TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE – MG
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TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE – MG
TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE – MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES. Por: Roberta Manfron de Paula Professora universitária, Universidade Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, MG. Mestranda em Gestão e Desenvolvimento Regional, UNITAU. Paula Mirela Barbosa Evangelista GRaduanda em Turismo, Universidade Vale do Sapucaí, Pouso Alegre, MG Gestão e Conhecimento, v. 5, n. 1, art. 5, julho/ novembro 2008 http://adm.pucpcaldas.br/revista TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista RESUMO Este artigo defende a possibilidade de Pouso Alegre – MG ser visto como um foco de turismo cultural receptivo empreendedor. Seu principal objetivo é avaliar no Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira de Pouso Alegre – MG, a prática empreendedora associada ao turismo cultural através da proposição de eventos culturais musicais. Para isso, foram abordados inicialmente os conceitos de Turismo Cultural, Patrimônio Cultural, os dados históricos da cidade de Pouso Alegre – MG, seguido de todo o contexto histórico do Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Foram realizadas pesquisas de campo com uma amostragem de 6% de toda a comunidade do objeto do estudo, contemplando alunos, funcionários, professores e participantes dos eventos culturais do Conservatório. Os resultados apresentados pela pesquisa de campo, apontam que toda a comunidade do Conservatório tem o interesse em desenvolver um evento cultural musical de maior abrangência. Com esse resultado, mostramos que apesar de Pouso Alegre – MG não ter uma identidade turística definida, é possível desenvolver muitos projetos, fomentando o turismo e sanando essa deficiência apresentada pela cidade. Palavras-chave: Pouso Alegre – MG, Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira, turismo cultural, turismo receptivo, empreendedorismo. ABSTRACT This article defends the possibility of Pouso Alegre - MG being seen as a point of entrepreneur receptive cultural tourism. Its aim is to assess the State Music Scholl Juscelino Kubitscheck de Oliveira of Pouso Alegre - MG, the entrepreneurial practice associated with cultural tourism through the proposition of cultural musical events. To achive this, first, the concepts of Cultural Tourism, Cultural Heritage, the historical data of the city followed by the entire historical context of this music scholl were discussed. Field searches were conducted with a sampling of 6% of the entire community of the object of study, including students, employees, teachers and participants of its cultural events. The results presented by the Survey, indicate that the whole community of the scholl has an interest in developing a cultural musical event with wider coverage. With this result, we show that in spite of Pouso Alegre - MG not having a defined tourist identity, it is possible to develop many projects, promoting tourism and clearing this deficiency presented by the city. Key words: Pouso Alegre - MG, State Music Scholl Juscelino Kubitscheck de Oliveira, cultural tourism, receptive, entrepreneurship. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 2 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista 1 – Introdução Partindo do princípio que o turismo é um ramo em constante crescimento, e que o mercado exige cada vez mais profissionais empreendedores para que sejam desenvolvidas de forma criativa as soluções das mais diversas deficiências apresentados pelos municípios, observa-se que a cidade de Pouso Alegre – MG, não tem uma identidade turística estabelecida, o que dificulta um planejamento turístico eficiente, porém a cidade tem um grande potencial turístico cultural, baseado nesse potencial esse artigo tem como objetivo avaliar no Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira de Pouso Alegre – MG, a prática empreendedora associada ao turismo cultural através de eventos culturais musicais. A cidade somente despontará e desenvolverá um conceito turístico cultural, a partir do momento em que a comunidade se inter-relacionar com todos os recursos que a própria cidade oferece. Diante disso, este estudo irá mostrar a percepção dos membros do Conservatório Estadual de Musica Juscelino Kubitscheck de Oliveira, quanto à vontade de incentivar e realizar eventos culturais musicais que fortaleçam o turismo cultural na região, isso se sustentará por meio de uma gestão empreendedora de seus dirigentes. Esse artigo foi baseado por meio de pesquisa bibliográfica e analise documental, e amparado por uma pesquisa para visualizar o interesse do Conservatório Estadual Juscelino Kubitscheck de Oliveira em inserir o turismo cultural em Pouso Alegre – MG. 2 – Turismo interligado ao Empreendedorismo Segundo Maia, e Peccioli Filho (2008, p.2) no Brasil o mercado de trabalho transforma-se constantemente, as mudanças são cada vez mais rápidas, exigindo a qualificação profissional. Os desafios impostos pedem soluções mais criativas e menos usuais. O mercado exige profissionais que apresentem um perfil empreendedor que atenda os novos setores da economia que são mutáveis. O turismo vem se sobressaindo como um dos mais promissores setores com enorme possibilidade de crescimento para os próximos anos. Um fator importante a ser considerado é que o objetivo de estudo do turismo é o próprio turismo e, no turismo se congregam variáveis e métodos de análise de outras ciências mais tradicionais e consolidadas. Isso confere ao turismo caráter interdisciplinar, amplitude e modernidade, podendo ser definido como ciência da expressão do ser humano no mundo globalizado, competitivo, e que quer transcender rumo a uma nova visão de valores universalistas (BENI, 2003, p. 5). Verifica-se que para o setor turístico o conhecimento pode gerar diferencial