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Jurisprudência/STJ - Acórdãos
Processo
REsp 1195642 / RJ
RECURSO ESPECIAL
2010/0094391-6
Relator(a)
Ministra NANCY ANDRIGHI (1118)
Órgão Julgador
T3 - TERCEIRA TURMA
Data do Julgamento
13/11/2012
Data da Publicação/Fonte
DJe 21/11/2012
RDDP vol. 120 p. 135
RJP vol. 49 p. 156
Ementa
CONSUMIDOR. DEFINIÇÃO. ALCANCE. TEORIA FINALISTA. REGRA. MITIGAÇÃO.
FINALISMO APROFUNDADO. CONSUMIDOR POR EQUIPARAÇÃO.
VULNERABILIDADE.
1. A jurisprudência do STJ se encontra consolidada no sentido de que
a determinação da qualidade de consumidor deve, em regra, ser feita
mediante aplicação da teoria finalista, que, numa exegese restritiva
do art. 2º do CDC, considera destinatário final tão somente o
destinatário fático e econômico do bem ou serviço, seja ele pessoa
física ou jurídica.
2. Pela teoria finalista, fica excluído da proteção do CDC o consumo
intermediário, assim entendido como aquele cujo produto retorna para
as cadeias de produção e distribuição, compondo o custo (e,
portanto, o preço final) de um novo bem ou serviço. Vale dizer, só
pode ser considerado consumidor, para fins de tutela pela Lei nº
8.078/90, aquele que exaure a função econômica do bem ou serviço,
excluindo-o de forma definitiva do mercado de consumo.
3. A jurisprudência do STJ, tomando por base o conceito de
consumidor por equiparação previsto no art. 29 do CDC, tem evoluído
para uma aplicação temperada da teoria finalista frente às pessoas
jurídicas, num processo que a doutrina vem denominando finalismo
aprofundado, consistente em se admitir que, em determinadas
hipóteses, a pessoa jurídica adquirente de um produto ou serviço
pode ser equiparada à condição de consumidora, por apresentar frente
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ao fornecedor alguma vulnerabilidade, que constitui o
princípio-motor da política nacional das relações de consumo,
premissa expressamente fixada no art. 4º, I, do CDC, que legitima
toda a proteção conferida ao consumidor.
4. A doutrina tradicionalmente aponta a existência de três
modalidades de vulnerabilidade: técnica (ausência de conhecimento
específico acerca do produto ou serviço objeto de consumo), jurídica
(falta de conhecimento jurídico, contábil ou econômico e de seus
reflexos na relação de consumo) e fática (situações em que a
insuficiência econômica, física ou até mesmo psicológica do
consumidor o coloca em pé de desigualdade frente ao fornecedor).
Mais recentemente, tem se incluído também a vulnerabilidade
informacional (dados insuficientes sobre o produto ou serviço
capazes de influenciar no processo decisório de compra).
5. A despeito da identificação in abstracto dessas espécies de
vulnerabilidade, a casuística poderá apresentar novas formas de
vulnerabilidade aptas a atrair a incidência do CDC à relação de
consumo. Numa relação interempresarial, para além das hipóteses de
vulnerabilidade já consagradas pela doutrina e pela jurisprudência,
a relação de dependência de uma das partes frente à outra pode,
conforme o caso, caracterizar uma vulnerabilidade legitimadora da
aplicação da Lei nº 8.078/90, mitigando os rigores da teoria
finalista e autorizando a equiparação da pessoa jurídica compradora
à condição de consumidora.
6. Hipótese em que revendedora de veículos reclama indenização por
danos materiais derivados de defeito em suas linhas telefônicas,
tornando inócuo o investimento em anúncios publicitários, dada a
impossibilidade de atender ligações de potenciais clientes. A
contratação do serviço de telefonia não caracteriza relação de
consumo tutelável pelo CDC, pois o referido serviço compõe a cadeia
produtiva da empresa, sendo essencial à consecução do seu negócio.
Também não se verifica nenhuma vulnerabilidade apta a equipar a
empresa à condição de consumidora frente à prestadora do serviço de
telefonia. Ainda assim, mediante aplicação do direito à espécie, nos
termos do art. 257 do RISTJ, fica mantida a condenação imposta a
título de danos materiais, à luz dos arts. 186 e 927 do CC/02 e
tendo em vista a conclusão das instâncias ordinárias quanto à
existência de culpa da fornecedora pelo defeito apresentado nas
linhas telefônicas e a relação direta deste defeito com os prejuízos
suportados pela revendedora de veículos.
7. Recurso especial a que se nega provimento.
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Acórdão
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da
TERCEIRA Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos
votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por
unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do
voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami
Uyeda, Paulo de Tarso Sanseverino e Ricardo Villas Bôas Cueva
votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o
Sr. Ministro Sidnei Beneti.
Referência Legislativa
LEG:FED LEI:005869 ANO:1973
***** CPC-73 CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL DE 1973
ART:00131 ART:00333 INC:00002
LEG:FED LEI:008078 ANO:1990
***** CDC-90 CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
ART:00002 ART:00004 INC:00001 ART:00029
LEG:FED LEI:010406 ANO:2002
***** CC-02 CÓDIGO CIVIL DE 2002
ART:00186 ART:00927
LEG:FED RGI:****** ANO:1989
***** RISTJ-89 REGIMENTO INTERNO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
ART:00257
Veja
(CONSUMIDOR - CARACTERIZAÇÃO - TEORIA FINALISTA)
STJ - AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp 1281164-SP,
AgRg no Ag 1248314-RJ, AgRg no REsp 1085080-PR,
REsp 1014960-RS
(CONSUMIDOR - PESSOA JURÍDICA - TEORIA FINALISTA - FLEXIBILIZAÇÃO VULNERABILIDADE)
STJ - REsp 1027165-ES, REsp 1196951-PI,
REsp 1190139-RS, REsp 1010834-GO
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