Untitled - Escola Superior de Enfermagem de Lisboa
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FICHA TÉCNICA Título/Title: I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH Local/Place: ESEL – Auditório do polo Artur Ravara Data/Date: 26 e 27 de Maio 2015/26th and 27th May 2015 Coordenação da editorial/Editorial coordination: Helena Presado Comissão editorial/Editorial commission: Helena Bértolo, Helena Presado, Mário Cardoso, Teresa Félix Edição/Edition: Escola Superior de Enfermagem de Lisboa (ESEL) – Departamento de Enfermagem de Saúde Materna/Nursing School of Lisbon (ESEL) – Nursing Department of Maternal Health Grafismo e Imagem/Graphic design and image: Rita Cardoso, Patrícia Presado, Daniel Miranda, Bruno Ramos Suporte: E-book (digital em formato PDF) ISBN: 978-989-97181-6-6 Nota/Note: A responsabilidade pela idoneidade dos artigos é única e exclusiva dos seus autores. Esta publicação não pode ser reproduzida para fins comerciais sem a devida autorização./The responsibility for the suitability of the articles is the authors sole responsibility. This publication may not be reproduced for commercial purposes without permission. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 I EDITORIAL É um privilégio prefaciar esta publicação resultante da compilação de artigos apresentados em forma de comunicações. O Departamento de Enfermagem de Saúde Materna da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa tem, desde 2008, organizado Jornadas de Saúde Materna como contributo e desafios à formação de estudantes e de profissionais ao longo da vida. Momentos ímpares de reflexão foram fundamentais na divulgação de experiências da prática de cuidados baseados na evidência, assim como as experiências e resultados da prática clínica que têm contribuído para a evidência científica e para a excelência do cuidar no âmbito da saúde da mulher e família. Considerando a importância de partilha de conhecimentos de forma mais alargada, ocorre o 1º Congresso Internacional de Saúde Materna, nos dias 26 e 27 de maio de 2015, no auditório do polo Artur Ravara da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa. Este congresso surge com a necessidade de refletir as perspetivas do cuidar em Enfermagem ao longo do ciclo de vida com ênfase nos processos de saúde/doença na área da saúde sexual e reprodutiva e permitir a discussão de práticas de cuidados a nível internacional centradas nas grandes temáticas: Parto Natural; Conforto no Trabalho de Parto; Desafios para um Cuidar Intercultural e Formação Especializada em ESMO: da Inovação à Realidade. Foi encorajada a apresentação de comunicações e as submissão de artigos científicos que focassem essencialmente a prática baseada na evidência por forma a permitir uma reflexão do cuidar em enfermagem com vista à excelência do cuidar, tendo em conta as dimensões da pessoa no seu contexto sociocultural e do qual resulta esta publicação. Congratulo e agradeço a todos os colaboradores que direta ou indiretamente permitiram a realização e o sucesso deste evento científico. Um agradecimento muito especial à Associação de Estudantes da ESEL e à Tuna de Enfermagem de Lisboa cuja participação enalteceram este Congresso Internacional de Saúde Materna e projetaram a imagem da ESEL. Espero que os destinatários deste livro que agora apresentamos o acolham com tanto entusiasmo como os que contribuíram para a sua concretização. Maria Helena Presado Professora Adjunta da ESEL, PhD E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 II EDITORIAL It is a privilege to preface this publication resulting from the compilation of papers presented as communications. Since 2008, the Nursing Department of Maternal Health of the Nursing School of Lisbon has organized the Maternal Health Conference as a contribution and challenge to train students and professionals throughout their lives. Reflection of fortuitous moments were crucial to disseminate experiences in care practice based on evidence as well as the clinical practice experience and results have contributed to the scientific evidence and to the care excellence in the context of women's and family health. Considering the importance of sharing knowledge at a broader level, the 1st International Congress of Maternal Health occurred on the 26th and 27th of May 2015 at the Artur Ravara’s campus auditorium in the Nursing School of Lisbon. This congress emerges with the need to reflect the perspective of nursing care throughout the lifecycle emphasising health/illness processes in the area of sexual and reproductive health and allow the discussion of care practices at an international level focused on major themes: Natural Delivery; Comfort in Labor; Challenges for an Intercultural Caring and Specialized Training of midwives: from Innovation to Reality It was encouraged the presentation of communications and submission of scientific papers which focused essentially in the practice based on evidence to enable reflection of nursing care for care excellence, taking into account the person's dimensions in its sociocultural context and from which results this publication. I congratulate and thank all the contributors who directly or indirectly contributed for the accomplishment and success of this scientific event. A very special acknowledgment to the ESEL Student’s Association and to the Lisbon Nursing Tuna whose participation praised this International Congress of Maternal Health and projected the ESEL image. I hope this book receivers welcome it as enthusiastically as those who contributed to its realization. Maria Helena Presado ESEL Adjunct Professor, PhD E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 III ÍNDICE 1 A Utilização da Música, Cor e Aromas no Trabalho de Parto/The Use of Music, Color and Scents in Labor Sandra Cota Pereira 7 Vivências e Experiências das Várias Populações Migrantes: Crenças, Desejos e Práticas Culturais Durante a Gravidez/Experiences of Several Migrant Populations: Beliefs, Desires and Cultural Practices During Pregnancy Emília de Carvalho Coutinho 17 Uma Experiência em Timor/An Experience in Timor Helena Isabel Borges Manuel 25 Cuidar na Unidade Móvel: Projeto de Intervenção Comunitária em Saúde Materno-Infantil e Planeamento Familiar/Caring in the Mobile Unit: Community Intervention Project on Maternal and Child Health and Family Planning Maria Adelaide O. Verde Martins e Catarina Álvares M. Portilheiro 30 Intervenção do ESMO Quando a Parturiente Utiliza Óxido Nitroso no Controlo da Dor em Trabalho de Parto/Midwifery Intervention, When the Mother Uses Nitrous Oxide on Pain Management in Labor Joana Carina Sousa Vieira e Irene Maria Trindade Soares 39 Conjugalidade e Parentalidade: O Enfermeiro Obstetra na Promoção de Encontros a Três/Conjugality and Parenthood: The Midwife in Promoting the Triad Relationship Mariana Raquel Pereira Gomes Ferreira e Esmeralda Afonso 50 A Confiança Materna nos Cuidados ao Recém-Nascido/Maternal Confidence in Newborn’s Care Natércia Faria e Maria Helena Presado 57 Consulta de Enfermería en Patología Mamaria/Consulta de Enfermagem em Patologia Mamária/Nursin Appointment in Breast Pathology Maria de Jesus Sánchez Sánchez 65 Esterilidad y Consulta de Enfermaría/Consulta Infertilidade/Nursin Appointment on Infertility de Enfermagem em Paquita Antonell Riu 70 Cáncer de Cervix y VPH/HPV e Cancro do Colo/HPV and Câncer of Cérvix Nadia Abu-Lhiga Aguilera e Maria de Jesus Sánchez Sánchez 76 Fertilidade Regular/Regular Fertility Dinis da Fonseca 78 Contraceção ao Longo do Ciclo de Vida: Inovações e Novos Paradigmas/Contraception Throughout the Lifecycle: Inovation and New Paradigms Maria João Palma 80 O que Escolhem as Mulheres?/What Choose Women? Vanessa Costa E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 IV 85 Os Touchpoints Antes e Depois de Nascer: Uma Abordagem para Apresentar a Família ao Bebé e para Apresentar o Bebé à Família em Contexto de Saúde e nas Visitas Domiciliárias em Famílias em Risco/The Touchpoints Before and After Birth: Na Approach to Introduce the Family to Baby and to Present the Baby to Family on Health Context and Home Visits at Risk Families João Justo, Miguel Barbosa, Joana Espírito Santo e Joana Tinoco de Faria 91 Projeto Maternidade com Qualidade/Maternity Project with Quality – Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, EPE Luís Miranda e Ana Miranda 97 Projeto Maternidade com Qualidade/Maternity Project with Quality – Centro Hospitalar do Algarve: Hospital de Faro Ana Luísa Cavaco 104 Ansiedade e Depressão Materna: Que Impacto no Desenvolvimento Fetal e Neonatal/ Maternal anxiety and depression: What Impact on Fetal and Neonatal Development Ana Margarida Leite da Costa, Patrícia Verónica Domingues Abranches, Sara Isabel Alves Valente Carracha, Sérgio Ruiz Marcos e Vanda Sofia Sutre Cerdeira 110 Comunidade Cigana – Conhecer para Melhor Cuidar/Gypsy Community – Know to Better Care Raquel Cajão, Carina Simões, Joana Castanheira e Dora Carteiro 117 O Papel do Enfermeiro Obstetra na Promoção de Posições não Supinas Durante o 2º Estádio do Trabalho de Parto/The Midwife Role in the Promotion of Nonsupine Positions During the 2nd Stage Labor Sara Isabel Alves Valente Carracha 123 Fatores Etiológicos dos Transtornos Mentais no Puerpério/Etiologic Factors of Mental Disorders in Puerperium Bárbara Machado Gomes e Joana Parente Janeiro 129 Lesões Músculo Esqueléticas nos Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica: Protocolo de Investigação/Musculoskeletal Injuries in Midwives: Research Protocol Cristina Lavaredas Baixinho, Fátima Mendes Marques, Mário Cardoso e Maria Helena Presado 135 Cuidados do Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, Promotores de Conforto à Mulher durante o Trabalho de Parto/The Care of Midwife, Comfort Promoters of Women in Labor Susana Filipa Franco Nunes Teodoro 141 A Acupressão como Terapia Complementar durante o Trabalho de Parto – Contributos para o Cuidado de Enfermagem em Obstetrícia/Acupressure as a Complementary Therapy during Labor – Contributions to Nursing Care in Obstetrics Patrícia Verónica Domingues Abranches 148 Parto em Movimento: Uma Intervenção do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia/Mobility of Women in Labor: An Intervention of the Midwife Ângela Coelho da Costa E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 V 155 Cursos de Preparação para a Parentalidade: Impacto na Capacitação dos Pais/Preparation Courses to Parenthood: Impact on Empowering Parents Maria João Mendes, Hélia Dias e Conceição Santiago 162 Género e Cuidar/Gender and Care Maria Madalena Silva Ferreira Salgado de Oliveira 167 Parto com Massagem, Parto com Amor/Massage during Labor, Labor with Love Ana Margarida Leite da Costa e Maria Anabela Ferreira dos Santos 177 A Experiência Vivida das Mulheres Submetidas a Tratamentos de Fertilidade – Uma Revisão Sistemática da Literatura/The Experience Lived by Women Undergoing Fertility Treatments – A Systematic Literature Review Ângela Coelho da Costa, Cláudia Mourato, Diogo Mata e Milene Amador 184 IVG na Grávida Adolescente/Voluntary Interruption of Pregnancy in Pregnant Teen Carla Martins, Estela Lourenço, Patrícia Rodrigues, Patrícia Serrano e Verónica Sousa 189 Reflexologia vs. Conforto no Trabalho de Parto/Parto: Um Estudo de Caso/Reflexology vs. Comfort in Labour: A Study Case Engrácia Santos 194 Intervenções do Enfermeiro Especialista De Saúde Materna e Obstétrica Promotoras do Contato Pele-A-Pele/Nursing Intervention to Promote the Skinto-skin Contact Emanuela Filipa da Silva Tavares 199 Educação para a Saúde à Puérpera e Casal sobre Sexualidade no PósParto/Health Education to the Post-partum Women and Couple about Postpartum Sexuality Marília Pereira e Viviana Nolasco 204 Vigilância de Saúde da Puérpera e Recém-Nascido na Unidade Saúde Familiar Venda Nova/Puerperal and Newborn Health Surveillance at Venda Nova Family Health Unit Ana Cristina Neves Mendes Pinheiro¸ Catarina Alvares Portilheiro, Isabel Maria Lopes Rosa e Maria Adelaide O. Verde Martins 207 Vírus do Papiloma Humano (HPV): Intervenção de Enfermagem/human papiloma virus (HPV): Nursing Intervention Ana Maria Ferreira Batista, Ana Rita de Oliveira Adriano, Andrea Inês Sousa Carvalho e Sigride Duarte Baleia Rodrigues 212 A Saúde Sexual e Reprodutiva na Mulher Cigana – Uma Revisão da Literatura/Sexual and Reproductive Health in Gypsy Woman – A Literature Review Raquel Cajão, Carina Simões, Joana Castanheira e Dora Carteiro 216 Representações da Maternidade Vividas pelas Imigrantes Africanas: Uma Realidade Local/Representations of Motherhood Lived by African Immigrants: A Local Reality Rosa Estriga, Paula França, Sara Francisco, Carla Nom, Susana Rito e Filipa Semedo E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 VI A Utilização da Música, Cor e Aromas no Trabalho de Parto/The Use of Music, Color and Scents in Labor Sandra Cota Pereira – Hospital Beatriz Ângelo O trabalho de parto e o parto representam para a mulher um desafio fisiológico, psicológico e emocional. São processos naturais da reprodução humana e contudo singulares pela associação da dor, ao desconforto, à expectativa do próprio desempenho da mulher e até ao prazer. Parir é a experiência humana universal, tão diferente quanto a cultura e o contexto social o permitam e no entanto dois denominadores são comuns: o aparecimento de uma nova vida humana e a experiência da dor associada a este acontecimento. A dor experienciada pelas mulheres durante o trabalho de parto e parto, produzida pelas contracções uterinas, dilatação do colo uterino e expulsão do feto, tem sido alvo de grande atenção por parte dos profissionais de saúde que assistem a mulher grávida. Actualmente existem disponíveis vários métodos de controlo e gestão da dor de trabalho de parto conhecidos como métodos farmacológicos e métodos não farmacológicos de controlo da dor. Contudo, a eliminação completa da dor de trabalho de parto não se traduz sempre numa experiência mais satisfatória, sendo esta gestão um processo individual para cada mulher. A necessidade de controlo do seu próprio trabalho de parto e logo da sua dor de trabalho de parto tem conduzido a uma procura cada vez maior de métodos alternativos de alívio da dor que não reduzam a experiência de parir a um acontecimento onde a intervenção da mulher seja ignorada. Cada vez mais assistimos a famílias mais informadas sobre o processo de nascimento, e muitas com os seus próprios planos de parto. Isto revela um interesse crescente da família, da mulher, em assumir cada vez mais o controlo do seu corpo e do seu parto, criando espaço à inclusão de métodos menos invasivos que permitem a expressão individual de cada casal e o seu direito de opção. Isto faz com que as instituições hospitalares desenvolvam um trabalho que vá de encontro às necessidades da maioria das mulheres/casais. O ambiente físico e a dor são das primeiras imagens construídas mentalmente pelas famílias em relação à sala de partos. Vista durante muito tempo como uma câmara de tortura, com gritos de dor e lamento, a sala de partos há muito que tem vido a perder essa fama. Em muito tem contribuído a nova arquitectura hospitalar que investe em salas de parto individuais onde a presença de acompanhante está preconizada. Contudo ainda muito pode ser feito. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 1 Com a cama no centro da sala, a luz branca e intensa, as paredes brancas e os diversos aparelhos, continuam a associar a sala de partos a um espaço hospitalar pesado, frio e com uma parte técnica muito visível e marcada. Trabalhar o ambiente em que se dá o trabalho de parto e o parto é fundamental para iniciar um processo de gestão não farmacológica da dor e todos os outros métodos complementares que se lhe seguem, pois a sua implementação não faz sentido sem a preparação prévia de um ambiente adequado. Através da melhoria do ambiente conseguimos transformar a sala de partos num “ninho” acolhedor onde irá decorrer todo processo de trabalho de parto e parto. Não se pode falar de ambiente sem se falar de três factores: a iluminação do espaço, o odor e o ruido. Se queremos obter o máximo conforto, a máxima concentração e criar um estado de relaxamento somos obrigados a trabalhar estes três aspectos para que posteriormente se introduzam outros. À associação destes três componentes foi chamado de Terapia Ambiental®, um conceito que tenta associar harmoniosamente três métodos alternativos de alívio da dor que incidem no ambiente: a aromaterapia, a cromoterapia e a musicoterapia. A terapia ambiental vai incidir sobre três dos sentidos humanos: o olfacto, a audição e a visão, fundamentais na percepção humana da realidade. Implementar a Terapia Ambiental na sala de partos é um processo simples, economicamente sustentável e com resultados muito positivos para a mulher/casal. Com a realidade actual de diminuir a taxa de cesarianas vamos assistir de uma maneira geral a um aumento da duração do trabalho de parto e das horas de permanência na sala de partos. Assim é fundamental ter a percepção que a noção do tempo muda consoante o ambiente em que estamos inseridos. Se este não for o adequado, se o espaço for desconfortável, excessivamente iluminado, frio e se acrescentarmos a tudo isto factores de stress como a dor, o medo e a ansiedade, uma hora parecerá uma eternidade. Muito rapidamente esta grávida/casal, dará sinais de exaustão, fadiga e desespero. Sabemos que a adrenalina tem um efeito antagónico ao da ocitocina, tornando-se fundamental diminuir a ansiedade e o stress da parturiente com o objectivo de se atingirem bons resultados na evolução do trabalho de parto. É por isso importante criar outros focos de atenção que não a dor, o parto ou as intervenções médicas e de enfermagem que irão decorrer ao longo do processo. Ter em atenção a temperatura da sala, o som dos alarmes que não são necessários e a não intromissão excessiva num espaço que se pretende ser do casal e não nosso, é igualmente importante. Só assim poderemos criar o meio ideal para o nascimento de um novo ser humano e obter daquela família a sua total e voluntária colaboração. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 2 E contribuir assim de uma forma positiva e gratificante para um momento único que é o nascimento. Aromaterapia A aromaterapia consiste na utilização de óleos essenciais retirados de plantas, flores, troncos e raízes de árvores. Incidindo sobre o sistema límbico, a aromaterapia vai trabalhar o sentido olfactivo. A utilização dos óleos essências passa pela evaporação destes através de queimadores ou evaporadores eléctricos, o seu uso em massagem com aplicação directa sobre a pele ou em banhos de imersão. De forma a incidir sobre o ambiente utilizamos no HBA evaporadores como meio de aplicação deste método. A inalação dos vários aromas libertados pelos óleos essenciais produz uma estimulação metabólica e dos receptores olfactivos. Para cada fase de trabalho de parto existem vários e não só um, aroma indicado, dando a possibilidade de escolha á mulher/casal. Para implementarmos a aromaterapia no HBA temos: Nebulizadores por ultra-sons (um por quarto) Óleos essenciais (diversos) o Chamaemelum nobile (camomila): sedativo, calmante e analgesico o Salvia sclarea (salva): analgésico, anestésico, estimulante das contracções uterinas o Lavandula augustifolium (lavanda): Antiespasmodica, antimicrobiana, cardiotónica, anti-hemética, estimulante respiratório o Citrus reticulata (tangerina ou laranja doce): Revitalizante, estimulante, activador da circulação o Boswellia carteri (olíbano): Descongestionante e calmante o Rosa damascena (rosa de damasco): Anti-depressivo, anti-hemético o Mentha piperita (hortelã pimenta): Descongestionante, analgésico, antiespasmódico, refrescante e antidepressivo Água bidestilada ou purificada A mulher deve ser incentivada a fazer inspirações profundas e lentas de forma a sentir o aroma suspenso no ar. Ir à procura do aroma e para onde este a transporta. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 3 Incentivar a mulher a respirar pausadamente de forma a perceber os elementos que compõem o aroma levando-a a abstrair-se da dor e de todo o contexto hospitalar. Para centralizar toda esta informação e esta chegar a todos os profissionais de uma forma transversal e igual foi elaborada uma “orientação técnica sobre o uso da Aromaterapia na sala de partos”. Cromoterapia Até há relativamente pouco tempo a componente eléctrica do corpo humano era desconhecida e por isso completamente ignorada. Recentemente as ciências da saúde têm-se cada vez mais baseado na bioquímica humana para diagnóstico e resolução de problemas de saúde. A luz consiste na radiação electromagnética e as suas propriedades há muito que estão descritas. De acordo os principios da cromoterapia as radiações eletromagnéticas presentes na faixa visível da luz solar (cores) são capazes de gerar impulsos elétricos e correntes magnéticas (ou campos de energia). Estes são os principais ativadores da bioquímica e dos processos hormonais no corpo humano. Tendo em conta estes aspectos é facil de perceber como é que a luz pode influenciar não só o nosso estado de espirito como a nossa própria bioquimica, tendo portanto um efeito na saúde. O trabalho de parto e o parto são desencadeados por vários processos hormonais que estão sob a influência de diversos factores: um deles a luz. Criar um ambiente onde a intensidade da luz e a sua côr desempenham um papel importante não é dificil e produz um efeito tranquilizador quase imediato. Para implementar a cromoterapia no HBA: Lâmpada policromática (lâmpada geradora de côr com opção de escolha e de intensidade) – Fornecida gentilmente pela Philips Portugal. Tendo em conta o gosto pessoal da mulher, pode optar por cores mais frias ou cores mais quentes. Normalmente para o trabalho de parto e parto optamos por cores mais estimulantes e quentes de forma a tornar o ambiente mais acolhedor, como o vermelho, o rosa ou o laranja. Para centralizar toda esta informação e esta chegar a todos os profissionais de uma forma transversal e igual foi elaborada uma “orientação técnica sobre o uso da Cromoterapia na sala de partos”. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 4 Musicoterapia A música tem sido usada como instrumento de cura desde há centenas de anos. A música mantém a harmonia entre o corpo e mente, e é considerado um método terapêutico alternativo desde 1998. Contribui para reduzir emoções negativas, aumenta o limiar de stress e contribui para alcançar um elevado nivel de relaxamento. Além disso, acredita-se que a música influencia a rede cerebral que determina a experiência emocional através do sistema límbico, ajudando a libertar endorfinas a partir da glândula pituitária, diminuindo assim a concentração de corticotrofina, influenciando os niveis de pressão arterial e o ritmo respiratório.São vários os estudos científicos que o têm vindo a comprovar, mas todos nós já experienciámos determinadas emoções transmitidas apenas pela melodia que ouvimos. De facto ritmo e a melodia certos podem servir de compasso respiratório, (cerca de 60-80 batimentos/minuto) servindo como complemento às tecnicas respiratorias e estimulando uma resposta de relaxamento que facilita a homeostase emocional. Por estas razões, a musica é parte fundamental da Terapia Ambiental encerrando um circulo de conforto e bem estar. Para implementar a musicoterapia no HBA: Colunas (com cartão SD com músicas adaptadas ao trabalho de parto) e com capacidade de através de Bluetooth transmitir a música que a mulher/casal considere significativa para o momento. Ao reunirem-se estes três elementos temos então implementado a Terapia Ambiental, num espaço tranquilo adequado ao desenrolar do trabalho de parto e parto e que, certamente irá corresponder às expectativas da família. Todos estes elementos não são impostos, mas sim propostos. Temos tido até ao momento uma grande aceitação por parte das mulheres/ casais que escolhem o HBA para ter o seu parto. Referem como muito positivo o uso da luz para poderem relaxar. O uso da música também é considerado um meio de relaxamento fundamental. Em relação á aromaterapia esta é vista com mais surpresa mas também aceite e tida como uma mais valia para a concentração na técnica de respiração. Para dar a conhecer à população que nos procura para ter o seu parto, são realizadas visitas à maternidade todas as Terças e Quintas-feiras pelas 11h, não necessitando de marcação prévia. Aqui é dado a conhecer todo o percurso efectuado pela grávida/família/casal, as instalações que têm ao seu dispor, as técnicas alternativas de dor que temos para oferecer, bem como todas as restantes informações necessárias para uma vivência o mais aproximado com o expectável para a mulher/casal. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 5 Como forma de nos aproximar mais o Hospital às necessidades da comunidade temos um gabinete que avalia os planos de partos que nos chegam, que após avaliação é emitida uma resposta que é transmitida à grávida/casal. Pensamos a breve prazo colocar todos os métodos que possuímos e utilizamos durante o trabalho de parto e parto, para oferecer ao casal na internet do Hospital como forma de consulta mais rápida por parte da comunidade que queira optar pelo nosso hospital para ter o seu filho. Referências Bibliográficas Penny Simkin, PT; April Bolding, PT; Update on Nonpharmacologic Approaches to Relieve Labor Pain and Prevent Suffering, J Midwifery Womens Health 49(6):489-504, 2004. © 2004 Elsevier Science, Inc. Khlvaja ShalllSlIddin AZCCJfti- Colour Therapy (163p.) Katayon Vakilio; Afsaneh Keramat- The Effect of the Breathing Thechnique with and without Aromotheraphy on the length of the Active Phase and the second stage of Labour- 2013 Samina T. Yousuf Azeemi and S. Mohsin Raza - A Critical Analysis of Chromotherapy and Its Scientific Evolution,2005 Smith CA, Collins CT, Cyna AM, Crowther CA – Tratamientos complementarios y alternativos para el manejo del dolor durante el trabajo de parto, Reproducción de una revisión Cochrane, traducida y publicada en La Biblioteca Cochrane Plus, 2006, Número 3(1-27) Wuitchik M, Hesson K, Bakal DA. Perinatal predictors of pain and distress during labor. Birth 1990;17:186-91. Simkin PP, O’Hara M. Nonpharmacologic relief of pain during labor: systematic reviews of five methods. Am J Obstet Gynecol 2002;186(Suppl 5): S131-59. Telma Elisa Carraro2, Roxana Knobel3, Vera Radünz4, Sonia Maria Könzgen Meincke5, Marlei Fátima Cezarotto Fiewski6,Ariane Thaise Frello7, Marisa da Silva Martins8, Caroline Vasconcellos Lopes9, Andressa Berton10- Cuidado e Conforto durante o Trabalho de Parto e Parto: Na Busca da Opinião das Mulheres 2006; (97-104) E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 6 Vivências e Experiências das Várias Populações Migrantes: Crenças, Desejos e Práticas Culturais Durante a Gravidez/Experiences of Several Migrant Populations: Beliefs, Desires and Cultural Practices During Pregnancy Emília de Carvalho Coutinho – Escola Superior de Saúde de Viseu, IPV/CIDETS, Viseu, Portugal, [email protected] Resumo A maternidade vivida em contexto de imigração coloca a mulher numa situação de maior vulnerabilidade e suscetivel de desencontros nos cuidados, comprometendo a experiência de gravidez e parto, bem como a satisfação com os cuidados. Pretendemos desocultar as crenças, tradições e práticas de cuidados culturais relacionadas com a gravidez em mães imigrantes em Portugal. Investigação de natureza qualitativa, com recurso à entrevista semiestruturada na qual participaram 60 mães imigrantes. Realizada análise de conteúdo, apoiada pelo NVivo 10. São apresentadas várias crenças, tradições e práticas culturais presentes em várias culturas, associadas à gravidez. Sobressaem as interdições e proibições impostas à mulher grávida. Palavras chave: crenças, práticas, cuidados culturais, imigração, gravidez Introdução Num mundo cada vez mais global em que o encontro de culturas é um lugar-comum, assiste-se à explosão de heterogeneidade linguística, cultural e de práticas de saúde por pessoas oriundas de diferentes culturas [1]. No processo de transição para a maternidade, em contexto ou não de imigração, as crenças, mitos e tradições encontram-se mais ou menos enraizados marcando as experiências culturais de cada mulher tornando-a susceptivel e vulnerável, particularmente nesta fase da sua vida [24]. As interdições e prescrições tradicionalmente impostas, tendo em vista proteger a mulher e a criança que se fundaram inicialmente no relato de histórias e experiências vividas por outras mulheres, ganharam grande destaque na medida em que se reportavam a um período, no qual a mulher se torna mãe, marcado pela ambiguidade de sentimentos experienciados [5]. A maternidade está predominantemente envolvida em padrões de cultura [6], pelo que o significado que lhe é atribuído ao longo dos tempos e as formas de a encarar variam em função das culturas, crenças e práticas culturais. Exige-se, portanto, aos enfermeiros, conhecimentos e competências que lhes permitam lidar com pessoas de diferentes culturas e desenvolver um cuidado cultural, sensível e holístico, centrado nas singularidades e cada uma [7]. Neste contexto, destacamos a importância do cuidado cultural apresentado por E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 7 Leininger [8], que associa a diversidade, a universalidade e a cultura, ao cuidado de Enfermagem, no respeito pelas diferentes experiências, sem juízos de valor e proporcionando experiências gratificantes e significativas. Por outro lado, salientamos também a visão de Purnell & Paulanka [9] que igualmente preconizam que os sistemas de saúde e os profissionais, respeitem as crenças, os valores e as práticas culturais quer das pessoas autóctones quer das imigrantes. O conhecimento dos mesmos é, deste modo, uma imposição, pois que, durante a gravidez, o sentimento de desintegração da sociedade se intensifica quando as crenças e valores não são respeitados, refletindo-se na menor procura dos serviços de saúde e em défices graves de cuidados de saúde, tornando-o num grupo de risco, devido à subsequente morbilidade e mortalidade que lhes são associadas [10]. Com base no exposto, pretendemos desocultar as crenças, tradições e práticas de cuidados culturais relacionadas com a gravidez em mães imigrantes em Portugal, por forma a contribuir para a prestação de cuidados culturalmente congruentes. Participantes e métodos Este estudo faz parte de um protocolo de investigação, de natureza qualitativa do tipo exploratório-descritivo. Esta amostra inclui 60 mulheres imigrantes, pertencentes a dois Agrupamentos de Centros de Saúde da Região Centro de Portugal. Estão representados 21 países. O Brasil é o mais representado seguido da Ucrânia, China, Moldávia, Rússia, França, Índia, Espanha. Os menos representados são a Argentina, Suíça, Congo, Roménia, Canadá, Senegal, Etiópia, Guiné, Holanda, Paquistão, Cabo Verde, Polónia, e Bielorrússia, cf. fig. 1. Foram critérios de inclusão: ser imigrante, ter sido mãe há menos de um ano, domínio na língua portuguesa e aceitar participar no estudo. Verificámos que 72% das mulheres tinham entre 21 e 35 anos de idade, 82% eram casadas, 50% possuiam o ensino superior, 73% encontravam-se empregadas, 68% vigiaram a gravidez, 63% tiveram mais do que uma gravidez, e 52% tiveram mais do que um parto. A recolha de dados decorreu nas instalações dos Centros de Saúde envolvidos, em 2011 e 2012, por entrevista semiestruturada. A análise dos dados baseou-se na Técnica de Análise de Conteúdo [11], com apoio do programa Qualitative Analyses Software Certified Partner (QSR NVivo versão 10). Estudo aprovado pelas comissões de ética das instituições envolvidas e autorizado pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (Processo 85/2011, nº 191/2011). O consentimento informado para a entrevista e gravação do verbatim foi obtido após esclarecimento integral acerca do estudo. A confidencialidade dos dados e o anonimato das participantes foram garantidos. Cada participante foi identificada por duas letras do alfabeto, seguido pela sua nacionalidade (ex: DC Ucrânia). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 8 Figura 1. Percentagem de mulheres entrevistadas por país de origem Resultados Emergem várias crenças, desejos e práticas culturais durante a gravidez. As consequências para a criança estão na base de todas as interdições, quer ao uso de objetos, ao que se faz, ao que se diz, e até ao que se sente, cf. tabela 1. Da totalidade de 32 testemunhos, a nacionalidade que apresenta mais crenças é a Ucrânia com 14 testemunhos, seguida da Moldávia com 6. Realçam-se as referências a interdições ligadas ao contato e uso de alguns objetos durante a gravidez, no sentido de proteger o bebé, quer de manchas e deformações, mas também as ligadas a práticas que se podem revelar prejudiciais para a criança como cortar o cabelo, tocar no gato, ir à igreja ou cemitério, ter relações sexuais, cheirar flores, passar por cima de árvores derrubadas, pintar o cabelo, as unhas ou os olhos, preparar o enxoval antes do nascimento, tratar os dentes, colocar um dedo na boca quando está doente ou quando tocou comida quente, dizer o nome e sexo do bebé ou dizer que está grávida antes dos 3 meses de gravidez, e até interdições ao que a grávida sente concretamente que não se pode assustar. Práticas estas que devem ser evitadas, porque se assume que o corpo da mãe é homólogo ao do bebé. Por outro lado, subsiste o medo da influência do mau-olhado, com recurso ao uso de amuletos, ou à ocultação da gravidez; permanece a crença de que a grávida deve comer por dois; recorre-se ao teste da agulha, como método de adivinhação do sexo do bebé, na tentativa de o desvendar; e está patente o valor atribuido à espiritualidade, para ajudar a ultrapassar as dificuldades. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 9 Tabela 1. Crenças, desejos e práticas culturais durante a gravidez Crenças, desejos e práticas culturais durante a gravidez A objetos Interdições A grávida não deve trazer chaves, moedas, cintos, correntes, telemóvel e objetos metálicos nos bolsos porque podem provocar manchas no bebé “as pessoas dizem que tem que ser assim, que não podemos usar uma coisa metálica no bolso durante a gravidez, porque pode provocar manchas” (CO França) A grávida não deve usar tesouras e agulhas durante a gravidez para não cortar nada ao bebé “Não posso fazer nada com agulhas, não posso cortar pano nem costurar… o meu marido, ele tem as orelhas cortadas e a minha sogra lembrou-se que cortou não sei o quê e por isso o filho tem orelhas cortadas. Quando ele nasceu a minha sogra lembrou-se e por isso disseme: tu não cortas nada porque podes cortar alguma coisa ao bebé!” (DA Ucrânia) Ao que faz A grávida não deve cortar o cabelo durante a gravidez para o parto não correr mal e a criança não falar tarde “não podemos cortar o cabelo durante a gravidez, eu cortava-o um bocadinho mas não muito porque dizem que o parto vai correr mal.” (AZ Ucrânia) “não cortavam o cabelo para o parto correr bem. Não sei bem porquê, só sei que não cortavam o cabelo porque dizem que a criança iria começar a falar tarde.” (BA Ucrânia), “Durante a gravidez não podia cortar o cabelo por isso cortei-o cabelo há 2 dias, são tradições.” (DA Ucrânia), “ a grávida lá na Ucrânia não corta o cabelo, durante toda a gravidez.” “É uma coisa lá qualquer na Ucrânia que a gente já nem sabe ao certo porquê! Mas não podes cortar o cabelo durante toda a gravidez! Mas porquê a gente não se lembra bem, mas por algum motivo que não é muito bom, então mais vale evitar” (DC Ucrânia) A grávida não deve tocar no gato para a criança não ser peluda nem ter lábio leporino “somos muito negativos na parte do gato por exemplo, na gravidez, o gato é aquela coisa que não é pura então, não podes bater no gato porque pode sair a criança toda peluda, dizem-se essas coisas lá na Moldávia” (BZ Moldávia), “Lá [na Moldávia] dizem que não se pode brincar com animais na gravidez, por exemplo com gatos não se pode E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 10 brincar, dizem os velhos, vem do antigamente. Quando isso acontece a criança nasce com uma doença, com lábios de coelho” (CX Moldávia) A grávida não pode ir à Igreja ou cemitério porque dá azar “durante a gravidez na Ucrânia não podemos ir à igreja, nem ao cemitério” (CV Ucrânia), “Na Índia a grávida não pode ir ao cemitério, mas na igreja não tem problema. Depois do bebé nascer já não há problema.” (CU India). A grávida não deve ter relações sexuais em qualquer fase da gravidez porque podem provocar o parto “aqui em Portugal é normal uma pessoa praticar actos sexuais durante a gravidez mas na China não é, pronto. Por exemplo a minha mãe, ela não imagina, mas ela quando soube que eu estava grávida, a primeira conversa que teve é “Tens que ter muito cuidado com o bebé e actos sexuais talvez possam provocar efeitos secundários”, pronto, ela não é muito aberta nesse aspecto então, basicamente, foi isso que ela me explicou. A minha mãe diz que ter relações sexuais pode provocar o parto” (CQ China) A grávida não deve cheirar flores durante a gravidez para que tudo corra bem com a criança “Na gravidez não podes cheirar as flores porque vai acontecer qualquer coisa com a criança que não é boa” (BZ Moldávia) A grávida não deve passar por cima de árvores derrubadas para o bebé não nascer com circular ao pescoço “se uma árvore cair e ficar derrubada no caminho e tu estiveres grávida, não podes passar por cima dela porque senão o bebé pode ficar com o cordão umbilical à volta do pescoço.” (CS Ucrânia) A grávida não deve pintar o cabelo, as unhas ou os olhos durante a gravidez porque pode fazer mal “quando estava grávida não pintava as unhas ou o cabelo, porque pode fazer mal.” (BA Ucrânia), “não posso pintar os olhos durante a gravidez, não posso pintar o cabelo durante a gravidez, dizem que a tinta pode entrar na pele e depois no corpo e pode prejudicar o bebé ou provocar alergia, qualquer coisa.” (DA Ucrânia) A grávida não deve preparar o enxoval antes do nascimento para não dar azar “Na Roménia dizem que não é bom comprar a roupa antes de a criança nascer, nem se pode arranjar o quarto porque pode acontecer alguma E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 11 coisa, dá azar.” (BT Roménia), “Para o caso de o bebé não nascer bem ou morrer no parto, também não deves comprar nada para o bebé antes do nascimento, é uma tradição.” (CS Ucrânia) A grávida não deve tratar os dentes durante a gravidez porque faz mal “Pus em prática um costume da cultura brasileira, que é não fazer o tratamento aos dentes durante a gravidez, porque a minha avó disse para não fazer porque nas grávidas não se pode mexer nos dentes porque faz mal” (AX Brasil) A grávida não deve colocar um dedo na boca quando está doente ou quando tocou comida quente para evitar coisas más para a criança “É só preciso ter cuidado com tudo o que fazes, por exemplo se tens uma coisa má e pões um dedo na boca, a criança pode fazer o mesmo e ser mau…quando fazes isso, precisas de pensar na criança.” (CN Moldávia), “Se cozinhares algo e ficar demasiado quente, por exemplo se tocares com o dedo e estiver muito quente não deves tocar no teu corpo porque senão o bebé pode nascer com marcas, é a tradição.” (CS Ucrânia) Ao que diz A grávida não deve dizer o nome e sexo do bebé antes de ele nascer porque pode dar azar “Podemos pensar mas não dizer para ninguém o nome do bebé antes de ele nascer... tipo na nossa terra [Ucrânia] diz-se que, pode nascer doente, pode acontecer qualquer coisa.... Depois de nascer, no primeiro dia, já se pode falar à vontade... isto já vem de há 200 ou 300 anos e toda a gente faz igual, a gente diz que alguém pode ter pensado um bocadinho mal, e o pensamento pode fazer mal ao bebé.... pode dar azar...acontece na Ucrânia, Polónia, Bielorrússia…pode dizer o sexo do bebé mas é melhor não dizer... pode errar dizer que é menina e sair menino e pode fazer mal.” (AG Ucrânia) A grávida não deve dizer que está grávida antes dos 3 meses para evitar aborto por mau-olhado “Eu não quis dizer a ninguém que estava grávida, porque não queria perder outra vez o bebé, pois já tinha tido um aborto espontâneo, por isso a gravidez foi muito calma. Eu esperava muito este bebé só depois de saber que estava tudo bem é que contei à minha família, já com 4 meses de gravidez.” (BQ Moldávia), “Até aos 3 meses, ninguém, normalmente, diz nada a ninguém que está grávida, só mesmo às pessoas mais próximas. … só depois dos 3 meses de gravidez é que se fala…normalmente 3 meses toda a gente aguenta porque é a altura mais E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 12 frágil para abortar e se isso acontecer associa-se ao mau-olhado” (DC Ucrânia) Ao que sente Para o bem da criança a grávida não se pode assustar “No meu país [Moldávia] também existem algumas coisas [crenças], quando olhas para um animal é preciso pensares que estás grávida…quando olhas para uma coisa que não está bonita não te podes espantar, assustar… tens que pensar sempre que estás grávida para o bem da tua criança.” (CN Moldávia) Prescrições Nas quantidades de alimentos que come A grávida deve comer por dois “eu tinha que comer por dois, por isso fiquei tão gorda” (AB França), “ fui acompanhada nas consultas e soube que não devia comer por dois, como eu pensava que tinha que fazer, porque no Brasil as pessoas têm essa ideia, que têm que comer por dois, e se não fosse esse acompanhamento durante toda a gravidez eu teria engordado bastante.” (AJ Brasil) No que faz A grávida deve exercitar-se e fazer caminhadas no final da gravidez porque facilita e acelera o trabalho de parto “na China dizem que ao fim dos 9 meses tem que se caminhar para nascer mais rápido, nós no fim da gravidez caminhamos mais.” (AU China), “No Paquistão as mulheres grávidas trabalham mais do que aqui, as portuguesas. Lá no Paquistão as grávidas fazem o trabalho de casa, andam mais, movem-se mais. Quando se está grávida anda-se mais, porque acreditamos que faz bem para a grávida, que quando vai para o parto é mais fácil. Quando chega ao 7º mês, as grávidas andam mais, sobem e descem muitas escadas, porque isso vai ajudar a que o parto seja mais fácil e mais rápido.” (BW Paquistão) A grávida deve usar amuletos contra o mau-olhado “As grávidas normalmente andam com uma pregadeira na roupa contra o mau-olhado, depois também andam com montes de amuletos, cada um tem o seu dom, cada um tem alguma coisa que é própria e andam com isso tudo” (DC Ucrânia) No que acredita Acreditar no budismo dá suporte espiritual para ultrapassar as dificuldades E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 13 “temos que pensar num suporte espiritual... Acho que é essa cultura budista em mim que eu já herdei. Esta é uma cultura que se baseia em tratar de nós; quer dizer não temos uma imagem dos santos, que temos que rezar, que temos que fazer orações…tratamos de nós como um espírito que está em contacto diretamente com algo superior e sentir que com o nosso coração aberto, sou capaz de comunicar, ultrapassar as dificuldades todas.” (CF China) Acreditar que fazer o teste da agulha informa do sexo do bebé “Fiz o teste de agulha durante a gravidez, para saber se é menina ou menino. Deu menina mas afinal saiu menino.” (AB França) Desejos Desejo de beber cerveja durante a gravidez, uma prática tradicional no Congo “Bebe-se muita cerveja no Congo, e foi uma vontade que eu tive sempre durante a gravidez… durante a gravidez bebia cerveja sem álcool quase todos os dias e apetecia-me muito, até sonhava com finos.” (AO Congo) Discussão/Conclusão Na resposta ao objetivo do estudo, desocultar as crenças, tradições e práticas de cuidados culturais relacionadas com a gravidez de mães imigrantes em Portugal, verificámos que as crenças e práticas culturais das mães imigrantes, durante a gravidez, foram variadas. As proibições e interdições encontram sentido no discurso de Kitzinger [12] a qual afirma que estas interdições próprias da gravidez têm a força de tabu, com o intuito de proibir, acreditando que a negligência perante as mesmas pode resultar em alterações terríveis. Estas alterações poderão afetar tanto a grávida como a criança, uma vez que os corpos se encontram imbrincados e tudo o que a mãe fizer, se refletirá nele. A crença face ao contato e uso de objetos, neste período, ocorre desde a antiguidade, altura em que já os Romanos proibiram as mulheres grávidas de usar pulseiras, chaves, tesouras entre outros materiais, com o objetivo de proteger o bebé [13]. Estas crenças permanecem enraizadas na cultura de parte das mães entrevistadas. Existe uma crença, já desde a idade média, que associa o nascimento de uma criança com lábio leporino ao fato de a grávida ter tocado em determinados animais[13]. Ainda neste período, a preparação do enxoval muito tempo antes do nascimento do bebé, não é bem vista por algumas mães. Esta orientação pode ser geradora de ansiedade na grávida e entrar em conflito com as suas práticas culturais, na medida em que os profissionais de saúde aconselham a preparação do mesmo antecipadamente, para fazer face a uma eventual necessidade antecipada. Neste sentido, há que se desenvolver uma prática profissional culturalmente congruente, capacitando a mulher E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 14 para a tomada de decisão consciente e devidamente informada, livre e esclarecida. Esta abordagem é fundamental, pois como refere Collière [14], a evolução dos conhecimentos e o ajustamento das práticas estão estritamente ligadas à relação terapêutica que se estabelece entre cuidador e pessoa cuidada. Os resultados demonstraram que o contexto cultural de cada mãe influencia de forma significativa a sua experiência de maternidade. A compreensão da origem das práticas culturais permite a enfermeiros/as desenvolver um cuidado culturalmente apropriado, evitando a imposição cultural e atitudes de etnocentrismo. Este cuidado poderá também limitar as barreiras ao acesso aos serviços de saúde e a criação de condições favoráveis ao acolhimento, através de um clima de confiança e de compreensão. Conclui-se, desta forma, que as grávidas imigrantes são um grupo vulnerável, em que o cuidado deve apresentar uma abordagem especial que considere as suas crenças, tradições e práticas culturais. Agradecimentos Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) no projeto PEst-OE/CED/UI4016/2014, e Centro de Estudos em Educação Tecnologia e Saúde (CI&DETS). Referências Bibliográficas [1] Coutinho, E., Silva, A., Pereira, C., Duarte, J., Neto, S., Mendes, D., & Leitão, P. (2012). Ser mãe imigrante no contexto de saúde português: cuidados pré-natais. Investigação em Saúde: perspectiva ética, clínica e epidemiológica , pp. 251-270. [2] Collière, M. F. (1989). Promover a vida: da prática das mulheres de virtude aos cuidados de saúde. Lisboa: Sindicato dos Enfermeiros Portugueses. [3] Lima, A. (1979). Introdução à Antropologia Cultural. Lisboa: Editorial Presença Lda. [4] Martins., M. F. (2004). A herança cultural de um povo: Segredos tradicionais no ventre. Actas dos ateliers do Vº Congresso Português de Sociologia., pp. 10-15. Obtido em 2014 de Janeiro de 10, de http://repositorium.sdum.uminho.pt/bitstream/1822/22825/1/Heran%C3%A7a%2 0cultural%20de%20um%20povo.pdf [5] Coutinho, E., & Parreira, M. (2011). Outra forma de olhar de olhar a mãe imigrante numa situação de transição. Millenium, 40, pp. 83-97. [6] Leal, I. (2005). Psicologia da gravidez e da parentalidade. Lisboa: Fim de seculo. [7] Coutinho, E., Silva, A., Pereira, C., Chaves, C., Dias, M., Monteiro, V., & Simões, C. (2012). Ser mãe imigrante no contexto de saúde português: caracterização socio- E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 15 demográfica. In ESSV (Ed.), Investigação em Saúde: perspectiva ética, clínica e epidemiológica (pp. 235-249). Viseu: Escola Superior de Saúde de Viseu. [8] Leininger, M. (1991). Culture Care diversity and Universality: a theory of Nursing. The theory of culture care diversity and universality. . New York: National League for Nursing Press. [9] Purnell, L. D., & Paulanka, B. J. (2010). Cuidados de saúde transculturais: uma abordagem culturalmente competente (3ª ed.). Loures: Lusodidacta. [10] Topa, J., Neves, S., & Nogueira, C. (2013). Imigração e saúde: a (in)acessibilidade das mulheres imigrantes aos cuidados de saúde. Saúde Soc. São Paulo, 22 328-341. Em http://www.scielo.br/pdf/sausoc/v22n2/v22n2a06 [11] Bardin, L. (2013). Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70. [12] Kitzinger, S. (1978). Mães um estado antropológico da maternidade (2ª ed.). Lisboa: Editorial presença. [13] Martins, M. F. (2007). Mitos e crenças na gravidez. Sabedoria e segredos tradicionais das mulheres de seis concelhos de Braga. Lisboa: Edições Colibri. [14] Collière, M. F. (2003). Cuidar...a primeira arte da vida (2ºed.). Lisboa: Lusodidacta. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 16 Uma Experiência em Timor/An Experience in Timor Helena Isabel Borges Manuel – ACES Cascais, UCC Girassol, [email protected] Resumo Em Timor-Leste a saúde reprodutiva é considerada uma área de intervenção prioritária devido a elevadas taxas de fecundidade e de mortalidade materna, exercendo a cultura grande influência sobre o comportamento de saúde dos timorenses. Nesta comunicação são apresentados alguns resultados de um estudo etnográfico que tem como objetivos de investigação descrever e comparar crenças, atitudes e práticas de saúde reprodutiva de timorenses pertencentes a diversos grupos etnolinguísticos de Timor-Leste, e identificar modificações resultantes do contacto entre culturas. Foi efetuado em dez distritos, abrangeu onze grupos etnolinguísticos e nele participaram profissionais de saúde, parteiras tradicionais, mulheres e casais com filhos, selecionados mediante um processo de amostragem tipo “bola de neve”. Os dados foram recolhidos através de entrevistas exploratórias e semiestruturadas e de vários tipos de observação, e submetidos a análise de conteúdo. Os resultados revelam a valorização de famílias numerosas e um baixo recurso à contraceção. Há determinados rituais, recomendações, tabus e restrições que rodeiam a mulher grávida, tendo em vista proteger a mãe e o feto de danos físicos. Há uma preferência generalizada pelo parto no domicílio, frequentemente assistido por familiares ou pela parteira tradicional. O puerpério envolve uma série de procedimentos baseados na permanência da mãe com o recém-nascido em casa, na aplicação de calor e no cumprimento de algumas prescrições e restrições alimentares. A placenta é frequentemente sujeita a rituais tradicionais. Palavras-chave: Cultura, comportamento, saúde reprodutiva, Timor-Leste Introdução Timor-Leste situa-se na parte leste da ilha de Timor, na região do Índico-Pacífico. Foi uma colónia portuguesa durante quatro séculos, tendo ocorrido em 1975 a sua invasão e ocupação pela Indonésia. Em 1999 teve lugar um referendo, em que os timorenses votaram maioritariamente a favor da independência. Desencadeou-se um surto de violência por parte de milícias pró-integração e de militares indonésios que resultou em perseguições, mortes, pilhagens e destruição ao longo de todo o território, e que forçou grande parte da população a deslocar-se. Seguiu-se uma operação humanitária em larga escala e um período de administração transitória liderada pelas Nações Unidas. A 20 de Maio de 2002 Timor-Leste tornou-se um país independente, e desde então o governo, apoiado pelos seus parceiros, tem-se esforçado por melhorar as condições de vida da população, predominantemente rural, E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 17 caracterizada pela pobreza generalizada e por baixos níveis de literacia e de saúde (Ministry of Health Timor-Leste, 2008). A situação de saúde reprodutiva é preocupante e constitui uma área de intervenção prioritária, existindo uma taxa de fecundidade de 5,7 filhos por mulher, uma taxa de utilização de métodos contracetivos de 22,3% e uma taxa de mortalidade materna de 557/100 000 nados-vivos, que se deve sobretudo a complicações obstétricas como o parto prolongado e a hemorragia, e também ao agravamento, pelos efeitos da gravidez, de situações pré-existentes como a anemia, a malária e a malnutrição. Embora 87,5% das mulheres timorenses tenham recebido cuidados pré-natais (80,3% dos quais prestados por enfermeiras ou parteiras, 4,1% por médicos, 1,6% por auxiliares de enfermagem e 1% por parteiras tradicionais), apenas 55% fizeram pelo menos quatro consultas pré-natais. A ocorrência de partos no domicílio (78%) é muito superior à de partos em estabelecimentos de saúde, quer do setor público (21%) quer do privado (1%). Os partos são, na maior parte das vezes, assistidos por familiares ou amigos (49%), seguindo-se os profissionais de saúde (30%) e as parteiras tradicionais (18%), e 3% não tiveram qualquer assistência. Esta situação deve-se sobretudo a uma falta geral de conhecimentos sobre os possíveis riscos associados ao parto, ao número insuficiente de parteiras e à confiança depositada nas parteiras tradicionais e nos familiares. Os cuidados pós-natais também têm grande importância para a saúde da mãe e do recém-nascido; no entanto, 68% das mulheres não os receberam (National Statistics Directorate, Ministry of Finance Timor-Leste & ICF Macro, 2010). Existe, em Timor-Leste, uma grande diversidade etnolinguística que origina uma variedade de práticas culturais, consoante a tradição local. Por seu lado, a intensificação dos contactos interculturais que se tem manifestado ao longo dos anos alterou, em muitos aspetos, a sociedade timorense. Existindo evidências de que a cultura exerce influência sobre o comportamento de saúde das famílias e comunidades timorenses, foi realizado o presente estudo de investigação, que tem como objetivos descrever e comparar crenças, atitudes e práticas de saúde reprodutiva de timorenses pertencentes a diferentes grupos etnolinguísticos de Timor-Leste; e identificar modificações no comportamento de saúde reprodutiva dos timorenses, resultantes do contacto entre culturas (Manuel, 2012, 2014). Metodologia Trata-se de um estudo etnográfico, exploratório, descritivo e comparativo, que tem por base uma metodologia qualitativa. O trabalho de campo foi efetuado em dez dos treze distritos de Timor-Leste, em meio rural e urbano, e abrangeu onze grupos etnolinguísticos. Mediante um processo tipo “bola de neve”, foram recolhidos dados provenientes de 73 informadores privilegiados, 55 parteiras e outros profissionais de saúde prestadores de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 18 cuidados de saúde reprodutiva, 70 parteiras(os) tradicionais e 114 mulheres e casais com filhos. A recolha de dados foi efetuada com recurso a entrevistas exploratórias e semiestruturadas, à observação direta e participante e à observação fotográfica e fílmica. Na sua análise foi utilizada a técnica da análise de conteúdo. Resultados do Estudo Planeamento familiar Em Timor-Leste subsiste uma organização social tradicional, onde a família alargada desempenha um papel significativo numa economia essencialmente agrícola. Os filhos são muito valorizados por darem continuidade à família, perpetuando a transmissão de bens e valores culturais, e por ajudarem no desempenho de diversas tarefas. O casamento tradicional envolvendo troca de bens (designado por barlake) mantém-se em muitas famílias, levando os casais a desejarem um elevado número de filhos. É comum afirmarem que “ter muitos filhos é uma boa sorte” ou “uma riqueza”. Alguns timorenses consideram que o tamanho da família é algo que depende de Deus e sentem-se felizes ao aceitarem o número de filhos que lhes é concedido. O baixo estatuto da mulher e sua subordinação ao homem dão origem a que as decisões dependam em grande parte do acordo deste. Embora algumas mulheres desejem limitar o número de filhos, podem deparar-se com a oposição do marido. O nível geral de conhecimentos sobre o controlo da fecundidade é baixo, ocorrendo com frequência gravidezes não planeadas. Os efeitos secundários que associam a diversos métodos contracetivos desencorajam o seu uso. Por esse motivo, e por serem os únicos aprovados pela Igreja Católica, alguns casais recorrem aos métodos naturais. O método mais utilizado é a injeção trimestral (Depo-Provera), cuja administração é mais cómoda quando comparada com a pílula, que tem bastantes utilizadoras, mas em que os esquecimentos são frequentes. Embora tenha diminuído, subsiste a utilização de métodos tradicionais como a “viragem do útero”, a aplicação de calor, a abstinência sexual no período pós-parto, o uso de substâncias herbáceas e, no caso do grupo etnolinguístico fataluku, a prática do mamunu (que consiste em proferir palavras rituais, combinadas com a ação de soprar-cuspir na parte do corpo afectada). Gravidez A gravidez é considerada uma situação normal mas também, ao mesmo tempo, um período de especial vulnerabilidade quer para a mãe quer para o filho que vai nascer. No decurso da gravidez, alguns timorenses dirigem-se à casa tradicional (uma lulik) invocando os antepassados, podendo executar rituais divinatórios ou preditivos da saúde e do sexo do bebé. Estes podem consistir na consulta ou leitura das vísceras de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 19 um animal, ou no corte em fatias do caule da bananeira. Há determinadas recomendações, tabus e restrições que rodeiam a mulher grávida, com a intenção de proteger a mãe e o feto de danos físicos. Há mulheres que deixam de usar colares quando estão grávidas receando que a criança nasça com o cordão umbilical enrolado em redor do pescoço. Algumas evitam cortar o cabelo durante a gravidez receando que esse ato provoque o corte do cordão umbilical, aborto, parto prematuro, hemorragia ou até a morte da mulher. É frequente as mulheres grávidas transportarem, quando saem para o exterior, sobretudo à noite, um objeto aguçado, para protegerem o bebé dos espíritos malignos. Podem usar um pente ou um prego no cabelo, ou transportar uma faca ou uma tesoura. Há mulheres que se alimentam normalmente, sem cuidados ou recomendações especiais; no entanto, também se verifica a existência de uma diversidade de interdições ou tabus alimentares. Há alimentos proibidos por serem considerados abortivos (p. ex. ananás verde), outros por poderem dificultar o parto ou causar problemas ao bebé (p. ex. ovo). Por vezes há recurso a medicamentos tradicionais, ingeridos ou aplicados externamente, para evitar dificuldades no parto ou resolver problemas durante a gravidez. As mulheres recorrem à consulta pré-natal quando esta é razoavelmente acessível. A falta de comparência deve-se não só a dificuldades de acesso aos estabelecimentos de saúde por constrangimentos de ordem geográfica ou económica, mas também à oposição dos maridos, ao facto de não haver outra pessoa disponível para cuidar dos filhos durante a sua ausência, ou à vergonha de expor o corpo perante estranhos. A maior parte das mulheres recebe cuidados pré-natais por parte de um profissional de saúde, mas também há muitas que consultam a parteira tradicional quando têm problemas. Esta costuma efetuar uma massagem abdominal com óleo de coco, kamii (Aleurites moluccana) ou outras substâncias, verificando a posição do feto; caso não seja favorável, pode corrigi-la realizando manobras externas. Por vezes acompanha a massagem com orações especiais. Também pode administrar medicamentos herbáceos à mulher grávida, cuja composição é frequentemente mantida em segredo. Parto Há diversas razões na origem da preferência pelo parto no domicílio. Por um lado, o parto é considerado um acontecimento natural, que só carece de assistência num estabelecimento de saúde quando surgem complicações. Por outro, em casa as mulheres sentem-se mais confortáveis, estando próximas dos seus familiares e do que é preparado especialmente para essa ocasião, podendo seguir as práticas tradicionais. Algumas sentem-se desconfortáveis no hospital e têm vergonha de expor o seu corpo. A distância a percorrer entre a casa e os centros de saúde ou hospitais e o acesso a meios de transporte e de comunicação constituem problemas frequentes, associados a E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 20 dificuldades económicas que limitam a possibilidade de pagar as despesas de transporte e acompanhamento da mulher. Quando o parto é realizado no domicílio há geralmente preferência pelas posições verticais, podendo a parturiente sentar-se, agachar-se ou ajoelhar-se com o tronco elevado e apoiar-se na parede, no marido ou noutra pessoa. Por vezes a mulher agarra-se a uma corda suspensa nas traves do teto, para a ajudar a fazer força durante o trabalho de parto. As parteiras oficiais e as parteiras tradicionais que receberam formação no tempo da Indonésia costumam dar assistência ao parto com a permanência da mulher na posição horizontal. Nos partos domiciliários, o cordão umbilical é tradicionalmente cortado após a expulsão da placenta, pois existe a crença generalizada de que, se isso for feito antes, a placenta “sobe”, podendo causar danos à parturiente. Os extremos do cordão podem ser atados ou deixados livremente, por vezes após a expressão do sangue em direção ao recém-nascido. Tradicionalmente, os timorenses cortam o cordão com uma “faca” ou pedaço de bambu afiado. Alguns continuam a utilizá-lo no presente, sobretudo nas zonas remotas, e por vezes de forma simbólica por se tratar de uma prática ancestral que permite manter a ligação aos antepassados. Atualmente usam mais a faca, a tesoura ou a lâmina, sendo frequente a utilização de objetos não esterilizados e por vezer nem sequer lavados, o que aumenta o risco de infeções. A medida para o corte do cordão, desde o abdómen do bebé, é geralmente a de duas ou três falanges do dedo indicador. Nos cuidados à parturiente, as parteiras tradicionais recorrem frequentemente à massagem abdominal com óleo de coco ou kamii para facilitar a expulsão do feto ou da placenta. Podem ser usados diversos medicamentos tradicionais, quer para facilitar um parto normal, quer para prevenir e tratar complicações. Quando surgem dificuldades no trabalho de parto, muitos timorenses atribuem a situação a questões familiares, que podem ser querelas, problemas por resolver ou incumprimento de rituais tradicionais. Em locais onde existe curandeiro (matan-dook), este pode ser chamado para executar técnicas divinatórias, formular orações (hamulak) dirigidas aos antepassados e/ou aplicar medicamentos tradicionais. Puerpério O período pós-parto ou puerpério dura cerca de quarenta dias. Nesta fase em que a mãe e o filho são considerados vulneráveis, os timorenses apresentam um conjunto de crenças, atitudes e práticas inerentes ao seu contexto cultural, com variações regionais. Algumas das mulheres que recorrem aos serviços de saúde mantêm as suas práticas tradicionais; outras apenas parcialmente por considerarem que os cuidados e os medicamentos que lhes são fornecidos diminuem a sua necessidade. