Jornal-laboratório como instrumento de interação com as

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Jornal-laboratório como instrumento de interação com as
1
CENTRO UNIVERSITÁRIO UNA
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA, PESQUISA E EXTENSÃO
Mestrado em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local
Circulando, do jornalismo local ao jornalismo público:
Jornal-laboratório como instrumento de
interação com as comunidades
Alpeniano Silva Filho
Belo Horizonte - MG
2012
2
ALPENIANO SILVA FILHO
Circulando, do jornalismo local ao jornalismo público:
Jornal-laboratório como instrumento de
interação com as comunidades
Dissertação apresentada ao Mestrado
em Gestão Social, Educação e
Desenvolvimento Local, do Centro
Universitário UNA, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre.
Linha de pesquisa:
Processos Educacionais: Tecnologias
Sociais e Desenvolvimento Local.
Orientador: Prof. Dr. Cláudio Márcio
Magalhães
Belo Horizonte – MG
Centro Universitário UNA
2012
3
Silva Filho, Alpeniano
Circulando do jornalismo local ao jornalismo cívico: JornalLaboratório como instrumento de interação com as comunidades/
Alpeniano Silva Filho. -- 2012.
127 f.
Dissertação (mestrado) – Centro Universitário UNA, Mestrado
em Gestão Social, Educação e Desenvolvimento Local, Belo
Horizonte, MG, 2012.
Orientador: Cláudio Márcio Magalhães
1. Jornalismo – estudo ensino. 2. Jornalismo – orientação
profissional. 3. Interação social. I. Magalhães, Cláudio Márcio. II.
Centro Universitário UNA. III. Título.
CDD 070.407
4
Para Alpiniano Silva, meu pai!
Notícia de Jornal1
(Luiz Reis - Haroldo Barbosa)
Tentou contra a existência
Num humilde barracão
Joana de tal
Por causa de um tal João
Depois de medicada
Retirou-se pro seu lar
Aí, a notícia carece de exatidão
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais
Uma mulata triste que errou
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de João
Ninguém notou
Ninguém morou
Na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal
1
Notícia de jornal é um samba-canção composto em 1961, pelos compositores e sambistas,
Luiz Reis e Haroldo Barbosa. Os dois, além de compor vários sambas clássicos da Música
Popular Brasileira, eram jornalistas e atuaram em vários jornais, dentre estes, o lendário Diário
Carioca. Muitos sites e blogs atribuem a autoria desta música a Chico Buarque, isso porque o
drama de Joana de Tal foi gravado por ele em 1975, e depois pelo sambista Miltinho, em dueto
com o mesmo Chico Buarque, no disco “Miltinho Convida”, em 1998. Meu pai, Alpiniano Silva,
fã do Miltinho, ouvia no rádio as músicas interpretadas de forma bem humorada pelo “sambista
do bigodinho branco”. Eu ouvia estes sambas na companhia do meu pai, homem simples, que
nunca frequentou a escola, mas à sua maneira, falando de música, rádio e futebol, conduziume aos caminhos da música e do jornalismo. Hoje, aos 79 anos de idade e debilitado pelo mal
de Parkinson, quase sem memória, meu pai merece a dedicatória que faço a ele nesta
dissertação. Gostaria muito de dizer a meu pai que o samba que ele ouvia, além de uma jóia
rara da MPB, possui uma letra que me motivou a pesquisar a prática jornalística. Notícia de
Jornal subsidia várias discussões citadas nesta dissertação: subjetividade, imparcialidade,
notícias reproduzidas dos boletins de ocorrência da polícia sem a devida contextualização dos
fatos, dentre outros temas. O drama de Joana de Tal é a dor de muitos, que infelizmente não
sai no jornal.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço,
Aos amigos queridos, Regina Miranda e Daniel Antunes, e
também à Mirtes Cipriano, pela acolhida em Belo
Horizonte nas minhas as idas e vindas entre Governador
Valadares e a capital mineira, durante o curso das
disciplinas deste Mestrado.
Luciana Gross, minha sobrinha, pela força, ao formatar
este trabalho.
Emilly Vítor, pela amizade e por fiscalizar o meu trabalho:
“e aí, já terminou essa dissertação?”
Ao professor Cláudio Márcio Magalhães, pela valiosa
orientação e bom humor.
Áurea Thomazi, professora do Mestrado, fã de jazz, uma
das belas amizades que conquistei durante este curso.
Igualmente, outra bela amizade conquistada: professora
Eloísa Cabral, com aquele sotaque paulista de São
Carlos, SP, cara de brava, mas um doce de pessoa.
Kristianne Moreira, que durante as aulas do Mestrado foi
amiga e companheira, junto com a filha Rafaela, ainda na
barriga. Assim como a Kris, outra amizade de sala de aula
que me encantou: Natália Marra, a nossa “Santinha”,
pequena notável, que virou torcedora do Democrata-GV.
Áurea Nardely, grande amiga, professora e jornalista das
melhores e das mais competentes, pelo apoio
incondicional durante todo o Mestrado.
E, finalmente, à Lena, minha esposa, pela compreensão.
Foram muitas viagens e muitas horas de estudo, mas
valeu a pena.
6
RESUMO
A natureza social do jornalismo impõe ao jornalista e aos meios de
comunicação, a responsabilidade de divulgar informações de interesse público
e adotar uma prática jornalística capaz de contribuir para o desenvolvimento
local. No entanto, nem sempre isso acontece e os jornais impressos,
principalmente aqueles produzidos em cidades do interior do Brasil, se
distanciam das aspirações comunitárias, priorizando o interesse particular ou
político-partidário. Um dos caminhos para resolver esta situação-problema está
na educação, com a formação profissional dos jornalistas nas universidades, e
esta deve estar voltada para o ensino-aprendizagem do jornalismo de interesse
público. Para que isto aconteça, os cursos de jornalismo devem oferecer a
articulação prático-teórica das disciplinas específicas do jornalismo em
ambientes laboratoriais que permitam a experimentação em meios de
comunicação próprios, como os jornais-laboratórios, com periodicidade regular
e dirigidos a um público específico, preferencialmente das comunidades de sua
área de abrangência. Estes órgãos laboratoriais podem ser instrumentos
importantes para o aprendizado dos alunos e uma forma de garantir interação
com as comunidades, ampliando os espaços dos movimentos sociais na esfera
pública. A construção e a aplicação de uma tecnologia social de comunicação,
baseada no conceito “fazer com e para a comunidade”, pode contribuir para a
as atividades de ensino-aprendizagem nos laboratórios dos cursos de
Jornalismo, permitindo que o futuro profissional do jornalismo entenda como
deve ser uma prática jornalística cidadã. Este trabalho tem como objetivo tentar
oferecer às escolas de comunicação um modelo de jornal-laboratório que
privilegie a prática do jornalismo de interesse público. Para a construção deste
modelo, propõe uma intervenção às práticas laboratoriais nos cursos de
jornalismo, contidas em uma cartilha, sem a pretensão de ser o único
referencial, mas o princípio de um debate que vise o aprimoramento das
práticas acadêmicas e sua proximidade com as comunidades onde estão
inseridas.
Palavras chaves: educação, desenvolvimento local, jornal-laboratório.
7
ABSTRACT
The social nature of journalism requires the journalist and the media,
responsibility to disclose information de from public interest and
adopt a journalistic practice that can contribute to local development. However,
not always it happened and newspapers, especially those produced in the inner
cities of Brazil, have distant aspirations of community, prioritizing the particular
interest or political party. One way to solve this problem situation is in
education, including professional training of journalists in the universities. This
should be the focused: teaching and learning of journalism in the public
interest. For this to happen, the journalism courses should offer practical and
theoretical articulation of the specific disciplines of journalism in laboratory
environments to experiment in their own media, like newspaper-lab at regular
intervals and directed to a specific audience, preferably from the communities
of its catchment area. These newspapers-labs can be important tools for
student learning and a way to ensure interaction with the communities,
expanding the spaces of social movements in the public sphere. The
construction and application of a social technology of communication, based on
the concept "do from and to the community", can contribute to the activities of
teaching and learning in laboratory courses in journalism, allowing the
professional future of journalism understand how the journalism can be a
citizen practice. This work aims to offer schools a model of communication labnewspaper that favors the practice of journalism in the public interest. To build
this model, we propose an intervention to laboratory practice in journalism
courses, contained in a booklet, without claiming to be the sole criterion, but the
principle of a debate aimed at the improvement of academic practices and its
proximity to the communities from where they are.
Keywords: education, local development, newspaper-lab.
8
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
_______________________________________________________________
Quadro 1 Descrição dos jornais-laboratórios............................................
54
Quadro 2 Descrição dos jornais locais de Governador Valadares............
57
Figura 1 Capa da Folha Regional..............................................................
76
Figura 2 Capa do Diário do Rio Doce........................................................
79
Figura 3 Coluna da Folha Regional composta em 1 coluna......................
80
Figura 4 Página do Jornal-laboratório OutrOlhar....................................... 82
Figura 5 Página do Jornal-laboratório Senso(in)comum – cabeçalho......
83
Figura 6 Página do Jornal-laboratório Senso(in)comum – linha viúva.....
83
Quadro 3 Descrição de dados do novo projeto Circulando.......................
100
Figura 7 Capa do novo projeto do Jornal-laboratório Circulando..............
101
9
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
_______________________________________________________________
MEC Ministério da Educação
UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
ACGV Associação Comercial de Governador Valadares
ANDI Agência de Notícias dos Direitos da Infância
CAAE Certificado de Apresentação para Apreciação Ética
CDL-GV Câmara de Dirigentes Lojistas de Governador Valadares
CEPES Cento de Pesquisas Econômico-Sociais
CFE Conselho Federal de Educação
CONSEPE Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão
CRAS Centro de Referência de Assistência Social
DRD Diário do Rio Doce
ECA Estatuto da Criança e do Adolescente
EXPOCOM Exposição Experimental da Comunicação
FGTS Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
FIEMG Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais
INTERCOM Sociedade de Estudos Interdisciplinares da Comunicação
IPVA Imposto Sobre Veículos Automotivos
PUC MINAS Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
REDE API Rede de Apoio a Perdas Irreparáveis
RTS Rede de Tecnologia Social
TC Tecnologia Convencional
TS Tecnologia Social
UFU Universidade Federal de Uberlândia
UFV Universidade Federal de Viçosa
UNIVALE Universidade Vale do Rio Doce
10
SUMÁRIO
Introdução................................................................................................
13
Capítulo 1
Jornal-laboratório, house organ ou exercício social?.........................
17
1.1 A função social do jornalismo..............................................................
17
1.2 Interlúdio histórico sobre a imprensa................................................... 18
1.3 O jornalismo cidadão...........................................................................
20
1.4 O simulacro da verdade na objetividade jornalística...........................
23
1.5 Ensino de Jornalismo..........................................................................
25
1.6 A prática profissional nos laboratórios................................................
28
1.7 O que jornal-laboratório?....................................................................
30
1.8 A construção de uma tecnologia Social de Comunicação..................
32
1.9 A pauta jornalística..............................................................................
34
Capítulo 2
A tentativa de mudar uma realidade por meio da educação...............
38
2.1 A responsabilidade social do jornalista...............................................
38
2.2 O jornal-laboratório na democratização da informação......................
40
2.3 Jornalismo voltado às comunidades...................................................
42
2.4 O fim de um projeto.............................................................................
46
Capitulo 3
Percurso metodológico nos jornais locais e laboratoriais.................. 48
Capítulo 4
Procedimentos editoriais identificados na coleta de dados...............
53
4.1 Dados sobre jornais-laboratórios e jornais locais................................
53
4.1.1 Jornal-laboratório Circulando............................................................ 54
4.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar.............................................................
55
4.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)comum.................................................. 56
4.1.4 Jornal-laboratório Marco...................................................................
56
11
4.2 Descrição de dados dos jornais locais................................................
57
4.2.1 Diário do Rio Doce...........................................................................
58
4.2.2 Cadernos do DRD............................................................................
59
4.2.3 Dados das edições do DRD.............................................................
60
4.2.4 Jornal de Domingo............................................................................ 62
4.2.5 Jornal Folha Regional.......................................................................
63
4.2.6 Jornal Classificados O Domingo.......................................................
64
Capítulo 5
Analisando a prática jornalística na escola e no mercado..................
65
5.1 Análise de conteúdo dos jornais-laboratório e jornais locais...............
65
5.1.1 Jornal-laboratório Circulando............................................................ 66
5.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar.............................................................
68
5.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)comum.................................................. 69
5.1.4 Jornal-laboratório Marco...................................................................
70
5.2 Análise dos jornais locais....................................................................
71
5.2.1 Diário do Rio Doce............................................................................
71
5.2.2 Folha Regional..................................................................................
74
5.2.3 Jornal de Domingo............................................................................
77
5.2.4 Jornal Classificados O Domingo....................................................... 77
5.3 As distorções no projeto gráfico dos jornais locais..............................
78
Capítulo 6
O jornalismo cívico aplicado ao jornal-laboratório..............................
85
6.1 Projeto editorial e gráfico para o jornal-laboratório Circulando............ 85
6.2 A participação da comunidade no processo de produção da notícia..
86
6.3 As comunidades no Conselho Editorial...............................................
87
6.4 Redação de textos jornalísticos...........................................................
90
6.5 Projeto Gráfico.....................................................................................
92
6.6 Edição Jornalística............................................................................... 95
6.6.1 Urbanismo........................................................................................
95
6.6.2 Esportes...........................................................................................
95
6.6.3 Cidadania.........................................................................................
95
12
6.6.4 Cultura..............................................................................................
96
6.6.5 Serviço..............................................................................................
96
6.6.6 Política..............................................................................................
96
6.6.7 Polícia...............................................................................................
96
6.6.8 Opinião.............................................................................................
96
6.6.9 Economia..........................................................................................
96
6.7 Recomendações à rotina de produção................................................
97
6.7.1 Uso de normas de padronização e estilo.........................................
97
6.7.2 Procedimentos editoriais associados ao projeto gráfico..................
97
6.7.3 Distribuição e público-alvo................................................................
99
6.7.4 Cronograma de atividades semanais...............................................
99
6.7.5 Composição do Corpo Editorial........................................................
100
6.8 Inserção de anúncios...........................................................................
101
6.9 Dados adicionais à proposta...............................................................
101
Considerações finais..............................................................................
103
Referências..............................................................................................
105
Apêndices e Anexos...............................................................................
110
Termo de aprovação do projeto no CAAE................................................
110
Termo de autorização para pesquisa / Univale.........................................
111
Anexo 1 Capas dos jornais analisados....................................................
112
Capa Jornal-laboratório Senso(in)comum................................................
112
Capa Jornal-laboratório Circulando..........................................................
113
Capa Jornal-laboratório OutrOlhar............................................................
114
Capa Jornal-laboratório Marco..................................................................
115
Capa Diário do Rio Doce...........................................................................
116
Capa Jornal de Domingo...........................................................................
117
Capa Folha Regional.................................................................................
118
Capa Classificados O Domingo................................................................
119
Anexo 2 Cartilha com adaptação resumida da proposta de intervenção.
120
13
INTRODUÇÃO
Esta dissertação se propõe a estudar as práticas jornalísticas dos jornaislaboratório de cursos de Jornalismo de algumas universidades mineiras, a
partir de um comparativo com as práticas jornalísticas dos jornais impressos
produzidos em Governador Valadares, Minas Gerais, identificando os
elementos que caracterizam a prática profissional dos jornalistas e possíveis
distorções na prática jornalística destes jornais. O estudo busca subsídios em
conhecimentos já produzidos sobre a comunicação e o jornalismo, como forma
de oferecer uma proposta ideal para a edição de um jornal-laboratório que
tenha compromisso com o interesse público. A relevância social desta
investigação se justifica em vários pontos, mas é oportuno destacar que ela se
sustenta na afirmação de Melo (2004), que em seus estudos sobre
comunicação constatou que “a imprensa das cidades do interior constitui um
território pouco explorado na bibliografia brasileira do Jornalismo, embora
represente uma alternativa para
assimilação dos novos profissionais
jornalistas” (MELO, 2004, p.9).
No capítulo 1, os estudos teóricos sobre comunicação e jornalismo são
apresentados, e reafirmam a necessidade de entender uma melhor formação
de jornalistas nas universidades brasileiras, fato que tem motivado muitas
discussões. Algumas delas resultaram na elaboração de um documento
intitulado “Novas Diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo”,
apresentado ao Ministério da Educação em 2009, por uma Comissão de
Especialistas em Ensino de Jornalismo. Os pontos principais deste documento
são destacados neste capítulo, que também apresenta diferentes pensamentos
sobre a prática jornalística, partindo da conceituação do que é comunicação,
que, apesar do caráter polissêmico, possui uma definição, citada por Santaella
(2002, p.17), que se aproxima muito do caráter do jornalismo: “interação social
através de mensagens”.
14
Este conceito, intrínseco à atividade jornalística, conduziu este estudo ao
interlúdio histórico sobre a origem e a evolução dos jornais, a formação dos
jornalistas nas universidades brasileiras, o jornalismo de interesse público, e os
jornais-laboratórios dos cursos de jornalismo como uma antítese da prática
editorial dos jornais, principalmente aqueles produzidos no interior do Brasil,
que de acordo como Melo (2004, p.11) se distanciam das aspirações
comunitárias, servindo aos interesses dos donos do poder local.
Esta situação-problema, gerada pelas aspirações comunitárias ausentes das
páginas dos jornais impressos do interior, e a possibilidade de as comunidades
terem espaço nos jornais-laboratório dos cursos de Jornalismo, é o objeto
deste estudo, descrito no capítulo 2. O recorte feito para a realização do estudo
proposto, relaciona-se à prática jornalística nos jornais de Governador
Valadares, baseado na hipótese de que a precariedade no processo de
produção de notícia nos jornais impressos do interior gera distorções diversas,
como a publicação de noticiário nacional e internacional recortado dos sites de
notícias, ou obtido em agências noticiosas, em detrimento do noticiário local.
Outra distorção está relacionada a uma prática comum nos jornais de
Governador Valadares, que é a publicação parcial ou na íntegra dos pressreleases2 produzidos pelos jornalistas das assessorias de comunicação. O
problema central desta prática: a informação oficial dos press-releases, que é
repassada ao público, deriva do interesse das assessorias em exaltar a
imagem dos seus assessorados, ou noticiar as ações gerenciais de empresas
e instituições, que nem sempre são de interesse público, e certamente são
parciais, embora isso, em muitos casos, não fique claro para o leitor. Outra
hipótese é de que a formação de profissionais jornalistas, ainda incipiente na
região do Vale do Rio Doce, e a não admissão dos profissionais formados pelo
curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio Doce na maioria das
redações dos jornais locais, acentue o problema.
2
Press releases são textos informativos produzidos nas assessorias de imprensa e enviados
pelos assessores para as redações dos meios de comunicação com o objetivo de informar,
anunciar, contestar, esclarecer ou responder à mídia sobre algum fato que envolva o
assessorado, positivamente ou não.
15
A experiência do jornal-laboratório Circulando, do curso de Jornalismo da
Universidade Vale do Rio Doce, que nasceu para cumprir uma função
importante dentro do jornalismo local, com a missão de democratizar a
informação, foi descrita neste capítulo, como forma de estabelecer os
contrapontos entre a prática dos jornais locais e a prática sugerida pelos
estudos teóricos sobre comunicação e jornalismo, aplicadas ao jornallaboratório.
Para identificar os problemas e propor soluções, foi necessário o percurso
metodológico descrito no capítulo 3, estruturado na pesquisa qualitativa e em
procedimentos
de
investigação
baseados
em
análise
de
conteúdo,
experimentação, e adoção de instrumentos de coleta e tratamento de dados
obtidos nas análises de 4 (quatro) jornais-laboratório (dois de universidades
privadas e dois de universidades federais): Senso(in)comum, do curso de
Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU, Uberlândia, MG);
OutrOlhar, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV,
Viçosa, MG); Circulando, do curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio
Doce
(Univale,
Governador
Valadares,
MG)
e
Marco,
da
Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas, Belo Horizonte, MG).
Também foi feita uma análise de edições de jornais locais, da cidade de
Governador Valadares: Diário do Rio Doce, Jornal de Domingo, Folha Regional
e Classificados O Domingo.
No capítulo 4 são descritos os dados previamente colhidos nestes jornais,
relacionados à linha editoral, ao espaço destinado ao noticiário local, ao projeto
gráfico e composição do corpo editorial, à circulação e ao conteúdo jornalístico
apurado, tanto pelos alunos-repórteres dos jornais-laboratório, como pelos
repórteres dos jornais locais. Tais dados contribuíram para a análise descrita
no capítulo 5, e possibilitou a compreensão da situação-problema, ao
estabelecer um comparativo dos conteúdos dos jornais analisados e os
procedimentos editoriais sugeridos na revisão bibliográfica, definindo a prática
do jornalismo voltado ao interesse público.
16
Os dados colhidos nas edições do Diário do Rio Doce (único jornal diário da
região do Vale do Rio Doce) revelaram que a publicação de noticiário de
agências de notícias nacionais e internacionais predomina sobre a publicação
de noticiário local, apurado pelos repórteres da redação. Os outros jornais
locais, apesar de não utilizar os serviços das agências de notícias, assim como
o DRD, ocupam suas páginas com fotos e notas sobre celebridades locais,
publicam de forma integral ou parcial os press-releases que chegam à redação,
publicam matérias pagas por Prefeituras e Câmaras Municipais, e textos
opinativos. Assim, a informação de interesse público fica reduzida às áreas
periféricas das páginas, condenando grande parte dos fatos ocorridos nas
comunidades à inexistência social.
Seria possível um jornal-laboratório de um curso de Jornalismo adotar uma
linha editorial voltada ao interesse público, assumindo a defesa dos direitos dos
cidadãos? No capítulo 6, baseado na coleta e análise de dados, e com o
referencial teórico desta dissertação, este estudo propõe a reformulação
editorial e gráfica no jornal-laboratório Circulando, visando ampliar sua inserção
comunitária e permitir a articulação prático-teórica de forma interdisciplinar nas
atividades de ensino-aprendizagem do curso de Jornalismo da Univale.
Esta reformulação, além de contribuir para a formação de profissionais capazes
de atuar em prol da democratização da informação, também poderá contribuir
para o desenvolvimento local, e se apresenta com a perspectiva de se tornar
uma Tecnologia Social de Comunicação, com elementos que a caracterizam
como uma proposta de inovação da prática jornalística.
A proposta de intervenção desta dissertação, que poderá ser adotada por um
jornal-laboratório interessado em voltar-se ao jornalismo de interesse público,
foi resumida em uma cartilha, cujo fac-símile compõe o Anexo 2. O objetivo
desta cartilha é oferecer subsídios para a edição de um jornal-laboratório
impresso, que sirva de modelo para uma prática jornalística cidadã.
17
Capítulo 1
JORNAL-LABORATÓRIO, HOUSE ORGAN OU EXERCÍCIO SOCIAL?
1.1 A função social do jornalismo
A relação entre o jornalismo e a sociedade tem sido, ao longos dos anos,
objeto de vários estudos teóricos, que buscam, em uma perspectiva crítica,
analisar a sua natureza ideológica e suas funções no meio social. França
(1998) argumenta que a imprensa, embora exerça um papel de propagar a
informação, responderia ainda por várias outras funções, como “integração
social, função recreativa, função psicoterápica, expressão de opiniões,
formação de opinião pública, denúncia, democratização da informação (e da
cultura), mobilização e outras” (FRANÇA, 1998, p.35). A autora observa ainda
que “no jornalismo, não é a relação emissor/receptor que está em primeiro
plano, não é a troca que está em causa, mas a produção da informação de um
sentido objetivo do mundo” (FRANÇA, 1998, p.35).
Santaella (2002) também faz referência aos estudos teóricos sobre a
comunicação e a pluralidade dos fenômenos comunicacionais. Para esta
autora, o termo “comunicação” é polissêmico, diverso e multifacetado. A
natureza multidisciplinar da comunicação, segundo Santaella, conduz o
pesquisador a defini-la como “interação social através de mensagens”
(SANTAELLA, 2002, p.17).
Ao se referir à etimologia da palavra comunicação, Dines (1986) faz referência
à sua raiz latina para conceituá-la. “Comunicação vem do latim communis,
comum, e communicare, tornar comum, compartilhar” (DINES, 1986, p.60).
Dines argumenta que algo para ser comum necessita de mais de um elemento
para o confronto verificador da igualdade. Citando Cherry (1971), Dines (1986)
afirma que a comunicação é uma questão eminentemente social.
A comunicação é interpessoal e não intrapessoal. Consigo
próprio o homem não se comunica, ele apenas se observa,
reflete, devaneia. A comunicação só ocorre individualmente
nas situações de sonhos ou fantasia, quando consciente e
18
inconsciente fazem o jogo emissor receptor (CHERRY apud
DINES, 1986, p.60).