competitivo, conhecimento gerado através de pesquisa e conhecimento sobre negócios de Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 3 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista cada instituição empresarial e/ou instituição cultural, no sentido de melhoria e possível ampliação da oferta de serviços existentes. Esse processo é facilitado quando se constrói uma capacidade de ação coletiva inteligente apoiada nos conhecimentos individuais (PIMENTA, 2003, p. 24). Nesse contexto o empreendedorismo será um diferencial, não somente para o turismo, mais para toda a atividade humana. É necessário que as pessoas aprendam a ser empreendedores, o que exige um espaço de aprendizagem especial com ênfase no aprimoramento de características psicológicas, quebrando assim, algumas barreiras do ensino tradicional (GOULART, 2003, p. 13). Todavia, os setores ligados ao trade turístico deverão se preparar para receber um profissional capaz de realizar visões, motivá-lo, auxiliá-lo a reconhecer suas habilidades empreendedoras e aprimorá-las, e também identificar as que faltam para suprir as deficiências. 2.1 – Turismo Cultural O conceito de turismo, na linguagem cotidiana, é entendido normalmente como quase sinônimo de viagem, Porém, já no ano de 1911, havia estudiosos que definiam o turismo de forma mais abrangente, como fenômeno complexo que é, e na atualidade, podem-se contar mais de 20. Analisando o turismo segundo o critério da motivação, aparece uma quase infinita variedade de possibilidades, que podem ser agrupadas em duas grandes divisões, o turismo motivado pela busca de atrativos naturais e o turismo motivado pela busca de atrativos culturais. Assim, entende-se por “turismo cultural” todo o turismo em que o principal atrativo não seja a natureza, mas algum aspecto da cultura humana. Esse aspecto pode ser a história, o cotidiano, o artesanato ou qualquer outro dos inúmeros aspectos que o conceito de cultura abrange. (BARRETO, 2002, p. 20) Segundo Andrade (1976, p.13), o termo Turismo Cultural designa uma modalidade de turismo cuja motivação do deslocamento se dá, com o objetivo de encontros artísticos, científicos, de formação ou de informação. O Turismo Cultural se caracteriza por uma permanência prolongada e um contato mais “íntimo” com a comunidade, ocorrendo viagens menores e suplementares dentro da mesma localidade com o intuito de aprofundar-se na experiência cultural. (GASPARSC, 2008). Na língua inglesa, existe a possibilidade de ampliar o conceito de turismo histórico para a expressão “heritage based tourism”, que deve ser traduzida como “turismo com base no legado cultural”, mas que pode ser simplificada para “turismo de tradição”, embora tradição e herança cultural não sejam exatamente a mesma coisa. O turismo com base no legado cultural é aquele que tem como o principal atrativo o patrimônio cultural. (BARRETO, 2002, p. 29). Esta atividade turística tem como fundamento o elo entre o passado e o presente, o contato e a convivência com o legado cultural, com tradições que foram influenciadas pela dinâmica do tempo, mas que permaneceram; com as formas expressivas reveladoras do ser e fazer de cada comunidade. O turismo cultural abre perspectivas para a valorização e Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 4 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista revitalização do patrimônio, do revigoramento das tradições, da redescoberta de bens culturais materiais e imateriais, muitas vezes abafadas pela concepção moderna. Assim pensando, a atividade turística passa necessariamente pela questão da cultura local e regional. Reforça a necessidade em compreender as suas peculiaridades, admirar a complexidade e estimular a participação da comunidade. (REVISTA TURISMO, 2003) Apesar de sempre existir, o temor de que o turismo de massa prejudique a integridade do patrimônio, o turismo que tem como principal atrativo a oferta cultural histórica, tem contribuído para manter prédios, bairros e até cidades, evitando que sejam substituídos por novas formas arquitetônicas. A recriação dos espaços revitalizados, se bem realizada, apóia-se na memória coletiva e, ao mesmo tempo, estimula-a, já que ela é o motor fundamental para desencadear o processo de identificação do cidadão com sua história e cultura. (BARRETO, 2002, p. 4345). 2.2 – Patrimônio Cultural A noção moderna de patrimônio cultural não se restringe à arquitetura, a despeito da indiscutível presença das edificações como um ponto alto da realização humana. De modo que o significado de patrimônio cultural é muito amplo, incluindo outros do sentir, do pensar e do agir humano. (PELLEGRINIO FILHO, 2000, p. 7). Segundo a sua acepção clássica, o conceito de patrimônio refere-se ao legado que herdamos do passado e que transmitimos as gerações futuras. Ainda que esta definição não tenha perdido validade, não podemos entender o patrimônio apenas como os vestígios tangíveis do processo histórico. Todas as manifestações materiais de cultura criadas pelo homem têm uma existência física num espaço e num determinado período de tempo. Algumas destas manifestações destroem-se e desaparecem, esgotadas na sua funcionalidade e significado. Outras sobrevivem aos seus criadores, acumulando-se a outras expressões materiais. E através da própria dinâmica da existência, estes objetos do passado alimentam, pela sua permanência no tempo, a criatividade de novas gerações de produtores de objetos, que acrescentam elementos às gerações anteriores. E assim a cultura flui. (SILVA, 2008, p. 4). No entanto, nem todos os vestígios do passado podem ser considerados patrimônio. O patrimônio não é só o legado que é herdado, mas o legado que, através de uma seleção consciente, um grupo significativo da população deseja legar ao futuro. Ou seja, existe uma escolha cultural subjacente à vontade de legar o patrimônio cultural a gerações futuras. E existe também uma noção de posse por parte de um determinado grupo relativamente ao legado que é