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 21 As puérperas costumam permanecer dentro de casa agasalhadas e o contacto com o frio e o vento é evitado, estendendo-se estes cuidados ao recém-nascido. O calor é um elemento essencial que tem como finalidade o aumento da produção de leite materno, o fortalecimento da mulher, a prevenção da gravidez, a expulsão dos lóquios, que designam por ran foer (“sangue sujo”) ou ran mate (“sangue coagulado, morto”) e a prevenção de doenças, nomeadamente “a subida do sangue branco à cabeça” (ran mutin sa’e ulun), em que uma mulher adoece e pode ficar louca ou morrer. Pode ser aplicado através da ingestão de água quente e, por vezes, de bebidas alcoólicas, consideradas “quentes”. O banho com água quente constitui uma prática tradicional habitual, podendo ser auxiliado por outra mulher ou membro da família usando um pano embebido em água quente, com o qual vai exercendo pressão no abdómen e outras partes do corpo. Diversas substâncias, entre as quais o kamii, podem ser utilizadas no banho ou em massagens. O cabelo não deve ser lavado nos primeiros dias após o parto. A permanência da mãe e do filho junto de uma fogueira, embora menos comum, ainda ocorre em certas regiões, sobretudo nas zonas rurais e/ou montanhosas. As puérperas costumam seguir um regime especial, dependendo da tradição familiar e local. A canja (sasoro) e a canja com frango (kaldu) são os alimentos mais recomendados nos primeiros dias após o parto, aos quais pode ser adicionado gengibre (Zingiber officinale) ou ai manas ai leten (Piper subpeltatum), por “aquecerem” e facilitarem a saída dos lóquios, ou ainda alho, cebola, açafrão e folhas de determinadas plantas. O milho pilado cozido e o amendoim são alguns dos alimentos consumidos para aumentar a produção de leite materno. Também existem diversos tabus alimentares, com variações entre famílias ou regiões. O sal é geralmente proibido até à queda do coto umbilical do recém-nascido, por acreditarem dificultar a cicatrização do umbigo. Também são desaconselhados alimentos como o piripiri, por poder provocar tosse, dores abdominais no bebé ou infeções genito-urinárias na mãe; hortaliça verde, papaia, manga, tamarindo e outros frutos, por poderem provocar dores abdominais e diarreia na criança; sardinha e outos tipos de peixe, por poderem dar origem a infeções, tosse ou prurido. Procedimentos com a Placenta Existem diversas crenças e práticas tradicionais relativas à placenta (ka'an). Os timorenses consideram-na o “irmão mais novo” da criança (labarik nia alin), atribuindo-lhe capacidades “mágicas” por poder causar ou prevenir um acontecimento específico. Por isso é importante tratá-la de forma apropriada, caso contrário a criança poderá ser afetada. Quando o parto tem lugar no hospital, a placenta é geralmente colocada num saco e entregue à família, que a leva para casa e a submete a determinados rituais. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 22 Tradicionalmente, depositam-na numa panela de barro, num cesto ou num bambu (atualmente também num plástico, numa lata ou num balde), frequentemente coberta de cinza para não libertar fluidos e mau odor, e suspendem-na numa árvore de grande porte. Durante o trajeto ou no regresso a casa, são por vezes seguidos procedimentos tradicionais especiais. Podem ainda observar-se outras práticas. Alguns timorenses envolvem a placenta em capim e amarram-na aos ramos de uma árvore, outros colocam-na numa estaca de bambu ou depositam-na numa panela e prendem-na no topo de um bambu. Atualmente, muitos enterram-na num local próximo da casa, por vezes junto de um coqueiro ou de uma bananeira. Também podem colocar objetos junto à placenta, de acordo com aquilo que desejam que a criança venha a ser ou a fazer no futuro. Considerações Finais A cultura exerce uma forte influência sobre o comportamento de saúde reprodutiva das mulheres e suas famílias, subsistindo uma grande diversidade de crenças e práticas em torno do nascimento. Se algumas delas são generalizadas, outras são específicas de determinados grupos etnolinguísticos ou regiões, com variações entre famílias. Os grupos mais isolados e, dentro destes, as comunidades mais remotas e com menos contactos externos, são em geral os que mantêm mais vivas as tradições provenientes das gerações anteriores. Embora algumas destas práticas sejam benéficas ou neutras, outras podem ser prejudiciais para a mãe ou para os seus filhos. A situação da saúde reprodutiva em Timor-Leste deve ser entendida num contexto geral, considerando todo o conturbado percurso histórico e as suas repercussões na sociedade timorense. A implementação das políticas de saúde pública e o recurso, por parte das mulheres e suas famílias, aos serviços oferecidos a nível do sistema de saúde envolvem diversos problemas, nomeadamente as condições de acesso, a falta de infraestruturas públicas de saúde bem apetrechadas, a carência de recursos humanos qualificados e, também, a discrepância existente entre uma oferta médica moderna e um modelo tradicional de saúde que tem por base crenças e práticas de saúde derivadas da herança etnocultural dos timorenses, que acompanham e envolvem o nascimento. Referências Bibliográficas Manuel, H. I. B. (2012). Crenças, Atitudes e Práticas de Saúde Reprodutiva em TimorLeste: Uma Abordagem Intercultural (Tese de Doutoramento, Universidade Aberta). Disponível em http://hdl.handle.net/10400.2/2211 Manuel, H. I. B. (2014). Maternité et naissance à Timor-Leste, et les défis de la mise en œuvre d'un système de santé moderne. In B. A. Corte-Real, C. Cabasset, & F. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 23 Durand (Dir.), Timor Leste contemporain: L'Émergence d'une nation (pp. 221254). Bangkok, Thailand: Institut de Recherche sur l'Asie du Sud-Est Contemporaine (IRASEC). Ministry of Health Timor-Leste (2008). Health Sector Strategic Plan 2008-2012. Dili, Timor-Leste: Ministry of Health. National Statistics Directorate, Ministry of Finance Timor-Leste, & ICF Macro (2010). Timor-Leste Demographic and Health Survey 2009-10. Dili, Timor-Leste: NSD & ICF Macro. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 24 Cuidar na Unidade Móvel: Projeto de Intervenção Comunitária em Saúde MaternoInfantil e Planeamento Familiar/Caring in the Mobile Unit: Community Intervention Project on Maternal and Child Health and Family Planning Maria Adelaide O. Verde Martins – ACES Amadora – USF Venda Nova Catarina Álvares M. Portilheiro – ACES Amadora – USF Venda Nova Resumo Em 1993 a Direcção Geral de Saúde criou o Projeto de Intervenção Especial em Saúde Materno Infantil e Planeamento Familiar, preconizando como estratégia a intervenção comunitária e a participação da população. Relatamos, nesta comunicação, a experiência deste projeto no concelho da Amadora. O Centro de Saúde da Venda Nova (designação até 2009), aderiu a esta iniciativa em 1999, contando com o recurso a uma Unidade Móvel que se dirigia a diferentes bairros do concelho. Esta intervenção foi especialmente dedicada a população socialmente excluída, imigrante e minorias urbanas pobres (com baixo acesso aos cuidados de saúde), tendo como principal objetivo a promoção do acesso aos cuidados de saúde materna, infantil e planeamento familiar. Perante o diagnóstico de um número elevado de crianças com vacinas em atraso, sem consultas de vigilância de saúde infantil, gravidezes vigiadas tardiamente ou mesmo sem vigilância, iniciámos um trabalho de proximidade com estas comunidades. A unidade móvel deslocava-se dois dias por semana aos diferentes locais, sendo utilizada para a prestação de cuidados de saúde e para referenciar os utentes para os centros de saúde e para outras instituições. A visita domiciliária, o trabalho com grupos da comunidade e a ligação estreita com outros parceiros institucionais, foram também estratégias muito importantes de aproximação. Este trabalho de proximidade resultou numa melhoria nos indicadores de vacinação e de vigilância de saúde. Summary In 1993, the Portuguese Directorate General of Health created the “Infant, Family Planning and Maternity Health Special Intervention Project”, using as a strategy community intervention and participation. Here we describe this project experience in Venda Nova Health Centre – Amadora, witch started in 1999, with the help of a mobile unit to carry the health team to the communities and attend the identified population. This community intervention project was developed with socially excluded immigrant populations living in impoverished urban neighbourhoods, in the outskirts of Lisbon, with low access to health services. It was our main goal to improve access to health care (maternal, family planning and infant’s health). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 25 Some necessities were identified in children, maternal and family planning health, such as lack of regular check-ups and vaccinations. The team started to work together with these communities, articulating closely with our institutional partners. The mobile health was used twice a week to provide nursing care and to make referrals to the health centre and other institutions, where health care continues. The identified population is followed up in the mobile health unit or through home visits. This made possible an improvement in the community access to health care. Introdução Em 1993 a Direcção Geral de Saúde criou o projeto de Intervenção Especial em Saúde Materno Infantil e Planeamento Familiar, preconizando como estratégia a intervenção comunitária e a participação da população. Este foi iniciado pela antiga Sub-Região de Lisboa em 1996. Relatamos, nesta comunicação, a experiência do Projeto de Intervenção Comunitária em Saúde Materno-Infantil e Planeamento Familiar no concelho da Amadora. Os princípios que guiaram a nossa intervenção basearam-se nas recomendações da Organização Mundial da Saúde, em que a saúde é um direito fundamental de todo o ser humano. Deve ser dada elevada prioridade aos cuidados de saúde dirigidos aos setores mais desfavorecidos da sociedade, através da participação comunitária e colaboração interinstitucional, e criadas medidas específicas dirigidas a refugiados, imigrantes e minorias étnicas. Estas medidas integram a perspectiva de género e promovem o acesso aos cuidados de saúde, a participação da população e o trabalho em parceria. Defendem assim, os valores da equidade, solidariedade e justiça social enquanto estratégia para a redução das desigualdades em saúde. Caracterização demográfica e social O Concelho da Amadora tem uma elevada densidade populacional (cerca de 7000 habitantes por Km2). Dos seus 175000 habitantes, 20% são de famílias imigrantes, e destes 20%, 12% são estrangeiros. A população da Amadora é muito flutuante. Existe uma diferença entre os valores dos censos da população residente (cerca de 175000) e o número de pessoas inscritas como utentes do ACES da Amadora (cerca de 203000). Esta diferença representa cerca de 34000 pessoas, que se poderá associar a uma população flutuante ou em trânsito. Sabemos ainda que apenas 170000 dos inscritos são utilizadores. No concelho da Amadora existem diversos bairros degradados e de realojamento. Com uma população difícil de recensear mas que se estima que seja na ordem dos 15000. O Centro de Saúde da Venda Nova (designação até 2009), aderiu a esta iniciativa em 1999, contando com o recurso de uma Unidade Móvel que se dirigia a diferentes E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 26 bairros do concelho e acompanhando os fluxos de realojamento e reconfiguração urbana. Inicialmente, de 1999 a 2001 no Bª da Qta da Lage e de 2001 a 2012 noutros bairros da Amadora (Bairro 6 de Maio, Fontaínhas, Estrela de África, Casal da Mira, Casal da Boba e Casal do Silva). A população destes bairros era muito heterogénea e flutuante com famílias de origem Africana, dos PALOP e Portuguesa (incluindo de etnia cigana). Na sua maioria tinha empregos precários e baixa escolaridade com abandono escolar precoce, e baixo acesso aos cuidados de saúde. O Projeto O projecto começou através de uma intervenção directa com as comunidades, tendo o objectivo de facilitar o acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente a vigilância de saúde infantil, saúde materna e de planeamento familiar, promovendo a autonomia destas comunidades. Dentro do centro de saúde começámos a identificar um nº elevado de crianças com vacinas em atraso, sem consultas de vigilância de saúde infantil, gravidezes vigiadas tardiamente ou mesmo sem vigilância, e começámos a identificar que a sua proveniência era destes bairros. Perante este diagnóstico quisemos começar um trabalho de proximidade com estas comunidades, percebendo nos seus contextos de vida, as suas reais dificuldades, de forma a poder fazer uma intervenção mais estruturada em articulação com os parceiros da comunidade. A forma calorosa como as pessoas nos receberam e a ajuda que deram para o conhecimento da geografia do bairro foi essencial. As pessoas chegavam ao projeto através de: Profissionais do Centro de Saúde Iniciativa própria Líderes da comunidade Hospital Escolas Instituições Identificadas pela própria equipa A unidade móvel deslocava-se dois dias por semana aos diferentes locais sendo utilizada para a prestação de cuidados de saúde e para referenciar os utentes para os centros de saúde e para outras instituições. A visita domiciliária foi também uma estratégia muito importante de aproximação. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 27 Frequentemente bastava uma visita para conquistar uma família para a adesão à vigilância de saúde e mais aberta a novas aprendizagens e mudanças de comportamento. Sentimos este retorno, de forma lenta mas gradual, no caso da comunidade cigana do Casal do Silva: à medida que aumentámos as visitas domiciliárias e as campanhas, fomos tendo mais casais na vigilância da gravidez e mais mulheres a solicitarem ajuda na escolha de contraceção. Os Resultados O trabalho com as comunidades desenvolveu-se, quer na saúde coletiva (por exemplo com participação em sessões, debates, festas, reuniões), quer na saúde familiar e individual (por exemplo trabalho com famílias nas tarefas e crises, nos atendimentos na unidade móvel e nas visitas domiciliárias). Existiam recursos endógenos e um potencial de mudança nestas comunidades que são a base da nossa intervenção. A descoberta conjunta desses potenciais permitiram criar soluções para a promoção da saúde individual e colectiva. Os momentos de encontro (formais ou informais) com a comunidade e parceiros foram essenciais para permitir a disseminação da informação sobre a saúde, a aceitação da equipa e a percepção conjunta de necessidades e prioridades. É sem dúvida muito importante fazer uma ligação efetiva com a instituição que acolhe, especialmente quando se trata de população imigrante ou de grupos vulneráveis. Decorrente destas intervenções e de muitas outras, ao longo destes anos têm sido criadas ligações estreitas entre o Centro de Saúde e as comunidades. Estas ligações permitiram um reforço da auto-estima e, como consequência, mudanças de atitudes e comportamentos. Assim, o empoderamento e a participação foram para nós as estratégias mais importantes de tornar diferente o desenvolvimento destas actividades com as comunidades. Confrontámo-nos, no decurso deste trabalho, com alguns problemas da população que influenciaram o acesso aos cuidados de saúde, tais como o aumento o desemprego e a diminuição dos salários. Mas, por outro lado, a capacidade de desenvolvimento das pessoas e das comunidades, as fortes parcerias e uma intervenção centrada na autonomia e na mobilização de recursos da comunidade, permitiram maior adesão à vigilância e aos cuidados de saúde. Consideramos assim, a intervenção comunitária em si uma prioridade em que os cuidados de saúde têm um papel preponderante: Na valorização de saberes No desenvolvimento de competências das famílias e da comunidade E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 28 Na promoção ao acesso aos cuidados de saúde, nomeadamente na vigilância de saúde reprodutiva Na ligação entre a comunidade e instituições No transformar a instituição num local acolhedor para a comunidade E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 29 Intervenção do ESMO Quando a Parturiente Utiliza Óxido Nitroso no Controlo da Dor em Trabalho de Parto/Midwifery Intervention, When the Mother Uses Nitrous Oxide on Pain Management in Labor Joana Carina Sousa Vieira – 4º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Irene Maria Trindade Soares – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Resumo Contexto: É da responsabilidade do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica o desenvolvimento de competências que promovam o alívio da dor, o conforto e o bem-estar da mulher, feto/RN e família. A analgesia Inalatória com Óxido Nitroso (em 50% de Oxigénio) é uma inovadora alternativa de analgesia que se pretende aplicar na obstetrícia em Portugal, mas já frequentemente utilizada em diversos países durante o trabalho de parto. Objectivo: Conhecer a evidência científica sobre a utilização do Óxido Nitroso durante o trabalho de parto e quais as intervenções do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia para promover o bem-estar maternofetal da parturiente. Metodologia: A metodologia utilizada foi a Revisão Sistemática da Literatura através da questão PI[C]O, desenvolvida entre Março de 2013 e Julho de 2014. Aliada a esta pesquisa, foi realizada também uma observação participante numa instituição perita que utiliza o Óxido Nitroso durante o trabalho de parto. Resultados: Foram seleccionados 4 artigos com base numa selecção de critérios previamente definidos e que davam resposta à questão de investigação. Efectuando uma ponte entre a análise dos artigos e a observação participante, foram prestados cuidados a 14 parturientes que utilizaram o Óxido Nitroso para controlo da dor em trabalho de parto. Conclusão: São vários os estudos que mostram que a utilização do Óxido Nitroso no controlo da dor da parturiente é uma escolha de eleição, um método eficaz e seguro para a parturiente e feto. Todas as mães que utilizaram o Óxido Nitroso referiram satisfação com a sua administração. Palavras-Chave: Óxido Nitroso, dor, trabalho de parto, intervenções de enfermagem. Abstract Background: Midwifes should develop skills that promote pain relief, comfort and the woman's, fetus/newborn and family well-being. The Inhalation Analgesia with nitrous E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 30 oxide (with 50% Oxygen) is an innovative and alternative analgesia, commonly used in many countries during labor, which I intend to apply in obstetrics in Portugal. Aim: Knowing the scientific evidence on the use of nitrous oxide during labor and which midwife’s interventions could promote maternal-fetal well-being when the mother uses it in pain management. Methods: The methodology used was the Systematic Review of Literature from the point PI[C]O developed between March 2013 and July 2014. The research also included a participant observation in an expert institution in the use of nitrous oxide during labor. Results: With predefined criteria, 4 articles were selected to answer the research question. Combining the analysis of the articles and participant observation, care was provided to 14 mothers who used nitrous oxide for pain management in labor. Conclusions: There are several studies showing that the use of nitrous oxide in the labor pain management is a good choice, an effective and safe method for both mother and fetus. All mothers who used nitrous oxide reported satisfaction with the administration. Keywords: Nitrous Oxide, pain, labor, nursing interventions Introdução O nascimento de uma criança é um acontecimento único, inesquecível e significativo na vida de uma mulher e família; um motivo de grandes emoções, alegria e apoio de todos os intervenientes. Assim, o Enfermeiro de Saúde Materna e Obstétrica (ESMO) contribui com a prestação de cuidados específicos, fundamentados nas suas competências, no seu saber, experiência e evidência científica, que vão permitir à mulher e família a decisão consciente do seu plano de parto, baseada na confiança e conhecimento de si própria, com o objectivo de transitar para uma maternidade estável e saudável. O Trabalho de Parto (TP) é um processo fisiológico normal que geralmente é associado a momentos de dor, levando por vezes a um sentimento de ambivalência. As manifestações da dor durante o TP são de acordo com as experiências individuais da mulher e família, do seu significado da dor, das suas características culturais e sociais. Diversos são os métodos que permitem minimizar e/ou controlar a dor durante o TP. Em qualquer método escolhido, a mulher deve ser entendida como um elemento activo nos procedimentos e envolvida na avaliação e tratamento da sua dor. Neste sentido, é importante o ESMO fomentar o alívio da dor, tanto através de métodos não farmacológicos como através de analgésicos. Na actualidade, tem-se verificado em vários países a utilização de um diferente tipo de analgesia durante o TP: Analgesia Inalatória com Óxido Nitroso em associação com o E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 31 oxigénio (50% Óxido Nitroso e 50% Oxigénio – também denominado de Protóxido de Azoto). É uma via de analgesia pouco comum na obstetrícia em Portugal pelo que despertou em mim uma vontade em contribuir e beneficiar na prestação de cuidados à mulher, família e comunidade durante o TP. São vários os estudos que mostram que a utilização do Óxido Nitroso no controlo da dor da parturiente é uma escolha de eleição, um método eficaz e seguro. Deste modo, através de um sistema adequado de supervisão do ESMO, é a própria mulher quem faz a avaliação da sua dor e realiza a auto-administração da analgesia com Óxido Nitroso. Assim, considero que se torna premente o desenvolvimento de competências neste âmbito e a identificação das intervenções que promovam a saúde da mulher e feto/RN aquando da utilização do Óxido Nitroso para controlo da dor. Metodologia A Revisão Sistemática da Literatura (RSL) tem sido cada vez mais utilizada em estudos científicos, onde são avaliados dados de uma determinada temática a fim de obter uma síntese baseada em evidências e que contribua para a melhoria da prática de cuidados de enfermagem. Definida a problemática em estudo, importa identificar a questão orientadora do trabalho recorrendo ao formato PI[C]O, descrito por Vilelas (2009), a partir da qual pesquisei aprofundadamente e desenvolvi uma RSL: Quais as intervenções do ESMO (I) que promovem o bem-estar materno-fetal (O) na parturiente que utiliza o Óxido Nitroso no controlo da dor (P)? Para dar resposta à pergunta formulada, a pesquisa de estudos científicos foi delimitada à definição de critérios de inclusão e exclusão. Como critérios de inclusão, foram considerados os estudos completos; os estudos em inglês, português ou espanhol; e os com publicação entre 2004 e 2014. Relativamente aos critérios de exclusão, foram rejeitados os estudos repetidos nas bases de dados; os estudos com necessidade de pagamento; e todos os que não tinham relação com os resultados pretendidos e a questão de investigação. Assim, entre Março de 2013 e Julho de 2014 foi desenvolvida a pesquisa na plataforma EBSCO, com a selecção das bases de dados CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, Cochrane Database of Systematic Reviews e ainda na plataforma da NCBI, utilizando a base de dados da PubMed. Da pesquisa efectuada, foram seleccionados 44 artigos com recurso à combinação de expressões booleanas: Nitrous Oxide; Inhalation Analgesia; Óxido Nitroso; Labor; Delivery; Childbirth; Parto; Midwife; Nursing intervention; Parteira; Midwi*. A amostra foi seleccionada através da leitura do título, do resumo e do texto integral. Deste modo, tendo em conta o objectivo do trabalho e através de um processo de revisão e análise dos dados, dos estudos identificados foram seleccionados apenas 4 E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 32 artigos que davam resposta à questão de investigação e excluídos 40 artigos que não estavam relacionados com a questão orientadora deste trabalho. Resultados É importante compreender que a dor é parte integrante do TP e deve ser valorizada para definir a melhor estratégia a adoptar. Compete ao ESMO informar adequadamente a mulher e família sobre as várias opções de analgesia que dispõe, tornando-a activa na gestão do seu cuidado. O Óxido Nitroso em associação com o Oxigénio é um tipo de analgesia inalatória muito utilizada em diversos países europeus durante o TP (ex., Reino Unido, Espanha, Dinamarca, Estados Unidos da América), sendo mais uma alternativa de analgesia para a mulher/família/comunidade numa experiência tão importante e significativa como é o parto. É um analgésico seguro e pode ser utilizado em qualquer fase ou posição do TP, não altera a percepção das contracções uterinas ou progressão do TP e não tem efeitos adversos para o feto/recém-nascido. É um método que promove a participação activa da mulher através da sua própria gestão da analgesia e liberdade de movimentos durante o TP. Assim, é a propria parturiente quem vai fazer a autoadministração da analgesia de acordo com a sua intensidade de dor e o ESMO vai orientar a mulher e família para a implementação de intervenções e aprendizagem de habilidades, para o seu autocuidado na administração do analgésico (STEWART & COLLINS, 2012; KLOMP ET AL., 2012; JONES ET AL., 2012; COLLINS, 2012; ROOKS, 2011; ELWAHAB & ROBINSON, 2011). A utilização deste gás foi aprovada pelo Infarmed em Janeiro de 2014 e é acondicionado em recipientes próprios, administrado através de uma máscara ou bucal, onde a parturiente pode controlar a sua própria administração com apoio e/ou supervisão. É uma técnica segura de administração, pois possui uma válvula com um mecanismo de segurança que só abre com a pressão negativa da inspiração, minimizando assim a saturação do gás no meio ambiente. O efeito analgésico é sentido após 4-5 inalações e obtém a sua eficácia máxima ao fim de 2-3 minutos, sendo que regride cerca de 5 minutos após a interrupção da administração. Este gás não elimina a dor na sua totalidade mas promove um alívio significativo e uma dor mais tolerável. Deste modo, permite que tenha uma sensação próxima do parto natural mas com a dor controlada. Ao longo dos tempos, o Óxido Nitroso tem sido alvo de frequentes estudos de investigação e os autores identificam algumas vantagens e desvantagens à sua utilização (STEWART & COLLINS, 2012; KLOMP ET AL., 2012; JONES ET AL., 2012; COLLINS, 2012; ROOKS, 2011; EL-WAHAB & ROBINSON, 2011; GIVEN, 2010; O’SULLIVAN, 2005): E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 33 Vantagens: o É fácil de administrar e permite autonomia da parturiente (elemento activo no controlo da dor); o Sem efeito sobre a contractilidade uterina; o Pode ser usado em qualquer estádio do TP; o Tem um rápido início de acção (entre 30 e 50 segundos); o É rapidamente eliminado do organismo, essencialmente através da respiração; o Não tem implicações para o bem-estar materno-fetal, para a vinculação precoce, contacto pele-a-pele e amamentação; o Não tem efeito sobre o RN; o Pode ser utilizado em associação com outros analgésicos (opiódes ou não opióides); Desvantagens: o Pode provocar sonolência, tonturas, náuseas/vómitos e euforia (identificada apenas em alguns estudos); o Por vezes, analgesia insatisfatória; o As concentrações de Óxido Nitroso no ambiente devem ser medidas regularmente (de acordo com indicações do respectivo fabricante); o É muito eficiente na retenção de calor, contribuindo para o aquecimento global e para a camada de ozono. Segundo o American College of Nurse-Midwives (2013), o ESMO deve desenvolver competências e habilidades para administrar e supervisionar o uso seguro do Óxido Nitroso como analgesia durante o parto. Na verdade, são muitos os autores que afirmam que o Óxido Nitroso possui efeitos analgésicos eficazes, previsíveis e de confiança, garantindo que os efeitos adversos são pouco significativos (desaparecem com a interrupção da inalação) e a sua utilização é muito segura. Neste sentido, este tipo de terapêutica torna-se proveitosa para a própria mulher que controla e gere o seu limiar de dor, ao mesmo tempo que a torna activa ao longo do TP. É aqui que o ESMO também intervém com a sua arte, com os seus cuidados de Enfermagem especializados e personalizados a cada mulher, família e comunidade. Prática Baseada na Evidência A Ordem dos Enfermeiros (OE) entende a “prática de Enfermagem baseada na evidência como sendo a incorporação da melhor evidência científica existente (quantitativa e qualitativa), conjugada com a experiência, opinião de peritos e os valores e preferências dos clientes, no contexto dos recursos disponíveis” (OE, 2006, p.1). Assim, a fim de desenvolver as minhas competências nesta temática enquanto E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 34 ESMO e com vista à melhoria da qualidade dos cuidados, decidi deslocar-me a uma instituição perita na utilização do Óxido Nitroso durante o TP. Segundo El-Wahab e Robinson (2011), no Reino Unido, a analgesia inalatória é um dos métodos mais frequente em TP (cerca de 75% das mulheres). Deste modo, efectuei um estágio de observação participante por um período de duas semanas num Hospital Central e Diferenciado de Londres - Chelsea & Westminster Hospital NHS. Desloqueime a essa entidade entre 27 de Maio e 6 de Junho de 2014 e enquanto observadora participante, adoptei uma postura com alguma participação activa no grupo-alvo, baseando-me nos dados obtidos na RSL. Do mesmo modo, realizei entrevistas informais aos peritos que utilizam o Óxido Nitroso como analgésico no TP e desenvolvi um questionário informal à mulher/família para identificar o seu grau de satisfação com este tipo de analgesia. Aqui, colaborei na prestação de cuidados a 14 parturientes e todas elas utilizaram o Óxido Nitroso, sendo esta amostra constituída por 5 primíparas e 9 multíparas. De acordo com a avaliação da dor, todas as parturientes ao utilizar o Óxido Nitroso referiram pelo menos algum alívio com as inalações durante o TP: 8 mulheres disseram sentir “muito alívio” e 6 mulheres referiram “algum alívio”. Da experiência que tive, verifiquei que o alívio da dor não foi suficiente nas mulheres primíparas, pois as 5 mulheres referiram uma dor ainda significativa através da avaliação em Escala Numérica e optaram por analgesia loco-regional ao fim de algum tempo de analgesia inalatória e estratégias não farmacológicas. Esta decisão pode ser compreendida em diversas perspectivas, tal como verbalizado pelas mesmas: “baixo limiar de dor”; “medo do desconhecido e de não suportar”; “vontade de tirar o desconforto na sua totalidade”. Gráfico 1. Avaliação da dor na parturiente que utilizou Óxido Nitroso através de Escala Numérica 12 10 8 6 4 2 0 Dor Antes da Utilização Dor Após a Utilização Noutra perspectiva, 6 mulheres optaram por usar a analgesia inalatória como método farmacológico de alívio da dor no período expulsivo e 4 delas usaram o Óxido Nitroso como exclusiva analgesia durante todo o TP, referindo ser um método muito eficaz, E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 35 mesmo durante a dequitadura e perineorrafia (observação de perineorrafia de laceração de grau I e grau II). Dos 6 partos que observei, cujas parturientes utilizaram o Óxido Nitroso no primeiro e segundo estádios do TP, verifiquei que os RN obtiveram um Índice de Apgar satisfatório no primeiro, quinto e décimos minutos. Gráfico 2. Comparação do Índice de Apgar dos RN no primeiro, quinto e décimos minutos Índice de Apgar 10 8 6 4 2 0 Bebé A Bebé B Bebé C Bebé D Bebé E 1º Minuto 5º Minuto 10º Minuto Bebé F Todas as parturientes verbalizaram um sentimento de confiança e autodomínio na sua administração, considerando que podem ter um parto natural e com a dor controlada. Quando questionadas se voltariam a utilizar o Óxido Nitroso num futuro TP, 11 mulheres referiram que “sim” e apenas 3 disseram que “talvez” utilizassem. Nenhuma respondeu negativamente. Em discussão com os peritos, todos referem ser um método utilizado todos os dias, muito eficaz no controlo da dor e fácil de utilizar em qualquer posição de parto que a mulher deseje. No Labour Ward a mulher estava frequentemente com monitorização de CTG, o que me permitiu verificar que não houve qualquer compromisso materno e/ou fetal na utilização deste tipo de analgesia. Conclusão e Implicações para a Prática O trabalho de parto deverá ser realizado em harmonia e baseado no cuidado humanizado, onde o ESMO se encontra na posição ideal para corresponder às expectativas da mulher/família e tornar o nascimento num momento único e inesquecível para as pessoas-alvo dos cuidados. Após análise dos resultados obtidos na RSL e no hospital em Londres, considero que ficou bem patente a pertinência e benefícios para a parturiente quando utiliza o Óxido Nitroso no controlo da dor, sendo por isso importante a promoção das adequadas intervenções do ESMO, com vista ao bem-estar materno-fetal. Estas evidências identificadas podem ser facilmente implementadas no âmbito da prática de cuidados enquanto ESMO. É importante investir nesta temática inovadora em Portugal, pois E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 36 todas as parturientes devem ter igualdade de acesso a esta analgesia que pode ser utilizada facilmente em qualquer fase do trabalho de parto e que as torna activas no controlo da dor. Para mim, o parto é um acontecimento belíssimo, de muita responsabilidade, de cuidados individualizados que envolvem muitas emoções. É um momento em que a mulher/casal é a protagonista e nós, ESMO, devemos estar sensíveis às suas necessidades para estabelecer uma parceria no processo de cuidados, promover o autocuidado e respeitar o seu direito ao parto natural, tornando esta experiência o mais satisfatória possível. Referências Bibliográficas Collins, M.R., et al. (2012). Nitrous Oxide for Labor Analgesia: Expanding Analgesic Options for Women in the United States. Reviews in Obstetrics & Gynecology. 5(3/4), 126-131. 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American College of Nurse-Midwives: http://www.midwife.org/acnm/files/acnmlibrarydata/uploadfilename/000000000080/ nitrous_oxide_12_09.pdf. Acedido em 11/07/2013. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 38 Conjugalidade e Parentalidade: O Enfermeiro Obstetra na Promoção de Encontros a Três/Conjugality and Parenthood: The Midwife in Promoting the Triad Relationship Mariana Raquel Pereira Gomes Ferreira – 3º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Esmeralda Afonso – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Resumo Nesta comunicação, trata-se a temática da transição para a parentalidade e das implicações que acarreta na dinâmica do casal. Tem como principais objetivos: refletir sobre as implicações do processo de parentalidade na relação conjugal e de qual poderá ser o apoio do enfermeiro obstetra no apoio ao casal e recém-nascido. A metodologia utilizada foi a revisão sistemática da literatura, em que se procedeu à pesquisa na plataforma eletrónica EBSCO, selecionando-se a pesquisa em três bases de dados: CINAHL, MEDLINE e Academic Search Complete. Os critérios de inclusão para os artigos foram: Redação em português, inglês, ou espanhol; foco na problemática delineada, procurando concordância com o tema em estudo; data de publicação entre 2008 e 2013. Foram considerados pertinentes 7 artigos. O presente trabalho enquadra-se no ciclo de estudos de mestrado, que visa o desenvolvimento de competências profissionais específicas. Pretende por isso, analisar criticamente o conhecimento que sustenta a prática de enfermagem e interpelar/refletir nas práticas existentes e paradigmas ao nível desta disciplina (ESEL, 2013). Este relatório está sobretudo centrado no Ensino Clinico “Estágio com Relatório”, que decorreu fundamentalmente em contexto de sala de partos de um Hospital de Apoio Perinatal Diferenciado de Lisboa. Em contexto da prestação de cuidados, foram elaboradas notas de campo, onde se registou as interações com os casais que se encontravam na sala de partos. Os achados foram comparados com os artigos contemplados. Da análise dos dados constata-se que no primeiro mês de vida do bebé os casais apresentam dificuldades na vivência de momentos a dois, pela centralização da sua atenção nos cuidados ao bebé. O Enfermeiro Obstetra pode assumir um papel fundamental no reforço das competências parentais durante os períodos de gravidez, trabalho de parto e primeiras semanas após o parto. A clarificação do que está a ser vivenciado em cada momento foi observada como facilitadora da confiança parental, contribuindo para a diminuição da ansiedade. A promoção de estratégias de gestão de tempo pode favorecer a vivência de momentos exclusivos entre casal. Destaca-se a importância do diálogo mútuo e apoio constante entre casal, a qualidade da relação conjugal muitas vezes já estabelecida, assim como a partilha dos cuidados ao filho e das tarefas domésticas. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 39 Palavras-chave: Enfermagem Parentalidade; Relação conjugal/familiar); Intervenções de Relação Conjugal na transição para a parentalidade O nascimento de um filho prepara-se ao longo de mais de nove meses. Das ambiguidades comuns no início da gravidez, por que passam muitos casais, ao investimento característico no último trimestre, visível na preparação do quarto e do enxoval do bebé. O desejo de ter um filho, emerge comummente cedo na vida de um rapaz ou rapariga. Enquanto a maternidade é entendida como um processo que ultrapassa a gravidez. Para Canavarro (2001:19) a maternidade “é um projeto a longo prazo, quase que nos atreveríamos a dizer um projeto para toda a vida”. A transição para a parentalidade, apontada como uma transição de desenvolvimento, nomeadamente por Meleis (2010), permite à enfermeira, como profissional de saúde que mais tempo tem de contacto com os utentes, ter uma posição privilegiada para poder antecipar ou apoiar o casal nesta transição. Os meses de gravidez são importantes para a mulher se adaptar ao papel maternal, sendo este um processo complexo de aprendizagem cognitiva e social. A evolução da nossa sociedade nas últimas décadas tem alterado verdadeiramente a dinâmica familiar. É cada vez mais frequente, os casais viverem em famílias nucleares, sendo raro o apoio da família alargada e das gerações mais velhas. A verificação do aumento das doenças crónicas e degenerativas, que provocam limitações na independência da população adulta e idosa, poderá afetar a disponibilidade dos avós, para auxiliarem nos principais cuidados aos netos. Em 2013, o número médio de pessoas por agregado familiar era de cerca de 2,6, cuja constituição mais comum era o casal e um filho [(Instituto Nacional de Estatística (INE, 2013)]. Por este motivo, na atualidade, a maioria dos pais não possui apoios familiares na prestação de cuidados ao bebé, logo, é fundamental que possuam as competências necessárias, visto serem os seus principais cuidadores. Este facto, aliado a uma diminuição do número de nascimentos faz com que haja menos contacto por parte dos jovens adultos com crianças e com os cuidados a prestar a estas. Devido à carência de suportes de cuidados informais, é necessário que, por vezes, esta assistência seja efetuada por parte de prestadores de cuidados formais, nomeadamente por enfermeiros. Estes profissionais, nomeadamente os EEESMOG, são os profissionais que podem ter um contacto mais próximo com estas famílias e que podem, consequentemente, conhecer melhor as suas principais necessidades, o seu contexto socioeconómico, os seus recursos e competências. Como tal, são profissionais com um papel importante na promoção de competências parentais. No desenvolvimento da relação conjugal, os casais passam por diversas etapas com características específicas e tarefas que necessitam de ser cumpridas: a de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 40 enamoramento em que ocorre uma forte atração e desejo de duas pessoas se tornarem num só, sendo que a tarefa do casal é associar os seus objetivos à realidade para que se constitua um relacionamento possível de ser desenvolvido; a de encontrar diferenças em que a interação entre ambos e a capacidade de negociação, são fundamentais para consolidar a relação e sentirem-se seguros; a gestão das relações de poder em que um dos cônjuges passa a desejar maior independência do outro; a estabilidade, o casal aceita a relação, é íntimo e está cúmplice e portanto, volta-se para as realizações pessoais do mundo exterior; a de comprometimento, sendo que é assumida a posição de querem permanecer juntos e de se realizarem mutuamente, o eu e o nós coexistem em harmonia e a capacidade de negociação está bem desenvolvida possibilitando evolução e não separação (Hintz, 1998). Gordon e Feldman (2008) introduzem o conceito de co-parentalidade no sistema familiar definindo-o como a capacidade de coordenação entre adultos e como ambos exercem a função parental, exigindo uma sincronia mútua de comportamentos, para um fim comum – a capacidade de cuidar um filho. Como refere Martins (2008) já no período pré-natal e, posteriormente, com o nascimento de uma criança, vivenciam-se frequentemente momentos de stress e modificações no bem-estar pessoal e nos estilos de vida parentais. Com o nascimento do primeiro filho a relação anterior de exclusividade é quebrada, sendo necessário que o casal elabore uma perda da posição de indiferenciação e simbiose com o companheiro e partilhe a sua atenção com um novo membro – o bebé (Hintz e Baginski, 2012). Os mesmos autores revelam, no estudo que efetuaram em 2012, que existem vários fatores que podem ser responsáveis pela rotura conjugal na sequência do nascimento do filho: as situações de tensão e de dificuldade de comunicação efetiva podem levar a triangulações com o filho; as dificuldades transgeracionais por conflitos de crenças, valores e cultura entre as famílias de origem; a idealização de uma figura parental que não corresponde à real na educação e cuidados ao filho; a incapacidade na assunção de novos papéis e na constituição de uma nova família a existência de sentimentos de ciúme pela partilha de atenção com outra pessoa, que não o cônjuge. A orientação antecipatória e as intervenções desenhadas para facilitarem a adaptação dos casais às suas novas circunstâncias podem, por isso, beneficiar os membros individuais da família e a interação familiar, resultando num aumento da autoeficácia e satisfação parental. Hernandez e Hutz (2009) concluíram no seu estudo que os novos papéis (o de pai e o de mãe) precisam de ser aprendidos, os novos relacionamentos desenvolvidos e os já existentes reordenados, pelo que se torna fundamental, o encontro do enfermeiro com as necessidades destes casais, assim como um caminhar constante na procura de sentidos significativos. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 41 No estudo efetuado por Pires (2008: 44) destacou-se que os casais com filhos que apresentam valores médios de satisfação conjugal mais elevados, apresentam valores médios de aliança parental também mais elevados. Acrescenta ainda a importância do contexto e do nível socioeconómico em que as famílias se inserem, bem como do género da pessoa questionada sobre a satisfação conjugal. Ainda num estudo desenvolvido por Menezes e Lopes (2007), verificou-se que a transição para a parentalidade pode conduzir a uma diminuição na satisfação conjugal, sendo que o fator central para a compreensão da conjugalidade na transição para a parentalidade é a qualidade da relação conjugal estabelecida antes da transição. Os autores nomeiam um estudo longitudinal com 114 casais levado a cabo por Rothman (2004) que concluiu que a satisfação com a relação de casal permaneceu estável desde o início do casamento até o fim da gravidez, mas desceu significativamente, após o nascimento do filho. Tal declínio foi mencionado tanto pelos homens quanto pelas mulheres dos casais considerados, mas por diferentes motivos. “Para os homens, a tendência a fazer atribuições positivas sobre o comportamento das companheiras explicou o declínio de sua satisfação com o casamento, enquanto para as mulheres, fatores como depressão e temperamento do bebê foram referidos como influenciando o declínio da satisfação conjugal” Rothman (2004) citado por Menezes e Lopes (2007: 84). Para Rivero (2006) no final do primeiro ano após o nascimento do primeiro filho 70% das mulheres sentem grande insatisfação com o casamento, sendo que a insatisfação dos maridos ocorre posteriormente, como uma reação à infelicidade da esposa. O enfermeiro obstetra pode ter assim um papel fundamental no suporte ao casal, que pode muitas vezes, favorecer a aquisição de novas competências e o desenvolvimento de outras já apreendidas. É de realçar que a qualidade da relação conjugal estabelecida, a coesão e o suporte mútuos podem ser facilitadores de um entendimento conjugal no período de transição para a parentalidade, e será com certeza um recurso de afirmação a que os novos pais poderão recorrer, quando nalgumas circunstâncias por ventura, se sentirem angustiados ou incapazes de lidar com uma situação. Rivero (2006) clarifica que, com a preparação para o nascimento de um filho e, posteriormente, com a particularidade e singularidade da relação estabelecida entre mãe e bebé, é natural ocorrer uma diminuição da disponibilidade para investir na relação conjugal. Associado a estes fatores, por vezes o cansaço físico, a privação do sono e a conjugação de todas as outras atividades do quotidiano, podem dificultar o relacionamento conjugal. Torna-se portanto, importante explicitar que no cerne de toda a desordem e obstáculos com que se deparam, é essencial existirem momentos a dois, em que ambos se reencontram, partilham e avançam. Promove-se assim, uma relação mais gratificante com ganhos também para a criança, na medida em que irá aumentar a satisfação individual (e conjugal) e diminuir os níveis de stress (Rivero, 2006: 2). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 42 Sendo que muitas vezes, após o casal ter alguma estabilidade económica/financeira, a parentalidade é um dos objetivos conjugais. Procede-se de seguida, a uma descrição do conceito de vinculação e a uma análise das etapas do desenvolvimento da gravidez e do nascimento. Revisão Sistemática da Literatura No sentido de procurar a evidência disponível para aprofundar o desenvolvimento da competência número cinco, mencionada no ponto anterior “Proporciona Cuidados de Enfermagem Especializados ao casal inserido na família e comunidade, identificando algumas implicações do nascimento de um filho na dinâmica conjugal e implementando estratégias para um relacionamento conjugal saudável”, procedeu-se então, primeiramente à formulação das questões de pesquisa: - Quais as implicações do processo de parentalidade na relação conjugal (I), em casais (P), durante o período de gravidez, trabalho de parto e pós-parto (Co) e quais as intervenções de enfermagem que podem ser facilitadoras desta relação (I)? As questões de pesquisa supracitadas encontram-se no domínio da abordagem qualitativa, visto que o seu objeto de estudo são as implicações do processo de parentalidade na vida conjugal de cada casal primíparo e as intervenções de enfermagem que podem ser facilitadores da adaptação do mesmo a esse processo de transição. Deste modo, o fenómeno em estudo tem que ser compreendido e analisado e está dependente dos sujeitos, das suas experiências, da relação que apresentam, das circunstâncias em que se encontram. Os critérios de inclusão para os artigos foram: redação em português, inglês, ou espanhol; foco na problemática delineada, procurando concordância com o tema em estudo e, por conexão, com a questão PICo; data de publicação entre 2008 a 2013. Os critérios de exclusão foram: Estudos noutras línguas, diferentes do português, inglês e espanhol; ausência de concordância com o objeto de estudo (considerando título e abstract dos artigos); repetição do mesmo artigo nas bases de dados. Identificam-se como descritores de pesquisa: Parentalidade (transition to parenthood, parenting); Relação conjugal/familiar (family relations, husbands); Intervenções de Enfermagem (nursing interventions, midwifery, nursing). Considerações Éticas Durante o desenvolvimento do estágio, na elaboração das notas de campo, teve-se em consideração os direitos fundamentais do ser humano, que são essenciais para assegurar a proteção de todos os participantes. Foram tomadas as medidas necessárias para a não violação do direito à autodeterminação, que tem como base o E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 43 princípio do respeito pelas pessoas, na qual cada um é livre de escolher e decidir acerca da sua participação no estudo, devendo ser informado acerca das condições de realização do mesmo (Fortin, 2009). O direito à autodeterminação pressupõe que haja informação antecedente, para que os sujeitos possam fazer a sua decisão de forma livre e informada - consentimento informado (Código Deontológico do Enfermeiro, 2003). Considerou-se igualmente, o direito à intimidade, ao anonimato e à confidencialidade (Fortin, 2009), bem como o direito de ser assegurado um tratamento justo e equitativo face a todos os clientes, garantindo que todos receberam as mesmas informações, o mesmo tipo atenção e consideração (Fortin, 2009). Análise e Discussão dos Dados Conjugalidade na Gravidez Os cinco casais participantes do estudo coabitavam há pelo menos um ano, sendo que o processo de gravidez, embora por vezes não planeado, foi bem aceite, participando ambos os membros, ativamente nas consultas de vigilância de saúde e na preparação para o nascimento do bebé. Como refere Lederman (2011), quando o companheiro está presente a adesão a programas e cuidados de saúde é mais elevada. Da mesma forma, Figueiredo et al (2008) mencionam que os casais que vivem juntos ou estão felizes com a gravidez demonstram relações conjugais mais estáveis. Os mesmos autores relatam que experiências de gravidez com níveis de satisfação conjugal maior originam menos ansiedade e casais com sentimentos menos negativos na relação. Todos os casais referiram ter frequentado cursos de preparação para a parentalidade verbalizando ter sido uma mais-valia para o decorrer da gravidez, a preparação para o parto e a antecipação dos cuidados ao bebé, acontecimento que vai ao encontro do descrito por Christie, Poulton, Bunting (2008). Esta orientação antecipatória pode favorecer a adaptação dos casais às suas novas circunstâncias e, por conseguinte, beneficiar os membros individuais da família e a interação familiar, resultando num aumento da auto-eficácia e satisfação parental (Hernandez e Hutz, 2009). Famílias mais esclarecidas e apoiadas podem assim antecipar eventuais dificuldades e assumir comportamentos e estilos de vida saudáveis. Realça-se assim, a importância que o Enfermeiro obstetra pode ter na promoção de saúde em contexto de vigilância prénatal, durante o trabalho de parto e pós-parto. Relativamente às vivências da conjugalidade na gravidez todos os casais referiram sentimento de maior proximidade sendo que a relação conjugal foi fortalecida através do diálogo e suporte mútuo, situação também identificada no estudo de Laitila et al (2010). Destaca-se então, a importância da qualidade da relação conjugal estabelecida antes da parentalidade fato também identificado e corroborado pelo estudo de Rothman (2004) que concluiu que a satisfação com a relação de casal permaneceu estável desde o início do casamento até o fim da gravidez. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 44 Conjugalidade no trabalho de parto Durante o TP os casais aplicaram alguns dos conhecimentos adquiridos nas sessões de preparação para o nascimento no entanto, a maioria deles foi solicitando informação inerente a este processo. A presença do enfermeiro obstetra foi frequentemente sentida como importante por ser um profissional competente para acompanhar o TP, sendo mencionados menores níveis de stress e de ansiedade. Como foi um dos critérios de inclusão dos pais, verificou-se a presença do companheiro no decorrer do TP e pós-parto. Em 4 das 5 situações de cuidados, foi observado o suporte do companheiro no TP, sendo que o reforço das competências maternas foi igualmente identificado. Johansson e Hildingsson (2013) referem que o papel do companheiro é então o de dar apoio à mulher e partilhar com ela a vivência do nascimento, sendo que o homem necessita de sentir-se seguro sobre os cuidados que estão a ser prestados e, envolvido no processo de tomada de decisão. Como prestador de cuidados durante este período senti que de facto era essencial a existência de como que uma “dança” entre enfermeiro obstetra, casal e bebé, em que os comportamentos executados por cada interveniente são distintos mas têm que ser dirigidos a um fim comum, o do nascimento seguro, na melhor experiência possível. A mulher e o bebé são os principais participantes neste processo, cabe ao homem manter a racionalidade do pensamento do que apreendeu, apoiar, reforçar positivamente os comportamentos da sua companheira. O enfermeiro assume então, neste processo, basicamente um lugar de retaguarda, dando espaço ao casal para vivenciar profundamente este momento, reforçando ao quão bem estão a desempenhar os seus papéis, esclarecendo o que está ser vivenciado e antecipando o que é esperado, assegurando o máximo de bem-estar possível aos três. Com o nascimento, uma nova família concretizou-se, novos papéis efetivaram-se e nalguns casos os anteriores consolidaram-se. Os primeiros encontros a três Verificou-se, através de momentos de interação pais-bebé logo após o nascimento, que eram conhecidas algumas das competências sensório-comportamentais do recémnascido. Sabe-se que um melhor conhecimento do bebé, enquanto ser competente, pode incentivar os pais a partirem à descoberta do mesmo, podendo tornar-se a relação provida de confiança, prazer e promotora de competências fundamentais para as etapas procedentes do ciclo de vida familiar. Como foi referido por Lederman (2011) o apoio do companheiro à mulher não influencia o repertório comportamental materno ou a vinculação, contudo conflitos conjugais estão associados a problemas de comportamento materno, respostas maternas menos sensíveis, vinculação insegura e desorganizada. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 45 Relativamente, ao período de puerpério precoce e tardio observou-se que os casais centravam as suas necessidades e preocupações quase que exclusivamente nos cuidados ao RN, sendo que foi descrita uma situação em que era reconhecida a importância de existirem momentos entre casal mas, no entanto, o casal sentia dificuldade em conciliar esses momentos com os cuidados ao bebé. Como referem Christie, Poulton e Bunting (2008) as primeiras semanas após o parto podem ser as mais complexas, pela dificuldade na gestão do tempo e de tarefas, consolidação de papéis, com consequente adaptação a inúmeras mudanças, nomeadamente na relação conjugal, bem-estar mental e atividades sociais. Apesar da orientação antecipatória sobre o que poderá ser vivido ser importante, o estar presente no pós-parto, sobretudo durante estas primeiras semanas, no sentido de promover estratégias de adaptação poderá ser um complemento. Assim, os casais poderão experienciar estas situações com prazer e estar capacitados a adotar medidas facilitadores destas transições. Importa destacar que o diálogo mútuo e apoio constante entre casal são essenciais, relembrando a importância da qualidade da relação conjugal muitas vezes já estabelecida, assim como a partilha dos cuidados ao filho e das tarefas domésticas. Desfrutarem de momentos a dois quando o bebé se encontra a dormir ou solicitarem apoio a alguém para supervisiona-lo por períodos, pode ser igualmente uma estratégia utilizada que pode igualmente possibilitar, ao casal manter algumas atividades sociais, caso seja a sua vontade. Outra questão que importa referir é que casais que estão mais esclarecidos sobre os próprios cuidados ao filho, crescimento e desenvolvimento saudáveis do bebé, e que se sentem apoiados por um profissional de saúde de referência, apresentam níveis de ansiedade menores e portanto parecem conseguir ter mais disponibilidade para outras situações (Christie, Poulton e Bunting, 2008). Como desempenho a minha atividade profissional na unidade de puerpério da instituição onde realizei o ensino clínico, a possibilidade de dar continuidade ao acompanhamento de alguns destes casais tornou possível uma compreensão mais holística, uma vez que foram conhecidas outras realidades e planear cuidados com o casal por um período temporal mais prolongado. Penso que o facto de ter tido esta oportunidade de atuar em diferentes áreas e com prioridades e circunstâncias tão distintas para estas famílias, foi promotor de vivências que ultrapassaram o mundo físico e o tempo presente. Foi a procura em cada momento do que se tornava fundamental para assegurar o máximo de bem-estar, o melhor conforto, a experiência mais positiva, que penso que possibilitou a vivência de momentos significativos, que certamente poderão ser relembrados de futuro, tanto para clientes como para profissionais. Foi o encontro com o outro que deu continuidade ao percorrer de um caminho com sentido para si. Um caminho que por vezes foi marcado por algumas dificuldades, como o cansaço de um trabalho de parto ou de períodos prolongados sem dormir pelo cuidar do filho, ou pela falta de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 46 disponibilidade de diálogo entre companheiros, em que o papel do enfermeiro pôde ser fundamental. No escutar, no compreender o que estava a ser vivenciado, na promoção de medidas de conforto e de alívio da dor e, por vezes, na explicitação do que pode estar a ser vivenciado e na clarificação de diferentes caminhos possíveis (Watson 2007). Se um dos principais achados foi a centralização do casal no pós-parto nos cuidados ao filho, se é sabido que ocorre uma maior insatisfação na conjugalidade no primeiro ano de vida do bebé que por vezes, pode levar a situações de rotura, torna-se importante reforçar a qualidade da relação conjugal já estabelecida, realçar sentimentos e vivências comuns, desenvolver novas capacidades de coordenação, de sincronia mútua de comportamentos entre casal, no dia-a-dia, nas tarefas domésticas, na função parental. Para isso, é necessário encontros a dois, análises partilhadas, objetivos comuns, suporte mútuo e resoluções construtivas de problemas conjugais (Morril et al 2010; Houts et al, 2008). Considerações Finais O enfermeiro, no seu cuidado junto do casal, espera contribuir para antever e minorar as dificuldades ao nível do impacte do nascimento de um filho na harmonia psicoemocional do mesmo. A comunicação entre o casal acerca dos aspetos vivenciados na mudança de dinâmica familiar torna-os mais próximos e menos isolados pelo que deverá ser incentivada. Reconhece-se que a função do enfermeiro na equipa transdisciplinar é de investir no apoio ao cliente e família no desenvolvimento do seu papel parental. É fundamental criar espaços temporais e físicos onde a ação do enfermeiro obstetra se detenha na escuta das experiências conjugais e parentais, para que o casal se sinta especial na sua singularidade. Esta orientação pode iniciar-se ainda no período pré-natal e prolongar-se até ao pós-parto. O enfermeiro torna-se assim o profissional de referência que acompanha a família nas suas diversas experiências de vida, que estabelece com ela verdadeiros momentos transpessoais, que transcendem o mundo físico e o tempo real pela possibilidade de proporcionar momentos significativos. Sugere-se que a carta de transferência/alta, para a continuidade de cuidados, reflita as circunstâncias da experiência parental vivida em contexto de hospitalização para que o apoio possa ser efetivo. Isto porque, como foi observado na maioria das situações de prestação de cuidados, já havia sido estabelecida uma relação de confiança e de empatia com o enfermeiro obstetra no contexto dos cuidados de saúde primários, que posteriormente foi continuada no pós-parto. Como muitas vezes, o primeiro contacto entre o enfermeiro obstetra do hospital e o casal é na hospitalização na sala de partos, considera-se igualmente oportuno que cada vez mais os casais tragam consigo, e partilhem com o enfermeiro, as suas E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 47 expetativas do trabalho de parto, do nascimento e do pós-parto para que efetivamente possam ser prestados cuidados que vão ao encontro das suas necessidades de saúde e que respeitem e valorizem a sua vontade. No trabalho de parto, foi observado como facilitador o reforço das competências conjugais, nomeadamente a partilha de emoções e experiências e o reforço, por parte do companheiro, das competências da mulher, como interveniente ativo no trabalho de parto. Observaram-se momentos de interação conjugal e parental de empatia, carinho através do toque e respostas contingentes ao bebé por parte dos pais. Apesar de ter sido observada uma centralização da atenção dos pais nos cuidados ao recém-nascido, um dos casais proporcionou o seu testemunho nas primeiras semanas após o parto, valorizou a existência de momentos vividos em exclusividade pelo casal, embora considerasse haver dificuldade na gestão do tempo entre tarefas domésticas, cuidados ao bebé e relação conjugal. Mais uma vez, realça-se a importância que o enfermeiro obstetra pode ter junto do casal, na valorização da qualidade da sua relação conjugal já anteriormente estabelecida e na aliança que devem assumir na partilha de tarefas domésticas e cuidados ao recém-nascido, assim como nos comportamentos síncronos e de harmonia relativamente à educação e bem-estar da criança. Referências Bibliográficas Canavarro, M. T. (2001). Gravidez e Maternidade: Representações e tarefas de desenvolvimento. In Maria Cristina Canavarro (coord.). Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto. Christie J , Poulton B.C. & Bunting B.P. 