Um Olhar Sobre o Mundo – Parte I: O Portal para o Conhecimento

Transcrição

Um Olhar Sobre o Mundo – Parte I: O Portal para o Conhecimento
Um Olhar Sobre o Mundo
UM OLHAR SOBRE O MUNDO
O PORTAL PARA O CONHECIMENTO
2ª EDIÇÃO - REVISADA E AMPLIADA
Curitiba, fevereiro de 2012
MONIKA GRYCZYNSKA
REGISTRO DA 1ª EDIÇÃO
FUNDAÇÃO BIBLIOTECA NACIONAL
DIREITOS AUTORAIS
CERTIDÃO DE REGISTRO N° 554.359 –
LIVRO 1056 – FOLHA 310
RIO DE JANEIRO, 14 DE MARÇO DE 2012.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
SUMÁRIO
Cataratas do Iguaçu
03
República do Paraguai
24
Ilhas do Caribe
30
República do Chile
58
As surpresas das velhas metrópoles
93
A caminho do Extremo Oriente
116
República do Sri Lanka
118
República da Indonésia
125
República de Cingapura
167
Federação da Malásia
170
A Grande Península da Indochina
176
República da União de Mianmar
179
Reino da Tailândia
188
Reino de Camboja
196
República Democrática de Laos
206
República Socialista de Vietnã
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Um Olhar Sobre o Mundo
O PORTAL PARA O CONHECIMENTO
AS CATARATAS DO IGUAÇU
Era madrugada... O sol despontava e seus raios refletiam-se nas gotículas de orvalho depositadas nas folhagens da floresta próxima; pareciam faíscas de diamantes
dispersas pelos gênios brejeiros da mata. Ouvia-se ao longe
o ribombar das Cataratas do Iguaçu. A névoa fina levantava-se acima do despenhadeiro e cobria as águas turbulentas.
Uma revoada de andorinhas surgiu da floresta próxima e
em vôos rasantes sobre as águas tomava seu banho matinal.
O rio Iguaçu é um dos mais importantes afluentes do
rio Paraná. O nome Iguaçu significa “água grande”em língua da nação guarani. Na atual região das Três Fronteiras –
Brasil, Argentina e Paraguai – a natureza é o mais exuberante espetáculo. A beleza da paisagem está no imenso volume de água do rio Paraná que corre entre os paredões
talhados a pique e das matas que o cercam. É uma paisagem
digna de um quadro de artista-pintor.
Antes de engrossar as águas do rio Paraná, o Iguaçu
forma as “Cataratas do Iguaçu”. Após uma ampla curva e
das corredeiras, o rio Iguaçu lança as águas num desfiladeiro apelidado de “Garganta do Diabo”.o mais majestoso e
impressionante de todos eles. Este é dividido pela linha de
fronteira entre o Brasil e Argentina. Os seus 275 saltos se
precipitam de uma altura média de 80 metros, num indomável turbilhão de água que rola dos despenhadeiros ao
largo de 2,7 km do Rio Iguaçu.
Uma garoa fina envolve o panorama, forma-se o arco-íris quando a luz do sol incide sobre a densa névoa. É
um espetáculo maravilhoso da natureza. O melhor ponto de
observação das Cataratas está no lado brasileiro; pode-se
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aproximar do desfiladeiro passando sobre uma passarela
acima das águas. As Cataratas ficam a 27 quilômetros da
cidade de Foz do Iguaçu, com acesso por estrada asfaltada
e ônibus de linha. É o maior referencial turístico da cidade,
e por merecimento as “Cataratas do Iguaçu”, foram classificadas como umas das sete maravilhas da natureza, entre
tantas outras que concorreram ao título (ano 2011).
As Cataratas foram descobertas e registradas por
Don Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, no ano 1542, que denominou as majestosas quedas d´água “Salto de Santa Maria”.Don Álvar liderou uma expedição com 250 homens, no
caminho entre o litoral de Santa Catarina, onde desembarcou com seus homens do navio vindo da Espanha. Os espanhóis estavam sob o comando de um fidalgo de envergadura quase lendária. Enveredando pelos sertões do Paraná
através do ramal da Estrada do Peabirú, Don Álvar dirigiase à Assunción no Paraguai, onde devia tomar posse como
adelantado (governador) da província do Rio da Prata.
Com privilegiada situação geográfica, o município e
a cidade de Foz do Iguaçu têm em suas belezas naturais o
maior atrativo. A cidade está situada na região da tríplice
fronteira, junto à divisa do Brasil com a Argentina e Paraguai. Foz do Iguaçu é uma cidade pioneira, conta com acentuada diversidade étnica, resultado de um passado de disputas territoriais entre argentinos e paraguaios, que ocupavam
a região e do afluxo de um grande número de estrangeiros e
brasileiros de outras regiões do país.
Foi preciso o Brasil entrar em guerra com o Paraguai em 1865, para se lembrar daquelas terras de ninguém,
que estavam abandonadas a mercê da exploração estrangeira. A região estava nas mãos de paraguaios e argentinos que
atravessavam o rio Paraná como si não houvesse diferença
entre os dois lados do rio Paraná e improvisavam nas barrancas brasileiras portos para o embarque de erva-mate e
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madeira nativa. Em 1889, o governo imperial mandou estabelecer uma colônia militar em Foz do Iguaçu, para assegurar a soberania brasileira sobre aquela região.
No entanto, só por volta de 1974, a cidade de Foz
do Iguaçu entrou em efervescência com a notícia da construção de uma grande usina hidrelétrica no rio Paraná. Logo
foi observado um movimento invulgar na cidade.Via-se a
afluência de gente estranha por todas as ruas. A razão desse alvoroço era a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu. Haveria muito trabalho e emprego para milhares de pessoas. Esses migrantes vinham de todos os recantos do país e
do exterior, embalados pelo sonho de vida melhor.
Foi a partir do inicio das obras da Usina de Itaipu,
que a economia da cidade cresceu. Em cerca de uma década
a população quintuplicou. Instalou-se um comércio próspero e atualmente conta com o terceiro maior parque hoteleiro
do país. Cresceu o turismo de compras, devido a área de
livre comércio na vizinha Ciudad del Este, no lado paraguaio, com acesso pela Ponte Internacional da Amizade,
inaugurada em 1965, que possui a extensão de 552 metros e
vão livre de 303 metros.
A Usina de Itaipu, o segundo maior complexo hidrelétrico do mundo, atrás apenas de hidrelétrica das “Três
Gargantas” da China, é um espetáculo de rara beleza que
atrai turistas do mundo todo. O trecho do rio Paraná escolhido para a construção da barragem faz fronteira com o
Brasil e o Paraguai. Os presidentes do Brasil, Ernesto Geisel e Alfredo Stroessner do Paraguai, assinaram a ata da
constituição da Companhia Hidrelétrica de Itaipu em 17 de
maio de 1974. Cinco meses depois è assinado o acordo para
a construção da Usina Hidrelétrica Binacional de Itaipu.
Os fantásticos Saltos das Sete Quedas no rio Paraná,
em Guaira, que contavam com 19 saltos e desnível total de
115 metros, foram inundados pelo lago da Usina. Quando
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foram fechadas as comportas de Itaipu, os Saltos desapareceram em 15 dias, restam apenas lembranças e imagens
históricas. Os majestosos Saltos das Sete Quedas e suas
águas revoltas ficavam a 190 quilômetros de distância da
grande Usina que começou a ser construída a partir de 17
de outubro de 1974.
A construção da hidrelétrica paraguaio-brasileira de
Itaipu no rio Paraná, representou uma verdadeira revolução
na economia do Paraguai que, entre 1977 e 1980 cresceu ao
ritmo de 11,4% ao ano. A Usina foi inaugurada em 5 de
novembro de 1982, pelos presidentes do Brasil João Figueiredo e do Paraguai Alfredo Stroessner. A desaceleração das obras de Itaipu a partir de 1982, deixou desempregados os 15 mil operários paraguaios e brasileiros que trabalhavam na usina.A recessão na Argentina levou ao adiamento das obras das hidrelétricas paraguaio-argentinas de
Corpus e Yaciretá, também no Rio Paraná, as represas vão
alagar parte das terras em território argentino e paraguaio.
O interesse despertado pelo crescimento da cidade
de Foz do Iguaçu, que oferecia ótimas oportunidades de
trabalho, comércio e empreendimentos diversos, houve uma
grande afluência de migrantes, famílias procedentes de outros estados brasileiros, principalmente do sul do país.
***
Osvaldo Meneguini e Amália eram pequenos proprietários em Cruz Alta no norte do Rio Grande do Sul.
Tinham três filhas, Luisa, Mariana e Eliana. As meninas
criaram-se ajudando a mãe nos afazeres domésticos. As três
estudaram na escola em Cruz Alta, município onde a família morava e cultivava uma pequena gleba de terra. As jovens irmãs freqüentavam com os pais as missas de domingo
na igreja da cidade e algumas festas da comunidade, lugar
onde conheceram os seus futuros maridos.
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Casaram cedo. No início de 1980 a filha mais velha
Luisa casou com Aloísio Weissler, logo Mariana desposou
Giovani Pazinatto e em seguida Eliana contraiu núpcias
com Conrado Ritter.Os três moços eram filhos de famílias
de proprietários rurais, gaúchos de Santo Ângelo.Os jovens
casais estavam com cabeças cheias de planos para o futuro,
projetos cuja possibilidade discutiam entre si.
Influenciados pela onda migratória na direção do
sudoeste do Paraná, os cunhados: Conrado, Aloísio e Giovani, pequenos agricultores, sem grandes oportunidades na
terra natal, resolveram mudar-se para aquela região no começo de 1981. Aloísio comprou um terreno na cidade de
Foz do Iguaçu onde construiu um pensionato para estudantes que, Luisa sua esposa administrava com competência.
Conrado Ritter e Eliana sua jovem esposa, passaram
a residir no Paraguai, no departamento de Alto Paraná.
Conrado adquiriu 500 hectares de terra, com prestações em
longo prazo, por um preço acessível, com incentivo da Secretaria da Agricultura do governo paraguaio, onde passou
a cultivar soja e milho. Toda a produção era transportada
por caminhões e exportada via porto de Paranaguá.
Na fazenda construiu uma bela casa e ali criou seus
cinco filhos. O primogênito Álvaro recebeu o nome em
homenagem à Álvar Nuñez Cabeza de Vaca, o aventureiro
espanhol que descobriu as Cataratas do Iguaçu. Talvez influenciado pela história quixotesca do homônimo, Álvaro
tinha a natureza inquieta, arrojada e apaixonada pela aventura, sempre se envolvia em brigas e confusão.
Giovani Pazinatto e Mariana mudou-se para a região
de Marechal Cândido Rondon, no Paraná, onde adquiriu
400 hectares de terra fértil para o cultivo de soja, milho,
trigo e fumo.Deixou 100 hectares de floresta nativa como
reserva natural.Também criava gado e suínos. Construiu
uma sólida propriedade, com residência ampla e confortáMonika Gryczynska
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vel. Havia muito espaço para criar seus quatro filhos, o menino primogênito que batizara de Rodrigo e três meninas às
quais dera os nomes de: Graziela, Franciéle e Denise.
Todas as esperanças o pai depositara no filho homem. Queria que fosse valente e corajoso como os gaúchos
tendem a ser, mas Rodrigo era tímido e sonhador. Desde os
anos de infância seu sonho mais querido era o de viajar. Era
interessado pela natureza, ficava horas, reclinado, com um
ar vago, numa atitude reflexiva, acompanhando o comportamento das formigas, que em fila, carregavam folhas, mais
pesadas que elas para o ninho no subterrâneo; observava
atentamente o crescimento das plantas,o vôo e o canto dos
pássaros. Ficava encantado com os enxames de borboletas
monarca em sua sazonal migração,quando milhões delas
pousavam nas árvores cobrindo os galhos, para descansar
da longa jornada que realizaram procedentes de países de
clima frio. As fronteiras guardavam para ele algo de misterioso. Tudo para ele era um enigma digno de ser estudado.
Aos seis anos Rodrigo entrou para a escola local. A
escola era um antigo e vasto casarão com salas de teto e
paredes desbotados e um grande porão sombrio. Das janelas
da escola, avistava-se o córrego Dois Irmãos, ondulante e
silencioso, com suas margens povoadas de goiabeiras silvestres. Durante o recreio, no calor do verão, os meninos
fugiam da classe para enfiar os pés na água fria do rio que
deslizava em cascatas sobre as pedras escuras. Disputavam
entre si para apanhar as frutas maduras das goiabeiras.
Mas só a escola já era um terreno de imensas perspectivas para o infante Rodrigo. Tudo possuía a possibilidade de mistério. O laboratório de Física, onde não deixavam entrar os pequenos, era cheio de instrumentos deslumbrantes, de copos, medidas, cubos e esquadros. A biblioteca estava sempre fechada para os menores, pois não havia
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livros específicos para eles. Os filhos dos colonos não gostavam de ler, preferiam as brincadeiras grosseiras.
Sem dúvida, o lugar de maior fascínio era o misterioso porão da escola. Havia ali um completo silêncio e
obscuridade. Dava para sentir na memória o odor da umidade do esconderijo, da sensação de sepultura que emanava
do subterrâneo. Os meninos iluminavam o ambiente com
velas e brincavam de guerra. Guerreavam no grande porão
fechado, jogando uns contra os outros pelotas feitas de argila grudenta, mas como doía um desses pelotaços.Antes de
entrar na sala da escola tiravam dos bolsos essas temíveis
armas.Os vencedores amarravam os prisioneiros nas velhas
colunas. O pequeno Rodrigo tinha pouca destreza, nenhuma
força e muito pouca astúcia. Sempre levava a pior parte.
Quando estava no segundo ano do primário, ocorreu-lhe a idéia maluca, de levar o chapéu de plástico verde
que pertencia ao seu pai, assim como sua capa de nylon, o
farolete que emitia luz verde e vermelha, coisas que para
ele tinham grande fascínio. Levar essas coisas para a escola
e pavonear-se com elas era o seu sonho. Desta vez chovia
torrencialmente e nada mais oportuno do que levar o chapéu de plástico verde, que parecia um papagaio.
Apenas entrou no pátio da escola onde corriam como doidos trezentos garotos, o vento fez voar o chapéu como um pássaro. Rodrigo e alguns meninos o perseguiram,
mas quando estavam para pegá-lo voava de novo, entre
assobios e uivos ensurdecedores dos alunos, gritos que ouvira jamais. O chapéu verde sumiu. Nunca mais voltou a
vê-lo, apesar de procurar com insistência pelos arredores.
Estas recordações vieram-lhe com o tempo. Lembrava-se dos deliciosos sonhos, bolinhos fritos passados em
açúcar e canela, que sua avó fazia e distribuía às crianças
que brincavam com ele na rua, ao entardecer.Também
lembrava dos fatos pequenos que tiveram importância para
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ele, como a primeira aventura erótica. Em frente da sua
casa moravam duas garotas que continuamente lançavamlhe olhares que o extasiavam. Tudo que ele tinha de tímido
e reservado, elas tinham precocemente demais, a audácia e
a sem-vergonhice, se insinuavam com gestos e palavrões.
Certa vez, Rodrigo estava parado na porta da casa e
disfarçando tratava de observá-las. Uma delas segurava nas
mãos alguma coisa que o interessou. Ele aproximou-se com
cautela e elas lhe mostraram um ninho de passarinho silvestre, tecido de musgo e plumas, que continha dois pequenininhos e maravilhosos ovinhos azuis. Quando ele quis pegá-lo, uma delas disse que primeiro ele devia deixá-las mexerem nas suas roupas.
Ele tremeu de medo e fugiu rapidamente, perseguido pelas jovens ninfas que seguravam alto o troféu precioso. Na perseguição o menino entrou por uma ruela que saia
num paiol vazio, um antigo celeiro que pertencia ao seu pai.
As assaltantes conseguiram alcançá-lo e começaram a tirar
as suas calças, quando no corredor se ouviram os passos do
seu pai. Assustadas elas deixaram cair o ninho e os maravilhosos ovinhos azuis se espatifaram no chão do seleiro. As
assaltantes e a vítima escondidas debaixo de caixas vazias
continham a respiração. As garotas fugiram sem serem vistas, enquanto o pequeno Rodrigo foi descoberto pelo pai,
assustado e chorando desesperadamente.
Havia num dos quartos da casa um baú com guardados misteriosos. No fundo, entre outras coisas, repousava
um maravilhoso papagaio de papel de seda vermelha, ainda
com a linha, pronto para ser empinado. Um dia quando a
mãe remexia aquela arca sagrada Rodrigo debruçou-se e
caiu dentro, de cabeça, quando tentava alcançar o papagaio.
Não conseguiu apanhá-lo, ainda levou uma reprimenda e
alguns puxões de orelha da mãe.
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Quando foi crescendo ele abria a arca secretamente.
Havia ali uma coleção de leques preciosos e intocáveis,
sugerindo amores ocultos, de tempos remotos. Essa história
de amor o fascinou e ele teve a curiosidade em desvendá-la.
Entre tantas outras coisas misteriosas, estava um pacote
amarrado com fita rosa, que continha centenas de cartões
postais, todos endereçados para Amanda Franciscatto por
alguém que só os rubricava.
Esses cartões eram maravilhosos. Eram retratos de
artistas famosas daquela época, com trajes suntuosos, cobertas de jóias, colares de brilhantes e penteados elaborados. Também tinha vistas de castelos, cidades e paisagens
de países longínquos. Durante muito tempo, Rodrigo se
satisfazia só em admirar as figuras e paisagens.
Mas na medida em que foi crescendo foi lendo aquelas mensagens de amor escritas numa caprichada caligrafia. Aquelas linhas eram portadoras de uma arrebatadora paixão. Eram enviadas de todos os lugares do mundo por
este viajante desconhecido. Estavam cheias de frases deslumbrantes, de paixão e audácia enamorada. O garoto começou, também, a enamorar-se do personagem de Amanda
Franciscatto. Ele a imaginava como uma atriz bela e orgulhosa, coberta com jóias esplendorosas. Mas como estes
cartões postais tinham chegado ao baú da sua mãe?Por mais
que pensasse nunca conseguiu desvendar esse mistério.
Passavam os anos, e com a idade Rodrigo começou
a se interessar pelos livros. Lia tudo. Desde aventuras de
Dom Quixote de lá Mancha, às viagens fantásticas de Julio
Verne, sugerindo fatos científicos e obras geográficas, de
uma engenhosa inventiva, interessante e ao mesmo tempo
instrutiva e profética. Romances de Jorge Amado e de Érico
Veríssimo. As leituras levavam seu espírito às regiões dos
sonhos. Empolgado ele vivia os personagens dos livros. O
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hábito de ler despertou nele o desejo de viajar e a curiosidade em conhecer outros países.
Surgira o primeiro amor. Ingênuo, secreto, que se
desenrolou em cartas enviadas à Vanessa. Essa jovem era
filha do padeiro, e um estudante de fora, perdido de amor
por ela, pediu a Rodrigo para que escrevesse as suas cartas
de amor. Certa vez ao encontrar-se com a colegial, ela perguntou-lhe se era ele o namorado dela e autor das cartas
que lhe enviava. Rodrigo ficou constrangido, mas lhe disse
a verdade. Então ela lhe deu uma caixa de bombons de chocolate, que ele não comeu, guardou-a como um tesouro. O
jovem estrangeiro apaixonado,das cartas,foi ignorado e
esquecido no coração de Vanes
***
Quando Rodrigo era um adolescente de 14 anos,
tendo terminado o curso fundamental na escola de Marechal Cândido Rondon, o pai resolveu mandá-lo estudar em
Foz do Iguaçu. Seus tios Aloísio e Luisa, sua esposa, possuíam um pensionato para estudantes na cidade. Rodrigo e
seu primo Álvaro, que morava no Paraguai, iriam hospedarse na pensão da tia Luisa e estudar no Colégio Marista. Matriculados antecipadamente no Colégio, eles chegaram com
os pais na época do inicio das aulas. Foram acolhidos carinhosamente pela tia Luisa e seu marido, e alojados confortavelmente os dois no mesmo quarto.
No outro dia de manhã, após uma noite bem dormida, descansados, foram conhecer os arredores do pensionato, onde iriam passar os seus próximos quatro anos. Nos
seus cérebros de adolescentes, principalmente de Álvaro,
que tinha espírito aventureiro, intuiu uma vida cheia de
emoções. Não muito longe das cercanias da cidade, Rodrigo divisou a grande floresta tropical. Imaginou as maravilhas que poderia descobrir no seu interior. Com certeza na
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primeira oportunidade iria explorar essa natureza fantástica.
Também chamou a sua atenção o ribombar das águas nas
Cataratas do Iguaçu que se ouvia ao longe. Estava encantado com o lugar e a estupenda ocasião de conhecer tudo.
Na região do Extremo Oeste Paranaense encontra-se
uma das mais importantes florestas subtropicais do mundo,
preservadas no Parque Nacional do Iguaçu, criado em 1939,
pelo presidente Getúlio Vargas. É uma considerável área
de conservação ambiental, destinada à preservação e proteção da fauna e da flora e das pitorescas paisagens. O Parque
protege toda a bacia do Rio Floriano, um dos afluentes do
Rio Iguaçu, cujas nascentes ficam no seu interior. O Parque
Nacional tem uma área de 185.262,20 hectares de floresta
atlântica, que se estende margeando a estrada BR 277.
No lado brasileiro confina com 14 municípios: - de
Foz do Iguaçu, Medianeira, Matelândia, Céu Azul, São
Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, Santa Tereza
do Oeste, Capitão Leônidas Marques, Capanema e Serranópolis do Iguaçu. Vai além, atravessa o Rio Iguaçu e avança
pelo território argentino somando-se ao Parque Nacional
Iguazú em Misiones, na Argentina. A área total de ambos
os parques nacionais, brasileiro e argentino, compõe uma
área total de cerca de 250 mil hectares de floresta subtropical e fauna protegida.
Na parte leste do Parque Nacional crescem espécies
da Floresta com Araucária, como o angico-branco, aroeira,
bracatinga, canela, cedro, louro-pardo, mandiocão, pessegueiro-bravo, erva-mate e remanescentes do pinheiro-doParaná (Araucária angustifólia).
Já a Floresta do Rio Paraná é a que apresenta a maior biodiversidade por hectare com espécies como angicobranco, aroeira, canafistula, canela-guaicá, cedro, louro,
marfim, pessegueiro-bravo, ipê roxo, timbaúva, palmitojuçara, palmeiras, timbó, esporão-de-galo, agulheiro, ervaMonika Gryczynska
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mate (Ilex paraguariensis), e remanescentes de imbuia e
peroba-vermelha. Além de arbustos de frutas nativas como
pitanga, araticum, guabiroba, araçá, jaracatiá e tarumã. Dispersos pelas margens dos rios encontram-se agrupamentos
densos de taquara e pacova e as mais diversas espécies de
cipós e arbustos, num emaranhado de galhos e folhagens.
O Parque Nacional do Iguaçu tombado pela Unesco
em 1984 como Patrimônio da Humanidade, abriga as Cataratas do Iguaçu. Sob orientação de guias especilizados e dos
fiscais do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, turistas do mundo todo visitam as cachoeiras e
divertem-se percorrendo o Parque. A aventura pode começar com caminhada pelas trilhas da floresta ou pilotando um
barco a motor enfrentando a corrida contra a correnteza em
direção as Cataratas.
Álvaro e Rodrigo, os dois primos amigos inseparáveis, jovens estudantes cheios de entusiasmo, resolveram
um dia gazear a aula do colégio, em Foz do Iguaçu, onde
estudavam, para conhecer as cachoeiras e a mata do Parque
Nacional. Viver essa fascinante aventura seria para eles
adrenalina pura. Acordaram de madrugada e silenciosamente, entraram na despensa da casa para preparar o lanche e
providenciar outros apetrechos para a proeza programada.
Em seguida, cuidadosamente, escapuliram do pensionato da
tia Luisa, sem serem vistos.
Rodrigo levava às costas a mochila que continha o
lanche, açúcar, uma chaleirinha de alumínio, um farolete de
pilha, uma lamparina a gás, um canivete grande e afiado,
chave de fenda, fósforos, o aparelho celular e GPS e a caixinha de medicamentos. Álvaro carregava uma pequena
barraca de lona, caso precisassem pernoitar na mata.
Sem avisar ninguém, correndo, foram direto ao
ponto de ônibus, que os levaria e a outros turistas brasileiros e estrangeiros, madrugadores, rumo às Cataratas. Após
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um percurso de 27 quilômetros, o ônibus estacionou no
ponto final do trajeto. Os passageiros desceram do coletivo,
e em grupos ficaram comentando, deslumbrados com o
fantástico panorama que contemplavam.
- Vamos deixar a mochila e a barraca guardadas no
escritório da empresa de transporte. Em seguida iremos
conhecer a cachoeira - disse Álvaro, já livre da carga saiu
correndo dando cambalhotas, rindo, eufórico.
- Espere por mim, primo fominha – chamou Rodrigo, que sempre estava atrasado.
Entre ribombar das quedas d`água e o nevoeiro que
se levantava dos abismos, os dois caminharam pela passarela que os levava próximo aos precipícios da “Garganta do
Diabo”.Curiosos chegaram perto, até o final da ponte, local
onde podiam apreciar as numerosas quedas d`água.
- È um espetáculo maravilhoso, mas muito perigoso
– gritou Rodrigo, por entre o eco das águas trovejantes.
- Vamos embora, já vimos às famosas Cataratas, ou
vai querer mergulhar nessas águas turbulentas? Nem tente,
pois é morte certa - comentou Álvaro.
Assombrados com a cena deslumbrante, grandiosa e
amedrontadora, com o cabelo e a roupa molhada pelo chuvisco das cachoeiras, voltaram correndo pela passarela. Os
rapazes estavam exaltados e ofegantes. Sentaram à beira do
caminho para descansar, depois buscaram os pertences que
tinham deixado no escritório da firma. Já mais tranqüilos os
dois amigos comeram os sanduíches que trouxeram para o
desjejum. Terminada a refeição, Rodrigo sugeriu:
- Vamos procurar um barco e subir o rio Iguaçu, até
a primeira trilha que aparecer na beira do rio em direção à
floresta do Parque Nacional. Vamos explorá-lo.
- Finalmente realizaremos o nosso sonho, com certeza será uma experiência fantástica – disse Álvaro.
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Naquela hora matutina os bosques nativos do Parque
estavam silenciosos, não havia aragem e sussurro nenhum,
a mata ainda estava dormindo. Dominados pela emoção da
aventura, sem pensar nos perigos que tal proeza apresentava, os dois jovens se puseram a caminho do rio.
Encontraram um barco solitário amarrado a um toco de árvore. Soltaram as cordas e o empurraram em direção ao rio; embarcaram e ligaram o motor, o barco começou a subir a correnteza. De repente a embarcação começou a rodopiar e deslizar rumo às cachoeiras. Estavam em
grande perigo, podiam ser arrastados e engolidos pelos despenhadeiros.
- Pegue outro remo e ajude direcionar o barco para a
margem, senão iremos parar no precipício – gritou Álvaro
desesperado, remando vigorosamente.
Foi com dificuldade que, conjugando os esforços
conseguiram levar o barco para junto da margem onde ficou amarrado. Superada a situação crítica, já tranqüilos, os
jovens pularam para a terra firme e seguiram pela trilha que
levava à densa, emaranhada e silenciosa mata nativa. Dos
rumores da campina tinham ficado apenas o fresco ramalhar das árvores e o rouco perene das corredeiras que rolavam as águas turbulentas por entre os penhascos íngremes.
No caminho da floresta afundam os pés em folhagens mortas, estalam os ramos secos, os gigantescos cipós
alçam sua enrolada estatura. O silêncio da mata é amedrontador. A natureza ali produzia uma espécie de embriaguez.
Assustado, um bando de gralhas azuis de peito branco levanta vôo na floresta úmida. As gralhas cruzam, revoam e
pousam nos verdes galhos de uma frondosa caneleira, esses
belos pássaros tornaram-se o símbolo do Paraná. E logo
dum ninho soam o pipilar dos filhotes e o grasnido do macho chamando a companheira.
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O que os atraía mais eram os pássaros, a variedade e
a beleza da sua plumagem. Também era assombroso encontrarem arrastando-se pelos troncos podres e galhos os
grandes besouros negros, fortes, vaidosos, escuros e reluzentes como uma lâmina polida. São os gigantes dos insetos. Era de assustar ao vê-los de perto, nos troncos de árvores e nos galhos de pitangueiras. A carapaça deles é muito
forte, pode-se pisar neles com os pés que não se parte, com
sua grande dureza defensiva não precisavam de veneno.
Entra pelas narinas o aroma acre, selvagem, do louro e da canela. As touceiras de bromélias hirsutas e os emaranhados de cipós espinescentes interceptam o passo. É um
mundo vertical, um viveiro de pássaros, uma multidão de
insetos. Empoleirado numa árvore o sabiá entoa seu canto
mavioso; o tucano preto de peito vermelho, voa de um galho para outro exibindo seu enorme bico amarelo.O besouro
marrom com reflexos dourados sai do meio da grama e
lhes lança seu odor fétido de estrume. Assustada com a presença humana uma lagartixa foge pelos galhos da figueira.
Sem perceber Rodrigo esbarra numa touceira, ali em
cima de uma folha pousava uma lagarta-de-fogo, taturana
urticante de pelos amarelo-vermelhos eriçados, que queima
como fogo, ele retira rapidamente o braço sentindo a dor da
queimadura. Logo se formou um vergão vermelho na pele.
Rodrigo lembrou-se que o remédio para aliviar a dor da
lesão é amônia, que a urina contém. Vira-se para o lado e
colhe o liquido num copinho plástico. Derrama em cima da
queimadura e a dor logo passa. Agora atentos passam longe
da moita de urtigas cujas folhas também queimam muito.
Álvaro tropeça em uma pedra e, escavando na cavidade descoberta surge uma imensa aranha de pelos dourados, grande como um caranguejo, imóvel, os encara com
olhos fixos, depois desaparece no capinzal. Acolá os macacos pulam de galho em galho guinchando ruidosamente.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
Ouve-se ao longe o urro da onça pintada, que solitária ronda pela mata. Há vinte anos atrás havia mais de cem
onças vivendo no parque, hoje existem apenas dez animais,
os homens exterminaram a espécie. Passa correndo, grunhindo uma vara de porcos selvagens (javalis), o cachaço
na frente e as fêmeas com os leitãozinhos corriam atrás.
Para proteger-se do ataque perigoso e mortal, Álvaro e Rodrigo subiram em um tronco alto de árvore, até ver os porcos longe dali.
Na passagem os jovens cruzam um bosque de samambaias muito mais alto que um homem, ao tocá-las de
leve, elas deixam cair nos rostos, lágrimas de seus olhos
verdes frios, e assim que eles passam, elas se inclinam e
balançam por muito tempo roçando seus leques no chão da
floresta. No alto das árvores, como gotas das artérias da
selva mágica se inclinam os cálices rubros das orquídeas.
Flores e mais flores semeadas pela margem do caminho.Marias-sem-vergonha multicoloridas, begônias vermelhas e amarelas e lírios-brancos do brejo enfeitam a trilha.Violetas singelas, timidamente expõem suas pétalas debaixo da grama. No meio da trilha jazia um tronco podre,
coberto de cogumelos pretos, brancos e amarelos, parecendo orelhas atentas ouvindo os ecos secretos da floresta.
Orquídeas de várias espécies e plantas parasitas tingem de cores o casco caído. Outras plantas exploradoras
introduzem suas raízes e soltam os brotos no tronco apodrecido.A barba-de-velho, bromeliácea herbácea, epífita, de
folhas miúdas e flores violáceas empresta suas barbas cinzentas ao tronco de árvore, deteriorado, de vísceras expostas, deitado como um cadáver no chão da floresta.
Veloz, uma cobra cascavel sai das entranhas podres
do tronco, como uma emanação, como si do tronco morto
nascesse sua alma. Agita a cauda produzindo o som de guizos, está raivosa, ameaçando, pois invadiram seu habitat.
Monika Gryczynska
18
Um Olhar Sobre o Mundo
Depois atenta e desaparece rápido no meio do matagal. Ao
longe se ouve o mugido do rebanho de antas pastando perto do rio. O eco da floresta repete os latidos da matilha de
cães selvagens na perseguição do veado-campeiro.
Cada árvore que se levanta sobre o tapete da selva
secular e secreta e cada galho de suas folhagens, linear,
encrespado, ramoso, enrolado, cada um com seu estilo diferente, como si fosse recortado por uma tesoura divina, de
movimentos infinitos. O universo vegetal sussurra apenas
até a tempestade pôr em ação toda a música terrestre. Pois o
silêncio é a lei destas paragens.
A trilha coberta de capim e a falta de orientação dificultam a caminhada dos jovens estudantes. Encontram um
barranco; em baixo, na grota, a água transparente de um
córrego desliza em cascatas sobre o leito pedregoso. Dançando entre a água e a luz voa um enxame de borboletas
azuis, de cor pura como o céu. Sutil a raposa cessa de beber
água e observa os viandantes, depois segue seu caminho.
Um roedor atravessa a trilha fugindo do lagarto. Ouve-se o
estalar das folhas secas, o lagarto corre rápido batendo a
cauda, leva uma codorna na boca, presa que acabara de caçar, desta vez o camundongo foi poupado.
Os jovens aventureiros são saudados pelas infinitas
margaridinhas da margem do caminho, que inclinam as
cabecinhas amarelas à sua passagem. Como pesquisadores
atentos e compenetrados, estavam extasiados, observavam a
vida que acontecia à sua volta. Distraídos na contemplação
da natureza não viram que estava entardecendo, o sol infiltrava seus últimos raios por entre a folhagem da floresta e
as sombras envolviam a mata. Era preciso procurar um lugar seguro para pernoitar. Ao saírem de casa, não lhes ocorreu a idéia de que podiam se perder na floresta e seria necessário pernoitar, com segurança, pois havia muitos animais ferozes na mata.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Primo! Está escurecendo! Vamos logo armar a barraca, pode ser perto daquele riacho que atravessamos há
pouco, ali existe uma clareira – sugeriu Rodrigo.
- Espero que seja um lugar seguro – disse Álvaro.
- Então mãos à obra, primo - convidou Rodrigo.
Voltaram até a clareira próxima do córrego, Rodrigo
colocou a mochila em cima de um toco caído, e foi ajudar
o Álvaro a desprender a barraca dos ombros.Com a colaboração dos dois em pouco tempo ficou montado o abrigo.
Agora precisavam arrumar gravetos, acender o fogo para
ferver a água para o café. Essa empreitada não foi difícil,
pois havia muita lenha e folhas secas no chão. Precisavam
agir com cuidado, pois qualquer faísca poderia ocasionar
um incêndio na floresta.
A lenha crepitava em chamas alegres, Rodrigo pôs
água na chaleira e colocou-a no fogo, em cima de duas pedras Não demorou muito e o café estava pronto, e só foi
saboreá-lo acompanhado dos sanduíches que por sorte trouxeram na mochila. Depois tomaram banho no riacho, lavaram as meias, camisetas e as cuecas no córrego, dependuraram nos galhos para secar, perto da barraca. Estavam tão
atarefados que não viram um bando de macacos, que curiosos, os espreitava de cima das árvores.
Antes de deitar utilizaram os maravilhosos inventos
da tecnologia moderna: um GPS e o celular. Infelizmente o
celular não funcionou, estava longe da torre, mas pelo GPS
puderam se orientar, o aparelho informou onde se encontravam, indicou todas as coordenadas. Amanhã podiam seguir
a diretriz, sairiam na BR 277, próximo à Matelândia.Foram
dormir tranqüilos, deixaram o fogo aceso alimentado com
tocos de árvore, servia para espantar os animais selvagens.
Ao clarear do dia, os dois jovens ouviram guinchos
estridentes e correrias perto do abrigo. Amedrontados e
curiosos, foram espiar pela fresta da lona. Oh! Assombro.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
Era um bando de macacos que se divertia com as roupas
que estavam dependuradas nos galhos. Puxavam entre si
disputando a roupa. Brincavam com as meias passando de
um para outro; um macaco enfiou a camiseta na cabeça e
gritava desesperado por não conseguir tirá-la, outro vestiu
a cueca com as duas pernas juntas, cambaleou, caiu, tentou
caminhar e não o conseguindo começou a gritar e rasgá-la.
- Vamos espantar os macacos e resgatar o que sobrou da nossa roupa – gritou Álvaro.
- Precisamos pegar galhos fortes para expulsá-los,
porque são capazes de nos enfrentar – sugeriu Rodrigo.
Procuraram as varas fortes e com elas bateram nos
símios procurando recuperar as roupas que ainda sobraram.
Foi um embate tumultuado. Finalmente os animais se retiraram, guinchando e brigando fugiram para as árvores. Deixaram as peças de roupa em frangalhos. Os jovens precisaram se contentar com o que restou.
- Agora está na hora de levantar o acampamento,
ajude-me Álvaro a juntar os pertences - chamou Rodrigo.
- Sobrou ainda alguma coisa na mochila para comermos antes de partir? – perguntou Álvaro, que sempre
estava com fome.
- Só tem um sanduíche, então vamos reparti-lo. Comeremos frutos maduros de araticum para completar.
Após essa parca refeição, partiram pela trilha na direção indicada pelo GPS. Cansados e com fome, após 4
horas de caminhada saíram na rodovia BR 277, próximo á
Matelândia.
- Vamos sentar na sombra daquele frondoso umbuzeiro para descansar e esperar o ônibus de linha que vai
levar-nos de volta para Foz do Iguaçu – sugeriu Rodrigo.
- Você já imaginou que bronca vamos levar da tia
Luisa por sumirmos por dois dias sem avisar? – lembrou
Álvaro preocupado.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Isto se o tio Aloísio não comunicou nosso sumiço
a nossos pais - comentou Rodrigo.
- Agora é tarde, e só esperar para ver o que vem pela frente, coragem meu primo – comentou Álvaro.
O ônibus estava chegando, Rodrigo acenou com a
mão. O ônibus parou e os dois jovens embarcaram. Chegaram a Foz ao entardecer. Tia Luisa recebeu-os preocupada.
- Por onde andaram meus garotos irresponsáveis?recriminou a tia Luisa.
- Tia não se preocupe, estamos de volta sãos e salvos, mas com muita fome. Depois explicaremos tudo - contemporizou Rodrigo.
Depois de bem alimentados e descansados relataram
com entusiasmo, sem deixar de fantasiar um pouco, toda a
aventura vivida nesses dois dias de andanças pelo Parque
Nacional do Iguaçu. Nem pensavam nas conseqüências do
seu ato impensado. A proeza custou-lhes a reprimenda dos
mestres e 3 dias de suspensão no colégio onde estudavam.
Mas pelos colegas eram vistos como heróis. Não se cansavam de comentar a façanha que viveram naquela floresta.
Mas passada a exaltação trataram de recuperar as aulas e o
tempo perdido. Pois ainda faltavam alguns meses para o
término das aulas e o começo das férias escolares, tão esperadas por todos os alunos.
***
Começava o ano de 2002. Álvaro ia completar 20
anos e Rodrigo estava com 19 anos. Tinham concluído o
curso médio no Colégio Marista, com distinção. Agora
ansiavam por boas e divertidas férias. Resolveram ir primeiro para a fazenda do pai de Rodrigo, em Marechal Cândido Rondon. A propriedade fica próxima ao Porto Mendes, na Represa de Itaipu. O lago possui belas praias, onde
aos domingos e feriados se aglomeram multidões de turistas
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
para o banho no lago, bronzeamento na areia, ou prática de
diversas modalidades de esporte.
Os jovens podiam usufruir as prolongadas férias para se divertir no lago, pescar, cavalgar pela fazenda ou simplesmente dormir em baixo das frondosas mangueiras.Certo
dia feriado foram até o lago. A praia estava lotada. Famílias
com crianças, meninos e meninas adolescentes que se divertiam jogando vôlei de praia, peteca ou bola.
No meio da turma estavam duas belas garotas da
mesma idade, e amigas inseparáveis Daniela e Ângela. A
primeira era loura de olhos azuis, o cabelo encaracolado
caindo em cachos pelo pescoço, esbelta, parecia um biscuit
(boneca de porcelana), Daniela era descendente de alemães.
Ângela era alta e esguia, de pele amorenada, olhos cor de
mel e cabelos castanhos longos esvoaçando ao vento, era
um belo tipo latino.
Os primos Álvaro e Rodrigo, jovens saudáveis,
cheios de vigor, com adrenalina a flor da pele, estavam parados na praia observando as duas jovens jogando vôlei,
quando a bola tocada por Ângela foi parar no meio deles.
Na posse da bola aproximaram-se, um pouco receosos.
- Oi! Sou Álvaro e esse é meu primo Rodrigo, podemos participar do jogo com vocês? – arriscou Álvaro.
- Sim! Será ótima oportunidade de fazermos novas
amizades. Eu sou Ângela, essa é minha amiga Daniela. Venham, faremos duplas e vamos ver quem ganha! Aviso que
nós somos boas nesse jogo - convidou Ângela.
Passaram a tarde jogando e se divertindo na prainha.
Combinaram um encontro para o dia seguinte. Daniela encontrou afinidades com Álvaro, já Rodrigo ficou mais afim
de Ângela. Foi uma atração mútua. Trocaram números de
celulares e e-mail. Naquela noite foram ouvir música num
barzinho. Os dois casais continuaram a se encontrar, de dia
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
na prainha, e à noite freqüentavam os barzinhos da cidade
ou iam ao cinema.A amizade entre eles foi se consolidando.
Passados alguns dias de folgança, uma tarde ao jantar, Giovani pai de Rodrigo, lembrou-se da promessa feita
a Conrado e a Eliana, pais de Álvaro, de que a família
toda iria passar alguns dias na fazenda do casal, no departamento de Alto Paraná, no Paraguai. Era uma belíssima
propriedade de 500 hectares, toda cultivada com soja e milho. Conrado possuía mais 1000 hectares de terra, uma pequena parte com floresta tropical, outra com extenso campo
cerrado no Gran Chaco, onde criava gado. Além de investir
no país, Conrado atuava no mercado imobiliário e optou
por morar em Ciudad del Este, num condomínio fechado.
- Meninos!O que me dizem de passar alguns dias na
fazenda do tio Conrado? Os pais de Álvaro devem estar
com saudades dele – lembrou Giovani.
- Será maravilhoso, vamos nos divertir muito - responderam ambos - Quando vamos?
- Iremos assim que eu me comunicar com Conrado,
portanto, dependerá da disponibilidade do seu tempo em
receber a nossa visita - informou Giovani.
Portanto, todos aguardavam ansiosos a confirmação
do dia da viagem para o Paraguai.
REPÚBLICA DO PARAGUAI
Paraguai possui um território de 406.752 km². com
uma população de 6.541.591 milhões (2011).A atual composição demográfica do Paraguai inclui 95 % de mestiços
de guaranis e espanhóis, tendo apenas 5% de índios guaranis puros. É um país bilíngüe, tendo como idiomas oficiais
o espanhol e o guarani. A cidade de Assunção é a capital
do país com uma população de 2.030.000 (aglomeração
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
urbana, em 2010).Outras cidades: Ciudad del Este, San Lorenzo,Luque,Concepcion,Encarnacion,Pedro J. Caballero.
É um país sem litoral, situado no centro-sul da
América do Sul, ocupa o centro da bacia do Rio da Prata. A
parte leste consiste em terrenos ondulados, com colinas
arborizadas, cobertas por florestas tropicais e savanas com
pastagens férteis. É a que apresenta a maior produção agrícola. Além do cultivo da soja e milho principais produtos
de exportação, plantam-se trigo, algodão e tabaco.
No oeste fica o Gran Chaco, uma grande área pantanosa, uma planície baixa (altitude máxima de 100 metros)
coberta por densas matas de arbustos, entremeada por formações herbáceas e grupos de palmeiras, mais para o oeste
predomina uma mirrada formação de acácias, mimosas e
palmeiras, interrompida por manchas de grosseira vegetação herbácea. Praticamente desabitada e que forma 2 /3 do
país. A região do Chaco é o santuário zoológico para inúmeras espécies de mamíferos, répteis, pássaros e insetos.
O território paraguaio é dividido em duas regiões
pelo rio Paraguai. O contraste entre uma e outra pode ser
percebido logo.A oriental suavemente ondulada acha-se
recoberta por bosques. A ocidental (ou chaquenha) de savana revela apenas uma vegetação esparsa e seu solo erodido,
semi-árido, oferece menos possibilidade de cultivo.
É ocupada por criadores de gado. A criação de gado
tem sido uma atividade básica desde os primórdios da colonização. De modo geral, a partir da margem ocidental do
rio Paraguai, o Gran Chaco é apenas uma planície chata,
absolutamente uniforme, sem qualquer desnível importante,
e torna-se mais seco à medida que avança para oeste, apresentando algumas áreas desérticas a noroeste.
Desde a época pré-colombiana Paraguai era habitado por tribos de índios guaranis, que até hoje marcam forte
presença no país. Viviam da agricultura, quando em 1530, a
Monika Gryczynska
25
Um Olhar Sobre o Mundo
região começa a ser colonizada pelos espanhóis. Assunção,
a atual capital, é a principal base da colônia no século XVI.
A partir de 1630, para proteger os guaranis da escravidão,
os padres jesuítas constroem cerca de 30 missões onde estabelecem uma sociedade organizada e auto-suficiente.
Ao longo do século XVII, caçadores de escravos espanhóis e portugueses atacam as missões, mas encontram
forte resistência dos índios. Com a expulsão dos jesuítas de
Portugal e do Brasil em 1759, os guaranis são massacrados,
e as missões são pilhadas e partilhadas pelos colonizadores.
O êxodo brasileiro rumo ao Paraguai, intensificado a
partir da década de 1970, foi conseqüência indireta da guerra da Tríplice Aliança formada há 140 anos por Brasil, Argentina e Uruguai, contra o Paraguai. Para obter uma saída
para o mar, o Paraguai entra em guerra, em 1870, contra a
Tríplice Aliança. O conflito deixou marcas dolorosas e profundas na população do país. Durante a guerra, todo paraguaio capaz foi colocado em serviço ativo, formaram-se
batalhões completos de mulheres e regimentos de meninos
entre doze e quinze anos de idade.
Paraguai é derrotado em 1875, com o terrível saldo
de 2/3 da população dizimada. Só ficaram vivos velhos,
mulheres e crianças. Devastado pela guerra, as culturas tinham sido destruídas e os rebanhos haviam desaparecido.
Até os arquivos históricos paraguaios foram confiscados
pelos vencedores, e estão sendo reclamados pelos donos.
Com o terrível resultado de toda a população adulta
masculina exterminada o país ficou sem mão-de-obra produtiva. O Paraguai tem solo fértil e possuí grandes espaços
vazios e a partir da década de 1970, iniciou-se um lento
processo de migração de milhares de agricultores brasileiros vindos dos Estados de São Paulo, Paraná, Minas Gerais
e principalmente do Nordeste, que foram atraídos pelas
Monika Gryczynska
26
Um Olhar Sobre o Mundo
promessas de terras férteis e baratas oferecidas pelo governo do presidente paraguaio general Alfredo Stroessner.
Os imigrantes passaram a ocupar as terras paraguaias, com a formação de fazendas dedicadas à agricultura
e a pecuária.Uma legião de brasileiros desbravou praticamente toda a faixa de fronteira com o Paraguai alcançando
as margens da Represa da Usina Hidrelétrica de Itaipu.
A fertilidade do solo e o preço barato passaram a atrair um número crescente de fazendeiros e pequenos agricultores. A maior parte das empresas e dos colonos estrangeiros se concentra na fronteira com o Brasil, numa faixa
territorial de 2.000 km² Os produtores agropecuários derrubaram importantes extensões de florestas e bosques com a
conseqüente destruição de habitat de espécies animais e
aves. Calcula-se que o número de brasileiros assentados nos
departamentos fronteiriços se situe em 300 mil pessoas, são
chamados de “ brasiguaios”.
Depois de colonizar uma das mais promissoras regiões do país, esses brasileiros, sentem-se agora como invasores na terra em que vivem há 20 ou 30 anos. Muitos deles
nasceram no Paraguai. Os mais expressivos enclaves brasileiros concentram-se em municípios do Departamento de
Alto Paraná, Canindeyú e Amambay, fronteiriços aos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul..
E numa dessas colônias da fronteira, em Porto Índio, no município de Mbaracayú, grande produtor de soja,
milho e trigo, que vem ocorrendo os mais graves conflitos
entre “brasiguaios” e camponeses paraguaios. Os sem-terra
paraguaios invadem e ocupam as terras produtivas dos
“brasiguaios”.
Em agosto de 2008, o ex-bispo católico Fernando
Lugo elege-se presidente do Paraguai. Uma das propostas
de campanha de Lugo é apresentada e discutida. É o polemico projeto de lei que estabelece “As Zonas de Segurança
Monika Gryczynska
27
Um Olhar Sobre o Mundo
nas Fronteiras”numa faixa de 50 quilômetros, fato que provocou insegurança nos agricultores “brasiguaios”.Desde a
posse de Lugo, os conflitos envolvendo agricultores sem
terra e grandes fazendeiros se tornam mais freqüentes.Em
22 de junho de 2012,foi decretado pelo Senado paraguaio o
Impeachment de Fernando Lugo, foi empossado em seu
lugar o vice-presidente Federico Franco, para concluir o
restante do mandato presidencial.
***
Terminado o curso médio, os dois primos foram tentar o vestibular na Universidade Federal em Curitiba. Álvaro pretendia o curso de Jornalismo e Ciências Sociais, depois faria mestrado em Antropologia. Iria tentar fazer os
dois cursos ao mesmo tempo. Rodrigo optou pelo curso de
Biologia, pretendia fazer mestrado em Ecologia. Estudaram
com afinco e passaram no vestibular com distinção, foram
admitidos nos cursos escolhidos. Freqüentaram a Faculdade durante os anos seguintes, estudando com persistência
em jornada dupla, para conseguir os diplomas.
Num final de ano em que desfrutavam das férias na
fazenda dos pais de Álvaro, no Paraguai, ouviram uma noticia assustadora, pela televisão. No dia 26 de dezembro de
2004, aconteceu um violento choque entre as placas tectônicas Indiana-australiana e Eurasiática no Oceano Índico.O
abalo sísmico provocou a formação de ondas gigantescas
ou tsunamis que atingiram a costa sul da África, o litoral da
Índia, do Bangladesh e de Mianmar, além das ilhas da Indonésia. Deixou cerca de 260 mil mortos em 11 nações, a
maior parte das vítimas se encontrava na província de Aceh
na ilha de Sumatra, próxima do epicentro do terremoto.
Esse acontecimento despertou grande interesse dos
dois estudantes, principalmente de Álvaro, jornalista, que
possuía vocação aventureira.Rodrigo tinha talento e paciênMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
cia de pesquisador,entusiasmou-se perante a ocasião de estudar os danos causados no meio ambiente pelo cataclismo.
- Rodrigo! Ai está a oportunidade de vermos e avaliarmos os estragos do terremoto e do tsunami nos países
atingidos – comentou Álvaro.
- Seria uma ótima ocasião, mas é uma pena, pois ainda temos obrigações a cumprir na Faculdade. E temos
ainda o mestrado pela frente. Mas não fiquemos decepcionados, pois aparecerão outras oportunidades de viajar e
conhecer o mundo – ponderou Rodrigo, pensativo.
Decorridos os quatro anos em que os dois primos
cursaram a Faculdade, finalmente chegou o dia da formatura. Álvaro recebeu o diploma de jornalista e antropólogo e
Rodrigo como biólogo e pesquisador, especialista em gestão ambiental. No dia da formatura os pais de Álvaro e de
Rodrigo, deixando os seus múltiplos afazeres nas respectivas fazendas, compareceram à festa. A felicidade deles era
imensa, pois como não tiveram oportunidade de estudar,
viram seus sonhos realizados pelos filhos, formados em
cursos superiores.
No entanto, mais dois anos transcorreram até os dois
primos concluírem os mestrados nas especialidades pretendidos. Durante os oito anos, isto é, todo o tempo em que
estudaram na faculdade em Curitiba correspondiam-se com
as jovens Daniela e Ângela pelo celular ou mandavam mensagens pelo e-mail. Nas férias da Faculdade viajavam para
a casa da família onde eram recebidos carinhosamente pelos pais. Suas amigas Daniela e Ângela saudosas da companhia e boa conversa ansiavam pela volta dos primos.
O ultimo ano trouxe grande surpresa para o jornalista Álvaro. A sua bela e admirável Daniela, tendo se formado em Direito na faculdade em São Paulo, arrumou ali um
bom emprego e um novo amor. O pretendente logo a pediu
Monika Gryczynska
29
Um Olhar Sobre o Mundo
em casamento, pedido que ela aceitou. Convidou Álvaro e
Rodrigo para serem seus padrinhos de casamento.
Ângela, jovem exuberante em alegria e beleza, esperava pelo Rodrigo enquanto estudava Psicologia na Faculdade em Cascavel. Eles se amavam verdadeiramente, mas o
casamento, por enquanto, não estava nos planos de Rodrigo. Ele e o primo Álvaro, aventureiros por natureza, pretendiam viajar para conhecer o mundo. Esperavam que
aparecesse uma proposta de trabalho na sua especialidade
num país estrangeiro.
ILHAS DO CARIBE
A oportunidade surgiu por ocasião da grande catástrofe em 12 de janeiro de 2010. A colisão das placas: tectônicas Caribenha e de Nazca ocasionou um violento terremoto de magnitude 8 na escala Richter, que abalou a ilha
Hispaniola atingindo principalmente a parte oeste ocupada
por Haiti, no Mar do Caribe. Devastou a fértil e pitoresca
região e deixou em ruínas a capital Porto Príncipe. Morreram 230 mil pessoas e milhares ficaram desabrigadas, sem
teto, sem alimento e sem saber para onde ir. Após o terremoto quase todos os habitantes capazes, homens e mulheres, tomados pela coragem e espírito de solidariedade, mais
ainda, em prol da própria sobrevivência, entregaram-se ao
trabalho exaustivo, quase sobre-humano de salvar vidas,
removendo vítimas dos escombros com ajuda do exercito.
