Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
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Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
UFPB UEPB UERN UESC UFAL UFS UFRN UFS UFPI UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE JULIANA FURTADO SOARES MADRUGA IMPACTO SONORO DAS ATIVIDADES MADEIREIRAS NA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO DO BAIRRO DA TORRE – JOÃO PESSOA - PB JULIANA FURTADO SOARES MADRUGA João Pessoa-PB 2008 JULIANA FURTADO SOARES MADRUGA IMPACTO SONORO DAS ATIVIDADES MADEIREIRAS NA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO DO BAIRRO DA TORRE – JOÃO PESSOA - PB Dissertação apresentada ao Programa Regional de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Orientadores: Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro Profª. Drª. Maristela de Oliveira Andrade João Pessoa – PB 2008 B238z FURTADO, Juliana Impacto sonoro das atividades madeireiras na qualidade de vida da população do bairro da Torre - João Pessoa - PB/ Juliana Furtado Soares Madruga – João Pessoa, 2008. 156 p. Orientadores: Edson Leite Ribeiro Maristela de Oliveira Andrade Dissertação - (mestrado) - UFPB/ CCEN 1. Poluição Sonora. 2. Saúde. 3. Meio Ambiente. 4. Qualidade de vida. UFPB/BC CDU: 504:37 Página Parágrafo Linha Onde se lê Leia-se JULIANA FURTADO SOARES MADRUGA IMPACTO SONORO DAS ATIVIDADES MADEIREIRAS NA QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO DO BAIRRO DA TORRE – JOÃO PESSOA - PB Dissertação apresentada ao Programa Regional de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA, Universidade Federal da Paraíba, Universidade Estadual da Paraíba em cumprimento às exigências para obtenção de grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Aprovada em: ____/____/_____ BANCA EXAMINADORA ____________________________________ Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro Orientador ____________________________________ Prof. Dr. Eduardo Rodrigues Viana de Lima Membro interno (PRODEMA) ___________________________________ Prof. Dr. Ricardo Cavalcanti Duarte Examinador externo (CCS) ___________________________________ Profª. Drª. Jovanka Baracuhy C. Scocuglia Suplente (PRODEMA) Dedico e agradeço primeiramente a Deus e a Nossa Sra. das Graças, meus protetores, pela força e luz no meu caminho nos momentos mais difíceis. Ao meu esposo, Paulo Márcio, aos meus pais, Paulo Germano e Sônia, pelo constante incentivo e apoio. Ao meu amado e pequenino filho Pedro, de quem tive que abdicar tantas vezes de sua convivência, não lhe dando a atenção solicitada, mas que soube entender com tranqüilidade a necessidade de minha ausência. Obrigada! Todos vocês foram fundamentais para a realização desta conquista. E, por último, dedico a uma pessoa muito especial, que se foi durante a realização deste trabalho, a minha querida e inesquecível Tia Gilza, exemplo de mulher guerreira. AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar, aos meus orientadores: Prof. Dr. Edson Leite Ribeiro e Prof. Dra. Maristela de Oliveira Andrade, pela luz no caminho que eu deveria trilhar nas horas em que apareceram obstáculos aparentemente insuperáveis, contribuições estas valorosas, que permitiram a concretização deste trabalho. Aos profissionais da Secretaria Municipal de Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de João Pessoa (SEMAM), pela valorosa contribuição nas medições de ruído e acesso ao material bibliográfico e digital: Maria do Socorro Menezes, chefe do setor de controle da poluição sonora, aos agentes ambientais que realizaram as medições oficiais de ruído, Zabdiel Gomes da Silva Filho e Maria José da Silva Santos, e a Rivanilda da Silva Linhares pelo processamento digital dos dados. Aos funcionários da Secretaria de Planejamneto do Município (SEPLAN), pelo fornecimento dos dados de geoprocessamento. À SUDEMA, na pessoa do Sr. Yeure de Amaral Rolim, pela imensa contribuição nas orientações referentes às legislações federais e estaduais sobre a poluição sonora pertinentes a esta pesquisa, bem como pelo auxílio no cálculo do LAeq, com fornecimento de planilha eletrônica para cálculo do mesmo. Ao Prof. Dr. Antônio Coutinho, do Centro de Tecnologia da UFPB (Engenharia de Produção), pela oportunidade de cursar sua disciplina de Conforto Ambiental, que contribuindo para o fornecimento de dados desta pesquisa, através dos ensinamentos de acústica. À Fonoaudióloga Valéria de Sá B. Gonçalves por compartilhar comigo sua experiência e conhecimentos teórico-práticos sobre análise de ruído ambiental. Às Fonoaudiólogas Priscilla Gambarra e Divany Guedes Pereira pela ajuda no fornecimento de material bibliográfico e, principalmente, pela competência, ética, profissionalismo e carinho, atendendo meus pacientes durante o período de ausência no consultório. À Fonoaudióloga Marine Rosas pelo apoio e apresentação à pesquisadora e Fonoaudióloga Prof. Dra. Ângela Ribas, que contribuiu com importantes diretrizes que ajudaram a definir meu campo de pesquisa, além de gentilmente me enviar material bibliográfico. À Profª. Drª. Marize Rosas, pelo incentivo e luz no meu caminho, no momento de plantar a sementinha inicial, sobre onde e qual tema escolher, para concorrer à seleção de Mestrado no PRODEMA, de quem recebi material bibliográfico. Ao Estatístico Cézar Matias, pela fundamental colaboração na análise dos dados. À inestimável colaboração da Bibliotecária da BC/UFPB, Débora Chaves Gomes, pela correção das citações e referências da presente dissertação, conforme as normas da ABNT. A Heliane Ferreira de Andrade, pelo tradução do resumo para o inglês (ABSTRACT). A Lucas Clemente de Brito Pereira, pela revisão gramatical. Aos colegas de turma que me enviavam e-mails, sempre que encontravam material bibliográficos relativos ao meu tema, e gentilmente lembravam de mim. A todos os Professores do PRODEMA, os quais, em suas disciplinas, forneceram as informações sobre Meio Ambiente, ajudando a montar o meu quebra cabeça, com novos focos interdisciplinares e a formação de uma nova visão da imensa “Gaia”. Às secretárias do PRODEMA Hélia Ramalho e Amélia, pela paciência, informações e atendimento de nossas solicitações. A todos os voluntários da comunidade do bairro da Torre participantes deste estudo. “A poluição sonora parece ser a mais sutil e traiçoeira. Espaço acústico não é espaço visual ou físico. Não se pode possuí- lo, ou demarcá- lo num mapa. É espaço compartilhado, possessão comum, de onde todos os habitantes recebem sinais vitais. Pode-se destruí- lo facilmente, produzindo ruídos irrefletidos ou imperialistas.” Schafer, 1977 RESUMO A presente pesquisa consiste na avaliação da percepção do impacto sonoro das atividades madeireiras na qualidade de vida da população do bairro da Torre, em João Pessoa-PB. Foi proposto um estudo comparativo com a finalidade de mensurar os níveis de ruído e a percepção ambiental, comparando a comunidade do entorno de duas avenidas do mesmo bairro, sendo uma predominantemente residencial e a outra exposta ao ruído de marcenarias. A escolha do bairro foi feita através de levantamento na Secretaria de Finanças do Município. Ambas as avenidas são classificadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, de acordo com o uso e ocupação do solo, como Zo na Comercial de Bairro (ZB), segundo dados levantados na Secretaria de Planejamento do Município. A metodologia aplicada envolveu o uso dos métodos quantitativo e qualitativo. As medições de ruído foram realizadas com a utilização de um medidor de nível de pressão sonora, pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente e pela pesquisadora, de acordo com as mesmas normas, para um confronto entre as medições. Foi aplicado um questionário para avaliação da percepção do ruído e da qualidade de vida da população participante do estudo. Os resultados das medições mostraram que os níveis de ruído ultrapassaram a intensidade sonora de 55 dB(A), permitida pelo zoneamento urbano no período diurno, regulamentado pela Lei Municipal nº 29/2002, nas duas avenidas pesquisadas. A pesquisa qualitativa com base na aplicação de questionário foi constituída por 58 participantes, formados por moradores ou trabalhadores de pontos comerciais próximos às duas avenidas, excluindo-se os funcionários das marcenarias. Foi detectado, através dos questionários, que a comunidade do entorno das empresas madeireiras não correlaciona seus problemas de saúde com o ruído ambiental e não tem a percepção do ambiente sonoro insalubre no qual está inserida, sob o ponto de vista da qualidade de vida e de saúde, visto que desconhecem a nocividade do ruído, apesar de saber o que é poluição sonora. Pelos questionários aplicados às amostras do entorno de ambas as avenidas, constatou-se que, para as populações, não há diferença entre morar ou não morar próximo ao ruído das madeireiras. Foi verificado que o ruído das empresas madeireiras não é constante, apesar de ser de intensidade elevada, e que, pelos dados analisados, o ruído que mais incomoda as duas populações pesquisadas é do tráfego de veículos. Detectou-se que o ruído é proveniente de fontes sonoras difusas e que, apesar de ultrapassar os limites adequados à saúde e à qualidade de vida das pessoas, estas se habituam a conviver como barulho e não o percebem como fator prejudicial a suas vidas e ao meio ambiente. Portanto, é importante levar ao conhecimento público informações sobre os efeitos danosos do ruído, chamando atenção para a relação sócio-ambiental desordenada do ruído no ambiente urbano, para que se possa sensibilizar e conscientizar a população e os órgãos governamentais sobre tal problema, na busca de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Palavras-chave: Poluição sonora. Saúde. Meio ambiente. Qualidade de vida. ABSTRACT The present research consists on the evaluation of the perception of the sound impact of wood activities in the quality of life in the Torre neighbourhood in the city of João Pessoa - Pb. A comparative study with the purpose of measuring the levels of noise and the environment perception was taken into consideratino regarding two avenues in the same neigbourhood, one of them being predominantly residential and the other one exposed to the noises of sawmills. In accordance to data raised by the Secretary of Planning of the city and according to the use and occupation of the ground, both avenues are considered by municipal laws as a Comercial Area. The methodology used in this research involved the quantitative and qualitave method. The noise measurements which were held by the Secretary of Municipal Environment and the researcher were made by the use of a measurer of sound pressure levels to a confrontation of measumeremts. A questionnaire for the evaluation of the perception of the noise and the quality of life of the participants in the study was applied. The measurement results in the researched area showed that the noise levels exceeded the sonorous intensity of 55 dB (A), allowed for the urban zoning in daylight which is regulated by the Municpal Law 29/2002. The qualitative study consisted of 58 participants who lived or worked in the nearby area and it did not consider people who worked in the sawmills. The questionnaire showed that the community near the wood estlablishments did not relate their health problems with the environmental sound and that they did not notice the unhealthy sonorous environment in which they are living or working regarding quality of life and health once they are not aware of how harmful this environment can be although they know what sound pollution is. The questionnaires also showed that to the people living in these areas there is no difference between living near or far from the sawmills noise. According the the analyzed data it could be noticed that the noise in the sawmills is not constant although it is of a high intensity and that the noise people in the area blames comes from the traffic. The data also showed that the noise comes from different sources and that people got used to listening to it and that they do not notice how harmful it is to their lives and environment. Therefore, it is important to show the harmful effects of noise focusing attention on the social environment relationship of noise in the urban environment so that people and authorities can be concious of this problem and in the search of an ecological balanced environment. Key- words: Sonorous pollution. Health. Environment. Quality of life. LISTA DE FIGURAS Págs. Figura 1 - Limiar de audibilidade. 31 Figura 2 - Anatomia do ouvido. 34 Figura 3 - Cadeia ossicular. 35 Figura 4 - Fisiologia da audição. 36 Figura 5 - Cóclea. 37 Figura 6 - Estruturas do sistema auditivo. 37 Figura 7 - Formas de movimento do estribo: para sons normais e para sons acima de 70-80 dB. 39 Figura 8 - Efeitos do excesso de ruído sobre o organismo. 46 Figura 9 - Avenida Miguel Santa Cruz. 76 Figura 10 - Avenida Professor Paredes. 77 Figura 11 - Imagem do satélite Quick-bird. 80 Figuras 12 - Bairro da Torre. 82 Figura 13 – Mapa dos bairros de João Pessoa. 86 Figura 14 - Ações comportamentais do ruído de tráfego. 132 LISTA DE GRÁFICOS Págs. Gráfico 1 - Seleção dos 5 bairros de João Pessoa com maior número de empresas de marcenaria, carpintaria e serralharia. 74 Gráfico 2 - Distribuição da população por gênero. 83 Gráfico 3 - Composição etária do bairro da Torre. 84 Gráfico 4 - Pessoas responsáveis pelos domicílios particulares permanentes, por grupos de anos de estudos. 84 Gráfico 5 - Índices de Qualidade Urbana em João Pessoa-PB. 85 Gráfico 6 - Seleção dos 5 bairros de João Pessoa com maior número de atividades comerciais e de serviços. 85 LISTA DE TABELAS Págs. Tabela 1 - Nível de ruído aceitável por áreas conforme a NBR 10151. 57 Tabela 2 - Nível máximo de ruído equivalente (LAeq) por área e horário. 61 Tabela 3 - Nível máximo de ruído equivalente por área e horário (LAeq), Em consonância com o Decreto nº 4793, de 21 de abril de 2003. 62 Tabela 4 - Distância do ponto de medição do ruído. 79 Tabela 5 - Demonstrativo da população do bairro da Torre. 87 Tabela 6 - Medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feitas pela autora e pela Prefeitura, respectivamente. 91 Tabela 7 - Medições do ruído na Avenida Professor Paredes feitas pela autora e pela Prefeitura. 95 Tabela 8 - Resultado do Teste t de Student para comparação das medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feitas pela autora e pela Prefeitura. 99 Tabela 9 - Resultado do Teste t de Student para comparação das medições do ruído na Avenida Professor Paredes feitas pela autora e pela Prefeitura. 99 Tabela 10 - Distribuição por sexo da população das comunidades circunvizinhas às madeireiras, segundo o local. 100 Tabela 11 - Distribuição por escolaridade da população das comunidades circunvizinhas às madeireiras, segundo o local. 101 Tabela 12 - Resultado do cruzamento das variáveis: mora no local x trabalha no local. 101 Tabela 13 - Freqüência do tempo de moradia das amostras da população que residem no entorno dos pontos de medições. 102 Tabela 14 - Freqüência do tempo dos que trabalham na circunvizinhança das avenidas onde foram realizadas as medições. 102 Tabela 15 - Cruzamento das variáveis: tempo de permanência na rua x trabalha no local. 103 Tabela 16 - Cruzamento das variáveis: tempo de permanência na rua x vezes por semana. 103 Tabela 17 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: foi ao médico x local. 104 Tabela 18 - Resultado do Teste Qui-Quadrado para as freqüências observadas esperadas da Tabela 17. 104 Tabela 19 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: uso de medicamento x local. 105 Tabela 20 - Resultado do Teste Qui-Quadrado para os dados da Tabela 19. 105 Tabela 21 - Problemas de saúde apresentados pelos entrevistados, segundo o local da pesquisa. 106 Tabela 22 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis: problema de saúde pode ser provocado pelo ruído ambiental x local. 107 Tabela 23 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de cansaço x local. 107 Tabela 24 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de alergia x local. 108 Tabela 25 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de pressão alta x local. 108 Tabela 26 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de dor de cabeça x local. 109 Tabela 27 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problemas gastrintestinais x local. 109 Tabela 28 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema circulatório x local. 110 Tabela 29 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de zumbidos x local. 110 Tabela 30 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema respiratório x local. 111 Tabela 31 - Resultados do Teste Qui-Quadrado para os valores das Tabelas de 23 a 28. 111 Tabela 32 - Resultado do Teste Exato de Fisher. 112 Tabela 33 - Tipos de barulho que mais incomodam os entrevistados das circunvizinhanças, segundo o local. 112 Tabela 34 - Freqüências do cruzamento das variáveis barulhos ruins para o me io ambiente x local. 113 Tabela 35- Freqüência das respostas dadas à pergunta: você sabe o que é poluição sonora? 113 Tabela 36 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho que prejudica, ou não, a saúde, segundo o local. 114 Tabela 37 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho que prejudica, ou não, a tranqüilidade e o bem-estar segundo o local. 114 Tabela 38 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho das madeireiras que prejudicam ou não, a qualidade de vida, segundo o local. 115 Tabela 39 - Distribuição de freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho das madeireiras que impedem, ou não, o desenvolvimento de alguma atividade, segundo o local. 115 Tabela 40 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas a sair do imóvel por causa do barulho, segundo o local. 116 Tabela 41 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao ruído constante das madeireiras, segundo o local. 116 Tabela 42 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas à convivência com ambiente barulhento, segundo o local. 117 Tabela 43 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas à diminuição do barulho, segundo o local. 117 Tabela 44 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de tomar alguma medida para diminuir o barulho, segundo o local. 118 Tabela 45 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de sentir problemas em função do barulho das madeireiras, segundo o local. 118 Tabela 46 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao conhecimento dos males causados pelo barulho, segundo o local. 119 Tabela 47 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao contato com campanhas de prevenção do barulho, segundo o local. 119 Tabela 48 - Distribuição de freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de os órgãos governamentais tomarem alguma medida para evitar o barulho, segundo o local. 120 SUMÁRIO Págs. 1 INTRODUÇÃO 19 2 REVISÃO DE LITERATURA 24 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS 25 2.1.1 Antecedentes do problema sócio-ambiental do ruído 25 2.1.2 O ruído e a Revolução Industrial 27 2.1.3 Ecologia acústica 28 2.2 O SOM 29 2.2.1 Propagação do som ao ar livre 32 2.3 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO 33 2.3.1 Anatomia dos órgãos da audição 33 2.3.2 Fisiologia da audição 38 2.4 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELO RUÍDO NA SAÚDE DO TRABALHADOR 39 2.5 O RUÍDO, A SAÚDE E O BEM-ESTAR DO SER HUMANO 42 2.6 RUÍDO URBANO E A QUALIDADE DE VIDA 47 2.6.1 Qualidade de vida e ambiente urbano 48 2.7. CIDADES SAUDÁVEIS COM SUSTENTABILIDADE 50 2.8 ASPECTOS LEGAIS 54 2.8.1.Esfera Federal 54 2.8.1.1 Inquérito Civil Público por meio de ação civil pública Lei nº 7.347/85 (BRASIL, 1985) 54 2.8.1.2 Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras (SLAP) 54 2.8.1.3 Resolução CONAMA 001 55 2.8.1.4 Estatuto da Cidade: estudo de impacto de vizinhança 57 2.8.2 Esfera Estadual 58 2.8.2.1 Lei Ambiental nº 4335 de 16 de dezembro de 1981 58 2.8.3 Esfera Municipal 61 2.8.3.1 Código Municipal: Lei Municipal nº 29 da SEMAM (Secretaria do Meio Ambiente) 61 2.9 ASPECTOS PSICOLÓGICOS E SUBJETIVOS DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL 63 2.9.1 Psicologia ambiental 63 2.9.2 Dimensão temporal 63 2.9.3 Sentimento de identidade 65 2.9.4 Percepção 66 2.9.5 Percepção ambiental do urbano pelo cidadão 67 2.10 ESTADO DA ARTE 68 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 73 3.1 COLETA DE DADOS E AMOSTRAS 75 3.1.1 Coleta do nível equivalente de ruído (LA eq) 77 3.1.2 Aplicação do questio nário às amostras 79 3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: O BAIRRO DA TORRE 81 3.3 TRATAMENTO DOS DADOS 88 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÕES 89 4.1 Apresentação dos resultados do nível equivalente de pressão sonora (LA eq) 90 4.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DOS QUESTIONÁRIOS 99 4.2.1 Dados do entrevistado 100 4.2.2 Dados sobre o ambiente 101 4.2.3 Dados sobre a saúde 104 4.2.4 Dados sobre a percepção do ambiente sonoro 112 4.2.5 Forma como as pessoas reagem 116 4.3 DISCUSSÕES DOS RESULTADOS 120 4.3.1 Discussões dos resultados das medições de ruído 120 4.3.2 Discussão dos resultados dos questionários 122 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 128 5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS 129 5.2 RECOMENDAÇÕES 131 5.2.1 Ações de educação ambiental direcionadas aos órgãos governamentais ambientais 131 5.2.2 Legislação de trânsito 132 5.2.3 Ações de fiscalização, controle, prevenção e redução dos padrões de emissão de ruídos pelos órgãos governamentais ambientais 132 5.2.4 Zoneamento 133 5.2.5 Técnicas de atenuação sonora nas edificações 134 5.2.6 Atenuação sonora promovida por áreas verdes 134 REFERÊNCIAS 136 APÊNDICES Apêndice A - Ficha de medição Apêndice B – Questionário da pesquisa 146 147 148 ANEXOS Anexo A - Certidão de Aferição (SEMAM) Anexo B - Planilha eletrônica para cálculo do (LA eq) Anexo C - Mapa de zoneamento do bairro da Torre Anexo D - Zona comercial de bairro (ZB) Anexo E - Isolamento acústico de algumas superfícies Anexo F - Certidão do Comitê de Ética em pesquisa 151 152 153 154 155 156 157 19 CAPA Capítulo 1: INTRODUÇÃO 20 Desde o início do século XX, o mundo vem passando por importantes processos de reorganização. O sistema produtivo, principalmente o dos países industrializados, gerou mudanças econômicas e tecnológicas de grande magnitude, em virtude das quais a natureza tornou-se um meio para atingir determinado fim. Como resultado do capitalismo e da Revolução Industrial, a natureza foi se transformando, cedendo lugar para o ambiente construído e modificado, produzido pela sociedade moderna. No mundo desenvolvido, o som tem menos importância, e a oportunidade de experimentar sons “naturais” diminui a cada geração, devido à destruição dos habitats naturais. O som torna-se algo que o indivíduo tenta bloquear, ao invés de ouvir; a paisagem de ação antrópica, de baixa qualidade, pouco tem a oferecer. Como resultado, muitos indivíduos tentam fechá- lo do lado de fora, usando vidros duplos ou o “perfume sonoro” – a música. A música – paisagem sonora virtual – passa a ser utilizada como um meio de controlar o ambiente sonoro, e não uma expressão natural (WRIGHTSON, 1999). Porto (2005) relata que os altos níveis de ruído urbano transforma ram-se, nas últimas décadas, em uma das formas de poluição que mais tem preocupado os urbanistas e arquitetos. Os valores registrados acusam níveis de desconforto tão altos, que a poluição sonora urbana passou a ser considerada como a forma de poluição que atinge o maior número de pessoas. Trata-se da terceira maior forma de poluição do planeta, ficando apenas atrás da poluição da água e do ar. De acordo com Ribas (2006), na natureza, poucos sons atingem elevados níveis de pressão sonora, a exemplo de um trovão e das quedas d`água, os quais chegam a 120 dBNPS (nível de pressão sonora), mas facilmente o homem se protege deles. O grande problema são as invenções humanas, que extrapolam os limites permitidos pela frágil estrutura dos nossos organismos. São exemplos: as máquinas industriais, os veículos, os motores, os aviões e demais aparelhos criados pelos seres humanos. É sobre este tema que a presente pesquisa pretende versar. Hoje os riscos se expandem em quase todas as dimensões da vida humana, obrigando-nos a questionar hábitos de consumo e produção. Um dos efeitos deste processo pode ser chamado de “poluição.” A poluição sonora parece ser a mais sutil e traiçoeira. Mas, que é a poluição sonora? É o conjunto de todos os ruídos provenientes de uma ou mais fontes sonoras, manifestadas ao mesmo tempo num ambiente qualquer (PROGRAMA SILÊNCIO, 2007). A poluição sonora acontece devido à relação desordenada entre sociedade e natureza. É necessário refletirmos sobre isso, para, então, tomarmos as medidas necessárias à 21 conscientização e à real percepção do que é e o que causa o ruído, que se apresenta como um problema ambiental, principalmente nos centros urbanos. E que dizer do ruído? O ruído não esgota o meio ambiente, não “usa” matériaprima, mas degrada-o, deteriora os seres humanos, e seus efeitos (auditivos e extra-auditivos) comprometem suas relações sociais. O ruído é considerado um mal urbano e um efeito ecológico. Podemos dizer que o atual cenário aponta para um futuro com queda acentuada na qualidade de vida e degradação ambiental (RIBAS, 2006). A referida autora acrescenta que existem duas vertentes tentando esclarecer o estabelecimento do que vem a ser risco em nossa sociedade. Primeiro: os problemas se convertem em objeto de preocupação quando impõem um dano significativo aos seres humanos e à natureza; segundo: a emergência da preocupação ambiental não está automaticamente relacionada com a magnitude do dano, mas com o significado que este tem para a sociedade. Esta exposição ao ruído tem seus efeitos: a perda auditiva, o estresse, doenças gástricas, mudanças de humor. São sintomas que dificilmente serão correlacionados, por leigos, ao ruído. Desta maneira, por não provocar danos aparentes (afinal, a surdez é invisível), o ruído não estaria sendo devidamente percebido e valorado na nossa sociedade. A problemática ambiental deve redefinir os espaços de inter-relações entre natureza e sociedade, e novas perguntas e respostas podem emanar da ciência, da cultura e da política, quando reflexões forem efetuadas, e novos conhecimentos, adquiridos. Neste trabalho, pretende-se discutir alguns aspectos da problemática do ruído urbano, particularmente o grau da percepção dos efeitos danosos do ruído para a saúde e para a qualidade de vida dos moradores da comunidade do bairro da Torre, localizada em João Pessoa, quanto aos ruídos produzidos pelas empresas madeireiras situadas nas áreas estudadas. Busca-se ainda considerar os riscos de ordem auditiva e extra-auditiva no cenário da poluição sonora desse bairro. João Pessoa é uma cidade que vem crescentemente experimentando problemas oriundos do processo de metropolização e urbanização, sendo o ruído constante uma realidade. Com base em dados da Secretaria de Finanças do Município, foi constatado que o bairro da Torre possui um número de vinte e cinco empresas do setor madeireiro, dentro do universo dos bairros da grande João Pessoa. A partir dessa constatação, sendo a Torre um bairro tradicional, atualmente com forte tendência comercial, mas preserva ndo áreas tradicionalmente residenciais, que 22 resistem às transformações urbanísticas, nasceu o nosso interesse de pesquisar como essa população vive neste misto de residências tão próximas a atividades comerciais, muitas vezes, bastante ruidosas, como é o caso das empresas madeireiras. O objetivo deste trabalho foi caracterizar o ambiente sonoro de duas ruas do bairro da Torre, em João Pessoa, selecionadas de modo intencional, para permitir o estudo comparativo entre uma rua onde se encontra um aglomerado de quatro empresas madeireiras e a outra predominantemente residencial. O intuito de comparar a comunidade adjacente às duas avenidas referidas foi o de investigar o incômodo gerado pela poluição sonora das empresas do setor madeireiro à comunidade da circunvizinhança, bem como avaliar suas queixas de saúde e a forma como as pessoas percebem e reagem a estes sons, fazendo uma comparação entre duas amostras: a da comunidade circunvizinha à primeira rua e a da comunidade circunvizinha a segunda rua. O problema da presente pesquisa foi, portanto, avaliar como a população residente ou que trabalha (excluindo-se os funcionários das empresas madeireiras) em outros imóveis de atividades produtivas do entorno destas duas avenidas percebiam o ruído urbano nos seguintes aspectos: como fator de risco ambiental ou como fator de risco para sua saúde, qualidade de vida e bem-estar. Portanto, trabalhamos em etapas, tais como: medição da intensidade da fonte geradora de ruído em um ponto e aplicação de questionários na comunidade num raio de 60 m, para avaliar os aspectos físicos e psicológicos do ruído das marcenarias; verificou-se se o nível de ruído contribuía para distúrbios do sono, aumento do estresse, irritabilidade, dificuldade de concentração, dor de cabeça, cansaço, ansiedade, dentre outros sintomas, na população das áreas adjacentes; investigou-se se havia utilização de medidas de prevenção individual e/ou coletiva contra o ruído das empresas madeireiras por parte da população; iferiu-se a percepção do incômodo sonoro referido por moradores das áreas próximas a tais empresas e como estas pessoas reagiam ao ambiente sonoro ao qual estão expostas. Logo, a hipótese inicial do trabalho foi: a associação da percepção da presença da atividade ruidosa de serraria e\ou marcenaria como geradora de desconforto acústico para comunidade circunvizinha a tais empresas, bem como geradora de riscos de problemas de saúde para a referida comunidade. Para trabalhar com tal conjectura, a investigação se dividiu em duas etapas: a pesquisa do nível de ruído e a percepção do mesmo pela comunidade e sua associação à qualidade de vida e saúde. Anteriormente foi delineada uma fundamentação teórica que abordasse os temas pertinentes ao desenvolvimento da presente pesquisa. Para tal, buscamos, 23 no primeiro capítulo, resgatar os antecedentes históricos do ruído, bem como o som em suas características físicas, o que nos encaminhou à questão auditiva, atentando-se para a anatomia e para a fisiologia da audição. Em seguida, foram abordadas as questões dos impactos amb ientais na saúde do trabalhador. Posteriormente, tratou-se da correlação ruído x saúde e o bem-estar do ser humano. No item seguinte, foi correlacionado o ruído urbano com a qualidade de vida e os aspectos legais. A outra interface abordada referiu-se à percepção ambiental. Para finalizar, foi feito um breve levantamento das pesquisas mais recentes a respeito da temática do ruído, através do estado da arte. Posteriormente, exp useram-se os procedimentos metodológicos, apresentando-se, em seguida, os resultados, a discussão e, enfim, as conclusões e recomendações. 