PvTMaê - PVTMAG

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 OS CRITÉRIOS DA ELEIÇÃO
Numa modalidade interdisciplinar como o MMA, responder esta pergunta com clareza absoluta é praticamente impossível, afinal de
contas, além de conhecer um pouco de cada modalidade o treinador de MMA tem que ter liderança, uma visão tática diferenciada e,
acima de tudo, humildade para trabalhar com profissionais de diversas áreas, como Boxe, Muay Thai, Wrestling, Jiu-Jitsu, preparadores
físicos, sem os quais não conseguirá transformar seus atletas em campeões.
Quando decidimos fazer esta matéria pensamos em criar uma tabela de pontuação para as principais virtudes de um treinador
diferenciado como: capacidade de gerenciar talentos, visão tática da luta, percentual de vitórias de seus atletas, cinturões conquistados,
importância na formação do atleta. Mas com tantos critérios subjetivos em questão, decidimos que a melhor maneira de chegar a uma
conclusão objetiva seria perguntando aos maiores especialistas do esporte. Lutadores, treinadores e Jornalistas do mundo inteiro, que por
conhecerem a fundo o MMA, tem maneiras diferentes de avaliar estas qualidades.
Depois de quase um mês coletando votos de 110 profissionais do mundo todo, finalmente chegamos a um vencedor, o líder da Nova
União, André Pederneiras, com 23 votos, acompanhado de perto por Rafael Cordeiro (Kings MMA), com 21 e Greg Jackson, com 16. Nas
páginas a seguir você poderá verificar a tabela de votos e entender melhor o porquê estes três treinadores foram os mais votados.
UM TREINADOR PARA TODAS AS HORAS
A vitória de Pederneiras na eleição da PVT poderia tranquilamente ser justificada por números, afinal de contas poucas equipes hoje
conseguem conjugar um excelente percentual de êxitos - 330 lutas com 81,8% de vitórias em 5 anos- com um número tão grande de
cinturões mundiais atualmente em poder de seus comandados – quatro.
Mas reconhecer a importância do trabalho que vem sendo desenvolvido por Pederneiras no MMA por números seria de um reducionismo
absurdo, até porque são exatamente os critérios subjetivos que transformam este faixa preta de Carlson Gracie num profissional
diferenciado e merecedor desta acachapante votação.
Além de ter sido um excelente lutador tanto no Jiu-Jitsu como no MMA, Pederneiras tem uma visão tática diferenciada do esporte. Graças
a esta visão ele conseguiu transformar a maior equipe de pesos leves do Jiu-Jitsu brasileiro em um time de strikers, respeitado por
strikers. É o caso de seus faixas pretas José Aldo (campeão do WEC) e Marlon Sandro (campeão do Sengoku e Pancrase). “O Dedé
sempre nos incentivou a treinar em pé trazendo os melhores profissionais de Boxe e Muay Thai aqui para a academia”, conta Marlon. A
parceria costurada com a Boxe Thai de Luis Alves também foi essencial. “O pessoal foi começando a gostar de trocar e hoje no nosso
treino dos profissionais você já nem sabe mais quem começou no Jiu-Jitsu ou no Muay Thai”, conta Pederneiras, que hoje conta ainda
com o cubano Pedro Garcia, técnico de Wrestling, para ensinar seus lutadores a levar a luta para onde querem. “Hoje todos os atletas
estão muito completos, a gente tem que definir a tática de luta em cima das qualidades e defeitos do oponente. Graças a Deus com os
excelentes profissionais e excelente qualidade dos treinos que temos aqui na academia, o leque de opções para o treinador aumenta”.
A relação de amizade de Pederneiras com seus atletas também é apontada por Thalles como um grande diferencial. “O Dedé consegue o
equilíbrio ideal entre liderança, respeito e amizade. Todos da equipe o respeitam e o vêem como um grande amigo, em muitos casos um
pai”, explica Thalles, que assim como a maioria dos companheiros não abre mão do mestre no corner. “Ele conhece muito a gente não só
como pessoa, mas como atleta e isto te trás muita calma na hora da luta”, revela Leites.
