com pouca devoção. Diga-lhes que,
se querem Ter uma boa morte freqüente a sagrada comunhão com bastante disposição, e que a
primeira de todas é uma confissão bem feita. O presente será pois: A comunhão devota e freqüente
és o meio mais eficaz para Ter uma boa morte e assim salvar a alma. Agora segue-me e presta
atenção.
E se adiantou um pouco mais por um caminho do jardim.
Eu o seguia quando de repente, vi concentrado em um amplo espaço aberto, os meus
meninos. Me detive ao a contempla-los, conhecia a todos e me parecia que não faltava nenhum; Os
via como tantas vezes, sem notar neles nada de particular. Mas, examinando-os mais de perto, vi
algo que me encheu de admiração e de horror. Falo agora de muitos, saiam da frente dos chifres.
Uns tão largos e outros curtos; estes inteiros, aqueles partidos; alguns só conservavam o sinal de
have-los temidos, porque estavam perfeitamente afarrapados na mesma raiz e ai não apontavam
nem cresciam; outros, não podiam impedir que continuasse desenrolando-se, os que estavam
afarrapados seguiam crescendo cada vez mais grosso e reproduzindo sempre. Não faltavam quem
não só temiam chifres, mas que, demais, parecia que se sentiam orgulhosos de tê-los e davam
continuas chifradas aos companheiros. Me chamaram a atenção os que só tinham um chifre na
metade da cabeça, mas, de grossura extraordinária e que eram os mais perigosos. Finalmente vi uns
cuja frente sincera e serena jamais se havia visto afetada por semelhante deformidade...
Quero fazer presente que podia indicar a cada um de voz em particular o estado em que eu vi
no jardim.
Me alegrei um pouco dos jovens acompanhado somente por me guiar, e cheguei a certo lugar
elevado, de onde vi uma extensa região ocupada por uma multidão de gente que guerreavam entre
si: eram militares.
Durante largo espaço de tempo combateram-se encarnecidamente sem compaixão alguma de nada.
Eram muito sangue vestido. Eu via os infelizes que caiam ao solo degolados.
Então perguntei a meu companheiro:
Por que estes homens se matam desta maneira tão terrível?
- grande guerra - exclamou meu guia no ano de 1868, e esta não terminará sem depois de haver-se
derramado muito sangue.
A guerra terá como cenário o nosso país? Que gente é esta? São italianos ou estrangeiros?
- observe os soldados e por seus uniformes saberás a que nação pertence.
Os observei atentamente e compreendi que eram de distintas. A maior parte não se vestiam como os
nossos soldados, mas também haviam italianos.
- isto significa - adiantou o personagem que nesta guerra, os italianos tomaria parte.
Nos retiramos daquele campo de morte e caminhando por um breve espaço de tempo chegamos a
-
34
outra parte do jardim, naquele instante, ouvi gritar uma voz:
- fujamos daqui! Fujamos, do contrário morreremos todos.
E vi uma grande multidão que fugiam, no meio dela, à muitos de complexo santa e robusta que
caiam mortos sobre o solo.
Que passa, por que foge? - perguntei a um deles.
A cólera causou muitas vítimas - me respondei; - e se não fugirmos também morreremos.
- mas o que é que viu? - diz meu guia - por todas as partes reina a morte.
- Grande epidemia em 1868! - exclamou.
- Como é possível, a cólera no inverno? É possível que morram de cólera havendo tanto frio?
- Na região Calábria se conta mais de cinqüenta divisão diárias.
Seguimos mais adiante e vimos uma imensa multidão de gente pálida, abatida, desanimada,
consumida e com as roupas rasgadas.
Eu não podia explicar o motivo daquele acontecimento e do estado miserável daquela multidão
e perguntei a meu amigo;
- Que - lhes parece isto?
- Grande carência no ano de 1868 - me respondeu - não sabe que estes não tem com que saciar
sua fome?
- Como? Disse eu - o estado em que se encontram é conseqüência da fome?
Assim é a realidade.
Eu, entretanto, seguia contemplando aquela multidão que gritava sem cessar: fome, temos
fome!
Buscam pão para comer e não encontrarão, buscam água para matar a sede que lhes abrasa e
não encontram.
Então, cheios de angústia, disse a meu companheiro:
- mas é durante este ano que encheram todos os males sobre esta desgraçada terra? Não havia
algum meio para afastar dos homens tantas desventura?
- Sim que havia. O remédio seria que todos os homens se pusessem de acordo para não pecar; que
deixasse de blasfemar; que honrasse a Jesus sacramentado; que dirigissem sua preces a
Santíssima Virgem, hoje tão ingratamente ouvida por eles.
- E essa fome e essa sede, és por falta de alimento material ou espiritual? E o guia me contestou.
- Ou um ou outro. A uns lhes faltará por que não queres tê-los e a outros porque não podem.
- E o oratório terá que padecer seus males? Serão meus filhos também vítimas desta cólera?
O guia me viu dos pés a cabeça e disse:
- conforme eu disse, se teus jovens se põem de acordo para não temer, para não afastar a ofensa
de Deus, honrando ao mesmo tempo a Jesus Sacramentado e a Santíssima Virgem, se livrarão
destes males, pois com semelhantes proteção se consegue tudo e sem elas nada. Se procederes
de outro modo, também eles morrerão. Tem presente que um só que cometer pecado mortal será
suficiente para atrair a indignação de Deus e o mal sobre o oratório. Então perguntei:
- terão que padecer também meus filhos por falta de alimentos?
- Assegurou! Também eles terão que sofrer os afetos da escasseies?
- Parece-me que esta calamidade deveria cair somente sobre mim, pois sou eu quem devo dá-los
os alimentos. Se faltam o pão em casa, não são eles os que devem procurar de remediar este
mal...
- Tu sentiras fome e também teus meninos. Seus padres e bem feitores terá que sacrificar-se
muito para pagar as pensões e suas dividas e muitas outras coisas necessárias. Serão numerosos
os que não poderão pagar a casa, por falta de meios não poderá atender suas necessidades;
portanto, também eles terão que padecer.
- Lhes faltará também o alimento espiritual?
- Sim, a uns porque não queriam tê-los e a outros porque não poderão.
E enquanto falávamos, seguíamos caminhando por aquele jardim. Mas de perto observei que
o céu se cobria de nuvens negras e que anunciava uma próxima tempestade se havia levantado um
35
vendaval. Ao observar a meu redor vi os jovens que se haviam dado a fugir.
Abandonado por meu guia pus-me a correr para poder alcança-lo e me salvar com eles; mas
os perdi de vista. Relâmpagos e trovões sucediam sem cessar. Parecia que, de um momento a outro,
seriamos vítimas dos raios.
Caiu depois uma chuva torrencial e violentíssima. Jamais havia presenciado tanto receio temporal.
Eu dava voltas pelo jardim buscando os meus meninos e um lugar aonde esconder-me, mas não
encontrava nenhum e nem outro. Toda aquela região parecia deserta. Busquei a porta para sair e
apesar de minhas forças não a encontrava; ao contrário, cada vez me afastava dela. Ao fim caiu uma
chuva de granizo tão espantosa que em minha vida jamais havia visto granizo tão grosso
semelhante. Alguns grãos que caiam sobre a minha cabeça, foram com tal violência que me
despertei e me encontrei leito. Os asseguro que me faltou mais forças que quando me retirei a
descansar.
Todas estas coisas às vi, como os disse no sonho, e não as conto para serem realidades, mas
para tirar delas algum proveito se és possível. consideremos como sonho o que não nos interessa,
mas aceitemos como realidade o que nos pode servir de alguma utilidade, tanto mais que podemos
assegurar que assim como sucederão certas coisas que anunciamos em outras ocasiões, a presente
poderia ocorrer o mesmo. Aproveitamo-nos, pois; estamos preparados para a morte; rezemos a
Santíssima virgem e mantemos o pecado longe de nós.
Os deixo por ultimo, como presente a mensagem: A confissão e a comunhão freqüente e
devota são grande meio para salvar a alma. Boa noite.
OBSERVAÇÃO:
contado a 31 de Dezembro de 1867; aconteceu a noite passada. Esta narração é do estudante
de teologia Esteban Bourlot, confirmada à 29 de Janeiro de 1868: nela afirma que não reproduz
exatamente as mesmas palavras de Dom Bosco porque não as recorda bem, mas que tem a certeza
de que os sentido é o mesmo.
Silvio Roberto e Ilton Marques
O ROUXINOL (1872)
(MB 10,49-50= MBe 10,56-37)
Me parecia estar em um pátio muito espaçoso que do oratório, todo rodeado de casas,
plantas e matarolas. Nas ramas dos arbustos e entre os espinhos da moita havia de trecho em trecho
alguns ninhos, com filhotes a ponto de começar o vôo nas distintas direções. Enquanto me deitava,
ouvi o piar daqueles passarinhos, eis que caiu diante de mim, um cujo canto reconheci que era um
rouxinol.
- Oh! me disse se tens caído é porque as asas ainda não te servem para voar e portanto, te
pus agarrar.
E dizendo isto, avancei e espichei o braço para apoderar-me do passarinho.
Mas! Nada, quase toquei nas asas, quase o tinha em minhas mãos, quando o passarinho, fazendo um
esforço, se pôs a voar até a metade do pátio.
- Pobre animal, me disse; é inútil todo esforço, és inútil que se escape, perseguirei até te
agarrar.
E comecei a correr atrás dele. Estava já para apanhá-lo e vi na mesma jogada de antes:
concentrado todas suas forças, conseguiu voar ainda mais longe.
- Mas que animalzinho! Exclamei; quer sair com os seus; pois bem: veremos quem ganha
a partida.
E me acerquei dele pela terceira vez. Mais, como se persistisse no engano de mim, quando o
estava quase ao meu poder, se levantou como a distância de um tiro de escopeta e mais ainda.
36
Eu o seguia com a vista, maravilhado de seu atrevimento. Quando de repente vi cair sobre o
pequeno rouxinol um enorme gavião que o prendeu com suas poderosas garras, e o levou para
devorá-lo.
Ao ver aquela cena, senti o sangue ferver nas veias, mais implorando o pobre infeliz
desprevinido, o segui com o olhar.
Me disse entretanto:
- Quase te salvei e não deixaste te agarrar, antes bem me enganou três vezes seguida e
agora pagas o preço do teu desastre.
Então o rouxinol com uma voz muito fraca, dirigindo-me a palavra,
lançou três vezes este grito:
- Somos dez ... Somos dez...
Me despertei sobressaltando e, naturalmente, com a mente viva no sonho e refletindo sobre
aquelas misteriosas palavras, mas não me foi possível deduzir o sentido. Na noite seguinte, eis que
continuou o mesmo sonho.
Me parecia estar no mesmo pátio, rodeado como na noite anterior de casas, plantas e
matarolas, e eis que vi o terrível gavião que com feroz visão e olhos ensangüentados, voava sobre
mim. Amaldiçoei a crueldade que havia empregado com o passarinho e levantei a mão em tom de
ameaça; voou então despavorido e ao fazê-lo, deixou cair aos meus pés um papel no qual havia dez
nomes escritos. O recordei com ansiedade, o nome dos dez jovens aqui presente.
Me despertei e, sem grande esforço, compreendi imediatamente o segredo, a saber; que
aqueles eram os que não quiseram saber nada de exercícios e que não haviam ajustado as contas de
suas consciências e que, em lugar de ouvir o senhor por mediação de Dom Bosco, haviam preferido
entregar-se ao demônio.
Me ajoelhei, dei graças a Maria Auxiliadora que havia dignado dar-me acontecer de maneira
tão singular os nomes dos meninos que haviam desertados das filas e prometi ao mesmo tempo, não
ceder as minhas forças pois o meu projeto era de restituir ao redil as ovelhas desgarradas.
OBSERVAÇÕES:
De 03 a 07 de julho de 1872, fazia os exercícios espirituais no oratório, pregado por Dom
Lemoyne e Dom Corsi; ao terminar os exercícios, Dom Bosco contou este sonho. A relação é de
Dom Joaquim Berto, que a repetiu em < processo informativo>, acrescentando que muitos jovens
foram avisados privadamente e que um deles foi despedido do oratório por não querer mudar de
conduta.
Silvio Roberto
PREDIÇÃO DE UMA MORTE (1862)
(MB 7,123-124 = MBe 7,114 – 115)
A 21 (vinte e um) de março pela noite – escreve Bonetti – subiu a pequena cátedra para dar a
boa noite aos meninos. Depois de uma pausa, como para tomar alimento, iniciou:
- Tenho que contar um sonho. Foi na hora do recreio no oratório, quando se ouvem
animadíssimos gritos de júbilo por todas partes. Me parecia estar a um lugar alto na janela de minha
casa, observando os meus jovens, que iam e viam pelo pátio e se divertiam alegremente, jogando,
correndo e saltando.
Quando de imediato ouvi um estrépito na portaria e, dirigindo ali o olhar, vi entrar no pátio
um personagem de elevada estatura, de frente espaçosa, com olhos extremamente deprimido, longa
37
barba e cabelos brancos e ralos que, desde a cabeça calva, caiam sobre os ombros. Apareceu
envolvido em um lenço fúnebre que apertava ao corpo com a mão esquerda, enquanto sustentava
com a direita uma tocha de uma chama de cor azul escuro. Este personagem caminhava lentamente,
com gravidade. As vezes se detinha e, com a cabeça e o corpo inclinado olhava ao seu redor como
se buscasse algo que se houvesse perdido.
Nessa atitude, recorreu o pátio dando umas voltas e passando por entre os meninos que
continuavam seu recreio.
Eu me encontrava espantado, pois não sabia quem era, porém não o perdia de vista.
Ao chegar ao lugar onde agora se entra na oficina de carpintaria, se deteve de frente de um
jovem, que estava para lançar-se contra outro do bando contrário em uma partida de malha e,
estendendo seu largo braço, aproximou a tocha no rosto do menino.
- Este és disso, e inclinou e levantou duas ou três vezes a cabeça.
Sem mas, o deteve naquele ângulo e apresentou um pequeno papel que retirou das dobras do manto.
O jovem tomou o bilhetinho, o desdobrou e começou a ler enquanto mudava de cor, ficandose completamente pálido, e perguntava seguidamente:
- Quando? Cedo ou tarde?
E eu vejo com voz sepulcral, replicou:
- Vem! Já esta reservada a hora para ti.
- Posso ao menos continuar o jogo?
- Todavia durante o jogo podes ser surpreendido.
Com isso mencionou uma morte repentina.
O jovem tremia, queria falar, desculpar-se, mas não podia.
Então o personagem, deixando cair uma ponta do seu manto, acenou-o com a mão esquerda
o pórtico.
- Vês ali? – disse ao jovem – aquele caixão é para ti. Portanto, vem!
Se via na caixa mortuária colocada no centro do portão que da entrada para horta.
- Não estou preparado; sou portanto um inútil jovem - gritava o menino.
Mas o outro, sem proferir uma palavra má, saiu depressa do oratório, de forma mais
precipitada de que havia entrado.
Quando se ausentou o personagem, e portanto pensava eu quem poderia ser, me despertei.
O que os acabo de dizer podeis deduzir que um de vós deve preparar-se, porque o senhor lhe
chamará muito próximo à eternidade.
Eu, que contemplei aquela cena, sei quem és, pois o vi quando o personagem lhe apresentou
o papelito; está aqui presente, escutando-me, mas não direi o seu nome a ninguém até que esteja
morto.
Contudo, farei o quanto for possível de minha parte para prepará-lo bem a sua morte.
Agora, que cada um refletiu, o melhor portanto é que vá repetindo: talvez seja fulano, e
podia tocar a quem isto visse.
Eu os disse já as coisas tal e como são, pois, se não o fazer o senhor me pedirá conta no dia
de amanhã dizendo-me:
- Mas! Por que não o repreendeu a tempo?
Que cada um pense em depositar o bem que tem nas mãos de Deus. Especialmente nestes
três dias que restam para a novena da anunciação.
OBSERVAÇÕES:
Contado em 21(vinte e um) de março. O jovem foi Victor Maestro, morto de improviso em
25 (vinte e cinco) de abril de 1862 (mil oitocentos e sessenta e dois).
Há vários testemunhos contemporâneos. A trama das MB é uma amalgama, realizada por
Dom Lemoyne, da crônica de Bonetti e de uma relação do clérigo Segundo Merlone. A narração de
MB é justa os trechos posteriores sucederam assim: em 16 (dezesseis) de abril morre Luis Fornasio
de Domenico, em Borgaro Torinese, sua terra natal.
38
Pela noite Dom Bosco dá a noticia, dizendo que não era esse o contemplado no sonho e que
os jovens do oratório morreriam de dois em dois.
Privadamente, disse com claridade que o nome começava com as mesmas iniciais do nome
de Maria. Na Sexta-feira, 25 (vinte e cinco) de abril, as 10:30 (dez e trinta da manhã) morreu de
improviso o jovem Victor Maestro: desde algumas semana antes ficara mal dos olhos: e dois ou três
dias antes, se sentia um pouco mal do estômago. O médico o mandou que se levantasse mais tarde.
Na manhã de Sexta-feira, o encontrou morto um companheiro, quando foi avisá-lo que deveria
retornar ao médico.
Pela noite, Dom Bosco fez uma prática comovedora e assegurou que Maestro era o jovem
que havia recebido o bilhetinho.
O BOLSO DA VIRGEM (1863)
(MB 7,472 = MBe 7,404)
Numa noite, nos primeiros dias de julho, notificava que havia visto em sonhos uma
personagem (e que fora a Santíssima Virgem), passando por entre os jovens e oferecendo uma bolsa
ricamente bordada, para que cada um sacasse a sorte e pegasse um papélito dos muitos que havia
dentro. Dom Bosco se colocou ao lado. A medida que cada menino pegava um papélito, ele
anotava a frase ou a palavra escrita no mesmo.
Concluiu sua breve narração dizendo que todos sacaram seu papélito, menos um que não se
acercou e estava de lado; inclinado-se, Dom Bosco viu um escrito no papélito que se encontrara no
fundo da bolsa e leu : Morte.
OBSERVAÇÃO:
Contado nos primeiros dias de julho. Evitou que cada um lhes perguntasse o que estava
escrito no seu papélito e, a cada jovem, disse uma palavra segundo sua necessidade. O Cônego de
Carmagnola, Dom Sebastião Musstti, recordava que em seu papélito lia-se constância.
Silvio Roberto da silva
SACERDOTE E ALFAIATE (1836)
(MB 1,381-382 = MBe 1,310-311)
Dom Bosco contou privadamente a alguns no oratório. Entre os presente, estavam o P. João
Turchi e o P. Domingo Ruffino:
- Quem pode imaginar, disse ele, como me vi, quando estudava o primeiro curso de
filosofia?
E o perguntaram:
- Como se viu? Em sonhos ou de outra maneira?
- Isso não importa sabê-lo. Me vi já sacerdote, com sobrepeliz e estola: assim vestido,
trabalhando de alfaiate numa oficina, porém não costurava roupas novas, senão que remendava
roupa estragada e juntava muitos pedaços de tecido. Pelo momento não pude entender que
significava aquilo.
Falei disto portanto com alguém; porém não o disse claramente que fui até sacerdote e tão
somente com meu professor, Dom Cafasso.
OBSERVAÇÕES:
“Este sonho ou visão permaneceu indissipável na memória de Dom Bosco” (MBe 1,311).
Parece indicar que trabalharia com meninos abandonados, o qual costurava vestidos rasgados.
39
SONHO DOS VINTE E UM ANOS (1836)
(MB 1,424-425 = MBe 1,342-343)
João tinha visto o vale debaixo do lugarejo Susambrino converter-se numa grande cidade
por cujas ruas e praças corriam uma multidão de meninos agitando, jogando e blasfemando. Como
tinha horror a blasfêmia e era de caráter pronto e veemente, se aproximou dos meninos, corrigindolhes por blasfemar e ameaçando-lhes se não se calassem; mas como eles não cessaram de lançar
horríveis insultos contra Deus e a Santíssima Virgem, João começou a golpea-los. Porém eles
reagiram e, deitando em cima, descarregaram sobre ele fortes socos.
Ele escapou, porém lhe saiu ao passo um Personagem, que lhe pediu a deter-se e a voltar até
aqueles rapazes, para persuadi-los a ser bons e não falar mal. João alegou que lhe haviam surrado e
que pior aconteceria se voltasse outra vez com eles. Então aquele Personagem o apresentou a um
belíssima Senhora que se adiantava, e disse:
- Esta é minha mãe, entende-te com ela.
A Senhora, dirigindo-lhe uma olhada cheia de bondade, o falou assim:
- Se queres ganhar esses meninos, não tens de apresentar-lhes o rosto com golpes, tem de
atraí-los com doçura e persuasão. E então, como no primeiro sonho, viu que os meninos se
transformavam em feras e depois em ovelhas e cordeiros, que o tomou como pastor por ordem da
Senhora.
OBSERVAÇÕES:
Dom Bosco passava as férias no abrigo de José Turco. Este lhe perguntou um dia o que
pensava ser depois de ser sacerdote. Dom Bosco o confiou que sua intenção não era ser pároco ou
coadjutor, senão recolher meninos pobres e abandonados para educá-los cristãmente e instruí-los.
Outro dia o contou que havia tido um sonho, graças ao qual compreendia que estabeleceria sua
morada num certo lugar onde abrigaria muitos jovens.
Como se vê, este sonho repete desde os nove anos; porém, se acentua que sua missão se
realizará num contexto urbano.
A VIDEIRA (1868)
(MB 9, 157-164 = MBe 9,160-167)
Era noite de quinta-feira santa (9de abril). Apenas começou invadir-me um leve sopro, quando
me aparecia encontrar-me debaixo destes mesmos pórticos, rodeados de nossos sacerdotes,
clérigos, assistentes e alunos. Parecia-me depois, enquanto vós desaparecia, que eu avançava
um pouco para o pátio.
Estavam comigo P. Miguel Rua, P. João Cagliero, P. João Batista Francesia, P. Ângelo
Sávio e o jovenzinho Preti; e um pouco afastado, José Buzzetti e P. Estevão Rume, do seminário de
Gênova e um grande amigo nosso.
De repente, vi que no oratório atual mudou de aspecto, assemelhando-se a nossa casa tal
como era nos primeiros tempos, quando estavam nela quase somente citados.
Tinha presente que no pátio confinava amplos campos sem cultivar, completamente
desabitados, que se estendiam até os prados da cidadela, onde os primeiros jovens brincavam
alegremente.
Eu estava embaixo das janelas de meu quarto, no mesmo lugar ocupado hoje por uma oficina
de carpintaria e que em outros tempos foi um bosque.
Enquanto estávamos sentados falando de nossas coisas e da conduta dos jovens, eis que aqui
adiante desta pilastra (onde estava apoiada a tribuna desde que falava) que estava a bomba, e junto
da qual estava perto da casa Pinardi, vimos brotar da terra uma grandíssima videira, a mesma que
durante muito tempo estava neste mesmo lugar. Estávamos maravilhados com a aparição da videira
40
depois de tantos anos e nos perguntávamos reciprocamente que classe de fenômeno seria aquele.
A planta crescia diante de nossos olhos e se elevava sobre o solo quase a altura de homem.
Quando começavam a brotar sarmentos em número extraordinário, por uma outra parte, eu a cobria
de pâmpanos. Em pouco tempo crescia tanto que logo ocupava todo o nosso pátio e muito mais. O
mais admirável era que seus sarmentos não apontavam para cima, mas que seguiam uma direção
paralela a do solo formando um imenso encharcado, que se sustentava sem ninguém apoia-lo
visivelmente. Suas folhas acabadas de sair, eram verdes e formosas; e seus cumpridos sarmentos de
um vigor e frescor surpreendente; logo apareciam também formosos cachos, engordaram os grãos e
a uma adquiriu sua cor.
Dom Bosco e os que estavam com ele contemplavam maravilhados aqueles que desciam:
Como pode crescer esta videira tão depressa? Que será?
E disse Dom Bosco aos demais:
Esperemos a ver o que acontece.
Eu seguia mirando com os olhos abertos e sem piscar, quando de repente todos os grãos de
uva caíram no solo e se convertiam em outros tantos meninos animados e alegres, que encheram no
momento todo o pátio do oratório e todo o espaço sombreado pela videira: saltavam, jogavam,
gritavam, corriam para baixo daquela singular parreira e dava gosto de vê-los. Ali se falava todos os
meninos que estiveram, estão e estarão no Oratório e nos demais colégios, pois a muitíssimos nos
conhecia.
Então um personagem que no princípio não conhecia quem era, e vós sabeis que Dom Bosco
tem sempre em seus sonhos um guia, aparecia ao meu lado contemplando também os meninos.
Porém, de repente, um véu misterioso se estendeu sobre nós e cobriu o agradável espetáculo.
Aquele largo véu não muito mais alto que a vinha, parecia pegado aos sarmentos da videira
em toda sua longitude e baixava até o solo a modo de telão. Somente se via a parte superior da
vinha, que parecia um amplo tapete verde. Toda alegria dos jovens havia desaparecido no momento
que trocasse num melancólico silêncio.
Olha! Me disse o guia assinalando-me a videira.
Aproximei e vi que aquela enorme videira, que parecia carregada de uvas, não tinha mais
folhas, sobre seus caules apareciam escritos palavras do evangelho: Nihil invenit in ea! (Não tem
nada nela).
Eu não sabia explicar o significado daquilo e disse ao personagem:
Quem eras tu? Que significa esta videira?
Tirou o véu que havia diante da videira e aparecera somente certo número dos muitíssimos
jovens que havia visto antes, em grande parte desconhecidos por mim.
Estes são, acrescentados, os que tem muita facilidade para Ter o bem não se propõe com o
fim de agradar o Senhor. São os que têm o bem somente para não desmerecer diante de seus
companheiros. Os que observam com exatidão o regulamento da casa, para livrar-se das
repreensões e para não perder a estima dos superiores, com os quais se mostram diferentes, porém
sem tirar fruto de suas exortações e dos estímulos e cuidados que são objetos nesta casa. Seu ideal é
procurar uma posição honrosa e lucrativa no mundo. não se preocupam de estudar a própria
vocação, escutando a voz do Senhor que de fato o chama, ao mesmo tempo, dissimulam suas
intenções temendo algum dano. São, em suma, os que têm as coisas com força, por isso sua obras
de nada servem para eternidade.
Isso digo. Ho! Quanto me desgosta ver entre aqueles alunos que eu acreditava ser bons,
afetuosos e sinceros!
E o amigo acrescentou:
O mal não está todo aqui.
E deixo cair o véu, deixando descoberto a parte superior de toda videira.
Olha agora de novo, me disse.
Olhei aqueles sarmentos; entre as folhas via-se muitos cachos que a primeira vista me
aparecia pressagiar uma rica colheita. Eu me alegrava, porém aproximando vi que os cachos eram
41
raquíticos e podres; uns estavam mofados, outros cobertos de bichos de insetos que os devoravam;
estes, picados por pássaros e vespa; aqueles, podres e secos. Fingindo-me muito, me convenci de
que nada de bom se podia tirar daqueles cachos, que não haviam mais que infectar o ar com o fedor
que os emanava.
Então o personagem levantou de novo o véu e exclamou:
Olha! E debaixo, agora não o número incontável de jovens que havia visto no princípio do
sonho, e sim muitíssimos dele. Seus rostos, antes tão formosos, se haviam se tornados feios,
sombrios, cobertos de horríveis chagas. Passeavam encurvados, encolhidos e melancólicos.
Ninguém falava. Havia entre eles alunos dos que estiveram nesta casa e nos colégios, outros que
atualmente estão aqui presentes e muitíssimos os quais não conhecia. Todos estavam
envergonhados e não ousavam levantar para dar uma olhada.
Eu mesmo, os sacerdotes e alguns dos que me rodeavam, estávamos espantados e sem poder
pronunciar palavras. Por fim perguntei ao meu guia:
Como é isto? Por que estes jovens estavam a princípio tão contentes e tinham um aspecto tão
agradável e agora estão tristes e feios?
O guia contestou:
Estas são as conseqüências do pecado!
Os meninos passavam, entretanto, diante de mim e guia me disse:
Observa-os detalhadamente!
Olhei atentamente e vi que todos levavam escrito na frente e na mão o seu pecado.
Reconhecia a alguns deles que me enchiam de espanto. Sempre havia crido que eram verdadeiras
flores de virtudes e, em troca, a presente via que tinham a alma manchada com culpas gravíssimas.
Entretanto os jovens desfilavam, e eu lia em sua frente: imodéstia, escândalo, malícia,
soberba, ócio, gula, inveja, ira, espírito de vingança, blasfêmia, irreligião, desobediência, sacrilégio
e furto. Não todos estavam agora como os vês. Porém enchiam a está-lo, se não trocavam de
conduta. Muitos desses pecados não são graves por si, porém são causas e princípios de quedas
terríveis e de eterna perdição. Qui spernit modica, paulatim decidet. (Quem desprecia o pequeno
pouco a pouco sucumbe). A gula gera impureza; e desprezo aos superiores conduz ao menosprezo
dos sacerdotes e da Igreja e assim sucessivamente.
Desconsolados a vista daqueles pecados, tomei o livrinho, peguei o lápis para notar o nome
dos jovens que eram conhecidos e seus pecados a passei diante de cada um, para avisa-los e induzilos que se corrigem. Porém o guia me tomou pelo o braço e me perguntou:
Que tens? Vou anotar o que veio escrito em sua frente, para pode-los avisar e que se
corrijam.
Isto não está permitido, respondeu o amigo.
Por que não faltam os meios para vê-los livres destas enfermidades.
Tem no regulamento: que os observem; tem aos superiores: que os obedeçam; tem os
sacramentos: que os freqüentem. Tem a confissão: que não profane calando pecados. Tem a sagrada
comunhão: que não a receba com a alma manchada pelo pecado mortal. Que vigiem suas olhadas,
que fujam dos maus companheiros, que se abstenham de maus leituras e de conversas
inconvenientes etc. estão nesta casa e o regulamento os podem salvar. Quando ouvirem a
campainha, que obedeçam prontamente. Que não fujam de subterfúgios para enganar aos mestres e
se entregar ao ócio. Que não sacudam o julgo dos superiores, considerando-os como vigilantes
importunos, como porteiros interessados como inimigo e que não contem vitória quando quiserem
encobrir as suas faltas, conseguindo a impunidade das mesmas. Que sejam respeitosos e que
possuam de boa vontade na igreja e nos demais lugares destinados á oração sem distrair aos demais
conversando. Que estudem no estudo; que trabalhem na oficina e que observem uma postura
decente. Estudo, trabalho e oração; tem aqui o que os conservará bons.
Apesar da negativa, continuei rogando insistentemente ao meu guia que me deixasse a
esquecer os nomes. Então ele me arrebatou determinadamente o caderno das mão e o lançou ao solo
dizendo:
42
Digo-te que não tem falta que os escrevas. Teus jovens podem saber o que devem fazer e
evitar com a graça de Deus e com a voz da consciência.
Então disse, não pode manifestar-lhes nada de tudo isso. Diz-me ao menos o que devo fazer,
e que aviso tem de dar-lhes.
Poderás dizer-lhes que recordas e disse.
E disse ao cair o véu. Novamente apareceu novos olhos na videira, cujos sarmentos, quase
desprovidos de folhas, ofereciam uma enorme uva, vermelha e madura. Me aproximei, observei
atentamente os cachos e vi que na realidade eram como me haviam parecido á distância.
Dava gosto contempla-los, causavam verdadeiro prazer a vista. Exalavam ao redor uma
fragrância esquisita.
O amigo levantou imediatamente o véu. Baixo o extenso da parreira havia muitos jovens que
estiveram, estão e estarão conosco. Seus rostos eram muitos belos e estavam radiantes de
felicidades.
Isto, me disse o guia, são e serão aqueles que, mediante teus sólidos cuidados, produzem e
produzirão bons frutos, os que praticam a virtude, te proporcionarão muitos consolos.
Eu me alegrei, porém, ao mesmo tempo, me senti um pouco afligido porque ditos jovens não
eram como eu esperava.
No entanto os contemplava, suou a campainha para o almoço e os meninos se marcharam.
Também os clérigos se foram a seu lugar. Olhei ao meu redor e não via nada. Até a videira com
seus sarmentos e cachos haviam desaparecidos. Busquei o guia e não encontrei. Então e despertei e
pude logo descansar.
Na Sexta-feira, 01 de maio, continuou Dom Bosco o relato:
Como disse ontem, me despertei parecendo a ver ouvido o som da campainha, porém veio
amedrontar-me; descansava tranqüilamente quando me senti sacudido pela segunda vez e me
parecia encontrar-me em meu quarto, em atitude de despachar minhas correspondências. Saí da
escrivania e durante um momento estive contemplando a gigantesca cúpula da nova igreja e
seguidamente baixei aos pórticos. Pouco a pouco regressavam de suas ocupações os sacerdotes e
clérigos que me rodearam. Entre eles estavam presente P. Miguel Rua, P. João Cagliero, P. João
Batista Francesia e P. Ângelo Sávio. Falava com eles de coisas diversas, quando a cena trocou por
completo. Desapareceu a igreja de Maria Auxiliadora, desapareceram todos os edifícios atuais do
oratório e nos encontramos na antiga casa Pinardi. E aqui, de novo, começa a brotar do solo, e no
mesmo lugar que anteriormente, uma videira que parecia sair de suas raízes como a outra e a elevarse igual altura da outra, a produzir numerosos sarmentos horizontais, que se estenderam por um
amplo espaço e depois se cobriam de folhas, de cachos e, finalmente, de uvas maduras. Porém não
parecia a turma de jovens. Os cachos eram tão grandes como os da Terra Prometida. Havia sido
necessária a força de um homem para levantar somente um. Os grãos eram extraordinariamente
grossos, de forma inclinada e de um colorido amarelo ouro; pareciam muito maduros. Um somente
deles viera ser suficientemente para encher a boca. Seu aspecto era tão agradável que a boca se
enchia de água e parecia que estavam dizendo:
Come-me! Também P. João Cagliero, com D. Bosco e seus companheiros, contemplava
maravilhado aquele espetáculo. D. Bosco exclamou:
Que uma tão estupenda!