Dines constrói sua argumentação sobre o caráter coletivo da comunicação no
fato de que, “para se ter algo em comum com alguém é preciso que haja este
alguém” (DINES, 1986, p.60). Para este autor, a comunicação é, portanto,
coletiva a partir da sua essência, e essa comunhão, segundo ele, se origina da
palavra communis, a continuação lógica do processo.
Adotando o mesmo método etimológico, encontraremos uma
definição igualmente clara para o termo informação. Origina-se
igualmente do latim, in formatio, dar forma, enformar, organizar.
Temos, assim, a comunicação como estabelecimento de uma
sintonia, a criação de um conduto de igualdades, e a
informação, o conteúdo que corre dentro desse canal. É de
Norbet Wiener, o pai da Cibernética, o conceito de que a
informação é a mensagem organizada. Por extensão, diríamos
que a informação jornalística (jornal, do latim, diurnalis, diária)
seria a informação organizada periodicamente, sistematizada
no tempo (DINES, 1986, p.61).
1.2 Interlúdio histórico sobre a imprensa
A informação jornalística, intrínsecamente ligada ao caráter da comunicação,
possui raízes históricas que remontam anos. O jornalismo, de acordo com
Marcondes Filho (1986), seguiu uma linha evolutiva baseada em fases, como a
que determinou o início da imprensa artesanal ou meramente informativa,
levada pelos “vendedores de notícia”. Nesta fase, os jornais funcionavam como
classificados, com grandes anúncios para circular informações sobre
transações comerciais de uma burguesia emergente. Havia poucas notícias
como são entendidas hoje, e estas se referiam a desastres, mortes,
nascimentos, entre outros acontecimentos factuais. O advento desta imprensa
simbolizou a ruptura com a forma desagregada de armazenar informações.
Antes, tendo em vista o predomínio da lógica religiosa, eram sacerdotes que
guardavam as informações. Com a secularização dos ritos sociais, o jornalista
passou a disseminar a informação socialmente. Isto se deu a partir do século
XVII.
19
A imprensa literária, que emergiu nos séculos XVII e XIX, caracterizou-se pela
briga entre a burguesia e a aristocracia. Os burgueses estavam surgindo como
classe social e queriam tomar o poder da aristocracia. Para atingir seu objetivo,
usaram a imprensa como meio de disputa política.
Outra fase é destacada por Marcondes Filho. No final do século XIX e início do
século XX, o capitalismo entrou em uma fase monopolista, com tendência de
concentração de empresas. O jornal deixou de ter finalidade pedagógica e
política.
Prevalecem
os
interesses
financeiros.
Assume,
portanto,
a
característica de produto, de mercadoria a ser vendida. Marcondes Filho
observa que não há muita diferença entre os jornais ditos “sérios” e os
chamados “sensacionalistas”, uma vez que todos recorrem ao sensacionalismo
para vender, e isso constitui uma forma mais radical de mercantilização do
produto. Para ele, os jornais passaram a viver na auto-referencialidade, o que
um divulga, todos os outros acabam divulgando também, caindo na mesmice.
E, por fim, o processo do trabalho reflete o domínio do capitalismo. Os jornais
contam com “bons jornalistas”, profissionais que se adaptam bem ao sistema,
têm textos razoáveis, mas são pouco críticos e fazem o que a empresa manda.
Marcondes Filho descreve como a atividade jornalística transformou-se no
início do século passado, em negócio, em empresa capitalista, e afirma que
com isso, o jornal se torna uma mercadoria a ser vendida como qualquer outro
produto.3 Passa, portanto, a ser subordinado ao desenvolvimento da economia
de mercado. Basta observar atualmente as mudanças tecnológicas, como têm
interferido na embalagem do produto (jornal), que trabalha mais com o visual.
O problema levantado por Marcondes Filho, relacionado ao fato dos jornalistas
serem pouco críticos e servis às empresas nas quais atuam, também é
observado por Lima (1995), que citando Medina (1978), vê como precárias as
discussões de pauta, e um indicativo deste problema em muitas redações.
3
- Ciro Marcondes Filho, no livro “O Capital da Notícia”, recorre à discussão feita por Jurgen
HABERMAS (1984), no livro Mudança estrutural da esfera pública, em que o filósofo alemão
descreve as fases de consolidação da imprensa.
20
Nas rotinas de redação, momentos decisivos como as reuniões
de pauta pecam por falta de domínio técnico-profissional. A
opção de assuntos e a forma de como tratá-los raramente é
levada no grau de seriedade e aprofundamento que a situação
exige. Assim, por exemplo, a falta de imaginação (criação),
uma das fontes mais comuns de pauta é a seleção de assuntos
já publicados em outros veículos. Uns jornais se pautam pelos
outros num círculo vicioso, fechado e pobre (MEDINA apud
LIMA, 1995, p.60).
O julgamento sobre o que deve ser notícia ou não, é algo que se evidencia nas
redações dos jornais a cada dia. Os editores fazem uma triagem dos fatos e
elegem aqueles que, no seu modo de ver e pensar, será pautado como a
notícia do dia. Os outros, não escolhidos, são condenados a inexistência social.
Erbolato (1991) lista os principais critérios de noticiabilidade usados nesta
triagem: a) proximidade; b) marco geográfico; c) impacto; d) proeminência –
personalidades; e) aventura e conflito; f) conseqüências; g) humor; h) raridade;
i) progresso; j) interesse humano; l) importância; m) rivalidade; n) política
editorial do jornal; o) utilidade; p) oportunidade; q) culto de heróis; r)
descobertas e invenções; s) repercussão (ERBOLATO, 1991, p.60-62).
Wolf (1999) explica que estes critérios de noticiabilidade estão estreitamente
ligados aos processos de rotinização e de estandardização das práticas
produtivas dos meios de comunicação. Nesse sentido, a definição de
noticiabilidade liga-se ao conceito de perspectiva-da-notícia, que é a resposta
que o órgão de informação dá à questão que domina a atividade dos
jornalistas: quais os fatos cotidianos que são importantes e devem virar
notícia?
1.3 O Jornalismo cidadão
O atendimento às demandas da cidadania, como instrumento de mobilização
social, é um dos principais pilares do jornalismo comunitário, de acordo com
Pena (2005). Para ele, os indivíduos inseridos em comunidade devem
participar do processo de produção das mensagens. O autor defende que no
jornalismo comunitário, o jornalista deve enxergar com os olhos da
21
comunidade, e fazer um esforço no sentido de verificar uma real apropriação
dos processos de mediação pelo grupo.
Esta participação das pessoas no processo de construção da notícia foi
amplamente discutida nos Estados Unidos quando alguns profissionais da
comunicação observaram que havia uma incompatibilidade entre a agenda da
imprensa e as comunidades estadunidenses. Das discussões sobre esta
incompatibilidade surgiu o jornalismo cívico, em 1994. Castilho; Fialho (2009),
explicam
que
a
interlocução
das
comunidades
estadunidenses
com
autoridades municipais foi parte de um projeto de 10 milhões de dólares
patrocinado pelo Pew Center For Civic Journalism4. O projeto teve a adesão de
quase 30 jornais regionais em diferentes estados, que convocaram a
população de bairros para participar de assembléias públicas, nas quais as
autoridades municipais eram questionadas sobre problemas comunitários. “O
principal objetivo era aumentar a participação dos moradores em eleições
locais” (CASTILHO; FIALHO, 2009, p.133).
Estes autores esclarecem que o projeto, apesar de ter proporcionado a
articulação de diferentes atores da esfera pública, foi muito criticado por alguns
profissionais e estudiosos da comunicação nos Estados Unidos, que
reclamavam do processo de discussão dos temas comunitários com
autoridades municipais. Segundo Castilho; Fialho (2009), por ter acontecido
durante o processo eleitoral de 1994, a aplicação do projeto alterava o conceito
de isenção da informação.
Traquina (2001) também aborda as origens do jornalismo cívico, que segundo
ele, surgiu da crítica incessante e implacável dos profissionais da mídia, com
particular ênfase na análise da cobertura noticiosa dos processos eleitorais nos
Estados Unidos. Ele explica que existem outras denominações para este “novo
jornalismo” e cita vários autores e denominações defendidas por eles:
“jornalismo
4
comunitário”
(Craig,1995);
“jornalismo
de
serviço
público”
O Pew Center For Civic Journalism é uma organização criada nos Estados Unidos,
responsável pelo financiamento de grande parte dos projetos e experimentos de jornalismo
cívico na imprensa estadunidense.
22
(Shepard,1994); “jornalismo público” (Rosen,1994 e Merritt,1995) e “jornalismo
cívico” (Lambeth e Craig,1995). Citando Merritt (1995), Traquina (2001) afirma
que o jornalismo pode, e deve ser uma “força fundamental” na “revitalização da
vida pública”, mas, para que isso ocorra, é necessário uma mudança
fundamental na profissão para conseguir esse objetivo.
O jornalismo cívico que Merritt defende, envolve as seguintes
mudanças: 1) ir para além da missão de dar as notícias para
uma missão mais ampla de ajudar a melhorar a vida pública; 2)
deixar para trás a noção do “observador desprendido” e
assumir o papel de “participante justo”; 3) preocupar-se menos
com as separações adequadas e mais com as ligações
adequadas; 4) conceber o público, não como consumidores,
mas como atores na vida democrática, tornando assim
prioritário para o jornalismo estabelecer ligações com os
cidadãos. Assim, para o jornalismo cívico, torna-se um
imperativo que o jornalismo encoraje o envolvimento do
cidadão na vida pública, desenvolvendo nos jornalistas uma
nova perspectiva do “participante justo” (fair-minded
participants) com a utilização de um novo conjunto e
instrumentos de trabalho (TRAQUINA, 2001, p.178-179).
Traquina (2001) afirma que o pensamento de Merritt (1995) dá conta de que
“na sociedade de indivíduos dispersos e abarrotados com informação
descontextualizada, uma vida pública precisa ter informação relevante”
(TRAQUINA, 2001, p.177). Ele descreve ainda que Merritt adverte a categoria
dos jornalistas sobre a necessidade de uma mudança na postura profissional, e
que esta informação relevante apenas será repassada à sociedade por
jornalistas independentes. Traquina observa que o pensamento de Merritt,
centrado na democracia participativa, coloca o conceito de objetividade como
um dos principais alvos a abater, e aponta este conceito central como
responsável para a valorização do valor de afastamento. “O afastamento
decidido conduz a um tipo de cegueira acerca de coisas específicas, uma
incapacidade instruída para compreender uma parte do nosso ambiente e as
pessoas envolvidas nele” (MERRITT apud TRAQUINA, 2001, p. 178).
Rosen (1991), citado por Traquina (2001), concorda em vários pontos com
Merritt. Prefere o termo “jornalismo público”, que segundo ele é mais
apropriado ao que se convencionou a se chamar de “jornalismo cívico”. Partilha
23
a visão de democracia participativa e defende uma prática jornalística mais
ativa na construção de um espaço público. Segundo Traquina, Rosen define o
jornalismo cívico como
“a arte subdesenvolvida de ligação com a comunidade na qual
os jornalistas trabalham – incluindo a comunidade política” [...]
disponibilidade para quebrar velhas rotinas, um desejo de estar
ligado ao novo com cidadãos e as suas preocupações, uma
ênfase na discussão séria como atividade principal na política
democrática, e um foco nos cidadãos como atores do drama
público em vez de espectadores (ROSEN apud TRAQUINA,
2001, p.180-181).
1.4 O simulacro da verdade na objetividade jornalística
Quando a discussão chega à objetividade jornalística, Rosen se posiciona na
linha oposta ao pensamento de Merritt, que vê a necessidade de “abater” o
conceito de objetividade na prática jornalística. Traquina explica que Rosen,
apesar de concordar em alguns pontos com Merritt, acredita que a objetividade
traz benefícios à democracia, e que esta se trata de “noção de uma verdade
desinteressada, não objetiva, mas desinteressada”.
Com todos os seus defeitos, ele (o conceito de objetividade)
ainda exprime valores profundamente acreditados e legítimos:
a noção de uma verdade desinteressada, o desejo de separar
o fazer jornalístico do fazendo política, a tentativa disciplinada
de reprimir inclinações pessoais, utilizando a perspectiva de
outra pessoa para encarar as coisas. São valores importantes
para nós todos, e em particular para jornalistas. [...] Nos
próximos anos, será crucial para as pessoas no jornalismo
declarar o fim da neutralidade no que diz respeito a certas
questões. [...] Eles (os jornalistas) irão talvez ter dificuldades no
caminho da sua própria filosofia, que possa substituir a
objetividade por algo mais forte, se posso estimulá-lo assim,
mais estimulante (ROSEN apud TRAQUINA, 2001, p.182).
A discussão sobre a objetividade no jornalismo é ampliada com o pensamento
de Barros Filho (1995). Ele explica que a objetividade é um conjunto de
características e abstrações que não existem enquanto tal, em estado puro, na
realidade. Trata-se de uma racionalização utópica. Barros Filho afirma que
24
estudos teóricos definem a “objetividade informativa” como um modelo
abstrato, que embora não possa ser atingido na sua plenitude, deve significar
uma tendência, uma orientação, uma direção a ser buscada em permanência
pela informação jornalística.
Citando Dovifat (1964), Barros Filho (1995) observa que a notícia “é uma
comunicação controlada e dirigida”. Sustenta que o jornal informará o melhor
que possa, não sendo objetivamente verdadeiro, mas subjetivamente
verossímil. Defende a inviabilidade de um jornal puramente objetivo. Para ele,
um jornal puramente objetivo, ou não seria lido por ninguém, ou se
desmoronaria no primeiro erro de cálculo.
Reconhecida a imperfeição intrínseca ao processo comunicacional, e aceita a
“objetividade informativa” como tendencial, Barros Filho argumenta que os
estudos sobre a objetividade, ora enfatizam as características do produto
mediático, ora consideram que a “objetividade informativa” não pode ser
avaliada pelo produto e sim pelo procedimento ou intenção do seu autor.
A objetividade como um tipo de mensagem se confunde com o
próprio conceito de “informação”. A noção de informação, como
a de comunicação, é passível de múltiplas abordagens, como
contornos pouco precisos. A confusão persiste quando os
autores se propõem a estabelecer as diferenças entre os dois
conceitos. O termo informação, em português, é polissêmico,
apresentando pelo menos três significados distintos: os dados
(de um certo problema ou da informática – data), as notícias
jornalísticas (news) e o saber de uma forma geral (knowledge)
(BARROS FILHO, 1995, p.34).
Barros Filho (1995) comenta que, para alguns teóricos, o conceito de
informação faz referência a uma medida quantitativa da improbabilidade dos
acontecimentos e das organizações. Para outros analistas, segundo este autor,
a informação encerra um conteúdo que, por princípio, deveria tender a ser o
mais completo possível para perfilar os traços definidores desse algo (conteúdo
da mensagem), suas propriedades, circunstâncias e dimensão semiológica.
Escarpit (1975), citado por Barros Filho (1995), também entende a informação
como a medida, matemática ou não, do conteúdo das mensagens que a mídia
25
transmite. Ele distingue, assim, a informação da comunicação, e entende que
comunicação é um processo complexo que funciona através de determinado
número de aparatos, dos quais a mídia só compõe a parte tecnológica. Citando
o comunicólogo Wiener (1969), Barros Filho (1995) lembra que a informação é
o conteúdo do que trocamos com o mundo exterior, quando tentamos nos
adaptar a ele e impor-lhe nossa adaptação.
1.5 Ensino de Jornalismo
As novas diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo, elaboradas por
uma Comissão de Especialistas em Ensino de Jornalismo 5, e que atuou sob a
nomeação do Ministro da Educação, em 2009, demonstrou a intenção de
aproximar a formação superior dos jornalistas em cursos de Jornalismo nas
universidades brasileiras, às necessidades comunicacionais da sociedade e à
evolução tecnológica dos meios de comunicação. As propostas da Comissão
dão conta de que
do Jornalismo que hoje está nas expectativas da sociedade,
exige-se tanto o domínio das técnicas e artes da narração
quanto o domínio da lógica e das teorias da argumentação.
Exige-se também o manejo competente das habilidades
pedagógicas na prestação de serviço público, para que os
cidadãos possam tomar decisões conscientes e responsáveis.
Da mesma forma, persiste o desafio de questionar, refletir e
interagir com a multiplicidade de fontes, ou seja, como o
jornalista pode entender o mundo que o cerca e como pode
compreender as motivações, os interesses, as demandas, os
códigos do público que ele pretende atingir (MEC, 2009, p.7).
5
Esta comissão foi formada pelos professores José Marques de Melo (Universidade Metodista
de São Paulo), Alfredo Vizeu (Universidade Federal de Pernambuco), Carlos Chaparro
(Universidade de São Paulo), Eduardo Meditsch (Universidade Federal de Santa Catarina),
Luiz Gonzaga Motta (Universidade de Brasília), Lucia Araújo (Fundação Roberto Marinho /
Canal Futura), Sergio Mattos (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), Sonia Virginia
Moreira (Universidade Estadual do Rio de Janeiro). A Comissão entregou o relatório final ao
Ministério da Educação no dia 18 de setembro de 2009. À época, o Ministro Fernando Haddad,
acompanhado pela Diretora do Ensino Superior do MEC, Maria Paula Dallari Bucci, acolheu o
relatório final dos trabalhos realizados pela comissão, e encaminhou o documento para
apreciação do Conselho Nacional de Educação – CNE –, antes de promulgar o ato que fixará
as novas diretrizes curriculares para o Curso de Jornalismo.
26
A Comissão argumentou no relatório final apresentado ao Ministério da
Educação
(MEC),
que
o
Jornalismo
é
uma
profissão
reconhecida
internacionalmente, regulamentada e descrita como tal no Código Brasileiro de
Ocupações (CBO), do Ministério do Trabalho. Desta forma, a mudança no
processo de elaboração das novas diretrizes curriculares foi adequar estas
diretrizes à formação e ao exercício da profissão de jornalista, corrigindo uma
distorção até então existente, que abrigava a habilitação sob propostas
curriculares para a Comunicação Social.
A Comunicação Social não é uma profissão em nenhum país
do mundo, mas sim um campo que reúne várias diferentes
profissões. É também uma área acadêmica que engloba
diversas disciplinas específicas, como ocorre também em
outras áreas das ciências aplicadas como, por exemplo, a da
Saúde, que reúne em seu âmbito as profissões (e respectivas
disciplinas)
de
Medicina,
Odontologia,
Enfermagem,
Fisioterapia, etc. Desta forma, é inadequado considerar o
Jornalismo como habilitação da Comunicação Social, uma vez
que esta, como profissão, não existe, assim como não existe
uma profissão genérica de Saúde. O equívoco não se origina
nas DCN em vigor. Anteriormente a elas, a mesma
organização já estava prevista nos Currículos Mínimos “do
Curso de Comunicação Social” emanados do Conselho Federal
de Educação a partir de 1969. Desde então, os Currículos
Mínimos de Comunicação Social substituíram os Currículos
Mínimos “do Curso de Jornalismo” adotados até então (MEC,
2009, p.10).
Até então, conforme relatou a Comissão, o Brasil adotava como obrigatório o
modelo de ensino da Comunicação Social proposto então pela Unesco 6 para o
Terceiro Mundo. Esta adoção, segundo o relatório final, é uma herança do
governo ditatorial dos militares (1964-1985) com a intenção de substituir todas
as
profissões
do
campo
da
Comunicação
historicamente
existentes
(Jornalismo, Publicidade, Relações Públicas, Editoração, etc.) por uma
“profissão de novo tipo”, a de “Comunicador Polivalente” (MEC, 2009, p.10).
Sobre o contexto histórico da formação dos jornalistas brasileiros, a Comissão
afirma que a educação dos jornalistas desafia a sociedade brasileira há mais
6
A sigla Unesco significa, em língua portuguesa, Organização das Nações Unidas para a
Educação, Ciência e Cultura. Em língua inglesa, na qual é codificada, significa: United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization.
27
de um século. Segundo esta Comissão, a demanda cresceu com o processo
de industrialização da imprensa, período em que os jornais deixavam de ser
correias de transmissão dos partidos políticos, para se converter em empresas
auto-sustentáveis.
A sociedade requeria profissionais competentes para produzir
notícias de interesse coletivo e comentários sintonizados com
as aspirações do público leitor. Já em 1908, Gustavo de
Lacerda, ao fundar a Associação Brasileira de Imprensa - ABI,
reivindicava uma escola de jornalismo para formar repórteres.
Em 1935, o educador Anísio Teixeira atendeu a essa demanda,
criando o primeiro curso de jornalismo do país, experiência que
se frustrou com o fechamento da Universidade do Distrito
Federal pela truculência do Estado Novo. Em consequência, a
academia só abriu suas portas aos jornalistas nos anos 40,
quando o ensino de jornalismo foi oficializado e as primeiras
escolas foram autorizadas a funcionar em São Paulo (1947) e
no Rio de Janeiro (1948) (MEC, 2009, p.9).
Na organização dos cursos de Jornalismo, a Comissão sugeriu que estes
propiciem a interação permanente do aluno com fontes, profissionais e públicos
do jornalismo desde o início de sua formação. O aluno, ao vivenciar desde os
primeiros anos uma interação com a sociedade por meio da prática jornalística,
“seria
estimulado
a
se
envolver
com
problemas
reais,
assumindo
responsabilidades crescentes, compatíveis com seu grau de autonomia” (MEC,
2009, p. 15).
As sugestões da Comissão são coerentes com o pensamento de Lopes (1995),
que, citando Beltrão (1961), lembra que as escolas têm como objetivo cumprir
três funções primordiais:
a) formar profissionais ministrando-lhes conhecimentos de
coleta, redação, interpretação, seleção e apresentação gráfica
da notícia, com a utilização de métodos e processos racionais
e práticos e, simultaneamente, das ciências e das artes que
lhes elevam o nível cultural; b) promover e desenvolver
investigações e análises sobre os meios de comunicação
coletiva, embasadas nos modernos métodos de investigação e
com o emprego do instrumental adequado, controlando não
apenas a melhoria dos padrões técnicos da imprensa de sua
região ou país, como também sua maior influência na formação
da opinião pública. c) funcionar como um núcleo de renovação
28
dos processos jornalísticos servindo de laboratório para
experiências morfológicas e de conteúdo (de redação) das
matérias, ações e serviços que a comunidade espera encontrar
nesses meios (BELTRÃO apud LOPES, 1985, p.27).
Desta forma, de acordo com a Comissão, o perfil do egresso do Curso de
Jornalismo, jornalista profissional diplomado, será de um profissional com
formação universitária ao mesmo tempo generalista, humanista, crítica e
reflexiva.
Esta o capacita a atuar como produtor intelectual e agente da
cidadania dando conta, por um lado, da complexidade e do
pluralismo característicos da sociedade e da cultura
contemporâneas e, por outro, dos fundamentos teóricos e
técnicos especializados. Dessa forma terá clareza e segurança
para o exercício de sua função social específica no contexto de
sua identidade profissional singular e diferenciada dentro do
campo maior da Comunicação (MEC, 2009, p. 17).
1.6 A prática profissional nos laboratórios de jornalismo
A atividade laboratorial nos cursos de Jornalismo é de fundamental importância
para esta articulação teórico-prática. Lopes (1985) afirma que desde o início da
implantação da formação de jornalistas nas universidades brasileiras, “os
cursos de Jornalismo têm-se revelado incompetentes na tarefa de manter
órgãos laboratoriais capazes de proporcionar aos seus estudantes o contato
com a prática profissional” (LOPES, 1985, p.14).
Os órgãos laboratoriais, segundo Melo (2003), tornaram-se obrigatórios com a
Resolução CFE 2/84 e criaram um ambiente propício ao desenvolvimento do
experimentalismo nas faculdades de comunicação brasileiras. O autor explica
que, antes desta resolução ser aplicada, o CFE havia reformado o anacrônico
currículo mínimo então vigente, instituindo novas exigências didáticopedagógicas para os cursos de Comunicação. Explica que entre estas
exigências estava a necessidade de equipamentos profissionais e laboratórios
especializados. No entanto, segundo o autor, esta reforma demorou anos para
ser aplicada, “tendo em vista o dissenso imperante em nossa área do
29
conhecimento, por razões de natureza ideológica (professorado) ou mercantil
(donos de escola), a implantação dos laboratórios foi sendo adiada” (MELO,
2003, p.17).
A importância da prática laboratorial recebeu atenção especial da Comissão na
elaboração das novas diretrizes curriculares, e foi destacada no tópico
“Elementos estruturais do Projeto Pedagógico”. Como forma de efetivação da
interdisciplinaridade e integração entre teoria e prática, a comissão sugeriu que
a elaboração do projeto pedagógico deve considerar “estar
focado teórica e tecnicamente na especificidade do jornalismo,
com grande atenção à prática profissional, dentro de padrões
internacionalmente reconhecidos, comprometidos com a
liberdade de expressão, o direito à informação, a dignidade do
seu exercício e o interesse público” (MEC, 2009, p.16).
