A vida de goleiro e a música

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A vida de goleiro e a música
A vida de goleiro e a música
Seg, 28 de Abril de 2014 14:15
Em 26 de abril se comemorou o dia do Goleiro, uma homenagem criada por dois professores
da Escola de Educação Física do Exército, nos anos 70, ao mais sofrido e injustiçado atleta de
todos os esportes, ou você conhece alguém mais azarado que o goleiro?
Quando o time vence, a vitória é de todos, mas quando perde a culpa geralmente cai em
cima dele, e não são poucos os seguiram carregando culpas até o fim da vida. A maior vítima
entre todos no futebol brasileiro é Barbosa que levou aquele gol na final de 1950 no Maracanã,
diante dos uruguaios fazendo o país todo chorar. Não bastasse ele, também Aílton Corrêa
Arruda, o Manga, carrega culpas pelas derrotas em 1966, na Inglaterra, onde o Brasil fez a pior
campanha de todas as copas. Depois ele sofreu acusações nunca fundamentadas de que teria
aceito suborno para facilitar as coisas para o Bangu, em 1967, embora seu clube na época, o
Botafogo tenha sido o campeão carioca naquela partida.
Manga precisou jogar no exterior porque ninguém queria mais o seu passe, sendo lembrado
anos mais tarde pelo Internacional de Porto Alegre que o trouxe de volta e com ele sagrou-se
bicampeão brasileiro 1975-76, com defesas magníficas. Por sua importância nos dois títulos
conquistados a data escolhida para se comemorar o dia do goleiro foi a de seu aniversário.
Mas a data homenageia não só a ele e a Barbosa, mas também a Félix, campeão no México
em 1970 e ainda assim criticado, além de Castilho, Gilmar dos Santos Neves, Emerson Leão,
Waldir Perez, Carlos e Julio César, enfim goleiros que defenderam a meta de nossa seleção e
ainda outros de tantos clubes.
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No cancioneiro popular o goleiro é citado em algumas composições com em “Eu vou
lhe Avisar”
, de Jorge Benjor, sucesso na voz de Gal Costa onde a letra diz, “...Eu vou lhe avisar. Goleiro
não pode falhar. Não pode ficar com fome, na hora de jogar, senão, um frango aqui, um frango
ali, um frango acolá...”
Entre goleiros famosos vivos, o mais velho é Oberdan Cattani, com 94 anos, único
sobrevivente dos tempos em que a equipe de Parque Antártica ainda se chamava Palestra
Itália. Ele se lembra que por causa da guerra o clube precisou mudar de nome e no dia da
modificação para Palmeiras, todos os jogadores choraram, inclusive ele. Oberdan ainda é
muito querido pelos torcedores, mas o goleiro Marcos chama hoje mais atenção. Segundo
pesquisa da Fifa, ele é o terceiro jogador mais popular do mundo, só ficando atrás de Pelé e
Maradona, mas na frente de nomes como Cristiano Ronaldo e Lionel Messi.
Foram 211 partidas disputadas desde 1996, quando ele entrou em campo pela primeira vez
com a camisa titular do Verdão.
Ao tornar-se pentacampeão do mundo em 2002, com a seleção brasileira, se tornou ídolo de
todas as torcidas. Marcos se despediu do futebol em dezembro de 2012, num amistoso festivo
entre a Seleção Brasileira da Copa de 2002 e o Palmeiras campeão da Libertadores de 1999.
Marcos diz que embora tenha encerrado a carreira, ainda não consegue ir a eventos, nem a
shopping centers sem ser assediado pelos torcedores, especialmente após o filme “São
Marcos”, sucesso de bilheteria, mas diz estar consciente de que isso irá se modificar com o
tempo porque novos ídolos irão surgir.
Outro goleiro reconhecido internacionalmente é Rogério Ceni, um dos raros na posição, em
todo o futebol mundial, a se especializar nas cobranças de falta e pênalti. Sua trajetória de
goleiro artilheiro começou numa cobrança de falta em 15 de fevereiro de 1997, contra o União
São João, em Araras pelo Campeonato Paulista. De lá para cá foram 114 gols, que o
transformaram no maior goleador da história entre todos os goleiros. Recentemente recebeu
três certificados do Guinness Book, o Livro dos Recordes. O primeiro pela artilharia e também
por ser o jogador que mais vezes atuou por um mesmo time, o São Paulo - 1.117 vezes e por
ser aquele que mais vezes foi capitão do time em uma mesma equipe, ou seja, 886 jogos .
Rogério Ceni, de 41 anos, anunciou semanas atrás que encerrará a carreira no final dessa
temporada 2014. Ele lembra que no começo foi muito criticado por deixar o gol vazio e sair
para cobrar faltas, mas hoje todos estão mais habituados com isso.
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Elis Regina diz em uma canção que “a perfeição é uma meta defendida pelo goleiro que joga
na seleção”. Esse objetivo se enquadra ao perfil de Rogério na composição Meio Campo , de
Gilberto Gil.
Com a Copa do Mundo chegando, você sabe qual o goleiro que mais tempo ficou à frente da
seleção Brasileira? Foi Cláudio Taffarel que disputou 113 jogos pela seleção. Ele se
apresentou ao mundo nos Jogos Olímpicos de 1988, em Seul, fechando o gol contra a
Alemanha na semifinal, pegando uma penalidade no tempo normal e mais duas na decisão por
pênaltis. Depois participou das Copas de 1990, 94 e 98. Foi decisivo na conquista do tetra nos
Estados Unidos, defendendo a cobrança do italiano Daniele Massaro e vendo de perto Roberto
Baggio chutar por cima e garantir o quarto titulo do Brasil em copas do mundo. Ganhou do
narrador Galvão Bueno o bordão “Vai que é sua Taffarel”.
Julio César, titular da atual seleção, é mais herói bandido da meta brasileira porque em 2010,
na África, foi acusado de ter falhado na derrota diante da Holanda que mandou o Brasil de volta
para casa mais cedo. Mas como a vida de um goleiro é feita de riscos, lá vai ele de novo para a
consagração ou para a execração e fama definitiva de frangueiro. Tomara que a primeira
hipótese prevaleça e assim possamos dizer “Brasil campeão”.
Geraldo Nunes
*Geraldo Nunes, jornalista e memorialista, integra a Academia Paulista de História
[email protected]
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