E D. Cagliero, sem complementos, se acercou da videira arrancando uns grãos, colocou um
na boca e começou a mastiga-lo; porem sentiu náuseas e o arremessou com tal força que parecia
vomitar. A uva tinha um sabor desagradável, como de um ovo podre.
Caramba! Exclamou P. João Cagliero depois de cuspir várias vezes; isto é veneno, é capaz
de causar a morte de um cristão.
Todos olhavam e ninguém falava, quando saio pela a porta da sacristia da antiga capela um
homem de aspecto sério e decidido, que se acercou a nós e parou junto a D. Bosco. D. Bosco o
perguntou:
43
Como se entende que uma uva tão enorme tenha um gosto tão mal? Aquele homem não
contestou, sim que, sem dizer palavras foi cortar um feixe de varas, escolheu uma nudosa, se
apresentou ao P. Ângelo Sávio e se ofereceu dizendo. Toma e golpeia estes sarmentos! P. Ângelo
negou a fazê-lo e deu um passo para traz.
Então aquele homem se voltou ao P. João Batista Francesia e lhe ofereceu o bastão e lhe
disse:
Toma e golpeia!
E, o mesmo que P. Ângelo Sávio, lhe indicou o lugar onde tinha que fazê-lo. P. Francesi
encolheu os ombros, coçou a barbicha e moveu um pouco a cabeça dizendo que não.
Aquele homem se dirigiu ao P. Cagliero e, tomando pelo braço, apresentou o bastão e lhe
disse:
Tome e golpeia, esbordua e abate! E, ao mesmo tempo, o indicava o lugar onde havia de
fazer. P. Cagliero, assustado, deu um salto para trás e batendo na costa da mão sobre a outra
exclamou:
O que me faltava!
O guia repetia a mesma invocação repetindo:
Toma e golpeia!
Porém Cagliero, como posto no disparador, começou a descer.
Eu não, eu não.
E, encheu de medo, e correu a esconder atrás de mim.
Ao ver isto aquele personagem, sem imutar-se, se apresentou da mesma maneira ao P.
Miguel Rua e lhe disse:
Toma e golpeia.
Porém p. Rua, igual ao P. Cagliero veio esconder-se atrás de mim.
Então me encontrei frente aquele homem singular que, depressa diante de mim, me disse:
Toma e golpeias tu este sarmento.
Eu fiz um grande esforço para comprovar se estava sonhando em meu plano conhecimento e,
parecendo-me tudo quanto sucedia era real, disse aquele personagem:
Quem és tu que me fala desta maneira? Disse-me: Por que há de golpear este sarmento e por
que tem de achá-los abaixo? É isto um sonho, uma ilusão? Que significa isto? Em nome de quem
me falas? A caso tens o nome do senhor?
Cercou a videira, respondendo, e li o que tinha escrito sobre as folhas.
Me aproximei. Observei com atenção as folhas e li estas palavras: Ut quid terram occupat?
(para que ocupa a terra?)
São palavras do evangelho, exclamou meu guia.
O havia compreendido tudo, porém me atrevia a contrapor.
Antes de golpear, recorda que no evangelho também li como o senhor, aos rogo do lavrador,
permitiu que abandonasse a planta inútil e cavasse ao seu redor, reservando-se a arranca-la até haver
empregado todos os meios para fazê-la frutificar.
Bem, se poderá conceder uma trégua ao castigo, mas entretanto, olha e depois verás.
E me assinalou a videira. Eu mirava, porém não entendia nada.
Vem e observa, replicou-me; lê: o que há escrito nos grãos de uvas?
D. Bosco se aproximou e viu que todos os grãos tinham escrito o nome de um aluno e suas
culpas.
Eu li, entre tão múltiplas imputações, recordo com horror as seguintes: soberba, infidelidade
as suas promessas, incontinência, hipocrisia, descuidado com seus deveres, calúnias vingança,
pessoas ímpias, sacrilégio, depreciador da autoridade dos superiores, pedra de escândalo e seguidor
de falsas doutrinas. Vi o nome daqueles quorum Deus venter est (cujo o Deus é o ventre); de outros
os quais scientia inflat (a ciência odeia); dos que quaerunt quae sua sunt, nom quae Jesu Cristi
(buscam o seu, não o de Jesus Cristo); os que criticam o regulamento e aos superiores. Vi também
os nomes de certos desgraçados que estiveram e estão atualmente conosco; e um grande número de
44
nomes novos para mim seja os que com o tempo, estariam conosco.
Eis aqui os frutos que produzem esta vinha, disse o personagem com um contente sorriso;
são frutos amargos, maus, nocivos para a eterna salvação.
Sem mais, saquei o caderno, tomei o lápis e quis escrever os nomes dos alunos, porém o guia
me tomou pelo o braço como na vez anterior e me disse:
Que tens?
Deixa-me tomar nota dos que conheço, a fim de poder avisa-los em particular para que se
corrijam.
Foi inútil meu rogo. O guia não me consentiu, e eu acrescentei:
Mas, se eu o digo a situação e o estado em que se encontram, raciocinarão.
E explicou-me:
Se não creem no Evangelho, tampouco crerão a ti.
Continuei insistindo porque queria tomar nota e dispor de algumas normas para lhes
prevenir; mas aquele homem não acrescentou palavra, e se pôs diante do Pe. Miguel Rua como o
fez com os bastões e o convidou a tomar um:
Toma e golpeia!
Rua, cruzando os braços, baixou a cabeça e exclamou:
Paciência!
E depois dirigiu uma olhada a Dom Bosco. Este fez um sinal de aceitação e Pe. Miguel Rua,
tomando uma vara em suas mãos, se acercou a videira e começou a golpear no lugar indicado. Mas,
apenas havia dado os primeiros golpes, quando o seu guia o fez sinal de que se volta-se e gritou a
todos:
Retira-os!
Então nos afastamos todos. Observamos e víamos que os grãos de uva se inchavam, se
faziam cada vez mais grossos e se tornavam repugnantes. Pareciam caracóis sem concha, sempre de
cor amarelada e sem perder a forma de uva.
O guia gritou novamente:
Mirei! Deixam que o senhor descarregue sua vingança!
E eis que o céu começou a mudar-se e se formou uma nuvem tão densa que não se via a
pouca distância e deixou coberta a videira por completa. Tudo estava escuro, brilhavam relâmpagos,
retumbavam trovões e começou a cair tantos raios por todo lado do pátio que infundíamos terror. Se
dobravam os sarmentos ao impulso de um vendaval e voavam as folhas pelos ares. Finalmente
começou a açoitar a videira uma horrível tempestade. E o que surgiu, mas meu guia me voltou
dizendo:
Olha a pedra! Mirei e vi que as pedras da grossura de um ovo, umas eram negras e outras
rochas; por um lado eram pontiagudas e por outro achatadas em forma de massa. A pedra negra caia
com violência aonde nós estávamos mas atrás caia a pedra rocha.
Como é isto? Dizia eu! Em minha vida tenho visto uma pedra parecido a esta.
Aproxima-te, me diz o desconhecido e verás.
Me aproximei um pouco da pedra negra, mas desprendia um fedor tão exalador que pouco
faltou que me atingisse de costas. O guia insistia cada vez mais para que me aproximasse. Então
agarrei um grão dos negros para examina-lo, mas tive que lança-lo em seguida ao solo porque
repugnava muito aquele odor pestilente.
E disse:
Não me é possível ver nada!
E disse o outro:
Olhe bem e verás.
E eu, fazendo-me maior violência, vi escrito sobre cada um daqueles pedaços negros de gelo:
imodéstia. Me dirigi então ao granizo vermelho que, apesar de sua frieza, queimava quando tocava.
Tomei em minhas mãos um grão que fedia como o outro e pude ler um pouco mais facilmente do
que sobre ele estava escrito: soberba. A vista disto, exclamei cheio de vergonha: são, pois, estes os
45
vícios principais que ameaçam esta casa?
Estes são os vícios capitais que arruinaram maior número de almas, não somente em tua
casa, mas em todo mundo. ao seu tempo verás quantos caíram no inferno, impulsionados por estes
vícios.
Que tens a dizer, pois ao meus filhos para que os obedeçam?
O que tens a dizer-lhes saberás em breve.
E ao dizer isto, se apartou de mim.
Entretanto, a pedra continuava e devastando furiosamente a videira ao resplendor de
relâmpagos e raios. Os cachos quebravam esmagados como estivessem estado num lugar baixo dos
pés dos pisadores, e soltavam todo o sumo. Um fedor terrível se espalhou pelo ar fazendo-o
irrespirável. De cada grão saía um cheiro diferente, um era mais suportável que o outro, segundo a
diversidade e o número dos pecados. Como não podia resisti mais, me pus o lenço no nariz.
Seguidamente voltei atrás para dirigir-me a minha casa, mas não vi nenhum de meus companheiros,
nem Francesia, nem Rua, nem Cagliero. Haviam fugido deixando-me só. Tudo estava deserto e
silencioso. Tomei então de tal espanto e pus-me a fugir e me despertei.
Como vês, este sonho é em extremo desagradável, mas o que sucedeu à tarde e as noites
posteriores a aparição do sapo, o diremos passado na manhã de Domingo, 3 de maio, e ainda será
mais desagradável. Agora não podei conhecer as conseqüências, mas como não há tempo para falar
delas, para tomarmos mais tempo de descanso, deixei-os que iríamos dormir reservando-me a
comunicá-la em outra ocasião.
A MORTE , O JUÍZO, O PARAÍSO (1868)
(MB 9,156-157 = MBe 9,160)
"Desde os primeiros dias da Semana Santa (5 de Abril), comecei a ter uns sonhos que
ocuparam minha imaginação e me molestaram durante várias noites. Estes sonhos me produziam,
ademais, um grande cansaço, de forma que, na manhã seguinte de haver sonhado, me sentia sem
forças como se houvesse passado trabalhando nas horas do descanso, sentindo-me ao mesmo tempo
preocupado e inquieto.
Na primeira noite sonhei que estava morto. Na Segunda que estava no juízo de Deus, disposto a dar
conta das minha obras ao Senhor; porém, no momento, me despertei e comprovei que estava ainda
vivo na cama e que, portanto, disporia de tempo para preparar-me melhor a uma santa morte. Na
terceira noite sonhei que me encontrava no Paraíso, donde me pareceu estar muito bem e muito
alegre. Ao despertar-me pela manhã, desapareceu tão agradável ilusão; porém me sentia resoluto a
ganhar-me, à custa de qualquer sacrifício, o reino eterno que havia vislumbrado.
Até aqui se tratava de coisas que não tinham importância para vocês e carecem de todo significado.
Se um vai descansar preocupado por uma idéia, e é natural que, durante o sonho, se reproduzam
cenas relacionadas com as coisas nas quais se tem estado pensando."
OBSERVAÇÕES:
Tido em Lanzo; contado em 30 de Abril.
AS DUAS CASAS (1861)
(MB 6,947 = MBe 6,715)
Lhe pareceu encontrar-se em sua casa preocupado por aquela catástrofe, quando vi entrar o
Cônego Gastaldi, que lhe disse:
- Não se aflija, porque se lhe há caído a casa.
Dom Bosco o olhou fixamente, estranhando aquelas palavras, e o Cônego, depois de olha-lo,
46
continuou:
- Não se aflija, porque se há caído a casa; surgirá duas; uma para os sãos e outra para os
enfermos.
OBSERVAÇÕES:
Tido em Novembro. Se havia derrubado um edifício e um operário caiu em cima dos
escombros, porém foi resgatado (retirado) sem nenhuma ferida grave. Algumas noites depois desta
desgraça, Dom Bosco teve este sonho. Efetivamente, se construiria uma "casa anexa" ao Oratório,
para residentes.
AS REGRAS (1867)
(MB 8,569 = MBe 8, 484)
Levou a Roma as Regras traduzidas no latim, corrigidas e revisadas para adaptá-las na
exigência das Animadversiones, sem acorrer dano a suas previsões para o porvir e para as
necessidades da Pia Sociedade e sem separar-se do exemplar que havia sido mostrado nos sonhos.
A BOLSA DA VIRGEM (1863)
(MB 7,472 = MBe 7,404)
Uma noite, nos primeiros dias de Julho, notificava que havia visto em sonhos uma pessoa (e
parece que foi a Santíssima Virgem), passando por entre os jovens e oferecendo-lhes uma bolsa
ricamente bordada, para que cada um tirasse em sorte um papelzinho dos muitos que havia dentro.
Dom Bosco se colocou ao lado. A medida que cada menino extraía (tirava) o papelzinho, ele
anotava a frase ou palavra escrita no mesmo. Conclui sua breve narração dizendo que todos tiraram
seu papelzinho, menos um que não se aproximou e permaneceu afastado; e querendo Dom Bosco
ver o que estava escrito no papelzinho que ficara no fundo da bolsa leu: Morte.
OBSERVAÇÕES:
Contado num dos primeiros dias de Julho. Evitando que cada um perguntasse o que estava
escrito no papelzinho e , a cada jovem, disse uma palavra "segundo sua necessidade". O Cônego de
Carmagnola, Dom Sebastián Mussetti, recordava que em seu papelzinho dizia Constância.
O ESTANDARTE FÚNEBRE (1871)
(MB 10, 44 = MBe 10,51)
Nos começos de Novembro de 1871, Dom Bosco dava o aviso de que, antes de finalizar o ano, um
dos alunos do Oratório passaria para a eternidade.
Havendo-lhe perguntado alguém da casa como havia chegado a saber, contestou:
— Me pareceu ver em sonhos um estandarte despregado ao vento, levado por algumas pessoas;
pareciam anjos, porém não recordo bem.
Por uma parte, se via pintada a morte com sua mortífera foice, em atitude de cortar o fio da vida de
alguém; por outra, aparecia escrito o nome de um menino. Na parte inferior daquela cena, se lia:
"1871-1872", com o que se queria indicar que aquele menino passaria para a eternidade antes que
terminasse o ano.
OBSERVAÇÕES:
Contado em princípios de Novembro. O jovem morto foi Eugênio Lecchi.
47
O GLOBO DE FOGO (1854)
(MB 5,64 = MBe 5,58)
Durante estas festas, voltou a contar Dom Bosco como tinha visto no ar um globo de fogo
luminosíssimo sobre o terreno donde mais tarde se levantou a Igreja de Maria Auxiliadora. Parecia
que a Virgem confirmava, com este sinal, que Ela não tinha renunciado a tomar esta posição.
OBSERVAÇÕES:
Contado entre os dias 21 e 28 de Maio, em que Dom Bosco organizou solenes festas das 40
horas, das que se conserva o programa. José Buzzetti foi testemunha destas palavras e as recordava
a Dom Bosco em Lanzo em 1887.
MORTE DE UM SALESIANO (1870)
(MB 9,841 = MBe 9,747)
Dom Augusto Croserio, de Condove, morreu em 01 de Abril de 1870 com a idade de 26
anos. Os rasgos de sua vida ficam delineados na oração fúnebre pronunciada pelo professor Dom
Francisco Cerruti. Na véspera na morte de Croserio, Dom Bosco o viu em sonhos no momento em
que ia a dar a benção. Tinha um formoso aspecto e ia revestido com uma magnífica capa pluvial,
enriquecida com ouro e pérolas, salpicada de brilhantes metálicos.
— Como se entende? — dizia Dom Bosco para si —. Croserio aqui? Esta no inferno? Ah, já o
entendo! Queres dizer que está a ponto de ir para o Paraíso.
De fato, morria no dia seguinte.
OBSERVAÇÕES:
Tido em 31 de Março. Na redação do necrológio.
PELOS DORMITÓRIOS, EM COMPANHIA DA VIRGEM (1871)
(MB 10,44 = MBe 10,51)
No ano de 1871 a Santíssima Virgem acompanhou Dom Bosco a percorrer os dormitórios
para indica-lhe que, entre os meninos, havia um que morreria muito próximo, e que o preparasse ao
grande passo.
Esta visita aos dormitórios era freqüente. Às vezes, na cabeceira de cada menino se via um cartaz
no qual se poria de manifesto o estado de sua consciência; outras vezes, aparecia sobre a fronte do
dormente a qualidade de sua culpa; em uma ocasião, veio pendente sobre a cabeça de um, uma
espada suspensa por um fio finíssimo próximo a romper-se, enquanto ele se agitava na cama
angustiosamente, como quem é vítima de sonhos espantosos. Às vezes, viu também demônios no
dormitório rodeando a certos meninos e também a um só demônio aguardando a permissão (da
divina justiça) para matá-lo.
OBSERVAÇÕES:
Esta narração é de Dom Júlio Barberis.
ADMOESTAÇÃO DO CÉU (1830)
(MB 1,218 = MBe 1,188)
48
"Naquele tempo tive outro sonho, no que me repreendia severamente por haver posto minha
esperança nos homens e não na bondade do Pai Celestial."
OBSERVAÇÕES:
Circunstâncias; em 5 no Novembro de 1829 se encontra com Dom José Calosso, capelão de
Murialdo. Com estudará e viverá algum tempo. Porém, em 21 de Novembro de 1830, morre o
ancião sacerdote, em quem Joãozinho confiava para realizar sua vocação.
Interpretação:
"Deus começa a abrir o caminho, na consciência de Joãozinho, com uma meta preeminente e
absoluta, que o chama a seu serviço, e o manda abandonar-se totalmente à sua vontade e a sua
assistência providencial". (Straniero, 12)
OLHANDO PARA O FUTURO (1831)
(MB 1, 243-244 = MBe 1, 207-208)
Havia visto chegar a ele uma misteriosa senhora que guiava um numerosíssimo rebanho, o
qual se havia dirigido para ele e, acercando-o chamou-o pelo nome, dizendo:
— Olha Joãozinho: todo este rebanho entrego aos teus cuidados.
— Como me ordenas a guardar tantas ovelhas e tantos cordeirinhos? Onde encontrarei pasto, para
apascentá-los?
A Senhora respondeu:
— Não tenhas medo; eu estarei contigo.
E desapareceu.
OBSERVAÇÃO:
Este sonho é chamado também "sonho dos 16 anos". Em 1831 Joãozinho vai estudar na
escola de Castelnuovo, onde faz amizade com um companheiro chamado José Turco. Este menino
leva João a visitar sua família, que possuía uma vinha chamada Renenta, ligada com a herdade
Sussambrino, propriedade dos Bosco. O pai de José Turco um dia viu Joãozinho mais alegre que o
ordinário e lhe perguntou que se passava:
— Boas noticias, boas noticias, exclamou João; esta noite tive um sonho no qual vi que continuaria
meus estudos, que seria sacerdote e me encontraria a frente de muitos jovens, de cuja educação
me ocuparia durante o resto de minha vida. De modo que já esta tudo decidido; serei sacerdote
(MB 1,207).
No dia seguinte, a Senhora Turco, Dona Maria lhe pediu que contasse o sonho a ela e a seus
filhos. João contou o texto transcrito, segundo o biografo Lemoyne. Cf. Terésio, 54.
O FUTURO DE UM JOVEM (1868)
(MB 9,331-332 = MBe 9,309)
"Eis que vi um menino do Oratório, estendido pelo chão no meio do dormitório. Ao seu
redor havia pontas de faca, pistolas, carabinas e membros humanos despedaçados. Parecia
agonizante. Lhe perguntei:
— Porque te encontras em estado tão lastimoso?
— Não o adivinha — me respondeu — pelos instrumentos que me rodeiam? Eis que sou
demasiado um assassino e, dentro de poucas horas, serei condenado a morte.
Depois acrescentou:
49
— Eu conheço este menino: procurarei corrigi-lo de seus defeitos e infundir-lhe sentimentos de
piedade e de bondade, porém tem tão mal caráter que muito temo que acabe mal."
OBSERVAÇÕES:
Contado uma noite, enquanto jantava, aos que estavam ao seu redor, entre eles Dom
Joaquim Berto. Este jovem foi fuzilado durante o serviço militar por haver matado ao seu próprio
oficial.
PERCORRENDO O DORMITÓRIO (1869)
( MB 9,581 = MBe 9, 524)
Havia sonhado, na primeira noite de sua chegada, que se falava no salão em que se
celebravam os exames e veio apresentar-se diante dele duas pessoas. Uma sustentava, pendurado
em uma cana, um farol e a outra levava uma cardeneta embaixo do braço. Lhe convidaram a subir
ao dormitório e lhe acompanharam. Paravam aos pés de cada cama. Uma delas abaixava a luz para
que Dom Bosco pudesse reconhecer o rosto de quem dormia e a outra rasgava uma folha da
cardeneta e a colocava sobre a colcha. Naquele papel estava escrito o número de anos que a cada
um dos meninos restava de vida.
OBSERVAÇÕES:
Contado em Janeiro. O recusou contar ao jovem Evasio Rabagliati, que havia ingressado no
dia 08 de janeiro de 1869 no colégio de Mirabello. Dom Bosco foi a Mirabello a meados de janeiro.
UMA MORTE PROFETIZADA (1863)
(MB 7,550 = MBe 7,469)
Em 01 de Novembro pela noite contou Dom Bosco aos jovens, quase em brincadeira, um
breve sonho:
— não sei se a causa era a lembrança da festa de Todos os Santos e a da comemoração dos
defuntos, o certo é que, a noite passada, sonhei que havia morrido um jovem e que eu o
acompanhei até a sepultura. Não quero dizer que isto seja sinal de que algum de vocês deva
morrer; porém já tive vários sonhos como este e casualmente se cumpriram.
OBSERVAÇÕES:
Tido em 31 de Outubro; contado em 14 de Novembro. A narração é da crônica de Dom
Domingo Ruffino. O jovem foi Luis Prete, morte em 5 de Novembro de 1863.
UMA VISITA AO DORMITÓRIO (1866)
(MB 8,314-315 = MBe 8,273)
"Sonhei que me encontrava na cama e que se apresentava um indivíduo ou fantasma com
uma vela acesa na mão, dizendo-me:
— Dom Bosco, levanta-te imediatamente e vem comigo!
Sem temor algum, desci da cama, me vesti e me pus a acompanhar aquele indivíduo, o qual não
permitiu nem por um só momento que eu visse o seu rosto. Me fez atravessar vários lugares pelo
centro do corredor a cujos lados estavam as camas dos jovens entregados ao descanso. Ao passar
me dei conta de que sobre algumas camas havia alguns gatos agarrados aos ferros com as patas
traseiras e com as da frente em atitude de arranhar o rosto dos meninos que estavam dormindo.
Eu seguia sempre atras daquele fantasma, o qual se deteve finalmente começando a dar
voltas ao redor da cama de um jovem que estavam dormindo profundamente. Também eu me detive
e lhe perguntei porque fazia aquilo. Ele me respondeu:
50
— Para a festa de São José este jovem deve vir comigo.
Eu compreendi que o menino indicado morreria naquela data.
Entretanto, perguntei a meu guia em tom resoluto:
— Necessito saber quem és e em nome de quem falas.
Ele me disse novamente:
— se queres saber quem sou: olha!
E desapareceu ele e a lanterna, de forma que me ficou às escuras. Entretanto me dispus a ir
novamente a minha cama, porém no caminho tropecei não sei se com um baú ou com outra coisa e
me despertei."
Desta narração, nos explicou que aqueles gatos na atitude devorar os jovens que dormiam
tranqüilamente, significam os inimigos da nossa alma, que estão sempre ao nosso redor para nos
fazer cair se estamos na graça de Deus ou para destroçarmos se estamos na desgraça, quando o
Senhor, cansado de nós, o permitir.
— Conheci — acrescentou — àquele que, segundo me disse o desconhecido, teria que morrer para
a festa de São José; porém não disse a ninguém quem era para não causar demasiado espanto.
Veremos se este sonho se realiza.
Entretanto, estejamos todos preparados a bem morrer. Aos que virem confessar-se comigo,
lhes direi algo em particular.
Passada a festividade de São José, os direi que precisamente no dia 19 de Março, um jovem
do Oratório havia falecido em seu povoado natal.
OBSERVAÇÕES:
Contado uns 15 dias antes da festa de São José. Na crônica do Oratório diz: "em 19 de
Março de 1866 morre Simón Lupotto, aos 18 anos de idade".
SOBRE A OBRIGAÇÃO DA ESMOLA (1887)
(MB 18,361 = MBe 18,316)
"Algumas noites antes, sonhei que via a Virgem, que reprovava meu silêncio sobre a
obrigação da esmola. Me disse que muitos sacerdotes se condenavam, porque faltavam com os
deveres impostos pelo sexto e pelo sétimo mandamento, porém insistiu de uma maneira especial
sobre o mal uso das riquezas.
— Si superfluum daretur orphanis — dizia — maior esset numerus electorum; sed multi venenose
conservant, etc."
OBSERVAÇÕES:
Contado em 4 de Junho; tido "algumas noites antes".
RICOS E POBRES (1886)
(MB 18,169-170 = bem 18,153-154)
Vi numerosos lavradores que subiam a uma plantação de feno, olhando por uma e outra
parte se havia feno, porém sem encontra-lo. Desceram à quadra, registraram os pesebres e
encontraram alguns resíduos.
— porém, como faremos? — Diziam entre si — . A primavera chega a seu fim e estamos sem feno.
— Não nos resta outra solução — murmurava um deles — a não ser matar as vacas e comermos a
carne.
— E depois? — replicou outro — faremos nós como as vacas do Faraó, que se comiam entre si.
Depois vi muitas maletas mui formosas, cerradas (trancadas), que nada podia abrir. Ele as abriu e
51
viu que estavam cheias de dobrões de cobre.
— Que quer dizer isto? — perguntou o Servo de Deus ao seu guia.
— Os ricos — lhe respondeu este — tem estas moedas, e os diamantes, o ouro, a prata, as pedras
preciosas; tudo passará às mãos do pobre. Os ricos perderão seu poder e serão espoliados.
OBSERVAÇÃO:
Contado em 9 de Agosto em Pinerolo.
A VINDIMA (1887)
(MB18,283 = MBe 18,250-251)
Sonhei que me encontrava no meio de uma vinha na qual se colhia.
— com é isto? — dizia o Servo de Deus — Estamos na primavera e já estão colhendo? E com tudo,
que formosos cachos! Que boa uva! Oh, este ano teremos uma boa colheita!
— Sim, sim — lhe responderam seu irmão José e Buzzetti que se encontravam entre os coletores
—. É necessário recolher muito, enquanto tem, porque, a este ano de abundância, sucederão
anos de carestia.
— E porque fala carestia? — perguntou Dom Bosco.
— Porque o Senhor quer castigar os homens pelo abuso que faz do vinho.
— É necessário — continuou o Servo de Deus — fazer, pois, abundante provisão para nossos
jovens.
OBSERVAÇÕES:
Tido em 24 de Março. Quando tinha terminado o relato, pareceu não dar-lhe importância,
dizendo: "é um sonho!".
DOCUMENTOS COMPROMETEDORES (1860)
(MB 6,546 = MBe 6,410)
"Pareceu-me entrar em meu quarto uma quadrilha de salteadores que se apoderaram de mim
e, depois de revisar todas as minhas cartas e papeis, examinaram os armários e reviraram todos os
escritos.
Entretanto um deles, com ar bondoso, me disse:
— Porque não tirou do meio tal e tal escrito? Gostaria que encontrassem aquelas cartas do
Arcebispo que podiam proporcionar sérios desgostos a vós e a ele? E aquelas outras de Roma,
que já quase duvidavam estão aqui — me indicava o lugar — e aquelas outras que estão ali? Se
as houvesse feito desaparecer, os teria livrado de muitas moléstias.
Ao clarear o dia, em plena diversão, contei o sonho, que considerei como um engenho de
minha fantasia. Mas, apesar dele, pus em ordem algumas coisas e tirei do meio alguns escritos, cuja
leitura me podia prejudicar."
OBSERVAÇÕES:
Tido em 23 de Maio, na noite de Quarta para Quinta.
O ministro Farini atendeu ao questor de Turim a ordem de registrar o Oratório. Em 26 de
Maio de 1860, Vigília de Pentecostes, teve lugar este registro, primeiro dos onze que sofreu o
Oratório. Se apresentaram três inspetores de Segurança Pública com 18 guardas; examinaram
sobretudo, os lugares onde estavam as cartas que Dom Bosco havia retirado. Esta é a causa do
desaparecimento das cartas de Dom Bosco ao Arcebispo Fransoni, ao Papa e aos ministros. As
52
diversas inspeções foram ordenadas pelos ministérios de Instrução e de saúde. Toda esta questão
terminaria até 1881.
Para Dom Bosco isto era sinal de que o Oratório é obra de Deus e mal visto pelo diabo. Porém as
forças do inferno não prevalecerão e são pressagio de futuros triunfos.
ENCONTRO COM CARLOS ALBERTO (1847)
(MB 3,539-540 = MBe 3,416-417)
Me pareceu encontrar-me nos arredores de Turim, passeando por uma avenida. De repente,
se aproximou o Rei Carlos Alberto, e se deteve sorridente para saudar-me.
— Majestade! — exclamei.
— Como está Dom Bosco?
— Estou muito bem e muito contente em encontrar com sua majestade.
— Se é assim, queres acompanhar-me a dar um passeio?
— Com muita alegria!
— Vamos.
E nos pusemos caminho rumo a cidade. Na vestia o Rei nenhuma insígnia de sua dignidade,
estava de branco.
— Que diz você de mim? — perguntou o soberano.
Respondi:
— Sei que Vossa Majestade é um bom católico.
— Para você sou todavia algo mais: sempre me tenho interessado por sua obra, já o sabe. Sempre
tenho desejado vê-la prosperar. Quisera eu ajudar-lhe muito, muito, porém os acontecimentos
não me permitiram.
— Se é assim, Majestade, lhe faria um pedido.
— Diga.
— Lhe pediria a presença na festa de São Luis deste ano no Oratório.
— Com muito gosto, porém compreenda você que isto chamaria muita atenção: seria algo inédito;
portanto, não parece ser conveniente tanto alvoroço. De qualquer forma, veremos uma maneira
de que você fique contente, sem a minha presença.
Falando, falando de várias coisas, chegamos juntos ao Santuário de Nossa Senhora da
Consolação. Havia ali uma espécie de entrada subterrânea, quase ao sopé de uma alta colina, e ele
ao passar entre as paredes, que era muito estreita, em vez de descer, subia.
— tem que passar por aqui — me disse o rei.
E de joelhos, abaixando até o solo seu majestoso rosto, assim prostrado, começou a subir e
desapareceu.
Entretanto, enquanto eu examinava aquela entrada e olhava como atravessar por aquelas
trevas, me despertei."
OBSERVAÇÕES:
Contado "muitos anos depois" a dois salesianos, um deles Dom Lemoyne; o sonho durou
toda a noite.
Carlos Alberto de Saboya havia nascido em 1798; subiu ao trono do Piemonte em 1831. Depois da
vitória austríaca de Novara em 23 de Março de 1849, abdicou em favor de seu filho Vítor Manuel
II. Morreu em 28 de Julho de 1849. Foi sempre benfeitor do Oratório. Dom Bosco guardou boa
recordação dele. Os jovens do Oratório cantaram várias vezes na Catedral a missa celebrada no dia
do aniversário de sua morte.
MENSAGEM AO IMPERADOR DA ÁUSTRIA (1873)
53
(MB 10, 65 = MBe 10,69)
Este disse o Senhor ao imperador da Áustria:
— Cobra valor, olha por meus servos fiéis e por ti mesmo. Meu furor se lança sobre todas as
nações da terra, porque querem duvidar da minha lei; conduzir ao triunfo os que a profanam;
oprimir aos que a cumprem. Queres ser tu a vara de meu poder? Queres tu executar meus
desígnios secretos e tornar-se o benfeitor do mundo? Apoia-te nas potências do norte, porém
não na Prússia. Estabelece relações com a Rússia, porém nada de alianças. Associa-te com a
França católica; depois da França, tentas a Espanha. Uni-os num só espirito, e numa só ação.
Segredo máximo com os inimigos de meu santo Nome. Com a prudência e a energia
chegareis a ser invencíveis. Não acredite nas mentiras de quem te diga o contrário. Aborrece aos
inimigos do crucificado. Espera e confia em mim, que sou o dador das vitórias aos exércitos, o
salvador dos povos e dos soberanos. Amém, amém.
NB: — esta carta foi remetida ao Imperador da Áustria no mês de Julho, através de uma pessoa de
confiança , que a entregou em suas próprias mãos. O soberano a leu atentamente e enviou seu
especial agradecimento ao seu remetente, dizendo que a levaria muito em conta.
OBSERVAÇÕES:
A voz do Senhor intima ao Imperador da Áustria a ser instrumento de sua divina vontade
(...). ao mesmo tempo prescreve a conduta que terá que ter com as potências: França, Rússia,
Espanha, e com os inimigos do crucifixo. A vitória vem somente de Deus, Senhor dos povos e dos
soberanos.
A ÁGUIA (1865)
(MB 8,52-53 = MBe 8,58-59)
Em primeiro de fevereiro anunciou Dom Bosco que um jovem morreria, antes que se
realizasse, neste mês, o exercício da boa morte e que, suposto que chegasse a faze-lo uma vez, seria
para o tal o tempo máximo que se lhe concederia a vida.
Este anuncio foi conseqüência de um sonho.
Uma noite pareceu-lhe (a Dom Bosco), enquanto dormia, que estava no pátio e se
encontrava no meio de seus meninos durante o recreio. Ao seu lado estava o guia de costume, o
mesmo que lhe havia acompanhado durante sonhos anteriores. De repente apareceu no espaço uma
águia maravilhosa e de belíssimas formas, a qual, traçando círculos no ar, descia paulatinamente,
sobre os jovens. Enquanto Dom Bosco a contemplava maravilhado, o guia lhe disse:
— Vês aquela águia? Quer arrebatar-te um de teus filhos.
— A quem? — perguntou Dom Bosco.
— Observa atentamente àquele sobre cuja cabeça se pousa.
Dom Bosco contemplava a ave com os olhos desmesuradamente abertos, observando que,
depois de dar algumas voltas mais, foi a pousar-se sobre Antônio Ferraris, menino de 13 anos,
natural de Castelazzo Bormida.
Dom Bosco o reconheceu perfeitamente e se despertou.
