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FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO CIÊNCIA E CULTURA Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos Endereço: Centro de Pós Graduação (CPG/FEB) Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto 14783-226 – Barretos – SP – Brasil [email protected] www.feb.br/revista/revista.htm Publicação Semestral / Semi-annual publication Solicita-se permuta / Exchange desired / Si chiede lo cambio / On demande l’échange / Man bittet um Austausch Ciência e Cultura 3 4 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA FUNDAÇÃO EDUCACIONAL DE BARRETOS Conselho Diretor Ronaldo Fenelon Santos Filho - Presidente Márcia Medeiros Campos Borges - Conselheiro Paulo Roberto Teixeira Júnior - Vice Presidente José Monteiro Pereira - Conselheiro Ezisto Hélio Fernandes Césari - Tesoureiro Augusto César Arcuri Antoniazzi - Suplente Marco Antônio Rocha Silva - Secretário Osvânio de Oliveira Costa - Suplente Diretoria Acadêmica Profª. Dra. Patrícia Helena Rodrigues de Souza – Diretora Geral Acadêmica Prof. Dr. Ângelo Rubens Migliore Júnior – Vice Diretor Geral Acadêmico Centro de Pós-Graduação Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio – Diretor Prof. Dr. Sebastião Hetem – Vice Diretor Ciência e Cultura Editor: Prof. Dr. Sebastião Hetem (Unesp/Araçatuba e FEB) Editores Adjuntos: Prof. Dr. João Antonio Galbiatti (Unesp/Jaboticabal) Prof. Dr. Luiz Antonio Hungria Cecci (Unesp/Franca e FEB) Prof. Dr. Luiz Manoel Gomes Junior (Unaerp/Ribeirão Preto) Prof. Dr. Raphael Carlos Comelli Lia (Unesp/Araraquara e FEB) Profª. Dra. Regina Helena Porto Francisco (USP/São Carlos e FEB) Prof. Dr. Romildo Martins Sampaio (FEB) Comissão Editorial Adriana Galvão Moura (Direito – FEB) Arlindo José de Souza Júnior (Educação Matemática – UFU) Agnaldo Arroio (Ensino de Química – Educação – USP/São Carlos) Benedicto Egbert Correa de Toledo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Alberto Cargnelutti Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Carlos Eduardo Angeli Furlani (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Alexandre Bryan Heinemann (CIRAD – França) Carlos José dos Santos Pellegrino Alfredo Argus (Serviço Social – FEB) Carlos Reisser Junior (Agrometeorologia – EMBRAPA/Clima Temperado) Álvaro Fernandes Gomes (Física – FEB) Carlos Teixeira Puccini (Engenharia Civil – FEB) Ana Maria de Souza (Farmácia – USP/Ribeirão Preto) Ciro Sérgio Abe (Administração – FEB) André Cordeiro Leal (Direito - PUC MG e Milton Campos/MG) Claudia Regina Bonini Domingos (Biologia – UNESP/São José do Rio Preto) André Del Negri (Direito – UNIUBE) Cláudio Roberto Pacheco (Engenharia Elétrica - FEB) Ângelo Rubens Migliore Júnior (Engenharia Civil – FEB) Clovis Sansigolo (INPE) Antonio Aparecido Pupim Ferreira (Química - Unesp/Araraquara) Cristina Cunha Carvalho Terrone (Química – FEB) Antonio Baldo Geraldo Martins (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Daniela Jorge de Moura (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Antonio Carlos Delaiba (Engenharia Elétrica – UFU) Danísio Prado Munari (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Antonio Carlos Pizzolitto (Farmácia – UNESP/Araraquara) David Chacon Álvares (Eng. Alimentos – Univ. Est. Paraná/Guarapuava) Ciência e Cultura 5 v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos David Luciano Rosalen (Engenharia Civil - FEB) José Eduardo Cora (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Deise Maria Fontana Capalbo (Meio Ambiente - EMBRAPA/Jaguariúna) José Luiz Guimarães (Educação – UNESP/Assis) Deise Pazeto Falcão (Farmácia - UNESP/Araraquara) José Marques Júnior (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Delly Oliveira Filho (Engenharia Agrícola – Universidade Federal de Viçosa) José Tadeu Jorge (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Deny Munari Trevisani (Odontologia – FEB) José Walter Canoas (Serviço Social – UNESP/Franca) Dietrich Schiel (Ensino de Física – USP/São Carlos) Juliemy Aparecida de Camargo Scuoteguazza (Odontologia – FEB) Dílson Gabriel dos Santos (Administração – FEA/USP) Júlio César dos Santos (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Dirceu da Silva (Educação – UNICAMP) Karina Silva Moreira Macari (Odontologia – FEB) Durval Dourado Neto (USP) Késia Oliveira da Silva (Engenharia Agrícola – ESALQ/USP) Édson Alves Campos (Odontologia – FEB) Khosrow Ghavami (Engenharia Civil – PUC/RJ) Eduardo Katchburian (Medicina – UNIFESP) Kil Jin Park (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Eduardo Teixeira da Silva (Eng. Agrícola – Universidade Federal do Paraná) Kleiber David Rodrigues (Engenharia Elétrica – UFU) Élcio Marcantônio Júnior (Odontologia – UNESP/Araraquara) Lindamar Maria de Souza (Farmácia – FEB) Eleny Bauducci Roslindo (Odontologia – UNESP/Araraquara) Lisete Diniz Ribas Casagrande (Educação – FEB/UNAERP) Elisabete Frollini (Química – USP/São Carlos) Lizeti Toledo de Oliveira (Odontologia – UNESP/Araraquara) Elisabeth Pimentel Rosseti (Odontologia – FEB) Lorival Larini (Farmácia – FEB) Fernanda Scarmato de Rosa (Farmácia – FEB) Lúcia Helena Sipaúba Tavaraes (Engenharia Agrícola – UNESP/Jaboticabal) Fernando Horta Tavres (Direito – PUC/MG) Luiz Antonio Hungria Cecci (Serviço Social – FEB) Flávio Dutra de Rezende (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Luiz Carlos Pardini (Odontologia – USP/Ribeirão Preto) Francisco José Vela (Engenharia Civil – FEB) Luiz Macelaro Sampaio (Odontologia – FEB) Geraldo Nunes Correa (Sistema de Informação – FEB) Luiz Manoel Gomes Junior (Direito – UNAERP) Hélio Massaiochi Tanimoto (Odontologia – FEB) Luiz Paulo Geraldo (Física – FEB) Gustavo Rezende Siqueira (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Luiz Rodrigues Wambier (Direito - UNAERP) Heizir Ferreira de Castro (Engenharia Química – FAENQUIL/Lorena) Luiz Rogério Dinelli (Química – FEB) Helio Grassi Filho (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Luiza Maria Pierini Machado (Engenharia de Alimentos – FEB) Hérida Regina Nunes Salgado (Farmácia – UNESP/Araraquara) Manoel de Jesus Simões (Medicina – UNIFESP) Hidetake Imasato (Química – USP/São Carlos) Manoel Victor Franco Lemos (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Holmer Savastano Júnior (Eng. Civil/Agrícola – FZEA/USP Pirassununga) Marcelo Borges Mansur (Engenharia Química – Univ. Federal de Minas Gerais) Hugo Barbosa Suffredini (Química – UNIJUÍ) Marcelo Henkemeier (Engenharia de Alimentos - Univ. de Passo Fundo) Humberto Tonhati (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Marcelo Henrique de Faria (Zootecnia - APTA/AM – Secret. Agricultura de SP) Ignácio Maria dal Fabro (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Márcia Justino Rossini Mutton (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Irenilza de Alencar Naas (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Márcia Luzia Rizzatto (Engenharia de Alimentos – FEB) Isabel Cristina Moraes Freitas (Engenharia de Alimentos – FEB) Marco Aurélio Neves da Silva (Zootecnia – ESALQ/USP- Piracicaba) Jackson Rodrigues de Souza (Química – Universidade Federal do Ceará) Marcos Eduardo de Mattos (Administração – FEB) Jairo Osvaldo Cazetta (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Auxiliadora Brigliador Conti (Química – FEB) Janice Rodrigues Perussi (Química – USP/São Carlos) Maria Cristina Thomaz (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Jean Carlo Alanis (Engenharia de Alimentos – FEB) Maria José de Almeida (Educação – UNICAMP) Jeosadaque José de Sene (Química – FEB) Maria José Soares Mendes Giannini (Farmácia – UNESP/Araraquara) João Antonio Galbiatti (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Maria Teresa do Prado Gambardella (Química – USP/São Carlos) João Domingos Biagi (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Maria Tereza Ribeiro Silva Diamantino (Engenharia de Alimentos – FEB) João Marino Júnior (Administração – FEB) Marília Oetterer (Agroindústria – ESALQ/USP – Piracicaba) Jorge Aberto Vieira Costa (Eng. de Alimentos – Univ. Fed. do Rio Grande/RS) Marilú Pereira Serafim Parsekian (Engenharia Civil – FEB) José Carlos Barbosa (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mário José Filho (Serviço Social – UNESP/Franca) 6 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Mário Rolim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal Rural de Pernambuco) Sebastião Hetem (Odontologia – FEB) Marlei Aparecida Seccani Galacci (Odontologia – FEB) Sérgio de Freitas (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Mauro dal Secco de Oliveira (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Sérgio do Nascimento Kronka (Estatística - UNOESTE) Miguel Carlos Madeira (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Sérgio Henrique Tiveron Juliano (Direito – UNIUBE) Miriam Eiko Katuki Tanimoto (Odontologia – FEB) Shirley Aparecida Garcia Berbari (Engenharia de Alimentos – ITAL) Neyton Fantoni Junior (Direito – FEB) Silvano Bianco (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Nilza Maria Martinelli (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Sissi Kawai Marcos (Engenharia de Alimentos – FEB) Odair A. Fernandes (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Sônia Maria Alves Jorge (Química – UNESP/Botucatu) Odila Florêncio (Química – UFSCAR) Sonia Regina Meira (Educação - FAEX) Orlando Fatibello Filho (Química – UFSCAR) Sylvio Luís Honório (Engenharia Agrícola – UNICAMP) Oselys Rodrigues Justo (Engenharia de Alimentos - FEA/UNICAMP) Telmo Antonio Dinelli Estevinho (Sociologia/Ciência Política – UFMT) Osvaldo Eduardo Aielo (Física – FEB) Tetuo Okamoto (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Patrícia Amoroso (Odontologia – FEB) Ueide Fernando Fontana (Odontologia – FEB) Patrícia Helena Rodrigues de Souza (Odontologia – FEB) Victor Haber Perez (Bioengenharia – FAENQUIL – Lorena) Patrícia Nassar (Química – FEB) Walter Antonio de Almeida (Odontologia – FEB) Paula Homem de Mello (Química – USP/São Carlos) Paulo César Hardoim (Engenharia Agrícola – Univ. Federal de Lavras) Paulo Estevão Cruvinel (Embrapa – São Carlos) Paulo José Freire Teotônio (Direito – FEB) Paulo Sérgio Cerri (Odontologia – UNESP/Araraquara) Pedro Leite de Santana (Engenharia Química – Univ. Federal de Sergipe) Pedro Paulo Scandiazzo (Educação Matemática – UNESP/S. J. do Rio Preto) Rael Vidal (Biologia – FEB) Ranulfo Monte Alegre (Engenharia de Alimentos – UNICAMP) Raphael Carlos Comeli Lia (Odontologia – FEB) Regina Célia de Matos Pires (Recursos Hídrico – IAC/Campinas) Regina Helena Porto Francisco (Química – FEB) Regina Kitagawa (Engenharia de Alimentos – ITAL) Reginaldo da Silva (Direito – FEB) Renata Camacho Miziara (Odontologia – FEB) Renato de Mello Prado (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Renato Moreira Ângelo (Física – Univ. Federal do Paraná) Ricardo Dias Signoretti (Eng. Agronômica - APTA/AM – Secret.Agricultura- SP) Rinaldo César de Paula (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Rober Tufi Hetem (Medicina – UNICAMP) Roberta Toledo Campos (Direito – UNIUBE) Roberto Braga (Planejamento Urbano – UNESP/Rio Claro) Roberto Holland (Odontologia – UNESP/Araçatuba) Romildo Martins Sampaio (Engenharia de Alimentos – FEB) Rosemiro Pereira Leal (Direito – UFMG e PUC/MG) Rouverson Pererira da Silva (Agronomia – UNESP/Jaboticabal) Salete Linhares Queiroz (Química – USP/São Carlos) Sally Cristina Moutinho Monteiro (Farmácia – FEB) Ciência e Cultura 7 v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos Editorial O lançamento do primeiro número de “Ciência e Cultura: Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos” revestiu-se de um caráter todo especial e foi recebido com entusiasmo pela comunidade científica cujo reconhecimento pelo trabalho realizado e os êxitos alcançados ultrapassaram os limites da instituição, como era esperado e era o nosso desejo. As responsabilidades de quantos militam na sua organização, redação e editoração aumentaram consideravelmente, pois, deixou de ser um projeto para ser um veículo de divulgação científica que, sem perder a sua linha mestra de atuação, dispõe-se a firmar-se, como é necessário, como uma publicação que terá na periodicidade o seu primeiro objetivo. Superada a fase inicial do lançamento, normatização, distribuição e composição do corpo editorial, temos agora a incumbência de mostrar competência para alcançar a credibilidade, item fundamental para a perpetuação da revista. Evidentemente que o nosso trabalho apenas se iniciou e a continuidade da publicação da Ciência e Cultura, será a recompensa pelo esforço dispendido, complementado pelo prestigio que recebe dos autores na submissão de artigos para publicação. É fundamental que os envolvidos em todas as etapas da publicação da revista continuem sensíveis às suas necessidades e continuem oferecendo seu apoio. Maio/2007 Sebastião Hetem Editor Chefe 8 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 SUMÁRIO Artigos Científicos Original Articles ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS. EPIDEMIOLOGIC STUDY OF THE INFLAMMATORY EPITHELIAL-FIBROUS HYPERPLASIA DIAGNOSED IN THE BUCCAL PATHOLOGY SERVICE OF THE SCHOOL OF DENTISTRY OF BARRETOS. Raphael Carlos Comelli LIA1, Renata Hebling MARINS1, Elizangela Partata ZUZA2 ..................................................................................................................................................................................................................................11 DEGRADAÇÃO OXIDATIVADE UM POLUENTE ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIOAQUOSO UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO OXIDATIVE DEGRADATION OF AN ORGANIC POLLUTANT (P-NITROPHENOL) IN AQUEOUS SOLUTION BY USING POTASSIUM FERRATE Jeosadaque J. SENE1, Angelo Ricardo Fávaro PIPI1, Luis Rogerio DINELLI1, Paola Daniele MARRETO2, Sônia Maria Alves JORGE3, Maria Valnice Boldrim ZANONI4. .....................................................................................................................................................................................................................................19 ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W.T. Aiton USANDO DIMENSÕES LINEARES DO LIMBO FOLIARLEAF AREA ESTIMATIVE IN WEEDS LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W. T. Aiton USING LINEAR DIMENSION OF THE LEAF BLODE Silvano BIANCO; Matheus Saraiva BIANCO; Leonardo Bianco de CARVALHO. ..................................................................................................................................................................................................................................27 O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL THE RIGHT TO INFORMATION IN CONFRONTATION WITH THE PRINCIPLE OF DUE PROCESS OF LAW Paulo José Freire TEOTÔNIO¹, Abner Rafael de SOUZA², Michele Aparecida Marques MIGLIORUCCI³. ....................................................................................................................................................................................................................................33 ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCALNAVISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA PARTICIPATIVE BUDGETING AND THE LOCAL POWER UNDER THE POINT OF VIEW OF THE LEGISLATIVE POWER: A STUDY OF THE MUNICIPALITY OF ARARAQUARA João Marino JÚNIOR ...................................................................................................................................................................................................................................41 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJACOM RESISTÊNCIAAO CANCRODA-HASTE PARACULTIVO EM ÁREAS DE REFORMADE CANAVIAL ESTIMATES THE PARAMETERS GENETICS IN EARLY SOYBEAN POPULATIONS WITH RESISTANCE TO STEM CANKER FOR PLANTING IN SUGAR CANE REFORMING AREAS Ivana Marino BÁRBARO1,2; Maria Aparecida Pessôa da Cruz CENTURION2; Antonio Orlando DI MAURO2; Laerte Souza BÁRBARO JÚNIOR3; Marcelo TICELLI1; Fernando Bergantini MIGUEL1; José Antônio Alberto da SILVA1; Marcelo Marchi COSTA2 ..................................................................................................................................................................................................................................53 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 AGRONOMIC PERFORMANCE OF SOYBEAN CULTIVARS IN COLINA-SP REGION, IN REFORM PASTURE AREA, AGRICULTURAL YEAR 2005/06* Laerte Souza BÁRBARO-JÚNIOR1; Ivana Marino BÁRBARO2; Vinícius Antonio MACIEL JÚNIOR3; Marcelo TICELLI4; Fernando Bergantini MIGUEL4; Paulo César RECO5; João Henrique BARBERO6 ................................................................................................................................................................................................................................63 TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO TEMPERATURE, pH AND SOFTNESS MEAT OF THE NELLORE STEERS FEED WITH TROPICAL GRASS OR CORN SILAGE Ricardo Linhares SAMPAIO1, Ricardo Dias SIGNORETTI2, Flavio Dutra de RESENDE2, Rogério Marchiori COAN3, Ricardo Andrade REIS4, Guilherme Fernando ALLEONI5, Marcelo Henrique de FARIA2, Gustavo Rezende SIQUEIRA2, Fernando Bergantini MIGUEL2 ..................................................................................................................................................................................................................................73 ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM BISCOITOS AMANTEIGADOS STUDY AND APPLICATION OF SORPTION ISOTHERMS DATA AND MATHEMATICAL MODELS FOR BISCUIT BUTTERED Ana Cláudia Bites ROMANINI1, Catharina Calochi Pires de CARVALHO1, Márcio Benjamin ZANI1, Sissi Kawai MARCOS2, Isabel Cristina Freitas MORAES2 e Romildo Martins SAMPAIO2 .................................................................................................................................................................................................................................83 Ciência e Cultura 9 10 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Estudo epidemiológico das hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias diagnosticadas no serviço de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia de Barretos. Epidemiologic study of the inflammatory epithelial-fibrous hyperplasia diagnosed in the Buccal Pathology service of the School of Dentistry of Barretos. Raphael Carlos Comelli LIA1, Renata Hebling MARINS1, Elizangela Partata ZUZA2 1 Professor da Disciplina de Patologia Bucal das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto - Barretos-SP - CEP 14783-226 2 Professora do Curso de Pós-Graduação em Periodontia das Faculdades Unificadas da Fundação Educacional de Barretos. RESUMO As hiperplasias fibroepiteliais inflamatórias (HFIs) caracterizam-se clinicamente por projeções exofíticas dos tipos abrangentes ou focais, as quais estão associadas a condições irritativas, podendo sofrer exacerbações inflamatórias sobretudo em áreas ulceradas. O objetivo deste estudo foi realizar um estudo epidemiológico retrospectivo regional, avaliando-se a prevalência das HFIs, de acordo com suas apresentações clínicas, distribuição idade/sexo e relação com os possíveis fatores causais. Neste estudo realizou-se um levantamento epidemiológico das HFIs na cidade de Barretos e região, avaliando-se arquivos do serviço de patologia do Centro de Diagnóstico e Prevenção (CDPrev) da Fundação Educacional de Barretos (FEB) no período de 2001 a 2006. Foram avaliados 968 prontuários que constavam análise histopatológica, sendo diagnosticados 249 casos de HFIs, cujas lâminas foram reavaliadas para confirmação diagnóstica. Os resultados mostraram que a prevalência geral de HFIs foi de 25,72%, sendo que 19,42% eram abrangentes e 6,3% focais. Houve maior acometimento no sexo feminino com proporção de 3:1 para as HFIs abrangentes e de 2:1 para as focais. Em relação à idade, a abrangente foi mais prevalente entre os 40 e 90 anos, enquanto as focais entre 60 e 80 anos. Todos os pacientes com HFIs abrangentes faziam uso de próteses totais ou parciais removíveis. Diante dos achados deste estudo, pode-se concluir que as HFIs estão entre os processos patológicos de alta prevalência na cavidade bucal, acometendo em maior proporção mulheres com ampla faixa etária (40 a 90 anos), estando relacionada com freqüência ao uso de aparelhos protéticos. Palavras-Chave: Hiperplasias reacionais, processos proliferativos, irritação local ABSTRACT The inflammatory epithelial-fibrous hyperplasias (IEHs) are clinically characterized by exofitic projections which can be extensive-type or focal-type and associated to irritative conditions suffering exacerbations mainly in ulcerated areas. The purpose of this study was to accomplish a retrospective regional epidemiologic study, evaluating the prevalence of IEHs and its clinical presentations, age/sex distribution and relationship with the possible causal factors. In this search it was achieved an epidemiologic observation of IEHs in the region of Barretos city, evaluating files of the pathology service of the Center of Diagnosis and Prevention (CDPrev) of the Barretos Educacional Foundation (BEF) in the period of 2001 to 2006. Ninety sixty-eight (968) files containing histopathologic analysis were evaluated, being diagnosed 249 cases of IEHs whose slides were revaluated for diagnostic confirmation. The results showed that the general prevalence of IEHs was 25.72% and that the 19.42% was extensive-type (ET) and 6.3% focal-type (FT). There was highest prevalence in the feminine sex with proportion of 3:1 for extensive-type and 2:1 to the focal ones. Concerning to the age, the extensive-type was more prevalent between 40 and 90 years old while the focal ones was between 60 and 80 years old. All the patients with IEHs extensive-type used total or partial removable prostheses. According with the results obtained it can be concluded that the IEHs are among the pathological processes of high prevalence in the buccal cavity, reaching in larger proportion women with wide age group (40 to 90 years old), being frequently related to the use of prosthetic apparatus. Keywords: Reactional hyperplasias, proliferative process, local irritation Ciência e Cultura 11 v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 INTRODUÇÃO LIA et al. (HOPPS e JOHNSON, 1974). Normalmente, tanto nas abrangentes quanto nas A mucosa bucal apresenta dois componentes focais, as lesões são de crescimento lento com tamanho estruturais básicos, o revestimento epitelial pavimentoso variável de menos de 1,0 centímetro, podendo atingir vári- estratificado e a lâmina própria, que são intimamente unidos os centímetros em seu maior eixo, além de envolverem a pela membrana basal, interagindo-se ininterruptamente. face vestibular sulcular do rebordo alveolar sendo ocasio- Esta mucosa pode ser caracterizada como mastigatória nais do lado lingual. Todavia, é importante ressaltar que (revestimento) ou especializada (ex. dorso da língua) não se limitam a essas localizações podendo estar pre- (BHASKAR, 1978), sendo que quando há interferências sentes em diversas áreas irritativas crônicas tanto na no ambiente bucal, com freqüência podem ocorrer mandíbula quanto na maxila. Predominam em adultos de evoluções adaptativas condicionadas ao estímulo, meia idade e em mais velhos, com predileção para o sexo ocasionando fenômenos hiperplásicos. feminino na proporção de 2:1 a 3:1 (BUCHNER et al., No fenômeno hiperplásico ocorre um aumento 1984). volumétrico tecidual caracterizado pelo aumento no nú- Tendo-se por base contestações sobre a mero de seus constituintes. São consideradas condições potencialidade agressiva dessa patologia (COELHO, adaptativas quando há estimulação da função especializada 1997), tornam-se necessárias pesquisas epidemiológicas da célula, evoluindo em decorrência de exigências funcio- que avaliem sua prevalência, aspectos clínicos mais fre- nais (GUIMARÃES, 1982; KUMAR et al., 2005). qüentes e os possíveis fatores relacionados à causa. Di- Nas hiperplasias fibroepiteliais inflamatórias ante de tais considerações, o objetivo deste estudo foi re- (HFIs) da mucosa bucal, a irritação crônica persistente alizar um estudo epidemiológico retrospectivo regional, determinada por vários fatores locais, modula a resposta avaliando-se a prevalência das HFIs de acordo com suas inflamatória e a evolução reparativa com crescimento apresentações clínicas em função da faixa etária/sexo e tecidual. Uma interação de fatores como trauma e uma relação com os possíveis fatores causais. complexa flora microbiana atuante, aceleram e intensificam a resposta inflamatória, a qual evolui com excessiva MATERIAL E MÉTODOS proliferação miofibroangioblástica e subseqüente envolvimento colagênico com densidade progressiva ha- Neste estudo realizou-se um levantamento bitual (PRIDDY, 1992; LIA et al., 2002; LIA et al., 2004). epidemiológico na cidade de Barretos e região, avaliando- No revestimento epitelial observa-se aumento populacional se fichas clínicas do serviço de patologia do Centro de envolvendo suas camadas, e na lâmina própria destaca- Diagnóstico e Prevenção (CDPrev) do Curso de Odonto- se o incremento da síntese de colágeno pelos fibroblastos logia da Fundação Educacional de Barretos (FEB), em induzidos por citocinas (NAKAO et al., 1995). que constavam a realização de biópsias excisionais ou As HFIs caracterizam-se clinicamente como incisionais realizadas na própria instituição ou em clínicas abrangentes, por projeções exofíticas (únicas ou múltiplas) da região, que foram encaminhadas para análise freqüentemente observadas como reação tecidual junto histopatológica. às dobras de uma prótese total mal adaptada (chamada No período de maio 2001 a junho 2006 foram ava- na literatura por “hiperplasia fibrosa inflamatória”) liados 968 prontuários, sendo que foram considerados para (BOLDINE, 1969; BUCHNER et al., 1977; BUDTZ- esta pesquisa somente os casos diagnosticados como HFIs, JORGENSEN, 1981) ou como focais polipóides associa- cujas lâminas histológicas foram reavaliadas evidencian- das à irritação (conhecidas como pólipos fibro-epiteliais). do-se os eventos especiais e os achados referenciais para Esses processos são habitualmente consistentes e róseos, configuração diagnóstica. É importante ressaltar que to- podendo exibir áreas de menor densidade, eritematosas das as lâminas foram analisadas por um único examina- e/ou ulceradas associadas a exacerbações inflamatórias dor experiente quanto aos parâmetros de diagnóstico das 12 Ciência e Cultura ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 lesões, sendo que este não deveria examinar mais que 20 Em relação ao uso de aparelhos protéticos, 100% dos lâminas por dia, no intuito de não causar vieses devido ao pacientes com HFIs abrangentes utilizavam próteses to- cansaço visual e mental. A maioria dos cortes histológicos tais, enquanto os casos de HFIs focais estavam relacio- apresentavam-se corados em Hematoxilina e Eosina (H.E) nados a outros fatores de irritação, tais como traumas de e alguns deles também por Tricômico de Masson. grampos de próteses parciais removíveis, aparelhos O propósito da avaliação dos prontuários foi para verificação da prevalência das HFIs de acordo com seus ortodônticos, hábitos de morder os lábios e bochechas, dentre outros. aspectos clínicos (abrangente ou focal), considerados pe- Grande parte dos estudos que avaliaram a prevalência las suas extensões demarcadas nas fichas histopatológicas. de lesões na cavidade bucal, sugeriram que a “hiperplasia Avaliou-se a distribuição por idade/sexo, sendo que tam- fibrosa inflamatória” é a entidade mais comum dentre as bém foi verificada (sobretudo na condição abrangente) a lesões proliferativas não-neoplásicas (CRUZ et al., 2005; inter-relação com o uso de próteses totais ou parciais re- GOMEZ et al., 1992; INOJOSA- MARIN, 1998; ISRA- movíveis. EL et al., 2003; LEONEL et al., 2002; SANTOS et al., Independente de ser HFI abrangente ou focal, as 2002; VIER et al., 2004). Como a “hiperplasia fibrosa in- características histopatológicas observadas foram: incre- flamatória” e os “Pólipos fibro-epiteliais” apresentam as mento de tecido conjuntivo fibroso com feixes densos de mesmas características histológicas, diferenciando-se ape- fibras colágenas multidirecionais, celularidade regular e nas em sua extensão clínica e fatores causais, neste estu- vascularização variável com infiltrado inflamatório do ambos foram classificados genericamente como subepitelial e perivascular de prevalência mononuclear Hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs), discreta e/ou moderada (intensidade diversa), em áreas abrangentes (referente a “Hiperplasia fibrosa inflamató- edemaciadas. Foram observados a presença de eosinófilos ria) ou focais (referente aos pólipos fibro-epiteliais), as e de eventuais folículos linfóides. No revestimento epitelial quais podem sofrer exacerbações inflamatórias sobretu- considerou-se predomínio de regiões hiperplásicas carac- do em áreas ulceradas. terizadas por aumento basilar, acantose, e cristas A prevalência geral de HFIs nesta pesquisa foi de 249 interpapilares adelomorfas por vezes hiperparaceratóticas/ casos, totalizando 25,72%. Um estudo que encontrou hiperortoceratóticas. prevalência similar foi o de Vier et al. (2004), em que os autores avaliaram lesões bucais biopsiadas e constataram RESULTADOS E DISCUSSÃO que a HFI foi a lesão mais comum, atingindo 28,6% de todos os casos avaliados. Outros estudos também mos- Do total dos 968 prontuários histopatológicos exami- traram prevalências consideráveis de HFI, porém em por- nados, 249 foram diagnosticados como HFIs, totalizando centagens variáveis como por exemplo, as pesquisas de sua prevalência geral em 25,72%. Dos 249 casos diag- Leonel et al. (2002) com 20%, a de Israel et al. (2003) nosticados como HFI, 188 (19,42%) foram caracteriza- com 16,6%, a de Zanetti et al. (1996) com 15% e a de das como lesões abrangentes e 61 (6,3%) como focais Inojosa-Marin (1998) com 14%. Da literatura pesquisada, (pólipos fibroepiteliais inflamatórios) (gráfico 1). somente o estudo de Castro (1997) mostrou baixa ocor- A distribuição por idade nos casos com HFIs abrangentes demonstrou ocorrência a partir dos 20 anos, rência de HFI, totalizando apenas 2,9% de todas as lesões bucais. com concentração maior entre 40 e 90 anos (Gráfico 2). Além da prevalência geral de HFIs, nosso estudo Já nos casos de HFIs focais houve prevalência nas ida- se propôs avaliar a ocorrência dessa lesão de acordo com des entre 60 e 80 anos (Gráfico 3). A prevalência de HFIs os tipos de HFIs (abrangentes ou focais), sendo que as foi maior nas pacientes do sexo feminino, numa propor- abrangentes foram encontradas em 19,42% dos casos e ção de aproximadamente 3:1 nas abrangentes e 2:1 nas as focais em apenas 6,3%. Nos estudos confrontados, focais. nenhum se preocupou em avaliar a prevalência de HFIs Ciência e Cultura 13 LIA et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 levando-se em consideração os tipos supracitados. diagnóstica com um sarcoma por patologistas menos ex- Em nossa casuística, a maioria dos casos de HFIs perientes (CUTRIGHT, 1972). Em nossa amostragem, ocorreu em pacientes do sexo feminino numa proporção este fenômeno foi observado em apenas 2 casos como de 3:1 (abrangentes) e de 2:1 (focais). O fato da maior focos eventuais representados por osteóide e osso madu- prevalência ocorrer em mulheres está de acordo com al- ro, considerado como produção reacional devido a irritação guns estudos da literatura (ALVES e GONÇALVES, crônica, não devendo ser confundido com fibroma 2005; CASTRO, 1997; CRUZ et al., 2005; INOJOSA- ossificante ou mais raramente com um padrão de sarcoma, MARIN, 1998; ZANETTI et al., 1996). Enquanto Corbet pela natureza irregular do osso e/ou cartilagem formados. (1964) não encontrou diferenças na prevalência entre se- Em algumas ocasiões o processo hiperplásico xos, independente da idade, Santos et al. (2002) afirmou apresenta padrão de hiperplasia papilar inflamatória, po- não haver diferenças entre sexos apenas em adultos. Já dendo inclusive atingir aspecto pseudo-epiteliomatoso, o Penha (2001) sugeriu não haver diferença significativa na qual não deve ser confundido com um carcinoma freqüência de lesões de mucosa bucal entre sexos, exceto (NEVILLE et al., 2004). Este fenômeno também foi ve- quando da utilização de próteses, em que se observa mai- rificado nesta pesquisa em 2 casos, observando-se áreas or prevalência de lesões no sexo feminino. Alguns levan- de hiperplasia papilar inflamatória com focos de hiperplasia tamentos têm sugerido que a predileção por mulheres pseudo-epiteliomatosa. deve-se ao fato de viverem mais, apresentarem-se com Conforme relato de alguns autores, o desenvolvi- assiduidade às consultas odontológicas, usarem próteses mento de HFIs abrangentes relativo ao tempo de uso de com mais freqüência e por um período maior de tempo, próteses totais, variou desde 1 ano a mais de 30 anos de além de apresentarem mudanças hormonais significati- utilização, predominando após 5 anos de uso (COELHO, vas durante toda a vida (BUCHNER et al., 1984). 