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REVISTA UNIVAP Universidade do Vale do Paraíba Ficha Catalográfica Revista UniVap - Ciência - Tecnologia - Humanismo. V.1, n.1 (1993)São José dos Campos: UniVap, 1993v. : il. ; 30cm . Semestral com suplemento. ISSN 1517-3275 1 - Universidade do Vale do Paraíba A REVISTA UniVap tem por objetivo divulgar conhecimentos, idéias e resultados, frutos de trabalhos desenvolvidos na UNIVAP - Universidade do Vale do Paraíba, ou que tiveram participação de seus professores, pesquisadores e técnicos e da comunidade científica. Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva de seus autores. A publicação total ou parcial dos artigos desta revista é permitida, desde que seja feita referência completa à fonte. CORRESPONDÊNCIA UNIVAP - Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Urbanova CEP: 12244-000 – São José dos Campos - SP - Brasil Tel.: (12) 3947-1036 / Fax: (12) 3947-1211 E-mail: [email protected] Av. Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova CEP: 12244-000 - São José dos Campos - SP Fone: (12) 3947-1000 - www.univap.br Campus Centro: ! Praça Cândido Dias Castejón, 116 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-720 - Tel.: (12) 3922-2355 ! Rua Paraibuna, 75 - Centro São José dos Campos - SP - CEP: 12245-020 - Tel.: (12) 3922-2355 Campus Urbanova: ! Avenida Unidade Villa Branca: ! Estrada Unidade Aquarius: ! Rua Unidade Caçapava: ! Estrada Municipal Borda da Mata, 2020 Shishima Hifumi, 2911 - Urbanova São José dos Campos - SP - CEP: 12244-000 - Tel.: (12) 3947-1000 Municipal do Limoeiro, 250 - Jd. Dora - Villa Branca Jacareí - SP - CEP: 12300-000 - Tel.: (12) 3958-4000 Dr. Tertuliano Delphim Junior, 181 - Jardim Aquarius São José dos Campos - SP - CEP: 12246-080 - Tel.: (12) 3923-9090 Caçapava - SP - CEP: 12284-820 - Tel.: (12) 3655-4646 Supervisão Gráfica: Profa. Maria da Fátima Ramia Manfredini - Pró-Reitoria de Cultura e Divulgação - Univap / Revisão: Profa. Glória Cardozo Bertti - (12) 3922-1168 / Editoração Eletrônica: Glaucia Fernanda Barbosa Gomes - Univap (12) 3947-1036 / Impressão: Jac Gráfica e Editora - (12) 3928-1555 / Publicação: Univap/2004 Baptista Gargione Filho Reitor Antonio de Souza Teixeira Júnior Vice-Reitor e Pró-Reitor de Integração Universidade Sociedade SUMÁRIO v. 11 n. 20 jun. 04 ISSN 1517-3275 Ana Maria C. B. Barsotti Pró-Reitora de Assuntos Estudantis Ailton Teixeira Pró-Reitor de Administração e Finanças PALAVRA DO REITOR. .................................................................................... 5 Elizabeth Moraes Liberato Pró-Reitora de Avaliação EDITORIAL. .......................................................................................................... 7 Élcio Nogueira Pró-Reitor de Graduação Fabiola Imaculada de Oliveira Pró-Reitora de Pós-Graduação Lato Sensu João Luiz Teixeira Pinto Pró-Reitor de Graduação da Unidade Villa Branca Jacareí Luiz Antônio Gargione Pró-Reitor de Planejamento e Gestão Maria Cristina Goulart Pupio Silva Pró-Reitora de Assuntos Jurídicos Maria da Fátima Ramia Manfredini Pró-Reitora de Cultura e Divulgação A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) ............................... 9 O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL: EDUCANDO E FORMANDO PROFISSIONAIS E CIDADÃOS PARA O FUTURO Elizabeth Moraes Liberato ................................................................................. 1 2 AS TEORIAS TECNOLÓGICAS APLICADAS À EDUCAÇÃO: UMA OPORTUNIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO Alexandro Oto Hanefeld ..................................................................................... 1 6 Francisco José de Castro Pimentel Diretor da Faculdade de Direito do Vale do Paraíba ETNOGRAFIA E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO: UMA DISCUSSÃO INTRODUTÓRIA EM TRÊS AUTORES André Augusto Brandão ..................................................................................... 2 5 Francisco Pinto Barbosa Diretor da Faculdade de Engenharia, Arquitetura e Urbanismo SOFTWARE EDUCACIONAL PARA ANÁLISE ESTRUTURAL Carlos Humberto Martins .................................................................................. 3 5 Frederico Lencioni Neto Diretor da Faculdade de Educação Luiz Alberto Vieira Dias Diretor da Faculdade de Ciência da Computação Renato Amaro Zângaro Diretor da Faculdade de Ciências da Saúde Samuel Roberto Ximenes Costa Diretor da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas Vera Maria Almeida Rodrigues Costa Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes Marcos Tadeu Tavares Pacheco Diretor do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento Maria Valdelis Nunes Pereira Diretora do Instituto Superior de Educação COORDENAÇÃO GERAL Antonio de Souza Teixeira Júnior REVISÃO DE TEXTO Glória Cardozo Bertti DIGITAÇÃO E FORMATAÇÃO Glaucia Fernanda Barbosa Gomes CONSELHO EDITORIAL Alexandro Oto Hanefeld Amilton Maciel Monteiro Antonio de Souza Teixeira Júnior Antônio dos Santos Lopes Cláudio Roland Sonnenburg Élcio Nogueira Elizabeth Moraes Liberato Francisco José de Castro Pimentel Francisco Pinto Barbosa Frederico Lencioni Neto Heitor Gurgulino de Souza Jair Cândido de Melo Luiz Carlos Scavarda do Carmo Marcos Tadeu Tavares Pacheco Maria da Fátima Ramia Manfredini Maria Tereza Dejuste de Paula Paulo Alexandre Monteiro de Figueiredo Rosângela Taranger Samuel Roberto Ximenes Costa Vera Maria Almeida Rodrigues Costa ERGONOMIA E ADEQUAÇÃO ENTRE AS MEDIDAS ANTROPOMÉTRICAS DE CRIANÇAS E MOBILIÁRIO ESCOLAR UMA REVISÃO Ewerson de Godoy, Márcio Magini, Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins ....... 4 1 MAPEAMENTO DE ESTUDOS SOBRE O RISCO POTENCIAL DO RUÍDO EM NEONATOS INTERNADOS EM UNIDADE DE CUIDADOS INTENSIVOS Ana de Lourdes Corrêa, Maria Angélica B. da Silva Zago, Maria Belén Salazar Posso, Carlos Tierra Criollo .............................................................................. 5 2 RELAÇÕES DE FRANK-STARLING NO SISTEMA CARDIOVASCULAR INTACTO Mituo Uehara, Kumiko K. Sakane ................................................................... 5 7 ANALYSIS OF TWO-DIMENSIONAL ANALYTICAL SOLUTION OF FORCED CONVECTION AND SUBCOOLED FLOW BOILING IN TUBES Élcio Nogueira, Lucilia Batista Dantas ............................................................ 6 4 APLICAÇÃO DA TRANSFORMADA INTEGRAL EM ABLAÇÃO DE TECIDOS ORGÂNICOS Gustavo Bueno de Toledo, Élcio Nogueira ...................................................... 8 0 ISOLAMENTO DE ASPERGILLUS VERSICOLOR EM PEÇAS ANATÔMICAS CONSERVADAS EM SOLUÇÃO DE FORMALDEÍDO A 10% Wallace Ribeiro Corrêa, Cristina Pacheco Soares, Newton Soares da Silva . 8 8 CARACTERIZAÇÃO DE UMA CÉLULA ELETROMAGNÉTICA DE MODO TRANSVERSAL (CÉLULA TEM) PARA TESTES BIOLÓGICOS Arnaldo José Marçal, Landulfo Silveira Júnior ................................................ 9 5 NORMAS GERAIS PARA A PUBLICAÇÃO DE TRABALHOS NA REVISTA UNIVAP .......................................................................................... 101 PALAVRA DO REITOR É sabido que não basta obter o crescimento econômico para conseguir a eliminação da pobreza. Reconhece-se, contudo, que um país que possua altas taxas de crescimento econômico, aliadas à estabilidade política, ao razoável domínio da pesquisa científica e tecnológica, à qualidade e à competitividade de seus produtos, tem grande probabilidade de enriquecer, embora não, necessariamente, de ser uniformemente rico. Poderá ter bolsões de pobreza, favelas, ao lado de condomínios de luxo e tudo o mais, amplamente constatado pelo mundo a fora. A chamada “teoria do derrame” considera que bastaria o crescimento econômico e ocorreria o derrame da riqueza, tendendo a uniformizar a sua distribuição e, em conseqüência, obter a eliminação da pobreza. Isto não ocorreu: Pesquisas das Nações Unidas, em 180 países, nos últimos 40 anos, concluíram pela inexistência de nenhum caso de derrame, ou seja, não ocorreu nenhuma evidência de que o crescimento econômico, isolado, tenha concorrido para a eliminação da pobreza. Para entender melhor o problema, admite-se hoje a existência de quatro formas de capital: 1. capital natural, derivado do domínio de fontes de energia e de matéria-prima, de terras férteis e conseqüente produção de alimentos etc; 2. capital construído, constituído por máquinas, sistema industrial organizado, distribuição dos produtos e sua venda; 3. capital humano, constituído pelo domínio do conhecimento e da saúde pelos componentes de uma sociedade, seja uma empresa, município ou país; é medido pelo nível educacional e de capacidade para o trabalho, fundamentalmente; 4. capital social, caracterizado pela capacidade de articulação, de estabelecer sinergias, cimentar participações entre os diferentes setores da entidade, captar apoio externo e preservar a cultura local. Estudos do Banco Mundial relativos às organizações concluem que 64% do seu crescimento econômico é determinado pela combinação dos capitais humano e social. Decorre então, o que é muito significativo, do crescimento econômico, somente um terço é devido ao capital tradicional. E aí está a resposta para a eliminação da pobreza: acesso universal à educação e saúde. A relação entre o total dos 20% mais ricos e o total dos 20% mais pobres de uma sociedade fornece uma medida da desigualdade da sua distribuição de renda: Noruega Taiwan Israel Japão México Brasil 3: 1 4: 1 5: 1 5: 1 27: 1 100: 1 Esperamos que os artigos publicados na Revista Univap ajudem, de algum modo, o Brasil a diminuir o valor da relação acima. Baptista Gargione Filho, Prof. Dr. Reitor da UNIVAP EDITORIAL Um rápido olhar nos títulos deste número da Revista Univap, em tese dedicada à Educação, mostra a extensão dos assuntos tratados. Apesar desta diversidade, ressalta a preocupação, comum a todos, de proporcionar temas para um melhor ensino. Universidade é a unidade da diversidade, dizem os mais entendidos. E cada um entenderá, como melhor lhe apetecer, esta definição. Como exemplo de diversidade, em minha área de maior atividade, a Extensão, tenho participado de reuniões muito variadas, como foi o caso do II Congresso da Indústria Paulista, que contou com o comparecimento do Governador Geraldo Alckmin, dos Ministros Palocci e Furlan, do presidente do BNDES, Carlos Lessa, do anfitrião e Presidente da FIESP, Horácio Lafer Piva e outros mais. Foi bastante enfatizada a necessidade de que o desenvolvimento econômico seja embasado na apropriação, pela indústria, dos resultados, sempre renovados, proporcionados pelo avanço da Ciência e Tecnologia, de modo a manter a modernidade da empresa aliada à produtividade e à melhor qualidade do produto final. As empresas informais, apontadas pelos Ministros, como nocivas, foram contudo defendidas por Carlos Lessa, pois elas estariam exercendo função de “geriatras da sobrevivência”. E explica o que é isso: as informais competem, muitas vezes, numa pequena cidade; descobrem, a seguir que, se se unirem, cooperando, ganham o mercado, ficam fortes e agem então como uma empresa única, apresentam-se em feiras, elaboram catálogos e folders e são praticamente imbatíveis. Não são, sequer, adquiríveis por uma multinacional, pois esta, como compradora, corre o risco de vê-los, logo mais, reagrupadas e competindo com ela, inclusive. Formam o que se chamam “Arranjos Produtivos Locais – APLs”. São campeãs da sobrevivência, de onde o “geriatra”, denominação criada pelo Presidente do BNDES; dá alguns exemplos: Nova Serrana – MG, APL com 7.000 empresas, 17.000 empregados, exporta um milhão de dólares em calçados (56% da produção); Santa Luzia do Paruá – MA, exporta para a Alemanha 220 toneladas anuais de mel; Laranjal Paulista, produz bonecas, no valor de 20 milhões de reais anuais. E os exemplos se multiplicam: bordados, camarão, frutas, pijamas, vestidos, livros (vendas de 30.000 unidades, só na grande São Paulo). As APLs vêm sendo, inclusive, apoiadas pelo BNDES e são campeãs da geração de empregos; dois fundos do BNDES estão sendo formados: FUNTEC, de apoio aos empreendedores que dominam tecnologias modernas e o CRIATEC, destinado às empresas criativas, tipo APLs inclusive. De tudo isto, lembremos que as grandezas fundamentais não se definem; somente se intuem. O fato de algo não ser bem definido, de ser informal, nem sempre é defeito. E grande parte de nossa população precisa ter acesso a diferentes meios de sustentação, informais muitas vezes, mas apesar de tudo significativos, conforme depoimento do Presidente do BNDES, “o maior Banco do mundo”, com orçamento de 60 bilhões de reais em 2005. Antonio de Souza Teixeira Júnior, Prof. Dr. Pró-Reitor de Integração Universidade - Sociedade A FUNDAÇÃO VALEPARAIBANA DE ENSINO (FVE) E A UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA (UNIVAP) A Fundação Valeparaibana de Ensino (FVE), com sede à Praça Cândido Dias Castejón, 116, Centro, na cidade de São José dos Campos, Estado de São Paulo, inscrita no Ministério da Fazenda sob o nº 60.191.244/0001-20, Inscrição Estadual 645.070.494-112, é uma instituição filantrópica e comunitária, que não possui sócios de qualquer natureza, com seus recursos destinados integralmente à educação, instituída por escritura pública de 24 de agosto de 1963, lavrada nas Notas do Cartório do 1º Ofício da Comarca de São José dos Campos, às folhas 93 vº/96 vº, do livro 275. dam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP. A FVE é também mantenedora, tendo em vista a educação integral dos futuros alunos da UNIVAP, de cursos de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Ensino Médio e ainda de Formação Profissional e Técnica. A UNIVAP, em seu Projeto Institucional, centra-se: 1) A Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP), mantida pela FVE, tem como área de atuação prioritária o Distrito Geoeducacional, DGE-31. Sua missão é a promoção da educação para o desenvolvimento da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte (DGE-31). 2) Até o presente, a UNIVAP possui os seguintes Campi: 4) a) b) c) d) e) Campus Centro, em São José dos Campos, situado à Praça Cândido Dias Castejón, 116, e à Rua Paraibuna, 75. Campus Urbanova, situado à Av. Shishima Hifumi, 2911, que abrange os territórios dos municípios de São José dos Campos e Jacareí. Unidade Aquarius, em São José dos Campos, situado à Rua Dr. Tertuliano Delphim Júnior, 181 Unidade Villa Branca, localizado em Jacareí, na Estrada Municipal do Limoeiro, 250 Unidade Caçapava,na Estrada Municipal Borda da Mata, 2020. A Educação Superior, objetivo da UNIVAP, abrange os cursos e programas a seguir descritos: 1) Graduação, abertos a candidatos que tenham concluído o ensino médio ou equivalente e que tenham sido classificados em processo seletivo. 2) Pós-graduação, compreendendo programas de Mestrado, Doutorado, Especialização e outros, abertos a candidatos diplomados em cursos de graduação e que atendam aos requisitos da UNIVAP. 3) Extensão, abertos a candidatos que atendam aos requisitos estabelecidos pela UNIVAP. 4) Educação a distância, com uso de novas tecnologias de comunicação. 5) Formação tecnológica, com formação de tecnólogos em nível de 3º grau. 6) Cursos seqüenciais, por campo de saber, de diferentes níveis de abrangência, a candidatos que aten- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 3) numa função política, capaz de colocar a educação como fator de inovação e mudanças na Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte - o DGE-31; numa função ética, de forma que, ao desenvolver a sua missão, observe e dissemine os valores positivos que dignificam o homem e a sua vida em sociedade; numa proposta de transformação social, voltada para a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte; no comprometimento da comunidade acadêmica com o desenvolvimento sustentável do País e, em especial, com a Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, sua principal área de atuação. A UNIVAP está em permanente interação com agentes sociais e culturais que com ela se identificam. Como decorrência da demanda de seus cursos ou dos serviços que presta, estabelece convênios com instituições públicas e privadas, no Brasil e no Exterior. Estes convênios resultam na cooperação técnica e científica, na qualificação de seus recursos humanos e tecnológicos, na viabilização de estágios acadêmicos e na prestação de serviços. A história da UNIVAP, enraizada na trajetória da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte, traz consigo a marca da participação comunitária, a partir do compromisso que tem com a sociedade regional, alicerçado na tradição, na busca da excelência acadêmica, na qualidade de seu ensino, no diálogo com a comunidade e no exercício da tríplice função constitucional de assegurar a indissociabilidade da pesquisa institucional, ensino e extensão. Como atividades de extensão, destacam-se, na UNIVAP, aquelas relativas à Comunidade Solidária, que têm por objetivo mobilizar ações que contribuam para a alfabetização e melhoria da qualidade de vida de populações carentes. Dentro deste Programa, foram realizadas atividades nas áreas de Saúde, Higiene, Cidadania, Educação e Lazer, em Santa Bárbara (BA), Beruri (AM), Teotônio Vilela (AL), Nova Olinda (CE), Coreaú (CE), Carnaubal (CE), São Benedito (CE), Groaíras (CE), Atalaia do Norte (AM), Pão de Açúcar (AL) e, no Vale do Paraíba, nas cidades de Monteiro Lobato, São Bento do Sapucaí, 9 Paraibuna, São Francisco Xavier e São José dos Campos. Todas as pesquisas institucionais da Universidade estão centradas em seu Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento (IP&D), o qual executa programas e projetos e congrega pesquisadores de todas as áreas da UNIVAP, envolvidos em atividades de pesquisa, desenvolvimento e extensão. Em seus oito núcleos de pesquisa, nas áreas sócio-econômica, genômica, instrumentação biomédica, espectroscopia biomolecular, estudos e desenvolvimentos educacionais, ciências ambientais e tecnologias espaciais, computação avançada, biomédicas, atrai e dá condições de trabalho a pesquisadores de grande experiência, do País e do exterior. Os alunos têm condições de participar, com os professores, de pesquisas, executando tarefas criativas, motivadoras, que propiciam a formulação de modelos e de simulações, trabalhando com equipamentos de primeira linha, e isto faz a diferença entre a memorização e a compreensão. Bolsas de estudo vêm sendo oferecidas a alunos e pesquisadores, quer pela UNIVAP, quer por instituições como CAPES, CNPq, FINEP e FAPESP. CURSOS DE GRADUAÇÃO CURSOS DE PÓS-GRADUAÇÃO - Administração de Empresas e Negócios Arquitetura e Urbanismo Ciência da Computação Ciências Ciências Biológicas Ciências Contábeis Ciências Econômicas Ciências Sociais: História, Geografia Comunicação Social: Jornalismo Comunicação Social: Publicidade e Propaganda Direito Educação Física Enfermagem Engenharia Aeroespacial Engenharia Ambiental Engenharia Biomédica Engenharia Civil Engenharia da Computação Engenharia de Materiais Engenharia Elétrica Fisioterapia Letras (Português/Inglês e Português/Espanhol) Matemática Normal Superior Odontologia Secretariado Executivo Serviço Social Terapia Ocupacional Turismo O esforço da UNIVAP em construir, no Campus Urbanova, uma Universidade com instalações especiais para cada área de atuação, com atenção especial aos laboratórios, tem por objetivo um ensino de qualidade, compatível com as exigências da sociedade atual. A UNIVAP, para o ano letivo de 2004, fiel ao lema de que “o saber amplia a visão do homem e torna o seu caminhar mais seguro”, oferece à comunidade da Região do Vale do Paraíba e Litoral Norte o seguinte Programa, de seus diversos cursos, que vão desde a Educação Infantil à Pós-Graduação, passando inclusive pelo Colégio Técnico Industrial e pela Faculdade da Terceira Idade. - Doutorado - Mestrado - Bioengenharia Ciências Biológicas Engenharia Biomédica Planejamento Urbano e Regional - Especialização - Lato-Sensu - Computação Avançada Dentística Restauradora Educação Física Escolar Fisiologia do Esforço Gerontologia e Família Gestão Educacional Gestão Empresarial Odontopediatria Reabilitação e Avanços Tecnológicos em Neurologia Terapia Familiar Treinamento Desportivo - Seqüencial - 10 Engenharia Biomédica Sistemas de Telecomunicações Tecnologia Aeroespacial (ênfase em Manutenção Aeronáutica) Tecnologia Aeroespacial (ênfase em Sistemas de Aviões) Tecnologia e Estruturas de Concreto Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 São José dos Campos Com cerca de 560.000 habitantes, São José dos Campos é o município com maior população na sua região, sendo que seu grande desenvolvimento começou realmente com a construção da Rodovia Presidente Dutra e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA). Além disso, a localização estratégica e privilegiada entre São Paulo e Rio de Janeiro e a topografia apropriada para a construção de grandes indústrias possibilitaram que a cidade crescesse vertiginosamente na década de 70, passando a ser uma das áreas mais dinâmicas do Estado e a terceira maior taxa de crescimento da década de 80. De 1993 para cá, a cidade passou por grandes transformações, alcançando avanços na área da saúde, desenvolvimento econômico, educação, criança e adolescente, saneamento básico e obras. O comércio de São José dos Campos é bastante desenvolvido e vive um período de extensão, com vários centros de compras e grandes supermercados e Shopping Centers. Com mais de 800 indústrias, 4.000 estabelecimentos comerciais e superando 7.000 prestadores de serviço, o perfil industrial de São José dos Campos tem dois lados distintos: o centralizado nas áreas aeroespacial e aeronáutica, como a Embraer, e outro diversificado, com indústrias, como a General Motors, Johnson & Johnson, Petrobras, Rhodia, Monsanto, Kodak, Panasonic, Hitachi, Bundy, Ericsson, Eaton e outras. É o quarto município do Estado de São Paulo em arrecadação e ICMS, atrás apenas da capital, Santo André e Campinas. São José dos Campos possui, como resultado da atuação de suas indústrias, dos estabelecimentos comerciais e Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 dos organismos que desenvolvem tecnologias de ponta, mão-de-obra de altíssimo nível. Entre esses órgãos destacam-se o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Centro Técnico Aeroespacial (CTA), com seus Institutos: ITA - Instituto Tecnológico de Aeronáutica, IAE - Instituto de Atividades Espaciais, IFI - Instituto de Fomento e Coordenação Industrial e o IEAv - Instituto de Estudos Avançados. Com uma vida cultural bastante intensa, o município conta com uma Fundação Cultural e vários espaços culturais, como o Museu Municipal, galerias de arte, centros de exposição, casas de cultura, Teatro municipal, Cine-Teatro Benedito Alves da Silva, Cine-Teatro Santana e o Teatro Univap Prof. Moacyr Benedicto de Souza, cinemas, emissoras de rádio FM e AM, Central Regional da TV Globo, jornais diários com circulação regional, além dos da capital, e várias Bibliotecas Escolares, Universitárias e de Pesquisa, como a da UNIVAP, a do INPE e a do ITA. A UNIVAP constitui, além do CTA e do INPE, o maior centro de ensino e pesquisa do município. Da Pré-Escola à Universidade, além de Cursos de Pós-Graduação e da Terceira Idade, a UNIVAP mantém o IP&D - Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, que garante a incorporação da pesquisa na comunidade acadêmica da UNIVAP, permitindo a indissociabilidade entre o ensino e a pesquisa. A UNIVAP tem estado aberta à interação com empresas e instituições do município, notadamente as de ensino e pesquisa, entre elas o INPE e o CTA-ITA, de onde são provenientes o reitor, pró-reitores e vários professores. 11 O Curso de Serviço Social: Educando e Formando Profissionais e Cidadãos para o Futuro Elizabeth Moraes Liberato * Resumo: Este artigo sintetiza uma reflexão sobre o Curso de Serviço Social, sob o enfoque do documento da UNESCO: “Educação, um tesouro a descobrir”. Para Jacques Delors, a educação, para o futuro assenta-se em quatro pilares de aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. Esta visão da educação é absorvida pelo Curso de Serviço Social, na UNIVAP, em sua fundamentação, objetivos e estrutura curricular, voltados para um estudante que deve demonstrar maturidade, fortalecendo-se ao longo do curso, em seu projeto de formação profissional. Palavras-chave: Educação, aprendizagem, Serviço Social. Abstract: This article summarizes some considerations about the Social Work Course, at UNIVAP, based on the UNESCO document: “Education, a treasure to discover”. Jacques Delors points out that education for the future has its support on the four pillars of learning: to learn to know, to learn to make, to learn to live together and to learn to be. This educational concept is absorbed by the Social Work Course in its fundaments, objectives and curricular structure, directed to a student that has to demonstrate maturity, in order to construct his professional project during the course. Key words: Education, learning, Social Work. 1. INTRODUÇÃO O Relatório “Educação, um tesouro a descobrir” foi apresentado à UNESCO, em 1997, pela Comissão sobre a Educação para o século XXI. No Prefácio do Relatório, Jacques Delors, presidente da Comissão, analisa a situação da educação e apresenta novos paradigmas e metas para o presente milênio. Delors afirma o papel da educação para o desenvolvimento autêntico da sociedade e sua importância no combate à exclusão social, salientando o espaço que cabe a cada pessoa no sistema educativo, na família e na comunidade. Assim, considera a educação “uma via privilegiada de construção da própria pessoa, das relações entre indivíduos, grupos e nações”. (DELORS, 1997, p. 220) Nessa dinâmica, determinadas tensões devem ser ultrapassadas: ! entre o universal e o singular: expressa o movimento do ser capaz de realizar o seu potencial, respeitando sua cultura e identidade; ! entre a tradição e a modernidade: importante considerar o ser autônomo, que não nega a si mesmo e tem respeito pelo outro, ao mesmo tempo em que aceita os desafios postos pelos avanços decorrentes das novas tecnologias; ! entre soluções a curto e longo prazo: explicita o ser que transita pelos domínios do instantâneo, busca soluções rápidas, mas cria estratégias para o enfrentamento de questões que dependem de prazos mais alongados; ! entre a competição e a igualdade de oportunidades: refere-se ao ser que aceita competir, mas que se sente responsável pelas possibilidades de realizações e pelas ações solidárias; ! entre o desenvolvimento dos conhecimentos e a capacidade de assimilação do homem: valoriza o ser que busca o autoconhecimento, amplia suas experiências e preserva o meio-ambiente; ! entre o espiritual e o material: revela o ser plural que eleva seu pensamento para o universal, entre o global e o local: significa o ser que se considera cidadão do mundo sem perder suas raízes; * Professora e Pró-Reitora de Avaliação da UNIVAP. 12 ! Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 para a preservação da humanidade, enquanto busca sua auto-superação. No esforço para ultrapassagem dessas tensões, toda reflexão leva a entender que para superá-las é imprescindível considerar a dimensão ética e cultural da educação, a serviço do desenvolvimento econômicosocial e de um modelo de desenvolvimento sustentável próprio de cada país, que resulte na superação das desigualdades e das formas de exclusão social. Reafirma-se a ênfase na educação ao longo da vida, como processo de construção contínua de saberes e aptidões, que conduzam, cada vez mais, à consciência de si próprio e do meio ambiente. A educação para o futuro, para Delors, assentase em quatro pilares de aprendizagem, todos com o mesmo grau de importância: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser. 2. O CURSO DE SERVIÇO SOCIAL Esta visão da educação é inteiramente absorvida no Curso de Serviço Social, na UNIVAP, em sua fundamentação, objetivos e estrutura curricular, voltados para um estudante que deve demonstrar maturidade, fortalecendo-se ao longo do curso, em seu projeto de formação profissional. Em uma primeira instância, aprender a conhecer significa o domínio e a interpretação dos conhecimentos de múltiplas áreas, capacitando os alunos para assimilálos e articulá-los em sua relação das partes com o todo, assim como para levá-los a participar do processo de aprendizagem como uma necessidade permanente que exige constante atualização. Toda área de conhecimento renova-se em variados momentos históricos, novos aportes teóricos são introduzidos, os processos de trabalho sofrem modificações, o que exige a busca incessante de informações e contínua aprendizagem. A base para a formação universitária deve congregar o aprender a fazer, quando se estabelece uma relação intrínseca entre a teoria e a prática, entre o conhecimento e a própria ação, formando o profissional capacitado para elaborar, pesquisar, implementar, executar e coordenar ações preventivas, promocionais e construtivas que visem garantir o exercício da cidadania, a qualidade de vida da população e a conquista de seus direitos sociais. O conhecimento adquirido deverá estar a serviço da inclusão social, compreendendo as relações que se estabelecem entre os ambientes sócio-culturais e econômicos, recriando as formas de intervir nos processos daí decorrentes. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Isto significa aproximar o aluno da vida real, por meio de experiências que o levem a compreender a realidade e a identificar formas de superação da problemática social. Assinala Botomé: “No ensino, o conhecimento é um instrumento para auxiliar a lidar com a realidade, e não um substituto da realidade. Nesse sentido, conhecer a realidade é tão importante quanto conhecer o conhecimento disponível. Com isso, fica mais viável atender exigências básicas para desenvolver um ensino em constante contato com os problemas e instituições da sociedade, tornando-o mais significativo e mais engajado.” (BOTOMÉ, 1998, p. 48). Para Liberato (2002), um dos objetivos principais do Curso de Serviço Social está voltado para a criação de habilidades, buscando ainda que seus alunos se capacitem para o mundo do trabalho. Uma das práticas educativas que fortalecem a formação do profissional criativo, desenvolvendo suas aptidões e qualificação técnica, científica, ética, política e social, é o trabalho com PROJETOS, quando se alia a sala de aula à pesquisa e à extensão, às interações classe e extra-classe, com a participação ativa dos alunos na construção de experiências significativas para o aprendizado. A metodologia está centrada nos grupos de trabalhos, que privilegiam a interação constante professor-aluno. Os PROJETOS levam o aluno ao melhor conhecimento da realidade social, à capacitação para o trabalho em equipe, ao mesmo tempo em que concretizam a relação teoria-prática que é essencial para o desenvolvimento das competências para a ação profissional. A formação interativa aluno/professor deve ser garantida pela ênfase na apropriação dos conhecimentos, na abordagem multidisciplinar, na autonomia e compromisso do aluno na sua formação, na democratização das informações e articulação das disciplinas. Os PROJETOS de transferência/troca de conhecimentos, sempre voltados às necessidades e demandas sociais, podem se constituir num meio de transformação da realidade. O Curso de Serviço Social, pela sua própria característica fundamental de profissão de intervenção nas questões sociais, deve instrumentalizar o aluno a operar nas diversas áreas profissionais e, neste sentido, são muitas as demandas e opções ofertadas pelo mercado de trabalho: empresas, administração pública, entidades, ONGs, organizações populares, meio ambiente, assim como no campo do trabalho, família, educação, criança e adolescente, dependência química, saúde, assistência social, jurídico e outros. Diz Dowbor: “O que há de novo é a compreensão de que o equilíbrio de desenvolvimento das várias áreas 13 depende de articulações sociais mais complexas. (...) As áreas sociais adquiriram esta importância nos últimos anos. (...) Um caminho renovado vem sendo construído por meio de parcerias envolvendo o setor estatal, organizações não-governamentais e empresas privadas. Surgem com força conceitos como responsabilidade social e ambiental do setor privado” (DOWBOR, 1999, p. 34/36/38). O estágio supervisionado obrigatório concretiza a interação alunos-professores-instituições e profissionais de campo e habilita o aluno a desenvolver atividades técnico-científico e pesquisa. Importantes instrumentos de trabalho são as visitas técnicas, as atividades de grupo, os trabalhos de iniciação científica, que possibilitam o desenvolvimento de projetos de parcerias com o poder público e com a sociedade civil organizada. É inerente ao curso a participação em atividades de extensão universitária. Estas perspectivas ampliadas de atuação do Serviço Social apresentam como exigência ações interdisciplinares e multidisciplinares, como estratégias próprias da formação acadêmica e do exercício profissional, quando se estabelece a relação da universidade com a sociedade, vinculando ensino-pesquisa-extensão. A universidade, como instituição social, faz parte de uma realidade historicamente constituída. Os alunos do Curso de Serviço Social devem realizar abordagens inter e multidisciplinares, no campo da pesquisa, da prática supervisionada, da gestão de projetos sociais, o que dará significado mais amplo ao aprendizado, refletindo no desempenho do futuro profissional. Para Dowbor: “As tendências recentes de gestão social nos obrigam a repensar formas de organização social, a redefinição da relação entre o político, o econômico e o social.” (DOWBOR, 1999, p. 40). Reafirma Wilheim: “A gestão social, contando com múltiplos cogestores, representando os diversos protagonistas do novo pacto social, certamente aumentará sua eficácia e o alcance de suas ações” (WILHEIM, 1999, p. 52). Carvalho refere-se à gestão das ações sociais públicas: “A gestão do social é, em realidade, a gestão das demandas e necessidades dos cidadãos. A política social, os programas sociais, os projetos são canais e respostas a estas necessidades e demandas” (CARVALHO, 1999, p. 19). Este é um expressivo campo de trabalho para o assistente social. É importante que o Curso de Serviço Social ressalte, ainda, o aprender a viver juntos, a conviver, desenvolvendo a capacidade de interação com os outros, pelo incentivo à vida em sociedade para consecução de metas de desenvolvimento pessoal e comunitário, para o exercício pleno da cidadania e liberdade. 14 Assim explicita Chauí a expressão da cidadania: “se constitui pela e na criação de espaços sociais de lutas e pela instituição de formas políticas de expressão permanente que criem, reconheçam e garantam a igualdade e liberdade dos cidadãos, declaradas sob a forma de direitos” (CHAUÍ, 2001, p. 12). Cidadania é, pois, considerada como representação e participação, respeitando a Condição Humana, no sentido de pertencimento à sociedade e respeito aos valores e à dignidade e autonomia de cada pessoa, primando sempre pelos aspectos éticos. Diz Morin: “ (...) somente a consciência desta comunidade pode conduzi-la a uma comunidade de vida; a Humanidade é, daqui em diante, sobretudo, uma noção ética: é o que deve ser realizado por todos e em cada um” (MORIN, 2000, p. 114). O formando de Serviço Social deverá estar apto a atuar nas diversas esferas da vida social, respeitando a condição dos sujeitos históricos que interagem na dinâmica da sociedade. Na formação acadêmica, todas as possibilidades criadas para o desenvolvimento do aluno levam-no a aprender a ser, como ser político e agente de mudanças, responsável pela sua vida e com sentido de responsabilidade para com a profissão, entendendo o Curso de Serviço Social como parte de um processo de educação continuada, que abre caminhos para o exercício competente da atuação como assistente social, em área profissional que ganha, cada vez mais, relevância no encaminhamento e gestão de ações junto aos setores ligados aos problemas sociais, políticos, econômicos e educacionais da sociedade brasileira. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS A educação para o futuro deve pautar-se pela visão integral do aluno inserido num contexto amplo escola-sociedade e num processo que o prepara para enfrentar os desafios com os quais virá a se deparar no desempenho do seu papel como profissional e cidadão, como ser único, especialmente ético. O aluno do Curso de Serviço Social, identificado e comprometido com a essência humana, tem toda a capacidade para exercer o caráter multidimensional de uma prática que, não sendo restrita e isolada, propõe-se a estar inserida no movimento construtor/renovador das consciências e transformador da realidade social. 4. BIBLIOGRAFIA BOTOMÉ, S. P. Pesquisa, ensino e extensão: Superando equívocos em busca de perspectivas para o acesso ao conhecimento. Rev. Educação Brasileira. CRUB. Brasília. v. 19, n. 39, p. 21-60, jul./dez. 1997. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 CARVALHO, M. C. B. Gestão Social: alguns apontamentos para o debate. In: RICO, Elizabeth Melo; RAICHELIS Rachel (org.). Gestão Social, uma questão de debate. São Paulo: Educ. PUC/SP, 1999. LIBERATO, E. M. Mudanças qualitativas no ensino da graduação, no enfoque didático-pedagógico. Rev. UNIVAP. São José dos Campos/SP. v. 9, n. 16, p. 12-18, jun. 2002. CHAUÍ, M. Escritos sobre a universidade. São Paulo: Ed. UNESP, 2001. MORIN, E. Os sete saberes necessários à Educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2000. DELORS, J. Educação, um tesouro a descobrir. Prefácio do Relatório para a UNESCO da Comissão sobre a Educação para o Século XXI. Rev. Educação Brasileira. CRUB. Brasília. v. 19, n. 39, p. 219-242, jul./dez. 1997. WILHEIM, J. O contexto da atual gestão social. In Gestão Social, uma questão de debate. In: RICO, Elizabeth Melo; RAICHELIS Rachel (org.). Gestão Social, uma questão de debate. São Paulo: Educ. PUC/SP, 1999. DOWBOR, L. A gestão social em busca de paradigmas. In RICO, Elizabeth Melo; RAICHELIS Rachel (org.). Gestão Social, uma questão de debate. São Paulo: Educ. PUC/SP, 1999. