1 - Unifeb

Transcrição

1 - Unifeb
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO
CIÊNCIA E CULTURA
Revista Científica Multidisciplinar da
Fundação Educacional de Barretos
Endereço:
Centro de Pós Graduação (CPG/FEB)
Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto
14783-226 – Barretos – SP – Brasil
[email protected]
www.feb.br/revista/revista.htm
Publicação Semestral / Semi-annual publication
Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch
Ciência e Cultura
3
4
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA
FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS
Conselho Diretor
Ronaldo Fenelon Santos Filho - Presidente
Márcia Medeiros Campos Borges - Conselheiro
Paulo Roberto Teixeira Júnior - Vice Presidente
José Monteiro Pereira - Conselheiro
Ezisto Hélio Fernandes Césari - Tesoureiro
Augusto César Arcuri Antoniazzi - Suplente
Marco Antônio Rocha Silva - Secretário
Osvânio de Oliveira Costa - Suplente
Diretoria Acadêmica
Profª. Dra. Patrícia Helena Rodrigues de Souza – Diretora Geral Acadêmica
Prof. Dr. Ângelo Rubens Migliore Júnior – Vice Diretor Geral Acadêmico
Centro de Pós-Graduação
Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio – Diretor
Prof. Dr. Sebastião Hetem – Vice Diretor
Ciência e Cultura
Editor:
Prof. Dr. Sebastião Hetem (Unesp/Araçatuba e FEB)
Editores Adjuntos: Prof. Dr. João Antonio Galbiatti (Unesp/Jaboticabal)
Prof. Dr. Luiz Antonio Hungria Cecci (Unesp/Franca e FEB)
Prof. Dr. Luiz Manoel Gomes Junior (Unaerp/Ribeirão Preto)
Prof. Dr. Raphael Carlos Comelli Lia (Unesp/Araraquara e FEB)
Profª. Dra. Regina Helena Porto Francisco (USP/São Carlos e FEB)
Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio (FEB)
Comissão Editorial
Adriana Galvão Moura (Direito – FEB)
Arlindo José de Souza Júnior (Educação Matemática – UFU)
Agnaldo Arroio (Ensino de Química – Educação – USP/São Carlos)
Benedicto Egbert Correa de Toledo (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Alberto Cargnelutti Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Carlos Eduardo Angeli Furlani (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Alexandre Bryan Heinemann (CIRAD – França)
Carlos José dos Santos Pellegrino
Alfredo Argus (Serviço Social – FEB)
Carlos Reisser Junior (Agrometeorologia – EMBRAPA/Clima Temperado)
Álvaro Fernandes Gomes (Física – FEB)
Carlos Teixeira Puccini (Engenharia Civil – FEB)
Ana Maria de Souza (Farmácia – USP/Ribeirão Preto)
Ciro Sérgio Abe (Administração – FEB)
André Cordeiro Leal (Direito - PUC MG e Milton Campos/MG)
Claudia Regina Bonini Domingos (Biologia – UNESP/São José do Rio Preto)
André Del Negri (Direito – UNIUBE)
Cláudio Roberto Pacheco (Engenharia Elétrica - FEB)
Ângelo Rubens Migliore Júnior (Engenharia Civil – FEB)
Clovis Sansigolo (INPE)
Antonio Aparecido Pupim Ferreira (Química - Unesp/Araraquara)
Cristina Cunha Carvalho Terrone (Química – FEB)
Antonio Baldo Geraldo Martins (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Daniela Jorge de Moura (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Antonio Carlos Delaiba (Engenharia Elétrica – UFU)
Danísio Prado Munari (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Antonio Carlos Pizzolitto (Farmácia – UNESP/Araraquara)
David Chacon Álvares (Eng. Alimentos – Univ. Est. Paraná/Guarapuava)
Ciência e Cultura
5
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
David Luciano Rosalen (Engenharia Civil - FEB)
José Eduardo Cora (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Deise Maria Fontana Capalbo (Meio Ambiente - EMBRAPA/Jaguariúna)
José Luiz Guimarães (Educação – UNESP/Assis)
Deise Pazeto Falcão (Farmácia - UNESP/Araraquara)
José Marques Júnior (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Delly Oliveira Filho (Engenharia Agrícola – Universidade Federal de Viçosa)
José Tadeu Jorge (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Deny Munari Trevisani (Odontologia – FEB)
José Walter Canoas (Serviço Social – UNESP/Franca)
Dietrich Schiel (Ensino de Física – USP/São Carlos)
Juliemy Aparecida de Camargo Scuoteguazza (Odontologia – FEB)
Dílson Gabriel dos Santos (Administração – FEA/USP)
Júlio César dos Santos (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena)
Dirceu da Silva (Educação – UNICAMP)
Karina Silva Moreira Macari (Odontologia – FEB)
Durval Dourado Neto (USP)
Késia Oliveira da Silva (Engenharia Agrícola – ESALQ/USP)
Édson Alves Campos (Odontologia – FEB)
Khosrow Ghavami (Engenharia Civil – PUC/RJ)
Eduardo Katchburian (Medicina – UNIFESP)
Kil Jin Park (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Eduardo Teixeira da Silva (Eng. Agrícola – Universidade Federal do Paraná)
Kleiber David Rodrigues (Engenharia Elétrica – UFU)
Élcio Marcantônio Júnior (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Lindamar Maria de Souza (Farmácia – FEB)
Eleny Bauducci Roslindo (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Lisete Diniz Ribas Casagrande (Educação – FEB/UNAERP)
Elisabete Frollini (Química – USP/São Carlos)
Lizeti Toledo de Oliveira (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Elisabeth Pimentel Rosseti (Odontologia – FEB)
Lorival Larini (Farmácia – FEB)
Fernanda Scarmato de Rosa (Farmácia – FEB)
Lúcia Helena Sipaúba Tavaraes (Engenharia Agrícola – UNESP/Jaboticabal)
Fernando Horta Tavres (Direito – PUC/MG)
Luiz Antonio Hungria Cecci (Serviço Social – FEB)
Flávio Dutra de Rezende (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP)
Luiz Carlos Pardini (Odontologia – USP/Ribeirão Preto)
Francisco José Vela (Engenharia Civil – FEB)
Luiz Macelaro Sampaio (Odontologia – FEB)
Geraldo Nunes Correa (Sistema de Informação – FEB)
Luiz Manoel Gomes Junior (Direito – UNAERP)
Hélio Massaiochi Tanimoto (Odontologia – FEB)
Luiz Paulo Geraldo (Física – FEB)
Gustavo Rezende Siqueira (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP)
Luiz Rodrigues Wambier (Direito - UNAERP)
Heizir Ferreira de Castro (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena)
Luiz Rogério Dinelli (Química – FEB)
Helio Grassi Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Luiza Maria Pierini Machado (Engenharia de Alimentos – FEB)
Hérida Regina Nunes Salgado (Farmácia – UNESP/Araraquara)
Manoel de Jesus Simões (Medicina – UNIFESP)
Hidetake Imasato (Química – USP/São Carlos)
Manoel Victor Franco Lemos (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Holmer Savastano Júnior (Eng. Civil/Agrícola – FZEA/USP Pirassununga)
Marcelo Borges Mansur (Engenharia Química – Univ. Federal de Minas Gerais)
Hugo Barbosa Suffredini (Química – UNIJUÍ)
Marcelo Henkemeier (Engenharia de Alimentos - Univ. de Passo Fundo)
Humberto Tonhati (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Marcelo Henrique de Faria (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP)
Ignácio Maria dal Fabro (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Márcia Justino Rossini Mutton (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Irenilza de Alencar Naas (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Márcia Luzia Rizzatto (Engenharia de Alimentos – FEB)
Isabel Cristina Moraes Freitas (Engenharia de Alimentos – FEB)
Marco Aurélio Neves da Silva (Zootecnia – ESALQ/USP- Piracicaba)
Jackson Rodrigues de Souza (Química – Universidade Federal do Ceará)
Marcos Eduardo de Mattos (Administração – FEB)
Jairo Osvaldo Cazetta (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Maria Auxiliadora Brigliador Conti (Química – FEB)
Janice Rodrigues Perussi (Química – USP/São Carlos)
Maria Cristina Thomaz (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Jean Carlo Alanis (Engenharia de Alimentos – FEB)
Maria José de Almeida (Educação – UNICAMP)
Jeosadaque José de Sene (Química – FEB)
Maria José Soares Mendes Giannini (Farmácia – UNESP/Araraquara)
João Antonio Galbiatti (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Maria Teresa do Prado Gambardella (Química – USP/São Carlos)
João Domingos Biagi (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Maria Tereza Ribeiro Silva Diamantino (Engenharia de Alimentos – FEB)
João Marino Júnior (Administração – FEB)
Marília Oetterer (Agroindústria – ESALQ/USP – Piracicaba)
Jorge Aberto Vieira Costa (Eng. de Alimentos – Univ. Fed. do Rio Grande/RS)
Marilú Pereira Serafim Parsekian (Engenharia Civil – FEB)
José Carlos Barbosa (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Mário José Filho (Serviço Social – UNESP/Franca)
6
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Mário Rolim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal Rural de Pernambuco)
Sebastião Hetem (Odontologia – FEB)
Marlei Aparecida Seccani Galacci (Odontologia – FEB)
Sérgio de Freitas (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Mauro dal Secco de Oliveira (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Sérgio do Nascimento Kronka (Estatística - UNOESTE)
Miguel Carlos Madeira (Odontologia – UNESP/Araçatuba)
Sérgio Henrique Tiveron Juliano (Direito – UNIUBE)
Miriam Eiko Katuki Tanimoto (Odontologia – FEB)
Shirley Aparecida Garcia Berbari (Engenharia de Alimentos – ITAL)
Neyton Fantoni Junior (Direito – FEB)
Silvano Bianco (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Nilza Maria Martinelli (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Sissi Kawai Marcos (Engenharia de Alimentos – FEB)
Odair A. Fernandes (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Sônia Maria Alves Jorge (Química – UNESP/Botucatu)
Odila Florêncio (Química – UFSCAR)
Sonia Regina Meira (Educação - FAEX)
Orlando Fatibello Filho (Química – UFSCAR)
Sylvio Luís Honório (Engenharia Agrícola – UNICAMP)
Oselys Rodrigues Justo (Engenharia de Alimentos - FEA/UNICAMP)
Telmo Antonio Dinelli Estevinho (Sociologia/Ciência Política – UFMT)
Osvaldo Eduardo Aielo (Física – FEB)
Tetuo Okamoto (Odontologia – UNESP/Araçatuba)
Patrícia Amoroso (Odontologia – FEB)
Ueide Fernando Fontana (Odontologia – FEB)
Patrícia Helena Rodrigues de Souza (Odontologia – FEB)
Victor Haber Perez (Bioengenharia – FAENQUIL – Lorena)
Patrícia Nassar (Química – FEB)
Walter Antonio de Almeida (Odontologia – FEB)
Paula Homem de Mello (Química – USP/São Carlos)
Paulo César Hardoim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal de Lavras)
Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa – São Carlos)
Paulo José Freire Teotônio (Direito – FEB)
Paulo Sérgio Cerri (Odontologia – UNESP/Araraquara)
Pedro Leite de Santana (Engenharia Química – Univ. Federal de Sergipe)
Pedro Paulo Scandiazzo (Educação Matemática – UNESP/S. J. do Rio Preto)
Rael Vidal (Biologia – FEB)
Ranulfo Monte Alegre (Engenharia de Alimentos – UNICAMP)
Raphael Carlos Comeli Lia (Odontologia – FEB)
Regina Célia de Matos Pires (Recursos Hídrico – IAC/Campinas)
Regina Helena Porto Francisco (Química – FEB)
Regina Kitagawa (Engenharia de Alimentos – ITAL)
Reginaldo da Silva (Direito – FEB)
Renata Camacho Miziara (Odontologia – FEB)
Renato de Mello Prado (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Renato Moreira Ângelo (Física – Univ. Federal do Paraná)
Ricardo Dias Signoretti (Eng. Agronômica - APTA/AM – Secret.Agricultura- SP)
Rinaldo César de Paula (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Rober Tufi Hetem (Medicina – UNICAMP)
Roberta Toledo Campos (Direito – UNIUBE)
Roberto Braga (Planejamento Urbano – UNESP/Rio Claro)
Roberto Holland (Odontologia – UNESP/Araçatuba)
Romildo Martins Sampaio (Engenharia de Alimentos – FEB)
Rosemiro Pereira Leal (Direito – UFMG e PUC/MG)
Rouverson Pererira da Silva (Agronomia – UNESP/Jaboticabal)
Salete Linhares Queiroz (Química – USP/São Carlos)
Sally Cristina Moutinho Monteiro (Farmácia – FEB)
Ciência e Cultura
7
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
Editorial
O lançamento do primeiro número de “Ciência e Cultura: Revista Científica
Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos” revestiu-se de um caráter
todo especial e foi recebido com entusiasmo pela comunidade científica cujo reconhecimento pelo trabalho realizado e os êxitos alcançados ultrapassaram os limites
da instituição, como era esperado e era o nosso desejo.
As responsabilidades de quantos militam na sua organização, redação e
editoração aumentaram consideravelmente, pois, deixou de ser um projeto para
ser um veículo de divulgação científica que, sem perder a sua linha mestra de
atuação, dispõe-se a firmar-se, como é necessário, como uma publicação que
terá na periodicidade o seu primeiro objetivo.
Superada a fase inicial do lançamento, normatização, distribuição e composição do corpo editorial, temos agora a incumbência de mostrar competência para
alcançar a credibilidade, item fundamental para a perpetuação da revista.
Evidentemente que o nosso trabalho apenas se iniciou e a continuidade da
publicação da Ciência e Cultura, será a recompensa pelo esforço dispendido,
complementado pelo prestigio que recebe dos autores na submissão de artigos
para publicação.
É fundamental que os envolvidos em todas as etapas da publicação da
revista continuem sensíveis às suas necessidades e continuem oferecendo seu
apoio.
Maio/2007
Sebastião Hetem
Editor Chefe
8
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
SUMÁRIO
Artigos Científicos
Original Articles
ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO
SERVIÇO DE PATOLOGIA BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS.
EPIDEMIOLOGIC STUDY OF THE INFLAMMATORY EPITHELIAL-FIBROUS HYPERPLASIA DIAGNOSED IN THE BUCCAL
PATHOLOGY SERVICE OF THE SCHOOL OF DENTISTRY OF BARRETOS.
Raphael Carlos Comelli LIA1, Renata Hebling MARINS1, Elizangela Partata ZUZA2
..................................................................................................................................................................................................................................11
DEGRADAÇÃO OXIDATIVADE UM POLUENTE ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIOAQUOSO UTILIZANDO FERRATO
DE POTÁSSIO
OXIDATIVE DEGRADATION OF AN ORGANIC POLLUTANT (P-NITROPHENOL) IN AQUEOUS SOLUTION BY USING
POTASSIUM FERRATE
Jeosadaque J. SENE1, Angelo Ricardo Fávaro PIPI1, Luis Rogerio DINELLI1, Paola Daniele MARRETO2, Sônia Maria Alves
JORGE3, Maria Valnice Boldrim ZANONI4.
.....................................................................................................................................................................................................................................19
ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W.T. Aiton USANDO DIMENSÕES LINEARES DO
LIMBO FOLIARLEAF
AREA ESTIMATIVE IN WEEDS LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W. T. Aiton USING LINEAR DIMENSION OF THE LEAF BLODE
Silvano BIANCO; Matheus Saraiva BIANCO; Leonardo Bianco de CARVALHO.
..................................................................................................................................................................................................................................27
O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL
THE RIGHT TO INFORMATION IN CONFRONTATION WITH THE PRINCIPLE OF DUE PROCESS OF LAW
Paulo José Freire TEOTÔNIO¹, Abner Rafael de SOUZA², Michele Aparecida Marques MIGLIORUCCI³.
....................................................................................................................................................................................................................................33
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCALNAVISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE
ARARAQUARA
PARTICIPATIVE BUDGETING AND THE LOCAL POWER UNDER THE POINT OF VIEW OF THE LEGISLATIVE POWER: A
STUDY OF THE MUNICIPALITY OF ARARAQUARA
João Marino JÚNIOR
...................................................................................................................................................................................................................................41
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJACOM RESISTÊNCIAAO CANCRODA-HASTE PARACULTIVO EM ÁREAS DE REFORMADE CANAVIAL
ESTIMATES THE PARAMETERS GENETICS IN EARLY SOYBEAN POPULATIONS WITH RESISTANCE TO STEM CANKER
FOR PLANTING IN SUGAR CANE REFORMING AREAS
Ivana Marino BÁRBARO1,2; Maria Aparecida Pessôa da Cruz CENTURION2; Antonio Orlando DI MAURO2; Laerte Souza
BÁRBARO JÚNIOR3; Marcelo TICELLI1; Fernando Bergantini MIGUEL1; José Antônio Alberto da SILVA1; Marcelo Marchi
COSTA2
..................................................................................................................................................................................................................................53
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE
PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
AGRONOMIC PERFORMANCE OF SOYBEAN CULTIVARS IN COLINA-SP REGION, IN REFORM PASTURE AREA,
AGRICULTURAL YEAR 2005/06*
Laerte Souza BÁRBARO-JÚNIOR1; Ivana Marino BÁRBARO2; Vinícius Antonio MACIEL JÚNIOR3; Marcelo TICELLI4;
Fernando Bergantini MIGUEL4; Paulo César RECO5; João Henrique BARBERO6
................................................................................................................................................................................................................................63
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO
TEMPERATURE, pH AND SOFTNESS MEAT OF THE NELLORE STEERS FEED WITH TROPICAL GRASS OR CORN SILAGE
Ricardo Linhares SAMPAIO1, Ricardo Dias SIGNORETTI2, Flavio Dutra de RESENDE2, Rogério Marchiori COAN3, Ricardo
Andrade REIS4, Guilherme Fernando ALLEONI5, Marcelo Henrique de FARIA2, Gustavo Rezende SIQUEIRA2, Fernando Bergantini
MIGUEL2
..................................................................................................................................................................................................................................73
ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM BISCOITOS AMANTEIGADOS
STUDY AND APPLICATION OF SORPTION ISOTHERMS DATA AND MATHEMATICAL MODELS FOR BISCUIT BUTTERED
Ana Cláudia Bites ROMANINI1, Catharina Calochi Pires de CARVALHO1, Márcio Benjamin ZANI1, Sissi Kawai
MARCOS2, Isabel Cristina Freitas MORAES2 e Romildo Martins SAMPAIO2
.................................................................................................................................................................................................................................83
Ciência e Cultura
9
10
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Estudo epidemiológico das hiperplasias fibro-epiteliais
inflamatórias diagnosticadas no serviço de Patologia
Bucal da Faculdade de Odontologia de Barretos.
Epidemiologic study of the inflammatory epithelial-fibrous hyperplasia diagnosed
in the Buccal Pathology service of the School of Dentistry of Barretos.
Raphael Carlos Comelli LIA1, Renata Hebling MARINS1, Elizangela Partata ZUZA2
1
Professor da Disciplina de Patologia Bucal das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos.
Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto - Barretos-SP - CEP 14783-226
2
Professora do Curso de Pós-Graduação em Periodontia das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos.
RESUMO
As hiperplasias fibroepiteliais inflamatórias (HFIs) caracterizam-se clinicamente por projeções exofíticas dos tipos
abrangentes ou focais, as quais estão associadas a condições irritativas, podendo sofrer exacerbações inflamatórias sobretudo em áreas ulceradas. O objetivo deste estudo foi realizar um estudo epidemiológico retrospectivo regional, avaliando-se a prevalência das HFIs, de acordo
com suas apresentações clínicas, distribuição idade/sexo
e relação com os possíveis fatores causais. Neste estudo
realizou-se um levantamento epidemiológico das HFIs na
cidade de Barretos e região, avaliando-se arquivos do serviço de patologia do Centro de Diagnóstico e Prevenção
(CDPrev) da Fundação Educacional de Barretos (FEB)
no período de 2001 a 2006. Foram avaliados 968 prontuários que constavam análise histopatológica, sendo diagnosticados 249 casos de HFIs, cujas lâminas foram
reavaliadas para confirmação diagnóstica. Os resultados
mostraram que a prevalência geral de HFIs foi de 25,72%,
sendo que 19,42% eram abrangentes e 6,3% focais. Houve maior acometimento no sexo feminino com proporção
de 3:1 para as HFIs abrangentes e de 2:1 para as focais.
Em relação à idade, a abrangente foi mais prevalente entre os 40 e 90 anos, enquanto as focais entre 60 e 80 anos.
Todos os pacientes com HFIs abrangentes faziam uso de
próteses totais ou parciais removíveis. Diante dos achados deste estudo, pode-se concluir que as HFIs estão entre os processos patológicos de alta prevalência na cavidade bucal, acometendo em maior proporção mulheres
com ampla faixa etária (40 a 90 anos), estando relacionada com freqüência ao uso de aparelhos protéticos.
Palavras-Chave: Hiperplasias reacionais, processos
proliferativos, irritação local
ABSTRACT
The inflammatory epithelial-fibrous hyperplasias (IEHs)
are clinically characterized by exofitic projections which
can be extensive-type or focal-type and associated to
irritative conditions suffering exacerbations mainly in
ulcerated areas. The purpose of this study was to
accomplish a retrospective regional epidemiologic study,
evaluating the prevalence of IEHs and its clinical
presentations, age/sex distribution and relationship with the
possible causal factors. In this search it was achieved an
epidemiologic observation of IEHs in the region of Barretos
city, evaluating files of the pathology service of the Center
of Diagnosis and Prevention (CDPrev) of the Barretos
Educacional Foundation (BEF) in the period of 2001 to
2006. Ninety sixty-eight (968) files containing
histopathologic analysis were evaluated, being diagnosed
249 cases of IEHs whose slides were revaluated for
diagnostic confirmation. The results showed that the
general prevalence of IEHs was 25.72% and that the
19.42% was extensive-type (ET) and 6.3% focal-type
(FT). There was highest prevalence in the feminine sex
with proportion of 3:1 for extensive-type and 2:1 to the
focal ones. Concerning to the age, the extensive-type was
more prevalent between 40 and 90 years old while the
focal ones was between 60 and 80 years old. All the
patients with IEHs extensive-type used total or partial
removable prostheses. According with the results obtained
it can be concluded that the IEHs are among the
pathological processes of high prevalence in the buccal
cavity, reaching in larger proportion women with wide
age group (40 to 90 years old), being frequently related to
the use of prosthetic apparatus.
Keywords: Reactional hyperplasias, proliferative process,
local irritation
Ciência e Cultura
11
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
INTRODUÇÃO
LIA et al.
(HOPPS e JOHNSON, 1974).
Normalmente, tanto nas abrangentes quanto nas
A mucosa bucal apresenta dois componentes
focais, as lesões são de crescimento lento com tamanho
estruturais básicos, o revestimento epitelial pavimentoso
variável de menos de 1,0 centímetro, podendo atingir vári-
estratificado e a lâmina própria, que são intimamente unidos
os centímetros em seu maior eixo, além de envolverem a
pela membrana basal, interagindo-se ininterruptamente.
face vestibular sulcular do rebordo alveolar sendo ocasio-
Esta mucosa pode ser caracterizada como mastigatória
nais do lado lingual. Todavia, é importante ressaltar que
(revestimento) ou especializada (ex. dorso da língua)
não se limitam a essas localizações podendo estar pre-
(BHASKAR, 1978), sendo que quando há interferências
sentes em diversas áreas irritativas crônicas tanto na
no ambiente bucal, com freqüência podem ocorrer
mandíbula quanto na maxila. Predominam em adultos de
evoluções adaptativas condicionadas ao estímulo,
meia idade e em mais velhos, com predileção para o sexo
ocasionando fenômenos hiperplásicos.
feminino na proporção de 2:1 a 3:1 (BUCHNER et al.,
No fenômeno hiperplásico ocorre um aumento
1984).
volumétrico tecidual caracterizado pelo aumento no nú-
Tendo-se por base contestações sobre a
mero de seus constituintes. São consideradas condições
potencialidade agressiva dessa patologia (COELHO,
adaptativas quando há estimulação da função especializada
1997), tornam-se necessárias pesquisas epidemiológicas
da célula, evoluindo em decorrência de exigências funcio-
que avaliem sua prevalência, aspectos clínicos mais fre-
nais (GUIMARÃES, 1982; KUMAR et al., 2005).
qüentes e os possíveis fatores relacionados à causa. Di-
Nas hiperplasias fibroepiteliais inflamatórias
ante de tais considerações, o objetivo deste estudo foi re-
(HFIs) da mucosa bucal, a irritação crônica persistente
alizar um estudo epidemiológico retrospectivo regional,
determinada por vários fatores locais, modula a resposta
avaliando-se a prevalência das HFIs de acordo com suas
inflamatória e a evolução reparativa com crescimento
apresentações clínicas em função da faixa etária/sexo e
tecidual. Uma interação de fatores como trauma e uma
relação com os possíveis fatores causais.
complexa flora microbiana atuante, aceleram e intensificam a resposta inflamatória, a qual evolui com excessiva
MATERIAL E MÉTODOS
proliferação miofibroangioblástica e subseqüente
envolvimento colagênico com densidade progressiva ha-
Neste estudo realizou-se um levantamento
bitual (PRIDDY, 1992; LIA et al., 2002; LIA et al., 2004).
epidemiológico na cidade de Barretos e região, avaliando-
No revestimento epitelial observa-se aumento populacional
se fichas clínicas do serviço de patologia do Centro de
envolvendo suas camadas, e na lâmina própria destaca-
Diagnóstico e Prevenção (CDPrev) do Curso de Odonto-
se o incremento da síntese de colágeno pelos fibroblastos
logia da Fundação Educacional de Barretos (FEB), em
induzidos por citocinas (NAKAO et al., 1995).
que constavam a realização de biópsias excisionais ou
As HFIs caracterizam-se clinicamente como
incisionais realizadas na própria instituição ou em clínicas
abrangentes, por projeções exofíticas (únicas ou múltiplas)
da região, que foram encaminhadas para análise
freqüentemente observadas como reação tecidual junto
histopatológica.
às dobras de uma prótese total mal adaptada (chamada
No período de maio 2001 a junho 2006 foram ava-
na literatura por “hiperplasia fibrosa inflamatória”)
liados 968 prontuários, sendo que foram considerados para
(BOLDINE, 1969; BUCHNER et al., 1977; BUDTZ-
esta pesquisa somente os casos diagnosticados como HFIs,
JORGENSEN, 1981) ou como focais polipóides associa-
cujas lâminas histológicas foram reavaliadas evidencian-
das à irritação (conhecidas como pólipos fibro-epiteliais).
do-se os eventos especiais e os achados referenciais para
Esses processos são habitualmente consistentes e róseos,
configuração diagnóstica. É importante ressaltar que to-
podendo exibir áreas de menor densidade, eritematosas
das as lâminas foram analisadas por um único examina-
e/ou ulceradas associadas a exacerbações inflamatórias
dor experiente quanto aos parâmetros de diagnóstico das
12
Ciência e Cultura
ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS
INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA
BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
lesões, sendo que este não deveria examinar mais que 20
Em relação ao uso de aparelhos protéticos, 100% dos
lâminas por dia, no intuito de não causar vieses devido ao
pacientes com HFIs abrangentes utilizavam próteses to-
cansaço visual e mental. A maioria dos cortes histológicos
tais, enquanto os casos de HFIs focais estavam relacio-
apresentavam-se corados em Hematoxilina e Eosina (H.E)
nados a outros fatores de irritação, tais como traumas de
e alguns deles também por Tricômico de Masson.
grampos de próteses parciais removíveis, aparelhos
O propósito da avaliação dos prontuários foi para
verificação da prevalência das HFIs de acordo com seus
ortodônticos, hábitos de morder os lábios e bochechas,
dentre outros.
aspectos clínicos (abrangente ou focal), considerados pe-
Grande parte dos estudos que avaliaram a prevalência
las suas extensões demarcadas nas fichas histopatológicas.
de lesões na cavidade bucal, sugeriram que a “hiperplasia
Avaliou-se a distribuição por idade/sexo, sendo que tam-
fibrosa inflamatória” é a entidade mais comum dentre as
bém foi verificada (sobretudo na condição abrangente) a
lesões proliferativas não-neoplásicas (CRUZ et al., 2005;
inter-relação com o uso de próteses totais ou parciais re-
GOMEZ et al., 1992; INOJOSA- MARIN, 1998; ISRA-
movíveis.
EL et al., 2003; LEONEL et al., 2002; SANTOS et al.,
Independente de ser HFI abrangente ou focal, as
2002; VIER et al., 2004). Como a “hiperplasia fibrosa in-
características histopatológicas observadas foram: incre-
flamatória” e os “Pólipos fibro-epiteliais” apresentam as
mento de tecido conjuntivo fibroso com feixes densos de
mesmas características histológicas, diferenciando-se ape-
fibras colágenas multidirecionais, celularidade regular e
nas em sua extensão clínica e fatores causais, neste estu-
vascularização variável com infiltrado inflamatório
do ambos foram classificados genericamente como
subepitelial e perivascular de prevalência mononuclear
Hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs),
discreta e/ou moderada (intensidade diversa), em áreas
abrangentes (referente a “Hiperplasia fibrosa inflamató-
edemaciadas. Foram observados a presença de eosinófilos
ria) ou focais (referente aos pólipos fibro-epiteliais), as
e de eventuais folículos linfóides. No revestimento epitelial
quais podem sofrer exacerbações inflamatórias sobretu-
considerou-se predomínio de regiões hiperplásicas carac-
do em áreas ulceradas.
terizadas por aumento basilar, acantose, e cristas
A prevalência geral de HFIs nesta pesquisa foi de 249
interpapilares adelomorfas por vezes hiperparaceratóticas/
casos, totalizando 25,72%. Um estudo que encontrou
hiperortoceratóticas.
prevalência similar foi o de Vier et al. (2004), em que os
autores avaliaram lesões bucais biopsiadas e constataram
RESULTADOS E DISCUSSÃO
que a HFI foi a lesão mais comum, atingindo 28,6% de
todos os casos avaliados. Outros estudos também mos-
Do total dos 968 prontuários histopatológicos exami-
traram prevalências consideráveis de HFI, porém em por-
nados, 249 foram diagnosticados como HFIs, totalizando
centagens variáveis como por exemplo, as pesquisas de
sua prevalência geral em 25,72%. Dos 249 casos diag-
Leonel et al. (2002) com 20%, a de Israel et al. (2003)
nosticados como HFI, 188 (19,42%) foram caracteriza-
com 16,6%, a de Zanetti et al. (1996) com 15% e a de
das como lesões abrangentes e 61 (6,3%) como focais
Inojosa-Marin (1998) com 14%. Da literatura pesquisada,
(pólipos fibroepiteliais inflamatórios) (gráfico 1).
somente o estudo de Castro (1997) mostrou baixa ocor-
A distribuição por idade nos casos com HFIs
abrangentes demonstrou ocorrência a partir dos 20 anos,
rência de HFI, totalizando apenas 2,9% de todas as lesões bucais.
com concentração maior entre 40 e 90 anos (Gráfico 2).
Além da prevalência geral de HFIs, nosso estudo
Já nos casos de HFIs focais houve prevalência nas ida-
se propôs avaliar a ocorrência dessa lesão de acordo com
des entre 60 e 80 anos (Gráfico 3). A prevalência de HFIs
os tipos de HFIs (abrangentes ou focais), sendo que as
foi maior nas pacientes do sexo feminino, numa propor-
abrangentes foram encontradas em 19,42% dos casos e
ção de aproximadamente 3:1 nas abrangentes e 2:1 nas
as focais em apenas 6,3%. Nos estudos confrontados,
focais.
nenhum se preocupou em avaliar a prevalência de HFIs
Ciência e Cultura
13
LIA et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
levando-se em consideração os tipos supracitados.
diagnóstica com um sarcoma por patologistas menos ex-
Em nossa casuística, a maioria dos casos de HFIs
perientes (CUTRIGHT, 1972). Em nossa amostragem,
ocorreu em pacientes do sexo feminino numa proporção
este fenômeno foi observado em apenas 2 casos como
de 3:1 (abrangentes) e de 2:1 (focais). O fato da maior
focos eventuais representados por osteóide e osso madu-
prevalência ocorrer em mulheres está de acordo com al-
ro, considerado como produção reacional devido a irritação
guns estudos da literatura (ALVES e GONÇALVES,
crônica, não devendo ser confundido com fibroma
2005; CASTRO, 1997; CRUZ et al., 2005; INOJOSA-
ossificante ou mais raramente com um padrão de sarcoma,
MARIN, 1998; ZANETTI et al., 1996). Enquanto Corbet
pela natureza irregular do osso e/ou cartilagem formados.
(1964) não encontrou diferenças na prevalência entre se-
Em algumas ocasiões o processo hiperplásico
xos, independente da idade, Santos et al. (2002) afirmou
apresenta padrão de hiperplasia papilar inflamatória, po-
não haver diferenças entre sexos apenas em adultos. Já
dendo inclusive atingir aspecto pseudo-epiteliomatoso, o
Penha (2001) sugeriu não haver diferença significativa na
qual não deve ser confundido com um carcinoma
freqüência de lesões de mucosa bucal entre sexos, exceto
(NEVILLE et al., 2004). Este fenômeno também foi ve-
quando da utilização de próteses, em que se observa mai-
rificado nesta pesquisa em 2 casos, observando-se áreas
or prevalência de lesões no sexo feminino. Alguns levan-
de hiperplasia papilar inflamatória com focos de hiperplasia
tamentos têm sugerido que a predileção por mulheres
pseudo-epiteliomatosa.
deve-se ao fato de viverem mais, apresentarem-se com
Conforme relato de alguns autores, o desenvolvi-
assiduidade às consultas odontológicas, usarem próteses
mento de HFIs abrangentes relativo ao tempo de uso de
com mais freqüência e por um período maior de tempo,
próteses totais, variou desde 1 ano a mais de 30 anos de
além de apresentarem mudanças hormonais significati-
utilização, predominando após 5 anos de uso (COELHO,
vas durante toda a vida (BUCHNER et al., 1984).