A Doutora Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional da Pastoral da Criança, e da Pastoral da Pessoa
Idosa. Formada em medicina pela UFPR, aprofundou-se na
estudo da saúde pública e pediatria, visando a salvar crianças pobres da mortalidade infantil, da desnutrição e da violência em seu contexto familiar e comunitário.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
Zilda Arns encontrava-se em Porto Príncipe em
missão humanitária. Na ocasião do terremoto, pouco depois
de proferir uma palestra na igreja, para cerca de 150 pessoas, enquanto conversava com os religiosos, de repente a
terra começou a tremer. O país foi abalado por um terrível
cataclismo.No desabamento da igreja a Doutora Zilda foi
atingida diretamente na cabeça quando o teto caiu. Ela morreu na hora. Com profundo pesar da população local, seu
corpo foi trasladado para o Brasil, onde foi sepultado.
O Caribe é com freqüência citado como o Mediterrâneo da América, ambos são mares cercados por terras e
ilhas, quase que idênticos em tamanho. Ambos foram importantes historicamente, mas aí terminam as semelhanças
entre os dois grandes mares. As terras que costeiam o Mediterrâneo deram origem a muitas civilizações notáveis e a
três grandes religiões, enquanto que das mais famosas
grandes civilizações indígenas que viveram no Caribe foram: a maia na península de Yucatán e a asteca na América
Central. Viveram ali ainda as civilizações dos arauaques,
dos caraíbas e dos tainos.
Mas o que o Caribe de fato oferece, é um mar de beleza tropical, um conjunto de ilhas inigualável e uma série
variada de nacionalidades que as conquistou e ocupou. As
ilhas exibem praias ensolaradas de areias brancas e águas
azuis cristalinas que são sua gloria, no entanto, os furacões
são seu inferno. A região do Caribe é seguidamente cenário
das mais intensas manifestações da natureza, como os grandes terremotos que abalam as ilhas e os violentos furacões
que são gerados ao largo da costa da África e chegam rugindo, atravessando o Atlântico Sul com fúria demoníaca.
Em todos os verões, um conjunto destes monstros
vem promover a desordem entre as ilhas, algumas vezes
deixando de lado por completo a terra atingindo só o mar,
em outros anos devastando tudo que estava em seu camiMonika Gryczynska
31
Um Olhar Sobre o Mundo
nho, arrancando árvores, derrubando casas, matando animais e milhares de pessoas. Algumas ilhas menores são
destruídas com freqüência maior.
Entre outras, a ilha de Hispaniola ou Quisqueya como a chamavam seus povoadores originais arauaques e
tainos, está localizada no Caribe. O navegador genovês
Cristóvão Colombo chegou à ilha em 1492, batizou-a de
Hispaniola, em respeito ao rei espanhol, a serviço do qual
estava navegando. Estabeleceu uma colônia agrícola na
costa atlântica e escravizou os nativos. No fim do século
XVI, os indígenas estão quase todos exterminados, e substituídos por mão-de-obra escrava africana,.nas plantações de
cana-de-açúcar.A ilha se torna uma das maiores produtoras
de açúcar das Américas entre 1570 e 1630.
A ilha Hispaniola, se divide atualmente em duas repúblicas, o Haiti que ocupa 1/3 da ilha no lado oeste, os 2/3
no leste é ocupada pela República Dominicana, tendo como
capital Santo Domingo. Possui uma área de 48.671 km²
com 10,3 milhões de habitantes (2011).Presidente Leonel
Fernández Reyna (desde 2004).O país conquista a independência em 1821, volta a ser anexada à Espanha em 1861 e
reconquista a independência quatro anos depois.É ocupado
militarmente pelos EUA, entre 1916 e 1924.
Em 1697, a parte oeste da ilha onde fica o Haiti é
cedida à França que importa milhares de escravos africanos
para as lavouras de cana-de-açúcar. Em 1791, os franceses
têm até meio milhão de escravos, o maior contingente de
mão-de-obra escrava africana. Os negros da nação Daomé
(Benim) constituem a maioria. Eles levaram consigo os
velhos deuses africanos e as práticas religiosas como o vodu, semelhante ao candomblé, embora a religião oficial
fosse o cristianismo.
A República do Haiti possui uma área de 27.700
km², com uma população de 10,1 milhões (em 2011). ReMonika Gryczynska
32
Um Olhar Sobre o Mundo
pública com forma mista de governo. A presidência é ocupada por Michel Joseph Martelly (desde 2011). Apesar de o
francês ser o idioma oficial, a língua mais usada é o crioulo.
O Haiti possui 96 % da população predominantemente negra, com um pequeno grupo de mestiços que forma a elite
do país. A maioria dos dominicanos e haitinianos são negros ou descendentes da miscigenação de europeus franceses e espanhóis com escravos africanos.
O Haiti conquista a independência em 28 de novembro de 1803, e passa ser a primeira república negra do
mundo, mas é o país mais pobre das Américas. É seguidamente açoitado e devastado por tempestades tropicais e
furacões seguidos de inundações, que deixam centenas de
mortos e milhares de desabrigados. Desde a independência
o país suportou dois séculos de instabilidade, disputas pelo
poder, revoltas e golpes de estado com assassinatos, inaugurando um regime de terror, com governos autoritários,
corruptos e conseqüente pobreza endêmica.
Em 2004, eclode no Haiti uma rebelião armada contra o governo.A ONU aprova o envio de uma força internacional para controlar a situação, com 3,5 mil soldados dos
EUA, da França, do Chile e do Canadá. O Brasil contribui
com a maior parcela da Missão de Estabilização das Nações
Unidas no Haiti. Em 2008, a missão reúne 47 países e tem
9.008 soldados e policiais, dos quais 1.250 são brasileiros.
No terremoto de 12 de janeiro de 2010, no Haiti
morreram aproximadamente 150 soldados brasileiros, entre
as inúmeras vítimas, que logo foram substituídos por novo
contingente. Na remessa das novas tropas, foram convidados pelo governo brasileiro, os pós-graduados pela UFPR,
Álvaro como jornalista e Rodrigo biólogo, com especialização em engenharia do meio ambiente.
Sedentos de aventura aceitaram de imediato a proposta para integrarem a comissão de colaboradores volunMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
tários, tendo como uma das principais finalidades a avaliação do impacto ambiental que afetou o país. Álvaro como
jornalista e observador, em repassar reportagens confiáveis sobre o terremoto que destruiu a cidade-capital Porto
Príncipe. Para convocar a ajuda humanitária e estimular as
doações material e financeira dos países ricos do mundo.
Mandou farto material para a rede BBC de Londres para
avaliação. A diretoria do jornal gostou das reportagens e
nomeou-o como seu colaborador.
Assim que o avião militar em que viajavam pousou
na ilha, Álvaro e Rodrigo foram recebidos pelo comandante
militar local. Após as apresentações, ele os informou da
necessidade em procurarem hospedagem nalgum hotel, na
cidade de Santo Domingo, capital do país vizinho, a República Dominicana, que pouco ou quase nada havia sofrido
com o cataclismo, no entanto a cidade de Porto Príncipe
estava destruída.
Entre centenas de pessoas que ajudavam a socorrer
os acidentados no meio das ruínas, estava um homem de
meia idade, empenhado a prestar socorro às vítimas cuidadosamente ajudando a tirá-las dos escombros. Enquanto os
dois brasileiros procuravam um meio de transporte que os
levasse à Santo Domingo, aproximou-se deles aquele senhor de meia idade, de cabelos grisalhos e semblante bondoso.Estava com o rosto e roupas empoeiradas de reboco.
- Sou Pierre Dubois, proprietário no vale do Cibao,
no país vizinho. Ouvi vocês indagar procurando um transporte para passageiros. Estou indo para minha casa que fica
a 400 quilômetros daqui, próxima à cidade de Santo Domingo. São quase 5 horas de viagem. Se quiserem aproveitar a carona os levo até lá. Peguem as suas bagagens e as
coloquem na caminhonete.
- Muito prazer em conhecê-lo, senhor Dubois, sou
Álvaro Ritter, esse é meu primo Rodrigo Pazinatto, somos
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
brasileiros, fazemos parte da comissão de ajuda humanitária
voluntária. Será um grande favor se nos levar no seu veículo. Pois está um tanto difícil de conseguir, no momento,
qualquer meio de transporte – comentou Álvaro.
Levando nas mãos os notebook, dirigiram-se os três
até o veículo Mitsubishi L 200 - 4/4, uma caminhonete de
cor preta, com vidros escuros, que estava estacionada a duas quadras do local. Um motorista negro esperava no volante. Ele gentilmente abriu a porta do carro para os passageiros e os ajudou a colocar o cinto de segurança. Assim que
todos estavam confortavelmente acomodados ele virou-se
para o patrão e perguntou:
- Para onde vamos, senhor!
- Vamos para Santo Domingo, dirija com cuidado,
pois longo trecho do asfalto da estrada está danificado,
cheio de fendas profundas e perigosas - observou Dubois.
Chegaram ao destino já tarde da noite. Viajaram
quase em silencio, pois todos estavam muito cansados. Na
recepção do hotel “Barcelona”, Pierre Dubois apresentou
os dois brasileiros:
- Álvaro Ritter e Rodrigo Pazinatto, brasileiros. São
meus amigos, trate-os bem - recomendou ao recepcionista.
– Agora vocês meus jovens, tratem de jantar e tenham um bom descanso, eu vou embora, mas amanhã virei
buscá-los para darmos continuidade no resgate das vítimas
do cataclismo, com certeza tem muita gente viva embaixo
dos escombros – comentou o bondoso Dubois.
Assim, no outro dia ao amanhecer o mensageiro do
hotel bateu na porta do quarto dos moços.
- Vim avisar que o senhor Dubois está os esperando
no salão de café.
- Comunique-lhe, por favor, que sem demora vamos
descer - respondeu Álvaro, e voltando-se para o amigo
disse - apressa-te Rodrigo, o homem está esperando.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Após o desjejum embarcaram na caminhonete e seguiram rumo ao Porto Príncipe onde iam enfrentar mais um
dia exaustivo. De fato, chegando lá encontraram um grande
tumulto, gemidos, pedidos de socorro e choro de crianças
perdidas das suas mães. Era preciso arregaçar as mangas.
Pierre Dubois não esperou ser convocado, foi atender o grito de socorro vindo de uma casa que desabava. Não
viu o perigo que o ameaçava. Uma viga de cimento desprendia-se do andar de cima e ia atingi-lo na cabeça.Os
moços que o acompanhavam não esperaram o desfecho
mortal, Álvaro correu e com força sobrenatural desviou a
viga fatal, Rodrigo por sua vez arrastou Dubois para fora da
área perigosa.
- Salvaram-me a vida, meus amigos, se não fosse a
rapidez, a força e a coragem de vocês, agora eu estaria morto, esmagado pela viga de cimento, no entanto, saí apenas
com alguns arranhões no corpo e um grande susto – falou
comovido Pierre Dubois, abraçando-os.
Álvaro estava com vinte e oito anos, era dotado de
um vigor físico, verdadeiramente excepcional, de estatura
elevada, tinha ombros largos e notável musculatura. Já o
Rodrigo era um garboso jovem, um tanto tímido e comedido,de vinte e sete anos, alto e esbelto,de cabelos louros encaracolados,olhos verdes expressivos e sorriso franco.
Apesar da experiência traumática recentemente vivida o trio não se deixou abater; continuaram trabalhando
removendo escombros e salvando vidas de adultos e crianças. Já era bastante tarde quando Pierre Dubois convidou os
dois moços para juntos retornarem a Santo Domingo.No
longo percurso da viagem de volta, já bastante familiarizados, o senhor Dubois começou a relatar a história da sua
vinda para as terras da ilha de Hispaniola.
- Estou hoje com 60 anos, e já se passaram 30 anos
que vivo na ilha. Sou de origem francesa e pertenço a uma
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
família de armadores de Havre. Logo depois da morte do
meu pai e de minha mãe, deixei o Havre para ir se estabelecer na ilha de Hispaniola.Com a herança que me coubera
comprei terras incultas e graças a várias inovações agrícolas
e novos processos mecânicos, introduzidos por mim nos
engenhos de açúcar, consegui uma fortuna notável.
- Hispaniola é uma grande ilha no Mar do Caribe,
ostenta um perfil montanhoso, tem numerosas praias de
areias brancas cheias de fileiras de altas palmeiras, que
dançam as folhas sob a brisa tropical. A Cordilheira Central cruza o território da ilha desde o noroeste até o sudeste.
As montanhas estão cobertas por florestas densas.O Caribe
foi povoado por espanhóis, muitos deles novos conversos à
religião católica romana, que fugiam da execução em praça
pública na fogueira durante a Inquisição como hereges, ou
da grande expulsão dos judeus da Espanha em 1492.
- Entre as cordilheiras Central e Setentrional de terreno montanhoso, coberto por uma vegetação de maravilhosas árvores tropicais e regado por muitos riachos encachoeirados encontra-se o fértil vale de Cibao.Seu índice
pluviométrico anual era exatamente o necessário para o
crescimento da cana-de-açúcar, do café, e de uma variedade
de frutas tropicais desconhecidos na Europa, especialmente
as deliciosas mangas e bananas.
- Espalhadas pelas montanhas baixas havia inúmeras
áreas planas ideais para plantações, das quais tinha bem
mais de mil, cada uma delas capaz de fazer a fortuna de seu
feliz proprietário. É neste vale de terras muito férteis que se
situam as minhas vastas propriedades.
- Sem falsa modéstia, sou considerado como o mais
prospero proprietário da ilha, e minha fortuna aumenta dia a
dia pela cultura de cana-de-açúcar, do café, do algodão e
pela criação de gado. Aqui se trabalha duro desde o ama-
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Um Olhar Sobre o Mundo
nhecer até à noite. Eu pessoalmente administro a maior
parte do trabalho nas usinas e a exportação do açúcar.
- A mão de obra nos canaviais é de creoles, descendentes de escravos africanos, hoje contratados e pagos pelo
seu trabalho. Antigamente os escravos vinham para as ilhas
do Caribe num navio negreiro espanhol, comprados num
entreposto português na costa africana. Muitos escravos
morriam nos navios antes de chegarem ao destino, os vivos
eram vendidos em leilões na praça pública. Levados pelos
fazendeiros para as plantações de cana-de-açúcar, de café, e
de algodão onde eram tratados como animais de carga.
- Por qualquer deslize recebiam castigos corporais.
Levados ao Pelourinho, o patíbulo da cidade, onde se açoitavam os infratores da lei do patrão, com um chicote de
couro cru com farpas de ferro na ponta. Os instrumentos de
tortura usados eram: o potro, o cepo, a coleira de madeira
ou gargalheira, as bolas de ferro presas às pernas por correntes para que não pudessem fugir. Em 1791, o general
Toussaint L´Ouverture ex-escravo, comandou a revolta dos
negros que conseguiram a abolição da escravidão em 1794.
- Assim, inteiramente absorvido pelo trabalho e pelos meus negócios, durante a sucessão dos anos eu não tive
tempo para procurar uma esposa, um verdadeiro amor. Os
fazendeiros da minha época tinham em redor de si um harém com belas serviçais negras e mulatas, mas os meus
envolvimentos amorosos com algumas delas eram apenas
distrações passageiras. Eu me contentava com aquela vida
descompromissada, que me deixava o coração livre e intacta a minha independência.
- Depois de chegar aos 38 anos comecei a sentir um
vazio no coração. Reconheci a necessidade de uma afeição
verdadeira, durável, que não fosse apenas sensual e ter-meia casado para constituir família, com uma moça filha de
um fazendeiro amigo meu, se precisamente nessa época,
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Um Olhar Sobre o Mundo
não se tivesse apaixonado por uma formosa mulata que
exercia o cargo de governanta da minha casa, e que desde
então se tornara minha companheira e amiga inseparável.
- A mulata chamava-se Carmem. Era uma excelente
criatura, meiga, dedicada e de sentimentos afetuosos puros,
mas sem ambições, nunca pretendera ser minha esposa legítima. Nessa situação ambígua vivi com ela por seis anos, no
fim dos quais reconhecendo a dedicação e o amor que tinha
por mim casei-me com ela no cartório local, numa cerimônia discreta. Da minha ligação com Carmem nasceram três
filhas: Jeane, Caroline e Anette.Com o casamento civil legitimei a situação da mãe e das meninas.
- As minhas filhas, falam corretamente quatro línguas: francês, espanhol, inglês e o criole.Tem uma excelente educação universitária e musical e sabem pintar quadros
maravilhosos. Jeane está com 20 anos, Caroline com 18 e a
caçula Anette com 16. Para mim, um pai coruja que as ama
com ternura, as três são igualmente belas.O fino e delicado
talhe dos seus semblantes recorda a pureza das estátuas
gregas, acrescentando a beleza da cor de bronze das suas
peles, faz delas as moças mais cobiçadas da ilha.
Dubois absorto, concentrado nos seus pensamentos,
sem noção do tempo, discorria sobre a sua vida numa voz
monótona, mesclada de certa angústia, quase sussurrando,
como se falasse consigo mesmo, sem perceber que revelava
fatos de sua existência a pessoas desconhecidas. Falou num
delírio místico, de sonâmbula indiferença por muitas horas,
durante a viagem. Parecia haver perdido qualquer contato
com o mundo exterior. Enfim, quando chegaram ao destino
parece que o fazendeiro Dubois despertou do estado de êxtase de que parecia estar possuído.
- Perdoem-me rapazes se me excedi na minha confissão, foi apenas um desabafo, por favor, esqueçam o que
ouviram - disse ele encabulado.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Senhor Dubois, o senhor não nós deve explicações.
Não ouvimos nada, não lembramos de nada – disse Álvaro.
- Para sinceramente desculparem pelo meu maçante
e inconveniente monólogo no retorno à Santo Domingo,
peço que aceitem meu convite para jantar em minha casa
amanhã. Mandarei meu motorista buscá-los na cidade.
- Agradecemos a gentileza do convite, não faltaremos, salvo se houver algum obstáculo imprevisto, que nós
force a faltar – respondeu Rodrigo.
Os dois jovens chegaram na hora combinada. Caminharam pela larga alameda até o saguão da mansão.A casa
de inspiração grega, era retangular, de dois andares, rodeada de colunas. Com uma varanda no térreo e uma sacada
coberta no andar superior que circundava os quatro lados,
com cômodos luminosos e assoalhos de mogno, pintados
em cores pastéis. A sala estava enfeitada com flores, e iluminada com tantas lâmpadas que a noite era clara como o
dia. Ramos floridos de buganvílias rosa-lilás desciam da
sacada, enroscando-se nos pilares.
Foram recebidos na porta por um mordomo negro,
vestido com uniforme branco de linho com galões dourados, que os conduziu até à sala de jantar da herdade onde o
fazendeiro reunia a família. A peça principal daquela sala
era uma magistral cadeira de carvalho, com um encosto
todo entalhado e dois braços maciços que fazia com que
qualquer um que a ocupasse parecesse um altivo e respeitável nobre. Em redor da mesa viam-se sentadas cinco pessoas: Pierre Dubois, sua esposa Carmem e as três filhas do
casal: Jeane, Caroline e a caçula Anette. Dubois interrompeu a conversa e olhou para a porta, que acabava de abrirse. Seu semblante alegrou-se.
- Entrem meus caros amigos e sintam-se à vontade.
Por favor, tomem os seus lugares a mesa – convidou o fazendeiro Dubois.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Álvaro sentou no lugar reservado, ao lado da bela
Jeane, cujas faces enrubesceram e seus grandes olhos negros tornaram-se brilhantes. Rodrigo ocupou o lugar ao
lado da fascinante Caroline.Durante o jantar a conversa
transcorreu amena entre os convidados e os donos da casa.
Foi servido um aprimorado jantar regado a bom vinho francês, para a sobremesa havia frutas tropicais.
Rodrigo adorou a conversa com a Caroline que mostrou ser muito inteligente e com largo conhecimento, desde
as difíceis condições de trabalho nas plantações de cana-deaçúcar e algodão nas fazendas locais, o problema da pobreza extrema nos meios rurais do país, o alto grau de analfabetismo e a exclusão do povo à educação e assistência médica. O convidado escutava com atenção e ocasionalmente
comentava o assunto.
O resultado desse encontro, foi que Rodrigo apaixonou-se pela exuberante Caroline. Admirando-a pela sua
eloqüência, amou-a com todo o ardor da juventude, e mais
intensamente ainda pelo fato de ser ele por natureza tímido
e reservado, concentrava em si próprio as chamas que lhe
abrasavam o coração. Nem por um instante veio-lhe à mente a namorada Ângela, que suspirava por ele no Brasil.
O pai observou o encantamento dos dois. Os olhos
negros de Caroline brilhavam com o fogo da paixão. Falava com arrebatamento fixando seus olhos nos dele.Ficaram
assim extasiados, enamorados, esquecendo que estavam na
companhia dos pais e demais pessoas da família.
Enquanto isso Álvaro e Jeane, conversavam entre si
sem deixar de incluir no diálogo Pierre Dubois e Carmem
sua esposa. A conversação versou sobre a catástrofe que
atingiu o Haiti, destacando a prioridade em retornar no dia
seguinte ao país vizinho, para dar continuidade ao trabalho.
Assim que o casal ficou só à mesa, o fazendeiro comentou com a esposa, esboçando um sorriso discreto:
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Um Olhar Sobre o Mundo
- É um simpático moço, esse Rodrigo, um excelente
caráter, uma alma cheia de sentimentos bons e elevados.
Foi também excelente a impressão que em mim produziu a
figura e o comportamento do moço Álvaro. Eles são gente
da melhor estirpe.Confesso que seriam ótimos maridos para
nossas filhas Jeane e Caroline. Reparou como trocam olhares carinhosos entre si?.
Por fim, atravessando o salão, foram tomar café na
varanda da mansão, abrigada pela sombra de árvores seculares. As horas passaram com rapidez numa conversação
amena.Já era tarde da noite quando Álvaro lembrou:
- É chegado o momento da despedida, pedimos licença para nós retirarmos. Amanhã e ainda durante muitos
dias ficaremos trabalhando em Porto Príncipe até concluirmos o nosso trabalho. Neste ínterim não deixaremos de
visitar o amigo e sua distinta família. A sua amizade senhor
Dubois nos honra muito.
- Eu e minha família somos gratos por conhecê-los
– retribuiu o fazendeiro Dubois.- Voltem sempre.
- Terminada a nossa tarefa retornaremos ao Brasil,
mas vamos sempre nos lembrar com profunda saudade de
que longe do nosso país, achamos na família de um bondoso francês a mais cordial e afetuosa hospitalidade. Jamais
há de se apagar da nossa memória a lembrança dos que tão
generosamente nós receberam aqui e pensaremos sempre
com gratidão e afeto na família Dubois - disse Rodrigo.
Em seguida o jovem tirou do bolso um pequeno estojo forrado de veludo azul. Continha três anéis de prata
antiga trabalhados de forma extravagante com desenhos de
delicados hieróglifos, cada um incrustado com uma pérola
negra. Deviam fazer parte dalgum conjunto de colar e bracelete, usados pelas damas egípcias da alta sociedade.
- Estes anéis têm o valor atribuído pelos arqueólogos, como relíquias do antigo Egito. Foram achados nas
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Um Olhar Sobre o Mundo
explorações feitas no fundo do rio Nilo, próximo à Alexandria. Uma superstição afirma que estes anéis dão felicidade
às pessoas que os usem – comentou Álvaro
Rodrigo pegou um anel da caixinha e dirigiu-se à
Caroline, e Álvaro pegando outro anel aproximou-se de
Jeane, ambas estenderam a mão esquerda para receber a
jóia. Anette, a menina adolescente, recebeu o terceiro anel.
- Em nome da gratidão oferecemos à vocês estas
prendas, esperamos que estes anéis, de fato, lhes dêem a
ventura, conforme diz a tradição popular- falou Rodrigo.
- Em meu nome, e em nome das minhas filhas, lhes
agradeço uma tão delicada e afetuosa fineza – disse Dubois,
e estendeu os braços, estreitando-os afetuosamente
- Está na hora de partirmos – disse Rodrigo, dirigindo um olhar triste em direção à Caroline que, pálida, com
os olhos negros marejados olhava para Rodrigo, demonstrando grande carinho.
- Meu motorista Roque, vai levá-los até o hotel e
amanhã bem cedo irá apanhá-los e conduzi-los até o aeroporto de Santo Domingo. Eu irei para Porto Príncipe, meu
dever me ordena a dar andamento ao projeto de reconstrução da cidade e socorrer as pessoas atingidas pela catástrofe
– declarou Pierre Dubois. O homem era considerado por
todos um grande filantropo.
- Aceitaremos de bom grado a sua oferta e agradecemos pela gentileza – disse Álvaro e com olhar para os
lados procurou a presença da formosa Jane.
Puseram-se a caminho através do parque em grupos,
que seguiu em direção a caminhonete. A alguns passos,
caminhavam Álvaro e Jeane murmurando promessas, atrás
iam Rodrigo e Caroline de mãos dadas, acompanhando-os a
alguns passos atrás estavam Dubois e Carmem. Iam silenciosos absortos em pensamento comum, sentindo uma tristeza profunda pela iminente e inevitável separação.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Adeus, até breve – exclamaram os rapazes acenando com as mãos de dentro do veículo já em movimento.
Todas as pessoas da família Dubois ficaram em pé,
imóveis, seguindo com os olhos a caminhonete até sumir na
curva do caminho. Durante o tempo que permaneceram na
ilha Hispaniola, os dois moços foram recebidos muito afetuosamente pela família do rico proprietário do vale do Cibao, na República Dominicana. Ali deixaram seus corações
e duas jovens enamoradas. Será que voltariam algum dia?.
Depois do terremoto de 12 de janeiro de 2010, uma
grande epidemia de cólera alastrou-se na região central de
Haiti. Para isso contribuíram as más condições de higiene
nos abrigos, muito lixo espalhado por toda parte e os esgotos a céu aberto que contaminaram os reservatórios de água
potável e os rios do país. As populações da área rural foram os mais atingidos, morreram mais de 1.250 pessoas e
milhares estão expostos ao contagio. Mais uma vez a calamidade atingia o país mais pobre da América Latina.
***
Álvaro e Rodrigo estavam no saguão do aeroporto
de Santo Domingo. Já fizeram o chek-in, iam embarcar no
avião que os levaria de retorno ao Brasil, quando Álvaro
sentiu que alguém batia nas suas costas. Ele virou-se rapidamente e foi grande a sua surpresa ao deparar-se com Gerson Albuquerque, um amigo e colega da Faculdade de Jornalismo e Antropologia em Curitiba.
- Gerson! Que surpresa! O que faz por aqui? – perguntou Álvaro, abraçando o amigo - Rodrigo! Venha ver
quem está aqui! - Ele foi ao bar tomar um cafezinho, vamos até lá encontrá-lo – convidou Álvaro.
- Agora explique para nós, porque está aqui e para
onde vai? - interrogou Rodrigo.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Estou indo para a Jamaica, o meu avião fez escala
em Santo Domingo, e foi um acaso que nos reuniu aqui.
Mas vocês aonde vão?- perguntou Gerson.
- Estamos retornando para o Brasil, já completamos
o nosso trabalho aqui - respondeu Álvaro.
- Imploro para vocês mudarem de rumo. Vamos
comigo para a Jamaica. Vamos conhecer o país, banhar-se
nas suas águas tépidas, desfrutar das belíssimas praias, conhecer as lindas jamaicanas e ouvir o reggae, música popular de origem jamaicana, nos barzinhos. Em três vai ser
mais divertido. Por favor! Não pensem mais, troquem as
passagens e vamos para Jamaica - insistia Gerson.
- O que você acha Rodrigo?- Perguntou Álvaro.
- Eu topo, se você topar – respondeu Rodrigo, entusiasmado.
- Então vamos suspender as passagens para o Brasil
e comprar para a Jamaica, que é muito perto daqui, é apenas
260 km distante do Haiti – aprovou o outro.
Dirigiram-se ao balcão da Companhia Aérea TransJamaica Air Services e compraram as passagens. No trajeto
curto, que durou aproximadamente meia hora estavam desembarcando no aeroporto de Kingston na Jamaica.
Ainda no aeroporto foram ao balcão de informações
aos turistas. Um funcionário negro, de nome Patrick, muito
gentil e atencioso, falando inglês, perguntou-lhes o quê e
quanto queriam saber sobre o seu país.
- Tudo que puder nos informar, desde a localização,
seu povo, sua história e geografia e principalmente locais
de diversão. Eu e Álvaro somos pesquisadores e jornalistas,
Rodrigo é biólogo e ambientalista - confirmou Gerson Viemos para conhecer o país.Mas primeiro indique para nos
um bom hotel e restaurante, depois trataremos da diversão.
- Posso lhes garantir que encontrarão excelentes hotéis e bons restaurantes, pois a metade da renda nacional é
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Um Olhar Sobre o Mundo
proveniente de turistas como vocês, atraídos pelas belezas
naturais do país e pelo conforto da uma das melhores redes
hoteleiras do Caribe, e os divertimentos são para todos os
gostos. Há maravilhosas praias, lindas garotas e cassino
para os arrojados jogadores – informou Patrick.
Combinaram de encontrar-se depois do plantão de
Patrick, na sala de estar do hotel “Xaimaca” indicado pelo
guia. Sentados comodamente em volta da mesa do bar, tomando um copo de cerveja gelada acompanhada de aperitivo de camarão crocante, esperavam Patrick, que não demorou a chegar. Puxou a cadeira e sentou-se à mesa pedindo uma cerveja bem gelada. Desdobrou o mapa e começou
a desfiar a história de Jamaica.
- Cristóvão Colombo chegou à ilha de Jamaica em
1494. Jamaica é a terceira maior ilha do Caribe, na América
Central. Tem 10.991 km² de região montanhosa e clima
tropical. No leste, o terreno eleva-se para formar as densamente arborizadas Montanhas Azuis, local onde se refugiavam os escravos fugitivos das fazendas. Há na ilha vários
mananciais e fontes termais em suas luxuriantes florestas.
Vastos pântanos impenetráveis e encostas de rochedos inescaláveis. Aquela ilha fora desenhada e criada por uma natureza enlouquecida.
- A região era habitada desde tempos imemoriais pelos pacíficos índios arauaques, que se dedicavam à caça e a
pesca, plantavam mandioca, abóbora e milho, e com cantos
e danças cultuavam seus deuses. Moravam em choupanas
cobertas com folhas de palmeira. O canto e a dança eram
elementos importantes da cultura arauaque, adoravam ídolos, mas acreditavam em um só Deus, criador de toda a natureza. Foram dizimados pelos colonizadores espanhóis por
não aceitarem sua religião e não se adaptarem ao trabalho
escravo nas lavouras de café e cana-de-açúcar.
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- Desde o ano de 1568, navios negreiros comandados por piratas ingleses, espanhóis, franceses ou portugueses, partiam com suas frotas, singrando os mares, dirigiam-se à costa oeste da África, mais precisamente à Costa
do Marfim, Benin e Angola que era o entreposto de venda
de escravos. Capturados nas matas natais eram levados para
o coração do Caribe, onde eram vendidos de ilha em ilha
para os fazendeiros espanhóis. Piratas aventureiros, a escoria do mundo, atacava os navios negreiros tentando roubar
os escravos que transportavam. Eram travadas violentas
batalhas pela posse da carga valiosa; nos porões dos navios
se amontoavam até 500 escravos em condições miseráveis.
- Os colonizadores compraram escravos africanos
para iniciar o cultivo de cana-de-açúcar e algodão. No decorrer do tempo quase meio milhão de africanos foram embarcados a força nos navios negreiros, trazidos para as ilhas
do Caribe e vendidos em escala crescente por traficantes
para os fazendeiros, para trabalhar nas plantações. Eles eram a grande massa trabalhadora na economia colonial.
- Ao longo do século XVI, as fazendas e os engenhos de cana-de-açúcar se espalham por diversas ilhas do
Caribe, inclusive na América do Sul, principalmente, em
grande escala, no norte do Brasil. O mercado europeu estava ávido por açúcar. Jamaica apesar de ser uma ilha montanhosa possuía vales com solo apropriado para o cultivo de
cana-de-açúcar e facilidade para comprar escravos. As ilhas
de Jamaica, Hispanhola e Cuba passam a ser centros no
Caribe da cultura canavieira. Os proprietários das grandes
plantações sustentavam a posição de maior prestigio no
escalão das castas na sociedade caribenha.
- Grandes investimentos são feitos pelos ricos donos
de engenhos de açúcar. Mansões e casas em estilo espanhol
são construídas nas ilhas. O palacete do fazendeiro Nunes
de Balboa y Carvalhal era de tijolo e madeiras nobres, com
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uma entrada ampla para a carruagem, pátio calçado de paralelepípedos, uma fonte de água revestida de azulejos portugueses e sacadas arejadas com grades de ferro batido, cobertas de trepadeiras perfumadas.
- Os móveis e adornos eram todos adquiridos em
Paris. Cada família era uma sociedade patriarcal, numerosa
e fechada, que se misturava apenas com outras do seu
mesmo nível. Possuíam a seu serviço inúmeros escravos
negros e escravas de todas as idades, na cozinha, faxineiras,
lavadeiras, amas de leite, e exército deles trabalhando nas
lavouras de cana-de-açúcar e de café.
- Circulavam relatos pavorosos sobre a escravidão
nas Antilhas e nas Américas. Os fazendeiros locais asseguravam que as atrocidades nas ilhas eram pura invenção dos
negros. A crueldade era malvista e inconveniente perante o
clero humanista. Mas todas as aparências indicavam claramente o aspecto vergonhoso e desumano da prática da escravidão em todas as ilhas do Caribe e nas Américas, até
que houve uma rebelião dos escravos negros e os revoltosos
conseguiram a abolição da escravidão em 1833.
- Em certa ocasião, anos atrás, numa plataforma nas
proximidades do porto em Kingston, na Jamaica, estavam à
venda quatro escravos adultos e um menino nu, de uns dois
ou três anos. Os interessados examinavam os dentes deles
para calcular a idade, o branco dos olhos para verificar o
estado da saúde, e o ânus para assegurar de que não estava
tapado com estopa, o truque mais comum para dissimular a
disenteria. Uma senhora de certa idade, protegendo-se do
sol com uma sombrinha de seda, pesava com sua mão enluvada os genitais de um dos homens. Procurava um negro
saudável, forte, bom reprodutor.
- A única mulher do lote de escravos apertava a criança nua contra seu corpo e implorava a um casal de compradores que não os separassem, que seu filho era esperto e
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obediente, dizia que ela era ainda jovem, boa reprodutora,
havia tido vários filhos e continuava sendo muito fértil.
Pois era costume separar os filhos pequenos das mães escravas, para que não se ocupassem com eles, sua obrigação
era trabalhar arduamente e cuidar dos filhos das suas donas. Com freqüência os recém-nascidos eram vendidos.
- A negra Faustina foi comprada junto com o filho,
pela fazendeira Margareth Morgan e seu marido Will, donos da plantação “Esmeralda”, de cana-de-açúcar. Após
concluir a compra da escrava, o casal levou-a e ao menino
para sua fazenda. Ela ia servir como criada particular de
Margareth, e o menino Peter seria o criado de recados e
para exercer pequenos serviços. Foi lhes dada para moradia
uma cabana próxima à casa grande.
- Na mata escurecia cedo sob a densa cúpula das árvores e amanhecia tarde por causa da neblina enredada nas
samambaias, nos meses de calor escaldante fustigados por
furações tropicais.Á tarde quando o céu era impenetrável
manto negro ouviam-se apenas o assobio incessante dos
canaviais, o murmúrio das sombras dentro da casa e, as
vezes a vibração secreta de tambores distantes.
- Naquele verde profundo das matas, de repente,
surgiam pinceladas de cores; o enorme bico amarelo e alaranjado de um tucano, penas iridescentes de papagaios e
araras, flores tropicais penduradas nos galhos. Havia água
por todos os lados, riachos, charcos, córregos, chuva, cascatas cristalinas atravessadas por arco-íris, que caiam do céu e
se perdiam debaixo de uma massa densa de samambaias
brilhantes de gotículas do orvalho matinal.
- A cabana da negra Faustina era mais ampla do que
parecia ser por fora. Muito organizada, cada coisa em seu
lugar preciso, escura, mas bem ventilada. O mobiliário era
esplendido comparado ao de outros escravos: uma mesa de
tábuas, um armário descascado, um baú enferrujado, várias
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caixas que os escravos da fazenda haviam lhe dado para
guardar seus poucos pertences e os remédios, e uma coleção de panelas de barro para suas cozeduras.
- Folhas secas e palha de milho rasgada em tiras,
cobertas com um pano xadrez e um cobertor fino seca-poço
de algodão, serviam de cama para ela e seu menino. Do
teto de folhas de palmeira pendiam ramos secos, punhados
de ervas, répteis dissecados, penas, colares de contas, sementes, búzios e outras coisas necessárias para a sua ciência. Faustina era uma experiente curandeira e sacerdotisa
vodu, ela dirija as cerimônias rituais. Os negros das fazendas vizinhas a identificaram e proveram de apetrechos necessários para a prática dos rituais do vodu e da cura.
- Nesse momento a silhueta da negra Faustina passou pelo pátio iluminado pelo luar e pelas tochas que mantinham acesas de noite para a vigilância. O olhar do capataz
dos escravos a seguiu. O patrão a chamou com um assobio
e, um instante depois, ela se apresentou na varanda, tão
silenciosa como um gato.Vestia uma saia preta, desbotada
e remendada, mas bem feita, e um engenhoso turbante com
vários nós que acrescentava um palmo à sua altura.
- Era uma mulher esbelta, de seios proeminentes,
olhos puxados de pálpebras adormecidas e pupilas douradas, com uma graça natural e movimentos precisos e elásticos. Irradiava uma energia poderosa, que os homens sentiam na pele. Haviam contado ao patrão a respeito das cerimônias vodu em que os sacerdotes bebiam sangue de animais sacrificados,o demônio aparecia em pessoa para copular com as mulheres pela frente e com os homens por trás.
- Isso é verdade Faustina? - perguntou o patrão Will.
- Não é verdade, patrão! – respondeu com firmeza.
Vodu é a designação comum às divindades de Daomé (Benin) na África. O culto é de origem jejé-daomeana, praticado nas Antilhas, principalmente no Haiti e Jamaica e que
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Um Olhar Sobre o Mundo
combina elementos de possessão e magia, com influências
cristãs. Porque o senhor Will não vai verificar pessoalmente
um desses rituais? Verá que não tem nada de extraordinário, e apenas uma prática religiosa.
- Um dia, o fazendeiro Will, depois de ficar as horas mais quentes da tarde mergulhado no torpor da sesta, foi
visitar a curandeira, por pura curiosidade, ocultando o propósito verdadeiro, que era de averiguar o comportamento
real dos negros nos cultos. Encontrou a escrava Faustina
sentada numa cadeira velha, de vime, diante da porta de sua
cabana arruinada pelas últimas tempestades, cantarolando
num dialeto banto, enquanto separava folhas de um ramo
seco e as colocava sobre um pano.
- Estava tão concentrada na tarefa, que não o viu até
ele parar na frente dela. Deu mostras de que ia se levantar
mas o fazendeiro deteve-a com um gesto.A escrava ofereceu-lhe água. Will bebeu dois goles de uma cabaça, esperou
alguns minutos até recuperar o fôlego e, quando se sentiu
mais aliviado, foi observar de perto o altar, onde havia imagens feitas de pedra-sabão e de gesso, de deuses africanos
e de santos cristãos, oferendas de flores de papel, pedaços
de batata-doce, um dedal com água, um cálice de aguardente e charutos de tabaco para os loas.
- A cruz não era cristã, representava as encruzilhadas, mas não teve dúvidas de que a estatua de gesso pintado
era da Virgem Maria.O fazendeiro estendeu uma das mãos
para pegar o sagrado asson do vodu, uma cabaça pintada
com símbolos, colocada sobre um bastão, decorada com
contas e cheia de ossinhos de um defunto recém-nascido,
mas se conteve a tempo. Ninguém devia tocá-lo sem a permissão do seu dono. A escrava Faustina era, de fato, uma
sacerdotisa competente e respeitada pela comunidade negra.
Ela não tirou os olhos de seu trabalho meticuloso e também
não o convidou para sentar porque não tinha cadeira.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Era difícil calcular a idade de Faustina, ela tinha o
rosto liso sem rugas, mas o corpo esbelto maltratado, seus
braços eram magros, as mãos ásperas, os seios salientavam
da blusa como pequenos mamões. Tinha a pele negra, reluzente, o nariz reto e largo na base, os lábios grossos, olhos
cor de azeitona, e o olhar firme de líder. Cobria a cabeça
com um turbante colorido, sob o qual se adivinhava a massa
abundante dos cabelos carapinha.
- Com a convivência diária entre Margareth e a escrava Faustina surgiu uma inusitada amizade e tolerância da
dona com a serva. Margareth era uma mulher meiga, caridosa, de sentimentos nobres, compadecia-se do sofrimento
dos escravos, portanto, assim que teve conhecimento da
aptidão inata da escrava como curandeira, conhecedora das
mezinhas caseiras, incentivou e liberou-a para que ajudasse
o frei Baltazar no atendimento ao seu rebanho.
- Faustina levantava antes do amanhecer, quando o
frei Baltazar já estava rezando fazia um bom tempo, e o
acompanhava à cadeia, ao hospital, ao asilo de loucos, ao
orfanato e a algumas casas particulares para dar comunhão
aos anciãos e doentes acamados.O dia inteiro, sob o sol ou
chuva, a figura mirrada do frei com sua batina marrom e
sua barba emaranhada circulava pela cidade e vilarejos.
- Era visto nas mansões dos ricos e em barracos miseráveis dos escravos, nos conventos e nos bordéis, pedindo
esmola no mercado e nos cafés, oferecendo pão aos mendigos mutilados e água aos operários cansados, sempre seguidos por uma leva de cães famélicos. Nunca se esquecia de
consolar os castigados pelo infortúnio e os doentes em hospitais. A negra Faustina sempre o acompanhava onde fosse.
O padre Baltazar tinha o mesmo olhar doce de cachorro
grande e cheiro a alho, usava a mesma batina surrada, imunda, sua cruz de madeira, e sua barba longa de profeta.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Ao entardecer, voltavam para a choupana de Faustina, onde os aguardava a freira Lucinda, com água e sabão
para se lavarem antes de se alimentarem. Faustina colocava
os pés de molho no balde com água morna e sal, enquanto
o padre Baltazar atuava como árbitro, resolvia pendengas e
dissipava animosidades entre os negros e capatazes. À noite, o piedoso padre se cobria com um cobertor roído pelas
traças, e munido de uma lamparina, saia com a escrava
Faustina para se meter com a ralé mais perigosa. Os delinqüentes o toleravam, porque respondia aos palavrões com
bênçãos sarcásticas, e ninguém conseguia intimidá-lo.
- Não chegava com a intenção de condenar nem com
o propósito de salvar almas, mas para fazer curativos em
esfaqueados, separar gente violenta que agredia bêbados
contumazes, impedir suicídios, socorrer mulheres espancadas, recolher cadáveres e arrastar crianças abandonadas
para o orfanato da freira Lucinda. Se por ignorância algum
bandido se atrevia a agredi-lo, cem punhos se levantavam
para ensinar ao forasteiro quem era o padre Baltazar.
- Entrava no Mercado de Escravos, o pior antro de
depravação da cidade portuária de Kingston, protegido por
sua inalterável inocência e sua auréola de bondade. Ali se
aglomeravam, em espeluncas de jogo e bordéis, os remadores de barcos, traficantes, piratas, cafetões, meretrizes, desertores da polícia, marinheiros de folga, ladrões e assassinos. Faustina aterrorizada caminhava entre a lama, vômito,
excremento e ratos, agarrada ao hábito do padre, invocando
Jesus em voz alta e Olorum em silêncio, enquanto o padre
saboreava o prazer do perigo. “Jesus vela por nós irmã
Faustina”,garantia-lhe feliz.Ao fim de uma semana de andança a escrava tinha os pés em chagas e as costas quebradas, mas jamais reclamava.
- O casal Will Morgan e Margareth eram felizes no
casamento. Suas plantações de cana-de-açúcar produziam
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Um Olhar Sobre o Mundo
muita riqueza, e o casal vivia confortavelmente. Mas havia
uma sombra que empanava a sua felicidade. Eles desejavam
ardentemente ter um filho. Margareth já estava beirando os
quarenta anos, logo seria tarde demais. Mesmo tendo adotado o pequeno escravo Peter ela não estava feliz. Certo dia
sonhou que estava grávida. Será que era verdade? Com o
passar dos dias o sonho se confirmou, ela realmente estava
esperando um filho. A gravidez prosseguiu tranqüila até o
dia do parto. Naquele dia Margareth amanheceu com muitas dores. As contrações eram freqüentes, o parto anunciava-se muito trabalhoso, difícil. Ela sofria muito.
- No seu desespero de dor mandou chamar a escrava
Faustina. Ela saberia o que fazer, já que era parteira, tinha
feito vir ao mundo muitas crianças naquela comunidade.
Faustina, como se adivinhasse estava esperando, pronta,
com seu vestido cerimonial branco, a sacola de remédios,
seus colares e o chocalho de cuia (asson). Sem fazer perguntas, dirigiu-se para a casa, subiu pela varanda para o
quarto onde estava Margareth deitada na cama, pálida, gemendo e contorcendo-se de dor e desespero.
- Na entrada do quarto, Faustina que na verdade era
sacerdotisa do vodu e vidente, viu o Anjo da Morte e foi
sacudida por um calafrio, mas não recuou. Cumprimentou-o
com uma reverência agitando a cuia (asson) com chocalhar
de ossinhos e lhe pediu permissão para se aproximar da
cama da parturiente. O deus dos cemitérios e das encruzilhadas, com seu rosto branco de caveira e chapéu negro, se
afastou, convidando-a a se aproximar da moribunda, que
ofegava como um peixe fora da água, encharcada de suor,
com os olhos vermelhos de terror, lutando com seu corpo.
- A curandeira colocou em seu pescoço um de seus
colares de sementes e búzios e lhe disse algumas palavras
de consolo. Depois se virou para o espetro da Morte, acendeu um charuto e o agitou, enchendo o ambiente de fumaça,
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Um Olhar Sobre o Mundo
depois desenhou um circulo de giz em torno da cama e começou a rodar com passos de dança, apontando os quatro
cantos da casa com o chocalho de ossinhos (asson).
- Concluída sua saudação aos espíritos, fez um altar
com vários objetos sagrados que tirou do saco, colocou
oferendas de rum e pedrinhas, e por último sentou-se aos
pés da cama, pronta para negociar com o Anjo da Morte.
Ambos se entregaram a um prolongado regateio em linguagem ioruba, tão denso e veloz que não se entendia nada.
Discutiam, irritavam-se, riam, enquanto ela fumava o charuto e soprava a fumaça. Por fim chegaram a um acordo.
- Ela se dirigiu para a porta fechada, abriu-a e, com
profunda reverência, despediu o Anjo da Morte, que saiu
voando. Faustina agradecendo em oração aos deuses pelas
vidas salvas, rapidamente se voltou para Margareth, que
fazia os últimos esforços para o parto e recebeu nas mãos
uma criança viva e saudável. O pai (fazendeiro Will) assistiu a tudo fascinado, nunca tinha visto algo parecido. Intrigado e cheio de curiosidade, resolveu estudar o vodu.
- Comentava-se com freqüência que os escravos
vindos da África estavam introduzindo o vodu na região,
aquele temível culto africano; presenciavam as danças estranhas dos negros à noite nas praças. Antes era só barulho
de tambores, canto e muito rebolado, mas agora havia uma
bruxa que dançava possessa com uma cobra longa e gorda
enroscada no corpo, metade dos participantes entrava em
transe.
- Era preciso ver o espetáculo grotesco de homens e
mulheres espumando pela boca com os olhos revirados, os
mesmos que depois se arrastavam para trás dos arbustos
para se atracarem como animais no cio. Aquelas pessoas
adoravam uma mistura de deuses africanos, santos católicos, a natureza, os planetas e um lugar chamado Daomé.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- O comércio de escravos negros entre a África, o
Caribe e o Brasil, ocorre ao longo do período colonial e até
o final do século XIX. Dominado pelos portugueses, espanhóis, ingleses, holandeses e franceses, o tráfico existe desde o século XV. Entre 1550 e 1850, chegam ao Brasil cerca
de 3,5 milhões de cativos, trazidos do continente africano,
especialmente da Guiné, Costa de Marfim, Mali, Congo,
Angola, Moçambique e Benin (Daomé). Diferente de outros
países, a escravidão no Brasil só foi extinta em 1888.
- O Mar do Caribe tomou o nome dos caraíbas, povos indígenas que, à chegada dos colonizadores europeus,
habitavam as Pequenas Antilhas, a região das Guianas e o
litoral centro-americano. Os espanhóis dominaram o Mar
do Caribe com seus navios transportando o ouro e a prata
extraídos das ricas minas no Peru, Bolívia e em outras terras americanas. O depósito central para esses tesouros era o
Porto de Cartagena na Colombia, quando eram carregados
em navios que os transportavam para o porto de Sevilha na
Espanha. Nas Salinas de Cumaná na Venezuela, os espanhóis se abasteciam de sal, que era levado para Europa..
- A Jamaica serve de base estratégica para o combate dos corsários e piratas britânicos contra a Espanha, na
América. Depois de ter descoberto o Caribe, no final do
século XV, a Espanha se apoderou de muitas ilhas, mas a
Grã-Bretanha, a França e Holanda também reclamaram a
sua parte, combateram entre si, dominaram e exploraram as
ilhas no mar do Caribe.
- A ilha de Jamaica foi colônia espanhola de 1509 a
1655, quando foi tomada pelos ingleses.No decorrer dos
séculos XVIII e XIX, ela é palco de insurreições antiescravagistas e anticoloniais.Apoiada na monocultura açucareira,
o país sofre e empobrece com a abolição da escravatura em
1833, e com o fim dos privilégios aduaneiros ao país. O
empobrecimento da população gera inquietação social por
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Um Olhar Sobre o Mundo
várias décadas. Violentos confrontos entre as tropas do governo e a gangue de Coke, jamaicano, acusado de chefiar
uma rede internacional de drogas e armas.
- Os ingleses dominaram a ilha de Jamaica até agosto de 1962, data em que lhe foi concedida a independência, mas o país passou a fazer parte do Commonwealth.O
governo atual da ilha é monarquia parlamentarista, tendo
como chefe de Estado a rainha Elisabeth II, do Reino Unido, representada pelo governador Patrick Allen (2009).
- Jamaica possui uma área de 10.991 km² com 2,8
milhões de habitantes (2011), sendo 90% da sua população
descendente de escravos africanos. Fala-se o inglês (oficial)
o inglês creole e dialetos africanos. Conserva 31,3 % de
florestas naturais. A cultura do país é marcada pela música
do estilo reggae lançada por Bob Marley como Slave Driver, e pelo movimento rastafari, que é uma autentica religião negra. O rastafarianismo é relativo à seita religiosa dos
jamaicanos e de outros povos de origem negra africana das
ilhas caribenhas, que crêem no retorno dos negros à África,
usam cabelos rastafári e fumam pango (maconha) como
preceito religioso.
- Em setembro de 1988 a Jamaica foi devastada pelo
furacão Gilberth, o pior deste século, causando enormes
perdas de vidas e deixando sem abrigo 20% da população.A
Jamaica exporta bauxita e tem no turismo sua principal fonte de receitas externas.O desemprego e o tráfico de drogas
contribuem para o aumento da violência no país, com altas
taxas de homicídios.
Álvaro e Rodrigo no retorno de Jamaica e de Haiti
para o Brasil viajaram no avião do exercito brasileiro. O
país que deixaram marcou-os com tristes recordações, no
entanto, a vizinha República Dominicana deu-lhes grande
alegria e compensação, com a valiosa amizade do fazendeiro Dubois e sua família, com que foram agraciados.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Os dois jovens seguiram imediatamente para a casa
dos seus pais.Foram recebidos com alegria na casa paterna,
e mais carinhosamente pelas garotas Ângela e Daniela, suas
eternas apaixonadas. Mereciam um prolongado descanso, e
diversão que seria oferecido pela família e pelos amigos.
Mas não era isso que satisfazia e aquietava a alma dos primos.Seu espírito aventureiro os instigava a continuar a viajar pelo mundo. Eles sonhavam em ir para o Chile, um país
maravilhoso, com praias paradisíacas e vinhos excelentes.
- Quando pensa ser a época oportuna de realizar a
nossa viagem para o Chile? - perguntou Rodrigo ao seu
primo Álvaro.
- Assim que resolvermos a questão financeira, pois
dependemos da boa vontade dos nossos pais - disse Álvaro.
Após as férias bem aproveitadas, a inquietude voltou a invadir o coração dos dois primos aventureiros. Com
a interferência das respectivas mães, os pais liberaram os
cartões de credito para subsidiar as despesas. Os jovens iam
fazer a viagem sonhada aos confins do misterioso Chile,
queriam conhecer desde a fronteira norte na divisa com o
Peru até Patagônia e Punta Arenas, no extremo sul.
REPÚBLICA DO CHILE.
Estando tudo programado, Álvaro e Rodrigo embarcaram no avião de passageiros da companhia chilena Lan
Airlines em Foz do Iguaçu com destino à Santiago, capital
do Chile. O vôo seguiu seu curso tranqüilo, com pequenas
turbulências na travessia da Cordilheira dos Andes. Após 2
horas e meia o avião pousou no aeroporto de Los Cerrillos
em Santiago, às seis horas da manhã. Álvaro e Rodrigo
depois de liberarem os passaportes e a bagagem, seguiram
para o hotel ”El Nacional”, no centro da cidade.
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Um Olhar Sobre o Mundo
O apartamento já estava reservado. Tomarem um
banho e se dirigiram ao restaurante para o desjejum, aliás,
servido com grande variedade de pães, bolos, queijos, salames, frutas e sucos, tudo da melhor qualidade. Descansaram à tarde e à noite saíram para conhecer Santiago, cidade
de clima ameno, de tipo mediterrâneo, que convidava para
um passeio. Foram conhecer a vida noturna, os bares, teatros e os cinemas. Voltaram tarde da noite, entusiasmados.
No dia seguinte após o desjejum, Rodrigo sugeriu:
- Para conhecermos melhor a cidade e tudo que ela
oferece à viageiros, devemos primeiro comprar um guia de
Santiago e um mapa geral do Chile, para podermos viajar e
conhecer todo esse país de configuração territorial incrível.