coletivamente herdado. Como afirma Ballart, a noção de patrimônio surge “quando um indivíduo ou um grupo de indivíduos identifica como seus um objeto ou um conjunto de objetos” (BALLART, 1997, p.17 apud: SILVA, 2004, p.4). Esta noção de patrimônio, com a idéia de posse que lhe é implícita, sugere imediatamente que está na presença de algo de valor. Valor que os seres humanos, tanto individuais como socialmente, atribuem ao legado material do passado, valor no sentido do apreço individual ou social atribuído aos bens patrimoniais numa dada circunstância histórica e conforme o quadro de referências de então. Trata-se de um conceito relativo, que varia com as pessoas e com os grupos que atribuem esse valor, permeável às flutuações da Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 5 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista moda e aos critérios de gosto dominantes, matizado pelo figurino intelectual, cultural e psicológico de uma época. (SILVA, 2008, p.5). Da forma como define Prats (1997, p. 19) neste sentido o patrimônio é “uma construção social”, ou se quiser cultural, porque é uma idealização construída. Aquilo que é ou não é patrimônio, depende do que, para um determinado coletivo humano e num determinado lapso de tempo, se considera socialmente digno de ser legado as gerações futuras. Trata-se de um processo simbólico de legitimação social e cultural de determinados objetos que conferem a um grupo um sentimento coletivo de identidade. Neste sentido, toda a construção patrimonial é uma representação simbólica de uma dada versão da identidade, de uma identidade “manufaturada” pelo presente que a idealiza. O patrimônio cultural compreenderá então todos aqueles elementos que fundam a identidade de um grupo e que o diferenciam dos demais. O elemento determinante que define o conceito de patrimônio é a sua capacidade de representar simbolicamente uma identidade. E sendo os símbolos um veículo privilegiado de transmissão cultural, os seres humanos mantêm através destes, estreitos vínculos com o passado. É através desta identidade passado-presente que nos reconhecemos coletivamente como iguais, que nos identificamos com os restantes elementos do nosso grupo e que nos diferenciamos dos demais. O passado dá-nos um sentido de identidade, de pertença e faz-nos conscientes da nossa continuidade como pessoas através do tempo. A nossa memória coletiva modelada pelo passar do tempo não é mais de que uma viagem através da história, revisitada e materializada no presente pelo legado material, símbolos particulares que reforçam o sentimento coletivo de identidade e que alimenta no ser humano a reconfortante sensação de permanência no tempo. Os objetos do passado proporcionam estabilidade, pois se o futuro é aquele destino essencialmente incerto e o presente aquele instante fugaz, a única certeza que o ser humano possui é a verdade irrefutável do passado. (SILVA, 2008, p.6). 3 – A Comunidade de Pouso Alegre – MG: Segundo Octávio Miranda Gouvêa, em seu livro A História de Pouso Alegre, Bernardo Saturnino da Veiga editou um livro chamado Almanack Sul Mineiro, onde constam informações colhidas por ele e até mesmo por seus agentes sobre a origem da cidade. Algumas dessas informações são oficiais, porém a maioria foi colhida por meio de relatos de velhos moradores do lugar, que muitas vezes não condiziam, exatamente com a realidade. Conforme Veiga (apud, GOUVEIA, 2004, p. 21), o primeiro morador do lugar teria sido, portanto, João da Silva Pereira, tido como fundador de Pouso Alegre, tendo, por isso, a municipalidade consagrada a ele o nome de uma das ruas da cidade. Já em relatos de OLIVEIRA (apud, GOUVEIA, 2004, p. 21), constatou-se que o doador das terras do patrimônio não foi João da Silva, como constava, mas, sim Antonio José Machado no qual as adquiriu em nove de julho de 1747, do Sr. Carlos de Araújo. Pelo fato de existir muitas informações contraditórias em relação à verdadeira origem da cidade de Pouso Alegre – MG fica difícil constatar quem de fato foi o primeiro morador oficial da cidade, o que se sabe é o período que isso aconteceu, em meados do século XVIII. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 6 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista Assim como não se tem certeza do primeiro morador, também não se pode afirmar muito sobre a origem do nome Pouso Alegre. Há quem defende a origem do nome como tendo sido idéia do Governador Dom Bernardo José de Lorena, Conde de Sarzedas, que de São Paulo foi transferido para a Capitania de Minas Gerais, passou pelo nascente povoado, onde veio encontra-lo o Juiz de Fora de Campanha, Dr. José Joaquim Carneiro de Miranda. Encantados pelo suntuoso panorama que se descortinava aos seus olhos e pelos castos e límpidos horizontes que os cercavam, conta-se que um daqueles personagens dissera: “Isto não devia chamar-se Mandú, mas, sim, Pouso Alegre” E daí veio à denominação que o povo e a lei posteriormente sancionariam (POUSO ALEGRE, 2008). Essa versão é contestada por Amadeu de Queiroz, que a põe em dúvida, observando que em 1797 ainda não era juiz de fora de Campanha o Dr. José Joaquim de Carneiro de Miranda, nomeado para este cargo em 25 de abril de 1799. Outra versão defendida por alguns pesquisadores seria que a transferência de nomes de um lugar para outro, era muito comum na época, sendo freqüente entre serras, córregos, sítios e localidades. Segundo Queiroz (apud, GOUVEIA, 2004, p. 23) a denominação de Pouso Alegre, dada localidade, é mais comum do que parece; são conhecidos cerca de quinze lugares assim chamados, e dois deles em virtude de passagem de um para o outro. O nome Pouso Alegre, designado a Capela do Senhor Bom Jesus do Mandú, só aparece em documento após a criação da freguesia. No próprio termo de alvará que criou a freguesia lêse: “... Hei por bem erigir em nova freguesia colada, a Capela do Senhor Bom Jesus de Pouso Alegre – Vulgarmente chamada de Mandú”. Como que seguindo uma norma