Entre as competências gerais, o relatório final da Comissão considerou
importante que o aprendiz de jornalismo valorize e compreenda conquistas
históricas da cidadania e participação no processo democrático, respeitando o
pluralismo de idéias e de opiniões, “a cultura da paz, os direitos humanos, as
liberdades públicas, a justiça social e o desenvolvimento sustentável” (MEC,
2009, p.18). Nas competências pragmáticas, o aluno, de acordo com as novas
diretrizes propostas, deve ter habilidades para
Contextualizar, interpretar e explicar informações relevantes da
atualidade, agregando-lhes elementos de elucidação
necessários à compreensão da realidade; Perseguir elevado
grau de precisão no registro e na interpretação dos fatos
noticiáveis; Propor, planejar, executar e avaliar projetos na área
de jornalismo; Organizar pautas e planejar coberturas
jornalísticas; Formular questões e conduzir entrevistas; Adotar
critérios de rigor e independência na seleção das fontes e no
relacionamento profissional com elas, tendo em vista o
princípio da pluralidade, o favorecimento do debate, o
aprofundamento da investigação e a garantia social da
veracidade; Dominar metodologias jornalísticas de apuração,
depuração, aferição, produção, edição e difusão; Conhecer
conceitos e dominar técnicas dos gêneros jornalísticos;
Produzir enunciados jornalísticos com clareza, rigor e correção,
e ser capaz de editá-los em espaços e períodos de tempo
limitados; Traduzir em linguagem jornalística, preservando-os,
conteúdos originalmente formulados em linguagens técnico-
30
científicas, mas cuja relevância social justifique e/ou exija
disseminação não especializada; Elaborar, coordenar e
executar projetos editoriais de cunho jornalístico para
diferentes tipos de instituições e públicos; Elaborar, coordenar
e executar projetos de assessoria jornalística a instituições
legalmente constituídas de qualquer natureza, assim como
projetos de jornalismo em comunicação comunitária,
estratégica ou corporativa; Compreender, dominar e gerir
processos de produção jornalística, e ser capaz de aperfeiçoálos pela inovação e pelo exercício do raciocínio crítico; Dominar
linguagens midiáticas e formatos discursivos utilizados nos
processos de produção jornalística nos diferentes meios e
modalidades tecnológicas de comunicação; Dominar o
instrumental tecnológico – hardware e software – utilizado na
produção jornalística; Avaliar criticamente produtos e práticas
jornalísticas (MEC, 2009, p.19-20).
Assim, a Comissão sugeriu alguns eixos para a formação profissional e incluiu
entre estes, o eixo da prática laboratorial, cujo objetivo é desenvolver
conhecimento e habilidades inerentes à profissão, a partir da aplicação de
informações e valores, integrando os demais eixos que contemplam a
formação ética e humanística do profissional. Na prática laboratorial, o
aprendiz, segundo esta Comissão, deve se envolver na articulação teóricoprática e “em projetos editoriais definidos e orientados a públicos reais, com
publicação efetiva e periodicidade regular, tais como: jornal, revista e livro,
jornal mural, radiojornal, telejornal, webjornal, agência de notícias, assessoria
de imprensa, entre outros” (MEC, 2009, p.21).
1.7 O que é jornal-laboratório?
O jornal-laboratório é um meio de comunicação feito por alunos de um curso de
jornalismo sob a supervisão e orientação de professores jornalistas, capaz de
contribuir de forma eficaz para a formação do profissional jornalista. Sobre as
origens desta prática laboratorial, Lopes (1985) afirma que esta começou em
1908, nos Estados Unidos, com a Escola de Jornalismo da Universidade de
Missouri. O autor explica que no currículo do curso de Jornalismo desta
universidade, paralelo às disciplinas de formação humanística, como Língua e
Literatura, Sociologia, História e Política, havia também o ensino-aprendizagem
de reportagem, secretaria, chefia de redação e oficinas. “As aulas práticas
31
eram ministradas de modo a reproduzir o funcionamento de uma redação, com
os professores como diretores e chefes de redação e os alunos nas funções de
redatores, repórteres, subsecretários e secretários” (LOPES, 1985, p.24-25). O
resultado destas atividades teórico-práticas foi a publicação de um jornal
vespertino diário, com 4 páginas, denominado
University Missourian,
totalmente redigido pelos alunos. “Em seu primeiro número, o jornal
denominava-se o laboratório, a clínica, a escola prática do novo departamento.
Destinava-se a universitários e à população da cidade de Columbia, sede da
universidade” (LOPES, 1985, p.25).
A natureza social do trabalho do jornalista e dos meios de comunicação sugere
que os jornais-laboratórios sejam voltados para o interesse público, como
afirma Amaral (2001). Para este autor, os veículos de comunicação “são
instituições sociais, criadas pela necessidade dos agrupamentos definidos de
indivíduos obedientes a leis, costumes e tradições comuns, emanam da
sociedade e se destinam à sociedade” (AMARAL, 2001, p.25). Segundo o
autor, este relacionamento veículos de comunicação-sociedade não significa,
porém, que eles estejam sempre a serviço da sociedade.
Os interesses nem sempre coincidem, muitas vezes discrepam,
em outras chegam ao antagonismo. Representando grupos
específicos da sociedade – políticos, culturais, econômicos,
religiosos, ideológicos – os veículos de comunicação, cuidam,
apenas da defesa desses grupos, embora refiram
constantemente à sociedade como um todo, ao povo, às
massas (AMARAL, 2001, p.25).
Lopes considera importante que o jornal-laboratório seja voltado às
comunidades, mas apresenta vários questionamentos sobre o procedimento
editorial nestes jornais.
Quem determina a linha editorial? Em qualquer jornal isso fica
equacionando, na maioria das vezes, de forma convincente:
quem define é o dono, por meio de seus prepostos nos postos
de direção na redação. No jornal-laboratório a questão é bem
mais complexa, mesmo levando-se em consideração que quem
arca com as despesas do veículo é a escola. Qual seria então
o procedimento: a faculdade ou o professor determinarem a
32
linha? Deixar em aberto para a discussão entre alunos? E se
houver divergências entre eles? (LOPES, 1985, p.51).
Bueno (2008) afirma que muitas instituições de ensino (e muitas chefias que
dirigem os cursos de Jornalismo) parecem não ter entendido o "espírito da
coisa" ou, por cumplicidade/má fé, resolveram transformar o jornal-laboratório
num verdadeiro "frankstein pedagógico". Para este autor, os jornais-laboratório,
meios de importância fundamental para a formação do jornalista, são
transformados em house organ7, se caracterizando pelo “tom institucional,
propagandístico, reduzido a um canal de promoção de reitores, chefes de
gabinete, chefes de departamento, diretores de unidades e outras autoridades
vaidosas do ensino, da pesquisa e da extensão” (BUENO, 2008).
As universidades, cursos e chefes de departamento que
assumem este jornal-laboratório de fachada incorporam (e
põem em prática) uma perspectiva de ensino que confunde
educação com adestramento e cujo objetivo não é permitir o
debate, o diálogo, a experimentação, mas a repetição de
formas e fórmulas que engessam a criatividade, desestimulam
a participação e contribuem para a burocratização do processo
de produção jornalística. (BUENO, 2008)
1.8 A construção de uma Tecnologia Social de Comunicação
Ampliar o espaço destinado às comunidades no jornal-laboratório, além de
aprimorar a formação profissional oferecida ao aluno, pode reverberar este
procedimento para outras regiões, e ser aplicado em outros jornais-laboratório,
servindo também de modelo para jornais impressos, por meio de uma
Tecnologia Social de Comunicação. Bava (2004) define Tecnologia Social (TS)
como “técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas na interação
com a população, que representam soluções para a inclusão social” (BAVA,
2004, p.106). Ele afirma ainda que “as experiências inovadoras podem ser
avaliadas e valorizadas tanto pela sua dimensão de processos de construção
de novos paradigmas e novos atores sociais” (BAVA, 2004, p.106).
7
House organ é a denominação dada ao veículo (jornal ou revista) de uma empresa ou
entidade, concebido para divulgar fatos e realizações, e pode assumir diferentes configurações,
dependendo do público a que se destina.
33
A construção de uma TS de comunicação deve considerar os conceitos de TS
e Tecnologia Convencional (TC), estabelecendo de forma clara as diferenças
entre uma e outra. Novaes; Dias (2009) afirmam que a TC pode ser definida a
partir de um conjunto de características, dentre estas, aquelas relativas a seus
efeitos sobre o trabalho. Citando Dagnino (2004), os autores mostram que “a
TC é inerentemente poupadora de mão-de-obra, o que pode ser verificado na
constante substituição do trabalho humano pelo trabalho morto8” (DAGNINO
apud NOVAES; DIAS, 2009, p.18). Apontam outras características da TC,
como o seu caráter convencional segmentado, não permitindo que o produtor
exerça controle sobre a produção. Além disso, é alienante, pois suprime a
criatividade do produtor direto. Ao contrário, “a tecnologia social incentiva o
potencial e a criatividade do produtor direto e dos usuários, é capaz de
viabilizar economicamente empreendimentos como cooperativas populares,
assentamentos de reforma agrária, a agricultura familiar e as pequenas
empresas” (NOVAES; DIAS, 2009, p.18).
Em resumo, podemos concluir que, enquanto a tecnologia
capitalista convencional é funcional para a grande corporação
(em especial para as grandes empresas multinacionais), a
tecnologia social aponta para a produção coletiva e não
mercadológica (NOVAES; DIAS, 2009, p.19).
A TC convencional parece dominar as rotinas de produção nas redações dos
jornais. Medina (1978) afirma que “o monopólio da informação representado
pelas agências de notícia diminui muito a força do repórter na empresa
jornalística de centros de industrialização como os brasileiros” (MEDINA, 1978,
p.84). A autora constatou em seus estudos que o percentual de informações
coletado das agências de notícias e publicado nos jornais, é maior que as
reportagens ou notícias produzidas pelos recursos próprios das redações,
“chegando ao ponto de até notícias nacionais virem via agência internacional”
(MEDINA, 1978, p.84).
8
“Trabalho Vivo” (Trabalho humano) e “Trabalho Morto” são expressões da teoria marxista, do
filósofo Karl Marx. Para Marx, o trabalho vivo é o realizado pelo homem. O trabalho morto é
aquele que já foi feito pelo homem, mas assumido por um instrumento/ferramenta. “Esses
conceitos nos ajudam a pensar no trabalho como mercadoria” (LIMA, 2002, p.8).
34
A constatação de Medina é coerente com a característica da TC apontada por
Novaes; Dias (2009), ou seja, poupadora de mão-de-obra e aplicada na
substituição do “trabalho humano” pelo “trabalho morto”, pois o jornalista, ao
replicar um trabalho já produzido e distribuído pelas agências de notícias para
veículos de comunicação de todo o mundo, deixa de inovar, criar, e exercer
sua função primordial no ciclo de produção da notícia.
Considerando o conceito de TS, e buscando técnicas e metodologias
inovadoras em um espaço de interação com a comunidade, é importante
destacar que o processo de construção de uma TS de comunicação, que
poderia ser adotada pelos jornais-laboratório, tenha a participação dos atores
sociais da área de abrangência deste jornal.
Neste modelo, o jornalista deixa de ser um gatekeeper, ou seja, aquele
profissional que, segundo Traquina (2005), toma uma decisão numa sequência
de decisões próprias, e não coletivas. Traquina explica que, na teoria do
gatekeeper, o processo de produção da informação é concebido como uma
série de gates, isto é, portões, que não são mais do que áreas de decisão em
relação às quais o jornalista (gatekeeper) tem de decidir se vai escolher essa
notícia ou não.
“Se a decisão for positiva, a notícia acaba passando pelo
portão, se não for, sua progressão é impedida, o que na prática
significa a sua “morte” porque significa que a notícia não será
publicada, pelo menos nesse órgão de informação”
(TRAQUINA, 2005, p.150).
1.9 A pauta jornalística
A pauta jornalística e a seleção das fontes de informação é assunto que
motivou vários estudos de Lage (2001). Para este autor, a denominação pauta
aplica-se a duas coisas distintas:
... a) ao planejamento de uma edição ou parte da edição (nas
redações estruturadas por editorias – de cidade, economia,
35
política e etc.) com a listagem dos fatos a serem cobertos no
noticiário e dos assuntos a serem abordados em reportagens,
além de eventuais indicações logísticas e técnicas: ângulos de
interesse, dimensão pretendida pela matéria, recursos
disponíveis para o trabalho, sugestões de fontes e etc. b) a
cada um dos itens desse planejamento, quando atribuídos a
um repórter: ele dirá “a minha pauta”, quer a tenha recebido
como tarefa, quer a tenha proposta (o que é comum,
particularmente com free-lancers) (LAGE, 2001, p.34).
Lage explica que antes da instituição da pauta no jornalismo brasileiro, “apenas
as matérias principais ou de interesse da direção eram programadas. O
noticiário do dia-a-dia dependia de repórteres que cobriam setores” (LAGE,
2001, p.33).
Estes setoristas 9, segundo o autor, “se obrigavam a trazer
diariamente sua cota de textos, o que significava, na prática, ter uma
programação de notícias frias ou reportagens adiáveis para os dias de menor
atividade” (LAGE, 2001, p.33).
Um dos componentes mais importantes da pauta é a fonte de informação.
Campos (2010) afirma que são raras as reportagens que articulam e
aprofundam um determinado problema social, e isso reflete a deficiência do
jornalismo brasileiro, que de acordo com ele, não passa de um jornalismo
noticioso precário para um jornalismo interpretativo mais maduro, ao esbarrar
na deficiência profissional dos que conduzem o processo. Assim, segundo
Campos, esta deficiência não contribui para uma dinâmica de atuação que
transforme uma notícia passageira em documento de realidade.
Para articular e aprofundar um tema social, o jornalista, ao elaborar a sua pauta
e partir em busca da notícia deve ampliar as possibilidades de obter
informações em várias fontes. Lage (2001) argumenta que
as fontes podem ser mais ou menos confiáveis (confiança,
como se sabe, é coisa que se conquista); pessoais,
institucionais ou documentais. Classificam-se em: oficiais,
oficiosas e independentes. Fontes oficiais são mantidas pelo
Estado; por instituições que preservam algum poder de Estado,
9
Setorista é o termo que designa o jornalista que cobre o dia-a-dia de um setor do poder
Executivo, Legislativo ou Judiciário. Os meios de comunicação também utilizam este modelo
para fazer a cobertura diária dos clubes de futebol e nas delegacias de polícia.
36
como as juntas comerciais e os cartórios de ofício; por
empresas e organizações, como sindicatos, associações,
fundações etc. Fontes oficiosas são aquelas que,
reconhecidamente ligadas a uma entidade ou indivíduo, não
estão, porém, autorizadas a falar em nome dela ou dele, o que
significa que o que disserem poderá ser desmentido. Fontes
independentes são aquelas desvinculadas de uma relação de
poder ou interesse específico em cada caso (LAGE, 2001,
p.62-63).
A realidade, no entanto, coloca a pauta e a seleção de fontes como uma
deficiência na prática jornalística, principalmente quando os assuntos são
problemas sociais, como por exemplo, os direitos de crianças e adolescentes.
O relatório “Infância na Mídia”, produzido em 2005 pela Agência de Notícias
dos Direitos da Infância (ANDI), destaca que a prática de preceitos básicos do
jornalismo de qualidade foi deixada de lado no ano de 2003. Para chegar a
esta conclusão, a pesquisa da ANDI constatou que um pequeno número de
matérias menciona causas, consequências, soluções, estatísticas e legislação.
Apenas 34,2% dos textos pesquisados apresentavam mais de uma fonte de
informação, e não contemplavam o princípio do contraditório, visto que a
maioria dos entrevistados não trouxe opiniões e pontos de vista divergentes
(ANDI, 2005).
O problema detectado pela ANDI é tratado por Costa (2002). Para este autor, a
pouca inserção ou quase exclusão das ações promovidas pelos movimentos
sociais, associações e cooperativas de trabalho, revela que o interesse público
é algo ausente nas linhas editoriais dos meios de comunicação locais. Ao
distinguir opinião pública e opinião da população, Costa considera que a esfera
pública é um fórum aberto, com “uma diferenciação funcional rígida entre os
porta-vozes de partidos, de grupos organizados, e os meios de comunicação,
por um lado, e o público (no sentido de platéia), por outro” (COSTA, 2002, p.1819). Afirma que os primeiros são, em última instância, os atores da esfera
pública, e o público é mero destinatário de mensagens, sem voz pública
efetiva. Costa afirma que os movimentos sociais emergiram dentro de um hiato
entre atores da esfera pública e o público. Argumenta que parte da população
quando percebe que os temas que lhe interessa não estão recebendo o
37
tratamento adequado pelos atores da esfera pública, se organizam na busca de
atenção pública para suas questões.
As possibilidades dos movimentos sociais serem bem
sucedidos em sua tarefa de arregimentar atenção da mídia e
do público para os temas que trazem à luz, superando a
concorrência estabelecida pela presença dos demais atores da
esfera pública, dependeria, prioritariamente, conforme tal visão,
da habilidade dos movimentos em manipular os recursos
comunicativos de que dispõe. Não cabe, portanto, perguntar
pelas possibilidades abertas aos movimentos sociais de
convencer a sociedade de justeza de seus propósitos, nem,
tampouco, de se questionar os modelos trazidos pelos
movimentos sociais correspondem a reivindicações e “projetos”
latentes da sociedade ou padrões de moralidade existentes ou
almejados. Trata-se, unicamente, de avaliar a capacidade
destes de produzir, seja pela espetacularização de suas ações,
seja através de um trabalho adequado de relações públicas
(COSTA, 2002, p.18).
Assim, o papel da imprensa na construção de um espaço democrático, deve
ser marcado pela inclusão de setores diversos da sociedade, permitindo-lhes a
discussão de seus principais problemas. Na publicação “Orçamento Público,
Legislativo e Comunicação – Três eixos estratégicos para incidência nas
políticas públicas”, produzida pela ONG Oficina de imagens e rede ANDI, a
orientação passada aos setores que atuam pelos direitos da infância é que
“uma das importantes contribuições que a imprensa pode
oferecer ao processo de consolidação das sociedades
democráticas está relacionado à divulgação de informações
que, historicamente, sempre estiveram sob controle de um
reduzido número de privilegiados” (ANDI, 2005).
38
Capítulo 2
A TENTATIVA DE MUDAR UMA REALIDADE POR MEIO DA EDUCAÇÃO
2.1 A responsabilidade social do jornalista
O exercício da profissão de jornalista é uma atividade de natureza social e um
dos compromissos fundamentais deste profissional, descrito no Código de
Ética dos Jornalistas Brasileiros, deve ser a divulgação de fatos e informações
de interesse público. No entanto, é comum que este e outros compromissos
sejam postos de lado, quando a precariedade do exercício profissional, o
interesse particular ou político-partidário domina a cena das redações dos
jornais, principalmente nas cidades do interior, como afirma Melo (2004): “a
imprensa do interior, em nosso país, distancia-se das aspirações comunitárias,
funcionando organicamente como correia de transmissão de projetos ungidos
pelos donos do poder local” (MELO, 2004, p.11).
Neste cenário, os atores sociais de uma comunidade ou bairro, que têm
necessidades específicas, e que precisam ser resolvidas de acordo com suas
especificidades, e com a mediação dos meios de comunicação, deixam de ser
contemplados na pauta dos jornais, principalmente naqueles que circulam nas
cidades do interior do Brasil.
A ausência do interesse público nas páginas dos jornais impressos locais,
como afirma Melo (2004), pode estar relacionada à formação de profissionais
jornalistas, ainda incipiente em várias regiões brasileiras, fato que pode
contribuir para a precariedade do trabalho nas redações dos jornais. Este
problema foi descrito na proposta de criação do curso de Comunicação Social
(com habilitação em Jornalismo, Publicidade e Propaganda), da Universidade
Vale do Rio Doce (Univale), sediada em Governador Valadares, na região do
Vale do Rio Doce, leste de Minas Gerais. Enviada ao MEC em 1997, a
proposta informou que
em Governador Valadares estão os poucos profissionais da
comunicação, com graduação na área, em toda a região. O
exercício profissional dá-se precariamente na condição de
39
provisionamento10, por falta de pessoal habilitado da
Comunicação Social. Entretanto, a grande maioria dos que
exercem funções próprias da Comunicação Social, mesmo em
Governador Valadares, o centro urbano mais importante,
sequer são provisionados (UNIVALE, 1997).
A proposta elaborada pela Univale para a criação do curso de Comunicação
Social, também informou ao MEC que em Governador Valadares, a imprensa
escrita, em 1997, era formada por 5 jornais diários, sendo apenas 1 diário local,
o Diário do Rio Doce. Os demais eram de Belo Horizonte, com sucursal na
cidade: Estado de Minas, Hoje em Dia, O Tempo 11. As emissoras de rádio e
televisão12 eram Rádio Ibituruna, Rádio Novo Tempo (FM), Rádio Mundo
Melhor (AM-FM), Rádio Transamérica (FM) e Rádio Imparsom (FM), mais a TV
Leste (Rede Globo), TV Rio Doce (TV Brasil) e Alterosa (SBT).
Esta situação-problema também foi observada na região do Vale do
Jequitinhonha, vizinha do Vale do Rio Doce, em relatório do Instituto Cidadania,
da Fundação Perseu Abramo, em 1996. O documento, intitulado “Uma
proposta alternativa para o desenvolvimento do Vale do Jequitinhonha”,
assinado por Luiz Inácio Lula da Silva13, aborda vários problemas estruturais do
Vale, inclusive aqueles relacionados à comunicação social.
A imprensa escrita é pouco difundida na região, não apenas
pelo alto índice de analfabetismo, mas também porque os
principais jornais do país só chegam com um ou dois dias de
atraso, e assim, em pouquíssimas cidades. Alguns municípios
possuem semanários ou mensários, em geral mantidos com
publicidades de prefeituras e câmaras municipais (INSTITUTO
CIDADANIA, 1996, p.13).
10
Os jornalistas provisionados possuem um registro temporário para trabalhar em um
determinado município. De acordo com a lei, este registro deve ser renovado a cada três anos.
Essa renovação só é possível para as cidades que não tenha nenhum jornalista profissional
interessado na vaga existente, e também não tenha curso superior de Jornalismo.
11
A sucursal do jornal Estado de Minas foi desativada em 2009.
12
A Rádio Ibituruna foi incorporada à Rádio Globo Brasil em 2003 e a TV Leste passou a
retransmitir a programação da Rede Record em 2008. A InterTV dos Vales, de Coronel
Fabriciano, MG, abriu sucursal em Governador Valadares em 2008, e transmite a programação
da Rede Globo.
13
Lula chefiou a Caravana da Cidadania, promovida pelo Instituto da Cidadania, da Fundação
Perseu Abramo, em 1996, cujo objetivo principal, segundo Lula, era “trazer à tona o Brasil dos
excluídos, das regiões esquecidas e dos que produzem todas as riquezas, ficando muitas
vezes com migalhas delas”.
40
Mesmo depois da criação do curso de Comunicação Social da Univale e a
formação de várias turmas de jornalistas, as emissoras de rádio de Governador
Valadares ainda deixam o jornalismo a cargo de radialistas, sem formação
profissional. As emissoras de TV baseadas na cidade, embora empreguem os
profissionais jornalistas formados na Univale, são sucursais de grandes redes
nacionais (TV Globo, SBT, TV Record e TV Brasil) e cumprem pautas
derivadas de assuntos nacionais ou estaduais, e o Diário do Rio Doce, único
jornal impresso diário da região, publica um número expressivo de material
jornalístico vindo de agências de notícias nacionais e internacionais.
Os outros jornais locais (Folha Regional, Classificados O Domingo e Jornal de
Domingo), não utilizam material das agências de notícias nem empregam
jornalistas com formação superior e, como em 1997, época em que a Univale
relatou ao MEC a situação da imprensa local e regional, ainda exercem a
prática jornalística de forma precária.
