Toolkit de advocacia
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Toolkit de advocacia
Guia da Advocacia “Não conseguiremos finalmente derrotar o SIDA, a tuberculose, a malária, ou qualquer das outras doenças infecciosas que atormentam o mundo em desenvolvimento até termos também ganho a batalha pela água potável, pelo saneamento e pela assistência médica básica.” Kofi Annan, Ex-Secretário-Geral da ONU O Guia da Advocacia não foi criado para ser lido do princípio ao fim duma só uma vez! • Se desejar entender o que é a advocacia veja a secção 1 • Se desejar saber porque levamos a cabo a advocacia veja a secção 2 • Se quiser começar a desenvolver os seus planos de advocacia veja as secções 3 e 4 • Se quiser fazer com que a advocacia se concretize veja as secções 5 e 6 • Se quiser escolher algumas ferramentas de advocacia veja o toolkit 1 2 Guia de advocacia Índice Secção 1 Prefácio Introdução Como utilizar o Guia da Advocacia Uma Introdução à Advocacia Governo e Governação O problema da política e do poder Espaços para a participação da sociedade civil Como evolui a política? Responsabilidade e legitimidade Fazer a ligação entre a advocacia local, nacional e internacional Secção 2 A WaterAid e a Advocacia Porque é que a WaterAid faz trabalho de advocacia A necessidade de boa governação e investimento em A&S O que é que está a bloquear a boa governação e o investimento em A&S? A&S e os Objectivos da ONU para o Desenvolvimento do Milénio Secção 3 Advocacia de raiz Criação de capacidades nas comunidades para a advocacia de raiz Secção 4 Planeamento da advocacia O ciclo de planeamento da advocacia Identificar as questões Investigar as questões Ferramentas para analisar as questões Definição dos objectivos Identificação dos alvos Esclarecimento da mensagem Secção 5 Fazer com que a advocacia se concretize Que recursos e capacidades existem para a advocacia? Estabelecimento das relações certas com os aliados Criação de alianças Planeamento das acções Planeamento da monitorização e avaliação 3 Secção 6 Acções de advocacia Fazer lobby Campanhas públicas Utilizar os meios de comunicação Dar impulso à mensagem Vídeo e teatro / teatro de rua Secção 7 Monitorização e avaliação Monitorização Avaliação Qual é a diferença entre monitorização e avaliação? Que aspectos do trabalho de advocacia podem ser monitorizados e avaliados? Quais são os desafios relacionados com a monitorização e a avaliação do trabalho de advocacia? Como se pode analisar o progresso no trabalho de advocacia? 4 Secção 8 Recursos adicionais de informação Anexo Toolkit de advocacia 1 Tabela de planeamento da investigação da WaterAid 2 Algumas considerações orientadoras para os Termos de Referência (ToR) da investigação. 3 A árvore do problema e da solução 4 A tabela RAPID 5 Interessados no fornecimento de água e de saneamento (A&S) 6 Tabela de análise dos interessados 7 Análise abrangente dos alvos 8 Amostra de orçamento de advocacia 9 Perguntas sobre governação para as alianças 10 Plano de acção simples para a advocacia 11 Plano do programa de advocacia da WaterAid (APP) 12 Protocolo da WaterAid sobre campanhas públicas 13 Dicas sobre bons comunicados à imprensa 14 Amostra de comunicado à imprensa 15 Textos que vale a pena ler 16 Dicas para falar em público 17 Amostra de comunicado para fazer lobby Guia de advocacia Estudos de casos Levar as vozes populares ao governo em Madagáscar A FEDWASUN no Nepal Actuar no momento certo no Gana Criação de alternativas credíveis em Karachi Analisar a política em comparação com a prática em Moçambique O governo da Tanzânia como alvo e entidade influente A UWASNET no Uganda The Freshwater Action Network (A Rede de Acção para a Água Doce) Reformar os serviços públicos para satisfazer os ODMs de água e saneamento Utilização das visitas aos projectos no Bangladesh Guia de advocacia 5 Agradecimentos Escrito por: Mary O’Connell Agradecemos com reconhecimento às seguintes pessoas na produção do Guia da Advocacia: Belinda Calaguas, David Matthews, Abdul Nash Mohammed, James Wicken, Danielle Morley, Dominick de Waal, Henry Northover e Jerry Adams. Editores: Gideon Burrows e Libby Plumb. Publicado por: WaterAid 47-49 Durham Street Londres SE11 5JD Reino Unido Tel: + 44 (0) 20 7793 4500 www.wateraid.org Nº de Registo de Obra de Beneficência no Reino Unido: 288701 Setembro de 2007 É admissível reproduzir e distribuir os materiais no Guia da Advocacia sendo necessária atribuição dos créditos apropriados. 6 Guia de advocacia Prefácio A WaterAid foi fundada em 1981 por homens e mulheres da indústria hídrica britânica com paixão e dedicação no sentido de melhorar a saúde pública. Em muitos aspectos, a indústria é o grande herdeiro dos projectos de engenharia de saúde pública do século dezanove que mudaram as vidas da população do Reino Unido, população essa em que havia grandes quantidades de pessoas a viver em bairros da lata tais como os descritos por Charles Dickens, onde as doenças eram disseminadas devido à falta de água limpa e à presença de esgotos abertos. Hoje em dia, mais de 1,1 mil milhões de pessoas à volta do mundo não têm acesso à água limpa e mais de 2,6 mil milhões não têm acesso ao saneamento seguro. Claramente, esta situação é um escândalo que persiste no século XXI. À medida que a WaterAid tem vindo a crescer em experiência, reputação e capacidades, aprendemos que o financiamento de projectos para melhorar a água e o saneamento, apesar de serem importantes por si próprios, não é resposta suficiente para a necessidade de satisfazer os direitos das pessoas a serviços hídricos e de saneamento que sejam suficientes, económicos, acessíveis, seguros e aceitáveis. A visão da WaterAid é a de um mundo onde toda a gente tem acesso à água limpa e ao saneamento. Para tal é necessário resolver as causas que não permitem que um terço do mundo goze destes direitos fundamentais. No entanto, estas causas vão para além das más práticas e dos programas mal projectados. Encontram-se presentes nas desigualdades legais, económicas, políticas, culturais e sociais das sociedades onde a WaterAid trabalha, e em todo o resto do mundo em desenvolvimento. Não se limitam às políticas relacionadas com questões de água e de saneamento, mas incluem políticas que afectam o acesso das pessoas à água e ao saneamento, por exemplo, as políticas e os programas para a erradicação da pobreza, o comércio e o investimento. Incluem desigualdades entre classes, géneros, etnias, e outros grupos sociais, que levam à marginalização das pessoas vulneráveis. Incluem a qualidade do governo, assim como a qualidade da governação, a capacidade (ou falta da mesma) das pessoas pobres de serem ouvidas e os meios para responsabilizar os seus governos. Incluem relações desiguais e desequilíbrios de poder entre os países ricos industrializados do “Norte” e os países em desenvolvimento do “Sul”. Juntamente com um número cada vez maior de ONG s para o desenvolvimento, a WaterAid comprometeu-se a levar a cabo trabalho de advocacia com o fim de maximizar o impacto das actividades dos seus programas e de satisfazer as necessidades globais de água, saneamento e higiene. Este empenho reflecte os objectivos corporativos da organização que incluem “influenciar as políticas e as práticas nacionais para que as pessoas pobres consigam acesso ao abastecimento económico, acessível e sustentável de água limpa, saneamento e serviços de promoção da higiene”. O Guia da Advocacia é não só um recurso para os funcionários da WaterAid e os seus parceiros nos projectos, mas também para qualquer pessoa que queira entender, planear e levar a cabo trabalho de advocacia de modo sistemático e eficaz. A WaterAid está empenhada em desafiar as barreiras que evitam o acesso a serviços hídricos e de saneamento essenciais. Esperamos que esta edição actualizada do Guia da Advocacia lhe proporcione as ideias, métodos e ferramentas para entrar em acção nas campanhas locais ou nos movimentos internacionais que fazem alguma diferença quando se trata de quem pode abrir uma torneira ou de ir ao quarto de banho com conforto e dignidade. Stephen Turner Director de Política Pública e Educação WaterAid Guia de advocacia 7 Introdução O Guia da Advocacia é para qualquer pessoa que queira mudar as vidas das pessoas mais pobres no mundo. Neste contexto, a advocacia é o planeamento e a execução de acções que procuram mudar a política, as atitudes e as práticas a favor das pessoas pobres. Pode ter muitas formas, desde discussões cara a cara com políticos, ao levar a cabo uma campanha junto dos meios de comunicação no sentido de aumentar a consciencialização pública destas questões. Para a WaterAid, o fundamento essencial de todo o trabalho de advocacia é o envolvimento das comunidades de base. Somente envolvendo as comunidades e as próprias pessoas afectadas pelas questões, e dando-lhes poder e aumentando a sua capacidade de actuar e de se defender a si próprios, se podem realmente produzir mudanças. É este trabalho de base que aufere credibilidade às acções de advocacia, e que faz com que seja mais provável que se consigam alcançar os objectivos da advocacia. O principal objectivo do Guia da Advocacia é ajudar os funcionários da WaterAid e das organizações parceiras a esboçar planos de acção de advocacia que tenham como objectivo melhorar o fornecimento hídrico e a situação do saneamento para as pessoas mais pobres nos países onde trabalham. No entanto, o Guia da Advocacia foi escrito e estruturado de forma a ser útil a qualquer indivíduo, grupo ou organização que procure levar a cabo trabalho de advocacia sobre as suas próprias questões em qualquer país do mundo. Em todo o texto damos exemplos concretos do trabalho de advocacia da WaterAid e dos seus parceiros na prática, para proporcionar informação e demonstrar o que é a advocacia eficaz. No final do relatório, proporcionamos algumas ferramentas, pró-formas, tabelas e diagramas que quem trabalha em advocacia pode querer reproduzir, adaptar ou distribuir, ou simplesmente utilizar como base para criar algo mais adaptado à sua própria campanha de advocacia. Esperamos que o ache útil, e gostaríamos que nos desse sugestões para o melhorar ou contribuições para futuras edições. 8 Guia de advocacia Como utilizar o Guia da Advocacia A Secção 1 examina a teoria do trabalho de advocacia, introduzindo alguns conceitos chave e preparando o leitor para os processos de auto análise, investigação e planeamento que têm que ser levados a cabo antes de se poder dar início ao verdadeiro trabalho de advocacia. A Secção 2 examina a advocacia em termos de como se relaciona especificamente com o trabalho da WaterAid para melhorar a situação do fornecimento de água e de saneamento (A&S) a algumas das pessoas mais pobres do mundo, particularmente no contexto dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio. A Secção 3 examina a questão do envolvimento das comunidades populares no trabalho de advocacia, e proporciona algumas ferramentas e estudos de casos sobre como o transformar na parte central dos planos de acção da advocacia, em vez de ser somente um extra. A Secção 4 introduz o ciclo de planeamento da advocacia, e esboça os passos que uma organização tem que tomar quando planeia o trabalho de advocacia, incluindo analisar a questão, identificar os alvos, e identificar os meios de influenciar os mesmos. A Secção 5 começa a proporcionar as ferramentas de que irá precisar para pôr os planos de acção da advocacia em prática, incluindo uma análise da importância da criação de parcerias eficazes. Oferece alguns modos teóricos diferentes para abordar o trabalho de advocacia. A Secção 6 oferece algumas ferramentas concretas que podem ser utilizadas para levar a cabo o trabalho de advocacia. A Secção 7 cobre a questão cada vez mais importante de monitorização e avaliação. A Secção 8 oferece informação e ligações a listserves, redes e organizações úteis. No Anexo proporcionamos algumas ferramentas, pró-formas, tabelas e diagramas que as pessoas que trabalham em advocacia podem querer reproduzir, adaptar ou distribuir, ou apenas utilizar como base para criar algo mais adaptado à sua própria campanha de advocacia. Na prática: oferece exemplos das boas práticas em advocacia da WaterAid e de outras organizações. Rápido e útil: listas de controlo, exemplos e outras coisas úteis para ajudar o seu planeamento de advocacia. Ideia chave: esboça algumas das principais ideias teóricas por detrás do trabalho de advocacia. Toolkit de advocacia: explica quando uma ferramenta, pró‑forma, tabela ou exemplo útil descrito pela WaterAid, foi incluído no Anexo. Guia de advocacia 9 10 Guia de advocacia Secção 1 Uma Introdução à Advocacia A advocacia significa entrar em acção para provocar as mudanças que se procuram. Por isso, a advocacia tem necessariamente que ocorrer no âmbito dum contexto particular, e pode-se dirigir a um alvo específico. Pode ser que o seu trabalho de advocacia vise mudar as políticas e práticas nacionais ou mesmo internacionais. Mas também pode ter lugar num contexto muito local. Pode implicar dar o poder e capacitar os indivíduos e as comunidades locais para que entrem eles próprios em acção para conseguir as mudanças. Uma estratégia holística de advocacia que procura conseguir mudanças abrangentes – como o melhoramento do fornecimento de água e do saneamento (A&S) nos países mais pobres do mundo – irá necessariamente envolver trabalho de advocacia coordenado a nível internacional, nacional, regional e local. Também envolve um entendimento claro das influências políticas e de poder sobre o alvo da sua advocacia. O objectivo desta secção é esclarecer alguns dos contextos políticos diferentes nos quais o seu trabalho de advocacia irá ter lugar, e vai ilustrar como os contextos são muitas vezes mutuamente influentes. O que vai aprender deste capítulo • A ideia de “governação” como o alvo da advocacia • Como as questões políticas e de poder influenciam a governação, e as implicações das mesmas para o trabalho de advocacia. • Como as políticas evoluem, e como a advocacia pode influenciar o processo • Que a advocacia no sector do desenvolvimento muitas vezes tem que visar diversos contextos diferentes simultaneamente. • Governo e governação O objectivo da advocacia é mudar a política, por isso visa necessariamente as entidades, instituições ou indivíduos que são responsáveis por fazer, decidir e implementar as políticas. Quem tem o poder? Como se tomam as decisões? Quem tem influência, e que estruturas existem para reivindicarmos nós próprios a influência? O “Governo” é o acto ou processo de governar: mais especificamente é o processo de fazer, decidir, implementar, controlar e administrar a política pública numa unidade política, ou seja, um Estado Nação ou parte do mesmo, por exemplo uma municipalidade. A palavra “governo” também descreve o grupo de indivíduos que tem a autoridade e a responsabilidade de governar um estado, especificamente através de: • O executivo: a parte do governo que tem a responsabilidade de dirigir os assuntos diários da entidade/estado/municipalidade a ser governada, que também implementa as leis.• • A legislatura: a parte do governo que decide que leis e políticas o executivo deve implementar.• • O judiciário: a parte do governo que é responsável pela interpretação e pela aplicação da lei.• A WaterAid e a Advocacia 11 Esta separação pode ser um modo útil para as organizações determinarem o que é que a sua advocacia deve visar. No entanto, quando analisamos o modo como se exerce este poder, falamos de “governação”. Para levar a cabo trabalho de advocacia eficaz, é importante ter ideias claras sobre o ambiente político no qual se está a trabalhar. Como é que o país ou distrito é dirigido? Quais são as tradições e processos que influenciam a tomada de decisões? Como é que os cidadãos são envolvidos no exercício do poder? As pessoas que tomam decisões são responsáveis perante a lei? As respostas a estes tipos de questões irão ajudar a analisar eficazmente o estado da governação. Ideia chave: Governação A governação, segundo o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (UNDP) é o “exercício da autoridade económica, política e administrativa para gerir os assuntos de um país a todos os níveis. A governação inclui os mecanismos, processos e instituições complexos, através das quais os cidadãos e os seus grupos articulam os seus interesses, exercem os direitos legais, satisfazem as suas obrigações e actuam como intermediários para resolver as diferenças”.1 1 UNDO (2001): A Governação para o Desenvolvimento Humano Sustentável: documento de política geral do UNDP (ver http://magnet.undp. org/policy/summary.htm, acedida a 16 de Junho de 2006. O UNDP acrescenta que a governação transcende o governo e inclui a sociedade civil e o sector privado. “A boa governação tem atributos de responsabilidade e de transparência, é eficaz, equitativa e promove a lei. Especificamente, a governação da água tem sido mencionada como: “A gama de sistemas políticos, sociais, económicos e administrativos que se encontram implementados para desenvolver e gerir os recursos hídricos, e a produção de serviços hídricos a diferentes níveis da sociedade”.2 O problema da política e do poder Claro que a governação e o governo não ocorrem num vácuo. Para começar, ocorrem através de grupos e de indivíduos, cada um com a sua própria agenda política e pessoal, que são influenciados de modos diferentes, e que têm níveis diferentes de poder. Em resumo, a governação é necessariamente influenciada pela política e pelo poder. Como tal, a governação nem sempre segue uma trajectória racional. Se um distrito em particular consegue serviços de A&S, por exemplo, é muitas vezes o resultado, não das suas necessidades, de que políticas existem ou de um bom planeamento dos orçamentos. Demasiadas vezes, tratase dos caprichos de um político em particular, que pode querer satisfazer as necessidades ou influência de um determinado grupo. A política refere-se à forma como os participantes – indivíduos, empresas, sociedade civil e outros – numa sociedade, se organizam para aumentar a sua influência, à medida que procuram promover e proteger interesses específicos. Para lidar com as razões devido às quais milhões de pessoas não têm acesso à A&S adequados, é necessário compreender o contexto político e económico no qual as políticas de A&S evoluíram, e as relações de poder envolvidas. O mesmo princípio é verdadeiro seja a nível internacional ou nacional, ou mesmo a nível local ou das comunidades. Para serem eficazes na advocacia, as ONGs têm que compreender as relações de poder e das políticas a cada nível da operação. (E têm que evitar ser influenciadas, elas próprias, por um grupo ou partido específico, para não minar o seu trabalho devido a ideias preconcebidas). 12 Guia de advocacia 2 Rogers, P. e A Hall; Effective Water Governance; Global Water Partnership, TEC Backgroun Papers No 7, citado em Cleaver F e Franks T (2005), Water Governance and Poverty: a framework for analysis; BCID Research Paper No 13: Bradford University Centre for International Development Na prática: Quem tem o poder em A&S? Uma análise das relações de poder no sector de A&S vai-lhe permitir examinar relações semelhantes relacionadas com outras questões de advocacia. Seguem-se exemplos de algumas das perguntas que pode fazer. • Quem são as pessoas a quem se nega o acesso aos serviços de A&S? • Quem tem o poder de tomar decisões sobre quem tem, ou não tem, acesso? • Quem pode beneficiar destas decisões e que influência têm sobre o responsável pela decisão? • Quem é responsável por dar forma e tomar decisões sobre a política do sector? • Quem e o quê influencia o responsável pelas decisões? • Que interesse têm os responsáveis pelas decisões de atribuir ou negar o acesso às pessoas? • Em que ambientes trabalham os responsáveis pelas decisões? Quais são os desafios e barreiras que enfrentam ao tomar decisões sobre o acesso a A&S? • Quem decide sobre os níveis de financiamento público para a provisão de A&S? • Como é que as finanças são atribuídas e distribuídas? • Dependendo da importância de determinada questão para um governo e outras entidades visadas pela advocacia, uma ONG pode achar que é relativamente fácil ou muito difícil levar a cabo uma mudança nas políticas. 3 Cornwall, A (2002) Making Spaces, Changing Places: Situating Participation in Development, IDS Working Paper 170 Espaços para a participação da sociedade civil3 Espaços fechados ou proporcionados: alguns espaços para a tomada de decisões são fechados no sentido que as decisões são tomadas por um conjunto de participantes designados como representantes eleitos e peritos, por detrás de portas fechadas, sem esfera de acção para uma consulta ou envolvimento mais amplos. Espaços convidados: à medida que se fazem esforços para ampliar a participação, abremse novos espaços que podem ser designados como “espaços convidados”, onde as pessoas (utentes, cidadãos, ou beneficiários) são convidadas a participar por diversos tipos de autoridade, como o governo, agências supranacionais ou organizações não governamentais. Os espaços convidados podem ser regulamentados ou mais transitórios, como um fórum anual ou um único período intenso de consulta sobre uma questão. Espaços criados ou reclamados: Estes são os espaços criados ou reclamados pelos cidadãos independentemente do governo, ou pelo governo e os cidadãos em conjunto. Podem emergir a partir de conjuntos de preocupações comuns, ou podem consistir de espaços nos quais pessoas com ideias semelhantes e objectivos comuns se juntam. Ocasionalmente, o envolvimento em debates pode permitir a uma ONG “um lugar à mesa”, a partir do qual pode tentar influenciar as políticas. Compreender essas relações de poder pode ajudar uma OGN a determinar a sua estratégia, e evitar que seja involuntariamente agregada pelas metas da advocacia. Em muitos casos, o problema é a implementação de uma política específica, e não a própria política. Nestes casos, a investigação deveria concentrar-se no que bloqueia a implementação. Por exemplo, uma política governamental pode exigir que haja um certo nível de saneamento por cabeça na população em todo o país, mas os conselheiros locais corruptos em algumas áreas podem ter impedido a implementação desta política. Neste exemplo, a advocacia que visa os políticos a nível nacional é pouco apropriada: ignora a raiz do problema, enquanto que lutar por um município mais aberto e responsável pode provar ser mais eficaz. A WaterAid e a Advocacia 13 Como evolui a política? Quando um governo reconhece um problema público, e concorda tomar medidas quanto a esse assunto, os políticos procuram soluções práticas sob a forma de políticas. É importante que as ONGs e as organizações das comunidades compreendam totalmente como funciona cada uma das diferentes etapas do trabalho político nos respectivos países, ou contexto, o que as irá ajudar a garantir que o trabalho de advocacia vise as etapas mais críticas da tomada de decisões políticas – não é suficiente apresentar a evidência aos políticos, e partir do principio que o resto se vai resolver.4 Ideia chave: Política pública5 A política pública pode ser descrita como “um modo de actuar” por um governo ou político que na maior parte das vezes resulta “em planos e acções” e efeitos “no terreno” – ou falta dos mesmos. Alguns exemplos da política pública podem ser: • Uma expressão de intenção, geralmente por parte de um político. Por exemplo para encorajar o desenvolvimento económico • Um programa de propostas ligadas com detalhes sobre o modo como um governo vai abordar uma vasta gama de questões sob uma única insígnia. Por exemplo, Documentos sobre a Estratégia para a Redução da Pobreza. • Uma resposta governamental formal a uma preocupação pública específica. Por exemplo, a erradicação da cólera. • Um documento estabelecendo directivas num sector. Por exemplo, política hídrica ou política agrária. • Um orçamento do governo local ou nacional• O processo político, qualquer que seja o contexto de governação em que tem lugar, é complexo. Há diversas fases que se sobrepõem, e dentro delas muitos sub-níveis. Raramente este processo é sistemático ou mesmo racional. Muitas vezes está sujeito a pressão, poder e políticas do tipo descrito acima. Pode envolver diversos grupos, com alternativas competitivas. Por vezes, o processo político pode proceder sem saber muito bem qual é o problema, ou quem é afectado por ele. Rápido e útil: Exemplos de algumas fases do processo político • • • • • • • • Estabelecer a ordem do dia Formulação da política Tomada de decisões Implementação Monitorização Avaliação Ajustamento Revisão• A análise teórica do processo político identifica duas “classes” chave de participante: Uma comunidade política, que inclui os indivíduos e instituições envolvidos na formulação política. Uma comunidade política em particular, envolveria participantes que estão interessados em formar uma análise ou conjunto de alternativas para uma política. A comunidade política é onde se localiza o conhecimento de uma política específica. Por exemplo, no sector de A&S, a comunidade política pode envolver indivíduos e agências no âmbito do governo responsáveis por A&S, assim como ONGs relacionadas com A&S, consultores, defensores, entidades académicas e de investigação, e think-tanks. 14 Guia de advocacia 4 Chowdhury, N. et al. (Agosto 2006) CSO Capacity for Policy Engagement: Lessons Learned from the SCPP Consultations in Africa, Ásia and Latin América ODI Working Paper 272, Overseas Development Institute, RU. 5 Research and Policy in Development (RAPID) do ODI, RU, definida em http://www.odi.org. uk/rapid/Tools/Definitions. html Uma rede política, é um subconjunto de actores oriundos da comunidade política. Trabalham juntos, ou interagem regularmente, para obterem mudanças específicas. A rede política pode ser descrita como o local onde decorre a acção relacionada com uma mudança política. A rede política que pode procurar produzir mudanças pode incluir ONGs, e organizações da sociedade civil, os seus aliados nas comunidades doadoras ou mesmo departamentos do governo. Responsabilidade e legitimidade 6 Chapman, J. e Fisher, T. (1999). Effective NGO Campaigning. New Economics Foundation, Londres. As ONGs são responsáveis para com os seus doadores, os seus Conselhos de Administração e os apoiantes públicos, alguns dos quais podem não favorecer o trabalho de advocacia. As preocupações sobre as suas opiniões podem influenciar a posição de uma ONG sobre uma questão política específica.6 Em resposta a um envolvimento cada vez maior das ONGs no trabalho de advocacia, alguns críticos exprimiram a sua preocupação sobre a legitimidade. Esta questão é particularmente acesa quando as ONGs dos países desenvolvidos fazem advocacia a favor de pessoas no mundo em desenvolvimento; há sempre o risco de que quem está a fazer trabalho de advocacia a favor de terceiros, fazer reclamações que não podem ser fundamentadas. 7 Hume, D. e Edwards, M. (eds.) (1997). NGOs, States and Donors: Too Close for Comfort? Macmillan Press. Apesar de que uma maior aproximação entre as ONG s e os doadores proporciona maiores oportunidades para ter influência, também pode ter vantagens e desvantagens, e as ONGs devem estar conscientes disto e atenuar o problema. Os doadores podem, por seu lado, influenciar (seja explicitamente ou implicitamente) a agenda política das ONGs.7 Para uma advocacia eficaz, as ONGs têm que estabelecer claramente a análise por detrás de qualquer posição política que tomem, juntamente com a investigação e evidência que a informou. Esta informação tem que ser disponibilizada a todos os interessados, incluindo apoiantes internos e externos das ONGs. Na prática: Como a WaterAid consegue legitimidade • A WaterAid trabalha com organizações parceiras locais para implementar projectos integrados hídricos, de saneamento e de promoção da higiene nas comunidades não servidas. • A WaterAid desenvolve boas práticas para a entrega de serviços, juntamente com as organizações parceiras, o que é depois demonstrado e promovido a terceiros, incluindo outras ONG, doadores, fornecedores de serviços e governos locais e nacionais. • A experiência directa da WaterAid no fornecimento de serviços e no trabalho com quem proporciona esses serviços permite-lhe compreender os desafios da produção dos mesmos. • A WaterAid participa em investigação e trabalho analítico para compreender o contexto do desenvolvimento mais vasto de A&S, as causas de raiz dos problemas enfrentados a nivel da A&S e as possíveis soluções para estes problemas. Trabalha para mudar as políticas existentes que são prejudiciais para as pessoas pobres, e na procura de acesso universal à A&S. • A WaterAid também interage com outros participantes em questões hídricas e de saneamento, a nível local, nacional e internacional, para aumentar e partilhar conhecimentos sobre boas práticas, partilhar investigação e em conjunto defender soluções. • Fazer a ligação entre a advocacia local, nacional e internacional A advocacia pode ser visada em diversos contextos políticos, mas no sector do desenvolvimento, terá na maior parte das vezes que ser visada em diversos contextos ao mesmo tempo – particularmente a nível local, nacional e internacional. Como tal, o trabalho de advocacia eficaz exige boa comunicação entre os participantes que operam nestes níveis diferentes. No fim de contas, as causas dos problemas do desenvolvimento que a advocacia procura resolver são elas próprias complexas e interligadas a todos os níveis. A WaterAid e a Advocacia 15 • De local a nacional. Quando os projectos locais requerem advocacia, o objectivo dessa advocacia pode muitas vezes ser a nível nacional. Por exemplo, um projecto local para instalar bombas de água pode depender da defesa a nível nacional do financiamento de cursos de água a partir dos quais podem ser pagos. Uma questão de advocacia tão relevante a nível nacional não pode ser resolvida apenas a nível local.• Muitas questões nacionais de advocacia surgem originalmente a nível local onde o impacto se sente realmente. A “passagem” das questões locais de advocacia para um nível nacional garante que os funcionários e políticos estão a responder às prioridades das comunidades locais. • De nacional para local. Por vezes as questões de advocacia podem somente emergir a nível nacional, por exemplo, o desenvolvimento de uma estratégia nacional de saneamento. No entanto, estas “janelas políticas” oferecem uma oportunidade para evidenciar o impacto que tais políticas têm sobre as comunidades locais, e de trazer as vozes locais para primeiro plano.• • De internacional para nacional. Estes processos interrelacionados também são duplicados a nível nacional/internacional. Por exemplo, os escritórios nacionais das ONGs podem querer responder a uma questão internacional – como as condições ligadas aos empréstimos do Banco Mundial. Entretanto, os escritórios nacionais da ONG podem defender a nível internacional questões que afectam as suas agendas políticas nacionais – por exemplo, a utilização real no país dos empréstimos do Banco Mundial.• Na realidade, quando as questões globais são visadas simultaneamente a nível internacional e nacional, é possível dar-se uma resposta muito mais poderosa. Um exemplo é a campanha global sobre o alívio da dívida, e a Campanha Global Contra a Pobreza. Existe um poder semelhante quando há uma advocacia nacional e local sobre uma questão unificada. • De nacional para nacional. As trocas também podem funcionar lateralmente com diferentes redes nacionais a defender uma questão específica de acordo com o seu contexto particular, ou a desenvolver uma série de actividades de advocacia nacionais partilhadas entre um país e outro país, ou regionalmente, por exemplo as regiões da África Ocidental ou do Sul da Ásia.• Para as ONGs internacionais, esta abordagem da advocacia a diversos níveis é possível devido às suas estruturas organizacionais. As organizações maiores podem estar ligadas a redes internacionais através de ligações formais ou informais, enquanto que as ONGs nacionais ou locais podem ter acesso a redes a nível nacional. Este processo de coordenação e interrelações entre redes de advocacia a diversos níveis é importante. Não só aumenta a legitimidade e a relevância do trabalho de advocacia, mas permite um apoio vital entre níveis e redes. Os funcionários da advocacia em organizações a nível nacional dependem da informação detalhada das organizações populares para apoiar o trabalho de advocacia; ao mesmo tempo que por seu lado, podem proporcionar formação, análise, informação e apoio à advocacia das organizações locais. Na prática: Advocacia a diversos níveis na WaterAid Exemplos desse trabalho de advocacia a diversos níveis interligados na WaterAid incluem: • Investigação conjunta sobre questões de interesse comum para os públicos do norte e do sul, como a participação do sector privado em A&S. • Acção coordenada sobre objectivos comuns, como trabalhar com governos (norte e sul) para colocar a A&S na agenda das cimeiras internacionais • Preparação conjunta para conferências de política internacional • Preparações e trabalho de advocacia coordenado na Conferência do Sul da Ásia sobre o Saneamento (SACOSAN).• 16 Guia de advocacia Secção 2 A WaterAid e a Advocacia A visão da WaterAid é a de um mundo onde toda a gente tem acesso à água limpa e ao saneamento. Hoje em dia, mais de 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso à água limpa e mais de 2,6 mil milhões pessoas não têm acesso ao saneamento eficaz. Para lidar com esta crise, a WaterAid dá apoio a organizações parceiras locais em 17 países em África, na Ásia e na região do Pacífico, trabalhando para entregar água limpa e serviços eficazes de saneamento a mais de um milhão de pessoas por ano, e ajuda a proporcionar informação relacionada com as questões a defender. A advocacia aumenta o impacto dos programas da WaterAid à volta do mundo. A advocacia eficaz pode mudar as abordagens globais, nacionais e locais para satisfazer as necessidades de água, saneamento e higiene das pessoas pobres, com verdadeiros resultados. Esta secção, que tenta demonstrar como a WaterAid aborda a advocacia e porque é que é importante para o nosso trabalho, deveria dar-lhe ideias sobre como a sua organização pode abordar a advocacia. A advocacia pode ser um processo longo e complexo. No entanto, o resultado final pode significar melhorias duradouras para as vidas de milhões de pessoas. O que vai aprender deste capítulo • Porque é que a advocacia é um factor chave para o trabalho da WaterAid • A que princípios a WaterAid adere na advocacia • A mudança estratégica que a WaterAid procura através da advocacia, e como trabalha para o conseguir • Como a água e o saneamento melhorados são vitais para conseguir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio.• Porque é que a WaterAid faz trabalho de advocacia Na WaterAid, a advocacia encontra-se no núcleo do nosso trabalho para melhorar a situação hídrica e de saneamento de milhões de pessoas nos países mais pobres do mundo. Queremos que a governação do sector de fornecimento de água e de saneamento (A&S) melhore, para que todas as pessoas possam ter acesso a estes serviços básicos. Estamos particularmente preocupados sobre as necessidades urgentes das pessoas mais pobres. Uma melhor governação de A&S requer que todos os fornecedores dos serviços nacionais e as instituições públicas sejam responsáveis para com todos os consumidores e cidadãos. Para se criarem intervenções que mudem a situação geral das pessoas pobres em qualquer país, é necessário tentar influenciar, mudar e responsabilizar as políticas do governo nesse país. É por esta razão que a advocacia eficaz é tão importante para todos os aspectos do trabalho da WaterAid. Ideia chave: O empenho da WaterAid na advocacia A estratégia corporativa da WaterAid para 2005-2010 compromete a organização a trabalhar com terceiros para influenciar e mudar as políticas dos doadores e dos governos para favorecer serviços hídricos e de saneamento, sustentáveis e económicos, a favor das pessoas pobres. Uma Introdução à Advocacia 17 Em todo o trabalho de advocacia da WaterAid, somos orientados por um conjunto de princípios e valores abrangentes através dos quais prevemos maximizar o nosso impacto.8 • Os projectos e programas de advocacia têm que conseguir mudanças sustentáveis e a longo prazo. • • A advocacia eficaz e sustentável tem que ter como raiz as experiências das pessoas pobres. Deve ter como objectivo ser construída com base no que elas entendem das suas experiências e ajudá-las a participar no processo de influência da política.• • Todo o trabalho de advocacia deve ter como base evidência e análise claras• • Deve procurar uma participação construtiva com metas de advocacia, usando uma gama completa de ferramentas de advocacia tais como fazer lobby, meios de comunicação, campanhas e redes.