histórica, a maioria dos povoados no Brasil surgiu em torno de capelas e cruzeiros, onde se construía o aglomerado de casas que dava origem ao nome do arraial. Conforme Gouveia, (2004, p. 24), Pouso Alegre teve a sua origem a partir de um rancho para viajantes às margens do Mandu. Crescendo a sua importância e aumentando o número de viajantes que por aí transitavam, criou-se um Registro destinado a evitar o desvio clandestino de ouro das minas de Santana do Sapucaí e Ouro Fino. A primitiva povoação, de ranchos rústicos e dispersos, localizou-se, a principio, às margens do rio. Mais tarde, com a construção da Capela do Mandu, em 1802, situada no platô mais acima, começou a surgir em torno da mesma um aglomerado de casas e a tomar o formato de arraial. Mas, curiosamente, a primeira rua a se formar no nascente povoado foi à rua da “Outra Banda”, que situava do outro lado da baixada, que separava o centro do arraial, do morro do lado, hoje a Rua Silvestre Ferraz, pois por aí passava o caminho em direção a Vila Rica, e junto a este surgiram às primeiras casas do arraial. Com o passar do tempo, foi surgindo em torno da capela uma praça mais comprida do que larga que se tornou o mais importante logradouro do povoado. Descendo em direção ao Mandu, foi-se formando uma rua larga, como se fosse o prolongamento da praça, afunilando-se na sua extremidade, até morrer às margens do rio, onde se construiu, posteriormente, a primeira ponte de madeira. As casas de estilo barroco pobre, ligadas umas às outras por parede meia, começaram então a formar uma rua, ainda sem nome, mais tarde denominada Rua do Imperador (GOUVEIA, 2004, p. 25). Com a posse do pe. Jose Bento como vigário da freguesia, a vila de Pouso Alegre começou a tomar as suas feições características, que conserva até hoje. O pe. José Bento “dirigia pessoalmente o alinhamento das ruas e tudo que interessava à higiene e ao Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 7 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista embelezamento do povoado”. A feição da vila de Pouso Alegre transformava-se rapidamente, com a presença sempre marcante do seu guia espiritual e chefe político, não deixando o mesmo de influir também no desenvolvimento urbano, com seus conhecimentos e orientação. (POUSO ALEGRE, 2008) (GOUVEIA, 2004, p. 25) Com a criação da vila em 1831, a Câmara tomou logo as primeiras medidas, determinando a abertura de duas fontes publicas de água potável. A primeira situada na Rua dos Coqueiros (Comendador Jose Garcia, esquina com Adolfo Olinto), e a segunda na atual Rua Dom Nery, logo acima do córrego (hoje canalizado) onde havia uma pequena praça, que mais tarde foi fechada. Tempos depois autorizou os cidadãos Manoel Ferreira dos Santos e Manoel Pereira de Queiroz a construírem, por meio de subscrição pública um chafariz no Largo do Rosário. Mais tarde, a Câmara tomou outras providências para o abastecimento de água à vila, mais generalizadamente que as simples fontes públicas que mandara abrir, embora de maneira muito primitiva, que consistia na abertura de regos que conduziam as águas das nascentes e atravessavam o centro da vila, servindo os quintais e ruas, as praças do Mercado, da Matriz e Rua do Imperador. Novos melhoramentos foram surgindo, como a construção do sobrado do senador José Bento, mais ou menos em 1820, uma mansão colonial imponente, que se situava na rua principal, a Rua do Imperador, onde hoje é a Escola Estadual Monsenhor José Paulino. Em 1857, concluiu-se a construção da nova Matriz, atrás da antiga Capela do Mandu, a qual se tornaria insuficiente e se encontrava em ruínas. O edifício do Teatro Municipal, construído em 1875, era outro edifício de linhas elegantes, que se localizava mais abaixo, na mesma rua. Era uma réplica do afamado teatro de Ouro Preto. A Cadeia Publica, construída em 1885, era outro edifício importante, de paredes de taipas e linhas arquitetônicas do barroco português, que ficava situada no largo do mesmo nome. Para a construção desses edifícios vieram mestres da corte e usou-se uma mesma técnica, que consistia em colocar óleo de peixe entre as camadas de terra vermelha socada, dando assim maior consistência às taipas. Desses edifícios perdura até nos nossos dias, com a mesma imponência, o Teatro Municipal. (POUSO ALEGRE, 2008). Até o ano de 1878, Pouso Alegre ainda não possuía iluminação urbana. A partir desse ano passou a ser iluminada por 70 lampiões de querosene, distribuídos pelo centro da vila. Os mesmos eram acesos ao anoitecer e extinto às 11 horas. Durante a lua cheia, ou quando havia claridade suficiente, não se acendiam os lampiões. (GOUVEIA, 2004, p. 28). No final do século, a construção da estação ferroviária e a inauguração da linha férrea, trouxeram novo alento ao progresso de Pouso Alegre e toda região. Depois da criação da Diocese, em 1900, houve algumas modificações urbanísticas, como a reforma da Catedral e as construções do Seminário, do Santuário do Coração de Maria e do Palácio Episcopal de Dom Nery. (POUSO ALEGRE, 2008). Com a vinda do 8º R.A.M. para Pouso Alegre, em 1918, novas construções surgiram, como o próprio quartel e o Colégio Santa Dorothéia. O Ginásio e o Seminário foram transferidos para o Palácio Episcopal.1 Por volta de 1920, alguns melhoramentos urbanísticos já se notavam, como o ajardinamento da Praça Senador José Bento, o Largo do Coração de Maria com seu 1 Octavio Miranda de Gouveia, A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre – MG, Gráfica Amaral, 2004, p. 73. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 8 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista artístico Santuário, o Parque Municipal, na Praça João Pinheiro, a sua avenida principal e as ruas largas e retas. (GOUVEIA, 2004, p. 35). A iluminação era elétrica desde 1905, fornecida ela Empresa de Força e Luz de Pouso Alegre. A água, excelente e toda canalizada. E, em execução, a rede de esgoto (POUSO ALEGRE, 2008). Em 1930, uma modificação arrojada, feita pela administração do Dr. João Beraldo, que era presidente da Câmara, veio transformar o centro da cidade, com o prolongamento da Avenida Dr. Lisboa até à estação ferroviária. A mesma era fechada na sua extremidade pelo Hotel Avenida, com uma passagem estreita, ao lado, para o Largo da Cadeia. O quarteirão que se estendia até a Estação foi demolido, dando lugar a uma bela avenida. A antiga Cadeia Publica foi demolida em 1931, e no largo foi construído o Pouso Alegre Hotel no alinhamento da avenida e seguido de outras construções, tomando a feição atual. Com o correr dos anos, novos melhoramentos vieram, como a pavimentação em paralelepípedos das ruas centrais. (GOUVEIA, 2004, p. 36) Em 1941/42, o prefeito Vasconcelos Costa abriu as avenidas Dr. João Beraldo, Avenida Brasil e Duque de Caxias. Por volta de 1960, devido à sua situação geográfica privilegiada, Pouso Alegre tornou-se o centro rodoviário de uma rede de rodovias estaduais e uma federal, com um conseqüente surto de desenvolvimento para a cidade. Atualmente Pouso Alegre atravessa uma fase de industrialização que tem contribuído para o seu desenvolvimento em ritmo acelerado, expandindo-se em todas as direções com novos bairros e inúmeros loteamentos.2 O município situa-se no sul do Estado de Minas Gerais, em uma altitude de 833 metros acima do nível do mar, ocupando uma área de 545,3 km² de extensão, com a população estimada em 126.100 habitantes, de acordo com o IBGE de julho de 2008, tendo tido um crescimento anual de 3,42%. (IBGE, 2008) 4 – Conservatório Estadual Juscelino Kubitschek de Oliveira Em 1902 chegaram à Pouso Alegre as primeiras Irmãs Vicentinas do Coração de Jesus, ordem religiosa francesa. Vieram para Pouso Alegre fugindo da febre amarela que assolava o estado de São Paulo, onde residiam. Foram elas as fundadoras do primeiro colégio feminino de Pouso Alegre. Instalaram-se na Santa Casa da Misericórdia, numa chácara. Em 1910, devido a problemas políticos era necessária a intervenção do Bispo da Diocese de Pouso Alegre, Dom Assis, junto ao Papa para que o então surgisse o “Colégio Santa Dorothéia”.3 Em 1913 implanta-se o alicerce do prédio na Rua Francisco Sales, no centro da cidade. Cinco anos depois acontecia o lançamento da pedra fundamental do Instituto Santa Dorothéia, uma obra supervisionada por engenheiros do exercito, sendo inaugurada 1919. 2 Octavio Miranda de Gouveia, A História de Pouso Alegre. Pouso Alegre – MG, Gráfica Amaral, 2004, p.3639. 3 Todas as informações acerca do Conservatório Estadual Juscelino Kubitscheck de Oliveira, foram extraídos do trabalho monográfico de Amanda Andrade, Ana Paula Marchetti Fonseca e Cybele Gouveia Calavans, apresentado à Universidade do Vale do Sapucaí, ao departamento de Jornalismo no ano de 1999. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 9 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista Anos mais tarde o prédio das irmãs se tornaria o Conservatório Estadual de Musica de Pouso Alegre. Em 1951, o então governador do Estado de Minas Gerais, Juscelino Kubitschek de Oliveira baixava um ato criando seis Conservatórios Estaduais de Musica a serem instalados em regiões diferentes. O prédio foi planejado pelo arquiteto paulista Mario Gissoni, um construtor expressivo na cidade de Pouso Alegre. É dele a construção do Colégio Estadual Professor José Marques de Oliveira, Escola Estadual Monsenhor Mendonça, Palácio Episcopal, Fórum, entre outros. O prédio do então colégio das Irmãs foi construído no estilo neoclássico com detalhes barrocos internamente e possuindo no projeto inicial três pavimentos, que eram usados como internato para moças. Para conseguir que um desses conservatórios fosse instalado em Pouso Alegre, foi preciso que o Deputado Estadual Cônego Aurélio Mesquita interviesse junto ao Governador, com quem mantinha uma relação de amizade e de política. Após conseguir tal feito, o deputado começou a procurar um local para a instalação da escola. O imóvel adquirido para o Conservatório Estadual de Musica de Pouso Alegre pertencia ao patrimônio da Associação de Proteção à Infância (API) da cidade e ficava na Praça João Pinheiro, numero 114. Esse imóvel foi doado à API pelo então Deputado Estadual Cônego Aurélio Mesquita e pelo Ex-Embaixador Walter Moreira Sales. Através de uma lei votada na Câmara Municipal e assinada pelo prefeito Custodio Ribeiro de Miranda, a Prefeitura se comprometia a pagar um aluguel mensal à API pelo imóvel adquirido para a Escola de Música. Com o conservatório já instalado em 1954, o professor Levindo Lambert, diretor do então Conservatório Mineiro de Musica de Belo Horizonte, a pedido de autoridade indicou o Tenente e professor de musica João Soares de Souza para instalar e dirigir o CEMPA. Uma Escola de Musica integrante da Rede Estadual de Ensino. No dia 30 de maio de 1954 chega à cidade o Governador do Estado Juscelino Kubitscheck de Oliveira e sua comitiva, para a inauguração do Conservatório Estadual de Musica de Pouso Alegre, que levaria seu nome. Na reunião estavam presentes diversas autoridades e convidados ilustres de toda região. No dia primeiro de setembro de 1954 começavam as aulas preparatórias, que eram de Solfejo, Ditado, Teoria, Canto, Flauta, Clarinete, Violino, Violoncelo, Piano, Pistom e Trombone. A principio havia apenas aulas de Piano, Violino e Canto, os demais cursos foram introduzidos na escola com o passar dos anos. No final do ano foi feita uma seleção dos candidatos às matriculas e quem passou matriculou-se na primeira serie do Conservatório para o ano seguinte. Faziam parte do Conservatório três funcionários: Benedito de Melo, secretario; Maria Rita de Paula, recepcionista e João Francisco de Souza, servente. A escola possuía quatro professores: Lucila Faria de Oliveira, de Piano; Evódia Firmo M. Ribeiro, de Canto; Lourdes Brigadão F. Franco, de Canto Coral e Germano Germini, de Violino. A cadeira de Solfejo, Ditado e Teoria ficou com o professor João Soares de Souza