24 CAPA Capítulo 2 REVISÃO DE LITERATURA 25 2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E CONCEITUAIS 2.1.1 Antecedentes do problema sócio-ambiental do ruído A preocupação com o problema sócio-ambiental do ruído remonta aos primórdios da civilização e, no mundo moderno, está presente nos ambientes de trabalho, doméstico e no lazer, afetando adversamente o bem-estar físico e mental do ser humano. Segundo Prudente (2007), quando o ser humano lascou a primeira pedra, começou a história do ruído, que não parou de crescer mais, até se tornar hoje uma das piores fontes de poluição. Os cidadãos das grandes cidades que o digam. "A poluição sonora começou com as ferramentas de pedra, passou pelo bronze e pela pólvora até chegar na Revolução Industrial", diz Yotaka Fukuda, citado pelo referido autor. De acordo com Nudelmann et al (1997), por volta de 720 a.C. se têm as primeiras referências relacionadas com a prevenção do ruído ocupacional, nos sibaritas, originários de tribos helênicas, os quais fixaram seus bronzistas fora do perímetro urbano, para que o barulho não atingisse o restante da comunidade, antecipando, por vinte e sete séculos, o que hoje denominamos de distrito industrial. Ainda conforme Prudente (2007), o assunto é bem mais antigo do que pensamos. O Imperador César (101 - 44 a.C.) determinou “que nenhuma espécie de veículo de rodas poderia permanecer dentro dos limites da cidade (Roma), do amanhecer à hora do crepúsculo; os que tivessem entrado durante a noite deveriam ficar parados e vazios à espera da referida hora”. Martial (40 - 104 d.C.) reclamava dos ruídos da cidade de Roma, durante a noite, enumerando-os e dizendo "que não podia dormir, porque tinha Roma aos pés da cama". Consoante Santos (1999) e Nudelmann et al. (1997), a primeira referência escrita dos efeitos do ruído para a audição datam do primeiro século, correlacionando surdez e exposição ao ruído, no texto de “História Natural” de Plínio, o Velho, em que são relatados casos de surdez em moradores próximos às cataratas do Rio Nilo. Segundo Rios (2003), na China, na Idade Média (século XII), a atividade de guerra passou a produzir grande número de deficientes auditivos com os conflitos militares e a introdução de armamentos bélicos. 26 O silêncio, em seu sentido filosófico, também tem sido pensado desde a Antigüidade por teóricos como o grego Pitágoras e o chinês Confúcio, para quem "o silêncio é um amigo que nunca trai". Prudente (2004) refere Altemeyer, que afirmou: “O silêncio é revolucionário, e não reacionário, tanto que Gandhi fez uma revolução e resistiu aos colonizadores sem atitudes barulhentas". Quatro personagens notáveis fundaram as principais religiões do mundo: Moisés, Cristo, Muhammad e Buda. Para todos eles, os ensinamentos de suas doutrinas vieram à tona durante períodos de silêncio. O decreto mais original sobre silêncio é relatado na obra “Ecologia e Poluição - Problemas do século XX”, de Homero Rangel e Aristides Coelho: foi o da Rainha Elizabeth I da Inglaterra, que reinou de 1588 a 1603 e “proibia aos maridos ingleses baterem em suas mulheres depois das 10 horas da noite, a fim de não perturbarem os vizinhos com gritos” (SANTOS, 2007). Santos (1999) e Nudelmann et al (1997) citam ainda a obra de Ramazzini (1713), com a descrição da surdez como uma das doenças dos bronzistas, e de Thomas Barr (1800), que relatou a presença de surdez em trabalhadores da produção de vidro. Mas, apenas no século passado, a comunidade científica intensificou seus estudos sobre os efeitos do ruído sobre o organismo humano, principalmente após a Revolução Industrial e a II Guerra Mundial. Es tas transformaram o modo de vida das sociedades, com a utilização de tecnologias e máquinas geradoras de ruído comandadas pelo trabalhador. Os primeiros achados de ligação científica entre perda auditiva e ruído datam de 1930, quando Fosbrook, na Inglaterra, registrou as perdas auditivas em ferreiros. Em 1934, Obata realizou vários experimentos e concluiu que os efeitos do ruído sobre o homem vão além da indução de perdas auditivas. Tais estudos se tornaram mais conclusivos com o desenvolvimento tecnológico, que permitiu à Audiologia 1 diagnósticos mais precisos de surdez em soldados da Segunda Guerra Mundial. Rios (2003) cita os trabalhos de Barrien (1946), Plutchik (1959) e Jerison (1959), os quais, sob o prisma da psicologia e da fisiologia humana, constataram haver 1 Audiologia é a ciência da avaliação da audição e tem sua base científica na psicoacústica que, por sua vez, está relacionada com aquilo que ouvimos, descrevendo as relações existentes entre nossas sensações auditivas e as propriedades físicas de um estímulo sonoro, como freqüência, intensidade, forma de onda, velocidade etc. (Russo, 1997) 27 redução na eficiência do desempenho das pessoas, em suas rotinas de vida, em função das altas intensidades de ruído. No Brasil, a cidade de São Paulo foi pioneira na criação de leis de regulamentação da poluição sonora. Em 1976, a prefeitura municipal contratou os serviços do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, para realizar medições do ruído em diversos pontos espalhados pela cidade. Bontinck e Mark (1977), citados por Santos (2007), afirmam que "uma pessoa de 80 anos que viva na África Central tem a mesma capacidade auditiva de um nova- iorquino de 18 anos", pois está mergulhada numa paisagem silenciosa mais natural ao homem, que predominou na Terra há milhões de anos, até meados do século XIX, quando houve a erupção da era industrial nas cidades. 2.1.2 O ruído e a Revolução Industrial A Revolução Industrial teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de produção. Enquanto, na Idade Média, o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna, tudo mudou. A poluição ambiental, o aumento da poluição sonora, o êxodo rural e o crescimento desordenado das cidades também foram conseqüências nocivas para a sociedade (REVOLUÇÃO INDUSTRIAL, 2007). Segundo Franco e Druck (1998), tomando-se a Revolução Industrial como marco que revolucionou tanto as relações sociais – exercidas entre os homens no desempenho das atividades econômicas e na vida social – quanto as bases técnicas das atividades humanas – avanços científicos e sua aplicação industrial sob a forma de tecnologia – é possível compreender o processo deflagrado de crescente transformação da interação entre a humanidade e o planeta, isto é, entre as atividades humanas e a biosfera. A partir da Revolução Industrial – que se expandiu progressivamente da Inglaterra para o resto do mundo ocidental e, no século XX, se desdobra ‘modernamente’ no mundo oriental - podem ser destacados elementos marcantes de transformação profunda na vida dos homens entre si e com o meio ambiente e, conseqüentemente, das condições objetivas e subjetivas da saúde humana e da sustentabilidade ambiental. 28 As sociedades pré-Revolução Industrial utilizavam basicamente as forças humana e animal, atividades estas pouco ruidosas. A Comunidade Européia recomenda níveis ambientais de ruído de até 45 dB, mas, para a Organização Mundial de Saúde, o nível ambiental de ruído deve ser de até 35 dB. Uma característica da paisagem sonora pré- industrial ressaltada por Wrightson (1999) é que o “horizonte acústico” pode estender-se por várias milhas. Essa sensação é reforçada quando podemos ouvir sons emanados de povoados vizinhos, estabelecendo e mantendo relações entre diversas comunidades locais. Na paisagem sonora pós-Revolução Industrial, sons significativos podem ser mascarados a tal ponto, que o “espaço auditivo” de um indivíduo seja reduzido. Quando esse efeito é tão pronunciado que o indivíduo não pode ouvir as reflexões dos sons de seu próprio movimento ou fala, o espaço auditivo encolheu até envolver o próprio indivíduo, isolando, assim, o ouvinte do seu ambiente. 2.1.3 Ecologia acústica O som de um lugar em particular pode, assim como a arquitetura, costumes e indumentária – expressar a ident idade da comunidade, a ponto de os diferentes locais serem reconhecidos e caracterizados por suas paisagens sonoras. Porém, desde a Revolução Industrial, um número crescente de paisagens sonoras únicas vem desaparecendo completamente, ou submergindo na nuvem de ruído anônimo e homogenizado que é a paisagem sonora da cidade contemporânea, com sua tônica onipresente – o trânsito, afirma Wrightson (1999) em seu trabalho. Segundo este autor, a filosofia básica da Ecologia Acústica é simples, porém profunda: seu criador, o autor - R. Murray Schafer, sugere que nós ouvimos o ambiente acústico como se fosse uma composição musical e que, desta forma, temos uma responsabilidade sobre essa composição. A profundidade da mensagem de Schafer se esconde hoje atrás de um único termo: poluição sonora. Wrightson (1999) refere o trabalho de Schafer, que afirma existir duas formas de se melhorar a paisagem sonora. A primeira consiste em aumentar a competência sonora através de programas educacionais que procurem imbuir as novas gerações de uma apreciação ao som ambiente. Ele acredita que isso fomentará, em segundo lugar, uma nova postura no 29 modelo que incorporará um maior respeito ao som, e assim, reduzirá o desperdício de energia que é o ruído. Contudo, é vital que, para ouvirmos, precisamos parar ou ao menos desacelerar, física e psicologicamente, tornando- nos “seres humanos”, em vez de “fazeres humanos”. Para o Homo Urbanus, parar e escutar é uma decisão difícil. Hoje, o interesse em Ecologia Acústica está crescendo graças às atividades do Fórum Mund ial de Ecologia Acústica (WFAE) fundado durante a Primeira Conferência Internacional de Ecologia Acústica em Banff, Alberta, Canadá, em agosto de 1993. Resumindo, os valores adotados pela Ecologia Acústica, como o da audição e o da qualidade da paisagem sonora, valem ser propagados. Com a presença do homem na terra, a natureza está sendo sempre redesenhada, desde o fim da história natural e a criação da natureza social ao desencantamento do mundo, passando de uma ordem vital a uma ordem racional. O problema emergente do espaço humano vem ganhando uma dimensão nunca antes alcançada. A preocupação sempre ocorreu, mas, na fase atual, é redobrada, porque os problemas estão crescendo de maneira geométrica. Chouard (2001) ressalta que se faz urgente a regulamentação da intensidade sonora. Caso contrário, teremos, no futuro, uma geração de surdos decorrente de traumatismos sonoros. Nos últimos vinte anos, assiste-se à proliferação de inúmeros acordos e tratados sobre o ambiente. E a questão do ruído? Certamente aqui se aplica a máxima popular que diz “quem não é visto não é lembrado”. Apesar de a academia estudar e publicar artigos e teses sobre o ruído e seus efeitos, pouco se fala dele em encontros e congressos, e pouco se faz na comunidade para a redução deste problema. 2.2 O SOM A física define o som como uma perturbação que se propaga nos meios materiais e é capaz de ser detectada pelo ouvido humano. Na existência de outro som, simultâneo ao que queremos ouvir, ocorre o mascaramento do som desejado, sendo necessário aumentar -se a intensidade do som desejado, para se obter sua correta percepção (DE MARCO,1940). 30 O som é definido por Cândido (2002) como um fenômeno vibratório resultante das variações da pressão no ar. Essas variações de pressão sonora se dão em torno da pressão atmosférica e se propagam longitudinalmente. Qualquer fenômeno capaz de causar ondas de pressão no ar é considerado uma fonte sonora. Basicamente, todo som se caracteriza por três variáveis físicas: freqüência, intensidade e timbre. Russo e Santos (1993) definem freqüência como o número de vibrações por unidade de tempo ou o número de ciclos que as partículas materiais realizam em um segundo (ciclos/segundo). Esta unidade recebe o nome de Hertz (Hz). Relacionada à freqüência, encontramos a altura (Pitch), que nos permite classificar o som em uma escala que varia de grave a agudo. Quanto mais alta for a freqüência, mais agudo será o som; quanto mais baixa, mais grave ele será . Já a intensidade pode ser definida como sendo a energia que atravessa uma área num intervalo de tempo ou, ainda, em função da pressão sonora, ou seja, a força exercida pelas partículas materiais sobre uma superfície sobre a qual incidem. A intensidade (Loudness) relaciona-se com sons fortes e fracos e não baixos e altos, como são usualmente utilizados. Para De Marco (1940), o timbre não é uma qualidade do som, mas sim da fonte sonora, que pode ter os seguintes tipos de som: - Tom puro: constituído por uma única freqüência. Ex: o som do diapasão. Na audiologia, ele se revela muito importante, pois é utilizado para medir a acuidade auditiva dos indivíduos. - Som complexo: quando existe uma superposição de freqüências relacionadas harmonicamente. Ex: a voz humana e os instrumentos musicais. - Ruído: trata-se da superposição de várias freqüências sem relação harmônica entre si. De acordo com a Norma Técnica Estadual SELAP 002/PB, os ruídos podem ser classificados da seguinte forma: – Ruído contínuo: ruído que, no período de 5 (cinco) minutos, apresenta uma variação menor maior ou igual que 6 dB(A) entre seus valores máximo e mínimo. – Ruído descontínuo: ruído que, no período de 5 (cinco) minutos, apresenta uma variação maior que 6 dB(A) entre seus valores máximo e mínimo. – Ruído constante: ruído que, no período de 5 (cinco) minutos, não apresenta qualquer variação de nível. – Ruído impulsivo ou de impacto: aque le que apresenta picos de energia acústica de duração inferior a um segundo. 31 Existe uma nítida divisão entre os sons que se apresentam abaixo e acima da voz humana. Os sons com níveis inferiores à nossa voz são naturais, confortáveis e não causam perturbação. Ao contrário, os sons superiores à voz humana podem ser considerados ruídos. Normalmente são produzidos por máquinas, são indesejáveis e causam perturbação ao homem. A conversação humana situa-se na faixa de 45 a 75 dB2 . Figura 1- Limiar de audibilidade Fonte: (ALMEIDA, 1999) Cândido (2002) define subjetivamente o ruído como toda sensação auditiva desagradável ou insalubre. Fisicamente, como todo fenômeno acústico não periódico, sem componentes harmônicos definidos. Para Santos e Morata (1999), os termos som e ruído são freqüentemente utilizados de forma indiferenciada mas, geralmente, som é utilizado para as sensações prazerosas, como música ou fala, ao passo que ruído é usado para descrever um som indesejável, como buzina, explosão, barulho de trânsito e máquinas. 2 Não se usa unidade de intensidade sonora, mas nível de intensidade sonora (NIS, ou Sound Intensity Level, SIL, em inglês) para a forma como nosso ouvido reage a essa intensidade. Essas unidades são o Bel e o seu submúltiplo o decibel (dB). O nome Bel é uma homenagem a Alexander Graham Bell, que inventou o telefone (1877), quando tentava desenvolver aparelhos de amplificação sonora para deficientes auditivos (Menezes, 2005). 32 De acordo com Cândido (2002) para um som ser percebido, é necessário que ele esteja dentro da faixa de freqüência captável pelo ouvido humano. Essa faixa para um ouvido normal, varia em média de 16 a 20.000 Hz. As freqüências audíveis são divididas em três faixas: ? Baixas freqüências ou sons graves - as quatro oitavas de menor freqüência, ou seja, 31,25; 62,5 ; 125 e 250 Hz. ? Médias freqüências ou sons médios - as três oitavas centrais, isto é, 500, 1.000 e 2.000 Hz. ? Altas freqüências ou sons agudos - as três oitavas de maior freqüência, ou seja, 4.000, 8.000 e 16.000 Hz. A propagação do som se dá a partir da fonte geradora, em todas as direções. Por ser uma vibração longitudinal das moléculas do ar, esse movimento oscilatório é transmitido de molécula para molécula, até chegar aos nossos ouvidos, gerando a audição. A atenuação do som na propagação: - É diretamente proporcional à freqüência, ou seja, o som agudo “morre” em poucos metros, enquanto que o som grave se pode ouvir a quilômetros de distância. - É inversamente proporcional à temperatura. - É inversamente proporcional à umidade. - A poluição do ar, principalmente o monóxido e dióxido de carbono, são muito absorventes, atenuando bastante o som. - Não sofre influência da pressão atmosférica. Portanto, na propagação, o ar, oferecendo maior resistência à transmissão de altas freqüências, causa maior distorção no espectro de freqüências. Por isso, nos sons produzidos a grandes distâncias, nós ouvimos com maior intensidade os sons graves, ou seja, os sons agudos são atenuados na propagação. 2.2.1 Propagação do som ao ar livre A propagação sonora ao ar livre é normalmente estudada em termos de três componentes: a fonte sonora, a trajetória de transmissão e o receptor. O nível sonoro se reduz com a distância ao longo de sua trajetória. 33 Conforme Cândido (1999) pode-se controlar a transmissão do som pelo ar através de obstáculos à sua propagação. Antes, porém, cabe lembrar que os sons de baixa freqüência se transmitem mais facilmente pelo ar que os sons de alta freqüência. Assim, quando possível, deve-se transformar os ruídos para a faixa mais aguda do espectro, fazendo com que percam sua intensidade numa distância menor. O isolamento do som na fonte ou no receptor pode ser feito por paredes, que obedecem aos princípios de propagação Para Gerges (2000), a energia gerada por fontes sonoras sofre atenuação ao se propagar em ar livre. Os fatores causadores de atenuação são: distância percorrida, barreiras, absorção atmosférica, vegetação, variação de temperatura, o solo e efeito do vento. Na análise do campo acústico em comunidade, é importante desenvolver relações entre a potência sonora das fontes, os níveis de pressão sonora no receptor (comunidade) e a influência nos vários caminhos de propagação. Déoux e Déoux (1996) referem que o som é produzido pelas vibrações de um corpo – lâmina metálica, vidro, cordas vocais – ou de moléculas do ar. Propaga-se gradualmente sob forma de uma onda acústica, cuja velocidade é de 340 m/s para uma pressão atmosférica regular e uma temperatura de 15ºC. Essa passagem de uma onda acústica produz uma variação da pressão do ar, a qual nem que seja ínfima, estimulará o nosso aparelho auditivo. 2.3 ANATOMIA E FISIOLOGIA DA AUDIÇÃO 2.3.1 Anatomia dos órgãos da audição O ouvido funciona como o órgão coletor dos estímulos externos, transformando as vibrações sonoras em impulsos sonoros para o cérebro. É, sem dúvida, a estrutura mecânica mais sensível do corpo humano, pois detecta quantidades mínimas de energia. Para fins de estudo, o ouvido é dividido em três partes: ouvido externo, ouvido médio e ouvido interno (CÂNDIDO, 2002). 34 Figura 2 - Anatomia do ouvido Fonte: Berr O ouvido externo compõe-se do pavilhão auditivo (orelha), do canal auditivo e do tímpano. A função da orelha é a de uma corneta acústica, capaz de dar um acoplamento de impedâncias entre o espaço exterior e o canal auditivo, possibilitando uma melhor transferência de energia. Essa corneta, tendo característica diretiva, ajuda na localização da fonte sonora. As paredes do canal auditivo são formadas de ossos e cartilagens. Em média, o canal tem 25 mm de comprimento, 7 mm de diâmetro e cerca de 1 cm3 de volume total. O tímpano (membrana timpânica) é oblíquo e fecha o fundo do canal auditivo. Tem a forma aproximada de um cone, com diâmetro da base de 10 mm. É formado de uma membrana de 0,05 mm de espessura e superfície de 85 mm2. Deve ficar claro que o tímpano assemelha-se a um cone rígido, sustentado, em sua periferia, por um anel de grande elasticidade, o qual lhe permite oscilar como uma unidade, sem sair do seu eixo. De modo mais claro, Déoux, S. e Déoux, P. (1996) explicam que as ondas sonoras captadas pelo ouvido externo fazem vibrar o tímpano, como uma pele de tambor ou a membrana de um microfone. 35 Logo depois do tímpano, temos o ouvido médio: uma cavidade cheia de ar conhecida também como cavidade do tímpano, cujo volume é da ordem de 1,5 cm3 e que contém 3 ossículos: o martelo (23 g), a bigorna (27 g) e o estribo (2,5 g). A função de tais ossículos é, através de uma alavanca, acoplar mecanicamente o tímpano à cóclea (caracol), triplicando a pressão do tímpano. Na parte interna da cavidade do tímpano, existem as janelas oval e redonda, que são as aberturas do caracol. As áreas de tais janelas são da ordem de 3,2 e 2 mm,2 respectivamente. A janela redonda é fechada por uma membrana, e a oval é fechada pelo "pé" do estribo (fig.3). A cadeia ossicular do ouvido médio é mostrada na Figura 3. Martelo Bigorna Estribo Figura 3 - Cadeia ossicular Fonte: (CÂNDIDO, 1999) Na Figura 3, é possível visualizar o martelo com o ligamento superior (1), ligamento anterior (2), ligamento lateral (3) e músculo tensor do tímpano (4); a bigorna com seu ligamento superior (5) e ligamento posterior (6); e o estribo com o ligamento anular (7) e o músculo estapédio (8). O músculo estapédio tem uma importante função na proteção da audição contra os altos níveis de ruído. Déoux e Déoux (1996) complementam: existe um elemento de proteção contra o barulho no ouvido médio, o arco reflexo estapediano. Caso o barulho seja superior a 85 dB e dure mais de um segundo, os músculos dos pequenos ossos (martelo, bigorna e estribo) vão contrair-se para diminuir a vibração ao nível da janela oval e proteger o ouvido interno. É o reflexo estapédico. Mas, se a duração do barulho for inferior a um segundo, este reflexo não pode ser estimulado, e compreende-se, então, a nocividade dos sons ditos impulsivos, que poderão causar lesão definitiva à cóclea. 36 O ouvido interno inicia-se pela janela oval, seguindo um canal semicircular que cond uz ao caracol (cóclea), que tem um comprimento de 30 a 35 mm e é dividido longitudinalmente em duas galerias, pela membrana basilar. O caracol tem aspecto de um caramujo de jardim e mede cerca de 5 mm do ápice à base, com uma parte mais larga de aproximadamente 9 mm. Pode-se dizer que o caracol consiste em um canal duplo enrolado por 2,5 voltas em torno de um eixo ósseo. A janela oval fecha o compartimento superior e transmite suas vibrações para a membrana basilar através da endolinfa, líquido viscoso que preenche esse conduto. O comprimento da membrana basilar é de 32 mm; tem cerca de 0,1 mm de espessura próxima à janela oval e 0,5 mm na outra extremidade. A janela redonda é uma membrana circular, muito elástica, que fecha a parte superior do canal e, mediante as suas contrações, compensa as variações de pressão produzidas pelas oscilações da membrana basilar. Figura 4 - Fisiologia da audição Fonte: (PEREIRA, 2006) Sobre a membrana basilar estão distribuídas as células acústicas (Órgão de Corti), em número de 18 mil (externas e internas), de onde saem os nervos que formam o nervo acústico e levam o sinal elétrico até o cérebro (fig.5). 