• • Exige que a WaterAid trabalhe em parceria e colaboração com outras organizações de ideias semelhantes, e não somente com parceiros que entregam serviços. A WaterAid deve apoiar as prioridades de advocacia do fornecimento de água e de saneamento (A&S) para os nossos parceiros nos países em desenvolvimento.• • Deve ter como base o princípio de solidariedade; entre os apoiantes da WaterAid no RU, e as comunidades com quem nós e os nossos parceiros trabalhamos.• • A melhoria das capacidades dos funcionários no âmbito da WaterAid, e entre os funcionários e apoiantes dos parceiros deve ser parte integral do trabalho de advocacia• A necessidade de boa governação e investimento em A&S A governação no sector de A&S tem que melhorar, e o investimento tem que aumentar. Estes são os principais objectivos do trabalho de advocacia da WaterAid porque podem ter benefícios profundos e imediatos para as pessoas pobres. • Melhor saúde: o acesso ao fornecimento de água limpa e de saneamento é essencial para a saúde humana. As doenças relacionadas com a água são a maior causa de enfermidades humanas no mundo. As pessoas pobres correm maior risco do que as outras pessoas.• • Melhor para as mulheres: o acesso à água limpa e ao saneamento é particularmente importante para as mulheres, uma vez que são elas que desproporcionadamente aguentam com o peso da recolha de água em fontes distantes e cuidam de crianças doentes, e que sofrem mais severamente da falta de privacidade e se arriscam ser assaltadas nos locais onde não há quartos de banho.• • Ensino melhor: é mais provável que os professores procurem emprego numa aldeia com água, é mais provável que as raparigas frequentem e fiquem na escola se houver um quarto de banho, e as crianças vão à escola mais vezes quando não têm que passar horas todos os dias a recolher água de uma fonte distante.• • Melhor utilização do tempo: o acesso a um fornecimento de água limpa e saneamento apropriado oferece uma enorme poupança de tempo e de energia. Ir buscar água pode levar muitas horas do tempo das mulheres e das crianças todos os dias, particularmente em África, por isso melhorar A&S alivia este peso e liberta tempo para actividades mais produtivas.• • Benefícios económicos: nos países em desenvolvimento a falta de saúde resultante de fracos serviços de A&S cria um peso extra para os serviços de saúde, já demasiado sobrecarregados, e não permite que se gaste noutras áreas importantes.• 18 Guia de advocacia 8 WaterAid, Advocay Strategy (Estratégia para a Advocacia) (2000-2005). O que é que está a bloquear a boa governação e o investimento em A&S Em 2005, um relatório da WaterAid, Chegar ao Ponto de Ebulição, recolheu e analisou avaliações do sector hídrico nacional de 14 países africanos e do Sul da Ásia onde a WaterAid trabalha. Este relatório revelou que os sistemas e as instituições de governação no sector de A&S são fracos na maioria dos países em desenvolvimento. O relatório concluiu que o bloqueio fundamental para se conseguir acesso universal à A&S era a fraca responsabilidade entre os responsáveis pelo planeamento, política, investimento e entrega dos serviços de A&S, como por exemplo instituições do governo, fornecedores de A&S e as agências do sector. O problema não era a falta de capacidades técnicas ou de conhecimento, mas sim vontade política e responsabilidade. 9 Redhouse. D. e tal (2005) Getting to Boiling Point: turning up the heat on water and sanitation, WaterAid. Disponível em http://www.wateraid. org/boilingpoint Chegar ao Ponto de Ebulição resumiu os principais bloqueios que impediam que um maior número de pessoas conseguisse acesso aos serviços hídricos e de saneamento:9 • Definição de prioridades: a água e o saneamento não são prioridades para os governos.• • Transparência: é difícil obter informação precisa• • Equidade: o dinheiro que está a ser dirigido aos locais onde é mais necessário não é suficiente.• • Coordenação: há muitos intervenientes envolvidos a todos os níveis, mas a coordenação e a colaboração eficazes são raras. É comum haver competição entre os diferentes participantes no sector hídrico.• • Capacidade: a responsabilidade pelo fornecimento de serviços hídricos e de saneamento é muitas vezes devolvida ao governo local e aos fornecedores de serviços, mas, frequentemente, os mesmos não têm a capacidade para o fazer.• • Sustentabilidade: dá-se pouca atenção a garantir que as instituições e as políticas se encontram estabelecidas para conseguir serviços sustentáveis.• • Privatização: os doadores ainda defendem a privatização e fazem dela uma condição da ajuda, impondo uma solução única para todos sobre diversos desafios dos sistemas hídricos. Entretanto, os serviços públicos não têm apoio para reformas, e não aprendem com os êxitos de outros serviços públicos.• • Envolvimento dos cidadãos: há pouco envolvimento e acção por parte dos cidadãos sobre o abastecimento dos seus serviços de A&S , o que contribui para uma fraca responsabilidade dos fornecedores e do governo.• • Esquecidos pelos doadores: os países mais ricos do mundo não estão a fazer o suficiente para cumprir a promessa dos ODMs de uma parceria global para o desenvolvimento.• Uma Introdução à Advocacia 19 Na prática: Como a WaterAid faz o trabalho de advocacia Para uma ONG participar na advocacia, é vital ter ideias claras sobre que mudança está a tentar produzir, e como pode fazer com que essa mudança ocorra. Também é importante identificar os factores que irão ajudar ou impedir que o seu trabalho de advocacia tenha êxito. A WaterAid procura mudanças através da advocacia nas dimensões seguintes: • Política: procuramos mudar a política pública, os programas, as práticas e os comportamentos a todos os níveis. Os políticos deveriam ser informados sobre os impactos das suas políticas nas secções mais pobres da sociedade, e também promover soluções alternativas. • Sociedade civil: procuramos reforçar e expandir a capacidade , a organização, a responsabilidade e o poder da sociedade civil para que ocupe o seu lugar na “mesa que decide as políticas”. • Democracia: procuramos melhorar a “legitimidade” política da sociedade civil para participar nas decisões políticas, assim como melhorar a responsabilidade e a transparência das instituições públicas • Benefícios individuais: procuramos melhorar a situação material das pessoas pobres, como as condições de vida e as oportunidades de saúde, educação e sobrevivência. Também procuramos expandir o conhecimento de si próprios como cidadãos, com responsabilidades assim como com direitos. Sociedade Civil As quatro dimensões da advocacia Políticas e práticas Conhecimento, atitude, empenho em actuar, decisões Aumentar capacidade, poder, influência Melhorias materiais nas vidas das pessoas pobres Voz, conhecimento dos direitos e responsabilidades Pessoas pobres Aumentar a transparência, responsabilidade, participação, “lugar à mesa” Espaço democrático A WaterAid procura conseguir as seguintes mudanças estratégicas através da advocacia: • Financiamento: de todas as fontes (governos nacionais, doadores, auto financiamento, sector privado local, comunidade e microfinanças) será duplicado e concentrado no acesso sustentável e equitativo ao sector de A&S. • Planeamento do sector: irá tornar-se mais acessível, transparente e responsável. Será baseado num processo consultivo no qual todos os interessados em A&S irão participar. • Saneamento económico: tornar-se-á uma prioridade dos governos e terá a sua própria estratégia, atribuição de orçamento, mecanismo institucional e monitorização do desempenho. Inclui todo o saneamento, seja dos agregados familiares, público e ambiental, tanto em meios rurais como urbanos. • Benefícios para os pobres: o sector hídrico urbano é reformado e os investimentos irão beneficiar as pessoas pobres em zonas urbanas e ter como resultado serviços de A&S para todos os habitantes dessas zonas. • Capacidade: a capacidade do governo local para entregar serviços de A&S será melhorada, e o governo local irá trabalhar de modo participativo para planear, mobilizar os recursos locais, monitorizar e implementar os serviços de A&S para todos. • Responsabilidade: maior escrutínio do parlamento e responsabilidade pela actividade no sector de A&S como resultado de uma maior consciencialização pública e interesse por parte dos meios de comunicação. • Participação: a participação eficaz dos cidadãos fará com que os fornecedores dos serviços de A&S sejam mais eficientes, receptivos e responsáveis para com as pessoas pobres.• 20 Guia de advocacia Os factores críticos para conseguir estas mudanças com êxito são: • Vontade política: criar vontade política entre os governos e outros fornecedores de serviços para servirem as pessoas pobres e sem voz pública, particularmente para dar prioridade à A&S e reformar as instituições públicas na direcção de conseguir este objectivo. • Comunidades políticas: aumentar a força e a capacidade dos analistas, investigadores e outros praticantes locais para que combinem as suas competências para contribuir para decisões políticas com base em evidência. • Acção pública: dar poder às pessoas pobres e reforçar as organizações da sociedade civil e as redes para responsabilizar os governos e os fornecedores dos serviços. • Espaço político: criar plataformas para diálogo entre governos, fornecedores de serviços e cidadãos para a negociação de serviços, e de políticas que têm impacto sobre os serviços.• A&S e os Objectivos da ONU para o Desenvolvimento do Milénio Na Cimeira do Milénio das Nações Unidas em Setembro de 2000, 189 líderes mundiais assinaram um conjunto de Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) que comprometem a comunidade internacional a lidar com as questões mais urgentes que os países em desenvolvimento enfrentam. Os ODMs oferecem um “gancho” eficaz para defender uma maior prioridade política e financeira para se actuar na direcção do objectivo da WaterAid de acesso universal à A&S. Na prática: A meta do Objectivo de Desenvolvimento do Milénio de A&S O objectivo 10 do ODM 7 promete “garantir sustentabilidade ambiental” nos países em desenvolvimento reduzindo para metade a proporção de pessoas sem acesso sustentável à água de beber limpa e ao saneamento básico até 2015. Apesar dos ODMs terem sido assinados em 2000, inicialmente, o alvo incluía apenas uma menção específica à água, tendo sido necessário dois anos de extenso trabalho de advocacia para chegar a um acordo sobre o objectivo de saneamento. A WaterAid e outras ONGs do RU, incluindo a Tearfund, a organização parceira na campanha A Água Importa, fizeram lobby junto de governos para que estes adoptassem programas de acção com recursos tanto para a água como para o saneamento. A petição A Água Importa, ao ser entregue em Downing Street (a sede do Governo) em Agosto de 2001, com mais de 120.000 assinaturas, demonstrou ao Governo do RU a importância que o público nesse país dá a estas questões.. Em 2002, na Cimeira Mundial de Johannesburg sobre o Desenvolvimento Sustentável, estabeleceu-se uma meta firme para diminuir para metade, até 2015, a proporção de pessoas sem acesso ao saneamento adequado. O acesso à água limpa e ao saneamento adequado são essenciais para se conseguir a maior parte dos ODMs. A WaterAid está convencida de que a água limpa e o saneamento são a base de todo o outro desenvolvimento (ver a página seguinte). A nossa advocacia tem como objectivo demonstrar como o investimento em A&S tem um impacto profundo e de longa duração na pobreza. Uma Introdução à Advocacia 21 Como o fornecimento de água e o saneamento são fundamentais para todos os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio* ODM Ligação à A&S Erradicar a pobreza e a fome extremas (Objectivo 1) Conseguir educação primária universal (Objectivo 2) Sem acesso a A&S: • Perdem-se tempo e energia à procura e na recolha de água • Saúde fraca e doenças frequentes levam a pouca produtividade e rendimento mais baixo • O tempo, a energia e as finanças do agregado familiar são consumidos a lidar com doenças frequentes • Predomina a desnutrição infantil, piorada devido às doenças relacionadas com a água• Com acesso a A&S: • Melhor saúde leva a maior capacidade de desenvolver e manter um meio de subsistência • O tempo e a energia podem ser novamente atribuídos a actividades produtivas e/ou ao trabalho independente. Sem acesso a A&S: • As doenças que causam diarreia e as causadas por parasitas reduzem a frequência à escola e drenam a energia das crianças • As raparigas são muitas vezes obrigadas a ficar em casa para ajudar a carregar água e a cuidar dos membros da família que se encontram doentes • As taxas de desistência das raparigas são mais elevadas nas escolas que não têm instalações sanitárias para rapazes e raparigas• Com acesso a A&S: • As escolas são ambientes saudáveis • O ambiente da escola, a frequência, a retenção e o desempenho melhoram • A colocação dos professores melhora • As raparigas sentem-se seguras e podem manter a dignidade enquanto estão na escola Sem acesso a A&S: • As mulheres nas zonas rurais passam até um quarto do tempo a recolher e a carregar água – muitas vezes de má qualidade • As mulheres e as raparigas são humilhadas, perseguidas e/ou sexualmente assaltadas quando defecam ao ar livre• Promover a igualdade entre os géneros e dar poder às mulheres (Objectivo 3) Reduzir a mortalidade infantil (Objectivo 4) Com acesso a A&S: • As mulheres e as raparigas gozam de saneamento privado e digno • O peso que cai sobre as mulheres e as raparigas de carregar a água é reduzido • O peso sobre as mulheres e as raparigas devido a terem que cuidar de parentes doentes é reduzido • As mulheres têm papéis maiores na tomada de decisões, e uma divisão de trabalho mais equitativa • A demonstração deste facto pode ajudar o estatuto das mulheres de outros modos Sem acesso a A&S: • As doenças que causam diarreia, incluindo a cólera e a disenteria, matam mais de dois milhões de crianças jovens por ano • O leite de biberão é muitas vezes fatal devido à água contaminada • Os ancilóstomos, lombrigas e os vermes nemátodos reproduzem-se e debilitam as vidas de milhões de crianças• Com acesso a A&S: • Melhor nutrição e menos doenças levam ao crescimento físico e mental das crianças • Declínio rápido no número de mortes causadas pelas doenças diarreicas. 22 Guia de advocacia ODM Ligação à A&S Sem acesso a A&S: • As pessoas têm dificuldade em limpar, tomar banho, cozinhar e cuidar dos membros da família doentes • Maiores possibilidades de infecções devido à água contaminada, falta de acesso ao saneamento e à higiene, agravamento das condições gerais das pessoas doentes • Do peso global da doença, 23% é o resultado de fraca saúde ambiental, 75% da qual se atribui à diarreia• Combate ao VIH/SIDA, malária e outras doenças (Objectivo 6) Garantir a sustentabilidade do ambiente (Objectivo 7) Desenvolver uma parceria global para o desenvolvimento (Objectivo 8) Com acesso a A&S: • Menor número de ataques ao sistema imunitário dos pacientes com VIH/SIDA, permitindo-lhes melhor saúde • Melhor e mais higiene e possibilidades dignas de cuidar de pessoas doentes, aliviando o peso aos acompanhantes • O tratamento contra o VIH é mais eficaz se houver água limpa e comida disponíveis • As mães infectadas com VIH podem utilizar água limpa para preparar os biberões • Menor número de fontes de água contaminadas e menos água estagnada à volta das fontes de água reduz os locais de reprodução dos mosquitos • A água limpa e a higiene são importantes para reduzir toda uma gama de parasitas incluindo o tracoma e o verme da Guiné Sem acesso a A&S: • Esqualidez, doença e degradação do meio ambiente, especialmente em bairros da lata e povoamentos ocupados ilegalmente • Os rios e os solos nas zonas rurais continuam a ser degradados por fezes• Com acesso a A&S: • Há uma rápida diminuição da contaminação ambiental devido às fezes e à água de purga • Há tratamentos sustentáveis da água de purga e procedimentos para dispor dos desperdícios Segundo o ODM 8 os líderes mundiais comprometeram-se a quatro objectivos: desenvolver ainda mais um sistema de comércio e financeiro aberto, com base em regras, previsível, não discriminatório que inclui o empenho no que diz respeito à boa governação, desenvolvimento e redução da pobreza; dirigir-se às necessidades especiais dos Países Menos Desenvolvidos; dirigir-se às necessidades especiais dos países em desenvolvimento interiores e dos Estados em desenvolvimento em pequenas ilhas; e lidar exaustivamente com os problemas das dívidas dos países em desenvolvimento. Se desejar informação adicional sobre todas as promessas dos ODMs veja o website: www.unmillenniumproject.org * Tabela adaptada do DFID 2004, e A&SCC 2004 e apresentada em “Ensuring sustained beneficial outcomes for water and sanitation (WatSan) programmes in the developing world”, Brian Matthew, 2005 tese de doutoramento, IWE Cranfield University RU e publicada por IRC, Holanda. Uma Introdução à Advocacia 23 24 Guia de advocacia Advocacia de raiz A advocacia que tenta aumentar a capacidade das comunidades locais é por vezes designada “advocacia de raiz”. Descreve como dar voz às comunidades, particularmente as que não têm poder e são vulneráveis. Em resumo, significa envolver as comunidades locais e os líderes locais o mais possível no trabalho de advocacia. 10 Chapman, J. e Fisher, T. op. cit. A advocacia de raiz permite às pessoas articular as suas próprias necessidades e desejos, dandolhes a confiança e capacidades para influenciar as decisões que afectam o seu próprio futuro.10 Para as ONGs em particular, a advocacia de raiz é vital. A maior parte delas exigem activamente que as comunidades locais tenham uma opinião mais forte sobre as questões que as afectam, por isso as próprias ONGs têm que envolver as comunidades locais na sua advocacia. O que vai aprender deste capítulo • O que é a advocacia de raiz • Como é que a WaterAid utiliza a advocacia de raiz no sector de da A&S • Como aumentar as capacidades da comunidade, para que as comunidades possam levar a cabo trabalho de advocacia por si próprias.• 11 WaterAid Global Advocacy Meeting 1 (GAM1) 2002 Key outcomes and learning document. Ideia chave: A advocacia de raiz11 Para a WaterAid, a advocacia de raiz significa dar poder às pessoas que são directamente afectadas pelas políticas relacionadas com a água e o saneamento, para que se transformem em participantes importantes na produção das mudanças necessárias, e não serem beneficiários passivos. Na prática, o que isto significa é que as pessoas afectadas têm que: • • • • • analisar a sua situação no que diz respeito à água e ao saneamento determinar as questões que surgem desta análise determinar quais são as questões prioritárias sobre as quais actuar identificar as necessidades em termos de capacidades falar em seu próprio nome• A advocacia de raiz significa dar aos grupos da sociedade civil nacional e local o apoio de que necessitam para aumentar as próprias capacidades, com o fim de fazer eles próprios a advocacia. Depende das comunidades ter líderes que são capazes de articular – por vezes energicamente – em nome das pessoas que representam, assim como o meio através do qual esses líderes podem comunicar esta informação a quem tem o poder de mudar a política. Também depende de um bom fluxo de informação. As comunidades têm que ser informadas, pelos governos, agências e outros actores, sobre as questões que as afectam, e sobre os processos que permitem o seu envolvimento, e que existem para que as suas opiniões possam ser ouvidas. Claro que a advocacia de raiz não é fácil ou sem dificuldades. Depende de se os líderes das comunidades se sentem inclinados a participar, e também da informação e dos canais de que necessitam para o fazer. As estruturas formais de consulta, tais como fóruns da comunidade e documentos de consulta, são vitais. Os responsáveis pelas decisões raramente esperam que os abordem com opiniões das comunidades. A advocacia de raiz exige portanto que se proporcionem diferentes plataformas para os abordar como parte do processo político. Essas plataformas têm que ser suficientemente vastas e acessíveis para que diferentes interesses da comunidade, por exemplo, os das mulheres, possam ser declarados. Advocacia de raiz 25 Na prática: A WaterAid e a advocacia de raiz A WaterAid está empenhada em melhorar a capacidade de advocacia de todos os que beneficiam directamente dos projectos que apoia, assim como da comunidade em geral e da sociedade civil local. O objectivo de mudança política da WaterAid para a duração da Década de Acção para a Água da ONU (2005-2015) requer que pessoas da base e organizações da sociedade civil se envolvam mais em escrutinar os governos e os fornecedores de serviços, e que participem mais no processo de tomada de decisões. Os princípios orientadores da WaterAid para a advocacia de raiz: • A advocacia de raiz tem como objectivo conseguir mudanças sociais a longo prazo • Tem que ser informada pelas pessoas a favor de quem a WaterAid faz o trabalho de advocacia • Tem que ter como base as experiências das pessoas pobres, e permitir-lhes compreender devidamente as suas experiências • Tem que envolver a participação das pessoas pobres no processo de influência política • Tem que ter como base evidência clara e análise legítima, e não retórica vazia • Tem que contribuir para que as pessoas se tornem as suas próprias defensoras • Todas as actividades e públicos devem ser claramente definidos para que o trabalho de advocacia seja eficaz: - para que as metas se possam alcançar e ser compreendidas por quem está envolvido - os processos de influência são compreendidos e transparentes para todos os envolvidos - identificam-se as agências e os indivíduos a ser influenciadas no âmbito das agências - as mensagens chave são precisas - a distribuição de mensagens é apropriada Um entendimento sistemático das boas práticas na advocacia de raiz depende do reconhecimento de que não existe um modo “correcto” de o fazer. As ONGs têm que adoptar a necessidade de diversidade e de complexidade. As pessoas e as comunidades têm conhecimento existente, modos de trabalhar em conjunto e as suas próprias capacidades que têm que ser reconhecidas e utilizadas. A advocacia de raiz não pode ser somente um processo de transferência de “ferramentas” e conhecimento, sem reconhecimento ou entendimento dos contextos existentes na comunidade. Criação de capacidades nas comunidades para a advocacia de raiz Na prática: Levar as opiniões populares ao governo Em 2002, a WaterAid em Madagáscar apoiou a sua parceira Taratra para reforçar as vozes das comunidades no sector de A&S através de uma série de 10 workshops “toko kelo”. O objectivo dos workshops era promover as relações entre os comités hídricos com base nas comunidades, na administração local e no governo. “Toko kelo” significa “três pedras” indicando as três entidades envolvidas no processo de consulta. Os workshops apoiaram e exprimiram as preocupações da comunidade reunindo os três interessados. Os representantes das comunidades aprenderam que ao juntar as suas forças podiam defender os seus interesses de modo eficaz. A vantagem de criar a rede a partir da base era que os comités podiam desenvolver as suas capacidades e criar relações no modo estruturado necessário para conseguir os objectivos desejados. O resultado foi que os comités hídricos nas zonas locais conseguiram um voto mais autoritário em conjunto com outros actores no âmbito do desenvolvimento. Transformaram-se num verdadeiro catalizador da mudança. A melhoria das capacidades tem que ser tanto estratégica como prática. Estrategicamente, as 26 Guia de advocacia comunidades têm que receber as ferramentas para entenderem adequadamente, e reflectirem sobre as questões que enfrentam e os processos que têm ao seu dispor para reagir. Na prática, as comunidades necessitam das ferramentas, tais como informação e ligações com outras organizações semelhantes, para responder de modo adequado ao que aprenderam e sobre o que decidiram. O objectivo da melhoria das capacidades é: • Aumentar as competências: para fazer lobby, negociações, mobilização pública, etc.• • Aumentar os níveis de conhecimento: aumentar o conhecimento, consciencialização, e análise dos problemas apresentados e questões políticas subjacentes, assim como as causas subjacentes das barreiras como a pobreza, a desigualdade e a falta de acesso à informação.• • Melhorar as estruturas: incluindo mecanismos para coordenação, criação de redes e reforço de organizações.• • Aumentar os recursos: para a investigação, o acesso à informação, viagens e livros, etc.• O acesso à informação é vital neste caso. Introduzir informação, de uma variedade de fontes, sobre uma questão que causa preocupação, pode ajudar a estimular a análise crítica da questão entre as comunidades. Essa informação pode aparecer em diversas formas, todas importantes. O conhecimento formal, como políticas do governo e processos de consulta, pode ser apresentado ao mesmo tempo que se dá ênfase à importância do conhecimento informal, tal como uma comunidade se vê a si própria e as suas experiências. O objectivo geral é aumentar e dar ênfase ao conhecimento que uma comunidade tem do seu direito a ser ouvida, e a confiança para afirmar esse direito. Rápido e útil: Onde é necessário melhorar as capacidades? A melhoria das capacidades deveria encaixar-se na maior parte das fases do planeamento da advocacia. As ONGs e outras organizações podem tomar em consideração as questões que se seguem sobre onde a melhoria das capacidades se encaixa nos seus planos de advocacia: • Pense competências, conhecimento, estruturas, recursos • Em que prioridades está a trabalhar e como foram estabelecidas? • As comunidades que você ou as suas organizações parceiras defendem estão envolvidas no planeamento do trabalho de advocacia? Se não, como as pode envolver? • Estão envolvidas na implementação do seu trabalho de advocacia? Como as pode envolver mais? • Partilhou toda a sua informação e análise com elas, tanto quanto possível? • Foram envolvidas na formulação de soluções para os problemas da política? • O acesso que têm à informação e à análise pode aumentar? • Elas querem que você aumente a capacidade que têm de influenciar? • Como pode aumentar a abertura que têm aos processos políticos? • Há necessidades em termos de formação que podem ser satisfeitos, ou ajudá-las a satisfazê-los? • Que contactos lhes pode dar? Como pode aumentar as redes delas?• As organizações também podem necessitar de tomar em consideração como a sua própria capacidade de advocacia pode ser melhorada e se também é necessário um processo de criação interna de capacidades. Se a sua organização não tem as competências ou conhecimentos apropriados, não pode fazer advocacia eficaz. (A secção que se segue vai ajudar a identificar os requisitos em termos de formação e outras capacidades como parte do processo de planeamento de advocacia). Advocacia de raiz 27 Rápido e útil: Principais dicas sobre a criação de capacidades12 • Não se apresse: a criação de capacidades é um processo a longo prazo • Cor local: as capacidades são realçadas quando se respeitam os sistemas de valores locais. Baseie-se nas capacidades existentes utilizando a perícia local, e utilize a força das instituições existentes • Voluntário: a melhoria de capacidades utiliza a aprendizagem voluntária, com uma dedicação e interesse genuínos. Estabeleça os motivos e incentivos para a criação de capacidades. • Responsabilidade: diálogo franco, transparência e participação alargada são essenciais, porque a criação de capacidades não é neutral no que diz respeito ao poder. Mantenha-se responsável para com os beneficiários finais. • Sustentável: a capacidade é o ponto focal do desenvolvimento, por isso a criação de capacidades deve promover resultados de desenvolvimento sustentáveis • Seja flexível: a criação de capacidades que pode proporcionar tem que corresponder ao que as organizações locais querem de si. Seja suficientemente flexível para responder às necessidades e agendas locais. • Dedicação: Continue a participar em circunstâncias difíceis. Quanto mais fraca a capacidade, maior a necessidade.• Na prática: FEDWASUN no Nepal Em todo o Nepal, centenas de comités de utentes de água estão envolvidos na reparação e manutenção dos projectos de A&S a nível das comunidades locais. Mas devido à falta de conhecimentos, apoio eficaz e coordenação, os seus esforços não são tão eficazes como poderiam ser. Muitas comunidades continuam sem água, outras não conseguem manter os sistemas de fornecimento que têm. Muitas outras não têm conhecimento dos seus próprios direitos hídricos ou das responsabilidades do governo. Em Julho de 2002, estabeleceu-se uma federação dos utentes da água, capaz de defender os utentes da água. A Federação dos Utentes da Água Potável e de Saneamento do Nepal (FEDWASUN) foi formalmente registada em Kathmandu em Maio de 2004. Em Agosto de 2006, 29 filiais de distrito em todo o Nepal já tinham aderido. A FEDWASUN é um fórum da sociedade civil com base nas pessoas. Defende questões a nível prático e político do ponto de vista dos utentes, junto das autoridades. Por um lado, a FEDWASUN oferece apoio para resolver questões de A&S dos grupos de utentes através da recolha de informação, análise e advocacia junto das agências respectivas. Por outro, o papel da FEDWASUN desenvolveu-se como uma ponte entre as pessoas e os fornecedores dos serviços públicos, porque tem sido capaz de coordenar a participação dos grupos da comunidade. Através desta coligação, ao criar relações a nível local e nacional entre o governo e os grupos de utentes, a FEDWASUN está convencida de que as opiniões das pessoas podem ser ouvidas. 28 Guia de advocacia 12 Adaptado de Blagescu, M. e Young, J. (Janeiro 2006) citando Lopes e Theisohn (2003) Capacity Development for Policy Advocacy: Current thinking and approaches among agencies supporting Civil Society Organisations ODI Working Paper 260 Secção 4 Planeamento da advocacia Quando tiver ideias claras sobre o que é a advocacia, os contextos nos quais a advocacia pode ter lugar, e as questões importantes de envolvimento da comunidade, pode passar a planear o seu trabalho nessa área. Os princípios do planeamento da advocacia são semelhantes aos do planeamento de qualquer outro programa, mas é necessário ser-se claro sobre os objectivos e as metas, e obviamente, a monitorização e a avaliação. No entanto, este processo pode ser um tanto complexo porque a advocacia envolve muitas vezes um contexto político, com interessados e metas, cada um com as suas próprias agendas e influências. O ciclo de planeamento da advocacia tem como objectivo identificar os factores que podem influenciar o resultado da advocacia. Também prepara as ONGs para ter em conta factores que ainda não foram identificados, à medida que surgem. Uma abordagem sistemática e analítica do trabalho de advocacia, que investiga as questões adequadamente, identifica alvos e resultados desejados, e que é clara sobre as mensagens principais que quer transmitir, tem maiores probabilidades de ter como resultado uma estratégia de advocacia dinâmica e eficaz. Esta secção tem como objectivo demonstrar-lhe como desenvolver uma estratégia de advocacia eficaz, com base em planos de acção viáveis. Oferece técnicas práticas e uma estrutura sistemática para desenvolver a sua própria estratégia de advocacia. O que vai aprender deste capítulo • • • • Como o bom planeamento é essencial para qualquer estratégia de advocacia Os princípios do ciclo de planeamento da advocacia, e as ferramentas para o pôr em prática Como investigar as questões adequadamente antes de se lançar na advocacia. Como identificar os seus objectivos, alvos e mensagens de advocacia• O ciclo de planeamento da advocacia O planeamento do trabalho de advocacia é semelhante ao planeamento de qualquer outro projecto. Envolve identificar quais são os seus objectivos e como os concretizar, o que leva à definição das actividades que quer levar a cabo, e à atribuição das responsabilidades que permitem a realização das mesmas. O ciclo de planeamento da advocacia é um método útil para organizar o seu material, e o trabalho que tem que fazer. Vai guiar-nos, passo a passo, desde a identificação das questões centrais sobre as quais é necessário trabalhar, através do esboço de um plano de acção específico, até à implementação do trabalho de advocacia. O ciclo pode ser dividido em duas partes distintas – os primeiros passos são de natureza mais estratégica, os segundos desenvolvem esse contexto estratégico num plano de acção viável. O planeamento da advocacia é um ciclo porque apesar de que há alguns passos sequenciais, alguns passos seguem em paralelo aos outros, ou podem mudar de sequência dependendo do progresso. Também é um processo repetitivo: a monitorização e a revisão contínuas irão levar à actualização e à adaptação do plano, assim como o farão as diferentes reacções à advocacia entre os seus alvos. Planeamento da advocacia 29 Planear para a monitorização e a avaliação Identificar as questões Descobrir mais através da análise Esboçar um plano de acção da advocacia Estabelecer objectivos O ciclo de planeamento da advocacia Identificar os aliados e o trabalho em parceria Escolher as abordagens e actividades para a advocacia Identificar os alvos Definir a mensagem Avaliar os recursos Rápido e útil: Prazos do ciclo Demasiadas vezes, as ONGs tendem a reagir às questões demasiado tarde. Os debates já tiveram lugar, e as decisões foram tomadas, antes de começarem com o trabalho de advocacia para mudar as coisas que talvez pudessem ter evitado para começar. A boa advocacia exige uma análise apropriada dos prazos envolvidos nas questões em que está a trabalhar. A monitorização cuidadosa da direcção que as decisões políticas estão a levar pode permitir antecipar os prazos, e pode mesmo permitir às ONGs influenciar os próprios prazos. Mais especificamente, pode haver eventos e oportunidades significativos relacionados com a questão de advocacia, como conferências internacionais, prazos para consultas, e reuniões, que terão que ser incluídos na sua actividade de advocacia. Não os tomar em conta pode diminuir o impacto que pode ter. 30 Guia de advocacia Na prática: Acertar com os prazos no Gana A 24 de Agosto de 2005, o Ministério das Finanças e Planeamento Económico do Gana convidou associações, grupos e indivíduos a submeter memorandos que proporcionariam informação para o orçamento de 2006. A WaterAid respondeu colaborando com outros profissionais de A&S no Gana. Fez publicidade em dois jornais nacionais pedindo aos “participantes e amigos da água e do saneamento” para trabalharem juntos para se fazerem ouvir para o planeamento do orçamento. Organizou-se um fórum de advocacia em Setembro que foi bem frequentado por representantes do governo local e central, doadores, grupos da sociedade civil e profissionais do sector. As discussões concentraram-se na fraca cobertura de A&S no Gana, o lento progresso na direcção do alvo do ODM para o sector e as enormes lacunas financeiras. As ligações entre a A&S e outros sectores importantes, como a saúde e a educação, também foram discutidas. O consenso foi que o fornecimento de água e de saneamento deveria ser o pilar das prioridades do governo e da agenda do desenvolvimento e que o alvo do ODM para o sector não seria alcançado se não se fornecessem financiamentos substancialmente mais elevados. A reunião deu evidência e apoio à WaterAid para pedir um aumento de financiamento para o sector de A&S no orçamento. Um memorando pedindo um aumento do financiamento para 2006, e para os anos seguintes, foi assinado por todos os “amigos do sector” e entregue aos departamentos do governo. A intervenção foi oportuna, sendo incluída nas deliberações do governo sobre o orçamento mesmo na altura certa, e visando precisamente os responsáveis certos pelas decisões: ministros e o Parlamento, que tomava a decisão final sobre o orçamento. O ponto alto foi atingido quando o Ministro das Finanças pediu cópias electrónicas do memorando, e pediu apresentações dos factos e das estatísticas para as utilizar nas apresentações do orçamento. Antes do fim de Novembro, o Ministério das Finanças fez publicidade no Daily Graphic Newspaper, exprimindo a sua apreciação aos indivíduos e organizações, incluindo a WaterAid no Gana, pela informação proporcionada. Identificar as questões 13 WaterAid Programme and Policy Sector Framework (2006) Policy Advocacy – themes. Na prática: As questões prioritárias da WaterAid13 Estes seis temas políticos foram desenvolvidos como uma resposta às lacunas críticas nas acções nacionais e internacionais necessárias para conseguir os ODMs relacionados com a água e o saneamento • • • • • • Modelos inovadores de financiamento da água e do saneamento Reforma do sector hídrico urbano Como conseguir alcançar o Objectivo de Desenvolvimento do Milénio para o Saneamento Governo local e descentralização Ligações entre a água e a pobreza Responsabilidade a nível local, nacional e internacional• O primeiro passo no planeamento do trabalho de advocacia é identificar as questões que têm que ser resolvidas. No entanto, para o fazer, tem que ser capaz de dar prioridade às questões que o preocupam, e demonstrar a importância relativa das mesmas a quem deseja representar. Para identificar as questões chave sobre as quais se quer concentrar, pode ter que as reduzir a uma lista de préselecção, examinar cada uma delas e organizá-las por ordem de prioridade. Planeamento da advocacia 31 Rápido e útil: O que é uma “boa” questão de advocacia? Utilize a lista de controlo que se segue para identificar a que questões de advocacia quer dar prioridade.14 Trabalhar sobre a questão vai: • ter como resultado uma verdadeira melhoria das vidas das pessoas? • dar às pessoas uma sensação do seu próprio poder? • ser profundamente sentido por muita gente? • criar organizações e alianças duradouras? • proporcionar oportunidades para as mulheres e outras pessoas aprenderem sobre política e se envolverem na mesma? • desenvolver novos líderes? • promover a consciencialização e o respeito pelos direitos? • ligar as preocupações locais a questões em maior escala, mesmo globais? • proporcionar potencial para angariar fundos? • permitir à organização alargar a sua visão e missão? • poder ser ganha? Tem um alvo, prazo e solução política claros?