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M MICRO CAPA E PEQUENAS Por Odail Figueiredo Encadeamento Produtivo Estratégia do ganha-ganha Sebrae aposta na inserção das pequenas empresas nas cadeias de valor de grandes organizações para desenvolver a competitividade e a sustentabilidade dos pequenos negócios. P Divulgação romover a competitividadora Vale e a estatal Petrobras são de e o desenvolvimento algumas das grandes empresas sustentável dos pequenos parceiras do Sebrae ao longo desse negócios, fortalecendo a processo. economia nacional, é o objetivo maior Conceitualmente, o encadeado Serviço Brasileiro de Apoio às mento produtivo pode ser definiMicro e Pequenas Empresas (Sebrae). do como um relacionamento cooNos últimos anos, a instituição tem perativo, de longo prazo, e mutuaprocurado alcançar essa meta enfatimente atraente, estabelecido entre zando cada vez mais uma estratégia grandes companhias e pequenas baseada no conceito de encadeamenempresas de sua cadeia de valor. to produtivo – abordagem que leva em Nessa parceria, os ganhos devem conta não apenas a melhoria do ser percebidos pelos dois lados. Se empreendimento, individualmente, os pequenos negócios podem em seus processos de produção e de aumentar sua receita, elevar a progestão, mas trabalha a questão de dutividade, melhorar o padrão forma sistêmica, a partir da inserção tecnológico, desenvolver inovadas empresas de pequeno porte em Carlos Alberto dos Santos, diretor técnico ções e gerar empregos de mais do Sebrae Nacional. cadeias de valor. qualidade, as grandes empresas se Iniciados no começo da década beneficiam da consolidação de passada, os projetos, tanto de iniciativa do Sebrae/ Naciouma rede de fornecedores mais capacitados, obtêm redunal como do Sebrae dos estados, contam hoje com a parceção no custo de insumos, contam com prazos de entrega ria de cerca de 30 grandes grupos econômicos de primeira adequados e ganham agilidade no processo de produção. linha, líderes em seus setores, e a participação de milhares Elemento central dessa visão é o entendimento de que de pequenos empreendimentos que atuam como forneceo desenvolvimento econômico não pode ocorrer sem a dores de produtos e serviços, distribuidores, varejistas, participação do pequeno empreendimento. “O pequeno provedores de assistência técnica e em uma série de outras empreendedor não vai desaparecer. Toda grande economia atividades que completam o ciclo de negócios liderado pela tem milhares e milhares de micro e pequenas empresas empresa âncora. Os grupos Gerdau, Odebrecht, a mineraoperando em torno das cadeias lideradas pelas grandes”, RUMOS - 48 – Março/Abril 2013 SXC Com o encadeamento produtivo, é possível ajustar as engrenagens para a participação de empresas de variados portes na indústria. O objetivo é adequar os pequenos empreendimentos aos requisitos das grandes e facilitar a realização de negócios entre elas. diz o diretor técnico do Sebrae Nacional, Carlos Alberto dos Santos. “Nesse sentido, as deficiências de gestão e produtividade das pequenas empresas não são problemas restritos apenas a elas, já que afetam toda a cadeia produtiva”, pondera. Por outro lado, é insuficiente procurar corrigir as debilidades dos pequenos negócios sem considerar o contexto econômico em que atuam. “A abordagem baseada no conceito de cadeia de valor é mais adequada, porque vê o conjunto”, frisa o diretor. Competitividade – O modelo de parceria é desenvolvido pelo Sebrae com a grande empresa. O ponto de partida é um mapeamento das necessidades de bens e serviços da organização, bem como os requisitos de qualidade, preço e prazo de fornecimento, entre outros. A identificação das demandas ocorre tanto na análise da etapa anterior à produção (abrangendo fornecedores de insumos, serviços e bens intermediários) quanto na fase seguinte (distribuição, manutenção, assistência técnica, relacionamento com varejistas e consumidores). A partir do mapeamento, é feita uma avaliação do estágio em que se encontram as micro e pequenas empresas que já fazem parte ou podem integrar a cadeia, o que permite identificar os chamados gaps de competitividade. Com base nessas informações, é elaborado um plano de ação específica, no qual o Sebrae coloca à disposição das pequenas empresas programas de assistência e consultorias voltadas à superação das deficiências diagnosticadas. “Para os pequenos negócios, atender aos padrões exigidos é um desafio, mas os resultados são promissores”, diz Carlos Alberto. Mudança radical – A Rodatech, uma pequena fabricante de unidades móveis especiais e implementos rodoviários localizada em