1997; JONES, 1976; KENG e LOH, 1989; A distribuição por idade nos casos abrangentes, NORDENRAM e LANDT, 1969). considerados pelas suas extensões descritas na ficha Há uma forte associação entre o uso de próteses histopatológica, envolveu em maior proporção pacientes removíveis (totais ou parciais) e o aparecimento de lesões entre 40 e 90 anos, estando em conformidade com o ob- bucais, fato confirmado no estudo de Penha (2001), em servado por Coelho (1997). Já nos casos focais a maior que o autor verificou que dos 135 pacientes que utiliza- concentração de casos ocorreu entre 60 e 80 anos. vam algum tipo de prótese, 63 (46.6%) apresentavam le- As HFIs focais denominadas de pólipos fibroepiteliais (sésseis ou pediculados), foram consideradas sões relacionadas ao uso das mesmas, como estomatite protética e “hiperplasia fibrosa inflamatória”. neste estudo como um tipo de HFI devido à característica Em nosso estudo verificou-se que 100% dos pa- reacional inflamatória, sendo relativamente freqüentes e cientes com HFIs abrangentes, utilizavam próteses totais. com um diagnóstico clínico diferencial confuso em rela- De acordo com Tamaki et al. (1993), as próteses dentárias ção a outros processos focais, tais como fibroma de muco-suportadas mal adaptadas ou frente ao seu uso pro- irritação e papiloma escamoso. Uma situação menos fre- longado e contínuo, podem ser consideradas como agen- qüente dentre as HFIs focais é aquela considerada como tes físicos irritantes aos tecidos bucais, levando-os a uma “fibroma por dentadura semelhante a folha”, condição reação crônica caracterizada na maioria das vezes pela peculiar de massa rósea achatada com pedículo estreito formação de processos proliferativos não-neoplásicos. inserido no palato, ajustada usualmente em leve depressão sob uma prótese total (NEVILLE et al., 2004). Considerando-se a importância das hiperplasias reacionais inflamatórias como um todo, torna-se funda- Ocorrência reacional incomum pode ser obser- mental um correto enquadramento dessas lesões no qua- vada nas HFIs, tais como formação irregular de estrutu- dro de classificação dessas patologias no intuito de facili- ras osteóides e/ou condróides conhecida como “metaplasia tar o entendimento na literatura corrente. Dessa forma, a óssea e condromatosa”, a qual pode trazer confusão seqüência de novos trabalhos de pesquisa abrangendo 14 Ciência e Cultura ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS. levantamentos epidemiológicos, deverão apresentar subsídios importantes no que concerne às hiperplasias fibroepiteliais inflamatórias. Verifica-se contudo, a necessidade de estudos retrospectivos e prospectivos, que avaliem o grau de recidiva das lesões, os tratamentos indicados, os tipos de evoluções reacionais e as características proliferativas das mesmas. CONCLUSÕES Diante dos achados deste estudo, pode-se concluir que: 1. As Hiperplasias Fibroepiteliais Inflamatórias (HFIs) estão entre os processos patológicos de alta prevalência na cavidade bucal, atingindo 25,72% dos casos avaliados. 2. Acometem mulheres na maior parte dos casos, v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 BUCHNER, A.; BEGLEITER, A.; HANSEN, L.S. The predominance of epulis fissuratum in females. Quintessence International, v.15, p.699-702, 1984. BUCHNER, A.; CALDERON, S.; RAMON, Y. Localized hyperplastic lesions of the gingival: a clinicopathological study of 302 lesions. Journal of Periodontology, v.48, p.101104, 1977. BUDTZ-JORGENSEN, E. Oral mucosal lesion associated with the wearing of removable dentures. Journal of Oral Pathology, v.10, n.2, p.65-80, 1981. CASTRO, A.L. Hiperplasia fibrosa inflamatória de fórnix do vestíbulo bucal: estudo clínico e histológico de 665 casos. Araçatuba-SP: Tese de Livre Docente em Diagnóstico Bucal, Faculdade de Odontologia, Universidade Estadual Paulista, 1997. sendo observadas numa proporção 3:1 nos casos de HFIs abrangentes e de 2:1 nas focais. 3. De maneira geral, as HFIs abrangentes e focais atingem indivíduos com ampla faixa etária de 40 a 90 anos, estando com freqüência relacionadas COELHO, C.M.P. Hiperplasia fibro-epitelial inflamatória. Epidemiologia e atividade proliferativa celular epitelial. Ribeirão Preto, SP: Tese Mestrado em Patologia Experimental, Faculdade de Medicina, Universidade de São Paulo, 1997. ao uso de aparelhos protéticos, principalmente nos casos abrangentes (100% dos casos). AGRADECIMENTOS À Teresinha de Jesus Borin Carvalho, técnica do laboratório de Patologia Bucal, que realizou a preparação das lâminas histológicas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVES, N.C.; GONÇALVES, H.H.S.B. Estudo descritivo da ocorrência de hiperplasias fibrosas inflamatórias observadas no serviço do laboratório de histopatologia bucal da Faculdade de Odontologia de Marília. Revista Paulista de Odontologia, v.27, n.4, p.4-8, 2005. BHASKAR, S.N. Histologia Oral de Orban. 8ª ed. São Paulo: Artes Médicas, 1978. BOLDINE, R.L. 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ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DAS HIPERPLASIAS FIBRO-EPITELIAIS INFLAMATÓRIAS DIAGNOSTICADAS NO SERVIÇO DE PATOLOGIA BUCAL DA FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BARRETOS. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Gráfico 1 - Relação entre o total de biópsias realizadas e as diagnosticadas como hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs) abrangentes e focais. Gráfico 2 – Distribuição por faixa etária da porcentagem de hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs) abrangentes, segundo o sexo. Gráfico 3 - Distribuição por faixa etária da porcentagem de hiperplasias fibro-epiteliais inflamatórias (HFIs) focais, segundo o sexo. Ciência e Cultura 17 18 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 DEGRADAÇÃO OXIDATIVA DE UM POLUENTE ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIO AQUOSO UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO OXIDATIVE DEGRADATION OF AN ORGANIC POLLUTANT (P-NITROPHENOL) IN AQUEOUS SOLUTION BY USING POTASSIUM FERRATE Jeosadaque J. SENE1, Angelo Ricardo Fávaro PIPI1, Luis Rogerio DINELLI1, Paola Daniele MARRETO2, Sônia Maria Alves JORGE3, Maria Valnice Boldrim ZANONI4. 1 Fundação Educacional de Barretos. Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto - Barretos-SP - CEP 14783-226 -e-mail: [email protected] Universidade Federal de São Carlos – Departamento de Química – CDMDC – LIEC 3 Departamento de Química e Bioquímica, Instituto de Biociências, UNESP, Botucatu 4 Instituto de Química de Araraquara – UNESP 2 RESUMO Ferrato de potássio é um forte agente oxidante devido à o efeito eletrolítico só é significativo nos dez minutos inici- presença do ferro no estado Fe (VI) que pode ser reduzi- as do experimento em razão da adsorção do produto da do a ferro (III) recebendo três elétrons. Esta propriedade redução do íon ferrato, hidróxido de ferro (III) coloidal, na faz com que os ferratos apresentem grande potencial como superfície do eletrodo. O efeito eletrolítico mais significa- agentes oxidantes de poluentes em meio aquoso. O p- tivo foi obtido com a aplicação de potencial de -0,5 V nitrofenol (PNP) é uma substância carcinogênica empre- (Ag/AgCl sat.). Quanto à oxidação estritamente homo- gada como reagente na síntese orgânica de corantes e gênea, as melhores condições encontradas para a degra- fungicidas, entre outros. Seus efeitos poluentes, entretan- dação do PNP foram em pH 10. Neste caso, cerca de to, o tornam um dos agentes mais perigosos no ambiente. 71,4% do PNP foi degradado pelo íon ferrato num perío- Neste trabalho, investigou-se a cinética da reação de oxi- do de uma hora. A aplicação de um potencial elétrico dação do PNP pelo ferrato de potássio em meio de tam- concomitante ao processo homogêneo não teve nenhum pão fosfato/borato na faixa de pH de 8 a 12. Ao lado da efeito na porcentagem de degradação do PNP, conside- oxidação homogênea foram conduzidos experimentos rando o período experimental de uma hora. eletroliticamente assistidos utilizando eletrodo de platina com o objetivo de gerar espécies intermediárias entre os Palavras-Chaves: Ferrato, Fe (VI), p-nitrofenol, degra- estados Fe (III) e Fe (VI). Os resultados mostraram que dação, poluentes, estudo cinético. ABSTRACT Potassium ferrate is a strong oxidant agent due to the presence of Fe (VI). This compound has the ability to accept a total of three electrons from organic and inorganic pollutants. 4-nitrophenol is one of the most dangerous substances found in the environment due to its use as precursor reagent in the synthesis of textile dyes and fungicides. In this report, a kinetic study is presented addressing the oxidation of 4-nitrophenol by the action of ferrate ion in a borate/phosphate buffer solution in the range of pH 8 to 12. In addition to the homogeneous oxidation, electrolytically assisted degradation were carried out with the aim to investigate the possibility to generate species such as Fe (IV) and/or Fe (V), which are claimed to be more reactive than Fe (VI). The results have showed that the electrolytic effect is effective only in the first ten initial minutes once the colloidal iron (III) hydroxide has the ability to adsorb on the electrode surface. As a result of this adsorption, only the homogeneous oxidation prevails after ten minutes. The best condition found to the degradation of the 4-nitrophenol by the ferrate ion is in pH 10, which gave a 71.4% of degradation in one hour period. During this time, the assistance of electrolysis has no positive net result. Keywords: Ferrate, Fe (VI), 4-nitrophenol, degradation, pollutants, kinetic study. Ciência e Cultura 19 SENE et al. v. 2, nº 2, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 INTRODUÇÃO (1997), relataram a oxidação de sulfeto de hidrogênio com Fe(VI) em função do pH e da temperatura e determina- O tratamento e a reciclagem de resíduos urbanos, in- ram que a reação é de primeira ordem em relação a cada dustriais e rurais utilizando tecnologias e processos limpos um dos reagentes. O estudo demonstrou que os ferratos são um dos principais desafios enfrentados pela socieda- oferecem vantagens na remoção de H2S de ambientes de moderna. Nações industrializadas vêm se deparando em que este poluente se forma devido à ação antrópica, com grandes problemas ambientais relacionados à elimi- tais como lagos, rios e esgotos doméstico e industrial. nação de lixo e dejetos, descontaminação de efluentes in- Huang et al (2001), determinaram parâmetros cinéticos dustriais para reuso da água e o controle de contaminantes da oxidação de fenol com Fe(VI) em solventes isotópicos. no ar devido às atividades civis, militares e comerciais Demonstrou-se que a oxidação ocorre em várias etapas, (HOFFMANN et al, 1995). No Brasil, devido ao uso crô- sendo a primeira uma etapa rápida com formação de Fe(V) nico de pesticidas na agricultura, a utilização de mercúrio e um radical instável que é oxidado em etapas consecuti- em atividades de mineração e o tratamento de resíduos e vas pelo Fe(V) a bifenóis. efluentes oriundos dos diversos ramos industriais, tais como Embora os ferratos sejam conhecidos há longo tempo, a indústria têxtil e papeleira, a indústria do açúcar e álco- seu emprego na remediação química em larga escala ain- ol, entre outras, faz-se necessário o desenvolvimento de da é incipiente. Recentemente, Licht e Yu (2005) relata- métodos baratos e simples que possam ser eficientemen- ram a geração eletroquímica de ferratos para fins de te aplicados na remediação e despoluição ambiental. remediação de efluentes orgânicos e inorgânicos. Sharma Neste sentido, os processos oxidativos avançados ofe- et al. (2005) estudaram a oxidação de cianeto de cobre(I) recem uma grande vantagem sobre os demais métodos utilizando Fe(VI) e Fe(V). Os resultados mostraram que uma vez que têm o potencial de promoverem a degrada- Fe(VI) é altamente eficiente na remoção dos cianetos de ção de poluentes e resíduos orgânicos em CO2 e água. efluente das minas de ouro. He et al. (2005) apresenta- Compostos de ferro no estado 6+ tais como ferrato de ram um relato da síntese eletroquímica de ferrato em meio potássio (K2FeO4) apresentam um grande potencial na de KOH utilizando um fio de ferro como ânodo. O méto- remediação de poluentes em meio aquoso por serem for- do apresentou eficiência de 73,2% atingindo purezas da tes agentes oxidantes. Esta característica permite que os ordem 95,3-98,1% e rendimento de 49 g/L de K2FeO4. ferratos possam ser utilizados na oxidação de substratos Uma revisão da literatura sobre o progresso na prepara- orgânicos em amostras de interesse ambiental com van- ção e emprego de compostos de Fe(VI) como oxidante e tagem sobre outros agentes oxidantes devido à eficiência coagulante para tratamento de água e de resíduos aquo- e ao baixo risco de toxicidade apresentado pelo ferro. Res- sos encontra-se disponível na literatura (JIANG e Lloyd, salta-se que devido à dupla ação dos ferratos (forte agen- 2002). te oxidante e coagulante), estes compostos podem agir como desinfetantes de microorganismos, podem degra- Dentre os muitos poluentes orgânicos encontrados no dar impurezas orgânicas e inorgânicas, além de atuarem ambiente encontra-se o p-nitrofenol, reagente com eficiência na remoção do material coloidal em sus- carcinogênico muito utilizado em síntese orgânica de pensão. corantes, fungicidas, entre outros (USEPA, 1999). Consi- A síntese e emprego de compostos de ferro (VI) como derando a importância do tratamento de efluentes con- agente oxidante de amplo uso têm sido investigados des- tendo esse tipo de poluente, este trabalho apresenta um de longa data (SCHREYER et al, 1951). Delaude e Lazlo estudo cinético da degradação do p-nitrofenol utilizando- (1986) relataram a síntese de ferrato de potássio e o seu se ferrato de potássio como agente oxidante. Discute-se emprego na oxidação de vários substratos orgânicos, en- a influência do pH e o efeito do potencial elétrico na gera- tre os quais diversos tipos de álcool, tióis, aminas, oximas, ção de espécies intermediárias às espécies Fe(III) e Fe(VI) acetofenonas e diversos hidrocarbonetos. Sharma et al geradas num eletrodo de platina. 20 Ciência e Cultura DEGRADAÇÃO OXIDATIVA DE UM POLUENTE ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIO AQUOSO UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO MATERIAL E MÉTODOS v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 interface para microcomputador utilizando-se o software Hachcapture. Ferrato de potássio foi sintetizado segundo procedimento descrito por Delaude e Lazlo (1986). Resumida- RESULTADOS E DISCUSSÃO mente, Fe(III) é oxidado a Fe(VI) por hipoclorito de potássio em solução concentrada de KOH. Em seguida, Espectros de absorção no UV-Visível registrados com K2FeO4 é precipitado em solução saturada de KOH e, soluções de ferrato de potássio [FeO42-] = 7,5·10-4 mol após filtração, purificado por lavagens consecutivas utili- L-1, de p-nitrofenol [PNP] = 3,3·10-5 mol L-1 e da mistura zando pentano, metanol e éter. O composto obtido pode de volumes iguais das duas soluções, todas em pH = 10, ser recristalizado em solução saturada de KOH. É obtido são mostrados na Figura 1. Ferrato de potássio apresenta um sólido cristalino de cor preta, relativamente estável um pico de absorção máxima em 505 nm, enquanto que em ambiente seco e, portanto, deve ser armazenado em PNP tem seu máximo de absorção em 400 nm. Quando dessecador. O grau de pureza foi avaliado pelo método se misturam quantidades iguais das duas soluções, o pico titulométrico da cromita (SCHREYER et al, 1950) utili- referente ao PNP torna-se igualmente pronunciado devi- zando sulfonato de sódio difenilamino como indicador. do à contribuição da absorbância do íon ferrato no com- Medidas visando estabelecer a cinética da reação de primento de onda de 400 nm. Entretanto, o espectro da oxidação do p-nitrofenol pelo íon ferrato foram realizadas mistura é suficientemente bem resolvido para permitir o em experimentos com duração de uma hora, sendo os monitoramento da degradação do PNP por medidas de espectros de absorção registrados no UV-Visível em in- absorbância no comprimento de onda do máximo de ab- tervalos de cinco minutos. Os experimentos foram con- sorção, ao mesmo tempo em que se pode acompanhar o duzidos em pH 8, 9, 10, 11 e 12. A porcentagem de degra- curso da redução do íon ferrato no comprimento de onda dação do p-nitrofenol foi calculada em função das medi- de 505 nm. das espectrofotométricas utilizando a lei de Lambert-Beer e um coeficiente de absortividade molar do íon ferrato de 1175. O eletrólito suporte foi uma solução tampão contendo 0,005 mol L–1 de fosfato e 0,001 mol L–1 de borato, cujo pH foi ajustado com solução diluída de hidróxido de sódio. Soluções diluídas de ferrato de potássio são relativamente estáveis nessa solução tampão devido à ação complexante do fosfato sobre os cátions Fe (III) que, de outro modo, atuaria como catalisador da decomposição do íon ferrato. Foi utilizado um eletrodo de trabalho de platina nos experimentos de degradação do PNP eletroliticamente assistidos. O eletrodo auxiliar também foi de platina e os potenciais foram medidos com referência ao eletrodo de Ag/AgCl saturado. As medidas eletroquímicas foram conduzidas com a Figura 1. Espectros de absorção no UV-Visível de soluções individuais de: (A) p-nitrofenol [PNP] = 3,3·10-5 mol L-1, (B) ferrato de potássio [FeO42-] = 7,5·10-4 mol L-1e (C) após 30 segundos da mistura de volumes iguais de ambas as soluções. Tampão fosfato/ borato pH 10. utilização de um Potenciostato/Galvanostato modelo µAUTOLAB Type III acoplado a um microcomputador e Degradação do PNP em função do tempo o programa de aquisição de dados foi o GPES Manager. Neste estudo, a degradação do PNP pelo íon ferrato Os espectros de absorção no UV-Visível foram registrados foi investigada em solução tampão de fosfato/borato, meio em um espectrofotômetro HACH, modelo DR/4000U com no qual Fe (VI) é relativamente mais estável do que em Ciência e Cultura 21 SENE et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 outros eletrólitos. Desse modo, a Figura 2 mostra a de- registrados a cada cinco minutos no período experimental gradação do PNP pelo íon ferrato em pH 10 cujos espec- de uma hora nas mesmas condições do experimento da tros foram registrados a cada cinco minutos no período de Figura 2 acrescido da assistência eletrolítica. Pode-se uma hora. Como se pode observar, a diminuição da observar que a velocidade inicial de degradação do PNP, absorbância em 400 nm devida ao PNP é acompanhada e concomitantemente da redução do íon ferrato, é pela diminuição gradual da absorbância devida ao íon grandemente afetada pela aplicação do potencial elétrico ferrato em 505 nm, indicando que a reação entre os aplicado ao eletrodo de platina mergulhado no meio substratos não é estequiometricamente unitária. Através reacional. de cálculos utilizando os valores de absorbância em cada pico, determinou-se que houve 71,4% de degradação da concentração de PNP no período de uma hora. No mesmo período experimental, o íon ferrato reduziu-se cerca de 54,0%, como mostra a Tabela 1. Figura 3. Espectros de absorção no UV-Visível da mistura de soluções de p-nitrofenol (PNP) com ferrato de potássio, pH 10, medidos em intervalos de 5 minutos, sob agitação, com aplicação de potencial elétrico constante de -0,5 V sobre eletrodo de platina. Figura 2. Espectros de absorção no UV-Visível da mistura de soluções de p-nitrofenol (PNP) com ferrato de potássio, pH 10, Comparando as Figuras 2 e 3, pode-se observar que a medidos em intervalos de 5 minutos, sob agitação, sem aplica- taxa de degradação nos primeiros dez minutos de experi- ção de potencial elétrico. mento é visivelmente maior quando se aplica o potencial elétrico ao eletrodo de platina. Cerca de 24,0% de PNP Com base no relato de Sharma et al (2005) de que Fe foram degradados no experimento conjugado contra ape- (V) e Fe (IV) podem ser gerados em solução, sendo a nas 17,3% no experimento simples nos primeiros dez mi- cinética de sua reação três ordens de magnitude mais rá- nutos de experimento. No caso do íon ferrato, conside- pida do que a do próprio Fe (VI), investigou-se a possibi- rando os mesmos dez minutos iniciais, a diferença é ainda lidade de gerar algum desses intermediários através de mais pronunciada, de 21,0% contra 11,6%. Esses resulta- experimentos eletrolíticos. Com este objetivo, alguns ex- dos demonstram que possivelmente Fe (V) e/ou Fe (IV) perimentos de oxidação homogênea foram assistidos por é gerado eletroliticamente no eletrodo de platina. Sendo uma eletrólise simultânea com o objetivo de se verificar essas espécies extremamente reativas, seu tempo de vida se a presença desses intermediários altera a cinética da é bastante reduzido. Assim, tanto a própria água quanto reação. Para isso, utilizou-se um eletrodo de platina ao PNP podem ser oxidados por essas espécies intermediá- qual se aplicou um potencial elétrico constante tendo como rias. referência o eletrodo de Ag/AgCl saturado. A Figura 3 Entretanto, analisando os dados apresentados na Ta- mostra espectros da mistura de soluções de PNP e ferrato bela 1, observa-se que no período total de uma hora, a 22 Ciência e Cultura DEGRADAÇÃO OXIDATIVA DE UM POLUENTE ORGÂNICO (P-NITROFENOL) EM MEIO AQUOSO UTILIZANDO FERRATO DE POTÁSSIO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 degradação de PNP não difere significativamente nos dois Pela análise dos dados apresentados nessa tabela, experimentos. Isto pode ser explicado pelo fato de que foi pode-se observar que a velocidade da reação de degra- observada a formação de um filme de hidróxido de ferro dação do PNP aumenta nos experimentos eletroliticamente (III) na superfície do eletrodo nos experimentos assistidos, atingindo um valor máximo em -1,0 V. Por ou- eletrolíticos. O produto final da redução do íon ferrato em tro lado, a maior velocidade de redução do íon ferrato é meio aquoso é o íon Fe (III) que em meio básico precipita obtida em potencial de -0,5 V, o que pode ser relacionado na forma de Fe(OH)3. Este precipitado tem a proprieda- com o potencial de redução do Fe (VI) no íon ferrato para de de adsorver na superfície do eletrodo passivando-o pela Fe (V) ou Fe (IV). Considerando que o íon ferrato reduz- formação de uma película que impede a geração hetero- se em meio aquoso com a transferência de três elétrons gênea de espécies reativas adicionais. Assim, após a em duas ou três etapas consecutivas, indo finalmente a passivação do eletrodo, a oxidação homogênea do PNP Fe (III), pode-se inferir que no potencial de -1,0 V a mai- pelo íon ferrato é o processo preponderante. or parte da energia seria gasta na formação de Fe (III), em detrimento das espécies intermediárias, mais reativas. Tabela 1. Porcentagem de degradação de p-nitrofenol pelo ferrato de potássio em meio aquoso, pH 10, com e sem aplicação de um potencial elétrico. Não eletrolítica A figura 4 mostra as constantes de velocidade refe- Eletrolítica (E = -0,5 V) PNP 71,4% 71,3% Fe (VI) 47,0% 52,0% Influência do pH rentes à oxidação do p-nitrofenol pelo ferrato de potássio calculadas a partir de medidas de absorbância realizadas em diferentes valores de pH. Essas constantes foram calculadas considerando-se que a oxidação do substrato Influência da magnitude do potencial Tendo sido observado que a aplicação de um potencial elétrico tem efeito sobre a velocidade de degradação inicial do PNP pelo íon ferrato em meio aquoso, experimentos foram conduzidos variando-se a magnitude desse potencial, no sentido de se determinar a melhor condição experimental. Para isso, experimentos em pH 10 de tampão fosfato/borato foram executados em diferentes valores de potencial. Cada experimento teve a duração de uma hora, sendo os espectros registrados em intervalos de cinco minutos. A Tabela 2 mostra as constantes de velocidade calculadas com os dados de absorbância obtidos nos comprimentos de onda de 400 e de 505 nm, referentes à degradação do PNP e à redução do íon ferrato, respectivamente. segue uma lei de velocidade de pseudo-primeira ordem, como tem sido observado para um grande número de poluentes orgânicos (HOIGNE, 1990). Pode-se observar que a velocidade da reação de oxidação do p-nitrofenol pelo íon ferrato atinge seu maior valor em pH 12, embora a redução do próprio íon ferrato seja mais rápida em pH menor que 10. Essa aparente discrepância pode ser explicada pela baixa estabilidade do íon ferrato em meios ácido e neutro. Nessas condições de pH, grande parte da concentração do íon ferrato é perdida na oxidação do próprio solvente. O potencial padrão de redução do íon ferrato em meio ácido (pH 0) é da ordem de 2,20 V. Já em meio básico (pH 14) é cerca de 0,70 V. Embora esses dados de potencial não forneçam informações cinéticas sobre a redução Tabela 2. Constantes de velocidade da oxidação de pnitrofenol com ferrato de potássio em meio aquoso, pH desse íon, é de se esperar que o alto valor do potencial padrão em meio ácido seja o responsável pela grande afinidade do íon ferrato por qualquer espécie em meio aquo- 10, com e sem aplicação de potencial. E (V) 400 nm 505 nm so, inclusive a água, levando á sua grande instabilidade s/p 0,67 0,65 em meio de pH < 10. Essas considerações justificam o -0,3 0,58 0,67 motivo pelo qual a maior parte dos experimentos desse -0,5 0,73 4,20 estudo foram conduzidos em pH 10, pois nessas condi- -1,0 2,90 3,62 ções o íon ferrato é estável o suficiente para a execução Ciência e Cultura 23 SENE et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 do experimento de modo que apenas o substrato orgânico seja oxidado. Embora a degradação de p-nitrofenol tenha sido investigada por métodos microbiológicos, experimentos utilizando processos oxidativos, como o relatado neste trabalho, raramente têm sido publicados. Apenas recentemente, Jorge et al. (2005) relataram a degradação de PNP utilizando eletrodo de filme fino de dióxido de titânio. O efeito de diferentes eletrólitos suporte, pH, potencial elétrico e concentração foram estudados e discutidos. Foi relatado que em meio de perclorato como eletrólito suporte em pH 2,0 obteve-se 60,0% de remoção do carbono orgânico total quando se aplicou potencial de -1,0 V (ECS) em experimento com duração de três horas. A degradação com ferrato, relatada aqui, atingiu cerca de 71,4% de PNP. Entretanto, a análise de carbono orgânico total não Figura 4. Constantes de velocidade da oxidação do p-nitrofenol por ferrato de potássio em função do pH;(---) Fe (VI); (———) PNP foi realizada, pois o objetivo foi relatar o comportamento cinético da degradação. Um relato mais completo do tratamento desse poluente está em preparação, incluindo análise da remoção do carbono orgânico total. CONCLUSÕES AGRADECIMENTOS A degradação de p-nitrofenol pela oxidação em meio Fapesp Processo 04/12728-0 aquoso de tampão fosfato/borato utilizando o íon ferrato foi investigada através de um estudo cinético monitorado por medidas de absorbância no UV-Visível. A degrada- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ção em meio estritamente homogêneo foi comparada com a degradação assistida por um experimento eletrolítico si- DELAUDE, L.; LAZLO, P. A novel oxidizing reagent multâneo onde se objetivou a geração de Fe (V) e/ou Fe based on potassium ferrate (VI). J. Org. Chem., v. 61, p. (IV) cuja ação provocou um aumento significativo da ve- 6360-6370, 1986. locidade de consumo do substrato nos dez minutos iniciais do experimento. Este resultado foi explicado pelo fato de HE, W.; WANG, J.; SHAO, H.; ZHANG, J.; CAO, C. que o produto da redução de Fe (VI) em meio básico é o Novel KOH electrolyte for one-step electrochemical hidróxido de ferro (III) coloidal que tem a propriedade de synthesis of high purity solid K2FeO4: comparison with adsorver na superfície do eletrodo, diminuindo o efeito NaOH. Electrochemistry Communications., v. 7, p. 607- positivo na cinética da reação, depois dos dez minutos ini- 611, 2005. ciais. Demonstrou-se que a velocidade de degradação do PNP é dependente do pH do meio, não só pelo grau de HOFFMANN, M. R.; MARTIN, S. T.; CHOI, W.; desprotonação do substrato, mas principalmente pela es- BAHNEMANN, D. W. Environmental applications of tabilidade do íon ferrato. Assim, foi encontrado que em semiconductor photocatalysis. Chem. Rev., v. 95, p. 69- meio de pH 12 é a melhor condição para a degradação do 96, 1995. PNP. Entretanto, neste valor de pH o íon ferrato é menos estável que em pH 10. Assim, a melhor condição encon- HOIGNE, J. Formulation and calibration of environmental trada para a degradação do PNP pelo íon ferrato foi em reactions kinetics; oxidations by aqueous photooxidants solução tampão fosfato/borato pH 10. as an example. In: Aquatic Chemical Kinetics, Reaction 24 Ciência e Cultura DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Rates of Processes in Natural Waters. STUMM, W. (ed). SCHREYER, J. M.; THOMPSON, G. W.; OCKERMAN, New York: Wiley Interscience, p. 43-70, 1990. L. T. Oxidation of chromium (III) with potassium ferrate (VI). Anal. Chem., v. 22, p. 1426–1427, 1950. HUANG, H.; SOMMERFELD, D.; DUNN, B. C.; EYRING, E. M.; LLOYD C. R. Ferrate(VI) oxidation of SCHREYER, J. M.; THOMPSON, G. W.; OCKERMAN, aqueous phenol: kinetics an mechanism. J. Phys. Chem. L. T. Preparation and purification of potassium ferrate A, v. 105, p. 3536-3541, 2001. (VI). J. Am. Chem. Soc., v. 73, p. 1379-1381, 1951. JIANG, J.; LLOYD, B. Progress in the development and SHARMA, V. K.; BURNETT, C. R.; YNGARD, R. A.; use of ferrate(VI) salt as an oxidant and coagulant for CABELLI, D. E. 