1997; JONES, 1976; KENG e LOH, 1989;
A distribuição por idade nos casos abrangentes,
NORDENRAM e LANDT, 1969).
considerados pelas suas extensões descritas na ficha
Há uma forte associação entre o uso de próteses
histopatológica, envolveu em maior proporção pacientes
removíveis (totais ou parciais) e o aparecimento de lesões
entre 40 e 90 anos, estando em conformidade com o ob-
bucais, fato confirmado no estudo de Penha (2001), em
servado por Coelho (1997). Já nos casos focais a maior
que o autor verificou que dos 135 pacientes que utiliza-
concentração de casos ocorreu entre 60 e 80 anos.
vam algum tipo de prótese, 63 (46.6%) apresentavam le-
As HFIs focais denominadas de pólipos fibroepiteliais (sésseis ou pediculados), foram consideradas
sões relacionadas ao uso das mesmas, como estomatite
protética e “hiperplasia fibrosa inflamatória”.
neste estudo como um tipo de HFI devido à característica
Em nosso estudo verificou-se que 100% dos pa-
reacional inflamatória, sendo relativamente freqüentes e
cientes com HFIs abrangentes, utilizavam próteses totais.
com um diagnóstico clínico diferencial confuso em rela-
De acordo com Tamaki et al. (1993), as próteses dentárias
ção a outros processos focais, tais como fibroma de
muco-suportadas mal adaptadas ou frente ao seu uso pro-
irritação e papiloma escamoso. Uma situação menos fre-
longado e contínuo, podem ser consideradas como agen-
qüente dentre as HFIs focais é aquela considerada como
tes físicos irritantes aos tecidos bucais, levando-os a uma
“fibroma por dentadura semelhante a folha”, condição
reação crônica caracterizada na maioria das vezes pela
peculiar de massa rósea achatada com pedículo estreito
formação de processos proliferativos não-neoplásicos.
inserido no palato, ajustada usualmente em leve depressão sob uma prótese total (NEVILLE et al., 2004).
Considerando-se a importância das hiperplasias
reacionais inflamatórias como um todo, torna-se funda-
Ocorrência reacional incomum pode ser obser-
mental um correto enquadramento dessas lesões no qua-
vada nas HFIs, tais como formação irregular de estrutu-
dro de classificação dessas patologias no intuito de facili-
ras osteóides e/ou condróides conhecida como “metaplasia
tar o entendimento na literatura corrente. Dessa forma, a
óssea e condromatosa”, a qual pode trazer confusão
seqüência de novos trabalhos de pesquisa abrangendo
14
Ciência e Cultura
ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS
INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA
BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS.
levantamentos epidemiológicos, deverão apresentar subsídios importantes no que concerne às hiperplasias fibroepiteliais inflamatórias. Verifica-se contudo, a necessidade de estudos retrospectivos e prospectivos, que avaliem
o grau de recidiva das lesões, os tratamentos indicados,
os tipos de evoluções reacionais e as características
proliferativas das mesmas.
CONCLUSÕES
Diante dos achados deste estudo, pode-se concluir que:
1. As Hiperplasias Fibroepiteliais Inflamatórias
(HFIs) estão entre os processos patológicos de
alta prevalência na cavidade bucal, atingindo
25,72% dos casos avaliados.
2. Acometem mulheres na maior parte dos casos,
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
BUCHNER, A.; BEGLEITER, A.; HANSEN, L.S. The
predominance of epulis fissuratum in females.
Quintessence International, v.15, p.699-702, 1984.
BUCHNER, A.; CALDERON, S.; RAMON, Y. Localized
hyperplastic lesions of the gingival: a clinicopathological
study of 302 lesions. Journal of Periodontology, v.48, p.101104, 1977.
BUDTZ-JORGENSEN, E. Oral mucosal lesion associated
with the wearing of removable dentures. Journal of Oral
Pathology, v.10, n.2, p.65-80, 1981.
CASTRO, A.L. Hiperplasia fibrosa inflamatória de fórnix
do vestíbulo bucal: estudo clínico e histológico de 665 casos. Araçatuba-SP: Tese de Livre Docente em Diagnóstico Bucal, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista, 1997.
sendo observadas numa proporção 3:1 nos casos
de HFIs abrangentes e de 2:1 nas focais.
3. De maneira geral, as HFIs abrangentes e focais
atingem indivíduos com ampla faixa etária de 40
a 90 anos, estando com freqüência relacionadas
COELHO, C.M.P. Hiperplasia fibro-epitelial inflamatória. Epidemiologia e atividade proliferativa celular epitelial.
Ribeirão Preto, SP: Tese Mestrado em Patologia Experimental, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 1997.
ao uso de aparelhos protéticos, principalmente nos
casos abrangentes (100% dos casos).
AGRADECIMENTOS
À Teresinha de Jesus Borin Carvalho, técnica do laboratório de Patologia Bucal, que realizou a preparação das
lâminas histológicas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, N.C.; GONÇALVES, H.H.S.B. Estudo descritivo da ocorrência de hiperplasias fibrosas inflamatórias
observadas no serviço do laboratório de histopatologia bucal
da Faculdade de Odontologia de Marília. Revista Paulista
de Odontologia, v.27, n.4, p.4-8, 2005.
BHASKAR, S.N. Histologia Oral de Orban. 8ª ed. São
Paulo: Artes Médicas, 1978.
BOLDINE, R.L. Oral lesion caused by ill-fitting dentures.
Journal of Prosthetic Dentistry, v.21, n.6, p.580-588, 1969.
CORBET, E.H. Hyperplasia of the oral tissues caused by
ill-fitting dentures. Brazilian Dental Journal, Ribeirão Preto, v.116, n.2, p.111-114, 1964.
CRUZ, M.C.F.; ALMEIDA, K.G.B.; LOPES, F.F.; BASTOS, E.G.; GUIMARÃES, F.R.A. Levantamento das
biópsias da cavidade oral realizadas no Hospital Universitário- Unidade Presidente Dutra-UFMA da cidade de São
Luís-MA, no período de 1992 a 2002. Revista Brasileira de Patologia Oral, v.4, n.3, p.185-188, 2005.
CUTRIGHT, D.E. Osseous and chondromatous
metaplasia caused by dentures. Oral Sugery Oral
Medicine Oral Pathology, v.34, p. 625-633, 1972.
GOMEZ, R.S.; FIGUEIREDO, F.P.; CAPISTRANO,
H.M.; LOYOLA, A.M. Levantamento das biópsias bucais realizadas na Faculdade de Odontologia da UFMG.
Arq. Centro Estud. Curso Odontol., v.19, n.2, p.105-113,
1992.
GUIMARÃES, S.A.C. Patologia Básica da Cavidade
Oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.
Ciência e Cultura
15
LIA et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
HOPPS, R.M.; JOHNSON, N.W. Relationship between
histological degree of inflammation and epithelial
proliferation in macaque gingival. Journal of Periodontal
Research, v.9, n. 5, p.273-283, 1974.
NAKAO, K.; YONEDA, K.; OSAKI, T. Enhanced
cytokine production an collagen synthesis of gingival
fibroblasts from patients with denture fibromatosis. Journal
of Dental Research, v.74, n.4, p.1072-1078, 1995.
INOJOSA-MARIN, H.J. Estudo epidemiológico das lesões buco-maxilo-faciais diagnosticadas no laboratório da
patologia bucal da Faculdade de Odontologia de
Pernambuco de 1991 a 1998. João Pessoa-PE: tese de
mestrado em Diagnóstico Bucal, Faculdade de Odontologia, Universidade de Pernambuco, 1998.
NEVILLE, B.W.; DAMM, D.D.; ALLEN, C.M.;
BOUQUOT, J.E. Patologia oral & Maxilofacial. 8a ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
NORDENRAM, A.; LANDT, H. Hyperplasia of the oral
tissues in denture cases. Acta odontologica Scandinavica,
v.27, n.5, p.481-491, 1969.
ISRAEL, M.S.; CARVALHO, F.C.R.; PYRO, S.C.;
DIAS, E.P. Casuística de 26 anos do serviço de anatomia
patológica do Hospital Universitário Antônio Pedro
(HUAP/UFF). Revista Brasileira de Odontologia, v. 60,
n. 2, p.106-107, 2003.
PENHA, S.S. Lesões da mucosa bucal no atendimento
odontológico de urgência na FOUSP. São Paulo, SP: Tese
de Doutorado em Patologia Bucal, Faculdade de Odontologia, Universidade de São Paulo, 2001.
JONES, P.M. Complete dentures and the associated soft
tissues. Journal of Prosthetic Dentistry, v.36, n.2, p.136148, 1976.
PRIDDY, R.W. Inflammatory hyperplasias of the oral
mucosa. Journal of Canadian Dental Association, v.58, n.4,
p.311-321, 1992.
KENG, S.B.; LOH, H.S. Clinical presentation of denture
hyperplasia of oral tissues. Ann. Acad. Med. Singapure,
v.18, n.5, p.537-540, 1989.
SANTOS, P.J.B.; CARMO, M.A.V.; AGUIAR, M.C.F.;
GOMEZ, R.S. Lesões proliferativas não-neoplásicas da
cavidade bucal: correlações clínico-patológicas. Arquivos
em Odontologia, v.38, n.2, p.139-150, 2002.
KUMAR, V.; ABBAS, A.K.; FAUSTO, N. Robbins &
Cotran, Patologia-Bases Patológicas das Doenças. 7ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Elsevier, 2005.
LEONEL, E.C.F.; VIEIRA, E.H.; GABRIELLI, M.P.C.
Análise retrospectiva da incidência, diagnóstico e tratamento das lesões bucais encontradas no serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial da faculdade de
Odontologia de Araraquara – UNESP. Revista Paulista
de Odontologia, São Paulo, v.24, n.3, p.18-22, 2002.
LIA, R.C.C.; GARCIA, J.M.Q.; SOUZA-NETO, M.D.;
SAQUY, P.C.; ,ARINS, R.H.; ZUCOLLOTTO, W.G.
Clinical, radiographic and histological evaluation of chronic
periapical inflammatory lesions. J. Appl Oral Sci, v.12, n.2,
p.117-120, 2004.
LIA, R.C.C.; SILVA, M.V.; GARCIA, J.M.Q. Patologias periapicais inflamatórias: Bases biológicas. Livro do
20º CIOSP – Congresso Internacional de Odontologia de
São Paulo. Cap. 02, p.16-37, 2002.
16
Ciência e Cultura
VIER, F.V.; ROCKENBACH, M.I.B.; GABRIEL, J.G.;
YURGEL, L.S.; CHERUBINI, K.F.; FIGUEIREDO,
M.A.Z. Diagnósticos histopatológicos do laboratório de
patologia do serviço de estomatologia da PUCRS, nos anos
de 2000 a 2002 e sua relação com o diagnóstico clínico.
Revista Odonto Ciência, v.19, n.46, p.382-388, 2004.
TAMAKI, R.; COSTA, L.J.; SILVEIRA, F.R.X.;
BIRMAN, E.G. Hiperplasia fibrosa inflamatória: abordagens terapêuticas atuais. Rev. Inst. Ciênc. Saúde, v.11,
n.2, p.73-76, 1993.
ZANETTI, R.V.; ZANETTI, A.L.; LAGANÁ, D.C.;
FELTRIN, P.P. Estudo de 60 pacientes portadores de
prótese parcial removível: avaliação clínica das lesões nas
áreas de suporte da mucosa bucal. RPG- Revista da PósGraduação, v.3, n.3, p.175-184, 1996.
ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS
INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA
BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Gráfico 1 - Relação entre o total de biópsias realizadas e as diagnosticadas como hiperplasias
fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs) abrangentes e focais.
Gráfico 2 – Distribuição por faixa etária da porcentagem de hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs) abrangentes, segundo o sexo.
Gráfico 3 - Distribuição por faixa etária da porcentagem de hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias
(HFIs) focais, segundo o sexo.
Ciência e Cultura
17
18
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
DEGRADAÇÃO OXIDATIVA DE UM POLUENTE
ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIO AQUOSO
UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO
OXIDATIVE DEGRADATION OF AN ORGANIC POLLUTANT
(P-NITROPHENOL) IN AQUEOUS SOLUTION BY
USING POTASSIUM FERRATE
Jeosadaque J. SENE1, Angelo Ricardo Fávaro PIPI1, Luis Rogerio DINELLI1, Paola Daniele MARRETO2, Sônia Maria Alves
JORGE3, Maria Valnice Boldrim ZANONI4.
1
Fundação Educacional de Barretos. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto - Barretos-SP - CEP 14783-226 -e-mail: [email protected]
Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Química – CDMDC – LIEC
3
Departamento de Química e Bioquímica, Instituto de Biociências, UNESP, Botucatu
4
Instituto de Química de Araraquara – UNESP
2
RESUMO
Ferrato de potássio é um forte agente oxidante devido à
o efeito eletrolítico só é significativo nos dez minutos inici-
presença do ferro no estado Fe (VI) que pode ser reduzi-
as do experimento em razão da adsorção do produto da
do a ferro (III) recebendo três elétrons. Esta propriedade
redução do íon ferrato, hidróxido de ferro (III) coloidal, na
faz com que os ferratos apresentem grande potencial como
superfície do eletrodo. O efeito eletrolítico mais significa-
agentes oxidantes de poluentes em meio aquoso. O p-
tivo foi obtido com a aplicação de potencial de -0,5 V
nitrofenol (PNP) é uma substância carcinogênica empre-
(Ag/AgCl sat.). Quanto à oxidação estritamente homo-
gada como reagente na síntese orgânica de corantes e
gênea, as melhores condições encontradas para a degra-
fungicidas, entre outros. Seus efeitos poluentes, entretan-
dação do PNP foram em pH 10. Neste caso, cerca de
to, o tornam um dos agentes mais perigosos no ambiente.
71,4% do PNP foi degradado pelo íon ferrato num perío-
Neste trabalho, investigou-se a cinética da reação de oxi-
do de uma hora. A aplicação de um potencial elétrico
dação do PNP pelo ferrato de potássio em meio de tam-
concomitante ao processo homogêneo não teve nenhum
pão fosfato/borato na faixa de pH de 8 a 12. Ao lado da
efeito na porcentagem de degradação do PNP, conside-
oxidação homogênea foram conduzidos experimentos
rando o período experimental de uma hora.
eletroliticamente assistidos utilizando eletrodo de platina
com o objetivo de gerar espécies intermediárias entre os
Palavras-Chaves: Ferrato, Fe (VI), p-nitrofenol, degra-
estados Fe (III) e Fe (VI). Os resultados mostraram que
dação, poluentes, estudo cinético.
ABSTRACT
Potassium ferrate is a strong oxidant agent due to the
presence of Fe (VI). This compound has the ability to
accept a total of three electrons from organic and inorganic
pollutants. 4-nitrophenol is one of the most dangerous
substances found in the environment due to its use as
precursor reagent in the synthesis of textile dyes and
fungicides. In this report, a kinetic study is presented
addressing the oxidation of 4-nitrophenol by the action of
ferrate ion in a borate/phosphate buffer solution in the
range of pH 8 to 12. In addition to the homogeneous
oxidation, electrolytically assisted degradation were carried
out with the aim to investigate the possibility to generate
species such as Fe (IV) and/or Fe (V), which are claimed
to be more reactive than Fe (VI). The results have showed
that the electrolytic effect is effective only in the first ten
initial minutes once the colloidal iron (III) hydroxide has
the ability to adsorb on the electrode surface. As a result
of this adsorption, only the homogeneous oxidation prevails
after ten minutes. The best condition found to the
degradation of the 4-nitrophenol by the ferrate ion is in pH
10, which gave a 71.4% of degradation in one hour period.
During this time, the assistance of electrolysis has no
positive net result.
Keywords: Ferrate, Fe (VI), 4-nitrophenol, degradation,
pollutants, kinetic study.
Ciência e Cultura
19
SENE et al.
v. 2, nº 2, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
INTRODUÇÃO
(1997), relataram a oxidação de sulfeto de hidrogênio com
Fe(VI) em função do pH e da temperatura e determina-
O tratamento e a reciclagem de resíduos urbanos, in-
ram que a reação é de primeira ordem em relação a cada
dustriais e rurais utilizando tecnologias e processos limpos
um dos reagentes. O estudo demonstrou que os ferratos
são um dos principais desafios enfrentados pela socieda-
oferecem vantagens na remoção de H2S de ambientes
de moderna. Nações industrializadas vêm se deparando
em que este poluente se forma devido à ação antrópica,
com grandes problemas ambientais relacionados à elimi-
tais como lagos, rios e esgotos doméstico e industrial.
nação de lixo e dejetos, descontaminação de efluentes in-
Huang et al (2001), determinaram parâmetros cinéticos
dustriais para reuso da água e o controle de contaminantes
da oxidação de fenol com Fe(VI) em solventes isotópicos.
no ar devido às atividades civis, militares e comerciais
Demonstrou-se que a oxidação ocorre em várias etapas,
(HOFFMANN et al, 1995). No Brasil, devido ao uso crô-
sendo a primeira uma etapa rápida com formação de Fe(V)
nico de pesticidas na agricultura, a utilização de mercúrio
e um radical instável que é oxidado em etapas consecuti-
em atividades de mineração e o tratamento de resíduos e
vas pelo Fe(V) a bifenóis.
efluentes oriundos dos diversos ramos industriais, tais como
Embora os ferratos sejam conhecidos há longo tempo,
a indústria têxtil e papeleira, a indústria do açúcar e álco-
seu emprego na remediação química em larga escala ain-
ol, entre outras, faz-se necessário o desenvolvimento de
da é incipiente. Recentemente, Licht e Yu (2005) relata-
métodos baratos e simples que possam ser eficientemen-
ram a geração eletroquímica de ferratos para fins de
te aplicados na remediação e despoluição ambiental.
remediação de efluentes orgânicos e inorgânicos. Sharma
Neste sentido, os processos oxidativos avançados ofe-
et al. (2005) estudaram a oxidação de cianeto de cobre(I)
recem uma grande vantagem sobre os demais métodos
utilizando Fe(VI) e Fe(V). Os resultados mostraram que
uma vez que têm o potencial de promoverem a degrada-
Fe(VI) é altamente eficiente na remoção dos cianetos de
ção de poluentes e resíduos orgânicos em CO2 e água.
efluente das minas de ouro. He et al. (2005) apresenta-
Compostos de ferro no estado 6+ tais como ferrato de
ram um relato da síntese eletroquímica de ferrato em meio
potássio (K2FeO4) apresentam um grande potencial na
de KOH utilizando um fio de ferro como ânodo. O méto-
remediação de poluentes em meio aquoso por serem for-
do apresentou eficiência de 73,2% atingindo purezas da
tes agentes oxidantes. Esta característica permite que os
ordem 95,3-98,1% e rendimento de 49 g/L de K2FeO4.
ferratos possam ser utilizados na oxidação de substratos
Uma revisão da literatura sobre o progresso na prepara-
orgânicos em amostras de interesse ambiental com van-
ção e emprego de compostos de Fe(VI) como oxidante e
tagem sobre outros agentes oxidantes devido à eficiência
coagulante para tratamento de água e de resíduos aquo-
e ao baixo risco de toxicidade apresentado pelo ferro. Res-
sos encontra-se disponível na literatura (JIANG e Lloyd,
salta-se que devido à dupla ação dos ferratos (forte agen-
2002).
te oxidante e coagulante), estes compostos podem agir
como desinfetantes de microorganismos, podem degra-
Dentre os muitos poluentes orgânicos encontrados no
dar impurezas orgânicas e inorgânicas, além de atuarem
ambiente encontra-se o p-nitrofenol, reagente
com eficiência na remoção do material coloidal em sus-
carcinogênico muito utilizado em síntese orgânica de
pensão.
corantes, fungicidas, entre outros (USEPA, 1999). Consi-
A síntese e emprego de compostos de ferro (VI) como
derando a importância do tratamento de efluentes con-
agente oxidante de amplo uso têm sido investigados des-
tendo esse tipo de poluente, este trabalho apresenta um
de longa data (SCHREYER et al, 1951). Delaude e Lazlo
estudo cinético da degradação do p-nitrofenol utilizando-
(1986) relataram a síntese de ferrato de potássio e o seu
se ferrato de potássio como agente oxidante. Discute-se
emprego na oxidação de vários substratos orgânicos, en-
a influência do pH e o efeito do potencial elétrico na gera-
tre os quais diversos tipos de álcool, tióis, aminas, oximas,
ção de espécies intermediárias às espécies Fe(III) e Fe(VI)
acetofenonas e diversos hidrocarbonetos. Sharma et al
geradas num eletrodo de platina.
20
Ciência e Cultura
DEGRADAÇÃO OXIDATIVA DE UM POLUENTE
ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIO AQUOSO
UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO
MATERIAL E MÉTODOS
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
interface para microcomputador utilizando-se o software
Hachcapture.
Ferrato de potássio foi sintetizado segundo procedimento descrito por Delaude e Lazlo (1986). Resumida-
RESULTADOS E DISCUSSÃO
mente, Fe(III) é oxidado a Fe(VI) por hipoclorito de potássio em solução concentrada de KOH. Em seguida,
Espectros de absorção no UV-Visível registrados com
K2FeO4 é precipitado em solução saturada de KOH e,
soluções de ferrato de potássio [FeO42-] = 7,5·10-4 mol
após filtração, purificado por lavagens consecutivas utili-
L-1, de p-nitrofenol [PNP] = 3,3·10-5 mol L-1 e da mistura
zando pentano, metanol e éter. O composto obtido pode
de volumes iguais das duas soluções, todas em pH = 10,
ser recristalizado em solução saturada de KOH. É obtido
são mostrados na Figura 1. Ferrato de potássio apresenta
um sólido cristalino de cor preta, relativamente estável
um pico de absorção máxima em 505 nm, enquanto que
em ambiente seco e, portanto, deve ser armazenado em
PNP tem seu máximo de absorção em 400 nm. Quando
dessecador. O grau de pureza foi avaliado pelo método
se misturam quantidades iguais das duas soluções, o pico
titulométrico da cromita (SCHREYER et al, 1950) utili-
referente ao PNP torna-se igualmente pronunciado devi-
zando sulfonato de sódio difenilamino como indicador.
do à contribuição da absorbância do íon ferrato no com-
Medidas visando estabelecer a cinética da reação de
primento de onda de 400 nm. Entretanto, o espectro da
oxidação do p-nitrofenol pelo íon ferrato foram realizadas
mistura é suficientemente bem resolvido para permitir o
em experimentos com duração de uma hora, sendo os
monitoramento da degradação do PNP por medidas de
espectros de absorção registrados no UV-Visível em in-
absorbância no comprimento de onda do máximo de ab-
tervalos de cinco minutos. Os experimentos foram con-
sorção, ao mesmo tempo em que se pode acompanhar o
duzidos em pH 8, 9, 10, 11 e 12. A porcentagem de degra-
curso da redução do íon ferrato no comprimento de onda
dação do p-nitrofenol foi calculada em função das medi-
de 505 nm.
das espectrofotométricas utilizando a lei de Lambert-Beer
e um coeficiente de absortividade molar do íon ferrato de
1175.
O eletrólito suporte foi uma solução tampão contendo
0,005 mol L–1 de fosfato e 0,001 mol L–1 de borato, cujo
pH foi ajustado com solução diluída de hidróxido de sódio.
Soluções diluídas de ferrato de potássio são relativamente
estáveis nessa solução tampão devido à ação complexante
do fosfato sobre os cátions Fe (III) que, de outro modo,
atuaria como catalisador da decomposição do íon ferrato.
Foi utilizado um eletrodo de trabalho de platina nos
experimentos de degradação do PNP eletroliticamente
assistidos. O eletrodo auxiliar também foi de platina e os
potenciais foram medidos com referência ao eletrodo de
Ag/AgCl saturado.
As medidas eletroquímicas foram conduzidas com a
Figura 1. Espectros de absorção no UV-Visível de soluções individuais de: (A) p-nitrofenol [PNP] = 3,3·10-5 mol L-1, (B) ferrato
de potássio [FeO42-] = 7,5·10-4 mol L-1e (C) após 30 segundos da
mistura de volumes iguais de ambas as soluções. Tampão fosfato/
borato pH 10.
utilização de um Potenciostato/Galvanostato modelo
µAUTOLAB Type III acoplado a um microcomputador e
Degradação do PNP em função do tempo
o programa de aquisição de dados foi o GPES Manager.
Neste estudo, a degradação do PNP pelo íon ferrato
Os espectros de absorção no UV-Visível foram registrados
foi investigada em solução tampão de fosfato/borato, meio
em um espectrofotômetro HACH, modelo DR/4000U com
no qual Fe (VI) é relativamente mais estável do que em
Ciência e Cultura
21
SENE et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
outros eletrólitos. Desse modo, a Figura 2 mostra a de-
registrados a cada cinco minutos no período experimental
gradação do PNP pelo íon ferrato em pH 10 cujos espec-
de uma hora nas mesmas condições do experimento da
tros foram registrados a cada cinco minutos no período de
Figura 2 acrescido da assistência eletrolítica. Pode-se
uma hora. Como se pode observar, a diminuição da
observar que a velocidade inicial de degradação do PNP,
absorbância em 400 nm devida ao PNP é acompanhada
e concomitantemente da redução do íon ferrato, é
pela diminuição gradual da absorbância devida ao íon
grandemente afetada pela aplicação do potencial elétrico
ferrato em 505 nm, indicando que a reação entre os
aplicado ao eletrodo de platina mergulhado no meio
substratos não é estequiometricamente unitária. Através
reacional.
de cálculos utilizando os valores de absorbância em cada
pico, determinou-se que houve 71,4% de degradação da
concentração de PNP no período de uma hora. No mesmo período experimental, o íon ferrato reduziu-se cerca
de 54,0%, como mostra a Tabela 1.
Figura 3. Espectros de absorção no UV-Visível da mistura de
soluções de p-nitrofenol (PNP) com ferrato de potássio, pH 10,
medidos em intervalos de 5 minutos, sob agitação, com aplicação de potencial elétrico constante de -0,5 V sobre eletrodo de
platina.
Figura 2. Espectros de absorção no UV-Visível da mistura de
soluções de p-nitrofenol (PNP) com ferrato de potássio, pH 10,
Comparando as Figuras 2 e 3, pode-se observar que a
medidos em intervalos de 5 minutos, sob agitação, sem aplica-
taxa de degradação nos primeiros dez minutos de experi-
ção de potencial elétrico.
mento é visivelmente maior quando se aplica o potencial
elétrico ao eletrodo de platina. Cerca de 24,0% de PNP
Com base no relato de Sharma et al (2005) de que Fe
foram degradados no experimento conjugado contra ape-
(V) e Fe (IV) podem ser gerados em solução, sendo a
nas 17,3% no experimento simples nos primeiros dez mi-
cinética de sua reação três ordens de magnitude mais rá-
nutos de experimento. No caso do íon ferrato, conside-
pida do que a do próprio Fe (VI), investigou-se a possibi-
rando os mesmos dez minutos iniciais, a diferença é ainda
lidade de gerar algum desses intermediários através de
mais pronunciada, de 21,0% contra 11,6%. Esses resulta-
experimentos eletrolíticos. Com este objetivo, alguns ex-
dos demonstram que possivelmente Fe (V) e/ou Fe (IV)
perimentos de oxidação homogênea foram assistidos por
é gerado eletroliticamente no eletrodo de platina. Sendo
uma eletrólise simultânea com o objetivo de se verificar
essas espécies extremamente reativas, seu tempo de vida
se a presença desses intermediários altera a cinética da
é bastante reduzido. Assim, tanto a própria água quanto
reação. Para isso, utilizou-se um eletrodo de platina ao
PNP podem ser oxidados por essas espécies intermediá-
qual se aplicou um potencial elétrico constante tendo como
rias.
referência o eletrodo de Ag/AgCl saturado. A Figura 3
Entretanto, analisando os dados apresentados na Ta-
mostra espectros da mistura de soluções de PNP e ferrato
bela 1, observa-se que no período total de uma hora, a
22
Ciência e Cultura
DEGRADAÇÃO OXIDATIVA DE UM POLUENTE
ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIO AQUOSO
UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
degradação de PNP não difere significativamente nos dois
Pela análise dos dados apresentados nessa tabela,
experimentos. Isto pode ser explicado pelo fato de que foi
pode-se observar que a velocidade da reação de degra-
observada a formação de um filme de hidróxido de ferro
dação do PNP aumenta nos experimentos eletroliticamente
(III) na superfície do eletrodo nos experimentos
assistidos, atingindo um valor máximo em -1,0 V. Por ou-
eletrolíticos. O produto final da redução do íon ferrato em
tro lado, a maior velocidade de redução do íon ferrato é
meio aquoso é o íon Fe (III) que em meio básico precipita
obtida em potencial de -0,5 V, o que pode ser relacionado
na forma de Fe(OH)3. Este precipitado tem a proprieda-
com o potencial de redução do Fe (VI) no íon ferrato para
de de adsorver na superfície do eletrodo passivando-o pela
Fe (V) ou Fe (IV). Considerando que o íon ferrato reduz-
formação de uma película que impede a geração hetero-
se em meio aquoso com a transferência de três elétrons
gênea de espécies reativas adicionais. Assim, após a
em duas ou três etapas consecutivas, indo finalmente a
passivação do eletrodo, a oxidação homogênea do PNP
Fe (III), pode-se inferir que no potencial de -1,0 V a mai-
pelo íon ferrato é o processo preponderante.
or parte da energia seria gasta na formação de Fe (III),
em detrimento das espécies intermediárias, mais reativas.
Tabela 1. Porcentagem de degradação de p-nitrofenol pelo
ferrato de potássio em meio aquoso, pH 10, com e sem
aplicação de um potencial elétrico.
Não eletrolítica
A figura 4 mostra as constantes de velocidade refe-
Eletrolítica (E = -0,5 V)
PNP
71,4%
71,3%
Fe (VI)
47,0%
52,0%
Influência do pH
rentes à oxidação do p-nitrofenol pelo ferrato de potássio
calculadas a partir de medidas de absorbância realizadas
em diferentes valores de pH. Essas constantes foram
calculadas considerando-se que a oxidação do substrato
Influência da magnitude do potencial
Tendo sido observado que a aplicação de um potencial
elétrico tem efeito sobre a velocidade de degradação inicial do PNP pelo íon ferrato em meio aquoso, experimentos foram conduzidos variando-se a magnitude desse potencial, no sentido de se determinar a melhor condição
experimental. Para isso, experimentos em pH 10 de tampão fosfato/borato foram executados em diferentes valores de potencial. Cada experimento teve a duração de
uma hora, sendo os espectros registrados em intervalos
de cinco minutos. A Tabela 2 mostra as constantes de
velocidade calculadas com os dados de absorbância obtidos nos comprimentos de onda de 400 e de 505 nm, referentes à degradação do PNP e à redução do íon ferrato,
respectivamente.
segue uma lei de velocidade de pseudo-primeira ordem,
como tem sido observado para um grande número de
poluentes orgânicos (HOIGNE, 1990). Pode-se observar
que a velocidade da reação de oxidação do p-nitrofenol
pelo íon ferrato atinge seu maior valor em pH 12, embora
a redução do próprio íon ferrato seja mais rápida em pH
menor que 10. Essa aparente discrepância pode ser
explicada pela baixa estabilidade do íon ferrato em meios
ácido e neutro. Nessas condições de pH, grande parte da
concentração do íon ferrato é perdida na oxidação do próprio solvente.
O potencial padrão de redução do íon ferrato em meio
ácido (pH 0) é da ordem de 2,20 V. Já em meio básico
(pH 14) é cerca de 0,70 V. Embora esses dados de potencial não forneçam informações cinéticas sobre a redução
Tabela 2. Constantes de velocidade da oxidação de pnitrofenol com ferrato de potássio em meio aquoso, pH
desse íon, é de se esperar que o alto valor do potencial
padrão em meio ácido seja o responsável pela grande afinidade do íon ferrato por qualquer espécie em meio aquo-
10, com e sem aplicação de potencial.
E (V)
400 nm
505 nm
so, inclusive a água, levando á sua grande instabilidade
s/p
0,67
0,65
em meio de pH < 10. Essas considerações justificam o
-0,3
0,58
0,67
motivo pelo qual a maior parte dos experimentos desse
-0,5
0,73
4,20
estudo foram conduzidos em pH 10, pois nessas condi-
-1,0
2,90
3,62
ções o íon ferrato é estável o suficiente para a execução
Ciência e Cultura
23
SENE et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
do experimento de modo que apenas o substrato orgânico
seja oxidado.
Embora a degradação de p-nitrofenol tenha sido
investigada por métodos microbiológicos, experimentos
utilizando processos oxidativos, como o relatado neste trabalho, raramente têm sido publicados. Apenas recentemente, Jorge et al. (2005) relataram a degradação de PNP
utilizando eletrodo de filme fino de dióxido de titânio. O
efeito de diferentes eletrólitos suporte, pH, potencial elétrico e concentração foram estudados e discutidos. Foi
relatado que em meio de perclorato como eletrólito suporte em pH 2,0 obteve-se 60,0% de remoção do carbono
orgânico total quando se aplicou potencial de -1,0 V (ECS)
em experimento com duração de três horas. A degradação com ferrato, relatada aqui, atingiu cerca de 71,4% de
PNP. Entretanto, a análise de carbono orgânico total não
Figura 4. Constantes de velocidade da oxidação
do p-nitrofenol por ferrato de potássio em função
do pH;(---) Fe (VI); (———) PNP
foi realizada, pois o objetivo foi relatar o comportamento
cinético da degradação. Um relato mais completo do tratamento desse poluente está em preparação, incluindo
análise da remoção do carbono orgânico total.
CONCLUSÕES
AGRADECIMENTOS
A degradação de p-nitrofenol pela oxidação em meio
Fapesp Processo 04/12728-0
aquoso de tampão fosfato/borato utilizando o íon ferrato
foi investigada através de um estudo cinético monitorado
por medidas de absorbância no UV-Visível. A degrada-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ção em meio estritamente homogêneo foi comparada com
a degradação assistida por um experimento eletrolítico si-
DELAUDE, L.; LAZLO, P. A novel oxidizing reagent
multâneo onde se objetivou a geração de Fe (V) e/ou Fe
based on potassium ferrate (VI). J. Org. Chem., v. 61, p.
(IV) cuja ação provocou um aumento significativo da ve-
6360-6370, 1986.
locidade de consumo do substrato nos dez minutos iniciais
do experimento. Este resultado foi explicado pelo fato de
HE, W.; WANG, J.; SHAO, H.; ZHANG, J.; CAO, C.
que o produto da redução de Fe (VI) em meio básico é o
Novel KOH electrolyte for one-step electrochemical
hidróxido de ferro (III) coloidal que tem a propriedade de
synthesis of high purity solid K2FeO4: comparison with
adsorver na superfície do eletrodo, diminuindo o efeito
NaOH. Electrochemistry Communications., v. 7, p. 607-
positivo na cinética da reação, depois dos dez minutos ini-
611, 2005.
ciais. Demonstrou-se que a velocidade de degradação do
PNP é dependente do pH do meio, não só pelo grau de
HOFFMANN, M. R.; MARTIN, S. T.; CHOI, W.;
desprotonação do substrato, mas principalmente pela es-
BAHNEMANN, D. W. Environmental applications of
tabilidade do íon ferrato. Assim, foi encontrado que em
semiconductor photocatalysis. Chem. Rev., v. 95, p. 69-
meio de pH 12 é a melhor condição para a degradação do
96, 1995.
PNP. Entretanto, neste valor de pH o íon ferrato é menos
estável que em pH 10. Assim, a melhor condição encon-
HOIGNE, J. Formulation and calibration of environmental
trada para a degradação do PNP pelo íon ferrato foi em
reactions kinetics; oxidations by aqueous photooxidants
solução tampão fosfato/borato pH 10.
as an example. In: Aquatic Chemical Kinetics, Reaction
24
Ciência e Cultura
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE
COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Rates of Processes in Natural Waters. STUMM, W. (ed).
