TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE – MG

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TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE – MG
TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE – MG: MEDIDAS
EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES.
Por:
Roberta Manfron de Paula
Professora universitária, Universidade Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, MG. Mestranda em
Gestão e Desenvolvimento Regional, UNITAU.
Paula Mirela Barbosa Evangelista
GRaduanda em Turismo, Universidade Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, MG
Gestão e Conhecimento, v. 5, n. 1, art. 5, julho/ novembro 2008
http://adm.pucpcaldas.br/revista
TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM
PROPOSTAS CAUTELARES
Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista
RESUMO
Este artigo defende a possibilidade de Pouso Alegre – MG ser visto como um foco de
turismo cultural receptivo empreendedor. Seu principal objetivo é avaliar no Conservatório
Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira de Pouso Alegre – MG, a prática
empreendedora associada ao turismo cultural através da proposição de eventos culturais
musicais. Para isso, foram abordados inicialmente os conceitos de Turismo Cultural,
Patrimônio Cultural, os dados históricos da cidade de Pouso Alegre – MG, seguido de todo
o contexto histórico do Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de
Oliveira. Foram realizadas pesquisas de campo com uma amostragem de 6% de toda a
comunidade do objeto do estudo, contemplando alunos, funcionários, professores e
participantes dos eventos culturais do Conservatório. Os resultados apresentados pela
pesquisa de campo, apontam que toda a comunidade do Conservatório tem o interesse em
desenvolver um evento cultural musical de maior abrangência. Com esse resultado,
mostramos que apesar de Pouso Alegre – MG não ter uma identidade turística definida, é
possível desenvolver muitos projetos, fomentando o turismo e sanando essa deficiência
apresentada pela cidade.
Palavras-chave: Pouso Alegre – MG, Conservatório Estadual de Música Juscelino
Kubitscheck de Oliveira, turismo cultural, turismo receptivo, empreendedorismo.
ABSTRACT
This article defends the possibility of Pouso Alegre - MG being seen as a point of
entrepreneur receptive cultural tourism. Its aim is to assess the State Music Scholl Juscelino
Kubitscheck de Oliveira of Pouso Alegre - MG, the entrepreneurial practice associated with
cultural tourism through the proposition of cultural musical events. To achive this, first, the
concepts of Cultural Tourism, Cultural Heritage, the historical data of the city followed by
the entire historical context of this music scholl were discussed. Field searches were
conducted with a sampling of 6% of the entire community of the object of study, including
students, employees, teachers and participants of its cultural events. The results presented
by the Survey, indicate that the whole community of the scholl has an interest in developing
a cultural musical event with wider coverage. With this result, we show that in spite of
Pouso Alegre - MG not having a defined tourist identity, it is possible to develop many
projects, promoting tourism and clearing this deficiency presented by the city.
Key words: Pouso Alegre - MG, State Music Scholl Juscelino Kubitscheck de Oliveira,
cultural tourism, receptive, entrepreneurship.
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1 – Introdução
Partindo do princípio que o turismo é um ramo em constante crescimento, e que o
mercado exige cada vez mais profissionais empreendedores para que sejam desenvolvidas
de forma criativa as soluções das mais diversas deficiências apresentados pelos municípios,
observa-se que a cidade de Pouso Alegre – MG, não tem uma identidade turística
estabelecida, o que dificulta um planejamento turístico eficiente, porém a cidade tem um
grande potencial turístico cultural, baseado nesse potencial esse artigo tem como objetivo
avaliar no Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira de Pouso
Alegre – MG, a prática empreendedora associada ao turismo cultural através de eventos
culturais musicais.
A cidade somente despontará e desenvolverá um conceito turístico cultural, a partir
do momento em que a comunidade se inter-relacionar com todos os recursos que a própria
cidade oferece.
Diante disso, este estudo irá mostrar a percepção dos membros do Conservatório
Estadual de Musica Juscelino Kubitscheck de Oliveira, quanto à vontade de incentivar e
realizar eventos culturais musicais que fortaleçam o turismo cultural na região, isso se
sustentará por meio de uma gestão empreendedora de seus dirigentes.
Esse artigo foi baseado por meio de pesquisa bibliográfica e analise documental, e
amparado por uma pesquisa para visualizar o interesse do Conservatório Estadual Juscelino
Kubitscheck de Oliveira em inserir o turismo cultural em Pouso Alegre – MG.
2 – Turismo interligado ao Empreendedorismo
Segundo Maia, e Peccioli Filho (2008, p.2) no Brasil o mercado de trabalho
transforma-se constantemente, as mudanças são cada vez mais rápidas, exigindo a
qualificação profissional. Os desafios impostos pedem soluções mais criativas e menos
usuais.
O mercado exige profissionais que apresentem um perfil empreendedor que atenda
os novos setores da economia que são mutáveis. O turismo vem se sobressaindo como um
dos mais promissores setores com enorme possibilidade de crescimento para os próximos
anos.
Um fator importante a ser considerado é que o objetivo de estudo do turismo é o
próprio turismo e, no turismo se congregam variáveis e métodos de análise de outras
ciências mais tradicionais e consolidadas. Isso confere ao turismo caráter interdisciplinar,
amplitude e modernidade, podendo ser definido como ciência da expressão do ser humano
no mundo globalizado, competitivo, e que quer transcender rumo a uma nova visão de
valores universalistas (BENI, 2003, p. 5).
Verifica-se que para o setor turístico o conhecimento pode gerar diferencial
competitivo, conhecimento gerado através de pesquisa e conhecimento sobre negócios de
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cada instituição empresarial e/ou instituição cultural, no sentido de melhoria e possível
ampliação da oferta de serviços existentes. Esse processo é facilitado quando se constrói
uma capacidade de ação coletiva inteligente apoiada nos conhecimentos individuais
(PIMENTA, 2003, p. 24).
