28) Farmacologia do trato gastrintestinal

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28) Farmacologia do trato gastrintestinal
ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA
28)
Farmacologia do trato gastrintestinal
péptica, de modo que a terapia desta condição envolve fármacos
que modificam cada um desses fatores.
O ácido clorídrico é secretado pelas células parietais
gástricas por uma bomba de prótons (K+/H+-ATPase). Os
estímulos principais para a secreção de ácido clorídrico são a
gastrina, a histamina e a acetilcolina. Simplificadamente, podese explicar o controle fisiológico da secreção de ácido clorídrico
da seguinte maneira:
A célula parietal possui receptores H2 para histamina,
receptores M2 para acetilcolina e receptores de gastrina. A
estimulação dos receptores H2 aumenta o AMPc, enquanto a
estimulação dos receptores M2 e de gastrina aumenta o cálcio do
citosol. Esses mensageiros atuam de modo sinérgico, produzindo
a secreção ácida. A gastrina e a acetilcolina, além de
estimularem diretamente as células parietais, promovem a
secreção de histamina pelas células secretoras de histamina.
A acetilcolina é proveniente dos nervos colinérgicos, a
histamina provém das células secretoras de histamina e de
mástócitos, enquanto a gastrina, produzida pelas células
endócrinas da mucosa do antro gástrico e duodeno, é liberada
pela corrente sanguínea nas células parietais. A ação da
acetilcolina é bloqueada pela atropina; a ação da histamina é
interrompida diretamente pelos antagonistas H2 (cimetidina), e a
atropina inibe a secreção de histamina pelas células secretoras; a
ação da gastrina nos receptores das células parietais é inibida
pela proglumida; as prostaglandinas E2 e I2 inibem diretamente
a produção de ácido clorídrico; o misoprostol inibe a produção
de ácido através da estimulação dos receptores de
prostaglandinas das células parietais; e finalmente, os inibidores
da bomba de prótons (omeprasol, etc) interrompem a atividade
da K+/H+ - ATPase (esta bomba é responsável pela troca do K+
por H+ no processo de formação de HCl – ou seja, nessa
ocasião, o K+ retorna ao interior da célula parietal em troca da
secreção de H+ necessário à formação do HCl).
Além de sua principal função na digestão e absorção dos
alimentos, o trato gastrintestinal é um dos principais sistemas
endrócrinos do corpo. Possui também sua própria rede
neuronal integrativa, o sistema nervoso entérico, que contém
aproximadamente o mesmo número de neurônios da medula
espinhal. As principais funções do trato gastrintestinal que são
importantes do ponto de vista farmacológico são:
- secreção gástrica;
- vômito;
- motilidade do intestino e expulsão das fezes;
- formação e excreção de bile.
O trato gastrintestinal é inervado pelos plexos
mioentérico e submucoso. Os plexos estão interconectados, e
suas células recebem fibras parassimpáticas préganglionares do vago, que são principalmente colinérgicas e
excitátórias.
As fibras simpáticas que chegam são, em grande parte,
pós-ganglionares e inervam os vasos sanguíneos, o músculo e
células glandulares, além de possuírem terminações nos
plexos, onde inibem a secreção de acetilcolina.
Os neurônios no interior dos plexos (que constituem o
sistema
nervoso
entérico)
secretam
acetilcolina,
noradrenalina, serotonina, purinas, óxido nítrico. O plexo
entérico possui neurônios sensoriais que respondem a
estímulos mecânicos e químicos.
Os principais hormônios secretados pelo trato
gastrintestinal são:
- a gastrina, que possui como função principal estimular
a secreção de ácido gástrico pelas células parietais. Além
disso, aumenta indiretamente a secreção de pepsinogênio (que
é o responsável, juntamente com o HCl, pela digestão de
proteínas) e estimula o fluxo sanguíneo e a motilidade
gástrica. A secreção de gastrina é inibida quando o pH do
conteúdo gástrico vai para 2,5 ou menos.
