assinatura revista

Transcrição

assinatura revista
,
Carta ao leitor
Uma questão básica
A lavoura de arroz do Brasil vive
um momento de muita expectativa e
poucas boas notícias. As demandas são
enormes quando é preciso resolver
questões fora da porteira. Do lado de
dentro ainda existem problemas, mas
com eles o arrozeiro nacional está
aprendendo a ser mais competitivo,
aplica tecnologia e busca produtividade
e qualidade no produto final.
Desde meados de 2004, porém, o
arrozeiro divide-se entre a
administração da lavoura e as
manifestações para que o Governo
Federal ajude a resolver os obstáculos
do lado de fora da porteira. O mercado
nacional vive aguda crise. E ninguém
sabe melhor que os produtores as
dificuldades que lhes são impostas. Por
isso, é seu direito mostrar a
inconformidade e buscar a solução dos
problemas que afligem a categoria, a
economia nacional e o principal
“O que os
arrozeiros
brasileiros
querem e
merecem é
respeito”
alimento dos brasileiros. A entrada de
arroz do Mercosul é parte do problema
e torna-se alvo dos protestos porque
os produtores organizados só podem
lutar com as armas que têm.
O problema está nos homens que
construíram regras sem terem o
mínimo conhecimento da real carga
que o agronegócio brasileiro carrega
em suas costas: um país inteiro. E a
ganância dos cofres públicos, que só
se abrem para receber os pesados
impostos que retiram competitividade
do setor diante de seus concorrentes.
Num país em que o presidente da
República teve seu batismo político
nos piquetes e greves em portas de
fábricas, quem seria capaz de censurar
ou desrespeitar o direito à
manifestação dos arrozeiros?
A orizicultura não quer o fim do
Mercosul e reafirmou repetidas vezes
esta posição. Quer o fim das
assimetrias, nem todas geradas além
da fronteira, com origem numa
pesadíssima carga tributária nacional,
que impõe custos absurdos de
produção. O que os arrozeiros querem
não é só prazo para pagar as contas e
mecanismos que lhes permitam vender
o arroz acima do valor que pagaram
para produzir. O que os arrozeiros
brasileiros querem e merecem é
respeito. O respeito que lhes é devido
pelo Brasil e por seus governantes.
Nesta edição
Planeta Arroz apresenta tendências de mercado, novas tecnologias e
a orizicultura profissional tocada por gestão familiar no Brasil
NOSSA CAPA
Arte de Pró!marca em fotografia de Robispierre Giuliani
3
6
8
10
12
Encarte
CARTA AO LEITOR
O BALANÇO DA SAFRA
TRATORAÇO: CADÊ O MERCADO?
PREVISÃO DE PLANTIO 2005/2006
RECORDE: ENFIM A EXPORTAÇÃO
14 SC: HIDRÔMETRO NA LAVOURA
15 MG: LANÇAMENTOS DA EPAMIG
16 MT DECIDE SAFRA SOB PRESSÃO
17 CIRAD: DIAS CONTADOS NO CENTRO-OESTE
19 O PERFIL DO ARROZ NO MARANHÃO
32
O peso da
qualidade
26
34
CLEARFIELD: 2ª GERAÇÃO
38
ARTIGO: LUTZENBERGER
PARBOILIZADO POPULAR
www.planetaarroz.com.br
O Rio Grande do Sul vive um
momento de intensa valorização e
aplicação de tecnologias na lavoura
para obter maior produtividade e
rentabilidade. A RiceTec apresenta
neste encarte especial os resultados
da primeira lavoura comercial de
uma tecnologia que deu certo e
abriu novos horizontes de
produtividade para a lavoura
irrigada: o arroz híbrido.
22
Embrapa põe sua
Marca na lavoura
29
Lavoura
de pai
pra filho
Publicação de Casa Brasil Editores Ltda/Fotos: Banco de Imagens Planeta
Arroz, Robispierre Giuliani e Giuliano Fernandes/Editoração Eletrônica:
Leandro Batista/Revisão: Carla Pires/Textos: Cleiton Santos e Giuliano
Fernandes/Departamento Comercial: Ricardo Nunes - (51) 3722-2102 /
Editor: Cleiton Santos/Supervisão: Liberato Dios/Circulação em todo o
Brasil / Impressão de Gráfica Jacuí/Cachoeira do Sul-RS - (51) 3722-2402
DNA
Planeta
Planeta
SAFRA
Feitiço contra o
FEITICEIRO
segundo recorde de produção
de arroz no Brasil só fez bem,
até o momento, para o
consumidor
e
os
supermercados. Ao invés de
comemorar a independência
na produção do mais básico alimento,
a cadeia produtiva vive momentos de
crise. Em um ano, os preços pagos ao
produtor já caíram perto de 35%,
enquanto os preços ao consumidor não
caíram mais do que 15%. Os excedentes
do Mercosul acentuam a crise. Uruguai
e Argentina têm 1,8 milhão de
toneladas para vender ao Brasil.
A Companhia Nacional de
Abastecimento (Conab), em seu 5º
Levantamento de Safra, indica que o
Brasil colheu 13.290,9 toneladas de
arroz, aumento de 3,6% sobre as
12.829,4 toneladas colhidas na safra
2003/2004. Só o Rio Grande do Sul
representou 46,7% do total. O Mato
Grosso, segundo maior produtor,
colheu 15,4%. O Brasil plantou 3.918,5
hectares, ou 7,2% a mais do que na safra
anterior (3.654,4), e obteve uma
produtividade média de 3.392 quilos
por hectare, uma redução de 3,4% sobre
o ano passado, quando foram colhidos
em média 3.511 quilos/hectare.
PASSAGEM - O estoque de
passagem do Brasil em 2005 deve ficar,
no mínimo, em 2.348,1 toneladas (base
casca), segundo dados da Conab. No
quadro de oferta e demanda, o país
deve somar 15,498 milhões de
toneladas. O estoque final, segundo a
Conab, portanto, somará, 2.348
milhões de toneladas (55% maior do
que na entrada de 2005). Esses números
indicam para 2006 mais um ano de
difícil comercialização, a menos que
Brasil e Mercosul tenham quebra na
próxima safra.
O
Brasil colheu duas
safras recordes. E
agora paga o preço
SAFRA BRASILEIRA 2004/2005
ÁREA (Em mil ha)
PRODUTIVIDADE (Em kg/ha)
PRODUÇÃO (Em mil t)
REGIÃO/UF
Safra 03/04 Safra 04/05 VAR. % Safra 03/04 Safra 04/05 VAR. % Safra 03/04 Safra 04/05 VAR. %
NORTE
593,0
670,9
13,1
2.244
2.377
5,9
1.330,5
1.594,6
RR
25,0
25,5
2,0
5.350
5.300
(0,9)
133,8
135,2
19,8
1,0
RO
79,2
93,1
17,5
2.100
2.300
9,5
166,3
214,1
28,7
AC
27,0
26,2
(3,0)
1.400
1.370
(2,1)
37,8
35,9
(5,0)
AM
12,4
14,7
18,5
1.870
2.100
12,3
23,2
30,9
33,2
AP
3,2
3,3
3,0
1.200
1.220
1,7
3,8
4,0
5,3
PA
280,5
314,2
12,0
1.930
2.300
19,2
541,4
722,7
33,5
TO
165,7
193,9
17,0
2.560
2.330
(9,0)
6,5
777,0
814,0
4,8
1.504
1.520
1,1
MA
517,7
528,1
2,0
1.391
1.340
PI
159,6
179,6
12,5
1.050
CE
37,5
36,8
(1,8)
2.460
RN
2,8
1,4
(50,0)
2.853
PB
9,0
8,9
(1,0)
PE
9,4
9,5
1,0
AL
2,8
3,4
SE
9,5
BA
NORDESTE
CENTRO-OESTE
424,2
451,8
1.168,3
1.237,5
(3,7)
720,1
707,7
(1,7)
1.300
23,8
167,6
233,5
39,3
2.770
12,6
92,3
101,9
2.235
(21,7)
8,0
3,1
(61,3)
1.469
590
(59,8)
13,2
5,3
(59,8)
5.500
5.150
(6,4)
51,7
48,9
(5,4)
20,0
4.260
3.800
(10,8)
11,9
12,9
8,4
9,7
2,0
4.250
4.500
5,9
40,4
43,7
8,2
28,7
36,6
27,5
2.200
2.200
-
63,1
80,5
27,6
5,9
10,4
892,4
1.014,7
13,7
2.821
2.635
(6,6)
2.517,5
2.673,8
6,2
MT
675,6
776,9
15,0
2.860
2.630
(8,0)
1.932,2
2.043,2
5,7
MS
55,4
55,4
-
4.333
4.500
3,9
240,0
249,3
3,9
GO
161,3
182,3
13,0
2.140
2.090
(2,3)
345,2
381,0
10,4
DF
0,1
0,1
-
1.137
3.333
193,1
0,1
0,3
200,0
136,1
152,3
11,9
2.476
2.493
0,7
337,0
379,7
12,7
MG
94,4
111,4
18,0
2.250
2.300
2,2
212,4
256,2
20,6
ES
3,5
4,0
14,0
2.900
2.900
-
10,2
11,6
13,7
RJ
3,0
2,9
(3,0)
2.925
3.500
19,7
8,8
10,2
15,9
SP
35,2
34,0
(3,5)
3.000
2.990
(0,3)
105,6
101,7
SUL
1.255,9
1.266,6
0,9
5.953
5.847
(1,8)
7.476,1
7.405,3
(0,9)
PR
65,9
62,6
(5,0)
2.650
2.400
(9,4)
174,6
150,2
(14,0)
999,8
1.049,9
5,0
6.301,7
6.205,2
(1,5)
SUDESTE
(3,7)
SC
150,8
154,4
2,4
6.630
6.800
2,6
RS
1.039,2
1.049,6
1,0
6.064
5.912
(2,5)
NORTE/NORDESTE
1.370,0
1.484,9
8,4
1.824
1.907
4,6
2.498,8
2.832,1
13,3
CENTRO-SUL
2.284,4
2.433,6
6,5
4.522
4.298
(5,0)
10.330,6
10.458,8
1,2
BRASIL
3.654,4
3.918,5
7,2
3.511
3.392
(3,4)
12.829,4
13.290,9
3,6
FONTE: CONAB - Levantamento: Jun/2005.
QUADRO CONAB (SAFRA)
Quadro Conab (estoque de passagem)
Balanço de oferta e demanda
Safra
2000/01
2001/02
2002/03
2003/04
2004/05
Estoque
inicial
1.958,5
1.321,7
637,5
332,7
1.507,8
Produção
10.386,0
10.626,1
10.367,1
12.829,4
13.290,9
Importação Suprimento Consumo Exportação Estoque
final
951,6 13.296,1 11.950
24,4
1.321,7
737,3 12.685,1 12.000
47,6
637,5
1.601,6 12.606,2 12.250
23,5
332,7
1.097,3 14.259,4 12.660
92,2
1.507,2
700,0 15.498,1 12.900 250,0
2.348,1
Fonte: Conab
8
Planeta
A luta
CONTINUA...
COMERCIALIZAÇÃO
crise de mercado que atinge
a cadeia brasileira do arroz
não tem prazo para acabar.
Até o momento, o setor
considera as ações do
Governo Federal paliativos que
mereceram nota 3 da Confederação
Nacional da Agricultura (CNA). O
ministro Roberto Rodrigues afirma
que o Governo está sensível aos
problemas da agricultura, mas que
faltam recursos para atender todas as
demandas.
Nem mesmo a presença, em
Brasília, de 20 mil agricultores, no
tratoraço, apressou o atendimento das
demandas. “As primeiras medidas
foram efetivadas um mês depois”,
frisou o vice-presidente da CNA,
Carlos Sperotto. Para o presidente do
Irga, Pery Sperotto Coelho, é
importante agora salvar a colheita e
evitar danos maiores à próxima. “O
setor está no vermelho. Paga R$ 30,00
para produzir um saco de arroz e
recebe R$ 20,00 quando vende”, frisa.
A crise da orizicultura causou
prejuízos à economia da metade sul
gaúcha. Há municípios em que a
atividade representa 80% do PIB. O
nível de emprego caiu muito. O RS é
o único estado brasileiro que acumula
queda na atividade industrial nos
últimos meses. Nem os leilões de
opções, para comprar 1,5 milhão de
toneladas, recuperaram preços.
“O mecanismo chegou com atraso
e valores aquém da necessidade”,
sentencia o presidente da Federarroz,
Valter José Pötter. A rolagem das
dívidas de custeio foi aprovada apenas
para Centro-oeste e Bahia. “Nenhum
dos problemas que afetam a lavoura
tem origem dentro da porteira”, frisa
Pötter. Segundo ele, é difícil convencer
os produtores que protestam contra o
arroz do Mercosul de que há boa
vontade do Governo em resolver os
problemas e buscar uma equalização
A
Nem tratoraço
deu jeito na
crise do arroz
Mobilização: arrozeiros
foram a Brasília cobrar
ajuda do Governo
Razões da crise
1. Auto-suficiência brasileira com
quase 26 milhões de toneladas
colhidas em duas safras e entrada
de quase dois milhões de
toneladas de arroz do Mercosul
2. Alto estoque de passagem (1,5
milhão de toneladas em 2004/
2005) com 1,1 milhão de
toneladas importado
3. Falta de mecanismos de
comercialização eficientes e na
hora certa para equilibrar o fluxo
de oferta/demanda
4. Concentração de 80% das
exportações do Mercosul para o
Brasil
5. Falta de mecanismos para
restringir importação do Mercosul
6. Vantagens competitivas do
Mercosul - menos tributos, custo
de produção e subsídios para
exportação de arroz beneficiado e
isenção de PIS/Cofins para entrar
no Brasil (9,25%)
7. Resíduo de importações de
terceiros países em 2003/2004
8. Câmbio desfavorável
9. Alto custo nacional de produção
10. Baixo volume de exportação
11. Morosidade governamental para
adotar ações que minimizem os
prejuízos
Fonte: cadeia produtiva do arroz
para o mercado. “Para isso é preciso
reduzir impostos, restringir o ingresso
de arroz do Mercosul, apressar os
leilões de contratos de opção negociar volumes maiores com um
limite de 10 contratos por produtor -
rolar a dívida de custeio e criar
incentivos ou isenções da pesada carga
tributária brasileira para a exportação
de arroz”, resume o presidente da
Câmara Setorial Nacional do Arroz,
Francisco Schardong.
Planeta
9
COMERCIALIZAÇÃO
Cadê o MERCADO?
Recuperação
de preços não
vem agora
em o analista de mercados
mais otimista arrisca dizer
quando e como os preços
pagos ao produtor no Brasil
poderão apresentar alguma
recuperação. E depois da próxima
colheita as perspectivas são ainda mais
complicadas. O Brasil entrará 2006 com
um excedente de produção superior à
produção do Mercosul. Volume que,
somado aos excedentes desses países,
será superior a quatro milhões de
toneladas a pressionar o mercado.
Para o consultor da Safras &
Mercado, Aldo Lobo, apesar dos
leilões de contratos de opções públicas
e privadas, que não chegaram a refletir
positivamente no mercado, preocupa
muito o fato dos produtores terem
represado as ofertas até agora, o que
refletirá neste segundo semestre de
2005 e em 2006.
O Rio Grande do Sul ainda tem
65% da safra estocados, enquanto que
no Mato Grosso restam 45%. “Além
disso, quase todos os estados possuem
arroz para consumo próprio, não há
mais tanta dependência do RS e MT”,
revela. E boa parte desse arroz é de
baixa qualidade, o que pressiona mais
os preços. “Como agravante, temos a
expectativa de safra recorde no mundo:
625 milhões de toneladas base casca.
ÁREA - Para Lobo, a única chance
de preços bons no Brasil em 2006 seria
uma forte redução de área plantada para
a próxima safra. “Se o Brasil produzir
de 10 a 11 milhões de toneladas, pode
ser que os preços melhorem”, arrisca.
Porém, as tendências não apontam para
um cenário positivo. O presidente do
Irga, Pery Sperotto Coelho, acredita
que o mercado só se recupera a médio
prazo, se houver mecanismos para
exportar bastante.
