Patanjali Yoga Sutras (Índice temático) Capitulo 1: Samadhi Pada

Transcrição

Patanjali Yoga Sutras (Índice temático) Capitulo 1: Samadhi Pada
Patanjali Yoga Sutras
(Índice temático)
Capitulo 1: Samadhi Pada
Sutra
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Introdução ao yoga
O que é o yoga
O resultado da pratica de yoga
De outra forma o que acontece a Purusha?
Classificação geral dos Vrittis
Cinco tipos de Vrittis
Pramana – fontes do conhecimento correcto
Viparyaya – conhecimento errado
Vikalpa – ilusão
Nidra – sono
Smriti – memória
Necessidade de Abhyasa e Vairagya
Abhyasa significa pratica constante
Bases de Abhyasa
Vairagya: tipo baixo de desapego
Vairagya: tipo elevado de desapego
Definição de Samprajnata Samadhi
Definição de Asamprajnata Samadhi
Méritos passados necessários para Asamprajnata Samadhi
Outros méritos necessários para Asamprajnata Samadhi
A rapidez deriva da intensidade do esforço
Três tipos de esforço
Ou por devoção a Ishwara
Definição de Ishwara
Atributo de Ishwara
Ishwara é o professor dos professores
Aum designa Ishwara
Sadhana para alcançar Ishwara
Resultado deste Sadhana
Obstáculos no caminho do Yoga
Outros obstáculos
Remoção dos obstáculos através da concentração num principio
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Ou por cultivar virtudes opostas
Ou pelo controlo do prana
Ou pela observação da experiência dos sentidos
Ou pela iluminação interior
Ou pelo desapego da matéria
Ou pelo conhecimento do Sonho e do Sono
Ou pela Meditação
Frutos da Meditação
Unidade da Mente com o objecto
Savitarka Samadhi
Nirvitarka Samadhi
Outras formas de Samadhi
Extensão do Samadhi
Samadhi com semente
A iluminação espiritual da mente
Experiência cósmica
Características desta experiência
Consciência dinâmica no Samadhi
Alcançar o Samadhi sem semente
Capitulo 2: Sadhana Pada
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Disciplina para Sadhana
Porquê disciplina
Causas do sofrimento
Avidya é a causa raiz
Avidya é ignorância
Asmita – o sentimento do Eu
Raga
Dwesha
Abhinivesha
Os Kleshas podem ser reduzidos
Pela Meditação
Karmashaya e reencarnação
Frutos de Karmashaya
Os frutos dependem dos méritos passados
Prazer e dor são ambos dolorosos
Evitar sofrimento futuro
Causa a ser evitada
Propriedades da natureza
Quatro estágios dos Gunas
O Observador (Purusha)
Prakriti é apenas para Purusha
Prakriti depois da Libertação
Porquê união
Avidya é a causa
Definição de Hana (libertação de Purusha)
Os meios para alcançar Hana
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Fases da iluminação de Purusha
Necessidade da pratica de Yoga
As oito disciplinas do Yoga
Os cinco yamas
A grande disciplina
Os cinco Niyamas
Forma para remover perturbações
Grau e natureza de perturbações
Frutos da pratica de Ahimsa
Frutos da pratica de Satya
Frutos da pratica de Asteya
Frutos da pratica de Brahmacharya
Frutos da pratica de Aparigraha
Frutos da pratica de Saucha
Saucha
Frutos da pratica de Santosha
Frutos da pratica de Tapas
Frutos da pratica de Swadhyaya
Frutos da pratica de Ishwara Pranidhana
O que é Asana
Como atingir a perfeição no Asana
Resultado da perfeição no Asana
Pranayama
Três tipos de Pranayama
O quarto tipo de Pranayama
Remoção do véu
A mente torna-se estável para a Concentração
Pratyahara
Controle sobre os sentidos
As seis filosofias ou “Darshanas” (pontos de vista, revelação) da Ìndia são o Nyaya, Vaiseshika, Yoga,
Sankhya, Purva Mimansa e Uttara Mimansa(Vedanta). Todas têm em comum o facto de aceitarem os
conceitos de karma, reencarnação, desapego e libertação.
Das seis o Yoga é a única que envolve pratica física e mental. A palavra Yoga significa “União” mas
também se entende por “Separação” (Purusha de Prakriti).