- a histamina, que estimula as células parietais através
dos receptores H2. A histamina provém dos mastócitos
localizados nas células parietais. Ocorre liberação basal
uniforme de histamina, que aumenta sob a ação da gastrina e
da acetilcolina.
A acetilcolina, um neurotrasmissor, estimula receptores
muscarínicos específicos presentes na superfície das células
parietais e na superfície das células que contêm histamina.
O estômago secreta pepsinogênio, ácido clorídrico e fator
intrínseco, provenientes das células principais e parietais. O
muco é secretado por células especializadas localizadas entre
as células superficiais por toda a mucosa gástrica. Íons
bicarbonato também são secretados e aprisionados no muco,
criando um gradiente de pH de 1 – 2 na luz e 6 – 7 na
mucosa. O muco e o bicarbonato formam uma camada inerte,
semelhante a um gel, que protege a mucosa contra o suco
gástrico. O álcool e a bile podem destruir essa camada. As
prostaglandinas PgE2 e PgI2 produzidas localmente
estimulam a secreção de muco e de bicarbonato, e inibem a
secreção de ácido clorídrico.
Acredita-se qua os distúrbios nas funções secretórias
acima descritos estejam envolvidos na patogenia da úlcera
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Terapia farmacológica da disfunção secretória ácida
As principais condições patológicas nas quais é útil
reduzir a secreção ácida são a ulceração péptica
(provavelmente causada por H. pylori e pelo desvio no
equilíbrio entre mecanismos protetores e mecanismos
agressores da mucosa gástrica), a esofagite de refluxo (lesão
do esôfago provocada por suco gástrico) e a Síndrome de
Zollinger-Éllison (tumor produtor de gastrina).
A terapia anti-secretória da úlcera péptica e da esofagite
de refluxo envolve a diminuição da secreção de ácido com
antagonistas dos receptores H2 ou inibidores da bomba de
prótons e/ou a neutralização do ácido secretado com
antiácidos. Todavia o tratamento da úlcera péptica deve
incluir a erradicação do H. pylori com o emprego de
antimicrobianos, tais como a amoxicilina e metronidazol,
além da administração do omeprazol e quelato de bismuto
como protetor da mucosa gástrica.
A bactéria H. Pylori produz a enzima urease, que
converte uréia em amônia e CO2 que posteriormente é
convertido em bicarbonato. A liberação da amônia é benéfica
para a bactéria, já que neutraliza parcialmente o ambiente
ácido do estômago. Pensa-se que a amônia, juntamente com
proteínas de H. Pylori, tais como, proteases, catalases e
fosfolipases, causem danos às células epiteliais.
3) Antiácidos (hidróxido de magnésio, trissilicato de
magnésio, gel de hidróxido de alumínio,
bicarbonato de sódio e alginatos)
Os antiácidos atuam ao neutralizar o ácido gástrico,
elevando, assim o pH gástrico. Isso só tem por efeito inibir a
atividade péptica, que praticamente cessa com um valor de pH
de 5.
Os antiácidos de uso comum consistem em sais de
magnésio e de alumínio, que formam cloretos de magnésio e
cloretos de alumínio. Os sais de magnésio causam diarréia,
enquanto os sais de alumínio provocam constipação, razão pela
qual podem ser utilizadas misturas desses dois sais para
preservação da função intestinal normal.
Apesar de o bicarbonato de sódio elevar rapidamente o
pH para 7, ocorre liberação de dióxido de carbono, causando
eructação. O CO2 estimula a secreção de gastrina (o CO2 é
encontrado em abundância nos refrigerantes) e pode resultar em
elevação secundária da secreção ácida. Como ocorre abasorção
de algum bicarbonato de sódio no intestino, o uso de grandes
doses ou administração freqüente pode causar alcalose.