N
Pötter: mais um documento entregue ao presidente Lula pedindo medidas
Questão básica
O presidente da Federarroz, Valter José Pötter, diz que a perspectiva do
mercado não é das melhores. Para 2006, crê que só um sério problema climático
afetará a produção do Mercosul. Ele não está convencido de uma redução
significativa na colheita do Sul e aposta em redução mínima no Centro-oeste.
Pötter acredita que o Governo brasileiro pode minimizar os efeitos da crise e
alerta os produtores para reduzirem os custos de produção.
Pauta de reivindicações
1. Agilidade e acesso a um maior número de produtores nos mecanismos
de enxugamento de mercado (1,5 milhão de toneladas)
2. Prorrogação de duas parcelas do custeio (uma já vencida) para 2006
3. Desburocratização e isenção de impostos para exportar arroz
4. Restrição aos excedentes do Mercosul ou medidas compensatórias e
redução das assimetrias
5. Inclusão dos custos de manutenção e depreciação de máquinas,
equipamentos, entre outros, na formação do preço mínimo
6. TEC de 35% para terceiros países
7. Liberdade para importação de insumos mais baratos
8. Reforma fiscal (para acabar com a guerra do ICMS entre os estados)
9. Redução da carga tributária sobre a produção
10. Fiscalização tributária e sanitária efetiva nas fronteiras
Fonte: Federarroz
10
Planeta
ÁREA MENOR
Mas não muito
TENDÊNCIAS
Brasil começa
a decidir o
plantio 2005
s produtores de arroz do
Brasil estão definindo em
agosto as dimensões da
lavoura brasileira 2005/
2006. A expectativa é para a
redução na área plantada pelo baixo
preço pago ao produtor, em média
30% abaixo do custo médio de
produção, em todo o país.
O fato de muitos arrozeiros
trabalharem no prejuízo em 2005,
rolarem dívidas para 2006 e, em
muitos casos, atrasarem o pagamento
do custeio e mesmo de compromissos
com fornecedores, é determinante para
a redução de área e de produtividade
para a safra 2005/2006. Sem
rentabilidade, o uso de tecnologia e
insumos deve ser menor.
O Centro-oeste vai puxar a
tendência de redução de área, segundo
especialistas. A suspensão das licenças
para abertura de novas áreas no Mato
Grosso e no Pará, principalmente, e
as ações fiscalizadoras sobre o meio
ambiente influenciarão na área de
plantio. A perda das características do
cultivar Cirad também influenciará na
hora de decidir quanto plantar.
Em alguns estados que vinham
experimentando um incremento
significativo de área, principalmente
no sudeste, no norte e nordeste
brasileiros, a tendência é de uma ligeira
queda para a próxima safra.
Como são produtores que estão
entrando no setor arrozeiro,
principalmente para a abertura de áreas
de soja ou algodão, ou para
recuperação de pastagens degradadas,
não há interesse em manter a atividade
com prejuízos. Só continuarão aqueles
que estão no segundo ano de lavoura
para abrir área.
O
Equilíbrio: produtor brasileiro precisa reduzir a oferta para obter rentabilidade
Questão básica
A empresa Safras & Mercado divulgou em julho o resultado de sua primeira
pesquisa de intenção de plantio de arroz para a safra 2005/2006, indicando
uma redução de 10% sobre a safra passada. Segundo a empresa, a área deve
cair de 3,736 milhões de hectares para 3,370 milhões de hectares. A Safras
prevê uma redução de 19% no Mato Grosso, 13% no Rio Grande do Sul,
12% no Mato Grosso do Sul e 10% em São Paulo, Goiás e Distrito Federal. A
empresa estima a redução de 12,8% na produção e 4,9% na produtividade.
No Sul a lavoura troca de mãos
No sul do Brasil, que concentra
mais de 60% da produção de arroz, o
panorama não deve se alterar
significativamente para a próxima
safra. Apesar da crise, Santa Catarina
manterá seus 155 mil hectares de
lavouras e o Rio Grande do Sul, maior
produtor nacional, não terá uma
redução significativa, segundo as
primeiras informações colhidas por
Planeta Arroz. Devem acentuar-se,
no entanto, as transferências de
lavouras.
Nos primeiros contatos sobre
intenção de plantio, nota-se que os
produtores de elite, com alta
tecnologia e terras próprias, podem
ampliar a área, pois operam com custo
entre seis e oito dólares. Existem ainda
os capitalizados, que aproveitarão os
negócios de oportunidade assumindo
as áreas dos endividados. Em alguns
casos, em troca das dívidas.
Entre os arrozeiros com alto grau
de endividamento e com resultados
pífios na lavoura e na comercialização
existem aqueles que costumam
ampliar a área, mesmo com o uso
reduzido de tecnologias recomendadas
para diminuir custo. O objetivo é tirar
o prejuízo na próxima lavoura,
estratégia que geralmente leva à
falência.
Por fim, ainda poderá interferir no
Rio Grande do Sul a falta de água para
irrigação em duas regiões importantes
de produção: campanha e zona sul,
onde os mananciais ainda estão com
nível de água abaixo da média para esta
época do ano.
Planeta
12
EXPORTAÇÃO
Recordes de
EXPORTAÇÃO
O Brasil descobriu
nichos importantes
no mercado externo
O
Brasil dá passos decididos para assumir seu
espaço de fornecedor no concorrido mercado
internacional de arroz. A ofensiva iniciou
em 2004, quando quebrou o recorde de
exportação em duas décadas, com 53,72 mil
toneladas de arroz (base casca) e um faturamento de
7,61 milhões de dólares. Em 2005, a marca já foi
ultrapassada e o faturamento, até junho, chegou a
19,22 milhões de dólares para 141 mil toneladas.
As indústrias gaúchas, responsáveis por quase a
totalidade das exportações, descobriram um nicho
de mercado especial: o arroz quebrado (canjicão) para
a África, já que o baixo preço do produto elevou o
nível de exigência no mercado interno. Senegal é o
maior cliente do Brasil. Já importou 103 mil
toneladas de arroz (base casca). A Suíça e países da
América Latina surgem como outros importantes
parceiros, na compra de quebrados e de arroz
parboilizado.
O analista de mercados Tiago Sarmento Barata lê
esses números como a confirmação de que o Brasil
pode participar como ofertante no mercado
internacional de arroz, evoluir neste sentido e fortalecer
sua posição. Apesar de produzir grãos de excelente
qualidade, as exportações do Brasil ainda se
concentram nos quebrados (91%) para abastecer o
mercado africano. Em junho, o país exportou 20,5
mil toneladas, oito mil toneladas menos que em maio,
porém 22 vezes mais do que havia exportado em junho
de 2004. “É positivo para o país, que vem acumulando
excedentes nos últimos anos, e importante para
adquirir know-how e confiabilidade, fatores
fundamentais para quem quer manter-se nesse
mercado”, frisa Barata.
Para José Rubens Arantes, diretor de suprimentos
da Camil, a redução dos preços no mercado interno
tornou o arroz de maior qualidade mais acessível ao
consumidor brasileiro, abrindo uma janela para a
exportação de quebrados. Coincidiu com a demanda,
principalmente dos africanos, e com uma condição
de câmbio favorável para esse produto. A Camil
pretende passar de um volume de 20 mil toneladas
FIQUE DE OLHO
Entre janeiro e maio
de 2005, o Brasil
exportou um volume
de 82,245 mil
toneladas de arroz beneficiado,
quebrado,
parboilizado, entre
outros, sendo que
74,63 mil toneladas
foram de quebrados,
o que equivale a
120,76 mil toneladas
em base casca. É
mais que o dobro das
53,72 mil toneladas
de arroz base casca
exportadas em todo
o ano de 2004. Em
junho foram
exportadas mais 20,5
mil toneladas de
arroz - base casca -,
somando no
primeiro semestre
141 mil toneladas.
para 50 mil toneladas (base casca) embarcadas para o
exterior neste ano.
ESFORÇO - O diretor executivo do Sindicato das
Indústrias de Arroz do Rio Grande do Sul, César
Gazzaneo, afirma que além dos preços e dos excedentes,
as exportações estão sendo aumentadas por conta de um
grande esforço do setor. “Sabemos do excedente que
existe no Brasil e no Mercosul e precisamos tirar pelo
menos uma parte deste excesso daqui para equalizar os
preços da cadeia produtiva”, explicou.
13
Expectativa no segundo semestre
O analista da empresa Safras &
Mercado, Aldo Lobo, acredita que o
nível de negócios de exportação de
arroz do Brasil deve reduzir no
segundo semestre. Se o câmbio cair, o
país perde competitividade. Uma
provável falta de navios deve interferir
também. Segundo Lobo, os embarques já realizados correspondem aos
negócios firmados no início do ano.
A oscilação do dólar por questões
políticas agita o mercado, que a partir
de agosto pode tomar novos rumos.
Além disso, Senegal, o principal
cliente, importa arroz de boa qualidade
da Ásia e usa nosso quebrado para
misturar. Para Lobo, o país africano
importou o suficiente para abastecer-
se, o que explica a queda da demanda.
O economista Camilo Feliciano de
Oliveira acredita que o Brasil tem
condições de exportar mais de 250 mil
toneladas em 2005. Com uma
valorização do dólar para o patamar
entre R$ 2,60 e R$ 2,70, seria
favorecida também a exportação de
produto de maior qualidade.
Soltinho para o Japão
Exportação em
NÚMEROS
n 53,72 mil toneladas* em 2004
n 7,61 milhões de dólares é o
faturamento de 2004
n 141 mil toneladas* de janeiro
a junho de 2005
n 19,22 milhões de dólares é o
faturamento
n 103 mil toneladas* foram
exportadas para o Senegal
n 250 mil toneladas* é a meta de
exportação do Brasil
* Base casca
A indústria brasileira de arroz
adota a estratégia de buscar mercados
mais exigentes e viabilizar maior
volume de negócios. É o caso da
Josapar, do Rio Grande do Sul, que
enviou 40,2 toneladas de arroz Tio
João, marca líder no mercado nacional,
para o Japão. A meta é atender os mais
de 300 mil brasileiros que vivem no
Japão e consomem arroz longo fino,
soltinho, diferente do “empapado”
consumido na Ásia.
A Columbia Trading realizou o
envio. “Foi um passo para abrir
mercados diferenciados com produtos
de alto valor agregado”, explicou
Luciano Ferreira, gerente de vendas da
Josapar. O Japão importa 600 mil
toneladas por ano de diversos países.
Essa é a primeira operação de
exportação do arroz brasileiro ao
mercado japonês. No ano passado, a
empresa exportou sete mil toneladas
(menos de 1% do total negociado no
país). Até maio, 65% desse volume foi
embarcado e a Josapar projeta
exportações até 15% superiores a 2004.
ASSINATURA
REVISTA
Questão básica
O mercado internacional de arroz
em 2005 representa apenas 4,1%
(25,5 milhões de toneladas) da
produção mundial de 621 milhões de
toneladas estimada pela FAO. Tratase de um mercado absolutamente
irreal pelo peso de altos subsídios
conferidos pelos países exportadores
e uma série de mecanismos de defesa
de alguns países, como o Japão. Cerca
de 90% de todo o arroz produzido e
consumido no mundo está na Ásia.
O Brasil ocupa a posição de maior
produtor (13,29 milhões de toneladas) e consumidor (12,9 milhões de
toneladas) de arroz fora deste eixo. É
o nono maior produtor mundial e
consta da relação dos 10 maiores
importadores do mundo. Desde
2004 começou a surgir na lista dos
exportadores com volumes significativos. Até então, não passava do
patamar de 30 mil toneladas por ano.
Planeta
14
RECURSOS HÍDRICOS
Hidrômetro na
Catarinenses
medem quanto de
água o arroz gasta
s produtores de Santa
Catarina preparam-se para
rebater as acusações de que
a lavoura de arroz irrigado
é um dos empreendimentos
que mais geram impacto ambiental,
principalmente por consumir grande
quantidade de água. Para a próxima
safra, foi implantado em algumas áreas
de irrigação um sistema que medirá o
volume de água consumido. A
medição será feita com calhas Parshall,
espécie de hidrômetro que identifica
o volume de água que passa no canal,
entre o reservatório e a lavoura.
Segundo o presidente da
Associação Catarinense de Irrigação e
Drenagem (Acid), Sérgio Marini, o
objetivo é apresentar números reais,
provar que a rizicultura irrigada não é
uma vilã e preparar os produtores para
a futura cobrança pela água.
Além do monitoramento da água,
os produtores catarinenses estão se
ajustando às leis ambientais. Em
acordos firmados com o Ministério
Público, os lavoureiros estão se
comprometendo a não plantar nas
margens dos rios e arroios. Alguns
produtores até recuaram suas lavouras,
atendendo a exigência de não plantar
a menos de 30 metros da mata ciliar.
Os dados existentes sobre o
consumo de água na lavoura de arroz
são muito imprecisos, variando entre
sete e 12 mil metros cúbicos por
hectare. O volume varia conforme o
controle do produtor, que pode evitar
LAVOURA
O
Estrutura: produtores investem para regular o gasto com a água
Questão básica
O monitoramento do consumo de água na lavoura catarinense permitirá
estabelecer o crescimento das áreas de cultivo nas safras futuras. Com a previsão
de estiagem, será possível reduzir as áreas e garantir o abastecimento da
população. O uso dos recursos hídricos é prioridade do ser humano. Em
segundo lugar estão os animais e em terceiro, a agricultura. Para a próxima
safra, apesar da crise de mercado, Santa Catarina vai manter os 155 mil hectares
de lavouras. Em 2004/2005 a produtividade média foi de 6.741 quilos/hectare.
desperdícios com o melhor manejo de
taipas e evitando pontos de escape.
Segundo Sérgio Marini, as lavouras
catarinenses são cultivadas por 12,5
mil famílias e consomem entre sete e
oito mil metros cúbicos de água. O
sistema de cultivo pré-germinado
ajuda a derrubar a média de consumo,
pois usa menos água. Na safra passada,
no muinicípio de Nova Veneza, os
experimentos com a calha Parshall
confirmaram esse consumo médio.
algum tipo de irregularidade quanto
ao meio ambiente. Preocupados em
mudar esse quadro, os catarinenses
registraram na última safra o maior
volume de embalagens de agrotóxicos
devolvidas para serem destruídas ou
recicladas. Do total consumido na
safra, 70% foram devolvidos.
Fique de olho
O presidente da Acid, Sérgio
Marini, destaca que um levantamento
apontou que 94% da área destinada
para orizicultura em SC apresenta
Planeta
CULTIVARES
Reforço
MINEIRO
15
Minas Gerais
lança três
novas variedades
A
pesar da crise de preços na
orizicultura, os órgãos de
pesquisa de Minas Gerais não
se acomodaram e estão
colocando no mercado três
novas cultivares. As variedades batizadas
de Curinga, Seleta e Conai foram
desenvolvidas atendendo demanda dos
produtores, que enfrentam o desafio de
produzir cada vez mais com menor custo.
As novas sementes são o resultado da
busca por plantas com características
superiores, resistentes a doenças e às
variações climáticas de Minas Gerais.
As novas cultivares foram criadas
através do programa de melhoramento
genético do arroz de várzea da Empresa
de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais
(Epamig), conduzido de maneira
cooperativa e integrada com várias
instituições de pesquisa do Brasil.
Curinga, Seleta e Conai são cultivares que
apresentam elevada produtividade,
resistência a doenças e grãos com boas
qualidades na indústria e na culinária.
Questão básica
O cultivo do arroz de sequeiro é
considerado uma exploração de alto
risco em Minas Gerais. O problema são
as altas temperaturas que ocorrem nos
meses de janeiro, fevereiro e março,
causando perdas parciais ou totais das
lavouras. A redução desse risco sempre
foi uma preocupação da pesquisa, que
vem procurando atenuar os danos do
calor excessivo. Entre as alternativas
possíveis estão: aumento da resistência
à seca, o ajustamento da época de
plantio, as práticas culturais como
aração profunda e a redução do ciclo
das cultivares. A obtenção de cultivares
que associem resistência à seca com
precocidade é um dos maiores desafios
dos pesquisadores.