• 14 Veneklasen, L. e Miller, V. (2002) A New Kind of Power, People and Politics – The Action Guide for Advocacy and Citizen Participation. EUA. Investigar as questões Ideia chave: A importância da investigação É vital entender detalhadamente as questões sobre as quais irá levar a cabo o trabalho de advocacia, nas fases iniciais do ciclo de planeamento de advocacia. Somente com a investigação pode criar um argumento verdadeiramente racional, e proporcionar a evidência para o apoiar. A investigação dá credibilidade à sua posição na advocacia. Proporciona a informação de que necessita para fazer planeamento adequado, desenvolver as suas mensagens e levar a cabo o seu lobby. A investigação também pode ajudar a criar alianças, à medida que se procura ajuda para recolher a informação necessária de outras organizações e indivíduos. Na realidade, ao trabalhar em conjunto na investigação com, por exemplo, analistas políticos e políticos, é possível criar boas relações numa fase muito inicial, que podem ser úteis mais tarde quando se move para a fase de lobby. E o trabalho com organizações e comunidades para recolher a informação de que se necessita, também ajuda a desenvolver a capacidade e competências de cidadania – um aspecto chave da boa advocacia. O Overseas Development Institute (Instituto para o Desenvolvimento no Estrangeiro) (ODI) chama à investigação “um esforço sistemático para aumentar a reserva do conhecimento”.15 Também pode ser descrito como “ a recolha, análise e divulgação sistemática de informação”.16 É certamente importante que a investigação seja bem estruturada e sistemática e se concentre nas questões críticas. É necessário analisar a credibilidade de todas as fontes de informação. Tem que ser devidamente documentada de modo útil e deve fazer-se uma avaliação da utilidade das mesmas para a questão em consideração. No trabalho de advocacia, a investigação deve certamente cobrir três aspectos vitais: • Análise da questão• • Análise do contexto no qual a questão se encontra• • Compreender os prazos com os quais se relaciona a advocacia sobre a questão • 32 Guia de advocacia 15 Research and Policy in Development (RAPID) do ODI, RU definido (2006) em http://www.odi.org. uk/rapid/Tools/Definitions. html 16 Ver Pratt e Loizos (1992). Choosing research methods: data collection for development workers. Development Guidelines No. 7, Oxfam, RU. Rápido e útil: Investigação credível A investigação deve ser: • Objectiva, e não parcial • Representativa de todo o grupo a quem se dirige, e não somente de um único ponto de vista • Precisa e fiável • Metódica e sistemática• Há algumas fases essenciais na boa investigação, que se devem aplicar à recolha de informação antes de dar início ao programa de advocacia: • De que informação se necessita?• É útil pensar nisto em termos das perguntas que têm que ser respondidas. Onde se encontram as lacunas no conhecimento? Dividir a informação necessária em partes irá ajudar a planear como a investigar, particularmente ajudando a distinguir entre informação que será fácil de obter, e a que exige maior esforço. • Onde se pode encontrar esta informação?• As fontes onde a informação já existe, recolhida por outros investigadores, talvez descrita em relatórios, consultas do governo, estatísticas ou planos de projectos devem ser identificadas. No entanto, deve-se identificar se esta informação secundária é credível, fiável e actualizada. Noutros casos, pode ser necessário recolher informação primária, de fontes originais. Pode-se identificar a necessidade de levar a cabo um estudo no campo, ou entrevistas, por exemplo. A informação primária pode ser recolhida de uma variedade de fontes, desde um estudo de residentes de aldeias a uma investigação do processo político implementado pelo governo. • Quem irá contribuir para a investigação?• Se for necessário levar a cabo investigação primária, terá que se identificar quem entrevistar ou estudar. Para que a investigação seja credível, será necessário garantir que o grupo a investigar é uma amostra representativa. Deve-se tentar ter uma amostra de entrevistados o mais ampla e representativa possível, dependendo do tempo e dos recursos, que deve oferecer uma ideia precisa de toda a população, a partir da qual se podem tirar conclusões. A amostra vai simplesmente ser uma percentagem escolhida ao acaso da população que se está a analisar, ou será que se vai tentar estudar todas as pessoas numa área em particular, como um subúrbio? Quando se definir a amostra, também vai ser necessário identificar as características chave, tal como utilização de água, idade, género, situação do agregado familiar, uma vez que podem influenciar as respostas à investigação. • Como se vai recolher a informação?• Se se estiver a levar a cabo uma investigação primária, é importante registar os dados de modo preciso e sistemático, o que significa ser claro sobre como se vai recolher a informação, por exemplo, por meio de entrevistas, questionários, observação, análise estatística ou outra ferramenta de recolha de dados (ver abaixo). Qualquer que seja o método que vai ser utilizado, deve garantir que a recolha de dados é sistemática, consistente, não assume nada e pode ser verificada. Além do mais, o método tem que ser suficientemente flexível para registar a informação se os resultados dos dados apontarem para uma direcção inesperada. No geral, os métodos de investigação também devem respeitar a cultura e a privacidade das pessoas. Planeamento da advocacia 33 Na prática: Criação de alternativas credíveis em Karachi A investigação teve um papel importante em conseguir êxito na advocacia na cidade paquistanesa de Karachi, onde a WaterAid financia o Projecto Piloto Orangi – Instituto de Investigação e Formação (OPP-RTI). Os estudantes documentaram os esgotos construídos pelos próprios em zonas de baixo rendimento na cidade, para permitir ao projecto fazer lobby junto das autoridades de Karachi com um plano realista para ampliar os esgotos económicos para as comunidades pobres da cidade. A documentação proporcionada pelos estudantes tem sido a base sobre a qual o OPP tem questionado os planos de esgotos e de escoamento do governo para a cidade de Karachi, e tem apresentado diversas alternativas que são económicas e realizáveis sem empréstimos estrangeiros. Como tal, quatro nallas (esgotos abertos) estão a ser transformados em aquedutos cobertos, melhorando as vidas de cerca de dois milhões de pessoas. Esta documentação significou que o OPP também pôde propor alternativas à proposta financiada pelo Banco de Desenvolvimento Asiático (ADB) para o Projecto de Gestão de Águas Residuais de Korangi. Devido à proposta do OPP, a proposta financiada pelo ADB foi cancelada pelo Governador de Sindh desse modo poupando ao governo de Sindh outro empréstimo de 70 milhões de dólares americanos e reduzindo o preço do projecto de 95 milhões de dólares para cerca de 25 milhões de dólares. A publicação do OPP, Proposta para um Sistema de Eliminação de Esgotos para Karachi, teve um papel importante nesta decisão. Além do mais, o OPP também produziu dois volumes do Estudo do OPP de Katchi Abadis de Karachi, em Urdu e em inglês. Esta publicação teve um grande impacto sobre as questões políticas relacionadas com a água e o saneamento em Karachi e levaram ao desenvolvimento de programas mais racionais, económicos e a favor das pessoas pobres.17 • Como se vai analisar e apresentar a informação?• Depois de se recolher a informação, será necessário organizá-la de modo sistemático. Só assim será possível analisá-la convenientemente, procurando padrões e aprofundando a compreensão da situação. Em seguida, as descobertas devem ser redigidas, para si e para os seus colegas (mesmo se for só um documento interno). O processo de redacção dos resultados irá ajudar a analisar a informação, e a tirar conclusões. Lembre-se de incluir informação sobre a sua metodologia e amostra. 34 Guia de advocacia 17 De “News from OPP-RTI Pakistan, November 2005” http://www.achr. net/pakistan2.htm Toolkit de advocacia: Tabela de planeamento da investigação A tabela que se segue vai ajudar a formular as perguntas para as quais é necessário ter resposta. Também vai ajudar a dividir essas perguntas em questões de investigação mais específicas. Permite registar que possíveis fontes de informação existente podem responder a estas perguntas, e como se pode organizar a informação adicional. Tópico/ pergunta de investigação Sub-tópico/ pergunta de investigação Fontes de informação Métodos para recolha de informação Quem é responsável/ até quando os dados deveriam ficar disponíveis A WaterAid utilizou uma versão desta tabela para levar a cabo investigação de avaliação de A&S em 14 países através da Ásia e da África em 2004/05 para o relatório de síntese Chegar ao Ponto de Ebulição e para as avaliações dos países publicadas em 2005. Uma análise completa de dois dos tópicos principais incluídos nesta investigação encontra-se no Anexo como ilustração. Ver Toolkit de Advocacia: Tabela de planeamento da investigação da WaterAid… pág. 90. Planeamento da advocacia 35 Rápido e útil: Utilização de consultores de investigação Tem tempo e recursos para levar a cabo a investigação necessária no âmbito da sua organização? Se não, pode tomar em consideração subcontratar a investigação a terceiros, como por exemplo a uma instituição académica, instituto de investigação ou outra ONG. Mesmo quando subcontrata a consultores de investigação, ainda vai ter que estabelecer muito claramente o que é que quer saber, de quem, e como quer que a informação seja fornecida. É vital esboçar termos de referência claros para o seu consultor, delineando os objectivos da investigação, as questões chave com que se tem que lidar, os prazos e o orçamento. Deve declarar com que frequência é necessário um relatório sobre o progresso, e como essas actualizações devem ser proporcionadas (em pessoa, relatórios, e-mails). Finalmente, deve especificar claramente qual deve ser o aspecto do produto da consultoria, incluindo a dimensão e prazo para o submeter. Deve também considerar como irá gerir o trabalho do consultor, e atribuir recursos de modo apropriado, o que deve ser incluído no contrato de consultoria. Dicas para utilizar consultores: • Considerar um concurso, circulando os termos de referência e pedindo aos concorrentes para demonstrar a sua capacidade de levar a cabo o trabalho. • Chegar a acordo sobre uma tarifa antes de dar início ao trabalho, e concordar prazos, datas de início e fim do trabalho, procedimentos para terminar, como se irão recuperar as despesas e como o consultor deve reclamar as despesas e o pagamento, e se haverá que pagar impostos. • Assegure-se de que o contrato declara que o consultor irá estar disponível imediatamente a seguir ao trabalho ter sido acabado, para o caso de haver perguntas ou modificações a fazer. • Esclareça que os resultados da investigação e o relatório serão propriedade da sua organização, e não podem ser utilizados pelo consultor sem sua autorização. • Redija um contrato, que ambas as partes devem assinar. Junte-o em anexo aos termos de referência e faça cópias para cada signatário.• Ver Toolkit de Advocacia: Termos de Referência da WaterAid… pág. 92 Ferramentas para analisar as questões Uma vez identificadas as questões com que mais se preocupa, e depois de ter recolhido a informação relevante sobre as mesmas, o passo seguinte no ciclo de planeamento da advocacia é sujeitar as questões a uma análise minuciosa. Ao analisar as suas questões, pode identificar como pode influenciar as questões e que interessados se encontram melhor colocados para tentar levar a cabo essa influência. Há diversos modos de analisar uma questão, mas cada uma delas na realidade tenta fazer a mesma coisa: dividir a questão em partes mais pequenas, o que ajuda a compreender a questão, o contexto no âmbito do qual a questão opera e como se podem provocar mudanças. Apresentamos aqui quatro ferramentas diferentes para analisar a sua questão, e onde se encaixa no seu trabalho de advocacia. A estrutura de análise do problema, a árvore do problema, a estrutura RAPID e a análise PESTLE. 36 Guia de advocacia 18 Miller e Covey (1997) Advocacy Sourcebook: Frameworks for Planning, Action and Reflection. Institute for Development Research (IDR), EUA. 1. A estrutura de análise do problema18 Este método de análise concentra-se em dividir a questão em consideração numa lista de subquestões. Dentro de cada sub-questão, vai examinar as consequências do problema, as suas causas e quaisquer soluções possíveis. Questão: Sub-questões Consequências Causas Soluções Sub-questão 1 Sub-questão 2 Sub-questão 3 Por exemplo: Questão: Acesso à água potável nas regiões rurais Sub-questões Consequências Causas Soluções Sub-questão 1: Poucos furos na região rural Os residentes das zonas rurais passam horas a recolher água todos os dias dos poucos furos que existem Preconceitos étnicos na governação favorecem os furos para algumas comunidades em vez de outras. Mudanças nas políticas, práticas, leis, atitudes e comportamento. Os residentes recolhem água suja de outras fontes. Financiamento com motivações políticas para os furos na circunscrição eleitoral dos políticos. Etc. Etc. Falta de recursos atribuídos à criação de furos Etc. De notar que perguntar constantemente “porquê?” ajuda a proporcionar uma análise completa do problema. Por exemplo, uma análise mais profunda das causas da fraca atribuição de furos pode revelar limites estruturais abrangentes que permitem que a atribuição de recursos com motivos políticos ocorra; por exemplo, o peso da dívida sobre a economia nacional evita que haja gastos suficientes no fornecimento de água rural. 19 Start, D. e Hovland, Il (2004) Tools for Policy Impact. A Handbook for Researchers. ODI 2. A árvore do problema19 A análise da árvore do problema é uma das muitas formas de planeamento de projectos e está bem desenvolvida entre muitas agências de desenvolvimento. É um método visual de analisar um problema em particular, com base no mapeamento dos diferentes aspectos do problema em folhas de papel grandes. Funciona particularmente bem quando se analisa uma questão num grupo. A “árvore” permite aos participantes visualizar as ligações entre a questão principal e os problemas resultantes, assim como as causas de raiz. Planeamento da advocacia 37 O tronco da árvore representa o problema central, as raízes representam as causas do problema e os ramos representam os efeitos do problema. • Desenhe a forma da árvore numa folha de papel grande, e escreva o problema central ou essencial ou questão no tronco da árvore• • Em folhas de papel mais pequenas, ou em cartões, escreva quais são as causas do problema, que são colocados na árvore como sendo as “raízes”• • Nos outros cartões, escreva as consequências que resultam da questão principal. Estas são colocadas na árvore como sendo as “folhas”• • Num grupo, podem negociar uns com os outros utilizando a árvore como ferramenta de discussão, sobre a prioridade e colocação das diferentes folhas e raízes. O ponto focal do exercício é a discussão, debate e diálogo que é gerado à medida que os factores são arranjados e rearranjados, muitas vezes formando subdivisões das raízes e dos ramos.• O passo seguinte no processo da árvore do problema é começar a separar as causas do problema, para que se possa ver onde poderá ter o maior efeito. • Pegue num dos cartões principais da raiz (causa), e faça dele o tronco da árvore (problema chave). Pode agora analisar as causas desse problema do mesmo modo, talvez mostrando as áreas onde pode ter influência.• O passo final é utilizar a árvore para ajudar a definir as metas ou objectivos, porque deve tentar conseguir alcançar as suas metas, e porque tem que as alcançar. Pode converter a árvore do problema numa árvore de objectivos parafraseando cada um dos problemas em resultados positivos desejáveis – como se o problema já tivesse sido tratado. • Escreva a sua meta no tronco da árvore – o que pode ser uma inversão da declaração negativa que era a causa do problema, definida no passo dois. Por exemplo, “não há suficientes furos numa zona rural”, seria transformada em “furos suficientes numa zona rural”.• • Para esclarecer a finalidade dos seus objectivos, escreva em cartões os benefícios que se irão acumular se este objectivo for alcançado, que se transformam nas “folhas” da sua árvore.• • Agora, escreva em cartões os passos ou acções que tem que tomar para conseguir o objectivo, que se transformam nas “raízes” da sua árvore.• Mais uma vez, pode converter as declarações negativas que eram a raiz do seu problema em declarações positivas. Por exemplo, “fundos insuficientes são atribuídos para A&S na zona rural”, pode ser convertido em “disponibilizar fundos suficientes para A&S na zona rural”. Toolkit de advocacia: A árvore do problema O Anexo inclui diagramas pró-forma de árvores do problema, como descrito acima. Ver Toolkit de Advocacia: árvores do problema… pág. 94 38 Guia de advocacia Ideia chave: Soluções credíveis A procura de soluções, ou alternativas, credíveis, é uma característica importante do planeamento da advocacia. As ONGs são muitas vezes criticadas pelo trabalho de advocacia que organiza campanhas contra uma certa política ou prática, mas não tem uma alternativa realista. As campanhas de advocacia que fazem isto arriscam-se a ser ineficazes, e comprometem a credibilidade das ONGs entre os visados pela advocacia. 20 Edwards e Hulme (1992), Making a Difference: NGOs and Development in a Changing World. Save the Children and Earthscan, Londres. Sempre que possível, as ONGs devem apresentar “alternativas bem desenvolvidas que garantam melhorar os padrões de vida sem os custos sociais e ambientais impostos pelos sistemas actuais”.20 As alternativas devem incluir os resultados da investigação, e experiência robusta de diversas fontes, apoiada por informação de apoio sobre a viabilidade da alternativa. Uma ONG não pode simplesmente apresentar exemplos das suas próprias boas práticas. A investigação, as revisões feitas por semelhantes e as discussões com os próprios visados da advocacia podem todos contribuir para este processo. 3. A estrutura RAPID A equipa de Investigação e de Política no Desenvolvimento (RAPID) do Instituto de Desenvolvimento no Estrangeiro criou a estrutura RAPID para ajudar a desenvolver uma compreensão da política e das influências políticas sobre uma questão em particular, assim como a identificar os interessados e participantes políticos nessa questão. Para levar a cabo o trabalho de advocacia mais eficazmente, as ONGs têm que compreender as relações de poder envolvidas numa questão em particular, assim como os processos de tomada de decisões envolvidos. Se, por exemplo, uma ONG está a planear trabalho de advocacia sobre o financiamento dos serviços de A&S nas zonas urbanas pobres, é necessário fazer uma análise de quem exactamente toma as decisões sobre o financiamento dos serviços de A&S e como essas decisões são tomadas. A estrutura RAPID ajuda a garantir que se fazem as perguntas correctas para desenvolver esta compreensão. Esta estrutura RAPID está descrita na página que se segue. Uma vez identificadas as respostas às perguntas chave na estrutura RAPID, podem ser utilizadas para determinar os próximos passos que se tem que levar a cabo no trabalho de advocacia, e como o fazer. Para cada resposta às perguntas, deve-se identificar que acção pode ser necessário levar a cabo em relação à pergunta, e como o fazer. Toolkit de advocacia: A tabela RAPID O Anexo inclui uma tabela que ilustra algumas das acções principais que emergiram do processo RAPID, e como levar a cabo essas acções. Deve-se utilizar esta tabela à medida que se passa da análise da questão de advocacia, para planear que acção tomar sobre o assunto. Ver de Advocacia: tabela RAPID… pág. 96 Planeamento da advocacia 39 A Estrutura RAPID Ambiente Externo Contexto Politico 1.Quem são os principais actores ou doadores internacionais no processo político? 2.Que influência têm? Quem os influencia? 3.Quais são as suas prioridades de ajuda e agendas políticas? 4.Quais são as suas prioridades e mecanismos de investigação? 5.Como é que as estruturas e hábitos sociais afectam o processo político? 6.Há alguns processos e tendências económicos, políticos ou sociais abrangentes? 7.Há choques e tendências exógenos que afectam o processo político? 1.Quem são os principais participantes políticos (incluindo os responsáveis pelas decisões políticas)? 2.Há procura de investigação e ideias novas por parte dos políticos? 3.Quais são as fontes de resistência à evidência com base na política? 4.Qual é o ambiente político? a.Quais são as estruturas para tomada de decisões políticas? b.Quais são os processos para tomada de decisões políticas? c.Qual é a estrutura legal/política relevante? d.Quais são as oportunidades e prazos para participar no processo formal? 5.Como é que as estruturas e interesses políticos, sociais e económicos a nível global, nacional e das comunidades afectam o espaço de manobra dos políticos? 6. Quem dá forma aos objectivos e resultados das políticas? 7. Como é que as suposições e relatos prevalentes (quais?) influenciam as decisões políticas? Até que ponto as decisões são rotina, suplementares, fundamentais ou emergentes, e quem dá apoio ou resiste à mudança? Contexto Politico Links Links 1.Quem são os principais interessados? 2.Quem são os peritos? 3.Que ligações e redes existem entre eles? 4.Que papel têm? São intermediários entre a investigação e a política? 5.De quem é a evidência e investigação que comunicam? 6.Que indivíduos ou instituições têm poder significativo para influenciar a política? 7.Estes actores políticos e redes são legítimos? Têm apoio entre as pessoas pobres? 40 Guia de advocacia Evidência Evidência 1.Qual é a teoria actual ou relato prevalente? 2.Há evidência suficiente (com base na investigação, experiência e estatísticas)? 3.Que tipo de evidência existe? a.Que tipo convence os políticos? b.Como é apresentada a evidência? 4.A evidência é relevante? É precisa, material e aplicável? 5.Como é que a informação foi recolhida e por quem? 6.Os participantes políticos acham que a evidência e a fonte são credíveis e de confiança? Porque é que se produziu evidência? 7.Foi ignorada alguma informação ou investigação? Porquê? 21 De Ian Chandler (2006) Effective Advocacy, materiais de curso de formação. The Pressure Group, UK 4. A Análise PESTLE21 Uma análise PESTLE oferece uma estrutura para examinar o ambiente externo e as tendências que podem afectar a questão em que se está a trabalhar. Depois de se fazer uma lista dos factores PESTLE, devem-se identificar os que são significativos para o trabalho, como oportunidades ou ameaças. O problema é examinado de acordo com os seguintes factores no país em que se está a trabalhar: Político: incluindo por exemplo o governo e as entidades governamentais, a legislatura e a magistratura, e quaisquer outros movimentos políticos ou grupos de pressão. Económico: incluindo por exemplo o PIB, dívida, fontes de rendimentos do governo, patronato do sector privado, distribuição de rendimentos, etc. Sociológico: incluindo por exemplo a demografia, educação e saúde, taxas de emprego, propriedade da terra e meios de comunicação. Tecnológico: incluindo por exemplo a infra-estrutura da tecnologia da informação, acesso às telecomunicações Legal: incluindo por exemplo os limites e outros factores legais relevantes ao trabalho de advocacia Ambiental: incluindo por exemplo a desflorestação e desertificação, poluição, seca, inundações, vida selvagem e/ou agricultura. Rápido e útil: Avaliação dos riscos Em alguns países, falar sobre questões políticas, económicas, legais ou ambientais pode pôr em perigo a segurança pessoal dos próprios defensores, ou daqueles cujas causas defendem. Estes factores têm que ser cuidadosamente tomados em consideração quando se planeia o trabalho de advocacia, e as ferramentas acima deveriam permitir fazê-lo. Obter o consentimento de qualquer pessoa que possa correr algum risco, e garantir que os riscos são compreendidos e mitigados, é vital. O trabalho em alianças com outras organizações pode ajudar nestas circunstâncias. Alternativamente, os indivíduos ou grupos podem trabalhar anonimamente através de organizações externas (como as que têm um perfil internacional), pressionando os responsáveis pelas decisões sem eles próprios correrem perigo . Planeamento da advocacia 41 Na prática: Análise da política em comparação com a prática em Moçambique Depois de anos de guerra civil, a história deixou Moçambique como um dos países mais pobres de África. Milhões de pessoas vivem muito abaixo da linha da pobreza. O moçambicano médio tem uma expectativa de vida de menos de 40 anos. Aqui, a WaterAid tem-se concentrado em desenvolver as capacidades locais para proporcionar infra-estruturas de A&S, em conjunto com programas sociais de facilitação, projectados para provocar mudanças positivas a nível da higiene. O manual político do governo declara que as comunidades devem ser responsáveis pela operação e manutenção de quaisquer sistemas hídricos, e que devem poder escolher as tecnologias mais apropriadas. No entanto, a análise da WaterAid revelou que a bomba manual, Afridev, fabricada localmente, estava na prática a ser utilizada pelo governo e os seus parceiros, como a única e oficial opção tecnológica. Demonstrou-se que esta tecnologia era insustentável para a maioria das comunidades, devido ao preço elevado e à falta de disponibilidade de peças sobressalentes, assim como à falta de formação proporcionada à comunidade para a manutenção das bombas. A WaterAid decidiu procurar outras opções tecnológicas apropriadas que pudessem ser promovidas junto do governo, para sustentar o acesso das pessoas à água limpa. Em 2002 a WaterAid organizou um workshop para o qual convidou as “Bombas de Mecate”, do Nicarágua, para introduzir os parceiros do governo e do sector privado da WaterAid à bomba de corda e à aplicação que tinha no Nicarágua. A WaterAid e os seus parceiros decidiram finalmente adoptar e adaptar um modelo de bomba de corda desenvolvido em Madagáscar uma vez que se achou que era o mais apropriado para Moçambique. Em 2003 começou o programa de instalação, depois dos parceiros da WaterAid terem incluído tanto a bomba de corda como a bomba manual Afridev nos programas de educação das comunidades. Muitas comunidades escolheram a bomba de corda como a tecnologia preferida porque era considerada mais barata, mais fácil de manter, e as peças sobressalentes, tal como as cordas, encontram-se geralmente mais disponíveis localmente do que as peças para a Afridev. Organizaram-se reuniões contínuas para monitorizar o desenvolvimento da bomba de cordas nas províncias do Niassa e da Zambézia, para permitir que outras pessoas aprendessem sobre esta tecnologia e para criar melhores especificações de material para os contratos de fabrico. Finalmente, em 2005, a Direcção Nacional da Água (DNA) aceitou oficialmente organizar um estudo piloto da bomba de corda em três províncias, o que foi apoiado pela WaterAid no Niassa, a UNICEF com a assistência técnica da WaterAid na Zambézia e da CARE em Cabo Delgado. A Agência Suiça para a Cooperação ao Desenvolvimento (SDC) proporcionou coordenação vital, financiamento e directivas técnicas de apoio a este grupo. Em seguida a três avaliações anuais do estudo piloto, há indicações de que os Ministros do Gabinete irão em breve aprovar a bomba de corda como a segunda tecnologia oficial de bomba manual. É um enorme progresso para o sector. A longo prazo, poderia significar que é mais fácil para a WaterAid e os seus parceiros inovar, desenvolver e implementar projectos hídricos e de saneamento no país. Definição dos Objectivos Depois da investigação e da análise das questões, juntamente com as relações de poder associadas, a próxima etapa é começar a redigir os objectivos específicos para o trabalho de advocacia. É necessário definir exactamente o que se quer que aconteça, e até quando. O estabelecimento dos objectivos irá permitir esclarecer o que se está a tentar conseguir fazer, e irá ajudar ao planeamento e projecto das actividades de advocacia. A um prazo mais longo, os objectivos claros também vão permitir a avaliação e a monitorização do trabalho de advocacia. 42 Guia de advocacia Um modo bem estabelecido de determinar quais poderão ser os principais objectivos ou estratégias é sujeitar a questão a uma minuciosa análise SMART. Especifico: o que se quer exactamente que aconteça? Mensurável: vai ser possível saber quando foi conseguido? Exequível: é realista ou mesmo possível conseguir o objectivo, atendendo aos recursos e tempo disponíveis? Relevante: é relevante e apropriado para todos os interessados, e para o próprio problema? Prazos: até quando se deseja que aconteça? Na prática: Objectivos SMART de A&S Alguns objectivos de advocacia SMART, por exemplo, podem ser: • Convencer o Ministério da Educação a concordar em adoptar um programa nacional de promoção da higiene, como parte do currículo das crianças de todas as escolas primárias e secundárias, dentro de 12 meses. • Aumentar o financiamento das provisões sanitárias nos cinco distritos mais pobres, em 50%, dentro de 18 meses. • Convencer o Chefe Administrativo Distrital/Municipal e a Assembleia Distrital/Municipal de um distrito/municipalidade específico do valor das ONGs abastecerem as aldeias com A&S durante a fase de desenvolvimento do novo plano estratégico da autoridade. • Recusar o decreto da cidade que não permite que os serviços hídricos se liguem aos agregados familiares mais pobres nas áreas dos bairros da lata dentro dos próximos dois anos • Garantir que o subsídio para os serviços hídricos e de saneamento é atribuido aos 20% dos agregados familiares mais pobres na cidade assim que for implementado • Garantir que a autoridade nacional de planeamento económico e de desenvolvimento inclui alvos de cobertura de A&S no novo plano de desenvolvimento a cinco anos do país• Alguns objectivos de advocacia não tão SMART (inteligentes) podem ser: • Promover a educação sobre a higiene nas escolas • Promover a utilização do saneamento entre as comunidades pobres Identificação dos alvos a visar O trabalho de advocacia trata de influenciar quem tem o poder de produzir mudanças. A investigação e a análise devem, até agora, ter dado ênfase a que mudanças se gostaria de provocar, e os factores políticos e outros envolvidos nas questões que causam maior preocupação. O passo seguinte é identificar os aliados mais prováveis para o trabalho de advocacia, e quem pode ser convencido a tornar-se aliado, ou pelo menos moderador para ajudarem nesse sentido. Também se vai ter que identificar quem coloca obstáculos aos objectivos de advocacia. Terá que se identificar exactamente quem se terá que convencer e influenciar com o fim de se obterem mudanças. Estes são os alvos da advocacia. E, mais importante de tudo, tem que se adaptar o “pedido” de acordo com as capacidades de produção do responsável pelas decisões.. Planeamento da advocacia 43 Toolkit de advocacia: Os interessados em A&S Inclui-se no Anexo uma análise dos principais interessados da WaterAid nos projectos dos países para melhorar os serviços de A&S, como ilustração. Ver Toolkit de Advocacia: Interessados em A&S… pág. 97 É útil dar início ao processo de identificação do alvo, identificando todos os interessados e participantes envolvidos na questão específica que podem ser rapidamente classificados dependendo do papel que têm em relação à questão de advocacia. Os alvos, amigos, interessados nas comunidades e outros devem todos ser incluídos na matriz. Adversários os que se opõem à posição mas que podem não ser directamente responsáveis pela tomada de decisões Aliados indivíduos ou organizações que podem ajudar a alcançar o objectivo de advocacia Beneficiários ou eleitores as pessoas representadas Interessados internos colegas e outros de dentro da organização que têm algum interesse no processo e no resultado É importante lembrar que uma matriz como esta não é estática, e também não é desenhada de modo rígido. Os grupos podem passar de adversários a aliados (ou vice-versa) à medida que o trabalho de advocacia progride. Os beneficiários também podem começar como adversários do trabalho, e podem necessitar de ser convencidos da validade do mesmo. Rápido e útil: Epidemias sociais Um modo de compreender a interacção entre os interessados envolvidos numa questão em particular, e como essas relações podem levar ao êxito na advocacia, é compreender como as tendências sociais por vezes se espalham como um vírus. Uma pequena mudança pode “pegar” como uma boa ideia, levando eventualmente a uma mudança dramática. Malcolm Gladwell, no seu livro The Tipping Point22.(O Ponto de Viragem) sugere que as ideias se espalham primeiro através de exposição e contágio, segundo devido a pequenas causas, e terceiro através de um aumento ou descida dramáticos num momento, “quando tudo pode mudar duma vez”. Como tal, um pequeno factor pode “virar” uma pequena tendência para se tornar uma enorme tendência, e a influência de poucos indivíduos pode fazer uma enorme diferença se tiverem as qualidades necessárias. Os jogadores principais neste processo são: Conectores: criadores de redes que sabem como passar a informação e são respeitados pelo acesso que têm aos principais jogadores. Peritos: especialistas da informação que adquirem informação, e são capazes de educar outras pessoas. Vendedores: indivíduos poderosos, carismáticos, e persuasivos em quem se confia, se acredita e a quem se ouve. Se for possível identificar os jogadores acima na questão do país, podem muito bem vir a ser alguns dos alvos a visar. 44 Guia de advocacia 22 M. Gladwell (2000) The Tipping Point Abacus Uma vez identificados os interessados e os influentes numa questão em particular, vale a pena analisá-los e posicioná-los, para se poder visar a advocacia no local certo. Não vale a pena gastar recursos tentando convencer alguém que já apoia a causa, ou alguém que não está em posição de tomar decisões que vão ajudar a que o objectivo de advocacia seja alcançado. Toolkit de advocacia: Tabela de análise dos interessados Uma análise vai esclarecer a informação sobre os aliados, adversários e alvos, e ajudar a criar prioridades e criar estratégias. Para cada interessado, terá que se identificar três coisas em relação à questão: • Qual é a atitude do interessado sobre a posição? (por exemplo, muito anti, anti, neutral, a favor, muito a favor) • Quão importante é a questão para o interessado? • Que influência tem o interessado sobre a questão?