Apenas desperto, para certificar-se de que não dormia, começou a bater palmas e, enquanto
refletia sobre o que havia visto, fazia esta prece:
— Senhor, se isto não é um sonho, mas uma realidade, quando deverá acontecer?
E dormindo novamente, eis que no sonho reapareceu o mesmo personagem, o qual lhe disse:
— Ferraris é o que deve morrer, não fará duas vezes mais o exercício da boa morte.
E desapareceu.
Então Dom Bosco se persuadiu de que aquilo não era um sonho, mas sim uma realidade. Por
54
isso, pus sobre aviso os meninos.
OBSERVAÇÕES:
Contado em 01 de fevereiro. Em 01 de Março chegou ao oratório um menino de 13 anos,
chamado Juan Bautista Savio: era vitima de uma grave enfermidade, e todos acreditavam que era o
anunciado para morrer. Em 03 de Março, Sexta-feira, Dom Bosco desprezou esta opinião, dizendo
redondamente: "os respondo sinceramente que não. Quem é pois? Somente o Senhor o sabe. O tal
esta entre nós, tenho ouvido este aviso, e espero que terá feito bem seu último exercício de boa
morte. Esteja, pois, todos preparados!" (MB 8,54). O anunciado era Antônio Ferraris, morto em 16
de março de 1865, pela manhã.
AS CASTANHAS (1881)
(MB 15,364-366 = MBe 15,318-320)
Pareceu-lhe (a Dom Bosco) estar recolhendo castanhas próximo de Castelnuovo. Havia
muitas, formosas e grandes, esparramadas pelo solo cobertas de erva. Enquanto ele não pensava em
outra coisa a não ser as castanhas, eis que apareceu uma mulher e se aproximpu dele, enquanto ela
também recolhia castanhas e as colocava na canastra. Dom Bosco se sentiu mortificado, ao ver
como aquela mulher havia tomado a liberdade de recolher castanhas naquele lugar e lhe perguntou:
— com que direito vem você aqui? Não compreendo como se atreve a vir recolher castanhas em
meu capo.
— Como? — respondeu ela — não tenho direito de faze-lo?
— Eu creio que aqui o dono sou eu e que, portanto, isto é meu.
— Bem — replicou ela — porém é que eu estou recolhendo castanhas para ti.
Aquela mulher falava com jeito tão resoluto e sem para o seu trabalho, de forma que Dom
Bosco não julgou oportuno insistir e, por sua parte, continuou também a recolher castanhas. Quando
ambos tiveram sua cesta cheia, a mulher chamou a Dom Bosco lhe disse:
— Sabes quantas castanhas tem aqui dentro?
— Acredito que é muito difícil a pergunta que me faz!
— Vamos, responde; tu sabes, sim ou não?
— Pois bem, não sei; não sou nenhum adivinho.
— Então, lhe direi eu.
— Bem, quantas?
— 504.
— 504?
— Exatas. E sabes o que simbolizam estas castanhas?
— O que?
— As casas da Filhas de Maria Auxiliadora. Tantos serão os colégios fundados por tuas filhas.
Enquanto estavam nesta discussão, se levantou um clamor de homens furiosos; eram umas
vozes semelhantes às dos borrachos (bêbados, embriagados). Se notava que os que vociferavam
avançavam entre as árvores.
Dom Bosco, atemorizado, fugiu e a mulher correu atrás dele até que chegaram à beira
(margem) de uma praia. Seguir adiante não se podia e não tinha que pensar em voltar atrás. Dom
Bosco estava sobressaltado. Entretanto, aqueles indivíduos se aproximavam alvoroçando e
pisoteando com desprezo as castanhas que haviam ficado no solo.
Aqui comenta Lemoyne: "talvez se trata das vocações contrariadas, a causa principalmente
das lutas contra as casas de nossas irmãs, ou melhor, a sorte das ficam no meio do mundo".
55
Dom Bosco, ao escutar semelhante ruído, se despertou, porém pouco depois conciliou o
sonho e voltou a sonhar.
Lhe parecia estar sentado na borda de um riacho; a pouca distância estavam também a
mulher sentada com seu cesto cheio de castanhas. Na parte remota (lugar distante) ressoavam
alguns gritos daqueles inergúmeros; parecia que se perdesse por detrás de uma colina, porém foi
coisa de breves instantes.
Dom Bosco tinha o olhar fixo naquelas castanhas, que eram grossas e formosas sobre
maneira. Mas, ao fixar-se bem, notou que algumas tinham um buraco feito por um verme.
— Oh! Olhe — disse então a mulher... — que faremos com estas? Estão verminadas.
— É necessário separa-las para que não coloquem a perder as sãs... tem que despedir as filhas que
não são boas e não tem o espírito da casa, pois o verme da soberba ou de outros vícios as
corroem: especialmente se se trata de postulantes.
Comenta Lemoyne: "As castanhas, na Segunda parte do sonho, representam as Filhas de
Maria Auxiliadora".
Dom Bosco, que continuava contemplando aquelas castanhas, tomou algumas e, ao
comprovar que as podres não eram tantas, se o fez notar a mulher, a qual disse:
— Crês tu que as que ficam ai estão todas boas? Não tenha o verme dentro sem que se note por
fora?
— E como se pode discutir se estão boas ou ruins?
— Ah! A coisa é difícil. Algumas saber fingir tão bem que parece impossível chegar a conhecê-las.
— E então?
— Olha; tem um meio. Submetê-las à prova das regras e não as perder de vista. Assim verás quem
tem ou não o espírito de Deus. Esta é uma prova, mediante a qual dificilmente se equivoca um
atento observador.
Dom Bosco continuava pensando nas castanhas sem deixar de olha-las, até que se despertou
improvissamente. Começava a amanhecer.
Disse depois a Lemoyne que, durante uma semana inteira , lhe havia repetido este sonho
noite atrás de noite; bastava que adormecesse para que imediatamente se apresentasse à sua
imaginação a cena da mulher e as castanhas.
Uma vez a mulher lhe falou assim:
— Esteja atento com as castanhas podres e com as vazias. Prová-las colocando-as na água dentro
da panela. A prova é a obediência... conhecê-las. Se se pressionam as podres entre os dedos,
soltam imediatamente a mal humor que tem dentro. Tira-las. As que estão vazias sobem à
superfície. Não ficam embaixo com as outras, sem querer sobressair de alguma maneira. Tomalas com a escumadeira e tira-las. Não ouvistes que as boas, quando estão cozidas, não se limpam
facilmente. Tem que tira primeiro a casca e logo a pele. Então te parecem brancas, muito
brancas; porém observa bem: algumas são duplas; abre-as e verás no meio outra pele, ali
escondido tem um suco amargo.
OBSERVAÇÕES:
Tido em finais de Novembro, lhe repetiu durante uma semana inteira; contado a 31 de
Dezembro a Dom Lemoyne, cujos apontamentos seguem esta relação. Outra alusão às Salesianas
aparece em "As missões salesianas na América Meridional" de 1885 (MB 17, 303). E, neste mesmo
sonho missionário, se alude aos cooperadores salesianos (MB 17, 302).
A FÉ, NOSSO ESCUDO E NOSSO TRIUNFO (1876)
(MB 12,349-356 = MBe 12,300-306)
Pareceu-me encontrar com meus queridos jovens no oratório. Era pelo entardecer, nesse
momento em que as sombras começam a obscurecer o céu. Todavia via-se, mas não com muita
56
claridade. Eu, saindo dos pórticos, me dirigi a portaria; porém me rodeavam um número imenso de
jovens, com aspecto, vos faziam, como demonstração de amizade.
Uns haviam se aproximado a saudar-me, outros para dizer-me algo. Eu dirigia uma palavra
para um, ora para outro desta maneira alcancei o pátio, muito lentamente, quando eis que ouço uns
lamentos prolongados e um ruído grandíssimo, unido às vozes dos meninos e a um grito que
procedia da portaria. Os estudantes, ao escutar aquele insólito tumulto, se aproximaram para ver;
mas muito rápido os vi, retirar-se precipitadamente em união dos aprendizes, também assustados,
gritando e correndo para nós. Muitos desses haviam saído pela porta que esta ao fundo do pátio.
Porém, ao aumentar cada vez mais, os gritos e os acentos de dor e de desespero, eu
perguntava a todos com ansiedade o que era que havia acontecido e procurava dar o meu auxílio
onde houvesse necessidade. Porém os jovens, agrupados ao meu redor, impedia.
Então lhes disse:
- Deixam-me, ande; permitam-me ir ver o que é que causa tanto espanto.
- Não, não, por favor! Dizem todos; não siga adiante, aquiete-se, aquiete-se aqui, há um
monstro que devorará. Fuja, fuja conosco, não tente seguir adiante.
Contudo, queria ver o que era que se passava e, despedindo-me dos jovens, avancei um
pouco pelo pátio dos aprendizes, enquanto todos os jovens gritavam:
- Olhe! Olhe!
- O que há?
- Olhe lá no fundo!
Dirigi a vista em direção à parte indicada e vi um monstro que, ao primeiro golpe de vista,
me pareceu um gigantesco leão, tão grande creio não existir um igual na terra. Observei
atentamente e percebi que era repulsivo, tinha um aspecto de um urso, porém, mais horrível e feroz
que este. A parte de traz guardava relação com os outros membros, era bem mais pequeno, mais as
extremidades interiores, como também o corpo, os tinha grandíssimo. Sua cabeça era enorme e a
boca tão desproporcional e aberta que parecia feita para devorar a gente com uma só bocada, dela
saia dois grandes e agudas presas que era longuíssima à maneira de cortantes espadas.
Eu me retirei imediatamente de onde estava os jovens, os quais me pediam conselhos
ansiosamente, porém, nem eu mesmo me via livre de espanto e não sabia que partido tomar.
Todavia lhe manifestei:
- Gostaria de dizer que é que tens de fazer, porém, não o sei. Por impulso, concentramos
debaixo dos pórticos.
Enquanto dizia isso, o urso entrava no segundo pórtico e se adiantava em nossa direção com
passo pesado e lento, como quem está seguro de alcançar a presa.
Retrocedemos horrorizados até chegar debaixo dos pórticos. Os jovens haviam-se estreitado
ao redor da minha pessoa. Todos os olhos estavam fitos em mim:
- Dom Bosco que é que temos de fazer? — diziam-me.
Eu também mirava-os, mas em silêncio e sem saber o que fazer.
Finalmente exclamei:
- Voltamo-nos para o fundo do pórtico, em direção a imagem da Virgem, ponhamo-nos de
joelhos, invocamo-la com mais devoção que nunca, para que Ela nos diga que é que
teremos que fazer neste momento, para que venha em nosso auxilio e nos livre deste
perigo. Se se trata de um animal feroz creio que entre nós conseguiremos matá-lo, se é um
demônio Maria nos protegerá. Não temeis a Mãe celeste se cuidará de nossa salvação.
Entretanto, o urso continuava acercando-se lentamente quase arrastando-se pelo solo em
atitude de preparar o salto para lançar-se sobre nós. Quando eis que aqui, não sei como nem quando,
nos vimos transladados todos do lado além da parede, encontrando-nos na sala de jantar dos
clérigos. No centro da mesma estava a Virgem que se aconselhava (não se a estátua que estava
debaixo do pórtico era a mesma da sala de jantar, ou se a da cúpula ou também a que esta na Igreja),
mas seja como fosse o fato é que estava radiante de uma luz vivíssima toda a sala de jantar, cujas
dimensões em todos os sentidos haviam aumentado cem vezes mais, aparecendo esplendoroso
57
como um sol ao meio dia. Estava rodeada de Bem Aventurados e de anjos, de forma que o salão
parecia um paraíso. Os lábios da Virgem se moviam, como se quisesse falar-nos algo.
Os que estavam naquele refeitório eram numerosíssimos. Ao espanto que havia invadido
nossos corações, sucedeu um sentimento de estupor. Os olhos de todos estavam fixos na Imagem, a
qual com voz suavíssima nos tranqüilizou dizendo-nos.
- Não temas, tenha fé, esta é somente uma prova a qual os quer submeter o Divino Filho.
Observe então os fulgurantes de glória na coroa da Santíssima Virgem e reconheci a Dom
Victor Alassonati, a Dom domingos Rufino, a um tal Miguel, irmãos das escolas Cristãs, a quem
alguns de vós haveis conhecido, e a meu irmão José; e a outros que estiveram a outros tempos no
oratório e que pertenceram à Congregação e que agora estavam no paraíso. Em companhia dos
destes, vi também a outros que vivem atualmente.
Quando vi que um dos que formavam o cortejo da Virgem diz em voz alta:
- Sigamos (levantamo-nos)
Nós estávamos de pé e não entendíamos que é que nos queria dizer com aquela ordem, e nos
perguntávamos.
- Mas como sigamos? Se estamos todos de pé.
- Sigamos! Repetiu mais forte a voz.
Os jovens de pé e atônitos, voltaram-se para mim, esperando que eu lhes fizesse algum sinal,
sem saber no entanto o que fazer.
Eu me voltei ao lugar donde havia saído aquela voz e disse:
- Mas o que temos que fazer? Que quer dizer sigamos se estamos todos de pé?
E a voz me respondeu com maior força:
- Sigamos!
Eu não conseguia entender esta ordem.
Então outros deles que estavam com a Virgem se dirigiu a mim que havia subido a uma
mesa para poder dominar aquela multidão e começou a dizer com voz forte e bem timbrada,
enquanto os jovens escutavam.
Tu que és sacerdote deve compreender o que quer dizer SURGAMUS. Quando celebras a
missa não dizes isso, todos os dias SURGAM CORDA? Com isso entendes materialmente o
levantar os afetos do coração ao céu e a Deus.
Eu imediatamente coloquei as jóias no pescoço dos jovens.
Acima, acima, filhos reavivamos, fortificamos nossa fé, elevemos nossos corações a Deus,
façamos um ato de amor e de arrependimento, façamos um esforço de vontade para orarmos com
vivo fervor confiantes em Deus. E feitos os sinais todos puseram-se de joelhos.
Um tempo depois enquanto rezam de voz baixa cheios de confiança, escutamos de novo
uma voz que disse: SURGITE!
E nos pusemos todos de pé e sentimos que uma força sobrenatural nos levava sensivelmente
sobre a terra e subimos, não sabia lhes dizer quanto para poder lhes dizer onde descansavam nossos
pés.
Recordo que eu estava agarrado na cortina ou na encosta de uma janela. Os jovens se
encadeavam uns nas portas, outros nas janelas; quem se agarravam aqui, quem lá; quem a uns nos
ganchos de ferro, quem a uns grossos cravos, quem na porta da abobada. Todos estavam no ar e eu
me sentia maravilhado por não cairmos no solo.
E eis que aqui o monstro que tínhamos visto no pátio, penetra na sala seguido de inúmeras
quantidades de feras de diversas classes, todas dispostas ao ataque. Corriam de cá para lá pelo
refeitório, lançavam horríveis rugidos, pareciam desejar combater-nos. Mas, nada tentam.
Contemplávamos todos desde cima e eu muito agarrado àquela janela me dizia:
- Se me caísse que horrível destroços sobrariam de minha pessoa.
Enquanto continuávamos naquela estranha posição, saiu uma voz da imagem da Virgem que
cantava as palavras de São Paulo:
- Empunha pois o escudo da fé invencível.
58
Era um canto tão harmonioso, tão conforme, de sublime melodia que nós ficamos como
imóveis. Se percebiam todas as notas desde as mais graves às mais agudas e parecia como se cem
vozes cantassem a uma só voz.
Nós escutávamos aquele canto de paraíso, quando vimos partir dos lados da Virgem
numerosos jovenzinhos que haviam baixado do céu. Aproximaram-se de nós levando escudos em
suas mãos e colocavam sobre o coração de cada um de nossos jovens. Todos os escudos erma
grandes, formosos, resplendentes. Refletia-se nele a luz que saía da Virgem, parecendo uma coisa
celeste. Cada escudo em seu centro parecia de ferro, tendo ao redor um círculo de diamantes e sua
borda era de ouro finíssimo. Estes escudos representavam a fé, quando todos estávamos armados, os
que estavam ao redor da Virgem entoaram um dueto e cantaram de uma maneira tão harmoniosa
que não sabia que palavras empregar para expressar semelhante doçura. Era o mais belo, o mais
suave, o mais melodioso que se pode imaginar.
Enquanto eu contemplava aquele espetáculo e estava absorto escutando aquela música, me
senti estremecido por uma voz forte que gritava:
- Para a luta!
Então todas aquelas feras começaram a agitar-se furiosamente, em um momento caímos
todos permanecendo de pé no solo, e eis que aqui cada um lutava com as feras protegido pelo
escudo. Não sabia dizer se a batalha começou no refeitório ou no pátio. O coro celestial continuava
a sua harmonia. Aqueles monstros lançavam contra nós, com os vapores que saíam de suas
gargantas, bala de chumbo, lança, flechas e toda sorte de projétil, mas aquelas armas não chegavam
até nós e davam sobre nossos escudos rebatendo para trás. O inimigo queria ferir-nos a todo custo e
matar-nos e renovava seus saltos, mas não nos podia produzir feridas. Todos os seus golpes davam
com força nos escudos e os monstros se rompiam os dentes e fugiam como as ondas, se sucediam
àquelas massas assaltantes, mas todas achavam-se na mesma sorte.
Larga a luta. Ao fim ouve-se a voz da Virgem que diz "esta é a vossa vitória, a que vence o
mundo, vossa fé".
Ao ouvir tais palavras, aquela multidão de feras espantadas se deu uma precipitada fuga e
desapareceram, nós ficamos livres a salvo, vitoriosos naquela sala imensa do refeitório, sempre
iluminada por uma luz viva que saia da Virgem.
Então me fixei com toda atenção nos que levava o escudo, eram certamente militares. entre
outros estava Dom Victor Alassonati, Dom Rufino, irmão José, leigos das escolas, os quais haviam
combatido conosco.
Mas os olhares de todos os jovens não podiam apostar-se Santíssima Virgem. Ela entoou um
cântico de ação de graças que despertava em nós novos sentimentos de alegria, novos êxtases
indescritíveis, não se no paraíso se pode ouvir algo superior.
Porém nossa alegria se viu perturbada de improvisos, por gritos e gemidos dilaceradores
mesclado com rugidos de feras. Parecia como que nesses jovens houvesse sido assaltados por
aqueles animais a que pouco antes haviam visto afastar-se daquele lugar. Eu quis sair fora
imediatamente para ver o que acontecia e prestar auxílio aos meus filhos; porém, não podia fazer
porque os jovens estavam na porta por qual eu teria que passar e não me deixava sair de maneira
alguma, eu fazia toda classe de esforços por livrar-me deles dizendo:
- Mas deixa-me ir em auxílio dos que gritam. Quero ver os meus jovens e se eles sofrem
algum dano ou estão em perigo de morte, quero morrer com eles, quero ir ainda que me
custe a vida.
E escapando-se de suas mãos, me encontrei imediatamente debaixo do pórtico. Quer
espetáculo mais horrível! O pátio estava coberto de mortes, de moribundos e de feridos.
Os jovens, cheios de espantos tentavam fugir em direção a uma e a outra porta perseguidos
por aqueles monstros que cravavam os dentes em seus corpos, deixando-lhes cobertos de feridas. A
cada momento houve jovens que caíam e morriam lançando-o aos mais dolorosos. Mas quem trazia
as mais espantosas novidades, era aquele urso que havia sido o primeiro a aparecer no pátio dos
aprendizes. Com suas presas, semelhantes a duas cortantes espadas transpassava o peito dos jovens
59
da direita para a esquerda e da esquerda para a direita, e sua vítimas, com as duas feridas no coração
caíam imediatamente mortos.
Eu me pus a gritar resolutamente.
- Ânimo meus queridos jovens!
Muitos se refugiaram junto a mim. Mas o urso, o verme correu ao meu encontro. Eu,
fazendo-me valente avancei uns passos em direção a ele. Entretanto, alguns jovens dos que estavam
no refeitório e que haviam vencido já as bestas, saíram e se uniram a mim. Aquele príncipe dos
demônios se atreveu contra mim e contra eles mas não nos pode ferir-nos porque estávamos
defendidos pelos escudos, nem se quisesse vir a tocar-nos. Então foi quando mirando com
segurança aquelas suas duas presas largas em forma de espada, via escrito duas palavras em grossos
caracteres. Sobre um se lia "OTIUM" e sobre o outro GULA.
Fiquei estupefado e me dizia para mim:
- E é possível que em nossa casa onde todos estavam tão ocupados, onde a tanto o que fazer
que não se sabe por onde começar para livrar-nos de nossas ocupações, haja quem peque
por ócio?
Em relação aos jovens me parece que trabalham, que estudam e que no recreio não perde
tempo. Eu não sabia explicar aquilo.
- Mas me foi respondido.
- E da gula? – dizia eu: parece que entre nós não se pode cometer pecados de gula ainda que
um queira. Não temos ocasião de faltar à moderação. Os alimentos não são esbanjados,
nem tão pouco as bebidas. Apenas sei se proporciona o necessário. Como podem dar-se
caso de intemperança que conduzem ao inferno?
De novo me respondido:
- Óh sacerdote! Tu crês que teus conhecimentos sobre a moral são profundos e que tens
muitas experiências; mas, sabes que não podes nada; tudo constitui para ti uma novidade.
Não sabes que podes faltar com a moderação, inclusive bebendo imoderadamente água?
Eu, não contente com isto, pedi que desse uma explicação mais clara e como estava o
refeitório ainda iluminado pela Virgem, me dirigi cheio de tristeza ao irmão Miguel para que me
esclarecesse minha dúvida.
Miguel me respondeu:
- Ah! Querido, nisto és ainda noviço! Te explicarei pois o que me perguntas. A respeito da
gula, hás de saber que se pode pecar de intemperança quando inclusive na mesa se come
ou se bebe a mais que o necessário; se pode cometer intemperança no dormir ou quando se
faz algo relacionado com o corpo, que não seja necessário, que seja supérfluo. A respeito
do ócio, hás de saber que esta palavra não indica somente no trabalhar ou ocupar ou não o
tempo de recreio em jogar, senão também ou deixar livre a imaginação durante este tempo
para que pense em coisas perigosas. O ócio tem lugar também quando no estudo um se
entretém com outra coisa, quando se emprega certo tempo em leituras fúteis ou
permanecendo com os braços cruzados contemplando os demais, deixando-se vencer pela
angústia e especialmente quando na igreja se prega ou se sente tédio nos atos de piedade. O
ócio é pai, o manancial, a causa de muitas tentações de muitos males. Tu que és diretor
destes jovens deves procurar afastar deles estes dois pecados, procurando avivar neles a fé.
Se viera a conseguir de teus meninos que sejam moderados nas pequenas coisas que está
aqui indicado, vencerão sempre ao demônio e com estas virtudes alcançarão a humildade, a
castidade e as demais virtudes. E se ocupam o tempo no cumprimento de seus deveres, não
cairão jamais na tentação do inimigo infernal e viverão e morrerão como cristãos santos.
Depois de haver ouvido todas estas coisas, dei graças por tão belas instruções e depois para
certificar-me se era realidade ou simples sonhos tudo aquilo, tentei tocar-lhe a mão, mas não o pude
conseguir. O tentei pela Segunda vez e pela terceira, porém, tudo foi inútil: só tocava o ar. Contudo
eu via a todas aquelas pessoas a falar, pareciam vivas. Me acerquei a Dom Victor Alassonati e a
Dom Domingos Ruffino, a meu irmão, mas não me foi possível tocar a mão de nenhum deles.
60
Eu estava fora de mim e exclamei:
- Mas é certo ou não tudo que estou vivendo? Acaso estas não são pessoas? Não estou aqui
ouvindo falar a todos eles?
O irmão Miguel me respondeu:
- Hás de saber, posto que eu tenho estudado, que até que a alma se reuna com o corpo, és
inútil que tentes tocar. Não se pode tocar a simples espíritos. Só para que os mortais nos
possam ver devemos adaptar a forma humana. Porém, quando todos ressuscitarmos para o
juízo então tornaremos, novamente nossos corpos imortais e espiritualizados.
Então quis acercar-me da Virgem, que parecia ter algo a dizer-me. Estava quase junto a Ela,
quando chegou a meus ouvidos um novo ruído, e novos e agudos gritos de fora. Quis sair no
momento da sala de jantar, mas ao sair me despertei.
OBSERVAÇÃO:
Tido em 12 de Junho e contado em 30 de Junho, por ocasião da festividade de Corpus
Christi. Nomeou a um "tal Miguel": és o irmão Miguel Romano, diretor da casa do noviciado, dos
irmãos, das escolas cristãs de Turim. Como preâmbulo de narração, desse Dom Bosco, entre outras
coisas: "Deus quis favorecer-me de maneira que pudesse ler nas consciências dos jovens, como se
lê em uns livros e, o que ainda é mais admirável, vi não somente o estado atual de cada um, mas
também o destino a que sucederá a cada um no futuro. E isto foi para mim também algo inusitado,
pois não me podia convencer que pudesse ver de uma maneira semelhante tão bem e com tanta
claridade tal descoberta, as coisas futuras e as consciências juvenis. É a primeira vez que me
sucedia isso" (MB 12, 349). e ao final: "por agora não os dou explicações porque é muito fácil
compreender por todos".
Tradução de sonhos - 2003 // 2º Semestre
Os caminhos (1874)
61
(MB 10.77-79 = MBe 10,80-81)
Terça-feira, 17 de novembro de 1874, depois das orações, o Servo de Deus nos anunciou
que, no dia seguinte, seriam as confissões para o exercício da boa morte que teriam os estudantes na
Quinta-feira próxima. Nos exortou, segundo o costume, a fazê-lo bem, dizendo:
- Não sou profeta, nem quero sê-lo, porém poderia dize-los que um de nós, aqui presente,
não digo quem, não voltará a fazer este piedoso exercício.
Ao falar da cátedra, como sucedeu em outras ocasiões nas que disse idênticas profecias, foi
rodeado imediatamente pelos meninos, ansiosos de saber particularmente do Servo de Deus se os
tocava naquela ocasião a sorte de morrer.
Foram suficientes aquelas poucas palavras para que no dia seguinte, manhã e noite, e a
Quinta-feira pela manhã, se encontrasse rodeado no seu confessionário de uma turma de
jovenzinhos, desejosos de fazer com ele a confissão geral, como soube dos lábios dos próprios
meninos.
Como eu estava quase sempre presente nas piedosas cenas, pude assegurar que estas
profecias faziam tão bem aos nossos jovenzinhos que dez turmas de exercícios espirituais. E este
era o único fim que induzia o Servo de Deus a faze-las, especialmente em publico. Nos
recomendava, sem todavia, que não comunicasse-mos por escritos estas coisas a ninguém, senão
que tudo permanecesse restrito entre nós.
Para assegurar-me ainda mais de que estas adivinhações do Servo de Deus não eram uma
piedosa estratégia para fazer o bem aos alunos, a noite de Quinta-feira de 19 de novembro de 1874,
falando com ele em seu quarto, o perguntei, no seio da confiança, como fazia para anunciar com
aquela espontaneidade a morte de tantos jovens que ainda estavam sãos e robustos e, especialmente,
dos que havia anunciado há dois dias, prognosticando que não voltaria a fazer mais o exercício da
boa morte, e Dom Bosco, embora com certo reparo, contestou-me:
“Pareceu-me ver a todos nossos meninos fazendo um passeio pelo campo. Ali vi que cada um
caminha por um caminho traçado somente para ele, pelo qual não podia transitar nenhum outro. O
caminho que se abria diante de alguns era muito largo, e, à margem do mesmo, lia-se de trecho em
trecho o número progressivo do ano de nossa redenção. De outros era menos largos e de alguns
mais curto ainda. O de uns avançavam num largo trecho e logo permanecia cortado. Portanto, o
jovem que caminhava por ele ao chegar àquele ponto, caía morto ao solo. Vi que alguns estavam
semeados de laços e que eram sumamente curtos. Finalmente, descobri um que, não tinha diante de
si nenhum traço de caminho, pois terminava debaixo de seus pés e apenas se destinguia nele o
número 1875. Este é aquele que não voltará a fazer o exercício da boa morte, porque morrerá em
1874 e talvez venha apenas em 1875, porém não poderá fazer mais o dito exercício”.
Não faz falta dizer que, conforme recordo, a profecia se cumpriu plenamente. Porém devo
acrescentar que nós estávamos acostumados a ver como se realizavam estas profecias e nos havia
causado assombro, como se tratasse de um privilégio à norma, o comprovar que alguma vez não
havia sido assim.
OBSERVAÇÕES
Contado em 17 de novembro, terça-feira. A relação é de Dom Berto. Não morreu nenhum
menino em 1874. Havia um gravemente enfermo que não queria receber os sacramentos; finalmente
se confessou com Dom Bosco e morreu em janeiro de 1875. Os rapazes fizeram notar a Dom Bosco
que a profecia não se havia cumprido. Dom Bosco os respondeu:
- Queríeis que o deixasse morrer sem receber os sacramentos? Ia permitir
semelhante escândalo nesta casa?
E as MB concluem que “teve, pois, profecia, graças de morte retardada e uma conversão”
(MB 10,79).
Antonio
Wardison
A Volta de Vocações
62
(Mb 10, 51-52 = MBe 10, 57-58)
“Pareceu-me ver que todos os anos sucede nesta estação. Estavam as vocações para terminar
e os alunos chegavam em grupos ao Oratório. sucedeu por casualidade que, como saísse de casa
para alguns assuntos meus, encontrei-me com um que regressava de vocações. Observei-lhe por um
momento e, ao ver que não me saldava, lhe chamei por seu nome e, quando estava junto a mim,
disse-lhe:
- Olá, amigo! Que tal passou as vocações!
- Bem – respondeu-me.
- Diga-me, cumpriu bem os propósitos que, ao caminhar me disseste que cumpririas?
- Oh! Não era muito difícil; aqui tenho suas recordações e meus propósitos aqui posto nesta caixa.
E ao dizer isso, mostrava-me uma caixinha que levava em baixo do braço.
- e por que mentiu assim – disse-me – e enganado Dom Bosco e ao Senhor? Que desgraçado!
Procura ao menos agora arrepender das coisas de tua alma.
- Sim!... a alma!... Há tempo! Depois... depois...
E, assim dizendo andava a outra parte.
Mas voltei a chama-lo e disse-lhe:
- Por que fazes isto? Escuta-me e recobrarás a alegria.
- Ufa! – exclamou, sacudindo os ombros por toda resposta.
E se afastou. Eu, que o seguia com um olhar cheio de tristeza, disse-me:
- Pobre menino, esta buscando sua própria ruína e não vê a foça que está abrindo a teus pés.
E, ao dizer isto, senti um forte ruído como de um canhão. Despertei-me assustado e
encontrei-me sentado na cama.
Então, estive um bom tempo meditando sobre o que eu havia visto, profundamente
preocupado pela sorte daquele menino. Depois voltei a dormir e aqui que continuou o sonho
interrompido.
Pareceu-me falar só em meio de um pátio e, ao dirigir-me à portaria, encontrei-me com dois
coveiros que vinham ao meu encontro.
Fora de mim pela surpresa, me acheguei a eles e perguntei-lhes:
- A quem buscais?
- O morto! – responderam.
- Que dizeis? Aqui não há nenhum morto. Havíeis errado de porta.
- Não, de nenhuma maneira. Não é esta casa de Dom Bosco?
- Certo! – respondi.
- Pois bem, nos avisaram que havia um menino morto de Dom Bosco e teríamos de enterrá-lo.
- Mas, como é isto? Estou sonhando? Eu não sei nada.
Entretanto, olhava ao meu redor buscando alguém. O pátio estava deserto. E continuava
dizendo a mim mesmo:
- Como é que não vejo nada? Aonde estão meus filhos? Além disso e de dia!
Dirigimo-nos aos pórticos e ali encontramos um caixão sobre o qual estava escrito o nome
de um menino morto, com data do ano 1872. Em outra parte se liam estas terríveis palavras: Vitia
eius cum pulvere dormient (seus vícios dormiram com pó).
Como os coveiros o queriam levar, eu me opus dizendo:
- Não permitirei que se levem a um de meus filhos, sem que eu o fale todavia uma vez.
E me aproximei do caixão para romper; mas não me foi possível, apesar de meus esforços.
Seguia eu a insistir e os coveiros se impacientavam. Começaram a gritar comigo, um deles, em um
momento de fúria, deu um golpe tão forte no caixão que o rompeu.
Despertei-me e fiquei o resto da noite triste e melancólico.
Na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi perguntar se o tal indivíduo estava no
Oratório e me disseram que estava jogando no pátio. Então me senti aliviado em minha dor.”
OBSERVAÇÃO
63
Tido e contado a princípios do ano 1872-1873. A narração e de Evasio Rabagliati, clérigo
então do Oratótio.
Samuel Carlos
O LÍRIO E O GATARRÃO (1865)
(MB 8, 33-34 = MBe 8, 42)
“Faz dois ou três dias tive um sonho. Quereis que os conte? Como eu quero muito a meus
jovens, sempre sonho que me encontro em sua companhia.
Pareceu-me, pois, encontrar-me em meio ao pátio, rodeados de meus queridos filhos, cada
um dos quais tinha mão tinha uma flor. Quem uma rosa, que uma açucena, quem uma violeta, que
uma rosa e um lírio juntamente. Em suma: uns tinham uma flor e outros outras. Quando de pronto
apareceu um gatarrão com seus cornos completamente negro, grande como um cachorro, de olhos
acesos como brasa e cujas unhas eram grossas como um cravo e seu ventre descomunalmente
avultado.
A horrível besta se acercava cautelosamente aos jovens e, dando volta ao redor deles, agora
dava uma partida a flor de um arrojando-se a solo, agora fazia o mesmo com a de outro e assim
sucessivamente.
Ante a aparição deste animal, eu me senti cheio de espanto e muito maravilhado a
comprovar que o jovens não se imutavam o mais mínimo, senão continuavam como se nada
sucedesse.
Quando dei conta de que gato se dirigia fazia meus para arrebatar minhas flores, comecei a
fugir . mas me detiveram e ouvi o que me diziam:
- Não fujas e de a teus meninos que levantem o braço e assim o gato não logrará a arrebatar
as flores das mãos.