Nesse contexto o empreendedorismo será um diferencial, não somente para o
turismo, mais para toda a atividade humana. É necessário que as pessoas aprendam a ser
empreendedores, o que exige um espaço de aprendizagem especial com ênfase no
aprimoramento de características psicológicas, quebrando assim, algumas barreiras do
ensino tradicional (GOULART, 2003, p. 13).
Todavia, os setores ligados ao trade turístico deverão se preparar para receber um
profissional capaz de realizar visões, motivá-lo, auxiliá-lo a reconhecer suas habilidades
empreendedoras e aprimorá-las, e também identificar as que faltam para suprir as
deficiências.
2.1 – Turismo Cultural
O conceito de turismo, na linguagem cotidiana, é entendido normalmente como
quase sinônimo de viagem, Porém, já no ano de 1911, havia estudiosos que definiam o
turismo de forma mais abrangente, como fenômeno complexo que é, e na atualidade,
podem-se contar mais de 20.
Analisando o turismo segundo o critério da motivação, aparece uma quase infinita
variedade de possibilidades, que podem ser agrupadas em duas grandes divisões, o turismo
motivado pela busca de atrativos naturais e o turismo motivado pela busca de atrativos
culturais. Assim, entende-se por “turismo cultural” todo o turismo em que o principal
atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana. Esse aspecto pode ser a
história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer outro dos inúmeros aspectos que o conceito
de cultura abrange. (BARRETO, 2002, p. 20)
Segundo Andrade (1976, p.13), o termo Turismo Cultural designa uma modalidade
de turismo cuja motivação do deslocamento se dá, com o objetivo de encontros artísticos,
científicos, de formação ou de informação.
O Turismo Cultural se caracteriza por uma permanência prolongada e um contato
mais “íntimo” com a comunidade, ocorrendo viagens menores e suplementares dentro da
mesma localidade com o intuito de aprofundar-se na experiência cultural. (GASPARSC,
2008).
Na língua inglesa, existe a possibilidade de ampliar o conceito de turismo histórico
para a expressão “heritage based tourism”, que deve ser traduzida como “turismo com base
no legado cultural”, mas que pode ser simplificada para “turismo de tradição”, embora
tradição e herança cultural não sejam exatamente a mesma coisa. O turismo com base no
legado cultural é aquele que tem como o principal atrativo o patrimônio cultural.
(BARRETO, 2002, p. 29).
Esta atividade turística tem como fundamento o elo entre o passado e o presente, o
contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que foram influenciadas pela
dinâmica do tempo, mas que permaneceram; com as formas expressivas reveladoras do ser
e fazer de cada comunidade. O turismo cultural abre perspectivas para a valorização e
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revitalização do patrimônio, do revigoramento das tradições, da redescoberta de bens
culturais materiais e imateriais, muitas vezes abafadas pela concepção moderna.
Assim pensando, a atividade turística passa necessariamente pela questão da cultura
local e regional. Reforça a necessidade em compreender as suas peculiaridades, admirar a
complexidade e estimular a participação da comunidade. (REVISTA TURISMO, 2003)
Apesar de sempre existir, o temor de que o turismo de massa prejudique a
integridade do patrimônio, o turismo que tem como principal atrativo a oferta cultural
histórica, tem contribuído para manter prédios, bairros e até cidades, evitando que sejam
substituídos por novas formas arquitetônicas.
A recriação dos espaços revitalizados, se bem realizada, apóia-se na memória
coletiva e, ao mesmo tempo, estimula-a, já que ela é o motor fundamental para desencadear
o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura. (BARRETO, 2002, p. 4345).
2.2 – Patrimônio Cultural
A noção moderna de patrimônio cultural não se restringe à arquitetura, a despeito da
indiscutível presença das edificações como um ponto alto da realização humana. De modo
que o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros do sentir, do
pensar e do agir humano. (PELLEGRINIO FILHO, 2000, p. 7).
Segundo a sua acepção clássica, o conceito de patrimônio refere-se ao legado que
herdamos do passado e que transmitimos as gerações futuras. Ainda que esta definição não
tenha perdido validade, não podemos entender o patrimônio apenas como os vestígios
tangíveis do processo histórico. Todas as manifestações materiais de cultura criadas pelo
homem têm uma existência física num espaço e num determinado período de tempo.
Algumas destas manifestações destroem-se e desaparecem, esgotadas na sua
funcionalidade e significado. Outras sobrevivem aos seus criadores, acumulando-se a outras
expressões materiais. E através da própria dinâmica da existência, estes objetos do passado
alimentam, pela sua permanência no tempo, a criatividade de novas gerações de produtores
de objetos, que acrescentam elementos às gerações anteriores. E assim a cultura flui.
(SILVA, 2008, p. 4).
No entanto, nem todos os vestígios do passado podem ser considerados patrimônio.
O patrimônio não é só o legado que é herdado, mas o legado que, através de uma
seleção consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao futuro. Ou seja,
existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o patrimônio cultural a gerações
futuras. E existe também uma noção de posse por parte de um determinado grupo
relativamente ao legado que é coletivamente herdado. Como afirma Ballart, a noção de
patrimônio surge “quando um indivíduo ou um grupo de indivíduos identifica como seus
um objeto ou um conjunto de objetos” (BALLART, 1997, p.17 apud: SILVA, 2004, p.4).
Esta noção de patrimônio, com a idéia de posse que lhe é implícita, sugere
imediatamente que está na presença de algo de valor. Valor que os seres humanos, tanto
individuais como socialmente, atribuem ao legado material do passado, valor no sentido do
apreço individual ou social atribuído aos bens patrimoniais numa dada circunstância
histórica e conforme o quadro de referências de então. Trata-se de um conceito relativo, que
varia com as pessoas e com os grupos que atribuem esse valor, permeável às flutuações da
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moda e aos critérios de gosto dominantes, matizado pelo figurino intelectual, cultural e
psicológico de uma época. (SILVA, 2008, p.5).