• No Anexo há uma tabela pró-forma para permitir esta análise. Ver Toolkit de Advocacia: Tabela de análise dos interessados pág. 98 Ao utilizar a tabela de análise dos interessados no Toolkit de Advocacia acima, é agora possível começar a dar prioridade aos interessados em termos de se devem ser visados pelo trabalho de advocacia. Em resumo, os interessados que acham a questão importante, e que também têm influência sobre essa questão, são provavelmente os principais a visar, como ilustrado pelo diagrama que se segue: Importância da questão para o público alvo Alto Público Secundário Público Prioritário Público Prioritário Médio Ignorar Público secundário Público Prioritário Baixo Ignorar Ignorar Público Secundário Baixo Médio Alto Influência do público alvo sobre a questão Uma análise semelhante irá permitir identificar quem poderão ser mais provavelmente os aliados e oponentes em relação à questão de advocacia. Os que têm maior influência mas são mais contra a posição, serão quem será mais importante convencer; Os que têm mais influência e que são mais a favor da posição, são provavelmente aliados chave; Os que têm grande influência, mas que são neutrais em relação à questão, podem muito bem ser os alvos a visar nas fases iniciais do trabalho de advocacia. Planeamento da advocacia 45 Principais Aliados Muito a favor A favor Atitude do público alvo para com a posição Principal campo de batalha Neutral Contra Principais oponentes Muito contra Baixo Médio Alto Influência do público alvo sobre a questão Ideia chave: Influentes Quando se esboça a lista de interessados e alvos, é útil também identificar os alvos secundários ao mesmo tempo, observando um pouco mais profundamente o processo de tomada de decisão. Muitas vezes, pode não ser possível chegar às pessoas que tomam as decisões, independentemente de quão eficaz é o planeamento de advocacia. Em vez disso, a advocacia pode ter que visar os que têm acesso a quem toma decisões. Estes “influentes” podem ser a trajectória mais importante para provocar mudanças através dessa relação.23 Podem encontrar-se os influentes em diversos locais, e não só entre os que fazem oficialmente parte do círculo imediato de um responsável pelas decisões. Incluem os meios de comunicação, membros do parlamento, doadores, líderes religiosos, outros departamentos do governo e sindicatos. Uma vez identificados os alvos deste modo, pode-se decidir o melhor modo de os tentar influenciar. Há diversos modos de influenciar interessados, com base na análise da matriz que já foi utilizada. Por exemplo, pode-se desejar tentar convencer um interessado, que de momento vê a questão como tendo pouca prioridade, ou pouca relevância para ele, a aumentar a prioridade ou o interesse que lhe dá. Ou, pode-se procurar aumentar a influência dos aliados e dos que são a favor da posição; ou mesmo reduzir a influência dos que são contra a posição. Toolkit de advocacia: Análise abrangente dos alvos Ao identificar quem deve ser visado principalmente no trabalho de advocacia, pode-se fazer perguntas mais directas que irão esclarecer exactamente quem o trabalho deve visar com o fim de os convencer. Para cada alvo, poderia perguntar-se: • O que sabem sobre a questão? • Qual é a atitude deles sobre a questão? • O que é que realmente lhes importa a questão? • Quem tem influência sobre eles? • Que influência ou poder têm sobre a questão? No Anexo há uma tabela de exemplo, feita para uma iniciação fictícia de advocacia da WaterAid, para fins ilustrativos. Ver Toolkit de Advocacia: Análise abrangente dos alvos, pág. 99 46 Guia de advocacia 23 Ian Chandler, op. cit. Na prática: O Governo tanzaniano como alvo e influente De 1991 a 1996, a WaterAid na Tanzânia desenvolveu uma abordagem de parceria inovadora para A&S na região de Dodoma. A WaterAid reuniu os funcionários do Departamento Hídrico do governo, do Departamento de Desenvolvimento da Comunidade e do Departamento de Saúde, para trabalhar em equipas distritais para fornecer água, saneamento e promoção da higiene integrados. O governo reconheceu que esta abordagem tinha tido êxito. No início de 1998, pediram à WaterAid que se juntasse a um comité nacional de organização a finalizar uma política hídrica rural a nível nacional, e para partilhar as suas experiências aprendidas através do trabalho das equipas distritais sobre questões como a participação das comunidades e as parcerias interdepartamentais. O facto do governo ter reconhecido e procurado copiar esta abordagem a parcerias foi o resultado do trabalho de advocacia do pessoal local e nacional da WaterAid. Também foi o resultado da advocacia por parte dos funcionários do governo que fizeram parte do trabalho inter-departamental, e dos que tinham responsabilidades no sector de A&S e tinham visto quão eficaz podia ser. Estes últimos promoveram a abordagem do programa em conferências a nível nacional, e organizando visitas aos projectos por Ministros, Membros do Parlamento e outros funcionários importantes. Deste modo, o governo não só é visado, mas é também um influente e um defensor. Esclarecimento da mensagem A mensagem a transmitir é um resumo da mudança que se quer levar a cabo, com base no trabalho que se fez para investigar a questão e identificar os alvos essenciais. Utilizando informação e análises sólidas, os grupos podem desenvolver a sua posição sobre uma questão, criar argumentos convincentes e projectar uma mensagem que comunica tudo isto em poucas palavras. Planeamento da advocacia 47 A comunicação desta mensagem é crucial para a advocacia eficaz, assim como o é a comunicação em geral – entre os aliados e os interessados, mas também a apresentação das mensagens aos públicos externos, desde políticos a comunidades afectadas. A criação de uma mensagem única permite a todos os interessados – desde os escritores de materiais de advocacia e organizadores de eventos aos porta-voz, funcionários e voluntários – unirem-se na mensagem da advocacia24 24 Ian Chandler, op. cit. Ideia chave: Enquadramento “Subjacente a todos os esforços de advocacia encontra-se uma proposta de mudança das equações do poder – essencialmente uma actividade política. E no mundo político, não há nenhuma questão que seja vista como completamente justa ou correcta para todos os partidos ou indivíduos…. Por isso, enquadrar a questão exige um estudo detalhado dos alvos e um conhecimento exaustivo da própria questão.25 25 NCAS/Christian Aid (1999) Advocacy workshop. SEARCH. Training Centre. Bangalore, Índia. Deve-se produzir uma mensagem única que todas as comunicações devem promover. Não é um slogan; na realidade as palavras em si podem não ser utilizadas em público. É uma frase curta que especifica a mensagem principal que se quer que o público recorde. É útil para testar a mensagem única sobre outras pessoas, incluindo as que não trabalham na questão, para verificar que é fácil de compreender. Rápido e útil: Uma mensagem clara • • • • • • • Deve resumir a mudança que se quer produzir Deve ser curta e incisiva, apenas uma ou duas frases Deve ser compreensível para alguém que não conhece o problema, e não ter calão. Deve incluir um prazo de quando se quer alcançar o objectivo. Deve incluir as razões que fazem com que a mudança seja importante Deve incluir qualquer acção que se quer que o público tome como resposta. Deve ser memorável. Na prática: A proposta da WaterAid O trabalho da WaterAid com a ONG do Bangladesh, Dushtha Shasthya Kendra (DSK) estabeleceu diversos pontos de água nos bairros da lata de Dhaka. No entanto, com a excepção dos pontos de água negociados separadamente e apoiados por projectos, a Autoridade de Fornecimento de Água e de Esgotos de Dhaka somente ainda reconhece a propriedade oficial da terra como a base dos direitos ao fornecimento de água. Para ajudar a ultrapassar este desafio, e a criar pontos de água em todas as comunidades dos bairros da lata de Dhaka, a DSK e a WaterAid desenvolveram a seguinte mensagem: As autoridades do governo têm que desligar o fornecimento de serviços do direito da propriedade e reconhecer as necessidades das comunidades não oficiais dos bairros da lata dentro dos próximos três anos.”26. Enquadramento da mensagem Uma vez estabelecidas as mensagens essenciais, estas ainda têm que ser “enquadradas” segundo as audiências que se procura atingir. Apesar da posição geral na questão da advocacia não mudar, deve-se procurar adaptar o modo como se apresenta a mensagem para se conseguir o maior impacto possível sobre um público específico. 48 Guia de advocacia 26 Ahmed, R. (2003) DSK: a model for securing access to water for the urban poor. Relatório de Trabalho no Terreno. WaterAid no Bangladesh. Compreender as questões que importam a quem se visa com a advocacia permite fazer ligações na mensagem entre a questão e as preocupações, e portanto aumenta a probabilidade de uma resposta positiva por parte de quem se visou. 27 Ian Chandler op.cit. No entanto, o processo de definição e enquadramento da mensagem também tem que ser consistente com a posição geral. Enquadrar a mensagem tem que ser feito sem diluir os factos, comprometer os valores essenciais, ou minar as pessoas com quem se trabalha.27 • Para quem enquadrar a mensagem: A análise da questão, e quem é responsável e influente na mudança política, irão determinar como se vai apresentar a mensagem central a esse público específico.• • Adaptar a mensagem: Qual é o modo mais persuasivo de apresentar a mensagem central ao público a visar? De que informação necessitam, e qual não necessitam? Que acção chave se quer que eles, especialmente, levem a cabo?• • Enquadramento eficaz: Que enquadramento prático fará com que a mensagem seja mais eficaz? O que deveria conter? Em que formato deveria ser produzida? A dimensão, as imagens e mesmo o mensageiro são importantes.• Planeamento da advocacia 49 Por exemplo, a questão da falta de água limpa e de instalações de saneamento seria enquadrada de modo diferente segundo o público a que a mensagem se dirige: Público Mensagem Ministros das Finanças A nível nacional, a diarreia é responsável por 20% da mortalidade infantil das crianças com menos de 5 anos e as infecções intestinais parasitárias continuam a minar o estatuto nutricional de mães e filhos, assim como o desenvolvimento físico e mental. No ano 2000, o governo prometeu reduzir em dois terços, até 2015, o número de crianças que morrem antes dos cinco anos, como um dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODMs). Um pequeno investimento em água de beber limpa e instalações sanitárias económicas vai produzir um grande rendimento em relação à saúde e sobrevivência das crianças e dos adultos. Gostaríamos de pedir uma reunião consigo para discutir esta questão em maior detalhe. Membros do Parlamento A investigação feita em diversos países demonstrou que há uma vasta gama de impactos concretizados através do acesso à água e ao saneamento, incluindo o tempo que se poupa a ir buscar água, energia em calorias poupada, melhor saúde, especialmente para as crianças, impactos ambientais positivos e significativos, maior produção na agricultura, menos dias de escola perdidos, maior capital da comunidade assim como um aumento de benefícios psicológicos. Além do apoio contínuo para as comunidades aumentarem a sua capacidade de manter os sistemas de fornecimento de água e de saneamento, o comportamento higiénico também muda. Sabemos que quando se lhes pergunta, as pessoas pobres põem o acesso à água como uma das três principais prioridades, se não a sua principal prioridade. Gostaríamos de pedir uma reunião consigo para discutir estas questões em maior detalhe. Profissionais da saúde A Organização Mundial da Saúde afirma que 65% das mortes infantis causadas por doenças que provocam diarreia, como a cólera, nos países em desenvolvimento, poderiam ser evitadas proporcionando água limpa e saneamento. Calculou-se recentemente que a diarreia é a segunda maior causa de morte das crianças nos países mais pobres do mundo. O acesso à água limpa tem diversos benefícios de saúde para as comunidades, e melhorias ambientais como o saneamento têm maiores impactos e menos despesas que os medicamentos curativos. Gostaríamos de pedir uma reunião consigo para discutir a possibilidade de trabalharmos em colaboração. Os meios de comunicação – televisão, rádio e imprensa Wangai tem seis anos. A mãe dele anda a pé cinco quilómetros todas as manhãs até ao ponto de água limpa mais próximo para recolher água para a família. No entanto, quando o Wangai e os amigos dele têm sede, bebem água do rio perto deles, que é também onde o gado e as cabras bebem. A família do Wangai não tem uma latrina e utilizam o rio de manhã cedo antes do sol nascer. O Wangai tem dois irmãos e uma irmã: tinha outras duas irmãs mas morreram as duas de disenteria antes da idade de quatro anos. O Wangai visitou o primo que vive na cidade vizinha, onde há um bom fornecimento de água e todas as casas têm latrinas. Viu que a família do primo não adoece e que a tia não perdeu bebés nenhuns devido às doenças. Ele gostaria que a aldeia dele tivesse as mesmas instalações. O público em geral A água limpa salva vidas: as doenças transmitidas pela água e pela falta de saneamento hoje em dia reclamam milhares de vidas na Tanzânia rural. Todas as aldeias deveriam ter pelo menos um furo e latrinas adequadas. Fale com o seu conselheiro local hoje para saber como pode ajudar a trazer estas instalações salva-vidas à sua própria aldeia e ver as suas crianças prosperar. 50 Guia de advocacia O meio As mensagens eficazes dependem de uma atenção cuidadosa, não só à própria mensagem, mas também a como é transmitida – conhecido como o “meio”. Vale a pena considerar o meio mais eficaz de transmitir a mensagem, e o mensageiro mais eficaz para a entregar – tudo isto será determinado pelo público que se está a tentar alcançar. Rápido e útil: O meio e o mensageiro O meio • Carta • Telefonema • Reunião • Comunicado à imprensa • Entrevista por rádio / TV • Panfleto • Cartaz • Publicidade na imprensa • Documento de investigação • Conferência• • • • • • • • O Mensageiro Funcionário Uma organização Perito Independente Celebridade Narrador neutral Beneficiário Planeamento da advocacia 51 52 Guia de advocacia Secção 5 Fazer com que a advocacia se concretize Esta secção vai ajudar a usar o contexto estratégico – investigação, identificação de alvos, etc. – que se desenvolveu para a advocacia, para o converter em planos de acção. Oferece uma teoria para uma boa execução dos planos de advocacia, com alguns estudos de casos sobre como a WaterAid tem levado a cabo este tipo de trabalho. O capítulo que se segue oferece métodos reais para levar a cabo a advocacia, desde reuniões para fazer lobby junto dos meios de comunicação até à organização de campanhas. O exame da acção com base nos passos do ciclo de planeamento é essencial para este capítulo (ver a página 30). Lembre-se, o ciclo do planeamento da advocacia é somente uma ferramenta. No mundo verdadeiro, terá que adaptar tanto o seu planeamento como as suas acções, e fazer as coisas numa ordem diferente ou paralela. Pode mesmo ter que voltar aos passos anteriores, em vista da informação ou do progresso que emerge. O que vai aprender deste capítulo • Quais são algumas das principais acções de advocacia • Como examinar que recursos, capacidades e orçamento existem para levar a cabo as suas acções • Como criar parcerias mais fortes, para uma advocacia mais eficaz. • Como planear as suas acções de advocacia• Há diversas abordagens para a advocacia, e toda uma série de actividades que podem ser utilizadas para produzir o trabalho de advocacia. Estas acções específicas de advocacia são delineadas no capítulo que se segue, mas este capítulo vai demonstrar como criar um plano para implementar diversas acções como parte do trabalho de advocacia sobre qualquer questão específica. As acções de advocacia podem ser agrupadas sob quatro cabeçalhos gerais: • Fazer lobby: o processo de tentar influenciar directamente os responsáveis pelas decisões, como políticos, funcionários públicos, ou administradores de corporações.• • Campanhas públicas: actividades para envolver o público, e para mobilizar apoio visível para a posição.• • Trabalho com os meios de comunicação: aumentar a consciencialização do público para as questões, com vista a mudar as atitudes e o comportamento do público, e encorajar apoio para as outras acções de advocacia.• • Melhoria de capacidades: aumentar o conhecimento dos afectados por uma questão em particular, e aumentar as suas competências e desenvolver as estruturas para lhes permitir levar a cabo a sua própria advocacia.• O capítulo que se segue divide estes elementos diferentes em acções concretas. Estas correntes de acções de advocacia podem trabalhar para se complementar umas às outras. Qualquer projecto de advocacia terá que funcionar a diversos níveis, utilizando cada uma destas categorias de acção, se quiserem dirigir-se aos governos, aos doadores, ao público e aos meios de comunicação. Apesar da ênfase em algumas esferas depender do contexto e por essa razão se utilizarem diferentes actividades, ainda é provável que se tenha que utilizar uma vasta gama de actividades para se conseguir alcançar o objectivo. Fazer com que a advocacia se concretize 53 Na prática: Chegar ao Banco Mundial Num seminário da WaterAid sobre a advocacia da sociedade civil para a política hídrica internacional, uma apresentação concentrou-se sobre as decisões políticas do Banco Mundial e o papel da sociedade civil. Sugeriram-se três estratégias diferentes para se conseguir influência sobre o Banco Mundial: • Faça barulho, para que não o possam ignorar • Desenvolva uma relação na qual é considerado um aliado importante ou um importante jogador no sector • Seja uma autoridade inquestionável no seu tópico, para que procurem o seu conselho• Um projecto de advocacia pode empregar diversas abordagens simultaneamente, visando diferentes públicos, ou incluir uma abordagem que visa o mesmo público ao longo do tempo. É aqui que o trabalho em parceria (ver abaixo) se torna particularmente importante. Através da colaboração, duas organizações diferentes podem empregar diferentes abordagens para o mesmo alvo de advocacia, utilizando as suas competências e recursos mais fortes, ao mesmo tempo que trabalham para o mesmo fim. Ideia chave: A continuidade da advocacia Há uma gama de abordagens à advocacia, algumas das quais são conflituosas, enquanto outras envolvem trabalhar juntamente com os visados pela advocacia para se conseguirem as mudanças desejadas. Pode-se pensar destas abordagens diferentes como pertencendo a uma continuidade interrelacionada: cooperação – educação – persuasão – litígio – contestação28 No caso da WaterAid, por exemplo utiliza-se uma continuidade diferente: expor – opor – compor – propor29 Devido às relações da WaterAid com o governo, e a um historial em informação e fornecimento de evidência, as acções de advocacia da WaterAid tendem a encaixar-se na segunda metade da continuidade expor – opor – compor – propor. As acções “internas” da WaterAid incluem proporcionar informação, fazer lobby, dar conselhos e partilhar conhecimentos. Entretanto, algumas outras ONG s e organizações da comunidade no sector de A&S tendem a concentrar-se na primeira metade da continuidade. As suas acções “externas” são mais provavelmente fazer campanhas, lobby e trabalho nos meios de comunicação. Para fazer com que o trabalho de advocacia seja mais eficaz, a lacuna entre esta abordagem de advocacia “interna” e “externa tem que ser superada. Ambas as partes da continuidade têm que ser misturadas, para se conseguirem os objectivos da advocacia. Que recursos e capacidade existem para a advocacia? Antes de se poderem finalizar as actividades que se vão levar a cabo, é vital ter em conta que recursos estão disponíveis. Na realidade, é provável que se tenha que considerar os recursos continuamente à medida que se progride com as acções de advocacia. Avaliar e atribuir os recursos antes de começar o trabalho de advocacia não é sempre possível. 54 Guia de advocacia 28 Miller e Covey (1977 Advocacy Sourcebook: Frameworks for Planning, Action and Reflection. Institute for Development Research (IDR), EUA. 29 WaterAid Global Advocacy Meeting 1 (2002) Key Outcomes and Learning from WaterAid’s First Global Advocacy Meeting, RU. Na realidade, parte do trabalho de advocacia pode ser angariar fundos ou arranjar recursos adicionais com o fim de se levar a cabo outro trabalho de advocacia. Os recursos disponíveis para o trabalho de advocacia serão uma mistura de financeiros, capacidades humanas e conhecimento comum ou partilhado. O exame de cada um dos elementos à vez irá permitir identificar as lacunas que precisam de ser preenchidas antes de se poder dar início a uma acção em particular. • Dinheiro: que dinheiro está disponível para este projecto de advocacia? De onde vem o dinheiro? Da sua organização, parceiros, outros financiadores? É provável que haja problemas de fluxo de dinheiro, ou dificuldades para obter autorização para o gastar? Mais ou menos quanto acha que irá precisar para implementar as actividades que está a considerar? O seu orçamento é realista, e com base em custos ou orçamentos reais?• • Pessoas: quem estará disponível para trabalhar nos diferentes aspectos do projecto?• • Competências e experiência: as pessoas chave têm as competências e experiência correctas? Se não, pode proporcionar-lhes formação e conseguir envolver outras pessoas?• • Outros recursos humanos: tem acesso a outras pessoas que podem ajudar? Tem voluntários para distribuir panfletos, pessoas que apoiam a campanha para escrever cartas, membros da comunidade para ir às reuniões?• • Parceiros: o que é que os potenciais parceiros podem produzir?• • Informação e conhecimento: foi capaz de fazer investigação e análises suficientes sobre a questão, sobre os seus objectivos e soluções, e de identificar os seus alvos? Se não, tem que procurar outra vez nas fases mais iniciais do ciclo de planeamento da advocacia?• • Relações: que relações tem, ou têm os seus funcionários, voluntários e parceiros que possam ser utilizadas? Podem ser entre os públicos a visar, os influentes ou em áreas práticas como design de materiais ou os meios de comunicação.• • Reputação: a sua reputação, ou dos seus parceiros é boa entre os públicos a visar, junto do público ou dos meios de comunicação? Se não, desenvolveu estratégias e tácticas para ultrapassar este problema? Pode recrutar porta-vozes influentes ou celebridades para falar em seu nome? Tem que trabalhar em parceria com outra organização mais bem conhecida?• • Tempo: tem tempo suficiente para implementar o seu projecto de modo eficaz? Há prazos específicos que tem que satisfazer? Há eventos externos que quer utilizar, como eleições, reuniões políticas nacionais ou locais, ciclos de planeamento do governo ou cimeiras internacionais?• Toolkit de advocacia: Amostra de orçamento O Anexo inclui uma amostra básica de um orçamento para um projecto de advocacia , e pode ser um bom ponto de partida para se projectar o esboço de um orçamento. Ver Toolkit de Advocacia: Amostra de orçamento de advocacia, pág. 100 Fazer com que a advocacia se concretize 55 Estabelecimento das relações certas com os aliados As parcerias, alianças e mesmo coligações a curto prazo podem realçar grandemente a advocacia ao reunir os pontos fortes e os recursos de grupos diversos para criar uma força mais poderosa para a mudança. Reunir-se para produzir mudanças sociais não é uma novidade para as pessoas no mundo em desenvolvimento. A melhoria da tecnologia das comunicações e os desafios do desenvolvimento sustentável estão a levar a alianças mais fortes entre as organizações da sociedade civil. A introdução dessas parcerias na política pública é um passo positivo, que proporciona novas oportunidades para se participar na advocacia colectiva. Ideia chave: Alianças da advocacia As relações entre os aliados da advocacia vêm em muitas formas e dimensões, e são descritas de diversos modos diferentes: alianças, redes, e coligações. O que têm em comum é que ligam indivíduos e organizações que partilham valores e preocupações comuns, e que estão a trabalhar para um objectivo ou acção em comum. As alianças da advocacia podem ser a longo ou a curto prazo. A curto prazo, os grupos podem juntar-se para fazer lobby sobre uma questão em particular somente por um período específico, e depois voltam a trabalhar separadamente quando o período termina. A campanha de 2005 Fazer da Pobreza História no RU é um exemplo disto. Nas coligações a prazo mais longo, os grupos reúnem-se inicialmente para fazer lobby juntos, e continuam a ganhar força e opiniões e resultados ao longo de vários anos. A campanha Jubilee Debt é um exemplo. Há muitas boas razões que explicam porque estabelecer boas parcerias é um modo eficaz para montar campanhas de advocacia. Ao reunir organizações ou indivíduos com diferentes perícias ou experiências, as alianças de advocacia podem levar a cabo um conjunto mais abrangente de acções de advocacia, que permitem uma variedade de intervenções, incluindo a mobilização pública, lobby, educação e fornecimento de informação, onde uma organização a actuar sozinha pode não ser capaz de produzir tal combinação. As alianças também permitem que as acções de advocacia sejam levadas a cabo a níveis diferentes, uma vez que parceiros diferentes exploram o seu acesso e influência com níveis diferentes de decisões, desde relações em termos de informação com líderes da comunidade, até canais formais para fazer lobby junto de departamentos do governo. Outro benefício essencial do trabalho de advocacia é que oferece oportunidades para aprender e melhorar as capacidades no âmbito de cada uma das organizações parceiras. Quando se estabelecem alianças, pode-se tomar em consideração o que cada parceiro pode aprender do outro. 56 Guia de advocacia Na prática: UWASNET no Uganda A Rede de ONGs para a Água e Saneamento do Uganda (UWASNET) é uma rede bem estabelecida de mais de 150 membros que inclui organizações não governamentais (ONGs) e organizações com base na comunidade (OBCs) a trabalhar no sector hídrico e de saneamento no Uganda. Goza de reconhecimento tanto a nível nacional como internacional. Fundada em Fevereiro de 2000, a missão da UWASNET é contribuir para aliviar a pobreza aumentando o acesso à água e a um saneamento melhor através de coordenação eficaz, melhor colaboração e parcerias e redes estratégicas. A UWASNET consegue o seu objectivo através da advocacia e fazendo lobby, mantendo uma base de dados das ONGs e OBCs, melhorando as capacidades das organizações que são membros e permitindo que os membros da UWASNET influenciem e respondam às políticas, estratégias e mecanismos de implementação através de redes e troca de informação. Alguns dos outros êxitos da UWASNET incluem o estabelecimento de um website sofisticado; abrir um centro de informação com serviços de Internet grátis para os membros; estabelecer grupos de trabalho sobre a higiene e o saneamento, mulheres e crianças, tecnologias, água urbana e política e advocacia; facilitar a participação dos membros em formação e conferências; e assinar um memorando de entendimento com o Governo do Uganda. As alianças trazem sem dúvida vantagens ao trabalho de advocacia, mas pode ser difícil estabelecê-las e difícil mantê-las. Tendem a sofrer de objectivos e expectativas pouco realistas. Para muitas organizações que pensam em criar uma aliança, o investimento associado que terão que fazer deve ser tomado em consideração desde o início. Também se deve tomar em consideração se participar numa aliança irá ajudar a ter êxito ou se alguns dos possíveis aliados podem ser mais eficazes como actores independentes. Em resumo, terá que se avaliar se o trabalho em conjunto terá maiores probabilidades de êxito e se a própria aliança irá ter êxito. Rápido e útil: Vantagens e desvantagens das alianças Vantagens • Força e segurança devido à dimensão • Alarga a base de apoio • Aumenta o acesso aos políticos • Aumenta a base de informação e a perícia • Cria novas oportunidades de criação de redes e de parcerias • Partilha a carga de trabalho • Promove uma sensação de sinergia • Adiciona credibilidade e visibilidade • Abre oportunidades para criar novos líderes• Desvantagens • Políticas de identidade/cultura • Distrai de outro trabalho • Cria uma carga de trabalho desigual entre os membros fortes e os fracos • Exige compromissos • Causa tensões devido aos desequilíbrios de poder • Limita a visibilidade das organizações individuais • Põe em risco o perfil/reputação• Fazer com que a advocacia se concretize 57 Criação de alianças Adoptar uma abordagem passo a passo quando se forma uma nova aliança vai contribuir para a força e flexibilidade da mesma mais tarde. O primeiro passo em qualquer aliança é tomar em consideração quem poderão ser os melhores parceiros. Vai ser necessário pensar de grosso modo sobre os possíveis aliados. A análise, já levada a cabo, dos diferentes interessados na questão vai ajudar a identificar os aliados essenciais e as organizações que poderão mais provavelmente ser parceiros eficazes para se conseguirem os objectivos de advocacia. Vai ter que se levar a cabo uma investigação para explorar os interesses em comum e para definir as expectativas para o trabalho em conjunto. Rápido e útil: Alianças de equilíbrio Uma boa aliança deve encontrar um equilíbrio de competências, para que possa ser eficaz. Podem-se investigar as questões que se seguem, quando se tomar em consideração os parceiros com quem se vai fazer a ligação. • • • • • • • Capacidade de comunicação Investigação e perícia em termos de política Representação no sector, para incluir diferentes interessados Representação regional, para promover a fertilização cruzada Capacidade organizacional, para dar apoio às actividades da aliança Cultura do trabalho em colaboração, para adaptar às necessidades da aliança Defensores “internos”/”externos”• O passo que se segue é considerar os ingredientes de uma aliança de êxito, e como poderão ser aplicados à aliança que se está a tomar em consideração: • Ter um objectivo ou interesse em comum• • Escolha de parceiros• • Criar estruturas de governação claras• • Comunicação aberta entre os parceiros• • Capacidade de desenvolver planos de acção, com resultados a curto e a longo prazo• Destes, um dos mais importantes é que os membros da aliança partilhem um objectivo em comum. Levar a cabo trabalho de advocacia em comum pode ser um modo eficaz de ajudar os parceiros a conseguir os seus objectivos, mas teria que se dar igual prioridade aos objectivos de cada parceiro. Por vezes é possível que os aliados possam seguir objectivos que se completam, em vez de um único objectivo partilhado. Levar a cabo trabalho de advocacia conjunto pode ser um modo mais eficaz de ajudar os parceiros a alcançar os seus objectivos, mas teria que se dar prioridade igual às metas de cada parceiro. Do mesmo modo, as alianças devem ser vistas como tendo êxito mesmo se não conseguirem claramente o objectivo comum para que a parceria está a trabalhar. Os parceiros devem lembrarse de analisar os diversos êxitos futuros, mesmo com a perda de uma campanha específica. Este tipo de êxito tem um grande valor para criar alianças futuras, e para produzir um impacto imediato sobre os que participam no trabalho de advocacia. 58 Guia de advocacia Na prática: The Freshwater Action Network (A Rede de Acção para a Água Doce) A Rede de Acção para a Água Doce (FAN) foi estabelecida depois do Segundo Fórum Mundial para a Água em Março de 2000 como uma rede de advocacia para desenvolver as organizações da sociedade civil (OSCs) a trabalhar em questões de água doce. O objectivo é garantir que as OSCs são bem representadas nos fóruns internacionais de política sobre a água e que as suas vozes são ouvidas durante os debates cada vez mais políticos sobre a água. Desde que foi fundada, a FAN tem sido instrumental para dar apoio e ajudar as OSCs dos países em desenvolvimento a participar em diversas conferências e fóruns internacionais. A FAN também procura melhorar a cooperação global entre as OSCs, e aumentar o número de defensores das ONGs capazes de comunicar claramente sobre questões de política hídrica e sobre a ordem do dia mais geral. A FAN também actua como um fórum para o diálogo entre os governos e as OSCs sobre políticas hídricas e partilha informação relevante sobre as questões emergentes. A FAN trabalha para conseguir os seus objectivos proporcionando informação de qualidade e actualizada sobre as políticas hídricas e as acções da sociedade civil aos membros. Também proporciona conselhos, orientação, e formação sobre a advocacia, criação de redes e lobby eficaz para os membros. Depois da fundação da FAN, os membros na América Central e na África têm vindo a criar redes regionais independentes completamente funcionais, apoiadas pela FAN. A FAN também facilita ligações entre as diferentes redes da sociedade civil a trabalhar no sector hídrico no Sul da Ásia. A FAN não tem uma constituição formal e a estrutura não é hierárquica. Há um comité consultivo que se reúne anualmente para orientar o desenvolvimento e o planeamento anual. Há diversos factores que irão influenciar se uma aliança vai ter êxito. • Representativa: a aliança dá peso igual às vozes de todos os parceiros, e aos seus interessados, no âmbito da mesma? Todas as perspectivas devem ser ouvidas, o que é vital para que a organização seja legítima e como tal tenha influência.• • Evidência: entre eles, os aliados têm que ter evidência de qualidade a submeter para que a própria aliança seja vista como legítima e credível. Essa evidência deve ser bem apresentada.• • Persistência: todos os membros da aliança terão que estar preparados para o facto de que a influência exige pressão contínua durante um longo período de tempo.• • Influenciadores: as parcerias têm que incluir as que têm o poder e influência para conseguir que se façam as coisas na arena política• • Ligações: quando os aliados têm ligações com outras pessoas que podem contribuir para o trabalho de advocacia e apresentar a sua ordem do dia, é provável que a aliança seja reforçada. Estas ligações podem complementar outras estratégias.• • Criação de redes: os parceiros têm que ser capazes de comunicar facilmente, por isso as ligações através da tecnologia da informação são vitais, assim como o são as oportunidades cara a cara.• • Comunicação: podem surgir tensão e conflito entre aliados, que devem ser discutidos abertamente, e é necessário ter tempo para resolver os conflitos e os problemas.• • Igualdade: é necessário dar atenção aos aliados, dando e ganhando da relação.• Fazer com que a advocacia se concretize 59 Toolkit de advocacia: Perguntas sobre boa governação nas alianças O êxito de uma aliança depende de se os parceiros podem confiar e depender uns dos outros. Para isso, é importante que existam estruturas básicas e processos de responsabilidade. Apesar da confiança se poder adquirir com o tempo e com o trabalho em conjunto sobre questões particulares, também depende de uma estrutura de governação clara que ajude a aliança a funcionar e a gerir as diferenças. O Anexo inclui uma série de questões sobre estruturas e governação, que todas as alianças devem tomar em consideração. Ver Toolkit de Advocacia: Perguntas sobre boa governação…., pág. 101 Planeamento das acções Estabelecidos os objectivos, investigação e aliados, o passo seguinte é reunir todo este trabalho num plano de acção. O planeamento da acção deve ser associado a um orçamento detalhado, e ambos podem necessitar de revisão à medida que o programa se desenvolve e os planos mudam. À medida que se levam a cabo as actividades, vão-se dar mudanças internas e externas que afectam os resultados do trabalho. É necessário garantir que o plano de acção é suficientemente flexível para aceitar as mudanças à medida que o tempo passa. Revisões e reflexão periódicas, incluídas no processo de planeamento, irão ajudar a fazer uma pausa e a avaliar se é necessário adaptar os planos em conformidade. Mesmo se as coisas mudarem, ainda se deve começar com um plano de acção detalhado e um orçamento que oferece um ponto de partida e uma estrutura a partir da qual se podem fazer esses ajustes. Lembre-se, quando se planeia, o trabalho de advocacia pode ser lento e levar muito tempo. Tem que se planear um compromisso a longo prazo e ter uma visão realista dos prazos quando se faz o trabalho de planeamento da advocacia. É essencial ter um bom planeamento para o trabalho de advocacia, por isso tome sempre o seguinte em consideração: • Metas, objectivos e estratégias: estes objectivos a longo prazo estão em conformidade com a visão geral. Definem de modo geral onde se encontra, para onde quer avançar e como acha que pode lá chegar.• • Projectos ou programas de advocacia: são períodos de actividade planeados a médio prazo com o objectivo de influenciar e mudar o ambiente político e a opinião pública à volta duma questão específica. As actividades devem conseguir alguns dos objectivos estratégicos gerais da advocacia. (Por vezes são designados como campanhas de advocacia, mas escolhemos reservar o termo “campanhas” para campanhas públicas, que é discutido na secção que se segue)• • Tácticas, acções ou actividades: são actividades específicas a curto prazo no âmbito da estratégia de mudança mais geral, projectadas para um momento e oportunidade específicos, como investigação, lobby, mobilização do público e trabalho com os meios de comunicação. O objectivo destas é dar forma a um projecto e capturar a atenção das pessoas no poder para a questão. • • Monitorização e avaliação: envolve monitorizar o progresso e avaliar o impacto para que se possa mudar a estratégia e as actividades como necessário, e aprender para o futuro.