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 15 As Teorias Tecnológicas Aplicadas à Educação: uma oportunidade para o desenvolvimento Alexandro Oto Hanefeld * Resumo: O presente artigo busca contribuir para o debate acerca da importância do conhecimento científico-tecnológico aplicado à educação, apresentando considerações gerais sobre a utilização de recursos tecnológicos no processo de ensino-aprendizagem que, potencialmente, exercem efeitos positivos sobre o desenvolvimento regional. O trabalho também procura contribuir para o debate acerca das oportunidades trazidas pelas Teorias Tecnológicas, fomentando discussões conexas e lançando elementos contributivos à reflexão sobre os novos papéis dos indivíduos neste contexto. Palavras-chave: Teorias tecnológicas, educação, desenvolvimento regional. Abstract: The present article tries to contribute for the discussion concerning the importance of the scientific-technological knowledge applied to education, introducing general considerations about the utilization of technological resources in the teaching-learning process that, potentially, exercise positive effects in the regional development. The work also intends to contribute for the debate concerning the opportunities brought by the Technological Theories, fomenting related discussions and launching contributive elements to the reflection about individuals’ new functions in this context. Key words: Technological theories, education, regional development. 1. INTRODUÇÃO Nunca como agora se ouviu falar tanto de novas tecnologias e teorias tecnológicas aplicadas à educação. Os indivíduos, em qualquer país, com maior ou menor grau de desenvolvimento, já têm acesso ou viram este tipo de tecnologia. Através da publicidade em variados programas televisivos, a curiosidade natural especialmente das crianças, acerca deste assunto, aumenta a cada dia. Por outro lado, a Escola, de um modo geral – e por uma gama de fatores – tarda em acompanhar esta mudança, mantendo métodos de ensino considerados por muitos como ultrapassados. Como poderá a escola – nos mais variados níveis – adaptar-se a esta nova realidade? O intenso impulso tecnológico advindo da Revolução Industrial na economia representou um marco tanto às instituições escolares quanto às sociais, implicando novas formas de planejar e executar ações que levassem em conta o que evoluções subjacentes engendravam. O século XX apresentou avanços notáveis no que tange aos motores, máquinas, química, comunicações, * Doutorando em Economia do Programa de Pós-Graduação em Economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGE/UFRGS) e colaborador da Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC. 16 transporte, energia, biotecnologia bem como as inovações tecnológicas, de um modo geral, enquanto suas potenciais aplicações para a educação e suas inter-relações com a esfera social. Subjacente a esta discussão está o a importância da tecnologia como elemento de agregação ao conhecimento, capacitando os indivíduos em seus processos de conquista da cidadania plena. Com o desenvolvimento dos computadores (desde o ENIAC dos anos 40, que pesava toneladas e ocupava o andar inteiro de um grande prédio, até o surgimento de novas linguagens, programas e dispositivos de leitura), aventou-se a tecnologia como uma utópica salvação da educação. Passada a euforia dos anos 60, chegou-se à racional conclusão de que para melhorar os métodos de ensino seria necessário, inevitavelmente, melhorar de forma concreta a tecnologia dos processos de comunicação pedagógica, de forma a se obter uma melhor aprendizagem. Tornou-se, então, necessário utilizar e desenvolver uma abordagem tecnológica e, sob certa medida, reconstruir a aprendizagem sob o ponto de vista de seus aspectos mais recorrentes ou tradicionais, dando origem a novas formas de atuar na educação, através da incorporação de elementos tecnológicos. Nesse sentido, a generalização do uso do computador, iniciada nos anos 80 para o uso pessoal e sublinhada nas décadas seguintes, possibilitou uma aproximação às novas formas de trabalhar a educação, através de aprimoramento das Teorias Tecnológicas. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 À luz destas considerações, o presente artigo abarca, justamente, as Teorias Tecnológicas, procurando inicialmente caracterizá-las e discutir algumas de suas tendências, de acordo com autores selecionados e, em seguida, aborda os principais elementos vinculados à educação e suas posturas diante das novas tecnologias aplicadas à educação. O trabalho busca, em essência, a partir do reconhecimento da tecnologia como variável relevante para o desenvolvimento regional, contribuir para o debate acerca do potencial do conhecimento científico-tecnológico aplicado à educação, com base na apresentação de considerações gerais sobre o tema, as quais se propõem a lançar elementos contributivos à temática em estudo, fomentando novos ensaios. 2. AS TEORIAS TECNOLÓGICAS E A EDUCAÇÃO O conhecimento, de um modo geral, sempre ocupou posição de importância nas sociedades, sendo reconhecido como elemento de inclusão dos indivíduos em circuitos de produção e consumo e, mais recentemente, também nos circuitos de cidadania. O Jornal Gazeta Mercantil, em artigo traduzido da revista The Economist, analisa os eventos responsáveis pelo crescimento econômico dos últimos 250 anos, mostrando que: “Há uma teoria que diz o seguinte. A tecnologia é impulsionada por conhecimento e, especialmente por conhecimento científico. O conhecimento é cumulativo, uma vez que existe, não deixa de existir. Assim, este processo de acúmulo, com descoberta somando-se a descoberta, é vigorosamente auto-reforçador, com uma tendência (embutida) da aceleração. Quando há uma certa massa crítica de conhecimento, o ritmo de acúmulo futuro pode aumentar rapidamente, enquanto ligações anteriormente insuspeitas entre diferentes ramos do conhecimento são exploradas, cada avanço criando novas oportunidades. Se algo parecido com isso for correto, então um ponto de decolagem tecnológica ocorrerá em algum lugar, em algum momento.” (GAZETA MERCANTIL, 14, 15 e 16/ 1/2000, p.12). Nota-se que a importância da geração ou construção do conhecimento, portanto, não constitui fato novo, sendo que a valorização do capital humano acentua-se cada vez mais, mostrando que a capacitação representa uma variável relevante1. Para Albuquerque (1999, p. 51), referindo-se à dinâmica do sistema econômico vigente, “As tecnologias de informação e comunicação constituem o paradigma mais recente”2. É inevitável neste contexto, pois, evidenciar a importância do papel da tecnologia aplicada à educação, uma vez que ela possui atribuição fundamental na formação e na capacitação de indivíduos, agregando valor a eles. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Vários autores se dedicaram à abordagem tecnológica3, contribuindo para o aprimoramento da discussão sobre o exato potencial da tecnologia, entendida como um “utensílio de intervenção racional” (LAPOINTE apud BERTRAND, 1991, p. 81) que apóia a técnica aplicada pelo pesquisador no desenvolvimento de soluções apropriadas a contextos ou situações específicas no âmbito do processo de ensino-aprendizagem. Bertrand (1991) salienta que podemos tentar detectar uma teoria tecnológica da educação pelas seguintes características: a) utilização de uma terminologia que possivelmente incluirá termos tais como programação, hipertexto, engenharia, comunicação, processos, software e formação; b) maior preocupação em instruir do que educar; c) uso intensivo dos componentes da comunicação durante o processo de ensino; d) comentários críticos a respeito de visões humanistas que se preocupam pouco com a planificação e a organização; e) insistência na necessidade de identificar a priori os comportamentos observáveis no estudante; f) aplicação de novas tecnologias, como computador, recursos de mídia, audiovisuais e outros que remetem à interatividade entre educando e educador; g) desejo latente em sistematizar o máximo possível as distintas etapas da formação (definir objetivos ou metas, tarefas ou atividades, avaliação etc.) e; h) preocupação quanto à planificação dos processos de formação, utilizando o recurso da descrição sistemática. A preocupação desta abordagem educacional não repousa tanto sobre a natureza dos objetivos, contudo refere-se mais especificamente à organização dos meios necessários para atingir esses fins. De acordo com os defensores destas novas teorias, o problema a resolver será o de como operacionalizar os processos educativos a fim de torná-los eficazes. Dentre os expoentes das Teorias Tecnológicas, para efeito deste artigo, serão sumariamente privilegiados três deles: Pierre Lévy, B. F. Skinner e Seymour Papert. Lévy, professor da Universitè du Quebec a Trois-Rivieres (Canadá), é um estudioso que dedicou parte de suas pesquisas para compreender a questão da interação entre o homem e a máquina, discutindo as razões pelas quais os indivíduos conseguem alterar os usos e sentidos da técnica e o papel do homem no processo de construção da inteligência em um ambiente de ensino-aprendizagem amparado na utilização de tecnologias apropriadas. Skinner, por seu turno, advoga que há várias deficiências nos métodos atuais de ensino, que suscitam uma completa revisão nas práticas de sala de aula. Defende a utilização da tecnologia enquanto elemento fundamental no processo, verdadeiro meio que permitirá a mudança. Combate, também, o uso do controle aversivo4, afirmando que os professores são humanos e que as crianças aprendem sem ser ensinadas. Defende as máquinas de ensinar e materiais programados. Para ele uma boa aprendizagem depende de um bom ambiente de aprendizagem5. 17 Por fim, Papert acredita que as tecnologias têm incontestável importância no processo de ensino-aprendizagem, concomitantemente à epistemologia, considerada uma revolução no pensamento acerca do conhecimento. Segundo ele, “a poderosa contribuição das novas tecnologias no aumento da aprendizagem é a criação da mídia pessoal capaz de apoiar uma ampla possibilidade de estilos intelectuais” (PAPERT, 1994, p.6). Em síntese, há uma convergência dos autores considerados para a importância da tecnologia aplicada à educação, ainda que a partir de enfoques diferenciados. 3. AS TENDÊNCIAS DAS TEORIAS TECNOLÓGICAS Dentro deste movimento tecnológico aplicado à educação, podem ser identificadas, basicamente, duas grandes tendências à educação: a tendência sistêmica e a tendência da hipermédia (ou hipermediática). A teoria sistêmica da educação, que tem as suas origens nas pesquisas sobre a teoria geral dos sistemas, permitiu melhorar, entre outros aspectos, a organização do ensino e conduziu ao design pedagógico. Esta corrente sistêmica consiste em examinar as relações entre os elementos em função das finalidades visadas. Neste caso, é necessário agir de forma sistemática e seguir um certo procedimento padrão. Este procedimento parte das análises relacionadas ao conjunto das finalidades, das características do estudante, passa pela concepção de um sistema de ensino, pela avaliação desse mesmo sistema (experimentação) e, finalmente, analisa a introdução das modificações necessárias que irão terminar o processo ou apenas fechar o círculo de desenvolvimento. No que tange à tendência hipermediática, em essência ela consiste na análise dos ambientes tecnológicos sob o ângulo da sua interatividade e da construção de sistemas cada vez mais interativos, também chamados por alguns autores de ambientes hipermediáticos ou ambientes multimídia. As principais investigações nesta área inspiram-se em certas teorias cognitivas do conhecimento e da engenharia informática, caracterizando-se, principalmente, pelo seu pragmatismo: neste caso, aquilo que se pretende, em última análise, é um sistema que funcione, uma tecnologia eficaz, mais do que uma teoria muito elaborada que pode não cumprir com uma finalidade pré-estabelecida e comprometer, até mesmo, os resultados esperados da aplicação de uma metodologia de ensino-aprendizagem. Estas duas correntes não seguiram caminhos totalmente separados, mas influenciaram-se mutuamente, tendo cada uma retirado da outra o que mais lhe interessava. Desta forma, a abordagem do design pedagógico retirou das teorias da comunicação os elementos de tratamento de informação. Forneceu, em contrapartida, ao ensino assistido por computador, uma descrição dos principais elementos de ensino. A abordagem hipermediática deu aos sistêmicos a noção de retroação que se tornou uma com- 18 ponente de todas estas teorias. Foi a natureza e a qualidade da sistematização do ensino que variaram ao longo dos anos em função da evolução dos conhecimentos e do impacto das novas tecnologias da informação. Atualmente, a questão primordial diz muito mais respeito ao impacto das teorias do conhecimento na construção de softwares ditos inteligentes. Foi sobretudo o trabalho de Papert, no início dos anos 80, sobre a linguagem LOGO6, que deu o impulso necessário à pesquisa e à criação de ambientes de aprendizagem abertos e informatizados. Papert sofreu a influência de Jean Piaget (1896-1980), sendo que hoje em dia as teorias cognitivas têm grande influência na construção destes ambientes de aprendizagem. Sinteticamente, a tendência sistêmica revela uma preferência pela qualidade do design pedagógico, ao passo que a tendência hipermediática demonstra preferência pela qualidade da lógica e do conjunto multimedializado. Os subitens a seguir sintetizam as preferências de cada tendência. 3.1 A tendência sistêmica Uma grande fonte de inspiração das teorias tecnológicas continua a ser a teoria geral dos sistemas e a sua vontade de organizar as operações, sem esquecer de nenhum detalhe, revelando um comprometimento bastante acentuado no que concerne à sistematização máxima das informações. Estes princípios aplicados à educação começaram a ser utilizados pelos norte-americanos no início dos anos 50, levando a inúmeros modelos baseados na tendência sistêmica, tendo todos um desejo comum: descrever a globalidade das estruturas e planificar o conjunto de operações. Mais recentemente esta tendência entrou na área do design do ensino, abordando a descrição das operações de ensino com uma preocupação de detalhe que varia de acordo com os modelos. De uma maneira geral, estes modelos concentram-se na descrição do “trabalho” que o estudante deverá realizar, bem como na precisa descrição dos meios a utilizar para atingir os objetivos visados, a partir do que irá resultar um conjunto de kits educativos destinados, fundamentalmente, a formar os estudantes. Neste campo, destacamse autores mais vinculados ao design do ensino, tais como Gagné, Briggs e Wager. Cinco são os princípios que nortearam a fundamentação das teorias destes autores, segundo Bertrand (1991), quais sejam: o recurso à teoria sistêmica; a necessidade de planificação e organização; a individualização do ensino; o ato de levar em conta as condições de aprendizagem; e a planificação a curto e longo prazo. Compreende-se, então, que esta teoria assenta-se, em última análise, na organização do ensino. A organização proposta, segundo o que preconizam os teóricos, deve respeitar a seguinte lógica: a) captar a atenção do estudante; b) in- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 formar o estudante dos objetivos e estabelecer o nível de expectativa; c) lembrar os conteúdos já aprendidos; d) fazer uma apresentação clara do material; e) guiar a aprendizagem; f) fornecer retroação; g) avaliar o desempenho; e h) favorecer a transferência de conhecimentos a outros domínios de aplicação. Pode-se também analisar este tipo de procedimentos do seguinte modo: a primeira etapa consiste em fazer uma descrição do que se espera do estudante ao longo da aprendizagem (os objetivos). É necessário criar, em seguida, testes a partir desses objetivos e identificar o que o estudante deve aprender para que ele possa ter os comportamentos descritos nos objetivos. Esta etapa inclui, também, a avaliação das aquisições do estudante. A etapa subseqüente consiste em examinar o que deve ser feito para assegurar a aprendizagem e determinar como a alcançar. Vem, depois, a concepção do sistema, seguida da sua implantação. Faz-se a avaliação dos resultados da aprendizagem, ou seja, uma comparação entre o comportamento obtido e o desejado, descrito inicialmente nos objetivos. É necessário, por fim, modificar o sistema em função da avaliação. Trata-se de um processo interativo que pressupõe uma nova forma de agir dos atores responsáveis pelo ensino, admitindo a sua interface, por igual, com as dimensões pesquisa e extensão. 3.2 A tendência hipermediática Atualmente, o uso de computadores em educação já não é exclusivamente corporativa, tornando-se familiar pela própria profusão de máquinas e softwares acessíveis, tipicamente de uso pessoal. Isto confere uma nova janela de oportunidades à tecnologia aplicada à educação. Munidos de programas complexos e interativos, desenvolvidos por equipes multidisciplinares, os computadores podem executar tarefas de ensino e, também, simular interações dialogando e interagindo com o estudante. Estes tipos de programas têm ainda a possibilidade de apresentar situações variadas a um educando e de reagir às suas respostas ou às suas perguntas. Agora, o computador até poderá aprender com um estudante enquanto o ensina. Com um grande desenvolvimento, o computador poderá tornar-se mesmo um gestor de um conjunto de várias fontes de informação, daí a expressão hipermediática. Uma das origens desta tendência foi a utilização dos recursos de mídia no ensino, sendo que a teoria da comunicação é a sua principal fonte. Outra das origens foi a teoria do condicionamento operante de Skinner. Este modelo foi bastante utilizado nos anos 70; no entanto, as teorias construtivistas da aprendizagem, em conjunto com o desenvolvimento do software, vieram modificar a idéia que se tinha de um ambiente de ensino. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Com o aparecimento destas tendências e modelos nelas baseados, surge o conceito de software educativo em vários moldes, entre os quais se destacam os sistemas tutores e os sistemas abertos. Os sistemas tutores tendem normalmente a simular a interação educando-educador, o comportamento do educando ou ainda as etapas de aquisição do conhecimento. Estes programas tendem a formalizar o processo de aprendizagem, considerando que ela é um conjunto de unidades independentes de perguntas e respostas. Este tipo de abordagem tende a esquecer que o educando é imprevisível e pretende uma maior liberdade. Para tentar resolver este problema, surgiram os ambientes abertos, em que o educando pode interagir com o computador e experimentar aprender. A “abertura” do software educativo levantou alguns problemas, entre os quais o de o educando poder ficar a navegar pelo software durante horas sem utilizar a sua vertente educativa, logo, sem existir aprendizagem. Surgiram alguns estudos sobre este assunto, tendo nascido assim um modelo de formação designado por formação mínima. Uma vez que os educandos utilizadores de computadores são naturalmente inclinados a essas tendências de exploração, os teóricos desenvolveram vários modelos de aprendizagem, entre os quais os de exploração livre, dirigida e de descoberta. Um dos princípios básicos destes modelos é que é necessário fornecer menos ao aluno para que ele tenha mais sucesso, isto é, aprendemos melhor uma teoria a praticá-la do que ao estudá-la através da leitura convencional de livros. No início, o educando tem uma série de objetivos e interesses que fazem com que salte por cima de numerosas explicações importantes que ele julga não serem, de fato, importantes. Normalmente, as conseqüências são nefastas, pois perde-se um precioso tempo para tentar compreender o que se passa. A formação mínima deve, então, guiar o estudante na sua exploração do software. Estes modelos apresentam algumas recomendações para a criação de um referencial básico e uma formação mínima de aprendizagem. A agenda consensuada por muitos autores sugere os seguintes pontos: a) prever todos os erros possíveis, dado que se presume que os estudantes vão cometer todos os erros, muito embora muitas vezes não os cometam; b) eliminar o máximo possível uma grande densidade de palavras no manual de utilização do software, tornando-o de acesso mais aprazível; c) rever a informação a ser levada ao aluno, bem como prever os erros mais freqüentes, ou de maior importância e; d) dar tarefas significativas ao aluno e concentrá-lo nas atividades principais desde o início. As teorias tecnológicas, influenciadas principalmente pelas tendências sistêmica e hipermediática, encontram-se neste momento perante um problema: a perda de controle, por parte do educador, sobre o processo educativo. Uma questão importante é: quem controla, hoje, o processo? 19 O problema do professor deixou de ser não só os meios ou recursos utilizados por este profissional na condução de seus processos educativos, mas sobremaneira a questão do controle da tecnologia. Assiste-se, neste momento, em muitos casos, ao regresso a tecnologias consideradas mais seguras para o professor, as quais permitem a ele um maior controle sobre o processo educativo. Não se pode esquecer que os novos ambientes hipermediáticos fazem a transferência do ato educativo do educador para o educando. Como lidar com estes problemas constitui-se no grande desafio que está posto aos que discutem o assunto, e constitui campo de pesquisa bastante profícuo. 4. A TECNOLOGIA E A POSTURA DOS INDIVÍDUOS Para destacar qual deve ser a postura dos indivíduos é necessário entender que a Teoria Tecnológica Aplicada à Educação não é uma teoria isolada ou fechada em si própria, mas relaciona-se, integral ou parcialmente, com as Teorias Personalistas, Psicognitivas e Sociais. Desta forma, as abordagens de Piaget, Skinner, Lévy, Papert e outros importantes autores estão presentes na abordagem da Teoria Tecnológica, incorporando diferentes contribuições de áreas do conhecimento complementares na formação de um estudo mais dirigido à tecnologia. A palavra Média (Mídia) origina-se do latim e significa “Meio”. Assim, Hypermedia poderia ser definido como “o meio amplo”. Neste contexto, a interatividade e as técnicas para apresentação dos conhecimentos passam a tomar maior importância nas pesquisas e experiências pedagógicas, ancorando-se preponderantemente na estrutura das bases de conhecimentos, na transferência de sentidos, no funcionamento dos especialistas da área e no conjunto das possibilidade de estabelecimento de interfaces com aqueles que irão utilizar as tecnologias em seus processos de ensino-aprendizagem. A pesquisa sobre ambientes abertos e interativos também revestese de peculiar relevância, conduzindo a modelos que levam em conta a necessidade de um tutor, figura cada vez mais necessária quando se trata de teorias tecnológicas, e que se relaciona praticamente com todas as teorias e com as contribuições teóricas dos principais autores que se dedicam ao tema. Os recursos tecnológicos disponíveis hoje, comparativamente há algumas décadas, são muito diferentes. A partir, sobretudo, da década de 1980, os microcomputadores, juntamente com os sistemas operacionais e aplicativos (Editor de Texto e Planilhas Eletrônicas) permitiram uma revolução em todas as áreas, inclusive no ensino, ficando mais evidente a necessidade da construção dos sistemas abertos, definidos como aqueles que permitem a interação com o usuário. Neste processo, a tecnologia alterou qualitativamen- 20 te processos de ensino, assim como as relações do indivíduo e suas formas de agir e interagir com pessoas e ambientes pautados em novos preceitos. Neste panorama, ao se analisar a questão da tecnologia aplicada à educação, percebe-se, num primeiro plano, alguns pontos que facilitam esta forma de aprendizagem: fonte de pesquisa ampla; educando se compromete em buscar respostas para obter conhecimentos; a facilidade de muitas informações disponíveis num único meio; a Internet apresenta sites tão interessantes que as crianças e adolescentes trocam a “mediocridade relativa” da televisão pela navegação na Internet (desde que se tenha um discernimento mínimo que possibilite selecionar e hierarquizar informações, fato este que ratifica a importância de um tutor); a possibilidade de participar de uma aula sem a presença do professor; e a facilidade de poder utilizar este recurso sem sair de casa ou do trabalho. É dentro deste contexto que os agentes deverão assumir novas posturas, com elementos inovadores. Evidentemente os processos de aprendizagem, assim como as tecnologias, sofrem alterações em caráter permanente, o que suscita um perfil de flexibilidade e próatividade dos indivíduos, sobretudo os professores, os quais devem manter-se atentos aos limites e potencialidades oferecidos pelas tecnologias aplicadas à educação. Mais ainda, devem ser observadas as condições locais e institucionais nas quais está se exercendo a atividade de ensino, como forma de selecionar metodologias, compreender potenciais e aplicar a tecnologia da forma mais adequada, maximizando resultados para os alunos. Ficar atento às experiências em curso é, da mesma forma, desejável, assim como a existência de instrumentos que garantam a avaliação constante do processo, como forma de poder corrigir eventuais distorções e introduzir alterações que, com o apoio da tecnologia, contribuam para qualificar o ensino. 4.1 O papel do professor O senso comum, inicialmente, chegou a induzir a pensar que o computador iria substituir o professor (relação máquina/homem). Será pelo medo deste acontecimento que muitos professores resistiam e ainda resistem à mudança, no sentido de incorporarem crescentemente recursos tecnológicos em suas rotinas? Este pensamento parece não encontrar amparo no mundo real, pois o papel do professor, por observação empírica, continua a ser essencial na sala de aula. O que está ocorrendo é que o professor está deixando de ser, por vezes, o centro de todo o processo ensino-aprendizagem. A população em geral, por diversos motivos, tais como a falta de informação, de equipamentos ou de oportunidades, não buscam uma capacitação e formação na área tecnológica. Este fato reflete-se também na realida- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 de dos professores. Considerando-se uma tendência mais típica ao ensino fundamental, alguns professores ainda consideram o computador como algo não tão necessário na sua sala de aula. É necessário mostrar abertura e incentivar o trabalho em conjunto aluno-professor, fazendo com que a aprendizagem seja vista como uma descoberta, revelando a efetiva contribuição da tecnologia ao processo de ensino-aprendizagem. O professor deve buscar atualização e um processo de aprendizagem contínua, como forma também de possibilitar isto aos seus alunos. Por outro lado, a utilização das novas tecnologias por parte dos professores permite a preparação de aulas mais motivadoras para os alunos. Por exemplo, o uso da Internet para encontrar uma informação relevante para as suas atividades, para descobrir imagens que podem usar numa pesquisa ou numa apresentação com utilização de recursos audiovisuais, bem como verificar o que os seus colegas estão fazendo em outras partes do mundo. Tarefas que já se tornaram simples, tais como a utilização de um processador de texto ou uma planilha eletrônica de cálculo, ainda são relativamente pouco utilizadas pelos nossos professores de ensino básico. Este e outros softwares podem ajudar o professor, fazendo com que ele não perca tempo em assuntos menos importantes e se dedique mais ao acompanhamento dos seu alunos. Cursos à distância, combinados com partes presenciais, já são opções bastante utilizadas atualmente, com resultados interessantes. Outra tarefa importante que cabe aos professores e Conselhos de Direção das Escolas é o da otimização no uso dos poucos equipamentos de informática que as escolas dispõem. É cada vez menos comum – porém ainda há ocorrência deste fato – as escolas terem um número reduzido de computadores numa sala de informática, os quais se destinam apenas para dar as aulas de informática, assim como o único computador que tem acesso à Internet é de uso exclusivo da direção e que poucos professores têm acesso, pois senão os alunos não saem de lá. Qual será a reação de um aluno que usa o computador em casa, com acesso a Internet e chega à escola e vê esse tipo de equipamento usado como um “instrumento precioso em que não se pode mexer”? Talvez inicie um processo de descrédito no sistema educativo e nos próprios professores. Assim, o professor deve ser capaz de acompanhar o aluno na utilização deste instrumento, normalmente tão familiar ao aluno e, também, deverá conseguir desenvolver novos talentos no estudante, dentre eles: uma melhor e maior capacidade de selecionar informação; o talento de levantar hipóteses e problemas, pesquisando informação para resolver o problema e por último verificar o resultado. Desta forma, o papel do professor poderia ser definido como: buscar uma atualização pessoal continuada, interagindo com outros profissionais; inovar, promovendo o desenvolvimento do pensamento crítico e Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 decisório do aluno; prover um ambiente favorável ao desenvolvimento do aluno, através da utilização das ferramentas mais adequadas em função das características do estudante; captar a atenção do estudante; informar o estudante dos objetivos e estabelecer o nível de expectativa; lembrar os conteúdos já aprendidos; fazer uma apresentação clara do material; guiar a aprendizagem; solicitar provas de aprendizagem; fornecer retroação; avaliar o desempenho e; favorecer a transferência de conhecimentos a outros domínios de aplicação. 4.2 O papel do aluno O papel do aluno não deve ser passivo, pois deve posicionar-se, ocupando um espaço que foi destinado a ele, procurando interagir com o meio onde se encontra. Para isso, algumas atitudes são importantes: desenvolver uma expectativa com relação à aula; direcionar o espírito crítico para obtenção de conhecimento, questionando e contribuindo para uma maior interatividade; construir junto um ambiente de aprendizagem, manifestando suas preferências; colocar em prática o que está sendo estudado; construir uma abordagem pessoal e trabalhar com problemas que ele próprio definiu; conscientizar-se que o aluno é parte do processo e este processo somente dará certo com a sua participação. Pode-se dizer que o aluno é o maior interessado para que o seu progresso ocorra, e isto deve ficar claro; e perceber que a escola não é a única fonte de aprendizagem e que ele deve interagir com o “meio amplo” (trabalho, família, igreja, amizades etc.) na busca de conhecimento-aprendizagem. 4.3 Renovando a própria escola O desenvolvimento da ciência e tecnologia propiciou grandes mudanças em diversas áreas da atividade humana. Em contrapartida, a escola foi uma área em que as mudanças não foram muito significativas, demonstrando mesmo grande resistência à mudança. No início da década de 60, a resposta da escola ao aparecimento do computador foi bastante entusiástica, atitude que se manteve posteriormente com o aparecimento do microcomputador. Este entusiasmo atingiu supostamente o seu auge nos anos 80, nas raras escolas que tinham acesso a estes meios. Com o passar dos anos, o uso do computador caiu na rotina, acabando mesmo por se transformar numa disciplina autônoma, igual a tantas outras que os alunos freqüentam e ensinada também de uma forma tradicional. Nos últimos anos, percebe-se uma retomada do interesse pelas tecnologias aplicadas à educação, associada ao aparecimento das redes de comunicação e Internet. O acesso mais facilitado às novas tecnologias e a sua grande disseminação deverão levar a que esta onda de entusiasmo seja irreversível. De qualquer modo é ne21 cessário que haja o aparecimento de novos modelos educativos, capazes de transformar a educação. A escola assistiu ao longo do tempo a várias tentativas de transformação, porém quase sempre acabando por voltar ao sistema tradicional, embora por vezes um pouco camuflado por outras teorias. Segundo Papert existem três fatores principais que nos poderão levar a crer que desta vez será diferente. Papert intitula-os de “As três forças da mudança”. A primeira força é constituída pela indústria, onde as grandes empresas têm tirado interesses e benefícios da educação. Por exemplo, a indústria da informática tem um grande interesse em dotar todas as escolas de computadores, sem contudo manifestar grande interesse pelo modo como eles venham a ser usados. Como segunda força, Papert considera a revolução na aprendizagem. Considere-se que há algum tempo atrás um jovem aprendia na escola tudo aquilo que iria necessitar na vida ativa. A mudança era lenta e quase toda a vida se fazia a mesma coisa. Hoje, em função de uma realidade bem diferente, este esquema não é mais adequado, pois atualmente as pessoas podem exercer tarefas que nem sequer existiam a alguns meses atrás. Neste caso Papert pondera que o único conhecimento real- mente competitivo a longo prazo é “aprender a aprender”. Ressalta-se nesta frase o enfoque construtivista de Papert, aplicando as idéias de Piaget. Por último, a terceira força de mudança: a nova mentalidade e ambiente das crianças. As crianças estão muito mais abertas ao uso de novas tecnologias do que os adultos. Uma criança que possui um computador em casa transforma-se num agente de mudança da escola. A maior disponibilidade da informação irá ajudar a criança a utilizar a sua curiosidade e imaginação naturais. Estes aspectos eram mais limitados no ensino tradicional. A nova escola deverá ser capaz de ajudar o aluno a criar a sua própria construção do conhecimento. Neste aspecto, a informática pode ser um grande auxiliar ao proporcionar ao aluno aprendizagem em ambientes construtivistas. No âmbito da renovação (ou “reinvenção”) da escola, tem-se que ter em conta as principais características das mudanças necessárias para alcançar uma nova escola inserida na informática, integrada à sociedade baseada no conhecimento. O Quadro 1, a seguir, auxilia a visualizar e confrontar as características da educação da era industrial com a educação da era da informação e conhecimento. Quadro 1 - Características da educação da era industrial e da era da informação e conhecimento Era Industrial Era da Informação e Conhecimento Professor como transmissor do conhecimento Estudante como consumidor passivo de informação Informação isolada (fatos) Memorização mecanizada da informação Informação limitada Preparação para um trabalho mecanizado Um emprego para muitos anos Competição Trabalho isolado Receber ordens Escola como sendo o único lugar de aprendizagem Escola voltada para o meio acadêmico Perspectivas restritas Estabilidade relativa Professor como aprendiz ou agente "facilitador" da aprendizagem Possibilidades de um maior desenvolvimento da expressão artística e intelectual do estudante Aprendizagem integrada Reflexão crítica Infinidade de informações disponíveis Preparação para a sociedade do conhecimento Muitos cargos em diferentes áreas Cooperação Trabalho em colaboração com outras entidades Decisão partilhada das necessidades prioritárias A aprendizagem deve ser feita em todos os lugares Escola virada para o meio acadêmico e social Perspectivas globais Mudanças rápidas e imprevistas Fonte: Compilado pelo autor. As contribuições práticas das Teorias Tecnológicas estão presentes principalmente – mas não apenas – através de equipamentos, programas de computador e projetos. Em termos de equipamentos e programas de computador, destacam-se como instrumentos tecnológicos passíveis de serem direcionados à educação os computadores, videocassetes, videodiscos, gravadores, CDs, fitas K-7, retroprojetor, scanner, softwares educaci- 22 onais em todas as áreas (alfabetização e áreas específicas), karaoke etc. Do conjunto de inovações, a Educação à Distância (EAD) é um dos projetos que mais tem apresentado desafios, caracterizando-se com um forte exemplo da utilização das novas teorias tecnológicas da educação, apropriando-se apropriadamente do manancial tecnológico disponível e transformando-o. A EAD exige uma nova abordagem da sistematização, utilizando-se Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 de ferramentas como a Internet, avançada linguagem de computador e softwares interativos. No Brasil, existem grandes desequilíbrios regionais no uso das novas tecnologias, e adaptando-as ao ensino à distância podese permitir a formação de professores e alunos de regiões remotas e mais desfavorecidas. As escolas estão cada vez mais organizadas em equipes multidisciplinares, incluindo professores e técnicos de informática, bem como alunos recrutados com base no seu interesse e qualificação, utilizando a Internet para a colaboração com outros projetos educativos em implementação, preparando bases de dados para pesquisa e apoio e criando redes de colaboradores, na maior parte das vezes com comunicação on line. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS As Teorias Tecnológicas não são uma solução em si mesmas para os problemas educacionais, mas constituem-se como uma valiosa ferramenta para a construção do conhecimento no processo de aprendizagem. Ressalta-se, ainda, que a mesma interatividade que a Teoria Tecnológica possui entre os equipamentos e programas, também deve ocorrer entre pessoas, isto é, o trabalho é caracterizado por uma equipe inter, trans ou multidisciplinar e não somente por uma pessoa, sem deixar de reconhecer que as pesquisas individuais cumprem importantes funções tradicionais na dinâmica da geração de conhecimento científico-tecnológico. Há de ocorrer, evidentemente, um equilíbrio relativo, de modo a incorporar os pressupostos das Teorias Tecnológicas dentro dos limites e possibilidades que o próprio modelo comporta. As máquinas, sozinhas, não irão mudar a escola. Alguns diferenciais oportunizados pelos computadores, procuram propor novos desafios aos alunos, estimulando o seu raciocínio, a sua criatividade, a vontade de aprender, fazendo aflorar uma capacidade nos instruendos não apenas condicionada à tradicional transferência de conhecimentos, o que induz a pressupor a existência uma dicotomia entre aquele que a priori detém a totalidade do saber – o professor – e uma outra parte que não desfruta do privilégio do saber pleno. As próprias tendências sistêmica e hipermediática das teorias tecnológicas aplicadas à educação revelam este problema de perda de controle, por parte do educador, sobre o processo. A questão passa por uma discussão, de fato, muito mais profunda. Esta relação certamente perde validade relativa quando se trata do manancial propiciado pelas Teorias Tecnológicas aplicadas à educação. Neste processo, a máquina entra como uma ferramenta – um meio indispensável – para auxiliar o raciocínio do aluno e despertar novas formas de compreensão da realidade (social, cultural, Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 tecnológica, econômica, ambiental etc.) e, não apenas isto, para capacitá-lo a propor ações de mudança. O professor, nesta dinâmica, continua a exercer função primordial, porém com tênues características recicladas de pensar e agir, tendendo a ser um tutor e incentivador ao aluno, reforçando a importância da sua atualização enquanto pesquisador, problematizador e conhecedor do grupo de alunos com o qual está interagindo. Em conjunto, homem e máquina têm condições efetivas de absorver ganhos fundamentais à sociedade, a qual aferirá os maiores benefícios desta transição, ainda que isto possa ocorrer a médio ou longo prazo. Mais ainda, processos de desenvolvimento regional, de um modo geral, encontram vinculação muito forte à aplicação básica das tecnologias na educação, podendo configurar-se em elemento de composição nas teorias que explicam os distintos graus de desenvolvimento verificados entre regiões, assim como os níveis de disparidades entre distintas regiões. 6. NOTAS (1) Para acessar uma discussão generalista sobre a importância do capital a partir das sinergias que credenciam ao desenvolvimento, sugere-se a leitura do artigo de Boisier (1999). O mesmo autor, em artigo mais recente, trata essencialmente de uma outra faceta do conhecimento: a sua difusão. Em seus escritos, defende a participação coletiva, ou sinergia cognitiva, entendida como “una capacidad colectiva para intervenir sobre el proceso de desarollo de la región, capacidad basada en la voluntad, pero sobre todo en el conocimiento científico compartido sobre la estructura y dinámica del proceso mismo que convoca” (BOISIER, 2002, p. 100). (2) No artigo considerado, Albuquerque trata da importância dos sistemas de inovação, ressaltando a emergência de uma knowledge-based economy (economia baseada no conhecimento), em que a informação constitui variável-chave no processo. Já o chamado “Livro Verde” de C&T, editado em 2001 pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (SILVA; MELO, 2001) e que aborda o papel do conhecimento e da inovação na aceleração do desenvolvimento econômico e social do Brasil (e que constitui a base para publicação posterior, conhecida por “Livro Branco”), ressalta a importância das tecnologias da informação nos seguintes termos: “Já no século XXI, a revolução da informação e da comunicação redesenha o mapa econômico do mundo e traz mudanças profundas nas forma (sic) de produção e nas relações sociais (...) Três fenômenos inter-relacionados estão na origem da transformação em curso. O primeiro, a convergência da base da tecnologia, decorre do fato de poder representar quase tudo de uma só forma, a digital (...) O segundo aspecto é a dinâmica da indústria e do comércio com uma queda contínua de preços dos equipamentos e serviços. Em grande parte como decorrência dos dois primeiros, está 23 o extraordinário crescimento da Internet, em comparação com outros serviços” (SILVA; MELO, 2001, p.191-192). (3) Dentre os quais, destacam-se Gagné, Skinner, Lévy, Papert e Piaget. (4) Controle aversivo, conforme Milhollan e Forisha (1978, p. 109) constitui-se em um conjunto de formas punitivas ao aluno, tais como “ridículo, repreensão, sarcasmo, crítica, lição de casa adicional, trabalho forçado, retirada de privilégios”. BERTRAND, Y. Teorias contemporâneas da educação. Lisboa: Instituto Jean Piaget, 1991. [Coleção Horizontes Pedagógicos]. BOISIER, S. El desarollo territorial a partir de la construccion de capitalismo sinergetico. Redes, Santa Cruz do Sul, v. 4, n. 1, p. 61-78, jan./abr. 1999. BOISIER, S. Actores, asociatividad y desarollo territorial en la sociedad del conocimiento. Redes, Santa Cruz do Sul, v. 7, n. 2, p. 95-105, maio/ago. 2002. (5) Esta idéia corresponde à “teoria do condicionamento operante”. LÉVY, P. As teorias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio de Janeiro: Editora 34, 1998. (6) De acordo com Papert (1994, p.22), a programação de um computador pela linguagem LOGO “utiliza uma versão não-formalizada de um tipo de matemática chamada geometria tartaruga”, um estilo de geometria não convencional que não está colocada para ser aprendida, mas sim para ser usada. MILHOLLAN, F.; FORISHA, B. Skinner x Rogers: maneiras contrastantes de encarar a educação. São Paulo: Summus Editorial, 1978. PAPERT, S. A máquina das crianças: repensando a escola na era da informática. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994. 7. BIBLIOGRAFIA ALBUQUERQUE, E. M. Infra-estrutura de informações e sistema nacional de inovação: notas sobre a emergência de uma economia baseada no conhecimento e suas implicações para o Brasil. Análise Econômica, Porto Alegre, v. 17, n. 32, p. 50-69, set. 1999. 24 SILVA, C. G.; MELO, L. C. P. (org). Ciência, tecnologia e inovação: desafio para a sociedade brasileira (livro verde). Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia/ Academia Brasileira de Ciências, 2001. SKINNER, B. F. Ciência e comportamento humano. São Paulo: Martins Fontes, 1989. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Etnografia e Produção do Conhecimento: uma discussão introdutória em três autores André Augusto Brandão * Resumo: Este trabalho objetiva discutir o problema da “autoridade etnográfica” no trabalho de campo como elemento geral que dá corpo ao discurso antropológico e condiciona a forma final deste. Partindo das proposições de James Clifford (1998) e guiados por suas hipóteses, investigamos as “estratégias de autoridade” desenvolvidas em Geertz (1978 e 1999) e Abu-Lughod (1993), para então verificar a dificuldade de estabelecer separações absolutas entre o que seria factual e o que seria alegórico nas produções científicas da Antropologia. Palavras-chave: Conhecimento, etnografia, ciência. Abstract: This paper aims at examining the issue of ethnographic authority in the field research as an element that embodies the anthropological discourse and shapes its final form. Unsing James Clifford assumptions as its starting point and guided by his hypothesis we investigated the socalled “authority strategies” developed by Geertz and Abu-Lughod. After that, we verified the difficulties in establishing definite separations between what is factual and what is allegorical in Anthropology scientific works. Key words: Knowledge, ethnography, science. 1. A AUTORIDADE ETNOGRÁFICA ENTRE O EXPERIENCIAL E O INTERPRETATIVO Se aceitarmos a afirmação de que a etnografia é a base para a constituição da identidade da Antropologia Social como disciplina científica, podemos compreender a importância que Clifford (1998) atribui ao que chama de “autoridade etnográfica”. A definição desta autoridade – longe de afirmar procedimentos metodológicos específicos que legitimam uma ciência – se refere às estratégias desenvolvidas no campo da retórica através das quais o antropólogo se constrói enquanto o autor no texto. E no mesmo movimento a esse texto é atribuído (do ponto de vista do conhecimento científico) uma validade e legitimidade acerca da representação de um contexto sóciocultural determinado. As “estratégias de autoridade”, portanto, colocam condicionamentos precisos na formação do texto etnográfico e, portanto, no tipo de representação possível de ser feita a partir de experiências de trabalho. Para discutir a autoridade etnográfica, Clifford (1998) parte do clássico. Vai a Malinowski, em seu fundamental “Os argonautas do Pacífico Ocidental”. Clifford * Doutor em Ciências Sociais, professor da ESS/UFF e pesquisador do PENESB/UFF. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 (1998) vai sublinhar a importância de Malinowski para a fundação de um modelo de autoridade antropológico que será hegemônico na primeira metade do século vinte. Neste modelo há uma âncora em uma estrutura muito específica de percepção da realidade social do grupo alvo. O propulsor desta percepção encontra-se no “trabalho de campo intensivo” feito por indivíduos academicamente treinados para tal tarefa. De forma diferente que os missionários, viajantes e outros “amadores”, Malinowski incorpora uma tradição antropológica que agrupa teoria geral e pesquisa científica. O resultado desta junção deve ser uma análise da cultura através de uma forma de descrição não aleatória, mas sim metodologicamente orientada, a etnografia. O elemento novo é, portanto, uma produção de conhecimento que se constrói ao redor de uma experiência concreta de campo e a partir disto afirma uma ou mais hipóteses de interpretação. O novo é também a necessária ida ao campo (de um pesquisador treinado para isto – insistimos), pisar no mesmo solo que o grupo estudado pisa, ouvi-los, interrogalos, registrar os detalhes mais ínfimos de suas existências e ao fim descrever toda esta experiência documentada. Malinowski escreve para disponibilizar aos leitores ocidentais o que considera serem “fatos”, pedaços objetivos da realidade trobriandesa, objetivamente coletados. Nada 25 há de subjetivo aqui e a antropologia é ciência. Clifford (1998) aponta que “Os argonautas do Pacífico Ocidental” constitui uma narrativa dupla; de um lado (e principalmente) sobre a vida social dos trobriandeses; de outro lado (e de forma subjacente) sobre o trabalho de campo etnográfico. O que para Malinowski é um objetivo método para a produção de conhecimento científico sobre culturas não ocidentais, para Clifford (1998) é um “gênero científico literário” absolutamente inovador naquele início de século. As inovações são várias: a) é criada a “persona” do etnógrafo de campo com legitimidade profissional; b) o uso da língua nativa sem o necessário domínio completo desta é legitimado; c) a interpretação é colocada em um patamar necessariamente posterior à descrição, que por sua vez somente pode ser feita por via de uma observação treinada e voltada para o conteúdo dos elementos culturais do gênero; d) na descrição, importa construir “abstrações teóricas” que são a chave para o que é explicativo da “cultura nativa”, e) o todo – ou a explicação dos princípios sociais gerais do grupos estudados – é atingido através das partes (o que significa uma etnografia preocupada com focalizações temáticas); f) este todo não é historicamente construído, mas sincrônico (a idéia do “presente etnográfico”), pois o trabalho de campo é relativamente curto e definitivamente intensivo (um ano, um ciclo cerimonial, um encadeamento específico de rituais padrões etc). Deste conjunto de novidades que configuram um formato de autoridade etnográfica pode-se depreender que a “observação participante” proposta faz um imbricamento direto entre uma experiência individual intensa e sui generis e uma “análise científica”. Clifford (1998) está afirmando que a “observação participante”, se compreendida em seu sentido literal – ou seja, o antropólogo utilizando uma forma de “empatia” para apreender o sentido de procedimentos localizados e específicos, e, logo após, realocando tais sentidos em quadros mais amplos – consiste em “uma fórmula paradoxal e enganosa” (CLIFFORD, 1998, p. 33). Uma forma alternativa de compreendê-la é proposta por este autor como “dialética entre experiência e interpretação” (CLIFFORD, 1998, p. 33). Geertz (1999) também refere-se a este caráter enganoso da observação participante. Trata-se aqui de uma desconstrução do “mito do trabalho de campo” do qual Malinowski foi o patrono1: um cientista que se adapta de forma completa a um ambiente natural e social que lhe é totalmente exótico, e que com sua paciência e capacidade empática empreende a tarefa “quase sobrenatural de pensar, sentir e perceber o mundo como um nativo...” (GEERTZ, 1999, p. 86). 26 Esta questão é aprofundada em Geertz (1999, p. 86) através da pergunta: “O que acontece com o verstehen quando o einfuhlen desaparece?” Ou seja, como o antropólogo “conhece” a forma de pensar e sentir o mundo do grupo que está estudando, sem que isto se dê através de uma sensibilidade sui generis e uma aptidão e empatia especiais. O que Geertz (1999) propõe é questionar o princípio da experiência como única âncora possível para apreender o “ponto de vista dos nativos”. Pois, se experiência de campo não possibilita necessariamente uma “proximidade psicológica” ou uma “identificação transcultural”, como fica a problemática diltheyana do “mundo comum”? A resposta de Geertz (1999) passa pelos conceitos de “experiência próxima” e “experiência distante”. O primeiro compreende categorias utilizadas no cotidiano (por exemplo, as formas através das quais o informante define como ele vê determinado acontecimento). O segundo compreende conceitos que um etnógrafo pode utilizar na escrita acadêmica (exogâmia, por exemplo). Neste sentido, a “casta” é um conceito de experiência próxima enquanto a “estratificação social” é um conceito de experiência distante. A Antropologia deve trabalhar com ambas as esferas conceituais, para não produzir um conhecimento cristalizado somente em miudezas, ou somente em abstrações e jargões que se pretendem científicos. Esta dupla entrada seria então a chave para que a “interpretação” da vida social de um grupo específico não esteja confinada aos seus próprios “horizontes mentais”, nem esqueça os tons da vida destes. No primeiro caso teríamos “uma etnografia sobre bruxaria escrita por uma bruxa”, no segundo caso teríamos “uma etnografia sobre bruxaria escrita por um geômetra” (GEERTZ, 1999, p. 88). A etnografia, portanto, deve “captar” conceitos da experiência próxima e estabelecer conexões com os da experiência distante. Sendo que os primeiros não são reconhecidos como conceitos pelos informantes, e os segundos consistem exatamente em conceitos teóricos criados pelos etnógrafos. Nos casos discutidos por Geertz (1999 – capítulo 3), que dizem respeito à concepção de pessoa em três sociedades determinadas, o movimento de “captar” acima descrito se faz “... não imaginando ser uma outra pessoa – um camponês no arrozal, ou um sheik tribal – para depois descobrir o que este pensaria, mas sim procurando, e depois analisando as formas simbólicas – palavras, imagens, instituições comportamentos – em cujos termos as pessoas realmente se represen- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 tam para si mesmas e para os outros, em cada um desses lugares.” (GEERTZ, 1999, p. 89-90). No modelo de Geertz – que toma a “autoridade experiencial” de Malinowski como método a ser negado – a etnografia não deve enquadrar a experiência do grupo estudado nas concepções do antropólogo; ao contrário, é necessário pensar essas experiências dos “outros” nos quadros de suas próprias concepções. O que está sendo rejeitado aqui é, mais uma vez, a noção de que a empatia é o móvel do trabalho etnográfico. Interpretar princípios subjetivos dos “outros” não significa o entendimento dos seus sentimentos (através de uma “comunhão de espíritos”); mais importante seria para o etnógrafo entender uma piada ou um provérbio local. Se a empatia profunda entre o etnógrafo e “sua” comunidade alvo não é possível, resta porém o desenvolvimento da capacidade profissional de ser aceito (ou tolerado) pelo grupo estudado (ou seja, o etnógrafo deve pelo menos se fazer sentir como alguém com quem “vale a pena conversar”). Esta aceitação não dá acesso aos sistemas simbólicos, apenas contribui para que se possa empreender a análise dos modos de expressão. Retornando às “formas enganosas” ou ao “mito do trabalho de campo”, podemos pensar o método etnográfico fundado por Malinowski como somente um tipo de autoridade etnográfica que enseja um gênero de escrita. É o que faz Clifford (1998) para apontar quatro possibilidades e formas de conhecimento que se legitimam durante o século XX. Nesta afirmação de várias autoridades possíveis para a disciplina está o cerne da argumentação que situa a antropologia no campo do gênero; um gênero de escrita como outro qualquer. A primeira possibilidade encontramos em Malinowski. É a etnografia centrada na “experiência” daquele cientista que observa e participa (a “autoridade experiencial”, já citada). Mais importante que o método ou a hipótese (e talvez sustentando esta) é a fórmula: “eu estava lá”. E “estava lá” com uma “sensibilidade” sui generis para a apreensão do “contexto estrangeiro” ou do “estilo de um povo ou de um lugar.” (CLIFFORD, 1998, pp. 34-35). É a narrativa do cientista em uma cultura estranha, estabelecendo no campo uma relação de empatia capaz de possibilitar a experiência, que seria consubstanciada em um “texto representacional”. Clifford (1998) utiliza o conceito de verstehen para pensar esta forma de autoridade “etnográfica”. Neste plano, a compreensão do outro seria o produto de um mundo compartilhado. No entanto, este “terreno intersubjetivo para formar objetivos de conhecimento” Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 (CLIFFORD, 1998, p. 35) é exatamente o que o etnógrafo não possui quando inicia sua pesquisa de campo. O primeiro passo, portanto, está sempre predeterminado por esta necessidade de estabelecimento de uma “esfera comum” ou um “mundo comum de significados”. A observação, portanto, deve ser participante, exatamente para que experiências sejam partilhadas entre o etnógrafo e o grupo estudado. São formas intuitivas de percepção que possibilitam ao etnógrafo – treinado que é –apreender relações entre sentidos, ler indícios, ligar acontecimentos aparentemente aleatórios etc. Se a experiência demanda a presença concreta, a participação no cotidiano, o contato, a sensibilidade e a afinidade também sugerem a idéia de um conhecimento acumulado pessoalmente. Neste ponto, Clifford (1998) lembra que a demarcação pessoal da experiência impõe a esta um caráter de subjetividade, mas não de diálogo ou intersubjetividade – que serão princípios de autoridade de outras etnografias. A segunda possibilidade de autoridade etnográfica criada no século XX se estabelece como uma crítica à autoridade experiencial e se alicerça na hermenêutica. Neste formato, a interpretação ganha prioridade frente à experiência, sendo tomada como um modelo de leitura de textos. A Antropologia interpretativa promove a desmistificação da objetividade da construção de narrativas, descrições e tipos que constituem o corpus da autoridade precedente. Mais precisamente, “... contribui para uma crescente visibilidade dos processos criativos (e, num sentido amplo, poéticos) pelos quais objetos ‘culturais’ são inventados e tratados como significativos.” (CLIFFORD, 1998, p. 39). É neste sentido que Geertz em seu “A interpretação das culturas” (1978) propõe, como projeto, tomar a cultura como “textos” que são passíveis de interpretação. A textualização é, portanto, o momento em que crenças, rituais, tradições, ou simples acontecimentos (cotidianos ou não) são marcados como um conjunto que carrega uma potencialidade ao nível do significado. Trata-se exatamente do que é feito por este autor com a briga de galos (GEERTZ, 1978, p. 278), ou com o específico caso do processo de “enlouquecimento” do balinês Regreg (GEERTZ, 1999, p. 262). Aqui se encontra o cerne desta nova forma de autoridade etnográfica (da qual Geertz é o grande expoente) ancorada na 27 “afirmação de que se estão representando mundos diferentes e significativos. A etnografia é a interpretação das culturas.” (CLIFFORD, 1998, p. 40). Se pensarmos na dialética experiência/interpretação, veremos que neste projeto de autoridade interpretativa a elaboração da etnografia se faz fora do campo. Ou seja, se faz num espaço onde os dados coletados são traduzidos num texto que se transforma em narrativa. Por sua vez, esta narrativa encontra-se separada das situações discursivas que são típicas do trabalho de campo. Neste ponto, podemos verificar que a autoridade que emana da interpretação reifica as “comunicações de pessoas específicas” em conceitos mais amplos, em “evidências de um contexto englobante, uma realidade ‘cultural’ ” (CLIFFORD, 1998, p. 41). Os textos da cultura são afirmados como produto de um “autor” que é criado pelo antropólogo: “os nuer”, “os balineses”, “os trobriendeses” etc. A invenção deste “autor generalizado” torna-se fundamental como contexto no qual os textos “são ficcionalmente” dispostos. O conjunto das situações que ocorrem na relação de pesquisa (incluindo as interações específicas do etnógrafo com as pessoas do grupo estudado) são separados de forma literal dos “textos culturais” produzidos; esses expõem, assim, um mundo integrado por significados lidos como um texto... ficcional. Na verdade, nada é mais próximo da ficção do que a afirmação de um texto final que se refere ao pensamento em geral de um grupo. O chamado “ponto de vista nativo”, na verdade, demandou, no processo de pesquisa, diálogos muito particulares, com indivíduos muito especificamente situados, que no entanto desaparecem no resultado final do trabalho. Somente para exemplificar podemos perguntar qual é a diferença entre os trechos abaixo: “Los ornamentos que he enumerado vienen de otras regiones; los Yahoos los creen naturales, porque son incapaces de fabricar el objeto más simple. Para la tribu mi cabanã era un árbol aunque muchos me vieron edificarla y me dieron su ayuda.” “O status em Bali, ou pelo menos a espécie determinada pelos títulos, é uma característica pessoal: independe de quaisquer fatores estruturais sociais. Tem, sem dúvida, conseqüências práticas importantes, e essas conseqüências são modeladas e expressas através de uma grande variedade de classificações sociais que vão desde grupos de parentesco até instituições governamentais. 28 “De la nación de los Yahoos, los hechiceros son realmente los unicos que han suscitado mi interés. El vulgo les atribuye el poder de cambiar en hormigas o en tortugas a quienes así lo desean; un individuo que advirtió mi incredulidad me mostró un hormiguero, como si éste fuera una prueba. La memória les falta a los Yahoos, o casi no la tienen; hablan de los estragos causados por una invasión de leopardos, pero no saben si ellos la vieron o sus padres o si cuentan un suenõ. Los hechiceros la poseen, aunque en grado mínimo; pueden recordar a la tarde echos que ocurrieran en la mañana o aun la tarde anterior.” “Os calendários são usados principalmente não para marcar o decorrer do tempo, nem mesmo para acentuar a singularidade e inevitabilidade do momento que passa, mas para marcar e classificar as modalidades qualitativas nos termos das quais o tempo se manifesta na experiência humana. O calendário balinês (ou melhor, os calendários pois, como veremos, existem dois deles) corta o tempo em unidades limitadas, não para contá-las e totalizálas, mas para descrevê-las e caracterizá-las, formular sua significação diversa social, intelectual e religiosa.” “Cada niño que nace esta sujeto a um detenido examen; si presenta ciertos estigmas, que no me han sido revelados, es elevado a rey de los Yahoos. Acto continuo lo mutilan (he is gelged), le queman los ojos e le cortan las manos e los pies, para que el mundo no lo distraiga de la sabiduría. Vive confinado en una caverna, cuyo nombre es alcázar (Qzr), en la que sólo pueden entrar los cuatro hechiceros y el par de esclavas que lo atienden y lo untan de estiércol.” “A repulsa balinesa contra qualquer comportamento visto como animal não pode deixar de ser superenfatizada. É por isso que não se permite aos bebês engatinharem. O incesto, embora não seja aprovado, é um crime bem menos repugnante do que a bestialidade. (A punição adequada para a segunda é a morte por afogamento, para o primeiro ser obrigado a viver como um animal.) Muitos demônios são representados – na escultura, na dança, no ritual, no mito – sob alguma forma real ou fantástica de animal. O principal rito de puberdade consiste em limar os dentes da crianças de forma que não pareçam presas de animal. Não apenas defecar, mas até comer é visto como uma atividade desagradável, quase obscena, que deve ser feita apressadamente e em particular, devido à sua associação com a animalidade”. A diferença consiste em que o primeiro, o terceiro e quinto trechos foram retirados do conto de Jorge Luis Borges intitulado “El informe de Brodie” (BORGES, 1994). O segundo e o quarto foram retirados do artigo de Geertz “Pessoa, tempo e conduta em Bali” (GEERTZ, 1978) e o sexto trecho saiu de outro artigo de Geertz denominado: Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 “Um jogo absorvente: notas sobre a briga de galos balinesa” (GEERTZ, 1978). A diferença, é claro, consiste também no fato de que Bali existe como um dado geográfico, e, ao contrário, os yahoos de Borges habitavam “...la región que infestan los hombres-monos ...”. No entanto do “ponto de vista” da escrita, o “ponto de vista dos nativos” (reais ou não) aparece textualizado de forma muito semelhante. Mais precisamente o fato de que Geertz, para produzir seus nativos, esteve face to face com os moradores da ilha de Bali não é suficiente para diferenciar sua escrita antropológica da literatura de Borges. Como lembra Clifford “A antropologia interpretativa, ao ver as culturas como conjuntos de textos, frouxa e, por vezes contraditoriamente unidos, e ao ressaltar a inventiva poética em funcionamento em toda a representação coletiva, contribuiu significativamente para o estranhamento da autoridade etnográfica.” (CLIFFORD, 1998, p. 43) 2. A AUTORIDADE ETNOGRÁFICA ENTRE O DIALÓGICO E O POLIFÔNICO Será este estranhamento a fenda epistêmica por onde surgirão os dois próximos modelos de autoridade etnográfica. Nestes, a própria noção de interpretação de uma realidade diferente (“outra”) é confrontada com a afirmação da etnografia como uma negociação (em sentido amplo) permanente entre o etnógrafo e o informante ou informantes, e mesmo de vários informantes entre si com o etnógrafo. Ambos, etnógrafos e informantes, são tomados agora como “sujeitos conscientes e politicamente significativos” (CLIFFORD, 1998, p. 43). Aqui as falas são sempre performances relacionadas com um contexto, com elementos intersubjetivos (a interação entre a subjetividade destes sujeitos: os indivíduos do grupo e o etnógrafo). Clifford (1998) é veemente na afirmação de que não existe “significado discursivo sem interlocução e contexto” (CLIFFORD, 1998, p. 44). O que também é – com veemência – dito por Abu-Lughod (1993), como veremos mais adiante neste artigo. Esta perspectiva recusa a escrita etnográfica como um monólogo no qual o antropólogo fala indefinidamente sobre os “outros”, sem uma problematização precisa dos momentos contextuais que, certamente, não foram fruto de monólogos. Temos então uma proposta de escrita etnográfica “discursiva” que se volta para as interlocuções e os contextos, as situações nas quais a pesquisa se desenvolve. Esta aceitação do etnógrafo como parte da teia de sentidos que se desenvolve no momento mesmo em que este – através do trabalho de campo – procura ler o que para Geertz seria o texto da cultura, funda um novo “subgênero” da etnografia. Neste subgênero Clifford (1998) destaca duas formas emergentes de autoridade etnográfica2: a “dialógica” e a “polifônica”. A primeira apresenta a etnografia como um diálogo específico entre dois indivíduos no qual estes “interlocutores negociam ativamente uma visão compartilhada da realidade” (CLIFFORD, 1998, p. 45). Fica assim invertida a “autoridade experiencial” tal como aparece em “Os argonautas do Pacífico Ocidental”. Se Malinowski através de sua experiência de campo pretendia ter construído uma descrição explicativa da realidade trobriandesa, nos quadros de uma etnografia dialógica Malinowski teria elaborado uma versão específica de partes da vida social em colaboração – via diálogo – com seus informantes. Isto chama nossa atenção para o fato de que tanto o outro, quanto o etnógrafo-que-estuda-o-outro são tecidos no trabalho de campo. Há, porém, problematizações possíveis nesta forma de “autoridade etnográfica”. Em primeiro lugar, se o paradigma da interpretação esconde o diálogo, o paradigma do diálogo esconde o fato da produção em última instância do texto pelo antropólogo3. Por traz do diálogo publicado está o autor que o arrumou. O diálogo publicado é, assim, uma “representação do diálogo”. Em segundo lugar, o paradigma dialógico tende a construir estas “ficções de diálogo” afirmando o informante/interlocutor como um indivíduo que em sua fala representa a sua cultura; ou seja, carrega os sentidos dos processos sociais específicos do grupo. O etnógrafo não atribui ao indivíduo com o qual dialoga o sentimento, a crença ou o valor que este último expressa; atribui à “cultura” deste (por exemplo: “... os balineses nunca fazem algo de maneira simples quando podem fazê-lo de modo complicado...” – GEERTZ, 1978, p. 291). Clifford (1998) está problematizando o diálogo “ficcional” através da caracterização deste como uma simples representação da complexidade de processos que se dão por via “multivocal”4. Em “Os argonautas do Pacífico Ocidental”, quantas vozes estão atuando? Quantos informantes ditaram encantamentos para um etnógrafo compilador? Quantas vozes Malinowski silenciou para construir a ficção de um “mundo cultural ou linguagem integrada”? Nestas questões encontra-se a matriz da autori- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 29 dade etnográfica polifônica. A pergunta que sobressai disto é: como representar a “autoria dos informantes”? Um caminho possível é a citação destes, ou produzir uma escrita que represente o etnógrafo e o nativo com vozes diferentes. Em ambos, no entanto quem cita é o “autor” e sempre teremos a “orquestração final virtuosística feita por um só autor de todos os discursos presentes no texto.” (CLIFFORD, 1998, p. 54). Para além disto, a aceitação de um mundo polifônico não significa que as vozes dos informantes e do etnógrafo não estejam condicionadas. O que leva os indivíduos do grupo a falar? Quais os condicionamentos contextuais destas falas?5 A estratégia textual de uma autoria plural do etnógrafo e seus colaboradores (e não informantes) esbarra em dois grandes problemas: a) é sempre o antropólogo que dá a voz ao “outro”; b) no ocidente, os textos são sempre ligados pelos leitores a um autor individual. Assim, o ponto mais importante na autoridade etnográfica polifônica é a aceitação disciplinar de seu próprio não-controle dos dados obtidos e também da multisubjetividade envolvida no trabalho de campo e na construção do texto. Estas questões percorrem as preocupações de Abu-Lughod (1993). Em seu “Writing women’s worlds”, a autora empreende uma interessante proposta de dar voz à mulheres de um grupo beduíno que habita áreas desérticas do Egito, através de histórias contadas por estas. Abu-Lughod (1993) transita entre o dialógico e o polifônico, pois se não chega a colocar as mulheres-quecontam-estórias como co-autoras do livro, constroi o texto com a presença permanente das falas destas. Em cada capítulo envolve sempre uma mulher ou duas e, como afirma a autora, a sua própria inclusão no texto fica entre os extremos do total apagamento do self (enquanto etnógrafa) e da imposição de sua presença como uma participante dos diálogos. O livro tem sua própria estória que é contada pela autora. No fim dos anos setenta Abu-Lughod passou dois anos entre os Awalad ‘Ali. Realizou um trabalho de campo sem uso do gravador e com registro de anotações. Isso foi suficiente para compor uma “análise geral da vida social” daquela comunidade. A autora, porém, percebeu que o texto produzido, que seguia os padrões de uma monografia antropológica, consistia somente numa pálida sombra das ricas conversas que ocorreram durante o trabalho de campo. Toda a vivacidade com a qual as mulheres contavam as estórias de seu cotidiano, as qualidades da “life as lived”, não era apreendida no 30 texto resultante daquele estilo etnográfico. Abu-Lughod (1993) está assim apontando o gap entre as monografias antropológicas baseadas nas notas de campo e a “vida como vivida no campo”. Daí resultou um segundo trabalho onde a autora fez uso intensivo do gravador e da narrativa, para encontrar aquilo que seu primeiro trabalho não conseguira registrar. Afirmando a monografia etnográfica como uma “partial truth” (nos termos em que é problematizada por James Clifford), ou seja, como trabalho sempre condicionado pelo ponto de vista escolhido, a autora explicita suas questões iniciais (ABU-LUGHOD,1993, pp. 2-3). Sua idéia primeira consistia na produção de uma etnografia legitimada no campo feminista: a voz das mulheres beduínas e a voz da antropóloga mulher. Embora tenha feito posteriormente uma autocrítica com relação a este ponto, constatando a posição essencialista que havia tomado, continuou afirmando que seu trabalho caminhou na perspectiva do feminismo ao assumir o que chama de “feminist insights” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 5). Este projeto feminista se expressa na opção por selecionar as estórias que aparece no livro visando uma conjunção entre os interesses das mulheres beduínas e questões importantes para as audiências femininas no ocidente. Assim, as estórias escolhidas discutem basicamente alguns tipos de construções: “... commom feminist interpretations of gender relations in non-Western societies; and widely shared understandings of Muslim Arab society.” (ABU-LUGHOD,1993, p. 17). Abu-Lughod (1993) caracteriza o resultado de seu trabalho como um livro de estórias. Por um lado, este livro não pode se localizar nos mesmos marcos teóricos nos quais os antropólogos escrevem sobre “a lógica social” dos grupos tomados como alvo de suas pesquisas. Por outro lado, o livro se situa no âmbito das preocupações sobre as “políticas de representação” do outro. Mais precisamente, a Antropologia via de regra usa características e detalhes das vidas dos indivíduos para construir generalizações e tipificações (com o sentido de encontrar as leis da sociedade humana ou para encontrar e interpretar formatos específicos de vida social), como, por exemplo, faz Geertz (1999, p. 262 e seguintes) ao utilizar o caso de um nativo balinês – o já citado Regreg – que após a fuga de sua mulher com um homem de outra aldeia, acaba por enlouquecer em sua busca de apoio tribal para uma ação de captura da esposa fugitiva. Regreg é apenas o caso que Geertz (1999) utiliza para mostrar o funcionamento do sistema jurídico balinês. A questão principal problematizada por Abu- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Lughod (1993) é a generalização antropológica que em última instância contribui para a criação de conceitos de cultura que podem trabalhar no sentido de estabelecer fronteiras fixas entre o self e os “outros”. Por que o cuidado com as generalizações? Se o discurso antropológico é sempre a linguagem do poder (e aqui a questão da origem da profissão em redor de problemas políticos vinculados à exploração das sociedades nãoocidentais é o marco sempre citado) e se o poder é também poder de nomear, haveria um gap entre o discurso profissional pleno de generalizações e “as linguagens da vida cotidiana” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 8), que estabelecem uma separação entre o antropólogo e seus leitores e entre o antropólogo e as pessoas que toma como objeto de conhecimento – estes “outros” que ficam marcados como diferentes e em alguns casos como inferiores. Além disto, a generalização através do conceito de cultura homogeneiza e eterniza a vida cotidiana. Mais precisamente, “In the process of generalizing from experiences and conversations with a number of especific people in a communit, the antropologist may flatten our their differences and homogenize them.” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 9). A descrição etnográfica das crenças das pessoas que compõem o grupo estudado esconde contradições, conflitos e mesmo dúvidas. Mais uma vez trata-se da fixação e essencialização das fronteiras entre o self e os “outros”. A cultura como uma entidade generalizante é, portanto, uma ficção que cria (como Clifford já demonstrará) a imagem de grupos sem diferenças internas (os “balineses”, os “trobriandeses” etc). Abu-Lughod (1993) lembra a positividade do conceito de cultura quando utilizado para responder aos problemas de análise colocados pelo conceito de “raça” que afirma diferenças entre grupos humanos como inerentes ao campo da natureza. Tal positividade se esgota, porém, se a “cultura” não for tomada em seu formato de negação das essências, ou seja, se não for tomada como “comportamentos, costumes, tradições, papéis, planos”, que são aprendidos socialmente (e, portanto, não são inatos e podem, também socialmente, mudar)6. Assim, apesar de suas aproximações nãoessencialistas (e de ser menos equivocado analiticamente que os conceitos de raça e civilização), o conceito de cultura tende sempre a enquadrar as diferenças entre grupos humanos como evidentes por si próprias, e a atuar decisivamente na produção do “outro”. Se o nativo é uma “invenção da imaginação antropológica”, o é porque Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 “The fluidity of group boundaries, languages, and practices, in other words, has been masked by the concept of culture.” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 11). Se aceitarmos, portanto, que o conceito de cultura tem sido, na história da Antropologia como disciplina, uma “poderosa ferramenta” para a construção do “outro” (à medida que produz e mantém através da escrita as diferenças, ou todos homogêneos “diferenciados”), devemos perguntar se marcar diferenças entre grupos implica stabelecer formas de hierarquia. A resposta de Abu-Lughod (1993) é positiva. Hierarquias são produzidas porque, neste caso, o self é sempre o intérprete que carrega a legitimidade científica e o “outro” é sempre o interpretado, o objeto do conhecimento. A posição que Abu-Lughod (1993) assume pretende trabalhar contra estas hierarquizações e questionar a “noção essencializada” de cultura como espaço da homogeneidade interna e, ao mesmo tempo, parte do mosaico da heterogenia ocidente/resto do mundo. A opção da autora para empreender a desconstrução conceitual proposta é o que sustenta o livro aqui comentado. Trata-se de contar estórias. Esta seria também uma “poderosa ferramenta”, útil para deslocar o conceito essencialista de cultura e subverter a produção imposta do “outro” que se faz a partir daí. Além disto, os eventos cotidianos ocorrem no tempo e se tornam pedaços importantes da memória das famílias e dos indivíduos que se envolveram nestes. As estórias que as mulheres do livro contam são sobre estes eventos. Abu-Lughod (1993) vai mais fundo em sua argumentação que identifica no discurso antropológico um caminho quase hegemônico de generalização sobre grupos humanos, enquadrando-os como portadores de determinadas características ou identificando-os a instituições específicas ou formas de agir. Para a autora, porém, o resultado disto (por exemplo, a afirmação cientificamente apoiada em pesquisas empíricas de que o grupo “x” é poligâmico) “diz” muito pouco. Dizer mais pressuporia perguntar como um particular conjunto de membros do grupo “x” (o marido e suas esposas) vive em seu dia-a-dia esta “instituição” que foi nomeada pelo antropólogo como “poligamia”7. Tomando especificamente o livro de Abu-Lughod (1993), importa saber, por exemplo, como uma garota egípcia, de uma tribo beduína, que freqüenta a escola, vive a experiência cultural complexa de esperar pelo casamento arranjado, em plena década de 19808. É o que aparece no último capítulo do livro (“Honor and Shame”), que ressalta a complexidade cultural que está em ebulição dentro de uma instituição social vista pelo ocidente como rígida e monolítica. 31 “Honra e vergonha” são valores sempre utilizados pelo Ocidente para pensar os elementos que caracterizam e regulam as relações de gênero no Oriente Médio; são também valores utilizados no Ocidente para exemplificar o modo de controle sexual das mulheres neste locus geográfico. A honra como um atributo masculino e positivo, a vergonha como atributo feminino que conota um agir passivo e uma posição social negativa. A personagem principal da estória, Kamla, é uma jovem Awalad ‘Ali que vai à escola. Esta jovem “... proudly asserts the honor (through modesty) of girls like herself and struggles to maintain this modesty as part of her cultural identity.” (ABULUGHOD, 1993, p. 22). Muito embora Kamla faça tais afirmações nos termos de “valores eternos”, ela rejeita e recusa determinadas requisições que lhes são feitas, e usa, para isto, argumentos que derivam de um mosaico de imagens: sua educação religiosa, sua educação escolar, a mídia de massa a qual tem acesso etc. Assim, para Kamla – uma beduína jovem, com educação escolar e educação religiosa, que convive com as idéias que circulam nas áreas urbanas do Egito, e que assiste e sente o crescimento dos grupos islâmicos locais com a carga de pressão moral que estes carregam – as noções de honra e vergonha têm significados muito específicos. A investigação do que está contido nas instituições sociais é o que a forma de autoridade etnográfica proposta por Abu-Lughod (1993) procura. O foco centrado nas discussões, nas desagregações e nas mais específicas ações, enseja importantes pontos teóricos. De início, a já comentada recusa à generalização, que legitima uma construção qualitativa do que é “típico”. Outro ponto importante é o fato de que a apresentação das características que cercam as vidas dos indivíduos que compõem o grupo (juntamente com as interações que estabelecem) leva à afirmação de que cada particularidade é sempre fundamental para o desenrolar da experiência. Por último, a procura pelos “argumentos” pessoais (justificações, interpretações etc) que indivíduos estão utilizando para explicar o que fazem (ou o que fazem os outros indivíduos do grupo) são importantes para que possamos entender como está se desenvolvendo a vida social. O que mostra que, dentro de limites e condicionamentos discursivos – não são necessariamente homogêneos, mas necessariamente são mutáveis na história – os homens constroem estratégias específicas, sofrem, interpretam os acontecimentos ao seu redor, enfim “vivem suas vidas” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 14). divíduos e seus relacionamentos em constante movimento, torna-se possível deslocar o conceito de cultura como entidade fixa, homogênea, eternizada. Um ponto positivo do formato textual do livro (que Abu-Lughod – 1993, p. 15 - chama de “storytelling”) – que vai além da recusa da produção de “culturas” através do poder da ciência social generalizante – é a demarcação da “inevitabilidade da posicionalidade”. Ou seja, a estória é situada, o contador da estória é situado, a audiência da estória é situada, e os três se condicionam reciprocamente. A estória é duplamente parcial (conta uma “parte” a partir de um ponto de vista), e a forma de contar também. Todas as estórias do livro foram contadas num contexto e com um propósito. A motivação para contar estórias também é situada9. Mais precisamente, somente “... a false belief in the possibility of a nonsituated story (or ‘objectivity’) could make one ask that stories reflect the way things, over there, ‘really’ are.” (ABU-LUGHOD,1993, p. 17). No que tange ao texto etnográfico, a disposição das estórias no livro obedece a uma lógica antropológica, segundo a autora. Se os antropólogos, via de regra, elaboram as caracterizações sociais dos grupos estudados pela via da construção teórica de “instituições sociais” como patrilinearidade, poligamia e outros, tal opção pode reificar estas “categorias analíticas” e afirmar que os indivíduos do grupo executam papéis que lhes são designados exteriormente. Abu-Lughod (1993) explora exatamente o contraste entre o título abstrato e simples dos capítulos (“Polygyny” ou “Honor and Shame”, por exemplo) e o conteúdo complexo e nada unívoco destes, que se expressa em detalhados argumentos pessoais, experiências específicas e acontecimentos particulares desenvolvidos nas tramas da instituição. A autora conclui: “In all cases, it seems to me, the moral of the stories that things are and are not what they seem.” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 19). 3. CONCLUSÃO Toda a proposta de Abu-Lughod (1993), tangencia a noção de Clifford (1998) acerca da etnografia como alegoria. O caráter alegórico da escrita etnográfica estaria no conteúdo (o que se diz sobre as culturas) e na forma (o modo da textualização). A representação cultural, por sua vez, é afirmada como necessariamente narrativa. É um texto sobre um grupo humano, para tornar o comportamento deste grupo “um modo de vida humanamente compreensível.” (CLIFFORD, 1998, p. 67). Assim, voltando a “lente” etnográfica para os in- 32 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Trata-se, portanto, sempre de uma “construção figurada do outro”, através de qualquer uma das quatro formas de autoridade etnográfica (experiencial, interpretativa, dialógica e polivocal) ou da combinação destas. Seja tomando o “outro” como uma cultura homogênea, ou mesmo relativizando o próprio conceito de cultura . Como afirma Clifford (1998) “Se estamos condenados a contar histórias que não podemos controlar, pelo menos não contemos histórias que acreditemos serem as verdadeiras.” (CLIFFORD, 1998, p. 96). O informante (ou co-autor) não fala como uma testemunha ocular neutra, que falaria sempre as mesmas coisas para qualquer pessoa – um vizinho, um parente ou o antropólogo. O informante fala dentro de situações intersubjetivas específicas. Nesta perspectiva, não é possível fazer a separação entre o “factual e o alegórico” nas produções antropológicas, pois o dado etnográfico somente faz sentido dentro da narrativa que é construída ao seu redor. 4. NOTAS (1) Este mito foi destruído pelo próprio Malinowski através da publicação póstuma de seu “Um diário no estrito senso do termo”. Neste diário redigido durante o trabalho de campo que originou “Os argonautas do Pacífico Ocidental”, Malinowski: “Dizia coisas bastante desagradáveis sobre os nativos com quem vivia, e usava palavras igualmente desagradáveis para expressar esses comentários. Passava grande parte do seu tempo desejando estar em outro lugar. E projetava uma imagem de total intolerância, talvez uma das maiores intolerâncias do mundo.” (GEERTZ, 1999, p. 86). (2) Devemos lembrar que este texto foi redigido pelo autor em fins dos anos 80, embora a primeira publicação no Brasil tenha se dado em 1998. (3) Como Clifford (1998) lembra com brilhantismo, embora Sócrates seja o elemento fundamental nos diálogos platônicos, é Platão que os organiza da forma que convém a seus objetivos. (4) Neste mesmo livro, Clifford (1998) discute o interessante caso do etnógrafo Marcel Griaule, que pôde adquirir conhecimentos mais “aprofundados” do grupo estudado a partir de um informante (que dominava conhecimentos específicos) que os detentores do poder tribal designaram para ensinar ao etnógrafo. Ou seja, os nativos, neste caso, explicitaram o controle sobre a acesRevista UniVap, v.11, n.20, 2004 sibilidade do etnógrafo às informações que desejava. Trata-se aqui da “autoridade dos informantes ...” (CLIFFORD, 1998, p. 214), que cumpre o papel de nos alertar para o caráter ficcional: a) da pretensa descrição/ interpretação da realidade cultural do “outro” e; b) do “modo de construção” do conhecimento antropológico. (5) Bourdieu (1998) lembra que no desenvolvimento de pesquisas em que há interlocução entre o pesquisador e os informantes: “... certos pesquisados sobretudo entre os mais carentes, parecem aproveitar essa situação como uma ocasião excepcional que lhes é oferecida para testemunhar, se fazer ouvir, levar sua experiência da esfera privada para a esfera pública; uma ocasião também de se explicar, no sentido mais completo do termo, isto é, de construir seu próprio ponto de vista sobre eles mesmos e sobre o mundo ...” (BOURDIEU, 1998, p. 704) (6) Esta discussão acerca da leitura essencialista das culturas não-ocidentais aparece na agenda dos “póscolononiais” como H. Bhabha (ver BHABHA, 1998 – principalmente os capítulos VIII, IX e XI) e é problematizada no conceito de “absolutismo étnico” na obra de P. Gilroy. (ver GILROY, 1993). (7) A noção de “cultura beduína” também significa muito pouco se colocada em relação ao “sentido dos papéis que pessoas seguem ou de uma comunidade que compartilha tais papéis.” (ABU-LUGHOD,1993, p. 14). (8) Abu-Lughod (1993) não está com isto defendendo de forma veemente a particularidade contra a generalidade como um modo de privilegiar o micro sobre o macro processo. Ou seja, atentar para os níveis das vidas individuais não implica em negar a existência de “...forces and dynamics that are not locally based”, mas sim ressaltar que “the effects of extralocal or long-term processes are always manifested locally specifically.” (ABU-LUGHOD, 1993, p. 8). (9) Em escrito anterior, Abu-Lughod (1990), já discute esta questão; relata um momento de sua relação com os Awalad ‘Ali, e mais especificamente com a família em cuja casa se hospedou durante dois anos e com a qual desenvolveu laços afetivos fortes. No dia de sua segunda partida, após pequena estada depois de cinco anos de ausência, e tendo recusado os incessantes pedidos da família para que ficasse definitivamente, o anfitrião tocou para ela uma fita cassete com uma canção de amor beduína que retratava um acontecimento ocorrido em passado recente na própria tribo. Contou-lhe que o autor se lamentava pela perda da amada que fora obrigada a se casar com outro homem, na estória do anfitrião; 33 ao ouvir a poesia cantada, a jovem teria se suicidado. Anos depois, em nova fase de trabalho de campo, soube através da esposa do anfitrião que a estória contada por este era só em parte verdadeira, pois de fato a mulher obrigada a casar não se suicidara e ainda vivia com seu marido “arrumado”. Abu-Lughod afirma então que seu anfitrião estava contando uma estória triste, não para demonstrar como são os conceitos locais de emoção, ou para dar um exemplo das trágicas relações de gênero entre os beduínos, mas, talvez, para impressioná-la, talvez para emocioná-la e conseguir que ficasse. Vemos aqui um exemplo da “motivação situada” das estórias que compõem o livro de 1993. BHABHA, H. K. O local da Cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1998. BORGES, J. L. El informe de Brodie. Madrid: Alianza Editorial, 1994. BOURDIEU, P. A Miséria do Mundo. Petrópolis:Vozes, 1998. CLIFFORD, J. A Experiência Etnográfica: antropologia e literatura no século XX. Rio de Janeiro: Editora da UFRJ, 1998. GEERTZ, C. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978. 5. BIBLIOGRAFIA ABU-LUGHOD, L. Shifiting politics of Bedouin love poetry. In: LUTZ, Catherine Lutz; ABU-LUGHOD, Lila Abu-Lughod (orgs). Language and the Politics of Emotion. Cambridge/ Paris. Cambridge University Press / Maison des Sciences de l’Homme, 1990. GEERTZ, C. O Saber Local: novos ensaios em antropologia interpretativa. Petrópolis: Vozes, 1999. GILROY, P. The Black Atlantic: modernity and double consciousness. Cambridge: Harvard University Press, 1993. ABU-LUGHOD, L. Writing Women’s World. Berkeley: University of California Press, 1993. 34 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Software Educacional para Análise Estrutural Carlos Humberto Martins * Resumo: O trabalho apresenta um software de entrada de dados, desenvolvido pelo autor, para analisar estruturas de edifícios altos, o qual é utilizado em sala de aula para obter esforços e deslocamentos em edifícios, os quais podem ser utilizados para dimensioná-los. O software de entrada de dados foi desenvolvido em linguagem de programação Visual Basic 6.0 para ambiente Windows. Palavras-chave: Software educacional, análise estrutural, edifícios altos. Abstract: The computational system presented in this work provides results for the analysis of multistore buildings. It provides the student with an easy and simple tool, which may be used in the classroom to obtain stresses and strains that will be used in structural dimensioning. The software is developed in the computational language Visual Basic for Windows. Key words: Educational software, structural analysis, multi-store buildings. 1. SISTEMA ESTRUTURAL ADOTADO Descreve-se a seguir o comportamento dos elementos que fazem parte das estruturas de contraventamento dos edifícios altos. O conjunto de vigas e pilares, travados horizontalmente pelas lajes, constitui o sistema estrutural. O modelo adotado permite uma análise tridimensional do sistema estrutural, em que a interação de esforços e deslocamentos é estudada nas três direções. As vigas e lajes são analisadas em teoria de primeira ordem, e para os pilares é considerada a sua nãolinearidade geométrica. Para o material, é adotado um comportamento elástico-linear. As vigas são compostas por elementos lineares contidos no plano horizontal, no nível das lajes. Suas extremidades podem estar conectadas tanto nos pilares como em outras vigas. Para as lajes admite-se que elas tenham comportamento de um corpo rígido em seu plano, compatibilizando as translações horizontais e funcionando como elemento transmissor de forças horizontais para os demais elementos horizontais do sistema de contraventamento. As cargas verticais atuantes nas lajes são transmitidas a todos os elementos conectados à mesma. As lajes contribuem também com sua rigidez transversal à flexão, na análise global da estrutura. Para consi* Professor da UNIVAP. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 derar a rigidez transversal à flexão, utilizou-se o Método dos Elementos Finitos, no qual as lajes são discretizadas em vários elementos finitos de placa. O elemento finito de placa empregado na discretização do pavimento, responsável pela consideração da rigidez transversal das lajes na análise da estrutura, é o DKT (Discrete Kirchhoff Theory), o qual, segundo Batoz, Bathe e Ho (1980), constitui-se em um elemento eficiente para a análise de placas delgadas. Os pilares que se interpõem a dois pavimentos consecutivos devem apresentar trechos lineares verticais e ter seção transversal bissimétrica. Maiores dados sobre o sistema estrutural adotado podem ser encontrados em Martins (1998; 2001). 2. DESCRIÇÃO DO SOFTWARE O Visual Basic 6.0 é um software muito interessante, pois permite ao programador criar sofisticados programas para o ambiente Windows . Como o nome sugere, grande parte do trabalho de programação com o Visual Basic é feito visualmente. Isso significa que, na fase de elaboração, é possível verificar como o projeto irá comportar-se ao ser executado. Trata-se de uma grande vantagem sobre outras linguagens de programação, pois é possível alterar e testar os programas até o programador ficar satisfeito com as cores, tamanhos e imagens incluídas no programa. 35 Sabe-se que na grande maioria dos programas de análise estrutural, um dos grandes problemas é a entrada de dados, que é normalmente fornecida via teclado ou um arquivo com os dados da estrutura é construído em algum editor de texto ASCII e, então, o programa computacional executa este arquivo. Sucede, porém, que com as janelas criadas pelo Visual Basic, esse problema de erros criados na entrada de dados é extremamente diminuído, pois erros comuns de consistência de dados são imediatamente avisados ao usuário, mediante caixas de diálogo. Além disso, as janelas de diálogo facilitam a introdução dos dados necessários ao processamento da estrutura. Por esses e outros motivos, adotou-se o Visual Basic 6.0, para a criação do pré-processador do programa computacional para a análise estrutural. profissionalismo ao trabalho. 3. PROGRAMA COMPUTACIONAL Um exemplo numérico foi executado utilizando os menus interativos do programa desenvolvido em Visual Basic. Este exemplo foi retirado da dissertação de mestrado de Martins (1998). As característica do edifício são: - espessura constante da laje: 15 cm; - pé-direito dos andares: 290 cm; - número de andares: 15; - módulo elasticidade: 2000 kN/cm2; - coeficiente de Poisson: 0,25; - carga uniformemente distribuída nas lajes: 8kN/m2; - carga distribuída nas vigas: 10kN/m. As dimensões dos pilares e vigas encontram-se na planta do pavimento tipo, com suas medidas em cenWang (1999) e Perry e Hettihewa (1999) foram al- tímetros, na Fig. 1. gumas das referências utilizadas para realizar a programação em Visual Basic. As forças do vento foram determinadas respeitando-se a norma NBR 6123. É mediante o programa desenvolvido em Visual Basic que se realiza a entrada de dados, utilizando menus A seguir, são apresentados alguns dos menus e janelas de extração de dados. Com isso, a entrada de utilizados na entrada de dados desse edifício. dados é facilitada para o usuário, fornecendo um maior Fig. 1 - Planta baixa dos pavimentos. 36 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Fig. 2 - Menu de dados gerais. Fig. 3 - Menu de geração da malha de elementos finitos. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 37 Fig. 4 - Menu de geração das vigas do pavimento. Fig. 5 - Menu de geração dos pilares. 38 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Fig. 6 - Pavimento tipo gerado pelo programa. Fig. 7 - Menu para introdução de força do vento. O programa também contém janelas que, ao longo de sua execução, informam ao usuário mensagens de aviso para que eventuais erros não sejam cometidos. Quase todos os campos para entrada de dados possuem uma janela de aviso para que não fiquem sem serem preenchidos. Fig. 8 - Exemplo de janela de mensagens de aviso Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 39 MARTINS, C. H. Análise não linear de estruturas tridimensionais de edifícios de andares múltiplos com núcleos resistentes, considerando a rigidez transversal à flexão das lajes. 2001. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. Fig. 9 - Exemplo de janela de mensagens de aviso. 4. CONCLUSÕES O programa computacional, desenvolvido e mostrado neste trabalho, é de fácil uso e serve como uma ferramenta adicional para o dimensionamento de estruturas de edifícios, o qual pode ser utilizado no curso de Engenharia Civil. 5. AGRADECIMENTO À FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - pelo apoio concedido. MARTINS, C. H. Contribuição da rigidez à flexão das lajes, na distribuição dos esforços em estruturas de edifícios de andares múltiplos, em teoria de segunda ordem. 1998. Dissertação (Mestrado) - Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo. NBR-6123 - Associação Brasileira de Normas Técnicas, Ações devidas ao vento em edificações. Rio de Janeiro, ABNT, 52p., 1980. PERRY, G.; HETTIHEWA, S. Aprenda em 24 horas Visual Basic 6.0. Rio de Janeiro: Campus, 1999. WANG, W. Visual Basic 6 para Dummies. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 6. REFERÊNCIAS BATOZ, J. L.; BATHE, K. J.; HO, L. W. A study of threenode triangular plate bending elements. International Journal for Numerical Methods in Engineering, v. 15, pp. 1771-1821, 1980. 40 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Ergonomia e Adequação entre as Medidas Antropométricas de Crianças e Mobiliário Escolar uma Revisão Ewerson de Godoy * Márcio Magini * Rodrigo Alvaro B. Lopes Martins * Resumo: Nos últimos dez anos, vários estudos vêm enfatizando a relação qualidade de vida e saúde com o trabalho. As experiências de trabalho no aspecto da produtividade, situações ambientais, entre outros fatores, abordam a preocupação atual sobre tal questão. Os conceitos mundiais atuais para otimização de produtividade nos ambientes de trabalho, devido ao impacto causado pelas características intrínsecas das tecnologias da atualidade, podem muitas vezes resultar em alteração da saúde e da qualidade de vida. Nos dias atuais, uma grande variedade de prejuízos podem estar relacionados a estes aspectos. Neste contexto, um importante aspecto a ser avaliado é a postura sentada, e sua relação com as estações ou locais de trabalho. Desde os primeiros anos de vida, indivíduos (crianças) são submetidos a passarem várias horas por dia, na escola, ou mesmo em casa, na posição sentada. Faz-se aqui uma revisão sobre as características da posição sentada, e os possíveis danos ou prejuízos relacionados a esta postura em crianças. Palavras-chave: Ergonomia, posição sentada, postura, tecnologia, crianças. Abstract: In the last ten years increasing attention was given to the relationship between quality of life and health at work. Experiences concerning productivity, environmental situations and health represent one of the subjects of ergonomics. The world concept of optimizing productivity in work environment due to the impact of new technologies may, sometimes, result in damage to the individual health and inferior quality of life. Presently, a wide range of injuries may be related to those aspects. In that context, one important aspect to be evaluated is the sitting position, and its relation to the workstations. Nowadays, from the very first years of life, individuals (children) are required to stay in a sitting position for many hours a day at school or even at home. Here we reviewed the characteristics of the seated position and possible damages or injuries related to that posture in children. Key words: Ergonomics, seated position, posture, technology, children. 1. INTRODUÇÃO Vários estudos vêm enfatizando a relação qualidade de vida e saúde com o trabalho. As experiências de trabalho no aspecto da produtividade, bem como situações ambientais, entre outros fatores, abordam a preocupação atual sobre tal questão. Os conceitos mundiais atuais para otimização de produtividade nos ambientes de trabalho, devido ao impacto causado pelas características intrínsecas das tecnologias da atualidade, podem muitas vezes resultar em alteração da saúde e da qualidade de vida (LACAZ,1999). * Professor da UNIVAP. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Qualidade de vida é entendida num espectro muito amplo, não sendo subentendida apenas pela presença ou ausência de saúde, tomando novo âmbito e relacionando-se também ao lazer, estresse, dados econômicos, moradia, relacionamento conjugal, vida sexual, profissão, entre outras (ZIEGLER, 1996). Com o aumento da exigência de produtividade, principalmente no ambiente de trabalho, várias mudanças ergonômicas foram necessárias. Com os espaços físicos cada vez mais reduzidos, o ser humano passou a se movimentar menos, ficando mais confinado em posições viciosas, o que muitas vezes o leva a reduzir sua qualidade física por estresse provocado por disfunções músculo-esqueléticas oriundas da inadequação em seu posicionamento. 41 Entre as inadequações assumidas pelo homem, algumas estão na postura sentada. A tecnologia industrial das cadeiras obteve um avanço muito elevado, porém o ser humano nem sempre tem medidas adequadas para se ajustar às características da cadeira escolhida ou mesmo oferecida para sua acomodação, como também não faz uso dos ajustes destes equipamentos em seu benefício, quer por dificuldade de manejo do equipamento, ou mesmo por desinteresse em atender suas necessidades físicas e correlacioná-las aos desajustes entre ele e o equipamento. Nos últimos tempos, os efeitos da postura sentada passaram a merecer progressivo interesse devido ao crescente número de sintomas músculo-esqueléticos (SME) associados a essa postura (DE VITTA, 1996; MAHAYRI, 1996). Por meio do mapeamento populacional dos SME é possível conhecer características de distribuições desses sintomas, e assim permitir maior controle dos efeitos deletérios causados pela postura sentada. A literatura aponta grande freqüência de SME em jovens. FILLINGIN et al. (2000) relataram esses sintomas, em jovens de 20 a 23 anos de idade, denotando acometimento precoce de agravos. A questão que se faz pertinente é: em que época da vida e em que população se faz necessário intervir sobre os agravos músculoesqueléticos provocados pela postura sentada? Os SME constituem, portanto, sério problema humano e econômico em todo o mundo, manifestandose em diversas regiões corporais e afetando milhares de pessoas, momentânea ou definitivamente, observandose um número crescente de pessoas envolvidas em problemas decorrentes desse sintomas (COURY; RODGHER, 1997; VERGARA; PAGE, 2001). 2. POSTURA A postura pode ser definida como a relação entre as partes do corpo com o centro de gravidade e sua relação com a base de apoio, sendo mais adequada quanto menor for o gasto energético para assumi-la. Para isso, fazemos uso de uma ação muscular coordenada e simultânea de forma automática de acordo com as informações posturais, e proprioceptivas recebidas, e, principalmente, pela manutenção de um tonus postural adequado (BRUSCHINI et al., 1998). É uma atitude global do corpo, quer esteja na posição ortostática, sentada, em movimento ou no trabalho, sendo que a adoção de uma postura adequada facilita a função muscular, ao mesmo tempo em que permite uma melhor função dos sistemas circulatório e respirató- 42 rio (BRIEGHEL-MÜLLER, 1987). É, ainda, a somatização do psiquismo, sendo uma linguagem corporal que representa os sentimentos interiores, do mesmo modo que a própria mímica facial, envolvendo uma relação dinâmica, na qual os sistemas do corpo, principalmente o músculo-esquelético, adaptamse em resposta aos estímulos recebidos, refletindo no corpo as experiências vivenciadas (KNOPLICH, 1986; BRACCIALLI; VILARTA, 2000). Quando se discute postura humana é necessário, primeiramente, analisar e conhecer quem é esse homem, entendendo-o e estudando-o sob todos os aspectos. Como se sabe, o ser humano é resultado do que lhe foi fornecido por herança genética e dos diversos estímulos provenientes do meio ambiente. Os estímulos são internos e externos, biológicos, sociais e ou culturais, momentâneos ou definitivos, os quais desencadeiam constantes adaptações (BRACCIALLI; VILARTA, 2001). No útero, o feto adota, quase invariavelmente, uma posição de flexão total, com a coluna em forma de “C”, cifótica, com a curva convexa da coluna repousando contra a curva da parede uterina. A cabeça, os braços e as pernas do feto estão fletidos sobre o tronco. Nesta etapa, todo o feto encontra-se suspenso no líquido amniótico, que tem um peso específico similar ao do feto, que sofre pouca interferência da força da gravidade, apresentando o único músculo de inervação voluntária, que está em atividade, ou seja, o músculo ileo-psoas, que permite o feto dar pontapés (KNOPLICH, 1985; KNOPLICH, 1986; JACOB et al., 1990; TACHDJIAN, 1995; GUIMARÃES et al., 1997; BRUSCHINI et al., 1998). Após o nascimento, o desenvolvimento da postura é afetado pelas forças constantes exercidas pela gravidade, e a criança vai adaptando-se a ela. Primeiramente a gravidade lhe é aplicada em um plano horizontal, tendendo a desenrolar a postura flexora da fase intra-uterina e a desenvolver o tônus extensor. O recém-nascido (RN) mantém seus ombros, cotovelos, quadris e joelhos em flexão, com seus membros levemente flexionados e rodados internamente. A criança repousa em uma posição quase horizontal, incapaz de suportar sua cabeça ou tronco. Apresenta uma grande e suave curvatura cifótica, mantendo seus ombros, cotovelos, joelhos e quadris em flexão, com poucos e desordenados movimentos dos membros. Tanto na posição prona como na supina, a força da gravidade está presente no plano horizontal, levando, gradativamente, a uma diminuição da flexão (TACHDJIAN, 1995; GUIMARÃES et al., 1997; BRUSCHINI et al., 1998). Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Percebe-se que mesmo com o predomínio da tonicidade flexora, quando em prono, tenta levantar a cabeça e com três meses de vida consegue mantê-la ereta. Aparece assim uma pequena curvatura lordótica na região cervical. Quando a criança começa a suportar sua cabeça e começa a se sentar, o peso combinado com a atitude de flexão persistente dos quadris e da flexão associada da pelve sobre a coluna produz uma longa curva convexa na região dorso-lombar. No estágio que antecede o ficar em pé, a curva convexa total do dorso é normal (TACHDJIAN, 1995; SANTOS, 1996; GUIMARÃES et al., 1997). Conforme vai adquirindo controle de tronco e uma maior capacidade de se mover independentemente (arrastar-se, engatinhar, ficar de joelhos e se pôr em pé apoiado em móveis), esta curvatura vai desaparecendo dando lugar à segunda curvatura lordótica na região lombar. O amadurecimento neuro-muscular que se manifesta no controle dos esfíncteres e dos glúteos inicia-se, permitindo que a criança fique em pé (KNOPLICH, 1985, 1986). Quando a criança inicia o ortostatismo, passa a sofrer ação da gravidade apesar de bom desenvolvimento dos extensores cervicais, do dorso e dos quadris, passando a apresentar acentuação da lordose lombar com protrusão abdominal. As curvas normais definem-se depois de completado o desenvolvimento neuromotor, permitindo a criança realizar atividades motoras de maneira independente da postura assumida, com boa coordenação e equilíbrio, melhorando a força dos músculos antigravitacionais (BRUSCHINI et al., 1998; TACHDJIAN, 1995). A partir da posição ortostática, a criança desenvolve uma série de habilidades relacionadas ao meio em que está sujeita, chegando ao final da adolescência com uma postura mais definitiva, que representa o estereótipo dos reflexos do seu desenvolvimento. 3. CONTROLE DA POSTURA Os conceitos de equilíbrio, de coordenação e de adaptação estão vinculados à postura, devendo ser aplicados a um determinado momento corporal e a uma determinada circunstância. A integração desses conceitos é realizada pelo sistema tônico postural, responsável pelo controle da postura, que nos permite sustentar o corpo, ativando os músculos de sustentação e estabilizando os segmentos responsáveis pela sustentação do corpo, para que os outros segmentos possam ser movimentados e equilibrar o corpo em sua base de sustentação (KNOPLICH, 1986; LUNDY-EKMAN, 1998; BRICOT, 1999; STOKES, 2000). O equilíbrio do corpo é obtido por processos biomecânicos e neuromotores, tornando necessário quanRevista UniVap, v.11, n.20, 2004 do o alinhamento do corpo necessita ser criado ou alterado previamente ao movimento voluntário de um membro, a fim de considerar as forças reacionárias do movimento pretendido, assim como fazer adaptações consecutivas, a partir do início do movimento, ou quando houver a necessidade de reagir às alterações do meio ambiente. A capacidade de manter o equilíbrio durante a execução do movimento, realizado na posição bípede ou em qualquer outro posicionamento, é primordial para o funcionamento eficaz do corpo no cotidiano. O equilíbrio da massa corporal durante os movimentos depende do trabalho muscular conhecido como ajuste postural. Esses ajustes variam de acordo com a atividade a ser realizada, a intenção do indivíduo, o contexto do meio externo dentro do qual está sendo executada a atividade e a morfologia do executante (SHEPHERD, 1998). A manutenção de uma posição desejada engloba a coordenação e o controle dos seguimentos corporais entre si e o controle desses seguimentos em relação ao meio ambiente. Essa manutenção baseia-se nas informações sensoriais, obtidas por meio de uma coordenação neuromuscular complexa entre o sistema sensorial e o motor. O controle postural possui dois objetivos comportamentais: a orientação postural, relacionada à manutenção da posição dos seguimentos com respeito aos outros seguimentos e ao meio externo; e o equilíbrio postural, relacionado ao equilíbrio das forças externas e internas que agem sobre o corpo durante as ações motoras (SMITH; WEISS; LEHMKUHL, 1997; MIDDLEDITCH; OLIVER, 1998; SHEPHERD, 1998; BRICOT, 1999; BARELA; POLASTRI; GODOI, 2000; BARELA et al., 2000; LUNDY-EKMAN, 1998). 4. A POSTURA SENTADA No início do segundo milênio, o conceito de trabalho e a natureza dessa atividade física mudaram enormemente de aspecto, tendo como característica marcante a multiplicação de atividades sentadas que substituíram as atividades em pé. Uma outra evolução da vida atual, o trabalho à distância, baseia-se totalmente nas transmissões a partir de uma estação de trabalho sentada, favorecendo e estimulando o imobilismo. O modo de vida atual impõe que passemos uma grande parte da jornada sentados em razão de nos deslocarmos em automóveis, de mantermos a posição sentada frente a um computador, às refeições ou ao lazer. Desta forma, a posição sentada foi identificada como um fator de risco para a saúde do indivíduo, levando vários terapeutas a se preocuparem em orientar a necessidade de intercalar esta posição com períodos de 43 marcha e repouso entre as obrigações de se sentar (VIEL; ESNAULT, 2000) Em se tratando da postura sentada, alguns autores demonstram os seguintes conceitos: De acordo com Orbone apud Caromano, Kayano e Tanaka (1992a), sentar-se é uma atitude postural rotineira em que as estruturas de sustentação e suporte do corpo são a coluna vertebral, a pelve e os membros inferiores e, na dependência do formato do mobiliário, o peso também pode recair sobre os ombros. Para Iida (2001), na posição sentada, praticamente todo peso do corpo é sustentado pela pele que recobre os ísquios, nas nádegas; e para manutenção dessa posição exige-se atividade do dorso e do ventre. O mesmo autor considera dois tipos básicos de posturas em assentos: ! Postura ereta: Em que a coluna vertebral fica na posição vertical e o tronco é sustentado pelos músculos dorsais. Facilita a movimentação dos braços e a visualização para frente. Essa postura pode ser fatigante para os músculos dorsais, que executam trabalho estático, principalmente se a cabeça for muito inclinada para frente. ! Postura relaxada: Assume-se uma postura ligeiramente curvada para frente ou para trás. O dorso não fica tão tenso, pois essa postura faz menos exigência dos músculos dorsais de sustentação. A posição sentada tem sido considerada como a posição na qual o peso do corpo é transferido a uma área de suporte, principalmente para as tuberosidades isquiáticas da pelve e para os tecidos moles que a circundam. A pressão na pele sobre a tuberosidade isquiática e coxa altera de acordo com a posição dos pés (SCHOBERTH, 1962). Dependendo da cadeira, da função e da postura, uma parte do peso do corpo também será transferido para o piso, assim como para os braços e para o encosto da cadeira. A pressão no ísquio é maior quando o apoio está sob os pés e é maior na coxa quando a perna está pendente (BUSH, 1969; CORLETT, 1989). Esta posição possui várias vantagens citadas a seguir: (1) proporciona a estabilidade exigida nas atividades que envolvem muito controle visual e motor; (2) consome menos energia que a posição em pé; (3) causa menos estresse sobre as articulações; e (4) diminui a pressão hidrostática da circulação dos membros inferiores, impondo uma nova configuração postural ao corpo humano (CHAFFIN; ANDERSON, 2001). Em 1964, Nachemson e Morris publicaram o primeiro conjunto de dados sobre medidas in vivo das pressões discais de indivíduos nas posições em pé e sentada. É importante comentar que a pressão sobre os discos na posição sentada é maior que a posição em pé, somente quando não há apoio do dorso. Anderson, Jonsson e Ortehngren, em 1974, completaram uma série de estudos sobre a medição da pressão intradiscal lombar, esclarecendo os dados obtidos anteriormente. Verificou-se que a posição sem apoio dorsal de menor pressão foi aquela em que a coluna vertebral era mantida de forma ereta (Fig.1). Fig. 1 - Medidas da pressão discal em pé e sentado sem apoio dorsal (ANDERSON; JONSSON; ORTENGREN, 1974). 