4) Drogas que protegem a mucosa (quelato de
bismuto, sucralfato e misoprostol)
O quelato de bismuto é usado em esquema de
combinação no tratamento da infecção por H. pylori na úlcera
péptica. O fármaco possui efeito tóxico contra o bacilo, impede
sua aderência à mucosa, inibe as enzimas proteolíticas da
bactéria, reveste a base da úlcera, adsorve a pepsina, potencializa
a síntese local de prostaglandinas e estimula a solução de
bicarbonato.
O misoprostol é um análogo estável da prostaglandina
E1. Inibe a secreção ácida gástrica, tanto basal quanto a que
ocorre em resposta a alimentos, à histamina, pentagastrina e
cafeína através de uma ação direta sobre a célula parietal.
Mantém o aumento do fluxo sanguíneo da mucosa e aumenta
também a secreção de muco e de bicarbonato. É utilizado na
prevenção da lesão gástrica que pode ocorrer com o uso
crônico de AINES.
Podem ocorrer diarréia, cólicas abdominais e contração
uterina.
1) Inibidores H2 (cimetidina, ranitidina, nizatidina e
famotidina)
Os
antagonistas
dos
receptores
H2
inibem
competitivamente as ações da histamina em todos os
receptores H2, porém sua principal aplicação clínica consiste
na sua atuação como inibidores da secreção de ácido
gástrico. Inibem a secreção gástrica estimulada pela
histamina e pela gastrina e reduzem a secreção ácida
estimulada pela acetilcolina. Esses agentes reduzem a
secreção ácida basal e estimulada por alimentos, além de
promoverem a cicatrização das úlceras duodenais.
Os efeitos indesejáveis são raros. A cimetidina inibe o
citrocromo P450 e pode retardar o metabolismo (e assim
potencializar a ação) de anticoagulantes orais, fenitoína,
carbamazepina,
quinidina,
nifedipina,
teofilina
e
antidepressivos tricíclicos. Pode causar confusão no
indivíduo idoso.
Terapia farmacológica do vômito
2) Inibidores da bomba de prótons (omeprazol,
lanoprazol e pantoprazol)
O ato de vomitar é um processo complicado e exige
atividade coordenada dos músculos respiratórios somáticos e
abdominais, bem como dos músculos involuntários do trato
gastrintestinal. Consiste na expulsão abrupta do conteúdo
gastrintestinal através do esôfago relaxado, associada a
contrações sustentadas de diafragma e músculos abdominais, e o
aumento da pressão intra-abdominal. A náusea é a sensação de
urgência de vomitar, ocorrendo simultaneamente a perda de
tônus e peristalse gástricos, contração de duodeno e refluxo de
conteúdo intestinal para o estômago.
Os vômitos repetidos em jato podem indicar a estenose
pilórica ou refluxo gastroesofágico. A obstrução do intestino
delgado alto por aderências duodenais causa o vômito bilioso.
Esses fármacos agem através da inibição irreversível da
H+/K+-ATPase (bomba de prótons – ela é a responsável pela
troca do K+ por H+ no processo de formação de HCl), que
constitui a etapa final na via da secreção ácida.
Apesar de ter meia-vida de cerca de uma hora, a
administração diária de uma dose única afeta a secreção
ácida durante 2-3 dias, devido a seu acúmulo nos canalículos.
Com uma posologia diária, verifica-se um efeito antisecretório crescente por um período de até cinco dias, quando
se atinge um platô.
Os efeitos indesejáveis não são comuns. Incluem
cefaléia, diarréia e erupções cutâneas.
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ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA
A estrutura anatômica integradora do vômito é o centro
bulbar do vômito, localizado na formação reticular lateral. Esse
centro é estimulado por meio de duas vias.
Na primeira via, o estímulo provém de outro centro,
denominado zona do gatilho quimioreceptora (ZGQ),
localizado na área postrema do quarto ventrículo. A zona do
gatilho, por sua vez, é estimulada por substâncias endógenas e
exógenas que se ligam a receptores adrenérgicos,
dopaminérgicos e opióides, razão pela qual os antagonistas
desses receptores têm efeito antiemético. Estímulos periféricos,
tais como alterações em aparelho vestibular (como na cinetose,
por exemplo), e substâncias não-identificadas por receptor
específico (quimioterápicos, por exemplo) que desencadeiam
vômitos provavelmente atuam por meio de estimulação dessa
zona.