SCHREYER, J. M.; THOMPSON, G. W.; OCKERMAN,
New York: Wiley Interscience, p. 43-70, 1990.
L. T. Oxidation of chromium (III) with potassium ferrate
(VI). Anal. Chem., v. 22, p. 1426–1427, 1950.
HUANG, H.; SOMMERFELD, D.; DUNN, B. C.;
EYRING, E. M.; LLOYD C. R. Ferrate(VI) oxidation of
SCHREYER, J. M.; THOMPSON, G. W.; OCKERMAN,
aqueous phenol: kinetics an mechanism. J. Phys. Chem.
L. T. Preparation and purification of potassium ferrate
A, v. 105, p. 3536-3541, 2001.
(VI). J. Am. Chem. Soc., v. 73, p. 1379-1381, 1951.
JIANG, J.; LLOYD, B. Progress in the development and
SHARMA, V. K.; BURNETT, C. R.; YNGARD, R. A.;
use of ferrate(VI) salt as an oxidant and coagulant for
CABELLI, D. E. Iron(VI) and Iron(V) Oxidation of
water and wastewater treatment. Water Research, v. 36,
Copper(I) Cyanide. Environ. Sci. Technol., v. 39, p. 3849-
p. 1397-1408, 2002.
3854, 2005.
JORGE, S. M. A.; SENE, J. J.; FLORENTINO, A. O.
SHARMA, V. K.; SMITH, J. O.; MILLERO, F. J. Ferrate
Photoelectrocatalytic treatment of p-nitrophenol using Ti/
(VI) oxidation of hydrogen sulfide. Environ. Sci. Technol.,
TiO2 thin-film electrode. J. Photochem. Photobiol. A:
v. 31, p. 2486-2491, 1997.
Chemistry, v. 174, p. 71–75, 2005.
U. S. Environmental Protection Agency. Integrated Risk
LITCH, S.; YU, X. Electrochemical Alkaline Fe(VI) Water
Information System (IRIS) Nitrophenol. National Center
Purification and Remediation. Environ. Sci. Technol., v.
for Environmental Assessment, Office of Research
39, p. 8071-8076, 2005.
Development, Washington, DC, 1999.
Ciência e Cultura
25
26
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE LEONOTIS
NEPETIFOLIA (L.) W.T. Aiton USANDO DIMENSÕES
LINEARES DO LIMBO FOLIAR
LEAF AREA ESTIMATIVE IN WEEDS LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W. T. Aiton
USING LINEAR DIMENSION OF THE LEAF BLODE
Silvano BIANCO; Matheus Saraiva BIANCO; Leonardo Bianco de CARVALHO.
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP – Câmpus de Jaboticabal - Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária.
e-mail: [email protected].
RESUMO
Com o objetivo de obter uma equação que, através de
dão-de-frade. Do ponto de vista prático, sugere-se optar
parâmetros lineares dimensionais das folhas, permita a
pela equação linear simples envolvendo o produto C x L,
estimativa da área foliar de Leonotis nepetifolia (L.) W.T.
usando-se a equação de regressão Sf = 0,6337 x (C x L),
Aiton estudaram-se relações entre a área foliar real (Sf)
que equivale a tomar, 63,37% do produto entre o compri-
e parâmetros dimensionais do limbo foliar, como o com-
mento ao longo da nervura principal e a largura máxima.,
primento ao longo da nervura principal (C) e a largura
com um coeficiente de correlação de 0,9193.
máxima (L), perpendicular à nervura principal. As equações lineares simples, exponenciais e geométricas obtidas
Palavras chaves: Planta daninha, área foliar, cordão-de-
podem ser usadas para estimação da área foliar de cor-
frade.
ABSTRACT
This study was done aiming to obtain na mathematical
equation of the regression model using the C*L parameter
equation to estimate the Leonotis nepetifolia leaf area
and taking the linear coefficient equal to zero, because it
using linear measures of leaf blode. Correlation studies
shows the smallest Error Sum of Squares. Thus, an
were done involving the real leaf area and the main vein
estimative of Leonotis nepetifolia leaf area can be
lenght (C), maximum leaf width (L) and C*L. The linear
obtained using the equation Sf = 0.6337 (C*L), with
and geometric equation involving the parameter C provided
correlation coefficient R = 0.9193.
good estimatives of leaf area of this gran weed. In the
practical sense, it is suggested the use of the simple linear
Keywords: Weeds, leaf area, cordão-de-frade.
Ciência e Cultura
27
ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton
USANDO DIMENSÕES LINEARES DO LIMBO FOLIAR
INTRODUÇÃO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
2005), entre outras.
O presente trabalho teve como objetivo determi-
Leonotis nepetifolia (L.) W. T. Aiton, popularmente
nar uma relação ou equação adequada para estimar a área
conhecido por cordão-de-frade, é uma planta originária
foliar do cordão-de-frade Leonotis nepetifolia, por inter-
da África tropical, hoje vastamente distribuída por regiões
médio de medidas lineares de seus limbos foliares.
tropicais e sub tropicais da África, Ásia e América. No
Brasil tem ampla distribuição, sendo que no extremo sul a
MATERIAL E MÉTODOS
sua ocorrência é rara.
É considerada uma planta invasora, particularmente
Foram coletados 200 limbos foliares de L. nepetifolia
em culturas do milho. Não é muito agressiva, contudo.
sujeitos às mais diversas condições ecológicas que a es-
Suspeita-se que as plantas possam ser algo tóxicas para
pécie é susceptível de ocorrer como infestante, conside-
herbívoros (KISSMANN & GROTH, 1999).
rando-se toda as folhas das plantas, desde que não apre-
Considerando-se a importância dessa planta, há gran-
sentassem deformações oriundas de fatores externos como
de necessidade de estudos básicos envolvendo aspectos
pragas, moléstias e granizo. Na fase de coleta dos dados,
relacionados à reprodução, crescimento, desenvolvimen-
foram realizadas rápidas excursões ao campo, coletando-
to, exigências em nutrientes, respostas aos sistemas de
se de 10 a 20 folhas de diferentes plantas, as quais eram
controle e outros. Na maioria desses estudos, o conheci-
levadas ao laboratório, para determinação do comprimen-
mento da área foliar é fundamental, pois é talvez o mais
to do limbo foliar ao longo da nervura principal (C) e da
importante parâmetro na avaliação do crescimento vege-
largura máxima do limbo foliar (L) perpendicular à nervura
tal. É um das características mais difíceis de serem
principal. A seguir, as folhas foram desenhadas em papel
mensuradas, porque normalmente requer equipamentos
homogêneo e suas áreas foliares reais (Sf) determinadas
caros ou utiliza técnicas destrutivas, como comentam
através do aparelho “Portable Area Meter” Licor Mod.
Bianco et al. (1983). Existem vários métodos para se medir
L1 - 3000.
a área foliar, a maioria com boa precisão. Marshall (1968)
Para escolha de uma equação que possa repre-
os classificou em destrutivos e não destrutivos, diretos ou
sentar a área foliar em função das dimensões foliares,
indiretos. A importância de se realizar um método não
procederam-se estudos de regressão utilizando as seguin-
destrutivo é que ele permite acompanhar o crescimento e
tes equações: linear Y = a + bx; linear pela origem Y =
a expansão foliar da mesma planta até o final do ciclo ou
bx, geométrica Y = axb e exponencial Y = abx. O valor Y
do ensaio, além de ser rápido e preciso. Assim, a área
estima a área foliar do limbo foliar em função de X, cujos
foliar pode ser estimada utilizando-se parâmetros
valores podem ser o comprimento (C), a largura (L) ou o
dimensionais de folhas, os quais apresentam boas corre-
produto (C x L). No caso de X igual ao (C x L), estimou-
lações com a superfície foliar. Um dos métodos não
se também a equação linear passando pela origem, o que
destrutivos mais utilizados é a estimativa da área foliar
praticamente significa supor que a área é proporcional a
por meio de equações de regressão entre a área foliar
um retângulo (C x L). Todas as equações utilizadas são
real (Sf) e parâmetros dimensionais lineares das folhas.
lineares ou linearizáveis por transformação, de modo que
Este método já foi utilizado com sucesso para inúmeras
os ajustes foram feitos, a partir de retas. Para realizar as
plantas cultivadas e plantas daninhas, como Wissadula
comparações entre os modelos foram obtidas as somas
subpeltata (Kuntze) Fries (BIANCO et al., 1983); Senna
de quadrados das diferenças entre os valores observados
obtusifolia (L.) Irwin & Barneby (PERESSIN et al., 1984),
e os preditos pelos modelos, denominando isso de soma
Amaranthus retroflexus L. (BIANCO et al., 1995),
de quadrados do resíduo. No caso dos modelos com trans-
Richardia brasiliensis (Gomez) (ROSSETO et al., 1997),
formação (geométrica e exponencial), foi feita a volta para
Cissampelos glaberrima L. (BIANCO et al., 2002);
escala original e após isso, obtida as referidas somas de
Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc. (BIANCO et al.,
quadrados do resíduo. A melhor equação é a que apre-
28
Ciência e Cultura
BIANCO et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
senta a menor soma de quadrados do resíduo na escala
RESULTADOS E DISCUSSÃO
real (sem transformação).
Os coeficientes de correlação são os obtidos com
Na Tabela 1 estão apresentados os resultados refe-
as variáveis de trabalho X e Y, caso linear; logaritmo de Y
rentes aos estudos de regressão efetuados com as com-
e logaritmo de X, no caso geométrico, e logaritmo de Y e
parações da área foliar real (Sf) e as medidas lineares de
X no caso exponencial. O número de graus de liberdade é
comprimento (C), largura (L) e o produto do comprimen-
o número de folhas analisadas menos o número de
to pela largura da folha (C x L). Todas as equações apre-
parâmetros estimado, em cada modelo. Para testar se o
sentadas permitem obter estimativas satisfatórias da área
acréscimo de soma de quadrados do resíduo do modelo
foliar de L. nepetifolia, com coeficiente de determinação
passando pela origem, em relação ao modelo com inter-
acima de 0,80. O menor coeficiente de determinação foi
cepto, utilizou-se o teste F condicional: F = (SQRes. (0,0)
de 0,8495, indicando que 84,95% das variações observa-
– SQRes. CL) / SQRes. CL/GL), com 1 e GL graus de
das na área foliar foram explicadas pela equação linear.
liberdade, onde GL é o número de folhas menos 2.
As equações que representam o produto entre o comprimento e a largura, passando ou não pela origem não mostraram diferenças significativas quando comparadas entre si, o que já era esperado, visto que a retirada de uma
constante não afeta o comportamento dos dados.
Tabela 1. Tipos de equações de regressão estimada entre a área foliar real (Sf) e parâmetros dimensionais
lineares do limbo foliar de Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton. FCAV-UNESP. Jaboticabal/SP. 2006.
Na Tabela 2, pode-se observar que os valores do
Na Tabela 3, pode-se observar a distribuição percentual
comprimento (C) das folhas variaram de 2,50 a 6,90
dos 200 limbos foliares do cordão-de-frade em relação às
cm, com valores médios de 4,61 cm, enquanto que, a
faixas de tamanho. Observa-se que 70,0% da área foliar
largura (L) máxima das folhas variou de 2,20 a 5,40
está relacionada com folhas variando de 5,01 até 15,002
cm, com valores médios de 3,81 cm. Para a área foliar
cm de área, indicando que esta planta daninha possui a
real, os valores variaram entre 4,03 e 22,82 cm2 e média
maioria de suas folhas de tamanho pequeno.
2
de 11,59 cm .
Ciência e Cultura
29
ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton
USANDO DIMENSÕES LINEARES DO LIMBO FOLIAR
Tabela 2. Comprimento ao longo da nervura central, largura máxima e área foliar real de 200 limbos de Leonotis
nepetifolia (L.) W.T. Aiton. FCAV-UNESP. Jaboticabal/
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
cando que da variabilidade total existente na área foliar
91,93% podem ser explicadas pela regressão linear. A
equação linear simples com a reta passando pela origem
SP, 2006.
Característica
Maior
valor
Comprimento (cm)
6,90
Largura máxima (cm) 5,40
Área Foliar Real (cm2) 22,82
Menor
valor
2,50
2,20
4,03
Média
é a mais recomendada, pois não altera expressivamente a
soma de quadrados do resíduo e é de mais fácil utilização
4,61
3,81
11,59
do ponto de vista prático. Assim, a estimativa da área foliar
do cordão-de-frade pode ser feita pela equação Sf = 0,6337
x (C x L), ou seja, corresponde a 63,37% do produto entre
o comprimento e a largura máxima da folha, ou 63,37%
Tabela 3. Distribuição percentual de 200 limbos foliares
de Leonotis nepetifolia (L.) W. T.Aiton em relação
às faixas de tamanho. FCAV-UNESP. Jaboticabal/SP,
2006.
Tamanho (cm2)
[ 0,00 - 5,0 ]
[ 5,01 - 10,0]
[10,01 - 15,0]
[15,01 - 20,0]
[ > 20,01 ]
(%)
2,5
32,0
47,0
17,5
1,0
da área dada pelo comprimento x largura.
Na Figura 1 está graficamente representado os valores obtidos para o produto do comprimento pela largura
máxima do limbo foliar e o correspondente valor da superfície foliar e, também, a representação gráfica da equação indicada para a estimativa da área de folhas de L.
nepetifolia.
Pode-se observar a pequena dispersão dos dados em
relação à reta obtida sugerindo que a equação Sf = 0,6337
Os maiores valores do coeficiente de determinação e
x (C x L) pode representar a área foliar real muito satis-
os menores valores da soma de quadrados do resíduo fo-
fatoriamente. O valor obtido é inferior aos observados para
ram observados para as regressões lineares simples entre
(Wissadula subpeltata) (Bianco et al., 1983), Cissampelos
a área foliar real e o produto do comprimento pela largura
glaberrima (BIANCO et al., 2002), Portulaca oleracea
da folha, indicando serem as equações que permitem ob-
(PEDRINHO JR. et al., 2000) e superior aos encontra-
ter estimativas mais acuradas da área foliar do cordão-
dos para Amaranthus retroflexus (BIANCO et al., 1995),
de-frade. Nota-se que, estas equações apresentaram es-
Nicandra physaloides (BIANCO et al., 1996) e Solanum
timativas do coeficiente de determinação de 0,9193, indi-
americanum (TOFOLI et.,1998).
Figura 1. Representação gráfica da área foliar de Leonotis nepetifolia (L.) W. T. Aiton e da equação de
regressão indicada para estimativa da área foliar da planta daninha, em função do produto do comprimento
(C) pela largura máxima (L) do limbo foliar.
30
Ciência e Cultura
BIANCO et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
BIANCO, S.; PITELLI, R. A.; SILVA, R. C. Estimativa
CONCLUSÕES
de área foliar de plantas daninhas. XIV – Nicandra
Os resultados encontrados no presente trabalho permitem concluir que: a) as equações obtidas podem ser
physaloides (L.) Pers. Cultura Agronômica, Ilha Solteira,
SP v. 20, n. 1, p. 33-38, 1996.
utilizadas para estimar a área foliar de L. nepetifolia; b)
do ponto de vista prático, a área foliar é estimada
KISSMANN, K. G.; GROTH, D. Plantas Infestantes
utilizando-se a equação Sf = 0,6337 x (C x L).
e Nocivas. Tomo II. São Paulo: BASF Brasileira,
1999. 798p.
MARSHALL, J. K.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Methods
of
measurement of large and small leaf
BIANCO, S.; PITELLI, R. A.; BIANCO, M. S. Esti-
leaf
area
samples.
Photosynthetica, Praha, v. 2, p. 41-47, 1968.
mativa de área foliar de Brachiaria plantaginea usando
dimensões lineares do limbo foliar. Planta Daninha, Viço-
PEDRINHO JR., A. F. F.; BRABOSA JR., A. de F.;
sa, MG, v. 23, n. 4, p. 597-602, 2005.
BIANCO, S.; PITELLI, R. A. Estimativa de área foliar
de plantas daninhas: Portulaca oleracea L. Ecossistema,
BIANCO, S.; PITELLI, R. A.; CARVALHO, L. B. de.
Espírito Santo do Pinhal, SP, v. 25, p. 86-88, 2000.
Estimativa de área foliar de Cissampleos glaberrima
usando dimensões lineares do limbo foliar. Planta Dani-
PERESSIN, V. A.; PITELLI, R. A.;
nha, Viçosa, MG, v. 20, n. 3, p. 353-356, 2002.
D.
Métodos para estimativa
PERECIN,
da área foliar
de
plantas daninhas. 4. Cassia tora L. Planta Daninha,
BIANCO, S.; PITELLI, R. A.; PAVANI, M. C. M. D.;
Londrina, v. 7, n. 2, p. 48-52, 1984.
SILVA, R. C. Estimativa de área foliar de plantas
L.
ROSSETO, R. R.; PITELLI, R. L. C. M.; PITELLI, R.
Ecossistema, Espírito Santo do Pinhal, v. 20, p. 5-9, 1995.
A. Estimativa da área foliar de plantas daninhas: Poaia-
daninhas.
XIII – Amaranthus
retroflexus
Branca. Planta Daninha, Londrina, v.15, n.1, p. 25-29,
BIANCO, S.; PITELLI, R. A.;
PERECIN, D.
1997.
Métodos para estimativa da área foliar de plantas
daninhas. 2. Wissadula subpeltata (Kuntze) Fries.
TOFOLI, G. R.; BIANCO, S.; PAVANI, M. C. M. D.
Planta Daninha, Londrina, v.6, n.1, p.21- 24, 1983.
Estimativa da área foliar de Solanum americanum
Mill. Planta Daninha, Londrina, v. 16, n. 2, p. 149-152,
1998.
Ciência e Cultura
31
32
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O
PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL
THE RIGHT TO INFORMATION IN CONFRONTATION WITH THE PRINCIPLE OF
DUE PROCESS OF LAW
Paulo José Freire TEOTÔNIO¹, Abner Rafael de SOUZA², Michele Aparecida Marques MIGLIORUCCI³.
1- Professor e Coordenador do Curso de Direito da Fundação Educacional de Barretos - Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto Barretos-SP - CEP 14783-226 – e-mail: [email protected]
2- Bacharelando do Curso de Direito da FEB – e-mail: [email protected]
3- Bacharelanda do Curso de Direito da FEB – e-mail: [email protected]
RESUMO
Ao contrário dos textos das Constituições anteriores,
onde direito à intimidade apenas constava de forma implí-
jam divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser humano”.
cita, a Constituição Federal de 1988 trouxe, de forma ex-
Neste contexto de idéias, assume relevo, dentro da
pressa, no bojo do art. 5º, X, que: “são invioláveis a intimi-
concepção de Estado Democrático de Direito, a discus-
dade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
são do papel da mídia, a qual, na maior parte das vezes,
assegurando o direito à indenização pelo dano material ou
promove julgamentos prévios, sem qualquer ponderação
moral decorrente de sua violação”.
ética, liquidando quaisquer direitos inerentes a dignidade
O direito à intimidade, segundo Bastos e Martins (1989),
“consiste na faculdade que tem cada indivíduo de obstar a
da pessoa humana, não dando qualquer oportunidade do
exercício do direito constitucional defesa.
intromissão de estranhos na sua vida privada e familiar,
Palavras-Chave: devido processo legal, presunção de
assim como de impedir-lhes o acesso a informações so-
inocência, liberdade de pensamento, direito de informa-
bre a privacidade de cada um, e também impedir que se-
ção, ética.
ABSTRACT
In contrast of the texts of the previous Constitutions,
where right to the privacy it only consisted of implicit form,
hindering that information on this area of the existencial
manifestation of the human being are divulged”.
the Federal Constitution of 1988 brought, of express form,
In this context of ideas, it assumes relief, inside of the
in the bulge of art. 5º, X, that: “the privacy, the private life,
conception of Democratic State of Right, the quarrel of
the honor and the image of the people are inviolable,
the paper of the media, which, to a great extent, promotes
assuring the right the indemnity for decurrent the material
judgments previous, without any ethical balance, eliminating
or moral damage of its breaking”.
any inherent rights the dignity of the person human being,
The right to the privacy, according to Bastos and
Martins (1989), “consist of the college that has each indi-
not giving any chance of the prohibited constitutional right
of action.
vidual to hinder the intromission of strangers in its private
and familiar life, as well as hindering the access to them
Keywords: due process of law, swaggerer of
the information on the privacy of each one, and also
innocence, freedom of thought, right to information, ethics.
Ciência e Cultura
33
TEOTÔNIO et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
ATUAÇÃO DA MÍDIA NO BRASIL
ADVOGADO:
MÔNICA FILGUEIRAS DA SILVA GALVÃO
O poder que a mídia exerce sobre a educação e cons-
E OUTROS
ciência das pessoas, quase sempre tendo por parâmetro
AGRAVADO:
interesses comerciais, assume relevo extraordinário, im-
ICUSHIRO SHIMADA E OUTROS
pressionando pela tomada de posições arbitrárias, bem
ADVOGADO:
como pela extrema leviandade que joga ao vento notícias
KALIL ROCHA ABDALLA E OUTROS
sem qualquer respaldo probatório, causando danos
DECISÃO:
irreparáveis a reputação das pessoas, que passam a ser
Vistos.
hostilizadas pela opinião pública mesmo que nada tenham
a dever.
Trata-se de agravo de instrumento manifestado contra
decisão que não admitiu recurso especial, no qual se ale-
A título de exemplo, temos “o caso dos proprietários
ga ofensa aos arts. 535 do Código de Processo Civil e 159
da escola base, no qual a imprensa narrou a acusação de
do Código Civil de 1916, em questão exposta na seguinte
seis pessoas sobre suposto abuso sexual de crianças, alu-
ementa (fl. 130):
nas da Escola Base, localizada na capital paulista.
“DANO MORAL - Matéria jornalística com manifes-
As acusações davam conta que abusos sexuais teriam
ta aptidão ofensiva à honra e à imagem dos autores - Di-
sido cometidos pelos donos da escola. Jornais, revistas,
vulgação de fato grave e inverídico, em razão de omissão
emissoras de rádio e TV basearam-se em fontes oficiais
negligenciosa da ré no cuidado e resguardo prévios na
— polícia e laudos médicos — e em depoimentos de pais
constatação, ainda que superficial, de sua veracidade -
de alunos. Quando o erro foi descoberto, a escola já havia
Inocorrência, outrossim, de ‘animus narrandi’ - Redução,
sido depredada, os donos estavam falidos e eram amea-
porém, do quantum indenizatório compatível com a gravi-
çados de morte em telefonemas anônimos.
dade dos fatos e sua repercussão pessoal e profissional
As informações foram repassadas à mídia pelo dele-
na vida dos autores - Agravo retido conhecido e improvido,
gado Edélcio Lemos, a partir do depoimento de duas mães
com provimento parcial da apelação e improvimento do
de alunos: Lúcia Eiko Tanoi e Cléa Parente. O inquérito
recurso adesivo.”
policial foi arquivado.
Não merece prosperar a pretensão reformatória.
Em 2003, a primeira instância condenou a Folha da
Sem êxito a alegação de ofensa ao artigo 535 do Códi-
Manhã (responsável pela publicação dos jornais Folha de
go de Processo Civil, porquanto não se vislumbram os
S. Paulo e Agora São Paulo) ao pagamento de 1,5 mil
apontados vícios no acórdão recorrido, mas tão-somente
salários mínimos para cada acusado, mais juros de 1% ao
decisão devidamente fundamentada, em sentido contrário
mês a partir da citação. A empresa apelou. O TJ paulista
aos interesses do recorrente.
manteve a condenação, no entanto reduziu o valor. Se-
Tampouco prospera o pedido de redução do quantum
gundo a defesa dos proprietários, por causa das falsas
indenizatório fixado a título de danos morais, pois, embora
denúncias, Icushiro sofreu um infarto, Maria Aparecida
sujeite-se ao controle desta Corte, quando for irrisório ou
vive com tranqüilizantes e Maurício Alvarenga se sepa-
abusivo, no presente caso, colocou-se em patamar que
rou da mulher e vive em uma cidade do interior.
não justifica a excepcionalíssima intervenção do STJ a
respeito, ante as gravíssimas e infundadas imputações
Leia a decisão:
feitas, com grande alarde, em desfavor dos autores.
AGRAVO DE INSTRUMENTO
Pelo exposto, nego provimento ao agravo.
Nº 801.495 - SP (2006/0167577-9)
Publique-se.
RELATOR:
Brasília (DF), 30 de outubro de 2006.
MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR
MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR
AGRAVANTE: EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S/A
Relator1 ”.
34
Ciência e Cultura
O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO
COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL:
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Nas raríssimas vezes em que se admite o erro, o que
podem controlar e criticar a mídia através da própria mídia;
só acontece por pressões intransponíveis, às notas de des-
de outra forma sua intervenção se transformaria em san-
culpas e retratações quase sempre assumem proporção
ção, executiva, legislativa ou judicial – o que pode aconte-
infinitamente inferior ao estardalhaço com que foi dada a
cer apenas no caso em que a mídia esteja cometendo al-
notícia, nada ou quase nada servindo para aliviar as dores
gum crime ou pareça configurar situações de desequilíbrio
do prejudicado.
político e institucional. Como, no entanto, a mídia, em nos-
Bastante elucidativo é o exemplo de Damásio
Evangelista de Jesus (1999), in verbis:
“Suponha-se que um sujeito lance ao vento as penas
so caso a imprensa, não pode eximir-se de críticas, é condição de saúde para um país democrático que a imprensa
possa colocar-se em questão”.
de um travesseiro do alto de um edifício e determine a
A pretexto de exercer a liberdade de imprensa, de for-
centenas de pessoas que as recolham. Jamais será possí-
ma leviana, não se pode permitir o malogro dos direitos e
vel recolher todas. O mesmo ocorre com a calúnia e a
garantias do cidadão, por parte dos proprietários ou agen-
difamação. Por mais cabal seja a retratação, nunca pode-
tes dos meios de comunicação, posto que tal prática, sem
rá alcançar todas as pessoas que tomaram conhecimento
qualquer margem à dúvida, maculam o devido processo
da imputação ofensiva”.
legal.
O Direito ao livre exercício da atividade jornalística,
É verdade que a Magna Carta, no artigo 220, assevera
concessa venia, não pode ser tomado como absoluto, com-
que: “a manifestação do pensamento, a criação, a expres-
portando a imposição de freios, bem como rigoroso con-
são e a informação, sob qualquer forma, processo ou ve-
trole ético. Aliás, tais formas de controle são cotidiana-
ículo não sofrerão qualquer restrição, observado o dispos-
mente sugeridas pela mídia para o Judiciário e o Ministé-
to nesta Constituição”. Contudo, de se observar que o
rio Público, mesmo que de forma subliminar, em seus no-
parágrafo 1.º, do mesmo artigo, exige a observância, sem
ticiários onde são imprimidas rapidez e definitividade, im-
qualquer restrição, dos dispositivos previstos no artigo 5.º,
pedindo que o destinatário da notícia possa fazer qualquer
da mesma Carta, que tutelam dos direitos concernentes a
juízo de valor, o que poderia ser conceituado como forma-
inviolabilidade da intimidade, a vida privada, a honra e a
ção, jamais como informação, que é a função peculiar da
imagem.
mídia. Rejeitam, paradoxalmente, sob a alegação de cen-
Destarte, evidenciado está que o direito ao exercício
sura, qualquer análise de suas atividades ou a imposição
da imprensa livre só pode conviver com o resguardo dos
de qualquer controle, seja prévio ou posterior.
direitos individuais, ficando incontestável que a mídia, ao
A mídia pode até mesmo influenciar a vida política do
exercitar o seu direito de informar (não de formar opi-
país através da criação de opiniões, razão pela qual não
nião), devem atentar para certos limites, quais sejam, os
pode eximir-se de críticas, sendo essencial para um país
direitos da personalidade, a vida privada, a intimidade, a
democrático que a imprensa possa ser questionada.
dignidade da pessoa humana, a igualdade de todos peran-
Invocando a função que deveria ser exercida pelo de-
te a lei etc.
nominado quarto poder, a mídia, Umberto Eco (1999), alu-
Ao expor os cidadãos no noticiário cotidiano, com des-
dindo a única forma de controle dos meios de comunica-
respeito aos direitos do indivíduo enquanto ser humano, a
ção, pondera que:
mídia subverte o procedimento cominado em lei, maculando
“A função do Quarto Poder é certamente controlar e
o devido processo legal.
criticar os outros três Poderes tradicionais (junto com o
poder econômico e aquele representado pelos partidos e
O devido processo legal
sindicatos), mas pode fazê-lo, em um país livre, porque
Com efeito, ninguém poderá ser julgado culpado e nem
sua crítica não tem funções repressivas: os meios de co-
perder seus bens e direitos senão por sentença judicial
municação de massa só podem influenciar a vida política
transitada em julgado, posto ser a atividade jurisdicional
do país criando opiniões. Mas os Poderes tradicionais só
exclusiva do Poder Judiciário, que só pode ser exercida
Ciência e Cultura
35
TEOTÔNIO et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
através de um procedimento previamente instituído em
prévio de culpa, ou seja, transformar-se em julgamento
lei, onde deverão ser respeitados a isonomia das partes, o
definitivo aquilo que está sujeito a mera classificação pré-
contraditório e a ampla defesa, com julgamento realizado
via e provisória, aniquilando o postulado da presunção de
por um Juiz competente, devidamente investido da ativi-
inocência, ferindo a dignidade da pessoa humana, bem
dade jurisdicional e previamente designado pela Consti-
como negando os demais postulados essenciais ao devido
tuição e pelas Leis para cumprimento de tal mister.
processo legal, tais como o resguardo a intimidade e vida
Em termos de garantias jurisdicionais dos cidadãos,
privada, o direito ao contraditório e ampla defesa, o direito
relativamente à administração da justiça, a vigente CF
ao um julgamento justo, passível de realização somente
adota como postulado constitucional fundamental o “devi-
por juiz competente e imparcial, investido de jurisdição, o
do processo legal”, expressão oriunda da inglesa due
que somente seria permitido após o percurso do prévio
process of law, ao dizer: “ninguém será privado da liber-
caminho descrito em lei.
dade ou de seus bens sem o devido processo legal” (art.
Todavia, mesmo consubstanciando-se em fato que
5º, LIV). Adota, ainda, o princípio da inafastabilidade do
comportaria a maior das repulsas e o pior dos castigos no
controle jurisdicional, ao estatuir que “a lei não excluirá da
Estado Democrático de Direito, contrário senso, tem se
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direi-
tornado prática corriqueira na mídia televisiva e nas de-
to” (art. 5º, XXXV). Consagra o princípio da isonomia:
pendências de delegacias de polícia, sob a alegação da
“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer
existência de interesse público na divulgação, inclusive sob
natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
o argumento de que a exposição poderia dar ensejo ao
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
surgimento de outros elementos de prova ou aparecimen-
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”; “ho-
to de novas vítimas.
mens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos
Ao que parece, porém, trata-se de artifício pirotécnico
termos desta CF” (art. 5º, caput, I). Estabelece, ainda, o
que pretende justificar a falta de investimentos, a ausên-
princípio do juiz ou promotor natural, ao dizer que “ão ha-
cia de trabalho de inteligência e seriedade, bem como a
verá juízo ou tribunal de exceção”, e que “ninguém será
ineficiência dos ocupantes de cargos públicos, atribuindo
processado nem sentenciado senão pela autoridade com-
interesse coletivo na exposição pela mídia de seres huma-
petente” (art. 5º, XXXVII e LIII). Estatui o princípio do
nos, muitos dos quais não se deu oportunidades de educa-
contraditório: “aos litigantes, em processo judicial ou ad-
ção e emprego, de forma a aniquilar os direitos mais ele-
ministrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
mentares prescritos na Lei das Leis.
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a
A mácula causada na vida social, laboral e familiar do
ela inerentes” (art. 5º, LV). Prevê o princípio da proibição
indivíduo, objeto de exposição pela mídia, é das mais hor-
da prova ilícita: “são inadmissíveis, no processo, as provas
rendas, de impossível reparação integral, o que, por evi-
obtidas por meios ilícitos” (art. 5º, LVI); o princípio da
dente, não interessa a mídia, a qual, nas raras vezes em
publicidade dos atos processuais: “todos os julgamentos
que oferece retratação, restringe-se a divulgar pequenas
dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos” (art. 93,
notas, desproporcionais ao estardalhaço com que deu a
IX), acrescentando que “a lei só poderá restringir a publi-
notícia que estigmatizou o cidadão objeto de divulgação.
cidade dos atos processuais quando a defesa da intimida-
Não nos parece razoável, muito menos conveniente
de ou o interesse social o exigirem” (art. 5º, LX); e o
para o Estado Democrático de Direito, que, em nome do
princípio da motivação das decisões judiciais sob pena de
resguardo do livre exercício da imprensa, repita-se, do di-
nulidade (art. 93, IX).
reito de informar, não de formar convicções, sejam
O maior equívoco que pode ser cometido durante o
inquérito policial ou outro instrumento (procedimento) ad-
maculados todos os direitos fundamentais, individuais e
orientadores das ações do Estado.
ministrativo de investigação, bem como quando da mera
O balanceamento dos valores postos em jogo, confor-
propositura da ação, sem sombra de dúvida, é o do juízo
me é do nosso convencimento, recomenda que se dê um
36
Ciência e Cultura
O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO
COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL:
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
basta a tão nocivas e levianas práticas da imprensa, não
políticas tradicionais atravessam grave crise, a crise da
se permitindo que um dos “poderes de fato” da Repúbli-
desvitalização, a crise de arrefecimento, crise que se ori-
ca, derivado do poder maior, que é o de natureza econô-
gina no declínio das ideologias, no abrandamento das opo-
mica, massacre todos os cidadãos e todos os seus direitos
sições clássicas, no poder dos grupos de interesses, na
elementares, sem sofrer qualquer penalidade, restrição ou
menor força dos parlamentos e na ascensão das chama-
controle.
das tecno-estruturas”.
Machado (1999) acrescenta, ainda, que:
Desvirtuamento da notícia
“O pior é constatarmos que o fenômeno da mistifica-
Necessário enfatizar que cada vez mais os nossos Jor-
ção das massas pela prática da Justiça Televisiva se es-
nais estão aumentando o número de páginas, a fim de
praia por todo o País, multiplicando canhestros perfis de
terem espaço para mais publicidade, sendo que para ocu-
“defensores” dos pobres e dos oprimidos.
par todas essas páginas, acabam tendo que inventar notí-
(...)
cia e transformar em notícia o que de fato não é, desvirtu-
Essa é mais uma razão que deve inspirar nossa luta.
ando, desse modo, a verdadeira função da imprensa.