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Ciência e Cultura 25 26 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W.T. Aiton USANDO DIMENSÕES LINEARES DO LIMBO FOLIAR LEAF AREA ESTIMATIVE IN WEEDS LEONOTIS NEPETIFOLIA (L.) W. T. Aiton USING LINEAR DIMENSION OF THE LEAF BLODE Silvano BIANCO; Matheus Saraiva BIANCO; Leonardo Bianco de CARVALHO. Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - UNESP – Câmpus de Jaboticabal - Departamento de Biologia Aplicada à Agropecuária. e-mail: [email protected]. RESUMO Com o objetivo de obter uma equação que, através de dão-de-frade. Do ponto de vista prático, sugere-se optar parâmetros lineares dimensionais das folhas, permita a pela equação linear simples envolvendo o produto C x L, estimativa da área foliar de Leonotis nepetifolia (L.) W.T. usando-se a equação de regressão Sf = 0,6337 x (C x L), Aiton estudaram-se relações entre a área foliar real (Sf) que equivale a tomar, 63,37% do produto entre o compri- e parâmetros dimensionais do limbo foliar, como o com- mento ao longo da nervura principal e a largura máxima., primento ao longo da nervura principal (C) e a largura com um coeficiente de correlação de 0,9193. máxima (L), perpendicular à nervura principal. As equações lineares simples, exponenciais e geométricas obtidas Palavras chaves: Planta daninha, área foliar, cordão-de- podem ser usadas para estimação da área foliar de cor- frade. ABSTRACT This study was done aiming to obtain na mathematical equation of the regression model using the C*L parameter equation to estimate the Leonotis nepetifolia leaf area and taking the linear coefficient equal to zero, because it using linear measures of leaf blode. Correlation studies shows the smallest Error Sum of Squares. Thus, an were done involving the real leaf area and the main vein estimative of Leonotis nepetifolia leaf area can be lenght (C), maximum leaf width (L) and C*L. The linear obtained using the equation Sf = 0.6337 (C*L), with and geometric equation involving the parameter C provided correlation coefficient R = 0.9193. good estimatives of leaf area of this gran weed. In the practical sense, it is suggested the use of the simple linear Keywords: Weeds, leaf area, cordão-de-frade. Ciência e Cultura 27 ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton USANDO DIMENSÕES LINEARES DO LIMBO FOLIAR INTRODUÇÃO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 2005), entre outras. O presente trabalho teve como objetivo determi- Leonotis nepetifolia (L.) W. T. Aiton, popularmente nar uma relação ou equação adequada para estimar a área conhecido por cordão-de-frade, é uma planta originária foliar do cordão-de-frade Leonotis nepetifolia, por inter- da África tropical, hoje vastamente distribuída por regiões médio de medidas lineares de seus limbos foliares. tropicais e sub tropicais da África, Ásia e América. No Brasil tem ampla distribuição, sendo que no extremo sul a MATERIAL E MÉTODOS sua ocorrência é rara. É considerada uma planta invasora, particularmente Foram coletados 200 limbos foliares de L. nepetifolia em culturas do milho. Não é muito agressiva, contudo. sujeitos às mais diversas condições ecológicas que a es- Suspeita-se que as plantas possam ser algo tóxicas para pécie é susceptível de ocorrer como infestante, conside- herbívoros (KISSMANN & GROTH, 1999). rando-se toda as folhas das plantas, desde que não apre- Considerando-se a importância dessa planta, há gran- sentassem deformações oriundas de fatores externos como de necessidade de estudos básicos envolvendo aspectos pragas, moléstias e granizo. Na fase de coleta dos dados, relacionados à reprodução, crescimento, desenvolvimen- foram realizadas rápidas excursões ao campo, coletando- to, exigências em nutrientes, respostas aos sistemas de se de 10 a 20 folhas de diferentes plantas, as quais eram controle e outros. Na maioria desses estudos, o conheci- levadas ao laboratório, para determinação do comprimen- mento da área foliar é fundamental, pois é talvez o mais to do limbo foliar ao longo da nervura principal (C) e da importante parâmetro na avaliação do crescimento vege- largura máxima do limbo foliar (L) perpendicular à nervura tal. É um das características mais difíceis de serem principal. A seguir, as folhas foram desenhadas em papel mensuradas, porque normalmente requer equipamentos homogêneo e suas áreas foliares reais (Sf) determinadas caros ou utiliza técnicas destrutivas, como comentam através do aparelho “Portable Area Meter” Licor Mod. Bianco et al. (1983). Existem vários métodos para se medir L1 - 3000. a área foliar, a maioria com boa precisão. Marshall (1968) Para escolha de uma equação que possa repre- os classificou em destrutivos e não destrutivos, diretos ou sentar a área foliar em função das dimensões foliares, indiretos. A importância de se realizar um método não procederam-se estudos de regressão utilizando as seguin- destrutivo é que ele permite acompanhar o crescimento e tes equações: linear Y = a + bx; linear pela origem Y = a expansão foliar da mesma planta até o final do ciclo ou bx, geométrica Y = axb e exponencial Y = abx. O valor Y do ensaio, além de ser rápido e preciso. Assim, a área estima a área foliar do limbo foliar em função de X, cujos foliar pode ser estimada utilizando-se parâmetros valores podem ser o comprimento (C), a largura (L) ou o dimensionais de folhas, os quais apresentam boas corre- produto (C x L). No caso de X igual ao (C x L), estimou- lações com a superfície foliar. Um dos métodos não se também a equação linear passando pela origem, o que destrutivos mais utilizados é a estimativa da área foliar praticamente significa supor que a área é proporcional a por meio de equações de regressão entre a área foliar um retângulo (C x L). Todas as equações utilizadas são real (Sf) e parâmetros dimensionais lineares das folhas. lineares ou linearizáveis por transformação, de modo que Este método já foi utilizado com sucesso para inúmeras os ajustes foram feitos, a partir de retas. Para realizar as plantas cultivadas e plantas daninhas, como Wissadula comparações entre os modelos foram obtidas as somas subpeltata (Kuntze) Fries (BIANCO et al., 1983); Senna de quadrados das diferenças entre os valores observados obtusifolia (L.) Irwin & Barneby (PERESSIN et al., 1984), e os preditos pelos modelos, denominando isso de soma Amaranthus retroflexus L. (BIANCO et al., 1995), de quadrados do resíduo. No caso dos modelos com trans- Richardia brasiliensis (Gomez) (ROSSETO et al., 1997), formação (geométrica e exponencial), foi feita a volta para Cissampelos glaberrima L. (BIANCO et al., 2002); escala original e após isso, obtida as referidas somas de Brachiaria plantaginea (Link) Hitchc. (BIANCO et al., quadrados do resíduo. A melhor equação é a que apre- 28 Ciência e Cultura BIANCO et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 senta a menor soma de quadrados do resíduo na escala RESULTADOS E DISCUSSÃO real (sem transformação). Os coeficientes de correlação são os obtidos com Na Tabela 1 estão apresentados os resultados refe- as variáveis de trabalho X e Y, caso linear; logaritmo de Y rentes aos estudos de regressão efetuados com as com- e logaritmo de X, no caso geométrico, e logaritmo de Y e parações da área foliar real (Sf) e as medidas lineares de X no caso exponencial. O número de graus de liberdade é comprimento (C), largura (L) e o produto do comprimen- o número de folhas analisadas menos o número de to pela largura da folha (C x L). Todas as equações apre- parâmetros estimado, em cada modelo. Para testar se o sentadas permitem obter estimativas satisfatórias da área acréscimo de soma de quadrados do resíduo do modelo foliar de L. nepetifolia, com coeficiente de determinação passando pela origem, em relação ao modelo com inter- acima de 0,80. O menor coeficiente de determinação foi cepto, utilizou-se o teste F condicional: F = (SQRes. (0,0) de 0,8495, indicando que 84,95% das variações observa- – SQRes. CL) / SQRes. CL/GL), com 1 e GL graus de das na área foliar foram explicadas pela equação linear. liberdade, onde GL é o número de folhas menos 2. As equações que representam o produto entre o comprimento e a largura, passando ou não pela origem não mostraram diferenças significativas quando comparadas entre si, o que já era esperado, visto que a retirada de uma constante não afeta o comportamento dos dados. Tabela 1. Tipos de equações de regressão estimada entre a área foliar real (Sf) e parâmetros dimensionais lineares do limbo foliar de Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton. FCAV-UNESP. Jaboticabal/SP. 2006. Na Tabela 2, pode-se observar que os valores do Na Tabela 3, pode-se observar a distribuição percentual comprimento (C) das folhas variaram de 2,50 a 6,90 dos 200 limbos foliares do cordão-de-frade em relação às cm, com valores médios de 4,61 cm, enquanto que, a faixas de tamanho. Observa-se que 70,0% da área foliar largura (L) máxima das folhas variou de 2,20 a 5,40 está relacionada com folhas variando de 5,01 até 15,002 cm, com valores médios de 3,81 cm. Para a área foliar cm de área, indicando que esta planta daninha possui a real, os valores variaram entre 4,03 e 22,82 cm2 e média maioria de suas folhas de tamanho pequeno. 2 de 11,59 cm . Ciência e Cultura 29 ESTIMATIVA DA ÁREA FOLIAR DE Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton USANDO DIMENSÕES LINEARES DO LIMBO FOLIAR Tabela 2. Comprimento ao longo da nervura central, largura máxima e área foliar real de 200 limbos de Leonotis nepetifolia (L.) W.T. Aiton. FCAV-UNESP. Jaboticabal/ v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 cando que da variabilidade total existente na área foliar 91,93% podem ser explicadas pela regressão linear. A equação linear simples com a reta passando pela origem SP, 2006. Característica Maior valor Comprimento (cm) 6,90 Largura máxima (cm) 5,40 Área Foliar Real (cm2) 22,82 Menor valor 2,50 2,20 4,03 Média é a mais recomendada, pois não altera expressivamente a soma de quadrados do resíduo e é de mais fácil utilização 4,61 3,81 11,59 do ponto de vista prático. Assim, a estimativa da área foliar do cordão-de-frade pode ser feita pela equação Sf = 0,6337 x (C x L), ou seja, corresponde a 63,37% do produto entre o comprimento e a largura máxima da folha, ou 63,37% Tabela 3. Distribuição percentual de 200 limbos foliares de Leonotis nepetifolia (L.) W. T.Aiton em relação às faixas de tamanho. FCAV-UNESP. Jaboticabal/SP, 2006. Tamanho (cm2) [ 0,00 - 5,0 ] [ 5,01 - 10,0] [10,01 - 15,0] [15,01 - 20,0] [ > 20,01 ] (%) 2,5 32,0 47,0 17,5 1,0 da área dada pelo comprimento x largura. Na Figura 1 está graficamente representado os valores obtidos para o produto do comprimento pela largura máxima do limbo foliar e o correspondente valor da superfície foliar e, também, a representação gráfica da equação indicada para a estimativa da área de folhas de L. nepetifolia. Pode-se observar a pequena dispersão dos dados em relação à reta obtida sugerindo que a equação Sf = 0,6337 Os maiores valores do coeficiente de determinação e x (C x L) pode representar a área foliar real muito satis- os menores valores da soma de quadrados do resíduo fo- fatoriamente. O valor obtido é inferior aos observados para ram observados para as regressões lineares simples entre (Wissadula subpeltata) (Bianco et al., 1983), Cissampelos a área foliar real e o produto do comprimento pela largura glaberrima (BIANCO et al., 2002), Portulaca oleracea da folha, indicando serem as equações que permitem ob- (PEDRINHO JR. et al., 2000) e superior aos encontra- ter estimativas mais acuradas da área foliar do cordão- dos para Amaranthus retroflexus (BIANCO et al., 1995), de-frade. Nota-se que, estas equações apresentaram es- Nicandra physaloides (BIANCO et al., 1996) e Solanum timativas do coeficiente de determinação de 0,9193, indi- americanum (TOFOLI et.,1998). Figura 1. Representação gráfica da área foliar de Leonotis nepetifolia (L.) W. T. Aiton e da equação de regressão indicada para estimativa da área foliar da planta daninha, em função do produto do comprimento (C) pela largura máxima (L) do limbo foliar. 30 Ciência e Cultura BIANCO et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 BIANCO, S.; PITELLI, R. A.; SILVA, R. C. Estimativa CONCLUSÕES de área foliar de plantas daninhas. XIV – Nicandra Os resultados encontrados no presente trabalho permitem concluir que: a) as equações obtidas podem ser physaloides (L.) Pers. Cultura Agronômica, Ilha Solteira, SP v. 20, n. 1, p. 33-38, 1996. utilizadas para estimar a área foliar de L. nepetifolia; b) do ponto de vista prático, a área foliar é estimada KISSMANN, K. G.; GROTH, D. Plantas Infestantes utilizando-se a equação Sf = 0,6337 x (C x L). e Nocivas. Tomo II. São Paulo: BASF Brasileira, 1999. 798p. MARSHALL, J. K. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Methods of measurement of large and small leaf BIANCO, S.; PITELLI, R. A.; BIANCO, M. S. Esti- leaf area samples. 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Ciência e Cultura 31 32 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL THE RIGHT TO INFORMATION IN CONFRONTATION WITH THE PRINCIPLE OF DUE PROCESS OF LAW Paulo José Freire TEOTÔNIO¹, Abner Rafael de SOUZA², Michele Aparecida Marques MIGLIORUCCI³. 1- Professor e Coordenador do Curso de Direito da Fundação Educacional de Barretos - Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto Barretos-SP - CEP 14783-226 – e-mail: [email protected] 2- Bacharelando do Curso de Direito da FEB – e-mail: [email protected] 3- Bacharelanda do Curso de Direito da FEB – e-mail: [email protected] RESUMO Ao contrário dos textos das Constituições anteriores, onde direito à intimidade apenas constava de forma implí- jam divulgadas informações sobre esta área da manifestação existencial do ser humano”. cita, a Constituição Federal de 1988 trouxe, de forma ex- Neste contexto de idéias, assume relevo, dentro da pressa, no bojo do art. 5º, X, que: “são invioláveis a intimi- concepção de Estado Democrático de Direito, a discus- dade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, são do papel da mídia, a qual, na maior parte das vezes, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou promove julgamentos prévios, sem qualquer ponderação moral decorrente de sua violação”. ética, liquidando quaisquer direitos inerentes a dignidade O direito à intimidade, segundo Bastos e Martins (1989), “consiste na faculdade que tem cada indivíduo de obstar a da pessoa humana, não dando qualquer oportunidade do exercício do direito constitucional defesa. intromissão de estranhos na sua vida privada e familiar, Palavras-Chave: devido processo legal, presunção de assim como de impedir-lhes o acesso a informações so- inocência, liberdade de pensamento, direito de informa- bre a privacidade de cada um, e também impedir que se- ção, ética. ABSTRACT In contrast of the texts of the previous Constitutions, where right to the privacy it only consisted of implicit form, hindering that information on this area of the existencial manifestation of the human being are divulged”. the Federal Constitution of 1988 brought, of express form, In this context of ideas, it assumes relief, inside of the in the bulge of art. 5º, X, that: “the privacy, the private life, conception of Democratic State of Right, the quarrel of the honor and the image of the people are inviolable, the paper of the media, which, to a great extent, promotes assuring the right the indemnity for decurrent the material judgments previous, without any ethical balance, eliminating or moral damage of its breaking”. any inherent rights the dignity of the person human being, The right to the privacy, according to Bastos and Martins (1989), “consist of the college that has each indi- not giving any chance of the prohibited constitutional right of action. vidual to hinder the intromission of strangers in its private and familiar life, as well as hindering the access to them Keywords: due process of law, swaggerer of the information on the privacy of each one, and also innocence, freedom of thought, right to information, ethics. Ciência e Cultura 33 TEOTÔNIO et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 ATUAÇÃO DA MÍDIA NO BRASIL ADVOGADO: MÔNICA FILGUEIRAS DA SILVA GALVÃO O poder que a mídia exerce sobre a educação e cons- E OUTROS ciência das pessoas, quase sempre tendo por parâmetro AGRAVADO: interesses comerciais, assume relevo extraordinário, im- ICUSHIRO SHIMADA E OUTROS pressionando pela tomada de posições arbitrárias, bem ADVOGADO: como pela extrema leviandade que joga ao vento notícias KALIL ROCHA ABDALLA E OUTROS sem qualquer respaldo probatório, causando danos DECISÃO: irreparáveis a reputação das pessoas, que passam a ser Vistos. hostilizadas pela opinião pública mesmo que nada tenham a dever. Trata-se de agravo de instrumento manifestado contra decisão que não admitiu recurso especial, no qual se ale- A título de exemplo, temos “o caso dos proprietários ga ofensa aos arts. 535 do Código de Processo Civil e 159 da escola base, no qual a imprensa narrou a acusação de do Código Civil de 1916, em questão exposta na seguinte seis pessoas sobre suposto abuso sexual de crianças, alu- ementa (fl. 130): nas da Escola Base, localizada na capital paulista. “DANO MORAL - Matéria jornalística com manifes- As acusações davam conta que abusos sexuais teriam ta aptidão ofensiva à honra e à imagem dos autores - Di- sido cometidos pelos donos da escola. Jornais, revistas, vulgação de fato grave e inverídico, em razão de omissão emissoras de rádio e TV basearam-se em fontes oficiais negligenciosa da ré no cuidado e resguardo prévios na — polícia e laudos médicos — e em depoimentos de pais constatação, ainda que superficial, de sua veracidade - de alunos. Quando o erro foi descoberto, a escola já havia Inocorrência, outrossim, de ‘animus narrandi’ - Redução, sido depredada, os donos estavam falidos e eram amea- porém, do quantum indenizatório compatível com a gravi- çados de morte em telefonemas anônimos. dade dos fatos e sua repercussão pessoal e profissional As informações foram repassadas à mídia pelo dele- na vida dos autores - Agravo retido conhecido e improvido, gado Edélcio Lemos, a partir do depoimento de duas mães com provimento parcial da apelação e improvimento do de alunos: Lúcia Eiko Tanoi e Cléa Parente. O inquérito recurso adesivo.” policial foi arquivado. Não merece prosperar a pretensão reformatória. Em 2003, a primeira instância condenou a Folha da Sem êxito a alegação de ofensa ao artigo 535 do Códi- Manhã (responsável pela publicação dos jornais Folha de go de Processo Civil, porquanto não se vislumbram os S. Paulo e Agora São Paulo) ao pagamento de 1,5 mil apontados vícios no acórdão recorrido, mas tão-somente salários mínimos para cada acusado, mais juros de 1% ao decisão devidamente fundamentada, em sentido contrário mês a partir da citação. A empresa apelou. O TJ paulista aos interesses do recorrente. manteve a condenação, no entanto reduziu o valor. Se- Tampouco prospera o pedido de redução do quantum gundo a defesa dos proprietários, por causa das falsas indenizatório fixado a título de danos morais, pois, embora denúncias, Icushiro sofreu um infarto, Maria Aparecida sujeite-se ao controle desta Corte, quando for irrisório ou vive com tranqüilizantes e Maurício Alvarenga se sepa- abusivo, no presente caso, colocou-se em patamar que rou da mulher e vive em uma cidade do interior. não justifica a excepcionalíssima intervenção do STJ a respeito, ante as gravíssimas e infundadas imputações Leia a decisão: feitas, com grande alarde, em desfavor dos autores. AGRAVO DE INSTRUMENTO Pelo exposto, nego provimento ao agravo. Nº 801.495 - SP (2006/0167577-9) Publique-se. RELATOR: Brasília (DF), 30 de outubro de 2006. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR AGRAVANTE: EMPRESA FOLHA DA MANHÃ S/A Relator1 ”. 34 Ciência e Cultura O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Nas raríssimas vezes em que se admite o erro, o que podem controlar e criticar a mídia através da própria mídia; só acontece por pressões intransponíveis, às notas de des- de outra forma sua intervenção se transformaria em san- culpas e retratações quase sempre assumem proporção ção, executiva, legislativa ou judicial – o que pode aconte- infinitamente inferior ao estardalhaço com que foi dada a cer apenas no caso em que a mídia esteja cometendo al- notícia, nada ou quase nada servindo para aliviar as dores gum crime ou pareça configurar situações de desequilíbrio do prejudicado. político e institucional. Como, no entanto, a mídia, em nos- Bastante elucidativo é o exemplo de Damásio Evangelista de Jesus (1999), in verbis: “Suponha-se que um sujeito lance ao vento as penas so caso a imprensa, não pode eximir-se de críticas, é condição de saúde para um país democrático que a imprensa possa colocar-se em questão”. de um travesseiro do alto de um edifício e determine a A pretexto de exercer a liberdade de imprensa, de for- centenas de pessoas que as recolham. Jamais será possí- ma leviana, não se pode permitir o malogro dos direitos e vel recolher todas. O mesmo ocorre com a calúnia e a garantias do cidadão, por parte dos proprietários ou agen- difamação. Por mais cabal seja a retratação, nunca pode- tes dos meios de comunicação, posto que tal prática, sem rá alcançar todas as pessoas que tomaram conhecimento qualquer margem à dúvida, maculam o devido processo da imputação ofensiva”. legal. O Direito ao livre exercício da atividade jornalística, É verdade que a Magna Carta, no artigo 220, assevera concessa venia, não pode ser tomado como absoluto, com- que: “a manifestação do pensamento, a criação, a expres- portando a imposição de freios, bem como rigoroso con- são e a informação, sob qualquer forma, processo ou ve- trole ético. Aliás, tais formas de controle são cotidiana- ículo não sofrerão qualquer restrição, observado o dispos- mente sugeridas pela mídia para o Judiciário e o Ministé- to nesta Constituição”. Contudo, de se observar que o rio Público, mesmo que de forma subliminar, em seus no- parágrafo 1.º, do mesmo artigo, exige a observância, sem ticiários onde são imprimidas rapidez e definitividade, im- qualquer restrição, dos dispositivos previstos no artigo 5.º, pedindo que o destinatário da notícia possa fazer qualquer da mesma Carta, que tutelam dos direitos concernentes a juízo de valor, o que poderia ser conceituado como forma- inviolabilidade da intimidade, a vida privada, a honra e a ção, jamais como informação, que é a função peculiar da imagem. mídia. Rejeitam, paradoxalmente, sob a alegação de cen- Destarte, evidenciado está que o direito ao exercício sura, qualquer análise de suas atividades ou a imposição da imprensa livre só pode conviver com o resguardo dos de qualquer controle, seja prévio ou posterior. direitos individuais, ficando incontestável que a mídia, ao A mídia pode até mesmo influenciar a vida política do exercitar o seu direito de informar (não de formar opi- país através da criação de opiniões, razão pela qual não nião), devem atentar para certos limites, quais sejam, os pode eximir-se de críticas, sendo essencial para um país direitos da personalidade, a vida privada, a intimidade, a democrático que a imprensa possa ser questionada. dignidade da pessoa humana, a igualdade de todos peran- Invocando a função que deveria ser exercida pelo de- te a lei etc. nominado quarto poder, a mídia, Umberto Eco (1999), alu- Ao expor os cidadãos no noticiário cotidiano, com des- dindo a única forma de controle dos meios de comunica- respeito aos direitos do indivíduo enquanto ser humano, a ção, pondera que: mídia subverte o procedimento cominado em lei, maculando “A função do Quarto Poder é certamente controlar e o devido processo legal. criticar os outros três Poderes tradicionais (junto com o poder econômico e aquele representado pelos partidos e O devido processo legal sindicatos), mas pode fazê-lo, em um país livre, porque Com efeito, ninguém poderá ser julgado culpado e nem sua crítica não tem funções repressivas: os meios de co- perder seus bens e direitos senão por sentença judicial municação de massa só podem influenciar a vida política transitada em julgado, posto ser a atividade jurisdicional do país criando opiniões. Mas os Poderes tradicionais só exclusiva do Poder Judiciário, que só pode ser exercida Ciência e Cultura 35 TEOTÔNIO et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 através de um procedimento previamente instituído em prévio de culpa, ou seja, transformar-se em julgamento lei, onde deverão ser respeitados a isonomia das partes, o definitivo aquilo que está sujeito a mera classificação pré- contraditório e a ampla defesa, com julgamento realizado via e provisória, aniquilando o postulado da presunção de por um Juiz competente, devidamente investido da ativi- inocência, ferindo a dignidade da pessoa humana, bem dade jurisdicional e previamente designado pela Consti- como negando os demais postulados essenciais ao devido tuição e pelas Leis para cumprimento de tal mister. processo legal, tais como o resguardo a intimidade e vida Em termos de garantias jurisdicionais dos cidadãos, privada, o direito ao contraditório e ampla defesa, o direito relativamente à administração da justiça, a vigente CF ao um julgamento justo, passível de realização somente adota como postulado constitucional fundamental o “devi- por juiz competente e imparcial, investido de jurisdição, o do processo legal”, expressão oriunda da inglesa due que somente seria permitido após o percurso do prévio process of law, ao dizer: “ninguém será privado da liber- caminho descrito em lei. dade ou de seus bens sem o devido processo legal” (art. Todavia, mesmo consubstanciando-se em fato que 5º, LIV). Adota, ainda, o princípio da inafastabilidade do comportaria a maior das repulsas e o pior dos castigos no controle jurisdicional, ao estatuir que “a lei não excluirá da Estado Democrático de Direito, contrário senso, tem se apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direi- tornado prática corriqueira na mídia televisiva e nas de- to” (art. 5º, XXXV). Consagra o princípio da isonomia: pendências de delegacias de polícia, sob a alegação da “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer existência de interesse público na divulgação, inclusive sob natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros o argumento de que a exposição poderia dar ensejo ao residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à surgimento de outros elementos de prova ou aparecimen- liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”; “ho- to de novas vítimas. mens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos Ao que parece, porém, trata-se de artifício pirotécnico termos desta CF” (art. 5º, caput, I). Estabelece, ainda, o que pretende justificar a falta de investimentos, a ausên- princípio do juiz ou promotor natural, ao dizer que “ão ha- cia de trabalho de inteligência e seriedade, bem como a verá juízo ou tribunal de exceção”, e que “ninguém será ineficiência dos ocupantes de cargos públicos, atribuindo processado nem sentenciado senão pela autoridade com- interesse coletivo na exposição pela mídia de seres huma- petente” (art. 5º, XXXVII e LIII). Estatui o princípio do nos, muitos dos quais não se deu oportunidades de educa- contraditório: “aos litigantes, em processo judicial ou ad- ção e emprego, de forma a aniquilar os direitos mais ele- ministrativo, e aos acusados em geral são assegurados o mentares prescritos na Lei das Leis. contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a A mácula causada na vida social, laboral e familiar do ela inerentes” (art. 5º, LV). Prevê o princípio da proibição indivíduo, objeto de exposição pela mídia, é das mais hor- da prova ilícita: “são inadmissíveis, no processo, as provas rendas, de impossível reparação integral, o que, por evi- obtidas por meios ilícitos” (art. 5º, LVI); o princípio da dente, não interessa a mídia, a qual, nas raras vezes em publicidade dos atos processuais: “todos os julgamentos que oferece retratação, restringe-se a divulgar pequenas dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos” (art. 93, notas, desproporcionais ao estardalhaço com que deu a IX), acrescentando que “a lei só poderá restringir a publi- notícia que estigmatizou o cidadão objeto de divulgação. cidade dos atos processuais quando a defesa da intimida- Não nos parece razoável, muito menos conveniente de ou o interesse social o exigirem” (art. 5º, LX); e o para o Estado Democrático de Direito, que, em nome do princípio da motivação das decisões judiciais sob pena de resguardo do livre exercício da imprensa, repita-se, do di- nulidade (art. 93, IX). reito de informar, não de formar convicções, sejam O maior equívoco que pode ser cometido durante o inquérito policial ou outro instrumento (procedimento) ad- maculados todos os direitos fundamentais, individuais e orientadores das ações do Estado. ministrativo de investigação, bem como quando da mera O balanceamento dos valores postos em jogo, confor- propositura da ação, sem sombra de dúvida, é o do juízo me é do nosso convencimento, recomenda que se dê um 36 Ciência e Cultura O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 basta a tão nocivas e levianas práticas da imprensa, não políticas tradicionais atravessam grave crise, a crise da se permitindo que um dos “poderes de fato” da Repúbli- desvitalização, a crise de arrefecimento, crise que se ori- ca, derivado do poder maior, que é o de natureza econô- gina no declínio das ideologias, no abrandamento das opo- mica, massacre todos os cidadãos e todos os seus direitos sições clássicas, no poder dos grupos de interesses, na elementares, sem sofrer qualquer penalidade, restrição ou menor força dos parlamentos e na ascensão das chama- controle. das tecno-estruturas”. Machado (1999) acrescenta, ainda, que: Desvirtuamento da notícia “O pior é constatarmos que o fenômeno da mistifica- Necessário enfatizar que cada vez mais os nossos Jor- ção das massas pela prática da Justiça Televisiva se es- nais estão aumentando o número de páginas, a fim de praia por todo o País, multiplicando canhestros perfis de terem espaço para mais publicidade, sendo que para ocu- “defensores” dos pobres e dos oprimidos. par todas essas páginas, acabam tendo que inventar notí- (...) cia e transformar em notícia o que de fato não é, desvirtu- Essa é mais uma razão que deve inspirar nossa luta. ando, desse modo, a verdadeira função da imprensa. Não podemos deixar que os espaços do Direito e da Jus- Outro desvirtuamento da função da mídia, demais dis- tiça sejam ocupados por fanáticos, falsos profetas e opor- so, diz respeito à sua utilização para solucionar casos que tunistas de plantão. Não podemos nos submeter ao deveriam ter como foro de discussão o Poder Judiciário, nivelamento por baixo ditado por arsenais da comunica- desrespeitando, assim, as