Não se sabe bem ao certo em que ano terá vivido Patanjali, mas a maior parte dos autores defende que
terá sido dois a quatro séculos antes de Cristo. O autor dos yoga sutras terá, segundo alguns, escrito
outros textos. Como médico Patanjali terá sido Charaka e escrito o Charaka Samhita, tratado de
medicina ayurvédica. Como gramático terá sido Panini e escreveu a obra Astadhyaye.
Quando falamos de Yoga, em sentido lato, entendemos qualquer tipo de yoga, qualquer método
essencialmente pratico que conduz ao Samadhi. Num sentido mais restrito quando falamos de Yoga
referimo-nos ao Raja Yoga, ou Ashtanga Yoga, de Patanjali e ao Yoga Sutras. Ao longo dos séculos
vários autores (comentadores) escreveram comentários ao Yoga Sutra de Patanjali. Os mais
importantes comentários são de Vyasa, Vijnana Bhikshu, Swami Vivekananda e Swami Satyananda.
Os Yoga Sutras são compostos por 4 capítulos e 196 Sutras, organizados da seguinte forma:
Capítulo 1 – Samadhi Pada – 51 Sutras. Versa sobre a Introdução e definição de yoga, o estado da
mente, diversos tipos de samadhi, Aum, obstáculos no progresso, pratica e desapego.
Capítulo 2 – Sadhana Pada – 55 Sutras. Explica os Kleshas, Asana e Pranayama, as oito camadas do
yoga e o resultado obtido pela prática.
Capítulo 3- Vibhooti Pada – 56 Sutras. Explica o que é a concentração, meditação e super consciência.
Refere ainda os poderes psíquicos que surgem com a prática do yoga.
Capítulo 4 – Kaivalya Pada – 34 Sutras. Trata do tema da Libertação, causa da individualidade, o
indivíduo e a mente cósmica.
Antes de iniciarmos o estudo dos Yoga Sutras convém referir que a “filosofia do Yoga”, o
conhecimento da mente e dos seus mecanismos de transcendência só pode ser obtido através da
experiência directa e pratica reiterada. Podemos perceber os conceitos e trabalhar na esfera intelectual
das ideias e arquétipos, mas Patanjali dá-nos instruções muito precisas para um caminho prático que
deve ser trilhado se queremos ultrapassar o ego e obter a sabedoria (conhecimento intuitivo
transformado em prática espiritual) e alcançar a “libertação”.
CAPÍTULO I
1.1 Agora iniciamos a exposição (instruções) do Yoga
Patanjali usa a palavra “agora” para referir que é chegado o momento do praticante ouvir as
instruções completas sobre o Yoga. Isto porque o praticante já passou por um processo de
pratica, de purificação individual física e mental, e está agora apto a receber instruções sobre o
sistema Yoga. Quem não passa por um processo de modificação a aprimoramento da
consciência não vai depois entender o alcance do Sutra. A palavra “sutra” significa fio
condutor, quer dizer que existe um elemento literal de interpretação (a letra do sutra) e existe
um elemento teleológico e extensivo de interpretação, o espírito do Sutra, que só pode ser
verdadeiramente entendido quando o praticante tem a abertura mental, paz de espírito e pureza
no coração. O mesmo acontece com os Mantras, há praticantes que estão apenas a “cantar”, mas
mantra não é para cantar, é para entoar e sentir. Patanjali não inventou nada de novo, apenas
compilou informação de técnicas que já existiam à data. O yoga sempre foi um sistema onde
predominou a tradição oral (guru param param) pelo que não se sabe se surgiu há cinco, seis mil
anos, ou mais, pois não há registos escritos.
1.2 Yoga é parar as flutuações da consciência
Esta paragem das modificações é um acto de bloquear, parar, e não de extinguir ou cessar a
própria consciência. No fundo é tambem parar o fluxo mental de pensamentos. Quando vamos
dormir à noite o que acontece à consciência? Não será o sono profundo (sem sonho) uma forma
de unificarmos naturalmente o fluxo da actividade consciente? Se o fluxo dos Vrittis (ondas
circulares de pensamento) mudar ou cessar nós experimentamos uma percepção diferente, um
plano diferente, dos objectos, pessoas e lugares. Só estamos verdadeiramente em União com o
“Eu superior” quando primeiro o sabemos escutar. E para escutar Purusha é necessário primeiro
restringir a actividade dos sentidos externos e internos e ao mesmo tempo silenciar mente e
cessar as ondas da consciencia. Deixar de pensar não é deixar de existir, pelo contrário,
afirmaria que “Não penso logo Existo”, compreendendo que esta existência situa-se para lá do
espaço e do tempo tal qual o conhecemos, num plano supra racional.