Não podemos deixar que os espaços do Direito e da Jus-
Outro desvirtuamento da função da mídia, demais dis-
tiça sejam ocupados por fanáticos, falsos profetas e opor-
so, diz respeito à sua utilização para solucionar casos que
tunistas de plantão. Não podemos nos submeter ao
deveriam ter como foro de discussão o Poder Judiciário,
nivelamento por baixo ditado por arsenais da comunica-
desrespeitando, assim, as garantias previstas no devido
ção em massa. A lei e a nossa consciência, como já disse
processo legal.
o advogado dos advogados, o grande Rui Barbosa, são os
Cleinman (1999) assevera que:
dois únicos poderes humanos ante os quais a nossa digni-
“A falta de cultura jurídica e a tradição autoritária bra-
dade profissional se inclina”.
sileira se casam vorazmente, gerando frutos dolorosos: o
Em sendo incontroverso que o pensamento neoliberal
desconhecimento, pela sociedade, das normas, dos fun-
consumiu a ética que deveria orientar a atividade
damentos que se originaram, bem como dos valores nelas
jornalística, passando ela a ser orientada por interesses
embutidos. Disputas que deveriam ter como foro de dis-
mercadológicos, não é menos verdade que, ao ferir direi-
cussão o Judiciário deslocam-se para a arena pública da
tos tão fundamentais e fundantes, devam os exageros e
mídia. Se a representação da Justiça é cega, buscando
leviandades cometidos ser expurgados ou punidos de for-
enfatizar sua imparcialidade, a luz dos holofotes cega a
ma exemplar.
razão necessária ao estabelecimento de um direito que
A mesma mídia que muitas vezes cobra honestidade
não se reduza à pura legalidade, possível representante
dos demais setores do país, também age de forma deso-
de uma dominação ilegítima”.
nesta, desrespeitando o direito de intimidade das pessoas,
Machado (1999), invocando a lição de Bobbio sobre o
assim como a sua dignidade e honra. A liberdade de im-
fracasso das promessas da democracia, principalmente
prensa não pode ser considerada ilimitada, pois tal direito
no que se refere ao magistral poder oculto exercido pela
não pode prejudicar os direitos fundamentais do cidadão.
mídia, preleciona que:
Maranhão (1999), em alusão à relação da mídia com o
“Não fomos capazes, ainda, de eliminar uma das gran-
Poder Judiciário brasileiro, hoje uma das vítimas prefe-
des promessas da democracia, aquela nomeada por Bobbio
renciais da mídia, freqüentemente taxado de vilão nacio-
como sendo a eliminação do poder invisível, o poder que
nal, pondera que:
age nas entranhas das malhas burocráticas, em todos os
“Se por um lado o Judiciário peca por omissão, a mídia
níveis, praticando atos ilícitos, ampliando a corrupção,
certamente incorre no mesmo erro. No Brasil, só se dá
maculando valores morais e éticos.
destaque ao delito, não se cobre a sentença. A mídia se
O rígido cumprimento da lei e o exercício da autorida-
omite em cobrir o Judiciário. Atualmente, pressupõe-se
de assumem importância num mundo onde as instituições
que todo brasileiro está interessado em economia, que quer
Ciência e Cultura
37
TEOTÔNIO et al.
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
saber sobre inflação, alta do dólar. Fala-se para uma na-
ça da notícia e a sua influência perante o cidadão comum,
ção inteira sobre um assunto que só interessa a uma elite
que possui pouco senso crítico e, assim, reduzida capaci-
investidora, dando espaço e relevância para a especula-
dade de filtrar as influências que permearam a transfor-
ção. O País, que de tempos em tempos vira uma pátria
mação do fato em notícia.
de chuteiras, é reduzido a uma mesa de operação de câm-
Dados estatísticos, por vezes, são usados para enfatizar
bio. Como se a sociedade tivesse reduzido o seu entendi-
informações que interessam ao mercado, sendo, contudo,
mento à sua expressão econômica, quando verdadeira-
relegados quando poderiam causar um prejuízo aos de-
mente a sociedade é traduzível na sua expressão jurídica
tentores do poder econômico. Para fixar exemplos, pode-
ou na sua capacidade de respeitar os direitos das minori-
ríamos citar a notícia que envolvia a ultima greve dos ser-
as. Isso é o que demonstra a cultura de uma sociedade”.
vidores do judiciário, onde a estatística foi usada para comparar o crescimento da renda do cidadão comum e a mé-
Parâmetros éticos
dia de aumento reivindicado, porém em período de ape-
É preciso frear os abusos cometidos pela imprensa, o
nas um ano, quando sobreditos funcionários tiveram per-
que só é possível através da valorização dos princípios
da do poder aquisitivo por período superior a quatro anos.
éticos, fundados em valores universais.
Em situação semelhante, durante a greve dos bancários,
Pela lucidez e profundidade da exposição, vale a pena
contudo, deixou-se de invocar qualquer estatística, uma
transcrever a lição de Umberto Eco (1999) sobre o tema,
vez que o rendimento líquido (lucro) dos banqueiros, du-
senão vejamos:
rante o período de um ano, chegou a estratosférica soma
“No universo judicial existe o ditado segundo qual o
que não está nos autos não está no mundo. Seu significa
de mais de mil por cento, enquanto os grevistas reivindicavam aumento mais de cem vezes menor que o lucro.
aponta para a necessidade de que as partes que tiveram a
Desta forma, sem qualquer parâmetro ético, duas no-
iniciativa de abrir um processo apresentem todos os do-
tícias que deveriam ser simétricas, derivadas de fatos bas-
cumentos e provas para demonstrar e comprovar seus
tante parecidos, foram transformadas em informações
direitos subjetivos. Entretanto, uma prática corriqueira do
distintas, sempre com a intenção de colocar a população
jornalismo de resultados é a de não publicar muitas notíci-
contra o movimento paredista ou, ao menos, não transfor-
as, pelos mais variados motivos. A desinformação decor-
mar os grevistas em vítimas, que de fato eram, do perver-
rente partiria do pressuposto de que o que não está publi-
so sistema financeiro.
cado não está no mundo.
É preciso, pois, que se cumpram os parâmetros cons-
Será que a transparência exigida pela mídia de todos
titucionais e legais referentes à mídia, mediante a invoca-
os setores nacionais também não poderia ser-lhe cobra-
ção do devido processo legal, rechaçando o uso de tão
da? Ao direito de que se arvora de tudo vasculhar, de tudo
poderoso instrumento para perversão da realidade, com a
perguntar, de tudo querer saber, de nada respeitar, a não
transformação de políticos corruptos e inescrupulosos em
ser seus compromissos comerciais, não poderia ser con-
heróis, enquanto que o cidadão comum, apenas pelo fato
traposto o direito dos cidadãos de conhecerem os critéri-
de reivindicar melhoria de sua remuneração, passa por
os de silêncio e divulgação? Será que a mídia também
processo de transformação em vilão nacional.
não constitui uma imensa caixa preta, merecedora de ser
escancarada aos olhos do público?”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CONCLUSÕES
BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. 2.v. São Paulo: Sarai-
A mídia deveria ter a sua atuação e atenção voltadas
va, 1989.
ao interesse da coletividade, o que implicaria em um mai-
CLEINMAN, Betch. Litígios de estrondo entre os 3 + 1
or controle ético das informações, em consideração a for-
poderes da República. In: Cidadania e Justiça – Revista
38
Ciência e Cultura
O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO
COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL:
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
da Associação dos Magistrados Brasileiros. Ano 3, nº 6,
MACHADO, Rubens Approbato. O Brasil cidadão.
1º semestre, 1999.
Brasília: Consulex, 1999.
ECO, Umberto. Sobre a imprensa. In: Cidadania e Justi-
MARANHÃO, Jorge. Mídia e justiça. In: Cidadania e
ça – Revista da Associação dos Magistrados Brasileiros.
Justiça – Revista da Associação dos Magistrados Brasi-
Ano 3, nº 6, 1º semestre, 1999.
leiros. Ano 3, nº 6, 1º semestre, 1999.
Comentários do Escritor
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 22. 2.v.
ed. São Paulo: Saraiva, 1999.
1
Revista Consultor Jurídico, 13 de novembro de 2006,
Confirmação do STJ, http://conjur.estadao.com.br/static/
text/50095,1
Ciência e Cultura
39
40
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Orçamento Participativo e Poder Local na Visão do Poder
Legislativo: Um Estudo do Município de Araraquara
PARTICIPATIVE BUDGETING AND THE LOCAL POWER UNDER THE POINT OF
VIEW OF THE LEGISLATIVE POWER: A STUDY OF THE MUNICIPALITY OF
ARARAQUARA
João Marino JÚNIOR
Professor da FEARP/USP e da Fundação Educacional de Barretos
Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto - Barretos-SP - CEP 14783-226
RESUMO
A deterioração dos mecanismos tradicionais de representação e participação social, causada pelas mudanças
políticas no final do século XX, requer o fortalecimento
da crítica e do controle da sociedade sobre o Estado.
No início do século XXI a democracia precisa ser aperfeiçoada no sentido de apresentar-se como uma democracia direta e participativa, na qual os cidadãos possam
interagir na defesa de seus legítimos interesses, visando à
conquista de um Estado eficaz e eficiente, que contribua
para o desenvolvimento socioeconômico de todos, diminuindo as desigualdades sociais.
Sob estes aspectos, há que se destacar o fato de que a
função orçamentária no setor público ser uma matéria
relevante em todas as atividades governamentais, uma vez
que materializa propostas de políticas públicas, projetos e
programas inovadores.
O objetivo deste trabalho é discutir, sob a ótica das
Ciências Humanas em geral e da Ciência Política em particular, a existência ou não de uma redivisão do poder de
decisão com relação à alocação dos recursos públicos para
investimentos entre o Poder Legislativo e os delegados do
Orçamento Participativo analisando a situação d o município de Araraquara.
A hipótese testada neste trabalho é a de que há um
conflito latente e não declarado entre o poder Legislativo,
de um lado, e a prefeitura, de outro, em função da perda
de poder e influência do poder legislativo diante do Conselho do Orçamento Participativo, que passa a intervir na
definição de gastos (investimentos) que eram de competência da (s) Câmara (s) Municipal (ais).
Palavras Chave: Contabilidade, Orçamento
participativo, Accountability, Transparência, Gasto Público e Investimento.
ABSTRACT
The deterioration of traditional schemes of social
representation and participation, triggered by the political
changes at the end of 20th century, calls for the
strengthening of society’s criticism of and control over
the State.
In the early 21st century , democracy needs honing in
order to present itself as right-wing, participative
democracy, in which citizens can interact and defend their
own legitimate interests with a view to attaining a State
which is both effective and efficient, contributes to the
global socioeconomic development, and, thereby, reduces
social inequalities.
In this regard, the fact must be underscored that
budgeting in the public sector has an impact on all
government matters since it makes public policies, projects
and innovative programs possible.
The aim of this paper is to analyze, from the angle of
Human Sciences, in general, and of Political Sciences, in
particular, the existence or lack of redistribution of power
between the Legislature and representatives of
Participative budgeting in order to make decisions
concerning the allocation of public funds in the municipality
of Araraquara.
This study tested the hypothesis that there is a latent
veiled conflict between the legislative on the one hand,
and the city administration, on the other, due to the loss of
power and influence by the legislative power in comparison
to that of the Participative Budgeting Committee, which
starts to play a part in planning expenses (investments)
that were under the responsibility of the Municipal
Council(s)
Keywords: Accountancy, Participative Budgeting,
Accountability, Transparency, Public Expenditure and
Investment.
Ciência e Cultura
41
JUNIOR, João Marino
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
INTRODUÇÃO
e Dulci, 1997) , em Santa Catarina, em meados dos anos
70, e de Boa Esperança, no estado de São Paulo, no co-
Nos últimos anos da década de 90 (século XX) tem
meço dos anos 80.
havido no Brasil uma busca por novas práticas de demo-
No final dos anos 80 e durante toda a década de 90
cracia participativa e direta, entre as quais se destaca o
(século XX), as experiências com orçamento participativo
orçamento participativo; para (Avritzer e Navarro, 2003)
se expandiram em todo o país (Sanchez, 2002) , principal-
o orçamento participativo é visto como uma forma de
mente pelo fato de esta idéia ter sido encampada como
rebalancear a articulação entre democracia representati-
um instrumento de gestão pública pelo “Partido dos Tra-
va e a democracia participativa ou direta baseada em qua-
balhadores – PT” e têm sido aplicadas em diversas pre-
tro elementos que são:
feituras, dos mais variados tamanhos, tais como São Pau-
1) Cessão da Soberania na qual o legislativo cede par-
lo, Campina Grande (Araújo, 1996), Jaboticabal, Diadema,
te do poder decisório sobre questões orçamentárias aos
Recife, Belém, Santo André e, principalmente, Porto
conjuntos de assembléias regionais e temáticas que, atra-
Alegre.
vés dos seus delegados, eleitos pela população, decidem
sobre a aplicação de uma parcela ou da totalidade dos
OBJETIVOS
investimentos públicos.
2) O OP implica na reintrodução de elementos de participação local ou democracia participativa.
Cabe destacar que o presente artigo tem foco no primeiro item da teoria de Avritzer ou seja na análise das
3) O OP baseia-se no princípio da auto-regulação so-
mudanças das prioridades de realocação dos recursos
berana, ou seja, a participação envolve um conjunto de
públicos e da maneira como as Ciências Humanas e em
regras que são definidas pelos próprios participantes.
particular a Ciência Política mensura estas mudanças no
4) O orçamento participativo é caracterizado, também,
âmbito do poder local.
por uma tentativa de reversão das prioridades de distri-
O objetivo deste trabalho foi o de discutir, sob a ótica
buição dos recursos públicos locais através de uma fór-
da Ciência Política, a existência ou não de uma redivisão
mula técnica (critérios de alocação dos recursos para in-
do poder de decisão com relação à alocação dos recursos
vestimentos), que privilegiam os setores carentes da po-
públicos para investimentos entre o Poder Legislativo e os
pulação.
delegados do Orçamento Participativo (Wampler, 2003).
Avritzer considera estas quatro características como
A hipótese testada neste trabalho é a de que há um
fundamentais para a existência e caracterização de um
conflito latente e não declarado entre o poder Legislativo,
processo orçamentário participativo, porém, o mesmo au-
de um lado, e a prefeitura, de outro, em função da perda
tor destaca um elemento importante para o sucesso desta
de poder e influência do poder legislativo diante do Con-
experiência que é a chamada densidade associativa ou
selho do Orçamento Participativo, que passa a intervir na
nível de organização dos movimentos sociais locais. Este
definição de gastos (investimentos) que eram de compe-
pesquisador acredita no OP como um instrumento capaz
tência da (s) Câmara (s) Municipal (ais).
de “reformar estruturas de non-accountability do poder
local no Brasil”.
Sob o ponto de vista da teoria democrática, na visão
do autor, o OP desenvolveria o ativismo democrático entre os membros das não elites, fato esse que é verificado
neste trabalho.
No modelo proposto para ser testado há cinco espaços políticos que são: 1) poder Executivo (área verde), 2)
poder Legislativo (área azul), 3) poder Judiciário, 4) OP e
5) grupos de interesse. (figura 1)
O poder Judiciário, pelas suas características e forma
de funcionamento, fica distante dos demais e é visto como
O conceito de gestão orçamentária participativa tem
a instância à qual os demais grupos recorrem para dirimir
sido aplicado em inúmeras cidades brasileiras, tais como
a disputas que não puderam ser resolvidas de forma acei-
as experiências pioneiras das cidades de (Lajes Somarriba
tável por uma das partes.
42
Ciência e Cultura
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER
LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Figura 1 – Interação Política segundo a hipótese central do trabalho
Há duas áreas de interação do OP com os poderes
çamento Participativo gera um conflito institucional entre
políticos pré-estabelecidos. A área cinza mostra a rela-
Conselho do OP e poder legislativo; entretanto, depen-
ção OP/Prefeitura, nesse trabalho esta área é uma rela-
dendo da forma como é estruturado, pode ser que o OP
ção institucionalizada, pois a prefeitura é que efetivamen-
venha a ser uma entidade pública não estatal que real-
te implanta e operacionaliza o OP. Há uma clara coope-
mente fiscaliza o poder local, o que reflete a emergência
ração entre prefeitura e OP e, neste trabalho, tratamos
de novos movimentos e atores sociais que podem resultar
esta relação como sendo de forma cooperativa.
em um novo modelo de gestão pública no Brasil.
A região roxa marca a relação entre os poderes executivo e legislativo, essa relação é marcada pelas negoci-
MÉTODOS
ações políticas e aprovação de leis e, principalmente ,pela
negociação orçamentária anual a qual compete ao poder
Para testarmos a hipótese central deste trabalho sele-
legislativo analisar, aprovar e fiscalizar. Pela legislação
cionamos a cidade de Araraquara. O município é admi-
fiscal brasileira os vereadores podem alterar a proposta
nistrado por um prefeito que, eleito em 2000 e reeleito em
orçamentária no que se refere a investimentos.
2004, implantou um modelo de gestão orçamentário
A região amarela é a região de conflito testada neste
participativo e, portanto, atende ao objetivo do trabalho,
trabalho. Com a criação do OP, os delegados ocupam não
que é o de analisar, do ponto de vista político, o processo
só uma parte do poder executivo, no que se refere à deci-
de formação do Orçamento Participativo (OP) enquanto
são sobre políticas de investimentos governamentais, mas,
um processo político-social de confrontação e
segundo a hipótese central deste trabalho, ocupam uma
aprofundamento da cidadania e de controle e transparên-
parcela importante do papel e do trabalho dos vereadores
cia da gestão municipal (poder local).
no que se refere às questões orçamentárias.
No que se refere ao período analisado (1999/2002),
O orçamento participativo, por ser um novo canal de
este não foi escolhido de forma aleatória. Na verdade,
acesso à prefeitura, e, principalmente, aos recursos do
analisando a estrutura do orçamento público no Brasil,
Estado (município), reduz o papel dos vereadores como
percebe-se que é só a partir do segundo ano de governo
intermediários da população junto ao poder local. O Or-
que um novo governante começa a administrar um orça-
Ciência e Cultura
43
JUNIOR, João Marino
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
mento segundo os objetivos traçados durante a campanha
podem ver sua representação restringida por pessoas que,
política, ou seja, antes das eleições.
muitas vezes, para participarem como membros do orça-
Neste sentido, o ano de 1999 representa o orçamento
do governo anterior ao prefeito que assumiu seu mandato
mento participativo, só tiveram algumas dezenas ou centenas de votos para representar um bairro ou região.
no ano 2000; o orçamento do ano 2000 foi elaborado, conforme determina a lei orçamentária brasileira, em fins de
1999 e, portanto, tem as marcas da administração
anterior.
É a partir do segundo ano de governo, neste caso 2001,
que os prefeitos atuais aprovaram seu primeiro orçamen-
Orçamento Participativo em Araraquara
A cidade de Araraquara, localizada na região centro
norte do Estado de São Paulo, com população estimada
em 190.000 habitantes, elegeu, em 1999, seu prefeito,
Edinho Silva, do Partido dos trabalhadores (PT).
to público, e, neste caso, estes orçamentos já estavam
Desde o primeiro ano de mandato, seguindo orienta-
influenciados pelo mecanismo do orçamento participativo.
ções do partido que adotou e difundiu a prática do OP, a
O orçamento do ano de 2002 também já foi impactado
prefeitura de Araraquara implantou o orçamento
pelo modelo participativo.
participativo como instrumento de gestão, cidadania e de-
Sob este aspecto, foi possível analisar as alterações
reais ocorridas no orçamento público e verificar se, de
fato, com a adoção do orçamento participativo, ocorreram mudanças na alocação dos recursos públicos.
mocracia direta na alocação dos recursos com investimento público municipal.
O modelo de OP adotado em Araraquara é do tipo
indutivo, ou seja, parte-se da discussão, no âmbito do OP,
É importante ressaltar que, em nosso entendimento, a
junto à sociedade, para só depois elaborar a primeira ver-
análise do orçamento público é primordial para a Ciência
são do Orçamento público e seu envio, para votação e
Política por ser o orçamento público o resultado de todas
aprovação, à Câmara Municipal.
as pressões sociais, políticas e econômicas dentro da es-
Desde o início do governo, a gestão do PT criou toda a
fera governamental, ou seja, a análise da alocação dos
estrutura administrativa necessária à realização do OP na
recursos públicos mostra quem verdadeiramente se apro-
cidade; uma ampla divulgação desta iniciativa, na mídia
pria e se beneficia do aparelho e dos recursos do Estado,
local, motivando a participação de aproximadamente 650
individual ou coletivamente.
pessoas logo no primeiro ano (2000) da nova administra-
Ressalte-se que, em função das limitações legais com
ção.
relação ao gasto público, o modelo de orçamento
Seguindo o modelo, já tradicional, de divisão da cidade
participativo só pode realocar os recursos que não este-
em regiões, a prefeitura de Araraquara dividiu a cidade
jam comprometidos com normas legal-constitucionais, isto
em oito regiões, incluindo uma área rural composta pelos
é, os participantes do orçamento participativo só podem
assentamentos Bela Vista e Monte Alegre e pequenos
decidir sobre a aplicação dos recursos destinados aos inves-
produtores rurais.
timentos. Destaque-se que o poder legislativo sofre as
Estas regiões, por sua vez, foram divididas em 28 sub-
mesmas restrições legais. Pela lei atual, os vereadores só
regiões, onde foram realizadas reuniões do OP para divul-
podem realocar os mesmos recursos, ou seja, o dinheiro
gação, discussão dos problemas da comunidade e indica-
disponível para investimento. Porém, com a adoção, pelas
ção dos delegados que iriam compor o conselho do OP na
prefeituras, do modelo orçamentário participativo, os ve-
cidade.
readores vêem seu poder reduzido e totalmente limitado
Dos 650 participantes, duzentos e onze foram eleitos,
no campo orçamentário, já que qualquer alteração que
e estes participantes elegeram os 23 delegados e 23 vice-
venham a propor vai conflitar com o negociado no âmbito
delegados que participariam das discussões finais e da
do orçamento participativo.
votação dos projetos do OP em Araraquara.
Os vereadores são também representantes do povo,
No modelo de OP implantado em Araraquara, além
eleitos, muitas vezes, com milhares de votos e, no entanto,
das reuniões para elaboração dos projetos com investi-
44
Ciência e Cultura
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER
LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
mentos selecionados pela população, o município realizou,
sos destinados a investimentos; é justamente esse recur-
também, as chamadas reuniões temáticas.
so que é o foco das discussões no âmbito do OP, ou seja,
Nas reuniões temáticas, a discussão é aberta a todos
os delegados do OP, junto com a prefeitura, discutem a
os interessados num determinado tema, independentemen-
alocação do único recurso nos quais os vereadores pode-
te da região à qual o participante pertence.
riam alterar no âmbito da gestão orçamentária pública,
Diversas foram as temáticas discutidas desde o pri-
gerando um conflito não declarado.
meiro ano do mandato do governo petista tais como: mu-
Ressalte-se que o OP não é institucionalizado, geran-
lheres, juventude, idosos, pessoas portadoras de deficiên-
do uma maior tensão entre os delegados do OP, eleitos
cias físicas. Destaque-se a temática “Afro-descenden-
nas suas comunidades, e os vereadores, eleitos pela po-
te”, cujo objetivo era de discutir e criar alternativas de
pulação em geral. E com mandato de representação for-
políticas públicas de combate ao racismo e à discriminação.
mal-legal.
Contrariando os céticos que não acreditavam na viabi-
Para testarmos a hipótese de conflito entre OP e vere-
lidade do orçamento participativo, foram investidos apro-
adores foi aplicado um questionário junto aos vereadores
ximadamente R$12.000.000,00 de reais, no período 2000/
da cidade de Araraquara.
2003 em obras, projetos e atividades aprovados, no âmbito do OP, em Araraquara.
As primeiras cinco questões fazem um levantamento
geral da situação partidária, social e profissional dos vere-
As obras aprovadas, seus locais de construção e valo-
adores, as questões 6, 7, 8, 9 e 10 dizem respeito ao papel
res eram divulgados através de jornais à população em
dos vereadores e sua relação com os delegados do OP e
geral e servem como instrumento para divulgar o OP na
com a prefeitura.
cidade.
Enviamos questionários para todos os 21 vereadores
Os dados do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo,
da cidade de Araraquara, porém, apenas 13 responde-
entretanto, mostraram um endividamento crescente e que
ram, o que representa aproximadamente 62% do total de
o município estava atingindo os limites da Lei de Respon-
vereadores da cidade.
sabilidade Fiscal e, em médio prazo, terá que cortar gastos ou aumentar as receitas para fazer frente aos novos
A primeira questão faz uma radiografia da participação dos vereadores com os partidos que representam.
patamares de custeio e investimentos; além disso, o cres-
Dos vereadores que responderam a pesquisa, 23%
cimento da dívida implicou em maiores gastos com juros e
eram do PT, 23% eram do PMDB, PTB e PP, ou seja,
amortização, afetando os investimentos públicos, e, con-
esses quatro partidos representam 92% do total de vere-
seqüentemente, os projetos aprovados no âmbito do OP.
adores que responderam a pesquisa; os 8% restantes eram
Na prática, os vereadores só podem mexer nos recur-
do PSB (Figura 2).
Figura 2 – Distribuição dos vereadores por partido político
Ciência e Cultura
45
JUNIOR, João Marino
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
No que se refere à formação profissional, há uma clara
distinção entre vereadores e delegados do OP.
professores, comerciantes, técnicos contábeis, entre outros (Figura 3).
Os vereadores, do ponto de vista da formação profis-
Quando indagados acerca da relação da câmara de
sional, exercem, na quase totalidade, profissões de nível
vereadores com a prefeitura, 33% dos vereadores do PT
médio e superior.
Um grupo de 38% dos vereadores
que responderam a pesquisa consideram o relacionamento
exerce, exclusivamente, a atividade político-partidária.
como sendo bom enquanto que para 67% dos vereadores
Entre os vereadores, há médicos, advogados, sociólogos,
petistas a relação é considerada regular.
Figura 3 – Distribuição dos vereadores por atividade profissional
Dos vereadores não petistas 40% consideram a rela-
ram a relação regular e 33% fraca. Dos vereadores não
ção boa, outros 40% regular, 10% fraca e 10% muito boa
petistas pesquisados 10% consideram o relacionamento
contra 0% dos vereadores petistas (Figura 4).
ruim, 20% fraca, 40% consideram a relação Câmara x
Quando, porém, a questão é sobre a relação da câma-
Prefeitura/OP como sendo regular, 20% boa e 10% muito
ra com a prefeitura e o orçamento participativo, os resul-
boa contra nenhum do PT (Figura 5). O que mostra um
tados mudam consideravelmente.
descontentamento generalizado, inclusive na base aliada
Dos vereadores do PT entrevistados, 67% considera-
Figura 4 – Relação da câmara com a prefeitura em geral
46
Ciência e Cultura
do governo municipal.
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER
LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Figura 5 – Relação dos vereadores com a Prefeitura/OP
O difícil relacionamento entre o poder legislativo e o
têm a mesma opinião, outros 40% disseram que o
poder executivo, no âmbito do OP, é corroborado pela
papel dos vereadores era pouco importante e só 20% con-
questão 5, que indagou aos vereadores qual era o papel da
sideram o papel dos vereadores, no âmbito do OP, impor-
câmara no processo decisório do orçamento participativo.
tante (Figura 6). O que mostra grande descontentamen-
A totalidade dos vereadores do PT (100%) afirmou
to, dos vereadores, acerca do papel do poder legislativo e
que o papel dos vereadores, no que se refere ao OP, é
a maneira como a prefeitura estruturou e conduz o OP na
praticamente nulo. Dos vereadores não petistas, 40%
cidade.
Figura 6 – Visão dos vereadores sob seu papel na definição do orçamento público.
Um ponto importante a ser ressaltado é que, na visão
O conflito de interesses fica ainda mais evidente na
dos delegados do OP há pouca participação do legislativo
questão 6, que indaga sobre o papel dos vereadores na
e para os delegados isso se deve única e exclusivamente
definição do orçamento público, após a criação do orça-
ao desinteresse dos vereadores em participar das reuni-
mento participativo.
ões do OP. Os vereadores, por sua vez, dizem que, em
Contraditoriamente nada menos que 100% dos verea-
parte, a culpa pela inexpressiva participação dos vereado-
dores petistas afirmaram que, após a estruturação do OP,
res nas reuniões do OP se deve à prefeitura, que conduz o
o papel dos vereadores ficou igual em questões orçamen-
OP como um instrumento de propaganda e pressão, que
tárias, e só 10% dos entrevistados não petistas conside-
reduz o papel dos vereadores em questões orçamentárias.
ram que o papel dos vereadores melhorou após a implan-
Ciência e Cultura
47
JUNIOR, João Marino
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
tação do OP. Um grupo de 30% de vereadores não petistas
uma resposta; 67% dos vereadores do PT consideram
consideram que a importância dos vereadores na definição de
que o OP precisa ser modificado para respeitar o papel e
questões orçamentárias ficou igual ao que era antes do OP
a responsabilidade do poder legislativo, enquanto que para
(Figura 7).
33% dos vereadores petistas este processo amplia o pa-
Quando, aprofundamos a análise entrevistando os ve-
pel dos vereadores (Figura 8).
readores que estavam exercendo a atividade há mais de
Para os vereadores que não são do PT, 30% conside-
dois mandatos, todos foram unânimes em afirmar que o
ram o OP prejudicial, 50% dizem que o OP diminui o pa-
papel dos vereadores, como intermediários entre a prefei-
pel dos vereadores, 20% desejam alterações no OP de
tura e a população, na mediação das demandas econômi-
modo a proteger o papel do poder legislativo, 20% consi-
cas e sociais da população junto à prefeitura, foi drastica-
deram o OP uma forma de manipulação dos eleitores, para
mente reduzido.
30% há neutralização do papel da oposição em função da
A questão 7 detalha e confirma este conflito. Quando
pressão dos delegados do orçamento participativo junto à
indagados sobre a estrutura do OP e a forma como os
câmara para defender a aprovação dos projetos votados
delegados são eleitos, verificamos uma grande diversida-
no âmbito do OP. Só 20% consideram positiva a experi-
de de opiniões.
ência do OP (Figura 8).
Na questão 7, os vereadores podiam escolher mais de
Figura 7 – Papel dos vereadores na definição do orçamento público após a criação do OP
A questão 8 indagou sobre a opinião dos vereadores
Em nosso entendimento, esta mudança seria represen-
acerca do orçamento participativo e sua institucionalização.
tada, principalmente, pela quebra do papel dos vereado-
Nesta questão, também, os vereadores podiam responder
res como intermediários das demandas econômicas e so-
mais de um item.
ciais da população junto à prefeitura.
Para 100% dos vereadores do PT, o OP é uma práti-
Quando indagados sobre o papel dos delegados do OP,
ca democrática que deve ser institucionalizada, contra 10%
questão 9 do questionário, que permitia mais de uma res-
dos vereadores oposicionistas que têm a mesma visão.
posta, 67% dos vereadores petistas entrevistados disse-
Dos vereadores da oposição 40% classificaram o OP como
ram que os participantes ajudam na definição das políti-
uma prática não democrática e um trabalho de marketing
cas públicas. Os outros 33% dos vereadores do PT consi-
da prefeitura; 10% consideram o OP prejudicial à demo-
deram que os delegados contribuem para a gestão e a
cracia e 30% consideram que o OP muda o poder político
qualidade do gasto público por defenderem democratica-
local (Figura 9).
mente as necessidades dos bairros e regiões que repre-
48
Ciência e Cultura
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER
LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA
sentam (Figura 10).
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Só 20% dos vereadores da oposição consideram que
Ao contrário dos vereadores do PT, a oposição consi-
os delegados do orçamento participativo contribuem na
dera que os delegados não são muito vinculados a seus
definição das políticas públicas, ao exigir a aplicação dos
interesses pessoais imediatos (80%) e que os delegados
recursos para investimentos vinculados às reais necessi-
não têm competência para tomar decisões (50%).
dades da população (Figura 10).
Figura 8 – Papel do OP e dos delegados na visão dos vereadores de Araraquara
Figura 9 – Visão dos vereadores sobre o orçamento participativo em Araraquara
Ciência e Cultura
49
JUNIOR, João Marino
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Figura 10 – Visão dos vereadores do papel e dos interesses dos delegados do OP
A última questão (10) indagava aos vereadores acerca de qual deve ser a instância última de decisão política,
sidera que o OP é uma forma democrática de participação que muda o poder político local (Figura 11).
a vontade manifesta pela população (democracia direta)
Pela análise geral dos resultados obtidos em
ou a câmara municipal (democracia representativa), atra-
Araraquara, percebeu-se, claramente, um conflito de in-
vés de seus vereadores eleitos pela população, e se o Op
teresses entre vereadores, de um lado (poder legislativo),
deveria ser institucionalizado (Figura 11).
e a Prefeitura/Delegados do OP (poder executivo), do
Todos os vereadores do PT (100%) consideram que o
outro, quando a assunto é orçamento participativo.
OP deve ser institucionalizado; só 10% dos vereadores da
Os dados obtidos confirmam a hipótese principal de
oposição têm a mesma opinião. A maioria dos vereadores
que há um conflito entre OP e poder legislativo, em fun-
da oposição (40%) é contra e considera o OP uma prática
ção da interferência do OP em assuntos de competência
não democrática, já que a maior parte da população não
legal da câmara municipal, que vê sua importância e seu
participa, e vê o OP como um instrumento de marketing
poder reduzidos em função desta nova estrutura política
da prefeitura. Um expressivo grupo de 30%, porém, con-
informal.
Figura 11 – Democracia Representativa x Direta – Visão dos vereadores araraquarenses
50
Ciência e Cultura
ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER
LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Fica evidente que a não institucionalização do OP, com
Há, claramente, um descontentamento e um descon-
a participação dos vereadores ou poder legislativo neste
forto, por parte dos vereadores, com a maneira como a
processo, faz com que esta prática de democracia direta
prefeitura criou, implantou e coordena o processo de or-
fique restrita a ser uma política de governo local, vincula-
çamento participativo nesta cidade.
da e identificada com um determinado partido político.
Pela reação e pelo grau de conflito verificado na pesquisa, podemos afirmar que, apesar de todos os seus as-
Os vereadores se sentem desprestigiados e sentem
perder poder, na medida em que uma de suas principais
funções é discutir e aprovar o orçamento público.
pectos positivos principalmente no que se refere a ques-
Destaca-se que, pela lei orçamentária, os vereadores
tões relacionadas à Accountability , este modelo de de-
só podem alterar a proposta orçamentária no que se refe-
mocracia direta tende a desaparecer em caso de alternância
re à alocação dos investimentos públicos, que é o mesmo
de poder e de saída do partido cuja prática do OP está
item e valor discutido e aprovado no âmbito do orçamento
associada.
participativo.
Quando aprofundamos a análise do conflito entre po-
Considerações Finais
Dentre os principais resultados observados na pesquisa devemos destacar os seguintes aspectos:
der executivo x poder legislativo/OP, verifica-se que, na
visão de 34% dos vereadores, a prefeitura manipula o orçamento participativo e restringe o papel dos vereadores.
1) Conflito Latente Poder Legislativo x Executivo/OP.