Me detive e levantei o braço: o gato fazia inauditos esforços por me arrebatar-me as flores;
saltava uma e outra vez, mas, como era tão pesado, caía torpermente a terra.
O lírio, meus queridos amigos, representa a bela virtude da modéstia a qual o diabo faz
contínua guerra. Ai de aqueles jovens que não mantém no alto! O demônio o leva e lhe faz cair. O
que a tem abaixo, são os que agradam o corpo, comendo desordenadamente e fora do tempo; os que
afastam o trabalho o estudo, entregando-se ao ócio: aqueles aos que agradam certas conversações;
os que lêem certos livros; os que não querem saber nada de mortificação. Por caridade, combata a
este inimigo; de outra maneira, ele se ensinará de vós. Tais vitórias são difíceis, mas a eterna
Sabedoria nos há sugerido o meio para consegui-las: Hoc genus daenoniorum nom ejicitur nisi per
orationem et jejunium (esta classe demônio sós só se expulsa com a oração e o jejum).
Levanta vosso braço, levanta em alto vossa flor e estareis seguros. A modéstia é uma virtude
celestial e o que queira conserva-la é necessário que se eleve fazia o céu. Salva-os, pois, com a
oração.
A oração que os levanta ao céu é a da manhã e da noite bem rezada; oração e a meditação e
a missa; oração e a confissão freqüentes e a comunhão; oração são as práticas e a exortações do
Superior; oração e a visita ao Santíssimo Sacramento; oração é o Rosário; oração é o estudo.
Com a oração vosso coração se alargará como um globo, se elevará ao céu e assim podereis
dizer como rei Davi: via mandatorum tuorum cucurri, cum dilatasti cor meum. (corro por o
caminho de teus mandamentos, pois teu meu dilatas.)
Assim podereis salvo a mais bela das virtudes, e vossos inimigos, por mais esforços que
haja, não o poderá arrebatar."
OBSERVAÇÕES
Contado no dia 6 de fevereiro, tido "faz ou três dias".
64
Gaudêncio Campos
O MONSTRO (1868)
(MB 9,155-156 = MBe 9, 159-160)
Meus queridos jovens: ontem à noite os disse que tinha algo desagradável para contar. Eis o
sonho e estava decidido a não falar nada, logo fora porque desconfiava se se tratava de um simples
sonho, logo fora porque sempre que contei alguns podiam Ter que contestar ou que observar algo
por parte de alguém. Porém outro sonho me obriga a falar-vos do primeiro, sobre tudo porque, faz
desde uns dias, que volto a ser incomodado de novo com certos fantasmas, especialmente faziam
três noites. Sabeis que marchava a Lanzo em busca de um pouco de tranqüilidade. Pois bem, a
última noite que passei naquele colégio, me deitei e, quando começava a dormir, vi a minha fantasia
quanto vou a narrar:
Pareceu-me ver entrar na minha residência um grande monstro que, adiantando-se foi
colocar-se aos pés da cama. Tinha uma forma esquisitíssima de sapo e era grosso como um boi.
Eu o olhava firmemente, contendo a respiração. O monstro pouco a pouco ia aumentando de
volume; ele crescia a cabeça e, quanto mais aumentava sua grossura, mais medonho ficava. Era de
cor verde co uma linha vermelha ao redor da boca e do pescoço que ficava todavia terrivelmente
mais espantoso. Seus olhos eram de fogo e suas orelhas ossudas muito pequenas. Eu dizia para mim
enquanto o observava:
- Porém ainda que o sapo não tinha orelhas !
Em cima do seu nariz saiam dois chifres e por suas costas apontavam duas grandes abas
verdes. Suas patas se pareciam das do leão e por detrás tinha uma larga calda que terminava em
duas pontas.
Naquele momento me pareceu aproximar-se cada vez mais de mim, dilatando sua ampla
boca guarnecida de fortes dentes.
Eu então me senti invadido de indeciso terror. O parece a um demônio do inferno, pois tinha
todos os traços do tal. Fiz então o sinal da cruz, porém de nada adiantou; toquei a campainha, mas
naquela hora ninguém acudia, ninguém a ouviu; comecei a gritar, porém tudo foi em vão; o monstro
permanecia impassível.
- Que queres de mim – disse então – demônio infernal ?
Porém ele se aproximava cada vez mais dirigindo-se e esticando as orelhas. Depois pôs as
patas dianteiras sobre a borda da minha cama e, segurando-se com as patas traseiras nas trancas,
permaneceu imóvel um momento com seu olhar fixo em mim. Depois esticando o corpo para
adiante, pôs seu focinho perto da minha cara. Eu senti tal calafrio, que de um salto me sentei na
cama disposto a lançar-me ao solo; mas o monstro abriu toda a boca. Viera querido defender-me,
separando de mim, porém era tão sujo que nem naquelas circunstância, me atrevi a tocá-lo.
Comecei a gritar, quando a mão ia para trás buscando a pia de água benta, mas só tocava a parede
sem encontra-la e o monstro me pegou pala cabeça de tal forma que durante uns instantes a metade
do meu corpo permaneceu dentro daquela horríveis gargantas. Então gritei:
- Em nome de Deus: por que me fazes isto ?
O sapo, ao ouvir minha voz, se retirou um pouco, deixando livre a minha cabeça.
Fia de novo o sinal da santa cruz e, fazendo conseguir meter os dedos na pia de água benta,
joguei um pouco de água benta no monstro. Então aquele demônio lançou um grito terrível, saltou
para trás e desapareceu; porém, enquanto desaparecia, pude ouvir uma voz que desde do alto
pronunciou claramente estas palavras:
- Por que não falas ?
O diretor de Lanzo, Dom Juan-Bautista Lemoyne, se despertou, aquela noite com meus
gemidos prolongados e dor porque eu golpeava a parede com as mãos. Pela manhã me perguntou:
- Dom Bosco, tens sonhado esta noite ?
- Por que me perguntas ?
- Porque ouvi seus gritos.
Desta maneira, entendi que era vontade de Deus que ao contara o que havia visto, por o que
65
ele determinou narrar todo o sonho; do contrário trairia a minha consciência; desta forma creio
também que me verei livre da presença destes fantasmas.
Demos graças ao Senhor por sua misericórdia e procuremos pôr em prática os avisos que
nos der e servir-nos dos meios que são sugeridos para ajudar-nos a conseguir a salvação de nossas
almas. Nesta ocasião, pude conhecer o estado da consciência de cada um de vós.
Porém desejo que quanto os vou a dizer fique entre nós. Os suplico que não escrevais nem
faleis dele fora de casa, pois não são coisas que se hão de tomar a zombaria, como alguns poderiam
fazer, e para que não possam originar-se inconvenientes que servissem de desgostos a Dom Bosco.
A vós os conto com toda confiança, porque sois meus queridos filhos e, por isso, as deveis escutar
como ditas por um padre.
Eis aqui os sonhos que eu queria passar por alto e que me vejo obrigado a contá-lo.
OBSERVAÇÕES:
Tido em 17 de Abril em Lanzo; prometido em 29 de Abril, contado em 30 de Abril, Quintafeira
Euderley Macedo
UMA VISITA AO COLÉGIO DE LANZO (1871)
(MB 10,42-43 = MBe 10,50-51)
Turím, 11-2-1871
Meus queridos filhinhos:
Muito desejo, queridos filhos em Jesus Cristo, ir a passar o carnaval com vocês. Caso
insólito porque, nestes dias, não acostumo afastar-me da casa de Turím. Mas o afeto que tantas
vezes me haveis manifestado e as cartas que me haveis escrito contribuíram a esta determinação.
Há, ademais, um motivo que mais me leva a ele e é uma visita que eu fiz não há muito dias. Ouvi a
terrível e dolorosa narração.
Sim, ei indo a visitar sem que vocês, nem o vosso superiores os superais. Cheguei ao um
largo jardim que ha diante da igreja e vi um mostro verdadeiramente horrível. Tinha uns olhos
grandes e cintilantes, nariz grosso e chato, boca grande, barba pontiaguda, orelhas como a de um
cachorro e saíam de sua cabeça dois chifres como de um cabrito. Ria e caçoava com alguns
companheiros seus soltando para cá e para lá.
- Que fazes aqui, monstro infernal ? - o perguntei assustado.
- Me divirto - respondeu - ; não sei o que fazer.
- Não sabes o que fazer ? e que hás determinada deixar em paz a estes meus queridos
meninos?
- Não faz falta que eu me ocupe deles; tenho dentro amigos meus que fazem mil vezes as mil
maravilhas. Há um grupo de alunos que se alistam e são fiéis a meu serviço.
- mentes, padre a mentira! Há muitas praticas de piedade, leituras, meditação, confissões...
Me olhou com um sorriso brincando e fazendo-me cenas para que lhe seguisse,
me levou a sacristia, onde me mostrou o diretor que estava confessando:
- Olha- adiantou -; alguns são inimigos meus, mas há muitos que também me servem aqui, e
são os que prometem e não cumprem; se confessam sempre do mesmo e eu desfruto muito com
suas confissões.
Me levou depois a um dormitório e me acenou a alguns que durante a missa pesam mal e
não querem ir a igreja. Depois me assinalou a um dizendo:
- Este estava já em fase da morte e então fiz mil promessas ao Criador; mas depois se fiz pior
quer antes!
Me levou depois a outros lugares da casa e me fez ver coisas, que me pareciam incríveis e
que não quero escrever, mas os contarei de viva voz. Então levou-me ao pátio; depois, com
66
seus companheiros, diante da igreja, e eu o perguntei:
- Que é o que mais te ajuda de estes jovens?
- As conversações, as conversações, as conversações! Todo vem dai. Cada palavra é uma
semente que produz frutos maravilhosos.
- Quem são teus maiores inimigos?
- Os que comungam menos.
- Que és o que mais desgosta?
- Duas coisas: a devoção a Maria...
E se calou, como se não quisera seguir adiante.
- qual é a Segunda?
Então se estremeceu. Parecia um cachorro, um gato, um urso, um lobo. Tão pronto tinha três
chifres, como cinco ou dez. via-lhe três cabeças, cinco, sete. E todo quase a um mesmo tempo. Eu
tremi, ele tentava fugir; mas eu queria obrigar-lhes a falar, até que ele disse:
- Quero a todo custo que me digas que é e que mais temes de todo o que aqui se faz. Te o
mando em nome de Deus Criador, senhor teu e meu, a quem todos devemos obedecer.
Naquele momento ele e todos os seus se retorceram, tomaram formas, que não quiseram
voltar a ver jamais em minha vida; armaram depois um grande estrondo lançando horríveis
lamentações, que terminaram com essas palavras:
- O que mais prejuízo nos causa, o que mais tememos é a observância dos propósitos que se
fazem na confissão. Soltaram essas palavras entre gritos, tão espantosos e penetrantes, que
todos aqueles monstros desapareceram como um raio, e eu me encontrei sentado em minha
casa, junto a minha mesa de trabalho. O demais o contarei de viva voz e o explicarei tudo.
Deus nos bendiga, e creio sempre em vós.
Afmo. En Jesus Cristo,
Pbro. Juan João Bosco.
Ilton Marques
OS PECADOS NA FRONTE (1873)
(MB 10,69-70 = MBE 10,73-74)
“Me parecia estar visitando os dormitórios e que os meninos estavam sentados na cama,
quando aqui me apareceu um desconhecido que, tomando-me a lâmpada da mão, disse-me:
- Vem e verás!
Eu o segui. E se aproximou então ao redor de cada um dos alunos e, elevando a luz na altura
da fronte, me evitava a observar. Eu me fixei na frente de cada um dos meninos e vi escritos em
todos eles os seus pecados. O desconhecido me disse então que escrevesse, porém eu, crendo que
podia recordar tudo, segui adiante sem tomar nota do que via escrito. Porém, refletindo depois sobre
a impossibilidade de reter na memória tudo quanto havia visto, voltei atrás e anotei em meu livrinho
de apontamentos.
Depois de percorrer o dormitório muito largo, meu guia me conduziu a um rincão no qual se
encontrava um numeroso grupo de meninos com o rosto e a fronte brancos e nítidos como a neve.
Então manifestei a minha alegria, e, seguindo adiante, me assinalou um que tinha o rosto cheio de
manchas negras e depois, prosseguindo a caminhada, vi outros muitos e, enquanto tomava nota de
quando vinham, me dizia a mim mesmo:
- AH! Se eu pudesse avissa-los.
Por fim ao chegar ao extremo do corredor, senti em um canto do mesmo, um
grande ruído e, depois, entoavam em alta voz o “Miserere”.
Voltei ao meu companheiro, perguntando-lhe quem havia morrido, e ele me disse:
- O morto, é o que viste coberto de manchas negras.
- Porém, como? Se o vi a noite vivo, eu o vi passear, e tu disse que ele morreu?
67
O guia tomou um almanaque, o abriu e depois disse:
- Olha aqui a flecha.
Olhei e estava escrito: dia 5 de dezembro de 1873.
Dito isto, se voltou em direção a uma parte e para a outra e me encontrei acordado em meu
leito.
É certo que isto é um sonho, porém, já em outras ocasiões, estes sonhos se cumpriram
fatalmente; Portanto, nós, sem criar caso dos sonhos, nem de outras coisas, recordemos da sentencia
do Divino Salvador, o qual nos aconselha que estejamos preparados”.
OBSERVAÇÃO:
Tive nos dias 8 à 10 de novembro; contei-o 11 de novembro (1873). O relato é de Dom
Berto. O jovem que tinha a cara coberta de manchas negras, jogava no pátio em 4 de dezembro;
acerca das cinco da tarde, sofreu um ataque de gripe: sua pulsação ficou mal logo. Vinheram seus
parentes e o levaram ao Hospital de São João e, as onze da noite, morria: era cinco de dezembro.
Dom Bosco voltou de Lanzo no dia seis e a tia do defunto lhe comunicou a notícia, “que se difundiu
como um relâmpago por toda a casa, despertando um temor geral”. Assim narram as MB(10 70-71).
Rodrigo Costa
OS CÃES E O GATO (1878)
(Mb 13,548-549 = MBe 13,470-471)
Na noite de Sexta-feira santa, estive velando ao lado de Dom Bosco quase até a manhã e me
retirei para o quarto próximo para descansar. Pedro Enría pediu para substituir-me na vela. Ao darme conta dos gritos arrogados do servo de Deus, deduzi que estava sonhando com coisas pouco
agradável; e perguntei pela manhã sobre o sonho e tive a seguinte constatação:
- Me parecia estar no meio de uma família, cujos membros haviam decidido matar um
gato. O juízo e a sentença haviam sido posta em mãos do Monsenhor Manacorda, mas
este se negava a faze-lo, dizendo:
- Que tenho eu a ver com vosso assunto? Isso a mim não interessa nada.
E reinava na casa uma grande confusão.
Estava eu apoiado em um bastãozinho, mas observava o que estava sucedendo, quando eis
que de repente apareceu um gato negro com os pêlos uríssados, que se precipitava correndo onde eu
me encontrava. Vinham correndo atrás dele dois cachorros que parecia alcançar imediatamente o
pobre animal, presa do maior espanto.
Ao ver passar perto de mim, o chamei; o gato pareceu duvidar um pouco, mas, ao repetir a
chamada e levantar um pouco a batina, o gato encostou a meus pés.
Os dois cachorros se detiveram ante mim, latindo horrivelmente.
- Fora daqui - deixam em paz este pobre gato.
Então, para a grande surpresa minha, aqueles animais abriram a boca e, dando risada solta a
sua língua e começa a falar como se fosse as pessoas.
- Não podemos; temos que obedecer o nosso dono e recebemos ordens para o matar esse
gato.
- E com que direito?
- E se ofereceu voluntariamente para servi-lo. O amo pode dispor da vida do seu escravo
de uma maneira absoluta. Portanto, nós havíamos recebido ordens de matar e o
mataremos.
- O amo - repliquei - tens direito sobre a ação de seu servo e não sobre a sua vida, e eu não
consentirei nunca que mateis este gato.
- Quem não permitirás? Tu ?
68
E, dito isto, os animais se lançaram furiosamente para atacar o gato. Eu levantei o bastão
e comecei a lançar golpes desesperado contra os assaltantes.
- Ei! Quietos! Atrás! - gritava.
Mas eles umas vezes avançavam, outras retrocediam e a luta se prolongou por muito tempo,
de forma que eu estava rendendo de cansaço. Havendo aqueles animais um momento de trégua,
quis observar o pobre gato que continuava a meus pés, mas com grande estupor comprovei que se
havia trocado em um cordeirinho. Portanto pensava naquele fenômeno, dirigi a vista aos dois
cachorros. Também haviam mudado de forma: pareciam dois ursos ferozes e seguidamente foram
mudando de aspecto até se transformar-se em tigres, leões, macacos espantosos e adotar formas
cada vez mais horríveis. Finalmente se trocaram em dois horríveis demônios.
- Lúcifer o monstro dono - gritavam os demônios - : Esse, ao que tu defendes, se há de
entregar a ele; portanto, devemos arrastar até ele tirando a vida.
- Então me envolvi ao corderinho, mas não o vi; em seu lugar havia um pobre jovenzinho
que, fora de si por espanto, repetia com palavra suplicante:
- Dom Bosco, salva-me! Dom Bosco, salva-me!
- Não tenhas medo - lhe disse - Está decidido a ser bom?
- Sim, sim, Dom Bosco; mas que tenho que fazer para salvar-me?
- Não temas; ajoelha-te, toma em tuas mãos a medalha da Virgem. Vamos, reza
comigo.
OBSERVAÇÕES
Teve o sonho em 20 de abril, Sexta-feira santa, em Sampierdarena, estando muito enfermo.
Contou a Pedro Enría, seu enfermeiro, e posteriormente a Dom Lemoyne, de quem és a redação. Há
uma carta de Pedro Enría a José Buzzetti, fechada em "Sampierdarena, 20 de abril de 1878, as duas
da noite". Em que falando de Dom Bosco disse: o que mais me dá pena é que não pode dormir.
Melhorou um momento depois deu um grito tão forte que me levantei da sala e corri até ele que
estava sonhando, não sei o quê! Eu estava atento para ouvir o que dizia, mas não podia entenderlhe, porque tudo eram gritos muito penosos e reprimidos. Dizia;
- Alto lá detentor!
E outras palavras confusas, cujo significado não entendia. Como via que respirava com
dificuldade, sacudia-o despertando-se, fitando os olhos em mim dizia;
- Ah! Estás aqui?
- Que dizias, quando gritava - lhe perguntei - pois não entendi?
Não me respondeu, quietou-se como quem pensa em algo e se adormeceu. Quando raiar o
dia lhe perguntarei o que estava sonhando. Estou seguro de que sonhava como sempre com seus
filhos queridos, particularmente os do oratório, que há quatro meses não vê (MB 13,546). A
realidade onírica do sonho parece indubitável.
Silvio Roberto da silva
OS DOIS COVEIROS (1868)
(MB 9,398-399 = MBe 9,368-369)
"O motivo de haver-vos reunido a todos aqui é porque quero contar-vos alguma coisinha,
tanto aos estudantes como aos aprendizes.
Imaginai ver a todos os alunos no pátio divertindo-se. De repente começa a escurecer,
cessam os jogos e os gritos; formam-se numerosos grupos esperando que o sino dê sinal para ir ao
estudo; todavia há alguns passeando; entretanto a noite avança e apenas se pode distinguir um rapaz
de outro salvo que um se aproxime muito. E é aqui que entram pela portaria dois coveiros que,
caminhando compassadamente, levam nos ombros um caixão. Os rapazes, ao vê-los passar, retiram69
se. Os dois homens prosseguem adiante e colocam o caixão no chão, no meio do pátio que está
diante da Administração interna do Oratório. Os rapazes se colocam ao redor em círculo, mas todos
têm medo de falar.
Os coveiros levantam a tampa do caixão. Naquele momento aparece uma lua com sua luz
clara e penetrante, dá uma volta lentamente ao redor da cúpula da igreja de Maria Auxiliadora, dá
uma segunda volta e depois começa uma terceira, mas não chega a terminar e se detém sobre a
igreja, como se estivesse a ponto de cair.
Entretanto, apenas a lua começou a iluminar o pátio, um dos coveiros deu uma volta, depois
outra ante as filas dos alunos, olhando fixamente o roto de cada um, até que, ao ver um em cuja
testa estava escrita a palavra: Morieris (morrerás), o tomou para metê-lo no caixão.
–Toca a ti – disse-lhe.
Mas o rapaz começou a gritar:
– Sou muito jovem; quereria preparar-me, fazer as obras boas que ainda não fiz.
– Eu não devo contestar a isto.
– Ao menos, deixe-me que possa ir ver meus pais.
– Não posso responder a isto. Vês ali a lua? Pois já deu uma volta, e depois outra e logo um
pouco mais de meia. Apenas desaparecendo, terás que vir comigo.
Pouco depois, a lua desapareceu no horizonte e o coveiro tomou o rapaz pela cintura, deitouo no caixão, pôs a tampa e, sem mais, levou-o com ajuda do companheiro.
Já ouvistes meu relato; agora tomem-no como se fosse uma fábula ou coisa semelhante, ou
bem um sonho; o que quiserdes.
Em uma ocasião contei um sonho em que havia visto o caixão de um jovem colocado lá
embaixo dos pórticos. Aquele rapaz morreu e se observou que, apesar de que se havia advertido os
coveiros que teriam que passar por certa parte, estes, ao descer ao pátio, disseram que lhes faltava
algo e, para não deixar o caixão no meio do pátio, colocaram-no embaixo dos pórticos, no mesmo
lugar em que eu o vi no sonho.
Que cada um se pergunte a si mesmo: "Não serei eu?" E que viva contente e alegre. Mas
estejamos preparados para que, depois das duas voltas e meia da lua, isto é, quando passarem dois
meses e um pouco mais de meio, aquele a quem toca morrer esteja preparado. Recordai que a morte
se aproxima como um ladrão noturno. E, por isso, aproveitemo-nos deste aviso celebrando bem a
festividade de Todos os Santos. Pode-se ganhar indulgência plenária e, para lográ-la, não é
necessário confessar-se no domingo, contanto que haja recebido este sacramento dentro de oito
dias. Depois de ganhar a indulgência plenária, está-se diante do Senhor como se acabasse de receber
o batismo.
Amanhã é também jejum; fazei alguma mortificação. "
OBSERVAÇÕES
Contado em 30 de outubro. O testemunho sobre este sonho é de Pe. Berto.
Convém sublinhar que Dom Bosco não disse que havia sonhado, senão que apela para a
imaginação dos ouvintes. E, ao final, chama a seu relato fábula ou sonho ou coisa semelhante. E,
para apoiar a necessidade de preparação, recorre a outra ocasião em que lhes contou "um sonho" e
logo se verificou; há diferença entre este relato e o outro, segundo o mesmo narrador.
Rafael Zanata Albertini
O DEMÔNIO EM MARSELLA (1885)
(MB 17, 448 = MBe 17, 386-387)
Era cerca de meia noite. Dom Francisco Cerruti estava para ir dormir, quando ouvi um grito.
A princípio acreditava que se tratava de um sacerdote forasteiro que estava doente e hospedado na
casa. Voltou a ouvir ainda mais forte a gritaria. Todavia, pouco depois mais forte. Evidentemente
parta da casa de Dom Bosco separada da de Dom Cerruti por uma pequena divisória e por uma
70
porta. Fui à porta e, ao abri-la, encontrei Dom Bosco sentado na cama e disperso. Então lhe
perguntei preocupado:
_ Dom Bosco, se sente mal?
_ Não, não- respondeu com tranqüilidade_ Esteja tranqüilo; volte a dormir.
Pela manhã, apenas se tinha levantado, fui visitá-lo. Estava sentado num sofá em um estado
de grandíssima prostração.
_ Dom Bosco, foi o senhor que havia gritado essa noite?- Lhe perguntou Dom Cerruti.
_ Sim, tem sido eu- replicou com o rosto ainda demudado.
_ E o que tem sucedido?
Vendo que duvidava ainda, lhe pedi que me dissesse:
_ Tenho visto- respondeu muito sério- o demônio que entrava nesta casa. Estava em um
dormitório e passava de uma cama a outra, dizendo de vez em quando;
_ Este é meu!
Eu protestava. De repente se precipitou sobre um daqueles jovens para levá-lo consigo. Eu
comecei a gritar e ele se voltou contra mim, com para estrangular-me.
Dito isto, o Servo de Deus, comovido e derramando lágrimas continuou:
_ Querido Cerruti, ajuda-me. Tenho vindo a França para buscar dinheiro para nossos jovens
e para a Igreja do Sagrado Coração, mas existe agora uma necessidade mais grave. Tenho que
salvar a esses pobres jovens. Desejo a todos o só penso neles.
OBSERVAÇÕES
Em 24 de março de 1885, Dom Bosco empreendeu uma nova viagem à França,
acompanhado de Viglietti e Bonetti. Em 4 de abril chegou a Marsella, casa de São Leão. Nos dias
6,7 e 8 teve o sonho “ A donzela vestida de branco”. Partiu de Marsella em 20 de abril. Portanto
entre 9 e 20 teve este sonho, cuja realidade parece também inegável. O contou Dom Cerruti no
processo de canonização de Dom Bosco.
Em outros sonhos aparece também o demônio: As distrações na igreja( 1861) , O elefante
branco ( 1863 ), A lanterna mágica ( 1865 ), Os cabritos ( 1866 ), O inferno ( 1868 ), O demônio e
o pátio ( 1872 ), A misericórdia divina (1873 ), A fé, nosso escudo e nosso triunfo ( 1876 ), Um
banquete misterioso (1880 ), O congresso do diabo (1885 )
José Alves
OS MONSTROS E OS JOVENS (1865)
(MB 8,48-49 = MBe 8,54)
Pois bem, estes dias estive em Cúneo e fui hóspede do senhor bispo que me tratou
magnificamente. A primeira noite, depois de haver jantado bem e bebido melhor, chegou a hora de
ir dormir.
Depois da refeição, aprecio uma boa cama, não é verdade? Eu pedi permissão ao bispo para
continuar um pouco mais na cama pela manhã acrescentou.
– Sim, sim e mais, desejo que não se levante antes das oito e meia.
– Oh! –lhe respondi --; estarei somente até as seis e meia; me basta para descansar.
– Não quero que se levante a essa hora; se levantará as oito.
Finalmente, combinamos que me levantaria as sete. E fui dormir. Era as onze. E dormi em
seguida. Porém, que quereis! Comecei a sonhar como de costume e, como a língua sempre vai a dar
onde dói o dente, sonhei que me encontrava no oratório entre meus queridos jovens.
Me pereceu encontrar-me em uma casa, sentado na mesa, entre os jovens havia recreio no
pátio. O recreio era muito animadíssimo, clamoroso. Gritavam, conversavam, saltavam, se ouvia
um grande barulho. Eu estava contentíssimo, porque me custa ver os jovens durante o recreio e,
quando os vejo a todos jogando, sei que o demônio não tem nada o que fazer. Enquanto me
71
gozava com a gritaria com a gritaria dos jovens, de repente se inicio um profundo silêncio, sem
poder compreender o porque. Me levantei espantado da mesa para ver o que sucedia. Apenas
cheguei a ante sala vi entrar pela porta um monstro horrivelmente feio, que caminhava com o rosto
baixo e os olhos fixos no solo. Parecia não haver dado conta da minha presença, Porém caminhava
sempre na mesma direção, com o aspecto de uma fera disposta a assaltar a alguém. Temia por meus
queridos jovens e olhei pela janela o pátio para ver se lhes havia acontecido algo.
Vi o pátio cheio de monstros semelhantes aos primeiros, porém mais pequenos. Meus jovens
haviam sido encurralados contra as paredes abaixo dos pórticos. Muitos estavam caídos por terra e
pareciam mortos.
Ante aquele espetáculo tão doloroso, Ao meu grito se despertaram os familiares do bispo, se
despertou o vigário, se despertou o mesmo bispo. Todos se espantaram com aquele grito.
Amigos meus geralmente não há que prestar fé alguma aos sonhos, porém, quando sua
explicação é de caracter moral, se pode refletir sobre eles. Eu sempre tenho querido encontrar
explicação a tudo, e por isso busco também a deste sonho. O monstro parece que queria significar o
demônio, que sempre está em movimento para arruinai-nos. Há jovens que caem e jovens que
afundam. Que quereis que os ensine a não ter medo e a resistir aos seus medos? Escuta-me. Não há
nada que o demônio tema mais que estas duas coisas:
1º A comunhão bem feita.
2º As visitas a Jesus Sacramentado.
OBSERVAÇÃO
Tendo acontecido, e contado em 24 de fevereiro.
Herivelton
GRANDES FUNERAIS NA CORTE (1854)
(MB 5 ,176 – 180 = MBe 5, 136-138)
Me pareceu estar no pórtico central do Oratório, do que então se havia construído a metade,
junto a bomba d’água pegado ao muro da casa Pinardi. Se estava rodeado de sacerdotes e clérigos:
de pronto viu adiantar-se no meio do pátio um pajé da Corte, de uniforme roxo, quem acercando-se
rapidamente a ele, parecia gritar-lhe:
- Noticia importante!
- Qual? – perguntou Dom Bosco.
- Anuncia: grande funeral na Corte! grande funeral na Corte!
Ante a repentina aparição e aquele grito, Dom Bosco ficou frio e o Pajé repetiu:
- grande funeral na Corte!
Quis Dom Bosco pedir explicação do fúnebre anuncio mais o Pajé havia desaparecido. Dom
Bosco despertou, estava com que fora de si, e, ao compreender o mistério da aparição, tomou a pena
e imediatamente escreveu uma carta a Victor Manuel, manifestando quanto se havia anunciado e
contando de forma simples o sonho.
Depois do meio-dia, com muito atraso entrava ele no refeitório: os meninos recordam que
todavia, que, como aquele era um ano muito frio, Dom Bosco cobria suas mãos com luvas velhas e
indiscreto levava um pacote de cartas. Se formou um coro ao seu redor. Estava aí Dom Victor
Alasonatti, Ángel Savio, Cagliero, Francesia, Juan Turchi, Reviglio, Rúa, Buzzetti, Enría, Tomatis e
outros, em sua maior parte clérigos. Dom Bosco lhes disse sorrindo:
- Esta manhã, meus queridos, escrevi três cartas a personagens importantes: ao Papa, ao
Rei, e ao carrasco.
Estourou uma gargalhada geral ao ouvir juntos os nomes destes três personagens. Não o
estranhou o carrasco, porque sabia que Dom Bosco tinha amizade com os guardiões da prisão e que
aquele homem era um bom cristão. O exercia a caridade com os pobres o melhor que podia,
72
escrevia para pessoas do povo as súplicas que desejavam enviar ao Rei e às autoridades; mais tinha
grande pena pois um filhos do carrasco havia decidido deixar de ir à escola pública, por desprezo de
seus companheiros, quando souberam do emprego de seu pai.
E quanto ao Papa, bem sabiam que mantinha com ele correspondência. Mas incitava sua
curiosidade o desejo de saber que havia escrito Dom Bosco ao Rei, tanto mais que eles conheciam o
que ele pensava sobre a usurpação dos bens eclesiásticos. Dom Bosco não ocultou, senão que os
contou que havia escrito ao Rei para que não permitir-se a apresentação da falsa lei. Logo narrou o
sonho, terminando assim:
- Este sonho me deixou mal disposição e me deixou muito cansado.
Estava preocupado e exclamava de vez em quando:
- Quem sabe?... Quem sabe?... rezemos!
Os clérigos, surpreendidos, empenharam a conversar, perguntando-se uns aos outros se
haviam ouvido dizer que, no palácio real, havia algum Nobre enfermo, mas concluíram que não
havia a menor noticia de nada. Entretanto, Dom Bosco chamou o clérigo Ângelo Savio e entregou a
carta:
- copia isso e anuncia ao Rei: Grande Funeral na Corte!
O clérigo Savio escreveu. Mas o Rei, o que veio a saber Dom Bosco através dos seus
confidentes empregados no palácio? Leu com indiferença a carta e não fez caso dela.
Passaram cinco dias desde o sonho, e Dom Bosco voltou a sonhar naquela noite. parecia
estar em sua habitação, sentado na mesa, escrevendo, quando olhou viu galopar um cavalo no pátio.
De repente viu que se abria a porta e aparecia o pajé do uniforme roxo, que adiantando até o centro
da habitação, gritou:
- Anuncio: no grande funeral da corte cinco! Grandes funerais na corte!
E repetiu estas palavras por duas vezes. Logo se retirou a toda pressa e fechou atrás de si a
porta. Dom Bosco queria saber, queria perguntar, queria pedir explicações; se levantou, pois, da
mesa, saiu até o balcão e viu o pajé no pátio montado a cavalo. Chamou-o e perguntou porque tinha
voltado e porque havia repetido aquele aviso; mas o pajé, gritava; grandes funerais na Corte! E
desapareceu.
Ao amanhecer, Dom Bosco mesmo escreveu outra carta ao Rei, contando o segundo sonho e
terminava dizendo-lhe que procurasse conduzir tal sorte que evitasse os castigos, enquanto lhes
rogava que impedisse a todo custo aquela lei.
Pela noite, depois de cear exclamou Dom Bosco no meio dos seus clérigos:
- Sabeis que tenho que dizer algo mais estranho do que dos outros dias?
E contou o que havia visto durante a noite. Então os clérigos, mais assombrados que antes,
se perguntavam que podia significar aqueles anúncios de morte; e já se pode supor sua ansiedade,
esperando como chegariam a verificar-se aquelas predições.
Entretanto, manifestava abertamente ao clérigo Cagliero e a algum outro que aquelas eram
ameaças de castigos que o Senhor fazia chegar a quem já havia causado muitos danos e males à
Igreja e estava preparando outros. Aqueles dias, estava muito ansioso e repetia a cada segundo:
- Esta lei acarretará grandes desgraças na casa do soberano.
Dizia isto a seus alunos para anima-los a rezar pelo Rei e para que a misericórdia do
Senhor evitasse a dispersão dos muitos religiosos e a perda de muitas vocações.
O Rei confiou as cartas ao marques Fassati, o qual, depois de lê-las, se apresentou aos
filhos de Dom Bosco:
- O parece este modo decente de por e afundar toda a corte? O Rei está impressionado e muito
alterado!... mas ainda está furioso.
