Material Didático de Filosofia 2ª Série
Transcrição
Material Didático de Filosofia 2ª Série
2o ano Filosofia Apresentação Gradativamente o estudo do conhecimento vai se desvinculando das teorias do ser na filosofia. Obviamente toda pesquisa filosófica parte de uma necessidade premente do entendimento e de um aprofundamento progressivo das questões discutidas. Antes, por razões históricas pretendia-se a posse da verdade, depois se procura detectar os limites da investigação e dos resultados para daí ampliar os horizontes do conhecimento. É uma diferença de perspectiva que se apresenta ao pensamento filosófico, ao invés de afirmar “o que são as coisas”, procura-se entender como se manifestam a nós, e como nosso corpo e mente recebem essas manifestações. Neste período vamos estudar como essa mudança de foco da investigação filosófica conduziu o pensamento ao estudo mais específico do conhecimento humano, seus problemas e desdobramentos. Capítulo 1 Que energia é essa que move o ser humano em busca do conhecimento? Introdução Na história da filosofia há um acúmulo muito grande de investigações em torno do conhecimento humano. A princípio não há uma separação nítida entre o estudo do ser e do conhecer, isto é, diante de tantas indagações acerca do mundo (realidade exterior) e de si mesmo (realidade interior), o homem apresentava respostas amparado na imaginação, nas suas observações e numa análise mais detalhada dos fenômenos. Porém o que era possível ser conhecido estava essencialmente vinculado à procura da causa, da identidade das coisas, do elemento primordial que seria o princípio gerador de tudo que existe. O foco da investigação era a origem e não propriamente o fato de perguntarmos por ela. Pode-se afirmar sem receio que decifrar os enigmas que revestiam o cosmos era como conhecer a própria natureza, já que para os gregos, a razão conduz o homem a uma vida virtuosa e por sua vez à felicidade, como uma referência da ordem que existe no universo, mantendo todas as coisas em equilíbrio. Uma vida humana equilibrada será sempre guiada pela razão. Todo estudo pela causa estará vinculado ao modo como procuramos conhecê-la, ao ponto de partida e chegada, ao método, ao modo como a observação se deu, como a intuição se desenvolveu, como a linguagem exteriorizou. Revelou-se, ao longo do tempo que devido às variadas teorias sobre o ser, era necessário saber a melhor forma, os procedimentos mais seguros, para evitar a contaminação dos resultados com crenças, opiniões infundadas, verdades constituídas com base em conclusões precipitadas. Da Cosmologia ao estudo sobre o Conhecimento A cosmologia na filosofia é basicamente o estudo das origens, da natureza das coisas. Os pensadores présocráticos começaram a subverter alguns pressupostos do mito, dentre os principais, a ideia de que a tudo no universo se constituía pela interferência divina. Desconfiaram de que para além dos deuses existiam elementos na própria natureza (phisis) que justificavam a ordem das coisas (cosmos), procuraram apresentar explicações racionais. A desconfiança, a suspeita, a intuição são elementos da atitude filosófica e, sobretudo da vontade humana de compreender o mundo e a própria natureza, em suma, conhecer. Isso significa a princípio que não há uma preocupação inicial em estudar o conhecimento humano, mas aos poucos vão se desenvolvendo os critérios, a forma mais adequada de se dizer algo sobre a realidade. A aceitação do mistério pura e simplesmente não conforta mais os pensadores. Assim sendo, mesmo que o foco do período cosmológico da história da filosofia grega seja o estudo do ser há que se preocupar com o modo como isso se dá. Heráclito e Parmênides Uma das primeiras disputas e talvez a mais vigorosa da história da filosofia se deu a partir das cosmologias de Heráclito (540-476 a.C) e Parmênides (530 a.C. - 460 a.C). Sabemos que o conflito se deu a partir do que cada um dos pensadores julgava ser uma das características essenciais do ser. Na verdade a questão não estaria simplesmente posta em relação ao que se definiu como arché (princípio gerador de tudo), mas ao modo como ambos observaram o mundo, as coisas na natureza para deduzir suas conclusões. Heráclito observou a realidade em constante mudança (devir), seu olhar se voltou para o mundo físico, onde tudo se transforma a partir da sucessão entre contrários, dia e noite, sombra e luz, quente e frio e assim por diante. Veja que o filósofo parte da percepção sensorial para apresentar as evidências de seus argumentos, consagrando assim uma tradição que sustentará dois fundamentos de sua teoria. Primeiro a do fluxo perpétuo das coisas, isto é, não é possível capturar uma realidade estável por meio do conhecimento, portanto também qualquer teoria não se estabelece permanente acerca do que quer que seja. Veja um dos seus principais Fragmentos Nº 91 acerca dessa questão: “Em rio não se pode entrar duas vezes no mesmo, nem substância mortal tocar duas vezes na mesma condição; mas pela intensidade e rapidez da mudança dispersa e de novo reúne, compõe-se e desiste, aproxima-se e afasta-se”. Fragmento transcrito da obra: PRÉ-SOCRÁTICOS. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. Col. Os Pensadores Em segundo lugar a concepção da harmonia dos contrários que é uma referência para a constituição do método dialético, contribuindo decisivamente para o desenvolvimento do pensamento filosófico desde a antiguidade e ainda hoje, na filosofia contemporânea. A dialética evolui a partir de uma concepção cosmológica, método dialógico até uma análise da própria história dos homens. De qualquer modo a contradição é a regra essencial do pensamento dialético, ou seja, o reconhecimento de que existem lados opostos que atribuem sentido um ao outro e entram em harmonia, sobretudo, no que diz respeito à realidade. Há uma expressão popular que diz: “toda história tem sempre dois lados”, isso significa que a justiça é feita contemplando os contraditórios e não por uma decisão unilateral. Fragmento 8 “O contrário é convergente e dos divergentes nasce a mais bela harmonia, e tudo segundo a discórdia”. Fragmento 53 “O combate (entre opostos) é de todas as coisas pai, de todas rei” Fragmentos transcritos da obra: PRÉ-SOCRÁTICOS. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. Col. Os Pensadores Falando em contraposição, na história da filosofia Parmênides é opositor ao pensamento de Heráclito. Observando o mundo físico vemos mudanças constantes de fato, nesse caso nada será sempre o mesmo, sempre haverá a possibilidade de algo ser diferente. Porém Parmênides enxergou a estabilidade do ser além do mundo onde a percepção sensorial é dominante. Nosso corpo, afetado pelas sensações, os odores, as cores, a temperatura, receberá sempre impressões diferentes, nenhuma experiência será sempre a mesma, principalmente em se tratando pelo modo como cada indivíduo as recebe e interioriza. Entretanto não há identidade na instabilidade, ou seja, não há como encontrar e ser das coisas no mundo físico onde tudo está sempre mudando. Nesse caso, para Parmênides falar no ser é transcender os limites da sensibilidade, que sempre recebe a realidade como algo diferente. As sensações, que estão no nosso corpo, não são fontes seguras para atingirmos o ser das coisas, como pretende Parmênides. O ser é único, imóvel, imutável, não pode ser suscetível a mudanças e obviamente não é captado pelas sensações, mas somente pelo pensamento. Em alguns dos fragmentos do Poema Sobre a Natureza o filósofo deixa isso claro, veja: II Pois bem, agora vou eu falar, e tu, prestes atenção ouvindo a [palavra acerca das únicas vias de questionamento que são a pensar: uma, para o que é e, como tal, não é para não ser, é o caminho de Persuasão — pois segue pela Verdade —, outra, para o que não é e, como tal, é preciso não ser, esta via afirmo-te que é uma trilha inteiramente insondável; pois nem ao menos se conheceria o não ente, pois não é realizável , nem tampouco se o diria: III ...pois o mesmo é a pensar e também ser. IV Vê como o ausente é, no entanto, presente firmemente em pensamento; pois este não apartará o próprio ente do manter-se ente nem se dispersando de toda forma todo pelo mundo, nem se concentrando. V O Encontro, porém, é para mim, de onde começarei; pois lá mesmo chegarei ainda outra vez. VI Precisa que o dizer o pensar o que é seja; pois há ser, Mas nada não há; isto eu te exorto a indicar. Pois, por esta primeira via de investigação, Em seguida por aquela em que mortais que nada sabem forjam, bicéfalos; pois despreparo guia em frente em seus peitos um espírito errante; eles são levados, tão surdos como cegos, estupefatos, hordas indecisas, para os quais o existir e não ser valem o mesmo e não o mesmo, de todos o caminho é de ida e volta. Parmênides de Eleia, Sobre a Natureza, Verdade (Aletheia), Fragmento 2, II-VI Ao afirmar que “o ser é e o não ser não é”, Parmênides indica caminhos importantes para a filosofia, sobretudo para o estudo do conhecimento, embora não exista uma separação nítida entre ser e conhecer. Pensar é critério para se chegar ao ser das coisas e, portanto, nada que se pensa pode não ser. Pelo fato de algo poder ser pensado “é”, pois a verdade (aletheia) é exatamente o conhecimento do que é estável, que não pode ser outra coisa e só pode ser concebida assim pelo pensamento e obviamente pela linguagem. Conhecer é assim a identidade entre ser, pensar e dizer. Assim questões muito importantes na história da filosofia. O que podemos conhecer? O ser das coisas está nelas ou além delas? É possível conhecer as coisas pelo modo como se manifestam a nós pelas nossas sensações, nossa percepção ou somente o nosso intelecto capta a identidade das coisas? As sensações são fontes de conhecimento? As ideias, concebidas pelo nosso intelecto seriam as únicas fontes do conhecimento verdadeiro? Embora Heráclito e Parmênides não tenham respondido a essas questões - além de outros filósofos présocráticos - foram lançadas luzes que influenciarão de modo claro os estudos acerca do conhecimento humano. Heráclito se comporta como um genuíno pensador da natureza, ou seja, um físico. As ciências naturais se desenvolveram a partir das especulações de pensadores da natureza. Parmênides, praticamente provoca a criação de uma disciplina filosófica denominada Ontologia, isto é, o estudo das causas do ser. Outra contribuição de Parmênides é a formulação de princípios fundamentais da Lógica (ciência da linguagem): a identidade (o ser é), a contradição (o não ser não é) e o terceiro excluído (não há uma possibilidade intermediária entre ser e não ser). As cosmologias focaram o ser, mas abriram campo para a constituição do que denominamos na filosofia de Gnosiologia (gnose: conhecimento + logia: estudo). Isso se evidencia pelo fato de que os pensadores apontam para o que é verdadeiro (essencial) e o que é falso (aparente) em relação ao conhecimento humano. Também para as fontes verdadeiras do conhecimento, pois se o objetivo do pensamento cosmológico era o ser das coisas era preciso depurar o que é seguro estudar e o que não oferece garantias para a busca da verdade, das causas, da identidade das coisas. O conhecimento suas fontes e manifestações Antes de tratarmos mais especificamente sobre as teorias dos filósofos que se dedicaram a estudar o conhecimento humano, a partir do que já discutimos, vamos apontar para o modo como este se manifesta, como e por que somos provocados a conceber as coisas e realidades, a atribuir sentido, significado, a buscar a verdade e a detectar a falsidade a partir do que é dito sobre as coisas. Todos os seres vivos são dotados de capacidades para que possam se relacionar com o mundo exterior, no enfrentamento dos desafios da natureza. Há animais que desenvolveram alguns sentidos mais que outros, devido a necessidades ambientais, há plantas que se adaptaram a condições hostis buscando os nutrientes necessários para sua sobrevivência. Nesse aspecto homens e demais seres vivos se parecem, isto é, desenvolvem-se num ambiente superando limites, utilizando e potencializando o que há de melhor em sua natureza. Por razões semelhantes a outras espécies o ser humano desenvolveu capacidades que o colocaram em um processo gradativo de evolução que o fizeram adaptar-se de modo mais dinâmico ao meio natural e quando possível até modificá-lo para garantir sua sobrevivência. O desenvolvimento do cérebro humano é uma das questões mais intrigantes para a ciência, em parte isso é atribuído às novas tarefas que foram surgindo impostas pelo meio natural e que foram estimulando a nossa capacidade criativa. O desenvolvimento da inteligência racional, da consciência, do saber reflexivo nos distancia de outras espécies na escala evolutiva. É em meio a esse processo evolutivo que o ser humano também vai descobrindo e aprimorando sua capacidade de conhecer o mundo e a si mesmo. Nossa anatomia dispõe de algumas ferramentas para a construção do que entendemos por realidade. Não se trata tão somente do nosso cérebro, mas também dos nossos sentidos e da forma complexa como esses mecanismos atuam para o desenvolvimento da nossa capacidade de conhecer. Veja o esquema: Conhecimento Sensível Conhecimento Intelectual Proveniente dos nossos cinco sentidos: visão, audição, tato, olfato, paladar. Provoca em nós sensações que nos fazem reconhecer as coisas no mundo exterior. Nesse caso não somos tão diferentes dos demais seres vivos, a não ser pelo fato de que podemos descrever e detalhar as experiências que vivemos impulsionados pela nossa sensibilidade. É importante lembrar que essas experiências são particulares. Oriundo do intelecto (pensamento, intuição intelectual). Pode ser tanto resultado de um aprimoramento do conhecimento sensível, uma superação dos limites da sensibilidade, como também um extrapolamento da sensação para operações mentais como, por exemplo, a intuição que em algumas de suas manifestações não parte necessariamente de experiências sensoriais. Com apoio do intelecto buscamos analisar nossas experiências, comparar, estabelecer semelhanças, formular conceitos, princípios convenções, corrigir erros conceituais etc. Essa é uma divisão clássica do conhecimento, pois leva apenas em consideração suas fontes primordiais, a sensibilidade e o intelecto. Na história da filosofia algumas teorias sobre o conhecimento foram colocadas em oposição, em razão de que se acreditava que o conhecimento verdadeiro ou tinha como base as experiências da sensação, ou a atividade intelectual. No próximo esquema, vamos demonstrar que o conhecimento se dá de uma forma mais complexa, há outras estruturas na nossa mente que atuam para que o nosso alcance seja gradativamente ampliado em relação à nossa capacidade de conhecer. Sensação Modo como somos afetados pela realidade. Percepção Modo particular como recebemos as manifestações da realidade. Memória Modo como interiorizamos as experiências da sensação. Linguagem Opinião Raciocínio Intuição Modo como exteriorizamos as experiências tanto da sensação como as impressões que ficaram na memória. Modo