garantias previstas no devido ção em massa. A lei e a nossa consciência, como já disse processo legal. o advogado dos advogados, o grande Rui Barbosa, são os Cleinman (1999) assevera que: dois únicos poderes humanos ante os quais a nossa digni- “A falta de cultura jurídica e a tradição autoritária bra- dade profissional se inclina”. sileira se casam vorazmente, gerando frutos dolorosos: o Em sendo incontroverso que o pensamento neoliberal desconhecimento, pela sociedade, das normas, dos fun- consumiu a ética que deveria orientar a atividade damentos que se originaram, bem como dos valores nelas jornalística, passando ela a ser orientada por interesses embutidos. Disputas que deveriam ter como foro de dis- mercadológicos, não é menos verdade que, ao ferir direi- cussão o Judiciário deslocam-se para a arena pública da tos tão fundamentais e fundantes, devam os exageros e mídia. Se a representação da Justiça é cega, buscando leviandades cometidos ser expurgados ou punidos de for- enfatizar sua imparcialidade, a luz dos holofotes cega a ma exemplar. razão necessária ao estabelecimento de um direito que A mesma mídia que muitas vezes cobra honestidade não se reduza à pura legalidade, possível representante dos demais setores do país, também age de forma deso- de uma dominação ilegítima”. nesta, desrespeitando o direito de intimidade das pessoas, Machado (1999), invocando a lição de Bobbio sobre o assim como a sua dignidade e honra. A liberdade de im- fracasso das promessas da democracia, principalmente prensa não pode ser considerada ilimitada, pois tal direito no que se refere ao magistral poder oculto exercido pela não pode prejudicar os direitos fundamentais do cidadão. mídia, preleciona que: Maranhão (1999), em alusão à relação da mídia com o “Não fomos capazes, ainda, de eliminar uma das gran- Poder Judiciário brasileiro, hoje uma das vítimas prefe- des promessas da democracia, aquela nomeada por Bobbio renciais da mídia, freqüentemente taxado de vilão nacio- como sendo a eliminação do poder invisível, o poder que nal, pondera que: age nas entranhas das malhas burocráticas, em todos os “Se por um lado o Judiciário peca por omissão, a mídia níveis, praticando atos ilícitos, ampliando a corrupção, certamente incorre no mesmo erro. No Brasil, só se dá maculando valores morais e éticos. destaque ao delito, não se cobre a sentença. A mídia se O rígido cumprimento da lei e o exercício da autorida- omite em cobrir o Judiciário. Atualmente, pressupõe-se de assumem importância num mundo onde as instituições que todo brasileiro está interessado em economia, que quer Ciência e Cultura 37 TEOTÔNIO et al. v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 saber sobre inflação, alta do dólar. Fala-se para uma na- ça da notícia e a sua influência perante o cidadão comum, ção inteira sobre um assunto que só interessa a uma elite que possui pouco senso crítico e, assim, reduzida capaci- investidora, dando espaço e relevância para a especula- dade de filtrar as influências que permearam a transfor- ção. O País, que de tempos em tempos vira uma pátria mação do fato em notícia. de chuteiras, é reduzido a uma mesa de operação de câm- Dados estatísticos, por vezes, são usados para enfatizar bio. Como se a sociedade tivesse reduzido o seu entendi- informações que interessam ao mercado, sendo, contudo, mento à sua expressão econômica, quando verdadeira- relegados quando poderiam causar um prejuízo aos de- mente a sociedade é traduzível na sua expressão jurídica tentores do poder econômico. Para fixar exemplos, pode- ou na sua capacidade de respeitar os direitos das minori- ríamos citar a notícia que envolvia a ultima greve dos ser- as. Isso é o que demonstra a cultura de uma sociedade”. vidores do judiciário, onde a estatística foi usada para comparar o crescimento da renda do cidadão comum e a mé- Parâmetros éticos dia de aumento reivindicado, porém em período de ape- É preciso frear os abusos cometidos pela imprensa, o nas um ano, quando sobreditos funcionários tiveram per- que só é possível através da valorização dos princípios da do poder aquisitivo por período superior a quatro anos. éticos, fundados em valores universais. Em situação semelhante, durante a greve dos bancários, Pela lucidez e profundidade da exposição, vale a pena contudo, deixou-se de invocar qualquer estatística, uma transcrever a lição de Umberto Eco (1999) sobre o tema, vez que o rendimento líquido (lucro) dos banqueiros, du- senão vejamos: rante o período de um ano, chegou a estratosférica soma “No universo judicial existe o ditado segundo qual o que não está nos autos não está no mundo. Seu significa de mais de mil por cento, enquanto os grevistas reivindicavam aumento mais de cem vezes menor que o lucro. aponta para a necessidade de que as partes que tiveram a Desta forma, sem qualquer parâmetro ético, duas no- iniciativa de abrir um processo apresentem todos os do- tícias que deveriam ser simétricas, derivadas de fatos bas- cumentos e provas para demonstrar e comprovar seus tante parecidos, foram transformadas em informações direitos subjetivos. Entretanto, uma prática corriqueira do distintas, sempre com a intenção de colocar a população jornalismo de resultados é a de não publicar muitas notíci- contra o movimento paredista ou, ao menos, não transfor- as, pelos mais variados motivos. A desinformação decor- mar os grevistas em vítimas, que de fato eram, do perver- rente partiria do pressuposto de que o que não está publi- so sistema financeiro. cado não está no mundo. É preciso, pois, que se cumpram os parâmetros cons- Será que a transparência exigida pela mídia de todos titucionais e legais referentes à mídia, mediante a invoca- os setores nacionais também não poderia ser-lhe cobra- ção do devido processo legal, rechaçando o uso de tão da? Ao direito de que se arvora de tudo vasculhar, de tudo poderoso instrumento para perversão da realidade, com a perguntar, de tudo querer saber, de nada respeitar, a não transformação de políticos corruptos e inescrupulosos em ser seus compromissos comerciais, não poderia ser con- heróis, enquanto que o cidadão comum, apenas pelo fato traposto o direito dos cidadãos de conhecerem os critéri- de reivindicar melhoria de sua remuneração, passa por os de silêncio e divulgação? Será que a mídia também processo de transformação em vilão nacional. não constitui uma imensa caixa preta, merecedora de ser escancarada aos olhos do público?” REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONCLUSÕES BASTOS, Celso Ribeiro e MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil. 2.v. São Paulo: Sarai- A mídia deveria ter a sua atuação e atenção voltadas va, 1989. ao interesse da coletividade, o que implicaria em um mai- CLEINMAN, Betch. Litígios de estrondo entre os 3 + 1 or controle ético das informações, em consideração a for- poderes da República. In: Cidadania e Justiça – Revista 38 Ciência e Cultura O DIREITO DE INFORMAÇÃO EM CONFRONTO COM O PRINCÍPIO DO DEVIDO PROCESSO LEGAL: v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 da Associação dos Magistrados Brasileiros. Ano 3, nº 6, MACHADO, Rubens Approbato. O Brasil cidadão. 1º semestre, 1999. Brasília: Consulex, 1999. ECO, Umberto. Sobre a imprensa. In: Cidadania e Justi- MARANHÃO, Jorge. Mídia e justiça. In: Cidadania e ça – Revista da Associação dos Magistrados Brasileiros. Justiça – Revista da Associação dos Magistrados Brasi- Ano 3, nº 6, 1º semestre, 1999. leiros. Ano 3, nº 6, 1º semestre, 1999. Comentários do Escritor JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal. 22. 2.v. ed. São Paulo: Saraiva, 1999. 1 Revista Consultor Jurídico, 13 de novembro de 2006, Confirmação do STJ, http://conjur.estadao.com.br/static/ text/50095,1 Ciência e Cultura 39 40 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Orçamento Participativo e Poder Local na Visão do Poder Legislativo: Um Estudo do Município de Araraquara PARTICIPATIVE BUDGETING AND THE LOCAL POWER UNDER THE POINT OF VIEW OF THE LEGISLATIVE POWER: A STUDY OF THE MUNICIPALITY OF ARARAQUARA João Marino JÚNIOR Professor da FEARP/USP e da Fundação Educacional de Barretos Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 - Aeroporto - Barretos-SP - CEP 14783-226 RESUMO A deterioração dos mecanismos tradicionais de representação e participação social, causada pelas mudanças políticas no final do século XX, requer o fortalecimento da crítica e do controle da sociedade sobre o Estado. No início do século XXI a democracia precisa ser aperfeiçoada no sentido de apresentar-se como uma democracia direta e participativa, na qual os cidadãos possam interagir na defesa de seus legítimos interesses, visando à conquista de um Estado eficaz e eficiente, que contribua para o desenvolvimento socioeconômico de todos, diminuindo as desigualdades sociais. Sob estes aspectos, há que se destacar o fato de que a função orçamentária no setor público ser uma matéria relevante em todas as atividades governamentais, uma vez que materializa propostas de políticas públicas, projetos e programas inovadores. O objetivo deste trabalho é discutir, sob a ótica das Ciências Humanas em geral e da Ciência Política em particular, a existência ou não de uma redivisão do poder de decisão com relação à alocação dos recursos públicos para investimentos entre o Poder Legislativo e os delegados do Orçamento Participativo analisando a situação d o município de Araraquara. A hipótese testada neste trabalho é a de que há um conflito latente e não declarado entre o poder Legislativo, de um lado, e a prefeitura, de outro, em função da perda de poder e influência do poder legislativo diante do Conselho do Orçamento Participativo, que passa a intervir na definição de gastos (investimentos) que eram de competência da (s) Câmara (s) Municipal (ais). Palavras Chave: Contabilidade, Orçamento participativo, Accountability, Transparência, Gasto Público e Investimento. ABSTRACT The deterioration of traditional schemes of social representation and participation, triggered by the political changes at the end of 20th century, calls for the strengthening of society’s criticism of and control over the State. In the early 21st century , democracy needs honing in order to present itself as right-wing, participative democracy, in which citizens can interact and defend their own legitimate interests with a view to attaining a State which is both effective and efficient, contributes to the global socioeconomic development, and, thereby, reduces social inequalities. In this regard, the fact must be underscored that budgeting in the public sector has an impact on all government matters since it makes public policies, projects and innovative programs possible. The aim of this paper is to analyze, from the angle of Human Sciences, in general, and of Political Sciences, in particular, the existence or lack of redistribution of power between the Legislature and representatives of Participative budgeting in order to make decisions concerning the allocation of public funds in the municipality of Araraquara. This study tested the hypothesis that there is a latent veiled conflict between the legislative on the one hand, and the city administration, on the other, due to the loss of power and influence by the legislative power in comparison to that of the Participative Budgeting Committee, which starts to play a part in planning expenses (investments) that were under the responsibility of the Municipal Council(s) Keywords: Accountancy, Participative Budgeting, Accountability, Transparency, Public Expenditure and Investment. Ciência e Cultura 41 JUNIOR, João Marino v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 INTRODUÇÃO e Dulci, 1997) , em Santa Catarina, em meados dos anos 70, e de Boa Esperança, no estado de São Paulo, no co- Nos últimos anos da década de 90 (século XX) tem meço dos anos 80. havido no Brasil uma busca por novas práticas de demo- No final dos anos 80 e durante toda a década de 90 cracia participativa e direta, entre as quais se destaca o (século XX), as experiências com orçamento participativo orçamento participativo; para (Avritzer e Navarro, 2003) se expandiram em todo o país (Sanchez, 2002) , principal- o orçamento participativo é visto como uma forma de mente pelo fato de esta idéia ter sido encampada como rebalancear a articulação entre democracia representati- um instrumento de gestão pública pelo “Partido dos Tra- va e a democracia participativa ou direta baseada em qua- balhadores – PT” e têm sido aplicadas em diversas pre- tro elementos que são: feituras, dos mais variados tamanhos, tais como São Pau- 1) Cessão da Soberania na qual o legislativo cede par- lo, Campina Grande (Araújo, 1996), Jaboticabal, Diadema, te do poder decisório sobre questões orçamentárias aos Recife, Belém, Santo André e, principalmente, Porto conjuntos de assembléias regionais e temáticas que, atra- Alegre. vés dos seus delegados, eleitos pela população, decidem sobre a aplicação de uma parcela ou da totalidade dos OBJETIVOS investimentos públicos. 2) O OP implica na reintrodução de elementos de participação local ou democracia participativa. Cabe destacar que o presente artigo tem foco no primeiro item da teoria de Avritzer ou seja na análise das 3) O OP baseia-se no princípio da auto-regulação so- mudanças das prioridades de realocação dos recursos berana, ou seja, a participação envolve um conjunto de públicos e da maneira como as Ciências Humanas e em regras que são definidas pelos próprios participantes. particular a Ciência Política mensura estas mudanças no 4) O orçamento participativo é caracterizado, também, âmbito do poder local. por uma tentativa de reversão das prioridades de distri- O objetivo deste trabalho foi o de discutir, sob a ótica buição dos recursos públicos locais através de uma fór- da Ciência Política, a existência ou não de uma redivisão mula técnica (critérios de alocação dos recursos para in- do poder de decisão com relação à alocação dos recursos vestimentos), que privilegiam os setores carentes da po- públicos para investimentos entre o Poder Legislativo e os pulação. delegados do Orçamento Participativo (Wampler, 2003). Avritzer considera estas quatro características como A hipótese testada neste trabalho é a de que há um fundamentais para a existência e caracterização de um conflito latente e não declarado entre o poder Legislativo, processo orçamentário participativo, porém, o mesmo au- de um lado, e a prefeitura, de outro, em função da perda tor destaca um elemento importante para o sucesso desta de poder e influência do poder legislativo diante do Con- experiência que é a chamada densidade associativa ou selho do Orçamento Participativo, que passa a intervir na nível de organização dos movimentos sociais locais. Este definição de gastos (investimentos) que eram de compe- pesquisador acredita no OP como um instrumento capaz tência da (s) Câmara (s) Municipal (ais). de “reformar estruturas de non-accountability do poder local no Brasil”. Sob o ponto de vista da teoria democrática, na visão do autor, o OP desenvolveria o ativismo democrático entre os membros das não elites, fato esse que é verificado neste trabalho. No modelo proposto para ser testado há cinco espaços políticos que são: 1) poder Executivo (área verde), 2) poder Legislativo (área azul), 3) poder Judiciário, 4) OP e 5) grupos de interesse. (figura 1) O poder Judiciário, pelas suas características e forma de funcionamento, fica distante dos demais e é visto como O conceito de gestão orçamentária participativa tem a instância à qual os demais grupos recorrem para dirimir sido aplicado em inúmeras cidades brasileiras, tais como a disputas que não puderam ser resolvidas de forma acei- as experiências pioneiras das cidades de (Lajes Somarriba tável por uma das partes. 42 Ciência e Cultura ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Figura 1 – Interação Política segundo a hipótese central do trabalho Há duas áreas de interação do OP com os poderes çamento Participativo gera um conflito institucional entre políticos pré-estabelecidos. A área cinza mostra a rela- Conselho do OP e poder legislativo; entretanto, depen- ção OP/Prefeitura, nesse trabalho esta área é uma rela- dendo da forma como é estruturado, pode ser que o OP ção institucionalizada, pois a prefeitura é que efetivamen- venha a ser uma entidade pública não estatal que real- te implanta e operacionaliza o OP. Há uma clara coope- mente fiscaliza o poder local, o que reflete a emergência ração entre prefeitura e OP e, neste trabalho, tratamos de novos movimentos e atores sociais que podem resultar esta relação como sendo de forma cooperativa. em um novo modelo de gestão pública no Brasil. A região roxa marca a relação entre os poderes executivo e legislativo, essa relação é marcada pelas negoci- MÉTODOS ações políticas e aprovação de leis e, principalmente ,pela negociação orçamentária anual a qual compete ao poder Para testarmos a hipótese central deste trabalho sele- legislativo analisar, aprovar e fiscalizar. Pela legislação cionamos a cidade de Araraquara. O município é admi- fiscal brasileira os vereadores podem alterar a proposta nistrado por um prefeito que, eleito em 2000 e reeleito em orçamentária no que se refere a investimentos. 2004, implantou um modelo de gestão orçamentário A região amarela é a região de conflito testada neste participativo e, portanto, atende ao objetivo do trabalho, trabalho. Com a criação do OP, os delegados ocupam não que é o de analisar, do ponto de vista político, o processo só uma parte do poder executivo, no que se refere à deci- de formação do Orçamento Participativo (OP) enquanto são sobre políticas de investimentos governamentais, mas, um processo político-social de confrontação e segundo a hipótese central deste trabalho, ocupam uma aprofundamento da cidadania e de controle e transparên- parcela importante do papel e do trabalho dos vereadores cia da gestão municipal (poder local). no que se refere às questões orçamentárias. No que se refere ao período analisado (1999/2002), O orçamento participativo, por ser um novo canal de este não foi escolhido de forma aleatória. Na verdade, acesso à prefeitura, e, principalmente, aos recursos do analisando a estrutura do orçamento público no Brasil, Estado (município), reduz o papel dos vereadores como percebe-se que é só a partir do segundo ano de governo intermediários da população junto ao poder local. O Or- que um novo governante começa a administrar um orça- Ciência e Cultura 43 JUNIOR, João Marino v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 mento segundo os objetivos traçados durante a campanha podem ver sua representação restringida por pessoas que, política, ou seja, antes das eleições. muitas vezes, para participarem como membros do orça- Neste sentido, o ano de 1999 representa o orçamento do governo anterior ao prefeito que assumiu seu mandato mento participativo, só tiveram algumas dezenas ou centenas de votos para representar um bairro ou região. no ano 2000; o orçamento do ano 2000 foi elaborado, conforme determina a lei orçamentária brasileira, em fins de 1999 e, portanto, tem as marcas da administração anterior. É a partir do segundo ano de governo, neste caso 2001, que os prefeitos atuais aprovaram seu primeiro orçamen- Orçamento Participativo em Araraquara A cidade de Araraquara, localizada na região centro norte do Estado de São Paulo, com população estimada em 190.000 habitantes, elegeu, em 1999, seu prefeito, Edinho Silva, do Partido dos trabalhadores (PT). to público, e, neste caso, estes orçamentos já estavam Desde o primeiro ano de mandato, seguindo orienta- influenciados pelo mecanismo do orçamento participativo. ções do partido que adotou e difundiu a prática do OP, a O orçamento do ano de 2002 também já foi impactado prefeitura de Araraquara implantou o orçamento pelo modelo participativo. participativo como instrumento de gestão, cidadania e de- Sob este aspecto, foi possível analisar as alterações reais ocorridas no orçamento público e verificar se, de fato, com a adoção do orçamento participativo, ocorreram mudanças na alocação dos recursos públicos. mocracia direta na alocação dos recursos com investimento público municipal. O modelo de OP adotado em Araraquara é do tipo indutivo, ou seja, parte-se da discussão, no âmbito do OP, É importante ressaltar que, em nosso entendimento, a junto à sociedade, para só depois elaborar a primeira ver- análise do orçamento público é primordial para a Ciência são do Orçamento público e seu envio, para votação e Política por ser o orçamento público o resultado de todas aprovação, à Câmara Municipal. as pressões sociais, políticas e econômicas dentro da es- Desde o início do governo, a gestão do PT criou toda a fera governamental, ou seja, a análise da alocação dos estrutura administrativa necessária à realização do OP na recursos públicos mostra quem verdadeiramente se apro- cidade; uma ampla divulgação desta iniciativa, na mídia pria e se beneficia do aparelho e dos recursos do Estado, local, motivando a participação de aproximadamente 650 individual ou coletivamente. pessoas logo no primeiro ano (2000) da nova administra- Ressalte-se que, em função das limitações legais com ção. relação ao gasto público, o modelo de orçamento Seguindo o modelo, já tradicional, de divisão da cidade participativo só pode realocar os recursos que não este- em regiões, a prefeitura de Araraquara dividiu a cidade jam comprometidos com normas legal-constitucionais, isto em oito regiões, incluindo uma área rural composta pelos é, os participantes do orçamento participativo só podem assentamentos Bela Vista e Monte Alegre e pequenos decidir sobre a aplicação dos recursos destinados aos inves- produtores rurais. timentos. Destaque-se que o poder legislativo sofre as Estas regiões, por sua vez, foram divididas em 28 sub- mesmas restrições legais. Pela lei atual, os vereadores só regiões, onde foram realizadas reuniões do OP para divul- podem realocar os mesmos recursos, ou seja, o dinheiro gação, discussão dos problemas da comunidade e indica- disponível para investimento. Porém, com a adoção, pelas ção dos delegados que iriam compor o conselho do OP na prefeituras, do modelo orçamentário participativo, os ve- cidade. readores vêem seu poder reduzido e totalmente limitado Dos 650 participantes, duzentos e onze foram eleitos, no campo orçamentário, já que qualquer alteração que e estes participantes elegeram os 23 delegados e 23 vice- venham a propor vai conflitar com o negociado no âmbito delegados que participariam das discussões finais e da do orçamento participativo. votação dos projetos do OP em Araraquara. Os vereadores são também representantes do povo, No modelo de OP implantado em Araraquara, além eleitos, muitas vezes, com milhares de votos e, no entanto, das reuniões para elaboração dos projetos com investi- 44 Ciência e Cultura ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 mentos selecionados pela população, o município realizou, sos destinados a investimentos; é justamente esse recur- também, as chamadas reuniões temáticas. so que é o foco das discussões no âmbito do OP, ou seja, Nas reuniões temáticas, a discussão é aberta a todos os delegados do OP, junto com a prefeitura, discutem a os interessados num determinado tema, independentemen- alocação do único recurso nos quais os vereadores pode- te da região à qual o participante pertence. riam alterar no âmbito da gestão orçamentária pública, Diversas foram as temáticas discutidas desde o pri- gerando um conflito não declarado. meiro ano do mandato do governo petista tais como: mu- Ressalte-se que o OP não é institucionalizado, geran- lheres, juventude, idosos, pessoas portadoras de deficiên- do uma maior tensão entre os delegados do OP, eleitos cias físicas. Destaque-se a temática “Afro-descenden- nas suas comunidades, e os vereadores, eleitos pela po- te”, cujo objetivo era de discutir e criar alternativas de pulação em geral. E com mandato de representação for- políticas públicas de combate ao racismo e à discriminação. mal-legal. Contrariando os céticos que não acreditavam na viabi- Para testarmos a hipótese de conflito entre OP e vere- lidade do orçamento participativo, foram investidos apro- adores foi aplicado um questionário junto aos vereadores ximadamente R$12.000.000,00 de reais, no período 2000/ da cidade de Araraquara. 2003 em obras, projetos e atividades aprovados, no âmbito do OP, em Araraquara. As primeiras cinco questões fazem um levantamento geral da situação partidária, social e profissional dos vere- As obras aprovadas, seus locais de construção e valo- adores, as questões 6, 7, 8, 9 e 10 dizem respeito ao papel res eram divulgados através de jornais à população em dos vereadores e sua relação com os delegados do OP e geral e servem como instrumento para divulgar o OP na com a prefeitura. cidade. Enviamos questionários para todos os 21 vereadores Os dados do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo, da cidade de Araraquara, porém, apenas 13 responde- entretanto, mostraram um endividamento crescente e que ram, o que representa aproximadamente 62% do total de o município estava atingindo os limites da Lei de Respon- vereadores da cidade. sabilidade Fiscal e, em médio prazo, terá que cortar gastos ou aumentar as receitas para fazer frente aos novos A primeira questão faz uma radiografia da participação dos vereadores com os partidos que representam. patamares de custeio e investimentos; além disso, o cres- Dos vereadores que responderam a pesquisa, 23% cimento da dívida implicou em maiores gastos com juros e eram do PT, 23% eram do PMDB, PTB e PP, ou seja, amortização, afetando os investimentos públicos, e, con- esses quatro partidos representam 92% do total de vere- seqüentemente, os projetos aprovados no âmbito do OP. adores que responderam a pesquisa; os 8% restantes eram Na prática, os vereadores só podem mexer nos recur- do PSB (Figura 2). Figura 2 – Distribuição dos vereadores por partido político Ciência e Cultura 45 JUNIOR, João Marino v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 No que se refere à formação profissional, há uma clara distinção entre vereadores e delegados do OP. professores, comerciantes, técnicos contábeis, entre outros (Figura 3). Os vereadores, do ponto de vista da formação profis- Quando indagados acerca da relação da câmara de sional, exercem, na quase totalidade, profissões de nível vereadores com a prefeitura, 33% dos vereadores do PT médio e superior. Um grupo de 38% dos vereadores que responderam a pesquisa consideram o relacionamento exerce, exclusivamente, a atividade político-partidária. como sendo bom enquanto que para 67% dos vereadores Entre os vereadores, há médicos, advogados, sociólogos, petistas a relação é considerada regular. Figura 3 – Distribuição dos vereadores por atividade profissional Dos vereadores não petistas 40% consideram a rela- ram a relação regular e 33% fraca. Dos vereadores não ção boa, outros 40% regular, 10% fraca e 10% muito boa petistas pesquisados 10% consideram o relacionamento contra 0% dos vereadores petistas (Figura 4). ruim, 20% fraca, 40% consideram a relação Câmara x Quando, porém, a questão é sobre a relação da câma- Prefeitura/OP como sendo regular, 20% boa e 10% muito ra com a prefeitura e o orçamento participativo, os resul- boa contra nenhum do PT (Figura 5). O que mostra um tados mudam consideravelmente. descontentamento generalizado, inclusive na base aliada Dos vereadores do PT entrevistados, 67% considera- Figura 4 – Relação da câmara com a prefeitura em geral 46 Ciência e Cultura do governo municipal. ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Figura 5 – Relação dos vereadores com a Prefeitura/OP O difícil relacionamento entre o poder legislativo e o têm a mesma opinião, outros 40% disseram que o poder executivo, no âmbito do OP, é corroborado pela papel dos vereadores era pouco importante e só 20% con- questão 5, que indagou aos vereadores qual era o papel da sideram o papel dos vereadores, no âmbito do OP, impor- câmara no processo decisório do orçamento participativo. tante (Figura 6). O que mostra grande descontentamen- A totalidade dos vereadores do PT (100%) afirmou to, dos vereadores, acerca do papel do poder legislativo e que o papel dos vereadores, no que se refere ao OP, é a maneira como a prefeitura estruturou e conduz o OP na praticamente nulo. Dos vereadores não petistas, 40% cidade. Figura 6 – Visão dos vereadores sob seu papel na definição do orçamento público. Um ponto importante a ser ressaltado é que, na visão O conflito de interesses fica ainda mais evidente na dos delegados do OP há pouca participação do legislativo questão 6, que indaga sobre o papel dos vereadores na e para os delegados isso se deve única e exclusivamente definição do orçamento público, após a criação do orça- ao desinteresse dos vereadores em participar das reuni- mento participativo. ões do OP. Os vereadores, por sua vez, dizem que, em Contraditoriamente nada menos que 100% dos verea- parte, a culpa pela inexpressiva participação dos vereado- dores petistas afirmaram que, após a estruturação do OP, res nas reuniões do OP se deve à prefeitura, que conduz o o papel dos vereadores ficou igual em questões orçamen- OP como um instrumento de propaganda e pressão, que tárias, e só 10% dos entrevistados não petistas conside- reduz o papel dos vereadores em questões orçamentárias. ram que o papel dos vereadores melhorou após a implan- Ciência e Cultura 47 JUNIOR, João Marino v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 tação do OP. Um grupo de 30% de vereadores não petistas uma resposta; 67% dos vereadores do PT consideram consideram que a importância dos vereadores na definição de que o OP precisa ser modificado para respeitar o papel e questões orçamentárias ficou igual ao que era antes do OP a responsabilidade do poder legislativo, enquanto que para (Figura 7). 33% dos vereadores petistas este processo amplia o pa- Quando, aprofundamos a análise entrevistando os ve- pel dos vereadores (Figura 8). readores que estavam exercendo a atividade há mais de Para os vereadores que não são do PT, 30% conside- dois mandatos, todos foram unânimes em afirmar que o ram o OP prejudicial, 50% dizem que o OP diminui o pa- papel dos vereadores, como intermediários entre a prefei- pel dos vereadores, 20% desejam alterações no OP de tura e a população, na mediação das demandas econômi- modo a proteger o papel do poder legislativo, 20% consi- cas e sociais da população junto à prefeitura, foi drastica- deram o OP uma forma de manipulação dos eleitores, para mente reduzido. 