2.2 O jornal-laboratório na democratização da informação
Com a implantação do curso de Comunicação Social, com dupla habilitação
(Jornalismo e Publicidade e Propaganda14) na Univale, a coordenação deste
curso, com a intenção de contrapor esta realidade da imprensa local, criou em
1998 o Jornal-Laboratório O Foca, que em 1999 mudou o nome para
Circulando. Os objetivos para a criação do jornal-laboratório eram claros:
democratizar a informação e cumprir a exigência do Ministério da Educação
para os cursos de Jornalismo, além de permitir a articulação teórico-prática no
ensino do jornalismo. Esta articulação é destacada por Lopes (1985), que
considera os jornais-laboratório instrumentos de integração dos alunos na
problemática da futura profissão, tornando possível que obtenham uma visão
14
O Projeto Pedagógico do curso de Comunicação Social da Univale (Jornalismo e Publicidade
e Propaganda) foi criado em 1997 e modificado em 2001 por determinação do Ministério da
Educação à época do seu reconhecimento. A partir daí, a dupla habilitação foi extinta e a
Univale passou a oferecer de forma separada os cursos de Jornalismo, Publicidade e
Propaganda.
41
global do processo jornalístico, não apenas no aspecto conceitual, mas
também na prática do dia-a-dia das redações.
A criação do Circulando, de acordo com o projeto do curso de Comunicação
Social da Univale (1997), também foi motivada pelo objetivo de permitir às
pessoas que não tinham acesso aos jornais impressos (moradores de áreas
pobres localizadas, na periferia de Governador Valadares), receber um jornal
que abordasse fatos de suas comunidades. Assim, os alunos-repórteres
poderiam confirmar o pensamento de Beltrão (1963), citado por Lopes (1985),
considerando que o jornal-laboratório “permite que o aprendiz de jornalismo se
exercite na capacitação e análise dos problemas de sua comunidade, de seu
país e da civilização contemporânea” (BELTRÃO apud LOPES, 1985, p.49).
O propósito do Circulando era permitir que o aluno compreendesse a
importância de praticar um jornalismo voltado ao interesse público, pautando o
seu trabalho pelo respeito às pessoas, ouvindo seus questionamentos e
proporcionando uma interlocução entre estas pessoas e os poderes
constituídos.
A história do Circulando foi destacada na revista Integração, da Univale, como
um importante meio de comunicação para as comunidades de sua área de
abrangência. Esta revista, editada pela Assessoria de Comunicação da Univale
(2004), mostrou, na primeira edição, os projetos de extensão da universidade e
destacou o jornal-laboratório Circulando na matéria intitulada “Comunidade
antenada com as notícias”.
Um jeito prático de aprender a fazer jornalismo sério e de
exercer o compromisso de responsabilidade social. É assim
que os alunos de Jornalismo do curso de Comunicação Social
encaram a produção do Jornal-Laboratório Circulando.
Cumprindo não apenas seu papel acadêmico na formação dos
estudantes, o produto do curso de Jornalismo assume
importância junto às comunidades em que atua. Valorizando o
cotidiano, a cultura e os personagens que fazem a história de
bairros de Governador Valadares, desde 1999, quando foi
criado, o Circulando tem sido um canal aberto para divulgar o
que acontece nas comunidades e os problemas que enfrentam,
contribuindo sensivelmente para a solução de carências em
42
infra-estrutura ou lançar discussões para mobilização da
opinião pública. Depois de atuar nos bairros Jardim do Trevo e
Santa Paula, Santa Rita, Santos Dumont e Sir, há três anos, o
Circulando desenvolve suas atividades em 15 bairros da
Região da Ibituruna. A estimativa é de que cerca de 30 mil
pessoas façam a leitura regular do semanário distribuído
gratuitamente aos sábados nas comunidades, em residências e
em pontos fixos (REVISTA INTEGRAÇÃO, 2004, p.24).
O nome Circulando foi dado ao jornal porque a intenção era que circulasse de
ano em ano em uma área da cidade. Este modelo de circulação apresentou
alguns problemas. O jornal se propunha a ser mensal, mas as edições sempre
chegavam aos leitores com atrasos. Havia edições que saíam com atraso de
até dois meses.
Além disso, o fato de trocar de região a cada ano quebrava um vínculo que se
iniciava dentro das comunidades. “Quando as pessoas começavam a se
acostumar com o jornal, este deixava de circular numa determinada área e
mudava para outra” (CIRCULANDO, 2007, p.4).
Para corrigir esta distorção, a partir de 2002, o Circulando passou a ser
distribuído na Região da Ibituruna15, seguindo o modelo bem sucedido do
jornal-laboratório Rudge Ramos, da Universidade Metodista de São Paulo, que
à época circulava na área do bairro Rudge Ramos, em São Bernardo do
Campo, SP. Deixou o formato tablóide e adotou o formato standard, aumentou
a sua tiragem de 2 mil para 5 mil exemplares, além de circular semanalmente,
de forma gratuita e ininterrupta, mesmo durante os meses não letivos, entre
2002 e primeiro semestre de 2010.
2.3 Jornalismo voltado às comunidades
Em 2003, com pouco de 12 meses de circulação na sua nova área de
abrangência, o Circulando, além de conquistar o respeito dos leitores,
conquistou o seu maior prêmio, conferido pela Sociedade Brasileira de Estudos
15
A Região da Ibituruna é uma faixa territorial localizada na margem direita do Rio Doce, no
município de Governador Valadares. Esta região é formada por 22 bairros e população próxima
de 33 mil habitantes, de acordo com informações do Setor de Cadastro da Prefeitura Municipal
de Governador Valadares, que contabilizava 9.229 imóveis cadastrados nesta região, em 2009.
43
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom), que o considerou o melhor
jornal-laboratório do Brasil16.
No período em que o Circulando era distribuído na Região da Ibituruna, as
reivindicações dos moradores, exigindo da Prefeitura de Governador Valadares
solução para os problemas relacionados à infraestrutura de ruas sempre foram
priorizados, de acordo com o interesse dos leitores.
Com o passar dos anos, o Circulando tornou-se presente na vida comunitária
dos bairros onde era distribuído, construindo relações importantes com os
diversos setores das comunidades, amarrado pelos “laços de afetividade”
citados por França (1998). Para esta autora, um jornal existe por si mesmo,
mas esta existência também é um ponto de passagem da vida de uma
sociedade, e “mais que informar sobre ela, é um dos momentos desse viver”.
Em sua análise, França afirma que um jornal, ou qualquer veículo de
comunicação, não se sustenta apenas a partir da lógica do poder; “ele se
mantém à medida que consegue se alimentar da força (ou da potência)
emanada da vida social” (FRANÇA, 1998, p.20).
Estes laços de afetividade ficaram evidentes na edição número 300 do
Circulando, quando líderes comunitários deram depoimentos falando sobre a
importância do jornal nas comunidades. O padre José Gonsalves de Sousa
Neto, conhecido como Padre Juca, da Paróquia São Raimundo, destacou a
importância do Circulando para as comunidades, afirmando que
o jornal é um veículo de comunicação muito interessante,
sobretudo para o pessoal da nossa região, porque sempre está
presente, focando os fatos que acontecem aqui. Tem focado a
Paróquia São Raimundo, algumas pessoas que se dedicam aos
trabalhos sociais, trabalhos nas igrejas, os idosos. Muitas pessoas
16
O jornal-laboratório Circulando foi premiado pela Sociedade Brasileira de Estudos
Interdisciplinares da Comunicação (Intercom) durante a 10ª Exposição de Pesquisa
Experimental da Comunicação (Expocom), realizada em Belo Horizonte, na Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais, em 2003. O Circulando disputou o título de “melhor
jornal-laboratório do Brasil” com outros 43 jornais-laboratórios de cursos de Jornalismo de todo
o Brasil. Venceu a finalíssima disputando com os jornais Marco (PUC Minas) e Impressão (UniBH).
44
daqui, consideradas simples, pobres, se sentem muito elevadas
com a presença do jornal Circulando (CIRCULANDO, 2007, p.5).
O Padre Juca lembrou que o Circulando teve um papel importante na
reconstrução da matriz do bairro São Raimundo e que, graças à veiculação de
matérias, a paróquia conseguiu arrecadar fundos para as obras.
Outro depoimento, de Maria Luiza Calmon Dias, coordenadora comunitária da
Pastoral da Criança na Paróquia São Raimundo, testemunhou a importância do
Circulando na Região da Ibituruna. “Vários projetos sociais são beneficiados
graças ao jornal. A Pastoral da Criança, por exemplo, foi muito beneficiada.
Muitas crianças desnutridas foram ajudadas graças ao Jornal Circulando”
(CIRCULANDO, 2007, p.5).
A vice-coordenadora da comunidade e Ministra da Eucaristia na Vila dos
Montes, Maria do Carmo de Jesus, 49 anos, disse que o Circulando é o portavoz da comunidade. “O Circulando é uma oportunidade para a nossa região,
porque os outros jornais nem sempre abrem espaço para nós. O Circulando
divulga, informa e valoriza a comunidade, que é considerada periférica”
(CIRCULANDO, 2007, p.5).
A proximidade do jornal com a vida social das comunidades da Região da
Ibituruna, noticiando fatos e prestando serviços, contribuiu para reforçar as
identidades. Antes da chegada do Circulando, as comunidades desta região
não se viam como personagens da notícia nos jornais impressos que
circulavam em Governador Valadares, e nos outros meios de comunicação a
que tinham acesso. Martín-Barbero (2004) argumenta que as novas
tecnologias de comunicação, que possibilitaram o surgimento de uma
variedade de meios noticiosos, de entretenimento e interação, criaram uma
sociedade mais aberta e interconectada, agilizaram fluxos de informação e as
transações internacionais, revolucionaram as condições de produção e de
acesso ao saber. Contudo, segundo o autor, estas tecnologias, ao mesmo que
cumprem estes diferentes papéis, apagam memórias, alteram o sentido do
tempo, a percepção do espaço, ameaçam as identidades.
45
A globalização econômica e tecnológica diminui a importância do
territorial desvalorizando os referentes tradicionais da identidade.
Contraditória e complementariamente, as culturas locais e
regionais se revalorizam exigindo a cada dia maior
autodeterminação, direito de participar nas decisões econômicas e
políticas, construir suas próprias imagens e contar-nos seus
próprios relatos (MARTÍN-BARBERO, 2004, p.357).
Esta ameaça às identidades locais, vista por Martin-Barbero, também é
analisada por Dowbor (2009), ao afirmar que o público, ao ler os órgãos de
imprensa, ou até revistas técnicas, tem a ideia de que tudo está globalizado.
Segundo ele, “a globalização é um fato indiscutível, diretamente ligado a
transformações tecnológicas da atualidade e à concentração mundial do poder
econômico”. No entanto, Dowbor afirma que nem tudo foi globalizado.
Quando olhamos dinâmicas simples, mas essenciais para a
nossa vida, encontramos o espaço local. Assim, a qualidade de
vida no nosso bairro é um problema local, envolvendo o
asfaltamento, o sistema de drenagem, as infraestruturas do
bairro (DOWBOR, 2009, p.2).
A questão do jornalismo local é vista por Tétu (2002) a partir do lar. Este autor
argumenta que o “local”, para muitos, é caracterizado pela predominância de
um modelo rural, o que segundo ele, é uma ideia equivocada. Argumenta que a
cidade substituiu o vilarejo. Para Tétu, “a cidade prevalece, mas não há modelo
de cidade: o local, na grande cidade, é o bairro, seja qual for o nome que se lhe
dê” (TÉTU, 2002, p. 434).
Analisando a questão “local” baseada no lar, Tétu afirma que a unidade de
base do local, o “lar”, quase não pertence mais a um espaço territorializado.
Ainda ontem, o lar era o alvo privilegiado da grande mídia
difusora (imprensa). Atualmente, está no centro de um conjunto
muito vasto de redes de comunicação (inicialmente telefone,
mas também telemática, cabo ou satélite), aos quais está
permanentemente
ligado.
Pode-se
estabelecer
que
aproximadamente um quarto do tempo passado no domicílio
era dedicado a “comunicação”. Mas não se trata aí de uma
comunicação relativa ao grupo local. Trata-se, essencialmente,
46
do audiovisual (4 a 6h/dia), ainda que o lar, imaginado como
local fechado, protegido do mundo, ou local privilegiado de uma
socialidade de pequenos grupos, tenha-se tornado um alvo
privilegiado para as indústrias de comunicação. As rápidas e
bastante sensíveis modificações do lar indicam que o local não
se pode mais definir apenas pelos limites de um território (sob
o modelo do cadastro) ou proximidade real (a vizinhança)
(TÉTU, 2002, p.434).
Buscando uma definição para o “local”, Tétu afirma que qualquer definição
atual do local deve levar em conta três componentes principais:
a proximidade, certamente, mas à proximidade do lugar há que
se acrescentar a teleproximidade; o pertencimento a um grupo
social, i.e., as marcas de solidariedade que assinalam a ligação
social (ou a exclusão); a participação, i.e., a efetividade do
pertencimento (uma importante parte da comunicação das
coletividades repousa doravante sobre a necessidade do ser
levado em conta e do ser escutado). [...] Resumindo, o local
não pode ser mais definido por um único território, mas pela
noção de lugar de vida [...] quer dizer, não apenas á
ancoragem territorial do hábitat, mas, sobretudo o lugar, não
forçadamente territorializado, onde se dão os conflitos e o
efeito das decisões em matéria de desigualdade de todos os
tipos, de emprego (ou desemprego), de transporte, de acesso á
cultura (de escolaridade), de saúde, etc. Em outras palavras, o
local aparece como lugar de “verdade” do político (TÉTU, 2002,
p.434-435).
2.4 O fim de um projeto
Desde o segundo semestre de 2010 o Circulando não tem mais a relação que
manteve com as comunidades da Região da Ibituruna, entre 2002 e primeiro
semestre de 2010. Na edição 393, de agosto de 2010, o Circulando noticiou
que entrava em uma nova fase, com mudança na periodicidade e circulação a
cada dois meses letivos. O jornal-laboratório também diminuiu sua tiragem para
1 mil exemplares, adotou o formato tablóide (44 cm x 32 cm) e abandonou o
formato standard (56 cm x 32 cm). O seu corpo editorial se reduziu a 1 (uma)
professora jornalista e aos alunos do 4º ao 8º período do curso de Jornalismo.
Entre os anos de 2002 e 2010, o Circulando contava com corpo editorial fixo,
composto por um professor jornalista (orientador), uma jornalista profissional
(editora assistente), uma aluna do 8º Período contratada para a diagramação e
47
editoração eletrônica das edições, mais três alunas estagiárias (duas do 8º
período e uma do 4º Período). Juntavam-se a este corpo editorial fixo, os
alunos do 4º ao 7º período, que produziam notícia, reportagem, texto opinativo
e fotografias. As pautas eram produzidas com orientação do professor da
disciplina de Redação Jornalística, que discutia assuntos de interesse do
público alvo do jornal, em sala de aula, e depois comandava a reunião de
pauta. Os alunos apuravam e redigiam. Depois o professor corrigia e editava o
material, enviando, na sequência, ao laboratório de jornalismo para a edição
final.
O jornal era distribuído preferencialmente nos bairros da Região da Ibituruna,
periferia de Governador Valadares, área central da cidade e bairros próximos
da área central. Com periodicidade semanal, o jornal tinha tiragem de 10 mil
exemplares. Em ocasiões especiais chegava a 20 mil exemplares.
48
Capítulo 3
PERCURSO METODOLÓGICO NOS JORNAIS LOCAIS E LABORATORIAIS
A metodologia proposta para a realização deste trabalho foi estruturada na
pesquisa qualitativa e em procedimentos de investigação baseados em análise
de conteúdo, experimentação, e adoção de instrumentos de coleta e
tratamento de dados obtidos nos arquivos do jornal-laboratório Circulando, do
curso de Jornalismo da Universidade Vale do Rio Doce (Univale - Governador
Valadares, MG); em artigos científicos que abordam os jornais-laboratório
Senso(in)comum, do curso de Jornalismo da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU - Uberlândia, MG); jornal-laboratório OutrOlhar, do curso de
Jornalismo da Universidade Federal de Viçosa (UFV - Viçosa, MG); jornallaboratório Marco, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC
Minas – Belo Horizonte, MG), além da análise de edições destes jornais.
Também foi feita uma análise de conteúdo de edições de jornais locais, da
cidade de Governador Valadares: Diário do Rio Doce, Jornal de Domingo,
Folha Regional e Classificados O Domingo.
A abordagem qualitativa foi utilizada por possibilitar, de acordo com Oliveira
(2007) “um estudo detalhado de um determinado fato, objeto, grupo de
pessoas ou ator social e fenômenos da realidade” (OLIVEIRA, 2007, p.60). A
autora argumenta que na pesquisa qualitativa é possível buscar informações
fidedignas para articular o conhecimento científico produzido acerca do objeto
de pesquisa e o contexto no qual ele está inserido.
Os dados podem ser obtidos através de uma pesquisa
bibliográfica, entrevistas, questionários, planilhas, e todo
instrumento (técnica) que se faz necessário para
obtenção de informações. [...] No entanto, em pesquisas
de abordagem qualitativa, os dados estatísticos só devem
ser utilizados quando visam dar maior precisão aos dados
coletados, que são analisados com base na realidade,
nos objetivos, hipóteses e nos fundamentos teóricos
preestabelecidos na construção do projeto de pesquisa
(OLIVEIRA, 2007, p.60).
49
A pesquisa considerou o método empírico, que de acordo com Santaella
(2002), surgiu da necessidade de superar a especulação teórica em benefício
da observação empírica, e pode também ser realizada com o teste
experimental e medidas quantitativas. Citando Fiske (1900), Santaella (2002)
argumenta que o método empírico está baseado no raciocínio indutivo e na sua
versão experimental tem estes propósitos:
(a) colecionar e categorizar fatos objetivos ou dados; (b)
levantar hipóteses para explicá-los; (c) eliminar, tanto quanto
possível, qualquer interferência de elemento humano nesse
processo; (d) construir métodos experimentais para testar e
provar ou refutar a confiabilidade dos dados e das hipóteses
(FISKE apud SANTAELLA, 2002, p.136).
A autora explica que, “quando o método empírico é aplicado às ciências
sociais,
busca-se
reproduzir
condições
similares
às
do
laboratório”
(SANTAELLA, 2002, p.136).
Considerando que esta pesquisa versa sobre a comunicação, cujos estudos de
vários teóricos apontam para uma diversidade de conceitos e opiniões, foi
necessário um estudo teórico apurado, com a leitura de livros, jornais, revistas
e artigos. Este procedimento é coerente com o pensamento de Santaella
(2002), que vê as pesquisas teóricas com a função de preencher lacunas no
conhecimento, desvendar e construir quadros conceituais de referência. A
autora considera a diversidade e a ausência de um consenso no pensamento
dos teóricos sobre a comunicação:
Há pesquisas cuja função poderia estar exclusivamente na
discussão de um conceito controverso dentro de uma
determinada área do conhecimento: o conceito de
representação ou o conceito de consciência, nas ciências
cognitivas, por exemplo, ou o próprio conceito de comunicação,
na área de comunicação, um conceito que, aliás, está longe de
ser consensual (SANTAELLA, 2002, p.139).
Na pesquisa bibliográfica, que segundo Oliveira é uma “modalidade de estudo
e análise de documentos de domínio científico, tais como livros, enciclopédias,
periódicos, ensaios críticos, dicionários e artigos científicos (OLIVEIRA, 2007,
50
p.69)”, foi necessário ler autores que discutiam a comunicação e o jornalismo,
principalmente em questões controversas, como a objetividade jornalística e
jornalismo alinhado às aspirações sociais, conforme descrito do Capítulo 2, que
trata do referencial teórico.
A realização da pesquisa bibliográfica também possibilitou a utilização de
conceitos que abordam as principais questões do jornalismo, desenvolvimento
local e Tecnologia Social, e como a comunicação pode contribuir para o
desenvolvimento da sociedade. Possibilitou uma análise dos aspectos
relacionados à educação, principalmente sobre as novas diretrizes curriculares
para o curso de Jornalismo, propostas ao Ministério da Educação pela
Comissão de Especialistas em Ensino de Jornalismo, e questões que
permeiam as propostas metodológicas para a prática jornalística integrada ao
desenvolvimento local. Isto foi importante e necessário para conhecer o
pensamento da Comissão sobre a formação de jornalistas nas universidades e
articular este pensamento com os estudos teóricos obtidos na revisão
bibliográfica deste trabalho.
Assim, o percurso metodológico para pesquisar as formas interativas de um
jornal-laboratório nas comunidades e a prática jornalística voltada ao interesse
público, considerou alguns procedimentos citados por Oliveira (2007), como,
por exemplo, o método de pesquisa. Sobre este método, a autora afirma que
ele deve ser entendido como “um processo que se inicia desde a disposição
inicial de se escolher um determinado tema para pesquisar, até a análise dos
dados com as recomendações para minimização ou solução do problema
pesquisado” (OLIVEIRA, 2007, p.43). Oliveira explica que a metodologia é
também “um processo que engloba um conjunto de métodos e técnicas para
ensinar, analisar, conhecer a realidade e produzir novos conhecimentos”
(OLIVEIRA, 2007, p.43).
A pesquisa documental, definida por Oliveira como busca de informações em
“documentos que não receberam nenhum tratamento científico, como
relatórios, reportagens de jornais, revistas, cartas, filmes, gravações,
fotografias, entre outras matérias de divulgação” (OLIVEIRA, 2007, p.69),
51
considerou os projetos pedagógicos dos cursos de Jornalismo da Univale e da
UFU, Relatório da Rede ANDI sobre a atuação da mídia na divulgação dos
fatos relacionados às crianças e adolescentes, relatório da Fundação Perseu
Abramo sobre o Vale do Jequitinhonha, especialmente sobre a comunicação
nesta região de Minas Gerais, leitura de jornais e revistas, dentre outros citados
neste trabalho.
A leitura destes documentos acrescentou muito ao trabalho, pois, conforme
afirma Oliveira, a pesquisa em documentos oferece ao pesquisador acesso a
materiais que ainda não receberam tratamento analítico, ou seja, “fontes
primárias”.
É importante que o leitor(a) entenda o que significa “fontes
primárias”, como sendo dados originais, a partir dos quais o
pesquisador tem uma relação direta com os fatos a serem
analisados, ou seja, é ele quem analisa, observa, por exemplo,
uma fotografia, uma imagem, um som; é ele quem ouve relato
de experiências vivenciadas por outrem (OLIVEIRA, 2007,
p.70).
A utilização da internet como ferramenta de pesquisa permitiu o acesso a
periódicos científicos, dissertações e teses que versam sobre o jornalismo e os
jornais-laboratório. No caso dos jornais-laboratório, cuja bibliografia é pequena
e sempre tendo como obra referência o livro “Jornal-laboratório: do exercício
escolar ao compromisso com o público leitor”, do professor Dirceu Fernandes
Lopes (1985), a pesquisa teve de se valer da internet, conforme sugere
Oliveira, dando conta de que a rede mundial de computadores “se constitui
uma ferramenta indispensável à humanidade para informações rápidas sobre
os mais diversos assuntos” (OLIVEIRA, 2007, p.70).
Na análise de conteúdo dos jornais editados e distribuídos em Governador
Valadares, MG, e dos jornais-laboratórios dos cursos de jornalismo das
universidades já citadas, considerou-se prioritariamente o estudo sobre a
interação destes jornais com as comunidades, se havia ou não esta interação e
de que forma ela acontecia.
52
Esta pesquisa também foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética em
Pesquisa do Centro Universitário UNA, seguindo as normas do Conselho
Nacional de Saúde – Resolução nº 196, de 10 de outubro de 1996 –, que
regulamentam a pesquisa com seres humanos, sob o número CAAE
0071.0.391.000-11, em 04/10/2011.
53
Capítulo 4
PROCEDIMENTOS EDITORIAIS IDENTIFICADOS NA COLETA DE DADOS
4.1 Dados sobre jornais-laboratórios e jornais locais
Buscar alternativas para democratizar a informação e fazer um jornalismo
voltado ao interesse público deve ser a missão dos cursos de jornalismo,
conforme sugere as novas diretrizes curriculares para o curso de Jornalismo
propostas ao MEC pela Comissão de Especialistas em Ensino de Jornalismo.
Para analisar os procedimentos editoriais em jornalismo impresso, durante a
formação do jornalista, adotados por alguns jornais-laboratório, e verificar se os
principais jornais impressos produzidos em Governador Valadares atendem
aos anseios das comunidades valadarenses, foi necessária uma análise de
conteúdo destes jornais.
A intenção de analisar os jornais-laboratório e os jornais locais de Governador
Valadares foi uma forma encontrada para estabelecer um comparativo entre
eles e ter, como isso, embasamento teórico para elaborar um projeto editorial e
gráfico ideal para o jornal-laboratório Circulando, tendo o jornalismo cívico
como prática, conforme descrito em capítulos anteriores.
A análise foi precedida de uma descrição de dados sobre os jornais-laboratório
de 4 (quatro) universidades mineiras e sobre 4 (quatro) jornais locais de
Governador Valadares. Foram analisados os jornais-laboratório Circulando
(Univale) e Marco (PUC Minas), OutrOlhar (Universidade Federal de Viçosa) e
Senso(in)comum (Universidade Federal de Uberlândia).
