Ebook Final - 29 de Janeiro de 2013

Transcrição

Ebook Final - 29 de Janeiro de 2013
Miranda do Douro
Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa
Maria Maior
Escola Superior de Saúde / IPB
28 e 29 de Setembro de 2012
LIVRO DE ATAS (EBOOK)
COORDENADORES:
Adília da Silva Fernandes
Carlos Pires Magalhães
Maria Augusta Pereira da Mata
Maria Helena Pimentel
Maria Gorete Baptista
FICHA TÉCNICA
Título
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de
Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
Autores/Editores
Adília da Silva Fernandes; Carlos Pires Magalhães; Maria Augusta Pereira da Mata;
Maria Helena Pimentel; Maria Gorete Baptista
Editora
Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança
Data
Setembro de 2012
ISBN
978-972-745-144-9
2
Esta edição é publicada pela Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança
Agência Nacional ISBN
Dilemas atuais e desafios futuros - I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de
Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
editado por Adília da Silva Fernandes; Carlos Pires Magalhães; Maria Augusta Pereira da
Mata; Maria Helena Pimentel; Maria Gorete Baptista
ISBN 978-972-745-144-9
Editora: Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança
Prefixo da Editora: 972-745Livro em 1 volume, 259 páginas
Este livro contém informações obtidas de fontes autênticas. A responsabilidade pelo conteúdo dos
artigos é única e exclusivamente dos autores.
Os artigos publicados neste livro são propriedade da ESSa-IPB. Este livro ou qualquer parte do
mesmo, não poderá ser reproduzido ou transmitido em qualquer formato ou por qualquer meio,
electrónico ou físico ou por qualquer sistema de armazenamento de informação ou de recuperação,
sem autorização prévia por escrito da ESSa-IPB.
Todos os direitos reservados.
Escola Superior de Saúde | Instituto Politécnico de Bragança
Avenida D. Afonso V - 5300-121,
Bragança, Portugal
Tel: (+351) 273 303 200 / (+351) 273 330 950
Fax: (+351) 273 327 915
© 2012 by ESSa - IPB
ISBN 978-972-745-144-9
3
NOTA INTRODUTÓRIA
O I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção da
Santa Maria Maior de Miranda do Douro, subordinado ao tema “Dilemas Atuais e Desafios
Futuros”, tem como objetivos aprofundar o conhecimento e refletir sobre a problemática dos
Cuidados Continuados, Paliativos, Geriátricos e de Reabilitação numa perspetiva mais
alargada, fomentar a interação entre o contexto de trabalho, a investigação e as políticas
públicas de sustentabilidade desta área de intervenção em saúde.
O envelhecimento é uma conquista civilizacional. É uma evidência que o crescente aumento
do envelhecimento em Portugal contribuirá para o acréscimo do número de pessoas em risco
de dependência, quer esta seja transitória ou instalada, pelo que essas pessoas e as suas
famílias requerem cuidados adequados e integrados.
A organização de um dia e meio de congresso com a manhã do segundo dia dedicada à
informação/comunicação e aos cuidadosos paliativos permite responder a dois objetivos. Por
um lado, alargar o foco da atenção não apenas ao utente mas também às famílias, por outro,
aprofundar o debate sobre a gestão das emoções e as questões ético/legais da sedação e da
dignidade em fim de vida.
Para assinalar a realização deste evento e congregar sinergias, elaborou-se o presente livro de
atas. Este documento assume o compromisso da partilha e da divulgação do conhecimento.
Para além da atualidade e relevância científica, constituem pontos de contato de estudiosos
destas matérias, que respondendo ao nosso apelo submeteram comunicações sob a forma de
posters, que tivemos oportunidade de acompanhar ao longo destes dois dias.
Se a produção de qualquer evento, direta ou indiretamente, nunca é um ato isolado, este que
aqui apresentamos contou com a colaboração e a conjugação de esforços de muitas pessoas. É
de justiça, por isso, que se felicitem as comissões científica e organizadora que, por sua vez,
contaram com o envolvimento ativo dos Dirigentes da Unidade de Cuidados Continuados da
Unidade de Longa Duração e Manutenção da Santa Maria Maior.
Saudamos e agradecemos a presença de todos(as) os que quiseram juntar-se a nós, apelando à
participação viva e empenhada.
4
ORGANIZAÇÃO
Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior | Escola Superior de Saúde | Instituto
Politécnico de Bragança
COMISSÃO CIENTÍFICA
Francisco Centeno (SCM Miranda do Douro)
Paula Martins (SCM Miranda do Douro)
Elisabete Lavrador (SCM Miranda do Douro)
Adília da Silva Fernandes (ESSa-IPB)
Carlos Pires Magalhães (ESSa-IPB)
Maria Augusta Pereira da Mata (ESSa-IPB)
Maria Helena Pimentel (ESSa-IPB)
Maria Gorete Baptista (ESSa-IPB)
COMISSÃO ORGANIZADORA
Equipa Multidisciplinar da Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
5
ÍNDICE
PROGRAMA ……………………………………….………………………………..….
ARTIGOS ………………………………………………………………………………....
01 - IDENTIFICAÇÃO DE LIMITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO E
ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA EM DOENTES COM DPOC …...……….
- CARATERIZAÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO NOS
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
12
13
14
15
HOSPITAIS DO DISTRITO DE BRAGANÇA ENTRE 2000 E
2010…………………………………………………………………….…..……..
- REALIDADES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO - UM
OLHAR SOBRE AS EMOÇOES DO IDOSO …………………………………
- CUIDADOS PALIATIVOS EM CUIDADOS CONTINUADOS ….…….….
- PERCEÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE EM IDOSOS SUBMETIDOS A
DIÁLISE ………………………………………………………………………….
- ANÁLISE DAS QUEDAS QUE RESULTARAM EM FRATURA DA
EXTREMIDADE PRÓXIMAL DO FÉMUR …………….……………………
- FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DA
CAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS ……………………..……...….…
- FUNCIONALIDADE DE IDOSOS COM OSTEOARTRITE ………..…..…
- AUTONOMIA DOS UTENTES DE UMA UNIDADE DE
CONVALESCENÇA – RESULTADOS PRELIMINARES ………………..…
- UM NOVO MODELO DE GOVERNANCE NAS POLÍTICAS
PÚBLICAS? ESTUDO DA REDE NACIONAL DE CUIDADOS
CONTINUADOS INTEGRADOS ………...…………………………………….
- EXERCÍCIO FÍSICO EM IDOSOS DIABÉTICOS E PERCEÇÃO DA
SUA IMPORTÂNCIA NO CONTROLO DA DOENÇA ………...……..…..…
- SOBRECARGA EM CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS
DEPENDENTES E SUA RELAÇÃO COM VARIÁVEIS DO CUIDADOR
E DEPENDÊNCIA DOS IDOSOS NAS AVD ……………………………….....
- REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE OS CUIDADOS CONTINUADOS
DO CUIDADOR INFORMAL DE UMA PESSOA DEPENDENTE:
EXPERIÊNCIAS DE QUEM CUIDA ………………………………………….
- COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS
RESIDENTES EM MEIO RURAL E URBANO...……………………….…...
- AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ESTUDANTES DE
ENFERMAGEM NO ÂMBITO DO ENVELHECIMENTO …….…….……..
16
- O IDOSO E A MEDICAÇÃO …..………………….………………...………..
17
- AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO REFERENTE À DETEÇÃO
PRECOCE E PREVENÇÃO DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL ....
- ADESÃO À DIETA EM IDOSOS EM DIÁLISE ………..……………...
- CONTEXTOS DE ENVELHECIMENTO E AVALIAÇÃO FUNCIONAL
DE IDOSOS: NECESSIDADES SENTIDAS NO CONCELHO DE
BRAGANÇA ……………………………………………………………………..
- AUTO-ATUALIZAÇÃO E ACEITAÇÃO DA DOENÇA CRÓNICA ….…
- AS TRAJETÓRIAS DE VIDA E AS DOENÇAS NEURO
DEGENERATIVAS: DOENÇA DE ALZHEIMER E DOENÇA DE
PARKINSON …………………………………………………..………………..
18
19
20
21
07
10
11
23
36
48
59
77
90
99
111
124
140
149
158
170
178
186
195
206
218
232
245
6
PROGRAMA
Sexta, 28 de Setembro 2012
8.30 ‐ Abertura do Secretariado
9.00 ‐ Sessão de Abertura
9.30 ‐ 1ª Mesa - Indicadores Socioeconómicos e Perfil do utente em Cuidados
Continuados
Unidade de Convalescença/Paliativos
Dr.ª Ana Bernardo, Médica, Coordenadora das Unidades de
Convalescença e Cuidados Paliativos do Hospital do Mar
Unidade de Média Duração e Reabilitação
Dr.ª Patrícia Santos, Técnica Superior de Serviço Social da UMDR da
Santa Casada Misericórdia de Murça, Pós‐Graduada em Cuidados
Continuados e Paliativos
Unidade de Longa Duração e Manutenção
Dr. Sérgio Vaz, Técnico Superior de Serviço Social da ULDM de Santa
Maria Maior, da Santa Casa da Misericórdia de Miranda do Douro
Moderação da Mesa
Dr.ª Carla Tomé, Ténica Superior de Serviço Social do Serviço Local
da Segurança Social de Miranda do Douro, Representante da
Segurança Social na ECL de Miranda do Douro
10.45 ‐ Coffee Break
11.15 ‐ 2ª Mesa - Sustentabilidade das Unidades de Cuidados Continuados
Sustentabilidade das Unidades de Cuidados Continuados
Dr. Manuel Lemos, Presidente do Secretariado Nacional da União das
Misericórdias Portuguesas (ou representante designado)
Dissertação sobre «Morte Digna»
Consultor do Mestrado em Medicina Legal da Universidade do Porto,
Professor Catedrático de Psicologia Forense da Universidade Lusíada
do Porto e de Medicina Legal da Universidade Portucalense Infante D.
Henrique
Moderação da Mesa
Psicóloga Hermínia Fernandes
13.00 Almoço
7
14.30 ‐ 3ª Mesa - Adequação do perfil do utente à tipologia do seu internamento
Processos sub‐agudos no AVC
Dr. Jorge Poço, Coordenador da Unidade de AVC da Unidade Local de
Saúde do Nordeste (ULSNE)
Prestação de cuidados paliativos nas Unidades de Longa
Duração e Manutenção
Dr. Francisco Centeno, Diretor Clínico da ULDM de St.ª Maria Maior
Médico Especialista em Medicina Familiar, Mestre em Cuidados
Paliativos
Agudizações nas unidades de cuidados continuados
Enf. Albino Alonso, Enfermeiro da ECL ACES NORDESTE/Miranda do
Douro, Enfermeiro‐Especialista em Saúde Comunitária
Moderação da Mesa
Dr.ª Graça Aroso, Coordenadora do Centro de Saúde de Miranda do
Douro, Especialista em Medicina Familiar, Mestre em Tratamento de
Suporte e Cuidados Paliativos no Paciente Oncológico Terminal
16.15 ‐ Coffee Break
16.45 ‐ 4ª Mesa - Problemática atual nos cuidados continuados
Gestão de Medicação
Eng.ª Suzete Cardoso, Bacharel em Radiologia, Licenciada em
Engenharia Industrial, Pós‐Graduada em Gestão de Serviços de Saúde
e em Administração Hospitalar, Diretora do Gabinete de Apoio Técnico
do Grupo Misericórdias Saúde
Nutrição Enteral
Dr.ª Iva Adão, Licenciada em Engenharia Alimentar, Pós‐Graduada em
Lean Management, representante da empresa «NESTLÉ PORTUGAL»
Estado Nutricional dos Utentes das ULDM do Norte de
Portugal
Dr.ª Vera Lebres, Licenciada em Dietética, Docente na ESSa do IPB,
Departamento das Tecnológias Diagnóstico e Terapêutica
Internamento Ativo
Terapeuta Sofia Lopes, Pós‐Graduada em Cuidados Continuados,
Mestre em Bioética, Assistente convidada na Escola Superior de Saúde
do Porto e na Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa
Moderação da Mesa
Enf.ª Filipa Xastre, Licenciada em Enfermagem, Pós‐Graduada em
Emergência e Cuidados Intensivos, Enfermeira da ECL ACES
NORDESTE/Miranda do Douro
8
Sábado, 29 de Setembro 2012
9.00 ‐ 5ª Mesa - Processo de Informação/Comunicação com o utente e família
Informação em cuidados diferenciados
Dr.ª Maria Zita Lopes, Licenciada e Mestre em Psicologia,
especialidade de Psicologia Clínica, Pós‐Graduada em Cuidados
Paliativos, Psicóloga Clínica da Unidade Local de Saúde (ULS) do
Nordeste
Comunicação interdisciplinar com o utente/cuidador
Dr.ª Ana Galvão, Psicóloga Clínica, Doutora em Psicologia,
Professora Coordenadora do Instituto Politécnico de Bragança (IPB),
Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Gerontologia.
Informação/Comunicação em Cuidados Continuados
(Apresentação de Estudo)
Enf. Paula Martins, Enfermeira‐Coordenadora da ULDM de Santa
Maria Maior, Mestre em Tratamento de Suporte e Cuidados Paliativos
ao Paciente Oncológico Terminal, Doutoranda em Oncologia Clínica
Moderação da Mesa
Dr. Valentín Posado, Especialista em Medicina Familiar, Médico do
Centro de Saúde de Miranda do Douro, Médico da ECL de Miranda do
Douro
10.45 ‐ Coffee Break
11.15 ‐ 6ª Mesa - Cuidados Paliativos nos Cuidados Continuados
Aspectos Éticos da Sedação Terminal
Alejandro Cuadrado Blanco, Mestre em Medicina Paliativa, Presidente
da Associação para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos,
Membro do Comité de Ética do Complexo Assistencial de Zamora
(Espanha)
Apoio no luto
Dr.ª Ana Bernardo, Médica, Coordenadora das Unidades de
Convalescença e Cuidados Paliativos do Hospital do Mar
Moderação da Mesa
Dr. Francisco Centeno, Diretor Clínico da ULDM de St.ª Maria Maior,
Médico Especialista em Medicina Familiar, Mestre em Cuidados
Paliativos
12.00 – Testamento Vital
Professor Doutor Rui Nunes, Doutor em Medicina na área da Bioética,
Professor Catedrático e diretor do Serviço de Bioética e Ética Médica
da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Presidente da
Associação Portuguesa de Bioética
9
ARTIGOS
10
01. IDENTIFICAÇÃO DE LIMITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO E ATIVIDADES DE
VIDA DIÁRIA EM DOENTES COM DPOC
01. IDENTIFICATION OF LIMITATION FOR EXERCISE AND ADLS IN
PATIENTS WITH COPD
Matilde Delmina da Silva Martins
Professora Adjunta
Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde.
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano.
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
[email protected]
Norberto Aníbal Pires da Silva
Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica – Mestre em
Ciências de Enfermagem
Unidade Local de Saúde do Nordeste – Unidade Hospitalar de Bragança
[email protected]
Teresa Isaltina Gomes Correia
Professora Coordenadora
Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde.