30% há neutralização do papel da oposição em função da A questão 7 detalha e confirma este conflito. Quando pressão dos delegados do orçamento participativo junto à indagados sobre a estrutura do OP e a forma como os câmara para defender a aprovação dos projetos votados delegados são eleitos, verificamos uma grande diversida- no âmbito do OP. Só 20% consideram positiva a experi- de de opiniões. ência do OP (Figura 8). Na questão 7, os vereadores podiam escolher mais de Figura 7 – Papel dos vereadores na definição do orçamento público após a criação do OP A questão 8 indagou sobre a opinião dos vereadores Em nosso entendimento, esta mudança seria represen- acerca do orçamento participativo e sua institucionalização. tada, principalmente, pela quebra do papel dos vereado- Nesta questão, também, os vereadores podiam responder res como intermediários das demandas econômicas e so- mais de um item. ciais da população junto à prefeitura. Para 100% dos vereadores do PT, o OP é uma práti- Quando indagados sobre o papel dos delegados do OP, ca democrática que deve ser institucionalizada, contra 10% questão 9 do questionário, que permitia mais de uma res- dos vereadores oposicionistas que têm a mesma visão. posta, 67% dos vereadores petistas entrevistados disse- Dos vereadores da oposição 40% classificaram o OP como ram que os participantes ajudam na definição das políti- uma prática não democrática e um trabalho de marketing cas públicas. Os outros 33% dos vereadores do PT consi- da prefeitura; 10% consideram o OP prejudicial à demo- deram que os delegados contribuem para a gestão e a cracia e 30% consideram que o OP muda o poder político qualidade do gasto público por defenderem democratica- local (Figura 9). mente as necessidades dos bairros e regiões que repre- 48 Ciência e Cultura ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA sentam (Figura 10). v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Só 20% dos vereadores da oposição consideram que Ao contrário dos vereadores do PT, a oposição consi- os delegados do orçamento participativo contribuem na dera que os delegados não são muito vinculados a seus definição das políticas públicas, ao exigir a aplicação dos interesses pessoais imediatos (80%) e que os delegados recursos para investimentos vinculados às reais necessi- não têm competência para tomar decisões (50%). dades da população (Figura 10). Figura 8 – Papel do OP e dos delegados na visão dos vereadores de Araraquara Figura 9 – Visão dos vereadores sobre o orçamento participativo em Araraquara Ciência e Cultura 49 JUNIOR, João Marino v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Figura 10 – Visão dos vereadores do papel e dos interesses dos delegados do OP A última questão (10) indagava aos vereadores acerca de qual deve ser a instância última de decisão política, sidera que o OP é uma forma democrática de participação que muda o poder político local (Figura 11). a vontade manifesta pela população (democracia direta) Pela análise geral dos resultados obtidos em ou a câmara municipal (democracia representativa), atra- Araraquara, percebeu-se, claramente, um conflito de in- vés de seus vereadores eleitos pela população, e se o Op teresses entre vereadores, de um lado (poder legislativo), deveria ser institucionalizado (Figura 11). e a Prefeitura/Delegados do OP (poder executivo), do Todos os vereadores do PT (100%) consideram que o outro, quando a assunto é orçamento participativo. OP deve ser institucionalizado; só 10% dos vereadores da Os dados obtidos confirmam a hipótese principal de oposição têm a mesma opinião. A maioria dos vereadores que há um conflito entre OP e poder legislativo, em fun- da oposição (40%) é contra e considera o OP uma prática ção da interferência do OP em assuntos de competência não democrática, já que a maior parte da população não legal da câmara municipal, que vê sua importância e seu participa, e vê o OP como um instrumento de marketing poder reduzidos em função desta nova estrutura política da prefeitura. Um expressivo grupo de 30%, porém, con- informal. Figura 11 – Democracia Representativa x Direta – Visão dos vereadores araraquarenses 50 Ciência e Cultura ORÇAMENTO PARTICIPATIVO E PODER LOCAL NA VISÃO DO PODER LEGISLATIVO: UM ESTUDO DO MUNICÍPIO DE ARARAQUARA v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Fica evidente que a não institucionalização do OP, com Há, claramente, um descontentamento e um descon- a participação dos vereadores ou poder legislativo neste forto, por parte dos vereadores, com a maneira como a processo, faz com que esta prática de democracia direta prefeitura criou, implantou e coordena o processo de or- fique restrita a ser uma política de governo local, vincula- çamento participativo nesta cidade. da e identificada com um determinado partido político. Pela reação e pelo grau de conflito verificado na pesquisa, podemos afirmar que, apesar de todos os seus as- Os vereadores se sentem desprestigiados e sentem perder poder, na medida em que uma de suas principais funções é discutir e aprovar o orçamento público. pectos positivos principalmente no que se refere a ques- Destaca-se que, pela lei orçamentária, os vereadores tões relacionadas à Accountability , este modelo de de- só podem alterar a proposta orçamentária no que se refe- mocracia direta tende a desaparecer em caso de alternância re à alocação dos investimentos públicos, que é o mesmo de poder e de saída do partido cuja prática do OP está item e valor discutido e aprovado no âmbito do orçamento associada. participativo. Quando aprofundamos a análise do conflito entre po- Considerações Finais Dentre os principais resultados observados na pesquisa devemos destacar os seguintes aspectos: der executivo x poder legislativo/OP, verifica-se que, na visão de 34% dos vereadores, a prefeitura manipula o orçamento participativo e restringe o papel dos vereadores. 1) Conflito Latente Poder Legislativo x Executivo/OP. Um grupo menor (18%) afirma que o papel dos vere- Em Araraquara, 100% dos projetos de investimentos adores ficou restrito e limitado no que se refere às ques- apresentados no âmbito do OP foram aprovados sem ne- tões orçamentárias, e que os vereadores são pressiona- nhuma modificação por parte do poder legislativo. dos a aprovar o orçamento participativo sem alterações. As pesquisas, tanto com os delegados quanto com os Por outro lado, um representativo grupo de 34% vereadores, confirmam a hipótese de conflito latente en- entende que o papel dos vereadores com OP é igual ao tre Prefeitura/OP x Poder Legislativo. papel dos vereadores em períodos anteriores, e 13% en- A maioria dos delegados (70%) considera que a prefeitura faz um bom trabalho de preparação e organização tendem que o papel dos vereadores foi ampliado com a participação dos delegados do orçamento participativo. da estrutura e das reuniões do orçamento participativo. A metade dos vereadores entrevistados gostaria de Um pequeno grupo de 11% dos entrevistados critica a modificar o OP de forma a “ver respeitado o papel dos forma como a prefeitura organiza as reuniões do OP; es- vereadores”, e poder voltar a influir nas decisões sobre a sencialmente, os delegados reclamam dos dias, locais e alocação dos investimentos públicos. horários das reuniões; um pequeno grupo destacou que, Para este grupo, em menor escala (17%), a prefeitura para haver maior participação, seria preciso que a prefei- manipula os delegados do OP de acordo com seus inte- tura oferecesse condições financeiras, tais como “passe” resses e coloca os delegados contra os vereadores; ou- e “lanche”, pois a população pobre e carente muitas ve- tros (8%) entendem que o OP é prejudicial à democracia zes deixa de participar das reuniões por este motivo. (representativa), pelo fato dos delegados não terem sido Os vereadores, ao serem indagados sobre o relaciona- eleitos como foram os vereadores. mento do poder legislativo com a prefeitura, consideram que a relação é positiva. A maioria dos vereadores entrevistados (34%) entende ser o OP um trabalho de marketing da prefeitura. Po- Quando, porém, o tema “orçamento participativo” é rém, um grupo representativo de vereadores (32%) acre- discutido, verifica-se um afloramento do conflito político dita que o modelo de orçamento participativo deva ser que confirma a hipótese de um conflito latente entre os institucionalizado, e só uma minoria (11%) acredita que o poderes instituídos e legais (democracia representativa) OP é prejudicial à democracia, por entender que os dele- frente à questão do poder não instituído ou legalizado do gados são manipulados pelos técnicos do poder executi- Orçamento Participativo (democracia direta). vo. Ciência e Cultura 51 JUNIOR, João Marino v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Quando indagados acerca dos fatores que motivam a CONCLUSÕES participação da população no orçamento participativo e sobre a importância ou não destes delegados no processo Pode-se dizer que a questão central colocada pelo OP de controle e alocação do gasto público, os vereadores é como conciliar mecanismos de democracia representa- também têm opiniões diversas. tiva (poder legislativo) com mecanismos de democracia No entanto, um expressivo grupo de 50% dos entre- direta (OP). vistados entende que os participantes e os delegados do O modelo de gestão pública local baseado no Orça- OP são motivados, essencialmente, por interesses priva- mento Participativo, pode-se dizer, foi a primeira grande dos ou particulares, tais como moradia e saneamento. idéia, viável, dos partidos de esquerda que efetivamente A maioria dos vereadores mais antigos, aqueles que estavam cumprindo pelo menos o seu segundo mandato, mudam ou têm potencial de mudar as estruturas políticas locais. afirmou que, após a implantação do OP, houve uma signi- As experiências pesquisadas, assim como todas as ficativa queda na procura pelos vereadores como inter- demais analisadas e discutidas, mostram que os políticos mediários entre os cidadãos e as associações que eles e partidos conservadores terão que repensar a forma como representavam junto à prefeitura. vêem e reagem ao OP. Um grupo de 34% considera os delegados do OP incapazes de tomar decisões sobre temas complexos, téc- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS nicos ou que envolvam análises mais amplas, e problemas que afetem a cidade de uma forma geral. Apenas 34% dos vereadores acreditam que o papel dos delegados do orçamento participativo seja importante ARAÚJO, – Gestão pública e democratização do poder local: o caso do Orçamento Participativo de Campina Grande PB. Dissertação de mestrado UFPB, 2000. para o controle do gasto público, e um grupo menor (24%) considera que os delegados e participantes do OP colabo- AVRITZER e NAVARRO. ORG) et ali. – O orçamento ram com a qualidade do gasto público, ao ajudarem na participativo e a teoria democrática: um balanço crítico. definição de quais devem ser as prioridades e onde a pre- In – A Inovação democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, feitura deve gastar os recursos para investimentos do 2003. p. 13/60. município. Finalmente, quando indagados acerca da democracia SANCHEZ. Orçamento Participativo Teoria e Prática. representativa e da democracia direta, os vereadores na Ed. Cortez – Coleção Questões da Nossa época. Vol 97 sua maioria (53%) gostariam de ver o OP institucionalizado, 1* edição 2002. com a participação dos vereadores (democracia representativa) por que foram eleitos para isso. SOMARRIBA e DULCI. – A democratização do poder Só 18% dos vereadores consideraram que a democra- local e seus dilemas: A dinâmica atual da Participação cia direta deve prevalecer sobre a democracia repre- Popular em Belo Horizonte. – in Reforma do Estado e sentativa. Entendem e defendem o ponto de vista (24%) Democracia no Brasil. Brasília, 1997, ed. UnB p. 391- de que a avaliação dos vereadores, legitimamente eleitos 425. pelo povo, deve prevalecer em relação ao sistema desenvolvido pela prefeitura, entendido pela maioria dos verea- WAMPLER, Brian. – Orçamento Participativo: Uma ex- dores como um instrumento do poder executivo para im- plicação para as amplas variações nos resultados. – in: A por a sua vontade, manipulando os participantes do OP e Inovação Democrática no Brasil. São Paulo: Cortez, 2003 jogando estes contra os vereadores. – p. 61/86. 52 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL ESTIMATES THE PARAMETERS GENETICS IN EARLY SOYBEAN POPULATIONS WITH RESISTANCE TO STEM CANKER FOR PLANTING IN SUGAR CANE REFORMING AREAS Ivana Marino BÁRBARO1,2; Maria Aparecida Pessôa da Cruz CENTURION2; Antonio Orlando DI MAURO2; Laerte Souza BÁRBARO JÚNIOR3; Marcelo TICELLI1; Fernando Bergantini MIGUEL1; José Antônio Alberto da SILVA1; Marcelo Marchi COSTA2 *Parte da tese de doutorado do primeiro autor na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP, Campus de Jaboticabal, SP. 2006. 1 Apta Regional Alta Mogiana. Av. Rui Barbosa, s/no 14770-000. Colina, SP. E-mail: [email protected]; 2 Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias/UNESP. Departamento de Produção Vegetal. 3 Faculdade Dr. Francisco Maeda, FAFRAM. RESUMO A estimativa de parâmetros genéticos é extremamente importante para direcionar o programa de melhoramento em relação ao processo de seleção dos genótipos mais promissores. Assim, o objetivo do presente trabalho foi: estimar variâncias, herdabilidades no sentido amplo, restrito, médias e ganhos esperados de onze caracteres em cinco populações precoces de soja na geração F6, assim como recomendar o critério de seleção mais promissor. As populações foram conduzidas no esquema experimental de linhas segregantes intercaladas com cultivares-padrão no ano agrícola 2004/05, em Jaboticabal, SP. Pelos resultados obtidos, observou-se que em geral as médias das populações foram superiores ou muito próximas das médias dos cultivares-padrão, demonstrando bons atributos agronômicos principalmente nos caracteres número de dias para a maturação (precocidade), altura de planta na maturação, altura de inserção da primeira vagem e produtividade de grãos. Os coeficientes de herdabilidades no sentido amplo e restrito apresentaram magnitudes próxi- mas, indicando que a maior parte da variância genética é de natureza aditiva. Também foi verificada que a seleção praticada entre famílias apresentou-se mais eficiente que aquela realizada dentro de família, segundo análise dos componentes de variâncias. Assim, a estimação de parâmetros que servirão de diretrizes para a seleção, aliados ao uso de ensaios de avaliação de famílias intercaladas com testemunhas apresentou-se viável nas populações. Além do que, as populações apresentam condições favoráveis para seleção de linhas superiores, sendo que este processo pode resultar em ganhos genéticos significativos devido a variabilidade disponível e boas médias apresentadas, contribuindo para que estes genótipos continuem no programa de melhoramento para o desenvolvimento de cultivares resistentes à doenças e para cultivo em áreas de reforma de canavial. Palavras-Chave: oleaginosa, progresso genético, componentes de variância. ABSTRACT The estimation of genetic parameters is extremely important to direct the breeding program in the process of selecting the most promising genotypes. Thus, the aim of this work was: to estimate variances, heritabilities in a broad sense, narrow sense, averages and gains expected of eleven traits in five early soybean populations in the generation F6, as well as recommending the more promising selection criterion. The populations were conducted using the family design with intercalated checks in the agricultural year 2004/05, in Jaboticabal, SP. For the obtained results, it was observed that in general the averages of the populations were superior or very close of the averages of the checks, demonstrating good agronomic attributes mainly in the traits number of days to maturation (precocity), plant height in the maturation, insertion height of the first pod and grains yield. The heritabilities coefficients in a broad and narrow sense, presented close magnitudes, indicating that most of the genetic variance is of additive nature. It was also verified that the selection practiced among families came more efficient than that accomplished inside of families, second analysis of the components of variances. Like this, the estimate of parameters that will serve as guidelines for the selection, allies to the use of rehearsals of evaluation of family with intercalated checks came viable in the populations. In addition, the populations present favorable conditions for selection of superior lines, and this process can result in gains genetic significant due to available variability and good presented averages, contributing to these genotypes to continue in the breeding program for the development of the cultivate resistant to diseases and for cultivation in areas of sugar cane plantation reform. Keywords: oleaginous, genetic progress, variance components. Ciência e Cultura 53 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL INTRODUÇÃO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 tivo de estimar alguns parâmetros genéticos como herdabilidades no sentido amplo e restrito entre e dentro A expansão da cultura canavieira no Brasil aliada a de famílias segregantes e ganhos esperados, além de re- incorporação de novas áreas, geralmente de baixa fertili- comendar o critério de seleção mais promissor, para fins dade para a produção de açúcar e energia renovável, in- de seleção de novos genótipos de soja adaptados para duz a necessidade de recuperação e manutenção da fer- cultivo em áreas de reforma de canavial, com resistência tilidade do solo para alavancar produções econômicas, ao cancro-da-haste e portadores de bons atributos agro- assumindo o sistema de rotação/sucessão de culturas com nômicos. espécies graníferas, um papel de destaque neste cenário. A disponibilidade de poucos cultivares de soja reco- MATERIAL E MÉTODOS mendados para plantio em áreas de reforma de canavial, determina uma falta de opção por parte do produtor em A estimação dos parâmetros genéticos ocorreu a par- termos de escolha de cultivar (MAURO et al., 1999). tir da avaliação de caracteres agronômicos em popula- Assim, apropriada atenção merece ser oferecida quando ções segregantes, conduzidas como parte do programa se pretende viabilizar o sistema rotação cana-soja no to- de melhoramento de soja do Departamento de Produção cante a escolha do cultivar de soja, sendo recomendado Vegetal da UNESP/FCAV, Campus de Jaboticabal, SP, cultivares preferencialmente de ciclo precoce e semi-pre- no ano agrícola 2004/05. Os cruzamentos para obtenção coces (120 a 130 dias) para o Estado de São Paulo, os das populações foram realizados entre cultivares resis- quais propiciam a colheita da cultura em tempo ideal para tentes e suscetíveis ao patógeno agente causal do can- o plantio da cana; com rusticidade principalmente quanto cro-da-haste a exigências nutricionais e com caracteres agronômicos meridionalis) e a reação de resistência dos mesmos na desejáveis como altura de planta na maturação acima de geração F2 foi testada através do método de inoculação 60 cm e altura de inserção da primeira vagem acima de artificial do palito-de-dente (YORINORI, 1996). Deste 10 cm, para fins de facilidade na operação de colheita modo, somente as sementes F3 colhidas das plantas F2 mecanizada (ATHAYDE et al., 1984, TANIMOTO, 2002). resistentes semeadas em vasos em casa-de-vegetação Aliado ao destaque da soja para cultivo em áreas de re- foram semeadas no campo. As gerações posteriores tam- forma, deve-se reforçar o seu valor como uma das princi- bém foram avaliadas por Bárbaro (2003), sendo conduzidas pais espécies graníferas e a mais importante oleaginosa pelo método de melhoramento genealógico modificado. cultivada em escala mundial, constituindo o óleo e o farelo Foram avaliadas cinco populações de soja pelo delinea- uma das mais importantes “commodities” nacionais, figu- mento de blocos aumentados, distribuídas no campo ex- rando o Brasil em 2005, como o segundo produtor mundi- perimental no esquema de famílias com testemunhas in- al com produção de 50 milhões de toneladas ou 25% da tercalares, onde cada família era derivada da debulha de safra mundial (EMBRAPA, 2005). uma planta individual. (Diaporthe phaseolorum f.sp. O interesse por parte do melhorista em se obter gran- Este delineamento foi adotado em função da pequena de variabilidade para a imposição de um processo seletivo quantidade de sementes disponíveis, grande número de que efetivamente resulte em ganhos genéticos significati- genótipos a serem avaliados e a falta de homogeneidade vos, são pontos de suma importância para o desenvolvi- nas primeiras gerações de autofecundação, inviabilizando mento de novos cultivares, assumindo a estimativa de o uso de delineamentos estatísticos com repetições. Este parâmetros genéticos importante papel preditivo para o sistema é, na verdade, uma derivação do delineamento de direcionamento de programas de melhoramento em rela- blocos aumentados (FEDERER, 1956), onde as testemu- ção ao processo seletivo dos genótipos mais promissores. nhas equivalem aos tratamentos comuns, e as famílias, Assim, no presente trabalho, foram avaliadas cinco populações precoces de soja, na geração F6, com o obje- 54 Ciência e Cultura aos tratamentos regulares. A genealogia dos cruzamentos, código e número de BÁRBARO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Foram realizadas análises de variância de cada um dos famílias avaliadas encontram-se na Tabela 1. caracteres avaliados, para cada um dos cultivares-padrão Tabela 1. Relação dos cruzamentos avaliados, com as respectivas genealogias, e número de famílias selecionadas, na geração F6 de estudo, ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP. e para a geração segregante (família), nas cinco populações avaliadas, sendo o modelo estatístico adotado, conforme apresentado por Cruz (2001) e Backes et al., (2002): , em que: = observação relati- Genealogia Número de famílias Geração F6 Tracy-M x Paraná FT-Cometa x Paraná FT-Cometa x Bossier FT-Cometa x IAC-8 BR-16 x IAC-11 10 61 50 89 8 va à j-ésima planta, do i-ésimo tratamento; = média ge- ral da população (cultivar-padrão ou linha segregante); fi = efeito genético atribuído à i-ésima família, sendo fi~NID (0, ), com ei= 1,2...,n; Para os cultivares-padrão este efeito é inexistente; = efeito ambiental entre fileiras (de um cultivar-padrão ou linha segregante), sendo = efeito genético atribuído a j-ésima planta da i-ésima família, sendo Sendo assim cada parcela foi constituída por uma filei- ), com j = 1,2...,p; para os cultivares-padrão este efeito é inexistente; ra, com cinco metros de comprimento representada por e uma família (progênie de uma planta selecionada na gera- (de um cultivar-padrão ou de linhas segregantes). = efeito ambiental entre plantas dentro de fileiras ção anterior) ou cultivar-padrão (testemunha), com Na Tabela 2 é apresentado o esquema das análises de espaçamento entre linhas de 0,5 m e com densidade mé- variância realizadas, bem como os estimadores das dia de 15 a 20 plantas por metro. Como bordadura expe- variâncias relativas às fontes de variação de famílias rimental foi utilizado o cultivar FT-Cristalina (devido à alta segregantes, sendo o estimador da variância fenotípica susceptibilidade do mesmo ao patógeno causador da do- entre famílias ( ença cancro-da-haste) no ano agrícola 2004/05, e como fenotípica dentro ( ) o QMEf, e o estimador da variância ) o QMDf. cultivares-padrão COODETEC-205 e MSOY-7501, os A variância ambiental foi estimada com base na varia- quais foram intercalados a cada dez linhas experimentais. ção fenotípica entre as repetições dos cultivares-padrão No estádio R8 de desenvolvimento foram selecionadas intercalados entre as famílias. Desta forma, a variação quatro plantas fenotipicamente superiores por parcela (fa- ambiental entre mília e ou cultivar-padrão) para avaliação dos seguintes timada, respectivamente por: e dentro de famílias foi es- caracteres agronômicos: número de dias para o florescimento (NDF); número de dias para a maturação (NDM); altura da planta na maturação (APM); altura de inserção da primeira vagem (AIV); acamamento (Ac); valor agronômico (VA); número de sementes (NS); número de vagens (NV); número de ramificações (NR); número de nós (NN) e produtividade de grãos (PG) (vaAs variâncias genotípicas entre lores ajustados para 13% de umidade). Para os caracteres e dentro VA e Ac foram atribuídas notas intermediárias entre os de famílias foram estimadas por diferença, respectivamen- valores inteiros de notas, ou seja, a escala incluiu as notas te da seguinte dos em e . A variância genotípica foi decom- 1,5; 2,5; 3,5 e 4,5, sendo os dados originais transformados em. Os caracteres NS e NV foram transformados em forma: posta em variância aditiva e devido à dominância . Os caracteres NS e NV foram transforma- , por intermédio das expressões de distribuição des- , de modo a haver uma melhor adequação ta entre e dentro de famílias autofecundadas, citadas por dos dados à curva de distribuição normal. Falconer(1987). Ciência e Cultura 55 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 O ganho indireto no caráter j, pela seleção no caráter i, e . é dada por: Conhecendo-se que o coeficiente de endogamia ,onde é o diferen- cial de seleção indireto obtido em função da média do da geração F6 é de respectivamente, 93,75, conforme caráter daqueles indivíduos cujas superioridades foram Ramalho e Vencovsky (1978), é possível estimar a verificadas com base em outro caráter, sobre o qual se variância aditiva nestas populações e, conseqüentemente, pratica a seleção direta. As análises estatísticas foram feitas com o auxílio do as herdabilidades no sentido restrito. As herdabilidades no sentido amplo e restri- programa computacional GENES, desenvolvido por Cruz (2001). to , para a média das famílias, foram estimadas, RESULTADOS E DISCUSSÃO . respectivamente por: O ganho esperado foi estimado considerando-se um índice de seleção de 20%, através da seleção direta no i-ésimo caráter (GSi), sendo estimado baseado no diferencial de seleção, pela fórmula proposta por Cruz (2001): , onde indivíduos selecionados para o caráter i; média dos média Nas Tabelas de 3 a 6 são apresentadas as estimativas de variâncias fenotípicas, genotípicas, herdabilidades e outros parâmetros genéticos para 11 caracteres agronômicos nas cinco populações de soja avaliadas na geração F6. Na Tabela 3, verifica-se que a variância fenotípica, bem como a genotípica para quase todos os caracteres nas cinco populações estudadas está distribuída predomi- original da população; ticado na população; diferencial de seleção pra- nantemente entre as famílias, fato também observado por herdabilidade restrita, ao nível Backes et al. (2002), após avaliarem dez caracteres agronômicos em cinco populações de soja. de média de famílias ou progênies, para o caráter i. Tabela 2. Esquema da análise de variância. Fonte de Variação Entre parcelas Dentro de parcelas Total Famílias GL1 QM3 f-1 QMEf fn-f QMDf fn-1 Cultivar-Padrão 1 GL2 QM3 r1-1 QMEp1 r1p-r1 QMDp1 r1p-1 Cultivar-Padrão 2 GL2 QM 3 r 2-1 QMEp2 r2p-r2 QMDp2 r2p-1 GL = grau de liberdade; 1f = número de famílias em avaliação; n = número de plantas por família;2 r1 e r2 = número de repetições do cultivar-padrão 1 e 2, respectivamente; p = número de plantas por cultivar-padrão; 3 QME = quadrado médio entre famílias ou entre repetições dos cultivares-padrão; e QMD = quadrado médio entre plantas dentro das famílias ou entre plantas dentro das repetições dos cultivares-padrão. Na Tabela 4, em geral as médias das populações provenientes do cruzamento de CEPS 89-26 x IAC-8 e foram superiores ou muito próximas das médias dos CEPS 89-26 x FT-Cristalina, ambas na geração F6, médias cultivares-padrão, para a maioria dos caracteres (com para altura da planta no florescimento (APF) e APM exceção dos caracteres NDF, NDM e Ac, no qual, vem superiores às médias dos progenitores IAC-8 e FT- sendo praticada em gerações anteriores, a seleção para Cristalina, respectivamente, sugerindo que a causa possa valores decrescentes) indicando a existência de estar relacionada a estratégia de seleção de plantas mais variabilidade genética disponível, o que viabiliza o altas e a outra foi a de selecionar plantas mais produtivas, melhoramento por intermédio de novos ciclos de seleção. nas gerações anteriores, o que levou a uma seleção Backes et al. (2002) encontraram nas populações correlacionada de plantas mais altas. 56 Ciência e Cultura BÁRBARO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 3. Estimativas de variâncias fenotípicas e genotípicas entre (ó2Fb) e (ó2Gb) e dentro de famílias (ó2Fw) e(ó2Gw) para onze caracteres agronômicos avaliados em cinco populações de soja na geração F6. Ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP. 1/ P = parâmetro genético; NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de vagens; NN = número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento. Considerando os caracteres mais importantes quando cultivo em rotação com a cana-de-açúcar. Entretanto foi o objetivo é o desenvolvimento de cultivares de soja para observado na maioria dos cruzamentos condição favorá- áreas de reforma de canavial, verifica-se a presença do vel para a seleção de linhas superiores, se efetuada uma atributo precocidade (NDM variando de 113,72 a 129,88 seleção criteriosa em relação a APM, objetivando dias) em todas as populações estudadas. minimizar o risco de desenvolvimento de variedades com Para APM e AIV, as médias das populações na geração F6 tenderam a aumentar ou foram próximas em rela- problemas de acamamento, em parte devido ao critério de seleção adotado para aumento de APM. ção aos cultivares-padrão, fato confirmado pela seleção Quanto ao caráter PG, considerado como o mais im- efetuada na geração anterior F5, objetivando plantas com portante do ponto de vista econômico, foi verificada uma altura acima de 60 cm, e AIV acima de 10 cm, uma vez elevação das médias correspondentes a quase todas as que existiam progênies que foram descartadas pelo pro- populações na geração F6, demonstrando a eficiência do cesso seletivo, pois não se enquadravam aos valores mí- processo seletivo para o caráter em questão realizada nas nimos recomendados segundo a proposta de Bonetti (1983) gerações anteriores. Todavia, verifica-se que a capacida- para uma eficiente colheita mecanizada. De acordo com de produtiva das populações pode ainda ser melhorada Mauro et al. (1999), progênies precoces obtidas nas gera- mediante imposição de processo seletivo, com eliminação ções F4 e F5, foram estudadas por dois anos consecutivos, de famílias medíocres, principalmente nas populações que verificando-se que a característica crítica para o proces- obtiveram médias inferiores ou próximas aos cultivares- so seletivo foi a AIV compatível com as exigências para o padrão. Ciência e Cultura 57 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 4. Estimativas das médias para onze caracteres agronômicos avaliados em cultivares-padrão e em cinco populações de soja nas geração F6. Ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP. 1/ Cultivares-padrão, sendo T1F6 = COODETEC-205, e T2F6 = MOY-7501; F6 = média das populações para cada caráter; NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de vagens; NN = número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento. Na Tabela 5, comparando-se as estimativas de todavia com um maior número de caracteres por popula- herdabilidades no sentido amplo, entre e dentro de famíli- ção com magnitudes inferiores. Deste modo, apesar de as, verifica-se que para a maioria dos caracteres avalia- nem todos os caracteres apresentarem estimativas de h2ab dos nas diferentes populações foi verificada superiorida- superiores a 50% em todas as populações, estes resulta- de da estimativa de herdabilidade entre famílias. Backes dos concordam com os resultados obtidos por Sediyama et al. (2002) encontraram valores superiores para plantas et al. (1999) e Backes et al. (2002) que encontraram em dentro da família somente para os caracteres número de geral, valores altos de herdabilidade entre famílias no sen- sementes por vagem (NSV), NDM e PG, concordando tido amplo e predominantemente baixos para herdabilidade em parte com os resultados obtidos no presente estudo. no sentido amplo para plantas dentro de famílias, confirmando o melhor desempenho da seleção entre famílias, Foram encontrados valores de herdabilidade entre famílias no sentido amplo abaixo de 50% para quase todos nas populações F6 estudadas. É importante ser salientado que foi verificada uma os caracteres, variando estes, no entanto, de acordo com grande faixa de variação nas estimativas de herdabilidade a população, com exceção do caracter NDF na geração de um mesmo caráter e entre caracteres que podem ser F6 que apresentaram valores de herdabilidade acima de atribuídas à diferenças populacionais, amostragem e na- 50% em todas as populações, sugerindo desta forma que tureza do caráter (JOHNSON et al., 1955). Costa (2004) para a maioria dos caracteres, a superioridade fenotípica avaliando oito caracteres em dez populações F2 e F3 de entre famílias não indica necessariamente a superiorida- soja, também verificaram alta variação para herdabilidades de genotípica. Já as estimativas de herdabilidade no senti- no sentido amplo entre famílias, sendo que variou de do amplo para plantas dentro de famílias apresentaram 34,00% para o caráter Ac na população derivada do cru- valores também inferiores a 50% para quase todos os zamento Renascença e BR-16 a 99,00% para o caráter caracteres, exceto para NDF em todas as populações, NDM na população Liderança x IAC-17. 58 Ciência e Cultura v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 BÁRBARO et al Tabela 5. Estimativas de herdabilidades no sentido amplo (h2ab) e (h2aw) e restrito (h2rb) e (h2rw) entre e dentro de famílias para onze caracteres agronômicos em cinco populações de soja na geração F 6. Ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP. NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de vagens; NN = número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento. Os caracteres AIV e NV apresentaram coeficientes no sentido restrito obtidos entre famílias, devem-se princi- de herdabilidade ampla entre famílias com valores inferi- palmente ao comportamento puramente quantitativo, dos ores a 50% em um maior número de populações na gera- mesmos em função do grande número de genes que o ção F6 quando comparado com os demais caracteres agro- controlam, permitindo alta influência do ambiente e, nômicos, concordando com os resultados obtidos por consequentemente, diminuição da relação entre a variância Backes et al. (2002), porém discordando em parte dos genética e a fenotípica, e também devido a variância de obtidos por Costa (2004) que encontraram de modo geral, dominância (não herdável) atuante na mesma. Tal resul- os maiores coeficientes de herdabilidade obtidos para os tado está de acordo com os resultados obtidos por Destro caracteres NV, NS e PG, indicando a possibilidade de ha- et al. (1987), Backes et al. (2002) e Reis et al. (2002).Foi ver sucesso na seleção das gerações precoces (F3) atra- também possível observar que as estimativas de vés do direcionamento do processo seletivo dos genótipos herdabilidade ampla e restrita entre famílias, para um mais promissores. mesmo caráter, apresentaram valores com magnitudes Para os caracteres PG, NS, NV, AIV, NN e VA na próximas principalmente nos caracteres secundários NDF, maioria das populações, os baixos valores de herdabilidade NDM, APM e AIV. Tal fato evidencia a pouca contribui- Ciência e Cultura 59 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 ção dos desvios causados pela dominância contribuindo obtidos na seleção direta e pelo uso da estratégia de sele- para o valor genotípico, indicando que provavelmente a ção por índices nos caracteres NV, NS e PG. maior parte da variância genética é de natureza aditiva. Analisando criteriosamente os dados, permite-se cons- Por sua vez, Backes et al. (2002) observaram que os tatar que os ganhos diretos foram para a maioria dos caracteres PG e NV apresentaram diferenças mais con- caracteres superiores aos indiretos, excetuando-se alguns sistentes entre as estimativas nos sentidos amplo e restri- caracteres, onde a seleção indireta apresentou uma ligeira to, considerando todas as populações estudadas. superioridade. Segundo Falconer (1987), esse resultado é Assim, a diferença na magnitude entre as estimativas passível de ocorrência em virtude da maior herdabilidade de herdabilidade nos sentidos amplo e restrito evidencia do caráter auxiliar em detrimento do principal, além de que principalmente quando o objetivo é comparar os po- elevada magnitude de correlação genética entre ambos. tenciais de diferentes populações, torna-se importante a De modo geral, com base nas estimativas do ganho à predição de ganhos com base na herdabilidade restrita. seleção, constata-se que a capacidade produtiva pode ser Por sua vez, Costa (2004) verificou em populações F2 e melhorada dentro de cada população, mediante imposi- F3 de soja, com fonte de resistência ao nematóide do cisto ção de processo seletivo, com eliminação das linhas me- (raça 3) que as estimativas dos coeficientes de díocres, sendo que a população derivada do cruzamento herdabilidade no sentido amplo e restrito na maioria das entre FT-Cometa e IAC-8, apresentou maior valor no situações foram próximas. ganho direto sobre PG na geração F6. Os caracteres NDF e NDM apresentaram valores elevados de herdabilidade restrita entre plantas dentro de CONCLUSÕES família em todas as populações estudadas. Backes et al. (2002) observaram apenas para altura da planta no O presente trabalho permite concluir que: florescimento e NDF. Desta forma, com os resultados 1) A estimação de parâmetros genéticos que ser- obtidos, torna-se visível a baixa eficiência da seleção den- virão de diretrizes para a seleção, aliados ao uso de ensai- tro de famílias, constatando que a diferença entre plantas os de avaliação de famílias intercaladas com testemunhas de uma mesma família se deve provavelmente a diferen- experimentais apresentou-se viável principalmente nas ças ambientais e desvios devido à dominância, de nature- populações F6 com pouca disponibilidade de sementes; za não herdável, tornando pequena a correlação entre o 2) A variância genética está predominantemente valor fenotípico e valor genético aditivo, o que leva a distribuída entre as famílias, sendo, portanto, recomenda- priorizar a seleção entre famílias. da a seleção entre famílias preferencialmente; Na Tabela 6 estão apresentadas as estimativas dos 3) As populações apresentaram condição favorá- ganhos de seleção para os onze caracteres avaliados nas vel para seleção de linhas superiores, sendo que este pro- populações derivadas dos cinco cruzamentos utilizando a cesso pode resultar em ganhos genéticos significativos estratégia de seleção direta e indireta, sendo considerada devido a variabilidade disponível e boas médias apresen- a seleção entre famílias, uma vez que em estudos realiza- tadas nos caracteres número de dias para maturação (pre- dos por Backes et al. (2002) e Bárbaro et al. (2005) em cocidade), altura de plantas na maturação, altura de in- populações avaliadas a partir da geração F5, a variância serção da primeira vagem e produtividade de grãos con- genética nos cruzamentos estudados esteve predominan- tribuindo para que estes genótipos continuem no progra- temente distribuída entre as famílias, em detrimento da ma de melhoramento para o desenvolvimento de cultiva- fração distribuída dentro de famílias, sendo a família, con- res resistentes ao cancro-da-haste da soja e destinados siderada portanto, a unidade de seleção primordial. preferencialmente para áreas de reforma de canavial. De um modo geral, os maiores ganhos diretos foram obtidos para os caracteres PG, NS e NN concordando em parte com Costa (2004) que encontrou os maiores ganhos 60 Ciência e Cultura v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 BÁRBARO et al Tabela 6. Estimativas de ganhos genéticos GS(%) para onze caracteres agronômicos avaliados em cultivares-padrão e em cinco populações de soja na geração F6. Ano agrícola 2004/05. Jaboticabal, SP. NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes; NV = número de vagens; NN = número de nós; NR = número de ramificações; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento. Ciência e Cultura 61 ESTIMATIVAS DE PARÂMETROS GENÉTICOS EM POPULAÇÕES PRECOCES DE SOJA COM RESISTÊNCIA AO CANCRO-DA-HASTE PARA CULTIVO EM ÁREAS DE REFORMA DE CANAVIAL REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ATHAYDE, M. L. F.; MIRANDA, M. A. C.; SADER, R. & RODRIGUES, R. Comportamento de cultivares e linhagens de soja no município de Araraquara- SP, em áreas de reforma de canavial. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE PESQUISA DE SOJA, 3.O , Campinas. Anais, Londrina, EMBRAPA/CNPS. 1984. p. 406-411. 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CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 AGRONOMIC PERFORMANCE OF SOYBEAN CULTIVARS IN COLINA-SP REGION, IN REFORM PASTURE AREA, AGRICULTURAL YEAR 2005/06* Laerte Souza BÁRBARO-JÚNIOR1; Ivana Marino BÁRBARO2; Vinícius Antonio MACIEL JÚNIOR3; Marcelo TICELLI4; Fernando Bergantini MIGUEL4; Paulo César RECO5; João Henrique BARBERO6 * Parte do trabalho do primeiro autor, para conclusão do Curso de Agronomia da Faculdade de Agronomia Doutor Francisco Maeda. 1 Estudante da Faculdade de Agronomia Doutor Francisco Maeda. 2 Autora responsável - Pesquisadora Científica do APTA Regional Alta Mogiana - Av. Rui Barbosa, s/no 14770-000. Colina, SP. 3 Professor da Faculdade de Agronomia Doutor Francisco Maeda. 4 Pesquisadores Científicos do APTA Regional Alta Mogiana. 5 Pesquisador Científico do Apta Regional Médio Paranapanema. 6 Estudante de Agronomia do Instituto Taquaritinguense de Ensino Superior.(ITES) RESUMO A reforma de pastagem com culturas como a soja tem sido viável em propriedades cuja exploração principal é a pecuária, conduzida em pastagens manejadas inadequadamente e sem adubação de manutenção. Com o objetivo de avaliar o comportamento de cultivares de soja na região de Colina-SP, em área de reforma de pastagem, foi conduzido no ano agrícola 2005/06, ensaio com 22 cultivares de soja. O delineamento experimental foi em blocos ao acaso, com quatro repetições. Cada parcela foi constituída por quatro linhas de 5 m de comprimento, com espaçamento entrelinhas de 0,50 m, e densidade de 18 plantas por metro linear, considerando como parcela útil as duas linhas centrais. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey a 5%. Verificouse que o ciclo dos cultivares se antecipou, variando de 96 a 114 dias. Quanto à produtividade, destacou-se o cultivar CD 201 com 2.491,50 kg/ha. Valores adequados com as exigências para a sucessão pastagem/soja também foram notados para os caracteres altura de plantas, altura de inserção da primeira vagem, acamamento, valor agronômico, massa de grãos, número de nós, ramos, vagens e sementes, demonstrando o potencial de vários cultivares de soja, para cultivo na região de Colina-SP. Em relação à estimativa de correlação, a massa de grãos mostrou ser um bom indicador da produtividade. Palavras-Chave: comportamento, Glycine max. L, rendimento, integração lavoura-pecuária ABSTRACT The pasture reform with cultures as the soybean it has been viable in farms whose main exploration is the livestock, being developed in pastures inadequately handled and without maintenance fertilization. An experiment using 22 soybean cultivars was conducted in region of the Colina-SP, in the reform pasture area, in the agricultural year 2005/06, to evaluate the behavior. The experimental design was the randomized block, with four replications. Each plot consisted by four row of 5 meters in length, considering as useful plot the two central row. The rows were spaced 0.5 m and the mean density was 18 plants per meter. The data were submitted to the variance analysis by the test F, being the averages compared by the test of Tukey at 5%. For the obtained results, it was verified that the cycle of the soybean cultivars it advanced, varying among 96 to 114 days. With relationship to the productivity, she stood out the cultivar CD 201 with 2.491,50 kg/ha. Values adapted with the demands for the succession pasture/soybean were also verified for plant height at maturation, insertion height of the first pod, loyding, agronomic value, mass of grains, number of nodes, branches, pods and seeds, demonstrating the potential of several cultivars for cultivation in region of the Colina-SP. In relation to the correlation estimate, the mass of grains showed to be a good indicator of the productivity. Keywords: behavior, Glycine max. L, yield, cattle raising and crop production integrated systems Ciência e Cultura 63 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 INTRODUÇÃO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 2003). Quando vários cultivares são testados em diferentes ambientes, normalmente há alteração relativa, quanto O cultivo da soja tem sido uma das principais al- á produtividade dos mesmos. Desta forma, a avaliação do ternativas para a reforma de pastagens degradadas, e a comportamento agronômico de cultivares pode trazer in- rotação e/ou sucessão da soja com pastagem (dois a três formações relevantes para os agricultores e técnicos. O conhecimento do coeficiente de correlação anos) tem propiciado benefícios para ambas às culturas (KICHEL et al., 2000). existente entre caracteres agronômicos em cultivares de Deste modo, atualmente têm-se dado ênfase na ne- soja fornece indícios de como a seleção praticada em um cessidade de reformar as pastagens, pois, as mesmas “fi- caráter pode influenciar a média de outro. Segundo cam cansadas” e precisam ser trabalhadas para recupe- Johnson et al. (1955), dentre as características de maior rar as condições originais de produtividade (PECHE FI- importância para o melhoramento de soja, além da resis- LHO, 2004). tência a doenças, é a produtividade. Assim, o conheci- Aliado ao destaque da soja para cultivo em áreas de mento da correlação entre características que influem na reforma de pastagem, deve-se reforçar o seu valor como produtividade é necessário, por permitir a identificação de uma das principais espécies graníferas e a mais importan- caracteres para uso na seleção indireta para produtivida- te oleaginosa cultivada em escala mundial, constituindo o de. óleo e o farelo, uma das mais importantes “commodities” Em resumo, a literatura nacional relata inúmeros nacionais. Em 2005 o Brasil figurou como o segundo pro- ensaios de desempenho de cultivares, a maior parte para dutor mundial com produção de 50 milhões de toneladas os estados tradicionais no cultivo da soja, entretanto, en- ou 25 % da safra mundial (EMBRAPA, 2005). contram-se também informações desta natureza para es- Entre os benefícios proporcionados pela reforma tados brasileiros não tradicionais no cultivo desta de pastagem com a soja destaca-se a produção leguminosa, como várzea irrigada (PELUZIO et al., 2003) diversificada de alimentos, melhoria das características e Pará (EL-HUSMY et al., 2003). físicas, químicas e biológicas do solo, controle de plantas O presente trabalho objetivou verificar o desempenho daninhas, doenças e pragas, reposição de matéria orgâni- agronômico de 22 cultivares de soja pertencentes à rede ca, proteção do solo da ação dos agentes climáticos e de ensaios de avaliação regional de cultivares comerciais auxílio na viabilização do sistema de semeadura direta e de soja IAC/CATI/EMPRESAS no Estado de São Paulo, dos seus efeitos benéficos sobre a produção agropecuária na região de Colina-SP, em área de reforma de pastagem, e sobre o ambiente como um todo (KICHEL et al., 2000). durante o ano agrícola 2005/2006. Paralelo a isto, objetivou- Para a adoção da sucessão pastagem/soja, torna-se se ainda, a estimação de coeficientes de correlação entre necessário fazer um planejamento com a utilização de os caracteres agronômicos avaliados nos cultivares. tecnologias disponíveis, entre as quais citam-se: a utilização de cultivares adaptados de soja, que produzam gran- MATERIAL E MÉTODOS des quantidades de biomassa e de rápido desenvolvimento, técnicas específicas para controle da erosão, calagem, O ensaio foi instalado no dia 12/12/2005 em área de adubação, qualidade e tratamento de sementes, época e reforma de pastagem com solo, classificado segundo a densidade de semeadura, controle de plantas daninhas, EMBRAPA (1999) como Latossolo Vermelho Escuro - pragas e doenças principalmente quando o objetivo é a fase arenosa pertencente á sede do Pólo Regional de maior eficiência do sistema (EMBRAPA, 2005). Desenvolvimento Tecnológico dos Agronegócios da Alta Assim sendo, os ensaios de competição de culti- Mogiana, situada em Colina-SP. A respectiva área teve vares são conduzidos em todas regiões brasileiras produ- como cultura anterior à gramínea do gênero Panicum toras de soja, visando avaliar o potencial produtivo, as ca- maximum cv. Tanzânia 1. racterísticas agronômicas e a estabilidade (SANTOS, 64 Ciência e Cultura Segundo Köppen (2001), o clima da região onde foi BÁRBARO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 realizado o experimento pode ser classificado como Cwa, O solo foi preparado de maneira convencional, com ou seja, tropical de altitude com inverno seco, temperatu- uma gradagem home, uma subsolagem, uma aração e duas ra do mês mais quente maior que 22° C e temperatura do gradagens niveladoras. Antes da última gradagem efe- mês mais frio entre -3° e 18°C. tuou-se a aplicação de trifluralin (Trifluralina Goldâ), na Foi empregado o delineamento experimental de blocos dose de 4 L/ha, visando o controle de plantas daninhas de ao acaso, composto por 22 tratamentos e quatro repeti- folhas estreitas infestantes da área. Posteriormente, a área ções. Cada parcela constituiu-se de quatro linhas de 5 foi sulcada e adubada. metros de comprimento, espaçadas de 0,5 m, sendo considerada como área útil da parcela, apenas as duas linhas centrais, correspondente a 5,0 m2. A adubação da área foi feita com base na interpretação dos resultados da análise química do solo (Tabela 1), Os cultivares utilizados para compor o ensaio foram: distribuindo-se no sulco de semeadura a quantidade de V-MAX, IAC 18, IAC 23, BRS 133, A 7001, A 7005, 86,21 kg/ha de cloreto de potássio, 444,44 kg/ha de EMBRAPA 48, CD 208, CARRERA, CD 218, BRS 232, superfosfato simples e 45 kg/ha de uréia. As sementes CD 202, CD 201, CD 215, CD 216, CD 217, CD 214 RR, foram tratadas com o fungicida Maxin XLâ e inoculadas IAC FOSCARIN 31, CD 211, M-SOY 8001, BRS 184 e com inoculante Masterfixâ, sendo a semeadura realizada BRS 245 RR. no mesmo dia da inoculação. Tabela 1. Resultado da análise química do Latossolo Vermelho Escuro – fase arenosa, utilizado no presente estudo. Com o planejamento do presente ensaio, objetivou-se um estande inicial de 18 plantas/metro linear, o que Endossulfam e Monocrotofós, nas dosagens recomendadas. corresponde a uma densidade populacional de aproxima- Para o controle da ferrugem asiática da soja foram damente 360.000 plantas/ha, no espaçamento entrelinhas efetuadas quatro aplicações com os fungicidas Eminent de 0,50 m. A opção 125âEW e Domark 100âCE, nas dosagens recomenda- por uma população inicial elevada, contrariando em das segundo a EMBRAPA (2005). parte as recomendações da EMBRAPA (2005) de no A colheita manual das plantas existentes na área útil máximo 320.000 plantas/ha, se fez em razão da tardia de cada parcela foi executada à medida que os cultivares época atingiram a maturação de campo, estádio de desenvolvi- de semeadura do ensaio, além da possibilidade de que determinados cultivares podem apresentar porte baixo dependendo da região em que são cultivados. mento R8 (FEHR e CAVINESS, 1977). Foram avaliados os seguintes caracteres agronômicos: número de dias para o florescimento (NDF), expresso em Complementou-se o controle das plantas daninhas atra- dias; número de dias para a maturação (NDM), expresso vés de capinas manuais, deixando-se a cultura livre da em dias; acamamento das plantas (Ac), através de uma competição com essas plantas por todo ciclo. escala de notas visuais, variando de 1 (quase todas as Foram feitos os controles para as lagartas e perceve- plantas eretas) até 5 (todas as plantas acamadas), pro- jos da soja, quando essas pragas atingiram o nível de dano posta por Bonetti (1983); valor agronômico (VA), através econômico, seguindo-se as recomendações da de uma escala de notas visuais baseada na observação do EMBRAPA (2005). Para o controle foram utilizados aspecto global médio das plantas avaliadas para cada um Ciência e Cultura 65 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 dos cultivares, levando-se em consideração uma série de aves (pombas) que se alimentam de cotilédones da soja, caracteres visuais adaptativos, tais como: arquitetura da contribuindo para formação de falhas nessas parcelas. planta, quantidade de vagens cheias, vigor e sanidade da No presente ensaio foi observado que entre os cultiva- planta, viabilidade de colheita mecanizada, resistência à res testados, nenhum apresentou altura de planta abaixo debulha prematura das vagens e menor retenção foliar de 65 cm, estando de acordo com as recomendações de após a maturidade, sendo 1 (planta ruim) a 5 (planta ex- Bonetti (1983) e Sediyama et al. (2005). Por outro lado, o celente) e estande final de plantas (EF), expresso em metro cultivar IAC FOSCARIN 31 mostrou valor médio de al- linear. tura de planta acima de 100 cm, o que também não é Após a colheita foram realizadas as seguintes avalia- adequado, uma vez que, quanto maior a altura da planta ções em 10 plantas ao acaso por parcela útil: altura de mais sujeita a mesma está ao acamamento, podendo ge- plantas na maturação (APM), expresso em cm; altura de rar maiores perdas na produção quando efetuada a co- inserção da primeira vagem (AIV), expresso em cm; nú- lheita mecanizada. mero de ramos (NR); número de vagens (NV); número Cultivares de soja com aptidão para cultivo em áreas de sementes (NS), número de nós na haste principal (NN) de reforma de pastagem devem atender a alguns quesitos e massa de grãos por planta (MG), expresso em g (obtido como altura mínima desejável para uma eficiente colheita através do valor médio do peso de sementes/planta em mecanizada, em solos de topografia plana é em torno de quatro repetições por parcela). 50 a 60 cm. Geralmente, plantas com 70 a 80 cm de altura A partir dos valores médios referentes a produção das induzem a uma eficiente operação da colhedora e acima parcelas de cada tratamento, calculou-se a produtividade de 100 cm tendem ao acamamento (SEDIYAMA et al. das variedades (PG), sendo expressa em kg/ha e posteri- 2005). ormente efetuaram-se a transformação em sacas/ha. Comparando os resultados obtidos por Silva (2005) que As análises de variância do presente ensaio foram fei- avaliou o desempenho de 13 dos cultivares testados no tas com o uso do programa computacional ESTAT, de- presente trabalho, no município de Jaboticabal-SP, notou- senvolvido pelo Departamento de Ciências Exatas da se uma elevação nos valores médios de altura de plantas FCAV/UNESP/Jaboticabal (ESTAT). Determinaram-se para nove cultivares e redução para dois quando cultiva- também os coeficientes de correlação simples, através do dos em Colina-SP, e valores com magnitudes próximas uso do programa GENES (CRUZ, 2001), entre as carac- para os cultivares CD 218 e M-SOY 8001 em ambos os terísticas NDF, NDM, APM, AIV, NS, NV, NR, NN, MG, locais. EF e PG, sendo estimadas de acordo com Vencovsky e Barriga (1992). Para altura de inserção da primeira vagem o ideal é que esteja cerca de 10 a 12 cm acima da superfície de solos planos e cerca de 15 cm em solos mais inclinados, RESULTADOS E DISCUSSÃO para que não ocorram perdas na colheita pela barra de corte da máquina (SEDIYAMA et al., 2005). Assim sen- Os valores médios dos caracteres agronômicos do, foi constatado que todos os cultivares avaliados apre- avaliados nos 22 cultivares de soja estão apresentados na sentaram valores médios de altura de inserção da primei- Tabela 2. ra vagem superiores a 10 cm, valor esse considerado mí- Nota-se que somente dois cultivares o M-SOY 8001 e nimo para obtenção de valores aceitáveis de perdas por o CD 215 apresentaram estande final superior a 16 plan- ocasião da colheita mecanizada, segundo Bonetti (1983) tas/metro linear, correspondendo a 320.000 plantas/ha. e Sediyama et al. (2005). Por sua vez, Silva (2005) verifi- Entretanto, alguns cultivares apresentaram um estande cou nos cultivares CD 201, IAC 18, BRS 184 e CD 211, bastante reduzido, como o CD 218 e o CD 211 que mos- alturas de inserção da primeira vagem abaixo de 10 cm, traram valores médios de 8,80 a 9,08 plantas/metro linear. relatando ainda que o ajuste do caráter em questão para O estande reduzido deveu-se a ocorrência de ataque de maiores alturas pode ser obtido através de acertos na data 66 Ciência e Cultura BÁRBARO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 de semeadura e densidade populacional. Ainda em rela- médios mais altos de nota de acamamento foram A 7005 ção ao mesmo autor, o caráter AIV está correlacionado e IAC FOSCARIN 31, com valor de nota de 2,67. O bai- com a altura de plantas que aumenta com a elevação da xo índice de acamamento obtido no presente ensaio pode população de plantas. estar relacionado à baixa densidade populacional do en- O acamamento das plantas também é um caráter que pode gerar perdas de grãos durante a colheita mecaniza- saio, uma vez que decréscimos na população podem influenciar na diminuição do grau de acamamento. da. Plantas altas e ou, de caule muito fino tendem ao Considerando o caráter NDM observa-se que todos acamamento com relativa facilidade. Essa característica os cultivares comportaram-se como precoces. O conhe- pode ser influenciada por vários fatores ambientais, tais cimento do ciclo do cultivar é de suma importância quan- como maiores índices em solos férteis, argilosos e úmidos do se objetiva o cultivo de soja em áreas de reforma de do que em solos pobres e/ou arenosos (SEDIYAMA et pastagem, sendo este em soja variando entre 75 a 210 al., 2005), sendo que notas de acamamento superiores a dias. De acordo com a classificação, para o Estado de 3,0 (todas as plantas moderadamente inclinadas) impossi- São Paulo existem quatro ciclos: ciclo precoce (até 120 bilitam a recomendação do cultivar (BONETTI, 1983). dias); ciclo semi-precoce (121 a 130 dias); ciclo médio Na Tabela 2, para o caráter acamamento não foram (131 a 140 dias) e semi-tardio (141 a 150 dias) observadas diferenças estatísticas significativas pelo tes- (EMBRAPA, 2005). Portanto, o uso de cultivares preco- te de Tukey a 5% de probabilidade. Sobretudo, verifica- ces de soja contribuem de forma a implementar rapida- se que os cultivares apresentaram baixos índices, ou seja, mente a pastagem e conseqüentemente conduzir a um valores estes que estão dentro da faixa recomendada por maior tempo de utilização da área para o pastejo dos ani- Bonetti (1983). Os cultivares que apresentaram valores mais. Tabela 2. Caracteres agronômicos avaliados em cultivares de soja na região de Colina-SP, em área de reforma de pastagem. Ano agrícola 2005/06. (1) Médias seguidas pela mesma letra na coluna, não diferem significativamente entre si pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade; Ac = acamamento e VA = valor agronômico. Ciência e Cultura 67 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 Efetuando-se comparações do caráter número de dias v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 caráter quando avaliado em Jaboticabal-SP. para a maturação com os resultados obtidos por Silva Para o caráter número de sementes, o CD 216 apre- (2005) e na classificação da EMBRAPA (2005), verifica- sentou maior valor (141 sementes). Entretanto, o cultivar se que no geral, houve diminuição do ciclo dos cultivares CARRERA foi o que teve menor desempenho quanto a testados no presente ensaio. Provavelmente, este encur- este mesmo caráter. tamento do ciclo ocorreu em função da elevada pressão Apesar da não significância para as notas visuais de de inóculo do fungo, agente causal da ferrugem asiática, valor agronômico, observou-se aspecto global mediano das da soja no ano agrícola em questão, apesar de ter sido plantas avaliadas para todos os cultivares, levando-se em realizado o seu controle através de quatro pulverizações consideração uma série de caracteres visuais adaptativos, com fungicidas específicos, sendo, ainda assim, notada a tais como: arquitetura da planta, quantidade de vagens presença do fungo que pode ter favorecido a maturação cheias, vigor e sanidade da planta, viabilidade de colheita mais rápida dos cultivares testados. mecanizada, resistência à debulha prematura das vagens Quanto ao caráter número de nós foi apurado que hou- e menor retenção foliar após a maturidade. ve diferenças significativas para o mesmo, tendo o culti- Houve diferenças estatísticas significativas para o com- var CD 211 apresentado o maior número de nós (18,10) ponente primário da produção “massa de grãos” sendo o não diferindo, de outros 14 cultivares com valores de 14,83 maior valor apresentado para o cultivar CD 216 com 16,53 a 16,70 nós na haste principal. Já o menor valor ficou para g, e o menor ficou para o M-SOY 8001 (7,28 g). o cultivar BRS 232 (13,43 nós), que por sua vez, não dife- O cultivar CD 201 destacou-se em relação à produti- riu dos cultivares IAC 23, EMBRAPA 48, CD 208, vidade com 2.491,50 kg/ha (42 sacas/ha), não diferindo CARRERA, CD 216 e CD 215. significativamente dos cultivares V-MAX, IAC-23, BRS Em relação ao número de ramos, observam-se dife- 133, A 7001, BRS 184, EMBRAPA 48, CD 208, renças estatísticas significativas pelo teste de Tukey a 5% CARRERA, CD 218, CD 216, BRS 232, CD 202, CD de probabilidade, sendo que o maior valor 8,28 ramos, foi 215, CD 217, CD 214, IAC FOSCARIN 31 e M-SOY obtido para o cultivar A 7005 que não diferiu de CD 214 8001 pelo teste de Tukey (p<0,05). Entretanto, com me- (6,93 ramos). Já, o cultivar A 7001 apresentou menor va- nor valor de produtividade ficou o CD 211 com 1.381,00 lor (2,55 ramos) e não diferiu do IAC FOSCARIN 31 kg/ha (23 sacas/ha). No ensaio de competição de cultiva- (2,90 ramos). Peixoto (1999) estudando três cultivares de res realizado durante o ano agrícola 2004/05 em soja adaptados as condições do Estado de São Paulo ve- Jaboticabal-SP, o destaque foi o cultivar M-SOY 8001 e o rificou que em semeaduras em época normal os cultiva- de menor produtividade foi o V-MAX (SILVA, 2005). res IAC 12, IAC 19 e IAC 17 apresentaram respectiva- Deve-se reforçar também, que o caráter produtividade mente 1,3, 2,5 e 3,7 ramificações. Esses resultados refle- nos cultivares estudados foram influenciados pelos ele- tem o comportamento diferenciado entre os cultivares, a