por designação do Governo do Estado. As aulas iniciaram-se no Conservatório em fevereiro de 1955, sem convites e sem festas. Após apresentações de audições internas na escola, os alunos e professores se preparavam para sua primeira audição geral. A audição foi realizada na noite de quatro de julho de 1956, no próprio Conservatório Estadual de Musica Juscelino Kubitscheck de Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 10 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista Oliveira. Nesse mesmo ano, o diretor do Conservatório preparou um programa musical para ser apresentado na Radio Clube de Pouso Alegre. A pedido do secretario Benedito de Melo, no final do ano de 1957, o então diretor João Soares de Souza compõe a melodia do hino para o Conservatório. Em 24 de fevereiro de 1958 era realizada a primeira eleição para a direção da escola, em substituição ao professor Soares. O professor deixava o Conservatório para se reformar como Capitão da Policia Militar Mineira e seguia para Belo Horizonte, sua cidade natal. De lá para cá, várias pessoas assumiram a direção do colégio, sendo algumas delas: Lucila Faria de Oliveira, Horma de Souza Valadares Meireles, Wilma Andery Fanuchi, Sarah Lucia Requeijo do Amaral (mais conhecida como Sarita), Leda Maria Silva Ribeiro e Regina Maria Franco Andere de Brito. Varias dessas pessoas acima citadas, tiveram muitos problemas a serem enfrentados enquanto tiveram a frente da direção. Um exemplo disso foi quando Horma assumiu o Conservatório com apenas 41 alunos (1961), nessa fase a direção da escola começa a investir em crescimento cultural, fazendo para isso, uma seleta escolha para a contratação de professores, vindos a maioria de São Paulo. A escola comprou também instrumentos e material pedagógico. Foi também na direção de Horma, quando foi realizado o primeiro Festival de Musica Erudita, chamado de Festival Debussy. Juntamente com o festival foi promovido o primeiro Concurso Nacional de Piano, que trouxe a cidade músicos, concertistas e artistas famosos de vários estados do Brasil. Em 1969 aconteceu o segundo Festival de Musica Erudita do CEMPA. Nos anos 70, o CEMPA foi considerado uma das cinco melhores escolas de musicas do país. Com a transferência do Colégio das Irmãs Santa Dorothéia para o novo prédio, onde hoje funciona a Universidade do Vale do Sapucaí, em 1974 o Conservatório ganha casa nova. O Conservatório passava a dividir o prédio com a Escola Estadual “Ana Augusta” e uma escola de cursinhos pré-vestibulares. A partir desse ano, o Conservatório dividia suas disciplinas e grupos escolares para dois lugares distintos: o primário musical continuava na Praça João Pinheiro e o ginásio musical e os cursos técnicos no prédio da Rua Francisco Sales. Em agosto de 1984, o prédio do Colégio Santa Dorothéia era desapropriado pelo Estado de Minas Gerais, sendo ocupado somente pelo Conservatório Estadual de Musica Juscelino Kubitschek de Oliveira. Ainda em 1984, assume a direção da escola a professora de piano Wilma Andery Fanuchi. Durante sua gestão o CEMPA sofreu seu maior trauma: o incêndio. A memória da escola, que estava registrada em livros de atividades, contendo todos os trabalhos anuais e ainda um arquivo iconográfico, com mais de 700 fotografias, desde sua criação, foram destruídos pelo fogo. Em 1987 o CEMPA tenta ressurgir das cinzas para uma tarefa constante, a de reorganização e continuação de anos de trabalhos educativos e culturais. Por volta de 3 h 30 do dia nove de março de 1987 o porteiro do CEMPA João Benedito de Oliveira Tosta ouviu estalos que pareciam explosões vindas de um dos cômodos do Conservatório. Ao verificar o barulho deparou-se com o fogo que já consumia Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 11 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista o prédio. Imediatamente o vigilante acordou o professor de Violino Dalton Ferreira Nunes, que vinha de Campinas e estava temporariamente instalado em uma sala do segundo andar do prédio. Ambos foram obrigados a sair por uma janela, pois o corredor já estava em chamas. Benedito ligou para a casa da vice-diretora e depois para a policia. Os vizinhos acordaram com o barulho do CEMPA. O incêndio começou na porta principal do prédio e não demorou a devorar os moveis e as papelarias. As chamas chegaram rapidamente às escadas antigas de madeira, que carunchadas queimavam como papel. Subiram rápido aos demais andares atingindo o telhado, que desabou incendiando os outros cômodos, um a um. Os amigos, alunos e funcionários da escola iam chegando para ver a tragédia. Enquanto os bombeiros tentavam controlar o fogo, dois ex-alunos do Conservatório arrombaram uma das portas e entraram no prédio. Como conheciam o caminho, foram direto para o arquivo de instrumentos e começaram a jogá-los para fora. Uma corrente humana foi formada. Os instrumentos passaram de mão em mão até estarem em segurança. Às cinco horas da manhã, o Conservatório já estava com sua parte interna em escombros, totalmente destruída. Só restava o esqueleto do prédio. Das paredes externas e do alicerce apenas se via os tijolos e as cinzas. Foi o que se salvou dos 30 anos do CEMPA, e dos mais de 60 anos de um prédio de estilo neoclássico. Nos primeiros dias após o incêndio suspeitava-se que sua causa teria sido um curto circuito causado acidentalmente. Tal hipótese foi descartada pela diretora Wilma, que havia mandado reformar todas as instalações elétricas da escola. Durante a perícia técnica da Policia Civil, foi constatada a impossibilidade de o incêndio ter sido causado por qualquer tipo de combustão instantânea ou curto circuito. Em um relatório assinado pelo delegado Carlos Eduardo Pinto, datado do dia 15 de julho de 1987, constata-se que o incêndio foi criminoso. Nesse relatório o delegado diz ter ouvido varias testemunhas, mas sem algum indicio ou suspeita do autor do crime. Uma semana após o incêndio os alunos do CEMPA estavam espalhados pela cidade, cada um em um