E Dom Bosco respondeu:
- E se o escrito for verdade? Me dói ter feito estes desgostos a meu Soberano; mas, depois de
tudo, se trata de seu bem e o da Igreja.
OBSERVAÇÕES:
73
Tido no final de novembro. A realidade histórica desembaraça o seguinte: no dia 28 de
novembro de 1854, Urbano Ratazzi, ministro de Justiça, apresentava um projeto de lei de supressão
de Ordens religiosas. Era ministro da Fazenda Camilo de Cavour, interessado também no projeto. Já
no ano de 1855 , no dia 12 janeiro, morria a Rainha mãe, Maria Teresa, aos cinqüenta e quatro anos
de idade; no dia 20 de janeiro, morria a Rainha consorte, Maria Adelaide, aos trinta e três anos; a
noite do dia 10 ao 11 de fevereiro, morria o príncipe Fernando de Sabóia, herdeiro do Rei, aos trinta
e três anos; no dia 17 de maio morria o Victor Manuel Leopoldo, último filho do Rei, aos quatro
meses e vida.
A lei de supressão de Ordens religiosas era aprovada no dia 2 de março de 1855 pela
Câmara dos Deputados com 94 votos a favor e 23 em contra; no dia 22 de maio era aprovada pelo
Senado com 53 votos a favor e 42 em contra; no dia 29 de maio era firmada pelo Rei.
ANUNCIO DE TRÊS MORTES
(MB 12,45-48=MBe 12 48-51)
Tenho-vos contado um sonho que tive há várias noites, mas a noite passada sonhei algo que
também desejo narrá-lo. Não é ainda muito tarde; são apenas nove horas e , portanto, tenho tempo
de expressá-lo. Por demais, não procurarei demorar.
Me pareceu, pois, estar em um lugar que agora não saberia dizer; certamente. Não era
Castelnuovo e tampouco o Oratório. E chegou um a toda pressa me chamando:
- Dom Bosco, venha! Dom Bosco, venha!
- Porquê tanta pressa?- perguntei.
- Não sabe o que tem acontecido?
- Não, a não ser que me digas; explica melhor– repliquei com certa inquietude.
- Não sabe que Fulano, tão bom, tão pleno de luz, está gravemente enfermo; melhor ainda,
moribundo?
- Não creio no que queres me dizer– lhe disse– porque precisamente nesta manhã estive
falando e passeando com esse menino que me diz estar moribundo.
- Ah! Dom Bosco, não quero enganar-lhe e tenho como obrigação dizer-lhe a verdade. O
jovem em questão necessita urgentemente de sua presença e de vê-lo e de confessar-se
pela última vez. Venha, venha, porque, de outra maneira, não terá tempo.
- Eu, sem saber aonde ir, andei a toda pressa atrás dele. Chegamos em um certo lugar e
veio uma pessoa e me disse:
- Rápido, rápido! Ele está nas últimas.
- Mas o que tem sucedido? – perguntei.
Introduziram-me em uma habitação, e vi um jovem encostado com o rosto descomposto, cor
cadavérica e uma tosse, uma respiração e um ronco que sufocava e apenas lhe permitia falar.
— Mas não é Fulano? – disse-lhe.
– Sim, sou eu.
– Como te encontras?
– Muito mal.
– E como te vejo em tal estado? Hoje nesta manhã passeávamos tranqüilamente embaixo dos
pórticos?
– Sim – replicou o jovem – nesta manhã passeávamos embaixo dos pórticos; mas agora
necessito confessar-me depressa: falta-me muito pouco tempo.
– Calma, calma; faz poucos dias que tem se confessado.
– Está certo, e não creio ter culpa grave em meu coração; mas apesar disso quero receber
pela última vez a santa absolvição, antes de apresentar-me ao Divino Juiz.
Eu escutei sua confissão. Entretanto, observei que ia piorando visivelmente e que a tosse
estava a ponto de sufocá-lo.
74
– Aqui é necessário proceder com toda a pressa – disse para mim –, se quero que receba
ainda o Santo Viático e a Extrema Unção. O Viático não o poderá receber porque necessitaria mais
tempo para preparar-se e porque não poderia engolir a partícula. Pronto, os Santos Óleos!
E dizendo isto, saí da habitação e andei imediatamente a um indivíduo à busca dos Santos
Óleos. Os jovens que estavam presentes me perguntaram:
– Mas está realmente em perigo? Está na última como dizem?
– Certamente – respondi–, não vedes que tem a respiração mais difícil e que a tosse o
sufoca?
– Mas seria melhor trazer-lhe o Viático e assim fortalecido, enviá-lo aos braços de Maria.
E enquanto eu me fatigava preparando o necessário, ouço uma voz que diz:
– Já expirou!
Voltei a entrar na casa e encontrei o enfermo com os olhos extraviados, sem respiração,
morto.
– Está morto? – perguntei aos que o assistiam.
– Está morto, responderam-me, está morto!
– Em tão pouco tempo? Disse-me: não é este Fulano?
– Sim, é Fulano.
– Não pude dar crédito a meus olhos. Ontem mesmo estava passeando comigo embaixo dos
pórticos.
– Ontem passeava e hoje está morto – replicaram-me.
– Por sorte era um jovem bom, exclamei.
E prossegui dizendo aos que estavam ao meu redor:
— Vede, Vede? Este não pôde nem sequer receber o Viático e a Extrema Unção. Demos
graças ao Senhor por ter concedido tempo para confessar-se. Era um menino muito bom,
aproximava-se muitas vezes dos santos sacramentos e esperamos que esteja gozando da felicidade e
da glória, ou ao menos, que esteja no Purgatório. Mas, se estivesse sucedido a outros o mesmo, que
seria agora deles?
Dito isto, colocamo-nos todos de joelhos e rezamos o De profundis pela alma do pobre
defunto.
Entretanto, ia para casa quando vi chegar Ferraris da livraria, no qual me disse aflitamente.
- Dom Bosco. Sabe o que se sucedeu?
- Claro que eu sei. Que morreu fulano.
- Não é o que quero dizer-lhe; há outros mortos.
- Como? O que?
- Zutano e Mengano.
- Mas, quando morreram? Não te entendo.
- Sim, outros dois, morreram antes de que você chegasse.
- E porque não me haveis chamado?
- Não houve tempo, você sabe dizer-me quando morreu este aqui?
- Agora mesmo lhe respondi.
- Você sabe em que dia e em que mês estamos? – prosseguiu Ferraris.
- Sim eu sei; estamos no dia 22 de janeiro, segundo dia da novena de S. Francisco de Sales.
- Não – disse Ferraris – você se equivocou, Dom Bosco, disseste bem. Levante os olhos ao
calendário e lê: 26 de maio.
- Isto sim que é grande! Exclamei, estamos em janeiro e lhe disse que a roupa levo posta,
ninguém se veste em maio desta maneira; em maio não estaria acesa a calefação.
- Eu não sei o que dizer-lhe, nem que razão te dar, porém estamos em 26 de maio.
- Mas se ontem mesmo morreu este nosso companheiro e estávamos em janeiro.
- Ë um equívoco –insistiu Ferraris- estávamos em tempo de páscoa.
- Está mais gordo do que antes.
- Sim, Senhor, em tempo de páscoa; estávamos em tempo de páscoa e foi mais bem75
aventurado por morrer em tempo de páscoa, do que os outros que morreram no mês de
Maria.
- Tu te enganas disse-lhe, explica-te melhor, porque, de outra maneira, não compreendo
nada. Abre os braços, esfrega as mãos uma contra a outra, forte, muito forte. Eu despertei.
Então exclamei:
- Oh, felizmente, tratava-se de um sonho e não de uma realidade.
Que medo tive!
Tal é o sonho que tive na noite passada. Vocês, dão a importância que quiserem. Eu mesmo
não quero prestar-lhe tamanha fé. Contudo, eu quero comprovar, se os que vi mortos no sonho estão
ainda vivos, e constatei que estão sãos e robustos. Certamente que não convém que manifesta e não
o direi, quem são. Contudo os vigiarei e, se for necessário lhes darei um conselho para que vivam
bem e os preparem de forma que não se dêem conta; para que, se na realidade tivessem que morrer,
a morte não os surpreendas se estarem preparado.
Porém que nada comessem a dizer:
Será este, será o outro? Cada um pense a si mesmo.
Que nada disso o intranquilize. O efeito, que este relato deve causar nos outros, é
sensivelmente o que nos sugeriu o Divino Salvador em seu Evangelho: “Estate parati, quia, qua
hora non putatis, felius hominis veniet”. É esta uma grande advertência, queridos jovens, que nos
faz o Senhor. Estejamos sempre preparados, porque, na hora em que menos pensamos, pode chegar
a morte, e o que não estiver preparado para morrer bem, corre o perigo de morrer mal. Eu me
preparei do melhor modo que pude e vocês devem fazer o mesmo, a fim de que, a qualquer hora
que o Senhor nos chamar possamos estar dispostos para passar a eternidade feliz. Boa noite!”
OBSERVAÇÃO:
Tive em 22 de janeiro, contei-o em 23 de janeiro. Sobre este sonho perguntaram logo
insistentemente a D. Bosco, mas sempre respondeu com evasivas. Ferraris era o coadjutor João
Antônio Ferraris, livreiro.
José Alves, Rodrigo Costa e Rafael Zanata
O PARREIRAL (1847)
(MB 3, 32-37 = MBe 3, 37-39)
Um dia do ano 1847, depois de haver meditado muito sobre a maneira de fazer o bem à
juventude, me apareceu a Rainha do Céu e me levou a um jardim encantador. Havia um rústico,
porém formosíssimo e amplo esparramas em forma de vestíbulo. Entrelaçadas carregadas de folhas
e flores envolviam e adornavam as colunas, trepando para cima, e se entrecruzavam formando um
gracioso tato. Dava este esparrama a um caminho formoso sobre o qual, a todo o alcance da olhada,
se estendia uma esparrama encantadora, decaídas e cobertas de maravilhosas rosas em plena
floração. Todo solo estava coberto de rosas. A Bem – Aventurada Virgem Maria me disse:
- Tira os sapatos.
E depois de eu ter tirado-os, acrescentou:
- Lança-te a andar sobre o parado a baixo: é o caminho que deve seguir.
Custou-me tirar os sapatos: me haveria sabido muito mal entregar aquelas rosas tão
formosas. Comecei a andar e percebi em seguida que as rosas escondiam agudíssimos espinhos que
fazia sangrar meus pés. Assim tive que parar a poucos passos e voltar atrás.
- Aqui fazem falta sapatos – disse a minha guia.
- Certamente – eu respondi - ; fazem falta bons sapatos.
Calcei-me e me pus de novo no caminho com certo número de companheiros que
apareceram naquele momento, pedindo para caminhar comigo.
Eles me seguiam baixo a pérgola, que era de uma formosura incrível. Porém, conforme
76
avançávamos se fazia mais estreita e baixa. Penduravam muitas ramas do alto e volviam a levantarse como grinaldas: outras caíam perpendicularmente sobre o caminho. Dos troncos das roseiras
saíam ramas que, a intervalos, avançavam horizontalmente da cá para lá; outras, formando um
apertado caniço, invadiam um parte do caminho; algumas serpenteavam a pouca altura do solo.
Todas estavam cobertas de rosas e eu não via mais que rosas por todas partes: rosas por cima, rosas
ao lado, rosas em baixo meus pés. Eu, embora experimentava agudas dores nos pés e fazia
contorções, tocava as rosas de uma a outra parte e senti que, todavia, havia espinhos mais pungentes
escondidos por debaixo. Porém segui caminhando. Minhas pernas se entrelaçavam nos mesmos
ramos estendidos pelo solo e se enchiam de arranhadelas; movia um ramo transversal, que me
impedia o passo ou me agachava para esquivá-lo e me feria, me sangravam as mãos e toda a minha
pessoa. Todas as rosas escondiam uma quantidade enorme de espinhos. A pesar de tudo, animado
pela Virgem, prossegui meu caminho. De vez em quando, sem embargo, recebia picadas mais
pungentes que produziam-me dolorosos espasmos.
Os que me viam, e eram muitíssimos; baixo aquela pérgola, diziam: “Dom Bosco caminha
sempre entre rosas! Tudo lhe vai bem!”. Não viam como os espinhos feriam meu pobre corpo.
Muitos clérigos, sacerdotes e seculares, convidado por mim, se faziam postos a seguir-me
alegres, pela beleza das flores; porém ao dar-se conta de que havia que caminhar sobre os espinhos
e que estes arranhavam por todas partes, começaram a gritar: “nós fomos enganados”!.
Eu lhes respondi:
- Quem não quiser caminhar deliciosamente sobre rosas, volta a trás e siga-me os demais.
Muito voltaram atrás. Depois de um bom trecho de caminho, me voltei para lançar um olhar
rápido aos meus companheiros. Que pena tive ao ver que uns haviam desaparecido e outros me
viravam as costas e se afastavam. Voltei eu também atrás para chamá-los, porém foi inútil; nem
sequer me escutavam. Então comecei a chorar: é possível que tenha que andar este caminho
sozinho? Todavia pronto havia me consolado. Vi chegar um grupo de sacerdote, clérigos e
seculares, os quais disseram: “somos teus, estamos dispostos a seguir-te”. Voltando-me a cabeça
segui o caminho.
Somente alguns se desencorajaram e se detiveram. Uma grande parte deles chegaram
comigo até a meta.
Depois de passar a parreira, me encontrei em um belíssimo jardim. Meus poucos seguidores
haviam enfraquecido, estavam desenganados ensangüentados. Se levantou então uma brisa ligeira e,
a seu sopro todos recolheram-se sãos. Correu outro vento e, como por encanto, me encontrei
rodeado de um número imenso de jovens e clérigos, seculares, coadjutores e também sacerdotes que
se puseram a trabalhar comigo guiando aqueles jovens. Conheci a vários pela fisionomia, porém a
muitos não.
Entre tanto, havendo chegado a um lugar elevado do jardim, me encontrei frente a um
edifício monumental, surpreendente pela magnificência de sua arte. Atravessei a porta e entrei em
uma sala espaçosa cuja riqueza não podia igualar nenhum palácio do mundo. Toda ela estava
coberta e adornada pôr rosas fresquíssimas e sem espinhos que exalavam um suavíssimo aroma.
Então a Santíssima Virgem que havia sido minha guia me perguntou.
- Sabes que significa o que agora vês e o que tens visto antes?
- Não –lhe respondi — os quero que me explique.
Então Ela me disse:
- Tens de saber, que o caminho pôr ti percorrido, entre rosas e espinhos significa o trabalho que
deverás realizar em favor dos jovens. Terás que andar com os sapatos da mortificação. Os espinhos
do solo significam os afetos sensíveis, as simpatias e as antipatias humanas, que distraem o
educador de seu verdadeiro fim, e o prendem em sua missão, impedindo-o de caminhar e ter coroas
para a vida eterna.
As rosas são símbolos da caridade ardente que deve ser teu distintivo e o de todos os teus
colaboradores. Os outros espinhos significam os obstáculos, os sofrimentos, os desgostos que o
esperam. Porém não perdeis o ânimo. Com a caridade e a mortificação, superará tudo e chegará as
77
rosas sem espinhos.
Apenas terminou de falar a Mãe de Deus, voltei em mim e me encontrei em minha casa.
OBSERVAÇÃO:
Acontecido em 1847; narrado em 1864 em uma conferência dada depois das orações da
noite aos que já pertenciam a congregação salesiana (V. Alassonatti, M. Rua, J. Cagliero, C,
Durando, J. Barberis...). O sonho se repetiu em 1848 e 1856. Antes de narrar o sonho. Lhes digo,
entre outras coisas: “os tenho contado pôr diversas vezes, em forma de sonho, das que podemos
concluir o muito que nos quer e ajuda a Santíssima Virgem. Porém, agora que estamos sós , não os
vou contar em sonho, sinto que a mesma Bem Aventurada Virgem Maria quis que eu viera”. (MBe
3,36-37).
E interpreta : “Os primeiros que se feriram na parreira foram os sacerdotes diocesanos e os
seculares. Os que se ajuntaram depois representam os salesianos, aos que está prometido o auxilio e
a ajuda divina, figurados pelas foças de vento”(ib.36). cf. Terésio, 240. 241.
O tema das rosas – espinhos aparece em mais sonhos : pôr exemplo: em O corcel misterioso,
de 1879. Também em suas práticas recorre Dom Bosco a esta comparação: “Ânimo queridos filhos,
encontraremos muitos espinhos, porém recorda que também haverá muitas rosas”. (MB 13,303).
“colhendo rosas, se sabe que se encontram espinhos; porém com os espinhos sempre está as rosas”.
(Aos salesianos, MB17131). “É verdade, haverá espinhos; porém espinhos que se transformam em
rosas, e estas durarão pôr toda eternidade”. ( Aos salesianos, MB 17,555).
Herivelton Breitenbach e Euderley
MORTE DE UM CLÉRIGO E DE UM ALUNO DO ORATÓRIO (1885)
(MB 17, 505-506 = Bem 17, 434-435)
“Fui deitar-me abismando com o pensamento do Donelam, de sua tranqüilidade, da
esperteza de que iria ao paraíso. Do desejo de saber algo dele, e indo de imaginação em imaginação
minha mente se deteve a observa um segundo indivíduo, de personalidade incerta, confusa,
desconhecida, que ia ficando cada vez com maior claridade. Quando estava completamente
dormindo, comecei a sonhar: parecia-me caminhar levando a meu lado o Donelam, tão belo que
parecia um anjo, seu sorriso era de paraíso e sua pessoa resplandecia toda de luz. Eu não me
cansava de contempla-lo. A minha esquerda, caminhava um jovem com a cabeça baixa, de forma
que não se podia distinguir sua fisionomia: parecia como desesperado.
Eu então lhe dirigi a palavra:
- Quem és? – lhe perguntei.
Mas ele não me respondeu .
Voltei a insistir e ele permaneceu em silêncio, como quem se nega a querer falar.
Depois de caminhar longo tempo, cheguei a um palácio grandioso cujas portas estavam
abertas de um lado e de outro bem distintas e no interior um pórtico imenso, coberto parecendo uma
cúpula muito alta da qual desciam correntes de luz tão viva que não se podia comparar a luz do sol
nem a luz produzida pela eletricidade e nenhuma outra luz deste mundo. Também os pórticos
resplandeciam, mas a luz destes outros era um reflexo que vinha do alto.
Uma grande multidão de pessoas, todas resplandecentes, estavam no interior do palácio e
meio deles, havia uma Senhora vestida com muita elegância, cada ponto de seu vestido brilhava
como multidões de raios que se destacavam de uma maneira muito notável entre todos os demais
refletores.
Toda aquela assembléia parecia estar a espera de alguém. Entretanto, me dei conta de que o
jovem que me acompanhava buscava sempre uma maneira de se esconder atrás de mim.
Eu então comecei a repetir a mesma pergunta:
- Mas me diz, quem é você? Qual é o teu nome?
78
E o jovem me respondeu:
- Logo o saberás.
- Mas, que tens que estás tão triste? Insisti.
- Logo saberás.
- Dei-me ao menos o teu nome
- Logo saberás.
Sua voz tinha um tom esquisito. Entretanto, ao aproximar o Donelam a porta daquele grande
palácio a bela Senhora que eu havia visto na salão e ao encontro e com Ela, toda aquelas multidão
que à rodeava. A Senhora, voltando ao Donelam, exclamou, com harmoniosa voz:
- Hic est filius meus delectus, Qui fugebit tanquam, sol in perpetuas aeternitates.
E depois, como se estivesse entoando um cântico, toda aquela multidão começou a cantar
aquelas mesmas palavras. Não se ouvia vozes humanas nem instrumentos musicais, sim uma
harmonia tão suave, tão distinta, tão inarrável que não só eu ouvi, sim toda a pessoa notava sua
influência.
O Donelam penetrou no palácio. Então de um porão bem largo, saíram dois monstros
espantosos. Eram de corpo largo e muito grande e se lançaram contra o jovem que estava escondido
atras de mim. Toda a luz havia desaparecido só se viam ao meu redor os raios que saiam do corpo
da Senhora.
- Que é isto?- disse eu – quem são estes monstros?
E atras de mim a voz escura e apagada:
- Daqui a pouco saberás, daqui a pouco saberás.
Aquela Senhora exclamou:
- Filium enutrivi et edu cavi, ispse autem factor est tanquam iumennum inspiens.
E atras de mim, a voz continuava:
- Daqui a pouco saberás, daqui a pouco saberás.
Imediatamente aqueles dois monstros se lançaram contra aquele jovem, um mordeu em um
ombro e o outro na nuca e no pescoço.
Os ossos produziam um som áspero como se houvesse sido triturado no morteiro.
Eu olhava ao meu redor e buscava alguém que viesse em meu auxílio, e não vendo ninguém,
lancei-me contra aqueles dois monstros dizendo:
- Já que não há nada, acudirei eu em seu socorro:
Mas os dois monstros voltaram-se contra mim abrindo suas faces.
A um vi o branco de seus dentes e o outro o roxo fogo de sua gengiva.
Me espantou e então despertei”.
OBSERVAÇÕES:
Tido em 23 de outubro de 1885, contado aos capitulares durante a refeição de 24 de outubro.
O clérigo irlandês Francisco O'Donnellan morreu na noite de 20 a 21 de outubro de 1885.
O jovem foi Arquímedes Accornero, que morreu por volta da meia noite do dia 26 de
outubro. A conseqüência de um acidente desgraçado: enquanto jogava no pórtico, dependurado em
uma armação de ferro, esta lhe caio em cima. Sua conduta não havia sido boa: mas Don Trione
havia contado que se confessara essa mesma manhã. Chamarão urgente sua mãe; e quando chegou
ao oratório, pergunto se seu filho havia se suicidado, pois também ela conhecia o mal caminho que
levava (cf. MB 17,506-50.7)
Observações gerais sobre as predições de mortes
"Respeito a este tipo de anúncios, não conhecemos autógrafos de Dom Bosco; não obstante,
existem os testemunhos coetâneos. Estes permitem rastear em certa medida o processo genético das
predições e a continuação dos fatos" (Stella II, 554). Este autor oferece um exemplo sobre o caso do
jovem Victor Maestro, onde aprecem claras a predição e a verificação. Se pode estimar que não
resultaria o único caso, dadas as predições cronológicas, nominais e documentais que se atrevam a
alegar os biógrafos e os cronistas.
79
Straniero coloca estas predições como fenômenos comuns aos sonhadores e aos santos, "e
incluído em pessoas comuns, em presença de algum vínculo afetivo ou de um particular estado
emotivo que estimule e exalte suas faculdades de recepção" (Straniero, 108-109). É uma perspectiva
puramente fenomenológica e psicológica. A via documental parece mais apta. E não há que
duvidar que as predições “somniales” de Dom Bosco hão de ser completadas com as predições
“vigiles”; e que umas e outras se dão na “pessoa” de Dom Bosco, para cuja compreensão exata, é
impossível a dimensão sobrenatural desde o ponto de vista estritamente histórico.
Questão distinta de natureza destas predições de mortes é o uso que Dom Bosco pode fazer
delas.
“Uma vez mais há que sublinhar o prevalente interesse pedagógico: no caso da premonição
sobre a morte eminente dos sonhos, Dom Bosco se serve delas para adverti-los diretamente para o
arrependimento final, no entanto que o anuncio de mortes clamorosas na corte le garantia a
aquisição do crédito social necessário para prosseguir com êxito suas atividades (...). Ma, em um
outro caso, o mecanismo psíquico premunição, hão permanecendo obscuros para os outros,
enquadra perfeitamente na casuística parapsicológica incluso atual e, só por nossa ignorância,
parece fugir das leis normais da casualidade. É raro que, entre tantos preavisos de mortes, não se
haja concedido ao Santo perceber com exatidão própria: evidentemente este ultimo gênero de
conhecimento não havia revestido o mesmo caráter pedagógico que as outras
premonições”(Straniero, 134).
A intenção educativa dos sonhos de Dom Bosco e inegável, como a de todas as atuações. O
interesse por alcançar, com algumas narrações de sonhos, o crédito social necessário e dado que se
há de provar desde a fontes. Que os Sonhos o alcançaram tal crédito, e que aumentaram seu halo de
homem carismático, também é dado empírico; mas que os buscará explicitamente, e mais
problemático: chocaria com sua humildade demonstrada. Que não lhe fora concedido perceber com
exatidão sua própria morte. Não invalida e que o fora concedido predizer as dos outros.
Mas há de ter em conta que Dom Bosco foi sempre reacionário em comunicar suas
vivências intimas e que sonhou mas do que contou. As fontes oferecem alguns indícios somente
sobre esta questão: Basta alegar um. Em 20 de outubro de 1887, Dom Bosco presidio em Foglizzo a
vestição de 94 noviços; ao voltar o dia 21, disse a Dom Rua: “o próximo ano já não virei; virás tu a
realizara esta função”(MB 18,462).
De todos os modos, não cabe aplicar um reducionismo parapsicólogico ao fenômeno
histórico “Dom Bosco” ou uma explicação simplesmente casual ou coincidente aos completos
aspectos de sua vida: produzir mais mistérios.
Ilton Marques e Samuel Carlos Caetano
UM PASSEIO AO PARAÍSO
(MB 6, 864- 878 = MBe 6, 653- 663)
“ Na noite de 7 de abril de 1861, depois da orações, subiu Dom Bosco ao palanque, desde
onde começou a falar, para dizer uma boa palavra aos jovenzinhos e começou assim:
– Tenho algo muito curioso a contar. Se trata de um sonho. Um sonho não é uma coisa real.
Os digo para não lhes dei maior importância de que ela merece. Antes de começar a minha narração
devo fazer algumas observações. Eu o conto tudo, da mesmo maneira que me agrada me digais
todas vossas coisas. Sabeis que eu não tenho segredo para convosco mas o que dizer aqui deve ficar
entre nós. Não me atreveria a assegurar que se haja réu de pecado que o contar a pessoa estranha,
mas o melhor que essas coisa passem como uma umbral de porta do oratório. Comentando entre
vós, riem, caçoar , sobre quanto vou a dizer, quanto o agrade , mas só com aquelas pessoas que
sejam de vossa confiança e que creias que podem pegar dele algum proveito, se as considerais
convenientemente capacitada para ele.
80
O sonho consta de três parte; o tive durante três noites consecutivas; por isso, hoje os
contarei uma parte e as outras dois na noite seguinte. O que mais de admiração me produziu foi
retomei o sonho Segunda e terceira noite num ponto preciso em que havia ficado a noite precedente
ao despertar-me.
PRIMEIRA PARTE
Os sonho se tem dormindo e, portanto, eu dormia ao começar a sonhar.
Alguns dias antes havia estado fora de Turim e passei bastante cerca as colinas de
Moncalieri. O espetáculo de aquelas colinas, que começavam a cobrir-se de verde, me ficou
imprenso na mente e, portanto, bem pode ser noites seguinte, ao dormir, a idéia de aquele formoso
espetáculo viesse de novo e impressionar minha fantasia e esta avivasse em meu o desejo de dar um
passeio.
O certo é que, no sonho, contemplei uma ampla e dilatada planície: ante meus olhos, se
levantava uma alta e extensa colina. Estávamos todos parados quando, de pronto, disse a meus
jovens a seguinte proposta:
– Vamos dar um bom passeio?
– Mas, aonde?
Nos olhamos um aos outros: refletimos uns instantes e depois , no sei porque causa estranha,
alguém começou a dizer:
– Vamos ao Paraíso?
– Sim, sim; vamos, dar um passeio ao paraíso- replicaram os demais.
– Bem! bem! vamos!- exclamaram todos a uma.
Partindo a planície, depois de caminhar um pouco, nos encontramos ao pé da colina. Ao
começar a subir por um atalho, que admirável espetáculo! Sobre toda a extensão que podíamos
abarcar com a vista, a dilatada ladeira que aquela colina estava coberta de belíssimas plantas de
todas as espécies: frágeis e baixas, fortes e robustas; com todo, estas ultimas não eram tão grossas
que um braço. Havia pêras, maçãs, cerejas, ameixas, e variadíssimos aspectos, etc. o mais singular é
que cada uma delas se viam flores que começavam a brotar e outras plenamente formadas e
dotadas de belíssimos cores; frutos pequenos e verdes e outros grossos e maduros; de forma de
aquelas plantas se havia quanto de formoso produzem a primavera, o estio e o outono. A
abundância de frutas era tal, que parecia que as ramas não poderiam resistir o peso.
Os meninos se acercava a mi cheios de curiosidade e me perguntavam a explicação daquele
fenômeno, pois não sabiam dar-se razão de semelhante milagre. Recordo que, para satisfazer-lhes
um pouco, lhe dei a seguinte proposta:
– Tende presente que o Paraíso não é como nossa terra, donde mudam as temperaturas e as
estações. Haveis de saber que aqui não há cambio algum; a temperatura és sempre igual,
suavíssima, adaptada a exigência de cada planta. Por isso cada uma dessas resguardas no seu quanto
de formoso e bom há em cada estação do ano.
Ficamos, pois, completamente estáticos, contemplando aquele jardim encantador. Soprava
uma suave brisa; na atmosfera reina a mais completa calma; se percebia um sossego, um ambiente
de suavíssimo perfume que penetrava por todos nossos sentidos, fazendo compreender que
estávamos gostando das delícias de todas aquelas frutas. Os jovens tomavam aqui uma pêra, ali uma
maçãs, acolá uma ameixas ou um cacho de uva, porém que , ao mesmo tempo, seguíamos subindo
todos juntos a colina.
Quando chegamos ao cume creiamos estar no Paraíso; em troca, estávamos distantes dele...
desde aquela elevação, e de outro lado de uma grande planície o esplanada, que estava dentro de
uma extensa planalto, se divisava uma montanha tão alta que seu cume tocava as nuvens. Por ela
subia trabalhosamente, mas com grande rapidez, uma grande multidão de gente e o mais elevado
estava Ele que convidava aos que subiam a que continuassem se desmaio a ascensão. Víamos a
outros descer desde ao cume miais baixo para ajudar aos que já estavam muito cansados, por haver
escalado uma parada muito difícil e escarpado. Os que, finalmente, chegavam a meta eram
81
recebido com grande júbilo, com extraordinário regozijo.
Todos conta que o Paraíso estava lá e, encaminhado a planície, prosseguimos depois a
direção a montanha para tentar a subida. Já havíamos percorrido um bom pedaço de caminho,
quando numerosos jovens empreenderam, uma veloz carreira para chegar antes, se adiantaram
muito a muitos de seus companheiros.
Mas, antes de chegar a sopé daquela montanha vimos no planalto um lago cheio de sangue,
como extensão como desde o Oratório a Praça Castillo. Ao redor deste lago, em sua beira, havia
mãos, pés e braços cortados; pernas , crânios e membros esquartejados. Que horrível espetáculo!
Parecia que, naquela parada, se houvera disputado uma cruel batalha.
Os jovens, que se haviam adiantado correndo e que haviam sidos os primeiros em chegar,
estavam horrorizados. Eu, que me encontrava muito longe e de nada me havia dado conta, ao
observa seu gesto de estupor e que se haviam detido com uma grande melancolia refletida seu rosto
e gritei:
– Por que essa tristeza? Que os sucede? Segui adiante!
– Sim? Que sigamos adiante? Venha, venha ver- me responderam.
Apressei o passo e pude contemplar aquele espetáculo.
Todos os demais jovens que acabavam de chegar, e que pouco antes estavam tão alegres,
ficaram silenciosos e cheio de melancolia.
Eu, entretanto, seguindo sobre a praia do lago misterioso, observava ao meu ao redor. Não
era possível seguir adiante. De frente, na beira oposta, se via escrito em grande caracteres: "PER
SANGUINEM".
Os jovens perguntavam uns ao outros:
– Que é isto? Que quer dizer tudo isso?
Então perguntei a um que agora não recordo quem era, o qual me disse:
– Aqui está o sangue derramados por muitos e tantos que alcançaram já o cume da montanha
que agora estão no Paraíso. Esta é o sangue dos mártires! Aqui está o sangue de Jesus Cristo, com a
que foram cortados os corpos de aqueles que deram o testemunho de fé! Nada pode ir ao Paraíso se
passar por este lago e sem ser banhado com esta sangue. Esta sangue, defensora da santa montanha,
representa a Igreja Católica. Todo aquele que tenta assaltar morrerá vítima de sua loucura. Todas
estas mãos e todos estes pés truncados, esta caveira desfeita, os membros cortados em pedaços que
viés desanimados na beira são restos miseráveis dos inimigos que quiseram combater contra a
Igreja. Todos foram destroçados! Todos pereceram neste lago!
Aquele jovem, no curso de sua conversação, nomeou a numerosos mártires , entre os quais
também os soldados do Papa, caídos no campo de batalha por defender o poder temporal do
Pontificado.
Dito isto, assinalando fazia nossa direita, nesta direção, nos indicou imensa vale, quatro e
cinco vezes mais extenso que vale de sangue, e acrescentou:
– Vedes ali aquela vale? Pois lá irá parar o sangue, de aqueles que, seguindo este caminho,
escalaram a montanha, o sangue dos justo, de que morrerão pela fé nos tempos que virão.
Eu procurava animar aos meus jovens, que não podiam dissimular o terror que invadia ao
ver e escutar aquelas coisas, dizendo-lhes que se morríamos mártires, nosso sangue seria recolhida
naquele vale, ma s que nossos membros não seria arrojado nas beiras como os que havíamos
vistos.
Entretanto, os meninos se apressaram a por-se em marcha. Rodeando a beira do lago,
tínhamos a nossa esquerda o cume da colina que havíamos cruzado e direita o lago e a montanha. A
certa distância, onde terminava o lago de sangue havia um lugar plantado de carvalhos, palmeiras e
outras plantas diversas. Introduzimo-nos nele para comprovar se era possível o acesso à montanha;
mas, eis que ante nossa vista ofereceu-se outro novo espetáculo. Vimos outro lago enorme, cheio de
água, e nela uma grande quantidade de membros partidos e esquartejados. Na orla via-se escrito em
caracteres cubitales: “PER AQUAM”.