A segunda via de estimulação do centro do vômito tem
origem em sinais provenientes da faringe, trato gastrintestinal,
mediastino e áreas do cérebro relacionadas à visão e ao olfato.
As vias eferentes incluem os núcleos dorsal do vago e ambíguo,
nervo frênico, espinhais e viscerais que inervam,
respectivamente diafragma, musculatura abdominal, esôfago e
estômago.
Analgésicos opióides, glicosídeos cardíacos, estrógenos,
anticoncepcionais hormonais, anestésicos e agentes citotóxicos
são agentes emetizantes que também sensibilizam a zona do
gatilho. Não se conhece, até o momento, emético que aja
diretamente no centro do vômito. Os quimioterápicos induzem o
aparecimento de náuseas e vômitos pelo menos em parte por
estimularem a liberação de serotonina em neurônios de centro do
vômito, zona do gatilho e células cromafínicas do trato
gastrintestinal.
A ocorrência de episódio de vômito não requer obrigatória
terapia antiemética, pois pode ser autolimitada e até resolutivo
de alguma agressão externa. Por outro lado, o vômito requer
controle porque, além do desconforto, pode causar complicações
sistêmicas, como desidratação, alcalose hipoclorêmica e
pneumonia aspirativa, dentre outras. Sempre que possível, a
abordagem terapêutica deve ser voltada para o fator causal, pois
a correção deste pode ser suficiente para a reversão do quadro,
prescindindo-se dos antieméticos. Isso adquire importância
quando se considera que esses agentes são apenas sintomáticos e
sua toxicidade pode ser bastante acentuada.
São utilizados diferentes agentes antieméticos para
condições diferentes, embora possa haver alguma superposição.
As classes mais importantes de antieméticos são:
- antagonistas dos receptores H1;
- antagonistas dos receptores muscarínicos;
- antagonistas da serotonina;
- fenotiazinas;
- metoclopramida;
- canabinóides;
- esteróides.
Os agentes antieméticos são de importância particular
como adjuvantes na quimioterapia do câncer para combater as
náuseas e os vômitos provocados por numerosos agentes
citotóxicos.
Quando se utilizam drogas no tratamento do enjôo
matinal da gravidez, é preciso considerar o problema de lesão
potencial do feto. Em geral, todas as drogas devem ser evitadas, se
possível, durante os primeiros três meses de gravidez. A
prometazina mostra-se eficaz nas náuseas matinais da gravidez,
sendo administrada após o terceiro mês de gravidez.
1) Antagonistas dos receptores H1
Esses fármacos exercem pouca ou nenhuma atividade contra
os vômitos produzidos por substâncias que atuam diretamente
sobre a ZGQ, porém são eficazes na cinetose e contra vômitos
causados por substâncias que atuam localmente no estômago. Os
exemplos incluem a cinarizina, a ciclizina, dimenidrinato e a
prometazina.
Os antagonistas dos receptores H1 são mais eficazes se
forem administrados antes do início da náusea e dos vômitos.
2) Antagonistas dos receptores muscarínicos
Esses fármacos antagonizam a acetilcolina nos receptores
muscarínicos localizados na zona do vômito.
A hioscina mostra-se eficaz contra náuseas e vômitos de
origem labiríntica e contra os vômitos causados por estímulos
locais no estômago, porém é ineficaz contra substâncias que atuam
diretamente sobre a ZGQ. Ela é o agente mais potente disponível
para prevenção da cinetose, embora seja menos útil uma vez
instalada a náusea. Sua ação antiemética torna-se máxima 1 - 2
horas após sua ingestão. Pode causar sonolência e ressecamento da
boca. A escopolamina (fármaco antagonista muscarínico similar à
atropina) também é indicada como profilaxia em cinetose cujos
estímulos são de curta duração (viagem de 4 a 6 horas), porém
provoca alta incidência de efeitos adversos, sendo assim os
antagonistas H1 apesar de menos potentes, são agentes de escolha
na profilaxia da cinetose.