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E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 49 A Confiança Materna nos Cuidados ao Recém-Nascido/Maternal Confidence in Newborn’s Care Natércia Faria – Maternidade Dr. Alfredo da Costa, 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Maria Helena Presado [email protected] – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Resumo A confiança materna nos cuidados ao recém-nascido pode ser adquirida pela rede social e familiar que envolve a mulher. Sendo mais escassa, nas gerações atuais, existe uma procura de serviços e de conhecimento que ajudem o desenvolvimento de competências maternas/parentais, como os cursos de preparação para o nascimento. Pretende-se compreender a importância e os contributos destes programas, no desenvolvimento da confiança materna nos cuidados ao recém-nascido, através do desenvolvimento de um projeto de dissertação no âmbito do Mestrado de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia. A metodologia definida compreende uma revisão crítica da literatura e a realização de um estudo quantitativo, do tipo descritivo utilizando a técnica de inquérito por questionário que inclui a escala Mother and Baby Scales - MABS de Sereno et al (2012), em fase de aplicação. Os resultados da revisão crítica da literatura sugerem que as mulheres que participaram em programas mais sensíveis à transição e preparação para a parentalidade tendem a avaliar a experiência de maternidade mais positiva. A promoção da autonomia e da capacitação materna através de abordagens sobre o desenvolvimento da identidade materna, do papel materno e perceção do bebé contribuem para melhores resultados associados à confiança materna. Palavras-chave: Confiança materna; Cuidados ao recém-nascido; Educação para a saúde e Preparação para o nascimento. Abstract Maternal confidence in caring the newborn can be acquired by social and family network involving the woman. Being scarce in the current generation, there is a demand for services and knowledge to help the development of maternal/parental skills such as courses to prepare for birth. It is intended to understand the importance and contributions of these programs, on the development of maternal confidence in the newborns care, by conducting a dissertation project under the Maternal Health and Obstetrics Nursing Master. The methodology includes a critical review of the literature and conducting a quantitative E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 50 study, descriptive type using the survey technique of questionnaire that includes the scale - Mother and Baby Scales - MABS Sereno et al (2012), in application phase. The results suggest that women who participated in programs more sensitive to the transition and preparation for parenting tend to value most positively the maternity experience. The promotion of autonomy and empowerment through maternal approaches on the development of maternal identity, mother role and baby perception contribute to better outcomes associated with maternal confidence. Keywords: Maternal confidence; newborn care; Health education and Childbirth education Introdução O desenvolvimento de características e competências maternas, como é o sentimento de confiança, é de extrema importância para o desempenho materno, para a harmonia e bem-estar da família envolvente. É neste sentido que esta temática surgiu como pertinente a ser estudada, no âmbito do desenvolvimento do projeto de dissertação do Mestrado de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia. Pretende-se assim, compreender o desenvolvimento da Confiança Materna nos Cuidados ao Recém-Nascido e o contributo da Preparação para o Nascimento. Para o International Council of Nurses (2006, p. 47) a confiança “é um tipo de emoção com as características específicas: sentimento de segurança, acreditar na bondade, força e fiabilidade dos outros”. Para Austin (2005) entender este conceito pode nos aconselhar sobre como viver, como fazer sentido o que estamos a fazer e como agir e comportar-se em relação aos outros. O valor da confiança pode nos dar maiores contributos na compreensão dos cuidados de enfermagem. A capacidade de realizar, de maneira competente e confiante, os cuidados ao bebé, não aparecem automaticamente com o nascimento da criança. Muitos pais precisam aprender a realizar essas tarefas (Lowdermilk, Perry e Bobak, 2002). As aulas de preparação para o nascimento são o cenário perfeito para determinar o corpo geral do conhecimento desses novos pais e fornecendo informações e recursos para ajudá-los a interpretar os sinais do seu filho (Hotelling, 2004). Ensinar sobre o comportamento do recém-nascido aumenta as relações pais-filho, facilita a amamentação, e aumenta a confiança dos pais. Quando tais intervenções são realizadas, as mães experimentam aumento da confiança, aumento da sensibilidade com os seus bebés, habilidades interativas materno-infantis melhoradas, e uma perceção mais positiva dos seus bebés (Tedder, 2012). Os pais, através de muitos “contactos” e de muitas histórias, procuram encontrar a forma de serem pais. Pelo que procuram, frequentemente, novas perspetivas como forma de auxílio para enfrentar essa transição, como grupos de preparação para o E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 51 parto, grupo de apoio para os próprios pais e com outros casais que já foram pais (Relvas e Alarcão, 2002). Para Costa (2013), as intervenções centradas na família, com interação de grupo de pares, são importantes no processo de transição. O treino de competências parentais e de mecanismos de ‘coping’, através de programas específicos, é um importante recurso, uma vez que as mulheres têm menos oportunidades de aprender no seio da família de origem. A frequência de aulas de preparação para o parto e as informações proporcionadas pelos profissionais contribuem para aumentar os sentimentos de controlo das situações, no processo de transição para a maternidade e para a melhoria na atitude em relação à criança (Costa 2013; Couto, 2003). Metodologia Para a prossecução do objetivo do estudo enunciou-se a seguinte pergunta de investigação: “De que forma a preparação para o nascimento/ parentalidade contribui para a confiança materna nos cuidados ao recém-nascido?” Para a construção do projeto de investigação apresentado foram utilizados como ferramenta metodológica dois focos de pesquisa: a revisão crítica da literatura, num ponto de partida, e a vertente investigativa, através da realização de um estudo quantitativo, do tipo descritivo utilizando a técnica de inquérito por questionário que inclui a adaptação da escala - Mother and Baby Scales - MABS de Sereno et al (2012). Esta escala foi desenvolvida para avaliar a confiança da mãe na prestação dos cuidados ao bebé. Com a utilização deste instrumento perspetiva-se atingir uma maior abrangência da articulação entre as temáticas, Confiança materna nos cuidados ao recém-nascido e a Preparação para o Nascimento. Com a revisão crítica da literatura, procurou-se subsídios e suporte ao responder à questão de investigação inicial, selecionando-se as palavras-chave como descritores da pesquisa. O processo de pesquisa iniciou-se nos meses de Abril e Maio de 2014, numa primeira fase, e em Janeiro e Fevereiro de 2015, numa segunda fase, através dos motores de busca b-on, Science Direct, EBSCOhost, com seleção da base de dados CINAHLplus. Todos os termos foram confirmados e verificados na lista de termos indexados. Foi utilizada a pesquisa boleana no motor de busca EBSCOhost, com AND e OR para conjugar os termos de pesquisa encontrados. Os critérios de inclusão foram estudos: Escritos em Português, Inglês ou Espanhol, publicados a partir do ano 2000; Incluam mães e recém-nascidos; Descrevam e/ou explorem o contributo da enfermagem na preparação para o nascimento/parentalidade e/ou cuidados maternos ao recém-nascido; sobre a gravidez, parto e pós-parto. Excluíram-se estudos que abordassem situações com patologias clínicas associadas ou a questão da prematuridade. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 52 Após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão e da análise dos títulos e dos resumos ficou-se com um número final de 7 artigos. Resultados Os inquéritos por questionário ainda se encontram em fase de aplicação, pelo que são apresentados só uma parte dos resultados, referente ao desenvolvimento da revisão crítica da literatura. Os resultados dos estudos analisados, refletem os efeitos dos programas de preparação para o nascimento/parentalidade, na confiança nos cuidados ao recém-nascido através do desenvolvimento de identidade materna e de competências maternas/parentais, tendo emergindo 5 temas. - Experiência de Maternidade: As mulheres que participaram em programas mais sensíveis à transição e preparação para a parentalidade foram significativamente mais propensas para avaliar a sua experiência de maternidade mais positiva do que as mulheres que participaram em programas de rotina (Schmied et al, 2002). - Motivação para a Frequência dos Cursos/Programas: A maioria das mulheres (91%) concordam que as pode ajudar a sentirem-se mais seguras enquanto mães, e 86% das participantes pensam que a preparação para a parentalidade as pode ajudar a sentirem-se mais seguras nos cuidados ao seu bebé (Ahldén et al, 2012). - Resultados da Experiência dos Cursos/Programas: Um nº significativo diz que a experiência foi efetiva na construção de competências nos cuidados ao bebé e na preparação para a parentalidade, bem como para a adaptação à sua nova situação de pós-parto. Algumas das participantes apontaram que lhes deu oportunidade de desenvolverem a sua autoconfiança sobre a sua maternidade (Serçekus & Mete, 2010). A educação focada no desenvolvimento da identidade materna, do papel materno e perceção do bebé aumentou as médias do score retirado das escalas Myself as Mother, My Baby and the Pharis Self-Confidence Scale, que foi estatisticamente significativo (Özkan & Polat, 2011). A experiência de amamentação aconteceu mais cedo no grupo que realizou preparação para o nascimento, os seus bebés dormiram mais após a alimentação, a perceção de suporte pelo companheiro foi maior, e uma perceção mais elevada sobre o sucesso da amamentação (Mete et al, 2010). - Necessidades apresentadas na Participação dos Cursos/Programas: As mulheres reconhecem que parte da preparação pré-natal é baseada no trabalho de parto e parto, com ênfase limitada para a alimentação do recém-nascido. Gostariam de ter mais informações sobre o recém-nascido, fornecidas no período pré-natal (Barnes et al, 2008). As mulheres referem ser importante a participação dos companheiros, pois existe uma maior consciência do papel do pai como ativo na educação, promovendo o desenvolvimento emocional e apoio à companheira (Ahldén et al, 2008; Mete et al, 2010). As participantes encontravam-se muito mais satisfeitas com a frequência de sessões de grupo (Özkan & Polat, 2011). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 53 - Pedagogia nos Cursos de Preparação para o Nascimento: É sugerida a mudança do ensino unidirecional para a atividade em grupo. Têm sido aplicados em vários programas, com bons resultados, o que pode ser explicado por processos com foco na educação e aprendizagem de adultos. Uma metodologia pedagógica é fundamental, e os responsáveis pela educação parental devem ter oportunidade de adquirir e desenvolver competências. Ao invés de palestras, deve guiar o processo de grupo, a fim de ganhar a reflexão. O conteúdo deve focar na consciência da criança esperada, confiança no processo biológico e na mudança de papéis (Ahldén et al, 2008). Discussão/Considerações Finais A análise dos estudos apresentados levam a um campo de reflexão, sobre os contributos e as características que os programas de preparação para o nascimento podem ter, para o desenvolvimento da confiança materna nos cuidados ao recémnascido. Tal como encontramos na nossa realidade, noutros contextos, também existe uma forte crença na eficácia da educação para a saúde, no contexto da preparação para o nascimento, como rede de suporte, no período de transição (Ahldén et al, 2008). O desenvolvimento de programas, mais sensíveis à transição para parentalidade e ao desenvolvimento de competências parentais, tem contribuído para resultados mais positivos com a experiência da maternidade. Proporcionar um maior enfoque no desenvolvimento dos papéis parentais, parece ser o que os futuros pais mais procuram nas aulas (Ahldén et al, 2012). A educação para a saúde e preparação para o nascimento e parentalidade focados no desenvolvimento da identidade materna, do papel materno e perceção do bebé contribuem para melhores resultados associados à confiança materna. No contexto de aprender a ser mãe, um ambiente que reconhece a história e a experiência das mulheres, que facilite a partilha e o desenvolvimento de conhecimento pode ser mais apropriado (Özkan & Polat, 2011). Os programas sugeridos devem centrar-se no desenvolvimento de competências e de confiança para fazer escolhas, mais do que na transmissão de informações, incidir na promoção da autonomia e da capacitação, na confiança no processo biológico, estimular a reflexão, discutir estilos de vida e mudanças nas relações/papéis, para ajudar as mães fazerem uma transição mais suave para a maternidade (Ahldén et al, 2008; Barnes et al, 2008; Schmied et al, 2002). As sessões em grupo permitem a partilha de experiências e a criação de uma rede de apoio e de suporte. Quando os programas de educação pré-natal são baseados em princípios de educação de adultos e empregam grupos de discussão específicos de género que incidem sobre as necessidades dos participantes, as mulheres experimentam aumento de satisfação com as suas novas experiências de maternidade E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 54 e encontram-se potencialmente mais satisfeitas com as suas experiências de nascimento (Ahldén et al, 2008; Serçekus & Mete, 2010; Schmied et al, 2002). Através destes resultados, é possível compreender que a organização e aplicação de programas de preparação para o nascimento e parentalidade requer sensibilidade e adaptação às necessidades parentais encontradas. Estas vão para além do período da gravidez e do parto, o que tem levado aos profissionais a repensar no conteúdo e na forma de organização dos programas que são oferecidos. Os pais procuram sobretudo conhecimento para realizarem escolhas consciencializadas e para o desenvolvimento de competências parentais. Requer do profissional enfermeiro especialista em saúde materna e obstétrica, uma preparação e treino pedagógicos que podem ser adquiridos através da especialização em saúde materna e obstétrica e pela formação contínua. É exigido neste campo, um espírito de atualização de conhecimentos e de adaptação constante às realidades e necessidades sociais que se vão encontrando ao longo dos tempos. Assim, este trabalho visa envolver os profissionais de saúde da área da saúde materna e obstetrícia, com responsabilidades, interesse e envolvimento na área da preparação para o nascimento e parentalidade a contribuírem para uma visão e aplicação mais alargada destes programas, que possam ser mais sensíveis à autonomia e capacitação dos pais, trazendo contributos para o desenvolvimento da confiança materna. 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Couto, G. (2003). Preparação para o Parto: Representações mentais de um grupo de grávidas de uma área urbana e de uma área rural. Loures: Lusociência. . E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 55 Hotelling, B. (2004). Newborn Capabilities: Parent Teaching is a Necessity. The Journal of Perinatal Education. Vol. 13, N. 4 International Council Of Nurses (2006). Classificação internacional para a prática de enfermagem. CIPE versão 1. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros. Lowdermilk,D.; Perry, S. & Bobak, M. (2002). O Cuidado em Enfermagem Materna. Porto Alegre: Artmed Editora. Mete, S.; Yenal, K.; Okumuş, H. (2010). An Investigation into Breastfeeding Characteristics of Mothers Attending Childbirth Education Classes. Asian Nursing Research. Vol.5.Nº2. 216-226. Özkan, H. & Polat, S. (2011). Maternal Identity Development Education on Maternity Role Attainment and My Baby Perception of Primiparas. Asian Nursing Research. 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Nº3 E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 56 Consulta de Enfermería en Patología Mamaria/Consulta de Enfermagem em Patologia Mamária/Nursin Appointment in Breast Pathology Maria de Jesus Sánchez Sánchez – Hospital Clinic de Barcelona, [email protected] Resumen El cáncer de mama es la neoplasia maligna más frecuente en la mujer. El tratamiento se basa en cuatro pilares: cirugía, quimioterapia, radioterapia y hormonoterapia y por lo tanto precisa de un equipo multidisciplinar en el que está muy presente la enfermería en cualquiera de sus fases: diagnóstico, tratamiento y seguimiento. Palabras clave: Cáncer de mama, unidad de mama, equipo multidisciplinar Abstract Breast cancer is the most common malignancy in women . Treatment is based on four pillars: surgery, chemotherapy, radiotherapy and hormone therapy and therefore requires a multidisciplinary team that nursing is very present in any of its phases: diagnosis, treatment and monitoring. Keywords: Breast cancer, breast unit, multidisciplinary team En el año 2008 se diagnosticaron aproximadamente 1.380.000 casos nuevos de cáncer de mama en el mundo. En la actualidad es el tumor más frecuente en la población femenina tanto en países desarrollados como en aquellos en vías de desarrollo. Las cifras a nivel mundial lo sitúan en el 18,2% de las muertes por cáncer en la mujer y la causa más frecuente de muerte en la mujer de edades comprendidas entre los 40 a 55 años. La edad de máxima incidencia está por encima de los 50 años, pero aproximadamente un 10% se diagnostica en mujeres menores de 40 años. Se estima que en Europa, la probabilidad de padecer cáncer de mama antes de los 75 años, es del 8%. Una de cada 8 mujeres padecerá cáncer de mama a lo largo de su vida. La supervivencia media relativa del cáncer de mama tras cinco años es del 89.2% de forma global. El estadio en el que se ha diagnosticado el cáncer influye en la supervivencia. La supervivencia en el estadio I es de más del 98% y en cambio en los estadios III la supervivencia desciende al 24%. La incidencia es similar en los países de Europa Mediterránea, Centroeuropeos, Portugal, España e Irlanda y es menor que la de Estados Unidos y Canadá, Reino Unido, Países Bajos, Bélgica, Alemania, Francia y Suiza.Tanto el número de casos como las tasas de incidencia aumentan lentamente a nivel mundial, probablemente debido al envejecimiento de la población y a un diagnóstico cada vez más precoz. El aumento de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 57 la incidencia se estima en un 1-2% anual y es constante desde 1960 en Estados Unidos. El Pla de Salud 1996-1998 de la Generalitat de Catalunya contempló como objetivo general estabilizar la tendencia creciente de mortalidad por cáncer de mama con intervenciones y acciones prioritarias y extensión de los programas poblacionales de cribaje. Entre estas acciones prioritarias se contempló la necesidad de crear Unidades de Mama. Su justificación fue: La gran prevalencia del cáncer de mama. La multidisciplinaridad La exigencia social. Cuando una paciente llega a un hospital con sospecha o diagnóstico de cáncer de mama, inicia una peregrinación entre diversos especialistas que pueden tomar decisiones unilaterales por una percepción de la enfermedad que no siempre coincide, por lo que recibe informaciones contradictorias. Las unidades de mama tienen al paciente como centro de su actividad. Sus objetivos son: Garantizar un diagnostico con rapidez Ofrecer un tratamiento sin demora Aportar información al paciente y familia Estimular la investigación básica y clínica Ofrecer un tratamiento integral de la enfermedad haciendo que el paciente sienta que los miembros del equipo trabajan de forma simultánea, y no secuencial en su problema. Coordinar a todos los especialistas que atienden a la misma paciente Función Asistencial, Investigadora y Docente Relación con instituciones públicas y privadas Campañas de educación poblacional Los especialistas que conforman una Unidad de Mama son: Ginecólogo o Cirujano expertos en Cirugía de Mama, Cirujano Plástico, Patólogo, Radiólogo, Oncólogo médico, Oncólogo radioterapeuta. Psicooncólogo y Enfermera, todos ellos especializados en senología. Tanto la SESPM (Sociedad Española de Patología Mamaria) como la EUSOMA ( Sociedad Europea de Mastología),exige la figura de la enfermera experta en cuidados mamarios como requisito para acreditar una Unidad de Mama. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 58 En el Hospital Clínic de Barcelona los especialistas que hoy conforman la Unidad de Mama ya trabajaban unidos desde hacía años, pero es en el año 2000 que se crea la Unidad de Mama como tal y con reconocimiento institucional. Es en este contexto donde se crea la Consulta de Enfermería en Patología Mamaria. La misión y valores son los propios de la institución: Garantizar la atención a la persona enferma, proporcionarle los mejores cuidados posibles, respetando su intimidad e individualidad y velando por su seguridad. Administrar los cuidados con respeto y profesionalidad y ayudarla en su recuperación y adaptación a la nueva situación de enfermedad, haciendo también prevención secundaria e implicando y asesorando a las personas más cercanas. Los valores que guían nuestra práctica profesional son: el humanismo, la colaboración interdisciplinar el rigor científico y la excelencia de los cuidados Objetivo principal La consulta de enfermería de la unidad de mama ha de proporcionar una atención y cuidado integral a la paciente diagnosticada o con alta sospecha de cáncer de mama desde el primer contacto con el hospital y durante todo el proceso de la enfermedad. Ofrecer una calidad asistencial óptima y que el paciente encuentre en el personal de enfermería un punto de referencia y de apoyo. Objetivos específicos Soporte a la información médica sobre los procesos de diagnóstico y tratamiento. Canalizar dudas. Controlar los diferentes circuitos terapéuticos. Establecer una relación de ayuda y continuidad durante todo el proceso de la enfermedad. Persona de referencia en la unidad, tanto para las pacientes y familiares como para el resto de los profesionales del equipo. Realizar curas de enfermería en el postoperatorio, durante la quimioterapia y la radioterapia Educación terapéutica: “empoderamiento” (el empoderamiento para la salud es un proceso mediante el cual las personas adquieren un mayor control sobre las decisiones y acciones que afectan a su salud) E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 59 Las actividades que la enfermera desarrolla son tanto autónomas como de colaboración y se desarrollan en las diferentes etapas del proceso, en las pruebas diagnósticas, en los diferentes tratamientos, en las curas posoperatorias y en el seguimiento. Tiene diferentes funciones: función gestora, asistencial, docente e investigadora. Función gestora Tiene la coodinación como elemento fundamental. La relación con la paciente se inicia antes de su llegada al hospital, ya que la enfermera valora las peticiones de visita que pueden llegar desde la atención primaria, desde el cribado poblacional, desde otros departamentos o desde la sanidad privada. Gestiona las agendas de los diferentes especilistas y coordina las pruebas diagnósticas y o complementarias. Función asistencial Screening de citologías y biopsias. Dotar a la consulta médica y de enfermería del utillaje, material e impresos necesarios Mantener soporte técnico y emocional durante la realización de pruebas diagnósticas en la consulta Retirada de puntos y cuidados de las heridas quirúrgicas Función docente La enfermería como ciencia tiene un cuerpo de conocimientos que le es propio y que se ha de transmitir. Por un lado a otros enfermeros que se quieran formar en esta especialidad, tambien a estudiantes y en congresos. Así mismo ejerce una función docente ante el paciente y el cuidador principal. Función investigadora La función investigadora en enfermería es esencial, pero aún está en pañales. Se ha de fomentar que la enfermera investigue para avanzar en los cuidados y mejorar la asistencia y la técnica, en definitiva, optimizar los servicios que presta. Colaboración en proyectos de la unidad e impulsar nuevos. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 60 Circuito de visitas Y para poder llevar a cabo todo lo expuesto hasta ahora, es imprescindible que la enfermera disponga de un espacio físico, un despacho dotado de ordenador, camilla y todo el instrumental necesario para las curas. Tenemos establecido el siguiente circuito de visitas. la primera se produce después de la primera visita médica. En los casos de cirugía como primer tratamiento hay una segunda visita antes del ingreso, hay visitas inesperadas o espontáneas, ateción telefónica y visita postcirugía. Primera visita Es la visita donde se produce la acogida del paciente, la identificación de problemas y/o necesidades i la planificación del plan de cuidados. El diagnóstico de cáncer de mama provoca un importante impacto emocional tanto en la paciente como en la familia, se ha de acoger a la paciente , en un ambiente íntimo y acogedor; por supuesto lo primero es presentarse, situar al paciente en el espacio físico. En ocasiones es la primera vez que asisten al hospital y es un ambiente hostil para ellas. Estos primeros momentos son fundamentales para la relación futura. Es fundamental cuidar la comunicaciónn tanto verbal como no verbal, poniendo en ello todo el empeño. En la consulta siempre hay una caja de pañuelos sobre la mesa. Es una invitación a la expresión de los sentimientos y emociones, las dudas., un espacio de soporte emocional y de seguridad y de confidencialidad. Recibir un diagnóstico de cáncer es un momento de mucho estrés y está demostrado que el paciente apenas se queda con el 20% de toda la información que le da el médico en la consulta. Pero la enfermera puede dedicar más tiempo, explicarle después más a fondo en qué va a consistir la terapia, cuál es el plan a seguir y hacer un seguimiento de los efectos secundarios. Se ha de comprobar que ha entendido el diagnóstico y el tratamiento . Se explican las pruebas preoperatorias y el estudio de extensión. Se refuerza la información recibida por el médico. Se ha de tener en cuenta que la paciente y la familia están bajo un fuerte impacto emocional y en la muchos casos se bloquean y no procesan la información. Es fundamental adecuar el lenguaje a la persona que tenemos delante. En nuestro centro visitamos a mujeres de muy diversa condición y nivel social, algunas con dificultades idiomáticas importantes. Tambien se ha de dosificar la información, no explicar más allá de lo que la mujer desea. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 61 Es muy importante detectar precozmente personas en riesgo, valorar el entorno familiar y social. Dedicar esfuerzos para promover el bienestar psicológico. En esta primera visita se inicia ya la educación terapéutica con el fin de conseguir el empoderamiento de la paciente,La mujer ha de entender la información relacionada con su enfermedad, ha de conocer el proceso a seguir. Se entrega información escrita adicional sobre la enfermedad. Se entrega a la paciente y familia la tarjeta de visita de la enfermera. La posibilidad de tener esa persona de referencia, aporta tranquilidad y seguridad al paciente en un momento de mucha ansiedad e incertidumbre. Segunda visita Esta segunda visita generalmente se produce tras las pruebas complementarias . Se refuerza la información y se resuelven las posibles dudas. En el caso que la paciente sea tributaria de cirugía como primer tratamiento, se explica todo lo referente al ingreso, aquellas detalles prácticos cómo cuando, quien la avisará, que documentos y objetos puede o debe traer, en fin, aquellas cosas prácticas que se necesitan saber. Le informaremos que acudirán al alta para el seguimiento de la herida quirúrgica y retirada de puntos. Esto les proporciona seguridad. A las pacientes tributarias de linfaadenectomía axilar se las deriva al servicio de rehabilitación para información precirugía. Tambien se asesora sobre el sujetador más adecuado para el tipo de IQ. En el caso de quimioterapia neoadjuvante, se da información general y se remite al departamento de oncología, donde se le asignará un oncólogo y una enfermera de referencia. En cualquier caso nos aseguraremos que todas las pruebas necesarias estén realizadas o citadas. Visitas a demanda Debemos dejar algunos espacios en nuestra agenda para las visitas a demanda o imprevistos. Como ya he mencionado y todos sabemos, el diagnóstico de cáncer altera la vida de las personas, la vida familiar, laboral y social. Para nuestro equipo es fundamental “cuidar” a las mujeres y para ello entre otras cosas debemos y queremos ser “accesibles”. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 62 Atención telefónica Una línea abierta para que el paciente pueda, desde su casa, consultar cualquier problema o duda sin desplazarse al centro sanitario. Una gran parte de la actividad diaria y que generalmente no se tiene en cuenta, es la atención telefónica. Nosotros ofrecemos esta atención junto con la posibilidad de contactar por e-mail. Y lo hacemos por el convencimiento de esa accesibilidad de la que hablaba antes, y la realidad es que se ahorran visitas y desplazamientos innecesarios a urgencias o a consultas. Comité El equipo que integran Las Unidades de Mama se reunen semanalmente para analizar todos los casos. La enfermera es una integrante más del comité. Aportará aquella información que tenga sobre la mujer y que pueda ser relevante para la toma de decisiones. Y se asegurará de gestionar las citas necesarias en función de las decisiones del comité. Visita poscirugía Revisión de herida quirúrgica. Valoración y retirada de drenajes Retirada de puntos Valoración y evacuación de seromas Comprobación de conocimiento y cumplimiento de los ejercicios de rehabilitación Información sobre prótesis y sujetadores Comprobar que sean correctas las citas postoperatorias (comité, oncología, radioterapia, ginecólogo o cirujano, etc) Aulas de pacientes Es deseable que la enfermera lidere equipos multidisciplinares Gestión de las emociones Nutrición y ejercicio Prevención de linfedema (en marcha) Sujetadores, prótesis, pelucas, maquillaje Afrontamiento del alta hospitalaria E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 63 La enfermera será la dinamizadora de las aulas, pero contará con el soporte de otros especialistas (psicólogo, nutricionista, rehabilitador,…) e incluso otras pacientes “expertas” Referencias Bibliográficas Beatriz Riquelme,E., Bettina Sepúlveda P., Ximena Vargas,V. Atención de enfermería en las pacientes con cáncer de mama. Rev. Med. Clin Condes-2006;17 (4):244-47 H.U. Reina Sofía Dirección de Enfermería. Plan de cuidados estándar: mastectomía http://www.cuidando.es http://www.onconocimiento.net/ http://www20.gencat.cat/portal/site/canalsalut http://www.Forumclinic.es http://www.sespm.es/unidades/solicitar#Especialistas http://www.eusoma.org/ Royo Aznar,A. Calidad de vida en pacientes intervenidas de cáncer de mama.UAB 2011 Sánchez Sánchez, M.J., Drenaje seroma posquirúrgico. Rev. ROL-2015;38(1):17-20 E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 64 Esterilidad y Consulta de Enfermaría/Consulta Infertilidade/Nursin Appointment on Infertility de Enfermagem em Paquita Antonell Riu – Hospital Clinic de Barcelona, Presidente del Grupo de Enfermería de la SEF (Sociedad Española de Fertilidad) Resumen Esterilidad incapacidad de una pareja en conseguir una gestación tras un año de tener relaciones sin protección, prevalencia 10-15%. El proceso está basado en dos fases: 1-Estudio y diagnostico, 2- Tratamientos. Para llegar a un diagnóstico y realizar el tratamiento oportuno hace falta un equipo multidisciplinar donde la enfermera tiene un papel fundamental en todas las fases. Palabras clave: Esterilidad, pruebas, tratamientos, edad y embarazo. Abstrat Sterility inability of a couple to achieve pregnancy after one year of unprotected sex , prevalence 10-15%. The process is based on two phases: 1- Study and diagnosis, 2- Treatments. To arrive at a diagnosis and perform timely treatment takes a multidisciplinary team where the nurse has a fundamental role in all phases. Keywords: Sterility, tests, treatments, age and pregnancy Cuando una pareja llega a la consulta de Esterilidad, probablemente ya lleva un tiempo de preguntas y dudas antes de tomar la decisión de consultar su problema, una vez hay un diagnostico el stress que sufre la pareja es parecido según los Psicólogos al que sufre una persona cuando se le diagnostica una neo. Surgen dos grandes incógnitas. a) El tiempo que tardará en quedarse embarazada, b) Sí realmente conseguirá su deseo “un embarazo”. Esterilidad Incapacidad de una pareja en conseguir una gestación tras un año de relaciones sin protección a) Absoluta o completa, b) Relativa por debajo de la normalidade, c) Infertilidad incapacidad de llevar a término una gestación. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 65 Pruebas básicas en el estudio de Esterilidad Seminograma. Análisis de semen o eyaculado, Se valora volumen, movilidad espermática y su morfología. Histerosalpingografia HSG. Prueba radio diagnostica que sirve para valorar la permeabilidad tubárica. Ecografía. Sirve para valorar la reserva ovárica, el parámetro que mejor se correlaciona con la calidad del ovulo es la edad de la paciente. Analítica hormonal. Valoración de la ovulación y la reserva ovárica. Complementarias según resultados Laparoscopia (Endometriosis) y Biopsia de endometrio. Causas de Esterilidad a) b) c) d) e) f) Factor masculino25% Factor tubárico 22% Disfunción ovárica 27% E.O.D. 17% Endometriosis 5% Otras 4% Técnicas de Fecundación In Vitro (TRA) Procedimientos terapeuticos en esterilidad que tienen en común la manipulación de ovocitos,espermatozoides o embriones. El 50% de las parejas esteriles precisara la práctica de TRA. Técnicas de Reproducción Asistida IAC/IAD Inseminacion con semen de pareja o de donante. Fecundación in Vitro y Transferencia embrionaria (FIV-TE) Microinyección espermática (FIV-ICSI) Diagnostico Preimplantacional (FIV-DPI) Donación y Recepción de Ovacitos y Semen Preservación de Fertilidad. a)Médica y b)Social. Aspectos negativos de las TRA Sindrome de la Hiperestimulación Ovárica. Gestación Multriple. Evolución de las gestaciones de TRA. Riesgo de cáncer de ovario. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 66 Consulta de Enfermería Un espacio físico Un tiempo. Sin demoras,sin cita previa y por iniciativa del paciente. Una preparación. Historias,entrada al sistema y listas de espera. Un telefono. Contacto directo con las pacientes y programación de tratamientos. Areas de trabajo: Informativa,Organizativa, Educadora, Soporte Psicologico y Protocolos e Investigación Trabajos realizados desde la consulta de Enfermería 1-Consulta informativa previa a una consulta de Esterilidad en un centro público y en un centro privado. Visita Informativa presencial(centro público) a) b) c) d) Realizarla antes de la visita médica. Por personal de Enfermería Es informativa y orientativa. Derivar a la pareja a especialistas. Objetivos: a) Información clara y concisa. b) Aumentar el conocimiento de los factores que influyen alo hora de conseguir o no un embarazo. c) Hacer de filtro a las parejas que por motivos diversos no procede la visita. Estructura a) b) c) d) Conocer motivo de consulta. Revisión de pruebas. Explicar ampliamemte diferencia entre estudio básico y tratamientos. Aclarar dudas e inquietudes. Visita Informativa presencial(centro privado) a) b) c) d) e) Es gratuita. Información general. Preservación de la fertilidad no médica Información de TRA. (IAC,IAD y FIV) Donación ovocitos, embriones y donantes. Estructura a) Revisión de pruebas. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 67 b) c) d) e) Explicar ampliamemte diferencia entre estudio básico y tratamientos. Aclarar dudas e inquietudes. Entrgar triptícos, DVD y documentación Remitir al servicio de atención al paciente(SAP) Presupuestos y horarios. Conclusiones Buena acogida por parte de las parejas (llegan mas informadas) y del equipo médico. El trato menos formal que proporciona una visita con la enfermera crea una empatia que permite a la paciente exteriorizar sus dudas y darle un apoyo psicologico. Sobrepeso y Obesidad en Reproducción Asistida: Creación de grupos de trabajo con mujeres obesas dirigidos por enfermería para disminuir el IMC previo a FIV Se estudia una cohorte de manera prospectiva de pacientes en lista de espera de FIV con IMC = o > 30 a las que se les aplicó un programa basado en: reeducación alimentaria y cambio de hábitos de vida, con el objetivo que pierdan entre un 10-15% de su peso actual antes del inicio del tratamiento, para mejorar la respuesta al tratamiento y evitar complicaciones en el caso de gestión posterior. El aula de educación terapéutica dirigida por enfermería tuvo una duración de 3 meses, con un total de 12 sesiones de 90 minutos cada una, 7 sesiones presenciales y 5 telemáticas, el grupo estaba compuesto por 13 pacientes. Un mes después se realizará una visita para el control de los cambios de hábitos de vida, el mantenimiento del peso perdido e iniciar el tratamiento de FIV. Para realizar los cambios de hábitos pedimos a las pacientes que hagan un registro alimentario y de actividad física diarios desde la primera sesión El contenido de las sesiones: - Tanto en la primera sesión como en la última se hizo un control de: peso, altura, IMC; perímetro de cadera/cintura y entrega de cuestionario IWQOL-Lite. - Informamos sobre cómo realizar los controles alimentarios y como cuantificar el ejercicio físico. - Se les dio nociones básicas sobre los diferentes grupos de nutrientes (hidratos de carbono, lípidos, proteínas, vitaminas) - Explicamos el método del plato único - Enseñamos a realizar la lista de la compra semanal por grupos alimentarios (sólo productos necesarios) y a valorar el contenido de las etiquetas alimentarias. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 68 - Informamos sobre el control de estímulos activos y pasivos (cadena de cambio) - Se dan herramientas para mejorar la autoestima, las recaídas y los abandonos. - Autoevaluación del grupo y de los profesionales. Resultados 3 consiguen bajar el 10% de su peso 5 bajan un 5% 1 Se mantiene problemas familiares. 2 pasan a cirugía bariátrica ambas tenían un IMC superior a 40 2 abandonan el grupo Referencias Bibliográficas Bernardo Fernández, Anna Veiga, Javier Marqueta. Tratado de la Reproducción Humana para Enfermería. Juan José Espinós Obesidad y Reproducción. Estilos de vida y Fertilidad E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 69 Cáncer de Cervix y VPH/HPV e Cancro do Colo/HPV and Câncer of Cérvix Nadia Abu-Lhiga Aguilera – Fundació Hispital Clínic de Barcelona, [email protected] Maria de Jesus Sánchez Sánchez – Hospital Clínic de Barcelona Resumen El VPH se detecta en todos los cánceres de cérvix y lesiones precursoras. La infección persistente por el VPH es causa necesaria pero no suficiente para el desarrollo del cáncer del cuello uterino. Es la infección de transmisión sexual más frecuente a nivel mundial. Existen dos vacunas anti-VPH para disminuir su contagio. Un buen cribado es importante para la correcta detección de del CC. Palabras claves: Virus del Papiloma Humano, cáncer de cuello uterino, lesiones precursoras, prevención. Abstract The HPV is detected in all cervical cancers and precursor lesions. The persistent VPH infection is a necessary but not sufficient for the development of cervical cancer. Is the most common sexually infection transmitted worldwide. There are two HPV vaccines to reduce the infection. A good screening is important for the correct detection of the cervical cancer. Keywords: Human papillomavirus, cervical cancer, premalignant lesions, prevention. Introducción El carcinoma de cérvix (CC) o cáncer de cuello uterino (CCU) constituye el tercer cáncer más frecuente y la cuarta causa de muerte en las mujeres a nivel mundial, con aproximadamente 528.000 nuevos casos y alrededor de 266.000 muertes anuales. El CC está íntimamente ligado a determinados tipos de virus del papiloma humano (VPH) y sus lesiones precursoras. Este descubrimiento ha revolucionado el paradigma de la revisión ginecológica como detección precoz del CCU. La infección por VPH se considera actualmente la infección de transmisión sexual más frecuente a nivel mundial y es causa necesaria aunque no suficiente para desarrollar el CC. Su prevalencia es muy elevada en jóvenes sexualmente activas, generalmente tras el inicio de las relaciones sexuales y en mujeres menores de 25 años. Se calcula que en torno al 80% de las mujeres entran contacto con el virus en algún momento de su vida sin tener ningún síntoma y con la desaparición espontánea de la infección. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 70 El 80-90% de estas infecciones cursan asintomáticas y son resueltas espontáneamente por la inmunidad natural entre los 6 y los 18 meses siguientes al contagio (infección transitoria). Solamente un pequeño porcentaje de estas infecciones (entre un 10-15%) persistirá dando lugar a una lesión premaligna denominada displasia o neoplasia intraepitelial cervical (NIC). En general, el desarrollo del CCU tiene un período de latencia prolongado, así bien, pueden pasar 10-15 años entre la infección y la detección del cáncer. La mayoría de estos carcinomas pueden ser prevenidos mediante la detección precoz y el tratamiento de las NIC. Incidencia del CC en el Mundo La mayor incidencia del CC la encontramos entre los 35-45 años (aquellas niñas que se infectaron a los 15-20 años) y entre los 60-65 años. Según la Organización Mundial de la Salud (OMS) en 2005 se registraron alrededor de 500.000 casos de cáncer cervico-uterino y 260.000 muertes relacionadas. La tasa de incidencia varía entre 1 y 50 por cada 100.000 mujeres y es generalmente mayor en América Latina y el Caribe, África subsahariana, Melanesia, Asia centromeridional y Sudeste asiático. Los países con mayor desarrollo económico presentan menor incidencia. Métodos de Cribado y de Diagnóstico La citología cérvico-vaginal, capaz de detectar las lesiones precursoras, ha sido hasta ahora la base de la prevención secundaria del CC. Sin embargo la hacen cuestionable como primer escalón ya que aqueja de una baja sensibilidad con un 15-50% de falsos negativos. En la última década se ha estudiado extensamente la aplicación clínica de las técnicas moleculares de detección de los VPH de alto riesgo (VPH-AR), que tienen como ventaja frente a la citología una mayor sensibilidad y especificidad. De hecho, las guías clínicas actuales añaden los métodos de detección del ADN del VPH-AR a la citología como a parte del cribaje del CCU en mujeres mayores de 30 años con el objetivo de aumentar la sensibilidad del cribaje y el intervalo de evaluación. Según los modelos publicados, las mujeres podrán iniciar sus controles más tarde, entre los 30-35 años, y realizarlos de forma más espaciada, cada 5 años. Como consecuencia de estas nuevas estrategias para detectar el CC, se están detectando no sólo aquellas lesiones premalignas con un potencial riesgo de progresión, sino también un gran número de mujeres con infección o lesiones transitorias sin riesgo de presentar cáncer, lo que implica que un número de mujeres mucho más elevado que la citología, deberán ser controladas. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 71 Clasificación El VPH se divide en alto o bajo grado según la capacidad de transformación oncogénica en la célula huésped. - Los VPH de bajo riesgo (VPH-BR) (6, 11, 40, 42, 43, 44, 54, 61, 70, 72, 81 y CP6108) son los causantes de patologías benignas como los condilomas acuminados o verrugas genitales. - Los VPH de alto riesgo ( VPH-AR) ( 16, 18, 31, 33 ,35, 39, 45,51, 52, 56, 58, 59, 68, 82, 26, 53, 66 y 73) son los responsables del desarrollo del CCU y lesiones precursoras . Estudios recientes, aún en fase de análisis y revisión, describen que en el CCU el VPH 16 es el tipo más prevalente, con un 64,5%, seguido por el VPH 33, con un 6,1%. El VPH 18 y 31 representan un 5,8% y 3,6% respectivamente. Entre los cánceres atribuibles al HPV-AR, también encontramos: cérvix en un 100%, ano en un 90%, vagina en un 70%, vulva y pene en un 40%, orofaringe en un 12% y cavidad oral en un 3%. Factores de Riesgo Hay diversos cofactores que se han relacionado con la persistencia y cronicidad de la infección por VPH y, secundariamente, con la progresión de las lesiones cervicales premalignas, como son la genética de los sujetos, la carga viral y los factores medioambientales. Éstos últimos son modificables, entre los que destacamos: - El inicio precoz de las relaciones sexuales siendo el factor principal de contagio. El cuello de las adolescentes es todavía inmaduro y parece que el virus tiene menos barrera para penetrar en la capa basal. Cuatro de cada diez mujeres son portadoras del VPH al año de su debut sexual y seis de cada diez a los dos años. - El número de parejas sexuales. Si con 1 pareja tienes el 20% de posibilidades de contagio, con 2-3 es del 38%, con 4-7 el 48% y más de 6 sube al 60%. - La no utilización sistemática del preservativo. Debemos tener en cuenta que, no siendo la protección del 100%, proporciona cobertura en torno al 60%. - El tabaquismo. Es uno de los factores ambientales de progresión más íntimamente asociado con el desarrollo de lesiones precancerosas. Las mujeres infectadas por VPH que son fumadoras tienen un riesgo superior de progresión, entre dos a cuatro veces más que las mujeres no fumadoras. - La alta paridad. Varios estudios de casos y controles han estimado que las mujeres con 3-4 embarazos a término tenían un riesgo 2,6 veces más alto de padecer un CCU que las nulíparas. En las que habían tenido 7 partos o más, el riesgo fue de 3,8 veces. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 72 - Los anticonceptivos orales (ACO), ya sea por la acción hormonal y/o por el no uso de preservativo, se consideran un factor a tener en cuenta. El uso prolongado de ACO, durante cinco años o más, incrementa por 2 el riesgo de desarrollar CC entre las mujeres portadores del VPH. Sin embargo, las mujeres que toman ACO se someten a revisiones ginecológicas con mayor frecuencia que las no consumidoras, por lo que se favorece la detección precoz de la enfermedad. - La circuncisión masculina. La pareja sexual masculina sin circuncidar tiene mayores posibilidades de infectarse con el VPH y transmitirlo a las mujeres. - Antecedentes de otras ETS. La coinfección por el Virus Herpes Simple tipo 2 (VHS-2) se ha relacionado con un riesgo tres veces superior de padecer CCU, y la infección de VIH aumenta su riesgo por recibir tratamiento inmunosupresor. Prevención Primaria y Secundaria Hasta hace pocos años la prevención era únicamente secundaria, a través del cribado. Ahora, con la puesta en marcha de las vacunas, disponemos también de prevención primaria. En la actualidad se comercializan ampliamente dos vacunas anti-VPH en todo el mundo. La vacuna tetravalente (contra los tipos 6, 11, 16 y 18), autorizada en 2006, ha sido aprobada para su administración a niñas preadolescentes, para prevenir las lesiones precancerosas, el CC y las verrugas anogenitales. Además, según la OMS, esta vacuna está aprobada para prevenir las lesiones precancerosas y el cáncer de vulva y vagina. En algunos países se ha autorizado también la vacuna para la prevención de las verrugas anogenitales en los hombres. La vacuna bivalente (contra los tipos 16 y 18 y protección cruzada contra 31, 45 y 52) fue autorizada en 2007 aprobada para su administración a niñas a partir de los 10 años para prevenir lesiones precancerosas y cancerosas del cuello de útero. No se ha solicitado autorización para administrarla a varones. Tras la administración de dos dosis, inducen concentraciones elevadas de anticuerpos séricos en prácticamente todas las personas vacunadas. En las mujeres sin infección pasada ni infección actual por los genotipos de VPH presentes en esas vacunas, ambas proporcionan una protección > 90%. El mayor impacto se obtiene con la vacunación de las mujeres antes de la edad de exposición a los VPH, aunque actualmente son muchos los ginecólogos que recomiendan la administración de la vacuna a mujeres sexualmente activas, ya que existe una alta eficacia preventiva. Puesto que las vacunas anti-VPH no eliminan el E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 73 riesgo de CC, siguen siendo necesarias pruebas de detección de esta neoplasia para reducir al mínimo su incidencia. La prevención secundaria del CC ha estado basada en tres puntos esenciales: el cribado citológico, la colposcopia y el diagnóstico histológico. No existe un consenso a nivel europeo que establezca las recomendaciones concisas en relación al cribado del CC y la conducta clínica frente a la infección por el VPH. En España, por ejemplo, se recomienda iniciar el cribado a los 3 años del inicio de las relaciones sexuales o a partir de los 25 años de edad, mediante dos citologías de intervalo anual. Si son negativas, se realizarán con periodicidad trianual hasta finalizar el cribado a los 65 años, si éste fue adecuado anteriormente. A diferencia, en EEUU se recomienda a la mujer que se haga su primera citología los 21 años. De los 21 a 29 años aconsejan hacer una citología cada 3 años. Las mujeres de 30 a 65 años pueden hacerse exámenes selectivos de detección cada cinco años con una prueba conjunta (citología y determinación del VPH) o bien una citología cada tres años. Con el nuevo escenario que plantea la vacuna, que reducirá un 70%-75% los casos de cáncer y un 50%-60% las lesiones precancerosas, el análisis de ADN será la prueba de elección como test único. Probablemente se puedan empezar las pruebas a edades más tardías y con intervalos más amplios pudiendo reducir la tasa de falsos positivos, es decir, de infecciones que van a remitir espontáneamente antes de llegar a causar una lesión precancerosa. Desde hace pocos años y a consecuencia del conocimiento de la implicación del VPH en las lesiones precursoras y en el CC, las estrategias del cribado han cambiado y seguirán haciéndolo en el futuro, ya que actualmente están en marcha diferentes estudios encaminados a definir la mejor estrategia en la lucha contra el CC. Enfermería y VPH El estudio AFRODITA “Cobertura y factores asociados del cribado del cáncer de cuello de útero en España” (Puig Tintoré, 2006), realizado en 17 comunidades autónomas españolas, evidenció que, el 52% de la población femenina nunca había oído hablar del VPH y el 38,8% a pesar de conocer su existencia, desconocían su relación con el cáncer. La desinformación genera con frecuencia angustia e incomprensión a las mujeres sobre su proceso de base, cosa que altera de forma significativa su calidad de vida. Es por ello que debemos tener en cuenta la importancia que adquiere el papel de la enfermera en varios aspectos sobre este tema, ya que está implícitamente involucrada tanto en ámbito primario como asistencial e investigación. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 74 En el Hospital Clínic de Barcelona existe la unidad de patología cervico-vulvar (UPCV) en la que se realiza un seguimiento y/o tratamiento de pacientes derivadas con VPH positivo con o sin lesión. En dicha unidad la enfermera adquiere un papel muy activo, puesto que la mayoría de las veces, es a ella a quién se dirige la paciente por generar más confianza y ser mucho más accesible que el médico. La enfermera trata de sensibilizar a las mujeres dando información sanitaria; asistiendo en el tratamiento, seguimiento y procesamiento de muestras histológicas; administra vacunas y coopera en varios estudios de investigación sobre dicho tema. Referencia Bibliográfica Cortés Bordoy J, García de Paredes M, Muñoz Zato E, Martinón Torres F, Torné Blade A, García Rojas A, et al. Vacunas profilácticas frente al virus del papiloma humano: Documento de consenso 2008. SEMERGEN. [Internet]. 2009; 35-1. Del Pino M, Torné A, Alonso I, et al.Colposcopy prediction of progession in human papillomavirus infections with minor cervical lesions. Obstet Gynecol 2010;116:1324-31. Human papillomavirus (HPV) vaccine, Background paper, September 2008. Geneva, WHO,2008 http://www.who.int/immunization/documents/positionpapers/en/index.html; accessed 24 March 2009. Ordi J, Alonso I, Torné A, et al. Humman papillomavirus load in Hybrid Capture II assay:does increasing the cutoff improve the test? Gynecol Oncol 2005;99:3139. Tintoré P, Estudio AFRODITA “Cobertura y factores asociados del cribado del cáncer de cuello de útero en España”, 2006. Wright TC Jr, Massad L, Dunton CJ, Spitzer M, Wilkinson EJ, Solomon D. et al. 2006 consensus guidelines for the management of women with abnormal cervical cancer screening tests. Am Obstet Gynecol 2007;127:959-68. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 75 Fertilidade Regular/Regular Fertility Dinis da Fonseca – CESFAR O conceito de “Fertilidade Regular” interessa a qualquer mulher independentemente do seu estado, casada, solteira ou viúva. Baseado num “Equilíbrio Hormonal”, permite integrar o valor da “Janela Fértil” na dinâmica de relação e conhecimento que carateriza a Família. Evita a maioria da gravidez inesperada que é relacionada com o aborto consequente. Defende a saúde do aparelho reprodutor durante a vida genésica e particularmente na perimenopausa. Defende igualmente a saúde vascular e urológica. Evita as anomalias genéticas do embrião que surgem depois do 17.º dia que estatisticamente representam 50% do total. Defender uma “Fertilidade Regular” implica poder utilizar a Contracepção Corretiva dispensando a Interventiva, na família estabilizada. A sociedade em que vivemos tem um número cada vez menor da família estabilizada, sendo cada vez maior a “união de facto”, que não dispensa a Contracepção Interventiva. Daí a importância da “Fertilidade Regular” para a família estabilizada. Sendo cada vez menor o número destas famílias, não admira que as sociedades da Europa encontram uma natalidade cada vez mais insuficiente para um necessário rejuvenescimento social. É fundamental que o ensino secundário proporcione o conhecimento do conceito de “Fertilidade Regular”, que irá permitir no futuro a qualquer mulher defender a saúde E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 76 reprodutiva, evitando a gravidez inesperada. Diminuirá igualmente a Infertilidade atual, que tem como cofactor importante a agressão reiterada da Contracepção Interventiva. A medicina apenas terá de proporcionar o complemento hormonal (Progesterona) necessário à Contracepção Corretiva. Finalmente é fundamental promover um verdadeiro Planeamento Familiar que procura: a) A Felicidade do Homem e da Mulher; b) Uma Paternidade Consciente e Responsável Para o conseguir é necessário conhecer e controlar a Fisiologia Reprodutiva. Até agora o Planeamento Familiar resume-se a um conjunto de técnicas para evitar a gravidez, o que é manifestamente insuficiente. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 77 Contraceção ao Longo do Ciclo de Vida: Inovações e Novos Paradigmas/Contraception Throughout the Lifecycle: Inovation and New Paradigms Maria João Palma – Hospital Garcia de Orta The development and increased access to modern contraception has been classified by the Centers for Disease Control and Prevention (CDC) as one of the 10 greatest public health achievements of the 20th century[1]. The benefits of contraception are widely recognized, improving maternal and child health outcomes. Although unintended pregnancy and abortion rates are still high, corresponding to about 49% of all pregnancies [2, 3]. Unintended pregnancies are associated with many negative health and economic consequences. [3] Reducing this high rate is a priority, and for that, new contraceptive methods are needed to meet patient needs. The most effective way to reduce abortion rates is to prevent unintended pregnancy by improving access to consistent, effective, and affordable contraception [4,3,5]. Approximately half of unintended pregnancies result from contraceptive failure, usually owing to incorrect or inconsistent use of contraception[4-6]. Long-acting reversible contraceptive methods, which are not user-dependent, have very low failure rates. So, long-acting reversible methods of contraception, may be the way to the future developments in contraception[7,8,9]. This presentation aims to inform what new developments and studies are being taken in the field of contraception. Referências Bibliográficas [1] Groves RM, Mosher WD, Lepkowski JM, Kirgis NM. Planning and development of the continuous National Survey of Family Growth. National Center for Health Statistics. Vital Health Stat 1(48). 2009 [2] Mosher WD, Jones J. Use of contraception in the United States: 1982–2008. National Center for Health Statistics. Vital Health Stat 23(29). 2010. Available from: [3] The Alan Guttmacher Institute (AGI), Fulfilling the Promise: Public Policy and U.S. Family Planning Clinics, New York: AGI, 2000. [4] Singh S, Sedgh G and Hussain R, Unintended pregnancy: worldwide levels, trends and outcomes, Studies in Family Planning, 2010 [5] 241–250Finer LB, Unintended pregnancy among U.S. adolescents: accounting for sexual activity, Journal of Adolescent Health, 2010, 47(3):312–314. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 78 [6] World Health Organization (WHO) Comparing typical effectiveness of contraceptive methods. World Health Organization; Geneva: 2006. [7] WHO. Packages of interventions for family planning. In: Safe abortion care, maternal, newborn and child health. 2012. Available at http://www.whqlibdoc.who.int/hq/2010/who_fch_10.06_eng.pdf. [8] Waggoner MR, Lanzi RG, Klerman LV. Pregnancy intentions, long-acting contraceptive use, and rapid subsequent pregnancies among adolescent and adult first-time mothers. J Child Adolesc Psychiatr Nurs. 2013. [PMC free article] [PubMed] E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 79 O que Escolhem as Mulheres?/What Choose Women? Vanessa Costa – ACES Loures-Odivelas, USF Travessa da Saúde Resumo A elaboração deste artigo remete-nos para o tema da Contracepção Feminina. Na actualidade, com o aparecimento de novos métodos contraceptivos, e com a clara aposta em métodos de longa duração; o Enfermeiro Especialista em Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica tem de adequar a sua prática profissional, respeitando não só aos desejos da mulher/casal, mas garantindo que os critérios de elegibilidade da Organização Mundial de Saúde sejam respeitados. As actuais contingências políticas e económicas, mas também práticas de cuidados ainda muito centradas nos profissionais de saúde, são factores que não contribuem para este novo paradigma. Palavras-Chave: Mulher, Contracepção, Enfermeiro Especialista em Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica, Critérios de Elegibilidade da OMS Abstract This article brings us to the subject of Contraception in Women. At present, with the advent of new contraceptive methods, and the bet for long-term methods; the Midewife have to tailor their professional practice, respecting not only the wishes of the woman/ couple, but ensuring that the eligibility criteria of the World Health Organization are respected. The current political and economic contingencies, but also care practices very focused on healthcare professionals, are factors that do not contribute to this new paradigm. Keywords: Woman, contraception, midwife, WHO Eligibility Criteria Introdução Este artigo científico tem por base uma reflexão sobre o estado da arte no tema da Contracepção Feminina. O tema da Contracepção, sendo muito actual, coloca ao Enfermeiro Especialista em Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica, desafios diários na sua prática (ESMOG), pois existem muitos factores que contribuem e também interferem neste processo, com a elaboração deste artigo, existe a pretensão de enunciar alguns deles e com isso reflectir sobre a nossa prática de cuidados. Desenvolvimento Então, o que as mulheres escolhem como método contraceptivo? Esta pergunta levanta logo uma outra, qual a escolha das mulheres para o planeamento familiar? E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 80 Assim, abrimos logo a discussão em torno da semântica, Contracepção ou Planeamento Familiar. Se formos ao dicionário de lingua portuguesa da Porto Editora encontramos que Contracepção é a “utilização de meios com o objetivo de evitar que as relações sexuais possam provocar a gravidez.”; e Planeamento Familiar é um “conjunto de cuidados de saúde que visam a planificação dos nascimentos e do número de filhos de acordo com as necessidades ou os desejos de um casal e tendo em conta as várias condicionantes fisiológicas, clínicas, económicas, culturais ou religiosas da família”. Assim, qual a nossa área de actuação? O ESMOG deverá trabalhar no sentido do planeamento familiar da mulher/ casal e nunca cingir a sua área de actuação à escolha de um método contracetivo. Apesar de concordarmos com o que foi escrito, o que é certo, é que quando comecei a pensar no tema deste artigo, a primeira coisa que fiz foi consultar as estatísticas dos métodos contraceptivos. Os critérios de avaliação de uma consulta de planeamento familiar ainda não existem de modo padronizado, assim não permite uma avaliação real e efectiva da prática do enfermeiro na consulta de planeamento familiar. Mas, voltando à contracepção, na avaliação dos dados estatísticos que me foram disponipilizados pelo meu ACES, Loures-Odivelas, para o ano 2014, podemos ver o seguinte gráfico. 