lugar bem diferente e inesperado. Escolas, casas e barracões se transformavam em salas de aula. A Prefeitura da cidade renovou o contrato e reformou um galpão da casa da Praça João Pinheiro e nele construiu quatro salas, alugando mais 16 salas do Colégio Comercial São José. Infelizmente o espaço continuou reduzido e, para piorar a situação, faltava de tudo, desde os materiais escolares como lápis e papel até instrumentos. Eram muitas crianças e pouco espaço. Na tentativa de diminuir o sufoco, vários professores passaram a dar aulas em suas casas. A comunidade se envolveu. Crianças iam ao CEMPA para fazer doações. Outros ofereciam seu trabalho pessoal como carpinteiros, eletricistas e pedreiros. Moveis e instrumentos começaram a chegar de todos os lados. Em 1988 assumia o CEMPA a professora de Historia da Musica Sarah Lucia Requeijo do Amaral, mais conhecida como Sarita. Foi em sua gestão que a reforma do prédio foi feita, pouco a pouco e dividida em etapas. Somente em 1993, foi liberada a verba do estado para a conclusão da reforma. No dia 10 de setembro de 2004 o CEMPA era re-inaugurado com uma grande festa, contanto com a presença de políticos de toda a região, empresários, religiosos, alunos, exalunos professores, funcionários, e com a comunidade em geral. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 12 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista O CEMPA encontra-se hoje na direção da professora Regina, que assumiu o cargo em 2004. A escola foi tombada como Patrimônio Histórico e Cultural no ano de 1997, pela prefeitura municipal. São 2028 alunos matriculados, um número instável devido à evasão escolar. A escola também conta com 123 funcionários, entre professores, auxiliares administrativos, ajudantes de serviços em geral. O Conservatório atende atualmente a cerca de 60 cidades em toda a região, entre elas, Santa Rita do Sapucaí, Ouro Fino, Itajubá, Conceição dos Ouros, Cachoeira de Minas, Congonhal, Borda da Mata, entre outras. Dos objetivos gerais do CEMPA, o Ensino Fundamental e Médio exercem a função da formação básica do aluno, promovendo o desenvolvimento de condições necessárias à sua participação na vida social, política, econômica e cultural. Promovendo paralelamente, as condições necessárias ao prosseguimento dos estudos e à formação profissional. A escola encontra-se em pleno crescimento. A escola funciona em regime semestral. Geralmente é feita uma relação da série que o aluno irá cursar no CEMPA com a que já cursa na escola regular, também equivalente a idade. Nota-se nas estatísticas que desde o ano de 1987 a grande procura de cursos do CEMPA é feita por adolescentes. Mas este número começou a crescer a partir da década de 70. Segundo o registro do Diário Legislativo, datado em 04 de abril de 1984, a escola já possuía neste ano 1259 alunos de diversas faixas etárias. Hoje no CEMPA são oferecidos dezenove cursos sendo eles: bateria, canto, clarinete, contra-baixo elétrico, flauta doce, flauta transversal, guitarra, percussão, piano, saxofone, teclado, trompete, viola caipira, violão, violino, violoncelo, artes visuais, artesanato, técnico em decoração. Os cursos mais procurados são: bateria, guitarra, piano e artesanato, porém a aceitação da população em relação aos outros cursos também é bastante alta. Anualmente o CEMPA desenvolve um evento chamado “Semana da Arte”, que acontece na segunda semana de outubro no próprio prédio do Conservatório. Essa semana consiste em apresentações de alunos e professores durante toda a semana. Esse evento é livre para toda a comunidade. Existem também outros eventos realizados pelos membros do Conservatório, nos quais são arrecadados fundos para melhoramentos do prédio, entre esses eventos podemos citar a notável participação no evento municipal “Feira das Nações” e o Caipirart (que consiste em uma festa junina personalizada pelos membros da escola). 5 – Metodologia: A metodologia aplicada para esse artigo foi pesquisa bibliográfica e análise documental seguida de pesquisa de campo com uma amostragem de 6% de toda a comunidade do objeto de estudos, contemplando, professores, funcionários, alunos e participantes dos eventos culturais realizados no Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubsticheck de Oliveira, de Pouso Alegre – MG, com caráter qualitativo e quantitativo. Aplicou-se um questionário em 143 pessoas, sendo 01 para direção, 01 para vice-direção, 01 para secretaria, 01 para bibliotecária, 01 para funcionário de serviço geral, 03 para professores, 124 para alunos e 10 para outros. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 13 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista Como Pouso Alegre não se desponta turisticamente, porém na cidade existe uma grande riqueza histórica e cultural, esse questionário buscou solucionar o problema do artigo que é avaliar o interesse em desenvolver um evento cultural musical com maior abrangência junto ao público local. O método pode ser considerado indutivo devido à avaliação de um evento cultural musical dentro de Pouso Alegre – MG, no Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubsticheck de Oliveira e a relação entre fenômenos: Evento Cultural / Musical, Turismo Cultural Empreendedor na cidade de Pouso Alegre – MG. 6 – Resultados e discussão: Baseado na pesquisa de campo realizado no Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira, de Pouso Alegre – MG, com uma amostragem de 6% de toda a comunidade do objeto de estudo, sendo 143 pessoas entre alunos, funcionários, professores e participantes dos eventos do Conservatório, obteve-se o resultado que nessa amostragem 35 alunos estudam bateria, 29 estudam piano, 23 estudam violão, 21 estudam guitarra e 16 estudam artesanato. Em relação a como conheceram o Conservatório, 27 não lembraram como conheceu o Conservatório, 17 conheceram através da escola e 89 através de amigos. A faixa etária contemplada na amostragem é de treze pessoas até quinze anos, vinte e uma