- Bem lembrado primo, então vamos procurar uma
banca de jornal ou agencia de turismo onde nos informaremos melhor – decidiu Álvaro.
Tendo encontrado e adquirido a publicação destinada a orientá-los na viagem pelas diversas regiões do Chile,
os dois amigos voltaram para o hotel traçar o melhor itinerário a seguir. Para isso estenderam o mapa sobre a mesa.
- Chile é um país do sudoeste da América do Sul,
encravado entre a Cordilheira dos Andes e o Oceano Pacífico. Com 756.102 km² possui o mais estreito território do
mundo, a largura máxima é de 175 quilômetros e a mínima
de 25 quilômetros, para uma extensão de 4.230 quilômetros, de norte a sul. Chile tem 17,3 milhões (2011) de habitantes, sendo a Região Central a mais populosa – comentou
Álvaro ao ler as primeiras informações que constavam no
exemplar do guia turístico.
Depois de uma noite bem dormida, ainda bocejando
e se espreguiçando os dois passaram a planejar o dia.
- Vamos conhecer primeiro a cidade de Santiago –
sugeriu Rodrigo.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Então levante logo seu preguiçoso, pois não viemos aqui para dormir – replicou Álvaro.
Após o banho matutino dirigiram-se para o salão do
café para o desjejum. Depois de bem alimentados saíram
em visita à cidade, levados por um guia turístico contratado.
Os visitantes ficaram entusiasmados com a beleza da cidade.O guia Diego, moço bem-falante, bastante instruído acerca da história e das características do país natal foi explicando:
- A cidade de Santiago, capital interna de um país
todo litorâneo, encontra-se numa posição geográfica excepcional: a meio caminho dos extremos norte e sul do país,
diferentes pelas riquezas e ocupações do solo, e numa distância intermediária entre a costa do Pacífico e a Cordilheira dos Andes. A cidade localiza-se no vale do rio Mapocho,
afluente do Maipu, numa larga planície a cerca de 600 m
de altitude.
- Ali num verdadeiro anfiteatro rodeado por montanhas, o espanhol Pedro de Valdivia fundou a primeira vila
de Santiago em 1541. A nova cidade foi muitas vezes atacada pelos índios araucanos os verdadeiros donos da terra,
os colonizadores espanhóis se viram obrigados a estabelecer ao sul do rio Bío-Bío (o mais importante curso de água
chileno), o Território da Frontera, que durante mais de três
séculos constituiu uma verdadeira zona militar de limites
estáveis, respeitada pelos colonizadores.O sul é controlado
pelos índios araucanos ou mapuches.
- Analisando a fixação de grande aglomeração urbana somando 5.951.554 pessoas (2011), e mais de 54% de
indústrias do país, Santiago enfrenta presentemente graves
problemas de circulação e de poluição atmosférica. Os ventos dominantes levam para o centro da cidade uma espessa
camada de poluentes provenientes das indústrias localizadas nos bairros do sudoeste. A cidade tem o traçado em
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Um Olhar Sobre o Mundo
forma de tabuleiro de xadrez, com ruas e avenidas entremeadas por largas praças arborizadas.
- Os gigantescos cumes andinos cobertos de neve
eterna, fechando a leste a linha do horizonte, são uma referência constante ao longo de toda a capital.A praça de Armas, o tradicional centro histórico com os seus pregadores
religiosos, as filarmônicas do coreto, os vendedores ambulantes e o curioso clube de xadrez local, são o verdadeiro
coração da cidade.Rodeada por magníficos edifícios coloniais, como o Correo Central, o palácio La Real Audiência
onde funciona o Museu Histórico Nacional,a Municipalidade e a Catedral, é um dos locais mais atraentes de Santiago.
- Adiante, fica o Museu de Arte Pré-Colombiana
com a sua importante coleção de artesanato, que abrange a
mesoamérica e toda a região andina. Caminhando pela larga
e arborizada avenida chega-se a Praça La Constitución, e
encontra-se o majestoso edifício do Palácio de La Moneda,
a tradicional sede do governo chileno. Junto à praça podese apreciar o luxuoso Hotel Carrera.
- A Avenida Bernardo O´Higgins, no centro de Santiago, é um bom exemplo do surpreendente crescimento da
capital.A“Posada del Corregidor“, esta casa que data do
século XVIII, constitui um dos poucos edifícios coloniais
da capital não destruídos por terremotos A Praça Andrés
Bello, com o arco de entrada para o parque do Cerro de
Santa Lucia,exatamente o local de fundação da capital chilena. Poucas são as construções da cidade que lembram o
período colonial, pois quase todas foram destruídas por
terremotos muito freqüentes nessa região.
- Vários trechos oferecem paisagens tipicamente européias, em contraste com os modernos edifícios e avenidas.Como na maioria dos países da América Latina, inclusive no Brasil, as grandes cidades convergem para si famílias que deixam os campos para viver nas cidades.Essa
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Um Olhar Sobre o Mundo
população, sem qualificação profissional para que possa ser
absorvida na industria, cria então as favelas, um problema
urbanístico que tem desafiado várias administrações, tanto
municipais como estaduais.
- Vejo que, vocês estrangeiros, observam extasiados
a paisagem em redor, principalmente as altas montanhas
que circundam a cidade - comentou Diego. - Nesta região,
em muitos aspectos, a peculiar zona andina destaca-se como uma barreira abrupta. Os vulcões San José e Maipo ultrapassam os 5.000 m.de altura e de tempos em tempos entram em erupção vomitando fogo e cinzas.
- A Cordilheira dos Andes é uma vasta cadeia montanhosa de aproximadamente 8.000 km de extensão, que se
estende desde Venezuela até o Cabo Horn na Patagônia,
atravessando todo o continente sul americano e vai além,
até o gelado continente da Antártica.Nos territórios da Colômbia e da Venezuela a cordilheira se ramifica e se prolonga até quase alcançar o Mar do Caribe.A Cordilheira
dos Andes surgiu há 23,5 milhões de anos atrás, na Época
do Mioceno, em resultado de um choque ocorrido entre as
placas tectônicas Sul-americana com a placa do Pacífico.
- Sua formação geológica abrange o Período Terciário. Distinguem-se os Andes da Patagônia, do Chile, do
Peru e da Colômbia. Os Andes do Chile tem o ponto mais
alto no Ojo del Salado de 6.863 m, também a Colômbia tem
os cumes mais elevados que ultrapassam as neves perpétuas
e numerosos vulcões em atividade Os tremores de terra são
muito freqüentes em toda extensão da cadeia dos Andes. O
ponto culminante é o pico Aconcágua com 7.010 m, há
ainda muitos outros cimos elevados, alguns com vulcões
em atividade.
- O pico Ilampu de 6.500 m, o Chimborazo de
6.310 m, o Cotopaxi de 5.960 m, o Llullaillaco de 6.723 m,
o Cerro Mercedário de 6.770 m,.o Tupungato de 6.800 m.e
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Um Olhar Sobre o Mundo
muitos outros. Se vocês observssem de 10 mil metros de
altura, numa viagem de avião, desvendariam um fantástico
panorama de picos elevados da Cordilheira cobertos de
neve.O sopé das montanhas está semeado de coníferas.
- Acima das nuvens e por entre os montes voa soberano o condor, o seu vôo ultrapassa os mais elevados cumes dos Andes. Ave de grande porte tem até 1,30 m de
comprimento e 3 metros de envergadura, penas de coloração escura e colar branco no pescoço, é um verdadeiro fóssil vivo, do tempo dos dinossauros. Alimenta-se de animais
mortos e congelados durante o inverno e da caça de pequenos animais, como coelhos, ratos e cobras.
Os dois primos escutavam com a maior atenção a
explanação que fazia o inteligente e instruído guia. Ele foi
dissertando sobre a conjuntura original do país costeiro.
- As outras cidades do Chile são bem mais modestas. Valparaíso com 872.591 mil habitantes (2010),è a segunda maior do país, é um importante porto do Pacífico e
um grande centro industrial. Valparaíso situa-se à uma hora
de carro de Santiago. Somente estão separados pelas montanhas de cumes escarpados, em cujos cimos se levantam
como obeliscos grandes cactos espinhosos, hostis e floridos.
- Algo indefinível distancia Valparaíso de Santiago.
Santiago é uma cidade cercada por seus muros de montanhas com picos cobertos de neve. Valparaíso, ao contrário,
abre suas portas ao mar infinito, aos gritos das gaivotas, aos
olhos dos turistas.A cidade se desenvolveu ao longo do mar
e expandiu, desordenadamente, para as encostas que o ladeiam. As ruas, labirínticas, desenvolvem-se entre escarpados e complexos cerros.
- Elas ramificam-se, entrelaçam-se, debruçam-se sobre precipicios, sobem, descem de novo, e desembocam em
becos ou escuros pátios. Sendo uma zona de freqüentes
sismos, cada novo abalo origina reconstruções caóticas, ou
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Um Olhar Sobre o Mundo
possíveis, criando renovados percursos, alterando a ordem
das antigas ruelas.Para vencer o acentuado declive da cidade torna-se necessário recorrer aos elevadores e às milharaes de escadas que ai existem.
- Pequenos mundos de Valparaíso, abandonados
sem razão e sem tempo, como caixotes vazios jogados no
fundo de um velho armazém, que não se sabe de onde vieram e o que traziam. Talvez nesse domínio secreto, as almas de Valparaíso ficaram presas para sempre.A liberdade
perdida das vagas do mar no vendaval da tormenta que ruge
e corcoveia. O mar de cada um, ameaçador e misterioso,
um som incompreensível, uma agitação solitária que se
tornou névoa e espuma dos nossos sonhos. Nas excêntricas
vidas que descobrram, surpreendeu-os o grande apego que
mantinham com o porto livre, desafiador.
- No sopé das montanhas prospera a miséria aos
borbotões frenéticos de casebres e estreitas ruelas. Mas
nem todos alcançaram as colinas e as encostas dos morros
para o trabalho do campo. Apenas guardaram na lembrança
o seu próprio desejo, o fragmento do mar.Os guindastes, os
embarcadouros, absorveram a mão-de-obra dos homens
marcados no corpo e nas faces encovadas, pela pobreza e
felicidade fugaz das bodegas e prostíbulos.
- Valparaíso às vezes se sacode como uma baleia ferida, gira no ar, cambaleia, agoniza, morre e ressuscita. Aqui cada cidadão guarda na sua memória o terremoto. Cada
pessoa é um herói antes de nascer. Porque na memória do
porto está gravado esse descalabro, essa catástrofe, o tremor
de terra que se anuncia com um rugido rouco das profundezas, como si uma civilização subterrânea se pusesse a sibilar suas máquinas e a repicar os sinos enterrados, para avisar as pessoas que tudo está no fim.É um estigma de medo
que vive colado no coração da cidade
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Às vezes quando os muros, os sobrados e os telhados das casas da cidade e das redondezas já caíram, os homens e os animais pararam de correr, a gritar e a berrar. Aí
tudo começa imperceptivelmente por um vago movimento
no mar, as ondas que dormiam despertam lentamente. Depois do silêncio, quando já tudo parecia quieto e morto, sai
do mar, como último fantasma, a tsunami, a grande onda, a
imensa mão verde que, altíssima e ameaçadora, sobe como
uma torre de vingança varrendo a vida e tudo que está ao
seu alcance. Invade e destrói a cidade, terras e vinhedos.
- Esse pavor é um medo cósmico, uma instantânea e
grande insegurança, de um universo que desaba, desmorona
e se desfaz como tantos sonhos. A alma entre os sonhos se
comunica com as profundas raízes da sua força terrestre.
Num grande tremor não tem para onde correr, porque os
deuses fugiram, as majestosas igrejas se converteram em
monturos de ruínas trituradas. A terra treme. A poeira que
levanta das casas que desmoronam, pouco a pouco desaparece e os sobreviventes ficam sozinhos com seus mortos,
com centenas de mortos, sem saber por que ficaram vivos.
- Apesar dos obstáculos da natureza, Valparaíso é o
maior porto importador do país e dos maiores no volume de
exportações.
- Nas proximidades de Valparaiso,o balneário Viña
del Mar goza de clima ameno, de tipo mediterrâneo.Hoje,
florescente, com 290.000 habitantes, atrai visitantes das
mais diversas nacionalidades, é a mais concorrida estação
balneária do Pacífico sul.A alegria dos turistas contagia a
cidade,que também sofre as conseqüências dos terremotos.
- A cultura das vinhas nas vizinhanças de Santiago
foram introduzidas em 1851, a região é um dos importantes
produtores de vinhos excelentes, que são exportados para
o mundo todo. Vocês não deixem de saboreá-lo, tem para
todos os gostos, vale a pena experimentar - comentou DieMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
go – aproveitando a ocasião convido-os para um jantar,
num restaurante típico, para saborear a comida chilena a
base de peixes e camarão, regada a bom vinho.
- Além dos recursos naturais o país conta com uma
indústria próspera. Com a exclusão da Federação Russa, o
Chile é o terceiro produtor mundial de cobre. De fato, este
metal é encontrado em todo o território nacional, como
também o minério de ferro.A produção agrícola compõe-se
de trigo, aveia, milho, arroz, batata, maçãs, cítricos, fumo e
vinhos. A florestal fornece madeira serrada de carvalho, de
pináceas, araucária e compensados (aglomerados) de pinus.
- Existe em larga escala a criação de bovinos, cuja
excelente carne é exportada, bem como a lã e a carne de
ovinos e caprinos, criados nas pastagens costeiras e nos
campos da Patagônia. Nos vales andinos criam-se lhamas e
alpacas. A atividade pesqueira constitui outro recurso de
inegável importância para a nação chilena. A pesca é muito
abundante, graças à extensão do seu litoral.
Por muitos dias, acompanhados pelo excelente guia
Diego, os dois pesquisadores brasileiros percorreram os
lugares históricos, de construções em estilo barroco, dos
fins do século XVI aos meados do século XVIII, as poucas
edificações que resistiram aos tremores de terra freqüentes
nessa região. Não podiam deixar de conhecer o famoso e
concorrido balneário de Vinã del Mar, aproveitaram as suas
águas tépidas e as areias brancas. Regalaram-se com os
excelentes pratos elaborados a base de peixes e mariscos.
- Os nossos exploradores admiraram os amplos palácios coloniais de Valparaíso, a baia sempre presente, a
estancar a torrente de casas que se precipitam dos morros
em sua direção. Desceram para a ampla praça Sotomayor,
rodeada de belas mansões e seguiram para a praça Matriz
com a sua imponente igreja Matriz e o Mercado Central.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
Rodrigo e Álvaro ouviam, atenciosamente, a explanação entusiasta que fazia o seu guia Diego a respeito do
Chile e da sua gente. Foram por ele incentivados para prosseguirem na sua busca do mundo, por eles, desconhecido.
- Aqui termina minha tarefa, portanto devo deixálos, meus amigos! – disse Diego - desejo à vocês uma boa
viagem, de muita satisfação pessoal e aventura.
- Nós é que te agradecemos pela presteza com que
nós atendeu e orientou, esperamos retribuir algum dia
quando visitares o Brasil, deixamos com você o nosso endereço e o telefone. Serás bem-vindo - disse Rodrigo.
Caia a tarde em Valparaíso, era hora de prosseguir a
viagem, tomar o trem e partir em direção ao Sul, para as
cidades de Talcahuano e Concepción, onde ficaram por dois
dias conhecendo a região e as duas cidades; a próxima estação era a cidadesinha de Temuco onde não pretendiam ficar.A seguinte paragem seria em Puerto Montt, ponto terminal da estrada de ferro que, partindo de Iquique, no Norte, forma o eixo do sistema chileno de transportes de passageiros e carga
- Naqueles dias, sem aviso, algo terrível ocorreu na
região de Concepcion. Aconteceu a colisão das placas tectônicas de Nazca com a Sul-americana, no dia 27 de fevereiro de 2010. A cidade de Concepción situada no litoral
chileno foi abalada por um violento terremoto de 8,8 graus
na escala Richter, que arrasou a cidade. Em seguida ondas
gigantescas cobriram as praias num catastrófico tsunami,
cujas águas varreram o litoral destruindo casas, ruas, parques e florestas com grande impacto ambiental. Morreram
450 pessoas e milhares ficaram desabrigadas ou desaparecidas Foi um desastre de caos inimaginável. O país precisava de socorro urgente.
Logo depois, nos dias dois de março e nove de setembro de 2010, houve mais terremotos de 6,1 graus na
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
escala Richter, com epicentro a 35 km da costa, próximo à
Concepción..O cataclismo trouxe graves problemas e prejuízos nos seus principais recursos que são a pesca e as indústrias químicas e metalúrgicas alimentadas pelas grandes
jazidas de andracito (submarinas), carvão fóssil de Arauco e
Concepción. Destruindo a próspera indústria de laminados
de pinus, e as grandes plantações próximas à cidade.
As duas cidades visitadas anteriormente pelos brasileiros, foram vitimas dos grandes tremores de terra. No dia
dois de janeiro de 2011, novamente a Região Central do
Chile, foi abalada por um terremoto de 7,1 graus na escala
Richter, com epicentro a 450 km da costa, no Pacífico.
- Por sorte nós já tínhamos saído de Concepción
quando se deu o grande abalo. O hotel que nos havia hospedado ruiu com o terremoto – comentou Rodrigo.
- Imagine primo o grande perigo que estava nos ameaçando. Deus nos protegeu e estamos aqui sãos e salvos,
precisamos avisar nossos pais, no Brasil, que estamos bem,
não corremos nenhum risco – lembrou Álvaro.
Mas para continuar a jornada de aventuras, o que
lhes despertava maior curiosidade era conhecer a Região da
Frontera. Portanto, no outro dia se dirigiram a estação de
trem, compraram duas passagens na Ferrovia Chilena, com
destino à Puerto Montt. Minutos depois, com grande apito,
ruidosamente o trem chegou à estação. Uma avalanche de
gente, empurrando-se subiu na composição.
Os dois primos entraram no trem com dificuldade e
colocaram as malas nas prateleiras de cima, e sentaram comodamente nos bancos. Ouviu-se um apito agudo e o comboio começou a rodar. Rodrigo cochilou com o embalo do
trem, enquanto que Álvaro, com instinto de jornalista,
entabulou conversa com um jovem estudante chileno que
viajava em frente ao seu assento. O rapaz apresentava as
feições de verdadeiro criolo, de tez acobreada e cabelos
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
pretos, lisos, típico da miscigenação entre espanhóis e indígenas araucanos (mapuche).
- Você é da região de Frontera? Como se chama? perguntou Álvaro.
- Meu nome é Fernando, sou da região de Temuco,
estou voltando em férias para a casa de meu pai.Estudo na
Universidade Federal em Santiago.Estou cursando o terceiro ano de geologia. Vocês para onde vão? Como se chamam?- indagou o estudante
- O meu nome é Álvaro, este é meu primo Rodrigo,
somos brasileiros em viagem de estudo no Chile.
Fernando, Rodrigo e Álvaro conversaram a viagem
toda, trocando idéias sobre experiências, divergindo às vezes, mas ao final da viagem já se tornaram grandes amigos.
Fernando explicava a situação da região sul do país:
- Ao sul encontram-se as cidades de Temuco, Osorno e Valdivia, e já em plena Patagônia, quase no extremo
meridional, ergue-se Punta Arenas, com mais de 100 mil
habitantes, que deve sua prosperidade ao fato de ter-se tornado importante centro petrolífero. Na Patagônia chilena os
grandes rebanhos ovinos constituem um dos recursos básicos da região. No extremo sul vivem os índios fueguinos e
os patagões, que se dedicam à caça, à pesca e ao pastoreio.
- Para se traçar um quadro geral da situação econômica chilena é necessário levar em conta a extensão latitudinal do país, ao norte fica a zona desértica do Atacama,
riquíssima em minerais; ao centro, a fértil região de clima
mediterrâneo; ao sul as florestas, a pesca e as jazidas de
petróleo.Chile é internacionalmente conhecido por sua riqueza em minerais, e na realidade, junto com a agricultura,
a mineração constitui a base econômica do país- descrevia o
estudante chileno, entusiasmado.
- Vocês aceitariam se os convidasse para passar alguns dias na casa de meu pai, situada num bairro de TemuMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
co? Eu ficaria muito feliz em conviver com meus novos
amigos e lhes asseguro que meu pai vai adorar deveras, ele
gosta de hospedar pessoas, ainda mais se tratando de meus
amigos brasileiros – convidou com insistência Fernando.
- Que me diz primo, aceitamos o convite?- perguntou Álvaro dirigindo-se ao Rodrigo.
- Sim! Aceitamos com prazer. O amigo Fernando
tem certeza que não vamos causar nenhum transtorno á sua
família?- preocupou-se Rodrigo.
- E claro que não, a família toda vai ficar feliz –
respondeu o estudante.
Fernando fazia parte de uma grande família, morava
com seu pai Don Rodolfo, sua mãe Consuelo, quatro irmãos
e duas irmãs, numa casa enorme nos arredores da cidade. É
difícil imaginar uma casa como a de Don Rodolfo Rivera,
casa típica de fronteira, de há sessenta anos atrás. Estas casas pioneiras tinham algo de acampamento de exploradores.
Ao entrar se viam, colocados num canto, barris com
aguardente com canecos de alumínio em cima, chaleiras e
panelas enfumaçadas dependuradas acima do fogão de pedra, arreios de montaria e outros objetos indescritíveis, amontoados nos cantos ou dependurados nas paredes.
A casa estava inacabada, continuava com algumas
tábuas da parede despregadas, o telhado incompleto, o piso
de madeira bruta. Falava-se sempre em continuar a construção, mas sempre ficava só nos planos. As casas das famílias
vizinhas se comunicavam pelos fundos dos pátios, quando
se trocava revistas, panelas ou emprestava um copo de açúcar ou sal,se precisasse até remédios, capa ou guarda-chuva.
Don Rodolfo, chileno de cabelos brancos, era o patriarca desta família. Seus filhos eram do tipo criolo, pareciam-se com a mãe Consuelo, uma índia mapuche. Essa
família nunca tinha dinheiro, pois o que ganhavam empregavam na compra de estalagens e açougues, que os filhos
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
administravam sem grande dedicação e acabavam falidos, e
ficavam tão pobres como antes.
O fazendeiro sempre sonhou em mandar seus filhos
para a Universidade em Santiago. Conseguiu mandar um, o
primogênito Fernando, que agora voltava em férias trazendo dois amigos brasileiros. A família estava feliz pela volta
do filho e ansiosa em conhecer esses estrangeiros.
Na casa de Don Rodolfo sempre se celebravam os
grandes datas festivas. Agora se ia comemorar o aniversário de Fernando. Em toda a festa havia peru recheado, cabrito assado no espeto, leitão no forno, raiz de mandioca
cosida e sobremesa de doce de leite. O patriarca sentava à
cabeceira da mesa interminável, com sua esposa dona Consuelo, rodeada dos filhos solteiros, dos casados e noras.
Detrás deles ficava desfraldada uma grande bandeira chilena. Dependuradas sobre a parede da sala estavam as fotografias antigas dos pais e dos avós de Don Rodolfo.
Nesta casa havia também um salão onde se aglomeravam as crianças, netos do patriarca. Uma mesa comprida
ocupava o salão onde era servida a comida no meio de uma
grande algazarra. Os sofás e outros móveis ficavam cobertos com grandes lençóis brancos, protegidos das mãozinhas
sujas de gordura, da batalha de ossos atirados na brincadeira depois do almoço.Cães disputavam os restos da comida.
Don Rodolfo gostava de contar a história desta terra,
a conquista do sul do Chile, as guerras com os mapuches.
Depois do almoço festivo realizado em comemoração ao
aniversário de Fernando e em homenagem aos visitantes, o
chefe da família pediu licença para narrar os fatos notáveis,
outros corriqueiros ocorridos na vida do povo desta região.
Todos os comensais sentados em volta da mesa
prestaram a maior atenção na narrativa do patriarca:
- Começarei por falar, sobre os dias e anos da minha
mocidade. O personagem inesquecível dessa época foi a
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
chuva. A grande chuva austral que caia como uma catarata,
desde os céus cinzentos do Cabo Horn até a Frontera. Nessa
fronteira, o autêntico Far-West chileno, nasce a vida, a terra, o frio e a chuva. Por muito que tenho andado parece que
se perdeu essa arte de chover que exercia um poder terrível
e sutil em minha Araucânia natal.
- Chovia meses inteiros, anos inteiros. A chuva caia
em torrentes como grandes filetes de vidro que se quebravam em estilhaços e batiam em ondas transparentes contra
os telhados e janelas das casas. Os barcos que saiam ao
mar, dificilmente voltavam ao porto naquele oceano de inverno. Essa chuva gelada do sul da América não dava trégua não amainava nunca.A chuva austral tem paciência e
continua sem fim caindo do céu cinzento.
- Em frente da minha casa a rua se convertia em um
imenso mar de lama. Através da chuva vi, pela janela, que
uma carroça encalhou no meio da rua. O camponês, de agasalho preto de nylon, chicoteava os bois que empacaram, e
não tem mais forças para enfrentar a chuva e o barro. Desafiando a chuva e o frio as pessoas iam ao trabalho. Os guarda-chuvas o vento carregava. As roupas e os sapatos encharcavam. Ficou na minha lembrança a visão das camisas
e calças molhadas secando no fogão, e muitos sapatos evaporando como pequenas locomotivas.
- Logo vinham às inundações, que atingiam os povoados nas baixadas, perto do rio, onde vivia a gente pobre.Também às vezes, sem aviso, a terra rugia e tremia temerosa. Outras vezes, na cordilheira dos Andes surgia um
penacho de fumaça, era o vulcão Lhaima que despertava.
- Temuco era um povoado pioneiro, desses pequenos vilarejos com um movimentado comércio, ostentava
lojas de ferragens, sapatarias e lojas de roupa. Como os
mapuches eram analfabetos, as casa de ferragens colocavam placas indicativas nas ruas. Numa placa desenhavam
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
um imenso serrote, noutra uma panela gigantesca, um cadeado ciclópico, uma colher enorme, um grande calção listrado. Adiante, nas sapatarias uma bota colossal.
- Se Temuco era a mais avançada na vida chilena
dos territórios do sul do Chile, isto significava uma longa
história de sangue.No rasto dos conquistadores espanhóis,
depois de trezentos anos de luta, os araucanos se retiraram
até aquelas regiões geladas. Mas os espanhóis continuaram
o que se chamou de “pacificação de Araucânia”, isto quer
dizer, a continuação de uma guerra a fogo e sangue, para
desapropriar os índios das suas terras. Contra os mapuches
todo o tipo de arma foi usado.
- Ciladas com tiroteio de carabinas, incêndios das
palhoças e logo se empregou a lei e o álcool. Os advogados
se fizeram especialistas em desapropriação de suas terras, o
juiz os condenava quando protestavam, o padre os ameaçava com o fogo do inferno. E por fim o álcool conseguiu o
aniquilamento de uma raça soberba cujas proezas, valentia
e orgulho ficaram gravados em estrofes, de poetas e escritores de Araucânia. Ficou a lembrança da luta de sangue pela
sobrevivência dos mapuches e de Temuco.
Depois de discorrer sobre os fatos importantes da
vida desta região Don Rodolfo ficou ensimesmado, triste.
Retirou-se para a varanda, sentou numa cadeira de embalo
para fumar. Tirou do bolso um pedaço de fumo de corda e
começou a cortá-lo em tirinhas finas, esfregou-o bem na
palma da mão; pegou uma palha de milho passou a faca até
alisá-la bem, cortou um pedaço conveniente e enrolou o
cigarro, fez tudo com a maior pachorra, como um ritual.
Procurou o fósforo e acendeu o cigarro. Absorto, acompanhava o ziguezague da fumaça subindo para o ar.
O filho Fernando atencioso com os hospedes amigos
convidou-os para assistirem a um espetáculo inédito que
acontecia na selva. Antes da tarde toda a caravana se achaMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
va reunida na margem da floresta. O naturalista Rodrigo e
seu amigo Álvaro puseram-se a caminho, acompanhando o
grupo de caçadores. Chegara o momento em que os exploradores deviam ir ocupar as competentes posições para
poder observar com atenção a esse fato incomum. No interior do bosque o solo estava juncado de folhas secas que
escondiam completamente os sinais que poderiam denunciar a passagem de panteras ou de qualquer outro animal
selvagem, de pequeno ou grande porte.
- Não obstante isso precisamos estar atentos e precavidos com qualquer surpresa, pois esses animais são feras
perigosas – avisou o guia.
Ao vasculhar melhor ficou evidente a existência dos
vestígios de patas sobre o terreno úmido, deduzindo-se que
dois casais de panteras negras iam todas as noites beber
água em um regato oculto no meio dos arbustos, que se
encontravam na margem oposta do curso do rio.Em geral as
panteras negras não atacam o homem sem provocação, salvo quando a isso a impele a fome, mas quando se vê atacada, não recua nunca, defende-se furiosamente até o último
sopro de vida, e torna-se tanto mais perigosa quando ferida,
é verdade que possui um prodigioso vigor e uma agilidade
incomparável.
Uma cena curiosa apresentou-se aos olhos dos expectadores. Logo que chegaram a pequena distância da
margem do rio os observadores atravessaram por entre uma
grupo de pequenas árvores. O caminho era muito acidentado e o grupo se achava agora na parte mais elevada. Daquele ponto avistava-se na margem oposta uma pequena
clareira coberta de relva e de raros arbustos.
- Daqui poderão assistir a uma cena incomum – disse o orientador que conduzia o grupo.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- As panteras negras vão ter facilidade em pressentir
a nossa presença, pois o vento sopra do nosso lado - comentou um dos caçadores, que levava uma carabina a tiracolo.
- Cuidei de mandar cortar grandes ramos de valeriana e jogá-las sobre a grama da clareira – informou o guia da
expedição.
- Em todo caso não deixarão de vir beber água porquanto o cheiro de valeriana terá o efeito de lhes excitar a
sede – comentou o primeiro guia.
Entre as numerosas variedades de valeriana, espécies de ervas perenes, que fornecem droga proveniente das
raízes e que tem uso clássico na medicina, existe uma a que
vulgarmente se dá o nome de erva dos gatos, em razão das
suas propriedades que são realmente singulares.O cheiro
fortíssimo da valeriana cortada recente, exerce em todos os
animais da raça felina uma atração irresistível. As onças, as
panteras negras, o jaguar e o próprio gato doméstico, rolam
durante horas inteiras em voluptuoso delírio por sobre os
ramos de valeriana cortada. Parece que ficam embriagados.
De súbito ouviu-se no interior da floresta uma espécie de bramido que assustou os pássaros e os macacos, que
subiram pelos galhos das árvores guinchando ruidosamente.
Aquele rugido fez estremecer a comitiva e alertou a sua
atenção. Decorreram uns cinco minutos, depois se fez ouvir
um segundo rugido, mais formidável ainda do que o primeiro e que parecia mais perto, ainda ressoaram nos ares dois
novos bramidos, já próximos, seguidos de uns miaus roucos que denunciavam a presença a uma distância curta, de
dois pares de panteras negras.
De repente ressoaram nos ares uns uivos de prazer.
O fortíssimo cheiro de valeriana causava nos animais felinos uma espécie de embriaguez. Durante um momento os
dois casais de panteras negras pararam como de comum
acordo,espreguiçando-se, estendendo-se sobre a grama coMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
mo cobras, batendo com as caudas sobre os flancos com
violência. Depois soltando novos rugidos de expressão estranha e singular, lançaram-se com fúria sobre os ramos de
valeriana dispersos sobre a grama.
Produziu-se uma cena extraordinária e quase indescritível. Os quatro felinos arrastavam-se sobre a erva, ao
mesmo tempo em que soltavam gritos interrompidos, ora
meio abafados como um gemido, ora estridentes como um
apelo.Davam pulos a uma altura incrível, fazendo caprichosas piruetas à maneira dos palhaços nos circos, e voltavam a
rolar de novo sobre os ramos odoríferos, lançando nos ares
uns murmúrios semelhantes aos que soltam sobre os telhados os gatos no cio. Era um espetáculo único, nunca visto.
As feras mordiam-se, lutavam, entrelaçavam-se rugindo de novo. Agora, porém os seus bramidos nada tinham
de ferozes, eram indecisos, como gemidos, lânguidos como
suspiros. E pouco a pouco, a agitação nervosa dos felinos
ébrios acalmou-se por efeito da sua própria violência. As
feras estendidas sobre os ramos de valeriana e ofegantes,
permaneceram imóveis durante algum tempo. Depois se
ergueram vagarosamente, arrastaram-se até a água, com as
bocas escancaradas, as línguas de fora, os olhos esbugalhados com as pupilas relampejantes. Pareciam estar drogadas.
O grupo de observadores e os caçadores retiraramse em silêncio para não despertar a atenção das feras.
- De fato é um espetáculo fora do comum, nunca
imaginei assistir a um comportamento animal tão chocante
- comentou Álvaro, dirigindo-se a Fernando.
Don Rodolfo vendo o grande interesse dos dois jovens seus hóspedes, em pesquisa, pôs a sua disposição toda
a infra-estrutura de que necessitassem para a realização dos
estudos pretendidos na região. A ajuda fortuita do patriarca
deu-lhes a oportunidade de aprofundar-se nas experiências.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
As explorações da natureza, que o ambientalista e
estudioso da flora e fauna Rodrigo e seu amigo Álvaro faziam, enchiam de curiosidade os membros daquela família.
Eles começaram a interessar-se em suas descobertas, largavam-se pela selva adentro, com maior destreza e conhecimento;eles encontravam e traziam-lhes tesouros inacreditáveis. Achavam lindas orquídeas de cores e perfumes estonteantes, estranhos cipós parasitas, cactos minúsculos, flores
exóticas, e tudo isso depositavam nas mãos de Rodrigo.
Havia um peão que se chamava Fredão, segundo
seus conhecidos o homem era um perigoso bandido. Tinha
duas grandes cicatrizes no seu rosto mulato, uma era a linha
vertical feita por uma faca afiada e a outra o seu sorriso
triste, horizontal, cheio de simpatia e safadeza.
Esse Fredão trazia para o Rodrigo enormes aranhas
peludas, as mais peçonhentas, chamadas de viúvas negras.
Filhotes de coruja, ovinhos minúsculos de colibri, jabutis de
carapaça alta, uma vez descobriu o mais deslumbrante besouro dourado.Não sei se alguém viu algo parecido. Era
um relâmpago vestido de arco-íris. Nuances de vermelho,
violeta, verde e amarelo cintilavam na sua couraça.Como
um raio escapou das mãos de Álvaro e voltou para a selva.
Nem Fredão, que era especialista nessa arte, pode
achá-lo no meio dos paus podres e da folhagem do chão
úmido da floresta. Rodrigo nunca se esqueceu daquele achado deslumbrante, tampouco esqueceu Fredão. Seus amigos lhe contaram da sua morte, ele viajava na plataforma do
trem e caiu num precipício. O trem se deteve, acharam-no,
mas já era um só amontoado de ossos e sangue.
A vizinhança toda admirava e comentava o trabalho
de pesquisa dos dois brasileiros, e mais ainda curiosos pelos
notebooks que levavam consigo, onde anotavam tudo. Dias
depois veio um convite para assistirem uma debulha de
cereais, trigo e milho, numa fazenda bastante longe dali.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
Seria uma boa oportunidade para ambos os estudiosos,
principalmente para Álvaro, jornalista e antropólogo. Poderia observar e estudar as características sócio-culturais dessa comunidade, como costumes, crenças, comportamento
das pessoas e seu trabalho.
- Gostamos da idéia, vamos com certeza – aprovaram em uníssono.
Seria uma aventura irem sozinhos, adivinhando os
caminhos por aquelas serranias. Imaginavam que se por
acaso se perdessem haveria alguém para auxiliá-los. Montados em bons cavalos, Rodrigo e Álvaro subiram as montanhas, afastando-se da vila. Seguiam pela trilha do bosque,
os cavalos trotando por entre as centenárias árvores de ramagens verde-escuras, as folhas com gotículas de orvalho
brilhavam ao sol da manhã que surgia no horizonte.
As colossais samambaias do sul do Chile eram tão
altas que podiam passar por baixo dos seus ramos sem tocá-las, homens e seus cavalos. Quando por acaso algum
deles roçava nelas, dispersavam sobre os viajantes uma
rajada de chuva refrescante.
Cavalgaram o dia todo. A tarde começou a cair palmo a palmo. De repente cruzou os ares, um som indefinível, rouco, como o lamento de um desconhecido pássaro
selvagem. Alguma águia ou condor dos Andes, deteve seu
vôo no céu crepuscular,batendo as enormes azas negras,
observava a presença de seres estranhos aquele meio. Cães
selvagens de pelagem ruiva, velozes, cruzavam o caminho
uivando e ladrando, seguidos por desconhecidos habitantes
da floresta misteriosa.
Álvaro e Rodrigo reconheceram que se tinham perdido na imensidão da selva andina. A escuridão da noite e a
floresta os amedrontavam e enchia-os de terror. Até ali não
encontraram ninguém, de repente, um único solitário viajante cruzou o seu caminho. Ao se aproximarem verificaMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
ram que se tratava de um desses camponeses miseráveis, de
poncho surrado, montado num cavalo desnutrido.
- Olá amigo, poderia nos ajudar?- perguntou Álvaro.
- De que necessitam?- atendeu o camponês.
- Estamos indo para a fazenda de Don Hernandez,
acho que nos perdemos no meio dessa mata fechada, podia
nos indicar o caminho certo? – pediu Rodrigo.
- Vocês não chegarão à fazenda dos Hernandez essa
noite, estão muito longe. Conheço cada canto dessa região,
sei o lugar exato onde nos encontramos – informou ele.
- Sabe amigo, não gostaríamos de pernoitar na mata,
ao relento, peço-lhe que nos indique um lugar onde podemos descansar até o amanhecer – solicitou Álvaro.
- Sigam por duas léguas uma pequena trilha que sai
no meio de uma clareira. De lá enxergarão luzes de uma
casa grande de madeira de dois pisos - indicou o camponês.
- É um hotel? – perguntou Rodrigo.
- Não, jovem. São três senhoras francesas, madeireiras, que vivem aqui desde há trinta anos. Recebem os visitantes muito gentilmente. São muito simpáticas, vão recebêlos com toda cortesia, tenho certeza - argumentou .
- Agradecemos pelo conselho – finalizou Álvaro.
O camponês se despediu e foi trotando no seu cavalo esquálido. Os dois primos continuaram cavalgando pelo
caminho estreito, como almas penadas. Uma lua virginal,
de luz prateada, começava surgir no céu estrelado. Cerca
das nove horas da noite avistaram as luzes da casa. Apressaram os cavalos antes que se fechassem os portões. Passaram pela porteira da propriedade, contornando as toras de
madeira cortada e montanhas de serragem. Aproximaram-se
da porta de entrada, pintada de branco, daquela casa perdida
na solidão da floresta.
Rodrigo bateu palmas e chamou na porta.
- Alô!Tem alguém aí? Precisamos de abrigo.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
Passaram-se alguns minutos, os viajantes pensaram
que não havia ninguém, quando surgiu uma senhora de cabelos brancos, esbelta e enlutada. Examinou-os com os olhos severos e entreabriu a porta para perguntar:
- Quem são vocês, o que desejam? – disse numa voz
fraca de fantasma.
- Somos pesquisadores brasileiros, estamos a caminho da fazenda de Don Hernandez assistir à debulha de
cereais pela trilhadeira, máquina que separa o grão de trigo
ou de milho da palha do cereal. É noite fechada, nós estamos cansados e perdidos nessa imensa floresta. Disseramnos que as senhoras são muito hospitaleiras e bondosas.
Somente precisamos comer e dormir nalgum canto. Ao amanhecer seguiremos o caminho para a fazenda.
- Entrem por favor,estão em vossa casa – convidou.
Abriu a porta e os levou a um salão escuro, e ela
mesma acendeu as lâmpadas de óleo de parafina. A sala
cheirava a umidade. Grandes cortinas de seda vermelha
cobriam os altos janelões. Aquele salão era de um outro
tempo, indefinível e inquietante como um sonho. A nostálgica dama de cabelos grisalhos, vestida de luto, se movia
sem que se ouvissem seus passos, arrumando com as mãos
uma coisa ou outra, um álbum, um porta-retrato, um leque,
daqui para lá, dentro de maior silêncio.
Não demorou muito e entraram na sala mais duas
senhoras, parecidas com a primeira, na aparência e no vestuário. Perguntaram sobre o nosso país o sobre as pesquisas
que estávamos fazendo. Disseram que tinham nascido em
Avignon na França, vieram para o Chile ainda crianças,
com seus pais e avós, na época da colonização.
Todos estavam mortos havia muito tempo. Restaram
elas três. Acostumaram-se a chuva austral, ao vento gelado,
ao soar da lâmina da serra-de-fita, aos montes de serragens
da serraria, ao contato dos poucos camponeses rudes e as
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
criadas mapuches. Após a morte dos pais decidiram ficar
ali, continuar o trabalho deles. Era a única casa naquele
ermo de selva e montanhas de cumes íngremes.
Naquele instante entrou uma criada índia e sussurrou algo ao ouvido da senhora mais velha. Saímos pelos
corredores gelados, para a sala de jantar. Ficamos atônitos.
No meio da sala, uma mesa coberta com toalha alva, bordada, iluminada com candelabros de prata, estava aquele banquete surpreendente, digno de príncipes.Eles estavam desgrenhados, cansados e empoeirados.Ficaram desconcertados, não estávam preparados para esta faustosa refeição.
A conversa foi se alongando para aqueles tempos
remotos, longe daquela noite repleta de milhões de insetos,
coaxar de rãs e o piar do mocho. Do seu esconderijo, o canto do pássaro noturno soava como um oboé. De longe se
ouviu o urro de uma pantera. Os cavalos ficaram inquietos,
correndo pelo curral e relinchando, amedrontados escavavam a terra com as patas.
- Não se preocupem com os animais, as panteras
não vão chegar perto da casa, deixamos vigias com espingardas para proteger a propriedade - disse uma das damas.
Já era tarde da noite quando os hóspedes foram
dormir, exaustos caíram na cama como uma pedra. Clareava o dia e um dos serviçais encilhou os seus cavalos. Tomaram um copo de café com leite e agradecidos despediramse das damas francesas. Durante horas trotaram pela trilha
da floresta, até que avistaram a fazenda de Don Hernandez.
Muito tempo depois, os dois brasileiros ainda lembravam da acolhida nobre das damas francesas.
- Qual teria sido o destino dessas três mulheres corajosas, desterradas no meio da floresta virgem? Talvez a
selva devorasse aquelas vidas e aqueles salões que nos acolheram tão generosamente numa noite assustadora, nos li-
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Um Olhar Sobre o Mundo
mites da Cordilheira dos Andes, de serras intransponíveis e
mais solitárias do mundo - perguntavam-se os dois amigos.
Chegaram ao acampamento dos Hernandez antes do
meio-dia.O dono veio recebê-los meio intrigado e desconfiado, pois não eram conhecidos por essas bandas.
- Viemos assistir a debulha de cereais, informados
por Don Rodolfo Rivera, seu vizinho - explicou Álvaro.
- Sejam bem-vindos na nossa fazenda, quem é amigo de Don Rodolfo é meu amigo também – disse Don Higino Hernandez, e deu-lhes um abraço de estalar os ossos.
Foram recebidos por todos, alegremente, com demonstrações de amizade e entusiasmo. Havia um sol esplendido, e
o ar era um diamante bruto que fazia refulgir as pedras das
montanhas.
Don Herandez com muita gentileza explicava:
- Antes de aparecer a debulhadeira com motor a óleo
diesel, a debulha de trigo, milho e aveia, se fazia na eira
batendo com mangual (utensílio próprio feito de dois paus
de madeira ligados por uma correia de couro, sendo um
curto e grosso e outro comprido e delgado que servia de
cabo).Também se fazia com a força animal, os cavalos trotando em cima dos montes de cereal estendido no chão,
abaixo de gritos de condutores. A palha amarela já sem os
grãos era retirada e se acumulava em montanhas douradas.
- Tudo em redor eram atividade e bulício. Sacos de
aniagem que chegavam logo se enchiam de grãos maduros.
Mulheres que cozinhavam em panelões enormes a comida
para os trabalhadores na trilha; cavalos que rinchavam e se
escoiceavam, se mordiam; cachorros que ladravam sem
razão nenhuma, crianças que corriam e caiam como se fossem grãos do milho, a cada instante tinham de ser socorridas e retiradas da proximidade das patas dos cavalos.
Os Hernandez eram uma tribo original. Os homens
andavam desgrenhados e barbudos, em mangas de camisa,
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Um Olhar Sobre o Mundo
com revólver e punhal no cinturão. Estavam sempre sujos
de óleo, de poeira, de palha do cereal, de barro ou molhados
até os ossos pela chuva. Pais, filhos, tios, sobrinhos, primos, todos tinham a mesma aparência.
Permaneciam horas inteiras ocupados debaixo de
um motor, em cima de um telhado ou montados em cima
da maquina debulhadeira.Conversavam pouco, e quando o
faziam falavam com gracejos.Quando se desentendiam pareciam uma tempestade marinha, enfurecidos, vinham arrasando tudo que encontravam pela frente.Eram também os
primeiros no churrasco de boi assado em pleno campo, nas
garrafas de vinho tinto e nos cantos lamentosos acompanhados por guitarras e acordeons. Eram homens rudes, incultos, crias da Frontera, gente a ser estudada.
Todo esse aglomerado de pessoas, de comportamento, de vida e de costumes estranhos era um material interessante para ser analisado pelo antropólogo e jornalista Álvaro.A riqueza das florestas, a fauna animal da região, de aves
e miríades de insetos, era uma rica fonte para a pesquisa
de campo, na qual mergulhou o ambientalista e biólogo
Rodrigo.Portanto, os dois não perderam tempo,observaram
e gravaram tudo nos notebooks, que levavam consigo.
Depois do trabalho da trilhagem, do sol abrasador,
do churrasco, das canções, do cansaço, deviam preparar-se
para dormir.Os casais e as moças solteiras se acomodavam
no chão forrado de palha de trigo, dentro do acampamento
construído de tabuas recém-lascadas. Enquanto os rapazes
dormiriam no enorme pátio, onde caberia o povoado inteiro, coberto de montanhas de palha de trigo.
Para os dois estudiosos brasileiros tudo isso era novidade, com a qual não sabiam lidar. Colocaram os sapatos
em baixo do feixe de trigo que devia servi-lhes de travesseiro. Tiraram a roupa e se enrolaram nos ponchos, afundando-se nas montanhas de palha.Deitaram longe dos outros,
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Um Olhar Sobre o Mundo
que imediatamente dormiram e começaram a roncar. Rodrigo e Álvaro ficaram conversando muito tempo, deitados
de costas olhando o céu estrelado. Adormeceram depois.
Rodrigo despertou de repente porque alguma coisa
se aproximava dele. Um corpo estranho se movia debaixo
da palha, podia-ser um cachorro, raposa ou cobra jibóia. Ele
estava assustado, com medo. Álvaro dormia profundamente. Esse algo se aproximava mansamente, ouvia-se o ruído
da palha esmagada pelo corpo que rastejava. O rapaz estava tenso e alerta, esperando..Pensou em gritar, pedir socorro. Mas ficou imóvel. Sentiu uma respiração em cima da
cabeça. De repente uma mão grande, rústica, mas uma mão
de mulher passou sobre seu rosto, sobre os olhos, acarinhando-os com doçura. Logo uma boca ávida se colou na
dele e o corpo da mulher se apertou contra o dele.
As mãos do rapaz procuraram o corpo e acariciaram
o cabelo em tranças, uma testa lisa e olhos de pálpebras
cerradas. Depois seguiram buscando os seios opulentos e
firmes, as nádegas redondas e as pernas que o entrelaçavam. Desceu a mão mais embaixo. Encontrou o que procurava. Pouco a pouco o medo se transformou em prazer intenso. Nenhum som saiu daquela boca anônima. Como é
difícil fazer amor sem produzir ruído em uma montanha de
palha, tendo doze homens dormindo próximo dali. Mas
tudo pode ser feito quando se tem o máximo de cuidado.
Mais tarde, a desconhecida adormeceu perto do parceiro da noite de amor. Ele ficou preocupado, pois logo
amanheceria e os primeiros trabalhadores veriam a mulher
nua deitada perto dele.Logo adormeceu profundamente, e
quando despertou estendeu o braço a procura da mulher,
sobressaltado, somente encontrou o lugar dela ainda morno. Ela havia ido embora. Os pássaros já começavam a cantar, e logo a selva toda se encheu de gorjeios. Um apito do
motor e homens e mulheres começaram a chegar e ocuparMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
se junto da trilhadeira, ou colhendo feixes de trigo no
campo. O novo dia começava fervilhante.
Ao almoço, reuniram-se ao redor da mesa improvisada feita de largas tábuas. Rodrigo olhava de soslaio enquanto comia, procurando entre as mulheres a que poderia
ser a visitante noturna. Entretanto, umas eram um tanto
idosas, outras demasiado novinhas, muitas eram magras e
delgadas como sardinhas. Ele procurava uma mulher forte,
de grandes seios, de quadris avantajados e tranças longas.
De repente entrou uma senhora que trazia um pedaço de carne assada para seu marido, um dos Hernandez.
Esta sim, podia ser. Ao contemplá-la do extremo da mesa,
notou que aquela formosa mulher de compridas tranças,
lançava-lhe um olhar rápido e sorria com sorriso disfarçado.
O desejo reacendeu-se novamente no corpo de Rodrigo.
Mas esta era uma aventura muito perigosa, soava a morte..
Chamou para longe dali o primo Álvaro e confidenciou-lhe a prazerosa, mas arriscada experiência noturna.
- Gostaria de repetir, si ela topasse – disse ele.
- Você é louco, não abuse da sorte, isto é morte certa, vamos embora daqui sem demora, hoje mesmo – advertiu sensatamente Álvaro.
Despediram-se do clã dos Hernandez que, solícitos
pediram para que ficassem mais alguns dias.
- Alguma coisa os desagradou? – perguntou um deles - podem falar que agora mesmo corrigiremos a falha.
- Não é nada disso, estamos felizes e agradecidos
pela amistosa acolhida. Mas precisamos voltar para Santiago. Partiremos amanhã à noite, de volta para o Brasil, onde
nos aguarda ansiosamente, a nossa família.
Chegaram já tarde da noite na estância de Don Rodolfo Rivera. Não os esperavam tão depressa de volta, mas
o filho Fernando ficou feliz e recebeu-os de braços abertos.
Ao ser informado que em seguida partiriam para o Brasil
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Um Olhar Sobre o Mundo
ficou decepcionado. Ele tinha planejado que, juntos fariam
uma viagem para o deserto do Atacama, no Norte do país,
onde acontecera uma catástrofe. O estudante de geologia,
Fernando, descreveu-lhes a conjuntura atual do Chile.
- Álvaro e Rodrigo meus caros amigos, não desperdicem essa ocasião, já que estão no Chile, para conhecerem
a Região Norte, as minas de cobre de Antofagasta, de Copiapó, de Calama e Tocopilla no deserto de Atacama.É o lugar mais seco do planeta com 50° Celsius de calor durante o
dia, caindo para 15°graus negativos durante a noite. As usinas de salitre de Humbertstone no norte de Atacama, hoje
um Patrimônio Cultural, que não pode ser omitido, bem
como a cidade mineira de Sewell.Aproveitem para explorar
sucessivamente toda a região, conheçam os grandes e modernos portos das cidades de Arica e Iquique, os vilarejos
da costa marítima e do interior- incentivou com veemência
seu novo amigo e estudante Fernando.
- Todo o território do Chile, inclusive o deserto de
Atacama situado no Norte, há 150 milhões de anos atrás,
estava no fundo do mar. Fato confirmado pela presença e
análise de rochas do mineral gipsita (gesso) encontradas
esparsas pelo solo desértico, provenientes do leito oceânico
de até quatro mil metros de profundidade, onde se forma.
- Há 20 milhões de anos a Placa do Pacífico (convergente), mais densa e mais pesada, agindo como uma
lâmina, num processo chamado de subdução, deslizou para
baixo da placa Sul-Americana. Na violenta colisão provocou o enrugamento da crosta terrestre elevando-a quatro mil
metros para cima, formando a Cordilheira dos Andes. A
bizarra configuração do território e a desigualdade do clima
chileno, devem-se principalmente a formação dos Andes.
- No litoral do deserto acumulam-se montanhas de
sal. Talvez o segredo do início da vida na terra esconde-se
dentro dessas pedras de sal, na forma de colônias de miMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
núsculos microorganismos verdes. O sal tem a faculdade de
reter gotas de água no seu interior, onde proliferam os microorganismos. A vida é imprevisível, pode-se adaptar aos
mais extremos climas e rigorosas condições da terra.
- Na secura do deserto, onde não chove há 50 anos,
só é encontrada água a 60 metros de profundidade. Existe
magma em ebulição abaixo do solo do Atacama, dando
origem aos gêiseres que brotam nos lagos salgados. A corrente de Humboldt procedente da Antártica conserva a água
do oceano em 13 graus centígrados no litoral chileno, temperatura ideal para a vida marinha, principalmente de pingüins, que povoam o litoral. Há onze mil anos, no fim da
última Era do Gelo, havia ocupação humana no Atacama,
foram achados fósseis humanos mumificados no deserto. O
norte do Chile é ocupado pelos índios atacamas até o século
XV, quando passa ao domínio do Império inca.
- A cidade de Antofagasta com cerca de 300 mil habitantes é a capital do deserto de Atacama, é também o
maior centro chileno produtor de cobre e nitratos, conta
com um porto unido por ferrovias com a Bolívia e a Argentina. Mas funções análogas estão se desenvolvendo em ritmo crescente nos portos de Iquique e Arica no norte do país
O porto de Iquique tornou-se a maior zona franca da América Latina.Importante ponto de trânsito de cargas do Mercosul.Mercadoria que chega em grande quantidade procedente dos países asiáticos,principalmente da China.De Iquique parte a ferrovia que une o Pacífico com a capital da
Bolívia.