Os quatro jornais de Governador Valadares analisados foram: Diário do Rio
Doce, Jornal de Domingo, Classificados O Domingo e Folha Regional. O
objetivo da análise foi identificar se os jornais locais publicam material
jornalístico que privilegia as demandas sociais do público leitor de Governador
Valadares, se as matérias publicadas contextualizam o fato, ampliando a
compreensão da notícia pelo público, se existe variedade de fontes de
54
informação ouvidas durante o processo de produção da notícia e qual o
percentual de ocupação de espaço nas páginas destes jornais, com notícias
locais, nacionais e internacionais.
Quadro 1 (Dados sobre os jornais-laboratório)
Dados
Marco
Circulando
OutrOlhar
Senso(in)comun
Fundação
Formato
Papel
Páginas
Periodicidade
Tiragem
Preço de capa
Público-alvo
Prof/Jornalistas
Estagiários
Impressão
1972 - 40 anos
Standard
Jornal (opaco)
16
8 edições/ano
12.000
Gratuito
Externo
4
0
Terceirizada
2008 - 14 anos
Tablóide
Jornal (opaco)
8
4 edições/ano
1.000
Gratuito
Interno
1
0
Terceirizada
2003 - 9 anos
Tablóide
AP (branco)
16
8 edições/ano
2.000
Gratuito
Externo
4
0
Gráfica UFV
2011 - 1 ano
Tablóide
AP (branco)
12
4 edições/ano
2.000
Gratuito
Interno
4
0
Gráfica UFU
Fonte: Coleta de Dados das Edições (2011)
4.1.1 Jornal-laboratório Circulando
O Circulando, jornal-laboratório do curso de Jornalismo da Universidade Vale
do Rio Doce, nasceu para cumprir uma função importante dentro do jornalismo
local, com a missão de democratizar a informação, permitindo que pessoas que
não tinham acesso aos jornais impressos, lessem um jornal que divulgasse
fatos de suas comunidades, conforme foi descrito no capítulo 3 desta
dissertação.
Sua implantação se deu em 1998, com o nome de O Foca. A intenção era fazer
um jornal com uma linha editorial voltada ao interesse público, permitindo ao
estudante do curso de Jornalismo, a oportunidade de escrever nos três
gêneros do jornalismo: opinativo, informativo e interpretativo. No ano seguinte,
em 1999, o jornal-laboratório trocou de nome e passou a se chamar
Circulando. Recebeu este nome porque o objetivo era que circulasse de ano
em ano em uma área da cidade. A partir de 2002, o Circulando passou a
circular na Região da Ibituruna. Sua interação com as comunidades desta
55
região lhe valeu o prêmio de “Melhor jornal-laboratório do Brasil”, na 10ª
Exposição Experimental da Comunicação, em 2003.
A partir do segundo semestre de 2010, o Circulando deixou de ser distribuído
na Região da Ibituruna, mudou sua periodicidade para trimestral (bimestral, se
for considerado apenas os meses letivos), e passou a ter tiragem de 1 mil
exemplares. Deixou de ser editado no formato standard (54 cm x 32 cm) e
adotou o formato tablóide (44 cm x 31 cm).
4.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar
O jornal-laboratório OutrOlhar, do curso de Jornalismo da Universidade Federal
de Viçosa, Minas Gerais, foi criado em 2003 e, à época, sua linha editorial
“dava ênfase aos assuntos gerais da cidade, tal e qual os jornais circulantes na
região” (LANNES, 2001, p.247). Lannes explica que o jornal recebeu este
nome para ter um olhar diferenciado da notícia.
Em 2007, o jornal-laboratório do curso de Jornalismo da UFV foi reformulado
com o Projeto Editorial OutrOlhar, que segundo Lannes foi desenvolvido com “o
objetivo de formar profissionais de jornalismo com visão cidadã da notícia ou
da prática jornalística” (LANNES, 2001, p.247). Esta visão cidadã objetivou
direcionar o jornal para os alunos das escolas públicas de nível médio de
Viçosa, MG, que de acordo com os idealizadores do projeto, eram carentes de
conhecimento e seriam estimulados à leitura.
Lannes argumenta que “ao contrário de boa parcela dos jornais acadêmicos,
desde a implantação do projeto OutrOlhar, procuramos tomar o máximo de
cuidado para que nossas edições não fossem fadadas aos balcões dos
diversos setores da UFV” (LANNES, 2001, p.250). Assim, segundo este autor,
evitou-se que as edições “viessem servir para amaciar o ego de alunos e
professores perante seus familiares ou colegas, e em outros casos até servir
de veículo útil à Universidade ou aos seus interesses mercadológicos”
(LANNES, 2001, p.250).
56
4.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)Comum
Criado em 2010, seguindo a proposta do Projeto Pedagógico 17 do Curso de
Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), o jornal-laboratório
Senso(in)comum é impresso no formato tablóide, e destinado aos estudantes
da UFU. Spannenberg; Nunes (2011) explicam que na produção do jornal, os
alunos “entram em contato com as rotinas e práticas de produção de um jornal
impresso e, ao mesmo tempo, têm a oportunidade de desenvolver estratégias
de comunicação para um público específico” (SPANNENBERG; NUNES, 2011,
p.4). Este público específico, de acordo com as autoras é formado pelo alunado
da UFU, seguindo a proposta de ter “um jornal diferente, parecido com uma
revista, contendo características gráficas e textuais trazidas da internet para
chamar a atenção do leitor” (SPANNENBERG; NUNES, 2011, p.5). A
periodicidade do Senso(in)comum é bimestral.
O Senso(in)comum circulou com sua edição número 01 em 2011, referente ao
bimestre fevereiro e março. Os assuntos abordados foram todos, em maioria,
relacionados ao interesse da comunidade acadêmica da UFU. Na capa, a
manchete e a foto principal é sobre o Trote Solidário, evento da universidade,
realizado para incentivar a doação de sangue pelos calouros que ingressaram
na UFU naquele ano. Outros assuntos publicados abordaram as atividades dos
laboratórios de outros cursos da universidade, construção de prédios no
campus da UFU, e outros, sobre cultura e lazer.
4.1.4 Jornal-laboratório Marco
O
jornal-laboratório
Marco,
do
curso
de
comunicação
da
Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas), com 40 anos de
17
O Projeto Pedagógico do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU/FACED, 2008), em consonância com tal exigência, prevê o desenvolvimento de um
jornal-laboratório. Conforme a Resolução nº 007/2010 do Colegiado do Curso de Comunicação
Social: Habilitação em Jornalismo, o produto deve ser resultado da interdisciplinaridade entre
quatro componentes curriculares do quarto semestre da graduação e tem como objetivo “ser
jornal de treinamento e aprofundamento da prática em jornal impresso [...]” (SPANNENBERG;
NUNES, 2011, p.3).
57
existência, tem a sua história dividida em quatro fases, de acordo com Pacheco
(2011).
A primeira fase marcada por um jornalismo comunitário e
popular que vai do surgimento dele, em dezembro de 1972, a
novembro de 1982; a segunda vai de novembro de 1983 a
outubro de 1987 no qual o JM passa a atender o bairro
Coração Eucarístico e sofre algumas alterações no projeto
gráfico; a terceira fase vai de outubro de 1987 a março de 1992
quando passa a ser standard e trata de matérias fora da
demanda dos bairros vizinhos; a quarta fase iniciada em março
de 1992 perdura até os dias atuais com apenas uma alteração
no projeto gráfico ocorrida em 1996. (PACHECO, 2011).
O Marco, de acordo com o site da PUC Minas, publica regularmente 8 edições
anuais e conta com a participação voluntária dos alunos de todos os períodos
do curso de Jornalismo. Seu é formato standard, com 12 páginas impressas
em cores na capa e contra-capa.
Jornal premiado, o Marco já ganhou dois prêmios como o “melhor jornallaboratório do Brasil” nos congressos da Expocom/Intercom, e em outras
quatro edições deste congresso esteve entre os três primeiros colocados.
Desde 2002, mantém redação na sucursal do campus São Gabriel.
4.2 Descrição de dados dos jornais locais
Quadro 2 (Descrição de dados dos jornais locais)
Dados
Fundação
Formato
Papel
Páginas
Periodicidade
Tiragem
Preço de capa
Público-alvo
Jornalistas
Profissionais
Estagiários
Impressão
Diário do
Rio Doce
1958 - 54 anos
Standard
Jornal
16 a 24
Diário
6.000
R$ 1,00
G.Valadares e
Região Rio Doce
9
Jornal de
Domingo
1998 - 14 anos
Tablóide
Jornal
8 a 12
Semanal
Gratuito
Gratuito
G.Valadares
Classificados
O Domingo
2001 - 11 anos
Tablóide
Jornal
8
Semanal
8.000
Gratuito
G.Valadares
0
Folha
Regional
2003 - 9 anos
Standard
Jornal
12
Quinzenal
8.000
R$ 1,20
Região do Rio Doce
e Centro-nordeste
0
4
Gráfica própria
0
Terceirizada
0
Terceirizada
0
Terceirizada
Fonte: Coleta de Dados das Edições (2011)
0
58
4.2.1 Diário do Rio Doce
Fundado em 30 de março de 1958, o Diário do Rio Doce, de acordo com
Espindola (1999), começou a circular como principal instrumento estratégico da
Associação Comercial de Governador Valadares (ACGV), na defesa de seus
ideais desenvolvimentistas. O jornal “nasceu da necessidade da ACGV ter um
órgão de comunicação para apoiar e sustentar os seus projetos, suas ideias
inovadoras, bem assim, as ações objetivas para viabilizá-los” (ESPINDOLA,
1999, p.53). Este autor lembra que o jornal funcionou como instrumento para a
sua atuação como porta-voz do empresariado. “No período do embate políticoideológico, que antecedeu o golpe militar de 1964, foi importante tribuna
conservadora frente ao jornal de esquerda O Combate. Parceiro permanente
da ACGV, o DRD foi um veículo de ideias e formador de opinião”
(ESPINDOLA, 1999, p.53).
Um dos líderes do grupo que fundou o DRD foi o jornalista Mauro Santayana,
que segundo Espindola, discutiu o projeto para a criação deste jornal com
empresários de Governador Valadares. Santayana, que já havia editado em
Governador Valadares, nos anos 1950, um jornal com o nome Correio do Rio
Doce, sugeriu o formato e o nome do jornal.
Em 1979, o DRD foi comprado pelo empresário e ex-Deputado Federal Pedro
Tassis (PMDB), que passou a administrá-lo juntamente com sua família. Seu
irmão, Ivanor Tassis, esteve à frente da direção do jornal por mais de 20 anos.
O DRD já manteve uma sucursal na cidade de Ipatinga, onde era editado o
suplemento Vale do Aço.
Em 2005, o DRD foi adquirido pelo Grupo Leste de Comunicação, de
propriedade dos empresários Edison Gualberto de Souza e Getúlio Miranda
Primo, que também controlam a TV Leste (afiliada Rede Record), Rádio Globo
Governador Valadares (afiliada Rádio Globo Brasil), Rádio Imparsom FM e TV
Rio Doce (afiliada Rede Brasil).
59
O DRD se declara como um jornal comprometido com os seus leitores e que
tem “a verdade como objetivo”. A propósito, “A verdade como objetivo” foi o
título do editorial da edição número 1, que circulou em 20 de março de 1958,
cuja reprodução da capa está dependurada na parede da redação.
4.2.2 Cadernos do DRD
Primeiro Caderno – Varia de 4 a 8 páginas, com destaque para a política local
na página 3. A página 2 é de conteúdo opinativo (charge, coluna do jornalista
Cláudio Humberto – enviada por agência de notícia). A página 4 é destinada
50% à coluna social e 50% a anúncios ou noticiário internacional da Agência
Estado. Nas outras páginas predomina o noticiário político nacional e estadual
(Agência Estado, Agência Minas e Agência Brasil). A editoria de Esportes é
incorporada neste caderno, ocupando 1 ou 2 páginas, com noticiário dos times
da Série A do Campeonato Brasileiro de Futebol, das capitais São Paulo, Rio
de Janeiro e Belo Horizonte, e produzido pela agência Estado. As informações
sobre estes times ocasionalmente são obtidas em seus sites oficiais. O
noticiário do Esporte Clube Democrata, único time de futebol profissional de
Governador Valadares, é pequeno, além de ser produzido apenas durante os
três primeiros meses do ano, quando o E.C. Democrata disputa o Campeonato
Mineiro de Futebol Profissional. O Campeonato de Futebol Amador de
Governador Valadares e outras competições esportivas que acontecem na
cidade têm espaço diminuto.
Cultura – Varia de 4 a 8 páginas. Em média, 60% do espaço das páginas são
ocupados por noticiário da Agência Estado, com notícias sobre as celebridades
da TV, resumo de novelas, horóscopo e culinária. O noticiário local (Peças de
teatro, show musicais – axé, sertanejo e gospel) é destacado na capa, mas
ocupa espaço diminuto nas páginas internas, em média 20% do espaço. O
restante do espaço é ocupado por anúncios.
Cidades - 8 páginas. Predomina o noticiário local, obtido na ronda policial
diária, destacando assassinatos, furtos e roubos, acidentes automobilísticos.
Os problemas relacionados à infraestrutura urbana dos bairros são noticiados
60
neste caderno, sem o destaque dado ao noticiário policial. Estes assuntos
locais ocupam em média 70% das quatro primeiras páginas, com média de
30% de anúncios. Nas outras quatro páginas, duas são para os anúncios
classificados e duas para a editoria de Economia, cujo noticiário é obtido na
Agência Estado, Agência Brasil ou Agência Minas. Nas edições de domingo, 4
páginas são dedicadas às colunas sociais.
4.2.3 Dados das edições do DRD
Dados das edições 17.410 (domingo, 15/01/2012), 17.411 (terça-feira,
17/01/2012),
17.412
(quarta-feira,
18/01/2012)
17.413
(quinta-feira,
19/01/2012), 17.414 (sexta-feira, 20/01/2012) e 17.415 (sábado 21/01/2012).
A edição 17.410, circulou com 26 páginas, no domingo (15/01/2012), com os
cadernos Cultura (8 páginas), Classificados (6 páginas), Cidades (4 páginas),
além do primeiro caderno (8 páginas). As matérias, notas, colunas, artigos,
fotos e ilustrações foram editadas nas editorias de Opinião, Política, Sociedade,
Mundo, Esporte, Cidades e Variedades.
A manchete foi “Valadares tem 25 bairros com áreas de risco”. O noticiário
local ocupou espaço equivalente a 8 páginas e meia, sendo que destas, 4
páginas foram ocupados pelos colunistas Márcio Castelo Branco e Sinara
Neves, com fotos e assuntos relacionados à alta sociedade. As outras 4
páginas e meia foram ocupadas por matérias jornalísticas sobre o combate à
dengue, campanha de popularização do teatro, resgate do carnaval de rua em
Governador Valadares, identificação de áreas de risco em 25 bairros da cidade,
cadastramento de estudantes para a compra do passe escolar em ônibus
urbanos e a campanha solidária de arrecadação de donativos para os
desalojados da enchente no Rio Doce.
As demais páginas (17 páginas e meia) foram ocupados por anúncios
classificados (6 páginas), noticiário nacional e internacional, produzidos por
agências de notícias (4 páginas), variedades (horóscopo, moda, passatempo,
receitas de culinária), somando 4 páginas, e anúncios publicitários.
61
Nas duas páginas da editoria Mundo, as notícias produzidas pelas agências
noticiosas, Estado e Reuters, e selecionadas pelos editores do Diário do Rio
Doce para serem publicadas foram: General sírio desertor quer lutar contra
regime de Assad; Ahmadinejad está tranqüilo diante da ameaça dos EUA;
Hugo Chávez diz que respeitará resultados das eleições se perder; Bomba
mata 50 em atentado contra xiitas no sul do Iraque; Estados Unidos planejam
retirar 15 mil soldados da Europa; Ao menos três morrem em naufrágio de
Cruzeiro na Itália.
A edição 14.711, circulou com 16 páginas, na terça-feira (17/01/2012), com os
cadernos Cidades, Classificados, além do primeiro caderno. A manchete foi
“Assassinato com requintes de crueldade”, noticiando a morte de um rapaz de
17 anos, morador do bairro Jardim Pérola. O noticiário local ocupou 4 páginas
da edição (meia página para a coluna social, 1 página de entrevista com a
presidente da FIEMG Regional Rio Doce, 1 página com ocorrências policiais,
noticiário sobre o Esporte Clube Democrata e entrega de carro do sorteio de
Natal, da CDL-GV ocuparam o restante do espaço). As demais páginas, 12 ao
todo, foram ocupadas por anúncios e noticiário estadual, nacional e
internacional produzido por agências de notícias.
As edições 14.712 (18/01/2012), 14.713 (19/01/2012), 14.714 (20/01/2012) e
14.715 (21/01/2012), circularam com 14 páginas cada uma. A edição 14.712
teve como manchete “Ação contra a dengue”. O noticiário local ocupou espaço
equivalente a 5 páginas, sendo que 1 página foi ocupada pelos dois colunistas
sociais, Márcio Castelo Branco e Sinara Neves. Os outros assuntos de
destaque foram a arrecadação de donativos para as vítimas das enchentes,
notas policiais, liberação do FGTS para as vítimas das enchentes. As demais
páginas, 9 ao todo, foram ocupadas por anúncios e noticiário estadual, nacional
e internacional produzidos por agências de notícias.
Na edição 14.713, a manchete foi “Quase 12 mil cartuchos de fuzil”, sobre
notícia de apreensão de munição pesada em Tarumirim, cidade próxima a
Governador Valadares. O noticiário local ocupou espaço equivalente a 3
62
páginas, sendo que deste total, 1 página foi dedicada às ocorrências policiais e
meia página para a coluna social de Sinara Neves. As demais páginas, 11 ao
todo, foram ocupadas por anúncios e noticiário estadual, nacional e
internacional produzidos pelas agências de notícias.
Com a manchete “Irmãs são picadas por escorpiões”, a edição 17.414 teve
cerca de 3 páginas para o noticiário local, sendo que meia página foi ocupada
pela coluna social de Sinara Neves, com destaque para um escultor argentino
que fez esculturas de areia às margens do Rio Doce, e notas relacionadas às
ações da Polícia Militar (apreensão de drogas e combate à pirataria). O curioso
nesta edição é que a matéria que motivou a manchete de primeira página se
resumiu às informações do boletim de ocorrência do Corpo de Bombeiros, e
teve aproximadamente 1.200 toques, menos de 1 lauda. As outras 11 páginas
da edição foram ocupadas por anúncios e pelo noticiário estadual, nacional e
internacional, produzidos pelas agências de notícias.
A edição 17.415, cuja manchete foi “Morto a tiros enquanto trabalhava”, teve
aproximadamente 3 páginas dedicadas ao noticiário local, com meia página
para a coluna social de Sinara Neves, e destaque para assuntos como o show
musical em solidariedade às vítimas das enchentes, preço de alimentos,
preparação da equipe do Esporte Clube Democrata para o Campeonato
Mineiro 2012 e doação de terreno da Prefeitura ao Tribunal de Justiça para
obras de ampliação do fórum da comarca de Governador Valadares. As outras
páginas 11 páginas da edição foram ocupadas por anúncios e noticiário
estadual, nacional e internacional produzidos pelas agências de notícias.
4.2.4 Jornal de Domingo
O ex-diretor proprietário do Diário do Rio Doce, Carlos Alberto Sobreira, fundou
o Jornal de Domingo em 15 de março de 1992. O nome do fundador e a data
de fundação constam no expediente do jornal. Mesmo depois de Sobreira ter
deixado a publicação, a editora Jornal Minas Leste, que edita o Jornal de
Domingo mantém o nome do fundador no expediente como forma de
homenageá-lo.
63
O Jornal de Domingo circula semanalmente e sua linha editorial é voltada
prioritariamente ao conteúdo opinativo, produzido por colaboradores. A cada
edição o jornal publica em média 10 colunas versando sobre assuntos
diversos: humor, literatura, sociedade, direito, agropecuária e temas variados.
Desde a sua fundação, o Jornal de Domingo publica semanalmente uma
entrevista no estilo pingue-pongue (perguntas e respostas) com personalidades
de Governador Valadares, geralmente, pessoas que se caracterizam pelo
pioneirismo na construção da cidade, que contam fatos importantes que
aconteceram em décadas passadas, nos primeiros anos de Governador
Valadares como município, emancipado de Peçanha, MG, em 1938. Estas
entrevistas, publicadas na seção “Jogo Bruto”, possuem um grande número de
leitores e é fonte de pesquisa constante nos arquivos do jornal.
As poucas notícias publicadas no Jornal de Domingo, geralmente na capa e
contracapa, são apuradas e redigidas por um único repórter (sem formação
superior em Jornalismo). Outras têm como fonte os press-releases enviados à
redação do jornal pela Secretaria Municipal de Comunicação e Mobilização, da
Prefeitura Municipal de Governador Valadares, entidades e instituições. Uns
são editados e outros publicados na íntegra.
4.2.5 Jornal Folha Regional
O jornal Folha Regional tem como editor responsável Rafael Barbosa, sem
formação superior em jornalismo. O jornal possui três colaboradores fixos,
cujos nomes e colunas são citados no expediente: Renato Zouain Zupo (Em
dia com a justiça), José Arimateia Alves (Panorama) e Tarcísio Alves (Fatos
atuais).
As notícias e as entrevistas publicadas na Folha Regional não são assinadas e
possuem um forte conteúdo opinativo. Os assuntos pautados são, em maioria,
sobre a política partidária nas cidades que recebem o jornal (Governador
Valadares, cidades do Vale do Rio Doce e Centro-nordeste Mineiro). É comum
64
a publicação de matérias pagas por órgãos públicos da região, porém sem a
identificação “informe publicitário”. Na edição 208, que circulou na segunda
quinzena de dezembro de 2011, com 8 páginas, os fatos relacionados à
Governador Valadares ocuparam cerca de 70% de uma página. Na edição 209,
que circulou na primeira quinzena de janeiro de 2011, com 12 páginas, os fatos
relacionados a Governador Valadares ocuparam espaço de 2 páginas. As
demais páginas noticiaram fatos de cidades como São João Evangelista,
Divino das Laranjeiras, Sardoá, Guanhães, Sabinópolis, Santa Efigênia de
Minas e Goiabeiras, entre outras.
Além do conteúdo opinativo, noticioso e publicitário, a Folha Regional publica
uma página com entretenimento (notícias da TV e piadas), horóscopo e a
coluna “Ser Feliz”, assinada pela psicóloga Cláudia Queiroz. Esta página
ostenta a vinheta “Cultura”, e também abre espaço para os leitores enviarem
poemas que são publicados na seção “Espaço Cultural”, com foto do autor.
4.2.6 Jornal Classificados O Domingo
O jornal Classificados O Domingo circula em Governador Valadares há 11 anos
com pequenos anúncios classificados. Seu diretor é Alessandro Caffarello e o
jornal não possui jornalista. As notícias publicadas são reproduções de jornais,
revistas e sites como o Uol e o G1. Na primeira página, estas notícias são
chamadas com título e um pequeno texto, com remissão para a página onde
está publicada.
Os anúncios classificados e anúncios comerciais ocupam cerca de 7 das 8
páginas de cada edição. As matérias ocupam o equivalente a 1 página em
cada edição. As notícias publicadas têm vinhetas: Mundo, Negócios, Viagens,
Cinema, Clima e Concursos. O Classificados O Domingo tem distribuição
gratuita em pontos comerciais da área central e alguns bairros de Governador
Valadares.
65
Capítulo 5
ANALISANDO A PRÁTICA JORNALÍSTICA NA ESCOLA E NO MERCADO
5.1 Análise de conteúdo dos jornais-laboratório e jornais valadarenses
A análise dos dados procurou identificar se os jornais de Governador Valadares
(Diário do Rio Doce, Jornal de Domingo, Classificados O Domingo e Folha
Regional) noticiam os fatos de interesse das comunidades, se as pessoas são
ouvidas e se o critério de noticiabilidade ligado à proximidade predomina nas
matérias publicadas.
O critério da proximidade, segundo Erbolato (1991), é a grande arma que os
jornais do interior e semanários comunitários têm à disposição, divulgando
fatos que ocorrem perto do leitor e a ele ligados.
Todas as notícias locais possuem essa característica. A
pessoa que tem um problema a perturbá-la, como um terreno
baldio ao lado de sua residência ou a precariedade da
iluminação pública, procura com mais interesse a nota do jornal
que aborde esses assuntos do que o telegrama procedente de
Washington que fale sobre as atividades do presidente norteamericano (ERBOLATO, 1991, p.61).