– Que é isto? Quem nos explicará o significado disto?
82
– Neste lago está – disse-nos um – a água que brotou da costela de Jesus Cristo, a qual foi
em pouca quantidade, mas aumentou de forma considerável e segue aumentando e aumentará no
futuro. Esta é a água do santo Batismo, com a qual foram lavados e purificados os que hão de subir
a ela no porvir. Nela terão que ser banhados todos aqueles que quiserem ir ao Paraíso. Ao Paraíso se
chega ou por meio da inocência ou por meio da penitência. Ninguém pode salvar-se, sem haver se
banhado nesta água.
Seguidamente, assinalando os restos humanos, prosseguiu:
– Estes membros pertencem a aqueles que atacaram a Igreja no tempo presente.
Seguidamente vimos muita gente e também alguns de nossos jovens caminhando sobre as
águas com uma velocidade extraordinária; com uma rapidez, que apenas se tocava a superfície com
a ponta dos pés e, quase sem molhar-se, chegavam à outra orla.
Nós contemplávamos atônitos aquele portento, quando nos foi dito:
– Estes são os justos, porque a alma dos santos, quando está separada do corpo, e o mesmo
corpo quando está glorificado, não somente pode caminhar ligeira e velozmente sobre a água, senão
também voar pelo mesmo ar.
Então, todos os jovens desejaram correr sobre as águas do lago, como aqueles aos quais
havia visto. Depois me olharam como para interrogar-me com a olhada, mas ninguém se atrevia a
iniciar a marcha. Eu lhes disse:
– De minha parte, não me atrevo; é uma temeridade crer-se tão justo para poder cruzar sobre
essas águas sem se afundar.
Então todos exclamaram:
– Se você não se atreve, muito menos nós!
Prosseguimos adiante, sempre girando ao redor da montanha, quando eis que chegamos a
um terceiro lago, amplo como o primeiro e cheio de fogo, no qual se viam partes de membros
humanos despedaçados.
Na orla oposta le lia um cartaz “PER IGNEM”.
Aqui, disse-nos o mesmo intérprete, está o fogo da caridade de Deus e dos santos; as chamas
do amor e do desejo, pelas que devem passar os que não o fizeram pelo sangue e a água. Este é
também o fogo com que foram atormentados e consumidos pelos tiranos os corpos de tantos
mártires. Muitos são os que tiveram de passar por aqui para chegar ao cume da montanha. Estas
chamas servirão também de suplício aos inimigos da Igreja.
Pela terceira vez, víamos triturados os inimigos do Senhor no campo de suas derrotas.
Nos apressamos, pois, a segui adiante e do lado de lá deste lago vimos outro à maneira de
amplíssimo anfiteatro que oferecia um aspecto ainda mais horrível. Estava cheio de bestas ferozes,
de lobos, ossos, tigres, leões, panteras, serpentes, cães, gatos e outros muitíssimos monstros que
estavam com suas gargantas abertas prestes a devorar a que se aproximasse. Vimos muita gente
caminhando sobre suas cabeças. Alguns jovens começaram a correr sobre eles, passando sem temor
sobre as cabeças daqueles animais sem sofrer o menor dano. Eu quis chamá-los, e lhes gritava com
todas as minhas forças.
– Não! Por caridade! Detende-vos! Não prossigais! Não vedes como esses animais estão
dispostos a destroçar-vos e devorar-vos depois?
As minha voz não foi escutada e continuaram caminhando sobre os dentes e sobre as cabeças
daqueles animais, como sobre o mais seguro dos atalhos.
O intérprete de sempre disse-me então:
– Estes animais são os demônios, os perigos e os laços do mundo. Os que passam
impunemente sobre as cabeças dos animais são as almas justas, os inocentes. Não recordas que está
escrito: Super aspidem et basiliscum ambulabunt et conculcabunt leonem et draconem?
(Caminharão sobre a áspide e o basilisco e pisotearam ao leão e ao dragão). A estas almas se referia
o profeta Davi. E no Evangelho se le: Ecce dedi vobis ptestatem clcandi supra serpentes et
scorpiones et super omnem vistutem inimici: et nihil vobis nocebit. (Eis que vos é dado poder para
caminhar sobre serpentes e escorpiões e sobre os mais esforçados inimigos, e não vos farão o menor
83
dano).
Então nos perguntamos:
– Como faremos para passar ao lado de lá? Teremos que caminhar também nós sobre essas
horríveis cabeças?
– Sim, sim, vamos! – disse-me um.
– Oh! Eu não me sinto com valor para fazê-lo – respondi –, seria uma presunção o supor-se
tão justo como para passar ileso sobre as cabeças desses monstros ferozes. Ide vós, se que
quiserdes; eu não vou.
E os rapazes voltaram a exclamar:
– Ah, se você não se atreve, muito menos nós!
Afastamo-nos do lago das bestas e a pouco contemplamos uma extensa zona de terreno,
ocupada por uma grande multidão. Parecia ou era realidade que a alguns lhes faltavam os narizes, a
outros as orelhas, alguns tinham a cabeça cortada; outros estavam sem braços; estes sem pernas;
aqueles sem mãos ou sem pés. Uns não tinham língua e a outros lhes havia arrancado os olhos. Os
jovens estavam maravilhados de ver toda aquela pobre gente tão maltratada, quando um nos disse:
– Estes são os amigos de Deus; os que para salvar-se mortificaram seus sentidos: o ouvido, a
visão, a língua, fazendo ademais muitas obras boas. Grande número deles perderam as artes do coro
de que se vêem privados, pelas grande obras de penitência a que se entregaram ou pelo trabalho a
que se deram em altares de amor a Deus ou ao próximo. Os de cabeça cortada são os que se
consagraram ao Senhor de maneira particular.
– Enquanto considerávamos estas coisas, vimos uma grande multidão de pessoas, parte das
quais haviam atravessado o lago e subiam a montanha, pondo-se em contato com outros que,
havendo chegado antes ao cume, desciam para dar-lhes a mão e lhes animavam a subir. Depois,
estes aplaudiam exclamando:
– Bem! Bravo!
Ao ouvir aquele ruído de aplausos e aquelas vozes, despertei-me e me dei conta de que
estava na cama.
Esta é a primeira parte do sonho, isto é, o que sonhei na primeira noite.”
Na noite de 8 de abril, Dom Bosco se apresentou ante os rapazes que estavam desejosos de
ouvir a continuação do sonho.
Começou recordando a proibição de pôr as mãos encima e também lhes proibiu mover de
lugar na sala de estudo e dar voltas de cá para lá, indo de uma a outra mesa. E acrescentou:
– O que deve sair do estudo por qualquer motivo, peça sempre permissão ao superior da
sala.
O Servo de Deus se deu conta da impaciência dos jovens e, dando uma olhada a seu redor,
prosseguiu, depois de uma breve pausa, com aspecto sorridente.
SEGUNDA PARTE
“Recordar-vos-eis que havia um grande lago que havia de encher-se de sangue, ao fundo do
vale, perto do primeiro lago!
Depois de haver contemplado as várias cenas anteriormente descritas e de percorrer o
planalto de que vos falei, encontrávamos ante um passo livre pelo qual poderíamos percorrer nosso
caminho.
Prosseguimos, pois, adiante dos meus rapazes e eu, através de um vale que nos levou a uma
grande praça. Entramos nela; a entrada da dita praça era ampla e espaçosa, mas depois se ia
estreitando cada vez mais, de forma que ao fundo, perto já da montanha, terminava numa senda
aberta entre duas rochas, pela qual apenas podia passar um homem. A praça estava cheia de gente
alegre que se divertia despreocupadamente, dirigindo-se ao mesmo tempo à senda que chegava à
montanha.
Nós nos perguntávamos uns aos outros:
– Será este o caminho que conduz ao Paraíso?
84
Entretanto, os que se encontravam naquele lugar se dirigiam um atrás do outro com a idéia
de passar por aquela estreiteza, e para consegui-lo teriam que recolher bem as roupas, encolher os
membros quanto podiam e inclusive abandonar a bagagem que levavam consigo.
Isto me deu a entender que, na realidade, aquele era o caminho do Paraíso, posto que para ir
ao céu não basta somente estar livre de pecado, senão também de todo pensamento, de todo afeto
terreno, segundo o dito do Apóstolo: Nihil coinquinatum intrabit in ea. (Nada contaminado entrará
nela).
Nós estávamos observando aos que passavam por espaço como de uma hora. Mas quanto
ignorante fui! Em vez de desejar a passagem daquela senda, preferimos voltar atrás para ver o que
havia do outro lado da praça. Havíamos visto outra multidão de gente naquele lugar e desejávamos
saber o quê era que faziam. Atravessamos, pois, por um caminho muito amplo e cujo fim não podia
ser apreciado pelo olho humano. Ali contemplamos um estranho espetáculo. Vimos numerosos
homens e também bastantes de nossos jovens, atados com animais de diversas espécies. Alguns
estavam emparelhados com bois. Eu pensava:
– O que quer dizer isto?
Então recordei que o boi é o símbolo da preguiça, e deduzi que aqueles jovens eram os
preguiçosos. Conhecia-os a todos: eram os lentos, os frouxos no cumprimento de seus deveres. E,
ao vê-los, dizia a mim mesmo:
- Sim, sim; está muito bem empregado. Não querem fazer nada e agora tem que suportar a
companhia desse animal.
Vi outros, ungindo como asnos. Eram os teimosos. Assim ladeados tenham que suportar
pesadas cargas e comer em companhia daqueles animais. Eram os que não faziam caso dos
conselhos nem das ordens dos superiores. Vi outros unidos com os burros e com cavalos e recordei
o que disse ao Senhor: factus est sicut equus et mulus quibus non est intellctus. ( rinchou como
cavalos e burros, que não têm inteligência). Eram os que não querem pensar nunca nas coisas da
alma: os desgraçados sem senso.
Vi outros que passeavam em companhia de porcos: se espojavam nas imundícies e no lodo
como esses animais e, como eles e, como eles gostavam do lodo. Eram os que se alimentam
somente de coisas terrenas; os que vivem entregados nas humilhantes paixões; os que estavam
afastados do Pai Celestial. Oh lamentável espetáculo! Então me recordei do que disse o Evangelho
do filho pródigo: que tendo reduzido no mau miserável dos estados: luxuriose vivendo (vivendo
luxuosamente).
Vi depois muita gente e numerosos jovens na companhia de gatos, cachorros, galos, coelhos,
etc; ou seja os ladrões, os escandalosos, os soberbos, os tímidos por respeito humano e assim
sucessivamente.
Ao contemplar esta variedade de cenas, nos dizíamos quanta e que grande vale representava
o mundo. observei demoradamente a cada um daqueles jovens e desde ali nos dirigíamos a outro
lugar também muito espaçoso, que de formava parte da imensa planície. O terreno sofria um pouco
de caída, de forma que caminhávamos quase sem darmos conta.
A certa distancia vimos que o lugar tomava aspecto de um jardim e nos dizíamos;
– Vamos ver o que é aquilo?
– Vamos! – exclamaram todos.
E começamos a encontrar excelentes rosas encarnadas.
– Oh, que belas rosas! Oh, que belas rosas! – gritavam os jovens entretanto corriam a cortálas – mas, apenas as puseram as mãos, se deram conta de que saia um cheiro desagradável e
extremo. Os meninos não puderam conter seu desagrado. Vimos também numerosas violetas, em
aparência viçosa e que creiamos que soltavam agradável fragrância; mas quando nos aproximamos
para corta-las para fazer um ramalhete, nos demos conta de que seus talos estavam murchos e que
soltavam um cheiro imundo.
Prosseguimos sempre a frente e foi aqui que nos encontramos em uns encantadores bosques
de árvores tão carregadas de frutas que era um prazer contemplá-las. Em especial, as macieiras, que
85
deliciosa aparência teriam! Um jovem correu imediatamente e cortou de uma rama uma formosa
fruta de aparência fragrante e madura, mas apenas cravou os dentes arremessou longe de si. Estava
cheia de terra e de areia e, ao provar, sentiu vontade de vomitar.
– Mas, o que é isto? – nos perguntamos.
Um dos nossos jovens, cujo nome não me recordo, nos disse:
– Isto significa a beleza a bondade aparente do mundo. Tudo não é insípido, enganoso!
Entretanto estávamos pensando aonde nos conduzirá nosso guia, nos demos conta de que o
caminho que levávamos despendia quase sem invisivelmente. Então um jovenzinho observou;
– Por aqui vamos abaixando cada vez mais: me parece que não vamos bem.
– Já veremos – lhe respondi.
E seguidamente apareceu uma multidão incalculável que corria por aquele mesmo caminho
que levávamos. Uns iam em carruagem, outros a cavalo, outros a pé. Alguns saltavam, brincavam,
cantavam e dançavam ao som da música e ao compasso dos tambores.
O ruído e a confusão de voz eram ensurdecedoras.
– Vamos esperar um pouco – dizíamos – e observemos esta gente, antes de prosseguirmos
em sua companhia.
Então um jovem descobriu, no meio daquela multidão, alguns que pareciam dirigir a cada
uma delas conversas. Eram indivíduos de agradável aparência, vestidos de uma maneira elegante,
mas, por debaixo do pano, assumia os chifres. Aquela inclinação era o mundo pervertido dirigido
pelo maligno. Est via quae videtur recta, et nivissima ejus ducunt ad mortem. ( É o caminho que
ao homem parece reto, mas seus últimos anos de vida conduzem a morte.)
De repente, um nos diz:
– Observa como os homens vão para o inferno quase sem dar conta dele.
Depois de haver contemplado isto e de ouvir estas palavras chamei os jovens que iam a diante
de mim, aos quais vieram a meu encontro correndo e gritando.
– Nós não queremos seguir por ai!
E seguidamente voltaram precipitadamente para trás, desfazendo o caminho percorrido e
deixando-me só.
– Sim, tens razão – lhes disse quando me uni a eles – estávamos aqui; voltamos atrás; de
outra maneira, sem darmos conta, iremos para também no inferno.
Queríamos pois, ver a praça sobre a qual havíamos partindo e seguir o guia que nos
conduziria a montanha do Paraíso; mas qual não seria a nossa surpresa quando, depois de um longo
caminhar, nos encontramos em um prado. Nos envolvemos em uma e outra parte sem desejar
orientar-mos.
Alguns diziam:
– Temos equivocado o caminho.
Outros gritavam:
– Não, não temos equivocado: o caminho é este.
Enquanto os jovens discutiam entre si e cada um querendo manter o próprio parecer, eu me
despertei.
Esta é a Segunda parte do sonho correspondente a Segunda noite. Mas antes os retires,
escuta, não quero que deis importância a meu sonho, mas recorde que os prazeres que conduzem a
perdição não são as que aparecem aparentes; só oferecem a beleza exterior. Estais atentos com
aqueles vícios que nos fazem semelhante aos animais, até ao ponto de igualarmos com eles;
especialmente cuidados com certos pecados que nos assemelham aos animais imundos! Oh, quão
desonroso és para uma criatura racional, ter que se comparar com os bois e aos asnos! Quão
abominável é para quem foi criado à imagem e semelhança de Deus e constituído herdeiro do
Paraíso, derrubar-se no lodo como porcos, ao cometer aqueles pecados que a Escritura sonha ao
dizer: luxiriose vivendo!
Somente foi contado as circunstâncias principal do sonho e de forma resumida: pois, se
houvesse exposto tal e como foi, haveria sido muito longo. Igualmente contou pela noite, somente
86
os fiz um resumo de quanto vi. Amanhã os contarei a terceira parte.
Com efeito: na noite de Sábado de 09 de abril, Dom Bosco continuava a narração.
TERCEIRA PARTE
Não queria contar meus sonhos. Antes de ontem, apenas havia começado minha narração,
me arrependi da promessa que os fiz; e eu havia desejado não fazer nenhum dado da exposição do
que desejais saber. Mas ei de dizer, se calo, guardando meu segredo para mim, sofro muito e, em
troca, publicando, me proporciona um alivio que me faz muito bem. portanto, prosseguirei o relato.
Mas antes ei de advertir que, as noites precedentes, havia de suprir muitas coisas, das que
era conveniente falarmos, passando por cima de outras, que se podem ver com os olhos, mas que
não se podem expressar com palavras.
Depois de contemplar, pois, como decorrida, toda aquelas cenas já descritas; depois de ver
lugares diversos e as maneiras de ir ao inferno, nós queríamos a toda custa chegar ao paraíso. Mas ,
indo de uma parte a outra, nos desviamos do caminho, atraídos por outras coisas. Finalmente depois
de adivinhar a seta que devíamos seguir, chegamos a praça na qual havia concentrada tanta gente,
todas elas dispostas a chegar a montanha; me refiro aquela praça colossal que terminava em passos
estreitos e difícil entre as rochas. Os que atravessavam, apenas havia saído da outra parte e devia
passar por uma ponte longa e estreita e sem barranco, debaixo da qual se abria um espantoso
abismo.
– Oh! lá esta o caminho que conduz ao paraíso – nos dissemos; é aquele. Vamos!
E nos dirigimos dizia-o. alguns jovens começaram a correr deixando-me para trás. Eu queria
que me esperassem, mas eles estavam empenhados em chegar antes que nós; mas ao chegar ao
passo estreito, assustaram-se sem prosseguir para frente. Eu os animava, insistindo-os a passar.
– Para frente! Para frente! Que fazeis?
– Sim, sim, - me responderam; – venha você e inicia a prova.
Nos estremece a idéia de Ter que passar por um lugar tão estreito e depois ter que atravessar
as pontes; se descemos um passo falso cairíamos dentro daquelas águas turbulentas, cravadas nos
abismos e, nada sobraria de nós.
Mas, finalmente, houve um que decidiu-se a ser o primeiro a atravessar, seguindo-o depois
outros e assim todos passamos do outro lado de lá, encontrando-nos aos pés da montanha. Dispostos
a começar subir, não encontramos guia algum que nos indicasse e, ao encaminharmos para o monte
nos encontramos em meio a multidão de dificuldades e impedimentos. Umas vezes era um serie de
elevações desordenadamente dispostas; outras, uma rocha que era necessário evitar; ora um
precipício; já, um tanto espinhoso que se oponha a nossos passos. A subida se apresentava cada vez
mais empinada, pelo que nos demos conta de que era grande a fadiga que nos aguardava. Apesar
disso não nos desanimamos, começando a escalada com maior esforço. Depois de um curto espaço
de penosa subida, em que servíamos das mãos e dos pés, ajudando-nos reciprocamente, os
obstáculos começaram a desaparecer e, ao final , nos encontramos ante um caminho praticável pelo
qual pudemos subir comodamente.
E eis que chegamos a um certo lugar da montanha em que vimos uma numerosa gente
sofrendo de maneira horrível; grande foi nossa surpresa e compaixão ao observar tão estranho
espetáculo. Não os pude dizer o que vi, porque os causaria uma pena demasiadamente intensa e, por
outra parte, não serias capazes de resistir às minhas descrições. Nada, pois, os direi sobre isto,
prosseguindo adiante meu relato.
Entretanto vimos também a numerosas pessoas que subiam pelas ladeiras da montanhas até
chegar ao cume, onde eram acolhidas pelos que as aguardavam com manifestações de júbilo e
grandes aplausos. Ao mesmo tempo, ouvimos uma música verdadeiramente divina: Um conjunto de
vozes dulcíssimas que modulavam suavíssimos hinos. Isto nos animava mais e mais a continuar a
subida. Enquanto prosseguíamos adiante, eu pensava e dizia a meus meninos:
– Mas nós que queremos chegar ao Paraíso, já estamos mortos? Sempre tenho ouvido que
antes é necessário ser julgado. E nós fomos julgados?
87
– Não – me responderam -. Nós estamos todavia vivos; Ainda não fomos julgados.
Erraríamos ao fazer tais comentários.
– Seja como for – voltei a dizer -; vivos ou mortos prossigamos adiante para poder ver o que
tem lá encima; algo terá. E aceleramos a marcha.
Depois de caminhar chegamos ao cume da montanha. Os que estavam lá em cima, se
apressavam a festejar nossa chegada, quando olhei para trás para comprovar se todos os jovens
estavam comigo; mas com grande dor pude notar que estava quase sozinho. De todos meus
companheiros, somente três ou quatro estava comigo.
– E os demais ? – perguntei, bastante contrariado.
– Oh! – me disseram -; tem ficado pelo caminho, alguns em uma parte, alguns em outra; mas
talvez cheguem aqui.
Olhei para baixo e os vi espalhados pela montanha entretidos, uns em buscar caracóis entre
as pedras; outros em fazer ramos de flores silvestres; estes, em arrancar frutas verdes; aqueles em
perseguir mariposas; alguns em perseguir grilos, não faltando alguns que estavam sentados a
descansar debaixo da sombra de uma planta.
Então comecei a gritar com toda a minha força, no entanto me desconjuntava os braços por
atrair a atenção daqueles meninos, chamando a cada um pelo nome, incitando-lhes para que
subissem depressa, pois não era aquele o momento oportuno para entreter-se.
Alguns atenderam minhas indicações, chegando a oito os que juntaram a mim, mas os
demais não fizeram casos e continuaram ocupados nas distrações, sem preocupar-se em escalar o
cume. Eu não queria de nenhuma maneira chegar no paraíso com tão poucos companheiros; por
isso, resolvi ir em busca dos demais, e disse aos que me acompanhavam;
– Vou lá em baixo em busca daqueles; ficai vocês aqui.
Dito e feito. Os que encontrava na baixado lhes ordenava ir para cima. A uns lhes fazia algumas
advertências; a outros um amável conselho; a este lhe dava uma repreensão; aquele, uma palmada; a
outro um empurrão.
– Segue para cima, por caridade – lhes dizia afetuosamente; - não os detenhais com essas
minúcias.
Desta maneira ao me encontrar de novo no pico da montanha já tinha avisado a quase todos
e me encontrava nas beiras do monte que tínhamos subido com tanto trabalho. Vi alguns que,
cansados pela fadiga da subida e desanimados pelo que faltava ainda escalar, tinha resolvido voltar
para baixo. Por minha parte, determinei empreender de novo a subida para reunir-me com os jovens
que tinham ficado no cume, mas tropecei numa pedra e despertei.”
Já vos contei este sonho. Desejo de vós somente duas coisas. Volto a repetir que não conteis
fora de casa, a nenhuma pessoa estranha, nada do que tenho vos dito; pois se algum estranho
ouvisse estas coisas, tomariam como causa de riso. Conto a vocês somente para passar um momento
agradável. Comente o sonho entre vós quando quiseres, más desejo que não lhe dêem muita
importância. Ademais, desejo outra coisa, que nenhum vem a perguntar-me se estava ou não no
sonho, quem era ou quem não era; que fazia ou que desejava fazer, se chegava entre os poucos ou
entre os muitos, que lugar ocupava, etc.; porque seria repetir a música deste inverno. O contestar a
tantas perguntas poderia ser para alguns mais prejudicial que útil e eu não quero inquietar as
consciências.
Somente os quero fazer presente que, o sonho não foi um sonho, mas uma realidade, e em
verdade teria que morrer muitos, entre tantos que estão aqui reunidos; se não tivéssemos dirigidos
ao Paraíso, somente um número insignificante teria chegado à meta. De setecentos ou talvez
oitocentos, cinco ou quatro. Mas não os alarmeis, entendamos. Explicarei esta exorbitante
desproporção: quero dizer que somente três ou quatros chegaria diretamente ao paraíso, sem passar
algum tempo pelas chamas do purgatório. Alguns passariam de expiação alguns minutos neste
lugar; outros, talvez um dia; outros , vários dias ou várias semanas ; em resumo, quase todos
deveriam passar um período ali.
Queres saber o que tens que fazer para evitar o purgatório? Procura ganhar todas as
88
indulgências que podes. Se praticares as devoções e as indulgências os requisitos assinalados se
estende; se ganhares indulgências plenárias, ireis diretamente para o céu.
OBSERVAÇÕES:
Teve nos dias 3, 4 e 5 de abril de 1861; contou em 7, 8 e 9 de abril. Em páginas posteriores
da MB, oferece esta interpretação: A colina do princípio é o Oratório, onde prevalece a vegetação
jovem, onde não existe árvores velhas, em todas as estações colhem flores e frutos. O que sobe a
colina é o homem ditoso que diz o salmo 83: és forte e estás sempre disposto a subir. Os lagos são
como as histórias da Igreja: os membros desconjuntados pertencem aos perseguidores, hereges,
cismáticos. O passo estreito entre duas rochas é o símbolo da cruz de Cristo, assegurando o passo a
outra parte, sustentado pela fé. O perigo de cair no precipício, os obstáculos para chegar a uma parte
do atalho, são as vocações religiosas. Os que estavam na praça são os jovens chamados a servir a
Deus na Congregação Salesiana. Ao subir a montanha uns se distraíam e outros voltavam atrás:
representa o esfriamento da vocação. Os que sofria na montanha são os que padecem no purgatório.
A CONFISSÃO E OS LAÇOS DO DEMÔNIO (1869)
(MB 9, 593-596 = MBe 9, 534-536)
Encontrava-me perto da porta de minha residência e, aos sair, olhei ao meu redor e me vi na
Igreja, em meio de uma multidão de jovens que o templo parecia completamente cheio. Estavam ali
os alunos do Oratório de Turim, os de Lanzo, os de Mirabello e outros muitos aos quais não
conhecia. Não rezavam, sorte que pareciam que estavam se preparando para confessar. Uma
quantidade imensa deles assediava meu confessionário, esperando-me, abaixo do púlpito. Eu,
depois de haver observado um pouco, me pus a calcular como conseguiria confessar a tantos
meninos. Porém depois receei estar dormindo, sonhando, e, para certificar-me de que não estava,
comecei a bater palmas e senti o ruído; e, para assegurar-me ainda mais, estiquei o braço e toquei a
parede, que estava detrás de meu pequeno confessionário. Seguro, imediatamente de que estava
desperto, disse-me: - Já que estou aqui, confessemos. Eu comecei a confessar.
Porém tudo pronto, ao ver tantos jovens, me levantei para ver se havia outros confessores
que me ajudasse e, não encontrando nenhum., me dirigi a sacristia em busca de algum sacerdote que
quisesse escutar confissões. E eis aqui que vi por uma parte e por outra alguns jovens que levavam
ao pescoço uma corda que lhes apertava a garganta.
- Por que tens essa corda ao pescoço? Tira-as – lhes disse.
Porém, não me respondiam e ficavam olhando-me com persistência.
- Vamos, repeti a algum; tira-te essa corda.
O jovem, ao qual eu havia dado esta ordem, ouvindo isto, todavia me disse: não a posso
tirar, há um detrás que a sujeita. Venha ver.
Voltei então a olhar com maior atenção para aquela multidão de meninos e me pareceu ver
sobressair por detrás das costas de muitos deles dois larguíssimos chifres. Me aproximei um pouco
mais para ver melhor e, dando a volta por detrás do que o sujeitava, mais perto, vi um horrível
animal, de focinho monstruoso, forma de gato e largos chifres, que apertavam aquele laço. A besta
baixava o focinho, o escondia como para que não lhe vissem. Eu me dirigi aquele jovem vítima do
monstro e a alguns outros, perguntando-lhes seus nomes, porém não quiseram me responder; ao
pergunta-lhes aquele feroz animal se escondia ainda mais. Então disse a um jovem:
- Olha, vai a sacristia e diz ao Pe. Merlone que te dê água benta.
O menino voltou pronto com que eu havia pedido, entretanto eu havia descoberto que cada
um dos jovens tinha nas suas costas um servidor tão pouco agradecido como o primeiro e que este
também se escondia.
Eu temia estar ainda dormindo. Tomei então a palavra e perguntei a um daqueles gatos:
- Diz-me, quem és?
89
O animal, que não parava de olhar-me, alargou o focinho, sacou a língua e depois se pôs a
rinchar os dentes como em atitude de arremessar-se sobre mim.
- Diz-me imediatamente que é o que fazes aqui, besta horrível !
Podes enfurecer-te tudo o que quiseres, que não te temo. Vê? Com esta água vou te dar um
bom banho.
O monstro sempre escondido me olhava, depois começou a fazer contorções com o corpo de
tal forma, que as patas de trás chegavam a tocar os ombros por diante. E de novo queria arremessarse sobre mim. Ao olhá-lo demoradamente, vi que tinha na mão vários laços.
- Vamos! Diz-me: que fazes aqui?
E ao dizer isto, levantei o vidro . Ele deu umas contorções e queria fugir.
- Não te escaparás – continuei dizendo - ; te ordeno que permaneça aqui.
Lançou uma série de rosnado e me disse:
- Olha!
E me mostrou os laços.
- Diz-me que são estes três laços – respondi - : que significam?
Não o sabes? Desde aqui – me disse – com estes três laços, obrigo aos jovens que se
confessem mal: desta maneira levo comigo à perdição à décima parte do gênero humano.
- Como? De que maneira?
- Oh! não te direi, porque tu o descobrirás.
- Vamos! Quero saber que significam estes três laços. Fala! Do contrário, jogarei em cima de te
água benta.
- Por favor, envia-me ao inferno mas não me jogue essa água.
- em nome de Jesus Cristo, pois.
O monstro, contorcendo-se espantosamente, respondeu:
- O primeiro modo com que aperto este laço é fazendo calar os jovens os pecados na confissão.
- E o segundo?
- O segundo, encimando-se que se confessem sem arrependimento.
- E o terceiro?
- O terceiro não vou te dizer.
- Como? Não vai me dizer? Então te acabarei com água benta.
- Não; não falarei; E começou a gritar desaforadamente: É que não te basta? Ainda lhe digo
demasiado!
E tornou a enfurecer-se.
- Quero que me digas para comunicar os diretores.
E, repetindo a ameaça, levantei o braço. Então começou a lançar lamas pelos seus olhos,
depois umas gotas de sangue e disse:
- O terceiro é não fazer propósito firme e não seguir os conselhos do confessor.
- Besta horrível! – gritei pela Segunda vez.
E no entanto queria perguntar-lhe outras coisas e intimar-lhe a descobrir a maneira de
remediar um mal tão grande e fazer vão suas artimanhas, todos os outros horríveis gatos, que basta
então haviam procurado passar despercebidos, começaram a produzir um surdo murmúrio, depois
prorromperam em lamentos e gritos contra o que havia falado, provocando uma revolta geral.
Eu, ao contemplar aquela revolta e convencido de que não tiraria vantagem alguma daqueles
animais, levantei o vidro e arremessando a água benta sobre o gato que havia falado, lhe disse:
- Agora, vai-te!
E desapareceu.
Depois joguei água benta por toda as partes. Então, fazendo um grandíssimo estrondo, uns
por uma parte , outros por outra. E ao produzir aquele ruído, me despertei e me encontrei na minha
cama.
Oh!, queridos jovens quantos dos que eu jamais havia suspeitado, que tinham aqueles laços
e o gato nos pescoços. Ainda sabeis que simbolizam esses três laços. O primeiro, que sujeita aos
90
jovens pôr o laço no pescoço, simboliza em calar pecados na confissão. O laço lhes obriga a calar a
boca para que não se confessem de tudo, o bem para que digam de certos pecados que cometeram
quatro vezes que somente falam só três. O que tal faz, falta contra a sinceridade da mesma maneira
que o que cala pecados. O segundo laço é a falta de dor; e o terceiro a falta de propósito. Portanto,
se queremos romper estes laços e arrebatá-los das mão do demônio, confessemos todos nossos
pecados e procuremos sentir uma verdadeira dor deles e façamos um firme propósito de obedecer o
confessor.
Aquele monstro, pouco antes de montar em cólera me disse também:
- Observa o fruto que os jovens tiram das confissões. O fruto principal dela deve ser a emenda; se
queres conhecer se eu tenho os jovens sujeitos com os laços, observa se se impendam ou não.
Devo analisar que quis também que o demônio me dissera porque se colocava detrás, as
costas dos jovens, e me respondeu:
- Para que não me visse e podê-los arrastar mais facilmente a meu reino.
Pude comprovar que eram muitíssimos os que teriam as costas aqueles monstros, mais dos
que eu haveria suspeitado.
Dê a este sonho o alcance que queiras: o certo é que ele querendo observar e comprovar se
era certo quanto ele sonhado, e ele tirado como conseqüência que nos oferece uma verdadeira
realidade. Aproveitamos, pois, a ocasião que nos oferece de ganhar a indulgência plenária, fazendo
uma boa confissão e uma santa comunhão. Façamos o possível por ver-nos livres destes laços do
demônio. O Santo Padre concede indulgência plenária a todos os que, o dia do qüinquagésimo
aniversário de sua primeira missa, o próximo Domingo, dia 11de Abril, confessados e comungados,
roguem em intenção da Santa Igreja. No sábado terá uma audiência privada com o Santo Padre o
cavaleiro Oreglia, o qual lhe oferecerá o Álbum com a assinatura de todos os alunos do Oratório e
das demais casas.
Durante tanto, olha-se, tempo atrás, haveis comprido as condições necessárias para fazer
uma boa confissão: eu os recomendarei a todos o domingo na santa Missa.
OBSERVAÇÕES:
Contado a 4 de Abril. O álbum a que se refere Dom Bosco era um caderno elegante de
grande formato, com 48 páginas. Na página de rosto tinha estas palavras: Onze de Abril de 1869:
nas outras páginas, uma inscrição latina, dividida, e uma dedicatória larga em Italiano. Seguiam as
assinaturas de 32 sacerdotes, 73 clérigos e 3.430 alunos.
A SERPENTE E A AVE-MARIA (1862)
(MB 7, 238-239 = MBe 7, 208-209)
Primeira parte
" Quero contar-vos um sonho que tive há algumas noites. (Talvez se trate da precedente à
festividade da Assunção de Maria Santíssima).
Sonhei que me encontrava em companhia de todos os jovens em Castelnuovo de Asti, em casa de
meu irmão. Enquanto todos faziam recreio, veio até mim um desconhecido e me convidou a
acompanhá-lo. Segui-o e me conduziu a um prado próximo ao pátio e ali me sinalou entre o capim
uma enorme serpente de sete a oito metros de longitude e de uma grossura extraordinária.
Horrorizado a contemplá-la, quis fugir:
Não, não - me disse meu acompanhante -; não fuja; venha comigo e veja.