44 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 As causas deste fato são: (1) um aumento no momento de carga do tronco quando a pelve é girada posteriormente e a coluna lombar e o tronco são girados anteriormente; e (2) a própria deformação do disco, causada pela retificação da coluna lombar. Esta deformação pode ter importância mecânica significativa para a resposta viscoelástica das unidades de movimento lombar durante a posição sentada. Para cada posição assumida pela coluna vertebral houve constatação da variação da pressão intradiscal (HEDMAN; FERNNIE, 1997). A posição sentada, na maioria das vezes, não resulta em relaxamento da musculatura corporal. Condições favoráveis somente serão alcançadas, nessa postura, quando a cadeira for perfeitamente adequada às características anatômicas do usuário. Além disso, o consumo energético, nessa posição, é de 3% a 10% maior em relação à posição deitada. Dentre as conseqüências ocasionadas por esta posição encontram-se alterações das curvaturas vertebrais, protrusão de cabeça, hipercifose dorsal, retificação lombar; aumento de 35% da pressão interna dos discos intervertebrais, levando à pressão assimétrica discal, convergência das costelas superiores com diminuição da amplitude de seus movimentos, diminuição da expansão diafragmática, estiramento das estruturas posteriores da coluna, além de exigir atividade muscular do dorso para manter esta posição que pode afetar a musculatura e a constituição ósteo-articular, principalmente da coluna vertebral e dos membros, resultando, a curto prazo, em dores que se prolongam (KNOPLICH, 1986; BASSO; LUZ, 1998; HELANGER; ZHANG, 1997; GRANDJEAN, 1998; BASSO; LUZ; VITTA, 2000; NASCIMENTO; MORAES, 2000; LIPPERT, 2003). Como na posição sentada podem existir situações variadas no posicionamento com e sem encosto, é importante ressaltar os aspectos biomecânicos dessas situações, uma vez que a posição estática assumida em algumas tarefas predispõe à fadiga muscular, estimulando reações de equilíbrio compensando cabeça, tronco e movimentos dos membros para alinhamento vertical (ZEDKA et al., 1998). O posicionamento adequado da postura sentada é facilmente alterado por meio de ações e movimentos compensatórios pertinentes ao ser humano, porque a manutenção prolongada dessa posição gera certo desconforto, o que favorece a mudança de posição. A coluna lombar e as extremidades, tanto inferiores quanto superiores, têm particular importância na biomecânica do sentar. A pelve, por estar instável na posição sentada sem encosto, assume uma inclinação natural para trás, sendo retida somente pelo estiramento do músculo reto femoral. A curvatura lombar tende a ser retificada, sob a influência da contração estática dos abdominais, que se contraem para manter o tronco ereto e às vezes podendo levar à cifose lombar, principalmente durante uma postura relaxada (RASCH; BURKE, 1982; GRIECO, 1986; MORO et al., 1997; CHAFFIN; ANDERSON, 2001; LIPPERT, 2003). A pelve deve suportar o peso igualmente sobre ambas tuberosidades isquiáticas. Assim, a coluna lombar fica ereta, exigindo adaptação da pelve e tronco durante a posição sentada, a menos que haja algum desvio estrutural (CAILLIET, 2001; LEROUX, 2002). A postura sentada tem sido dividida nas posições anterior, média e posterior, dependendo da tarefa e da cadeira (Fig. 2). Fig. 2 - A pelve e a parte lombar da coluna de um indivíduo quando: (a) sentado; (b) relaxado na posição sentada com sacro sem suporte na posição média; (c) sentado ereto com suporte para o sacro; (d) sentado na posição de inclinação anterior e (e) relaxado na posição sentada na postura de inclinação posterior (ANDERSON, JONSSON; ORTENGREN,1974). Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 45 Essa divisão é baseada no ponto em que está localizado o centro da massa corporal e afeta a proporção do peso do corpo transmitida para as diferentes superfícies de apoio. Na postura sentada média, o centro da massa está acima das tuberosidades isquiáticas da pelve, e quando o indivíduo está relaxado, a coluna lombar está retificada ou com uma pequena cifose. Na postura sentada anterior, a pelve roda para frente, mantendo a coluna ereta ou flexionando a coluna e causando uma leve cifose lombar. Também pode ser obtida quando o indivíduo se senta em uma superfície inclinada para frente, na qual um pequeno grau de lordose pode estar presente. Nessa posição, o centro de massa está na frente das tuberosidades isquiáticas e as pernas suportam mais de 25% do peso corporal. Já na postura sentada posterior, menos de 25% do peso corporal é suportado pelas pernas e o centro de massa está atrás das tuberosidades isquiáticas. Nessa postura ocorre rotação para trás da pelve e, simultaneamente, uma cifose da coluna lombar (KAPANDJI, 2000; CHAFFIN; ANDERSON, 2001). Em geral, a postura de um indivíduo sentado não depende somente do formato da cadeira, mas também dos hábitos pessoais de postura e da tarefa a ser desenvolvida. Posturas sentadas com inclinação anterior do tronco são adotadas mais freqüentemente quando se está realizando trabalho de escritório, como o de escrita, e na montagem de pequenos componentes, enquanto posturas com o tronco inclinado posteriormente são adotadas quando se está em cadeiras com encostos altos e que se inclinam. A altura e a inclinação do assento da cadeira, a posição, a forma e a inclinação do encosto e a presença de outros tipos de apoio influenciam na postura (TOREN, 2001). É claro que é importante não só providenciar cadeiras confortáveis, mas que também se adaptem às funções a serem desenvolvidas pelo seu ocupante. Medidas de conforto e desconforto na posição sentada foram baseadas na observação de posturas e movimentos do corpo de acordo com Wotzka et al., em 1969. Vários estudos indicam que um aumento de níveis de desconforto em indivíduos que realizam tarefas predominantemente na postura sentada é diretamente proporcional ao período permanecido nessa posição (MAGORA,1972; GRIECO, 1986; BENDIX, 1987). Sabe-se também que a origem do agente causador do desconforto é de grande importância, como foi mostrado nos estudos de Kelsey e Hardy, em 1975, que observaram o efeito da posição sentada em motoristas que passavam mais da metade do tempo de trabalho dentro de um automóvel, mas não foi possível identificar se a causa do desconforto era devido à posição sentada ou à vibração ou à combinação de ambos fatores. A postura sentada sem suporte coloca mais carga na coluna lombar que a posição em pé, pois cria uma inclinação para trás, uma retificação da coluna lombar e 46 um desvio correspondente do centro de gravidade para frente. Isso coloca carga sobre os discos e estruturas posteriores dos segmentos vertebrais. Ficar sentado durante longos períodos de tempo na posição fletida também pode alongar excessivamente e enfraquecer os músculos eretores da espinha (ANDERSON, JONSSON; ORTENGREN, 1974; SODERBERG, 1986; LINDH, 1989; PLOWMAN, 1992). A coluna vertebral é um dos locais mais acometidos por desconfortos músculo-esqueléticos decorrentes da posição sentada. A manutenção muscular para sustentação do tronco na posição sentada vem causando distúrbios em todos os segmentos da coluna vertebral. No entanto, as lombalgias e as lombociatalgias destacam-se, sendo altas as incidências na população em geral (MAHAYRI, 1996; VERGARA; PAGE, 2001). Manter o bom alinhamento do corpo na posição sentada pode reduzir ou prevenir dor associada com problemas relacionados à postura (KENDALL; MCCREARY; PROVANCE, 1995). O apoio para os membros inferiores durante a posição sentada distribui e reduz a carga sobre as nádegas e sobre a região posterior das coxas. Os pés deveriam ficar bem apoiados sobre o piso ou sobre um apoio. Desta forma, o peso das pernas não é suportado pelas coxas que repousam sobre o assento da cadeira. Caso seja aplicada pressão sobre a região posterior dos joelhos (região poplítea), pode haver edema das pernas e pressão sobre o nervo ciático. Bendix et al. (1985) observaram que o edema dos pés aumentou quando a altura do assento era elevada, mas não era afetado pelas alterações na sua inclinação. Quando a cadeira é muito alta, de forma a não possibilitar que os pés alcancem o solo, a pressão sobre a parte posterior das coxas torna-se desconfortável. Analisando as implicações da posição ou atitude sentada, surge a dúvida de como ocorrem os ajustes e adequações para a criança, principalmente na idade escolar, pois permanece sentada por várias horas. Há boa relação entre ela e o mobiliário escolar? Qual o esforço empregado para manter-se adequadamente sentada? O período em que os problemas da posição sentada eram resolvidos simplesmente fornecendo uma cadeira já terminou. A atenção para os detalhes no projeto, leiaute e método de trabalho está, cada vez mais, se dirigindo para um nível de maior exigência no que se refere ao ato de sentar. Para quantificar esta adequação faz-se necessária uma análise ergonômica e antropométrica na relação entre homem e mobiliário. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 4. A CRIANÇA E A POSTURA SENTADA Acredita-se que inúmeros fatores estão envolvidos no crescimento infantil, entre eles: a nutrição, o lazer, os hábitos posturais domésticos, a hereditariedade e as atitudes posturais admitidas na escola. Também, de acordo com Kisner e Colby (1998, p. 501): Na criança, bons hábitos posturais são importantes para evitar sobrecargas anormais em ossos em crescimento e alterações adaptativas em músculo e tecido mole. Para Karvonen, apud Caromano, Tanaka e Kayano (1992b), pessoas jovens em idade escolar constituem um dos maiores grupos populacionais engajados em uma atividade similar, e pouca atenção tem sido dada aos problemas ergonômicos do ambiente escolar. Afirma que hábitos posturais incorretos, quando adotados em fase precoce da vida, podem prejudicar a saúde e o desempenho de várias atividades. Considera que a postura adequada depende do mobiliário e da educação dos sujeitos ao desenvolver o trabalho sedentário. Dentro de um enfoque preventivo, Ferriani et al. (1996) consideram importante a participação da família, do setor educacional e da saúde na conscientização dos vários desvios posturais detectados entre crianças, em idade escolar, para que haja uma orientação correta e execução de exercícios físicos adequados para prevenção, manutenção e reabilitação dos males que afetam a postura. Demonstrando a crescente preocupação com as alterações posturais presentes em crianças ainda em idade escolar, e a necessidade da eliminação dos seus fatores causadores, alguns trabalhos foram publicados. Segundo Briguetti e Bankoff (1986), num contingente de 201 indivíduos, entre 1a e 4a série escolar, constatou-se uma incidência de 48 alunos com tendência à cifose postural, sempre havendo tendência dos ombros caídos. Dentro dessa mesma faixa etária, Neto (1990) verificou que, a partir da observação de 791 estudantes, de ambos os sexos, 17,4% apresentavam ombro-protusão, 15,2% pelve-antiversão e 24,8% joelho-retração. Mota (1991), que observou 102 alunos, de 11 a 16 anos, considerando sua postura na escola, também obteve resultados que sugerem a existência de insuficiências da postura e da capacidade muscular, pois constatou que 25,9% dos indivíduos do sexo masculino e 37,5% do sexo feminino apresentavam desvio no plano axial, a avaliação funcional, 29,9% das moças e 14,8% dos rapazes obtiveram resultado negativo e, com relação a forma do pé, 18,5% Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 e 22,9% dos rapazes e das moças, respectivamente, apresentaram alterações quanto à forma habitual do pé. Dentro do ambiente escolar e com o advento da vida moderna, a postura sentada vem sendo admitida com maior freqüência e por maior período de tempo, uma vez que as atividades de precisão e o trabalho mental tornamse mais presentes em detrimento ao trabalho físico. Nota-se, portanto, que esta atitude postural é assumida, por grande período de tempo, pelas crianças dentro das salas de aula, o que torna importante a necessidade de um mobiliário adequado para o desempenho das atividades escolares. Alguns estudos, no entanto, nos trazem algumas considerações. De acordo com Neto (1990), nas escolas é freqüente observar que, entre outros fatores, as carteiras escolares incomodam bastante a postura, pois nelas os alunos não conseguem encontrar uma posição adequada para enfrentar seu período escolar; a altura das mesas e cadeiras, às vezes, não se adaptam à sua estatura e as carteiras com braços também não possuem inclinação apropriada para permitir o apoio do cotovelo. De acordo com Gutierrez et al. (1992), em uma pesquisa realizada com estudantes de Conception, em Santiago do Chile, para avaliar o critério do desenho do mobiliário escolar, pôde-se detectar que os principais problemas estão relacionados à altura dos assentos, assim como à variabilidade de tamanho de mobiliários propostos, estimando-se que o mobiliário utilizado acomodaria apenas 10% dos estudantes avaliados. Observa-se que a postura da criança sofre grande transformação na busca de equilíbrio compatível com as novas proporções de seu corpo; trata-se, portanto, de um período de adaptações, em que a postura vai sendo adquirida de acordo com as atividades que ela está desenvolvendo. Parcells, Stommel e Hubbard (1999) concluíram, num estudo com 74 crianças, com idade de 10 anos e 11 meses a 14 anos e 3 meses, que menos de 20% adquirem adequação entre as dimensões de seu corpo e o mobiliário (cadeira/mesa) de sala de aula. Afirmam ainda que, sem a conformação apropriada do mobiliário, a postura sentada requer grande força muscular e controle para manter a estabilidade e o equilíbrio, o que pode resultar em grande fadiga e desconforto, promovendo maus hábitos posturais assim como queixa de dor em região cervical e dorsal, gerando condições não favoráveis ao aprendizado escolar. Com relação à ergonomia, Grandjean (1998) considera que seu alvo é o desenvolvimento do embasamento 47 científico para adequação das condições de trabalho às capacidades e realidades do trabalhador. Já, Dul e Weerdmeester (1998) relatam que as condições de insegurança, insalubridade, desconforto e ineficiência são eliminadas quando adequadas às capacidades, limitações físicas e psicológicas do ser humano, o que é feito pela ergonomia, no projeto de trabalho e nas situações cotidianas. Observa-se, portanto, que dentro de um enfoque ergonômico, é possível identificar a interação entre o mobiliário escolar e os sujeitos, constatando se há adequação entre as medidas antropométricas e ergonômicas, visando a eliminação dos fatores de riscos que podem levar à instalação de alterações posturais, ou seja, a prevenção. população, o que posteriormente passou a determinar as variações e os alcances dos movimentos. Atualmente, o interesse maior se concentra no estudo das diferenças entre grupos e a influência de certas variáveis como etnias, regiões e culturas (BOUERI, 1999; IIDA, 2001). Alguns fatores de variação já foram identificados, podendo saber que uma dimensão varia de acordo com a idade, com o sexo, com a origem geográfica, com o clima, com a época e com o meio social, porém não é correto sempre utilizar a média das medidas do corpo humano para o dimensionamento do local da atividade e do equipamento, pois, adotando essa conduta, os casos extremos da amostragem ficam impossibilitados de usufruí-los (LAVILLE, 1977; SERRANO, 1996; IIDA, 2001). 5. ANTROPOMETRIA A aplicação dos métodos científicos de medidas físicas nos seres humanos, buscando determinar as diferenças entre indivíduos e grupos sociais, com a finalidade de obter informações utilizadas nos projetos de engenharia, arquitetura, urbanismo, desenho industrial e de comunicação visual, e, de um modo geral, para melhor adequar esses produtos a seus usuários, denomina-se antropometria (BOUERI, 1999). O estudo das relações espaço-tridimensionais existentes entre o ser humano e o espaço que ele ocupa é realizado como se tratando de uma aplicação da engenharia à antropometria e denomina-se engenharia antropométrica. Para Hiba e De Luco (1981), é a utilização de medidas do corpo humano, com a descrição quantitativa das características principais, usando como base as estruturas anatômicas. Na ergonomia ocupacional, é utilizada para determinar medidas físicas do corpo humano, adaptando-as ao local da atividade, favorecendo as condições necessárias para sua realização com eficiência. Ao longo da história, as proporções do corpo humano foram estudadas por filósofos, artistas, teóricos e arquitetos. A antropologia física, que deu origem à antropometria, iniciou-se com as viagens de Marco Polo (1273-1295), que revelaram a existência de um grande número de raças diferentes, em termos de dimensões e estruturas do corpo humano. A partir de 1940 começou a haver necessidade de medidas antropométricas cada vez mais detalhadas e confiáveis. Por um lado, isso foi provocado pela produção em massa; por outro lado, surgiram muitos sistemas de trabalho complexos, em que o desempenho humano era crítico, sendo indispensável tomar todos cuidados durante o projeto desses sistemas. Nesse período, essas medidas visavam apenas determinar as grandezas médias da 48 Conforme Iida (2001), primeiramente deve ser estabelecido para que tipo de trabalho será realizada a antropometria, podendo ser de três tipos. A antropometria estática refere-se às medidas com o corpo parado ou com poucos movimentos. Deve ser aplicada ao projeto de objetos sem partes móveis ou com pouca mobilidade, como no caso de mobiliário em geral. Na antropometria dinâmica há medição dos alcances dos movimentos, em que o movimento de cada parte do corpo é medido, mantendose o resto do corpo estático. Outro tipo de antropometria é a funcional que está relacionada com a execução das tarefas específicas, considerando a conjugação de diversos movimentos para se realizar uma função. Dentre as técnicas de medição do corpo humano existem, basicamente, dois métodos a se considerar: o direto e o indireto, que são utilizados tanto para antropometria estática, quanto para a antropometria dinâmica. O método direto ou de contato ocorre quando há o contato direto do instrumento de medição com a superfície da pessoa que está sendo medida. Envolve dimensões lineares, curvilíneas, contornos bi ou tridimensionais, angulares, de peso e forças. As dimensões lineares tratam das distâncias mais curtas entre dois pontos do corpo, as quais incluem os comprimentos de ossos longos, larguras e profundidades do corpo, e as chamadas dimensões projetadas, ou seja, as alturas de vários pontos do corpo, como: altura total em pé, altura total sentada, altura do cotovelo, entre outras. Para se obter de forma simples as medidas do corpo humano, foram desenvolvidos diversos instrumentos constituídos de escalas graduadas e braços fixos ou móveis, tais como: réguas, trenas, fitas métricas, esquadros, paquímetros, transferidores, balanças, dinamômetros, compassos, goniômetros, eletrogoniômetros e outros instrumentos semelhantes. O método indireto trata dos recursos que possibilitam a obtenção de grande quantidade de dados brutos Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 ou detalhados, especificamente da antropometria dinâmica com a descrição e feitos dos movimentos. Uma variante desse método é a de traçar o contorno da sombra projetada sobre um anteparo transparente ou translúcido. São diversos os sistemas de tabulação do método indireto: mecânico, pneumático, óptico, elétrico e sonoro. O mais usual e acessível é o registro fotográfico dos movimentos, podendo ser por fotografia estática ou fotografia luminosa e com interrupção. 6. CONCLUSÕES De acordo com as informações aqui expostas, fica clara a necessidade de uma avaliação minuciosa através de estudos científicos com caráter regional, com o objetivo de determinar as características antropométricas das populações de crianças e adolescentes brasileiros e desenvolver “postos de estudo” adequados para os estudantes em suas diferentes etapas do crescimento. Tais estudos tornam-se fundamentais quando levamos em conta as reais possibilidades do desenvolvimento de comprometimentos futuros da estrutura músculo-esquelética dos futuros adultos, e as conseqüências que podem decorrer da má postura, uma vez que, nesta fase do desenvolvimento, as crianças chegam a passar um terço (1/3) do total de horas do dia nesta posição. 7. REFERÊNCIAS ANDERSON, G. B. J.; JONSSON, B.; ORTENGREN, R. Myoelectric activity in individual lumbar erector spinae muscles in sitting. Scand. Journal of Rehabilitative Medicine, v. 3, p. 91, 1974. BARELA, J. A. 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Além dos fatores físicos, também a manipulação do RN pelos profissionais para avaliação fisiológica e outros procedimentos necessários à sua assistência podem afetar o ciclo do sono e repouso. Este estudo tem como objetivo analisar as principais contribuições teóricas e científicas publicadas nos últimos 30 anos sobre o assunto. O presente estudo foi elaborado a partir do método descritivo exploratório, buscando-se extrair o conhecimento prévio e informações acerca da influência dos ruídos sonoros em neonatos em Unidade de Cuidados Intensivos. Palavras-chave: Incubadoras, neonatos, ruídos. Abstract: In intra-uterine life, there is an adequate environment that promotes pleasant characteristics for the fetus’s comfort. He/she is protected from several stimuli and traumas that may occur. The premature newborn or those who present other pathologies such as breathing deficiencies, congenital malformations and others that require intensive care remain in incubators. After birth, environmental factors such as light, sound and odors stimulate the nervous receptors transmitted through sensorial fibers. Those stimuli may cause irritability, increased activity, cardiovascular alterations and even hearing fatigue. Besides physical factors, the manipulation of the newborn by professionals for his/her physiological evaluation and other procedures needed for his/her assistance may affect the sleeping and resting cycle. This study has as its main objective the analysis of the main theoretical and scientific contributions published in the last 30 years on the subject. The present study was elaborated based on an explanatory descriptive method, searching for the extraction of the previous knowledge and information on the influence of noises in newborns at the Intensive Care Unit. Key words: Incubators, newborn, noise. Vivenciando situações nas atividades de enfermagem durante o tempo de experiência em Unidade de Cuidados Intensivos (UCI) Neonatal, pode-se observar o processo evolutivo das funções fisiológicas do recémnascido (RN) prematuro. Isto tem sido motivo de preocu- pação dos autores, cujo foco do seu cuidar estava voltado para muitos procedimentos críticos. Dentro deste contexto, estavam os neonatos frágeis, em estado grave na incubadora, num ambiente de muita agitação e ruídos sonoros, tais como vozes de funcionários, alarmes de aparelhos e alta freqüência de procedimentos médicos, visivelmente desconfortáveis para o bebê. * Professor(a) da UNIVAP. Umphred (1994) diz que as conseqüências fisiológicas relacionadas à sobrecarga sensorial devem orien- 1. INTRODUÇÃO 52 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 tar o tipo, a intensidade, a duração e a freqüência da intervenção em UCI Neonatal. De acordo com Seligman (1993), os fatores psicossociais mais freqüentemente ligados ao ruído são: agitação, ansiedade, tensão, fadiga, irritabilidade, labilidade humoral, estresse, isolamento, solidão, tristeza, depressão, auto-imagem negativa. Por outro lado, Oliveira, Costa e Cruz (1994) afirmam que a audição é uma sensação fundamental à vida, pois é base da comunicação humana. É por meio deste sentido que nos fazemos entender por outrem, nos relacionamos de maneira mais concreta, conhecemos e nos fazemos conhecer. A Organização Mundial de Saúde (OMS) revela que cerca de 1,5% da população dos países em desenvolvimento apresenta problemas relacionados à audição e consideram que o início do estresse auditivo se dá sob exposições a 55 dB (decibéis). A Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT 10152) estipula que, acima de 45 dB, o ruído é considerado como desconforto para ambientes hospitalares. Os níveis recomendados em berçário são de 35 a 45 dB. A audição humana está condicionada à recepção dos estímulos sonoros pelo aparelho auditivo. Tendo em vista que a audição normal é essencial para o desenvolvimento da fala e da linguagem nos primeiros seis meses de vida e do processo evolutivo da criança, é necessário prevenir todas as causas de alterações físicas (surdez), quando não for possível identificar as crianças com perda auditiva até três meses de idade, para que se inicie o tratamento antes de seis meses. No Brasil, o fracasso em identificar as crianças com perda auditiva resulta em diagnóstico e intervenção em torno de 3 a 4 anos de idade, o que tem levado a seqüelas definitivas no seu desenvolvimento psicomotor. Ramos (1999) relata que a experiência auditiva adquirida desde as primeiras semanas de vida forma a base para a aprendizagem e, ainda, que crianças com distúrbios da aprendizagem apresentam uma desordem em um ou mais processos psicológicos básicos na compreensão ou uso da linguagem falada ou escrita. Tamez e Silva (1999) alertam que o estresse produzido pelo ambiente hospitalar e procedimentos técnicos levam à alteração fisiológica do RN, tais como apnéia, bradicardia, diminuição da Pressão Parcial do Oxigênio (PO2), aumento da demanda calórica, tornando, assim, difícil para os prematuros ganharem peso, além de comprometer o desenvolvimento neurológico. Brunner e Suddarth (2000) advertem que muitos fatores ambientais têm um efeito adverso sobre o siste- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 ma da audição e, com o tempo, resultam em déficit auditivo sensorial permanente. O mecanismo mais comum é o déficit auditivo induzido por ruído, distúrbio que pode ser prevenido. O ruído pode alterar o sono do neonato, podendo interferir no seu crescimento e desenvolvimento, sendo os hormônios de crescimento responsáveis pelos ciclos reguladores de sono e vigília, atingindo seus picos durante o sono ativo. Almeida e Bernardes (2000) diz que o ruído é um fator da perda da tranqüilidade, afetando esse sono. Pressupondo-se que dentro de uma UCI Neonatal os níveis sonoros possam ser elevados, poderiam tornar-se insalubres para os neonatos internados por longo período de tempo, podendo causar-lhes alterações físicas, fisiológicas e/ou psicológicas inesperadas. De acordo com Costa e Marba (2003) a exposição a barulhos na unidade de cuidados intensivos pode resultar em danos cocleares; a exposição a ruídos e outros fatores ambientais na UCI pode alterar o crescimento e desenvolvimento do pré-termo (PT). Sabe-se que, por volta de 24 semanas, o feto já completou o desenvolvimento da cóclea e dos órgãos sensoriais periféricos. Conforme a sociedade Brasileira de Pediatria, de cada 1000 crianças que nascem, 3 são portadoras ou vão desenvolver deficiência auditiva, sendo que, para as que necessitam de tratamento em Unidade de Cuidados Intensivos, este número é de 2 a 4 por 100 nascimentos, a maioria dos quais desencadeados por causas que poderiam ser evitadas. Assim, os neonatos colocados em uma incubadora são submetidos a variações ambientais locais, tornando-se, potencialmente, perturbadoras e interferindo na saúde dos pacientes. Foi com base nestas observações que surgiu o interesse de aprofundar os conhecimentos sobre os tipos de alterações físicas, fisiológicas e psíquicas advindas da exposição prolongada do neonato em incubadora, em razão dos ruídos em unidades de cuidados intensivos. 2. OBJETIVO Este estudo tem como objetivo verificar e analisar as contribuições científicas, nos últimos 30 anos, sobre a pontecialidade do risco de ruídos sonoros, relativamente a neonatos, em Unidade de Cuidados Intensivos. 3. METODOLOGIA O presente estudo foi elaborado a partir do método descritivo exploratório, buscando-se extrair o conhecimento prévio e informações acerca da influência dos ruídos sonoros relativamente a neonatos em Unidade de Cuidados Intensivos. 53 4. CAMPO DE PESQUISA riesgos Y precuciones / Noises in neonatology: risks and precautions. Arch argent. Pediatr., v. 84, n. 4, p. 243-248, 1986. O levantamento bibliográfico para realização deste estudo foi feito nas Bibliotecas da Universidade do Vale do Paraíba (Univap), Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, Biblioteca da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), bem como em fontes pessoais e na Internet. ZACONETA C. M. et al. Neonatologia: A terceira onda In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE NEONATOLOGIA DO RIO DE JANEIRO, 2., 1997. Anais... Rio de Janeiro, 1997. 5. COLETA DE DADOS 6. PERÍODO Os dados foram coletados mediante pesquisa exploratória em fontes de literatura, seguindo-se uma ordem cronológica e ao mesmo tempo temática, observando-se um período de 30 anos (1969 a 1999). A busca abrangeu recurso de acervo bibliográfico nos locais explicitados no item Campo de Pesquisa. Tal coleta destacou as seguintes palavras-chave: RN, Incubadoras, ruídos sonoros, riscos físicos. Estas palavras deram oportunidade à obtenção de artigos e publicações em livros, revistas, textos eletrônicos, anais de congressos, manuais, boletins, folhetos, teses. Foram feitas pesquisas nas bases de dados MEDLINE, LILACS, PROQUEST. Dentre as obras pesquisadas, salientam-se as abaixo relacionadas, que mais diretamente contribuíram ao estudo realizado. Nesta pesquisa buscaram-se publicações científicas dos últimos 30 anos (1969 a 1999). Encontrou-se escassa produção científica sobre o assunto em particular, apesar do longo período estudado.Este trabalho não pretendeu esgotar o assunto existente na literatura nacional e internacional, apesar dos 30 anos revisados. Isto se justifica pela impossibilidade de receber em tempo hábil as publicações internacionais pesquisadas, sem descuidar de atingir os objetivos propostos com o material selecionado neste estudo. CARLOS, B. et al. Estructura fisica de los sonidos continuos y impulso en incubadoras infantiles de uso nacional./ Physical structure of continuous and impulse sounds in infantile incubators used in our country. Rev. Cuba. Peditr.; v. 58, p. 575-590. Sept-Oct. 1986a. CARLOS, B. et al. Characterización del ruído discontínuo em cuneros e incubadoras infantiles de uso nacional. Rev. Cuba. Pediatr., v. 58, n. 5, p. 593-605, SeptOct. 1986b. CARVALHO, A. P.; PEREIRA, L. F. Noise infant incubators and neonatal intensive care units Internoise, Acoustical Lab., Dep.of Civil Eng., College of Eng., Porto, Bragas, 1998. p. 4099. ELANDER, S. A.; WOODS, N. F. Reduction of noise levels in intensive care units for infants: Evaluation of an intervention program. Heart and Lung, v. 24, n. 5, p. 378-379, 1995. FASOLO, M.; MOREIRA, N.; ABATTI, P. Avaliação de nível de ruído em incubadora. J. Pediatr., Rio de Janeiro, v. 70, n. 3, p. 157-162, maio-jun.1994. GADEKE, R. et al. The noise level in a childrens hospital and the wake-up threshold in infantís. Acta Paediat. Scand., Stockholm, v. 58, p. 164-170, 1969. PATRICIO, L. et al. Los ruídos en neonatología: 54 7. DESENVOLVIMENTO DO ESTUDO Dentre as principais contribuições teóricas publicadas nos últimos 30 anos, encontraram-se 42 referências entre manuais, livros, revistas, boletins, textos eletrônicos, jornais, teses e anais, sendo 34 de conhecimentos gerais e 8 específicos sobre a ação dos riscos sonoros em neonatos em Unidade de Cuidados Intensivos. A definição existente é escassa, porém seu significado chega a um mesmo consenso entre os diversos autores. O que diferencia, no trabalho realizado, é o tempo cronológico em que se enquadram, mostrando assim algumas variedades na evolução dos conhecimentos, levando em conta a tecnologia existente e a poluição sonora do local. Gadeke et al. (1969), em uma pesquisa realizada com 126 crianças de três a seis semanas, revelam que o ruído de 70 dB foi incompatível com o sono: 66% das crianças estudadas despertaram com 3 minutos de ruído e todas, após 12 minutos. O limiar do despertar é mais alto nas crianças que nos adultos. O neonato tem capacidades sensoriais cognitivas e sociais fora do comum. Ele percebe, interage com, e aprende a partir do ambiente. Conforme Carlos et al. (1986a), em estudo sobre níveis sonoros em ambientes externo e interno de 3 incubadoras em Hospital materno-infantil, não descartaram riscos de efeitos inespecíficos com transtornos auditivos nas crianças internadas. Este estudo analisa que, atualmente, com as novas tendências tecnológicas outros fatores podem influenciar na medição. Mostraram a necessidade de um ambiente confortável para as crian- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 ças que necessitam de incubadoras. Em outro estudo paralelo, realizado sobre a operação das incubadoras, Carlos et al. (1986b) mostraram uma possibilidade de riscos ao efeito dos ruídos nos neonatos O ruído penetrando nas incubadoras causa efeitos psicossomáticos inespecíficos e transtornos auditivos nos neonatos internados. Patrício et al. (1986), em um estudo realizado com ruídos produzidos por motores de incubadoras (14 a 18) acoplados em oxigenoterapia, comprovaram que 70% das incubadoras estudadas superaram o limite máximo seguro de 58 (dB). A conduta cronológica dos níveis sonoros é importante para evolução dos equipamentos. Carvalho e Pereira (1998), em estudo realizado com a medição dos ruídos sonoros em incubadoras infantis em 3 áreas urbanas em Portugal, caracterizaram o ambiente acústico em duas situações: dentro e fora da incubadora. Na análise destes estudos os valores excederam de 14 a 16 dB em relação ao exterior da incubadora. Situações idênticas devem ser analisadas em outros países, usando este mesmo método em outros locais e tempos cronológicos diferentes, para que seja analisada a evolução. Zaconeta et al. (1997) realizaram um trabalho de Neonatologia (a Terceira Onda), com a finalidade de sensibilizar os professores de Saúde, chamando atenção acerca da importância do ambiente e outros fatores geradores de stress em neonatos, e efetuando uma revisão bibliográfica acerca de dor, luz e ruídos sonoros e a intervenção precoce em UTI Neonatal. Observaram que existe conceito errado de que a incubadora protege o neonato de todo o barulho e expressaram a intensidade de ruídos dentro da incubadora: conversar normalmente, 60 dB; borbulhar da tubulação, 75dB; bater com os dedos, 85dB; fechar a portinhola, 100 dB; derrubar a bandeja, 100 dB.É necessário promover um ambiente adequado, diminuindo a quantidade e a intensidade de estímulos excessivos e de ruídos. 8. CONCLUSÃO Este estudo revelou a necessidade da redução dos níveis de ruídos sonoros e as interferências negativas dentro da UCI Neonatal. Conclui-se, através deste estudo, que o neonato necessita de um ambiente confortável para sua recuperação. A prevenção tem como fundamento principal o diagnóstico precoce da perda auditiva e a intervenção necessária imediata. Portanto, é necessário avaliar o ambiente do neonato (incubadora), que é a próxima etapa de nossa pesquisa. Com este estudo pretende-se conscientizar os profissionais de enfermagem e da área da engenharia dos fatores que provocam ruídos sonoros dentro de uma UCI Neonatal. O Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 neonato necessita de cuidados humanizados, livres de barulho, aparelhos de monitorização silenciosos, para seu conforto dentro da incubadora, tendo em vista que a audição normal é essencial para o desenvolvimento nos primeiro seis meses de vida. 9. CONSIDERAÇÕES GERAIS Para atenuar a poluição sonora é necessário um programa de conscientização dos profissionais da Unidade de Cuidados Intensivos, ao mesmo tempo a fiscalização da manutenção e funcionamento dos aparelhos, nas compras de novos, levando em conta a sua intensidade sonora. Este estudo permitiu verificar a preocupação dos autores com a intensidade sonora presente nas unidades hospitalares neonatais e infantis. Isso tem motivado o desencadeamento de estudos destes autores no sentido de conscientizar os profissionais de UCI Neonatais para a importância de minimizar a poluição sonora nesse ambiente, mediante medidas de manutenção preventiva de equipamentos eletromédicos, fontes potenciais de ruído, assim como para o nível sonoro de conversas, manuseio de materiais, equipamentos e fatores do ambiente físico dessas unidades. Assim, entendese que este trabalho pode contribuir para o desenvolvimento de pesquisas futuras e despertar a atenção para os problemas físicos e psicológicos potenciais adquiridos da intensidade de ruídos nos indivíduos e nos recém-natos. 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, S.; BERNARDES, T. Rotina de UTI Neonatal. Rio de Janeiro: Médsi, 2000. ABNT 10152. Avaliação do Ruído para o conforto acústico. Dez/1987. ABNT 10151. Níveis de Ruído em áreas Habilitadas Visando o conforto da comunidade. Dez/1987. BRUNNER; SUDDARTH. Tratado de Enfermagem Médico Cirúrgica. 8. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. p. 1361. CARLOS, B. et al. Estructura fisica de los sonidos continuos y impulso en incubadoras infantiles de uso nacional./ Physical structure of continuous and impulse sounds in infantile incubators used in our country. Rev. Cuba. Peditr.; v. 58, p. 575-590. Sept-Oct. 1986a. CARLOS, B. et al. Characterización del ruído discontínuo em cuneros e incubadoras infantiles de uso nacional. Rev. Cuba. Pediatr., v. 58, n. 5, p. 593-605, Sept-Oct. 1986b. 55 CARVALHO, A. P.; PEREIRA, L. F. Noise infant incubators and neonatal intensive care units Internoise, Acoustical Lab., Dep.of Civil Eng., College of Eng., Porto, Bragas, 1998. p. 4099. CORAZA F. A. Manual de Curso e Dosimetria – CONESI, Consultoria e Engenharia de Segurança de Incêndio S/C LTDA. 2002. COSTA F. P.; MARBA T. S. O recém-nascido de muito baixo peso. São Paulo: Ateneu, 2003. (Atualizações Pediátricas). ELANDER, S. A.; WOODS, N. F. Reduction of noise levels in intensive care units for infants: Evaluation of an intervention program. Heart and Lung, v. 24, n. 5, p. 378379, 1995. FASOLO, M.; MOREIRA, N.; ABATTI, P. Avaliação de nível de ruído em incubadora. J. Pediatr., Rio de Janeiro, v. 70, n. 3, p. 157-162, maio-jun.1994. GADEKE, R. et al. The noise level in a childrens hospital and the wake-up threshold in infantís. Acta Paediat. Scand., Stockholm, v. 58, p. 164-170, 1969. OLIVEIRA, J. A.; COSTA, S. S.; CRUZ, O. L. M. Otorrinologia: Princípios e prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994. PATRICIO, L. et al. Los ruídos en neonatología: riesgos y precuciones / Noises in neonatology: risks and precautions. Arch argent. Pediatr., v. 84, n. 4, p. 243-248, 1986. 