Diversidade: Epamig desenvolve variedades adaptadas ao clima mineiro
FIQUE DE OLHO
Curinga, Seleta e Conai foram desenvolvidas pela Epamig e Universidade
Federal de Lavras (Ufla), em parceria com a Embrapa Arroz e Feijão e
apoio da Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal
de Uberlândia (UFU) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
Minas Gerais (Fapemig).
As novidades de Minas Gerais
CURINGA
n Ciclo de 132 dias
n Produtividade de 4.465 kg/ha
n Cultivar melhorada para
condições de várzea úmida ou
drenada
n Boa qualidade culinária. Grãos
soltos e macios após cozimento
n A primeira cultivar agulhinha,
de alta qualidade de grãos,
recomendada para as condições
de várzea úmida ou drenada
n Produção para sistemas de terras
altas e várzea
SELETA
n Ciclo de 130 a 140 dias
n Produtividade superior a 6,5 mil
quilos por hectare
n Resistente ao acamamento e
maior resistência à brusone que
as cultivares em uso em MG
n Indicada para cultivo sob
condições de arroz irrigado por
inundação contínua, com
controle da lâmina de água, ou
em condições de várzea úmida
CONAI
n Ciclo de 108 dias
n Produtividade média de 4.145
quilos por hectare
n É a primeira cultivar de arroz de
sequeiro superprecoce que
possui grão agulhinha, os
preferidos e os mais valorizados
do mercado
n Para plantio em terras altas
16
Planeta
SAFRA BRASIL
Panela de
O
PRESSÃO
s orizicultores do Mato
Grosso vão decidir o plantio
da nova safra em um
momento de muita tensão.
Segundo maior produtor do
Brasil, com 15,3% da colheita
nacional, o Mato Grosso vive uma
situação dramática para decidir a
formação da nova lavoura. Os órgãos
de fiscalização do meio ambiente
cassaram licenças de abertura de área
que já estavam autorizadas e
suspenderam a emissão de novas
autorizações. A principal variedade
plantada no Mato Grosso, com maior
área e rendimento e menor custo de
produção - Cirad 141 -, perdeu suas
características de longo fino e está
valendo menos de um terço do que
valia há um ano.
Os produtores do Mato Grosso
conseguiram a prorrogação do
pagamento das parcelas de custeio de
junho, julho e agosto para março e
abril de 2006. Mesmo assim, o sistema
financeiro ainda não liberou recursos
ou as regras de financiamento para a
próxima safra. “Esta safra está bem
mais difícil de ser decidida do que as
demais”, frisa Jorge Fagundes, da
Futura Cereais, de Cuiabá (MT).
Segundo ele, a falta de crédito, a
suspensão das aberturas de área e a
desclassificação do Cirad poderão
reduzir a lavoura do Mato Grosso em
20%. O presidente da Associação dos
Produtores de Arroz do Mato Grosso,
Ângelo Maronezzi, acredita que a área
poderá ser afetada em um percentual
ainda maior. Para Safras & Mercado,
a redução será de 19%.
ABERTURA - O produtor de
arroz em Feliz Natal, Moisés
Debastiani, lembra que esta
“moratória” das licenças para abertura
de área deve refletir também na safra
MT decidirá
nova safra em
momento tenso
Maronezzi: muitos obstáculos para chegar à nova safra
Questão básica
Na safra passada, segundo dados da Conab, o Mato Grosso plantou 776,9
mil hectares de arroz, 15% a mais do que os 675,6 mil que havia plantado na
safra 2003/2004. O Mato Grosso colheu em 2005 cerca de 2.630 quilos de
arroz por hectare, totalizando uma produção de 2.673,8 toneladas, 6,2% a
mais do que no ano passado. Se reduzir cerca de 20% sobre os números da
Conab, que estão sendo indicados pelo setor, a lavoura de arroz do Mato
Grosso terá 620 mil hectares. Repetindo a produtividade de 2.630 quilos por
hectare, o estado alcançará uma produção de 1,63 milhão de toneladas.
2006/2007. A área aberta recebe o
arroz por dois anos. Depois disso, tem
que passar para soja ou outra cultura,
pois a produtividade tende a diminuir
ou o investimento passa a não
compensar. Sendo assim, as áreas que
deixarem de ser abertas neste ano, não
receberão arroz no ano que vem.
Planeta
17
SAFRA BRASIL
Com os dias
CONTADOS
unanimidade: a cultivar de
arroz Cirad 141, que chegou
a ser considerada a salvação
da lavoura de terras altas no
Mato Grosso por mais de
uma década, vai perder o seu espaço e
será uma das razões para redução da
área orizícola na safra 2005/2006. A
Associação dos Produtores de Arroz
do Mato Grosso (APA-MT) reconhece
isso. Excelente para plantar em
abertura de áreas, com boa estabilidade
produtiva e rusticidade, o Cirad 141
foi bem aceito pelo mercado em seu
lançamento (1994), valorizou a cultura
do arroz de sequeiro e atraiu indústrias
que marcaram o início das vendas do
Mato Grosso para o país.
A multiplicação de “sementes
crioulas” e o baixo uso de sementes
fiscalizadas e certificadas fizeram com
que ao longo do tempo a variedade
perdesse suas características de grão
longo fino, enquadrando-se agora
como longo. Bom para o produtor, o
Cirad deixa a desejar na panela. Leva
90 dias para “envelhecer” e permitir o
beneficiamento e comercialização, tem
cheiro característico e “gruda” na
panela, desagradando ao consumidor.
Ovídio Costa Miranda, superintendente da Conab no MT, explicou
que para ser longo fino, pelo menos
80% dos grãos precisam ter a espessura
máxima de 1,90 milímetro. Os
técnicos, entretanto, identificaram
dimensões de 1,91 a 1,94 milímetro
em mais de 80% dos grãos.
Com isso, só a região de Sinop, no
norte do MT, tem um prejuízo
superior a R$ 500 milhões, segundo
levantamento da APA-MT. O preço
mínimo do saco de 60 quilos de arroz
longo fino no MT é R$ 20,70,
enquanto para o longo é de R$ 10,73.
Atualmente, o Cirad com 50% de
Cultivar Cirad 141
está condenada a
desaparecer do MT
É
Variedade Cirad 141: o fim de um ciclo importante para a lavoura do MT
Dito & Feito
“Não vamos apoiar o uso da semente Cirad 141
porque não é o arroz que a dona de casa quer”.
Presidente do Sindicato das Indústrias de Beneficiamento de Arroz de Mato
Grosso, Marco Antônio Lorga, informando que a cultivar está descartada
pelo mercado mato-grossense.
Questão básica
A capacidade ociosa das indústrias do Mato Grosso poderá ser suprida
parcialmente pelo estoque de passagem, mas terá problemas porque é grande
o volume de arroz comprometido por baixa qualidade, com alto índice de
quebrados, grãos amarelos, picados de insetos, manchados e gessados. Sendo
assim, é muito provável que o estado precise se abastecer de arroz nos estados
vizinhos, no Sul e, se compensar, até importar do Mercosul.
inteiros - que era vendido acima de
R$ 30,00 há um ano - é negociado
FOB/Sinop por R$ 9,00 a R$ 11,00.
NOVA - O Primavera é vendido
por R$ 17,50 a R$ 19,00 FOB e R$
20,50 posto em Cuiabá. Para desovar
parcialmente seu grande estoque, o
Cirad tem sido misturado ao longo
fino em percentual autorizado por lei.
Diante deste cenário, os produtores
vão optar pela cultivar Primavera,
menos produtiva, mais exigente e de
maior custo de produção, mas
preferida pela indústria. A cadeia
produtiva do MT e a Embrapa Arroz
e Feijão, de Goiás, estão empenhadas
na busca de novas e alternativas
variedades para o Mato Grosso.
18
Planeta
SAFRA BRASIL
A lavoura
ENCOLHEU
redução da lavoura de
arroz no estado do Mato
Grosso do Sul está se
tornando realidade. A
aguda crise que atinge o
mercado orizícola está levando os
produtores a colocarem em prática
a proposta do presidente da
Associação dos Produtores de Arroz
e Irrigantes (Apai), Roberto
Coelho, que desde o final do ano
passado defende a idéia de reduzir a
lavoura. Segundo ele, os produtores
precisam derrubar os custos de
produção para permanecerem no
mercado e isso só será possível
trabalhando com áreas menores.
Segundo Roberto Coelho, a
receita é usar apenas a terra que é
mais produtiva e de fácil manejo
para reduzir custos. Coelho é
proprietário da Fazenda San
Francisco, onde está instalada a
maior lavoura de arroz do estado do
Mato Grosso do Sul, com cerca de
1,2 mil hectares. Para a safra 2005/
2006, a San Francisco deverá reduzir
em aproximadamente 30% a área
cultivada com arroz.
Na safra passada, foram
cultivados no Mato Grosso do Sul
cerca de 53,1 mil hectares de arroz
e o rendimento médio foi de 4,6
toneladas por hectare.
A
MS reduzirá área
na safra 2005/2006
de arroz irrigado
Lavouras do Mato
Grosso do Sul
serão menores na
safra 2005/2006
Questão básica
O agrônomo Darci Azambuja, que trabalha na Fazenda San Francisco, explica
que a baixa cotação do arroz no mercado afetou principalmente os produtores
que trabalham em áreas arrendadas. Segundo ele, cerca de 70% dos arrozeiros
do Mato Grosso do Sul dependem do arrendamento de áreas para plantar. “Os
produtores estão enfrentando dificuldades em buscar recursos para investir na
próxima safra. Muitas empresas só aceitam vender à vista e quem tem pouco
recurso terá que plantar menos e desenhar uma lavoura com baixa tecnologia”,
observa Azambuja.
Cicatrizes da crise
O péssimo momento do arroz no
mercado brasileiro deixará cicatrizes.
Sem recursos para investir no campo,
os produtores do Mato Grosso do Sul
já esperam uma queda de
produtividade para as próximas
safras. “Sem investir em tecnologia,
principalmente em semente de
qualidade e adubação, os produtores
irão colher menos”, explica o
agrônomo Darci Azambuja. Segundo
ele, a Fazenda San Francisco alcançou
a produtividade média de 7,5 mil
quilos de arroz por hectare na safra
passada e projeta colher no ano que
vem uma média de aproximadamente
6,7 mil quilos por hectare. Além das
perdas futuras na lavoura de arroz,
muitas lavouras estão sendo
substituídas pelo cultivo de soja,
milho ou pecuária. A crise na
orizicultura tem um sintoma bem
claro: o preço do arroz não cobre os
custos de produção.
Planeta
SAFRA BRASIL
Corrida com
19
BARREIRAS
Maranhão é o
quinto maior
produtor nacional
egundo dados levantados em
junho pela Conab, a
produção maranhense de
arroz foi de 707,7 mil
toneladas na safra 2004/
2005, queda de 1,7% frente à safra
anterior. Com isso, o estado passa a
ser o quinto maior produtor brasileiro
de arroz, atrás do Rio Grande do Sul
(6,2 milhões de toneladas), Mato
Grosso (2,043 milhões de toneladas),
Santa Catarina (1,049 milhão de
toneladas) e Pará (722,7 mil
toneladas). Até a pesquisa anterior,
realizada em maio, o Maranhão
ocupava a quarta posição nesse
ranking, pois a produção paraense era
estimada em 677,5 mil toneladas.
O desenvolvimento da orizicultura
no Maranhão enfrenta muitas barreiras. “O isolamento é um problema
sério. Temos também dificuldades de
armazenagem e infra-estrutura. Além
disso, doenças como brusone,
mancha-preta e mancha-parda são
comuns”, afirma o produtor Mário
Albuquerque, da Fazenda Santa Maria,
localizada em Urbano Santos (MA).
A falta de incentivo do poder
público, tanto federal como estadual,
é um dos maiores problemas, na
opinião de Rodolfo Vieira, da
Distribuidora Combate, da cidade de
Balsas (MA). “Ficamos à mercê da
safra do Sul”, diz.
S
Vantagem: o avanço da fronteira agrícola e a demanda por arroz
O estudo publicado pela Embrapa
Meio Norte em 2001, intitulado
“Cadeia produtiva do arroz no estado
do Maranhão”, aponta outros
entraves. Custos elevados, forte
taxação tributária, sementes pouco
adaptadas, falta de maquinário especialmente colheitadeira - para
alugar, a falta de informação sobre
preços e sobre mercado, além da baixa
qualidade do produto, são exemplos.
VANTAGENS - Por outro lado,
o estudo revela algumas das vantagens
de se produzir arroz no estado. Dentre
as principais, estão a possibilidade de
avanço da fronteira agrícola (apesar
das restrições ligadas à necessidade de
preservação ambiental), a localização
privilegiada do estado, a existência de
pólos de crescimento econômico
ativos e a demanda forte e pouco
exigente por arroz.
O consumo per capita de arroz
branco no Maranhão é de cerca de 80
quilos/habitante/ano, sendo um dos
maiores do Brasil (média de 50 quilos/
habitante/ano). Contudo, o arroz mais
consumido no estado é o tipo 2, uma
vez que a maior parte da população
maranhense se encontra em camadas
de médio a baixo poder aquisitivo. (Por
Mariana Perozzi - www.arroz.agr.br)
Planeta
20
SAFRA BRASIL
Rotação
INTELIGENTE
Cabe um RS
de arroz no
Tocantins
ocantins é o estado brasileiro
que apresenta as condições
tecnológicas e ambientais
mais favoráveis para o
aumento da produção de
arroz nas próximas safras. Além de
disponibilidade de área, os agricultores
trabalham com um sistema inteligente
de irrigação. A técnica é chamada de
subirrigação e permite a rotação de
culturas, rendendo até três safras por
ano na mesma lavoura. A rotação
favorece a cultura do arroz, que
encontra maior fertilidade do solo e
tem bom desempenho até mesmo no
cultivo da soca.
Segundo Luís Henrique Michelin,
coordenador de sanidade vegetal da
Agência de Defesa Agropecuária do
Tocantins, o segredo está no manejo
de água em canais de irrigação nas
áreas de várzea durante as épocas de
seca. O sistema eleva o lençol freático,
permitindo que na entressafra do arroz
irrigado a área seja aproveitada para
as espécies de sequeiro, como soja,
sorgo, algodão, melancia, milho, feijão,
melão, tomate e abóbora. Com menor
custo de produção e melhor qualidade
sanitária, as espécies de sequeiro
cultivadas nas várzeas muitas vezes são
mais rentáveis economicamente que o
arroz irrigado. O cultivo de arroz de
terras altas está distribuído por todas
Manejo do Tocantins usa
água do subsolo e garante
bom sistema de irrigação
T
Questão básica
A planície da Bacia do Araguaia, no Tocantins, ocupa cerca de 1,2 milhão
de hectares. O Vale do Araguaia constitui-se em uma das regiões mais
promissoras para a expansão da orizicultura brasileira, com condições para
atender o mercado das regiões Norte, Nordeste, Centro-oeste e Sudeste. O
Tocantins poderá concentrar futuramente a mesma dimensão das lavouras de
arroz do Rio Grande do Sul - 1,1 milhão de hectares -, onde é produzido cerca
de 50% do arroz brasileiro.
as regiões do Tocantins, enquanto o
irrigado concentra-se nas regiões
Centro-oeste e principalmente no
Sudeste. As maiores produções de
arroz irrigado estão nos municípios de
Cristalândia, Dueré, Formoso do
Araguaia, Lagoa da Confusão e Pium.
Para a próxima safra, a área de arroz
deverá ser mantida ou até sofrer uma
pequena redução motivada pela crise
no mercado orizícola. Na safra 2004/
2005, foram cultivados 199 mil
hectares de arroz, 23,1% mais que na
safra anterior, quando foram
cultivados 161,6 mil hectares. A
produtividade média na safra passada
foi de 2,3 mil quilos por hectare, sendo
que o arroz de sequeiro rendeu uma
média de 1,7 mil quilos por hectare e
o irrigado, 4,4 mil quilos por hectare.