• • Planeamento participativo para a advocacia centrada nos cidadãos: abordagens participativas ao planeamento de acção comunitária para conseguir os objectivos de advocacia transformando a capacitação e a cidadania activa numa realidade prática.• 60 Guia de advocacia Rápido e útil: Qual pode ser o aspecto do seu plano Os planos de acção têm diversas formas, mas todos devem detalhar exactamente o que se planeia fazer, quando deve ter lugar, e quem é responsável. Pode-se pensar em fazer uma tabela, como a seguinte: Objectivos Alvos Actividades Indicadores Timing Responsabilidade Revisão • Deve organizar o seu plano em termos dos objectivos, o que irá proporcionar uma visão geral do projecto de advocacia e do que se tem que produzir • A coluna dos indicadores é onde se vão registar os resultados desejados, o que lhe permitirá ver quando tiver conseguido ter êxito • Registe na coluna da revisão as datas em que vai rever o progresso. É nestas datas que pode tomar em consideração como o plano e o orçamento têm que ser revistos.• No anexo há um exemplo feito deste plano para fins ilustrativos. Ver Toolkit de Advocacia: Plano Simples de Acção de Advocacia…. pág. 102 Além da visão geral, será necessário um esboço mais detalhado sobre que acções são necessárias, e quando. Também se deve ter em conta certas datas externas com as quais as actividades podem ter que se encaixar, como conferências internacionais ou datas de consulta. A boa advocacia também trata de conseguir levar a mensagem, ou o relatório ou o representante, à reunião ou pessoa certa na altura certa. Não se esqueça de programar actividades de monitorização e avaliação nesta cronologia. Outro modo de abordar o planeamento detalhado é fazê-lo por actividade, em vez de o fazer por cronologia, o que pode ser particularmente útil se diferentes colegas ou equipas são responsáveis por diferentes tipos de trabalho. Claro que ainda se terão que incluir os prazos e as datas significativas. Fazer com que a advocacia se concretize 61 O resultante plano pode ser algo deste género: Área geral Actividade Quando Quem Lobby Carta a X com relatório Reunião com Y Panfletos na cimeira Entregar petição e relatório data data data data nome nome nome (provavelmente a mesma pessoa, equipa ou organização Campanhas públicas Materiais produzidos Redigir cartas Petição data data data (nb pronta para entrega – ver acima) nome nome nome Trabalho com os meios de comunicação Lista dos meios de comunicação pronta Comunicado à imprensa enviado Relatório no website Anúncios na imprensa enviados data data data (nb tem que coincidir com carta a X –ver acima) data nome nome nome Cartazes Reuniões com a comunidade Workshops data data nome nome data nome Criação de consciencialização nome Pode ser necessário produzir planos mais detalhados ou uma série de planos separados. Um grande evento, como um workshop, conferência ou um lançamento de imprensa também vai necessitar do seu próprio plano detalhado (para cada uma das diversas actividades), juntamente com o plano principal de advocacia. Terá que se garantir que os planos detalhados se encaixam na visão geral, para que tudo esteja bem coordenado. Toolkit de advocacia: Plano do programa de advocacia da WaterAid A WaterAid tem o esboço de um plano padrão para os programas de advocacia que apoia. O esboço do plano inclui perguntas que a sua organização pode achar úteis para o seu próprio planeamento de advocacia e encontra-se incluído no Anexo. Ver Toolkit de Advocacia: Plano de advocacia da WaterAid…., pág. 104 62 Guia de advocacia Rápido e útil: Planear uma lista de controlo O manual de advocacia da Save the Children Fund sugere que o primeiro passo depois de se completar um plano de acção é levar a cabo um controlo da realidade. Vai ter que avaliar se o plano proposto é realista e apropriado. • Está pronto para implementar o seu plano? Tem ideias claras sobre os seus objectivos? Tem a sua evidência e as suas soluções estabelecidas? Conhece o seu público? Tem bons contactos entre os seus influentes? Sabe que actividades vai levar a cabo? Decidiu que estilo ou abordagem de advocacia vai utilizar? • O que é que espera dos seus parceiros/aliados? Tem a certeza dos motivos e metas dos mesmos? Dão realce à sua credibilidade? O que vai acontecer se desistem? • Que recursos – financeiros, técnicos, humanos – se encontram disponíveis? Quais são as implicações para o seu plano? Tem necessidade de incluir algumas actividades de formação no seu plano? • Como vai coordenar e monitorizar as diferentes abordagens que está a utilizar? Tem um plano para as integrar e evitar obstruções? • Há alguns riscos? Como é que as suas actividades vão afectar a reputação da sua organização? Como poderão afectar o seu financiamento para levar a cabo outras actividades? Poderia perder pessoal valioso? Seria possível que outros parceiros actuais poderiam não querer trabalhar mais consigo? O que pode fazer para mitigar quaisquer resultados negativos? • O que faria se? Quais são as suas alternativas, planos de contingência ou posições de retirada? As condições externas podem mudar e pode ter que voltar a pensar nos seus planos – inclua flexibilidade para estar preparado para esta eventualidade.• Planeamento da monitorização e da avaliação O passo final, mas essencial da boa advocacia é desenvolver um plano de acção separado mas relacionado para a monitorização e a avaliação. Pensar sobre a avaliação deveria ser fundamental para todas as fases de planeamento, levadas a cabo juntamente com o planeamento, e não como uma reflexão posterior. • O que é que se quer que sejam os resultados de cada actividade? Por exemplo, foram distribuídos X mil panfletos, ou a questão recebeu Y quantidade de cobertura por parte dos meios de comunicação, ou X centenas de membros do público entraram em acção e demonstraram o seu apoio.• • Que consequências se deseja que surjam destes resultados? Por exemplo, o governo está a alterar a sua política sobre Z, ou o governo local atribuiu X% do seu orçamento à A&S• • Estes detalhes vão permitir o planeamento de acontecimentos importantes, contra os quais o progresso pode ser revisto e os êxitos e impacto geral podem ser avaliados.• É uma área muito complexa e é muitas vezes difícil avaliar exactamente que acções levaram a resultados específicos, ou qual foi o impacto final. No entanto, se a avaliação for planeada antes de se começar, poderá haver uma possibilidade muito maior de se alcançar uma avaliação significativa do que se esperar que o projecto já esteja em progresso ou mesmo terminado. A Secção 7 deste Guia da Advocacia trata exclusivamente da monitorização e da avaliação no trabalho de advocacia. Fazer com que a advocacia se concretize 63 64 Guia de advocacia Secção 6 Acções de advocacia Há diversas acções eficazes que o programa de advocacia terá que incluir. Utilizar acções diversas, a níveis diferentes, apropriadas para o público e o nível de tomada de decisões é provavelmente muito mais eficaz do que utilizar somente um ou dois métodos de advocacia de um modo. Esta secção oferece-lhe uma introdução a algumas ferramentas diferentes de advocacia que se podem adaptar a uma questão, e incluir apropriadamente no plano de acção. O que vai aprender deste capítulo • Como melhor se preparar para as diferentes fazes das reuniões para fazer lobby • Algumas ferramentas para levar a sua mensagem à arena pública, e como dirigir as suas mensagens a públicos específicos • O poder dos meios de comunicação, com ferramentas práticas que se podem utilizar para cobrir a mensagem. • Dicas para publicar as suas mensagens e investigação em relatórios, em websites, etc.• Fazer lobby Ideia chave: Fazer lobby “As organizações como a WaterAid são extremamente importantes para o Parlamento. Obviamente, não posso saber tudo sobre todas as possíveis questões que o RU e o mundo em geral enfrentam; as organizações como a WaterAid mantêm-me actualizada sobre estas questões. Proporcionam-me informação valiosa e briefings.” 30 citada no Pacote sobre Lobby da WaterAid, 2004. Caroline Spelman, MP, Secretária de Estado da Oposição para o Ambiente, 2003.30 Fazer lobby é geralmente definido como uma tentativa de persuadir directamente os responsáveis pelas decisões e os influentes. Pode ser formal, através da redacção de cartas e reuniões programadas, ou mais informal em reuniões ao acaso, através de panfletos ou convites para eventos, etc. O pilar do lobby é dar forma à ordem do dia da reunião à volta de “algo a produzir” para o responsável pelas decisões. Nem todo o lobby espera chegar a uma conclusão ou êxito imediatamente. Muitas vezes, fazer lobby pode ter como base, primeiro negociações, com objectivos a prazo mais longo. Preparação para uma reunião para fazer lobby Preparar-se bem para as reuniões de lobby é essencial para ajudar a ser-se claro sobre o que quer alcançar, como o fazer durante a reunião, e como melhor seguir o que foi discutido e negociado. A questão principal é claramente identificar o que o responsável pela decisão pode produzir e como isto se encaixa na estratégia/ordem do dia geral de advocacia! Tendo isto em conta, deve assegurar-se que na sua preparação para a reunião de lobby deve: • Investigar quem deve ser visado pelo lobby, e tratar de os conhecer. Utilize a análise dos valores, conhecimento e experiência de quem vai ser visado, para informar as suas tácticas.• Acções de advocacia 65 • Esclareça o seu objectivo: que resultado quer obter? E vai resolver o problema deste modo? É realista? Tenha perguntas claras e concretas sobre a política, informadas pela sua análise, evidência e soluções propostas.• • Identifique as suas “vitórias” políticas, com informação e compreensão do que é exequível, o que será contrário, e quais são as diferentes posições• • Entre em contacto com organizações semelhantes para arranjar potencial colaboração e apoio. As alianças, particularmente com grupos e indivíduos influentes, podem reforçar uma posição de negociação.• • Tenha estudos de casos persuasivos, estatísticas, factos e números à mão. A informação pode ser uma ferramenta de negociação poderosa.• • Assegure-se de que você e os outros porta-vozes estão bem informados sobre as questões que o lobby quer visar – deste modo aumenta a sua confiança e credibilidade• • Reúna-se com as outras ONGs previamente se for a reuniões com os responsáveis pelas decisões ou influentes como parte de uma delegação de ONGs, o que lhe permitirá discutir os pontos que quer levantar na reunião, e irá permitir-lhe cobrir as questões que quer que sejam discutidas na própria reunião. Decida quem deverá mencionar os pontos a discutir no seu grupo; atribua papéis incluindo porta-voz principal e quem toma notas. Concorde os pontos a discutir entre quem faz o lobby, que respostas a perguntas ou estilos devem ser utilizados.• • Prepare um comunicado (uma página) de pontos a defender, que pode ser deixado com o visado pelo lobby e servir de auxiliar de memória. Antecipe os contra argumentos que o responsável pelas decisões pode apresentar e tenha as respostas preparadas. Na prática: Reformar os serviços públicos para satisfazer os ODMs para a água e o saneamento Em 2006 a WaterAid e o Movimento de Desenvolvimento Mundial (World Development Movement – WDM) organizaram um seminário sobre a reforma dos serviços públicos com êxito, para o pessoal do Dfid em Londres. Este seminário era para se partilhar informação e as experiências do potencial desses serviços para satisfazer o ODM de água e saneamento, assim como os desafios contínuos. O seminário sobre lobby tinha como objectivo discutir o papel dos doadores ao dar apoio financeiro e político para reformar processos de transformação dos serviços públicos, incluindo através de parceiras públicas-públicas, para ir ao encontro dos ODMs de A&S. Representantes do Sul de gestores dos serviços hídricos públicos do Uganda, Tamil Nadu (Índia) e do Brasil fizeram apresentações e puderam participar em discussões francas com o Dfid. As discussões concentraram-se principalmente na responsabilidade – como uma entidade como um serviço público se torna responsável perante o governo para produzir os objectivos sociais desse governo, como os alvos dos ODMs. Mas também se trata da responsabilidade perante os constituintes – tanto os que já são servidos pelo serviço, como os que actualmente não são servidos, ou são mal servidos pelo serviço – na maior parte das vezes, os que são pobres e não capacitados. A reforma dos serviços não ocorre num vácuo. A principal preocupação entre as pessoas, especialmente os mais pobres e os que defendem as necessidades e direitos das pessoas pobres, é como forçar os governos a cumprir as suas promessas para conseguir não só os ODMs, mas, finalmente, acesso universal sustentável. Por isso, como agentes do governo, a reforma dos serviços públicos – para fazer com que tenham um melhor desempenho e alcancem os objectivos sociais – é no fim sobre como os responsabilizar. É claro que não há uma solução única para todos na reforma dos serviços públicos, mas há alguns temas comuns que podem ser extraídos dos exemplos que têm êxito – eficácia, responsabilidade, transparência e participação na comunidade. Ver Toolkit de Advocacia: exemplo do comunicado sobre lobby desenvolvido na pág. 115 66 Guia de advocacia Durante a reunião sobre lobby Números mais pequenos de pessoas podem levar a uma atmosfera mais construtiva e menos defensiva. Abra a reunião apresentando todas as pessoas à volta da mesa. Se souber que o responsável pelas decisões é hostil à sua posição, pode indicar áreas de opiniões comuns ou interesse comum, e depois proceder. Indicar vontade de fazer compromissos logo de início pode ser um modo eficaz de criar um clima amistoso, o que pode ajudar a identificar as verdadeiras razões que causam a oposição às mudanças. Apresente os pontos mais importantes primeiro, mas depois dê ao responsável pelas decisões o tempo de falar e ouça tudo o que tem para dizer. Apesar de ser importante ter posições mínimas e máximas, não é eficaz colocá-las em cima da mesa logo de início. Se um negociador revela o mínimo que está disposto a aceitar, o seu alvo de lobby não se sentirá motivado para negociar para além desse mínimo. Em termos de estilo, a participação é geralmente mais eficaz do que a condenação. Pode por vezes ser apropriado ser-se firme, mas poucas vezes é apropriado ser-se conflituoso, especialmente se se tenciona seguir as reuniões de lobby com outras no futuro. Esclareça bem o que quer que o responsável pelas decisões faça (mas seja flexível) e obtenha um empenho firme por parte deles. Se as pessoas no poder ou os responsáveis pelas decisões tiverem anteriormente decidido que não podem ser influenciados a mudar a sua posição, o processo pode ser paralisado. Terão que compreender a posição uns dos outros, e será necessário proporcionar maior evidência para reforçar a posição. Utilize linguagem corporal consistente: mantenha a sua voz calma e regular, relaxe os ombros, esteja consciente do que o seu comportamento e o seu tom indicam. Tente não deixar que a discussão se desvie do assunto; se tal acontecer, interrompa educadamente e traga a discussão novamente para a questão central. Durante a reunião de lobby tem que identificar e discutir muito claramente a “política de perguntas”que o responsável pelas decisões é capaz de produzir. Este é o ponto mais importante. Se surgir uma pergunta a que não sabe responder, diga que entrará em contacto com eles com a resposta e cumpra sempre a promessa. No final da reunião, agradeça ao responsável pelas decisões pelo seu tempo e volte a reiterar o que entendeu que disseram que vão fazer. Rápido e útil: Simular capacidades de negociação Experimente um exercício de simulação simples, para desenvolver as competências de negociação das pessoas envolvidas no seu trabalho de advocacia. Além de ser um modo útil de praticar as suas capacidades de negociação, este exercício também pode ser utilizado por uma equipa de advocacia para desenvolver uma verdadeira posição de negociação sobre uma questão em particular. Passo 1: Divida os participantes em grupos de interesse contrários, como membros da comunidade, representantes de empresas privadas locais, governo local, doadores internacionais, e empresas internacionais de fornecimento de água. Dê-lhes o esboço duma declaração política a analisar, por exemplo sobre a privatização da A&S. Passo 2: Nos grupos de interesse, os participantes discutem a declaração, debatem as suas posições e planeiam uma estratégia de negociação, incluindo as posições mínimas e máximas. Passo 3: Os participantes reúnem-se de novo e voltam a dividir-se em grupos que consistem do representante de cada ponto de vista, e negoceiam uma declaração política final. Passo 4: Os participantes voltam a reunir-se e discutem o seguinte: • Qual foi o processo envolvido em decidir uma posição mínima e máxima? • O que aconteceu nos grupos de negociação? • Que grupo de interesse ganhou mais e porquê?• Acções de advocacia 67 Depois da reunião de lobby Siga a reunião com uma carta de agradecimento ao alvo do lobby, que também inclui um resumo dos pontos que foram levantados, faz referência a acordos ou desacordos que surgiram durante a reunião, e esboça os passos que se seguirão. Faça o seguimento de quaisquer pontos de acção sobre os quais concordaram na reunião, e partilhe a informação e os detalhes do que foi discutido durante a reunião de lobby com terceiros/colegas. Siga o processo para ver se a sua proposta é aceite. Sugira que se estabeleça um comité de projecto com um representante da sua organização; ofereça os serviços da sua organização para dar assistência ao funcionário responsável por implementar as mudanças. Se as suas ofertas formais forem recusadas, mantenha os contactos informais e siga todos os níveis do procedimento até a mudança política se tornar uma realidade a todos os níveis. Não se esqueça de agradecer a todas as pessoas envolvidas e de declarar como tenciona progredir. Visitas aos projectos Pode descobrir que organizar uma visita a um projecto eficaz é um bom modo de fazer lobby. Ver um exemplo positivo da proposta pela qual está a lutar pode convencer os responsáveis pelas decisões ainda cépticos, assim como dar a oportunidade aos membros da comunidade de falar em seu próprio nome. O lado negativo é que as visitas aos projectos podem ser caras, exigir muito planeamento e dedicação de tempo em nome dos participantes – particularmente os responsáveis pelas decisões, que podem não querer comprometer-se. Na prática: Utilização de visitas no Bangladesh O Centro de Recursos de Ensino da Aldeia (Village Education Resource Centre – VERC) no Bangladesh tinha estado a pilotar a abordagem de Saneamento Total Liderado pela Comunidade (CLTS) em seis distritos entre Março de 2001 e Fevereiro de 2002. O VERC relatou que o conceito central de participação da comunidade e estratégia procura-resposta tinha mobilizado as comunidades para pararem com a defecação ao ar livre nas aldeias. O estudo piloto foi extremamente bem sucedido e estabeleceu que qualquer comunidade possa atingir 100% de saneamento sem subsídios externos. Durante Fevereiro de 2002, o VERC, a WaterAid no Bangladesh e outras agências, organizaram um workshop regional em Bogra com vista a partilhar os resultados do estudo piloto, que incluiu uma viagem de estudo às áreas de trabalho do VERC, onde a abordagem das CLTs tinha sido pilotada com êxito. Aproximadamente 75 participantes, incluindo diversos funcionários do governo central e estatal, tanto do Bangladesh como da Índia, e representantes de ONGs, assistiram ao programa. Mais tarde, uma equipa de 36 membros do estado indiano de Maharashtra fez uma visita, acompanhada do Secretário Conjunto do Ministério do Governo Local, Desenvolvimento Rural e Cooperativas, ao Governo do Bangladesh. Com o apoio e a assistência do Programa Hídrico e de Saneamento, a abordagem CLTS está agora a ser testada em Maharashtra. Escrever cartas Escrever uma carta pode ser outra ferramenta de lobby directa e formal como parte da advocacia. Lembre-se no entanto que as figuras públicas recebem muitas cartas, por isso vai ser necessário garantir que escrever é o modo mais eficaz e apropriado de transmitir a sua mensagem. 68 Guia de advocacia Rápido e útil: Dicas para escrever cartas • Seja breve, não escreva mais de uma ou duas páginas, apesar dos documentos ou outros materiais se poderem anexar • O seu tom deve ser firme mas cortês, e deve sentir-se confortável com o facto de a carta poder ser divulgada em público • Depois de um parágrafo breve introdutório, declare claramente o objectivo da comunicação. Tente mencionar alguma coisa sobre a qual concorda com o destinatário da carta (estabelecendo uma base de entendimento) • Corrija a sua ortografia e pontuação • Assegure-se que todos os signatários recebem uma cópia, envie cópias a outros actores influentes, e lembre-se de guardar uma cópia – assim como cópias das respostas – para si próprio• Campanhas públicas Ideia chave: Campanhas públicas Organizar campanhas públicas é o processo de envolver o público e fazer com que tomem medidas para demonstrar o apoio que dão ao projecto de advocacia ou à posição de advocacia. O principal objectivo das campanhas públicas é demonstrar aos visados pela advocacia que há uma grande preocupação por parte do público sobre a questão, e vasto apoio para a sua posição, o que pode ser particularmente eficaz porque, muitas vezes, o público vota e é sempre consumidor. Como indivíduos podem não ter muita influência, mas unidos por detrás duma posição em particular podem exercer pressão considerável. Um objectivo importante é influenciar directamente a compreensão do público e a atitude para com uma questão específica, assim como mudar o comportamento das pessoas. Um benefício secundário das campanhas públicas é que podem oferecer uma oportunidade excelente para melhoria de capacidades. A colaboração com parceiros para o lançamento de campanhas públicas significa que ambos podem aprender um com o outro. A campanha pública pode ser feita a nível nacional, pedindo uma mudança de política num país específico, ou a nível internacional. Pode mesmo pedir diversas mudanças em países diferentes. Qualquer que seja o seu trabalho de campanhas públicas, é vital que as suas posições e declarações sejam apoiadas por evidência, particularmente o trabalho dos projectos. Acções de advocacia 69 Ideia chave: Campanhas públicas apropriadas É essencial recordar que países diferentes têm leis e normas culturais diferentes que irão influenciar como se pode levar a cabo o trabalho para as campanhas. Nos planos de acção para a advocacia, já se deve ter considerado o que é apropriado, e mesmo legal, no contexto em que o trabalho de advocacia vai ter lugar. Por exemplo, no RU, as obras de beneficência registadas – como a WaterAid – têm que aderir a directivas sobre as campanhas e actividades políticas estabelecidas pela Comissão das Obras de Beneficência. As regras garantem que a obra de beneficência funciona dentro da lei, e no âmbito das suas competências. Mais especificamente, as obras de beneficência registadas têm que ter cuidado para que o seu trabalho nas campanhas não favoreça ou mesmo pareça favorecer, um partido político específico. Na realidade, as campanhas políticas – que pedem mudanças em certas leis – podem não ser o único objectivo de uma obra de beneficência registada. Na lei das obras de beneficência do RU, as campanhas políticas têm que se manter “secundárias ou suplementares” ao objectivo principal da obra de beneficência. A Comissão das Obras de Beneficência do RU aconselha a que, sempre que possível, o objectivo deve ser conseguir apoio para a campanha por parte de diversos partidos políticos – para evitar acusações de partidarismo e para aumentar as probabilidades da campanha ter êxito. Todos os funcionários relevantes dos programas e da política da WaterAid, e os que estão em contacto com os meios de comunicação, devem familiarizar-se com o Protocolo 2 da WaterAid: requisitos legais sobre campanhas e actividades políticas. Um resumo deste protocolo encontra-se incluído no Anexo para referência. Ver Toolkit de Advocacia: Protocolo da WaterAid sobre campanhas públicas…pág. 107 Alguns dos modos essenciais para implementar as campanhas públicas são: Meios de comunicação directos: diferentes dos meios de comunicação e do trabalho de publicidade (descrito abaixo) os meios de comunicação directos envolvem criar campanhas de publicidade, colocar folhetos em revistas, ou enviá-los directamente a uma lista de endereços, ou colocar panfletos e cartazes em locais onde podem mais eficazmente chegar ao público. Não é fácil acertar com este tipo de trabalho dos meios de comunicação directos, e não é barato. Criar cartazes, por exemplo, pode ser barato mas é difícil visá-los com precisão. A publicidade, se a puder pagar, pode ser particularmente eficaz. Um anúncio que atrai a atenção, com mensagens claras sobre a questão, proporciona o controlo do que quer dizer, e permite que se peça às pessoas para fazer alguma coisa como resultado disso. Pode-se decidir procurar peritos externos se se quiser acertar com os meios de comunicação directos. Manifesto: Um manifesto é provavelmente o pilar de qualquer campanha pública. Um manifesto é um esboço curto das mensagens da sua campanha, disponíveis para o público, que utiliza linguagem comum clara e simples para explicar a posição. Deve declarar porque se está a organizar uma campanha, o problema a que se dirige, e as soluções que se propõem. Pode-se então utilizar o manifesto em panfletos, em campanhas publicitárias e no website, como uma declaração clara do que a campanha pede. 70 Guia de advocacia Rápido e útil: Tornar-se visual Seja a produzir panfletos, um manifesto, um website ou mesmo anúncios da televisão ou para revistas, terá que dar ao seu público um modo fácil de reconhecer a sua campanha. O melhor modo de fazer a ligação entre todos os seus materiais visuais é desenvolvendo uma identidade visual consistente. Tem que desenvolver um logótipo ou uma série de imagens e frases que devem aparecer em todos os materiais de campanha, e também deve utilizar as mesmas cores e letras. Antes de projectar quaisquer materiais, pense muito bem no que quer realmente que esse material faça, quem quer que alcance, e o que está a pedir ao seu público. Acções do público: Que acções quer que os apoiantes das suas campanhas levem a cabo? A sua campanha pública pode ter como objectivo “recrutar” pessoas para a sua causa, e tomar providências para isso. Ou pode ser dirigida mais a influenciar o modo como o público e os políticos se comportam. Qualquer que seja o caso, a sua campanha pública deveria procurar motivar um grande grupo de pessoas a actuar de certo modo, a favor das suas propostas. Pode começar por ser pequeno, mas mesmo um grupo pequeno de pessoas pode ajudar lentamente a encorajar mais pessoas a aderir. Redacção em massa: Uma ferramenta de campanha popular na Europa Ocidental e nos EUA é pedir às pessoas para enviar cartas, postais ou e-mails a um alvo em particular, mencionando preocupações específicas e pedindo resultados determinados. Terá que proporcionar às pessoas as ferramentas necessárias, como exemplos de cartas, postais já impressos ou o modelo de um e-mail. Petições: A recolha de um grande número de assinaturas, com nomes e endereços, em papel ou através de um website, pode ser um modo eficaz de demonstrar o apoio em massa pela sua posição. Pense como deve entregar a petição para conseguir o maior impacto possível, e não se esqueça de garantir cobertura por parte dos meios de comunicação. Assegure-se também que adere às leis locais de protecção de dados. Eventos: Eventos de campanhas, como comícios com oradores, uma manifestação ou uma vigília, ou mesmo organizar uma delegação para ir aos escritórios de quem está a visar, podem atrair cobertura por parte dos meios de comunicação. No entanto, eventos em grande escala exigem muito trabalho, e podem ser muito caros. Pode tomar em consideração se há outros eventos que pode utilizar, tendo apenas presente um quiosque de informação ou uma campanha de panfletos. Utilização dos meios de comunicação Os meios de comunicação podem ter um papel importante no trabalho de advocacia pública. A televisão, o rádio, e a imprensa oferecem a oportunidade de atingir os responsáveis pelas decisões e de influenciar a opinião pública mais generalizada. Os principais meios de comunicação visam o público em geral, mas também podem ter uma grande influência sobre os responsáveis pelas decisões e outros criadores de opiniões que respondem directamente a artigos em certos jornais prestigiosos ou certos programas da televisão e da rádio, particularmente se têm conhecimento da influência desses meios de comunicação sobre a opinião pública. O trabalho de advocacia deveria por isso, tratar os meios de comunicação tanto como uma ferramenta para a advocacia mas também como um alvo influente para a sua advocacia. Acções de advocacia 71 Ideia chave: Porquê utilizar os meios de comunicação? • • • • • • • Introduzir a sua questão na agenda política pública Faça com que a sua questão se torne visível e credível no debate político Informe o público sobre a sua questão e soluções que propõe Recrute aliados entre o público e os responsáveis pelas decisões Mude as atitudes e o comportamento do público Influencie os responsáveis pelas opiniões e os líderes de opiniões Angarie fundos para a sua causa• Como todos os aspectos da advocacia, o trabalho junto dos meios de comunicação requer objectivos claros e acções cuidadosamente planeadas. Antes de se começar qualquer campanha com os meios de comunicação, deve-se planear devidamente o que se quer que a advocacia dos meios de comunicação consiga fazer, e como vai ser feito. As perguntas essenciais incluem: • Que mensagem quer transmitir?• • Quem é o alvo da sua mensagem?• • Como vai conseguir chegar a este público?• • Como vai utilizar cada tipo dos meios de comunicação?• • Como vai programar o seu esforço junto dos meios de comunicação para complementar as suas outras estratégias?• • Como vai medir o êxito?• Muitas comunidades rurais têm agora acesso à rádio, e algumas lêem os jornais nacionais diariamente. As populações urbanas, industrializadas, podem ser mais facilmente influenciadas através da televisão, enquanto os públicos profissionais podem responder a artigos em publicações chave e publicações periódicas. Deve-se então investigar os próprios meios de comunicação. Que publicações ou programas já cobrem a questão ou questões semelhantes? Como é que obtêm novas histórias? Quão livres são de dizer o que pensam (há censura)? Qual é o estilo e formato dos diversos programas/ publicações, e como se pode aí encaixar a questão? Como se pode entrar em contacto com eles? Assegure-se de que compreende o papel da imprensa no seu país: critica o governo abertamente ou é controlada pelo governo? Que públicos alcança e qual é o estilo e tom das diferentes publicações? 72 Guia de advocacia Ideia chave: A TV e a rádio Conseguir que a sua mensagem ou o seu porta-voz apareçam na TV ou na rádio é um dos modos mais eficazes de transmitir a sua mensagem ao público em geral. Criar relações com jornalistas de TV ou rádio, e oferecer sempre um porta-voz para ser entrevistado nos programas de actualidades, é vital para se conseguir este tipo de cobertura. A TV pode ser particularmente eficaz porque para muitos responsáveis pelas decisões e líderes de opiniões influentes, os programas de actualidades e de notícias são provavelmente uma fonte central de informação. Identifique se os públicos da TV são os que quer visar. Entretanto, a rádio chega a um público mais vasto do que qualquer outro meio, e é acessível a pessoas que de outro modo estão isoladas devido à língua, geografia, conflitos, analfabetismo ou pobreza. A rádio também tem o poder de motivar as pessoas baseando-se nas tradições orais. As estações de rádio das comunidades podem ter um papel significativo em aumentar a participação e em partilhar opiniões, melhorar e diversificar o conhecimento e as competências, e em satisfazer as necessidades de saúde e culturais. No entanto, a rádio é um meio transitório. A maior parte das pessoas não pode ouvir outra vez um espectáculo, ou pedir que a informação seja repetida. Muitas pessoas também não têm acesso a rádios, à electricidade ou às pilhas para os pôr a funcionar. Alcançar os meios de comunicação Rápido e útil: A sua lista de contactos dos meios de comunicação Criar uma lista de contactos permite-lhe passar as suas mensagens rapidamente a todos os meios de comunicação relevantes quando tem uma história que faz notícia. Se utilizar a sua lista de contactos como uma base de dados, registando qualquer contacto que fizer com um jornalista, poderá ser-lhe de ajuda para construir e manter as relações com eles. Em muitos países é possível comprar uma lista dos meios de comunicação preparada por empresas especialistas, mas se essa abordagem for demasiado cara, pode construir a sua própria lendo, vendo e ouvindo os meios de comunicação locais, e anotando que questões são cobertas por certos jornalistas. Pode desejar entrar em contacto com jornalistas e editores chave apenas para se apresentar e lhes falar dos seus temas. Se já se tiverem conhecido, eles poderão estar mais inclinados a vir ter consigo quando estiverem a trabalhar sobre uma história, e irão prestar mais atenção a qualquer informação que lhes envie. Investir tempo na criação de relações com os jornalistas e os editores também lhe permite pedir-lhes a opinião deles sobre as suas ideias, para ver que aspecto da sua história se adequa mais às necessidades deles. Conseguir introduzir-se nos meios de comunicação exige mais do que apenas boas relações. Não se pode sempre esperar que os jornalistas amigáveis achem que o tema é uma boa notícia, porque muitas vezes não o é. O segredo para vender uma boa história é ser-se oportuno, e fazer a ligação da mensagem às notícias de última hora. Deve procurar oportunidades para notícias, como um evento natural, um discurso ou aniversário ao qual possa ligar a sua história. Mantenha um registo de eventos futuros no seu diário ao qual possa ligar os seus temas. Quando a sua história já estiver nas notícias, mesmo perifericamente, é mais fácil vender a mensagem exacta. A sua tarefa é oferecer uma história ou oportunidade de fotografia que ilustre uma perspectiva nova ou local, ou que dramatize um ponto de vista específico. Actuar rapidamente é muitas vezes o segredo, assim como proporcionar toda a informação num só sítio para que o trabalho dos jornalistas seja facilitado. Os websites estão cada vez mais a ser utilizados deste modo, dando informação, imagens, citações e não só, de apoio, tudo num local. Acções de advocacia 73 O método mais comum para transmitir a sua mensagem a qualquer tipo de meio de comunicação é um comunicado à imprensa. É um documento escrito que esboça de modo conciso a questão que se quer que os meios de comunicação cubram, e é distribuído por fax, correio, ou cada vez mais, por e-mail aos jornalistas que se está a tentar alcançar. Um comunicado à imprensa bem escrito deveria facilitar a vida dos jornalistas, dando-lhes informação suficiente num estilo curto e dinâmico para os persuadir a falar na sua história. Os comunicados à imprensa podem ter muitas funções: • Dar notícias antecipadas de um evento• • Proporcionar um relatório sobre uma reunião, ou comunicar decisões• • Anunciar uma nova campanha, ou proporcionar relatórios sobre o progresso• • Proporcionar informação sobre o contexto• • Circular discursos, relatar detalhes, etc.