Da forma como define Prats (1997, p. 19) neste sentido o patrimônio é “uma
construção social”, ou se quiser cultural, porque é uma idealização construída. Aquilo que
é ou não é patrimônio, depende do que, para um determinado coletivo humano e num
determinado lapso de tempo, se considera socialmente digno de ser legado as gerações
futuras. Trata-se de um processo simbólico de legitimação social e cultural de
determinados objetos que conferem a um grupo um sentimento coletivo de identidade.
Neste sentido, toda a construção patrimonial é uma representação simbólica de uma dada
versão da identidade, de uma identidade “manufaturada” pelo presente que a idealiza. O
patrimônio cultural compreenderá então todos aqueles elementos que fundam a identidade
de um grupo e que o diferenciam dos demais.
O elemento determinante que define o conceito de patrimônio é a sua
capacidade de representar simbolicamente uma identidade. E sendo os símbolos um
veículo privilegiado de transmissão cultural, os seres humanos mantêm através destes,
estreitos vínculos com o passado. É através desta identidade passado-presente que nos
reconhecemos coletivamente como iguais, que nos identificamos com os restantes
elementos do nosso grupo e que nos diferenciamos dos demais. O passado dá-nos um
sentido de identidade, de pertença e faz-nos conscientes da nossa continuidade como
pessoas através do tempo. A nossa memória coletiva modelada pelo passar do tempo não é
mais de que uma viagem através da história, revisitada e materializada no presente pelo
legado material, símbolos particulares que reforçam o sentimento coletivo de identidade e
que alimenta no ser humano a reconfortante sensação de permanência no tempo. Os objetos
do passado proporcionam estabilidade, pois se o futuro é aquele destino essencialmente
incerto e o presente aquele instante fugaz, a única certeza que o ser humano possui é a
verdade irrefutável do passado. (SILVA, 2008, p.6).
3 – A Comunidade de Pouso Alegre – MG:
Segundo Octávio Miranda Gouvêa, em seu livro A História de Pouso Alegre,
Bernardo Saturnino da Veiga editou um livro chamado Almanack Sul Mineiro, onde
constam informações colhidas por ele e até mesmo por seus agentes sobre a origem da
cidade. Algumas dessas informações são oficiais, porém a maioria foi colhida por meio de
relatos de velhos moradores do lugar, que muitas vezes não condiziam, exatamente com a
realidade.
Conforme Veiga (apud, GOUVEIA, 2004, p. 21), o primeiro morador do lugar teria
sido, portanto, João da Silva Pereira, tido como fundador de Pouso Alegre, tendo, por isso,
a municipalidade consagrada a ele o nome de uma das ruas da cidade.
Já em relatos de OLIVEIRA (apud, GOUVEIA, 2004, p. 21), constatou-se que o
doador das terras do patrimônio não foi João da Silva, como constava, mas, sim Antonio
José Machado no qual as adquiriu em nove de julho de 1747, do Sr. Carlos de Araújo.
Pelo fato de existir muitas informações contraditórias em relação à verdadeira
origem da cidade de Pouso Alegre – MG fica difícil constatar quem de fato foi o primeiro
morador oficial da cidade, o que se sabe é o período que isso aconteceu, em meados do
século XVIII.
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Assim como não se tem certeza do primeiro morador, também não se pode afirmar
muito sobre a origem do nome Pouso Alegre. Há quem defende a origem do nome como
tendo sido idéia do Governador Dom Bernardo José de Lorena, Conde de Sarzedas, que de
São Paulo foi transferido para a Capitania de Minas Gerais, passou pelo nascente povoado,
onde veio encontra-lo o Juiz de Fora de Campanha, Dr. José Joaquim Carneiro de Miranda.
Encantados pelo suntuoso panorama que se descortinava aos seus olhos e pelos castos e
límpidos horizontes que os cercavam, conta-se que um daqueles personagens dissera: “Isto
não devia chamar-se Mandú, mas, sim, Pouso Alegre” E daí veio à denominação que o
povo e a lei posteriormente sancionariam (POUSO ALEGRE, 2008).
Essa versão é contestada por Amadeu de Queiroz, que a põe em dúvida, observando
que em 1797 ainda não era juiz de fora de Campanha o Dr. José Joaquim de Carneiro de
Miranda, nomeado para este cargo em 25 de abril de 1799.
Outra versão defendida por alguns pesquisadores seria que a transferência de nomes
de um lugar para outro, era muito comum na época, sendo freqüente entre serras, córregos,
sítios e localidades. Segundo Queiroz (apud, GOUVEIA, 2004, p. 23) a denominação de
Pouso Alegre, dada localidade, é mais comum do que parece; são conhecidos cerca de
quinze lugares assim chamados, e dois deles em virtude de passagem de um para o outro. O
nome Pouso Alegre, designado a Capela do Senhor Bom Jesus do Mandú, só aparece em
documento após a criação da freguesia. No próprio termo de alvará que criou a freguesia lêse: “... Hei por bem erigir em nova freguesia colada, a Capela do Senhor Bom Jesus de
Pouso Alegre – Vulgarmente chamada de Mandú”.
Como que seguindo uma norma histórica, a maioria dos povoados no Brasil surgiu
em torno de capelas e cruzeiros, onde se construía o aglomerado de casas que dava origem
ao nome do arraial.
Conforme Gouveia, (2004, p. 24), Pouso Alegre teve a sua origem a partir de um
rancho para viajantes às margens do Mandu. Crescendo a sua importância e aumentando o
número de viajantes que por aí transitavam, criou-se um Registro destinado a evitar o
desvio clandestino de ouro das minas de Santana do Sapucaí e Ouro Fino. A primitiva
povoação, de ranchos rústicos e dispersos, localizou-se, a principio, às margens do rio.