como manifestamos nossas ideias particulares acerca das nossas experiências externas e internas. Modo como procuramos observar a regularidade com que as experiências se repetem ou não, por meio de comparações e abstrações. O raciocínio é uma operação lógico/discursiva/mental. Modo como supomos ou pressupomos certas coisas, na maioria das vezes sem depender dos dados da experiência. A intuição é uma forma de adquirir conhecimento sem a interferência direta da sensação ou do raciocínio. Atividades do capítulo Vestibulares, PAS/UnB, ENEM (Upe 2013) A filosofia, no que tem de realidade, concentra-se na vida humana e deve ser referida sempre a esta para ser plenamente compreendida, pois somente nela e em função dela adquire seu ser efetivo. VITA, Luís Washington. Introdução à Filosofia, 1964, p. 20 . Sobre esse aspecto do conhecimento filosófico, é CORRETO afirmar que a) a consciência filosófica impossibilita o distanciamento para avaliar os fundamentos dos atos humanos e dos fins aos quais eles se destinam. b) um dos pontos fundamentais da filosofia é o desejo de conhecer as raízes da realidade, investigandolhe o sentido, o valor e a finalidade. c) a filosofia é o estudo parcial de tudo aquilo que é objeto do conhecimento particular. d) o conhecimento filosófico é trabalho intelectual, de caráter assistemático, pois se contenta com as respostas para as questões colocadas. e) a filosofia é a consciência intuitiva sensível que busca a compreensão da realidade por meio de certos princípios estabelecidos pela razão. (Ueap 2011) ...que é e que não é possível que não seja,/ é a vereda da Persuasão (porque acompanha a Verdade); o outro diz que não é e que é preciso que não seja,/ eu te digo que esta é uma vereda em que nada se pode aprender. De fato, não poderias conhecer o que não é, porque tal não é fatível./ nem poderia expressá-lo. (Nicola, Ubaldo. Antologia ilustrada de Filosofia. Editora Globo, 2005.) O texto anterior expressa o pensamento de qual filósofo? a) Aristóteles, que estabelecia a distinção entre o mundo sensível e o inteligível. b) Heráclito de Éfeso, que afirmava a unidade entre pensamento e realidade. c) Tales de Mileto, que afirmava ser a água o princípio de todas as coisas. d) Parmênides de Eleia, que afirmava a imutabilidade de todas as coisas e a unidade entre ser e pensar, ser e conhecimento. e) Protágoras, que afirmava que o homem é a medida de todas as coisas, que o ser é e o não ser não é. (Ufpe 2011) As reflexões sobre o mundo e as relações sociais fazem parte da construção da Filosofia, desde os seus primórdios. Na Grécia, o pensamento filosófico foi muito importante para a organização da sua sociedade e o estabelecimento de uma visão crítica de suas manifestações culturais. Uma das figuras marcantes da Filosofia Grega foi Parmênides, que: a) defendia a concepção de um universo composto pelos quatro elementos fundamentais da natureza (a água, o fogo, a terra, o ar) em constantes movimentos circulares. b) seguiu as teorias de Heráclito sobre a permanência do sagrado e dos mitos, como princípios básicos da realização religiosa da sociedade, em todos os tempos. c) se posicionou contra as teorias políticas dos mais democratas, pois achava a escravidão necessária para se explorar as riquezas e facilitar a organização da economia. d) influenciou em muito o pensamento idealista da filosofia ocidental, dando destaque à ideia de permanência e considerando o movimento como uma ilusão dos sentidos. e) estabeleceu orientações fundamentais para o pensamento de Aristóteles, de quem foi mestre, articulando as bases de uma lógica dualista com a concepção de governo monárquico vitalício. Há muitos modos de conhecer o mundo, que dependem da postura do sujeito frente ao objeto de conhecimento, como o mito, o senso comum, a ciência, a filosofia, entre outros. UNICENTRO 2011 “Difícil caracterizar o estilo de Sócrates. Os próprios antigos lhe forjaram uma palavra sob medida, eirôn (de onde vem a palavra ironia), que deixa o tradutor moderno tão perplexo quanto o etimologista antigo. Traduzamos, para simplificar, por ‘aquele que se pretende ignorante’, que ‘diz menos do que parece pensar’; portanto, ‘finório’, se tomarmos pelo lado pior, como Aristófanes, ou ‘reservado’, se seguirmos Platão e Aristóteles. Mas também ‘ingênuo’, se admitirmos sem discussão o que ele diz de si mesmo, ou ‘dissimulado’, se não acreditarmos nisso” (WOLF, F. Sócrates – O sorriso da razão. São Paulo: Editora Brasiliense, 1987). Analise as alternativas e assinale a INCORRETA. A) A ironia é escárnio e sarcasmo. Marcas de um método destrutivo, a ironia socrática é conhecida pelo nome de maiêutica: “dar à luz” novas ideias. Verdadeiramente vaidosa, essa atitude filosófica em Sócrates não pode ser separada da franca hipocrisia, como atesta, seu emblemático “só sei que nada sei”. B) A ironia é distanciamento. Para poder filosofar, para colocar entre si e o mundo a barreira profilática do questionamento e da reflexão, é preciso reconhecer que a cada conhecimento obtido, uma nova ignorância se abre diante de nós. O conhecimento não é um estado, mas um processo, uma busca, uma procura pela verdade. C) Ironia: verdade e fingimento, ao mesmo tempo. Nem hipócrita, nem verdadeiramente franca, diz a verdade parecendo dizer o seu contrário. Realmente Sócrates diz a verdade: ele nada sabe, pois só ele sabe que, às questões que ele põe, não há nenhum saber constituído que possa responder. A ironia é refutação, com a finalidade de romper a solidez aparente dos preconceitos. D) Ironia é zombaria: o diálogo socrático vai justamente dissolver o saber irrefletido de seu interlocutor e reduzir a nada suas pretensões normativas. Curiosa inversão irônica: o “eu nada sei” (daquilo que acreditas que sei), mas tu sabes (o que tu não pensas que sabes)” se duplica num “tu nada sabes” (daquilo que acreditas saber). E) Ironia é espantar-se com o que já não espanta. Os momentos fugidios, roubados pela ironia à seriedade das coisas e à aderência da existência, são momentos preciosos: são momentos de consciência. Sugestão de filmes 1. Sociedade dos Poetas Mortos Ficha Técnica Sinopse: Quando o carismático professor John Keating chega com seus modernos métodos de ensino a um colégio conservador, acaba despertando em seus alunos um novo questionamento, uma nova forma de vida. ―Carpe diem, rapazes, façam de suas vidas algo extraordinário. Com essa palavras, ele estimula os jovens a viverem cada minuto de suas vidas intensamente. Direção: Peter Weir. Atores principais: Robin Willians, Ethan Hawkp e Robert Sean Leonard. Duração: 129 minutos. Ano de produção: 1989. Temas para estudo: Conhecimento, educação, liberdade, ética/moral, relações de poder. 2. Matrix Sinopse: Em um futuro próximo, Thomas Anderson (Keanu Reeves), um jovem programador de computador que mora em um cubículo escuro, é atormentado por estranhos pesadelos nos quais encontrase conectado por cabos e contra sua vontade, em um imenso sistema de computadores do futuro. Em todas essas ocasiões, acorda gritando no exato momento em que os eletrodos estão para penetrar em seu cérebro. À medida que o sonho se repete, Anderson começa a ter dúvidas sobre a realidade. Por meio do encontro com os misteriosos Morpheus (Laurence Fishburne) e Trinity (Carrie-Anne Moss), Thomas descobre que é, assim como outras pessoas, vítima do Matrix, um sistema inteligente e artificial que manipula a mente das pessoas, criando a ilusão de um mundo real enquanto usa os cérebros e corpos dos indivíduos para produzir energia. Morpheus, entretanto, está convencido de que Thomas é Neo, o aguardado messias capaz de enfrentar o Matrix e conduzir as pessoas de volta à realidade e à liberdade. Direção: Lana Wachowski, Andy Wachowski Atores principais: Keanu Reeves, Laurence Fishburne, Carrie-Anne Moss mais Gênero: Ação, Ficção científica Nacionalidade: EUA Temas: conhecimento, alienação, crítica, liberdade, ética/moral, mundo tecnológico. Referências Bibliográficas ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. BRÉHIER, Émile. Historia de la Filosofia. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, sd. CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia. São Paulo: Companhia das Letras, 20022010. JAEGER, Werner Wilhelm. Paidéia: a formação do homem grego. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1979. MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. - 13.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. PADOVANI, Umberto Antonio. História da filosofia. 15. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1990. PLATÃO. República. Tradução de Anna Lia de Almeida Prado. São Paulo: Martins Fontes, 2006. Capítulo 2 A oposição entre a opinião e o conhecimento Introdução O período da história do pensamento grego em que Sócrates atua como filósofo é conhecido como socrático ou antropológico. Uma das razões óbvias disso é que ele se coloca na história da filosofia como divisor de águas, ou seja, com suas contribuições muda o rumo que a filosofia havia traçado até então. O caráter cosmológico do pensamento pré-socrático é subvertido por Sócrates. Em função das próprias reformas pelas quais Atenas, havia passado, ao grande progresso material, cultural e político, a atenção do pensador se voltou para outras questões de outra ordem. A formação dos jovens, a conduta moral e a atuação política dos cidadãos. Enquanto pensadores como Heráclito e Parmênides se ocupavam do Cosmos como estrutura do Universo, Sócrates se voltou para o que poderíamos chamar de “cosmo humano”, o espaço organizado pelos homens para que pudessem compartilhar uma vida em comum, movimento que contagiou outros pensadores e permitiu o foco da filosofia nas questões antropológicas, dentre elas o conhecimento. Autoconhecimento e ignorância problematizada Assim como na natureza (phisis) há uma inteligência superior que mantém tudo em equilíbrio (cosmos), também é necessário que o homem coloque a razão acima de seus instintos, sua vontade, para que viva em harmonia com todos na cidade. Essa é uma sabedoria que só se adquire quando a vida é guiada pela razão e não pelos instintos. Desse modo é que se constitui a teoria de Sócrates acerca do conhecimento humano, evitar uma vida de vícios, dominada pelas paixões, que são passageiras e levam o homem à ruína. Apesar do estudo acerca do conhecimento humano, sua teoria priorizava o pensamento moral, ao estudo sobre a virtude (areté). Na verdade conhecer seria aproximar-se do bem, buscar uma vida virtuosa, longe de tudo que aprisiona a alma na escravidão dos instintos. Sabe-se que Platão é um dos principais testemunhos de Sócrates, pois este nada registrou acerca dos seus pensamentos, em seu tempo, a tradição oral era mais importante. Há dificuldades em saber o limite entre o que é pensamento socrático e o que é teoria platônica. Nas obras da juventude de Platão, Sócrates aparece como personagem dos seus Diálogos, onde é apresentada uma discussão sobre os pressupostos do conhecimento verdadeiro. São dois os princípios relacionados ao conhecimento defendidos por Sócrates, de acordo com o relato de Platão: o autoconhecimento e o reconhecimento da ignorância. O autoconhecimento é um princípio inspirado na revelação que estava no pórtico do templo erguido para e deus Apolo e que Sócrates tomou para si como uma regra de vida e missão junto aos seus concidadãos: “conhece-te a ti mesmo” (Nosce te ipsum em latin). O pensador adotou como princípio da busca da verdade partindo do mergulho à interioridade, isto é, ninguém é capaz de conhecer qualquer coisa em profundidade sem saber que limitações precisa superar em si mesmo para que não seja convencido por opiniões e certezas alheias com facilidade e sem critérios. Ora o primeiro fundamento do conhecimento, nesse caso, é a dúvida, já que o ser humano é dotado por natureza da capacidade de pensar, questionar. Desse modo, aceitar qualquer opinião precipitadamente implica em abrir mão de si mesmo em benefício ao interesse do outro. Para Sócrates a investigação é muito mais importante que a certeza que ela produz, ele pretendia mais do que formular e defender meras opiniões acerca dos temas pelos quais pretendia debater. Para isso alguns vícios como a aceitação incondicional de verdades, e o saber baseado na autoridade de quem falava precisavam ser superados pela análise detalhada e rigorosa do conteúdo em discussão. Sócrates enfrentou muitos sábios em seu tempo, em especial os Sofistas (do grego sophos, que significa sábio), que foram muito importantes para a educação dos futuros cidadãos atenienses, mas que defendiam a vitória nas disputas retóricas do que a defesa dos princípios, dos fundamentos. Não há verdade em um comportamento onde a beleza dos discursos é mais importante e eficaz que o compromisso com a ética, com a verdade. Sócrates lutava contra uma espécie de conduta que relativizava a natureza humana e a moral. Antes de praticar política e proferir belos discursos é necessário conhecer em profundidade porque e para que se pensa, diz e faz certas coisas. O método que Sócrates consagrou tem por base uma arte que ele próprio denominou de maiêutica (partejar, trazer à luz), em homenagem a sua mãe que era parteira. Sócrates seria o parteiro e seus interlocutores as parturientes. Com suas perguntas ele provocava e estimulava o parto de ideias, conceitos ou mais importante que isso o regate do desejo de saber, que para ele está na natureza humana. Teeteto - Convém saberes, Sócrates, que já por várias vezes procurei resolver essa questão, por ter ouvido falar no que costumas perguntar sobre isso. Porém não posso convencer-me de que cheguei a uma conclusão satisfatória, como nunca ouvi de ninguém uma explicação como desejas. Apesar de tudo, não consigo afastar da idéia essa questão. Sócrates - São dores de parto, meu caro Teeteto. Não estás vazio; algo em tua alma deseja vir à luz. Teeteto - Isso não sei, Sócrates; só disse o que sinto. Sócrates - E nunca ouviste falar, meu gracejador, que eu sou filho de uma parteira famosa e imponente, Fanerete? Teeteto - Sim, já ouvi. Sócrates - Então, já te contaram também que eu exerço essa mesma arte? Teeteto - Isso, nunca. Sócrates - Pois fica sabendo que é verdade; porém não me traias; ninguém sabe que eu conheço semelhante arte, e, por não o saberem, em suas referências à minha pessoa não aludem a esse ponto; dizem apenas que eu sou o homem mais esquisito do mundo e que lanço confusão no espírito dos outros. A esse respeito já ouviste dizerem alguma coisa? Teeteto - Ouvi. PLATÃO: Teeteto - Crátilo. In: Diálogos de Platão. Tradução do grego por Carlos Alberto Nunes. 