A cinetose (terror dos marinheiros recém embarcados!) é
uma forma de vertigem fisiológica normal, sendo provocada pela
estimulação rítmica e repetida do sistema vestibular. Esse sistema
é responsável por manter o equilíbrio através da detecção das
acelerações angulares e lineares da cabeça. A informação
sensorial, proveniente do sistema vestibular, é então usada para
prover uma imagem visual estável para a retina (enquanto a
cabeça se move) e fazer ajustes na postura para manter o
equilíbrio. O órgão vestibular localiza-se no interior do osso
temporal, adjacente ao aparelho auditivo.
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ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA
A vertigem, o mal-estar, a náusea e o vômito são os
principais sintomas da cinetose. Sinais autônomos, como
hipotensão, taquicardia e transpiração excessiva, podem ocorrer.
Se o estímulo da cinetose persistir na mesma intensidade,
desenvolve-se tolerância ao fenômeno em 2 a 3 dias.
Farmacologia nos distúrbios da motilidade gastrintestinal
Os fármacos que aumentam os movimentos incluem os
purgativos, que aceleram a passagem do alimento através do
intestino, e os agentes que aumentam a motilidade do
músculo liso gastrintestinal, sem causar purgação.
Os principais agentes que reduzem os movimentos são os
antidiarréicos e os antiespasmódicos.
3) Antagonistas da serotonina
A serotonina, que é liberada no SNC ou no intestino
(ZGQ e aferentes viscerais do TGI), atua como importante
transmissor no vômito. Antagonistas seletivos dos receptores
da serotonina, por exemplos a ondansetrona, a granisetrona
e a tropisetrona, são utilizados na prevenção e no tratamento
dos vômitos cusados por agentes citotóxicos. Os efeitos
indesejáveis consistem em cefaléia e distúrbios
gastrintestinais.
1) Purgativos
O trânsito do alimento através do intestino pode ser
acelerado por vários métodos diferentes:
- aumentando-se o volume dos resíduos sólidos não
absorvíveis com laxativos de bolo fecal;
- aumentando-se o conteúdo de água com laxativos
osmóticos;
- alterando-se a consistência das fezes com emolientes
fecais;
- aumentando-se a motilidade e a secreção (purgativos
estimulantes).
4) Antagonistas dos receptores dopaminérgicos
A metoclopramida, assim como as fenotiazinas
antipsicóticas (clorpromazina, proclorperazina e a
trifluoperazina)
são
antagonistas
dos
receptores
dopaminérgicos, que atuam na ZGQ. Seus efeitos indesejáveis
estão relacionados com o bloqueio de outros receptores
dopamínicos no SNC, e incluem distúrbios dos movimentos,
sonolência, fadiga, torcicolo espasmódico, crises oculógiras
(movimentos involuntários rápidos dos olhos). A
metoclopramida
também possui
ações periféricas,
aumentando a motilidade do estômago e do intestino, sem
estimulação concomitante da secreção ácida gástrica, o que
contribui para seu efeito antiemético, podendo ser usada na
terapia de distúrbios gastrintestinais.
1.1 – laxativos formadores de bolo fecal
Os laxativos formadores de bolo fecal incluem a
metilcelulose e certas resinas vegetais, como por exemplos
estercúlia, agar, farelo e casca de ispaghula. Esses agentes são
polímeros de polissacarídios, que não são degradados pelos
processos normais da digestão. Atuam em virtude da sua
capacidade em reter água na luz intestinal, promovendo assim
o peristaltismo. Levam vários dias para exercer ação, mas não
apresentam efeitos indesejáveis graves.