Mais tarde, com a construção da Capela do Mandu, em 1802, situada no platô mais acima,
começou a surgir em torno da mesma um aglomerado de casas e a tomar o formato de
arraial. Mas, curiosamente, a primeira rua a se formar no nascente povoado foi à rua da
“Outra Banda”, que situava do outro lado da baixada, que separava o centro do arraial, do
morro do lado, hoje a Rua Silvestre Ferraz, pois por aí passava o caminho em direção a
Vila Rica, e junto a este surgiram às primeiras casas do arraial.
Com o passar do tempo, foi surgindo em torno da capela uma praça mais comprida
do que larga que se tornou o mais importante logradouro do povoado. Descendo em direção
ao Mandu, foi-se formando uma rua larga, como se fosse o prolongamento da praça,
afunilando-se na sua extremidade, até morrer às margens do rio, onde se construiu,
posteriormente, a primeira ponte de madeira. As casas de estilo barroco pobre, ligadas umas
às outras por parede meia, começaram então a formar uma rua, ainda sem nome, mais tarde
denominada Rua do Imperador (GOUVEIA, 2004, p. 25).
Com a posse do pe. Jose Bento como vigário da freguesia, a vila de Pouso Alegre
começou a tomar as suas feições características, que conserva até hoje. O pe. José Bento
“dirigia pessoalmente o alinhamento das ruas e tudo que interessava à higiene e ao
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embelezamento do povoado”. A feição da vila de Pouso Alegre transformava-se
rapidamente, com a presença sempre marcante do seu guia espiritual e chefe político, não
deixando o mesmo de influir também no desenvolvimento urbano, com seus conhecimentos
e orientação. (POUSO ALEGRE, 2008)
(GOUVEIA, 2004, p. 25) Com a criação da vila em 1831, a Câmara tomou logo as
primeiras medidas, determinando a abertura de duas fontes publicas de água potável. A
primeira situada na Rua dos Coqueiros (Comendador Jose Garcia, esquina com Adolfo
Olinto), e a segunda na atual Rua Dom Nery, logo acima do córrego (hoje canalizado) onde
havia uma pequena praça, que mais tarde foi fechada. Tempos depois autorizou os cidadãos
Manoel Ferreira dos Santos e Manoel Pereira de Queiroz a construírem, por meio de
subscrição pública um chafariz no Largo do Rosário. Mais tarde, a Câmara tomou outras
providências para o abastecimento de água à vila, mais generalizadamente que as simples
fontes públicas que mandara abrir, embora de maneira muito primitiva, que consistia na
abertura de regos que conduziam as águas das nascentes e atravessavam o centro da vila,
servindo os quintais e ruas, as praças do Mercado, da Matriz e Rua do Imperador.
Novos melhoramentos foram surgindo, como a construção do sobrado do senador
José Bento, mais ou menos em 1820, uma mansão colonial imponente, que se situava na
rua principal, a Rua do Imperador, onde hoje é a Escola Estadual Monsenhor José Paulino.
Em 1857, concluiu-se a construção da nova Matriz, atrás da antiga Capela do Mandu, a
qual se tornaria insuficiente e se encontrava em ruínas. O edifício do Teatro Municipal,
construído em 1875, era outro edifício de linhas elegantes, que se localizava mais abaixo,
na mesma rua. Era uma réplica do afamado teatro de Ouro Preto. A Cadeia Publica,
construída em 1885, era outro edifício importante, de paredes de taipas e linhas
arquitetônicas do barroco português, que ficava situada no largo do mesmo nome. Para a
construção desses edifícios vieram mestres da corte e usou-se uma mesma técnica, que
consistia em colocar óleo de peixe entre as camadas de terra vermelha socada, dando assim
maior consistência às taipas. Desses edifícios perdura até nos nossos dias, com a mesma
imponência, o Teatro Municipal. (POUSO ALEGRE, 2008).
Até o ano de 1878, Pouso Alegre ainda não possuía iluminação urbana. A partir
desse ano passou a ser iluminada por 70 lampiões de querosene, distribuídos pelo centro da
vila. Os mesmos eram acesos ao anoitecer e extinto às 11 horas. Durante a lua cheia, ou
quando havia claridade suficiente, não se acendiam os lampiões. (GOUVEIA, 2004, p. 28).
No final do século, a construção da estação ferroviária e a inauguração da linha
férrea, trouxeram novo alento ao progresso de Pouso Alegre e toda região.
Depois da criação da Diocese, em 1900, houve algumas modificações urbanísticas,
como a reforma da Catedral e as construções do Seminário, do Santuário do Coração de
Maria e do Palácio Episcopal de Dom Nery. (POUSO ALEGRE, 2008).
Com a vinda do 8º R.A.M. para Pouso Alegre, em 1918, novas construções
surgiram, como o próprio quartel e o Colégio Santa Dorothéia. O Ginásio e o Seminário
foram transferidos para o Palácio Episcopal.1
Por volta de 1920, alguns melhoramentos urbanísticos já se notavam, como o
ajardinamento da Praça Senador José Bento, o Largo do Coração de Maria com seu
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Octavio Miranda de Gouveia, A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre – MG, Gráfica Amaral, 2004, p.
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artístico Santuário, o Parque Municipal, na Praça João Pinheiro, a sua avenida principal e as
ruas largas e retas. (GOUVEIA, 2004, p. 35).
A iluminação era elétrica desde 1905, fornecida ela Empresa de Força e Luz de
Pouso Alegre. A água, excelente e toda canalizada. E, em execução, a rede de esgoto
(POUSO ALEGRE, 2008).