E como queres - respondi - que eu me atreva a aproximar-me a esse animal?
Não tenha medo, não lhe fará nenhum mal; venha comigo.
Ah! - exclamei -; não sou tão louco como para expor-me a tal perigo.
Então - continuou meu acompanhante - aguarde aqui.
E em seguida foi em busca de uma corda e com ela na mão retornou junto a mim e me
91
disse:
- Tome esta corda por uma ponta e segure-a bem; eu agarrarei a outra ponta e me colocarei
na parte oposta e assim a manteremos suspendida sobre a serpente.
- E depois?
- Depois a deixaremos cair sobre sua espinha dorsal.
Ah! Não, por favor. Ai de nós se o fizermos! A serpente saltará enfurecida e nos
despedaçará.
- Não, não; deixe-me a mim - acrescentou o desconhecido -, eu sei o que me convém.
- Não, de nenhuma maneira; não quero fazer uma experiência que me pode custar a vida.
E já me dispunha a fugir. Porém ele insistiu de novo, assegurando-me que não havia nada
que temer; que a serpente não me faria o menor dano. E tanto me disse que fiquei onde estava,
disposto a fazer o que me dizia.
Ele, entretanto, passou ao outro lado do monstro, levantou a corda e com ela deu uma chicotada
sobre o lombo do animal. A serpente deu um salto girando a cabeça até atrás para morder o objeto
que a havia ferido, porém em lugar de cravar os dentes na corda, ficou enlaçada nela como por um
nó roliço. Então o desconhecido me gritou:
- Segure bem a corda, segure-a bem, que não se lhe escape.
E correu a uma pereira que havia ali perto e amarrou ao seu tronco a outra ponta que estava
em sua mão; depois correu até mim, tomou a outra ponta e foi amarrá-la na grade de uma janela da
casa.
Entretanto a serpente agitava-se, movia furiosamente seu corpo e dava desta maneira golpes
com a cabeça e corpo no chão, que suas carnes se rompiam saltando a pedaços a grande distância.
Assim continuou enquanto tinha vida; e, uma vez que estava morto não ficou dela mais que o
esqueleto descarnado.
Então aquele mesmo homem desatou a corda da árvore e da janela, a recolheu, formou com ela um
rolo e me disse:
- Preste atenção!
Meteu a corda numa caixa, fechou-a, e depois de uns momentos, a abriu. Os jovens haviam
chegado ao meu redor. Olhamos o interior da caixa e ficamos maravilhados. A corda estava
disposta de tal maneira que formava as palavras: Ave Maria!
- Pois como é possível? - disse - Tu meteste a corda na caixa à sorte de Deus e agora
aparece dessa maneira.
- Olhe - disse ele -; a serpente representa o demônio e a corda a Ave Maria, ou melhor, o
rosário, que é uma série de Ave Marias com o qual e com a s quais se pode derrubar, vencer destruir
a todos os demônios do inferno.
- Até aqui - concluiu Dom Bosco - chega a primeira parte do sonho. Há outra segunda parte
mais interessante para todos. Porém já é tarde e por isso a contarei amanhã pela noite."
Segunda parte
"Aos 21 de agosto pela noite, rezadas as orações da comunidade, estávamos todos
impacientes par ouvir a segunda parte do sonho que Dom Bosco havia anunciado proclamando-a de
grande importância e proveito para todos; porém nossos desejos não foram satisfeitos. Dom Bosco
subiu, como de costume, a sua tribuna e disse:
- Outra noite os anunciei que hoje os ia contar a Segunda parte do sonho, mas não sei se
devo manter minha palavra.
Em seguida, se ouviu por toda parte em murmúrio que indicava a contrariedade e desgosto geral.
Dom Bosco, depois de deixar que serenassem os ânimos, prosseguiu:
- Que quereis? Refleti-o ontem a noite, o tenho refletido hoje e me tenho convencido de que
não é conveniente contar a Segunda parte do sonho, pois contém coisas que não gostaria que se
soubessem fora de casa. Dêem-se por satisfeitos, pois, com tirar algum proveito do que vos disse ao
narrar a primeira parte.
92
Ao dia seguinte, 22 de agosto, o rogamos insistentemente que, se não quisesse contá-lo em
público, ao menos nos contasse em sigilo a segunda parte do sonho. resistia-se a condescender com
nossos rogos, mas, depois de reiteradas súplicas, aceitou e nos assegurou que pela noite continuaria
o relato. Assim o fez. Rezadas as orações, continuou:
- Dadas vossas contínuas petições, narrarei a Segunda parte do sonho. Sim não todo, ao
menos os direi o que se referir a vocês. Porém antes é necessário que os ponha uma condição, a
saber, que nada escreva nem diga fora de casa o que vou contar. Comentando-o entre vós, tomandoo por brincadeira se quiserem, fazei o que vos pareçam, porém só entre vós.
Enquanto falávamos aquele personagem e eu, sobre o significado da corda e a serpente, me
voltei até para trás e vi alguns jovens que recolhiam pedaços de carne da serpente e os comiam.
Então gritei a eles imediatamente:
- Mas que é o que fazeis? Estais loucos? Não sabeis que essa carne é venenosa e que os
fará muito mal?
- Não, respondiam os meninos; está muito boa.
Porém, depois de havê-la comido, caíam ao chão, se inchavam e se tornavam duros como uma
pedra.
Eu não sabia o que fazer, porque apesar daquele espetáculo cada vez era maior o número dos
que comiam daquelas carnes. Eu gritava a um a outro; dava bofetadas a este, um soco àquele,
tentando impedir que comessem; porém era inútil. Aqui caía um, enquanto começava outro a
comer. Então chamei os clérigos em meu auxílio e lhes disse que se misturassem entre os jovens e
se industriassem de maneira que nenhum comesse daquela carne. Minha ordem não teve o efeito
desejado, porém que, porém que alguns dos mesmos clérigos se puseram também a comer carne da
serpente e caíram ao solo iguais aos demais. Eu estava fora de mim, ao ver a meu redor o tão grande
número de meninos caídos por terra no mais miserável dos estados.
Voltei-me então ao desconhecido e lhe disse:
- Mas que quer dizer isso? Estes jovens sabem que essa lhes ocasiona a morte, e contudo
a comem. Qual é a causa?
Ele me replicou:
- Certamente que há.
- E qual seria?
- Não há outro mais que a bigorna e o martelo.
- A bigorna? O martelo? E como tenho que usá-los?
- Tem que submeter os jovens à ação de ambos instrumentos.
- Como? Acaso devo colocá-los sobre a bigorna e logo golpeá-los com o martelo?
Então aquele, explicando seu pensamento disse:
Olha o martelo significa as confissões; a bigorna, as comunhões; tem que usar estes
dois meios.
Pus mão a obra e comprovei que os indicados eram uns remédios eficaz, mas não para todos.
Muitos recuperavam a vida e curavam, porém o remédio era inútil para alguns. Estes são os que não
se confessam bem.
Quando os jovens se retiraram aos dormitórios - continua Provera -, perguntei a Dom Bosco
porque sua ordem aos clérigos, para que impedissem aos meninos comerem a carne da serpente, não
havia conseguido o efeito desejado. E me respondeu:
- Nem todos obedeceram; mas que, pelo contrário, vi alguns dos clérigos, como já disse, que
também comiam daquela carne.
O AUXILIO DO CÉU (1876)
(MB 12,187 - 188 = MB 12,166)
Aquele mês de abril, contou D. Bosco, dois sonhos donde publica secretario, que, segundo
93
costume os contou pôr escrito. O véu que encobre seu significado íntimo é tão transparente que
cremos é este o local que lhes corresponde.
Na noite de 7 de abril, com Joaquim Berto ouviu gritar a D. Bosco, enquanto dormia:
- Antônio! Antônio!
Na manhã seguinte o perguntou se havia dormido e lhe falou do grito ouvido. Então o
servo de Deus lhe contou o que transcreveu do secretario.
"Pareceu-me estar no último degrau de uma escada, em um lugar estreito, quando se parou
diante de mim uma hiena, que não me deixava dar um passo. Não sabendo como livrar-me dela,
pedi auxílio a meu irmão Antônio, que fazia j[a muitos anos que havia falecido. Finalmente,
avançou a hiena em minha direção, com a boca aberta e eu, não vendo outro meio de salvação, lhe
joguei as mãos ao pescoço. Me senti angustiado diante de tamanho perigo, e mais ao comprovar que
nada acudia em meu socorro. Porém eis nesta ocasião que vi na direção descendo dos montes um
pastor, que me disse:
O auxílio tem que vir do céu; mas, para consegui-los, tem que descer mais baixo.
Quanto mais baixo se está, de tanta maior altura virá o auxílio do céu. Este animal apenas causa
danos ao que lhe faz caso e a quem busca o perigo.
Em seguida me despertei."
UMA CHUVA MISTERIOSA ( 1880)
(MB 14, 538 = MBe 14, 460-461)
Parecia com sua assembléia na residência vizinha a de seus familiares, estava na residência
o Bispo, fazendo uma conferência. Enquanto falava de nossas coisas, se deu conta de que o céu se
nublava, depois se desencadeou uma tempestade com raios, relâmpagos e trovões que infundiam
espanto. Um trovão mais forte que os precedentes fazendo tremer a casa. Dom João Bonetti se
levantou e foi a um prédio vizinho e, depois ele uns instantes começou gritar.
- Uma chuva de espinhos.
Em efeito, caiam espinhos em tal quantidade como as gotas de água em uma chuva
torrencial.
Depois se ouviu um segundo trovão, fortíssimo e como o primeiro, e parecia que o
temporal acalmava em tanto. Então Dom João Bonetti, desde o prédio, voltou a gritar.
- Oh, que formosura! Uma chuva de botões de flores que cobriam o solo com uma grossa
capa.
Ao estourar um terceiro trovão, se deixaram ver algumas partes do céu sereno e apontava a
luz solar.
E Dom João Bonetti voltou a exclamar:
- Uma chuva de flores!
Todo espaço parecia pleno de flores de diversas cores, formas e qualidades que em um
abrir e fechar de olhos cobriam o solo e o telhados das casas, oferecendo um panorama de
variadíssimas matrizes.
Um quarto trovão veio a ressoar no espaço. O céu estava completamente sereno e bulhava
e um sol esplendente. E Dom João bonetti gritou.
- Venham, venham ver, chover rosas.
Em efeito, desde o alto, desciam verdadeiras nuvens de rosas perfumadíssimas.
- Oh , pôr fim! - Exclamou então Dom Bonetti.
A SENHORA E OS CONFEITOS (1877)
(MB 13, 302-303 = MBe 13, 265-266)
94
" Eis que sonho a dizer-lhes umas palavras substituindo ao pregador habitual dos
exercícios. Começarei comunicando-os que se tem recebido faz pouco boas notícias da América,
que ouvireis ler no refeitório ou em outro lugar. Agora eu, dar-vos-ei uma prática, os vou a contar
uma historieta. A podeis chamar com queirais: fábula, sonho , história; podeis dá-la muita ou pouca
importância. Julgai-a como queirais. Mas tenho a segurança de que o que os vou contar os ensinará
algo.
Pareceu-me transitar pelas alamedas de Porta Susa e, diante do quartel dos soldados, vi a
uma mulher que me pareceu uma vendedora de castanhas assadas, pois sobre o fogo fazia girar uma
espécie de cilindro metálico dentro do qual me parecia que estivesse assando as castanhas.
Admirado ao ver aquele novo sistema de assar castanhas , me aproximei e observei como girava o
cilindro. Perguntei à mulher o que estava preparando com aquele estranho artefato. Ela me disse:
Estou fazendo doces para os salesianos.
Como! - lhe disse - Doces para os salesianos?
- Sim - me respondeu - E dizendo isto, abriu o cilindro e me ensinou. Então pude ver
dentro do cilindro doces de diversas cores, divididos e separados uns dos outros pôr
uma tela uns eram brancos, outros roxos, outros negros. Sobre eles vi uma espécie de
açúcar pastoso ou almibar semelhante a gotas de chuva ou de chuvisco recentemente
caídos; dita chuva se via salpicada em alguns lugares de manchas roxas.
Então perguntei à mulher:
- Se podem comer estes doces?
- Sim - me disse -; e me ofereceu alguns.
E eu perguntei:
- Como é que uns são roxos, outros negros e outros brancos?
E a mulher me respondeu:
- Os brancos custam pouco - trabalho, porém se podem manchar facilmente; os roxos
custam sangre. Os negros custam a própria vida. O que come destes não conhece as
fadiga, não conhece a morte.
- E o almíbar que significa?
- É o símbolo da doçura do Santo que haveis tomado como modelo. Essa espécie de
chuvisco quer dizer que tem que suar muitíssimo para conservar esta doçura, e que,
talvez, seja necessário derramar o próprio sangue para não perdê-la.
Geralmente maravilhado quis continua fazendo perguntas, porém ela não me respondeu
mais e, " sem dizer esta boca é minha" , continuei o meu caminho preocupado pelas coisa que havia
visto. Mas eis que aqui, apenas dei uns passos, me encontrei com Dom Mateo Picco e com outros
sacerdotes nossos, aturdidos, amedrontados e com os cabelos eriçados na cabeça.
- Que tem sucedido? Lhes perguntei.
E disse Dom Mateu Picco:
Se o senhor soubesse !... Se o senhor soubesse !...
E eu insistia perguntando que novidade havia. E ele repetia:
- Se o senhor soubesse !... Tem visto a mulher dos doces?
- Sim ! E que é ?
- Pois bem - continuou cheio de espanto -, me tem recomendado que lhe diga que aja o
senhor de maneira que seus filho trabalhem, que trabalhem. E acrescentou:
encontrarão muitos espinhos, porém também muitas rosas. Que lhes diga que a vida é
breve comparada com Deus, pois, comparada com sua eternidade, tudo é com um
instante, como nada.
- Porém...; a caso não se trabalha? - disse eu.
E ele complementou:
- Se trabalha, porém me disse que se trabalhe.
E dito isto já não o vi a ele nem aos outros e, mais admirado que antes, continuei meu
caminho até o Oratório e, ao chegar a ele, me despertei.
95
Esta é a historieta que os queria contar. Chamada apólogo, parábola, fantasia, isto pouco
importará; o que desejaria é que guardasse bem gravado na memória o que disse aquela mulher a
Dom Mateo Picco e aos demais: ou seja, que praticássemos a mansidão de nosso São Francisco de
Sales e que trabalhássemos muito e sempre.
VOCAÇÃO DE UMA JOVEM (1868)
(MB 9,331 =MB 9,309)
Declara Dom Joaquim Berto:
"Era o ano de 1868, uma manhã se me apresentaram duas senhoras desconhecidas para falar com D.
Bosco. Entraram em sua residência e, apenas as vi, sem deixá-las falar, disse a uma delas sorrindo:
- Torna-te freira e esteja tranqüila, porque esta é a vontade do Senhor.
Como depois, ao vê-las sair com as lágrimas nos olhos, perguntei a razão a D. Bosco e ele
me contestou confidencialmente:
- Olha, essas senhoras são irmãs, uma delas queria tornar religiosa e a outra se opunha. Se puseram
de acordo para vir a consultar a D. Bosco.
Eu acrescentei:
- E porque choravam?
- Porque, sem deixá-las falar, lhes adivinhei o motivo de sua visita e se comoveram.
- Mas, como você deu um jeito para saber?
- Que curioso és! Olha, esta noite sonhei que vinham estas duas pessoas a pedir meu parecer; e
agora, apenas vi, as reconheci e por isso não faço mais que repetir o conselho que lhes diz
sonhando."
Devemos sempre confiar no Senhor, pois ele sempre tem um caminho para nós. Muitas
vezes poderá aparecer as dúvidas, porém, entregando-nos nas mãos Dele, Ele saberá o que fazer.
OS DOIS PINHEIROS (1861)
(MB 6,954-955 = MBe 6,720-722)
Pareceu-me encontrar-me em Castelnuovo, em meio de uns prados, em companhia de
alguns jovens, tratando de encontrar algo com que saudasse a Pio IX na sua festa onomástica,
quando eis que aqui vimos nascer pelo ar da parte de Buttigliera um grande pinheiro. Era tão grande
como os muros das casas de Turim juntas e de uma altura extraordinária.
O pinheiro aproximava-se de nós em posição horizontal, depois se endereçou, adaptando a
vertical, oscilou e pareceu que ia cair encima dos que o contemplavam. Assustados, quisemos fugir
e nos benzia-mos, quando eis que aqui soprou um vento impetuoso que transformou aquela árvore
em um temporal de relâmpagos, trovões, raios e granizo.
Pouco depois vimos outro pinheiro menos grosso que o anterior, avançando na mesma
direção, e que se colocava encima de nós; depois, sempre em posição horizontal, começou a
abaixar-se. Nós escapamos temendo ser esmagados, entretanto nos benzíamos mais e mais vezes. O
pinheiro abaixou-se quase a superfície do solo, permanecendo suspenso no ar; somente suas ramas
tocavam a terra. Entretanto, estávamos observando-o, eis que soprou uma ventania que o
transformou em chuva. Não compreendendo o significado daquele fenômeno, nos perguntávamos
uns aos outros:
- Que quer dizer isto?
E eis aqui um, a quem não conhecia, disse:
- Haec est pluvia quam dabit Deus tempore suo. (Esta é a chuva que dará Deus a seu
tempo.)
depois, outro desconhecido acrescentou:
- Hic est pinus ad ornandum locum habitationis meae. (Este é o pinheiro para enfeitar o
96
lugar de minha morada.)
E citou-me o lugar da Sagrada Escritura no que se lê este versículo, porém não o recordo.
Eu creio que o primeiro pinheiro era símbolo das perseguições, das tempestades que caem
sobre aqueles que permanecem fiéis a Igreja.
O segundo representa a mesma Igreja, que será como chuva fecunda e benéfica para aqueles
que o sejam fiéis.
O servo de Deus não acrescentou mais explicação e nós não vamos discutir se o sonho
admite ou não outro sentido, limitando-nos a fazer uma comparação.
O pinheiro de enorme tamanho e de um diâmetro excepcional, que se levanta erguido em
meio da terra, não se assemelha a árvore que viu Nabucodonosor e que descreve o profeta Daniel,
cuja altura chegava ao céu, tão rico em ramas verdes e frondosas que desde instante parecia uma
floresta? Não é símbolo de um poderio extraordinário, de uma atitude de desafio e de rebelião
contra Deus e de uma ameaça de extermínio dirigida a seus servos? Porém desaparece da terra,
ferido pela ira do Senhor: um vento ardente e impetuoso seca suas ramas, o envolve a tempestade e
é consumido pelo fogo.
O segundo pinheiro, que também era alto e esbelto, porém não assim em tanto grau como o
anterior, representava talvez não tanto a Igreja em geral quanto a uma porção elegida da mesma,
como seria uma congregação religiosa, por exemplo, a Sociedade de São Francisco de Sales. Isto
parece indicar o lugar que serviu de cenário a este espetáculo. A posição horizontal desta árvore, em
contraposição com a vertical do primeiro, é símbolo da humildade, virtude fundamental. O
versículo a que alude Dom Bosco é o 13 do capítulo 60 de Isaías: gloria Libani ad te veniet, abies et
buxux et pinus simul, ad ornandum locum sanctificationis meae; et locum pedum meorum
gloroficabo. (Virá a ti a glória do Líbano, a árvore e o arbusto e o pinheiro juntamente, para enfeitar
meu lugar santo, e glorificarei o lugar de meus pés.)
OBSERVAÇÕES:
Contado no mês de maio de 1861: Rufino disse somente "por aqueles mesmos dias".
Antonio Wardison
CARTA DESDE ROMA (1884)
(MB 17, 107- 114 = MBe 17, 100- 106)
Meus queridos filhos em J.C.:
O mesmo cerca que longe, sempre penso em vós. Um só é meu desejo, que sejais felizes no
tempo e na eternidade. Este pensamento, este desejo me há impulsionado a escrever esta carta.
Sinto, queridos meus, o peso da distancia a que me encontro de vós e o não ouvir e o não ver me
causa uma pena como não podeis imaginar. Por isso, havia desejado escrever estas linhas faz já uma
semana, mas as contínuas ocupações me impediram. com todo, ainda faltam poucos dias para o meu
regresso, quero antecipar minha chegada, ao menos por meio de uma carta, já que não posso fazer
em pessoa. São palavras quem os ama ternamente em Jesus Cristo e tem o dever de falar com a
liberdade de um padre,. E vós me permitireis que assim o faça não é certo? E prestareis atenção e
poreis em prática o que vou a dizer.
Os hei afirmado uma e outra vez que sois u único e contínuo pensamento de minha mente.
Agora bem, uma das noites passadas, eu me havia retirado no meu quarto ,enquanto me disponha a
entregar ao descanso, comecei a rezar as orações que me ensinou minha boa mãe.
Naquele momento, não sei bem a vítima do sonho ou fora de mi por alguma
distração , me pareceu que me apresentava diante de mim os antigos alunos do
Oratório.
um deles me aproximou e, saudando-me afetuosamente, me disse:
– Dom Bosco! Me conhece?
– sim te conheço – o respondi.
– De ti e dos demais. Tu és Valfré e estava no Oratório antes de 1870.
97
– Diga – continuou – queres ver os jovens que estavam no Oratório no meu tempo?
– Sim, faz-me ver – o contestei – isso me proporcionará uma grane alegria.
Então Valfré me mostrou todos os jovenzinhos com o mesmo semblante e com a mesma
idade e estatura daquele tempo. Me parecia estar no antigo Oratório na hora do recreio. Era cena
cheio de vida, de movimento e de alegria. quem corria, quem saltava, quem fazia saltar os demais;
quem jogava a rã, quem a bandeira, quem a pelote. no sítio havia reunido um grupo de meninos
pendentes do lábios de um sacerdote que o contava uma historieta. em outro lado, havia um clérigo
com outro grupo jogando ao “ burro voa” ou os “ofícios”. Se cantava , se ria por toda parte, havia
sacerdotes e clérigos e ao redor deles jovenzinhos que alvorotavam alegremente. Entre jovens e
superiores reinava maior cordialidade e confiança. Eu estava encantado ao contemplar aquele
espetáculo e Valfré me disse:
– Veja, a familiaridade gera afeto e o afeto, confiança. Isto é o que abri o coração e os jovens
manifesta sem temor aos mestres, aos assistentes, e aos superiores. São sinceros na confissão e fora
dela e se prestam com facilidade a todos a que mandar aqueles que sabe os ama.
No entanto se aproximou a mim outro antigo aluno, que tinha a barba completamente branca
e me disse:
– Dom Bosco quer ver agora os jovens que estão atualmente no Oratório?
Este era José Buzzetti.
– Sim – respondi – pois faz um mês que não vejo. E me mostrou: vi o Oratório e a todos vós
que estais em recreio. Mas não ouvia já o grito de alegria e canções, não contemplava aquele
movimento, aquela vida que vi na primeira cena.
Nos ademais e no rosto de alguns jovens se notava uma tristeza, uma desanimo, um
desgosto, uma desconfiança que causava uma grande pena em meu coração. Vi, es certo, a meninos
que corriam, que jogavam, que se movia com alegre despreocupação; mas outros, e eram bastantes,
estavam só, apoiados nas colunas, presa no pensamento desapontadores; outros estavam pelas
escadas e os corredores e nos portes, que dão parede ao jardim para não tomar parte do recrio
comum; outro passeava lentamente formando grupos falando em voz baixa entre eles lançando a
uma e outra parte olhadas suspeitosas e mal intencionadas; alguns sorriam mas com m sorriso
acompanhada de gestos que faziam não somente suspeitar, senão crer que S. Luís havia sentido
envergonhado se houvesse encontrado em companhia dos tais; inclusive entre os que jogavam havia
alguns tão aborrecidos. que davam a entender as claras que não encontravam gosto algum no
recreio.
– Há visto a seus jovens? – me disse aquele antigo aluno.
– Sim que os vejo – os contestei suspirando.
– Que diferentes são do que éramos nós! – exclamou.
– muito! Que desgraça neste recreio!
– E de aqui provem a fragilidade de muitos para aproximar os santos sacramentos, o
descuido das práticas de piedade na Igreja e nos outros lugares; o estar de mal humor no lugar onde
a Divina Providência os colma de todo bem corporal, espiritual e intelectual. Daqui o não
corresponder de muitos a vocação; daqui a ingratidão para com os superiores; de aqui os segredos e
as murmurações, com todas as demais depraváveis conseqüências.
– Compreendo, entendo – respondi eu – mas, como animar a estes jovens para que voltem a
antiga vivacidade, alegria e expansão?
– Com a caridade.
– Com a caridade? mas, os meus jovens não são bastantes amados? Tu sabes quanto o amo.
Tu sabes quanto hei sofrido por eles e quanto hei tolerado no transcurso de quarenta anos e quanto
tolero e sofro na atualidade. Quanto trabalho, quantas humilhações, quantos obstáculos, quantas
persecuções para proporcionar-lhes o pão, albergue, mestres e, especialmente, para buscar a
salvação de sua almas. Hei feito quanto o podido e sabido por eles que são o afeto de toda a minha
vida.
– Não me refiro a você.
98
– De quem falas pois? de que fazem de meus vezes? Dos diretores, os prefeitos, os mestres,
os assistentes? Não vês que são mártires do estudo e do trabalhos? Como consomem os anos de sua
juventude em favor deles, que são como um legado da providência?
– O vejo e o sei, mas isso não basta; falta o melhor.
– Que falta pois?
– Que os jovens não sejam somente amados, senão que se dêem conta de que os ama.
– Mas, não tem olhos na cara? Não tem luz da inteligência? Não vêem em quanto se faz em
seu favor se faz por amor?
– Não, o repito; isso não basta.
– Que requer, pois?
– Que, se amados na coisa que agradam, participando em suas inclinações infantis,
aprendam a ver o amor também naquelas coisas que lhes agradam poucos, como são: a disciplina, o
estudo, a mortificação de si mesmo; e que aprendam a fazer com generosidade e o amor.
– Explica-te melhor.
– Observe melhor os jovens no recreio.
Fiz o que me disse e exclamei:
– Tantos anos como faz que se dedica a educação da juventude e não compreende? Observe
melhor. Donde esta nosso salesiano?
Me fixei e vi que eram muitos poucos os sacerdotes e clérigos que estavam misturados entre
os jovens e muitos menos os que tomavam parte em seus jogos. Os superiores Não eram mais a
alma dos recreios. A maior parte deles passeavam falando entre si, sem preocupar-se dos que
faziam os alunos; outros assistiam, mas sem preocupar dos que faziam nos jovens; outros vigiavam
desde longe sem advertir as faltas que cometiam; algum que outro que corrigia aos infratores, mas
com ameaças e isto raramente. Havia alguns salesianos que desejava introduzir-se em alguns grupo
de jovens, mas vi que os meninos buscavam a maneira de deixar os seus mestres e superiores.
Então me disse meu amigo:
– No primitivo tempo do Oratório, no estava você sempre no meio dos jovens,
especialmente na hora do recreio? Recorda aqueles formosos anos? Era uma grande alegria do
Paraíso, uma época que recordamos sempre com emoção, porque o amor o regulava todo e nós não
tinha segredos para você.
– Certo! então todo era para mim, por falar-me e existia uma verdadeira ansiedade por
escutar meus conselhos e por-lhes em prática. Agora, em troca, as contínuas audiências, meus
multíplices ocupações e a falta de saúde me o impede.
– Bem, bem; mas se você não pode, por que seus salesianos não se convertem em imitadores
seus? Por que não insiste, não exige que tratem os jovens como você tratava?
– Eu o falo e insisto até cansar-me, mas muitos não estão decididos a tomar-se o trabalho de
antigamente.
– E sim, descuidando o menos, perdem o mais, e este mais é o fruto de suas fadigas. Que o
que agradem os jovens e os jovens o amarão o que é de sue gosto é o dos superiores. Desta
maneira, o trabalho será muito suportável. A causa de troca presente do Oratório é que um bom
número de jovens não tem confiança com os superiores. antigamente os corações todos estavam
abertos aos superiores, por o que os jovens amavam e obedeciam prontamente. Mas agora os
superiores são considerados só como tais e não como padres, irmãos a amigos; portanto são mais
temidos que amados. por isso, se quer fazer um só coração e uma só alma, por amor a Jesus, se deve
romper esta barreira fatal de desconfiança que há de ser suplantada pela mais cordial confiança. E
dizer: que a obediência há de guiar ao aluno como a mãe e seus filhinhos; então reinarás no Oratório
a paz e a antiga alegria.
– Como fazer, pois, para romper esta barreira?
– Familiaridade com os jovens, especialmente nos recreios. Sem a familiaridade não se pode
demonstrar o afeto e, sem esta demonstração, não pode haver confiança. O que queira ser amado é
falta que demonstre que ama. Jesus Cristo se fez pequeno com os pequenos e carregou nossas
99
fragilidade. Hei aqui o Mestre da familiaridade! o mestre a qual só se vê na cátedra, é o mestre e
nada mais, mas, se participa do recreio dos meninos, se converte também no irmão.
Se a um se vê no púlpito pregando, se dirá que cumpre com o seu dever, mas, se vê dizendo
no recreio una boa palavra, fará que reconhecer que essa palavra provém de uma pessoa que ama.
Quantas conversões que foram feitos de alguma de sua palavras pronunciadas
improvisadamente ao ouvido de um jovens enquanto se divertia! O que sabes que é amado, ama, e o
que és amado o consegue tudo, especialmente dos jovens. Esta confiança estabelece como uma
corrente elétrica entre jovens e superiores. Os corações se abrem e dão a conhecer suas necessidades
e manifestam seus defeitos. Este amor faz que os superiores possam suportar as fadigas, ao
desgostos, as ingratidões, a falta de disciplina, as negligências dos jovens. Jesus Cristo não quebrou
o talo já rota, nem apagou a mecha humilhante. Hei aqui o vosso modelo. Então não fará quem
trabalhe por vanglória, nem castigue por vingar seu amor próprio ofendido; nem quem se retire do
campo da assistência por receio a uma temida preponderância de outros; nem quem murmures dos
outros para ser amado e estimado dos jovens, com exclusão dos demais de todos os superiores,
enquanto, em troca, não colheita mais que desperdício e hipócritas zombarias; nem quem se deixe
roubar o coração por uma criatura e, para agarrar a esta, descuide a todos os demais jovenzinhos;
nem quem, por amor a própria comodidade, menosprezem o dever da assistência; nem quem, por
falta de respeito humano, se abstenha de admoestar a quem necessite ser admoestado. Se existe este
amor afetivo, não se buscará mais que a glória de Deus e o bem das almas. Quando enfraquece este
amor, é que as coisas não murcham bem. Por se quer substituir a caridade por fragilidade de um
regulamento? Por que os superiores deixam a um lado a observância de aquelas regras de educação
que Dom Bosco os ditou? Por que, ao sistema de prevenir, de vigiar e corrigir amorosamente os
desordens, se quer replantar por aquele outro mais fácil e mais cômodo para os que manda, de
promulgar a lei e fazer cumprir, mediantes os castigos que incendem ódios e trazem desgostos; e, se
descuida em fazer observar, são causa de desprezo para o superior e de desordens gravíssimos?
E isto que sucede necessariamente, sem falta de familiaridade. Sem, portanto, se deseja que,
no Oratório, reine a antiga felicidade, haja que por em vigor o antigo sistema: o superior seja tudo
para todos, sempre disposto a escutar toda a lamentação dos meninos, todo olho para vigiar
paternalmente sua conduta, todo coração para buscar o bem espiritual de seus subalternos e o bem
estar temporal de aqueles a quem a Providencia há confiado a seus cuidados.
Então os corações não permanecerão cerrados e não se ocultarão de certas coisas que
causam a morte das almas. Só em caso de imoralidade, sejam os superiores inflexíveis. Ë melhor
correr o perigo de alojar de casa a um inocente que faz, que permaneça nela um escandaloso. os
assistentes considerem como um estreitíssimo dever de consciência o referir ao superior todo aquele
que pode constituir ofensa a Deus.
– E qual é o meio principal para que triunfem semelhante familiaridade e esse amor e
confiança?
– A observância exata do regulamento da casa.
– E nada mais?
– O melhor prato em uma comida é a boa cara.
Enquanto meu antigo aluno terminava de falar estas palavras, eu continuei contemplando
com verdadeiro desgosto o recreio e, pouco a pouco, me sentia oprimido por um grande cansaço
que ia aumentando. Esta opressão chegou a tal ponto, que não podendo resistir mais, me estremeci e
despertei a logo em seguida.
Me encontrei de pé junto ao meu leito, minhas pernas estavam tão inchadas e doíam tanto
que não podia estar de pé. Era já muito tarde; portanto, fui para a cama decidido a escrever estas
palavras a meus queridos filhos.
Eu desejo não ter este sonhos, porque me produzem um cansaço enorme.
Ao dia seguinte, sentia ainda um grande dor em todos os meus ossos e não via a hora de
poder descansar. Mas Hei aqui que chegada a noite, apenas no leito comecei a sonhar novamente.
tinha antes minha vista o pátio ocupados por meninos que estão atualmente no Oratório e
100
junto ao mesmo antigo aluno.
Comecei a perguntar-lhes:
– O que me hás disto os fareis saber aos meus salesianos, mas, que devo dizer aos jovens do
Oratório?
Me respondeu:
– Que reconheçam os trabalhos que impõe os superiores, os mestres e os assistentes por
amor a eles, pois se não fosse por seu bem não se imporia tantos sacrifícios; que recordem que a
humildade é a fonte toda tranqüilidade; que se faz suportar os defeitos dos demais, pois a perfeição
não se encontra no mundo, senão somente no Paraíso; que deixem de murmurar, pois a murmuração
esfria os corações; e, sobre tudo, que procurem viver na graça de Deus. Quem não vive em paz com
Deus, não pode ter paz consigo mesmo nem com os demais.
– Me está dizendo, pois, há entre meus jovens quem não está em paz com Deus?