pessoas até vinte anos, cinqüenta e sete pessoas até trinta anos e quarenta e duas pessoas com quarenta anos ou mais. Escolaridade apontada pela pesquisa foi: quatorze pessoas com ensino fundamental incompleto, quarenta e sete pessoas com ensino médio incompleto, trinta e sete pessoas com superior incompleto e trinta e cinco pessoas com superior completo. Dos entrevistados setenta e nove são homens e cinqüenta e quatro mulheres. Das 133 pessoas entrevistadas setenta e nove residem em Pouso Alegre, dezessete residem em Santa Rita, seis residem em Ouro Fino, nove residem em Conceição dos Ouros, três residem em Congonhal, onze residem em Cachoeira de Minas e oito residem em Borda da Mata. Todos os entrevistados consideram o Conservatório inserido na cidade de Pouso Alegre em termos de eventos culturais, assim como todos concordam em participar e ajudar em um evento cultural musical com maior abrangência. Uma deficiência apontada pelo resultado do questionário foi à ausência das pessoas nos eventos, principalmente dos funcionários. Todos responderam que participam dos eventos culturais realizados pelo Conservatório, porém cinqüenta e nove concluíram com a observação de que vão aos eventos somente quando “dá”, ou que escutam os eventos acontecerem das suas próprias salas. 7 – Conclusão: O turismo se constitui de uma área que concentra grandes opções de investimentos e permite uma importante geração de desenvolvimento econômico e profissional. A recente, porém rápida descoberta desse mercado atraiu muitas pessoas interessadas em ingressar nessa tão promissora área. Com uma área tão próspera, novos investidores surgem a cada dia, e as pessoas com perfil empreendedor, têm se destacado cada vez mais. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 14 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista Assim como vários outros segmentos, o turismo cultural vem se despontando devido à conscientização da população em relação ao seu patrimônio cultural. Pouso Alegre, uma média cidade localizada no sul de Minas Gerais, não tem uma identidade turística definida, porém existe ali um grande potencial turístico cultural. Na cidade, existem vários patrimônios históricos que não são valorizados e reconhecidos pela população local como atrativo turístico, por outro lado, a cidade abriga um dos doze conservatórios de música do estado de Minas Gerais, o que garante a cidade uma referência cultural. Muitas pessoas de Pouso Alegre e toda região já passaram pelo Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira, o qual sempre se dispôs a ensinar a cultura e arte a todos que se interessam. Em conjunto com suas três vice-diretoras (Alaíde Dias da Silva Mariosa, Adriane Ferreira Bazzo e Maria Regina Lima), a diretora Regina Maria Franco Andere de Brito, vem realizando trabalhos para a constante melhoria do Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira. A administração do CEMPA hoje é considerada pela diretora como participativa, onde todos os professores e alunos podem dar idéias do que será melhor para o conservatório. A gestora atual assumiu o cargo em 2004, e desde então vem realizando trabalhos para o desenvolvimento cultural. Hoje o CEMPA abriga dez grupos musicais, dois eventos fixos semanais, e diversos outros eventos com o intuito de arrecadar verbas para a manutenção do prédio. Alguns desses grupos musicais já existiam antes da administração da Prof. Regina, porém foi ela que incentivou e motivou as pessoas a participarem cada vez mais das atividades extras e eventos. O evento 5ª Musical foi elaborado pela então professora Regina e teve inicio em agosto de 1997. Seu objetivo é dar oportunidade aos alunos de mostrarem seu desenvolvimento, aos professores de mostrarem seu trabalho, ao conservatório de ter um horário para apresentações sistemáticas e de “Fazer Música”, e à comunidade, de conhecer o que se faz no conservatório. As apresentações têm um cunho didático, pois, o conservatório adota a idéia de como escola, ter a obrigação de formar e informar a platéia, visando principalmente à valorização da arte e do artista que deve, por sua vez, respeitar e valorizar o seu público. Já o evento 3ª Maior nasceu na gestão atual (com a professora Regina na direção), após perceber a necessidade de se ter mais um dia fixo de atividades na escola, visto que as 5ªs Musicais não estavam suprindo a demanda dos artistas da escola e da comunidade. Assim como as 5ªs Musicais, as 3ªs Maior tem caráter educativo e didático e visa à formação do público. É aberta a entrada para toda a comunidade. Tendo Pouso Alegre um importante produto turístico cultural, como é o Conservatório Estadual de Música Juscelino Kubitscheck de Oliveira, basta agora informar como isso pode ser influenciado na identidade turística local. Com tudo isso, esse artigo visou demonstrar que Pouso Alegre pode cada vez mais se desenvolver turisticamente, com as riquezas dos recursos aqui existentes. Revista Gestão e Conhecimento Volume 5, Número 1, Artigo 5, Julho/Novembro de 2008 15 TURISMO CULTURAL RECEPTIVO EM POUSO ALEGRE-MG: MEDIDAS EMPREENDEDORAS COM PROPOSTAS CAUTELARES Roberta Manfron de Paula e Paula Mirela Barbosa Evangelista 8 – Referências: ANDRADE, A.; FONSECA, A. P. M; CALAVANS, C. G.; Trabalho Monográfico: “CEMPA” – Conservatório Estadual de Musica Pouso Alegre – Juscelino Kubitscheck de Oliveira, p. 13, 1999. ANDRADE, J. V. de. Turismo Fundamentos e dimensões. São Paulo: Ática, p. 13, 1976. BARRETO, M.; Turismo e Legado Cultural, Campinas – SP, editora Papirus, p. 20-45, 2002. BENI, M. C., Como certificar o turismo sustentável? Turismo em análise, São Paulo, v. 14, n.2, p.5-16, nov. 2003. CEMJKO, Conservatório Estadual Juscelino Kubitscheck de Oliveira. Disponível em http://www.cemjko.com.br/portal/historia.aspx?id=1. Acesso: 06 de setembro de 2008. CTUR. Comissão de Turismo de São da Boa Vista. Disponível http://www.ctur.org.br/turismo/cultural.htm. 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