- A exposição minuciosa das informações feitas pelo
futuro geólogo Fernando, despertou o interesse dos pesquisadores. Era uma ocasião excelente para o Álvaro, que como jornalista divulgaria a noticia da calamidade, acompanhando o desenrolar dos fatos in loco. Álvaro não pensou
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Um Olhar Sobre o Mundo
muito.Não perderia essa oportunidade de reportar para a
BBC e se destacar no cenário jornalístico internacional.
- Nesse caso viajaremos para o Atacama – concordou Rodrigo – veremos o que realmente sucedeu e ajudaremos no que for possível.
A catástrofe aconteceu no dia cinco de agosto de
2010 em Copiapó no deserto de Atacama. A mina de cobre
São José, desmoronou e 33 mineiros ficaram soterrados a
uma profundidade de 622 metros. Foram empregados os
mais ingentes esforços para o resgate de todos os homens
com vida. Só após 70 dias soterrado, foi recuperado o último mineiro.Foram acertadas as providências tomadas pelo
governo chileno no salvamento das vítimas da tragédia.
Na multidão de observadores, curiosos, jornalistas e
repórteres que vieram cobrir o desmoronamento na mina
de cobre São José, Rodrigo e Álvaro conheceram pessoas
importantes e influentes na política do país, entre eles ministros e governadores, inclusive o presidente do Chile Sebastián Piñera (desde 2010).
O ministro do Meio Ambiente do Chile interessouse pelo trabalho dos jovens, conversou com eles durante
várias horas, e na despedida comentou que foi embaixador
na Indonésia. Referiu-se ao país com entusiasmo, disse existir ali um meio ambiente peculiar para ser estudado. Indicou-lhes lugares e nomes a quem poderiam recorrer no
caso de necessidade. Incentivou-os para que continuassem
nas pesquisas sobre os países e terras ainda desconhecidos.
- Viagem e usufruam a aventura maravilhosa que a
vida lhes oferece - disse-lhes o ministro, abraçando-os.
Por sugestão do Ministro os dois jovens exploradores brasileiros resolveram ir conhecer a enigmática Ilha de
Páscoa.Não perderam tempo,viajaram para a cidade de Santiago onde compraram as passagens de avião que os levou
até a Ilha de Páscoa, denominada Rapa Nui pelos nativos
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Um Olhar Sobre o Mundo
rapanui.É uma ilha vulcânica,da Polinésia oriental, localizada no sul do Oceano Pacífico.Sua origem consiste em três
vulcões que emergiram do mar um junto ao outro,em tempos diferentes, nos últimos milhões de anos.
Está situada a 3700 km de distância da costa oeste
do Chile, têm uma área de 163,6 km², em forma triangular e
constitui uma das províncias chilenas, tendo por capital
Hanga Roa.Está a 510 m acima do nível do mar.Possui uma
população de 4.888 habitantes (2010), a maioria residindo
na capital da ilha É uma das ilhas habitadas mais isoladas
do mundo,é famosa pelas suas enormes estatuas de pedra
(887 moais), esculpidas pelos nativos, entre os séculos XXIV, de lava porosa dos vulcões extintos Rana Roratka,
Puakatike e Rana Kao. Em 1955, a Ilha da Páscoa foi listada pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade. As estatuas alinhadas ao longo da costa atraem milhares
de turistas e estudiosos á ilha.
Na pré-história, até 1.200 a.C.a expansão polinésia
consta como uma das explorações marítimas mais dramáticas da humanidade. Povos vindos do continente asiático,
navegando rumo ao desconhecido, atravessaram quase dois
mil quilômetros de mar aberto, a bordo de canoas feitas de
junco, para atingir as ilhas da Polinésia Ocidental de Fiji,
Samoa e Tonga. Sem possuírem bússolas, eram mestres da
arte da navegação e da tecnologia de canoas à vela.
Diz a lenda popular que a Ilha de Páscoa teria sido
parte do continente de Lemúria desaparecido sob as águas
do Pacífico.É incerta a data da ocupação da Ilha, possivelmente entre 300 a 400 d.C.Por volta de 1.200 os polinésios
expandiram suas rotas até Nova Zelândia, completando a
ocupação das ilhas habitáveis do Pacífico. No começo a
Ilha de Páscoa era toda coberta por densa floresta e vegetação. A ocupação desordenada e a devastação das matas acabou criando desertos, impossibilitando a agricultura.Com
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Um Olhar Sobre o Mundo
a escassez de alimento surgiu o confronto entre as tribos
nativas e a guerra quase dizimou a população da ilha.
Quando o explorador neerlandês Jacob Roggeveen
atravessou o Pacífico em 1722, partindo do Chile e após
dezessete dias de viagem desembarcou na Ilha num domingo de Páscoa (daí o seu nome), encontrou as tribos nativas
em perene disputa. A descrição adequada da Ilha de Páscoa
foi feita pelo capitão James Cook em 1774.Em 1888, o governo chileno anexou a Ilha de Páscoa, que se tornou uma
fazenda de criação de ovelhas, cabras, cavalos e porcos.
Os nativos passaram então à condição de escravos,
trabalhavam para a empresa escocesa estabelecida no Chile.
Somente em 1966, os insulares foram reconhecidos como
cidadãos chilenos.As águas do oceano ao redor são demasiado frias e não permitem a formação de recifes de coral,
tornando a ilha deficiente tanto para peixes como moluscos.
Esses fatores resultam em menos fontes de alimento, além
do que, a chuva infiltra-se rapidamente no solo vulcânico e
poroso da ilha, tornando a terra pouco produtiva, as árvores
quase ausentes e a agricultura modesta.Existe limitação de
água potável, pois na ilha não há rios, enquanto os lagos
estão dentro de algumas crateras vulcânicas.
Rodrigo e Álvaro percorreram os sítios arqueológicos e admiraram os inúmeros moais em pé, de chapéu de
pedra na cabeça, ou deitados, alguns ainda inacabados, postados à beira da costa marítima como se fossem guardiões.
Concluído o roteiro turístico-explorador na Ilha de Páscoa,
os dois retornaram para o Atacama. Após permanecerem
por dois meses no deserto, acompanhando o trabalho e o
desfecho final da tragédia do desabamento, os dois jovens
embarcaram em Iquique, no trem de passageiros da Ferrovia Chilena que os levou para Puerto Montt, na Patagônia.
A Patagônia fica na região sul do continente americano e ocupa uma área de 800.000 km², metade fica na ArMonika Gryczynska
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gentina e outra no Chile, o lado chileno começa ao sul de
Puerto Montt. Esta era a última paragem dos dois pesquisadores brasileiros, a estação Puerto Montt a capital da Araucânia. Região de vetustas florestas, vulcões, lagos imensos,
colossais quedas d`água, e de outrora feroz resistência Mapuche,que por diversas vezes, combateram e venceram os
espanhóis que tentavam apossar-se desse rico território.
Após muitas batalhas sangrentas os Mapuches foram derrotados e empurrados para exíguas reservas.
Através das pesquisas arqueológicas chegou-se à
conclusão de que os primeiros habitantes da Patagônia vieram há 7.000 anos ao Canal de Beagle, (a etnia ona chegou
há 10.000 anos na Terra do Fogo). Antes dos espanhóis
chegarem, a Patagônia era o lar de diversos povos, tais como pehuenches, mapuches, tehuelches, onas e yamanas.No
ano de 1526, foram contactados pela expedição espanhola
os povos tehuelches, conhecidos também como patagônios,
que habitavam o noroeste do Estreito de Magalhães.
Os patagônios eram pessoas rudes, de hábitos selvagens, pecorriam grandes distâncias atrás de caça que era
importante para sua alimentação e vestimenta,do couro faziam as tendas, arcos, flechas e lanças. Outro assentamento
existente na região era dos alacalufes.Povo caçador e de
pescadores, nômades, foram avistados, na mesma época dos
patagônios, pelos conquistadores ibéricos, que ficaram surpresos pela aparente barbárie desse povo. Os alacalufes
permaneceram nos mares patagônicos até o inicio do século
XX, quando foram desaparecendo até a sua extinção total.
Em comum entre os dois lados separados pelos Andes está o cenário de geleiras e as planícies formadas na
última Era Glacial. Os Campos de Gelo da Patagônia são
divididos em Norte e Sul. O Campo Norte, com 19 geleiras,
se estende por cerca de 200 km e cobre uma superfície de
4200 km². O Campo Sul, com 50 geleiras, têm 350 km de
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extensão e uma superfície de 13.000 km².Eles se localizam
ao longo dos Andes a uma altitude de 1500m.A Patagônia
termina na famosa Terra do Fogo, onde fica o Cabo Horn, a
derradeira fronteira no extremo sul, com as vastidões geladas e inóspitas da Patagônia chilena
As geleiras são enormes massas de gelo que se movem lentamente e carregam todo tipo de sedimentos como:
rochas, pedregulhos, areia, troncos etc.Uma geleira de montanha pode ser alimentada por um campo de gelo ou de neve que cai todos os anos. Algumas geleiras desprendem-se
com grande estrondo das montanhas de gelo e teminam
num lago ou no mar, onde se partem formando icebergs.
As florestas da Patagônia são formadas basicamente
por ciprestes e faias, a planície é coberta por arbustos, cactáceas e gramíneas.Na costa marítima aparece o pingüim de
Magalhães que é um símbolo da região, as baleias orcas e
os leões marinhos. Além disso, a região também é local de
procriação de outras espécies, como o elefante marinho e a
baleia franca.Entre as aves, são comuns o cormorão e as
gaivotas, eventualmente surge o condor, o rei das alturas.
Nas planícies aparece o guanaco, o ñandu, que é o avestrz
da Patagônia,alguns roedores e as raposas cinza e vermelha.
Cabo Horn, a última etapa da viagem programada
pelos dois arrojados exploradores brasileiros. Fizeram uma
rápida parada no norte da Patagônia para visitar o Arquipélago de Chiloé. Para a travessia do Canal de Chacao embarcaram numa lancha que os levou até a Grande Ilha de
Chiloè.Foram conhecer a cidade de Chacao, uma das mais
antigas da Ilha de Chiloé, fundada em 1567, e suas 150 igrejas, como a centenária igreja de Madera e a de São Francisco na Praça de Armas, do século XVI, construídas pelos
jesuítas que lá aportaram naquela época.A cidade e as igrejas foram declaradas pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Viajar! Viajar! Conhecer! Era o sonho dos dois pesquisadores. Mas agora estavam cansados, precisavam voltar
para casa.Embarcaram no avião da Aerolineas Argentinas
na cidade de Ushuaia, capital da Terra do Fogo, com destino à Foz do Iguaçu, onde seus familiares os esperavam.
AS SURPRESAS DAS VELHAS METRÓPOLES.
Álvaro e Rodrigo estavam de regresso em casa dos
pais, que os receberam com alegria e carinho.Parecia que
estavam sonhando, ainda não acreditavam que realmente
estavam de volta, após quase um ano de ausência.
- Esperamos que agora fiquem por mais tempo em
casa – disse Giovani, pai de Rodrigo. Está na hora de assentarem o juízo e começarem a trabalhar de verdade.
- Está bem, meu pai! Ficamos por alguns dias em
casa, mas por favor não corte nossos cartões de crédito,
pois pretendemos viajar para o remoto Arquipélago da Indonésia, explorar a diversificada flora e fauna da região,
experiência que será para nós um importante grau de promoção e conhecimento – pediu com solicitude Rodrigo.
- Estou de acordo, se isso for acrescentar algo importante às suas pesquisas. Mas é preciso também a anuência do tio Conrado, pai de Álvaro - esclareceu Giovani.
- Isso não será difícil – observou Álvaro.
Ouvindo isso Rodrigo abriu os braços, mostrando
que o espírito livre e aventureiro não esmorecera neles, mas
ao contrário, ganharam asas para voar e abarcar o mundo.
Assim, passados alguns dias em férias na fazenda do
pai, no Paraguai, Álvaro retornou para a casa do tio, e junto
com Rodrigo elaboraram o roteiro da viagem para a Indonésia. Após minuciosos preparativos e recomendações da
família, viajaram de navio pelo rio Paraná, embarcando em
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Um Olhar Sobre o Mundo
Puerto Iguazú, no território argentino, seguindo até Posadas
e rio abaixo até o porto de Montevidéu no Rio da Prata.
Chegando a Montevidéu procuraram uma agencia
de viagens e adquiriram duas passagens em camarote de
primeira classe, num transatlântico de passageiros, que ia
zarpar no outro dia rumo à Lisboa. À hora marcada subiram a bordo do navio e depois de localizarem suas cabines,
misturaram-se aos viajantes. Álvaro com espírito critico de
jornalista fez uma classificação rápida das moças, passageiras que passeavam pelo convés. As que assediavam os homens de imediato, e as que se sujeitavam a esperar para
serem procuradas por eles.
Esta fórmula nem sempre funcionava, mas ele tinha
toda classe de recursos para conquistar a atenção das mulheres. Quando aparecia no convés um par de jovens interessantes, Álvaro tomava a mão de Rodrigo e fingia observar suas linhas com gestos misteriosos. Na segunda volta,
as moças entre risos, paravam, e pediam para que lesse seu
destino.Nesse momento ele pegava nas suas mãos e acariciando-as delicadamente. Profetizava-lhes uma visita ao nosso camarote. Assim, com o poder da artimanha, Álvaro e
Rodrigo divertiram-se a valer.
Para o Rodrigo que era retraído, a viagem apresentava-se enfadonha, triste, mas de repente como por milagre,
transformou-se numa experiência alegre e prazerosa. Deixou de ver o mundo melancólico, monótono o oceano Atlântico, para só ver os olhos negros, a silhueta e o talhe
soberbo de uma jovem brasileira, que subiu a bordo no porto do Rio de Janeiro, com seus pais e irmãos. Com sua presença radiosa o sol brilhou para ele. A linda jovem era
Claudia Menezes de Castro. Viajava em férias com a família. Rodrigo tomou coragem se aproximou e apresentou-se:
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- Rodrigo Pazinatto, paranaense; eu e meu primo
Álvaro, que é jornalista, estamos viajando a trabalho para
Indonésia. Eu estudo o meio ambiente, sou biólogo.
- É uma satisfação conhecê-lo Rodrigo, sou Cláudia,
estudante de geologia. Podemos ser bons amigos, trocar
idéias e experiências.
Cláudia era tão bela quanto culta e inteligente. Diariamente, durante a viagem no mar, um procurava a companhia do outro para conversarem e se divertirem. Freqüentavam juntos a piscina do navio, jogos, restaurantes, teatro,
cinema e salões de dança. A viagem de vinte dias, transcorreu num clima de amizade, alegria e camaradagem.
O grande transtorno foi quando chegaram à Lisboa,
onde a família Menezes ia desembarcar.Rodrigo ficou triste
com a separação, pois no seu coração romântico começou a
brotar a semente do amor pela linda morena carioca. Despediram-se com um abraço afetuoso e promessas de se comunicarem sempre.
O navio se deteve em Lisboa, capital alegre de Portugal, com seus pescadores vendendo peixe na rua, com as
lojas movimentadas que enchiam os olhos de encanto. No
pequeno hotel do centro onde os nossos viajantes se hospedaram a comida era deliciosa. Eram servidas diversas qualidades de pescados, camarões, mariscos, cozido de bacalhau e um delicioso Arroz de Braga. Grandes bandejas com
frutas da época ornamentavam as mesas.
As casas coloridas alinhadas ao longo das ruas ao
lado de velhos palácios com rebuscados arcos nas portas e
janelas. Ali também se encontravam as imensas catedrais,
como casca de ovo vazia, donde Deus há séculos se retirara
para morar em outras igrejas. Viam-se as casas de jogo que
funcionavam dentro de velhos castelos. A multidão de gente infantilmente curiosa bisbilhotando pelas ruas da Prata e
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do Ouro, onde se vendiam jóias verdadeiras, junto a perfeitas imitações de bijuteria italiana.
Do museu Imperial saiu o fantasma da rainha Dona
Maria I “A Louca”, caminhando solene pelas ruas de pedra,
seguida por centenas de crianças de rua, barulhentas, assombradas, com os cabelos eriçados, os olhos pasmos contemplando essa visão fantasmagórica. Era a Lisboa do tempo do Império que se apresentava ao turista estupefato.
Álvaro e Rodrigo tinham planejado a passagem pela França, portanto, não podiam ficar muito tempo em Portugal. Mas o acaso colocou-os numa surpreendente armadilha. Ao deter-se para assistir o desfile do fantasma da rainha, Rodrigo avistou Cláudia parada a seu lado.
- Que surpresa Cláudia! Você também por aqui? –
exclamou feliz.
- Estou apreciando o inaudito espetáculo da rainha
louca encenado para turistas – respondeu a moça – vocês
resolveram ficar alguns dias em Portugal? Ótimo! Se assim
for posso ser o seu guia turístico para conhecerem a cidade,
sua história e a do país, pois sou versada nesse assunto –
continuou entusiasmada.
- Está bem! Então vamos procurar um barzinho, sentaremos á mesa, pediremos refrigerante com aperitivo de
camarões fritos, crocantes, ou vão preferir algum outro petisco salgado? Talvez um sorvete? – perguntou Álvaro.
- Eu prefiro um sorvete de chocolate – disse a moça.
Após saborear o sorvete, Claudia estendeu o mapa
de Portugal na mesinha do bar e iniciou a narrativa descrevendo a geografia do território, entremeando com a história
do país e das suas cidades.
- Portugal é um dos mais antigos Estados europeus,
ocupa uma estreita faixa de terra, cerca de 92.152 km², na
parte ocidental da Península Ibérica.Possui 10,7 milhões de
habitantes (em 2010). Limitado ao norte e a leste pela EsMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
panha, abre-se para o Atlântico com quase 850 km de litoral. A estrutura geológica do território português é a mesma
da Península Ibérica; é base de rochas antigas, resistentes,
aplainadas e recobertas por sedimentos marinhos da Era
Mesozóica, há cerca de 180 milhões de anos.
Cerca de 120 milhões de anos depois, na Era Cenozóica essa base rochosa sofreu grandes fraturas e levantamentos, ocasionados pela colisão da Placa Tectônica Africana com a Placa da Eurásia, que deu origem às formações
montanhosas da Península, como também da grande parte
das montanhas da Europa.
- Desde a Antiguidade Portugal foi habitado pelos
lusitanos, povo originário do nordeste da península Ibérica
que se estabeleceu na região entre os rios Douro e o Tejo.
No primeiro século da Era Cristã foram incorporados ao
Império Romano com o nome de Província de Lusitânia.
No século V d.C. foi a península Ibérica invadida por hordas bárbaras da Ásia Central.Chegaram álanos, suevos,
vândalos, a que se seguiram os visigodos, que conseguiram
assenhorear-se de todo o território peninsular.
- Mais tarde, no século VIII d.C. passou para o domínio dos árabes, tribos muçulmanas do Norte da África.
No século XI, começa a reconquista do território lusitano,
que culminaram cem anos mais tarde com a expulsão dos
árabes. Portugal começou um período de grande desenvolvimento econômico que teve seu apogeu nos séculos XV e
XVI, época das grandes expedições marítimas e da formação de um vasto império colonial, que incluía o Brasil, a
conquista de vários territórios na África e no Oriente.
- Como conseqüência de uma série de disputas dinásticas, Portugal caiu nas mãos de Filipe II, rei da Espanha
até o ano de 1688. A união com a Espanha fez declinar o
poderio de Portugal. Atualmente o país divide-se em duas
partes: uma continental ibérica e outra insular, que compreMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
ende os arquipélagos dos Açores e da Madeira. No país
cultiva-se trigo, milho, uva e oliveiras.No vale do Douro, a
principal região vinícola do país estendem-se vinhedos cultivados em terraços.Produz vinhos de excelente qualidade.
- As maiores cidades da Beira Litoral localizam-se
na faixa litorânea. Nesta área encontra-se Coimbra, sede da
mais antiga e famosa universidade do país. A Universidade
de Coimbra foi fundada pelo rei Dom Dinis em 1288. Para
o grande centro instalado na cidade acorreram estudantes de
todas as partes do país e do exterior.
- Évora, cidade milenária, é o coração do Alentejo.
Seu casario branco estende-se pelo topo da elevação que
domina os horizontes largos do planalto. Extensos olivais e
campos cultivados antecedem as muralhas que cercam a
cidade desde a Idade Média; fundada por Julio César. Dentre os inúmeros monumentos romanos construídos na cidade destaca-se o Templo de Diana, uma das mais belas obras
de arte greco-romanas. Lado a lado com eles erguem-se
palácios e solares no estilo manuelino, de amplos pátios,
janelas e portais de linhas elegantes, testemunho de que
Évora foi, por muito tempo, a sede da corte portuguesa. A
Universidade de Évora foi fundada em 1537 que, junto com
a de Coimbra eram as únicas que Portugal teria até 1911.
- Lisboa, foi fundada pelos fenícios, grandes navegadores. Antiga cidade romana, visigoda e moura, sempre
teve sua vida ligada à atividade comercial, em virtude da
excelente localização – próxima do mar, dominando o extenso estuário do rio Tejo. Com as grandes navegações e
descobertas do século XV e XVI, tornou-se o maior centro
mundial de comércio de especiarias trazidas do Oriente.
- Atualmente, a metrópole de amplas avenidas, muitas dominadas por monumentos históricos, concentra o comércio em bairros e nas de nomes pitorescos, como a Rua
do Ouro, Rua da Prata, Rua dos Sapateiros etc.A Rua AuMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
gusta situa-se num dos quarteirões mais movimentados de
Lisboa. Fechada ao trânsito, esta rua conta com todo tipo de
lojas para todo tipo de gostos. Nos dois exatremos da Rua
Augusta ficam as Praças, do Rossio e a Praça do Comércio,
lá se encontra o mais variado tipo de mercadoria, como
bijuteria, artigos de prata, calçado, malas, tudo o que quiser.
- Hoje muito pouco resta do esplendor atingido pela
cidade em seu período áureo, em conseqüência dum terremoto devastador, seguido de um maremoto e de incêndio
de vários dias, que praticamente a destruiu em 1755, no
qual morreram mais de 70 mil pessoas. Foi reconstruída no
reinado de Dom José I, pelo ministro marquês de Pombal.
- O velho estilo arquitectônico, originário da reconsatrução de Lisboa feita pelo Marques de Pombal depois do
terremoto, ainda está intacto, pode se ver muitos edifícios
com a sua arquitetura original. A cidade possui muitos importantes museus, o Museu Nacional de Arqueologia, Museu de Ciencia da Universidade de Lisboa, Museu Nacional
de História Natural, Biblioteca Nacional, o Arquivo da Torre do Tombo, Torre de Belém, Mosteiro dos Jerônimos.
- Em dezembro de 1999, Portugal perde o último
resquício de seu outrora vasto Império Colonial, com a devolução do enclave de Macau para a China.
- Situadas a poucos quilômetros de Lisboa, as praias
da Costa do Sol diferenciam-se umas das outras, embora
estejam bastante próximas. Nos balneários de Carcavelos,
Parede, São Pedro, Estoril, Cascais e Guincho, existem inúmeros hotéis e restaurantes de alta categoria, que oferecem todo o conforto aos milhares de turistas que as freqüentam o ano todo. Destaca-se a praia de Estoril, que está
entre os mais famosos balneários de Portugal, dispõe de um
célebre cassino para os turistas que o visitam.
Depois de discorrer por longo tempo, sobre a geografia e história de Portugal, suas belas praias, cidades e sua
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
gente, Cláudia sugeriu aos dois moços, ouvintes atentos,
como que suspensos nas suas palavras, uma visita à famosa
praia de Estoril, para conhecerem in loco essa maravilha.
- Sairemos de manhã, para passar o dia na praia.
.Para não se tornar muito monótono convidarei minha amiga, estudante portuguesa Alexandra Soares Bicalho, ela é
muito alegre e comunicativa, vai ser uma ótima companhia
- propôs Cláudia.
- Aceitamos com satisfação, então está combinado,
vamos à praia de Estoril amanhã – afirmaram os dois.
Rodrigo e Álvaro, animados com o passeio, levantaram cedo. Após o desjejum desceram para a recepção onde
eram esperados pela Cláudia e sua amiga Alexandra.
- Apresento-lhes a minha dileta amiga Alexandra.
Alexandra esse é Rodrigo, biólogo, minha alma gêmea, e
esse é Álvaro o mais belo e atencioso jornalista brasileiro –
disse gracejando Claudia.
Seguiram num automóvel esportivo, vermelho, com
teto solar, de propriedade de Alexandra. Ela foi dirigindo o
veículo. Sentado a seu lado estava Álvaro. Cláudia e Rodrigo estavam no assento traseiro. Durante a viagem de dez
quilômetros, por rodovia larga, asfaltada, de muito movimento, foram conversando e se conhecendo. Logo surgiu
no horizonte uma visão magnífica do mar azul do balneário.
Hospedaram-se numa aprazível pousada. Não perderam tempo, logo se dirigiram para a praia que já estava lotada. O mar estava sereno, as ondas rolando tranqüilas uma
após a outra, havia sol e o céu estava azul. Nada melhor
para se aproveitar o dia.
O dois casais de jovens se divertiram muito. Mergulharam, nadaram apostando a rapidez, praticaram o surf,
deslizando corajosamente nas altas ondas de pé sobre uma
prancha, depois já cansados da água saíram para jogar vôlei
de praia. Em seguida foram descansar em baixo de um
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
grande guarda-sol. Quando a fome apertou deliciaram-se
com sanduíches de atum com alface, acompanhado de refrigerante, depois de que, foram dormir em redes na varanda da pousada.
Quando a noite chegou resolveram pernoitar em Estoril. Claudia telefonou aos pais avisando-os da sua resolução. Á noite foram a uma boate famosa, a mais freqüentada,
onde dançaram reggae o ritmo jamaicano e o funk no auge
da moda, também a música eletrônica com os famosos DJs.
Voltaram á Lisboa na manhã do dia seguinte, os pais não
lhes fizeram cobranças nem recriminações, pois conheciam
as filhas, elas eram moças modernas, inteligentes, tinham
seus pontos de vista sobre a vida. Passaram-se mais dois
dias de passeios pela cidade de Lisboa. Cláudia e Alexandra
fizeram-lhes agradável companhia.
- Chegou o dia de seguirmos viagem para a França,
onde vamos tomar o avião direto para a Indonésia, o destino
programado para nossos estudos e pesquisas – disse Álvaro.
- Sentiremos muito a falta de vocês, nossas amigas
inesquecíveis. Vamos levar uma marcante e saudosa lembrança dos dias que passamos juntos- comentou Rodrigo Prometo que telefonarei sempre para ouvir a sua suave voz,
Cláudia - falou emocionado. (Nem por um minuto sequer
lembrou-se da apaixonada Ângela que o esperava em Marechal Cândido Rondon).
Álvaro e Rodrigo despediram-se das jovens no saguão da estação rodoviária de Lisboa. Seguiram para França de ônibus, num veículo de primeira classe, com ar condicionado e outras benesses, entre franceses, espanhóis,
italianos, argentinos, brasileiros, chilenos, todos sentados
em poltronas confortáveis, protegidos com cintos de segurança. O ônibus rodava macio por estradas largas, asfaltadas, com destino à Paris, entre montanhas, atravessando
túneis ou margeando o litoral mediterrâneo.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Saindo de Lisboa ao entardecer, o ônibus passou em
Madri à noite, por Barcelona de madrugada, onde parou
para o café da manhã, depois seguiu pela Costa Brava. Á
direita vislumbrava-se o mar azul e a esquerda as montanhas Pirineus. O ônibus entrou em Perpignan, cidade já no
solo francês, onde se deteve para o almoço.
Depois tomou o rumo de Montpellier, parou em
Avignon, cidade-sede do papado francês de 1309 a 1377,
durante 68 anos. O rei da França Filipe IV aprisionou o
papa romano Bonifácio VIII, e nomeou em seu lugar Clemente V, papa francês. Os passageiros puderam visitar o
antigo e suntuoso Palácio dos Papas, em Avignon, também
as suas masmorras que eram utilizadas como prisões políticas, a construção é considerada como um dos maiores castelos feudais do mundo.
A viagem prosseguiu, com rápida passagem pela
cidade de Marselha (antiga Massilia), grande porto comercial, fundado em 600 a.C.pelos foceus, mercadores gregos.
Os passageiros tiveram a oportunidade de conhecer os famosos balneários de St. Tropez, St. Raphael, Cannes e Nice, na Côte d´Azur (Costa Azul), com praias artificiais,
feitas de pedra antiga, cercadas, com entrada reservada e
paga, onde desfilam celebridades do mundo todo.Desde
tempos remotos as praias do Mediterrâneo, de clima ameno, recebem grande número de turistas estrangeiros.
O ônibus seguiu para Lyon, deteve-se em Bourges
por meia hora, e rodou por mais 200 km aproximadamente,
para deixá-los na estação rodoviária Central de Paris. Assim
como todos os passageiros do ônibus, os dois brasileiros
estavam exaustos, portanto, foram procurar um hotel para
se hospedar e descansar, até conseguirem a autorização
(visto) do consulado e a passagem para a Indonésia.
O dia amanheceu nublado e chuvoso. Mas nem a
chuva e nem as rajadas de vento conseguiram atrapalhar a
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Um Olhar Sobre o Mundo
grande festa cívica que se realizava, em homenagem a Nicolas Sarkozy, presidente da França. Logo ao alvorecer, a
cidade foi acordada por uma ensurdecedora explosão de
fogos de artifício, seguida pela salva de canhões disparada
das fortalezas situadas nos arredores da cidade.
No bar próximo ao hotel onde os brasileiros se hospedaram conheceram os primeiros hindus, vestidos de túnicas brancas longas, que desciam até os calcanhares. Adiante, a vizinha de mesa, uma indiana, com uma cobra de estimação enrolada ao colo, tomava com melancólica vagareza
um café-expresso. Eram as excentricidades de Paris.
A colônia sul-americana dispersou-se pela cidade.
Freqüentavam baladas nos bairros boêmios de Montmatre,
vestidos a moda punk, com os cabelos eriçados em modelos
estranhos, presos ao alto com gomalina, ou cabeças totalmente raspadas, tatuadas em figuras ou arabescos esquisitos. Alguns com o corpo todo tatuado inclusive braços e
pernas.Bebiam whisky misturado com cocaína, fumavam
haxixe e dançavam ao som de música funk, eletrônica, que
não oferecia nada melodioso, só repetia sempre o mesmo
ritmo tumtum...tumtum...tumtum...
Os dançarinos se divertiam, esperando uma oportunidade para armar uma confusão e brigar com meio mundo.
Um argentino encrenqueiro foi levado por quatro vigilantes
do clube, passando por cima das mesas e foi jogado no
meio da rua. A ninguém agradava essa violência contra
nossos vizinhos de Buenos Aires, que ficavam com as roupas rasgadas, os cabelos desgrenhados, os bolsos vazios e a
credibilidade afetada.
De repente surgiu das sombras de Paris, esse mecenas chileno chamado Don Rafael Pepito Garcia, famoso por
sua prodigalidade. Esse herói, caído do céu, queria nos festejar, e conduziu-nos a uma casa noturna de bielo-russos,
chamada “Boate Belarus”.As paredes do salão estavam deMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
coradas com quadros de paisagens do Mar Báltico e das
florestas de Minsk.Num instante nos vimos rodeados de
falsos cossacos vestidos com trajes típicos de camponeses
russos dançando o louco ritmo cossaco ao som da balalaica.
Fomos apresentados a Wassily Braguis,o dono da
boate, que parecia o ultimo dos russos em decadência. De
pequena estatura, de barbicha, frágil, de faces e nariz vermelhos, bebia vodka e dava saltos imitando os dançarinos
cossacos das estepes de Ucrânia. Indicou para nos uma mesa perto dos músicos, mandou vir bebida e companhia feminina. Vieram duas mulheres louras, de grossas tranças e
maquiagem excessiva. Imitação de moças ucranianas.
- Champanha1Sirvam mais champanha para todos!
Pedia constantemente o nosso anfitrião chileno, enquanto
bebia, com a taça na mão dava passos e pulos no ritmo da
dança russa. Inesperadamente desabou o nosso milionário
chileno em baixo da mesa e caiu num sono profundo, como
cadáver exangue de um russo esmagado por um urso.
Um tremor gelado nos percorreu os ossos, pois o
homem não acordava com compressas de gelo, nem com
frascos de amoníaco encostadas ao seu nariz..Vendo o nosso desesperado recurso, todas as bailarinas e os pseudocossacos se evadiram, menos uma.moça. Nos bolsos do
nosso anfitrião encontramos somente um talão de cheques,
que nas condições cadavéricas que se encontrava não poderia assiná-lo.
O dono da boate exigiu o pagamento imediato de
toda a despesa.. Fechou a porta de saída para que ninguém
fugisse. Só pudemos salvar-nos da prisão, deixando como
garantia o nosso passaporte diplomático. Saímos com o
nosso milionário chileno desmaiado às costas. Custou-nos
grande esforço colocá-lo no táxi, e deixá-lo no seu faustoso
hotel. Deixamo-lo nos braços de dois imensos porteiros de
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Um Olhar Sobre o Mundo
librés vermelhas, que o carregaram como se leva a um almirante caído da ponte do seu navio.
No táxi nos esperava a moça da boate, a única que
não nos abandonou no nosso infortúnio. Convidamo-la para
tomar sopa de cebola da madrugada na taberna próxima.
Compramos-lhe um bouquê de flores na floricultura. Abraçamo-la e beijamos em reconhecimento à sua conduta bondosa. Reconhecemos, com reserva, que tinha certo atrativo.
Não era bonita nem feia, o que a salvava era o belo nariz
arrebitado das parisienses. Então a convidamos para o nosso modesto hotel.
Não teve nenhum escrúpulo em nos acompanhar. A
moça entrou no quarto com Álvaro. Rodrigo caiu exausto
na cama; dormia profundamente quando sentiu que alguém
o acordava. Abriu os olhos e viu seu primo Álvaro, parado,
com o semblante um tanto perturbado, estranho.
- Acontece alguma coisa - disse. Essa mulher tem
algo excepcional, insólito, que não consigo entender. Tens
de experimentá-la, agora.
Poucos minutos depois a desconhecida, sonolenta e
despudorada, esgueirou-se para dentro dos lençóis de Rodrigo, que ao fazer amor com ela comprovou o seu misterioso dom. Era algo indescritível que brotava de dentro dela,
que remontava à origem do prazer, ao nascimento de uma
onda, a explosão de um vulcão, ao segredo original. Álvaro
tinha razão. A sensação que sentiram era incomparável.
No dia seguinte, no intervalo do desjejum Álvaro
sussurrou ao ouvido do primo.- Se não deixarmos já esta
mulher, a nossa viagem vai fracassar. Com sorte não naufragamos no mar, mas vamos naufragar no delírio do insondável do sexo.
Decidiram dar-lhe alguns presentes, flores, chocolates e a metade do dinheiro que lhes restava. Ela confessou
que não trabalhava naquele cabaré russo, que era primeira
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Um Olhar Sobre o Mundo
vez que foi até lá.Tomaram um táxi e a deixaram num bairro distante. Despediram-se dela com beijos. A moça estava
desorientada, mas sorridente. Nunca mais a viram.
***
Álvaro e Rodrigo na visita que fizeram a Quartier
Latin, conheceram o Doutor Salviano Duarte Madureira,
brasileiro, exilado político na França, PhD em Ciências
Sociais e Língua Portuguesa, que lecionava na Faculdade
de Letras e Ciências na Sorbonne. Foi uma ótima oportunidade, pois o professor conhecia Paris onde morava e trabalhava, já havia quinze anos. O mestre estava feliz pelo ensejo de contato com compatriotas, logo se ofereceu como guia
deles na cidade, inclusive no país.
Com o mapa da França na mão e outro da cidade de
Paris, doutor Salviano discorria com conhecimento profundo do assunto.
- A presença do homem no território francês remonta há 35.000 a.C. Durante milênios, grupos nômades de
Neanderthais vagavam ao longo dos grandes vales e planícies, vivendo do extrativismo e da caça. Em meio a esses
grupos com contínuos deslocamentos estava o homem de
Cro-Magnon que se espalhou para as regiões norte e leste,
viveu na Europa e no Oriente Próximo entre 230 e 30 mil
anos atrás. Foram encontrados na França vários sítios habitados por esses povos pré-históricos, cavernas e grutas no
Vale Vézére como a de Lascaux, e Pech Merle, com desenhos rupestres de touros, mamutes, cavalos e humanos.
- Milhares de anos se passaram até que as invasões
de povos guerreiros, vindos do leste, provocassem grande
dispersão desses núcleos primitivos. No século IX a.C. tribos célticas instalam-se na Gália, atual território francês.O
Imperador romano Júlio César derrota os gauleses e conquista a região em 58 a.C.Os romanos dominam a Gália até
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Um Olhar Sobre o Mundo
o final do século quando a região é invadida por tribos bárbaras de francos.
- No final do século V a.C., sob o comando de Clovis I, os francos conquistam todo o país. No século IX, d.C.
Carlos Magno torna-se imperador do Império Romanogermánico que abrange as atuais França e Alemanha. Em
987, Hugo Capeto foi o primeiro rei da dinastia dos Capetos
a governar a França. Durante o século XVI, guerras religiosas entre católicos e huguenotes sacodem o país.
- Luis XIV, conquista em 1643 a 1715, a primazia
política e militar para a França em toda a Europa continental, cria um Império Ultramarino e estabelece uma monarquia absoluta. Guerras desastrosas e a incapacidade do rei
Luis XVI, de enfrentar a crise financeira do Estado desencadeiam a Revolução Francesa em 1789 e a conseqüente
tomada da Bastilha pela população parisiense.
- Em 1792 nasce a 1ª República Francesa. O rei Luis
XVI, e a rainha Maria Antonieta, condenados por traição,
são executados na guilhotina em 1793. Os líderes políticos
revolucionários, Maximilien de Robespierre, Jean Paul Marat e Georges Jacques Danton e demais jacobinos impõem
“O Período do Terror”. Foi uma perseguição e carnificina
geral contra os opositores do regime.
Em 1794, Robespierre é deposto, sentenciado e morto na guilhotina, e com ele muitos outros revolucionários.
Um golpe militar do general Napoleão Bonaparte, nascido
na ilha de Córsega, toma o poder como Cônsul. Recupera a
estabilidade política em 1799. Em 1804, Bonaparte se faz
coroar imperador da França. Seu governo é ditatorial e centralizador, com políticas de forte expansionismo.
- As guerras napoleônicas assustaram os reis e a aristocracia européia, que se uniram contra a França Revolucionária. Napoleão perde a campanha da Rússia em 1814 e
é obrigado a abdicar. Exila-se na ilha de Elba, mas volta
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
para a França à frente de um grande exercito. Napoleão é
derrotado por tropas inglesas e austríacas na Batalha de
Waterloo em 1815, é preso e deportado para a ilha de Santa
Helena no oceano Atlântico, onde morre em 1821, supostamente envenenado.
- O território da França apresenta três fachadas marítimas, a leste voltado para o Atlântico, a noroeste para o
Canal da Mancha e o Mar do Norte, ao sul o Mediterrâneo.
Possui 2700 km de costa. De fronteiras relativamente antigas, correspondentes, em geral, a acidentes naturais, como
as grandes cadeias dos Alpes e dos Pirineus, e o curso do
rio Reno. Apenas um trecho setentrional foi demarcado a
partir de fatos políticos e históricos.
- As principais cidades da França estão: a capital Paris, Lyon, Lille, Toulose, Le Havre, Rouen, Marselha, Nice,
Nantes, Estrasburgo, Bordeux, algumas delas importantes
portos marítimos. Com uma população continental de 62,6
milhões de habitantes (em 2010). Possui nove Territórios
Ultramarinos: Guiana Francesa, Guadalupe, Ilhas Wallis e
Futuna, Martinica, Mayotte, Nova Caledônia, Polinésia
Francesa, Reunião, Saint-Pierre e Miquelon. A Ilha de Córsega formada na Era Terciária no Mediterrâneo, tem 8.681
km² é um departamento da França.
O porto de Nice na costa mediterrânea é dominado
pela colina, sobre qual restam alguns poucos vestígios da
cidade e do castelo do século XII. Nice, a principal cidade
da Costa Azul (Cote d´Azur) estende-se pela ampla baia
dos Anjos. Sua magnífica posição e clima ameno contribuíram para que se tornasse uma das mais procuradas Estações
de Inverno e no mais famoso balneário e centro de turismo
em toda orla mediterrânea.
- Situada a margem do rio Sena a cidade de Paris,
possui 9.904.000 habitantes (em 2010) (aglomeração urbana).Vislumbra-se um ambiente pitoresco nas proximidades
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Um Olhar Sobre o Mundo
da Catedral de Notre Dame ao longo das margens do Sena,
onde se localizam as bancas dos vendedores de quadros, de
cartões postais, de quinquilharias, de lembranças e exposição de livros.Margeando o rio se posicionam os pintores de
quadros com seus cavaletes, que com arte fixam na tela as
belas paisagens da cidade.
- França está em primeiro lugar de países mais visitados do mundo. Recebe anualmente cerca de 30 milhões
de turistas. A cidade de Paris possui grandes museus de
arte, de ciências e de indústrias, faculdades e escolas superiores, ricas bibliotecas e arquivos públicos. A cidade abriga importante patrimônio histórico com destaque para o
museu d´Orsay e o Palácio do Louvre, antiga residência
real e hoje um dos maiores museus do mundo, com coleções de relíquias do mundo todo, principalmente do Egito.
Monumentos, como a magnífica catedral de Notre Dame,
com a construção iniciada em 1196, levaram 200 anos para
ser concluída.
- Entre tantas outras atrações está a Praça da Concórdia, uma das mais famosas de Paris. À esquerda da praça, estendem-se os Jardins das Tulherias, à direita estão os
Champs-Elysées, ao centro da Praça ergue-se o Grande
Obelisco que, até 1833, ficava na entrada do Templo de
Luxor, no Egito. No alto, à direita, a grande esplanada do
Palácio dos Inválidos e o Panteão onde se encontra o túmulo de Napoleão Bonaparte. A Place Vendôme, a Place de
l´Etoille, hoje Place de Gaulle a grande artéria dos ChampsElysées.
- Ao centro, onde convergem doze grandes avenidas, ergue-se o Arco do Triunfo, comemorativo às vitórias
napoleônicas. Sob o Arco está o Túmulo do Soldado Desconhecido. A majestosa Torre Eiffel, os Jardins do Carrossel e da Estrela, Porta de São Dinis e São Martinho e os
magníficos Jardins de Luxemburgo. No centro, encontra-se
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
a Place du Teatre Français, ou Place du Ópera, onde se situa
a Ópera de Paris e o antigo Grand Hotel Du Louvre.
- No Quartier Latin, se concentra a vida cultural da
cidade. Ai está instalada a Universidade de Paris, a de Sorbonne fundada em 1225 como Faculdade de Teologia, atualmente é a sede da Academia de Paris, das Faculdades de
Letras e de Ciências e da Escola de Altos Estudos. Estão ai
situadas a maior parte das faculdades e institutos superiores
de Paris.Também o bairro boêmio de Montmatre, Montparnasse, La Rotonda, La Dome, Le Pigalle, La Coupolle, o
Moullin Rouge que são o grande atrativo para os turistas.
- Há aproximadamente 20 quilômetros de distância
de Paris encontra-se o magnífico Palácio e Jardins do Grande e Pequeno Trianon, com a Galeria dos Espelhos. O
grande salão possui as paredes e o teto revestido de espelhos. Era um espetáculo deslumbrante visto em dias de festa
e bailes da corte O Palácio de Versalhes foi construído por
Luis XIV, em 1661 a 1682, para residência real.
- O majestoso castelo de Chambord no vale do Loire, foi construído no século XVI, por Francisco I. Nessa
região existem outros castelos magníficos, como os de Amboise, Chenouceaux, Blois, Chinou.O Castelo de Fontainebleau situado no vale do Loire é um dos mais famosos do
país. Reconstruído por ordem de Francisco I, em 1528, tornou-se a residência favorita de muitos soberanos franceses,
inclusive Napoleão I. Os castelos são uma das grandes atrações turísticas da França.
- Construído em 1994, o túnel ferroviário sob o Canal da Mancha liga a França ao Reino Unido. Paris é servida pelos aeroportos de Orly e de Charles de Gaulle. Trens
bala e metrôs modernos percorrem e ligam à cidade e subúrbios de Paris às outras cidades do interior.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Se for da vontade de vocês podemos dar um giro
pela cidade de Paris, também pelo Vale do Loire, visitar os
palácios e museus – ofereceu-se o Dr. Salviano.
- Estamos sensibilizados com a sua atenção Professor, e já que está com tempo disponível, gostaríamos de
conhecer a vida noturna da cidade – disse Álvaro.
- Por coincidência, recebi três convites do consulado
brasileiro que está oferecendo uma recepção, com banquete
e baile nos salões da embaixada, em comemoração a Sete
de Setembro, gostariam de me acompanhar?- convidou ele.
- Ótima idéia! Aceitamos sim - respondeu entusiasmado Rodrigo.
- Então nos encontraremos as vinte-e-uma hora, no
saguão do hotel - confirmou Álvaro.
Reuniram-se na hora combinada e seguiram para a
festa. No baile do consulado, Álvaro conheceu mademoiselle Margueritte Champtercier. De um canto do pretensioso
salão avistou uma jovem esbelta, de pele queimada pelo sol
da praia. Coroada por farta cabeleira loira que destacava
ainda mais a cor morena do seu corpo. Trajava um vestido
branco longo, de alçinha bordada com strass, o grande decote deixava entrever os seus seios lindamente modelados.
Álvaro distinguiu-a de imediato no meio da multidão do salão de baile, e, pela primeira vez, se sentiu inadequado àquele meio. Seu traje de turista não combinava com
aquele ambiente sofisticado. Mas o seu perfil jovem e atraente o recomendava. Ele estava fascinado com a moça. Pediu ao mestre Dr. Salviano, para que o apresentasse a encantadora criatura que o atraia tanto.
O Dr. Salviano era conhecido naqueles salões e aproveitando uma ocasião favorável aproximou-se do grupo.
- Meu caro Salviano, que prazer em encontrar-lo,
queria mesmo conversar contigo – exclamou Pierre Maurice, pai da jovem Margueritte, abraçando o mestre.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Quero te apresentar meus novos amigos brasileiros, Rodrigo e Álvaro – falou o Professor.
- É um prazer imenso conhecê-los. Estive no Rio de
Janeiro recentemente, adorei a cidade, ah, principalmente as
mulheres brasileiras, são lindíssimas e muito calientes disse rindo Pierre Maurice - mas estava me esquecendo,
venha até aqui Margueritte, quero te apresentar estes dois
jovens brasileiros. Rodrigo é biólogo e ambientalista e Álvaro jornalista, estudioso em sociologia. Estão de passagem
pela França. Você terá muito assunto a debater com eles.
Ela deixou o grupo de amigas e aproximou-se do
pai, lançando um olhar sedutor para o jornalista. Álvaro era
um rapaz alto, de corpo atlético e de ombros largos, um
rosto viril de feições harmoniosas, a pele bronzeada e olhos
acinzentados, perspicazes. Tinha uma expressão risonha
nos lábios finos. Margueritte gostou da sua forma de falar
sem rodeios e de olhá-la como se a despisse, provocando
nela um formigamento que descia pela espinha.
Haviam já chegado umas dez ou doze celebridades
femininas do mundo artístico. Os músicos começaram a
tocar e os pares saíram rodopiando pelo salão.
Álvaro dirigiu-se para Margueritte e convidou-a para dançar. Saíram de mãos dadas e misturaram-se aos pares
dançantes. Distinguiam-se de outros dançarinos pelo ritmo
harmonioso e a graça dos passos que executavam.Quando a
música cessou Álvaro conduziu o seu par para junto do pai.
- Estas luzes e a música alta produzem um calor insuportável. A noite está linda, porque não vamos dar uma
volta pelo jardim e respirar ar puro?- sugeriu Margueritte.
- É uma ótima idéia – assentiu o moço, radiante.
Apoiada no braço dele caminharam vagarosamente
pela longa avenida de tílias, brilhantemente iluminada.
Chegaram assim ao vasto terraço que dominava o rio Sena.
Nos bancos de pedra à beira do rio estavam sentados diverMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
sos casais. Havia um banco livre onde o casal de jovens
sentara. Ficaram em silêncio por alguns minutos.
Álvaro não estava acostumado a expressar admiração e falar de sentimentos a mulheres bonitas e inteligentes,
e pela primeira vez na vida experimentava uma timidez,
que junto a sua emoção, lhe paralisava a palavra. Colocou
a sua mão em cima da mão dela. Ela retirou-a mansamente.
Margueritte vendo a indecisão do companheiro iniciou a conversa:
- Quero dizer-lhe que estamos unidos por uma simpatia recíproca. Isso é muito bom. Então sejamos amigos,
mas exclusivamente amigos, nada mais que isso, pois sou
comprometida, amo e sou noiva do estudante de engenharia
Jacques Raymond, que se forma este ano, logo vamos nos
casar. Hoje ele se encontra em Londres, está fazendo estágio numa firma inglesa, só estará de volta no final do ano.
- Desculpe-me a ousadia, mas foi muito bom a gente
se conhecer. Amigos então? - implorou Álvaro.
Voltaram ao salão de baile. Dançaram e se divertiram a noite toda. Ambos reconheceram que tinham afinidade de idéias e de gostos.Assim se deu início a uma longa e
sólida amizade que haveria de uni-los no decorrer dos anos.
***
Era domingo...
Nas andanças por Paris, Dr Salviano levou nossos
exploradores para conhecerem o Mercado das Pulgas. Lugar invulgar onde se vendia ou trocava, de tudo. Desde discos de vinil, gramofones antigos, roupa usada, sapatos, os
mais diversos móveis, eletrodomésticos, máquinas de escrever antigas, livros, leptops usados, aves e filhotes de
cães e gatos. Gaiolas com pássaros exóticos. Diversas bancas de frutas e verduras. Nesse mercado vendiam-se frituras
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
de comida apimentada, espetinhos de carne de origem duvidosa, feitos na hora em fogareiros armados na rua.
Espalhava-se no mercado a multidão ruidosa dos
compradores, vendedores, pregadores e embusteiros. Malabaristas, acrobatas e músicos de rua, andarilhos e mendigos
esmolando, jovens hippies tatuados tocando violão, freiras
regateando com o judeu o preço de uma imagem de santo,
de alabastro. Era uma balburdia total, via-se de tudo, e ouvia-se demais. Os mais exóticos panoramas desfilavam diante dos olhos dos freqüentadores.
Uma mulher chamou a atenção dos nossos visitantes. Era uma jovem de semblante expressivo, olhos grandes
e negros como noite sem luar, sobrancelhas espessas e bem
delineadas, lábios polpudos e o nariz levemente arrebitado.
Os contornos da boca fechada lhe davam um ar sério e enigmático. O pescoço era longo e delgado enfeitado por
diversos colares de contas coloridas. Os cabelos negros
tinha-os presos numa longa trança jogada no ombro esquerdo.O corpo de curvas levemente acentuadas, revelava quadris ondulantes ao caminhar. O vestido de tecido branco
leve, decotado, de saia godê curta, mostrava as pernas roliças,que lhe dava um ar de graça juvenil.O conjunto era belo
e sensual, revelava uma pessoa insinuante, segura de si.
- Quem é ela, como se chama? - Rodrigo perguntou
ao homem que estava próximo dele.
- Você não a conhece? Ora, é Violette a atriz, a jovem mais linda e popular do teatro amador de Paris.
Rodrigo observava de longe a jovem Violette, a moça de perfil grego, em pleno Mercado das Pulgas, em meio
a gritaria dos vendedores e ao aglomerado de pessoas, onde
num teatro improvisado se exibia um sujeito de bigodes
enormes, com o corpo tatuado de arabescos, enquanto um
menino, anunciava aos gritos suas virtudes como o maior
mágico da França. Quando o mágico solicitou um voluntáMonika Gryczynska
114
Um Olhar Sobre o Mundo
rio do público, Violette abriu passagem entre os curiosos e
subiu ao palco com um sorriso lindo, saudou os presentes
com seu leque aberto. Parecia uma deusa flutuando no ar.
Obedecendo as instruções do ilusionista Violette se
encolheu dentro de um baú pintado com símbolos egípcios.
O pregoeiro, um menino de dez anos fantasiado de mouro,
fechou a tampa do baú com dois cadeados. Entregou as
chaves a um espectador. O mágico fez alguns passos com
sua capa de seda vermelha e em seguida chamou um voluntário para abrir os cadeados.
Ao levantar a tampa do baú, viu-se que a garota já
não estava dentro, porem, momentos depois, um rufar de
tambores anunciou sua prodigiosa aparição atrás do público. Todos se viraram para admirar, boquiabertos, a garota
que havia se materializado do nada, e se abanava com o
leque, sentada numa poltrona com as pernas cruzadas.
Rodrigo percebeu que não poderia arrancar do seu
pensamento aquela jovem fascinante. Estava obcecado por
ela. Precisou fazer um esforço para voltar à realidade e se
dar conta de que estava no mercado rodeado de gente, junto
com seu primo Álvaro ao lado.Tentando se controlar aspirou fundo. Estava ansioso para se aproximar daquela deslumbrante criatura. Todos os olhos estavam cravados nela.
Por entre a multidão, a cotoveladas, chegou perto da moça
que se afastava dali depressa. Alcançando-a fez a parar com
forte pressão no braço.
- Donde saiu essa ninfa esplêndida? –perguntou-lhe.
Ela voltou-se com olhar rancoroso para ver quem
havia atrapalhado a sua rápida retirada.
- Quem é o ousado que está me incomodando? perguntou a moça com voz ríspida.
- Sou eu, um estrangeiro de passagem por Paris, estou fascinado por sua beleza. Por favor, fale comigo por um
momento. Diga-me pelo menos o seu nome – pediu ele.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Violette Parmentier, francesa, vinte anos, trabalho
como vendedora no magazine de vestuário, setor feminino,
na Galeria La-Fayette. Nas horas vagas sou atriz de teatro
mambembe. Alguma objeção? Mais alguma informação,
senhor Rodrigo? Está satisfeito? Agora me deixe ir em paz,
pois meu marido está me esperando.
E a ninfa sedutora se foi com passos rápidos. Rodrigo ficou ali parado, estupefato e decepcionado.
Depois de conhecerem um pouco da França, os nossos exploradores resolveram continuar a viagem por mar.
