Painel - Fundação Mário Soares
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Painel - Fundação Mário Soares
Encerramento provisório do Tarrafal Depois da guerra e da derrota do nazi-fascismo [os regimes de Salazar e Franco] foram salvos, ambos, pela “Guerra Fria”, dada a opção feita por ingleses e americanos que os levou a sobrevalorizar o medo do comunismo e a esquecer o compromisso, perante os Povos, de defender a democracia e a liberdade... Foi a grande traição do Ocidente aos Povos Ibéricos. Mário Soares, in artigo publicado no El País, 28 de Agosto de 2006 Assim sucedeu com o campo de concentração do Tarrafal, mantido em funcionamento mais de oito anos após o final da II Guerra Mundial e o conhecimento horrorizado dos campos de extermínio nazis. Excertos do ofício do Ministro da Justiça, Manuel Cavaleiro Ferreira, com despacho do Ministro das Obras Públicas, José Frederico Ulrich, em que se dá conta da participação do director do Tarrafal, "em conjunto com as autoridades superiores de Angola", no estudo da localização da Colónia Penal do Ultramar, 10 de Agosto de 1951. O campo do Tarrafal, campo de tortura e de morte Como nos demais países fascistas, a ditadura portuguesa também criou um campo de concentração para presos políticos: o campo do Tarrafal, situado em Cabo Verde, campo onde ainda hoje existe um grande número de presos, guardados pelas fechadas redes de arame farpado e pelas reluzentes baionetas dos soldados indígenas. Não é fácil em meia dúzia de linhas explicar o que representa a imensa tragédia dos presos para ali enviados. Quando um dia se fizer a história do campo do Tarrafal, certamente que toda a gente estremecerá de espanto e de revolta pelas barbaridades ali praticadas. Falar do Tarrafal é pôr a nú os meios infames empregados pelos ditadores portugueses para aniquilar por uma morte lenta mas infalível todos os que tinham a coragem de se manifestar contra o regime de opressão e tirania implantado no nosso país. E o regime passou indiferente pelos protestos generalizados contra a existência do Tarrafal. Recorde-se, a propósito, que a extinção do campo de concentração figurou entre as primeiras reclamações do Movimento de Unidade Democrática (MUD), criado em 1945. À semelhança do que se passou nos campos de concentração da Itália e da Alemanha, etc., onde milhares de criaturas pagaram com a vida o seu muito amor à Liberdade, também no campo do Tarrafal pereceram algumas boas dezenas de idealistas de todos os credos revolucionários, e os que escaparam à morte pode dizer-se que se encontram com a saúde completamente arruinada para sempre. Mas, cerca de um ano antes de Portugal ser admitido na Organização das Nações Unidas, assume uma das suas habituais manobras cosméticas, decretando o encerramento do campo – a censura à imprensa impedirá, no entanto, que o assunto seja discutido nas páginas dos jornais, salvo com as excepções laudatórias habituais. Assinale-se, finalmente, que no mesmo ano em que saiem os últimos presos portugueses do Tarrafal, o governo publica o Estatuto dos Indígenas Portugueses das Províncias da Guiné, Angola e Moçambique, na senda do que viria a constituir, escassos sete anos depois, a reabertura do campo de concentração, desta feita para nele aprisionar nacionalistas africanos. “ José Rodrigues Reboredo Portaria n.º 14 684, de 31 de Dezembro de 1953, da Direcção-Geral dos Serviços Prisionais que estabelece nova organização do sistema prisional. A mesma portaria anuncia a próxima finalização da construção da "Colónia Penal do Ultramar", no planalto do Bié, perto de Cuíto (Silva Porto), mandando encerrar, "por esta razão", o campo de concentração do Tarrafal - onde refere que "nenhum delinquente político está a cumprir pena", o que, sendo formalmente verdade, exclui o último preso (Francisco Miguel Duarte) que ali se encontrava deportado...a cumprir medidas de segurança. ” Últimos presos a abandonar o campo de concentração do Tarrafal: Bernardo Casaleiro Pratas, José Alexandre e José Ventura Paixão regressam no início de Dezembro de 1953 (estes três presos tinham dado entrada no campo de concentração em 29 de Outubro de 1936) - após o seu regresso, dão entrada, a 31 de Dezembro de 1953, na Cadeia do Forte de Peniche... Francisco Miguel regressa em 26 de Janeiro de 1954. Excerto de O Século de 10 de Janeiro de 1954. Dando publicidade à reforma das instalações prisionais anunciada pela Portaria n.º 14 684, o editorial louva o encerramento da Colónia Penal de Cabo Verde (Tarrafal). Outros jornais foram impedidos pela censura de se referir sequer ao facto. Excerto do jornal avante! de Março de 1951 anunciando a deportação de Francisco Miguel para o Tarrafal.
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