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano.
[email protected]
11
Resumo
Introdução: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma doença caracterizada
pela limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é
geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a
partículas ou gases nocivos. Objetivos: Analisar a capacidade funcional em doentes com
diagnóstico de DPOC e identificar limitação para o exercício e atividades de vida diária nestes
doentes. Material e Métodos: Foram avaliados 31 doentes, seguidos na consulta de
pneumologia de um Centro Hospitalar do norte de Portugal. Os critérios de inclusão foram:
ter diagnóstico de DPOC, ter realizado prova de marcha de seis minutos e ter realizado
espirometria. A informação foi obtida recorrendo aos registos informatizados da prova de
marcha e do teste de espirometria, realizados entre 1 janeiro de 2009 a 1 de maio de 2010, por
uma técnica de cardiopneumologia. A recolha de dados foi realizada durante uma semana no
Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar, após as 18 horas, por uma das investigadoras,
que introduziu e codificou os dados em base de dados do programa SPSS®. Resultados: Dos
31 doentes avaliados 22 eram do género masculino, com uma média de idade de 68,8 anos, 16
eram ex-fumadores, verificou-se uma diferença estatisticamente significativa nos hábitos
tabágicos e o género (p< 0,00), o Índice Médio de Massa Corporal foi de 27,12 Kg/cm2 +/- 4,3
Kg/cm 2. A média do Volume Expiratório Máximo (VEMS) ao 1º segundo nos homens foi de
72,6% e nas mulheres foi de 47,1% apresentando uma média total de 52,23% +/-20,4%. Dos
31 participantes 17 apresentavam um grau de obstrução grave. Os valores de Saturação
Arterial de Oxigénio variaram entre 81 e 96%. Cerca de 58% não necessitou de Oxigénio no
início da prova e no final aproximadamente 75% necessitou. A perceção média que os
doentes têm da sua dificuldade respiratória, antes e após a prova de marcha, foi maior nos
homens 2,64 e 4,55. Discussão/Conclusão: Os doentes com DPOC percorreram uma média
de 344 metros o que sugere uma limitação para o exercício físico e para as atividades de vida
diária. O género masculino evidenciou maior grau de obstrução e média de perceção de
dispneia antes da prova de marcha mais elevada. O exercício e as atividades de vida diária em
doentes com DPOC devem ser feito de forma individualizada tendo em conta as suas
limitações funcionais.
Palavras-chave: Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva; Prova de Marcha de 6 minutos;
Exercício; Atividades de Vida Diária.
Abstract
Introduction: Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is a disease characterized by
airflow limitation that is not fully reversible. The airflow limitation is usually progressive and
associated with an anormal inflammatory response of the lungs to noxious particles or gases.
Objectives: To analyze the functional capacity in patients with COPD diagnosis and identify
limitations for exercise and daily activities in these patients. Material and Methods: 31
patients were evaluated and followed in pulmonology Hospital Center North of Portugal.
Inclusion criteria were: diagnosis of COPD, have conducted test running six minutes and have
performed spirometry. The information was obtained using the computerized records of proof
of travel and the spirometry test, carried out between 1 January 2009 to 1 may 2010, by a
technique cardiopneumology. Data collection was conducted during one week in the Service
of Pneumology Hospital Center, after 18 hours, by one of the researchers who introduced and
codified in database SPSS ®. Results: Of the 31 evaluable patients, 22 were males, with a
12
mean age of 68.8 years, 16 were ex-smokers, there was a statistically significant difference in
smoking habits and gender (p< 0.00), the Body Mass Index Mean of 27.12 Kg/cm2 was + / 4.3 kg / cm 2. The mean forced expiratory volume (FEV) in 1 second in men was 72.6% and
in women was 47.1% with an average total of 52.23% + / -20.4%. Of the 31 participants 17
had a degree of severe obstruction. Values of Arterial Oxygen Saturation ranged between 81
and 96%. About 58% did not require oxygen at the beginning and end of the race about 75%
required. The average perception patients have of his difficulty breathing, before and after the
walk test, was higher in men 2.64 and 4.55. Discussion / Conclusion: Patients with COPD
walked an average of 344 meters suggesting a limitation to exercise and activities of daily
living. The males showed greater degree of obstruction and average perception of dyspnea
before the race marching higher. The exercise and activities of daily living in patients with
COPD should be done on an individual basis taking into account functional limitations.
Keywords: Chronic Obstructive Pulmonary Disease; Proof of March 6 minutes; Exercise;
Activities of Daily Living.
13
Introdução
A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é caraterizada pela limitação do fluxo
aéreo que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é geralmente progressiva e
está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases
nocivos, causada principalmante pelo tabagismo. O tabagismo é o principal fator de risco da
DPOC, estando presente em mais de 90% dos casos. Global Initiative for Chronic Obstructive
Lung Disease - GOLD, (2005). A DPOC é descrita como uma doença com consequências
sistémicas, com perda progressiva da condição física e da força muscular, que associada à
dispneia gera nestes doentes importantes limitações na capacidade funcional.
A capacidade funcional é definida como a tolerância ou a capacidade de uma pessoa
para realizar determinada atividade, seja esta uma atividade desportiva ou de vida diária, ou a
capacidade de realizar atividades que se referem ao autocuidado, como vestir-se, lavar-se,
comer, andar, cozinhar, fazer compras, etc. Veloso, (2006); American Thoracic
Society/European Respiratory Society. (2005).
A DPOC é uma das principais causas de morbilidade crónica, de perda de qualidade de
vida e de mortalidade, estando previsto o seu aumento nas próximas décadas. É considerada a
quarta causa de morte em todo o mundo e estima-se que em 2020 seja a terceira. DGS,
(2005); Pessôa, (2009). A sua prevalência aumenta com a idade, sendo mais elevada no sexo
masculino, embora esta esteja a aumentar nas mulheres, decorrente do aumento do consumo
de tabaco no sexo feminino. De facto, o tabagismo, para além de ser a principal causa de
DPOC, continua a contribuir para a elevada prevalência da doença em Portugal. Pessôa,
(2009); DGS, (2005).
O diagnóstico de DPOC deve ser considerado em todos os doentes que apresentem tosse
ou produção de expetoração frequentes, dispneia ou história de tabagismo. Para confirmar a
presença de limitação obstrutiva do fluxo aéreo é necessária a realização de espirometria. Esta
limitação ventilatória não é completamente reversível após administração de um
broncodilatador. Considera-se que existe obstrução brônquica e, portanto, DPOC quando após
a administração de um broncodilatador a relação volume expiratório forçado ao primeiro
segundo e a capacidade vital forçada (VEF1/CVF) é menor do que 70%. GOLD, (2005). A
espirometria é, assim, fundamental no diagnóstico e na avaliação da DPOC, por ser o meio
mais objetivo, padronizado e facilmente reprodutível de medir o grau de obstrução das vias
aéreas. Pellegrino; (2005). Os doentes com DPOC apresentam aumento da frequência
ventilatória quando expostos às atividades dinâmicas, causando dispneia e cansaço que os
14
leva a evitar essas atividades, gerando consequentemente, diminuição da capacidade
funcional. Santos, Rosa e Battagin, (2009). O impacto da DPOC na pessoa, não se dá somente
na limitação física para a execução de atividades de vida diária, mas repercute-se também nas
relações sociais, afetivas, familiares e laborais. Estes ficam muitas vezes dependentes de
outros nos cuidados de vida diária o que lhes provoca um sentimento de dependência e
diminuição da sua autoestima. Gutierrez (2007).
Neste estudo procuramos analisar a capacidade funcional em doentes em doentes com
diagnóstica DPOC e identificar as limitações para o exercício e atividades de vida diária.
Material e Métodos
Foram avaliados 31 doentes, seguidos na consulta de pneumologia do Centro Hospitalar
Nordeste - Unidade de Bragança, com idades compreendidas entre 52 e 79 anos. Os critérios
de inclusão foram: ter diagnóstico de DPOC, ter realizado prova de marcha de seis minutos e
ter realizado espirometria. A Informação foi obtida recorrendo aos registos informatizados da
prova de marcha e do teste de espirometria, realizados entre 1 janeiro de 2009 a 1 de maio de
2010, por uma técnica de cardiopneumologia. A recolha de dados foi realizada durante uma
semana no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar, após as 18 horas, por uma das
investigadoras.
A Espirometria é considerada o GOLD Sandart para o diagnóstico e avaliação da
DPOC, pois é o método mais reprodutível, estandardizado e objetivo de mediação da
limitação área. GOLD, (2012). Os testes de difusão e espirometria foram realizados em
pletismógrafo MasterScreen Body da JAEGER, e seguiram rigorosamente as indicações do
ATS/ERS, (2005) para a sua realização.
Os critérios para classificação do grau de obstrução foram revistos e seguiram as
orientações da GOLD, (2005) utilizando-se a seguinte classificação VEF1/CVF <70% leve e
VEF1> 80% do previsto, moderada 50% <VEF1 <80% do previsto, grave 30% <VEF1 <50%
do previsto e muito grave VEF1 <30% do previsto OU VEF1 <50% do previsto associado à
insuficiência respiratória crónica. GOLD, (2005), Miller (2005).
A prova de Marcha de 6 minutos permite avaliar a capacidade real para o exercício ou
atividades de vida diária, através da distância percorrida em metros, consideramos distâncias
percorridas inferiores a 500/400 metros limitação para o exercício. A Prova de Marcha de 6
minutos foi realizada num corredor plano, do Laboratório de Fisiologia Respiratória do
CHNE – UH Bragança, previamente delimitado com 30 metros de comprimento. Os doentes
15
antes de iniciar a prova foram mantidos em repouso por um mínimo de 10 minutos e foi-lhes
explicado o procedimento, informando-os que deviam repetir o percurso durante 6 minutos, se
precisassem poderiam descansar, porém deviam permanecer onde pararam até poderem
continuar, o mais importante é que percorram a maior distância possível e quando a prova
terminar serão avisados. Utilizaram roupas e calçado confortável, realizaram a prova
acompanhados de técnica de cardiopenumologia, que ia incentivando e informando do tempo
de prova decorrido. Durante toda a prova o doente foi monitorizado nos parâmetros Saturação
de Oxigénio (SatO2) e a Pulsação através de oxímetro de pulso marca Elnor ®. A prova foi
interrompida sempre que os doentes referiram dor torácica ou dos membros inferiores,
dispneia grave e SatO2 inferiores a 85% em ar ambiente ou com Oxigénio suplementar.
Tinham disponível uma cadeira caso os doentes precisassem de interromper a prova,
Oxigénio transportável que foi utilizado sempre que os doentes apresentavam SatO2 <90% e
monitor desfibrilhador. No início e após o término da prova foram registados os valores de
SatO2, pulsação e o grau de dispneia percecionado pelo doente através da aplicação da escala
de Borg modificada. American Thoracic Society, (2002). Esta é uma escala vertical
quantificada de 0 a 10, onde zero representam nenhuma dispneia e 10 dispneia máxima
(Quadro 1). Os doentes eram orientados para escolher uma única pontuação que refletisse a
perceção do seu grau de dispneia antes e após a PM6.
Quadro 1 – Escala de Borg Modificada
Fonte: American Thoracic Society, 2002
A investigação foi previamente submetida a aprovação e autorização pela diretora do
Serviço de Pneumologia Centro Hospitalar, os dados foram codificados, inseridos e
16
analisados pelo número de identificação do processo de forma a respeitar e a garantir o
anonimato dos participantes.
Os dados foram inseridos e analisados em base de dados do programa informático
SPSS®. (Statistical Package for Social Sciences) versão 18.0 para Windows. Para todas as
variáveis foi calculada média, desvio padrão e frequências absolutas e relativas. O teste do
Qui quadrado foi utilizado para analisar a relação entre variáveis.
Resultados
Dos 31 doentes avaliados 22 eram do género masculino e 9 feminino, com uma média
de idade de 68,8 anos, sendo a média de idade do género masculino maior 69,8 anos. O Índice
Médio de Massa Corporal foi de 27,12 Kg/cm2 +/- 4,3 Kg/cm 2 recaindo também no género
masculino o maior Índice de Massa Corporal 29,3 Kg/cm2. A distância média percorrida foi
263,57 metros nos homens e 258 metros nas mulheres, a média total da distância percorrida
foi de 344,2 m, variando entre o mínimo de 45m e máximo de 595m.
Tabela nº1 – Caraterização da amostra
Variáveis
Homens
Mulheres
H/M
Doentes (N)
22
9
31(52-79)
Idade (anos)
69,8
67,8
68,8 (52 – 79)
Altura (cm)
166,1
155,2
163,4
Peso (kg)
81,2
65,8
72,8 (41-91)
IMC (kg/cm 2)
29,3
26,8
27,2 (18 -37,4)
263,57
258
344,2 (45-595)
Distância Percorrida
Resultados apresentados em Média
Quanto à caraterização da função pulmonar a média da CVF foi de 69,1% Volume
Expiratório Máximo (VEMS) ao 1º segundo foi de 52,2% variando entre o mínimo de 19% e
o máximo de 97%, a saturação de oxigénio foi de 92,1% variando entre o mínimo de 87% e o
máximo de 97% e a frequência cardíaca em repouso foi de 80 batimentos por minuto. As
17
mulheres apresentaram médias mais elevadas em relação aos homens à exceção da frequência
cardíaca.
Tabela nº2 – Caraterização da função pulmonar
Homens
Mulheres
H/M
Média
Média
Média
% CVF
61,4
81,5
69,1
% VEMS
47,1
72,6
52,2
SatO2 média
93,1
95,4
92,1
FC basal
80,2
76,4
80,2
Variáveis
Em relação aos hábitos tabágicos 16 eram ex-fumadores e 1 fumador ativo, verificandose uma diferença estatisticamente significativa nos hábitos tabágicos e o género (p <0,00),
apenas uma mulher era ex-fumadora e as restantes nunca fumaram.
Tabela nº3 – Distribuição dos doentes por género e hábitos tabágicos.
Masculino
Feminino
Total
Sim
1
0
1
Não
6
8
14
Ex. Fumador
15
1
16
22
9
31
Variáveis
Háb. Tabágicos
Total
Dos 31 participantes, 17 apresentavam um grau de obstrução grave e 8 moderado,
correspondendo a 13 e a 6 homens respetivamente. Tiveram necessidade de interromper a
prova 7 pessoas recaindo 4 interrupções no sexo feminino.
18
Tabela nº4 – Distribuição dos doentes por género, grau de obstrução e interrupção da
prova de marcha de 6 minutos.
Variáveis
Masculino
Feminino
Total
Ligeira
3
3
6
Moderada
6
2
8
Grave
13
4
17
Interrupção da
Sim
3
4
7
PM6min
Não
19
5
24
22
9
31
Grau de Obstrução
Total
Os valores de Saturação Arterial de Oxigénio variaram entre 81 e 96% sendo a média
antes e após a prova de 94% e 94,5% respetivamente, em ambos os géneros. Cerca de 58%
não necessitou de Oxigénio no início da prova e no final aproximadamente 75% necessitou.