0% 2% 2% 15% ACO 0% 1% DIU SIU PRESERVATIVO MASCULINO PRESERVATIVO FEMININO DEPO-PROVERA IMPLANON 80% Figura 1. Tipo de método contracetivo por utente ACES Loures-Odivelas. A esmagadora maioria das utentes do ACES Loures-Odivelas escolhem os anticontraceptivos (ACO) orais como método contraceptivo, cerca de 80%, sendo seguido do preservativo masculino, mas numa percentagem muito baixa, 15%, a E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 81 percentagem dos outros métodos disponibilizados é quase irrisória e estatisticamente irrelevante. Estes valores reflectem os números do nosso panorama nacional, como podemos constatar pela observação do seguinte quadro sobre os métodos contraceptivos mais usados em Portugal, contido no Consenso sobre Contracepção 2011 da Sociedade Portuguesa de Ginecologia. Tabela 1. Métodos contraceptivos mais usados em Portugal. Os ACO continuam a ser a principal escolha das mulheres. Os métodos de longa duração, como o DIU, SIU ou Implante, ainda apresentam valores de utilização muito baixos para aquilo que era esperado. E porque será? É uma pergunta que se impõe na actualidade, onde os métodos de longa duração são tidos como o futuro. Em relação ao ACES Loures-Odivelas, podemos explicar pela escassez de profissionais de saúde com competências técnicas para a colocação deste tipo de métodos. Estudando mais profundamente estes dados, podemos pensar que, apesar de reais, podem não traduzir a verdadeira escolha das mulheres/casais, no ACES LouresOdivelas, pois só existe estatística dos métodos contraceptivos fornecidos gratuitamente pela Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, IP (ARSLVT), sendo que nem todas as mulheres/casais escolhem este tipo de métodos. Assim, fica a descoberto um número significativo que não é possível actualmente contabilizar. Para além desta questão, existem os stocks que cada Centro de Saúde tem de gerir e que quase nunca estão de acordo com as verdadeiras necessidades da população. Esta constatação remete-nos para uma das problemáticas do aconselhamento, pois se por um lado na consulta de planeamento familiar devemos ir ao encontro das necessidades ou os desejos da mulher/casal, tendo em conta as várias condicionantes fisiológicas, clínicas, económicas, culturais ou religiosas; a verdade é que estamos condicionados pela oferta existente na ARSLVT e que nem sempre se adequa às necessidades reais dos nossos utentes. Deveriam ser os critérios de elegibilidade da OMS e dentro destes, as escolhas informadas das mulheres/ casais, a nortear a decisão, mas a verdade é que E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 82 actualmente as contigências económicas do nosso país restringem as escolhas aos métodos disponíveis nos nossos Centros de Saúde. Mas, não só as contigências económicas interferem no processo, uma parte significativa dos profissionais de saúde ainda estão centrados num modelo bio-médico, onde o profissional de saúde detém todo o poder de escolha e decisão, não permitindo escolhas informadas às mulheres/ casais. Como referem Santos, Manoel e Vieira, Elisabeth (2008): “Medicalizar o corpo e reduzi-lo ao seu aspecto meramente biológico têm sido estratégias comuns da prática médica, de modo a não lidar com aspectos afectivos e socias da vida quotidiana.” Os mesmos autores apontam mesmo para uma “expropriação” do corpo feminino pelo poder médico, negando às mulheres autonomia e poder de decisão sobre o seu próprio corpo. É nesta área que o ESMOG tem de marcar a diferença, mudando o paradigma de cuidados e capacitando as mulheres/ casais para as suas próprias escolhas. O aconselhamento contracetivo é fundamental para permitir o acesso da população aos métodos contraceptivos e ao seu uso correto, mas só vamos aumentar eficácias de acção, quando as escolhas forem realmente das mulheres/ casais. Voltamos assim, ao início da palestra, é importante que não tenhamos uma actuação redutora na Contracepção, mas que possamos realmente integrar na nossa prática a verdadeira definição de planeamento familiar. Cabe ao ESMOG,orientar a sua actuação para consultas de planeamento familiar que realmente capacitem e promovam escolhas informadas em contraceção das mulheres/ casais, integrando não só aspectos médicos, que os critérios de elegebilidade da OMS nos dão, mas as particularidades da vida económica, social e cultural de cada utente. Este facto remete-nos também para a realidade de sermos profissionais habilitados e com competências técnicas para a colocação de métodos contraceptivos de longa duração como o DIU, o SIU ou Implante, podendo assim preencher uma lacuna existente em Cuidados de Saúde Primário, abrindo o leque de escolhas para as nossas utentes/clientes. A qualidade de cuidados que prestamos, deve também ser uma prioridade, assim contribuir para a existência de normas e critérios de avaliação padronizados, na consulta de planeamento familiar, deverá ser uma realidade. Para além disso,devemos também ser um motor de mudança de paradigma para os nossos pares e para outros profissionais de saúde que connosco partilham a prática diária de cuidados. A formação neste contexto deve ser prioritária. Ao nível instituicional, também devemos conceber, participar ou implementar projectos que permitam avaliar as necessidades e as escolhas das mulheres/casais em planeamento familiar, almejando mudanças nas políticas económicas e de saúde que E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 83 aproximem as instituições das populações reais. Só assim teremos ganhos em saúde significativos. Conclusão A Contracepção é um desafio, não só para mulheres/ casais, mas para todos os profissionais de saúde, que com elas, são confrontados diariamente com novos métodos, novas abordagens e contingências económicas e políticas, que contribuem diariamente para as suas escolhas. Cabe ao ESMOG abraçar este desafio e cooperar para mudanças nesta área, com práticas centradas na mulher/casal, com escolhas informadas e com base nos critérios de elegibilidade da OMS, com participações em projectos e formações institucionais, de modo a que sejam efectivas e com ganhos em saúde para as populações. Referências Bibliográficas Consenso sobre Contracepção 2011 http://www.spdc.pt/files/publicacoes/11_11363_2.pdf disponível em: Santos, Manuel; Vieira, Elisabeth, Aconselhamento em contracepção. Interface – comunicação, Saúde, Educação, v.12, n.26, p.589-601, jul/set 2008. São Paulo Regulamento das competências específicas do Enfermeiro Especialista em saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica disponível em: http://www.ordemdosenfermeiros.pt/legislacaoOE/RegulamentoCompetencias SaudeMaternaObstGinecologica_aprovadoAG20Nov2010.pdf www.infopedia.pt E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 84 Os Touchpoints Antes e Depois de Nascer: Uma Abordagem para Apresentar a Família ao Bebé e para Apresentar o Bebé à Família em Contexto de Saúde e nas Visitas Domiciliárias em Famílias em Risco/The Touchpoints Before and After Birth: Na Approach to Introduce the Family to Baby and to Present the Baby to Family on Health Context and Home Visits at Risk Families João Justo – Professor Auxiliar da Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa; Fundação Brazelton/Gomes-Pedro Miguel Barbosa – Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa; Fundação Brazelton/Gomes-Pedro Joana Espírito Santo – Projecto Social para a Herdade da Comporta, Fundação Herdade da Comporta; Fundação Brazelton/Gomes-Pedro Joana Tinoco de Faria – Apoio à Vida; Fundação Brazelton/Gomes-Pedro Resumo Nesta comunicação, aborda-se a temática dos “touchpoints” na perspectiva de T. B. Brazelton; momentos críticos da maturação do sistema nervoso central do ser humano em que a aquisição de novas competências coincide com disrupções em funções aparentemente já consolidadas. Nesta perspectiva, são enunciados os pressupostos parentais e os princípios de comunicação considerados básicos quando o técnico interage com a família que traz o seu bebé/criança/jovem vivendo estes momentos de transição e de aparente desorganização. Especificamente, são referidos os dois primeiros “touchpoints” da vida humana: o pré-natal e o pós-natal. No contacto com a família pré-natal, são abordadas as questões do desenvolvimento psicológico da grávida e do desenvolvimento comportamental do futuro bebé e, também, da interacção entre estes dois tipos de desenvolvimento. No contacto com a famíla pósnatal, a tónica é colocada na observação do recém-nascido utilizando a escala NBAS de Brazelton e na partilha desta observação com os pais do bebé. Finalmente, são abordadas as questões que se colocam quando a abordagem “touchpoint” é realizada com famílias em risco, nomeadamente no decurso de intervenções realizadas em contexto domiciliário. “Touchpoints” Antes e Depois de Nascer Entre as muitas contribuições de Brazelton para as ciências do bebé e da família, o conceito de “touchpoints” (Hornstein, 2000) é, talvez, o mais original, porquanto a sua aplicação não se limita a uma faixa etária específica. Pelo contrário, o uso sistemático de este conceito tem mostrado a sua utilidade ao longo do desenvolvimento humano inclusivamente no domínio da vida pré-natal. Ao permitir compreender porque é que o E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 85 desenvolvimento saudável da criança é saudavelmente marcado por retrocessos inesperados cada vez que a maturação do sistema nervoso central permite aquisições qualitativamente inovadoras, este conceito inspirou uma nova visão acerca dos pontos críticos da evolução humana durante o primeiro ano de vida e não só. A longa experiência pediátrica de Brazelton, permitiu conceber duas áreas fundamentais no trabalho com as crianças e com as famílias que as trazem à consulta. Uma dessas áreas diz respeito aos pressupostos parentais que nos orientam sempre que contactamos com aqueles que comunicam acerca do desenvolvimento e das suas vicissitudes, isto é, todos os pais: são os peritos dos seus filhos, têm forças, querem fazer bem com os seus filhos, têm algo de fundamental para partilhar em cada etapa do desenvolvimento, têm sentimentos ambivalentes e constroem a parentalidade como um processo de tentativa e erro. A outra área são os princípios em que nos baseamos para que a nossa interacção com a família seja o mais frutuosa possível: reconheça o que traz para a interacção, procure oportunidades para apoiar a mestria, use o comportameno da criança como a sua linguagem, valorize a desorganização, valorize e compreenda a relação entre si e os pais, esteja disponível para discutir assuntos que vão para além do seu papel tradicional, focalize na relação pais/criança e valorize a paixão onde quer que a encontre. O primeiro momento da vida humana em que estes princípios são utilizados tem lugar na entrevista com a mulher grávida ou com o casal grávido. Na verdade, tal como vem sendo assinalado desde os meados do Século XX, a vida interior da gestante é particularmente rica em modificações psicológicas cujo sentido é a preparação da grávida e da família para a adaptação a uma nova identidade psicológica que vai emergir aquando do nascimento do futuro bebé (Justo et al., 2011). A verdade, também, é que no interior da grávida existe uma outra riqueza vital que é constituída pelo comportamento da futura criança, primeiro enquanto embrião, depois feto e finalmente bebé. Nesta dinâmica evolutiva, há dois aspectos a sublinhar. Em primeiro lugar, é o comportamento do embrião/feto/bebé que estimula o desenvolvimento da grávida (Justo, 2014). Em segundo lugar, o comportamento do embrião/feto/bebé constitui uma preparação pré-natal (Justo, 2015) para as competências pós-natais que o nosso bebé nos vai mostrar a partir do seu nascimento; reflexos, habituação a estímulos, autoregulação, percepção, atenção e capacidades de interacção com outros humanos entre outras. Na entrevista pré-natal, isto é, no primeiro “touchpoint”, estamos preocupados em mobilizar os recursos da grávida (ou do casal, ou da família), para que a recepção ao novo elemento da família possa ser criativa e construtiva. A construção de um espaço psicológico reservado para a nova identidade psicológica emergente tem de ser criativa e interactiva; os pais esforçam-se para oferecer algo de novo ao seu bebé e, possivelmente, só alcançarão esse desígnio se conseguirem aceitar as iniciativas que o bebé lhes dirige. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 86 O Segundo “Touchpoint” ou a Descoberta do Recém-Nascido nos Primeiros Dias de Vida O segundo “touchpoint” – a descoberta do recém-nascido nos seus primeiros dias de vida – representa um importante momento de transição na história familiar acompanhado por intensas emoções, expectativas e mudanças, mas também preocupações e inseguranças, sobretudo nas famílias em que existe maior vulnerabilidade biopsicossocial. A passagem pela maternidade constitui uma oportunidade para os profissionais ajudarem os pais a compreenderem melhor o comportamento dos seus filhos e promoverem a confiança dos pais enquanto cuidadores. A intervenção nestas duas dimensões depende da capacidade de o profissional criar uma relação de parceria com os pais que seja promotora de crescimento, coerência e segurança. Na tentativa de responder a estas três dimensões essenciais para o desenvolvimento da relação pais-filhos, Brazelton desenvolveu a Neonatal Behavioral Assessment Scale (NBAS; Brazelton & Nugent, 2011) integrando-a no exame físico pediátrico enquanto observação partilhada com a família (promovendo-se a presença e a colaboração dos pais ao longo da observação) que permite descrever as diferenças individuais no comportamento do recém-nascido e desenhar o perfil neurocomportamental, identificando-se as suas competências e fragilidades, e discutindo-se o papel dos pais na resposta às vulnerabilidades do bebé. A descoberta do bebé através da NBAS proporciona uma oportunidade ímpar para os profissionais tornarem-se parte do sistema familiar, partilhando afectos e expectativas, respondendo às preocupações e inseguranças, e participando na construção de significados sobre o bebé e a parentalidade. Esta atitude de acolhimento e de criação é promotora da sensibilidade parental, tornando os pais, potencialmente, mais sensíveis aos sinais comportamentais que informam o estado do bebé e, assim, mais capazes de responderem de forma mais sintonizada com as suas necessidades, potenciando os momentos de encontros da relação. A NBAS avalia o comportamento do recém-nascido através de 28 itens comportamentais avaliados numa escala de nove pontos e o estado neurológico do bebé através de 18 reflexos avaliados numa escala de quatro pontos, incluindo, ainda, sete itens suplementares mais direccionados para a qualidade do comportamento de bebés de alto-risco. O Quadro 1 apresenta os quatro domínios do funcionamento neurocomporamental do recém-nascido em que recaem os itens. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 87 Quadro 1. Domínios do funcionamento neurocomporamental do recém-nascido. Sistemas Regulação autonómica/fisiológica Organização motora Regulação/organização do estado - Atenção/interacção social - Dimensões Mudanças na cor da pele Tremores Sustos Qualidade do movimento e tónus Nível de actividade Nível de movimentos motores integrados Nível de activação do bebé Labilidade do estado Capacidade para regular o estado face ao aumento dos níveis de estimulação Nível de atenção a estímulos visuais e auditivos Qualidade do alerta geral A valorização atribuída à construção de uma parceria efectiva com a família inscreve-se numa mudança de paradigma na forma de estar com as famílias, assumindo-se uma atitude empática e colaborativa, sensível à compreensão, reconhecimento e validação dos valores, ideias e emoções dos pais e protagonizando um envolvimento activo das decisões sobre a parentalidade. A descoberta do recémnascido na maternidade através da NBAS representa uma abordagem preventiva centrada nas competências e forças do bebé e da família que procura promover um sentido de segurança e competência parental. As Visitas Domiciliárias: Adaptações Necessárias numa Abordagem Relacional para a Promoção do Vínculo A Newborn Behavioral Observation (NBO; Nugent et al., 2007) é um sistema de observação do comportamento do recém-nascido, centrado na descoberta partilhada da individualidade do bebé, através da leitura dos seus sinais. É, também, um caminho de construção de uma aliança terapêutica entre pais e profissionais. O domicílio apresenta-se como o lugar privilegiado para uma intervenção assente num modelo relacional e sistémico. Pode tornar-se uma oportunidade óptima de observação da dinâmica familiar e da integração do bebé na família. A aplicação da NBO em visitas domiciliárias possibilita a complementaridade entre o sistema de saúde e um acompanhamento focado na saúde psico-emocional da família, privilegiando o ambiente natural da família. Garante a continuidade dos cuidados e do apoio, sobretudo quando se trata de famílias em risco. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 88 São necessárias algumas adaptações para garantir a “Best Performance” do bebé, tais como adaptações à luminosidade e à temperatura. Em casas de famílias de contextos desfavorecidos, por exemplo, se estiver frio num dia de Inverno, não se despe o bebé e, por conseguinte, não se aplicam certos itens da escala. Por outro lado, existem adaptações extremamente enriquecedoras da aplicação da escala. É o caso, por exemplo, de convidar um irmão do bebé a aplicar um dos itens do pacote “interacção”, incluindo-o nesta nova relação e, com isso, poder eventualmente abordar com os pais questões ligadas aos ciúmes. A grande vantagem das visitas domiciliárias reside provavelmente no facto de prestarem um apoio não intrusivo, num ambiente natural e descontraído, sentido pelas famílias como a prestação de um serviço, mais do que como uma avaliação. Existem diversos estudos publicados que dão conta da importância da intervenção NBO como uma abordagem relacional promotora do vínculo. Sanders e Buckner (2006, cit. por Nugent, 2013) falam num efeito promotor da ligação e conhecimento do bebé por parte dos pais. Kashiwabara (2012, cit. por Nugent, 2013) evidencia o impacto no envolvimento paterno nos cuidados ao bebé. McManus e Nugent (2014) estudaram a NBO como oportunidade de prevenção e monitorização de eventuais situações de depressão pós-parto e ansiedade parental. Estes autores, também, estudaram a qualidade da aliança entre o técnico e a família que estende o seu efeito para a promoção da interacção precoce entre pais e bebé e, consequentemente, o seu desenvolvimento sócio-emocional. Facilitar e valorizar o conhecimento que os pais têm, natural e espontaneamente, do seu bebé, por um lado e, por outro, apoiar a leitura que podem fazer dos sinais que o bebé lhes dá, sobretudo num primeiro filho, garante os alicerces para a construção de uma vinculação segura (Bowlby, 1969). Uma sintonia relacional precoce, com respeito pelos estados e pelos ritmos do bebé, observáveis através da aplicação da NBO, facilita aquilo a que Winnicott (1962) chama os Processos de Integração do Ego. Por outro lado, a NBO é uma experiência que ajuda os pais do recém-nascido a ler e a saber esperar, evitando situações de “Impingement” (Winnicott, 1962) que comprometem a tendência inata do bebé para a integração e para o amadurecimento. Referências Bibliográficas Bowlby, J. (1969, 2nd edition 1982). Attachment and Loss, vol. 1: Attachment. New York: Basic Books. Brazelton, T. B., & Nugent, J. K. (2011). Neonatal Behavioral Assessment Scale, 4th Edition. London: Mac Keith Press. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 89 Hornstein, J. (2000). Touchpoints Reference Guide and Participant Training Materials. Boston: Brazelton Touchpoints Center. Justo; J., Leitão, L., Barbosa, M., Brito Nascimento, A., Fuertes, M., Goldsmith, T., Gomes-Pedro, J., Machado, R., Meneses, P., Rombert, J., & Torgal-Garcia, F. (2011). There is a dialogue going on between psychology and the baby and family sciences. In Eds. A. Pimentel & V. Franco, Diálogos dentro da Psicologia (pp. 85-104). Évora: Edições Aloendro. Justo, J. (2014). Prenatal maternal psychic development and fetal behavior: an interacting reality. 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In Processus de Maturation chez l’Enfant: Développement Affectif et Environnement. Paris: Editions Payot. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 90 Projeto Maternidade com Qualidade/Maternity Project with Quality – Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, EPE Luís Miranda – Serviço de Obstetrícia e do Serviço de Ginecologia do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, EPE Ana Miranda – Unidade Funcional de Urgência Obstétrica e Ginecológica do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo, EPE O Projeto Maternidade com Qualidade surge através do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia, como forma de dar resposta ao IV objetivo do Plano de Atividades e Orçamento do ano de 2013. Apresenta-se como um projeto direcionado para o parto natural (parto fisiológico) e para o empoderamento da mulher nas suas escolhas e decisões durante o trabalho de parto e parto. Assim sendo, de acordo com o Colégio de Saúde Materna e Obstetrícia, surge com a máxima premissa de assegurar a “Maior qualidade e segurança nos cuidados de saúde, satisfação e direito à escolha no Trabalho de Parto e Parto”. A Ordem dos Enfermeiros divulgou o projeto em Setembro de 2013 e no mês de Novembro do mesmo ano, o Serviço de Obstetrícia em conjunto com a Unidade Funcional de Urgência Obstétrica e Ginecológica do Centro Hospitalar BarreiroMontijo EPE apresentou a sua candidatura, a qual aceite com êxito. Os indicadores de medida e evidência preconizados pelo Projeto Maternidade com Qualidade incluíam: Ingesta/Hidratação Oral no Trabalho de Parto; Uso de medidas não farmacológicas de alívio da dor no Trabalho de Parto (deambulação, musicoterapia, bola de pilates e técnicas de massagem/relaxamento); Estímulo a posições não supinas no Trabalho de Parto e Parto; Episiotomia: realização seletiva ou rotineira; Estímulo do contato pele a pele entre a díade e promoção do aleitamento materno na 1ªH de vida. Uma vez aprovada a candidatura ao projeto e tendo como base os diferentes indicadores de medida e evidência a avaliar, elaboraram-se 8 subprojetos: Ingesta de líquidos na grávida em Trabalho de Parto; Deambulação na grávida em Trabalho de Parto; Utilização da bola de pilates na grávida em Trabalho de Parto; Musicoterapia no Bloco de Partos; Técnicas de relaxamento/massagem na grávida em Trabalho de Parto; E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 91 Promover a posição não supina durante o Trabalho de Parto e Parto; Promover a episiotomia seletiva; Contato precoce pele a pele/Amamentação na 1ªH vida de vida. O objetivo de implementação destes subprojetos, para além de procurar garantir a avaliação dos indicadores de medida e evidência do Projeto Maternidade com Qualidade, passou pela inovação da qualidade dos cuidados de enfermagem no processo de Trabalho de Parto e Parto, com benefícios evidentes e comprovados para a díade/tríade nas nossas unidades de cuidados. A implementação do projeto na Unidade Funcional de Urgência Obstétrica e Ginecológica do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo abrangeu diversas etapas/fases, iniciadas no mês de Dezembro de 2013, entre as quais: Organização das equipas de enfermagem da Unidade Funcional de Urgência Obstétrica e Ginecológica e do Serviço de Obstetrícia em diferentes grupos de trabalho consoante os diferentes subprojetos; Reunião com a Sra. Enfermeira Supervisora/Coordenadora do Programa da Melhoria Contínua da Qualidade dos Cuidados de Enfermagem; Elaboração do layout apropriado para cada subprojeto, atendendo ao Programa da Melhoria Contínua da Qualidade dos Cuidados de Enfermagem; Aprovação dos subprojetos pela Sra. Enfermeira Supervisora/Coordenadora do Programa da Melhoria Contínua da Qualidade dos Cuidados de Enfermagem e pela Diretora Clínica da Unidade Funcional de Urgência Obstétrica e Ginecológica/Serviço de Obstetrícia. A aprovação dos diferentes subprojetos conduziu ao planeamento e realização de várias atividades de enfermagem, para a aplicabilidade prática do Projeto Maternidade com Qualidade: Formação sobre os diferentes subprojetos a toda a equipa de enfermagem; Sensibilização da equipa multidisciplinar para a implementação do projeto Maternidade com Qualidade; Divulgação do projeto/subprojetos (intranet, folhetos, poster, sessões de formação em serviço,…); Elaboração de uma matriz de registo das intervenções realizadas no âmbito de cada subprojeto; Aquisição de material/equipamento; Monitorização os indicadores de medida e de evidência; E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 92 Tratamento estatístico (mensal, trimestral, semestral e anual) dos dados obtidos para monitorização dos indicadores; Envio de informação relativa à avaliação dos indicadores – Plataforma Online da Ordem dos Enfermeiros. A implementação do projeto/subprojetos iniciou-se a 1 de Janeiro de 2014 e a população do estudo incluiu todas as mulheres com parto eutócico na Unidade Funcional da Urgência Obstétrica e Ginecológica do Centro Hospitalar Barreiro-Montijo EPE. De acordo com a ideologia do Projeto Maternidade com Qualidade, a seleção da amostra foi feita pelo processo de amostragem de conveniência, obedecendo a 2 critérios de inclusão: Mulheres em Trabalho de Parto Espontâneo; Mulheres com parto efetuado por Enf.º Especialista Saúde Materna e Obstetrícia. No 1º semestre de 2014 a amostra incluiu 187 partos eutócicos, 82 em primíparas e 105 em multíparas, enquanto que no 2º semestre a amostra foi menor com 152 partos eutócicos, os quais 45 em primíparas e 107 em multíparas. A amostra em estudo durante o ano de 2014 englobou assim 339 partos eutócicos realizados por Enf.º Especialista Saúde Materna e Obstetrícia em mulheres admitidas na nossa unidade em trabalho de parto espontâneo, dos quais 127 em primíparas e 212 em multíparas. Abordando de forma individualizada a avaliação de cada indicador de medida e evidência, relativamente à hidratação/ingesta oral na mulher em trabalho de parto o indicador de medida a monitorizar englobou o número de registos com a hora do episódio de ingesta e a respetiva quantidade, ao longo da Fase Latente e da Fase Ativa do Trabalho de Parto e a meta a atingir preconizava uma percentagem de 50% de episódios de ingesta em parturientes de baixo risco. De acordo com os dados monitorizados, no 1º semestre do estudo a taxa de ingesta/hidratação oral em parturientes de baixo risco foi de 45% na Fase Latente e de 75% na Fase Ativa do Trabalho de Parto, enquanto que no 2º semestre foi praticamente similar ao semestre anterior para a Fase Latente (44%) e ligeiramente superior para a Fase Ativa com cerca de 77%. Em termos anuais, o número de mulheres com episódio de ingesta durante o Trabalho de Parto foi de 258, o que equivaleu a uma percentagem de 45% de mulheres com episódio de ingesta na Fase Latente e de 75% na Fase Ativa. Convém ainda realçar que destas 258 mulheres, cerca de 76% demostrou sentir-se extremamente satisfeita com a ingesta de líquidos durante o processo de Trabalho de Parto. Desta forma, de acordo com a meta E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 93 preconizada, a mesma foi praticamente atingida para a hidratação oral da mulher em Fase Latente e largamente ultrapassada para a mulher em Fase Ativa de Trabalho de Parto. A promoção do uso de medidas não farmacológicas de alívio da dor na nossa unidade de cuidados incluiu a deambulação, a musicoterapia, a bola de pilates e as técnicas de massagem/relaxamento. Pretendeu-se monitorizar o número de partos da amostra em que se usou pelo menos uma medida não farmacológica de alívio da dor ao longo do Trabalho de Parto e o número de partos em que foi permita a mobilidade da mulher durante o Trabalho de Parto, de forma a que se atingisse uma taxa de uso de medidas não farmacológicas > 50% e uma taxa de deambulação durante o Trabalho de Parto > 70%. A deambulação na mulher em Trabalho de Parto foi a técnica não farmacológica de alívio da dor com maior percentagem de utilização durante o ano de 2014 com cerca de 82%, seguindo a técnica de musicoterapia com percentagem similar (81%), posteriormente as técnicas de massagem/relaxamento com uma percentagem de 76% e a bola de pilates com uma taxa de uso de 22%. Relativamente ao uso da bola de pilates na mulher em Trabalho de Parto, convém referir que embora a taxa de utilização anual não tenha correspondido às expetativas iniciais da equipa enfermagem, a mesma foi das técnicas de alívio não farmacológico da dor com maior taxa de aumento de uso entre o 1º e o 2º semestre (Taxa de Aumento = 13%). O uso de pelo menos uma medida não farmacológica de alívio da dor foi assegurado em 65% dos partos incluídos na amostra, pelo que a meta preconizada foi atingida, bem como a meta preconizada para a deambulação da mulher durante o Trabalho de Parto. No estímulo a posições não supinas no Trabalho de Parto e Parto o indicador de medida e evidência – número de registos de partos não realizados em posição de litotomia –, pretendia reduzir em cerca de 50% a opção ela posição de litotomia em partos eutócicos. Uma vez permitida a deambulação da mulher durante o processo de trabalho de parto, foi também possível diminuir o número de partos realizados em posição de litotomia. No 1º semestre do ano de 2014 a taxa de partos em posição de não litotomia foi de 59%, enquanto que a taxa de partos em posição de litotomia ficou nos 33%. Já no 2º semestre do mesmo ano, verificou-se uma taxa de aumento no número de partos efetuados em posição de não litotomia de cerca de 25%, correspondendo a 84%, enquanto que a taxa de partos em posição de litotomia decresceu em cerca de 18%, ou seja, ficou nos 15%. Assim sendo, a taxa anual de partos realizados em posição de não litotomia foi igual a 72%, pelo que a equipa de enfermagem conseguiu reduzir em mais de 50% o número de partos realizados em posição de litotomia, atingindo assim a meta preconizada pelo Projeto Maternidade com Qualidade. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 94 O indicador de medida para a episiotomia enquanto prática seletiva/rotineira incluía o número de registos de episiotomias em primíparas/multíparas e o número de registos de períneos intatos em primíparas/multíparas, com o objetivo de se atingir uma redução da prática de episiotomia em 50% de partos eutócicos em primíparas e em 70% de partos eutócicos em multíparas, bem como assegurar o incremento do número de períneos intatos. A taxa de redução do número de episiotomias em primíparas com parto eutócico entre os semestres de 2014 foi de apenas 3%, enquanto que a taxa de redução em multíparas chegou aos 14%. Assim sendo, através da análise dos dados monitorizados, a taxa anual de realização de episiotomia em primíparas foi igual a 84% e de 42% em multíparas, pelo que a meta definida para a redução da taxa de realização de episiotomia em primíparas e multíparas não foi atingida. No que se reporta ao incremento do número de períneos intatos, quer em primíparas, quer em multíparas verificou-se uma taxa de aumento no número de períneos intatos em primíparas de cerca de 2% (1º semestre – 3% e 2º semestre – 5%) e de cerca de 4% em multíparas (1º semestre – 27% e 2º semestre – 31%). A taxa anual de períneos intatos em primíparas foi igual a 4% e de 27% em multíparas. O registo do número de contatos pele a pele promovidos entre a díade constituía outro dos indicadores a avaliar, pretendendo-se atingir uma prática de 90%. A taxa de contato pele a pele foi de 95% no 1º semestre de 2014 e de 98% no 2º semestre, o que equivaleu a uma taxa anual de 97%, pelo que a equipa de enfermagem conseguiu superar a meta estabelecida. Na promoção da amamentação na 1.ªH vida do recém-nascido definiu-se como indicador de medida e evidência o número de registos de colocação do recém-nascido à mama durante a 1ªH após o parto. A meta a atingir preconizava uma prática de colocação do recém-nascido à mama na 1.ªH de vida em 90% dos casos. A taxa de aumento da prática de adaptação do recém-nascido à mama na 1.ªH de vida foi de 11% do 1º para o 2º semestre, com uma taxa de 82% e de 93% respetivamente em cada semestre do ano de 2014. A taxa anual foi de cerca de 90%, atingindo-se assim a meta definida. Em termos conclusivos, de acordo com os dados obtidos e a avaliação dos indicadores de medida e evidência foi possível determinar as taxas de cumprimento dos diferentes indicadores: Hidratação/Ingesta no Trabalho de Parto: Taxa Anual – Fase Latente (45%) e Fase Ativa (75%) Suficiente/Muito Bom; Medidas não farmacológicas de alívio da dor: Taxa Anual de Uso – 65% Bom; Taxa Anual de Deambulação – 82% Muito Bom. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 95 Posições não supinas no Trabalho de Parto e Parto: Taxa Anual – 72% Muito Bom. Episiotomia: Prática Seletiva ou Rotineira: Taxa de Redução de Episiotomias em Primíparas – 3% Insuficiente; Taxa de Redução de Episiotomias em Multíparas – 14% Insuficiente; Taxa de Períneos Íntegros em Primíparas – 4% Insuficiente; Taxa de Períneos Íntegros em Multíparas – 27% Suficiente. Contato Pele a Pele entre díade: Taxa Anual – 97% Excelente. Amamentação na 1.ªH de vida do recém-nascido: Taxa Anual – 88% Muito Bom. A qualidade dos cuidados de enfermagem assegurados à grávida, parturiente, puérpera e recém-nascido resultam do envolvimento e empenho de toda a equipa de enfermagem, pelo que a promoção dos indicadores preconizados pelo Projeto Maternidade com Qualidade constitui uma preocupação da nossa equipa, procurando dar continuidade a todas as atividades planeadas para a sua consecução, bem como para a melhoria de alguns indicadores, nomeadamente a identificação e correção dos fatores que não permitiram atingir algumas das metas estabelecidas. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 96 Projeto Maternidade com Qualidade/Maternity Project with Quality – Centro Hospitalar do Algarve: Hospital de Faro Ana Luísa Cavaco – Serviço deUrgência de Obstetricia/Ginecologia e Unidade de Grávidas-Hospital Faro Com esta Comunicação tenho como objectivo fazer sumariamente uma apresentação do modelo de acreditação proposto ao nosso departamento; descrever alguns aspectos decorrentes da implementação do mesmo; identificar as principais dificuldades sentidas e nomear elos de concordância com o modelo preconizado pela Ordem dos Enfermeiros. A Maternidade do Centro Hospitalar do Algarve -Polo de Faro, caracteriza-se por prestar uma ampla gama de cuidados de saúde que inclui técnicas e procedimentos clínicos complexos, exigindo por parte dos profissionais, um conhecimento científico e tecnológico diversificado. Por outro lado as exigências atuais da população portuguesa, determinam como denominador comum uma orientação para uma prática clínica baseada na evidência científica, que garanta os melhores e mais seguros cuidados de saúde aos cidadãos. Com base nestes pressupostos, a qualidade dos cuidados e a segurança dos utentes, surgem como uma das nossas principais prioridades, alinhada com as orientações do sistema nacional de saúde português. Encontramos aqui o primeiro elo de concordância com o Modelo da Ordem dos Enfermeiros no projecto Maternidades de Qualidade pois o objectivo máximo será garantir melhores cuidados com maior segurança. Assim concertados neste objectivo, iniciámos em Fevereiro de 2011, um percurso de aperfeiçoamento, tendo como Target a obtenção da Certificação de Qualidade de Nível Bom, baseado num modelo de acreditação sustentável e adaptável, previsto pelo programa nacional de acreditação em saúde, com o intuito de garantir o reconhecimento da qualidade dos serviços prestadores. Trata-se assim do Modelo de Acreditação de Unidades de Saúde da Agencia de Calidad Sanitaria de Andalucia (Modelo ACSA). A segurança do doente, enquanto componente chave da qualidade dos cuidados de saúde, assumiu uma relevância particular nos últimos anos, tanto para os doentes e familiares que desejam sentir-se confiantes relativamente aos cuidados de saúde, como para os gestores e profissionais que querem prestar cuidados seguros, efetivos e eficientes. Esta premissa é também defendida pela Ordem dos enfermeiros. A qualidade dos serviços que oferecemos teve um forte incremento com este processo. A qualidade constitui o motor de sucesso de qualquer organização e o seu reconhecimento o fator de distinção e escolha de produtos e serviços. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 97 O desenvolvimento de uma cultura baseada em princípios de qualidade, abrirá caminho à eficácia e melhoria contínua dos métodos e processos. A qualidade aponta benefícios valiosos a uma organização. Acrescenta valor. Resumindo com este ou com qualquer outro modelo de acreditação para a qualidade pretende-se: Melhorar a relação com os usuários, centrando os cuidados no cliente; Promover a segurança dos cuidados; Diminuir o produto ou serviço não conforme; Aumentar a motivação dos colaboradores; Reduzir custos de controlo da qualidade; Melhorar o clima organizacional; Melhorar a imagem da organização. Estou certa que será por todos estes motivos que a Ordem dos Enfermeiros incluiu no seu Plano de Actividades e Orçamento de 2013, o Projeto Maternidade com Qualidade. A qualidade é uma imposição crescente qualquer que seja o mercado no qual a organização se insere, sendo em muitos casos, um importante critério de selecção ou de exclusão por parte do cliente. Os utilizadores percepcionam-na e identificam-na em cada contacto que estabelecem com a organização. Ter o serviço acreditado/certificado significa um reconhecimento externo e público de que a Unidade acreditada/certificada cumpre os requisitos necessários para desenvolver e prestar cuidados de saúde de qualidade, em segurança e que implementou o seu próprio programa de melhoria continua. Este modelo de Acreditação é uma ferramenta metodológica útil para a estratégia da qualidade e busca da excelência. Trata-se de um processo dinâmico que acrescenta mais-valia às organizações porque: Dá garantia aos cidadãos e aos profissionais quanto à qualidade dos serviços prestados; Fornece ao cidadão informação sobre os seus direitos a fim de que ele possa ter elementos suficientes para ajuizar sobre a efectividade desses direitos; Consolida e amplia a visão dos profissionais sobre o seu próprio ambiente de trabalho, promove uma aprendizagem organizativa e a gestão do conhecimento, potenciando o seu desenvolvimento profissional; Cria um ambiente de trabalho com práticas seguras tanto para os utentes como para os profissionais; Desenvolve ferramentas de gestão e melhoria da qualidade, orientada para a avaliação contínua proactiva em relação ao aparecimento de eventos adversos. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 98 Por todos estes motivos é importante desenvolver um sistema de gestão da qualidade, que deve ser entendido por todos os colaboradores como uma filosofia que traduz um envolvimento conjunto, num processo de cooperação que se concretiza no fornecimento de produtos e serviços que satisfaçam as necessidades e expectativas dos clientes. O envolvimento da equipa é assim uma premissa fundamental na aplicação de qualquer modelo de certificação. O modelo proposto para a nossa Maternidade está estruturado em cinco Blocos. A saber: IIIIIIIV- V- O cidadão centro do sistema de saúde e avalia a satisfação dos utentes bem como o cumprimento dos seus direitos; Organização da actividade centrada no utente. Avalia a gestão de planos de processos assistenciais integrados e actividades de promoção da saúde; Os profissionais. Este bloco dedica-se à análise do desenvolvimento e formação profissional; Processos de Suporte. Debruça-se sobre as estruturas, equipamentos e fornecedores, sobre os sistemas tecnológicos da informação e comunicação e sobre os próprios sistemas de qualidade; Resultados. O último bloco pretende analisar os resultados da Unidade de Gestão Clínica. Assim analisando sumariamente cada um do Blocos, podemos afirmar que no que diz respeito ao Bloco I, observou-se uma maior preocupação com os direitos, expectativas e participação do cidadão. Foram afixados no serviço, cartazes com os direitos das utentes. O intuito era sensibilizar os profissionais para o conteúdo da carta dos direitos dos utentes e em simultâneo informar os mesmos dos seus próprios direitos. Em diversos momentos tivemos oportunidade de analisar em que medida os profissionais de saúde garantiam questões como a privacidade, a independência nas decisões relacionadas com convicções culturais, fisiológicas e religiosas. Se tentarmos estabelecer uma relação com o modelo da Ordem dos enfermeiros na sua dimensão estimulo à posição não supina durante o trabalho de parto poder-se-ia dizer que na tentativa de encontrar a melhor posição para o trabalho de parto e parto estamos a responder a necessidades e expectativas das mulheres, que muitas vezes se prendem com convicções culturais/religiosas. Quantas serão as utentes de convicções islâmicas que pedem para rezar em determinado período do dia, ou que a cama esteja voltada para Meca durante o processo. Outro bom exemplo é o das utentes africanas que querem manter a posição de cócoras na maior parte do processo. O alinhamento dos dois modelos está exactamente no cumprimento dos seus direitos respeitando as suas convicções culturais e religiosas. Mas continuando com a descrição da implementação do modelo proposto relativamente a este I bloco, da parte da equipa houve uma maior preocupação com a confidencialidade da informação clinica fornecida pelas utentes. Efectuaram-se E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 99 sessões de esclarecimento/ sensibilização aos profissionais sobre a legislação em vigor no que diz respeito a esta temática. Estabeleceram-se normas de utilização dos computadores e efectuaram-se auditorias às normas elaboradas. Foram identificadas as maiores lacunas e tomaram-se as medidas necessárias para corrigi-las. Com o apoio da Escola Superior de Saúde da Faro, efectuámos uma análise da satisfação das utentes que recorrem aos nossos serviços. Através da aplicação de um questionário de avaliação de satisfação, demos voz à opinião das utilizadoras acatando as suas sugestões e reclamações. Com a análise dos questionários tivemos oportunidade de perceber quais são as nossas fragilidades/ fraquezas na opinião das nossas utentes e seus familiares. Para além disso foram também identificados os aspectos que mais as satisfaz no que diz respeito à prestação de cuidados. O Cumprimento do Bloco II obrigou à definição de estratégias numa perspectiva multidimensional de continuidade de assistência. O desenho de um Processo Assistencial Integrado obrigou à identificação de responsabilidades dos diferentes intervenientes no processo, com respectiva calendarização e monitorização. O objectivo máximo era o de optimizar os recursos utilizados e coordenar os esforços dos profissionais envolvidos. O nosso serviço propôs o desenho do Processo Assistencial à Grávida de Baixo Risco. Analisar de forma pormenorizada este circuito fez-nos amadurecer ideias, centrar os cuidados no cidadão, analisar questões relacionadas com a segurança da mãe e do bebé, redefinir prioridades, agilizar recursos, potenciar competências, evidenciar fraquezas que foram corrigidas, em suma encontrar oportunidades de melhoria e acrescentar uma vez mais valor. De uma forma genérica a implementação de cada uma das dimensões do Modelo da Ordem dos enfermeiros também permite redefinir prioridades obstétricas, agilizar recursos, potenciar as competências do enfermeiro especialista e melhorar práticas. O Bloco III -Os profissionais, fomenta a gestão do conhecimento. Com a análise destes standards, tivemos a oportunidade de confirmar que os profissionais de enfermagem vêm desde há à longa data, a privilegiar o processo de formação continua. Consolidámos uma estratégia de formação em serviço, com planeamento e desenvolvimento de ações que garantem a permanente adequação dos profissionais. O envolvimento neste processo de acreditação permitiu alargar o processo formativo a todos os grupos profissionais. Esta estratégia possibilita uma atualização, adaptação e adequação às mudanças tecnológicas, evolução do conhecimento e consequentemente desenvolvimento profissional. Uma vez mais o modelo da Ordem dos enfermeiros está em consonância com o que tenho estado a descrever. Promover nos profissionais novas práticas baseadas na evidência é promover o próprio desenvolvimento profissional garantindo confiança e segurança. O Bloco IV – Processos de Suporte, foi aquele que mais exigiu e mais envolveu os membros da equipa. Este bloco pretende assegurar a existência de espaços e equipamentos adequados para as atividades de gestão clinica, garantindo um E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 100 ambiente seguro e funcional para os utentes e profissionais, minimizando o risco e respeitando a legislação em vigor. Para dar cumprimento a estas exigências fomos obrigados a uma profunda e estreita articulação com o serviço de instalações e equipamentos, com os serviços farmacêuticos, com o serviço de medicina no trabalho, com a PPCIRA, com o grupo de gestão de risco, com o serviço de gestão documental, com o serviço de inventário, com o serviço de informática entre outros. Em alguns casos não havia qualquer estratégia delineada para dar respostas às exigências do programa de acreditação. Começou-se por se analisar as questões relacionadas com a privacidade dos utentes e com a garantia da proteção de dados pessoais. Efetuaram-se atividades formativas aos profissionais do serviço para dar a conhecer as exigências legais no que diz respeito à proteção dos dados. Após a formação, realizaram-se auditorias que identificaram os aspetos que necessitavam melhoria. Foram informados os profissionais das fragilidades que necessitavam de aperfeiçoamento. Criaram-se normas de utilização do computador e normas de atendimento telefónico, e sempre que alguma situação foi detetada como não adequada, o profissional envolvido foi sensibilizado para correção automática, garantindo assim a transmissão da informação de saúde sem violar a legislação em vigor. Adotou-se um plano mais rigoroso de verificação da validade e conservação da medicação, do material de consumo clinico e do material esterilizado. Foram nomeados formalmente, elementos responsáveis pela verificação periódica e pelo cumprimento das normas criadas para o efeito. Efetuou-se nova identificação das cassetes da medicação seguindo a norma de identificação da Direção Geral da Saúde para medicamentos LASA. Por outro lado estabeleceram-se mapas de verificação da temperatura dos frigoríficos, garantindo assim a estabilidade termolábil dos medicamentos de frio. Juntamente com os serviços de Instalações e Equipamentos criaram-se mapas de manutenção preventiva dos equipamentos de frio. Também em articulação com os serviços de instalações e equipamentos, elaboraramse mapas de contingência, para a manutenção preventiva dos equipamentos considerados mais importantes. Até ao momento a estratégia era a de efetuar uma manutenção curativa. Com estas medidas conseguimos maior rigor na utilização segura dos equipamentos de diagnóstico e terapêutica. Em simultâneo detetaram-se irregularidades havendo a necessidade de atualizar os mapas de inventário do serviço o que implicou um envolvimento com o serviço de inventariado. Apesar do hospital já possuir uma plataforma para registo de eventos potencialmente adversos, houve necessidade de criar mapas de risco profissional e de risco clinico. Neles foram identificadas situações que se desejavam melhorar para garantir uma maior segurança dos profissionais e dos utentes. A elaboração destes mapas foi um processo muito trabalhoso e exigente. Identificaram-se situações que pretendem E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 101 eliminar elementos estruturais e organizacionais que podem ser fonte de erros e de eventos adversos e outros que se prendem com a segurança da mulher grávida/ parturiente ou puérpera e do recém-nascido. Sentiu-se a necessidade de efetuar a identificação da utente com pulseiras que permitem a inequívoca prestação de cuidados sem risco de troca ou erro. A identificação inadequada da utente è uma das fontes mais frequentes de erros na prestação de assistência na saúde, estas mudanças ajudaram-nos a fazer reduzir esses dados estatísticos. Também a segurança dos RN constitui uma forte preocupação. Introduziram-se códigos de segurança nas portas de acesso ao Bloco de partos e ao puerpério. Criou-se uma norma de atuação de enfermagem a utilizar na transferência da mãe e do bebé, garantindo maior rigor e controlo evitando uma potencial troca de RN. Efetuou-se formação em serviço para sensibilização dos profissionais. Estendeu-se esta preocupação aos profissionais de vigilância e segurança aumentando o número de funcionários no controlo de entradas a pessoas estranhas ao serviço. Em suma mudaram-se comportamentos e sensibilizaram-se mais grupos profissionais, promoveu-se mais e maior segurança. Uma vez mais este modelo da ACSA demonstra consonância com o modelo da Ordem, na procura da segurança dos utentes e dos profissionais. Finalmente chegámos ao V e último Bloco – Resultados. Os standards com os resultados assistenciais e económicos pretendem evidenciar alcançados por uma determinada unidade. Os resultados são as efetividade e eficiência da prestação dos serviços e da consecução objectivos. Estas medidas são financeiras e não financeiras. relacionados os objetivos medidas da de metas e Desta feita a Unidade de Gestão de Cuidados foi obrigada a evidenciar que monitoriza de forma constante e periódica os seus resultados assistenciais e económicos, que estes são revistos e utilizados para introdução de medidas corretivas em caso de falta efetividade e eficiência. Em suma pretende-se evidenciar que os indicadores contratualizados são cumpridos. Certamente que analisando as metas propostas pela Ordem dos enfermeiros no modelo por eles apresentado, os indicadores de gestão sofrerão seguramente alterações consistentes traduzindo um modelo de gestão para a qualidade sustentável e credível. Numa altura em que a Organização Mundial de Saúde recomenda aos EstadosMembros que devem conceber estratégias nacionais para a qualidade e segurança dos cuidados e que essas estratégias devem ser sustentáveis no tempo, a qualidade na saúde torneou-se uma prioridade não só para o nosso serviço como também para o departamento de saúde materna e infantil deste hospital. Obter esta certificação de qualidade, é assumir um compromisso para com os cidadãos conferindo-lhes maior confiança no sistema de saúde. Isto atribui-nos uma maior responsabilidade para E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 102 sedimentar uma cultura de melhoria contínua de segurança e de qualidade. Orgulhamo-nos de todo o percurso efetuado, conscientes de que o mesmo não termina com a obtenção da certificação e passa por um processo de contínua exigência e rigor… Só uma equipa muito empenhada neste projecto, com conhecimento absoluto dos objectivos estratégicos é que vence. Usando uma linguagem metafórica permitam-me afirmar que “ de pouco serve termos bons ventos, uma caravela apetrechada com tecnologia de topo de gama e um timoneiro bem treinado, se não soubermos a nossa rota bem como o nosso destino. Andaremos à deriva e certamente naufragamos…” O sucesso deste projecto está na força conjunta, na convicção colectiva e no grande envolvimento do grupo. Na senda da excelência, da integridade, do rigor e da transparência, que são os valores que nos regem, não obteríamos este resultado se o grupo não se tivesse envolvido de corpo e alma. A eles, a toda a minha equipa, deixo o meu Muito Obrigada. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 103 Ansiedade e Depressão Materna: Que Impacto no Desenvolvimento Fetal e Neonatal/ Maternal anxiety and depression: What Impact on Fetal and Neonatal Development Ana Margarida Leite da Costa – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Patrícia Verónica Domingues Abranches – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Sara Isabel Alves Valente Carracha – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Sérgio Ruiz Marcos – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Vanda Sofia Sutre Cerdeira – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Resumo Problemática: A ansiedade e a depressão materna são fenómenos que têm sido relacionados com o desenvolvimento de efeitos adversos no feto e no neonato. Objetivo: Rever criticamente os estudos que avaliam a ansiedade e a depressão materna durante a gravidez e o seu impacto no desenvolvimento fetal e neonatal. Estratégia de pesquisa: Foi realizada uma pesquisa limitada nas bases de dados CINAHL e MEDLINE, tendo por base as palavras “ansiedade”, “depressão”, “gravidez”, “desenvolvimento fetal”, “desenvolvimento da criança” e “criança, recém-nascido”. Resultados: Elevados níveis de ansiedade e de depressão durante a gravidez estão associados a implicações para o desenvolvimento, bem-estar e comportamento fetal e neonatal. Conclusão: Elevados níveis de ansiedade e de depressão durante a gravidez, contribuem independentemente de outros fatores de risco, para efeitos adversos no feto e no neonato. Palavras-chave: ansiedade; depressão; gravidez; desenvolvimento fetal e neonatal; criança; recém-nascido. Abstract Background: Anxiety and maternal depression are phenomenons that have been associated to adverse development effects on the fetus and neonate. Objective: To critically review studies assessing maternal anxiety and depression during pregnancy and its impact on fetal and neonatal development. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 104 Search Strategy: A limited survey was conducted in CINAHL and MEDLINE databases, based on the keywords “anxiety”, “depression”, “pregnancy”, “fetal development”, “child development” and “infant, newborn”. Results: High levels of anxiety and depression during pregnancy were associated with developmental, well-being and fetal and neonatal behavior implications. Conclusion: High levels of anxiety and depression during pregnancy, contributed independently to other risk factors, for adverse fetal and neonatal effects. Keywords: anxiety, depression, pregnancy, fetal and neonatal development; infant; newborn. Introdução Considerada como uma fase de transição (Meleis, 2010) extremamente significativa para o individuo, a gravidez exige adaptações de diversa índole, sendo que, a capacidade da mulher se adaptar às transformações e exigências que um processo de gravidez e consequentemente o pós-parto impõem, afecta claramente a sua saúde física e mental e parece influenciar de igual forma o feto em gestação e o neonato (Dunkel-Schetter e Lobel, 1998 cit. por Figueiredo, 2005). Não estranhamente, podemos compreender que um período que se apresenta tão exigente, comporte sistematicamente a presença de ansiedade, ainda que se exclua a sua dimensão patológica (Conde e Figueiredo, 2003). No que respeita à depressão, os resultados dos estudos são mais controversos. De facto, a maioria da literatura cinge-se aos autores que interessados pela investigação da depressão, consideram-na quase exclusivamente no pós-parto (Paffenberger, 1982) e aqueles que, estudando a gravidez privilegiam sobretudo a ansiedade (Conde e Figueiredo, 2003). Contudo, relativamente à prevalência da depressão, alguns autores referem resultados antagónicos (Ballinger, 1987), e mediante esta aparente controvérsia, existe ainda quem considere a possibilidade de haver co morbilidade entre depressão e ansiedade na gravidez (Field et al, 2003), concluindo que os sintomas das mesmas são mais comuns neste período do que no pós-parto (Glover & O´Connor, 2006). Estratégia de Pesquisa No sentido de estruturar o conhecimento sobre o impacto da ansiedade e depressão materna no desenvolvimento fetal e neonatal, elaborámos este trabalho escrito de acordo com os princípios metodológicos de uma RSL com base nas orientações do Manual de Joanna Briggs (2011). Partindo da análise dos pressupostos teóricos, delineamos como questão de pesquisa: “Qual o impacto da ansiedade e depressão materna no desenvolvimento fetal e neonatal?” e recorrendo à forma PICo, descrito E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 105 por Joanna Briggs (2011). A pesquisa decorreu entre Outubro de 2013 a Dezembro de 2013 e foi efectuada na plataforma de dados da EBSCO, envolvendo as bases de dados CINAHL e MEDLINE. Os conceitos de expressão de pesquisa foram: “ansiedade”, “depressão”, “gravidez”, “desenvolvimento fetal”, “desenvolvimento neonatal” e “criança, recém-nascido”, tendo sido posteriormente indexados às bases de dados consultadas, com os respectivos descritores. Foram considerados critérios de exclusão, artigos que não apresentavam texto integral, noutras línguas que não o inglês, português ou espanhol ou que encontravam repetidos e foram igualmente rejeitados estudos que não iam ao encontro da questão de pesquisa. Nos artigos encontrados nas bases de dados (CINAHL e MEDLINE) obtivemos primeiramente um total de 365 registos. Posteriormente foram excluídos os artigos que após a leitura do título não iam ao encontro da pergunta de investigação (como exemplo, faziam referência à medicação, a crianças com mais de 28 dias de idade, estudos com modelos de animais) e ficamos com 83 no total. Seguidamente foram excluídos do estudo artigos que não apresentavam texto integral (Full text), outros que necessitavam de pagamento, artigos repetidos nas diferentes bases de dados, assim como os estudos em outras línguas que não o inglês, português ou espanhol. A amostra potencial foi seleccionada através da leitura do abstact e finalmente foram seleccionados vinte e três estudos que apresentavam evidência científica, reflexiva e respondiam aos nossos critérios de inclusão. Após análise metodológica, foram rejeitados 12 artigos, sendo assim incluídas 11 publicações na presente revisão sistemática da literatura. Resultados e Discussão Sjöström et al. (2002), afirmam que a ansiedade materna não parece afectar os movimentos fetais ou a linha de base da FCF, mas existe a possibilidade de influenciar a sua variabilidade, no final da gravidez. O que foi apoiado por Bartha et al (2003), que confirma não existir relação entre ansiedade materna e o comportamento fetal, no início da gravidez. De acordo com a mesma autora, não existe correlação estatisticamente significativa entre a ansiedade materna e qualquer dos movimentos fetais estudados, à excepção de uma discreta associação entre a ansiedade e os soluços fetais. No estudo levado a cabo por Catov et al (2009) o dado mais relevante foi que o efeito da ansiedade em mulheres grávidas afro-americanas se associava a um aumento da prematuridade, situação que não se evidenciava nas mulheres caucasianas. Não foram confirmadas correlações entre os estados de ansiedade e o percentil/peso ao nascer. No entanto, para a mesma autora, a idade gestacional é considerada como um indicador mais preciso de maturidade fetal em detrimento do peso ao nascer, e, como tal, a reduzida idade gestacional no momento do parto compromete a saúde neonatal, pelo que as medidas para gerir a ansiedade, E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 106 principalmente em mulheres afro-americanas, terão efeito directo na prevenção da prematuridade. No que respeita à depressão materna, Pacheco & Figueiredo (2012), apontam para que mesmo antes do parto, esta comprometa o desenvolvimento comportamental do recém-nascido. Na mesma linha de pensamento Smith et al (2010), veio a confirmar o impacto da depressão nos resultados do baixo peso ao nascer. Contrariamente, Liselott Andersson et al (2003) mencionam que os distúrbios de ansiedade e/ou depressão maternos não são factores de risco, por si só, de resultados neonatais como parto pré-termo ou baixo peso ao nascer e que os resultados neonatais não se deterioram por distúrbios depressivos e/ou ansiedade materna na gravidez. Field et al. (2006) concluíram, no estudo que desenvolveram com grávidas com depressão, que o nível elevado de cortisol pré-natal está relacionado com o aumento da incidência de prematuridade e baixo peso ao nascer. Pela aplicação do teste de Stroop a grávidas em que a gestação estava a decorrer sem intercorrências, DiPietro et al (2003) referem que dada a natureza relativamente benigna da indução do stress materno, os resultados sugerem que o feto é periodicamente exposto a ameaças e a sua homeostase comprometida pela excitação emocional materna. A comprovação de respostas fetais à excitação materna induzida por um stressor benigno, consistente com os eventos que ocorrem naturalmente na vida das mulheres, sugere que a regulação fetal neurocomportamental é frequentemente sujeita a invasões ambientais maternas. O grau de consistência de resposta fisiológica materna ao longo da gestação sugere que existe uma variabilidade na forma como o ambiente uterino proporciona estímulos individualmente para cada feto. Conclui-se que os padrões da díade materno-fetal podem promover o desenvolvimento do sistema nervoso autónomo fetal. A comprovar esta ideia Araki, et al. (2010) referem ser possível que as emoções maternas induzidas aumentem a actividade do sistema nervoso simpático, afectando a actividade fetal através da contracção uterina. Por um lado, o cortisol fetal aumenta com o aumento do cortisol materno em resposta ao stress, e por outro diminui o fluxo de sangue através das artérias uterinas, devido ao aumento das catecolaminas resultantes das emoções negativas da mãe. Apesar das divergências entre os resultados colhidos dos estudos analisados é de salientar o que refere Gladys Ibanez et al (2012). A autora, e seus colaboradores, afirmam que a junção de sintomas depressivos e de ansiedade foi a pior condição durante a gravidez. Contudo, alerta que são necessários mais estudos para investigar a depressão e a ansiedade concomitantemente para melhorar a compreensão das modificações biológicas envolvidas. Já Field et al. (2010) embora refiram que, em algumas situações, a comorbilidade da ansiedade com a depressão é a pior condição (por exemplo, na incidência da prematuridade), outras há em que a comorbilidade não é mais importante a nível de impacto do que a depressão isoladamente. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 107 Conclusão O diagnóstico adequado da depressão/ansiedade é fundamental e o enfermeiro, encontrando-se numa posição privilegiada pela sua proximidade da mulher/família, deve assim estar atento, acolher e integrar na vigilância pré-natal o acompanhamento da mulher na prevenção e na identificação precoce dos seus sinais e sintomas. Na área da saúde há necessidade de uma melhoria na assistência a estas mulheres, pelas consequências físicas, emocionais e sociais a que estão sujeitas. Esta melhoria deve ocorrer na prevenção de distúrbios ansiogénicos e depressivos na gestação, actuando ao nível do planeamento familiar, preparando estas mulheres para o papel da maternidade, ou seja, na consciencialização da mudança, e na educação para o autocuidado. Adicionalmente, também é importante saber identificar factores de risco e proteção providenciando assim um cuidado centrado na pessoa e uma articulação individualizada. Referências Bibliográficas Andersson, L., Sundström-Poromaa, I., Wulff, M., Åström M., Bixo, M. (2003). Neonatal Outcome following Maternal Antenatal Depression and Anxiety: A Populationbased Study. American Journal of Epidemiology 159, (9), 872–881. Araki, M., Nishitani, S., Ushimaru, K., Masuzaki, H., Oishi, K., Shinohara, K. (2010). Fetal response to induced maternal emotions. The Physiological Society of Japan and Springer, 60, 213-220. Ballinger, C. (1987). Emocional disturbance during pregnancy and following delivery. Journal of Psychosomatic Research, 26, 629-634. Bartha, J. L., Martinez-Del-Fresno, P., Romero-Carmona, R., Hunter A., CominoDelgado, R. (2003). Maternal anxiety and fetal behavior at 15 weeks’ gestation. Ultrasound Obstet Gynecol , (22), 57–62. Catov, J., Abatemarco, D., Markovic, N., Roberts, J. (2009). Anxiety and Optimism Associated with Gestational Age at Birth and Fetal Growth. Matern Child Health J (14)758–764. Conde, A., Figueiredo, B. (2003). Ansiedade na gravidez: Factores de risco e implicações para a saúde e bem-estar da mãe. Psiquiatria Clínica, 22 (3), 197209. DiPietro, J., Costigan, K., Gurewitsch, E. (2003). Fetal response to induced maternal stress. Early Human Development , (74), 125–138 E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 108 Field, T., Diego, M., Dieter, J., Hernandez-Reif, M., Schanberg, S., Kuhn, C., Yando, R., Bendell, D. (2003). Prenatal depression effects on the fetus and the newborn. In Infant Behavior and Development, in press Field, T., et al. (2010). Comorbid depression and anxiety effects on pregnancy and neonatal outcome. Infant Behavior & Development, 33 (1), 23-29. Field, T., Hernandez-Reif, M., Diego, M., Figueiredo, B., Schanberg, S. & Kuhn, C. (2006). Prenatal cortisol, prematurity and low birthweight. Infant Behavior & Development, 29 (2), 268-275. Figueiredo, B. (2005). Depressão na gravidez: Quais as consequências para a mãe e o bebé. In I. Leal (Ed.), Psicologia da gravidez e da parentalidade (pp. 23-47). Lisboa: Edições Fim de Século. Glover, V. & O` Connor, T. (2006). Maternal anxiety: its effect on the fetus and the child. British Journal of Midwifery,14 (11), 663-667. Ibanez, G., Charles, M., Forhan, A., Magnin, G., Thiebaugeorges, O., Kaminski, M., Saurel-Cubizolles, M. and the EDEN Mother–Child Cohort Study Group (2012). Depression and anxiety in women during pregnancy and neonatal outcome: Data from the EDEN mother–child cohort. Early Human Development; (88), 643–649 Joanna Briggs Institute (2011). Reviewers´ Manual. Disponível http://joannabriggs.org/assets/docs/sumari/reviewersmanual-2011.pdf em: Meleis, A.I. (2010). Transitions theory : middle-range and situation-specific theories in nursing research and practice. New York: Springer Publishing Company. Pacheco, A. & Figueiredo, B. (2012). Mother´s depression at childbirth does not contribute to the effects of antenatal depression on neonate´s behavioral development. Infant Behavior & Development, 35 (3), 513-522. Paffenberger, R. (1982). Epidemiological aspects of mental illness associated with childbearing. In I. Brockington, R. Kumar (Eds), Motherhood and mental illness, pp. 21-36. London: Academic Press, Inc. Sjöström, K., Valentin, L., Thelin, T. & Maršál, K. (2002). Maternal anxiety in late pregnancy: effect on fetal movements and fetal heart rate. Early Human Development, 67 (1-2), 87-100. Smith, M. V., Shao, L., Howell, H., Lin, H., Yonkers, K. (2010). Perinatal Depression and Birth Outcomes in a Healthy Start Project. Matern Child Health J, (15), 401–409. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 109 Comunidade Cigana – Conhecer para Melhor Cuidar/Gypsy Community – Know to Better Care Raquel Cajão – Residências Montepio, Fundação D. Pedro IV e 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Carina Simões – Centro Hospitalar de Lisboa Central e 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Joana Castanheira – Hospital Prisional São João de Deus Dora Carteiro – ACES Lisboa Norte – UCSP Charneca do Lumiar Resumo A cultura cigana enquadra-se na etnicidade através do sentimento de pertença a um grupo diferente do grupo dominante e tendo em conta padrões de comportamento normativos particulares. Os indivíduos ciganos mantêm-se distantes dos cuidados de saúde desvalorizando a promoção de saúde e a prevenção, dando apenas significado aos cuidados em situação de doença. Culturalmente apresentam formas de estar diferenciadas que determinam muitas vezes uma desadequação perante as necessidades de cuidados de enfermagem e uma insubmissão às regras dos serviços de saúde. Este artigo foi baseado na revisão da literatura e numa entrevista semi-estruturada a uma mulher cigana numa consulta de enfermagem de saúde sexual e reprodutiva. Identificaram-se dez publicações no espaço temporal de 2000 a 2013 utilizando as palavras-chave: cultura cigana, cuidados de enfermagem e mulher. A revisão da literatura e a entrevista demonstraram diferentes dimensões no cuidado aos indivíduos desta cultura. Da entrevista realizada emergem grandes categorias que vão ao encontro do conhecimento evidenciado na literatura identificada. Destaca-se a submissão da mulher, a autoridade do homem, a desvalorização dos cuidados promotores de saúde e da prevenção da doença e particularidades relacionadas com o casamento e com a vida social da mulher dentro desta cultura ao longo do ciclo de vida, aspetos importantes a valorizar no planeamento dos cuidados de enfermagem. O conhecimento das especificidades desta cultura por parte dos enfermeiros contribuíra para a prestação de cuidados de enfermagem personalizados promovendo um cuidado culturalmente congruente. Palavras-chave: cultura cigana; cuidados de enfermagem; mulher. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 110 Abstrat The gypsy culture is part of the ethnicity through the sense of belonging to a different group other than the dominant group and by taking into account particular normative behavior patterns. Gipsies distant themselves from health care by devaluing health promotion and disease prevention, and only giving meaning to care in a disease situation. They culturally present different ways of being that often determine a mismatch to the needs of nursing care and a refusal to conform to rules of the health services. This article was based on a review of literature and on a semi-structured interview with a gypsy woman in a nursing appointment in the sexual and reproductive health area. Ten articles were identified in the timeline from 2000 to 2013 using the keywords: Gypsy culture, nursing care and woman. The literature review and the interview showed different dimensions in the care of individuals of the Gypsy culture. From the interview emerge broad categories that match the knowledge evidenced in the selected literature. Stands out the submission of the woman, the authority of the man, the devaluation of the health care promoters and disease prevention and the circumstances related to marriage and the social life of the woman in this culture throughout the life cycle, important aspects to value in the nursing care planning. The acknowledgement of the specificities of this culture by nurses will contribute to the provision of individualized nursing care, bearing in mind these custom features and promoting a culturally congruent care. Key-words: gypsy culture; nursing caring; woman. Introdução A cultura cigana está presente em Portugal há cerca de 500 anos, numa estrutura composta por um conjunto de normas, práticas e tradições identificadas pelo respeito pelas “leis ciganas”, pela família, pelas crianças e idosos, pelo casamento segundo a tradição, pela virgindade da mulher e pela autoridade masculina (Caré, 2010). De um modo geral, pode denominar-se a conceção de saúde da população cigana como o equivalente a não ter sintomas agudos de mal-estar (Silva et al., 2000). Emerge assim o interesse por um maior conhecimento desta cultura e das suas especificidades de forma a facilitar um cuidado holístico aos membros das comunidades desta cultura. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 111 Objetivo Identificar as características e particularidades da cultura cigana referidas na literatura e comparar com as temáticas emergentes da entrevista, sensibilizando os enfermeiros para a temática e para a importância de intervenções culturalmente congruentes. Metodologia Revisão da literatura sobre a cultura cigana e entrevista semi-estruturada a uma mulher cigana no contexto da consulta de saúde sexual e reprodutiva. Foi realizada uma pesquisa nas bases de dados SciELO, LI-LACS, B-On e RCAAP utilizando os descritores “comunidade cigana”, “cultura cigana”, “mulher cigana” e “saúde reprodutiva” e, das 15 publicações encontradas, foram utilizadas 10, entre os anos 2000 e 2015. Resultados/Discussão O funcionamento padronizado dos serviços de saúde dificulta o relacionamento entre os profissionais de saúde e a comunidade cigana, dificultando a implementação dos cuidados de enfermagem. A entrevista a uma mulher cigana com 42 anos, portuguesa, com a família atual constituída pela utente, companheiro e filho, mostra algumas das dimensões a ter em conta nesta cultura e que se encontram também reforçadas na literatura analisada. A entrevista faz referência a uma vida amargurada (sic). Nestas comunidades a mulher assume um papel submisso, um estatuto intimamente ligado à sua posição no grupo familiar muito dependente do casamento e da maternidade. Tem a responsabilidade de manter a união familiar, criar os filhos até ao casamento, cuidar do lar e da alimentação. A família e os filhos evidenciam-se para a mulher como uma forma de mudança de estatuto (Allen, 2012). O homem é o elemento de respeito (sic), assume a posição de chefe e provedor da família (Correia, 2011). A mulher é sempre subordinada, na infância em relação ao pai e aos irmãos, após o casamento, ao marido, e na velhice/viuvez, aos filhos (Caré, 2010). Durante a infância vivia com os pais e nove irmãos. Os pais trabalhavam na venda porta à porta, onde também ajudou (sic). Segundo Allen (2012), as raparigas são sempre responsabilidade das mães. A adolescência é uma passagem despercebida, uma vez que assim que fica menstruada, a menina cigana passa a mulher e a partir desse momento é extremamente vigiada pela família, bem como pela restante comunidade cigana. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 112 Culturalmente, a comunidade cigana não valoriza a escolaridade uma vez que esta não faz parte dos seus interesses. Consequentemente apresentam índices de escolaridade muito baixos, um elevado absentismo e abandono escolar (Allen, 2012). A utente refere que faltava às aulas, tendo desistido da escola aos 10 anos, razão pela qual não sabe ler. Esta situação constitui uma limitação nos cuidados de saúde uma vez que frequentemente a linguagem usada pelos profissionais de saúde não é percetível pela população, levando a dificuldades no relacionamento (Allen, 2012). Existem diferenças, no que toca à escolaridade, entre raparigas ou rapazes, uma vez que os pais têm medo que as meninas sigam os estudos por medo que elas fujam ou sejam maltratadas por outros meninos da escola (sic), medo esse, que não se aplica se for rapaz. Como tal, denotam-se diferenças significativas a nível de género, dado que a partir do momento da primeira menstruação, as raparigas são frequentemente impedidas de frequentar a escola. O objetivo deste impedimento é manter o controlo e a “segurança” em relação aos rapazes de outras raças/etnias (Allen, 2012), existindo o receio dos casamentos fora da comunidade, a preservação da virgindade e a preparação para o casamento, estes medos podem também estar relacionados com uma fraca escolarização (Caré, 2010). Habitualmente o casamento ocorre para o rapaz entre os 16 e os 20 anos, e para a rapariga, entre os 13 e os 18 anos (Cruz, 2011). Casou com 15 anos, casamento que durou 11 anos. Aos 26 anos ficou viúva. Tirou o luto aos 37 anos (sic). É da responsabilidade dos pais a escolha do noivo/noiva para os filhos, sendo que essa escolha depende das relações que estabelecem com outras famílias (Cruz, 2011). Contudo, atualmente, já são elas que escolhem os maridos na maioria das vezes (sic). A utente refere-se ao casamento na comunidade cigana como um acontecimento muito bonito, a noiva vestida de branco, uma grande festa, durante vários dias. A mulher vai viver para casa da sogra sob o domínio do marido. Muitos homens na comunidade cigana são maus, eles é que mandam, as mulheres são escravas. Os homens gostam de exibir as suas mulheres (sic). Após o casamento, ocorre a prova da virgindade, na qual a noiva é desflorada por uma mulher de idade respeitada e casada, que envolve o dedo num lenço e rompe o hímen da noiva, sendo que o lenço deve ficar com vestígios de sangue como comprovativo da honra desta (Mourão, 2011). Uma velhota, antes do casamento, vai com um lenço branco ver se a noiva é virgem e depois mostra a toda a gente o dito lenço (sic). De acordo com a tradição todas as mulheres ciganas devem ir virgens para o casamento e apenas se podem casar uma vez, depois de casadas, espera-se que sejam fiéis aos maridos (Mourão, 2011). A importância da preservação da virgindade é desde cedo incutida pelas mães às filhas, sendo que o pai cigano espera três coisas das suas filhas: virgindade, casamento e a perpetuação da espécie (Caré, 2010). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 113 A preparação para o nascimento é orientada pelas mulheres da família (sic). O parto é entendido como um ritual de passagem que deve ser vivido de forma natural. A amamentação é, também, considerada relevante na comunidade cigana, uma vez que, a mulher cigana gosta de dar de mamar e os maridos orgulham-se delas (sic). Tendo a perpetuação da espécie uma relevância tão demarcada na comunidade cigana, para que um casal seja considerado uma família de verdade, é necessário que tenha filhos o mais rapidamente possível. Caso tal não aconteça, a responsabilidade é atribuída à mulher, podendo esta ser devolvida aos pais (Allen, 2012). Alguns homens ciganos não deixam que as mulheres realizem métodos contracetivos, pois desejam ter famílias grandes. Se após quatro meses de casarem não engravidam são intituladas de inférteis (sic). Segundo Cruz (2011), a procriação é o principal objetivo do casamento na comunidade cigana, sendo que o nascimento do primeiro filho confere ao homem o estatuto de “homem de direito” e à mulher o estatuto de “mulher digna”. Relativamente à morte de um dos cônjuges, as expectativas para a vivência do luto são muito maiores para as mulheres, esperando-se que seja permanente, como uma forma de respeito ao marido falecido (Cruz, 2011). Quando ficam viúvas não podem casar nunca mais e tem de ficar de preto para o resto da vida (sic). Em caso de viuvez, a mulher cigana deve vestir-se de preto durante o resto da vida, cortar o cabelo antes do funeral e usá-lo tapado sempre, não pode nunca mais ver televisão/ouvir rádio e participar em festas, mesmo que sejam na família e não pode voltar a casar (Allen, 2012). A utente refere que a comunidade cigana é evangélica. Quando decidiu tirar o luto fugiu para casa da pastora. Esta protegeu-a e escondeu-a. Nunca disse aos seus patrões que é de etnia cigana (sic). Três meses depois de retirar o luto, aos 37 anos, começou a namorar com um indivíduo não cigano. Tinha a ideia de que não era fértil (a sogra afirmava-o por não ter engravidado com o marido) e, ficou surpresa, quando engravidou um mês depois (sic). Segundo Mourão, (2011), a lei cigana prevê, embora não aprove, os casamentos de homens ciganos com mulheres não ciganas, mas já não aceita o casamento entre mulheres ciganas e homens não ciganos, este tipo de casamento leva à perda da identidade cigana e desencadeia de imediato processos de desclassificação social e de censura intra grupo, uma perda de prestígio e de reputação por parte do grupo familiar (Magano e Mendes, 2013). Relativamente aos cuidados de saúde, a utente afirma que a vigilância de saúde é da responsabilidade da mulher/mãe, o homem/pai acompanha mais frequentemente nos casos de doença (sic). Na ótica da cultura cigana, a prevenção da doença não está relacionada com o estilo de vida, contrariamente à filosofia dos povos ocidentais. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 114 As instituições de saúde estão muitas vezes envoltas num conjunto de normas e padrões prévios em que os profissionais apresentam alguma resistência em contemplar as especificidades da cultura cigana, constatando-se frequentemente uma dificuldade em chegar a estes grupos minoritários e um despoletar de comportamentos defensivos e repressivos que podem levar a uma desconfiança mútua. O atrito entre as comunidades ciganas e os profissionais de saúde conduz a uma hostilidade reativa originada a partir de preconceitos, falta de conhecimento e medos (Allen, 2012). Considerações Finais No que se refere à informação e sensibilização dos profissionais de saúde verificam-se algumas lacunas relativamente às questões relacionadas com as características e especificidades da comunidade cigana. Este desconhecimento origina problemas a nível da comunicação entre estas comunidades e os profissionais de saúde, gerando preconceitos, estigmatização e discriminação. Torna-se emergente um melhor conhecimento desta cultura, as suas características e especificidades de forma a tornar os cuidados de enfermagem significativamente mais centrados no indivíduo como ser integrante de um mundo multicultural. Referências Bibliográficas Allen, P. (2012) – (Des)Encantos de ser mulher cigana: representações da sua sexualidade. Revista de Saúde Reprodutiva Sexualidade e Sociedade (1) 45 – 63; Bastos, J. (2007) – Sintrenses Ciganos - Uma abordagem estrutural-dinâmica. Sintra, Câmara Municipal de Sintra, Divisão de Saúde e Acção Social; Caré, M. (2010) – Ciganos em Portugal: Educação e Género; Cáritas Diocesana de Aveiro (2008) – Senda Gitana Retrato Social da Comunidade Cigana no Concelho de Aveiro; Correia, M. (2011) – Cultura cigana e sua relação com a saúde. Porto: Universidade Católica Portuguesa; Cruz, M. (2011) – Educação para a saúde – intervenção comunitária aos três níveis de prevenção. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa; Magano, O.; Mendes, M. (2013) – Ciganos Portugueses: olhares cruzados e interdisciplinares em torno de políticas sociais e projectos de intervenção social e cultural. Lisboa: Centro de Estudos das Migrações e das Relações Interculturais/CEMRI, Universidade Aberta; E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 115 Mourão, J. (2011) – O casamento cigano — Estudo sócio-jurídico das normas ciganas sobre as uniões conjugais. Porto, 2011: Universidade Fernando Pessoa; Silva, L. et al (2000) – A Comunidade Cigana e o Etnocentrismo da Instituição Médica de Saúde Comunitária. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 116 O Papel do Enfermeiro Obstetra na Promoção de Posições não Supinas Durante o 2º Estádio do Trabalho de Parto/The Midwife Role in the Promotion of Non-supine Positions During the 2nd Stage Labor Sara Isabel Alves Valente Carracha – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Resumo Objectivo: Fundamentar a decisão por uma posição não supina no 2º estádio do trabalho de parto (TP), onde o Enfermeiro Obstetra tem um papel preponderante. Metodologia: Foi efectuada uma revisão narrativa da literatura, no sentido de conhecer o “estado da arte” relativamente a esta temática e assim definir a problemática a estudar. Resultados: São apontadas como vantagens das posições não supinas: uma diminuição no segundo estádio do TP, resultado de uma melhor dinâmica uterina e de esforços expulsivos espontâneos mais eficazes, bem como uma redução dos partos instrumentados e da taxa de episiotomias, revelando assim, melhores resultados materno-fetais. Como desvantagem, a maioria da opinião dos autores aponta para um aumento da taxa de lacerações períneais (de 2º grau), bem como um aumento da perda sanguínea via vaginal, sem que no entanto esta constitua risco para a mulher. Discussão/conclusão: A posição a adoptar no 2º estádio do trabalho de parto é assim uma temática actual e pertinente, que para além da sua abordagem em TP, deve cursar a vigilância pré-natal, de forma a responder às expectativas dos casais e para que estes possam efectivamente tomar decisões conscientes e informados. Palavras-Chave: Cuidados de enfermagem, 2º estádio do TP, posições não supinas, posições verticais Abstrat Objective: To base the decision by a non-supine position in the 2nd stage of labor, where the Midwife has a leading role. Methodology: a narrative review of the literature was performed in order to know the "state of the art" in relation to this issue and thus define the problem to study. Results: Are pointed as advantages of non-supine position: a decrease in the 2nd stage of labor, a reduction of instrumented deliveries and episiotomies. On the downside, most of the authors´ opinion points to an increased rate of perineal lacerations (2 nd degree) and an increase in blood loss, without however this constitutes risk to the woman. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 117 Discussion/conclusion: The position on the 2nd stage of labor is thus a current and relevant theme, which in addition to its approach in labor, must attend antenatal surveillance, in order to meet the expectations of couples and so that they can actually make informed decisions. Keywords: Nursing care, second-stage labor, non-supine position, vertical position Introdução O “mistério da vida”! É desta forma que muitos designam a gravidez, vivida numa expetativa crescente, em que laços afetivos vão sendo consolidados, envolvendo de magia o momento do nascimento. É inegável que a implementação de práticas altamente tecnológicas contribuiu para a melhoria dos resultados perinatais, mas não podemos descurar que se incorreu numa assistência ao parto menos individualizada e mais intervencionista, gerando medo e insatisfação nas mulheres que projetaram o seu parto como um momento único, natural e inesquecível (OE, 2012). Neste contexto, e tendo por base o parto como processo fisiológico, o Enfermeiro Obstetra, é o profissional melhor qualificado para assistir ao parto normal (OE, 2012; ICM, 2013), onde a posição para parir deve ser profundamente abordada. São várias as entidades internacionais, entra as quais a OMS (WHO,1996) e o Instituto Lamaze Internacional (2009), que recomendam o estimulo a posições não supinas no trabalho de parto. Em Portugal, esta preocupação é por demais evidente, no documento de consenso ratificado pela DGS, OE e APEO (OE, 2012) que refere, de entre as práticas mencionadas como promotoras do parto normal, a importância da liberdade de movimentos privilegiando uma posição vertical em trabalho de parto, devendo esta ser incentivada. Mais recentemente, em 2013, o projeto da MCEESMOOE: “Maternidade com Qualidade”, apresenta como indicador de evidência e medida o “Estímulo a posições não supinas durante o trabalho de parto”, procurando melhorar os indicadores da prática clínica, entre outros, a diminuição das episiotomias, e do número de partos instrumentalizados, garantido melhores cuidados (OE, 2013). O elevado número de cesarianas é igualmente uma preocupação da DGS, que, com o objetivo de obter ganhos em saúde, prevê no PNS como meta para 2016 a diminuição da percentagem dos partos por cesariana. A posição materna assume aqui particular importância, pois de acordo com Zwelling (2010), a posição supina e a imobilidade podem contribuir para um aumento do risco de cesariana ao dificultar a descida do feto através do canal de parto. Importa, assim, reflectir em que medida as práticas são promotoras do parto normal e baseá-las na melhor evidência disponível, desenvolvendo uma praxis consolidada “(…) em sólidos e válidos padrões de conhecimento” (Lei 122/ 2011, p.8649). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 118 Metodologia Foi efectuada uma revisão narrativa da literatura, no sentido de conhecer o “estado da arte” relativamente a esta temática e assim definir a problemática a estudar. A pesquisa teve início em Março de 2014, e contemplou as bases de dados científicas na plataforma Ebsco Host, artigos de revistas, livros, e o motor de busca Google, permitindo adquirir bibliografia que me permitisse descrever e analisar este tema. Resultados As vantagens da utilização de posições verticais em trabalho de parto, são claramente evidentes na maioria dos estudos. A mecânica do parto numa posição vertical, é influenciada pela força da gravidade que favorece a ampliação dos diâmetros pélvicos e a consequente descida da apresentação fetal, resultando numa diminuição do segundo estádio do TP (Nogueira, 2012; Amorim et al., 2010; Gizzo et al, 2014). Li Thies-Lagergren, et al (2013), consideram mesmo como principal conclusão do seu estudo a redução, estatisticamente significativa, do segundo estádio do trabalho de parto em mulheres que pariram na posição sentada. Assume-se igualmente como vantagem da posição vertical, uma melhoria da dinâmica uterina, com contracções mais regulares, intensas e eficazes, potenciada pela pressão da apresentação fetal no colo uterino e consequente segregação de ocitocina, favorecendo os esforços expulsivos espontâneos (FAME e APEO, 2009; Gizzo et al, 2014). Simultaneamente, a ausência de compressão dos vasos sanguíneos centrais, traduz-se em melhores resultados materno-fetais, (Nogueira, 2012; Amorim, et al 2010; Gupta et al, 2012). A posição vertical surge ainda associada a uma diminuição dos partos instrumentados e da percentagem de episiotomias (Gupta et al, 2012). A estática fetal, claramente favorecida numa postura vertical, pela gravidade, pelo incremento dos diâmetros pélvicos e pela eficácia da contractilidade uterina, contribui para a resolução de situações de assinclitismo, facilitando a rotação da cabeça fetal em trabalho de parto e prevenindo ou corrigindo distócias (FAME e APEO, 2009; Gizzo, 2014). Gizzo et al (2014) relatam uma diminuição da persistência de variedades occipito-posteriores em mulheres que assumiram posições alternativas à supina em trabalho de parto, com efeitos na decisão pelo parto vaginal, em detrimento da cesariana. Ainda na investigação de Gizzo et al. (2014), é apontada uma redução na taxa de episiotomias nas mulheres com posições de parto alternativas (consideradas no estudo, as posições verticais, sentada, cócoras e quadrupede). A redução da percentagem de episiotomias é ainda corroborada nos estudos de Gupta et al. (2012), Romano & Lothian (2008) e por outros autores, como o Instituto Lamaze (2009), a FAME e APEO (2009), sendo incentivada como prática promotora do parto normal (WHO, 1996; OE, 2012). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 119 A maioria da opinião dos autores é coincidente no que respeita ao aumento da taxa de lacerações perineais (2º grau), podendo ser encarado como uma desvantagem da posição vertical (Gupta et al; 2012; FAME e APEO, 2009). Outra desvantagem apontada pela evidência científica à posição vertical é o aumento da perda sanguínea via vaginal (Gupta et al., 2012; FAME e APEO, 2009; OE,2013), sem no entanto constituir risco significativo para a mulher, visto na sua maioria não existir a necessidade de transfusão (Romano & Lothian, 2008). Discussão/Conclusão As vantagens inerentes às posições não supinas estão intimamente ligadas à capacidade e à experiencia do enfermeiro especialista com outras posições que não a litotomia (OMS, 1996), sendo necessário investimento, conhecimento e formação nesta área específica. Para Li Thies-Lagergren et al (2013), os enfermeiros e alunos de enfermagem precisam ganhar experiência em ajudar a parir numa posição não supina, consciencializando-se da importância da sua actuação na assistência e concomitantemente na educação para a saúde, contribuindo para escolhas informadas, entre elas a decisão de ter um filho numa posição alternativa à supina (RCM, 2011; Nogueira, 2012). Em qualquer contacto com a mulher grávida/casal ou família a abordagem desta temática pode ser particularmente importante. É ao enfermeiro obstetra que compete “cuidar a mulher inserida na família e comunidade durante o período pré-natal, [e] durante o trabalho de parto (…)”, aconselhando e apoiando a mulher na decisão (Lei 127/2011, p. 8663, 8664). A posição a adoptar no 2º estádio do trabalho de parto é assim uma temática que para além da sua abordagem em trabalho de parto, deve cursar a vigilância pré-natal e integrar os programas de preparação para a parentalidade de forma a responder às expectativas dos casais e para que estes possam efectivamente tomar decisões conscientes e informados. A análise desta temática, surge assim integrada numa prática assistencial com vista à promoção do parto normal, e, nunca, como hoje, este assunto se revelou tão pertinente. Importa restituir o parto a quem efectivamente pertence, apoiar e facilitar as tomadas de decisão, ir ao encontro das expectativas dos casais, garantindo a privacidade, a individualidade e a autodeterminação da mulher e, conjuntamente, a segurança e qualidade nos cuidados prestados. É neste sentido que se torna fundamental reflectir, desenvolver competências e adquirir conhecimentos, com contributo na mudança de práticas, para que na relação com o outro, possa efetivamente cuidá-lo com qualidade. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 120 Referências Bibliográficas Amorim, M., Porto, A., Souza, A. (2010). Assistência ao segundo e terceiro períodos do trabalho de parto baseada em evidências. Femina 38 (11), p. 583-591. APEO & FAME (2009). Iniciativo parto normal - Documento de consenso. Loures: Lusodidacta. Direcção-Geral da Saúde; Plano Nacional de Saúde 2012-2016. Acedido em 05/06/2014. Disponível em: http://pns.dgs.pt/files/2012/02/Indicadores_e_Metas_em_Saude_.pdf Gizzo et al. (2014). Women´s choice of positions during labour: Return to the past or a modern way to give birth? A cohort study in Italy. Hindawi Publishing Corporation BioMed Research International, 2014, p.1-7. Gupta, J., Hofmeyr, G., Shehmar, M. (2012). Position in the second stage of labour for women without epidural anaesthesia (review). Cochrane Database of Systematic Reviews,5. DOI: 10.1002/14651858.CD002006.pub3. International Confederation of Midwives (2013). Essential Competencies for Basic Midwifery Practice. Disponível em http://www.internationalmidwives.org/assets/uploads/documents/CoreDocum ents/ICM%20Essential%20Competencies%20for%20Basic%20Midwifery%20Pra ctice%202010,%20revised%202013.pdf Lamaze International (2009) Avoid Giving Birth on Your Back, and Follow Your Body’s Urges to Push. Acedido em: 22/04/2014. Disponíveil em: http://www.lamazeinternational.org/p/cm/ld/fid=214 Lei nº 122/2011 de 18 de Fevereiro (2011). Regulamento das Competências Comuns do Enfermeiro Especialista. Diário da República, II série, nº 35 (18/02/2011) 8648-8653. Lei nº 127/2011 de 18 de Fevereiro (2011). Regulamento das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica. Diário da República, II série, nº 35 (18/02/2011) 8662-8666 Nogueira, J. P. F. (2012). Posições alternativas em trabalho de parto. Revista da Associação Portuguesa dos Enfermeiros Obstetras. 12. 25-28. Ordem dos Enfermeiros & Associação Portuguesa de Enfermeiras Obstetras (2012). Documento de Consenso “Pelo direito ao parto normal – uma visão partilhada”. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros. Ordem dos Enfermeiros (2013). Projeto Maternidade com Qualidade. Acedido em: 22/04/2014. Disponível em: http://www.ordemenfermeiros.pt/colegios/Paginas/ProjectoMaternidadecom Qualidade.aspx. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 121 Romano, A. M. & Lothian, J. A. (2008) Promoting, Protecting, and Supporting Normal Birth: A Look at the Evidence. Journal of Obstetric, Gynecologic, & Neonatal Nursing. 37, 94-105. DOI: 10.1111/J.1552-6909.2007.00210.x. Royal College of Midwives (2011). Evidence Based Guidelines for Midwifery-Led Care in Labour – Positions for Labour and Birth. Acedido em 14/07/2014. Disponível em: https://www.rcm.org.uk/sites/default/files/Positions%20for%20Labour%20and %20Birth.pdf Thies-Lagergren, L. et al. (2013). Labour augmentation and fetal outcomes in relation to birth positions: A secondary analysis of an RCT evaluating birth seat births. Midwifery. (29), p. 344-350. World Health Organization (1996). Care in normal birth: a practical guide. Geneva: World Health Organization. Zwelling, E. (2010). Overcoming the Challenges: Maternal Movement and Positioning to Facilitate Labor Progress. American Journal of Maternal Child Nursing. 35 (2), p.72-78. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 122 Fatores Etiológicos dos Transtornos Mentais no Puerpério/Etiologic Factors of Mental Disorders in Puerperium Bárbara Machado Gomes – Estudante de Enfermagem da Escola Superior de Saúde de Portalegre, [email protected] Joana Parente Janeiro – Estudante de Enfermagem da Escola Superior de Saúde de Portalegre, joana.janeiro @essp.pt Resumo O presente artigo surgiu da necessidade em aprofundar e fazer uma revisão sistemática da literatura sobre os fatores que levam a puérpera a experimentar sentimentos negativos, transformando esses sentimentos em algo mais complexo como o blues e a depressão pós-parto (DPP). O blues pós parto poderá ser considerada como uma breve e moderada perturbação de humor, que surge em estreita relação temporal com o parto, num número muito elevado de mulheres, em sequência das alterações hormonais decorrentes do nascimento do bebé, tendo essencialmente um carácter transitório e benigno. Contrariamente, uma mulher com DPP fica cada vez mais ansiosa e tomada por sentimentos desagradáveis. A DPP pode surgir semanas após o parto. Foi nossa intenção também, tentar despertar alguma curiosidade e necessidade de aprendizagem na comunidade de Enfermagem, para que os profissionais estejam despertos e focados neste tema que passa ainda muito despercebido nos dias de hoje. Através da revisão sistemática da literatura concluímos que este tipo de transtornos se prendem com os mais variados fatores, desde os biológicos aos sociais e culturais. A maneira como a mulher perceciona e imagina o seu parto, o seu bebé, tudo é um rastilho para nos levar a situações como as estudadas. Palavras-chave: depressão pós-parto, blues pós-parto, puerpério Abstract The present article arose from the need to deepen and make a systematic review of the literature on the factors leading to the puerperal experience of some negative feelings, transforming those feelings in something more complex like the “blues” and the Post-Natal Depression (PND). The postpartum “blues” can be considered like a brief and moderated perturbation of humour, which appears in a close temporal relationship with the birth, in a very high number of women, in sequence of their hormonal alterations due to the birth of the child, having essentially a transitory and benign character. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 123 On the contrary, a woman with PND is more anxious and with unpleasing feelings. The PND can appear weeks after the birth. It was also our intention to try to awake some curiosity and need of learning in the nursing community, for the professionals to be aware and focused in this theme that seems unnoticed nowadays. Through the systematic revision of the literature we concluded that this type of disorders relate with the most varied factors, from the biological to the social and the cultural. The way that a woman perceives and imagines the birth of her child, everything seems to drive us to the situations studied. Keywords: postpartum depression, baby blues, puerperal Introdução A maternidade é para muitas mulheres o melhor período da sua vida, mas há um conjunto de fatores inerentes que podem tornar esta experiência em algo menos bom, trazendo alguns dissabores à experiência do casal e à chegada do(s) novo(s) membro(s) da família. A nível psicológico, há vários ajustamentos que devem ser feitos, uma vez que são necessários para evitar sentimentos de ressentimento por parte da mãe – muitas mulheres guardam secretamente para si, um ligeiro ressentimentos para com os seus primogénitos, por estes lhes privarem um pouco do que era a sua vida, toda a liberdade e independência que sentiam, bem como as atenções que recebiam. Por mais que hoje em dia uma mulher seja preparada e prevenida para estas situações, vai sempre haver um pouco deste tipo de pensamentos (Kitzinger, 1995). Da mesma maneira que falamos em blues pós-parto, também nos podemos referir como melancolia pós-parto e é definida como “uma situação frequente em cerca de metade das mulheres durante o período pós-parto, ocorrendo geralmente a partir do terceiro dia.” (O’Reilly, Bottomley & Rymer. 2005: 379). Podemos carateriza-la por sentimentos de labilidade emocional, angústia, períodos de choro, sensação de solidão, ansiedade, incapacidade de dormir, anorexia, perda de memória, irritabilidade e fadiga (Lowdermilk & Perry. 2008: 694). Numa situação mais grave que a blues, segue-se a depressão pós-parto que se manifesta habitualmente após quatro semanas do parto, sendo o seu auge nos primeiros seis meses seguintes, afetando cerca de uma em cada sete mulheres (Tavares & Botelho, 2009). A literatura diz-nos que se revela através de uma sintomatologia similar à da blues mas com traços mais acentuados: “…pode haver alturas em que está confusa e desorientada, não sabendo exatamente onde está, ou se é dia ou noite, e pode tentar suicidar-se.” (Kitzinger, 1995: 325). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 124 A mulher que sofre destes tipos de transtornos sente que é prejudicada pelo sentimento de culpa devido à sua incapacidade para ser a progenitora ideal, e pode rejeitar o seu próprio filho, negando quaisquer responsabilidades sobre ele (Kitzinger, 1995). Com estes cenários apresentados, depreende-se que a blues e a depressão pós-parto não vão só afetar as mulheres como também os conjugues e, principalmente, os bebés “… porque dependem muito da qualidade dos cuidados e da responsividade emocional da mãe.” (Cantilino, Zambaldi, Sougey & Rennó Jr., 2009). Blues e Depressão pós-parto Enquanto toda a gravidez, de um modo geral, é desenvolvida num quadro psicológico de bem-estar, o mesmo não sucede durante o pós-parto, em que há uma diminuição de bem-estar da mulher. Esta diminuição está relacionada com um número vasto de alterações que resultam de mudanças drásticas a nível biopsicossocial. A mulher, ao ver-se obrigada a adaptar-se a todas as transformações, de uma forma nem sempre progressiva, torna-se vulnerável ao desequilíbrio psicológico (Canavarro, 2001). A sintomatologia psicopatológica é associada por muitos autores à mudança hormonal pós-parto. Durante o período de gravidez, o aumento de progesterona e estrogénio é feito de forma progressiva mudando progressivamente o corpo da mulher, que muda abruptamente após o nascimento com o decréscimo repentino dos níveis hormonais. Ainda a níveis hormonais, há o aumento exponencial da prolactina. Após revisão sistemática da literatura, verificámos que vários autores apoiam as mais variadas teorias acerca das possíveis etiologias do blues e depressão pós-parto, estando incluída a reincidência em novas gravidezes: “As mulheres com DPP têm mais chance de apresentar episódios depressivos posteriormente e principalmente novos episódios de DPP.” (Cantilino et al., 2009). Ainda é referido que como fatores de risco fortemente associados à DPP, é os antecedentes depressivos ou ansiosos na história pessoal e na gestação, eventos de vida stressantes, uma vida económica deficiente, mau suporte social e problemas no seio conjugal (Cantilino et al., 2009). Mulheres que “possuem grau de escolaridade baixo, revelam níveis de blues pós-parto mais elevados, em comparação com as mulheres que possuem um grau académico mais elevado” (Sousa, 2008: 71), bem como as mulheres que foram sujeitas a um parto por cesariana e as primíparas. Apesar de nos focarmos no momento alegre que é o nascimento de um bebé, um enfermeiro deve também pensar sempre no lado reverso da moeda, e recordar que há partos que estão longes de ser alegres, onde há uma série de complicações e o nascimento acaba em morte. Para uma mãe, chorar a morte de uma pessoa real, o seu E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 125 bebé nado-morto, que não conheceu, torna-se algo muito mais angustiante de fazer (Kitzinger, 1995). Noutro artigo que revemos, obtemos informação nova e outra consistente com aquela já obtida: a mãe pode gerir a maternidade de uma maneira conflituosa, uma vez que sente em parte a perda da sua identidade pessoal e é obrigada a assumir novos papéis na sua vida e na vida de outras pessoas (Coutinho & Saraiva, 2008). “Mães deprimidas tendem a perceber a própria experiência de forma mais negativa que outras mães.” (Coutinho & Saraiva. 2008: 763). Mães com pouco suporte emocional oferecido pelo companheiro ou pelas pessoas significativas, gravidezes não planeadas, dificuldades no parto e a morte do bebé são fatores de risco para DPP, além de fatores como o nascimento de um filho com problemas de saúde, dificuldades relacionadas com o retorno à vida profissional e dificuldades socioeconómicas. Estudos também apontam para uma associação entre a depressão pós-parto e as mães solteiras com dificuldades sociais (Coutinho & Saraiva, 2008). Métodos A análise teórica sobre a depressão e blues pós-parto resultou de uma consulta de cinco artigos publicadas no período de 2008 a 2014, a partir da base de dados B-on e ProQuest. Foram usados como descritores para as bases de dados internacionais: pósparto; depressão; depressão pós-parto; blues pós-parto; transtornos psicóticos pósparto. De forma a completar a compreensão do tema, foram ainda consultados seis livros relevantes e específicos sobre a temática, publicados entre 1995 e 2010, citados nas referências e bibliografia anexa. É importante referir que o presente estudo não inclui o tema de psicose puerperal. Foi abrangido ainda um estudo descritivo sobre os fatores sócio-demográficos e biomédicos relacionados com o desenvolvimento do blues pós-parto, bem como estudos que abrangessem dados epidemiológicos e sintomatologia clinica da depressão e blues pós-parto. Resultados De acordo com a literatura, estima-se que o blues pós-parto afeta entre 50 a 80% das puérperas (Canavarro, 2001). A DPP é uma patologia que pode afetar a qualidade de vida das mães e que pode ameaçar o desenvolvimento do recém-nascido e de toda a unidade familiar, a todos os níveis. Esta patologia atinge cerca de 10 a 15% das mulheres, o que equivale a cerca de uma em cada 7 mulheres (Tavares & Botelho, 2009). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 126 Os transtornos psicológicos pós-parto são frequentemente subvalorizados pelos profissionais de saúde, contrariamente ao que acontece com outras patologias associadas à gravidez, como por exemplo a Hipertensão Arterial e a Diabetes Mellitus que são alvo de despiste durante toda a gestação. Ficou concluído que na DPP interfere um conjunto de fatores bio-psico-sociais, como por exemplo um mau suporte familiar, deficiências económicas, antecedentes depressivos e dificuldade no retorno às rotinas habituais até ali. Estes levam a uma sensação de incapacidade para cuidares dos seus primogénitos, levando a sentimentos de culpa relativamente ao seu nascimento e pondo em causa o seu papel perfeito de progenitora. Considerações Finais Alguns dos estudos empíricos apontam que mulheres que manifestem blues pós-parto num período de tempo mais prolongado e de forma mais intensa tem um maior risco de desenvolvimento de uma depressão pós-parto. Desta forma, é de extrema importância que as alterações de humor no puerpério (até à 2ª semana de puerpério) sejam estudadas e acompanhadas o mais precocemente possível, proporcionando à mãe o apoio necessário para que esta enfrente eventuais episódios de depressão. “O atendimento precoce à mãe deprimida representa a possibilidade da prevenção do estabelecimento de um padrão negativo de interação com o bebé, o qual pode trazer importantes repercussões para o seu desenvolvimento posterior.” (Coutinho & Saraiva. 2008: 769). O grande desafio que se coloca é a deteção precoce dos transtornos psicopatológicos. É importante que o acompanhamento à grávida seja feito, sempre que possível, pelo mesmo enfermeiro-obstetra, de forma a que este fomente uma relação empática, favorecendo conhecimento de alterações de forma precoce (Tavares & Botelho, 2009). Este reconhecimento é apenas possível caso o enfermeiro esteja desperto para os fatores de risco, uma vez que muitas das mulheres sofrem a sintomatologia psicopatológica de uma forma insipida. É por isso pertinente, o planeamento e implementação de ações preventivas que irão resultar numa melhor assistência ao nível de cuidados de enfermagem. Desta forma, é de extrema importância que os profissionais que estejam em contacto com os casos mais vulneráveis estejam despertos para tal, estabelecendo uma relação interpessoal positiva com o objetivo de esclarecer duvidas e preocupações, prevenindo e educando conforme as necessidades de cada puérpera. Devem portanto ser realizadas educações para a saúde direcionadas para a maternidade, envolvendo a mãe nos cuidados, dando-lhe uma maior confiança e segurança na prestação de cuidados ao bebe (Sousa, 2008). Estas sessões de esclarecimento e ensino também podem ser iniciadas no período Pré Natal, nomeadamente nas aulas de preparação para o Nascimento (Frias, 2014). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 127 Referências Bibliográficas Lowdermilk, D. & Perry, S. (2008). Enfermagem na Maternidade. 7ª Edição. Loures: Lusodidacta Graça, L. (2010). Medicina Materno-Fetal. 4ª Edição. Lisboa: Lidel Canavarro, M (2001). Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra: Quarteto. Cantilino, A.; Zamboldi, C.; Sougey, E.; Rennó Jr., J. (2009). Transtornos Psiquiátricos no pós-parto. Pernambuco e São Paulo: Programa de Saúde Mental da Mulher da Universidade Federal de Pernambuco e Pró-Mulher da Universidade de São Paulo. 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Acedido em 12 de Abril de 2015 em http://www.revispsi.uerj.br/v8n3/artigos/pdf/v8n3a14.pdf E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 128 Lesões Músculo Esqueléticas nos Enfermeiros Especialistas em Saúde Materna e Obstétrica: Protocolo de Investigação/Musculoskeletal Injuries in Midwives: Research Protocol Cristina Lavaredas Baixinho – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Fátima Mendes Marques [email protected] – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Mário Cardoso – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Maria Helena Presado [email protected] – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, Resumo A profissão de enfermagem tem uma prevalência elevada de lesões músculo esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT). Para os enfermeiros especialistas em saúde materna e obstétrica (EESMO), os fatores são multifactoriais, tendo sido pouco estudado os aspectos relacionados com a especificidade da atividade profissional, não se conseguindo, até ao momento, associar o risco com as práticas e os comportamentos, destes profissionais, na execução das atividades. Com a finalidade de colmatar esta falha estruturou-se este protocolo de investigação com três estudos. Os resultados dos diferentes estudos vão permitir identificar os fatores de risco das LMELT, específicos nos EESMO, determinar a taxa de prevalência e incidência de LMELT, avaliar a perceção dos enfermeiros quanto ao risco de LMELT e construir e validar uma escala de avaliação das práticas e comportamentos que configuram em risco de LMELT, nestes profissionais. Os achados dos diferentes estudos vão permitir fazer sugestões para a formação pósgraduada, com a introdução de conteúdos programáticos sobre medidas preventivas das LMELT e para a prática clínica promovendo o controlo dos fatores de risco profissionais identificados. Palavras-chave: Lesões músculo esqueléticas; enfermeiros especialistas de saúde materna; fatores de risco; protocolo de investigação. Abstract The nursing profession has a high prevalence of musculoskeletal injuries related to work (MIRW). For the midwife the factors are multifactorial. The aspects related to the specific nature of the occupation were not deeply studied, consequently it hasn’t been E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 129 possible to associate the risk with the practices and behaviors of these professionals in the execution of the activities. In order to fill this gap, this research protocol was created with three studies. The results of the different studies will help identifying the risk factors of the MIRW, specific in midwifes. Will also help to determine the prevalence and incidence of MIRW, to evaluate the perception of nurses regarding the risk of MIRW and to build and validate a rating scale of practices and behaviors that represent risk of MIRW in these professionals. The findings of the different studies will allow making suggestions for the postgraduate training. With the introduction of syllabus on preventive measures of the MIRW and promoting professional control of identified risk factors in clinical practice. Keywords: musculoskeletal injuries; maternal health nurses specialists; risk factors; research protocol. Introdução As lesões músculo esqueléticas ligadas ao trabalho (LMELT) são o problema de saúde ocupacional mais frequente na Europa (OSHA, 2007), representando um conjunto de problemas do sistema músculo esquelético relevadoras de um desequilíbrio entre as solicitações mecânicas do trabalho, a capacidade de adaptação de uma região corporal e a insuficiência de períodos de pausa/recuperação (Jerónimo, 2013). Os trabalhadores de saúde sofrem mais lesões do que outros profissionais (Baumann, 2007), e de entre estes, os estudos observam que, os enfermeiros são, de todos os profissionais a nível hospitalar, os mais susceptíveis a desenvolverem LMELT (Sikiru & Hanifa, 2010; Shafiezadeh, 2011). A justificação para este dado prende-se com a maior expressividade numérica destes profissionais e por prestarem cuidados 24 horas por dia, o que os coloca mais expostos aos fatores de risco (Jerónimo, 2013). A prevalência de LMELT, nos enfermeiros, atinge valores valores de prevalência média global de 17%, anual de 40 a 50%, e de 35 a 80% durante a vida (Hignett, 1996; Owen, 2000). Um estudo realizado recentemente em Portugal, num centro hospitalar, verificou que a sua prevalência nos últimos 12 meses foi de 85%, sendo as queixas mais significativas ao nível da região da coluna lombar (67,5%) e cervical (53,3%) (Jerónimo, 2013). Os resultados da investigação apontam como causas a adoção e manutenção de posturas incorretas, a pressão temporal a que estão sujeitos, o manuseamento de cargas e a movimentação de doentes (Cotrim, 2008; Capelo, 2011), nomeadamente no reposicionamento na cama (Smedley, Inskip, Buckle, Cooper & Coggon, 2005) e no transporte entre as camas e outros suportes (Yip, 2004). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 130 Muitas destas atividades envolvem movimentos que exigem a simultaneidade e repetição de flexões, rotações, transportes e levantamentos, podendo assim variar no nível de flexão lombar, tensão nos ligamentos e forças de compressão (Capelo, 2011), potenciando o risco de um modo exponencial e dificultando a sua avaliação (Jerónimo, 2013). Constatamos que apesar da gravidade deste problema o seu controlo é difícil, já que os estudos epidemiológicos evidenciam um modelo multifatorial de risco, constituído por riscos profissionais, individuais, organizacionais, psicossociais, biomecânicos, socioculturais e económicos (Sherehiy, Karwowski & Marek, 2004). É consensual, entre os peritos, que a avaliação do risco é uma etapa primordial na prevenção das LMELT (Queiroz et al, 2008; Capelo, 2011; Jerónimo, 2013). Outras medidas, com eficácia comprovada, são a análise do trabalho, avaliação do risco, vigilância da saúde do trabalhador e informação e formação dos trabalhadores, sendo indispensável a partilha total de dados sobre os elementos das situações de trabalho (Queiroz et al, 2008; Jerónimo, 2013). Queiroz et al (2008) referem como crucial para esta eficácia a participação ativa dos profissionais e o seu conhecimento sobre os fatores de risco, não só os profissionais como dos individuais e organizacionais. Todavia, Jerónimo (2013) alertam que para além da informação e formação, sobre saúde e segurança, deve-se apostar na aprendizagem de gestos profissionais ou ações para diminuir os riscos e atuar, também, sobre o trabalho e não só no aumento do conhecimento. Apesar da existência destes dados, em Portugal, não existe ainda um registo nacional da prevalência das lesões músculo esqueléticas ligadas ao trabalho de enfermagem, existindo apenas estudos que referem que há serviços mencionados mais frequentemente como apresentando prevalências mais elevadas de lesões músculoesqueléticas nos seus enfermeiros. Como é o caso dos serviços de medicina, ortopedia, cirurgia e reabilitação (Jerónimo, 2013). Todavia os EESMO, pela especificidade da sua atividade associado às características específicas do bloco de partos, tem riscos próprios que não têm sido estudados. Outro fator relevante, é que muitos dos trabalhos de investigação tem utilizado o índice DINO (Direct Nurse Observation instrument for assessment of work technique during patient transfers) desenvolvido por Johnsson et al (2004), que orienta a observação do investigador para a avaliação da técnica de trabalho dos enfermeiros durante a movimentação e transferência do doente, mas que não se adequa à especificidade da atividade profissional dos EESMO. Esta falta de dados sobre os fatores de risco ligados à atividade profissional e a ausência de um instrumento específico para a avaliação do risco de LMELT, nestes profissionais, indicam-nos a necessidade de criar um instrumento que permita a E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 131 identificação dos fatores de risco de LMELT nos EESMO, associado às práticas e comportamentos profissionais. Objetivos Pelo descrito na revisão da literatura podemos concluir que as LMELT configuram-se com a magnitude de um problema de saúde pública e necessitam de uma intervenção emergente para a sua resolução. Por um lado, embora seja evidente uma crescente preocupação com a identificação dos fatores de risco e avaliação das medidas preventivas constatamos que, em Portugal, os estudos epidemiológicos são poucos e em pequena escala. Por outro, muitos estudos têm uma abordagem pouco diferenciadora da individualização dos fatores de risco profissionais dos EESMO. Pelo exposto definimos como objetivos para este projeto de investigação: a) Identificar os fatores de risco das LMELT, específicos, nos EESMO; b) Determinar a taxa de prevalência e incidência de LMELT nos EESMO; c) Construir e validar uma escala de avaliação de práticas e comportamentos que configuram risco de LMELT nos EESMO; d) Avaliar a perceção dos EESMO quanto ao risco de LMELT. Métodos e Materiais Esta investigação irá decorrer em três fases distintas com três tipos de estudos complementares, para atingir os objetivos supracitados: Estudo 1 (E1): Estudo exploratório, descritivo, qualitativo: Objetivo a (E1); Estudo 2 (E2): Estudo metodológico: Objetivo c (E2); Estudo 3 (E3): Estudo descritivo: Objetivos a, b e d (E3). A população alvo deste estudo serão os EESMO de várias unidades hospitalares portuguesas num total de 120 enfermeiros. Para atingir os objetivos propostos serão construídos instrumentos para esta investigação. O instrumento utilizado para o E1 foi um questionário semi-estruturado, com questões para resposta aberta, organizado em três seções:; a) caracterização da formação e profissional; b) fatores de risco associados à atividade profissional (autopercecionados); c) descrição das atividades que causam desconforto/fadiga músculo-esqueléticos. E2 e E3: Escala de avaliação de práticas e comportamentos de risco de LMELT nos EESMO. Esta escala será construída e validada no decurso deste estudo. A análise das E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 132 respostas ao E1, a consulta da bibliografia, de dois peritos na área da EESMO e de um perito na área das LMELT, permitiu desenhar uma escala multidimensional. O tratamento estatístico será realizado com recurso ao SPSS, versão 19.0. A fidelidade da escala será testada através da análise da consistência interna, recorrendo à determinação do coeficiente Alfa de Cronbach (Pestana & Gageiro, 2008; Steiner & Norman, 2008). Para a análise fatorial em componentes principais utilizaremos a rotação ortogonal do tipo Varimax, e extração de fatores com valores próprios superiores a um. O gráfico de Cattell ou scree plot será utilizado para comprovar o número de fatores a reter e o teste de Kaiser-Keyer-Olkin (KMO) e o índice de Bartlett para aferir a qualidade das correlações entre as variáveis e testar a validade da matriz fatorial. Para a realização deste trabalho de investigação estão a ser respeitados os princípios éticos do protocolo de Helsínquia (WMA, 2013), concretamente, o consentimento informado, a privacidade e a confidencialidade. Considerações Finais Investigadores, organismos independentes e as próprias políticas de saúde têm alertado para a necessidade de se controlar os fatores de risco e de se olhar para as intervenções que tenham impato positivo na diminuição da incidência e prevalência destas. A revisão de literatura efetuada identifica como um passo crucial a identificação dos fatores de risco. No caso especifico dos EESMO, há necessidade de se objetivarem os riscos inerentes à natureza da atividade profissional destes enfermeiros. Esta identificação dos fatores de risco específicos vai permitir não só a formação destes profissionais, em contexto de prática clinica, para a prevenção das LMELT, mas pode também orientar a introdução de medidas preventivas de LMELT na formação pós-graduada desta área de especialidade. Para a investigação fica um instrumento validado que pode possibilitar o desenvolvimento de outros estudos. Referências Bibliográficas Baumann, A. (2007). Entornos de prática favorables: lugares de trabajo de calidad: atención de calidad al paciente, Carpeta de herramienta de información y acción. Genebra: International Council of Nurses. Capelo, C. (2011). Estudo Ergonómico do Risco Ocupacional das Tarefas de Movimentação Manual de Doentes e da Capacidade de Trabalho dos Profissionais. Tese de Mestrado. Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 133 Cotrim, T. (2008). Um Olhar da Ergonomia sobre as Lesões Músculo-Esqueléticas em Enfermeiros. Tese de Doutoramento Lisboa: Faculdade de Motricidade Humana. Hignett, S. (1996b). Work-related back pain in nurses. J Adv Nurs, 23(6): 1238-1246. Johnsson, C., Kjellberg; K., Kjellberg, A., &Lagerstrom, M. (2004). A direct observation instrument for assessment of nurses’ patient transfer technique (DINO). Applied Ergonomics, 35:591-601 Owen, B. D. (2000). Preventing injuries using an ergonomic approach. AORN J, 72(6): 1031-1036. Pestana, M. H., & Gageiro, J. N. (2008). Análise de Dados para Ciências Sociais: a complementaridade do SPSS (5.ª ed.). Lisboa: Edições Sílabo. Queiroz, M.V. et al (2008). Lesões Musculoesqueléticas relacionadas com o Trabalho: Guia de orientação para a prevenção. Programa Nacional contra as Doenças Reumáticas. Lisboa: Direcção Geral de Saúde. Shafiezadeh, K. R. (2011). The prevalence of musculoskeletal disorders and its relationship to general health statement in hospital nurses - Life Science Journal. 8(4): 409-415. Sherehiy, B., Karwowski, W., & Marek, T. (2004). Relationship between risk factors and musculoskeletal disorders in the nursing profession: A systematic review. Occupational Ergonomics, 4: 241-279. Streiner, D.L., &Norman, G.R. (2008). Health and Measurement Scales. A practical guide for their development and use (4th ed.). Oxford: Oxford University Press. Sikiru L., & Hanifa S. (2010). Prevalence and risk factors of low back pain among nurses in a typical Nigerian hospital - African Health Sciences. 10(1): 26-30. Smedley, J., Inskip, H., Buckle, P., Cooper, C., & Coggon, D. (2005). Epidemiological differences between back pain of sudden and gradual onset. J Rheumatol, 32(3): 528-532. World Medical Association (2013). WMA Declaration of Helsinki – Ethical Principles for Medical Research Involving Human Subjects. Disponível em: http://www.wma.net/en/30publications/10policies/b3/ Yip, V. Y. (2004). New low back pain in nurses: work activities, work stress and sedentary lifestyle. J Adv Nurs, 46(4): 430-440. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 134 Cuidados do Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia, Promotores de Conforto à Mulher durante o Trabalho de Parto/The Care of Midwife, Comfort Promoters of Women in Labor Susana Filipa Franco Nunes Teodoro – Centro Hospitalar Lisboa Norte – Hospital de Santa Maria Resumo O nascimento de um filho é um acontecimento de enorme importância na vida de qualquer mulher/casal, envolvendo por isso múltiplos sentimentos. De entre os vários fatores que influenciam a vivência desse momento, os cuidados prestados pelos enfermeiros especialistas são cruciais e determinantes para a classificação dessa experiência como “boa” ou “má”, e na forma como esta experiência será recordada. Como cuidar e confortar são elementos essenciais à prática de Enfermagem. O presente artigo pretende apresentar um estudo efetuado, cujo principal objetivo foi apurar quais os cuidados mais valorizados e considerados confortantes pelas mulheres em trabalho de parto. A metodologia utilizada foi a Revisão Sistemática da Literatura, recorrendo à plataforma eletrónica EBSCO e utilizando as bases de dados CINAHL e MEDLINE. Foram selecionados 13 artigos. Durante a prestação de cuidados foram elaboradas notas de campo, que foram posteriormente alvo de análise de conteúdo e os achados comparados com os dos artigos selecionados. Da análise dos dados, ressaltam os cuidados promotores de conforto físico e promotores de conforto emocional. Embora ambos assumam grande importância, verifica-se a existência de uma maior valorização do conforto emocional comparativamente ao conforto físico. Palavra-chave: Conforto; Trabalho de Parto; Cuidados de Enfermagem Abstrat The birth of a child has a huge importance in the life of any woman/couple and therefore it involves many feelings. Among the many factors which influence living that experience, the care provided by the specialised nurses are crucial and a main factor whether it is considered a “good” or “bad” experience and in the way it will be reminded. How to care and comfort are key elements to nursing practice. This article aims to present a study made, whose main objective was to determine what the most valued and considered comforting care for women in labor. The methodology used was the Systematic Revision of Literature, using the EBSCO web platform and using the CINAHL and MEDLINE databases. Thus, 13 articles were E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 135 selected. During nursing, some field notes were taken, which were analysed and its findings were compared to the selected articles. From data analysis, physical and emotional comfort cares were the ones who stood out. Although both are important, emotional comfort is more valued than physical comfort. Keywords: Comfort, Labor, Nursing Cares Introdução A experiência de trabalho de parto (TP) é única e reveste-se de uma enorme importância, constituindo um marco importante na vida de um casal. A satisfação com que se vivencia esta experiência é determinante para o bem-estar psicológico da mulher, influenciando a sua adaptação ao novo papel como mãe, bem como a interação com o seu filho (Costa, 2003). A perceção de cada mulher relativamente à qualidade do seu trabalho de parto é influenciada por múltiplos fatores individuais, sociais, situacionais e culturais, tal como a presença de uma pessoa significativa, a sua participação ativa e as suas expectativas prévias, entre outras. Atualmente, ainda é comum ouvirmos relatos de mulheres cuja experiência de trabalho de parto foi “má”, influenciando muitas das vezes a vontade de vir a ter outro filho. Dos relatos ouvidos, na sua maioria a “má experiência” não está relacionada com a dor sentida, mas com o modo como foram cuidadas e com os sentimentos que experienciaram, “não é a quantidade de dor apresentada pela mulher que vai influenciar a perceção da experiência do parto como boa ou má, mas o alcance ou não das suas metas para o enfrentamento da dor” (Bachman, 2002, p.316) Também Benner (2005) refere que, com o desenrolar do trabalho de parto, a mulher se pode libertar da dor, mas não da experiência de a ter sentido, sendo determinante o papel de enfermeiro especialista, no modo como pode alterar a vivência desse acontecimento. Contudo, não nos podemos esquecer de que conforto é mais do que a ausência de dor (Collins et al, 1994 citado por Schuiling e Sampselle, 1999). É a satisfação da fome e da sede, é proporcionar relaxamento, é apoiar e demonstrar afeto. Mesmo na ausência de conforto físico a mulher pode experienciar conforto psicoespiritual, social e ambiental. O conforto nestes domínios pode ajudar a mulher a transcender a sua dor física e ter um parto com menor necessidade de analgesia. A sensação de conforto é uma expressão utilizada quando se assumem estar presentes a satisfação de necessidades e desejos em três domínios: corpo, mente e espírito. Prevê sentimentos de alívio, facilidade, segurança, bem-estar, esperança e expectativa (Kolcaba, 1994). Conforto é assim um estado de estar e um estado de espírito. A E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 136 perceção de conforto é individual, de género e multidimensional, e é relativa ao tempo, ao espaço e magnitude (Schuiling e Sampselle, 1999). Conforto é um fenómeno importante para a nossa profissão, sendo um elemento do cuidar e um indicador de qualidade dos nossos cuidados, é um imperativo subjacente no planeamento e execução das intervenções enquanto enfermeiros. Desta forma, reveste-se de uma enorme importância identificar quais os cuidados mais valorizados e que promovem maior conforto à parturiente, adequando assim os nossos cuidados às mesmas. Metodologia Inicialmente foi realizada uma revisão sistemática da literatura, e posteriormente feita colheita de informação através de observação participante e interação com as utentes durante os cuidados prestados. A revisão sistemática da literatura enquanto metodologia fundamenta-se na pesquisa baseada na evidência, que emergiu do aumento da produção científica e da necessidade de validar os resultados obtidos a partir de vários estudos sobre determinada questão, a fim de subsidiar a tomada de decisão. Deve por isso obedecer a um conjunto de etapas, partindo sempre da elaboração de uma pergunta de partida. A questão elaborada e que serviu como ponto de partida para a realização desta revisão sistemática foi: “Quais os cuidados do Enfermeiro Especialista de Saúde Materna e Obstetrícia promotores de conforto à mulher durante o trabalho de parto?” População – Mulher (parturiente) Intervenção – Cuidados do EESMO Outcome – Promoção do conforto durante o trabalho de parto A plataforma utilizada foi a EBSCO-Host nas bases de dados: CINAHL e MEDLINE. A pesquisa foi feita para texto integral no dia 3/07/2012. Assume-se como limitação do estudo esta premissa, dado que a aquisição de artigos que surgiram sem ser em full text tornar-se-ia muito dispendiosa. Como fatores de inclusão foram considerados os artigos publicados entre 2005 e 2012, em língua inglesa, portuguesa ou espanhola e que estivessem relacionados com a temática. Foram assim excluídos todos os que não respeitavam esses critérios ou que estivessem repetidos nas bases de dados. Os descritores utilizados para a pesquisa (Bolean/Phrase), foram os seguintes: Parto (Labor), Nascimento (Childbirth), Gestão do Trabalho de Parto (Management of Labor), Parteira (Midwifery), Intervenções de Enfermagem (Nursing Intervention), Enfermagem (Nursing), Papel do Enfermeiro (Nursing Role), Suporte (Support), Apoio psicossocial (Support Psychosocial), e Conforto (Comfort). Foram conjugados da E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 137 seguinte forma:[“Labor” OR “Childbirth” OR “Management of Labor” OR Prepared Childbirth” AND “Midwifery” OR “Nursing Intervention” OR “Nursing” OR “Nursing Role” AND “Support” OR “Support Psychosocial” OR “Comfort”]. Desta pesquisa resultaram 127 artigos da base de dados CINAHL e 27 da MEDLINE. Posteriormente foi efetuada uma nova seleção através da leitura de títulos e resumos, sendo eliminados os que não iam ao encontro da problemática em estudo. Desta seleção resultou um total de 13 artigos da MEDLINE e 14 artigos da CINAHL. Após leitura e análise de conteúdo dos artigos, verificou-se que apenas 13 continham dados relevantes e que iam ao encontro da temática. A colheita de informação junto das utentes foi efetuada durante a realização de alguns estágios no decorrer da especialidade de saúde materna e obstetrícia; nomeadamente o estágio em contexto de centro de saúde (Consultas pós-parto e visitas domiciliárias), e os estágios de puerpério e sala de partos. “Nos estudos de observação participante, o investigador geralmente já conhece os sujeitos, do modo que a entrevista se assemelha muitas vezes a uma conversa entre amigos”, sendo a “entrevista utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (Bogdan, Biklen, 1994, p.134). As utentes foram selecionadas intencionalmente mediante o cumprimento dos seguintes critérios de inclusão: mulheres com parto por via vaginal, por considerar que nesses casos será o enfermeiro especialista de saúde materna quem maior período de tempo cuida da mulher. Como critérios de exclusão: mulheres cujo trabalho de parto tenha sofrido alguma intercorrência materno-fetal e parto por cesariana eletiva. A informação obtida foi sintetizada sob a forma de notas de campo, com o objetivo de perceber quais foram as experiências das utentes durante o trabalho de parto. Durante a interação com a utente foram efetuadas três perguntas gerais e abertas possibilitando que a utente se expressasse o mais livremente possível. “As entrevistas qualitativas (…) centram-se em tópicos determinados ou podem ser guiadas por questões gerais” (Merton e Kendall in Bogdan, 1994, p.135). i) ii) iii) Fale-me dos cuidados significativos para si durante o Trabalho de Parto. O que a fez sentir-se confortável/desconfortável durante o seu trabalho de parto? Se pudesse o que mudaria na experiência do seu trabalho de parto? Importa referir que para a colheita de dados foram tidos em consideração os princípios éticos da autonomia, da beneficência, de não maleficência e da justiça. Durante a colheita de dados, procurou-se o consentimento informado de todos as participantes, informando sobre quais os objetivos da recolha de informação, tendo a mulher liberdade de responder ou não às questões efetuadas, e assegurando sempre a sua privacidade e confidencialidade. Sendo este trabalho subordinado ao tema – cuidados E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 138 promotores de conforto, os princípios da beneficência e de não maleficência, que consistem no dever ético e moral do enfermeiro de maximizar o bem-estar e minimizar os desconfortos, estiveram sempre presentes. De igual forma o direito a um tratamento justo e equitativo foram premissas respeitadas. A escolha das participantes esteve intimamente relacionada com o tema desenvolvido e não foi motivada por questões de conveniência, como a etnia, religião, condição social ou outras. Numa primeira fase os achados obtidos na revisão sistemática e nas interações com as utentes foram analisados separadamente, tendo sido posteriormente comparados. Discussão dos Dados Obtidos No decorrer da análise efetuada, constatou-se que existem duas grandes áreas do conforto transversais a todos os artigos analisados, e às notas de campo: o conforto físico e o conforto emocional. Conforto físico Descorrente da análise dos artigos constatou-se que o conforto físico se subdivide em conforto físico adquirido através de: adoção de posicionamentos durante o trabalho de parto (caminhar e posição de cócoras), do toque (massagem), da aplicação de calor e frio, da nutrição (beber e comer), dos cuidados de higiene (banho imersão ou chuveiro, roupa limpa e seca), do uso da bola de parto; e em conforto físico associado ao meio envolvente durante todo o trabalho de parto: temperatura, luminosidade, odor, ruídos e privacidade. Relativamente ao primeiro grupo de medidas promotoras de conforto físico à mulher, as mais referenciadas na literatura são em primeiro lugar a liberdade nos posicionamentos durante o trabalho de parto, seguida do toque (massagem) e da higiene (banho chuveiro ou imersão). Da análise das notas de campo, os cuidados mais valorizados pelas mulheres, em contexto de conforto físico foram por ordem de prioridade, a hidratação oral (ingestão de líquidos) e o toque. Quanto à importância do meio ambiente como fator determinante na promoção de conforto à parturiente, a privacidade é um dos aspetos mais importantes para a mulher (dados semelhantes entre notas de campo e artigos). O conforto físico durante o TP está intimamente relacionado com o alívio da dor, e neste âmbito os artigos referem que o acompanhamento contínuo por parte dos enfermeiros é crucial para minimizar a dor sentida, refletindo-se por vezes em menor necessidade de analgesia às mulheres. Posto isto, podemos concluir que o conforto físico é indissociável do conforto emocional. Conforto Emocional Dos achados obtidos quer da revisão sistemática, quer da análise das notas de campo, pode constatar-se que o apoio emocional proporcionado pelos enfermeiros durante o TP é fulcral para a satisfação da Parturiente. Existem dois componentes do cuidado, se E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 139 assim lhe pudermos chamar, que se verificaram ser os mais referenciados e valorizados: a atitude do cuidador face à mulher e a presença e apoio contínuos do enfermeiro junto da parturiente. A atitude do cuidador ou mais especificamente as características deste, mais valorizadas pelas mulheres são: ser atencioso e paciente, demonstrar segurança nos procedimentos que efetua, respeitar e valorizar os desejos da mulher envolvendo-a na tomada de decisões, respeitar e valorizar as diferenças culturais e ser um bom comunicador fornecendo informação adequada à compreensão de cada mulher. A importância de todas estas características revela-se na tranquilidade e segurança proporcionadas, bem como, pelo facto de serem geradoras de autoestima e confiança. Contudo, existe uma que assume algum destaque – a informação proporcionada à mulher pelos profissionais de saúde. A informação é valorizada, uma vez que capacita a mulher para uma tomada de decisão informada promovendo uma sensação de controlo sobre o seu TP. Conclusão Atualmente ainda se observam cuidados centrados no modelo biomédico, reduzindo a mulher à sua vertente mais biológica, o que se traduz na maioria das vezes na insatisfação da mulher com o seu TP. Considerando os dados obtidos, julgo que emerge a necessidade de cada vez mais repensarmos os nossos cuidados, contribuindo para experiências mais gratificantes e positivas. Ser confortado é uma necessidade humana básica, devendo por isso ser considerada com um foco importante para a disciplina de enfermagem. Confortar, é assim um ato de excelência do cuidar, sendo como tal um “dever” moral e ético do enfermeiro. Referências Bibliográficas Bachman, J. A. (2002). Manejo do desconforto. In D. L. Lowdermilk, S. E. Perry, & I. M. Benner, P. (2005). De Iniciado a Perito. Coimbra: Quarteto. Biklen, S. K., & Bogdan, R. (1994). Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria a aos métodos. Porto: Porto Editora. Costa, R., Figueiredo, B., & Pacheco, A. (2003). Parto - Expectativas, Experiências, Dor e Satisfação. Psicologia, Saúde & Doenças, pp. 47-67. Kolcaba, K. (1994). A theory of holistic comfort for nursing. Journal of Advanced Nursing, pp. 1178-1184. Schuiling, K. D., & Sampselle, C. M. (Março de 1999). Comfort in Labor and Midwifery Art. Journal of Nursing Scholarship, pp. 77-81. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 140 A Acupressão como Terapia Complementar durante o Trabalho de Parto – Contributos para o Cuidado de Enfermagem em Obstetrícia/Acupressure as a Complementary Therapy during Labor – Contributions to Nursing Care in Obstetrics Patrícia Verónica Domingues Abranches – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Resumo O regulamento de competências específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica prevê que o mesmo “Cuida a mulher inserida na família e comunidade durante o trabalho de parto” o presente trabalho foi realizado com o objectivo de aprofundar conhecimentos e desenvolver competências na área das Terapias complementares (TC) como coadjuvantes dos cuidados de Enfermagem especializados em Saúde Materna e Obstétrica assim como sensibilizar os profissionais de saúde para a importância da acupressão/shiatsu nos cuidados de Enfermagem em Obstetrícia. Considerei pertinente abordar ainda outras terapias - a acupunctura e o Shiatsu - pela sua íntima relação com a terapia supracitada, demonstrada pela evidência. Tendo em conta a particularidade da temática e a pesquisa realizada considerei apropriado fundamentar o presente trabalho na “Teoria dos Seres Humanos Unitários” de Martha Rogers com orientação para campos da energia e padrão de ondas (Gunther, 2004). Para tal utilizei a metodologia da revisão da literatura da qual surgiram os resultados que passo a citar. O princípio das terapias complementares e alternativas (TCA) é equilibrar e harmonizar 2 entidades energéticas opostas, Yin e Yang (Lee, Chang, & Kang, 2004). Apenas o toque de alguns pontos pode aliviar a dor ou traduzir-se numa sensação de relaxamento (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). A maior parte são não-invasivas e apresentam poucos ou nenhuns efeitos secundários adversos (Koehn, 2000). Muitas mulheres gostariam de ter um parto sem recurso a drogas ou métodos invasivos de tratamento da dor (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). As técnicas de acupressão são compatíveis com maior parte das técnicas de parto. (Jimenez, 1996). A acupressão diminui a intensidade da dor. (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). É benéfico estimular alguns pontos para corrigir a contractilidade ineficaz em TP. Muitos sintomas fisiológicos da gravidez apresentam boa resposta á acupressão e acupunctura (Fraser & Cooper, 2010). Chung, Hung, Kuo, & Huang (2003) citando Jimenez (1996) e Stephens (1997) refere que a acupressão tem sido relatada como útil tanto para a indução do TP como para controlar a dor do parto. A acupressão nalguns pontos estimula a libertação de oxitocina pela glândula pituitária (Lee, Chang, & Kang, 2004). A acupressão no ponto SP6 durante as contracções mostrou ser eficaz na redução da experiencia de dor (Hjelmstedt, et al., 2010). Através de massagens e E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 141 ligeiras percussões existe um bloqueio ou redução das vias de transmissão nervosa disponíveis para a percepção da dor, impedindo assim que os sinais dolorosos alcancem o cérebro e permitindo que a percepção dos estímulos dolorosos fique diminuída (Lowdermilk, 2008). A acupressão não está associada a riscos de infecção e não existem custos com equipamento. É fácil de administrar e não é necessário um treino exaustivo pela pessoa que aplica (Hjelmstedt, et al., 2010). Trata-se de uma técnica apelativa na medida em que é segura, rentável, e fácil de implementar em contexto de trabalho de parto (TP) (Lee, Chang, & Kang, 2004). A massagem por acupressão pode ser utilizada em conjugação com outras formas de tratamento nomeadamente da MTC (Williams, 1996). A utilização de TCA aumenta a independência dos enfermeiros (Koehn, 2000). A falta de estudos clínicos controlados para validar a sua eficácia tem limitado a sua dispersão na educação e na prática (Chung, Hung, Kuo, & Huang, 2003) e (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Palavras-chave: acupressão, shiatsu, trabalho de parto Abstract The regulation of specific competencies of the Specialist Nurse in Maternal Health Nursing and Obstetrics provides that the same "Take care of the inserted women in the family and community during labor" this work was carried out in order to deepen knowledge and develop skills in the Complementary therapies (CT) as supporting nursing care specialize in Maternal Health and Obstetric as well as sensitize health professionals to the importance of acupressure/shiatsu in nursing care in obstetrics. Considered relevant also address other therapies – acupuncture and Shiatsu – for its intimate relationship with the above therapy, demonstrated by the evidence. Taking into account the particularity of the subject and the survey considered appropriate support this work in the "Theory of Human Beings Unit" of Martha Rogers with guidance for the fields of energy and wave pattern (Gunther, 2004). For this I used the literature review methodology which emerged the results that I quote. The principle of complementary and alternative therapies (ACT) is to balance and harmonize two opposing energy entities, Yin and Yang (Lee, Chang, & Kang, 2004). Just touch the few points can relieve pain or lead to a feeling of relaxation (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Most are non-invasive and exhibit few or no adverse side effects (Koehn, 2000). Many women would like to have a birth without using drugs or invasive methods of treating pain (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). The acupressure techniques are compatible with most delivery techniques. (Jimenez, 1996). Acupressure decreases pain intensity (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 142 It is beneficial to stimulate some points to correct the ineffective contractility in labor. Many physiological symptoms of pregnancy have good response to acupressure and acupuncture (Fraser & Cooper, 2010). Chung, Hung Kuo, & Huang (2003) citing Jimenez (1996) and Stephens (1997) reports that acupressure has been reported to be useful both for the induction of TP as to control the pain of childbirth. The acupressure in some points stimulates the release of oxytocin from the pituitary gland (Lee, Chang and Kang, 2004). Acupressure in point SP6 during contractions proved to be effective in reducing pain experience (Hjelmstedt, et al., 2010). Through massage and light percussion there is a blockage or reduction in nerve transmission pathways available for the perception of pain, thus preventing the pain signals from reaching the brain and allowing the perception of painful stimuli is diminished (Lowdermilk, 2008). Acupressure is not associated with risk of infection and no equipment costs. It is easy to administer and does not require a thorough workout by the person who applies (Hjelmstedt, et al., 2010). This is an attractive technique in so far as it is safe, cost effective, and easy to implement in labor context (TP) (Lee, Chang and Kang, 2004). The acupressure massage by can be used in conjunction with other forms of treatment including the ERM (Williams, 1996). The use of ACT increases the independence of nurses (Koehn, 2000). The lack of controlled clinical trials to validate its effectiveness has limited its spread in education and practice (Chung, Hung Kuo, & Huang, 2003) and (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Keywords: acupressure, shiatsu, labor Métodos Tendo em conta a particularidade da temática e a pesquisa realizada considerei apropriado fundamentar o presente trabalho na “Teoria dos Seres Humanos Unitários” de Martha Rogers com orientação para campos da energia e padrão de ondas (Gunther, 2004). Para tal utilizei a metodologia da revisão da literatura. Recorrendo á Plataforma agregadora de bases de dados EBSCO, através das bases de dados Cinhal+Medline e com a questão de investigação: quais os efeitos da acupressão no alívio da dor de TP? Utilizei os descritores booleanos acupressure e labor pain, sendo que os critérios de inclusão foram: artigos com texto completo, em português, espanhol, francês ou inglês seleccionei um total de 11 artigos. Fundamentação Segundo o Regulamento de Competências Especificas o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica – EESMO: “Cuida a Mulher inserida na E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 143 família e comunidade durante o trabalho de parto”; “concebe, planeia, implementa e avalia intervenções de promoção do conforto e bem-estar da mulher e conviventes significativos” e “coopera com outros profissionais na implementação de intervenções de promoção, prevenção e controlo da dor”. Segundo o Projecto Maternidade Com Qualidade da Ordem dos Enfermeiros o alívio da dor durante o trabalho de parto contribui para o bem-estar físico e emocional da parturiente e deve ser um dos cuidados prioritários do EEESMO. As estratégias não farmacológicas para alivio/controlo da dor visam melhorar as sensações físicas e a percepção psicoemocional da dor entre as quais: Liberdade de movimentos; Apoio contínuo à grávida; e outras como por exemplo técnicas de relaxamento/massagem, acupunctura e acupressão. Entre as práticas promotoras do parto normal preconizadas por OE, APEO (2012) prevê-se se sejam facultadas medidas de conforto e de alívio da dor informando sobre os seus benefícios para favorecer o nascimento normal e evitar danos desnecessários. Segundo a Federation de Associaciones de Matronas de Espana FAME (2011) o relaxamento pode proporcionar sensações de tranquilidade e controlo e diminuem a tensão muscular podendo também diminuir a percepção da dor. O princípio das terapias complementares e alternativas (TCA) é equilibrar e harmonizar 2 entidades energéticas opostas, Yin e Yang (Lee, Chang, & Kang, 2004). A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) descreve o estado de saúde mantido por um equilíbrio de energia no corpo (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Segundo a MTC existem 12 Meridianos que incluem 365 acupontos que transportam Chi/Qi e ligam o corpo ao exterior (Fraser & Cooper, 2010). Sendo que um acuponto trata-se de um ponto á superfície da pele que dá acesso á energia que flui nos meridianos (Rodeia, 2003). Apenas o toque de alguns pontos pode aliviar a dor ou traduzir-se numa sensação de relaxamento. Algumas formas de acupressão são aplicadas por profissionais de saúde treinados e outras podem ser aplicadas pelo indivíduo como uma forma de automassagem. (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Os pontos de bloqueio em acupunctura podem ser estimulados, e assim ser libertadas e reequilibradas energias, através de pressão dos pontos com o polegar, acupressão na MTC ou o seu equivalente japonês – shiatsu. (Fraser & Cooper, 2010). Pode ser aplicado calor, frio ou pressão nestes pontos (Lowdermilk, 2008). Através de massagens e ligeiras percussões existe um bloqueio ou redução das vias de transmissão nervosa disponíveis para a percepção da dor, impedindo assim que os sinais dolorosos alcancem o cérebro e permitindo que a percepção dos estímulos dolorosos fique diminuída (Lowdermilk, 2008). A acupressão não está associada a riscos de infecção e não existem custos com equipamento. É fácil de administrar e não é necessário um treino exaustivo pela pessoa que aplica (Hjelmstedt, et al., 2010). Trata-se de uma técnica apelativa na medida em que é segura, rentável, e fácil de implementar em contexto de trabalho de parto (TP) (Lee, Chang, & Kang, 2004). A massagem por acupressão pode ser utilizada E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 144 em conjugação com outras formas de tratamento nomeadamente da MTC (Williams, 1996). A utilização de TCA aumenta a independência dos enfermeiros (Koehn, 2000). A falta de estudos clínicos controlados para validar a sua eficácia tem limitado a sua dispersão na educação e na prática (Chung, Hung, Kuo, & Huang, 2003) e (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). As TCA são holísticas e o TP tem de ver visto não só no aspecto físico mas também com os aspectos espiritual, emocional, psicológico e social. É possível que a utilização de TCA venha a alterar a percepção dos enfermeiros da enfâse dominante, convencional e médica do TP no sentido de uma experiencia natural e holística (Koehn, 2000). Existe um interesse por parte das mulheres para o uso de formas adicionais de cuidado para apoiar o tratamento da sua dor durante o TP (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Estas podem ser utilizadas durante a gestação, parto e pós-parto com o objectivo de aliviar alguns desconfortos e a dor (Lowdermilk, 2008). Resultados O TP tornou-se medicalizado e os Enfermeiros foram instruídos a cuidar das mulheres nesta perspectiva, contemplando o TP como uma situação de alto-risco. Sendo o TP é um processo fisiológico normal e que se trata de mais que um evento físico, muitas TCA são apropriadas e úteis durante a experiencia. A maior parte são não-invasivas e apresentam poucos ou nenhuns efeitos secundários adversos (Koehn, 2000). Muitas mulheres gostariam de ter um parto sem recurso a drogas os métodos invasivos de tratamento da dor (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). As técnicas de acupressão são compatíveis com maior parte das técnicas de parto. (Jimenez, 1996). A acupressão diminui a intensidade da dor. (Smith, Collins, Crowther, & Levett, 2011). Alguns pontos não devem ser estimulados durante a gravidez visto que podem desencadear o TP, contudo é benéfico estimular os mesmos para corrigir a contractilidade ineficaz em TP. Muitos sintomas fisiológicos da gravidez apresentam boa resposta á acupressão e acupunctura (Fraser & Cooper, 2010). Chung, Hung, Kuo, & Huang (2003) citando Jimenez (1996) e Stephens (1997) refere que a acupressão tem sido relatada como útil tanto para a indução do TP como para controlar a dor do parto. A acupressão nalguns pontos estimula a libertação de oxitocina pela glândula pituitária (Lee, Chang, & Kang, 2004). A acupressão em SP6 durante as contracções mostrou ser eficaz na redução da experiencia de dor (Hjelmstedt, et al., 2010). No estudo levado a cabo por Chung, Hung, Kuo, & Huang (2003) o grupo submetido a acupressão experienciou o maior alívio da dor do TP de entre todos os grupos. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 145 Conclusão Todas as mudanças na sociedade foram alvo de desconfianças, mesmo aquelas que eram verdades absolutas foram questionadas para serem aceites novas teorias que se mostraram evidenciáveis. Torna-se imperativo que as TCA sejam comprovadas cientificamente, a dificuldade prende-se com a mensurabilidade destas terapias e a escassez de estudos prévios que suportem a fundamentação teórica imprescindível. Contudo o desafio, sendo grande, é também muito mais interessante. As TCA abrem novos caminhos a uma Enfermagem com vontade de evoluir cuidando com uma visão holística do ser humano. Referências Bibliográficas APEO, F. O. (05 de Maio de 2012). Pelo direito ao parto normal. Lisboa, Lisboa, Potugal. Chung, U.-L., Hung, L.-C., Kuo, S.-C., & Huang, C.-L. (Setembro de 2003). 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Smith, C. A., Collins, C. T., Crowther, C. A., & Levett, K. M. (2011). Acupuncture or acupressure for pain management in labour review. Australia: Cochrane Pregnancy and Childbirth Group. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 147 Parto em Movimento: Uma Intervenção do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia/Mobility of Women in Labor: An Intervention of the Midwife Ângela Coelho da Costa – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Resumo A liberdade de movimentos é ainda hoje, um aspeto nem sempre permitido às mulheres em trabalho de parto. O objetivo deste trabalho é perceber quais os resultados da liberdade de movimentos da mulher no bem-estar materno-fetal, na progressão do trabalho de parto em contexto hospitalar e qual a intervenção do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia (EESMO) potenciando a evolução positiva do trabalho de parto, promoção do conforto, diminuição da dor e respeito pela livre escolha da mulher. Foi realizada uma revisão crítica da literatura, que contemplou as bases de dados, EBSCO Host e B-on, e também a incorporação de outras fontes, tais como artigos de revistas, livros e publicações académicas e institucionais. Da análise dos resultados, foi evidente que a mobilidade da mulher em trabalho de parto e adoção da posição que é lhe é mais confortável são favorecedoras do bem-estar materno-fetal, ajudam a lidar com a dor, permitem a assunção da autonomia da mulher, aumentam a sensação de conforto e controlo sobre o seu corpo, o que se traduz num acréscimo do seu grau de satisfação com o parto. Foi ainda evidente que as parteiras/EESMO têm um elevado impacto na decisão da mulher quanto à escolha de posição para o parto. Palavras-chave: Mulheres, Mobilidade, Trabalho de Parto Abstract Freedom of movement is still one aspect not always allowed to women in labor. The point of this document is to understand what’s the results of woman freedom of movement in maternal and fetal well-being, the progression of labor in hospital context and the intervention of Nurse Specialist in Maternal Health Nursing and Midwifery enhancing the positive development of labor, promoting comfort, decreasing pain and respect for women free choice. A critical review of literature was performed, which included databases, EBSCO Host and B-on, and also the incorporation of other sources such as journal articles, academic literature, academic articles and institutional publications. Analyzing the results, it is obvious that the mobility of women in labor and adoption a position women are more comfortable it are favoring the maternal and fetal well-being, help to deal with pain, allow the assumption of women's autonomy, increase comfort and control over their body, E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 148 which results in an increase of their level of satisfaction with the labour. It is also evident that midwives have a high impact on women's decision regarding the choice of positions to labour. Keywords: Women, Mobility, Labor, Delivery Introdução O parto sempre foi, ao longo da História, um evento de extrema importância e envolto em emoções. O parto sem assistência médica especializada foi associado a elevadas taxas de mortalidade e morbilidade materna e neonatal; em resposta a esse facto, e com a evolução tecnológica e médica das últimas décadas, foi-se impondo uma assistência ao parto medicalizada e interventiva, destituindo a mulher do seu papel ativo e decisivo durante o trabalho de parto (TP). Em resposta a esta situação, muitas mulheres encaram o parto como um evento traumático, que provoca medo e insatisfação e sobre o qual não têm nenhum poder decisivo, perdendo a sua autonomia (PELO DIREITO AO PARTO NORMAL - OE, 2012). As elevadas taxas de cesarianas e partos instrumentais atuais tornaram-se uma preocupação. O PNS 2012-2016, tem como objetivo obter ganhos em saúde e promover contextos saudáveis ao longo da vida, pelo que considera como meta e um indicador a redução de taxa de cesarianas. É, portanto, de elevada importância para todos os profissionais que estão envolvidos no processo de nascimento e parto a consciência da necessidade de promover o parto normal. Com vista a minimizar os efeitos negativos na vida das mulheres, recém- nascido (RN) e famílias do parto medicalizado, várias entidades nacionais e internacionais têm desenvolvido projetos para o apoio e valorização do parto normal (PN). Em Portugal, diversos organismos, como a Ordem dos Enfermeiros (OE) e a Associação Portuguesa dos Enfermeiros Obstetras (APEO) elaboraram diversos documentos no sentido do incentivo e proteção ao PN. De acordo com o Código Deontológico do Enfermeiro (2005), temos o dever de zelar pelo exercício dessa liberdade e autonomia, respeitando as opiniões dos nossos clientes/utentes e capacitando a mulher/casal para que sejam capazes de exercer essa autonomia. Uma mulher/casal esclarecido, que conhece diversas formas de encarar o parto, pode tomar decisões com base em conhecimentos e de acordo com os seus valores e a forma de estar e ver a vida. Sendo a autonomia da mulher um valor ético a respeitar, a liberdade de movimentos, quando é da sua vontade e desejo, é não só o reconhecimento dessa mesma autonomia, como um meio de proteção e promoção do PN. Pelo contrário, o desenvolvimento da medicina e a consequente medicalização do parto promovem a E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 149 restrição de movimentos imposta pelo intervencionismo e tecnologia e anulam a autonomia da mulher. Métodos A pesquisa foi iniciada em Março de 2014 para identificar e delimitar a problemática e posteriormente foi iniciada a pesquisa livre em bases de dados científicas, como a EBSCO Host, páginas institucionais e motor de busca Google, que permite ter acesso a informação não só académica, mas também conhecer a opinião de outras classes profissionais, grávidas e mulheres que já experienciaram o parto. Posteriormente foi realizada uma revisão crítica da literatura, que contemplou as bases de dados, EBSCO Host e B-on, e também a incorporação de outras fontes, tais como artigos de revistas, livros e publicações académicas e institucionais. A questão de pesquisa foi definida a partir da análise dos pressupostos teóricos no sentido de aprofundar conhecimento e sistematizar a informação já existente. A pergunta foi formulada de acordo com o método PICo (Reviewer’s Manual, 2011 – JBI): Quais os resultados da liberdade de movimentos da mulher durante o trabalho de Parto? Em que: P (População) – Mulheres. I (Fenómeno de Interesse) – Resultados da liberdade de movimentos. Co (Contexto) – Parto normal em contexto hospitalar. Resultados As indicações e recomendações dos organismos que regulamentam o Parto Normal dão relevância à liberdade de movimentos durante o TP e à livre escolha da mulher. Em 1996, a OMS elaborou um documento, Care in a Normal Birth: a pratical guide (1996), onde indica as recomendações para o parto normal e onde explicita na Categoria A - Condutas que são claramente úteis e que deveriam ser encorajadas, a liberdade de Posições e Movimento durante o TP e o estímulo a posições não supinas durante o TP e o parto. É no âmbito do PN que o EESMO assume a responsabilidade pelo exercício das suas funções, proporcionando cuidados que estimulem o nascimento de forma normal, sem recurso a técnicas interventivas, desnecessárias, que podem provocar complicações. O Royal College of Midwives (RCM), no contexto do PN, lançou uma campanha pelo parto fora da cama “Getting of the bed”, onde explicita as vantagens das posições não supinas, auxílio da gravidade durante o nascimento e expõe possíveis posições a adotar. Em Portugal, organismos, como a OE e a APEO, elaboraram diversos documentos no sentido do incentivo e proteção ao PN. Em 2012, a OE emitiu um documento, Pelo direito ao parto normal – Uma visão Partilhada, onde indica a seguinte recomendação: No âmbito da prática clinica – Ponto 7 “ Fomentar práticas específicas, apoiadas na E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 150 evidência científica, benéficas na promoção do processo fisiológico do trabalho de parto, nascimento e pós-parto, incluindo apoiarem a liberdade de movimentos da mulher, oferecendo-lhe instrumentos que possibilitem a posição vertical”. A OE, no projeto Maternidade com Qualidade, emitiu um indicador de evidência, onde explicita claramente que o posicionamento em litotomia para o parto, como rotina, não deve ser incentivado, e que a melhor atitude é proporcionar à parturiente a livre escolha de posição para a dilatação e período expulsivo. Também a APEO, em colaboração com a Federación de Asociaciones de Matronas de Espanã (FAME), em 2008, elaboraram um documento de consenso, baseado em evidência científica e de acordo com as recomendações da OMS, onde é referido que a mobilidade em TP é facilitadora da evolução positiva do TP e proporciona conforto à parturiente; a deambulação e a liberdade de movimentos ajudam a mulher a lidar com a sensação dolorosa; a posição supina está contraindicada, pois exerce pressão na aorta-cava podendo comprometer o bem-estar materno e fetal; está ainda associada à diminuição da dinâmica uterina e a evidência sugere que quando a mulher alterna posições e adota posições verticais durante a dilatação sofre menos dor, tem menos necessidade de analgesia epidural, ocorrem menos alterações da FCF e há tendência para o encurtamento do tempo do 1º estádio do TP. A evolução do TP em diferentes posições tem uma história cultural e foi influenciada ao longo dos tempos pela ciência e pela cultura. Segundo Botell e Bermúdez (2012), atualmente a maioria das mulheres ocidentais pare em posições supinas em meio hospitalar. Esta posição permite ao médico controlar melhor o estado de feto e da mulher para assegurar um parto seguro, mas sobretudo para o seu conforto e bemestar, porque lhe permite estar sentado, ignorando que a forma tradicional de parir em posição vertical e em mobilidade, permite uma melhor adaptação da bacia óssea ao feto e uma evolução mais rápida do TP. Em oposição, a horizontalidade favorece a passividade da mulher face aos técnicos de saúde. Estes mesmos autores consideram que a conduta instintiva das mulheres na escolha da posição para parir está condicionada pelas normas sociais e culturais do local onde pare. Gupta (2004) refere que as posições não supinas em comparação com as supinas foram associadas a uma duração mais reduzida da 2ª etapa do TP, redução dos partos medicamente assistidos, diminuição de episiotomias, menos dor severa relatada pelas mulheres e menos padrões anómalos da FCF, mas por outro lado estas posições foram associadas a um aumento de lacerações de 2º grau e um aumento de 500cc de perda sanguínea. No entanto, este estudo considerou que os benefícios eram evidentes, sobretudo se for dada à mulher a oportunidade de escolha e se esta for encorajada a adotar a posição em que se sinta mais confortável, e que normalmente não resultam implicações nesta escolha. Este autor considera que a escolha adotada pela mulher em TP é influenciada por diversos fatores como o comportamento instintivo e as normas E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 151 culturais e que devemos trabalhar para construir um sistema de saúde com uma cultura de apoio de suporte à livre escolha da mulher na posição a adotar em TP. Segundo Nieuwenhuijze, M. J. et al (2013), as mulheres que tiveram a oportunidade de influenciar e decidir a posição para parir sentiram um maior controle sobre o nascimento dos seus filhos, o que reproduziu maior satisfação na experiência do parto, o que foi reiterado por Priddis, H et al (2012), que identificou benefícios físicos e psicológicos na escolha da posição para parir pela mulher. Thies-Lagergren, L. et al (2013) identificou, num estudo randomizado, que as parteiras estão conscientes do potencial impacto que as posições de nascimento têm na maneira como a mulher experiencia o nascimento e nos outcomes maternos e fetais. Este estudo revela que as posições verticais, quando são uma escolha da mulher, proporcionam um sentimento de empoderamento e maior satisfação, sendo por isso uma evidência de boa prática deixar a mulher escolher a posição que lhe é mais favorável. Lawrence A. et al (2013) refere que existe evidência de que caminhar e adotar posições verticais reduz o 1º estádio do TP, o risco de parto por cesariana e a necessidade de epidural, e que a mobilidade e a adoção de posições verticais não parecem estar associadas a efeitos negativos sobre as mães e os recém-nascidos. A livre escolha de posições durante o TP é um direito assegurado pelo Tribunal Europeu dos Direitos Humanos, que defende que “O direito à tomada de decisão sobre o tornar-se pai ou mãe, inclui o direito de escolha sobre a forma como se tornar pai ou mãe” e que “as opções para o parto/nascimento fazem parte incontestavelmente da privacidade de cada um” (OE, PARECER nº 51/2014), sendo que a atuação do EESMO deve ter em conta os sentimentos, desejos e expetativas da mulher acerca do seu parto e da forma como deseja que ocorra. Organizações internacionais como o Instituto Internacional Lamaze ou o Baby Center UK reforçam a importância da mobilidade e liberdade de movimentos durante o TP, incentivando as mulheres a exigirem o seu direito a esta escolha, reforçando que estas práticas favorecem o PN e diminuem intervenções desnecessárias. Referem ainda a importância de incluir o companheiro ou um acompanhante, como fator de suporte e apoio às mulheres em TP. Discussão/Considerações Finais O parto é um evento de extrema importância na vida da mulher, família e do RN, pelo que deve decorrer da melhor forma possível, proporcionando-lhe um papel ativo, onde possa tomar decisões autónomas e informadas e que resulte num momento seguro e de satisfação. O EESMO deverá ter um papel determinante na forma como a mulher experiencia este momento marcante da sua vida, proporcionando-lhe uma experiência de parto o mais gratificante possível, promovendo o PN, com o mínimo de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 152 intervenção e encarando o parto como um processo fisiológico da vida da mulher, em que esta tem o direito de exercer a sua autonomia. Referências Bibliográficas Associação dos Enfermeiros Obstetras e Federación de Asociaciones de Matronas de Espanã. INICIATIVA AO PARTO NORMAL – Documento de Consenso. (2009). Loures. Lusociência. Botell, ML; Bermúdez, MR (2012). 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No que pode ser um misto de necessidade, de responsabilidade ou até de modernidade, os homens têm procurado rentabilizar e/ou usufruir dos benefícios parentais/paternais previstos pela legislação em vigor e também dos recursos disponíveis de apoio para a sua transição para a paternidade, como o acompanhamento nas consultas e outros meios de vigilância da gravidez e a participação nos Cursos de Preparação para a Parentalidade (CPP). A participação nos Cursos de Preparação para a Parentalidade (CPP), revela-se um recurso acessível, capaz de promover o nascimento dos novos pais, seguros, envolvidos e empenhados neste seu novo papel. Empiricamente presume-se o impacto positivo da participação dos pais nos CPP, pelo que a sua observação em contexto de Bloco de Partos assim como a perceção das Enfermeiras Especialistas em Saúde Materna e Obstetrícia (EESMO) dinamizadoras dos CPP, constituem um contributo da prática diária. A Revisão Sistemática da Literatura reforça este contributo, promovendo o contínuo desenvolvimento do conhecimento que sustenta a Prática Baseada na Evidência. Palavras-chave: curso de preparação para a parentalidade; pai; competências Abstract The social, economic and family changes have developed an ever growing expectation that the man, after becoming a father, must be able to satisfy their children's needs. Progressively, he has taken on a more participatory role in the care taking and education of his descendants. During pregnancy, the pregnant women/couples feel the need to prepare for childbirth and parenting. In what might be a miscellaneous of necessity, responsibility or even modernity, man have been trying to make the best out of the parental/fatherly benefits foreseen by E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 155 the current legislation, as well as the available resources for supporting their transition to fatherhood, such as accompanying their wives doctor's appointments and other means of monitoring the pregnancy, and the participation in Antenatal Parenthood Education Classes (APEC). The participation in such courses has revealed itself as an accessible resource, capable of promoting the rising of new, confident and committed parents. Empirically, it is assumed the participation of parents in APEC has a positive impact. Its observation in delivery rooms and the perception of the Midwife Nurses, which are in charge of the APEC, are a contribution to everyday practice. The Systematic Literature Review supports this contributes, promoting the non-stop development of the knowledge that sustains Evidence Based Medicine. Keywords: Preparation courses to parenthood, father, competentions Introdução Com vista à obtenção de ganhos em saúde os Governos têm, entre outras medidas, criado vários programas nacionais de saúde específicos, entre os quais o programa nacional de saúde reprodutiva. Na dinamização e implementação destes programas, são mobilizadas equipas multidisciplinares, onde o enfermeiro assume um papel de excelência, pois é o profissional que tem o privilégio de contactar com maior proximidade e acompanhar as famílias e os indivíduos nos vários estádios do ciclo vital, nomeadamente durante a gravidez. O olhar atento do Enfermeiro Especialista em Saúde Materna e Obstetrícia aliado à mobilização sistemática das competências gerais e específicas que lhe são atribuídas, permite a identificação e observação de diversas situações que reforçam a perceção sobre a existência de mudanças individuais, familiares e sociais, nomeadamente no desempenho dos papéis de maternidade, paternidade e parentalidadee na forma como o pai se apresenta e se envolve durante todo o processo de gravidez, trabalho de parto e nascimento, o que vai ao encontro de Mendes (2009) que refere que recentemente se tem vindo a verificar uma aproximação dos papéis de género, evidenciando-se o surgimento de um pai mais envolvido e responsável tanto na gravidez e trabalho de parto como nos cuidados aos filhos. O Regulamento 127/2011 relativo à definição dasCompetências Específicas do ESMOG, prevê na competência H2.1.7 que o enfermeiro “concebe, planeia, coordena, supervisiona, implementa e avalia programas de preparação completa para o parto e parentalidade responsável”. A ênfase colocada neste domínio coloca o enfermeiro numa posição privilegiada para evidenciar um olhar crítico sobre a participação dos pais nos Cursos de Preparação para a Parentalidade, fundamentando os benefícios da sua presença e participação nestes cursos e, em simultâneo, validar a pertinência de os E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 156 incentivar a frequentar as sessões assim como aferir as temáticas mais pertinentes a abordar. Na sociedade portuguesa, até há pouco tempo e de acordo com Cordeiro (2013), esperava-se que homens e mulheres desempenhassem papéis bem diferentes, cabendo genericamente à mulher cuidar dos filhos e da casa e aos homens prover o sustento, pelo que ao longo dos tempos e nos diversos contextos socioculturais, a gravidez, o parto e o exercício da maternidade têm sido considerados como assuntos exclusivos da mulher. Na verdade, uma realidade que tem vindo a alterar-se. Ser mãe e/ou ser pai implica o desempenho de um novo papel, para o qual se deve estar preparado. A mudança de papéis como a Transição para a Parentalidade é um processo complexo, que é necessário conhecer e em que o Modelo Teórico de Meleis (1986) dá um enorme contributo. À luz deste Modelo, a transição para a parentalidade é vista como um processo dinâmico e exigente que abrange inúmeras dimensões, algumas mais restritas como as pessoais, conjugais e familiares, outras mais alargadas como as sociais e profissionais. Os CPP têm como principais objetivos, mais do que preparar a mulher do ponto de vista físico e psicológico para o parto e para a maternidade, o de promover o desenvolvimento de competências nos futuros pais para cuidar do RN. Identificados como um recurso fundamental, num momento de crise no ciclo vital, torna-se possível que os pais participantes nos CPP se sintam apoiados na sua definição das representações cognitivas e das tarefas a cumprir ao longo da gravidez, promovendo a sua confiança e disponibilidade na transição para a paternidade. Neste sentido, desenvolveu-se no contexto do curso de mestrado em enfermagem de saúde materna e obstetrícia um relatório no âmbito do estágio em sala de partos sobre a relação entre a frequência do CPP pelos pais e a sua capacidade/vontade de prestar cuidados ao RN nos primeiros dias de vida. Num primeiro momento, para explorar e melhor conhecer a situação problema, começou-se por observar os pais de primeira vez (que haviam participado no CPP) em contexto de bloco de partos, imediatamente após o nascimento dos seus filhos.Verificou-se a sua preocupação e envolvência com as mulheres/mães, assim como o cuidado e a dedicação ao recém-nascido (RN), nomeadamente o querer tocar e participar na prestação dos primeiros cuidados. Num segundo momento, a perspetiva evidenciada pelas observações realizadas foi complementadacom a informação obtidaatravés de entrevistas acinco enfermeiras ESMO que por serem dinamizadoras de CPP e por integrarem os pais nas dinâmicas das suas sessões, emitiram as suas perspetivas baseadas na experiência profissional e no feed-back que obtêm das mulheres e/ou casais durante o puerpério. A análise das entrevistas faz sobressair como ponto comum a preocupação das enfermeiras em envolver os pais em todo o processo de gravidez, trabalho de parto e parto e E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 157 responsabilidades parentais/paternais, concordando que os pais consideram importante o seu envolvimento. Objetivos Identificar o conhecimento sobre a temática emergente da área do conhecimento especializado em ESMO; Desenvolver competências no âmbito da Prática Baseada na Evidência. Metodologia Recorreu-se à Revisão Sistemática da Literatura na medida em que esta metodologia proporciona a obtenção de evidências e síntese de conhecimento de temas em saúde, a partir da seguinte pergunta no formato PIO “A participação dos pais (P)nos Cursos de preparação para a Parentalidade(I)tem impacto na sua capacitação para prestar cuidados ao Recém-Nascido (O)?”. A pesquisa realizada decorreu em 15 setembro de 2014, na plataforma EBSCOhost, nas bases CINAHL® Complete, MEDLINE® Complete e MedicLatina. Foi aplicado um friso cronológico situado entre setembro de 2009 e setembro de 2014. O Quadro 1 expõe os passos do processo de pesquisa desenvolvido, esquematizando a relação entre os acrónimos da pergunta de pesquisa, os critérios de inclusão e exclusão, as palavras-chave (com base nos descritores Mesh Browser) e a sua conjugação com a utilização dos boleanos AND e OR até à construção da expressão final de pesquisa. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 158 Quadro 1. Processo de pesquisa com base na pergunta PIO. Palavras-chave CRITÉRIOS (INCLUSÃO e EXCLUSÃO) P I O População de Quem interesse estudado? (Participantes) - Pais Intervenções Outcomes Critérios de inclusão - Estudos que integram a participação dos pais foi nos CPP Father Critérios de Exclusão - Estudos que não reportam a participação dos pais nos CPP Critérios de inclusão - Estudos de investigação cujas intervenções O que foi feito? abordam as dinâmicas dos Cursos de Preparação - Participação em para a Parentalidade Cursos de Critérios de Exclusão Preparação para a - Estudos que não reportam a participação dos Parentalidade. pais nos CPP Resultado, efeitos ou consequências das intervenções, isto é: as variáveis estudadas. EXPRESSÃO DE PESQUISA Prenatal Education OR Antenatal Education OR Antenatal Parenthood Education OR Childbirth Education OR Expectant Parent Classes Critérios de inclusão - Estudos cujos resultados refletem a participação dos pais nos Cursos de Preparação para a Parentalidade; - Interferência na prestação de cuidados aos seus filhos Recém-Nascidos. Skills OR Adaptation Critérios de Exclusão - Estudos que não refletem a relação da participação dos pais nos CPP com a sua perceção acerca dos mesmos. - Estudos que não integram a relação dos pais com os filhos Recém-Nascidos Prenatal Education OR Antenatal Education OR Antenatal Parenthood Education OR Childbirth Education OR Expectant Parent Classes AND Father AND Skills OR Adaptation Da pesquisa realizada resultaram 36 artigos. Após a leitura dos títulos e resumos na conjugação com os critérios de inclusão e exclusão, foram selecionados 12 artigos, que depois de lidos integralmente, resultaram na seleção de 2 artigos. Ambos têm origem na Suécia, sendo um do tipo descritivo e outro fenomenológico, com níveis de evidência V e VI. Resultados Ambos os estudos apresentam como uma das caraterísticas dos CPP a inclusão de duas temáticas distintas, mas, inevitavelmente, sequenciais e complementares – a preparação para o parto e a preparação para a parentalidade.Os homens aparentam estar mais expectantes que as mulheres na preparação para a parentalidade, sobressaindo a ideia de que uma abordagem simplista ou generalista não satisfaz os pais da atualidade, que ao serem e sentirem-se envolvidos em todo o processo de E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 159 parentalidade desde a gravidez, sentem necessidade de estar elucidados e preparados para prestar todo o tipo de cuidados ao RN. Com a análise dos artigos pode tirar-se a elação de que os pais expectantes,estão disponíveis para frequentar os CPP esperando sobretudo adquirir conhecimentos e capacitação para cuidar dos seus filhos, do mesmo modo que os pais que já experienciaram o contacto com os seus filhos, manifestam uma atitude positiva relativa à frequência do curso. Reforçam a necessidade de este ser mais direcionado aos pais, explorando sobretudo as situações que saem do mais comum (por exemplo cesarianas ou outras complicações do parto), para que se sintam capacitados para garantir a manutenção da relação da díade(considerando-a como fator essencial para o bem-estar da criança e da relação do casal). Das evidências que emergem em ambos os estudos, os homens consideram importante a sua envolvência nos CPP em todas as temáticas, manifestando necessidades mais relacionadas com as competências e/ou habilidades, do que em relação aos conhecimentos, procurando sentir-se mais seguros no desempenho da parentalidade. Discussão O homem tem necessidades muito específicas no que respeita ao seu processo de transição para a parentalidade. Estas necessidades estão intimamente relacionadas com as propriedades das transições identificadas por Meleis et al (2000):Consciência; Compromisso; Mudanças e diferenças; Tempo; Ponto Crítico ou Acontecimento. É determinante a prática clínica do EESMO que ao mobilizar as suas competências apoia o homem na integração destas propriedades. As evidências remetem para duas dimensões distintas: conhecimentos e competências. As necessidades manifestadas pelos pais especialmente dirigidas para a aquisição de competências parecem reforçar a dimensão da importância e dos benefícios, ou seja, o impacto que os CPP podem ter na sua capacitação para a prestação de cuidados. Emerge um reconhecimento de que é essencial a frequência dos cursos, para satisfação pessoal, exercício da parentalidade competente respondendo às necessidades do RN, ao respeito pela díade e pela tríade. Conclusão A observação dos pais e a perceção das enfermeiras ESMO levam-nos a crer que o homem atual procura adaptar-se a uma sociedade em mudança, onde o ajuste dos papéis relacionados com o desempenho da parentalidade é uma realidade cada vez mais presente. O interesse e o envolvimento dos pais durante a gravidez reforçam a E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 160 necessidade de um empenho cada vez maior do EESMO como profissional de excelência pelas competências que lhe são conferidas. Os CPP apresentam-se como uma resposta dinâmica potencialmente capaz de fazer face às necessidades dos pais no que diz respeito às suas expectativas relacionadas com a adaptação e desempenho da parentalidade. É necessário que se mantenha e/ou amplie a oferta de temas abordados nos CPP assim como a forma de os tornar eficientes na medida em que respondam às necessidades dos pais. Verifica-se que as expectativas e as necessidades divergem um pouco entre homens e mulheres, parecendo ser pertinente proporcionar momentos ou sessões nos CPP direcionadas especificamente aos pais que lhes permitam partilhar ansiedades, medos ou dúvidas. Comprova-se, assim, a necessidade de incentivar os homens a frequentarem os CPP como forma de promover a sua capacitação para a prestação de cuidados ao RN. Contudo, apesar de existirem preocupações governamentais que favorecem o desempenho parental, há ainda um percurso a fazer que permita aos pais sentirem-se totalmente apoiados e orientados para responderem às expetativas sociais, familiares e pessoais. Referências Bibliográficas Chick, N., Meleis, A. (1986). Transitions: a nursing concern. In Chinn, P. Nursing Research Methodology: Issues and Implementation, (pp. 237-257). Aspen: Rockville, MD. Meleis, A., Sawyer, L., Im, E., Hilfinger Messias, D. K. e Schumacher, K. (2000). Experiencing transitions: an emerging middle-range theory. Advances in Nursing Science, 23 (1), pp. 12-28. MeSH Browser, National Library of Medicine. http://www.nlm.nih.gov/mesh/MBrowser.html Disponível em REGULAMENTO nº 122/2011. Diário da Republica nº35 /2011-02-18 – 2ª Série E. Ministério da Saúde. Lisboa. 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Com ele perspetivámos contribuir para uma maior equidade na conciliação entre as esferas pública e privada. Foram utilizadas entrevistas não estruturadas que foram realizadas a 11 casais, pais de primeiros filhos em dois momentos diferentes. Os dados obtidos foram submetidos a análise de conteúdo. Foram detetados efeitos de género, ligados a concepções tradicionais da masculinidade e feminilidade. Iremos agora explorar esses dados, suportadas em “novos olhares”, dando pistas para novas possibilidade de investigação nesta área. Palavras-chave: Género, cuidar, paternidade Abstract This article aims to reflect in the dimensions of gender and care, by analyzing some data, from a qualitative research entitled "Fatherhood and care practices" (Oliveira, 2004), that seeks to identify caring practices of fathers during the first two months of their children’s lives and difficulties associated. We intended to contribute to reach more equity and conciliation between private and public domains. A semi-structured interview was used. The obtained data were subject to analysis of content. Gender effects were detected, which were justified by traditional concepts of masculinity and femininity. In this presentation we will mainly explore this data, helped with “new looks” on the topic, mobilized over work, giving clues to new possibilities of research in this area. Keywords: Gender, care, parenthood Introdução O Cuidar, enquanto fenómeno, universal, comum a todas as culturas (Leininger, 1998), implica uma contínua reflexão sobre a forma como este conceito tem sido apresentado social e culturalmente, percebendo como é que o sistema simbólico que E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 162 dicotomiza o masculino/feminino, resultou na dicotomia entre o cuidado e a autonomia (Clement, 1996). O género é um dos principais determinantes em saúde e um poderoso marcador social, podendo ser definido como o discurso social produzido sobre o nosso sexo biológico num contexto social e político determinado (Scott, 1990; Torres, 2002; Louro, 2008). Hoje parece mais correto falar-se em géneros, já que ser homem ou mulher sofre mudanças geracionais, sendo influenciado pela classe social, cultura e religião (Torres, 2002) e também porque tem sido crescente o questionamento sobre a polarização do clássico binómio masculino/feminino. Judith Butler (2004) salienta, a este propósito, a importância da validação social das características ditas femininas ou masculinas. Apesar de inicialmente os estudos sobre género terem sido centrados nas mulheres, assiste-se hoje a uma crescente problematização das questões sociais ligadas também à construção das masculinidades (DGS, 2008; Wall, 2010). O processo de socialização dos homens não integrava as práticas de cuidar, que eram centradas num “saber fazer” que atravessava, sobretudo, gerações de mulheres. Atualmente os homens intervêm numa série de atividades, com crescente protagonismo no domínio do cuidar. Para Watson o cuidar envolve “uma filosofia de compromisso moral direcionada para a protecção da dignidade humana numa intenção que se manifesta em atos concretos” (Watson, 2002:60). Exige responsabilidade e competência e logo pressupõe também uma dimensão moral e ética - a ética do cuidar (Clement, 1996). A situação das mulheres portuguesas é " sui generis " comparativamente ao cenário europeu, associando uma das mais elevadas taxas de emprego feminino (61,6%)1 a uma rede deficiente de equipamentos de apoio à primeira infância (Torres, 2002). Este fato faz com que as questões da maternidade sejam muito “pesadas” para as mulheres, desafiando a aquisição de novos modelos e representações sobre a parentalidade e a conjugalidade. A participação das mulheres portuguesas no mercado de trabalho acontece durante todo o ciclo de vida, com horários de trabalho a tempo inteiro e cujos salários são considerados indispensáveis para o orçamento familiar (Torres, 2002; Perista,2002). A ausência de uma verdadeira política familiar em Portugal, perpetua desigualdades sociais e de género, com impacto na saúde e qualidade de vida das mulheres (sobrecarga) e possivelmente, influenciando também as suas decisões reprodutivas. Metodologia O processo desenvolvido no estudo referido, visou descobrir estratégias para melhorar o cuidado aos casais nesta etapa do ciclo de vida familiar. A multiplicidade de modelos E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 163 conjugais e parentais orientou-nos para a procurara da experiência particular dos participantes, através da realização de entrevistas semi-estruturadas a onze casais (homens e mulheres separadamente - Maio/ Junho de 2003), pais de primeiro filh@s, em dois momentos diferentes - dois dias e dois meses após o parto. Os dados obtidos (44 entrevistas) foram submetidos a análise de conteúdo e tratados separadamente, sendo posteriormente cruzados, a fim de se explorarem as coincidências e as descoincidências dos testemunhos. Neste artigo foi aprofundada a reflexão dos dados relativos ao género, através da mobilização e discussão de nova evidência na área, mobilizada ao longo deste trabalho. Considerações Éticas Foram salvaguardados os princípios ético deontológicos definidos no Código Deontológico do Enfermeiro, nomeadamente o direito à informação e ao consentimento informado, à autodeterminação e à intimidade dos participantes. O anonimato e a confidencialidade dos dados fornecidos em dois momentos, por homens e mulheres, foram igualmente assegurados, preservando também o espaço individual de cada elemento do casal. Resultados e Discussão Foram detetados efeitos de género, nomeadamente uma preferência dos pais (homens) por bebés do mesmo sexo, o que foi justificado com concepções ainda tradicionais da masculinidade e feminilidade. Alguns discursos de homens e mulheres apontaram fatores essencialistas, centrados na natureza de homens e mulheres, como sendo a fonte de algumas das dificuldades sentidas pelos homens, havendo uma referência, quase constante, à questão do instinto maternal. Muitos homens relataram dificuldade em conciliar a sua atividade profissional com o cuidado aos filh@s e alguns referiram uma atitude demasiado " protetora " das mulheres. Muitas mulheres também remeteram para si a responsabilidade de envolver e motivar os homens para o cuidar, dando-lhes “espaço” e evitando protege-los demasiado, sugestões que vão ao encontro dos constrangimentos sentidos por alguns pais. A maioria dos homens referiu que não se encontravam preparados para o papel de cuidadores. No entanto, as instituições e os profissionais de saúde, nomeadamente os enfermeiros, não foram valorizados por estes, como uma suporte a mobilizar. Os homens valorizam o cuidar, observando que este promove a interação com o bebé e o ajuda a adaptar-se a um novo ambiente, sendo um meio de acompanhar o E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 164 desenvolvimento da criança e aprofundar a ligação entre ambos. Como mais valia para si próprios, é valorizada a sua autonomia enquanto pais. As práticas de cuidar são consideradas, por alguns homens, atividades que já integram a divisão que o casal faz das tarefas a realizar (embora nem sempre de forma sistematizada), o que parece manifestamente um contributo para a relação parental e conjugal e configura novos modelos de parentalidade. Como dificuldades associadas ao género, de salientar a atitude de quase interdição aos cuidados, verificada por parte de algumas mulheres, impedindo os homens de acederem a alguns cuidados (ou sendo desvalorizados, ou mesmo humilhados nas suas práticas). É como se a esfera do cuidar fosse simultaneamente um espaço de trabalho árduo, que urge ser partilhado (o trabalho do cuidar), mas também de privilégios de protagonismo (mothering2) do qual algumas mulheres não querem “abrir mão”. Parece também existir uma “hierarquia dos cuidados”, cabendo as tarefas mais difíceis (como fraldas sujas, ou choros mais difíceis de consolar), quase sempre às mulheres. Considerações Finais Atualmente, parecem coexistir diferentes modelos de paternidade, os quais oscilam entre representações ainda estereotipadas a outros que configuram já uma rotura com a paternidade tradicional (Torres, 2002; Oliveira, 2004; Freitas, 2007). Não obstante as múltiplas mudanças operadas nas ultimas décadas em Portugal, a saúde sexual e reprodutiva permanece uma área onde as mulheres continuam a ser representadas como as principais protagonistas do cuidar, inclusive pelos próprias enfermeir@s. De salientar a importâncias das representações sociais sobre o cuidar, por estes veiculadas, que podem condicionar o desenvolvimento de competências pelos pais. Envolver os dois membros do casal nos cuidados, ajudará a mudar a concepção tradicional da esfera privada, como um domínio exclusivo das mulheres e também significa o uso da ética da justiça nas relações familiares (as quais têm vindo a mudar significativamente). Continua a ser importante perguntar: em que medida o cuidar tem género? Existe uma efetiva valorização do trabalho de cuidar? È necessário continuar a construir novas representações e modelos sobre a paternidade, repensando a responsabilidade social de tod@as (Torres, 2002; Oliveira, 2004; Freitas & Silva, 2007). @s enfermeir@s que trabalham na área da saúde sexual e reprodutiva estão numa posição privilegiada para promover cuidados sensíveis ao género, através do incentivo à co-responsabilização e co-partilha de tarefas de cuidar pelos dois membros do casal, perspetivando uma sociedade mais justa e igualitária nos domínios público e privado. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 165 Referências Bibliográficas Butler, J. (2004). Undoing gender. New York: Routledge Clement, G. (1996). Care, autonomy and justice: feminism and the ethics of care: Colorado: Westview Press Freitas W., Coelho, E. & Silva, A. (2007). Sentir-se pai: a vivência masculina sob o olhar de género. Caderno de Saúde Pública, (23)1. DOI:10.1590/S311X2007000100015 Direção Geral de Saúde (2008). Saúde, sexo e género - factos, representações e desafios. Lisboa: D.G.S. Louro, G. (2008). Género e sexualidade: pedagogias contemporâneas. Proposições. 19(2). Acedido em Fevereiro, 2015. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/pp/v19n2/a03v19n2.pdf Oliveira, M. (2004). A paternidade e as práticas do cuidar: estudo exploratório nos dois primeiros meses após o parto. Dissertação de Mestrado. Apresentada na Universidade Aberta. Lisboa Perista, H (2002). 