1.2 – laxativos osmóticos
5) Canabinóides
A nabilona, derivado sintético do canabinol, diminui os
vômitos provocados por agentes que estimulam a ZGQ,
provavelmente através dos receptores opióides. Seus efeitos
indesejáveis consistem em sonolência, tonteira e
ressecamento da boca. Alguns pacientes sofrem alucinações e
reações psicóticas, lembrando o efeito de outros canabinóides.
Atualmente, alguns países como os EUA, vêm liberando
o uso da maconha (Cannabis sativa) com o objetivo de aliviar
os efeitos indesejáveis da quimioterapia no tratamento do
câncer. O tetraidrocanabinol (THC) é o principio ativo em
maior quantidade liberado com o fumo da maconha. O
emprego da maconha in natura (fumada) tem sido polêmica.
Esses agentes mantêm por osmose um volume aumentado
de líquido na luz do intestino, o que acelera a transferência do
conteúdo intestinal através do intestino delgado, resultando na
chegada de um volume inusitadamente grande no cólon. Isto
provoca distensão e conseqüente purgação em cerca de uma
hora.
Os principais sais utilizados são o sulfato de magnésio e o
hidróxido de magnésio. São praticamente insolúveis;
permanecem na luz e retêm a água, aumentando o volume das
fezes.
6) Outros agentes antieméticos
O docusato de sódio é um composto tensoativo, que atua
no trato gastrintestinal de modo semelhante a um detergente,
produzindo feze de consistência mais mole.
1.3 – emolientes fecais
Os antipsicóticos não fenotiazínicos, haloperidol e
droperidol produzem bons resultados contra agentes
citotóxicos fortemente eméticos (por exemplo, a cisplatina). A
domperidona, um antagonista dos receptores D2 da
dopamina, também é utilizada como agente antiemético nos
vômitos pós-operatórios e contra agentes antineoplásicos
moderadamente emetogênicos.
1.4 – purgativos estimulantes
O sene possui atividade laxativa, visto que contém
derivados do antraceno (emodina) em combinação com
açúcares, formando glicosídios. A droga passa de modo
inalterado para o cólon, onde as bactérias hidrolisam a ligação
glicosídica, liberando os derivados de antracenos livres, que
são absorvidos e exercem efeito estimulante direto sobre o
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ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA
plexo mioentérico, resultando em atividade da musculatura lisa
e, portanto, defecação.
alumínio). Os adsorventes atuam, provavelmente, ao adsorver
microrganismos e toxinas, ao alterar a flora intestinal ou ao
revestir e proteger a mucosa intestinal.
Os principais opiáceos utilizados na diarréia são a
codeína, o difenoxilato e a loperamida.
2) Drogas que aumentam a motilidade gastrintestinal
As drogas que aumentam a motilidade gastrintestinal são
a domperidona (cujo mecanismo de ação é desconhecido), a
metoclopramida que exerce um efeito estimulante local
significativo sobre a motilidade gástrica, causando acentuada
aceleração do esvasiamento gástrico, sem estimulação
concomitante da secreção ácida gástrica. Ela mostra-se útil no
tratamento do refluxo gastroesofágico e em distúrbio do
esvaziamento gástrico, porém é ineficaz no íleo paralítico.
A cisaprida estimula a liberação de acetilcolina no plexo
mioentérico, no trato gastrintestinal superior. Isto eleva a
pressão do esfíncter esofágico e aumenta a motilidade
intestinal. A cisaprida é utilizada na esofagite de refluxo e nos
distúrbios do esvasiamento gástrico. Não exerce ação
antiemética.
4) Agentes
antiespasmódicos
muscarínicos
–
Antagonistas
As drogas que reduzem o espasmo no intestino são
importantes na síndrome do cólon irritável e na doença
diverticular. Nesse sentido, os antagonistas muscarínicos atropina, propantelina e diciclomina – diminuem o
espasmo ao inibir a atividade parassimpática através do
bloqueio dos receptores muscarínicos. Os efeitos
indesejáveis desses fármacos são boca seca, visão embaçada,
pele seca, taquicardia e dificuldade de urinar, devidos à
inibição parassimpática de outros tecidos. São menos
comuns e menos pronunciados com a diciclomina. A
mebeverina, um derivado da reserpina, exerce ação
relaxante direta sobre o músculo liso gastrintestinal. Seus
efeitos indesejáveis são poucos.