Em 1930, uma modificação arrojada, feita pela administração do Dr. João Beraldo,
que era presidente da Câmara, veio transformar o centro da cidade, com o prolongamento
da Avenida Dr. Lisboa até à estação ferroviária. A mesma era fechada na sua extremidade
pelo Hotel Avenida, com uma passagem estreita, ao lado, para o Largo da Cadeia. O
quarteirão que se estendia até a Estação foi demolido, dando lugar a uma bela avenida. A
antiga Cadeia Publica foi demolida em 1931, e no largo foi construído o Pouso Alegre
Hotel no alinhamento da avenida e seguido de outras construções, tomando a feição atual.
Com o correr dos anos, novos melhoramentos vieram, como a pavimentação em
paralelepípedos das ruas centrais. (GOUVEIA, 2004, p. 36)
Em 1941/42, o prefeito Vasconcelos Costa abriu as avenidas Dr. João Beraldo,
Avenida Brasil e Duque de Caxias.
Por volta de 1960, devido à sua situação geográfica privilegiada, Pouso Alegre
tornou-se o centro rodoviário de uma rede de rodovias estaduais e uma federal, com um
conseqüente surto de desenvolvimento para a cidade.
Atualmente Pouso Alegre atravessa uma fase de industrialização que tem
contribuído para o seu desenvolvimento em ritmo acelerado, expandindo-se em todas as
direções com novos bairros e inúmeros loteamentos.2
O município situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, em uma altitude de 833
metros acima do nível do mar, ocupando uma área de 545,3 km² de extensão, com a
população estimada em 126.100 habitantes, de acordo com o IBGE de julho de 2008, tendo
tido um crescimento anual de 3,42%. (IBGE, 2008)
4 – Conservatório Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira
Em 1902 chegaram à Pouso Alegre as primeiras Irmãs Vicentinas do Coração de
Jesus, ordem religiosa francesa. Vieram para Pouso Alegre fugindo da febre amarela que
assolava o estado de São Paulo, onde residiam. Foram elas as fundadoras do primeiro
colégio feminino de Pouso Alegre. Instalaram-se na Santa Casa da Misericórdia, numa
chácara. Em 1910, devido a problemas políticos era necessária a intervenção do Bispo da
Diocese de Pouso Alegre, Dom Assis, junto ao Papa para que o então surgisse o “Colégio
Santa Dorothéia”.3
Em 1913 implanta-se o alicerce do prédio na Rua Francisco Sales, no centro da
cidade. Cinco anos depois acontecia o lançamento da pedra fundamental do Instituto Santa
Dorothéia, uma obra supervisionada por engenheiros do exercito, sendo inaugurada 1919.
2
Octavio Miranda de Gouveia, A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre – MG, Gráfica Amaral, 2004, p.3639.
3
Todas as informações acerca do Conservatório Estadual Juscelino Kubitscheck de Oliveira, foram extraídos
do trabalho monográfico de Amanda Andrade, Ana Paula Marchetti Fonseca e Cybele Gouveia Calavans,
apresentado à Universidade do Vale do Sapucaí, ao departamento de Jornalismo no ano de 1999.
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Anos mais tarde o prédio das irmãs se tornaria o Conservatório Estadual de Musica
de Pouso Alegre. Em 1951, o então governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino
Kubitschek de Oliveira baixava um ato criando seis Conservatórios Estaduais de Musica a
serem instalados em regiões diferentes.
O prédio foi planejado pelo arquiteto paulista Mario Gissoni, um construtor
expressivo na cidade de Pouso Alegre. É dele a construção do Colégio Estadual Professor
José Marques de Oliveira, Escola Estadual Monsenhor Mendonça, Palácio Episcopal,
Fórum, entre outros. O prédio do então colégio das Irmãs foi construído no estilo
neoclássico com detalhes barrocos internamente e possuindo no projeto inicial três
pavimentos, que eram usados como internato para moças.
Para conseguir que um desses conservatórios fosse instalado em Pouso Alegre, foi
preciso que o Deputado Estadual Cônego Aurélio Mesquita interviesse junto ao
Governador, com quem mantinha uma relação de amizade e de política.
Após conseguir tal feito, o deputado começou a procurar um local para a instalação da
escola. O imóvel adquirido para o Conservatório Estadual de Musica de Pouso Alegre
pertencia ao patrimônio da Associação de Proteção à Infância (API) da cidade e ficava na
Praça João Pinheiro, numero 114. Esse imóvel foi doado à API pelo então Deputado
Estadual Cônego Aurélio Mesquita e pelo Ex-Embaixador Walter Moreira Sales.
Através de uma lei votada na Câmara Municipal e assinada pelo prefeito Custodio
Ribeiro de Miranda, a Prefeitura se comprometia a pagar um aluguel mensal à API pelo
imóvel adquirido para a Escola de Música.
Com o conservatório já instalado em 1954, o professor Levindo Lambert, diretor do
então Conservatório Mineiro de Musica de Belo Horizonte, a pedido de autoridade indicou
o Tenente e professor de musica João Soares de Souza para instalar e dirigir o CEMPA.
Uma Escola de Musica integrante da Rede Estadual de Ensino.
No dia 30 de maio de 1954 chega à cidade o Governador do Estado Juscelino
Kubitscheck de Oliveira e sua comitiva, para a inauguração do Conservatório Estadual de
Musica de Pouso Alegre, que levaria seu nome. Na reunião estavam presentes diversas
autoridades e convidados ilustres de toda região.