Prós & contras
n No Vale do Javaés, no Tocantins, há uma área de várzea com mais de
500 mil hectares. Localizada entre o Rio Araguaia e seus afluentes,
Urubu, Javaés e Formoso, a região é considerada a maior área contínua
para irrigação por gravidade do mundo. Nessa área estão instalados o
Projeto Rio Formoso, no município de Formoso do Araguaia, e o
Projeto Javaés, na Lagoa da Confusão. Ambos os projetos ocupam
apenas 45 mil hectares com a cultura do arroz, no período chuvoso.
n O fator limitante da cultura do arroz no
Tocantins é a incidência de doenças,
especialmente brusone, responsável por
perdas consideráveis na produção e na
qualidade dos grãos. O clima da região e o
manejo deficiente da irrigação favorecem
o surgimento da doença fúngica.
Planeta
21
GENTE
O congresso do professor
O professor Enio Marchezan, do
departamento de fitotecnia do curso de
Agronomia do Centro de Ciências
Rurais da Universidade Federal de Santa
Maria (CCR/UFSM), dispensa apresentações para a lavoura gaúcha de
arroz. Aos 52 anos, no entanto, está
enfrentando um gigantesco desafio na
presidência da Sociedade Sul-brasileira
do Arroz Irrigado (Sosbai). Marchezan, que é doutor
em fitotecnia e integra o grupo de arroz irrigado e uso
alternativo de várzeas do CNPq, preside também o IV
Congresso Brasileiro de Arroz Irrigado e a XXVI Reunião
da Pesquisa de Arroz Irrigado. O evento, que realiza com
a Sosbai e a UFSM, apresenta os resultados das mais
recentes pesquisas das universidades e instituições gaúchas
e catarinenses de pesquisa, também gera as novas
recomendações técnicas para as lavouras de arroz irrigado
nestes estados e é um importante fórum da ciência e
tecnologia em arroz, com a presença de cientistas dos
demais estados brasileiros e de toda a América Latina. O
congresso acontece de 9 a 12 de agosto, no Park Hotel
Morotin, em Santa Maria (RS).
O Valente do arroz
O Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) comemora
um importante reforço. O engenheiro agrônomo
especializado em irrigação e drenagem e uma das
principais autoridades em orizicultura
familiar do Rio Grande do Sul, Luis
Antonio De Leon Valente, 56 anos, foi
cedido pela Ascar/Emater-RS, onde
ocupou o cargo de assistente
técnico estadual do arroz, para
assumir o cargo de chefe da
Divisão de Assistência
Técnica e Extensão Rural
do
Irga
(Dater),
c o o r d e n a n d o
engenheiros agrônomos
e técnicos em agropecuária dos escritórios
regionais e núcleos de
assistência técnica e
extensão rural do
instituto nos municípios arrozeiros gaúchos. Ele é
extensionista há 32 anos na área de arroz, irrigação e
drenagem. Valente é formado pela Faculdade de
Agronomia Eliseu Maciel (UFPel), com especialização em
irrigação e drenagem pela Universidade Federal de Lavras
(UFL), de Minas Gerais, pelo Ciat (Colômbia) e na
Alemanha.
22
Planeta
PESQUISA
A MARCA
da tecnologia
20% mais produção,
30% menos custos
Embrapa Clima Temperado
está comemorando os bons
resultados da primeira safra
de arroz produzida com as
orientações do projeto Marca.
As regras para o Manejo Racional do
Arroz (Marca) foram implantadas na
safra 2004/2005 por seis produtores
gaúchos que conseguiram aumento de
produtividade com redução de custos
de produção. Segundo o agrônomo
José Alberto Petrini, pesquisador da
Embrapa, o primeiro ano do projeto
atingiu as expectativas, mostrando que
a lavoura de arroz do Rio Grande do
Sul pode se tornar mais eficiente,
competitiva e rentável.
Na safra 2004/2005, 110 hectares
de arroz foram trabalhados com o
Marca, colocando no campo técnicas
de manejo aplicadas de modo racional
e que não comprometem a qualidade
ambiental. Os resultados mais
significativos foram verificados na
produtividade, 20% superior à média
estadual, e nos custos de produção,
30% abaixo da média.
Esse desempenho está relacionado
com a redução de 20% na densidade
de semeadura, menor uso de produtos
químicos, economia de recursos
hídricos e boa produtividade. Em uma
área comercial, na Estância Guatambu
(Dom Pedrito-RS), o Marca atingiu a
média de 9.940 quilos/hectare de arroz.
A média dos custos de produção
do saco de arroz (50 quilos) com o
projeto Marca foi de R$ 21,00, com
produtividade média de7,3 milquilos/
hectare. No RS, o custo médio de
produção foi de R$ 30,00, segundo o
Irga. Produtividade de 6,1 mil quilos/
hectare.
A
Projeto Marca é sinônimo de excelência em produção de arroz
Questão básica
Para a safra 2005/2006, o projeto Marca será trabalhado por nove
produtores das cidades gaúchas de Santa Vitória do Palmar, Jaguarão, Pelotas,
Osório, Dom Pedrito, Rosário do Sul, Alegrete, Itaqui e Cachoeira do Sul.
Cada lavoura terá entre 10 e 20 hectares e a área total chegará a 150 hectares.
Na safra 2004/2005, o projeto foi desenvolvido em cinco propriedades do
Rio Grande do Sul: Estação Experimental Terras Baixas/Embrapa Clima
Temperado e na Granja da Várzea (Pelotas), Granja Bretanhas (Jaguarão) e
fazendas Guatambu e Tulipa (Dom Pedrito). “O objetivo é aumentar a
produtividade de grãos no mínimo 20% acima da média do Rio Grande do
Sul”, destaca José Alberto Petrini.
23
Os eixos do projeto Marca
Estruturação da área da lavoura
n Orientações para a sistematização
da superfície do solo, facilitando o
manejo da água. Uniformidade na
altura da lâmina de água é um dos
fundamentos básicos da lavoura de
arroz, assim como as definições de
estradas e canais de irrigação.
Preparo prévio da área
n Recomendação para preparar a
lavoura antecipadamente, de
preferência no verão anterior à
implantação da lavoura. O objetivo é
viabilizar a utilização do plantio direto
ou cultivo mínimo na época de
semeadura adequada. As taipas, de
base larga, também devem ser
demarcadas e construídas previamente.
Época de semeadura
n O plantio deve ser feito de modo
que a diferenciação da panícula (DP)
ocorra, no máximo, até 1º de janeiro.
Com base no zoneamento
agroecológico para as diferentes
regiões orizícolas do Rio Grande do
Sul, foram estabelecidos oito grandes
faixas de épocas de semeadura, sendo
quatro para cultivares de ciclo médio
e quatro para cultivares de ciclo
precoce. Para as cultivares de ciclo
médio, a semeadura deverá ser
realizada de 21 de setembro a 20 de
novembro nas regiões mais quentes e
de 21 de outubro a 20 de novembro
nas regiões mais frias. Para as cultivares
de ciclo precoce, o período varia de
11 de outubro a 10 de dezembro nas
regiões quentes e de 1º a 30 de
novembro nas regiões frias.
Densidade de semeadura
n A quantidade de sementes deverá
possibilitar um estande de 200 a 300
plantas por metro quadrado com
cobertura uniforme da área. Para isto,
o volume de sementes a ser utilizada
pelo produtor será de 120 a 150 quilos
para cada hectare, dependendo da
porcentagem de germinação das
sementes.
Adubação
n Recomenda-se a aplicação de
fertilizantes NPK (nitrogênio, fósforo
e potássio), de acordo com os
resultados de análise do solo. O
nitrogênio em cobertura deverá ser
parcelado: uma quando a planta
estiver no estágio de quatro a cinco
folhas (início do perfilhamento),
aplicado em solo seco. A submersão
do solo deverá ser feita até 72 horas
depois. A outra aplicação de
nitrogênio deverá ser feita na época
da diferenciação da panícula, sobre
lâmina de água não circulante.
Quando a dose de nitrogênio
recomendada for igual ou inferior a
50 quilos por hectare, a adubação em
cobertura deverá ser realizada na
diferenciação da panícula. As doses de
fósforo e potássio deverão ser
aplicadas em pré-plantio incorporado
ou em linha na semeadora.
Controle de plantas daninhas
n A orientação aos produtores é para
aplicação de produtos com maior
poder residual em pré-emergência e
produtos em pós-emergência
conforme a recomendação técnica que
possibilitem um controle efetivo das
plantas daninhas. Aplicar somente
agrotóxicos registrados e reduzir em
20% a dose recomendada.
Manejo da água
n Manter uma altura de lâmina de
água na lavoura de aproximadamente
10 centímetros. Em regiões com
problema de frio, na microsporogê-
nese (fase de emborrachamento - 55 a
65 dias após a emergência do arroz)
elevar a lâmina de água para um
mínimo de 15 centímetros por 15 a
20 dias. A entrada de água na lavoura
deve ocorrer até 30 dias após a
emergência das plântulas (estágios V4
e V5). Evitar ou minimizar o resíduo
de pesticidas e nutrientes na água de
drenagem. Não drenar a lavoura de
arroz antes dos 30 dias após a aplicação
de agrotóxicos. O término da
irrigação, ou a supressão do
fornecimento de água à lavoura,
deverá ocorrer a partir do 10º dia após
as plantas vencerem 80% do estágio
de floração. O procedimento reduz a
quantidade de água utilizada e facilita
a colheita, evitando a degradação do
solo.
Diferenciação da panícula
n O produtor deve identificar o
estágio de diferenciação da panícula
para efetuar a adubação de cobertura,
pois esta é a fase indicada para a
aplicação desse insumo.
Colheita
n A colheita deve ser feita tão cedo
quanto possível, após a maturação
fisiológica, com umidade do grão
variando entre 18% e 23%. Entre as
grandes lavouras da safra de verão, o
cultivo de arroz é o que apresenta
maiores perdas, chegando a 22% do
total da produção. Cultivares com
maior suscetibilidade ao trincamento
de grão em pré-colheita deverão ser
colhidas prioritariamente, não
deixando atingir umidade do grão
abaixo de 18%.
Secagem
n A secagem dos grãos deverá ser
iniciada tão logo se realize a colheita
ou, no máximo, até 24 horas após.
Entretanto, se isso não for possível, é
importante pré-limpar, aerar ou présecar o arroz, mantendo-o sob aeração
constante até a secagem completa.
Também é importante não deixar os
grãos úmidos na moega, sem aeração.
O rendimento de grãos deve ser
monitorado
constantemente,
verificando a eficácia dos métodos de
controle do trincamento.
24
Planeta
PESQUISA
ALTERNATIVAS
para o sul gaúcho
Linhagem tolera
temperaturas médias
mais baixas
m dos principais problemas
associados à lavoura de arroz
irrigado no Rio Grande do Sul
é a ocorrência de temperaturas
baixas, que pode causar sérios
danos quando na fase reprodutiva da
planta, mas também prejudica o
estabelecimento e desenvolvimento
inicial da lavoura semeada no cedo. Por
este motivo, o Instituto Rio-grandense
do Arroz (Irga) vem desenvolvendo um
programa de melhoramento específico
para tolerância ao frio, conduzido na
Subestação Experimental do Arroz de
Santa Vitória do Palmar (RS) desde a
safra 1995/1996. Esse local foi
escolhido por ser um dos que
apresentam temperatura média mais
baixa dentre as regiões orizícolas do
estado.
Na safra 2004/2005 foi apresentada
aos produtores de arroz que
participaram do dia de campo realizado
na Subestação de Santa Vitória do
Palmar uma linhagem, denominada Irga
2423-3-6V-3V-1, que atualmente é a
mais promissora dentre as desenvolvidas
neste projeto. A linhagem também foi
apresentada no tradicional dia de campo
realizado na Estação Experimental do
Arroz do Irga, em Cachoeirinha (RS).
A melhorista Renata Pereira da Cruz
explica que devido ao contínuo processo
de seleção nas condições ambientais de
Santa Vitória, a linhagem Irga 2423-36V-3V-1 se mostra adaptada e
altamente produtiva em ambiente em
que predominam temperaturas médias
e mínimas inferiores ao restante do
estado. O material tem ciclo médio
U
Renata: experimentos podem resultar em variedade para a zona sul gaúcha
FIQUE DE OLHO
Questão básica
Selecionada a campo, onde a
temperatura às vezes não é baixa o
suficiente para impor boa pressão de
seleção, a linhagem não é considerada
tolerante ao frio. Ela é adaptada para
a zona sul gaúcha, com temperatura
média mais baixa. A decisão sobre o
lançamento como cultivar será tomada
na próxima safra, após nova avaliação.
A linhagem será plantada em parcelões
de seis propriedades em diferentes
regiões gaúchas. Os produtores vão
opinar.
n Sob a coordenação de Renata
Cruz, é conduzido o melhoramento de cultivares tolerantes
ao frio do Irga. Atualmente, a
seleção de linhas conduzida na
Subestação de Santa Vitória é
complementada com uma
seleção em condição de
temperatura controlada, em que
somente as plantas com
capacidade de germinação em
13°C e de sobrevivência a uma
temperatura de 10°C na fase
vegetativa são selecionadas.
tardio (cinco a 10 dias maior que a BRIrga 410), porte baixo, alto potencial de
perfilhamento e elevado rendimento de
grãos. A sua vantagem diz respeito à
qualidade dos grãos, que além de
apresentarem alto teor de amilose, têm
menor centro branco e melhor
rendimento industrial que as cultivares
BR-Irga 410 e El Paso L 144, as mais
plantadas atualmente na zona sul do
estado.
n Esses procedimentos, segundo Renata, permitem aliar a
seleção de plantas com bom
potencial agronômico com a
seleção daquelas com maior
tolerância ao frio nas fases
iniciais. Esse trabalho é
desenvolvido com o Fundo
Latino-americano de Arroz
Irrigado (Flar).
Planeta
25
PESQUISA
Semente protegida,
BRUSONE CONTROLADA
EMBRAPA ARROZ E FEIJÃO
Doença é fator
limitante no
Centro-oeste
entre as medidas preventivas
para combate à brusone, a
principal doença do arroz,
encontra-se o tratamento
químico das sementes.
Contudo, qual seria o princípio ativo
mais eficiente para o controle da
doença nas folhas? Em busca dessa
resposta, a pesquisadora Valácia Lobo,
da Embrapa Arroz e Feijão, fez o teste
em uma lavoura experimental em
Santo Antônio de Goiás (GO),
utilizando a cultivar BRS Primavera
no sistema de cultivo de terras altas.
Os tratamentos e doses (gramas de
princípio ativo por 100 quilos de
sementes) foram: azoxystrobin
(100g); tiofanato metílico (175g);
pyroquilon (400g); pyroquilon
(200g); trifloxystrobin mais
propiconazole (50 + 50g); tricyclazole
(225g) e carboxin mais thiram (60g).
Segundo Valácia Lobo, a menor
severidade de brusone foi observada
nas parcelas que receberam
azoxystrobin e pyroquilon (400g).
Este último, na dosagem menor
(200g) apresentou resultado
intermediário, bem como tricyclazole
JHJKHJH
e trifloxystrobin mais propiconazole.
JáHKJHKJH
o carboxin mais thiram e o tiofanato
metílico não obtiveram êxito.
HKHKH
De acordo com a pesquisadora, os
fungicidas tricyclazole e azoxystrobin
são indicados para controle de brusone
via aplicação foliar. No entanto, nas
últimas safras esses produtos estão
sendo amplamente usados pelos
agricultores no tratamento de
sementes, apresentando bons
resultados. É preciso atenção às novas
opções de controle, uma vez que o
produto (pyroquilon) mais usado no
D
Ataque de brusone nas folhas da planta de arroz
Parcela onde o tratamento
Parcela em que não houve
de sementes obteve sucesso
a proteção da lavoura
tratamento de sementes e que melhor
proteção oferece às plantas não está
mais disponível no mercado.
Valácia finaliza com uma ressalva.
“Os dados do experimento são
preliminares, sendo necessária a
comparação com outros ingredientes
ativos aplicados via semente para
controle de doenças do arroz. Além
disso, é preciso se levar em conta a
relação custo/benefício para se fazer a
recomendação ao agricultor”.