3a. ed., Belém: Universidade Federal do Pará, 2001, p. 35. O segundo princípio, o reconhecimento da própria ignorância significa aceitar que nada se sabe, que é preciso sempre buscar, ou seja, nem o conhecimento está pronto, nem o sujeito cognoscente (aquele que conhece). Esse princípio tem origem da revelação feita a Sócrates pela sacerdotisa Pítia do oráculo de Delfos quando Sócrates foi interrogado e respondeu “nada sei” sendo assim considerado pela sacerdotisa como o “mais sábio”. Veja uma canção que se baseou nessa máxima socrática: http://letras.mus.br/kid-abelha/63497/ “Não saber” é mais que um é uma constatação em razão de Sócrates não aceitar a verdade com tranquilidade no campo do conhecimento. A busca pelo saber verdadeiro, aquele que conduz o homem ao bem exige muito mais de que meras especulações. Por essa razão a ironia era uma das estratégias para ridicularizar certas opiniões que se apresentavam como absolutas e apoiadas na autoridade de quem falava, ou na confiança (crença) de quem as reproduziam. Isso era muito pouco para dar credibilidade ao que se afirmava sobre certas questões. Veja o que Sócrates afirma quando um de seus interlocutores apresentava uma teoria sobre o conhecimento verdadeiro: Sócrates — De modo geral, agrada-me sua doutrina, de que tudo o que aparece para alguém, existe para essa pessoa. Só o começo de sua proposição é que me surpreende, por ele não dizer logo no início de sua obra, A Verdade, que a medida de todas as coisas é o porco ou o cinocéfalo ou qualquer outro animal mais esquisito ainda, porém capaz de sensações. Seria o melhor exórdio para um discurso a um tempo brilhante e desdenhoso, com mostrar-nos que, se o admiramos como a uma divindade por causa de sua sabedoria, em matéria de discernimento ele não bate nem os girinos, quanto mais um ser humano. Como diremos, Teodoro? Se a verdade para cada indivíduo é o que ele alcança pela sensação; se as impressões de alguém não encontram melhor juiz senão ele mesmo, e se ninguém tem autoridade para dizer se as opiniões de outra pessoa são verdadeiras ou falsas, formando, ao revés disso, cada um de nós, sozinho, suas opiniões, que em todos os casos serão justas e verdadeiras: de que jeito, amigo, Protágoras terá sido sábio, a ponto de passar por digno de ensinar os outros e de receber salários astronômicos, e por que razão teremos nós de ser ignorantes e de frequentar suas aulas, se cada um for a medida de sua própria sabedoria? Não nos assiste o direito de afirmar que tudo isso na boca de Protágoras não passava de frase para armar o efeito? No que me diz respeito e à minha arte de parteiro, nem me refiro ao ridículo que provocamos, o que, aliás, se poderia tornar extensivo a toda a arte da conversação. Pois analisar e procurar refutar as fantasias e opiniões de outras pessoas, dado que todas sejam certas para cada um de nós, não será o cúmulo da sensaboria e da tolice, se A Verdade de Protágoras for realmente verdadeira e se ele não estava pilheriando, quando doutrinava dos penetrais sagrados do seu livro? Teodoro — O homem, Sócrates, foi meu amigo, conforme tu mesmo acabaste de dizer. Por isso não posso aceitar que Protágoras seja refutado com minha anuência, como também não desejo contradizer-te contra minha própria maneira de pensar. Volta, pois, a pegar-te com Teeteto, tanto mais que ele parece acompanhar teu raciocínio com o mais vivo interesse. PLATÃO: Teeteto - Crátilo. In: Diálogos de Platão. Tradução do grego por Carlos Alberto Nunes. 3a. ed., Belém: Universidade Federal do Pará, 2001, p. 35 Para retrucar as afirmações de que o conhecimento verdadeiro está apoiado nas experiências particulares de cada indivíduo, Sócrates afirma que é necessário um caminho seguro que não esteja apoiado nos interesses, nos projetos pessoais ou para apresentar respostas que venham a solucionar dilemas e questões circunstanciais. Ele buscava um método que o aproximasse cada vez mais da busca da verdade e não das soluções imediatas e sem profundidade. O método socrático estava baseado numa espécie de ciência ou procedimento que ele próprio criou: a Maiêutica. Sócrates utiliza a indagação como técnica para revelar as contradições e inconsistências nas opiniões e certezas de seus interlocutores, para depois induzi-los a pensarem por si próprios, convencendo-os que a dúvida é muito mais eficaz para o conhecimento do que as certezas constituídas sem esforço, sem um processo de busca. Ele valoriza muito mais a dúvida partejada que a certeza incutida. Método Socrático Indagação Ironia Maiêutica Raciocínio A partir dos relatos de Platão se percebem algumas contribuições fundamentais para o que seria, na história da filosofia, uma contribuição na constituição de uma teoria do conhecimento, partindo do pensamento socrático. Primeiro que conhecer é, sobretudo um processo onde a dúvida é a mola mestra e o ponto de partida é o mergulho na interioridade. Segundo que só há compromisso com a verdade quando a investigação é uma prática constante e quando a opinião sempre possa ser posta à prova. E terceiro que o conhecimento verdadeiro é consequência da investigação e não da certeza ou da aceitação tranquila, pois o saber é um processo doloroso como um parto, mas que nos leva em direção à luz. A palavra ALETHEIA em grego significa verdade, mas em sentido literal é “negação de esquecimento”. Um percurso que nos leva a partejar a luz interior que há em cada um, pois lembrar-se é caminhar em direção claridade. Na língua inglesa existe uma expressão muito utilizada “insight”, quando temos uma ideia, as coisas ficam claras para nós, uma introspecção reveladora. É importante lembrar que com Sócrates, a partir do testemunho de Platão, o estudo sobre o conhecimento humano ainda está vinculado à questão do ser. A teoria geral do ser na filosofia se chama ontologia e do conhecimento, como já afirmamos, gnosiologia. Os filósofos antigos, mesmo aqueles que deram mais atenção aos estudos acerca do conhecimento humano, desenvolveram o que denominamos de ontognosiologia, isto é, o estudo do ser associado ao estudo do conhecimento. Sócrates inaugurou outro momento na história da filosofia, pois a partir dele foi dada mais atenção ao modo como o conhecimento se manifesta no ser humano, como somos afetados pela realidade e, sobretudo, a forma como transportamos para o campo da linguagem as experiências que vivemos. Platão, a herança socrática e a oposição entre aparência e essência É difícil separar o momento em que se encerra o pensamento de Sócrates e se inicia o de Platão, sobretudo em relação aos estudos do conhecimento humano. Os historiadores costumam classificar as obras de Platão em basicamente duas fases. As da juventude, quando o pensador ainda estava muito influenciado pelas ideias de seu mestre, Sócrates. E as da maturidade, quando começa a ampliar os horizontes das suas investigações apresentando um conjunto bem completo de teorias, em especial acerca do conhecimento. Basicamente podemos resumir as ideias de Platão em dois fundamentos básicos. Primeiro conhecer é sair do mundo sensível das aparências, para o mundo das essências ou das formas, onde se encontra todo o fundamento do conhecimento, a verdade. Segundo que conhecer é caminhar em direção ao ser, portanto suas teorias se constituirão como uma ontognosiologia, isto é o estudo do ser e do conhecer associados. Em uma de suas obras, talvez uma das mais importantes, Platão apresenta, de modo claro, suas ideias acerca do conhecimento e suas relações com a moral e a política, levando em conta o contexto histórico e as influencias de seu mestre. Trata-se da República, um dos Diálogos mais conhecidos em razão de que no Livro VII se encontra uma das alegorias mais conhecidas e citadas por diversos estudiosos a Alegoria da Caverna. Em nossa apresentação da teoria de Platão sobre o conhecimento, vamos utilizar essa alegoria como referência. Num Diálogo entre Sócrates e Glauco, nessa parte da obra, Platão sugere que imaginemos a seguinte situação: Imagine que alguns homens foram acorrentados numa caverna subterrânea desde a sua infância. Não podiam se mexer e a única coisa que enxergavam eram sombras projetadas numa parede interna da caverna, em razão de que havia um fogo acesso na entrada, projetando assim as imagens que eram visualizadas pelos prisioneiros. Pessoas transitavam por ali o tempo todo, algumas carregando objetos, gerando imagens que passavam como realidade para aqueles homens, semelhante aos teatrinhos de sombras que fazemos para estimular a imaginação dos espectadores. Os prisioneiros disputavam entre si para ver. Entretanto um dos prisioneiros consegue se livrar de suas correntes e com muita dificuldade, tomado pela curiosidade é levado a sair da caverna e entra em contato com o mundo exterior. A princípio é tomado pelo ofuscamento e com certeza por um grande sofrimento, devido aos anos em que esteve confinado na caverna escura. Porém, aos poucos vai descobrindo o mundo exterior, no início longe da claridade do sol, porém aos poucos sua visão se abre e fica maravilhado com tudo que atém então só conhecia como sombras e ilusões. Motivado pelas novas descobertas que fizera, o exprisioneiro deseja voltar à caverna para livrar seus companheiros da ignorância em que se encontravam. Retorna e é recebido com hostilidades e tratado como louco por eles e até ameaçado de morte pelos ex-companheiros de cativeiro. Veja que Platão coloca em oposição duas formas de encarar a realidade, uma em que a visão é iludida pelas imagens falsas, sombras projetadas na parede interna da caverna, outra em que o contato com a própria realidade, com as coisas mesmas, os horizontes do conhecimento são ampliados. À medida que a intensidade da luz é aumentada as possibilidades do conhecimento também se estendem. Vale lembrar que o encontro do homem com o saber autêntico é sempre uma experiência de iluminação, pois como já dissemos anteriormente a verdade para o pensamento grego desde Parmênides é alétheia, isto é, negação do esquecimento, encontro com a luz. Na mitologia grega LETHE é um dos rios do Hades, aqueles que bebem das suas águas experimentam o completo esquecimento. Algumas pessoas quando encontram pessoas a solução para algum problema, ou uma resposta muito esperada, usam a expressão “eureka”, uma interjeição que significa “encontrei”, “descobri”. A dicotomia sombras/luz aparece no pensamento de Platão como uma referência ao percurso em busca do saber verdadeiro, uma espécie de ascese narrada na própria obra República, aonde o indivíduo vai abandonando aos poucos o mundo das ilusões e conjeturas para o mundo da luz e da verdade. Tendo por base esse processo o filósofo propôs sua teoria em que o conhecimento autêntico seria o abandono a tudo que aprisiona a alma na escuridão, o que ele denomina de mundo sensível, e a busca da luz, da essência de tudo que seria o mundo inteligível. A ciência criada por Platão em inspiração ao método socrático é a Dialética. Consiste na formulação de um método que arranque o homem do mundo sensível, onde imperam as sombras da realidade para alcançar o mundo inteligível onde se encontram a verdade e o ser. A Teoria das Ideias ou das Formas inspirou a construção desse método. Nela Platão apresenta a concepção de que tudo que existe no mundo é uma cópia das ideias que são perfeitas. No mundo sensível as coisas mudam o tempo todo, não há como atingir sua essência, pois o que hoje é algo, depois será outro, se quisermos conhecer de fato a realidade precisamos abandonar tudo que nos prende a esse mundo. Assim como o prisioneiro da caverna, precisamos sair da escuridão, deixar o conforto de nossas crenças para mergulhar no mundo das ideias, onde as coisas não são fáceis e nem concebidas conforme nosso desejo ou nossas certezas, mas onde a verdade se manifesta permanente, imutável e infalível. Veja o vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=YlREcUSztSE A realidade não está no que vemos, sentimos e tocamos não se alcança pelos nossos sentidos, pois estes captam o que é mutável, transitório. A Dialética é a “ciência das ideias”, nos conduz ao mundo inteligível das realidades permanentes, até nos permitir contemplar a maior e mais perfeita das ideias, a Ideia do Bem. O esquema inspirado na Alegoria da Caverna de Platão nos permitirá compreender melhor essa questão. Podemos observar que enquanto dependemos do corpo, isto é, dos nossos sentidos para nos relacionar com o mundo nunca chegaremos a um conhecimento seguro, estaremos sempre formulando opiniões, que são particulares, variáveis e mutáveis. Na medida em que nos aproximamos dos conhecimentos que abandonam gradativamente o mundo sensível vamos nos aproximando da verdade, da luz do conhecimento verdadeiro. O primeiro nível de conhecimento que nos afasta da dependência dos sentidos é o raciocínio, pois este opera com formas e números, que são abstrações, ou seja, realidades universais que são representadas na mente e relacionadas ao mundo sensível. Um retângulo pode ser relacionado a um objeto retangular, podemos representar as coisas no mundo sensível por meio das quantidades que os números determinam. A Dialética expressa fundamentalmente a herança socrática no pensamento de Platão, pois Sócrates buscava pelo exercício do debate atingir conceitos e ideias cada vez mais elevadas das coisas. Portanto essa ciência platônica é a “ciência das ideias”, que supera toda a limitação dos sentidos. No pensamento platônico percebe-se uma tentativa de conciliação de um problema apresentado pelos pensadores pré-socráticos em relação a questão do ser e do conhecimento. Onde está a verdade, no devir de Heráclito, ou seja na concepção de que a essência da realidade é a transformação constante, o fluxo perpétuo? No concepção de Parmênides de que o ser é imutável, permanente e só pode ser atingido pelo intelecto? A solução de Platão é obvia. Enquanto estivermos presos ao mundo sensível, seremos guiados pelas nossas sensações, pelas experiências dos nossos sentidos e desse modo seremos escravos da ignorância, estaremos na escuridão da caverna. Na medida em que buscarmos o mundo inteligível, seremos como o prisioneiro que se afasta da caverna para conhecer as realidades permanentes e verdadeiras. Para atingirmos a luz precisamos superar tudo que é mutável e aparente. Platão coloca Parmênides em uma posição privilegiada quando se deseja atingir a verdade, isto é, alethéia. Atividades do capítulo Exercitando a reflexão filosófica Vestibulares, PAS/UnB ENEM (PAS/UnB 2013 adaptada) (...) uma caverna subterrânea, com uma entrada ampla, aberta a luz em toda a sua extensão. La dentro, alguns homens se encontram, desde a infância, amarrados pelas pernas e pelo (4) pescoço de tal modo que permanecem imóveis e podem olhar tão somente para frente, pois as amarras não lhes permitem voltar a cabeça. Num plano superior, atrás deles, arde um fogo (7) a certa distancia. E, entre o fogo e os prisioneiros, eleva-se um caminho ao longo do qual tinha sido construído um pequeno muro. Homens passam ao longo desse pequeno muro (10) carregando uma enorme variedade de objetos cuja altura ultrapassa a do muro. (...) Se um deles fosse libertado e subitamente forcado a se levantar, virar o pescoço, caminhar e (13) enxergar a luz, sentiria dores intensas ao fazer todos esses movimentos e, com a vista ofuscada, seria incapaz de enxergar os objetos cujas sombras ele via antes. Mas, se o afastassem (16) dali a forca, obrigando-o a galgar a subida áspera e abrupta, e não o deixassem antes que tivesse sido arrastado a presença do próprio Sol, não crês que ele sofreria e se indignaria de ter sido (19) arrastado desse modo? Não crês que, uma vez diante da luz do dia, seus olhos ficariam ofuscados por ela, de modo a ele não poder discernir nenhum dos seres considerados agora (22) verdadeiros? Platão. A República. 