CREONTE DO JIU-JITSU
Mas se hoje é reconhecido, Pederneiras já sofreu por ter uma visão diferenciada. Em 1995, quando a comunidade do Jiu-Jitsu não
aceitava que nenhum faixa preta ensinasse Jiu-Jitsu a estrangeiros, Pederneiras foi a primeira voz dissonante. Ensinou Joe Charles e
depois recebeu BJ Penn em seu Dojo, sendo por isso chamado de Creonte até pelo mestre Carlson. “Para piorar eu fui dar o azar de
casarem uma luta entre o Junior, filho do Carlson, e o Joe. O Carlson queria me matar”, lembra Dedé. Aos poucos os radicalismos foram
diminuindo, o Jiu-Jitsu deixou de ser tratado como um bem inexpugnável da família Gracie e seus alunos e os resultados começaram a
aparecer. Depois de se sagrar o primeiro faixa preta estrangeiro campeão mundial, BJ conquistou o cinturão do UFC até 70kg, tendo seu
excelente chão como uma de suas maiores armas.
FÁBRICA DE TALENTOS
O fato de ser uma pessoa de personalidade afável e agregadora, também sempre foi um dos diferenciais de Pederneiras. Foi graças a isso
que conseguiu se unir a outros profissionais importantíssimos na formação de sua equipe atual de MMA como Jair Lourenço (KimuraNatal) e Luis Alves (Boxe Thai). Da equipe de Jair em Natal (RGN) vieram atletas como Renan Barão (que hoje luta no WEC) e Jussier
Formiga (considerado o melhor 56kg do mundo) e da Boxe Thai Will Ribeiro (ex-lutador do WEC), Jonny Eduardo (campeão sul americano
do Shooto) e Felipe Olivieri. “O Dedé é coração de mãe o ambiente aqui é único, todo mundo aqui é tratado da mesma maneira
independente de sua origem. Parece que treino aqui a minha vida toda”, conta Luis Beição remanescente do Ruas Vale-Tudo que acabou
de conquistar o cinturão mundial do Shooto na categoria até 77kg.
Apesar de receber tantos atletas de fora, Pederneiras faz questão de reiterar que a base da equipe sempre foi formada em casa,
lembrando de atletas como Shaolin Ribeiro, Marlon Sandro, Léo Santos, Wagney Fabiano, Renato Charuto, Thalles Leites, Robson Moura,
Hacran Dias, Dudu Dantas e Ronnys Torres. “Recebemos muitos atletas de fora, mas sempre tivemos a preocupação em formar atletas
desde a faixa branca”, afirma Pederneiras.
A LEI DO RETORNO
A capacidade de ajudar terceiros sem pensar no benefício próprio talvez seja o maior diferencial desta faixa preta de Carlson Gracie.
Desde que começou a dar aulas de Jiu-Jitsu, Pederneiras sempre destinou bolsas para atletas de favelas e comunidades carentes vizinhas
a sua academia no Flamengo. Além disso Pederneiras cansou de fazer competições cobrando a entrada em alimentos, que eram
distribuídos no Morro Azul ou Santo Amaro. “Acredito que quando você faz o bem isso retorna para você de alguma maneira. Se mais
mestres fizessem isto certamente conseguiríamos tirar mais crianças da criminalidade para o esporte”. Que o digam os primos Marlon
Sandro, Hacran Dias e Dudu Dantas. Moradores da comunidade do Santo Amaro, os três perderam as contas do número de amigos que
perderam para o tráfico de drogas, mas graças ao apoio de Pederneiras conseguiram a consagração pelo esporte. “Se hoje tenho dois
cinturões mundiais e posso dar uma vida melhor a minha família, devo isso ao Dedé”, reconhece o campeão do Sengoku e Pancrase,
Marlon Sandro.
Outro que teve sua história mudada pelo autruísmo de Pederneiras foi José Aldo. “Eu passei um tempo treinando no Rio, mas tive que
voltar para Manaus pois não tive como me manter aqui. Eu ainda era faixa roxa, mas o Dedé acreditou em mim e pagou minha passagem
para eu voltar e me deixou morar na academia”, conta o campeão do WEC José Aldo, apontando por Anderson Silva como o maior Pound
for Pound do mundo.