26
Planeta
PESQUISA
CLEARFIELD:
segunda geração
ma verdadeira revolução no
manejo de ervas daninhas na
lavoura de arroz do Rio
Grande do Sul foi provocada
a três safras quando o
Instituto Rio-grandense do Arroz
(Irga) colocou no mercado a cultivar
Irga
422CL,
desenvolvida
especialmente para o sistema de
produção Clearfield em parceria com
a Basf, uma das principais empresas
de insumos do mundo. A variedade
Irga 422CL é tolerante ao princípio
ativo do herbicida Only, da Basf, e esse
sistema consegue eliminar da lavoura
gaúcha de 80% a 98% de alguns dos
principais inços, com destaque para o
arroz vermelho.
Apesar da eficiência desse processo,
a pesquisa agrícola tem por princípio
o desafio de sempre evoluir, buscando
aperfeiçoar as tecnologias e/ou os
meios de produção. Assim, entre as
ações de pesquisa do Programa de
Melhoramento Genético do Irga está
o projeto Clearfield, no qual é objetivo
o desenvolvimento de cultivares
tolerantes a herbicidas do grupo das
imidazolinonas para o controle do
arroz vermelho, em parceria com a
Basf.
A cultivar Irga 422CL, lançada no
ano de 2002, foi a primeira
desenvolvida para o sistema de
produção Clearfield no Rio Grande do
Sul e no Brasil. Essa fase, chamada de
primeira geração, não encerrou as
pesquisas. Houve continuidade nos
trabalhos de melhoramento genético
para o desenvolvimento de novas
cultivares para esse sistema de
produção, porém baseado em outro
gene que confere tolerância a herbicida
também do grupo das imidazolinonas
(segunda geração).
420 - A pesquisadora Mara
Cristina Barbosa Lopes está realizando
Sistema Clearfield
ganhará novas
cultivares Irga
U
Mara Lopes: novas variedades Clearfield a caminho
Questão básica
Em relação ao Irga 422CL, a nova cultivar está sendo selecionada para
apresentar características diferenciais, como resistência a toxidez por ferro, maior
potencial produtivo, ausência de pilosidade nas folhas e grãos e principalmente
menor efeito de toxicidade nas plantas após a aplicação do herbicida.
esse trabalho através do método de
retrocruzamento, no qual foi utilizada
como fonte doadora do gene uma
linhagem americana, e como fontes
recorrentes, cultivares e linhagens do
programa de melhoramento do Irga.
O material mais avançado é
proveniente da cultivar Irga 420, onde
já foram realizadas várias gerações de
cruzamentos e seleções. Ainda existem
algumas etapas a serem vencidas, como
a identificação de plantas homozigotas
para a tolerância ao herbicida,
multiplicação de sementes e inclusão
em ensaios de rendimento para
diferentes
avaliações,
como
p ro d u t i v i d a d e , c a r a c t e r i z a ç ã o
fenotípica e adaptação regional.
A perspectiva é de lançamento de uma
nova cultivar no ano de 2008.
27
Busca do
MELHOR
A busca de cultivares mais
produtivas, resistentes às
adversidades, que atendam a
demanda do produtor, da
indústria e do consumidor é o
grande desafio dos melhoristas.
No caso específico das
variedades para o sistema
Clearfield, além da metodologia
de retrocruzamento para o
desenvolvimento de novas
cultivares, a melhorista Mara
Cristina Barbosa Lopes
também conduz a seleção pelo
método genealógico, onde são
planejados
cruzamentos
utilizando
fontes
que
contemplem características
desejáveis como boa qualidade
de cocção dos grãos,
produtividade, resistência à
brusone, toxidez por ferro e
debulha dos grãos, entre outras.
Segundo ela, os resultados
serão obtidos a mais longo
prazo. Entretanto, para acelerar
o processo de desenvolvimento
são
realizados,
no
inverno, avanços de gerações
em outra região do Brasil. O
sistema de produção Clearfield
contempla a cultivar, o
herbicida e um programa de
monitoramento junto aos
produtores.
Questão básica
Segundo a pesquisadora Mara Cristina Barbosa Lopes, desde o início da
implantação do sistema Clearfield no Rio Grande do Sul houve, paralelamente ao
programa oficial, a “pirataria” das sementes, o que poderá prejudicar muito o bom
andamento do uso desta tecnologia na lavoura de arroz.
Irga 422CL: um
marco na
orizicultura gaúcha
no combate ao arroz
vermelho
PROJETO CLEARFIELD
Ações do Comitê de Gerenciamento da Tecnologia Clearfield/Arroz Irga-Basf contra a pirataria:
da nova
direta dos
1 Fortalecimento
2 Utilização
3 Ação
do projeto
legislação de sementes e
produtores de
Clearfield/IrgaBasf:
ampliando a
oferta de
sementes,
facilitando o
acesso a
tecnologia a um
número maior
de produtores.
mudas, através do
Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento
e Associação dos
Produtores de Sementes
do RS (Apassul),
realizando campanha para
valorizar e incentivar a
utilização de semente
oficial.
sementes Clearfield
e Apassul junto aos
agentes de crédito
rural, para
exigência do uso
de semente
certificada para
lavouras
financiadas por
esses órgãos.
de
4 Campanha
conscientização dos riscos
da utilização de sementes
com origem desconhecida,
na tecnologia Clearfield,
através de material de
divulgação da tecnologia e
dos riscos e prejuízos,
reuniões e palestras de
esclarecimento a técnicos,
produtores, canais e
revendas de insumos.
28
Planeta
PESQUISA
Irga no mundo
DO HÍBRIDO
Instituto Rio-grandense do
Arroz está desenvolvendo
pesquisas com arroz híbrido.
A meta é colocar no mercado
gaúcho alternativas para
aumentar o potencial produtivo das
lavouras irrigadas. O trabalho de
pesquisa iniciou em 2000, quando a
Fazenda Ana Paula estabeleceu um
convênio com o Instituto de Pesquisa
em Arroz de Hunan, da China. A
parceria envolveu o Irga em 2003. Em
quatro safras, o híbrido que está sendo
testado deve chegar ao mercado.
Ricardo Scherer, consultor técnico
da Ana Paula, observa que a pesquisa
é necessária para a evolução
tecnológica da orizicultura e oferece
novas ferramentas de trabalho aos
produtores. Além de Scherer, quatro
chineses desenvolvem os estudos e
experiências com arroz híbrido na
Estação do Arroz, em Cachoeirinha
(RS). Lianfang Wang é o líder do
grupo. Segundo Scherer, o projeto
Arroz Híbrido do Irga finalizou a
segunda safra este ano confirmando o
incremento médio de 20% sobre as
variedades testemunhas.
“Para que as cultivares de arroz
híbrido tenham aceitação pelos
produtores e o mercado, alguns
desafios devem ser superados através
do melhoramento genético e do
desenvolvimento de tecnologias
adequadas à realidade brasileira”, frisa.
Segundo Scherer, num primeiro
momento, as cultivares híbridas de
arroz devem conferir o ganho em
produtividade sem prejuízo da
qualidade industrial e culinária.
O apoio da agricultura de precisão
na correta distribuição das sementes e
adubos e o manejo otimizado para
obtenção de altos rendimentos são
indispensáveis no sentido de superar
os custos adicionais de produção.
Híbrido do Irga
é um negócio
da China
O
Chinês no Irga: tripla parceria permite pesquisas
Questão básica
O híbrido é o resultado do cruzamento de duas linhas geneticamente
diferentes que explora o fenômeno da heterose (vigor). Essa tecnologia permite
incrementar o potencial produtivo em média em 20%, mas não permite a
multiplicação de sementes, pois haveria uma segregação gênica. O vigor híbrido
significa que o vegetal herdou as boas características das plantas de origem.
Na China, onde são cultivados cerca de 30 milhões de hectares de arroz, cerca
de 50% das lavouras usam sementes híbridas. Na safra 2004/2005, a pesquisa
do Irga e Fazenda Ana Paula trabalhou com seis linhas promissoras. As sementes
foram cultivadas em diferentes localidades do Rio Grande do Sul e na região
norte do Brasil. Os primeiros resultados da área de teste deverão ser divulgados
no final de agosto. São critérios de avaliação a produtividade, a adaptação das
plantas e a qualidade industrial.
O pesquisador Lianfang Wang
trabalha há 20 anos com pesquisas e
destaca que a China é o berço dessa
tecnologia. A menor densidade de
semeadura do híbrido, variando entre
35 e 50 quilos por hectare, compensa
o custo mais elevado das sementes. O
sucesso do sistema está no maior
perfilhamento, nas panículas maiores
e nos grãos mais pesados. Um de seus
fundamentos é não deixar faltar água
no arroz durante a floração.
Planeta
29
REPORTAGEM DE CAPA
Edson, Alberto e Anderson
Milbradt: trabalho em família
Lavoura
de pai
PARA
FILHO
Gestão familiar:
chave de sucesso
na orizicultura
lavoura de arroz brasileira
vive uma reforma agrária
natural, em família. Os filhos
sucedem os pais e, na gestão
da propriedade, mostram o
poder da administração familiar na
orizicultura e dão um sentido de
continuidade e desenvolvimento
tecnológico, social e econômico da
propriedade. Mais do que o
patrimônio da família, o agronegócio
profissional, de produção em escala,
demonstra que os números e as
dimensões podem ser maiores, mas o
perfil ainda é de agricultura familiar.
A macroagricultura familiar, termo
que pode estar sendo criado, mas com
uma aplicação secular no Brasil, vive
na atividade arrozeira dias de grande
responsabilidade. A revista Planeta
Arroz buscou exemplos e encontrou
muitas lavouras que permanecem,
geração após geração, produzindo o
alimento básico do brasileiro sem sair
das mãos de uma mesma família.
É o caso da família Milbradt, de
Cachoeira do Sul (RS). Instalados em
810 hectares, 700 dos quais
plantados com arroz na próxima
safra, Alberto Luiz Milbradt (52
anos) e seus filhos Edson (28) e
Anderson (27) administram as
A
Graças ao vermelho
Alberto Milbradt saiu jovem de
Restinga Seca e foi para Bagé (RS)
trabalhar de empregado. “Dei sorte.
O patrão confiou em mim e, anos
depois, me entregou um trator
equipado quando saí, financiou dois
para pagar com arroz em cinco anos
e formamos uma parceria no
Uruguai”. Deu certo: chegaram a
plantar 1,4 mil hectares. Mas com os
filhos crescendo e estudando a 200
quilômetros da lavoura, além de um
acidente de trânsito com um deles,
acelerou o retorno. “Como tive
perdas por seca no Uruguai, segui um
conselho do meu pai e procurei uma
área junto do Jacuí, onde nunca falta
água”, frisou.
“Compramos uma área muito
inçada de arroz vermelho”, prossegue
Alberto. “Conhecemos o arroz
vermelho aqui, pois no Uruguai não
tinha”, diz Edson. O desafio de
combater o vermelho fez a família
Milbradt adotar alta tecnologia em
sua lavoura e tornar-se uma campeã
de produtividade na região.
Com assessoria do agrônomo
Jerson Santos, adotaram o sistema de
cultivo semidireto, taipas largas e
abriram a propriedade para a
tecnologia. A lavoura recebe
experimentos da Basf e integrou-se
ao programa CFC, do Irga, de onde
levaram novos conceitos de adubação
e densidade de semeadura. Adotaram
o arroz híbrido da RiceTec, colhendo
até nove mil quilos por hectare. O
vermelho é eliminado com o sistema
Clearfield (Basf), a cultivar Irga
422CL e o híbrido Tuno CL.
Para Alberto Milbradt, o
momento é de crescer. “Fui para Bagé
sem nada. Hoje tenho minha própria
lavoura, saúde e a família trabalhando
comigo. Agora só queremos crescer
juntos, reduzir os custos da lavoura hoje em sete dólares/saco de 50 quilos
-, melhorar a qualidade dos grãos e
criar os netos”, avisa. Segundo ele,
apesar de ainda andarem no colo, os
três meninos em pouco tempo já
começarão a fugir para os tratores.
“Aqui só nasce tratorista”, brinca.
lavouras com três empregados e um
engenheiro agrônomo. A família
mora na propriedade, onde chegou
em 1998, após 19 anos plantando no
Uruguai.
Os Milbradt estão na terceira
geração arrozeira. “Comecei ainda
criança numa lavoura de 30 hectares
de meu pai, Armindo, em Restinga
Seca”, revela Alberto. Os “guris”
também aprenderam as lides desde
muito pequenos.
- Com oito, nove anos a gente já
pegava o trator e ia para a lavoura.
Nem que fosse escondido, revela
Anderson.
30
Planeta
REPORTAGEM DE CAPA
O suporte da GUATAMBU
Família Pötter dá
suporte para o líder
dos arrozeiros
Estância Guatambu, de Valter
José Pötter, presidente da
Federarroz, é uma referência
em diversificação e alta
tecnologia na agropecuária de
escala. Em Dom Pedrito (RS), produz
arroz com alta tecnologia e
produtividade, milho e soja irrigados e
sementes de forrageiras, e mantém
unidades de secagem e armazenagem e
fazenda do Mato Grosso do Sul. Na
pecuária, é reconhecida pela qualidade
genética dos plantéis hereford.
É o tipo de propriedade que só se
torna viável com uma gestão
profissional e dedicação integral. Mas
como fazer isso se o proprietário é
dirigente arrozeiro e está envolvido na
busca de soluções para a crise do setor?
A resposta está na administração e
coordenação técnica da Guatambu que
ficam nas mãos da família. Veterinário,
Valter é o administrador-geral, mas
conta com as filhas Raquel Pötter
Guindani e Gabriela Pötter, ambas
engenheiras agrônomas. Raquel é
administradora e coordena o setor
agrícola. É pós-graduada em gestão
empresarial. Gabriela cuida do
marketing e da comunicação, da
vitivinicultura e participa dos processos
administrativos e agrícolas.
Os três participam das decisões e
execução dos projetos, mas o
envolvimento de Valter com a
Federarroz aumentou a carga de
responsabilidade da família.
As filhas mais jovens de Valter e
Nara estão cursando faculdade em áreas
distantes do agronegócio. Isadora cursa
Direito e Mariana, Psicologia, em Porto
Alegre. “Hoje, com razão, elas me
cobram mais presença na propriedade.
Estão sobrecarregadas. Infelizmente,
diante desta crise, é preciso buscar
soluções para o setor 24 horas por dia”,
reconhece Valter Pötter.
A
Valter e Nara Pötter: Guatambu trabalha em família
Valores diferenciados
Na Estância Guatambu, o
planejamento das lavouras é definido
em reuniões dos administradores.
Raquel Pötter Guindani, que cuida da
administração, procede a compra de
insumos, a organização do manejo das
áreas e das tecnologias a serem
aplicadas e o cronograma de realização
das diferentes etapas da lavoura
seguindo um check-list. Além disso,
realiza várias funções técnicas como
projetos de custeio agrícola,
financiamentos, licenciamentos
ambientais, cálculos de recomendação
de adubação, entre outros.
Gabriela Pötter cuida do site
(www.estanciaguatambu.com.br) e de
tudo que se refere a marca e
organização de eventos que a
Guatambu participa, além do material
publicitário. Participa também das
decisões e ações da lavoura, mas não
integralmente, pois se dedica ao
projeto de vitivinicultura da empresa.
Valter José Pötter, mesmo viajando
muito, participa ativamente do dia-adia da empresa por telefone e internet.
Em Dom Pedrito, reuniões são
realizadas para decidir e planejar o
trabalho dos dias em que Valter Pötter
fica ausente. Para Raquel, os valores
de família são muito importantes, a
base de todo o trabalho da Guatambu.
“Sabemos o imenso valor que a
Guatambu tem, do amor e dedicação
que foram colocados aqui por nossos
avós e pais”, afirma Raquel. Segundo
ela, a empresa familiar é uma
instituição forte e representativa no
país, principalmente no setor
agropecuário. É interessante como as
empresas familiares têm referências de
valores e cultura muito fortes, que
permitem sua identificação perante o
mercado, a comunidade e a equipe de
forma muito clara.