2.ª ed. Trad. Elza Moreira Marcelina.Brasília: Ed.UnB, 1996. p. 46-8 (com adaptações). A partir do fragmento de texto acima, extraído da obra A República, de Platão, julgue os itens a seguir. a) Expressa no mito da caverna, a alegoria platônica relativa a conhecimento explica a passagem de um grau de conhecimento para outro. b) Tanto no 2.o período do texto (R.2-6) quanto no ultimo (R.19-22), Platão vale-se da relação de causa e efeito para desenvolver as ideias que constroem o mito da caverna. c) O mito platônico da caverna representa a crença no conhecimento como condição de libertação do individuo. d) Platão defende que o conhecimento sensitivo da realidade e uma ilusão, como ilustrado no mito da caverna. (ENEM 2012) Para Platão, o que havia de verdadeiro em Parmênides era que o objeto de conhecimento é um objeto de razão e não de sensação, e era preciso estabelecer uma relação entre objeto racional e objeto sensível ou material que privilegiasse o primeiro em detrimento do segundo. Lenta, mas irresistivelmente, a Doutrina das Ideias formava-se em sua mente. ZINGANO, M. Platão e Aristóteles: o fascínio da filosofia. São Paulo: Odysseus, 2012 (adaptado). O texto faz referência à relação entre razão e sensação, um aspecto essencial da Doutrina das Ideias de Platão (427–346 a.C.). De acordo com o texto, como Platão se situa diante dessa relação? a) Estabelecendo um abismo intransponível entre as duas. b) Privilegiando os sentidos e subordinando o conhecimento a eles. c) Atendo-se à posição de Parmênides de que razão e sensação são inseparáveis. d) Afirmando que a razão é capaz de gerar conhecimento, mas a sensação não. e) Rejeitando a posição de Parmênides de que a sensação é superior à razão. (Uncisal 2011) Na Grécia Antiga, o filósofo Sócrates ficou famoso por interpelar os transeuntes e fazer perguntas aos que se achavam conhecedores de determinado assunto. Mas durante o diálogo, Sócrates colocava o interlocutor em situação delicada, levando-o a reconhecer sua própria ignorância. Em virtude de sua atuação, Sócrates acabou sendo condenado à morte sob a acusação de corromper a juventude, desobedecer às leis da cidade e desrespeitar certos valores religiosos. Considerando essas informações sobre a vida de Sócrates, assim como a forma pela qual seu pensamento foi transmitido, pode-se afirmar que sua filosofia. a) transmitia conhecimentos de natureza científica. b) baseava-se em uma contemplação passiva da realidade. c) transmitia conhecimentos exclusivamente sob a forma escrita entre a população ateniense. d) ficou consagrada sob a forma de diálogos, posteriormente redigidos pelo filósofo Platão. e) procurava transmitir às pessoas conhecimentos de natureza mitológica. (UEM 2008) Sócrates representa um marco importante da história da filosofia; enquanto a filosofia présocrática se preocupava com o conhecimento da natureza (physis,), Sócrates procura o conhecimento indagando o homem. Julgue os itens. a) Sócrates, para não ser condenado à morte, negou, diante dos seus juizes. os princípios éticos da sua filosofia. b) Discípulo de Sócrates, Platão utilizou, como protagonista da maior parte de seus diálogos, o seu mestre. c) O método socrático compõe-se de duas partes: a maiêutiea e a ironia. d) Tal como os sofistas, Sócrates costumava cobrar dinheiro pelos seus ensinamentos. e) Sócrates, ao afirmar que só sabia que nada sabia, queria, com isso, sinalizar a necessidade de adotar uma nova atitude diante do conhecimento e apontar um novo caminho para a sabedoria. (UEL 2006) “Quando é, pois, que a alma atinge a verdade? Temos de um lado que, quando ela deseja investigar com a ajuda do corpo qualquer questão que seja, o corpo, é claro, a engana radicalmente. - Dizes uma verdade. - Não é, por conseguinte, no ato de raciocinar, e não de outro modo, que a alma apreende, em parte, a realidade de um ser? - Sim. [...] - E é este então o pensamento que nos guia: durante todo o tempo em que tivermos o corpo, e nossa alma estiver misturada com essa coisa má, jamais possuiremos completamente o objeto de nossos desejos! Ora, esse objeto é, como dizíamos, a verdade.” (PLATÃO. Fédon. Trad. Jorge Paleikat e João Cruz Costa. São Paulo: Nova Cultural, 1987. p. 66-67.) Com base no texto e nos conhecimentos sobre a concepção de verdade em Platão, é correto afirmar: a) O conhecimento inteligível, compreendido como verdade, está contido nas idéias que a alma possui. b) A verdade reside na contemplação das sombras, refletidas pela luz exterior e projetadas no mundo sensível. c) A verdade consiste na fidelidade, e como Deus é o único verdadeiramente fiel, então a verdade reside em Deus. d) A principal tarefa da filosofia, segundo Platão, está em aproximar o máximo possível a alma do corpo para, dessa forma, obter a verdade. e) A verdade encontra-se na correspondência entre um enunciado e os fatos que ele aponta no mundo sensível. (UEL 2009) O texto é parte do livro VII da República, obra na qual Platão desenvolve o célebre Mito da Caverna. Sobre o Mito da Caverna, é correto afirmar. I. A caverna iluminada pelo Sol, cuja luz se projeta dentro dela, corresponde ao mundo inteligível, o do conhecimento do verdadeiro ser. II. Explicita como Platão concebe e estrutura o conhecimento. III. Manifesta a forma como Platão pensa a política, na medida em que, ao voltar à caverna, aquele que contemplou o bem quer libertar da contemplação das sombras os antigos companheiros. IV. Apresenta uma concepção de conhecimento estruturada unicamente em fatores circunstanciais e relativistas. Assinale a alternativa correta. a) Somente as afirmativas I e IV são corretas. b) Somente as afirmativas II e III são corretas. c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. e) Somente as afirmativas I, II e IV são corretas. Sugestão de filmes 1. O Enigma de Kaspar Houser Sinopse: Um homem jovem chamado Kaspar Hauser (Bruno S.) aparece de repente na cidade de Nuremberg em 1828, e mal consegue falar ou andar, além de portar um estranho bilhete. Logo é descoberto que sua aparição misteriosa se deve ao fato de que ele ficou trancado toda sua vida em um cativeiro, desconhecendo toda a existência exterior. Quando ele é solto nas ruas sem motivo, muitas pessoas decidem ajudá-lo a se integrar na sociedade, mas rapidamente Kaspar se transforma em uma atração popular. Direção: Werner Herzog Atores principais: Bruno S., Walter Ladengast, Brigitte Mira. Gênero: Drama. Nacionalidade: Alemanha Ocidental Temas: conhecimento, alienação, crítica, liberdade, ética/moral. 2. Óleo de Lorenzo Sinopse: Um garoto levava uma vida normal até que, quando tinha seis anos, estranhas coisas aconteceram, pois ele passou a ter diversos problemas de ordem mental que foram diagnosticados como ALD, uma doença extremamente rara que provoca uma incurável degeneração no cérebro, levando o paciente à morte em no máximo dois anos. Os pais do menino ficam frustrados com o fracasso dos médicos e a falta de medicamento para uma doença desta natureza. Assim, começam a estudar e a pesquisar sozinhos, na esperança de descobrir algo que possa deter o avanço da doença. Direção: George Miller Atores principais: Peter Ustinov, Kathleen Wilhoite, Margo Martindale. Gênero: Drama Nacionalidade: EUA Temas: conhecimento, pesquisa, ética/moral, crítica, questionamento. Referências Bibliográficas MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: Dos Pré-Socráticos a Wittgenstein. - 13.ed. - Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010. HEIDEGGER, Martin. Que é isto - a filosofia? São Paulo: Abril Cultural, 1973. CASSIRER, Ernst. Ensaio sobre o homem. Uma introdução a uma filosofia da cultura humana. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1994. BORNHEIM, Gerd. A. A introdução ao filosofar: o pensamento filosófico em bases existenciais. 11. ed. São Paulo: Globo, 2003. JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 3. ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1996. REALE, G.; ANTISERI, D. História da filosofia. 3. ed. São Paulo: Paulus, 2009. BUZZI, A. R. Introdução ao pensar. Petrópolis: Vozes, 2004. GAARDNER, J. O mundo de Sofia. São Paulo: Cia das Letras, 1999. JASPERS, K. Introdução ao pensamento filosófico. São Paulo: Cultrix, 2006. LORIERI, M. A.; RIOS, T. A. Filosofia na escola: o prazer da reflexão. São Paulo: Moderna, 2008. SEVERINO, J.A. Filosofia. São Paulo: Cortez, 1992. BARNES, J. Filósofos pré-socráticos. São Paulo: Martins Fontes, 1997. BRÉHIER, É. História da Filosofia. vol. I, II e III. 4ª ed. São Paulo: Mestre Jou, 1977. MONDOLFO, R. Pensamento antigo. v. I São Paulo: Mestre Jou, 1964. VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. 3 ed. São Paulo: DIFEL, 2005. OLIVEIRA, A.M. et al. Aspectos da história da filosofia. 9 ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. CHAUÍ, M. Introdução à história da filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Cia. das Letras, 2002. PLATÃO (1972), Apologia de Sócrates. Eutífron. Críton, Lisboa, Verbo (col. Biblioteca Básica Verbo, 64, Livros RTP). PLATÃO (1973), Górgias. O Banquete. Fedro, Lisboa, Verbo. PLATÃO. Teeteto - Crátilo. In: Diálogos de Platão. Tradução do grego por Carlos Alberto Nunes. 3a. ed., Belém: Universidade Federal do Pará, 2001. Capítulo 3 Por que o conhecimento continua sendo um problema? Nas famílias sempre há choque de gerações. Embora alguns valores e tradições sejam preservados, há sempre uma resistência dos mais jovens em aceitar com tranquilidade determinadas concepções de mundo. É muito mais comum aos mais velhos a acomodação, o apego às tradições, aos valores, alguns deles arraigados. Você com certeza já ouviu dos seus pais ou avós a seguinte frase: “no meu tempo não era assim”, ou ainda, “nós é que éramos felizes”. O conhecimento é um dos fenômenos que está intrinsecamente vinculado a esse conflito de gerações, pois é historicamente acumulado. Quando aprendemos algo entramos em contato com a forma como alguém, num tempo e espaço, percebeu, analisou, concebeu a realidade. O que não significa que essa construção seja absoluta e eterna, mas uma referência para que, em outras circunstâncias se possa melhorar ou até refutar determinadas teorias, em especial no campo científico e filosófico. Os gregos partiam da certeza de que a verdade existe, pois encontrá-la seria também ter acesso ao ser, a essência das coisas. Portanto, qualquer caminho que induzisse ao erro na busca do conhecimento dessa verdade deveria ser evitado. Conhecer é como encontrar a identidade das coisas, para além de sua aparência, isto é, a forma como se manifestam a nós. Não basta que nossos sentidos nos levem a perceber a realidade, há sempre desconfiança em qualquer relação com as coisas que não possa proporcionar um assentimento universal. Evitar o erro é, em alguma medida, se aproximar do ser. Essa relação entre ser e conhecer domina o pensamento filosófico durante todo o período medieval, influenciado definitivamente pelo pensamento cristão, quando a verdade no campo do conhecimento já não obedece a critérios necessariamente lógicos, mas à submissão do pensar à verdade revelada (veritas), no sentido de desvelamento, iluminação. O esforço humano não se dá necessariamente no campo da investigação e ou da intuição racional, mas na contemplação, isto é numa ascese espiritual que garanta o acesso ao conteúdo da verdade revelada, oriunda do Criador e, portanto, inquestionável, constituída por dogmas, verdades absolutas. As mudanças no mundo ocidental e novas formas de pensar A partir do século XV começam a acontecer na Europa profundas transformações socioeconômicas e políticas. A principal delas é a desintegração do Sistema Feudal de Produção. Esta é uma época de transição, onde convivem formas arcaicas e novas formas de organização social e de produção econômica. O pensamento religioso, até então predominante, passa a dar lugar a novas formas de pensar a realidade. Substituindo a fé, a razão passa a ser compreendida como fundamental para a compreensão do mundo. Os homens devem ter a liberdade para julgar, analisar sem se submeterem a uma autoridade transcendental. Há, portanto o desenvolvimento de um pensamento racional do universo e da vida, com uma oposição fortíssima a todo tipo de dogmatismo. No vídeo abaixo você terá um resumo do foi este período tão conturbado: http://www.youtube.com/watch?v=mV1L0FZhcT8 Esta nova forma de tentar entender a natureza e a vida tinha dois fundamentos básicos a observação e a experimentação e era representada pelos pensadores do século XV e XVI: Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Francis Bacon, René Descartes. Nicolau Copérnico Francis Bacon Galileu Galilei René Descartes O que é razão? Para a filósofa brasileira Marilena Chauí, a palavra razão tem sua origem no termo grego legein, que significa contar, reunir, juntar e na palavra latina ratio, que tem o mesmo significado. Raciocinar significa, então, pensar ordenadamente, com clareza. Expressar-se de maneira compreensível nossas ideias para os outros. É uma maneira de organizar a realidade para que ela se torne compreensível. É, também, a garantia de que podemos ordenar e organizar as coisas porque são organizáveis, ordenáveis, compreensíveis nelas mesmas e por elas mesmas. A Filosofia considera que a razão age a partir certos princípios que ela própria estabelece e que estão em consonância com a própria realidade, isto é o conhecimento racional obedece a certas regras ou leis fundamentais: 1. Princípio da identidade: é a condição do pensamento e sem ele não podemos pensar. Ele afirma que uma coisa, seja ela qual for (um ser da Natureza, uma figura geométrica, um ser humano, uma obra de arte, uma ação), só pode ser conhecida e pensada se for percebida e conservada com sua identidade. “A é A” ou “O que é, é”. 2. Princípio da não-contradição: Seu enunciado é: “A é A e é impossível que seja, ao mesmo tempo e na mesma relação, não-A”. Assim, não é possível que a mesa em que trabalho seja e não seja de madeira; que o triângulo tenha e não tenha três lados e três ângulos; que o homem seja e não seja mortal. 3. Princípio do terceiro-excluído, cujo enunciado é: “Ou A é x ou é y e não há terceira possibilidade”. Por exemplo: “Ou este homem é Sócrates ou não é Sócrates”; “Ou faremos a guerra ou faremos a paz”. Este princípio define a decisão de um dilema – “ou isto ou aquilo” – e exige que apenas uma das alternativas seja verdadeira. Mesmo quando temos, por exemplo, um teste de múltipla escolha, escolhemos na verdade apenas entre duas opções – “ou está certo ou está errado” – e não há terceira possibilidade ou terceira alternativa, pois, entre várias escolhas possíveis, só há realmente duas, a certa ou a errada. 