Seria mais interessante e melhor aproveitada, pois conheceriam mais detalhadamente os países onde o navio atracasse.
Para isso dirigiram-se a agencia de viagens marítimas e
compraram duas passagens com direito a cabine dupla, de
primeira classe. Passaram no consulado para atualizar os
passaportes e os vistos de entrada para os países que pretendiam visitar.
A CAMINHO DO EXTREMO ORIENTE
Álvaro e Rodrigo despediram se do Dr Salviano e de
Margueritte Champtercier e de seu pai que os trataram tão
gentilmente. Foram de trem até o porto de Marselha onde
embarcaram no navio de passageiros “Amartya Sen” indiano, que os levaria pelo mundo desconhecido. A grande aventura estava os esperando no outro lado do mundo.
Nunca esqueceram o trem que os levou a Marselha,
carregado como uma cesta de frutas exóticas, de gente confusa, estudantes, camponeses e marinheiros com violões e
sanfonas, dedilhando e cantando em coro canções desafinadas, pelos vagões. Marselha os fascinou com seu romantismo de cidade antiga e o novo setor comercial.
O Velho Porto coalhado de barcos com velas enfunadas, luxuosos iates dos armadores e de ricos empresários,
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
grandes navios esperando a carga no cais do porto, e outros
que levavam passageiros e a pequena burguesia rodeada de
sua família, que emigrava para ocupar os postos nos longínquos territórios franceses do Pacifico. Marinheiros bêbados caminhavam se equilibrando a procura do seu navio.
Álvaro e Rodrigo embarcaram ao amanhecer. O navio estava lotado de passageiros de mais variadas origens,
franceses, ingleses, alemães, portugueses, indianos, chineses e mestiços negros. O Mar Mediterrâneo se foi abrindo à
vista dos viajantes, com seus portos repletos de barcos e
navios com mercadoria a ser descarregada, seus tapetes
persas expostos nos bazares, vendedores e traficantes disputando os compradores, com mercados fervilhantes de pessoas e animais, atravancando o espaço.
O navio “Amartya Sen”, de bandeira indiana, navegou pelo Mediterrâneo tomando a direção de Port Said no
Egito, prosseguiu por 168 km pelo Canal de Suez até alcançar o Mar Vermelho, navegou costeando o litoral do
Egito, Sudão, Etiópia e Eritréia, para atracar no cais do porto de Djibuti, para reabastecimento. Rodrigo e Álvaro desceram do navio para espairecer e conhecer a cidade.
Djibuti è um dos menores países da África. Por sua
posição privilegiada na saída do Mar Vermelho para o golfo
de Aden e o Mar da Arábia, tornou-se centro internacional
de combate ao terrorismo e à pirataria. A região do atual
Djibuti, era habitada nos primórdios por tribos nômades de
origem árabe. País desértico possui uma vegetação que se
resume a arbustos e espinheiros do deserto. Aqui, os nômades pastores de cabras e camelos lutam para sobreviver.
Localizado na região do Chifre da África, o Djibuti é um
dos mais quentes e áridos países do planeta.
O ambiente do porto e da cidade impressiona. As
areias escaldantes pisadas tantas vezes pelas negras esculturais, com cestas de frutas sobre a cabeça. Elas caminhavam
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
leves, ondulando os quadris, a cabeça erguida firme, o traseiro empinado, o peito desafiante. Pareciam potrancas refinadas, nenhuma mulher branca consegue andar assim.
Havia as choças miseráveis das populações primitivas, com
crianças nuas, esqueléticas, brincando nas ruas.
As biroscas caindo aos pedaços, onde se vendiam
gêneros de primeira necessidade; os cafés iluminados por
uma luz vertical e fantasmagórica, onde serviam chá preto
da Índia, gelado com rodelas de limão e bebidas alcoólicas.
Convertido ao islamismo no século IX, o país torna-se colônia da França em 1862. Obtém a independência em 1977,
com o nome de Djibuti. É abalado por conflitos religiosos e
raciais, entre as etnias afar do norte e do oeste, ligados à
população etíope, e issa, de origem somali, no sul.
Durante a viagem, os rudes marinheiros orientais
observavam curiosos os notebook dos dois brasileiros e lhes
pediam para digitarem cartas de amor para suas noivas,
esposas ou namoradas que ficaram nos portos da França, ou
em Goa ou Calcutá, na Índia. Recorriam às palavras meigas, doces e amorosas. No fundo não lhes interessava o
assunto, mas que fossem escritas no computador. Enviavam
mensagens singelas, cheias de amor e ternura.
Após dias de viagem tranqüila o “Amartya Sen”
lançou âncora no porto de Calicute na Índia, para desembarcar a carga, para depois continuar a navegar rumo ao
porto de Colombo, na República Democrática Socialista de
Sri Lanka (Antigo Ceilão).
REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SRI LANKA.
Álvaro e Rodrigo já estavam cansados da longa viagem pelo mar, estavam ansiosos para chegar à Indonésia.
Mas como o navio ia deixá-los no porto de Colombo, resolveram ficar por alguns dias na cidade, conhecer a região,
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
se inteirar da sua história, da sua gente, da fauna e da flora
e principalmente começar as pesquisas, para cuja finalidade
faziam esta viagem. Procuraram uma agencia de turismo
para organizar melhor as suas buscas.
- O senhor poderia indicar uma pessoa bastante conhecedora do país, para servir de guia para nós? - perguntou Álvaro ao funcionário da agencia de turismo.
- Sim! Temos gente especializada para acompanhar
os turistas. A jovem Chandrika fará o trabalho para vocês.
De imediato adquiriram um mapa da ilha e contrataram a guia Chandrika, que falava fluentemente o inglês.
Hospedaram-se no hotel Royal Lótus recomendado pela
guia, e no outro dia cedo se puseram em campo. A guia
muito bem informada, já os estava esperando no saguão do
Hotel. Sentaram-se à mesa no bar, Chandrika abrindo o
mapa, começou a delinear e explicar-lhes a geografia do
país, em seguida expôs a história, muito antiga, pois teve
início no século VI a.C.
- O território da República de Sri Lanka está localizado no Oceano Índico, a cerca 50 km da costa sudeste da
Índia. É formado por uma ilha em forma de pêra, com a
área de cerca de 65.610 km², cuja costa noroeste acha-se
separada do sudeste do Deccan pelas águas do golfo de
Bengala e do Estreito de Palk.O rosário de ilhas existente
estabelece uma ligação natural entre o Sri Lanka e o subcontinente indiano.A ilha é constituída por um fragmento
do bloco peninsular próximo, com a qual tem em comum a
constituição geológica. Calcários de diversas idades cobrem
de modo descontinuo as rochas mais antigas.Terras miocênicas permeáveis (do Período Terciário) surgem ao norte,
na plana e árida península de Jaffna.
- Foi habitada em épocas remotas pelos australóides
(povos autóctones das ilhas do Pacifico).A ilha de Ceilão
(Sri Lanka), sofreu uma invasão de povos arianos do norte
Monika Gryczynska
119
Um Olhar Sobre o Mundo
da Índia (Vedas) nos fins do século VI a.C. que trouxeram
consigo o culto védico (bramanismo e hinduísmo).Estes
podem ser considerados como autênticos antepassados dos
atuais cingaleses.
- Limitando seu estabelecimento às zonas setentrionais da ilha, estes povos de agricultores que já conheciam o
ferro, conquistaram a hegemonia a partir do primeiro reino
de Anuradhapura, a capital de Ceilão (Sri Lanka.). A crônica cingalesa Mahavamsa relata a chegada de Vijaya, o primeiro rei cingalês, em 543 a.C.A língua cingalesa é relacionada ao sânscrito, tal como ocorre com o hindi.No século III, a.C.o budismo é introduzido no país pelo rei Tissa e
logo é adotado maciçamente pela população. E então que o
pensamento e os ensinamentos budistas se insinuam nos
fundamentos básicos da civilização cingalesa.
- A influência do clero budista transparece nas estruturas da administração, da economia e da cultura. Anuradhapura permaneceu como capital do reino cingalês até o
século VIII,quando foi substituída por Polonnaruwa.As
múltiplas incursões de povos do sul da Índia no século III,
trazem numerosa comunidade tâmil ao país.Em 1018,o comandante indiano Rajendra Chola conquista Ceilão.Durante
boa parte do primeiro milênio, a ilha foi controlada por vários príncipes de origem tâmil.
- Polonnaruwa,que em sânscrito significa ”cidade do
campo”, foi a 2ª capital do reino de Ceilão,conseguiu preservar suas relíquias relativamente bem.A natureza exuberante e bela e a fauna exótica completam o cenário encantador do antigo Ceilão.Durante quase 300 anos a cidade prosperou com o comercio, sob reinados competentes e disciplinados.Em meados de século XIII, entrou em decadência
e acabou sendo conquistada pelo rei indiano Kalinga Magha, temido pela sua crueldade.A cidade foi queimada até o
chão, templos destruídos, monges budistas expulsos e livros
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
sagrados destruídos.O rei do Ceilão Parakrama Pandu foi
torturado até a morte.Após tanto terror, a cidade foi abandonada e engolida pela selva, somente em 1820 suas ruínas
foram descobertas e restauradas aos poucos no século XX.
- Em 1505, os portugueses chegam á Sri Lanka,
fundam a cidade de Colombo em 1517, e gradualmente
estendem seu controle sobre as áreas costeiras, dominam a
economia do país por 135 anos, de Colombo até Jaffna.
Então,em 1602, quando o capitão holandês Joris Spilberg
chegou à ilha, o rei de Kandy, pediu-lhe auxilio para expulsar os portugueses. Entretanto, só a partir de 1660, os holandeses passam a controlar toda a ilha e obtém a hegemonia do comércio exterior.
- As rivalidades entre o Reino Unido e Holanda, durante as guerras napoleônicas, resultaram na ocupação de
Sri Lanka pela Grã-bretanha. Em 1802, a ilha foi formalmente cedida à coroa britânica, e tornou-se uma colônia
real. Foi incorporada ao Império Britânico, com o nome de
Ceilão.Os britânicos começam a exploração colonial da ilha
em grande escala, desmatando maciçamente as novas terras
para a ampliação da agricultura de plantation, nos vales e
planícies, iniciada pelos holandeses.Os ingleses introduziram cultivo do chá, café e borracha nas montanhas da ilha.
- Ceilão é uma das mais belas ilhas do mundo. Durante todo o século XIX, as transformações econômicas
produzidas pela colonização britânica causaram profundas
repercussões sociais. Os ingleses se instalaram em seus
bairros próprios e nos clubes rodeados por uma multidão de
artistas, construtores,ceramistas, arqueólogos, tecelões, escravos indígenas e monges de túnicas cor de açafrão, escultores de imensos deuses talhados nas montanhas de pedra.
- Os tesouros culturais e arqueológicos eram escavados das magníficas cidades antigas que a selva havia engolido Anuradhapura e Polonnaruwa.Portentosas esculturas
Monika Gryczynska
121
Um Olhar Sobre o Mundo
de pedra milenária, de jaspe e granito, colunas de mármore,
e estátuas de deuses eram transportadas, bem embaladas,
para British Museum de Londres, onde estão até hoje.
- Ceilão fornecia para os ingleses o chá mais fino do
mundo. Nessa sociedade elitista os ingleses ocupavam o
alto da pirâmide social e viviam em grandes e ricas mansões com jardins, e se divertiam em elegantes clubes de
Colombo. Mais abaixo se situava a população budista e
muçulmana de cingaleses composta de muitos milhões de
pessoas. E bem mais abaixo na escala social, pessoas que
recebiam o mais baixo salário pago pelo trabalho, somavam-se milhões de indígenas, todos eles do sul do país, de
língua tâmil e religião hindu.
- Embora a ilha tenha apenas 432 km de extensão
norte-sul e somente 224 km no sentido leste-oeste, Sri Lanka oferece grande variedade de paisagens, possui um território plano, recoberto de florestas tropicais com variada
flora, animais e pássaros próprios da região tropical. Possui
uma zona montanhosa central. O clima é quente no norte e
equatorial no sul. Destaca-se na produção de pedras preciosas e chá, produto do qual é o maior exportador mundial.
- Em Ceilão havia ruas inteiras dedicadas ao ópio.
Eram verdadeiros lugares sagrados. Os fumantes se deitavam sobre o assoalho irregular. Não havia nenhum luxo,
nem tapetes, nem colchões, eram tábuas nuas sem pintura,
cachimbos de bambu e travesseiros de seda chinesa. Reinava no recinto um ar de decoro e austeridade que não existia
nos templos. As pessoas narcotizadas pelo ópio, adormecidas, não faziam nenhum movimento e nem ruído.
Os dois jovens brasileiros, ansiosos por novas emoções, resolveram experimentar fumar um cachimbo de ópio.
Adquiriram-no de um velho traficante e instalaram-se no
chão de taboa, tendo como apoio uma almofada chinesa.
Com o ritual costumeiro começaram a tragar a fumaça do
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
narcótico. Após o uso passaram mal, sentiram náuseas que
subia pela espinha dorsal até o cérebro, sentiram aversão à
luz e a existência. Depois dessa infeliz experiência nunca
mais voltaram a usar o ópio ou outras drogas.
- Sri Lanka é um dos principais centros turísticos da
Ásia. Recebe anualmente cerca de 500.000 mil visitantes,
atraídos pelos festivais budistas, pelos monumentos antigos
e cidades sagradas de Anuradhapura e de Kandy. Pelas antigas cidades de Polonnaruwa e de Sygiriya, a Reserva Florestal Sinharaja, as fortificações de Galle,o Templo Dourado de Dambulla,o Palácio Real, o Fórum Popular.É notável
a presença de arquitetura Khmer nas construções, muito
similares às encontradas em Angkor, no Camboja, e também em Bagan na Birmânia (Mianmar).Fascinados pelas
inúmeras e insondáveis grutas, pela beleza natural do país e
pelas exóticas mulheres.
- Também são importantes para a economia do país,
o cultivo de arroz e a extração da borracha, coco e cacau.
Aos grandes empórios do comércio litorâneo mantidos pelos árabes e portugueses, exportadores de pérolas, marfim e
especiarias, sucederam-se no século XIX, as cidades portuárias que possuíam contato com agricultura comercial.
- Sri Lanka possui 21 milhões de habitantes (2011).
O governo socialista tem como presidente Mahinda Rajapakse reeleito em 2010. Os cingaleses, de religião budista
são 74% da população e uma minoria de 16 % de tâmeis
segue o hinduísmo. É usado o idioma cingalês, sinhala,
tâmil (oficiais) e inglês.O país tem duas capitais, Colombo
(capital comercial) e Sri Jayawardenepura (capital politica).
O porto e a cidade de Colombo, é uma importante escala
marítima asiática, possui 681.000 habitantes (aglomeração
urbana).
- Aproximadamente 15 % dos habitantes do país vivem em centros urbanos.Colônia inglesa desde 1802, Sri
Monika Gryczynska
123
Um Olhar Sobre o Mundo
Lanka, que significa ”ilha resplandecente”, conquista a independência em 1948. A história recente do Sri Lanka é
marcada pelo confronto entre cingaleses (majoritários) e os
3 milhões de tâmeis. A nação se recupera de uma longa
guerra civil, que durou 26 anos, iniciada em 1983 e só foi
encerrada em 2009.
Andando pela costa da ilha chegaram a assistir um
espetáculo incomum “o banho dos elefantes”. De repente da
água tranqüila do rio surgiu um esquisito fungo cinza, que
logo se converteu em serpente, depois em imensa cabeça,
por último em montanha com longas presas. Eram vistos
centenas de animais, tomando seu banho tranquilamente.
Nenhum país do mundo tinha ou tem tantos elefantes executando trabalhos pesados nas estradas. Era assombroso vêlos cruzando com sua carga de toros de madeira de um
lado a outro, como laboriosos e grandes trabalhadores.
- Em certa época, os elefantes se haviam propagado
em excesso em um determinado distrito e começaram a
invadir casas e lavouras. Por meses, ao longo do rio, os
camponeses - com tochas de fogo, com fogueiras e tambores – foram agrupando os rebanhos selvagens e os empurrando a um canto da mata. De noite e de dia as fogueiras e o
som dos tambores perturbaram os grandes animais que se
moviam com lentidão para o noroeste da ilha.
- Ali foram cercados. Um imenso rebanho com cerca de quinhentos elefantes. Então os grandes machos se
reuniram num circulo fechado decididos a proteger as fêmeas e os filhotes. Era comovedora sua defesa e sua organização.Lançavam um chamado angustiado, espécie de
mugido e no desespero arrancavam com raiz as árvores
próximas, tentando intimidar os seus capturadores.
- Então, montando dois grandes elefantes domesticados entraram os domadores. A parelha domesticada chegava perto do animal prisioneiro, golpeava-o com sua
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
tromba e ajudava a imobilizá-lo. Então, os caçadores amarravam uma das patas traseiras com grossas cordas a um
tronco de árvore bem resistente. Durante cinco dias, os elefantes ficavam sem comida e sem água, no final, alimentados pelos domadores, um por um esses possantes animais
foram submetidos e domesticados. Aprenderam a obedecer
e estavam prontos para serem usados nos trabalhos pesados.
Os elefantes asiáticos são os de mais fácil domesticação.
Chandrika, um belo tipo de mulher cingalesa, acompanhou os dois brasileiros pelos lugares mais importantes
do país e da cidade de Colombo. Extremamente atenciosa
durante todo o tempo em que eles lá permaneceram, teceu
eloqüentes elogios á beleza da sua terra.
- Façam o possível de voltar para cá após a visita às
ilhas da Indonésia. Recomendo-lhes que procurem no balcão de informações aos turistas no aeroporto de Jacarta, em
Java, pela agente Megavati que é minha amiga, é uma pessoa bem informada e eficiente como guia turístico – informou a jovem cingalesa.
REPÚBLICA DA INDONÉSIA.
Ao desembarcar no aeroporto internacional de Soekarno-Hatta em Jacarta, os dois pesquisadores brasileiros
seguiram as instruções da guia cingalesa Chandrika e se
dirigiram ao balcão de informações, onde foram atendidos
por uma bela jovem malaia.
- Em que posso ajudá-los – perguntou solícita.
- Fomos instruídos por sua amiga Chandrika da cidade de Colombo, em Sri Lanka, para procurá-la. Vamos
precisar de um profissional para nos acompanhar e orientar
na cidade e em todas as ilhas da Indonésia que pretendemos
conhecer - explicou Rodrigo.
Monika Gryczynska
125
Um Olhar Sobre o Mundo
- Podemos conversar a respeito, assim que eu for liberada do meu turno no trabalho – respondeu a moça.
- Então só nos resta esperar.
Os dois viajantes se dirigiram ao restaurante para
um lanche, enquanto aguardavam a guia Megawati.
- Tenho uma proposta a dar a vocês, como eu não
posso acompanhá-los em viagem pelas ilhas, indico-lhes
meu amigo Michael Tehani, uma excelente pessoa, formado
na faculdade de turismo, será um bom guia para vocês e
está disponível para acompanhá-los de imediato. Vou chamá-lo agora – disse Megawati - e dirigiu-se à sala anexa.
Voltou acompanhada de Michael, jovem duns vinte
e oito anos, tipo malaio, de sorriso permanente nos lábios,
irradiando simpatia, bem-apessoado, de óculos escuros e
roupa esportiva. Depois das apresentações, combinaram o
tempo e a remuneração sobre os serviços a prestar como
guia. Após estar tudo de acordo foram descansar no hotel
“Diplomath”, situado no centro da cidade, o mais indicado
pelos agentes de turismo. Após o desjejum começaram o
tour pela cidade, acompanhados pelo guia Michael, que foi
os informando a respeito da cidade:
- A cidade de Jacarta, capital da Indonésia,está situada a uma altitude de 7 m acima do nível do mar; ocupa
uma área de 661,52 km², com uma população de 9.210.211
(em 2011) na sua área metropolitana. A cidade é governada
por Fauzi Bowo. Jacarta está localizada na costa noroeste
da ilha de Java às margens do Tjiliwung, rio que desemboca
na baia de Jacarta, e divide a cidade em duas zonas, leste e
oeste.Jacarta começou como um pequeno porto ao lado do
rio Tjiliwung, século XV, no povoado denominado Kalapa.
- Era o maior porto do reino hindu de Sunda.Em
1699, Jacarta sofreu um devastador terremoto e a erupção
do vulcão do Monte Salak de 2.211m de altura, localizado a
60 km ao sul de Jacarta, cujas cinzas cobriram toda a região
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
periférica da cidade, que se converteu numa comunidade
doente, com gente em situação de desespero. O vulcão do
Monte Salak atualmente está adormecido.
- A primeira frota portuguesa chegou à zona do porto em 1513, com quatro navios procedentes de Malaca, procurando uma rota para as “Ilhas das Especiarias”, em busca
de pimenta. Em 1619, o almirante holandês Van der Broek,
fundou o forte de Batávia, no lugar onde se erguia o antigo
povoado de Kalapa Ficou designado para a sede da Companhia Holandesa das Índias Orientais, que logo estendeu seu
domínio sobre os principados e sultanatos vizinhos. No
começo do século XIX, o marechal holandês Daendels
mandou destruir as muralhas antigas da cidade e construir
um novo e moderno núcleo urbano em Weltevreden.
- Em 17 de agosto de 1945, se constituiu a República da Indonésia. A antiga cidade de Batávia, agora Jacarta, se converteu em capital da República da Indonésia em
1950. Na cidade distinguem-se três setores: a cidade antiga,
nos ambos os lados do rio, unida por canais; a cidade moderna ( Weltevreden), em terra firme, com a larga e suntutuosa Avenida Djalam Djponegoro e Tandjungpriok subúrbio portuário da capital. Jacarta é a maior cidade do país
seguida em importância por Surabaya, Bandung, Medan e
Semarang.
Durante muitos dias, acompanhados pelo guia Michael,os dois pesquisadores visitaram o Museu Nacional da
Indonésia, a Mesquita Istiqlal (85% da população professa
o islamismo),o Taman Ismail Marzuki, o Zoológico Ragunan, o esplendido Monumeto Nacional Tugu Monas, Kepulauan Seribu, Ancol, Taman Mini Indonésia Indah, teatros,
igrejas católicas romanas, templos budistas e hinduístas.
Assistiram a danças folclóricas. Perambularam pela cidade
durante dias a fio. Terminada a visitação a lugares interessantes de Jacarta, decidiram descansar no hotel onde estaMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
vam hospedados. Passaram a tarde repousando.No outro dia
de manhã,o guia Michael, entusiasmado com o interesse
dos dois moços estrangeiros, quanto a história e as belezas
naturais do seu país, esperava-os no saguão do hotel.
- Como passaram a noite? Estou ansioso em continuar a mostrar-lhes as atrações da nossa cidade – falou Michael e abraçou-os amistosamente. Estão dispostos a ouvir
a minha explanação? Procurarei ser o mais claro possível.
- Oh! Sim! - respondeu Rodrigo - mal posso esperar.
Então se sentaram à uma mesa no bar do hotel, o
guia desdobrou o mapa da cidade, como também um outro,
o do Arquipélago da Indonésia. Enumerava as ilhas e suas
cidades mais interessantes, a serem visitadas.
- Situados em um dos maiores cruzamentos do
mundo, os países do Arquipélago de Sunda e do Sudeste
Asiático tem uma história que remonta aos primórdios da
humanidade. Quanto a formação da população, a República
da Indonésia tem alguns dos vestígios arqueológicos mais
antigos do Homo erectus soloensis, de cerca 1,64 milhões
de anos(Pleistoceno Médio).O exemplar conhecido deste
antigo hominídeo foi retirado do sitio arqueológico das
margens do Rio Bengawan Solo, no leste da ilha de Java
por Eugene Dubois em 1891.No vale do rio Brantas, próximo à cidade de Malang (Java Oriental), foram encontrados fósseis do Homo erectus datados de 1,3 milhões de anos.
- O antropólogo Gustaw won Koenigswald durante
as escavações realizadas em 1936 e 1941, descobriu fósseis
de um dos primeiros antecessores conhecidos da humanidade, o Pithencanthropus erectus (Homem de Java). Os fósseis demonstram que Java foi habitada desde os começos da
humanidade. Sangiram é um importante sitio arqueológico
na ilha de Java. A área cobre 48 km² e situa-se no centro da
Monika Gryczynska
128
Um Olhar Sobre o Mundo
ilha. A ilha conheceu um desenvolvimento importante no
Neolítico, com a civilização de Dong Son.
- Em 2011, foram descobertas, em Timor Leste,
provas de que há 42.000 a.C. os homens tinham a habilidade e a tecnologia necessária para cruzar o oceano e chegar a
Austrália e a outras ilhas distantes. Java é, provavelmente,
a pátria de uma das mais primitivas raças humanas. A atual
parece ser originaria das migrações malaias que chegaram a
Java e Sumatra por volta de 4000 a.C. provenientes do Sudeste Asiático. Vieram ao Arquipélago em sucessivas ondas
migratórias. A maioria dos indonésios é descendente de
povos de línguas austronésias, cujo idioma provém do protoaustronésio, o que indica que sua origem é provável de
Formosa (Taiwan).
- Os melanésios são os grupos de população mais
importante do país, que habitam o leste da Indonésia. A
maior parte está formada por elemento malaio, ou indonésio
com diversas variedades, entre elas se destaca o maior grupo étnico, o javanês, que representa 42% da população, e é
politicamente e culturalmente dominante. Há ainda o grupo
social de sundaneses, de bataks, de chineses, malaios, dayaks, toalas, balineses, e de alfures. Ao seu lado figuram os
emigrantes asiáticos (chineses e japoneses) e europeus. Os
asiáticos têm uma grande importância, pelo papel que desempenham na vida econômica do país. Entre os europeus,
cuja aclimatação tem sido muito difícil destacam-se os holandeses, ingleses e alemães. No aspecto político, essa contribuição étnica provocou a fundação de vários sultanatos
nas ilhas, que governaram o país até a chegada de europeus
e que depois abaixo de um regime autônomo, subsistiram
durante muito tempo.
- A diversidade racial, a multidão de povos e as imigrações estrangeiras explicam a grande variedade lingüística da Indonésia. No país coexistem mais de 300 etnias natiMonika Gryczynska
129
Um Olhar Sobre o Mundo
vas, que falam mais de 742 línguas e dialetos diferentes. O
idioma oficial é o Indonésio Bahasa e o javanês, também
são usadas as línguas regionais, entre as principais estão o
sundanês e o madurese. Importância considerável tem o
chinês, holandês e inglês.
- A liberdade religiosa está estipulada na Constituição, mas o governo indonésio reconhece seis religiões: islamismo, protestantismo, catolicismo, hinduismo, budismo
e confucionismo. A Indonésia é a maior nação islâmica do
planeta, com 207 milhões de muçulmanos 86,1% dos indonésios são muçulmanos. Também há minorias importantes
de cristãos nas ilhas Molucas e hinduístas na ilha de Bali.
Existem minorias de pagãos que praticam o animismo. A
diversidade de povos cria conflitos étnicos e religiosos que
ameaçam a integridade do País. A complexa mistura racial
da Indonésia de hoje é o resultado de duas ondas de invasores da Ásia e do Pacífico.
- Desde o inicio da Era Cristã, e no decorrer dos séculos seguintes, a ilha de Java esteve sob a influência da
civilização indiana. A partir do século VII, o poderoso reino Srivijaya floresceu como resultado do comércio naval
internacional e as influências do hinduísmo e budismo que
foram importados com ele.Em 950 d.C. (século X) o rei
hindu Mpu Sindok mudou seu reino de Mataram, Java Oriental, para um novo local, a cidade de Mádiun, a 169 km ao
sul de Surabaya, às margens do rio Mádiun afluente do rio
Brantas, tendo por causa a erupção vulcânica do Monte
Merapi,o vulcão mais ativo da Indonésia.
- Entre os séculos VIII e X, as dinastias budistas de
Shailendra e a hindu Mataram prosperaram,construíram
grandes monumentos religiosos no interior de Java, entre
eles Borobudur e Prambanan. No ano de 1170, foi o apogeu do reino de Srivijaya em Java, sob a dinastia Shailendra. Borobodur é o maior monumento budista do mundo.
Monika Gryczynska
130
Um Olhar Sobre o Mundo
Situa-se na parte central da ilha de Java Foi construído no
século VIII, em uma área de 10 km² onde se conservam
mais de 25 templos budistas e hindus, dos quais faz parte o
complexo de Prambanan.
- Com o surgimento do islamismo e outras religiões
trazidas pelos colonizadores, nos séculos XIV e XV, Borobodur foi esquecido e coberto pela vegetação, cresceram
sobre seu terraço musgos, arbustos e até grandes árvores. O
Complexo começou a ser completamente reconstruído em
1973, sob o patrocínio da Unesco.
- A dinastia hindu Majapahit foi fundada no leste de
Java no final do século XII, sob Gajah Mada, sua influência
se estendia sobre grande parte da Indonésia. No século XIII,
entretanto, essas influências foram substituídas pela do islamismo trazida por mercadores de Gujarati, hindus convertidos ao Islã pelos persas,que se tornou religião dominante,
no norte de Sumatra e em Java, até o final do século XVI.
- A civilização indu-indonésia atingiu seu esplendor
no século XIV, a Idade de Ouro do Império de Majapahit,
quando o reino se estendia para leste, além de Java, Bali,
Sumatra e Bornéu, em contato comercial e cultural com a
China.Sobre este fundo étnico chinês, as invasões hindus e
semitas muçulmanos contribuíram para o processo da formação da população da Indonésia.
- Na época dos grandes descobrimentos geográficos
dos séculos XV e XVI, os produtos exóticos do Oriente, as
famosas especiarias produzidas nas “Ilhas das Especiarias”
como canela,açafrão,cravo,pimenta, noz-moscada,baunilha,
cominho e outros produtos da culinária, para os grandes
mercados europeus, constituíram um poderoso incentivo
para os navegantes portugueses, com numerosas expedições
na sua busca.Num transcurso de poucos anos a maior parte
da Indonésia caiu em poder da Corte de Lisboa.
Monika Gryczynska
131
Um Olhar Sobre o Mundo
- Seguindo a rota das especiarias, os portugueses
apareceram nas Ilhas Molucas e Ilhas do Mar de Banda em
1512. Comerciantes holandeses e ingleses os seguiram.Os
holandeses começaram negociar com eles em 1599.Em
1602, os holandeses estabeleceram a Companhia das Índias
Orientais que se tornou o poder dominante europeu. De
Batávia, seu quartel-general, os holandeses controlavam as
Molucas e as ilhas Banda, isto e, as Ilhas das Especiarias. A
crescente demanda na Europa pelas especiarias e, pela pimenta levou as potências marítimas a procurar o comércio
direto com as ilhas que as produziam, abrindo caminho para
o trabalho missionário cristão, mas também para os traficantes, piratas, criminosos e aventureiros.
- Durante os séculos XVII e XVIII, a Indonésia se
transformou num campo de rivalidades entre espanhóis,
portugueses, holandeses e ingleses, que criaram suas próprias companhias. Essas companhias introduziram nas ilhas
os cultivos comerciais de café e cana-de-açúcar, os quais
começaram a dar excelentes resultados econômicos.
- Em 1602, vários grupos mercantis fundaram a
Companhia Holandesa das Índias Orientais. A expansão
territorial holandesa em Java começou com a tentativa frustrada do sultão Ajung de Mataram de conquistar a Batávia.
Após sua morte em 1646, a Companhia Holandesa, ao intervir nas disputas sucessórias, tornou-se a maior força política na ilha, controlando as casas reinantes e pagando dívidas em troca de cessão de territórios. A manutenção do monopólio comercial foi parte vital nessa expansão.
- Era a vez de a colonização holandesa assumir o
controle da Indonésia, domínio esse que só se interrompeu
com a II Guerra Mundial, quando os japoneses ocuparam as
ilhas. Os holandeses administraram seu magnífico Império
colonial em regime de Companhia concessionária monopolizadora de todas as atividades econômicas, desde 1602 a
Monika Gryczynska
132
Um Olhar Sobre o Mundo
1800, em cujo ano decidiram converter aquele em monopólio estatal. Em 1800, Holanda foi conquistada por Napoleão
Bonaparte, e a Indonésia passou ao domínio da França até
o ano de 1811. Em 1825, iniciou-se a revolta dos indonésios contra os holandeses, a chamada “Guerra de Java”.
- A parir de 1830, o imperador Guilherme I, da Holanda, desejoso de tirar o máximo proveito econômico de
suas colônias, autorizou o governador holandês da Indonésia, Van der Broek, a implantar até as últimas conseqüências o sistema de cultuurtelsel, ou cultivo forçado das lavouras de cana-de-açúcar, café, chá e borracha. A produção
aumentou vertiginosamente e impulsionou a prosperidade
de Holanda,com sacrifício e exploração do trabalho indígena, da mão-de-obra chinesa, malaia e demais imigrantes.
- Em 1945, com a transferência por parte da Holanda da soberania sobre os territórios que formavam as antigas Índias Orientais Holandesas, nascia a República da Indonésia. Após a rendição japonesa em 1949, os líderes nacionalistas proclamam a independência, sob a liderança de
Sukarno. A Holanda reconhece a separação depois de quatro anos de conflitos. O país é organizado em Estados com
alto grau de autonomia, mas em 1950 Sukarno centraliza o
poder. Em 1965, as Forças Armadas sufocam tentativa de
golpe de militares ligados ao Partido Comunista Indonésio,
deixa um saldo de dezenas de milhares de mortos.
- Em 1966, Sukarno é forçado a transferir o poder
aos militares. O general Suharto é declarado presidente em
1968, e instala a ditadura no país. A expansão da economia
é abalada em 1997, pela crise financeira no Sudeste Asiático e o governo recorre ao FMI, para um empréstimo de 42
bilhões de dólares. Em 1998, a Indonésia foi abalada por
violentos protestos da população contra a crise econômica e
a corrupção; a repressão policial deixa mais de mil mortos e
o ditador Suharto é forçado a renunciar. Com a queda da
Monika Gryczynska
133
Um Olhar Sobre o Mundo
ditadura de Suharto os choques étnico-religiosos e movimentos separatistas ganham intensidade na Indonésia. Em
2002, o Parlamento aprova eleições diretas para presidente.
Na eleição presidencial de 2004 vence o general Susilo
Bambang Yudhoyono, reeleito em 2009.
***
Após as emoções daquele dia, Rodrigo e Álvaro já
cansados, foram refazer as energias no restaurante típico
malaio. Foi uma feliz surpresa o cardápio de pratos exóticos
apresentado. Deliciaram-se com a comida extravagante, da
qual nunca tinham saboreado. No outro dia de manhã, Michael Tehani, Rodrigo e Álvaro, estavam sentados confortavelmente à mesa na sala de estar do hotel, bebericando
uma água de coco gelada, diretamente da fruta.
- Para enriquecer suas pesquisas vou lhes contar
uma lenda que é repassada pela tradição popular, fala sobre
o desaparecido Continente de Lemúria. Essa história pode
ter autenticidade ou não, mas continua na memória do povo
antigo. Também falarei da formação do Arquipélago de
Sonda ou Arquipélago Malaio, conhecidos pelo nome geográfico de Insulindia, sua geografia, sua história, a cultura
de sua gente desde os primórdios – propôs o guia.
- Por favor, informe tudo que for importante para
nossa pesquisa – respondeu o jornalista Álvaro.
- Nesse caso, irei contar desde o início - disse Michael e começou a narrativa:
- Como deve ser do seu conhecimento, mas sempre
é bom recordar que, a Teoria atualmente aceita é de que,
desde Era Pré-Cambriana (Primária) até a Era Mesozóica
(Secundária), portanto há 250 milhões de anos atrás, todos
os continentes estavam reunidos em um único bloco chamado Pangéia (do grego, toda a terra). Há 200 milhões de
Monika Gryczynska
134
Um Olhar Sobre o Mundo
anos atrás Pangéia começa a se fragmentar, formando dois
subcontinentes, Laurásia e Gondwana..
- No Período Cretáceo, há 135 milhões de anos atrás, no continente de Gondwana surgem fendas profundas
na estrutura da Terra que separam América do Sul, a África e a Índia iniciando a formação dos Oceanos Atlântico e
Índico. Na separação das placas tectônicas a expansão do
assoalho marítimo propiciou a ampliação, do já extenso
Oceano Pacífico (antigo Mar de Pantalassa).
- A investigação e a pesquisa científica podem apresentar excelentes subsídios para os geólogos, arqueólogos,
geofísicos, antropólogos e historiadores que se interessam
pela história de Lemúria. Existe a hipótese de que, centenas de milhões de anos atrás, no Oceano Índico, uma ruptura surgiu na rocha basáltica que constituía o leito do oceano. Formou-se na conjunção das placas Indo-australiana e
Euro-asiática, numa linha que se estendia por mais de 5 mil
km, de nordeste para sudeste. Ocasionada por convulsões
da crosta terrestre ocorrera a grande fratura na estrutura
básica da Terra e por ali começou a vazar rocha fervente.
- Às vezes se passavam mil anos, dez mil anos, antes que ocorresse nova erupção do material fervente. Em
outras ocasiões, as pressões gigantescas se acumulavam por
baixo da ruptura e depois se projetavam com violência extrema arremessando magma para cima elevando a altura da
terra submersa. Camada após camada de rocha derretida ia
vazando, sibilando ao contato da água do mar, deslizando
pelos lados das pequenas elevações em formação, escorrendo pelas encostas das montanhas submersas, aderindo ao
que emergira antes, constituindo a base para a que viria.
- Submerso por quase 40 milhões de anos, o vulcão
subterrâneo, sibilou, rugiu, arrotou e expeliu rocha derretida
através dos mesmos vazamentos do núcleo da Terra.Ao
escapar da prisão interna, entrou em contato com a água fria
Monika Gryczynska
135
Um Olhar Sobre o Mundo
do oceano. No mesmo instante a rocha quente explodiu em
cinzas que começaram a consolidar-se. Nessa ocasião, o
primordial Mar de Pantalassa assinalou que novas terras
estavam nascendo. Formava-se lentamente o grande continente de Lemúria, que passou a integrar o sul da África, o
Deccan na Índia, o Sudeste Asiático, a Austrália e a Antártica, estendendo-se até a costa dos atuais continentes da
América do Norte e da América do Sul.
- Naquela época toda a Terra era constantemente sacudida, violentamente, por terremotos e pelas erupções dos
milhares de vulcões que ali existiam. A lava fervente cobriu
toda a crosta terrestre, que assim continuou por milhares de
anos. Terremotos são manifestações de deslizamento ocorrido nas falhas geológicas. A maior parte ocorre nas bordas
das placas tectônicas. A placa do Pacífico é a maior placa
oceânica, com cerca de 70 milhões de km².
- Num incalculável número de tempo geológico o
clima da Terra mudou milhares de vezes, de calor extremo,
passava para o frio rigoroso. Certa época o gelo desceu do
Ártico cobrindo os continentes, por 10 mil anos seguidos.
Seu peso e sua força desgastaram as rochas formando vales,
planícies e montanhas. Passada a Era do Gelo o clima aqueceu novamente e as geleiras derreteram. Com o gigantesco
acúmulo de água das geleiras o nível dos Oceanos se elevou drasticamente submergindo a maior parte das terras de
Lemúria. Há indícios de que muitos espaços abertos, hoje
preenchidos por oceanos, já foram ocupados por continentes existentes no passado.
- Há mais ou menos 60 mil anos atrás, durante o Período Quaternário, o continente de Lemúria que estava unido ao oeste da América do Norte, ao sul da Ásia, ao Deccan
na Índia e ao sul da África, sofria grandes cataclismos, com
transformações repentinas e de grande amplitude da crosta
terrestre, com bruscas mudanças climáticas,de grandes seMonika Gryczynska
136
Um Olhar Sobre o Mundo
cas e glaciações.Com as inundações, as terras baixas tornaram-se alagadiças e afundavam vagarosamente no mar, o
suficiente, para se tornarem um grupo de ilhas pantanosas.
- Por milhares de anos Lemúria continuava afundando lentamente, forçando seus habitantes a se deslocarem
para terras asiáticas, africanas e australianas. Consta que o
continente era habitado por uma civilização com elevado
grau de desenvolvimento. Muitas partes do continente submergiram, deixando a Lemúria bem menor.O afundamento
total ocorreu há mais ou menos dez mil anos a.C. quase no
final da Era Glacial.
- Tragado pelas águas do Oceano Índico o Continente deixou evidentes testemunhos geológicos, no Sul da
Índia, no Sudeste Asiático e nos arquipélagos que surgiram
depois do cataclismo, como o Arquipélago das Filipinas, do
Japão, as Ilhas do Arquipélago de Sunda e a Península da
Malásia. 60.000 anos atrás estavam ligados entre si a Tasmânia, a Auastrália e a Nova Guiné. O grupo de ilhas da
Nova Zelândia e os milhares de outras ilhas grandes e pequenas esparsas pelos Oceanos Pacífico e Indico, muitas
são picos de montanhas do continente submerso.
- Com a pressão gigantesca das placas tectônicas,
formou-se a cordilheira mesoceânica, submarina, com a
extensão de 70.000 km, dando volta ao globo, cujos cumes
elevam-se a seis mil metros desde o leito do oceano. Pelos
10 mil anos seguintes sob o impacto dos vulcões foram
surgindo, uma a uma, as inúmeras ilhas do Pacífico. As
ilhas Orientais estão se expandindo num ciclo interminável.
O Circulo do Fogo do Pacífico marca seu surgimento e desaparecimento; um novo vulcão impele seu cone acima da
superfície da ilha.
- A vida reapareceu nas ilhas que surgiram do fundo
do mar. As primeiras formas vivas a chegarem eram insignificantes, quase invisíveis, liquens e musgos. Esses fragMonika Gryczynska
137
Um Olhar Sobre o Mundo
mentos se fixaram, foram se expandindo, desgastando as
rochas, formando o solo. Um dos dias mais importantes na
história das ilhas de Sunda ocorreu quando uma ave chegou
do leste, trazendo nas penas emaranhadas a semente de uma
árvore. Empoleirada numa pedra a ave bicou a semente até
desprendê-la das penas. A semente caiu no solo e, com o
tempo uma árvore cresceu. Outra ave aliviou suas entranhas
e deixou sementes de bambu. As sementes nasceram e se
espalharam formando grandes touceiras de bambuzais.
- Nesse tempo já existia, nos continentes distantes,
como Índia, China e Austrália, uma sociedade vegetal e
animal devidamente estabelecida composta de árvores, animais, pássaros, répteis e insetos. Algumas dessas formas
aproveitando o rebaixamento das águas do mar, em épocas
da glaciação, empreenderam jornadas exploratórias através
das pontes terrestres, desde seu habitat nativo, até as ilhas
do Arquipélago Indonésio. Os répteis chegaram rastejando
pelos pântanos úmidos, em manadas vieram os elefantes e
tigres, pulando de uma moita de terra firme para outra chegaram os macacos. Veio também um festival de pássaros.
- No encalço dos animais vieram os homens, do norte da Índia, de Burma e da China. Os caçadores das Filipinas chegaram em canoas feitas de bambu, e muitos deles
pelas pontes terrestres.Quando o gelo veio e se foi, fez com
que as águas do Grande Pacífico se elevassem novamente,
submergindo a cadeia de planaltos em 20 a 500 m de profundidade.Com isso fechou-se a passagem terrestre que
ligava Ceilão a Península da Malásia e os Arquipélagos da
Indonésia e das Filipinas com o continente asiático.
- As plantas, animais e insetos aventureiros que haviam alcançado as ilhas mais antigas a nordeste, tiveram
tempo suficiente para se deslocarem para as terras mais
novas em outras ilhas. Podia levar muito tempo para uma
relva completar sua jornada pelo arquipélago. Arvores e
Monika Gryczynska
138
Um Olhar Sobre o Mundo
trepadeiras, samambaias, palmeiras, bambus e capim foram
se introduzindo pelas ilhas, enquanto, os vulcões, ainda
explodiam com violência pelo arquipélago indonésio.
- Por tempo indeterminado se desenrolou a grande
odisséia do surgimento e consolidação das ilhas do Arquipélago da Indonésia, da Malásia, das Filipinas, do Japão e
demais ilhas, impulsionados pelos vulcões que circundam o
Oceano Pacífico. Existe cerca de 550 vulcões ativos, sendo
452 vulcões numa área conhecida como o Circulo do Fogo
do Pacífico. As ilhas ao longo da ruptura no leito do oceano
eram um paraíso, se elevando do mar em penhascos abruptos e imensos picos rochosos. Continham baías profundas,
praias com areias reluzentes margeadas por palmeiras esbeltas. As ondas impetuosas lambiam as suas orlas.
Empolgado, o guia Michael passou a discorrer sobre a geografia e história de época recente, relativa ao Arquipélago da Indonésia.
- A República da Indonésia, conhecida também com
os nomes geográficos de ilhas de Sunda ou Arquipélago
Malaio, compreende a vasta extensão de terras banhadas
pelos Oceanos Pacífico e Índico, que se estende do Sudeste
da Ásia até Papua (ex-Irian Jaya ). Compõe-se das ilhas
do Arquipélago de Sunda, sendo as maiores, Java, Sumatra, Bornéu (compartilhada com Brunei e Malásia),Nova
Guiné (compartilhada com Papua Nova Guiné), Sulavesi,
Bali, Lombok, Sumbava, Sumba, Flores, Célebes, Molucas,
Cômodo e milhares de ilhas menores dispersas pelo oceano
Índico e Pacífico.Tem fronteiras terrestres com a Malásia
(na ilha de Bornéu) com Papua Nova Guiné (na ilha de
Papua) e com Timor-Leste (na ilha de Timor).Fronteira
marítima com as Filipinas, Malásia, Cingapura, Palau, Austrália e com o estado indiano de Andaman e Nicobar.
- A capital Jacarta polariza a atividade política de
uma nação composta por um grupo de 17.508 ilhas, das
Monika Gryczynska
139
Um Olhar Sobre o Mundo
quais cerca de 6.000 são habitadas, espalhadas ao longo
5.000 km, do Leste a Oeste e 2.000 km de Norte a Sul, em
ambos os lados do equador. É o mais extenso arquipélago
do planeta, com a área aproximada de 1.919.440 km². É a
quarta nação com a maior população do mundo, possui
242,3 milhões (201I)de habitantes, dos quais 58% vivem
em Java, a ilha mais povoada do Arquipélago.
- As ilhas do maior arquipélago do planeta ficam na
plataforma de dois arcos continentais. A cadeia sul das ilhas
de Sumatra a Timor, incluindo Bornéu, forma a parte do
arco de Sunda, uma extensão do continente asiático, submerso numa grande área. As Molucas do Norte e a Nova
Guiné ficam no arco de Sahul, uma extensão a norte do
continente australiano. Entre os arcos, Sulawesi e as Molucas do Sul formam o topo das ilhas de cadeias suboceânicas
de montanhas flanqueadas por fossas com até 5.500m de
profundidade. No oceano Indico, junto à costa oeste de Java
existe a “Fossa de Java” de 7.125m de profundidade.
- Todas as principais ilhas da Indonésia são montanhosas: Sumatra, Java e as ilhas Sunda formam um arco
contendo 400 vulcões, muitos dos quais estão ativos. Em
Sumatra, juntamente com 12 vulcões ativos, citam-se: o
Talang, o Minor Krakatau,o Monte Sinabung,o Nakmura e
o apenas adormecido super-vulcão Monte Toba, inclusive
há um número de lagos de antigas crateras, como o lago
Toba, com uma área de 1.145 km², a uma altitude de 900m.
O relevo montanhoso das ilhas ostenta centenas de vulcões.
- A ilha de Java, extremamente povoada, tem uma
extensa cadeia contendo 70 vulcões ativos, entre eles, o
Monte Semeru, o Monte Bromo, o Monte Merapi. O Monte
Gamkonora situado na ilha Halmahera (Molucas), os vulcões Dolono e o Ibo, estão nas ilhas Molucas.Nas ilhas Célebes acham-se os vulcões Soputan, Lokon de 1580 m de
altura, distante a apenas 20 km de Manado,capital regional
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
de Sulawesi (Célebes), o Awu na ilha de Sangihe, o Monte
Karangetang, vulcão ativo, fica em Siau, na cadeia de ilhas
de Sulawesi, entrou em erupção recentemente.
- A ilha vulcânica de Krakatoa, situada no centro do
Estreito de Sunda entre as ilhas de Sumatra e Java, desapareceu do mapa quando o super-vulcão do Monte Perbuwatan, supostamente extinto, explodiu em 1883. O saldo foi
de 36.417 mortes. A sucessão de erupções e explosões durou 22 horas. Foram as mais violentas erupções que a História registra. Grande parte da ilha desapareceu embaixo
das ondas a uma profundidade de 500 metros.O vulcão da
ilha de Krakatoa está despertando,grandes indícios são o
vapor e detritos saindo do mar, acima da caldeira submersa,
depois um pequeno cone que aflorou à superfície e foi crescendo até transformar-se em uma pequena ilha.
- O Monte Tambora de 4300m de altitude, é um vulcão ativo, fica na ilha de Sumbawa, que é um segmento do
Arco de Sunda, situa-se entre a ilha das Flores e Sumba,
uma cadeia de ilhas vulcânicas. A erupção histórica aconteceu em 1815, matou 92 mil pessoas. Na época, as cinzas da
explosão tiveram um grande impacto negativo no clima do
planeta.Por cerca de 200 anos, o vulcão parecia adormecido, mas recentemente começou a mostrar sinais de despertar; a bocarra da enorme cratera está expelindo fumaça
branca, espessa e magma, a grande altura.As aldeias próximas ao Monte Tambora estão sendo evacuadas.Um terremoto de 6,7 graus na escala Richter atingiu a ilha em 2007.
- O Arquipélago da Indonésia está situado no encontro das placas tectônicas Indo-australiana e Euroasiática, isto é, no Circulo de Fogo, portanto, está sujeita à
grande atividade sísmica e vulcânica, considerada como
uma das maiores do mundo. No terremoto de 9,3 na escala
Richter, em 26 de dezembro de 2004, a Indonésia foi o país
mais atingido pelas ondas gigantescas (tsunami) que devasMonika Gryczynska
141
Um Olhar Sobre o Mundo
taram o sul da Ásia. O número de mortos e desaparecidos
na Indonésia e em 11 nações do Oceano Índico é calculado
em cerca de 260 mil. A maior parte das vítimas (167.736)
se encontrava na província de Banda Aceh na ilha de Sumatra, a mais próxima do epicentro do terremoto.
- O forte furacão devastou e inundou a localidade de
Aceh.Isso acontecia seguidamente e ninguém se preocupava demais com as ruas transformadas em canais, com a água suja rolando pelos pátios. A vida seguia como sempre,
só que molhada. Mas naquele ano fatídico de 2004, a catástrofe foi imensa, os atingidos foram milhares, até os mortos
emergiram de suas covas, flutuando num caldo de barro
vermelho, e se viram expostos à indignidade de perder os
ossos nas bocas de cães vadios.
- Na ilha de Banda Aceh, as ondas do tsunami chegaram à altura de 10 metros, arrancando os telhados das
casas, destruindo e levando tudo, árvores, móveis, máquinas. Assim que o mar se aquietou, vários homens arranjaram um trabalho transportando gente nas costas de um ponto a outro, enquanto algumas crianças, sobreviventes, se
divertiam rolando nas poças de água barrenta, cheia de
lixo, de imundície.
- Em 2006 o país é atingido por duas catástrofes de
grandes proporções. Em maio, um terremoto ao sul da ilha
de Java causa a morte de pelo menos 6 mil pessoas, além de
desalojar quase 2 milhões de indonésios. Dois meses depois, um tsunami atinge o litoral de Java, deixando mais de
mil mortos e desaparecidos. Outro terremoto, este de 7,6 na
escala Richter atinge a costa da ilha de Sumatra em fins de
setembro de 2010. Há pelo menos 1.100 mortos, além de
450 mil pessoas desalojadas.
- Na maior parte das ilhas, os cursos dos rios são
caudalosos e de curta extensão, devido sua configuração.
Em Sumatra destacam-se os rios Kampar, o Indragini, o
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Um Olhar Sobre o Mundo
Djambi e o Moeri, navegáveis em grandes trechos de seu
curso. Difere das outras ilhas indonésias pela abundância de
receptores e vales lacustres.. O maior receptor é o lago Toba, situado no lado setentrional. O espelho de suas águas se
acha a 906m acima do nível do mar, mede 100 km de comprimento, 25 km de largura e 450m de profundidade. Seu
emissor e o rio Asahan, também há abundantes lagunas
pantanosas. Os rios de Java, como o Solo e o Brantas, são
pouco extensos. Em Bornéu sobressaem, o rio Kapuas, o
Barito e o Makahan, caudalosos e de longo curso.
- O interesse que no panorama internacional tem a
Indonésia apóia-se no solo, na abundância de seus recursos
naturais e na estratégica situação entre a Ásia e Oceania, e a
influência positiva que exerce dentro do bloco afro-asiático.
- O subsolo do Arquipélago encerra a maior reserva
de petróleo do Extremo Oriente. Os depósitos se situam
principalmente nas ilhas de Sumatra e Bornéu e em menor
quantidade na ilha de Java. A produção indonésia de petróleo refinado equivale a algo de 2% da oferta mundial. Também é rico em estanho, carvão, manganês e bauxita. Os
principais portos indonésios são Jacarta, Semarang, Surubaya em Java e Palembang em Sumatra.
- A Indonésia é um país tropical e sua prosperidade
provém da agricultura intensiva, que produz para exportação, nas grandes fazendas administradas pelo critério industrial. As culturas preferidas é a borracha, a cana-de-açúcar,
o café, chá, tabaco, coco, cacau e a quinina, como também
soja e amendoim. O arroz e milho são culturas destinadas
para o consumo local, bem como a mandioca e as frutas.
Ainda usam-se búfalos para arar os grandes campos de
plantações de arroz. A agricultura tem sido o maior empregador do país por séculos.
- Nas ilhas de Sunda abunda a cinchona a árvore da
quina de cuja casca se obtém um dos mais poderosos e efiMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
cazes febrífugos, a quinina, usado no combate à malária.
Pelo que se refere a alimentação humana, a pesca tem na
Indonésia um incentivo maior do que a agricultura. Tanto
na costa como em águas doces do interior constitui uma
fonte de riqueza de grandes benefícios.