37 Figura 5 - Cóclea Fonte: Centro Auditivo Telex A membrana basilar atua como um filtro seletivo ou analisador de freqüências, em que a percepção de cada freqüência se realiza em um determinado ponto da membrana: as altas freqüências excitam a parte próxima da janela oval, e, à medida que se caminha para dentro do caracol, a freqüência diminui. Sendo o som decomposto em sua freqüência fundamental e suas harmônicas, é possível para nós distinguir o timbre dos sons, realizando uma verdadeira análise espectral. Figura 6 - Estruturas do sistema auditivo Fonte: Centro Auditivo Telex Segundo Déoux e Déoux (1996), o ouvido está constantemente em estado de alerta de dia e à noite. A sensibilidade do ouvido não é idêntica para todas as freqüências: 38 maior para os sons entre 2.000 Hz e 5.000 Hz e mais fracas para as freqüências mais altas e mais baixas. O limiar de audição é de 0 dB3 . Para diferenciar a intensidade de dois sons, 3 dB são necessários. A partir de 60 dB, o barulho já é considerado incômodo. A OMS estima que se torna nocivo a partir de 85-90 dB sobre uma duração de 8 horas. O limiar doloroso situa-se em torno de 130 dB. 2.3.2 Fisiologia da audição O processo fundamental da audição é a transformação do som em impulsos elétricos ao cérebro. Esse processo passa pelas seguintes etapas: as ondas sonoras chegam até o pavilhão auditivo e são conduzidas ao canal auditivo (meato acústico externo). Além de conduzir o som ao canal auditivo, o pavilhão auditivo também ajuda na localização da fonte sonora (CÂNDIDO, 2002). As ondas sonoras percorrem o canal auditivo e incidem sobre o tímpano (membrana timpânica), fazendo-o vibrar com a mesma freqüência e amplitude da energia do som. As ondas sonoras (pressão) são transformadas em vibração. A vibração do tímpano é transmitida para o cabo do martelo que faz movimentar toda a cadeia ossicular. A vibração do martelo é transmitida para a bigorna e para o estribo, através de um sistema de alavancas que aumentam em 3 vezes a força do movimento, diminuindo em 3 vezes a amplitude da vibração. A vibração da platina do estribo é transmitida sobre a janela oval, que está em contato com o líquido do ouvido interno. A vibração é transformada em ondas de pressão no líquido. Como a relação entre as áreas do tímpano e da janela oval é de 14:1, ocorre uma nova amplificação do som pela redução da área. A vibração no líquido da cóclea é, portanto, uma onda sonora (longitudinal), semelhante à onda sonora que chegou ao pavilhão auditivo, com a mesma freqüência, com a amplitude reduzida de 42 vezes (3 x 14) e a pressão aumentada de 42 vezes. 3 O nome BEL foi dado em homenagem a Alexandre Graham Bell, pesquisador de acústica e inventor do telefone, de onde foi criado o décimo do Bel, ou seja, o decibel (dB). O decibel não é uma medida, mas apenas uma escala logarítmica (10 log), que satisfaz a construção fisiológica do nosso ouvido. 39 As ondas sonoras, propagando-se nos líquidos do ouvido interno, provocam a vibração da membrana basilar e do Órgão de Corti. A vibração chega até as células ciliadas, fazendo com que seus cílios oscilem, saindo de sua posição de repouso. A oscilação dos cílios (na mesma freqüência da onda sonora original) causa uma mudança na carga elétrica endocelular, provocando um disparo de um impulso elétrico para as fibras nervosas, o qual é conduzido para o nervo acústico e para o cérebro. A indicação de qual célula ciliada responderá ao estímulo vibratório depende da freqüência do som: para sons agudos o deslocamento da membrana basilar é maior na região basal (próxima à janela oval), estimulando as células desta região; se o som é grave, o movimento maior da membrana basilar será na região apical. Um importante mecanismo de proteção ocorre no ouvido médio. Quando o estímulo sonoro atinge níveis acima de 70 - 80 dB, o processo de proteção é ativado, estimulando a contração do músculo estapédio (através do nervo facial), que faz alterar a forma de vibração do estribo sobre a janela oval. A platina do estribo passa a vibrar paralelamente à membrana da janela oval, impedindo a transmissão da vibração e inclusões muito pronunciadas, as quais poderiam romper tal membrana (Figura 7). . Figura 7 - Formas de movimento do estribo: para sons normais e para sons acima de 70-80 dB Fonte: (CÂNDIDO, 1999) 2.4 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELO RUÍDO NA SAÚDE DO TRABALHADOR Por ser o ruído um agente físico bastante presente no mundo contemporâneo, desde a Revolução Industrial, e conseqüentemente no ambiente de trabalho, discutiremos um pouco sobre seus efeitos na saúde do trabalhador, apesar de não ser esta a proposta da presente pesquisa. 40 O ruído afeta adversamente o bem-estar físico e mental das pessoas, tanto no ambiente profissional, como também no doméstico ou no lazer, pois, mesmo dormindo, os habitantes das grandes cidades vivem imersos numa atmosfera de ruído, com que parecem ter se acostumado: carros de som, tráfego, alarmes contra roubos, sirenes, discotecas, brinquedos, buzinas, motores, algazarras etc. Nas últimas décadas, em decorrência do avanço tecnológico, o ruído se transformou na forma de poluição que atinge o maior número de pessoas. Para Félix (2005), a proteção contra o ruído é um dever comum para o bem do indivíduo e da sociedade. A atenuação sonora alcançou máxima importância no mundo moderno, e existem várias sociedades que tentam diminuir o ruído nas grandes cidades. Apesar do avanço dos conhecimentos, da maior difusão de sua nocividade, de ser o ruído o agente mais comum nos ambientes profissionais e com forte repercussão no meio ambiente das grandes cidades, no Brasil, os investimentos em seu controle ainda são escassos e localizados. Sebastian4 alerta que não existe na natureza ruído algum que tenha mais de 80 dB, exceto nas grandes quedas d’água, em cujas imediações não existe vida animal superior. Para Hungria (1995), o ouvido humano é capaz de tolerar, sem prejuízo à audição, ruídos com intensidade de até 80-85 dB (A)5 . A exposição contínua, durante seis a oito horas por dia, a ruídos na intensidade ou acima de 85 dB (A) acarretará em indivíduos predispostos à lesões auditivas irreversíveis. Nas oficinas de tecelagem, de fabricação de cigarro, de caldeireiro, motores de avião a jato, de metalurgia e nas serralharias, a intensidade sonora varia de 90 a 120 dB no ambiente interno. Russo (1997) alerta que exposições continuadas a intensidades superiores a 85 dB podem causar perdas permanentes da audição. Acima deste nível, um aumento de apenas 5 dB implica a redução do tempo de exposição pela metade. Em 1995, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o ruído na lista dos maiores problemas de saúde dos Estados Unidos da América (FÉLIX, 2005). A perda de audição induzida por ruído (PAIR) é perfeitamente prevenível e irrecuperável, conforme afirmação da referida autora, que ainda afirma que o seu simples diagnóstico já significa o resultado da falência de todo um sistema preventivo que deveria estar colocado à disposição do trabalhador, constituindo a prevenção o único remédio para o mal. 4 A obra de Sebastian, Audiologia Prática. 3 ed. Rio de Janeiro: Enelivros, é uma tradução para o Portugûes, na qual a editora não refere o ano da publicação. 5 No trabalho de Cândido (1999) é recomendado usar a escala de ponderação (A), quando se referir a intensidade sonora em relação a seres humanos, pois esta é a escala mais parecida com o ouvido humano, por isso, utiliza-se dB (A). 41 Hungria (1995) afirma que não há tratamento para as lesões decorrentes do ruído, a não ser o afastamento definitivo do indivíduo do amb iente ruidoso, a fim de evitar a progressão da perda auditiva, ou conseguir eventualmente alguma recuperação da deficiênc ia já instalada. Em virtude disso, o tratamento é profilático, isto é, preventivo, com a proteção do operário contra ruídos contínuos de intensidade igual ou superior a 85 dB. Segundo Aberti (1994), a Organização Mundial de Saúde, em conjunto com a Federação Internacional de Sociedades Otorrinolaringológicas, acreditam que o ruído provavelmente é o maior responsável pelas perdas auditivas isoladas no mundo moderno. Diante deste universo, o ruído passou a ser considerado um proble ma de saúde pública, durante Congresso Mundial realizado sobre poluição sonora na Suécia, em 1989. Félix (2005) acrescenta que pesquisas sobre o ruído, além de ampliar os conhecimentos sobre seus efeitos e influir nas políticas de sua redução, estão intimamente ligadas à qualidade de vida da maioria dos trabalhadores e da população em geral. De acordo com Ribas (2006), por ocasião da ECO-92, o ruído foi considerado a terceira causa de poluição do planeta, estando apenas atrás da poluição do ar e da água. Os prejuízos acarretados pelo ruído não estão restritos apenas à audição, mas afetam também outros órgãos e funções do organismo, prejudicando atividades físicas, fisiológicas e mentais do indivíduo. Barrichello (2006) diz que a proteção da orelha é o único meio de prevenção da doença que atinge, de forma irreversível, lenta e insidiosa, a orelha interna (cóclea e labirinto), apresentando diversos sintomas auditivos e extra-auditivos, tais como: perda de audição, zumbido, tontura, dificuldade de comunicação, irritabilidade, além de que o indivíduo ser obrigado a conviver na presença do ruído no ambiente de trabalho. O Barrichello (2006) acrescenta ainda que tais sintomas, associados a fatores como estresse, outras doenças da orelha interna, surdez familiar, distúrbios circulatórios e alguns medicamentos, podem aumentar a suscetibilidade do indivíduo à lesão auditiva ocupacional, e as seqüelas ocasionadas pelo ruído serão mais marcantes na terceira idade. Santos (1999) descreve outros efeitos auditivos do ruído, além da deficiência auditiva propriamente dita. São eles: zumbidos, dificuldade na localização da fonte sonora, dificuldade de conversação, dificuldade em perceber e discriminar sons na presença de ruído de fundo e incômodo para sons altos. Santos e Morata (1999) afirmam que, embora o ruído não afete apenas a audição, é neste órgão do sentido que seus efeitos são mais caracterizados e percebidos, levando à exaustão física e a alterações químicas, metabólicas e mecânicas do órgão sensorial 42 auditivo. A extensão e o grau do dano estão relacionados diretamente com a intensidade da pressão sonora, a duração do tempo, a freqüência e a maior ou menor suscetibilidade individual. De acordo com a norma da ISO 2204/1973 (International Standard Organization), os ruídos podem ser classificados como: contínuo, intermitente e de impacto. Simpson (2001) afirma que as evidências laboratoriais e de campo indicam maior risco ao ruído de impacto. Segundo Fiorini (1998), o ruído provoca uma série de alterações no nosso corpo, embora, em geral, quantifique-se apenas a perda auditiva. O som alto é um disparador de adrenalina, aumentando a emoção. O barulho acaba transformando-se num vício. Na verdade, hoje não é mais possível tirar o barulho do mundo. Mas, pode-se minimizá- lo. Ibañez (1997) conclui que a prevenção da PAIR pode ser realizada através do desenvolvimento de um bom Programa de Conservação Auditiva (PCA), através de um conjunto de medidas coordenadas, que têm por objetivo impedir que determinadas condições de trabalho provoquem a deterioração dos limiares auditivos em um grupo de trabalhadores. Porém, a presente dissertação pretende versar sobre o ruído voltado para o aspecto da qualidade de vida e da percepção da comunidade do entorno de empresas madeireiras. 2.5 O RUÍDO, A SAÚDE E O BEM-ESTAR DO SER HUMANO Que é a saúde? Ao lado da noção clara de prevenção das doenças, existe também a noção de investigação das condições de vida mais favoráveis ao desenvolvimento físico, psicológico e moral do homem. A Carta Européia do Ambiente e da Saúde, publicada pela OMS em 1989, definiu que: “Boa saúde e bem-estar exigem um ambiente limpo e harmonioso no qual todos os fatores físicos, psicológicos, sociais e estéticos, recebem o seu justo lugar. Tal ambiente deverá ser tratado como um recurso para o melhoramento das condições de vida e bem-estar” (MATTEI, 1996). O ambiente é reconhecido como um dos quatro grandes determinantes do estado de saúde de uma população, ao lado dos fatores genéticos, dos comportamentos individuais e da qualidade dos tratamentos médicos. A sua deterioração tem uma grande 43 responsabilidade nas doenças da civilização: depressão nervosa, hipertensão, perturbações digestivas. Tratar os problemas do ambiente e da saúde separadamente é um erro. Na obra de Déoux e Déoux (1996), René Dubos afirma que a influência de estímulos ambientais e a dinâmica do organismo permitem a conservação do equilíbrio por reações adaptativas, podendo o indivíduo ser considerado “ecoestável”. Adquire uma determinada tolerância à poluição ambiente graças a uma adaptação qualificada de “criativa”. Pelo contrário, nas pessoas “ecolábeis”, algumas agressões exteriores têm a função de revelador de um estado de desequilíbrio até então inaparente. A desestabilização leva a uma significativa redução dos índices de saúde e a um aumento das queixas, especialmente no aspecto neurovegetativo e circulatório. A adaptação humana aos agentes externos varia segundo os indivíduos e segundo a duração do estresse ambiental. Deste modo que, nas grandes cidades, os novos citadinos são aparentemente mais sensíveis à poluição urbana que os antigos. Em geral, a primeira adaptação é reflexa. Se a perturbação for compensada, a alteração será temporária e reversível. Se vários agentes estressantes combinarem as suas ações, a mais durável desestabilização do organismo será a porta de entrada para a doença. A doença é uma falta de adaptação, enquanto a saúde é uma adaptação conseguida. Há muito tempo, os ambientalistas americanos definiram e mediram a saúde “como capacidade de adaptação perante as circunstâncias e riscos ambientais.” O homem tem uma grande adaptabilidade às mudanças do seu ambiente. É o mais adaptativo dos animais. No entanto, criou, num século, uma extraordinária aceleração nas modificações do seu meio vital. Por outro lado, semelhante capacidade de adaptação não pode justificar que o homem tenha a obrigação imperativa de se inclinar perante todas as agressões de uma técnica moderna, apresentada como inevitável, pois “a adaptação, muitas vezes, realiza-se pelo preço de uma mutilação; aprendemos a tolerar sacrificando alguma coisa da nossa vida. Por exemplo, a adaptação ao barulho paga-se pela deterioração de uma determinada parte do sistema auditivo, portanto, passa pela qualidade de vida baseada nas relações sociais. Não morremos, mas é o preço a pagar para viver” (DÉOUX E DÉOUX, 1996). Souza (2007) refere Bontinck e Mark (1977), as quais relatam que "uma pessoa de 80 anos que viva na África Central tem a mesma capacidade auditiva de um novaiorquino de 18 anos", pois está mergulhada numa paisagem silenciosa mais natural ao homem, que predominou na Terra há milhões de anos até meados do século XIX, quando houve a erupção da era industrial nas cidades. O mesmo autor também faz referência a Glorig, 44 que propõe a substituição do termo "presbiacusia" pelo de "socioacusia", tendo em vista que a perda auditiva com a idade é típica da sociedade industrializada e urbanizada. Franco e Russo (2001) afirmam que a poluição sonora é considerada pela Organização Mundial de Saúde como uma das três prioridades ecológicas para a próxima década e a percepção desse problema é, muitas vezes, demorada. A perda auditiva induzida por ruído (PAIR) não é causada apenas pelo ruído industrial, mas também por ruídos da vida diária, sendo chamada de socioacusia. Entretanto, Coghlan (2007) relata problemas de saúde mais graves, de acordo com novas evidências de estudos publicados no último relatório da Worl Health Organization (WHO). Em reportagem à Revista New Scientist (agosto, 2007), a WHO sugere que à exposição a níveis de barulho superiores aos 50 decibels representam cerca de sete milhões de pessoas do total de mortes provocadas por doenças cardíacas anualmente em todo o mundo. Depois de uma perturbação devida a um estímulo ambiental, nem sempre o organismo recupera o estado inicial, e, pouco a pouco, pela repetição das microagressões, instala-se um imperceptível desregramento, que só se manifestará após um período relativamente longo. Portanto, um tempo de estado latente aparente existe entre a exposição a um agente exterior e o diagnóstico da doença. A lentidão da evolução clínica das numerosas manifestações devidas aos elementos exteriores também explica o atraso e as hesitações para ligar uma determinada doença a uma agressão ambiental. A gama dos efeitos das exposições ambientais sobre a saúde é muito ampla. Todos os aparelhos e sistemas do organismo podem ser perturbados, por certo tempo de exposição a vários níveis, pelos poluentes ambientais que intervêm nos diferentes estágios da patologia. Alguns são fatores desencadeantes, porém a maioria é formada de favorecedores de doenças, agravando predisposições genéticas ou estados patológicos preexistentes. Pinto et al. (2006), em seu trabalho, cita Medeiros (1999) em relação aos efeitos extra-auditivos, ou seja, alterações orgânicas, emocionais e sociais desencadeadas pelo excesso de ruído: vertigem, náuseas e vômito, desmaio, diarréia ou prisão de ventre, dor de cabeça, distúrbios hormonais, distúrbios cardiovasculares, dilatação das pupilas, distúrbios do sono. Afinal o barulho causa irritabilidade, cansaço, falta de atenção e dificuldade de concentração, queda de rendimento no trabalho, estresse, prejuízo quanto ao desempenho de algumas tarefas, redução da potência sexual, mudanças na conduta e no humor, depressão, ansiedade e distúrbios da comunicação, pois, em locais barulhentos, a comunicação verbal é prejudicada, e, também, devido à dificuldade de entender a conversação, pelo déficit auditivo. 45 Seligman (1993) relata ainda alguns sintomas, além dos anteriormente citados: dor no ouvido, dor no estômago, dores nas costas, dor na garganta, alterações metabólicas, inapetência, ressaltando que é expressivo o número de queixas não auditivas em pacientes submetidos a ruído intenso. Conforme Cândido (2002), quando uma pessoa é submetida a altos níveis de ruído, existe a reação de todo o organismo a esse estímulo. As alterações na resposta vegetativa (involuntária ou inconsciente) são : Principais alterações fisiológicas reversíveis: - Dilatação das pupilas; - Hipertensão sangüínea; - Mudanças gastro- intestinais; - Reação da musculatura do esqueleto; - Vaso-constricção das veias. Principais mudanças bioquímicas : - Mudanças na produção de cortisona; - Mudanças na produção de hormônio da tiróide; - Mudança na produção de adrenalina; - Fracionamento dos lipídios do sangue; - Mudança na glicose sangüínea; - Mudança na proteína do sangue. Os efeitos cardio-vasculares são : - Aumento do nível de pressão sangüínea - sistólica; - Aumento do nível de pressão sangüínea - diastólica; - Hipertensão arterial. 46 Figura 8 - Efeitos do excesso de ruído sobre o organismo Fonte: (CÂNDIDO, 1999) Quanto aos efeitos sociológicos da exposição ao ruído no ambiente comunitário : - Níveis mais baixos que os ocupacionais ; - Alto grau de incômodo - fator adicional de estresse ; - Em ensaios com 1.000 pessoas, aquelas submetidas a níveis maiores que 70 dB(A), houve alto índice de hipertensão arterial, o grupo mais suscetível foram as pessoas na faixa etária entre 29 e 39 anos. Em relação à reação da comunidade: - Irritação geral e incômodo; - Perturbação na comunicação, conversação, telefone, rádio, televisão; 47 - Prejudica o repouso e o relaxamento dentro e fora da residência; - Perturbação do sono; - Prejudica a concentração e performance; - Sensação de vibração; - Associação do medo e ansiedade; - Mudança na conduta social. 2.6 RUÍDO URBANO E A QUALIDADE DE VIDA A agitação das grandes cidades provoca a chamada poluição sonora, que é composta dos mais variados ruídos: motores e buzinas de automóveis, martelos de ar comprimido, rádios, televisores, entre vários outros ruídos indesejáveis. A intensidade diminui à medida que o som se propaga, ou seja, quanto mais distante da fonte, menos intenso é o som. De acordo com a cartilha sobre poluição (2006), recomenda-se o nível de 40 dB (A) para o descanso e o sono, permitindo variação entre 35-45 dB(A), conforme Associação Brasileira de Normas Técnicas, seguindo orientação da Organização Mundial de Saúde. Os ruídos com intensidade de até 55 dB(A) não causam problemas graves às pessoas, mas a partir desse nível há início do estresse auditivo, cujas conseqüências são incômodo, fadiga, insônia e vários outros sintomas. Acima de 80 dB(A), a saúde é afetada profundamente, mas os efeitos variam de acordo com o tempo que as pessoas ficam expostas ao ruído e são cumulativos. Para a maioria das pessoas, o nível de 120 dB (A) já provoca dor, causando surdez nervosa irreversível. Os efeitos na saúde podem causar problemas sociais, tais como: baixa produtividade, baixa habilidade de aprender, ausência no trabalho e escola, aumento do uso de drogas e acidentes (GERGES, 2006). Além dos efeitos sociais e na saúde, podemos citar a perda de valor de propriedade de imóveis. Portanto, a avaliação do ruído urbano é necessária, com elaboração de normas, ações técnicas e administrativas e de custo/ benefício para proteger a população contra este inimigo invisível. 48 Pode não só interferir na saúde e no bem-estar dos indivíduos em particular, mas de uma população urbana como um todo, gerando um problema de saúde pública, como apontado pela World Health Organization (2000). Portanto, a poluição sonora não deve ser vista como algo não agressivo. O ruído é um poluente invisível que, contínua e lentamente, agride os indivíduos, causando- lhes danos tanto auditivos como em todo o organismo. Hoje, os governos do Primeiro Mundo estão interessados em evitar maiores danos à saúde dos homens, adotando atitudes educativas, a fim de prepará- los melhor, intelectual e psicologicamente, para competirem na ponta da globalização. Seus cidadãos se tornaram mais conscientes e exigem melhor qualidade de vida. No entanto, em grande parte do Terceiro Mundo, industrializado ou urbanizado mais tardiamente, o ruído ambiental continua excedendo o limite da salubridade, tornando seus ambientes sonoros insalubres pelo uso intensivo de equipamentos ultrapassados e barulhentos. Estes povos se mostram incapazes de queimar etapas com tecnologia limpa e mais moderna para ingressarem diretamente na nova era pós-industrial. Pol (2001) relata que o ruído mais traiçoeiro ocorre em níveis moderados, porque mansamente vão instalando estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, insônia e problemas auditivos. Muitos sinais passam despercebidos do próprio paciente pela tolerância e aparente adaptação, sendo, ademais de difícil reversão. Diversas pessoas das grandes cidades, não conseguem identificar o ruído como um dos principais agentes agressores e, cada vez mais, menos o sentem, ficando desorientadas, por não saber localizar a causa de tal mal. 2.6.1 Qualidade de vida e ambiente urbano O conceito de qualidade ambiental urbana se apresenta muito ligado a dois outros conceitos importantes: o de ecossistema urbano e o de qualidade de vida. Existe sempre uma associação entre o meio natural e o construído, no qual se imprime a marca da criatividade humana e das inovações culturais que humanizam o meio natural (RIBEIRO e VARGAS, 2001). O ecossistema urbano caracteriza-se pela forte presença da atividade humana, transformando o ambiente natural pela produção e consumo constantes e pelo estabelecimento 49 de fluxos intensos de toda ordem (fluxo de pessoas, de energia, recursos econô micos e relações sociais). Propõe-se uma evolução da gestão ambiental que promova o desenvolvimento sustentável. Para estas autoras, o ecossistema urbano pode ser dividido em dois subsistemas, um físico e outro cultural, com um caráter holístico. Ressalta-se que as cidades, por serem construções humanas e tendo suas particularidades históricas, socioeconômicas e culturais, não constituem um modelo único, o que dificulta a criação de um conceito universal. Em relação ao conceito de qualidade de vida, Ribeiro e Vargas (2001) citam Cutter (1985), que propõe o uso de indicadores de três ordens: sociais, ambientais e perceptivos. Aos dois primeiros elementos, dá também uma dimensão perceptiva, isto é, de bem-estar ou não em relação a um elemento objetivo. A referida autora procura avaliar as condições objetivas também a partir da imagem subjetiva do indivíduo e de suas expectativas em relação ao lugar. A qualidade do meio ambiente é julgada mediante valores da sociedade. As avaliações da qualidade de vida devem iniciar-se pela caracterização do meio ambiente urbano: a história, o quadro socioeconômico e cultural da população, seus aspectos físicos, recursos disponíveis, elementos poluentes etc. A abordagem holística teria como objetivo de análise a cidade, o bairro, inseridos num contexto cultural e subjetivo. As diferenças culturais, geográficas, subjetivas de ordem pessoal (sejam elas psicológicas ou de formação) colaboram para aumentar as dificuldades de se definir o que é qualidade ambiental urbana, bem como de analisá-la e avaliá- la. Para isso, é fundamental conceituar primeiramente o que é qualidade de vida. Ribeiro e Vargas (2001), que referem o trabalho de Maslow (1954) para definir qualidade de vida, sustentam-se na teoria das necessidades básicas. Segundo tais autores, as necessidades humanas apresentam-se hierarquicamente da seguinte forma: - necessidades fisiológicas: fome, sono; - necessidades de segurança: estabilidade, ordem; - necessidades de amor e pertinência: família e amigos; - necessidade de estima: respeito, aceitação; - necessidade de auto-atualização: capacitação. A noção de bem-estar dos indivíduos para as autoras referidas relaciona-se à qualidade do meio físico e social. Consideram, além da infra-estrutura, os serviços de saúde, de recreação e lazer, a existência de estabelecimentos comerciais e bancários e de áreas verdes. Ribeiro e Vargas (2001) referem ainda Chiavenato (1980), que afirma: somente 50 quando temos as nossas necessidades básicas individuais atendidas, passamos a nos preocupar com o coletivo. Cada ser humano também acrescenta um juízo de valor sobre as condições de qualidade ambiental urbana que ela oferece, de acordo com seus interesses, objetivos e expectativas de vida. Nesse sentido, o conceito de qualidade ambiental urbana (ou de vida urbana) vai além dos conceitos de salubridade, saúde e segurança, bem como das características morfológicas do sítio e do desenho urbano, finalizam Ribeiro e Vargas (2001) em referência a Lynch (1960). 