RCC Contemplativa e Carismática

Transcrição

RCC Contemplativa e Carismática
PERGUNTAS À COMISSÃO DOUTRINAL
DO ICCRS
 ESTA PERGUNTA FOI PUBLICADA NA BOLETIM DO ICCRS PARA LÍDERES MARÇO - ABRIL 2015
RCC Contemplativa e Carismática
RCC: É possível ser contemplativa e carismática? Parece haver a impressão, entre alguns, de que a Renovação
Carismática Católica tem a ver com louvor em voz alta, adoração, oração em línguas, mãos erguidas, gritando
“Aleluia”, etc. Por esta razão, as pessoas tendem a pensar que “ser carismático” e “contemplativo” são
contraditórios, não podendo andar juntos. Porém, vida contemplativa e carismática não são contraditórias, mas
complementares. Conheço algumas pessoas que foram iniciadas por meio da Renovação Carismática, mas que
passaram para uma forma de vida contemplativa mais profunda.
Na verdade, a experiência carismática começa e continua a crescer através de uma experiência contemplativa,
chamada Batismo no Espírito Santo. Esta experiência pode variar de indivíduo para indivíduo, mas na realidade é
uma experiência concreta da “Graça de Pentecostes”, na qual o operar do Espírito Santo se torna uma realidade
experimentada na vida do indivíduo. É algo muito semelhante à graça da contemplação que Santa Teresa de Ávila
chama de “deleite espiritual”, ou seja, o experimento do amor de Deus.
Por esse motivo, ao referir-se à Renovação Carismática Católica, o Papa João Paulo II escreveu: “Pois isto é que são
os santos: pessoas que se apaixonaram por Cristo. E é por isto que a Renovação Carismática tem sido um dom
para a Igreja: tem conduzido uma leva de homens e mulheres, jovens e idosos, para esta experiência do amor, que
é mais forte do que a morte”.
O primeiro momento da Renovação Carismática ocorreu há cerca de 2000 anos atrás, no dia de Pentecostes. O
Espírito Santo apareceu como uma bola de fogo, foi ouvido como um vento impetuoso que encheu toda a casa
onde os apóstolos estavam orando com Maria, a mãe do Senhor. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e
começaram a falar em outras línguas. Desde então, ao longo dos séculos, tem havido muitos desses momentos em
que o Espírito Santo desceu em um ou em muitos, para trazer muitas pessoas de volta para Deus.
Seria errado concluir que todas as manifestações externas no primeiro Pentecostes, no Cenáculo, ficaram
confinadas apenas ao exterior. O próprio Pentecostes foi o resultado da contemplação e oração de Maria e dos
discípulos no Cenáculo. A extraordinária efusão do Espírito Santo sobre aqueles que estavam no Cenáculo foi
manifestada com certos sinais externos que levaram à experiência interna do Espírito nos apóstolos. Os sinais são
reais e sua finalidade é orientar-nos para as ações interiores que eles significam. Durante a véspera de
Pentecostes, em 29 de maio de 2004, o Papa João Paulo II disse: “Espero que a espiritualidade de Pentecostes se
espalhe na Igreja como um renovado incentivo à oração, santidade, comunhão e proclamação”.
Há dois tipos de silêncio – silêncio exterior e interior. Cada um complementa o outro. Cada um torna o outro
possível. Mesmo quando se consegue o silêncio exterior, o interior pode ser muito barulhento. O importante é
conseguir o silêncio interior. Mesmo durante uma sessão exterior vibrante de louvor e adoração, pode-se
experimentar o silêncio interior. Depois de um tempo de louvor e adoração vibrante e em alta voz, o grupo é
normalmente levado a um momento de silêncio absoluto quando os membros da Renovação são chamados a
experimentar tanto o silêncio exterior como interior e entram em um momento de profunda comunhão com o
Senhor. Sem contemplação, a Renovação Carismática acabaria como “o bronze que soa ou como o címbalo que
retine”.
Preparar nosso povo para ser contemplativo