1.3 Então o observador permanece na sua natureza essencial
Este Sutra refere o resultado final da prática de Yoga, a auto realização. Isto acontece quando a
mente já não é afectada pelos humores, pela ilusão e pelo jogo dos Gunas. A Libertação
(Kaivalya), que é a meta final do yoga, só é possível quando o praticante tem a mente pura,
controlo completo sobre os sentidos e emoções. O yoga não é o resultado, o yoga é um
caminho, uma ferramenta para atingir algo. O destino final, o fim da caminhada é a super
consciência, superação de Maya e separação consciente do espírito e da natureza. Quando
olhamos para um cristal vemos reflectida uma ou mais cores. O reflexo é aquilo que a mente
percepciona e se identifica, ou seja, vemos o reflexo do cristal e identificamo-nos com a cor,
mas em ultima instancia Purusha é o cristal, o espírito reflecte a natureza no jogo cósmico.
1.4 Em outros instantes, identifica-se com as flutuações mentais.
Este sutra refere o que acontece ao Observador, o Espírito ou Eu Real, quando não existe
cessação das ondas mentais. Essas flutuações são “impostas” a Purusha e ele julga que é as
modificações mentais. È obvio que tudo é ilusão, nós não somos o corpo, nós não somos apenas
a mente, mas em determinados momentos do ciclo cósmico de renascimentos identificamo-nos
com o produto da consciência. È como ir ao cinema, identificarmo-nos com o actor ou heroína
principais e sentir o que se desenrola no filme ou ainda ver as ondas criadas no lago quando
existe turbulência e esquecer momentaneamente que é possível ver o fundo do lago quando as
aguas estiverem calmas.
1.5 As modificações da mente são de cinco tipos e são dolorosas e não dolorosas.
As modificações da mente são percebidas pelos sentidos como Klishta ou Aklishta, isto é,
dolorosas ou não dolorosas (agradáveis). As primeiras geram sofrimento e agravam o Karma
enquanto as segundas atenuam, extinguem ou criam bom Karma. No sistema do Yoga entendese que cada padrão de pensamento, os diferentes estágios da mente e da personalidade são
ondas mentais (Vrittis).
1.6 As cinco modificações da mente são conhecimento correcto, conhecimento errado,
imaginação, sono, memória.
O objectivo final do Yoga é a cessação da manifestação das ondas mentais, através de um
controle consciente. Para sermos felizes não é preciso pensar. Muitas vezes quanto mais
pensamos mais infelicidade geramos. Muitos aspirantes julgam que basta fechar os olhos,
abstrair os sentidos externos e o Mundo cessou, então vêm cenários maravilhosos imersos de
som e cores. Isto não é o objectivo do Yoga mas sim um entretenimento super imposto pela
mente. Qualquer produto da mente deve ser parado ou bloqueado.
1.7 São fontes do conhecimento correcto a cognição directa, a inferência lógica e o
testemunho.
A cognição directa resulta da experiência dos sentidos. A inferência (Anumana) é uma operação
de lógica mental, sabemos que 1+1 é igual a 2, sabemos que se há fumo então é porque algures
há fogo. Inferimos um determinado resultado porque aquelas premissas assim o permitem com
toda a certeza. Para estarmos perante um testemunho fidedigno é necessário observar alguns
requisitos, pois não podemos simplesmente presumir a veracidade exacta dos factos que os
outros nos dizem. A pessoa que transmite o testemunho (Agama) tem que ter ela própria
conhecimento correcto e deve estar em condições de reproduzir esse conhecimento de uma
forma isenta e sem erros. A pessoa deve ser uma autoridade, no sentido prático e experiêncial
de vida. No yoga a autoridade chama-se Guru (a palavra guru significa “pesado”, alguém que
tem peso). Exemplos de Testemunhos: Os Yoga Sutras, O Bhagavad Gita, a Bíblia (as verdades
neles contidas foram experimentadas por sábios).
1.8 A ilusão é falso conhecimento que não é baseado na sua própria forma.
A ilusão (Viparyaya) é um falso conhecimento porque é baseado em algo que não existe, não
tem um objecto real correspondente. Ilusão é uma forma de ignorância.