Um grupo menor (18%) afirma que o papel dos vere-
Em Araraquara, 100% dos projetos de investimentos
adores ficou restrito e limitado no que se refere às ques-
apresentados no âmbito do OP foram aprovados sem ne-
tões orçamentárias, e que os vereadores são pressiona-
nhuma modificação por parte do poder legislativo.
dos a aprovar o orçamento participativo sem alterações.
As pesquisas, tanto com os delegados quanto com os
Por outro lado, um representativo grupo de 34%
vereadores, confirmam a hipótese de conflito latente en-
entende que o papel dos vereadores com OP é igual ao
tre Prefeitura/OP x Poder Legislativo.
papel dos vereadores em períodos anteriores, e 13% en-
A maioria dos delegados (70%) considera que a prefeitura faz um bom trabalho de preparação e organização
tendem que o papel dos vereadores foi ampliado com a
participação dos delegados do orçamento participativo.
da estrutura e das reuniões do orçamento participativo.
A metade dos vereadores entrevistados gostaria de
Um pequeno grupo de 11% dos entrevistados critica a
modificar o OP de forma a “ver respeitado o papel dos
forma como a prefeitura organiza as reuniões do OP; es-
vereadores”, e poder voltar a influir nas decisões sobre a
sencialmente, os delegados reclamam dos dias, locais e
alocação dos investimentos públicos.
horários das reuniões; um pequeno grupo destacou que,
Para este grupo, em menor escala (17%), a prefeitura
para haver maior participação, seria preciso que a prefei-
manipula os delegados do OP de acordo com seus inte-
tura oferecesse condições financeiras, tais como “passe”
resses e coloca os delegados contra os vereadores; ou-
e “lanche”, pois a população pobre e carente muitas ve-
tros (8%) entendem que o OP é prejudicial à democracia
zes deixa de participar das reuniões por este motivo.
(representativa), pelo fato dos delegados não terem sido
Os vereadores, ao serem indagados sobre o relaciona-
eleitos como foram os vereadores.
mento do poder legislativo com a prefeitura, consideram
que a relação é positiva.
A maioria dos vereadores entrevistados (34%) entende ser o OP um trabalho de marketing da prefeitura. Po-
Quando, porém, o tema “orçamento participativo” é
rém, um grupo representativo de vereadores (32%) acre-
discutido, verifica-se um afloramento do conflito político
dita que o modelo de orçamento participativo deva ser
que confirma a hipótese de um conflito latente entre os
institucionalizado, e só uma minoria (11%) acredita que o
poderes instituídos e legais (democracia representativa)
OP é prejudicial à democracia, por entender que os dele-
frente à questão do poder não instituído ou legalizado do
gados são manipulados pelos técnicos do poder executi-
Orçamento Participativo (democracia direta).
vo.
Ciência e Cultura
51
JUNIOR, João Marino
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Quando indagados acerca dos fatores que motivam a
CONCLUSÕES
participação da população no orçamento participativo e
sobre a importância ou não destes delegados no processo
Pode-se dizer que a questão central colocada pelo OP
de controle e alocação do gasto público, os vereadores
é como conciliar mecanismos de democracia representa-
também têm opiniões diversas.
tiva (poder legislativo) com mecanismos de democracia
No entanto, um expressivo grupo de 50% dos entre-
direta (OP).
vistados entende que os participantes e os delegados do
O modelo de gestão pública local baseado no Orça-
OP são motivados, essencialmente, por interesses priva-
mento Participativo, pode-se dizer, foi a primeira grande
dos ou particulares, tais como moradia e saneamento.
idéia, viável, dos partidos de esquerda que efetivamente
A maioria dos vereadores mais antigos, aqueles que
estavam cumprindo pelo menos o seu segundo mandato,
mudam ou têm potencial de mudar as estruturas políticas
locais.
afirmou que, após a implantação do OP, houve uma signi-
As experiências pesquisadas, assim como todas as
ficativa queda na procura pelos vereadores como inter-
demais analisadas e discutidas, mostram que os políticos
mediários entre os cidadãos e as associações que eles
e partidos conservadores terão que repensar a forma como
representavam junto à prefeitura.
vêem e reagem ao OP.
Um grupo de 34% considera os delegados do OP incapazes de tomar decisões sobre temas complexos, téc-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
nicos ou que envolvam análises mais amplas, e problemas
que afetem a cidade de uma forma geral.
Apenas 34% dos vereadores acreditam que o papel
dos delegados do orçamento participativo seja importante
ARAÚJO, – Gestão pública e democratização do poder
local: o caso do Orçamento Participativo de Campina Grande PB. Dissertação de mestrado UFPB, 2000.
para o controle do gasto público, e um grupo menor (24%)
considera que os delegados e participantes do OP colabo-
AVRITZER e NAVARRO. ORG) et ali. – O orçamento
ram com a qualidade do gasto público, ao ajudarem na
participativo e a teoria democrática: um balanço crítico.
definição de quais devem ser as prioridades e onde a pre-
In – A Inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez,
feitura deve gastar os recursos para investimentos do
2003. p. 13/60.
município.
Finalmente, quando indagados acerca da democracia
SANCHEZ. Orçamento Participativo Teoria e Prática.
representativa e da democracia direta, os vereadores na
Ed. Cortez – Coleção Questões da Nossa época. Vol 97
sua maioria (53%) gostariam de ver o OP institucionalizado,
1* edição 2002.
com a participação dos vereadores (democracia representativa) por que foram eleitos para isso.
SOMARRIBA e DULCI. – A democratização do poder
Só 18% dos vereadores consideraram que a democra-
local e seus dilemas: A dinâmica atual da Participação
cia direta deve prevalecer sobre a democracia repre-
Popular em Belo Horizonte. – in Reforma do Estado e
sentativa. Entendem e defendem o ponto de vista (24%)
Democracia no Brasil. Brasília, 1997, ed. UnB p. 391-
de que a avaliação dos vereadores, legitimamente eleitos
425.
pelo povo, deve prevalecer em relação ao sistema desenvolvido pela prefeitura, entendido pela maioria dos verea-
WAMPLER, Brian. – Orçamento Participativo: Uma ex-
dores como um instrumento do poder executivo para im-
plicação para as amplas variações nos resultados. – in: A
por a sua vontade, manipulando os participantes do OP e
Inovação Democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003
jogando estes contra os vereadores.
– p. 61/86.
52
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM
POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO
CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE
REFORMA DE CANAVIAL
ESTIMATES THE PARAMETERS GENETICS IN EARLY SOYBEAN POPULATIONS
WITH RESISTANCE TO STEM CANKER FOR PLANTING IN SUGAR CANE
REFORMING AREAS
Ivana Marino BÁRBARO1,2; Maria Aparecida Pessôa da Cruz CENTURION2; Antonio Orlando DI MAURO2; Laerte Souza
BÁRBARO JÚNIOR3; Marcelo TICELLI1; Fernando Bergantini MIGUEL1; José Antônio Alberto da SILVA1; Marcelo Marchi
COSTA2
*Parte da tese de doutorado do primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Campus de Jaboticabal, SP. 2006.
1
Apta Regional Alta Mogiana. Av. Rui Barbosa, s/no 14770-000. Colina, SP. E-mail: [email protected];
2
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP. Departamento de Produção Vegetal.
3
Faculdade Dr. Francisco Maeda, FAFRAM.
RESUMO
A estimativa de parâmetros genéticos é extremamente importante para direcionar o programa de melhoramento
em relação ao processo de seleção dos genótipos mais
promissores. Assim, o objetivo do presente trabalho foi:
estimar variâncias, herdabilidades no sentido amplo, restrito, médias e ganhos esperados de onze caracteres em
cinco populações precoces de soja na geração F6, assim
como recomendar o critério de seleção mais promissor.
As populações foram conduzidas no esquema experimental
de linhas segregantes intercaladas com cultivares-padrão
no ano agrícola 2004/05, em Jaboticabal, SP. Pelos resultados obtidos, observou-se que em geral as médias das
populações foram superiores ou muito próximas das médias dos cultivares-padrão, demonstrando bons atributos
agronômicos principalmente nos caracteres número de dias
para a maturação (precocidade), altura de planta na
maturação, altura de inserção da primeira vagem e produtividade de grãos. Os coeficientes de herdabilidades no
sentido amplo e restrito apresentaram magnitudes próxi-
mas, indicando que a maior parte da variância genética é
de natureza aditiva. Também foi verificada que a seleção
praticada entre famílias apresentou-se mais eficiente que
aquela realizada dentro de família, segundo análise dos
componentes de variâncias. Assim, a estimação de
parâmetros que servirão de diretrizes para a seleção, aliados ao uso de ensaios de avaliação de famílias intercaladas com testemunhas apresentou-se viável nas populações. Além do que, as populações apresentam condições
favoráveis para seleção de linhas superiores, sendo que
este processo pode resultar em ganhos genéticos significativos devido a variabilidade disponível e boas médias
apresentadas, contribuindo para que estes genótipos continuem no programa de melhoramento para o desenvolvimento de cultivares resistentes à doenças e para cultivo
em áreas de reforma de canavial.
Palavras-Chave: oleaginosa, progresso genético, componentes de variância.
ABSTRACT
The estimation of genetic parameters is extremely
important to direct the breeding program in the process of
selecting the most promising genotypes. Thus, the aim of
this work was: to estimate variances, heritabilities in a
broad sense, narrow sense, averages and gains expected
of eleven traits in five early soybean populations in the
generation F6, as well as recommending the more
promising selection criterion. The populations were
conducted using the family design with intercalated checks
in the agricultural year 2004/05, in Jaboticabal, SP. For the
obtained results, it was observed that in general the
averages of the populations were superior or very close
of the averages of the checks, demonstrating good
agronomic attributes mainly in the traits number of days
to maturation (precocity), plant height in the maturation,
insertion height of the first pod and grains yield. The
heritabilities coefficients in a broad and narrow sense,
presented close magnitudes, indicating that most of the
genetic variance is of additive nature. It was also verified
that the selection practiced among families came more
efficient than that accomplished inside of families, second
analysis of the components of variances. Like this, the
estimate of parameters that will serve as guidelines for
the selection, allies to the use of rehearsals of evaluation
of family with intercalated checks came viable in the
populations. In addition, the populations present favorable
conditions for selection of superior lines, and this process
can result in gains genetic significant due to available
variability and good presented averages, contributing to
these genotypes to continue in the breeding program for
the development of the cultivate resistant to diseases and
for cultivation in areas of sugar cane plantation reform.
Keywords: oleaginous, genetic progress, variance
components.
Ciência e Cultura
53
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES
DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM
ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL
INTRODUÇÃO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
tivo de estimar alguns parâmetros genéticos como
herdabilidades no sentido amplo e restrito entre e dentro
A expansão da cultura canavieira no Brasil aliada a
de famílias segregantes e ganhos esperados, além de re-
incorporação de novas áreas, geralmente de baixa fertili-
comendar o critério de seleção mais promissor, para fins
dade para a produção de açúcar e energia renovável, in-
de seleção de novos genótipos de soja adaptados para
duz a necessidade de recuperação e manutenção da fer-
cultivo em áreas de reforma de canavial, com resistência
tilidade do solo para alavancar produções econômicas,
ao cancro-da-haste e portadores de bons atributos agro-
assumindo o sistema de rotação/sucessão de culturas com
nômicos.
espécies graníferas, um papel de destaque neste cenário.
A disponibilidade de poucos cultivares de soja reco-
MATERIAL E MÉTODOS
mendados para plantio em áreas de reforma de canavial,
determina uma falta de opção por parte do produtor em
A estimação dos parâmetros genéticos ocorreu a par-
termos de escolha de cultivar (MAURO et al., 1999).
tir da avaliação de caracteres agronômicos em popula-
Assim, apropriada atenção merece ser oferecida quando
ções segregantes, conduzidas como parte do programa
se pretende viabilizar o sistema rotação cana-soja no to-
de melhoramento de soja do Departamento de Produção
cante a escolha do cultivar de soja, sendo recomendado
Vegetal da UNESP/FCAV, Campus de Jaboticabal, SP,
cultivares preferencialmente de ciclo precoce e semi-pre-
no ano agrícola 2004/05. Os cruzamentos para obtenção
coces (120 a 130 dias) para o Estado de São Paulo, os
das populações foram realizados entre cultivares resis-
quais propiciam a colheita da cultura em tempo ideal para
tentes e suscetíveis ao patógeno agente causal do can-
o plantio da cana; com rusticidade principalmente quanto
cro-da-haste
a exigências nutricionais e com caracteres agronômicos
meridionalis) e a reação de resistência dos mesmos na
desejáveis como altura de planta na maturação acima de
geração F2 foi testada através do método de inoculação
60 cm e altura de inserção da primeira vagem acima de
artificial do palito-de-dente (YORINORI, 1996). Deste
10 cm, para fins de facilidade na operação de colheita
modo, somente as sementes F3 colhidas das plantas F2
mecanizada (ATHAYDE et al., 1984, TANIMOTO, 2002).
resistentes semeadas em vasos em casa-de-vegetação
Aliado ao destaque da soja para cultivo em áreas de re-
foram semeadas no campo. As gerações posteriores tam-
forma, deve-se reforçar o seu valor como uma das princi-
bém foram avaliadas por Bárbaro (2003), sendo conduzidas
pais espécies graníferas e a mais importante oleaginosa
pelo método de melhoramento genealógico modificado.
cultivada em escala mundial, constituindo o óleo e o farelo
Foram avaliadas cinco populações de soja pelo delinea-
uma das mais importantes “commodities” nacionais, figu-
mento de blocos aumentados, distribuídas no campo ex-
rando o Brasil em 2005, como o segundo produtor mundi-
perimental no esquema de famílias com testemunhas in-
al com produção de 50 milhões de toneladas ou 25% da
tercalares, onde cada família era derivada da debulha de
safra mundial (EMBRAPA, 2005).
uma planta individual.
(Diaporthe
phaseolorum
f.sp.
O interesse por parte do melhorista em se obter gran-
Este delineamento foi adotado em função da pequena
de variabilidade para a imposição de um processo seletivo
quantidade de sementes disponíveis, grande número de
que efetivamente resulte em ganhos genéticos significati-
genótipos a serem avaliados e a falta de homogeneidade
vos, são pontos de suma importância para o desenvolvi-
nas primeiras gerações de autofecundação, inviabilizando
mento de novos cultivares, assumindo a estimativa de
o uso de delineamentos estatísticos com repetições. Este
parâmetros genéticos importante papel preditivo para o
sistema é, na verdade, uma derivação do delineamento de
direcionamento de programas de melhoramento em rela-
blocos aumentados (FEDERER, 1956), onde as testemu-
ção ao processo seletivo dos genótipos mais promissores.
nhas equivalem aos tratamentos comuns, e as famílias,
Assim, no presente trabalho, foram avaliadas cinco
populações precoces de soja, na geração F6, com o obje-
54
Ciência e Cultura
aos tratamentos regulares.
A genealogia dos cruzamentos, código e número de
BÁRBARO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Foram realizadas análises de variância de cada um dos
famílias avaliadas encontram-se na Tabela 1.
caracteres avaliados, para cada um dos cultivares-padrão
Tabela 1. Relação dos cruzamentos avaliados, com as
respectivas genealogias, e número de famílias
selecionadas, na geração F6 de estudo, ano agrícola
2004/05. Jaboticabal, SP.
e para a geração segregante (família), nas cinco populações avaliadas, sendo o modelo estatístico adotado, conforme apresentado por Cruz (2001) e Backes et al., (2002):
, em que: = observação relati-
Genealogia
Número de famílias
Geração F6
Tracy-M x Paraná
FT-Cometa x Paraná
FT-Cometa x Bossier
FT-Cometa x IAC-8
BR-16 x IAC-11
10
61
50
89
8
va à j-ésima planta, do i-ésimo tratamento;
= média ge-
ral da população (cultivar-padrão ou linha segregante); fi
= efeito genético atribuído à i-ésima família, sendo fi~NID
(0,
), com ei= 1,2...,n; Para os cultivares-padrão este
efeito é inexistente; = efeito ambiental entre fileiras (de
um cultivar-padrão ou linha segregante), sendo
= efeito genético atribuído a j-ésima planta
da i-ésima família, sendo
Sendo assim cada parcela foi constituída por uma filei-
), com j =
1,2...,p; para os cultivares-padrão este efeito é inexistente;
ra, com cinco metros de comprimento representada por
e
uma família (progênie de uma planta selecionada na gera-
(de um cultivar-padrão ou de linhas segregantes).
= efeito ambiental entre plantas dentro de fileiras
ção anterior) ou cultivar-padrão (testemunha), com
Na Tabela 2 é apresentado o esquema das análises de
espaçamento entre linhas de 0,5 m e com densidade mé-
variância realizadas, bem como os estimadores das
dia de 15 a 20 plantas por metro. Como bordadura expe-
variâncias relativas às fontes de variação de famílias
rimental foi utilizado o cultivar FT-Cristalina (devido à alta
segregantes, sendo o estimador da variância fenotípica
susceptibilidade do mesmo ao patógeno causador da do-
entre famílias (
ença cancro-da-haste) no ano agrícola 2004/05, e como
fenotípica dentro (
) o QMEf, e o estimador da variância
) o QMDf.
cultivares-padrão COODETEC-205 e MSOY-7501, os
A variância ambiental foi estimada com base na varia-
quais foram intercalados a cada dez linhas experimentais.
ção fenotípica entre as repetições dos cultivares-padrão
No estádio R8 de desenvolvimento foram selecionadas
intercalados entre as famílias. Desta forma, a variação
quatro plantas fenotipicamente superiores por parcela (fa-
ambiental entre
mília e ou cultivar-padrão) para avaliação dos seguintes
timada, respectivamente por:
e dentro
de famílias foi es-
caracteres agronômicos: número de dias para o
florescimento (NDF); número de dias para a maturação
(NDM); altura da planta na maturação (APM); altura de
inserção da primeira vagem (AIV); acamamento (Ac);
valor agronômico (VA); número de sementes (NS); número de vagens (NV); número de ramificações (NR);
número de nós (NN) e produtividade de grãos (PG) (vaAs variâncias genotípicas entre
lores ajustados para 13% de umidade). Para os caracteres
e dentro
VA e Ac foram atribuídas notas intermediárias entre os
de famílias foram estimadas por diferença, respectivamen-
valores inteiros de notas, ou seja, a escala incluiu as notas
te
da
seguinte
dos em
e
. A variância genotípica foi decom-
1,5; 2,5; 3,5 e 4,5, sendo os dados originais transformados
em. Os caracteres NS e NV foram transformados em
forma:
posta em variância aditiva
e devido à dominância
. Os caracteres NS e NV foram transforma-
, por intermédio das expressões de distribuição des-
, de modo a haver uma melhor adequação
ta entre e dentro de famílias autofecundadas, citadas por
dos dados à curva de distribuição normal.
Falconer(1987).
Ciência e Cultura
55
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES
DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM
ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
O ganho indireto no caráter j, pela seleção no caráter i,
e
.
é dada por:
Conhecendo-se que o coeficiente de endogamia
,onde
é o diferen-
cial de seleção indireto obtido em função da média do
da geração F6 é de respectivamente, 93,75, conforme
caráter daqueles indivíduos cujas superioridades foram
Ramalho e Vencovsky (1978), é possível estimar a
verificadas com base em outro caráter, sobre o qual se
variância aditiva nestas populações e, conseqüentemente,
pratica a seleção direta.
As análises estatísticas foram feitas com o auxílio do
as herdabilidades no sentido restrito.
As herdabilidades no sentido amplo
e restri-
programa computacional GENES, desenvolvido por Cruz
(2001).
to
, para a média das famílias, foram estimadas,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
.
respectivamente por:
O ganho esperado foi estimado considerando-se um
índice de seleção de 20%, através da seleção direta no
i-ésimo caráter (GSi), sendo estimado baseado no diferencial de seleção, pela fórmula proposta por Cruz (2001):
, onde
indivíduos selecionados para o caráter i;
média dos
média
Nas Tabelas de 3 a 6 são apresentadas as estimativas
de variâncias fenotípicas, genotípicas, herdabilidades e
outros parâmetros genéticos para 11 caracteres agronômicos nas cinco populações de soja avaliadas na geração F6.
Na Tabela 3, verifica-se que a variância fenotípica,
bem como a genotípica para quase todos os caracteres
nas cinco populações estudadas está distribuída predomi-
original da população;
ticado na população;
diferencial de seleção pra-
nantemente entre as famílias, fato também observado por
herdabilidade restrita, ao nível
Backes et al. (2002), após avaliarem dez caracteres agronômicos em cinco populações de soja.
de média de famílias ou progênies, para o caráter i.
Tabela 2. Esquema da análise de variância.
Fonte de
Variação
Entre parcelas
Dentro de parcelas
Total
Famílias
GL1
QM3
f-1
QMEf
fn-f
QMDf
fn-1
Cultivar-Padrão 1
GL2
QM3
r1-1
QMEp1
r1p-r1
QMDp1
r1p-1
Cultivar-Padrão 2
GL2
QM 3
r 2-1
QMEp2
r2p-r2
QMDp2
r2p-1
GL = grau de liberdade; 1f = número de famílias em avaliação; n = número de plantas por família;2 r1 e r2 = número de repetições do cultivar-padrão 1 e 2, respectivamente; p = número de plantas por cultivar-padrão; 3 QME
= quadrado médio entre famílias ou entre repetições dos cultivares-padrão; e QMD = quadrado médio entre
plantas dentro das famílias ou entre plantas dentro das repetições dos cultivares-padrão.
Na Tabela 4, em geral as médias das populações
provenientes do cruzamento de CEPS 89-26 x IAC-8 e
foram superiores ou muito próximas das médias dos
CEPS 89-26 x FT-Cristalina, ambas na geração F6, médias
cultivares-padrão, para a maioria dos caracteres (com
para altura da planta no florescimento (APF) e APM
exceção dos caracteres NDF, NDM e Ac, no qual, vem
superiores às médias dos progenitores IAC-8 e FT-
sendo praticada em gerações anteriores, a seleção para
Cristalina, respectivamente, sugerindo que a causa possa
valores decrescentes) indicando a existência de
estar relacionada a estratégia de seleção de plantas mais
variabilidade genética disponível, o que viabiliza o
altas e a outra foi a de selecionar plantas mais produtivas,
melhoramento por intermédio de novos ciclos de seleção.
nas gerações anteriores, o que levou a uma seleção
Backes et al. (2002) encontraram nas populações
correlacionada de plantas mais altas.
56
Ciência e Cultura
BÁRBARO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Tabela 3. Estimativas de variâncias fenotípicas e genotípicas entre (ó2Fb) e (ó2Gb) e dentro de famílias (ó2Fw) e(ó2Gw)
para onze caracteres agronômicos avaliados em cinco populações de soja na geração F6. Ano agrícola 2004/05.
Jaboticabal, SP.
1/
P = parâmetro genético; NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação;
APM = altura da planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV
= número de vagens; NN = número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor
agronômico e Ac = acamamento.
Considerando os caracteres mais importantes quando
cultivo em rotação com a cana-de-açúcar. Entretanto foi
o objetivo é o desenvolvimento de cultivares de soja para
observado na maioria dos cruzamentos condição favorá-
áreas de reforma de canavial, verifica-se a presença do
vel para a seleção de linhas superiores, se efetuada uma
atributo precocidade (NDM variando de 113,72 a 129,88
seleção criteriosa em relação a APM, objetivando
dias) em todas as populações estudadas.
minimizar o risco de desenvolvimento de variedades com
Para APM e AIV, as médias das populações na geração F6 tenderam a aumentar ou foram próximas em rela-
problemas de acamamento, em parte devido ao critério
de seleção adotado para aumento de APM.
ção aos cultivares-padrão, fato confirmado pela seleção
Quanto ao caráter PG, considerado como o mais im-
efetuada na geração anterior F5, objetivando plantas com
portante do ponto de vista econômico, foi verificada uma
altura acima de 60 cm, e AIV acima de 10 cm, uma vez
elevação das médias correspondentes a quase todas as
que existiam progênies que foram descartadas pelo pro-
populações na geração F6, demonstrando a eficiência do
cesso seletivo, pois não se enquadravam aos valores mí-
processo seletivo para o caráter em questão realizada nas
nimos recomendados segundo a proposta de Bonetti (1983)
gerações anteriores. Todavia, verifica-se que a capacida-
para uma eficiente colheita mecanizada. De acordo com
de produtiva das populações pode ainda ser melhorada
Mauro et al. (1999), progênies precoces obtidas nas gera-
mediante imposição de processo seletivo, com eliminação
ções F4 e F5, foram estudadas por dois anos consecutivos,
de famílias medíocres, principalmente nas populações que
verificando-se que a característica crítica para o proces-
obtiveram médias inferiores ou próximas aos cultivares-
so seletivo foi a AIV compatível com as exigências para o
padrão.
Ciência e Cultura
57
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES
DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM
ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Tabela 4. Estimativas das médias para onze caracteres agronômicos avaliados em cultivares-padrão e em cinco
populações de soja nas geração F6. Ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP.
1/
Cultivares-padrão, sendo T1F6 = COODETEC-205, e T2F6 = MOY-7501; F6 = média das populações para cada
caráter; NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da
planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de
vagens; NN = número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e
Ac = acamamento.
Na Tabela 5, comparando-se as estimativas de
todavia com um maior número de caracteres por popula-
herdabilidades no sentido amplo, entre e dentro de famíli-
ção com magnitudes inferiores. Deste modo, apesar de
as, verifica-se que para a maioria dos caracteres avalia-
nem todos os caracteres apresentarem estimativas de h2ab
dos nas diferentes populações foi verificada superiorida-
superiores a 50% em todas as populações, estes resulta-
de da estimativa de herdabilidade entre famílias. Backes
dos concordam com os resultados obtidos por Sediyama
et al. (2002) encontraram valores superiores para plantas
et al. (1999) e Backes et al. (2002) que encontraram em
dentro da família somente para os caracteres número de
geral, valores altos de herdabilidade entre famílias no sen-
sementes por vagem (NSV), NDM e PG, concordando
tido amplo e predominantemente baixos para herdabilidade
em parte com os resultados obtidos no presente estudo.
no sentido amplo para plantas dentro de famílias, confirmando o melhor desempenho da seleção entre famílias,
Foram encontrados valores de herdabilidade entre famílias no sentido amplo abaixo de 50% para quase todos
nas populações F6 estudadas.
É importante ser salientado que foi verificada uma
os caracteres, variando estes, no entanto, de acordo com
grande faixa de variação nas estimativas de herdabilidade
a população, com exceção do caracter NDF na geração
de um mesmo caráter e entre caracteres que podem ser
F6 que apresentaram valores de herdabilidade acima de
atribuídas à diferenças populacionais, amostragem e na-
50% em todas as populações, sugerindo desta forma que
tureza do caráter (JOHNSON et al., 1955). Costa (2004)
para a maioria dos caracteres, a superioridade fenotípica
avaliando oito caracteres em dez populações F2 e F3 de
entre famílias não indica necessariamente a superiorida-
soja, também verificaram alta variação para herdabilidades
de genotípica. Já as estimativas de herdabilidade no senti-
no sentido amplo entre famílias, sendo que variou de
do amplo para plantas dentro de famílias apresentaram
34,00% para o caráter Ac na população derivada do cru-
valores também inferiores a 50% para quase todos os
zamento Renascença e BR-16 a 99,00% para o caráter
caracteres, exceto para NDF em todas as populações,
NDM na população Liderança x IAC-17.
58
Ciência e Cultura
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
BÁRBARO et al
Tabela 5. Estimativas de herdabilidades no sentido amplo (h2ab) e (h2aw) e restrito (h2rb) e (h2rw) entre e dentro
de famílias para onze caracteres agronômicos em cinco populações de soja na geração F 6. Ano agrícola 2004/05.
Jaboticabal, SP.
NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na
maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de vagens; NN =
número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento.
Os caracteres AIV e NV apresentaram coeficientes
no sentido restrito obtidos entre famílias, devem-se princi-
de herdabilidade ampla entre famílias com valores inferi-
palmente ao comportamento puramente quantitativo, dos
ores a 50% em um maior número de populações na gera-
mesmos em função do grande número de genes que o
ção F6 quando comparado com os demais caracteres agro-
controlam, permitindo alta influência do ambiente e,
nômicos, concordando com os resultados obtidos por
consequentemente, diminuição da relação entre a variância
Backes et al. (2002), porém discordando em parte dos
genética e a fenotípica, e também devido a variância de
obtidos por Costa (2004) que encontraram de modo geral,
dominância (não herdável) atuante na mesma. Tal resul-
os maiores coeficientes de herdabilidade obtidos para os
tado está de acordo com os resultados obtidos por Destro
caracteres NV, NS e PG, indicando a possibilidade de ha-
et al. (1987), Backes et al. (2002) e Reis et al. (2002).Foi
ver sucesso na seleção das gerações precoces (F3) atra-
também possível observar que as estimativas de
vés do direcionamento do processo seletivo dos genótipos
herdabilidade ampla e restrita entre famílias, para um
mais promissores.
mesmo caráter, apresentaram valores com magnitudes
Para os caracteres PG, NS, NV, AIV, NN e VA na
próximas principalmente nos caracteres secundários NDF,
maioria das populações, os baixos valores de herdabilidade
NDM, APM e AIV. Tal fato evidencia a pouca contribui-
Ciência e Cultura
59
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES
DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM
ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
ção dos desvios causados pela dominância contribuindo
obtidos na seleção direta e pelo uso da estratégia de sele-
para o valor genotípico, indicando que provavelmente a
ção por índices nos caracteres NV, NS e PG.
maior parte da variância genética é de natureza aditiva.
Analisando criteriosamente os dados, permite-se cons-
Por sua vez, Backes et al. (2002) observaram que os
tatar que os ganhos diretos foram para a maioria dos
caracteres PG e NV apresentaram diferenças mais con-
caracteres superiores aos indiretos, excetuando-se alguns
sistentes entre as estimativas nos sentidos amplo e restri-
caracteres, onde a seleção indireta apresentou uma ligeira
to, considerando todas as populações estudadas.
superioridade. Segundo Falconer (1987), esse resultado é
Assim, a diferença na magnitude entre as estimativas
passível de ocorrência em virtude da maior herdabilidade
de herdabilidade nos sentidos amplo e restrito evidencia
do caráter auxiliar em detrimento do principal, além de
que principalmente quando o objetivo é comparar os po-
elevada magnitude de correlação genética entre ambos.
tenciais de diferentes populações, torna-se importante a
De modo geral, com base nas estimativas do ganho à
predição de ganhos com base na herdabilidade restrita.
seleção, constata-se que a capacidade produtiva pode ser
Por sua vez, Costa (2004) verificou em populações F2 e
melhorada dentro de cada população, mediante imposi-
F3 de soja, com fonte de resistência ao nematóide do cisto
ção de processo seletivo, com eliminação das linhas me-
(raça 3) que as estimativas dos coeficientes de
díocres, sendo que a população derivada do cruzamento
herdabilidade no sentido amplo e restrito na maioria das
entre FT-Cometa e IAC-8, apresentou maior valor no
situações foram próximas.
ganho direto sobre PG na geração F6.
Os caracteres NDF e NDM apresentaram valores elevados de herdabilidade restrita entre plantas dentro de
CONCLUSÕES
família em todas as populações estudadas. Backes et al.
(2002) observaram apenas para altura da planta no
O presente trabalho permite concluir que:
florescimento e NDF. Desta forma, com os resultados
1)
A estimação de parâmetros genéticos que ser-
obtidos, torna-se visível a baixa eficiência da seleção den-
virão de diretrizes para a seleção, aliados ao uso de ensai-
tro de famílias, constatando que a diferença entre plantas
os de avaliação de famílias intercaladas com testemunhas
de uma mesma família se deve provavelmente a diferen-
experimentais apresentou-se viável principalmente nas
ças ambientais e desvios devido à dominância, de nature-
populações F6 com pouca disponibilidade de sementes;
za não herdável, tornando pequena a correlação entre o
2)
A variância genética está predominantemente
valor fenotípico e valor genético aditivo, o que leva a
distribuída entre as famílias, sendo, portanto, recomenda-
priorizar a seleção entre famílias.
da a seleção entre famílias preferencialmente;
Na Tabela 6 estão apresentadas as estimativas dos
3)
As populações apresentaram condição favorá-
ganhos de seleção para os onze caracteres avaliados nas
vel para seleção de linhas superiores, sendo que este pro-
populações derivadas dos cinco cruzamentos utilizando a
cesso pode resultar em ganhos genéticos significativos
estratégia de seleção direta e indireta, sendo considerada
devido a variabilidade disponível e boas médias apresen-
a seleção entre famílias, uma vez que em estudos realiza-
tadas nos caracteres número de dias para maturação (pre-
dos por Backes et al. (2002) e Bárbaro et al. (2005) em
cocidade), altura de plantas na maturação, altura de in-
populações avaliadas a partir da geração F5, a variância
serção da primeira vagem e produtividade de grãos con-
genética nos cruzamentos estudados esteve predominan-
tribuindo para que estes genótipos continuem no progra-
temente distribuída entre as famílias, em detrimento da
ma de melhoramento para o desenvolvimento de cultiva-
fração distribuída dentro de famílias, sendo a família, con-
res resistentes ao cancro-da-haste da soja e destinados
siderada portanto, a unidade de seleção primordial.
preferencialmente para áreas de reforma de canavial.
De um modo geral, os maiores ganhos diretos foram
obtidos para os caracteres PG, NS e NN concordando em
parte com Costa (2004) que encontrou os maiores ganhos
60
Ciência e Cultura
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
BÁRBARO et al
Tabela 6. Estimativas de ganhos genéticos GS(%) para onze caracteres agronômicos avaliados em cultivares-padrão
e em cinco populações de soja na geração F6. Ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP.
NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na
maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de vagens; NN =
número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento.
Ciência e Cultura
61
ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES
DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM
ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATHAYDE, M. L. F.; MIRANDA, M. A. C.; SADER,
R. & RODRIGUES, R. Comportamento de cultivares e
linhagens de soja no município de Araraquara- SP, em áreas
de reforma de canavial. In: SEMINÁRIO NACIONAL
DE PESQUISA DE SOJA, 3.O , Campinas. Anais, Londrina, EMBRAPA/CNPS. 1984. p. 406-411.
BACKES, R.L.; REIS, M.S.; SEDIYAMA, T.; CRUZ,
C.D.; TEIXEIRA, R. C. Estimativas de parâmetros genéticos em populações F5 e F6 de soja. Revista Ceres, v.
49, n. 282, p.201-216, 2002.
BARBARO, I. M. Herança da resistência ao cancro da
haste (Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis) e correlação entre caracteres em populações de soja. FCAV/
UNESP, Jaboticabal, SP, 59f. Dissertação (Mestrado em
Genética e Melhoramento de Plantas) – 2003.