4. Princípio da razão suficiente, que afirma que tudo o que existe e tudo o que acontece tem uma razão (causa ou motivo) para existir ou para acontecer, e que tal razão (causa ou motivo) pode ser conhecida pela nossa razão. Pode ser enunciado da seguinte maneira: “Dado A, necessariamente se dará B”. E também: “Dado B, necessariamente houve A”. IDENTIDADE NÃO CONTRADIÇÃO TERCEIRO EXCLUÍDO RAZÃO SUFICIENTE O pensamento racional, construído, principalmente a partir do século XV e XVI, sofreu alguns abalos a partir do século XX, principalmente após descobertas no campo da ópticas, da física quântica e da teoria da relatividade Descobertas e estudos no campo das ciências humanas colocaram em xeque esta supervalorização do pensamento racional. É preciso entender este tipo de pensamento é uma construção do mundo ocidental, principalmente a partir do pensamento grego. Outros povos e outras culturas não participariam, necessariamente, desta visão racional do mundo a partir de uma perspectiva europeia e europeizante. Para a antropologia temos que outras culturas podem oferecer concepções diferentes do que estamos acostumados a entender sobre o que signifique pensamento e realidade. Sem que isso signifique que tais culturas sejam irracionais, mas que partam de outros parâmetros para explicar a realidade. Esse entendimento é necessário porque expressa o combate ao colonialismo e contra o etnocentrismo, isto é, contra aquele pensamento que “nossa” razão e a “nossa” cultura são superiores e melhores do que as dos outros povos. A filosofia oriental, por exemplo, está assentada em outros paradigmas diferentes da filosofia ocidental. Para ter mais informações sobre a filosofia oriental acesse o link abaixo: http://issuu.com/caf_usp/docs/dsm2/14 Outro pensador a questionar a primazia e preponderância da razão foi o filósofo alemão Karl Marx ao elaborar suas ideias sobre ideologia. A noção de ideologia veio mostrar que as teorias e os sistemas filósofos ou científicos, podem esconder uma realidade social, econômica e política perversa. A razão, em lugar de ser a busca e conhecimento da verdade, poderia ser um poderoso instrumento de dissimulação da realidade, a serviço da exploração e da dominação dos homens sobre seus semelhantes. A razão seria um instrumento da falsificação da realidade e da produção de ilusões pelas quais uma parte de gênero humano se deixa oprimir pela outra. A seguir temos alguns problemas onde teremos que demonstrar esta dimensão humana que é a RAZÃO. Pense um pouco, só utilize a razão e a lógica: 01 – Um garçom tem que dividir uma pizza em oitos pedaços com apenas três cortes. Como é possível? 02 – No fundo de um poço de 12 metros há uma lagartixa. Sabendo-se que a cada dia essa lagartixa sobe 3 metros e desce 2 metros, pergunta-se: quantos dias a lagartixa levará para sair do poço? 03 – Um homem tem que atravessar um rio numa canoa. Ele tem que levar de cada vez uma cabra, uma onça e um feixe de capim. Como fará para levá-los, de modo que a onça não coma a cabra e nem esta o capim? 04 – Complete a sequência: 2, 10, 12, 16, 17, 18, 19, ......... 05 – Alice, ao entrar na floresta, perdeu a noção dos dias da semana. O Leão e o Unicórnio eram duas estranhas criaturas que frequentavam a floresta. O Leão mentia às segundas, terças e quartas-feiras, e falava a verdade nos outros dias. O Unicórnio mentia às quintas, sextas e sábados, mas falava a verdade nos outros dias. PROBLEMA 1: Alice encontrou o Leão e o Unicórnio descansando à sombra de uma árvore. Eles disseram: Leão: Ontem foi um dos meus dias de mentir. Unicórnio: Ontem foi um dos meus dias de mentir. A partir dessa afirmações, Alice descobriu qual era o dia da semana. Qual era? PROBLEMA 2: Em outra ocasião Alice encontrou o Leão sozinho. Ele fez a seguinte afirmação: eu menti ontem e mentirei daqui a três dias. Qual era o dia da semana Apesar de não ser uma obra do período retratado, O pensador de Augusto Rodin, mostra o esforço humano no que se refere ao pensamento racional. O próprio autor, ao comentar sua escultura, destacava a importância de seus detalhes: “O que faz meu Pensador pensar é que ele pensa não só com o cérebro, mas também com suas sobrancelhas tensas, suas narinas distendidas e seus lábios comprimidos. Ele pensa com cada músculo de seus braços e pernas, com seus punhos fechados e com seus artelhos curvados.” Clique no link abaixo e aprecie está importante escultura: http://www.youtube.com/watch?v=-bTeiTozDcQ#t=37 Francis Bacon e a teoria dos ídolos Francis Bacon (1561 a 1626) é um dos pensadores que se atribuiu a tarefa de restauração do conhecimento, em que assume uma postura crítica em relação ao modo como os fundamentos da verdade se processavam no pensamento medieval, em especial o método escolástico. Bacon considerava que o conhecimento deveria trazer resultados práticos para a vida do homem, algo que, segundo seu julgamento, não se vislumbrava no pensamento cristão medieval. O filósofo impulsiona um movimento no pensamento filosófico que teve como propulsão a revolução no campo cultural e científico, período conhecido como Renascimento (sec. XIV). Essa foi uma fase em que as artes e a ciência passam a contestar a visão de mundo medieval teocêntrica (o divino no centro, a verdade vem de Deus e é revelada aos homens) e gradativamente a razão individual e a evidência empírica ocupam seu espaço nos séculos seguintes. Trata-se, portanto de uma revolução antropocêntrica, dando ao homem a autonomia perdida no campo da investigação científica e filosófica. Bacon escreveu a obra “Novum Organum”, em que leva a cabo a intenção de apresentar um sistema de pensamento que pretendia superar Platão e Aristóteles, partindo do pressuposto que a ciência deve instaurar o “império do homem”. A filosofia verdadeira não é somente o estudo racional das coisas humanas e divinas, é a afirmação do poder do homem sobre a natureza. Entretanto a ciência não poderia afirmar o poder do homem quando a humanidade está impregnada pela dominação de preconceitos que se sustentam na afirmação da minoridade humana diante da natureza. Bacon denomina esses preconceitos de ídolos (do grego eidolon, que significa imagem), tornando o homem medíocre, quando na verdade todo conhecimento, mesmo aquele que o diminui é produto de seu próprio intelecto. O pensador classifica esses ídolos da seguinte forma: Ídolos da Caverna Cada indivíduo constrói a sua própria caverna (a exemplo da Alegoria da Caverna de Platão), onde firma suas certezas nas sensações ou ideias particulares que passa a conceber como verdades únicas e indiscutíveis. Não é difícil ao intelecto humano vencer essas verdades por que são frágeis e não resistem ao poder da razão e da ciência. Ídolos do Fórum Formamos opiniões a partir da linguagem ou da convivência com outras pessoas. Pelo caráter simbólico da linguagem é sempre possível que ocorram desvios e concepções falsas que convencem a partir do interesse e não do compromisso com o conhecimento verdadeiro. Os ídolos do fórum são difíceis de vencer por que são provenientes do intercambio entre os homens, mas o intelecto tem poder sobre eles. Ídolos do Teatro Ídolos da Tribo Somos convencidos de certas verdades, partindo da autoridade de quem fala. Essa é uma situação em que é muito fácil a idolatria do discurso e das pessoas, por que não se analisa o conteúdo e sim a apresentação das ideias, que embora constituída por uma retórica convincente, tem muito mais compromisso com a imposição de leis e verdades inquestionáveis de que com a investigação. São ídolos difíceis de vencer por que é necessária uma reforma social e política pois são sustentadas por sistemas de dominação. Esses ídolos se formam em nós a partir da nossa própria natureza, da família humana ou tribo. Nosso intelecto às vezes se confunde sobre a natureza das coisas, pois muitas vezes somos influenciados pelos nossos afetos, nossa vontade, daí passamos a tomar por como ciência aquilo que queremos consagrar como verdade a partir de nossas superstições e desejos. São ídolos são difíceis de vencer por que seria necessária uma reforma da natureza humana. O caráter reformador do pensamento de Bacon propõe assim mudanças no campo do conhecimento humano, na organização social, o fortalecimento das ciências e da filosofia, livrando a humanidade da dominação intelectual e política, sustentada num pensamento dogmático, carente de fundamentação e de apoio racional. Na verdade trata-se da reação de Bacon ao pensamento dominante no Antigo Regime e aos sistemas de pensamento que prevaleceram no período medieval da história, em especial o pensamento escolástico. Racionalismo cartesiano O filósofo francês René Descartes (15906–1650) inaugura o racionalismo moderno à medida que sustenta a ideia do sujeito como fundamento do conhecimento e da verdade. Descartes elege a dúvida metódica como modelo de investigação, para superar o ceticismo dos próprios céticos ao colocar em dúvida inclusive as faculdades do conhecimento. Na sua principal obra, Discurso do Método, Descartes afirma que todo homem, através do bom senso ou a razão, tem a capacidade de separar o verdadeiro do falso. E que, embora haja diversidade de opiniões, as mesmas não decorrem do fato de existir diferentes variações ou graus na racionalidade mas, resultam "somente de conduzirmos nossos pensamentos por vias diversas e não considerarmos as mesmas coisas". Dai o o erro decorrer do mau uso da razão, de sua aplicação incorreta. Para resolver este problema, Descartes propõem a elaboração de um método, com princípios e diretrizes bem definidas, que garantam a obtenção e o aumento gradual do conhecimento, com critérios racionais que evitem os erros. Na segunda parte do Discurso do Método, Descartes descreve o processo a partir do qual seria possível a realização deste propósito: inicialmente, ele se despe de todas as suas antigas ideias e crenças aceitas como verdadeiras. Posteriormente, examina-as todas a fim de excluir aquelas que se mostrassem falhas ou aceitar como fundamento aquelas que, por ventura, se mostrassem verdadeiras; porém, nunca edificar a sua reforma do pensamento sobre princípios que pudessem se mostrar inválidos no futuro e que, por conseguinte, fizessem ruir toda a sua construção. Neste sentido, para Descartes, era necessária a elaboração de uma resposta alternativa à questão do conhecimento que fosse imune tanto aos ataques do relativismo quanto do ceticismo. A sua crença na existência de uma verdade somente, era incompatível a variedade de opiniões existentes e, também, com a ideia de que se uma dessas opiniões conhecidas fosse a verdadeira, todas as outras não aquiescessem em conjunto. Como isto não ocorria, permanecendo a diversidade de pretensas verdades, ele se sentiu autorizado na sua busca pelo único e verdadeiro fundamento. Para Descartes, a razão é o único caminho que pode levar ao verdadeiro conhecimento. Daí o nome desta escola de pensamento. A divergência de opiniões entre os homens só pode ser explicado pelo uso indevido da razão que fazemos. E este destaca ainda mais a necessidade de um método para orientar adequadamente a mesma razão, e os homens. O método cartesiano No exercício da dúvida metódica temos que negar tudo o que conhecemos através dos sentidos. Ele propõem a tese que a própria realidade pode ser apenas um sonho. Mesmo proposições matemáticas, que foram tomadas como modelos de verdade, pode ser falsa. No entanto, como já mencionado, Descartes não é um cético, porque o período de dúvida é temporário. Existe uma verdade que não pode ser contestada: a existência do “eu” enquanto ser pensante. Cogito ergo sum. O meu pensamento, aparece como uma realidade em si indubitável. No próprio ato de dúvida é evidente, diz Descartes, minha existência. Pensar é o que nos define, o que nos torna o que somos: uma coisa pensante. Este é um exemplo do Racionalismo na sua máxima expressão. Por outro lado, nas Meditações (Meditação II: Da natureza do espírito humano, e que é mais facilmente conhecido do que o corpo), diz: "O que eu sou, então uma coisa que você pensa E o que é?. uma coisa pensante? "é uma coisa que duvida, entende, afirma, nega, quer, não quer, que imagina também, e sente. Definitivamente não é pouco, se tudo o que pertence à minha natureza." Após atingir a primeira verdade, ao identificar o "eu" ou a "alma", Descartes estabelece a autonomia do mesmo em relação ao corpo – distingue res cogitans de res extensa e sustenta que, dada a independência da alma em relação ao corpo, a mesma seria necessariamente "mais fácil de conhecer do que ele. Entretanto, mesmo com a garantia do primeiro fundamento, era preciso estabelecer um critério que melhor servisse na descoberta de outras certezas. Isto porque, dada a ideia de que "o conhecer é perfeição maior que o duvidar", deveria investigar a origem desta noção – "que deveria ser de alguma natureza que fosse de fato mais perfeita" em seu ser. Assim, a segunda verdade atingida por Descartes é a da existência de Deus – res infinita –, comprovada pelo argumento ontológico: por definição, a própria ideia de perfeição, implica a ideia de existência – não poderia ser perfeito aquilo que não existisse, visto que limitações são incompatíveis com a ideia de perfeição, na qual está incluso também, o atributo benevolência. Portanto, a evidência que garante a possibilidade de existência de outras verdades oriundas das certezas matemáticas e da natureza – que é isenta de realidade própria, sendo criada e recriada constantemente – é a demonstração da existência de Deus e da alma, que permite a Descartes obter outras verdades – claras e distintas – decorrentes destas, como "certas leis que Deus estabeleceu de tal modo na natureza, e das quais imprimiu tais noções em nossas almas" O método requer pré-exposição para esclarecer as operações mentais que vamos usar nas diversas etapas do método: a intuição e a dedução. Intuição é uma atividade puramente intelectual, uma visão intelectual que é tão clara e distinta, tão óbvio, que não deixa dúvidas. É, portanto, uma concepção livre de dúvida cuidadoso e não hortelã nublada , diz Descartes, que flui a partir da luz da razão, uma espécie de luz natural visa naturezas simples (através deles pode conceitos imediatamente simples decorrente da própria razão). A dedução é descrito como toda inferência necessária de fatos que são conhecidos com certeza. Entre algumas naturezas simples e outras conexões aparecer que a inteligência descobre e caminhadas pela dedução; seria, em suma, o passo lógico de cada outro. O método consiste em uma série de regras para usar corretamente estas duas operações básicas razão. Exposição de tais regras pode ser encontrada nas duas cartas: as regras para a direção da mente e do Discurso do Método . Para elaborar o discurso após as Regras, o autor pode oferecer-lhe um método de síntese em quatro regras concisas: Analisando o contexto histórico Leia o texto abaixo, retirado da coleção Os Pensadores e julgue os itens de 1 a 7, colocando V(verdadeiro) ou F (falso): “O século XVI foi uma época de profundas transformações na visão de mundo do homem ocidental, época marcada por verdadeira paixão pelas descobertas. No tempo e no espaço abrem-se novos horizontes: eruditos redescobrem antigas doutrinas filosóficas e cientificas, forjadas pelos gregos, e em nome das quais torna-se possível construir uma sabedoria nova, oposta às concepções que prevaleceram na Idade Média (...). Tudo é sacudido ou destruído: a unidade política, religiosa e espiritual da Europa; as afirmações das ciências e da filosofia medievais, a autoridade da Igreja e do Estado (...).” 