O maior exemplo do autruísmo de Pederneiras são as 18 edições realizadas até hoje do Shooto Brasil. “Os pesos leves nunca tiveram
visibilidade lá fora, a maneira que encontrei para conseguir isso foi promover o Shooto. Mesmo tirando dinheiro do meu bolso, sabia que
o evento serviria como vitrine não só para os meus atletas, mas para talentos nacionais. Hoje depois de 18 edições e muita grana tirada
do bolso, fico feliz em ter aberto o caminho de tanta gente”, comemora Pederneiras.
Hoje apesar de não fazer muito dinheiro com a luta, Pederneiras consegue viver muito bem graças a sua academia UPPER (onde aliás fica
localizado o QG da Nova União no 4º andar). Ele pode não ter ficado rico, mas aos poucos vem recebendo de volta todo o bem que fez,
não em forma de dinheiro, mas sim de títulos e reconhecimento ao seu trabalho.
Rafael Cordeiro: a consagração de uma doutrina
Quem disputou cabeça a cabeça com Pederneiras o título foi o líder da Kings MMA, Rafael Cordeiro. Considerado o braço direito de
Rudimar Fedrigo, Rafael teve importância capital na formação de alguns dos maiores campeões da equipe como Maurício Shogun (nos
tempos de Pride) e Wanderlei Silva (Pride e agora no UFC). Ao contrário de Pederneiras que era faixa preta de Jiu-Jitsu e teve que
incorporar a luta em pé para se transformar num grande treinador de MMA, Cordeiro fez o caminho inverso. Considerado um dos mais
técnicos campeões de Muay Thai da equipe de Rudimar, Rafael se dedicou com afinco aos treinos de chão até ganhar a faixa preta de JiuJitsu de Cristiano Marcello. Há três anos nos EUA, Rafael tem aproveitado para se aperfeiçoar no Wrestling.
Não por acaso merceu os votos, não só de Shogun e Wanderlei, mas de quase todos os discípulos de Rudimar, caso dos irmãos Maurício
Véio e André Dida (hoje morando no Canadá a frente da Evolução Thai) e do casal Cyborg (ainda hoje representando a Chute Boxe).
Poderia se imaginar que os votos fossem motivados pela longa amizade dos curitibanos com Rafael, mas como explicar os fotos de
Renato Babalú e Fabrício Werdum ? “Já treinei com alguns dos maiores treinadores do mundo, mas nenhum passa a energia que o Rafael
passa, gostaria muito que ele fosse reconhecido no mundo do MMA como é reconhecido pelos seus atletas”, revela Renato Babalú, que
treina há pouco mais de um ano com o líder da Kings MMA, mas pensa em se aposentar ao lado do novo mestre.
Há quase quatro anos treinando com Rafael Cordeiro, Fabrício Werdum é outro que nem cogita a hipótese de treinar com outro
headcoach. “Alguns técnicos te impõem o respeito, o Rafael conquista o seu respeito com o carisma que ele tem, além do mais o cara
mantém o aluno motivado o tempo todo. Ele nunca dá um treino igual ao outro, não tenho dúvidas que ele é o melhor”, aponta Werdum.
Informado sobre a nossa eleição Rafael fez questão de votar no maior “concorrente” André Pederneiras. “O Dedé faz um trabalho
maravilhoso no Brasil e merece o meu voto”, aponta Rafael, comemorando seus excelentes números desde que chegou nos EUA. “Quando
você é de uma grande equipe, você não precisa provar muita coisa, mas quando sai você tem de provar o que você é. Eu provei fora da
Chute Boxe que eu sei fazer o negócio, mesmo com toda minha humildade. Eu sei fazer isso e trabalho para isso. Agora estou colhendo
os frutos.Estou muito feliz tivemos um aproveitamento de 90% desde que cheguei aqui há 3 anos. Também tivemos a oportunidade de
colocar o Wanderlei, Werdum e Babalú na reta da vitória novamente colocando o nome do Brasil novamente no topo”, finaliza o segundo
colocado da nossa eleição.