• Toolkit de advocacia: Bons comunicados à imprensa Em geral, os comunicados à imprensa têm um formato padrão, que permitem aos jornalistas e aos editores ter acesso à informação relevante rapidamente e facilmente. Inclui-se no Anexo uma série de dicas e de conselhos sobre como escrever um comunicado à imprensa como uma ferramenta útil. Também se inclui a amostra de um comunicado à imprensa. Ver Toolkit de Advocacia: Dicas sobre bons comunicados à imprensa…., pág. 108 e amostra de um comunicado à imprensa… pág. 109 Projectar a mensagem Publicar documentos, produzir materiais, e levar a cabo campanhas públicas cara a cara através de reuniões com porta-vozes e eventos, são provavelmente uma parte importante de qualquer projecto de advocacia. Rápido e útil: Acertar com as comunicações Devem considerar-se cinco factores quando se está a preparar e a aprovar uma comunicação: • Consistência da política e consistência com planos e prioridades organizacionais • A identidade da sua organização • Qualidade e conteúdo do produto • Risco à reputação • Risco de segurança para o pessoal, parceiros e beneficiários ou para toda a organização• Relatórios Os relatórios podem ser utilizados para dar apoio às actividades de lobby enviando informação aos visados e aos influentes. Também proporcionam o contexto para os jornalistas e os parceiros, e talvez mesmo o público. O modo em que se apresentaram os resultados de qualquer tipo de investigação é importante assim como o é a qualidade do mesmo. Em todos os casos, tem que se pensar no público, e o modo como o relatório é apresentado deve ser adaptado em conformidade. Lembre-se de estabelecer estratégias para divulgar o seu relatório. 74 Guia de advocacia A maior parte dos relatórios contém um relatório executivo, que é muitas vezes a única parte de um relatório que é realmente lido. Um relatório que se dirige a um alvo de advocacia também deve incluir uma pequena lista dos três ou quatro pontos ou acções chave que se gostaria que fossem levados a cabo. Toolkit de advocacia: Textos que vale a pena ler Faça uma leitura adicional sobre o a, b, c de um texto bem escrito – desde como começar, a dicas boas para conceber os relatórios. Ver Toolkit de Advocacia: Dicas sobre como escrever textos que vale a pena ler… pág. 110 Conferências, seminários e workshops Um evento público pode ser utilizado para influenciar as pessoas visadas que são convidadas, e podem mesmo ser convidadas a falar. Esses eventos também oferecem oportunidades de cobertura por parte dos meios de comunicação, e para consciencializar os jornalistas, parceiros e o público em geral. Muitas ONGs usam workshops com base nas comunidades para formação e ensino dos cidadãos como parte dos seus esforços em relação a direitos legais e advocacia da política. As conferências com oradores de alto nível ou tópicos irresistíveis também podem atrair grande atenção por parte dos meios de comunicação. Em muitos países, uma reunião de visitantes internacionais pode atrair cobertura por parte dos meios de comunicação. Toolkit de advocacia: Falar em público Todos os eventos públicos significam que alguém, talvez um membro da sua própria equipa, tem que falar de modo articulado e convincente sobre o tema a um grande grupo de pessoas. Uma preparação cuidadosa, para que conheça o seu assunto e a sua audiência, é fundamental para um discurso bem sucedido. Se estiver bem preparado, também terá mais auto confiança. O Anexo inclui uma série de dicas para preparar e estruturar um discurso em público. Ver Toolkit de Advocacia: Dicas sobre como falar em público… pág. 114 31 Baseado em parte no IPPF (1995) Advocacy Guide. RU Panfletos, boletins e cartazes31 O material impresso pode ser utilizado como parte da sua campanha pública para melhorar a consciencialização do público entre grandes números de pessoas. O material deve ser adaptado, com mensagens e abordagens específicas, dependendo de que público tenciona visar. Deve ter ideias bem claras sobre quem é o público a visar e como vai distribuir o panfleto ou o boletim antes de o começar a planear e a produzir. Depois de se decidir que um panfleto ou cartaz é uma ferramenta apropriada para a campanha, o mesmo deve ser projectado de modo a ter o máximo impacto possível sobre o público. Os cabeçalhos devem atrair a atenção, mas evitar serem sensacionalistas. O conteúdo deve incluir uma apresentação simples dos factos que se relacionam com o tema de advocacia, e uma declaração clara do que se quer que o público faça sobre o assunto. Como se distribuem os panfletos ou onde se colocam os cartazes irá depender do público visado e dos recursos disponíveis. Se houver recursos muito limitados, pode-se decidir visar a distribuição muito especificamente a públicos chave. Acções de advocacia 75 Websites A página web de uma campanha, ou mesmo um microsite, proporciona aos utentes uma fonte de informação acessível, fácil de usar e autoritária. Também pode ser um local para trocar e transmitir ideias e opiniões. Mais especificamente, oferece a oportunidade de empenhar o público através de petições online ou de quadros de mensagens. O seu website deve conter informação sobre os antecedentes do projecto de advocacia, assim como materiais de apoio como comunicados à imprensa, relatórios, histórias, imagens e citações. Qualquer pessoa que visita o seu site deve poder encontrar tudo o que necessita e, se possível, ser capaz de fazer o downloading de arquivos. Quando for apropriado, poderá então produzir materiais em papel mais concisos porque pode referir as pessoas aos detalhes completos disponíveis online. No entanto, muitos milhões de pessoas no mundo em desenvolvimento ainda não têm acesso fácil aos websites e muitas pessoas ainda não estão habituadas a utilizar a Internet. Um design fraco, incluindo demasiada informação, também pode não deixar as pessoas encontrar o que precisam nos websites. Vídeos e teatro / teatro de rua O teatro de rua ou eventos públicos semelhantes podem ajudar a consciencializar comunidades, e a empenhar o público mais generalizado. Mais importante ainda, também oferece oportunidades aos interessados de contar as suas histórias e de se envolverem no trabalho de advocacia. O teatro proporciona uma oportunidade de apresentar factos e questões de modo divertido, culturalmente sensível e acessível. Em muitas sociedades, o teatro é uma forma de comunicação através da qual as pessoas podem exprimir as suas opiniões de modo confortável. No entanto, o número de pessoas que se alcança é limitado em comparação com outros meios, e alguns críticos sugerem que algumas questões sérias podem ser trivializadas. O Vídeo é uma ferramenta relativamente cara. No entanto, tem potencialmente impacto tanto entre públicos com fraco grau de instrução (assumindo que as instalações para a transmissão se encontram disponíveis) e os públicos dos países desenvolvidos cada vez mais em sintonia com apresentações áudio visuais em vez de textos escritos. 76 Guia de advocacia 32 S. T. Kwame Boafo (sem data) citado no website do International Development Research Centre www.idrc. org Ideia chave: Comunicação de desenvolvimento participativo: uma perspectiva africana32 No meio ambiente das comunicações africanas, dado o acesso limitado que alguns grupos da população, especialmente os segmentos marginalizados que vivem em comunidades rurais remotas, têm aos meios de comunicação em massa, a capacidade de comunicação da comunidade local reside nos recursos e canais assim chamados tradicionais (líderes tradicionais, drama, concertos, cantigas, histórias contadas, marionetas, tambores, dança, etc.), que servem de canais fiáveis de recolha, processamento e disseminação de notícias e informação, em muitas comunidades rurais, e muitas vezes se dirigem aos interesses e preocupações locais nas línguas e contextos locais que os membros da comunidade podem facilmente compreender e com quem se podem identificar. Aplicações eficazes de abordagens e estratégias de comunicação de desenvolvimento participativas a nível popular e de comunidade deveriam explorar a utilização e o aproveitamento de ferramentas e recursos subtis e tradicionais de comunicação. Os meios de comunicação tradicionais servem muitas vezes como meios eficazes de canalizar as questões do desenvolvimento. Os meios de comunicação tradicionais proporcionam abordagens de comunicação horizontais para estimular a discussão e a análise das questões, e também sensibilizam e mobilizam as comunidades para o desenvolvimento. No entanto, é necessário ser-se prudente para não romantizar as capacidades e o impacto dos meios de comunicação tradicionais no desenvolvimento. Como outros meios de comunicação e informação, têm as suas fraquezas e limitações no tempo e no espaço; são particularmente deficientes na divulgação simultânea de informação sobre questões de desenvolvimento através de populações muito dispersas geograficamente. A investigação e a experiência na utilização de meios de comunicação tradicionais indicam que são mais eficazes na comunicação participativa do desenvolvimento em comunidades rurais quando combinados com recursos de comunicação de massa, especialmente a rádio. O desafio que enfrentam os praticantes da comunicação participativa do desenvolvimento nos países africanos é terem conhecimentos suficientes sobre as possibilidades e as limitações dos meios de comunicação tradicionais e sobre como os aproveitar e combinar competentemente com outras formas de comunicação e informação para o desenvolvimento. Acções de advocacia 77 78 Guia de advocacia Secção 7 Monitorização e avaliação Monitorizar e avaliar o impacto da advocacia pode ser uma tarefa difícil. Muitos não o fazem, apesar de o incluírem nos seus planos de advocacia. No entanto, monitorizar e avaliar programas de advocacia é uma parte importante e inevitável do trabalho de advocacia. A monitorização e a avaliação devem ser um ponto focal do plano de acção da advocacia logo de início, algo que é levado a cabo juntamente com a investigação, planeamento e execução dos planos, e que influencia como se trabalha em todas as fases. Ao incluí-las no planeamento de advocacia desde o princípio, pode-se fazer a ligação entre os objectivos que se querem alcançar com o desenvolvimento dos indicadores do êxito. A monitorização contínua actua como um modo de medir o progresso que se fez em todas as fases. Fazer a nossa avaliação periódica permite-lhe identificar os impactos que o seu trabalho de advocacia está a ter, ao mesmo tempo que se leva a cabo o planeamento e o trabalho. A avaliação não é só uma questão de analisar o resultado final, por exemplo, ter completado um trabalho, mas uma avaliação do impacto a prazo mais longo. A monitorização e a avaliação dependem da recolha e análise da informação sobre os aspectos positivos e negativos, e dos impactos do seu trabalho e o progresso do mesmo. O que vai aprender deste capítulo • • • • • O que são a monitorização e a avaliação A diferença entre a monitorização e a avaliação Os aspectos do trabalho que podem ser monitorizados e avaliados. Alguns dos desafios ao monitorizar e avaliar o trabalho de advocacia Perguntas que pode utilizar para rever o progresso na sua advocacia.• Uma prova da qualidade do planeamento de advocacia é a facilidade com que os seus planos podem ser monitorizados, e como os impactos podem ser avaliados. (Faça referência ao ciclo de planeamento da advocacia na pág. 30). Os planos com objectivos, indicadores e metas claros e uma análise dos interessado, simplificam a monitorização, ao passo que se os objectivos forem vagos e pouco específicos, é quase impossível monitorizar ou avaliar o progresso. Monitorização 33 Bakewell, O., Adams, J. & Pratt, B. (2003) Sharpening the Development Process. A Practical Guide to Monitoring and Evaluation. Intrac Praxis Guide Nº 1. A monitorização é “a avaliação sistemática e contínua do progresso de um trabalho ao longo do tempo, que verifica se as coisas estão a seguir ‘de acordo com os planos’ e permite que se façam ajustes de modo metódico”.33 A monitorização deve examinar se na prática os planos estão a funcionar bem. O principal objectivo da monitorização é decidir se os planos e práticas necessitam de ser ajustados em vista da nova informação, ou se as coisas não se estão a mover na direcção prevista, ou ter em conta factores inesperados. A monitorização eficaz irá dar sinais para advertir que alguma coisa está a falhar. Também irá ajudar a orientar as acções, para garantir que são tão eficazes quanto possível. Apesar do objectivo de advocacia poder ser consistente, tem que se estar preparado para rever as actividades, em vista do que a monitorização revele à medida que a advocacia se desenvolve e as pessoas visadas respondem. Monitorização e avaliação 79 Avaliação A avaliação é “a determinação periódica da relevância, desempenho, eficiência e impacto do trabalho em comparação com os objectivos declarados. Uma avaliação é geralmente levada a cabo numa fase significativa do desenvolvimento do projecto, por exemplo, no final dum período de planeamento, quando o projecto avança para uma nova fase, ou em resposta a uma questão crítica específica”.34 34 op cit. A avaliação mede se os objectivos de uma actividade foram alcançados, como foram alcançados, e o que se pode aprender deste êxito ou fracasso. Qual é a diferença entre a monitorização e a avaliação?35 35 op cit A monitorização faz parte integral do sistema de gestão e em geral será levada a cabo pelas pessoas envolvidas no projecto dia a dia. No mínimo irá envolver os funcionários do projecto, mas é ainda melhor se os utentes do projecto também participarem na monitorização. Uma avaliação vai medir que progresso o projecto fez, não só ao completar as suas actividades mas também ao alcançar os seus objectivos e meta geral. Vai avaliar que mudanças ocorreram como resultado do projecto em progresso – tanto as mudanças planeadas como as inesperadas. Tanto a monitorização como a avaliação dizem respeito a responder a perguntas sobre resultados, objectivos e impactos. A experiência demonstrou que é muito difícil avaliar o progresso para alcançar os objectivos nas avaliações periódicas se não se recolheu informação durante toda a operação do projecto. É ainda mais difícil de entender o impacto do projecto a não ser que as mudanças sejam monitorizadas regularmente. O sistema de monitorização e avaliação deve proporcionar evidência provando que o projecto teve um conjunto de efeitos imediatos e mudanças a longo prazo. O sistema tem que ser capaz de mostrar que esta evidência é credível e válida. Tabela resumindo as diferenças entre a monitorização e a avaliação:36 36 Bakewell, O. et al. op cit. Monitorização Avaliação Timing Contínuo durante todo o projecto Revisão periódica em altura significativa no progresso do projecto – fim do projecto, a metade do projecto, mudança de fase Âmbito Actividades diárias, resultados, indicadores de progresso e mudança Avaliar a produção geral de resultados e o progresso na direcção de se alcançarem os objectivos e a meta Principais participantes Funcionários do projecto, utentes do projecto Avaliadores externos/ facilitadores, utentes do projecto, funcionários do projecto, doadores Processo Reuniões periódicas, entrevistas – mensais, revisões trimestrais, etc. Reuniões extraordinárias, exercícios de recolha de dados adicionais, etc. Resultados por escrito Relatórios regulares e actualizações para os utentes do projecto, gestores e doadores Relatório escrito com recomendações para mudanças ao Projecto – apresentado em workshops a diferentes interessados 80 Guia de advocacia Rápido e útil: Avaliação do impacto A avaliação do impacto é a análise sistemática das mudanças duradouras ou significativas – positivas ou negativas, intencionadas ou não – sobre as vidas das pessoas, que resultaram de uma dada acção ou série de acções (Roche (1999) Oxfam). Que aspectos do trabalho de advocacia podem ser monitorizados e avaliados? Os níveis básicos de actividade devem ser monitorizados regularmente utilizando documentação simples, directa e fácil de gerir (veja alguns exemplos de contribuições e resultados que se poderia monitorizar, na caixa que se segue). A monitorização funciona melhor quando a informação criada pelo processo é útil e utilizada, o que exige que seja registada de modo adequado e apresentada de modo que se entenda. Também se devem incluir pontos específicos de revisão no planeamento: onde se possa parar e verificar o progresso, examinar os indicadores e as acções futuras, e tomar em consideração que o plano tem que ser revisto, mudar o ponto focal do projecto, ou re-direccionar os recursos quando necessário. Os planos de advocacia inevitavelmente exigem escolhas e mudanças estratégicas, que a monitorização deveria fazer sobressair. Deveria continuar a trabalhar com um determinado parceiro? Deveria trabalhar a ritmo mais lento para conseguir alcançar as suas metas? Deveria trabalhar individualmente e mais rapidamente para alcançar as metas? Rápido e útil: Contribuições e rendimentos Seguem-se apenas alguns exemplos de dados que podem ser armazenados para a monitorização: Contribuições: delinear os recursos que dedicou e as acções que levou a cabo: o número de emails enviados, os planos que concebeu, termos de referência da investigação, o número de folhetos produzidos (planos dos prazos, tempo dos funcionários gasto, finanças), planos de advocacia, planos de lobby, sessões de formação, reuniões organizadas, etc. Rendimentos: registe os resultados imediatos das acções: respostas a e-mails, informação que lhe foi pedida sobre a sua campanha, relatórios produzidos e/ou publicados, minutas das reuniões, relatórios das visitas feitas, afiliação da organização à rede, número de menções da sua campanha no Parlamento, cobertura na imprensa, etc. A monitorização eficaz ajuda a orientar as actividades para garantir que são tão eficazes quanto possível. Também proporciona a informação necessária para prestação de contas (incluindo informar os doadores e a sua própria organização), avaliar e melhorar o desempenho, aumentar e documentar a aprendizagem e melhorar as comunicações. Sempre que possível, devem-se medir os indicadores de quantidade (números) e de qualidade (narrativos). Muito do trabalho de advocacia produz resultados que não podem ser registados estatisticamente: a qualidade e tom dos discursos feitos pelas figuras públicas, as redes estabelecidas, rascunhos de novos acordos e políticas. Nestes casos, será necessário descrever a actividade, e a sua análise, de modo narrativo. O registo destes dados em termos de números pode limitar a compreensão dos mesmos. As ligações entre as actividades, a produção, os resultados e as metas não são simples ou mesmo fáceis de prever. Cada passo depende até certo ponto da resposta dos que têm sido visados pela actividade de advocacia. Monitorização e avaliação 81 Temos que antecipar a indiferença, resistência e oposição e como tal o nosso progresso vai depender das acções das pessoas fora do projecto. Apesar do nosso objectivo de advocacia poder ser constante, as nossas actividades podem ter que ser revistas em vista dos que são visados pela nossa advocacia assim como de outros desenvolvimentos, e a monitorização deve ajudar a fazê-lo. Quais são os desafios da monitorização e da avaliação do trabalho de advocacia? Uma grande parte da monitorização e avaliação das ONGs – não só do trabalho de advocacia – tende a concentrar-se nas participações e nas produções, com menos atenção dada aos resultados e ao impacto que no final são mais importantes. A avaliação é a apreciação dos impactos da advocacia e está cheia de desafios metodológicos. Algumas das dificuldades específicas associadas com a apreciação do impacto do trabalho de advocacia – ao contrário do trabalho prático nos projectos – encontram-se catalogadas em seguida: • A advocacia é muitas vezes uma actividade a longo prazo e as mudanças políticas podem ser progressivas e lentas e a implementação pode vir muito atrás das mudanças legislativas. Por isso, é muitas vezes difícil dizer quando ocorreu uma mudança significativa.• • O processo de mudança é muitas vezes imprevisível.• • Objectivos múltiplos – os objectivos de advocacia podem por vezes ser guiados pelo processo e incluem mudanças políticas, mudanças nos programas, criação de redes, abertura de espaços democráticos para os cidadãos e melhoria da prestação de contas para os fornecedores dos serviços.• • Os processos escondidos da tomada de decisões podem ser utilizados pelos burocratas e os políticos• • A causa e os efeitos são geralmente difíceis se não impossíveis de demonstrar, uma vez que se vai estar a trabalhar para influenciar utilizando diversas ferramentas de advocacia, e pode não ser claro que actividade fez a diferença à direcção tomada pelo responsável pela decisão.• • O trabalho de advocacia é muitas vezes levado a cabo através de redes e coligações e enquanto é provável que deste modo se aumente a visibilidade e o poder do trabalho de advocacia, também faz com que seja mais difícil atribuir os resultados ao trabalho de uma organização em particular ou avaliar a contribuição exacta de cada organização ou grupo.• • Geralmente utilizam-se diversas abordagens ao mesmo tempo, algumas mais conflituosas, outras com base nos debates privados. Esta combinação pode ser eficaz mas faz com que seja difícil avaliar a contribuição de cada abordagem.• • Muito trabalho de advocacia é invulgar e pouco repetido.• Como se pode analisar o progresso na advocacia? Para todos os desafios associados com a avaliação da advocacia, os resultados e o impacto do trabalho de advocacia têm que ser registados. Sempre que possível, temos que medir os indicadores quantitativos assim como os qualitativos. Inevitavelmente, os indicadores para medir o progresso na direcção dos objectivos de advocacia serão principalmente qualitativos. Podem muitas vezes ter que ser indicadores substitutos, uma vez que os resultados da advocacia são muitas vezes impalpáveis (especialmente os resultados provisórios antes de se conseguirem as mudanças políticas), o que faz com que a monitorização e a avaliação da advocacia sejam mais difíceis, mas os princípios continuam a ser os mesmos. 82 Guia de advocacia Na prática, será necessário monitorizar a advocacia em diversos modos diferentes, incluindo por exemplo: monitorizar quem se visa, as suas relações, os meios de comunicação, a sua reputação e a opinião pública. No entanto, é vital que o sistema de monitorização e de avaliação não se torne demasiado complexo – mantenha-o simples. Atendendo aos resultados contestados da advocacia, seria útil se os dados recolhidos para a monitorização e a avaliação pudessem por vezes ser triangulados – utilizando diferentes fontes de informação, utilizando diferentes métodos de recolha de dados, e utilizando pessoas diferentes para recolher os dados. As actividades de advocacia também têm que ser examinadas periodicamente em vista dos objectivos da sua organização, com o fim de se evitar que o trabalho de advocacia perca o seu sentido de direcção ou absorva recursos sem ser capaz de justificar ou prestar contas pela utilização dos mesmos. 37 Sharma, R. R., sem data. An Introduction to Advocacy: Training Guide. Support for Analysis and Research in Africa (SARA) e Health and Human Resources Analysis for Africa /HHRRA), USAID Office of Sustainable Development, EUA: O Guia de Formação da Advocacia de Sharma37 inclui um questionário de auto avaliação que é um bom modo, para quem está a planear e a levar a cabo trabalho de advocacia, de começar a analisar o progresso. Talvez queira responder às perguntas em grupo, ou individualmente, e depois reunir os resultados para análise. Objectivo da advocacia • O seu objectivo de advocacia está a progredir suavemente ou deparou com obstáculos? Quais são os obstáculos e como podem ser ultrapassados?• • Que mais pode fazer para fazer progredir o seu objectivo? Criar novas alianças ou aumentar o alcance junto dos meios de comunicação poderia ajudar o seu objectivo através do processo de tomada de decisões?• • Se o seu objectivo não parece alcançável, não o deveria alterar? O que seria possível alcançar?• • Poderia conseguir alcançar parte dos seus objectivos através de negociações ou compromissos?• • Quanto reflecte o seu objectivo a mudança política/de programa? Conseguiu o seu objectivo por completo, em parte, ou nada?• • Pode/deveria tentar conseguir o resto do seu objectivo durante o próximo ciclo de tomada de decisões?• • Ou deveria mover-se para um objectivo de advocacia completamente novo? Quais são as vantagens e desvantagens de cada decisão?• • A mudança política/de programa faz uma diferença ao problema a que se dirige? Se conseguiu o seu objectivo totalmente ou em parte, teve o impacto que desejava?• Produção de mensagens/comunicações • A sua mensagem alcançou os principais públicos? Se não, como pode atingir melhor essas audiências?• • Os seus públicos reagiram positivamente à sua mensagem? Que mensagens funcionaram? Porquê? Quais não funcionaram e porquê? Como pode alterar as mensagens que não eram eficazes?• • Que formatos funcionaram bem para a produção de mensagens? Quais não foram eficazes e porquê? Como podem estes formatos ser mudados ou melhorados?• • Recebeu alguma cobertura por parte dos meios de comunicação ou da imprensa? Ajudou ao seu esforço? Como poderia melhorar as suas relações com os meios de comunicação?• Monitorização e avaliação 83 Utilização de investigação e dados • Como é que a utilização da investigação e de dados ajudou o seu esforço?• • Os dados foram apresentados de modo claro e persuasivo? Como poderia ter melhorado a sua apresentação?• • O seu esforço de advocacia levantou novas questões em termos de investigação? São necessários dados adicionais para dar apoio ao seu objectivo de advocacia? Se assim for, os dados encontram-se disponíveis noutro lado ou tem que levar a cabo investigação adicional?• Processo de tomada de decisões • Como é que o processo de tomada de decisões é mais aberto devido aos seus esforços?• • Será mais fácil alcançar e persuadir os responsáveis pelas decisões da próxima vez? Porquê ou porque não?• • Quantas pessoas/organizações mais estão envolvidas no processo de tomada de decisões do que antes de ter começado? Como é que este facto ajudou ou prejudicou os seus esforços?• • Como poderia melhorar o modo como faz avançar o processo de tomada de decisões?• • Que estratégias alternativas se podem seguir para ajudar a levar a discussão para diante? Deveria visar diferentes responsáveis pelas decisões? Deveria tomar em consideração actividades diferentes, por exemplo, seminários de aprendizagem em conjunto?• Criação de coligações • Como é que a sua coligação teve êxito em chamar a atenção para a questão e criar apoio para o objectivo de advocacia?• • A informação foi distribuída aos membros da coligação de modo oportuno? Como é que se poderia melhorar a divulgação da informação?• • Há alguns conflitos por resolver na coligação? Como podem ser solucionados e resolvidos?• • Há um elevado nível de cooperação e troca de informação entre os membros da coligação? Como se poderiam melhorar as relações internas na coligação?• • A coligação ganhou ou perdeu membros? Como pode recrutar novos membros e/ou evitar que os membros se vão embora?• • A coligação proporciona oportunidades para o desenvolvimento de liderança entre os membros?• • Como é que a sua rede ajudou o seu trabalho de advocacia? Como pode expandir a sua rede?• Questões gerais de gestão/organização • O seu esforço de advocacia é financeiramente viável? Como poderia angariar recursos adicionais?• • O sistema contabilístico é adequado? Pode dar aos financiadores uma justificação contabilística precisa de como se gastou o dinheiro?• • Como é que os seus recursos financeiros poderiam ser utilizados de modo mais eficiente?• • Os eventos foram todos organizados com êxito e as reuniões correram bem? Em que casos isto não aconteceu, e porque não? Como se poderia melhorar a logística?• • Você ou a sua organização sentem-se submersos ou desencorajados? Como poderia conseguir ajuda adicional?• • Deveria restringir a sua meta ou ampliar o prazo para fazer com que o seu esforço seja mais fácil de gerir?• 84 Guia de advocacia Monitorização e avaliação 85 Informação adicional – websites úteis para o trabalho de advocacia As organizações que se seguem, redes, e instituições académicas podem proporcionarlhe recursos com informação adicional para o seu trabalho de advocacia e de melhoria das capacidades. African Civil Society Network on Water and Sanitation – ANEW Website: www.freshwateraction.net/anew E-mail: [email protected] A ANEW (Sociedade Civil Africana para a Água e o Saneamento) foi lançada em Dezembro de 2003, durante a Conferência Pan-africana dos Ministros Africanos da Água (AMCOW), o que seguiu a reunião de começo em Outubro de 2003 quando 40 representantes de ONGs e redes africanas que trabalham em questões hídricas vieram de todo o continente e se reuniram em Nairobi para um evento de três dias organizado pela Freshwater Action Network (FAN) (Rede de Acção da Água Doce) e o Environment Liaison Centre International – ELCI (Centro Internacional de Ligação do Ambiente). A ANEW tem como objectivo promover o diálogo, a aprendizagem e a cooperação sobre questões hídricas na região. CIVICUS www.civicus.org A CIVICUS (Aliança Mundial para a Participação do Cidadão) é uma aliança internacional dedicada a reforçar as acções dos cidadãos e da sociedade civil através do mundo. A CIVICUS procura amplificar as vozes e as opiniões do cidadão médio e dá expressão à enorme energia criativa do sector em expansão da sociedade civil. A missão da CIVICUS é a de uma comunidade a nível mundial de cidadãos informados, inspirados, e dedicados, que participam em confrontar os desafios que a humanidade enfrenta. A CIVICUS está convencida que a saúde das sociedades existe em proporção directa ao grau de equilíbrio entre o estado, o sector privado e a sociedade civil. Os recursos e os serviços da CIVICUS incluem ligações a outros grupos da sociedade civil e diversas ferramentas da sociedade civil. Pode registar-se em e-CIVICUS online – uma newsletter semanal grátis que promove a existência, expressão e participação cívica. Dew Point Resource Centre (Centro de Recursos Dew Point) www.dewpoint.org.uk O DEW Point Resource Centre foi estabelecido para criar e divulgar conhecimentos em nome do Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido e os seus parceiros de desenvolvimento, nas áreas de Alterações Climáticas, Ambiente, Água e Saneamento, e Gestão dos Recursos Hídricos. DRC Citizenship, Participation and Accountability www.drc-citizenship.org O Centro de Investigação do Desenvolvimento para a Cidadania, Participação e Prestação de Contas (CItizenship DRC) é uma rede internacional de investigadores e activistas que exploram novas formas de cidadania que irão ajudar a concretizar os direitos. O objectivo do DRC Citizenship é melhorar a compreensão sobre como apoiar os esforços dos grupos pobres e marginalizados para que definam e reclamem os seus direitos. A rede concentra a atenção nas relações entre as pessoas pobres e marginalizadas e as instituições que afectam as suas vidas, e como estas relações podem ser mudadas. Pode registar-se online para receber actualizações via e-mail. End Water Poverty (EWP) www.endwaterpoverty.org A End Water Poverty (Pôr Fim à Pobreza da Água) é a campanha internacional que tem como objectivo pôr fim à crise global hídrica e de saneamento. A coligação consiste de organizações com ideias semelhantes em todo o mundo que estão a pedir acções e liderança urgentes por parte dos doadores e dos governos. A campanha da End Water Poverty tem como objectivo garantir que os governos proporcionam acesso ao saneamento e à água para as pessoas mais pobres do mundo através de mudanças nas políticas e nas práticas segundo os princípios chave da equidade: redução da pobreza, sustentabilidade e prestação de contas. A campanha pede um plano de acção global para o saneamento e a água monitorizado por um destacamento global 86 Guia de advocacia especial; para que 70% do dinheiro de ajuda para o saneamento e a água vise os países mais pobres; e, para que os recursos hídricos sejam protegidos e partilhados equitativamente. Se desejar detalhes adicionais veja o Programa para a Acção no website. Freshwater Action Network (FAN) www.freshwateraction.net A FAN (Rede de Acção para a Água Doce) é uma rede de advocacia da água doce estabelecida em 2000 para garantir que as organizações da sociedade civil do Sul que trabalham em questões de água doce são representadas de modo significativo em fóruns internacionais sobre política hídrica e que as suas vozes são ouvidas durante os debates hídricos cada vez mais políticos. Todas as ONGs, organizações das comunidades ou redes de ONGs com interesse em políticas sobre a água doce e que se dedicam aos objectivos da FAN, podem ser sócias da mesma. Pode assinar a newsletter da FAN online. Freshwater Action Network Central America (FAN-CA) Website: www.freshwateraction.net e faça clique no mapa da América Central (FAN-CA) A Freshwater Action Network Central America (FAN-CA) é uma rede regional de organizações sociais, criadas com o fim de promover a incidência de actores locais e nacionais na elaboração de políticas hídricas a todos os níveis. A FAN-CA inclui redes nacionais na Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá e El Salvador. Promove o reforço das capacidades das organizações sociais através da troca de experiências, formação, divulgação de informação e disseminação das actividades. A FAN-CA é uma rede bem reconhecida que participa e promove o desenvolvimento e implementação de estratégias e políticas sustentáveis com base na comunidade sobre gestão hídrica. E-mail: [email protected] IDS Information Services www.ids.ac.uk(ids/info O Departamento de Informação do IDS apoia uma comunidade internacional grande e diversificada através da família de Serviços do Conhecimento e partilha de conhecimento e trabalho de consultoria. Apesar de cada serviço ter uma abordagem, público e concentração distintos, todos partilham uma única meta: ajudar a que a investigação e o conhecimento do desenvolvimento cheguem a quem o possa usar para reduzir a pobreza e a injustiça. Através do Serviço de Informação do IDS pode ter acesso a toda uma gama de redes de conhecimento que são serviços de desenvolvimento generalizados ou serviços especializados (incluindo género, saúde, governação, sobrevivência e participação). Institute for Development Studies IDS (Equipa PPSC) www.ids.ac.uk/ids/Part A Equipa de Participação, Poder e Mudanças Sociais (PPSC) explora conceitos e métodos de “participação” e como podem ser utilizados para melhorar as interacções complexas entre a sociedade e a política. Concentrando-se na investigação, inovação e aprendizagem em abordagens com base nos direitos, e participativas, a equipa trabalha em parcerias com diversos colaboradores em todo o mundo para criar ideias e acção para a mudança social. A equipa dá ênfase à aprendizagem interna e à reflexão, juntamente com o respeito pelas opiniões e a diversidade e utiliza a perspectiva do cidadão sobre o desenvolvimento. International Budget Project (Projecto de Orçamento Internacional) www.internationalbudget.org O Projecto de Orçamento Internacional (IBP) foi estabelecido em 1997 para estimular o crescimento da capacidade da sociedade civil para analisar e influenciar os processos orçamentais dos governos, as instituições e os resultados. O objectivo abrangente do projecto é tornar os sistemas orçamentais mais reactivos às necessidades da sociedade e, como tal, fazer com que estes sistemas sejam mais transparentes e prestem contas ao público. O Projecto está especialmente interessado em dar assistência à investigação aplicada que é útil para os debates políticos em progresso e com investigação sobre os efeitos das políticas orçamentais sobre as pessoas pobres. O IBP trabalha principalmente com investigadores e ONGs nos países em desenvolvimento ou novas democracias. As suas actividades incluem actuar como um centro de informação sobre o trabalho orçamental da sociedade civil e construir redes orçamentais internacionais e regionais. Recursos adicionais de informação 87 International Water and Sanitation Centre (IRC) www.irc.nl Desde que foi fundado em 1968, o Centro Internacional para a Água e o Saneamento (IRC) tem facilitado a partilha, promoção e utilização de conhecimento para que os governos, profissionais e organizações possam melhor apoiar os homens, mulheres e crianças pobres nos países em desenvolvimento para obter serviços hídricos e de saneamento que irão utilizar e manter. Os temas do trabalho incluem governação, melhoria, género e comunicação. Têm uma base de dados bibliográfica sobre o fornecimento de água e o saneamento nos países em desenvolvimento e um número cada vez maior de documentos disponíveis na Internet. Pode assinar a newsletter periódica Source Weekly através do website em www.irc.nl/source. just Associates www.justassociates.org Just Associates (JASS) é uma rede de activistas, estudiosos e educadores populares sobre a justiça em 13 países à volta do mundo dedicados a aumentar as opiniões, visibilidade e poder organizativo colectivo das mulheres para avançar para um mundo mais justo, equitativo e sustentável. As suas publicações e materiais são o produto de uma análise colectiva vivaz, investigação de acções e outros tipos de reflexão e aprendizagem com e entre pessoas que se concentram