- O patrimônio florestal da Indonésia é imenso, abrange 48,8 % da superfície territorial. Entre as espécies
destacam-se a teca, árvore de grande porte (Tectona grandis) excelente para construção de navios, as árvores de
tinta (índigofera tinctoria), de resina, madeiras de construção e o bambu. As florestas nativas estão povoadas por diversidade de animais e pássaros.
- Na fauna se observam com mais vivos detalhes as
características indonésias de zona de transição entre a Índia
e a Austrália. As ilhas de Sunda (Sumatra, Java, Bornéu e
Bali), no passado remoto, foram ligadas ao continente asiático e tem a riqueza de fauna da Ásia. Espécies de grande
porte como o tigre, rinoceronte, orangotango, elefante e
leopardo e a anta, eram abundantes outrora, mas o seu número diminuiu devido à caça indiscriminada e a devastação
do seu habitat.
- Os macacos tão variados na Sumatra como na Índia, são menos numerosos em espécies ao aproximar-se da
Austrália. Nas florestas de Bornéu e de Sumatra vive o
macaco orangotango (do malaio = o homem da floresta).
Na parte oriental aparecem curiosas espécies do mundo
australiano como equidna, ornitorrinco e marsupiais como
canguru, que não existem no ocidente.O conjunto das espécies de aves da Indonésia é riquíssimo, principalmente nas
Molucas, onde se encontra a famosa e bela Ave do Paraíso.Há também um mundo de répteis e de insetos, numa
variedade extraordinária.
- Em Sumatra e Kalimantan, a flora e a fauna são
características do Sudeste Asiático, com florestas tropicais
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
onde vivem elefantes, tigres e crocodilos.As ilhas de Sulawesi, Nusa Thenggara e Molucas, separadas da massa continental desenvolveram suas próprias floras e faunas. Seguindo para a região leste, desde o Estreito de Lombok, a
ilha de Papua Nova Guiné que fazia parte da massa terrestre
da Austrália, apresenta espaços naturais tropicais, onde vivem cangurus, papagaios e cacatuas e mais de 600 espécies
de aves, é o lar de uma fauna e flora única.
- Em Bornéu encontram-se imensos sistemas de
cavernas formadas pela lava dos vulcões, também cavadas
pelas ondas violentas do mar, são habitadas por milhares de
morcegos; há rios subterrâneos e grandes extensões de florestas tropicais. Plantas e flores originais povoam as selvas,
bem como animais e aves de plumagem esplêndida. O clima equatorial uniforme, cálido e úmido explica a exuberância da vegetação da Indonésia. No Arquipélago abundam os
bosques de madeiras preciosas, milhares de esguias palmeiras e o altíssimo e precioso bambu.
- Do ponto de vista físico, Indonésia constitui um
prolongamento do continente asiático. Envolta por um imenso circulo formado por cordilheiras vulcânicas, rodeada
por uma zona de formação antiga integrada pelas ilhas de
Bornéu e Célebes. Em geral, o Arquipélago é de formação
bastante recente.
- Java está constituída, como Sumatra, por uma cadeia vulcânica que se superpõe a formações mais antigas,
nela se encontra sinais de atividade plutônica recente. A
cadeia montanhosa de Java é mais descontínua e não encerra os extensos planaltos que se encontra em Sumatra. De
toda maneira, a grande elevação de suas crateras determina
a altura do nível médio da ilha em 500 metros.
- A ondulação montanhosa do arquipélago indonésio
mostra freqüentes vestígios das agitadas forças internas,
que em alguns pontos se encontram em plena atividade. A
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
paisagem, com vulcanismo adormecido ou em fase de paroxismo eruptivo, parece um símbolo da oposição da Natureza ao total domínio do Planeta pelo homem.Os cones vulcânicos do Tenguer,do Semeru,do Bromo e do Buntok, estão em atividade, lançando fogo e cinzas em suas erupções.
- No generoso manto vegetal da Indonésia se destaca a paisagem do interior de Sumatra, com os terraços escalonados onde se cultivam o arroz. Pode se avaliar a influência do clima equatorial (a linha do equador atravessa, entre
outras, as ilhas de Sumatra, Bornéu e Célebes) e a natureza
vulcânica do solo no viço da vegetação.As plantas da Indonésia são de uma exuberância extraordinária, graças às cinzas das erupções vulcânicas. Exemplo de como podem
crescer as samambaias que alcançam até 18 metros de altura. Assim como vicejam ramos de bambu que chegam a
alcançar 10 metros de comprimento.
- A ilha de Sumatra, possui uma baixa densidade
populacional e áreas intactas, uma deslumbrante flora e
fauna, plantas originárias e espécies raras. Quanto a característica da vegetação indonésia, esta pode considerar-se
como de transição, todavia com indiscutível diferença entre
as floras índica e australiana.Essa exuberância está condicionada por um clima uniforme, quente e úmido.Onde a
terra não é cultivada a selva cobre tudo, com sua intrincada
mescla de ramos de plantas arborescentes e herbáceas.
- Nas regiões costeiras e nas planícies predominam
emaranhados manguezais e uma imensa variedade de palmeiras. Entre elas destacam-se os coqueiros, a palmeira do
azeite e a palmeira do açúcar que proporciona sólidas fibras
têxteis.Os rizóforos de casca rica em tanino e a imensa variedade de palmáceas, a palmeira do sagu alimento rico em
amido, substituto do arroz, e a palmeira rotim base do mobiliário indígena. Nos cimos das montanhas e nas proximi-
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Um Olhar Sobre o Mundo
dades das crateras, os arbustos, grama e matagais rasos
substituem os bosques.
- Nas espécies mais características da Indonésia
destaca-se a gramínea gigantesca conhecida como bambu,
de grande importância na economia indígena. Há grande
variedade de plantas trepadeiras e parasitas da selva. Entre
outras, as diversas espécies de Fícus com exemplares gigantescos, de tão grande crescimento das ramagens que, com
freqüência chegam a afogar até as maiores espécies da floresta, depois de envolvê-los em uma verdadeira rede de
troncos e raízes. A folhagem do cipó acaba sombreando a
árvore que, por falta de luz, finalmente morre.
***
Após a rica explanação sobre os milhares de ilhas do
arquipélago da Indonésia, pelo guia Michael Tehani, os
pesquisadores brasileiros Rodrigo e Álvaro ficaram entusiasmados em conhecer algumas ilhas in loco. Sumatra, Bornéu, Java, Bali, Molucas, aqueles nomes e paisagens exóticas, a viagem costeando vulcões, atravessando selvas e
montanhas que escondiam maravilhas, tesouros, aves, feras,
povos antiqüíssimos de estranhos costumes, deuses bárbaros. Vales estreitos cercados de morros e encostas rochosas
em cujos cumes as águias riscavam círculos. Todas essas
informações estimulavam a sua imaginação.
Para começar viajariam em primeiro lugar pela ilha
de Sumatra Foi contratado um domador de elefantes, experiente em expedições pela selva e montanhas indonésias.
Levava com ele cinco indígenas, e quatro elefantes, três
seriam para montaria e um para levar os suprimentos e barracas. Saíram no outro dia logo ao amanhecer.
De inicio embrenharam-se pela selva fechada, trotando por trilhas estreitas, saíram na encosta de um vulcão
extinto. O terreno de uma monotonia deprimente, era salpiMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
cado de penhascos de lava endurecida, e coberto de arbustos baixos esmagados pela força do vento, revestido por
uma grama grossa, curta e dura. A terra ressecada e granulosa, era de cor escura, coberta por cinza vulcânica. Não
havia água em parte alguma. Algumas lagartixas espantadas
fugiam para esconder-se por entre as fendas das pedras.
O caminho estreito recebia sombra suficiente das
árvores baixas para proteger os viajantes do sol ofuscante,
mas a umidade era tão grande que eles transpiravam profusamente. A roupa fina de Rodrigo ficava úmida a maior
parte do tempo, e embora Álvaro viajasse com a camisa
aberta, o tecido do calção estava encharcado. Sempre que
chegavam a uma aldeia qualquer, dentre as várias que encontraram ao longo do caminho, em meio a uma clareira,
estavam mais do que sedentos e ansiosos para encontrar um
córrego de água fresca para mitigar a sede que os devorava.
Quando saíram da região da floresta baixa, viram
estender-se, até muito longe diante deles, as enormes campinas muito planas, interrompidas apenas ocasionalmente
por grupos solitários de árvores raquíticas. O sol caia a
prumo sobre suas cabeças descobertas. Para não ficarem
com insolação protegeram-se com turbantes a moda hindu.
Dai para frente seria uma questão de sorte. Esse caminho com grande trânsito em épocas passadas, agora era
usado só pelos nativos. Ouviram sons de tambores ao longe,
ou seriam trovoadas da tempestade que se aproximava? De
repente o vento começou a soprar forte, rugir entre os galhos das árvores, rolando as nuvens escuras para longe, com
trovões prolongados, surdos, às vezes um raio riscava o céu
e iluminava o interior compacto da floresta por um segundo, mas não caiu uma só gota de chuva.
Os elefantes penetravam decididos pelas trilhas apertadas através daquela selva fechada, cheia de perigosas
armadilhas, com cobras venenosas enroscadas em galhos
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Um Olhar Sobre o Mundo
de árvores imitando cascas, de panteras atentas à espreita de
presas, de pântanos movediços coalhados de crocodilos
com as bocarras abertas a espera da vítima, e pior ainda,
afligidos por miríades de insetos.Os viajantes não encontraram água potável para matar a sede, dos homens e animais.
O mais sofrido da expedição foram os mosquitinhos
pólvora que se enfiavam, persistentes, nos olhos e na boca,
e as mutucas azuis, grandes e zumbidoras que atacavam dia
e noite, com picadas doloridas. Os temporais que, às vezes
caiam nas suas cabeças, deixando-os encharcados e espalhando pelo chão poças de água escorregadias, lama, folhas
e árvores caídas, e o desconforto dos acampamentos feitos
de bambu, que os indígenas montavam à noite, para dormir
ao Deus dará, depois de comer uma lasca de carne de búfalo seca ou uma tigela de sopa de mandioca. Os índios mascavam folhas de ipadu para matar a sede.
Observando a natureza selvagem à sua volta, os exploradores, ficaram maravilhados com a variedade, o tamanho e a beleza das borboletas que voavam pelas cercanias
da trilha e nas margens dos brejos. Havia milhares delas,
de todas as formas e cores e os seus vôos graciosos com os
reflexos de luz que emitiam quando voavam, quando pousavam nalguma folha, deslumbravam o ar com nuances de
delicadeza. Ficaram surpresos com a quantidade de orquídeas penduradas nas grandes árvores irradiando todas as
cores do arco-íris, deslumbrantes e refinadas, iluminando o
espaço circundante.
Borboletas e orquídeas proliferavam na região tanto
como os mosquitos e os morcegos que vinham à noite sugar
o sangue dos cachorros, dos búfalos e dos cavalos. Durante
o percurso viram bandos de papagaios e cacatuas, de macaquinhos bagunceiros, muitos tipos de pássaros e iguanas
cujas peles rugosas se confundiam com os galhos e troncos
em que aderiam. Na floresta tropical viam-se grupos isolaMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
dos de várias espécies de primatas, inclusive algumas dezenas de orangotangos, pulando com destreza de um galho
para outro por entre as copas de altas árvores, olhando com
curiosidade e ameaça a presença do homem.
A paisagem toda era admirável, de ecossistemas únicos, portanto, não havia referências, tudo se confundia,
era igual, parecia-lhes estarem sempre no mesmo lugar,
como nos pesadelos.Tinham uma vaga idéia da distância,
mas não podiam calcular quantas horas deveriam andar até
chegar ao povoado dos nativos, onde pretendiam acampar.
Aqueles selvagens ainda não tinham saído da Idade
da Pedra. Michael e seus acompanhantes tinham que explicar porque vinham, a esses chefes tribais seminus, tatuados
e emplumados, às vezes com espinho enfiado nas orelhas,
no nariz e na testa. Às vezes com canos de bambu nos falos.
Receberam os excursionistas um tanto desconfiados.
A excursão que empreendiam por aquelas terras estranhas e exuberantes, de nativos tão idosos quanto a paisagem, alguns dos quais falavam entre si o malaio antigo.
Chegaram à aldeia malaia quando a noite já estava caindo.
Veio-lhes ao encontro, o chefe do clã, um indivíduo idoso
de aspecto estranho, com o corpo tatuado. O feiticeiro e os
homens que o acompanhavam receberam-nos amavelmente.
Ofereceram o jantar composto de carne de búfalo
assada na fogueira que crepitava no meio do terreiro e
mandioca cozida. O chefe ofereceu cauim, bebida fermentada de raiz de mandioca, servida em casca de coco. Depois, sentados ao redor do fogo, o velho cacique acendeu
um cigarro e começou a contar a história do seu povo.
- Desde o início do século XV, época que é lembrada e repassada por nossos anciãos, as ilhas do Arquipélago
da Indonésia foram invadidas, exploradas e espoliadas;
primeiro, pelos navegantes portugueses na busca de especiarias abundantes nessas terras. Em seguida em 1602, vieMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
ram os colonizadores holandeses que assumiram o controle
total sobre as nossas terras, sobre as riquezas naturais, as
florestas abundantes em seringueiras e madeiras preciosas.
pior ainda, pela exploração da mão-de-obra indígena, em
regime de escravidão, nas plantações de cana-de-açúcar,
café, chá, tabaco, cacau, arroz e na árdua colheita da seiva
de seringueira na selva.
- Os nativos conviviam com a injustiça e a violência, e logo aprenderam uma lição, que não há fera mais
sanguinária que o ser humano. A aldeia deles parecia habitada por autômatos, que perambulavam à luz do dia entre
dezenas de cabanas de pau a pique, com tetos cônicos de
folha de palmeira, sem rumo, sem saber para onde ir, como
se tivesse caído uma maldição sobre a aldeia transformando
seus habitantes em fantasmas. Eram índios e índias da aldeia com cicatrizes nas costas, nas nádegas e nas coxas,
algumas com vestígios frescos e marcas de sangue como se
as chicotadas tivessem acontecido recente. Eles se perguntavam com que direito àqueles estrangeiros tinham vindo
escravizá-los, explorá-los e maltratá-los.
- Às vezes apareciam na plantação membros de alguma Organização Humanitária, pastoral ou leiga, que condoídos do sofrimento dos indígenas pediam explicações
para a razão desses maus tratos. No acampamento da nossa
aldeia eram recebidos por Mark Rudolf Matelief, administrador da Companhia colonizadora holandesa.
- Ele era um homem alto, vestido de branco, calçava botas de cano alto, usava chapéu panamá, falava o inglês
fluente. Via-se de longe, por sua barba e bigodes bem aparados, suas mãos finas, que aqui, na selva, no meio da plantação de seringueiras, ele não estava no seu elemento, que
era um homem de escritório. Não se parecia em nada com
um carrasco. Perguntado, ele se negava a explicar qualquer
detalhe, ou simplesmente culpava os próprios nativos.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Ora, que pergunta acusatória é essa, pois saibam
que na maior parte das vezes eles próprios fazem essas cicatrizes. Têm ritos de iniciação bastante bárbaros nas tribos.
Também fazem furos nas orelhas, no rosto, nos lábios, no
nariz, para enfiar anéis, dente de animais, penas de pássaros, enfeite de madeira, ou outro tipo de adorno - respondeu
aos missionários o administrador holandês Mark.
- Dos depósitos de látex vinha um cheiro rançoso e
penetrante, oleaginoso, parecido com o de plantas e folhas
em decomposição, cheiro que dava náuseas. Cada aldeia
tinha obrigações precisas impostas pelos colonizadores.
Entregar cotas semanais de mantimentos – arroz, aves domésticas, carne de búfalo, de porcos selvagens, de cabras e
patos, para alimentar as autoridades, chefes, guardas, a
guarnição policial e os peões que abriam estradas, ruas,
faziam pontes, instalavam postes telegráficos e construíam
casas. Além disso, a aldeia precisava entregar, no mínimo,
30 quilos de látex colhido por eles, a cada três meses, em
cestos de fibras vegetais tecidos pelos próprios indígenas.
Fornecer homens, gratuitamente, para o trabalho nas fazendas de cultivo de cana-de-açúcar, café e cereais.
- Os castigos por não cumprir essas obrigações variavam. Se entregassem menos mantimentos ou borracha, a
pena era de 20 a 50 chicotadas ou mais, aplicadas pelo capataz da fazenda. Muitos dos castigados sangravam muito e
morriam. Os nativos que fugiam para as montanhas sacrificavam a família, porque, nesse caso, suas mulheres e filhos
ficavam como reféns e eram chicoteados e condenados ao
suplicio da fome e sede em cadeias superlotadas.Muitas
vezes as crianças e mulheres eram vendidas para mercadores de escravos ambulantes, que faziam tráfico de escravos
às escondidas das autoridades, para que, com o dinheiro
arrecadado a aldeia pudesse cumprir a obrigação perante a
administração da Companhia.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Certo dia, como o povoado, já muito reduzido, não
conseguiu completar a última cota de mantimentos, borracha e madeira, nem ceder o número de braços para as lavouras que as autoridades holandesas exigiam, veio um
destacamento de policiais; ao vê-los, o povoado inteiro fugiu para a floresta. Com a promessa do chefe dos policiais,
que se voltassem não lhes aconteceria nada, eles voltaram.
Mas, assim que chegaram de volta, os soldados pularam em
cima deles. Homens e mulheres foram amarrados nas árvores e chicoteados. Seus corpos lanhados pelo chicote dos
policiais, ficaram com cicatrizes vermelhas como serpentes
rasgando as costas, as nádegas e as pernas.
- Muitos indígenas eram marcados com as iniciais
da Companhia dona da concessão, com o marcador em
fogo e às vezes a faca, como as vacas, os cavalos e os porcos, para que não fugissem nem fossem roubados por outros seringueiros. Aqui se cometiam abusos que horrorizavam um ser civilizado. Era usado o cepo de torturas, que
consistia de uma armação de madeira e cordas em que o
indígena condenado era introduzido e apertado, de cócoras,
não podia mexer os braços e nem as pernas. Era atormentado ajustando-se as barras de madeira até o limite, ou suspendendo-o no ar. A dor era horrível.
- A Companhia praticava a escravidão na sua pior
forma. Conseguia seus seringueiros e trabalhadores para as
fazendas com as caçadas aos indígenas nas aldeias, as
quais muitas vezes eram incendiadas, então os bandidos
armados capturavam homens, mulheres e crianças e os levavam para os seringais, onde os exploravam de forma cruel.Não se pagavam salário, os índios não recebiam um centavo pelo trabalho.
- Recebiam do armazém da Companhia as ferramentas para a coleta da borracha, facas para as incisões nas seringueiras, latas para o látex, cestas para juntar as bolas da
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Um Olhar Sobre o Mundo
borracha, calções e camisas rústicos, chapéus de palha, carne seca, farinha de mandioca e algum outro mantimento.
Os preços do que recebiam era determinado pela Companhia, de maneira que o índio estivesse devendo e trabalhasse o resto da vida para pagar a dívida.
- Os nativos estavam aterrorizados, aquelas aldeias
viviam na antecâmara do verdadeiro inferno. A raiz de todas as coisas horríveis que aconteciam aqui, era a ambição
desmedida dos colonizadores, sobre a fartura de riquezas
como a borracha “o ouro negro”, que para a desgraça do
seu povo, as florestas de Bornéu, Sumatra, Java e demais
ilhas da Indonésia possuíam em abundância. Essas riquezas
eram a maldição que se abateu sobre aquela gente desventurada. Era a cobiça, nua e crua, que sempre esteve arraigada na natureza do homem. A maldade que o envenena
está em todos os lugares onde haja seres humanos.
- Por que esses indígenas não tentaram se rebelar? A
verdade é que eles não tinham perspectiva, nem condições,
pois suas lanças e flechas, mesmo envenenadas, tacapes e
zarabatanas se revelavam inúteis nas ocasiões de enfrentar
os colonizadores que eram respaldados por armas de fogo.
Rebelavam-se sim, muitos jovens e velhos, guerreiros, cometiam suicídio em grupos. Porque, viam-se compelidos a
desesperança, quando o sistema de exploração era tão extremo, destruía os espíritos antes dos corpos.
- A violência de que eles eram vítimas aniquilava a
sua vontade de resistência, o espírito de sobrevivência,
transformando os indígenas em autômatos paralisados pela
confusão e pelo terror. Muitos não entendiam o que estava
acontecendo, como uma conseqüência da maldade de homens concretos e específicos, mas como um cataclismo
vindo dos céus, uma maldição dos deuses, um castigo divino contra o qual não tinham escapatória.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- É inconcebível que a colonização efetuada pelos
europeus, nações ditas civilizadas e cristãs, tementes a
Deus, quando ocuparam a América do Norte, a América
Central, a América do Sul,a África, a Índia, o Sudeste Asiático, o Arquipélago da Indonésia, a Austrália e as milhares
de ilhas.Invadindo, matando, destruindo, agindo com crueldade, conseguiram anular o espírito dos nativos, submetêlos a servidão, quando não, com doenças e vicio do álcool
exterminar tribos inteiras.
- Assim, vergonhosamente, se desempenhou nas suas colônias a toda poderosa e culta Inglaterra, também a
Bélgica, Portugal, Espanha, Alemanha, Holanda, França.
Dominaram, exploraram e dizimaram os povos nativos dos
países ocupados, em nome do progresso e com a justificativa da expansão da religião cristã, impondo aos indígenas, à
força, o deus que eles não conheciam e não queriam.
Relatando com a voz embargada os tristes fatos do
passado recente do seu povo, o idoso cacique malaio deixou
cair lágrimas sofridas pelo rosto enrugado.
***
Já passava da meia noite quando os pesquisadores
foram descansar em redes armadas dentro da cabana.
- Poderíamos amanhã ir conhecer o Jardim Botânico e o Zoológico, próximo à Medán - sugeriu o guia.
- É uma ótima idéia – admitiu Rodrigo.
Em Sumatra, na localidade de Medán, foram visitar
o Jardim Botânico, que estava bastante abandonado. Sem
conservação o mato tomou conta das calçadas e as diversas
espécies de árvores nativas e exóticas, que sem poda, soltaram ramos desordenadamente, abafando o ambiente, que
em outros tempos devia ser belo.Já cansados de caminhar,
sentaram-se embaixo de uma imensa árvore. Aqui tudo era
arejado e fresco, a vida respirava tranqüila e poderosa.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
As gigantescas árvores elevavam seus troncos retos,
lisos e prateados até cem metros de altura. Eram da variedade de Eucaliptus Regnas. Um perfume penetrante emanava no ar. Destacava-se entre outras plantas a gigantesca
flor Titanarus. A solenidade verde do Jardim Botânico, a
infinita variedade de folhas, o emaranhado dos cipós, as
orquídeas que surgiam como estrelas coloridas entre as folhagens, o grito dos papagaios (guacamayos) e o chiado dos
macacos, toda essa orquestração de diferentes facções, desenvolveu um ambiente místico.
Adentrando pelo caminho do parque, depararam
com o Jardim Zoológico, onde um orangotango macho,
adulto, preso numa gaiola de ferro, forçava as grades tentando sair. Batia no peito peludo com as duas mãos possantes, irado, rugia tristemente. O macaco orangotango vive
nas florestas de Bornéu e Sumatra. Movimenta-se pulando
de um galho de árvore a outro. Constrói abrigos nas árvores, que parecem ninhos. Alimenta-se principalmente de
frutos. Não se adapta ao cativeiro, morre logo, de tristeza,
no estado selvagem vive de 15 a 30 anos.
Noutra jaula, se debatendo, tentando libertar-se da
prisão, estava uma pantera negra, saudosa da selva nativa.
As marcas douradas da sua pele negra, sedosa, pareciam um
fragmento da noite estrelada, uma corrente magnética que
se agitava sem cessar, um vulcão negro e elástico querendo
arrasar o mundo. Um dínamo de energia pura que ondulava,
ora miava com voz lastimosa, outras vezes rugia com rancor, dirigindo às pessoas dois olhos amarelos, certeiros como punhais, que lançavam um fulgor inquisitivo, pois não
entendiam a prisão nem o gênero humano.
Na gaiola ao lado estava o pássaro lira, fosforescente e colérico, esplendido em sua beleza de ave recém-saída
do paraíso. Dezenas de gaiolas com pássaros de todas as
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Um Olhar Sobre o Mundo
espécies estavam esparsas pelo Jardim Zoológico, assim
como de animais selvagens, girafas, camelos, leões, zebras.
Os excursionistas demoraram-se dois dias na aldeia
indígena, foi quando assistiram a rituais religiosos conduzidos pelo pajé, dedicados aos antigos deuses, com sacrifício de animais, cantos e danças das mulheres e homens da
tribo, embalados por chás e charutos de ervas alucinógenas.
Os pesquisadores, observando os velhos costumes e
tradições ainda em prática pelos indígenas, se deram conta
de que a civilização e a religião imposta pelos colonizadores eram uma farsa, aceitas com cautela pelos nativos como
obrigação e eram praticadas pelo medo de represálias, pois
que, os indígenas continuavam cultuando seus velhos deuses e respeitando as suas antigas tradições, às ocultas.
Depois de visitarem as escuras cavernas e vulcões
extintos de Sumatra, os pesquisadores e sua comitiva, já
bastante cansados, resolveram voltar para a cidade de Jacarta, e repousar alguns dias no Raffles Hotel, que oferecia
serviço cinco estrelas. Piscina aquecida, sauna, spa, Fitness.
O bufê do restaurante era majestoso. Entrava no salão de refeições uma procissão de dez a quinze garçons, que
iam desfilando entre as mesas com suas bandejas cheias de
iguarias, oferecendo-as aos comensais. Cada uma dessas
bandejas trazia um manjar diferente. Sobre uma base de
arroz vinha uma especialidade: de pescados exóticos, ovas
de peixe de sabor indecifrável, vegetais estranhos, frangos e
carnes insólitas, moluscos, ostras, filés de cobra e insetos
fritos, crocantes, guloseimas dos mais diferentes sabores.
Os nossos pesquisadores experimentaram um pouco,
de cada iguaria oferecida. Alguns pratos agradaram o seu
paladar, outros eles não conseguiram engolir. Satisfeita a
sua curiosidade e a fome, saíram caminhando pela calçada.
Entretanto, o seu interesse em conhecer a capital os
levou a sair para ver o que se passava na cidade à noite. Os
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
locais de má reputação atraem como moscas para o mel, e
Jacarta abria sua boca noturna para os dois pesquisadores,
ocasião oportuna, já que Álvaro era um jornalista, com
pouco dinheiro e com curiosidade imensa.
Entraram num ou outro desses grandes cabarés. Era
noite de meio de semana e estavam vazios. Era deprimente
ver aquelas imensas pistas de dança, construídas para que
bailassem centenas de pares, onde não dançava ninguém.
Apenas dúzias de garçons esperavam próximos aos balcões,
ansiosos pelas gorjetas que não viriam. Nas esquinas surgiam esqueléticas russas e orientais, que bocejando pediam
que as convidassem a tomar champanhe.
Assim percorreram seis ou sete cabarés, lugares de
perdição e pecado, onde o único que se realmente perdia era
o tempo e o dinheiro..Já era tarde e precisavam voltar ao
hotel, que havia ficado longe, detrás dos emaranhados becos do porto.Tomaram um jinricksha cada um (carrinho
leve de duas rodas puxado por um homem a pé). Não estavam acostumados a esse transporte de cavalos humanos.
Aqueles chineses trotaram sem descanso durante longa distância. Começara a chover e a chuva aumentava cada vez
mais, os condutores dos jinrickshas pararam seus carrinhos.
Cobriram cuidadosamente com lona impermeável a frente
dos carrinhos para que a chuva não molhasse as roupas dos
estrangeiros.
- Que povo tão educado e cuidadoso. Não é de graça
que passaram dois mil anos de cultura - agradecidos, pensavam os dois viajantes, cada um no seu assento volante.
No entanto, algo começou a inquietá-los. Não enxergavam nada detrás das lonas abaixadas, mas ouviam,
apesar das precauções tomadas e da tela esticada, a voz dos
condutores que emitiam uma espécie de assobio. Aos ruídos
dos seus pés descalços, se juntaram outros ruídos rítmicos
de pés descalços que corriam pela calçada molhada.
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Um Olhar Sobre o Mundo
De repente, silenciou o barulho dos pés, sinal de
que o calçamento tinha terminado. Com certeza viajávamos
agora por terrenos baldios fora da cidade. De súbito, os dois
jinrickshas se detiveram.Os condutores desataram com destreza as lonas que nos protegiam da chuva. Não havia nem
sombra de gente, nem casa, naquele subúrbio desabitado.
Da condução ao lado,Álvaro olhou o primo, desconcertado.
- Money! Money!- repetiam com voz calma os sete
chineses que rodeavam os dois passageiros
Rodrigo esboçou um gesto como se buscasse uma
arma no bolso da calça, e isso bastou para que ambos recebessem um golpe na nuca.. Rodrigo caiu de costas, porém
um dos atacantes lhe segurou a cabeça no ar para impedir o
choque no solo duro; suavemente deixaram os dois estendidos sobre a terra molhada.
Tiraram-lhes as roupas deixando-os nus. Remexeram rapidamente os bolsos das calças, das camisas, das
jaquetas, sapatos, cuecas, procuraram dinheiro até nas gravatas, demonstrando uma destreza de malabaristas. Não
deixaram nem um pedacinho de roupa sem vasculhar, nem
um centavo do pouco e único dinheiro que lhes restava.
Isso sim, era a gentileza tradicional dos ladrões chineses;
mas, respeitaram os papeis e passaportes dos dois pesquisadores estrangeiros e não levaram as suas roupas. Fugiram
rapidamente levando os jinrickhas.
- Mas que falta de sorte! - exclamou Rodrigo desolado - Vá confiar nesses malditos chineses.
- Ainda bem que não levaram as nossas roupas, de
que maneira iríamos voltar ao hotel? Se aparecêssemos nus,
com certeza íamos ser presos - comentou Álvaro rindo.
Quando se viram sozinhos naquele ermo, caminharam em direção das luzes que se viam à distância. Encontraram centenas de chineses noturnos, mas honrados. Nenhum
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Um Olhar Sobre o Mundo
deles sabia falar francês ou inglês, mas todos quiseram ajudá-los a sair daquela triste situação e os guiaram à cidade.
Após as peripécias noturnas por que passaram, os
dois aventureiros brasileiros foram descansar no hotel.
- Gostariam de conhecer um lugar fora do comum,
um ambiente singular? – perguntou-lhes o guia Michael,
quando estavam sentados à mesa do café matinal.
- Mas é claro! - aplaudiu de imediato Álvaro.
No outro dia á tarde saíram para visitar o estranho
Templo da Serpente nos subúrbios da cidade de Bandung,
próximo à Jacarta. Era semelhante aos Templos do Rato e
Templo dos Macacos no deserto de Thar na Índia. A curiosidade espicaçava os seus ânimos. Despertou neles um
grande interesse pelo que iam encontrar de surpreendente,
naquele país místico, onde os animais eram venerados.
Dirigiram-se para as cercanias de Bandung. Numa
clareira, próximo a um denso bosque de bambus, de galhos,
brotos e cipós emaranhados, de dificílimo acesso, encontraram um edifício baixo, escuro, coberto de telhas, carcomido
pelas chuvas tropicais, entre espessas folhagens de plátanos.
Havia um forte odor de umidade e bolor. A visão incrível
daquele templo, deixou o trio surpreso.Quando entraram no
recinto não enxergaram nada na penumbra que reinava no
espaço todo. Sentiram um acentuado aroma de incenso, e
acolá alguma coisa que se movia.
Era uma serpente que se desenrolava e se espreguiçava. Pouco a pouco notaram que existiam muitas outras.
Logo observaram que talvez sejam dezenas, mais tarde viram que existiam centenas ou mesmo milhares de serpentes.
Havia pequenas cobras enroscadas nos candelabros, verdeclaro e escuras, metálicas e longas, todas pareciam adormecidas e saciadas.Por toda parte se via tigelas de fina porcelana, algumas cheias de leite, outras repletas de ovos.
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Um Olhar Sobre o Mundo
As serpentes não olham e não vêem as pessoas que
passam pelos corredores estreitos do templo, roçando-as.
Elas estão sobre as suas cabeças grudadas no teto dourado,
dormem na alvenaria, se enroscam nos altares.Está também
ai a temível víbora de Russell, engolindo um ovo, perto de
uma dezena de mortíferas cobras-coral,cujos anéis de cor
escarlate anunciam o veneno instantâneo.Distinguiram vários grandes pítons, víboras de Gabão, mambas, najas, cobras-rei, serpentes verdes, cinza, azuis, negras, rastejando
tranquilamente pelo piso. Tudo num silêncio total.
De quando em quando um bonzo (sacerdote budista) vestido com túnica cor de açafrão, atravessa o corredor.
A brilhante cor da sua vestimenta, parecia uma serpente a
mais, deslizando, movendo-se preguiçosamente em busca
de um ovo ou uma tigela cheia de leite. Ele é o homem que
cuida e abastece de alimento esse lugar estranho. Os visitantes se dirigiram a ele para saciar sua curiosidade.
- Alguém trouxe essas cobras para cá? Como se acostumaram? – perguntou Álvaro.
A essas perguntas o bonzo respondeu com um sorriso, dizendo que as cobras vieram sozinhas, e irão embora
quando lhes dê vontade. O certo é que as portas estão abertas e não tem grades ou vidros que as obrigue a ficar no
templo. São esses estranhos fatos que dão o ar de misticismo ao Extremo Oriente – informou ainda o velho sacerdote.
Perplexos com o espetáculo que presenciaram, os
pesquisadores saíram do templo meio zonzos. No caminho
de volta à cidade, depararam na curva da estrada com uma
colossal estátua de Buda. Elas estavam em toda parte. Severas, aprumadas, carcomidas pelas intempéries, com um
dourado desgastado, como si o ar o tivesse consumido. Aparecem nas faces, nas dobras da túnica, nos cotovelos e
umbigo, na boca e no sorriso ambíguo, pequenas marcas de
fungos, porosidades e manchas de excrementos de aves.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Permanecem aí as imensas estátuas de quarenta metros de altura, de pedra cinza ou granito pálido, algumas
estão deitadas entre as sussurrantes folhagens. Adormecidas
ou despertas, ali ficaram por cem anos, por mil anos ou
muito mais tempo. Inesperadas, surgem nalgum recanto da
selva de alguma circundante plataforma. Sua fisionomia é
suave, com uma ambigüidade metafísica, de desejo de deitar-se ou de ir-se. Esse sorriso enigmático de pedra dura,
perpétuo, a quem sorri, a quem sobre a terra sangrenta?
Passaram por ali camponeses que fugiam da perseguição da polícia colonial, os guardas de incêndio florestal,
guerreiros indígenas mascarados, falsos sacerdotes e turistas gananciosos. No entanto, as estátuas de Buda se mantiveram no seu lugar, a imensa pedra de joelhos dobrados,
com as fraldas da túnica de pedra, com seu olhar perdido,
mas contudo existente, inteiramente inumana, mas de alguma forma também humana, em alguma contradição estatuária sendo ou não sendo deus, sendo ou não sendo pedra,
está exposto à chuva, tempestades e de dejetos de pássaros.
- Isto nos leva a refletir nos agoniados Cristos ocidentais, que herdamos, com chagas e cicatrizes de sofrimento, no olor de vela e de incenso, nas esculturas de santos adoradas em todas as igrejas – comentou Rodrigo.
- Esse Cristo também duvidou entre ser homem ou
deus. Se fosse homem poderia aproximar-se mais dos que
sofrem, dos condenados, dos paralíticos e dos avarentos, da
gente de igreja e dos que rodeiam as igrejas, para ensinarlhes a caridade e o amor ao próximo – considerou Álvaro.
- Os escultores e pintores o dotaram de horríveis
chagas, tanto que essa expressão dolorosa tornou a religião
cristã, religião de padecimento. Assim, quem peca sofre e
aquele que não peca também sofre. Portanto viver é sofrer,
sem que haja nenhuma escapatória - refletiu Rodrigo.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Religião, é um tema de difícil consenso entre as
pessoas - concluiu a respeito o jornalista Álvaro.
O guia Michael escutou atentamente as opiniões
dos dois jovens ocidentais e, como era praticante da fé budista deu o seu parecer, dizendo:
- Aqui não, aqui a paz chegou à pedra. Os antigos
escultores se rebelaram contra os cânones da dor e estes
Budas, colossais, obesos, com pés de deuses gigantes, trazem na face um sorriso de pedra, que é genuinamente humano, sem tanto sofrimento. Deles emana um odor, não a
recintos mortos, não a sacristias e teias de aranha, mas a
espaços verdes e a rajadas suaves de brisa, que trazem penas de aves, folhas e pólen da infinita selva javanesa. O
silêncio e a paz celestial se derramam nesses recintos.
Os pesquisadores brasileiros seguiram o caminho,
passando defronte de um grande portão de ferro enferrujado. Era a entrada do extenso parque de um domínio feudal.
Na porta da velha mansão se detiveram. Surpresos, viram
estátuas de mármore e colunas quebradas, que jaziam caídas entre a folhagem do jardim. O abandono, o vento cortante que soprava, fazia com que a solidão do lugar ficasse
mais acentuada. Ante esse quadro desolador, os turistas
sentiram-se agoniados. Estas eram ruínas do palácio de
algum marajá malaio que a selva estava engolindo.
- Que visão deprimente é essa ruína. Deve ter custado uma imensa fortuna para construí-lo, trabalho, sacrifício
e vidas de centenas de escravos. Hoje é apenas desolação.
Onde está o poderoso e orgulhoso marajá, dono desse castelo? Não lhe valeram de nada a riqueza e o poder, não conseguiu enganar a morte. Com certeza está debaixo de sete
palmos de terra ou seu corpo foi cremado - comentou tristemente Álvaro, olhando ao redor.
Os três caminharam de volta, por entre trilhas estreitas da mata virgem até a margem do rio Brantas. Aqui se
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Um Olhar Sobre o Mundo
descortinou um quadro impressionante. Na beira do rio estava-se efetuando um funeral hindu, de cremação. Colocado
em cima de uma pilha de lenha acesa estava um ataúde barato. Monges murmuravam frases rituais em sânscrito.
Alguns músicos vestidos com túnicas de cor laranja
salmodiavam ou sopravam músicas tristes em instrumentos
estranhos. A lenha se apagava e era preciso reavivar a chama com fósforos. No entanto, o rio corria indiferente dentro
de suas margens. O céu do Oriente, eternamente azul, demonstrava também uma absoluta impassibilidade, uma infinita indiferença perante aquele triste funeral solitário.
De volta ao hotel, por sugestão de Michael elaboraram uma visita à Ilha de Bali. Álvaro foi comprar os bilhetes de barco para travessia até o porto de Singaraja.
- Bali e uma ilha situada no Estreito de Sunda entre
as ilhas de Java e de Lombok, a 3 km de distância de Java.
É um destino turístico mundial, pela beleza de suas praias,
de areia branca, no sul, e areia preta vulcânica no norte do
país. A característica fundamental de Bali é o turismo que é
a fonte principal de receita da ilha. As suas praias paradisíacas são a sua identidade, que atraem milhares de visitantes
cada ano - comentou Michael, continuando a sua narrativa.
- A sua população majoritária professa a religião
hindu, se bem que existem comunidades muçulmanas e
cristãs na ilha. Bali possui portos de Singaraja, Denpasar,
Sinury, Ubud, que são as suas cidades principais, cada uma
delas com as suas características próprias. Ubud é considerada como a capital da arte e cultura, e destino de numerosos artistas a nível internacional. Na ilha é destaque a importante a reserva natural do Parque Nacional de Bali Barat.
Chegaram à cidade de tarde. Logo lhes chamou a atenção um aglomerado de gente ruidosa. Eram homens de
túnicas e turbantes brancos e mulheres com o corpo e o
rosto vendados com burca preta, levando crianças ao colo.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Na praça central reunia-se uma multidão. Era uma comemoração muçulmana. Tinham demarcado um espaço no
centro da rua onde ardia uma fogueira, ao redor estavam
esparramadas grossas camadas de brasas acesas.
Foram chegando curiosos para assistir ao espetáculo inaudito. O calor das brasas enrubescia as suas faces.
Uma levíssima camada de cinzas cobria as brasas ardentes,
quando apareceu um personagem estranho. Com o rosto
pintado de branco e vermelho, chegou carregado nos ombros de quatro homens, também vestidos com trajes vermelhos. Abaixaram-no até o chão, foi quando ele começou a
caminhar cambaleando sobre as brasas quentes, invocando
em voz alta - Allá! Allá! - enquanto caminhava.
A grande multidão devorava extasiada essa cena,
enquanto o faquir percorria incólume a grande extensão de
brasas acesas. Então saiu um homem da multidão, tirou as
sandálias e com os pés nus fez o mesmo trajeto do faquir.
Após isso, seguiu-o uma interminável fila de voluntários a
mártires. Alguns se detiveram na metade do caminho para
afundar melhor os pés no brasido aos gritos de Allá! Allá!Gesticulando horrivelmente, virava o rosto agoniado para o
céu. Outros levavam os filhos nos braços. Ninguém se
queimava, ou talvez se queimasse, mas não sentia.
- Que costumes estranhos têm esse povo – comentou
Rodrigo - sentindo calafrio passando-lhe pelo corpo.
Os dois exploradores brasileiros acompanhados do
guia seguiram em frente, ainda chocados com o quadro
assombroso que presenciaram. Michael continuou informando os brasileiros:
- Adiante, no lugar sagrado para os hindus, se eleva
o templo de Kali, a deusa da morte. Vamos entrar os três,
misturados às centenas de peregrinos que chegaram desde
as mais longínquas províncias javanesas, para receber a
graça da deusa. As pessoas amedrontadas, lívidas, esfarraMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
padas, são empurradas aos montes pelos brâmanes para o
templo, que a cada passo cobravam por alguma coisa.
- A deusa Kali é uma das consortes mais poderosas
e terrificantes do deus Shiva, se apresenta como uma figura
de face escura e olhos brancos. Segura uma espada para
decepar cabeças; de sua boca sai uma língua vermelha de
dois metros que goteja o sangue das vítimas. Tem uma saia
de braços decepados e uma serpente enrolada em torno do
pescoço. De suas orelhas e do seu pescoço caem colares de
crânios e emblemas da morte. Kali é a mais amedrontadora
das deusas do panteão hindu.
Michael continua contar a história espantosa de Kali, a deusa hindu da morte.
- Num certo momento, os sacerdotes levantam um
dos sete véus da deusa hedionda, execrável, e quando o
levantam soa um ensurdecedor golpe de gongo, como para
desabar o mundo. Os peregrinos caem de joelhos, saúdam a
deusa com as mãos juntas, tocam o chão com a fonte, e
seguem se dirigindo para o próximo véu. Os brâmanes os
fazem convergir para o pátio dos sacrifícios, onde são decapitadas cabras com um só golpe de machado.
- Os sacerdotes cobram novos tributos. Os balidos
dos animais feridos são abafados pelo golpe de gongo. As
paredes de cal do templo absorvem o sangue que esguichou e salpicou até o teto. Os peregrinos pagam com suas
últimas moedas antes de serem despachados e empurrados
para a rua. As multidões dormem noite após noite nas cabanas improvisadas nas margens das estradas que levam às
imediações da cidade de Singaraja, em Bali.
- A situação se repete em todos os arredores das cidades e vilarejos da Indonésia. Ali eles nascem, vivem e
morrem. Não há casas, pão ou remédios. Foi em tais condições miseráveis que deixou seu império colonial, a civilizada Holanda, depois de explorá-lo até o âmago. Despediu-se
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dos seus antigos súditos sem deixar-lhes escolas, nem indústrias, nem moradias, nem hospitais, apenas miséria, prisões, montanhas de garrafas vazias de whisky e de cocacola.Sobrou só lixo e pobreza - falou com tristeza Michael que conhecia a situação do país a fundo - apesar disso há
muita coisa bonita para se ver.
- A Indonésia tradicional apresenta riquíssimas manifestações folclóricas, onde ocupa lugar de destaque a música sensual e simbólica interpretada por conjuntos formados por vários músicos, que acompanha a maioria das danças nativas. A perpetuação das tradições motiva belas cerimônias, executadas pelos dançarinos de Bali, com graciosos
gestos e poesia, na dança e cantos. Muitas danças da ilha de
Bali interpretadas por moças jovens ricamente vestidas,
adquire majestosa plasticidade com os estilizados movimentos que dão vida a um relato. As apresentações das
danças folclóricas são o grande atrativo turístico.
- Muito proveitosa foi a visita dos pesquisadores
brasileiros aos patrimônios naturais e culturais da humanidade, preservados pelo governo da Indonésia, como o conjunto de Templos Budistas de Borobodur em Java, o Parque
Nacional Ujung Kulon, os Parques Nacionais de Komodo e
de Lorentz, conjunto de Templos Hinduístas de Prambanan,
o Sitio Arqueológico dos Primeiros Homens de Sangiran, o
Patrimônio das florestas tropicais de Sumatra e Bornéu,
grutas naturais, crateras de vulcões extintos, praias, museus
e zoológicos.
REPÚBLICA DE CINGAPURA
Certa tarde, Rodrigo e Álvaro estavam sentados à
mesa do bar do Hotel “Diplomath” em Jacarta, tomando um
refresco na companhia do guia Michael Tehani, então resolveram analisar o progresso das pesquisas realizadas até
esta data. O resultado foi positivo. Haviam viajado e conheMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
cido grande parte da Indonésia. Ficou muita coisa ainda
para se ver na ilha, mas decidiram viajar até a cidade de
Kuala Lumpur, capital da Malásia.
- Caro amigo Michael, você poderia nos acompanhar na excursão pela Malásia?- perguntou Álvaro.
- Com grande satisfação, desde que acertemos o valor da minha compensação – respondeu Michael com um
sorriso velado nos lábios, fazendo jus a sua índole oriental.
No outro dia de manhã foram até o aeroporto de Jacarta e no primeiro vôo da Companhia Malásia Airlaines
Sistem, embarcaram com destino à cidade malaia. A distância entre as duas capitais não era longa, aproximadamente
1200 km e o transcurso levou cerca de uma hora e meia.
Em Kuala Lumpur hospedaram-se no Hotel Marriott
Putrajaya, recomendado pelo guia Michael.
No entanto, a viagem não estaria perfeita se deixassem de conhecer a muito próxima de Kuala Lumpur, a
próspera Cidade-Estado de Cingapura. Ficava a 300 km de
distância, podia-se viajar em confortáveis ônibus de linha.
Então resolveram não desperdiçar essa ocasião e visitá-la,
mesmo que ligeiramente. Contrariando a expectativa, após
breve passeio pela magnífica cidade ficaram encantados.
A República de Cingapura é uma ilha de 704 km²,
situada no extremo sul da Península da Malásia, é constituída por 63 ilhas incluindo a ilha de Cingapura A CidadeEstado de Cingapura liga-se à península malaia pelo canal
marítimo de Johore (de 2 km de largura), cujas águas são
consideradas internacionais. Sua localização torna-a uma
importante base naval e aérea. A cidade está assentada ao
largo da baia de Keppel, que constitui um porto natural.
A ilha de Cingapura era uma área pantanosa ocupada por pescadores durante séculos. Tinha sido parte de diversos impérios locais desde que foi habitada no século II
d.C. Desde o século VII e nos seguintes, foi posto avançado
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Um Olhar Sobre o Mundo
do império budista de Srivijaya, chamado Temasek. Entre
os séculos XVI e XIX, fez parte do sultanato de Johore.
Em 1613, invasores portugueses queimaram o povoado e a ilha afundou no esquecimento durante dois séculos. Cingapura moderna foi fundada, em 1819, como um
posto comercial da Companhia Britânica das Índias Orientais, pelo administrador colonial inglês Sir Stanford Raffles.
Os britânicos obtiveram a soberania completa da ilha em
1824.A ilha desempenhou um papel de destaque no comércio da borracha e do estanho malaio. Colônia inglesa até
1959, quando obtêm autonomia administrativa..
Em 1965, Cingapura tornou-se um Estado independente dentro da Comunidade Britânica (Commonwealth),
criada em 1931, formada por 53 países, alguns ricos outros
pobres. É uma República parlamentarista. Presidente: Tony
Tan Keng Yam (desde agosto de 2011), primeiro-ministro:
Lee Hsien Loong (2011).
A economia se baseia nos serviços bancários e portuários, no turismo e na indústria de alta tecnologia. A cidade é líder mundial na área da biotecnologia, está incluída
entre os Tigres Asiáticos. Principais produtos exportados:
látex, produtos petrolíferos, maquinaria, têxteis, café e especiarias. Cingapura é hoje uma Cidade-Estado de 5 milhões de habitantes (2010), com um dos mais altos níveis de
vida.É um dos maiores portos de trânsito e dos maiores
aeroportos do sudoeste asiático.
As línguas faladas são o malaio, mandarim, tâmil,
inglês. A religião professada é geralmente crença popular
chinesa (39,2%), islamismo, budismo, cristianismo e hinduísmo.Os chineses constituem parte majoritária da população
da Republica de Cingapura (76%).Muitos deles habitam em
barcos especiais - sampanas - e vivem ao redor do porto.
A ilha de Cingapura é em grande parte plana, com
um centro de colinas. A formação da ilha é o resultado do
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Um Olhar Sobre o Mundo
afloramento de calcários e rochas metamórficas que condicionaram sua estrutura orográfica Também são assinaladas
rochas mesozóicas, recobertas por substâncias aluviais. As
costas são baixas e pantanosas, e em alguns trechos inacessíveis. Com limitados recursos de água potável, esta é trazida do país malaio. O canal de Johore Strait é cruzado por
uma ponte que liga a Malásia à Cingapura.
Durante o dia todo percorreram a Cidade-Estado de
Cingapura, admirando a bela arquitetura colonial do casario
construído pelos ingleses, o teatro municipal, as praças floridas e bem cuidadas e as largas avenidas. Tomaram o chá
inglês, com torta de chocolate, numa das várias confeitarias
situadas no setor comercial. Já era tarde avançada quando
seguiram de ônibus de volta à Kuala Lumpur.
FEDERAÇÃO DA MALÁSIA
- Valeu a pena o nosso cansaço para visitar Cingapura. É uma bela cidade que merece ser visitada. Oferece
múltiplas diversões - comentou Rodrigo, entusiasmado.
- Daqui em diante não vamos perder tempo com diversões, dediquemos-nos à pesquisa que é a finalidade da
nossa viagem. – observou o jornalista Álvaro.
Então o guia Michael Tehani de posse dos mapas
iniciou a explanação sobre Malásia:
- A Federação da Malásia constitui o extremo meridional da Península de Malásia, acha-se separada da ilha
de Sumatra a oeste, pelo estreito de Málaca, e ao norte confina com Tailândia e Mianmar (Birmânia), a leste com o
Mar da China Meridional, ao sul e oeste com o estreito de
Málaca, fazendo fronteiras marítimas com a Indonésia a
leste, sul e oeste e com Cingapura ao sul.O sul da Península da Malásia é acidentado por montanhas graníticas, con-
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Um Olhar Sobre o Mundo
tinuação das cordilheiras indo-chinesas que apresentam
entre si, sobre ambos os lados, extensas planícies aluviais.
A Malásia Insular, (unidades federadas de Sarawak
e Sabah), situadas na ilha de Bornéu, limita-se se a oeste e
norte com o mar da China Meridional, ao norte com o sultanato de Brunei, pais encravado entre a Malásia Insular e o
mar do Sul da China, a leste com o mar de Sulu e ao sul
com a Indonésia, fazendo fronteira marítima com as Filipinas ao norte e a leste. Suas características físicas são bastante diferenciadas, apesar de estarem situadas numa mesma região geográfica, constituída de exuberantes florestas
tropicais montanhosas.
- A ilha de Bornéu é bastante montanhosa, constitui
um prolongamento do continente asiático, fazendo parte da
Plataforma de Sonda. Nos limites entre Sarawak e Bornéu
Indonésio, surgem cadeias de montanhas que remontam a
Período Terciário, formadas destacadamente de rochas cristalinas xistosas, de arenitos e argila. No norte se encontra a
cordilheira Central, com grande massa de formações cristalinas, e depósitos sedimentares do Paleozóico, onde se encontram fósseis jurássicos. Uma série de cadeias corre em
direção norte-nordeste deixando em Sarawak amplos planaltos costeiros. A costa de Sarawak é baixa, coberta de
manguezais e lagoas arenosas, os únicos portos utilizáveis
estão encravados em estuários de rios.
- Na Península Malaia a costa ocidental (o Estreito
de Málaca),é baixa, formada por mangues, praias e baías
isoladas. A Península ostenta o prolongamento das cadeias
montanhosas do núcleo central do Sudeste Asiático. A afluência de enormes massas graníticas causou a formação de
um relevo montanhoso, que contorna a península de norte a
sul. A cadeia de montanhas Bilauktaung, mais importante
por sua extensão e altura, corta ao meio a Malásia peninsu-
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Um Olhar Sobre o Mundo
lar. Alonga-se por cerca de 400 km, desde a fronteira sul
tailandesa até o Estado de Perak.
- A oeste da península ocorrem maciços verticais de
centenas de metros de altura. Neles são encontradas magníficas cavernas naturais e cachoeiras de gigantescas proporções, cravadas em altas encostas de onde se descortinam
grandes vales e planícies. Aproximadamente 4/5 da vegetação do país e caracterizado por florestas tropicais.A Malásia
apresenta um dos ecossistemas mais complexos e ricos do
mundo, são 15.000 espécies de plantas e árvores, 600 espécies de pássaros e 210 espécies de mamíferos.
- A Federação da Malásia criada a 16 de setembro
de 1963, foi formada pela parte sul da Península Malaia e
ilhas adjacentes, antigos Estados malaios, e territórios britânicos do norte da ilha de Bornéu ( Sarawak e Sabah). Localizada no Sudeste Asiático, Malásia possui uma área de
330.803 km² e uma população de 28,9 milhões (2011).