1.9 A imaginação é baseada no conhecimento verbal de um objecto que não existe.
A imaginação (Vikalpa) é também um produto da mente, mas ao contrário da ilusão, a
imaginação tem alguma base experimental. Na imaginação nós combinamos ideias de
experiências passadas com novas ideias de coisas que não (ainda) existem. O conhecimento
correcto tem um objecto verdadeiro correspondente, o conhecimento errado tem um falso
objecto e a imaginação não tem qualquer objecto associado.
1.10
Sono é a modificação da mente suportada pela ausência de conteúdo mental.
Entende-se sono sem sonho neste Sutra. Também o sono é uma modificação da mente, um
Vritti, no entanto neste estágio não existe consciência. No sono a pessoa não deseja nada, não
tem percepção de nada, todos os processos e conteúdos mentais estão unificados num só que é
silencioso (não aflora a consciência). O sono profundo pode ser comparado com o estado de
Samadhi pois em ambos existe ausência de consciência do mundo externo. No entanto em
Samadhi existe consciência do Eu, da individualidade, enquanto que no sono não.
1.11
Memória é reter na mente a experiência dos objectos.
Classificação da memória.
Consciente (Recordar experiências passadas)
Memória
Memória subconsciente imaginária
Subconsciente (Sonho)
(sonhos fantásticos)
Memória subconsciente real
(recordar no sonho algo do passado sem
distorcer os factos)
1.12
Pela prática reiterada e desapego pára-se isso (os cinco Vrittis).
A palavra “Raga” significa a atitude de gostar intensamente de um objecto. A palavra
“Dwesha” significa a atitude contraria a Raga, aversão a um objecto. A mente torna-se instável
se partimos para a meditação sem primeiro removermos o apego e a aversão.
1.13
Das duas, a prática é estabelecida através de esforço.
A prática reiterada (Abhyasa) deve ser constante e implica esforço. Quando esta prática se firma
no aspirante pode terminar na experiência do Samadhi. A prática pode consistir em Hatha Yoga,
em Bhakti Yoga, Discriminação e auto-análise, ou outras praticas. A prática constante é uma
das formas de treinar a cessação das flutuações da mente.
1.14 A prática torna-se firme quando continuada por um longo período com reverencia
e sem interrupção.
Na prática do Yoga existem condições para que o praticante alcance o sucesso;
a) deve haver esforço sincero.
b) não deve haver interrupções na pratica.
c) Deve ser efectuada durante um longo período.
Patanjali não nos diz o que é um longo período, certamente porque varia conforme o praticante.
Entende-se por muito anos de pratica. Devido aos méritos passados e ao esforço sincero nesta
vida o praticante pode alcançar a Auto realização através da prática continuada. O que acontece
muitas vezes nos praticantes é começar com grande entusiasmo nos primeiros tempos e depois a
sua fé na prática vai-se perdendo e acabam por desistir. Um praticante deve continuar o seu
Sadhana até atingir algo concreto e muito substancial, mas poucos conseguem chegar aqui.
Estão no fundo a adiar a busca da espiritualidade, permanecendo mais uma vida em ignorância
(Avidya). Entende-se que o Sadhana intenso não é para todos, pois o caminho não é fácil e os
aspirantes desistem nas primeiras dificuldades e encontram desculpas para tudo. Muitos ficam
entusiasmados porque se lembram de vidas anteriores, mas isso por si só não é um sinal de
evolução espiritual.
1.15 Quando o indivíduo se liberta dos desejos pelos objectos que experimentou bem
como os de que ouviu falar esse estado de consciência è Vairagya.
O apego é um processo do intelecto e não é necessário mudar-se a vida por completo para se
praticar desapego, nem se renunciar á vida em social e retirar-se nas montanhas ou num
eremitério. Desapego, no fundo, é não se identificar com Raga nem Dwesha. Estes são a causa
do sofrimento. Se conseguirmos desapego do resultado (bom ou mau) das nossas acções então
estamos no caminho certo. O mais importante é efectivamente a atitude que temos com as
pessoas e objectos, as situações da vida.
1.16 O desapego mais elevado, no qual existe liberdade de desejo dos gunas, surge com o
verdadeiro conhecimento de Purusha.
Esta forma mais elevada de desapego chama-se “Paravairagya” e caracteriza-se pela ausência
de qualquer desejo de prazer, de conhecimento, ou mesmo sono. Acontece quando o Yogi
realiza a verdadeira natureza de Purusha através da meditação ou Samadhi e já nada mais lhe
interessa.