no trabalho de justiça social à volta do mundo. Procuram criar pontes entre teoria e prática, investigadores e profissionais, para aguçar o conhecimento e as acções. O website tem toda uma gama de recursos úteis. Overseas Development Institute RAPID programme (ODI RAPID) www.odl.org.uk/rapid O programa do ODI sobre Investigação e Política no Desenvolvimento tem como objectivo melhorar a utilização da investigação e da evidência na política e na prática do desenvolvimento através da investigação, conselhos e debates. O RAPID produz uma variedade de informação online e impressa, publicações e toolkits como recursos para ajudar os investigadores, políticos e profissionais a maximizar o impacto da evidência com base na investigação sobre as políticas. As ferramentas encontram-se agrupadas sob os títulos, Ferramentas de Investigação, Ferramentas de Avaliação do Contexto, Ferramentas de comunicação, e Ferramentas de Influência Política. Também pode assinar a newsletter do RAPID se desejar actualizações online. Streams of Knowledge – STREAMS (Correntes de Conhecimento) www.streams.net STREAMS é uma coligação global de Centros de Recursos hídricos e de saneamento. A STREAMS procura melhorar as capacidades de diversos interessados na água e no saneamento através da formação, advocacia e investigação na direcção de apoiar o desenvolvimento de políticas a favor dos pobres para a implementação sustentável da água, do saneamento, da saúde e da higiene para todos. A STREAMS promove abordagens centradas nas pessoas e os recursos no website incluem informação sobre monitorização participativa e redes e organizações relacionadas com a água na região da Ásia-Pacífico. The Institute for Democracy in South Africa (Instituto para a Democracia na África do Sul) www.idasa.org-za O Idasa é uma organização independente de interesse público dedicada a promover a democracia sustentável com base em cidadania activa, instituições democráticas e justiça social. O IDASA é um Instituto com base na África do Sul, mas nos últimos anos começou a trabalhar noutros sítios, principalmente na África ao Sul do Sara. O IDASA tem diversos programas incluindo Comunidade e Capacitação dos Cidadãos assim como diversos recursos úteis sobre a melhoria de capacidades institucionais para o desenvolvimento organizacional e a advocacia. Assine a newsletter online. Unidade de Relatórios sobre o Desenvolvimento Humano do PNUD (UNDP) http://hdr.undp.org A missão declarada da Unidade HDR no âmbito do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas é conceber sistemas e ferramentas para encorajar os mais elevados padrões de qualidade dos Relatórios de Desenvolvimento Humano regionais e nacionais e o impacto dos mesmos sobre as ordens do dia políticas. A parte do website “Apoio temático” proporciona uma visão geral dos recursos temáticos chave sobre o desenvolvimento humano assim como informação sobre ferramentas relevantes de investigação, incluindo: revistas, artigos de trabalho, catálogos de bibliotecas, relatórios, dados estatísticos, serviços de notícias, portais da Internet, e ferramentas de investigação. Veja http://hdr.undp.org/nhdr/hdr_support/research_tools.cfm 88 Guia de advocacia WaterAid www.wateraid.org A WaterAid permite às pessoas mais pobres do mundo conseguir acesso à água limpa, ao saneamento e à educação sobre a higiene. Estes direitos humanos básicos sustentam a saúde, a educação e as sobrevivências e são o primeiro passo essencial para ultrapassar a pobreza. A WaterAid trabalha com parceiros locais, que compreendem questões locais, e proporciona-lhes as competências e apoio para ajudar as comunidades a estabelecer e gerir projectos práticos e sustentáveis que satisfazem as suas necessidades reais. A WaterAid também leva a cabo advocacia a nível local e internacional para mudar as políticas e as práticas e garantir que o papel vital da água e do saneamento na redução da pobreza é reconhecido. Assine online para receber a e-news Water Matters. WELL resource centre at WEDC www.wedc.ac.uk/well/ O WEDC é um dos institutos líderes a nível mundial na educação e investigação para melhorar o acesso a infra-estruturas e serviços das pessoas pobres nos países de rendimento baixo e médio. Estão sedeados no Departamento de Engenharia Civil e de Construção na Universidade de Loughborough no RU. O WEDC é anfitrião do centro de recursos WELL para a água, o saneamento e a saúde ambiental. Proporcionam informação sobre diversos formatos assim como apoio técnico e oferecem ligações a outros recursos gerais relacionados com a água, o saneamento e o sector de saúde ambiental. World Bank: Water and Sanitation Programme (WSP) www.wsp.org O Programa para a Água e o Saneamento do Banco Mundial (WSP) é um programa de parceria com diversos doadores. O WSP trabalha directamente com governos clientes a nível local e nacional em 27 países através de quatro funcionários regionais e a sede do Banco Mundial em Washington D.C. O seu objectivo declarado é reduzir a pobreza nos países em desenvolvimento ajudando as pessoas pobres a conseguir acesso sustentável a melhores serviços de fornecimento de água e de saneamento. O WSP publica produtos informativos, participa na melhoria das capacidades, e efectua mudanças nos regulamentos e nas estruturas necessárias para reformas gerais em A&S. O desafio que declaram ter é copiar abordagens com êxito, continuar com esforços de aprendizagem visados, e apoiar reformas que irão garantir a adopção de investimentos sustentáveis no sector. WSSCC www.WSScc.org O Conselho de Colaboração para o Fornecimento de Água e de Saneamento procura acelerar a execução de serviços sustentáveis de saneamento, higiene e água para todas as pessoas, com especial atenção dada às pessoas pobres sem serviços, dando realce à colaboração e à coordenação de todos os interessados do sector, a nível nacional e internacional. O Conselho aspira conseguir esta missão através de campanhas de advocacia e melhoria de conhecimentos, e facilitar programas de acção concertados que se concentrem em melhorar os serviços de saneamento e higiene a ser levados a cabo através do grande número de sócios e de redes de parceiros e de colaboradores do Conselho. Recursos adicionais de informação 89 Toolkit de Advocacia Anexo 1. Tabela de planeamento da WaterAid – uma amostra de perguntas de investigação em 2005 Tópico/Perg. investigação Sub-tópico/ perg. investigação Fonte de informação Métodos de recolha de informação A. Quantidade de financiamento do sector de A&S Qual é a tendência histórica no financiamento de A&S por parte de receitas nacionais Quanto foi atribuído pelo governo nacional ao sector de A&S no ano fiscal 1990/912002/03? Orçamentos nacionais superiores a 1990/92 a 2002/03 Revisão da literatura Quais são os itens diferentes no âmbito de A&S que foram incluídos no orçamento? Orçamentos nacionais como acima. Revisão da literatura Informadores do escritório do Orçamento ou Ministério da Água Entrevistas chave com informadores (necessário identificar quem são principais informadores) (Notas ou entrevistas registadas, transcritas) Possibilidade de entrevistas por e-mail Quais dos orçamentos atribuídos à A&S foram de facto desembolsados (1990/91-2002/03)? Relatórios de despesas do Ministério da Água, ou Ministério das Finanças Revisão da literatura Informadores dos departamentos de finanças/ orçamento e/ou água Possibilidade de entrevistas por e-mail Qual é o padrão de atribuições Análise de dados recolhidos nacionais à A&S? Informadores dos departamentos de finanças/ orçamento e/ou água Qual é o nível actual de financiamento total para o sector de A&S? Recolha de dados e comparações, síntese para facilitar análise Aparte o governo (receitas nacionais), que outros doadores financiam a provisão de serviços e a governação do sector de A&S? Verificar dados disponíveis 1990/91-2002/03 Orçamento nacional? Revisão da literatura Orçamento do ministério? Entrevistas chave informativas a ministério da água Que forma tem o financiamento dos doadores? Subsídios ou empréstimos concessionais ou cooperação técnica? Revisão da literatura Relatórios do orçamento do ministério da água, relatórios do Entrevistas a informadores ministério das finanças, chave com doadores relatórios dos doadores Relatórios dos doadores? Relatórios dos ministros, relatórios do orçamento nacional Outros relatórios independentes de investigação académica Informadores dos doadores/ investigação O que é que os doadores financiam? 90 Entrevistas chave com informadores Guia de advocacia Como acima Quem é responsável / até quando devem os dados estar disponíveis Tópico/Perg. investigação Sub-tópico/ perg. investigação Fonte de informação Métodos de recolha de informação Quem é responsável / até quando devem os dados estar disponíveis A. Eficácia do financiamento do sector de A&S Como é que as atribuições financeiras ao sector passam das atribuições e desembolsos e despesas? (uma vez atribuído o orçamento, como se desembolsa o financiamento, e como se faz o relatório das despesas?) Qual é o processo de tomada de decisões e quem são as agências/ indivíduos envolvidos em concordar com as atribuições, desembolsos e despesas reais sobre as atribuições do orçamento nacional? Revisões da literatura Qual é o processo de tomada de decisões e quem são as agências/ indivíduos envolvidos em concordar com as atribuições, desembolsos e despesas reais sobre a ajuda externa à A&S? Revisões da literatura Que bloqueamentos existem do fluxo de recursos e a que nível? Dados recolhidos Quais são as diferentes percepções sobre como desbloquear os obstáculos? Informadores na comunidade dos doadores, académicos, governo-finanças, planeamento, agência hídrica, governo local Informadores de diferentes secções do governo: finanças, orçamento/ planeamento, água, governo local ou serviços Informadores na comunidade dos doadores e ministério da água, agência hídrica local Estudo de caso com base no desempenho de um ano Estudo de caso do desempenho de um doador sobre um projecto financiado, talvez um ano nesse projecto Análise do fluxo Informadores dentro do governo e doadores e académicos Análise de dados recolhidos como parte de estudo de caso Entrevistas Entrevistas a informadores Revisão da literatura em relatórios de investigação ou académicos Possível estudo. Qual é o padrão de despesas em A&S atribuídos a solucionar a sustentabilidade do serviço? Como é que os fornecedores dos serviços e os políticos definem sustentabilidade do serviço em serviços de A&S rurais e urbanos? Informadores Revisão / análise da literatura Artigos sobre política e estratégias do governo, doadores Possível estudo dos informadores Quanto está a ser gasto dos orçamentos nacionais e ajuda para solucionar a sustentabilidade do serviço nas zonas rurais? (concentrado na sustentabilidade técnica, gestão do serviço) Dados orçamentais Revisão da literatura Relatórios de avaliação Entrevistas O que é que tem que mudar para assegurar a sustentabilidade nos gastos do sector? Informadores Entrevistas Relatórios de avaliação Revisão da literatura Relatórios dos projectos Artigos de investigação ou académicos Informadores em agências hídricas do governo local Relatórios de investigação Toolkit de advocacia 91 2. Algumas considerações orientadoras para uma investigação Termos de Referência (TOR) Os Termos de Referência exigem que se estabeleça: • Informação de base • Objectivo da Consultoria • Metodologia • Resultados Previstos • Programa de Trabalho • Termos da Consultoria• Premissas de Esclarecimento: • Os TOR devem esclarecer as metas e os objectivos da investigação• • Os TOR devem ser muito claros sobre o papel preciso do consultor• • Os TOR devem ser muito claros sobre o que se quer saber• • Os TOR devem ser claros sobre quem o consultor deve informar • Redacção dos TOR: • Quem deve ser envolvido irá depender em parte dos objectivos• • Idealmente, devem-se obter as opiniões das pessoas afectadas ou que em principio irão “participar” na investigação• • Quando apropriado, os interessados devem ter a oportunidade de contribuir para os TOR• Conteúdo dos TOR: • Devem esclarecer o objectivo da investigação – o porquê• • A utilização da investigação – coloque a investigação em contexto• • A propriedade do processo – quem• • Estabeleça os objectivos da investigação em relação à finalidade da mesma• • Transforme os objectivos gerais em perguntas específicas e quando possível dê-lhes prioridade – o quê• • Defina as principais áreas de preocupação• • Defina o material qualitativo ou quantitativo exigido• • Estabeleça um prazo realista• • Chegue a acordo sobre o orçamento• • Defina os requisitos para os relatórios (dimensão do relatório, frequência, etc.)• • Especifique se é necessário fazer o seguimento em nome da equipa (por exemplo, apresentação do relatório, voltar a visitar o local mais tarde, etc.) 92 Guia de advocacia Toolkit de advocacia 93 3.- A árvore do problema: problema central (com exemplos de algumas causas e efeitos Efeito adicional Efeitos Efeito directo Problema focal Condições sanitárias fracas Latrinas de fossa aberta Causas 94 Guia de advocacia Maior procura dos serviços de saúde Produtividade reduzida Aumento de morbosidade e mortalidade Efeito adicional Efeito adicional Efeito directo Surto de cólera Fornecimento de água contaminada Saneamento fraco Inundações em zonas urbanas Práticas de saúde pouco higiénicas Falta de conhecimentos Pouca manutenção hídrica Impossibilidade de comprar sabão Rendimentos baixos A árvore da solução: metas ou objectivos Efeito adicional Efeito adicional Maior produtividade Menor procura dos serviços de saúde Efeito adicional Diminuição de morbosidade e mortalidade Benefício directo Efeito adicional Benefício directo Prevenção da cólera Boas condições sanitárias Objectivo Latrinas de fossa seguras Prevenção de inundações em zonas urbanas Práticas de saúde higiénicas Fornecimento de água limpa Educação sobre boas práticas de saúde Esquema hídrico bem conservado Possibilidade de comprar sabão Oportunidades para aumentar receitas Toolkit de advocacia 95 4. A tabela RAPID – progredir da análise da questão de advocacia, para o planeamento da acção a levar a cabo38 O que tem que saber (respostas tiradas da estrutura RAPID O que tem que fazer Como o fazer Política • Quem são os responsáveis pelas decisões políticas? • Há procura de novas ideias por parte dos políticos? • Quais são as fontes/forças de resistência? • Qual é o processo político? • Quais são as oportunidades e prazos para participar nos processos formais? • Aprenda a conhecer os políticos, a ordem do dia deles e as limitações • Identifique potenciais apoiantes e oponentes • Mantenha o horizonte debaixo de olho e prepare-se para oportunidades nos processos políticos normais • Procure e reaja a oportunidades políticas inesperadas • Trabalhe com os políticos • Procure comissões • Combine os programas de investigação com eventos políticos de elevado perfil • Reserve recursos para poder mover rapidamente e responder a oportunidades políticas • Dê tempo e recursos suficientes • Estabelecer credibilidade a longo prazo • Proporcionar soluções práticas • Estabelecer legitimidade • Criar um caso convincente e apresentar opções políticas claras • Empacotar ideias novas em teorias ou narrativas familiares? • Criar programas de trabalho de elevada qualidade • Criar acção – investigação e projectos piloto que demonstrem os benefícios das novas abordagens • Utilizar abordagens de participação para ajudar com a legitimidade e a implementação • Esclarecer a estratégia e os recursos para comunicação desde o princípio • Promover a comunicação cara a cara • Aprenda a conhecer os outros interessados • Estabeleça uma presença nas redes existentes • Crie coligações com os interessados que têm ideias semelhantes • Crie novas redes políticas • Construa parcerias entre investigadores, políticos, e as comunidades • Identifique os maiores criadores de redes e vendedores • Utilize contactos informais • Aprenda a conhecer os actores nacionais e internacionais, as prioridades e as limitações dos mesmos. • Identifique potenciais apoiantes, indivíduos chave e redes • Estabeleça credibilidade • Monitorize a política dos doadores e procure oportunidades políticas • Desenvolva uma ampla história das políticas dos doadores • Oriente as comunicações para se adaptarem às prioridades e linguagem dos doadores • Tente trabalhar com os doadores e procurar comissões • Mantenha-se em contacto regular com indivíduos importantes Evidência • Qual é a teoria corrente? • Quão divergente é a nova evidência? • Que tipo de evidência irá convencer os políticos? • Quais são as histórias prevalentes? Ligações • Quem são os principais interessados no discurso político? • Que ligações e redes existem entre eles? • Quem são os intermediários e que influência têm? • Estão do lado de quem? Influências externas • Quem são os principais actores nacionais e internacionais no processo político? • Que influência têm? • Quais são as prioridades dos mesmos para a ajuda? • Quais são as prioridades e mecanismos de investigação? 38 Court, J. e Young, J. (2006) Bridging research and policy in international development: an analytical and practical framework. Why research – policy links matter. (Adaptado aqui de: Development in practice, Volume 16, Número 1). Relatório do link: http://www.odi.org.uk/RAPID/Publications/Documents/ CDIP_A_145075.pdf 96 Guia de advocacia 5. Interessados em A&S Comunidades As comunidades locais são os principais interessados na provisão de A&S e serviços de higiene. São muitas vezes vistas como os beneficiários dos esforços de advocacia, mas pode haver vezes em que também são influentes. Muitas vezes são votantes em eleições gerais e locais, e podem fazer parte de grupos de interesse especiais com poder político. É também importante distinguir entre diversos interessados no âmbito da comunidade local, que é raramente um grupo homogéneo. Diferentes grupos de interessados vão ter perspectivas diferentes sobre A&S. Por exemplo, como as principais pessoas que vão buscar água para o agregado familiar, as mulheres podem ter uma opinião diferente dos maridos, que podem achar que outros serviços têm maior prioridade. Os agricultores e os proprietários de gado terão prioridades diferentes dos que utilizam a água somente para uso doméstico. Em comparação com partes mais ricas da comunidade, algumas secções pobres com pouco fornecimento ou falta de saúde (devido à falta de serviços de saneamento) podem fazer do saneamento uma prioridade mais elevada. Governo local Os funcionários do governo local podem querer ver melhorar os serviços de A&S, mas muitas vezes têm orçamentos inadequados para proporcionar estes serviços, e o financiamento pode ser reduzido devido à corrupção e outras limitações. Além do mais, podem não ter informação sobre o estado dos serviços da comunidade ou mesmo veículos para visitar os locais dos projectos. Pode haver casos em que os funcionários de um departamento do governo podem actuar como influentes sobre os de outro departamento, ou podem ser eles próprios visados pela advocacia. Governo nacional Os funcionários do governo nacional, como os políticos, são muitas vezes pessoas importantes a visar pela advocacia, mas alguns podem também ser influentes ou mesmo aliados numa questão específica. Como no caso do governo local, alguns departamentos podem ser capazes de exercer influência ou poder sobre outros. Por exemplo, o Ministério das Finanças pode ser capaz de afectar a política de outro Ministério através da sua influência sobre as atribuições dos orçamentos. Sociedade civil Ao implementar projectos de A&S, as ONGs podem ser aliadas nas iniciativas de advocacia, ou talvez influentes, proporcionando exemplos de boas práticas e alternativas políticas. Ocasionalmente, as ONGs internacionais têm a oportunidade de influenciar os doadores e outras organizações internacionais, e podem portanto tornar-se aliadas estratégicas ou influentes. As ONGs também podem elas próprias ser visadas pela advocacia (para melhores práticas ou política) no seu papel de doadoras ou como profissionais operacionais. Além das ONGs, outros grupos da sociedade civil são interessados importantes no desenvolvimento de A&S: organizações com base na comunidade, sindicatos em fornecedores de serviços hídricos públicos ou privados, e associações de consumidores podem ser aliados ou influentes em iniciativas de advocacia. Sector privado O papel das empresas do sector privado está a aumentar em todo o mundo, à medida que a privatização da A&S se torna cada vez mais popular junto dos principais doadores e dos governos nacionais. As empresas hídricas são provavelmente adversárias ou devem ser visadas. No entanto, também podem actuar como influentes em relação aos governos nacionais. Outras organizações do sector privado, tais como as empresas de água doméstica, artesãos e associações de artesãos, e consultores, podem ser influentes, aliados ou ser visados pelo processo de advocacia. Toolkit de advocacia 97 Doadores internacionais e organizações multilaterais As organizações internacionais como as agências da ONU e o Banco Mundial têm um papel influente a jogar no desenvolvimento das políticas de A&S. Como financiadores dos programas dos governos nacionais, encontram-se em posição de impor critérios sobre as políticas de desenvolvimento, incluindo a A&S. Podem por isso tanto ser visados pela advocacia como ser influentes. No entanto, é importante recordar que no âmbito de instituições tão grandes vai haver toda uma gama de opiniões sobre uma dada questão, e a maior parte destas organizações vão incluir pessoas a visar e aliados. 6. Tabela de análise de interessados39 39 Ian Chandler, op cit. A questão: A sua posição: Interessado Atitude do Importância da interessado para com questão para o a sua posição: interessado Influência do interessado sobre a questão AA A N P PP LMH LMH AA A N P PP LMH LMH AA A N P PP LMH LMH AA A N P PP LMH LMH AA A N P PP LMH LMH AA A N P PP LMH LMH AA A N P PP LMH LMH Ao preencher esta tabela aplicam-se efectivamente três perguntas filtro à lista de interessados: • Até que ponto o interessado concorda ou discorda da sua posição? Deve-se atribuir a cada interessado uma atitude para com a posição: AA = Muito contra A = Contra N = Neutro P = A favor PP = Muito a favor • Que importância, em relação aos outros interessados, dá o interessado à questão? L = baixa M = média H = alta • Quanta influência, em relação aos outros interessados, tem este interessado sobre a questão? L = baixa M = média H = alta 98 Guia de advocacia 7. Análise abrangente de entidades/indivíduos a visar – uma tabela de exemplos Entidade/ O que sabem Qual é a atitude indivíduo visado/ sobre a questão? deles sobre a influente questão? O que é que lhes interessa realmente? Quem tem influência sobre eles? 1. Director Geral, do Governo Provincial, Governador ou Província, Conselho Provincial Têm pouca exposição ao problema, especialmente em zonas rurais da província Não é importante: não acham que a falta de serviços de saneamento, defecação ao ar livre, etc. sejam um problema. No entanto, os membros do Conselho, Governador e Director Geral, que vivem na capital da província, têm as suas próprias latrinas/retretes Conseguir a ajuda de doadores para a província: os membros do conselho importam-se com os votos e as eleições dentro de dois anos; têm interesse em que os seus nomes sejam ligados a um bom investimento em projectos na província Banco Mundial e outros doadores; o eleitorado (membros do Conselho) 2. Funcionários do governo distrital Um pouco mais de exposição à questão do que a nível provincial Não estão muito interessados Aumentar o nível Doadores; do financiamento, governo em especial no provincial que diz respeito ao governo provincial e atrair ajuda de doadores para o distrito 3. Os meios de comunicação Pouca exposição Não relevante ou importante Circulação de estatísticas; histórias interessantes 4. Funcionários do Ministério da Água Compreendem bem as questões envolvidas Divisão: os que estão colocados a nível distrital querem ver mudanças; os funcionários a nível nacional têm outras prioridades Atribuição de orçamentos Não é uma prioridade Maior “eficiência económica” nos serviços do governo 5. Banco Mundial Mesmo nível de compreensão (maiores financiadores do sector de A&S) Padrões em serviços de saneamento e outros Ministério das Finanças; Banco Mundial Que influência ou poder têm sobre a questão? Estes actores têm vozes que podem ser fortes e se puderem ser expostos aos problemas e convencidos da necessidade podem ser capazes de influenciar as decisões para investir mais recursos financeiros em A&S Funcionários do Ministério da Água têm acesso aos funcionários do Ministério das Finanças e poderiam demonstrar boas práticas no campo e os benefícios do investimento de maiores recursos em A&S Os Directores Executivos da entidade governativa do Grupo do Banco Mundial são actores de alto nível e poderia ser difícil influenciálos. No entanto podemos tentar influenciar os Gestores de Tarefas nacionais do Banco Mundial que têm a oportunidade de influenciar os Directores Executivos quando fazem relatórios sobre bons programas no campo. Toolkit de advocacia 99 8. Amostra de orçamento de advocacia Actividade Orçamento Orçamento para investigação de acção local sobre uma questão específica (actividade de pré-advocacia) Tarifas para investigadores (ou diárias para funcionários deslocados como investigadores, para X dias, e x número de investigadores, dependendo das práticas da organização) Viagens / transporte para investigadores Alojamento e refrescos (no caso dos investigadores terem que ficar na comunidade para levar a cabo a investigação) Materiais (por exemplo, pilhas para gravadores, cassettes, etc.) Despesas administrativas (por exemplo, chamadas telefónicas, fotocópias, pré-visitas à área para organizar entrevistas, etc.) Reuniões de investigação (por exemplo, para planear, discutir resultados, etc. O custo depende de quantas pessoas têm que participar nestas reuniões) Produção do relatório Custos depois da investigação: Publicação do relatório Lançamento público do relatório Actividades dos meios de comunicação relacionadas com o relatório (poderia incluir reuniões com jornalistas, para as quais os custos de organizar a reunião podem ser incluídos) Reuniões com funcionários públicos ou políticos para conseguir que se actue em função do relatório (poderia incluir custos administrativos para estabelecer a reunião) Investigação participativa com base na comunidade, custos adicionais: Aluguer de local para actividades de investigação com base na comunidade Refrescos para as actividades das comunidades Materiais de documentação (por exemplo, blocos de papel gigantes/canetas, máquina fotográfica/filmes Se a investigação for levada a cabo em diversas comunidades através do país, os custos adicionais da organização de entrevistas de investigação em cada uma das comunidades deveriam ser incluídos. Os custos das viagens e do alojamento também vão aumentar. Do mesmo modo, quando este tipo de investigação depende das acções de outras organizações, os custos da coordenação têm que ser incluídos, o que significa geralmente despesas administrativas adicionais: chamadas telefónicas e faxes, custo dos e-mails, reuniões adicionais de coordenação, ou reuniões de investigação maiores ou mais compridas. O mesmo princípio se aplica ao levar a cabo investigação através de países diferentes, envolvendo organizações diferentes. 100 Guia de advocacia 9. Perguntas de boa governação para as alianças • Como pode desenvolver critérios e mecanismos de participação para novos membros?• • Quem são os líderes e como são escolhidos? Como se responsabilizam perante os membros? Quais são as suas funções?• • Como se tomam as decisões para a aliança? São necessários processos básicos e simples para identificar que decisões necessitam de discussões de grupo e para mediar os conflitos sobre as decisões? As decisões são tomadas pelos líderes, depois de discussões de grupo, ou pelo grupo inteiro (seja por consenso ou por voto)? Se for por voto, as organizações maiores têm mais votos, ou cada organização tem um voto? Se um membro não tiver autoridade para tomar decisões no âmbito da sua organização, pode-se dar-lhe mais tempo antes de votar? Há processos diferentes para decisões estratégicas, decisões do dia a dia e decisões de emergência?• • Seleccionar uma comissão de organização se o grupo for grande• • Avaliar o progresso periodicamente e fazer mudanças se necessário• • Esclarecer a identidade da aliança, o papel da mesma e a autonomia dos membros. Quando é que os membros actuam em grupo? Através de que processo se toma esta decisão? Quanto tempo leva o processo? Há um processo mais rápido em caso de emergência? Quando e como podem os membros actuar sozinhos? Quais são as consequências de violar os acordos?• • Comunicação. Tomam-se notas em cada reunião? São distribuídas aos membros, e como? Que informação tem que ser partilhada entre as reuniões e como? Como é que os membros se mantêm em contacto quando há emergências? Qual é a língua comum utilizada pela aliança? Que impacto tem sobre o tempo necessário durante as reuniões, particularmente no que diz respeito aos recursos para intérpretes, traduções, etc?• • Logística. Com que frequência é que a aliança se reúne? Com que frequência se reúnem os subgrupos ou grupos de peritos? Onde se reúnem? O local é fixo ou em rotação? Quem organiza cada reunião? A organização é partilhada? Como se produz a ordem do dia da reunião? Quem dá prioridade aos pontos da ordem do dia?• Toolkit de advocacia 101 10. Plano de acção simples para a advocacia A tabela que se segue proporciona uma ideia do que poderia ser um plano de acção simples para a advocacia para uma ONG pequena que ajuda as comunidades pobres a conseguir acesso à água e ao saneamento nos bairros da lata de uma grande cidade num país em desenvolvimento. O plano de acção da advocacia concentra-se em melhorar os serviços hídricos e de saneamento para a comunidade, ao mesmo tempo que melhora as capacidades da comunidade, especialmente das mulheres, de fazer advocacia. Objectivos Alvos Actividades Indicadores Prazo Visitas de exposição ao representante dos serviços para visitar os pontos de água da comunidade noutra cidade. Os serviços concordam com a proposta e atribuem um orçamento para a construção de quatro pontos de água Até Junho de O gestor de 2008 advocacia da ONG e o gestor do programa urbano Janeiro de 2008 Governo local Submeter relatórios demonstrando os benefícios dos pontos de água para a saúde Autorização para licença de construção dos quatro pontos de água Até Dezem- O consultor de bro de 2008 saúde da ONG Junho de 2008 Proprietário empresarial Até Março Empresa compromete-se a de 2008 doar terreno sobre o qual construir os pontos de água 1. Conseguir Serviço autorização para hídrico da estabelecer cidade quatro pontos de água geridos pela comunidade no distrito X da cidade, que possam proporcionar acesso económico ao fornecimento de água da cidade para pelo menos 2000 pessoas Responsabilidade Revisão Reuniões para fazer lobby que visa explicar como poderia funcionar o pagamento e sistema de manutenção. Conseguir a participação dos meios de comunicação para fazer ver a injustiça destas comunidades actualmente não terem acesso à água. 102 Guia de advocacia Fazer pressão por parte dos funcionários da empresa Os trustess da ONG Janeiro de 2008 Objectivos Alvos 2. 80% dos agregados familiares nos distritos de X, Y e Z constroem as suas próprias latrinas 3. 80% dos agregados familiares nos distritos de X, Y e Z adoptam boas práticas de higiene Actividades Indicadores Prazo Responsabilidade Revisão Governo local Evidência documental dos benefícios económicos do saneamento Anúncio de 25% de subsídio do governo para custos de construção de latrinas Até Janeiro de 2009 O gestor de saneamento da ONG Outubro de 2008 Comunidade Divulgação de mensagens sobre a higiene através de teatro de rua e programas de rádio 500 agregados familiares registam-se para assistir a dias de formação sobre construção de latrinas Até Abril de 2008 O gestor de comunicações da ONG Dezembro de 2008 Outras ONGs Criar rede para coordenar planos de provisão de saneamento Plano de acção claro criado para desenvolver programas de construção de latrinas Até Abril de 2008 O gestor de advocacia da ONG Janeiro de 2008 Autoridade local de ensino Vídeos para documentar como os professores podem introduzir programas sobre a higiene de criança para criança que capacitam as crianças a transferir mensagens de saúde aos seus pares. 50% das crianças da escola entrevistadas declaram que receberam mensagens sobre a higiene Até Abril de 2008 O gestor de comunicações da ONG Janeiro de 2008 Proprietários de fábricas Petições para instalar lavatórios Um lavatório instalado por 100 funcionários Até Março de 2008 O gestor de advocacia da ONG Janeiro de 2008 Meios de comunicação Reuniões de lobby para persuadir os meios de comunicação a proporcionar anúncios grátis para as mensagens sobre a saúde Cobertura nos principais jornais da cidade, num programa de notícias na TV e em 3 estações de rádio. Até Março de 2008 O gestor de comunicações da ONG Janeiro de 2008 Toolkit de advocacia 103 11. Plano do programa de advocacia da WaterAid – para planos de advocacia de três anos Esboço do plano do programa de advocacia Notas adicionais para redigir planos dos programas de advocacia 1. Título do programa: (uma linha) 1. Título do programa Qual é o título do plano do programa de advocacia? O título recolhe o principal ponto focal do plano do programa de advocacia, ou mesmo a mudança principal que vai procurar conseguir. Preferivelmente, o título é curto e vivaz. 2. Base racional e contexto: (max. duas páginas) 2. Base racional e contexto Como é que o trabalho proposto se relaciona com as prioridades políticas da WaterAid, como foram identificadas na Estrutura do Sector de Programas e Política e/ou o documento sobre a estratégia nacional? Esta secção explica a situação externa que existe ou surgiu que fez com que o trabalho sobre o tema ou área de trabalho seja necessário por parte da WaterAid. Também explica a situação interna na WaterAid que fará com que seja possível levar a cabo o programa proposto. Porque razão é necessário para a organização levar a cabo este trabalho? O que está a acontecer no ambiente externo que faz com que esta intervenção seja necessária, e quem são os responsáveis pela situação? Que oportunidades/ameaças no ambiente externo farão com que a intervenção valha e/ou seja um desafio? O que fez a organização no passado sobre a questão e quais são as oportunidades que a colocam em posição de intervir? 3. Objectivos: (max. uma página) 3. Objectivos Esta secção cataloga as mudanças na situação exterior e política e/ ou questão prática que o trabalho sobre o tema ou área de trabalho irá procurar alcançar. Esta secção deveria declarar claramente a que Que mudanças na capacidade das organizações da objectivos de mudança da política estratégica na Estrutura do sociedade civil de levar a cabo trabalho de advocacia irá Sector de Programas e Política e/ou o documento de estratégia a intervenção procurar conseguir? nacional se refere, e irá contribuir para a execução dos mesmos. Todos os objectivos de mudança devem ser claramente declarados Que mudanças na situação material e opiniões das e os sub-objectivos incluídos. Para uma descrição das metas, dos pessoas pobres irá a intervenção procurar conseguir? objectivos, e das estratégias veja Planeamento das acções, páginas Que objectivos de mudança, como identificados na 52 e 63. Para exemplos dos objectivos de mudança da WaterAid, Estrutura do Sector de Programas e Política e/ou faça referência à secção intitulada: A WaterAid procura conseguir as documento de estratégia nacional irá esta intervenção seguintes mudanças estratégicas através da advocacia: página 20. contribuir para conseguir? Se os objectivos da mudança não puderem ainda ser declarados claramente (por exemplo, porque é necessário fazer-se investigação para desenvolver propostas políticas alternativas), esta secção deveria indicar quando (em que fase do programa ou fase das actividades do projecto) os objectivos da mudança serão esclarecidos. Uma vez identificados os objectivos da mudança, devem ser anexados ao plano do programa da advocacia como alteração e com data. Que mudanças na política ou nas práticas irá a intervenção procurar conseguir? 