Tabela nº5 – Médias e variação Basal antes e após a prova de marcha de 6 minutos.
Prova de Marcha de 6 min.
Variáveis
Escala Modificada de Borg
Sat O2 (%)
O2 ( L)
FC (Bat/min)
Média Inicial
Média Final
Variação
Masculino
2,64
4,55
1,94
Feminino
1,66
3,55
1,89
Total
2,35
4,19
1,84
Masculino
94
94,5
0,5
Feminino
94,4
94,6
0,2
Total
94,1
94,5
0,4
Masculino
0,68
3,0
2,32
Feminino
0,44
0,94
0,5
Total
O, 6
2,4
1,8
Masculino
80,3
97,0
16,7
Feminino
76,4
90,0
13,6
Total
80,3
94,3
14
19
Observou-se uma necessidade maior de oxigénio nos homens principalmente após a
prova de marcha, sendo a média de 3 litros de O2. A frequência cardíaca também foi maior
mos homens antes e após a prova de marcha de 6 minutos com 80 e 87 batimentos por minuto
respetivamente. A perceção média que os doentes têm da sua dificuldade respiratória, antes e
após a prova de marcha, foi maior nos homens do que nas mulheres 2,64 e 4,55 nos homens e
1,66 e 3,5 nas mulheres respetivamente.
Discussão
A DPOC causa prejuízo da função pulmonar, aumentando os sintomas respiratórios e
desconforto físico. Estas alterações interferem com a qualidade e com as atividades de vida e
dos doentes com DPOC. Santos, Rosa e Battagin, (2009).
No nosso estudo a maior frequência observou-se no género masculino e a uma média
geral de idades foi de 68,8 anos. No estudo de Santos, Rosa e Battagin, (2009), 20% (6) dos
doentes com idades com idades entre 57 e 78 anos, também apresentavam dependência
parcial nas atividades de vida diária. Assim, como no estudo de Incalzi [et.al.], (2005) doentes
com DPOC apresentavam limitação para as atividades vida diária relacionadas à mobilidade
(subir e descer escadas, caminhar, pelo menos 400 metros), associadas a idades avançadas e
ao sexo masculino, dados corroborados pelo nosso estudo. Também os estudos nacionais
apontam para um aumento da prevalência da DPOC com a idade e associada ao género
masculino. Machado, (2007).
Verificamos também haver uma relação estatisticamente significativa dos hábitos
tabágicos com o género, verificando-se um maior predomínio de fumar nos homens, em 17
fumadores ou ex-fumadores 16 eram homens, o que induz a pensar na interferência de
padrões sociais e culturais, pois tradicionalmente, os homens ainda são os grandes
consumidores de tabaco. O tabagismo é a principal causa de DPOC, sendo considerada por
muitos países, incluindo Portugal, como um problema de saúde pública com tendência de
agravamento no futuro, associada ao aumento de consumo de tabaco. É consensual e
universalmente aceite, que pelo menos 20% dos fumadores virão a desenvolver limitação
ventilatória obstrutiva com tendência progressiva. Direção Geral de Saúde, (2005). Há
evidência científica de que a cessação tabágica é a única medida que contraria, efetivamente,
a evolução da DPOC e a que tem melhor relação custo/benefício. DGS, (2005), pelo que nos
parece importante investir em políticas e programas preventivos antitabágicos.
20
Verificamos que a média de saturação de oxigénio foi menor nos homens 93,1%, a
perceção do grau de dispneia antes e após a prova foi maior, bem como a frequência cardíaca
e o consumo de oxigénio suplementar, o que se pode associar a um maior esforço por parte
dos homens.
No nosso estudo os doentes com DPOC percorreram uma média de 344 metros variando
entre o mínimo de 45m e máximo de 595m, o que sugere uma limitação para o exercício
físico e para as atividades de vida diária. Os homens tiveram uma média de distância
percorrida ligeiramente maior que as mulheres, sendo 263,57 metros nos homens e 258
metros nas mulheres. Estes também apresentaram valores de peso, altura e IMC maiores.
Dados corroborados pela literatura da área da especialidade que evidencia que pessoas com
maior estrutura corporal conseguem percorrer maiores distâncias. Teixeira, (2006); Viular,
(2008)
Conclusão
No nosso estudo os doentes com DPOC percorreram uma média de 344 metros o que
sugere uma limitação para o exercício físico e para as atividades de vida diária. O género
masculino evidenciou maior grau de obstrução e média de perceção de dispneia antes da
prova de marcha mais elevada. O exercício e as atividades de vida diária em doentes com
DPOC devem ser feito de forma individualizada tendo em conta as suas limitações funcionais.
Existe evidência científica de que os doentes com DPOC beneficiam de programas de
exercício físico, os quais melhoram os sintomas de dispneia e reduzem o grau de fadiga. Pelo
que se torna importante a implementação destes programas juntos destes doentes no sentido
de minimizar as complicações e limitações progressivas da DPOC.
Referências Bibliográficas
- American Thoracic Society (2002). Committee on Proficiency Standards for Clinical
Pulmonary Function Laboratories. ATS statement: guidelines for the six-minute Walk
test. Am J respir Crit care Med, 166, 111-7.
- American Thoracic Society/European Respiratory Society (2005). Standardization of
Spirometry. Am J Respir Crit Care Med, 152(3), 1107-36.
- Direção-Geral de Saúde (2005). Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Doença Pulmonar
Crónica Obstrutiva. Circular Normativa nº 04/GGGG. Ministério da Saúde. Portugal
- GOLD (2005) – Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic
Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med, 163, 1256-76.
21
- Gutierrez, F.J.A. [et al]. (2007). Impacto of Chronic Obstructive Pulmonary Disease on
Activities of daily living: results of the EIME Multicenter Study. Arch Bronconeumol,
43, 64-72.
- Incalzi, R.A. (2005). Construct Validity of activities of daily living scale. Chest, 127:8308.
- Miller, M.R. [et al].(2005). Standardisation of spirometry. Eur Respir J, 26, 319-338.
- Machado, N.C., Natali, V., Squassoni, S.D., Santana, V.T.S., Baldin, A.C., Fiss, E., &
Selestrin, C.C. (2007). Estudo comparativo entre os resultados do teste do degrau de
seis minutos em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica. Arq. Med ABC,
32 (supl.2), 7-50.
- Pellegrino [et al]. (2005). Interpretative strategies for lung function tests. Eur Respir J, 26,
948-968.
- Pessôa, C.L.C., & Pessôa, R.S. (2009). Epidemiologia da DPOC no presente – aspetos
nacionais e internacionais. Pulmão RJ atualizações temáticas, 1(1), 7-12.
- Santos, M.L., Rosa R.J., & Battagin, A.M. (2009). Avaliação da capacidade funcional,
humor e cognição em doentes portadores de DPOC. ConScientiae Saúde, S(2), 267-273.
- Viular, J., Resqueti, V.R., & Fregonezi, G.A.F. (2008). Clinical Assessment of exercise
capacity in patients with chronic obstructive pulmonary disease. Revista Brasileira de
Fisioterapia, 12(4), 249-259.
- Veloso, M., & Jardim, J.R. (2006). Funcionalidade do paciente com doença pulmonar
obstrutiva crónica e técnicas de conservação de energia. J Bras Penumol, 32(6), 580-6.
- Teixeira, P., Costa, C., Berton, D., Bertolitti, O., & Cantarle, D. (2006). O trabalho de
caminhar dos seis minutos não se correlaciona com o grau de obstrução do fluxo aéreo
em doentes portadores de doença Pulmonar Obstrutiva crónica. Rev Port Pneumol,
12(3), 241-253.
22
02. CARATERIZAÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO NOS HOSPITAIS DO
DISTRITO DE BRAGANÇA ENTRE 2000 E 2010
02. CHARACTERIZATION OF WORKMEN'S COMPENSATION IN HOSPITALS
OF THE DISTRICT OF BRAGANÇA
Matilde Delmina da Silva Martins
Professora Adjunta
Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde.
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano.
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
[email protected]
Maria do Céu Barbieri de Figueiredo
Professora Coordenadora
Escola Superior de Enfermagem do Porto.
Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.
[email protected]
Teresa Isaltina Gomes Correia
Professora Coordenadora
Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde.
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano.
[email protected]
23
Resumo
Introdução: O ambiente hospitalar é caraterizado pelo elevado número de riscos desde os
físicos, os químicos, os biológicos aos psicossociais, que afetam a saúde dos trabalhadores,
tanto da prestação de cuidados diretos ao utente como os de serviços de apoio, expondo-os a
condições favoráveis à ocorrência de acidentes de trabalho. Objetivos: Caraterizar os
acidentes de trabalho nas unidades hospitalares do distrito de Bragança entre 2000 e 2010,
descrever o perfil epidemiológico do acidentado e identificar as causas e consequências dos
acidentes de trabalho. Material e Métodos: Estudo epidemiológico transversal retrospetivo
referente ao período de 1 de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2010. A informação foi
obtida através do inquérito anónimo de notificação dos acidentes, referente a 453
trabalhadores. A recolha de dados foi realizada por uma das investigadoras após autorização
do Conselho de Administração durante o mês de janeiro de 2011 nos dias úteis entre as 9:00 e
as 17:00 horas no serviço saúde ocupacional. Resultados: A maior prevalência verificou-se
no género feminino (83,7%), no grupo profissional dos Técnicos Superiores de Saúde
(61,0%), na faixa etária 40-99 anos (33,9%) e com habilitações literárias licenciatura (59,8%).
Em trabalhadores com mais de 10 anos de tempo de serviço (77,1%), em regime de nomeação
(88,8%) e a praticar horário por turnos (70,7%). O local com maior sinistralidade foi no
internamento (40,7%). Em média os acidentes ocorreram às 12,8 horas (s±4,7), à segundafeira (18%), nos dois primeiros dias de trabalho após descanso semanal (55,5%) e entre a 1ª e
a 3ª hora de trabalho (36,1%). A principal causa de acidente foi a picada de agulha (34,6%) e
o agente de lesão ferramentas/utensílios respondeu por (44,9%). Resultaram em incapacidade
(33%) dos acidentes e o nº de dias perdidos foi de 7 931. Os membros superiores foram mais
afetados (54,4%) e as feridas foi a lesão mais frequente (43,4%) seguida dos
entorses/distensões (21,4%). Discussão/Conclusões: Os achados evidenciaram maior
prevalência dos acidentes nos técnicos superiores de saúde, possivelmente pela proximidade
conferida pela assistência direta aos pacientes por parte destes técnicos. A picada de agulha
foi a causa mais relevante, facto que está associado às características das atividades realizadas
por estes profissionais, como preparação/administração de medicação, pesquisa de glicémia
capilar, punções venosas, realização de pensos, entre outras. Ressalta, assim, a importância de
implementar medidas preventivas/educativas e revisão dos processos de trabalho de forma a
minimizar os acidentes e as suas consequências.
Palavras-chave: Hospital; Acidentes de Trabalho; Saúde Ocupacional; Risco Ocupacional.
Abstract
Introduction: The hospital environment is characterized by the large number of risks from
physicists, chemists, biological to psychosocial problems that affect the health of workers,
both providing direct care to the patient as support services, exposing them to favorable
conditions for the occurrence of accidents. Objectives: To characterize workplace accidents
in hospitals in the district of Bragança between 2000 and 2010 describe the epidemiological
profile of the victims and identify the causes and consequences of accidents. Material and
Methods: A retrospective cross-sectional epidemiological study covering the period from
January 1, 2000 and December 31, 2010. The information was obtained through anonymous
survey for accidents, related to 453 workers. Data collection was performed by one of the
investigators after authorization by the Board of Directors during the month of January 2011
on weekdays between 9:00 and 17:00 in the occupational health service. Results: The highest
prevalence was found in females (83.7%) in the group of professional Technicians Health
(61.0%), aged 40-99 years (33.9%) and educational degree (59.8%). Workers with more than
24
10 years of service time (77.1%) in naming scheme (88.8%) and practice time shift (70.7%).
The site with the highest accident rate was in hospital (40.7%). On average the accident
occurred at 12.8 hours (± 4.7 s), on Monday (18%) in the first two working days after weekly
rest (55.5%) and between the 1st and the 3rd time work (36.1%). The main cause of the
accident was pinprick (34.6%) and injury agent tools / utensils accounted for (44.9%).
Resulted in disability (33.0%) of accidents and the number of days lost was 7931. The upper
limbs were the most affected (54.4%) and the wounds was the most frequent injury (43.4%)
followed by sprains / strains (21.4%). Discussion / Conclusions: The findings showed a
higher prevalence of accidents in the higher technical health, possibly due to the proximity
afforded by direct care to patients by these technicians. A pinprick was the most relevant,
because it is associated with features of the activities performed by these professionals, as
preparation / administration of medication, research capillary blood glucose, venipunctures,
performing dressings, among others. It appears, therefore, the importance of implementing
preventive / educational and review of work processes in order to minimize accidents and
their consequences.
Keywords: Hospital; Workmen's Compensation; Occupational Health; Occupational Risk.
25
Introdução
Segundo o estipulado na legislação portuguesa, considera-se “acidente de trabalho
aquele que se verifique no local e tempo de trabalho e produza direta ou indiretamente lesão
corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho
ou de ganho ou a morte.”Decreto-lei nº98/2009.
O tipo de atividade profissional, as condições em que é desempenhado, as
características físicas e psíquicas do trabalhador, o contexto social, económico e político
constituem fatores determinantes de risco para a saúde dos trabalhadores. Uva, (2009) e Sêco;
[et al], (2008).
O ambiente hospitalar é caraterizado pelo elevado número de riscos desde os físicos, os
químicos, os biológicos aos psicossociais, que afetam a saúde dos trabalhadores, tanto da
prestação de cuidados diretos ao utente como os de serviços de apoio à prestação de cuidados,
expondo-os a condições favoráveis à ocorrência de acidentes de trabalho. Uva, (2009)
Acresce, ainda, muitas vezes problemas relacionados com a organização e com circunstancias
do trabalho, como situações de emergência, horários contínuos e prolongados, provocando
stress e fadiga nos trabalhadores. A exploração da força de trabalho, como, sobrecarga de
serviço, salários insuficientes, insatisfação e insegurança ocupacional e ainda a exposição a
riscos combinados expondo estes trabalhadores, continuamente a agravos à saúde. ACSS
(2009). Nishide [et al], (2004) e Ruiz, [et al], (2004). A comunidade científica também tem
demonstrado, que muitas vezes a causa do acidente está associada ao não cumprimento das
precauções universais, por parte dos trabalhadores destas instituições. Seco, (2008) e Uva,
(2007).