O conhecimento “comum” (via inteligência) que todos nós temos deriva da experiência dos
sentidos e do funcionamento equilibrado das faculdades da mente. O conhecimento “directo
intuitivo” surge apenas com a realização interna. Não tem suporte externo mas na experiência
interna directa e individual, alcançável ao fim de vários anos de pratica sincera e ininterrupta.
1.17 Samprajnata Samadhi está associado a razão, reflexão, bem-aventurança, sentido
de individualidade.
Vitarka
Samprajnata
Sabeeja Samadhi
Vichara
degraus no s.samadhi
Ananda
Asmita
Asamprajnata
Nirbeeja Samadhi
Podemos classificar o Samadhi em Sabeeja (com semente) e Nirbeeja (sem semente). Alguns
autores descrevem o Samadhi como um estado de elevada consciencia onde as camadas mental
e intelectual não estão em actividade. Apenas o veículo de Atman funciona nesse estado, ou
seja, existe a consciencia mas esta é imanifestada. Para atingir Samadhi primeiro a consciencia
tem de libertar-se da esfera fisica, do mundo dos sentidos. Depois desta fase ainda temos a
consciencia energética das coisas, actividade pranica. Quando cessamos esta fase de
consciencia é aí que inicia o Samadhi. Este começa quando a consciencia está imersa na esfera
mental e livre das esferas fisica e energética. Para alem das diferentes esferas ou planos de
consciencia está a consciencia absoluta, Purusha.
Sabeeja Samadhi, ou Samadhi com suporte, é chamado de baixo Samadhi, e Nirbeeja Samadhi,
ou Samadhi sem suporte, é chamado de alto Samadhi. No primeiro existe conteudo mental, a
consciencia fixa-se num simbolo (fisico ou mental). Sabeeja Samadhi divide-se em Samprajnata
e Asamprajnata. Neste ultimo existem apenas Samskaras (conteudos latentes ou impressões de
vidas anteriores) e no primeiro Samskaras e Pratyaya (símbolo mental). Existem quatro tipos
de Samprajnata Samadhi:Vitarka (razão), Vichara (reflexão), Ananda (Alegria), Asmita
(sentido de individualidade). Em Nirbeeja Samadhi, sem semente ou sem suporte, não existe
conteudo mental nem sequer samskaras, não há manifestação de consciencia a nenhum nível,
Purusha não se manifesta em Prakriti.
1.18 Asamprajnata Samadhi é precedido pela pratica contínua de parar o conteudo da
mente, permanecendo apenas as impressões.
Em Asamprajnata Samadhi estamos ainda em Sabeeja Samadhi, já não existe consciencia do
simbolo ou conteudo mental, não existe Pratyaya, mas existem ainda Samskaras, traços ou
impressões passadas. Quando os Samskaras são terminados, extintos, a consciencia já não se
manifesta e este estado já é Nirbeeja Samadhi. Segundo o Yoga, a consciencia é um estado de
movimento ou vibração. Em Nirbeeja Samadhi não existe nem movimento nem vibração, mas
sim algo não manifestado, parado e imutavel.
A maior parte de nós em algum momento na vida experimenta samprajnata samadhi e mesmo
asamprajnata samadhi, mas por breves instantes. Estes estados são flutuantes e não permanecem
durante algum tempo. Daí a necessidade de nós não desistirmos do simbolo ou do conteudo,
qualquer que ela seja, o que é muito dificil, mas não impossivel.
1.19
Videha e Prakritilaya yogis atingem Asamprajnata Samadhi desde o nascimento.
Para atingir o Samadhi é necessário fé ou coragem ou inteligencia elevada. No entanto, por
vezes, encontramos pessoas que praticam quase nada a atingir o samadhi de forma muito facil.
Isto é por causa dos méritos passados, de vidas anteriores. São Seres que vêm ao mundo numa
missão concreta e podem atingir Asamprajnata Samadhi logo desde o nascimento, porque já o
atingiram em vidas anteriores e sabem como o fazer nesta vida. Exemplos: Paramahansa
Yogananda, Ramakrishna Paramahansa, Swami Vivekananda, Swami Sivananda.Videha yogis
são seres que não têm corpo fisico, mas têm corpo astral ou energético. Prakritilaya yogis já
nem sequer têm corpo energético, manifestam a consciencia pura no corpo causal.
1.20 Outros atingem o Asamprajnata Samadhi através da fé, força de vontade, memória
e inteligencia derivadas de Samprajnata Samadhi .