BÁRBARO, I. M.; CENTURION, M.A.P.C.; DI
MAURO, A.O.; UNÊDA-TREVISOLI, S.H.; COSTA,
M.M.; MUNIZ, F.R.S.; SILVEIRA, G.D.; BÁRBAROJÚNIOR, L.S.; ARRIEL, N.H.C. & SARTI, D.G.P. Variabilidade em populações F5 de soja. In: III CONGRESSO
BRASILEIRO DE MELHORAMENTO DE PLANTAS.
Anais, EMBRAPA, 2005.
BONETTI, L. P. Cultivares e seu melhoramento genético. In: VERNETTI. F.J. (Coord.). Soja Genética e Melhoramento. Campinas, Fundação Cargill, 1983. v.2, p.741800.
COSTA, M. M. Análises genéticas em gerações precoces de soja com fonte de resistência ao nematóide do cisto (raça 3). FCAV/UNESP, Jaboticabal, SP, 85f. Dissertação de Mestrado em Genética em Melhoramento de
Plantas). 2004.
CRUZ, C. D. Programa Genes – Versão Windows –
Aplicativo computacional em genética e estatística. Viçosa, Ed. UFV, 2001. 648p.
DESTRO, D.; SEDIYAMA, T.; SILVA, J.C.;
SEDIYAMA, C.S. & THIÉBAUT, J.T.L. Estimativas de
herdabilidade de alguns caracteres, em dois cruzamentos
de soja. Pesquisa Agropecuária Brasileira. V. 22, p.291304,1987.
62
Ciência e Cultura
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
EMBRAPA, 2005. Tecnologia de produção de soja – região central do Brasil- 2005. Londrina: Embrapa Soja:
Embrapa Cerrados: Embrapa Agropecuária Oeste: Fundação Meridional, 2005. 239p.
FALCONER, D. S. Introdução à genética quantitativa.
Viçosa, Ed. UFV, 1987. 279p.
FEDERER, W.T. Augmented (or hoonuiaku) designs.
Hawaiian Planters Record, Honolulu, v.55, n.2, p.191-208,
1956.
JOHNSON, H. W.; ROBINSON, H. F.; COMSTOCK,
R. E. Genotipic and phenotypic correlations in soybeans
and their implications in selection. Agronomy Journal,
Madison, v. 47, n. 10, p. 477-483, 1955.
MAURO, A. O. DI., COSTA, L. C. & PERECIN, D.
Análises genéticas no desenvolvimento de variedades de
soja para cultivo em áreas de reforma de canavial. Revista Ceres, v. 46, p. 266 : 423-433, 1999.
RAMALHO, M. A. P. & VENCOVSKY, R. Estimação
dos componentes da variância genética em plantas
autógamas. Ciência Prática., v.2, p.117-40, 1978.
REIS, E.F.; REIS, M.S.; SEDIYAMA, T.; CRUZ, C. D.
Estimativa de variâncias e herdabilidades de algumas características primárias e secundárias da produção de grãos
em soja (Glycine max (L.) Merrill).Ciência agrotécnica.,
Lavras, v. 26, n.4, p. 749-761, 2002.
SEDIYAMA, T.; TEIXEIRA, R.C & REIS, M.S. Melhoramento da soja. In: Borém, A. (ed.). Melhoramento de
espécies cultivadas. Viçosa, Ed. UFV, 1999. p. 487-533.
TANIMOTO, O.S. Plantio direto de soja sobre a palhada
de cana-de-açúcar. CATI, Campinas, 2002. 18p (Impresso Especial).
YORINORI, J. T. Cancro da haste da Soja: epidemiologia
e controle. Londrina: EMBRAPA/CNPSo, 1996. 75p.
(Circular Técnica, 14).
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA
NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE
PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
AGRONOMIC PERFORMANCE OF SOYBEAN CULTIVARS IN COLINA-SP REGION,
IN REFORM PASTURE AREA, AGRICULTURAL YEAR 2005/06*
Laerte Souza BÁRBARO-JÚNIOR1; Ivana Marino BÁRBARO2; Vinícius Antonio MACIEL JÚNIOR3; Marcelo
TICELLI4; Fernando Bergantini MIGUEL4; Paulo César RECO5; João Henrique BARBERO6
* Parte do trabalho do primeiro autor, para conclusão do Curso de Agronomia da Faculdade de Agronomia Doutor Francisco Maeda.
1
Estudante da Faculdade de Agronomia Doutor Francisco Maeda.
2
Autora responsável - Pesquisadora Científica do APTA Regional Alta Mogiana - Av. Rui Barbosa, s/no 14770-000. Colina, SP.
3
Professor da Faculdade de Agronomia Doutor Francisco Maeda.
4
Pesquisadores Científicos do APTA Regional Alta Mogiana.
5
Pesquisador Científico do Apta Regional Médio Paranapanema.
6
Estudante de Agronomia do Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior.(ITES)
RESUMO
A reforma de pastagem com culturas como a soja
tem sido viável em propriedades cuja exploração principal
é a pecuária, conduzida em pastagens manejadas
inadequadamente e sem adubação de manutenção. Com
o objetivo de avaliar o comportamento de cultivares de
soja na região de Colina-SP, em área de reforma de
pastagem, foi conduzido no ano agrícola 2005/06, ensaio
com 22 cultivares de soja. O delineamento experimental
foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Cada
parcela foi constituída por quatro linhas de 5 m de
comprimento, com espaçamento entrelinhas de 0,50 m, e
densidade de 18 plantas por metro linear, considerando
como parcela útil as duas linhas centrais. Os dados foram
submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as
médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%. Verificouse que o ciclo dos cultivares se antecipou, variando de 96
a 114 dias. Quanto à produtividade, destacou-se o cultivar
CD 201 com 2.491,50 kg/ha. Valores adequados com as
exigências para a sucessão pastagem/soja também foram
notados para os caracteres altura de plantas, altura de
inserção da primeira vagem, acamamento, valor
agronômico, massa de grãos, número de nós, ramos,
vagens e sementes, demonstrando o potencial de vários
cultivares de soja, para cultivo na região de Colina-SP.
Em relação à estimativa de correlação, a massa de grãos
mostrou ser um bom indicador da produtividade.
Palavras-Chave: comportamento, Glycine max. L,
rendimento, integração lavoura-pecuária
ABSTRACT
The pasture reform with cultures as the soybean
it has been viable in farms whose main exploration is the
livestock, being developed in pastures inadequately handled
and without maintenance fertilization. An experiment using
22 soybean cultivars was conducted in region of the
Colina-SP, in the reform pasture area, in the agricultural
year 2005/06, to evaluate the behavior. The experimental
design was the randomized block, with four replications.
Each plot consisted by four row of 5 meters in length,
considering as useful plot the two central row. The rows
were spaced 0.5 m and the mean density was 18 plants
per meter. The data were submitted to the variance analysis
by the test F, being the averages compared by the test of
Tukey at 5%. For the obtained results, it was verified that
the cycle of the soybean cultivars it advanced, varying
among 96 to 114 days. With relationship to the productivity,
she stood out the cultivar CD 201 with 2.491,50 kg/ha.
Values adapted with the demands for the succession
pasture/soybean were also verified for plant height at
maturation, insertion height of the first pod, loyding,
agronomic value, mass of grains, number of nodes,
branches, pods and seeds, demonstrating the potential of
several cultivars for cultivation in region of the Colina-SP.
In relation to the correlation estimate, the mass of grains
showed to be a good indicator of the productivity.
Keywords: behavior, Glycine max. L, yield, cattle raising
and crop production integrated systems
Ciência e Cultura
63
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE
COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
INTRODUÇÃO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
2003). Quando vários cultivares são testados em diferentes ambientes, normalmente há alteração relativa, quanto
O cultivo da soja tem sido uma das principais al-
á produtividade dos mesmos. Desta forma, a avaliação do
ternativas para a reforma de pastagens degradadas, e a
comportamento agronômico de cultivares pode trazer in-
rotação e/ou sucessão da soja com pastagem (dois a três
formações relevantes para os agricultores e técnicos.
O conhecimento do coeficiente de correlação
anos) tem propiciado benefícios para ambas às culturas
(KICHEL et al., 2000).
existente entre caracteres agronômicos em cultivares de
Deste modo, atualmente têm-se dado ênfase na ne-
soja fornece indícios de como a seleção praticada em um
cessidade de reformar as pastagens, pois, as mesmas “fi-
caráter pode influenciar a média de outro. Segundo
cam cansadas” e precisam ser trabalhadas para recupe-
Johnson et al. (1955), dentre as características de maior
rar as condições originais de produtividade (PECHE FI-
importância para o melhoramento de soja, além da resis-
LHO, 2004).
tência a doenças, é a produtividade. Assim, o conheci-
Aliado ao destaque da soja para cultivo em áreas de
mento da correlação entre características que influem na
reforma de pastagem, deve-se reforçar o seu valor como
produtividade é necessário, por permitir a identificação de
uma das principais espécies graníferas e a mais importan-
caracteres para uso na seleção indireta para produtivida-
te oleaginosa cultivada em escala mundial, constituindo o
de.
óleo e o farelo, uma das mais importantes “commodities”
Em resumo, a literatura nacional relata inúmeros
nacionais. Em 2005 o Brasil figurou como o segundo pro-
ensaios de desempenho de cultivares, a maior parte para
dutor mundial com produção de 50 milhões de toneladas
os estados tradicionais no cultivo da soja, entretanto, en-
ou 25 % da safra mundial (EMBRAPA, 2005).
contram-se também informações desta natureza para es-
Entre os benefícios proporcionados pela reforma
tados brasileiros não tradicionais no cultivo desta
de pastagem com a soja destaca-se a produção
leguminosa, como várzea irrigada (PELUZIO et al., 2003)
diversificada de alimentos, melhoria das características
e Pará (EL-HUSMY et al., 2003).
físicas, químicas e biológicas do solo, controle de plantas
O presente trabalho objetivou verificar o desempenho
daninhas, doenças e pragas, reposição de matéria orgâni-
agronômico de 22 cultivares de soja pertencentes à rede
ca, proteção do solo da ação dos agentes climáticos e
de ensaios de avaliação regional de cultivares comerciais
auxílio na viabilização do sistema de semeadura direta e
de soja IAC/CATI/EMPRESAS no Estado de São Paulo,
dos seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária
na região de Colina-SP, em área de reforma de pastagem,
e sobre o ambiente como um todo (KICHEL et al., 2000).
durante o ano agrícola 2005/2006. Paralelo a isto, objetivou-
Para a adoção da sucessão pastagem/soja, torna-se
se ainda, a estimação de coeficientes de correlação entre
necessário fazer um planejamento com a utilização de
os caracteres agronômicos avaliados nos cultivares.
tecnologias disponíveis, entre as quais citam-se: a utilização de cultivares adaptados de soja, que produzam gran-
MATERIAL E MÉTODOS
des quantidades de biomassa e de rápido desenvolvimento, técnicas específicas para controle da erosão, calagem,
O ensaio foi instalado no dia 12/12/2005 em área de
adubação, qualidade e tratamento de sementes, época e
reforma de pastagem com solo, classificado segundo a
densidade de semeadura, controle de plantas daninhas,
EMBRAPA (1999) como Latossolo Vermelho Escuro -
pragas e doenças principalmente quando o objetivo é a
fase arenosa pertencente á sede do Pólo Regional de
maior eficiência do sistema (EMBRAPA, 2005).
Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta
Assim sendo, os ensaios de competição de culti-
Mogiana, situada em Colina-SP. A respectiva área teve
vares são conduzidos em todas regiões brasileiras produ-
como cultura anterior à gramínea do gênero Panicum
toras de soja, visando avaliar o potencial produtivo, as ca-
maximum cv. Tanzânia 1.
racterísticas agronômicas e a estabilidade (SANTOS,
64
Ciência e Cultura
Segundo Köppen (2001), o clima da região onde foi
BÁRBARO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
realizado o experimento pode ser classificado como Cwa,
O solo foi preparado de maneira convencional, com
ou seja, tropical de altitude com inverno seco, temperatu-
uma gradagem home, uma subsolagem, uma aração e duas
ra do mês mais quente maior que 22° C e temperatura do
gradagens niveladoras. Antes da última gradagem efe-
mês mais frio entre -3° e 18°C.
tuou-se a aplicação de trifluralin (Trifluralina Goldâ), na
Foi empregado o delineamento experimental de blocos
dose de 4 L/ha, visando o controle de plantas daninhas de
ao acaso, composto por 22 tratamentos e quatro repeti-
folhas estreitas infestantes da área. Posteriormente, a área
ções. Cada parcela constituiu-se de quatro linhas de 5
foi sulcada e adubada.
metros de comprimento, espaçadas de 0,5 m, sendo considerada como área útil da parcela, apenas as duas linhas
centrais, correspondente a 5,0 m2.
A adubação da área foi feita com base na interpretação dos resultados da análise química do solo (Tabela 1),
Os cultivares utilizados para compor o ensaio foram:
distribuindo-se no sulco de semeadura a quantidade de
V-MAX, IAC 18, IAC 23, BRS 133, A 7001, A 7005,
86,21 kg/ha de cloreto de potássio, 444,44 kg/ha de
EMBRAPA 48, CD 208, CARRERA, CD 218, BRS 232,
superfosfato simples e 45 kg/ha de uréia. As sementes
CD 202, CD 201, CD 215, CD 216, CD 217, CD 214 RR,
foram tratadas com o fungicida Maxin XLâ e inoculadas
IAC FOSCARIN 31, CD 211, M-SOY 8001, BRS 184 e
com inoculante Masterfixâ, sendo a semeadura realizada
BRS 245 RR.
no mesmo dia da inoculação.
Tabela 1. Resultado da análise química do Latossolo Vermelho Escuro – fase arenosa, utilizado no presente estudo.
Com o planejamento do presente ensaio, objetivou-se
um estande inicial de 18 plantas/metro linear, o que
Endossulfam e Monocrotofós, nas dosagens recomendadas.
corresponde a uma densidade populacional de aproxima-
Para o controle da ferrugem asiática da soja foram
damente 360.000 plantas/ha, no espaçamento entrelinhas
efetuadas quatro aplicações com os fungicidas Eminent
de 0,50 m. A opção
125âEW e Domark 100âCE, nas dosagens recomenda-
por uma população inicial elevada, contrariando em
das segundo a EMBRAPA (2005).
parte as recomendações da EMBRAPA (2005) de no
A colheita manual das plantas existentes na área útil
máximo 320.000 plantas/ha, se fez em razão da tardia
de cada parcela foi executada à medida que os cultivares
época
atingiram a maturação de campo, estádio de desenvolvi-
de semeadura do ensaio, além da possibilidade de que
determinados cultivares podem apresentar porte baixo
dependendo da região em que são cultivados.
mento R8 (FEHR e CAVINESS, 1977).
Foram avaliados os seguintes caracteres agronômicos:
número de dias para o florescimento (NDF), expresso em
Complementou-se o controle das plantas daninhas atra-
dias; número de dias para a maturação (NDM), expresso
vés de capinas manuais, deixando-se a cultura livre da
em dias; acamamento das plantas (Ac), através de uma
competição com essas plantas por todo ciclo.
escala de notas visuais, variando de 1 (quase todas as
Foram feitos os controles para as lagartas e perceve-
plantas eretas) até 5 (todas as plantas acamadas), pro-
jos da soja, quando essas pragas atingiram o nível de dano
posta por Bonetti (1983); valor agronômico (VA), através
econômico, seguindo-se as recomendações da
de uma escala de notas visuais baseada na observação do
EMBRAPA (2005). Para o controle foram utilizados
aspecto global médio das plantas avaliadas para cada um
Ciência e Cultura
65
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE
COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
dos cultivares, levando-se em consideração uma série de
aves (pombas) que se alimentam de cotilédones da soja,
caracteres visuais adaptativos, tais como: arquitetura da
contribuindo para formação de falhas nessas parcelas.
planta, quantidade de vagens cheias, vigor e sanidade da
No presente ensaio foi observado que entre os cultiva-
planta, viabilidade de colheita mecanizada, resistência à
res testados, nenhum apresentou altura de planta abaixo
debulha prematura das vagens e menor retenção foliar
de 65 cm, estando de acordo com as recomendações de
após a maturidade, sendo 1 (planta ruim) a 5 (planta ex-
Bonetti (1983) e Sediyama et al. (2005). Por outro lado, o
celente) e estande final de plantas (EF), expresso em metro
cultivar IAC FOSCARIN 31 mostrou valor médio de al-
linear.
tura de planta acima de 100 cm, o que também não é
Após a colheita foram realizadas as seguintes avalia-
adequado, uma vez que, quanto maior a altura da planta
ções em 10 plantas ao acaso por parcela útil: altura de
mais sujeita a mesma está ao acamamento, podendo ge-
plantas na maturação (APM), expresso em cm; altura de
rar maiores perdas na produção quando efetuada a co-
inserção da primeira vagem (AIV), expresso em cm; nú-
lheita mecanizada.
mero de ramos (NR); número de vagens (NV); número
Cultivares de soja com aptidão para cultivo em áreas
de sementes (NS), número de nós na haste principal (NN)
de reforma de pastagem devem atender a alguns quesitos
e massa de grãos por planta (MG), expresso em g (obtido
como altura mínima desejável para uma eficiente colheita
através do valor médio do peso de sementes/planta em
mecanizada, em solos de topografia plana é em torno de
quatro repetições por parcela).
50 a 60 cm. Geralmente, plantas com 70 a 80 cm de altura
A partir dos valores médios referentes a produção das
induzem a uma eficiente operação da colhedora e acima
parcelas de cada tratamento, calculou-se a produtividade
de 100 cm tendem ao acamamento (SEDIYAMA et al.
das variedades (PG), sendo expressa em kg/ha e posteri-
2005).
ormente efetuaram-se a transformação em sacas/ha.
Comparando os resultados obtidos por Silva (2005) que
As análises de variância do presente ensaio foram fei-
avaliou o desempenho de 13 dos cultivares testados no
tas com o uso do programa computacional ESTAT, de-
presente trabalho, no município de Jaboticabal-SP, notou-
senvolvido pelo Departamento de Ciências Exatas da
se uma elevação nos valores médios de altura de plantas
FCAV/UNESP/Jaboticabal (ESTAT). Determinaram-se
para nove cultivares e redução para dois quando cultiva-
também os coeficientes de correlação simples, através do
dos em Colina-SP, e valores com magnitudes próximas
uso do programa GENES (CRUZ, 2001), entre as carac-
para os cultivares CD 218 e M-SOY 8001 em ambos os
terísticas NDF, NDM, APM, AIV, NS, NV, NR, NN, MG,
locais.
EF e PG, sendo estimadas de acordo com Vencovsky e
Barriga (1992).
Para altura de inserção da primeira vagem o ideal é
que esteja cerca de 10 a 12 cm acima da superfície de
solos planos e cerca de 15 cm em solos mais inclinados,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
para que não ocorram perdas na colheita pela barra de
corte da máquina (SEDIYAMA et al., 2005). Assim sen-
Os valores médios dos caracteres agronômicos
do, foi constatado que todos os cultivares avaliados apre-
avaliados nos 22 cultivares de soja estão apresentados na
sentaram valores médios de altura de inserção da primei-
Tabela 2.
ra vagem superiores a 10 cm, valor esse considerado mí-
Nota-se que somente dois cultivares o M-SOY 8001 e
nimo para obtenção de valores aceitáveis de perdas por
o CD 215 apresentaram estande final superior a 16 plan-
ocasião da colheita mecanizada, segundo Bonetti (1983)
tas/metro linear, correspondendo a 320.000 plantas/ha.
e Sediyama et al. (2005). Por sua vez, Silva (2005) verifi-
Entretanto, alguns cultivares apresentaram um estande
cou nos cultivares CD 201, IAC 18, BRS 184 e CD 211,
bastante reduzido, como o CD 218 e o CD 211 que mos-
alturas de inserção da primeira vagem abaixo de 10 cm,
traram valores médios de 8,80 a 9,08 plantas/metro linear.
relatando ainda que o ajuste do caráter em questão para
O estande reduzido deveu-se a ocorrência de ataque de
maiores alturas pode ser obtido através de acertos na data
66
Ciência e Cultura
BÁRBARO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
de semeadura e densidade populacional. Ainda em rela-
médios mais altos de nota de acamamento foram A 7005
ção ao mesmo autor, o caráter AIV está correlacionado
e IAC FOSCARIN 31, com valor de nota de 2,67. O bai-
com a altura de plantas que aumenta com a elevação da
xo índice de acamamento obtido no presente ensaio pode
população de plantas.
estar relacionado à baixa densidade populacional do en-
O acamamento das plantas também é um caráter que
pode gerar perdas de grãos durante a colheita mecaniza-
saio, uma vez que decréscimos na população podem influenciar na diminuição do grau de acamamento.
da. Plantas altas e ou, de caule muito fino tendem ao
Considerando o caráter NDM observa-se que todos
acamamento com relativa facilidade. Essa característica
os cultivares comportaram-se como precoces. O conhe-
pode ser influenciada por vários fatores ambientais, tais
cimento do ciclo do cultivar é de suma importância quan-
como maiores índices em solos férteis, argilosos e úmidos
do se objetiva o cultivo de soja em áreas de reforma de
do que em solos pobres e/ou arenosos (SEDIYAMA et
pastagem, sendo este em soja variando entre 75 a 210
al., 2005), sendo que notas de acamamento superiores a
dias. De acordo com a classificação, para o Estado de
3,0 (todas as plantas moderadamente inclinadas) impossi-
São Paulo existem quatro ciclos: ciclo precoce (até 120
bilitam a recomendação do cultivar (BONETTI, 1983).
dias); ciclo semi-precoce (121 a 130 dias); ciclo médio
Na Tabela 2, para o caráter acamamento não foram
(131 a 140 dias) e semi-tardio (141 a 150 dias)
observadas diferenças estatísticas significativas pelo tes-
(EMBRAPA, 2005). Portanto, o uso de cultivares preco-
te de Tukey a 5% de probabilidade. Sobretudo, verifica-
ces de soja contribuem de forma a implementar rapida-
se que os cultivares apresentaram baixos índices, ou seja,
mente a pastagem e conseqüentemente conduzir a um
valores estes que estão dentro da faixa recomendada por
maior tempo de utilização da área para o pastejo dos ani-
Bonetti (1983). Os cultivares que apresentaram valores
mais.
Tabela 2. Caracteres agronômicos avaliados em cultivares de soja na região de Colina-SP, em área de reforma de
pastagem. Ano agrícola 2005/06.
(1)
Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade; Ac = acamamento e VA = valor agronômico.
Ciência e Cultura
67
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE
COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
Efetuando-se comparações do caráter número de dias
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
caráter quando avaliado em Jaboticabal-SP.
para a maturação com os resultados obtidos por Silva
Para o caráter número de sementes, o CD 216 apre-
(2005) e na classificação da EMBRAPA (2005), verifica-
sentou maior valor (141 sementes). Entretanto, o cultivar
se que no geral, houve diminuição do ciclo dos cultivares
CARRERA foi o que teve menor desempenho quanto a
testados no presente ensaio. Provavelmente, este encur-
este mesmo caráter.
tamento do ciclo ocorreu em função da elevada pressão
Apesar da não significância para as notas visuais de
de inóculo do fungo, agente causal da ferrugem asiática,
valor agronômico, observou-se aspecto global mediano das
da soja no ano agrícola em questão, apesar de ter sido
plantas avaliadas para todos os cultivares, levando-se em
realizado o seu controle através de quatro pulverizações
consideração uma série de caracteres visuais adaptativos,
com fungicidas específicos, sendo, ainda assim, notada a
tais como: arquitetura da planta, quantidade de vagens
presença do fungo que pode ter favorecido a maturação
cheias, vigor e sanidade da planta, viabilidade de colheita
mais rápida dos cultivares testados.
mecanizada, resistência à debulha prematura das vagens
Quanto ao caráter número de nós foi apurado que hou-
e menor retenção foliar após a maturidade.
ve diferenças significativas para o mesmo, tendo o culti-
Houve diferenças estatísticas significativas para o com-
var CD 211 apresentado o maior número de nós (18,10)
ponente primário da produção “massa de grãos” sendo o
não diferindo, de outros 14 cultivares com valores de 14,83
maior valor apresentado para o cultivar CD 216 com 16,53
a 16,70 nós na haste principal. Já o menor valor ficou para
g, e o menor ficou para o M-SOY 8001 (7,28 g).
o cultivar BRS 232 (13,43 nós), que por sua vez, não dife-
O cultivar CD 201 destacou-se em relação à produti-
riu dos cultivares IAC 23, EMBRAPA 48, CD 208,
vidade com 2.491,50 kg/ha (42 sacas/ha), não diferindo
CARRERA, CD 216 e CD 215.
significativamente dos cultivares V-MAX, IAC-23, BRS
Em relação ao número de ramos, observam-se dife-
133, A 7001, BRS 184, EMBRAPA 48, CD 208,
renças estatísticas significativas pelo teste de Tukey a 5%
CARRERA, CD 218, CD 216, BRS 232, CD 202, CD
de probabilidade, sendo que o maior valor 8,28 ramos, foi
215, CD 217, CD 214, IAC FOSCARIN 31 e M-SOY
obtido para o cultivar A 7005 que não diferiu de CD 214
8001 pelo teste de Tukey (p<0,05). Entretanto, com me-
(6,93 ramos). Já, o cultivar A 7001 apresentou menor va-
nor valor de produtividade ficou o CD 211 com 1.381,00
lor (2,55 ramos) e não diferiu do IAC FOSCARIN 31
kg/ha (23 sacas/ha). No ensaio de competição de cultiva-
(2,90 ramos). Peixoto (1999) estudando três cultivares de
res realizado durante o ano agrícola 2004/05 em
soja adaptados as condições do Estado de São Paulo ve-
Jaboticabal-SP, o destaque foi o cultivar M-SOY 8001 e o
rificou que em semeaduras em época normal os cultiva-
de menor produtividade foi o V-MAX (SILVA, 2005).
res IAC 12, IAC 19 e IAC 17 apresentaram respectiva-
Deve-se reforçar também, que o caráter produtividade
mente 1,3, 2,5 e 3,7 ramificações. Esses resultados refle-
nos cultivares estudados foram influenciados pelos ele-
tem o comportamento diferenciado entre os cultivares, a
mentos climáticos da região, em função da baixa
maneira de interação entre os mesmos e o ambiente.
herdabilidade do mesmo. De acordo com Fernandes et al.
Segundo Câmara (1998) uma planta pode produzir até
(1983) os efeitos interativos existentes entre genótipos e
400 vagens, mas em média os cultivares nacionais desen-
ambiente conferem alto grau de instabilidade de produ-
volvem de 30 a 80 vagens. No presente estudo os cultiva-
ção. Embora, aparentemente os cultivares mais produti-
res que apresentaram maior e menor número de vagens
vos apresentarem diferença nos valores de rendimento, a
foram CD 202 e A 7001, respectivamente, com 67,10 e
mesma não foi significativa entre eles, não se descartan-
40,28 vagens. As diferenças observadas neste caráter são
do, porém a possibilidade de uma significância econômica
apresentadas por Pacova (1977) como próprios da baixa
para esses cultivares (CÂMARA, 1998).
herdabilidade do caráter em questão, sendo muito influen-
As correlações fenotípicas entre alguns
ciado pelo ambiente. De acordo com Silva (2005) o mes-
caracteres agronômicos são apresentadas na Tabela 3,
mo cultivar (CD 202) se destacou quanto a este mesmo
onde observa-se que nem todos os coeficientes apresen-
68
Ciência e Cultura
BÁRBARO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
taram-se suficientemente altos e significativos.
Somente as correlações fenotípicas de NDF x
APM, Ac x APM, MG x NDF, MG x AIV, NS x MG, NV
produtivos, sugerindo que a seleção em qualquer um destes caracteres permitirá indiretamente a seleção para o
outro caráter.
x AIV, NV x MG, NV x VA, NV x NS, NN x NDM, NN
O caráter AIV mostrou-se correlacionado significati-
x APM, NR x NV, EF x MG, EF x NS, EF x NV, PG x
vamente, porém, inversamente com a MG e NV, inferin-
NDF, PG x NDM, PG x MG e PG x NN foram conside-
do que aumentos na inserção da primeira vagem ocorrem
radas significativas de médias a altas, com os sinais posi-
com a diminuição da massa de grãos e número de vagens,
tivo e /ou negativo.
concordando com os resultados obtidos por Sarti et al.
A correlação entre NDF e APM foi significativa
(2006) que observaram para obtenção de plantas com
(p<0,01) e de sinal positivo inferindo que plantas com maior
maior número de vagens e maior massa de grãos, a sele-
número de dias para o florescimento tenderam a apresen-
ção deve buscar a redução da altura das plantas e
tar maior altura de planta na maturação.
consequentemente à altura de inserção da primeira va-
O caráter NDF quando correlacionado com o MG
mostrou sinal contrário e significância (p<0,05), sugerindo
gem até os limites mínimos, 10 a 12 cm, estabelecidos por
Bonetti (1983).
que quanto maior o número de dias para o florescimento
Em relação ao caráter MG foram verificados co-
menor será a massa de grãos nas plantas. Nota-se ainda
eficientes de correlação positivos e significativos (p<0,01)
na Tabela 3 que aumentos no número de dias para
quando associado aos caracteres NS, NV e PG. Entre-
maturação levam a uma elevação no número de nós, de-
tanto, este caráter mostrou correlação negativa e signifi-
vido ao coeficiente de correlação significativo (p<0,01) e
cativa (p<0,05) com EF. Desta forma, existe uma tendên-
positivo com valor de 0,70.
cia de que aumentos na massa de grãos são conseguidos
As associações do caráter APM com Ac e NN
mediante elevações no número de sementes, vagens, pro-
apresentaram coeficientes positivos e significativos, res-
dutividade, porém com decréscimos na população de plan-
pectivamente, com valores de, 0,81 e 0,45, o que demons-
tas.
tra a tendência de que quanto maior a altura de plantas,
Para o caráter VA foi verificado valor do coeficiente
maiores os índices de acamamento e o número de nós
de correlação negativo e significativo (p<0,05) com o NV,
Tabela 3. Estimativa dos coeficientes de correlação simples (r) entre alguns caracteres agronômicos (NDF, NDM,
APM, AIV, Ac, MG, VA, NS, NV, NN, NR e EF) e a produtividade de grãos (PG) de 22 cultivares de soja avaliados na
região de Colina-SP em área de reforma de pastagem. Ano agrícola 2005/06.
*, ** = significativo ao nível de 5 % e 1 % de probabilidade, pelo teste t; respectivamente; ns = não significativo; V =
variáveis; NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da
planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes por planta; NV =
número de vagens por planta; NN = número de nós por planta; NR = número de ramos por planta; EF = estande final/
m linear; MG = massa de grãos por planta; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento.
Ciência e Cultura
69
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE
COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
contrariando os resultados reportados na literatura por Aze-
vez, Taware et al. (1997) constataram que o caráter
vedo Filho et al. (1998).
produtividade de grãos estava correlacionado
A relação entre o caráter NV com NS teve como va-
fenotipicamente com dias para o florescimento (+0,53). A
lor (0,82) significativo (p<0,01) e positivo de coeficiente
associação entre PG x NDM para os 22 cultivares testados
de correlação. De acordo com Sarti et al.(2006) quando
também mostrou valores significativos (p<0,01), porém
uma planta apresenta um elevado número de vagens, au-
com sinal negativo (-0,77). Bárbaro (2006) observou uma
menta a tendência de que a mesma apresente um maior
tendência de plantas mais produtivas serem mais precoces,
número de sementes, visto que os autores encontraram o
devido às correlações negativas e significativas
valor de 0,72 entre essa associação, avaliando linhagens
encontradas em algumas progênies F6 de soja. Tal fato
F6 de soja com resistência ao nematóide de cisto.
pode ser explicado pela alta incidência de ferrugem asiática
Já o coeficiente de correlação NS x EF apresentou
nos cultivares avaliados no ano agrícola 2005/06,
valores negativos e significativos (p<0,05), sendo a mesma
discordando dos resultados obtidos por Taware et al.
situação verificada para as correlações NV x EF (p<0,05)
(1997), Unêda-Trevisoli (1999) e Lopes et al. (2002). As
e MG x EF (p<0,01), indicando a tendência de que uma
estimativas dos coeficientes de correlação entre PG com
diminuição do estande de plantas pode elevar o número
os caracteres APM, AIV, Ac, VA e NR foram negativas
de sementes, vagens e massa de grãos por planta nos
apesar de não significativas, discordando dos resultados
cultivares avaliados. A correlação entre NV e NR mostrou
obtidos por Johnson et al. (1955), Kwon e Torrie (1964) e
valor positivo e significativo (p<0,01), inferindo que au-
Bárbaro (2003) que verificaram plantas com maiores
mentos no número de vagens podem ser obtidos através
alturas na maturação tenderam a ser mais produtivas; por
de plantas com maiores números de ramos.
Almeida (1979) e Bárbaro (2003) que observaram
Considerando a produtividade de grãos, caráter
correlações positivas e significativas de produtividade
de maior importância econômica, verifica-se que maiores
quando associada ao número de ramos; por Azevedo Filho
produtividades estão associadas às plantas com menores
(1998) e Bárbaro (2003) quanto ao caráter VA, onde as
números de nós, devido ao valor do coeficiente de
correlações foram positivas e significativas, demonstrando
correlação ter mostrado significância e ter sinal negativo
a tendência de plantas mais produtivas estarem associadas
(–0,69), contrariando a tendência de que há uma forte
às maiores notas de valor agronômico, o que sugere que o
associação entre maior número de nós na planta e maior
valor agronômico é um bom indicador na seleção para
produção (BÁRBARO, 2003).
aumento de produtividade. No entanto, concordam com
Já as correlações fenotípicas entre produtividade
de grãos com número de sementes e número de vagens
Bárbaro (2003) que observou valores de correlação não
significativos entre PG com AIV e Ac.
apresentadas na Tabela 3 foram positivas e não
As divergências ocorridas nos valores e sinais de
significativas, concordando com os resultados obtidos por
alguns coeficientes de correlação do presente ensaio com
Johnson et al. (1955) e Kwon e Torrie (1964). No entanto,
os resultados da literatura, provavelmente estão relacio-
tais resultados discordam de Moro et al. (1992) e Bárbaro
nadas às influências ambientais exercidas sobre a indivi-
(2006) que encontrou correlações positivas e significativas
dualidade de cada planta e às diferenças entre cultivares
de produtividade com os caracteres NS e NV. Entre PG e
na expressão das correlações (SCHAIK e PROBST,
NDF as correlações foram significativas (p<0,05) e
1958).
negativas (-0,52) indicando a tendência de que quanto
maior o número de dias para o florescimento menores
CONCLUSÕES
serão as produtividades nos cultivares avaliados. Estes
resultados concordam com Bárbaro (2006) que verificou
1) Vários cultivares demonstram potencial para o
valores negativos e significativos para as correlações entre
cultivo em área de reforma de pastagem no município de
PG e NDF em algumas populações F 6 de soja com
Colina-SP, estando sempre dentro dos padrões médios
precocidade e resistência ao cancro da haste. Por sua
70
Ciência e Cultura
recomendados quanto aos caracteres de interesse agro-
BÁRBARO et al
v. 2, nº 2, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
nômico: altura de planta na maturação e inserção da pri-
CRUZ, C.D. Programa Genes – Versão Windows –
meira vagem compatíveis com a colheita mecanizada,
Aplicativo computacional em genética estatística. Viçosa:
Ed. UFV, 2001. 648p.
baixos índices de acamamento, ciclo precoce e produtividades economicamente viáveis.