Os últimos dados, sobre acidentes de trabalho nas instituições de saúde, publicados em
Julho de 2009, pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), apontam para um
aumento do número de acidentes de trabalho registados desde 1997 a 2007, não só em valores
absolutos mas também em valores globais de taxa de incidência, tendo-se registado, em 1997
um total de 3024 e em 2007 um total de 5063 ocorrências com uma taxa de incidência de
27,15% e de 39,28% respetivamente. Do total de acidentes em 2007, resultaram em
incapacidades temporárias 1 581 e 87 em incapacidades permanentes, ascendendo a 52 702 o
número de dias perdidos. Ao longo destes 10 anos, em média, houve duas pessoas que
perderam a vida por ano, ou seja 20 pessoas (ACSS, 2009). Os acidentes de trabalho
representam um sério problema para a saúde pública e um problema económico para as
instituições e para os países. Enquanto nos sectores industriais houve um decréscimo, na área
26
da saúde ocorreu um incremento destas ocorrências, em especial no ambiente hospitalar, a
taxa de acidentes no sector da saúde é superior em 34% á média da EU, exigindo mais
investigações e intervenções neste contexto. Guerrini, (2008), ACSS, (2009) e OSHA (2010)
A Saúde dos trabalhadores dos hospitais é uma área prioritária de intervenção em Saúde
Ocupacional, pelo que exige aprofundar e atualizar o diagnóstico de saúde e desenvolver
programas de promoção da saúde destes trabalhadores tanto a nível nacional, regional como
local, com o objetivo de proporcionar ambientes laborais saudáveis neste contexto. Geraci
(2005) e Uva (2007) A evidência científica tem demonstrado que ambientes de trabalho
salutares contribuem para maximizar a saúde dos trabalhadores, o desempenho organizacional
e aumentar a qualidade e a segurança dos cuidados que são prestados nestas instituições, ou
seja, a qualidade dos cuidados ao doente/família. RNAO, (2006) e Uva, (2007).
Apesar da relevância deste problema pouca atenção tem sido dada aos riscos de
acidentes de trabalho e à implementação de melhores condições laborais na área da saúde,
assim como são poucos os estudos que tratam deste assunto, por forma a ter um conhecimento
real da situação e implementar medidas preventivas no sentido de minimizar os acidentes de
trabalho, bem como as consequências que deste advêm. Ruiz [et al], (2004).
Com este estudo objetivou-se caraterizar os acidentes de trabalho nos hospitais do
distrito de Bragança entre 2000 e 2010, descrever o perfil epidemiológico do acidentado e
identificar as causas e consequências dos acidentes de trabalho.
Material e Métodos
Estudo epidemiológico transversal retrospetivo, referente ao período de 1 de janeiro de
2000 a 31 de dezembro de 2010. Realizado nas três Unidades Hospitalares do Distrito de
Bragança, Unidade Hospitalar de Bragança, Unidade Hospitalar de Macedo de Cavaleiros e
Unidade Hospitalar de Mirandela. Estas unidades hospitalares prestam serviços de saúde na
área médico-cirúrgica, saúde da mulher e da criança, da saúde mental e psiquiátrica, na
urgência, emergência e cuidados intensivos, e meios de diagnóstico e terapêutica.
A amostra deste estudo foi constituída por 453 trabalhadores que sofreram acidente de
trabalho e o notificaram junto dos serviços de recursos humanos, no período do estudo. A
informação foi obtida recorrendo ao registo das notificações de acidentes de trabalho, através
do inquérito anónimo da Direção Geral dos Recursos Humanos da Saúde, constituído por 3
grupos de questões fechadas. O primeiro diz respeito às características do acidentado (idade,
género, habilitações literárias, categoria profissional, tempo de serviço, relação jurídica de
27
emprego e modalidade de horário) o segundo às características do acidente (local, agente de
lesão, localização, dia, mês, hora, n.º de horas de trabalho cumpridas no momento do
acidente, dia do acidente face ao último dia de descanso semanal, prestação de 1º socorro, e
ação que levou á lesão) e o terceiro às consequências do acidente (tipo de lesão, parte do
corpo atingida, incapacidade provocada, ausência ao trabalho e nº de dias perdidos).
A investigação foi previamente submetida a aprovação e autorização do Conselho de
Administração, após parecer da comissão de ética. A recolha de informação foi agendada
previamente e realizada por uma das investigadoras nos dias úteis, entre as 9 e as 17 horas,
durante o mês de janeiro de 2011 no serviço de Saúde Ocupacional. Os dados foram
codificados, inseridos e analisados em base de dados SPSS® (Statistical Package for Social
Sciences) versão 18.0 para Windows, de forma a manter o anonimato dos participantes.
Recorremos à estatística descritiva, com cálculo de frequências absolutas e relativas, media e
desvio padrão. Definimos ausência ao trabalho quando o trabalhador faltou ao trabalho por
um período igual ou superior a um dia.
Resultados
No período do estudo foram notificados 453 acidentes, recaindo a maior proporção de
notificação de acidentes nos anos de 2006 (17,4%) e 2004 (15,5%). Na Unidade Hospitalar de
Bragança foram notificados (54,4%) dos acidentes, na Unidade Hospitalar de Macedo de
Cavaleiros (25,3%) e na Unidade Hospitalar de Mirandela (20,3%).
A amostra caraterizou-se por uma maior prevalência de acidentes no género feminino
(83,7%), no grupo profissional dos Técnicos Superiores de Saúde (60,8%), entre os quais
(50%) recaiu na categoria profissional dos enfermeiros, seguido dos Auxiliares de Acão
Médica (26,9%).
O grupo etário entre os 40-99 anos foi onde se verificou maior sinistralidade laboral
(33,9%) seguido, com uma proporção muito próxima, o grupo etário entre os 50-59 anos
(33,1%).
Os trabalhadores com um nível habilitacional de licenciatura foram os que tiveram
maior notificação de acidentes (59,8%) seguido dos trabalhadores com menos do 9º ano de
escolaridade (33,7%), com mais de 10 anos de tempo de serviço (77,1%), em regime de
nomeação (88,8%) e a praticar horário por turnos (70,7%), respondendo o turno da manhã
(08.00-16.00 horas) por (64,5%) dos acidentes. (Tabela º1)
28
Tabela nº 1 – Caraterização da amostra
Variáveis
Feminino
Género
Masculino
<9º Ano
Habilitações literárias
>9º ≤12º Ano
Licenciatura
TSS*
Grupo profissional
AAM**
Administrativo
Outro
20-29 Anos
30-39 Anos
Grupo etário
40-49 Anos
50-59 Anos
> 60 Anos
<5 Anos
Tempo de serviço
5 – 10 Anos
≥ 10 Anos
Fixo
Tipo de horário
Turnos
N
380
73
153
27
273
276
121
17
39
30
99
154
151
19
48
55
350
132
321
%
83,7
16,3
33,7
6,2
60,1
60,8
26,9
3,7
8,6
6,8
21,8
33,9
33,1
4,2
10,8
12,1
77,1
29,3
70,7
Quanto à caraterização do acidente, o local com maior sinistralidade foi o internamento
(40,7%), respondendo o serviço de medicina por 12,9% seguido do serviço de urgência
(12,6%) e o bloco operatório (9,9%). Em média os acidentes ocorreram às 12,8 horas (s±4,7),
à segunda-feira (18%), nos meses de novembro (11,0%) e de junho (9,7%), nos dois primeiros
dias de trabalho após descanso semanal (55,5%) e entre a 1ª e a 3ª hora de trabalho (36,1%).
As principais causas de acidente foram a picada de agulha (34,6%), a queda do
trabalhador/objetos (24,3%) e os esforços excessivos/movimentos inadequados (17,6%). As
ferramentas/utensílios foram o agente de lesão mais frequente (44,9%) seguido da
mobilização de doentes (14,5%) e do pavimento (14,1%). (Tabela nº2)
29
Tabela nº 2 – Caraterização do acidente
Variável
Internamento
Serviço de urgência
Bloco operatório
Zona entre serviços/Exterior
Farmácia/laboratório
Consulta externa
In itinere
Outro
Picada de agulha
Queda do trabalhador/objeto
Esforço excessivo/Movimento inadequado
Pancada/corte por objeto
Outro
Ferramentas/instrumentos
Pavimento
Mobilizar doentes
Escadas/Rampas móveis
Meios de transporte
Outro
Local do acidente
Ação da lesão
Agente da lesão
N
%
184
58
45
26
19
24
9
88
157
110
80
72
34
204
64
65
15
10
95
40,7
12,8
9,9
5,7
4,2
5,3
2,0
19,4
34,8
24,3
17,6
16,1
7,2
44,9
14,1
14,9
3,3
2,4
11,8
Como principais consequências, observou-se (32,6%) dos acidentes resultaram em
incapacidade e o nº de dias perdidos foi de 7 931, variando entre o mínimo de 1 e o máximo
de 941, recaindo a média em 17,7 dias de trabalho por acidente.
Os membros superiores foram os mais afetados (54,4%), respondendo as mãos por (47,1%)
seguido do tronco (16,1%) e os membros inferiores (14,3%). As feridas foi a lesão mais
frequente (43,4%) seguida dos entorses/distensões (21,4%). (Tabela nº3)
Tabela nº 3 – Consequências dos acidentes
Variáveis
Tipo de lesão
Parte do corpo atingida
Ausência ao trabalho
Ferida
Entorse /distensão
Contusão /esmagamento
Fratura
Luxação
Outro
Membros Superiores
Membros inferiores
Tronco
Cabeça
Múltiplas
Sem ausência
Com ausência
N
%
197
97
52
23
16
68
247
65
73
17
51
303
150
43,7
21,4
11,5
5,1
3,5
14,8
54,4
14,3
16,1
3,7
11,5
67,4
32,6
30
Discussão
Durante os 10 anos do estudo verificaram-se 453 acidentes de trabalho, registados
através do inquérito de notificação dos acidentes de trabalho junto do Serviço de Recursos
Humanos da Saúde, num centro hospitalar distrital, constituído por três unidades, onde se
prestam cuidados a utentes com diferentes níveis de complexidade. O Inquérito de notificação
dos acidentes é um instrumento revelante para os estudos epidemiológicos nesta área, pelas
informações que pode dispensar, porem, tornam-se limitados quando os registos dos dados
não é feito de forma correta ou as anotações são incompletas. Esta limitação ficou clara na
análise epidemiológica de algumas situações, como é o caso da descrição da ocorrência do
acidente, do uso ou não de Equipamento de Proteção Individual (EPI), dos procedimentos no
Serviço de Urgência e do seguimento do trabalhador, pelo que estas variáveis não poderem
ser avaliadas.
Quanto à distribuição dos acidentes ao longo dos anos a maior proporção verificou-se
no ano de 2006 (17,4%), dados que não corroboram as estatísticas nacionais que apontam
para um aumento global dos acidentes ao logo dos anos de aproximadamente de 12%. ACSS,
(2009) Estes aumento de notificação nestas instituições, em 2006, pode dever-se à
implementação do serviço de Saúde Ocupacional durante o ano de 2005 e consequentemente
uma maior sensibilidade dos seus trabalhadores para a notificação destas ocorrências, no
entanto, não temos evidência científica. A Unidade Hospitalar de Bragança é a unidade que
comporta maior número de trabalhadores e que presta cuidados mais diferenciados e
diversificados pelo que justifica uma notificação de mais de metade dos acidentes.
O maior predomínio de acidentes neste estudo foi nos técnicos superiores de saúde e
particularmente na categoria profissional dos enfermeiros (50%), no sexo feminino (83,7%) e
com habilitações literárias de licenciatura (50,1%), o que corrobora os resultados de outros
estudos nacionais e internacionais. Ruiz, (2004); ACSS, (2009); Martins, (2009, 2012) e
Ribeiro, (2010) É possível entender estes resultados, uma vez que os enfermeiros representam
o maior grupo profissional nos hospitais, é constituído maioritariamente por mulheres e a sua
formação de base em Portugal é desde 1990 de licenciatura. É este grupo profissional que
prestam, de forma ininterrupta, os cuidados diretos, desde os mais simples aos mais
complexos, aos doentes/família, recorrendo a um conjunto de tecnologia diversificada e
sofisticada, expondo-os a mais a riscos laborais, dados corroborados pela investigação
nacional. ACSS, (2009); Martins, (2012) Existem alguns estudos americanos que apontam
outros profissionais, como os auxiliares de enfermagem, para os mais acidentados, isto deve-
31
se ao facto de nestes países as categorias profissionais serem distintas bem como as funções
inerentes a cada uma, assumindo estes, alguns cuidados prestados em Portugal pelos
enfermeiros. Nishide, (2004); Ruiz, (2004) Bakke, (2010)
Quanto à variável grupo etário verificou-se um predomínio de (67%) entre os 40 e 59
anos e com mais de 10 anos de serviço, (77%). Dados discordantes com os da ACSS, (2009)
que apontam para uma maior frequência de acidentes no grupo etário dos 25-35 anos e outros
estudos internacionais referem idades mais jovens entre os 21-50 anos e os 21-40 anos. Ruiz,
(2004) e Bakke, (2010). Os nossos resultados podem justificar-se por uma maior
sensibilização destes trabalhadores para a notificação destas ocorrências ou por outro lado
pela minimização e desvalorização dos riscos laborais por parte destes trabalhadores mais
experientes, expondo-os mais a risco de acidente. O praticar horário por turnos foi
responsável por (70,7%) e no turno da manhã ocorreram (64,5%), dados coincidentes com
outra literatura da área e que se justifica por ser neste turno que se encontra um maior
contingente de trabalhadores e se prestam o maior número de cuidados/diretos e indiretos aos
utentes. Ribeiro, (2010); Isidoro, (2010); Martins, (2012).
No que diz respeito à caraterização do acidente, o local onde se verificou maior
sinistralidade foi no internamento (40,7%) nomeadamente o serviço de medicina (12,9%),
entre a 1ª e a 3ª hora de trabalho (36,1%). Estes dados podem ser explicados pelo facto de
neste serviço os doentes serem maioritariamente idosos, com grandes limitações físicas,
muitas vezes obesos, com patologias crónicas associadas, exigindo da parte dos profissionais
um maior esforço na dinamização de um conjunto diversificado de meios terapêuticos com
recurso a instrumentos perfurocortantes e um esforço físico para a mobilização destes utentes,
expondo estes profissionais a um rico acrescido para acidentes. Ribeiro, (2010); Spagnulo,
(2011) Também vários estudos indicam o horário de início de trabalho (0-4 horas) como o
mais critico para a ocorrência de acidentes pela intensidade e características das atividades
realizadas no início do turno, como colheita de espécimes para análises, preparação de
doentes para cirurgia ou meios auxiliares de diagnóstico, realização de penso, prestação de
cuidados de higiene, mobilização, conforto e alimentação … Nishide, (2004); Bakke, 2010;
Spagnulo, (2011)
A causa mais referida foi a picada de agulha (34,6%), provocada por
ferramentas/utensílios (44,9%), dados que se assemelham aos achados de outros estudos que
indicam os acidentes com perfurocortantes como a principal notificação neste contexto,
associado mais uma vez às características das atividades desempenhadas, bem como ao uso de
32
práticas de risco, impróprias e inconsequentes como o reencapsulo de agulhas e abandono
inadequado. Ruiz, (2004); Ribeiro, (2010); Martins, (2012)
Os acidentes que tiveram como causa as quedas ou esforços excessivos, correspondem à
segunda e terceira maior causa de notificação (24,3% e 17,6% respetivamente), a grande
maioria estava relacionada com o pavimento molhado e a esforços físicos ou pesos excessivos
durante a atividade laboral. Sabe-se que a carga excessiva de trabalho provoca acidentes e
adoecimento dos trabalhadores, repercutindo-se em períodos de afastamento de trabalhador
mais ou menos prolongados. Ruiz, (2004)
Quanto às consequências dos acidentes resultaram em incapacidade (32,6%) levando a
um total de dias de ausência ao trabalho de 7 931.