A fé é cega, a crença é firme. Geralmente as nossas crenças advêm da educação e do meio
social com que aprendemos e estamos inseridos. Shraddha é uma crença que vem com a
verdadeira experiencia, sabemos que é assim porque é. È uma certeza interior da qual não
precisamos que nos demonstrem, nós proprios a experimentamos. Isto só surge com muita
prática e quando temos um “flash” da Verdade.
Smirit é memória e neste contexto significa a lembrança do simbolo da meditação.
Na tradição do Yoga a inteligencia é de dois tipos. A Inteligencia mundana, que todos têm na
sua vida e permite conhecer e apreender os objectos e pessoas que nos rodeiam e connosco
interagem. A inteligencia que desenvolvemos com a experiencia do Samprajnata Samadhi , uma
inteligencia e consciencia intuitivas (samadhiprajna) baseada na experiencia directa interna e
que não tem suporte dos sentidos externos, tem a haver com a realização espiritual.
1.21
Aqueles cujo esforço é intenso atinjem Asamprajnata Samadhi mais cedo.
1.22 Conforme a intensidade do esforço, suave, médio, forte, Asamprajnata Samadhi
pode ser alcançado rapidamente.
A sinceridade e o esforço intenso são essenciais para atingir o objectivo nesta própria vida. Às
vezes encontramos praticantes sinceros e verdadeiros mas o seu esforço é pequeno e logo não
atingem algo substancial tão rapidamente quanto desejariam.Outros não desejam atingir nada, e
aqui já não há sinceridade espiritual, fazem a sua pratica apenas para se sentirem bem
fisicamente sem se preocuparem com a auto realização.
1.23
Ou pela devoção ao Senhor
Dos Sutras 1.23 a 1.29 Patanjali refere um Sadhana especifico, Ishwara Pranidhana. Trata-se de
um sistema mais facil, para uma pessoa média, um caminho pela devoção. Embora o Yoga
Sutra esteja embebido da filosofia samkhya, Patanjali não partilha do ateísmo samkhya e
prescreve um caminho de busca espiritual através da adoração ao Senhor. Patanjali estava
consciente que já naquela época havia muitos devotos deste método e quis deixar bem presente
nos sutras este tipo de caminho espiritual.
1.24 Deus é uma alma especial intocada por aflições, frutos das acções ou impressões do
karma passado.
Patanjali neste sutra revela que não acredita num deus pessoal. Deus é uma consciencia cósmica livre
de maya ou dos efeitos do sofrimento. Não tem uma forma física ou atributos definidos por palavras ou
pela consciencia. Vemos novamente a presença da filosofia samkhya neste sutra: Deus é um Purusha
especial, e está acima dos outros Purushas existentes no universo. A natureza essencial dos Purushas é
a mesma, todos nós somos divinos, mesmo os animais, os vegetais e as pedras.
1.25
Em Ishwara existe a semente da omnisciencia ilimitada.
1.26
Não sendo limitado pelo tempo Ishwara é o professor dos professores.
1.27
Aum designa Ishwara.
A palavra AUM é constituida por tres letras, A, U e M. A corresponde ao mundo fisico do corpo e dos
sentidos, U corresponde á mente subsconsciente e M corresponde á mente inconsciente. O quarto
estado de consciencia corresponde a Turya, um estado imanifesto e impossível de expressar de
Purusha. AUM corresponde assim ao mundo fisico, astral e causal da manifestação da consciencia
cosmica. È o som da creação em movimento, é o primeiro som creado e o mantra que contem todos os
mantras. Corresponde tambem á trindade e aos aspectos da criação (pai), sustentação (filho) e
destruição (espirito) dos universos.
1.28
Aum deve ser repetido continuamente e o seu significado contemplado.
Atraves da repetição de mantra estamos a efectuar japa. Mas japa não pode ser uma coisa mecanica. À
medida que vamos repetindo o mantra tem que se pensar, comtemplar o significado da palavra. Som e
conteudo vão lado a lado. Japa sózinho não é suficiente, japa e meditação devem ser praticadas em
conjunto. Se adicionarmos musica temos Kirtan. Assim, mantra, japa e kirtan tem efeitos e objectivos
semelhantes, alcançar a união atraves da repetição e meditação no seu significado.
Bibliografia de suporte:
Raja Yoga – Swami Sivananda Saraswati
The Yoga Sutras of Patanjali – Swami Satchidananda
Four chapters on freedom – Swami Satyananda
Raja Yoga – Swami Vivekananda
Yoga Sutras – Vyasa
Tradução do Inglês: Paulo Hayes