Na Guatambu, a família está no
centro das decisões, participa de todos
os processos, mas conta também com
uma equipe treinada e que vem sendo
formada desde a época de Valter
Germano Pötter, pai de Valter José.
“A empresa vai bem porque trabalha
em família, tem uma boa equipe,
investe em tecnologia, redução de
custos e produtividade”, frisa Valter.
Planeta
REPORTAGEM DE CAPA
A fazenda
31
VIROU CIDADE
Família Debastiani
é pioneira em arroz
em Feliz Natal (MT)
norte do Mato Grosso é a
principal região brasileira de
produção de arroz de terras
altas. Trata-se de uma região
de terras planas onde o arroz
enquadra-se como cultura referencial
na abertura de áreas. Nessa região está
o município de Feliz Natal,
considerado um grande produtor de
arroz, com 35 mil hectares plantados.
Esse cultivo chegou ao município pelas
mãos do empresário Antônio
Domingos Debastiani, que lançou as
primeiras sementes em parceria com
o filho Moisés Debastiani, em 1997.
“Não foi uma grande safra, mas
analisamos os resultados com um
agrônomo que considerou a terra
melhor do que em outras regiões.
Concluímos que com um pouco mais
de manejo, adubação e calcário, a
cultura daria resultado. E passamos a
investir”, explica Moisés. O investimento não aconteceu exclusivamente
pelo arroz, mas como preparação para
iniciar o cultivo da soja, grão muito
valorizado nos últimos 10 anos.
Depois que começaram a plantar,
os Debastiani chamaram atenção de
muitos sulistas e produtores de outras
regiões que procuraram Feliz Natal em
busca de terras mais baratas. Na safra
2004/2005, o município plantou 35
mil hectares de arroz e 45 mil de soja.
Os Debastiani plantaram 1,2 mil
hectares de arroz e 800 de soja. Para o
próximo ano devem plantar 1,2 mil
hectares de soja e 1,5 mil hectares de
arroz por obrigação. “Trata-se de uma
área de segundo ano, em abertura, em
que é preciso plantar o arroz para
depois a soja”, explica Moisés. Para ele,
o município vai plantar 20% menos
arroz em 2005/2006 por falta de
sementes de qualidade, preços e pela
moratória para abertura de novas
áreas.
O
Moisés e Antônio Debastiani: parceria na lavoura
Antônio, o desbravador
Quando em 1979 o comerciante
Antônio Domingos Debastiani
adquiriu terras em uma encruzilhada
conhecida pelo curioso nome de Feliz
Natal, no norte do Mato Grosso, nem
imaginava o que o destino lhe
reservava. E nem pensava que um dia
seria arrozeiro, sojicultor, prefeito de
uma cidade que nem existia e
administraria um enorme patrimônio
pessoal com a ajuda de seus filhos
Moisés, Tiago e Simoni. Debastiani é
um desbravador. Deixou Maravilha
(SC) em 1983 e se instalou em Sinop
(MT) para trabalhar como madeireiro.
Abriu as primeiras áreas quando os
filhos ainda estudavam em Sinop, mas
em 1989 mudou-se para Feliz Natal.
Debastiani convenceu madeireiras do
Sul a se instalarem na região e criou-se
uma vila com 500 habitantes. Feliz
Natal tornou-se distrito de Vera e, em
1996, emancipou-se com mais de
cinco mil moradores.
Em 1997, Debastiani, prefeito de
Feliz Natal, abriu a primeira lavoura
de arroz no município. Antes, em
1955, a família Matsubara, que
colonizou a região, já havia plantado
arroz. Mas abandonou a cultura.
Questão básica
Moisés Debastiani plantou arroz para abrir caminho à soja. Assumiu parte
dos negócios porque seu pai elegeu-se prefeito em 1997 e permaneceu na
Prefeitura até 2004. Atualmente, Moisés é sócio de Leandro Ribeiro em uma
empresa de armazenagem e secagem de grãos. A sociedade instalará uma
indústria de arroz de porte médio até o final do ano e utilizará a estrutura de
logística de outra empresa de Ribeiro em São Paulo para agregar valor. Na
agricultura, os Debastiani mantêm três mil hectares de arroz e soja, quatro
secadores e um armazém para 350 mil sacos de grãos. Afora isso, mantêm
investimentos em pecuária, no comércio e uma colonizadora. Tiago Debastiani,
irmão de Moisés, participa da administração dos secadores da família.
Planeta
32
NEGÓCIOS
O peso da
QUALIDADE
Arroz de maior
qualidade é mais
valorizado do produtor
ao consumidor
Mercado premia
o diferencial e
não o peso
alta produtividade da lavoura
de arroz é um diferencial
importante e reflete no
resultado
final
da
comercialização. A filosofia
do “mais em menos”, instituída pela
Revolução Verde, na década de 70,
ainda se aplica às lavouras arrozeiras,
mas com ressalva de dois fatores cada
vez mais decisivos: a relação custo e
benefício e a qualidade do produto
final. Este último fator faz diferença
no mercado brasileiro a duas safras.
O Brasil colheu produção recorde,
mas a qualidade média do cereal esteve
abaixo das outras safras, mesmo no
Rio Grande do Sul e no Mato Grosso.
Este cenário evidenciou tendências.
Por falta de matéria-prima, a indústria
gaúcha instituiu premiação de até 10%
sobre o preço de mercado das
variedades de elite, como Irga 417 e
BR-Irga 409.
Esta mudança do perfil de
negócios com a qualidade se
sobrepondo às compras por peso desconsiderando a máxima de que
“arroz é arroz” - ganha fôlego nos
principais estados produtores. No
Mato Grosso, a variedade Primavera
se sobrepõe a qualquer outra.
Este processo também é ditado
pela tendência do mercado, que
aponta preferência do consumidor por
um arroz de maior qualidade. “Está
comprovado que à medida que o arroz
tem redução de preços ou aumenta o
poder de compra do consumidor, há
uma migração para um produto
superior”, frisa o especialista em
consumo Tiago Sarmento Barata.
A
Produto superior, pagamento também
O diretor de mercados da
Federação das Associações de
Arrozeiros do Rio Grande do Sul
(Federarroz), Valdemir João Simão,
explica que toda a cadeia produtiva
está envolvida com este processo: os
pesquisadores observaram as tendências do mercado, desenvolveram e
lançaram novos materiais que
entraram no processo de produção. O
consumidor experimentou e gostou,
passou a buscar nos supermercados e
estes passaram a cobrar da indústria.
A partir daí, as empresas de
beneficiamento passaram a valorizar
um produto com novo padrão. Para
Simão, a safra com bastante arroz fraco
apenas acelerou esse processo. E o
mercado sinalizou que pode pagar um
pouco mais por este diferencial.
Um exemplo é o que acontece na
fronteira e no litoral norte gaúcho,
onde a indústria estabeleceu preços até
R$ 2,00 acima do mercado corrente
para as variedades Irga 409 e Irga 417
com mais de 60% de grãos inteiros.
Para uma lavoura descapitalizada e
com preços de mercado abaixo do
custo médio de produção, o impacto
desse preço diferenciado por uma
variedade pode significar o resultado
líquido da atividade arrozeira. Mesmo
assim, o produtor precisa qualificar
seu processo produtivo para obter
esses resultados e aplicar em cada
prática agronômica conceitos de
qualidade.
“Mas é preciso fazer as contas e
buscar o equilíbrio entre a qualidade
do produto final e a sustentabilidade
da lavoura”, frisou João Simão. Ainda
assim, há um fator de pressão.
Segundo ele, o produtor tem que
fazer as contas e ver se a curto e
médio prazos vale a pena buscar um
produto superior ou seguir
produzindo um arroz que o mercado
está excluindo.
33
Qualidade é resultado de um processo
O que determina a qualidade do
arroz são as características físicoquímicas dos grãos de cada cultivar e
a tecnologia empregada no processo
de produção. Os principais fatores, que
dependem das características
individuais de cada cultivar, são
aparência, teor de amilose,
temperatura de gelatinização,
rendimento de grãos inteiros e renda
total.
Quanto à tecnologia empregada no
processo, os principais são preparo de
solo adequado, drenagem, taipas
baixas (para irrigação e maturação
uniforme), semente de qualidade,
época de plantio, adubação de base,
bom controle de inços, adubação de
cobertura, irrigação e ponto de
colheita, enfim a exploração máxima
dos recursos naturais, manejos e o
emprego adequado da tecnologia.
Além disso, é importante uma boa
secagem e armazenagem. É em função
desses fatores que se pode produzir um
produto diferenciado e de alta
qualidade, onde o consumidor possa
ser seduzido pela aparência e que fique
satisfeito quando ao prato por ficar
soltinho, saboroso e 100% cozido.
Diferencial é
PREÇO
O analista de mercado de arroz
da Safras & Mercado, Aldo Lobo,
acredita que esse excesso do cereal
e o grande volume de produto de
baixa qualidade vão sinalizar com
a possibilidade de preços melhores
por arroz de melhor qualidade.
“Há uma tendência natural de que
a indústria busque arroz de
qualidade superior. O que pode
complicar é a existência de produto
com essas características no
Mercosul, que tem um grande
excedente”, frisou.
Jorge Fagundes, da Corretora
Futura Cereais de Cuiabá (MT),
também acredita que o arroz
Primavera de melhor qualidade
obtenha melhor remuneração se o
mercado se mostrar comprador.
“No momento, há muita oferta de
arroz importado e arroz gaúcho e
catarinense a preços competitivos e
pouco arroz de melhor qualidade
nas mãos dos produtores do Mato
Grosso. Quando a indústria quiser
esse produto, terá que pagar um
preço diferencial, a menos que o
produtor se obrigue a vender antes
pela pressão das contas e formação
de uma nova lavoura”, enfatizou.
Questão básica
A norma de classificação e padronização do arroz brasileiro é datada de 1988, quando atendia as características das
variedades então existentes. Atualmente, dezenas de novas variedades com características diferenciadas estão no mercado,
exigindo a atualização da lei. Existem trabalhos na cadeia produtiva para a atualização das normas.
34
Planeta
NEGÓCIOS
Parboilizado
E POPULAR
arroz parboilizado, considerado até bem pouco
tempo um produto de elite no
país por ter preço diferenciado
- de 10% a 20% maior do que
o arroz branco tipo 1 -, caiu
definitivamente no gosto do
consumidor e abocanhou uma fatia
importante do mercado brasileiro.
Segundo dados da Associação
Brasileira da Indústria do Arroz
Parboilizado (Abiap), atualmente 23%
do consumo de arroz do Brasil é do
cereal que passa por parboilização.
Segundo o presidente da Abiap,
Alfredo Treichel, este índice é
significativo, pois 25 anos atrás o
produto representava 4% do mercado.
Para Treichel, o processo de
popularização se deu por vários fatores,
mas principalmente pela qualidade e
características do produto, como sabor
diferenciado, aroma e a facilidade de
ficar “soltinho”, além de ter maior valor
nutritivo e rendimento de panela.
Segundo ele, em diversos estados
brasileiros esse produto é preferencial
para a merenda escolar. Mas a
popularização, segundo o empresário,
também se dá por um outro fator, que
se por um lado é muito bom para o
consumidor, por outro é preocupante
para o segmento. “Muitas empresas
estão ampliando suas plantas industriais
com máquinas para parboilização.
Como são marcas novas, trabalham
com valores muito abaixo do mercado
como estratégia de avançar no mercado
e muitas vezes se equiparam ao arroz
branco”, explica.
Apesar da concorrência, as marcas
tradicionais mantêm o patamar de
preços, naturalmente 10% acima do
valor ao consumidor praticado pelo
arroz branco.
Produto cai
no gosto do
consumidor
O
Treichel: menor preço pelo aumento do mercado consumidor
Novas marcas acirram a concorrência
Dois fatores são considerados
importantes para o declínio
acentuado nos preços do arroz
parboilizado: a abundância de
matéria-prima com duas safras
recordes seguidas e o significativo
aumento de indústrias do ramo,
principalmente no Sudeste e no
Centro-oeste. No Mato Grosso é idéia
corrente que por causa da baixa
qualidade do cereal, principalmente
o Cirad 141, é um grande negócio
abrir uma “emendadeira”, nome que
dão à indústria de parboilização.
O presidente da Abiap, Alfredo
Treichel, no entanto, não concorda.
Segundo ele, o processo acentua ainda
mais o aroma e o sabor do Cirad, grão
mais abundante no Centro-oeste e
que não tem grande aceitação das
donas de casa. “É um produto com
gosto e cheiro diferentes, que não cai
no gosto do consumidor”, frisa.
MT - O diretor da empresa
Arrozil, de Várzea Grande (MT),
Herbert Dantas Romão, acredita que
o mercado do arroz parboilizado está
crescendo muito no Brasil e há lugar
para todos aqueles que têm qualidade
e competitividade. Tradicional
cerealista de arroz branco, a Arrozil
trabalha de olho nos mercados do
Nordeste e do Sudeste. “Esse tipo de
arroz caiu no gosto do consumidor.
Por isso estamos acrescentando o
parboilizado à nossa linha para ampliar
a participação no mercado”, frisou
Romão. A nova planta industrial
também é estratégica para absorver
grandes volumes de arroz “fraco”
produzido no Mato Grosso (40% a
45% de inteiros), a preços atraentes.
35
Meio século de Brasil
O engenheiro químico Gilberto
Wageck Amato, um dos maiores
especialistas brasileiros no tema, revela
que o parboilizado surgiu no Brasil na
década de 1950, com base na
tecnologia Malek, ao mesmo tempo
em que se desenvolvia o processo de
maceração por estufa, tecnologicamente menos evoluído. Foram
multiplicando-se as empresas, tendo
como lugar-comum a idéia de “soldar
grãos”, buscando obter maior
rendimento de inteiros. Assim, o
investimento em equipamentos,
classificados como custo fixo, era
compensado pelos ganhos em custo
operacional devido ao maior número
de grãos inteiros. Com isso
sedimentou-se uma relação diferentemente de outros locais no
exterior.
O processamento do arroz
parboilizado é caracterizado por um
tratamento hidrotérmico - lança mão
somente de água e calor -, após o que
passa pelo beneficiamento convencional. As operações unitárias
principais são o encharcamento, a
gelatinização e a secagem. O resultado
é um produto mais rico em vitaminas
e sais minerais, o que vale o
reconhecimento de organismos
internacionais, como a FAO e a OMS.
Arroz
VITAMINADO
Questão básica
Recentemente, tem sido levantada uma outra importante propriedade do
parboilizado: suas propriedades nutracêuticas, devido à formação de “amido
resistente” durante o processamento. Essa característica funcional é responsável
pelo aumento no teor das tão desejadas fibras alimentares, uma das principais
deficiências da moderna alimentação. Os trabalhos de pesquisa têm sido
desenvolvidos pela UFSM e UFPel, contando com a parceria do Irga.
A principal matéria-prima para a
parboilização é a mesma usada para
obter o arroz branco. Todavia, as
indústrias buscam partidas com
maior número de quebrados, mais
baratas. Durante a operação de
gelatinização, os grãos são soldados,
ao mesmo tempo em que fixa as
vitaminas e os sais minerais que
seriam perdidos na extração do farelo.
Para o especialista no assunto
Gilberto Amato, consultor do
Instituto Rio-grandense do Arroz
(Irga), em se tratando de tendências,
os números são favoráveis a este
produto: em duas décadas, sua
participação no mercado subiu de 4%
para quase 25%. No mundo, o
consumo é igual. “Isso que o pessoal
que come com pauzinhos, como os
chineses e japoneses, tem preferência
pelo arroz que se gruda, propriedade
contraposta ao parboilizado, com
grãos soltinhos após o preparo”, frisa.
Amato diz que cada um dos
subgrupos - branco ou parboilizado
- têm características a motivar
preferências do consumidor. O
branco, com a peculiaridade de gosto
neutro, combinando com qualquer
tipo de vegetal ou carne; ou o
parboilizado, para o consumidor que
busca maior valor nutritivo, grãos
soltinhos e rendimento de panela.