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Oeiras: Celta Editora 1 Europa 57,6% (Eurostat, 2009) 2 Cuidados de mãe (Máternage) E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 166 Parto com Massagem, Parto com Amor/Massage during Labor, Labor with Love Ana Margarida Leite da Costa – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Maria Anabela Ferreira dos Santos – Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Resumo A massagem durante o trabalho de parto tranquiliza a parturiente, aliviando a dor e a ansiedade e conduz de maneira satisfatória o trabalho de parto, culminando numa experiência de nascimento positiva. O objetivo desta revisão sistematizada da literatura foi perceber quais os efeitos da massagem promovida pelo EEESMO durante o trabalho de parto. De forma a procuramos evidência científica que desse resposta à pergunta norteadora de pesquisa, foram incluídos 11 estudos, publicados entre 2002 e 2014, pesquisados a partir de várias bases de dados. Os resultados sugerem que a massagem durante o trabalho de parto diminui a ansiedade e as reações de dor durante as fases latente, ativa e de transição, servindo também como um suporte psicológico benéfico para o trabalho de parto. A massagem promovida pelo EEESMO durante o trabalho de parto, para além de propiciar suporte físico e emocional, promove um processo de parto mais humanizado, ativo, natural e significativo, favorecendo uma vivência positiva na vida social e familiar da parturiente. Palavras-chave: Massagem; EEESMO; Trabalho de parto; Experiência de nascimento. Abstract During labor, the massage reassures the mother, relieving pain and anxiety, and leads to a satisfactory labor, culminating in a positive birth experience. The purpose of this systematic literate review is to understand the effects of a massage when promoted by the midwife during. In order to seek scientific evidence that responded to the guiding research question, we included 11 studies published between 2002 and 2014, surveyed from different scientific database. The results suggest that the massage during labor reduces anxiety and pain reactions during the latent, active and transition phases, also serving as a beneficial psychological support for labor. The massage promoted by the midwife during labor, provides physical and emotional support, promoting a more humanized active, natural and meaningful delivery process, favoring a positive experience in social and family life of the person in labor. Keywords: Massage; Midwife; Labor; Experience of birth. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 167 Introdução A realização deste trabalho surge pelo interesse sobre a temática da massagem durante o trabalho de parto e também, pelo fato de em Portugal não existir nenhum artigo científico a abordar exclusivamente a aplicação da massagem nesta fase da gravidez e especificamente promovida ou aplicada pelo Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia (EEESMO), como um dos métodos não farmacológicos para alívio da dor recomendados pela Organização Mundial de Saúde. A literatura justifica a pertinência da temática nomeadamente Porter (2004, p. 235) afirma que a “massagem é acessível e a satisfação materna é elevada”; Chang, Wang & Chen (2002, p. 68) referem que “a participação do companheiro na massagem pode influenciar positivamente a qualidade da experiência de nascimento da mulher” e McNabb, Kimber, Haines & McCourt (2006, p. 223), acrescentam que a “massagem e outras terapias complementares são altamente recomendadas para o alívio da dor no trabalho de parto, como uma alternativa aos métodos farmacológicos devido à sua associação com o aumento de intervenções obstétricas e efeitos adversos no feto e no neonato”. Efetivamente, a massagem é utilizada desde os tempos mais remotos e numa grande diversidade de culturas para comunicar, aliviar a dor ou o desconforto, de modo a facilitar o bem-estar físico e psicológico. Segundo o Conselho Internacional de Enfermeiros & Ordem dos Enfermeiros (2011, p. 98) massajar pode ser entendido como “um tipo de Manipular com as características específicas: pressionar e esfregar o corpo ou partes do corpo”. Rich (1994, p. 6) refere que qualquer pessoa pode aplicar a massagem e que facilmente em uma única sessão se pode facilmente aprender os seus movimentos básicos. Quem a aplica vai sentido o caminho a seguir pois baseia-se no instinto humano, de dar alívio e conforto a outra pessoa, através do tato. Massajar constitui um tranquilizante natural e um dos meios mais rápidos para relaxar. A autora reforça a ideia de que qualquer dor ou tensão em qualquer parte do corpo encontram instantânea melhoria depois da aplicação correta da massagem. Sendo assim, e seguindo esta lógica de ideias, a massagem no trabalho de parto torna-se extremamente importante na medida em que pode ser muito eficaz quando acontece entre o próprio casal. O acompanhante deve lembrar-se de que todas as massagens destinadas ao trabalho de parto devem ser feitas com a mão relaxada (portanto, deve tentar manter-se calmo durante o trabalho de parto) e a mulher deve sempre lembrarse de relaxar em função das mãos que massajam, para que este tipo de assistência se torne uma atividade em conjunto e não algo a que ela se submeta passivamente (Kitzinger, 1995, p. 140). Lowdermilk & Perry (2006, p. 366) acrescentam que “a massagem da cabeça, mãos, costas e pés pode ser muito eficaz na redução da tensão e no aumento do conforto. A massagem da mão e do pé pode ser especialmente relaxante no trabalho de parto avançado, quando a hiperestesia limita a tolerância da mulher ao toque noutras partes do seu corpo”. Também as mesmas autoras defendem que durante a gravidez a mulher e o companheiro devem ser incentivados a experimentar diferentes tipos de massagem para descobrirem qual a melhor e mais E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 168 relaxante para o trabalho de parto. Relativamente ao Regulamente das Competências Específicas do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna, Obstétrica e Ginecológica e relacionando-o com a temática em questão, a Ordem dos Enfermeiros (2010, p. 5) enuncia como uma competência específica do EEESMOG “cuida a mulher inserida na família e comunidade durante o trabalho de parto” e como critério de avaliação “garante um ambiente seguro durante o trabalho de parto e parto” bem como “concebe, planeia, implementa e avalia intervenções de promoção de promoção do conforto e bem-estar da mulher e conviventes significativos. Também o critério de avaliação “concebe, planeia, implementa e avalia intervenções adequadas à evolução do trabalho de parto (…)” se adequa visto que a massagem poderá ajudar a mulher a quebrar o ciclo de adrenalina de medo-tensão-dor (Hotteling, 2009, p. 46). Por outro lado, a Confederação Internacional de Parteiras, no seu documento de Competências Essenciais para o Exercício Básico da Profissão de Parteira (2010) refere que a parteira tem competência e/ou capacidade para “disponibilizar (…) medidas não farmacológicas de conforto durante o trabalho de parto e parto” e entendimento sobre “medidas de reconforto na primeira e segunda fases do trabalho de parto (por exemplo, presença presença/apoio da família, posicionamento para o trabalho de parto e o parto, hidratação, apoio emocional, métodos não farmacológicos de alívio da dor)”. Por último, a massagem durante o trabalho de parto pode ser realizada em todo o corpo desde que a parturiente se sinta confortável para recebê-la (Bavaresco, Olah de Souza, Almeica, Sabatino & Dias, p. 3264). Métodos A revisão sistemática usa uma metodologia explícita para selecionar, identificar e avaliar criticamente estudos relevantes (Holly, Salmond, & Saimbert, 2012). Assim sendo, utilizamos a metodologia da questão PICo para elaborar a questão orientadora: Quais os efeitos da massagem promovida pelo EEESMO na mulher em trabalho de parto? Identificamos como P (Participantes) - Mulheres em trabalho de Parto, I (Fenómeno de Interesse) - Massagem promovida pelo EEESMO e Co (Contexto) – Bloco de partos. Os elementos acima apresentados ajudaram a definir os termos de pesquisa: Massage, Labor, Childbirth e Midwives. Segundo Fortin (2009), “qualquer investigação implica um exame seletivo da documentação que se relaciona com o problema de investigação”. Assim, ainda na descrição do protocolo, e com o intuito de limitar a pesquisa ao objetivo de interesse, foram definidos os critérios de inclusão e de exclusão a aplicar aos estudos encontrados na pesquisa. Critérios de inclusão: artigos entre 2002-2014; artigos publicados em inglês, francês e português; artigos com pertinência face à questão PICo e aos objetivos traçados; artigos científicos; artigos com trabalho empírico; artigos de peritos; critérios de exclusão: artigos sem Full Text disponível; artigos repetidos; artigos que abordavam simultaneamente vários métodos não farmacológicos. Com base no protocolo, a pesquisa foi realizada durante E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 169 o mês de março de 2014 até ao mês maio de 2014, através dos motores de busca EBSCOhost com seleção das bases de dados CINAHL Plus with Full Text, MEDLINE with Full Text, Biblioteca do Conhecimento Online (b-on), PubMed, ScienceDirect e Google Académico, utilizando e conjugando os termos relacionados/retirados da questão PICo. Foi utilizada a pesquisa booleana nos motores de busca, com AND e OR para conjugar os descritores das respetivas bases de dados. Os 370 artigos encontrados nas pesquisas foram triados e sujeitos a análise da sua elegibilidade através dos critérios de inclusão/exclusão, tendo-se revelado pertinente a pesquisa de 1 texto completo, encontrado através do motor de busca do Google e que não se encontrava disponível em texto integral na CINHAL Plus with Full Text. Foram selecionados para a presente revisão 11 textos após submissão aos critérios do protocolo, que revelaram maior evidência e pertinência face à questão PICo (Quadro 1). Discussão dos Resultados O estudo de Chang, Wang & Chen, 2002, mostrou diminuição da ansiedade e das reações de dor durante as fases latente, ativa e de transição, no grupo de mulheres que receberam massagem, servindo também como um suporte psicológico benéfico para o trabalho de parto. A participação do companheiro na realização da massagem contribuiu consideravelmente para o bem-estar e satisfação das parturientes. Chang, Chen & Huang, 2006, mostraram em outro estudo, que apesar de a massagem não alterar as caraterísticas de dor vivenciadas pela mulher, torna-se significativa no alívio da severidade da dor entre os 3 e os 7 cm de dilatação cervical. Para além disso, a massagem foi vista como uma forma de enfermeiros e outros cuidadores ajudarem as mulheres a enfrentar a experiência de dor do trabalho de parto. Um estudo de McNabb, Kimber, Haines & McCourt, 2006, mostrou que apesar de os níveis de cortisol não serem diferentes entre os grupos que receberam massagem e os que não receberam, a dor foi muito menor 90 minutos após o nascimento, verificando-se assim, o efeito benéfico e prolongado da massagem na perspectiva de dor da parturiente também no puerpério imediato. Karami, Safarzadeh & Fathizadeh, 2007, vêm acrescentar um dado de extrema importância à problemática que é a duração do trabalho de parto. De fato, para além de se verificar em comum com os outros estudos a redução da intensidade da dor no primeiro estádio do trabalho de parto, verificou-se também uma diminuição da duração do primeiro estádio em cerca de 420 minutos, o que é muito significativo. Sobre a importância da parteira, Haines & Kimber, 2007, referem que estas apoiam e cuidam de forma individualizada as mulheres para satisfazer os seus desejos. Acrescentam que a progressão do trabalho de parto é facilitada pelo direito de escolha de posições verticais pela mãe e a utilização da massagem como uma forma de enfrentar a dor. Defendem que massagem seja aplicada até ao nascimento do bebé e que as técnicas de massagem sejam ensinadas ao companheiro para que a parteira possa atender o emergente nascimento do bebé. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 170 Sendo assim, segundo a opinião das autoras, a massagem é benéfica em todos os estádios do trabalho de parto. Kimber, McNabb, McCourt & Brocklehurst, 2008, referem que a massagem regular com técnicas de relaxamento, promovida ou aplicada pela parteira, do final da gravidez ao nascimento é uma estratégia de alívio da dor aceitável. Kimber, McNabb, Thomas, Sham, Sing & Lee, 2011, relataram o processo de implementação de um programa de massagem em Hong Kong, que foi iniciado para oferecer às mulheres uma intervenção não farmacológica para alívio da dor durante o trabalho de parto. Este artigo tem interesse na medida em que poderia abrir horizontes para que a mesma ideia fosse implementada nas maternidades portuguesas. De fato, verificou-se que a maioria das mulheres teve experiências positivas na utilização da massagem durante o trabalho de parto. Proporcionou também alívio da dor e apoio psicológico. Um resultado interessante foi o fato de as parteiras referirem que a massagem também aumentou a sua satisfação no trabalho de parto pois construíram uma relação de confiança mais efetiva com os clientes. Mortazavi, Khaki, Moradi, Heidari & Rahimparvar, 2012, mostraram também a redução da dor, da ansiedade e o aumento dos níveis de satisfação materna, o que vem corroborar os resultados também encontrados por alguns autores já citados anteriormente. Referem também a redução da fase ativa do trabalho de parto, medida em horas, mas não fazem referência ao número concreto. Hosseini, Asadi & Zareei, 2013, também mostram que a massagem terapêutica diminui a duração do trabalho de parto e o nível da hormona cortisol. A razão provável é que a massagem pode reduzir o stress e o nível de cortisol e por sua vez aumentar a atividade uterina pela diminuição da ansiedade. Desta forma, mostraram que as parteiras devem utilizar a massagem como um método adequado para reduzir a duração do trabalho de parto, tanto quanto possível, por forma a evitar complicações para a mãe e feto. Gallo et al., 2013, referem, tal como em outros estudos, que a massagem alivia a severidade da dor durante o trabalho de parto, no entanto sem alterações nas suas características e localização. Por último, a inclusão do estudo de Joseph & Fernandes, 2013, teve a ver com o objeto de estudo mas também com a particularidade de incluir um óleo de massagem e o seu efeito na intensidade da dor. Assim sendo, os autores mostraram que o óleo de jasmim utilizado na massagem provou reduzir a dor durante o trabalho de parto, havendo uma diferença significativa na severidade da dor durante o primeiro estádio do trabalho de parto. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 171 Quadro 1. Estudos que constituíram a amostra. Autor/Ano Tipo de Estudo/Nível de Evidência Chang, Wang & Chen 2002 Quantitativo Nível 1 Métodos Objetivo do Estudo Resultados e Conclusões 60 Primíparas foram aleatoriamente distribuídas pelo grupo experimental e pelo grupo de controlo. O grupo experimental recebeu massagem e o de controlo não recebeu. Foi aplicada the nurse-rated present behavioral intensity (PBI) scale para avaliar manifestações comportamentais de dor e the visual analogue scale para avaliar a ansiedade. Investigar os efeitos da massagem na dor e na ansiedade durante o trabalho de parto. A massagem é uma intervenção de enfermagem eficaz, que pode diminuir a dor e a ansiedade durante o trabalho de parto; a participação dos companheiros na massagem pode influenciar positivamente a qualidade da experiência de nascimento das mulheres. 60 Primíparas em trabalho de parto foram aleatoriamente distribuídas para o grupo de massagem e para o grupo de controlo e testadas através da aplicação the self-reported ShortForm McGill Pain Questionnaire (SF-MPQ) nas 3 fases de dilatação cervical: fase 1 dilatação (3-4 cm); fase 2 dilatação (5-7 cm) e fase 3 dilatação (8-10 cm). O grupo de massagem recebeu cuidados de enfermagem padrão e massagem, ao contrário do grupo de controlo, que apenas recebeu cuidados de enfermagem padrão. Descrever as características da dor durante o trabalho de parto com e sem massagem. Os resultados do estudo indicam que apesar de a massagem não alterar as características da dor experienciadas pela mulher em trabalho de parto, pode efetivamente diminuir a intensidade da dor na fase 1 e 2 da dilatação cervical durante o trabalho de parto. Enfermeiros e cuidadores deveriam considerar a utilização da massagem para ajudarem as mulheres a enfrentarem a dor do trabalho de parto. & Para detetar qualquer efeito da massagem aplicada pela parteira durante o trabalho de parto, no cortisol materno e nas catecolaminas, foi colhido sangue venoso do cordão umbilical para medir as suas concentrações plasmáticas após o parto. Medir os efeitos de um programa de massagem na perceção da dor materna durante o trabalho de parto e parto. Amostras de sangue do cordão umbilical foram colhidas para investigar se a massagem regular durante o trabalho de parto tem qualquer influência no cortisol, ou nos níveis de catecolaminas imediatamente após o parto. Os valores de cortisol são semelhantes para mulheres que não receberam massagem durante o trabalho de parto, no entanto, as pontuações de dor na visual analogue scale foi significativamente menores aos 90 minutos após o nascimento, do que as pontuações registadas 2 dias após o parto. Karami, Safarzadeh & Fathizadeh 2007 Quantitativo Nível 1 60 Primíparas foram aleatoriamente distribuídas pelo grupo de massagem terapêutica e pelo grupo de controlo. A severidade da dor foi medida através da visual analogue scale (VAS) e os questionários preenchidos aos 4, 8 e 10 cm de dilatação cervical. Avaliar os efeitos da massagem terapêutica na severidade da dor do trabalho de parto. A severidade da intensidade da dor no 1.º estádio de trabalho de parto foi significativamente diferente entre o grupo experimental e o grupo de controlo, no início da fase ativa, final da fase de transição e final do 1.º estádio. Também a duração do 1.º estádio de trabalho de parto foi diferente entre o grupo experimental e o grupo de controlo (mais de 420 minutos para o grupo de controlo). Haines & Kimber 2007 Opinião de Peritos Nível 4 The LK Massage Programme® é dependente de três elementos principais: técnicas específicas de massagem nas costas, braços e pernas, articuladas com a respiração rítmica e com a visualização de um ambiente físico propício e uma compreensão da resposta neuro endócrina à massagem e como se relacionam com as naturais mudanças na gravidez e no parto. O objetivo deste programa de massagem é reverter a perda de confiança dos casais na capacidade do nascimento ocorrer sem intervenções obstétricas e capacitá-los com estratégias simples e fáceis de aprender para que estas possam ser transferidas para uma variedade de definições de nascimento. O programa dá ao parceiro um papel ativo e este torna-se parte integrante do processo de nascimento. A massagem é aplicada até o nascimento do bebé e as técnicas de massagem são ensinadas ao companheiro para que a parteira possa atender o emergente nascimento do bebé. O programa mostra que a maioria das mães tem um parto fisiológico, seguindo o seu corpo e com pouco esforço, verificando-se uma redução do stress e o aumento da oxigenação fetal durante o trabalho de parto. Chang, Chen & Huang 2006 Quantitativo Nível 1 McNabb, Kimber, McCourt 2006 Quantitativo Nível 1 Haines (Continua) E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 172 (Continuação) Autor/Ano Tipo de Estudo/Nível de Evidência Kimber, McNabb, McCourt & Brocklehurst 2008 Quantitativo Nível 1 Métodos Objetivo do Estudo Resultados e Conclusões O estudo incluiu três ramos: intervenção (programa de massagem com técnicas de relaxamento), placebo (música com técnicas de relaxamento) e de controlo (tratamento habitual). Foi oferecida uma estratégia não farmacológica ao grupo placebo para garantir que a utilização da massagem foi a única diferença entre os grupos de intervenção e placebo. Testar os efeitos de um programa de massagem aplicada durante as mudanças fisiológicas do limiar da dor, desde o final da gravidez até ao nascimento, na dor referida pelas mulheres, avaliada pela visual analogue scale (VAS) até 90 minutos após o nascimento. Os resultados sugerem que a massagem regular com técnicas de relaxamento, promovida ou aplicada pela parteira, do final da gravidez ao nascimento é uma estratégia de alívio da dor aceitável. Kimber, McNabb, Thomas, Sham, Sing & Lee 2011 Opinião de Peritos Nível 4 Relatório que resume os dois primeiros anos de um projeto que uniu parteiras de Inglaterra e parteiras de Hong Kong em uma intervenção inicialmente destinada a casais ingleses. O programa foi posteriormente adotado por duas maternidades de Hong Kong e aplicado por parteiras, com um declínio da utilização de analgesia farmacológica. Relatar o processo de implementação de um programa de massagem em Hong Kong, que foi iniciado para oferecer às mulheres uma intervenção não farmacológica para alívio da dor durante o trabalho de parto. Em Hong Kong o programa de massagem é aplicado em todos os casais cujas mulheres entram em trabalho de parto, com um impacto significativo na redução da duração do trabalho de parto e na utilização de analgesia farmacológica. Mortazavi, Khaki, Heidari & Rahimparvar 2012 Quantitativo Nível 1 As participantes foram divididas aleatoriamente em três grupos iguais: grupo de massagem, grupo com presença de acompanhante e grupo de controlo (40 em cada grupo). A dor do trabalho de parto foi medida através da Selfreported present pain intensity (PPI) scale; A ansiedade foi medida através da standard visual analog scale (VAS). nvestigar os efeitos da massagem (aplicada por parteiras) e da presença de um acompanhante na dor, ansiedade e satisfação durante o trabalho de parto. O grupo de massagem teve menor dor e menor nível de ansiedade nas três fases quando comparado com o grupo de controlo; A análise dos níveis de satisfação mostrou valores mais elevados nas quatro fases do grupo de massagem comparativamente com o grupo de controlo e com o grupo com acompanhante; A duração da fase ativa foi menor no grupo de massagem. As participantes foram divididas em dois grupos iguais e aleatórios. O grupo experimental na fase ativa (dilatação 3-4 cm) para a fase transição (dilatação 810 cm) recebeu massagem terapêutica. A massagem foi feita por 10 minutos com 10 minutos de descanso entre as séries. 46 Mulheres com idade gestacional superior a 37 semanas, com um feto, que entraram espontaneamente em trabalho de parto, 4-5 cm de dilatação, membranas ovulares intactas e sem utilização de medicação após a admissão no hospital. Investigar os efeitos da massagem terapêutica na progressão do trabalho de parto nos níveis plasmáticos de cortisol, nas nulíparas em trabalho de parto. As parteiras devem utilizar a massagem como um método adequado para reduzir a duração do trabalho de parto, tanto quanto possível, por forma a evitar complicações para a mãe e feto. Investigar se a massagem alivia a dor na fase ativa do trabalho de parto A massagem alivia a severidade da dor durante o trabalho de parto, no entanto, sem alterações nas suas características e localização. 40 Primíparas, aleatoriamente divididas em igual número para o grupo experimental e para o grupo de controlo. Foram entrevistadas e aplicada a visual analogue scale (VAS). Investigar a efetividade do óleo de massagem de jasmim na dor de trabalho de parto no primeiro estádio do trabalho de parto O óleo de jasmim utilizado na massagem provou reduzir a dor durante o trabalho de parto, havendo uma diferença significativa na severidade da dor durante o primeiro estádio do trabalho de parto A massagem é um método não farmacológico de alívio da dor que pode ser aplicado pela parteira com segurança no trabalho de parto. Hosseini, Asadi & Zareei 2013 Quantitativo Nível 1 Gallo et al. 2013 Quantitativo Nível 1 Joseph & Fernandes 2013 Quantitativo Nível 1 Moradi, E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 173 Conclusão O EEESMO é o profissional de saúde que dispõe de todo o conhecimento para fornecer este suporte de forma eficiente e segura, priorizando métodos não farmacológicos no alívio da dor no trabalho de parto e especificamente em relação à massagem, promover a sua aplicação junto do acompanhante da grávida de forma a tornar a sua participação mais ativa e assim contribuir com um cuidado especializado para uma experiência significativa de nascimento. Porém, e verificando-se que não existe nenhum trabalho em Portugal sobre a sua aplicação em salas de parto, desde que desejado pela parturiente, leva a crer que é ainda um método pouco utilizado nas maternidades, prevendo-se que ainda um longo caminho a percorrer até que seja um método efetivo a ser utilizado pelos EEESMO, de modo a que todas as mulheres tenham acesso a um atendimento obstétrico mais acolhedor e humanizado, que supra todas as suas necessidades e escolhas, respeite a individualidade e garanta satisfação para a família que acaba de aumentar. Desta forma, e indo ao encontro do indicador de evidência da Ordem dos Enfermeiros (2013) sobre a promoção e aplicação de medidas não farmacológicas no alívio da dor no trabalho de parto e parto, e relacionando-o especificamente com a massagem, a sua promoção e aplicação deve ter em conta o tipo de dor sentida, o padrão comportamental de resposta à dor de cada parturiente e as suas expetativas. Deve proporcionar-se à mulher em trabalho de parto, preferencialmente durante o acolhimento no bloco de partos, informação sobre os métodos farmacológicos e não farmacológicos disponíveis no alívio da dor para assim poder escolher livremente. Sendo a massagem um método económico e de fácil acesso, sugere-se ainda que em cada sala de partos exista informação sobre este e outros métodos e material adequado e disponível para ser utilizado na massagem. Para além disso, e conforme os estudos analisados, a aplicação de massagem durante 30 minutos aquando das contrações uterinas, durante o primeiro estádio do trabalho de parto seria o tempo recomendável para melhores resultados, utilizando uma variedade de técnicas de massagem. No entanto, e quando aplicada pelo acompanhante da parturiente, pretende-se que o EEESMO seja capaz de promover e de ensinar técnicas de massagem de fácil execução, para que pessoa que a executa se sinta confortável na sua aplicação, dando também liberdade à intuição do toque humano. Referências Bibliográficas Bavaresco, G. Z., Olah de Souza, R. S., Almeica, B., Sabatino, J. H. & Dias, M. (2011). O fisioterapeuta como suporte à parturiente. Ciência & Saúde Coletiva, 16 (7), 3259-3266. Chang, M-Y., Wang, S-Y., & Chen, C-H. (2002). Effects of massage on pain and anxiety during labour: a randomized controlled trial in Taiwan. Journal of Advanced Nursing, 38 (1), 68-73. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 174 Chang, M-Y., Chen, C-H & Huang, K-F. (2006). A comparison of massage effects on labor pain using the McGill Pain Questionnaire. Journal of Nursing Research, 14 (3), 190-197. 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E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 176 A Experiência Vivida das Mulheres Submetidas a Tratamentos de Fertilidade – Uma Revisão Sistemática da Literatura/The Experience Lived by Women Undergoing Fertility Treatments – A Systematic Literature Review Ângela Coelho da Costa – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Cláudia Mourato – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Diogo Mata – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Milene Amador – 5 º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, [email protected] Resumo Desde a antiguidade que a infertilidade é sentida como um problema, mas até há cerca de 50 anos como feminino. Atualmente é sentida e vivida pelas mulheres como um evento traumático. Quando se deparam com a impossibilidade de ter filhos e com a necessidade de recorrer a tratamentos de fertilidade muitas são as dificuldades encontradas. O objetivo deste trabalho é conhecer a experiência vivida das mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade. Foi realizada uma RSL sobre a experiência vivida das mulheres, submetidas a tratamentos de fertilidade, tendo como critério de inclusão: estudos qualitativos, publicados entre 2004 e 2013 e que reproduzissem apenas a experiência das mulheres. Obtivemos como resultados que as mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade vivenciam uma complexidade de sentimentos, que vão desde a tristeza, dúvida, angústia à esperança. Ser mãe é um objetivo de vida, enraizado na sua história de vida. Quando os tratamentos não são bem-sucedidos, as mulheres sentem a necessidade de se restruturar psicologicamente. Da análise dos resultados, foi evidente a necessidade de continuidade de investigação sobre as vivências das mulheres no processo de infertilidade, sobretudo na compreensão das repercussões na vida do casal, sendo que o enfermeiro, como profissional próximo na prestação de cuidados, pode ter um papel preponderante e melhorar a sua práxis. Palavras-chave: Infertilidade, experiência, mulher, tratamento. Abstract Since ancient times infertility has been perceived as a problem, however up until around 50 years ago, it was an exclusively female problem. Currently it is felt and experienced by women as a traumatic event, faced with the inability to have children and the need for fertility treatments, many difficulties need to be dealt with. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 177 Objective: Understand what women undergoing fertility treatments experience. Method: Perform a systematic review of the literature on the experience of women undergoing fertility treatments, with the following inclusion criteria: studies published between 2004 and 2013, and regarding only the experience of women. Research Strategy: Conducted research in CINAHL, Medline and SciELO Portugal and Brazil electronic databases, in December 2013, allowing us to select 9 articles that constituted the core of our analysis. Results: Women undergoing fertility treatments experience a complexity of feelings ranging from sadness, doubt, grief to hope. Being a mother is a life goal, rooted in their life story. When treatments are not successful, women feel the need to restructure psychologically. Conclusions: Analyzing the results, it was evident the need for further research on the experiences of women in the infertility process, particularly in understanding the impact on the lives of the couple, the close contact maintained when providing care can give professional nurses a major role and improve their practice. Keywords: Infertility, experience, woman, treatment Introdução Após séculos onde se considerou a infertilidade como exclusivamente feminina, a perceção do envolvimento masculino na infertilidade surge apenas durante os últimos cinquenta anos. Por outro lado, não parecem existir dúvidas de que são as mulheres as mais afetadas física e psicologicamente pelo recurso às técnicas de Procriação Medicamente Assistida (PMA) (mesmo nos casos em que a infertilidade é masculina, são as mulheres que se submetem às mais diversas intervenções), a mulher experiencia muito mais sintomas, independentemente da causa da infertilidade ser sua ou do parceiro, o que justifica o nosso intuito de estudar e nos debruçarmos sobre as vivências das mulheres. (Cordeiro, M.&Gomes, J., 2013) De acordo com Cordeiro e Gomes (2013), milhões de pessoas em todo o mundo vêm dificultada a possibilidade de constituírem descendência devido a problemas de fertilidade. Esta situação tem repercussões muito negativas no bem-estar dos indivíduos, podendo desencadear sentimentos de perda, falha, exclusão e várias reações emocionais, entre as quais se destaca a ansiedade. Segundo a OMS, infertilidade é a incapacidade de engravidar após um ano de tentativas desprovidas de proteção, ou a incapacidade de levar a termo mais de duas gravidezes consecutivas, tendo sido considerada como um importante problema de saúde pública, em todo o mundo. Em Portugal, a infertilidade continua a não ter a visibilidade que lhe é devida, não parecendo haver a consciencialização desta doença como um problema. Os dados existentes sobre esta temática são muitos escassos. Em 2009, foi realizado o Estudo E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 178 Afrodite, que permitiu a caracterização da infertilidade em Portugal, sendo que “em Portugal a prevalência da infertilidade ao longo da vida situa‐se entre os 9 e os 10% e não se verificam diferenças regionais de prevalência.” (Estudo Afrodite, 2009, p. 57-58) A presente RSL tem como objetivo perceber a experiência vivida pelas mulheres submetidas a tratamentos de infertilidade, de modo a dar resposta às seguintes questões: Quais as repercussões dos tratamentos de fertilidade na vida da mulher? Quais os sentimentos vivenciados pela mulher, relativamente à infertilidade? De que modo é percebida e valorizada a relação com os profissionais de saúde? Qual o papel do EESMO face à mulher submetida a tratamentos de fertilidade? Métodos A questão de pesquisa foi definida a partir da análise dos pressupostos teóricos no sentido de aprofundar conhecimento e sistematizar a informação já existente. A pergunta foi formulada de acordo com o método PICo (Reviewer’s Manual, 2011 – JBI), assim como a definição dos critérios de exclusão e inclusão. Definiu-se então: Qual a experiência vivida das mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade? Em que: P (População) – Mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade; I (Fenómeno de Interesse) – Experiência vivida; Co (Contexto) – Infertilidade. Foi realizada pesquisa nas bases de dados eletrónicas CINAHL, Medline e SciELO Portugal e Brasil, em Dezembro de 2013, com um intervalo temporal de 10 anos e como critérios de inclusão: estudos qualitativos, em inglês ou português, com acesso pelas bases de dados da ESEL e em que as participantes fossem mulheres inférteis submetidas a tratamentos de fertilidade, o que permitiu selecionar 9 artigos que constituíram o núcleo da nossa análise. Resultados As mulheres participantes nos estudos apresentavam idades compreendidas entre 25 e 48 anos de idade, sendo de diferentes estratos sociais, contextos culturais, e crenças religiosas diversas, provenientes de diferentes países tais como, Suécia, Irão, EUA, China, Brasil e Portugal. Os estudos relatam distintos momentos da experiência vivida pelas mulheres no processo de infertilidade e submetidas a tratamentos de fertilidade. Focam dois tipos de vivências associadas à infertilidade: mulheres que foram submetidas a vários tratamentos de fertilidade e não obtiveram sucesso e mulheres que passaram por estes tratamentos e alcançaram sucesso, acabando por conseguir engravidar. As mulheres que se submeteram aos tratamentos e não conseguiram engravidar vivenciaram sobretudo sentimentos de tristeza, perda de esperança, frustração, choque, descrença, cansaço, desgaste físico, psicológico, conjugal e económico, E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 179 esperança, dúvida, ansiedade, desespero, isolamento, vulnerabilidade e, em culturas mais fundamentalistas, constatou-se ainda a violência física e psicológica. O desejo da maternidade é comum a todas estas mulheres, sendo mesmo um objetivo de vida por parte das mesmas e quando confrontadas com a infertilidade geram sentimentos que põem em causa a sua identidade enquanto esposa e mulher. O outro grupo de mulheres, as que conseguiram engravidar, após os tratamentos, apresentaram sobretudo sentimentos de esperança, mas associado ao medo de não conseguir levar a gravidez até ao termo. Acreditar na possibilidade de ser mãe após a vivência de um período de infertilidade é um desafio para estas mulheres. A gravidez após o processo de infertilidade leva a que as mulheres necessitem de fazer uma reorganização da sua identidade, da relação com o seu parceiro, família e amigos. Outro dos aspetos focados nos estudos analisados é a relação com o enfermeiro. Ao qual algumas das mulheres dão especial ênfase, referindo nos vários estudos que seria importante que os mesmos estivessem mais despertos e sensibilizados para os aspetos psicológicos relacionados com a infertilidade. Os enfermeiros deveriam possuir como características: estar disponível, ter capacidade de comunicar, mostrar compaixão, competência e promover a capacitação. Por outro lado, as mulheres realçam que o apoio e o aconselhamento prestados pelos enfermeiros pode ser um importante complemento nestes tratamentos. Discussão/Considerações Finais Os artigos analisados nesta RSL permitiram-nos conhecer a experiência vivida pelas mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade, para dar sentido à nossa prática de cuidados enquanto enfermeiros. O EESMO tem como competência prestar cuidados à mulher com problemas de fertilidade, assim como ao seu companheiro. Estes cuidados devem ter por base a compreensão deste fenómeno não só do ponto de vista orgânico e funcional, mas também compreender a infertilidade como um fenómeno amplo, com repercussões emocionais, psicológicas. Para conseguirmos perceber a experiência, é necessário que o relato dessas mesmas experiências derive das narrativas dos participantes, neste caso das mulheres. Só através das entrevistas presenciais, escritas ou discursos relatados em documentos, é possível uma exploração intensiva que reflita a diversidade e o caráter próprio do vivido. Todos os estudos analisados continham entrevistas e questionários narrativos, o que permitiu aos autores definir e agrupar os temas que emergiram das colheitas de dados. Não podemos ignorar a importância do cuidado ao aceder à experiência vivida dos participantes; quando se relata sentimentos e vivências estão associados sofrimentos, angústias e é necessário garantir o apoio emocional destas mulheres. Não foi possível perceber a partir da análise dos nossos artigos, se estes cuidados foram E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 180 tidos em conta, sabemos apenas que foram cumpridos princípios éticos, quanto à autorização nas instituições para a colheita de dados e obtidos os consentimentos informados. As experiências relatadas das mulheres, em termos de vivências e sentimentos, são similares em todos os estudos, no entanto existem sentimentos e situações vividas de forma diferente, consoante o contexto cultural, como acontece com as mulheres iranianas, que foram vítimas de violência física e psicológica, aspeto não relatado pelas outras mulheres. Outro dos aspetos relaciona-se com a situação particular vivida em cada contexto de tratamento. Neste trabalho, analisamos artigos que relataram a experiência das mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade, com e sem sucesso obtido, ou seja, com o atingir de uma gravidez bem-sucedida. Os relatos de cada uma das mulheres variaram de acordo com o que mais as marcou, o que alterou a sua vida e que causou impacto emocional, social, familiar e até físico. Permitir que as mulheres expusessem as suas experiências favorece o reconhecimento das suas vivências e a reconstrução interna do que viveram. As mulheres submetidas a tratamentos de fertilidade, com doação de oócitos, sentem que aceitam este tipo de tratamento como meio último de engravidarem, mesmo que percam o seu material genético. O seu desejo de maternidade está profundamente enraizado e isso é comum à descrição das mulheres de outros estudos, noutros contextos de tratamentos. O desejo de ser mãe é um sentimento referido em todos os estudos, este desejo está intrinsecamente enraizado, muitas vezes desde a infância e associado ao papel de mulher e esposa, o que faz com as mulheres que não conseguem atingir este objetivo se sintam incapazes. O propósito comum da análise destes artigos permitiu aceder à experiência vivida das mulheres, perceber qual o impacto real dos tratamentos de fertilidade na vida destas mulheres e a complexidade dos diferentes contextos. É muito importante que o EESMO conheça a experiência vivida pelas mulheres submetidas a tratamentos de infertilidade e, desta forma, se capacite para melhor responder e atuar perante as transições pelas quais a mulher passa durante este processo. Foi visível, através da análise dos artigos, que o papel do enfermeiro tem sido pouco desenvolvido no apoio a estas mulheres, e isso é descrito em alguns artigos. O EESMO poderá ter um papel importante através da relação de ajuda e seria importante que os enfermeiros estivessem mais despertos e sensibilizados para os aspetos psicológicos relacionados com a infertilidade e vividos por estas mulheres ao longo de todo o processo, que se inicia no diagnóstico e passa pelo tratamento e a resolução da situação, o que muitas vezes resulta numa gravidez bem-sucedida ou assunção da impossibilidade de se ser mãe biologicamente. Algumas mulheres E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 181 referiram a importância do apoio e o aconselhamento, prestados pelos enfermeiros, como um complemento nestes tratamentos. Referências Bibliográficas Behboodi-Moghadam, Z. et al (2013). Experiences of infertility through the lens of Iranian infertile women: A qualitative study. Japan Journal of Nursing Science. 10 (1), 41-46. DOI: 10.1111/j.1742-7924.2012.00208.x Carvalho, J. (s.d.) Infertilidade, Cap. 28. 72p. Acedido em 19/12/ 2013. Disponível em: http://www.fspog.com/fotos/editor2/cap_28.pdf Cordeiro M. & Gomes J. (2013) Ansiedade e Relacionamento Conjugal em Mulheres com Infertilidade: Impacto da Terapia de Grupo. Revista Portuguesa de Enfermagem de Saúde Mental. 9 (6) 7-13.Acedido em 17/12/2013. SciELO Portugal. Disponível em: http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?pid=S164721602013000100002&script=sci_arttext Delgado, M. (2007). O Desejo de ter um filho… as vivências do casal infértil. Universidade Aberta. Tese de Mestrado. Lisboa Dornelles L.& Lopes R. (2011). Será que eu consigo levar essa gestação até o fim? A experiência materna da gestação no contexto da reprodução assistida. Estudos Psicologia. (Campinas). 28 (4), 489-499. DOI: 10.1590/S0103166X2011000400009. Johansson, M & Berg, M (2005). Women's experiences of childlessness 2 years after the end of in vitro fertilization treatment. Scandinavian Journal of CaringSciences.19 (1), 58-63. Acedido em 17/12/2013. CINAHL Plus with Full Text. Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rzh&AN=2009153206 &site=ehost-live Hershberger, P. (2007). Pregnant, donor oocyterecipient women describe their lived experience of establishing the "family lexicon". JOGNN: Journal of Obstetric, Gynecologic & Neonatal Nursing. 32 (6), 161-167. DOI: 10.1111/j.15526909.2007.00128.x Hershberger PE & Kavanaugh K (2008) Enhancing pregnant, donor o oocyte recipient women's health in the infertility clinic and beyond: a phenomenological investigation of caring behaviour. Journal of Clinical Nursing .17 (21), 28202828. DOI: 10.1111/j.1365-2702.2007.02211.x McCarthy, M. (2008). Women's lived experience of infertility after unsuccessful medical intervention. Journal of Midwifery & Women's Health. 53(4), 319-324. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 182 Acedido em 17/12/2013. CINAHL Plus with Full Text. Disponível em: http://search.ebscohost.com/login.aspx?direct=true&db=rzh&AN=2009979582 &site=ehost-live Santos, A. & Carvalho, J. (2009) – ESTUDO AFRODITE: Caracterização da Infertilidade em Portugal. Su, T. (2006). Transforming hope: the lived experience of infertile women who terminated treatment after in vitro fertilization failure. 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South Australia: The Joanna Briggs Institute E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 183 IVG na Grávida Adolescente/Voluntary Interruption of Pregnancy in Pregnant Teen Carla Martins – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Estela Lourenço – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Patrícia Rodrigues – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Patrícia Serrano – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Verónica Sousa – 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Resumo Apesar de todos os avanços que têm surgido no âmbito da IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) estima-se que em cada ano são feitos 22 milhões de abortos em condições inseguras, acarretando a morte a cerca de 47 000 mulheres e disfunções físicas e mentais a cerca de 5 milhões (OMS, 2013). Apesar de em Portugal já existir o acesso ao aborto induzido de forma legal e segura, ainda existe a necessidade de agir na prevenção de gravidezes indesejadas nomeadamente nas adolescentes. Segundo Canavarro (2001) “a gravidez na adolescência é caracterizada como um acontecimento não normativo que vai exigir ajustamentos psicológicos e familiares difíceis de ser elaborados”. Consequentemente quando a gravidez é voluntariamente interrompida podem surgir intensas manifestações de pesar (Canavarro, 2001), visto que, as adolescentes constituem um grupo particularmente vulnerável com elevado risco para o desenvolvimento de perturbações psicológicas após uma perda (Canavarro, 2001). Desta forma, perante uma interrupção voluntária da gravidez na adolescência o EEESMO depara-se com grande desafio. Assim, importa conhecer a legislação, identificar os meios, dominar a prevenção para prestar melhores cuidados a esta população específica. Importa também reconhecer as implicações económicas e sociais de uma IVG na adolescente, para que se possa orientar e informar corretamente, diminuindo assim o gasto de recursos desnecessários, com uma efetiva resposta às necessidades deste grupo específico. Palavras-chave: IVG, adolescentes, EEESMO Abstract Despite all breakforward concerning induced abortion, it is estimated that each year are practiced about 22 million abortions in unsafe conditions, bringing death 47 000 women and fisical and mental disorders in about 5 millions (OMS, 2013). Although in E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 184 Portugal induced abortion is legal and safe, there is still the need to prevent unwanted pregnancies in teenagers. Acording too Canavarro (2001) “teenager pregnancie is a non normative event demanding psicological and familiar ajustments hard to be acomplished”. Consequently to an induced abortion can rise intense feelings of sorrow (Canavarro, 2001), since teenagers are a vulnerable group, with high risk to develop psicological disturbings after a loss (Canavarro, 2001). In this situation, the midwifes face a huge challenge. This way, it is important to know the legislation, identify means of intervention and improve prevention skills to better care this specific population. It is also important to recognize economic and social implications of an induced abortion in adolescence, to make possible a correct and best information in order decrease unnecessary resourses with an efective response to the specific needs of this specific group. Palavras-chave: Voluntary interruption of pregnancy, teenagers, midwife Introdução Quando se conjuga uma interrupção voluntária da gravidez com a adolescência, temos um grande desafio enquanto EEESMO. Assim, importa conhecer a legislação, identificar os meios, dominar a prevenção para prestar melhores cuidados a esta população. Neste sentido, com a realização deste trabalho temos como objetivo refletir sobre o papel do enfermeiro Especialista em Saúde Materna Obstétrica no âmbito da IVG na Grávida Adolescente. Métodos Este trabalho foi efetuado com base na revisão de literatura em bases de dados não indexadas, literatura cinzenta, bem como na biblioteca da ESEL, nas lingas portuguesa, inglesa e espanhola compreendendo o estado de arte sobre o tema. Resultados Apesar do país apresentar índices elevados de gravidez na adolescência, ao longo dos anos, tem-se assistido ao decréscimo dos seus valores. Em 2000, 20% dos partos registados corresponderam a gravidezes adolescentes, porém em 2006 este número diminuiu para os 17% (INE, 2006) e para os 16,5% em 2007 (ONU, 2009), indo de encontro ao que o Plano Nacional de Saúde pretende como meta. Sendo que os dados de Evolução dos Indicadores do PNS 2004/2010 referem que a meta de nº de nascimentos em mulheres adolescentes foi alcançada (menos que 5 nascimentos em E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 185 mulheres adolescentes por 100 nados vivos) em todas as regiões, com exceção do Alentejo. Em 2012, segundo dados do INE (2013), a taxa de fecundidade na adolescência estimase que foi de 12,2% e em 2013, segundo do INE (2014) situa-se nos 10,6%. Desta forma, verifica-se que o número de nascimentos em mulheres adolescentes continuam tendencialmente a decrescer indo de encontro às metas estabelecidas pelo PNS. A IG em mulheres com menos de 20 anos mantém uma tendência decrescente (11,2% em 2012 e 10,8% em 2013) (DGS, 2014). A crescente acessibilidade legal e prática de IVG por opção da mulher em Portugal tem proporcionado cada vez mais às adolescentes que engravidam a possibilidade legal e segura de interromper a gravidez, no entanto, cerca de 65% prosseguem a gravidez, tornando-se mães (DGS, 2011; INE, 2011). Tendo em consideração que as adolescentes detectam as gravidezes tardiamente, há um maior o risco de complicações durante a IVG. É provável que os custos para incorporar o atendimento seguro nos serviços de saúde iriam implicar custos mais baixos do que uma IVG insegura e potenciadora de mortalidade e morbilidade (OMS, 2014 e 2013) Assim, como cuidados mínimos a OMS (2013) recomenda: • Informação adequada sobre a IVG de modo a que a mulher possa compreender a informação. • Informação não tendenciosa, de modo a que possa facilitar a tomada de decisão. • A IVG deverá ser dentro do período de tempo mais precoce possível. • Em caso de complicações decorrentes de uma interrupção de gravidez (legais ou inseguras) esta deverá ter tratamento oportuno. • Deverão ser fornecidos conhecimentos sobre métodos contracetivos, serviços e encaminhamentos adequados, de modo a evitar uma nova gravidez indesejada e consequente IVG. Considerações Finais A satisfação dos utentes tem sido, desde sempre, uma preocupação dos profissionais de saúde e, segundo Doran (2011), constitui-se como um indicador de qualidade em saúde, importante na acreditação das instituições. A intervenção do Enfermeiro EEESMO é fundamental no incentivo para o autocuidado na adolescente uma vez que, como refere Doran (2011), este comportamento é E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 186 fundamental para alcançar os resultados pretendidos no cliente e cuidados de saúde e é influenciado pela intervenção do Enfermeiro. Neste âmbito, e de acordo com as diretivas da DGS para a situação de IVG, o EESMO poderá ter um papel fundamental no encaminhamento e acompanhamento destas jovens, na medida em que está dotado de competência específicas que poderão determinar o sucesso da intervenção e prevenir a repetição da ocorrência. Estas competências estão regulamentadas em Diário da República, 2.ª série — N.º 35 — 18 de Fevereiro de 2011, de acordo com este documento são, entre outras, competências específicas do EEESMO: • H1.1.6. Faculta métodos contraceptivos e supervisiona a sua utilização. • H6.1.2. Informa e orienta a mulher sobre saúde ginecológica. • H6.1.3. Informa e orienta a mulher sobre recursos da comunidade no âmbito da saúde sexual e reprodutiva. Nesta perspetiva é necessário um acompanhamento continuo com ensinos adequados e recomendação de um método contracetivo adequado à jovem para que não volte a recorrer à IVG. • H1.2.3. Identifica problemas relacionados com a vivência da sexualidade, referenciando as situações que estão para além da sua área de actuação. Nesta situação em particular importa o encaminhamento e deteção de complicações tanto a nível físico como psicológico que, como foi referido anteriormente, são frequentes nesta faixa etária. • H6. Cuida a mulher inserida na família e comunidade a vivenciar processos de saúde/doença ginecológica. • H6.1. Promove a saúde ginecológica da mulher. Referências Bibliográficas Canavarro M. C. (2001). Psicologia da Gravidez e da Maternidade. Coimbra. Quarteto Editora. ISBN: 972 85 35 775. DGS (2014) - Divisão de Saúde Reprodutiva. Relatório dos registos das interrupções de gravidez ao abrigo da lei 16/2007 de 17 de Abril – dados referentes ao período de Janeiro a Dezembro de 2013. Acedido em novembro 2014. Disponível em: http://www.saudereprodutiva.dgs.pt/paginasintermedias/profissionais/publicacoes-e-relatorios.aspx Doran, D. (2011). - Nursing Outcomes: the state of the science. Canada: Jones & Bartlett Learning, LLC E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 187 Instituto Nacional de Estatística, IP (2014). Anuário Estatístico de Portugal 2013. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, IP. Acedido em dezembro 2014. Disponível em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICAC OESpub_boui=139722&PUBLICACOESmodo=2 Instituto Nacional de Estatística, IP (2013). Anuário Estatístico de Portugal 2012. Lisboa: Instituto Nacional de Estatística, IP. Acedido em novembro 2014. Disponível em: http://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_publicacoes&PUBLICAC OESpub_boui=209570943&PUBLICACOESmodo=2 OMS (2013) – Abortamento seguro: orientação técnica e de políticas para sistemas de saúde – 2ª ed. ISBN 978 92 4 854843 7. Acedido em novembro 2014. Disponível em: http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/70914/7/9789248548437_por.pdf OMS (2014) – Facts and figures about abortion in the European Region. Acedido em novembro de 2014. Disponivel em: http://www.euro.who.int/en/healthtopics/Life-stages/sexual-and-reproductive-health/activities/abortion/factsand-figures-about-abortion-in-the-european-region PNS 2004/2010 (2004) – Mais saúde para todos. Plano Nacional de Saúde, Orientações estratégicas. Vol.II. DGS, Lisboa. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 188 Reflexologia vs. Conforto no Trabalho de Parto/Parto: Caso/Reflexology vs. Comfort in Labour: A Study Case Um Estudo de Engrácia Santos – Hospital Garcia de Orta Resumo A investigação qualitativa focalizou a aplicação da Reflexologia a uma parturiente do Serviço de Bloco de Partos do Hospital X em Julho de 2013. O método de amostragem foi não probabilístico por intenção, e os instrumentos de colheita de dados utilizados consistiram na observação participada não estruturada, na análise documental clínica, na escala sociopsicológica para avaliação da dor sentida (VAS), na medida bio fisiológica da avaliação da dilatação cervical e no artefacto físico do cardiotocógrafo. O tratamento e a análise dos dados foram desenvolvidos através do estudo de caso único. Conclui-se que a Reflexologia interfere positivamente no Bem-Estar Materno-Fetal e na evolução do Trabalho de Parto ao promover o relaxamento, conforto físico e psicológico com um controlo da dor até aos 5 cm de dilatação cervical (VAS=3) e um traçado de CTG tranquilizador num rápido Trabalho de Parto de 3h12 minutos. Bem como um elevado grau de satisfação e conforto emocional na parturiente comparativamente à sua anterior experiência de parto eutócico com analgesia epidural. Palavras-chave: Reflexologia, trabalho de parto, conforto, assistência de enfermagem. Summary Qualitative research focused on the application of Reflexology to one parturient in Delivery Block Service from Hospital X at July 2013. The method of sampling was not probabilistic by intention and the data collection instruments used consisted in: one unstructured observation reported, clinical document analysis, one socio-psychological scale to access the pain felt (VAS), as by one bio physiologic measure assessment evaluation of cervical dilation (cervical digital touch) and in the physical artefact machine of the external fetal monitoring (CTG printing). The processing and analysis of data were developed through only case study. It is concluded that the Reflexology positively interferes on the Maternal-Fetal WellBeing and in the evolution of labour to promote relaxation, physical and psychological comfort with a pain control up to 5 cm of cervical dilation (VAS = 3) and one CTG tracing reassuring in the fast labor of 3:12 minutes. As well one highly degree of satisfaction and emotional comfort in parturient compared to her previous eutocico birth experience with epidural analgesia. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 189 Keywords: Reflexology, labour, comfort, nursing care. Introdução A utilização da Reflexologia no parto hospitalar é ainda recente em Portugal. Mundialmente é já uma prática terapêutica complementar utilizada na Maternidade. Decidiu-se abordar esta temática pela sua actual pertinência e com base nos conteúdos apreendidos em um curso de Reflexologia da Maternidade, na pesquisa bibliográfica efectuada sobre Reflexologia no Trabalho de Parto deduziu-se que o cerne do problema de investigação residia nas seguintes questões: Qual o real efeito/eficácia da aplicação da Reflexologia no Trabalho de Parto de uma parturiente internada no S. Bloco de Partos do Hospital X e Qual o seu Grau de satisfação e conforto relativamente a esta terapia complementar? Assim, para dar resposta a estas perguntas traçaram-se os seguintes objectivos específicos: Identificar os efeitos benéficos da Reflexologia no trabalho de parto e o grau de satisfação/conforto físico e psicológico da parturiente relativamente à Reflexologia. Segundo Kruchik (2010) e Earlam (2012) a Reflexologia é uma terapia singular que pode ser usada com segurança no Trabalho de Parto pela estimulação manual de determinadas áreas reflexas, visando atingir os seguintes objectivos: Induzir e regularizar a contratilidade uterina através da estimulação da segregação hormonal e do peristaltismo intestinal; Promover o apoio psicológico/emocional através da disponibilidade total do reflexologista, diminuindo a ansiedade/angústia e fomentar uma correcta respiração, prevenindo a hiperventilação e proporcionando um relaxamento, conforto físico que diminuem as algias do trabalho de parto. Material e Métodos Nesta investigação qualitativa aplicou-se uma abordagem descritiva e exploratória a uma parturiente internada no Serviço de Bloco de Partos do Hospital X a 15 de Julho 2013. Optou-se por uma amostragem não probabilística por selecção racional constituída segundo a aceitação para participar, a facilidade em aceder em horário de trabalho da investigadora e observadora, a condição de não querer/poder ser submetida a métodos farmacológicos de alívio da dor e a antevisão de reunir uma conjuntura para ter um parto eutócico. Eticamente respeitou-se a privacidade/confidencialidade da grávida com os prévios consentimentos escritos da Comissão de Ética do Hospital X e da própria. Como instrumentos de colheita de dados empregaram-se: uma observação participada, não estruturada realizada pela reflexologista/EESMO responsável pela parturiente; uma escala sociopsicológica para avaliação da dor sentida (VAS); uma medida bio fisiológica E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 190 para avaliação da dilatação cervical (Toque cervical digital), uma análise documental do processo clínico e do traçado cardiotocógrafico in loco, e posteriormente através da sua impressão e digitalização. O tratamento estatístico dos dados realizou-se com base num Estudo Caso único (Yin, 2003). A parturiente foi submetida a uma Reflexologia podal contínua com dois intervalos, baseada nas seguintes áreas reflexas: Coluna vertebral, Triângulo do 1º dedo (glândulas pituitária/hipotálamo/penial), Glândula supra-renal, Coluna lombar + cóccix + área pélvica, Plexo solar/pulmão + traqueia/pulmões/diafragma e Útero + cérvix de acordo com as necessidades avaliadas e presentes. Apresentação do Estudo de Caso Identificação demográfica da parturiente: A Sra. W tem 24 anos de idade, é casada. Habilitações académicas: 9ºano de escolaridade. Profissão: cabeleireira. Antecedentes obstétricos e pessoais da parturiente: Tem um Índice Obstétrico = 1.0.2.1 com um Parto Eutócico em 2002 e dois abortos espontâneos, com recurso a curetagem (2000 e 2007). É alérgica ao Fentanil e/ou Levobuvicaina (rush cutâneo na analgesia epidural do parto) e à Petidina (rush cutâneo + hipotensão marcada presentes na analgesia da 2º curetagem). Gravidez actual de 40 S + 4 D, vigiada em Centro de Saúde sem intercorrências. Resultados/Discussão A tabela 1 traduz toda a evolução do rápido trabalho de parto, sempre com um traçado cardiotocógrafico tranquilizador e sem perfusão ocitócica na parturiente. Tabela 1. Evolução do trabalho de Parto antes e depois da Reflexologia. Antes da Reflexologia Depois da Reflexologia Admissão Cervicometria CTG 2h35 4/5 Colo centrado, 0,5 cm de trajecto, permeável a mais de 2 dedos, apresentação cefálica a apoiar. Bolsa de águas intacta (BAI) Contratilidade uterina dolorosa e irregular 3h00 2 - Contratilidade uterina nula ou de pequena amplitude e maior frequência 4h25 3 Colo centrado, mole, 3/4 cm de dilatação, uma apresentação cefálica a apoiar, BAI Contratilidade uterina irregular de pequena/média amplitude Hora VAS Cervicometria CTG 5h30 2 Colo centrado, fino, 5 cm dilatação, apresentação cefálica a apoiar, BAI Contratilidade uterina irregular com um ligeiro aumento da amplitude (pequena/média) 6h45 7 Sobreponível Sobreponível 7H00 9/10 colo fino, 6 cm dilatação, uma apresentação cefálica apoiada, bolsa de águas rota de LC. Contratilidade uterina regular de média/grande amplitude 7h35 10 Dilatação completa Sobreponível E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 Amniotomia RABA de LC 7h42 – Parto Eutócico VAS 4H30- Início da Reflexologia Após admissão Hora 191 Inicialmente existiu uma diminuição das queixas álgicas e das contracções com o repouso da parturiente. Às 4h25 minutos as queixas álgicas aumentam e constata-se que houve uma progressão na dilatação uterina. Face a todo o quadro clinico da parturiente propõe-se-lhe a aplicação da Reflexologia, iniciando-a às 4h30 minutos. Passados 15 minutos a contratilidade uterina aumenta em frequência (irregular) e amplitude (pequena) (vide figura nº 1). Às 5h30 minutos, depois de 60 minutos de Reflexologia houve: uma diminuição das queixas álgicas do trabalho de parto, da ansiedade/Stress da parturiente, uma progressão na dilatação cervical, um ligeiro aumento da amplitude na contratilidade uterina irregular (pequena/média) através do efeito de relaxamento, conforto físico e emocional e de estimulação da libertação ou inibição hormonal (endorfinas, ocitocina, melatonina ou adrenalina) proporcionados, patenteando as alegações de alívio das algias, de indução/tentativa de regulação da contratilidade uterina advogadas por Kruchik (2010) e Earlam (2012). Às 6h45 minutos é efetuada uma rotura artificial da bolsa de águas (RABA) de líquido claro (LC) pela Equipa Médica. Imediatamente, à RABA as queixas álgicas da parturiente aumentaram, intensificando-se com o simultâneo aumento da dilatação cervical (7 horas). Depois de 2h40 minutos de Reflexologia e 32 minutos antes do Parto conseguiu-se a regularização da frequência da contratilidade uterina com uma amplitude média/grande (vide figura nº 2). Às 7h42 nasceu de parto eutócico um recém-nascido do sexo feminino com 3,410 gr de peso, um Índice de Apgar = 9 /10. Conclusões De acordo com literatura científica realizada (Kruchik, 2010 e Earlan, 2012), pode-se deduzir que a Reflexologia interfere positivamente na evolução do Trabalho de Parto e E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 192 no Bem-Estar Materno/Fetal ao diminuir/controlar a dor da parturiente até aos 5 cm de dilatação cervical (VAS=3) com BAI e sem qualquer outro método farmacológico de alívio da dor associado, e pelo contínuo traçado de CTG tranquilizador ao longo do rápido Trabalho de Parto (3h42 minutos) da parturiente. No referente à satisfação e ao conforto físico/psicológico da parturiente face há Reflexologia aplicada depreendeu-se que existiu um elevado grau de satisfação e de conforto verbalizado pela parturiente no Puerpério Imediato comparativamente à sua anterior experiência de parto e observado peço investigador. Face a tudo isto, é de ressaltar que a Reflexologia no trabalho de Parto e Parto é uma terapêutica complementar válida, não dispendiosa à qual os profissionais de saúde instruídos em Reflexologia devem mais frequentemente recorrer. Referências Bibliográficas Earlam, Sally (2012). A guide for reflexologists: Supporting women through their Maternity journey. UK: Association of Reflexologists Kruchik, M. (2010). Manual do Curso de Reflexologia na Gravidez e no Parto. Lisboa: Copyright Mauricio Kruschik. Yin, R. K. (2005). Estudo de caso: Planejamento e Métodos. Porto Alegre: Bookman. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 193 Intervenções do Enfermeiro Especialista De Saúde Materna e Obstétrica Promotoras do Contato Pele-A-Pele/Nursing Intervention to Promote the Skin-to-skin Contact Emanuela Filipa da Silva Tavares – UCCI Júlio Freire; [email protected] Resumo O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica (EEESMO) assume uma posição privilegiada na equipa multidisciplinar, intervindo em parceria com cada mulher/família/recém-nascido, uma vez que detém competências científicas, técnicas e instrumentais, baseada na evidência científica, e competências humanas que permitem o desenvolvimento e o estabelecimento de uma relação terapêutica durante a prestação de cuidados. Em colaboração com outros profissionais de saúde, o EEESMO assume um papel fundamental no ajuste de práticas e políticas para permitir o contato pele-a-pele precoce, melhorando assim a experiência do nascimento para os pais e recém-nascidos. O contato pele-a-pele é incitador de importantes benefícios pelo que se torna pertinente investir nas intervenções promotoras desta prática. A revisão sistemática da literatura (RSL) realça que é benéfico identificar as barreiras ao contato pele-a-pele e implementar mudanças na prática, sendo as intervenções mais aludidas o envolvimento dos profissionais, a partilha de experiências e os momentos de reflexão em grupo para delinear estratégias; integrar esta temática durante o pré-natal e aulas de preparação para o parto, de forma a elucidar a mulher/família sobre o seu conceito e benefícios; obter o consentimento informado por parte da mulher/família; concretizar uma norma de procedimento, com a descrição passo-a-passo da intervenção; protelar as intervenções de rotina ao recém-nascido clinicamente estável; registar as características do contato pele-a-pele estabelecido e obter o feedback por parte da mulher/família. Palavras-Chave: Contato pele-a-pele; Intervenção de Enfermagem; Mulher/Recémnascido; Parto. Abstract The Nurse Specialist in Maternal Health Nursing and Obstetrics (EEESMO) takes a privileged position in the multidisciplinary team, intervening in partnership with each woman/ family/newborn, as it holds scientific, technical and instrumental, based on scientific evidence, and human skills that enable the development and the establishment of a therapeutic relationship for the provision of care. In collaboration with other health professionals, EEESMO plays a key role in setting policies and practices to allow skin-to-skin early, thus improving the birth experience for parents and newborns. The skin-to-skin contact is important instigator of benefits and it is therefore relevant to invest in interventions that promote this practice. A systematic literature review (RSL) stresses that it is beneficial to identify the barriers to skin-toskin and implement changes in practice, the most alluded interventions the involvement of professionals, sharing experiences and moments of reflection in group E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 194 outline strategies; integrate this issue in prenatal classes and preparation for childbirth in order to elucidate the woman/family about their concept and benefits; obtain informed consent from the woman/family; implement a standard procedure, with step-by-step intervention; delay routine interventions newborn clinically stable; record the characteristics of established skin-to-skin contact and get feedback from the woman/family. Keywords: Skin-to-skin contact; Nursing intervention; Women/Newborn; Delivery. Introdução O contato pele-a-pele precoce entre a mãe e o recém-nascido, imediatamente após o parto, possibilita o desenvolvimento do vínculo, a transmissão de segurança e afeto e aduz benefícios fisiológicos auspiciosos. De acordo com a UNICEF (2010), o contato pele-a-pele acalma e relaxa a mãe e o recém-nascido; regula a frequência cardíaca e respiratória do bebé; estimula a digestão; regula a temperatura; estimula o comportamento alimentar e estimula a libertação de hormonas para apoiar a amamentação e a maternidade. O contato pele-a-pele precoce garante a satisfação das necessidades biológicas básicas (Moore, Anderson, Bergman, & Dowswell, 2012) e facilita o processo de apego entre pais e filhos (Lowdermilk & Perry, 2008). Salientando WHO & UNICEF (2009), os recém-nascidos devem ser colocados pele-a-pele em poucos minutos após o nascimento, permanecendo por 60 minutos ou mais, com as mães. Muitos estudos recomendam o contato pele-a-pele até 120 minutos, provavelmente para aproveitar ao máximo o tempo de alerta do recém-nascido (Luna [et al], 2009). O parto é considerado um momento marcante na vida de uma mulher/família e caracterizado por rápidas e grandes transformações físicas, psíquicas e sociais. Este momento autentica a transição do recém-nascido do meio intra-uterino para o extrauterino, através de um processo de adaptação gradual, conduzindo a inúmeras mudanças para o mesmo. Procedimentos de rotina que incluem a avaliação e os cuidados imediatos ao recém-nascido sob uma fonte de calor radiante, proíbem ou interrompem o processo de contato pele-a-pele após o nascimento. Evidenciando Cruz, Sumam, & Spíndola (2007) a vertente humanizadora de assistência ao parto e nascimento recomenda que os profissionais devem estimular a aproximação entre a mãe e o recém-nascido no pós-parto imediato, através do contato pele-a-pele. Desta forma, torna-se relevante incorporar práticas baseadas na evidência científica, para substituir procedimentos infundados durante a experiência do nascimento e possibilitar o estabelecimento do contato pele-a-pele, proporcionando os seus benefícios e melhorando a qualidade dos cuidados. Patenteando Matos [et al] (2010), os profissionais de saúde possuem um papel determinante no estabelecimento do contato pele-a-pele, sendo este não realizado apenas quando a situação clínica do recém-nascido ou da mãe se encontra comprometida. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 195 Objetivo/Métodos Tendo como objetivo identificar as intervenções do EEESMO na promoção do contato pele-a-pele precoce, tornou-se pertinente investir numa RSL de forma a apresentar a evidência científica e, deste modo, suportar a prática clínica. Como ponto de partida para esta revisão foi formulada a seguinte questão, em formato PI[C]O: “Quais as intervenções do Enfermeiro Especialista de Saúde Materna e Obstétrica na promoção do contato pele-a-pele?”, tendo considerado: P (população) – mãe e recém-nascido (mother; newborn); I (intervenções) – intervenção de Enfermagem (nursing intervention); O (outcomes) – contato pele-a-pele (skin-to-skin contact). A pesquisa foi realizada entre o ano de 2013 a 2014, na plataforma electrónica EBSCOhost Web e nas bases de dados CINHALH PLUS With Full Text; MEDLINE With Full Text; Cochrane Database of Systematic Reviews; Database of Abstracts of Reviews of Effects e Academic Search Complete. Os descritores da pesquisa foram combinados através da expressão booleana AND da seguinte forma: [(“skin-to-skin contact”) AND (“delivery”) AND (“mother”) AND (“newborn”) AND (“nursing”) AND (“intervention”)]. Inicialmente foram obtidos seis resultados. Como critérios de inclusão foram considerados os artigos em idioma português, inglês e espanhol, livres de quaisquer encargos financeiros, em texto integral, com data de publicação de 01-01-2003 a 31-12-2014 e referentes a recém-nascidos de termo, partos eutócicos e com ausência de patologia fetal e materna. Foram excluídos os artigos repetidos e os que não se relacionavam com a questão de partida. Resultados No final foram incluídos três artigos que reforçam a pertinência desta temática. De acordo com Haxton, Doering, Gingras & Kelly (2012), torna-se indispensável a equipa de saúde refletir sobre a necessidade de implementar o contato pele-a-pele precoce, sendo que se trata de uma intervenção que os Enfermeiros podem aplicar na prática sem ajustes significativos durante a prestação de cuidados a recém-nascido de termo saudáveis, promovendo a saúde neonatal e materna e cuidados de enfermagem de qualidade. A partilha de experiências e o envolvimento dos profissionais no processo de mudança revelam-se pontos-chave necessários para a mudança na prática, visto que é necessário facilitar e capacitar para a mudança (Price & Johnson, 2005). De acordo com Dabrowski (2007), Haxton, Doering, Gingras & Kelly (2012) e a Ordem dos Enfermeiros (2012) a temática do contato pele-a-pele precoce deve ser integrada durante o pré-natal e nos cursos de preparação para a parentalidade, de forma a elucidar a mulher/família sobre o seu conceito e benefícios. Evidencia-se que cada momento de educação para a saúde concretizado sobre o contato pele-a-pele precoce deve ser documentado nos registos de enfermagem, seguindo o estudo de Haxton, Doering, Gingras & Kelly (2012). Como complemento sobre a relevância do envolvimento dos profissionais e da educação para a saúde durante o período prénatal, surge a ideia de que o empoderamento das mulheres e parteiras é essencial E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 196 para a implementação da mudança na prática (Haxton, Doering, Gingras & Kelly, 2012). Na tentativa de ultrapassar algumas barreiras na concretização do contato pele-a-pele, sugere-se a elaboração de uma norma de procedimento, tal como evidenciam Luna [et al] (2009) e Haxton, Doering, Gingras & Kelly (2012), para a uniformização e implementação do contato pele-a-pele, e que inclua a sua respectiva avaliação. De acordo com a Ordem dos Enfermeiros (2014), o contato pele-a-pele é considerado um indicador de evidência e o seu número de registos um indicador de medida, tendo como meta atingir uma prática de pele a pele em 90% das díades. Seguindo os estudos de Dabrowski (2007), UNICEF (2011) e Luna [et al] (2009), a avaliação e a prestação de cuidados imediatos ao recém-nascido (determinação do Índice de Apgar, administração da vitamina K, profilaxia da infeção ocular e colocação de pulseira identificativa e electrónica) pode ser iniciada enquanto o mesmo se encontra em contato pele-a-pele com mãe, protelando sempre que possível a avaliação do peso, de forma a não interromper o contato. Por conseguinte, a reorientação dos cuidados de enfermagem ao recém-nascido surge como sendo fundamental para a promoção e implementação do contato pele-a-pele (Dabrowski, 2007). Realça-se que, na prestação de cuidados, precedentemente ao estabelecimento de cada contato pele-a-pele precoce, cada mulher/família deve ser esclarecida sobre o conceito e benefícios desta intervenção, sendo que a mesma só deve ser efetiva após a obtenção do consentimento informado (Haxton, Doering, Gingras & Kelly, 2012). Para uma mudança da prática baseada na evidência e para a sua prossecução durante a prestação de cuidados (Matos [et al], 2010; Price & Johnson (2005) e Haxton, Doering, Gingras & Kelly, 2012), torna-se pertinente alterar os registos de enfermagem, de forma a contemplar as características de cada contato pele-a-pele estabelecido (início, duração e motivo do término), tal como patenteia o estudo de Matos [et al] (2010). Price & Johnson (2005) complementam a ideia referindo que a obtenção do feedback por parte das mulheres, permite dar valor e credibilidade a esta prática. Discussão/Considerações Finais O EEESMO assume uma importância vital na capacitação/formação das mulheres/famílias, no sentido de alcançar experiências de parto mais gratificantes e positivas, iniciando-se assim a adaptação à parentalidade de uma forma saudável. O contato pele-a-pele imediato sustenta-se pelos seus benefícios patentes na evidência científica e pelas vivências positivas expressas pela maioria das mulheres/famílias, sendo que o EEESMO pode desenvolver um papel ativo na promoção desta intervenção junto da mulher/família, desde o período pré-natal até ao momento do parto. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 197 Referências Bibliográficas Cruz, D., Sumam, N., & Spíndola, T. (2007). Os cuidados imediatos prestados ao recémnascido e a promoção do vínculo mãe-bebé. Revista Escola Enfermagem USP, 690 - 697. Dabrowski, Gretchen A. (2007). Skin-to-skin contact. Giving Birth Back to Mothers and Babies. AWHONN, 11 (1), 66 – 71. Haxton, D.; Doering, J.; Gingras, L.; Kelly, L. (2012). Implementing Skin-To-Skin Contact at Birth Using the Iowa Model. Applying Evidence to Practice. AWHONN, 16 (3), 222 – 230. Luna, M. S. [et al] (2009). Recomendaciones para el cuidado y atención del recién nacido sano en el parto y en las primeras horas después del nacimiento. Anales de Pediatría, 71 (4), 349 - 361. Matos, T. A. [et al]. (2010). Contato precoce pele a pele entre mãe e filho: significado para mães e contribuições para a enfermagem. Revista Brasileira de Enfermagem, 63 (6), 998 - 1004. Moore, E., Anderson, G., Bergman, N., & Dowswell, T. (2012). Early skin-to-skin contact for mothers and their healthy newborn infants. The Cochrane Library, 5. Ordem dos Enfermeiros. (2012). Recomendação N.º 2/2012. Recomendações para a Preparação para o Nascimento. Lisboa: Mesa do Colégio da Especialidade de Enfermagem de Saúde Materna e Obstétrica 2012/2015. Ordem dos Enfermeiros. (2014). Projeto da MCEESMO-OE, Maternidade com Qualidade. Realizar precocemente contacto pele a pele, entre mãe e filho, dando apoio ao início da amamentação na primeira hora do pós-parto, conforme diretrizes da OMS sobre o aleitamento materno. Price, Mary; Johnson, Martin. (2005). Using action research to facilitate skin-to-skin contact. British Journal of Midwifery, 13 (3), 154 – 159. UNICEF. (2010). The Baby Friendly Initiative. Acedido a 17-05-2013. Disponível em http://www.unicef.org.uk/BabyFriendly/News-and-Research/Research/Skintoskin-contact/ UNICEF. (2011). Implementing Step 4. Standards for Step 4., 16 - 20. United Kingdom. WHO & UNICEF. (2009). Baby-friendly Hospital Initiative. Revised, Updated and Expanded for Integrated Care. Section 1 – Background and Implementation. New York. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 198 Educação para a Saúde à Puérpera e Casal sobre Sexualidade no Pós-Parto/Health Education to the Post-partum Women and Couple about Post-partum Sexuality Marília Pereira – Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, E.P.E. Viviana Nolasco – Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, E.P.E. Resumo O principal objetivo deste trabalho é refletir sobre a importância do papel do enfermeiro na educação para sexualidade no pós-parto, de forma a promover, junto dos casais, a vivência da sexualidade de forma saudável e segura neste período específico. Realizámos uma investigação de caráter qualitativo através de entrevista semiestruturada a puérperas e aos enfermeiros que lhes prestam cuidados. As entrevistas foram realizadas a 100 mulheres durante o internamento e a 20 enfermeiros. As mulheres que realizaram a vigilância pré-natal (VPN) em médico privado não abordaram a temática da sexualidade e contraceção no pós-parto e não consideram um assunto importante pois terão oportunidade de esclarecer algumas dúvidas ou receios na consulta de revisão de puerpério. Por outro lado, as mulheres que realizaram a VPN a nível dos cuidados de saúde primários (CSP) abordaram esta temática e consideram um assunto importante pois permite-lhes falar sobre o assunto e desmistificar algumas questões. A maioria das puérperas pretende utilizar a contraceção hormonal oral só com progestagénio. Relativamente aos enfermeiros, a totalidade da amostra respondeu que considera importante ter formação nesta área, a maioria refere que aborda sempre esta temática junto da puérpera/casal e que o faz no momento da alta. Palavras-chave: Educação para a Saúde; Sexualidade; Contraceção; Pós-Parto. Abstract The aim of this paper is to discuss the importance of the nurse's role in the education for postpartum sexuality in order to promote the experience of sexuality in a healthy and safe fashion in this particular period. We conducted a qualitative research through semi-structured interviews to mothers and nurses who provide them care. One hundred women and twenty nurses were interviewed. Women who underwent prenatal monitoring in the private sector did not address the issue of postpartum sexuality and contraception and do not consider them an important issue as they will have opportunity to clarify any questions or concerns in E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 199 the postpartum follow up consultation. On the other hand, women who underwent the prenatal monitoring at the level of primary health care addressed these issues and consider them important because it allows them to talk about it and demystify some beliefs. Most mothers want to use oral hormonal contraception progestogen-only. With regard to nurses, the entire sample considers it important to have training in this area and the majority states that always addresses this issue with the puerperal woman/couple and it does at discharge. Keywords: Health Education; Sexuality; Contraception; Postpartum. A sexualidade é uma parte integrante da personalidade de todos os seres humanos, e o seu desenvolvimento pleno depende da satisfação das necessidades humanas básicas, como o desejo de contacto, intimidade, expressão emocional, prazer, ternura e amor. Mas quando falamos sexualidade, não nos referimos exclusivamente à relação coital ou genital. O aconselhamento sexual inclui a correção de informações ou conceitos errados, a garantia da normalidade e a sugestão de comportamentos alternativos. A especificidade de cada casal deve ser enquadrada numa perspetiva biopsicossocial (Bobak, Lowdermilk & Jensen, 1999; Costa & Leal, 2005). O Planeamento Familiar é, em sentido restrito, um conjunto de medidas que permite ao casal, regular o número de filhos que pretende ter, bem como o espaço de tempo que medeia entre os nascimentos, de forma consciente e livre, de modo a poder usufruir, da mesma forma, do bem-estar físico e psíquico (Direcção Geral de Saúde, 2001). De acordo com as competências essenciais para a prática de Enfermagem de Saúde Materna e Obstetrícia, o EESMO deve assumir uma intervenção no âmbito do planeamento familiar, de forma a aconselhar os casais na escolha do método contracetivo mais adequado no período pós-parto. Para que este aconselhamento seja possível, o EESMO deve saber identificar os vários métodos contracetivos, bem como a sua forma de utilização, vantagens e desvantagens, indicações e contra-indicações e sua utilização no pós-parto. O aconselhamento deve ser sempre realizado de forma clara, objectiva e sem emissão de juízos de valor. Promover a capacidade das comunidades para a promoção da saúde requer educação, formação e acesso aos recursos. A capacitação dos indivíduos exige um acesso mais real e consistente ao processo de decisão assim como exige a aquisição de competências e de conhecimentos essenciais para uma mudança efectiva (Declaração de Jacarta, 1997). O principal objetivo deste trabalho é refletir sobre a importância do papel do enfermeiro na educação para sexualidade no pós-parto, de forma a promover, junto E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 200 dos casais, a vivência da sexualidade de forma saudável e segura neste período específico. Realizámos uma investigação de caráter qualitativo através de entrevista semiestruturada a puérperas e aos enfermeiros que lhes prestam cuidados. As entrevistas foram realizadas a 100 mulheres durante o internamento (50 realizaram a VPN em médico privado e 50 nos CSP) e a 20 enfermeiros (13 a exercer funções no Internamento de Puérperas e 7 no Internamento de Grávidas). Nas entrevistas às puérperas pretendíamos conhecer as necessidades das mesmas nesta matéria e, por outro lado, saber até que ponto esta temática é abordada durante a VPN. É por nós conhecido que, muitas vezes, o pós-parto constitui, para ambos os cônjuges, um período de crise, que “mexe” com estilos anteriores de adaptação emocional, podendo gerar sentimentos de abandono e compreensão mútuos. Ter consciência prévia da possibilidade desta ocorrência, é já um fator que permitirá dialogar sobre os seus sentimentos e escutar-se um ao outro com compreensão, procurando, em conjunto, estratégias que facilitem a adaptação ao novo ritmo de vida e ao desempenho dos seus novos papéis. Permitirá ainda ao casal aprofundar a sua relação e encontrar um novo ponto de equilíbrio (Kitzinger, 1992; Trindade, 1987). Destas entrevistas sobressaiu o facto de as mulheres que realizaram a VPN em médico privado não abordaram a temática da sexualidade e contraceção no pós-parto e não consideram um assunto importante pois terão oportunidade de esclarecer algumas dúvidas ou receios na consulta de revisão de puerpério. Por outro lado, as mulheres que realizaram a VPN a nível dos CSP abordaram esta temática e consideram um assunto importante pois permite-lhes falar sobre o assunto e desmistificar algumas questões. Quando confrontadas com as dúvidas e receios, as áreas mais abordadas foram a questão da dor durante a penetração, a auto-estima e auto-imagem, a possibilidade de uma nova gravidez e o receio da centralização dos cuidados ao RN. Numa última questão pretendíamos saber qual o método contracetivo que planeava utilizar no pós-parto. A maioria pretende utilizar a contraceção hormonal oral só com progestagénio (Cerazette®). Algumas alternativas também referidas foram: o Implanon®, preservativo, pílula associada ao preservativo e uma das puérperas tinha realizado laqueação de trompas. Nas entrevistas aos enfermeiros pretendíamos conhecer a importância que estes atribuem à formação dos enfermeiros em sexualidade, se abordam a temática “sexualidade e contraceção no pós-parto” em algum momento do internamento hospitalar e quais os assuntos abordados e por fim, quais os seus sentimentos e emoções quando têm que abordar este assunto junto da puérpera/casal. Relativamente à importância da formação dos enfermeiros em sexualidade, a totalidade da amostra respondeu que considera importante que os enfermeiros tenham formação nesta área por vários motivos: atualização, desmistificar, ultrapassar dificuldades/estratégias/como abordar o assunto, possibilidade de ser extensível a E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 201 outros grupos profissionais (médicos). Foi possível perceber que, de uma forma geral, os enfermeiros consideram o conhecimento fundamental para a qualidade da assistência à puérpera/casal. A educação para a sexualidade é de carácter multiprofissional e o enfermeiro não pode/ou não deve adiar a sua parcela de responsabilidade. Portanto, é necessário valorizar a preparação e a formação dos profissionais no que diz respeito a esta temática. Quando questionados sobre a abordagem desta temática em algum momento do internamento, a maioria refere que aborda sempre este assunto junto da puérpera/casal, sendo que um enfermeiro refere que costuma abordar mas depende das pessoas e outro enfermeiro refere que agora aborda este assunto com mais frequência. A totalidade da amostra refere que aborda este assunto no momento da alta. Consideramos que é importante refletirmos sobre algumas estratégias que facilitem a comunicação entre enfermeiro-utente e que poderão passar por algumas destas situações: Começar com tópicos mais gerais e progredir até aos mais pessoais; Começar com termos gerais “muitas pessoas sentem…”; Evitar linguagem vaga e termos não específicos; Adequar a linguagem aos indivíduos; Não julgar nada “certo”, “errado” ou “anormal”; Dispor de tempo suficiente e privacidade. Quanto aos tópicos/assuntos abordados as respostas foram as seguintes: Reinício da atividade sexual, como sendo uma decisão do casal; Dor (durante a penetração); Comunicação no casal; Formas de estar junto/formas de namorar; Encaminhamento para os CSP; Marcação de consulta de planeamento familiar; Contraceção/amamentação/pílula/preservativo/outros métodos. Além destes assuntos consideramos importante abordar também as alterações anatómicas, fisiológicas e psicológicas do pós-parto (diminuição da lubrificação vaginal; dor; cansaço/partilha de tarefas); a abordagem da contraceção deve ter como ponto de partida se a mulher amamenta ou não e não se deve limitar à contraceção hormonal oral só com progestagénio, tal como também devemos falar sobre o método da amenorreia lactacional; por fim, é sempre útil falar sobre exercícios de Kegel, cujas vantagens ultrapassam as ligadas à sexualidade. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 202 Quanto aos sentimentos e emoções do enfermeiro ao abordar esta temática junto da puérpera/casal, no geral, a maioria das reações referidas correspondem a comportamentos positivos e a uma visão positiva da sexualidade. A sexualidade está presente em todo o processo de desenvolvimento e do viver humano e depende de diferentes aspetos multidimensionais, entre eles interações ambientais, condições biológicas e de saúde, compreendendo diferentes etapas do ciclo vital (Crooks & Baur, 1996; Farré et al, 1997). A reflexão da temática da sexualidade tem uma importância fundamental, uma vez que possibilita a compreensão do sentido que a dimensão sexual tem no quotidiano dos seres humanos. Esta compreensão fornece-nos instrumentos para a vivência da sexualidade assim como para o seu entendimento como um aspeto natural da vida humana. Referências Bibliográficas Bobak, I.M., Lowdermilk, D.L., & Jensen, M.D. (1999). Enfermagem na maternidade (4ªed.). Loures: Lusociência. Costa, E., & Leal, I.P. (2005). Dimensões socio-cognitivas na adesão das mulheres à contracepção. Análise Psicológica, 3(XXIII), 247-260. Crooks, R., & Baur, K. (1996). Our sexuality (6th ed.). Brooks/Cole Publishing Company; Direcção Geral de Saúde (2008). Saúde Reprodutiva e Planeamento Familiar – Orientações técnicas n.º 9. Lisboa: Direcção Geral de Saúde. Farré, J.M.M. et al. (Eds.) (1997). Enciclopédia da sexualidade – Sexualidade e reprodução (Vol. 3). Lisboa: Oceano – Liarte Editores. Kitzinger, S. (1992). Enciclopédia da mulher – Sexualidade feminina (Vol. 2). Editorial Anagrama. Trindade, L. (1987). A sexualidade na gravidez. In F.A. Gomes, A. Albuquerque, & J.S. Nunes (Coords.). Sexologia em Portugal – A sexologia clínica (Vol. I) (pp. 8493). Lisboa: Texto Editora. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 203 Vigilância de Saúde da Puérpera e Recém-Nascido na Unidade Saúde Familiar Venda Nova/Puerperal and Newborn Health Surveillance at Venda Nova Family Health Unit Ana Cristina Neves Mendes Pinheiro – ACES Amadora – USF Venda Nova Catarina Alvares Portilheiro – ACES Amadora – USF Venda Nova Isabel Maria Lopes Rosa – ACES Amadora – USF Venda Nova Maria Adelaide O. Verde Martins – ACES Amadora – USF Venda Nova Resumo A díade Recém-Nascido/Família está vulnerável após o nascimento. As Unidades de Saúde são um local privilegiado no atendimento destas famílias. Para melhorar a vigilância de saúde desta díade a equipa desenvolveu várias estratégias, como a informação durante a vigilância pré-natal, da realização do diagnóstico precoce entre o 3ºdia e 6º dia de vida do Recém Nascido e o circuito deste procedimento. A realização da consulta do 1º mês de vida do Recém- Nascido e da consulta de revisão de puerpério em simultâneo. Com a utilização destas estratégias, no sentido de um cuidar holístico, constatamos uma maior adesão aos cuidados de vigilância de saúde. No ano de 2014 todas as grávidas que fizeram a vigilância da sua gravidez nesta Unidade e respectivos RN fizeram o DP no período recomendado. Pretendemos ainda reflectir sobre a nossa prática diária e encontrar outros pontos a serem melhorados. Estes resultados só têm sido possíveis com o trabalho em equipa (enfermeiros, médicos e secretários clínicos). Palavras-chave: Grávida, recém nascido, vigilância Abstrat There is an effective family/mother/newborn vulnerability during puerperium. The Family Health Units are a privileged place to attend and support these families. In order to improve the newborn and mother’s health status and surveillance, we defined and implemented several strategies. Witch were: (1) To give and reinforce information to parents and family, during pre natal consults, about the national early screening program and the importance of its precocity between the 3rd and the 6th day of life. (2) To give the parents/family the ability to know and manage the procedures and health surveillance circuits within our family health unit. (3) To E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 204 organize health surveillance consults (mother an d newborn), namely the baby 1st month consult and the mother’s puerperium consult, during the same day/hour. Using these three simple strategies, based in an holistic health care, we concluded that the access to health surveillance care and the consults have been increasing. This change’ analysis allows us to reflect upon our daily practice and to find some aspects to change and be improved in the future. In 2014 all pregnant women who have made the monitoring of her pregnancy in this unit, the respective RN did the DP in the recommended period. These results have only been positive with teamwork (nurses, doctors and medical secretaries). Keywords: Pregnant, newborn, surveillance Introdução O nascimento de uma criança corresponde a um momento de crise na família. Tal como refere Hockenberry (2006), os enfermeiros podem contribuir de forma significativa para a promoção de saúde das crianças e respectivas famílias, reconhecendo a família como uma constante na vida da criança. Esta reflexão, pretende dar a conhecer as estratégias adotadas para a melhoria da qualidade dos cuidados prestados na vigilância da grávida/ puérpera e Recém – nascido na USF Venda Nova. Considerações Para a realização deste trabalho descrevemos as atividades e estratégias desenvolvidas com a família para atingir uma adequada vigilância de saúde. Um novo elemento na família poderá ser um potencial gerador de ansiedade no seio desta. Para minimizar estes efeitos, ao longo da vigilância da gravidez, com maior enfoque no último trimestre, há que reforçar a tomada de consciência para o nascimento da criança (Brazelton, 2005) e todas as repercussões que irão ter nas suas vidas. Ao detectarmos a falha da realização do Diagnóstico Precoce entre o 3º e 6º dia de vida, como está preconizado, por falta do contacto em tempo útil pela família, tentámos ultrapassar esta dificuldade. Tal como, nos diz Hockenberry (2006), os serviços de saúde devem ter como objectivo iniciativas que promovam a saúde da criança e respectiva família. Seguindo esta linha de intervenção, a equipa da USF Venda Nova, nas últimas consultas de vigilância da gravidez, alerta a família para a importância da realização E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 205 deste teste no período recomendado. Este processo tem sido agilizado com a sensibilização e a entrega de um folheto com a informação do Diagnóstico Precoce e como proceder ao seu agendamento. No dia da realização do Diagnóstico Precoce é realizada a 1ª consulta de vigilância do RN, capacitando os pais na sua tomada de decisão, tal como diz Hockenberry (2006). Outro facto constatado foi as sucessivas faltas das puérperas à consulta de revisão de puerpério, em oposição do ocorrido na consulta do 1º mês de vida da criança. Tendo como base o Cuidado Centrado na Família (Hockenberry, 2006), devemos cuidar desta díade RN/ Puérpara em simultâneo. Seguindo esta linha de pensamento, a Equipa da USF Venda Nova decidiu utilizar como estratégia a realização das duas consultas no mesmo momento, tendo em conta que a revisão do puerpério pode ser feita até à sexta semana pós-parto, privilegiando assim a família como um todo. Conclusão Com a utilização destas estratégias, no sentido de um cuidar holístico, constatamos que a adesão aos Cuidados de Vigilância de Saúde tem aumentado. Sabemos que temos um longo percurso a percorrer, mas pensando nas crianças e suas famílias como as células da comunidade, cabe aos profissionais de saúde capacitá-los no cuidar da sua saúde. Tal como, nos diz Hockenberry (2006), o enfermeiro apoia e reforça a capacidade da família de promover a seu desenvolvimento. Referências Bibliográficas Brazelton, T. Berry – O Grande Livro da Criança. Ed. Presença: Barcarena, 2005. 535p. Direção Geral de Saúde – Exames laboratoriais na Gravidez de Baixo Risco. Lisboa, 2013. 10p. Direção Geral de Saúde – Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil. Lisboa, 2013. 121p. Hockenberry, M.; Winkelstein, W. – Wong Fundamentos de Enfermagem Pediátrica. Mosby Elsevier: São Paulo, 2006. 1303p. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 206 Vírus do Papiloma Humano (HPV): Intervenção de Enfermagem/human papiloma virus (HPV): Nursing Intervention Ana Maria Ferreira Batista – Centro Hospitalar do Oeste – Unidade Caldas da Rainha, [email protected] Ana Rita de Oliveira Adriano – Centro Hospitalar do Oeste – Unidade Torres Vedras, [email protected] Andrea Inês Sousa Carvalho – Centro Hospitalar do Oeste – Unidade Torres Vedras, [email protected] Sigride Duarte Baleia Rodrigues – Centro Hospitalar do Oeste – Unidade Torres Vedras, [email protected] Resumo O HPV é responsável por um elevado número de infeções que, na sua generalidade, são assintomáticas, regredindo espontaneamente. Contudo, pode dar origem a lesões benignas (verrugas anogenitais/condilomas acuminados e lesões benignas da orofaringe), podendo evoluir para cancro, nomeadamente do colo do útero. No que diz respeito à população sexualmente ativa, segundo dados da Direção-Geral da Saúde (DGS, 2008, p.8), 50 a 80% dos indivíduos adquirem infeção por HPV. A nível mundial, esta é uma das infeções de transmissão sexual mais comuns, usualmente transmitidas por via sexual, através do contacto epitelial direto, mais raramente por via vertical (parto) e nalguns casos por contacto orogenital. O cancro do colo do útero é o segundo tipo de cancro mais frequente na mulher em todo o mundo, sendo a patologia mais relevante associada à infeção por HPV. Os cuidados de saúde são um direito de todos, cabe aos enfermeiros, em articulação com os restantes profissionais de saúde, desenvolver programas de prevenção, diagnóstico e tratamento da infecção por HPV. Palavras-chave: HPV; prevenção; diagnóstico; enfermagem Abstract The Human Papillomavirus HPV is responsable for a high level of infections that, mostly are asymptomatic, regressing spontaneously. However, they can cause benign lesions (anogenital warts/condylomata acuminate and oropharyngeal benign lesions), which can develop into cancer, particularly cervical cancer. What concerns to sexually active population, according to information from General Direction for Health (DGS, 2008, p.8), 50 to 80% of individuals acquire HPV infection. In a global level, this is one of the most common sexually transmitted infections, usually E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 207 sexually transmitted, through direct contact with epithelial cells, more rarely by vertical transmission (delivery) and in some cases by oro-genital contact. Cancer of the cervix is the second most common cancer in woman worldwide being the most relevant pathogenesis associated with HPV infection. Health care is a human right. It is up to nurses, in conjunction with other health professionals, develop programs to prevention, diagnosis and treatment of HPV infection. Keywords: HPV; prevention; diagnostic; nursing Objetivos Geral: - Consolidar conhecimentos no âmbito do HPV. Específicos: - Identificar a pertinência da intervenção de enfermagem na prevenção do HPV; - Criar um ponto de partida para novas pesquisas bibliográficas, visando a adequação dos cuidados de enfermagem prestados. Introdução Segundo a DGS (2008, p.9), “o HPV é um vírus cujo genoma é constituído por DNA circular de cadeia dupla contendo cerca de 8.000 pares de bases e com uma cápside, icosaédrica composta por duas moléculas proteicas – L1 e L2”. A replicação do HPV pode ocorrer de duas formas: por replicação epissomal nas células epiteliais (pele e mucosas) em diferenciação, ou por integração do genoma viral no DNA das células epiteliais mais diferenciadas (queratinócitos), conduzindo ao início do processo de carcinogénese. São mais de duzentos os tipos de HPV identificados, dos quais cerca de quarenta infetam, habitualmente, o trato anogenital: vulva, vagina, colo do útero, pénis e áreas perianais. Com base no seu potencial oncogénico, o HPV pode ser classificado em vírus de “baixo risco” e “alto risco”. A infeção por HPV é, na maioria das situações, transitória e auto-limitada. No entanto, se a resposta imunológica não for adequada para erradicar a infeção, as partículas virais propagam-se por contiguidade infetando outras células da mucosa. No que concerne a infeções persistentes, o DNA viral pode integrar-se no genoma das células do hospedeiro causando displasias de grau variável que, se não forem detetadas e tratadas, poderão evoluir para carcinoma invasivo. De acordo com a DGS (2008, p.15), “assume-se que os genótipos de HPV em Portugal tenham, de um modo geral, uma distribuição semelhante à de outros países da Europa E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 208 comunitária havendo estudos nesse sentido. Assim, os genótipos 16 e 18 são os mais prevalentes e responsáveis por cerca de 70 a 75% dos casos de cancro do colo do útero e os genótipos 31 e 45, por exemplo, foram apenas encontrados em 6% das mulheres portuguesas com cancro do colo do útero”. A ênfase dada à promoção da saúde, centrada na comunidade, tem vindo a crescer. Por conseguinte, muitos assuntos relacionados com a saúde requerem o empenho e a colaboração de diversas redes na comunidade para poderem ser atingidos os objetivos de saúde pública. Daí serem de extrema importância as atividades desenvolvidas pelo enfermeiro no âmbito da intervenção precoce, tendo como meta a promoção, prevenção e recuperação da saúde na comunidade, não esquecendo as necessidades básicas dos próprios, bem como a diferença social e cultural. Método Pesquisa bibliográfica; reflexão sobre a prática de enfermagem no âmbito da Saúde da Mulher. Resultados Com base na DGS (2008, p.14), foram identificados alguns co-fatores que contribuem para o aumento do risco de infeção persistente por HPV e a progressão para cancro, nomeadamente: “co-fatores associados ao HPV: genótipo do vírus, sendo o HPV 16 e o 18 os que apresentam maior potencial oncogénico; co-infeção com vários genótipos de alto risco; carga viral elevada, indicador de replicação viral ativa. Outros co-fatores: imunodeficiência; início precoce da atividade sexual; múltiplos parceiros sexuais; parceiro(s) com múltiplos parceiros; multiparidade; predisposição genética; hábitos tabágicos; co-infeção com outros microrganismos de transmissão sexual (principalmente vírus Herpes Simplex tipo 2 e Chlamydia trachomatis). Alguns autores consideram ainda o uso prolongado de contracetivos orais como um co-fator. Independentemente dos fatores enunciados, o risco é maior nas mulheres que não efetuam rastreio regularmente”. Tendo em conta a norma n,º 016/2014 da DGS, desde outubro de 2014, a vacinação no âmbito do Plano Nacional de Vacinação (PNV) com a vacina HPV, é recomendada às raparigas com idades entre 10-13 anos inclusive. Esta vacinação pode ser iniciada até aos 18 anos exclusive e completada (2ª ou 3ª dose) até aos 25 anos inclusive. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 209 Quadro 1. Esquemas de transição e de recurso para a vacina HPV (DGS, Norma n.º 016/2014, p.3). Existem disponíveis no mercado português duas vacinas: a bivalente (Cervarix®) e a tetravalente (Gardasil®). A primeira a ser comercializada em Portugal foi a tetravalente em 2006, desenvolvida contra os HPV 16 e 18 (responsáveis por 70 a 75% de casos de cancro do colo do útero) e contra os HPV 6 e 11 (responsáveis por cerca de 90% de casos de verrugas genitais). Em 2007, começou a ser comercializada em Portugal a vacina bivalente que confere imunidade para os HPV 16 e 18 (responsáveis por 70 a 75% de casos de cancro do colo do útero). Logo, a intervenção de enfermagem na educação para a saúde individual e/ou em grupo procura despertar o interesse da população para esta realidade, sensibilizando para a promoção da saúde e prevenção de complicações relacionadas com o HPV. Os cuidados de enfermagem também pretendem alertar para a importância da vacinação, diagnóstico precoce e para a possibilidade de tratamento atempado. No que diz respeito ao diagnóstico e tratamento, preconiza-se o “seguimento das mulheres com rastreio positivo, para assegurar o diagnóstico e a adequada gestão da doença; tratamento das lesões pré-cancerosas, para prevenir o desenvolvimento do cancro; tratamento do cancro invasivo, incluindo cirurgia, radioterapia e quimioterapia” (DGS, 2008, p.19). Nos casos avançados de doença, torna-se fulcral o “tratamento sintomático para a dor e outros sintomas relacionados com o cancro e com os efeitos secundários da terapêutica; humanização dos cuidados e apoio psicológico; envolvimento da família e da comunidade no acompanhamento destes doentes” (DGS, 2008, p.19). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 210 Considerações Finais Os valores de cobertura vacinal contra o HPV em Portugal são elevados e consistentes. Estes resultados relacionam-se com um PNV solidamente implantado, com o empenho dos profissionais e a confiança da população. De acordo com o Boletim n.º 08 de abril/2014 da DGS, são esperados importantes ganhos em saúde a médio/longo prazo. O enfermeiro é, por excelência, um promotor de saúde na comunidade, desempenhando funções importantes na promoção de alterações nos comportamentos, visando a prevenção das infeções sexualmente transmissíveis, sendo igualmente essenciais os cuidados que presta no âmbito da promoção da vacinação e no incentivo ao rastreio. Referências Bibliográficas Direção-Geral da Saúde (2014): A Vacinação contra o Vírus do Papiloma Humano (HPV) em Portugal; Boletim n.º 08 de abril/2014; Direção-Geral da Saúde (2014): Programa Nacional de Vacinação – Alteração do esquema da vacina contra infeções por vírus do Papiloma humano (HPV); Norma n.º 016/2014 de 29/09/2014 atualizada a 01/10/2014; Direção-Geral da Saúde (2008): Vacinação contra infeções por Vírus do Papiloma Humano (HPV). E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 211 A Saúde Sexual e Reprodutiva na Mulher Cigana – Uma Revisão da Literatura/Sexual and Reproductive Health in Gypsy Woman – A Literature Review Raquel Cajão – Residências Montepio, Fundação D. Pedro IV e 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Carina Simões – Centro Hospitalar de Lisboa Central e 5º CMESMO da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa Joana Castanheira – Hospital Prisional São João de Deus Dora Carteiro – ACES Lisboa Norte – UCSP Charneca do Lumiar Resumo Numa perspetiva de enfermagem transcultural prevê-se uma estrutura holística e compreensiva de forma a analisar sistematicamente as diferentes dimensões da cultura nos cuidados de enfermagem, adequando as intervenções ao indivíduo/família. Assim, torna-se emergente conhecer a cultura cigana, as suas características e especificidades de forma a tornar os cuidados de enfermagem significativamente mais centrados no indivíduo como ser integrante de um mundo multicultural. Realizou-se uma revisão da literatura entre 2000 e 2012 com pesquisa nas bases de dados SciELO, LI-LACS, B-On e RCAAP, utilizando os descritores mulher cigana, cultura cigana, planeamento familiar e saúde sexual e reprodutiva. Foram identificadas sete publicações que evidenciam algumas das especificidades da cultura cigana que influenciam o modo como a mulher cigana participa nos cuidados de saúde e dimensões importantes a ter em conta no planeamento dos cuidados, tais como a desvalorização da promoção de saúde, nomeadamente na vigilância pré-natal, a participação no parto, os cuidados no puerpério, bem como a pouca importância dada à contraceção e ao planeamento familiar. Palavras-chave: mulher cigana; saúde sexual e reprodutiva; cuidados de enfermagem Abstrat In a transcultural nurse perspective it’s foreseen an holistic and comprehensive structure in way to analyze the different culture dimensions on nursing caring, adapting the interventions to the individual/family. Therefore, it becomes emergent to know the gipsy culture, their characteristics e specificities in order to in order to make nursing care significantly more focused on the individual as a member of a multicultural world. The literature review was made from 2000 to 2012 with research in databases such as SciELO, LI-LACS, B-On, using the descriptors gypsy woman, gypsy culture, family planning and sexual and reproductive health. Seven publications were identified that show some specificities of gypsy culture that influence how the gypsy E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 212 woman participates in health care and important dimensions to be considered in the caring planning, such as the devaluation of the health promotion particularly in the prenatal surveillance, participation in childbirth, postpartum care, as well as the little importance given to contraception and family planning. Keywords: Gypsy woman; sexual and reproductive health; nursing caring Introdução A intervenção junto da comunidade cigana torna-se relevante como forma de incentivar a promoção para a saúde, o acesso à vigilância, a prevenção de doença através de educação para a saúde, desmistificar mitos, promover uma linguagem adequada e um relacionamento terapêutico entre profissionais e utentes. Emerge assim o interesse por um maior conhecimento desta cultura e das suas especificidades de forma a facilitar um cuidado holístico às mulheres de etnia cigana. Objetivo Identificar particularidades da cultura cigana que influenciam os cuidados de saúde à mulher cigana e sensibilizar os enfermeiros para a importância de contemplar os aspetos culturais no planeamento dos cuidados à mulher. Método Revisão da literatura sobre a mulher de etnia cigana incidindo a pesquisa nos cuidados de saúde sexual e reprodutiva. Foi realizada pesquisa nas bases de dados SciELO, LILACS, B-On e RCAAP utilizando os descritores “mulher cigana”, “cultura cigana”, “planeamento familiar” e “saúde sexual e reprodutiva”. Foram encontradas 15 publicações das quais 7 foram utilizadas, entre o ano 2000 e 2012. Resultados Os resultados mostram características e particularidades da comunidade cigana a considerar no planeamento de cuidados à mulher no âmbito da saúde reprodutiva e planeamento familiar. Na etnia cigana as famílias são numerosas, caracterizadas por altas taxas de fecundidade e uma média de idade para o nascimento do primeiro filho que se situa nos 17 anos. Verificam-se também baixas taxas de vigilância da gravidez e falta de informação nas temáticas da saúde e da doença (Allen, 2012). A menina cigana, uma vez menstruada passa a mulher, efetuando uma transição rápida da adolescência para a idade adulta (Allen, 2012). O casamento ocorre E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 213 frequentemente em idades muito jovens, no rapaz entre os 16/20 anos, e na rapariga aos 13/18 anos (Cruz, 2011). Um pai cigano espera das filhas: virgindade, casamento e a perpetuação da espécie. A prova da virgindade é um ritual utilizado durante o casamento sendo a virgindade um valor muito importante para esta comunidade e a sua preservação é incutida desde cedo pelas mães (Caré, 2010). Relativamente à saúde sexual e reprodutiva, de uma forma generalizada, não existe prevenção de possíveis doenças ginecológicas. A nível do planeamento familiar, o número de jovens ciganas que procuram a contraceção como uma boa prática tem aumentado (Correia, M., 2011), no entanto, a escolha do método contracetivo, prende-se muitas vezes com a facilidade de utilização e de acesso (Santos, 2008). Persistem ainda mitos, ideias e falta de conhecimento sobre os métodos contracetivos motivos pelos quais são muitas vezes recusados (REAPN, 2007). Um casal para ser considerado uma família de verdade, tem de ter filhos logo após o casamento e, caso não aconteça, a responsabilidade é atribuída à mulher (Allen, 2012). A gravidez na adolescência é uma realidade dado que não é utilizada contraceção e o casamento ocorre em idades muito jovens. Para a mulher cigana, o nascimento do primeiro filho significa a sua plena aceitação como adulta e a plena aceitação do casal como família. Após o nascimento do primeiro ou segundo filho, as mulheres de etnia cigana mais facilmente procuram as consultas de planeamento familiar e os métodos contracetivos com o objectivo de espaçar as gravidezes (Santos, 2008). A saúde materna caracteriza-se pela maternidade precoce muitas vezes sem acompanhamento ou vigilância (Correia, 2011). A gravidez pode não constituir um motivo para recorrer aos serviços de saúde, embora as mulheres cada vez mais o façam nos primeiros meses com o objetivo de confirmar a gravidez, saber qual o sexo do bebé e só no final da gravidez surge a preocupação com a saúde da mãe e do bébé (Silva, 2005; REAPN, 2007). O parto, hoje em dia, é realizado maioritariamente a nível hospitalar e, até quarenta dias após o parto, a mulher cigana é considerada impura, devendo manter-se resguardada (Correia, 2011). È entendido como um ritual de passagem para esta comunidade, uma etapa que deve ser vivenciada de forma natural. A amamentação, por sua vez, é uma prática frequentemente utilizada e muito prolongada no tempo (Silva, 2005). Numa outra fase do ciclo de vida, segundo o REAPN (2007), ainda muitas mulheres de etnia cigana desconhecem a menopausa como um processo evolutivo, enfrentam as transformações do organismo de forma inadequada, associando-se muitas vezes transtornos psicológicos relacionados com o aparecimento de sintomas de característicos da menopausa, como a depressão e ansiedade. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 214 Considerações Finais A sensibilização dos profissionais de saúde para as especificidades da cultura cigana torna-se importante numa sociedade multicultural e fundamental no cuidado holístico à mulher. Algumas estratégias podem ser implementadas na orientação da prática nas consultas de saúde sexual e reprodutiva: melhorar a acessibilidade aos cuidados de saúde, capacitar as mulheres para o cuidado da sua própria saúde reforçando o empowerment, promover junto dos profissionais de saúde atitudes pró-ativas e o respeito pelos aspetos culturais relacionados com o sexo e com a reprodução tendo em conta as particularidades da cultura. Organizar ainda sessões de sensibilização e de educação para a saúde relativamente aos cuidados de saúde à mulher, em situações de maior proximidade com o profissional de saúde, que idealmente deve ser do mesmo sexo que a utente, de forma a facilitar a comunicação e a evitar constrangimentos e, por último, criar um clima de confiança e de compreensão. Referências Bibliográficas Allen, P. (2012) – (Des)Encantos de ser mulher cigana: representações da sua sexualidade. Revista de Saúde Reprodutiva Sexualidade e Sociedade (1) 45 – 63; Caré, M. (2010) – Cignos em Portugal: Educação e Género; Correia, M. (2011) – Cultura cigana e sua relação com a saúde. Porto: Universidade Católica Portuguesa; Cruz, M. (2011) – Educação para a saúde – intervenção comunitária aos três níveis de prevenção. Lisboa: Universidade Católica Portuguesa; REAPN (Rede Europeia Anti-Pobreza) (2007) – Guia para a Intervenção com a Comunidade Cigana nos Serviços de Saúde. Fundación Secretariado Gitano Ahijones, Madrid; Santos, A. S., (2008) – Há muito remédio de agora não ter crianças: Representações e Práticas Contraceptivas de Mulheres Ciganas – In Revista Sexualidade e Planeamento Familiar, nº 48/49; Silva, L. F. d. (2005) – Saúde/doença é questão de cultura: atitudes e comportamentos de saúde materna nas mulheres ciganas em Portugal. Porto: Alto Comissariado para a Integração e Minorias Étnicas. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 215 Representações da Maternidade Vividas pelas Imigrantes Africanas: Uma Realidade Local/Representations of Motherhood Lived by African Immigrants: A Local Reality Rosa Estriga – ACES Loures-Odivelas – UCSP Sacavém, [email protected] Paula França – ACES Loures-Odivelas – UCSP Sacavém Sara Francisco – ACES Loures-Odivelas – UCSP Sacavém Carla Nom – ACES Loures-Odivelas – UCSP Sacavém Susana Rito – ACES Loures-Odivelas – UCSP Sacavém Filipa Semedo – ACES Loures-Odivelas – UCSP Sacavém Resumo O número exponencial de grávidas imigrantes africanas é uma realidade cada vez mais presente na consulta de enfermagem de saúde materna da UCSP (Unidade de Cuidados de Saúde Personalizados) de Sacavém. O desconhecimento por parte da equipa de enfermagem das vivências culturais dos países de origem foi o despoletar para a consecução deste trabalho, que tem como principal objectivo compreender de que forma a mulher imigrante africana vivencia o projecto de maternidade no país de acolhimento. Nesta revisão do estado da arte em que, simultaneamente, se recorre à experiência e prática de cuidados na área de saúde materna, foi possível percepcionar que a realidade cultural de origem destas mulheres ainda está presente no seu processo de maternidade, muitas vezes, alheio à maior parte dos profissionais de saúde. Apresentam crenças e rituais relacionados com a forma de viver a gravidez, a alimentação, os cuidados a ter com o corpo, a amamentação e o puerpério que transformam as suas vivências numa perspectiva muito particular da maternidade e muito díspar das exigências do sistema de saúde do país de acolhimento. Assim sendo, os cuidados prestados pelos enfermeiros tornam-se fundamentais na aprendizagem do papel materno por parte destas imigrantes, fornecendo informações e conselhos que as capacitem e a ajudem a ultrapassar as dificuldades inerentes a esta etapa, nunca desvalorizando a sua bagagem cultural. Palavras-chave: Representações, maternidade, imigrantes africanas, cuidados de saúde Abstract The number of immigrant pregnant women attending the nursing prenatal and maternal care appointments in the Personalized Health Care Unit (PHCU) of Sacavém is drastically increasing. The lack of knowledge about the cultural aspects surrounding E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 216 motherhood in African immigrant women was the trigger for this study. The aim is to understand how these women experience maternity in a host country. Using a systematic review of the literature and empiric experience from day-to-day practice in prenatal and maternal care, it was possible to realize that cultural aspects are influential in their role as mothers, which is often ignored by healthcare professionals. These women have different beliefs and rituals about the way they experience the pregnancy, nutrition, personal care, breastfeeding and puerperium, making their experience of motherhood unique but, these may compromise their needs when living in a host country. Therefore, in this scenario, nurse’s role is paramount in preparing these women for their maternal role, providing information and counseling to overcome this period, bearing in mind their cultural background. Keywords: Representations, motherhood, African immigrants, healthcare Introdução As sociedades de hoje são cada vez mais, culturalmente diversificadas. Portugal não é excepção, verificando-se este fenómeno no quotidiano. Como consequência deste facto verifica-se um aumento significativo de mulheres a viver o processo de maternidade em contexto multicultural e migratório (Sopa, 2009). Tendo em conta esta realidade, propomo-nos a elaborar um estudo sobre “As representações da maternidade vividas pelas imigrantes africanas – uma realidade local”. A pertinência na escolha do mesmo incidiu sobre o facto de que 41,57% do total de puérperas inscritas no ano de 2014 (o que corresponde a 111 puérperas de um total de 267), no ACES (Agrupamento dos Centros de Saúde) Loures-Odivelas – UCSP Sacavém, serem imigrantes, sendo a sua maioria proveniente de PALOP’S (32,96%), nomeadamente de São Tomé e Príncipe (15,73%) e Guiné-bissau (7,87%). Reforçando esta situação, segundo os dados do INE (2012), o concelho de Loures é aquele que, a nível nacional, apresenta uma maioritária percentagem de imigrantes provenientes de São Tomé e Príncipe (21,13% de um total de 10 480) e o segundo concelho com maior prevalência de imigrantes oriundos da Guiné-bissau (11,11% de um total de 16 360). A falta de conhecimento por parte dos profissionais de saúde acerca dos aspectos culturais relacionados com o comportamento sexual e reprodutivo, assim como, a existência de atitudes discriminatórias e de preconceitos, o reduzido acesso aos serviços de saúde, a barreira da comunicação e a falta de sensibilidade, podem causar impacto negativo na utilização dos cuidados e na forma como as mulheres imigrantes experienciam a maternidade (Coutinho e Parreira, 2011). Reflectindo nestes dados, definimos como objectivo deste estudo compreender de que forma a mulher imigrante africana vivencia o projecto de maternidade no país de acolhimento. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 217 Métodos Como metodologia iremos utilizar a revisão do estado da arte baseada, simultaneamente, na experiência e prática de cuidados na área de saúde materna da UCSP Sacavém, na qual, tivemos a oportunidade de questionar informalmente algumas puérperas da comunidade africana que nos testemunharam as vivências mais comuns no seu processo de maternidade. Os dados obtidos sobre o número e a nacionalidade das puérperas foram colhidos através da análise das notícias de nascimento correspondentes ao ano de 2014 da UCSP Sacavém. Resultados Os cuidados de saúde oferecidos pelo país de acolhimento muitas vezes não vão de encontro às expectativas e necessidades das mulheres imigrantes pois estas sentem-se incompreendidas e mal interpretadas por parte dos profissionais de saúde nos seus hábitos e costumes (Santiago, 2009). Segundo Dias e Rocha (2009: 83), “um resultado interessante que surge nos discursos de várias mulheres africanas é a ideia de que a gravidez é algo que está sob o seu controlo”. As africanas, de uma forma geral, explicitam que o número elevado de filhos é muito valorizado no contexto cultural dos países de origem, razão pela qual, a maior parte das famílias africanas têm entre 4 a 6 filhos. É um sinal de posse e riqueza, de virilidade e fidelidade para o homem, e da demonstração de interesse que o último ainda tem pela mulher (França, 1992; Dias e Rocha, 2009). Segundo o estudo de Machado e colaboradores (2006), citado por Dias e Rocha (2009), aponta no sentido de que o início da vigilância da gravidez é mais tardio nas mulheres imigrantes em comparação com as mulheres portuguesas. Sopa (2009) especifica que a maioria das guineenses e angolanas não vigiam a gravidez no seu país de origem. Na recolha de informação à comunidade verificou-se que a gravidez é encarada com naturalidade em que a grávida africana mantém uma vida normal sem restrições, facto corroborado por Sopa (2009). As grávidas preparam-se para esta etapa através da sua própria protecção contra feitiços com o uso de amuletos e revigorando a sua vitalidade espiritual e física através de banhos com água de folhas de plantas e a ausência de depilação. No que diz respeito à alimentação da grávida africana, Sopa (2009) refere o hábito de beber água de cozer palha de banana e trincar tambarina para os enjoos. Segundo a nossa população é frequente comer amendoim, cachupa, manteiga fresca batida e beber um copo de vinho à refeição para aumentar a produção de leite. Relativamente ao parto, os hábitos ancestrais dos países de origem não se verificam no país de acolhimento, uma vez que a nossa população teve um parto medicalizado nas E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 218 instituições hospitalares em vez de no domicílio. Manifestam o quão é importante deambular durante o trabalho de parto, alguns receios em relação à analgesia epidural e a permissão apenas da presença feminina, proibindo qualquer presença masculina em todas as fases do trabalho de parto (Sopa, 2009). O puerpério é um período resguardado no qual a mulher africana não costuma sair de casa, indo algumas para a casa de familiares (Sopa, 2009). A nossa população reforça esta ideia, explicitando que a mãe e o filho permanecem no domicílio durante um mês, sendo a primeira apenas responsável por cuidar do recém-nascido e todas as outras responsabilidades são transferidas para as avós materna e paterna. Este facto está relacionado com a crença de que as “novas vidas” (sic) apresentam-se mais vulneráveis aos feitiços de “mau-olhado” (sic) e, para protecção contra possíveis infecções. Alguns rituais da puérpera africana estão relacionados com banhos de água fervida com folhas de ervas, nomeadamente, acácia ou banana seca (Guiné-bissau) e capim de Deus (Angola), ideia igualmente descrita pela nossa comunidade. Discussão/Considerações Finais Com a realização deste trabalho pudemos deparar-nos com uma realidade que nos era desconhecida relativamente à vivência da maternidade por parte das nossas imigrantes africanas. Este facto, leva-nos a crer que os enfermeiros podem ser um grupo privilegiado no sentido de puderem orientar, informar e ajudar estas mulheres durante toda a fase de gravidez e puerpério, através da adaptação de estilos de vida saudáveis e congruentes a nível cultural, adaptando as crenças existentes no seio destas mulheres ao novo país de acolhimento (Leal e Sousa, 2008 citado por Sopa, 2009). A adaptação cultural por parte dos profissionais de saúde a diferentes comunidades pode constituir uma estratégia importante no sentido de aumentar significativamente a adesão às consultas de vigilância pré-natal e puerpério na população africana (Dias e Rocha, 2009). Este trabalho manifesta uma necessidade premente por parte da equipa de enfermagem desta unidade funcional, no sentido de o aprofundar e, eventualmente, torná-lo num trabalho científico num futuro próximo, visando a melhoria e a individualização dos cuidados prestados uma vez que até à data não nos foi possível pelo tempo disponível. Referências bibliográficas Coutinho, Emília; Parreira, Maria Vitória (2011). Outra Forma de Olhar a Mãe Imigrante numa Situação de Transição. Millenium, 40: 83‐97. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 219 Dias, Sónia F.; Rocha, Cristianne F. (2009). Saúde sexual e reprodutiva de mulheres imigrantes africanas e brasileiras : um estudo qualitativo. Lisboa: AltoComissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural. França, Luís de (1992). A comunidade Caboverdiana em Portugal. Lisboa: Instituto de Estudos para o Desenvolvimento: SENES. Rodrigues, Natália A. (2009). Diversidade cultural na maternidade In Lopes, José Carlos Reis et al Multiculturalidade perspectivas de enfermagem contributos para melhor cuidar (165-180). Loures: Lusociência. INE (2012). A população Estrangeira em Portugal 2011. Acedido a 20.04.2015. Disponível em https://www.ine.pt/xportal/xmain?xpid=INE&xpgid=ine_destaques&DESTAQU ESdest_boui=150126943&DESTAQUESmodo=2 Santiago, Maria C.F. (2009) – PERCEPÇÕES E COMPORTAMENTOS DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE FACE À MULHER NA ADAPTAÇÃO À MATERNIDADE EM CONTEXTO MIGRATÓRIO – Contributos para a promoção da saúde da mulher migrante. Universidade Aberta. Dissertação do Mestrado de Comunicação em Saúde. Lisboa. Sopa, Maria J.P. (2009). Representações e Práticas da Maternidade em Contexto Multicultural e Migratório. Universidade Aberta. Dissertação do Mestrado de Comunicação em Saúde. Lisboa. E-BOOK I CONGRESSO INTERNACIONAL DE SAÚDE MATERNA/I INTERNATIONAL CONGRESS OF MATERNAL HEALTH LISBOA/LISBON 2015 220