56 RAMOS, E. G. Detecção Objetiva da resposta no ECG de criança. 1999. Dissertação (Mestrado em Engenharia Biomédica), Universidade Federal do Rio de Janeiro. SANTCHEZ, R. S. M.; SANCHEZ, R. H. GONZALEZ, R. Nível de ruído en una institucion hospitalaria de asistencia e docência. Gac Med Mex, v. 132, n. 2, p. 127-133, 1966. SELIGMAN, J. Efeitos não auditivos e aspectos psicossociais no indivíduo submetido a ruído intenso. Revista Brasileira de Otorrinolaringologia.,v. 59, n. 4, p. 257-259, 1993. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Proposta de ação governamental para prevenção da deficiência Auditiva na infância e adolescência. Jun de 2003. 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O método consiste em medir as pressões atriais esquerda e direita, correspondentes a estados estacionários do sistema, e verificar se existe relação entre as duas pressões. A falta de correlação entre as pressões atriais significaria que as relações de Frank-Starling não seriam válidas para o sistema observado. Palavras-chave: Sistema cardiovascular, funções ventriculares, pressões atriais. Abstract: The theoretical bases of an experimental method for verifying the existence of the FrankStarling relationships in the intact cardiovascular system are presented. The method consists in measuring the right and left atrial pressures, for steady states of the system, and verifying whether or not there is a relationship between the two pressures. A lack of relationship between the atrial pressures would mean that the Frank-Starling relationships do are not valid for the observed system. Key words: Cardiovascular system, ventricular functions, atrial pressures. 1. INTRODUÇÃO O fato de que o débito cardíaco é função crescente do volume de sangue no coração na fase diastólica foi descoberto mediante experimentos com coração isolado de rã (FRANK, 1895) e posteriormente em experimentos com preparação coração-pulmão canina (PATTERSON et al., 1914). A relação entre o débito cardíaco e o volume de sangue no coração é chamada relação de FrankStarling, ou função ventricular. Desde sua descoberta, as relações de FrankStarling foram objeto de inúmeras polêmicas. Por exemplo, sua existência no sistema cardiovascular intacto foi questionada, com a alegação de que as relações tinham sido descobertas mediante manipulações, em laboratório, de corações isolados e não no sistema intacto (RUSHMER, 1955). Tal alegação foi anulada por observações das relações de Frank-Starling no sistema intacto, inclusive no homem, de modo que atualmente não há motivo para dúvidas, pelo menos para o coração normal. O papel desempenhado pelas relações de FrankStarling na equalização, a longo termo, dos débitos cardíacos, também foi questionado (RUSHMER, 1955; FRANKLIN et al., 1962). Porém, a argumentação apresentada em tais questionamentos é falha e, além disso, a demonstração matemática do papel desempenhado por aquelas relações na estabilização do sistema, publicada recentemente (UEHARA; SAKANE, 2003), responde a esse questionamento. Publicações recentes (SCHWINGER et al., 1994; HOLUBARSCH et al., 1996), que se contradizem a respeito da validade das relações de Frank-Starling para o coração com insuficiência cardíaca congestiva, dão atualidade, não apenas à questão da comprovação experimental da existência daquelas relações no sistema cardiovascular, como também à questão do papel por elas desempenhado na equalização, a longo termo, dos débitos cardíacos direito e esquerdo. Neste trabalho, mostra-se que a relação entre as pressões atriais direita e esquerda, correspondentes a estados estacionários, resulta, matematicamente, das relações de Frank-Starling para o corações direito e esquerdo. Este resultado constitui a base teórica de um método experimental extremamente simples para se verificar a existência ou não das relações de Frank-Starling no sistema cardiovascular. Argumenta-se que, por sua simplicidade, o método deveria ser aplicado sempre que houvesse alguma dúvida a respeito da validade das relações em discussão, como no caso da insuficiência cardíaca congestiva. * Professor(a) da UNIVAP. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 57 2. FUNÇÕES VENTRICULARES E RELAÇÃO ENTRE AS PRESSÕES ATRIAIS mental e da Equação (8) conclui-se que dQD/dpD > dQE/dpE Para o sistema cardiovascular valem as equações (UEHARA; SAKANE, 2003): dvE/dt = QP – QE (1), dvS/dt = QE – QS (2), dvD/dt = QS – QD (3) dvP = QD – QP (4), e em que vE é o volume de sangue no coração esquerdo, vS na circulação sistêmica, vD no coração direito e vP na circulação pulmonar. QE é o débito cardíaco esquerdo, Q D o débito cardíaco direito, QS o retorno venoso sistêmico e QP o retorno venoso pulmonar. Todos os volumes e fluxos sangüíneos nas Equações (1)-(4) são valores médios num período cardíaco. Para estados estacionários as derivadas temporais são nulas e o fluxo sangüíneo é o mesmo ao longo de todo sistema, i.e., QE = QD = QS = QP. As funções ventriculares ou relações de FrankStarling podem ser expressas na forma: QE = QE(pE) (5) QD = QD(pD) (6), e em que pE é a pressão atrial esquerda e pD a pressão atrial direita. Para estados estacionários pode-se escrever QE(pE) = QD(pD) Diferenciando a Equação (7) obtem-se (8). No plano cartesiano (pD, pE) a inclinação da tangente à curva de equação pE = pE(pD) é dada pela Equação (8). Medidas das pressões atriais, referentes a estados estacionários, mostram que o gráfico de pE em função de pD é aproximadamente uma reta cuja inclinação é dpE/dpD > 1 (BERGLUND, 1954). Deste resultado experi58 A desigualdade (9) mostra que a curva da função ventricular do coração direito é mais íngreme do que a do coração esquerdo, i.e, variações de um mesmo valor nas pressões atriais direita e esquerda produzem uma variação maior no débito cardíaco direito que no esquerdo. Em outras palavras, o coração direito é mais facilmente distensível que o esquerdo. Esta conclusão é confirmada experimentalmente (ZELIS; FLAIN, 1982; URSINO et al., 1994), o que constitui um fato favorável à Equação (8) e, conseqüentemente, à afirmação de que a relação entre as pressões atriais resulta matematicamente das relações de Frank-Starling. Considerem-se dois pontos (pDo, pEo) e (pD, pE) correspondentes a dois estados estacionários do sistema cardiovascular. Na aproximação linear a Equação (7) dá (dQE/dpE)o(pE – pEo) ≅ (dQD/dpD)o(pD – pDo) (10) donde (pE – pEo)/(pD – pDo) ≅ (dQD/dpD)o/(dQE/dpE)o (11), que é a equação de uma reta cuja inclinação em relação aos eixos das pressões é dada pela relação entre as derivadas das funções ventriculares. Na aproximação de segunda ordem a Equação (7) dá (dQE/dpE)o(pE – pEo) + (d2QE/dpE2)o(pE – pEo)2/2 ≅ (dQD/ dpD)o(pD – pDo) + (d2QD/dpD2)o(pD – pDo)2/2 (12) donde (dpE/dpD) ≅ [(dQD/dpD)o + (d2QD/dpD2)o(pD – pDo) ]/ [(dQE/dpE)o +(d2QE/dpE2)o(pE – pEo)]. (13). (7), que, implicitamente, dá a relação entre as pressões atriais esquerda e direita. dpE/dpD = (dQD/dpD)/(dQE/dpE) (9). Nesta aproximação, a curva dada pela Equação (12) afasta-se levemente da reta de Equação (11), sendo que a derivada dpE/dpD é dada pelas derivadas primeiras e segundas das funções ventriculares, como mostra a Equação (13). Procedendo de modo análogo podem-se obter, em princípio, aproximações de qualquer ordem para a função pE = pE(pD). Atualmente, diante das inúmeras observações experimentais, a validade das relações de Frank-Starling no sistema cardiovascular intacto é aceita de modo geral pela comunidade científica, pelo menos para o sistema normal. Porém, a aplicabilidade das relações de FrankStarling no caso de insuficiência cardíaca congestiva foi Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 recentemente colocada em dúvida por Schwinger et al. (1994). Por outro lado, Holubarsch et al. (1996) realizaram experimentos que mostram a validade daquelas relações para o coração com insuficiência cardíaca congestiva, mesmo em estágios avançados da doença. Diante dessas conclusões contraditórias seria interessante dispor de um método experimental simples para submeter a teste a hipótese da inaplicabilidade das relações de FrankStarling. A Equação (7) que dá a relação entre as pressões atriais esquerda e direita foi deduzida supondo-se a validade das relações de Frank-Starling. Portanto, a inexistência de relação entre as pressões atriais esquerda e direita, para estados estacionários, indicaria a inaplicabilidade das relações de Frank-Starling ao sistema observado. Isso sugere um método simples para submeter a teste a hipótese da inaplicabilidade das relações em questão. O método consiste em medir as pressões atriais esquerda e direita, para estados estacionários, e, no plano cartesiano, cujos eixos são as pressões atriais direita, pD, e esquerda, pE, indicar os pontos (pD, pE) referentes às medidas. A distribuição aleatória dos pontos seria indicação de que as relações de Frank-Starling não seriam válidas para o sistema observado. Por outro lado, a distribuição dos pontos (pD, pE) sobre uma curva, mostrando existir relação entre as pressões atriais pD e pE, indicaria a validade das relações de Frank-Starling. A demonstração matemática do papel das relações de Frank-Starling na estabilização do sistema cardiovascular foi publicada recentemente (UEHARA; SAKANE, 2003), considerando-se funções ventriculares na forma QE = QE(vE) e QD = QD(vD), i.e., tomando os débitos cardíacos esquerdo e direito como funções dos volumes de sangue nos respectivos corações. Como as medidas das pressões atriais são tecnicamente mais simples de serem feitas do que as medidas de volumes de sangue em cada coração, convém fazer uma mudança de variáveis. A mudança das variáveis vE e vD para pE e pD faz-se pela consideração de que as pressões atriais correlacionam-se com os volumes de sangue no respectivo coração, na fase diastólica. Podem-se então escrever vE = vE(pE) (14) vD = vD(pD) (15). e O volume de sangue contido no coração cresce com o aumento da pressão atrial até um patamar, pois o volume de sangue não pode aumentar indefinidamente, de modo que as derivadas dvE/dpE e dvD/dpD são positivas nos trechos ascendentes e nulas nos patamares das curvas respectivas. Das Equações (1), (3), (14) e (15) resultam Para conseguir diferentes estados estacionários do sistema cardiovascular, para a condição de repouso, pode-se utilizar um leito cuja inclinação relativamente à horizontal possa variar mecanicamente. Desse modo, a variação da posição da pessoa que está sendo estudada, em relação ao campo gravitacional, se realiza de modo passivo, sendo que a cada ângulo de inclinação corresponderá um estado estacionário. É preciso tomar precauções para não alterar a forma da função ventricular durante as medidas. Por exemplo, a forma da função ventricular não é a mesma para as situações de repouso e de exercício, e também certas substâncias, chamadas inotrópicas, podem modificar as funções ventriculares. 3. RELAÇÕES DE FRANK-STARLING E EQUALIZAÇÃO DOS DÉBITOS CARDÍACOS As relações de Frank-Starling acoplam as Equações (1)-(4) e esse acoplamento é essencial para a equalização, a longo termo, dos débitos cardíacos direito e esquerdo. Essa equalização é importante porque uma diferença continuada entre os débitos cardíacos é incompatível com a condição de vida. Por exemplo, se durante muito tempo o débito cardíaco direito for maior que o esquerdo ocorrerá congestão pulmonar, sendo que no caso inverso ocorrerá depleção pulmonar. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 (dvE/dpE).(dpE/dt) = QP – QE (16) (dvD/dpD).(dpD/dt) = QS – QD (17). e As Equações (2), (4)-(6), (16) e (17) dão (dvE/dpE).(dpE/dt) = QD – QE - dvP/dt (18) (dvD/dpD).(dpD/dt) = QD – QE - dvS/dt (19). e Durante uma perturbação transitória do sistema cardiovascular, os débitos cardíacos variam com o tempo, sendo suas derivadas temporais dadas por dQE/dt = (dQE/dpE).(dpE/dt) (20) dQD/dt = (dQD/dpD).(dpD/dt) (21). e Das Equações (18)-(21) obtém-se 59 d(QE – QD)/dt = (dQE/dpE)(QD - QE - dvP/dt)/(dvE/dpE) (dQD/dpD)(QE - QD - dvS/dt)/(dvD/dpD) (22). Desprezando, por simplicidade, as propriedades elásticas dos vasos sangüíneos toma-se dvP/dt = 0 = dvS/dt e a Equação (22) se reduz a d(QE – QD)/dt = - [(dQE/dpE)/(dvE/dpE) + (dQD/dpD)/ (dvD/dpD)](QE - QD) (23). A Equação (23) mostra que a diferença QE – QD decresce com o tempo, pois, na expressão do segundo membro, nenhuma derivada é negativa. Na aproximação linear a solução é QE – QD = (QE – QD)oe-αt cada intervalo. As medidas de Berglund (1954) mostram que a relação entre as pressões atriais é aproximadamente linear e pode ser representada por uma reta de equação pE ≅ 1.6pD (26). A Fig. 1 mostra a reta de Equação (26). As pressões atriais medidas estão, aproximadamente, nos intervalos 4.0cmH2O ≤ pD ≤ 22 cmH2O e 6.4cmH2O ≤ pE ≤ 35.2cmH2O, que correspondem ao trecho AB. (24), em que α = (dQE/dpE)/(dvE/dpE) + (dQD/dpD)/ (dvD/dpD) (25). A questão da possibilidade de a função ventricular decrescer, após atingir um máximo, foi motivo de polêmica durante muitos anos. A Equação (23) mostra que na hipótese de as derivadas das funções ventriculares assumirem valores negativos, a diferença entre os débitos cardíacos aumentaria cada vez mais, causando congestão pulmonar ou depleção pulmonar, com conseqüências fatais. Tem-se assim a demonstração matemática de que, dentro da faixa fisiológica de variação das pressões atriais, as funções ventriculares não podem ser decrescentes. 4. EXPERIMENTOS DE BERGLUND (1954) Berglund (1954) realizou experimentos com o objetivo de evidenciar o papel das relações de Frank-Starling na equalização, a longo termo, dos débitos cardíacos. Entretanto as medidas referem-se a estados estacionários do sistema cardiovascular e conseqüentemente não são suficientes para atingir o objetivo almejado por Berglund. Seria necessário analisar o comportamento do sistema em resposta a uma perturbação transitória que tirasse o sistema do estado estacionário, como mostrado matematicamente na seção anterior. Por outro lado, alguns resultados obtidos por Berglund são úteis para ilustrar a afirmação de que a relação entre as pressões atriais esquerda e direita decorre matematicamente das relações de Frank-Starling. Berglund (1954) estudou o sistema cardiovascular de cães anestesiados , através de experimentos em que o volume de sangue circulante foi aumentado em intervalos de tempo regulares (~1minuto), aumentando-se assim as pressões atriais desde níveis baixos até níveis elevados. As pressões atriais foram medidas no final de 60 Fig. 1 - Reta média referente às medidas de Berglund para as pressões atriais esquerda, pE, e direita, pD. Tomando-se na Equação (11) pEo = pDo = 0 e (dQD/ dpD)o/(dQE/dpE)o ≅ 1.6 , obtém-se a Equação (26). Dadas as funções ventriculares, pode-se deduzir a relação entre as pressões atriais, porém o problema inverso não tem solução única, pois, matematicamente, há uma infinidade de pares de funções ventriculares que podem dar a mesma relação pE = pE(pD). A título de ilustração, é interessante determinar um par de funções ventriculares que dão a relação expressa pela Equação (26). Supondo que as funções ventriculares possam ser aproximadas pelas expressões gaussianas A exp[ −(p E − a E ) 2 /(2σ 2E )], para p E ≤ a E ; QE = (27) A, para p ≥ a E E e QD A exp[ −(p D − a D ) 2 /(2σ 2D )], para p D ≤ a D ; = (28). A, para p ≥ a D D Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Supondo que ambos os corações trabalhem na parte ascendente da curva de função ventricular (pE < aE e pD < aD), e igualando os débitos cardíacos obtém-se das Equações (27)-(28): (pE - aE)2/σE2 = (pD - aD)2/σD2 (29), (27)-(28), obtêm-se as funções ventriculares a menos de um fator constante. Determina-se assim um par de funções ventriculares que dão a relação entre as pressões atriais encontradas experimentalmente por Berglund (1954). A Fig. 2 mostra as funções ventriculares para os corações direito e esquerdo. donde pE = (σE/σD)pD + aE - (σE/σD)aD (30). Das Equações (26) e (30) resultam: σE/σD = 1.6 (31) aE = (σE/σD)aD (32). e Para o ponto de inflexão na parte ascendente da função ventricular do coração direito, dado pela Equação (28), tem-se: aD - pD = σD (33), e supondo que pD = 4.0cmH2O (coordenada pD do ponto A na Fig. 1) resulta aD - σD = 4.0cmH2O (34). Com essa escolha, pode-se ver que a pressão atrial esquerda pE = 6.4cmH2O (coordenada pE do ponto A na Figura 1) também é o ponto de inflexão da curva de função ventricular do coração esquerdo, pois o ponto A representa um estado estacionário no plano cartesiano (pD, pE). Para que o ponto de máximo da função ventricular direita esteja acima do maior valor da pressão atrial pD medida, deve-se escolher aD maior do que pD = 22cmH2O (coordenada pD do ponto B na Fig. 1). Por exemplo, podese tomar aD = 30cmH2O Fig. 2 - Funções ventriculares QD(pD) e QE(pE). (35). Na Figura 2, a reta QE = QD = Q paralela ao eixo das pressões atriais intersecta as curvas de função ventricular direita e esquerda nos pontos D e E, de abcissas pD e pE, respectivamente. Para cada valor de Q tem-se um par de valores (pD; pE) que define um ponto na reta AB, representada na Fig. 1. Pode-se ver também que (dQD/dpD)D > (dQE/dpE)E o que está em concordância com a desigualdade (9). O pericárdio, membrana que envolve o coração, sendo pouco distensível, previne dilatações excessivas do coração. Mesmo normalmente, o pericárdio restringe um pouco a dilatação do coração, influindo no volume de sangue contido no coração. Berglund (1954) realizou experimentos com cães tendo o tórax aberto e com o pericárdio removido. A curva de pE em função de pD afastou-se levemente da reta, apresentando uma concavidade voltada para baixo, indicando uma derivada segunda d2pE/ dpD2 negativa. A função pE = pE(pD) pode ser dada aproximadamente pela Equação (12), que corresponde à aproximação de segunda ordem. Das Equações (31), (32), (34) e (35) resultam: σD = 26cmH2O (36) σE = 41.6cmH2O (37) aE = 48cmH2O (38). e 5. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA E RELAÇÕES DE FRANK-STARLING Schwinger et al. (1994) realizaram experimentos com corações extraídos de pacientes que tinham sido submetidos a transplante de coração, por apresentarem cardiomiopatia dilatada. Eles concluíram de seus experimentos que as relações de Frank-Starling não se aplicam no caso de insuficiência cardíaca congestiva. Incluindo os resultados (35)-(38) nas Equações Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 61 Eles não mediram os débitos cardíacos em função da pressão atrial, mas, de acordo com seus resultados, os gráficos dos débitos cardíacos em função das respectivas pressões atriais seriam retas paralelas aos eixos das pressões. Como para estados estacionários os débitos cardíacos devem ser iguais, as retas deveriam coincidir, numa superposição dos gráficos para os dois corações. Então, para cada valor de pD, haveria uma infinidade de valores de pE tais que QE = QD. Conseqüentemente, no plano cartesiano (pD, pE), os pontos não estariam sobre uma curva, mas estariam distribuídos aleatoriamente. esquerda e direita, para estados estacionários, pois a falta de correlação entre as duas pressões seria uma prova da não validade das relações em questão. As medidas das pressões atriais são muito mais simples de serem feitas do que as realizadas por Schwinger et al. (1994), não havendo, portanto, nenhuma razão de caráter técnico para deixar de fazê-las na observação do sistema cardiovascular intacto, se o objetivo é demonstrar a inaplicabilidade das relações de Frank-Starling. É difícil aceitar a afirmação de que as relações de Frank-Starling não se aplicam no caso de insuficiência cardíaca congestiva porque o único mecanismo conhecido que explica a equalização, a longo termo, dos débitos cardíacos direito e esquerdo baseia-se naquelas relações como foi demonstrado matematicamente por Uehara e Sakane (2003). Mostrou-se que a aplicação das relações de FrankStarling, a estados estacionários do sistema cardiovascular, resulta numa equação que relaciona as pressões atriais direita e esquerda, de modo que a observação da relação entre as pressões atriais evidencia a validade das relações de Frank-Starling. A análise teórica apresentada nas seções anteriores deste artigo sugere que, antes de se afirmar a não validade das relações de Frank-Starling, convém medir as pressões atriais, correspondentes a estados estacionários, e verificar se há relação entre elas. Em caso positivo deve-se desconfiar dos resultados que levem à conclusão de que as relações de Frank-Starling não se aplicam aos sistemas observados. Os métodos e procedimentos utilizados nos experimentos devem ser cuidadosamente analisados e os resultados comparados com outros experimentos. 6. CONCLUSÃO Argumentou-se que a medida das pressões atriais esquerda e direita, para diferentes estados estacionários, pode resolver dúvidas a respeito da validade das relações de Frank-Starling no sistema cardiovascular intacto. Se, no plano cartesiano, cujos eixos são as pressões atriais, os pontos, que representam as medidas, se distribuírem aleatoriamente, as relações não seriam válidas. Por outro lado, a distribuição dos pontos sobre uma curva, indicando a existência de relação entre as pressões atriais, comprovaria a validade das relações de Frank-Starling. 7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS No caso dos experimentos de Schwinger et al. (1994) os resultados estão em contradição com experimentos realizados por outros pesquisadores. Por exemplo, Holubarsch et al. (1996) realizaram experimentos com corações retirados de pacientes que tiveram o coração transplantado, por causa de insuficiência cardíaca congestiva, e seus resultados mostram claramente que as relações de Frank-Starling são válidas para o caso de insuficiência cardíaca congestiva, mesmo em estágios bastante avançados da doença. Diante da contradição entre as conclusões de Schwinger et al. (1994) e as de Holubarsch et al. (1996) o espírito crítico, científico, prefere aceitar os resultados de Holubarsch e colaboradores, que confirmam inúmeras observações do sistema cardiovascular intacto, além de não invalidar o único mecanismo que explica a equalização, a longo termo, dos débitos cardíacos direito e esquerdo. Os experimentos cujos resultados parecem levar à conclusão da inaplicabilidade das relações de FrankStarling no sistema cardiovascular investigado, deveriam necessariamente incluir medidas das pressões atriais 62 BERGLUND, E. Ventricular function VI. Balance between left and right ventricular output: relation between left and right atrial pressures. American Journal of Physiology, n. 178, p. 381-386, 1954. FRANK, O. Zur Dynamik des Herzmuskels. Zeitschrift für Biologie, n. 32, p. 370-447, 1895. FRANKLIN, D. L.; VAN CITTERS, R. L.; RUSHMER, R. F. Balance between right and left ventricular outputs. Circulation Research, n. 10, p. 17-26, 1962. HOLUBARSCH, C.; RUF, T.; GOLDSTEIN, D. J.; ASHTON, R. C.; NICKL, W.; PIESKE, B.; PIOCH, K.; LUDERMANN, J.; WIESNER, S.; HASENFUN, G.; POSIVAL, H.; JUST, H.; BURKOFF, D. Existence of the Frank-Starling mechanism in the failing human heart. Circulation, n. 94, p. 683-689, 1996. PATTERSON, S. W.; PIPER, H.; STARLING, E. H. The regulation of the heart beat. Journal of Physiology, London, n. 48, p. 465-513, 1914. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 RUSHMER, R. F. Applicability of Starling´s law of the heart to intact, unanesthetized animals. Physiology Review, n. 35, p. 138-142, 1955. SCHWINGER, R. H. G.; BÖHM, M.; KOCH, A.; SCHMIDT, U.; MORANO, I.; EISSNER, H. J.; ÜBERFUSH, P.; REICHART, B.; ERDMANN, E. The failing heart is unable to use the Frank-Starling mechanism. Circulation Research, n. 74. p. 959-969, 1994. URSINO, M.; ANTONUCCI, M.; BELARDINELLI, E. Role of active changes in venous capacity by the carotid baroreflex: analysis with a mathematical model. American Journal of Physiology, n. 267. (Heart Circ. Physiol., n. 36), p. H2531-H2546, 1994. ZELIS, R.; FLAIN, S. F. Alterations in vasomotor tone in congestive heart failure. Progress in Cardiovascular Diseases, n. 24, p. 437-459, 1982. UEHARA, M.; SAKANE, K. K. Physics of the cardiovascular system: an intrinsic control mechanism of the human heart. American Journal of Physics, n. 71, p. 338-344, 2003. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 63 Analysis of Two-Dimensional Analytical Solution of Forced Convection and Subcooled Flow Boiling in Tubes Élcio Nogueira * ** Lucilia Batista Dantas * Abstract: A two-dimensional analytical solution has been developed for steady state thermal entrance forced convection in tubes under constant heat flux and wall temperature boundary for two-phase subcooled boiling conditions. The theoretical results are compared with experimental findings. The non-equilibrium condition that occurs in the subcooled flow boiling was considered and comparisons of pressure drop, average fluid temperature and wall temperature obtained by experiments for flow boiling in vertical and horizontal systems, are made. A discussion for a further modification of the model to represent the most general situations in flow boiling is given. Key words: Subcooled flow boiling, forced convection heat transfer, laminar and turbulent flows, Integral Transform Technique. Análise da Solução Analítica de Convecção Forçada Bidimensional e Ebulição Sub-resfriada em Tubos Resumo: Solução analítica bidimensional para região de entrada térmica em tubos, em regime estacionário, sobre fluxo de calor e temperatura constante em regime bifásico de ebulição subresfriada. Resultados teóricos são comparados com resultados experimentais, e apresenta-se uma discussão sobre uma possível modificação do modelo para situações mais gerais em ebulição forçada. Palavras-chave: Ebulição sub-resfriada, convecção forçada em tubos, escoamentos laminar e turbulento, Técnica da Transformada Integral. K( R ) NOMENCLATURE Cp specific heat, kJ.(kg)-1.K-1 D tube diameter, m dp dz pressure gradient, N.m-3 function associated with the eigenvalue problem defined by Eq. (17a) l0 ( = rw ) Eh ( R ,u( R )) dimensionless thermal diffusivity defined by Eq. (11f) f0 ( r ) inlet temperature distribution, F( R ) dimensionless inlet temperature distribution defined by Eq. (11c) o C ln ( = 2rw ) m p r rw r * T (r , z ) * gα component of gravity acceleration k defined by Eq. (2d), m.s-2 thermal conductivity, W.m-1.K-1 T ∆T u( r ) reference length, m reference length, m mass flow rate, kg.s-1 pressure, N.m-2 radial coordinate, m channel wall position, m cavity radius temperature field, o C reference temperature, temperature difference, o C o C velocity field, m.s-1 * Professor(a) da UNIVAP. ** Pró-Reitor de Graduação da UNIVAP. 64 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Greek symbols thermal diffusivity, m2.s-1 α ε m ( R ,u( R )) turbulent diffusivity, m2.s-1 ε h ( R ,u( R )) eddy diffusivity, m2.s-1 φ (z ) Φ(Z ) µ ρ τw υ boundary condition source term. dimensionless boundary condition source term defined by Eq. (11d) or Eq. (11e) viscosity, N.s.m-2 density, kg.m-3 wall shear stress, N.m-2 kinematic viscosity, m2.s-1 Subscripts i ex o w iteration number experimental inlet wall Superscripts * reference 1. INTRODUCTION The purpose of this study is to present a new analytical two-dimensional solution, using the integral transform technique, to the problem of forced convection heat transfer in laminar and turbulent flows at the thermal entrance region of a circular duct and to demonstrate its consistence and its applicability for high subcooled flow boiling systems. Comparisons of pressure drop, average temperature and wall temperature obtained by experiments for boiling in vertical and horizontal systems has lead to further reliable modifications of the model. The modeling of subcooled boiling is of considerable practical interest for the analysis and design of two-phase flow boiling systems because of the higher heat transfer coefficients in two-phase boiling flows compared with single-phase convective heat transfer. Although, it is possible to write exact conservation equations from the first principle to represent the subcooled and saturated boiling, it is necessary to use simplified forms of the conservation equations for many problems of practical interest because the full set of equations tends to be time consuming. Another important problem is that their utilization is hampered by insufficient Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 knowledge of the constitutive equations required for closure and, in fact, the majority of thermo-hydrodynamic analytical studies involved the solution of onedimensional time dependent equations (YADIGAROGLU; LAHEY JR., 1976; ANDREANI; YADIGAROGLU, 1992). Normally, these one-dimensional models are divided into “Homogeneous” flow models and “Separated” or “Slip” flow models. In the homogeneous flow model the two phases are well mixed and the mixture is treated as a pseudofluid that obeys the usual equations of single-component flow. The separated flow model takes account of the fact that the two phases can have different properties and velocities (WALLEY, 1987). However, fluid dynamic and thermodynamic nonequilibrium in subcooled flow boiling have a strong influence on the heat transfer and one-dimensional models are not able to represent all important effects. For instance, two-phase flow boiling in a channel is inherently unstable and analytical modeling of these instabilities remain limited. Unless the non-equilibrium effects are not included in the one-dimensional models, it is impossible to predict their effects on the stability of a system. Therefore, one-dimensional models are not ideal for comparisons with experimental measurements because these models neglect the distribution of void fraction, velocity and temperature along the radial dimension. A steady state one dimensional model of boiling two-phase flow and heat transfer in a single triangular micro-channel were investigated by Peles and Haber (2000). A numerical simulation was carried out for the case of water flowing in a vertical channel of equilateral triangular cross-section. The results validate the basic assumption that vapor pressure along the micro-channel was almost uniform. Recently, experiments have been carried out to investigate the flow boiling heat transfer and visualize the associated bubble characteristics for refrigerant R-134a flowing in a horizontal annular duct having inside diameter of 6.35 mm and outside diameter of 16.66mm. The effects of the imposed wall heat flux, mass flux, liquid subcooling and saturation temperature of R-134a on the resulting nucleate boiling heat transfer and bubble characteristics were examined by Yin et al. (2000). Celata, Cumo and Mariani (1997) reported on experimental research with the critical heat flux (CHF) under subcooled flow boiling conditions in short tubes. The effects due to the variation of geometrical parameters such as diameter, wall thickness and heated length on the CHF were presented. They achieved that the CHF increases as the diameter decreases until a value of 0.7 mm, after this value the CHF is constant and independent of the channel diameter; the CHF is almost independent of the wall thickness. 65 The liquid supplied to flow boiling channels is usually in a subcooled state and it has been known that the nucleate boiling is usually initiated at some position where the core is in a subcooled state, and that the void fraction can rise to a considerable high value before the core liquid temperature reaches the saturation value (KYUTARO; TATSUHIRO, 1985). However, since the subcooled flow boiling is in a complicated non-equilibrium state involving the vapor bubbles and the subcooled liquid, the subcooled boiling process is not clarified in detail yet, and as a complex physical phenomenon is still not sufficiently well understood to allow reliable predictions of heat transfer and pressure drop (SPINDLER, 1994). Webb and Chen (1982) presented an analytical model considering radial geometry in a circular duct with upward vertical flow and solved the parabolic partial differential equations using a numerical method, and the solution method has been compared with analytical solutions of laminar and turbulent flows; comparisons with experimental data were made for dispersed flow heat transfer in post CHF flow boiling only. A two-dimensional two-phase non-equilibrium model was presented by Lai and Farouk (1993). The model attempts to predict nonequilibrium effects, that is, superheating near the wall and subcooling in the center, and the governing equations are solved using a finite difference scheme. 2. PRESENT MODEL Nogueira et al. (1995) developed a differential model concerned with the analytical solution of a hydrodynamically and thermally developing flow model for two-phase gas-liquid annular flow and heat transfer. The analytical methodology employed was developed from the well established integral transform method (MIKHAILOV; ÖZISIK, 1984; COTTA, 1993) and the associated eigenvalue problem was numerically solved through an extension to the so-called sign-count method (COTTA; NOGUEIRA, 1988), which yields as many eigenvalues as necessary without the risk of missing any of them. The velocity profile at the core of the flow is obtained using an iterative procedure and the mass balance is adequately closed when the discontinuity in the interface shear stress is allowed to exist. In the present work, we use a similar procedure to obtain the velocity profile and then to solve the heat transfer problem. In fact, the procedure of analytical solution adopted here is a particular case of the solution used for annular twophase flow model at the core (NOGUEIRA et al., 1995), with null void fraction; but, in the present case we do not have discontinuity in the shear stress because the wall is stationary and smooth. The iterative procedure adopted here for the 66 hydrodynamic field was not used with the single-phase heat transfer problem yet and we shall demonstrate its consistence using results from the open literature for the prescribed constant heat flux and prescribed constant temperature boundary conditions, at the wall of the duct. The results obtained for high subcooled boiling, with the application of the model, are compared with experimental findings. These comparisons permit the evaluation of the non-equilibrium solution in this kind of systems and demonstrate the limitations that exist on the onedimensional models; the results indicated the necessary modifications needed to validate the solution so that the model developed simulates the subcooled and saturated flow boiling systems with acceptable accuracy for practical applications. 3. THEORETICAL ANALYSIS A differential model has been here proposed for steady-state laminar and turbulent forced convection in the thermal entrance region of a circular duct, assuming a fully developed velocity profile. 3.1 Flow Problem Under the hypothesis of steady incompressible fully developed flow with constant fluid properties, the momentum equation for flow becomes: du( r ) Pr d , rE r , u ( r ) m = dr µ dr ( ) 0 ≤ r ≤ rw (1a) The boundary conditions are d u( r ) = 0, dr r=0 (1b) u(r) = 0 r = rw (1c) Direct integration of the system (1) provides the following expression for the velocity profile: 2 u( R ) = Prw 2µ ∫ ' ' R dR 1 R E ( R′,u( R′ )) (2a) m where R= → r dp ; P = − + ρgα ; gα = g sinα rw dz (2b-d) and Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Em ( R ,u( R )) = 1 + ε m ( R ,u( R )) (2e) υ Then, the shear stress may be computed from: τ( R ) = Prw R 2 ∫ 1 0 R 3 dR Em ( R ,u( R )) (4) A dimensionless velocity profile is defined as U( R ) = u( R ) Cu (5) where C is a parameter introduced to allow direct comparisons against previous works available in the literature and is given by C= u*max u where (6a) * u*max and u * may be obtained from Eqs. (2a) and (4). For laminar flow i.e., E m ( R ,u( R )) = 1.0 (6b) Prw2 * Prw2 and C = 2.0 (6c-e) ,u = 8µ 4µ The turbulent models adopted are extracted from the literature: ε m ( R ,u( R )) K Ku+ ( Ku + )2 ( Ku + )3 = e − 1 − Ku + − − υ E 2! 3! for y+ < 40 (7a). where K=0.407 and E=10, as proposed by Spalding (1961), and ε m ( R ,u( R )) K1 + y ( 1 + R )( 1 + 2 R 2 ) = 6 υ for y+ ≥ 40 (7b). Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 τw / ρ υ u+ = u( R ) τw / ρ (7c,d) 3.1.1 Method of Solution For laminar flow conditions, an analytical solution is available in the literature. For turbulent flow conditions, the velocity profile is obtained by an iterative procedure. In this case, the first approximation for pressure gradient is obtained by the use of Eq. (6d). The average velocity is obtained experimentally from the mass flow rate. Then, the local velocity is obtained from Eq. (2a), using the Adams-Moulton method (BOYCE; DIPRIMA, 1986), and the approximate theoretical average velocity is obtained from Eq. (4). By the comparison between experimental and theoretical average velocities and with the application of the bisection method for pressure gradient, the velocity profile is obtained with a prescribed accuracy. With a suitable pressure gradient, we have a theoretical wall friction factor given by the following equation: f = 2τ w ρu 2 (8) The theoretical friction factor, given by the Eq. (8), can be used for comparisons with those obtained from the empirical correlation reported by Bhatti and Shah (1987) in the form f ex = A + Then u*max = u* ( 0 ) = y + = ( 1 − R )rw (3) and the average velocity through the duct is obtained from Pr 2 u= w 2µ with K1=0.4, as obtained by Reichardt (1951). The related quantities are given by: B Re 1 / m where A = 0; B = 16; m = 1 for Re ≤ 2100 A = 0.0054; B = 2.3 × 10 −8 ; m = − 2 for 2100 < Re ≤ 4000 3 and A = 1.28 × 10 − 3 ; B = 0.1143; m = 3.2154 for Re > 4000 3.2 Heat Transfer Problem In addition to the assumptions pertaining to the flow problem, constant thermophysical properties are assumed and the frictional dissipation of energy, free convection, heat diffusion with respect to bulk transport in z-direction and thermal radiation effects are neglected. 