2.7. CIDADES SAUDÁVEIS COM SUSTENTABILIDADE A Hipótese Gaia, teoria formulada no final dos anos 60 pelo físico inglês James Lovelock e pela microbiologista norte-americana Lyn Margulis afirma que as características da Terra teriam sido criadas pelos organismos vivos nela existentes, ao longo do seu processo de evolução. Para os dois cientistas, são os seres vivos que moldam o meio ambiente às suas características e criam as condições necessárias para sua sobrevivência. Desse modo, contradizem a teoria tradicional, que defende o raciocínio exatamente inverso: o de que a vida teria surgido e se desenvolvido de acordo com as condições atmosféricas e climáticas. Pela Hipótese Gaia, o planeta se comportaria como um organismo inteligente, capaz de enfrentar e superar situações ameaçadoras e recriar a harmonia. A adaptação das espécies a novas condições, a extinção de muitas delas e o surgimento de outras fazem parte desse processo de equilíbrio. Esses mecanismos reguladores foram chamados pelos dois cientistas de Gaia, como era chamada a deusa Terra dos gregos antigos. Vem daí o nome da hipótese, que influencia fortemente o movimento ambientalista (BIODIVERSIDADE, 2005). Cândido (2002) relata que o Brasil é um dos líderes mundiais em nível de ruído. Eis alguns dados: as cidades de São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as cinco de maior nível de ruído do mundo; nessas cidades, o ruído alcança, em média, 90 a 95 dB, com picos de 105 dB. Apenas 5 % da população com problemas auditivos recorrem a médicos, mas se vendem mais de 30 mil aparelhos auditivos por ano. Entretanto, a preocupação com os níveis de ruído ambiental já existia desde 1981, pois, no Congresso Mundial de Acústica, na Austrália, as cidades de São Paulo e do Rio 51 de Janeiro passaram a ser consideradas as de maiores níveis de ruído do mundo. Nas cidades médias brasileiras, onde a qualidade de vida ainda é preservada, o ruído já tem apresentado níveis preocupantes, fazendo com que várias delas possuam leis que disciplinem a emissão de sons urbanos. Para Nudelmann et al. (1997), embora as grandes cidades do mundo tenham leis contra o barulho, estas são, em geral, ineficientes. Em Nova Iorque, por exemplo, a polícia emite aos transgressores milhares de advertências e intimações por ano, e, contudo, a cidade é barulhenta. No Brasil, não é diferente. São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, entre outras, são alvos freqüentes de matérias jornalísticas que alertam para o ruído. Numa visão mais ampla, o silêncio não deve ser encarado apenas como um fator determinante para o conforto ambiental, mas deve ser visto como um direito do cidadão. O bem-estar da população não deve ser tratado apenas com projetos de isolamento acústico tecnicamente perfeitos, mas, além disso, exige uma visão crítica de todo o ambiente que vai receber a nova edificação. É necessária uma discussão urbanística. Outro conceito importante a ser discutido se refere às comunidades já assentadas e ameaçadas pela poluição sonora de novas obras públicas. A transformação de uma tranqüila rua em avenida, a construção de um aeroporto ou de uma auto-estrada, ou uma via elevada, podem elevar o ruído a níveis insuportáveis. Almeida (1999) alega que, embora exista legislação específica regula ndo os limites de emissão de ruídos e estabelecendo medidas de prevenção para a coletividade dos efeitos danosos da poluição sonora, constata-se que os níveis de ruído das diversas atividades cotidianas estão acima dos valores determinados pelas legislações nacionais e internacionais. A conscientização do problema por parte da população, aliada a outras medidas de prevenção, seria uma valiosa contribuição para a redução do ruído urbano e melhora da qualidade de vida da população. Silva (2003) aborda os conceitos de desenvolvimento sustentável e qualidade de vida, para avaliar a forma desordenada como se deu o desenvolvimento urbano. Para a referida autora, as cidades grandes e pequenas, corresponderam aos motores do crescimento e ao berço da civilização, propiciando a evolução dos conhecimentos, da cultura e das tradições, bem como da indústria e do comércio. Todavia, as cidades constituem também espaço de conflitos socioeconômicos, do uso irracional do território e ocupação desordenada do solo. A planificação e a gestão integrada das cidades e de seus elementos devem buscar equacionar o problema do desenvolvimento humano num ambiente desordenado, impregnado de múltiplas formas de poluição. 52 Nesse sentido, a Declaração da Conferência das Nações Unidas, Habitat II – Istambul, junho de 1996, colocou em evidência o problema das cidades, em seus aspectos globais. Como respeitar o equilíbrio entre a cidade histórica e a cidade contemporânea, entre o crescimento necessário à sobrevivência das cidades e à qualidade de vida de seus cidadãos? Com base em dados de tráfego e nas características físicas do local, foram desenvolvidos mapas de ruído, e procedeu-se a seu cruzamento com o zoneamento acústico do território e com a população residente. O desenvolvimento da vida humana em condições qualitativas nas urbes e o crescimento da própria cidade implicam problemas de poluição, como o da poluição sonora, os quais devem ser equacionados, proporcionalmente à plena realização do direito a cidades sustentáveis. Saliente-se que o direito a cidades sustentáveis constitui uma das diretrizes gerais da política urbana e foi consagrado no inciso I do artigo 2º do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257, de 10.07.2001). O artigo de Silva (2003) tem como objetivo questionar as possíveis soluções jurídicas para dois problemas da contemporaneidade: a poluição sonora e a poluição visual. O direito à tranqüilidade não constitui direito supérfluo e elitista. Esse direito corresponde a uma preocupação que se insere no contexto da saúde pública, do equilíbrio mental, psicológico e físico dos cidadãos, de um meio ambiente ecologicamente equilibrado, do pleno exercício do direito à cidade. No artigo de Silva et al. (2006), apresenta-se uma abordagem do problema do ruído urbano na cidade de Viana do Castelo, Portugal, que aceitou aderir ao Projeto Cidades Sustentáveis e integrar a Rede Européia das Cidades Saudáveis. Os autores relatam que o crescimento urbano, nas dimensões que atualmente assumem, vem exercendo pressões, de forma continuada, nos recursos, nas infra-estruturas e nos equipamentos, afetando negativamente o padrão de vida dos cidadãos. Neste contexto, a avaliação e a monitorização da qualidade do meio ambiente urbano tornou-se um item de primordial importância, quando considerado como um instrumento de apoio à decisão para a construção de cidades mais sustentáveis e com melhor qualidade de vida. No projeto supracitado, a caracterização do ruído urbano, nomeadamente a determinação dos níveis de intensidade sonora na zona urbana e da exposição da população ao ruído ambiental, foi considerada uma das ações prioritárias. 53 Coelho (2004) relata que o desenvolvimento urbanístico, nas décadas recentes, elevou o ruído urbano nas cidades européias, gerando a necessidade de se introduzir medidas de gestão e redução de ruído em espaços urbanos. Nesse sentido, foram aprovadas legislações nacionais e municipais em vários países em anos recentes e, para o espaço europeu, a nova Directiva Européia 2002/49/EC. Esta Directiva requer a avaliação acústica através da elaboração de mapas de ruído em aglomerados com mais de 100.000 habitantes, bem como dos correspondentes planos de ação. Diversos documentos legais de diferentes países, como é o caso do Regime Legal sobre Poluição Sonora, em Portugal, compreendem exigências e requisitos técnicos em consonância com a Directiva. Os diferentes países têm adaptado diversas estratégias de controle e redução de ruído no sentido de solucionar o conflito entre desenvolvimento e agressão ambiental, no que diz respeito ao ruído. As estratégias e as soluções técnicas para uma gestão eficaz do ruído nos espaços urbanos, bem como os correspondentes benefícios e custos, têm sido discutidos em diversos fóruns europeus, dada a escassa experiência existente. Um adequado plano de gestão de ruído tem de contabilizar diversos fatores de ordem técnica, funcional, urbanística, temporal e financeira. A gestão do espaço urbano deverá, sempre, integrar o ambiente sonoro como fator determinante na percepção de qualidade ambiental por parte do cidadão. A gestão do ruído urbano passa pela redução dos níveis de ruído e pela criação de ambientes sonoros agradáveis, ou menos desagradáveis. As soluções de redução de ruído terão que levar em consideração a dinâmica própria da cidade e deverão ser desenvolvidas e implementadas sem causar problemas de outra natureza na vivência cotidiana dos cidadãos. A criação de ambientes sonoros agradáveis poderá passar, ainda, pela introdução de novo s sons ou de condições de propagação de sons existentes, porém agradáveis, que mascarem ruídos desagradáveis. O desenvolvimento sustentável busca fórmulas que combinem progresso, tecnologia, conforto e equilíbrio do meio ambiente. 54 2.8 ASPECTOS LEGAIS 2.8.1 Esfera Federal 2.8.1.1 Inquérito Civil Público por meio de ação civil pública Lei nº 7.347/85 (BRASIL, 1985) De acordo com a revista Meio Ambiente Industrial (2001), por se tratar de problema social difuso, a poluição sonora deve ser combatida pelo poder público e pela sociedade, individualmente, com ações judiciais de cada prejudicado, ou coletivamente, através da ação civil pública (Lei nº 7.347/85) garantia do direito ao sossego público, o qual está resguardado pelo artigo 225 da Constituição Federal (BRASIL, 1985). Na legislação ambiental, poluição é definida no art. 3º, III, da Lei nº 6.938/81, como a degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que, direta ou indiretamente, prejudiquem a saúde, segurança e o bem-estar da população; criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; afetem desfavoravelmente a biota; afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabelecidos (BRASIL, 1985). A Lei nº 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente. Em seu artigo 54, configura crime “causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar danos à saúde humana...”, o que inclui, nesta figura delituosa, a poluição sonora pelas conseqüências que produz. 2.8.1.2 Sistema de Licenciamento de Atividades Poluidoras (SLAP) De acordo com Souza (2004), na Esfera Federal, a competência para o licenciamento ambiental, monitoramento, fiscalização e controle ambiental é atribuído ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). 55 Em 1987, foi publicada a Norma ABNT 10151- Avaliação do ruído em áreas habitadas visando o conforto da comunidade”, produzida a partir da norma ISO 1996. 2.8.1.3 Resolução CONAMA 001 Em 8 de março de 1990, foi elaborada a Resolução CONAMA 001, documento este com força de lei, publicada em decreto no Diário Oficial da União, de 02 de abril de 1990, a qual preceitua : “Considerando que os problemas dos níveis excessivos de ruído estão incluídos entre os sujeitos ao Controle da Poluição de Meio Ambiente; Considerando que a deterioração da qualidade de vida, causada pela poluição, está sendo continuamente agravada nos grandes centros urbanos.” Citaremos agora apenas os itens de interesse da presente pesquisa: “Considerando que os critérios e padrões deverão ser abrangentes e de forma a permitir fácil aplicação em todo o Território Nacional, resolve: I - A emissão de ruídos, em decorrência de quaisquer atividades industriais, comerciais, sociais ou recreativas, inclusive as de propaganda política, obedecerão, no interesse da saúde, do sossego público, aos padrões, critérios e diretrizes estabelecidos nesta Resolução. II - São prejudiciais à saúde e ao sossego público, para os fins do item anterior, os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis pela norma NBR 10.151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. (...) IV - A emissão de ruídos produzidos por veículos automotores e os produzidos no int erior dos ambientes de trabalho obedecerão às normas expedidas, respectivamente, pelo Conselho Nacional de Trânsito - CONTRAN, e pelo órgão competente do Ministério do Trabalho. (...) 56 VI - Para os efeitos desta Resolução, as medições deverão ser efetuadas de acordo com a NBR 10.151 - Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas visando o conforto da comunidade, da ABNT. VII - Todas as normas reguladoras da poluição sonora, emitidas a partir da presente data, deverão ser compatibilizadas com a presente Resolução”. A Resolução CONAMA 001 cita a norma NBR 10151- “Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas, Visando o Conforto da Comunidade (versão 1987)”, a qual também tem seu conteúdo baseado na Norma ISSO 1996, tendo esta sofrido revisão no ano de 2000. 1- Objetivo 1.1 – Esta Norma fixa as condições exigíveis para avaliação da aceitabilidade do ruído em comunidades, independente da existência de reclamações. 1.2 – Esta Norma especifica um método para a medição do ruído, a aplicação de correções nos níveis medidos se o ruído apresentar características especiais, e uma comparação dos níveis corrigidos com um critério que leva em conta vários fatores. 1.3 – O método de avaliação envolve as medições do nível de pressão sonora equivalente (LA eq) em decibels ponderados em “A”, comumente chamado de dB(A). Recomenda-se que o equipamento possua recursos para medição de nível de pressão sonora equivalente ponderado em “A” (LA eq), conforme a IEC 60804. A seguir, vislumbra-se Tabela com os níveis de ruído estabelecidos por áreas conforme a NBR 10151, de acordo com o uso e ocupação do solo. 57 Tabela 1 – Nível de ruído aceitável por áreas conforme a NBR 10151 Tipos de áreas Áreas de sítios e fazendas Áreas estritamente urbana ou de hospitais ou de escolas Área mista, predominantemente residencial Área mista, com vocação comercial e administrativa Área mista, com vocação recreacional Área predominantemente industrial Diurno 40 50 Noturno 35 45 55 60 65 70 50 55 55 60 Fonte: NBR 10151 Todas as Leis, Decretos e Normas Técnicas elaboradas a nível Estadual ou Municipal deverão seguir as regulamentações da Legislação Federal. A Norma Técnica L11.032 também estabelece normas baseadas na NBR 10151. 2.8.1.4 Estatuto da Cidade: estudo de impacto de vizinhança O Estatuto da cidade prevê um novo instrumento para que se possa fazer a mediação entre os interesses privados dos empreendedores e o direito à qualidade urbana daqueles que moram ou transitam em seu entorno: o estudo do impacto de vizinhança. O estudo do impacto de vizinhança é a maneira como são utilizados os imóveis urbanos em consonância com a Lei – não diz respeito apenas à relação entre o proprietário do lote ou empreendimento e o poder público. Cada interferência na utilização ou ocupação de um determinado lote urbano produz impactos sobre seu entorno, podendo interferir diretamente na vida e na dinâmica urbana de outros. Quanto maior for o empreendimento, tanto maior será o impacto que ele produzirá sobre a vizinhança (ESTATUTO DA CIDADE, 2005). A legislação tradicional atribuía ao Zoneamento toda a função de garantir a proteção da população aos usos incômodos, à medida que estabelece zonas homogêneas, no interior das quais apenas determinados usos são permitidos. O Zoneamento, por si, só não é capaz de mediar todos os conflitos de vizinhança, apesar de, em inúmeras cidades, ter logrado garantir a proteção da qualidade de vida de alguns bairros. 58 2.8.2 Esfera Estadual 2.8.2.1 Lei Ambiental nº 4335, de 16 de dezembro de 1981 No Estado da Paraíba, foi criada a Lei Ambiental nº 4335, de 16 de dezembro de 1981, entrando em vigor a partir da data de sua publicação no Diário Oficial do Estado (DOE), em 18 de dezembro de 1981. A referida Lei dispõe sobre a preservação e controle da poluição ambiental e estabelece normas disciplinadoras para quaisquer espécies de poluição que degradem o meio ambiente. Visando a regulamentação da Lei nº 4335/81, foi editado o Decreto nº 15.357, de 15 de junho de 1993, que dispõe sobre poluição sonora. Serão citados do decreto supracitado apenas os itens relevantes ao tema desta dis sertação: CAPÍTULO-I DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES Art. 1º - É vedado perturbar o sossego e o bem-estar público com ruídos, vibrações, sons excessivos ou incômodos de qualquer natureza, produzidos sob qualquer forma ou que contrariem os níveis máximos fixados neste Decreto. Art. 2º - Cabe à Superintendência de Administração do Meio Ambiente - SUDEMA, órgão de prevenção e controle do meio ambiente, impedir ou reduzir a poluição sonora em ação conjunta com a Secretaria de Estado da Segurança Pública e Polícia Militar do Estado da Paraíba. Art. 3º - Para os efeitos do presente Decreto, consideram-se aplicáveis as seguintes definições: 59 I - POLUIÇÃO SONORA: Toda emissão de som que, direta ou indiretamente, seja ofensiva ou nociva à saúde, à segurança e ao bem-estar da coletividade ou transgrida as disposições fixadas neste Decreto; II - MEIO AMBIENTE: conjunto formado pelo espaço físico e os elementos naturais nele contidos, até o limite do território do Estado, passível de ser alterado pela atividade humana; (...) IV - RUÍDO: qualquer som que cause ou tenda a causar perturbações ao sossego público ou produzir efeitos psicológicos e/ou fisiológicos negativos em seres humanos e animais; (...) VII - Distúrbio por Ruído ou Distúrbio Sonoro, significa qualquer som que: a) - ponha em perigo ou prejudique a saúde de seres humanos e animais; b) - cause danos de qualquer natureza à propriedade pública ou privada; c) - possa ser considerado incômodo ou que ultrapasse os níveis máximos fixados neste Decreto. (...) XV - Horário: DIURNO, compreendido entre às 07:00 e 19:00 horas dos dias úteis, VESPERTINO, compreendido entre às 19:00 e 22:00 horas, NOTURNO, compreendido entre às 22:00 e 07:00 horas. CAPÍTULO II DA COMPETÊNCIA Art. 4º - Na aplicação das normas estabelecidas por este Decreto, compete à Superintendência de Administração do Meio Ambiente - SUDEMA: 60 I - estabelecer o programa de controle dos ruídos urbanos, exercendo, diretamente ou através de delegação, o poder de controle e fiscalização das formas de poluição sonora; (...) IV - exercer fiscalização; V - organizar programas de educação e conscientização a respeito de: a) - causas, efeitos e métodos gerais de atenuação e controle de ruídos e vibrações; b) esclarecimentos das ações proibidas por este Decreto e os procedimentos para o relato das violações. Art. 5º - Fica proibido perturbar o sossego e o bem-estar público através de distúrbios sonoros ou distúrbios por vibrações. CAPÍTULO III DOS NÍVEIS MÁXIMOS PERMISSÍVEIS DE RUÍDOS Art. 6º - A emissão de ruídos, em decorrência de qua isquer atividades industriais, comerciais, prestação de serviços inclusive de propaganda, bem como sociais e recreativas, obedecerá aos padrões e critérios estabelecidos neste regulamento. (...) Art. 9º - A medição do nível de som será feita utilizando a curva de ponderação "A" com circuito de resposta rápida, e o microfone deverá estar afastado no mínimo, de 1,5m (hum metro e cinqüenta centímetros) do solo. 61 Tabela 2 – Nível máximo de ruído equivalente (LAeq) por área e horário. Áreas Residencial (ZR) Diversificada (ZD) Industrial (ZI) Diurno 55 dB (A) 65 dB (A) 70 dB (A) Vespertino 50 dB (A) 60 dB (A) 60 dB (A) Noturno 45 dB (A) 55 dB (A) 60 dB (A) Fonte: Decreto nº 15.357 de 15 de junho de 1993 Para cálculo do nível de ruído equivalente, foi criada a Norma Técnica SELAP 003, que cita a SELAP 002, recomendando fazer , no mínimo, trinta medições do ruído no local escolhido, observando um intervalo mínimo de dez segundos entre cada duas medições. 2.8.3 Esfera Municipal 2.8.3.1 Código Municipal: Lei Municipal nº 29 da SEMAM (Secretaria do Meio Ambiente) Anteriormente à criação da Lei Municipal nº 29, de 05 de agosto de 2002, regulamentava os níveis de emissão de ruído e os horários permitidos para tais emissões a Lei Complementar nº 07, de 17 de agosto de 1995, de acordo com o Código de Posturas da Secretaria de Planejamento do município de João Pessoa. Já o Decreto nº 15.357 sugeria firmar convênio com a SUDEMA, delegando a esta o poder de fiscalizar o padrão de emissão de ruídos, para garantir a ordem e o sossego público. Para continuar garantindo a ordem e o sossego público, em relação ao ruído, foi criada, sob o Código do Meio Ambiente Municipal, a Lei nº 29, de 05 de agosto de 2002, regulamentada pelo Decreto nº 4.793, de 21 de abril de 2003, que aborda o nível permitido de pressão sonora, competindo, a partir de então, segundo o decreto supracitado no artigo 2º, à SEMAM (Secretaria Municipal do Meio Ambiente) o controle, a prevenção e a redução da emissão de ruídos no município de João Pessoa. O artigo 4º do Decreto nº 4.793, mais precisamente em seu inciso II, define a poluição sonora, e o inciso V, alínea “a”, preceitua que o Decibel (dB): unidade de intensidade física relativa ao som, deve ser medido na curva de ponderação A, dB (A), definido na norma da ABNT, NBR 10.151. Em seu inciso VI, é definido o nível de som 62 equivalente (Leq), como nível médio de energia sonora, medido em dB (A), que deve ser mensurado durante um período de tempo de interesse. O artigo 5º determina que os níveis de pressão sonora fixados por este Decreto, bem como os equipamentos utilizados para medição e avaliação, obedecerão às recomendações das normas NBR 10.151 e NBR 10.152 A Lei Municipal nº 29, de 05 de agosto de 2002, é fundamentada na Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) nº 001, de 08 de março de 1990, que estabelece padrões, critérios e diretrizes a serem observados nas emissões de ruídos e segundo a qual constituem prejuízos à saúde e ao sossego público a emissão de ruídos, em decorrência de qualquer atividade industrial, comercial, social ou recreativa, inclusive as de propaganda política, os ruídos com níveis superiores aos considerados aceitáveis. De acordo com o artigo 143 da Lei Municipal nº 29, deve-se estabelecer programas de controle de ruídos e exercer o poder de disciplinamento, fiscalização das fontes de poluição sonora, aplicar sanções, interdições e embargos previstos na legislação vigente, bem como organizar programas de educação e conscientização da população a respeito do ruído, além de outras diretrizes. O programa de educação ambiental e conscientização da população vem sendo desenvolvido pela campanha contra poluição sonora intitulada: “Cidade com som alto, educação lá embaixo”, com o número de telefone à disposição da população para as denúncias necessárias. De acordo com o artigo 145 da Lei nº 29, de 05 de agosto de 2002, fica proibida a utilização ou o funcionamento de qualquer instrumento ou equipamento, fixo ou móvel, que produza, reproduza ou amplifique som, de tal modo, que crie ruído além do limite real do imóvel, observando-se o disposto no zoneamento previsto no Plano Diretor Urbano. Tabela 3 – Nível máximo de ruído equivalente por área e horário (LAeq), em consonância com o Decreto nº 4793, de 21 de abril de 2003. Áreas Residencial (ZR) Diversificada (ZD) Industrial (ZI) Fonte: SEMAM/PMJP Diurno: 7h às 19 h 55 dB (A) 65 dB (A) 70 dB (A) Vespertino: 19 h às 22h 50 dB (A) 60 dB (A) 60 dB (A) Noturno: 22h às 7h 45 dB (A) 55 dB (A) 60 dB (A) 63 2.9 ASPECTOS PSICOLÓGICOS E SUBJETIVOS DA PERCEPÇÃO AMBIENTAL 2.9.1 Psicologia ambiental Na psicologia ambiental, orientada para a sustentabilidade, os temas ambientais já não podem ser analisados sem levar em conta tudo que afeta o comportamento humano, tais como: o comportamento social, as condições de vida e uma série de valores como a solidariedade, elementos estes intrínsecos à questão ambiental. Na conferência da Rio 92, enfatiza-se muito a dimensão social e política (POL, 2001). Qualquer impacto ambiental tem uma dimensão ecológica e uma dimensão social, no sentido que afeta as comunidades. E, quando se prejudica a comunidade, interferese diretamente no comportamento dos seus membros, que podem ter comportamentos de efeitos negativos para o meio ambiente, se não estão bem gestionados. Isso nos introduz ao campo da gestão ambiental em uma nova agenda temática para a psicologia ambiental, que tenta dar uma resposta aos novos planejamentos. 2.9.2 Dimensão temporal Pode-se assumir que as pessoas, apropriando-se de seu ambiente e sentindo-se em casa onde elas moram, também cuidam mais do ambiente em geral, isto é, comportam-se mais ecologicamente. Levar em consideração a dimensão temporal é indispensável para estudar as condições de bem-estar e para compreender os modos de ancoragem ambiental do indivíduo. A dimensão temporal proporciona, igualmente, novos insights na maioria dos assuntos estudados pela psicologia ambiental. Referir a dimensão temporal é útil em todos os níveis usuais de análise orientada pela psicologia ambiental (MOSER, 2001). Mais particularmente, se examinados os principais temas envolvidos pela psicologia ambiental, percebe-se que a dimensão temporal está presente na maioria das pesquisas, mas sem ser um objeto específico de sua atenção. A dimensão temporal intervém como uma referência na construção, pelo indivíduo, de sua própria identidade. 64 Moser (2001) relata que os efeitos de condições ambientais, tais como o barulho, o calor, a poluição ou a densidade, são amplamente conhecidos e foram objeto de diversas teorizações. Mas, os resultados dessas pesquisas são raramente analisados em termos de adaptação a longo prazo ou de comparações antes-depois; contudo, pode-se supor que, onde não há fatores coercitivos, o indivíduo reverte para um modo básico de reagir a seu ambiente. Além do conceito de “desamparo aprendido”, Moser (2001) acrescenta ainda que poucos pesquisadores analisaram esse aspecto do ponto de vista tempo-de-exposição e da durabilidade dos efeitos. É uma exceção, quando uma pesquisa que estuda a incidência do barulho, do odor, da densidade, da adequação do meio construído sobre o comportamento (em termos de relações sociais, agressão, comportamento de ajuda etc.) faz referência à dimensão temporal. A avaliação ambiental e a expressão de emoções sobre o ambiente dependem fortemente das dimensões temporal, histórica e cultural (memória de lugares). Como desenvolvimento de novas tecnologias, a noção de proximidade está sendo crescentemente expressada e sentida em termos do tempo necessário para alcançar certos lugares. Isso necessariamente modifica relações espaciais e investimentos ambientais. Percepção e representações do território certamente diferem entre indivíduos, dependendo do seu status social, de sua mobilidade e de sua posição no ciclo vital. Finalmente, a dimensão temporal continua reaparecendo na preservação do ambiente e de recursos naturais. De fato, uma das condições para se adotar comportamentos pró-ambientais é a capacidade de se projetar no futuro, enquanto ele acontece: a capacidade de projetar além do próprio ciclo vital e de agir no interesse das gerações futuras. A psicologia ambiental tem de se afastar de uma visão “instantânea” ou do “aqui-agora” da relação pessoa-ambiente para se tornar uma psicologia na qual a relação com o ambiente funciona como referência à dimensão cultural humana e à dimensão temporal (MOSER, 2001). A psicologia ambiental está voltada, muito freqüentemente, para a identificação de fatores que apenas podem adquirir sua inteira significação por meio do seu reposicionamento no interior das dimensões culturais e temporais que condicionam as percepções e os comportamentos de um indivíduo em um dado ambiente. Cada indivíduo tem uma história pessoal e uma projeção no futuro que, necessariamente, condiciona como ele se relaciona com o ambiente. Isso significa abandonar a posição estática da psicologia ambiental para se mover claramente na direção de uma 65 psicologia ambiental dinâmica. Se as análises de comportamentos pró-ambientais nos ensinaram a tornarmo-nos interessados no horizonte temporal, poucas pesquisas explicitamente levam isso em consideração. 2.9.3 Sentimento de identidade Nosso sentimento de identidade, “cerne e substância de nossa subjetivação”, define nossa unidade resultante de todos os processos identificatórios pelos quais passamos, tendo assim uma natureza intrinsecamente dinâmica e relacional. O sentimento de identidade é fundamental para o ser humano. Uma casa, uma cidade, um bairro, a cidade natal, a casa natal e nosso bairro familiar passam a fazer parte de nossa identidade, o que nos dá suporte ao “ego”. Berry, citado em Montagna (2001), assinala a importância de um enraizamento num lugar, na construção de um tempo pessoal. O desígnio das casas, das ruas, das formas, do espaço dá às lembranças um contorno de consistência. É assim que o espaço ajuda a estruturar o tempo. Mas, uma grande questão da inserção do indivíduo na contemporaneidade, representada pela cidade, vem a ser a enorme quantidade de estímulos externos bombardeando o “eu”, num nível que sobrepassa em muito a capacidade de cada um de dar conta deles. No âmbito da percepção, em relação aos estímulos exteriores, no mundo de hoje, o afluxo incessante, contínuo e assaz diversificado dos estímulos nos obriga a estar sempre na tentativa de encontrar uma medida adequada à abertura e fechamento ao exterior. O desafio passa a ser como permanecer na medida adequada de interiorização e exteriorização diante de excesso de estímulos. Juízos morais, isto é, as idéias subjetivas das pessoas sobre o que deve e o que não deve ser feito, o que é certo ou errado, deve ser usado também na análise das questões ambientais. A teoria de juízo moral oferece uma distinção ent re aceitação ou rejeição de uma atividade ambiental como conteúdo e sua justificativa como estrutura. 