A realização de atividades que exige destreza e precisão por estes trabalhadores deixaos mais vulneráveis a lesionar os membros superiores, especialmente as mãos. Este facto foi
confirmado neste estudo, visto que ocorreram (54,4%) dos acidentes nos membros superiores,
dos quais (47,1%) nas mãos, comportamento que corrobora a literatura sobre o assunto. Ruiz,
(2004); Machado, (2006); Ribeiro, (2010); Martins, (2012).
Conclusão
Os resultados evidenciaram uma maior prevalência dos acidentes dentro do grupo dos
técnicos superiores de saúde, especialmente o grupo profissional dos enfermeiros,
possivelmente pela proximidade conferida pela assistência direta aos pacientes por parte
destes técnicos. A picada de agulha foi a causa mais relevante, facto que está associado às
características das atividades realizadas pelo grupo profissional dos enfermeiros, como
preparação/administração de medicação, pesquisa de glicémia capilar, punções venosas,
realização de pensos, entre outras.
As consequências evidenciadas, como a parte do corpo mais atingida o tipo de lesão
também nos remetem param as características das condições em que estas atividades
profissionais são desempenhadas. Ressalta, assim, a importância de implementar medidas
preventivas por meio de estratégias educativas e de revisão dos processos de trabalho por
forma a minimizar os acidentes de trabalho bem como as consequências que lhe estão
associadas. Igualmente importante é o acompanhamento e monitorização da situação de saúde
dos trabalhadores dos hospitais através dos serviços de saúde ocupacional.
33
Referências Bibliográficas
Administração Central do Serviços de Saúde - ACSS, (2009) - Acidentes de Trabalho 2007.
Unidade Funcional de Estudos e Planeamento dos Recursos Humanos. Lisboa. julho.
Bakke, H.A.; Araújo, N.M.C. (2010). Acidentes de trabalho com profissionais de saúde de um
hospital universitário. Ver. Produção. Out/Dez.Vol.20(4):669-76. Doi: 10.1590/so10365132010005000015.
Diário da República (172). Decreto-lei Nº 98/2009. I série A, de 4 de Setembro. Pp.5894.
EU-OSHA. (2010). Estatísticas Europeias em Segurança e Saúde no Trabalho.
http://osha.europa.eu/pt/statistics Acesso em Fevereiro de 2012.
Guerrini; Ivan Amaral, Spagnuolo, Regina Stella, Baldo; Renata Cristina Silva. (2008).
Epidemiological anaysis of accidents with biological material reported to the worker`s
Health Reference Center in Londrina-PR. Revista Brasileira de Epidemiologia. Vol. 11
Nº2. June São Paulo ISSN 1415-790X.
Geraci, C.; Palassis, J. (2005). NIOSH/CDC Resources for Health Care Workers
Occupationally Exposed to Hepatitis B Virus and Hepatitis C. Eurosurveillanc. (10):1113.
Izidoro JS, Iwamoto H H, Camargo FC. (2010). Delineamento dos acidentes de trabalho em
instituições de saúde de uma micro região de Minas Gerais. Cogitare Enferm.
2010;15(3):521-7.
Martins, Matilde. (2009). Acidentes de Trabalho nas Instituições de Saúde do Distrito de
Bragança. Revista de Investigação em Enfermagem, Nº19 Fevereiro. Pp 81-90.
Martins, M.D.S. ; Silva, N.A.S. ; Correia, T.I.G. (2012). Acidentes de Trabalho e suas
repercussoes num hospital do mnorte de Portugal.Revista Latino Americana de
Enfermagem. Mar-Apr 20 (2): 217-25.
Nishisde, V.M.; Benatti, M.C.C.; Alexandre, N.M.C. (2004). Ocorrência de acidente de
trabalho em uma unidade de terapia intensiva. Revista Latino Americana de
Enfermagem. Março/Abril 12 (2): 204-11
OSHA Agencia Europeia para a Segurança. (2010). Segurança e Saúde no Trabalho.
http://pt.osha.eu.int/statistics/static.smt. Acesso em Janeiro de 2010.
Ribeiro PC, Ribeiro ACC, Júnior FPBL. (2010). Perfil dos acidentes de trabalho em um
hospital de Teresina, PI. Cogitare Enferm. 2010;15 (1):110-6.
Ruiz MT, Barbosa DBS, Zaida ASGS. (2004). Occupational accidents: a study regarding this
occurrence in a general hospital. Rev Arq Ciênc Saúde. 2004;11(4):19-24.
Registered Nursing Assiociation of Ontario. (2006). Healthy Work environments best practice
guidelines: Collaborative practice among nursing teams. Toronto, Ontario, Canada.
Spagnulo RS, Baldo RCS, Guerrini IV. (2008). Epidemiological analysis of accidents with
biological material reported to the worker`s Health Reference Center in Londrina-PR.
Rev Bras Epideliol. [periódico na Internet]. 2008; [acesso 13 jan 2011]. 11(2):315-23.
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbepid/v11n2/13.pdf doi: 10.1590/S003489102008005000057.
Sêcco, I.A.O.; Robazzi, M.L.C.C. (2008). Acidentes de trabalho típicos envolvendo
trabalhadores de hospital universitário da região sul do Brasil: epidemiologia e
prevenção. Revista Latino-Americana de Enfermagem. Vol.16. Ribeirão Preto. Sep/Out
Sêcco; I. A. O.; Guierrez, R. P. M. (2002). “Work accidentes in a hospital setting and
occupational risks for nursing professionals” Revista Ciências Biológicas e da Saúde,
Londrina. V. 23, pp 19-24 Jan/Dez.
UVA, Sousa. (2007).Saúde ou Trabalho Vs. Saúde e Trabalho. www.topsaude.pt. Acedido em
Fevereiro de 2012.
34
UVA, Sousa (2009). Salud y Seguridade del Trabajo em Portugal. Medicina y Seguridade del
Trabajo. Enero-marzo de 2009, pp. 12-25.
UVA, Sousa (2007). Saúde e Trabalho. Sociedade Portuguesa de Medicina no Trabalho.
Lisboa. Out. V. nº6.pp: 95-103.
35
03. REALIDADES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO - UM OLHAR
SOBRE AS EMOÇÕES DO IDOSO
Sandra Moura1, Manuel Brás 2, Belandina Ribas3, Alípio Marcos4, Norberto Carvalho5
1
- Universidade Católica Portuguesa
Contacto: [email protected], telefone: 934379097.
2
- Professor Doutor em Ciências de Enfermagem, Escola Superior de Saúde
de Bragança.
Contacto: [email protected], telefone: 913504398.
3
- Enfermeira Especialista em Saúde Comunitária, ULSNE
Contacto: [email protected], telefone: 962785244.
4
- Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, ULSNE
Contacto: alí[email protected], telefone: 919943427.
5
- Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, ULSNE
Contacto: [email protected], telefone: 934897365.
36
Resumo
Introdução: Quando já não é possível a manutenção dos idosos no seu meio familiar ou
social, a institucionalização é a única forma de garantir ao idoso uma vida confortável,
respeitando tanto quanto possível a sua independência. O afastamento prolongado da família
pode ocasionar, depressão, angústia e solidão. Este sentimento de rejeição, a sensação de
inutilidade que pode advir do facto dos filhos já terem a sua vida e a sensação de já não ser
preciso, de “estar a dar trabalho” e de ter perdido a razão de viver, é um factor de
descompensação e de desinteresse pela vida. Objectivo: Esta investigação procurou:
caracterizar a população idosa residente, identificar o apoio da família para com o idoso,
avaliar o apoio da instituição para com o idoso, detectar sentimentos de solidão/ abandono por
parte do idoso. Material e Métodos: Face ao tema em estudo e aos objectivos traçados,
optamos por um estudo exploratório, descritivo e transversal, recorrendo ao método
quantitativo. A presente investigação foi realizada numa instituição de terceira idade do
Nordeste Transmontano, em Novembro de 2011, a uma amostra de 26 idosos
institucionalizados. O instrumento de recolha de dados seleccionado foi o formulário.
Resultados: Os inquiridos, têm idades compreendidas entre 73 e 92 anos. Relativamente ao
género, 73.08% são do sexo feminino e 26.92% do sexo masculino. No que diz respeito à
existência de um confidente para falar dos seus problemas, 15.38% dos idosos
institucionalizados diz nunca ter ninguém com quem falar. O nosso estudo mostra que 73%
dos idosos vivia com a família antes da sua institucionalização. Relativamente à frequência
ideal para a visita dos familiares, 34.15% referem que gostariam de ser visitados
semanalmente. Do total de inquiridos, 61.54% referem não ter contacto com pessoas externas
à instituição. Discussão e Conclusão: Alguns idosos têm a percepção de que a família e a
instituição não lhes fornecem o apoio que eles gostariam de ter, quer ao nível de assistência
recebida, comunicação, crescimento emocional, afectos e resolução de problemas. Assim
sendo, achamos pertinente a implementação de um Projecto de Intervenção Comunitária, por
forma a: favorecer a reconstrução de laços familiares; sensibilizar as famílias para um maior e
melhor apoio ao Idoso institucionalizado; promover junto das instituições algumas medidas
que visem o desenvolvimento de talentos, competências e capacidades para que os idosos
aumentem a sua auto-estima, e fortifiquem as suas relações de amizade.
Palavras-chave: Idoso; Institucionalização; Sentimentos.
Abstract
Introduction: When it is no longer possible to maintain the elderly persons in their family
environment or social, institutionalization is the only way to ensure a comfortable life for the
elderly persons, as much as possible, respecting their independence. The family separation
can cause depression, anxiety and loneliness. This feeling of rejection, the sense of
worthlessness that may arise from the fact that the children already have their life and feeling
no longer need, "to be paying job" and have lost the reason to live, is a factor of bewilderment
and disinterest in life. Objective: This study characterizes the elderly persons resident;
identify family support to the elderly; the institution's support to the elderly persons;
experience feelings of loneliness / abandonment by the elderly persons. Material and
Methods: We chose an exploratory, descriptive and cross-sectional, using the quantitative
method. This research was developed in a northeastern home in November 2011, to a sample
of 26 institutionalized elderly persons. The instrument data collection was selected was a
37
form. Results: The respondents are aged between 73 and 92 years. As for sex, 73.08% are
female and 26.92% male. Our study shows that 73% of the elderly persons lived with his
family before his institutionalization. 15.38% answered that they do not have a family
confidant. 30.77% reported that they would like to be visited by their families daily. 61.54%
reported not having contact with people outside the institution. 15.38% of the institutionalized
elderly persons says never have anyone to talk to. Discussion and Conclusion: Some older
people have the perception that the family and the institution does not provide them the
support they would like to have, whether at the level of care received, communication,
emotional growth, affection and troubleshooting. We find relevant implementing a
Community Intervention Project in order to: promote the reconstruction of family ties;
sensitize families to a greater and better support for institutionalized elderly; promote the
institutions some measures aimed at developing talent , skills and abilities for older people
increase their self-esteem, and fortify their friendly relations.
Keywords: Elderly persons; Institutionalization; Feelings.
38
Introdução
A velhice é um fenómeno biológico, psicológico e cultural, difícil de ser circunscrito,
pois cada aspecto da velhice reage sobre todos os outros e é afectado por eles, e é nesse
movimento que é preciso apreendê-la.
O idoso é visto como o principal membro da comunidade familiar, pois ele representa
uma história de vida, a história daquela família, como se codificasse um gene, a biografia.
É na família que o idoso necessita de cuidados, apresenta as suas manias e acaba por
envolver a família em torno de si, leva os mais jovens a olhar não só para si como também
para tudo a sua volta.
É neste contexto que ele realiza as suas relações afectivas e significativas, e é da família
que ele espera a segurança e o apoio necessário para que continue a viver a sua velhice
autonomamente, de modo bem-sucedido (Néri, 1999).
O aumento relativo e absoluto do número de pessoas idosas, característico da nova
realidade demográfica que se evidenciou a partir do último século, surge em paralelo com
alterações nos padrões de mortalidade e morbilidade. Daqui resultam várias problemáticas,
associadas à progressiva dependência das pessoas idosas.
Segundo Silva, Bessa e Oliveira (2004), 43% dos idosos não institucionalizados acima
de 85 anos de idade necessitam de assistência nas actividades básicas de vida diária e estas
são, geralmente, providas pelos seus familiares.
O afastamento prolongado da família pode ocasionar, depressão, angústia e solidão.
Este sentimento de rejeição, a sensação de inutilidade que pode advir do facto dos filhos já
terem a sua vida e a sensação de já não ser preciso, de “estar a dar trabalho” e de ter perdido a
razão de viver é um factor de descompensação e de interesse pela vida.
O descuido da família para com o idoso, a inadequação de moradia, a ocupação
profissional com a consequente falta de pessoas para o ajudar no auto cuidado e o padrão de
relacionamento entre os membros da família, na maioria das vezes, são precipitantes para a
institucionalização do idoso, excluindo o idoso do convívio familiar harmonioso.
Segundo Caldas (2002, p.51) "A família e os amigos são a primeira fonte de cuidados.
O maior indicador para a institucionalização de longa duração entre idosos é a falta de suporte
familiar".
As sociedades não estão a preparar os seus cidadãos para o processo de envelhecimento
e nem para oferecer qualidade de vida aos seus idosos, o que deixa como ultima instancia os
lares de idosos (Santos, 1990).
39
Nesta perspectiva o idoso institucionalizado, necessita de atenção e de aproximação à
família para ter um equilíbrio harmonioso e de entreajuda. Ao sentir-se isolado e privado da
sua auto identificação, de objectos pessoais e de escolhas incapaz de fazer, torna-se urgente
que a família e a instituição preencham este vazio e o ajudem a recuperar o seu bem-estar.
Quando já não é possível a manutenção dos idosos no seu meio familiar ou social, os
lares proporcionam uma habitação de forma a garantir ao idoso uma vida confortável,
respeitando tanto quanto possível a sua independência. Prestam serviços de alojamento e todo
o apoio permanente que assegure ao idoso a satisfação das suas necessidades.
Torna-se importante referir que a instituição não substitui a família, mas deve ser vista
como a ampliação desta, com laços e vínculos igualmente significativos.
A relação entre o idoso e a família é muito diversificada, podemos encontrar aqueles
que mantém vínculos significativos como aqueles que por circunstâncias diversas, romperam
o seu vínculo familiar ou mantém uma relação distante e muitas vezes ausente.