“Enfim, o primeiro país do mundo
não-asiático na produção e consumo
deste cereal tem boas opções para o
arroz nosso de cada dia”, finaliza.
Planeta
36
Congresso
NEWS
Sob a coordenação da
Embrapa Arroz e Feijão,
Empresa Mato-grossense
de Pesquisa e Extensão
Rural (Empaer-MT) e
Sindicato Intermunicipal das
Indústrias da Alimentação no Estado
do Mato Grosso (Siamt), será
realizado o 2º Congresso Brasileiro
da Cadeia Produtiva de Arroz e 8ª
Reunião Nacional da Pesquisa de
Arroz (Renapa), entre 3 e 6 de abril
de 2006, em Cuiabá (MT).
1
A programação do evento
está sendo finalizada e
contará com palestras,
painéis e grupos de
trabalho
abrangendo
quatro temas: consumo, mercado,
indústria e produção. Serão
debatidos os transgênicos, o arroz
híbrido, a diversificação da oferta de
produtos à base do cereal, a
padronização, classificação e
qualidade de grãos e as estratégias
de atuação no mercado nacional e
internacional, com destaque para o
Mercosul. A coordenação-geral do
congresso é da chefe-geral da
Embrapa Arroz e Feijão, Beatriz da
Silveira Pinheiro.
2
Solo yo?
A Argentina deverá ser o primeiro país membro do Mercosul com quem o
Brasil deverá estabelecer a negociação de cotas de importação de arroz. Dentro
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio já existem negociações
bilaterais para estabelecer uma negociação neste sentido. Vinho e pré-mezcla
de farinha de trigo também entram num lote de quase 30 produtos que serão
negociados apenas numa primeira etapa. Enfim, o Governo brasileiro se mexe
para buscar solução para parte dos problemas de excedentes no Mercosul. A
malícia castelhana, no entanto, se fez representar nas tratativas. A Argentina só
aceita negociar se o Uruguai também entrar.
Geladeira
As pesquisas realizadas pela
empresa AgroNorte para o
desenvolvimento de uma cultivar
híbrida de terras altas estão congeladas
até março do ano que vem enquanto
o programa está sendo reavaliado.
Ângelo Maronezzi, diretor da
empresa, explicou que apesar de
promissoras, as pesquisas precisam de
ajustes, e em meio à crise que o setor
enfrenta no momento e os problemas
com a variedade Cirad 141, a avaliação
foi adiada para depois da próxima
colheita.
A
As principais novidades
tecnológicas apresentadas no
Congresso Brasileiro de
Arroz Irrigado, que acontece
de 9 a 12 de agosto de 2005
no Park Hotel Morotin, em Santa
Maria (RS), estarão nas páginas da
edição de número 16 da revista Planeta
Arroz. Durante o evento será lançada
a edição de número 15, em espaço
gentilmente cedido pela Sosbai,
presidida pelo doutor em fitotecnia
Enio Marchezan.
AGENDA
9 a 12 de agosto
n 4º Congresso Brasileiro de Arroz
Irrigado
n 26ª Reunião da Cultura do Arroz
Irrigado
n Park Hotel Morotin - Santa Maria (RS)
n Promoção: Sosbai e UFSM
27 de agosto a 4 de
setembro
n 28ª Expointer
n Parque Assis Brasil Esteio (RS)
n Governo do RS e
Farsul
29 de agosto a 22 de setembro
n Curso de Formação de Classificadores
de Grãos - Arroz, Feijão, Milho e Soja
n Campus da UFPel - Capão do Leão
(RS)
n Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel
- UFPel
37
Bayer arrozeira
A Bayer CropScience e a Sumitomo realizam o desenvolvimento
conjunto de um novo fungicida para a brusone do arroz, doença que
contamina sementes e folhas, formando lesões nas plantas. Identificado
como BYF1047 pela Bayer, será desenvolvido para o mercado japonês,
mas as duas companhias têm o direito de comercializar produtos com a
substância ativa no mercado global em 2010/2011. A Bayer também está lançando
no Brasil o seu arroz híbrido, Arize 1003, com o qual pretende conquistar 14% de
participação nas áreas de produção irrigada em cinco anos. A empresa não divulgou
o preço da semente ou a quantidade disponível para a safra 2005/2006, mas informou
que a densidade é de 40 quilos por hectare de sementes e a produtividade máxima
dos ensaios chegou a 13,5 toneladas por hectare.
I
O gerente mundial da Bayer CropScience para arroz, Frédéric
Arboucalot, informou que a empresa terá condições de colocar no Brasil,
em 2008, sua primeira variedade de arroz transgênico, o Liberty Link,
com tolerância a herbicidas com o glufosinato de amônia como ingrediente
ativo. O produto está em testes, mas entrará no mercado internacional.
Apesar da legislação brasileira de biossegurança abrir a possibilidade, a decisão
depende de outros fatores. “O arroz é um produto muito sensível e os transgênicos
ainda são um tema polêmico para os consumidores", explicou. O arroz LL poderá
ser híbrido, como forma de evitar a pirataria.
II
Planeta
HUMOR
Autonivelantes
A New Holland acaba de
lançar um kit para suas
colheitadeiras TC59. Instalando-se o kit de peneiras
autonivelantes numa máquina
originalmente fixa, o produtor
consegue obter resultados
regulares durante a colheita em
terrenos com até 23% de
desnível, melhorando a
limpeza dos grãos. Nas
colheitadeiras dotadas de
peneiras autonivelantes, um
sistema automático mantém a
peneira sempre na posição
horizontal. Os engenheiros da
New Holland calculam que o
produtor consiga trabalhar
com uma limpeza dos grãos
até 85% maior, em área com
declividade, em comparação
com o sistema tradicional.
Planeta
ARTIGO
O cultivo do arroz
essoalmente, desde minha
infância e juventude, sempre
tive um relacionamento
espiritual com a natureza. Por
isso, lavouras de arroz que
conheci, sempre me fascinaram.
Naquela época a orgia dos
agrotóxicos não era sequer imaginável.
As lavouras ainda eram bem menores,
taipas eram feitas a pá por peões e a
colheita era manual, a foice, por
grupos de trabalhadores migrantes. As
trilhadeiras eram estacionárias. Muita
água era puxada a locomóvel –
máquinas a vapor que queimavam
lenha. Ainda na segunda metade dos
anos 40, como estudante de
Agronomia, trabalhava em lavouras de
arroz, como agrimensor, a serviço do
Banco do Brasil. Conheci e me
extasiava a fantástica fauna avícola
palustre - desde a jaçanã, maçarico
(íbis), marrecos, mergulhões, até as
garças, colhereiros, joão-grande, tajã
e outros, mais os répteis, anfíbios e
peixes, assim como insetos como a
simpática libélula e infinidade de
outros seres fascinantes, incluindo toda
uma flora de grande diversidade e
beleza.
Não podia imaginar o que passei a
ver quando, após 15 anos no exterior,
voltei ao Rio Grande do Sul, em
janeiro de 1971. As aves aquáticas
estavam dizimadas. Os venenos
reinavam na agricultura, inclusive nas
lavouras de arroz. Conheci fazendeiros
que, antes das aplicações, convidavam
caçadores para que matassem o que
pudessem, porque o veneno mataria
de qualquer jeito.
LUTA - Foi por isso, por
desespero, que iniciei a luta ambiental
que até hoje me prende, estou com 73
anos. Tenho hoje a grande satisfação,
uma das maiores de minha vida, de
ver essa fauna quase totalmente
recuperada. Os venenos no arroz estão
limitados a alguns herbicidas que,
espero, desaparecerão em breve.
A lavoura de arroz é um banhado
P
artificial. Juntamente com os açudes
possível plantar arroz todos os anos
que ela requer, constitui um
no mesmo solo e manter alta a
importante enriquecimento da
produtividade.
paisagem do pampa. Problemas
Assim como a maioria domina
começam a surgir com os métodos
bem a técnica de irrigar suas lavouras
agressivos da agricultura moderna,
para o plantio, poderia igualmente
especialmente com os agrotóxicos,
drená-las bem no inverno e plantar
mas temos lindos exemplos de como
feno para o gado que, em geral,
evitá-los com
carece então de alimento. Poderiam
os métodos
ser
semeadas
de agricultura
consorciações
de
regenerativa,
azevém,
aveia
e
entre eles o
leguminosas. O proveito
plantio préseria
múltiplo:
germinado, o
preservação e melhora
uso
de
da fertilidade do solo,
herbicidas até
produção adicional de
diminuindo.
feno para animais e com
Muito graves
o plantio todos os anos,
também têm
poderia
aumentar
sido
e
consideravelmente a
continuam
produção de arroz, sem
José Lutzenberger
sendo
os
falar na vantagem
Maio de 2000
problemas
ecológica.
ecológicos
Para
que
isto
resultantes da Este artigo marca os acontecesse,
seria
d r a g a g e m cinco anos da Planeta desejável que o próprio
destrutiva de Arroz. É atualíssimo, dono da terra plantasse
banhados
ou que os contratos de
mesmo cinco anos
naturais.
arrendamento dessem
após a morte do
G r a v e s
mais segurança ao
ecologista
também são
plantador.
os problemas
A economicidade e
que têm sua
sustentabilidade do
origem em fatores sociais e políticos.
cultivo do arroz poderia ainda
Em sua maioria, as lavouras de arroz
ganhar com o aproveitamento de
são feitas por arrendatários. Estes, sem
algo que hoje quase sempre é tratado
esperança econômica e sem garantia
como lixo. Para uma política
de poder voltar a plantar no mesmo
energética racional, ele seria excelente
lugar, não vêem interesse em trabalhar
fonte de energia de biomassa, com
para manter a fertilidade do solo.
aproveitamento inclusive da cinza
O plantio de arroz costuma ser
que hoje é desperdiçada nos poucos
feito no mesmo solo a cada três ou
casos em que a casca de arroz é usada
quatro anos. O solo não é, então,
como combustível em secadores.
cultivado entre os plantios e volta a
Falta também uma decente
ser pasto para o gado. Com o uso de
política de preços que permita ao
herbicidas, o pasto degrada, a
lavoureiro
trabalhar
com
produtividade primária decai. Prejuízo
tranqüilidade, sem ver, como
para o fazendeiro, dono da terra.
acontece, o preço cair no momento
ROTAÇÃO - Em rotação com
da colheita devido às importações
cultivos de inverno, será perfeitamente
especulativas.
ÃO
AÇ I A
M
R
ÁR
FO CIT
N
I
I
BL
U
P
Otto Prade: quase 16 mil
quilos de arroz por hectare
em Dom Pedrito (RS)
RiceTec mostra resultados
das lavouras de arroz
híbrido
e seus lançamentos
A força do
HÍBRIDO
PUBLICITÁRIO
Informe
Híbrido - a nova
2
O novo
horizonte da
produtividade
A
s lavouras de arroz do Rio
Grande do Sul ganharam nos
últimos anos as vantagens do
híbrido. A tecnologia chegou
pelas mãos da empresa RiceTec, que na
safra 2004/2005 colheu os primeiros
resultados em áreas comerciais. Os
números são impressionantes, com
recordes de produtividade e
rendimentos médios que superam em
muito as variedades convencionais. Na
última safra, os híbridos da RiceTec
foram cultivados em uma área total de
2,2 mil hectares. Para a próxima safra,
a projeção é de atingir seis mil hectares
e no ano seguinte 27 mil hectares.
O melhor desempenho deste ano foi
registrado com Avaxi, híbrido que foi
pesquisado por mais de 20 anos e
chegou a render 14.050 quilos de grãos
por hectare em lavoura na cidade de
Santana do Livramento (RS). A
RiceTec tem híbridos que se adaptam
às diferentes regiões e situações do
campo. Além do Avaxi, na safra 2004/
2005 o Tuno CL, semente híbrida do
sistema Clearfield, tolerante ao
herbicida Only, alcançou resultados
superiores a 12,4 mil quilos de grãos
por hectare em áreas infestadas com
arroz vermelho, na cidade de Rosário
do Sul.
Segundo o diretor regional da
RiceTec para os países do Mercosul,
Markus Ritter, 11 cultivares híbridas
estão sendo testadas e deverão ser
lançadas até 2010. Para a safra 2005/
2006, será lançado o Tiba, cultivar de
ciclo médio (130 dias) com alto
potencial produtivo. Para a safra 2006/
2007 será lançado o Ecco, de ciclo tardio
(145 dias), que apresenta tolerância à
toxidez por ferro e resistência à brusone
- doença fúngica - e manchas foliares.
Ambos os lançamentos apresentam
excelente desempenho nos testes, com
destaque para a qualidade industrial e
de consumo.
Depoimento
n Em Cachoeira do Sul, na
propriedade da família Milbradt,
foram cultivados três hectares de
sementes híbridas da RiceTec na safra
2004/2005.
Édson Milbradt
pretende aumentar a área, passando
para pelo menos 10 hectares na
próxima safra. Segundo ele, os
resultados superaram a média geral de
produtividade. O Tuno CL rendeu 8,5
mil quilos por hectare e o Avaxi chegou
a 9,5 mil quilos por hectare. “A área
usada não era das melhores e mesmo
assim o desempenho foi bom. Essa
semente é mais cara, mas altamente
produtiva”, avalia Édson Milbradt.
As vantagens
do híbrido
Alta produtividade
n Em muitas lavouras, o rendimento
das sementes RiceTec atingiu a marca
de 14 mil quilos de grãos por hectare.
Em média, o arroz híbrido produz
20% mais que as variedades
convencionais, mas é comum atingir
médias de produtividade até 50%
maiores do que as obtidas com
variedades comuns.
Menos sementes
n A semente híbrida apresenta alto
potencial de perfilhamento e isso
permite reduzir a densidade de
semeadura. A média gaúcha, que fica
entre 150 e 180 quilos por hectare,
pode ser reduzida para 50 quilos se a
lavoura for cultivada com híbridos.
Graças à menor densidade de
semeadura, o produtor economiza
com o tratamento de sementes, com
transporte e manejo, além de
aproveitamento
melhor
dos
equipamentos usados para o plantio.
Raízes robustas
n O híbrido da RiceTec realizou um sonho
do produtor Otto Prade, que na safra
passada, em Dom Pedrito, colheu a média
de 15.240 quilos de grãos por hectare. Seco
e limpo, a média de produtividade foi de
13.850 quilos de arroz por hectare. Aos 54
anos, filho de produtor de arroz, Otto Prade
disse que nunca esperou atingir uma
produtividade tão alta. “O híbrido da
RiceTec superou todas as minhas
expectativas. Essa semente exige mais
nitrogênio, mas o rendimento final é muito
superior. A panícula é maior e a planta é
mais resistente a doenças, ao acamamento e ao degrane. A área que eu usei,
de dois hectares, não era das melhores e até sofreu com o ataque de passarinhos
e com enchente. Estou muito satisfeito, e para a próxima safra pretendo
plantar pelo menos 20 hectares de Avaxi”, projeta Otto Prade.
n Uma das características facilmente
identificadas nas plantas de arroz
híbrido é o maior volume de raízes.
Por ser mais robusto, o sistema
radicular garante melhor absorção de
nutrientes e fixação no solo. A planta
tem mais resistência ao acamamento,
inclusive nas lavouras que trabalham
com o sistema pré-germinado.
Mais sanidade
n Com resistência a doenças fúngicas
e tolerância ao estresse ambiental, o
arroz híbrido garante melhor
rendimento na indústria e na panela.
O rendimento de grãos inteiros,
dimensões e aparência dos grãos são
alguns dos diferenciais do produto
RiceTec. O resultado é a satisfação de
produtores, das indústrias e dos
consumidores.
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geração do arroz
3
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Informe
4
Pioneirismo
A
RiceTec é a empresa
pioneira no lançamento de
arroz híbrido para os países
da América do Sul. No
Brasil, a tecnologia chegou em 2003
com a cultivar Avaxi. No ano seguinte,
a empresa conseguiu conciliar o vigor
híbrido com a vantagem do sistema
Clearfield, colocando no mercado o
Tuno CL. Os técnicos da RiceTec
destacam que a alta produtividade e a
qualidade e rentabilidade de grãos são
sinônimo de confiança, e isso
entusiasma os produtores a utilizarem
as sementes híbridas da marca
RiceTec.