O MESTRÃO SEMPRE PRESENTE
Criador da equipe Chute Boxe, Rudimar soube, com sua liderança, criar um espírito único em seus lutadores incutindo neles um misto de
agressividade, técnica e um amor pela bandeira da equipe, nunca antes visto no esporte. Foi assim que surgiram para o mundo talentos
como Pelé Landy, Anderson Silva, Wanderlei e Maurício Shogun.
Não é a toa que apesar de não estar atuando ativamente como headcoach, Rudimar também foi diversas vezes lembrado na nossa
eleição. “O cara criou e liderou a maior equipe de campeões de todos os tempos. Para mim ainda é o melhor”, justificou seu voto o líder
da Constrictor Team de Brasília, Ataide Jr.
Além de der participado diretamente na formação de tantos campeões, Rudimar também formou grandes treinadores como Rafael
Cordeiro (Kings MMA) e Sérgio Cunha (Minesota Fight Factory), que também foi lembrado em nossa votação. “Além de ser um excelente
treinador, o Cunha sabe motivar o atleta. Ele teve muita importância naquela volta por cima do meu irmão no UFC, na luta contra o
Chuck Liddel, então o meu voto vai para ele”, justiçou Murilo Ninja.
O GÊNIO DA TÁTICA
Considerado uma unanimidade entre os atletas americanos, Greg Jackson mostrou que tem força mundial em nossa votação recebendo
16 votos dos especialistas consultados pela PVT Mag. Jackson é um dos mais bem sucedidos treinadores do mundo, razão pela qual sua
academia, localizada em Albuquerque, no Novo México, vive recebendo grandes nomes do esporte como Georges St. Pierre, Rashad
Evans, Nate Marquardt, Jon Jones, Shane Carwin, Melvin Guillard e Keith Jardine.
Nascido em Washington DC, Jackson se mudou aos três anos de idade para Albuquerque, onde cresceu em uma família de Wrestlers. Seu
pai, seu tio, seu irmão e seu avô foram praticantes da modalidade, alguns deles conquistando importantes títulos. Estudioso das artes
marciais desde a infância, Jackson combinou algumas técnicas de Judô com as do Wrestling para criar seu próprio estilo de luta e abrir
sua academia, em 1992. Um ano depois, viu Royce Gracie vencer o UFC e então decidiu se aprimorar ainda mais, começando a aprender
kickboxing com Michael Winkeljohn, cinco vezes campeão mundial da modalidade, e até hoje seu mentor. Sua escola oficialmente passou
a se dedicar ao MMA em 2000 e, desde então, levou lutadores a grandes eventos como UFC, Pride, WEC, TUF, entre outros.
Entre os especialistas que apontaram Jackson como o No1 está o faixa preta de Carlson Gracie e comentarista do canal Combate Carlão
Barreto, “O cara nunca foi lutador profissional, não foi um competidor de alto nível em nenhuma modalidade de luta, porém consegue ser
astuto em suas estratégias, dirigindo sua equipe de forma harmônica. Pelo menos é o que parece nos vídeos e nas lutas de seus atletas.
Quando vemos um lutador da equipe dele em ação, podemos ver a assinatura dele nessas apresentações. Podemos até questionar a
plasticidade do jogo de sua equipe, porém nunca sua eficiência”, elogia Carlão. Outro que tira o chapéu para Greg Jackson é o líder da
ATT Ricardo Libório. “Todo Head Coach tem que ter a noção de que sem a ajuda dos outros coaches a evolução de um atleta se torna
virtualmente impossível. Também não é fácil adminstrar um número de pessoas com diferentes personalidades. O Greg combina todas as
qualidades e mais, inspira também outros Head Coaches”, analisa Libório.
Lutando com o regulamento
Apesar do sucesso de seus atletas e pela fama que vem conquistando por ser um excelente estrategista, Jackson é criticado por alguns
fãs e especialistas justamente por criar táticas onde seus lutadores acabam lutando “burocraticamente”, como nas últimas apresentações
de GSP e Rashad Evans.