– Esta és, entre outras, a primeira causa de mau estar reinante, a que você deve por remédio
e que não é necessário que eu enumere. Em efeito, só desconfia quem tem segredos que ocultar,
quem teme que estes segredos sejam descobertos, pois sabe que, de por-se manifesto, se deveria
deles um grande vergonha e não poucas desgraças. ao mesmo tempo, se o coração não está em paz
com Deus, vive angustiado, inquieto, rebelde a toda a obediência, se irrita por nada, o parece que
todo vai mal e, como ele não ama, creem que os Superiores tão pouco amam.
– Com todo, não vês, queridos meus, a freqüência de confissões e comunhões que há no
Oratório?
– És certo que a freqüência de confissões é grande, mas o que falta em absoluto, muitíssimos
jovens que confessam, é firmeza nos propósitos. Se confessam, mas sempre as mesmas faltas, das
mesmas ocasiões próximas, das mesmas más costumes, das mesmas desobediências, das mesmas
negligências no cumprimento dos deveres. Vão assim adiante durante meses e anos e alguns
chegam até o final dos estudos.
Tais confissões valem pouco ou nada; portanto , não proporcionam a paz e, se um jovem
fosse chamado em tal estado ente o tribunal de Deus, se veria em um aperto.
– E há muitos destes no Oratório?
– E relação com o grande números dos jovens que há em casa, afortunadamente são poucos.
Olha.
E, ao dizer isto, me os mostrava.
E eu observei um a um. Mas nesses poucos vi coisas que me amargaram grandemente o meu
coração. Não quero por escrito, mas quando a este regresso quero comunicá-las a cada um dos
interessados. Agora os direi somente que os tempo de rezar e de tomar firmes resoluções; de
cumprir, não de palavras senão de atos, e demostrar que os Comollo, os Domingos Sávio, os
Besucco e os Saccardi, vivem ainda entre nós.
Por ultimo perguntei a aquele amigo:
– Tem algo mais que me dizer?
– Predica a todos, maiores e pequenos, que recordem sempre que são filhos de Maria
Santíssima Auxiliadora. que Ela os Há reunido aqui para livrar dos perigos do mundo, para que se
amem como irmãos e para que dêem glória a Deus e Ela com sua boa conduta; que es a Virgem
que provem de pão e de quanto necessita para estudar, fazendo infinitos portentos e concedendo
inúmeras graças. Que recordem que estão em véspera da festa de sua Santíssima Mãe e que, co seu
auxílio, deve cair a barreira da desconfiança e que demônio há sabido levantar entre os jovens e os
superiores e do qual sabe servir-se para ruínas das almas.
– E conseguiremos derrubar essa barreira?
– Sim, certamente, com tal de que, maiores e pequenos, estejam dispostos a sofrer de alguma
pequena mortificação por amor a Maria e ponham em prática quanto o disse.
Entretanto, eu continuava observando os jovenzinhos e, ante o espetáculo em via
encaminhar-se a sua perdição eterna, senti tal angustia que me despertei.
Queria contar muitas outras coisas importantíssimas que vi em este sonho, mas o tempo e as
101
circunstâncias não me permitem.
Concluo: Sabeis que és que deseja de vós este pobre ancião que há consumido toda a sua
vida buscando o bem de seus queridos jovens?
Nada mais que, observadas as devidas proporções, floresça os dias felizes do antigo
Oratório. As jornadas do afeto da confiança cristã entre os jovens e os Superiores; os dias de
espírito de condescência e de muita tolerância por amor a Jesus Cristo; os dias dos corações abertos
e da sensibilidade e ao candura; os dias da caridade e da verdadeira alegria para todos. Necessito
que me consoleis, fazendo renascer em mim a esperança e prometendo-me que fareis todo o que
desejo para o bem de vossas almas. Vós não sabeis apreciar a sorte que haveis tido ao estar
recolhido no Oratório. Os asseguro diante de Deus que basta que um jovem entre numa casa
salesiana, para que a Santíssima Virgem tome em seguida debaixo de sua celestial proteção.
Ponhámo-nos, pois, todos de acordo. A caridade dos que mandam, a caridade dos que devem
obedecer, faça reinar em nós o espirito de S. Francisco de Sales. Oh, meus queridos filhos! se
aproxima o tempo em que me terei que me separar de vós e partir para a eternidade.
(nota do secretário – ao chegar aqui, Dom Bosco deixou de ditar; seus olhos estavam cheios
de lágrimas, não a causa do desgosto, senão pela inefável ternura que refletia no seu rosto e em suas
palavras; uns instantes depois continuou).
Portanto, meu maior desejo, queridos sacerdotes, clérigos e jovens, és deixar encaminhados
pela senda que o Senhor deseja que sigais.
Com este fim, o Pai Santo, ao qual hei visto na sexta-feira, 9 de maio, os envia de todo
coração sua benção. O dia de Maria Auxiliadora me encontrarei em vossa companhia, ante a
imagem de nossa amantíssima Mãe. Desejo que sua festa se celebre com toda solenidade e que
Dom José Lazzero e Dom Segundo Marchisio se preocupem de que a alegria reine também no
comedor. A festividade de Maria Auxiliadora deve ser p prelúdio da festa eterna que temos de
celebrar todos juntos uma dia no Paraíso.
Roma, 10 de maio de 1884
Vosso afeitíssimo em J.C. João Bosco.
OBSERVAÇÕES:
Sonho tido em Roma contado a Dom Lemoyne, indicando-lhe que o desenvolvera. Lemoyne
leu a redação a Dom Bosco, que fez algumas correções; e, en forma de carta, foi enviada ao
Oratório de Turim.
Constitui um dos escritos pedagógicos de Dom Bosco mais apreciado. Há sido muito
estudado e comentados por pedagogos e educadores e o ponto obrigatório de referencia para todo o
educador salesiano”.
O JARDÍM SALESIANO (1876)
(ROMERO 37- 44; MB 12, 586- 595 = MBe 12, 494- 502)
“A noite que passei em lanço, ao chegar a hora do descanso, minha imaginação se sentiu
completamente absorvida por seguintes sonhos. se tratava de um sonho que não tem relação
algumas com os demais. O hei contado já um sonho bastante parecido a este, durante o exercícios
espirituais, mas, o porque não estáveis presente todos vós, o diferes bastante de aquele, decidi
contar este. Há nele coisas muitos estranhas. Mas vós sabeis que meus filhos eu sempre o falo com
o coração aberto; para vós eu não tenho segredos. Faz dele o caso que queirais, mas, como disse o
apóstolo S. Paulo: quod bonum est tenete; se encontrais algo que neste possa servir de proveito
para vossas almas, não os desperdiceis. E que não queira crer nele, que não creia, isto não importa;
mas que ninguém ponha um ridículo as coisas que vou dizer. Os rogo, uma vez mais, que não
conteis que vou falar a nada que não seja de casa e que muitos menos o comuniqueis por escrito
fora daqui. Aos sonho se os pode dar importância que os sonhos se merecem e os que não
102
conhecem nossas coisas intimas poderiam formular um juízo errôneo e dar as coisas uns apelativos
que não os correspondem. Não sabem que sois meus filhos e que eu os digo tudo quanto sei e as
vezes incluso o que não sei. ( risada geral) mas o que um padre manifesta a seus filhos para seu
bem, deve ficar entre padres e filhos e nada mais. E, ademais, por outra razão. Por o comum, se o
sonho se conta os de fora, ou se tergiversam os fatos ou se expõe o que menos interessa e disto se
origina sempre algum dano e o mundo desprezaria o que não deve ser desprezado.
É necessário notar que ordinariamente nos sonhos se tem dormindo. Agora bem, a noite do 6
de dezembro, enquanto estava no meu quarto sem saber positivamente se estava lendo ou passeando
pela mesma, ou estava no leito, comecei a sonhar.
De pronto pareceu encontrar-me sobre uma pequena proeminência de terreno, a margem de
uma imensa lagoa, cujos confins não se chegava a alcançar com a vista. Aquela planície se perdia
na imensidade, era azulado como o mar em plena calma, todavia o que eu contemplava não era
água precisamente.
Parecia como um terso cristal reluzente. Baixo meus pés, detrás de mim e aos lados, via uma
região a maneira de uma praia a beira do oceano.
Largura e enormes pequenas distâncias dividiam as planícies em vastíssimos jardins de
inefável beleza, todos repartidos em bosque pequenos, prados e partes de flores, de formas e cores
variados. Nenhuma de nossas plantas podem dar-nos uma idéia de aquela outra, todavia guardavam
com elas algumas semelhança. As ervas, as flores, as árvores, as frutas eram vistosíssimas e de
belíssimo aspecto. As folhas era de ouro, os troncos e ramos de diamante e o restante fazia fogo
com esta riqueza. Impossível contar a diferentes espécies e cada flor se resplandecia com luz
própria. no meio daqueles jardim e em toda a extensão da planície, contemplava eu inúmeros
edifício de um ordem, beleza e harmonia, de tal magnificência e de tão extraordinárias proporções
que, para a construção de em só deles, parecia que não havia bastado todos os tesouros da terra. Ao
contemplar aquilo, me dizia eu a mim mesmo:
_ Se meus meninos tiveram um só desta casa, como gozariam! que felizes seriam! com
quanto viveriam nelas!
E assim pensava só ao ver aqueles palácios por fora. Qual não deveria ser sua magnificência
interior!
Enquanto contemplava extasiado tão estupenda maravilhas e o ornato daqueles jardins,
chegou ao meu ouvido um música docilíssima e tão grata harmonia que não o podia dar uma idéia
dela. Em seu comparação, nada tem que ver com Cagliero e Dogliani. Eram sem mil instrumentos
que produziam cada uma um som distinto do outro, enquanto todos os som possíveis difundiam por
ar seu sons. A estes unia-se os coros dos cantores.
Vi então uma multidão de gente dispersa por aqueles jardins, que se divertia no meio da
maior alegria. quem tocava, que cantava. Cada voz, cada nota fazia o efeito de mil instrumento que
pode imaginar, mas todos em perfeito acorde. Para descrever esta harmonia não bastam as
comparações humanas.
No rosto de aqueles felizes moradores do jardim se via que os cantores não só
experimentava extraordinário prazer a cantar. senão que, ao mesmo tempo, sentiam um imenso
gozo ao ouvir cantar a os demais. E, quanto mais cantava um, mais se ascendia o desejo de cantar e,
quanto mais se escutava, mais desejava escutar.
Seu canto era este:
Salus, honor, gloria Deo Patri Omnipotenti!... Auctor saeculi, qui erat, qui est, qui
venturus est judicare vivos et motuos, in saecula saeculorum.
Enquanto escutava atônito estas celestes harmonias, vi aparecer uma multidões de jovens,
muitos dos quais haviam estado no Oratório e em alguns outros colégio; a muitos, por conseguinte,
os conhecia, todavia a maior parte me era desconhecida. Aquela multidão incontável se dirigia
fazia mim. A sua cabeça vinha Domingo Sávio e, detrás dele, Dom Victor Alasonatti, Dom César
Chiala, Dom José Giulitto e muitos, muitos outros sacerdotes e clérigos, cada um deles a frente de
uma seção de meninos.
103
Então me perguntei a mim mesmo:
_ Durmo e estou desperto?
E dava palmadas e me tocava o peito para assegurar-me de que era realidade quanto via.
Ao chegar toda aquela turma diante de mim, me detive a um distância de uns oito ou dez
passos. Então brilhou um relâmpago de luz mais viva, cessou a música e seguiu o profundo silêncio.
Aqueles meninos estavam inundados de uma grandíssima alegria que se refletia em seus olhos, o
seu rosto era como um transunto de paz interior que reinava em seu espíritos. Me olhavam como um
doce sorriso em seus lábios e parecia como se quiseram falar, mas permaneceram em silêncio.
Domingo Sávio se adiantou só, dando uns passo fazia mim, e deteve tão perto de onde eu
estava que, se houvesse estendido a mão, certamente o havia tocado. Calava e me olhava também
ele sorridente. Que formoso estava! Seu vestido era realmente singular. Caia-lhe até os pés uma
túnica branquíssima coalhada de diamantes e toda ela tecida de ouro. Cingia sua cintura com uma
ampla faixa roxa bordado de tal modo de pedras preciosas que as umas quase tocava a outra,
entrelaçando-se em um desenho tão maravilhoso que oferecia uma beleza tão colorida que eu, ao
contemplá-las, me sentia cheio de admiração. Pendia-lhes do colo um colar de pérola de flores, não
naturais, as folhas pareciam de diamantes unidas entre si sobre o talo de ouro e assim todos os
demais. Estas flores refulgiam com uma luz sobre-humanas, mais viva do que o sol, que naquele
instante brilhava em todo seu esplendor primaveral, projetando seu raios sobre aquele rosto branco
e corado de uma maneira indiscritível e iluminando-o de tal forma que não era possível distinguir
cada um de seus rasgos. Levava sobre sua cabeça uma coroa de rosas; caía-lhes sobre os ombros em
ondulantes bucle de formosas cabeleiras, dando-lhes um ar tão belo, tão amável, tão encantador,
que parecia... parecia um anjo!”
Parecia que Dom Bosco, pronunciar estas ultimas palavras, fazias esforços para encontrar
expressões adequadas; e a concluiu com um gesto indescritível e um tom de voz que estremeceu a
todos, qual um que este rendido pelo esforço feito para encontrar os términos adequados para
expressar plenamente sua idéia. Depois de breve pausa, seguiu:
“Não menos resplandecentes de luz estavam os que o acompanhavam. Vestiam todos de
diversa maneira, mas sempre belíssima; mais ou menos rica; quem de uma forma, que de outra, e
cada uma de aquelas vestiduras tinha um significado que nada sabia compreender. Mas todos
chegavam na cintura cingida por uma faixa roxa igual a que estava o Domingo.
Eu segui contemplando absorto tudo aquilo e pensava:
- Que significa isto?... Como vim parar a este sítio?
E não sabia explicar-me donde me encontrava.
Fora de mim, temeroso por reverencia que aquele me inspirava, não me atrevi dizer palavra.
Também os demais continuavam silenciosos.
Finalmente, Domingos abriu os lábios para dizer:
- Por que está aqui mudo e como abatido? Não é o homem que outro tempo de nada se
amedrontava, que encarava coragem as calúnias, as perseguições, as tramas dos inimigos es as
angustias e os perigos de toda sorte? Donde está teu valor? Por que não falas?
E manifestei as duras penas, balbuciando as palavras:
- Eu não sei o que dizer... Mas, não éreis tu Domingos Sávio?
- Sim, o sou, já não me conheces?
- E como te encontra aqui? todavia confuso.
Domingos, então, afetuosamente, me disse:
- Hei vindo para falar contigo. Quantas vezes temos conversado juntos na terra! Não
recordas quantos me amava, quantas provas de estimas e de afetos me dissestes? E eu não
correspondi a caso teus desvelos? Que grande confiança pus em ti! Por que, pois, me temes? Ei!
Pergunta-me algo.
Então, cobrando u pouco de animo, o disse:
- É que... não sei onde me encontro, por isso estou assustado.
- Está em uma mansão de felicidade, respondeu-me Domingos, em donde se gozam todas os
104
penhores, todas as delícias.
- Es este, pois, o prêmios dos justos?
- Não, por certo. Aqui não se gozam os bens eternos, senão só, ainda em grau sumo, os
temporais.
- Então, todas estas coisas são coisas naturais?
- Sim; ainda que embelezadas pelo poder de Deus.
- E a mim que me parecia isto era o paraíso! exclamei.
- Não, não, não! recusou Sávio. Não há olho mortal que possa ver as belezas eternas.
- E estas músicas, segui perguntando, são as harmonias de que gozais no paraíso?
- Não, não, já te disse que não!
- São harmonias naturais?
- Sim, são sons naturais aperfeiçoada pela onipotência de Deus.
- E esta luz que sobrepus a luz do sol és luz sobrenatural? Es luz do paraíso?
- Es luz natural, ainda que reavivada e aperfeiçoada pela mesma onipotência divina.
- E não se poderia ver um pouco da luz sobrenatural?
- Nada pode gozar desta que não chegue a ver a Deus sicut est. O mais ínfimo dessa luz
quitaria ao instante a vida a um homem, por que não há forças humanas que a podem existir.
- Não pode haver uma luz natural mais formosa que esta?
- Se superas ! se ver somente um rio de sol, levado a um grau superior e este, ficaria fora de
ti.
- E não se pode ver ao menos uma partícula dessa luz que diz?
- Se que pode ver e terás a prova do que digo. Abres os olhos.
- Já os tenho aberto, contestei.
- Pois fixa-te bem e olha ao fundo desse mar de cristal.
Tendi a vista e, ao mesmo tempo, apareceu de improviso, no céu e a uma distância imensa,
uma fugaz centelha de luz, soltíssimo como um fio, mas tão brilhante, tão penetrante que de um
grito que despertou a Dom João Batista Lemoyne, aqui presente, que dormia num quarto próximo
da minha. Aquele destelho de luz era cem milhões de vezes mais clara que a do sol e seu fulgor
bastaria para iluminar o universo inteiro.
Um instante depois abri os olhos e perguntei a Domingos:
- Que és isto? Talvez um rio divino?
Sávio contestou:
- Não és luz sobrenatural, si bem, comparada com terrestre, o supera muito em fulgor. Não
és mais que a luz elevada a um maior esplendor pela onipotência divina. E, ainda que imaginara
uma imensa zona de luz semelhante a centelhinhas que acabas de ver ao fundo desta planície,
rodeando todo universo, não por isso chegaria a formar-te uma idéia dos esplendores do paraíso.
- E vós, que gozais no paraíso?
- Ah! És impossível querer-te-lo explicar; o que se goza no paraíso não mortal que possa
sabê-lo, enquanto não abandones esta vida e se reuna com seu criador. O único que se pode dizer es
que se goza de Deus, e isto é todo.
Entretanto, recobrado já plenamente de minha primeiro aturdimento, contemplava absorto a
formosura de Domingos Sávio, quando o perguntei com o tom de maior confiança:
- Por que levas este vestido tão branco r reluzente?
Calou Domingos, sem dar mostra de querer demonstrar a minha pergunta, e o coro começou
a cantar harmoniosamente acompanhado de todos os instrumentos:
- Ipsi habeurunt lumbos praecinctos et dealbeverunt stolaa suas in sanguine Agni.
Quando cessou o canto voltei a perguntar:
- E poe que levas a cintura esta faixa de cor roxo/
Tão pouco quis o Sávio responder a minha pergunta e, todavia um gesto de recusar a
contestação, Dom Victor Alasonatti cantou só:
- Virginis enim sunt et sequuntur Agnum quocumque iert.i
105
Compreendi que a faixa de cor de sangue, era o símbolos de grande sacrifícios feito, dos
violentos esforços e quase do martírio sofrido por conservar a virtude da pureza; e que para dar a
vida, sem as circunstância assim o houvesse exigido; e que, ao mesmo tempo, simbolizavas as
penitências que livram a alma que mancha da culpa. A brancura e esplendor da túnica representava
a conservação da inocência batismal.
Eu, entretanto, atraído por aqueles cantos e ao contemplar todas aqueles falanges dos jovens
celestiais que seguiam a Domingos Sávio, perguntei a este:
- E que são estes que te seguem?
E dirigindo-me a eles os disse:
- Como é que tens esse aspecto tão refulgente?
Sávio continuou calado, enquanto todos aqueles jovens começaram a cantar:
- Hi sunt sicut Angeli Dei in coelo.
Por minha parte, me dei conta de que Domingos gozava de certa preeminência entre os
demais, que se mantinha a respeitosa distância detrás dele, como a uns dez passos; por isso o disse:
- Diz-me, Domingo, sendo tu o mais jovens do que vejo aqui e dos que estão mortos em
nossas casas, por que vais diante deles e o procedes? Por que éreis tu quem fala enquanto eles se
calam?
- Eu sou o mais velhos de todos, me contestou.
- Não, o repliquei; muitos te adiantavam em idade.
- Eu sou o mais antigo do Oratório, replicou Domingos, por que hei sido o primeiro a deixar
o mundo para ir a outra vida. Ademais: legatione Dei fungor( compro um missão de Deus).
Esta resposta me indicava o motivo da visão. Domingos Sávio fazia a vez do embaixador
de Deus.
- Então, o disse, falemos do que neste momento mais me importa.
- Sim pergunta-me pronto o que deseja saber. A hora passam e só podiam acabar o tempo
que se há concedido a falar-te e, depois, não me verás mais.
- Segundo parece tem algum assunto de importância que comunicar-me?
- Que posso dizer eu mísera criatura? disse humildemente Domingos. Hei recebido do alto a
missão de falar-te e por isso hei vindo.
- Então, exclamei, fala-me do passado, do presente e do provem do nosso Oratório. Fala-me
de nossos queridos filhos, fala-me da congregação.
- Respeito a esta, tinha muitas coisas a comunicar-te.
- Conta-me, pois, os sabe: o passado...
- O passado recai todo sobre ti.
- Hei cometido alguma falta?
- Enquanto o passado, te hei dizer que sua congregação há feito já muito bem. Vês ali abaixo
aquele incontável números de jovens?
- Sim o que vejo: quanto são! que felicidade que reflete nos seus rostos!
- Observa o que estas escrito a entrada do jardim.
- Já o vejo. Disse: jardim salesiano.
- Pois bem, prosseguiu Domingo; todos isso hão sido salesiano ou foram educados por ti e
hão sido salvados por ti, ou por teus sacerdotes ou por teus clérigos ou por outros que
encaminhastes pela via da vocação. Conta-lhes, se podes. Seu número, mas, seria cem milhões de
vezes maior se maior houvera sido tua fé e confiança no Senhor.
Lancei um suspiro, sem saber o que responder a escutar semelhante reprovação; sim
embargo, me disse para mim mesmo: No sucessivo, procurarei ter mais fé e mais confiança na
Providencia. Depois acrescentei:
- E do presente, que me diz do presente?
Domingo me presenteou um magnífico ramalhete que tinha na mão. Havia nela as rosas,
violetas, girassóis, gencianas, lírios, sempre vivas e, entre as flores, espigas de trigo. Me ofereceu
dizendo-me:
106
- Olha!
- Já vejo, mas não entendo o que queres dizer.
- Entrega este ramalhete a teus filhos, para que possam oferecê-los ao Senhor, quando
chegar o momento; procure que todos o tenha, que nenhum falte nem o deixe arrebatar. Tem a
segurança de que, se o conservam, isto será suficiente para que se sintam felizes.
- Mas que significa este ramalhetes de flores?
- Consulta a teologia; ela o dirá e te dirá a explicação.
- A teologia a hei estudado, mas não sabia encontrar nela o significado do ramos que
ofereces.
- Pois estas obrigando a saber todo isto.
- Vamos, calma minha ansiedade, explica-me.
- Vês estas flores? Representam as virtudes que mais agradam ao Senhor.
- E quis são?
- A rosa é o símbolo da caridade; a vileta, da humildade; o girassol, de obediência; a
genciana, da penitência e da mortificação; as espigas, da comunhão freqüente; o lírio simboliza a
bela virtude da qual estas escrito: Erunt sicut Angeli Dei in coelo: a castidade. A sempre viva que
indicar que esta virtude hão de ser perenes, simbolizando a perseverança.
- Bem, Domingo, tu que, durante tua vida, praticastes estas virtudes, diz-me: que foi o que
mais te consolou na hora da morte?
- Que crês que tu podes ser? contestou Domingos.
- Foi talvez o haver conservado a bela virtude de pureza?
- Não, isso só, não.
- Quis a tranqüilidade da consciência?
- Coisa boa é essa, mas não há melhor.
- Acaso foi a esperança do Paraíso?
- Tampouco.
- Pois que então? O haver feito muitas boas obras?
- Não, não!
- Qual foi, pois, teu maior consolo naquela ultima hora? o insisti, confuso e suplicante, ao
ver que não conseguia adivinhar.
- O que mais me confortou no trance da morte foi a assistência do potente e bondosa Mãe de
Deus. Diz a teus filhos; que não se parem de invocar em todos os momentos da vida. Mas... faças
pronto, se queres que te responda.
- Em quanto ao prover, que me diz?
- Que o ano vindoiros de 1877 terás que sofrer um grande dor; seis filhos do
que te são mais queridos serão chamados por Deus a eternidade. Mas consola-te, pois hão de ser
transplantados de baldio deste mundo ao jardins do Paraíso. Não temas: serão coroados. O senhor te
ajudará e te mandará outros filhos igualmente bons.
- Paciência! exclamei. E por o que se refere a congregação?
- Por o que respeita a congregação, há de saber de que Deus o prepara grandes
acontecimentos. Os anos vindouros surgirá para ela uma aurora de glória tão esplendida que
iluminará qual relâmpago o quatro ângulos de orbe, do oriente ao acaso e do meio dia ao
semptentrião: uma grande glória o esta reservada. Tu deves procuras que o carro no que vai o
Senhor não sejas apartados por teus de seus diretrizes nem de sua vereda. Se teus sacerdotes o
conduzem bem e sabem fazer-se dignos da alta missão que os há confiado, o porvir será esplendido
e infinitas as pessoas que se salvarão, a condição porém de que teus filhos sejam devotos da
Santíssima Virgem e conservem a virtude da castidade, que tão agrada aos olhos de Deus, quanto
vivem em tua casa.
- Agora desejaria que me dissesse algo sobre a igreja em geral.
- Os destinos da Igreja estão nas mãos do criador. O que há determinados em seus infinitos
decretos, não ode revelar. Tais arcanos os reserva Ele exclusivamente para si e deles não participa
107
nenhum dos espíritos criados.
- E Pio IX?
- O único que poço dizer-te é que o Pastor da Igreja terá que sustentar ainda duras batalhas
sobre esta terra. Poucas são os que ficam por vencer. Dentro de pouco será arrebatado de seu trono e
Senhor lhe dará a merecida mercê. O demais é mais sabido de todos: a Igreja não pode perecer...
Tem ainda algo mais que perguntar?
- E de mim, que me diz de mim?
- Oh, se superas por quantas vicissitudes terás todavia que passar! Mas date pressa, pois
apenas me resta tempo para falar contigo.
Então estendi adiante as mãos para tocar a aquele meu querido filho, mas sua mão pareciam
imateriais e nada pude pegar.
- Que faz, lóquios? me disse Domingos sorrindo.
- Es que temo que vais, exclamei. Não estás aqui com o corpo?
- Com o corpo, não; o recobrarei um dia.
- E que és , pois este teu parecido? Eu vejo em ti a fisionomia de Domingos Sávio.
- Olha: quando, por permissão divina, se os aparece uma alma separada do corpo, apresenta
a vossa vista a forma exterior do corpo ao que em vida estava unida com todos os seus rasgos
exteriores, se bem grandemente embelezados, e assim os conserva enquanto com ele não volta a
reunir-se no dia do juízo universal. Então se ao que levará consigo ao Paraíso. Por isso que te parece
que tenho mãos, pés e cabeça; em troca não pode tocar-me porque sou espírito puro. Esta é só uma
forma externa por a que me podes conhecer.
- Compreendo, contestei; mas escuta. Uma palavra mais. Meus jovens todos estão em reto
caminho de salvação? diz-me algumas coisas para que possa dirigir com acerto.
- Os filho que a divina providencia que há confiado pode dividir-se em três classes. Vês
estas três listas?
E me entregou uma.
- Examina-la!
Observei a primeira; estava encabeçado por a palavra: invulnerati e continha os nomes de
aqueles a quem o demônio não havia podido ferir; o que não havia manchado sua inocência com
culpa alguma. Eram muitos e os vi a todos. E muitos deles os conhecia, a outros não os havia visto
nunca e seguramente virão ao Oratório em anos sucessivos. Marchavam retamente por um estreito
atalho, apesar de que branco das flechas, sabrada e lanças que, por toda parte, o choviam. Ditas
armas formavam como uma sebe a ambos dos caminho e os fustigavam e molestavam sem feri-los.
Então Domingos me deu a segunda lista, cujo título era; vulnerat : isto é, os que faziam
estado na desgraça de Deus; mas uma vez posto no pé, já se haviam curados de suas feridas
arrependendo-se e confessando-se. Eram mais numerosos que os primeiros e haviam sidos feridos
no atalho de sua vida por inimigos que lhes assediavam durante a viagem. Li a lista e vi a todos.
muitos marchavam encurvados e desalentados.
Domingo tinha ainda na mão a terceira lista. Era seu epígrafe: lassati in via iniquitatis e
continha os nomes dos que estavam em desgraças de Deus. Estava eu impaciente por conhecer
aquele segredo; por o que estendi a mão, mas Sávio me interrompeu com presteza:
- Não, aguarda um momento e escuta. Se abres esta folha soltará um fedor tal, que nem tu
nem eu poderíamos resistir. Os anjos tem que retirar-se asqueados e horrorizados, e o mesmo
Espírito Santo sente náusea antes a horrível fender do pecado.
- Como pode ser isso, o interrompi, sendo Deus e os anjos impassíveis? Como podem sentir
o fedor da matéria?
- Sim, porque quanto melhores e mais puras são as criaturas, tanto mais se assemelham aos
espíritos celestiais; por o contrário, quanto pior e mais desonesto e grosseiro és um, tanto mais se
afasta de Deus e de seus anjos, quem a sua vez se apartam do pecador convertido no objeto de
náuseas e de repulsão.
Então me deu a terceira lista.
108
- Toma-la, me disse, abri-la e aproveite-te dela o bem de teus filhos, mas não te olvides do
ramalhete que te dei: que todos os tenham e conservem.
Dito isto e depois de entregar-me a lista, retirou-se no meios de seus companheiros como em
atitude de marcha.
Abri então a lista; não vi nome algum. mas, ao instante, se me apresentaram de golpe todos
os indivíduos nelas escritos, como se na realidade estiveras contemplando sua pessoas. Com
quantas amarguras os observei! A maior parte deles os conhecia; pertencia ao Oratório e a outros
colégios. Quantos deles parecem bons e inclusive os melhores dentre seus companheiros e, contudo,
não o são.
Mas apenas abri a lista, espaçou-se em circuito de meu a redor o fedor tão insuportável, que
ao ponto me vi magoado de crudelíssima dores de cabeça e de umas ânsias tais de vomitar que
queria morre-me.
Entretanto obscureceu-se o ar, e desapareceu a visão e nada mais vi de tão formoso
espetáculo; ao mesmo tempo, um raio iluminou a instancia e um trono retumbou no espaço, tão
forte e terrível que me despertei sobressaltado.
Aquele fedor penetrou nas paredes, infiltrando-se e meu vestido, de tal forma que, muito
dias depois, ainda parecia perceber aquela pestilência. Agora mesmo, com só recorda-lo, me vem
náuseas, me sinto afogado e se me revolve o estômago.
Em Lanzo, onde me encontrava, comecei a perguntar a uns e a outros, falei com vários pude
assegurar-me de que o sonho não me havia enganado.
E, pois, uma graça do Senhor, que me há dado a conhecer o estado da alma de cada um de
vós; mas de isto me guardarei de dizer nada em público. Agora não me foca nada mais assegurar
boas-noites”.
OBSERVAÇÕES:
Tido em Lanzo no dia 6 de dezembro e contado no dia 22 de dezembro. Se o intitula
também sonho de Lanzo ou Aparição de Domingo Sávio.
“Entre os sonhos que referem aos jovens, o sonho de Lanzo ou Sonho de jardim salesiano há
sido sempre grande consideração, começado por ele mesmo Dom Bosco”. Assim se deduz a um
carta de Dom Bosco a Dom Lemoyne de janeiro de 1879, desde Marsella: “Estou aqui com muitos
graves problemas entre mãos. Quando os conhecer, ficará pasmado e verás realizado o sonho de
Lanzo”( E II, 435). Entre outras coisas, Domingo Sávio os havia dito: “a respeito a congregação
sabe que Deus te prepara grande coisas”( ROMERO, 39; cf. STELLA II, 508).
Existe autógrafo de Dom Bosco, que se pode considerar uma memória prévia a explicação
oral. Existe outras redações, mas não depende do autógrafo de Dom Bosco, senão da relação oral de
22 de dezembro de 1876.
O interessante do comportamento de Dom Bosco ao respeito a este sonho: do modo como
expressar, um fica persuadido de que existiu realmente o sonho. Enquanto o narrava em público,
interpelou a Dom Lemoyne, que estava entre ouvintes e que, na noite do dia 6 ao 7 de dezembro,
dormia a estância contígua a de dom Bosco. Dom Lemoyne o ouviu gritar e, ao dia seguinte,
espantado, o perguntou que se havia sucedido. Dom Lemoyne era o diretor de Lanzo então e nos
afirma: “No princípio, Dom Bosco pensava que o sonho, era uma ilusão; a razão firmava em que
era tido por bons alguns meninos em que o sonho apareciam como deixado na via da iniqüidade”.
Dom Bosco chamou a alguns, e três foram expulsados. Esta comprovação previa é causa do
intervalo entre a noite do sonho (6-7 dezembro) e sua narração (22 de dezembro)”.
Outro caminho para conhecer a natureza do sonho é a verificação de três fatos que Domingo
Sávio anunciou que se realizariam em torno de 1877. Primeiro fato: Pio IX teria poucas batalhas
para combater. Efetivamente, desde final de 1876, com mais de oitenta anos, parecia cansado e
esgotado pelas convulsões políticas-religiosas; morreria aos oitenta e seis anos no dia 7 de fevereiro
de 1878. “a predição respondia aos pressentimentos comuns da opinião pública” (STELLA II,
521).Segundo fato: a congregação teria uma aurora de esplendor. Efetivamente, estava em Lanzo
109
Torinese o Primeiro Capítulo Geral; se realizou a segunda expedição missionária; se deu forma
definitiva a Obras dos Cooperadores; recebeu grande impulso a Obra do Filhos de Maria
Auxiliadora para vocações tardias. Segundo Dom Bosco, em uma conferência do dia 6 de fevereiro
de 1877, o atos extraordinários seriam estes dois: a abertura de casa salesiana em Roma e a Obra
dos Cooperadores salesianos. Terceiro fato: se anunciava a morte de “seis mais dois” pessoas
queridas. Depois a exaustiva investigações em arquivos salesianos e civis, Stella enumera bastante
mais que oitos, entre dentro e fora do Oratório, mas “muitos queridos a Dom Bosco”, E conclui:
“Em definitiva, as predições da morte não nos oferecem elementos terminante” ( STELLA II, 226).
110

Documentos relacionados