O Japão é aqui
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O Japão é aqui
Associação Nikkei de Vitória - ANV O Japão é aqui Centenário Imigração Enviado por: Postado em:04/03/2008 Há cinco décadas, Shiro Irie, então um adolescente de 15 anos, embarcava com seus pais e irmãos em uma viagem de dois meses, sem previsão de volta, dentro do porão de um navio. "Era a classe econômica", brinca o hoje fotógrafo, de 65 anos. Na época, além de sua família, viajavam mais centenas de japoneses que saíram de sua terra natal em busca de uma vida melhor do outro lado do mundo. Vieram para trabalhar na agricultura brasileira, especialmente no plantio de café, no interior de São Paulo. "A gente não tinha noção do que era o Brasil", lembra Shiro. A união da história desses dois países completa cem anos no próximo dia 18 de junho. Foi nessa data, em 1908, que o navio Kasato-Maru aportou em Santos, trazendo imigrantes de Kobe dispostos a trabalhar e a viver no Brasil. As comemorações já começaram no Brasil e no Japão. No Espírito Santo, uma noite especial dedicada à cultura nipônica, com homenagens e música, está marcada para o dia 19 de julho, no Teatro Carlos Gomes, em Vitória. Na ocasião, poderá ser vista uma parte da cultura trazida por cerca de 250 mil japoneses que desembarcaram por aqui, e que hoje formam a maior comunidade japonesa no exterior: 1,5 milhão de pessoas. O resultado é que seus hábitos, costumes e, principalmente, sua cultura, influenciaram, de forma determinante, o Brasil. Basta enumerar: origami, haikai, yakissoba, sushi, mangá, judô, anime, videogame, Mario Bros, Akira Kurosawa, Pokémon, Cavaleiros do Zodíaco, Tamagoshi, bonsai, leque, carpas... O Japão está no Brasil nas mais diversas formas de manifestação – desde a arte da culinária até à música, passando pelo cinema e pela moda. Associação: O Espírito Santo só entrou na rota dos japoneses um bom tempo depois: "Desembarcamos em Santos primeiro e trabalhamos por um bom tempo na agricultura. Quando estive no Estado pela primeira vez, já tinha deixado minha família para estudar fotografia. Me apaixonei", lembra Shiro, que voltou a Vitória no final dos anos 70, já casado com a nissei Cecília. Hoje sua família já está na quarta geração. A comunidade "capixaba" não é tão grande quanto a de São Paulo – são cerca de 1.000 japoneses e descendentes –, mas o trabalho da Associação Nikkei, que existe desde 1993, em Vitória, ajuda a manter a tradição. "Cerca de 70% das pessoas que se interessam pela cultura japonesa são de brasileiros mesmo", afirma a professora de japonês Misao Kawase Matsunaga, 55. "Percebo que os jovens, hoje, têm a preocupação em preservar as tradições japonesas. É uma cultura bem diferente da do Brasil, mas que acrescentou muito à cultura daqui. Tanto nas artes quando na postura", analisa. http://www.anv.org.br 29/09/2016 14:38:28 - 1 O Brasil recebeu diversas influências do Japão, como o gosto pelas artes marciais e pelos desenhos japoneses. E também ensinou muito a eles, como a paixão pelo samba e pela bossa nova. A jovem Nanako Matano, 22, que está há sete meses no Brasil para ensinar a cultura japonesa, sente isso na pele. "Aqui as pessoas abraçam e se beijam. Lá é diferente, somos mais fechados", compara a moça, que se encantou com o chorinho, o cavaquinho e o pandeiro. Regente do coral de músicas folclóricas japonesas (feitas antes da abertura para a influência do Ocidente), Ayuko Sakanoue, 32, também percebe uma diferença na forma de encarar a música. "Lá a gente aprende música desde pequenos, na escola. Aprendemos a ler partitura, a cantar afinado. Aqui, as pessoas têm muita musicalidade, mas não sabem a teoria", compara. A fisioterapeuta Simone Minae Yoneyama, 23, nasceu no Brasil, mas convive em meios orientais. Já estudou japonês, mas gosta do lado pop da cultura nipônica. "Ouço música de lá e vejo as novelas pela internet", conta a moça, que ainda joga no time de softbol da associação – esporte que vem ganhando espaço no Brasil, com um empurrão extra dos descendentes. Música e animes atraem os jovens: Se a culinária e as artes marciais