“Os atletas do Greg Jackson parecem estar lutando com as regras debaixo do braço, de maneira muito burocrática”, analisa o
comentarista do Canal Combate Luciano Andrade, “Ultimamente Strikers que faziam lutas super emocionantes como Rashad Evans e GSP
parecem estar mais preocupados em botar pra baixo e cozinhar no ground and pound. Espero que o Greg não faça isso com o Jon Jones”.
A FORÇA DA AKA- Outro treinador americano lembrado por nossos especialistas foi Bob Cook, que ao lado dos seus parceiros Javier
Mendez e David Camarillo, comanda a American Kickboxing Academy, em San Jose, equipe onde treinam nomes como Cain Velásquez,
Jon Fitch, Josh Koscheck e Mike Swick.
“Eles pegam vários tipos de atletas, especialmente ex-wrestlers, e fazem um brilhante trabalho de moldá-los a partir do zero”, explicou o
jornalista do Sherdog.com Jordan Breen. Mesma opinião do repórter da revista japonesa Kamipro Fumihiko Ishi.
AS NOVAS POTÊNCIAS VINDAS DO BOXE
Entre os treinadores de MMA mais votados da nossa eleição, dois tiveram origem no Boxe, mas tem mostrado um trabalho diferenciado
com seus atletas no MMA, eles são Josuel Distak, treinador de Feijão, Jacaré e Anderson, e Luis Dórea que hoje treina Minotauro,
Minotouro, Cigano e Demian.
Com 7 votos, Josuel Distak foi o 4º treinador mais votado em nossa eleição. Aluno de Ulisses Pereira em Belém, Distak, assim como Greg
Jackson, nunca foi um atleta de destaque no Boxe, mas desde que teve a oportunidade de treinar Vitor Belfort em 1998, passou a
desenvolver ótimas técnicas de treinamento adaptando o boxe ao MMA e aos poucos foi conquistando seu espaço. Não é a toa que foi
escolhido o melhor por nomes como Paulo Filho, Amaury Bitetti e Carina Damm.
Há dois anos Distak fechou uma parceria vitoriosa com o preparador físico e faixa preta Rogério Camões que vem produzindo excelentes
resultados. Das seis defesas de títulos que fez, Anderson Silva treinou com a dupla em quatro. Rafael Feijão e Ronaldo Jacaré também
conquistaram o cinturão do Strikeforce treinando com eles. “A dupla Distak/Camões merece todo o crédito do mundo. Eles transformaram
o Jacaré num striker”, reconheceu o jornalista do Sherdog Jordan Breen, prontamente apoiado pelo novo detentor do cinturão até 84kg
do Strikeforce.
“Muita gente critica que o Distak, diz que ele veio do Boxe. Eu não quero saber de onde ele veio, o que me interessa é que ele e o
Rogerão são ótimos treinadores e me ajudaram muito a chegar neste título que eu sempre sonhei”, finalizou Jaca.
Assim como Distak, Luiz Dórea também sofre muito preconceito por ser um treinador de Boxe, muitos acham que ele precisa adaptar seu
Boxe para o jogo de chão de seus faixas pretas de Jiu-Jitsu, Rodrigo Minotauro, Demian e Rogério Minotouro, e não o contrário. Rogério,
que votou em Dórea como melhor treinador de MMA sai em defesa do mestre. “O Dórea já tem uma visão global do MMA, além de ser um
excelente treinador. É muito bom tê-lo no corner”, conta Minotouro.
Cria de Dórea, Junior Cigano também vem despontando entre os melhores pesos pesados do mundo no UFC. Conjugando o boxe do
mestre, com o chão de Minotauro e o Wrestling que vem aprendendo com Munoz nos EUA, Cigano terá sua chance de consagrar Dórea
quando lutar pelo cinturão contra o vencedor de Cain Velásquez e Brock Lesnar.