Como enfermeiros, e com experiência profissional em lares de idosos, constatamos pela
simples observação, que existem idosos que não têm um acompanhamento familiar adequado
e que sofrem no seu dia a dia com esse afastamento.
Objectivos
O conhecimento da funcionalidade familiar, bem como o apoio da instituição são
importantes para o desenvolvimento de estratégias de assistência ao idoso, visto que o suporte
familiar contribui de maneira significativa para a manutenção e integridade física e
psicológica do indivíduo. Surgiu então a curiosidade científica para abordar o tema:
realidades do processo de institucionalização - um olhar atento sobre as emoções do idoso.
Os objectivos deste estudo são:
•
•
•
•
caracterizar a população idosa residente,
identificar o apoio da família para com o idoso,
avaliar o apoio da instituição para com o idoso,
detectar sentimentos de solidão/ abandono por parte do idoso.
Material e métodos
Face ao tema em estudo e aos objectivos traçados, optamos por um estudo exploratório,
descritivo e transversal, recorrendo ao método quantitativo, realizado numa instituição de
40
terceira idade. Na altura da realização do estudo, encontravam-se institucionalizados vinte e
seis idosos, sendo 19 mulheres e 7 homens, que corresponderam à nossa amostra.
Foi feita uma reunião de esclarecimento sobre o estudo e todos os idosos, decidiram
participar voluntariamente no mesmo. A colheita de dados foi realizada em Novembro de
2011.
O instrumento de recolha de dados seleccionado foi o questionário, dado que os idosos
apresentam alguma dificuldade em interpretar e responder às questões. Antes de se proceder à
aplicação do formulário foram previamente explicados os objectivos do estudo e garantido o
anonimato e o respeito aos princípios éticos. Foi feito um pedido por escrito à instituição, o
qual foi concedido.
O questionário é constituído por duas partes:
Parte I - dados de identificação, caracterização dos idosos e das suas famílias e instituição;
Parte II - escala de APGAR Familiar, que possui cinco questões. Estas permitem medir a
satisfação dos membros da família em relação a cinco componentes considerados básicos na
unidade e funcionalidade de qualquer família: adaptação, participação/companheirismo, grau
de desenvolvimento, afectividade e capacidade resolutiva. Através do somatório da pontuação
dada a cada uma das questões obtém-se uma pontuação que nos remete para, a funcionalidade
familiar.
Os dados recolhidos foram tratados com recurso à estatística descritiva que para o efeito
e recorreu ao programa informático SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão
19.0.
Resultados
Foi aplicado um questionário, a vinte e seis idosos que correspondem á totalidade dos
utentes institucionalizados.
Dos 26 idosos que compunham a amostra, observou-se uma predominância do sexo
feminino (73,08%) em relação ao masculino (26,92%). Relativamente à idade dos inquiridos
verificamos que: 23,08% dos idosos têm idades compreendidas entre 70-80 anos; 65,38% dos
idosos inqueridos apresentam idades compreendidas entre 81-90 anos, 11,54% inquiridos
apresentam idades superiores a 91 anos.
Relativamente ao estado civil, verificamos que a maioria é viúvo 57,69%, 26,92% é
casado, 11,54% é solteiro e 3,84% é divorciado. No que concerne à presença do cônjuge no
41
lar, verificamos que 76.92% afirma que não está presente, enquanto 23.08% afirma que o
mesmo se encontra no lar.
No que diz respeito à proveniência dos idosos, 65,38% são das aldeias, enquanto
23,08% residem na cidade, e os restantes 11,54% residem em vilas. Na questão se viviam só
ou acompanhados, verificamos que 73,08% dos inquiridos responderam que viviam
acompanhados, enquanto 26,92% viviam sós.
Relativamente à escolaridade, verificamos que 46,25% possuem o ensino primário
incompleto, 30,77% têm o ensino primário completo e os restantes 23,08% não sabem ler
nem escrever. No que concerne à profissão exercida pelos inquiridos, 69,23% eram
domésticas, 15,38% dedicavam-se à agricultura, 7,70% eram empregados fabris, e em igual
percentagem, 3,85%, dedicavam-se ao comércio e eram funcionários da GNR.
Em relação aos problemas de saúde (gráfico I), 38,46% apresentam diabetes, em igual
numero, 19,23% são hipertensos e possuem problemas do foro cardíaco, 7,70% sofrem de
depressão, 3,84% têm neoplasia da mama e em igual percentagem, sofrem de doença
pulmonar crónica obstrutiva.
42
A relação do idoso com a família antes de entrar para o lar, verificamos que, 38, 46%
dizem ser muito boa, seguidos de 26,92% referirem ser nem boa nem má, 23,8% acham que é
boa, 7,69% dizem ser má e os restantes 3,8% consideram a sua relação familiar muito má
(gráfico II).
Do total de inquiridos, verificamos que 84,62% têm filhos enquanto 15,38% não
possuem filhos. Dos idosos com filhos 73,08% não residem no distrito e 26,92% residem no
mesmo.
No que diz respeito à disponibilidade de alguém com quem falar dos seus problemas,
50% dos inquiridos referem que geralmente têm alguém, seguido de 26,92% refere ter alguém
disponível ás vezes e é de salientar que 15,38% diz nunca ter ninguém com quem falar.
Em relação ao convívio com pessoas externas à instituição, 61,54% refere não conviver
com pessoas que não sejam funcionários do lar, e 38,46% refere ter contacto com visitas
externas.
Em relação à pergunta, qual seria a situação ideal, de contacto com a família, 46,15%
dos inquiridos referem que a situação ideal seria semanalmente, enquanto 30,77% gostariam
de ser visitados diariamente e os restantes 23,08% gostariam de ser visitados mensalmente.
Relativamente aos resultados da escala APGAR familiar constatamos que 50% possuem
uma família com moderada disfunção, 42,31% possuem uma família altamente funcional e os
restantes 7,69% apresentam uma disfunção acentuada (gráficoIII).
O nosso estudo mostra que 73% dos idosos vivia com a família antes da sua
institucionalização o que revela alterações no conceito de família, com potencial negativo
para a relação com o idoso.
43
Estes dados vão de encontro à caracterização de Caldas (2002, p.51), “ A família e os
amigos são a primeira fonte de cuidados. O maior indicador para a institucionalização de
longa duração entre idosos é a falta de suporte familiar”.
Gráfico IV- Género/Apgar
No nosso estudo em relação ao género, existe predomínio do feminino (73,6%), que
refere bom funcionamento familiar (36,84%). Estudos já realizados avaliaram vários factores
que poderão influenciar a funcionalidade das famílias. Mercedes Zavala G et, al. (2006),
divulgam resultados em que existe predomínio de mulheres (68%). 84% desses idosos
afirmaram ter um bom funcionamento familiar, descrevendo como altamente positivo o
funcionamento da sua família. Este estudo contrapõe os nossos dados porque na nossa
amostra são os homens que apresentam em maior percentagem em relação ao funcionamento
familiar (57,14%). Esses dados são corroborados pela pesquisa realizada em São Paulo, num
estudo levado a cabo por Duarte YAO (2001).
Verificamos, no nosso estudo, que 57,69% das mulheres também apresentam moderada
disfunção familiar e os homens só em 28,57%. Estes dados corroboram o estudo de Duarte
YAO (2001), quanto ao género, os resultados foram estatisticamente significativos, os quais
mostraram que as mulheres estão mais insatisfeitas do que os homens em relação à
funcionalidade familiar.
O aparecimento de doenças, tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial, depressão,
distúrbios psicóticos, AVC, entre outras, que normalmente são fatores preponderantes na
debilitação da pessoa com idade avançada, estes factos verificam-se nos idosos deste estudo,
em que a predominância de patologias referidas são a diabetes e doenças cardíacas com uma
44
percentagem de 38,46% e 19,23% respectivamente, no entanto embora a ausência familiar
seja marcante na vida de cada idoso, observou-se que esta lacuna é parcialmente preenchida
pelo tratamento recebido por esta instituição, assim o verbalizaram. Estes fatos são divulgados
em alguns estudos, de âmbito qualitativo, Messora (2006).
De referir ainda, que o facto de os idosos terem ou não filhos a residir no distrito
influencia a funcionalidade familiar dado que: 57,14% dos idosos apresentam uma relação
altamente funcional e têm filhos a residir no distrito.
Podemos tecer algumas considerações que podem de alguma forma contribuírem para a
moderada disfunção ou disfunção familiar acentuada:
- 57,69% dos residentes são viúvos, isto ocasiona fragilidade, solidão, isolamento social,
problemas de comunicação, podendo levar á depressão e que pode culminar no afastamento
da família.
- Aproximadamente 38% referem que antes de serem admitidos na instituição, tinham uma
fraca ou má relação com a família, o que indica deficiente suporte familiar.
- 15,38% dos idosos não tiveram filhos e 84,62% dos que tem filhos, 73% vivem fora do
Distrito, o que promove o afastamento da família e a escassez de visitas.
- À pergunta, se tem alguém para falar dos seus problemas, 15,38% responderam que não, o
que denota ausência de confidente ou familiar.
- 30,77% referem que gostariam de ser visitados pelos seus familiares diariamente que pode
representar ausência ou saudade de familiares e amigos.
- Tendo em conta o convívio com pessoas externas à instituição é de salientar que 61,54%
referem não terem esse contacto, levando-nos a pensar que existem fracos laços familiares e
de amizade.
- O afastamento dos vínculos familiares está patente na nossa amostra já que 73% viviam
acompanhados e foram institucionalizados.
Discussão e Conclusão
Esta
pesquisa
procurou
compreender
as
relações
afectivas
entre
idosos
institucionalizados e os seus familiares, realizada no lar de castelãos. O objectivo após a
caracterização dessa população, foi saber qual o apoio que estes idosos tinham da família, e da
instituição.
45
Com a elaboração deste estudo, e após a determinação do APGAR familiar verificamos
que 50% das famílias destes idosos apresentam moderada disfunção, ou seja, estes idosos tem
a percepção de que a família não lhe dá o apoio que eles gostariam de ter, quer ao nível de
assistência recebida, comunicação, crescimento emocional, afectos e resolução de problemas.
Assim sendo, achamos pertinente a implementação de um Projecto de Intervenção
Comunitária, não só à família, mas também à instituição, porque esta interage directamente
com a família e o idoso, além de fazer todo o acompanhamento do processo é o vínculo de
ligação prioritário nas relações que se estabelecem entre eles.
Esta intervenção terá como objectivos:
- Favorecer a reconstrução de laços familiares;
- Incutir nas famílias maior e melhor apoio ao Idoso institucionalizado;
- Promover junto das instituições algumas medidas que visem o desenvolvimento de
talentos, competências e capacidades para que os idosos aumentem a sua autoestima, e fortifiquem as suas relações de amizade.
Referências Bibliográficas
ALVES, J. (1977). Direito Romano. Rio: Forense
BEAUVIOR, S. (1990). A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira.
CALDAS (2002). Memória, trabalho e velhice: um estudo das memórias de velhos
trabalhadores. In: VERAS, Renato P. (Org.) Terceira Idade:
desafios para o terceiro milénio. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: UnATIUERJ, p. 121-142.
DUARTE, Y. (2001). Família: rede de suporte ou fator estressor: a ótica de idosos e
cuidadores familiares [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo. Programa de
Pós-Graduação em Enfermagem.
GANINE, M. R. (2000). Envelhecimento. Mais de 50 – o portal para maduros de qualquer
idade. Sites interactivos S. A.
GONÇALVES, A. K. (1999). Ser idoso no mundo: o indivíduo e a vivencia de actividades
físicas como meio de afirmação e identidade social. Tese de doutorado – USP/ SP –
Psicologia Social.
LANCASTER, J. (1999) – Enfermagem Comunitária: Promoção de Saúde de Grupos,
Famílias e Indivíduos. 1.ª Ed. Lisboa : Lusociência. ISBN 972-8383-05-3. P. 492-514.
MESSORA, L. (2006) - Perfil dos idosos em instituições asilares Municipais do sul de Minas
Gerais. Alfenas - MG. CEP 37130000.
MERCEDES Z. G, (2006). Funcionamiento social del adulto mayor. Cienc Enferm [online].
Dic
[acesso
2008
Abr
03];
12(2).
Disponível
em:http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S071795532006000200007&script=sci_arttext
MINUCHIN, S. (1990) – Famílias: Funcionamento & Tratamento. Porto Alegre: Artes
Médicas,. p. 25-69.
NERI, A. L. (1995). Psicologia do envelhecimento: uma área emergente. In Neri (Org.),
Psicologia do envelhecimento. Campinas, SP : Papirus.
46
NOVAES, M. (1997). Psicologia da terceira idade: conquistas possíveis e rupturas
necessárias. Paulo Frontin, RJ : NAU.
RODRIGUES, R. A. P., & DIOGO, M. J. D. (1996). Como cuidar dos idosos. Campinas:
Papirus
SANTOS, M. F. S. (1994). Velhice : uma questão psico-social. Temas em Psicologia, 2, 123131.
SARACENO, Chiara – Sociologia da Família, Lisboa: Estampa.1997.
SERRA, A. (1999) – O Stress na Vida de Todos os Dias. Coimbra.
SILVA, BESSA, e OLIVEIRA (2004). Tamanho e estrutura familiar de idosos residentes em
áreas periféricas de uma metrópole. Ciencia e Enfermaria, [S.l.], v.10,n.1, p. 31-39.
SMILKSTEIN G. The family APGAR a proposal for a family function test and its use by
physicians. J Fam Pract. 1978 Jun; 6(6):1231-9.
STANHOPE, Márcia. Teorias e desenvolvimento familiar. In STANHOPE,
LANCASTER, J. Enfermagem Comunitária: promoção de saúde de grupos, famílias e
indivíduos. Lisboa : Lusociência, 1999.
BORN, T e Boechat, NS – A Qualidade dos cuidados ao idoso institucionalizado. In:
FREITAS, E. V. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 2ª. Edição. Rio de Janeiro:
Guanabara
Koogan,
2006.
http://www.scielo.cl/scielo.php?pid=S071795532006000200007&script=sci_arttext
47
04. CUIDADOS PALIATIVOS EM CUIDADOS CONTINUADOS
Cristiana Isabel Alves Rodrigues & Lara Sofia Gomes Alves Herculano
ULSNE – Centro de Saúde de Vimioso
48
Resumo
O número de doentes com cancro e outras doenças crónicas continua a aumentar e, na
última década, surgiu uma crescente preocupação com os doentes crónicos e terminais. Este
número é vasto e irá aumentar com o envelhecimento da população e com os avanços na
medicina que permitem aos indivíduos uma maior longevidade mas, uma qualidade de vida
questionável. Este trabalho foi realizado no âmbito da apresentação de um poster para o I
Congresso da Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Miranda do Douro com o
tema “Dilemas Actuais e Desafios Futuros”. O tema por é “Os Cuidados Paliativos em
Cuidados Continuados”, por ser um tema actual e com cada vez mais interesse no âmbito dos
Cuidados Continuados. Fazendo referência aos vários tipos de cuidados existentes no nosso
País, vamos neste trabalho aprofundar, tanto quanto nos é possível, o tema dos Cuidados
Continuados Integrados e os Cuidados Paliativos. Este trabalho tem como objectivos saber
definir cuidados continuados e paliativos e a quem se destinam; saber diferenciar cuidados
continuados integrados e cuidados paliativos e conhecer a realidade dos cuidados paliativos
dentro dos cuidados continuados integrados. O material e recursos utilizados para elaboração
deste trabalho foram a consulta bibliográfica de alguns documentos e livros acerca de
cuidados continuados e cuidados paliativos e revisão de matéria leccionada na Pós Graduação
de Cuidados Continuados e Paliativos. Após pesquisa e elaboração do trabalho podemos
concluir que para se conseguirem atingir os objetivos de dar resposta a todas as necessidades
que surjam, e porque partimos de uma situação de escassez de respostas nesta área, há que
fazer um percurso ambicioso e num período de longo investimento. Tendo em conta as
naturais dificuldades de implementação de serviços, que fazem parte das recomendações da
OMS e outras organizações, prevê-se que só dentro de um período de 5 a 10 anos sejam
implementados todos esses objetivos. À medida que os serviços de cuidados se forem
desenvolvendo, o conhecimento da realidade permitirá uma visão mais apurada das
necessidades e dos recursos, permitindo uma resposta mais equitativa e eficaz às necessidades
da população.