66 2.9.4 Percepção A relação com o ambiente global parece ser, de amplo modo, culturalmente determinada. Nos últimos anos, as condições de modelização do engajamento em comportamentos favoráveis à preservação ambiental em função dos valores de um lado, e da relação bem-estar do outro, fizeram um tímido aparecimento na psicologia ambiental. Sabe-se que a percepção, as atitudes e os comportamentos referentes ao ambiente são diferentes de uma cultura para outra, na medida em que são modulados pelas condições ambie ntais, pelo estado dos recursos e pelo contexto social: valores, regulamentação, infra-estrutura, oportunidades de ação. Essa clivagem está ligada, individualmente, a certas variáveis, como: o nível educacional, a abertura de espírito, o horizonte temporal (apropriação da memória coletiva, projeção), as preocupações ambientais (engajamento pró-ambiental, ética ambiental) e o sistema ideológico. Distinguem-se as representações em função dos valores que lhes são atribuídos. Pode-se, assim, identificar uma visão factual e fragmentada, amplamente fundada no vivido individual e dependente da proximidade temporal e espacial, ou no oposto, uma visão ecológica global, abstrata, baseada na percepção da interdependência entre o homem e seu ambiente, amplamente independente do ponto de vista temporal ou espacial. Por exemplo, considerar o acesso à água como um direito ou, ao contrário, aceitar uma distribuição aleatória e de má qualidade como uma fatalidade, influencia o modo pelo qual as pessoas se comportarão com respeito à preservação da água. A apropriação do lugar de residência está condicionada amplamente pela história residencial do sujeito. Nostalgia pelo passado (especialmente pelos antigos lugares não urbanos de residência) parece impedir um investimento positivo onde se vive no presente, independentemente das condições reais de moradia. Ao contrário, aqueles que foram capazes de construir para si próprios uma identidade urbana fazem investimentos positivos em seu habitat, independentemente da má qualidade de moradia. Um importante aspecto da apropriação ambiental consiste em formar relações sociais e interpessoais. Aqueles que investem emocionalmente em sua vizinhança e aí se sentem bem têm uma apreciação positiva da população local, estão satisfeitos com os seus 67 vizinhos, com os quais se encontram freqüentemente e com os quais têm relação que vão além da polidez. Contudo, essas relações dependem amplamente da duração da residência do sujeito, tanto para relações íntimas e de vizinhança quanto no contexto do trabalho e da participação em grupos ou em organizações locais. 2.9.5 Percepção ambiental do urbano pelo cidadão O ser humano cuida daquilo a que dá valor. Por questões biológicas, históricas e culturais, o ser humano é o único ser vivo capaz de dar valor às coisas, sentimentos, espaços, lugares etc. É capaz de discernir entre certo e errado, ético e anti-ético, moral e imoral, limpo e sujo, bom e ruim. O ser humano valora porque percebe. A percepção está colocada no plano da compreensão, da emoção. Ora, não raciocinamos sem emoção e damos valor histórico, financeiro, moral e outros para aquilo que percebemos (RIBAS, 2006). Para Landim (2004), ao se trabalhar com espaços urbanos, o corpo técnico ainda considera o projeto para este espaço independente das expectativas da população usuária do mesmo, porém a forma como esta população apreende este espaço raramente é considerada. Com este novo enfoque dado à cidade, todos os estudos preocupados em como a cidade é percebida pelo cidadão são relevantes. Entretanto, pode-se estabelecer um diálogo com a cidade. A facilidade de entendimento está diretamente ligada às formas que este espaço urbano possui, e a idéia é que os projetos urbanísticos melhorem este diálogo. O processo de Desenho Urbano, preocupado com a qualidade físico-ambiental do meio ambiente, admite o potencial da contribuição do estudo da percepção ambiental para a intervenção urbanística como fundamental, por tratar de interferir na cidade, na sua reconstrução mental e em suas imagens, atributos e qualidades percebidas pela população. Coelho (2004) relata que a frágil correlação entre os mapas de ruído e a percepção sonora pelos cidadãos em grandes cidades têm, ainda, dado origem a novas investigações sobre mapas qualitativos e paisagens sonoras no sentido de melhor traduzir o fenômeno sonoro em espaço urbano e melhor desenhar soluções de controle de ruído. 68 Para Souza (2007), o ruído mais traiçoeiro ocorre em níveis moderados, porque mansamente vão se instalando estresse, distúrbios físicos, mentais e psicológicos, insônia e problemas auditivos. Muitos sinais passam despercebidos do próprio cidadão pela tolerância e aparente adaptação e são de difícil reversão. Muitas pessoas, perdidas no redemoinho das grandes cidades, não conseguem identificar o ruído como um dos principais agentes agressores e, cada vez mais, menos o sentem, ficando desorientados, por não saber localizar a causa de tal mal. Déoux, S. e Déoux, P. (1996) afirmam que a sensação do barulho não é a mesma para todas as pessoas. Embora, na natureza, a sensibilidade ao barulho tenha permitido as reações de alerta e de defesa contra os predadores, no atual mundo moderno, a extrema sensibilidade ao barulho não é sempre sinal de uma boa adaptação ao meio ambiente. Muitas vezes, as pessoas mais sensíveis ao barulho são indivíduos depressivos, hipocondríacos, ansiosos, com problemas afetivos ou de relacionamento. Parece que os sujeitos introvertidos são mais incomodados com o barulho do que os sujeitos extrovertidos. De qualquer modo, torna-se imprescindível esclarecer a população sobre esses efeitos e sobre as condutas preve ntivas frente a situações do cotidiano as quais os exponham ao som intenso, para que possam ser evitadas. 2.10 ESTADO DA ARTE Na literatura pesquisada, não foram encontrados muitos trabalhos a respeito de ruídos em empresas madeireiras, e nenhum sobre ruído gerado por tais empresas com foco voltado para o conforto acústico da comunidade, analisando-se o nível de ruído ambiental. No trabalho de Guerra (2000), foram investigados os impactos ambientais urbanos verificados no município do Rio de Janeiro, a partir do deferimento de perícia ambiental, através de ações civis públicas ambientais ajuizadas pelo Ministério Público, no período de outubro de 1986 a junho de 1999. O universo amostral foi composto por 52 ações, cujo objetivo foi avaliar os incômodos sonoros denunciados pela população, os danos ambientais e/ou ameaças que englobavam a poluição sonora e lesão ao ecossistema natural. Foi feita uma classificação quantitativa, separada em sete categorias, para análise dos dados, 69 cujos resultados mostraram a poluição sonora decorrente de atividades diversas em primeiro lugar nas sete categorias. Déoux, S. e Déoux, P. (1996) realizaram suas pesquisas na França, através da revisão de literatura de aproximadamente dois mil artigos científicos, visando ao estudo comparativo entre ecologia e saúde, cuja análise mostrou que muitos dos problemas ambientais são multifatoriais, o que torna sua avaliação difícil. Em relação ao barulho, concluíram que: gera um estado de estresse, e a sua repetição, no decorrer dos anos, torna-se uma patologia cumulativa. Níveis de exposição não perigosos para audição não são necessariamente desprovidos de efeitos fisiológicos extra-auditivos, e, a partir de 60 dB (A), o barulho é considerado incômodo. A pesquisa de Souza (2000), realizada no laboratório de Psicofisiologia da UFMG, com moradores e trabalhadores de Belo Horizonte, cujo objetivo era avaliar os efeitos do ruído no homem dormindo e acordado, descreveu a reação hormonal nas pessoas submetidas ao estresse ocasionado pelo ruído. Já Selye (1954), o descobridor do estresse, constatou que, no seu primeiro nível, o estresse ocasiona a liberação de noradrenalina: num segundo estágio, adrenalina. São os hormônios da violência e do medo, respectivamente. Em um terceiro estágio, liberam-se glicocorticóides, que levam à inibição das gonadotrofinas e oxitocinas, afetando a persistência, comportamentos sociais e sexuais, ainda provocando a depressão psicológica, a deficiência imunológica, a desintegração orgânica, óssea, muscular etc. De acordo com os dados da pesquisa de Souza (2000), o barulho transitório a partir de 35 dB(A), já provoca reações vegetativas, que, a longo prazo e em níveis mais elevados, a partir de 70 dB(A), convertem-se permanentemente em hipertensão arterial, secreção elevada de catecolaminas e de hormônios corticosteróides e adrenocorticotróficos, úlcera péptica, estresse, irritação, excitação maníaco-depressiva, arteriosclerose, infarto. O mesmo autor refere em sua pesquisa o trabalho de Maurin e Lambert (1990), realizado na França, após ter sido feito um esforço voltado para a melhoria da qualidade de vida em todo o país, fazendo cair o incômodo em geral na habitação, de 70% para 34%, na década 1976-86, mantendo sempre o ruído como o principal agente agressor, com 79% das queixas em 86 pessoas, na qual a principal fonte de queixas era o trânsito, com percentual de 55%. Constatou-se ainda que cada carro de passeio é uma fonte emissora de cerca de 70-75 dB(A) a 7 metros de distância. O principal resultado de Souza (2000) foi: a razão dessa tendência de saturação do ruído das cidades modernas na vida das pessoas deve-se ao principal “vilão” da poluição 70 sonora: o tráfego de veículos automotivos, percebe-se que o ruído diurno prejudica o sono noturno. Zannin (2002) estudou a reação da população de Curitiba ao ruído ambiental, através da distribuição aleatória de 1.000 questionários, dentre os quais foram avaliados 860. As principais fontes de ruído causadoras de incômodo identificadas foram o tráfego de veículos (73%) e os vizinhos (38%), sendo que estes foram classificados como a principal fonte de desconforto. Todos os respondentes apontaram em pelo menos um dos seguintes itens como geradores de ruído: vizinhos, animais, sirenes, construção civil, templos religiosos, casas noturnas, brinquedos e aparelhos eletrodomésticos. As principais reações ao ruído foram: irritabilidade (58%), baixa concentração (42%), insônia (20%) e dores de cabeça (20%). Para análise do nível de ruído na marcenaria da Universidade Católica de Brasília, Costa, Travaglia Fº e Garavelli (2002) realizaram um estudo com 15 funcionários, objetivando avaliar os níveis de ruídos e a dose de ruído aos quais os trabalhadores da referida marcenaria estão expostos em suas jornadas de trabalho. Seus achados mostraram que os níveis de ruídos são superiores aos permitidos por lei e enfatizaram que devem ser tomadas medidas para a redução dos níveis de ruídos, tais como: o uso de protetores auriculares, o rodízio dos trabalhadores nos setores da marcenaria, pois aqueles que trabalham exclusivamente com o corte de madeira estão expostos a um nível de intensidade sonora acima do permitido, enquanto que os trabalhadores da linha de montagem estão expostos a um nível bem inferior. Venturolli et al. (2003), em pesquisa dos níveis de ruído em quatro marcenarias do Distrito Federal, em Brasília, utilizou um decibelímetro 6 posicionado próximo ao ouvido do trabalhador, enquanto ele operava determinada máquina, conforme estabelece a NR 15, avaliando-se as seguintes máquinas: serra circular, tupia, desempenadeira, desengrossadeira, furadeira horizontal e lixadeira de cinta. Como resultado, encontraram ruído médio na intensidade de 92,16 dB (A), e o maior encontrado foi na serra circular em uma das empresas, na intensidade de 101 dB (A). As máquinas utilizadas apresentaram problemas quanto à emissão de ruído, com exceção da furadeira. 6 Decibelímetro é o equipamento que realiza a medição dos níveis de ruído. 71 Nas duas pesquisas, evidencia-se que a atividade de marcenaria gera poluição sonora que degrada o meio ambiente e pode comprometer a saúde e a qualidade de vida não somente dos trabalhadores envolvidos na atividade, mas da população do entorno. Zannin (2003) realizou também um estudo da poluição sonora no parque do Jardim Botânico de Curitiba. Efetuaram-se medições do nível sonoro equivalente LA eq em dB(A), em 21 pontos espalhados dentro da área do parque, além de entrevistas com os freqüentadores do local. Em seus resultados, constatou que 47,6% dos pontos de medição apresentaram níveis sonoros acima de Leq = 65 dB (A), considerado pela medicina preventiva como nível máximo a que um cidadão pode se expor sem riscos à saúde, e 90,5% dos pontos avaliados não satisfazem à Lei Municipal nº 8.583, que fixa o limite de 55 dB (A) como nível máximo de emissões sonoras em áreas verdes. O resultado do questionário aplicado aos freqüentadores do parque apontou o percentual de 24% de queixas relativas à poluição sonora. Já na pesquisa de Lacerda et al (2005), avaliou-se a percepção da população da cidade de Curitiba em relação ao ruído ambiental. Buscou-se identificar quais fontes sonoras são percebidas com maior freqüência pela população e quais reações psicossociais relacionadas ao ruído urbano são identificadas. Foram aplicados questionários em 892 pessoas participantes da pesquisa, abrangendo aspectos demográficos e psicossociais referentes ao ruído ambiental. As principais fontes de ruído citadas pelos moradores como causadoras de incômodo foram: 1) o tráfego de veículos (67%), 2) vizinhos (33%), 3) o barulho de sirenes (23%), 4) o barulho de animais (21%) e 5) o barulho gerado pela construção civil (21%). As principais reações psicossociais foram: 1) irritabilidade (55%), 2) baixa concentração (28%), 3) insônia (20%) e 4) dor de cabeça (19%). Os autores relatam que os resultados obtidos em sua pesquisa coincidem com dados de outras pesquisas desenvolvidas na Europa, nos EUA e no Brasil, no sentido de que a poluição sonora ambiental influencia a qualidade de vida da população, gerando reações psicossociais importantes, que podem estar na base de outras doenças (disfunções cardiovasculares). A pesquisa realizada por Kasper et al (2005), desenvolvida no serviço de saúde ocupacional do Hospital das Clínicas, na cidade de São Paulo, cujo objetivo foi relacionar a possível perda auditiva ao grau de estresse, utilizou como metodologia a aplicação de questionário sobre estresse e a realização de audiometria tonal em 21 trabalhadores dos 72 setores de serralheria e marcenaria, com idade entre 31 e 67anos. Constatou-se que não houve correlação entre o grau da perda de audição e o grau de estresse. Já a pesquisa de Ribas (2007) objetivou estudar a percepção da população acerca dos pontos negativos que eles observavam no local onde moravam, em função do incômodo acarretado pelo ruído de veículos, em um modelo trinário de vias de tráfego da cidade de Curitiba, denominado de via estrutural do SEE-O. Para tornar viável a pesquisa, a via de tráfego foi dividida em quatro quadras para medição dos níveis de ruídos no interior das habitações, e se aplicaram questionários numa amostra de 11 pessoas, obtendo os seguintes resultados: 81% da amostra, espontaneamente, indicaram o ruído como um fator negativo, apenas 9% tomam alguma medida para diminuir o barulho onde moram. A população conseguiu discriminar problemas de saúde causados pelo ruído (72%), identificando ainda, que o tráfego de veículos é o principal responsável pelas queixas relativas ao ruído urbano nesta região da cidade de Curitiba (91% dos entrevistados). Ademais, 100% dos entrevistados afirmaram nunca ter tido nenhum contato com campanhas de prevenção contra o ruído. Ribas (2007) conclui que, apesar de as leis e recomendações que determinam as limitações nas emissões sonoras existirem, elas não são respeitadas, o que torna, muitas vezes, o ambiente doméstico, em alguns momentos do dia, insalubre do ponto de vista auditivo. Ressalta ainda que é cômodo encontrar uma causa para efeitos espetaculares. Já não acontece o mesmo quando os efeitos são difusos, diluídos no meio de outros, como é o caso do ruído. 73 CAPA Capítulo 3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 74 Quanto à metodologia aplicada para a realização da presente pesquisa exploratória, utilizaram-se os métodos quant itativo (medição de ruído) e qualitativo (aná lise de questionário aplicado às amostras). No método quantitativo, foram medidos os níveis equivalentes de pressão sonora (LA eq), no exterior dos domicílios, em dois pontos previamente escolhidos das duas avenidas selecionadas. No método qualitativo, os questionários foram aplicados na comunidade do entorno das duas áreas de medição do ruído, num raio de sessenta metros dos pontos de medição. A definição desta distância foi subjetiva, visto que por ser uma área urbana, há obstáculos, tais como edificações de natureza residencial e comercial. A escolha do bairro foi feita através de levantamento de dados, das empresas cadastradas na Secretaria de Finanças do Município, encontrando-se a Torre em quarto lugar em número de empresas do setor madeireiro, dentro do universo dos bairros de João Pessoa, conforme pode ser visualizado no gráfico 01. Atividades de marcenaria, carpintaria e serralharia 40 37 Nº de atividades 35 29 30 26 25 24 Varjão Torre Centro 25 20 15 10 5 0 Cruz das Armas Oitizeiro Bairros Gráfico 1 – Seleção dos 5 bairros de João Pessoa com maior número de empresas de marcenaria, carpintaria e serralharia. Fonte: (SEFIN/PMJP, 2005) A escolha do setor madeireiro se deu devido à observação de que tal atividade geradora de significativa poluição sonora estava localizada em área residencial e comercial de natureza diversificada. A partir daí, surgiu a curiosidade em avaliar a percepção e qualidade de vida da população em relação aos malefícios do ruído para o meio ambiente e para a própria comunidade. A escolha das avenidas foi feita após a verificação de que, de todas as ruas do bairro da Torre, a Avenida Miguel Santa Cruz possuía o maior número de empresas do setor madeireiro, no espaço de apenas uma quadra. Como a intenção era de realizar um estudo 75 comparativo, foi selecionada uma quadra da Avenida Professor Paredes, na mesma zona urbana e sem atividades comerciais geradoras de ruído. Fincou-se, desse modo, um ponto de medição, no meio da quadra, em cada uma das avenidas. Ambas são classificadas pela Prefeitura Municipal de João Pessoa, de acordo com o uso e ocupação do solo, como Zona Comercia l de Bairro (ZB), segundo dados levantados na Secretaria de Planejamento (SEPLAN). A investigação se dividiu em duas etapas: a pesquisa do nível de ruído e a aplicação de questionários nas duas amostras. Em seguida, serão abordados os procedimentos metodológicos adotados para cada etapa da pesquisa acima mencionada. 3.1 COLETA DE DADOS E AMOSTRAS Foram observados os aspectos éticos no que diz respeito à pesquisa envolvendo seres humanos em nosso país, conforme recomendação da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde / Ministério da Saúde. O protocolo de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), sendo aprovado por unanimidade em 25/10/2006, conforme protocolo nº 770/06. Logo, os participantes da pesquisa tiveram respeitado o direito de decidir sobre sua participação, como também lhes foi assegurado o anonimato. Só após tomadas estas providências, deu-se início à pesquisa de campo, que ocorreu no período de março a setembro de 2007. A amostra constituiu-se de dois grupos de 29 pessoas, perfazendo um total de 58 participantes. O primeiro grupo era formado por pessoas que moravam e/ou trabalhavam no entorno das empresas madeireiras, estando expostas aos efe itos nocivos das respectivas marcenarias e/ou serrarias. O segundo grupo compunha-se apenas de pessoas envolvidas em moradias e/ou pontos comerciais, do mesmo bairro, sem atividades madeireiras em suas proximidades. A finalidade é de fazer um estudo comparativo entre ambos os grupos, avaliando a forma como os mesmos são afetados. Procuramos propositadamente pessoas afetadas diferentemente pelas conseqüências de saúde e/ou ecológicas da poluição sonora gerada por serrarias e/ou marcenarias num primeiro grupo de pessoas (pessoas que moravam próximas às serrarias e/ou 76 marcenarias). Num segundo grupo aglomeraram-se moradores do mesmo bairro, numa região de mesmo zoneamento (ZB = Zona Comercial de Bairro), conforme planejamento urbano da Prefeitura Municipal de João Pessoa, sem, contudo, possuírem a atividade comercial específica de serrarias e/ou marcenarias em sua circunvizinhança. Vale ressaltar, que de acordo com o zoneamento de uso e ocupação do solo da Prefeitura Municipal de João Pessoa, as Zonas Comercia is de Bairro (ZB) podem “ser utilizadas para o uso misto dos centros comerciais de serviços classificado como microempresa não poluente em todos os níveis” (Anexo - D) Figuras 9 - Avenida Miguel Santa Cruz Fonte: (FURTADO, 2007) As marcenarias da Avenida Miguel Santa Cruz (Figura 9) envolvidas neste trabalho estão classificadas no trabalho de Silva (2002), de acordo a referência de Lima (1998), como microempresas, possuindo até quinze empregados, resumindo-se à fabricação de móveis, esquadrias e à reforma de móveis usados. Geralmente, os marceneiros não recebem treinamento externo para exercer a atividade, uma vez que todos aprenderam a profissão dentro da própria marcenaria, iniciando o trabalho como ajudantes de marceneiro. A própria família trabalha tanto diretamente com madeira como com a sua venda. 77 Figuras 10 - Avenida Professor Paredes Fonte: (FURTADO, 2007) Na Avenida Prof. Paredes visualiza-se a presença de residências na área de medição do ruído, sem atividades comerciais de marcenaria. 3.1.1 Coleta do nível equivalente de ruído (LA eq) As medições do nível equivalente de ruído foram realizadas de acordo com as recomendações da NBR 10151, que estabelece que o equipamento possua recursos para medição de Nível de Pressão Sonora Equivalente (LAeq ), em decibels ponderado em escala “A” (dBA), no modo fast. Foram realizadas trinta leituras em cada ponto de medição, com intervalos de dez segundos entre uma leitura e outra, conforme a IEC 60804. As medições foram efetuadas em pontos afastados aproximadamente 1,2 – 1,5 m acima do solo e, pelo menos, 2 m de quaisquer outras superfícies refletoras, como muros e paredes no exterior das habitações. Tais medições foram obtidas no meio da rua nas duas quadras selecionadas de mesma zona urbana. O microfone foi protegido com protetor de 78 vento, conforme preconizado na NBR 10151 - “Avaliação do Ruído em Áreas Habitadas, Visando o Conforto da Comunidade.” As medições oficiais de ruído foram realizadas pela equipe técnica da Secretaria Municipal do Meio Ambiente - SEMAM, conforme as normas supracitadas (relatório técnico em anexo - A). Já as outras medições foram realizadas pela autora, também de acordo com as mesmas normas utilizadas pela SEMAN. A SEMAM utilizou decibelímetro digital da marca MINIPA, modelo MSL1351 C, e a pesquisadora utilizou o decibelímetro digital da marca MINIPA, modelo MSL1350, de acordo com o padrão IEC 651, tipo 2. Ambos foram calibrados de acordo com as recomendações do fabricante. O cálculo do nível de pressão sonora equivalente, LA eq, em dB(A), foi realizado através de planilha eletrônica, desenvolvida pelo Professor João Crisóstomo de Morais, já aposentado da UFPB, porém utilizada e gentilmente cedida pela SUDEMA e SEMAM, por ser esta a forma como ambos os órgãos calculam o LA eq em suas aferições de ruído ambiental. Os dados obtidos nas medições de ruído da autora foram registrados em uma ficha elaborada para o estudo (Apêndice), baseada no modelo da planilha eletrônica para processar o LA eq. As medições foram realizadas com medidor de nível de pressão sonora (decibelímetro), entre os meses de junho e setembro de 2007. Um fato constatado e que estendeu o período das medições de ruído, é que houve dificuldade em encontrar as madeireiras trabalhando em plena atividade. Foram várias as idas e voltas entre junho e setembro, sem realizar nenhuma medição na Avenida Miguel Santa Cruz, e levando a crer que as mesmas não trabalham no corte da madeira constantemente. Já em setembro, conseguiu-se realizar as medições na Avenida Miguel Santa Cruz em condições ideais: dia sem chuva e com as quatro madeireiras em funcionamento, trabalhando no corte da madeira. Os dados coletados foram tratados estatisticamente e serão apresentados posteriormente. 79 3.1.2 Aplicação do questionário às amostras Os questionários foram aplicados em 58 pessoas, moradores e/ou trabalhadores do entorno das áreas de medição (excluindo-se os trabalhadores das marcenarias), em ambas as avenidas, num raio de 60 m, conforme a Tabela 4. Tabela 4 - Distância do ponto de medição do ruído Distância do ponto % Frequência % 0 |--- 20 m 20 34,5 34,5 20 |--- 40 m 20 34,5 69,0 40 |--- 60 m 18 31,0 100,0 Total 58 100 de medição Acumulado Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) De acordo com a distância do ponto de medição do ruído (Tabela 4), os respondentes do questionário da circunvizinhança das avenidas onde foram realizadas as medições moram e/ou trabalham de 0 a 20 e de 20 a 40 metros do ponto de medição do ruído, representando, juntos, 69% do total, ou seja, a grande maioria mora e/ou trabalha a uma distância de 0 a 40 metros do ponto de medição. O questionário utilizado para pesquisa foi elaborado a partir de recomendações de Günther (2003), como por exemplo: não começar a intervenção por perguntas de dados pessoais, a chamada seção de “identificação”. Segundo o autor, não convém identificar os respondentes. Por isso, optamos pelo anonimato, e os dados relacionados a idade, sexo e escolaridade foram colocados no final do questionário. De acordo com o mesmo autor, deve-se iniciar um questionário por perguntas mais gerais, e, após ter estabelecido relação de confiança, o pesquisador contribui para obter respostas autênticas. Logo, perguntas pessoais sobre o respondente devem constituir o último conjunto. Cada questionário foi analisado em sua totalidade na forma de estudo de caso. A partir desta visão total da entrevista, buscaram-se os elementos da narrativa que identificam os pontos de expressão da experiência do entrevistado em sua relação com figuras que se 80 referem a análises dos fatores de percepção ambiental e de saúde, no enfoque da qualidade de vida no bairro da Torre, visando a um estudo comparativo entre as duas amostras. A coleta de dados referiu-se tanto aos dados subjetivos quanto aos dados objetivos com vistas a uma confrontação dos diferentes materiais obtidos. Foi compreendida por duas formas: de um lado, as entrevistas com a comunidade do entorno das avenidas do presente estudo; de outro lado, uma análise ambiental dos níveis equivalentes de ruído (LA eq), na Avenida Miguel Santa Cruz, no trecho onde se localizam quatro marcenarias, e na Avenida Professor Paredes, trecho residencia l. Figura 11 – Imagem do satélite Quick-bird Fonte: (SEPLAN/PMJP, 2007) A figura 11 mostra imagem do satélite Quick-bird do bairro da Torre com as áreas em destaque para os trechos das duas avenidas, Miguel Santa Cruz, esta com o aglomerado de marcenarias, e a outra, Avenida Prof. Paredes, área estritamente residencial, onde foram realizadas as medições do nível equivalente de ruído (LA eq), como também no seu entorno, onde foram aplicados os questionário s. 81 3.2 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: O BAIRRO DA TORRE A Torre, tradicional bairro de João Pessoa, foi fruto de inúmeras transformações urbanísticas, em função de sua localização próxima ao Centro e também aos bairros mais nobres localizados na praia. Nasceu com característica predominantemente residencial e hoje abriga diversificados setores de empreendimentos particulares, porém com uma remanescente área de residências antigas que resistem ao longo do tempo. O bairro da Torre deve seu nome a Joaquim Torres, administrador e morador da antiga fazenda de Manoel Deodato. A maior parte dos terrenos dessa localidade pertencia a Júlia Freire e Manoel Deodato. Hoje essas pessoas são homenageadas com o nome de duas ruas do bairro (SOUSA, 2005). De acordo com Silveira (2004), a orla marítima iniciou o processo de atração da população pelo seu potencial paisagístico e ambiental, abrindo o caminho para a instalação dos trilhos do trem os quais chegaram ao litoral em 1908. Coutinho (2004) afirma que se planejou a abertura de uma estrada que ligasse o Centro até a Praia de Tambaú, o que se concretizou no Governo Camilo de Holanda. Embora precária, estava aberta a ligação para o Oceano Atlântico, através da Av. Epitácio Pessoa. Esse fato provocaria um processo de modificação na paisagem que seguiria o percurso da nova avenida durante todo o século XX. Seriam os extremos - o entorno do Sítio Cruz do Peixe no Varadouro e a orla marítima - que se transformariam mais rapidamente, gerando os bairros da Torre e Tambaú durante a década de 1920. 