CARLSON GRACIE: HOURS CONCOURS
Se a pergunta da nossa pesquisa fosse: quem é o maior treinador de Vale-Tudo de todos os tempos, não há dúvida alguma que o
vencedor seria Carlson Gracie. Mesmo fazendo questão de frisar que a escolha era para o melhor treinador do momento, 33 votantes
citaram espontaneamente o nome de Carlson. O próprio vencedor da eleição, André Pederneiras, fez questão de frisar: “Hoje tem muitos
grandes treinadores, mas nenhum se compara a Carlson. Não só por ter formado o maior exército de lutadores de todos os tempos, mas
pela capacidade dele de transformar pessoas relativamente sem talento em campeões de verdade”, explicou o líder da Nova União.
Criação da maior dupla de “Head coaches” da história, Carlos e Hélio Gracie, Carlson defendeu o nome da família Gracie por 2 décadas.
Além das habilidades físicas, da técnica da família e da agressividade, o filho mais velho de Carlos tinha como diferencial o seu
psicológico, que desestabilizava os oponentes. Quando passou a ser treinador Carlson, transferiu para seus atletas toda esta autoconfiança.
Absolutamente aficcionado em criar campeões e conhecido por seu desprendimento aos bens materiais, Carlson teve papel fundamental
na popularização do Jiu-Jitsu para classes menos favorecidas no Rio de Janeiro.
Os números desta votação são um retrato da importância de Carlson no esporte, não só pelo fato de ele ser citado espontaneamente por
quase 1/3 dos votantes, mas principalmente pelo fato de três alunos seus - André Pederneiras (23); Murilo Bustamante (6) e Ricardo
Libório (6), terem obtido mais de 1/3 de todos os votos computados.
Pride 4: entre galáticos e zebras Poucos eventos de MMA reuniram tantas lendas do esporte num mesmo card como o Pride 4. Além da luta principal entre Rickson e Takada, o show, realizado no dia 11 de outubro de 1998 no Tokyo Dome, contou ainda com Marco Ruas, Mark Kerr, Hugo Duarte, Wallid Ismail, Allan Góes, Igor Vovchanchyn e Gary Goodridge. O curioso é que dos quatro confrontos entre estrelas brasileiros e zebras japoneses, só Rickson venceu ... Rickson e o nascimento do Pride Após as seis vitórias consecutivas (sendo quatro sobre lutadores japoneses), que renderam a Rickson Gracie os títulos das duas edições do Vale‐Tudo Japan (VTJ 94 e 95), os promotores japoneses decidiram criar um evento colocando seu maior ídolo, Nobuhiko Takada, para vingar o Japão contra o No1 da família Gracie. Como nesta época os japoneses ainda não conseguiam discernir luta real de marmelada, acreditava‐se piamente na terra do sol nascente que Takada, maior ídolo do pro‐wrestling, poderia vencer Rickson e reaver novamente o orgulho do povo japonês, daí o nome do evento: PRIDE (orgulho, em inglês). Na primeira edição do show (em outubro de 1997), Rickson só precisou de 4min47 segundos para derrubar, montar e finalizar Takada com um armlock. Os japoneses não se conformaram com a derrota e convidaram o Gracie para a revanche na quarta edição do evento, realizada um ano depois no mesmo Tokyo Dome. A revanche contra o maior ídolo do pro‐wrestling japonês teve uma divulgação absurda na mídia. Jornais, revistas e as principais redes de TV japonesas enfatizavam que Takada estava bem melhor preparado desta vez e que a história seria diferente. “Este Takada é um frango D´água, não vai dar nem para o começo”, me confidenciava o tio de Rickson, Carlson Gracie, na reunião de imprensa ao lado de seus alunos Allan Góes e Wallid Ismail. Com toda sua experiência, Carlson, que adorava fazer apostas, não hesitou em apontar os resultados dos confrontos: “Este evento não vale nem apostar: Destes japoneses o mais duro é o Sakuraba, que já ganhou do Conan, mas o Allan vai pegar ele. Aliás acredito que os brasileiros vão vencer todas. O único que vai ficar complicado, mas eu