Palavras-chave: Cuidados de saúde; Cuidados continuados e cuidados paliativos.
Abstract
The number of patients with cancer and other chronic diseases continues to increase
and, in the last decade, there was a growing concern for the chronically ill and terminal.
This number is large and will increase with the aging population and advances in medicine
that allow individuals to live longer, but a quality of life questionable. This work was
conducted as part of a poster presentation to the First Congress of Continuous Care Unit of
Miranda do Douro with the theme "Current Dilemmas and Future Challenges." The theme is a
"Palliative Care in Long Term Care", because it is a topical issue and with increasing interest
within the Continuing Care. Referring to the various types of care available in our country, we
will deepen this work as much as we can, the theme of Continuous Care and Palliative Care.
This work aims to define more continuing care and palliative care and to whom they are
intended; know differentiate continued care and palliative care and know the reality of
palliative care within the integrated continuous care. The materials and resources used for
preparation of this work were the bibliographic some documents and books about continuing
care and palliative care and review of subjects taught in Graduate and Continuing Care
Hospice. After research and development work we can conclude that to achieve the goals of
49
achieving respond to any needs that may arise, and because we start from a shortage of
answers in this area, we must make an ambitious journey and a long investment period. Given
the natural difficulties of implementing services that are part of the recommendations of the
WHO and other organizations, it is anticipated that only within a period of 5 to 10 years are
implemented all of these goals. As care services are developed, knowledge of reality will
allow a more accurate view of the needs and resources, enabling a more equitable and
effective response to the needs of the population.
Keywords: Health care; Continuing care and palliative care.
50
Introdução
“ Os cuidados de enfermagem consistem em ajudar o indivíduo a cumprir as suas tarefas de
que ele próprio se ocuparia se tivesse a força, a vontade e o conhecimento, de forma a ajudálo a reconquistar a sua independência.”
Virgínia Henderson
O número de doentes com cancro e outras doenças crónicas continua a aumentar e, na
última década, surgiu uma crescente preocupação com os doentes crónicos e terminais.
Aproximadamente 50% das mortes na Europa são de doentes crónicos que, ao longo do
tempo, foram ficando dependentes e em sofrimento durante meses e até anos antes de
morrerem. Este número é vasto e irá aumentar com o envelhecimento da população e com os
avanços na medicina que permitem aos indivíduos uma maior longevidade mas, uma
qualidade de vida questionável (European Association for Palliative Care, 2007).
Este trabalho foi realizado na âmbito da apresentação de um póster para o I Congresso
da Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Miranda do Douro a realizar no dia 28 e
29 de Setembro de 2012, em Miranda do Douro, com o tema “Dilemas Actuais e Desafios
Futuros”.
O tema por nós escolhido foi “Os Cuidados Paliativos em Cuidados Continuados”, por
ser um tema actual e com cada vez mais interesse no âmbito dos Cuidados Continuados.
Fazendo referência aos vários tipos de cuidados existentes no nosso País, vamos neste
trabalho aprofundar, tanto quanto nos é possível, o tema dos Cuidados Continuados
Integrados e os Cuidados Paliativos.
Este trabalho tem como objectivos saber definir cuidados continuados e paliativos e a
quem se destinam; saber diferenciar cuidados continuados integrados e cuidados paliativos e
conhecer a realidade dos cuidados paliativos dentro dos cuidados continuados integrados.
Os Cuidados de Saúde
Os Cuidados de Saúde não são apenas um nível de atenção do sistema de saúde ou um
procedimento técnico; dizem respeito ao tratar, cuidar, respeitar, acolher e atender o ser
humano com qualidade para resolução dos seus problemas.
É uma atitude interactiva que incluiu o envolvimento e relacionamento entre duas
partes: o utente e a equipa de saúde.
51
Com o desenvolvimento tecnológico e científico, os cuidados de saúde passaram a ser
um foco central para o bem-estar e felicidade do ser humano; como também foi uma boa
contribuição para o progresso económico, já que se a longevidade da população aumentasse,
aumentava também a produtividade do país.
Para o desenvolvimento dos cuidados de saúde tiveram que se conceber alguns
princípios fundamentais para que tal prosperasse. Um desses princípios seria a equidade em
saúde e o direito fundamental de acesso a cuidados de saúde por qualquer indivíduo
independentemente da sua cor, religião ou condição social. Aos nossos dias, corre a
necessidade de prestar cuidados de saúde com qualidade e para isso foram criados vários tipos
de cuidados e serviços de saúde adaptados não só ao ciclo vital mas também à condição de
cada utente.
Existem vários tipos de cuidados de saúde a prestar aos nossos utentes:
•
•
•
Cuidados de Saúde Primários;
Cuidados de Saúde Diferenciados;
Cuidados Continuados Integrados;
•
Cuidados Paliativos.
Cuidados Continuados Integrados
O aparecimento dos Cuidados Continuados deu-se com a necessidade de haver
prestação de cuidados de saúde e cuidados sociais de qualidade a cidadãos em situação de
dependência e fragilidade. Mas com o aparecimento de problemas complexos em relação à
disponibilização desses mesmos cuidados, nasceu a Rede Nacional de Cuidados Continuados
Integrados, que se articula com os Cuidados de Saúde Diferenciados, Cuidados de Saúde
Primários, sector social, utente e família, com vista a dar resposta às suas necessidades.
Os Cuidados Continuados Integrados centram-se na recuperação global da pessoa,
promovendo a sua autonomia e melhorando a sua funcionalidade, no âmbito da situação de
dependência em que se encontra.
Têm valores como prestação individualizada e humanizada de cuidados; continuidade
de cuidados entre os diferentes serviços; equidade no acesso e mobilidade entre os diferentes
tipos de unidades; proximidade na prestação de cuidados; multidisciplinaridade e
interdisciplinaridade na prestação de cuidados; eficiência e qualidade na prestação de
cuidados; optimização e conforto, função e suporte social aos doentes e familiares.
52
Dentro dos Cuidados Continuados Integrados há vários tipos de unidades funcionais,
tanto em unidades de internamento, ambulatório, como unidades domiciliárias:
Unidades internamento: Unidade de Curta Duração ou Convalescença; Unidade de
Média Duração e Reabilitação, Unidade de Longa Duração e Manutenção e Unidade de
Cuidados Paliativos.
Unidade Ambulatório: Unidades de Dia e Promoção de Autonomia.
Unidade de Apoio Domiciliário: Equipa de Cuidados Continuados Integrados e Equipa
de Comunitária de Suporte Paliativo.
Unidades de convalescença
Segundo o art.13º do Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de Junho, “ A unidade de
convalescença é uma unidade de internamento, independente, integrada num hospital de
agudos ou noutra instituição se articulada com um hospital de agudos, para prestar tratamento
e supervisão clínica, continuada e intensiva, e para cuidados clínicos de reabilitação, na
sequência de internamento hospitalar originado por situação clínica aguda, recorrência ou
descompensação de processo crónico.”
Tem como finalidade a estabilização clínica e funcional, a avaliação e reabilitação
integral da pessoa com perda da autonomia por um curto período de tempo e com
possibilidade de recuperação, mas que não tenha necessidade de cuidados e hospitalização em
unidades de agudos.
Unidades de Média Duração ou Reabilitação
A unidade de média duração e reabilitação é uma unidade de internamento, com espaço
físico próprio, articulada com o hospital de agudos para a prestação de cuidados clínicos, de
reabilitação e apoio psicossocial, por situação clínica decorrente de recuperação de um
processo agudo ou descompensação de processo patológico crónico, a pessoas com perda
transitória de autonomia potencialmente recuperável. In art.13º do Decreto-Lei nº 101/2006,
de 6 de Junho.
Tem por finalidade a estabilização clínica, a avaliação e a reabilitação integral da pessoa
que se encontre na situação prevista no número anterior.
53
Unidade de Longa Duração e Manutenção
"A unidade de longa duração e manutenção é uma unidade de internamento, de carácter
temporário ou permanente, com espaço físico próprio, para prestar apoio social e cuidados de
saúde de manutenção a pessoas com doenças ou processos crónicos, com diferentes níveis de
dependência e que não reúnam condições para serem cuidadas no domicílio." (art. 13.º do
Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho).
A Unidade de Internamento de Longa Duração e Manutenção tem por finalidade
proporcionar cuidados que previnam e retardem o agravamento da situação de dependência,
favorecendo o conforto e a qualidade de vida, por um período de internamento superior a 90
dias consecutivos.
Unidade de ambulatório:
Unidades de dia e promoção de autonomia
Prestam cuidados integrados de suporte, de promoção de autonomia e apoio social, em
regime ambulatório, a pessoas com diferentes níveis de dependência que não reúnam
condições para ser cuidadas no domicílio (n.º 1 do Art.º 21.º do Decreto-Lei n.º 101/2006,
de 6 de Junho)
Unidades de Apoio Domiciliário:
Equipas de Cuidados Continuados Integrados
Equipa multidisciplinar da responsabilidade dos cuidados de saúde primários e das
entidades de apoio social, que presta serviços domiciliários, a pessoas em situação de
dependência funcional, doença terminal ou em processo de convalescença, cuja situação não
requer internamento, mas que não podem deslocar-se do domicílio (n.º 1 do Art.º 27.º do
Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho).
Equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos
Equipa multidisciplinar que presta apoio e aconselhamento diferenciado em cuidados
paliativos (n.º 2 do Art.º 29.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho
54
Cuidados Paliativos
"Cuidados
Paliativos
consistem
na assistência promovida
por
uma equipa
multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares,
diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da
identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos,
sociais, psicológicos e espirituais". (Organização Mundial de Saúde)
Os princípios dos Cuidados Paliativos são:
· Fornecer alívio para dor e outros sintomas stressantes como astenia, anorexia, dispneia e
outras emergências oncológicas.
· Reafirmar vida e a morte como processos naturais.
· Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do
paciente.
· Não apressar ou adiar a morte.
· Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu
próprio ambiente.
· Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente
possível até sua morte.
· Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos
pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto.
A Unidade de Cuidados Paliativos é uma unidade de internamento, com espaço físico
próprio, preferencialmente localizada num hospital, para acompanhamento, tratamento e
supervisão clínica a doentes em situação clínica complexa e de sofrimento decorrentes de
doença severa e/ou avançada, incurável e progressiva, nos termos do consignado no Programa
Nacional de Cuidados Paliativos do Plano Nacional de Saúde.
Presta acompanhamento, tratamento e supervisão clínica de doentes em situação clínica
complexa e de sofrimento decorrente de doença severa e/ou avançada, incurável e progressiva
(n.º 1 do Art.º 19.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho).
55
Realidade dos Cuidados Paliativos nos Cuidados Continuados
Para dar uma resposta correta dos serviços de saúde em Cuidados Paliativos, é
necessário reconhecer quem são os doentes que necessitam deste mesmo tipo de cuidados. A
oferta de Cuidados Paliativos faz-se com base no tipo de necessidades na comunidade.
Em Portugal com a existência da RNCCI (Rede Nacional Cuidados Continuados
Integrados) a evolução dos Cuidados Paliativos teve um grande passo:
Unidades de internamento de Cuidados Paliativos
Unidades de equipas de apoio domiciliário
Por haver lotação das Unidades de Cuidados Continuados, muitas vezes são as
Unidades de Longa Duração e Manutenção que prestam esses cuidados, bem como as equipas
domiciliárias. A nossa realidade, por motivos sociais, culturais ou religiosos, muitas vezes é
outra e acabam por ser as equipas domiciliárias que mais prestam os cuidados em fim de vida.
No distrito de Bragança existe apenas uma Unidade de Cuidados Paliativos para servir a
toda a comunidade distrital; sendo a unidade de Paliativos mais próxima, a do IPO Porto.
Existem ainda várias unidades de internamento, na sua maioria de longa duração e as ECCI,
dirigidas em convénio com os Cuidados de Saúde Primários, mais a UDCP (Unidade
Domiciliaria de Cuidados Paliativos), criada através de um projeto apresentado à Fundação
Calouste Gulbenkian e financiado pela mesma, a funcionar em todo o Planalto Mirandês, com
o objetivo principal de prestar cuidados paliativos à população dessa área geográfica.
As ECCI’S prestam sobretudo cuidados continuados integrados, como o próprio nome
indica, mas nas zonas do país, onde as Unidades de Cuidados Paliativos são muito poucas, são
estas equipas que tentam cuidar e apoiar o utente e família em situação de doença grave
crónica e/ou terminal.
São equipas com profissionais devidamente preparados para prestar cuidados paliativos
em contexto que não o de internamento, capaz de oferecer apoio estruturado de forma
programada e em qualquer intercorrência, que estão disponíveis no maior período de tempo
possível, muitas vezes 24 horas.
Existe uma boa articulação entre RNCCI e Cuidados de Saúde Primários para que todos
estes cuidados possam ser prestados.
Como fazer estimativas sobre o número de pessoas que irão necessitar de cuidados
paliativos?
56
Não se podem fazer com clareza mas segundo a OMS, calcula-se que 60% do total de
pessoas falecidas necessitavam de cuidados paliativos.
Atendendo que os cuidados paliativos também são prestados à família, além do próprio
utente, podemos dizer que existem milhares de pessoas a necessitar deste tipo de cuidados.
Em Portugal, no ano de 2001 morreram 104990 pessoas, 60% desta cifra dá 62994,
tendo em conta que são prestados cuidados ao próprio utente e a 3 ou 4 elementos da família,
dá uma estimativa de 250 000 pessoas que necessitam de cuidados paliativos, anualmente, em
Portugal.
São necessárias, em média 100 camas de cuidados paliativos por 1.000.000 de
habitantes.