2) O cultivar CD 201 destacou-se por apresentar
EL-HUSMY, J.C.; ANDRADE, E.B.; ALMEIDA, L.A.;
a maior produtividade, e o cultivar CD 211 se comportou
AGUILA, R.M.; KLEPKER, D.; MEYER, M.C.;
SILVEIRA FILHO, A. Comportamento da cultivar de soja
como o menos produtivo.
3) O componente primário da produção massa de
grãos pode ser utilizado na seleção indireta para produtividade.
BRS Candeia (BR 93-3386) na microregião de
Paragominas – Pará. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE
SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 25., 2003,
Londrina, Paraná. Resumos... Uberaba: Embrapa Soja,
2003. p.89-89.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, L.A. Correlações fenotípicas, genotípicas e
de ambiente, efeitos diretos e indiretos, em variedades de
soja (Glycine max (L.) Merrill). 1979. 44f. Dissertação
de Magister Scientiae em Genética e Melhoramento - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1979.
AZEVEDO FILHO, J.A.; VELLO, N.A.; GOMES,
R.L.F. Estimativas de parâmetros genéticos de populações de soja em solos contrastantes na saturação de alumínio. Bragantia, Campinas, v.57, n.2, p.227-239, 1998.
BÁRBARO, I.M. Herança da resistência ao cancro da
haste (Diaporthe phaseolorum f.sp. meridionalis) e correlação entre caracteres em populações de soja. 2003. 59f.
Dissertação de Mestrado em Genética e Melhoramento
de Plantas – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2003.
BÁRBARO, I.M. Análises genéticas em populações de
soja com precocidade e resistência ao cancro da haste.
2006. 75f. Tese de Doutorado em Genética e Melhoramento de Plantas – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal,
2006.
BONETTI, L.P. Cultivares e seu melhoramento
genético. In: VERNETTI, F.J. (Ed.) Soja: genética e
EMPRESA
BRASILEIRA
DE
PESQUISA
AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de
Solo. Sistema brasileiro de classificação de solo. Brasília:
Produção de Informações, 1999. 412 p.
EMPRESA
BRASILEIRA
DE
PESQUISA
AGROPECUÁRIA. Tecnologia de produção de soja: região central do Brasil- 2005. Londrina: Embrapa Soja, 2005.
239p.
FEHR, W.R.; CAVINESS, J.A. Stages of soybean
development. Ames: Yowa State University, Cooperative
Extension Service, 1977. 11p. (Special Report, 80).
FERNANDES, E.J.; CARVALHO, N.M. de; MELO,
W.Y.J. Efeitos da origem sobre o comportamento das sementes de três cultivares de soja. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, Brasília, v. 18, n. 3, p. 243-247, 1983.
JOHNSON, H.W.; ROBINSON, H.F.; COMSTOCK,
R.E. Genotypic and phenotypic correlations in soybeans
an their implications in selection. Agronomy Journal,
Madison, v. 47, p. 477-483, 1955.
KICHEL, A.N. et al. Produção de bovinos de corte com
a integração agricultura x pecuária. In: SIMPÓSIO DE
FORRAGICULTURA E PASTAGENS: TEMAS EM
EVIDÊNCIAS, 1., 2000, Lavras, Anais... Lavras: UFLA,
melhoramento. Campinas: Fundação Cargill, 1983.
p. 741-800.
2000. p. 51-68.
CÂMARA, G.M. de S. Soja -Tecnologia da Produção.
KNOW, S.H.; TORRIE, J.H. Heritability of an
interrelationships among traits of two soybean populations.
Piracicaba: ESALQ, 1998. 293 p.
Crop Science, Madison, n. 2, p. 196-198, 1964.
Ciência e Cultura
71
DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE
COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06
v. 2, nº 2, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
KÖPPEN, W. Climatologia. In: PEREIRA, A.R.;
(Graduação em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrá-
ANGELOCCI, L.R.; SENTELHAS, P.C. (Ed).
Agrometeorologia: fundamentos e aplicações práticas.
rias e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista,
Jaboticabal, 2003. .
Guaíba: Agropecuária, 2001. 478 p.
SARTI, D.G.P.; DI MAURO, A.O.; UNÊDALOPES, A.C.A.; VELLO, N.A; PANDINI, F.; ROCHA,
M.M; TSUTSUMI, C.Y. Variabilidade e correlações en-
TREVISOLI, S.H.; BÁRBARO, I.M.; COSTA, M.M.;
SILVEIRA, G.D. da.; MUNIZ, F.R.S. Correlações
tre caracteres em cruzamentos de soja. Scientia Agrícola,
Piracicaba, v. 59, n. 2, p. 341-348, 2002.
fenotípicas em linhagens F6 de soja com fonte de resistência ao nematóide de cisto de soja. In: REUNIÃO DE
MORO, G.L. et al. Correlações entre alguns caracteres
PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO
BRASIL, 2006, Londrina, Paraná. Resumos... Londrina:
agronômicos em soja (Glycine max (L.) Merrill). Revista
Ceres, Viçosa, v. 39, n. 223, p. 225-232, 1992.
Embrapa Soja, Fundação Meridional, Fundação Triângulo, 2006. p. 363-365.
PACOVA, E.V. Acúmulo de matéria seca durante o perí-
SCHAIK, P.H.; PROBST, A.H. Effects of some
odo reprodutivo, maturidade fisiológica e outras características agronômicas de três cultivares de soja, testadas
environmental factors on flower production and
reproductive efficiency in soybeans. Agronomy Journal,
em duas épocas de semeadura. 1977. 111f. Dissertação
(Mestrado em Fitotecnia) - Universidade Federal do Rio
Madison, v. 50, n. 2, p. 192-197, 1958.
Grande do Sul, Porto Alegre, 1977.
SEDIYAMA, T.; TEIXEIRA, R.C.; REIS, M.S. Melhoramento da Soja. In: BOREM, A. Melhoramento de es-
PECHE FILHO, A. A importância da integração lavoura
SPD x Pecuária para a conservação produtiva do solo.
pécies cultivadas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2005. p. 553 –602.
Revista Plantio Direto, Passo Fundo, n. 84, 2004. Disponível em:
http://www.plantiodireto.com.br ?body=cont_int&id=595.
SILVA, S.L.R. Comportamento de variedades de soja
Acesso em: 28 set. 2006.
cultivadas no município de Jaboticabal/SP, ano agrícola
2004/05. 2005. 40f. Trabalho de Conclusão de Curso (Gra-
PEIXOTO, C.P. Análise de crescimento e rendimento de
três cultivares de soja (Glycine max (L.) Merrill) em três
duação em Agronomia) - Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal,
épocas de semeadura e três densidades de plantas. 1999.
151f. Tese de Doutorado em Fitotecnia, Escola Superior
2005.
de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 1999.
TAWARE, S.P.; HALVANKAR, G.B.; RAUT, V.M.;
PATIL, V.P. Variability, correlation and path analysis in
PELUZIO, J.M.; SILVA,W.C.; GAFFO, C.; JUNIOR,
soybean hybrids. Soybean Genetics Newsletter, Ames, v.
24, p. 96-98, 1997.
D.A.; FRANCISCO, E.R.; BRITO, E.L.; ALMEIDA,
R.D.; MAZUTTI, A. Comportamento de variedades de
UNÊDA-TREVISOLI, S.H. Estabilidade fenotípica e
soja sob condições de várzea irrigada, na entressafra 2002,
no sul do estado do Tocantins. In: REUNIÃO DE PES-
potencialidade de progênies obtidas por cruzamentos
óctuplos em soja. 1999. 228f. Tese (Doutorado em Gené-
QUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 25., 2003, Londrina, Paraná. Resumos... Uberaba:
tica e Melhoramento de Plantas) – Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo,
Embrapa Soja, 2003. p. 121-121.
Piracicaba, 1999.
SANTOS, J.S. Comportamento de variedades de soja
cultivadas no município de Jaboticabal/SP, ano agrícola
VENCOVSKY, R.; BARRIGA, P. Genética biométrica
no fitomelhoramento. Ribeirão Preto: Sociedade Brasilei-
2002/2003. 2003. 39f. Trabalho de Conclusão de Curso
ra de Genética, 1992. 486p.
72
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE
DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS
RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE
MILHO
TEMPERATURE, pH AND SOFTNESS MEAT OF THE NELLORE STEERS FEED WITH
TROPICAL GRASS OR CORN SILAGE
Ricardo Linhares SAMPAIO1, Ricardo Dias SIGNORETTI2, Flavio Dutra de RESENDE2, Rogério Marchiori
COAN3, Ricardo Andrade REIS4, Guilherme Fernando ALLEONI5, Marcelo Henrique de FARIA2, Gustavo
Rezende SIQUEIRA2,Fernando Bergantini MIGUEL2
1
Zootecnista, Pós-graduando em Zootecnia, FCAV/UNESP – Jaboticabal – SP, bolsista da Capes, E-mail: [email protected].
Pesquisador Científico – APTA Regional Alta Mogiana, Colina – SP, E-mail:
[email protected]. Avenida Rui Barbosa, s/n, Caixa Postal 35, CEP. 14.770 – 000, Colina, SP.
3
Zootecnista, Doutor em Produção Animal, Diretor da COAN Consultoria, Jaboticabal – SP, E-mail: [email protected].
4
Prof. Adjunto do Departamento de Zootecnia da FCAV/UNESP, Jaboticabal - SP, Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected].
5
Pesquisador Científico – Instituto de Zootecnia – Nova Odessa – SP, E-mail: [email protected].
2
RESUMO
Objetivou-se avaliar os efeitos das silagens de capim
(SC) ou de milho (SM) nas dietas de baixo e alto plano
nutricional sobre a temperatura e pH da carcaça e maciez da carne. Foram utilizados 24 novilhos da raça Nelore
castrados, com idade média de 24 meses e peso vivo médio
de 369,05 ± 15,06 kg, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2 x 2 (volumosos
x planos nutricionais) com seis repetições. Os animais
foram alimentados com as seguintes dietas: 1) SC (baixo
plano nutricional); 2) SC (alto plano nutricional); 3) SM
(baixo nutricional) e 4) SM (alto plano nutricional). O pH
inicial do coxão mole foi maior na carcaça de animais
submetidos á dieta com alto plano nutricional e o pH final
foi maior naqueles alimentados com SM com alto plano
nutricional. O pH inicial do contra filé foi maior na carcaça de animais alimentados com SM e o pH final comportou-se semelhantemente ao pH do coxão mole. O valor
da temperatura final no contra filé, foi maior na carcaça
de animais alimentados com SC e com baixo plano
nutricional. Os índices de perdas por evaporação e as totais não foram afetados pelos volumosos e pelos planos
nutricionais. Os índices de perdas por gotejamento foram
maiores nos animais submetidos a alto plano nutricional.
A maciez da carne não foi afetada pelos volumosos ou
planos nutricionais e os valores médios são considerados
como de carne macia.
Palavras-chave: qualidade carcaça, pH carne, plano
nutricional, temperatura carne.
ABSTRACT
The objective of this trail was to evaluate the tropical grass
(TG) or corn (C) silage and low or high nutritional plane
effect on the temperature, pH and softness meat. It were
utilized 24 Nellore steers, 24 months old, and average live
weight 369.05 ± 15.06 kg distributed in a randomized
design, in a factorial scheme 2 x 2 (silage x nutritional
plane) with six replications. The animals received
followings diets: 1) Marandu grass silage (low nutritional
plane); 2) Marandu grass silage (high nutritional plane);
3) Corn silage (low nutritional plane); 4) Corn silage (high
nutritional plane). The pH values of the topside were higher
on the animals that received high nutritional plane diet.
The final pH values were higher on the animals feed with
corn silage in high nutritional plane. The initial pH of the
sirloin were higher on the carcass of the animals feed
with corn silage, and the final pH showed the same
behavior observed on the topside data. The sirloin final
temperature values were higher on the carcass of the
animals feed with grass silage and low nutritional plane.
The evaporation and total losses index were not affected
by the silage and nutritional planes. The drip losses index
were higher on the animals feed in high nutritional plane.
The silage and nutritional plane didn’t affect the meat
softness, that can considered like soft meat.
Keywords: carcass quality, meat pH, nutritional
plane, meat temperature.
Ciência e Cultura
73
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM
SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO
INTRODUÇÃO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
ne (“dark-cuting ou “dark, firm, dry” - DFD) e ocorre
devido à pequena quantidade de ácido lático produzida.
O mundo da atualidade está sofrendo profundas modi-
Um pH 6,0 tem sido considerado linha limite para início do
ficações de cunho geoeconômico. Além disso, a exigên-
“dark-cuting”, problema este causado pelo estresse crô-
cia referente ao padrão de vida da população, imposta
nico antes do abate, que esgota as reservas de glicogênio.
pela sociedade moderna, está alterando significativamen-
No Brasil, os frigoríficos só exportam carne com pH <
te os hábitos alimentares das pessoas, o que tem provoca-
5,8. avaliando diretamente o músculo L. Dorsi, 24h post-
do alterações irreversíveis sobre a produção e o mercado
mortem (FELÍCIO, 1999; LUCHIARI FILHO, 2000;
de alimentos.
ROÇA, 2000).
Dentro deste contexto, vários fatores estão envolvidos
A velocidade de queda de pH é muito variável, bem
no processo de produção de carcaças com qualidade.
como o pH final da carne após 24 horas. Em bovinos,
Dentre os fatores ante-mortem, que constituem a expres-
normalmente a glicólise se desenvolve lentamente. Neste
são do genótipo e das interações deste com o ambiente,
caso, o pH inicial (zero hora após o abate) é de aproxima-
são de maior importância o efeito do estresse, da genética
damente 7,0, caído para 6,4 – 6,8 após 5 horas e posteri-
(raças), da alimentação, da idade ao abate, além do fator
ormente para 5,5 – 5,9 após 24 horas (FARIA, 2004).
sexo/idade e efeitos de castração (FELÍCIO, 1999).
A temperatura também exerce grande influência tanto
A influência do decréscimo de pH e temperatura post-
na queda do pH, como no efeito final de amaciamento da
mortem nas características da qualidade da carne têm sido
carne, através da interação com o sistema calpaína-
estudadas por muitos pesquisadores (FELÍCIO et al., 1982;
calpastatina, sendo este o fator externo de maior influên-
SHERBECK et al., 1995). Segundo Maher et al. (2004),
cia ns instalação do rigor mortis e, portanto, da queda do
nestes estudos, em geral incluíam pequeno número de car-
pH. Segundo Hwang e Thompson (2001), a glicólise, e
caças, e utilizavam animais de diferentes sexos, alimenta-
consequentemente a queda do pH ocorre mais lentamen-
ção e foram abatidos em diferentes condições e pesos
te quanto menor for à temperatura da carne.
vivos.
A maciez é o principal parâmetro a ser observado jun-
A variação pH e temperatura post-mortem, que pode
tamente com a higidez e a ausência de resíduos químicos
resultar em diferenças na qualidade da carne, pode em
que influenciam na qualidade da carne. Há evidências de
parte ser explicada pela conformação das carcaças, ou
que a qualidade organoléptica da carne, especialmente a
seja, melhores conformações de carcaça e altos pesos de
maciez, piora com o avanço da idade do animal ao abate,
carcaça são associados com uma lenta velocidade
possivelmente em decorrência de alterações que ocor-
resfriamento e um rápido decréscimo de pH (KLONT et
rem no colágeno intramuscular (FELÍCIO, 1999).
al., 1999). Acredita-se que o pH final tem grande impor-
A maciez da carne é considerada a característica
tância na qualidade da carne, relacionando-se com a cor,
organoléptica mais importante para o consumidor, pois afeta
maciez, textura e capacidade de retenção de água
a palatabilidade, embora a suculência e o sabor sejam
(FELÍCIO, 1999).
bastante relevantes também (FELÍCIO, 1997, 1999; OLI-
Deste modo, a cobertura de gordura que a carcaça
VEIRA, 2000).
apresenta vai influenciar diretamente no resfriamento da
De maneira geral, a maciez da carne está relacionada
carcaça, pois ela deve possuir um correto acabamento
á idade do animal, mas o grau de acabamento tem influ-
para que garanta o bom andamento dos eventos que ocor-
ência no processo de congelamento da carcaça, que com
rem durante o processo de resfriamento, resultando na
baixa deposição de gordura de cobertura pode causar o
queda adequada ou não do pH da carne (ROÇA, 2000;
encurtamento da fibra muscular, favorecendo o endureci-
FELÍCIO, 1997).
mento da carne pelo frio. Os valores da força de
O pH final alto é a causa das características físicas da
cisalhamento encontrados em trabalhos sob diferentes
cor escura e alta capacidade de retenção de água da car-
condições experimentais variam de 3,8 a 9,2 kg no mús-
74
Ciência e Cultura
SAMPAIO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
culo Longissimus dorsi. Valores abaixo de 4,5 kg, medidos
Para produção de silagem de capim Marandu
em aparelho Warner-Bratzler, caracterizam carne macia
(Brachiaria Brizantha (Hochst. Ex. A. Rich.) Staf. cv.
e valores superiores caracterizam carne não-macia
Marandu), decorridos 106 dias da semeadura, realizou-se
(LEME, el al., 2002).
o corte da forragem da área experimental, com máquina
Segundo Boleman et al. (1996), a alimentação de ani-
colhedora de forragem modelo CRC 180, regulada de for-
mais no período de terminação com dieta de elevada den-
ma que o corte fosse realizado a 25 cm do solo, possibili-
sidade energética favorece as características sensoriais
tando a obtenção de partículas variando de 3 a 6 cm.
da carne, inclusive a maciez, em função da rápida síntese
No caso do milho (Zea Mays L.), este foi semeado,
de proteínas, aumentando a proporção de colágeno solú-
utilizando-se o híbrido Agromen 2012 e, após período de
vel na carne. Neste sentido, quando os animais são sub-
70 dias, procedeu-se o corte das plantas com máquina
metidos a dietas para obtenção de elevado ganho de peso,
forrageira, modelo Z-10, regulada visando à obtenção de
este pode propiciar produção de carne macia (ARBOITTE
partículas com 0,5 a 1,0 cm.
et al., 2004).
O presente estudo teve o objetivo de avaliar a temperatura e pH da carcaça e a maciez da carne de novilhos
Em ambos os casos foram utilizados silos de superfície vedados com lona plástica com espessura de 200
micras.
da raça Nelore submetidos a sistema de alimentação onde,
Foram utilizados 24 bovinos da raça Nelore, machos,
a dieta total continha silagens de capim Marandu ou milho
castrados, com idade média de 24 meses, peso vivo mé-
e planos nutricionais.
dio de 369,05 kg ± 15,06 kg. Os animais foram alimentados “ad libitum” e distribuídos aleatoriamente pelos trata-
MATERIAL E MÉTODOS
mentos, em arranjo fatorial 2 x 2 (volumosos x planos
nutricionais) com seis repetições por tratamento. As die-
Conduziu-se o estudo no Confinamento da Estação
tas á base de silagem de capim Marandu e de milho fo-
Experimental do Pólo Regional de Desenvolvimento
ram formuladas para atender as exigências nutricionais
Tecnológico dos Agronegócios da Alta Mogiana, unidade
para ganho de peso esperado de 1,0 (baixo plano
da Agência Paulista de Tecnologias dos Agronegócios
nutricional) e 1,2 kg/dia (alto plano nutricional), conforme
(APTA), da Secretaria da Agricultura de Abastecimento
as recomendações do NRC (1996).
do Estado de São Paulo.
As composições químico-bromatológicas e a
O Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos
digestibilidade “in vitro” da matéria seca dos alimentos
Agronegócios da Alta Mogiana PRDTA-AM (Estação
concentrados e das silagens constam da Tabela 1 e, das
Experimental de Colina-APTA) está localizado no muni-
dietas experimentais e os seus respectivos planos
cípio de Colina, no Estado de São Paulo (latitude de 20º
nutricionais na Tabela 2. As dietas experimentais e os ní-
43' 05" S; longitude 48º 32' 38" W). O clima da região é do
veis de ganho em peso esperado em cada dieta foram os
tipo AW (segundo classificação de Köppen), onde a
seguintes:
pluviosidade do mês mais seco é inferior a 30 mm, tempe-
1)
ratura média do mês mais quente superior a 22ºC e do
mês mais frio superior a 18ºC. As precipitações pluviais
mensais médias, coletadas na unidade de pesquisa, nos
Silagem de capim Marandu com baixo plano
nutricional;
2)
Silagem de capim Marandu com alto plano
nutricional;
últimos anos mostraram que de outubro a maio ocorrem
3)
Silagem de milho com baixo plano nutricional;
em média 1222 mm, correspondendo a 93,7% do total
4)
Silagem de milho com alto plano nutricional.
anual; enquanto que de junho a setembro 82 mm, representando 6,3%. O solo do local é classificado como
Durante a fase de adaptação, os animais tiveram con-
latossolo vermelho-escuro, fase arenosa, com topografia
sumo á vontade de silagem de milho nos primeiros quinze
quase plana e de boa drenagem.
dias, sendo, na seqüência, adaptados às respectivas die-
Ciência e Cultura
75
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM
SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
tas experimentais. À medida que os animais iniciaram a
tes a cada tratamento, sendo essas compostas por milho
adaptação e o consumo das silagens experimentais, ini-
moído, farelo de algodão 38, polpa cítrica peletizada, uréia
ciou-se o fornecimento das rações concentradas referen-
pecuária, sulfato de amônio e suplemento mineral.
Tabela 1 - Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN),
fibra em detergente ácido (FDA) e digestibilidade in vivo da matéria seca (DIVMS) dos alimentos concentrados e dos
volumosos utilizados nas dietas experimentais.
a
Equivalente protéico
Tabela 2 - Níveis nutricionais estimados das dietas experimentais (% na matéria seca) utilizadas no confinamento.
a
Teores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e proteína degradada no rúmen (PDR) estimados pelo programa
Rações Lucro Máximo (RLM 2.0).
Duas vezes por semana, foram coletadas amos-
Após o abate (mobilização, atordoamento, san-
tras das silagens, dos concentrados e das sobras. Posteri-
gria, esfola, evisceração, e separação em duas 1/2 carca-
ormente, as amostras foram agrupadas de acordo com o
ças), as carcaças dos animais foram divididas em duas
período experimental correspondente (amostra compos-
metades, que foram pesadas individualmente, obtendo-se
ta/período), identificadas, embaladas e acondicionadas em
o peso da carcaça quente e, em seguida, as carcaças fo-
freezer para análises químico-bromatológicas, conforme
ram armazenadas em câmara fria por 24 horas e a 1°C.
Silva e Queiroz, (2002).
Ao abate e após 24 horas na câmara fria foram tomadas
Ao final do período experimental (86 dias), os
medidas de pH e temperatura nos músculos “Longissimus
animais foram abatidos. Antes de serem abatidos, os ani-
dorsi” (contra filé) e “Semimembranosus” (coxão mole),
mais foram submetidos a um período de jejum de 16 ho-
utilizando-se aparelho digital (METLER Toledo 2000).
ras, com acesso á água.
Para análise qualitativa da carne, retiraram-se amostras
76
Ciência e Cultura
SAMPAIO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
(bifes 2,5 cm de espessura) do músculo “Longisssimus
RESULTADOS E DISCUSSÃO
dorsi”, na altura da 12ª costela. Estas amostras foram
embaladas a vácuo e congeladas.
Os valores de pH, tanto na primeira hora após o abate
Para a análise de maciez foi adotado o procedimento
como 24 horas depois, tomados no coxão mole ou no contra
padronizado e proposto por Wheeler et al. (1995), onde as
filé foram influenciados (P<0,05) pelos volumosos e pelos
referidas amostras foram congeladas e embaladas em saco
planos nutricionais (Tabela 3). O pH inicial do coxão mole
plástico adequado, após o resfriamento de 24 horas. As
foi maior na carcaça de animais submetidos á dieta com
análises de textura foram realizadas nas amostras resfri-
alto plano nutricional e o pH final foi maior naqueles
adas por 24 horas. No início das análises, as amostras
alimentados com silagem de milho com alto plano
foram descongeladas sob refrigeração (5ºC) durante 24
nutricional. Já, o pH inicial do contra filé foi maior na
horas e, quando a temperatura interna atingiu de 5 a 6ºC
carcaça de animais alimentados com silagem de milho e o
foram colocadas em forno elétrico para serem assadas.
pH final comportou-se semelhantemente ao pH do coxão
Para o procedimento de cozimento foram introduzidos no
mole (Tabela 3).
centro geométrico de cada amostra um termoacoplador
Os valores de pH inicial e final, em média, encontrados
ligado em termômetro digital, com o objetivo de monitorar
no presente estudo foram de 6,52 e 5,63 tomados no coxão
a temperatura interna até o limite de 71ºC, quando então
mole e de 6,72 e 5,71 no contra filé, respectivamente. Aferri
foram retiradas do forno e resfriadas em ambiente livre
(2005) encontrou resultados semelhantes ao do presente
até atingirem temperatura interna de 24 a 25ºC.
estudo, pH inicial de 6,55 e final de 5,56, em média, para
As amostras foram então colocadas em resfriamento
bovinos mestiços alimentados com diferentes fontes de
(5 a 6ºC) durante 24 horas, quando iniciou-se a retirada
gordura. Da mesma forma, os resultados encontrados por
de oito cilindros do interior das mesmas. Para a determi-
Bren et al. (2002), usando diferentes níveis de concentrado
nação da força de cisalhamento utilizou-se o aparelho
na dieta de novilhos, verificaram que o pH apresentou um
Warner- Bratzler Shear Force - mecânico com capacida-
valor médio entre 5,6 a 5,9, e concluíram que estes valores
de de 25 kg e velocidade do seccionador de 20 cm/min.
estão dentro dos limites considerados normais.
Utilizou-se a média das oito medidas por amostra a fim de
se obter maior precisão nos resultados obtidos.
As perdas por evaporação, gotejamento e totais foram
obtidas pela pesagem das bandejas de cozimento, com e
No entanto, os valores encontrados estão dentro do
esperado, que devem estar por volta de 7,0 decrescendo
a valores de 6,4 a 6,8 nas primeiras cinco horas e 5,5 a 5,8
para pH na 24ª hora “post mortem” (FARIA, 2004).
sem as amostras. As pesagens foram feitas antes e após
Houve diferenças (P<0,05) entre a interação volumoso
o cozimento das amostras e a relação percentual de per-
x plano nutricional. O desdobramento mostrou que a
da de peso das bandejas com as amostras relacionou-se
silagem de capim proporcionou maior pH inicial contra
as perdas por evaporação. O acréscimo de peso das ban-
filé em animais submetidos a dietas com alto plano
dejas após o cozimento e sem as amostras, representou
nutricional. Da mesma forma, as variáveis pH final no
as perdas por gotejamento que acrescidas às perdas por
coxão mole, pH inicial e final no contra filé foram afetadas
evaporação resultaram nas perdas totais de cozimento.
(P<0,05) pela interação silagens x ganho. No entanto,
Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente
verificou-se que a silagem de milho proporcionou maiores
casualizado, em arranjo fatorial 2 x 2 (volumosos e planos
valores para as variáveis supracitadas em baixo plano
nutricionais) com seis repetições. Realizaram-se análises
nutricional (Tabela 4). Verificou-se que a silagem de capim
de variância na interpretação das variáveis estudadas,
proporcionou maior temperatura final no contra filé em
usando-se o PROC GLM do SAS (1999). Utilizou-se o
animais alimentados com dieta com baixo plano nutricional
teste de Tukey (P<0,05) na comparação de médias entre
(Tabela 4).
as causas de variação.
Ciência e Cultura
77
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM
SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Tabela 3 - Médias, efeitos e coeficientes de variação (CV), para as medições pH inicial (pHICM) e final (pHFCM) no
coxão mole, pH inicial (pHICF) e final (pHFCF) no contra filé, temperatura inicial (TICM) e final (TFCM) no coxão
mole, temperatura inicial (TICF) e final(TFCF) no contra filé, das perdas por evaporação (PEV), por gotejamento
(PGT) e totais (PT), maciez da carne de animais confinados.
a
Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha não diferiram estatisticamente pelo teste Tukey (P<0,05), em
relação ao volumoso (V).
b
Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferiram estatisticamente pelo teste Tukey (P<0,05), em
relação ao plano nutricional (PN).
c
Silagem de capim.
d
Silagem de milho.
e
Interação volumoso (V) e plano nutricional (PN).
Os valores da temperatura tanto na primeira hora após
Os índices de perdas por evaporação e as totais não
o abate como 24 horas depois, tomados no coxão mole,
foram afetados pelos volumosos e pelos planos nutricionais.
não foram afetadas (P<0,05) pelos volumosos e pelos pla-
No entanto, os índices de perdas por gotejamento foram
nos nutricionais. Por outro lado, o valor da temperatura 24
maiores (P<0,05) nos animais submetidos a alto plano
horas após o abate e, tomada no contra filé, foi maior na
nutricional (Tabela 3).
carcaça de animais alimentados com silagem de capim e
com baixo plano nutricional (Tabela 3).
As perdas por evaporação, gotejamento e total foram,
em média, de 8,52%, 10,21% e 18,73%, respectivamente.
Os valores da temperatura após 24 horas de
No entanto, Felício et al. (1999), encontraram índices
resfriamento, em média, obtidos no contra-filé, foram de
médios de 21,10%, 4,87% e 25,18%, respectivamente. Já,
1,06°C para grupo de animais alimentados com silagem
Oliveira (1993), encontrou índices médios de 25,56%,
de capim e com baixo plano nutricional e de 0,43°C para
1,95% e 27,48%, respectivamente, para a carne de novi-
aqueles alimentados com silagem de milho e com alto pla-
lhos Nelore.
no nutricional (Tabela 3). Resende et al. (2002), encon-
Com relação a maciez, variou de 3,80 a 3,93 e, não foi
traram após 24 horas de resfriamento valores médios ob-
afetada pelos volumosos e planos nutricionais. Da mesma
tidos no contra-filé para temperatura final foi, para o gru-
forma, Vaz et al. (2005) não encontraram diferença na
po caracu, 3,16°C; para Nelore seleção, 3,02 °C e para
força de cisalhamento da carne de novilhos confinados
Nelore controle, 3,34°C, respectivamente.
com aumento do nível de concentrado na dieta. No entan-
78
Ciência e Cultura
SAMPAIO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Tabela 4 – Desdobramento da interação volumoso x ganho de peso esperado para pH inicial no coxão mole (pHICM),
pH final no coxão mole (pHFCM), pH inicial contra filé (pHICF), pH final contra filé (pHFCF) e temperatura final
contra filé (TFCF).
Médias seguidas de letras maiúsculas iguais na coluna e minúsculas iguais na linha não diferem (P<0,05)
pelo teste de Tukey.
to, o resultado obtido neste trabalho classifica a carne dos
A maciez da carne não foi influenciada pelos volumo-
novilhos como macia, pois valores abaixo de 4,5 kg, medi-
sos ou pelos planos nutricionais a que os animais foram
dos em aparelho Warner – Bratzler (WB), caracterizam
submetidos e os valores médios encontrados são conside-
carne macia e valores superiores caracterizam carne não-
rados como de carne macia.
macia (LEME et al., 2002).
Neste sentido, na literatura, há evidências de que os
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
altos valores de força WB sejam uma característica da
carne de gado “Bos indicus”, e que a participação cres-
ABULARACH, M.L.S.; ROCHA, C.E.; FELÍCIO, P.E.
cente de genes de zebu (“Bos indicus”) no genótipo resul-
Características de qualidade do contrafilé (m.L. dorsi) de
ta em carne mais dura (ABULARACH et al., 1998;
touros jovens da raça Nelore. Cienc. Tecnol. Aliment.,
FELÍCIO, 1997, 1999). Porém, outros fatores, como o
v.18, n.2, p. 205 -210, 1998.
tempo de confinamento e a composição da ração, influenciam na textura.
AFERRI, G.; LEME, P.R.; SILVA, S.L.; PUTRINO,
S.M.; PEREIRA, A.S.C. Desempenho e características
da carcaça de novilhos alimentados com dietas contendo
CONCLUSÕES
diferentes fontes de gordura. R. Bras. Zootec., v.34, n.5,
p. 1651 – 1658, 2005.
A carne de bovinos alimentados tanto com silagem de
capim ou de milho e baixo e alto plano nutricional apre-
ARBOITTE, M.Z.; RESTLE, J; ALVES FILHO, D.C.;
sentaram variações de pH e temperatura, dentro dos pa-
PASCOAL, P.S.; PACHECO, P.S.; SOCCAL, D.C.
drões normais e aceitáveis.
Desempenho em confinamento e características da car-
Ciência e Cultura
79
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM
SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
caça e da carne de novilhos 5/8 Nelore 3/8 Charolês aba-
KLONT, R.E., BARNIER, V.M.W., SMULDERS,
tidos em três estádios de desenvolvimento. R. Bras.
F.J.M., VAN DIJK, A.H., EIKELENBOOM, G. Port-
Zootec., v.33, n.4, p.947-958, 2004.
mortem variation in pH, temperature, and colour profiles
of vela carcasses in relation to breed, blood hemoglobin
BOLEMAN, S.J.; MILLER, R.K.; BUYCK, M.J.
content, and carcass characteristics. Meat Sci., v. 53, p.
Influence of realimentation of mature cows on maturity,
195-202, 1999.
color, collagen solubility, and sensory characteristics. J.
Animal Sci., v.74, p.2187-2194, 1996.
LEME P.R.; SILVA, S.L; PEREIRA A.S.C.;
MARGARIDO, R.C.C. Desempenho e características de
BREN, L.; STRACK, A.G.; KAPP, O.; MOLETTA, J.L.;
carcaça de animais Nelore, ½ Caracu x ½ Nelore, ¾
ROSSI JÚNIOR, P.; PRESTES, R. Temperatura e pH
Caracu x ¼ Nelore confinados com dietas de alto con-
da carcaça de novilhos alimentados com diferentes níveis
centrado. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
de concentrado na dieta. In: REUNIÃO ANUAL DA
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39, Recife, 2002.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39,
Anais... Recife: SBZ,2002, 1 CD ROM.
2002, Recife. Anais... Recife: SBZ, 2002, 1 CD ROM.
LUCHIARI FILHO, A. Pecuária da Carne Bovina. 1.
FARIA, M.H. Desempenho, características da carcaça e
ed. São Paulo, 2000, 134p.
qualidade de carne de bovinos não-castrados de diferentes grupos genéticos abatidos em três pontos de acaba-
MAHER, S.C., MULLEN, A., KEANE, M.G.,
mento. Botucatu, SP: Tese de Doutorado em Zootecnia:
BUCKLEY, D.J., KERRY, J.P., MOLONEY, A.P.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Univer-
Variation in the quality of M. longissimus dorsi from
sidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho, 2004, 92p.