acho que vai endurecer até o final é o Hugo, que ta pegando o cara mais duro deste evento, o Mark Kerr”, previu o mestre. Rickson vence novamente Apesar dos 60 anos de experiência de Carlson, na realidade o único que seguiu a risca as previsões do mestre foi seu sobrinho Rickson. Desta vez o Gracie teve um pouco mais de dificuldades para levar a luta para o seu território. Quando finalmente conseguiu, a quase 8 minutos de luta, caiu por baixo, mas aproveitando uma tentativa de chave de pé do japonês, Rickson o desequilibrou e já caiu de guarda passada. Após chegar a montada, Rickson dominou o braço e partiu para o armlock, imagem que estamparia a capa de quase todos os jornais japoneses no dia seguinte. Na conferência de imprensa após a luta, Rickson disse deixou no ar a possibilidade de voltar ao evento. “Agora procuro um oponente mais duro” dando a entender que Bas Rutten ou Mark Kerr, seriam seus próximos adversários. Depois desta vitória sobre Takada, Rickson só voltaria aos ringues japoneses em 2000 quando fez a última luta de sua carreira contra Maskatsu Funaki, a quem finalizou com um mata‐
leão a 12min49s de luta. ALLAN DÁ AULA DE CHÃO EM SAKURABA Nas primeiras edições do Pride, quando as lutas eram disputadas em 3 rounds de 10 minutos, a vitória só poderia ser decretada por nocaute, desistência ou finalização. Não havia vitória por pontos. Se houvesse, Allan Góes certamente teria conseguido uma decisão unânime contra Sakuraba. Num momento em que o japonês começava a se destacar com vitórias sobre Marcus Conan, Vernom White e Carlos Newton, Carlson Gracie treinou Allan para neutralizar o japonês no chão, e Allan seguiu a risca a tática do mestre. Sakuraba passou os 3 rounds completamente perdido na guarda do faixa preta. Quando ficava em pé era atingido com pedaladas, quando entrava na guarda levava socos, quando tentava se afastar era desequilibrado e raspado. Nas três oportunidades que conseguiu completar a raspagem, Allan passou com rapidez, chegando as costas. O brasileiro chegou a encaixar um mata‐leão no final do 2o round, quando soou o gongo. Depois desta dura que levou de Allan no Pride 4, Sakuraba se transformaria numa espécie de pesadelo dos brasileiros. O japonês enfileirou seis seguidos: Vitor Belfort (Pride 5); Ebenezer Braga (Pride 6); Royler Gracie (Pride 8); Royce Gracie (Pride GP); Renzo Gracie (Pride 10); Ryan Gracie (Pride 12); até ser parado por Wanderlei Silva que o venceu três vezes seguidas, se transformando no campeão da categoria. AS DERROTAS QUE NEM CARLSON PREVIA Apontados por Carlson e por toda imprensa especializada, como favoritos absolutos contra os oponentes japoneses, Marco Ruas (1,85m/105kg) e Wallid Ismail acabarem sendo surpreendidos. Na coletiva de imprensa, Ruas chegou a reclamar do nível do oponente. “Prefiro pegar durezas, tentaram colocar o Belfort e o Zé Mario, mas parece que não houve acordo com relação as bolsas”, disse Ruas, se referindo ao seu oponente Alexander Otsuka (1,83m/92kg). Quando a luta começou o criador do Ruas Vale‐Tudo tentou pegar as costas de Otsuka que escapou e deixou o brasileiro cair por baixo. No final do round Ruas, conseguiu uma raspagem e pegou as costas, terminando o round com uma mata‐leão encaixado. No segundo round porém, Ruas voltou irreconhecível e deixou que o japonês o derrubasse. Percebendo o cansaço do brasileiro, Alexander chegou a meia guarda, de onde passou quase todo o round punindo o brasileiro com fortes socos, chegando a abrir um corte no supercílio de Ruas. No intervalo do 2º para o 3o round, Ruas muito cansado, disse que não conseguiria continuar, obrigando seu parceiro de treinos Bas Rutten e o treinador Roberto Leitão a jogarem a toalha. “Não sei o que aconteceu, mas no final do segundo round não conseguia nem levantar o