104 Guia de advocacia Plano de advocacia 4. Descrição do programa: (max. duas páginas) 4. Descrição do programa Em termos gerais, o que será feito no âmbito do programa para se conseguir os objectivos do mesmo? Esta secção é uma descrição breve e geral de todo o programa, indicando as diversas actividades que serão levadas a cabo ao longo de um determinado período de tempo, visando questões e alvos de advocacia que já são claros na altura de preparar o plano do programa de advocacia. (Por exemplo, uma descrição geral poderia ser: este é um programa para estabelecer uma rede social de organizações da sociedade civil e levar a cabo investigação, formação e actividades de aprendizagem com eles com o fim de melhorar a capacidade da sociedade civil de escrutinar as decisões do governo sobre o financiamento dos serviços hídricos e de saneamento….) Quem são os principais alvos a influenciar e para a advocacia, e quem são os prováveis aliados com quem a organização vai procurar trabalhar para influenciar esses alvos? Quais são os prazos mais prováveis para todo o programa, por que fases passará todo o programa? Que estratégia de saída, onde necessário, se propõe que irá preservar os benefícios do programa? Como é que reforçar a aprendizagem e a capacidade pode ser garantido pelas actividades do programa? 5. Actividades do programa (max. três páginas) É importante que uma análise dos interessados sobre a questão/ tema possa ser levada a cabo como parte do projecto do plano do programa de advocacia. Para uma orientação sobre como fazer uma análise dos interessados, por favor faça referência à secção sobre análise dos interessados na página 44 do Guia da Advocacia. 5. Actividades do programa Que actividades específicas serão realizadas no âmbito Esta secção inclui uma lista de todos os tipos de actividades que serão realizadas no âmbito do programa, e podem incluir quaisquer do programa? das seguintes: investigação, análise dos documentos políticos, Onde será implementado o programa? lobby, criação de redes, formação, publicação e divulgação, Quem são os parceiros de implementação do campanhas, etc. Deve identificar as áreas onde o programa será programa? implementado (por exemplo, nível nacional ou quatro distritos), os parceiros a ser envolvidos e os métodos que serão utilizados. a. Quando o programa inclui fazer lobby e organizar campanhas, a secção deve incluir, numa folha separada, uma tabela de quem visar em termos de lobby e de campanhas, quando (não necessariamente a data exacta) se fará o lobby e as mensagens principais a ser produzidas. Quando os alvos de lobby e das campanhas não puderem ser identificados, devido à falta de informação, a proposta do programa de advocacia deve indicar quando será produzido o plano detalhado para fazer lobby e organizar campanhas. Uma vez produzido, a tabela dos alvos do lobby e das campanhas deve ser anexada à proposta do programa de advocacia como uma alteração e datada. b. Para o PPED, no caso das publicações e dos comunicados à imprensa fazerem parte das actividades, também se deve preencher um formulário de Lista de Controlo das Publicações/ Serviços de Comunicação depois da proposta do programa de advocacia ser concordado. c. Quando as actividades incluírem investigação, um plano mais detalhado de investigação terá que ser produzido com detalhes das perguntas para a investigação, a metodologia a ser utilizada para a investigação e os locais da investigação. O plano de investigação terá que ser anexado ao Plano do Programa de Advocacia com as alterações e a data, depois de completo, usualmente depois de um Seminário de Início da Investigação. Os funcionários da WaterAid devem fazer referência ao Protocolo de Investigação da WaterAid do Protocolo nº 4 de Advocacia da WaterAid – disponível se pedido. Toolkit de advocacia 105 Plano de advocacia 6. Tabela de produções e resultados (max. 1 pág.) 6. Tabela de produções e resultados Quais são as produções previstas da implementação do Esta secção faz uma lista de todas as produções e resultados a ser programa? conseguidos pelo programa e o período provável que se espera será necessário para os conseguir. Quais são os resultados previstos da implementação do programa? Se desejar orientação adicional sobre a diferença entre produções e resultados, por favor faça referência à secção de M&A (5) do guia. 7. Implementação e gestão do programa: (max. uma página) Quem é o gestor do programa responsável por gerir e implementar este plano? Que outro pessoal será envolvido em implementar o plano? Qual será a responsabilidade dos mesmos para implementar o plano? Estão conscientes das suas responsabilidades? 7. Implementação e gestão do programa Esta secção explica como todo o programa será gerido e implementado. Proporciona informação sobre o envolvimento de outros funcionários, organizações, programas nacionais, funcionários do RU ou Directores da WaterAid. Quando algumas das actividades forem subcontratadas, identifica quais são estas actividades, e a quem serão subcontratadas (ou o mecanismo para as subcontratar). Quando se envolverem os parceiros actuais, é necessário identificar Que outras organizações estarão envolvidas na os funcionários do parceiro que serão envolvidos e se o implementação do plano? Chegou-se a acordo com envolvimento já está coberto por algum acordo formal ou informal, estas organizações sobre as suas responsabilidades e a ou se já está financiado ou irá necessitar de financiamento natureza das relações com elas? adicional. Quanto se envolverem outros programas nacionais, é Que envolvimento, se algum, é necessário por parte dos necessário proporcionar informação sobre as funções dos mesmos Directores da WaterAid ou de outro pessoal das na implementação e se já se garantiu o acordo do programa hierarquias superiores, pessoal do PPED e outros nacional. programas nacionais? Esta secção também explica como se irá conseguir trabalho de alta Como se pode garantir a qualidade? qualidade, que disposições há para garantir a qualidade e quem será responsável. Para todas as actividades relacionadas com a Qual é a estrutura de gestão e implementação para o investigação, a gestão de toda a actividade de investigação irá programa? normalmente incluir a criação de uma equipa de gestão do projecto. E a qualidade geralmente é garantida através da criação de um Quantas vezes se produzirão relatórios sobre o Painel de Revisão Interpares, a trabalhar em conjunto com a Equipa programa e de que modo? de Gestão do Projecto. São necessárias algumas actividades de formação / Finalmente, esta secção explica a frequência e o mecanismo de aprendizagem específicas para garantir que os produção dos relatórios (por exemplo, à equipa de Gestão do funcionários são capazes de levar a cabo as suas responsabilidades? Programa Nacional, ou Departamento do RU). 8. Monitorização e avaliação (max. uma pág.) 8. Monitorização e avaliação Que actividades e indicadores serão monitorizados para Esta secção declara que actividades e indicadores serão monitorizados, que revisões da aprendizagem serão levadas a cabo proporcionar evidência sobre produções e resultados, para que áreas das actividades, e que revisão, avaliação ou ou de se ter conseguido os objectivos. apreciação do impacto podem ser feitos quando. Quando o Como é que esta monitorização será levada a cabo, e programa incluir acções de lobby, o mesmo pode proporcionar quem será envolvido na monitorização? informação sobre como os resultados do lobby podem ser Que actividades de aprendizagem serão levadas a cabo monitorizados. para garantir que as lições são compreendidas e partilhadas? Que avaliação ou apreciação do impacto será levada a cabo? 106 Guia de advocacia Plano de advocacia 9. Orçamento e recursos (máx. duas páginas) 9. Orçamento e recursos Que financiamento é necessário e de onde se espera que venha, para implementar o programa? Esta secção irá incluir duas partes: um orçamento consolidado, que mostre as receitas e despesas de acordo com as actividades identificadas do programa, e uma folha de cálculo que proporciona Quais são as despesas previstas para a implementação informação sobre quando se receberão as receitas e quando se irão do programa? fazer as despesas durante o decorrer do(s) ano(s) do programa. Aparte os fundos, que outros recursos serão A secção também proporciona informação sobre quaisquer outros necessários para a implementação do programa? recursos de que o programa venha a necessitar durante o período Qual é o prazo para quando as receitas serão em que decorre (por exemplo, consulta sobre os meios de necessárias e as despesas forem feitas? comunicação por parte da Equipa de Comunicação da Wateraid). 10. Plano de trabalho 10. Plano de trabalho Qual é o programa para implementar as actividades durante o decorrer de todo o programa? Esta secção proporciona informação numa folha de cálculo sobre as actividades que serão levadas a cabo ao longo dos anos (para programas de diversos anos). 12.Protocolo da WaterAid sobre campanhas públicas A organização de campanhas políticas é qualquer actividade que tenta garantir ou opor uma mudança na legislação ou política de um governo central ou autoridade local no RU ou no estrangeiro. As campanhas e as actividades políticas da WaterAid cumprem os regulamentos que governam a WaterAid como obra de beneficência, e os requisitos legais e de registo que se aplicam aos programas nacionais individuais. Em todos os países onde a WaterAid trabalha, a conduta da WaterAid sobre organização de campanhas e de actividades políticas será governada pelo seu estatuto de registo e os requisitos legais do país. Todas as campanhas apoiadas pelo financiamento da WaterAid devem estar em harmonia com a missão e os objectivos da WaterAid. A WaterAid não pode fazer campanhas sobre questões, independentemente de quão importantes sejam, que não são relacionadas com o seu objectivo. Quando se desenvolve uma campanha, a ligação entre a actividade e a missão e os objectivos da WaterAid têm que ser claros. Uma campanha não pode ser a principal meta do trabalho da WaterAid: as campanhas políticas têm que continuar a ser secundárias ou subordinadas aos fins da obra de beneficência”. Nenhum material das campanhas deve deturpar a verdade, causar ofensas desnecessárias ou apresentar opiniões como factos. As campanhas devem ser culturalmente sensíveis ao contexto em que as actividades são levadas a cabo. Toolkit de advocacia 107 13. Dicas sobre bons comunicados à imprensa Estrutura do comunicado à imprensa • Comece o comunicado com um cabeçalho simples, descritivo e apelativo, e inclua a data do comunicado• • O parágrafo de abertura conta a história em poucas palavras, e diz ao leitor: quem, o quê, quando e onde. O “porquê” pode ser coberto nos parágrafos seguintes, que desenvolvem progressivamente os detalhes.• • Os novos comunicados têm a forma de uma pirâmide. Coloque a informação mais importante primeiro, e a informação sobre o contexto mais abaixo.• • Uma citação é um modo útil de mudar o tempo, o ritmo e o interesse, e geralmente aparece no terceiro parágrafo • • Uma secção de “Informação Adicional” deve conter o seu nome e o número de telefone de contacto, no qual deve sempre estar disponível.• • Acabe com “Notas para o Editor”, inclua o texto mais recentemente concordado para o parágrafo sobre o trabalho da sua organização, além de algumas notas específicas relacionadas com o comunicado de imprensa.• Estilo de redacção • Um bom comunicado à imprensa lê-se como uma história. A sua história vai geralmente ser sobre as pessoas a ser ajudadas, a ajudar ou a fazer a doação, em vez de somente sobre a mensagem.• • A história não deve ser somente um gancho para conseguir cobertura, também deve proporcionar uma ilustração clara da mensagem. Comece com o que está a tentar dizer (mensagem) e depois procure um modo de dizer o que é diferente e interessante, e que o ilustra claramente (história).• • A citação deve soar como se alguém realmente a tivesse dito. Tente introduzir pelo menos parte da sua mensagem na citação – é a parte que nenhum jornalista deve alterar• • Evite calão, linguagem emocional e linguagem de obra de beneficência. Tenha sempre em conta o público, seja leitores de jornais, jornalistas, ou interlocutores, etc.• • Assegure-se que o seu texto é claro e acessível. Explique sempre os acrónimos da primeira vez que os usa. Só utilize letras maiúsculas no início das frases e para os nomes próprios.• Formato • Tente fazer com que o comunicado seja apenas de uma página, com bastante espaço entre as linhas. Envie-o no papel com cabeçalho da sua organização.• • No final de cada página, se tiver mais de uma, escreva “Continua/… “ em negrito no canto inferior direito • • No fim do texto do comunicado escreva “Fim” em negrito junto da margem esquerda.• • Verifique a sua ortografia pelo menos duas vezes e peça a outra pessoa que leia o texto.• 108 Guia de advocacia 14. Amostra de comunicado à imprensa 29/08/2007 Where’s the money Mrs Merkel? As Tony Blair meets with German Chancellor Angela Merkel in Berlin to discuss this year’s G8 26/04/2007agenda, questions are being asked about the promises made at Gleneagles in 2005. Onde está o dinheiro Sra. Merkel? A seven member panel, chaired by Kofi Annan and appointed by the UK has been checking progress towards meeting the Gleneagles pledges. Today the group will report that leaders of the G8 countries have provided less than 10 per cent of the extra aid they promised. This amounts to Ao mesmo tempo queof Tony sebillion reúne promised com a Chanceler alemã Ângela Merkel em Berlim para discutir a ordem do dia da £1 billion theBlair £12.5 by 2010. reunião dos G8 deste ano, fazem-se perguntas sobre as promessas feitas em Gleneagles em 2005. well as sharing a collective blind spoteon their aidpelo pledges, of the G8 countries perform Um painel de“As sete membros, presidido por Kofi Annan nomeado RU temmost estado a verificar o progresso para cumprir as poorly on how aid is spent. Whilst the poor list water and sanitation amongst their top priorities promessas feitas em Gleneagles. Hoje, o grupo vai declarar que os líderes dos países G8 proporcionaram menos de 10 por governments continually fail too prioritise themil sector. cento da ajuda adicional que prometeram, que totaliza milhões de libras, das 12,5 mil milhões prometidas até 2010. “Além de partilharem uma cegueira no que diz suas1990 promessas parte on dos países G8 têm “Aid spending on healthcolectiva and education hasrespeito doubledàssince whilst de theajuda, shareaofmaior aid spent um fraco desempenho relaçãoisa falling. como gastam a ajuda. must Apesar pessoastopobres a água o saneamento entre water and em sanitation Governments notdas continue ignorecolocarem the crisis in watere and as suas principais prioridades, os governos sãoworld’s sistematicamente de darWaterAid prioridadeHead a esteofsector. sanitation that affects 40% of the population.”incapazes Ann Cropper, Programme Funding. “As despesas da ajuda na saúde e na educação duplicaram desde 1990 enquanto a parte da ajuda gasta em água e saneamento está a diminuir. Os governos não podem continuar a ignorar a crise na água e no saneamento que afecta 40% da Girls are kept from attending school by hours of water fetching labour. Women are similarly população mais pobre dofrom mundo”. Anngenerating Cropper, Directora deAccording Financiamento dathe WaterAid. constrained income activities. to thedos UNProgramas over half of world’s beds areassistir taken up with people fromgastam diarrhoeal diseases. Dirty water andsão poor As raparigashospital não conseguem à escola devido suffering às horas que a ir buscar água. As mulheres constrangidas do sanitation account for almost 5000 child deaths every day making water-related diseases the mesmo modo, o que as impede de levar a cabo actividades que geram receitas. Segundo a ONU, mais de metade das camas second largest cause of child mortality in the world. de hospital do mundo são ocupadas por pessoas que sofrem de doenças causadas pela diarreia. A água suja e a falta de saneamento são responsáveis por quase 5000 mortes infantis todos os dias, fazendo com que as doenças relacionadas com a WaterAid we’re waiting to seeinfantis if waterno and sanitation make it onto this year’s G8 agenda, if água sejam “At a segunda maior causa de mortes mundo. 5000 children were dying every day in the developed world from an entirely preventable cause theestamos world’s àrichest would be etaking urgent and immediate action.” Ann Cropper, “Na WaterAid, esperanations de ver se a água o saneamento conseguem entrar na ordem do dia daWaterAid reunião dos G8 deste Head of Programme Funding. ano. Se 5000 crianças estivessem a morrer todos os dias no mundo desenvolvido devido a uma causa evitável, as nações mais ricas do mundo estariam a entrar em acção urgentemente e imediatamente.” Ann Cropper, Directora de Financiamento dos Ends Programas da WaterAid. Fim To speak to a spokesperson or to request photos please contact: Charlotte Godber on 020 7793 4909 [email protected] Para falar com umor porta-voz ou para pedir fotografias por favor entre em contacto com: Charlotte Godber em 020 7793 4909 ou [email protected]. For more information visit www.wateraid.org Se desejar informação adicional visite www.wateraid.org Notes to Editor Notas ao Editor • A WaterAid única grande obra de only beneficência do RUdedicated dedicada exclusivamente ao provision fornecimento de água doméstica • é aWaterAid is the UK’s major charity exclusively to the of safe domestice water, sanitation hygiene education to the people. limpa, ao saneamento à educação sobreand a higiene para as pessoas maisworld’s pobrespoorest do mundo. • 1.1 billion people or roughly one sixth of the world's population do not have access to safe • 1,1 mil milhõeswater, de pessoas oubillion mais ou menos não do temnot acesso água limpa, and 2.6 people orum twosexto fifthsda ofpopulação the world'smundial population haveàaccess to e 2,6 mil milhões ou dois quintos da população mundial não tem acesso ao saneamento adequado. adequate sanitation. • millionmorrem children die every year as resultado a result ofde diseases by por unclean • 1,8 milhões de1.8 crianças todos os anos como doençascaused causadas água water suja e and falta de saneamento, o poor sanitation. This amounts to around 5000 deaths a day. que corresponde a cerca de 5000 mortes por dia. (OMS – Organização Mundial da Saúde) (WHO) • da WaterAid providing safe andehygiene education cost just £15 per • Os projectos WaterAidprojects que proporcionam águawater, limpa,sanitation saneamento educação sobre a higiene custam apenas £15 por head pessoa.• WaterAid, 47-49, Durham Street, Londres SE11 5JD www.wateraid.org WaterAid, 47 – 49 DurhamTel: Street, London SE11 5JD www.wateraid.org 020 7793 4500 Tel: 020 7793 4500 Toolkit de advocacia 109 15. Textos que vale a pena ler Se entrar em pânico quando se trata de começar a escrever, podemos ajudar…. Muitas pessoas acham que os bons escritores nascem assim, mas poucas pessoas são abençoadas com uma capacidade natural e o resto de nós tem que aprender! E podemos aprender. No fim de contas, de que é que serve esforçarmo-nos por fazer investigação para um relatório, se um texto fraco estraga todo o trabalho duro que se fez, minando toda uma campanha porque ninguém lê o resultado final? Deve procurar escrever bem porque um bom texto: • é lido e não metido no lixo• • é essencial para uma comunicação eficaz, evitando o tipo de mal entendido que leva à má vontade entre uma organização e os públicos da mesma• • persuade e influencia• • dá realce à imagem de uma organização• • pode ajudá-lo a diferenciar-se dos seus competidores• • pode dar-lhe uma vantagem competitiva valiosa• NB. “Copy” (“Texto”) em comparação com “escrita” é geralmente visto como um texto que é mais como se fala, dando uma sensação de ser animado, informal, digerível e criativo. Geralmente é escrito na voz activa e não na passiva (ou seja, John Smith organizou o workshop sobre composição literária em vez de o workshop sobre composição literária foi organizado por John Smith). Contexto – antes de começar Por vezes o material escrito que produz é o primeiro ou único contacto que alguém terá com a sua organização. Vai ser usado como base para decidir se o leitor quer ter contactos adicionais: a sua organização vai ser julgada pelo seu folheto, relatório ou panfleto. Por isso, se escrever de modo amigável, a sua organização vai ser vista como sendo amigável, se escrever de modo pomposo, será vista como uma organização pomposa. Com a prática, um pouco mais de confiança e uma boa ajuda dos segredos do negócio, será capaz de escrever textos persuasivos e fortes que toda a gente vai querer ler. Comece por reconhecer que todos os medos e ansiedades que tem sobre escrever são normais. Os escritores inexperientes sentem que são falhanços porque não são capazes de se sentar com uma folha de papel branco e imediatamente produzir trabalho incrivelmente original e criativo. Quem o faz? Mesmo os escritores profissionais não se sentam e escrevem prosa fluente, fluida e perfeitamente polida imediatamente. Um dos principais segredos da boa escrita é entender como e o que as pessoas lêem. Pense sobre como e o que lê. Público Ninguém é capaz de escrever de modo significativo sem prestar atenção ao público. Todas as audiências têm necessidades, interesses e preferências diferentes. Esqueça o seu leitor e tanto vale que esteja a falar consigo próprio. 110 Guia de advocacia O seu leitor pode não estar de todo interessado em si, ou na sua obra de beneficência. Tem que os interessar – rapidamente – e mantê-los interessados. O seu objectivo é ter leitores fascinados. Lembre-se de que os leitores fascinados precisam de textos fascinantes. Antes de começar a escrever, comece por perguntar: “Quem o vai ler?” Assegure-se que a sua resposta é o mais específica possível – procure saber o mais possível sobre o seu público. Pense se conhece alguém que se encaixa no público que quer visar. Escreva para essas pessoas. É sempre mais fácil escrever para uma pessoa verdadeira do que para uma abstracta. E lembre-se, se você não quiser ler o seu artigo, folheto, etc. ninguém mais vai querer fazê-lo. Tente meter-se dentro da cabeça do seu leitor. O que é que os vai fazer prestar atenção? O que é que lhes interessa? Quanto tempo têm para lidar com o seu material? Estão a ser bombardeados por material semelhante de outros lados? Finalidade Tendo pensado para quem está a escrever, dê a sua atenção à razão porque está a escrever. Qual é a finalidade do seu material? Para persuadir, informar, atrair doações, vender, ensinar, criar uma imagem, ou uma combinação destas razões? Um folheto/artigo de informação deverá conter muitos factos. Um que se destina a criar uma imagem deve ser totalmente diferente. Tome também em conta que acção quer que os leitores levem a cabo como resultado de terem lido o que escreveu. Tom/personalidade Quando falamos, podemos dizer as mesmas palavras mas ser entendidos de modo muito diferente dependendo de como as dizemos. Por exemplo, podemos dizer a palavra “despacha-te” de modo zangado ou impaciente, de modo implorativo ou de modo interrogativo. As expressões faciais e a linguagem corporal reforçam a nossa mensagem. A palavra escrita, em comparação, só tem uma dimensão. Todo o significado tem que ser transmitido sem a ajuda adicional da entoação ou das indicações não verbais. Decida sobre o tom antes de começar a escrever. Quer parecer amigável e informal, autoritário, compassivo? Começar Muitas pessoas descobrem que começar é a parte mais difícil de escrever. Uma vez que está em pleno processo de criação não há problema, mas as primeiras frases podem ser um inferno. Se seguir as seis fases para escrever que se descrevem abaixo, torna-se muito mais fácil. • Recolher Tome nota de todas as suas ideias, pensamentos e informação relevantes, em qualquer ordem. Se não completar esta fase, pode descobrir que está tão ocupado a lembrar-se de todos os pensamentos e ideias que lhe passam pela cabeça que não é capaz de se concentrar na tarefa de escrever. Também corre o risco de não se lembrar de alguma coisa importante. • Agrupar Agrupe as ideias acima em temas claros (juntando outras ideias que possam vir-lhe à cabeça). Adicione detalhes. Apague tudo o que parecer irrelevante. • Ordenar Coloque os seus temas numa ordem clara e lógica que faça sentido para o leitor. Cada novo tema ou secção deve levar logicamente ao próximo. • Colocar Decida o que vai colocar onde e quanto espaço deve ocupar. Toolkit de advocacia 111 • Escrever Finalmente está pronto para começar a escrever. Olhe para as notas que criou para se lembrar da tarefa que tem nas mãos. Agora produza o primeiro rascunho. Não se preocupe demasiado com o estilo nesta fase. É somente um rascunho e pode acabar por ser revisto diversas vezes antes de o terminar. Lembre-se de que é muito pouco provável que um primeiro rascunho seja perfeito. • Rever Provavelmente vai ter que rever o seu trabalho diversas vezes. Ponha o seu texto de lado e volte a ele mais tarde, preferivelmente depois de alguns dias, mas pelo menos no dia seguinte. Vai ver que é mais fácil detectar texto que não flúi bem, palavras ou secções inapropriadas, repetições. Volte a ler o que escreveu através dos olhos do público a que se destina. Verifique que o estilo é o correcto para o seu leitor. Assegure-se que a finalidade é clara e que se transmitem as mensagens necessárias. Quando estiver a rever o seu trabalho, procure: • Repetição• • Clichés• • Irrelevâncias (concentre-se somente numa história – escreva o que o leitor tem que saber e não inclua informação irrelevante sobre o contexto)• • Palavras desnecessárias (por exemplo, colega de trabalho – deve ser só colega, 22 da noite, basta dizer às 22 horas, ou 10 da noite)• • Ambiguidade (seja breve e conciso)• • Omissões (números de telefone, datas, nomes, etc. – todos os pedaços de informação que tinha intenção de colocar mais tarde, mas não o fez!)• • Calão (a maior parte das obras de beneficência e organizações têm frases e termos que utilizam internamente e que provavelmente não vão ser compreendidas no exterior. Por isso não utilize calão e se o fizer assegure-se de que o significado é claro)• • Abreviações sem explicação (da primeira vez que os utiliza num documento, explique os acrónimos)• Depois de ter visto os erros no seu primeiro rascunho, corrija-os. Volte a escrever as secções que precisam de ser alteradas. Ao reler um trabalho depois de um intervalo aceitável, é-se um pouco mais objectivo e crítico –e está-se muito mais refrescado. Depois de ter feito todas as revisões que achar necessárias, é altura de dar o seu trabalho a outras pessoas, preferivelmente duas ou três pessoas que pertençam ao público visado pelo seu trabalho. Dicas principais • Um texto breve e conciso vai transmitir a sua mensagem ao leitor muito mais eficazmente do que um texto desnecessariamente longo e verboso.• • Não interessa quão longo é o texto – é quão longo o leitor acha que é. Apesar de grande parte da aparência depender dos designers, outras coisas também ajudam: – Escreve em frases pequenas – Utilize parágrafos marcados para dividir o texto – Utilize citações apelativas – Utilize caixas – Utilize títulos secundários• 112 Guia de advocacia • Mostre às pessoas – não lhes diga (escrever não deve ser uma descrição banal, por exemplo, fui ali e fiz aquilo)• • Escreva texto situacional se possível – pense onde o texto vai ser lido• • Aplique a regra de ouro – Exactidão – Brevidade – Clareza• • Utilize linguagem simples (palavras de todos os dias – – as pessoas não se deixam impressionar por palavras que não percebem)• • Varie o comprimento das frases mas no geral mantenha-as curtas (15-20 palavras)• • Não utilize calão ou termos desnecessários• • Não utilize palavreado oco e inútil• • Escreva numa ordem clara e lógica• • Tente compreender o que o leitor tem que saber• Toolkit de advocacia 113 16. Dicas para falar em público Como se deve preparar para um discurso Pergunte a si próprio: Quem? Porquê? O quê? Quando? Como? Onde? Quem é o seu público? Porque é que vai fazer a sua palestra? O que é que quer que o seu público pense e faça depois da sua palestra? Por outras palavras, quais são os seus objectivos? Quando é que vai fazer a palestra? Como é que vai fazer a palestra? Onde vai ser? Tome uma decisão sobre as suas mensagens principais. Decida sobre três ou quatro (não mais) mensagens chave que quer transmitir e concentre a sua apresentação nelas. Estruturar a sua palestra. Como diz o velho ditado: “Diga-lhes o que lhes vai dizer, diga-lhes, e depois diga-lhes o que lhes disse.” • Princípio: apresente-se. Diga-lhes o que devem esperar, ou seja, quanto tempo vai falar, sobre o que vai falar, que auxiliares visuais vai utilizar, quando podem fazer perguntas.• • Meio: pontos chave ilustrados com exemplos.• • Fim: resumo. Apelo para que se actue • Tome notas. Toda a gente tem o seu modo favorito de preparar notas para uma apresentação. Podem ser um texto completo (apesar de que vai parecer que está a ler!) ou pode escrever o princípio e o fim (o que ajuda a um início suave e uma conclusão cheia de confiança), ou utilizar notas de esboço com títulos, subtítulos e palavras ou frases chave para servirem de guia. Ensaie. Vai descobrir que ensaiar, mesmo quando estiver sozinho num quarto vazio, pode ajudar a que se familiarize com o seu material. Também vai ajudar a calcular o tempo, a que se habitue ao som da sua própria voz e a criar confiança. Auxiliares visuais. Podem proporcionar um impacto visual dramático, e podem ser úteis para apoiar uma apresentação. 10-15 diapositivos de boa qualidade têm maior impacto do que 25-30 de má qualidade. Tente utilizar apenas poucas palavras nos seus diapositivos, e utilize-os como apoio para a sua palestra. Tente pensar noutros modos atraentes de apresentar a sua palestra. Os oradores da Wateraid, por exemplo, podem pensar na possibilidade de deitar água contaminada num copo e perguntar à audiência se gostaria de a beber; ou trazer um jerry can cheio de água para demonstrar o peso que as mulheres carregam diariamente. 114 Guia de advocacia 17. Amostra de comunicado para fazer lobby Reforming public utilities to meet the water and MDGs Reformar os serviços públicos para cumprir os ODMs parasanitation a água e o saneamento • • • • • • • O êxito ou o falhanço dos serviços públicos – uma vez que já são responsáveis por mais de 90% do fornecimento de águaofcanalizada – terá um maciço sobre o progressofor para os alvos The success or failure public utilities - asimpacto they are already responsible over 90% ODMs em questões águahave e de a saneamento. A melhoria de capacidades e o the investimento no ofdos piped water suppliesde - will massive impact on progress towards water and âmbito dos serviços do sector público é vital.• sanitation MDG targets. Capacity-building and investment within public sector utilities is •vital. Apesar de muitos serviços hídricos públicos no mundo em desenvolvimento serem ineficientes e incapazes de responder às necessidades dos utentes, um número cada vez maior está a desafiar esta imagem negativa e está, em vezindisso, a proporcionar umaare visão nova e positiva While many public water utilities the developing world inefficient and de “estar a favor do público” com operações eficazes no campo, das quais utentes e osthis funcionários unresponsive to the needs of users, a growing number are os challenging negative se podemand orgulhar.• image are instead providing a new, positive vision of ‘public-ness’, with effective •operations Estes serviços são eficientes novas comunidades e esticando os poucos recursos on públicos the ground, in which (ligando users and staff can take pride. para que tenham maior alcance) responsáveis para com os utentes e o governo, transparentes em These public utilities efficient new communities and making scarce (ex. como funcionam, e, emare alguns casos,(connecting envolvem directamente as comunidades nas decisões resources stretch further),deaccountable to users government, transparent in how sobre tarifas, recuperação custos e prioridades deand investimento).• and, in some através cases,de directly involving communities in decision-making •they Estesoperate, êxitos conseguiram-se um programa de reformas internas operacionais, estruturais (eg. on tariffs, cost recovery and investment priorities). e de atitudes, defendidas pela gestão e pelos funcionários dos próprios serviços, com o apoio do governo e da sociedade civil. were achieved through aque programme of hídrico internalvaioperational, •These O DFIDsuccesses diz que 95 por cento do financiamento faz ao sector para o fornecimento structural reforms, mas championed by como the utilities’ ownanalisaram management and e público deand águaattitudinal e às comunidades; tanto a WDM a WaterAid esta questão staff, with support from government and civil society. não conseguem encontrar acções fortes e consistentes por parte do DFID para dar apoio aos tipos de processos que podem ajudar os serviços públicos a reformar-se com êxito.• says that 95 oper cent of itsfazer water sector funding into com public and community •DFID Os doadores como DFID podiam mais para dar apoiogoes à reforma êxito dos serviços water provision; but both WDM and WaterAid have looked into this matter and cannot públicos, o que poderia incluir: find strong, consistent action from DFID to internacionais support the kinds of processes can help 1.Reconhecer como as instituições financeiras por vezes promovemthat as opções public utilities reform successfully. de reforma do sector privado, excluindo todas as outras possibilidades, e recusando financiar projectos que surgem dessas condições. Donors like DFID could do more to support the successful reform of public utilities. This 2.Ter um papel activo e visível no palco internacional para promover soluções de reforma pública could include: viáveis e liderança governamental para a crise global da água. 1. Recognising how international financial institutions sometimes promote private 3.Dar apoio político forte aos serviços públicos em discursos, investigação e análises políticas, e sector reform options to the exclusion of all other possibilities, and refusing to dedicar recursos significativos do DFID para compreender esta agenda e divulgar bons modelos fund projects that stem from these conditions. aos escritórios nacionais do DFID e aos governos 2. Playing an active, visible role on the international stage to promote viable public 4.Garantir que os projectos e processos de assistência técnica incluem sempre modelos de reforma reform solutions and government leadership over the global water crisis. do público nopolitical “menu desupport opções”toa public ser explorado. 3. sector Giving strong utilities in speeches, research and policy 5.Dar apoio a parcerias entre instituições públicas PUPs – acordos entre serviçosthis que agenda combinam analyses, and devoting significant DFIDouresources to understanding serviços públicos com bom desempenho com os que necessitam de ajuda, para partilhar and disseminating good models to DFID country offices and governments experiência numa base deassistance sem lucro com o fim de melhorar as capacidades no âmbito do serviço 4. Ensuring technical projects and processes always include public maissector fraco. Os PUPs poderiam ser apoiados de modos diferentes incluindo: subsídios únicos para reform models on the ‘menu of options’ being explored. pagar o apoio de um serviço ao outro, ou um mecanismo tipo uma Função Consultora de Infra5. Supporting public-public partnerships or PUPs - arrangements between public estrutura entre serviços públicos que pudesse financiar acordo.with those needing utilities, which match up well-performing publictalutilities 6.Investir em diálogos dentro doon paísa enot-for-profit na melhoria de capacidades permitir discursos assistance, to hídricos share expertise basis in orderpara to build capacity públicos sobre direcçãoutility. da reforma serviços públicos e aincriação de capacidades na within theaweaker PUPsdos could be supported different ways including: sociedade civil para participar processos, por exemplo através um fundo de governação one-off grants to pay fornestes one utility to support another or a de mechanism such as a da água. Public-Public Infrastructure Advisory Facility which would fund such arrangements. 6. Investing in in-country water dialogues and capacity-building to enable public discourse over the direction of water utility reform and building civil society capacity to engage in these processes, eg. through a water governance fund. Toolkit de advocacia 115 116 Guia de advocacia A missão da WaterAid é ultrapassar a pobreza permitindo que as pessoas mais pobres do mundo consigam acesso à água limpa, ao saneamento e à educação sobre a higiene. WaterAid 47-40 Durham Street Londres SE11 5JD Reino Unido Tel: +44 (0)20 7793 4500 E-mail: [email protected] Número de Registo de Obra de Beneficência 288701 (Inglaterra e País de Gales) e SC039479 (Escócia) www.wateraid.org Impresso em papel reciclado