O arroz híbrido surgiu na década
de 70, na China, país que atualmente
é o maior produtor deste cereal. Da
produção total do planeta, que gira na
casa dos 412 milhões de toneladas,
cerca de 20% é resultado de sementes
híbridas. A RiceTec foi criada em
1990, no sul do Texas, nos Estados
Unidos.
Em 1993, o grupo estabeleceu uma
parceria com o Centro de Pesquisa de
Arroz Híbrido de Hunan, da China,
para aperfeiçoar e buscar novos
produtos.
Depoimentos
n Em Santa Cruz do Sul, o Tuno CL fez tanto sucesso
na lavoura do produtor André Torquinst que para a
próxima safra ele plantará apenas os híbridos da RiceTec
na área de 55 hectares, que é totalmente sistematizada.
Este ano, a média de produtividade foi de 11,8 mil quilos
de arroz seco e limpo por hectare. “Acredito que a
qualidade industrial poderá ser melhorada, mas todo o
restante está excelente. Se alguém me dissesse, eu não
acreditaria que é possível colher tanto arroz assim”,
comemora André Torquinst.
n O engenheiro agrônomo e produtor de arroz Newton
Renato Rodrigues da Silva, de Itaqui (RS), cultivou 23
hectares de Tuno CL na safra 2004/2005 e aprovou o
resultado desse híbrido do sistema Clearfield. Segundo ele,
o rendimento médio desse produto foi de 9.011 quilos de
grãos por hectare em área infestada de arroz vermelho.
Newton destaca ainda a excelente qualidade de grãos e a
resistência das plantas. “Gostei muito do resultado e a área
que estava tomada de vermelho ficou limpa”, analisa o
produtor.
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Assistência é fundamental
Um dos segredos do bom desempenho das sementes RiceTec é o
programa de assistência técnica aos produtores. Os excelentes
resultados do arroz híbrido estão diretamente relacionados ao trabalho
dos profissionais que garantem a assistência no campo. Além de
orientações que vão desde a etapa de preparo do solo até a colheita, os
técnicos também promovem reuniões e dias de campo que buscam a
troca de experiências e a transferência de tecnologia para os produtores.
5
RiceTec no mundo
O grupo RiceTec tem sua matriz em Vaduz, principado
de Liechtenstein, e mantém atividades nos Estados Unidos,
Porto Rico, Brasil, Argentina e Uruguai. Em uma fazenda
com 200 hectares em Alvin, no Texas, a RiceTec mantém
uma das suas unidades de pesquisas. No Brasil, a unidade
de produção de sementes está instalada no estado de
Roraima.
O vigor híbrido
O arroz híbrido é conseqüência do cruzamento de
duas linhas parentais que resultam em uma semente
que concentra o vigor e as melhores características. A
principal delas é a maior produtividade. O objetivo desse
processo é a combinação de vantagens que estão nas
duas linhas que resultarão em uma única semente. Para
produzir semente híbrida, os pesquisadores trabalham
em faixas intercaladas com linhas de machos e fêmeas.
O híbrido é resultado do cruzamento. As linhas fêmeas
são machos estéreis, ou seja, não terão como se
autofecundar.
Depoimentos
n Na propriedade de Claudiomar
Sacconi, na Barra do Quaraí
(RS), a produtividade do híbrido
Avaxi chegou a 10.160 quilos por
hectare. A área plantada na safra
passada foi de dois hectares, e
para a próxima, Sacconi pretende
usar o híbrido da RiceTec em 20
hectares. “É uma produtividade
violenta. Além de resistência a
toxicidade por ferro e bico-depapagaio, o rendimento médio
de grãos inteiros chegou a 63%.
É um produto excepcional”,
resume Sacconi.
n O produtor de arroz e agrônomo
Alexandre Grund, da cidade de
Quaraí, pretende plantar na próxima
safra uma área de 240 hectares com
sementes híbridas da RiceTec. No ano
passado, ele plantou a cultivar Tuno
CL em uma área de 30 hectares e
colheu em média 8,6 mil quilos por
hectare. “Apesar de ter sido cultivado
em área infestada de arroz vermelho,
a produtividade do híbrido foi maior
do que as cultivares convencionais
plantadas em solo mais fértil e sem
plantas daninhas”.
n Em Alegrete (RS), o produtor Pedro
Saul Caferati ficou positivamente surpreso
com o arroz híbrido da RiceTec. Ele
plantou 1,9 hectare na safra 2004/2005 e
quer cultivar para a próxima cerca de 90
hectares somente da marca Avaxi. “O
resultado foi fantástico. Fiquei apreensivo
quando o técnico da RiceTec recomendou
plantar somente 50 quilos de semente por
hectare. No início, a lavoura até parecia
de milho, mas a perfilhação foi surpreendente. A produtividade foi muito boa,
chegando aos 14.394 quilos de arroz verde
por hectare e 12,1 mil quilos por hectare
de arroz seco e limpo”, relata Caferati.
Os híbridos RiceTec
n Avaxi tem alto potencial produtivo. Com um ciclo
médio de 115 dias, apresenta boa resistência a
doenças como brusone, mancha-parda e manchaestreita. Em média, o rendimento é de 60% de grãos
inteiros.
n Tuno CL é o híbrido desenvolvido para o sistema
Clearfield. Com excelente controle de arroz vermelho
e preto, a cultivar atinge alta produtividade e
qualidade industrial. Seu rendimento médio é de
63% de grãos inteiros.
Resultados médios de 79 experimentos
em 4 anos de avaliações
Resultados de 41 ensaios - 4 anos
de avaliações
10000
11000
9000
9000
8000
kg/ha
kg/ha
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Informe
6
Ficha técnica
7000
6000
5000
Avaxi
Variedade
Ano
Produtividade
kg/ha
Localidade
2005
14.050
Livramento, RS
2005
13.850
Dom Pedrito,
Pedrito, RS
2005
12.096
Alegrete, RS
2005
10.179
Sta.Vitória, RS
2004
12.775
Rio Grande, RS
2004
11.098
Glorinha,
Glorinha, RS
2003
10680
Maquiné,
Maquiné, RS
2003
10.509
Guaíba, RS
2002
13.561
Mercedes, RA
2002
12.800
Dom Pedrito,
Pedrito, RS
2002
11.857
Corrientes,
Corrientes, RA
2001
11.114
Artigas,
Artigas, UY
2001
12.480
Uruguaiana, RS
Observação: os resultados médios de 79
experimentos, em quatro anos de avaliação, mostram
que o Avaxi rendeu 9,7 mil quilos por hectare. A
variedade convencional usada como testemunha teve
o rendimento de 7,1 mil quilos por hectare.
7000
5000
3000
Tuno
CL
Test.
CL
Cult.
comercial
Ano
Produtividade
kg/ha
Localidade
2005
12.444
Rosário do Sul, RS
2005
12.380
São Borja, RS
2005
10.216
Sta. Vitória, RS
2004
13.103
Mercedes, RA
2004
12.154
Palmares, RS
2004
10.413
Dom Pedrito,
Pedrito, RS
2004
10.403
Corrientes,
Corrientes, RA
2004
10.033
Chajari,
Chajari, RA
2003
10.842
Mercedes, RA
2003
10.621
Maquiné,
Maquiné, RS
2002
10.561
Treynta y Tres,
Tres, UY
2002
10.284
Uruguaiana, RS
Observação: ensaios em 41 áreas, durante quatro anos,
apontaram um rendimento médio de 9,1 mil quilos por
hectare, quase dois mil quilos mais que a variedade
convencional apropriada para o sistema Clearfield.
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Informe
Lançamentos
n Tiba - Híbrido adaptado para diversas regiões brasileiras
que será lançado na próxima safra (2005/2006). Tem entre
suas principais características o ciclo médio, ampla
adaptabilidade em zonas temperadas, subtropicais e
tropicais, boa qualidade industrial, tolerância à toxicidade
de ferro, resistência à brusone e manchas foliares.
n Ecco - Lançamento da RiceTec para a safra 2006/
2007 adaptado para zonas subtropicais e tropicais.
Excelente qualidade industrial e de consumo e resistência
a doenças.
Resultados médios de 30 experimentos
em 2 anos de avaliações
10000
Resultados médios de 75 experimentos
em 4 anos de avaliações
kg/ha
9000
9000
7000
6000
8000
kg/ha
8000
5000
Ecco
7000
Variedade
6000
Ano
Produtividade
kg/ha
Localidade
5000
2005
9.754
Agudo, RS
2005
9.141
Rosário do Sul, RS
2004
13.988
Corrientes,
Corrientes, RA
2004
13.944
Corrientes,
Corrientes, RA
2004
11.160
Palmas, RA
Tiba
Variedade
Produtividade
kg/ha
Localidade
2005
12.232
Itaqui,
Itaqui, RS
2004
10.245
Gal. Bogado,
Bogado, PY
2005
11.768
Sta.Vitória, RS
2004
9.135
Maquiné,
Maquiné, RS
2005
11.116
São Gabriel, RS
2003
11.481
Corrientes,
Corrientes, RA
2004
12.509
São Borja, RS
2003
10.245
Guaíba, RS
2004
11.485
Camaquã,
Camaquã, RS
2004
11.371
Camaquã,
Camaquã, RS
2004
10.162
Gal. Bogado,
Bogado, PY
2004
10.120
Treynta y Tres,
Tres, UY
Observação: na província de Corrientes, na Argentina, os
ensaios com a cultivar Ecco chegaram a render 13,9 mil
quilos de grãos por hectare. Nas duas últimas safras, em 30
áreas de avaliação, o rendimento do Ecco foi de 9,2 mil
quilos por hectare, 2,4 mil quilos por hectare mais do que
as variedade usadas como testemunha.
2004
10.003
Glorinha,
Glorinha, RS
Qualidade industrial
2003
10.910
Mercedes, RA
Ano
2003
10.604
Corrientes,
Corrientes, RA
2003
10.162
Pelotas, RS
Observação: resultados médios de 75 experimentos, em
quatro anos de avaliação, mostram que a nova cultivar teve
um rendimento de 8,9 mil quilos por hectare, 1,8 mil quilos
mais que as variedades usadas como testemunha.
Total Inteiro Gesso Comprimento Largura
Avaxi
70
62
4
7,09
2,13
Tuno CL
71
64
7
6,89
2,22
Tiba
69
59
6
7,01
2,11
Ecco
69
58
6
7,19
2,14
Irga 417
70
64
2
7,01
2,05
El Paso 144
69
61
6,5
7,03
2,14
7
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Informe
8
Tira-teimas
Simulador expõe
relação custo e
benefício
A
RiceTec desenvolveu um
simulador de custos e
ganhos para comparar os
seus produtos com três
cultivares convencionais e muito
usadas no Rio Grande do Sul. A
planilha leva em consideração os
custos das sementes e o resultado
da produtividade para apontar o
quanto o produtor pode ganhar se
usar o híbrido. Na tabela, basta
colocar a cotação da saca de arroz,
a diferença de produtividade e a área
cultivada para obter o resultado.
Em uma simulação feita entre as
cultivares Clearfield, Tuno CL e Irga
422 CL, o produto RiceTec tem um
ganho de R$ 16,8 mil a mais. Para
chegar a este resultado, o híbrido
precisa atingir dois mil quilos a mais
de média de produtividade em uma
área de 50 hectares. No
comparativo entre o híbrido Avaxi
e a cultivar El Paso, o ganho seria
de R$ 31,1 mil a mais para o
produto RiceTec. Neste caso, a
produtividade média do híbrido
teria que ser de pelo menos 2,4 mil
quilos por hectare a mais que a
concorrente, também em uma área
de 50 hectares.
Depoimentos
n O produtor e engenheiro
agrônomo Edgar Walter
Schmitz, de Uruguaiana (RS),
destaca que a alta
produtividade é a melhor
característica do híbrido da
RiceTec. Segundo ele, na área
experimental de um hectare o
rendimento foi de 10,7 mil
quilos de grãos. “Gostei e
pretendo aumentar a área de
híbrido para a próxima safra”,
analisa Schmitz.
Simulador de custos reafirma
vantagem do híbrido
SIMULADOR DE GANHOS / HA
R$ 22,00
Preço do arroz em casca no dia
TUNO CL x VARIEDADE I
Área a ser plantada (ha)
100
Custo de semente de TUNO CL / ha
Relação arroz casca / TUNO CL (sacas)
R$ 660,00
30,00
40 kg de semente de VARIEDADE 1
50 kg de semente TUNO CL / ha
120 kg de semente VARIEDADE 1 / ha
R$ 55,00
R$ 660,00
R$ 165,00
Diferença Custo / ha de TUNO CL - VARIEDADE 1 (R$/ha)
Diferença Custo / ha de TUNOCL - VARIEDADE 1 (sacas/ha)
Diferença Custo / ha de TUNO CL - VARIEDADE 1 (kg/ha)
Diferença de Produtividade TUNO CL / ha - VARIEDADE 1 (kg/ha)
Diferença Pró TUNO CL em kg/ha
Diferença Pró TUNO CL em sacas/ha
Diferença Pró TUNO CL em R$/ha
R$ 495,00
23
1.125
3.000
1.875
37,50
R$ 825,00
Ganho Pró TUNO CL em R$/área a ser plantada
AVAXI x VARIEDADE 2
R$ 82.500,00
Área a ser plantada (ha)
50
Custo de semente de AVAXI / ha
Relação arroz casca / AVAXI (sacas)
R$ 480,00
21,82
50 kg de semente de VARIEDADE 2
50 kg de semente de AVAXI / ha
150 kg de semente de VARIEDADE 2 / ha
R$ 33,00
R$ 480,00
R$ 99,00
Diferença Custo / ha de AVAXI - VARIEDADE 2 (R$/ha)
Diferença Custo / ha de AVAXI - VARIEDADE 2 (sacas/ha)
Diferença Custo / ha de AVAXI - VARIEDADE 2 (kg/ha)
Diferença de Produtividade AVAXI / ha - VARIEDADE 2 (kg/ha)
Diferença Pró AVAXI em kg/ha
Diferença Pró AVAXI em sacas/ha
Diferença Pró AVAXI em R$/ha
R$ 381,00
17
866
3.000
2.134
42,68
R$ 939,00
Ganho Pró AVAXI em R$/área a ser plantada
AVAXI x VARIEDADE 3
R$ 46.950,00
Área a ser plantada (ha)
100
Custo de semente de AVAXI / ha
Relação arroz casca / AVAXI (sacas)
R$ 480,00
21,82
50 kg de semente de VARIEDADE 3
50 kg de semente de AVAXI / ha
150 kg de semente de VARIEDADE 3 / ha
R$ 33,00
R$ 480,00
R$ 99,00
Diferença Custo / ha de AVAXI - VARIEDADE 3 (R$/ha)
Diferença Custo / ha de AVAXI - VARIEDADE 3 (sacas/ha)
Diferença Custo / ha de AVAXI - VARIEDADE 3 (kg/ha)
Diferença de Produtividade AVAXI / ha - VARIEDADE 3 (kg/ha)
Diferença Pró AVAXI em kg/ha
Diferença Pró AVAXI em sacas/ha
Diferença Pró AVAXI em R$/ha
R$ 381,00
17
866
2.400
1.534
30,68
R$ 675,00
Ganho Pró AVAXI em R$/área a ser plantada
R$ 67.500,00
OBS. Preços vigentes no mercado na data do levantamento.
n Em Agudo, região central do Rio Grande do Sul, o produtor
Eldo Ari Karsburg plantou 3,5 hectares da cultivar Tuno CL.
Segundo ele, as sementes da RiceTec tiveram ótimo desempenho,
com produtividade de 10,8 mil quilos de grãos por hectare e
limpeza da área infestada de arroz vermelho. “Para a próxima
safra, pretendo ampliar para 25 hectares a área de híbrido da
RiceTec. Além da indiscutível produtividade, o arroz híbrido
apresentou resistência a doenças e boa tolerância ao herbicida
que mata o arroz vermelho e outras plantas daninhas”, destaca o produtor.