82 Av.Epitácio Pessoa .......................... Bairro da Torre Figura 12 - Bairro da Torre Fonte: (SEPLAN/PMJP, 2007) A figura 12 destaca, em amarelo, o bairro da Torre e mostra sua proximidade com a Avenida Epitácio Pessoa, que faz a ligação da praia com diversos bairros ao longo de seu percurso, dentre as quais o bairro da Torre, área de estudo da presente pesquisa. De acordo com Vidal (2004), nos anos 1937 e 1938, foi urbanizada a área da Torre, na época denominada Torrelândia. Surge como espaço de sustentação, com vocação predominantemente residencial, na direção leste, contribuindo efetivamente para o avanço da mancha urbana, em direção à orla marítima. A partir da década de 1970 e, sobretudo, nos anos 90, Sousa (2005) relata que a Torre passou a abrigar uma gama tal de novas atividades comerciais e de serviços que sua economia e paisagem foram, completa e inevitavelmente modificadas. Para Silveira (2005), com o passar dos anos, essa área tradicionalmente habitacional tornou-se economicamente muito atrativa e comercialmente bastante desenvolvida, tendo, inclusive, extrapolado o primeiro modelo de zoneamento da cidade. O modelo, até então planejado (1980), não resistiu ao crescimento mais espontâneo do bairro, e, conseqüentemente, suas principais vias de circulação (as avenidas José Américo de Almeida, Rui Barbosa, Juarez Távora e Barão de Mamanguape) transformaram-se em corredores eminentemente comerciais. Vidal (2004) afirma que, passadas mais de duas décadas da implantação das primeiras ações dessa natureza na Torre, pode-se constatar nitidamente que o processo de transformação e de modernização não foi total. 83 Hoje, a Torre é um verdadeiro mosaico de realidades: ao lado das avenidas centrais, com modernos equipamentos destinados ao comércio e à prestação de serviços, existem ruas tradicionais, eminentemente residenciais, um significativo número de vilas habitadas por famílias de trabalhadores de baixa renda, além de casas de palha e mocambos espalhados pelo interior do bairro. Essa paisagem urbana, às vezes contrastante, é o Testemunho vivo de uma resistência remanescente ao novo e ao moderno incorporados ao bairro em seu constante processo de mudança. Desse modo, o bairro se desenvolve, mas ainda conserva características de um espaço tradicional; o processo de modernização segue seu curso, mas verdadeiras ilhas de resistência teimam em se manter inalteradas. A Avenida Rui Barbosa é tida como a principal ave nida da Torre, ligando o bairro à Reserva Florestal da Mata do Buraquinho. É uma avenida de grande tráfego e de muita importância comercial para a área. O bairro tem como limites: ao norte, Bairro dos Estados; ao sul, Mata do Buraquinho; a leste, Expedicio nários; a oeste, Centro e Jaguaribe. Possui uma população totalmente urbana, estimada em 17.104 habitantes, sendo 7.398 do sexo masculino (43%) e 9.706 do sexo feminino (57%), segundo o Censo do IBGE (2001), como está representado no gráfico a seguir: Mulheres 57% Homens 43% Gráfico 2 - Distribuição da população por gênero Fonte: (RIBEIRO, E. et al., 2005) O gráfico 2 mostra que a população do Bairro da Torre é composta, em sua maioria por mulheres (57%). Coutinho (2004) mostra os aspectos de qualidade de vida no bairro da Torre, em seus diversos ângulos. Com relação aos aspectos sócio econômicos, a média do rendimento das famílias residentes no Bairro da Torre é de 3 a 5 salários mínimos mensais, podendo ser considerado um bairro de classe média. E a maior parte da população está na faixa de vida ativa, ou seja, de 20 a 50 anos, como está representado nos gráficos a seguir. 75-79anos 65-69anos 55-59anos 45-49anos 35-39 anos 25-29 anos 18-19 anos 15 anos 5-9 anos 3 anos 1 600 1 400 1 200 1 000 800 600 400 200 1 ano População 84 Faixa Etária Gráfico 3 - Composição Etária do Bairro da Torre Fonte: ( RIBEIRO, E. et al., 2005) O gráfico 3 mostra que o número de pessoas na faixa etária até os 3 anos do bairro da Torre encontra-se constante, tendo um bom crescimento na faixa de 5-9 anos e atingindo o máximo na faixa etária dos 20 anos. A população do bairro da Torre está distribuída em 4498 moradias, e a pessoa responsável pelo domícílio (chefe de família) apresenta, em sua maioria, algum grau de estudo, como podemos observar no gráfico 4. Não determinados Sem Instrução e menos de 1 ano 15 anos ou mais 0% 7% 21% 11% 1 a 3 anos 4 a 7 anos 24% 11 a 14 anos 25% 12% 8 a 10 anos Gráfico 4 - Pessoas Responsáveis pelos domicílios particulares permanentes, por grupos de anos de estudos. Fonte: ( RIBEIRO, E. et al., 2005) 85 De acordo com o gráfico 5, podemos afirmar que o bairro da Torre possui uma boa qualidade de vida urbana, visto que o resultado dos indicadores de qualidade urbana estão na média ou acima da média dos bairros da cidade de João Pessoa IQHAB IQFA IACE IQAM IQU-JP IDH-JP IQVU-JP Gráfico 5 – Índices de Qualidade Urbana em João Pessoa-PB Fonte: (RIBEIRO, E. et al., 2005) Va rad ou ro Va len tina Tr inc he ira s Tr ez ed eM aio To rre Ta mb iá Ta m ba úz inh o Ta mb aú Sã oJ os é Ro ge r 1,20 1,00 0,80 0,60 0,40 0,20 0,00 7 Sousa (2005) relata que o bairro possui uma excelente localização, pois está muito próximo do Centro da Cidade. Toda a área é plana, dotada de uma boa infra-estrutura, tendo saneamento básico, 70% de suas ruas são pavimentadas, e dispõe de linha de transporte coletivo própria. A Torre é o segundo bairro de João Pessoa que abriga o maior número de atividades comerciais e de serviços, conforme mostra o gráfico 6 (SEREM/PMJP, 2005). Bairros de maiores atividades comerciais e de serviços 14000 12175 Nº de atividades 12000 10000 8000 5596 6000 4319 3813 4000 3306 2000 16,57% 7,61% 5,88% 5,19 % 4,50 % 0 Centro Torre Manaíra Jaguaribe Mangabeira Bairros Gráfico 6 – Seleção dos 5 bairros de João Pessoa com maior número de atividades comerciais e de serviços. Fonte: (SEREM/PMJP, 2005) 7 IQHAB - Índice de Qualidade Habitacional IQFA - Indicadores de Qualidade de Facilidades Urbanas IQACE - Indicador de Qualidade de Acessibilidades IQAM - Indicador de Qualidade Ambiental IQU - Indicadores de Qualidade Urbana IDH - Índice de Desenvolvimento Urbano IQUV - Índice de Qualidade de Vida Urbana 86 A Torre também possui localização próxima ao centro da cidade, conforme pode ser observado no mapa abaixo (Figura 13) TORRE TORRE Mangabeira Figura 13 – Mapa dos bairros de João Pessoa Nesta área, localizam-se três grandes hospitais, que são: Hospital Samaritano, localizado na Av. Santa Júlia, Hospital Memorial São Francisco, na. Av. Rui Barbosa, Hospital da Unimed, na Av. Ministro José Américo de Almeida. Há também um Posto de Saúde, conhecido como o Lactário da Torre, da Secretaria de Saúde do Município e 03 87 Hospitais de Doença Mental. Em termos de saúde, o bairro possui atendimento diversificado, tanto nas especialidades quanto na natureza do atendimento, público ou privado, como as clínicas médicas. Pode-se constatar que o bairro vem ganhando uma vocação por abrigar equipamentos de saúde, especialmente hospitalares, áreas que tradicionalmente requerem silêncio, num bairro que abriga atividades ruidosas como as madeireiras e serralharias. No bairro, existem também igrejas católicas e protestantes, escolas estaduais e municipais, colégios particulares, praças, supermercados, farmácias, postos de gasolina, minishoppings, mercado público e demais serviços de várias naturezas. A Torre possui, outrossim, desigualdades sociais, com população carente concentrada no aglomerado subnormal Padre Hildon Bandeira, sobre o qual não entraremos em detalhes, visto que a área de pesquisa se localiza em outra região (Tabela 5). Tabela 5 - Demonstrativo da população do bairro da Torre População do Bairro da Torre Torre Aglomerado - Padre Hildon Bandeira Total 15.654 1.450 17.104 Fonte: (RIBEIRO, E. et al., 2005) “A Torre foi ponto relevante de transição para a expansão urbana, tanto na direção leste quanto na direção sudeste da cidade, sendo um dos primeiros bairros com vocação estritamente residencial, destinado à classe média, construído em João Pessoa pela FCP (Fundação Casa Popular) e pelos Institutos existentes, nas décadas de 1940 e de 1950. O bairro apresentava, por volta do ano de 1982, pouco menos da metade dos seus domicílios na faixa considerada de padrão alto e normal - 46,8%, de sua área total”( SILVEIRA, 2004). Apesar das transformações pelas quais passou o bairro da Torre, percebe-se que o mesmo manteve seu caráter residencial, preservando hábitos da vida cotidiana de seus moradores, conferindo- lhe a importância histórica que lhe é devida. 88 3.3 TRATAMENTO DOS DADOS Todas as informações colhidas foram transformadas em um banco de dados para processamento e análise dos mesmos. As informações contidas no banco de dados foram transferidas para um pacote estatístico (SPSS - Statistical Package for Social Science, versão 11), com base no qual, em conjunto com o programa “Excell”, procedeu-se a uma análise descritiva e inferencial dos dados. Na análise quantitativa dos dados (medição de ruído), foi utilizado o Teste T de Student, obtendo-se a diferença entre duas médias. Para análise dos dados obtidos com a aplicação dos questionários, foram utilizados os métodos de inferência, o Teste de Hipótese, o Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ) e o Teste Exato de Fisher. 89 CAPA Capítulo 4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS E DISCUSSÃO 90 Na apresentação dos dados, serão mostradas as Tabelas dos resultados e, em seguida, as correspondentes aos testes estatísticos, com um breve comentário sobre cada uma, visto que a discussão dos resultados será feita na subseção posterior. 4.1 APRESENTAÇÃO DOS DADOS DO NÍVEL EQUIVALENTE DE PRESSÃO SONORA (LA eq) Para análise estatística dos dados foi utilizado o Teste T de Student da diferença entre duas médias, visando-se a validar os resultados dessa medição. Trata-se de um Teste paramétrico (exige conhecimento dos parâmetros da população), utilizado para verificar a diferença observada entre duas médias obtidas de amostras não relacionadas. 91 Tabela 6 - Medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feitas pela autora e pela equipe técnica SEMAM/PMJP Identificador Medição Valores Identificador Medição Valores 1 1 65,2 31 2 64,4 2 1 66,7 32 2 66,4 3 1 67,8 33 2 63,7 4 1 66,9 34 2 63,4 5 1 67 35 2 63,2 6 1 66,2 36 2 62,8 7 1 70,7 37 2 63,4 8 1 71,5 38 2 63,1 9 1 73,5 39 2 62,9 10 1 70,2 40 2 62,6 11 1 65,9 41 2 62,9 12 1 64,5 42 2 63,3 13 1 70 43 2 62,9 14 1 69,6 44 2 63,3 15 1 75,8 45 2 63,3 16 1 78,8 46 2 63,2 17 1 71,5 47 2 60,8 18 1 76 48 2 60,8 19 1 76 49 2 61,7 20 1 70,1 50 2 61,9 21 1 66,3 51 2 62,2 22 1 67,1 52 2 62,3 23 1 72,1 53 2 63,1 24 1 74,1 54 2 63,2 25 1 72,7 55 2 63,8 26 1 71,1 56 2 63,2 27 1 76,1 57 2 63,8 28 1 79,9 58 2 62,8 29 1 80,5 59 2 63,1 30 1 82,3 60 2 62,7 Nota: Medições 1 = Autora e 2 = SEMAM\PMJP (Equipe técnica) 92 Na Tabela 6, foram expostos e comparados os valores das trinta (30) medições de ruídos obtidas pela autora e pela SEMAM/PMJP, na avenida onde se concentram as madeireiras. A seguir visualiza-se as duas planilhas eletrônicas utilizadas para os cálculos dos resultados dos LA eq, (nível médio equivalente de pressão sonora) pela Equipe Técnica da SEMM/PMJP e pela autora, cujos valores foram respectivamente 61,8 dB e 74,7 dB. 93 PREFEITURA DE JOÃO PESSOA Secretaria de Meio Ambiente Divisão de Fiscalização - Processado por Rivanilda - Mat. 03.169-1 SOLICITANTE JULIANA FURTADO SOARES MADRUGA SEMAM - DIFI - DIVISÃO DE FISCAIZAÇÃO LOCAL DAS MEDIÇÕES CARACTERISTICAS DA OCORRÊNCIA Zona urbana Residencial Diversificada Período Industrial X Diurno Vespertino Noturno Local: Av:Miguel Santa Cruz;s/n;Torre DATA 30/05/07 - Inicio: 11:40 - Término: 11:45 X Níveis medidos 64,4 66,4 63,7 63,4 63,2 62,8 1 63,4 63,1 62,9 62,6 62,9 63,3 62,9 63,3 63,3 63,2 60,8 60,8 61,7 61,9 62,2 62,3 63,1 63,2 63,8 63,2 63,8 62,8 63,1 62,7 J. CRIS 7 67,3 EEM Quem defende o meio ambiente defende a prpria vida ... Leq(dBA) 61,8 Fonte: (SEMAM/PMJP 2007) Máx. permitido (dBA) 55,0 NÍVEL PERMITIDO ULTRAPASSADO 94 MEDIÇÃO REALIZADA PELA MESTRANDA: Juliana Furtado Soares Madruga Medições de acordo com a NBR 10151. Av. Miguel Santa Cruz CARACTERIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA LOCAL Zona urbana Residencial Diversificada DATA Industrial X Diurno Vespertino Noturno AV . MIGUEL SANTA CRUZ , s/n - TORRE 06.09.2007 –Início: 10:30 - Término: 10:35 x Níveis medidos 66,7 67,8 66,9 67,0 66,2 70,7 71,5 73,5 70,2 65,9 64,5 70,0 69,6 75,8 78,8 71,5 76,0 76,0 70,1 66,3 67,1 72,1 74,1 72,7 71,1 76,1 79,9 80,5 82,3 Leq(dBA) 74,7 Máx. permitido (dBA) 55,0 EEM J. CRIS 65,2 Fonte: (FURTADO, 2007) NÍVEL PERMITIDO ULTRAPASSADO 95 Tabela 7 - Medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feitas pela autora e pela equipe técnica SEMAM/PMJP Identificador Medição Valores Identificador Medição Valores 1 1 61,3 31 2 70,1 2 1 62,2 32 2 70,2 3 1 62,1 33 2 69,9 4 1 64,2 34 2 69,4 5 1 61,8 35 2 70,3 6 1 61,9 36 2 71,2 7 1 66,0 37 2 70,5 8 1 61,6 38 2 73,3 9 1 62,0 39 2 72,6 10 1 62,1 40 2 73,3 11 1 62,3 41 2 77,7 12 1 62,0 42 2 78,1 13 1 74,3 43 2 78,0 14 1 61,9 44 2 75,1 15 1 61,6 45 2 75,7 16 1 62,6 46 2 75,9 17 1 61,8 47 2 76,9 18 1 61,5 48 2 76,7 19 1 62,1 49 2 77,7 20 1 68,2 50 2 77,3 21 1 61,7 51 2 78,3 22 1 61,4 52 2 78,4 23 1 61,9 53 2 78,6 24 1 62,7 54 2 78,3 25 1 64,8 55 2 78,4 26 1 65,4 56 2 78,6 27 1 62,9 57 2 78,5 28 1 63,9 58 2 78,6 29 1 62,0 59 2 78,5 30 1 61,7 60 2 78,5 Nota: Medições 1 = Autora e 2 = SEMAM\PMJP (Equipe técnica) 96 Na Tabela 7 foram expostos e comparados os valores das trinta (30) medições de ruídos obtidas pela autora e pela SEMAM/PMJP, na avenida predominantemente residencial. A seguir visualiza-se as duas planilhas eletrônicas utilizadas para os cálculos dos resultados dos LA eq, (Nível médio equivalente de pressão sonora) pela Equipe Técnica da SEMM/PMJP e pela autora, cujos valores foram respectivamente 77,2 dB e 65,2 dB. 97 PREFEITURA DE JOÃO PESSOA Secretaria de Meio Ambiente Divisão de Fiscalização - Processado por Rivanilda - Mat. 03.169-1 SOLICITANTE JULIANA FURTADO SOARES MADRUGA SEMAM - DIFI - DIVISÃO DE FISCAIZAÇÃO LOCAL DAS MEDIÇÕES CARACTERISTICAS DA OCORRÊNCIA Zona urbana Residencial Diversificada Período Industrial X Diurno Vespertino Noturno Local: Av:Professor Paredes;s/n;Torre DATA 30/05/07 - Inicio: 11:20 - Término: 11:25 X Níveis medidos 70,2 69,9 69,4 70,3 71,2 70,5 73,3 72,6 73,3 77,7 78,1 78,0 75,1 75,7 75,9 76,9 76,7 77,7 77,3 78,3 78,4 78,6 78,3 78,4 78,6 78,5 78,6 78,5 78,5 J. CRIS 70,1 67,3 EEM Quem defende o meio ambiente defende a própria vida. Leq(dBA) 77,2 Fonte: (SEMAM/PMJP, 2007) Máx. permitido (dBA) 55,0 NÍVEL PERMITIDO ULTRAPASSADO 98 MEDIÇÃO REALIZADA PELA MESTRANDA: Juliana Furtado Soares Madruga Medições de acordo com a NBR 10151. Av. Professor Paredes CARACTERIZAÇÃO DA OCORRÊNCIA LOCAL Zona urbana Residencial Diversificada DATA Industrial X Diurno Vespertino Noturno AV . PROFESSOR PAREDES, s/n – TORRE 20.06.2007 -Início: 10:55- Término: 11:00 X Níveis medidos 62,2 62,1 64,2 61,8 61,9 66,0 61,6 62,0 62,1 62,3 62,0 74,3 61,9 61,6 62,6 61,8 61,5 62,1 68,2 61,7 61,4 61,9 62,7 64,8 65,4 62,9 63,9 62,0 61,7 Leq(dBA) 65,2 Máx. permitido (dBA) 55,0 EEM J. CRIS 61,3 Fonte: (FURTADO, 2007) NÍVEL PERMITIDO ULTRAPASSADO 99 Tabela 8 - Resultado do Teste t de Student para comparação das medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feitas pela autora e pela SEMAM\PMJP Teste t Graus de liberdade (gl) p-valor 9,33 58 0,0000 Fonte: Medições da pesquisadora e da Prefeitura (SEMAM\PMJP) Tabela 9 - Resultado do Teste t de Student para comparação das medições do ruído na Avenida Professor Paredes feitas pela autora e pela SEMAM\PMJP Teste t Graus de liberdade (gl) p-valor -15,83 58 0,0000 Fonte: Medições da pesquisadora e da Prefeitura (SEMAM\PMJP) As Tabelas 8 e 9 apresentam os dados referentes aos valores das medições do ruído das duas avenidas estudadas, feitas pela autora do trabalho e pela equipe técnica da SEMAM\PMJP. Compararam-se as duas medições através do Teste t de Student. Analisando-se o resultado do Teste t para comparação das medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feita pela autora e pela Prefeitura, percebe-se que o Teste foi significativo ao nível de 5% de significância (p- valor menor do 0,05), ou seja, há diferença significativa entre as duas medições (Tabela 8). O mesmo ocorre para a Avenida Professor Paredes, ao nível de 5% de significância. Há diferença significativa entre as medições feitas pela autora e as oficiais feitas pela SEMAM\PMJP (Tabela 9). 4.2 APRESENTAÇÃO DOS DADOS OBTIDOS COM APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS Para análise estatística deste item, foram utilizados testes paramétricos para analisar os dados qualitativos. Os Testes utilizados foram: - Qui-Quadrado ( ? 2 ) para duas ou mais amostras não relacionadas, o qual tem por finalidade verificar se as distribuições absolutas das amostras diferem significativamente em relação à determinada variável. Por exemplo : verificar se as pessoas que têm dor de cabeça constante diferem significativamente do local onde vivem. 100 - Teste Exato de Fisher, que faz uso de uma Tabela de contingência 2x2, cuja indicação é quando a amostra é pequena, na seguinte situação, se 20 ? n ? 40 e a menor freqüência esperada é menor do que 5, usar o Teste Exato de Fisher. - P-Valor é a probabilidade de não rejeição (aceitação) de H 0 . Logo, se, por exemplo, ? = 0,05 (probabilidade de rejeitar H 0 , sendo H 0 verdadeira - erro tipo I) e o p-valor é maior do que alfa, digamos 0,06, então, a probabilidade de não rejeitar H 0 é maior que a de rejeitar, portanto não se rejeita a hipótese nula. Pois, num Teste de hipótese, podemos decidir pela aceitação ou rejeição da hipótese nula, observando-se o p-valor. Os dados dos questionários colhidos e os respectivos Testes serão expostos em seguida na apresentação da análise dos resultados do respectivo questionário aplicado às duas amostras. 4.2.1 Dados dos entrevistados Tabela 10 - Distribuição por sexo da população das comunidades circunvizinhas às avenidas pesquisadas, segundo o local Local Sexo Av. Miguel Av. Professor Santa Cruz Paredes Total F % F % f % Masculino 9 32,1 13 44,8 22 38,6 Feminino 19 67,9 16 55,2 35 61,4 Total 28 100,0 29 100,0 57 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 10, observa-se a análise da distribuição por gênero das populações das duas amostras pesquisadas. 101 Tabela 11 - Distribuição por escolaridade da população das comunidades circunvizinhas às avenidas pesquisadas, segundo o local Local Escolaridade Av. Miguel Av. Professor Do Entrevistado Santa Cruz Paredes Total F % F % f % 1 Nenhuma 1 3,4 2 6,9 3 5,2 2 Ensino Fundamental 4 13,8 5 17,2 9 15,5 3 Ensino Médio 18 62,1 19 65,5 37 63,8 4 Ensino Superior 6 20,7 3 10,3 9 15,5 29 100,0 29 100,0 58 100,0 Total Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 11, analisou-se o grau de escolaridade das amostras nas duas avenidas estudadas. 4.2.2 Dados sobre o ambiente Tabela 12 - Resultado do cruzamento das variáveis: mora no local x trabalha no local Você trabalha neste local? Você mora neste local? Sim Total Não F % F % F % Sim 10 27,0 27 73,0 37 100,0 Não 16 100,0 - - 16 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 12, todos os que fazem parte da pesquisa moram e/ou trabalham no entorno do local de pesquisa, onde foram aplicados os questionários, verificando-se a freqüência do tempo de moradia e/ou de trabalho destas pessoas. 102 Tabela 13 - Freqüência do tempo de moradia das amostras da população que residem no entorno dos pontos de medições. Há quanto tempo F % % Acumulado você mora no local? Até 1 ano 8 20,0 20,0 De 2 a 5 anos 7 17,5 37,5 De 5 a 10 anos 7 17,5 55,0 Mais de 10 anos 18 45,0 100,0 Total 40 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 13, analisou-se o tempo de moradia das amostras no intervalo de tempo de meses a mais de 10 anos, no mesmo bairro. Tabela 14 - Freqüência do tempo dos que trabalham na circunvizinhança das avenidas onde foram realizadas as medições Há quanto tempo você % Trabalha neste local? F % Acumulado Até 1 ano 12 42,9 42,9 De 2 a 5 anos 2 7,1 50,0 De 5 a 10 anos 4 14,3 64,3 Mais de 10 anos 10 35,7 100,0 Total 28 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 14, analisou-se o tempo de moradia das amostras no intervalo de tempo de meses a mais de 10 anos, no mesmo bairro. 103 Tabela 15 - Cruzamento das variáveis: tempo de permanência na rua x trabalha no local Quantas horas por dia Você trabalha neste local? Sim você permanece nesta rua? Total Não F % F % F De 5 a 8 horas 8 61,5 5 38,5 13 Mais de 9 horas 20 47,6 22 52,4 42 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 15, analisou-se o tempo de permanência na rua onde o respondente foi pesquisado, visando a analisar o número de pessoas que trabalham e/ou moram no local. Há pessoas que passam mais de 9 horas no local porque trabalham e residem no mesmo lugar. Não houve respostas para as categorias “Menos de 2 horas” e “De 2 a 4 horas”. Tabela 16 - Cruzamento das variáveis: tempo de permanência na rua x vezes por semana Quantas vezes por semana? Quantas horas por dia você De 3 a 6 dias permanece nesta rua? por semana F % Os 7 dias Total da semana F % F De 5 a 8 horas 10 76,9 3 23,1 13 Mais de 9 horas 11 24,4 34 75,6 45 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 16, houve o cruzamento dos dados em relação ao tempo de permanência no mesmo local, visando a uma caracterização mais clara das pessoas que moram ou trabalham no local. Não houve respostas para as categorias “Menos de 2 horas” e “De 2 a 4 horas” 104 4.2.3 Dados sobre a saúde Tabela 17 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: foi ao médico x local Local Foi ao médico por causa de algum Av. Miguel S. Cruz problema de saúde nos últimos meses? Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 17 15 13 15 30 Não 12 14 16 14 28 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) A Tabela 17 apresenta as freqüências observadas e esperadas resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de a pessoa ter ido ao médico por causa de algum problema de saúde, segundo o local onde moram e/ou trabalham, dados necessários para a aplicação do Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ), cujo resultado encontra-se na Tabela 18. Tabela 18 - Resultado do Teste Qui-Quadrado para as freqüências observadas e esperadas da Tabela 17 Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ) Estatística g.l p-valor 1,1048* 1 0,2932 Fonte: Tabela 7 *0% das células tem freqüência esperada menor do que 5, o mínimo é 14. O resultado do Teste Qui-Quadrado (Tabela 18) mostra, através do p-valor (maior que 0,05), que, ao nível de 5% de significância, não podemos rejeitar H 0 , ou seja, o fato de o entrevistado ter ido ou não ao médico por causa de algum problema de saúde nos últimos meses é indiferent e se ele mora na avenida das madeireiras ou não. 105 Tabela 19 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: uso de medicamento x local Local Faz uso de algum medicamento? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 12 10 8 10 20 Não 17 19 21 19 38 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 19, também se observam as freqüências observadas e esperadas do cruzamento das variáveis relacionadas ao uso de medicamentos segundo o local, para verificar se há independência entre essas duas variáveis através do Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ). Tabela 20 - Resultado do Teste Qui-Quadrado para os dados da Tabela 19 Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ) Estatística g.l p-valor 1,2211* 1 0,2692 Fonte: Tabela 9 *0% das células tem valor esperado menor do que 5, o mínimo é 10 Na Tabela 20, nota-se que o resultado do Teste Qui-Quadrado não foi significativo ao nível de 5% (p-valor maior que 0,05), ou seja, o fato de uma pessoa fazer uso ou não, de algum medicamento independe de ela morar e/ou trabalhar na Avenida Miguel Santa Cruz (rua das madeireiras) ou não. 106 Tabela 21 - Problemas de saúde apresentados pelos entrevistados, segundo o local da pesquisa Av. Miguel Santa Av. Professor Cruz Paredes Problemas de saúde Total Casos % Casos % 1 Alteração da visão 16 43,2 21 56,8 37 2 Ansiedade 16 47,1 18 52,9 34 3 Estresse 16 48,5 17 51,5 33 4 Incômodo ao barulho 10 41,7 14 58,3 24 5 Cansaço* 13 59,1 9 40,9 22 6 Alergia* 13 65,0 7 35,0 20 7 Nervosismo 9 47,4 10 52,6 19 8 Irritabilidade 8 47,1 9 52,9 17 9 Pressão alta* 8 53,3 7 46,7 15 10 Dor de cabeça constante* 10 66,7 5 33,3 15 11 Dificuldade de concentração 6 42,9 8 57,1 14 12 Perda de audição 5 45,5 6 54,5 11 13 Problemas gastrintestinais* 6 54,5 5 45,5 11 14 Perturbações do sono 4 40,0 6 60,0 10 15 Problemas circulatórios* 6 60,0 4 40,0 10 3 37,5 5 62,5 8 17 Zumbidos* 4 66,7 2 33,3 6 18 Problema respiratório* 3 60,0 2 40,0 5 19 Problemas cardíacos 1 25,0 3 75,0 4 20 Nenhum 1 100,0 16 Dificuldades de compreender a fala 1 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) É apresentado na Tabela 21, o número de casos, com seus respectivos percentuais, dos problemas de saúde presentes nas comunidades circunvizinhas às áreas de medição do nível equivalente de ruído (LA eq), segundo o local onde moram e/ou trabalham. 