- O idioma oficial é o malaio bahasa, mas falam-se
línguas austronésias, o chinês, inglês e o tâmil. A religião
predominante é o islamismo sunita 60,4%,budismo 19,2%,
cristianismo 9,2 %, hinduismo 6,2%,confucionismo, taoismo, outras religiões 5%. O governo é uma monarquia eletiva constitucional, tendo como chefe de Estado o rei Tuanku
Mizan Zainal Abidin ibni al-Marhum (desde 2006). Capital
Kuala Lumpur (1.519.000), outras cidades George Town
(Penang), Kelang, Ipoh, Johore Baharu, Petaling Jaya, Kuantan, Málaca, Langkawi, Seremban, Alor Star.
- A Malásia engloba várias nações, todas gozando
de grande individualidade e autonomia. Essa diversidade è
acentuada pela situação peculiar de seu território, dividido
em duas faixas de terra – uma insular (na ilha de Bornéu) e
outra continental - separada entre si pelo mar da China.
Durante milhares de anos, sucessivas levas de populações
provenientes do interior da Ásia atravessaram a Malásia
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Um Olhar Sobre o Mundo
para atingir a Indonésia, a Melanésia e mesmo Madagascar,
junto à África. Inicialmente, tornou-se um pólo de atração
em virtude do ouro que abundava em seu território.
- Com sua intrincada mescla de raças e religiões, a
Federação da Malásia se assemelha a um mundo em miniatura, pois a Malásia é muçulmana, budista, hindu, cristã,
taoísta e animista, lá convivem malaios, thai indochineses,
pangan com caracteres negróides, sakai, indígenas, europeus, dayakes, muruts, dusuns e bajaus, para citar apenas
algumas raças e tribos.
- A diversidade física e humana que caracteriza a
Federação da Malásia transformou-a num verdadeiro mosaico étnico-cultural. Neste, as comunidades mais representativas são as dos malaios 60%, os chineses totalizam 30%
da população e constituem o segundo grupo étnico do país,
são principalmente budistas da seita Mahayana, tem uma
história de domínio dos negócios do país. Os 10% restantes
compõe-se de indianos, paquistaneses e em proporções
mais reduzidas encontram-se os nativos, descendentes dos
primeiros habitantes, que se estabeleceram na Península
Malaia há dezenas de milhares de anos.
- As aldeias dos nativos dayaks podem ser encontradas em todo o território do Estado de Sarawak.. Primitivos
habitantes da região, os dayaks conservam até hoje costumes milenares. Vivem em grandes cabanas comunitárias, e
sua organização social é baseada em matriarcado. A maior
tribo indígena em número são os Iban de Sarawak, eles vivem em aldeias tradicionais na selva, ao longo dos rios Rajang e Lupar e dos seus afluentes. Os habitantes originais da
Península da Malásia e dos Estados de Bornéu, Sarawak e
Sabah formavam comunidades aborígines das florestas.
- Ao longo do segundo milênio a.C. houve a emigração para as atuais Malásia, Indonésia e Filipinas de povos provenientes do interior da Ásia. Esses povos introduziMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
ram técnicas metalúrgicas e agrícolas, em particular para o
cultivo do arroz. O reino indiano de Funan, fundado junto
ao rio Mekong no século I d.C. se estendeu no século V à
parte oriental da península malaia, onde surgiram muitos
outros estados budistas que negociavam com a China.
- No século II d.C. formaram-se alguns pequenos
sultanatos dominados por dinastias indianas. Entre eles figurava o primeiro reino budista, Langkasuka, cujo território
correspondia ao atual Estado de Kedah, fronteiriço à Tailândia. No século VIII, o reino de Srivijaya de Sumatra
estendeu seu domínio sobre uma vasta região da península
malaia. Sob a égide deste império foram fundadas as cidades de Málaca e Cingapura (1402) que se tornaram os mais
prósperos centros da região peninsular.
- Em 1414, o príncipe Parameswara, da dinastia Srivijaya, converteu-se ao islamismo e acelerou a penetração
muçulmana na Malásia. A atual Malásia é herdeira do império marítimo muçulmano estabelecido no inicio do século
XV, em substituição a principados sob influência indiana.
Portugueses, holandeses e ingleses se fixam na região entre
o século XVI e XVIII.
- Em 1641, a península caiu em poder dos holandeses que, desalojando os portugueses, passaram a controlar a
economia da região através da Companhia das Índias Orientais. Os holandeses exerceram domínio absoluto até fins
do século XVIII.A partir dessa época passaram a enfrentar
a concorrência da Companhia das Índias Britânicas.Um
tratado assinado em 1824, garantiu o controle da Indonésia
aos holandeses, enquanto a Malásia foi deixada em mãos
britânicas.
- O país ficou sob dominação inglesa até 1957
quando se torna independente, com nome de Federação da
Malásia. Na década 1970 ocorrem conflitos étnicos causados pelo ressentimento da maioria malaia em relação à miMonika Gryczynska
174
Um Olhar Sobre o Mundo
noria chinesa, que domina a economia e controla a maior
parte das empresas comerciais e industriais.
- A capital Kuala Lumpur (desde 1963), foi fundada
por buscadores chineses de estanho ás margens do Rio
Klong. A cidade é um conglomerado de influências islâmicas, britânicas e malaias. Modernos edifícios comerciais
alternam-se com velhos casarões dos antigos bairros que se
situavam no centro.A cidade está dotada de magníficas avenidas, praças e jardins, entre elas estão a Sulaiman Road
e a Estação Central da Estrada de Ferro, a cidade possui
ainda diversos e interessantes museus.
- A Malásia abriga diversos patrimônios naturais e
culturais, como o Parque de Kinabalu, em Sabah, Parque
Nacional de Gunung Mulu, em Sarawak, cidades históricas
de Málaca e George Town (Penang) no estreito de Málaca.
- O porto mantém um ativo comercio de exportação
de estanho, caucho, ferro, azeite de coco, de palma, copra e
madeiras preciosas. A pesca contribui grandemente para a
alimentação local.A exploração de estanho e borracha fizeram da Malásia um país privilegiado entre os seus vizinhos
do Sudeste Asiático. O solo malaio é também rico em petróleo, ouro bauxita e ferro. Cultivam-se arroz, cereais, batata e mandioca.
- Em Sarawak há petróleo e depósitos de carvão.
Dois terços do território peninsular da Malásia são cobertos
por bosques, ricos em espécies preciosas, entre eles a seringueira, alcanfor, diversas espécies de palmeiras, quinina e
cinamomo. Abundam os bambuzais que se aglomeram próximos aos cursos dos rios. Em Selangor são assinaladas
jazidas de linhita (carvão fóssil da Era Mesozóica).
No oeste da Península localizam-se as maiores jazidas de estanho do país. O país cresce aceleradamente e se
torna um dos Tigres Asiáticos (paises da região com economia de ponta). Favorecida pela natureza e intensamente
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
explorada durante a ocupação britânica, a Federação da
Malásia ocupa hoje um lugar privilegiado entre os países
subdesenvolvidos. Entre suas fontes de riqueza se destaca o
estanho, do qual é o primeiro produtor mundial.
- Possui uma florescente indústria de componentes
eletrônicos e elétricos, alimentícia, química, produtos de
madeira, de borracha, refino de petróleo e fábricas de veículos. O solo malaio é rico em petróleo, ouro, bauxita, ferro e
madeira. Cultiva-se arroz em larga escala, inclusive para
exportação. Cereais,batata, mandioca para o consumo local.
A GRANDE PENÍNSULA DA INDOCHINA.
Os dois exploradores brasileiros ouviram histórias
interessantes sobre a Península da Indochina, relatadas pelos estudiosos malaios. Narrativas fantásticas que lhes cativaram o espírito, então tiveram grande curiosidade em conhecer os paises da grande Península, já que estavam muito
próximos do seu território. A região era povoada por complexos de templos budistas, indicando os principais centros
políticos, em Pagan, Angkor e Java Central, e sítios préhistóricos das civilizações mon, thai, birmanesas e malaias.
A história remota dos países do Sudeste Asiático era
de fato fascinante, e não havia nenhum argumento que os
dissuadisse de conhecê-los in loco. Seriam cinco países a
serem visitados, já que tinham acabado de conhecer as
principais cidades e os portos da Federação da Malásia.
Os primos resolveram telefonar para seus pais no
Brasil, pois estavam em dúvida quanto a permissão em continuarem as pesquisas nos países do Sudeste Asiático.
- Alô pai! Aqui quem fala é o Rodrigo, estamos em
Kuala Lumpur na Malásia, eu e Álvaro pedimos-lhes autorização para continuarmos a viagem de pesquisas, também
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
na ajuda do custeio das despesas. Estamos muito perto dos
países asiáticos e seria muito proveitoso conhecê-los.
- Tudo bem! Podem continuar o trabalho na região
pretendida, mas logo que terminarem o projeto em questão,
voltem para casa, todos nós estamos com muita saudade –
respondeu Giovani, pai de Rodrigo. Hoje mesmo vou repassar a notícia ao pai e a família de Álvaro.
Indicado por Michael Tehani foi contratado como
guia um estudioso malaio de Kuala Lumpur, de nome Mahathir Ibrahim, de 45 anos, aposentado. Foi professor de
história e geografia na Universidade Putra de Malaysia,
portanto, seria um ótimo orientador. Acertada a remuneração pelo trabalho, ele acompanhou os dois brasileiros na
viagem de avião com destino à Yangon, antiga capital da
Birmânia (Mianmar).
Chegaram à cidade já tarde da noite e logo trataram
de hospedar-se em um bom hotel, com diária completa. Foi
lhes recomendado o Savoy Hotel Yangon No café da manhã, o guia Mahathir expôs o melhor itinerário que deveria
ser seguido durante os próximos dias.Aquele era um momento singular para os dois brasileiros, pois recomeçava
naquele dia, a nova e empolgante aventura das suas vidas.
O guia iniciou a exposição do longo itinerário:
- Situados em um dos maiores cruzamentos do
mundo, os países do Sudeste Asiático tem uma história que
remonta aos primórdios da humanidade. A Indochina é uma
grande península situada no Sudeste da Ásia, entre a Índia e
a China, limitada ao sul pelo Golfo de Bengala, Golfo da
Tailândia (Sião) e o Mar da China Meridional.Banhada
pelos rios Irrawaddy, Saluen, Sittang, Menam, Rio Vermelho e o Mekong o grande rio da Indochina. Mekong percorre 4.425 quilômetros desde a sua nascente na cadeia Tangula no Tibet, atravessa Yunnan, o Laos que separa da Tai-
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
lândia, o Camboja, passa em Vietnã e deságua no Mar da
China, formando um grande delta de múltiplos braços.
- A Indochina compreende a República da União de
Mianmar (Birmânia), o Reino de Tailândia, a República de
Laos, o Reino de Camboja, a República Socialista do Vietnã. Diversas culturas dos períodos paleolítico e mesolítico
foram identificadas na região como a do Vietnã, Tailândia e
Malásia. Sítios de cavernas primitivas foram escavados em
Sumatra, Bornéu, Camboja e na Caverna Spirit no norte da
Tailândia. O Sudeste Asiático abrigava culturas florescentes
que usavam bronze e ferro antes de sentir as influências
indiana e chinesa nos séculos II ou III a.C.
- O caráter singular da civilização do Sudeste Asiático nunca foi suprimido, ao contrário o milênio seguinte
testemunhou a assimilação de influências para produzir na
área sociedades distintas. O primeiro uso do bronze na região deve ter ocorrido na Tailândia Central, talvez 3000 a.C
chegando em Bornéu e Palawan em 500 a.C.No século VII,
pequenos templos hindus foram erigidos no baixo Camboja,
em Angkor Borei e no centro de Java.
- Rotas primitivas de comércio parecem ter ligado a
Índia ao sul da Birmânia (Mianmar) centro e sul do Sião
(Tailândia), baixo Camboja e sul do Vietnã, onde uma antiga cidade portuária foi escavada em Oc Eo (século III). Nos
séculos V e VI surgiram imagens budistas e tabuletas votivas, além das primeiras inscrições em sânscrito. Templos
primitivos budistas, foram escavados no sul da Birmânia.
Em 802, Jayaxarman II, estabelece o reinado de Angkor no
Camboja. Em 1150, é construído o maior templo hindu de
Angkor, e até o ano de 1180, o reino atinge sua extensão
máxima, quando sucumbe aos ataques dos povos thai em
1369, e foi abandonada.
- Em 939, Vietnã torna-se independente da China.
Os chineses não reconquistaram as antigas províncias, apeMonika Gryczynska
178
Um Olhar Sobre o Mundo
sar de invasões em 1075 e 1285. Ali, surgiu um reino autointitulado Daí Viet, que se expandiu em direção ao sul e
absorveu o reino de Champa anexando a capital Vijaya em
1471. Em 1500, os padrões modernos de cultura e organização política estavam começando a emergir, com a expansão do islamismo nas ilhas e do budismo theravada no continente. O Vietnã permanecia fiel ao confucionismo e budismo mahayana.
- Os países do Sudeste Asiático, tornaram-se centros
de construção de templos e produziram complexos, tais
como Borobodur e Prambanan na Java Central, Angkor no
Camboja e Pagan em Mianmar, nos séculos VIII a XIII.
Palembang, centro de cultura sânscrita, a sudeste de Sumatra, emergiu no século VII, como capital do império marítimo de Srivijaya.
- Atualmente o Sudeste Asiático está com a economia fortemente apoiada no setor eletroeletrônico, que vem
se recuperando da crise financeira iniciada na região e disseminada por todo o mundo em 1997.
REPÚBLICA DA UNIÃO DE MIANMAR
- Birmânia é um país, encravado entre a Índia e a
China, desponta no extremo oriental do Golfo de Bengala,
fazendo parte, na sua porção mais meridional de uma faixa
de terra muito estreita (70 a 80 km de largura), que constitui
a porção birmanesa da Península de Malásia. Nesse contexto, vocês vão entender melhor a geografia e a história do
Sudeste Asiático se percorrer em primeiro lugar a antiga
Burma, que desde o ano de 1989, passou a chamar-se República da União de Mianmar - esclareceu o professor.
- O território da Birmânia (Burma) encontra-se na
formação da área geológica que remonta a Era Terciária,
quando ai existia um golfo do mar. Das águas desse antigo
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
golfo emergia uma ilha, que foi desaparecendo à medida
que o mar retrocedia empurrado por lavas vulcânicas. A
enorme massa de argila e areia foi posteriormente, recoberta pelos aluviões dos grandes rios, Irrawaddy e Sittang. Essa região é de vital importância para a economia birmanesa,
pois contém ricas jazidas de petróleo.
- A porção sul dessa bacia central está dividida em
duas regiões pelos montes Pegu. Assim, a leste correm as
águas do rio Sittang (560 km), e, a oeste, as do Irrawaddy
(2250 km). As duas bacias hidrográficas unem-se na zona
central do país, onde se estende a ampla planície de Mandalay, a área mais rica, fértil e povoada da Birmânia.
- Seu litoral é recortado por golfos e ilhas, e ao longo da costa noroeste separando as bacias do Brahmaputra e
do Chindwin, ergue-se a cordilheira Patkai (3826 m). Juntamente com os montes Arakam Yoma (3053 m), que representam seu prolongamento natural na vertente sul, formam um arco de mais de 1000 km de comprimento. Os
sistemas Patkai e Arakan constituem baluarte quase intransponível, dificultando as comunicações entre Mianmar
e seus vizinhos, Índia (Assam) e Bangladesh.
- O país é cercado na fronteira norte e oeste por cadeias de montanhas cujo ponto culminante e o vulcão Hkakabo Razi de 5.881 m de altura, que formam uma gigantesca ferradura. Encerrado nesta barreira montanhosa estão o
território central, que abriga a maior parte dos campos e da
população. O rio Saluen, cortando profundas gargantas no
planalto de Shan e nos montes Kumon, a leste separa a
estreita costa de Tenasserin do golfo de Sião.
- Igual faixa costeira estende-se a oeste entre a baia
de Bengala e a cadeia de montanhas Arakan Yoma Os
grandes reservatórios de água representados por essas cordilheiras dão origem ao maior rio birmanês, o Irrawaddy e
seu afluente o Chindwin.No centro ficam as terras baixas e
Monika Gryczynska
180
Um Olhar Sobre o Mundo
a bacia do rio Irrawaddy que deságua no Mar Andaman por
um grande delta. O local, de aspecto plano e pantanoso,
abriga as maiores culturas de arroz do mundo.
- Vales férteis predominam na maior parte da região
onde há intensa atividade agrícola, com destaque para o
cultivo de arroz e da papoula. O país lidera a produção de
heroína e ópio junto com o Afeganistão. A produção rizícola ultrapassa e garante dois terços das exportações do país.
Outros cultivos de subsistência e industriais são representados pela cana-de-açúcar, o amendoim, gergelim, algodão,
milho, trigo, tabaco e a amoreira que permite uma notável
produção de seda natural.
- A pecuária tem um bom desenvolvimento, embora
a carne não se destine ao consumo, que é proibido pela religião budista. Os animais, bovinos e búfalos são empregados
no trabalho do campo. Os elefantes são empregados nas
zonas de exploração florestal para o arraste de troncos de
madeira. A fauna birmanesa pertence a sub-região indochinesa riquíssima em antropóides, feras selvagens, rinocerontes, elefantes, nas montanhas vive o urso negro do
Himalaia. Aves, répteis e insetos há uma variedade enorme,
assim como peixes e moluscos abundam nos rios.
- A Birmânia abriga densas florestas (32,2 milhões
de hectares) com uma variada flora, que se diferenciam em
função do volume de chuvas e das oscilações térmicas regionais. Nas regiões em que as chuvas são abundantes cresce
a selva tropical verde-escura, onde prosperam as grandes
árvores de madeira nobre, como ébano, teca, rododendro,
com também bambus e palmeiras.
- Nas florestas próximas ao mar encontram-se a teca
e o pinkado “a árvore de ferro” empregado especialmente
como dormente de estradas de ferro. O planalto oriental, de
savana, menos úmido, possui a vegetação arbórea mais po-
Monika Gryczynska
181
Um Olhar Sobre o Mundo
bre.Entre as reservas florestais de Mianmar,destaca-se a
grande Reserva Bago Yoma Forest.
- Densa floresta virgem estende-se ao longo das
margens do baixo Sittang, que junto com seus afluentes
formam pântanos parcialmente cobertos por arbustos e
grama. As florestas estão povoadas de grandes manadas de
búfalos selvagens, elefantes, ursos, javalis e grande variedade de macacos, escondidos nas profundezas das matas.
Nos pântanos vivem rinocerontes, crocodilos e serpentes.
- Os povos que congregam a República da União de
Mianmar representam os mais variados grupos étnicos e
culturais. Há indícios no país, de ocupação humana que
remontam pelo menos há 13 mil anos a.C.O primeiro grupo
humano que teria habitado a região foi identificado como
pertencente a uma raça australo-asiática.Um desses povos
migrantes era o dos Nagas, nome dado ao conjunto de tribos que vivem a nordeste da Índia, em Nagalândia nas Colinas Naga,um território de 16.600km², faz fronteira com os
Estados indianos de Assam, Arunachal Pradesh e Manipur,
também com a União de Mianmar. Tornou-se um Estado da
Índia em 01/12/1963, sua capital é a cidade de Kohima.
- Essas tribos falam diferentes dialetos, o nagali, o
tibetano ou birmanês.Cerca de 80% da população (16 tribos) pertence à etnia Naga.É um povo de origem branca, de
pele escura, foi a primeira raça a chegar à Índia, por volta
de 30.000 anos atrás, vindos de Burma. Esse povo que emigrava da Índia para seu país de origem, Burma, habitara no
passado longínquo a região de Mandalay. Diz a lenda que
os povos Nagas eram remanescentes da catástrofe que
submergiu o continente de Lemúria no oceano Pacífico,
durante o Período Quaternário. Inscrições em tabuletas, que
recuam ao século VI a.C. demonstram a existência remota
de civilizações avançadas em Burma e outras regiões do
Sudeste Asiático.
Monika Gryczynska
182
Um Olhar Sobre o Mundo
- Todavia, a constante migração de povos do norte
para o sul e das montanhas para a costa, suas fusões e suas
guerras tornam difícil estabelecer suas relações até o século
XI.Já em época histórica, mais levas de povos ocuparam as
terras birmanesas, também procedentes da Índia e da Ásia
Central. Um desses povos, os Pyu, entrou no Vale do Irrawaddy ao Norte e ocupou a Planície Central, no século II.
Fundaram ali um reino que perdurou do século III
ao IX.Sua capital ficava na cidade de Sriksetra (hoje Prome), que se situa no vale do Baixo Irrawaddy “o Rio dos
Elefantes”, a principal artéria do país, e adotaram o Budismo.Os Pyu eram mais avançados culturalmente de todas as
ondas de invasores chegados do norte,foram os primeiros
que deixaram testemunhos escritos da sua cultura, os quais
foram decifrados a partir da descoberta de uma inscrição no
pagode Myazedi,em línguas pali, mon, pyu e birmanes, dos
anos de 1113.
- O reino Pyu tinha uma forte influência cultural da
Índia,como quase todas as civilizações do Sudeste Asiático,
a khmer de Camboja, o reino de Funan, Vietnã, Sri Vijaya
em Sumatra, que praticavam o hinduísmo e budismo em
suas duas formas, o mahayana e hinayana. Inclusive foram
encontradas estelas com inscrições que revelam um sincretismo de ambas as religiões.O descobrimento de um grande
número de urnas funerárias que continham cinzas demonstra que os Pyu já praticavam a cremação dos seus mortos.As cinzas em recipientes de barro pertenciam ao povo e
a aristocracia, as de pedra, aos membros das famílias reais.
- Os indícios de ocupação humana na região remontam pelo menos há 10 mil anos. Os primeiros reinos Mon
que estavam no poder durante o período pré-histórico estavam estabelecidos entre o rio Sittang e Salween, e foram
referidos como Ramanndesa. Thaton a sede deste reino foi
fundada pelo rei Siharaja no século V a.C.durante a vida de
Monika Gryczynska
183
Um Olhar Sobre o Mundo
Buda. Thaton era uma comunidade portuária florescente
que se comunicava comercialmente com os lugares tão distantes como o sul da Índia; nesse intercambio foi trazida
pelos mercadores indianos a religião budista para Burma.
- No início do século IX, levas de povo Mon, desceram das montanhas do Tibet e do leste da Índia e se estabeleceram ao longo da costa, ao sul do Delta do Irrawaddy,
invadiram as terras da Birmânia e da Tailândia, onde fundaram cidades importantes como Lopburi (Tailândia), capital
do reino de Dwarawati, seu primeiro reino conhecido. Fundaram as cidades de Bago (Pegu) e Thaton e nos meados do
século IX, passaram a dominar todo o sul da Birmânia.
- O povo Mon é um grupo étnico da Birmânia, que
vive no Estado Mon, no Delta do Irrawaddy e ao longo da
fronteira sul entre a Tailândia e Birmânia. É uma das primeiras civilizações asiáticas do sudeste, integrando a Dwarawati da Tailândia Central e o Reino de Thaton. A conquista de grandes territórios pelos Mon marcou o começo
da decadência do reino Pyu, que se acentuou com a invasão da capital Sriksetra (Prome) pelos chineses de Yunnan.
-Os birmaneses começaram a migrar do reino de
Yunnan para o vale do Irrawaddy a partir do século VII e,
em 849, fundaram um pequeno reino, com capital em Pagan,.sob o reinado de Pyinbya em 874. Depois do ano 1.000
em diante, os Mon ficaram sob constante pressão, com as
migrações dos povos Thai do norte e dos Khmer do leste.Os Mons de Dvaravati cederam seu lugar para o reino
Khmer Lavo. O grupo sobrevivente dos povos Mon de
Dvaravati conhecido como Nyah Kur ainda vive em Isan
como uma minoria.
- Os Seg praticamente desapareceram no Valley
Chao Phraya. no entanto, o reino Haribhunjaya sobreviveu
no norte da Tailândia. Um chefe de Thai Sukhothai chamado Wareru estabeleceu-se em Martaban e foi proclamado
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
rei pelos Mons.A capital mudou-se para Pegu.O Reino de
Martaban-Pegu (1287-1539) foi o período de paz e prosperidade para os Mons, tanto em poder como em cultura.
- A população birmanesa descende de tribos mongóis do grupo shan, que criaram um Estado unificado em
1044, com a fundação da dinastia Pagan por Anawrahta,
introdutor do Budismo Theravada no país.Em 1057,o rei
Anawrahta conquistou a capital do Império Mon, Thaton,
situado na Baixa Birmânia. Em 1287, a Birmânia é invadida
pelos mongóis de Kublai Khan.A capital Pagan foi saqueada pelos invasores mongóis. O reino Pagan se fragmenta
em pequenos estados até sua reunificação em 1752, sob o
rei Alangpaya.
A cidade de Pagan foi a antiga capital de vários reinos na Birmânia. A cidade fica na meseta árida do país, na
margem oriental do rio Irrawaddy, a 145 km a sudoeste de
Mandalay. Pagan é um símbolo da cultura birmanesa, ostenta 13.000 templos e pagodes que foram construídos há
mil anos atrás entre os séculos XI a XIII.Os seus principais
templos como o Sulamani Bagan, Ananda, Thatbyinnyu,
Dhammayazika, Gawdaawpalin, estão fora da área murada
da cidade.As ruínas e os templos de Pagan recentemente
restaurados cobrem uma área de 41 km².A área está sujeita
a freqüentes sismos.Após o terremoto de 1975, afim de preservar os templos, apenas bicicletas e carruagens leves estão autorizados a transitar entre os pagodes.
- Durante a Idade Média sucessivas dinastias e reinos tomam o poder, ao mesmo tempo em que mantêm intermitentes guerras com os chineses, tibetanos e tailandeses,
principalmente. A língua oficial é o birmanês, mas falam-se
também dialetos regionais.O mon é uma língua da família
austro-asiática falada em Mianmar e na Tailândia. Embora
o Budismo Theravada seja a religião oficial, professada por
85% da população, as tribos montanhesas são em geral aMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
nimistas. Nas civilizações asiáticas o surgimento do budismo constituiu um fato distinto.
- Pela primeira vez as multidões ouvem os prementes clamores em favor de uma sociedade humilde, que vive
em clara oposição com a estrutura vertical preconizada pelo
bramanismo. A expansão do budismo assiste um dos momentos mais interessantes da história asiática, e a imagem
evocadora de seu fundador, Buda, ainda continua impressionando as massas.
- Em 1826, a Inglaterra que havia dominado a Índia,
anexou ao império hindu às regiões birmanesas de Arakan e
Tenasserim. Em 1852, foi anexado o resto do território birmanês, que ficou sob o domínio inglês até 1886.Com a
conquista de todo país, Myanmar foi batizado de Birmânia
pelos ingleses e passou a fazer parte da Índia Britânica.As
autoridades britânicas trasladaram a capital de Mandalay
para Yangon. Durante a II Guerra Mundial, Birmânia é ocupada pelos japoneses, em 1942. O fim do conflito estimula o movimento nacionalista.
- O país torna-se uma república independente em
1948. A Federação denomina-se, República da União de
Myanmar-Naingngan-Daw,composta por Birmânia,os Estados de Karen, Kayah, Shan e Kachin, e o território autônomo de Chin. Mianmar possui uma área de 676.577 km² e
uma população de 54.584.650 pessoas (em 2011), sendo
70% de birmaneses, 30% de chineses e outras etnias.
- Um golpe militar em 1962 levou ao poder o general U Ne Win, que governou por 26 anos e renunciou pressionado pelos grupos civis em 1988. Em 1992 se instalou
uma ditadura militar chefiada pelo general Than Shwe. A
Junta Militar é acusada de violação dos direitos humanos e
corrupção. Mianmar é alvo de sanções internacionais. Em
2010 o regime militar é dissolvido. Em fevereiro de 2011, a
nova Assembléia elege como presidente o general reformaMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
do Thein Sein. O novo governo oficialmente é civil embora
quase todo formado por militares.
- A cidade e porto de Yangon (4.349604, aglomeração urbana) (2010), antiga capital, encravada na margem
esquerda do rio do mesmo nome. Situada a 35 km do Oceano Índico é sem dúvida um dos maiores e mais movimentados portos do Sudeste Asiático, localiza-se no Delta do
Irrawaddy. Foi fundada pelo rei Alaungpaya em 1755.
Yangon é uma cidade monumental, entre cujos edifícios
típicos destacam-se o Pagode de Shwe-Dagon, que domina
a metrópole e é centro de peregrinação do país. É considerado como um dos maiores e mais ricos templos budistas.
- Construído sobre uma colina a 6 km da cidade é
rodeado de numerosos pequenos pagodes. Suas origens
remontam ao século VI a.C. No Grande Pagode de Ouro ou
Shwe-Dagon, célebre santuário budista, está uma das maiores estátuas de Buda. O conjunto de edifícios sofreu várias
ampliações, entre os séculos XV e XVIII. A cúpula principal alcança 107 m de altura e é toda recoberta de ouro, tendo como arremate um globo de diamantes.
- A cidade de Mandalay tem uma população de
1.034.000 (2010), é Centro Geográfico do país, situado às
margens do Alto Irrawaddy, região de terras férteis, tendo o
arroz como principal fonte de riquezas. Foi capital do país
até 1885, quando caiu nas mãos do Império Britânico. Centenas de pessoas foram mortas e suas aldeias incendiadas
pelo exercito invasor.Importante centro religioso budista,
com numerosos pagodes, sendo um deles com setecentas
torres de surpreendente arquitetura barroca.
- A cidade histórica de. Pegu (Bago), capital do
reino Mon (1369), foi importante centro do budismo. Os
mons se rebelaram em 1740 e elegeram seu próprio rei.A
conquista da capital Ava, em 1752, trouxe à cena o dirigente birmanês, Alaungpaya, que derrotou os mon e seus aliaMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
dos franceses. A cidade de Pegu ostenta a maior estatua de
Buda existente no mundo, com 60 m de comprimento por
19 m de altura.
- Distante 300 km de Yangon a antiga capital, e a
3,2 km a oeste da antiga cidade de Pyinmana, foi construída
Nay Pyi Taw (cidade real), a nova capital do país, inaugurada em 06 de novembro de 2005. Elaborada com rica arquitetura e esmerado planejamento, para comportar setores
distintos: administrativo, legislativo, sede do governo, setores de serviços, hoteleiro, comércio, transporte, etc. com
largas avenidas, parques e jardins. Nay Pyi Taw é uma cidade planejada, moderna, abriga uma população de
1.024.162 (em 2010). Outras cidades históricas birmanesas,
dignas a serem visitadas são: Mandalay, Moulmein, Myitkyina, Pyé (Prome), Myingyan, Bassein, Henzada, Pegu,
Sittwe (Akyab).
- O rio Irrawaddy forma-se na Alta Birmânia pela
união dos rios Mali e Nmai, cruza o país em sentido longitudinal, assegurando sua unidade. Dos seus 2.250 km de
extensão, 1600 km são navegáveis. O Vale do Irrawaddy e
do Chindwin, seu grande tributário, e do rio Sittang, constituem o coração do país, rico e bem irrigado.
REINO DA TAILÂNDIA.
Depois de conhecer as principais cidades de Mianmar, seus misteriosos templos dedicados a Buda, os Sítios
Arqueológicos em Mandalay, Pegú, Prome, Moulmein e
Yangon, e se inteirarem das tradições milenares birmanesas, os dois exploradores brasileiros, acompanhados pelo
professor Mahathir Ibrahim, dirigiram-se para o aeroporto
de Nay Pyi Taw. Compraram passagens da linha aérea
Burma Airways Corporation com destino à Bangkok, capital da Tailândia, país situado na Península da Indochina.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
O avião pousou no aeroporto Don Muang em Bangkok às quinze horas da tarde. O percurso de aproximadamente 800 km levou uma hora de vôo. Assim que desembarcaram logo foram apresentar os passaportes no Departamento de Imigração e retirar as bagagens. Liberados, os
três passageiros se dirigiram para o confortável Hotel Viva
Residence Garden Bliston, na Avenida Sukhumvit, localizado no caminho do aeroporto, próximo á Estação do Metrô, no Centro, recomendado pelo professor Mahathir.
Após um descanso de uma hora, e reforço do lauto
lanche servido no apartamento, os três saíram para conhecer
a cidade. O professor Mahathir já conhecia Bangkok, portanto não teve dificuldade em orientar os brasileiros, expondo-lhes os atrativos da capital e do país que visitavam.
Caminhando pelas ruas, o professor foi-lhes apresentando
os belos e bem conservados parques, a moderna e a antiga
arquitetura da cidade e o significado histórico de cada monumento.
- Os muitos templos budistas, ricamente decorados,
atraem milhares de visitantes ao país. Situado dentro do
Grande Palácio fica o Wat Phra Kaeo, o templo mais famoso de Bangkok que abriga a mais venerada e belíssima estatua do Buda de Esmeralda. A estatua, descoberta em 1464,
provém do norte do reino, foi levada para Bangkok pelo rei
Rama I, em 1785. O Templo do Buda de Ouro, que abriga a
estátua de puro ouro, levada de Sukhothai, do norte, para
Ayuttaya (hoje Bangkok) à nova capital do reino. Sua origem remonta ao século XIV. O Templo do Buda Reclinado
data do século XVI, embora tenha sido reconstruído por
Rama I, em 1789, coberto por uma camada de ouro, impressiona por seus 46 metros de comprimento e 15 metros
de altura. Chiang Mai é o mosteiro mais antigo da cidade.
O interior do santuário é realmente único, sustentado pelas
cabeças de quatro elefantes.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- A capital da Tailândia, a cidade de Bangkok abriga 6.976.000 habitantes (aglomeração urbana,em 2010).
Bangkok destaca-se em todos os aspectos das demais cidades da Tailândia. O Oriente Antigo marca os monumentos
históricos e religiosos, o colorido da população, o trânsito
fluvial.No meio disto prosperam elementos de uma civilização e de uma época diversas: o ativo aeroporto de Don
Muang, os bairros modernos que viram seus tradicionais
canais fluviais serem transformados em amplas avenidas, as
construções atuais, no entanto, conservam a feliz inspiração
do estilo khmer. Entre os esplendidos templos e monumentos, ficam os modernos prédios com espaçosos shopingscenter, grandes hotéis, restaurantes, bares e belas lojas, a
praça Central Word, os teatros, castelos, jardins.O Lumpini
Park, o Museu of Siam, e o Queen Sirikit Museu.
- Localizada no Sudeste Asiático a Tailândia (terra
dos thais), que até 1939, era conhecida pelo nome legendário de Reino de Sião.Ocupa a parte central da Península da
Indochina, estendendo-se até a Península da Malásia.Os
relevos da parte noroeste dessa região prosseguem na cordilheira de Bilauktaung, nos limites com a Birmânia, até a
ilha de Phuket.Ao sul do istmo de Kra, que representa o
ponto mais estreito da península de Malásia, a Tailândia
ocupa o território em toda sua largura, com costa para o
mar da China meridional e o oceano Índico.
- O norte e o oeste são zonas montanhosas, de onde
descem do planalto central os rios Ping e Yom que juntos
formam o rio Menam de 1200 km de extensão; seus inúmeros afluentes irrigam o solo fértil da região central, desemboca no golfo do Sião através de um delta com amplos braços. O grande rio Mekong nasce no Himalaia, possui uma
bacia fluvial de 810.000 km², seus múltiplos afluentes do
lado direito irrigam as grandes plantações de arroz do país;
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Um Olhar Sobre o Mundo
o Mekong nos seus 800 km que percorre na área fronteiriça, separa a Tailândia de Laos.
- A Tailândia pré-histórica pode ser rastreada desde
1.000.000 anos atrás, a partir de fósseis e ferramentas de
pedra encontradas no nordeste do país no sitio arqueológico
Khon Kha, de Lampang. O fóssil descoberto em 1999, por
Somsak Pramankit do Homo erectus (Lampang Man), remonta a cerca 1.000.000 a 500.000 anos atrás. Diversas
ferramentas de pedra foram encontradas em Kanchanaburi,
Ratchathani Ubon, Nakhon Si Tham-marat, Lopburi. Pinturas pré-históricas em cavernas foram encontradas nessas
regiões, datadas em 10.000 anos atrás.
- As pesquisas arqueológicas indicam que o território que hoje é a Tailândia tem sido habitado por humanos
desde o período Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada (cerca de 120 mil anos). O Homo Erectus emigrou da África
seu berço natal, para a Ásia. A descoberta e o uso do fogo
foi muito importante para a subsistência do caçador –
coletor. O vale do rio Mekong era já habitado há 10.000
anos a.C. A Caverna Spirit é um sitio arqueológico localizado no noroeste da Tailândia, em Pang Mapha, na província de Mae Hong Son.Foi ocupado a partir de 9.000 a.C.por
caçadores-coletores do Vietnã do Norte.
Os primeiros agricultores do mundo falavam a língua Thai de uma forma primitiva e viviam no território que
é hoje ocupado por Tailândia. Há indícios do cultivo do
arroz nas planícies de Bang Chiang e Bang Prasat, no noroeste, cerca de 6.000 anos a.C. É até hoje o principal produto agrícola do país. Sítios neolíticos e do inicio da Idade
do Bronze (3.000 a.C.) indicam a existência de culturas
desenvolvidas nas terras baixas já no século VII a.C.
- Povos naga tibetano-birmaneses estabeleceram-se
na região antes da Era Cristã e posteriormente, no século
VI, houve a invasão dos hindus, que trouxeram consigo
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Um Olhar Sobre o Mundo
elementos culturais que moldaram profundamente a feição
da Tailândia atual. Foram descobertas antigas imagens budistas e hindus com inscrições sânscritas. Por fim, no século
IX, o território foi invadido pelos lao-thais,originários da
região sudoeste da China que se instalaram na região da
atual Tailândia e adotaram o budismo, acrescentando influências chinesas à cultura local.
- O reino de Sião (Tailândia) passou a ter identidade
política somente a partir do século XII, quando o povo Thai
ocupou a região que vai do vale do Brahmaputra até o mar
da China, e do Yang-tsê ao golfo de Sião, fixando sua capital em Ayutthaya, no vale do rio Menam.Antes da queda do
Império Khmer, do Camboja, no século XIII, vários reinos
budistas floresceram nesta região, como os reinos Thai,
Mon, Khmer e Malaio. O primeiro Estado tailandês ou siamês é considerado como sendo o Reino Budista de Sukhothai, fundado em 1238, que foi substituído no século XIV,
mediante força, pelo Reino de Ayutthaya.
- Os povos Thais se expandiram para o sul conquistando os Mons de Dwarawati atingindo a península malaiotailandesa.Estabeleceram sua hegemonia sobre os populações primitivas da região, formadas por vários grupos étnicos distintos, os mons, khmers e malaios. Ayutthaya tornou-se um poderoso Reino Thai desde então.O Período
Ayutthaya foi o mais próspero é o que definiria, sem dúvida, o futuro do país. O Reino manteve um regime monárquico, ao longo de 400 anos, com 34 reinados. O estabelecimento da capital do povo Thai em Ayutthaya perdurou de
1282 até 1767, quando a cidade foi destruída pelos birmaneses que invadiram a região.
- A nova capital do reino foi então edificada na região de Thonburi, situada frente à atual capital Bangkok, mais
próxima, portanto, do delta do Menam e do mar. Recentemente (2011), as chuvas de monções alagaram grande parte
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Um Olhar Sobre o Mundo
do país, a cidade de Ayutthaya ficou encoberta pelas águas
do rio Menam, deixando milhares de pessoas sem lar. As
chuvas de monções são periódicas, típicas do Sul e do Sudeste da Ásia. Na época do verão o vento sopra do mar para
o continente e no inverno sopra do continente para o mar.
- A Tailândia (Sião) iniciou o seu contato com povos europeus no século XVI, durante o apogeu do reino
Ayutthaya. A grande potência marítima da época, Portugal,
foi a primeira a estabelecer tratados comerciais com os tailandeses.No século XIX,o rei tailandês Mongkut (RamaV)
e o rei Chulalongkorn impedem que o país se transforme
em colônia européia.Uma nova monarquia foi estabelecida
em 1782, o general Chao Phraya Chakri (Rama I), expulsou os birmaneses do país e transferiu a capital do reino
para Bangkok, estabeleceu a dinastia Chakri até hoje reinante. A monarquia absolutista termina em 1932, quando
um golpe de Estado instala um regime constitucional.
- Em 1938, através de sucessivos golpes de Estado,
o controle do país passou às mãos de uma casta militar, sob
o comando de Luang Pibul Songgram. A nova política estabelecida levou a Tailândia a aliar-se aos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial, permitindo a passagem de
tropas que invadiram Malásia, Cingapura e Birmânia, desapontando as antigas potências aliadas.
- Seguem-se quatro décadas de regime militar, intercalados por breves períodos de democracia. Desde 1946,
o chefe de Estado é o rei Bhumidol Adulyadej (Rama IX ).
Em Bangkok, embarcações reais desfilam pelo rio Menam,
por ocasião das festas nacionais. Em 1997, após um período
de forte crescimento econômico a Tailândia entra em crise.
A partir de 2006, o país vive uma grave crise política.
- A área do atual Reino da Tailândia é de 513.119
km² com uma população de 69,5 milhões (2011).O idioma
oficial é o thai, mas fala-se o chinês e o malaio.Religião
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Um Olhar Sobre o Mundo
oficial do país é o budismo Theravada, professado por 86 %
da população. A nacionalidade tailandesa se compõe de
maioria de thais 75%, chineses 14%, forte proporção de
tibeto-birmaneses e de vários grupos étnicos ( lao, lu, lolo,
mon, cambojanos e malaios).
- Os recursos econômicos da Tailândia consistem
principalmente da exportação de arroz que representam
20% do total. O arroz é o seu principal produto agrícola, é
a base da alimentação tailandesa. O seu cultivo ocupa mais
de 60% das áreas aptas para o plantio. Emprega três quartos
da mão-de-obra nacional. Em segundo lugar aparece a borracha com 13%.Seguem-se em importância os cultivos de
milho, chá, mandioca, fumo, algodão, amendoim, cana-deaçúcar, juta, coco. A Tailândia é o 3º produtor mundial de
estanho, principal riqueza mineral do país.
- Ainda no setor primário, destacam-se a pecuária e
a pesca. Criam-se bovinos, búfalos, suínos, aves. A atividade pesqueira emprega abundante mão-de-obra, sobretudo
no golfo de Sião.O pescado é o segundo elemento básico da
alimentação tailandesa. Também há a indústria de seda em
Bangkok. A seda tailandesa apresenta lindas estampas e
cores e uma qualidade superior.
- A abundância de chuvas é responsável pela farta
vegetação natural do país. Florestas do tipo equatorial, ricas
em espécies, cobrem o sul e o sudeste da Tailândia.Ao norte, onde o clima é continental estende-se a floresta com um
número menor de espécies, de dimensões mais reduzidas.
Essas florestas representavam 70% do manto arbóreo tailandês. Fornecem madeira para construção, lenha e carvão
vegetal. A espécie mais notável que prospera nesse meio é a
teca. Exportam-se madeiras nobres, inclusive a teca.
- Os elefantes são usados tradicionalmente para arrastar os troncos pesados na exploração florestal dos bosques tailandeses. Treinados especialmente para a tarefa,
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Um Olhar Sobre o Mundo
removem toros que chegam a pesar duas toneladas. Esses
paquidermes, porém, é hoje uma espécie em extinção. O
patrimônio florestal tailandês tem sido explorado intensamente e de modo irracional durante séculos, o que tem diminuído muito o total da superfície ainda coberta por florestas.Nas regiões onde as árvores foram cortadas cresce
uma mata baixa com abundância de bambus.
- Entretanto, 75% da população vivem em povoados, que são típicos da paisagem siamesa. As sedes de províncias, mesmo, não passam de pequenos povoados. O tipo
mais comum dessas aglomerações humanas é o povoadorua, ao longo de um rio, de uma estrada, de um canal ou de
uma ferrovia, estendendo-se, às vezes, por diversos quilômetros. As construções nesses povoados-rua são geralmente
feitos em palafitas, constituem casas-dormitórios. Os históricos pagodes tailandeses também costumam indicar centros de povoados.
O desenvolvimento econômico da Ásia, relativamente bom, sofreu uma crise em 1997 que repercutiu por
toda a região e prejudicou diversos países. Atingiu também
a Tailândia que vinha tendo o maior crescimento econômico nesses últimos 10 anos.Desde então o país vem tentando
estabilizar-se economicamente. Atualmente, o país é um
dos maiores exportadores mundiais de arroz. Outro importante produto cultivado é a cana-de-açúcar.
Os dois pesquisadores brasileiros, extenuados pelas
visitas aos espetaculares e misteriosos templos hindus e
budistas tailandeses, em Bangkok e outras regiões do país,
pelas excursões às antigas Cidades Históricas de Sukhothai
e de Ayutthaya, ao Sitio Arqueológico Ban Chiang, aos
Santuários Khmer Nakorn Ratchasima. No distrito de Phimai encontra-se o maior complexo de templos Khmer recentemente restaurado, construído no início do século XI,
durante o reinado de Suriyavoraman. Foram conhecer o
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Um Olhar Sobre o Mundo
complexo florestal Dong Phayayen-Khao Yai. As cidades
de importância histórica situam-se muitas delas, ao longo
do rio Menam, como a cidade antiga de Thon Buri, Lop
Buri, Chon Buri, Samut Prakan, Nonthaburi, Ban Chiang,
Hat Yai, Thungyai-Huai, Udon Thani. e Chiang Mai, portanto, por via navegável, de mais fácil acesso para serem
visitadas e estudadas pelos pesquisadores.
Agradeceram ao guia professor Mahathir Ibraim,
que os conduziu, com tanta sabedoria e gentileza, indicando-lhes as opções adequadas para adquirir o máximo de
informação sobre os lugares visitados, subsídio valioso para
suas pesquisas. Tendo concluído o roteiro planejado voltaram para a cidade de Bangkok, de onde dariam seguimento
à viagem projetada. O professor voltou para sua cidade,
Kuala Lumpur, e eles se dirigiram ao aeroporto de Don
Muang onde adquiriram as passagens aéreas para Phnom
Penh, capital do Reino do Camboja.
REINO DO CAMBOJA.
Rodrigo e Álvaro, impregnados de curiosidade, chegaram à Phnom Penh, capital de Camboja, pelo movimentado aeroporto de Pochentong. No avião da companhia Air
Kampuchea que os trouxe ao país, a maioria dos passageiros eram turistas estrangeiros, que vinham visitar os antigos
templos e as ruínas de Angkor. Na verdade o país todo era
um grande museu de antiguidades a serem apreciadas. Por
sorte a língua francesa era a que mais se ouvia falar, eles
falavam fluentemente o francês e o inglês.
Os dois pesquisadores se dirigiram ao guichê de informações em Phnom Penh. Foram aconselhados a tomar
um ônibus para a cidade de Siem Reap, distante 300 km da
capital e base para explorar os templos de Angkor.Saíram
de Phnom Penh de manhã, a viagem demorou 6 horas, cheMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
garam à cidade logo após do meio dia.Pediram um táxi que
os levou para o confortável hotel Smiley Guesthouse, que
oferece quartos duplos com banheiro, com internet grátis,
por 6 dólares. Anexo fica o restaurante onde servem pizzas
e pratos da culinária Khmer. Siem Reap e um lugar muito
agradável de ficar, possui um centro repleto de hotéis, restaurantes, cafés, livrarias, lojas e mercados de artesanato.
No outro dia, logo de manhã cedo, alugaram um
tuk-tuk com motorista, por 10 dólares por dia.Uma espécie
de táxi em que uma moto ou triciclo é acoplado a uma pequena carruagem que leva os passageiros.Substituto motorizado do jinriquixá antigo. Rodaram nesse estranho veículo pela área dos templos tomada pela floresta, riscada por
caminhos e ruelas em todas as direções. Foram com a idéia
de passar 3 dias e acabaram ficando 6 dias. Numa visita de
um só dia não iam conseguir ver praticamente quase nada.
Caminhando com dificuldade pelas trilhas tortuosas
da mata saíram numa clareira. Lá estavam os grandes templos diante deles e inúmeras estelas cheias de hieróglifos, e
também belos palácios, mas nenhum deles era totalmente
visível, pois os seres humanos haviam abandonado a região
fazia quase dois mil anos, deixando a floresta livre para se
apoderar do lugar; que agora não passava de uma vasta coleção de ruínas enterradas sob um mar de árvores, raízes
retorcidas, cipós e trepadeiras avançando sob os escombros.O grupo passou muitos dias perambulando entre os
destroços que escondiam os monumentos.
No meio da multidão que visitava as ruínas se movia um personagem muito estranho. Era um homem alto,
tão magro que parecia uma vara de bambu. Sua pele era
escura, seus ossos proeminentes e seus olhos oblíquos e
cintilantes, ardiam como brasas acesas. A barba branca longa chegava-lhe ao peito.Calçava sandálias de tiras, a túnica
de cor açafrão que lhe caia sobre o corpo lembrava o hábito
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Um Olhar Sobre o Mundo
dos monges budistas.Os monges hindus caminhavam de
casa em casa como mendigos, apareciam nos povoados
pobres, usando poucos utensílios, apenas a pequena bolsa
para esmolas, e preso à cintura o recipiente para o alimento
doado por alguém e o cantil com água.
Era impossível saber sua idade, sua procedência, sua
história, mas algo havia em seu aspecto tranqüilo, em seus
costumes frugais que atraia as pessoas à sua volta. Apareceu de improviso, sozinho, a pé, coberto pelo pó do caminho.Sua alta silhueta destacava-se na luz do dia enquanto
atravessava no meio dos turistas, a grandes passos, com
uma espécie de urgência. Veio direto ao encontro de Álvaro
e Rodrigo que subiam os degraus do templo de Preah Khan.
Eles o olharam com surpresa.
- São estrangeiros? Turistas ou pesquisadores? Se
precisarem de guia ofereço-lhes os meus serviços - falou
com voz humilde, inclinando a cabeça.
- O senhor faria esse favor? Poderia acompanhar nos pela região dos templos e depois por todo o país? Quanto custaria? - perguntou Rodrigo.
- Veremos depois com calma; o importante e que eu
consiga informá-los a respeito da história remota e da presente do nosso país, que lhes asseguro ser muito interessante e será proveitosa para suas pesquisas - respondeu o monge. Em seguida tirou do embornal que levava a tiracolo, um
mapa e uma enciclopédia. Desdobrou o mapa e indicando
com o dedo a região que ora estavam, começou a narrativa:
- Muitos templos de Angkor se conservaram escondidos entre a luxuriante vegetação da floresta tropical. Os
monumentos e suas ruínas são a grande atração turística.
Uma das primeiras regiões visitadas pelas excursões que
vem a Camboja.O conjunto de templos de Angkor, foi declarado, em 1992, como Patrimônio da Humanidade pela
UNESCO,incluída como a oitava maravilha do mundo.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- A cidade de Angkor foi fundada ao norte do Lago
Tonlé Sap, pelo rei Jayavarman II (790-850),que unificou o
território e fundou sua capital em Angkor, da qual restam
(após cerca de 1.200 anos), ainda majestosas ruínas. O
magnífico templo de Angkor, construído no século XII, por
ordem do rei Suryavarman II, tem suas construções concêntricas que ocupam 1.950.000 m² e fazem dele o maior templo do mundo. À entrada de Beng Mealea, a pequena distância de Angkor, fica o templo construído no século XIII.A região dos templos cambojanos Preah Vihear, na fronteira com a Tailândia, é alvo de disputa entre os dois países,
após ter sido declarada Patrimônio da Humanidade.
- O Camboja, é famoso tanto cultural como politicamente. Angkor foi a capital do antigo Império Khmer,
que em seu auge se estendia desde o atual Myanmar até
Vietnã. O Império Khmer viveu seis séculos de prosperidade, mas em 1432, com o seu enfraquecimento, a cidade
foi saqueada pelos tailandeses e abandonada. E assim ficou
esquecida durante séculos, tomada pela selva, até que, em
1860, foi redescoberta por missionários franceses.
- O Sitio Arqueológico de Angkor, tem o maior
conjunto de edifícios religiosos do mundo, relíquias do Império Hindu-Khmer (802 d.C.a 1432).São milhares de templos, dentre os quais se destacam o gigantesco Angkor Wat,
os grupos de templos de Angkor Thom e o templo Ta
Prohm O conjunto arquitetônico de Angkor se estende por
cerca de 200 km².O que resta atualmente da grande cidade
de Angkor são apenas os templos edificados em pedra e
tijolos, pois a cidade toda era construída de madeira.Os
templos datam dos séculos IX ao XIII, a maioria deles é
hinduísta, dedicados à Vishnu, mas existem alguns templos
budistas.O templo Bayon e o Baphuon encontram-se no
centro de Angkor Thom, são da fase budista.
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- O Ta Phrom, templo construído no século XII, foi
um monastério budista,e é um dos maiores edifícios de
Angkor O templo está tomado por enormes raízes de árvore
que invadiram o monumento, assim como o templo Preah
Khan, cuja construção está sendo engolida pelo emaranhado de raízes de uma gigantesca figueira, os galhos estendidos como enormes braços, dominam o Templo Khmer, com
suas poderosas raízes fincadas na estrutura de pedras do
monumento, num abraço hercúleo. A semente da árvore
trazida pelo vento brotou no meio da argamassa, desenvolveu-se e tomou conta da construção.
- Camboja herdou seu nome de um rishi (sábio) de
quem os reis cambojanos se proclamaram descendentes, o
grande sábio Cambu Svayambhuva. O primeiro reino do
Camboja era conhecido, nos textos chineses, como Funan e
foi fundado por povos Mon e Khmer que emigraram do
norte no século I d.C. Em 245, enviados chineses visitaram
Funan, primeiro Estado importante do Sudeste Asiático. As
fontes chinesas indicam a existência de pelo menos dois
reinos cambojanos que eram fieis ao reino de Java situado
na ilha de Java e Sumatra.
- Do princípio da Era Cristã até o século VI, o Camboja fez parte do reino de Funan, formado por imigrantes de
cultura hinduísta que originaram o grupo khmer.Quando o
reino de Funan se desagregou, no século VI, a hegemonia
se deslocou para o reino de Kambuja,que conseguiu estender seu domínio por toda a região de Funan. No século IX,
os guerreiros khmers reconquistaram o país. Seu líder, Jayavarman II, foi o primeiro rei de Camboja, reinou de 802 a
850, foi o criador do reino de Angkor. O reino de templos
foi unificado sob Angkor no século IX a XIV.