3) Agentes antidiarréicos
A diarréia refere-se à eliminação freqüente de fezes
líquidas. Existem várias causas, incluindo agentes infecciosos,
toxinas, ansiedade, drogas, etc. A diarréia envolve tanto o
aumento da motilidade do trato gastrintestinal, juntamente
com aumento da secreção, quanto a redução da absorção de
líquidos e conseqüente perda de eletrólitos (Na+) e água.
Existem três abordagens para o tratamento da diarréia
aguda grave:
- manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico;
- uso de agentes antiinfecciosos;
- usos de agentes antidiarréicos não antimicrobianos.
A manutenção do equilíbrio hidroeletrolítico através de
reidratação oral constitui a primeira prioridade. Muitos casos
não necessitam de nenhum outro tipo de tratamento. No íleo,
assim como em certas partes do néfron, ocorre o co-transporte
de Na+ e de glicose através da célula epitelial; por
conseguinte, a glicose potencializa a absorção de sódio e,
dessa maneira, a captação de água. O soro caseiro é muito útil
nesse sentido. É composto de uma pitada de sal e três pitadas
de açúcar em um copo de água filtrada e fervida, sendo
administrado à vontade, a cada 20 minutos, e após cada
evacuação líquida.
A administração de agentes antiinfecciosos não é
geralmente necessária na gastroenterite simples, visto que as
infecções são, em sua maioria, de origem viral, e as que são
de origem bacteriana geralmente sofrem resolução sem
qualquer terapia antibacteriana. Os casos graves podem exigir
o uso de eritromicina ou ciprofloxacina. A quimioterapia pode
ser necessária em alguns tipos de enterite (febre tifóide,
disenteria amebiana e cólera).
A diarréia do viajante é muitas vezes cusadas pela
Escherichia coli, produtora de enterotoxinas, e outros
microrganismos. As infecções são, em sua maioria,
autolimitadas, exigindo somente a reposição oral de líquidos e
sais.
Os agentes antidiarréicos não microbianos incluem
agentes antimotilidade (opiáceos e antagonistas dos
receptores muscarínicos), os adsorventes (caulim, pectina,
greda, carvão ativado, metilcelulose e salicatos de magnésio e
5) Drogas que afetam o sistem biliar
A condição patológica mais comum do trato biliar
consiste em colelitíase induzida por colesterol, isto é,
formação de cálculos biliares de colesterol. As drogas que
dissolvem os cálculos biliares são o ácido quenodesoxicólico
(CDCA) e o ácido ursodesoxicólico (UDCA). Esses agentes
também reduzem a síntese hepática e a secreção de
colesterol. A diarréia constitui o principal efeito indesejável.
A dor provocada pela passagem de cálculos biliares
através do ducto biliar (cólica biliar) pode ser muito intensa,
exigindo alívio imediato. A morfina alivia a dor, porém é
preferível a utilização de buprenorfina. A atropina é
largamente utilizada para aliviar os espasmos, em virtude de
sua ação antiespasmódica.
ЖЖЖЖЖЖ
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Marcelo A. Cabral
ANOTAÇÕES EM FARMACOLOGIA E FARMÁCIA CLÍNICA
Referências Bibliográficas
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4. GOLAN, D. E. et al. Princípios de Farmacologia: A Base Fisiopatológica da Farmacoterapia. 2 edição. Rio de
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6. GILMAN, A. G. As Bases farmacológicas da Terapêutica. 10 edição. Rio de Janeiro: Mc-Graw Hill, 2005.
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Marcelo A. Cabral

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