107 Tabela 22 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis: problema de saúde pode ser provocado pelo ruído ambiental x local Local Você acha que algum desses problemas pode ser provocado pelo ruído ambiental Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total desta região? F % f % Sim 9 52,9 8 47,1 17 Não 20 48,8 21 51,2 41 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela acima, analisou-se a correlação entre a influência dos problemas de saúde e a interferência acarretada pelo ruído ambiental na saúde da população circunvizinha à área estudada. As Tabelas 23 a 30, que virão a seguir, mostrarão a análise do Teste QuiQuadrado ( ? 2 ) ou Teste Exato de Fisher para duas amostras independentes, a fim de verificar se os problemas de saúde que apresentam um maior percentual de queixas dos entrevistados da rua das madeireiras é influenciado pelo ruído das mesmas. Tabela 23 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de cansaço x local Local Tem problema de cansaço? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 13 11 9 11 22 Não 16 18 20 18 36 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Qui-Quadrado aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e o problema de cansaço, através da análise comparativa entre duas amostras independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. 108 Tabela 24 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de alergia x local Local Tem proble ma de alergia? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 13 10 7 10 20 Não 16 19 22 19 38 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Qui-Quadrado aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e o problema de alergia, através da análise comparativa entre duas amostras independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. Tabela 25 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de pressão alta x local Local Tem problema de pressão alta? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 8 7,5 7 7,5 15 Não 21 21,5 22 21,5 43 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Qui-Quadrado aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e o problema de pressão alta, através da análise comparativa entre duas amostras independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. 109 Tabela 26 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de dor de cabeça x local Local Tem dor de cabeça constante? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 11 8 5 8 16 Não 18 21 24 21 42 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Qui-Quadrado aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e o problema de dor de cabeça constante, através da análise comparativa entre duas amostras independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. Tabela 27 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problemas gastrintestinais x local Local Tem problemas gastrintestinais? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 6 5,5 5 5,5 11 Não 23 23,5 24 23,5 47 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Qui-Quadrado aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e ter problemas gastrintestinais, através da análise comparativa entre duas amostras independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. 110 Tabela 28 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema circulatório x local Local Tem problema circulatório? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 6 5 4 5 10 Não 23 24 25 24 48 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Qui-Quadrado aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e ter problema circulatório, através da análise comparativa entre duas amostras independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. Verifica-se que existem freqüências esperadas menores que 5 nas Tabela 29 e 30, assim, nestas condições, o Teste Qui-Quadrado não pode ser utilizado nestes dois casos. Logo, o Teste utilizado foi o Exato de Fisher. Tabela 29 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema de zumbidos x local Local Tem problema de zumbidos? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 4 3 2 3 6 Não 25 26 27 26 52 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Exato de Fisher aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e o problema de ter zumbido nos ouvidos, através da análise comparativa entre duas amostras aleatórias e independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. 111 Tabela 30 - Freqüências absolutas observadas ( Oij ) e esperadas ( Eij ) do cruzamento das variáveis: problema respiratório x local Local Tem problema respiratório? Av. Miguel S. Cruz Av. Prof. Paredes Total Oij Eij Oij Eij Sim 3 2,5 2 2,5 5 Não 26 26,5 27 26,5 53 Total 29 29 58 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Teste Exato de Fisher aplicado na Tabela acima para verificar se existe relação entre se expor ao ruído das madeireiras e ter problema respiratório, através da análise comparativa entre duas amostras aleatórias e independentes, ou seja, a Avenida Miguel Santa Cruz e a Avenida Prof. Paredes. Tabela 31 - Resultados do Teste Qui-Quadrado para os valores das Tabelas de 23 a 30 Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ) Estatística g.l p-valor 1. Cansaço 1,1717* 1 0,2790 2. Alergia 2,7474* 1 0,0974 3. Pressão alta 0,0899* 1 0,7643 4. Dor de cabeça constante 3,1071* 1 0,0779 5. Problemas gastrintestinais 0,1122* 1 0,7377 6. Problemas circulatórios 0,4833* 1 0,4869 Fonte: Tabelas 23, 24, 25, 26, 27 e 28, respectivamente *0% das células tem freqüência esperada menor do que 5, as freqüências mínimas esperadas são, respectivamente, 11; 10; 7,5; 8; 5,5 e 5. Os resultados do Teste Qui-Quadrado (Tabela 31) não foram significativos ao nível de 5% (p-valores maiores que 0,05). Logo, não se rejeita a hipótese nula H 0 , ou seja, os problemas de saúde, neste caso, independem do local. 112 Tabela 32- Resultado do Teste Exato de Fisher Teste Exato de Fisher p-valor 1. Zumbidos 0,6701 2. Problema respiratório 1,0000 Fonte: Tabelas 29 e 30 Para os problemas de zumbido e respiratório, o Teste Exato de Fisher (Tabela 32) também não é significativo ao nível de 5% (p-valor maior que 0,05). 4.2.4 Dados sobre a percepção do ambiente sonoro Tabela 33 - Tipos de barulhos que mais incomodam os entrevistados das circunvizinhanças, segundo o local Local Qual o tipo de barulho que mais o (a) Av. Miguel Santa Av. Professor incomoda nesta rua? Cruz Paredes Total Casos % Casos % 10 43,5 13 56,5 23 10 45,5 12 54,5 22 8 47,1 9 52,9 17 6 85,7 1 14,3 7 5. Barulho de outros pontos comerciais 1 33,3 2 66,7 3 6. Barulho da casa dos vizinhos 1 33,3 2 66,7 3 7. Barulho de animais 1 50,0 1 50,0 2 8. Barulho de construções - - 1 100,0 1 1. Barulhos de veículos (carros, ônibus, motos, caminhões) 2. Som ligado (caixas de som nos postes, som de carro) 3. Nenhum 4. Barulho das marcenarias/serrarias próximas Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) 113 Na Tabela 33, observa-se o número de casos, bem como as respectivas percentagens, dos tipos de barulhos, segundo o local, os quais mais incomodam os que moram e/ou trabalham na região. Tabela 34 - Freqüências do cruzamento das variáveis barulho s ruins para o meio ambiente x local Local Av. Total Você acha que o barulho Av. Miguel Professor deste local é ruim para o Paredes Santa Cruz Meio ambiente? F % f % f % Sim 14 46,7 16 53,3 30 100 Não 15 53,6 13 46,4 28 100 Total 29 50 29 50 58 100 Fonte Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 34, observa-se o número de casos, bem como as respectivas percentagens, referentes à percepção das pessoas em relação ao ruído ambiental para as duas avenidas. Tabela 35 - Freqüência das respostas dadas à pergunta: você sabe o que é poluição sonora? Você sabe o que é Freqüência % Sim 47 81,0 Não 11 19,0 Total 58 100 poluição sonora? Fonte Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 35, avalia-se o conhecimento das duas amostras em relação ao conhecimento sobre poluição sonora. 114 Tabela 36 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho que prejudica, ou não, a saúde, segundo o local Local Você acha que o barulho Av. Total deste local prejudica a Av. Miguel Santa Professor sua saúde? Cruz Paredes F % F % F % Sim 7 46,7 8 53,3 15 100 Não 22 52,4 21 47,6 42 100 Total 29 50,9 29 49,1 57 100 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 36, avalia-se a opinião dos respondentes, obtidas através das duas amostras, sobre o mal causado pelo ruído à saúde através do cruzamento dos dados. Tabela 37 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho que prejudica ou não a tranqüilidade e o bem-estar, segundo o local Local O barulho deste local prejudica a sua Av. Miguel Av. Professor tranqüilidade e bem- Santa Cruz Paredes Total estar? f % f % F % Sim 7 46,7 8 53,3 15 100 Não 22 51,2 21 48,8 43 100 Total 29 50,0 29 50,0 58 100 Fonte: Questionário da pesquisadora aplicado às amostras (apêndice) A Tabela 37 realizou o cruzamento dos dados das duas amostras, comparando-as a opinião dos respondentes quanto à interferência do ruído na tranqüilidade e no bem-estar das pessoas. 115 Tabela 38 – Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho das madeireiras que prejudica ou não a qualidade de vida, segundo o local Local O barulho das marcenarias/serrarias Av. Miguel Av. Professor deste bairro prejudicam a Santa Cruz Paredes Total sua qualidade de vida? f % F % F % Sim 2 7,1 - - 2 3,5 Não 26 92,9 - - 26 45,6 Não há nesta região - - 29 100 29 50,9 Total 28 100,0 29 100 57 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) A Tabela 38 realizou o cruzamento dos dados das duas amostras, comparando a opinião dos respondentes quanto à interferência do ruído na qualidade de vida das pessoas. Tabela 39 - Distribuição de freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao barulho das madeireiras que impedem ou não o desenvolvimento de alguma atividade, segundo o local O barulho das Local marcenarias/serrarias o Av. Miguel Av. Professor (a) impede o Santa Cruz Paredes desenvolvimento de f % F Total % alguma atividade? % F Sim 3 10,3 - - 3 5,2 Não 26 89,7 - - 26 44,8 Não há nesta região - - 29 100 29 50,0 Total 29 100,0 29 100 58 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) A Tabela 39 realizou o cruzamento dos dados das duas amostras, comparando a opinião dos respondentes quanto à interferência do ruído nas atividades físicas e intelectuais da população estudada. 116 4.2.5 Forma como as pessoas reagem Tabela 40 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas a sair do imóvel por causa do barulho, segundo o local Local Você sairia deste imóvel Av. Miguel Av. Professor por causa do barulho? Santa Cruz Paredes Total f % f % F % Sim 3 10,3 4 13,8 7 12,1 Não 26 89,7 25 86,2 51 87,9 Total 29 100,0 29 100,0 58 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) A Tabela 40 mostra as freqüências de respostas obtidas dos entrevistados, relacionadas ao fato de sair do imóvel por caus a do barulho, segundo o local onde moram e/ou trabalham. Tabela 41 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao ruído constante das madeireiras, segundo o local Local O ruído das marcenarias/serrarias é constante? Av. Miguel Av. Professor Santa Cruz Paredes Total F % f % F % Sim 7 24,1 - - 7 12,1 Não 16 55,2 1 3,4 17 29,3 Não sabe 6 20,7 28 96,6 34 58,6 Total 29 100,0 29 100,0 58 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 41, buscou-se descobrir se as marcenarias trabalham de modo constante, considerando também a opinião dos moradores do entorno da Avenida Prof. 117 Paredes, em cuja proximidade não há empresas madeireiras, através do cruzamento dos dados obtidos nas amostras. Tabela 42 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas à convivência com ambiente barulhento segundo o local Local Você acha que se acostuma a conviver com um ambiente barulhento? Av. Miguel Av. Professor Santa Cruz Paredes Total f % F % F % Sim 6 35,3 11 64,7 17 100 Não 23 56,1 18 43,9 41 100 Total 29 50,0 29 50,0 58 100 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 42, analisou-se a tolerância das pessoas em morar num ambiente ruidoso, através do cruzamento dos dados obtidos nas duas amostras. Tabela 43 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas à diminuição do barulho segundo o local Local Você faz alguma coisa para diminuir o barulho que o (a) incomoda? Av. Miguel Av. Professor Santa Cruz Paredes Total f % F % F % Sim 16 55,2 12 42,9 28 49,1 Não 13 44,8 16 57,1 29 50,9 Total 29 100,0 28 100,0 57 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 43, analisou-se o comportamento individual das pessoas das duas avenidas frente ao ruído que as incomoda. 118 Tabela 44 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de tomar alguma medida para diminuir o barulho, segundo o local Local As pessoas desta região Total (moradores/trabalhadores) Av. Miguel Av. Professor tomam medidas para Santa Cruz Paredes diminuir o barulho? F % f % F % Sim 9 31,0 6 21,4 15 26,3 Não 20 69,0 22 78,6 42 73,7 Total 29 100,0 28 100,0 57 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 43, analisou-se o comportamento de modo coletivo das pessoas das duas avenidas frente ao ruído que as incomoda. Tabela 45 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de sentir problemas em função do barulho das madeireiras, segundo o local Local Você sente algum problema em função do Av. Miguel Av. Professor barulho das Santa Cruz Paredes Total marcenarias/serrarias? f % f % F % Sim 3 10,3 - - 3 5,3 Não 26 89,7 1 3,6 27 47,4 Não há nesta região - - 27 96,4 27 47,4 Total 29 100,0 28 100,0 57 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 45, pesquisou-se a existência de algum sintoma físico ou emocional decorrente do ruído das empresas madeireiras. 119 Tabela 46 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao conhecimento dos males causados pelo barulho, segundo o local Local Você conhece algum mal Av. Miguel Av. Professor causado pelo barulho? Santa Cruz Paredes Total f % F % f % Sim 16 55,2 12 41,4 28 48,3 Não 13 44,8 17 58,6 30 51,7 Total 29 100,0 29 100,0 58 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 46, pesquisou-se o conhecimento das pessoas participantes da pesquisa em relação aos danos provocados pela poluição sonora à saúde do ser humano. Tabela 47 - Freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao contato com campanhas de prevenção do barulho, segundo o local Local Você já teve contato com alguma campanha de Av. Miguel Av. Professor prevenção contra o Santa Cruz Paredes Total barulho? F % F % f % Sim 2 6,9 4 13,8 6 10,3 Não 27 93,1 25 86,2 52 89,7 Total 29 100,0 29 100,0 58 100,0 Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 47, investigou-se o contato direto ou indireto da população de ambas as avenidas com alguma campanha de prevenção contra a poluição sonora promovida pelos órgãos governamentais ambientais. 120 Tabela 48 - Distribuição de freqüências resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de os órgãos governamentais tomarem alguma medida para evitar o barulho, segundo o local Você percebe alguma Local medida tomada pelos Av. Miguel Av. Professor órgãos governamentais Santa Cruz Paredes Total (SEMAM/SUDEMA) nesta região para evitar o F % F % F % Sim 8 27,6 11 39,3 19 33,3 Não 21 72,4 17 60,7 38 66,7 Total 29 100,0 28 100,0 57 100,0 barulho? Fonte: Questionário aplicado às amostras (apêndice) Na Tabela 48, investigou-se a ação dos órgãos governamentais ambientais, Municipal e Estadual, respectivamente, em relação a suas atribuições determinadas pela legislação em vigor, de controlar, prevenir e reduzir a emissão de ruídos no entorno das avenidas estudadas. 4.3 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 4.3.1 Discussão dos resultados das medições de ruído As Tabelas 6 e 7 apresentam os dados referentes aos valores das medições do ruído das duas avenidas estudadas, feitas pela autora do trabalho e pela equipe técnica da SEMAM\PMJP. Compararam-se as duas medições através do Teste t de Student. Analisando-se o resultado do Teste t para a comparação das medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz feitas pela autora e pela Prefeitura, percebe-se que o Teste foi significativo ao nível de 5% de significância (p-valor menor que 0,05), ou seja, há diferença significativa entre as duas medições (Tabela 6). O mesmo ocorre para Avenida 121 Professor Paredes, ao nível de 5% de significância. Há diferença significativa entre as medições feitas pela autora e as oficiais feitas pela SEMAM\PMJP (Tabela 7). Esta pesquisa mensurou o LA eq, na rua do aglomerado de quatro marcenarias e/ou serrarias, em que a autora encontrou ruído médio em 74,7 dB(A), e a SEMAM\PMJP, verificou níveis médios de 61,8 dB(A). Na Avenida Prof. Paredes, de predominância residencial, os valores do LA eq obtidos, respectivamente, pela autora e pela SEMAM foram de 65,2 dB(A) e de 77,2 dB(A). Analisando-se a comparação das medições do ruído na Avenida Miguel Santa Cruz e na Avenida Professor Paredes, feitas pela autora e pela SEMAM\PMJP, infere-se que há diferença significativa entre as duas medições. Ressalta-se, porém, que ambas foram realizadas de acordo com a NBR 10151. Tais diferenças podem ser explicadas pelo horário das medições oficiais feitas pela SEMAM\PMJP, pois foram realizadas próximas à hora de almoço, quando os funcionários das madeireiras não estão trabalhando, bem como pelo fato de que as madeireiras não trabalham no corte da madeira diariamente. Logo, provavelmente a SEMAM\PMJP esteve também no dia e no horário em que havia apenas outros tipos de ruído urbano. Um fato importante que deve ser levado em consideração é que a Avenida Prof. Paredes é mais próxima do Mercado da Torre, além de ter maior proximidade de ruas de maior tráfego e de tráfego intermediário de veículos, o que pode ter contribuído para a referida avenida ter tido maior LA eq no dia e horário das medições realizadas pela SEMAM\PMJP. Vale ressaltar, ainda, que, se as medições do ruído tivessem sido feitas no interior das habitações, teríamos encontrado valores do LA eq menores que os constatados na presente pesquisa. Apesar das diferenças entre os valores mensurados pela autora e pela SEMAM\PMJP, deve-se levar em consideração que todas as medições de ruído ultrapassaram os 55 dB(A) recomendados pela Organização Mundial de Saúde (2000), pela NBR 10151 da ABNT (2000) e pela Lei Municipal de João Pessoa nº 29, de 05 de agosto de 2002, para o período diurno, de acordo com a zona urbana da área estudada. Tais valores podem ocasionar problemas físicos de origem extra auditiva, ou seja, em outras partes do organismo, bem como problemas de ordem psicológica. 122 4.3.2 Discussão dos resultados dos questionários Conforme apresentado na Tabela 10, observa-se uma predominânc ia do sexo feminino tanto na Avenida Miguel Santa Cruz quanto na Avenida Professor Paredes, com aproximadamente 68% e mais de 55%, respectivamente. Quanto à composição etária, entre todos os entrevistados nas duas amostras constata-se uma idade mínima e uma máxima de 13 e 87 anos, respectivamente, perfazendo uma idade média de 41 anos (em valores inteiros). Com relação à escolaridade informada pelos entrevistados (Tabela 11), destaca-se, para as duas avenidas, um maior percentual de pessoas com Nível Médio, com mais de 62% e aproximadamente 66%, para a Avenida Miguel Santa Cruz e para a Avenida Professor Paredes, respectivamente. Nota-se, na Tabela 12, que 73% dos entrevistados das comunidades circunvizinhas às avenidas onde foram realizadas as medições moram, mas não trabalham, no local, e o restante deles, 27%, moram e trabalham. Na Tabela 13, percebe-se que, dos que responderam que moram no local (40), as categorias até 1 ano, de 2 a 5 anos e de 5 a 10 anos representam, juntas, 55% do total. E, entre todas as categorias, a que obteve um maior percentual foi de “mais de 10 anos”, com 45%. Dos que responderam que trabalham no local (28), metade deles tem um tempo de serviço de até 5 anos, e, dessa metade, aproximadamente 43% têm um tempo de trabalho de até 1 ano (Tabela 14). Nota-se que, das pessoas que permanecem de 5 a 8 horas na rua, a grande maioria delas (61,5%) trabalha no local. Já aquelas que passam mais de 9 horas na rua, a percentagem cai para 47,6 %, pois são as pessoas que residem no local (Tabela 15). Percebe-se que aproximadamente 77% das pessoas permanecem de 5 a 8 horas por dia na rua, de 3 a 6 dias por semana, e, dos que permanecem mais de 9 horas, provavelmente a grande maioria, aproximadamente 76%, mora no local, pois passa na rua os sete dias da semana (Tabela 16). Analisando-se conjuntamente as Tabelas 15 e 16, o que se observa é que as pessoas entrevistadas, cujo tempo de permanência na rua e o número de vezes por semana que fica no local é menor, respectivamente, de 5 a 8 horas e, 3 a 6 dias por semana, compreendendo justamente, a maioria das pessoas que trabalham no local. Os dados do 123 questionário mencionados até então serviram para caracterizar o grupo pesquisado de ambas as avenidas. A Tabela 17 apresenta as freqüências observadas e esperadas resultantes do cruzamento das variáveis relacionadas ao fato de a pessoa ter ido ao médico por causa de algum problema de saúde, segundo o local onde mora e/ou trabalha, dados necessários para a aplicação do Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ), cujo resultado encontra-se na Tabela 18. O resultado do Teste Qui-Quadrado (Tabela 18) mostra, através do p-valor (maior que 0,05), que, ao nível de 5% de significância, não podemos rejeitar H 0 , ou seja, o fato de o entrevistado ter ido ou não ao médico por causa de algum problema de saúde nos últimos meses é indiferente se ele mora na avenida das madeireiras ou não. Na Tabela 19, também se observam as freqüências observadas e esperadas do cruzamento das variáveis relacionadas ao uso de medicamentos segundo o local, para verificar se há independência entre essas duas variáveis através do Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ). Na Tabela 20, nota-se que o resultado do Teste Qui-Quadrado não foi significativo ao nível de 5% (p-valor maior que 0,05). Ou seja, o fato de uma pessoa fazer uso ou não de algum medicamento independe de ela morar e/ou trabalhar na Avenida Miguel Santa Cruz (rua das madeireiras) ou não. Os dados apresentados nas Tabelas 17 a 20 ainda não foram suficientes para comprovar a influência do ruído das marcenarias como fator de interferência na saúde das pessoas pesquisadas. É apresentado na Tabela 21, o número de casos, com seus respectivos percentuais, dos problemas de saúde presentes nas comunidades circunvizinhas às áreas de medição do nível equivalente de ruído (LA eq), segundo o local onde moram e/ou trabalham. Pode-se observar, na Tabela 21, que, comparando-se os problemas de saúde apresentados pelos entrevistados da região das dua s avenidas, as pessoas que estão mais expostas aos barulhos das marcenarias / serrarias, ou seja, as que moram e/ou trabalham no entorno da Avenida Miguel Santa Cruz apresentam um maior percentual de casos de: cansaço (59,1%), alergia (65,0%), pressão alta (53,3%), dor de cabeça constante (66,7%), problemas gastrintestinais (54,5%), problemas circulatórios (60,0%), zumbidos (66,7%) e problema respiratório (60,0%), ficando, portanto, um maior percentual dos demais problemas para os entrevistados do entorno da Avenida Professor Paredes. Vale destacar que o número maior de indivíduos com queixas de vários problemas de saúde estão na Avenida Prof. Paredes. 124 Dos que acham que todos esses problemas apresentados podem ser provocados pelo ruído ambiental da região, a maioria, ou 52,9%, moram e/ou trabalham no entorno das madeireiras (Tabela 22). Porém, analisando-se cada avenida de modo separado na Tabela 22, constata-se que o maior número de pessoas pesquisadas não atribui seus problemas de saúde ao ruído do meio ambiente. Para verificar se os problemas de saúde que apresentam um maior percentual de queixas dos entrevistados da rua das madeireiras é influenciado pelo ruído das mesmas, foi realizado o Teste Qui-Quadrado ( ? 