1. ( ) Na Idade Média predominava uma visão inteiramente teocêntrica, o discurso do método foi o texto inaugural da filosofia moderna, fazendo emergir uma nova forma de conhecimento que dará sentido ao mundo da racionalidade, mas também posturas, representações e sensibilidades do homem ocidental moderno. 2. ( ) Descartes quer estabelecer um método universal, inspirado no rigor matemático e em suas “longas cadeias de razão”, porém tal premissa não teve grandes repercussões para sociedade vigente, tendo em vista que este pensamento já era bastante difundido na Idade Média. 3. ( ) A expansão comercial e marítima européia neste período possibilitaram a ampliação da visão de mundo do homem europeu. 4. ( ) O resgate da filosofia greco-romana possibilitou a contestação do teocentrismo, retornado à crença nos deuses pagãos da antiguidade clássica. 5. ( 6. ( ) Descartes postulava a ideia de que a razão deveria permear todos os domínios da vida humana, contra qualquer dogmatismo, onde o saber distancia-se, dissocia e fragmenta, viabilizando o método analítico. 7. ( ) As teorias de Descartes nada tem a ver com época em que ele vivia, pois propunha uma volta ao conhecimento da Idade Média. ) A filosofia dominante na Idade Média foi um conhecimento baseado em Aristóteles. O método cartesiano Leia o texto abaixo, retirado do livro Discurso do Método de René Descartes e julgue os itens de 1 a 10, colocando V(verdadeiro) ou F (falso): 1. “(...) decidi fazer de conta que todas as coisas que até então haviam entrado no meu espírito não eram mais corretas do que as ilusões de meus sonhos. Porém, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que tudo era falso, fazia-se necessário que eu, que pensava, fosse alguma coisa. ( ) A dúvida metódica de matemáticos aritméticos abstratos,Descartes surgiu quando percebeu que os mesmos pensamentos que temos acordados podem ocorrer quando estamos dormindo. 2. ( ) A primeira certeza de Descartes foi a existência de Deus, seguida da evidência da própria existência. 3. ( ) A teoria cartesiana não alterou em nada o conhecimento da época, visto que ele não rompeu com as concepções medievais. 4. ( ) Descartes é considerado o primeiro filósofo "moderno" que deu uma contribuição à epistemologia e ajudou a desenvolver as ciências naturais. 5. ( ) Segundo Descartes, para reconhecer algo como verdadeiro é necessário usar a razão, o raciocínio como filtro e decompor esse algo em partes isoladas, em ideias claras e distintas, ou seja, propõe fragmentar, dividir o objeto de estudo a fim de melhor entender, compreender, estudar, questionar, analisar, criticar, o todo. 6. ( ) Descartes propôs uma moral provisória que consiste em obedecer as leis de seu país, ter opiniões moderadas, ser resoluto e modificar os seus desejos do que a ordem do mundo. 7. ( ) Descartes defendia que, ao analisar um problema, você tem que fazê-lo globalmente, partindo do mais complexo ao mais simples. 8. ( ) Descartes dividiu a realidade em res cogitas (consciência e mente) e res extensa (corpo e matéria). Acreditava que Deus criou o universo como um perfeito mecanismo. 9. ( ) Apesar de ter postulado em sua teoria a dúvida metódica, Descartes não é considerado um filósofo cético. 10. ( ) Por duvidar de tudo que existia, Descartes é considerado o primeiro filosofo ateísta da história. Descartes e as ciências A partir do trecho abaixo julgue os itens de 1 a 9, colocando V(verdadeiro) ou F (falso): “A gravidade [...] Opera em todo o universo, seja na Terra ou no céu, sendo passível de expressão matemática [...]. A imagem medieval do mundo como fechado, voltado para a Terra e sobre ela centrado, foi substituído por um universo considerado como infinito, governado por leis universais e tendo na Terra simplesmente mais um planeta.” (Marvin Perry ET alii. Civilização ocidental: uma história concisa. SP: 1985) 1. ( ) O primeiro método de Descartes baseia-se em não aceitar jamais alguma coisa como verdadeira através da prevenção, que leva a precipitação e ao julgamento. 2. ( ) Segundo Descartes, o que diferencia o homem dos animais é que o bom senso nos permite adquirir a percepção do sentidos. 3. ( 4. ( maneira geral. ) A construção da verdade científica está baseada na valorização do bom senso, ou razão. ) O segundo método consiste em analisar a resolução das dificuldades como um todo, de 5. ( ) Na aplicação secundária da matemática como método científico, o corpo humano e suas proporções foram estudados através da razão áurea, o senso demográfico vem do estudo de estatística, a radioatividade dos elementos pode ser determinados pelo estudo das funções exponenciais. 6. ( ) Os modelos matemáticos são instrumentos importantes, porém secundários para a elaboração do método científico, pois segundo Descartes a razão é naturalmente igual em todos os homens e todos consideram sempre as mesmas coisas. 7. ( ) O autor afirma que a certeza para a existência de objetos está baseada na demonstração da geometria, assim como a certeza sobre Deus. 8. ( ) O julgamento só deve ser considerado correto se não houver nenhuma ocasião de colocá-lo a prova. Por isso, a dúvida é fundamental para o método cartesiano. 9. ( ) Segundo Descartes, a diversidade de opiniões leva a subjetividade e sua aplicação é passível de julgamento, pois existem julgamentos mais racionais que os outros. Leia o texto abaixo e Julgue os itens de 1 a 5: “Pois elas [as noções gerais relativas à física] me fizeram ver que é possível chegar a conhecimentos úteis relativos à vida, e que, em vez dessa filosofia especulativa que se ensina nas escolas, se pode encontrar uma outra prática, pela qual, conhecendo a força e ação do fogo, da água, do ar, dos astros do céu e de todos os outros corpos que nos cercam, tão distintamente como conhecemos os misteres dos nossos artífices, poderíamos empregá-los da mesma maneira em todos os para os quais são próprios, e assim nos tornar como senhores possuidores da natureza.” (Discurso do Método, VI). 1. ( ) O método de pesquisa da Química nada tem haver com o proposto por Descartes, pois privilegia o estudo abrangente de um tema em detrimento da análise de pormenores. 2. ( ) As ideias de Descartes não eram coerente com o pensamento de sua época pois ele buscava valorizar os filósofos da Idade Média. 3. ( ) Para Descartes o conhecimento poderia permitir um controle efetivo da natureza. 4. ( ) Para Descartes o conhecimento do mundo deveria partir de certezas incontestáveis, assim seu método se fundamenta no principio da dedução. 5. ( ) Descartes considerava que a filosofia não tinha como ajudar o homem a melhorar seu conhecimento sobre o mundo. PAS (UnB, ENEM e Vestibulares Gabarito: E ENEM 2013 Os produtos e seu consumo constituem a meta declarada do empreendimento tecnológico. Essa meta foi proposta pela primeira vez no início da Modernidade, como expectativa de que o homem poderia dominar a natureza. No entanto, essa expectativa, convertida em programa anunciado por pensadores como Descartes e Bacon e impulsionado pelo Iluminismo, não surgiu “de um prazer de poder”, “de um mero imperialismo humano”, mas da aspiração de libertar o homem e de enriquecer sua vida, física e culturalmente. CUPANI, A. A tecnologia como problema filosófico: três enfoques. Scientiae Studia, São Paulo, v. 2, n. 4, 2004 (adaptado). Autores da filosofia moderna, notadamente Descartes e Bacon, e o projeto iluminista concebem a ciência como uma forma de saber que almeja libertar o homem das intempéries da natureza. Nesse contexto, a investigação científica consiste em A) expor a essência da verdade e resolver definitivamente as disputas teóricas ainda existentes. B) oferecer a última palavra acerca das coisas que existem e ocupar o lugar que outrora foi da filosofia. C) ser a expressão da razão e servir de modelo para outras áreas do saber que almejam o progresso. D) explicitar as leis gerais que permitem interpretar a natureza e eliminar os discursos éticos e religiosos. E) explicar a dinâmica presente entre os fenômenos naturais e impor limites aos debates acadêmicos. ENEM 2013 TEXTO I Há já algum tempo eu me apercebi de que, desde meus primeiros anos, recebera muitas falsas opiniões como verdadeiras, e de que aquilo que depois eu fundei em princípios tão mal assegurados não podia ser senão mui duvidoso e incerto. Era necessário tentar seriamente, uma vez em minha vida, desfazer-me de todas as opiniões a que até então dera crédito, e começar tudo novamente a fim de estabelecer um saber firme e inabalável. DESCARTES, R. Meditações concernentes à Primeira Filosofia. São Paulo: Abril Cultural, 1973 (adaptado). TEXTO II É o caráter radical do que se procura que exige a radicalização do próprio processo de busca. Se todo o espaço for ocupado pela dúvida, qualquer certeza que aparecer a partir daí terá sido de alguma forma gerada pela própria dúvida, e não será seguramente nenhuma daquelas que foram anteriormente varridas por essa mesma dúvida. SILVA, F. L. Descartes: a metafísica da modernidade. São Paulo: Moderna, 2001 (adaptado). A exposição e a análise do projeto cartesiano indicam que, para viabilizar a reconstrução radical do conhecimento, deve-se A) retomar o método da tradição para edificar a ciência com legitimidade. B) questionar de forma ampla e profunda as antigas ideias e concepções. C) investigar os conteúdos da consciência dos homens menos esclarecidos. D) buscar uma via para eliminar da memória saberes antigos e ultrapassados. E) encontrar ideias e pensamentos evidentes que dispensam ser questionados. (UEL2012 ) Leia o texto a seguir. O pensamento moderno caracteriza-se pelo crescente abandono da ciência aristotélica. Um dos pensadores modernos desconfortáveis com a lógica dedutiva de Aristóteles – considerando que esta não permitia explicar o progresso do conhecimento científico – foi Francis Bacon. No livro Novum Organum, Bacon formulou o método indutivo como alternativa ao método lógico-dedutivo aristotélico. Com base no texto e nos conhecimentos sobre o pensamento de Bacon, é correto afirmar que o método indutivo consiste A) na derivação de consequências lógicas com base no corpo de conhecimento de um dado período histórico. B) no estabelecimento de leis universais e necessárias com base nas formas válidas do silogismo tal como preservado pelos medievais. C) na postulação de leis universais com base em casos observados na experiência, os quais apresentam regularidade. D) na inferência de leis naturais baseadas no testemunho de autoridades científicas aceitas universalmente. E) na observação de casos particulares revelados pela experiência, os quais impedem a necessidade e a universalidade no estabelecimento das leis naturais. UEL – 2011 O principal problema de Descartes pode ser formulado do seguinte modo: “Como poderemos garantir que o nosso conhecimento é absolutamente seguro?” Como o cético, ele parte da dúvida; mas, ao contrário do cético, não permanece nela. Na Meditação Terceira, Descartes afirma: “[...] engane-me quem puder, ainda assim jamais poderá fazer que eu nada seja enquanto eu pensar que sou algo; ou que algum dia seja verdade eu não tenhajamais existido, sendo verdade agora que eu existo [...]” (DESCARTES. René. Meditações Metafísicas. Meditação Terceira, São Paulo: Nova Cultural, 1991. p. 182. Coleção Os Pensadores.) Com base no enunciado e considerando o itinerário seguido por Descartes para fundamentar o conhecimento, é correto afirmar: a) Todas as coisas se equivalem, não podendo ser discerníveis pelos sentidos nem pela razão, já que ambos são falhos e limitados, portanto o conhecimento seguro detém-se nas opiniões que se apresentam certas e indubitáveis. b) O conhecimento seguro que resiste à dúvida apresenta-se como algo relativo, tanto ao sujeito como às próprias coisas que são percebidas de acordo com as circunstâncias em que ocorrem os fenômenos observados. c) Pela dúvida metódica, reconhece-se a contingência do conhecimento, uma vez que somente as coisas percebidas por meio da experiência sensível possuem existência real. d) A dúvida manifesta a infinita confusão de opiniões que se pode observar no debate perpétuo e universal sobre o conhecimento das coisas, sendo a existência de Deus a única certeza que se pode alcançar. e) A condição necessária para alcançar o conhecimento seguro consiste em submetê-lo sistematicamente a todas as possibilidades de erro, de modo que ele resista à dúvida mais obstinada. UEL 2011 É amplamente conhecido, na história da filosofia, como Descartes coloca em dúvida todo o conhecimento, até encontrar um fundamento inabalável; uma espécie de princípio de reconstituição do conhecimento. Neste processo, Descartes elege uma regra metodológica que o orientará na busca de novas verdades. A regra geral que orientará Descartes na busca de novas verdades é a) a possibilidade do mundo externo. b) a possibilidade de unirmos corpo e alma. c) a clareza e distinção. d) a certeza dos juízos matemáticos. e) a idéia de que corpo e alma são entidades distintas. Sugestão de filmes 1. Giordano Bruno (título original) 1974 – Itália Direção Giuliano Montaldo Sinopse: O Filme retrata parte da vida de Giordano Bruno, que se envolve em problemas com a Igreja devido as suas ideias conflitantes com a ortodoxia religiosa em defesa da razão. Mostra o processo movido pela Inquisição até sua morte na Fogueira. 2. Galileo (título original) 1975 – Reino Unido Direção: Joseph Losey Sinopse: vida e obra de Galileu, com destaque para o seu julgamento pela Inquisição por defender as teorias de Copérnico sobre o heliocentrismo, valorizando o método da observação científica. 3. Cartesius (título original) 1974 – Itália Direção: Roberto Rossellini Sinopse: filme que retrata a vida e obra do Filósofo Descartes. Rossellini extrai vários trechos da obra do pensador para compor as ações dramáticas do personagem. Retrata-se no filme como Descartes defende a autonomia do pensamento racional diante da fé. Referências Bibliográficas ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 1998. ALMEIDA, Aires (org.). Dicionário Escolar de Filosofia. [s.l.]: Plátano Editora, 2003. CHAUÍ, Marilena. Novo Ensino Médio, Brasiliense, São Paulo 1990, CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 6ª ed. Ática, São Paulo, 1997. HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.: Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001. P.2389 HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições 70, 1998. JAPIASSÚ Hilton, MARCONDES Danilo. Dicionário básico de filosofia. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001. KHUN, Thomas. A Estrutura da revolução cientifica, São paulo, Perspectiva, 1996. MARÍAS, Julian. História da Filosofia. 