67 Chung and Olafsson (1984) have been demonstrated that the contribution of radiative heat transfer can not be neglected in two-phase systems with moderate high saturation temperatures and high wall heat fluxes and, in these cases, the inclusion of radiation generally lowers the wall temperature by 15%. In the present work we consider, for comparisons with the model, only experimental results for low and moderate heat fluxes. and l0 = rw , l n = 2 rw (12a,b) Then, for prescribed temperature: ∆T = f 0 ( 0 ) − T * , T * = Tw ( z ); (13a,b) and for prescribed heat flux: The starting point of the analysis is the steadystate energy equation and for a hydrodynamically fully developed flow in a tube. The general dimensionless formulation of the problem is established through the following equations of energy and with the following inlet and boundary: l0 ln = 2 ∂θ ( R , Z ) CRU ( R ) = ∂Z ∂ ∂θ ( R , Z ) REh ( R ,u( R )) Z>0; 0≤ R≤ 1 (10a) ∂R ∂R θ ( R , Z ) = F ( R ), Z=0; 0≤ R≤ 1 (10b) ∂θ ( R , Z ) = 0, ∂R Z>0; R=0 (10c) T* ∂θ ( R , Z ) * α * l0 θ ( R , Z ) + = Φ ( Z ), + β Eh ∆T ∂R Z>0; R=1 where (10d) α * and β * are prescribed coefficients that account for the wall boundary conditions. The various dimensionless groups appearing above are defined as: Z= αz , uln2 (11a) T( r ,z ) − T* , θ( R,Z ) = ∆T (11b) F( R ) = f0 ( r ) − T * ∆T (11c) Φ( Z ) = Tw ( z ) − T * , ∆T (11d) φ ( z )l0 , k ∆T (11e) Φ( Z ) = Eh ( R ) = 1 + 68 Pr ε m ( R ,u( R )) Prt υ ∆T = T * = f 0 ( 0 ); φ( z )ln k (13c,d) The turbulent Prandtl number used in the present work is one of the most suitable for applications in engineering practice, suggested by Reynolds (1975). Prt = 1 − ( K u + )4 / 4! 1 + e K1u − 1 − K u + − ( K u + )2 1 1 2! − ( K u + )3 (14) 1 3! This formula is applicable for all values of Prandtl number and is valid for all radial positions. However, for the viscous sublayer we have used a constant value of Prt = 1.0, which is suggested by Direct Numerical Simulation (DNS) and reported by Kays (1994). The exact formal solution of the system (10) is obtained through application of the integral transform technique (MIKHAILOV; ÖZISIK, 1984; COTTA, 1993), as: θ ( R ,Z ) = ∞ ∑ i =1 1 l × f i + n C lo ψ ( µ i , R ) −λi2Z e × Ni 2 ∫ Z 0 g i ( Z ' )e where ψ ( µ i , R ) ≡ λi2Z' dZ (15) Ψi ( R ) , µi, f i , Ni and g i (Z ) ) are eigenfunctions, eigenvalues, transformed inlet conditions, norms and transformed source terms, respectively, given by 1 l µ i = n C l0 2 ∫ 1 ∫ 1 2 2 λi , (16a) f i = W ( R )ψ i ( R )F ( R )dR (16b) 0 N i = W ( R )ψ i2 ( R )dR , (16c) ψ ( 1 ) − K ( R )Ψ i ′(,1 ) g i ( Z ) = Φ * ( Z ) i α′ + β* (16d) 0 (11f) Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 with K ( R ) = RE h ( R ) (17a) W ( R ) = RU ( R ) (17b) The associated eigenvalue problem is proposed and solved by Nogueira et al. (1995). Nu( Z ) = h( z )ln ln Φ( Z ) = k l0 θ ( 1, Z ) − θ ( Z ) (23) For thermally developed flow (Z→∞) we then have (NOGUEIRA et al., 1995): l Φ( Z ) Nu H = n l0 θ 0 ( 1 ) (24) For prescribed wall heat flux boundary condition (∝* and β*) it becomes mandatory to express the solution and, for prescribed wall temperature we have (MIKHAILOV; in terms of separated solution from simpler problems ÖZISIK, 1984; ÖZISIK; COTTA; KIM, 1989): using a so-called “Splitting-up Procedure” which considerably enhances convergence rates. Thus, the l (25) NuT = 0 µ i2 solution becomes: ln (18) θ ( R ,Z ) = θ ( Z ) + θ Z ( R,Z ) + θ 0 ( R ) The local Nusselt number Nu ( Z ) is also predicted by the empirical correlation of Bhatti and Shah where the dimensionless average temperature is defined (1987), which is given by as 1 2Z + W ( R )F ( R )dR 0 θ( Z ) = C 1 W ( R )dR ∫ ∫ (19) C6 Nuexp ( Z ) = N ∞ 1 + 10 Z D ( ) (26a) 0 where The solution of the homogeneous problem within the thermal entry region, for θ Z ( R , Z ) , is obtained as θ Z ( R ,Z ) = ∞ ∑ i =1 ψ i ( R ) −λ i2Z g i( Z ) e fi − µ i2 Ni Then the solution for θ 0 ( R ) (20) 0.1 Z 3000 D C6 = 6 0.68 + 0.81 Re Pr z becomes (MIKHAILOV; ÖZISIK, 1984): R′ Φ ( Z ) R ∫ 0 W ( R )dR dR ′ − θ0( R ) = 1 ∫ 0 ′ K ( R ) W ( R ) dR ∫0 R′W ( R )dR ∫ 1 dR′ dR 0≤ R≤ 1 (21) − ∫0 W ( R )∫0R 0 ′ K( R ) From the temperature distribution, the heat transfer coefficient at the wall of the circular duct can be evaluated as: D for > 3, 3500 < Re < 10 5 and 0.7 < Pr < 75 (26b) Gnielinski’s correlation (KAKAÇ; YENER, 1995; KAKAÇ, 1991) has been selected to compare with the asymptotic values of the Nusselt number, since it covers a lower Reynolds number range. f ex (Re− 1000 )Pr 2 Nu∞ = , f ex 3 2 1 + 12.7 Pr − 1 2 ( ) for 2300 < Re < 5 × 106 and 0.5 < Pr < 2000 (27) 4. EXPERIMENTAL STUDY ∂T ( rw , z ) −k φ( z ) ∂r h( z ) = = T ( z ) − T ( rw , z ) T ( rw , z ) − T ( z ) or, in terms of the Nusselt number Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 (22) Fig. 1 is a schematic diagram of the vertical twophase flow loop, showing basic dimensions and instrumentation. Test fluid Freon-11 is supplied from a main tank pressurized by nitrogen gas. A thermostatically controlled immersion heater in the tank and a cooling unit before the test section provide an inlet temperature range 69 of -20 0C to 90 0C with a control accuracy of ±1.00C. Following the electrically heated test section is the recovery system consisting of a condenser and a collector tank. The mixture of saturated liquid and vapor is led through the condenser coil, which is cooled by refrigerated brine at 00C. The condensed liquid is then stored in a recovery tank which is maintained at constant pressure. Appropriate instrumentation is installed to provide control and measurement of the test parameters; namely, the flow rates, temperature, pressure and electrical heat input. All the tubing, except the recovery section, was made of 0.75 cm I.D. nichrome pipe and Freon11 was used as the test fluid due to its relatively low boiling point and latent heat of vaporization. Fig. 1 - Schematic drawing of the experimental vertical system. A detailed description of the vertical system and procedures used to obtain experimental results is given by Veziroglu and Kakaç (1983) and by Liu (1989). The horizontal experimental set-up is specially built to generate two-phase flow in horizontally arranged heater tubes (stainless steel, inside diameter=10.9 mm, length = 1060 mm). Basically, like a vertical system, the horizontal system consists of three major parts: (1) Fluid Supply; (2) Test Section; and (3) Fluid Recovery. The detailed description of the horizontal experimental system was made by Gavrilescu (1995) and Ding, Kakaç and Chen (1995), and all experimental results for horizontal system used in the present work were reported by Kunberger (1996). 70 5. RESULTS AND DISCUSSION 5.1 Flow Boiling 5.1.1 Vertical subcooled flow boiling system In this section, the results obtained by the analytical model described in this work were compared with the experimental findings obtained for the vertical boiling flow system described above. To demonstrate the validity of the model, we compare the values obtained for the outlet system pressure with the experimental results, Fig. 2. The obtained results are in good agreement for the cases without heat input and lower values of heat input. Higher difference was observed for relatively high Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 8) nominal heat inputs. In fact, higher differences were expected since the property variations with temperature along the heater and the compressibility of the fluid were not considered in the present model. However, the absolute difference between theoretical and experimental results is not so high because the experimental pressure drop in the heated section is low. In order to justify the difference observed, it is needed to consider that the experimental Reynolds numbers are lower than 15000 for all conditions and that the worst results obtained by the model have been in the laminar-turbulent transition region. Fig. 2 - Theoretical versus experimental results for heater outlet pressure for vertical system with different heat input conditions. The same qualitative observations are valid for the results presented in Fig. 3. In this case, we compare the variation of pressure along the heater. Again, the agreement between the results is good for low heat input and satisfactory for relatively high heat inputs. The theoretical values are higher than the experimental ones because the acceleration of the flow was not considered in the model. Fig. 4 shows the results for the fluid outlet temperature at the centerline, for constant heat flux boundary condition. For subcooled conditions, when mass flow rate is relatively high and the bulk temperature is not higher than the saturation temperature, the experi- Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 mental results and those obtained by the analytical procedure are in a very close agreement. However, when the mass flow rate decreases the fluid reaches the saturation temperature before the outlet, and the experimental values are lower than the theoretical values. With increasing heat flux this effect appears for higher mass flow rates and the position of incipient boiling shifts upstream of the channel. The difference observed can be explained by the fact that the theoretical model did not take into account the bubble growth at the wall or at the thermal boundary layer. In fact, part of the wall flux is needed for sensible heating and to activate the first nucleation sites. 71 Fig. 3 - Theoretical versus experimental results for local heater pressure for vertical system with different heat input conditions. Fig. 4 - Theoretical versus experimental results for heater outlet centerline temperature for vertical system with different heat input conditions. 72 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 The comparisons of the theoretical results with experimental findings of the average fluid temperature (Fig. 5) are satisfactory, even for relatively high heat flux conditions. However, the comparisons for wall temperature, Fig. 6, are not so good for all conditions and, in fact, for high heat fluxes the results are very different. These differences occur when the wall temperature reaches the so-called wall superheat and it exceeds the saturation temperature. At this point, bubble generation starts and a thin superheat liquid film exists next to the wall, where bubbles nucleate, grow and collapse. After this point the wall temperature remains constant, and the boundary condition of constant heat flux at the wall is not effective if bubble effects are not considered in the model. However, although in a nonequilibrium condition, the liquid bulk temperature is very much below the saturation temperature and the model is able to represent it. Spindler (1994) reported the work of Hahne, Spindler and Shen (1990) where the following simplified equation for wall excess temperature at incipient boiling was suggested: 1 1 − 2σTs ρ g ρl + T Tw = r* hlg (28) where hlg, σ, TS and r* are the latent heat of evaporation, surface tension, saturation temperature and cavity radius, 2σ * r respectively. The ratio represents the excess 2σ * r pressure in the vapors nucleus and for Freon-11 bar was found as best fit (SPINDLER, 1994). Fig. 5 - Theoretical versus experimental results for local average temperature for vertical system with different heat input conditions. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 73 Fig. 6 - Theoretical versus experimental results for local wall temperature with constant heat flux boundary condition assumed for all positions along the tube. Fig. 7 presents results of constant wall temperature boundary condition for all points beyond the incipient boiling point. For comparison between experimental wall temperature and wall temperature given by Eq. (28), which is used in the theoretical model, the local pressure is used to obtain the saturation temperature. In this case, the constant heat flux boundary condition was used to carry out the theorical analysis until the theoretical wall temperature reaches the wall temperature defined by Eq. (28). Then, with the new initial condition and local property values, the same procedure is used as described above to obtain the field of temperature. In fact, the wall temperature given by Eq. (28), which is used with the present procedure, is in good agreement with the experimental results of this work. However, when the comparisons for the average temperature are made (Fig. 8), with the new boundary condition considered, the theoretical average temperature is below the experimental one, and the difference between theoretical and experimental results is higher for relatively high heat fluxes. These results had been expected because, although the 74 energy excess for bubbles generation and growing was considered in the theoretical model, the presence of the droplets in the hydrodynamic and thermal boundary layers was not considered and it is known that the structure of turbulence in the hydrodynamic layer is modified by the presence of bubbles and that the temperature of the vapor near the wall is reduced because of the strong vaporization of the droplets flying in the thermal boundary layer (ANDREANI; YADIGAROGLU, 1994). In fact, Sato and Sekoguchi (1975) and Drew and Lahey Jr. (1981) demonstrated that the radial variations of the liquid-phase turbulence are strongly affected by the presence of the bubbles, and that the void fraction distribution across the flow channel is influenced by the changes in the size and number of bubbles generated. For upward cocurrent flow, Beyerlein, Cossmann and Richter (1985) demonstrated that the highest void concentration exists close to the wall of the channel and that this void concentration is associated with the radial bubbles distribution. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Fig. 7 - Theoretical versus experimental results for local wall temperature with constant excess wall temperature boundary condition assumed for positions beyond the incipient boiling position. Fig. 8 - Theoretical versus experimental results for local average temperature with different boundary conditions assumed for positions beyond the incipient boiling position. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 75 5.1.2 Horizontal Subcooled Flow Boiling System In this section we compared the results obtained by the analytical procedures described above with the experimental findings of Kunberger (1996). The comparisons made were qualitatively the same as those presented for vertical system, and the non-equilibrium condition has been represented by the model. However, because of the stratification observed in horizontal systems, described by Ding, Kakaç and Chen (1995), the present experimental results are more difficult to model. In fact, in Figs. 9 and 10, we have similar results to those obtained for vertical system. Fig. 9 - Theoretical versus experimental results for local average temperature for horizontal system with different heat input conditions. Fig. 10 - Theoretical versus experimental results for local average temperature with different boundary conditions assumed for positions beyond the incipient boiling position. 76 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 For the wall temperature (Fig. 11), the present model can not represent the difference observed between the top and bottom temperatures. Then, for horizontal systems it is necessary to consider a more realistic boundary condition, with suitable circumferential and axial variations. Fig. 11 - Theoretical versus experimental results for local wall temperature with constant excess wall temperature boundary condition assumed for positions beyond the incipient boiling position. 6. CONCLUSIONS We have demonstrated that the present model can be used for representing the steady-state single-phase thermal entrance forced convection process in tubes, for both boundary conditions, constant wall heat flux and constant wall temperature. In the single-phase case, the model gave good results for Reynolds numbers greater than 104 and for moderate Prandtl numbers. For the laminarturbulent transition region, Re < 104, the results are not very satisfactory, and for better results, it is necessary to consider turbulent models that are able to represent the flow for Reynolds numbers less than 104. It has been demonstrated that the same procedure used to represent the single-phase conditions can be used, as a first approximation, to represent two-phase flow boiling for high subcooled conditions, i.e., for conditions where the bulk temperature is less than the saturation temperature. In fact, for subcooled conditions, the present procedure is able to represent the bulk temperature with a good accuracy. However, when the wall temperature superheating is present, i.e., when the subcooled non-equilibrium effect Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 occurs and the bubbles nucleate, grow and collapse close to the wall, then it is necessary to consider these effects in the model in order to represent the wall temperature variation with good accuracy. In the present model we have considered the excess energy needed to nucleate the bubbles at the wall (non-equilibrium condition) and we have obtained good results for wall temperature variations. In order to obtain better results for other parameters, like bulk temperature, it is necessary to modify the present model. In fact, the present analytical procedure can be modified in order to give better results for two-phase flow boiling, subcooled and saturated conditions, if the compressibility, property variations, radial void fraction and radial bubbles distributions are considered in the model. This can be made with a modification in the procedure described above, by considering the nonlinearities in the system of equations using the Generalized Integral Transform Technique (COTTA, 1993) and then, by using suitable steady state conditions to represent the necessary initial conditions in order to study the two-phase twodimensional flow instabilities that occur in two-phase 77 flow boiling systems. 7. ACKNOWLEDGMENTS The first author wishes to acknowledge the financial support provided by CNPq of Brazil. He also acknowledges encouragement provided by Dr. Renato Machado Cotta. 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Palavras-chave: Ablação de tecidos orgânicos, Técnica de Transformada Integral, ultra-som de alta freqüência. Abstract: Simulation, through the Integral Transforms Technique, of heat conduction in organic tissue submitted to the generation of heat by a system off high-frequency ultrasound. The results obtained were compared to a model developed through the finite elements method, and by in vitro and in vivo experimental results. Key words: Heat conduction in organic tissue, Integral Transform Technique, high-frequency ultrasound. 1. INTRODUÇÃO 2. MODELO MATEMÁTICO Um sistema de ultra-som de alta freqüência pode ser utilizado como fonte de energia para tratamento de arritmias cardíacas (ZIMMER et al., 1995; PANESCU et al., 1995). Neste tipo de sistema ocorre a ablação do tecido orgânico próximo ao dispositivo transdutor (probe), e a extensão da necrose do tecido é função da potência e da freqüência do aparelho. A equação da energia para o problema unidimensional de condução de calor transiente, com geração interna, é representada genericamente por Panescu et al. (1995), Cotta e Mikhailov (1997): Neste trabalho apresentamos a simulação computacional de um processo de difusão de calor em tecidos orgânicos submetidos a um sistema de ultra-som de alta freqüência (TOLEDO, 1997). A solução matemática apresentada é exata e foi obtida pela aplicação da Técnica da Transformada Integral a um problema unidimensional em regime transiente, com geração de calor (PANESCU et al., 1995; COTTA; MIKHAILOV, 1997). Duas condições de contorno foram consideradas na comparação do modelo: temperatura prescrita e superfície isolada. ∂ 2 T( x, t ) ∂x 2 + g ( x , t ) 1 ∂T( x , t ) = α ∂t K (1.1) As condições nos contornos ficam representadas genericamente por (Fig. 1): α 0T + β0 ∂T = f 0 (t) ∂x (1.2) α1T + β1 ∂T = f1 ( t ) ∂x (1.3) e a condição inicial: T ( x ,0) = f ( x ) (1.4) * Ex-aluno do Curso de Ciência da Computação da UNIVAP. ** Professor e Pró-Reitor de Graduação da UNIVAP. 80 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Fig. 1 - Representação esquemática do problema genérico de condição de contorno. A distribuição de temperatura obtida pela aplicação da Técnica da Transformada Integral (PANESCU et T( x, t ) = al., 1995; COTTA; MIKHAILOV, 1997) é representada pelas equações: t 2 2 ' e −αβm t K (β m , x ) F(β m ) + e αβm t A(β m , t ' )dt ' m =1 t ' =0 ∑ ∫ (2.1) K (β , x ) α m g (β m , t ' ) + α K K1 f 0 (t ' ) + (2.2) ∞ em que A (β m , t ' ) = x =0 K (β m , x ) K2 f1 ( t ' ) x=L L F(β m ) = ∫ K(β m,x ' )dx ' (2.3) x =0 ' L g(β m , t ' ) = ∫ K(β m,x ' )g ( x ' , t ' )dx ' (2.4) x ' =0 A implementação do modelo foi obtida através do software Mathematica (Wolfram Research, 1992), considerando as condições apresentadas por Zimmer et al. (1995) e Panescu et al. (1995) em problema simulado através de um modelo bidimensional utilizando o método de elementos finitos. Os autores citados simularam o problema a partir de duas condições distintas na parede do dispositivo gerador de ultra-som (Fig. 2): temperatura do probe mantida constante e superfície isolada. Fig. 2 - Dispositivo gerador de ultra-som de alta freqüência (PANESCU et al., 1995). Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 81 Foram realizados testes in vitro e in vivo (Fig. 3), e os resultados experimentais foram utilizados para com- paração. Fig. 3 - Experimento in vivo (PANESCU et al., 1995). Além das condições citadas acima, neste trabalho analisamos uma condição adicional que permite troca de calor por convecção e/ou radiação, que ocorre quando o dispositivo gerador de energia não entra em contato com a superfície do tecido, como ocorre com sistemas de tecnologia a laser. x ≡ posição axial em relação à superfície de aplicação do probe; L = 5 cm; r0 = 1,15.10 −3 m; 2.1 Temperatura Constante r ≡ posição axial (r=0; na simulação unidimensional); Assumimos os valores apresentados por Zimmer et al. (1995): ρ = 1060 f 0 ( t ) = T0 = 37 0 C (3.1) f1 ( t ) = TL = 37 0 C (3.2) f ( x ) = 37 0 C (3.3) em que πr g ( x , t ) = 2α Fr I 0 e(−2α Fr x ) cos( ) r0 ' K = 0,5 ' m3 Cp = 3720 ; Kj . kg O Kernel (equação 2.1), neste caso, é representado por Cotta e Mikhailov (1997) e Cotta (1993): K (β m , x ) = (3.4) W 2 sin (β m x ) L (4.1) A autocondição para o problema é representada por: m0 C α ' = 6 é o fator de relaxação do dispositivo; I 0 = 20.10 4 sinβ m L = 0 W é o fluxo máximo na superfície do probe; (4.2) Logo, m2 5 ≤ Fr ≤ 30 MHz é a freqüência da fonte do ultra-som; 82 kg βm = mπ , para L m = 1,2,3,... (4.3) Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 2.2 Superfície do Probe Isolada neste caso, o autovalor é determinado por processos numéricos, e em x=0 temos que: Neste caso, o núcleo da solução ( Kernel ) é dado K (β m , x ) = 2 cos(β m x ) L (5.1) cos β m L = 0 (5.2) Logo, m = 1,3,5,... = (h r + h C )(T∞ − T) (5.3) 2.3 Condição de Convecção e/ou Radiação na Superfície do Tecido (7.1) em que (7.2) h c é o coeficiente de transferência de calor por convecção. Logo, −K mπ , para 2L x =0 h r = 4ξτT∞3 e a autocondição é estabelecida por: βm = ∂T ∂x −K por: ∂T = (h c + h r )T∞ − (h c + h r )T ∂x (8.1) que pode ser reescrita por: h totalT − K ∂T = h totalT∞ ∂x (8.2) ou A solução com condição de convecção e/ou radiação foi simulada utilizando os mesmos parâmetros dos problemas anteriores, porém não pode ser comparada, uma vez que não foi considerada por Zimmer et al. (1995). A solução é obtida da equação 2.1e o núcleo da solução é dado por: K (β m , x ) = 2 β 2m + H12 L(β 2m + H12 ) + H1 sen[β m (L − x )] (6.1) e a autocondição é: β m cot an (β m L) + H1 = 0 (6.2) T− K ∂T = T∞ h total ∂x (8.3) em que h total = H1 K (8.4) A condição analisada neste caso é uma generalização das anteriores, uma vez que podem ser simuladas tornando-se H1 = 0 (fluxo prescrito) ou H1 → ∞ ( temperatura prescrita). Apresentamos abaixo a comparação efetuada, considerando variação de H1, para os dez primeiros autovalores, e observamos a concordância para as situações consideradas anteriormente. Tabela 1 - Primeiros 10 autovalores para condição de contorno do 3o tipo Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 83 3. RESULTADOS Resultados foram obtidos através do modelo desenvolvido considerando as três condições citadas anteriormente. Inicialmente, (Fig. 4), apresentamos a distribuição da potência absorvida pelo tecido na posição axial, Equação 3.4, conforme apresentado por Zimmer et al. Os resultados demonstram que quanto maior a freqüência maior a potência absorvida pelo tecido próximo à superfície do probe, e conseqüentemente menor é a penetração. Fig. 5 - Solução unidimensional. Fig. 4 - Distribuição da potência absorvida pelo tecido na posição axial. As Fig. 5, Fig. 6 e Fig. 7 representam a fração de calor e o perfil de temperatura obtidos para condições de temperatura prescrita em diferentes freqüências. O resultado obtido, nestes casos, é qualitativamente similar ao obitdo através do modelo bidimensional. A diferença quantitativa observada é mais acentuada para altas freqüências. Esta diferença está de acordo com o fato de que a energia absorvida pelo corpo deve ser mais bem representada pelo modelo bidimensional, uma vez que a absorção no contorno ocorre em toda a área do probe. Entretanto, a comparação efetuada não é de todo conclusiva, uma vez que o valor da potência absorvida máxima ( I0 ) e o comprimento (L), na simulação bidimensional, não estão claramente definidos em Zimmer et al. Além disso, os autores da referência citada não explicitam as condições de contorno na direção axial, o que dificulta a análise comparativa. Fig. 6 - Solução bidimensional (ZIMMER et al., 1995). Fig. 7 - Comparação da solução unidimensional com a solução bidimensional. 84 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Outro fato observado na simulação, e esperado que ocorresse, pode ser observado através da Fig. 8, uma vez que, para uma mesma posição, fixando-se a freqüência, a temperatura sobe com aumento da intensidade da potência do probe. O comportamento do desenvolvimento da temperatura com relação ao tempo pode ser observado através da Fig. 9, durante os 60 primeiros segundos. Fig. 8 - Variação da potência do probe. Fig. 9 - Distribuição de temperatura durante os 60 primeiros segundos (Temperatura prescrita). Os resultados das Figs. 10, 11 e 12 demonstram que para a condição de superfície isolada as simulações efetuadas são qualitativamente equivalentes. Uma conclusão interessante, retirada da simulação, é que a energia absorvida pelo tecido decai mais rapidamente para altas freqüências. Esta característica do fenômeno está representada matematicamente através da equação 3.4, em que a freqüência aparece como fator preponderante na simulação do decaimento. A conseqüência física para Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 este fato é que a espessura limite de necrose do tecido é menor para maiores freqüências. Outro efeito analisado é o do crescimento da temperatura com o tempo, (Fig. 12), em que se pode observar que a temperatura aumenta significativamente próximo à superfície onde está sendo aplicado o ultra-som, em contraste com o caso anterior, em que ocorria uma distribuição mais homogênea da temperatura, com conseqüente maior penetração da energia gerada. 85 Fig. 10 - Solução unidimensional isolado em x=0. Fig. 11 - Solução bidimensional isolado em x=0. Fig. 12 - Distribuição de temperatura durante os 60 primeiros segundos (Isolado). A condição de contorno de 3º tipo (convecção e/ ou radiação) foi implementada com o valor do parâmetro H1 variando entre 0 (zero) e um valor relativamente alto (∞). Pode-se observar, Fig. 13, que as condições de temperatura prescrita e fluxo prescrito estão asseguradas quando se toma respectivamente H1 = 10.000 e H1 = 0. Do gráfico citado, Fig. 13, percebe-se que com H1 = 10.000 a curva torna-se um pouco sinuosa, como conseqüência da limitação do sistema utilizado na deter- 86 minação do número de autovalores necessários para a convergência. De fato, não foi possível utilizar o número adequado de autovalores para a convergência deste caso, em função da limitação de memória da versão do software utilizado e da baixa capacidade do sistema (16 Mbytes de memória RAM). Uma discussão detalhada destas limitações pode ser encontrada em Toledo (1997). Entretanto, a informação mais importante, que é a distribuição da temperatura próxima à superfície do tecido, foi garantida. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 A generalização efetuada demonstrou-se consistente e permitirá análise de situações em que ocorram processos de convecção e/ou radiação na superfície. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS COTTA, R. M. Integral Transforms in Computational Heat and Fluid Flow. Boca Raton: CRC Press Inc., 1993. COTTA, R. M.; MIKHAILOV, M. D. Heat Condution – Lumped Analysis, Integral Transforms, Symbolic Computation. London: John Wiley & Sons, 1997. Fig. 13 - Implementação de condição de 3o tipo com freqüência de 15 MHz. 4. CONCLUSÕES Com o modelo desenvolvido pode-se prever a potência limite do equipamento gerador de ultra-som, para uma dado tempo e freqüência, a partir do qual ocorrerá necrose a uma certa profundidade do tecido. Os resultados obtidos através da solução analítica apresentada estão compatíveis com resultados obtidos por outros procedimentos, e há uma consistência entre a solução implementada e os resultados físicos esperados. A comparação entre os modelos ficou prejudicada, e não pode ser mais bem analisada em função do desconhecimento de alguns parâmetros decisivos relacionados com o problema. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 PANESCU, D.; WHAYNE, J. G.; FLEISHMAN, S. D.; MIROTZINIK, M. S.; SWANSSON, D. K.; WEBSTER, J. G. 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IEEE Transactions of Biomedical Engineering, v. 42, n. 9, 1995. 87 Isolamento de Aspergillus Versicolor em Peças Anatômicas Conservadas em Solução de Formaldeído a 10% Wallace Ribeiro Corrêa * Cristina Pacheco Soares * Newton Soares da Silva * Resumo: O objetivo de nosso estudo foi identificar fungos filamentosos encontrados em peças anatômicas conservadas em solução de formaldeído a 10%, bem como verificar a resistência deles a diferentes concentrações de formaldeído. As amostras foram coletas em peças anatômicas humanas em solução de formol a 10%, com períodos de incubação que variam de 2 a 6 anos, inoculadas em Agar Sabouraud Dextrose (SDA) e incubadas a 25ºC durante 7 dias. Foram feitas análises macroscópicas e microscópicas das colônias obtidas. A avaliação da resistência foi através de teste MTT e analisadas através de leitor de ELIZA, Spectra Counttm PACKARD. Todos os isolados apresentaram características macroscópicas e microscópicas semelhantes à espécie Aspergillus versicolor. As concentrações de formaldeído de 2,5 a 15% não inibem totalmente o desenvolvimento do Aspergillus versicolor. Em face dos graus de risco para a saúde, apontados na bibliografia consultada, torna-se imprescindível a adoção de medidas preventivas de proteção para os usuários dos laboratórios de Anatomia. Palavras-chave: Aspergillus versicolor, Anatomia, formaldeído. Abstract: The aim of this study was to identify filamentous fungi found in anatomical pieces conserved in formaldehyde solution at 10%, as well as to verify the resistance of the same ones to different formaldehyde concentrations. The samples were collected in human anatomical pieces in formol solution at 10%, with incubation periods that vary of 2 to 6 years. Inoculated in Sabouraud Dextrose Agar (SDA) and incubated for 25ºC for 7 days. Were made macroscopic and microscopic analyses of the obtained colonies. The evaluation of the resistance was through test MTT and analyzed through reader of ELIZA, Spectra Counttm PACKARD. All the isolated ones presented macroscopic and microscopic characteristics similar to the species Aspergillus versicolor. The concentration of formaldehyde from 2,5 to 15% does not totally inhibit the development of the Aspergillus versicolor. Face to the risk degrees for the health, pointed in the consulted bibliography, it becomes indispensable the adoption of preventive measures of protection for the users of the anatomy laboratories. Key words: Aspergillus versicolor, Anatomy, formaldehyde. 1. INTRODUÇÃO Estudos sobre a invasão e o impacto de fungos a sistemas biológicos em ambientes fechados têm sido amplamente investigados, visto uma crescente preocupação da saúde dos ocupantes de habitações contaminadas, provocada pela exposição a esses agentes (PIECKOVA; KUNOVA, 2002; SANTILLI; ROCKWELL, 2003). Estudos indicam que a exposição prolongada e intensa a bioaerossóis de determinados fungos está associada com desordens dos sistemas nervoso central, respiratório e desordens das membranas mucosas e alguns parâmetros que pertencem ao sistema imune celu* Professor(a) da UNIVAP. 88 lar e humoral, sugerindo uma possível deficiência orgânica de competência imune (JOHANNING et al., 1996). Foi sugerido também que a exposição a combinações orgânicas voláteis produzidas pelos fungos possa ainda afetar saúdes humanas, causando letargia, dor de cabeça, irritação dos olhos e membranas mucosas do nariz e garganta (FISCHER; DOTT, 2003). Os fungos liberam ainda no ambiente esporos (SMITH et al., 1992) que estão entre os principais agentes alergênicos encontrados presentes em nosso ambiente durante todo o ano (WU et al.,1999; DALES et al., 2000; NIEDOSZYTKO et al., 2002). O Aspergillus é um fungo onipresente que causa uma variedade de síndromes clínicas no pulmão e pode agir como um poderoso alergênico (TOMEE; VAN; WERF, 2001; SOUBANI; CHANDRASEKAR, 2002). NorRevista UniVap, v.11, n.20, 2004 malmente são adquiridos pela inalação de conídios capazes de alcançar vias aéreas superiores e o espaço alveolar (BOZZA et al., 2002). O Aspergillus versicolor é presumido como agente preocupante, porque pertence às espécies freqüentemente encontradas em ambientes fechados (HODGSON et al., 1998; ENGELHART et al., 2002). Ambientes escolares com problemas de proliferação fúngica têm sido alvo de intensas pesquisas, visto um crescente relato de casos de alergias em alunos e professores. Quase sempre, os casos de alergias, como rinite, estão relacionados à exposição de grandes quantidades de esporos fúngicos suspensos no ar, fato esse nem sempre visualizado pelos alunos e profissionais da educação e que provoca um impacto negativo à saúde dos ocupantes de escolas contaminadas (SANTILLI; ROCKWELL, 2003). Mediante a grande preocupação relacionada ao desenvolvimento de fungos patogênicos em ambientes fechados e os problemas de saúde que esses agentes provocam, a nota de proliferação fúngica em peças anatômicas conservadas em solução de formol a 10% e relatos de alergias de origem desconhecida no laboratório de anatomia da UNIVAP foram os motivos para o desenvolvimento desta pesquisa, visto que a presença de fungos patogênicos em ambientes de trabalho é o suficiente para implicá-los como causadores de doenças, pois não são contaminantes naturais da rotina nos laboratórios de anatomia humana (ANDRÉ et al., 2000). A presença de fungos em peças anatômicas conservadas em solução de formaldeído a 10% utilizada em laboratório de anatomia humana é uma situação que contradiz Burke e Sheffner (1976) que afirmaram que as práticas de embalsamamento reduzem o perigo de transmissão potencial de agentes microbianos infecciosos dentro do ambiente imediato de restos humanos embalsamados. Com o objetivo de identificar fungos filamentosos encontrados em peças anatômicas conservadas em solução de formaldeído a 10% foram realizados procedimentos de isolamento e posterior identificação destes contaminantes. A análise da resistência deles a diferentes concentrações de formaldeído foi também realizada a fim de verificar a eficiência microbicida da solução fixadora de peças anatômicas. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.2 Inóculo das amostras As amostras foram inoculadas em placas de Petri (100x20mm) contendo 20 ml de Agar Sabouraud Dextrose (SDA) e incubadas a 25ºC durante 7 dias. Semanalmente foram feitos repiques e novas distribuições das colônias obtidas em placas de Petri contendo meio SDA, visando o isolamento e a uniformidade de novas colônias. Em fluxo laminar previamente esterilizado, com auxílio de uma alça de inoculação esterilizada em bico de Bunsen, foram feitos repiques nas colônias antigas, transferindo o material coletado diretamente para superfície do agar, no centro dos novos meios de cultura, disseminando os fungos para novas placas até que o isolamento total das colônias fosse confirmado. 2.3 Obtenção dos conídios Os conídios foram obtidos a fim de verificar o grau de esporulação dos isolados e também para avaliar a resistência dos conídios em diferentes concentrações de formol, através o método 3-(4,5-Dimethyl-2-triazyl)-25diphenyl-2H-Tetrazolium Bromide (MTT). Os isolados dos laboratórios de anatomia foram semeados por transferência de micélio, em placas de Petri contendo SDA, e incubados em temperatura ambiente por um período de 7 dias. Após este período, o micélio superficial foi raspado com espátula e lavado com água destilada estéril. O lavado obtido foi colocado em tubo de ensaio contendo PBS e homogeneizado em agitador de tubos, Marconi MA 162, e filtrado através de gaze e papel de filtro qualitativo Whatman nº 4. O filtrado foi centrifugado a 2500 rpm por 10 minutos e o sedimento ressuspenso em 1 ml de PBS. A contagem dos conídios foi feita em câmara de Neubauer. Para uso como inóculo, as suspensões de conídios obtidas dos isolados foram diluídas de modo a conter, aproximadamente, 16.000 conídios a cada 10µl de suspensão. A semeadura para testar a viabilidade dos conídios foi executada em fluxo laminar, com auxílio de pipeta automática, distribuindo-se 10 µl da suspensão diretamente em placas de Petri contendo 20 ml de SDA. As placas de Petri foram incubadas à temperatura ambiente, a 25ºC, controlados em estufa para cultura, Fanem Modelo 002 CB, durante o período de 7 dias. 2.1 Coleta das amostras 2.4 Métodos de análise e identificação As amostras fúngicas foram coletadas em peças anatômicas humanas em solução de formoldeído a 10%, com períodos de incubação que variam de 2 a 6 anos. As amostras provenientes das peças cadavéricas foram coletadas mediante técnicas assépticas e foram armazenadas e transportadas em tubos (1,5mL) Eppendorf estéreis para posterior processamento. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Para a identificação macroscópica das amostras foram realizadas análises através da observação direta das placas de Petri contendo as colônias isoladas, onde foram identificados: 1. a velocidade de crescimento; 2. o diâmetro da colônia no sétimo dia de desenvolvimento; 3. a coloração do micélio reprodutivo; 4. a coloração do reverso 89 das colônias; 5. a topografia; 6. a textura do micélio aéreo. Para a identificação microscópica foi utilizada a técnica de microcultivo em lâmina, segundo Koneman et al. (2001). Um bloco de SDA foi colocado com auxílio de uma espátula sobre a superfície central de uma lâmina e nele inoculada uma porção da colônia. Uma lamínula, aquecida rapidamente em um bico de Bunsen, foi colocada de imediato sobre a superfície do bloco de agar inoculado. Lâmina e lamínula foram acondicionadas em placa de Petri e incubadas à temperatura ambiente durante um período de 5 a 7 dias. Após este período, a lamínula foi retirada e colocada sobre uma gota do corante azul-delactofenol na superfície de outra lâmina. A análise foi realizada com auxílio do Microscópio Óptico LEICA DMLB, onde foram observados: 1. as estruturas hifálicas; 2. a presença de células pé; 3. conidióforos; 4. fiálides; 5. conídios. 2.5 Análise dos resultados Os dados obtidos com as características morfológicas e fisiológicas do gênero foram confrontados com os dados da Comissão Internacional em Penicillium e Aspergillus (ICPA). Após a comparação dos dados, pôde-se determinar o gênero e a espécie dos isolados das peças anatômicas. 2.6 Análise da resistência A viabilidade fúngica foi avaliada após 48h de exposição a diferentes concentrações de formaldeído com um rápido ensaio colorimétrico com sais tetrazolium (MTT) (LEVITZ; DIAMOND, 1985; MELETIADIS et al., 2000; STENTELAIRE et al., 2001), onde o MTT amarelo [3-(4,5-dimethyl-2-thiazol)-2,5-diphenyl-2H-tetrazolium brometo] foi clivado pelo metabolismo das desidrogenases dos fungos ativos, reduzindo a derivados formazan roxo que foram quantificados através de leitor de ELIZA, Spectra Counttm PACKARD, usando um comprimento de onda de absorbância de 570 nm. 3. RESULTADOS A investigação micológica revelou que as nove amostras isoladas de peças anatômicas conservadas em solução de formaldeído apresentaram as mesmas características fenotípicas macroscópicas (Tabela 1) e microscópicas (Tabela 2), que configuram um fungo oportunista da espécie Aspergillus versicolor. Tabela 1 - Característica macroscópica da colônia Caracteres mensurados Caracteres fenotípicos Velocidade de crescimento................... Diâmetro no sétimo dia ........................ Coloração do micélio reprodutivo........ Rápido 25 mm Branca, passando para amarelo, alaranjado e amadurecendo na coloração verde. Amarelo-claro, passando para alaranjado e finalizando em vermelho. Rugosa Pulverulenta Coloração reverso................................. Topografia............................................. Textura.................................................. Tabela 2 - Característica microscópica dos isolados Caracteres mensurados Caracteres fenotípicos Hifas........................................................ Células pé................................................ Conidióforos............................................ Vesículas................................................. Fiálides.................................................... Septadas hialinas, com septos uniformes Presentes Longos e lisos Piriformes / espatulato Bissieriadas, distribuídas esparsamente. radiadas, cobrindo a maior parte da vesícula Globoso para elipsoidal Conídios.................................................. A análise da resistência do Aspergillus versicolor a diferentes concentrações de formaldeído (Gráfico 1) demonstrou que depois de 48 horas de exposição, a inibição do desenvolvimento fúngico não foi total em nenhuma das concentrações mensuradas, demonstrando 90 ser o Aspergillus versicolor um fungo resistente a pequenas concentrações de formaldeído, sendo a concentração a 10%, utilizada nos laboratórios de anatomia humana, ineficiente para inibir o crescimento do fungo. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Desenvolvimento fúngico 120% 100% 100% 80% 50,2% 60% 34,0% 40% 27,4% 22,3% 17,2% 15,7% 20% 0% Controle Formol Formol 2,5% 5% Formol 7,5% Formol Formol 10% 12,5% Formol 15% Gráfico 1 - Avaliação da resistência, pelo método MTT, dos isolados fúngicos incubados por 48 horas em diferentes concentrações de formaldeído. Pode-se observar que o formaldeído não inibiu totalmente o desenvolvimento fúngico, em nenhuma das concentrações avaliadas, inclusive a utilizada no processo de fixação das peças anatômicas (formol 10%). 4. DISCUSSÃO piratórios, como bronquites e tosse (DALES et al., 1991). O isolamento de Aspergillus versicolor nas peças anatômicas conservadas em solução de formol a 10% em laboratórios de anatomia humana é um fato que deve ser tratado com cautela, visto os efeitos adversos à saúde que esses agentes podem causar, quando encontrados contaminando ambientes fechados (MEKLIN et al., 2002). O desenvolvimento de fungos do gênero Aspergillus em laboratórios de anatomia humana é o suficiente para implicá-los como causadores de doenças, pois não são contaminantes naturais da rotina nos laboratórios de anatomia humana (ANDRÉ et al., 2000). Além dos conidiósporos, este fungo libera ainda, no ambiente, propágulos fúngicos, que são partículas de tamanho consideravelmente menor que os esporos e que apresentam reatividade imunológica maior que a resposta induzida pelos esporos (FADEL et al., 1992; GORNY et al., 2002), contribuindo ainda mais para o desenvolvimento de possíveis problemas à saúde de alunos, professores e técnicos de anatomia. Estudos demonstram que a presença de Aspergillus versicolor em ambientes escolares está associada a uma erupção de doenças alérgicas das vias respiratórias, inclusive asmas e pneumonias de hipersensibilidade (HAVERINEN et al., 1999; JARVIS; MOREY, 2001). Além disso, o Aspergillus versicolor é um fungo com alto poder de esporulação, sendo seus conidiósporos potencialmente perigosos à saúde das pessoas expostas a eles (JUSSILA et al., 2002), podendo induzir respostas inflamatórias (MURTONIEMI et al., 2001). Experimentos verificaram que cobaias expostas a conidiósporos de Aspergillus versicolor desenvolveram casos de mesotelioma pleural e carcinoma pulmonar, demonstrando a periculosidade para a exposição ao fungo (SUMI; HAMASAKI; MIYAKAWA, 1987). Desta forma, a exposição dos alunos e conseqüente inalação de conidiósporos em laboratórios de anatomia humana torna-se perigosos à saúde dos ocupantes, visto que esporos fúngicos respondem por uma proporção significante das exacerbações de asma (DALES et al., 1991), renite alérgica (WU et al., 1999), sintomas resRevista UniVap, v.11, n.20, 2004 O Aspergillus versicolor é implicado ainda como produtor da micotoxina esterigmatocistina (LEPOM; KLOSS, 1998), uma micotoxina onipresente, precursora da aflatoxin B1, encontrada naturalmente em ambientes com problemas de proliferação de A. versicolor (TUOMI et al., 2000; SIVAKUMAR et al., 2001). Em estudos, Xie (1993) sugere que a esterigmatocistina seja um carcinógeno potencial em humano, induzindo mudanças significativas em células gástricas. Em estudos, Engelhart et al., (2002) quantificaram in vitro a produção de esterigmatocistina por A. versicolor isolados em tapete residencial e que a micotoxina poderia acontecer ocasionalmente em ambientes fechados. Nestes termos, a produção de esterigmatocistina também poderia ocorrer em laboratórios de anatomia, com problemas de proliferação de Aspergillus versicolor. De acordo com os dados apresentados, futuras investigações para comprovar a produção de esterigmatocistina pelos fungos isolados nos laboratórios de anatomia humana, bem como, pesquisas e investigações no campo da sistemática para promover uma compreensão das reais implicações a saúde, quanto eventuais exposições a micotoxinas em ambientes fechados (ROBBINS et al., 2000) devem ser realizadas a fim de garantir a segurança de todo 91 pessoal envolvido com o laboratório de anatomia humana. Ao se analisar o Gráfico 1, referente à resistência dos conidiósporos do A. versicolor em diferentes concentrações de formaldeído pelo método MTT, pode-se observar que o formaldeído não inibiu totalmente o desenvolvimento fúngico, em nenhuma das concentrações avaliadas, no período de 48 horas de exposição, demonstrando, assim, que a solução de formol a 10% utilizada no processo de fixação das peças anatômicas utilizadas no laboratório de anatomia é ineficiente para eliminar toda atividade microbiana, contradizendo Burke e Sheffner (1976) que afirmaram que as práticas de embalsamamento reduzem o perigo de transmissão potencial de agentes microbianos infecciosos dentro do ambiente imediato de restos humanos embalsamados. Mediante os resultados produzidos pelo método MTT, que avalia com segurança a viabilidade dos esporos fúngicos (MELETIADIS et al., 2000; STENTELAIRE et al., 2001), demonstramos que desinfecção pela solução de formaldeído a 10% não é total, uma vez que fungos do gênero Aspergillus foram encontrados contaminando as peças anatômicas. Estes dados vêm confirmar os resultados de Spicher e Peters (1976) em que demonstram que o gênero Aspergillus apresenta uma certa resistência aos efeitos antimicrobianos de determinadas concentrações de formaldeído. Isto sugere que estudos futuros deverão ser elaborados no desenvolvimento e adequação de novas fórmulas, visando o registro de melhores resultados na conservação das peças anatômicas e sua melhor desinfecção. 5. CONCLUSÃO De acordo com os objetivos estabelecidos e com os resultados obtidos podemos concluir que o desenvolvimento de A. versicolor em laboratórios de anatomia humana é um risco para saúde de professores, alunos e técnicos de anatomia, visto que o fungo está associado a diferentes patologias. Concluímos ainda que, devido à produção de esterigmatocistina pelo A versicolor, estudos futuros deverão ser realizados visando detectar a produção de esterigmatocistina dos isolados de laboratórios de anatomia com problemas de proliferação fúngica. O desenvolvimento e a adequação de novas fórmulas de fixadores, visando melhor desinfecção deverão ser elaborados, evitando-se o desenvolvimento de patógenos como A. versicolor, nas peças anatômicas. BOZZA, S.; GAZIANO, R.; SPRECA, A.; BACCI, A.; MONTAGNOLI, C.; DI FRANCESCO, P.; ROMANI, L. 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Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Caracterização de uma Célula Eletromagnética de Modo Transversal (Célula TEM) para Testes Biológicos Arnaldo José Marçal * Landulfo Silveira Junior ** Resumo: Os relatórios dos efeitos induzidos pelos campos eletromagnéticos, radiofreqüência (RF) e radiação de microondas (MO), provenientes de vários sistemas celulares, são cada vez mais freqüentes. Até agora, os mecanismos estudados não conseguiram explicar satisfatoriamente os efeitos biológicos destes tipos de irradiação. A telefonia celular é atualmente uma das maiores, se não a maior, causa de preocupações do público em geral, principalmente sobre os efeitos biológicos causados pelos campos eletromagnéticos. A cada ano, muitos consumidores, produtos industriais e aplicações fazem uso de alguma forma de energia eletromagnética. Um dos tipos de energia eletromagnética que é de importância crescente mundial é a energia de RF e MO, que é usada para propiciar os serviços de telecomunicações, radiodifusão e outros. Como conseqüência de sua evolução, as freqüências de transmissão estão cada vez mais elevadas, o que exige estruturas de transmissão menores (basicamente equipamentos), com o propósito de se obter uma distribuição homogênea do campo eletromagnético irradiado devido ao efeito de ressonância. Tal efeito torna inviável o campo eletromagnético propagado no modo transversal, causando freqüências de modo superiores ao desejado. A célula TEM ou linha coaxial retangular apresenta uma propagação homogênea em seu interior, livre de interferências externas com uma impedância característica próxima de 50 Ω. Este artigo apresenta uma proposta de projeto para uma freqüência de trabalho próxima a 1GHz com uma área útil de teste de 3,5 cm capaz de propiciar experimentos in vitro e in vivo em sistemas biológicos. Palavras-chave: Célula TEM, guia de onda retangular, compatibilidade eletromagnética, radiação de microondas, efeito biológico. Abstract: Reports on the effects induced by the electromagnetic fields, radio frequency (RF) and the microwaves radiation (MW) basically originated from mobile systems are more and more frequent. Until now there has been no satisfactory explanation of the biological effect mechanism of such irradiation. The mobile telephony is now one of the bigger, if not the biggest cause of concerns of the general public, because of the biological effects caused by the electromagnetic fields. Every year, many consumers, industrial products and applications make use of electromagnetic energy in some way. One type of electromagnetic energy that is growing in importance is the RF and MW that are used to promote telecommunication services, broadcasting and others. As a consequence of the evolution, the transmission frequencies are more and more elevated, which demands smaller transmission structures (basically, equipment) in order to obtain a homogeneous distribution of the irradiated electromagnetic field due to resonance effect. Such effect make the electromagnetic field spread in the transversal mode unviable, with frequencies appearing in a mode that is superior to that wanted. The TEM-Cell or rectangular coaxial line presents a homogeneous propagation in its interior, free from external interferences with na impedance close of 50 Ω. This work presents a project for a work frequency close to 1GHz with a useful testing area of 3,5 cm, capable of in vitro and in vivo experiments. Key words: TEM-Cell, rectangular wave guide, electromagnetic compatibility, microwave radiation, biological effect. * Mestrando em Engenharia Biomédica - UNIVAP 2004. ** Professor da UNIVAP. Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 95 1. INTRODUÇÃO O amplo espectro eletromagnético vem sendo progressivamente utilizado pelo homem nos últimos 100 anos, sendo que a maior parte desta utilização ocorreu depois de 1960 com o advento do serviço de radiodifusão pública, comunicações ponto-a-ponto e comunicações móveis. A dependência da sociedade moderna em relação aos equipamentos elétricos e eletrônicos tem sido cada dia mais evidenciada. Alguns estudos na área de epidemiologia têm sugerido que a exposição do ser humano aos campos eletromagnéticos não-ionizantes tem sido um dos fatores responsáveis pelas alterações nas atividades das células dos organismos vivos, bem como, pelo eventual aparecimento de doenças (CLEARY; CAO; LIU, 1996). Atualmente existe uma gama muito grande de pesquisadores desenvolvendo uma série de trabalhos com a finalidade de definir a real conseqüência da interação do campo eletromagnético com o organismo humano, sem que ainda se tenha conclusão satisfatória (VELIZAROV; RASKMARK; KWEE, 1999). Assim, o conhecimento dos efeitos biológicos ao organismo humano destas irradiações provenientes das mais diferentes fontes é de interesse de todos. A proposta deste artigo é o de apresentar um projeto de uma célula eletromagnética de modo transversal para experimentos biológicos in vitro e in vivo. A célula eletromagnética de modo transversal (célula TEM) fundamenta-se no comportamento dos campos elétrico e magnético em seu interior, sendo o campo interno desta célula caracterizado como aberto, isto é, na prática, o elemento em teste está submetido a um campo constante. Esta condição caracteriza um campo em um espaço aberto para uma determinada freqüência, sendo dada pelo modo de propagação TEM, em que o campo é a representação da soma dos vetores de campo elétrico (E) e magnético (H) (CRAWFORD, 1974). As Células TEM (Fig. 1) são dispositivos que estabelecem padrões eletromagnéticos em um ambiente controlado, prevenindo que a radiação de RF se propague através do meio ambiente, provendo uma isolação elétrica. A Célula TEM consiste de uma linha coaxial retangular com suas extremidades afuniladas, permitindose adaptar os conectores de entrada de RF. Um campo TEM é propagado em seu interior. As Células TEM são usadas para testes de emissão de radiofreqüência de pequenos equipamentos, para calibração de sondas de RF e para experiências biomédicas (CRAWFORD; WORMAN; CURTIS, 1978). Com base nas considerações apresentadas aci- 96 ma, pretende-se desenvolver uma Célula TEM na qual se possa realizar testes biológicos in vitro e in vivo em diferentes condições experimentais (por exemplo, cultura de células, pequenos animais, equipamentos biomédicos de pequeno porte), tanto em sua susceptibilidade como também em sua irradiância, aspectos estes que estão na origem da discussão dos eventuais riscos ou danos à população usuária dos referidos sistemas. 1.1 Ondas eletromagnéticas em meios confinados Em sua concepção mais ampla, um guia de onda, um dos meios de propagação da onda eletromagnética confinada, é um sistema de transmissão capaz de orientar a propagação da onda eletromagnética entre dois pontos. Nas faixas de microondas, tradicionalmente, descreve-se como forma mais comum de guia de ondas um tubo metálico oco, dentro do qual a onda se propaga por múltiplas reflexões, desde seu ponto de excitação até a carga. As linhas de transmissão, um outro meio de propagação das ondas eletromagnéticas em meio confinado, podem ser de muitos modelos e formas. É conveniente classificar as linhas de transmissão com base nas configurações do campo, ou modos, que elas podem transmitir. Assim, as linhas de transmissão podem ser divididas em dois grupos principais: a) aquelas capazes de transmitir nos modos eletromagnéticos transversais (TEM); b) aquelas capazes de transmitir somente nos modos de ordem superior. Em um modo TEM, tanto os campos elétricos como os magnéticos são inteiramente transversais à direção de propagação. Não há nenhuma componente de campo elétrico (E) ou campo magnético (H) na direção de propagação. Os modos de ordem mais alta, por outro lado, sempre têm, pelo menos, uma componente do campo na direção de propagação. Todas as linhas de dois condutores, como as linhas de transmissão coaxiais ou paralelas, são exemplos dos tipos que propagam no modo TEM, enquanto os guias de ondas ocas de condutor único ou varetas dielétricas são exemplos dos tipos que propagam em modo superior. Na discussão anterior, usamos o termo “linha de transmissão” como uma expressão geral. No uso comum atual, entretanto, a palavra “linha” ou “ linha de transmissão” é geralmente restrita aos dispositivos que podem transmitir no modo TEM, enquanto “guia” ou “guia de onda” é empregado para os dispositivos que podem transmitir somente nos modos de ordem superior. As formas mais comuns de linhas de transmissão no modo TEM são, segundo Kraus (1978), as coaxiais e Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 as paralelas. Muitas outras formas, na verdade, uma infinita variedade delas, são possíveis; tais características apresentadas ensejou o interesse em estudar sua caracterização pesquisando em uma célula conhecida como célula de Crawford, denominada em 1974, de Célula TEM. 1.2 Padrões de medidas de campos eletromagnéticos usando Célula TEM Existem várias técnicas para estabelecer níveis de energia eletromagnética para testes de susceptibilidade sobre um range de freqüências e para várias outras aplicações conhecidas (MUSIL, 1968; BOWMAN; JESSEN, 1970). Tais técnicas são muito utilizadas, mas apresentam muitas desvantagens, como a irradiação de energia eletromagnética em todo o espaço, podendo interferir nas mensurações realizadas, com possibilidade de danos ao operador dos equipamentos em teste ou interferência em outros experimentos. A técnica utilizada neste projeto é caracterizada por um campo eletromagnético confinado em uma linha coaxial retangular (Célula TEM). Esta célula apresenta faixa extremamente larga, operando muitas das vezes com um range de 500MHz, sendo limitada apenas pela freqüência de operação associada ao tamanho da célula (CRAWFORD, 1974). 1.3 Descrição de uma Célula TEM 2. DESENVOLVIMENTO Inicialmente, para se dimensionar o tamanho da Célula TEM foram levados em consideração alguns princípios básicos: - Tamanho da cobaia ou placa de Petri a ser irradiada (AUT); - Faixa de freqüência de teste; - Impedância da Célula TEM; - Material a ser utilizado na construção da célula. 2.1 Tamanho da cobaia ou placa de Petri a ser irradiada (EUT) Neste trabalho far-se-á referência ao animal ou à placa de Petri que será colocada dentro da célula como sendo um AUT. A célula deverá ter dimensões compatíveis com pequenos animais (cobaias) de laboratório (ratos e camundongos) e placas de Petri capazes de alojar em seu interior um AUT com dimensões de até 3,5 cm de altura, 8 cm de largura e 12 cm de comprimento. Saliente-se que, observando o preconizado por Malaric e Bartolic (2003), definiu -se a altura de 3,5 cm em função da restrição de que apenas um terço da área entre as placas externas da célula e a placa condutora central (septum) é utilizado para teste. Tais dimensões são suficientes para que se possa realizar experimentos biológicos com animais ou cultura de célula no interior da Célula TEM. Desde 1974, com Crawford, surgiram as primeiras possibilidades de se realizarem experimentos de compatibilidade, susceptibilidade, interferência e efeitos ocasionados pela irradiação de campos eletromagnéticos. Com o aumento da utilização de dispositivos de radiofreqüência, esta questão poderá prevalecer ainda por muito tempo. A Célula TEM foi projetada para operar com uma impedância interna de 50 Ω. Procurou-se projetá-la sem que houvesse alteração neste parâmetro, o que foi conseguido com base no equacionamento que se segue. Dentre todas as possibilidades apresentadas, o projeto de uma célula eletromagnética transversal (Célula TEM) tem como objetivo a realização de pesquisas dos efeitos biológicos causados pela irradiação de freqüências em até 1GHz provenientes de equipamentos radiotransmissores. A definição desta faixa de freqüências deve-se ao fato de que a Célula TEM exibe uma melhor performance em freqüências até próximo de 1GHz, porém o campo no interior da célula é uniforme para qualquer freqüência abaixo daquela de corte da mais alta ordem, conforme Rowell, Welsh e Papatsoris (2000). Já para freqüências superiores a 1GHz deve-se trabalhar com uma célula GTEM (Giga TEM) (ROWELL; WELSH; PAPATSORIS, 2000) que será motivo de um próximo trabalho. A Fig. 1 mostra a vista lateral e superior do projeto proposto de uma Célula TEM com seus conectores de acesso de RF e porta para colocação do AUT (animal sobre teste). As Células TEM possuem em seu interior um campo eletromagnético transversal com propagação homogênea. O seu interior é, ainda, constituído por ar como material dielétrico e uma placa de cobre retangular como condutor central. A área de testes entre os condutores (placas) externo e interno é maximizada. Crawford, em 1974, apresentou as propriedades e as vantagens de uma célula TEM construída para a USAF School of Aerospace Medicine (EUA). Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 2.2 Projeto de uma Célula TEM As Células TEM na freqüência de 900 MHz são desenvolvidas para a impedância característica de 50 Ω, devendo suas dimensões satisfazer a a>b e somente 1/ 3 da área interna da célula é utilizada para testes. A célula TEM comercial, basicamente, é muito utilizada para testes de calibração de sondas de RF e medidas de EMI/ EMC devido ao seu pequeno espaço entre a extremidade interna e o condutor central (septum) que é aproximada97 mente 6 cm em seu interior. Porém, Crawford, em 1974, demonstrou que com o aumento da freqüência de trabalho tem-se a diminuição das dimensões “a” e “b” da Célula TEM, conforme equações 4 e 5; como conseqüência temos a diminuição da área útil de teste, inviabilizando sua aplicação para determinados fins. Atualmente, a Célula TEM possui uma área útil de trabalho próxima de 2 cm vertical no seu interior (MALARIC; BARTOLIC, 2003). Neste projeto foi desenvolvida uma célula em que suas dimensões tivessem a=18 cm e b=21 cm, dando a condição de a<b, disponibilizando assim um espaço na vertical entre o con- dutor central (septum) e a extremidade interna de 10,5 cm conforme observado nas Figs. 1 e 3. Desta forma, obteve-se uma área útil de trabalho de 3,5 cm vertical em seu interior e com uma impedância aproximada de 50 Ω, área suficiente para a realização de experimentos biológicos com animais e cultura de célula. Da Fig. 2, considerandose uma impedância de 50 Ω e uma relação de a/b=0,85, obteve-se uma relação de w/a=0,89, resultando em w =16 cm. O material utilizado na caixa foi o alumínio com 2 mm de espessura, e para o condutor interno (septum) central, o cobre, com 2,5 mm de espessura. O valor da capacitância Cf foi calculado com base em um condutor interno (septum) central fino de dimensões finitas (WEIL, 1978). Fig. 1 - Diagrama de uma Célula TEM. 98 Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 Cf 2b t π a − w ln 1 + coth = + ε π(b − t ) 2 b − t a − w (2) As equações acima são válidas para (a-w)/2b<0,4 (WEIL, 1978). 2.2.2 Penetração do campo eletromagnético em meio condutor Para a definição da espessura do material que será utilizado para a montagem da célula TEM foi realizado o cálculo da profundidade de penetração de uma onda eletromagnética em um meio condutor (WILLIAMSON et al.,1982). Considerando o material da Célula TEM, sendo de alumínio, a profundidade de penetração dos campos externos e internos é dada pela expressão abaixo: Fig. 2 - Valores de Z0 versus w/a para vários valores de a/b (t/b=0). 2.2.1 Impedância característica O cálculo da impedância característica (equação 1) foi definido por Crawford (1974) em termos das dimensões fixas com uma capacitância por unidade de comprimento. δ = [ρ / (πµ 0 f )] 1 (3) 2 em que: f= 833Mhz (freqüência de interesse); µ0= 4π-7 Hm-1 (permeabilidade do meio); ρAlumínio= 2,8 10-8 Ωm (resistividade do material). Para o alumínio, temos δ = 3,0x10-2 mm de profundidade de penetração. Desta maneira, por motivo de maior confiabilidade e facilidade em adquirir o material, optou-se por uma espessura de 2 mm para a Célula TEM. 2.2.3 Freqüência de corte Uma das principais limitações da Célula TEM é o aparecimento de freqüências de ressonância que normalmente tendem a inviabilizar o uso da célula TEM para freqüências superiores à freqüência fundamental (corte). A freqüência de corte de modo superior para uma freqüência de trabalho próxima a 1GHz é dada pela equação abaixo (KRAUS,1978): Fig. 3 - Seçãotransversal da Célula TEM com 50 Ω. Z0 = [ 376,73 4 w / (b − t ) + Cf ] ε (1) em que: ε = 8,852 10 –12 F/m, assumindo o ar como dielétrico. Para o condutor interno (septum) central com uma espessura pequena, mas finita, define-se a capacitância em (equação 2): Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 fc TE10 = c (4) 2a A equação para freqüência de corte de qualquer modo é dada por: 2 fc TE m ,n = c m n + 2 a b 2 (5) 99 Desta maneira, pode-se definir pela relação de aspecto a/b>0,5 é satisfeita e que a 1ª freqüência de corte de modo superior é TE01 e a 2ª será TE10, conforme tabela abaixo. Tabela 1 - Freqüência de Corte Modo TE01 TE10 Freqüência de Corte 714,29 MHz 833,33 MHz 3. CONCLUSÃO Este trabalho apresentou alguns resultados parciais obtidos do equacionamento que teve como finalidade o projeto de uma Célula TEM, com impedância característica de 50 Ω, uma freqüência de operação com baixas perdas de até 1GHz e com dimensões que facilitem testes biológicos in vitro e in vivo. A célula encontra-se em fase de pré-testes nos laboratórios tecnológicos da Univap, para a realização dos experimentos de performance e resposta em freqüência. Os experimentos com cobaias ou cultura de célula serão objeto de estudos tão logo tenham sido levantados os parâmetros reais da célula e recebido aprovação do Comitê de Ética da Universidade. OBSERVAÇÃO: Projeto de pesquisa em desenvolvimento para a obtenção do título de mestre em Engenharia Biomédica, como parte do Programa de Mestrado em Engenharia Biomédica do Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento - IP&D - da Universidade do Vale do Paraíba - UNIVAP. Este trabalho está sendo desenvolvido experimentalmente com o apoio do Prof. Dr. Eder Rezende de Moraes - IP&D (Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento), do Prof. Dr. Joaquim Barroso de Castro - INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e do Prof. Dr. Kresimir Malaric da University of Zagreb – Croácia. Atualmente a célula TEM encontra-se em fase de testes nos laboratórios tecnológicos da Univap. Este artigo foi objeto de nota prévia publicada na Revista Univap, v. 10, n. 19, 2003. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BOWMAN, R. R.; JESSEN, W. E. Calibration Techniques for RAMCOR Densiometer Antennas. NBS Rep., [unpublished, Dec. 1970]. CLEARY, S. F.; CAO, G.; LIU, L. M. Effects of isothermal 45 Ghz microwave radiation on the mammalian cell cycle: comparison with the effects of isothermal 27 MHz radiofrequency radiation exposure. Bioelectrochemistry and Bioenergetics, v. 39, p.167-173, 1996. CRAWFORD, M. L. Generations of Standard EM Fields Using TEM Transmission Cells. IEEE Transactions on Electromagnetic Compatibility, v. 16, n. 4, p. 189-195, Nov. 1974. CRAWFORD, M. L.; WORMAN, J. L.; CURTIS, T. Expanding the Bandwidth of TEM Cells for EMC Measurements, IEEE Transactions on Electromagnetic Compatibility, v. emc-20, n. 3, p. 368-375, Ago. 1978. KRAUS, J. D. Eletromagnetismo. 2. ed. 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Publica artigos, notas científicas, relatos de pesquisa, estudos teóricos, relatos de experiência profissional, revisões de literatura, resenhas, nas diversas áreas do conhecimento científico, sempre a critério de sua Comissão Editorial e de acordo com o formato dos artigos aqui publicados. Solicita-se observar as instruções a seguir para o preparo dos trabalhos. 1. Os originais devem ser apresentados em papel branco de boa qualidade, no formato A4 (21,0cm x 29,7cm) e encaminhados completos, definitivamente revistos, com no máximo 15 páginas, digitadas em espaço 1,5 entre as linhas. Recomenda-se o uso de caracteres Times New Roman, tamanho 12, em 2 vias, acompanhadas de disquete (de 3,5"), de computador padrão IBM PC, com gravação do texto no Programa Word for Windows e, se possível, enviar o artigo pelo e-mail [email protected]. Somente em casos muito especiais serão aceitos trabalhos com mais de 15 páginas. Os títulos das seções devem ser em maiúsculas, numerados seqüencialmente, destacados com negrito. Não se recomendam subdivisões excessivas dos títulos das Seções. 2. Língua. Os artigos deverão ser escritos preferencialmente em Português, aceitando-se também textos em Inglês e Espanhol. No caso do uso das línguas Portuguesa e Espanhola, deverá ser anexado um resumo em Português (ou Espanhol) e em Inglês (Abstract). 3. Os trabalhos devem obedecer à seguinte ordem: - Título (e subtítulo, se houver). Deve estar de acordo com o conteúdo do trabalho, conforme os artigos aqui apresentados. - Autor(es). Logo abaixo do título, apresentar nome(s) do(s) autor(es) por extenso, sem abreviaturas, com asterisco, colocado logo após o nome completo do autor ou autores, remetendo a uma nota de rodapé relativa à(s) informação(ões) referentes às instituições a que Revista UniVap, v.11, n.20, 2004 pertence(m) e às qualificações, títulos, cargos ou outros atributos. - Resumo. Com no máximo 500 palavras, o resumo deve apresentar o que foi feito e estudado, seu objetivo, como foi feito (metodologia), apresentando os resultados, conclusões ou reflexões sobre o tema, de modo que o leitor possa avaliar o conteúdo do texto. - Abstract. Versão do resumo para a língua Inglesa. Caso o trabalho seja escrito em Inglês, o Abstract deverá ser traduzido para o Português (Resumo). - Palavras-chave (Key words). Apresentar de duas a cinco palavras-chave sobre o tema. - Texto. Deve ser distribuído de acordo com as características próprias de cada trabalho. Um trabalho pode, por exemplo, ter uma Introdução, um Desenvolvimento, Considerações Finais e Referências Bibliográficas. De um modo geral, contém: a) Introdução, b) Material e Métodos, c) Apresentação e Análise dos Dados d) Resultados, e) Discussão f) Conclusões, Recomendações ou Considerações Finais, g) Agradecimentos (quando necessário), h) Referências Bibliográficas. - Citações dentro do texto. As citações textuais longas (mais de três linhas) devem constituir um parágrafo independente. As menções a autores no decorrer do texto devem subordinar-se ao esquema sobrenome do autor, data (Novo, 1989, p. 20). Se as idéias dos autores forem apresentadas de modo interpretado e resumido, portanto não sendo “textuais”, devem trazer apenas o sobrenome do autor e a data. Ex.: Segundo Demo (1991), nenhum texto diz tudo. As linhas não dizem tudo. As entrelinhas muitas vezes dizem mais. Caso o nome do autor já estiver no texto, indica-se apenas a data entre parênteses. Ex.: Segundo dados do SEBRAE (1993), o grupo de áreas destinadas às lavouras temporárias ficava em torno de 7% do total das terras. Se a citação for textual, deve-se adicionar o número da página. Ex.: Segundo Jaime Lerner (1992, p. 20), “A cidade ambientalmente correta evita a industrialização forçada, rejeita as indústrias poluentes...”. - Refências Bibliográficas. Elas devem ser apresentadas no final do trabalho, em ordem alfabética de sobrenome do(s) autor(es), como nos seguintes exemplos: a) Livro: SOBRENOME, Nome. Título da obra. Local de publicação: Editora, data. Exemplo: PÉCORA, A. Problemas de redação. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1992. 101 b) Capítulo de livro: SOBRENOME, Nome. Título do capítulo. In: SOBRENOME, Nome (org.). Título do livro. Local de publicação: Editora, data. Página inicial-final. Exemplo: LACOSTE, Y. Liquidar a geografia... liquidar a idéia nacional? In: VESENTIN, José William (org.). Geografia e ensino: textos críticos. Campinas: Papirus, 1989. p. 31-82. c) Artigo de periódico: SOBRENOME, Nome. Título do artigo. Título do periódico, local de publicação, volume do periódico, número do fascículo, página inicial-página final, mês(es). Ano. Exemplo: ALMEIDA JÚNIOR, M. A economia brasileira. Revista Brasileira de Economia, São Paulo, v. 11, n.1, p. 26-28, jan./fev. 1995. d) Dissertações e Teses: SOBRENOME, Nome. Título da dissertação (ou tese). Local. Número de páginas (Categoria, grau e área de concentração). Instituição em que foi defendida. data. Exemplo: CECCATO, V. Proposta metodológica para avaliação da qualidade de vida urbana a partir de dados convencionais de sensoriamento remoto, Sistema de Informações Geográficas e banco de dados georrelacional. São José dos Campos, 140 p. (INPE-5457-TDI/499). Dissertação (Mestrado em Sensoriamento Remoto) Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, 1992. e) Outros casos: Consultar as Normas da ABNT para Referências Bibliográficas. 4. As figuras (desenhos, gráficos, ilustrações, fotos) e tabelas devem apresentar boa qualidade e serem acompanhados de legendas breves e claras. Indicar, no verso das ilustrações, escritos a lápis, o sentido da figura, o nome do autor e o título abreviado do trabalho. As figuras devem ser numeradas seqüencialmente com números arábicos e iniciadas pelo termo Fig., devendo ficar na parte inferior da figura. Exemplo: Fig. 4 - Gráfico de controle de custo. No caso das tabelas, elas também devem ser numeradas seqüencialmente, com números arábicos, e colocadas na parte superior da tabela. Exemplo: Tabela 5 - Cronograma da Pesquisa. As figuras e tabelas devem ser impressas juntamente com o original e quando geradas no computador deverão estar gravadas no mesmo arquivo do texto original. No caso de fotografias, desenho artístico, mapas etc., estes devem ser de boa qualidade e em preto e branco. 102 5. O encaminhamento do original para publicação deve ser feito acompanhado do disquete e com a indicação do software e versão usada. 6. O Corpo Editorial avaliará sobre a conveniência ou não da publicação do trabalho enviado, bem como poderá indicar correções ou sugerir modificações. A cada edição, o Corpo Editorial selecionará, dentre os trabalhos considerados favoráveis para publicação, aqueles que serão publicados imediatamente. Os não selecionados serão novamente apreciados na ocasião das edições seguintes. 7. Os conteúdos e os pontos de vista expressos nos textos são de responsabilidade de seus autores e não apresentam necessariamente as posições do Corpo Editorial da Revista UniVap. 8. Originais. A Revista não devolverá os originais dos trabalhos e remeterá, gratuitamente, a seus autores, três exemplares do número em que forem publicados. 9. O Corpo Editorial se reserva o direito de introduzir alterações nos originais, com o objetivo de manter a homogeneidade e a qualidade da publicação, respeitando, porém, o estilo e a opinião dos autores. 10. Endereços. Deverá ser enviado o endereço completo de um dos autores para correspondência. Os trabalhos deverão ser enviados para: UNIVERSIDADE DO VALE DO PARAÍBA - UNIVAP PRÓ-REITORIA DE INTEGRAÇÃO UNIVERSIDADE/SOCIEDADE Conselho Editorial da Revista UniVap Av. Shishima Hifumi, 2.911 - Bairro Urbanova CEP 12244-000 - São José dos Campos - SP Telefone: (0 12) 3947-1036 Fax: (0 12) 3947-1211 E-mail: [email protected] Revista UniVap, v.11, n.20, 2004