Em uma das reuniões de líderes da Renovação Carismática Católica, um membro sênior da Igreja ficou repetindo
que via muita oração e gritaria na Renovação Carismática Católica, mas que não conseguia enxergar nenhuma
contemplação. Então o Bispo responsável pela Renovação, na região, levantou-se para apontar que ele não
conseguia ver muita contemplação nem mesmo entre os padres que passaram por 12 a 15 anos de formação antes
de serem ordenados. Ele se perguntava como se poderia esperar que leigos/leigas que experimentaram um novo
reavivamento em suas vidas entrassem, de repente, em uma profunda vida de contemplação.
Os membros da Renovação precisam ser treinados para crescer em uma vida de contemplação. Há uma série de
cursos de espiritualidade que ensinam sobre contemplação. Os líderes deveriam participar desses cursos de
formação para serem capazes de incentivar os outros à uma vida de profunda espiritualidade e contemplação.
Como se pode alcançar a contemplação?
Santa Teresa de Ávila disse que ela levou quase 20 anos antes de tornar-se uma verdadeira contemplativa. Deus dá
o dom da contemplação para aqueles dispostos a isso. A oração contemplativa tem duas fases. A primeira é a
contemplação adquirida. Isso se torna possível quando, com fé, esperança e com um amor que espera, chegamos
à presença de Deus. Começa-se sabendo, na fé, que Ele está realmente presente, e buscando, com todo o nosso
coração, tocar Nele e sermos tocados por Ele. O segundo estágio é a contemplação infundida. Isso acontece
quando, por meio de Sua graça, como um dom gratuito, Deus nos dá uma verdadeira consciência da Sua presença.
Isto pode acontecer através de várias formas: experimentando os frutos do Espírito - por exemplo, amor, alegria,
paz; através de uma certeza, no coração, de que Ele está presente para nós, ou de alguma outra forma. A
contemplação infundida é dada àqueles que continuam pedindo, continuam buscando, continuam batendo até
que a porta se abra (Mat 7,7).
Para entrar em oração contemplativa, deve-se sentar e relaxar e então, lenta e deliberadamente, deixar que as
tensões saiam de nós, suavemente procurando nos conscientizar da presença imediata e pessoal de Deus,
buscando a paz e o silêncio interior, e deixando que a nossa mente, coração, e sentimentos tornem-se tranquilos e
serenos para que as tempestades diminuam. “Busca a paz e vai ao seu encalço” (Salmo 34,15). Isto deve levar-nos
às palavras do salmista “Meu coração está firme, ó Deus, meu coração está firme; vou cantar e salmodiar.
Desperta-te, ó minha alma!” (Salmo 107,1). Em seguida, abra-se para uma tomada de consciência da presença de
Deus: Ele está presente ao nosso espírito e atento à consciência que temos Dele. Em, através Dele e com Jesus, Ele
derrama Seu Espírito, fazendo-nos clamar: ‘Abba, Pai’. Ele nos enche de gratidão e louvor por Sua presença
maravilhosa.
Em silêncio, buscamos a Deus, ansiando por Sua presença e indo a Ele. O foco da nossa mente e coração será
Deus. Permita que a oração desça da cabeça ao coração. E quando o coração começar a rezar, haverá um influxo
de graça que nos permitirá conhecer a Deus de uma maneira nova. Passar tempo entregando-nos a Deus é uma
das formas de cumprir Seu mandamento “Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de
todo teu espírito” (Mt 22,37). Nossa forma de amá-Lo está em entregar a Ele cada uma e todas as partes de nós
mesmos a fim de sermos amados e preenchidos por Ele. Entregue cada parte do seu ser: cuidados e
preocupações; entregue seu coração, sentimentos e amor; entregue a ele toda a sua personalidade. Olhe
firmemente para Ele. Sua presença torna-se mais real. Nossa oração não será nada além de uma consciência
amorosa da Sua presença.