braço”, contou Marco após o evento. WALLID TAMBÉM CASA Outro que demonstrava total tranquilidade antes da luta era Wallid Ismail (1,70m/83kg). Mesmo sabendo que o judoca japonês Akira Shoji (1,72m/88kg) já tinha em seu currículo um empate contra Renzo Gracie no Pride 1, Wallid estava confiante. “Nunca estive tão bem fisicamente”, me disse antes da luta o discípulo de Carlson. Assim como Ruas, Wallid dominou o primeiro round, botou o japonês para baixo diversas vezes e chegou a montada em duas oportunidades, mas Shoji conseguiu escapar. Depois de 10 minutos caçando o japonês, Wallid cansou e, como não tinha mais forças para tentar derrubá‐lo se viu obrigado a aceitar a trocação, onde o japonês mostrava superioridade. Ao invés de ouvir os conselhos de Carlson em seu córner, Wallid partiu para a loteria da trocação. Foi assim que Shoji conseguiu acertar uma sequência de socos obrigando o juiz a decretar o nocaute técnico. “Estava em excelente forma, não sei como cansei assim, só pode ser o fuso‐horário, cheguei aqui há três dias”, dizia chateado após a luta o amazonense HUGO DUARTE: “É tração nas quatro, nunca vi um cara tão forte” Como bem disse Carlson Gracie, de todos os brasileiros no card do Pride 4, Hugo Duarte (1,85m/83kg) era o que tinha a tarefa mais indigesta. Com nove vitórias seguidas, Kerr (1,85m/117kg) já era de longe o lutador mais temido do mundo nesta época. Para piorar, o wrestler estava treinando há quase um ano com Bas Rutten e Marco Ruas, antigo parceiro de treinos de Hugo na Luta‐Livre. Sabendo das dificuldades que o general da Luta‐Livre enfrentaria, Carlson Gracie, com seu coração enorme, resolveu botar as rivalidades com a Luta‐Livre de lado e ficar no córner de Hugo, que só tinha ao seu lado seu aluno (Bigú) e preparador físico (Jorge). Durante boa parte do primeiro round, Hugo conseguiu manter Kerr em sua guarda com os braços travados. Quando o americano conseguia se ajeitar para bater, Duarte respondia por baixo e voltava a dominar seus braços. No início do segundo round porém, a história começou a mudar. Kerr conseguiu acertar um soco que abriu o supercílio de Hugo. Devido ao forte sangramento a luta chegou a ser interrompida. Quando os médicos autorizaram o retorno do brasileiro, Kerr pareceu perder a paciência com a tática de amarração de Hugo e decidiu não entrar mais na guarda do brasileiro. Com pisões e chutes, Mark acabou definindo os rumos do combate ao quebrar o pé esquerdo do brasileiro no fim do 2o round. Hugo, motivado por Carlson, ainda voltou para o terceiro round, mas sem conseguir andar nem fazer guarda, acabou virando presa fácil para a “Máquina de bater” que chegou a montada. Hugo escapou pulando para fora do ringue e os juízes interromperam a 2min32s do 3o round. “É tração nas quatro rodas, estouro de boiada mesmo, nunca vi um cara tão forte”, reconheceu Hugo no dia seguinte no café da manhã já de pé engessado, apesar de reclamar da postura do oponente. “Ele joga sujo, me deu várias cabeçadas e segurou minha luva. Se não tivesse quebrado o pé teria levado a luta até o final”. Hugo também acusou o ex‐parceiro de passar seu jogo para Kerr. “O Ruas passou todo o meu jogo para ele. Todos os movimentos que ele fez nas lutas anteriores, que daria margem para eu atacar joelho e Americana, ele não repetiu lutando comigo”. Hugo sela paz com Jiu‐Jitsu No dia seguinte a luta Hugo Duarte, com a perna engessada fez questão de agradecer o apoio de Carlson Gracie. “O pessoal da Luta‐Livre me chamou de maluco quando aceitei esta luta. Mas desde o primeiro dia que cheguei no Japão o Carlson me fez acreditar que dava para endurecer esta luta e me dando um enorme apoio na beira do ringue. Acho que depois desta atitude do Carlson, está na hora de acabar com esta guerra entre Jiu‐Jitsu e Luta‐Livre”.