Esteio, no Rio Grande do Sul, entrou em 2009 em um projeto de encadeamento produtivo que tem o Grupo Gerdau, da área de siderurgia, como âncora. A Rodatech já era fornecedora de equipamentos customizados para o transporte interno nas usinas da Gerdau. Desde que passou a fazer parte do programa, a empresa vivenciou “uma mudança radical de cultura”, segundo o diretor comercial e um dos sócios da companhia, Leandro Toniolo Krey, que dirige o empreendimento ao lado do pai e de um irmão. A gestão foi bastante profissionalizada e a empresa começou a trabalhar visando metas e resultados. O acompanhamento de processos tornou-se uma rotina, de modo a identificar rapidamente o que está indo bem e o que precisa mudar. RUMOS - 49 – Março/Abril 2013 M MICRO CAPA E PEQUENAS Encadeamento Produtivo Investimentos – Para as grandes empresas, o desenvolvimento dos elos da cadeia de valor também produz benefícios. “Um dos principais é o fortalecimento da rede de fornecedores, que propicia a aquisição de produtos de maior qualidade”, frisa Aladio Antônio de Souza, engenheiro de equipamentos e consultor da Unidade Operacional Sergipe-Alagoas (UO-Seal) da Petrobras. No setor de extração e refino de petróleo, que exige precisão e segurança, é um ganho considerável, destaca. A Petrobras e o Sebrae mantêm um programa voltado a inserir ou melhorar a performance de pequenas empresas da Divulgação Divulgação A empresa investiu ainda em softwacadeia de petróleo, gás e energia. De re e tecnologia, e apostou na inovação. acordo com os números contabilizados Em 2012, depois de visitar uma feira na pelos parceiros, os resultados têm sido Alemanha, passou a utilizar fibra de significativos. Em todo o país, são 11,6 vidro, material totalmente reciclável, na mil empreendimentos de pequeno porte estrutura externa das unidades móveis envolvidos no programa, que já demanque fabrica, como vans, ônibus e carretas dou R$ 78 milhões em investimentos. de transporte e divulgação. Além de Foram gerados R$ 4,5 bilhões em negóobter redução de custo ao aumentar a cios entre as companhias participantes, qualidade dos produtos, a empresa os postos de trabalho aumentaram 13% melhorou sua presença e imagem no e o volume de vendas das pequenas mercado. empresas cresceu 25%. Leandro Krey afirma que, sem o Na unidade de Sergipe-Alagoas, apoio do Sebrae e da Gerdau, não teria onde o trabalho começou em 2005, são sido possível obter as melhorias que cerca de 500 as pequenas empresas que identifica no negócio. “Empresas menoparticipam de pelo menos uma das ações res dificilmente têm capacidade financeido convênio, em meio às 1.500 fornecera para contratar consultores como os Leandro Krey, da Rodatech. doras de bens e serviços para a estatal na que nos são disponibilizados pelo conregião. Segundo Aladio de Souza, são vênio”, diz ele. desenvolvidas vinte ações estruturantes, tendo como focos Na avaliação do empresário, a participação no prograestratégicos a inteligência competitiva, a cultura da coopema trouxe vantagens palpáveis para a Rodatech. Houve ração, o desenvolvimento de fornecedores, a inovação, a um ganho imediato de visibilidade no mercado, pois a promoção de negócios e o desenvolvimento local. empresa passou a ser avalizada pelo relacionamento manDe 2005 a 2012, a taxa média anual de crescimento tido com a Gerdau. Avanços importantes ocorreram ainda das vendas brutas das empresas participantes foi de 5,1% e nos resultados financeiros. No primeiro trimestre deste o aumento médio do número de postos de trabalho alcanano, o lucro líquido cresceu cerca de 28% em relação ao çou 10,5% – ou 49% e 122% acumulados, respectivamenmesmo período de 2012 (embora o faturamento total te, no período. Foram também promovidas rodadas de tenha diminuído, já que a sociedade passou por uma cisão negócios entre grandes empresas da cadeia de petróleo, gás no fim do ano passado, quando um sócio que não era meme energia e micro e pequenos empreendimentos, que resulbro da família decidiu deixar o empreendimento, num taram numa expectativa de negócios de R$ 741 milhões, movimento entendido como parte do processo de reestruconforme os dados da UO-Seal. turação da companhia). Resultados positivos são vistos também nas demais empresas que integram o programa. Segundo dados da Unidade de Atendimento Coletivo – Indústria (Uacin), do Sebrae Nacional, os micro e pequenos empreendimentos da cadeia liderada pela Gerdau aumentaram a lucratividade média de 9,6% para 12,42% depois que passaram a fazer parte do programa. O faturamento médio aumentou 10,52% e cresceu a eficiência no uso dos recursos. Hoje, elas gastam 5% menos