Holstein-fresian bulls and steers of New Zealand and
European/Americam descent, and Belgian Blue x Holstein
FELÍCIO, P.E. Fatores ante e post mortem que influenci-
Fresians, alaughtered at two weights. L. Production Sci.,
am na qualidade da carne bovina. In: PEIXOTO, A.M.,
Article in press, 2004.
MOURA, J.C., FARIA, V. P. (Eds.) Produção do novilho
de corte. Piracicaba: FEALQ, 1997. p. 79-97.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient
requirements of beef cattle. 7.ed. Washington, DC:
FELÍCIO, P.E. Qualidade da carne bovina: característi-
National Academy Press.1996, 242 p.
cas físicas e organolépticas. In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 36,
OLIVEIRA, A.L. Efeito do peso de abate nos rendimen-
Porto Alegre, 1999. Anais... Porto Alegre: SBZ, 1999, 1
tos de carcaça e qualidade de carne de novilhos Nelore e
CD ROM.
mestiços Canchim-Nelore. Campinas, SP: Dissertação
Mestrado em Tecnologia de Alimentos, Faculdade de En-
FELÍCIO, P.E. de; ALLEN, D.M.; CORTE, O. O. Influ-
genharia de Alimentos, Universidade Estadual de Campi-
encia da maturidade da carcaça sobre a qualidade da
nas, 1993. 130p.
carne de novilhos zebu. Col.ITAL., Campinas, SP, v.12, p.
137-179, 1982.
OLIVEIRA, A.L. Maciez da carne bovina. Caderno Técnico de Veterinária e Zootecnia, n.33, p.7-18, 2000.
HWANG, I.H., THOMPSON, J.M. The effect of time
and type of electrical stimulation on the calpain system
RESENDE, F.D.; ALLEONI, G.F.; RAZOOK, A G.;
and meat tenderness in beef longissimus muscle. Meat
FIGUEIREDO, L.A.; OLIVEIRA, H.N.; ARRIGONI,
Sci., v. 58, p. 135-144, 2001.
M.B.; QUEIROZ, A.C.; GESUALDI JÚNIOR, A.; FA-
80
Ciência e Cultura
SAMPAIO et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
RIA, M.H. Curvas de pH e temperatura durante o pro-
SILVA, D.J.; QUEIROZ, A.C. Análise de alimentos:
cesso de resfriamento da carcaça de animais da raça
métodos químicos e biológicos. 3.ed. Viçosa, MG: Uni-
Nelore e Caracu submetidos a diferentes regimes alimen-
versidade Federal de Viçosa, 2002. 235p.
tares na fase de terminação. . In: REUNIÃO ANUAL
DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39,
VAZ, F.N.; RESTLE, J.; SILVA, N.L.Q.; ALVES FILHO,
2002, Recife. Anais... Recife: SBZ, 2002, 1 CD ROM.
D.C.; PASCOAL, L.L.; BRONDANI, I.L.; KUSS, F.
Nível de concentrado, variedade de silagem de sorgo e
ROÇA, R.O. Tecnologia da carne e produtos derivados.
grupo genético sobre a qualidade da carcaça e da carne
Botucatu: Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP,
de novilhos confinados. R. Bras. Zootec., v.34, n.1, p.239
2000. 202p.
– 248, 2005.
SAS. INSTITUTE. SAS. OnlineDOC: Version 8. Cary,
WHEELER,
SAS Institute, 1999.
SHACKELFORD, S.D. Standardized Warner-Bratzler
SHERBECK, J.A.; TATUM, J.D.; FIELD, T.G.;
shear force procedures for meat tenderness measurement
MORGAN, J.B.; SMITH, G.C. Feedlot performance,
(Online). Available URL: http://192.133.74.26/
carcass traits, and palatability traits of Hereford and
MRU_WWW/protocol/WBS.html. 1995.
T.L.;
KOOHMARAIE,
M.;
Hereford X Brahman steers. J. Animal Sci, v.73, p.36133620, 1995.
Ciência e Cultura
81
82
Ciência e Cultura
CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM
BISCOITOS AMANTEIGADOS
STUDY AND APPLICATION OF SORPTION ISOTHERMS DATA AND
MATHEMATICAL MODELS FOR BISCUIT BUTTERED
Ana Cláudia Bites ROMANINI1, Catharina Calochi Pires de CARVALHO1, Márcio Benjamin ZANI1, Sissi
Kawai MARCOS2, Isabel Cristina Freitas MORAES2 e Romildo Martins SAMPAIO2
1 – Aluno do Curso de Engenharia de Alimentos – Fundação Educacional de Barretos
2 – Professor do Curso de Engenharia de Alimentos – Fundação Educacional de Barretos – Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto
– Barretos – SP, CEP 14783-226
RESUMO
Reações oxidativas e alterações de umidade são fatores
determinantes na vida de prateleira de biscoitos tipo
amanteigado, cuja formulação básica envolve a preparação de uma massa a base de farinha, manteiga, açúcar e
ovos. Os objetivos desse trabalho foram investigar o efeito de aditivos nas características dos biscoitos produzidos
e obter a isoterma de sorção a 25ºC para esse produto.
Os aditivos usados foram o antioxidante palmitato de
ascorbila e os antiumectantes propileno glicol e metil glicol,
em quantidades regulamentadas pela ANVISA. A
aceitabilidade dos biscoitos foi testada em relação aos atributos: aceitação global, sabor e textura, utilizando a escala hedônica estruturada de nove pontos. As quatro formulações processadas foram designadas por: F1, padrão (sem
aditivo); F2, com antiumectante; F3, com antioxidante e
F4, com os dois aditivos. A medida de atividade de água
para as isotermas de sorção foi efetuada pelo método das
soluções salinas saturadas. A isoterma do biscoito
amanteigado de formulação mais aceita ao fim de 15 dias
(amostra 3) foi ajustada por três modelos: Guggenheim,
Anderson e De Boer (GAB), Oswin e Henderson. Os
biscoitos recém processados (tempo zero) apresentaram
um índice de aceitação entre 75 e 88%, para todos os
atributos analisados, sendo que a amostra F2 diferiu das
demais a um nível de significância de 95%. Após quinze
dias de armazenamento, a aceitabilidade dos biscoitos foi
reduzida, porém a amostra F3 apresentou o maior índice
de aceitabilidade e diferiu-se das demais (p<0,05). Constatou-se efeito negativo nas características organolépticas
do biscoito tipo amanteigado com antiumectante, enquanto que a adição de antioxidante foi relevante para diminuir
as velocidades de reações de transformação do biscoito
armazenado. Na cinética de sorção, foram obtidos bons
ajustes dos dados de umidade e atividade de água. A
isoterma estudada exibiu forma sigmoidal e verificou-se
que o modelo de Henderson possibilitou o melhor ajuste
dos dados.
Palavras-chave: Biscoitos amanteigados, isotermas de
sorção, análise sensorial
ABSTRACT
Oxidative reactions and humidity alterations are decisive
factors in butter biscuit shelf-life, whose basic formulation
involves the preparation of a mass that contains wheat
flour, butter, sucrose and eggs. The aims of the present
studies were to (i) evaluate the effect of additives in the
biscuit characteristics and (ii) undertake an experimental
examination of the moisture adsorption behaviour at 25o
C of butter biscuit. The additives used were the ascorbila
palmitato as antioxidant agent and the propylene glycol
and methyl glycol as antagglomerating agent, in amounts
regulated by ANVISA (Agência Nacional de Vigilância
Sanitária). The four processed formulations were
designated as F1, standard (without additives); F2, with
antagglomerating agents; F3, with antioxidant agent e F4,
with both additives. The biscuits acceptability was tested
for the attributes “overall appearance”, “flavour” and
“texture”, using 9-point structured hedonic scales. The
measure of water activity for the sorption isotherms was
made by saturated saline solutions method. The isotherm
of the F3, sample which was the most accepted after
fifteen days of storage, was adjusted by three models:
Guggenheim, Anderson e De Boer (GAB), Oswin and
Henderson. The biscuits just processed (initial time) showed
acceptability index between 75 and 88%, for all analyzed
attributes, and the F2 sample presented a significant
difference (p=0, 05) when compared to the other samples.
After fifteen days of storage, the biscuits acceptability
was reduced, however the F3 sample presented the largest
acceptability index and it differed from the others (p =0,05).
Negative effect was verified in the butter biscuit
organoleptic characteristics with antagglomerating agent,
while the antioxidant agent addition is relevant to reduce
the speeds of transformation reactions of the stored biscuit.
In the sorption kinetic, the relative goodness of fit of these
models was measured against the experimental isotherm
data. The isotherms studied exhibited sigmoidal shape and
it was verified that the Henderson equation predicted the
isotherms better than other tested models.
Keywords: Buttered biscuitsorption isotherms, sensorial
analysis
Ciência e Cultura
83
ROMANINI et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
INTRODUÇÃO
respeito à qualidade e estabilidade. A afinidade existente
entre a água e os outros componentes de um produto,
Biscoitos amanteigados possuem alto teor de gordura
define sua higroscopicidade que é muito marcante nesses
e são facilmente alterados por processos oxidativos. As
produtos e torna-se uma característica fundamental du-
principais alterações organolépticas que podem ocorrer
rante o processamento, armazenamento e consumo de
nesse produto são a oxidação de gordura, com formação
materiais biológicos (TEIXEIRA NETO e QUAST, 1993).
de sabor indesejável e alterações físicas associadas ao
O estudo da atividade de água pode ser feito através das
ganho ou perda de umidade do ambiente, alterando a tex-
isotermas de sorção (JARDIM, 1997).
tura do produto. A atividade de água desse alimento é um
O conhecimento de isotermas de sorção de alimentos
fator determinante na velocidade de reações de deterio-
é importante na solução de problemas de engenharia e
ração dos alimentos, porque está relacionada com o cres-
processamento, tais como projetos de embalagem, pro-
cimento de microorganismos, efetivação de reações quí-
cessos de secagem e estocagem e estimativa da vida de
micas e alterações físicas (MARTÍNEZ-NAVARRETE
prateleira de um produto (AROGBA, 2001). Além disso,
et al., 2004).
o conhecimento do valor da monocamada de água ligada
A água é um dos mais importantes componentes dos
ao alimento, é importante, em função desse parâmetro
alimentos, afetando todas as suas propriedades físicas. A
estar relacionado com o início de uma série de reações
forma como a água afeta a natureza física e as proprieda-
químicas de deterioração do alimento, além de represen-
des dos alimentos é complexa devido a sua interação com
tar, o ponto de maior dispêndio de energia para a elimina-
o meio, o que envolve a estrutura física, bem como a com-
ção de água do alimento (TEIXEIRA NETO e QUAST,
posição química dos diversos solutos incluindo polímeros
1993).
e colóides ou partículas dispersas (PARK, 2001). Esse
Em biscoitos podem ser obtidas isotermas do tipo II ou
componente pode exercer diversas funções importantes
III (de acordo com a classificação BET). A primeira cur-
em um sistema alimentício, como: solvente (permitindo que
va, em forma sigmoidal, é típica para alimentos ricos em
os componentes se interajam), componente adsorvido (re-
amido, tais como farelo de aveia e farinha, enquanto que
duzindo a sua susceptibilidade à oxidação), plasticizante
a do tipo III, que normalmente mostra um aumento
(conferindo características mecânicas de textura aos pro-
exponencial do conteúdo de umidade de equilíbrio com a
dutos) e como reagente (JARDIM, 1997).
atividade de água, é observada em formulações com alto
É possível estabelecer uma relação estreita entre o
conteúdo de açúcar e sal (MCMINN et al., 2007).
teor de água livre no alimento e sua conservação. O teor
Existem vários modelos na literatura capazes de pre-
de água livre é expresso pela atividade de água (aw) que é
dizer o comportamento de sorção de diversos produtos
dada pela relação entre a pressão de vapor de água em
(Tabela 1), que podem ser divididos em várias categorias:
equilíbrio sobre o alimento, e a pressão de vapor de água
modelo cinético baseado na monocamada (BET), modelo
pura, à mesma temperatura (MOHSENIN, 1986). A ati-
cinético baseado na multicamada e filme de condensação
vidade de água também pode ser entendida como a umi-
(GAB), semi-empírico (Ferro-Fontan, Hasley) e empírico
dade relativa em equilíbrio (URE) com o produto, confor-
(Oswin, Henderson), entre outros Cada modelo tem su-
me a equação a seguir.
cesso relativo na representação dos dados experimentais
de isoterma de sorção, em função do intervalo de atividade de água e do tipo de alimento. Muitas tentativas para
encontrar uma equação geral de isoterma de sorção têm
sido feitas, porém sem sucesso, devido ao fato de que a
A determinação da atividade de água é uma das medi-
atividade de água depende da composição do alimento e
das mais importantes no processamento e na análise dos
das interações dos constituintes com a água em condi-
materiais biológicos, devido a sua importância no que diz
ções de equilíbrio termodinâmico. Assim, dados de sorção
84
Ciência e Cultura
ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO
EM BISCOITOS AMANTEIGADOS
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
experimental são necessários para avaliar a aplicabilidade
parâmetros correlacionados para um produto específico
das equações de isoterma e determinar a magnitude dos
(MCMINN et al., 2007).
Tabela 1 - Modelos para ajuste de isotermas de sorção de umidade em biscoitos, utilizados nesse trabalho
X: conteúdo de umidade kg/kg; Xo : conteúdo da camada monomolecular kg/kg
aw: atividade de água; B, C e K constantes das equações
O modelo de sorção de GAB permite a avaliação da
estabilidade do alimento como uma função do seu conteú-
nas características organolépticas e na vida de prateleira
desse produto.
do de água e das condições de estocagem (MARTÍNEZNAVARRETE et al., 2004). A equação de GAB, usada
MATERIAL E MÉTODOS
para caracterizar a camada monomolecular, ajusta bem
os dados experimentais de 75% dos alimentos estudados;
Matéria- prima
a de Oswin, série de expansão para as curvas com for-
Na fabricação dos biscoitos utilizou-se farinha, man-
mato de “S”, ajusta 57% das isotermas de alimentos estu-
teiga, açúcar e ovo. Os aditivos empregados foram
dados e a de Henderson é muito utilizada, sendo especial-
propileno glicol e metil glicol (antiumectantes) e palmitato
mente interessante para isotermas de proteínas especial-
de ascorbila (antioxidante), adquiridos em mercado local
mente as globulares (MOURA e GERMER, 1997).
(Barretos – SP).
A exposição de alimento de baixa umidade em ambiente com alta umidade relativa, resulta em sorção de água
Processamento
e um aumento prejudicial do seu conteúdo de água. Nes-
A formulação padrão do biscoito tipo amanteigado foi
ses produtos, a perda de crocância ocorre quando valores
elaborada com 53% de farinha de trigo, 21% de açúcar e
críticos do conteúdo de água e da atividade de água são
21% de manteiga, de acordo com a Tabela 2. Foram fei-
excedidos (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004).
tas quatro formulações, diferenciadas pela presença de
O comportamento de sorção de vários alimentos e a
aditivos, sendo designadas: F1, amostra padrão (sem
influência da temperatura no conteúdo de umidade de
aditivo), F2, com antiumectante, F3, com antioxidante e
equilíbrio têm sido extensivamente estudado nos últimos
F4, com adição dos dois aditivos. Os aditivos escolhidos
anos. Produtos de panificação tais como biscoitos, têm
são comumente usados pela Indústria de biscoito e foram
importância econômica significativa; entretanto, tem-se um
empregados em quantidades regulamentadas pela legisla-
número limitado de trabalhos com dados de isotermas de
ção. Os ingredientes foram pesados em balança
sorção na literatura para esses produtos (HOUGH et al.,
semi-analítica, misturados até homogeneização total,
2001, AROGBA, 2001, MARTÍNEZ-NAVARRETE et al.,
moldados em formato arredondado e levados ao forno a
2004, MCMINN et al., 2007). Os objetivos desse traba-
230 o C ± 2 o C, por vinte minutos. Após etapa de
lho foram estudar o comportamento da isoterma de sorção
resfriamento, os biscoitos foram armazenados em
de biscoito amanteigado e o efeito da adição de aditivos
embalagens metálicas.
Ciência e Cultura
85
ROMANINI et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Tabela 2. Formulações de biscoito tipo amanteigado
Análise sensorial do biscoito
preparadas segundo LABUZA (1980), citado por
DITCHFIELD (2000), com faixa de umidade relativa entre
O Índice de Aceitabilidade (IA) foi realizado em rela-
11 e 90 %, citados na Tabela 3. As amostras de biscoito,
ção aos atributos aparência global, sabor e textura. Trinta
em triplicata, foram acondicionadas nos dessecadores, que
e três provadores avaliaram o quanto gostaram ou des-
foram mantidos a uma temperatura constante de 25oC.
gostaram do produto, utilizando a escala hedônica
As pesagens periódicas das amostras foram feitas em uma
estruturada de nove pontos, indo de 9 igual a “gostei mui-
balança analítica, até atingirem peso constante. Durante
tíssimo” até 1 igual a “desgostei muitíssimo”
este período as amostras foram submetidas à inspeção
(MONTEIRO, 1984). A equipe de provadores, formada
visual, para detectar quaisquer alterações perceptíveis.
por homens e mulheres na faixa etária de 18 a 35 anos,
foi selecionada em função de consumirem biscoitos
Tabela 3. Atividade de água correspondente aos sais utili-
amanteigados, disponibilidade e interesse em participar do
zados
teste. A análise sensorial foi realizada no tempo zero e
após quinze dias de armazenamento a temperatura ambi-
Sais
ente. No cálculo do Índice de Aceitabilidade (IA) do pro-
LiCl
11,15
duto foi utilizada a equação a seguir:
CH 3COOH
22,60
MgCl2
32,73
K 2CO 3
43,80
Mg(NO 3)2
52,86
onde A é nota média obtida para o produto e B é a nota
NaBr
57,70
máxima dada ao produto. IA ³ 70, é considerado como de
SrCl2
70,83
boa repercussão (DUTOCOSKY, 1996).
NaCl
75,32
KCl
84,32
BaCl2
90,26
IA(%) = (A x 100)/B
Análise Estatística
Atividade de água (%) a 30º C
O efeito dos aditivos sobre o índice de aceitabilidade
de biscoitos tipo amanteigado foi verificado através de
O teor de umidade (b.s.) das amostras, após atingirem o
análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey a nível
equilíbrio com o meio, foi obtido pela secagem em estufa
de 5% de significância, para comparação de médias.
a 105oC até atingirem peso constante. Para o ajuste das
isotermas do biscoito amanteigado, foram testados três
Determinação das Isotermas de Sorção
modelos encontrados na literatura. Os parâmetros destas
Na determinação da isoterma de sorção de biscoito
equações foram determinados através de uma análise de
amanteigado (amostra F3), foi utilizado o método estático
regressão não linear dos dados experimentais, realizada
de dessecadores contendo soluções saturadas de sais,
pelo software Grapher for Windows. Os critérios utiliza-
86
Ciência e Cultura
ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO
EM BISCOITOS AMANTEIGADOS
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
dos para a escolha do melhor ajuste foram: o coeficiente
foi significativo o IA verificado para o biscoito amanteigado
de determinação (R2) entre as respostas observadas e os
(entre 75,1 e 88,5 %, em cada atributo avaliado). Porém,
valores preditos pelo modelo e o módulo do desvio relati-
após 15 dias de armazenamento, as amostras analisadas
vo (E), cuja definição encontra-se descrita pela equação a se-
apresentaram um índice de aceitabilidade menor que 70
guir.
% (entre 53,2 e 67,7 %), evidenciando a necessidade de
estudos que determinem os fatores responsáveis pela deterioração dos atributos sensoriais desse produto. Fatores
onde: E - desvio relativo médio; N: número de pontos
estabelecidos durante o armazenamento, tais como em-
experimentais;Vo: valores observado experimentalmente;
balagem, temperatura e umidade relativa, são relevantes
Vp: valores preditos pelo modelo.
em sua vida de prateleira.
De acordo com Aguerre et al. (1989) valores de des-
A amostra com menor índice de aceitação foi a for-
vio relativo médio abaixo de 10% indicam um ajuste bom
mulada com antiumectante (F2). Esse aditivo reduz a ca-
para os dados experimentais.
racterística higroscópica do alimento e diminui a tendência de adesão, umas as outras, das partículas individuais,
RESULTADOS E DISCUSSÃO
o que influencia diretamente nos atributos sensoriais do
produto. Durante o armazenamento, essas amostras fica-
Aceitabilidade do biscoito
ram muito secas, ocorrendo quebra da estrutura superfi-
Conforme a Tabela 4 e de acordo com a literatu-
cial. Na aceitabilidade de biscoito dois fatores são signifi-
ra (MONTEIRO, 1984; DUTOCOSKY, 1996), que con-
cativos: a crocância e a forma como desmancham na boca.
sidera repercussão favorável quando o Índice de
A presença do antiumectante acentuou a perda desses
Aceitabilidade (IA) é maior ou igual a 70, no tempo zero,
atributos em função do tempo de armazenamento.
Tabela 4. Índice de aceitabilidade de biscoito amanteigado, segundo cada atributo avaliado, tempo zero.
1
Médias seguidas da mesma letra, não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey (p<0,05)
A textura muito seca do biscoito é pouca atrativa. Aná-
duto em termos de retenção de níveis desejados de atri-
lises de diagrama de fase e de isoterma de sorção, são
butos, tais como textura (MARTÍNEZ-NAVARRETE et
úteis na formulação de alimentos, a fim de estabelecer
al., 2004).
necessidades de processo (equipamento e variáveis de
No tempo de estocagem considerado, os aditivos não
processo) ou projetar condições de armazenamento e em-
influenciaram diretamente no sabor, mas a aparência glo-
balagem., para otimizar a estabilidade e qualidade do pro-
bal do produto foi influenciada pela textura. De acordo
Ciência e Cultura
87
ROMANINI et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
com a Tabela 5, após quinze dias de armazenamento, o
F3, nota média de 6 (gostei ligeiramente) A presença de
atributo textura avaliado apresentou diferença significati-
antioxidante, substância que retarda o aparecimento de
va a um nível de 95%, sendo que as formulações F1, F2 e
alterações oxidativas no alimento, influenciou na textura
F4 apresentaram notas entre 4 (desgostei ligeiramente) e
do produto.
5 (indiferente - não gostei e nem desgostei), e a amostra
Tabela 5. Índice de aceitabilidade de biscoito amanteigado, segundo cada atributo avaliado, com 15 dias de estocagem.
1
Médias seguidas da mesma letra, não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey (p<0,05)
Os julgadores consideraram o biscoito amanteigado
ção, formando pontes de hidrogênio com os hidroperóxidos
como tendo um sabor bom imediatamente após sua pre-
produzidos nas reações de radicais livres e impedindo-os
paração (zero dia de armazenamento) e amostra F3 foi à
de se decomporem, formando novos radicais livres. Com
preferida (Tabela 4). Após 15 dias de armazenamento, os
isso, as velocidades de reação são bem reduzidas nessa
biscoitos amanteigados apresentam uma IA abaixo do li-
faixa de umidade e atividade de água. Contudo, para
mite de aceitabilidade, com exceção da amostra F3, para
aw>0,5 onde o teor de umidade aumenta gradativamente,
o atributo textura, conforme pode ser visto na Tabela 5.
ela passa a aumentar muito a mobilidade dos reagentes
Em relação ao sabor, as amostras não apresentaram dife-
ou seu efeito protetor desaparece e, com isso, as reações
renças estatisticamente significativa (p<0,05). No atribu-
de oxidação voltam a ser aceleradas. Em teores de umi-
to textura, as amostras F1 e F2 não se diferenciaram, po-
dade muito elevados, correspondente a aw>0,7, o fator de
rém, apresentaram diferenças significativas com as amos-
diluição dos reagentes passa a preponderar, desacelerando
tras F3 e F4 (com adição de antioxidante), sendo que as
estas reações (TEIXEIRA NETO e VITALI., 1996).
duas últimas foram as preferidas.
No caso de produto rico em gordura é importante de-
Isotermas de sorção
terminar as isotermas de sorção, pois através de modelos
Os dados experimentais dos teores de umidade em
matemáticos aplicados a pontos experimentais, tem-se
função da atividade de água, para a amostra com maior
valor da monocamada do alimento, que é um parâmetro
índice de aceitação (F3) são apresentados pela curva de
diretamente relacionado com reações de oxidação. De
sorção (Figura 1). Os dados experimentais foram
modo geral, em atividades de água inferiores a 0,2, as
ajustados pelos modelos descritos, obtendo-se o coefici-
velocidades de reações são elevadas, provavelmente por-
ente de determinação (R 2) e o desvio relativo (E).
que a ausência da monocamada molecular de água
A escolha do melhor ajuste foi feita analisando o desvio
desprotege a matriz do alimento. Já para atividades de
relativo para cada modelo. Estes valores, juntamente com
água entre 0,2 e 0,5, representando níveis ainda baixos de
os parâmetros de ajuste das equações encontram-se des-
umidade, a água age como barreira protetora de oxida-
critos na Tabela 6.
88
Ciência e Cultura
ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO
EM BISCOITOS AMANTEIGADOS
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
Figura 1. Isoterma de Dessorção de biscoito amanteigado para a temperatura ambiente (25oC).
Tabela 6. Parâmetros dos modelos usados na isoterma de biscoito amanteigado a temperatura de 25o C.
* Valor em base seca
O conteúdo de umidade no biscoito tipo amanteigado
umidade aumenta lentamente em baixas atividades de
foi de 5,00 ± 0,02% (g/100g sólido seco). Conforme os
água, onde a sorção ocorre principalmente na matriz sóli-
dados da Tabela 6 e de acordo com o modelo de GAB, o
da formada por biopolímeros (polissacarídeos e proteínas).
conteúdo de umidade da camada monomolecular (Xo) foi
Para valores de aw > 0,5 , a curva mostra uma elevação
de 0,1016 g/g de sólido (bs). O valor obtido encontra-se
excessiva , a qual foi atribuída à dissolução de açúcar na
na faixa superior descrita na literatura para valores de
fase aquosa incipiente do produto. A forma dessa isoterma
umidade da monocamada de produtos alimentícios
indica o tipo de forças que intervém na ligação da água
(TSAMI et al., 1990). O valor de atividade de água equi-
com a superfície higroscópica e permite certas avaliações
valente ao conteúdo da monocamada foi de 0,11.
da sua estrutura superficial, da sua estabilidade durante o
O modelo de sorção de GAB permite a avaliação da
armazenamento e contribui para especificar uma embala-
estabilidade do alimento em função do seu conteúdo de
gem apropriada para sua melhor conservação (TSAMI et
água e das condições de estocagem. Os modelos de Oswin
al., 1990; MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004;
e Henderson são muito utilizados em produtos ricos em
AROGBA, 2001).
amido (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004).
A água afeta a textura de biscoito como plasticizante e
A curva ajustada pelo modelo de GAB apresentou
abranda a matriz proteína/ amido, que altera a dureza do
forma sigmoidal do tipo II de isoterma. O conteúdo de
produto. Entretanto o mecanismo molecular que é consi-
Ciência e Cultura
89
ROMANINI et al
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
derado para mudança de textura não é muito claro, crité-
De maneira geral, as três equações escolhidas apre-
rios diferentes para a determinação do conteúdo de umi-
sentaram um bom ajuste dos dados experimentais da
dade crítica são usados por diversos autores, e esses va-
isoterma de biscoito, sendo que a de Henderson apresen-
lores não coincidem. Katz e Labuza (1981) mostraram
tou maior coeficiente de determinação e um desvio relati-
que conteúdo de água maior que o valor da monocamada
vo médio de 6,68%, consequentemente o melhor ajuste
(BET) resulta no decréscimo de interação macromolecular
da isoterma experimental. Resultados similares também
que contribui para a sensação de crocância, por causa da
foram obtidos por Arogba (2001), no ajuste de isotermas
interação água-água. Água captada acima do conteúdo
de sorção para biscoitos preparados com igual quantidade
de umidade da monocamada alcança um valor crítico na
de farinha de trigo e de semente de manga processada.
qual o consumidor percebe uma alteração de textura. O
limite de aceitação é estabelecido como uma função da
CONCLUSÕES
atividade de água (KATZ e LABUZA, 1981).
O nível de atividade de água crítica com que alguns
Os biscoitos amanteigados apresentaram apreciável
produtos similares ao biscoito tipo amanteigado perdem a
aceitabilidade logo após o processamento; porém, não
sua crocância e firmeza foi descrito como sendo de 0,36 a
mostraram estabilidade durante o armazenamento, devi-
0,51para batatas chips e pipoca (KATZ & LABUZA,
do a perda de atributos sensoriais (crocância, sabor e apa-
1981), de 0,60 para biscoitos (HOUGH et al., 2001), de
rência) que influenciam diretamente na aceitação do pro-
0,62 para wafer (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004)
duto. As formulações com e sem aditivos, não apresenta-
e de 0,60 a 0,68 para cereais matinais (PELEG, 1994).
ram diferenças significativas (p<0,05) nos atributos avali-
Esses valores estão no intervalo de atividade de água (aw)
ados. Após 15 dias de armazenamento, a presença de
onde podem ocorrer transformações, de alguns constitu-
antioxidante influenciou na aceitabilidade do atributo tex-
intes dos alimentos, do estado cristalino para o amorfo,
tura, sendo essa amostra (F3) a mais aceita. Por outro
que se refere a um estado de não equilibrio cujas proprie-
lado, a presença de antiumectante diminuiu o IA do pro-
dades são dependentes do tempo. Essa mudança de esta-
duto.
do também pode ocorrer como uma conseqüência do au-
Na cinética de sorção foram obtidos bons ajustes dos
mento do conteúdo de água durante seu processamento
dados de umidade e atividade de água pelos modelos tes-
ou estocagem (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004).
tados. A isoterma dos biscoitos formulados apresentou
Em muitos alimentos, a transição vítrea tem sido associa-
comportamento sigmoidal sendo que o modelo de
da com mudanças nas propriedades mecânicas que con-
Henderson apresentou melhor ajuste aos dados experi-
duz a perda de crocância. (ROSS e KAREL, 1991)
mentais de acordo com o coeficiente de determinação
Em ambientes com atividades de água maiores que
(R2) e do erro relativo médio.
0,5 o biscoito perdeu a textura característica e rupturas
da estrutura superficial foram observadas, indicando mu-
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
danças n tipo de ligação de água nesse produto, o biscoito
tornava-se quebradiço. No armazenamento em
AGUERRE, R.J., SUAREZ, C., VIOLLAZ, P.E. New
dessecador com umidade relativa maior que 52,9%, ob-
BET type multilayer sorption isotherms. Part II: Modeling
servou-se um amolecimento do biscoito, ocorrendo perda
water sorption in foods, Lebensmittel-Wissenschaft &
do atributo crocância. Nas amostras dos biscoitos arma-
Technologie, v.22, n.4, p.192-195, 1989.
zenados nas umidades relativas de 80% e 95% verificouse o amolecimento destas, sendo mais evidente para as
AROGBA, S. Effect of temperature on the moisture
amostras armazenadas na umidade relativa de 95% devi-
sorption isotherm of a biscuit containing processed mango
do a presença de água livre como observado na isoterma
(Mangifera indica) kernel flour. Journal of Food
(Figura 1)
Engineering, v.48, p.121-125, 2001.
90
Ciência e Cultura
TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM
SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO
v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029
DITCHFIELD, C. Estudo dos métodos para a medida de
MOURA, S.C.S.R.; GERMER, S.P.M. Predição de ati-
atividade de água. Dissertação de Mestrado em Enge-
vidade de água em alimentos e modelação matemática de
nharia – Escola Politécnica do Estado de São Paulo, SP.
isotermas de sorção. In: Jardim, D.C.P Germer, S.P.M
2000.
(Eds). Atividade de água em alimentos. Campinas: ITAL,
1997. p. 12-1 a 12- 23.
DUTOCOSKY, S.D. Análise sensorial de alimentos.
Curitiba. Ed. DA Champagnat, 1996.123.p.
PARK, K.J.; BIN, A.; BROD, F.P.R. Obtenção das
isotermas de sorção e modelagem matemática para a pêra
HOUGH, G.;BUERA, M.P.; CHIRIFE, J.; MORO, O.
bartelett (Pyrus sp.) com e sem desidratação osmótica.
Sensory texture commercial biscuits as a function of water
Ciência e Tecnologia de Alimentos v.21, n.1, 2001.
activity. Journal of Texture Studies, v.32, p.57-74, 2001.
PELEG, M. A mathematical model of crunchiness/
JARDIM, D.C.P.; Atividade de água: considerações teó-
crispness loss in breakfast cereals. Journal of Texture
ricas e práticas. In: Jardim, D.C.P Germer, S.P.M (Eds).
Studies, v.24, p.403-410, 1994.
Atividade de água em alimentos. Campinas: ITAL, 1997.
p. 1-1 a 1-11.
ROSS, Y.H.; KAREL, M. Plastic effect of water on
thermal behaviour and crystallization of amorphous food
KATZ, E.E.; LABUZA. T.P. Effect of water activity on
models. Journal of Food Science, v.56, p.38-43, 1991.
the sensory crispness and mechanical deformation of snack
food products. Journal of Food Science, v.46. p.403-409,
TEXEIRA NETO, R. O., QUAST, D. G. Isotermas de
1981.
adsorção de umidade em alimentos. Campinas: ITAL,
v. 8, p.141-197, 1993.
MARTÍNEZ-NAVARRETE, N.; MORAGA, G.;
TALENS, P.; CHIRALT, A. Water sorption and the
TEXEIRA NETO, R. O., VITALI, A.A. Reações de trans-
plasticization effect in wafers. International Journal of
formação e vida-de-prateleira de alimentos processados.
Food Science and Technology, 39, 555 – 562. 2004.
2ª ed. Campinas: ITAL, 1-1 a 1-18, 1996. (Manual Técnico no 6)
MCMINN, W.A.M.; McKEE, D.J.; MAGEE, T.R.A.
Moisture adsorption of oatmeal biscuit and oat flakes.
TSAMI, E.; MARINOS-KOURIS, D.; MAROULIS,
Journal of Food Engineering, article in press 2007. p 1-13.
Z.B. Water sorption isotherms of raisins, currants, figs,
prunes and apricots. Journal of Food Science, v.55. p.1594-
MOHSENIN, N.N. Physical properties of plants and
1597, 1990.
animals materials. 2. ed. Amsterdam: Gordon and Breach
Publishers, 1986. 841 p.
VAN DER BERG, C.; BRUIN, S. Water activity and its
estimation in food systems: theoretical aspects. In:
MONTEIRO, C.L.B. Técnicas de avaliação sensorial.
Rockland, L.B.; Steward, G.F. (Eds). Water activity:
2.ed. Curitiba: CEPPA-UFPR, 1984. 101p.
influences on food quality (pp. 1-55). New York: Academic
Press, Inc.1981.
Ciência e Cultura
91