mentos climáticos da região, em função da baixa maneira de interação entre os mesmos e o ambiente. herdabilidade do mesmo. De acordo com Fernandes et al. Segundo Câmara (1998) uma planta pode produzir até (1983) os efeitos interativos existentes entre genótipos e 400 vagens, mas em média os cultivares nacionais desen- ambiente conferem alto grau de instabilidade de produ- volvem de 30 a 80 vagens. No presente estudo os cultiva- ção. Embora, aparentemente os cultivares mais produti- res que apresentaram maior e menor número de vagens vos apresentarem diferença nos valores de rendimento, a foram CD 202 e A 7001, respectivamente, com 67,10 e mesma não foi significativa entre eles, não se descartan- 40,28 vagens. As diferenças observadas neste caráter são do, porém a possibilidade de uma significância econômica apresentadas por Pacova (1977) como próprios da baixa para esses cultivares (CÂMARA, 1998). herdabilidade do caráter em questão, sendo muito influen- As correlações fenotípicas entre alguns ciado pelo ambiente. De acordo com Silva (2005) o mes- caracteres agronômicos são apresentadas na Tabela 3, mo cultivar (CD 202) se destacou quanto a este mesmo onde observa-se que nem todos os coeficientes apresen- 68 Ciência e Cultura BÁRBARO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 taram-se suficientemente altos e significativos. Somente as correlações fenotípicas de NDF x APM, Ac x APM, MG x NDF, MG x AIV, NS x MG, NV produtivos, sugerindo que a seleção em qualquer um destes caracteres permitirá indiretamente a seleção para o outro caráter. x AIV, NV x MG, NV x VA, NV x NS, NN x NDM, NN O caráter AIV mostrou-se correlacionado significati- x APM, NR x NV, EF x MG, EF x NS, EF x NV, PG x vamente, porém, inversamente com a MG e NV, inferin- NDF, PG x NDM, PG x MG e PG x NN foram conside- do que aumentos na inserção da primeira vagem ocorrem radas significativas de médias a altas, com os sinais posi- com a diminuição da massa de grãos e número de vagens, tivo e /ou negativo. concordando com os resultados obtidos por Sarti et al. A correlação entre NDF e APM foi significativa (2006) que observaram para obtenção de plantas com (p<0,01) e de sinal positivo inferindo que plantas com maior maior número de vagens e maior massa de grãos, a sele- número de dias para o florescimento tenderam a apresen- ção deve buscar a redução da altura das plantas e tar maior altura de planta na maturação. consequentemente à altura de inserção da primeira va- O caráter NDF quando correlacionado com o MG mostrou sinal contrário e significância (p<0,05), sugerindo gem até os limites mínimos, 10 a 12 cm, estabelecidos por Bonetti (1983). que quanto maior o número de dias para o florescimento Em relação ao caráter MG foram verificados co- menor será a massa de grãos nas plantas. Nota-se ainda eficientes de correlação positivos e significativos (p<0,01) na Tabela 3 que aumentos no número de dias para quando associado aos caracteres NS, NV e PG. Entre- maturação levam a uma elevação no número de nós, de- tanto, este caráter mostrou correlação negativa e signifi- vido ao coeficiente de correlação significativo (p<0,01) e cativa (p<0,05) com EF. Desta forma, existe uma tendên- positivo com valor de 0,70. cia de que aumentos na massa de grãos são conseguidos As associações do caráter APM com Ac e NN mediante elevações no número de sementes, vagens, pro- apresentaram coeficientes positivos e significativos, res- dutividade, porém com decréscimos na população de plan- pectivamente, com valores de, 0,81 e 0,45, o que demons- tas. tra a tendência de que quanto maior a altura de plantas, Para o caráter VA foi verificado valor do coeficiente maiores os índices de acamamento e o número de nós de correlação negativo e significativo (p<0,05) com o NV, Tabela 3. Estimativa dos coeficientes de correlação simples (r) entre alguns caracteres agronômicos (NDF, NDM, APM, AIV, Ac, MG, VA, NS, NV, NN, NR e EF) e a produtividade de grãos (PG) de 22 cultivares de soja avaliados na região de Colina-SP em área de reforma de pastagem. Ano agrícola 2005/06. *, ** = significativo ao nível de 5 % e 1 % de probabilidade, pelo teste t; respectivamente; ns = não significativo; V = variáveis; NDF = número de dias para o florescimento; NDM = número de dias para a maturação; APM = altura da planta na maturação; AIV = altura de inserção da primeira vagem; NS = número de sementes por planta; NV = número de vagens por planta; NN = número de nós por planta; NR = número de ramos por planta; EF = estande final/ m linear; MG = massa de grãos por planta; PG = produtividade de grãos; VA = valor agronômico e Ac = acamamento. Ciência e Cultura 69 DESEMPENHO AGRONÔMICO DE CULTIVARES DE SOJA NA REGIÃO DE COLINA-SP, EM ÁREA DE REFORMA DE PASTAGEM, ANO AGRÍCOLA 2005/06 v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 contrariando os resultados reportados na literatura por Aze- vez, Taware et al. (1997) constataram que o caráter vedo Filho et al. (1998). produtividade de grãos estava correlacionado A relação entre o caráter NV com NS teve como va- fenotipicamente com dias para o florescimento (+0,53). A lor (0,82) significativo (p<0,01) e positivo de coeficiente associação entre PG x NDM para os 22 cultivares testados de correlação. De acordo com Sarti et al.(2006) quando também mostrou valores significativos (p<0,01), porém uma planta apresenta um elevado número de vagens, au- com sinal negativo (-0,77). Bárbaro (2006) observou uma menta a tendência de que a mesma apresente um maior tendência de plantas mais produtivas serem mais precoces, número de sementes, visto que os autores encontraram o devido às correlações negativas e significativas valor de 0,72 entre essa associação, avaliando linhagens encontradas em algumas progênies F6 de soja. Tal fato F6 de soja com resistência ao nematóide de cisto. pode ser explicado pela alta incidência de ferrugem asiática Já o coeficiente de correlação NS x EF apresentou nos cultivares avaliados no ano agrícola 2005/06, valores negativos e significativos (p<0,05), sendo a mesma discordando dos resultados obtidos por Taware et al. situação verificada para as correlações NV x EF (p<0,05) (1997), Unêda-Trevisoli (1999) e Lopes et al. (2002). As e MG x EF (p<0,01), indicando a tendência de que uma estimativas dos coeficientes de correlação entre PG com diminuição do estande de plantas pode elevar o número os caracteres APM, AIV, Ac, VA e NR foram negativas de sementes, vagens e massa de grãos por planta nos apesar de não significativas, discordando dos resultados cultivares avaliados. A correlação entre NV e NR mostrou obtidos por Johnson et al. (1955), Kwon e Torrie (1964) e valor positivo e significativo (p<0,01), inferindo que au- Bárbaro (2003) que verificaram plantas com maiores mentos no número de vagens podem ser obtidos através alturas na maturação tenderam a ser mais produtivas; por de plantas com maiores números de ramos. Almeida (1979) e Bárbaro (2003) que observaram Considerando a produtividade de grãos, caráter correlações positivas e significativas de produtividade de maior importância econômica, verifica-se que maiores quando associada ao número de ramos; por Azevedo Filho produtividades estão associadas às plantas com menores (1998) e Bárbaro (2003) quanto ao caráter VA, onde as números de nós, devido ao valor do coeficiente de correlações foram positivas e significativas, demonstrando correlação ter mostrado significância e ter sinal negativo a tendência de plantas mais produtivas estarem associadas (–0,69), contrariando a tendência de que há uma forte às maiores notas de valor agronômico, o que sugere que o associação entre maior número de nós na planta e maior valor agronômico é um bom indicador na seleção para produção (BÁRBARO, 2003). aumento de produtividade. No entanto, concordam com Já as correlações fenotípicas entre produtividade de grãos com número de sementes e número de vagens Bárbaro (2003) que observou valores de correlação não significativos entre PG com AIV e Ac. apresentadas na Tabela 3 foram positivas e não As divergências ocorridas nos valores e sinais de significativas, concordando com os resultados obtidos por alguns coeficientes de correlação do presente ensaio com Johnson et al. (1955) e Kwon e Torrie (1964). No entanto, os resultados da literatura, provavelmente estão relacio- tais resultados discordam de Moro et al. (1992) e Bárbaro nadas às influências ambientais exercidas sobre a indivi- (2006) que encontrou correlações positivas e significativas dualidade de cada planta e às diferenças entre cultivares de produtividade com os caracteres NS e NV. Entre PG e na expressão das correlações (SCHAIK e PROBST, NDF as correlações foram significativas (p<0,05) e 1958). negativas (-0,52) indicando a tendência de que quanto maior o número de dias para o florescimento menores CONCLUSÕES serão as produtividades nos cultivares avaliados. Estes resultados concordam com Bárbaro (2006) que verificou 1) Vários cultivares demonstram potencial para o valores negativos e significativos para as correlações entre cultivo em área de reforma de pastagem no município de PG e NDF em algumas populações F 6 de soja com Colina-SP, estando sempre dentro dos padrões médios precocidade e resistência ao cancro da haste. Por sua 70 Ciência e Cultura recomendados quanto aos caracteres de interesse agro- BÁRBARO et al v. 2, nº 2, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 nômico: altura de planta na maturação e inserção da pri- CRUZ, C.D. Programa Genes – Versão Windows – meira vagem compatíveis com a colheita mecanizada, Aplicativo computacional em genética estatística. Viçosa: Ed. UFV, 2001. 648p. baixos índices de acamamento, ciclo precoce e produtividades economicamente viáveis. 2) O cultivar CD 201 destacou-se por apresentar EL-HUSMY, J.C.; ANDRADE, E.B.; ALMEIDA, L.A.; a maior produtividade, e o cultivar CD 211 se comportou AGUILA, R.M.; KLEPKER, D.; MEYER, M.C.; SILVEIRA FILHO, A. Comportamento da cultivar de soja como o menos produtivo. 3) O componente primário da produção massa de grãos pode ser utilizado na seleção indireta para produtividade. BRS Candeia (BR 93-3386) na microregião de Paragominas – Pará. In: REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA REGIÃO CENTRAL DO BRASIL, 25., 2003, Londrina, Paraná. Resumos... Uberaba: Embrapa Soja, 2003. p.89-89. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, L.A. Correlações fenotípicas, genotípicas e de ambiente, efeitos diretos e indiretos, em variedades de soja (Glycine max (L.) Merrill). 1979. 44f. Dissertação de Magister Scientiae em Genética e Melhoramento - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 1979. 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Avenida Rui Barbosa, s/n, Caixa Postal 35, CEP. 14.770 – 000, Colina, SP. 3 Zootecnista, Doutor em Produção Animal, Diretor da COAN Consultoria, Jaboticabal – SP, E-mail: [email protected]. 4 Prof. Adjunto do Departamento de Zootecnia da FCAV/UNESP, Jaboticabal - SP, Pesquisador do CNPq. E-mail: [email protected]. 5 Pesquisador Científico – Instituto de Zootecnia – Nova Odessa – SP, E-mail: [email protected]. 2 RESUMO Objetivou-se avaliar os efeitos das silagens de capim (SC) ou de milho (SM) nas dietas de baixo e alto plano nutricional sobre a temperatura e pH da carcaça e maciez da carne. Foram utilizados 24 novilhos da raça Nelore castrados, com idade média de 24 meses e peso vivo médio de 369,05 ± 15,06 kg, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado, em arranjo fatorial 2 x 2 (volumosos x planos nutricionais) com seis repetições. Os animais foram alimentados com as seguintes dietas: 1) SC (baixo plano nutricional); 2) SC (alto plano nutricional); 3) SM (baixo nutricional) e 4) SM (alto plano nutricional). O pH inicial do coxão mole foi maior na carcaça de animais submetidos á dieta com alto plano nutricional e o pH final foi maior naqueles alimentados com SM com alto plano nutricional. O pH inicial do contra filé foi maior na carcaça de animais alimentados com SM e o pH final comportou-se semelhantemente ao pH do coxão mole. O valor da temperatura final no contra filé, foi maior na carcaça de animais alimentados com SC e com baixo plano nutricional. Os índices de perdas por evaporação e as totais não foram afetados pelos volumosos e pelos planos nutricionais. Os índices de perdas por gotejamento foram maiores nos animais submetidos a alto plano nutricional. A maciez da carne não foi afetada pelos volumosos ou planos nutricionais e os valores médios são considerados como de carne macia. Palavras-chave: qualidade carcaça, pH carne, plano nutricional, temperatura carne. ABSTRACT The objective of this trail was to evaluate the tropical grass (TG) or corn (C) silage and low or high nutritional plane effect on the temperature, pH and softness meat. It were utilized 24 Nellore steers, 24 months old, and average live weight 369.05 ± 15.06 kg distributed in a randomized design, in a factorial scheme 2 x 2 (silage x nutritional plane) with six replications. The animals received followings diets: 1) Marandu grass silage (low nutritional plane); 2) Marandu grass silage (high nutritional plane); 3) Corn silage (low nutritional plane); 4) Corn silage (high nutritional plane). The pH values of the topside were higher on the animals that received high nutritional plane diet. The final pH values were higher on the animals feed with corn silage in high nutritional plane. The initial pH of the sirloin were higher on the carcass of the animals feed with corn silage, and the final pH showed the same behavior observed on the topside data. The sirloin final temperature values were higher on the carcass of the animals feed with grass silage and low nutritional plane. The evaporation and total losses index were not affected by the silage and nutritional planes. The drip losses index were higher on the animals feed in high nutritional plane. The silage and nutritional plane didn’t affect the meat softness, that can considered like soft meat. Keywords: carcass quality, meat pH, nutritional plane, meat temperature. Ciência e Cultura 73 TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO INTRODUÇÃO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 ne (“dark-cuting ou “dark, firm, dry” - DFD) e ocorre devido à pequena quantidade de ácido lático produzida. O mundo da atualidade está sofrendo profundas modi- Um pH 6,0 tem sido considerado linha limite para início do ficações de cunho geoeconômico. Além disso, a exigên- “dark-cuting”, problema este causado pelo estresse crô- cia referente ao padrão de vida da população, imposta nico antes do abate, que esgota as reservas de glicogênio. pela sociedade moderna, está alterando significativamen- No Brasil, os frigoríficos só exportam carne com pH < te os hábitos alimentares das pessoas, o que tem provoca- 5,8. avaliando diretamente o músculo L. Dorsi, 24h post- do alterações irreversíveis sobre a produção e o mercado mortem (FELÍCIO, 1999; LUCHIARI FILHO, 2000; de alimentos. ROÇA, 2000). Dentro deste contexto, vários fatores estão envolvidos A velocidade de queda de pH é muito variável, bem no processo de produção de carcaças com qualidade. como o pH final da carne após 24 horas. Em bovinos, Dentre os fatores ante-mortem, que constituem a expres- normalmente a glicólise se desenvolve lentamente. Neste são do genótipo e das interações deste com o ambiente, caso, o pH inicial (zero hora após o abate) é de aproxima- são de maior importância o efeito do estresse, da genética damente 7,0, caído para 6,4 – 6,8 após 5 horas e posteri- (raças), da alimentação, da idade ao abate, além do fator ormente para 5,5 – 5,9 após 24 horas (FARIA, 2004). sexo/idade e efeitos de castração (FELÍCIO, 1999). A temperatura também exerce grande influência tanto A influência do decréscimo de pH e temperatura post- na queda do pH, como no efeito final de amaciamento da mortem nas características da qualidade da carne têm sido carne, através da interação com o sistema calpaína- estudadas por muitos pesquisadores (FELÍCIO et al., 1982; calpastatina, sendo este o fator externo de maior influên- SHERBECK et al., 1995). Segundo Maher et al. (2004), cia ns instalação do rigor mortis e, portanto, da queda do nestes estudos, em geral incluíam pequeno número de car- pH. Segundo Hwang e Thompson (2001), a glicólise, e caças, e utilizavam animais de diferentes sexos, alimenta- consequentemente a queda do pH ocorre mais lentamen- ção e foram abatidos em diferentes condições e pesos te quanto menor for à temperatura da carne. vivos. A maciez é o principal parâmetro a ser observado jun- A variação pH e temperatura post-mortem, que pode tamente com a higidez e a ausência de resíduos químicos resultar em diferenças na qualidade da carne, pode em que influenciam na qualidade da carne. Há evidências de parte ser explicada pela conformação das carcaças, ou que a qualidade organoléptica da carne, especialmente a seja, melhores conformações de carcaça e altos pesos de maciez, piora com o avanço da idade do animal ao abate, carcaça são associados com uma lenta velocidade possivelmente em decorrência de alterações que ocor- resfriamento e um rápido decréscimo de pH (KLONT et rem no colágeno intramuscular (FELÍCIO, 1999). al., 1999). Acredita-se que o pH final tem grande impor- A maciez da carne é considerada a característica tância na qualidade da carne, relacionando-se com a cor, organoléptica mais importante para o consumidor, pois afeta maciez, textura e capacidade de retenção de água a palatabilidade, embora a suculência e o sabor sejam (FELÍCIO, 1999). bastante relevantes também (FELÍCIO, 1997, 1999; OLI- Deste modo, a cobertura de gordura que a carcaça VEIRA, 2000). apresenta vai influenciar diretamente no resfriamento da De maneira geral, a maciez da carne está relacionada carcaça, pois ela deve possuir um correto acabamento á idade do animal, mas o grau de acabamento tem influ- para que garanta o bom andamento dos eventos que ocor- ência no processo de congelamento da carcaça, que com rem durante o processo de resfriamento, resultando na baixa deposição de gordura de cobertura pode causar o queda adequada ou não do pH da carne (ROÇA, 2000; encurtamento da fibra muscular, favorecendo o endureci- FELÍCIO, 1997). mento da carne pelo frio. Os valores da força de O pH final alto é a causa das características físicas da cisalhamento encontrados em trabalhos sob diferentes cor escura e alta capacidade de retenção de água da car- condições experimentais variam de 3,8 a 9,2 kg no mús- 74 Ciência e Cultura SAMPAIO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 culo Longissimus dorsi. Valores abaixo de 4,5 kg, medidos Para produção de silagem de capim Marandu em aparelho Warner-Bratzler, caracterizam carne macia (Brachiaria Brizantha (Hochst. Ex. A. Rich.) Staf. cv. e valores superiores caracterizam carne não-macia Marandu), decorridos 106 dias da semeadura, realizou-se (LEME, el al., 2002). o corte da forragem da área experimental, com máquina Segundo Boleman et al. (1996), a alimentação de ani- colhedora de forragem modelo CRC 180, regulada de for- mais no período de terminação com dieta de elevada den- ma que o corte fosse realizado a 25 cm do solo, possibili- sidade energética favorece as características sensoriais tando a obtenção de partículas variando de 3 a 6 cm. da carne, inclusive a maciez, em função da rápida síntese No caso do milho (Zea Mays L.), este foi semeado, de proteínas, aumentando a proporção de colágeno solú- utilizando-se o híbrido Agromen 2012 e, após período de vel na carne. Neste sentido, quando os animais são sub- 70 dias, procedeu-se o corte das plantas com máquina metidos a dietas para obtenção de elevado ganho de peso, forrageira, modelo Z-10, regulada visando à obtenção de este pode propiciar produção de carne macia (ARBOITTE partículas com 0,5 a 1,0 cm. et al., 2004). O presente estudo teve o objetivo de avaliar a temperatura e pH da carcaça e a maciez da carne de novilhos Em ambos os casos foram utilizados silos de superfície vedados com lona plástica com espessura de 200 micras. da raça Nelore submetidos a sistema de alimentação onde, Foram utilizados 24 bovinos da raça Nelore, machos, a dieta total continha silagens de capim Marandu ou milho castrados, com idade média de 24 meses, peso vivo mé- e planos nutricionais. dio de 369,05 kg ± 15,06 kg. Os animais foram alimentados “ad libitum” e distribuídos aleatoriamente pelos trata- MATERIAL E MÉTODOS mentos, em arranjo fatorial 2 x 2 (volumosos x planos nutricionais) com seis repetições por tratamento. As die- Conduziu-se o estudo no Confinamento da Estação tas á base de silagem de capim Marandu e de milho fo- Experimental do Pólo Regional de Desenvolvimento ram formuladas para atender as exigências nutricionais Tecnológico dos Agronegócios da Alta Mogiana, unidade para ganho de peso esperado de 1,0 (baixo plano da Agência Paulista de Tecnologias dos Agronegócios nutricional) e 1,2 kg/dia (alto plano nutricional), conforme (APTA), da Secretaria da Agricultura de Abastecimento as recomendações do NRC (1996). do Estado de São Paulo. As composições químico-bromatológicas e a O Pólo Regional de Desenvolvimento Tecnológico dos digestibilidade “in vitro” da matéria seca dos alimentos Agronegócios da Alta Mogiana PRDTA-AM (Estação concentrados e das silagens constam da Tabela 1 e, das Experimental de Colina-APTA) está localizado no muni- dietas experimentais e os seus respectivos planos cípio de Colina, no Estado de São Paulo (latitude de 20º nutricionais na Tabela 2. As dietas experimentais e os ní- 43' 05" S; longitude 48º 32' 38" W). O clima da região é do veis de ganho em peso esperado em cada dieta foram os tipo AW (segundo classificação de Köppen), onde a seguintes: pluviosidade do mês mais seco é inferior a 30 mm, tempe- 1) ratura média do mês mais quente superior a 22ºC e do mês mais frio superior a 18ºC. As precipitações pluviais mensais médias, coletadas na unidade de pesquisa, nos Silagem de capim Marandu com baixo plano nutricional; 2) Silagem de capim Marandu com alto plano nutricional; últimos anos mostraram que de outubro a maio ocorrem 3) Silagem de milho com baixo plano nutricional; em média 1222 mm, correspondendo a 93,7% do total 4) Silagem de milho com alto plano nutricional. anual; enquanto que de junho a setembro 82 mm, representando 6,3%. O solo do local é classificado como Durante a fase de adaptação, os animais tiveram con- latossolo vermelho-escuro, fase arenosa, com topografia sumo á vontade de silagem de milho nos primeiros quinze quase plana e de boa drenagem. dias, sendo, na seqüência, adaptados às respectivas die- Ciência e Cultura 75 TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 tas experimentais. À medida que os animais iniciaram a tes a cada tratamento, sendo essas compostas por milho adaptação e o consumo das silagens experimentais, ini- moído, farelo de algodão 38, polpa cítrica peletizada, uréia ciou-se o fornecimento das rações concentradas referen- pecuária, sulfato de amônio e suplemento mineral. Tabela 1 - Teores de matéria seca (MS), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e digestibilidade in vivo da matéria seca (DIVMS) dos alimentos concentrados e dos volumosos utilizados nas dietas experimentais. a Equivalente protéico Tabela 2 - Níveis nutricionais estimados das dietas experimentais (% na matéria seca) utilizadas no confinamento. a Teores de nutrientes digestíveis totais (NDT) e proteína degradada no rúmen (PDR) estimados pelo programa Rações Lucro Máximo (RLM 2.0). Duas vezes por semana, foram coletadas amos- Após o abate (mobilização, atordoamento, san- tras das silagens, dos concentrados e das sobras. Posteri- gria, esfola, evisceração, e separação em duas 1/2 carca- ormente, as amostras foram agrupadas de acordo com o ças), as carcaças dos animais foram divididas em duas período experimental correspondente (amostra compos- metades, que foram pesadas individualmente, obtendo-se ta/período), identificadas, embaladas e acondicionadas em o peso da carcaça quente e, em seguida, as carcaças fo- freezer para análises químico-bromatológicas, conforme ram armazenadas em câmara fria por 24 horas e a 1°C. Silva e Queiroz, (2002). Ao abate e após 24 horas na câmara fria foram tomadas Ao final do período experimental (86 dias), os medidas de pH e temperatura nos músculos “Longissimus animais foram abatidos. Antes de serem abatidos, os ani- dorsi” (contra filé) e “Semimembranosus” (coxão mole), mais foram submetidos a um período de jejum de 16 ho- utilizando-se aparelho digital (METLER Toledo 2000). ras, com acesso á água. Para análise qualitativa da carne, retiraram-se amostras 76 Ciência e Cultura SAMPAIO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 (bifes 2,5 cm de espessura) do músculo “Longisssimus RESULTADOS E DISCUSSÃO dorsi”, na altura da 12ª costela. Estas amostras foram embaladas a vácuo e congeladas. Os valores de pH, tanto na primeira hora após o abate Para a análise de maciez foi adotado o procedimento como 24 horas depois, tomados no coxão mole ou no contra padronizado e proposto por Wheeler et al. (1995), onde as filé foram influenciados (P<0,05) pelos volumosos e pelos referidas amostras foram congeladas e embaladas em saco planos nutricionais (Tabela 3). O pH inicial do coxão mole plástico adequado, após o resfriamento de 24 horas. As foi maior na carcaça de animais submetidos á dieta com análises de textura foram realizadas nas amostras resfri- alto plano nutricional e o pH final foi maior naqueles adas por 24 horas. No início das análises, as amostras alimentados com silagem de milho com alto plano foram descongeladas sob refrigeração (5ºC) durante 24 nutricional. Já, o pH inicial do contra filé foi maior na horas e, quando a temperatura interna atingiu de 5 a 6ºC carcaça de animais alimentados com silagem de milho e o foram colocadas em forno elétrico para serem assadas. pH final comportou-se semelhantemente ao pH do coxão Para o procedimento de cozimento foram introduzidos no mole (Tabela 3). centro geométrico de cada amostra um termoacoplador Os valores de pH inicial e final, em média, encontrados ligado em termômetro digital, com o objetivo de monitorar no presente estudo foram de 6,52 e 5,63 tomados no coxão a temperatura interna até o limite de 71ºC, quando então mole e de 6,72 e 5,71 no contra filé, respectivamente. Aferri foram retiradas do forno e resfriadas em ambiente livre (2005) encontrou resultados semelhantes ao do presente até atingirem temperatura interna de 24 a 25ºC. estudo, pH inicial de 6,55 e final de 5,56, em média, para As amostras foram então colocadas em resfriamento bovinos mestiços alimentados com diferentes fontes de (5 a 6ºC) durante 24 horas, quando iniciou-se a retirada gordura. Da mesma forma, os resultados encontrados por de oito cilindros do interior das mesmas. Para a determi- Bren et al. (2002), usando diferentes níveis de concentrado nação da força de cisalhamento utilizou-se o aparelho na dieta de novilhos, verificaram que o pH apresentou um Warner- Bratzler Shear Force - mecânico com capacida- valor médio entre 5,6 a 5,9, e concluíram que estes valores de de 25 kg e velocidade do seccionador de 20 cm/min. estão dentro dos limites considerados normais. Utilizou-se a média das oito medidas por amostra a fim de se obter maior precisão nos resultados obtidos. As perdas por evaporação, gotejamento e totais foram obtidas pela pesagem das bandejas de cozimento, com e No entanto, os valores encontrados estão dentro do esperado, que devem estar por volta de 7,0 decrescendo a valores de 6,4 a 6,8 nas primeiras cinco horas e 5,5 a 5,8 para pH na 24ª hora “post mortem” (FARIA, 2004). sem as amostras. As pesagens foram feitas antes e após Houve diferenças (P<0,05) entre a interação volumoso o cozimento das amostras e a relação percentual de per- x plano nutricional. O desdobramento mostrou que a da de peso das bandejas com as amostras relacionou-se silagem de capim proporcionou maior pH inicial contra as perdas por evaporação. O acréscimo de peso das ban- filé em animais submetidos a dietas com alto plano dejas após o cozimento e sem as amostras, representou nutricional. Da mesma forma, as variáveis pH final no as perdas por gotejamento que acrescidas às perdas por coxão mole, pH inicial e final no contra filé foram afetadas evaporação resultaram nas perdas totais de cozimento. (P<0,05) pela interação silagens x ganho. No entanto, Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente verificou-se que a silagem de milho proporcionou maiores casualizado, em arranjo fatorial 2 x 2 (volumosos e planos valores para as variáveis supracitadas em baixo plano nutricionais) com seis repetições. Realizaram-se análises nutricional (Tabela 4). Verificou-se que a silagem de capim de variância na interpretação das variáveis estudadas, proporcionou maior temperatura final no contra filé em usando-se o PROC GLM do SAS (1999). Utilizou-se o animais alimentados com dieta com baixo plano nutricional teste de Tukey (P<0,05) na comparação de médias entre (Tabela 4). as causas de variação. Ciência e Cultura 77 TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 3 - Médias, efeitos e coeficientes de variação (CV), para as medições pH inicial (pHICM) e final (pHFCM) no coxão mole, pH inicial (pHICF) e final (pHFCF) no contra filé, temperatura inicial (TICM) e final (TFCM) no coxão mole, temperatura inicial (TICF) e final(TFCF) no contra filé, das perdas por evaporação (PEV), por gotejamento (PGT) e totais (PT), maciez da carne de animais confinados. a Médias seguidas da mesma letra maiúscula na linha não diferiram estatisticamente pelo teste Tukey (P<0,05), em relação ao volumoso (V). b Médias seguidas da mesma letra minúscula na linha não diferiram estatisticamente pelo teste Tukey (P<0,05), em relação ao plano nutricional (PN). c Silagem de capim. d Silagem de milho. e Interação volumoso (V) e plano nutricional (PN). Os valores da temperatura tanto na primeira hora após Os índices de perdas por evaporação e as totais não o abate como 24 horas depois, tomados no coxão mole, foram afetados pelos volumosos e pelos planos nutricionais. não foram afetadas (P<0,05) pelos volumosos e pelos pla- No entanto, os índices de perdas por gotejamento foram nos nutricionais. Por outro lado, o valor da temperatura 24 maiores (P<0,05) nos animais submetidos a alto plano horas após o abate e, tomada no contra filé, foi maior na nutricional (Tabela 3). carcaça de animais alimentados com silagem de capim e com baixo plano nutricional (Tabela 3). As perdas por evaporação, gotejamento e total foram, em média, de 8,52%, 10,21% e 18,73%, respectivamente. Os valores da temperatura após 24 horas de No entanto, Felício et al. (1999), encontraram índices resfriamento, em média, obtidos no contra-filé, foram de médios de 21,10%, 4,87% e 25,18%, respectivamente. Já, 1,06°C para grupo de animais alimentados com silagem Oliveira (1993), encontrou índices médios de 25,56%, de capim e com baixo plano nutricional e de 0,43°C para 1,95% e 27,48%, respectivamente, para a carne de novi- aqueles alimentados com silagem de milho e com alto pla- lhos Nelore. no nutricional (Tabela 3). Resende et al. (2002), encon- Com relação a maciez, variou de 3,80 a 3,93 e, não foi traram após 24 horas de resfriamento valores médios ob- afetada pelos volumosos e planos nutricionais. Da mesma tidos no contra-filé para temperatura final foi, para o gru- forma, Vaz et al. (2005) não encontraram diferença na po caracu, 3,16°C; para Nelore seleção, 3,02 °C e para força de cisalhamento da carne de novilhos confinados Nelore controle, 3,34°C, respectivamente. com aumento do nível de concentrado na dieta. No entan- 78 Ciência e Cultura SAMPAIO et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 4 – Desdobramento da interação volumoso x ganho de peso esperado para pH inicial no coxão mole (pHICM), pH final no coxão mole (pHFCM), pH inicial contra filé (pHICF), pH final contra filé (pHFCF) e temperatura final contra filé (TFCF). Médias seguidas de letras maiúsculas iguais na coluna e minúsculas iguais na linha não diferem (P<0,05) pelo teste de Tukey. to, o resultado obtido neste trabalho classifica a carne dos A maciez da carne não foi influenciada pelos volumo- novilhos como macia, pois valores abaixo de 4,5 kg, medi- sos ou pelos planos nutricionais a que os animais foram dos em aparelho Warner – Bratzler (WB), caracterizam submetidos e os valores médios encontrados são conside- carne macia e valores superiores caracterizam carne não- rados como de carne macia. macia (LEME et al., 2002). Neste sentido, na literatura, há evidências de que os REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS altos valores de força WB sejam uma característica da carne de gado “Bos indicus”, e que a participação cres- ABULARACH, M.L.S.; ROCHA, C.E.; FELÍCIO, P.E. cente de genes de zebu (“Bos indicus”) no genótipo resul- Características de qualidade do contrafilé (m.L. dorsi) de ta em carne mais dura (ABULARACH et al., 1998; touros jovens da raça Nelore. Cienc. Tecnol. Aliment., FELÍCIO, 1997, 1999). Porém, outros fatores, como o v.18, n.2, p. 205 -210, 1998. tempo de confinamento e a composição da ração, influenciam na textura. AFERRI, G.; LEME, P.R.; SILVA, S.L.; PUTRINO, S.M.; PEREIRA, A.S.C. Desempenho e características da carcaça de novilhos alimentados com dietas contendo CONCLUSÕES diferentes fontes de gordura. R. Bras. Zootec., v.34, n.5, p. 1651 – 1658, 2005. A carne de bovinos alimentados tanto com silagem de capim ou de milho e baixo e alto plano nutricional apre- ARBOITTE, M.Z.; RESTLE, J; ALVES FILHO, D.C.; sentaram variações de pH e temperatura, dentro dos pa- PASCOAL, P.S.; PACHECO, P.S.; SOCCAL, D.C. drões normais e aceitáveis. Desempenho em confinamento e características da car- Ciência e Cultura 79 TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 caça e da carne de novilhos 5/8 Nelore 3/8 Charolês aba- KLONT, R.E., BARNIER, V.M.W., SMULDERS, tidos em três estádios de desenvolvimento. R. Bras. F.J.M., VAN DIJK, A.H., EIKELENBOOM, G. Port- Zootec., v.33, n.4, p.947-958, 2004. mortem variation in pH, temperature, and colour profiles of vela carcasses in relation to breed, blood hemoglobin BOLEMAN, S.J.; MILLER, R.K.; BUYCK, M.J. content, and carcass characteristics. Meat Sci., v. 53, p. 