Verificou-se que a cobertura jornalística local, em Governador Valadares,
apresenta distorções que condena muitos assuntos locais à inexistência social,
e os jornais não priorizam o critério da “proximidade” na seleção de assuntos
para as suas edições, deixando de utilizar a “grande arma” citada por Erbolato.
Confirmou-se também o pensamento de Lopes (1985) sobre o fato de os
pequenos jornais serem dependentes de fontes contratadas (agências de
notícias, nacionais e internacionais). Segundo este autor, o noticiário produzido
pelas agências noticiosas prioriza fatos ocorridos nos grandes centros,
deixando de lado o que ocorre nas pequenas comunidades onde não mantêm
correspondentes (LOPES, 1985, p.44). Desta forma, Lopes considera que
o jornalismo brasileiro assume caráter elitista tratando
predominantemente de assuntos que interessam a uma
minoria, deixando de lado as questões que afetam o cotidiano
da população. Assim, a massa acaba se afastando dos jornais
66
em decorrência do interesse gerado pela estrutura noticiosa
calcada no poder (LOPES, 1985, p.44).
Na análise dos jornais-laboratório, observa-se que todos eles seguem a
orientação de professores dos cursos de Jornalismo aos quais pertencem e
têm a participação de alunos destes cursos. O material jornalístico produzido é
resultado da articulação teórico-prática defendida pelos professores dos cursos
de Jornalismo, e ao contrário dos jornais locais de Governador Valadares,
adotam prioritariamente o critério de noticiabilidade ligado “proximidade”.
Os jornais-laboratório OutrOlhar, do curso de Comunicação Social –
Jornalismo, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e Senso(in)comum, do
curso de Jornalismo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) apresentam
em comum o fato de terem a mesma tiragem e serem impressos nas gráficas
destas universidades, com o mesmo tipo de papel (AP - apergaminhado), ao
contrário do Circulando (Univale) e do Marco (PUC Minas), impressos em
gráficas particulares, em papel jornal. A diferença mais significativa entre o
OutrOlhar e o Senso(in)comum é a linha editorial e o público alvo. Enquanto o
jornal de Viçosa, MG, optou por deixar os assuntos internos do campus da
UFV, e tratar de assuntos de interesse das comunidades externas, o jornal de
Uberlândia, MG, adota uma linha editorial voltada a público interno da UFU. O
jornal-laboratório Marco, da PUC Minas, tem linha editorial voltada para as
comunidades dos bairros Coração Eucarístico, Dom Cabral, Minas Brasil e
João Pinheiro, localizados no entorno do Campus Dom Cabral. Também circula
no bairro São Gabriel, onde a PUC Minas mantém uma extensão do campus e
uma sucursal do Marco. O Circulando possui uma tiragem muito pequena para
contemplar um número expressivo de leitores, por prioriza sua distribuição aos
dois campi da Univale, e destina outra parte da tiragem ao público externo, a
órgãos e instituições de Governador Valadares.
5.1.1 Jornal-laboratório Circulando
O jornal-laboratório Circulando, do curso de Jornalismo da Universidade Vale
do Rio Doce, teve 4 (quatro) edições em 2011, cada uma com tiragem de 1 mil
67
exemplares. No projeto editorial anterior, que vigorou entre 2002 e 2010, no
período de 1 ano, o Circulando teria produzido 48 edições para um público alvo
específico, localizado nos bairros da Região da Ibituruna. O projeto atual não
possui uma distribuição com o mesmo alcance da que era feita no projeto
anterior.
Nas duas edições do segundo semestre de 2011 (397 e 398), as matérias
foram produzidas pelos alunos do 4º período do curso de Jornalismo e grande
parte do material jornalístico versava sobre assuntos de interesse público, nas
editorias de Cidadania, Saúde, Comportamento, Educação e Opinião. Na
edição 397, a manchete foi “Precisa-se de voluntários”, e se referiu uma
matéria sobre a necessidade do trabalho de voluntários em benefício da Casa
de Recuperação Dona Zulmira e do Lar dos Velhinhos, instituições filantrópicas
da cidade. Os alunos também abordaram assuntos como a vida dos moradores
de rua em Governador Valadares, os benefícios da aplicação de testes
psicológicos para a escolha profissional e outros temos de interesse coletivo.
Na edição 398 os principais assuntos foram: a busca de qualificação
profissional pelos emigrantes valadarenses que moravam e trabalhavam nos
Estados Unidos e retornaram à cidade tentando novas oportunidades de
trabalho, e a participação popular na política habitacional da cidade, executada
pela Prefeitura Municipal de Governador Valadares, seguindo deliberações do
Conselho Municipal de Habitação. As matérias se caracterizaram por ouvir
várias fontes, não restringindo a informação às fontes oficiais.
Analisando as edições, verificou-se que o Circulando não é jornal-laboratório
feito totalmente por alunos do curso de Jornalismo. Alunos e professores do
curso de Letras escrevem textos opinativos, como na edição 398, quando o
aluno José Ilton de Almeida, do 4º período de Letras assinou a crônica “O que
uma barra de chocolate pode fazer por você?”. Professores de outros cursos
da universidade publicam artigos, como na edição 397, quando o professor
Aníbal Souza Felipe da Silva publicou artigo intitulado “2011 – Ano mundial da
medicina veterinária”. As charges do Circulando são feitas pelo chargista e
professor do curso de Design Gráfico da Univale, João Marcos Parreira
68
Mendonça, e a diagramação/editoração eletrônica é feita pelo professor Brian
Lopes Honório, do curso de Design Gráfico.
5.1.2 Jornal-laboratório OutrOlhar
O jornal-laboratório OutrOlhar, da Universidade Federal de Viçosa, MG, é
totalmente feito pelos alunos do curso de Comunicação Social – Jornalismo,
conforme descreve a aluna Thaísa Vaz, no editorial publicado na edição 24, de
novembro de 201018. O jornal adota linha editorial voltada ao interesse público,
com pauta discutida pelos alunos, que elegem assuntos ligados à Cultura,
Comportamento, Meio Ambiente, Vida, Ciência e Saúde, Cidade e Esporte.
Na edição 24, que circulou em novembro de 2010, os assuntos escolhidos para
a edição são coerentes com o objetivo do jornal, descrito no capítulo anterior
pelo professor Joaquim Sucena Lannes, ou seja, “formar profissionais de
jornalismo com visão cidadã da notícia ou da prática jornalística” (LANNES,
2001, p.247). Além das matérias relacionadas às editorias citadas, a edição
trouxe um suplemento especial sobre os 20 anos do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA), mostrando o que a lei modificou na forma como a
sociedade vê a questão da infância e juventude, o trabalho do Conselho
Municipal do Direito da Criança e do Adolescente, as ações do Ministério
Público e do Centro Referencial Especializado de Assistência Social (CRAS) no
tratamento das questões da infância.
O caderno especial editado pelos alunos-repórteres do OutrOlhar mostrou um
procedimento editorial na linha oposta à conclusão do relatório da Rede ANDI
(2005), descrito no capítulo 2 desta dissertação, ou seja, a pesquisa da ANDI
constatou que na grande imprensa, um pequeno número de matérias menciona
causas, consequências, soluções, estatísticas e legislação, quando o assunto
está relacionado aos direitos da criança e do adolescente. A edição do caderno
18
No editorial, a aluna Thaísa Vaz descreve que as atividades laboratoriais de impressos são
desenvolvidas “em um jornal totalmente feito por nós, alunos do curso de Comunicação Social,
procuramos pautar os mais diversos assuntos que estivessem voltados aos nossos leitores”.
(OUTROLHAR, 2010, p.2)
69
especial contemplou estes pontos polêmicos que envolvem as discussões e
aplicações do ECA.
Observando outras edições do OutrOlhar publicadas em 201019, nota-se que
há uma diferença entre o formato destas edições e o formato da edição 24. As
edições de 2010 anteriores a 24 foram impressas em formato tablóide (35 cm x
29 cm), enquanto a edição 24 teve o formato 43 cm x 28 cm.
5.1.3 Jornal-laboratório Senso(in)comum
O jornal-laboratório Senso(in)comum circulou com a edição 0120 no início de
2011 (referente ao bimestre fevereiro e março) com assuntos relacionados ao
interesse da comunidade acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia
(UFU), publicados nas editorias de Ciência, Atualidades, Cultura e Opinião. A
manchete do jornal foi “Por todas as vidas” e se refere ao Trote Solidário, que
segundo o subtítulo aplicado sobre a foto da capa “é uma forma de incentivar
doação de sangue durante a recepção dos calouros”.
Os outros assuntos publicados abordam as atividades dos laboratórios de
outros cursos da UFU, construção de prédios no campus desta universidade, e
outros, sobre cultura e lazer. De acordo com Spannenberg; Nunes (2011), a
opção por editar estes assuntos internos não caracteriza a publicação como um
house-organ, como definiu Bueno (2008) no capítulo 2.
No processo de produção das pautas para o jornal-laboratório
buscou-se abordar temas de interesse do alunado da UFU. O
objetivo foi atender ao público-alvo dos diversos cursos, cujos
temas poderiam, ou não, estar relacionados com as unidades
acadêmicas ou com a própria universidade. Deste modo, o
Senso (in)comum, distancia-se do perfil de uma publicação de
19
Estas edições do OutrOlhar, de 2010, foram disponibilizadas aos professores que
participaram do GP Produção Laboratorial - Impressos, durante o Encontro Mineiro de
Professores de Jornalismo, realizado em abril de 2011, na Universidade Federal de Viçosa.
20
A primeira edição do jornal-laboratório Senso(in)comum, de 2010, foi disponibilizada aos
professores que participaram do GP Produção Laboratorial - Impressos, pelas professoras Ana
Cristina Spannenberg e Mônica Rodrigues Nunes, da Universidade Federal de Uberlândia, que
participaram do Encontro Mineiro de Professores de Jornalismo, realizado em abril de 2011, na
Universidade Federal de Viçosa. Elas apresentaram o artigo “O jornal-laboratório como espaço
de aprendizagem e prática profissional: Relato de experiência do jornal “Senso (in)comum” no
Curso de Jornalismo da UFU
70
divulgação institucional (do curso de jornalismo, da Faculdade
de Educação onde está inserido ou da Universidade Federal de
Uberlândia), como um house organ, por exemplo,
possibilitando aos alunos a prática profissional de uma
publicação independente (SPANNENBERG; NUNES, 2011)
Apesar de estar voltado um público interno, o Senso(in)comum, na edição 01
publicou matéria de interesse do público externo, como a que mostrou o
trabalho do Centro de Pesquisas Econômico-Sociais (CEPES), do Instituto de
Economia da UFU, que consiste na coleta e análise de preços. A divulgação
das pesquisas realizadas por este centro tem relevância para as comunidades,
pois
possibilita
à
população
ter
uma
referência
na
escolha
dos
estabelecimentos comerciais onde farão suas compras, fazendo uma
comparação de preços. As notas da agenda de eventos culturais também são
de interesse do público externo, pois incluem eventos realizados em todo o
município de Uberlândia.
5.1.4 Jornal-laboratório Marco
O jornalismo voltado para os interesses das comunidades de sua área de
abrangência está estampado nas páginas do jornal-laboratório Marco, da PUC
Minas. Na Edição 285, de outubro de 2011, a manchete foi “Chuva preocupa
moradores”, com chamada para uma reportagem especial nas páginas 8 e 9,
sobre a preocupação de moradores das áreas de risco com as enchentes e os
desabamentos, problemas comuns no período chuvoso.
A reportagem valoriza os personagens e a abertura envolvente, típica das
reportagens, e oferece dados para a interpretação do leitor logo nas primeiras
linhas. Os alunos-repórteres Piero Morais e Raquel Andretto, do 5º e 3º período
abrem a reportagem descrevendo o drama de um comerciante que aponta uma
marca na parede, mostrando a altura em que a água chegou dentro de seu
comércio, em 2008, dando-lhe um prejuízo de R$ 1 mil. O texto segue
mostrando outros personagens, que contam experiências negativas com as
enchentes. A fonte oficial da reportagem, uma engenheira da Regional
Noroeste da Prefeitura de Belo Horizonte, fala sobre medidas preventivas que
serão adotadas para evitar ou minimizar os problemas causados pelas chuvas.
71
O assunto, de interesse público, foi abordado com uma variedade de fontes e
informações relevantes, com os alunos tendo o cuidado de ouvir os dois lados.
O procedimento adotado pelo jornalismo do Marco comprovou a afirmação de
Erbolato (1991), observando que “só se considera completa uma notícia
quando ela proporciona ao leitor a ideia exata e minuciosa sobre um
acontecimento, ou mesmo a previsão do que vai ocorrer” (ERBOLATO, 1991,
p.57).
Na edição 285, que circulou em outubro de 2011, outro bom exemplo de
matéria de interesse público foi sobre a Rede API (Apoio a perdas
Irreparáveis), criada pela psicóloga Gláucia Resende. Esta rede dá assistência
às pessoas que perderam parentes ou amigos próximos e oferece
oportunidade para que estas pessoas contem suas experiências em reuniões
periódicas. A matéria ouve a psicóloga sobre o trabalho da Rede API e ouve
várias outras pessoas que participam do grupo de assistido, dando ao leitor
uma ideia completa sobre o que é e como funciona o trabalho.
Nas duas edições analisadas, verifica-se que os assuntos pautados se
enquadram nas editorias de Cidadania, Educação, Cultura, Tecnologia, Cidade,
Especial, Comunidade, Saúde, que são frequentes no jornal. A edição 284, de
setembro de 2011, teve como manchete de capa “Migrantes em busca de um
lar na capital mineira”. A reportagem sobre este assunto mostrou histórias de
vida de pessoas que chegam em Belo Horizonte em busca de emprego, e que
procuram amparo nos programas assistenciais da Prefeitura. Na página 6, o
destaque foi para as reuniões da comunidade na sede da PUC Minas, para
discutir a segurança pública no bairro São Gabriel.
5.2 Análise dos jornais locais
5.2.1 Diário do Rio Doce
Os jornais locais de Governador Valadares, analisados nesta pesquisa, com
exceção do DRD, apresentam os mesmos problemas relacionados aos
72
recursos humanos de redação, mencionados na proposta de criação do curso
de Comunicação Social da Univale, enviada ao MEC em 1997, ou seja, não
possuem jornalistas com formação superior. Folha Regional, Jornal de
Domingo e Classificados O Domingo, não são feitos por jornalistas, apesar de,
ao longo dos 10 anos, desde a formação da primeira 21 turma do curso de
Jornalismo, 237 profissionais jornalistas tenham se graduado na Univale.
No DRD, assim como as sucursais das emissoras de TV em rede (Globo, SBT
e Record) e a TV Univale, emissora da Universidade Vale Do Rio Doce,
trabalha um número expressivo de profissionais jornalistas com diploma. No
DRD a redação tem 9 jornalistas profissionais com diploma, 3 fotógrafos e 4
alunos do curso de Jornalismo da Univale, como estagiários.
A linha editorial do DRD é conservadora, atrelada a interesses comerciais,
como nos anos iniciais de sua fundação. O noticiário local é dependente de
fontes oficiais, como os boletins de ocorrências da Polícia Militar e Corpo de
Bombeiros. A publicação de noticiário derivado de press-releases também é
acentuado, assim como a publicação de notícias compradas das agências de
notícias como a Reuters e a Estado. O jornal também utiliza o cardápio de
notícias da Agência Minas, oficial do Governo de Minas Gerais, e da Agência
Brasil, do Governo Federal.
A utilização de press-releases como fonte de informação, ou a publicação
integral ou parcial do conteúdo destes, é um problema descrito por Lopes
(1985), ao abordar os problemas de apuração de material jornalístico por
alguns jornais. Além deste problema, Lopes também aponta outro: o uso de
fontes contratadas, as agências noticiosas, nacionais ou internacionais, em
detrimento da notícia apurada pelos repórteres da redação.
Um dos principais filtros externos que interfere nos jornais é a
fonte, que ganha seu espaço, muitas vezes, por meio de pressreleases, publicados na íntegra sem mudar uma palavra. Em
21
A primeira turma de jornalistas formados na Univale colou grau em dezembro de 2001.
Desde a primeira colação de grau até a última (dezembro de 2011), segundo informações da
Diretoria de Registro Acadêmico da Univale, 237 jornalistas foram formados pelo curso de
Jornalismo.
73
alguns casos, fontes são apontadas pela pelas próprias
direções das empresas ou pelos editores que determinam aos
pauteiros sejam relacionadas nas pautas para serem ouvidas
pelos repórteres [...] Normalmente, os pequenos jornais ficam
na dependência de uma só agência nacional ou internacional,
que controla e manipula a informação, centralizando o
noticiário nos grandes centros, deixando de lado o que ocorre
nas pequenas comunidades onde as agências não mantêm
correspondentes (LOPES, 1985, p.44).
Nas edições do DRD, a utilização de notícias da Agência Minas confere ao
noticiário de muitos assuntos do âmbito estadual, o caráter “chapa branca” 22.
Os outros jornais locais analisados não utilizam noticiário da Agência Minas. No
DRD, o noticiário desta agência noticiosa é publicado na íntegra ou recebe
edição com alguns parágrafos contendo um enfoque local, como na edição
17.410, de 15/01/2012. A matéria publicada na página 4B, editoria de
Economia, intitulada “BDMG já oferece suporte para empresas atingidas pelas
chuvas”, assinada pelo repórter Ederson Ferreira, teve grande parte de seu
conteúdo
transcrito
das
matérias
“Governador
prorroga
prazo
para
recolhimento de ICMS de contribuintes afetados pela chuva (13/01/2012) e
“Confira as medidas emergenciais de apoio à população e empresas
anunciadas por Anastasia”, publicadas no site da Agência Minas em
06/01/2012. Uma pequena entrevista com o consultor financeiro da FIEMG
Regional Rio Doce, Ricardo Lorrane, somada às informações transcritas da
agência, fechou a matéria.
Há casos em que a matéria obtida na Agência Minas e publicada quase na
íntegra (ou na íntegra) e assinada por um ou mais repórteres. Na edição
17.411, de 17/01/2012, a matéria “IPVA já começa a ser pago em Minas
Gerais”, assinada pelos repórteres do DRD, Fred Seixas e Thiago Coelho, foi
transcrita na Agência Minas. Esta matéria foi publicada no site desta agência
no dia 01/12/2011, sob o título “Valores do IPVA em Minas Gerais ficarão, em
média, 5,46% mais baixos em 2012”. O texto produzido pela agência foi
22
Expressão do jargão jornalístico, que deriva das placas brancas dos veículos oficiais. A
notícia com caráter “chapa branca”, assim com os veículos, são identificadas como oficiais,
com conteúdo propagandístico dos governos.
74
publicado praticamente na íntegra, com pequenas alterações em frases e na
ordem dos parágrafos, mantendo o conteúdo integral de vários deles.
As notícias locais, que tratam de problemas existentes nas diversas
comunidades dos bairros de Governador Valadares, raramente ouvem os
moradores envolvidos no problema e se resumem a informações oficiais
relatando o problema. É o caso da matéria “Vítimas da enchente poderão sacar
FGTS a partir de 4ª-feira” (publicada na edição 17.411, de 17/01/2012). Na
matéria sobre o saque do FGTS, a repórter limitou-se a ouvir apenas a prefeita
de Governador Valadares, Elisa Costa, e o presidente da Coordenadoria
Municipal de Defesa Civil, Gilson de Souza, durante reunião realizada na
Prefeitura. Nenhum atingido pela enchente e interessado no saque do FGTS foi
ouvido. O mesmo acontece nas matérias sobre ocorrências policiais, que se
limitam à descrição dos fatos do Boletim de Ocorrência da Polícia Militar, sem
contextualizar o fato.
5.2.2 Folha Regional
Embora tenha sua redação em Governador Valadares, a Folha Regional busca
inserção nas cidades da Região do Vale do Rio Doce e Centro-nordeste
Mineiro, veiculando matérias sobre as cidades destas regiões, relacionadas a
atos do Executivo e Legislativo. Algumas são pagas pelas prefeituras ou
câmaras municipais, sem a chancela “informe publicitário” e sem o fio cercando
a matéria, separando o conteúdo publicitário/propagandístico do conteúdo
editorial/jornalístico.
Esta prática identificada nas edições da Folha Regional foi citada no relatório
do Instituto Cidadania (1996), da Fundação Perseu Abramo, no capítulo 3
desta dissertação, como uma prática frequente nos jornais de cidades do Vale
do Jequitinhonha, Minas Gerais, que sobrevivem com anúncios de prefeituras e
câmaras municipais.
O assunto predominante das matérias da Folha Regional é a política partidária
nos pequenos municípios da região do Vale do Rio Doce e Centro-nordeste
75
Mineiro, com forte conteúdo opinativo e geralmente com apenas uma fonte de
informação. Há também matérias baseadas nos boletins de ocorrência policial,
entretenimento e variedades, como piadas, horóscopo, notícias da TV e
poesias feitas pelos leitores.
Na edição 209 da Folha Regional, que circulou na primeira quinzena de janeiro
de 2012, a manchete do jornal foi “Mortes, destruições, desabrigados e
ausências de deputados”. A foto editada sob a manchete mostra moradores
ribeirinhos deixando suas casas, em um barco ou andando dentro d’água, com
água acima da cintura. Sobre a foto maior, um arranjo de fotos estilo 3 x 4, com
os deputados federais Leonardo Monteiro (PT), Leonardo Quintão (PMDB),
João Magalhães (PMDB), e os deputados estaduais Hélio Gomes (PSL), Jayro
Lessa (DEM) e Bonifácio Mourão (PSDB). Na chamada de capa, o texto
acusava os deputados de ter optado pelas férias ao invés de acudir as vítimas
da enchente. Na matéria principal, que deu origem a manchete, o texto não tem
o caráter jornalístico, e o redator opina sobre suposições.
Se o governador Antônio Anastasia visitasse Valadares, talvez
a bancada do Vale do Rio Doce na Assembleia Legislativa
(Bonifácio Mourão, Jayro Lessa e Hélio Gomes) e os
deputados federais João Magalhães, Leonardo Monteiro e
Leonardo Quintão aparecessem para conhecer de perto como
sofreram seus eleitores. Eles podiam iniciar as visitas no bairro
Santa Rita, depois São Tarcísio, São Pedro, São Paulo, Santa
Terezinha, JK e outros ribeirinhos. Poderiam visitar o distrito de
Baguari e serem testemunhas que várias outras famílias
moram próximas a encostas e correm risco de morrer como
aconteceu com as duas vítimas23. Teriam condições de ajudar
algumas famílias que estavam desesperadas para sair de casa
e não perder seus pertences (FOLHA REGIONAL, 2012, p.12).
O texto revela um procedimento que gerou advertência de Erbolato (1991): “a
imprensa deve publicar, na categoria de informações, o que seja verdadeiro,
pois a ficção é objeto dos romances, muito embora haja colunas jornalísticas,
ou suplementos, dedicados a ela dedicados” (ERBOLATO, 1991, p.56).
23
Duas pessoas morreram no distrito de Baguari em 06/01/2012, vítimas de desabamento da
casa onde estavam durante um temporal. A tragédia com as duas mortes foi notícia nos
principais meios de comunicação do Brasil, mas a Folha Regional não noticiou o fato, apenas
fez menção incompleta no texto.
76
Figura 1 – Capa do jornal Folha Regional, edição 209, cuja manchete e chamada remetem à
matéria publicada na página 12 da edição, cobrando ação dos deputados estaduais e federais
que têm base eleitoral na região do Rio Doce, para atender aos desabrigados pelas enchentes.
77
5.2.3 Jornal de Domingo
O Jornal de Domingo opta por ocupar suas páginas com textos opinativos,
publicado em colunas assinadas por profissionais de áreas diversas
(Educação, Direito, Economia, Humor, Agronomia e outras). Ao todo são
publicadas cerca de 10 colunas em cada edição, ocupando cerca de 40% das 8
páginas do jornal. As poucas notícias publicadas têm como fonte os pressreleases enviados por órgãos públicos, instituições e empresas. Os colunistas
raramente abordam temas de interesse das comunidades, no entanto, na
edição 965, a coluna “Espaço Literário”, escrita pela professora Antônia Izanira
de Carvalho, apesar de tratar de assuntos ligados à literatura em outras
edições, denunciou o grande número de buracos nas ruas de Governador
Valadares, que segundo a professora, além de prejudicar o trânsito de
veículos, acumulam água e larvas do mosquito transmissor da dengue.