No dia primeiro de setembro de 1954 começavam as aulas preparatórias, que eram
de Solfejo, Ditado, Teoria, Canto, Flauta, Clarinete, Violino, Violoncelo, Piano, Pistom e
Trombone. A principio havia apenas aulas de Piano, Violino e Canto, os demais cursos
foram introduzidos na escola com o passar dos anos. No final do ano foi feita uma seleção
dos candidatos às matriculas e quem passou matriculou-se na primeira serie do
Conservatório para o ano seguinte. Faziam parte do Conservatório três funcionários:
Benedito de Melo, secretario; Maria Rita de Paula, recepcionista e João Francisco de
Souza, servente. A escola possuía quatro professores: Lucila Faria de Oliveira, de Piano;
Evódia Firmo M. Ribeiro, de Canto; Lourdes Brigadão F. Franco, de Canto Coral e
Germano Germini, de Violino. A cadeira de Solfejo, Ditado e Teoria ficou com o professor
João Soares de Souza por designação do Governo do Estado.
As aulas iniciaram-se no Conservatório em fevereiro de 1955, sem convites e sem
festas. Após apresentações de audições internas na escola, os alunos e professores se
preparavam para sua primeira audição geral. A audição foi realizada na noite de quatro de
julho de 1956, no próprio Conservatório Estadual de Musica Juscelino Kubitscheck de
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Oliveira. Nesse mesmo ano, o diretor do Conservatório preparou um programa musical para
ser apresentado na Radio Clube de Pouso Alegre.
A pedido do secretario Benedito de Melo, no final do ano de 1957, o então diretor
João Soares de Souza compõe a melodia do hino para o Conservatório.
Em 24 de fevereiro de 1958 era realizada a primeira eleição para a direção da
escola, em substituição ao professor Soares. O professor deixava o Conservatório para se
reformar como Capitão da Policia Militar Mineira e seguia para Belo Horizonte, sua cidade
natal.
De lá para cá, várias pessoas assumiram a direção do colégio, sendo algumas delas:
Lucila Faria de Oliveira, Horma de Souza Valadares Meireles, Wilma Andery Fanuchi,
Sarah Lucia Requeijo do Amaral (mais conhecida como Sarita), Leda Maria Silva Ribeiro e
Regina Maria Franco Andere de Brito.
Varias dessas pessoas acima citadas, tiveram muitos problemas a serem enfrentados
enquanto tiveram a frente da direção. Um exemplo disso foi quando Horma assumiu o
Conservatório com apenas 41 alunos (1961), nessa fase a direção da escola começa a
investir em crescimento cultural, fazendo para isso, uma seleta escolha para a contratação
de professores, vindos a maioria de São Paulo. A escola comprou também instrumentos e
material pedagógico.
Foi também na direção de Horma, quando foi realizado o primeiro Festival de
Musica Erudita, chamado de Festival Debussy. Juntamente com o festival foi promovido o
primeiro Concurso Nacional de Piano, que trouxe a cidade músicos, concertistas e artistas
famosos de vários estados do Brasil.
Em 1969 aconteceu o segundo Festival de Musica Erudita do CEMPA. Nos anos 70,
o CEMPA foi considerado uma das cinco melhores escolas de musicas do país.
Com a transferência do Colégio das Irmãs Santa Dorothéia para o novo prédio, onde
hoje funciona a Universidade do Vale do Sapucaí, em 1974 o Conservatório ganha casa
nova.
O Conservatório passava a dividir o prédio com a Escola Estadual “Ana Augusta” e
uma escola de cursinhos pré-vestibulares. A partir desse ano, o Conservatório dividia suas
disciplinas e grupos escolares para dois lugares distintos: o primário musical continuava na
Praça João Pinheiro e o ginásio musical e os cursos técnicos no prédio da Rua Francisco
Sales.
Em agosto de 1984, o prédio do Colégio Santa Dorothéia era desapropriado pelo
Estado de Minas Gerais, sendo ocupado somente pelo Conservatório Estadual de Musica
Juscelino Kubitschek de Oliveira.
Ainda em 1984, assume a direção da escola a professora de piano Wilma Andery
Fanuchi. Durante sua gestão o CEMPA sofreu seu maior trauma: o incêndio. A memória da
escola, que estava registrada em livros de atividades, contendo todos os trabalhos anuais e
ainda um arquivo iconográfico, com mais de 700 fotografias, desde sua criação, foram
destruídos pelo fogo.
Em 1987 o CEMPA tenta ressurgir das cinzas para uma tarefa constante, a de
reorganização e continuação de anos de trabalhos educativos e culturais.
Por volta de 3 h 30 do dia nove de março de 1987 o porteiro do CEMPA João
Benedito de Oliveira Tosta ouviu estalos que pareciam explosões vindas de um dos
cômodos do Conservatório. Ao verificar o barulho deparou-se com o fogo que já consumia
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o prédio. Imediatamente o vigilante acordou o professor de Violino Dalton Ferreira Nunes,
que vinha de Campinas e estava temporariamente instalado em uma sala do segundo andar
do prédio. Ambos foram obrigados a sair por uma janela, pois o corredor já estava em
chamas. Benedito ligou para a casa da vice-diretora e depois para a policia.
Os vizinhos acordaram com o barulho do CEMPA. O incêndio começou na porta
principal do prédio e não demorou a devorar os moveis e as papelarias. As chamas
chegaram rapidamente às escadas antigas de madeira, que carunchadas queimavam como
papel. Subiram rápido aos demais andares atingindo o telhado, que desabou incendiando os
outros cômodos, um a um. Os amigos, alunos e funcionários da escola iam chegando para
ver a tragédia.
Enquanto os bombeiros tentavam controlar o fogo, dois ex-alunos do Conservatório
arrombaram uma das portas e entraram no prédio. Como conheciam o caminho, foram
direto para o arquivo de instrumentos e começaram a jogá-los para fora. Uma corrente
humana foi formada. Os instrumentos passaram de mão em mão até estarem em segurança.
Às cinco horas da manhã, o Conservatório já estava com sua parte interna em
escombros, totalmente destruída. Só restava o esqueleto do prédio. Das paredes externas e
do alicerce apenas se via os tijolos e as cinzas. Foi o que se salvou dos 30 anos do CEMPA,
e dos mais de 60 anos de um prédio de estilo neoclássico.