1ª ed. Martins Fontes, São Paulo, 2004. Bibliografia REALE, Giovanni.; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Paulinas. SP 1991. SILVA, Mauricio Oscar da Rocha. O mito cartesiano e outros ensaios. São Paulo: Hucitec, 1978. 184 p. Capitulo 4 – Empirismo Empirismo é uma corrente filosófica que defende a ideia de que a fonte de todo conhecimento humano advém da observação e da experiência (empeiria). Para os empiristas, todo o nosso conhecimento surge da nossa percepção do mundo externo. Enquanto que o racionalismo explicava o conhecimento humano a partir da experiência do individuo de ideias inatas que se originavam em último da análise de Deus, os empiristas pretenderam dar uma explicação do conhecimento a partir da experiência, eliminado desta forma a noção de ideias inatas, considerado obscuro e problemática. Assim como o Racionalismo, o Empirismo é uma resposta às mudanças no mundo ocidental e a construção de um novo tipo de conhecimento que envolve a revolução científica do século XVI. Atitudes empiristas, ou seja, que dão a experiência de um papel-chave no processo de conhecimento, foram recorrentes em várias formas ao longo da história. Na antiguidade, ela foi defendida pelos filósofos sofistas que acreditavam na visão relativa do mundo; filósofos estoicos, epicuristas e ceticistas formularam teorias empiristas sobre a formação das ideias e dos conceitos. Na Idade Média, o maior pensador escolástico, Tomás de Aquino, não via a fé em oposição a razão, para ele eram complementares. Ele entendia que o conhecimento tinha duas fases: sensível e intelectual, sendo que a segunda depende da primeira, mas ultrapassa-a. Através da observação, o conhecimento intelectual abstrai de cada objeto individual a sua essência, a forma universal das coisas. Baseado nisso, Aquino propõe as chamadas "cinco provas da existência de Deus". Tomás de Aquino - Nascido em uma família de nobres, Tomás de Aquino fez os primeiros estudos no castelo de Monte Cassino. Em Nápoles, para onde foi em 1239, estudou artes liberais, ingressando, em seguida, na Ordem dos Dominicanos, em 1244. De Nápoles, a caminho de Paris, em companhia do Geral da ordem, foi sequestrado por seus irmãos, inconformados com seu ingresso no convento. No ano seguinte, fiel à sua vocação religiosa, viajou a Paris, onde se tornou discípulo de Alberto Magno, acompanhando-o a Colônia. Em 1252, voltou a Paris, onde se formou em teologia e lecionou durante três anos. Depois de voltar à Itália, foi nomeado professor na cúria pontifical de Roma. Ensina, durante anos, em várias cidades italianas. Uma década depois, retorna a Paris, onde leciona até 1273. A seguir, parte para Nápoles, onde reestrutura o ensino superior. Em 1274, convocado pelo papa Gregório 10º, viaja para participar do Concílio de Lyon. Adoece, contudo, durante a viagem, vindo a falecer no mosteiro cisterciense de Fossanova, aos 49 anos de idade. Enciclopédia Mirador Internacional. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/biografias/tomas-de-aquino.jhtm. Acessado em 14/10/2014 Mas estritamente falando, empirismo refere-se ao movimento filosófico que se desenvolveu na Inglaterra nos séculos XVII e XVIII, tendo os filósofos John Locke, George Berkeley e David Hume como seus representantes mais conhecidos. As questões levantadas pelos empiristas os problemas do ser, mas do conhecer. Enquanto filósofos racionalistas encaram o problema do conhecimento a partir das ciências exatas, notadamente a matemática, os empiristas voltam-se para as ciências experimentais. É evidente que o ambiente cultural e socioeconômico da Inglaterra da época coopera para tanto, já que ocorria um grande florescimento das ciências experimentais – botânica, astronomia, química, mecânica. Indo na mesma linha de raciocínio das ciências experimentais, o empirismo parte de fatos, eventos constatados pela experiência, chegando à seguinte problemática epistemológica: como, partindo da experiência sensível, é possível chegar às leis universais? A solução encontrada pelos filósofos foi a de que partindo do pressuposto de que todo o conhecimento é originário da experiência, conclui-se que mesmo as ideias abstratas e as leis científicas têm a mesma incerteza, instabilidade e particularidade do conhecimento empírico. As impressões, obtidas pela experiência, isto é, pela sensação, percepção e pelo hábito, são direcionadas à memória e desta – através de um processo de associação de ideias formam-se os pensamentos. O próprio hábito de associar ideias, pela diferenças ou semelhanças, forma a razão, ainda segundo Hume. Pra entender o ambiente cultural e socioeconômico da Inglaterra da época, clique no link abaixo: http://educacao.globo.com/historia/assunto/europa-em-transformacao/revolucoes-inglesas-do-seculoxvii.html John Locke e a tábula rasa John Locke desenvolveu o conceito da tabula rasa. Com esta tese o filósofo defendia a ideia de que ao nascermos não temos nenhum princípio ou ideia inata e tudo que aprendemos e processamos em nossa mente provêm das experiências feitas durante a vida. No Ensaio sobre o Entendimento Humano, Locke propõem a concepção de que todo o conhecimento se origina da experiência sensorial. Para ele, não existem ideias no intelecto humano originadas no próprio intelecto, as chamadas ideias inatas defendidas por Descartes. Ao nascermos, nossa mente seria como uma folha em branco e a medida que tivéssemos contatos físicos, mediados por nossos sentidos, seriam imprimidos aos poucos em nossa mente os caracteres. Essa experiência, repetidas várias e várias vezes formariam as ideias gerais. Se nós temos uma ideia geral sobre maçã, por exemplo, essa ideia é somente o resultado das várias experiências com maçãs particulares que foram imprimidas em nosso cérebro ao entrarmos em contato com esse objeto que existe concretamente na natureza. Isso se aplica a todas as ideias que nós temos em nossa mente, nada mais seria do que o resultado desse processo repetido inúmeras vezes através de nossos sentidos. Essa concepção empirista parte do pressuposto de que os objetos exteriores à nossa mente possuem qualidades objetivas que provocam o aparecimento de sensações subjetivas da mente humana. Por esse caminho, chega a conclusão de o mundo exterior é composto por algumas qualidades primárias que somadas, receberam o nome de matéria ou substância material. Essa substância material não poderia ser revelada diretamente aos nossos sentidos, mas seria resultado de uma dedução puramente intelectual. A matéria não pode ser vista, ouvida, cheirada... Esses processos só ocorreriam com coisas constituídas a partir da matéria. Locke faz uma distinção ente as qualidade primárias e secundárias. As qualidades primárias são a solidez, a extensão (a propriedade de ter dimensão espacial), figura (formato), movimento e repouso (ou mobilidade), número, tamanho, situação, textura e movimento das partes. Quanto às qualidades secundárias, pode-se destacar as cores, os sons, os gostos, os aromas, o calor e o frio. Locke afirma que as qualidades secundárias estão "nos próprios objetos" apenas enquanto forças que produzem várias sensações em nós pelas qualidades primárias, ou seja, o tamanho, a figura, a textura e o movimento de suas partes insensíveis. Artesão do pensamento político liberal, Locke nasceu numa aldeia inglesa, filho de um pequeno proprietário de terras. Estudou na escola de Westminster e em Oxford, que seria seu lar por mais de 30 anos. Os estudos tradicionais da universidade não o satisfaziam, mas aplicou-se. Foi admitido na Sociedade Real de Londres, a academia científica, em 1668, para estudar medicina: graduou-se seis anos depois, mas sem o título de doutor. A maior parte de sua obra se caracteriza pela oposição ao autoritarismo, em todos os níveis: individual, político e religioso. Acreditava em usar a razão para obter a verdade e determinar a legitimidade das instituições sociais. Quando Locke escreveu os "Dois Tratados sobre o Governo", a sua principal obra de filosofia política, tinha como objetivo contestar a doutrina do direito divino dos reis e do absolutismo real. Também pretendia criar uma teoria que conciliasse a liberdade dos cidadãos com a manutenção da ordem política. Para o pensador inglês, o que dá direito à propriedade é o trabalho que se dedica a ela. E desde que isso não prejudique alguém, fica assegurado o direito ao fruto do trabalho. Foram essas as bases da ideia de uma sociedade sem a interferência governamental, um dos princípios básicos do capitalismo liberal. Enciclopédia Mirador Internacional Para além da teoria do conhecimento, Locke é conhecido como um vigoroso pensador político que contribui para o desenvolvimento da teoria liberal acerca da liberdade e da tolerância, em especial a religiosa, obviamente mirando o absolutismo, que foi bombardeado por ele e outros pensadores do movimento intelectual e político denominado Iluminismo surgido no século XVIII, na Europa. Foi crítico da tradição que afirmava o direito divino dos reis, pois para ele a vida política é obra dos homens e independente das questões divinas. Esse seu pensamento está exposto na obra “Primeiro Tratado Sobre o Governo Civil”. Outra grande contribuição de Locke para o pensamento econômico e político é a sua teoria da propriedade privada, um dos grandes ideais do liberalismo, de modo que suas ideias influenciaram as concepções de democracia moderna e de direitos humanos, presentes em vários documentos do seu tempo, como a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789 que embasou mais tarde a formulação de outros documentos importantes como a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948. Entretanto atribui-se também à teoria da propriedade privada o apoio teórico para a defesa da escravidão, que de certo modo destoa do caráter humanista de seu pensamento. Se por um lado Locke defende as ideias da democracia liberal, seus escritos servem de pretexto para dominações e extermínios que contra povos conquistados e explorados pelos europeus. Para Locke, a liberdade não seria aplicável ao "homem primitivo", pois que os povos ditos primitivos não estariam associados ao restante da humanidade no uso do dinheiro e poderiam ser equiparados a bestas de caça ou bestas selvagens Locke e a escravidão Locke é considerado pelos seus críticos como sendo "o último grande filósofo que procura justificar a escravidão absoluta e perpétua". Ao mesmo tempo que dizia que todos os homens são iguais, Locke defendia a escravidão (sem distinguir que fosse a relativa aos negros). Locke somente sustenta a escravidão pelo contrato de servidão em proveito do vencido na guerra que poderia ser morto, mas assume o ônus de servir em troca de viver. Ou seja, a questão da escravidão não é relevante no seu pensamento. Locke não defende a escravidão fundada em raça, mas somente no contrato com o vencido na guerra. Locke contribuiu para a formalização jurídica da escravidão na Província da Carolina, cuja norma constitucional dizia: "(...) todo homem livre da Carolina deve ter absoluto poder e autoridade sobre os escravos negros seja qual for a opinião e religião." Seus críticos ainda afirmam que ele investiu no tráfico de escravos negros, enquanto acionista da Royal African Company. É necessário lembrar que a defesa da escravidão decorre da defesa do direito de propriedade, um dos grandes ideais do liberalismo, e isso une Locke aos outros liberais clássicos - o direito de propriedade como um dos direitos naturais do ser humano. A longa trajetória do liberalismo teve o exato início com John Locke, e é notório que as ideologias sofrem adaptações com o tempo e com as gerações posteriores. É óbvio que a defesa da escravidão não é inerente ao liberalismo. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke. Acessado em 14/10/2014 David Hume, um empirista radical Para David Hume todo conhecimento tem sua origem nos sentidos. Opondo-se ao racionalismo cartesiano, que acreditava que o conhecimento se origina na razão. Para Hume, no início do conhecimento, estão as percepções. As percepções provocam impressões e estas são mais intensas e presentes (sensações e emoções) e as ideias derivam delas, ou seja, são produzidas a partir das impressões, como se fossem cópias das impressões guardadas na memória. Para Hume, as impressões são mais fortes porque são sentidas no momento com todos os seus sentimentos e emoções. A primeira classe de impressões diz respeito à força ou a vivacidade com que as percepções é apresentada à nossa mente, ou seja, quando ouvimos, vemos, sentimos, amamos, odiamos, desejamos ou queremos. As impressões estão mais ligadas aos sentimentos. Já as ideias são mais fracas, pois são guardadas pela memória como imagens ou imaginadas a partir das ideias que já se tinha. As ideias estão mais ligadas ao ato de pensar. (por exemplo: se uma pessoa quando passa por uma experiência de tensão devido a um acidente, esta experiência é impressa em sua mente com toda a intensidade; com o passar do tempo este fato será lembrado com menor; além disso, uma terceira pessoa que imagina terá menor sentimento do que a da ideia produzida). As impressões que se tem são impressões simples e destas derivam as ideias, como por exemplo a impressão da cor vermelha e ideia da cor vermelha. Mas Hume levanta a questão de como é possível se ter ideias complexas (por exemplo: carro vermelho) e chega à conclusão de que estas se formam a partir da associação das ideias simples e compostas, sejam elas feitas por semelhança, contiguidade no tempo e no espaço e causa e efeito. Por semelhança, Hume acredita que quando se associa uma impressão que se tem no momento com uma ideia já contida na mente, faz-se uma associação vendo a semelhança entre a ideia e a impressão. Por exemplo: quando vemos uma foto do pão de açúcar, isto nos leva ao pão de açúcar real na cidade do rio de Janeiro. Pela contiguidade no tempo e espaço, ele aponta como uma pessoa pode fazer a associação de uma impressão com alguma ideia de um espaço e tempo diferentes, sendo que podem levar até a ideias diferentes para serem associadas àquela impressão. A contiguidade no tempo e no espaço se dá pelo fato da mente fazer uma associação Hitler e Mussolini por causa da contiguidade temporal de ambos e associar mesa e cadeira por causa da contiguidade espacial das duas. E por causalidade, ele observa a associação feita da causa com o seu efeito. Por exemplo, quando associamos sirene da escola ao som por ela produzido. Embora sejam coisas completamente diferentes fazemos uma associação entre ambas por causa e efeito. No empirismo de Hume, o hábito e o costume são a base na qual, da simples constatação da contiguidade e sucessão entre dois fenômenos se deduz que há uma relação causal entre e uma conexão entre os dois fenômenos. O homem depois de fazer a experiência pode guardar sua ideia e quando realiza uma nova ação semelhante tem a capacidade de associá-la à primeira experiência. Justamente por isso Hume é considerado um