japonesas são bem conhecidas por aqui, a música ganha ainda mais divulgação com as festas de animes e as apresentações de grupos tradicionais, como o taiko. Cultura secular, nascida na época do Japão feudal, o taiko (diz-se taikô, o mesmo que tambor, feito com couro de vaca estendido sobre tronco de árvore cavado) é uma forma de expressão antiga, mas que atrai jovens descendentes e brasileiros interessados pela cultura japonesa. Naoko Sujiwara tem apenas 17 anos, mas já toca há cinco no grupo de taiko da Associação Nikkei de Vitória. "Acho bonito. Gosto muito da disciplina que a gente aprende a ter no grupo. É uma forma de poder mostrar a filosofia dessa forma de música", explica. A relação de Naoko com a cultura oriental vai além das aulas de taiko, todos os sábados, no Parque Pedra da Cebola. Ela gosta de assistir às famosas novelas japonesas (chamadas por eles de dorama, de drama mesmo) e também de ouvir música pop de lá. "Gosto do Hirai Ken, um cantor famoso, e da Ayumi Hamasaki. Os jovens lá escutam mais pop mesmo", confessa. Tudo com uma ajudinha extra da web. "Baixo os capítulos pela internet. As novelas são bem diferentes das do Brasil porque são mais curtas e têm menos histórias paralelas", compara. O estudante brasileiro Tiago Barbosa Fabri, 20, está interessado nessa música mais pop japonesa, ligada aos animes. Ele curte tanto que até adotou um codinome japonês, Haru. Tiago é baterista da banda Megazord (referência ao robô do Power Rangers), que toca animes songs – músicas de desenhos animados japoneses. "Somos viciados em mangás e animes. Já fizemos muitos shows em eventos de cultura japonesa", conta, lembrando que as apresentações também acontecem nas festas cosplay (em que as pessoas vão vestidas como seus personagens de desenho favoritos). O repertório da banda – formada ainda por Alex (vocal), Adriano e André Macaco (guitarras) e Vitor (baixo) – inclui temas de Cavaleiros do Zodíaco, como "Pegasus Fantasy", "Força Astral" e "Blue Forever", além de "Chala Head Chala" e "We Gotta Power", do Dragon Ball Z, e aberturas de Digimon 2, El Hazard, Shurato, Black Kamen Rider, Cybercops e Winspector. "Nossas músicas http://www.anv.org.br 29/09/2016 14:38:28 - 2 próprias também têm letras em homenagem a personagens de anime. Tem ‘Kuwabara Jedi’, do anime Yuyu Hakusho, e ‘Talk to My Hand’, referência ao personagem principal do anime Vampire Hunter D", explica. Influências vão dos quadrinhos ao cinema: São palavras do próprio fotógrafo Shiro Irie: "Foi mais difícil para os meus pais se adaptarem ao Brasil do que para mim. Para eles, que eram acostumados com outro tipo de alimentação, foi um choque chegar ao Brasil e encontrar uma feijoada", lembra. Se a alimentação já é completamente diferente, os hábitos são reflexos da cultura: "Lá eles são pontuais e organizados, aqui é tudo um carnaval só. Mas foi isso que me fez querer ficar aqui", completa. Por outro lado, foi a disciplina que atraiu o estudante Marcio Antonio Moraes, 19, um jovem brasileiro fascinado pela arte japonesa – das lutas, aos animes, passando inclusive pela literatura. Ele se interessou pelo kendo (diz-se quendô): uma arte marcial japonesa moderna, desenvolvida a partir das técnicas tradicionais de combate com espadas dos samurais do Japão feudal. "Meu interesse pelo Japão vem de um sonho adolescente, por ser um país culturalmente bem diferente do nosso. Comecei a ler os tradicionais mangás japoneses, lia histórias de samurais e queria lutar como eles", lembra. O campo é mesmo tão vasto, que dá para se perder quando o assunto é cultura japonesa. Da arte dos origamis, passando pelos mangás, animes, o cinema também tem grandes nomes vindos do Japão, assim como a música pop. Tem para os mais tradicionais e para os mais modernos. Confira: 100 anos de imigração japonesa Festa em Vitória Quando: 19 de julho, às 19h Onde: Teatro Carlos Gomes, Praça Costa Pereira, s/n, Centro Quanto: Entrada franca Sessão solene: 10 de abril, às 19h, no plenário da Assembléia Legislativa do Espírito Santo. Fonte: Jornal A Gazeta http://www.anv.org.br 29/09/2016 14:38:28 - 3