Então Deus responderá. Ele quer fazer de nossos corações a Sua morada (Jo 14,23). Sua presença traz uma paz
espiritual profunda, uma maior serenidade, um fluxo de alegria e amor, uma inundação de graça, um forte desejo
de louvá-Lo e agradecê-Lo. Sua presença traz poder para servi-lo e proclamá-Lo, para dar testemunho de Seu
reino, para trazer a cura em Seu nome, para trazer paz e unidade às pessoas de boa vontade. Quando Ele nos
permitir sentir a Sua presença ou quando Ele nos tocar com Seu Espírito, e nos encher com a Sua graça e paz,
então começaremos espontaneamente a agradecê-Lo e a louvá-Lo.
Frutos resultantes por sermos pessoas carismáticas contemplativas
Teresa de Ávila testemunhou sobre a eficácia da oração contemplativa quando ela disse: “Se você tentar viver na
presença de Deus por um ano, você se verá, no final do mesmo, no auge da perfeição, embora sem mesmo
perceber”.
Apesar das nossas boas intenções, sentimo-nos impotentes de superar nossas fraquezas e falhas, tais como
críticas, impaciência, irritação, palavras duras, rancores e coisas semelhantes. Mas quando procuramos Deus no
silêncio e quietude e nos entregamos a Ele através da oração contemplativa, nossas fraquezas perdem um pouco
do seu poder sobre nós. Outro efeito da contemplação é trazer equilíbrio e cura para nossas vidas, além de nos
ajudar a reduzir a tensão e o nervosismo.
Outro efeito salutar desta oração é que, através da ação do Espírito Santo, nos tornamos mais plena e
verdadeiramente humanos. Quanto mais vivemos na presença de Deus, mais verdadeiramente nos tornaremos nós
mesmos – as pessoas que Deus sempre quis que fôssemos. Aumenta a nossa capacidade de relacionamento
pessoal autêntico e crescemos em nossa capacidade de nos colocarmos no lugar dos outros, de sentirmos
compaixão pelos sentimentos, situações e necessidades das outras pessoas.
Deixe-me concluir com o sólido conselho de São João da Cruz: “Aqueles, pois, que tem esse dom sobrenatural,
não devem desejar ou regozijar-se em usá-lo, nem devem preocupar-se em exercê-lo. Deus, que concede a graça
sobrenatural para a edificação da igreja ou de seus membros, também moverá o talento sobrenaturalmente
quanto à forma e hora de usá-lo. Considerando que o Senhor ordenou a seus discípulos que não se inquietassem
com o que falar ou como falar, - por ser uma questão de fé sobrenatural - e desde que estas obras também são
uma questão sobrenatural, Ele desejará que esses indivíduos aguardem até Ele tornar-se Aquele que opera,
movendo seu coração (Mat. 10,19; Mc 13,11). Pois é pelo poder de Deus que os dons devem ser exercidos. Nos Atos
dos Apóstolos, os discípulos suplicaram-Lhe que Ele estendesse a Sua mão para que se realizassem curas,
milagres e prodígios através deles, para que a fé em Nosso Senhor Jesus Cristo entrasse nos corações ( Atos,
04,29-30)”.

Documentos relacionados

Baixe aqui a transcrição completa da pregação.

Baixe aqui a transcrição completa da pregação. dons carismáticos. Essas coisas são muito importantes. Mas, em primeiro lugar, o Espírito foi derramado no dia de Pentecostes para formar um povo que fizesse aliança com Ele. Pentecostes começou um...

Leia mais

Manual de Identidade Visual RCC Brasil

Manual de Identidade Visual RCC Brasil Fazer discípulos de nosso Senhor Jesus Cristo evangelizando o povo de Deus no Brasil, a partir da experiência do Batismo no Espírito Santo. A RCC do Brasil A RCC é um dos numerosos frutos do Concíl...

Leia mais

História Mundial da RCC - Paróquia Nossa Senhora de Lourdes

História Mundial da RCC - Paróquia Nossa Senhora de Lourdes de que Deus é real e que nos ama. Orações que eu nunca tinha tido coragem de proferir em voz alta, saltavam dos meus lábios. (...) Este não era, pois um simples bom fim de semana, mas, na realidade...

Leia mais