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Ciência e Cultura 81 82 Ciência e Cultura CIÊNCIA E CULTURA - Revista Científica Multidisciplinar da Fundação Educacional de Barretos v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM BISCOITOS AMANTEIGADOS STUDY AND APPLICATION OF SORPTION ISOTHERMS DATA AND MATHEMATICAL MODELS FOR BISCUIT BUTTERED Ana Cláudia Bites ROMANINI1, Catharina Calochi Pires de CARVALHO1, Márcio Benjamin ZANI1, Sissi Kawai MARCOS2, Isabel Cristina Freitas MORAES2 e Romildo Martins SAMPAIO2 1 – Aluno do Curso de Engenharia de Alimentos – Fundação Educacional de Barretos 2 – Professor do Curso de Engenharia de Alimentos – Fundação Educacional de Barretos – Av. Prof. Roberto Frade Monte, 389 – Aeroporto – Barretos – SP, CEP 14783-226 RESUMO Reações oxidativas e alterações de umidade são fatores determinantes na vida de prateleira de biscoitos tipo amanteigado, cuja formulação básica envolve a preparação de uma massa a base de farinha, manteiga, açúcar e ovos. Os objetivos desse trabalho foram investigar o efeito de aditivos nas características dos biscoitos produzidos e obter a isoterma de sorção a 25ºC para esse produto. Os aditivos usados foram o antioxidante palmitato de ascorbila e os antiumectantes propileno glicol e metil glicol, em quantidades regulamentadas pela ANVISA. A aceitabilidade dos biscoitos foi testada em relação aos atributos: aceitação global, sabor e textura, utilizando a escala hedônica estruturada de nove pontos. As quatro formulações processadas foram designadas por: F1, padrão (sem aditivo); F2, com antiumectante; F3, com antioxidante e F4, com os dois aditivos. A medida de atividade de água para as isotermas de sorção foi efetuada pelo método das soluções salinas saturadas. A isoterma do biscoito amanteigado de formulação mais aceita ao fim de 15 dias (amostra 3) foi ajustada por três modelos: Guggenheim, Anderson e De Boer (GAB), Oswin e Henderson. Os biscoitos recém processados (tempo zero) apresentaram um índice de aceitação entre 75 e 88%, para todos os atributos analisados, sendo que a amostra F2 diferiu das demais a um nível de significância de 95%. Após quinze dias de armazenamento, a aceitabilidade dos biscoitos foi reduzida, porém a amostra F3 apresentou o maior índice de aceitabilidade e diferiu-se das demais (p<0,05). Constatou-se efeito negativo nas características organolépticas do biscoito tipo amanteigado com antiumectante, enquanto que a adição de antioxidante foi relevante para diminuir as velocidades de reações de transformação do biscoito armazenado. Na cinética de sorção, foram obtidos bons ajustes dos dados de umidade e atividade de água. A isoterma estudada exibiu forma sigmoidal e verificou-se que o modelo de Henderson possibilitou o melhor ajuste dos dados. Palavras-chave: Biscoitos amanteigados, isotermas de sorção, análise sensorial ABSTRACT Oxidative reactions and humidity alterations are decisive factors in butter biscuit shelf-life, whose basic formulation involves the preparation of a mass that contains wheat flour, butter, sucrose and eggs. The aims of the present studies were to (i) evaluate the effect of additives in the biscuit characteristics and (ii) undertake an experimental examination of the moisture adsorption behaviour at 25o C of butter biscuit. The additives used were the ascorbila palmitato as antioxidant agent and the propylene glycol and methyl glycol as antagglomerating agent, in amounts regulated by ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). The four processed formulations were designated as F1, standard (without additives); F2, with antagglomerating agents; F3, with antioxidant agent e F4, with both additives. The biscuits acceptability was tested for the attributes “overall appearance”, “flavour” and “texture”, using 9-point structured hedonic scales. The measure of water activity for the sorption isotherms was made by saturated saline solutions method. The isotherm of the F3, sample which was the most accepted after fifteen days of storage, was adjusted by three models: Guggenheim, Anderson e De Boer (GAB), Oswin and Henderson. The biscuits just processed (initial time) showed acceptability index between 75 and 88%, for all analyzed attributes, and the F2 sample presented a significant difference (p=0, 05) when compared to the other samples. After fifteen days of storage, the biscuits acceptability was reduced, however the F3 sample presented the largest acceptability index and it differed from the others (p =0,05). Negative effect was verified in the butter biscuit organoleptic characteristics with antagglomerating agent, while the antioxidant agent addition is relevant to reduce the speeds of transformation reactions of the stored biscuit. In the sorption kinetic, the relative goodness of fit of these models was measured against the experimental isotherm data. The isotherms studied exhibited sigmoidal shape and it was verified that the Henderson equation predicted the isotherms better than other tested models. Keywords: Buttered biscuitsorption isotherms, sensorial analysis Ciência e Cultura 83 ROMANINI et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 INTRODUÇÃO respeito à qualidade e estabilidade. A afinidade existente entre a água e os outros componentes de um produto, Biscoitos amanteigados possuem alto teor de gordura define sua higroscopicidade que é muito marcante nesses e são facilmente alterados por processos oxidativos. As produtos e torna-se uma característica fundamental du- principais alterações organolépticas que podem ocorrer rante o processamento, armazenamento e consumo de nesse produto são a oxidação de gordura, com formação materiais biológicos (TEIXEIRA NETO e QUAST, 1993). de sabor indesejável e alterações físicas associadas ao O estudo da atividade de água pode ser feito através das ganho ou perda de umidade do ambiente, alterando a tex- isotermas de sorção (JARDIM, 1997). tura do produto. A atividade de água desse alimento é um O conhecimento de isotermas de sorção de alimentos fator determinante na velocidade de reações de deterio- é importante na solução de problemas de engenharia e ração dos alimentos, porque está relacionada com o cres- processamento, tais como projetos de embalagem, pro- cimento de microorganismos, efetivação de reações quí- cessos de secagem e estocagem e estimativa da vida de micas e alterações físicas (MARTÍNEZ-NAVARRETE prateleira de um produto (AROGBA, 2001). Além disso, et al., 2004). o conhecimento do valor da monocamada de água ligada A água é um dos mais importantes componentes dos ao alimento, é importante, em função desse parâmetro alimentos, afetando todas as suas propriedades físicas. A estar relacionado com o início de uma série de reações forma como a água afeta a natureza física e as proprieda- químicas de deterioração do alimento, além de represen- des dos alimentos é complexa devido a sua interação com tar, o ponto de maior dispêndio de energia para a elimina- o meio, o que envolve a estrutura física, bem como a com- ção de água do alimento (TEIXEIRA NETO e QUAST, posição química dos diversos solutos incluindo polímeros 1993). e colóides ou partículas dispersas (PARK, 2001). Esse Em biscoitos podem ser obtidas isotermas do tipo II ou componente pode exercer diversas funções importantes III (de acordo com a classificação BET). A primeira cur- em um sistema alimentício, como: solvente (permitindo que va, em forma sigmoidal, é típica para alimentos ricos em os componentes se interajam), componente adsorvido (re- amido, tais como farelo de aveia e farinha, enquanto que duzindo a sua susceptibilidade à oxidação), plasticizante a do tipo III, que normalmente mostra um aumento (conferindo características mecânicas de textura aos pro- exponencial do conteúdo de umidade de equilíbrio com a dutos) e como reagente (JARDIM, 1997). atividade de água, é observada em formulações com alto É possível estabelecer uma relação estreita entre o conteúdo de açúcar e sal (MCMINN et al., 2007). teor de água livre no alimento e sua conservação. O teor Existem vários modelos na literatura capazes de pre- de água livre é expresso pela atividade de água (aw) que é dizer o comportamento de sorção de diversos produtos dada pela relação entre a pressão de vapor de água em (Tabela 1), que podem ser divididos em várias categorias: equilíbrio sobre o alimento, e a pressão de vapor de água modelo cinético baseado na monocamada (BET), modelo pura, à mesma temperatura (MOHSENIN, 1986). A ati- cinético baseado na multicamada e filme de condensação vidade de água também pode ser entendida como a umi- (GAB), semi-empírico (Ferro-Fontan, Hasley) e empírico dade relativa em equilíbrio (URE) com o produto, confor- (Oswin, Henderson), entre outros Cada modelo tem su- me a equação a seguir. cesso relativo na representação dos dados experimentais de isoterma de sorção, em função do intervalo de atividade de água e do tipo de alimento. Muitas tentativas para encontrar uma equação geral de isoterma de sorção têm sido feitas, porém sem sucesso, devido ao fato de que a A determinação da atividade de água é uma das medi- atividade de água depende da composição do alimento e das mais importantes no processamento e na análise dos das interações dos constituintes com a água em condi- materiais biológicos, devido a sua importância no que diz ções de equilíbrio termodinâmico. Assim, dados de sorção 84 Ciência e Cultura ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM BISCOITOS AMANTEIGADOS v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 experimental são necessários para avaliar a aplicabilidade parâmetros correlacionados para um produto específico das equações de isoterma e determinar a magnitude dos (MCMINN et al., 2007). Tabela 1 - Modelos para ajuste de isotermas de sorção de umidade em biscoitos, utilizados nesse trabalho X: conteúdo de umidade kg/kg; Xo : conteúdo da camada monomolecular kg/kg aw: atividade de água; B, C e K constantes das equações O modelo de sorção de GAB permite a avaliação da estabilidade do alimento como uma função do seu conteú- nas características organolépticas e na vida de prateleira desse produto. do de água e das condições de estocagem (MARTÍNEZNAVARRETE et al., 2004). A equação de GAB, usada MATERIAL E MÉTODOS para caracterizar a camada monomolecular, ajusta bem os dados experimentais de 75% dos alimentos estudados; Matéria- prima a de Oswin, série de expansão para as curvas com for- Na fabricação dos biscoitos utilizou-se farinha, man- mato de “S”, ajusta 57% das isotermas de alimentos estu- teiga, açúcar e ovo. Os aditivos empregados foram dados e a de Henderson é muito utilizada, sendo especial- propileno glicol e metil glicol (antiumectantes) e palmitato mente interessante para isotermas de proteínas especial- de ascorbila (antioxidante), adquiridos em mercado local mente as globulares (MOURA e GERMER, 1997). (Barretos – SP). A exposição de alimento de baixa umidade em ambiente com alta umidade relativa, resulta em sorção de água Processamento e um aumento prejudicial do seu conteúdo de água. Nes- A formulação padrão do biscoito tipo amanteigado foi ses produtos, a perda de crocância ocorre quando valores elaborada com 53% de farinha de trigo, 21% de açúcar e críticos do conteúdo de água e da atividade de água são 21% de manteiga, de acordo com a Tabela 2. Foram fei- excedidos (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004). tas quatro formulações, diferenciadas pela presença de O comportamento de sorção de vários alimentos e a aditivos, sendo designadas: F1, amostra padrão (sem influência da temperatura no conteúdo de umidade de aditivo), F2, com antiumectante, F3, com antioxidante e equilíbrio têm sido extensivamente estudado nos últimos F4, com adição dos dois aditivos. Os aditivos escolhidos anos. Produtos de panificação tais como biscoitos, têm são comumente usados pela Indústria de biscoito e foram importância econômica significativa; entretanto, tem-se um empregados em quantidades regulamentadas pela legisla- número limitado de trabalhos com dados de isotermas de ção. Os ingredientes foram pesados em balança sorção na literatura para esses produtos (HOUGH et al., semi-analítica, misturados até homogeneização total, 2001, AROGBA, 2001, MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., moldados em formato arredondado e levados ao forno a 2004, MCMINN et al., 2007). Os objetivos desse traba- 230 o C ± 2 o C, por vinte minutos. Após etapa de lho foram estudar o comportamento da isoterma de sorção resfriamento, os biscoitos foram armazenados em de biscoito amanteigado e o efeito da adição de aditivos embalagens metálicas. Ciência e Cultura 85 ROMANINI et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Tabela 2. Formulações de biscoito tipo amanteigado Análise sensorial do biscoito preparadas segundo LABUZA (1980), citado por DITCHFIELD (2000), com faixa de umidade relativa entre O Índice de Aceitabilidade (IA) foi realizado em rela- 11 e 90 %, citados na Tabela 3. As amostras de biscoito, ção aos atributos aparência global, sabor e textura. Trinta em triplicata, foram acondicionadas nos dessecadores, que e três provadores avaliaram o quanto gostaram ou des- foram mantidos a uma temperatura constante de 25oC. gostaram do produto, utilizando a escala hedônica As pesagens periódicas das amostras foram feitas em uma estruturada de nove pontos, indo de 9 igual a “gostei mui- balança analítica, até atingirem peso constante. Durante tíssimo” até 1 igual a “desgostei muitíssimo” este período as amostras foram submetidas à inspeção (MONTEIRO, 1984). A equipe de provadores, formada visual, para detectar quaisquer alterações perceptíveis. por homens e mulheres na faixa etária de 18 a 35 anos, foi selecionada em função de consumirem biscoitos Tabela 3. Atividade de água correspondente aos sais utili- amanteigados, disponibilidade e interesse em participar do zados teste. A análise sensorial foi realizada no tempo zero e após quinze dias de armazenamento a temperatura ambi- Sais ente. No cálculo do Índice de Aceitabilidade (IA) do pro- LiCl 11,15 duto foi utilizada a equação a seguir: CH 3COOH 22,60 MgCl2 32,73 K 2CO 3 43,80 Mg(NO 3)2 52,86 onde A é nota média obtida para o produto e B é a nota NaBr 57,70 máxima dada ao produto. IA ³ 70, é considerado como de SrCl2 70,83 boa repercussão (DUTOCOSKY, 1996). NaCl 75,32 KCl 84,32 BaCl2 90,26 IA(%) = (A x 100)/B Análise Estatística Atividade de água (%) a 30º C O efeito dos aditivos sobre o índice de aceitabilidade de biscoitos tipo amanteigado foi verificado através de O teor de umidade (b.s.) das amostras, após atingirem o análise de variância (ANOVA) e teste de Tukey a nível equilíbrio com o meio, foi obtido pela secagem em estufa de 5% de significância, para comparação de médias. a 105oC até atingirem peso constante. Para o ajuste das isotermas do biscoito amanteigado, foram testados três Determinação das Isotermas de Sorção modelos encontrados na literatura. Os parâmetros destas Na determinação da isoterma de sorção de biscoito equações foram determinados através de uma análise de amanteigado (amostra F3), foi utilizado o método estático regressão não linear dos dados experimentais, realizada de dessecadores contendo soluções saturadas de sais, pelo software Grapher for Windows. Os critérios utiliza- 86 Ciência e Cultura ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM BISCOITOS AMANTEIGADOS v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 dos para a escolha do melhor ajuste foram: o coeficiente foi significativo o IA verificado para o biscoito amanteigado de determinação (R2) entre as respostas observadas e os (entre 75,1 e 88,5 %, em cada atributo avaliado). Porém, valores preditos pelo modelo e o módulo do desvio relati- após 15 dias de armazenamento, as amostras analisadas vo (E), cuja definição encontra-se descrita pela equação a se- apresentaram um índice de aceitabilidade menor que 70 guir. % (entre 53,2 e 67,7 %), evidenciando a necessidade de estudos que determinem os fatores responsáveis pela deterioração dos atributos sensoriais desse produto. Fatores onde: E - desvio relativo médio; N: número de pontos estabelecidos durante o armazenamento, tais como em- experimentais;Vo: valores observado experimentalmente; balagem, temperatura e umidade relativa, são relevantes Vp: valores preditos pelo modelo. em sua vida de prateleira. De acordo com Aguerre et al. (1989) valores de des- A amostra com menor índice de aceitação foi a for- vio relativo médio abaixo de 10% indicam um ajuste bom mulada com antiumectante (F2). Esse aditivo reduz a ca- para os dados experimentais. racterística higroscópica do alimento e diminui a tendência de adesão, umas as outras, das partículas individuais, RESULTADOS E DISCUSSÃO o que influencia diretamente nos atributos sensoriais do produto. Durante o armazenamento, essas amostras fica- Aceitabilidade do biscoito ram muito secas, ocorrendo quebra da estrutura superfi- Conforme a Tabela 4 e de acordo com a literatu- cial. Na aceitabilidade de biscoito dois fatores são signifi- ra (MONTEIRO, 1984; DUTOCOSKY, 1996), que con- cativos: a crocância e a forma como desmancham na boca. sidera repercussão favorável quando o Índice de A presença do antiumectante acentuou a perda desses Aceitabilidade (IA) é maior ou igual a 70, no tempo zero, atributos em função do tempo de armazenamento. Tabela 4. Índice de aceitabilidade de biscoito amanteigado, segundo cada atributo avaliado, tempo zero. 1 Médias seguidas da mesma letra, não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey (p<0,05) A textura muito seca do biscoito é pouca atrativa. Aná- duto em termos de retenção de níveis desejados de atri- lises de diagrama de fase e de isoterma de sorção, são butos, tais como textura (MARTÍNEZ-NAVARRETE et úteis na formulação de alimentos, a fim de estabelecer al., 2004). necessidades de processo (equipamento e variáveis de No tempo de estocagem considerado, os aditivos não processo) ou projetar condições de armazenamento e em- influenciaram diretamente no sabor, mas a aparência glo- balagem., para otimizar a estabilidade e qualidade do pro- bal do produto foi influenciada pela textura. De acordo Ciência e Cultura 87 ROMANINI et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 com a Tabela 5, após quinze dias de armazenamento, o F3, nota média de 6 (gostei ligeiramente) A presença de atributo textura avaliado apresentou diferença significati- antioxidante, substância que retarda o aparecimento de va a um nível de 95%, sendo que as formulações F1, F2 e alterações oxidativas no alimento, influenciou na textura F4 apresentaram notas entre 4 (desgostei ligeiramente) e do produto. 5 (indiferente - não gostei e nem desgostei), e a amostra Tabela 5. Índice de aceitabilidade de biscoito amanteigado, segundo cada atributo avaliado, com 15 dias de estocagem. 1 Médias seguidas da mesma letra, não diferem estatisticamente pelo Teste de Tukey (p<0,05) Os julgadores consideraram o biscoito amanteigado ção, formando pontes de hidrogênio com os hidroperóxidos como tendo um sabor bom imediatamente após sua pre- produzidos nas reações de radicais livres e impedindo-os paração (zero dia de armazenamento) e amostra F3 foi à de se decomporem, formando novos radicais livres. Com preferida (Tabela 4). Após 15 dias de armazenamento, os isso, as velocidades de reação são bem reduzidas nessa biscoitos amanteigados apresentam uma IA abaixo do li- faixa de umidade e atividade de água. Contudo, para mite de aceitabilidade, com exceção da amostra F3, para aw>0,5 onde o teor de umidade aumenta gradativamente, o atributo textura, conforme pode ser visto na Tabela 5. ela passa a aumentar muito a mobilidade dos reagentes Em relação ao sabor, as amostras não apresentaram dife- ou seu efeito protetor desaparece e, com isso, as reações renças estatisticamente significativa (p<0,05). No atribu- de oxidação voltam a ser aceleradas. Em teores de umi- to textura, as amostras F1 e F2 não se diferenciaram, po- dade muito elevados, correspondente a aw>0,7, o fator de rém, apresentaram diferenças significativas com as amos- diluição dos reagentes passa a preponderar, desacelerando tras F3 e F4 (com adição de antioxidante), sendo que as estas reações (TEIXEIRA NETO e VITALI., 1996). duas últimas foram as preferidas. No caso de produto rico em gordura é importante de- Isotermas de sorção terminar as isotermas de sorção, pois através de modelos Os dados experimentais dos teores de umidade em matemáticos aplicados a pontos experimentais, tem-se função da atividade de água, para a amostra com maior valor da monocamada do alimento, que é um parâmetro índice de aceitação (F3) são apresentados pela curva de diretamente relacionado com reações de oxidação. De sorção (Figura 1). Os dados experimentais foram modo geral, em atividades de água inferiores a 0,2, as ajustados pelos modelos descritos, obtendo-se o coefici- velocidades de reações são elevadas, provavelmente por- ente de determinação (R 2) e o desvio relativo (E). que a ausência da monocamada molecular de água A escolha do melhor ajuste foi feita analisando o desvio desprotege a matriz do alimento. Já para atividades de relativo para cada modelo. Estes valores, juntamente com água entre 0,2 e 0,5, representando níveis ainda baixos de os parâmetros de ajuste das equações encontram-se des- umidade, a água age como barreira protetora de oxida- critos na Tabela 6. 88 Ciência e Cultura ESTUDO E APLICAÇÃO DE ISOTERMAS DE SORÇÃO EM BISCOITOS AMANTEIGADOS v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 Figura 1. Isoterma de Dessorção de biscoito amanteigado para a temperatura ambiente (25oC). Tabela 6. Parâmetros dos modelos usados na isoterma de biscoito amanteigado a temperatura de 25o C. * Valor em base seca O conteúdo de umidade no biscoito tipo amanteigado umidade aumenta lentamente em baixas atividades de foi de 5,00 ± 0,02% (g/100g sólido seco). Conforme os água, onde a sorção ocorre principalmente na matriz sóli- dados da Tabela 6 e de acordo com o modelo de GAB, o da formada por biopolímeros (polissacarídeos e proteínas). conteúdo de umidade da camada monomolecular (Xo) foi Para valores de aw > 0,5 , a curva mostra uma elevação de 0,1016 g/g de sólido (bs). O valor obtido encontra-se excessiva , a qual foi atribuída à dissolução de açúcar na na faixa superior descrita na literatura para valores de fase aquosa incipiente do produto. A forma dessa isoterma umidade da monocamada de produtos alimentícios indica o tipo de forças que intervém na ligação da água (TSAMI et al., 1990). O valor de atividade de água equi- com a superfície higroscópica e permite certas avaliações valente ao conteúdo da monocamada foi de 0,11. da sua estrutura superficial, da sua estabilidade durante o O modelo de sorção de GAB permite a avaliação da armazenamento e contribui para especificar uma embala- estabilidade do alimento em função do seu conteúdo de gem apropriada para sua melhor conservação (TSAMI et água e das condições de estocagem. Os modelos de Oswin al., 1990; MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004; e Henderson são muito utilizados em produtos ricos em AROGBA, 2001). amido (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004). A água afeta a textura de biscoito como plasticizante e A curva ajustada pelo modelo de GAB apresentou abranda a matriz proteína/ amido, que altera a dureza do forma sigmoidal do tipo II de isoterma. O conteúdo de produto. Entretanto o mecanismo molecular que é consi- Ciência e Cultura 89 ROMANINI et al v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 derado para mudança de textura não é muito claro, crité- De maneira geral, as três equações escolhidas apre- rios diferentes para a determinação do conteúdo de umi- sentaram um bom ajuste dos dados experimentais da dade crítica são usados por diversos autores, e esses va- isoterma de biscoito, sendo que a de Henderson apresen- lores não coincidem. Katz e Labuza (1981) mostraram tou maior coeficiente de determinação e um desvio relati- que conteúdo de água maior que o valor da monocamada vo médio de 6,68%, consequentemente o melhor ajuste (BET) resulta no decréscimo de interação macromolecular da isoterma experimental. Resultados similares também que contribui para a sensação de crocância, por causa da foram obtidos por Arogba (2001), no ajuste de isotermas interação água-água. Água captada acima do conteúdo de sorção para biscoitos preparados com igual quantidade de umidade da monocamada alcança um valor crítico na de farinha de trigo e de semente de manga processada. qual o consumidor percebe uma alteração de textura. O limite de aceitação é estabelecido como uma função da CONCLUSÕES atividade de água (KATZ e LABUZA, 1981). O nível de atividade de água crítica com que alguns Os biscoitos amanteigados apresentaram apreciável produtos similares ao biscoito tipo amanteigado perdem a aceitabilidade logo após o processamento; porém, não sua crocância e firmeza foi descrito como sendo de 0,36 a mostraram estabilidade durante o armazenamento, devi- 0,51para batatas chips e pipoca (KATZ & LABUZA, do a perda de atributos sensoriais (crocância, sabor e apa- 1981), de 0,60 para biscoitos (HOUGH et al., 2001), de rência) que influenciam diretamente na aceitação do pro- 0,62 para wafer (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004) duto. As formulações com e sem aditivos, não apresenta- e de 0,60 a 0,68 para cereais matinais (PELEG, 1994). ram diferenças significativas (p<0,05) nos atributos avali- Esses valores estão no intervalo de atividade de água (aw) ados. Após 15 dias de armazenamento, a presença de onde podem ocorrer transformações, de alguns constitu- antioxidante influenciou na aceitabilidade do atributo tex- intes dos alimentos, do estado cristalino para o amorfo, tura, sendo essa amostra (F3) a mais aceita. Por outro que se refere a um estado de não equilibrio cujas proprie- lado, a presença de antiumectante diminuiu o IA do pro- dades são dependentes do tempo. Essa mudança de esta- duto. do também pode ocorrer como uma conseqüência do au- Na cinética de sorção foram obtidos bons ajustes dos mento do conteúdo de água durante seu processamento dados de umidade e atividade de água pelos modelos tes- ou estocagem (MARTÍNEZ-NAVARRETE et al., 2004). tados. A isoterma dos biscoitos formulados apresentou Em muitos alimentos, a transição vítrea tem sido associa- comportamento sigmoidal sendo que o modelo de da com mudanças nas propriedades mecânicas que con- Henderson apresentou melhor ajuste aos dados experi- duz a perda de crocância. (ROSS e KAREL, 1991) mentais de acordo com o coeficiente de determinação Em ambientes com atividades de água maiores que (R2) e do erro relativo médio. 0,5 o biscoito perdeu a textura característica e rupturas da estrutura superficial foram observadas, indicando mu- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS danças n tipo de ligação de água nesse produto, o biscoito tornava-se quebradiço. No armazenamento em AGUERRE, R.J., SUAREZ, C., VIOLLAZ, P.E. New dessecador com umidade relativa maior que 52,9%, ob- BET type multilayer sorption isotherms. Part II: Modeling servou-se um amolecimento do biscoito, ocorrendo perda water sorption in foods, Lebensmittel-Wissenschaft & do atributo crocância. Nas amostras dos biscoitos arma- Technologie, v.22, n.4, p.192-195, 1989. zenados nas umidades relativas de 80% e 95% verificouse o amolecimento destas, sendo mais evidente para as AROGBA, S. Effect of temperature on the moisture amostras armazenadas na umidade relativa de 95% devi- sorption isotherm of a biscuit containing processed mango do a presença de água livre como observado na isoterma (Mangifera indica) kernel flour. Journal of Food (Figura 1) Engineering, v.48, p.121-125, 2001. 90 Ciência e Cultura TEMPERATURA E pH DA CARCAÇA E MACIEZ DA CARNE DE NOVILHOS DA RAÇA NELORE CONFINADOS RECEBENDO DIETAS COM SILAGEM DE CAPIM OU DE MILHO v. 2, nº 1, Maio/2007 - ISSN 1980 - 0029 DITCHFIELD, C. Estudo dos métodos para a medida de MOURA, S.C.S.R.; GERMER, S.P.M. Predição de ati- atividade de água. Dissertação de Mestrado em Enge- vidade de água em alimentos e modelação matemática de nharia – Escola Politécnica do Estado de São Paulo, SP. isotermas de sorção. 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