Nos primeiros dias após o incêndio suspeitava-se que sua causa teria sido um curto
circuito causado acidentalmente. Tal hipótese foi descartada pela diretora Wilma, que havia
mandado reformar todas as instalações elétricas da escola.
Durante a perícia técnica da Policia Civil, foi constatada a impossibilidade de o
incêndio ter sido causado por qualquer tipo de combustão instantânea ou curto circuito.
Em um relatório assinado pelo delegado Carlos Eduardo Pinto, datado do dia 15 de
julho de 1987, constata-se que o incêndio foi criminoso. Nesse relatório o delegado diz ter
ouvido varias testemunhas, mas sem algum indicio ou suspeita do autor do crime.
Uma semana após o incêndio os alunos do CEMPA estavam espalhados pela cidade,
cada um em um lugar bem diferente e inesperado. Escolas, casas e barracões se
transformavam em salas de aula.
A Prefeitura da cidade renovou o contrato e reformou um galpão da casa da Praça
João Pinheiro e nele construiu quatro salas, alugando mais 16 salas do Colégio Comercial
São José. Infelizmente o espaço continuou reduzido e, para piorar a situação, faltava de
tudo, desde os materiais escolares como lápis e papel até instrumentos. Eram muitas
crianças e pouco espaço. Na tentativa de diminuir o sufoco, vários professores passaram a
dar aulas em suas casas.
A comunidade se envolveu. Crianças iam ao CEMPA para fazer doações. Outros
ofereciam seu trabalho pessoal como carpinteiros, eletricistas e pedreiros. Moveis e
instrumentos começaram a chegar de todos os lados.
Em 1988 assumia o CEMPA a professora de Historia da Musica Sarah Lucia
Requeijo do Amaral, mais conhecida como Sarita. Foi em sua gestão que a reforma do
prédio foi feita, pouco a pouco e dividida em etapas. Somente em 1993, foi liberada a verba
do estado para a conclusão da reforma.
No dia 10 de setembro de 2004 o CEMPA era re-inaugurado com uma grande festa,
contanto com a presença de políticos de toda a região, empresários, religiosos, alunos, exalunos professores, funcionários, e com a comunidade em geral.
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O CEMPA encontra-se hoje na direção da professora Regina, que assumiu o cargo
em 2004. A escola foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural no ano de 1997, pela
prefeitura municipal. São 2028 alunos matriculados, um número instável devido à evasão
escolar. A escola também conta com 123 funcionários, entre professores, auxiliares
administrativos, ajudantes de serviços em geral. O Conservatório atende atualmente a cerca
de 60 cidades em toda a região, entre elas, Santa Rita do Sapucaí, Ouro Fino, Itajubá,
Conceição dos Ouros, Cachoeira de Minas, Congonhal, Borda da Mata, entre outras.
Dos objetivos gerais do CEMPA, o Ensino Fundamental e Médio exercem a função
da formação básica do aluno, promovendo o desenvolvimento de condições necessárias à
sua participação na vida social, política, econômica e cultural. Promovendo paralelamente,
as condições necessárias ao prosseguimento dos estudos e à formação profissional. A
escola encontra-se em pleno crescimento.
A escola funciona em regime semestral. Geralmente é feita uma relação da série que
o aluno irá cursar no CEMPA com a que já cursa na escola regular, também equivalente a
idade.
Nota-se nas estatísticas que desde o ano de 1987 a grande procura de cursos do
CEMPA é feita por adolescentes. Mas este número começou a crescer a partir da década de
70. Segundo o registro do Diário Legislativo, datado em 04 de abril de 1984, a escola já
possuía neste ano 1259 alunos de diversas faixas etárias.
Hoje no CEMPA são oferecidos dezenove cursos sendo eles: bateria, canto,
clarinete, contra-baixo elétrico, flauta doce, flauta transversal, guitarra, percussão, piano,
saxofone, teclado, trompete, viola caipira, violão, violino, violoncelo, artes visuais,
artesanato, técnico em decoração. Os cursos mais procurados são: bateria, guitarra, piano e
artesanato, porém a aceitação da população em relação aos outros cursos também é bastante
alta.
Anualmente o CEMPA desenvolve um evento chamado “Semana da Arte”, que
acontece na segunda semana de outubro no próprio prédio do Conservatório. Essa semana
consiste em apresentações de alunos e professores durante toda a semana. Esse evento é
livre para toda a comunidade.
Existem também outros eventos realizados pelos membros do Conservatório, nos
quais são arrecadados fundos para melhoramentos do prédio, entre esses eventos podemos
citar a notável participação no evento municipal “Feira das Nações” e o Caipirart (que
consiste em uma festa junina personalizada pelos membros da escola).
5 – Metodologia:
A metodologia aplicada para esse artigo foi pesquisa bibliográfica e análise
documental seguida de pesquisa de campo com uma amostragem de 6% de toda a
comunidade do objeto de estudos, contemplando, professores, funcionários, alunos e
participantes dos eventos culturais realizados no Conservatório Estadual de Música
Juscelino Kubsticheck de Oliveira, de Pouso Alegre – MG, com caráter qualitativo e
quantitativo. Aplicou-se um questionário em 143 pessoas, sendo 01 para direção, 01 para
vice-direção, 01 para secretaria, 01 para bibliotecária, 01 para funcionário de serviço geral,
03 para professores, 124 para alunos e 10 para outros.
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Como Pouso Alegre não se desponta turisticamente, porém na cidade existe uma
grande riqueza histórica e cultural, esse questionário buscou solucionar o problema do
artigo que é avaliar o interesse em desenvolver um evento cultural musical com maior
abrangência junto ao público local.