- A magnificência dos templos e dos monumentos
de Angkor expressa a natureza particular do reino khmer,
uma monarquia teocrática na qual o rei-deus detinha todos
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Um Olhar Sobre o Mundo
os poderes de forma absoluta. O reino khmer atingiu seu
apogeu em torno dos séculos IX a XIII, quando controlava
toda a Indochina, expandiu uma atividade artística sem precedentes no Sudeste asiático, sobretudo em arquitetura e em
escultura, conhecida com o nome de cultura khmer, uma
das relíquias mais impressionantes desta cultura é o Pagode
de Angkor.
- A estrutura política centralizada e a crescente influência do budismo estariam, nos séculos seguintes, entre
as causas da sua decadência. Os governantes não se dão
conta de que as civilizações se desenvolvem, chegam ao
apogeu e na cobiça de mais poder dos seus políticos, entram
em declínio e muitas desaparecem.
- O território cambojano foi invadido pelos povos
dos países vizinhos, Tailândia e Vietnã. Em 1394, depois
que o povo thai conquistou uma vez mais Angkor, os khmers abandonaram a cidade, e sua capital é transferida para
Phnom Penh. Por mais de 400 anos, o reino de Camboja foi
alternadamente conquistado por tailandeses e vietnamitas,
até que em 1863, o rei cambojano Norodom aceitou para
seu país o status de protetorado francês, esperando que os
franceses o protegessem da Tailândia e do Vietnã. No ano
de 1864, Camboja passou de protetorado à colônia francesa.
Ficou sob o domínio francês durante quase cem anos, desde
1863 até 1954, quando se tornou Estado independente.
- Com a queda do príncipe Norodom Sihanouk, em
1970, a monarquia foi abolida e instaurou-se a república. O
príncipe deposto, porém, iniciou uma luta de reconquista do
trono de Camboja. Seguiram-se anos de lutas políticas internas, e o envolvimento do Camboja na guerra do Vietnã
conduziu em 1975, a tomada do poder pelo Khmer Vermelho (comunistas), sob a liderança de Pol Pot. A organização
de esquerda deslocou milhões de pessoas para o campo, e
perseguiu a população mais instruída, a elite econômica e a
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Um Olhar Sobre o Mundo
oposição ao governo.O regime caiu em 1998, época em que
Pol Pot morreu. A nação estava devastada e pobre, sem
nenhuma infra-estrutura econômica.
- O Reino de Camboja é uma monarquia parlamentar, tendo como chefe de Estado, King Norodom Sihamoni
(desde 2004) O país possui 14.701.717 habitantes em
(2011) com a composição de grupos étnicos, khmers 90%,
há também grupos chams, vietnamitas, malaios, chineses,
birmaneses, indonésios. Os khmer têm a pele escura, são de
estatura elevada, fortemente mestiçados com indonésios.
Dominaram até o século XVII, o vale inferior do Mekong.
- A língua oficial do país é o khmer, porém no comércio usa-se também o francês.A religião predominante é
o budismo theravada, mesclado com o brahmanismo, o animismo e o culto aos antepassados.Na sociedade khmer os
sacerdotes têm uma situação social privilegiada. Os malaios
e chams praticam a religião muçulmana.
- O Reino de Camboja possui uma área de 181.035
km², sua capital é a cidade de Phnom Penh com 1.562 498
habitantes (2.010), situada na confluência dos rios TonléSap e de Mekong. As cidades principais são Phnom Penh,
Batambang, Kompomg Cham, Sihanoukville, Kompong
Thom. Seu porto principal é Sihanoukville no golfo de Sião, e o porto de Phnom Penh no Mekong.Camboja faz fronteira ao Norte com Laos e Tailândia, a Oeste com Tailândia, a Leste com Vietnã, e à Sudeste com Golfo do Sião.
- Dois elementos morfológicos bem definidos caracterizam o território cambojano: a depressão central atravessada pelo rio Mekong, e a orla montanhosa. Esta compreende varias cordilheiras e planaltos. A noroeste na fronteira com a Tailândia, estende-se o planalto de Khorat, a
Cordilheira do Elefante, os montes Cardamomos, o Kirirom. Erguendo-se abruptamente entre o interior e a costa,
contribuem para isolar o litoral do resto do país.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Contrastando com a orla montanhosa, a grande depressão interior forma uma espécie de bacia e ocupa três
quartas partes do Camboja. É uma zona situada a poucos
metros cima do nível do mar, mas que apresenta elevações
em vários pontos, em particular na região central dos lagos,
no Grande Lago ou Tonlé Sap e Pequeno Lago.Numerosos
cursos de água atravessam a planície pantanosa, convergindo para o Grande Lago, de 150 km de comprimento e 35
km de largura.
- A planície de Phnom Penh é um pouco mais elevada, banhada pelo Mekong e pelo Bassac, braço ocidental
do Mekong, e pelo Tonlé Sap, emissário do Grande Lago.
Esta planície é pontilhada de lagoas. A faixa costeira de 450
km de extensão é formada por um conjunto de planícies
mais ou menos pantanosas. De modo geral, o clima do
Camboja é tropical, quente e úmido, mas nas planícies chega a ser árido. Nas montanhas da faixa meridional, mais
regadas, abundam os bosques tropicais, de teca, pimenteira,
cardamomo, a árvore de resina e de laca, das quais restam
ainda no país 59,2% ao todo.
- Já nas zonas regularmente inundadas das planícies
predominam as plantas baixas e aquáticas, e nas elevações
bosques pouco desenvolvidos. A fauna que vive nas florestas tropicais é da mesma espécie que povoa a Índia, de tigres, leopardos, rinocerontes, elefantes, bois selvagens,
macacos, crocodilos e serpentes. O búfalo é um animal destinado para o trabalho típico na região dos arrozais.
- O rio Mekong nasce nas geleiras do Tibet, nos cumes do monte Chomo Lhari a 7.313 m de altura, tem 4.425
km de comprimento, é o grande rio do Camboja e um dos
maiores da Ásia. Suas águas brotam nas alturas do Himalaia, em diversos regatos que se juntam formando o rio, o
qual durante o trajeto apresenta várias grandes quedas, somente tornando-se navegável a partir de Luang Prabang
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Um Olhar Sobre o Mundo
no Laos. Seu delta, no Vietnã, é a terra de cultura do arroz
por excelência.
- Em meados de junho, as neves derretidas do Tibet
e as chuvas que caem sobre as montanhas da China e do
Laos começam a inflar o curso do Mekong. Então o seu
leito torna-se quatro vezes mais alto e seu nível alcança 12
metros acima do usual. A enorme massa de água submerge
o país, mas não provoca catástrofes. Cerca de 20.000 km²
ficam cobertos pela água, da qual emergem as aldeias construídas sobre palafitas ou assentadas também em palafitas
nas margens elevadas dos rios.
- O Mekong atravessa o Camboja, num curso de
500 km e deságua por um largo delta no sul do Vietnã, no
Mar da China Meridional, deixando uma vasta camada de
limo, extremamente importante para a cultura do arroz É
um rio caudaloso, com mais de 14 m de profundidade. Na
época das cheias as águas do Mekong penetram pelos canais construídos entre as casas inundando e fertilizando o
solo. Além disso, as inundações trazem grandes quantidades de peixe, que constituem um componente básico da
alimentação dos cambojanos.
- Dada a absoluta relevância das atividades agrícolas, 87% da população cambojana vive nos campos, agrupada em aldeias, em pequenas casas que se elevam acima
do solo sobre palafitas, a fim de proteger-se das inundações.
A produção agrícola consiste principalmente em arroz que
ocupa quase 80% da área cultivada. Camboja e a Tailândia
sugerem o cultivo do arroz já em 6.000 a.C. Os arrozais se
estendem quase ininterruptos pela planície de Phnom Penh
e pela zona dos lagos, em particular nos arredores da cidade
de Battambang. Phnom-Penh é o centro artesanal da seda,
onde são fabricados tradicionalmente tecidos primorosos e
de grande aceitação no mundo ocidental.
Monika Gryczynska
204
Um Olhar Sobre o Mundo
- Ao lado da agricultura prospera a pecuária. Há
considerável criação de bovinos, suínos e búfalos, a maioria
para exportação, pois os cambojanos não consomem carne
que é proibida pela religião budista, assim, a dieta da população é constituída praticamente de arroz e peixe. O Camboja é a mais rica região do Sudeste Asiático em peixe de
água doce. Existem grandes plantações de seringueira,
muito importante para as exportações.
- É cultivado também o milho, feijão, soja, gergelim, pimenta, fumo, mandioca, batata-doce, amendoim,
cítricos, se cultivam também a cana-de-açúcar, e a palmeira
açucareira. O único minério explorado é o fosfato, industrializado em fábricas estatais. O Camboja exporta essencialmente arroz, borracha, madeira e gado. Importa, sobretudo,
produtos industrializados.
- O grande Lago Tonlé Sap, situado no centro do país, fornece a maior parte do peixe para a população. Os pescadores constroem suas moradias em cima de grandes barcos de madeira, que flutuam sobre o lago. Nessas casas
eles moram com suas famílias, pescam e vivem durante
toda a vida.Durante as chuvas das monções quando as águas do lago sobem, eles são obrigados a deslocar suas cabanas para lugares mais seguros. O sonho desses pescadores é possuir uma casa em terra firme, na beira do rio.
- O principal problema ambiental é a devastação ocasionada por produtos químicos (agente laranja), desfolhantes espalhados nas florestas do Camboja, do Laos e do
Vietnã, pelo exército norte-americano, durante a Guerra do
Vietnã (1959 a 1975). Pela explosão de bombas e minas
jogadas durante a guerra, que ainda hoje mutilam ou matam
a população do meio rural. O mesmo problema causou a
perda de aproximadamente três quartos da fauna do país.
- Analisando, chega-se à conclusão de que todas as
guerras são injustificáveis. As guerras de conquista da AnMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
tiguidade, as Cruzadas, a Primeira e a Segunda Guerra
Mundial, a do Vietnã, do Iraque, do Afeganistão, as guerras tribais da África e a recente guerra do petróleo na Líbia.
- O que ocorre de fato é a torpe manipulação moral
por parte de uma liderança gananciosa sem consciência e
nenhum escrúpulo. Sem avaliar o aniquilamento de milhões de pessoas nessas sórdidas desavenças. Pessoas que
tiveram o infortúnio de terem nascido na época atual, em
que os antigos valores estão morrendo, indubitavelmente
sem chance de serem recuperados - opinou tristemente o
monge budista. Despediu-se dos pesquisadores com uma
inclinação de cabeça, dizendo:
- Sugiro-lhes para que, no Campus da Universidade
Nacional de Laos, em Vientiane, procurem pelo professor
Suliya Nosowam, ele poderá acompanhá-los e orientá-los
na visita à Laos, o próximo país que vão visitar,desejo-lhes
uma viagem proveitosa.
REPÚBLICA POPULAR DEMOCRÁTICA DO LAOS.
A despedida e o comentário final do monge budista
encheram de tristeza os nossos viajantes. Mas não podiam
desanimar, pois estavam perto de terminar a tarefa que se
impuseram. O trabalho se balizava nas pesquisas sobre o
Sudeste Asiático, portanto, iam prosseguir a viagem. Dirigiram-se ao aeroporto de Pochentong em Phnom Penh, para
comprar as passagens de avião que os levaria à cidade de
Vientiane, capital de Laos.
Embarcaram no avião da Lao Airlines às seis horas
da manhã.O dia estava claro e o céu azul. O vôo teve a
duração de duas horas, emocionantes, pois voaram sobre
regiões de montanhas, rios e imensas florestas. No aeroporto, entre os passageiros, desfilavam vários militares de uniformes azuis e quepes vermelhos. Rodrigo e Álvaro passaMonika Gryczynska
206
Um Olhar Sobre o Mundo
ram no Departamento de Imigração para carimbar os passaportes e liberar as bagagens, em seguida tomaram um táxi
tuk-tuk que os levou ao hotel Cosmo Vientiane, situado no
centro da cidade.
No outro dia, já descansados da viagem, se dirigiram ao Campus da Universidade de Vientiane a procura do
professor Sulyia Nosowam. Não demorou e logo lhes foi
apresentado o Biólogo indicado pelo monge budista. Por
sorte o professor dominava a língua inglesa perfeitamente,
portanto, não foi difícil entender-se com ele. Era um homem de meia idade, magro e alto, de origem chinesa, e
como tal estava sempre de sorriso nos lábios.
- Estamos em viagem de estudos sobre o Sudeste
Asiático – informou Álvaro – o senhor poderia acompanhar-nos nessas pesquisas?
- Gosto desse trabalho, de pronto aceito a proposta
de orientá-los nas visitas de conhecimento sobre o país.
Começaremos pela geografia de Laos, depois iremos explicando a história da região. Estou em férias, portanto, nada
me dará tanto prazer como acompanhá-los. Sobre a remuneração falaremos depois - disse o professor Sulyia.
- O território do Laos se estende por uma superfície
de 236.800 km², limitando-se a leste com o Vietnã, a oeste
com a Tailândia e a noroeste com Mianmar (Birmânia), ao
norte com a China e ao sul com o Camboja. O Alto Laos é
montanhoso, constituindo um prolongamento do Yunnan
chinês e do planalto birmanês do Shan É de estrutura complexa e agitada, de aspecto mais jovem. Pertence ao embasamento antigo, como a cordilheira do Vietnã, mas tem
sofrido fortemente, na Era Terciária, as pressões dos dobramentos do Himalaia, a base primitiva tem-se elevado
novamente cinco centímetros por ano.
- Ao Norte o maciço do Alto Laos alcança as maiores altitudes, superiores a 2000 m e alterna as cadeias esMonika Gryczynska
207
Um Olhar Sobre o Mundo
carpadas com cumes agudos, fendas e vales encaixados.
Nos Montes de Luang Prabang, o maciço de Pou-Koum
(2100m), e uma grande estrutura de rochas vulcânicas com
direção Nordeste-Sudoeste, que forma fronteira com a Tailândia. Das montanhas do Noroeste e do planalto de Xiangkhoang, o país estende-se para Sudeste, seguindo a linha da
Cordilheira Ananítica, que culmina com Atouat (2500 m).
- No Laos há o predomínio de planaltos elevados
com formações cristalinas e arenitos, que caem suavemente
para Oeste ao encontro da vasta e fértil planície inundada
pelo Mekong. Uma larga faixa de quase 800 km que proporciona a única terra baixa para a agricultura de subsistência, o intenso cultivo de arroz, de milho, vegetais, café e
algodão. As regiões de terrenos aluviais planos, que ocupam os baixios a margem dos rios, como, em Luang Prabang, que se prolonga em 600 km ao longo do Mekong, e a
meridional a margem de Camboya, são os centros vitais
desse país pobre e montanhoso.
- Vários rios cruzam o país para ocidente desde a
Cordilheira do Alto Laos até o rio Mekong, que forma a
fronteira oeste. Os acentuados relevos desta região apresentam numerosos vales por onde correm cursos de água que
confluem para o Mekong, cuja bacia se situa em grande
parte em território laociano, atravessa o país em cerca de
1.800 km, dos seus 4500 km de curso.Nasce nas montanhas
do Tibet, ao entrar em Laos atravessa uma série de gargantas selvagens e corre pelas planícies e vales alargando seu
leito, quando forma trechos navegáveis separados por seções de cachoeiras, devidas aos desníveis provocados pelo
levantamento do terreno acidentado.Seu caudal é abundante, se alimenta das neves tibetanas e das chuvas de monções
de verão.
- A presença humana no Laos data de tempos préhistóricos, mas a formação de uma nacionalidade laociana é
Monika Gryczynska
208
Um Olhar Sobre o Mundo
um fenômeno relativamente recente. O território da atual
República do Laos foi invadido a partir do século IV, pelos
mong vindos da China e pelos khmer.A língua hmong é o
nome comum dado a um grupo de dialetos do ramo ocidental falado pelos mong das regiões chinesas de Sichuan,
Yunnan,Ganzhou, Guangxi,norte do Vietnã, na Tailândia e
no Laos.
Os diversos reinos que floresceram começam a ser
suplantados pelos povos de origem chinesa dos ramos thai e
lao no começo do século XIII, em virtude das invasões
mongóis na China. Organizados em tribos e miscigenados,
deram origem aos laocianos. Mas, logo após sua instalação
no primitivo território do Laos, sofreram por muito tempo a
dominação dos khmers do Camboja.
- A região que hoje é o Laos foi dominada pelo rei
Nanzhao até o século XIV, sucedido pelo rei Lang Xang.
Tendo sido o território do Reino de Lang Xang (o Reino de
Um Milhão de Elefantes), governado pelo príncipe FaNaum, os laos chegaram a formar um reino independente,
com a capital em Luang Prabang. Laos enfrentou as ambições dos vizinhos mais poderosos como Birmânia, Tailândia, Camboja e Vietnã, que o dominaram alternadamente no
decorrer dos próximos séculos.
Apesar disso, no começo do século XVII, sob o reinado de Sourigna Vongsa, o Laos conheceu um longo período de paz e prosperidade. Mas com a morte deste soberano, em 1664, uma grave crise política se seguiu, o reino
Lang Xang acabou dividido em três principados rivais, que
guerrearam entre si e acabaram dominados pela Tailândia.
Os governantes de Luang Prabang tornaram-se fantoches
do poder tailandês. Um dos Reinos, o de Vientiane se estabeleceu em 1707, na cidade de Vientiane, e se proclamou
sucessor do reino de Lang Xang, do qual se separaram os
reinos de Luang Prabang e Champassak.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- O último rei de Lang Xang e primeiro da nova dinastia, Setthathirath II, decidiu converter o reino em um
Estado vassalo de Sião e de Vietnã.O último rei Anouvong
que foi uma vez aliado do Reino de Sião, decidiu declarar
guerra contra Sião, em 1826-1828, pleiteando a independência do seu reino, foi derrotado por Rama III, Vientiane
foi saqueada, destruída e anexada ao Reino de Sião.
- As agressões dos vizinhos mais poderosos tem sido um fato constante em sua vida. A França depois de impor sua hegemonia sobre o Vietnã e o Camboja, dominou
também o Laos, que em 1883 se tornou um protetorado
francês, incorporado á Indochina Francesa. Atrasado, dividido e desorganizado o Laos viveu os anos da dominação
francesa sem possibilidade de recuperação, e só com o fim
da Segunda Guerra Mundial alcançou a independência em
1954, dentro da União Francesa. Foi disputado em combate
por realistas, comunistas e conservadores desde 1964.
- Em 1964, a Força Aérea americana, já profundamente envolvida na Guerra do Vietnã, começou a bombardear a faixa oriental do território, controlada por Pathet Lao
(Laos Livre, dominado pelo partido comunista).Os americanos construíram aviões especializados para bombardear
as nuvens com produtos químicos (Projeto Cumulus), (na
chamada “Trilha de Ho Chi Minh”) provocando chuvas
torrenciais e ampliando por três meses a mais as chuvas de
monções, formando lodaçais nas estradas, com o fim de
impedir o abastecimento dos guerrilheiros Vietcongs.
- Outras conseqüências da guerra agravaram ainda
mais a situação, como o grande número de refugiados que
abandonaram suas aldeias e plantações. As devastações
provocadas pelo desfolhante (agente laranja) jogado nas
florestas pelos bombardeiros americanos, provocaram danos incalculáveis no território do Laos, Camboja e Vietnã.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Além das desvantagens de um território montanhoso, alongado e sem saída para o mar, o Laos tem enfrentado
conflitos políticos tão graves que praticamente ainda não
lhe permitiram nenhum momento de paz, é o país mais pobre da região. Na década de 70, o orçamento laociano chega apresentar um déficit de mais de 50%, coberto pela ajuda
americana, mais do que obrigatória como reparação parcial
dos danos causados durante a guerra.
- Os conflitos internos e a guerra do Vietnã conduziram a economia do Laos a uma situação catastrófica. As
sucessivas invasões e lutas contribuíram para que a nação
seja a mais pobre da Ásia. Em 1975, é proclamada a República e instalado o governo comunista Pathet Lao apoiado
pelo Vietnã e pela União Soviética, destronando o governo
do rei Sisavang Vong, apoiado pela França e pelos Estados
Unidos.Nas eleições de 2006, foi eleito como presidente da
República Socialista de Laos e Secretário-geral do Partido
Popular Revolucionário, Choummaly Sayasone.
- Pouco favorecido por sua posição geográfica e
marginalizado durante a ocupação francesa, o Laos carece
quase que totalmente da infra-estrutura básica. Sua economia é tipicamente de subsistência, baseada numa agricultura que ainda não ultrapassou o estágio da exploração familiar e à qual se dedica mais de 80% da população. No entanto, a produção do arroz não chega a cobrir as necessidades
de consumo.
- O Budismo contribuiu significativamente para a
cultura do Laos. Ele se reflete por todo o país não apenas na
religiosidade, mas também nas artes, literatura, música,
dança e teatro.Os laocianos vivem em aldeias agrupadas em
torno de um templo budista.Junto ao povoado encontram-se
os campos cultivados com arroz, cana-de-açúcar e milho.
Além do arroz os laocianos plantam mandioca, batata e
legumes. Quanto às agriculturas industriais, assume imporMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
tância o café. As exportações são constituídas pelo estanho,
madeira, café, resinas, couros, peles, látex. São importantes
ainda o algodão, fumo, amendoim, chá e o cardamomo.
- Merece ser citado também o cultivo ilegal da papoula (papaver) para produção do ópio e heroína, praticado
por tribos montanhesas nas fronteiras da Tailândia e Mianmar e controlado por traficantes e contrabandistas. O Laos é
o terceiro produtor de ópio do mundo. A pesca fluvial proporciona, depois do arroz, o segundo elemento mais importante na alimentação do povo laociano.
- Com uma população de 6,3 milhões (2011), Laos
não apresenta homogeneidade étnica. Os laosianos compõem 50 % da população, thais 20 %, futeus, miaos, mongues, vietnamitas, chineses, indianos e paquistaneses 30 %
O idioma oficial é o laosiano, mas é falado o francês, chinês
e línguas regionais. Professam o budismo theravada 50,4 %
da população, crenças tradicionais 44,6 %, outros 5 %. A
capital do país é a cidade de Vientiane (831.472) (aglomeração urbana, 2010), são importantes as cidades: Luang
Prabang, Savannakhét, Pakxé, Xam Neua.
- Laos é uma nação sem saída para o mar, devido a
seu isolamento o país conserva tradições muito antigas. Em
festas religiosas, elefantes enfeitados desfilam por ruas da
capital Vientiane. O transporte de pessoas é feito amplamente por taxi tuk-tuk, que são motos ou triciclos adaptados,para receber uma pequena carroceria usadas no transporte de passageiros.O tuk-tuk substituiu o tradicional jinriquixá, amplamente utilizado nos países do Extremo Oriente, onde as leves cadeirinhas eram puxadas por um homem a pé. Laos possui importante Patrimônio Cultural da
Humanidade declarada pela UNESCO, como o templo de
Wat Xieng Thong construído em 1560, a cidade de Luang
Prabang e os antigos povoados e vilas da época do Império
Khmer, em Champassak.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- O nome da cidade de Vientiane é derivado de Pali,
(sânscrito) a língua litúrgica do budismo Theravada. Significa “Cidade de Sândalo”.Tendo recuperado o reino Muang
Suá em 1354, Fa Ngun fundou a dinastia de Lang Xang.
Vientiane tornou-se uma importante cidade administrativa,
mas não a capital do reino. Em 1563,o rei Setthathirath II,
declarou-a oficialmente como a capital de Lang Xang.
- Quando o reino de Lang Xang se dividiu em 1707,
Vientiane tornou-se um Reino independente, em 1779, foi
conquistada pelo general siamês Phraya Chacri e passou a
vassalo de Sião.Na ocasião em que o rei Anouvong rebelou-se contra Sião, em 1827, a cidade foi destruída pelo
exercito, toda a população morta ou aprisionada. Vientiane
ficou esquecida, desabitada e tomada pela floresta durante
70 anos. Quando em 1893, chegaram os franceses, Vientiane e seus templos budistas, como Pha That Luang e Haw
Phra Kaew, foram reconstruídos e Vientiane tornou-se a
capital do Protetorado Francês de Laos em 1899.Os franceses deixaram na cidade muitas belas construções coloniais.
- Vientiane cidade com (831.472) habitantes, é a capital de Laos um país pouco povoado com 6,368.162 habitantes (2011), tomado por florestas e montanhas. Ao contrário das outras capitais do Sudeste Asiático, que costumam
ser caóticas, Vientiane é tranqüila, com ares de cidade interiorana. Os dois exploradores brasileiros foram conhecer
um pouco da cidade, onde iriam passar alguns dias. Alugaram um tuk-tuk e foram ver o espetacular monumento Pha
That Luang, talvez comparável ao indiano Taj Majal.É uma
estupa gigantesca, toda de ouro de 45 metros de altura, em
forma de flor de lótus, tal maravilha domina uma grande
área dedicada ao Budismo. O original foi construído em
1566, pelo rei Setthathirath, e foi restaurado em 1953.
- Muang Suá era o antigo nome de Luang Prabang,
após a conquista em 698 d.C. pelo príncipe thai Khun Lo,
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
que tinha herdado a cidade de seu pai Khun Boron. Khun
Lo estabeleceu uma dinastia cujos 15 governantes reinaram
sobre Muang Suá independente por um século. Na metade
do século VIII, o rei de Nanzhao ocupou Muang Suá. A
expansão para o norte do Império Khmer sob Indravarman
I, se estendia aos territórios do Alto Mekong. Os reis Khmer fundaram um posto avançado no Xay Fong perto deVientiane e o reino Champa expandiu-se no sul de Laos, mantendo sua presença no Mekong até o ano de 1070.
- Muang Suá esteve por um breve período sob a soberania Khmer de Jayavarman VII (1185-1191), no entanto,
em 1238, recuperou sua independência dos Khmer.Os
mongóis que destruíram Nanzhao em 1253, e tornaram-no
como província de seu Império, exerceram influencia política decisiva no Médio Vale do Mekong.A suserania mongol era impopular em Muang Suá.
- Luang Prabang é uma pequena cidade, com uma
população de cerca de 47.510 (2011) habitantes. Situada na
região montanhosa do norte de Laos, em uma península
formada pelo rio Mekong e seus afluentes, o Nam Khan e
Hop Kual, em uma bacia de argila rodeada por colinas calcárias verdejantes que dominam a paisagem, situada a 425
km da capital Vientiane.Antiga capital e importante centro
histórico e religioso.
- Até o final do século XII, era chamada de Xieng
Don, tornou-se a capital do poderoso reino de Lang Xang,
cuja riqueza e influência pode ser atribuída à localização
em uma encruzilhada na Rota da Seda, e como centro do
Budismo na região.Permaneceu como capital até 1560,
quando o centro administrativo passou para Vientiane, foi
nessa época que recebeu o nome de Luang Prabang.
- Até 1975, foi a capital real e a sede do governo
do extinto Reino do Laos. Suas ruas são recheadas de belos
casarios coloniais da época francesa, majestosos templos e
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Um Olhar Sobre o Mundo
monastérios budistas.Nos festivais Awk Phansa e Bun Nam
que acontecem anualmente para celebrar o fim da estação
de chuva, as pessoas e os monges iluminam suas casas e os
monastérios com lanternas coloridas de papel e velas durante o festival. Na ocasião da procissão grandes barcos de
papel iluminados com velas são lançados no Rio Mekong.
Ao serem informados do festival que se realizava
em Luang Prabang os pesquisadores brasileiros resolveram
viajar até aquela cidade para assisti-lo.Compraram passagens de ônibus e depois de um longo dia de viagem, sacudindo dentro do veículo, passando por estradas esburacadas
de terra, chegaram à cidade de Luang Prabang. Hospedaram-se no Villa Apey Guesthouse que oferece quartos duplos com banheiro dentro e internet wi-fi por 7,5 dólares.
Assim tiveram a oportunidade de presenciar o belo
Festival Awk Phansa e o Festival Étnico Cultural de danças
e músicas típicas; percorreram a cidade e visitaram os antigos templos budistas, onde vivem monges vestidos em túnicas cor de açafrão, cuja presença dá às ruas um colorido
especial. Sinos e tambores tocados duas vezes ao dia, completam o clima zen da cidade.
Os monumentos históricos, como o Museu Nacional
de Luang Prabang instalado no antigo Palácio Real, as cavernas de Pak Ou e as Cataratas de Fat Kouang.O mercado
noturno na rua principal é uma festa de compras, onde pode-se escolher lindos tecidos de seda, bordados, bolsas,pinturas e artesanato em madeira.A cozinha local é tida
em alta conta, valeu a pena experimentarem carne de búfalo
grelhada e arroz com coco e erva cidreira, que foram degustar no restaurante Les 3 Nagas.
- Nesta nação governada pelo regime comunista,
implantado no país em 1975, que não facilitava nada, impondo restrições e dificuldades na locomoção de uma região para outra, primeiro, pela falta de meios de transporte
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Um Olhar Sobre o Mundo
tendo como causa as condições precárias das estradas, devido também à configuração montanhosa do território e
densas florestas.
Seu projeto básico era estudar a vida e costumes das
comunidades e aldeias dos nativos e dos povos hmongs do
Laos, habitantes das montanhas no interior do país. Como
surgiram diversos obstáculos para executá-lo, deram por
encerrada a visita ao pais.Para dar prosseguimento às pesquisas ficaram interessados em ver como se vivia no país
vizinho, Vietnã, também governado pelo mesmo regime
comunista. Portanto, voltaram à cidade de Vientiane para
comprar as passagens aéreas para a capital do Vietnã.No
outro dia ás 6 horas da manhã embarcaram no avião da Air
Ásia no aeroporto de Wattay, com destino à Hanoi.
- Professor Sulyia, estamos muito gratos pelas preciosas informações que deu a nós a respeito de Laos. O
senhor aceitaria prolongar a sua eficiente atuação e guiarnos, inclusive no Vietnã? – propôs Álvaro.
- Aceito de bom grado, gostei da aprazível companhia e de trabalhar com vocês – respondeu o professor, e
apertou a mão dos dois em aprovação.
REPÚBLICA SOCIALISTA DO VIETNÃ
Viajaram para Hanói, o jornalista Álvaro, o biólogo
Rodrigo e o professor de Biologia da Universidade de Vientiane, Sulyia Nosowam, que conhecia profundamente Vietnã, pois tinha residido no país quando criança e depois visitado diversas vezes. A distancia entre as duas capitais era
cerca de 600 km, portanto levaria mais ou menos uma hora
de viagem. Chegaram a Hanói á tarde, hospedando-se no
aprazível “Hotel Saigon”, de administração estatal, lugar
preferido dos estrangeiros que vinham ao país.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Vocês estão com energia e disposição para caminhar ou preferem pedalar em bicicletas alugadas para visitar
as múltiplas atrações da cidade de Hanói?- perguntou o
professor Sulyia.
- Vamos alugar as bicicletas – disse Rodrigo.
- Começaremos as visitas pelo Museu Nacional da
História Vietnamita, depois iremos ao Museu Nacional de
Belas Artes do Vietnã, ao Museu de Etnologia do Vietnã
onde os senhores poderão estudar a história do povo vietnamita e sua cultura, visitaremos o Museu Ho Chi Minh e o
Museu de Hanói, visitaremos a Casa de Ópera, o Templo da
Literatura e a Universidade de Medicina de Hanoi. Iremos
apreciar os belos monumentos e templos budistas, a Catedral St. Joseph, o Pagode Fran Quoc e as ruas do setor antigo, cinemas, teatros, bares, discotecas, Galerias de Arte e
os modernos Shoping Centers da cidade, que são quase
todos de influência chinesa.
- A capital da República Socialista do Vietnã, a cidade de Hanói, está situada na margem direita do Rio Vermelho, a 88 km da costa do Golfo de Tonkin, onde fica o
importante porto de Hai Phong.É centro cultural mais importante do Vietnã.Tem sido também a capital histórica do
país; em 1882 de Tonkin; em 1887 da Indochina Francesa;
e desde 1976 da República Socialista do Vietnã.
- Hanói está rodeada por uma ampla cintura agrícola
e nos finais do século XX,a cidade registrou um próspero
desenvolvimento na industria e no setor terciário.Possui
importantes indústrias têxteis, do vestuário de algodão e
seda, cerâmica, metalurgia, setor mecânico, elétrico, químico, de cimento, alimentar,vidro,madeira e construção naval.
- A cidade de Hanói foi habitada desde cerca de
3.000 a.C. Um dos primeiros assentamentos na região foi a
Cidadela de Co Loa fundada em 200 a.C.Durante a dominação chinesa do Vietnã, a cidade era conhecida como
Monika Gryczynska
217
Um Olhar Sobre o Mundo
Tông Binh. Em 866, ela foi transformada em uma cidadela
e passou a se chamar Dai La, e em 1010, Ly Thai To governante da dinastia Ly mudou a capital do seu reino para
Dai La.Em 1408, a dinastia chinesa Ming atacou e ocupou
o Vietnã.Em 1831, o Imperador Nguyen Minh Mang a reno
meou para Hà Nôi, foi ocupada pela França em 1873. Hanói tornou-se a capital da Indochina Francesa após 1887.
- Hanói possui uma população de 2.814.000 (aglomeração urbana) (2010). Comunica-se por estrada de ferro
com o porto nacional de Haiphong (população 1.970.000), a
cidade fica a 25 m acima do nível do mar, serve de entrada
para o Yunnan chinês, que o une a outro canal. Aeroportos
principais: Gia Lam (Hanói);Vinh; Dong Hoi.
- A cidade Ho Chi Minh City ex-Saigon (6.167.000)
(aglomeração urbana), (2010) a metrópole emblemática e
famosa, é a maior e mais populosa do país.Situada à margem do rio Saigon, se encontra a 80 km do mar, rodeada
por montanhas e colinas.Rodando pela cidade em bicicletas
alugadas os dois pesquisadores brasileiros queriam apreciar
os belos monumentos e templos budistas como Tam Sin
Hôi, o Thiê Hân e o Nghua An Hôi, e a igreja de São Francisco Xavier, visitaram também o Pagode de Giac Lam.
Não podiam deixar de conhecer o Mercado de Cholón, para
comprar alguma coisa, existem ali artigos exóticos em profusão, objetos inacreditáveis,que deixam as pessoas extasiadas - informou professor Sulyia.
***
Ligada por um canal com o delta do Mekong, Saigon era um antigo povoado, chamado Ben Nghe, cresceu
com a chegada dos franceses a partir de 1859.A cidade é
um centro comercial muito movimentado, passou de um
povoado tranqüilo de pescadores a uma grande metrópole,
com largas ruas e avenidas, cortadas em ângulo reto, belos
edifícios públicos e privados, e inumeráveis parques e jarMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
dins.Aeroporto principal Tan Son Nhut a 5 km de Saigon.
Aeroporto Da Nang (Tourane) e da cidade de Hué.
- Possui estaleiros navais, fábricas de produtos alimentícios e uma próspera indústria têxtil. A cidade enfrenta
graves problemas sociais, como conseqüência da guerra que
devastou a região e deslocou para lá milhares de refugiados.
Cho Lon é o principal centro industrial do Vietnã, está ligado administrativamente a Saigon com a qual forma uma
área metropolitana. Seu porto moderno, bem equipado, exporta arroz, copra e borracha.
- O Vietnã é um país asiático, situado no ângulo direito da península da Indochina, em forma de arco côncavo
de frente ao Golfo de Tonkin. Faz fronteira, a oeste, com o
Laos e com o Camboja, a leste com o Golfo de Tonkin e o
Mar da China Meridional, ao norte com a China e a sudoeste com o Golfo da Tailândia. Possui um território longo e
estreito com área de 331.689 km². Com uma espinha dorsal
montanhosa, se estende por 1.500 km ao longo do litoral do
Mar da China Meridional, desde a fronteira com a China ao
norte, até o Golfo da Tailândia no extremo sul. A população
atual do país é de 88,8 milhões (2011) de habitantes.
- As características predominantes da região, é o litoral baixo, recortado e com ilhas, maciços montanhosos ao
norte, Cordilheira Annamita a oeste, planícies costeiras de
Tonkin ao centro a leste e o delta do Rio Mekong, ao sul.
Os maciços do norte pertencem à Época Primária; na Era
Terciária sofreram pressões dos dobramentos do Himalaia,
ocasionando a renovação de formas. O embasamento antigo
foi levantado de novo com o acúmulo e a cobertura com
sedimentos, que voltaram a enrugar-se, intercalando entre si
pequenas planícies de terrenos aluviais.
- As planícies do litoral são obras das enxurradas e
dos conseqüentes depósitos aluviais do Song-koi ou Rio
Vermelho e seus afluentes, e das torrentes que descem dos
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Um Olhar Sobre o Mundo
planaltos de Laos. Os maciços do Norte são complexos e
escarpados. Alternam picos agudos e vales estreitos. O FanSi-Pan (3178 m) é o cume mais alto do território de Vietnã.
- A porção Sudoeste do país se acha acidentada pela
Cordilheira Annamita que corre paralela à costa, formada
por uma série de maciços mais ou menos largos, separados
por passagens estreitas, que se inclinam com mais amplitude em direção ao Laos meridional. Os montes annamitas
são formados por xistos cristalinos e rochas metamórficas.
O granito é abundante na parte meridional, enquanto na
setentrional há formações calcárias da Era Primária.
- As comunicações entre Vietnã e Laos são difíceis;
o Col-Um-gia, a “Porta de Laos” a somente 412 m de altura, tem sido a passagem tradicional desde o litoral até o
planalto laosiano. A linha do litoral é baixa e pantanosa, se
exclui somente uma extensão, desde a fronteira chinesa até
a baía de Along, onde várias baías abrigam bons portos.
Situado na zona tropical, o Vietnã é um país de clima
quente e chuvoso. Sob a influência das monções, suas estações se distinguem entre si mais pelo regime das chuvas do
que pela variação da temperatura.
- Predominam as florestas tropicais e a rede hidrográfica é muito rica. Os rios principais são: Song-koi ou Rio
Vermelho, ao norte, tem suas nascentes no planalto de
Yunnan, na China, a 2.000 m de altitude, percorre 1.200
km dos quais 670 em território vietnamita. A 150 km do
mar une-se com os rios, Negro e Claro. Desemboca no Golfo de Tonkin, formando, antes, um grande delta. É um dos
mais pródigos rios do mundo, pois chega a levar 7 a 8 kg
de limo por m³ de água. Este limo, que apresenta uma cor
avermelhada lhe confere o nome. As planícies tonkinesas
são ricas em agricultura, suas terras estão cobertas por arrozais, regadas pelas águas do Rio Vermelho.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- O território do Vietnã é banhado pelos rios Krong,
Da Rang, Ma, Ca, Ba, Hau Giang, Dong Nai, San, Srepok,
e o Mekong, que nasce nos montes Tangulha no Tibet,
atravessa várias províncias chinesas, faz fronteira entre Mianmar e Laos, e entre este país e Tailândia, atravessa o
Camboja, penetra no território vietnamita onde seu curso é
de apenas 220 km, de um total de 4500 km de extensão.
- O Mekong está dividido em dois braços - o Tien
Giang e o Bassac - cujas águas se espalham por uma rede
de canais, que terminam em nove braços secundários, denominados Nove Dragões pelos vietnamitas. Forma uma
bacia fluvial de 810.000 km², desemboca no Mar da China
Meridional, em um amplo delta que abrange uma área de
cerca de 600 km, a qual cresce continuamente devido aos
depósitos de aluvião transportados pelo grande rio.
- Os vietnamitas, de pele amarela e de olhos oblíquos, são duros e resistentes, trabalhadores esforçados na
agricultura e bons operários na indústria. Formam o grupo
étnico predominante, correspondendo a 88% da população,
no entanto, grupos montanheses, compostos por várias etnias do sul da Ásia – han, thai, khmer, mong, meo, miao, yao,
moi, formam o restante. Eles conservam usos, tradições,
métodos do cultivo da terra e formas de organização sociais completamente distintos dos vietnamitas. Existe uma
importante colônia de chineses.
- A religião principal e o budismo, 50% da população professa essa crença, mas há também adeptos do taoísmo, do confucionismo e minorias católicas. O regime
comunista que vigora atualmente desestruturou estas crenças tradicionais. O idioma oficial é o vietnamita, mas os
diferentes grupos étnicos que vivem nas montanhas falam
suas línguas próprias. As principais são o cham, khmer e o
rhade, mas fala-se também o francês, inglês e o chinês.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Vietnã significa “Viets (uma etnia do sul)”, no antigo idioma annamita. Os atuais vietnamitas surgiram entre
o Neolítico e a Idade do Bronze, como resultado da miscigenação de grupos étnicos mongólicos e indonésios, instalaram-se na Península da Indochina por volta do século III
a.C. Mas foi somente no ano 208 a.C. que se estruturou a
organização social estável, que passou à história com o nome de Reino de Nam Viet. Entretanto, a vida desse reino foi
efêmera, pois em 111 a.C. ele foi conquistado pelo imperador chinês Wou Ti, da dinastia dos Han O domínio chinês
perdurou por mais de dez séculos, até o ano 939 d.C. quando uma revolta põe fim à ocupação chinesa, e estabeleceu a
dinastia Ngô..
- O país alterna, a partir desta data, períodos de independência com outros em que é vassalo da China. Entre
os vários reinos da região, os mais importantes são o de
Anã, que inclui o Golfo de Tonkin até o centro da Península. Os Cham se estabeleceram na região central do território
e fundaram o reino de Champa. No sul, na região do delta
do Mekong, fundaram-se o reino do Fu-Nan, que deu origem ao reino dos Khmer, ascendentes diretos dos cambojanos. No século XII, rechaçaram os mongóis de GêngisKhan e seu neto Kublai Khan, quando estes dominavam o
mundo asiático. No século XVIII, expulsaram os khmers.
- Mudanças políticas nos séculos XIV e XV, foram
seguidas de avanços religiosos e culturais. No Vietnã assistiu-se ao fortalecimento da sabedoria confucionista, apesar
da repetida tentativa chinesa de reconquista sob a dinastia
Ming. A influência cultural chinesa limita-se ao Vietnã,
mas sob os Ming o sistema de relações tributárias foi reativado e fortalecido. O almirante Heng Ho, muçulmano, fez
várias viagens aos mares do sul.
- Em 1511, quando os europeus tomaram Málaca, o
Sudeste Asiático já assumia o padrão moderno de culturas e
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Um Olhar Sobre o Mundo
nações. Em 1558, o Reino de Anã divide-se, enquanto os
governantes de Champa mantêm o controle sobre o delta do
rio Mekong, no sul. O Reino de Anã unifica-se novamente
em 1802, e a partir da sua capital Hué, abarca todo Vietnã.
- Hué, a antiga capital do Império Anamita,está localizada ás margens do Huong Giang (rio dos Perfumes), a
15 km do mar. Foi importante centro político e cultural.
Possui a cidadela, com as fortificações construídas no século XIX. Nesta área estão situados, o palácio, os templos, os
ministérios e outros edifícios públicos. Nas proximidades
da cidade estão os túmulos dos imperadores, que se destacam pela sua beleza e suntuosidade. Os sinais da guerra
podem ser vistos nos danos causados aos antigos monumentos. Conta com importantes instalações especializadas
na fabricação de objetos artísticos de vidro e marfim.
- O período dinástico terminou no século XIX,
quando o país foi colonizado pela França em 1858. Em
1884, forma-se a União da Indochina, que reúne sob o jugo
colonial francês, a Cochinchina, Anã, Tonkin e Camboja.
Mais tarde o Laos também passa a fazer parte da União.Um
movimento político nacionalista logo surgiu, com líderes
como Phan Boi Chau, Phan Chu Trinh, Phan Dinh Phung,
imperador Ham Nghi e Ho Chi Ming lutando e clamando
por independência do país.
- No entanto, os movimentos de resistência foram
sufocados e o controle francês foi mantido em suas colônias
até a Segunda Guerra Mundial, quando a Guerra do Pacífico levou à invasão japonesa da Indochina Francesa em
1941. Em 1954, foram firmados acordos que estipulavam a
retirada dos franceses e a realização de eleições gerais. Em
1960, organizações hostis ao regime de Ngo Dinh Diem,
instalado pelos Estados Unidos, em Saigon, se uniram na
Frente de Libertação Nacional, conhecidos como Vietcongs, os guerrilheiros.
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Um Olhar Sobre o Mundo
- Iniciou-se a resistência contra os sucessivos governos militares de Saigon e, sobretudo contra os Estados
Unidos que os apoiavam, orientavam e armavam.Os Estados Unidos se envolveram no conflito em 14 de dezembro
de 1961, por determinação do presidente John Kennedy.
Após o assassinato de Kennedy em 1963, o presidente Lyndon Johnson, que o sucedeu, envia mais tropas para combater os Vietcongs, cujo número chegou a 580 mil soldados
americanos em 1969.
- O mundo foi unânime na condenação da interferência militar dos Estados Unidos no Sudeste Asiático. Pela
carnificina que acarretou, pela dimensão de insanidade que
adquiriu, pela truculenta convocação de combatentes, pela
discutível necessidade de ter sido ela iniciada, pela hostilidade e desprezo com que os veteranos eram recebidos de
volta à pátria.Pois, a maioria dos soldados voltavam viciados em drogas, mutilados, doentes, alienados e aterrorizados com os fantasmas de crueldade da guerra.
”Todas as guerras são produzidas pelas mentes insanas de psicopatas movidos pela ambição e desejo de poder”
- A opinião pública americana se havia colocado
contra a guerra no Sudeste Asiático e protestado com veemência contra seu prosseguimento. A guerra que Kennedy
começou e Richard Nixon encerrou, assinando o acordo de
paz com o Vietnã, em 23 de janeiro de 1973,difundiu as
drogas alucinógenas como LSD, o ópio, heroína e maconha, nos Estados Unidos. A data de 14 de dezembro de
2011 marcou os 50 anos do fim da Guerra do Vietnã, mas o
tráfico e o vicio de drogas continua sendo o grande problema americano e também do mundo atual.
- Vietnã ainda sofre as conseqüências dos mais de
15 anos de Guerra (1959 a 1975) e da ação dos Estados
Unidos no conflito. A selva que os helicópteros norteamericanos sobrevoavam explodia no fogo do napalm.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Com as bombas incendiárias foram destruídas grandes áreas
agrícolas e de florestas, ainda não recuperadas. Os aviõescaças jogaram contra o Vietnã, toneladas de bombas, armas
químicas e bacteriológicas. Os Estados Unidos gastaram
mais de 150 bilhões de dólares, destruíram 70% de todos os
povoados do Norte.
- Os bombardeios norte-americanos, com o desfolhante químico “agente laranja” e do napalm, inutilizaram
mais de 10 milhões de hectares de terra. Os artefatos militares não detonados, como as minas, ainda constituem um
grave problema para o país.Com a retirada dos EUA, os
Vietcongs ocupam Saigon em 1975, pondo fim à guerra. .
- Suas reservas florestais, embora tenham sido grandemente prejudicadas pela guerra ainda ocupam 39,7 % do
território (2005). A vegetação ao norte alterna-se, nas montanhas crescem abetos e nas zonas mais baixas vicejam
bosques tropicais com teca e ébano.Também aparecem zonas de savanas, onde crescem ervas típicas, altas e duras, e
regiões, mais extensas, ocupadas por várias espécies de
árvores, como pinheiros, palmeiras, seringueiras e bambus.
- Ao sul existem zonas distintas de vegetação. Na
cordilheira Annamita as espécies florestais são muito diversas, encontra-se a teca, bambu, bananeira, palmeiras, árvores de laca, de azeite e coníferas como pinus.
- A fauna é semelhante a do Laos setentrional e participa das características regionais chinesas. O búfalo e o
zebu são utilizados como animais de tração nos arrozais; o
elefante no transporte de cargas pesadas, onde faltam pontes, os sofridos paquidermes cruzam os rios levando pessoas e cargas. O porco, as aves e peixes como alimentação,
constituem a fauna doméstica do Sudeste Asiático.
- Embora seja rica em todo o país, a fauna florestal
é condicionada pelo tipo de vegetação existente. Na região
das matas e savanas vivem lebres, cabras, veados e javalis.
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Um Olhar Sobre o Mundo
Nas florestas densas e áreas pantanosas, habitam macacos,
tigres, panteras, elefantes, crocodilos e serpentes. Os rios
abundam em peixes, que, como o arroz é o alimento principal da população.
- No tocante às riquezas do subsolo, Vietnã possui
minas de carvão, zinco, chumbo, estanho, ferro, cromo,
fosfato e gás, além do petróleo existente na plataforma continental. Isto explica a industrialização acelerada da região
Norte. Os recursos minerais do Vietnã são muito grandes e
estão concentrados principalmente na região de Tonkhin.
- Em 2 de julho de 1976, o Vietnã é oficialmente reunificado sob o regime comunista, com a denominação de
República Socialista do Vietnã. Como o país é essencialmente de economia agrícola, não apresenta muitos centros
urbanos. A aldeia é a forma típica de estabelecimento humano. O regime socialista não alterou o caráter agrícola da
economia, pois 80% dos trabalhadores continuam dedicados as atividades agrícolas.
- A revolução socialista alterou as estruturas agrárias
e industriais, assim como as relações de trabalho.Dentro de
seu programa para diversificar a economia do país o governo pede para todos cidadãos do Vietnã, trabalho e cooperação.Com o apoio e o estímulo oferecidos pelos órgãos oficiais, a pesca e o aproveitamento dos recursos florestais
também apresentaram grande incremento.As terras foram
redistribuídas e todo setor manufatureiro socializado.A redistribuição da terra foi acompanhada da formação de cooperativas agrícolas,que receberam grande apoio do governo.
- Os resultados da nova política agrária podem ser
avaliados pela grande produção do arroz, a mais importante. O progresso da agricultura vietnamita foi devido menos
à introdução de novas técnicas e à mecanização da lavoura
do que ao emprego disciplinado de métodos tradicionais, no
intenso cultivo do arroz, na produção da borracha, do café,
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Um Olhar Sobre o Mundo
chá, algodão e dos tubérculos. Também a soja é uma das
leguminosas muito cultivadas, devido ao seu grande valor
alimentício.
- A crise financeira no Sudeste Asiático atinge Vietnã em 1998, com queda acentuada na cotação do dongue,
moeda do país. Em 2005, o primeiro ministro Phan Van
Khai faz a primeira visita de um governante vietnamita aos
EUA desde o fim da Guerra do Vietnã. Em 2006, a Assembléia Nacional elege Nguyen Minh Triet presidente do
país, que é favorável à ampliação da abertura econômica.
Em 2011, é eleito como presidente Truong Tan Sang.
- O Vietnã possui importantes patrimônios culturais
como o Complexo de Monumentos de Hué, de Hanói, HoiAn, Mi- Son, Ha Loong, Phong-Nhá-Ke-Bang e patrimônio
natural do Arquipélago de Fai Tsi Long.
O guia, professor de Biologia Sulyia Nosowan,
discorreu sobre a geografia e a história do Vietnã com o
critério de um sábio e clareza de um mestre conhecedor
da nação. Conduziu, orientou e identificou cada região do
país, as cidades, monumentos, rios e lugares sagrados, que
inspiraram admiração e respeito nos pesquisadores brasileiros, pelo que significam na memória do povo vietnamita.
Rodrigo como biólogo e ambientalista estudou a
fauna e a flora dos países visitados, registrou tudo no seu
notebook, para depois escrever um livro sobre o assunto.
Álvaro, como jornalista elaborou o documentário, e enviou
o material para a matriz inglesa. Tinham visitado inúmeras
cidades, museus, igrejas, templos antigos e suas ruínas,
monumentos históricos, rios, florestas, aldeias indígenas,
plantações, visto cavernas inacessíveis cheias de morcegos,
examinaram elementos primitivos só existentes no Arquipélago Indonésio e na Península Malaia. Peixes exóticos, gigantescos, nos rios dos países do Sudeste Asiático. Os dois
já estavam fatigados com as viagens e aventuras que viveMonika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
ram. Certa manhã Rodrigo despertou com o toque do telefone; ficou surpreso quando ouviu a voz do pai, Giovani
Pazinatto, que o convocava para urgente regresso ao país.
- Alguma coisa aconteceu, pai?- perguntou Rodrigo.
- Não houve nada de preocupante. Mas eu concluí
que uma pessoa deve viver na sua pátria junto aos seus.
Entendo que vocês estão estudando outras culturas, mas eu
e sua mãe estamos saudosos, preocupados. Peço-te, voltem
para casa, filho! – solicitou pesaroso Giovani.
- Pai! Durante esse tempo todo longe de vocês, eu
reconheci que não poderia viver senão na minha própria
terra. Apesar de estar distante, pesquisando em países desconhecidos, quando ouvi a sua voz isso aumentou mais a
minha saudade - comentou Rodrigo aflito.
Naquele dia, após avaliarem o resultado das pesquisas, trabalho a que se propuseram, acharam-no satisfatório,
então resolveram voltar para casa.Despediram-se afetuosamente do guia, fecharam a conta do hotel e se dirigiram ao
aeroporto de Tan Son Nhut em Ho Chi Minh (ex-Saigon)
onde adquiriram as passagens no avião da Tam, que os levou de volta ao Brasil.
Nos dias que se seguiram Rodrigo aproveitou para
escrever, detalhando os aspectos mais importantes, inclusive as façanhas vividas na viagem. Baseado nessas anotações foi escrito o livro “UM OLHAR SOBRE O MUNDO ” titulo, aliás, muito adequado, levando como subtítulo “O PORTAL PARA O CONHECIMENTO “.
Rodrigo planeja continuar as viagens de pesquisa e
conhecimento, junto com seu primo o jornalista Álvaro,
para explorar Mongólia, Sibéria e outros paises da Ásia
Central.Vai registrar todas as ocorrências no notebook, material que será aproveitado na elaboração do segundo volume do livro “UM OLHAR SOBRE O MUNDO”,já com um subtítulo definido para:“ EXPLORANDO O UNIVERSO ASIÁTICO”.
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Um Olhar Sobre o Mundo
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WIKIPÉDIA – a enciclopédia livre.
Esta obra está baseada em lugares e acontecimentos reais,
embora inclua nomes e personagens fictícios.
Monika Gryczynska
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Um Olhar Sobre o Mundo
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