Na edição 965, referente à semana de 11 a 17 de dezembro, o Jornal de
Domingo publicou duas matérias que ocuparam duas páginas. “Maior empresa
geradora de empregos em Valadares é conquista do governo Elisa Costa”, que
noticiava a inauguração de empresa Call Center A&C, e “Prefeitura e Caixa
entregam mais 372 moradias populares em Valadares”. Estas duas matérias
foram publicadas tanto no Jornal de Domingo, como no site da Prefeitura
Municipal de Governador Valadares. No site oficial do município 24, as matérias
tinham títulos diferentes: “Call Center é realidade em GV” e “Mais 372 famílias
recebem moradias populares da Prefeitura e Caixa”. Embora os títulos fossem
diferentes, o texto publicado pelo Jornal de Domingo era o mesmo publicado no
site oficial, e foi produzido por jornalistas da Secretaria Municipal de
Comunicação e Mobilização Social.
5.2.4 Jornal Classificados O Domingo
O jornal Classificados O Domingo adota uma postura conhecida no jargão
jornalístico como gilete-press, ou seja, recorta matérias de revistas de
24
www.valadares.mg.gov.br
78
circulação nacional e as publica na íntegra. Na edição 497, por exemplo,
publicou matérias da revista Exame “5 indicadores essenciais ao seu negócio”,
da revista Superinteressante “Microrrevoluções, conheça o TED e saiba como
rolou no TEDxJovem@ibira”. Além dessas matérias, publicou notas retiradas
dos sites Uol e G1.
Estes press-releases utilizados como fonte ou publicados integralmente pelos
jornais locais, são, segundo Lopes (1985), “fontes consideradas voluntárias,
que são os serviços de relações públicas e assessorias de comunicação ou
mesmo de imprensa que, via de regra, divulgam só o que interessa a seus
patrões” (LOPES, 1985, p.45). Citando Lima (1983), Lopes (1985) argumenta
que este autor estudou a “releasemania” que se estabeleceu no jornalismo
brasileiro e que os press-releases são fontes de informação usadas como
referencial para confecção de pauta. “Na maioria dos casos, principalmente na
pequena imprensa, que tem um quadro profissional reduzido, o press-release é
aproveitado integralmente” (LIMA apud LOPES, 1985, p.45).
5.3 As distorções no projeto gráfico dos jornais locais
Outro problema observado nas páginas dos jornais locais e em alguns jornaislaboratórios se relaciona à ausência dos atributos de uma página bem
elaborada de acordo com os princípios de um planejamento gráfico eficiente.
Os espaços entre letras, linhas e palavras, o arranjo dos textos na página, a
largura das colunas, parecem rasgar esse tecido.
A expressão “tecido tipográfico” é de autoria de Bringhurst (1995), que em seus
estudos sobre tipografia, relaciona a excelência de uma peça gráfica com o
arranjo tipográfico da página, e sugere que este tecido não seja rasgado.
“O instrumento tipográfico, seja ele um computador ou uma
régua de composição, funciona como um tear. E o tipógrafo,
como o escriba, procura tecer o texto da maneira mais
homogênea possível. Do mesmo modo, os bons tipos são
desenhados para produzir uma textura vivaz e homogênea,
mas o espacejamento descuidado das letras, linhas e palavras,
pode rasgar esse tecido” (BRINGHURST, 1995, p.32).
79
Figura 2 – Capa do DRD carregada de fios, títulos com várias fontes de tamanhos e cores
variadas, dando à página um visual pesado e pouco atraente para o leitor.
As páginas são muito carregadas de títulos e vinhetas, compostos com fontes
das mais variadas famílias e em tamanhos diversos, em descompasso com as
fotos, anúncios e ilustrações, contrariando o pensamento de Amilcar de Castro,
citado por Aguilera (2005): “Não se deve botar muita coisa numa página só, a
profusão de títulos e texto cria uma confusão na cabeça do leitor e a página
perde leveza e clareza” (CASTRO apud AGUILERA, 2005, p.36).
80
No jornal Folha Regional, a coluna “Em dia com a Justiça” ocupa meia página e
o texto é diagramado em uma única coluna, com largura de 29 cm
(aproximadamente 68 picas25). Isso, segundo Sobrinho (1993) causa
desconforto para a leitura.
Pesquisadores norte-americanos garantem que os tipos da
família Romana, no corpo 10, entrelinha 11, entre 14 e 23 picas
(5 a 8 centímetros de largura de coluna) são mais legíveis, isto
é, causam menor desconforto para a leitura. Nesse aspecto,
não atingem índices que dêem aos seus leitores o máximo de
aproveitamento daquilo que lêem, com alguns agravantes
(SOBRINHO, 1993, p.36)
Figura 3 – Coluna “Em dia com a justiça”, do jornal Folha Regional com texto composto em 1
(uma) coluna de 29 cm, ocupando toda a largura da página, que mede 32 cm.
Problemas como este revelam que a produção dos jornais locais, em grande
parte, é feita por pessoas que não passaram pela práxis jornalística. No caso
dos jornais-laboratórios, revelam deficiências na formação dos jornalistas na
universidade. A natureza verbal do jornalismo amplifica a alfabetização textual
dos alunos nos cursos de Jornalismo, quando estes aprendem a técnica
jornalística de redação e edição de texto, e exercitam o ato de escrever em
25
Medida tipográfica que equivale a 12 pontos do sistema anglo-americano de medição
tipográfica, ou cerca da sexta parte de uma polegada (4,218 mm) ou ainda 11,22 pontos o
sistema Didot. O mesmo que pica (ABC DA ADG, 2000, p.91)
81
outras disciplinas humanísticas. Mas a alfabetização visual encontra um
entrave nestes cursos, que segundo Moraes (2003) “não investiram na
linguagem visual, colocando em seus programas apenas algumas horas de
fotografia e outras de diagramação” (MORAES, 2003, p.72). Para o autor, o
jornalismo, que vem de uma tradição do uso da palavra escrita, perdeu a
cultura visual, isso, no ambiente acadêmico. E aponta outro elemento
motivador para esta perda: a obrigatoriedade do diploma universitário para que
se exerça a profissão de jornalista, que considera apenas o pessoal do texto.
Segundo ele, a legislação que regula o exercício profissional não exige o
diploma para repórter fotográfico, repórter cinematográfico, jornalista ilustrador
e jornalista diagramador26.
Moraes afirma que os jornalistas não sabem pensar em termos de imagem e
na hora de transpor para o papel o que é reportado de um fato, têm muitas
dúvidas sobre quais as cores poderão ser melhor utilizadas para transmitir o
clima ocorrido, quais os tipos tem mais a ver com a história que será contada, e
quais as referências visuais deverão ser usadas para tornar mais claro o que
será transmitido ao leitor.
Nas páginas dos jornais-laboratório OutrOlhar vê-se que não há defesa
(espaço) entre o fio-data (cabeçalho das páginas) e os títulos. As vinhetas que
identificam as editorias, aplicadas em cima do cabeçalho da página, são
compostas com fonte em corpo maior que o corpo das fontes utilizadas na
26
O Decreto Lei 83.284, de 13 de março de 1979, no artigo 4º, diz que o exercício da profissão
de Jornalista requer prévio registro no órgão regional do Ministério do Trabalho, que se fará
mediante apresentação de prova de nacionalidade brasileira, prova de que não está
denunciado ou condenado pela prática de ilícito penal, e diploma de curso de nível superior de
Jornalismo ou de Comunicação Social, habilitação Jornalismo, fornecido por estabelecimento
de ensino reconhecido na forma da lei, para as funções relacionadas nos itens I a VII do artigo
11; O artigo 11, nos itens VIII, IX, X e XI, lista as funções que podem ser exercidas sem a
obrigatoriedade do diploma de jornalista: VIII - Ilustrador: aquele que tem a seu cargo criar ou
executar desenhos artísticos ou técnicos de caráter jornalístico; IX - Repórter Fotográfico:
aquele a quem cabe registrar fotograficamente quaisquer fatos ou assuntos de interesse
jornalístico; X - Repórter Cinematográfico: aquele a quem cabe registrar cinematograficamente
quaisquer fatos ou assuntos de interesse jornalístico; XI - Diagramador: aquele a quem
compete planejar e executar a distribuição gráfica de matérias, fotografias ou ilustrações de
caráter jornalístico, para fins de publicação.
82
composição dos títulos. No corpo do texto, o tracking27 parece ter sido usados
para fazer o texto completar o espaço previsto na diagramação, e que se
apresentou maior durante o processo de editoração eletrônica. As fontes estão
abertas, ou seja, com espaço entre elas, assim como existem muitos espaços
entre palavras. O corpo de texto apresenta muitas linhas viúvas no final dos
parágrafos.
Figura 4 – Página do Jornal-laboratório OutrOlhar, do curso de Jornalismo da UFV. A vinheta
que identifica a editoria “Comportamento” foi composta com uma fonte de tamanho maior que o
da fonte usada para compor o título, e este possui defesa (espaço) em relação ao fio-data.
No Senso(in)comum as linhas viúvas aparecem nos subtítulos, no corpo de
texto de várias matérias e nas legendas das fotos. As vinhetas que identificam
as editorias e os números das páginas, aplicadas sobre o fio-data, são
compostas em fontes com corpo quase quatro vezes maior que os títulos, e
competem visualmente com eles.
27
Kerning, segundo Niemeyer (2005) é o ajustamento de espaços horizontais entre pares de
caracteres específicos em um texto, e Tracking, o controle do espaço médio entre caracteres
num bloco de texto.
83
Figura 5 – No Jornal-laboratório Senso(in)comum, da UFU, os números das páginas e as
vinhetas das editorias são maiores que os títulos, que não ocupam espaço até o fim da linha
84
Figura 6 – Detalhe de uma página do Senso(in)comum com subtítulos compostos com linhas
viúvas28 (“de atuação” e “China”). O problema poderia ter sido evitado com a edição do texto.
Estas distorções nos jornais-laboratório OutrOlhar e Senso(in)comum têm um
atenuante: são praticadas por alunos em processo de aprendizagem.
Identificadas por eles ou por professores, podem ser corrigidas durante o
processo. Nos jornais-laboratório Circulando e Marco estas distorções não
aparecem porque são jornais diagramados e editorados por professores.
28
Palavra ou sílaba que sobra no fim de um parágrafo. Normalmente é corrigida editorialmente
por adição ou eliminação de palavras (ABC DA ADG, 2000, p.108)
85
Capítulo 6
O JORNALISMO CÍVICO APLICADO AO JORNAL-LABORATÓRIO
6.1 Projeto editorial e gráfico para o jornal-laboratório Circulando
A descaraterização do projeto editorial e gráfico do jornal-laboratório
Circulando, implantado em 2002 e executado até o primeiro semestre de 2010,
justifica a elaboração de um novo projeto, aperfeiçoando o anterior, e
substituindo o atual, implantado partir do segundo semestre de 2010. É
importante que o novo projeto editorial e gráfico conceda espaço para a
participação das comunidades da área de abrangência do jornal e permita ao
aluno do curso de Jornalismo da Univale a prática do jornalismo cívico. A
execução do projeto também permitirá ao aluno compreender que a sua futura
profissão tem natureza social29, conforme descreve o seu código de ética
profissional.
A proposta de um novo projeto editorial para o jornal-laboratório Circulando
considerou a articulação teórico-prática das disciplinas aplicadas ao jornal30,
organizada em duas áreas: produção de texto (técnicas do jornalismo), edição
(linha editorial, editorias e projeto gráfico). A criação de um Conselho Editorial
com participação de pessoas das comunidades é uma proposta inovadora,
como forma de garantir espaço maior para as comunidades da área de
abrangência do jornal no processo de produção da notícia.
A ampliação da participação comunitária no jornal-laboratório Circulando é
coerente com uma decisão recente do Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão (Consepe), da Universidade Vale do Rio Doce. O Consepe aprovou
as novas linhas de atuação para a política de extensão da universidade entre
29
Capítulo II, “Da conduta profissional do jornalista”, artigo 3º do Código de Ética dos
Jornalistas Brasileiros.
30
O novo projeto pedagógico do curso de Jornalismo da Univale, aprovado em agosto de 2011
(e baseado nas “Novas Diretrizes Curriculares para o Curso de Jornalismo”, prevê para as
atividades do jornal-laboratório Circulando, a articulação de conhecimentos das disciplinas
Computação Gráfica) (1º período), Comunicação Visual (2º período), Redação Jornalística I (4º
período), Redação Jornalística II e Jornalismo Interpretativo e Opinativo (5º período), Edição
Jornalística, Técnica de Reportagem e Jornalismo Comunitário (6º período) e Jornalismo
Especializado (7º período).
86
2010/201331. Nestas propostas, a área temática da Comunicação, na qual o
jornal-laboratório se insere, foi contemplada com a linha de atuação que
promove investimentos às atividades de extensão a serem desenvolvidas no
município e na região. Esta atuação inclui prioritariamente os movimentos,
entidades e organizações sociais, governamentais ou não governamentais,
desde que desenvolvam ações multiplicadoras e contínuas, direcionadas para
a autonomia da comunidade, melhorando a qualidade de vida, promovendo o
desenvolvimento sustentável. “A universidade precisa ter um ouvido atento aos
conhecimentos sistematizados na academia e outro, aos rumores da realidade
social, ela precisa se aproximar do seu entorno, contemplar o outro, ouvir seu
apelo e acolher a sua proposta” (Univale, 2010).
6.2 A participação das comunidades no processo de produção da notícia
A participação comunitária, o jornalismo voltado ao interesse público,
elementos ausentes no jornalismo impresso de Governador Valadares e em
muitas cidades brasileiras, foi considerada no novo projeto editorial e gráfico do
jornal-laboratório Circulando, fazendo valer o Capítulo I do Código de Ética dos
Jornalistas Brasileiros.
Capítulo I - Do direito à informação
Art. 1º O Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros tem como base o
direito fundamental do cidadão à informação, que abrange direito de
informar, de ser informado e de ter acesso à informação. Art. 2º Como
o acesso à informação de relevante interesse público é um direito
fundamental, os jornalistas não podem admitir que ele seja impedido
por nenhum tipo de interesse, razão por que:
I - a divulgação da informação precisa e correta é dever dos meios de
comunicação e deve ser cumprida independentemente da linha
política de seus proprietários e/ou diretores ou da natureza
econômica de suas empresas; II - a produção e a divulgação da
informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por
finalidade o interesse público; III - a liberdade de imprensa, direito e
pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a
responsabilidade social inerente à profissão; IV - a prestação de
informações pelas organizações públicas e privadas, incluindo as
não-governamentais, deve ser considerada uma obrigação social; V 31
Resolução CONSEPE: N°. 005/2010, que aprovou a Política de Extensão 2010/2013, da
Universidade Vale do Rio Doce – UNIVALE, em Governador Valadares, MG. A aprovação feita
pelo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão – CONSEPE aconteceu durante Reunião
Ordinária realizada no dia 24 de agosto de 2010.
87
a obstrução direta ou indireta à livre divulgação da informação, a
aplicação de censura e a indução à autocensura são delitos contra a
sociedade, devendo ser denunciadas à comissão de ética
competente, garantido o sigilo do denunciante.
A proposta também se baseia no pensamento de Lopes (1985) que define o
jornal-laboratório como um veículo de comunicação importante para a
democratização da informação e para as atividades de ensino-aprendizagem.
Lopes cita a conceituação de jornal-laboratório feita de forma consensual
durante o VII Encontro de Jornalismo Regional, sobre órgãos laboratoriais
impressos, realizado na Faculdade de Comunicação de Santos, em 1982.
O jornal-laboratório é um veículo que deve ser feito a partir de
um conjunto de técnicas específicas para um público também
específico, com base em pesquisas sistemáticas em todos os
âmbitos, o que inclui a experimentação constante de novas
formas de linguagem, conteúdo e apresentação gráfica.
Eventualmente, seu público pode ser interno, desde que não
tenha caráter institucional (LOPES, 1985, p.50).
6.3 As comunidades no Conselho Editorial
A criação de um Conselho Editorial com participação de representantes das
comunidades da área de abrangência do jornal (a Região da Ibituruna) e
representantes de entidades e instituições que tenham importância significativa
para a vida social destas comunidades, vai nortear os trabalhos da redação no
novo projeto editorial e gráfico do Circulando. A composição do Conselho e o
seu regulamento deverão ser discutidos pelo Colegiado do curso de Jornalismo
e o corpo editorial do jornal-laboratório, com sugestões apresentadas por
pessoas das comunidades da área de abrangência do jornal. É importante
ressaltar que este Conselho deve ter representantes de alunos, professores e
comunidades.
Ao abrir espaço para as comunidades nas edições do Circulando, o novo
projeto garante a integração dos atores sociais nas reuniões de pauta do jornallaboratório, discutindo problemas que afetam a sua vida cotidiana. Assim, o
jornal abre possibilidades para o exercício do direito da liberdade de expressão,
88
dando voz e vez para os membros das comunidades. Peruzzo (1998) afirma
que a comunicação popular participativa abre muitas possibilidades de criação
coletiva e educação democrática.
As experiências mostram que a comunicação popular participativa dá
seu aporte à edificação de uma cultura e uma educação democrática.
Ela ajuda a conhecer, resgatar e valorizar as raízes do povo. Altera
as dimensões do comportamento cotidiano. Socializa o direito de
expressão e os conhecimentos técnicos. Desmistifica os meios.
Promove a criação coletiva. Difunde conteúdos diretamente
relacionados à vida local. Dá voz, pela própria voz, a quem era
considerada “sem voz”. Como no conjunto da sociedade, uma prática
assim caracterizada ainda não predomina nessa área. Mas ela pode
vir a configurar-se. Com a expansão dos instrumentos massivos,
existe uma tendência de crescimento das rádios e tevês comunitárias,
que certamente hão de proporcionar mecanismos de participação
mais eficientes (PERUZZO, 1998, p.302).
Esta argumentação de Peruzzo, que sugere um entendimento do jornalismo
comunitário feito com e para a comunidade, é bem mais ampla que a
formulação da IX Semana de Estudos de Jornalismo, realizada na
Universidade de São Paulo, em citada por Melo (2004): “uma imprensa só pode
ser considerada comunitária quando se estrutura e funciona como meio de
comunicação autêntico de uma comunidade. Isto significa dizer: produzido pela
e para a comunidade” (MELO, 2004, p.10).
Não apenas as rádios e tevês comunitárias, como menciona Peruzzo, mas
também os jornais impressos, que no âmbito da universidade são instrumentos
para
a
articulação
prático-teórica
de
disciplinas,
e
espaço
para
a
experimentação, devem priorizar o interesse público conforme afirma Beltrão
(1965) citado por Lopes (1985).
O jornal-laboratório é o instrumento didático básico, sempre que
usado apropriadamente, com um planejamento racional, que se
transforma no substituto da prática de treinamento das redações.
Permite que o aprendiz de Jornalismo se exercite na capacitação e
análise dos problemas de sua comunidade, de seu país e da
civilização contemporânea, ao mesmo tempo em que desperta
interesse pela especialização, fazendo-o descobrir qual dos aspectos
e atividades da profissão o seduzem mais. Esse processo dá margem
ao desenvolvimento de experiências para a renovação dos processos
jornalísticos, tanto na redação quanto na parte gráfica, que serão
submetidos à apreciação dos orientadores dos veículos de imprensa
locais para uma possível adoção em seus meios de informação
(BELTRÃO apud LOPES, 1985, p.49).
89
Isto reforça o propósito de construir uma TS de comunicação aplicável aos
jornais-laboratórios, e que também pode ser adotada por outros meios de
comunicação que tenham o interesse de seguir uma linha editorial voltada ao
interesse público.
É prudente ressaltar o sentido transformador atribuído ao conceito de
Tecnologia Social adotado pela Rede de Tecnologia Social (RTS): “Tecnologia
social são técnicas e metodologias transformadoras, desenvolvidas na
interação com a população, que representam soluções para a inclusão social”.
(BAVA, 2004, p.106). Bava explica que todo movimento contra-hegemônico,
tem um sentido “de baixo para cima”, da sociedade para a esfera da política, do
local para o nacional e o global.
Com a revolução tecnológica da informática e dos sistemas de
comunicação, as distâncias se encurtam em todos os sentidos, tanto
horizontalmente na sociedade, com a conformação de redes e fóruns
que elaboram e debatem os novos paradigmas, quanto nas relações
entre o local, o nacional e o global. É em razão dessas características
atuais que as experiências inovadoras de desenvolvimento de
técnicas e metodologias participativas, orientadas para a inclusão
social, são portadoras de um potencial transformador que também
não estava dado em períodos históricos anteriores (BAVA, 2004,
p.104).
É baseado neste pensamento que a proposta de um novo projeto editorial e
gráfico para o jornal-laboratório Circulando, e a construção de uma TS de
comunicação, incorpora uma metodologia participativa, capaz de permitir a
inclusão social e a democratização da informação, conforme afirma Lopes
(1985): “não
basta, entretanto, definir ou mesmo conhecer a comunidade na qual
o jornal vai atuar. Mais importante é desenvolver formas de relacionamento
com esta comunidade” (LOPES, 1985, p.56).
Assim, a proposta prevê a participação das comunidades da área de
abrangência do Circulando na discussão dos assuntos de seu interesse, e que
serão transformados em notícia, nas reuniões do Conselho Editorial, nas
reuniões de pauta da “Redação Itinerante”, e por meio de contatos com a
redação (por carta, e-mail, postagens em redes sociais). A “Redação Itinerante”
90
é um espaço que será ocupado pelos alunos-repórteres e professores em salas
cedidas por associações de moradores e igrejas, sempre que houver o trabalho
de campo semanal, na Região da Ibituruna.
A participação das pessoas das comunidades no processo de sugestão de
assuntos para pautas é denominada por Castilho; Fialho (2009) como
“produção colaborativa de notícias”. Este termo, segundo estes autores, surgiu
15 anos depois da experiência inicial da implantação do jornalismo cívico na
imprensa estadunidense (1995). Com o surgimento dos weblogs, a figura do
jornalista cidadão ganhou destaque na imprensa dos Estados Unidos e
integrou este profissional a uma dinâmica de busca, produção e publicação de
informações sobre agrupamentos humanos, em áreas urbanas reduzidas,
como bairros pouco populosos, ruas e condomínios.
Ao se integrar a uma dinâmica similar à estadunidense, os alunos-repórteres
do Circulando terão a oportunidade de se engajar no jornalismo cívico,
assegurando às pessoas afetadas pelas questões propostas nas reuniões de
pauta, o direito de expressar suas opiniões, apresentar críticas, sugestões e
reivindicações, conforme afirma Werkema (2005).
Não basta só informar. É preciso melhorar a qualidade do discurso
público e incentivar o debate. Além disso, o jornalismo cívico pede
que a imprensa expanda seu conceito de política, entendendo a
democracia como um modo de vida, e não meramente uma forma do
governo. O propósito da imprensa deve ser o de melhorar a qualidade
de vida cívica ou pública, e não só reportar ou reclamar dela
(WERKEMA, 2005, p.29-30)
6.4 Redação de textos jornalísticos
A atividade laboratorial que resulta da produção de um jornal impresso é de
grande importância para o exercício da redação jornalística. A importância de
escrever um bom texto, codificar o pensamento e a fala através da linguagem
escrita, organizando todos esses códigos de uma forma capaz de estabelecer a
comunicação entre os interlocutores, pode ser discutida a partir de uma antiga
abstração citada por Bringhurst (2005): “se o pensamento é um fio de linha, o
narrador é um fiandeiro, mas o verdadeiro contador de histórias, o poeta, é um
91
tecelão” (BRINGHURST, 2005, p.25). Esta abstração, se levada ao campo
midiático, ao jornalismo impresso, confere ao jornalista a condição de tecelão.
Como repórter de seu tempo, o jornalista tece a notícia com o fio de linha do
pensamento e com o material apurado em um fato. O jornalista é um contador
de histórias, como diz Noblat (2002), destacando que a missão do jornalista é
informar, ou melhor, contar histórias (NOBLAT, 2002, p.37).
O texto, matéria-prima do trabalho jornalístico, ganhou forma na antiguidade,
no tear dos escribas, que antes do advento da imprensa eram os responsáveis
pela produção de livros. Bringhurst (2005) diz que o trabalho dos escribas,
“após longa prática, ganhou textura tão homogênea e flexível que a página
escrita passou a ser chamada de textus (tecido, em latim)” (BRINGHURST,
2005, p.32).
A palavra escrita, matéria-prima do jornalista, é usada na construção do texto
noticioso, títulos, legendas, olhos 32, créditos de matéria e fotos, artigos, notas,
crônicas, enfim, compõe a massa textual do jornal.
O novo projeto editorial e gráfico abre possibilidades para que o aluno pratique
a redação do texto jornalístico de acordo com a sua técnica e especificidade,
lembrando sempre que a sua condição essencial, segundo Martins (1989), é a
simplicidade.
A simplicidade do texto não implica necessariamente repetição de
formas e frases desgastadas, uso exagerado da voz passiva (será
iniciado, será realizado), pobreza vocabular, etc. Com palavras
conhecidas de todos é possível escrever de maneira original e criativa
e produzir frases elegantes, variadas, fluentes e bem alinhavadas.