O método pode ser considerado indutivo devido à avaliação de um evento cultural
musical dentro de Pouso Alegre – MG, no Conservatório Estadual de Música Juscelino
Kubsticheck de Oliveira e a relação entre fenômenos: Evento Cultural / Musical, Turismo
Cultural Empreendedor na cidade de Pouso Alegre – MG.
6 – Resultados e discussão:
Baseado na pesquisa de campo realizado no Conservatório Estadual de Música
Juscelino Kubitscheck de Oliveira, de Pouso Alegre – MG, com uma amostragem de 6% de
toda a comunidade do objeto de estudo, sendo 143 pessoas entre alunos, funcionários,
professores e participantes dos eventos do Conservatório, obteve-se o resultado que nessa
amostragem 35 alunos estudam bateria, 29 estudam piano, 23 estudam violão, 21 estudam
guitarra e 16 estudam artesanato.
Em relação a como conheceram o Conservatório, 27 não lembraram como conheceu
o Conservatório, 17 conheceram através da escola e 89 através de amigos. A faixa etária
contemplada na amostragem é de treze pessoas até quinze anos, vinte e uma pessoas até
vinte anos, cinqüenta e sete pessoas até trinta anos e quarenta e duas pessoas com quarenta
anos ou mais. Escolaridade apontada pela pesquisa foi: quatorze pessoas com ensino
fundamental incompleto, quarenta e sete pessoas com ensino médio incompleto, trinta e
sete pessoas com superior incompleto e trinta e cinco pessoas com superior completo.
Dos entrevistados setenta e nove são homens e cinqüenta e quatro mulheres. Das
133 pessoas entrevistadas setenta e nove residem em Pouso Alegre, dezessete residem em
Santa Rita, seis residem em Ouro Fino, nove residem em Conceição dos Ouros, três
residem em Congonhal, onze residem em Cachoeira de Minas e oito residem em Borda da
Mata. Todos os entrevistados consideram o Conservatório inserido na cidade de Pouso
Alegre em termos de eventos culturais, assim como todos concordam em participar e ajudar
em um evento cultural musical com maior abrangência.
Uma deficiência apontada pelo resultado do questionário foi à ausência das pessoas
nos eventos, principalmente dos funcionários. Todos responderam que participam dos
eventos culturais realizados pelo Conservatório, porém cinqüenta e nove concluíram com a
observação de que vão aos eventos somente quando “dá”, ou que escutam os eventos
acontecerem das suas próprias salas.
7 – Conclusão:
O turismo se constitui de uma área que concentra grandes opções de investimentos e
permite uma importante geração de desenvolvimento econômico e profissional. A recente,
porém rápida descoberta desse mercado atraiu muitas pessoas interessadas em ingressar
nessa tão promissora área.
Com uma área tão próspera, novos investidores surgem a cada dia, e as pessoas com
perfil empreendedor, têm se destacado cada vez mais.
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Assim como vários outros segmentos, o turismo cultural vem se despontando
devido à conscientização da população em relação ao seu patrimônio cultural.
Pouso Alegre, uma média cidade localizada no sul de Minas Gerais, não tem uma
identidade turística definida, porém existe ali um grande potencial turístico cultural. Na
cidade, existem vários patrimônios históricos que não são valorizados e reconhecidos pela
população local como atrativo turístico, por outro lado, a cidade abriga um dos doze
conservatórios de música do estado de Minas Gerais, o que garante a cidade uma referência
cultural.
Muitas pessoas de Pouso Alegre e toda região já passaram pelo Conservatório
Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira, o qual sempre se dispôs a ensinar a
cultura e arte a todos que se interessam.
Em conjunto com suas três vice-diretoras (Alaíde Dias da Silva Mariosa, Adriane
Ferreira Bazzo e Maria Regina Lima), a diretora Regina Maria Franco Andere de Brito,
vem realizando trabalhos para a constante melhoria do Conservatório Estadual de Música
Juscelino Kubitscheck de Oliveira.
A administração do CEMPA hoje é considerada pela diretora como participativa,
onde todos os professores e alunos podem dar idéias do que será melhor para o
conservatório. A gestora atual assumiu o cargo em 2004, e desde então vem realizando
trabalhos para o desenvolvimento cultural. Hoje o CEMPA abriga dez grupos musicais,
dois eventos fixos semanais, e diversos outros eventos com o intuito de arrecadar verbas
para a manutenção do prédio.
Alguns desses grupos musicais já existiam antes da administração da Prof. Regina,
porém foi ela que incentivou e motivou as pessoas a participarem cada vez mais das
atividades extras e eventos.
O evento 5ª Musical foi elaborado pela então professora Regina e teve inicio em
agosto de 1997. Seu objetivo é dar oportunidade aos alunos de mostrarem seu
desenvolvimento, aos professores de mostrarem seu trabalho, ao conservatório de ter um
horário para apresentações sistemáticas e de “Fazer Música”, e à comunidade, de conhecer
o que se faz no conservatório.
As apresentações têm um cunho didático, pois, o conservatório adota a idéia de
como escola, ter a obrigação de formar e informar a platéia, visando principalmente à
valorização da arte e do artista que deve, por sua vez, respeitar e valorizar o seu público.
Já o evento 3ª Maior nasceu na gestão atual (com a professora Regina na direção),
após perceber a necessidade de se ter mais um dia fixo de atividades na escola, visto que as
5ªs Musicais não estavam suprindo a demanda dos artistas da escola e da comunidade.
Assim como as 5ªs Musicais, as 3ªs Maior tem caráter educativo e didático e visa à
formação do público. É aberta a entrada para toda a comunidade.
Tendo Pouso Alegre um importante produto turístico cultural, como é o
Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira, basta agora informar
como isso pode ser influenciado na identidade turística local.
Com tudo isso, esse artigo visou demonstrar que Pouso Alegre pode cada vez mais
se desenvolver turisticamente, com as riquezas dos recursos aqui existentes.
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