nos processos internos para faturar o mesmo valor. Depois da reestruturação, a Rodatech passou a utilizar fibra de vidro na estrutura externa das unidades móveis que fabrica, como vans, ônibus e carretas de transporte. RUMOS - 50 – Março/Abril 2013 SXC Qualidade e inovação – Um dos resultados mais importantes do programa é o desenvolvimento tecnológico e a inovação nas pequenas companhias participantes. Vinte delas foram certificadas em 31 normas internacionais de qualidade, como ISO 9001, ISO 14001 (International Organization for Standardization) e OSHAS 18001 (Occupational Health and Safety Assessment Series). “As empresas conveniadas detêm 40% de todas as certificações do estado de Sergipe”, informa Alberto de Souza. Com a inserção de pequenos e médios negócios na cadeia produtiva do petróleo e gás, as empresas sergipanas que passaram pela capacitação do Sebrae e da Petrobras geraram 14 produtos inovadores para o segmento. Encadeamento produtivo A finalidade é adequar os pequenos empreendimentos aos requisitos das grandes e facilitar a realização de negócios entre eles, melhorando a competitividade das pequenas, das grandes companhias e da cadeia de valor como um todo. Na prática, a grande empresa e o Sebrae definem um modelo de parceira. O próximo passo é a realização de um mapeamento das demandas de bens e serviços e dos requisitos exigidos pelas grandes empresas. A identificação das demandas ocorre tanto na análise da etapa anterior à produção (abrangendo fornecedores de insumos, serviços e bens intermediários) quanto na fase seguinte (distribuição, manutenção, assistência técnica, relacionamento com varejistas e consumidores). Em seguida, as pequenas empresas são diagnosticadas, o gap de competitividade é identificado, e elas recebem um plano de ação com as oportunidades de melhoria do seu negócio. Cursos e consultorias são realizados para que as pequenas empresas melhorem o seu desempenho e um novo diagnóstico é realizado. Caso necessário, um novo ciclo de desenvolvimento pode ser implementado. GRANDE EMPRESA DEMANDA PEQUENA EMPRESA OFERTA ENCADEAMENTO PRODUTIVO BENEFÍCIOS PARA AS COMPETITIVIDADE fortalecida das pequenas empresas GAP DE COMPETITIVIDADE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL nas regiões que abrigam pequenos empreendimentos MAIS EMPREGOS ENCADEAMENTO PRODUTIVO As micro e pequenas empresas são as maiores geradoras de trabalhadores formalizados no Brasil PEQUENAS EMPRESAS INOVAÇÃO e incentivo para a expansão dos fornecedores locais CRESCIMENTO sustentável nas economias regional e local PRODUTIVIDADE Aprimoramento dos processos Além disso, com o apoio da Petrobras e do Sebrae, empresas sergipanas geraram 14 produtos e serviços inovadores para o segmento, como gaxetas e vedações especiais, serviços de avaliação e testes de poços de petróleo, detectores de gás e simuladores de treinamento em áreas petrolíferas, entre outros. Boa parte desse trabalho conta com o apoio de instituições de ensino e pesquisa, como a Universidade Federal de Sergipe, que mantêm incubadoras de projetos de petróleo e gás. Atualmente, há oito desses projetos em incubação. “Esse segmento é um terreno em que predominam grandes empresas multinacionais. Mas muitas companhias brasileiras de pequeno porte têm conseguido avançar, em virtude do ambiente de oportunidade criado pelas ações desenvolvidas no programa”, afirma Aladio Antônio de Souza. Economia mais produtiva – Carlos Alberto dos Santos, do Sebrae, observa que os efeitos positivos dos programas de encadeamento produtivo vão além do círculo de empresas diretamente abrangidas pelas parcerias. “Ao aumentar a eficiência e a produtividade dos pequenos negócios – e, em consequência, de toda a cadeia de valor – os projetos têm repercussão favorável no conjunto da economia nacional”, aponta. Para o diretor, é equivocada a ideia de que negócios de pequeno porte são sempre pouco competitivos. Isso pode ser verdade em situações em que a empresa se coloca isoladamente em setores do mercado de produtos massificados, geralmente dominados por grandes produtores que, por dispor de economias de escala a que os pequenos não têm acesso, conseguem produzir a custos menores. Nas economias avançadas, contudo, o que se nota é que as grandes companhias líderes se estruturam sobre cadeias de valor que têm milhares de pequenas empresas a montante e a jusante no processo produtivo. “Aumentar a produtividade dos agentes envolvidos nessas cadeias é determinante para elevar a competitividade do país como um todo”, salienta. RUMOS - 51 – Março/Abril 2013
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