Nunca é demais insistir: fuja, isto sim, dos rebuscamentos, dos
pedantismos vocabulares, dos termos técnicos e da erudição
(MARTINS, 1989, p.16).
Martins explica que o jornalista deve sempre se lembrar de que “escreve para
todos os tipos de leitor e todos, sem exceção, têm o direito de entender
32
Recurso de edição usado para anunciar os melhores trechos de textos longos, ao mesmo
tempo provocando o leitor e arejando a sua leitura. Em geral tem poucas linhas de texto, nas
quais se destacam frases relevantes e sugestivas do artigo, entrevista ou transcrição (ABC DA
ADG, 2000, p.79).
92
qualquer texto, seja ele político, econômico, internacional ou urbanístico”
(MARTINS, 1989, p.16). O autor lembra que a linguagem jornalística é um
meio-termo entre a linguagem literária e a falada, e destaca que o texto deve
ser claro, preciso, direto e conciso.
6.5 Projeto Gráfico
A formação profissional do jornalista deve incluir o planejamento gráfico e o
ensino-aprendizagem desta atividade no Laboratório de Jornalismo. Assim, no
dia-a-dia da produção do Circulando será importante por em prática o que diz
Sobrinho (1979) citado por Silva (1985). Este autor diz que o planejamento
gráfico eficiente deve considerar a legibilidade dos tipos utilizados pela
imprensa em busca de um modelo adequado para proporcionar melhor
velocidade de leitura nos arranjos tipográficos. Para ele, “tanto na vida
profissional como na formação de diagramadores por escolas especializadas e
de comunicação, há um certo descuido em relação ao arranjo visual da
mensagem, e se dá pouca ênfase ao estudo dos tipos” (SOBRINHO apud
SILVA, 1985, p.31).
Dotada de sentido para quem lê, a massa textual deve se apresentar ao leitor
de forma agradável. Neste caso, um projeto gráfico bem elaborado é de
importância fundamental a um jornal-laboratório. Moraes (2003) afirma que o
texto para chegar ao leitor que pensa, é necessário, primeiro, pegá-lo pelo
olhar.
Como ele vai ler um texto se não consegue vê-lo? Que disposição
terá para dar início à leitura, se o texto parece longo e cansativo? Por
que ele dará continuidade à leitura se ela é desconfortável? Como ele
poderá sair satisfeito, se não conseguir entender o assunto? Em
todas essas questões a resposta está na imagem. Se a página tem
um aspecto harmonioso e, ao mesmo tempo, provocante, o leitor se
deixa capturar (MORAES, 2003, p. 72-73).
A articulação prático-teórica entre as disciplinas cujo conteúdo se baseia na
comunicação visual, redação e edição jornalística, mais as atividades
laboratoriais de produção do jornal-laboratório, deverá ser considerada na
execução do projeto gráfico. Isso permitirá ao aluno ter acesso à cultura visual
93
dos produtos impressos e compreender procedimentos de redação e edição de
textos, e formatação da página.
Isso poderá contribuir para a correção de algumas distorções que surgiram
com o advento do sistema digital de produção de jornais. Este sistema criou
inúmeras facilidades para a diagramação e editoração eletrônica de produtos
impressos, mas também criou algumas armadilhas para aqueles que não
passaram pela práxis jornalística e os que desconhecem os procedimentos
básicos do design editorial. Os critérios de legibilidade e leiturabilidade33,
comumente desrespeitados, comprometem a comunicação a ser estabelecida
entre o veículo e o leitor, e surgem nesse ambiente caótico do sistema digital.
Esta articulação é defendida por Chaparro (2008). Para este autor, a formação
do jornalista deve incorporar conhecimentos que o capacite a ser “um
profissional com educadas aptidões de intelectual, capaz de apreender, atribuir
significados e dar exposição social confiável (isto é, independente, crítica e
honesta) aos conflitos discursivos da atualidade” (CHAPARRO, 2008). Ele
argumenta que o jornalista será “intelectualmente inepto se, ao mesmo tempo,
não dominar, plena e criativamente, os conceitos, os recursos, as técnicas, as
artes e as implicações da linguagem jornalística, ferramentas do seu ofício”
(CHAPARRO, 2008).
Para Chaparro, as combinações disciplinares que articulem a formação teórica
e a capacitação técnica, em crescentes níveis de aprofundamento, oferecidas
ao aluno ao longo do curso, podem resultar em uma estratégia pedagógica
33
Sanders; McCormick (1993), citados por Niemeyer (2000), definem leiturabilidade como a
qualidade que torna possível o reconhecimento do conteúdo da informação em um suporte
quando ela está representada por caracteres alfa-numéricos em grupamentos com
significação, como palavras, frases ou texto corrido. Estes autores consideram que a
leiturabilidade depende do espacejamento entre caracteres e grupos de caracteres, de sua
combinação em frases ou sob outras formas, do espaçamento entre linhas, do comprimento de
linha e das margens, mais do que da configuração específica do caractere em si. Já a
legibilidade, segundo Sanders e McCormick é o atributo de caracteres alfa-numéricos que
possibilita que cada um deles seja identificável aos outros. “Isto depende de algumas
características como espessura da haste e a forma do caractere” (SANDERS; MCCORMICK
apud NIEMEYER, 2000, p.70-72).
94
com investimentos prioritários em espaços laboratoriais com orientação e
docência multidisciplinares.
A definição do novo formato do Circulando, o uso da tipografia e o discurso
gráfico do projeto, além dos aspectos relevantes para a produção industrial
(papel, tipo de impressão, método de transferência), foi precedida da
elaboração de um projeto analógico antes da elaboração do projeto digital. O
designer Alexandre Wollner considera conflituosa a relação entre os sistemas
analógico e digital. Citado por Denser; Marani (2000), Wollner se diz favorável
ao uso do computador como ferramenta de trabalho, mas faz ressalvas,
afirmando que o computador, apesar de ser um instrumento maravilhoso,
impõe ao usuário algumas limitações que devem ser conhecidas.
No nosso tempo não havia computador, mas tínhamos todo o
conhecimento em informática, quer dizer, sabíamos o que era
digital e analógico. Como tivemos a sorte de não ter
computador como ferramenta, pudemos nos equilibrar muito
melhor. Temos uma experiência analógica importante. Por
exemplo, não sou capaz de começar um projeto no
computador, porque nele você não tem o formato do papel,
você não tem a experiência desse espaço; o papel faz parte
desse espaço e no computador isso você não tem (WOLLNER
apud DENSER; MARANI, 2000).
Seguindo a linha de pensamento de Wollner, o projeto editorial do Circulando
começou com a elaboração do rough34 (rascunho), feito em papel, obedecendo
a medida exata do impresso. Papel, lápis, borracha e régua, instrumentais
aparentemente
sem
utilidade
no
processo
editorial
desenvolvido
em
computadores, tablets ou softwares de editoração e desenho, foram utilizados
como forma de garantir ao aluno uma compreensão mais ampla do projeto
gráfico e dos procedimentos adotados em outras épocas, como as de Andrés
Guevara, ao diagramar o jornal Última Hora, do lendário jornalista Samuel
Wainer, e a época de Amílcar de Castro, durante a reformulação gráfica do
Jornal do Brasil, feita por ele. Além disso, ao desenvolver o projeto analógico, o
aluno compreende melhor a importância da divisão da página em colunas, do
34
A pronúncia mais usual desta palavra no meio gráfico é “ráfi”. Trata-se do esboço inicial de
qualquer projeto gráfico. (ABC DA ADG, 2000, p.96).
95
intervalo entre colunas, tamanho dos espaços dos títulos, enfim, tudo que
estiver relacionado à estética da página impressa.
A diagramação deve começar pelo rough para cumprir pelo menos duas
grandes funções: “racionalizar o trabalho de produção e criar personalidade
gráfica ao jornal, que permitirá ao leitor identificá-lo visualmente entre os seus
concorrentes”, conforme afirmação de Sobrinho (1993). É importante ressaltar
que o trabalho do diagramador deve ser criterioso e feito com o pensamento
voltado para o leitor, conforme afirmação de Amílcar de Castro, destacada por
Aguillera (2002). Segundo esta autora, Amílcar de Castro define o diagramador
como um profissional que deve atuar a serviço do leitor. “O jornal deve chegar
a ele (o leitor) da melhor maneira possível e deve, pois, fazer com que cada
matéria publicada seja agradável ou mais fácil de ser lida e sua mensagem
melhor apreendida conforme sua importância” (CASTRO apud AGUILERA,
2002, p.31).
6.6 Edição Jornalística
A proposta de um novo projeto editorial e gráfico para o Circulando considerou
as seguintes editorias. Outras poderão criadas com a execução do projeto:
6.6.1 Urbanismo
Assuntos ligados à infra-estrutura urbana, trânsito, transporte coletivo,
manutenção de equipamentos urbanos, entre outros.
6.6.2 Esportes
Cobertura do futebol amador, com destaque para os times de futebol da Região
da Ibituruna, atividades das escolinhas de futebol e cobertura factual do
Esporte Clube Democrata.
6.6.3 Cidadania
Destaque para as pessoas da Região da Ibituruna que se envolvem em
atividades sociais diversas, e o trabalho das entidades assistenciais.
96
6.6.4 Cultura
Patrimônio histórico, eventos culturais, o “saber fazer” das pessoas da região,
em textos que articulem informação e conhecimento. Construção de perfis
sobre pessoas e coisas. Prática do jornalismo literário.
6.6.5 Serviço
Programação de shows diversos, cinema, teatro, congressos, palestras,
horários de ônibus, horários de missas e cultos religiosos, telefones úteis,
seção de cartas e outros. Agenda com atividades da Pastoral da Criança da
igreja católica, Clube de Mães e conselhos comunitários, atividades
relacionadas à saúde preventiva, entre outras.
6.6.6 Política
Cobertura de reuniões da Câmara Municipal e apuração contextualizada de
atos do Executivo Municipal que sejam de interesse da comunidade local;
cobertura de visitas de autoridades à Região da Ibituruna; redação de notas
políticas do âmbito municipal.
6.6.7 Polícia
Matérias especiais sobre a segurança pública e trânsito. As informações dos
boletins de ocorrência devem ficar restritas às notas do Giro Policial.
Informação contextualizada deve prevalecer nesta editoria.
6.6.8 Opinião
Editorial, charge, crônica do aluno-repórter, versando sobre fatos históricos ou
atuais, preferencialmente tendo como personagens as pessoas da região.
Nesta editoria também será publicada a enquete semanal com moradores da
região sobre temas polêmicos e de interesse coletivo.
6.6.9 Economia
Matérias e reportagens especiais sobre economia (produção e comercialização
de produtos nas comunidades), atividades das cooperativas de trabalho,
prestação de serviços, pesquisa de preço da cesta básica e outros.
97
6.7 Recomendações à rotina de produção no Laboratório de Jornalismo
6.7.1 Uso de normas de padronização e estilo
Os editores e subeditores devem ter zelo ao aplicar as normas de
padronização e estilo do Manual de Redação do Circulando, editado pela
Editora Univale, que deverá estar disponível na área de trabalho de todos os
computadores do Laboratório de Jornalismo. Embora os manuais de redação
pareçam ser presunçosos e representem uma espécie de camisa de força para
o redator da notícia, Caprino (2002) afirma que
a padronização sempre foi um elemento essencial ao estilo
jornalístico. Mesmo antes da existência de manuais de redação
publicados por periódicos para orientar seus jornalistas, várias obras
trataram de descrever o estilo jornalístico ou orientar os redatores
sobre como escrever periódicos. Ao estudar os manuais de redação,
incluindo manuais gerais de jornalismo e livros de estilo de veículos,
Ramón Salaverría compilou aproximadamente dois mil manuais em
todo o mundo que ditavam normas de como escrever as notícias. Os
primeiros livros que podem ser considerados manuais de redação são
os tratados de retórica do século XIX, que fazem referência à redação
de textos jornalísticos (CAPRINO, 2002, p.100).
6.7.2 Procedimentos editoriais associados ao projeto gráfico
Honrar a tipografia é respeitar o trabalho dos mestres que um dia desenharam
os tipos para que estes cumprissem uma função importante na difusão do
conhecimento. Honrar a tipografia é não transgredir os critérios de legibilidade
e leiturabilidade durante o processo de execução do projeto gráfico de um
jornal. O ambiente digital oferece ao usuário dos softwares de editoração um
campo sedutor para as transgressões destes critérios. Com um simples toque
surge a possibilidade de condensar ou expandir um tipo, diminuir ou aumentar
o espaço entre letras e palavras, criar entrelinhas positivas e negativas. É
comum, durante as tarefas de edição/editoração, o aluno ou profissional
desqualificado que atua no mercado, colocar um texto de 30 de linhas, no
corpo 10, e entrelinhamento 11, em um espaço onde caberiam apenas 20
98
linhas no mesmo corpo e entrelinha. Consegue a façanha usando a tecla do
tracking. Sobre estas transgressões, Bringhurst (2005) diz o seguinte:
Letras que honram e elucidam o que os homens veem e dizem
merecem ser honradas. Palavras bem escolhidas merecem
letras bem escolhidas; estas, por sua vez, merecem ser
compostas com carinho, inteligência, conhecimento e
habilidade [...] Portanto, a primeira tarefa do tipógrafo é ler e
entender o texto; a segunda é analisá-lo e mapeá-lo. Só então
a interpretação tipográfica pode começar. Se o texto tiver
muitas camadas ou seções, pode precisar não apenas de
títulos ou subtítulos, mas também títulos correntes, que
reaparecem a cada página ou par de páginas, lembrando aos
leitores qual é a vizinhança intelectual que estão visitando no
momento (BRINGHURST, 2005, p.24-27).
Compreender estes procedimentos, segundo Lopes (1985) possibilita ao
estudante, futuro jornalista uma visão ampliada do processo de produção de
um jornal.
Quando se está debatendo a pauta da edição com os alunos,
copidescando as matérias, escolhendo fotos ou mesmo
diagramando o jornal está-se operacionalizando conceitos
teóricos ministrados paralelamente às atividades práticas
durante o curso. Os órgãos laboratoriais, numa concepção
dinâmica, envolvem o quadro total de formação do jornalista,
deixando de ser apenas prática, técnica ou tecnicismo, para se
transformar num aparato de aprendizagem total (LOPES, 1985,
p.36-37).
Citando Leandro; Medina35, Lopes argumenta que desenvolver um bom
trabalho nos cursos de jornalismo é superar barreiras, como a articulação das
disciplinas humanistas com técnicas a fim de sustentar os laboratórios com
conteúdos de comunicação e não apenas práticas formais. Lopes afirma que é
necessário revestir as disciplinas técnicas de uma base operacional teórica,
com “corpo docente especializado e não a simples presença de técnicos
profissionais com experiências que levam para os laboratórios experiências
particulares” (LEANDRO; MEDINA apud LOPES, 1985, p.36).
35
LOPES cita os autores Paulo Roberto Leandro e Cremilda Medina, mas não menciona o ano
em que escreveram o ensaio “Um tema em ensaio há 15 anos”, in Teoria e prática do ensino
de jornalismo, p.57-74.
99
6.7.3 Distribuição e público-alvo
A distribuição do jornal-laboratório Circulando deverá ser feita aos sábados
pela manhã, com a maior parte da tiragem proposta (10 mil exemplares)
destinada aos bairros da Região da Ibituruna, e disponibilizada aos leitores nos
balcões de supermercados, mercearias, sacolões, açougues e padarias. Outra
parte da tiragem será destinada à distribuição nas escolas secundaristas e
postos de saúde dos bairros desta região. Os órgãos públicos, entidades e
instituições, da Região da Ibituruna e da área central de cidade (Prefeitura,
Câmara Municipal, Promotorias de Justiça, gabinetes do Fórum da Comarca)
também receberão o jornal na segunda-feira.
Para que a distribuição seja eficiente, e realizada semanalmente aos sábados,
é necessário que a redação mantenha um ritmo de trabalho que não
comprometa a periodicidade do jornal, que segundo Pena (2005) é uma das
principais características de uma publicação destinada a um público específico.
Lopes (1985) também aborda a importância da periodicidade.
Só um jornal-laboratório com público definido e fora das salas de aula
será capaz de vencer um dos problemas mais comuns nessa
atividade: a interrupção a cada período de férias (o que
descaracteriza o órgão como periódico) ou as bruscas mudanças da
linha editorial e conteudística que sofre com a mudança das turmas
discentes (LOPES, 1985, p.57)
6.7.4 Cronograma de atividades semanais
Segundas-feiras - Reunião de pauta, às segundas-feiras, no Laboratório de
Jornalismo, com participação do corpo editorial do jornal. Esta reunião deve ser
estendida à “Redação Itinerante”, baseada em um bairro da Região da
Ibituruna, com o objetivo de ouvir as pessoas da região sobre assuntos
diversos e sugeridos por elas.
Terças e quartas-feiras - Apuração de matérias factuais nos bairros da Região
da Ibituruna, às terças-feiras e quartas-feiras. Esta atividade deverá ser
100
coordenada pelo professor/editor ou professor/subeditor e executada pelos
alunos estagiários e por um grupo de alunos voluntários de todos os períodos.
Quartas e quintas-feiras - Produção de matérias factuais, de quarta-feira a
quinta-feira. Nesta atividade, os alunos que participaram da apuração do
material jornalístico na Região da Ibituruna redigem os textos das notícias com
orientação de professores.
Sexta-Feira - Fechamento, toda sexta-feira, com deadline36 ao meio-dia. Este
deadline é compatível com o processo industrial da gráfica que prestará o
serviço de impressão do jornal.
De segunda-feira à sexta-feira - Produção de matérias e reportagens
especiais pelos alunos de disciplinas cujo conteúdo contempla o jornalismo
informativo e interpretativo.
Manutenção de um banco de matérias,
reportagens, notas, artigos, entrevistas. Esta atividade será de grande
importância para o processo de edição, principalmente para garantir o
fechamento das edições nos períodos não letivos.
Primeira segunda-feira de cada mês - Reunião do Conselho Editorial, uma
vez por mês, na redação do Circulando, localizada no Campus II da Univale, ou
no Salão Paroquial da Igreja Católica do bairro São Raimundo ou Vila Isa.
6.7.5 Composição do corpo editorial
1 Professor jornalista / Editor
1 Professor Jornalista / Subeditor
1 Aluno / diagramador
4 Alunos estagiários para cobertura jornalística factual
Alunos do 1º a 7º período do curso de Jornalismo
36
Prazo final. Em jornalismo, prazo final para fechamento de uma edição (ABC DA ADG, 2000,
p.35)
101
6.8 Inserção de anúncios
É aceitável a inserção de mensagem publicitária institucional, no tamanho de 3
colunas por 5 centímetros de altura. O novo projeto gráfico permite a inserção
de dois anúncios nas páginas 4 e dois na página 12. O preço dos anúncios da
página 12 deve ser maior que os da página 4 em virtude de ser uma página
colorida. A receita apurada com a venda dos espaços publicitários ajudarão a
minimizar os custos da Fundação Percival Farqhuar (mantenedora da Univale)
com as despesas de impressão e distribuição do jornal.
Outra forma de veicular mensagem publicitária no Circulando pode ser a
inserção de encartes (folhetos de ofertas e outros) nas edições. A vantagem do
encarte é que ele não ocupa espaço das páginas, que prioritariamente devem
ser destinadas ao conteúdo jornalístico resultante das atividades de
ensino/aprendizagem.
6.9 Dados adicionais à proposta
Quadro 3 (Resumo do projeto editorial e gráfico do Circulando)
Formato
Papel
Páginas
Periodicidade
Tiragem
Preço de capa
Público-alvo
Impressão
Professores jornalistas
Alunos
Estagiários
Distribuição
Fontes tipográficas
Redação
Largura da coluna
44 cm x 33 cm
Jornal
12 (doze)
Semanal
10.000
Gratuito
Moradores da Região da Ibituruna
Terceirizada
2 (dois)
1º ao 7º Período de Jornalismo
4 (quatro)
Aos sábados pela manhã
Franklin Gothic Medium (Subtítulos), Tahoma
(Títulos), Arial (Créditos de matérias, fotos,
intertítulos, remissão de páginas. Times New
Roman e Arial (Corpo de texto)
Laboratório de Jornalismo Univale
A mancha gráfica do Circulando terá 6 colunas,
cujo tamanho é 4,5 cm. O espaço entre colunas é
de 0,5 cm.
Fonte: dados resumidos da proposta de intervenção (2012)
102
Figura 7 – Proposta de capa para o Jornal-laboratório Circulando, mostrando o uso de cores e
fontes do projeto editorial e gráfico, além de exemplos de assuntos noticiados, todos de
interesse público.
103
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo possibilitou um entendimento de que o jornalista deve ser um
profissional comprometido com a sociedade, conforme preconiza o seu Código
de Ética Profissional e o relatório da Comissão de Especialistas em Ensino de
Jornalismo que resultou nas Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino do
Jornalismo.
O percurso para atingir este objetivo passa obrigatoriamente pela educação. As
Novas Diretrizes Curriculares para o Ensino do Jornalismo norteiam este
percurso, ao propor avanços no sentido de ampliar e qualificar a prática
laboratorial. A Comissão que elaborou estas diretrizes sugere que os projetos
pedagógicos dos cursos de Jornalismo devem considerar as atividades de
ensino-aprendizagem focadas teórica e tecnicamente na especificidade do
jornalismo, priorizando a atenção à prática profissional, em padrões
internacionalmente reconhecidos, além do comprometimento com a liberdade
de expressão, o direito à informação, e o exercício profissional de forma digna,
voltada ao interesse público.
Conforme destacou Chaparro (2009), a capacitação do profissional jornalista
nos cursos de Jornalismo deve priorizar esta articulação teórico-prática nas
atividades de ensino, de forma multidisciplinar, em espaços laboratoriais que
permitam esta multidisciplinaridade.
É nesta linha de pensamento que está inserido o jornal-laboratório, meio de
comunicação que permite aos alunos de jornalismo, e futuros jornalistas,
exercer na prática os conhecimentos teóricos obtidos na sala de aula. O
resultado deste exercício também se enquadra nas atividades de extensão das
universidades, a partir do momento em que os alunos-repórteres e professores
jornalistas atuem nas comunidades da área de abrangência do jornal na
apuração de fatos, redação e edição de notícias.
104
Valorizando o cotidiano, a cultura e os personagens que fazem a história das
comunidades de sua área de abrangência, um jornal-laboratório pode contribuir
de forma mais efetiva para garantir aos atores sociais uma atuação mais
destacada na esfera pública.
O novo projeto editorial e gráfico proposto nesta dissertação para o jornallaboratório Circulando, é relevante não só para as atividades de ensinoaprendizagem no curso de Jornalismo da Univale, mas também para os bairros
da Região da Ibituruna, cujos moradores poderão experimentar e desenvolver
ações que contribuam para o desenvolvimento local.
A implantação de um Conselho Editorial Comunitário para discutir e contribuir
com a construção de uma linha editorial voltada ao interesse público é um dos
principais pontos que vão garantir a participação das comunidades no processo
de produção da notícia. Ao mediar estas informações, resultantes dos fatos
apurados pelos alunos-repórteres, o público de sua área de abrangência e os
poderes constituídos, o Circulando poderá produzir um noticiário com mais
fontes de informação e contribuir de forma efetiva para a ampliação dos
espaços de atuação dos atores sociais.
Essa experiência poderá ser útil para o desenvolvimento dos conceitos e
propostas de jornal-laboratório pelo país, extrapolando as fronteiras de
Governador Valadares. Neste sentido, a Cartilha “Proposta para a edição de
um jornal-laboratório como instrumento de interação com as comunidades”,
parte integrante desta pesquisa, poderá servir como uma referência, não na
conclusão deste instrumento acadêmico tão importante, mas para o princípio
de um debate que vise o aprimoramento das práticas acadêmicas e sua
proximidade com as comunidades onde estão inseridas.
105
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ANEXOS E APÊNDICES
Belo Horizonte, 14 de Outubro de 2011.
Ao
Pesquisador principal do projeto abaixo identificado
Título/Projeto: “Jornal Laboratório como instrumento de interação com as
comunidades”
Orientador/ Prof: Claudio Márcio Magalhães
Após análise do projeto pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) em reunião do dia 04
de Outubro de 2011 , informamos que o mesmo foi:
( X ) aprovado ( ) aprovado com sugestões ( ) aprovado com restrições ( )
reprovado.
Lembramos ao pesquisador principal que o mesmo deverá encaminhar um relatório
parcial ou ao final da pesquisa até o dia (04 de Março de 2012).
O CEP deseja aos pesquisadores sucesso em sua trajetória de pesquisa!
Atenciosamente,
Profª. Elaine Linhares de Assis Guerra
Coordenadora do CEP
Centro Universitário UNA
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