2 ) para duas amostras independentes. As Tabelas de 23 a 30 mostram as freqüências observadas e esperadas, respectivamente, para cada problema de saúde mais freqüente nos entrevistados da rua das madeireiras. Verifica-se que existem freqüências esperadas menores que 5 nas Tabelas 29 e 30, assim, nestas condições, o Teste Qui-Quadrado não pode ser utilizado nestes dois casos. Logo, o teste utilizado foi o Exato de Fisher. Os resultados do Teste Qui-Quadrado (Tabela 31) não foram significativos ao nível de 5% (p- valores maiores que 0,05), logo não se rejeita a hipótese nula H 0 , ou seja, o fato de os problemas de saúde, (cansaço, alergia, pressão alta, dor de cabeça constante, problemas gastrintestinais e problemas circulatórios) apresentarem um percentual maior para os que moram e/ou trabalham no entorno da rua das madeireiras não significa que tenham sido influenciados pelo ruído das mesmas. Assim, tais problemas, neste caso, independem do local. Para os problemas de zumbido e respiratório, o Teste Exato de Fisher (Tabela 32) também não é significativo ao nível de 5% (p-valor maior que 0,05), ou seja, os problemas de zumbido e respiratório também independem do local. Logo, os dados das Tabelas 21 a 32 comprovaram que não foram, durante o estudo, verificadas influências do ruído na saúde da população estudada. Na Tabela 33, observa-se o número de casos, bem como as respectivas percentagens dos tipos de barulhos, segundo o local, os quais mais incomodam os que moram e/ou trabalham na região. Comparando-se as percentagens de reclamações dos mesmos barulhos no cruzamento dos dados nas duas avenidas, dentre todos os barulhos reclamados pelos entrevistados do entorno da Avenida Miguel Santa Cruz, o único que apresenta um maior percentual em relação ao da Avenida Professor Paredes é o barulho das marcenarias/serrarias 125 (85,7%). Tal dado é justificado pelo fato de que a Avenida Prof. Paredes não possui marcenarias em sua proximidade. Porém, ao analisarmos os dados da Tabela 33, em relação aos tipos de ruídos urbanos que mais incomodam as comunidades circunvizinhas às duas avenidas, constatamos o maior número de casos com queixas para os ruídos de veículos (carros, ônibus, motos, caminhões). Tal achado contraria a hipótese inicial da pesquisa, segundo a qua l o ruído das marcenarias\ serrarias era percebido pela comunidade do entorno das marcenarias como fator de maior desconforto acústico em relação aos demais ruídos urbanos e corroboram com as pesquisas de Souza (2000), Zannin (2002), Lacerda (2005) e Ribas (2007), examinadas no estado da arte. Das pessoas da comunidade adjacente às duas ruas supracitadas que responderam que o barulho local é ruim para o meio ambiente, a maioria, ou 53,3%, não mora na rua do aglomerado de madeireiras (Tabela 34). Percebe-se que 81,0% do total de 58 pessoas pesquisadas da população da comunidade adjacente às ruas supracitadas afirmam que sabem o que é poluição sonora (Tabela 35). Comparando-se os percentuais de respostas para os que acham que o barulho local prejudica a sua saúde (Tabela 36), há um maior percentual para a Avenida Professor Paredes (53,3%). O mesmo ocorre para os que acham que o barulho prejudica a sua tranqüilidade e bem-estar (Tabela 37), também com 53,3% das respostas para a Avenida Professor Paredes. Dos que moram e/ou trabalham na Avenida Miguel Santa Cruz, aproximadamente 93% responderam que o barulho das madeireiras do bairro não prejudica sua qualidade de vida. Já na Avenida Professor Paredes, todos responderam que não há barulho de madeireiras na região (Tabela 38). Nota-se que aproximadamente 90,0% da população da Avenida Miguel Santa Cruz acha m que o barulho das marcenarias/serrarias não impede o desenvolvimento de suas atividades. Quanto à Avenida Professor Paredes, todos os entrevistados responderam que não há barulho de madeireiras na região (Tabela 39). Os dados relativos às Tabelas 34 a 39 revelam que a amostra exposta ao ruído das marcenarias\serrarias não associam o ruído como fator degradante do meio ambiente, da sua saúde, tranqüilidade, bem-estar e qualidade de vida, não impedindo os indivíduos de desenvolver as suas atividades físicas e intelectuais. Vale ressaltar que a grande maioria das pessoas das duas áreas responderam que sabem o que é poluição sonora, apesar de não 126 fazerem a associação deste fator com os seu malefícios. Portanto, tal conhecimento sobre poluição sonora pode ser questionado. A Tabela 40 mostra as freqüências de respostas dadas pelos entrevistados, relacionadas à possibilidade de sair do imóvel por causa do barulho, segundo o local onde moram e/ou trabalham. Percebe- se que quase todos os entrevistados da Avenida Miguel Santa Cruz, bem como os da Avenida Professor Paredes, responderam que não deixariam seu imóvel por causa do barulho com, aproximadamente, 90% e mais de 86% das respostas, respectivamente. Pode-se constatar que, apesar de ser uma região com níveis de ruído acima dos limites aceitáveis para o bem-estar da população, de acordo com a legislação vigente, leva a crer que as pessoas se habituaram a conviver com o ruído insalubre a que estão expostas. Outro fato, ressaltado por Tassara (2001), pesquisadora em psicologia ambiental, é que se percebe a dificuldade que as pessoas têm de saírem de suas casas devido aos antigos amigos que ainda estão pelo bairro. Ta is pessoas desenvolvem laços afetivos e uma identificação pessoal com o local, com os vizinhos e tentam perpetuar sua moradia no bairro onde residem, apesar das transformações urbanísticas que ocorrem ao longo do tempo no local. Logo, as transformações do bairro da Torre são percebidas como um processo natural que acompanha o crescimento e a expansão do bairro. No relato dos entrevistados, quando se estendiam em alguma resposta do questionário, percebe-se essa transformação e aceitação dos fatos. Percebe-se que mais de 55% da população da região das madeireiras (Tabela 41) dizem que o ruído das mesmas não é constante. Já para a população da rua predominantemente residencial, aproximadamente 97% não sabem. Tal cons tatação corrobora com os dados anteriores, no sentido de que o ruído das mesmas não interfere em suas vidas, não as levando a mudar para outro imóvel. De acordo com os resultados da Tabela 42, nota-se que dos que responderam que se acostumariam a conviver em um ambie nte barulhento, aproximadamente 65% não são da avenida das madeireiras. Dos entrevistados da circunvizinhança das madeireiras, mais de 55% fazem algum esforço para diminuir o barulho que os incomoda, no entanto, mais de 57% da população da avenida predominantemente residencial nada fazem para diminuir o barulho que os incomoda (Tabela 43). 127 A grande maioria da população, 69% da Avenida Miguel Santa Cruz, e 79% da Avenida Professor Paredes, negam que as pessoas da região (moradores/trabalhadores) tomam medidas para diminuir o barulho (Tabela 44). Os dados das Tabelas 43 e 44 levam a crer que as medidas para diminuir o ruído, quando tomadas, são de caráter individual. Analisando-se a população de cada avenida (Tabela 45), nota-se que, aproximadamente 90% das pessoas da avenida onde se encontra o aglomerado de madeireiras negam que sentem algum problema de saúde ocasionado pelo ruído das mesmas. Já para as pessoas da Avenida Professor Paredes, mais de 96% afirmam que não há tal barulho na região. Dos entrevistados da Avenida Miguel Santa Cruz, mais de 55% conhecem algum mal causado pelo barulho. Já 59% dos respondentes da Avenida Professor Paredes, não conhecem mal algum. E, no geral, 51,7% responderam que não conhecem nenhum mal causado pelo barulho (Tabela 46). Os dados das Tabelas 45 e 46 demonstram a pouca informação que a população em estudo possui sobre os malefícios do ruído. Nota-se, na Tabela 47, que mais de 93% das pessoas da Av. Miguel Santa Cruz e de 86% da Av. Professor Paredes, nunca tiveram contato com nenhuma campanha de prevenção contra o barulho. Estes dados corroboram com a pesquisa de Ribas (2007), que verificou que 100% de sua amostra nunca tiveram contato com nenhuma campanha de prevenção contra o barulho, apesar de o ruído extrapolar os valores recomendados e permitidos legalmente. Mais de 72% e, aproximadamente 61% das pessoas das avenidas Miguel Santa Cruz e Professor Paredes, respectivamente, não percebem nenhuma medida tomada pelos órgãos governamentais (SEMAM/SUDEMA) para evitar o barulho na região. E, no geral, aproximadamente 67% não percebem tais medidas (Tabela 48). Constata-se que as campanhas esclarecedoras de sensibilização e conscientização por parte dos órgãos governamentais (SEMAM), voltadas para a população, não estão atingindo os objetivos esperados, conforme mostra a Tabela 47, e a comunidade não se une de forma coletiva para alertar os órgãos competentes (SEMAM / SUDEMA), a fim de que sejam feitas fiscalizações na área das marcenarias, com o intuito de diminuir o nível do ruído ambiental local, conforme Tabela 48, pois não têm a percepção do mesmo, ou seja, para eles não há impacto sonoro das empresas madeireiras sobre suas vidas. 128 CAPA Capítulo 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES 129 5.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS A partir do exposto e de tudo o que foi investigado, podemos afirmar que o ruído se transformou numa preocupação global na sociedade contemporânea, diante dos elevados níveis presentes no cotidiano dos cidadãos, seja no lazer, no trabalho ou mesmo dentro da própria residência. Para contornar tal conjuntura, considerada pela OMS como um problema de saúde pública, várias são as legislações e regulamentações em diversos países, tentando solucionar o conflito entre desenvolvimento, agressão ao meio ambiente e qualidade de vida dos cidadãos das urbes, em busca da sustentabilidade ambiental, visto que o ruído foi constatado no decorrer da pesquisa também como um problema ecológico. A Comunidade Européia recomenda níveis ambientais de ruído de até 45 dB (A), mas, para a Organização Mundial de Saúde, o nível ambiental de ruído deve ser de até 35 dB (A). No Brasil, os níveis de ruído recomendados para as áreas urbanas residenciais no período diurno é de 55 dB (A). As duas amostras da comunidade pesquisada no bairro da Torre, ou seja, a da Avenida Miguel Santa Cruz e a da Avenida Prof. Paredes estão expostas, de acordo com as medições realizadas, a níveis de ruído superiores aos que foram citados anteriormente. Porém, a população do entorno das madeireiras, correspondente à amostra de 29 pessoas (50% da amostra total), não percebe e não associa os problemas ocasionados pelo ruído à sua saúde, tanto no aspecto auditivo como no extra-auditivo, apesar de existirem diversas queixas de saúde, tais como: ansiedade, estresse, cansaço, irritabilidade, dentre outras. Também não associa o ruído das marcenarias como fator degradante do meio ambiente, da qualidade de vida ou do bem-estar. Não há denúncias individuais ou coletivas aos órgãos ambientais governamentais, SEMAM e SUDEMA, em decorrência do ruído das marcenarias. Poderíamos afirmar, de acordo com o provérbio popular, que: “quem não é visto não é notado”. Para os grupo estudados, constata-se que não há impacto sonoro causado pelas empresas madeireiras, não comprovando a hipótese inicial de que tal atividade gerava desconforto acústico nesta comunidade. Vale ressaltar que as madeireiras estão trabalhando abaixo de sua capacidade em função da atual situação sócio-econômica. Caso houvesse necessidade de se trabalhar de 130 modo mais intenso, inclusive no período noturno, provavelmente o LA eq obtido seria outro, assim como a percepção da população. Outro fato a ser observado é que o bairro da Torre está em segundo lugar em número de atividades comerciais e de serviços, ficando atrás apenas do centro da cidade. Por este motivo as pessoas parecem estar mais acostumadas, ou tendo menor percepção da agitação. Isso as torna mais tolerantes às diversas formas de poluição sonora, inclusive ao ruído de tráfego, que se constatou como a maior queixa dentre os vários tipos de ruídos ambientais para a comunidade do entorno das duas avenidas pesquisadas. Pode-se explicar este achado para a Avenida Prof. Paredes, pelo fato de estar mais próxima ao Mercado da Torre e de vias de tráfego intenso. Um outro fator que pode ter contribuído também para a não percepção do ruído das marcenarias por parte da população estudada é que os níveis de LA eq foram mensurados no exterior das habitações, além de não terem atingido valores demasiadamente elevados, conforme as expectativas iniciais da pesquisa. Logo, no interior das residências, tais valores são ainda menores. Pode-se afirmar que o estudo comparativo entre as duas áreas pesquisadas não apresentou diferenças significativas entre as duas comunidades, em relação à forma como as pessoas percebem e reagem ao som nos seus aspectos de saúde, qualidade de vida e em relação ao meio ambiente, pois o ruído é difuso e proveniente, ao mesmo tempo, de diversas fontes sonoras. Constata-se que o ruído gerado pelas marcenarias não se destacou em relação aos ruídos ocasionados pelas outras fontes sonoras, como era esperado, ficando na “sombra” do ruído do tráfego de veículos. Talvez este seja o fator que realmente provoque impacto sonoro na população do bairro da Torre, corroborando com os achados de outras pesquisas sobre poluição sonora no habitat urbano. Em última análise, é vital que não subestimemos o que fizemos ao término do mais agitado e barulhento século de nossa história. Numa visão mais ampla, o silêncio não deve ser encarado apenas como um fator determinante no conforto ambiental, mas deve ser visto como um direito do cidadão. Estas ações pertinentes ao ruído de tráfego desrespeitam e violam o direito do cidadão a um meio ambiente ecologicamente equilibrado do ponto de vista sonoro. Daí a nossa iniciativa de elencar algumas recomendações para a melhoria da qualidade do ambiente sonoro para o bairro da Torre, como para toda a cidade. 131 5.2 RECOMENDAÇÕES Conforme os resultados obtidos, o ruído de trânsito foi o destaque nas queixas da população estudada, encobrindo os demais tipos de poluição sonora, visto que o ruído é difuso e não provém de uma única fonte sonora, inclusive o ruído gerado pelas empresas do setor madeireiro, foco de estudo da presente dissertação. Neste sentido, far-se-ão algumas recomendações visando melhorar o ambiente sonoro da cidade de João Pessoa e, em especial, da comunidade do bairro da Torre, foco de estudo desta pesquisa. Tais recomendações não serão direcionadas apenas ao ruído proveniente das marcenarias, o qual por situações particulares, não causou impacto sonoro na comunidade estudada, mas também ao ruído de trânsito, tendo em vista a importância do incômodo relatado pela amostra pesquisada a tal agente poluidor. 5.2.1 Ações de educação ambiental direcionadas aos órgãos governamentais ambientais - As ações de educação ambiental têm se mostrado fundamentais nos países ou cidades que têm adotado ações continuadas de sensibilização e educação. Tais ações de educação passam por informações aos cidadãos em geral, como, por exemplo, palestras e trabalhos práticos voltados aos alunos nas escolas com a integração do componente ruído nos programas escolares de educação ambiental. - As ações de educação ambiental no cotidiano da comunidade deve m ser realizadas visando à formação de agentes transformadores e multiplicadores de práticas de educação ambiental para fomentar melhorias na relação da comunidade com o espaço urbano. Campanhas deveriam ser levadas às feiras, mercados coletivos e praças através de movimentos significativos e com a participação ativa da comunidade. - As campanhas educativas devem abordar a questão do ruído de tráfego, visto que grande parte do ruído desta natureza é de ordem comportamental (ver figura 13), com atitudes tais como: uso excessivo de buzinas, aceleração exagerada, retirada de silenciadores dos escapamentos ou a própria falta de manutenção do veículo, além dos equipamentos como 132 alarmes sonoros, veículos de propagandas come rciais ou mesmo veículos particulares, em que as pessoas parecem sentir prazer ouvindo músicas com níveis de intensidade demasiadamente exagerados. Figura 14 - Ações comportamentais do ruído de tráfego Fonte: Imagens Google 5.2.2 Legislação de trânsito A legislação em vigor relativa à emissão de ruídos de tráfego deve ser revista e melhorada, visto que o Conselho Nacional de Trânsito – CONTRAN/98 permite o uso de buzinas ou equipamentos similares, com emissões sonoras até 93 dB(A), e a Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB aprova emissões sonoras de motores de veículos, de acordo com a categoria dos mesmos, variando entre os níveis de 74 a 80 dB(A). 5.2.3 Ações de fiscalização, controle, prevenção e redução dos padrões de emissão de ruídos pelos órgãos governamentais ambientais - Sugere-se aos órgãos ambientais de João Pessoa, SEMAM e SUDEMA, o controle mais efetivo do ruído publicitário oriundo de áreas comerciais ou institucionais próximas ao Mercado da Torre, com controle dos níveis de ruído em fontes fixas ou móveis. 133 - Planejamento de ações pelos órgãos governamentais responsáveis, visando à diminuição dos níveis de ruídos de tráfego e incentivando a população a utilizar mais os transportes coletivos. - Instalação de mapas de ruído, como mais uma ferramenta de monitoramento e fiscalização, os quais segundo Coelho (2004), são instrumentos importantes para a avaliação do ruído urbano, para o desenvolvimento de planos de ação, para a redução do nível de ruído e para a comunicação dos resultados aos políticos responsáveis, aos técnicos e à população em geral, a fim de que todos conheçam a realidade do ambiente sonoro ao qual estamos expostos. - Adaptar parâmetros decorrentes do Livro Verde sobre o Ruído, que requer a elaboração de mapas de ruído em aglomerados com mais de 100.000 habitantes (COELHO, 2004). 5.2.4 Zoneamento - Realizar o zoneamento dos espaços urbanos de acordo com a vocação de seus usos, com limites distintos para cada zona. - Avaliar a intensidade do ruído para novos projetos de urbanização. - Elaborar projetos de acústica para licenciamento de diversos tipos de edificações. - Elaborar planos de redução de ruído para as áreas onde os valores- limite são ultrapassados. - Criar critério de emergência do ruído para atividades ruidosas permanentes e estabelecer limitações para atividades ruidosas temporárias. 134 5.2.5 Técnicas de atenuação sonora nas edificações - Vale ressaltar também a importância do uso de técnicas de atenuação nas edificações. O ruído de marcenarias é constituído por uma fonte pontual fixa, sendo, portanto, de mais fácil isolamento acústico em relação ao ruído de tráfego. - O isolamento deve prevalecer em todas as superfícies que compõem o ambiente: paredes, laje do teto, laje do piso, portas, janelas, visores e sistema de ventilação (CÂNDIDO, 1999). - Aumentar a densidade do obstáculo ao som, para obter maior isolamento. Assim, as paredes de tijolos maciços ou de concreto e de grande espessura apresentam as maiores atenuações; as paredes de tijolos vazados atenuam menos; as lajes maciças de concreto atenuam mais que as lajes de tijolos vazados. - Aumentar a espessura de obstáculos (portas, janelas, vidros, etc): ao se dobrar a espessura de um obstáculo, a atenuação não dobra; mas, colocando-se dois obstáculos idênticos, o isolamento será dobrado. Desta forma, usam-se portas com 2 chapas de madeira, ou janelas com 2 vidros separados em mais de 20 cm (Anexo - E). Porém, o bem-estar da população não deve ser tratado apenas com projetos de isolamentos acústicos tecnicamente perfeitos. Exige-se, outrossim, uma avaliação do meio ambiente. 5.2.6 Atenuação sonora promovida por áreas verdes - Atenuar os ruídos através de áreas verdes, que podem ser utilizadas em espaços do tecido urbano da cidade, inclusive no bairro da Torre, pois não precisam ser extensas. Ao contrário, podem ser pequenas em área, porém numerosas. - O uso de vegetação fornece pouca atenuação de ruído, porém transmite um efeito psicológico favoráve l, que não deve ser ignorado, pois realmente provoca uma diminuição da sensibilidade ao ruído. 135 - Usar arborização, para que as folhagens das árvores espalhem os sons de alta freqüência, transmitindo a sensação de “aspereza mecânica”. Desse modo, reduzir-se-á a sensação auditiva negativa, produzindo-se sons agradáveis que mascaram os sons mais incômodos, e contribuindo-se para a melhoria da qualidade de vida da comunidade. 136 CAPA REFERÊNCIAS 137 ABERTI, P.W. Deficiência Auditiva Induzida pelo Ruído. In: LOPES FILHO, O.; CAMPOS, C.A.H. (Org.). Tratado de Otorrinolaringologia. São Paulo: Rocca, 1994. ABNT. NBR 10151. Acústica – Avaliação do ruído em áreas habitadas, visando o conforto da comunidade. Rio de Janeiro, 2000. ALMEIDA, C.M. Sobre a poluição sonora. 1999 31f. Monografia. (Especialização em Fonoaudiologia Clínica. Audiologia Clínica) – CEFAC, Rio de Janeiro. BARBOSA, W. Aspectos do ruído comunitário de Curitiba. 1992. Tese (Mestrado em Engenharia Mecânica) - Departamento de Engenharia Mecânica, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. BARICHELLO, A.B. Poluição Sonora no meio ambiente. Disponível <http://www.ibire.org.br/poluicao sonora.htm>. 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Mercado Público da Torre: um novo lugar. 2005. Monografia (Graduação em arquitetura), Universidade Federal da Paraiba. João Pessoa, 2005. 144 SUDEMA. Norma Técnica 002 (SELAP), Sistema Estadual de Licenciamento de Ações Poluidoras. Determinação do nível de ruído em ambientes internos e externos de áreas habitadas. João Pessoa [2000 - ]. SUDEMA. Norma Técnica 003 (SELAP), Sistema Estadual de Licenciamento de Ações Poluidoras. Procedimento para o cálculo do nível de ruído equivalente contínuo. João Pessoa [2000 - ]. VENTUROLLI, F.; et al. Avaliação do nível de ruído em marcenarias do Distrito Federal, Brasil. Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, Campina Grande: UFCG/ DEAg, v.7, n.3, p.547-551, 2003. VIDAL, W. C. L. Transformações urbanas : a modernização da capital paraibana e o desenho da cidade, 1910-1940. 2004. Dissertação (Mestrado em Engenharia Urbana) Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa. VIEIRA, S. Bioestatística: tópicos avançados. 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Rio de Janeiro, 2003. ______NBR 10520: informação e documentação: citações em documentos: apresentação. Rio de Janeiro, 2002. ______NBR 14724: informação e documentação: trabalhos acadêmicos: apresentação. Rio de Janeiro. 2006. IBGE. Normas de apresentação tabular. 3. ed. Rio de Janeiro, 1993. 146 CAPA APÊNDICES 147 Apêndice - A UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – PRODEMA Percepção da comunidade do bairro da Torre ao impacto sonoro gerado por empresas madeireiras Mestranda: Juliana Furtado Soares Madruga Ficha para medição de ruído ambiental MEDIÇÕES Medições de acordo com a NBR 10151. LOCAL: DATA: Residencial X 01 02 03 04 05 INÍCIO: TÉRMINO: Caracterização da ocorrência Zona urbana Diversificada Industrial Diurno Vespertino X 06 07 08 09 10 Fonte: (FURTADO, 2007) Níveis medidos 11 16 12 17 13 18 14 19 15 20 21 22 23 24 25 Noturno 26 27 28 29 30 148 Apêndice – B UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE - PRODEMA QUESTIONÁRIO PARA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO – Fonoaudióloga Juliana Furtado. CRFa-6534/PB Questionário nº ___________ Horário: Início - _______________ Término - ____________ Data da entrevista: ________________ Local - Circunvizinhança: Av. Miguel Santa Cruz ( ) Av. Prof. Paredes ( ) Distância do ponto de medição do nível de ruído: 0 - 20m ( ) 20 – 40m ( ) 40 – 60m ( ) a) Dados sobre o ambiente : 01. Você mora neste local ? Sim ( ) Não ( ) 02. Há quanto tempo ? ( ) Até 1 ano ( ) De 2 a 5 anos ( ) De 5 a 10 anos ( ) Mais de 10 ano 03. Você trabalha neste local ? Sim ( ) Não ( ) 04. Há quanto tempo ? ( ) Até 1 ano ( ) De 2 a 5 anos ( ) De 5 a 10 anos ( ) Mais de 10 anos 05. Quantas horas por dia você permanece nesta rua ? ( ) Menos de 2 horas ( ) De 2 a 4 horas ( ) De 5 a 8 horas ( ) Mais de 9 horas 06. Quantas vezes por semana ? ( ) Até 2 dias por semana ( ) De 3 a 6 dias por semana ( ) Os 7 dias da semana 149 b) Dados sobre a saúde: 01. Já foi ao médico por causa de algum problema de saúde nos últimos meses Sim ( ) Não ( ) 02. Faz uso de algum medicamento ? Sim ( ) Não ( ) 03. Você possui algum desses problemas de saúde? ( ) perda de audição ( ) perturbações do sono ( ) estresse ( ) irritabilidade ( ) cansaço ( ) dor de cabeça constante ( ) nervosismo ( ) dificuldades de compreender a fala ( ) zumbidos ( ) ansiedade ( ) incômodo ao barulho ( ) alterações da visão ( ) problemas cardíacos ( ) problemas circulatórios ( ) problemas gastrintestinais ( ) dificuldade de concentração ( ) pressão alta ( ) alergia ( ) problema respiratório ( ) nenhum 04. Você acha que algum desses problemas pode ser provocado pelo ruído ambiental desta região? Sim ( ) Não ( ) c) Dados sobre a percepção do ambiente sonoro: 01. Você acha esta rua silenciosa ? Sim ( ) Não ( ) 02. Qual o tipo de barulho que mais o incomoda nesta rua ? ( ) barulho de veículos (carros, ônibus, motos, caminhões) ( ) som ligado (caixas de som nos postes, carro de som) ( ) shows ( ) comícios ( ) barulho das marcenarias/serrarias próximas ( ) barulho de outros pontos comerciais ( ) barulho da casa dos vizinhos ( ) barulho de construções ( ) barulho de animais ( ) nenhum 03.Você acha que o barulho deste local é ruim para o meio ambiente ? Sim ( ) Não ( ) 04. Você sabe o que é poluição sonora ? Sim ( ) Não ( ) 05. O barulho deste local prejudica a sua saúde ? Sim ( ) Não ( ) 06. O barulho deste local prejudica a sua tranqüilidade e bem-estar ? Sim ( ) Não ( ) 07. O barulho das marcenarias/serrarias deste bairro prejudica a sua qualidade de vida ? Sim ( ) Não ( ) Não há nesta região ( ) 08. O barulho das marcenarias/serrarias o impede de desenvolver alguma atividade ? Sim ( ) Não ( ) Não há nesta região ( ) 09. Você sairia deste imóvel por causa do barulho ? Sim ( ) Não ( ) 10. O ruído das marcenarias/serrarias é constante ? Sim ( ) Não ( ) Não sabe ( ) 11. Você acha que se acostuma a conviver com um ambiente barulhento? Sim ( ) Não ( ) 12. Você faz alguma coisa para diminuir o barulho que o incomoda ? Sim ( ) Não ( ) 13. As pessoas desta região (moradores/ trabalhadores) tomam medidas para diminuir o barulho ? Sim ( ) Não ( ) 14. Você sente algum problema em função do barulho das marcenarias/serrarias ? Sim ( ) Não ( ) 150 15. Você conhece algum mal causado pelo barulho ? Sim ( ) Não ( ) 16. Você já teve contato com alguma campanha de prevenção contra o barulho ? Sim ( ) Não ( ) 17. Você percebe alguma medida tomada pelos órgãos governamentais (SEMAM / SUDEMA) nesta região para evitar o barulho ? Sim ( ) Não ( ) 18. Quais os barulhos fiscalizados na sua rua pelos órgãos governamentais ? ( ) barulho de veículos (carros, ônibus, motos, caminhões) ( ) som ligado (caixas de som nos postes, carros de som) ( ) shows ( ) comícios ( ) barulho de marcenarias/serrarias próximas ( ) barulho de outros pontos comerciais ( ) barulho da casa dos vizinhos ( ) barulho de construções ( ) barulho de animais ( ) nenhum d) Dados do entrevistado: Idade: _____________ Sexo: M ( ) F( ) Escolaridade: ( ) nenhuma ( ) Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( ) Ensino Superior ACEITO PARA PESQUISA: SIM( ) NÃO( ) OBS:______________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ _________________________________________________________________________ 151 CAPA PARA ANEXOS 152 Anexo - A ESTADO DA PARAÍBA PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA SECRETARIA MUNICIPAL DE MEIO AMBIENTE DIVISÃO DE FISCALIZAÇÃO CERTIDÃO DE AFERIÇÃO METODO ADOTADO NA COLETA DE DADOS -MEDIÇÕES Como o objetivo básico das medições é o de estimar a intensidade média de energia sonora ou o equivalente sonoro, foram realizadas 30 (trinta) leituras no local, com o decibelímetro na escala (A) de ponderação em intervalos de 10 (dez) em 10 (dez) segundos, entre uma leitura e outra. Aplicando-se, em seguida, o modelo matemático de integração dos níveis pontuais de ruídos para obtenção do equivalente sonoro. Foi utilizado o decibelímetro marca MINIPA – modelo MSL – 1351C. Foram realizadas medições com os equipamentos calibrados de acordo com as recomendações do fabricante e posicionado a 1,50 metros do solo, ao lado do estabelecimento, próximo à calçada do lado oposto da rua, distante aproximadamente 20 metros da fonte emissora de ruído. 153 Anexo - B UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA / UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – PRODEMA Impacto sonoro das atividades madeireiras na qualidade de vida da população do bairro da Torre – João Pessoa - PB Mestranda: Juliana Furtado Soares Madruga Medições de acordo com a NBR 10151. LOCAL Caracterização da ocorrência Zona urbana Diversificada Industrial Diurno Residencial X Início: DATA Vespertino Noturno Término: 80,0 60,0 X 40,0 01 02 03 04 05 Leq(dBA) 06 07 08 09 10 Níveis medidos 11 16 12 17 13 18 14 19 15 20 21 22 23 24 25 Máx. permitido (dBA) 20,0 26 27 28 29 30 0,0 1 55,0 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 NÍVEL DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO Fonte: Planilha eletrônica para cálculo do LAeq, segundo modelo desenvolvido pelo Prof. João Crisóstomo de Morais 154 Anexo - C TORRE Fonte: (SEPLAN/PMJP, 2007) Legenda: Avenida de tráfego muito intenso Mercado da Torre Ruas de tráfego intenso Área de pesquisa de campo Ruas de tráfego de média intensidade 155 Anexo - D ZONA COMERCIAL DE BAIRRO (ZB) PODE SER UTILIZADO O USO MISTO PARA OS CENTROS DE COMÉRCIOS OU SERVIÇOS COM TODAS AS COMBINAÇÕES HIERÁRQUICO SUPERIOR. MICROEMPRESA CLASSIFICADA COMO NÃO POLUENTE EM TODOS OS NÍVEIS. Fonte: (SEPLAN/PMJP, 2007) 156 Anexo - E Isolamento acústico de algumas superfícies Material Parede de tijolo maciço com 45 cm de espessura Parede de 1 tijolo de espessura de 23 cm Parede de meio tijolo de espessura com 12 cm e rebocado Parede de concreto de 8 cm de espessura Parede de tijolo vazado de 6 cm de espessura e rebocado Porta de madeira maciça dupla com 5 cm cada folha Janela de vidro duplos de 3 mm cada separados 20 cm Janela com placas de vidro de 6 mm de espessura Porta de madeira maciça de 5 cm de espessura Janela simples com placas de vidro de 3 mm de espessura Porta comum sem vedação no batente Laje de concreto rebocada com 18 cm de espessura Fonte: (CÂNDIDO, 1999) Atenuação (PT) 55 dB 50 dB 45 dB 40 dB 35 dB 45 dB 45 dB 30 dB 30 dB 20 dB 15 dB 50 dB