empirista radical pois, para ele, todo conhecimento se origina na experiência, partindo e derivando da mesma. De família escocesa, David Hume nasceu em 7 de maio de 1711, em Edimburgo, e morreu na mesma cidade em 25 de agosto de 1776. Em 1734 viajou para a França, depois de uma experiência sem sucesso no comércio, atividade a que se dedicou com a intenção de recuperar-se de um intenso esgotamento intelectual. Permaneceu na França até 1737, completando a redação de seu "Tratado", iniciado com pouco mais de vinte anos de idade. Retornando à Grã-Bretanha, ocupou cargos públicos, incluindo o de secretário de Estado (1768). Antes, entre 1763 e 1765, serviu na França como secretário da embaixada inglesa. Ao falecer, revelou extraordinária tranquilidade diante da morte. A posição doutrinária assumida por Hume pode ser explicada pelo subtítulo do "Tratado": "Ensaio para introduzir o método experimental de raciocínio nos assuntos morais". Diz ele, na introdução, que, assim como a ciência do homem é o único fundamento sólido para as outras ciências, assim o único fundamento sólido que podemos dar à ciência do homem repousa necessariamente sobre a experiência e sobre a observação. Enciclopédia Mirador Internacional George Berkeley – ser é ser percebido SER PERCEPÇÃO EXISTÊNCIA A concepção imaterialista defendida por Berkeley propõem a ideia de que inexistem objetos exteriores aos espíritos que os percebem. Para Berkeley só há uma substância, ou seja, o ser percipiente; as demais coisas são apenas percepções que não têm existência real. Nos temos a crença de que existam objetos exteriores à nossa percepção, ou por nossa ilusão materialista, ou por nossa compreensão de que a existência de corpos exteriores é mais plausível. No parágrafo 8 do seu tratado, Berkeley fala da impossibilidade de semelhança entre ideia e substância. Diz que uma ideia só pode ser semelhante a uma ideia. No parágrafo 58 Berkeley se antecipa a seus críticos e levanta a questão de que sua doutrina poderia ser incompatível com as verdades filosóficas e matemáticas. Cita o exemplo de que o movimento terrestre mesmo não sendo percebido por nós, é uma coisa comprovada como verdade. Questiona que “sendo o movimento uma ideia, segue-se que não sendo percebido, não existe”. A isto o próprio Berkeley responde que se “colocados em certas circunstâncias, na posição e à distância convenientes da Terra e do Sol, veríamos a Terra mover-se (...).” O que se coloca nesta objeção é a questão de que nem sempre a posição do percipiente é adequada, ideal para se atingir o conhecimento. Nestes casos a percepção continua válida? Qual é o grau de confiabilidade de tal percepção? No caso específico da objeção é que na superfície da Terra temos a percepção de que ela está parada, quando na verdade é justamente o contrário. A partir destas constatações, Berkeley terá três alternativas: ou terá que admitir que existem inúmeras substâncias, ou seja, inúmeros seres percipientes; ou será obrigado a criar um subgrupo de percepções que têm percepções, e este grupo será também bastante numeroso; ou então terá que criar critérios quantitativos ou qualitativos de formas de percepção Uma primeira solução que Berkeley parece propor, pelo menos no caso específico do movimento terrestre, e que devemos nos afastar de nossas próprias ideias para entendê-las ou percebê-las melhor. Com isso podemos concluir que nem sempre uma percepção direta é a mais recomendável ou confiável. Ou que, para conhecermos suficientemente bem a natureza temos que ter dela uma percepção em condições ideais. Se aprofundarmos um pouco em nossas reflexões, poderíamos dizer que de acordo como estas colocações dificilmente poderíamos conhecer totalmente a natureza se usarmos somente os órgãos de nosso corpo. Assim, por exemplo, se alguém me mostrar uma maçã e eu, mesmo vendo-a, tocando-a, provando-a, não poderia dizer que a conheço plenamente, pois nada posso dizer de seus elementos constitutivos, de sua disposição molecular, sem recorrer a instrumentos que nos coloquem numa posição ideal e plena de percepção. Nestes casos os conceitos formados dos objetos terão sempre um caráter provisório e dificilmente poderia fazer uma afirmação conclusiva. Por exemplo: ao observar as nuvens no céu tenho delas algumas percepções tais como, branco, formas indefinidas, semelhantes a chumaços de algodão entre outras. Se fosse até lá em cima poderia ter destas mesmas nuvens percepções bem diferentes. A teoria do conhecimento em Berkeley é um tanto problemática pois poderíamos duvidar que o mundo seja igual à percepção que temos dele. Na parte que trata das consequências de seu sistema para o que seja uma nova concepção de espírito, que Berkeley vai revelar toda a sua genialidade e coerência de sua doutrina. No parágrafo 27, Berkeley vai dizer que o espírito é um ser simples, indivíduo, ativo. De tal espírito não podemos não podemos ter uma ideia, mas apenas uma noção. No parágrafo 153 e subsequentes, Berkeley vai explicar e detalhar melhor o que seja este espírito e o tipo de acesso que temos a ele. A coerência do sistema de Berkeley está na forma como ele conduz a argumentação até chegar no espírito como suporte de todas as sensações. E tal suporte tem que estar para além de nossa percepção, caso contrário não seria suporte da sensa. A noção que temos do espírito é um conhecimento mediatizado pelas ideias ou operações que elas excitam em nós. Não podemos acessar diretamente o espírito. É isso o que ele quer dizer quando fala em noção do espírito. As qualidades de incorruptibilidade, de inextensibilidade e de indivisibilidade impedem estes espíritos de sofrerem dissolução, mudança ou decadência. Ora, um espírito com tais qualidades é um ótimo suporte para a existência das demais coisas. A não ser que fosse destruído por um ato da vontade de Deus, o espírito e consequentemente o mundo estariam com a existência garantida. O espírito com tais qualidades é um melhor substituto para a matéria como suporte da sensa, por dois motivos. O imaterialismo de Berkeley levanta uma questão aparentemente insolúvel: se os objetos nada mais são do que a representação que tenho deles, como é possível que várias pessoas diferentes experimentem juntas as mesmas sensações da mesma coisa? Por exemplo, se o quadro que agora vemos nesta sala existe materialmente, não há problema algum. Porém, nossas sensações não remetem a um objeto exterior, como é possível que todas as pessoas presentes podem ver a mesma coisa? É neste momento que Berkeley, assim como Descartes, apela para a noção de deus em socorro a sua teoria, essa mente cósmica superior que tudo percebe. Deus é quem nos envia, harmoniosamente nossas ideias/percepções. A ordem de minhas ideias/percepções em formidável concordância com as ideias/percepções dos outros espíritos, estão erigidas como prova do poder e da bondade do Criador. Por que o sapo não lava o pé? O motivo desta incógnita desvelado por filósofos: por que o sapo não lava o pé? Descartes Nada distingo na lavagem do pé senão figura, movimento e extensão. O sapo é nada mais que um autômato, um mecanismo. Deve lavar seus pés para promover a autoconservação, como um relógio precisa de corda. Locke Em primeiro lugar, faz-se mister refutar a tese sobre a lavagem bíblica dos pés. Se fosse assim, eu próprio seria obrigado a lavar meus pés na lagoa, o que, sustento, não é o caso. Cada súdito contrata com o Soberano para proteger sua propriedade, e entendo contido nesse ideal o conceito de liberdade. Se o sapo não quer lavar o pé, o Soberano não pode obrigá-lo, tampouco recriminá-lo pelo chulé. E ainda afirmo: caso o Soberano queira, incorrendo em erro, obrigá-lo, o sapo possuirá legítimo direito de resistência contra esta reconhecida injustiça e opressão. Atividades ENEM 2012 TEXTO I Experimentei algumas vezes que os sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca se fiar inteiramente em quem já nos enganou uma vez. DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 1979. TEXTO II Sempre que alimentarmos alguma suspeita de que uma ideia esteja sendo empregada sem nenhum significado, precisaremos apenas indagar: de que impressão deriva esta suposta ideia? E se for impossível atribuir-lhe qualquer impressão sensorial, isso servirá para confirmar nossa suspeita. HUME, D. Uma investigação sobre o entendimento. São Paulo: Unesp, 2004 (adaptado). Nos textos, ambos os autores se posicionam sobre a natureza do conhecimento humano. A comparação dos excertos permite assumir que Descartes e Hume A defendem os sentidos como critério originário para considerar um conhecimento legítimo. B entendem que é desnecessário suspeitar do significado de uma ideia na reflexão filosófica e crítica. C são legítimos representantes do criticismo quanto à gênese do conhecimento. D concordam que conhecimento humano é impossível em relação às ideias e aos sentidos. E atribuem diferentes lugares ao papel dos sentidos no processo de obtenção do conhecimento. PAS UnB - 2013 Objetivismo é um termo que descreve um ramo da filosofia segundo o qual uma realidade, ou um contexto ontológico de objetos e fatos, existe independentemente da mente. Versões mais radicais dessa perspectiva sustentam que há apenas uma descrição correta da realidade. A objetividade, no processo de referência a objetos, impõe a necessidade de uma definição de verdade. No âmbito da Física, Galileu Galilei dividiu os fenômenos em qualidades primárias e secundárias. As primeiras são passíveis de matematização e experimentação, ao passo que as segundas, não. Com base nos textos e nas figuras, bem como nas ideias por eles suscitadas, julgue os próximos itens. a) O aforismo de Nietzsche “Temos a arte para não morrer da verdade”, se aplicado ao jornalismo, sintetizaria as ideias de Nélson Rodrigues. b) A filosofia de Locke é compatível com as noções galileanas de qualidades primárias e secundárias. c) Na física, a defesa de um critério de verdade apoiado na experimentação define esse campo do conhecimento como não objetivista. d) Galileu criou um abismo entre arte e ciência, ao propor um critério de verdade que fundamentou a objetividade da física. PAS – UnB – 2012 (adaptada) Em finais do século XVIII e princípios do século XIX, a Europa Ocidental pôs-se em movimento. Por meio de uma série de rupturas, a Europa moderna desprendeu-se da velha ordem, cujos elementos provinham da Idade Média e, em parte, também da antiguidade e dos tempos primevos. Pode-se, com certeza, caracterizar tais transformações como revolucionárias, embora seja difícil datá-las com precisão, pois a sua gênese e o seu desenvolvimento não decorreram nem simultaneamente nem de modo uniforme. L. Bergeron, F. Furet e R. Koselleck. A era das revoluções europeias: 1780-1848. Frankfurt: Fischer, 1984, p. 8 (com adaptações). No processo de transformações do pensamento moderno, a que remete o texto, a obra Ensaio sobre o entendimento humano foi relevante para a) a ruptura com a Idade Média, porque, nessa obra, Locke defendeu a existência de ideias inatas sem relação com pressupostos teológicos. b) a ruptura com a Idade Média, porque, nessa obra, Locke defendeu a existência de ideias inatas por meio do recurso à experiência sensível. c) a consolidação do estudo da origem, certeza e extensão do conhecimento humano, valorizando-se, assim, o conhecimento sensível, antes considerado pouco importante para a investigação científica. d) a consolidação do estudo da origem, certeza e extensão do conhecimento humano, porque, nessa obra, Locke demonstrou que todo conhecimento deriva não apenas da experiência sensível, mas também de ideias inatas. e) Nenhuma das alternativas anteriores. PAS – UnB – 2012 (adaptada) Na obra Ensaio sobre o entendimento humano, John Locke, ao propor que não há noções estampadas na mente do homem, cuja alma as recebeu em seu ser primordial, pretende também asseverar que os homens a) não podem ter adquirido todo o conhecimento que detêm simplesmente pelo uso de suas faculdades naturais. b) podem, valendo-se simplesmente de suas faculdades naturais, adquirir inúmeros conhecimentos, mas nenhuma certeza quanto ao que sabem. c) podem alcançar a certeza acerca daquilo que podem conhecer valendo-se exclusivamente do recurso aos princípios inatos. d) podem adquirir a certeza acerca de seus conhecimentos sem recorrerem ao recurso a princípios inatos. Sugestão de filmes 1. Óleo de Lorenzo 1993 – EUA Direção: George Miller Sinopse: Nick Nolte e Susan Sarandon são Augusto e Michaela Odone, pais de Lorenzo. Até os sete anos, o menino viveu normalmente, saudável como todos os outros garotos de sua idade. No entanto, de repente, o menino começa a desmaiar, ter lapsos de memória e outros fenômenos nervosos. Vários médicos são consultados e chegase à conclusão que Lorenzo apresenta ALD, uma doença extremamente rara e incurável que consiste na degeneração do cérebro. Inconformados com o destino do filho, Augusto e Michaela resolvem pesquisar em livros de medicina, por conta própria, alguma cura para a doença de Lorenzo. Baseado em uma história real. 2. Quem Quer Ser Milionário? 2009 – EUA, Reino Unido Direção: Danny Boyle Sinopse: Jamal Malik vem de uma família das favelas de Mumbai, Índia, e está prestes a ganhar o prêmio de 20 milhões de rúpias no programa “Quem Quer Ser Um Milionário?”, feito que nenhum participante jamais conseguira até então. Visto por toda a população através da televisão, Jamal acaba sendo preso por suspeita de trapaça. Afinal, como um rapaz que morou toda a vida na rua pode ter conhecimento suficiente para vencer o jogo? Teria ele roubado? Ou seria apenas sorte? Para provar sua inocência, Jamal começa a contar a sua história e de onde ele tirou a resposta para cada uma das perguntas, relembrando da sua infância com seu irmão na favela e falando da sua paixão pela jovem Latika. Portanto, a principal motivação para o jovem chegar tão longe é o conjunto de suas experiências vividas e acumuladas em sua memória, mostrando que a experiência, tem um poder maior para o conhecimento do que qualquer outro processo. Referências Bibliográficas ABAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Ed. Martins Fontes. São Paulo. 1998. ALMEIDA, Aires (org.). Dicionário Escolar de Filosofia. [s.l.]: Plátano Editora, 2003. CHAUÍ, Marilena. Novo Ensino Médio, Brasiliense, São Paulo 1990, CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. 6ª ed. Ática, São Paulo, 1997. HOUAISS, Antonio. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.: Editora Objetiva, Rio de Janeiro, 2001. P.2389 HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Lisboa: Edições 70, 1998. JAPIASSÚ Hilton, MARCONDES Danilo. Dicionário básico de filosofia. Jorge Zahar Editor, Rio de Janeiro, 2001. KHUN, Thomas. A Estrutura da revolução cientifica, São paulo, Perspectiva, 1996. MARÍAS, Julian. História da Filosofia. 1ª ed. Martins Fontes, São Paulo, 2004. Bibliografia REALE, Giovanni.; ANTISERI, Dario. História da filosofia. Paulinas. SP 1991. SILVA, Mauricio Oscar da Rocha. O mito cartesiano e outros ensaios. São Paulo: Hucitec, 1978. 184 p.