Conclusão
Se prestar cuidados à pessoa que sofre de doença crónica ou sintomas associados,
continua a ser, nos dias de hoje, uma parte importante e essencial do nosso trabalho; devemos
desenvolver e dar a conhecer tudo aquilo, que no nosso saber-estar e no nosso saber-fazer,
constituí a parte do cuidar.
Com o evoluir das doenças crónicas, maior será o número de pessoas a necessitar de
internamento hospitalar. Assim o utente e os seus próximos serão confrontados com
problemas complexos, de ordem médica, social e afetiva, que uma única unidade de cuidados
não pode gerir sozinha. Daí o benefício da criação de unidade de cuidados que presta um
acompanhamento global e contínuo tendo em conta as necessidades de cada indivíduo.
Para se conseguirem atingir os objetivos de dar resposta a todas as necessidades que
surjam, e porque partimos de uma situação de escassez de respostas nesta área, há que fazer
um percurso ambicioso e num período de longo investimento. Tendo em conta as naturais
dificuldades de implementação de serviços, que fazem parte das recomendações da OMS e
outras organizações, prevê-se que só dentro de um período de 5 a 10 anos sejam
implementados todos esses objetivos.
À medida que os serviços de cuidados se forem desenvolvendo, o conhecimento da
realidade permitirá uma visão mais apurada das necessidades e dos recursos, permitindo uma
resposta mais equitativa e eficaz às necessidades da população.
57
Bibliografia
Ahya, P., Bahuau, A., Beguin, M.A., Bernard, MF. Bevan, S., Bonnefond-Leurs, I. …
Warren, L. Sociedade Francesa de Acompanhamento e Cuidados Paliativos,
(1999).Desafios da Enfermagem em Cuidados Paliativo, Masson, Paris;
Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, (2006). Recomendação para a Organização
de Serviços de Cuidados Paliativos, p. 18.
Organização Mundial de Saúde (2012). Palliative care. Acedido em 20 de Setembro de 2012
em http://www.who.int/cancer/palliative/en/.
Organização Mundial de Saúde (2012). Primary health care. Acedido em 20 de Setembro de
2012
em
http://www.euro.who.int/en/what-we-do/health-topics/Healthsystems/primary-health-care/main-terms-used.
Pinheiro, R. (2009). Dicionário da Educação Profissional em Saúde, Cuidado em Saúde.
Acedido
em
20
de
Setembro
de
2012
em
http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/cuisau.html
Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, Constituição da RNCCI. Acedido em 20
de
Setembro
de
2012,
em
http://www.rncci.minsaude.pt/rncci/constituicao/Paginas/default.aspx.
58
05. PERCEÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE EM IDOSOS SUBMETIDOS A DIÁLISE
Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1, Maria de Fátima Pereira Geraldes2. Maria Isabel Fernandes Praça2,
Sandra Cristina Mendo Moura2, Manuel Alberto Morais Brás1
1
2
Escola Superior de saúde, NIII, Instituto Politécnico de Bragança.
Enfermeira ULSNE.
59
Resumo
O crescimento da população idosa é uma realidade crescente dos países desenvolvidos,
começando também a verificar-se nos países em desenvolvimento. O envelhecimento
populacional constitui um dos determinantes que justificam o aumento do número de doentes
em dialise (Kusumoto, Marques, Haas, Rodrigues; 2008). A doença tem impacto em várias
áreas: a nível relacional e social, esquema terapêutico rigoroso, mudança de hábitos de vida,
dependência de uma máquina, além de limitações na sua vida diária como perda do emprego,
alterações da imagem corporal, restrições dietéticas e hídricas. As limitações e complicações
resultantes desta prática tendem a aumentar com a idade. Os resultados da avaliação da
qualidade de vida relacionada com a saúde, tentam quantificar as consequências da doença e
dos tratamentos, de acordo com diversas dimensões, para as quais se podem e devem
direcionar ações específicas dos cuidados de saúde. Justificando-se assim, a pertinência da
investigação da qualidade de vida nos idosos em hemodiálise.
Pretendeu-se avaliar a perceção da qualidade de vida relacionada com a saúde dos
idosos em hemodiálise e verificar a sua relação com as variáveis sociodemográficas e clínicas.
Desenvolveu-se um estudo não experimental, transversal e correlacional. Desenvolvido
numa amostra de 150 doentes em hemodiálise no Nordeste de Portugal. A colheita de dados
decorreu em 2007. O instrumento de colheita de dados utilizado para caracterização da
população foi o Kidney Disease and Quality of Life-Short Form (KDQOL-SFTM), ao qual
foram associadas questões sociodemográficas e clínicas.
Foram encontradas diferenças entre os escores médios em relação ao sexo e à idade,
com significância estatística nas dimensões do KDQOL-SFTM: Funcionamento físico, Função
física, emocional, saúde geral e vitalidade; em relação às habilitações, em todas as dimensões
com exceção da dor, saúde geral e função emocional; em relação ao tempo em diálise,
doenças associadas e complicações, existem diferenças com significância estatística em todas
as dimensões físicas, dor e saúde geral.
Nos idosos, os escores de qualidade de vida são inferiores aos encontrados na população
de dialise, em praticamente todas as dimensões. Com exceção da variável rendimento, foi
encontrada relação significativa entre as variáveis sociodemográficas e clínicas e a perceção
da qualidade de vida relacionada com a saúde. Os resultados da presente investigação são
corroborados por Kusumoto, Marques, Haas e Rodrigues em 2008 e Anes em 2011.
Justificando-se a importância da utilização deste indicador na avaliação da prática dos
cuidados.
Palavras-chave: Perceção do estado de saúde; Qualidade de vida; Diálise; Insuficiencia
renal crónica; Idosos.
Abstrat
The growth of the elderly population is a growing reality in developed countries, but are
beginning to occur in developing countries. Population aging is one of the determinants that
justify the increased number of patients on dialysis (Kusumoto, Marques, Haas, Roberts,
2008). The disease has impact on several areas: the social and relational level, therapeutic
regimen, changing lifestyle habits, dependence on a machine, and limitations in their daily
lives as job loss, changes in body image, dietary restrictions and liquids. The limitations and
complications resulting from this practice tend to increase with age. The results of the
assessment of quality of life related to health, try to quantify the consequences of the disease
60
and treatments, according to several dimensions, for which they can to direct specific actions
of healthcare. Justifying thus the relevance of the research in quality of life in elderly
hemodialysis.
It was intended to evaluate the perception of quality of life related to health of elderly
patients on hemodialysis and verify their relationship to sociodemographic and clinical
variables.
We developed a non-experimental, correlational and transversal study, in a sample of
150 patients on hemodialysis in the Northeast of Portugal. Data collection took place in 2007.
The data collection instrument used to characterize the population was the Kidney Disease
Quality of Life - Short Form (KDQOL-SFTM), which were completed with
sociodemographic and clinical issues.
Differences were found between the mean scores in relation to gender and age, with
statistical significance in the KDQOL-SFTM dimensions: physical functioning, role physical,
emotional, general health and vitality; regarding qualifications, in all dimensions except pain,
general health and emotional function, in relation to time on dialysis, associated diseases and
complications, there are diference of statistical significance in all physical dimensions, pain
and general health.
In the elderly, quality of life scores are lower than those found in the dialysis general
population, in almost all dimensions. With the exception of the variable income, a significant
relationship was found between the sociodemographic and clinical variables and the
perception of quality of life related to health. The results of this study are corroborated by
Kusumoto, Marques, Haas and Roberts in 2008 and Anes in 2011. Justifying the use of this
important indicator in assessment of health care.
Keywords: Perception of health status; Quality of life; Dialysis; Chronic renal failure;
Seniors.
61
Introdução
Desde meados do século XX tem-se verificado um crescimento astronómico do
envelhecimento da população. Imensos fatores têm contribuído para esta realidade, como
sejam as alterações demográficas, baixa fecundidade, aumento da longevidade e esperança de
vida.
O envelhecimento da população acarretou alterações epidemiológicas no perfil de
morbi-mortalidade da população, onde se verificou a substituição das doenças infectocontagiosas por doenças crônicas não-transmissíveis, com implicações ao nível do estado de
saúde dos idosos.
As alterações inerentes ao processo de envelhecimento não significam doença, mas a
probabilidade de seu aparecimento aumenta com a idade, uma vez que o envelhecimento
torna as pessoas mais vulneráveis aos processos patológicos, caracterizando a senilidade
(Hayflick, 1996).
Alguns destes processos patológicos predispõem à doença renal no idoso. E as
alterações anatômicas e fisiológicas nos rins, decorrentes do processo de envelhecimento
renal, constituem um agravante para a patologia renal no idoso, aumentando a suscetibilidade
da disfunção renal com o passar dos anos (Lessa , 1998; Smeltzer, Bare, Brunner & Suddarth,
1998).
A IRC é o resultado final de múltiplos sinais e sintomas decorrentes da incapacidade
renal de manter a homeostasia interna do organismo (Riella, 1996), necessitando por
conseguinte de tratamento de substituição da função renal.
Nesta prática são frequentes as angústias, os medos e inseguranças e, também a
presença de outras doenças e complicações causadas pelas limitações da própria doença e do
tratamento, com consequentes implicações ao nível emocional e físico.
Procuramos nesta investigação identificar qual a perceção do estado de saúde dos idosos
em diálise, através da sua relação com fatores sociodemográficos e clínicos.
Método
Foi desenvolvido um estudo não experimental, analítico e transversal numa amostra de
150 idosos (77,58% da população), com insuficiência renal crónica em tratamento dialítico
em unidades de diálise do Nordeste Transmontano, os quais obedeciam aos critérios de
inclusão.
62
Foi efetuado um contacto pessoal com todos os idosos. Foram apresentados os objetivos
e propósitos da investigação, foi explicada a importância da contribuição de cada um,
realçando o carácter voluntário da participação, a garantia de confidencialidade,
disponibilidade de esclarecimento de qualquer dúvida e agradecimento pela participação. A
colheita de dados foi precedida da obtenção do consentimento informado.
O instrumento de colheita de dados foi constituído por uma medida específica de
avaliação da qualidade de vida, validado para a população portuguesa o Kidney Disease
Quality of Life - Short Form (KDQOL-SFTM) (Ferreira & Anes, 2010). Para melhor
caracterização dos doentes, foram associadas algumas questões sociodemográficas e clínicas.
Resultados/Discussão
Dos 150 participantes no estudo, a maioria eram homens (58%), viúvos (60%), viviam
sós (26%), tinham um baixo nível de escolaridade (39% analfabetos) e rendimentos (32%
com rendimento abaixo de 250€. A idade dos inquiridos varia entre los 65 e 88 anos. O tempo
de tratamento em diálise oscila entre los 6 meses e 20 anos. A maioria dos doentes refere
outras doenças associadas (65%), sendo a diabetes a doença mais mencionada (49%). Todos
os doentes referem complicações resultantes da doença ou dos tratamentos. Em termos de
caracterização global para a perceção do estado de saúde, obtivemos um valor médio de
62,56, com desvio padrão de 12,45 e o valor da mediana encontra-se muito próximo da média
(62,49). O valor mínimo encontrado foi 21,03 e o máximo foi 92,10 (Quadro 1).
Quadro 1 - Caracterização global da perceção do estado de saúde.
N
150
Média
62,56
DP
12,45
Mediana
62,49
Min.
21,03
Max.
92,10
Por dimensões, a perceção do estado de saúde (Quadro 2) do KDQOL-SFTM evidencia
limitações em áreas de desempenho pessoal, como seja a atividade profissional, o peso da
doença renal, a saúde em geral, a vitalidade e o desempenho físico. Com resultados
intermédios ressaltam a função social e o funcionamento físico. As restantes dimensões
apresentam valores médios superiores a 60.
Castro, Caiuby, Draibe e Canziani, em 2003 utilizando o questionário genérico SF-36
em 184 pacientes, concluíram que os menores valores médios observados se verificavam nas
dimensões aspetos físicos e vitalidade. Resultados que também foram corroborados por Anes
& Ferreira em 2009 e Anes & Vicente Castro em 2010.
63
Quadro 2 - Médias relativas às dimensões do KDQOL-SFTM1.3.
Dimensão
Sintomas/problemas
Efeitos da doença renal
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade de interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encorajamento do pessoal da
diálise
Satisfação doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
Média
73,6
65,7
22,4
10,65
87,8
79,2
73,9
68,4
78,6
89,6
81,9
53,5
38,76
68,3
29,34
60,2
63,6
51.9
34,67
Relativamente à perceção do estado de saúde em relação ao género, em termos globais,
os homens apresentam melhores pontuações do que as mulheres. Através dos resultados do
teste t, podemos concluir que as diferenças entre os dois sexos são estatisticamente
significativas, pois os valores de prova são inferiores a 5% (Quadro 3).
Analisando os resultados da perceção do estado de saúde em relação ao género por
dimensões, verificamos que os valores médios são superiores no sexo masculino (Quadro 4).
Quadro 3 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao género.
Género
Feminino
N=63
Masculino
N=87
Teste t
Perceção do estado de saúde
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
t
p
56,10
12,56
64,17
12,01
-4,790
0,000
64
Quadro 4 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao género por
dimensões.
Género
Dimensão
Sintomas/lista problemas
Efeitos da doença na vida diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade da interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encoraj. do pessoal da diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
Feminino
n=63
Média
S
70,45
15,65
62,24
14,12
22,23
19,42
12,79
24,29
74,34
15,00
75,44
16,21
64,64
34,43
62,83
17,78
76,52
30,65
89,23
18,65
80,63
20,65
41,28
31,11
30,02
29,89
59,00
31,57
29,42
15,34
54,74
21,30
55,59
29,84
42,76
29,57
29,18
24, 37
Masculino
n=87
Média
S
79, 10
12,53
68,31
15,51
29,54
18,75
18,48
28,90
75,53
14,46
78,79
16,33
69,67
33,16
68,73
17,36
78,35
30,62
90,12
17,98
82,36
19,80
58,97
30,63
49,18
33,38
71,44
29,73
33,47
16,53
61,32
19,34
68,35
28,31
60,15
27,36
39,49
24,84
Teste t
t
-6,176
-3,254
-2,364
-0,978
-0,488
-1,860
-0,453
-3,428
-0,485
-0,345
-3,229
-4,786
-4,057
-3,989
-4,167
-3,331
-3,538
-4,200
-4,489
p
0,000
0,020
0,053
0,848
0,736
0,193
0,624
0,002
0,670
0,673
0,050
0,000
0,000
0,000
0,000
0,001
0,000
0,000
0,000
Os resultados da aplicação do teste t mostram haver diferenças significativas para a
maioria das dimensões, à exceção da atividade profissional, função cognitiva, qualidade da
interação social, função sexual, apoio social e encorajamento do pessoal da diálise.
Estes resultados são corroborados por Cunqueiro, Cortés, Foronda, Borrego, Perales,
Pérez del Barrio, et al, em 2003 e Anes e Ferreira em 2009, que também referem nos idosos
serem as mulheres quem apresentam piores, com significado estatístico na dimensão função
física, desempenho físico, dor, função social e vitalidade.
Para a idade foram constituídos três grupos etários: 65 - 74 anos, 75 - 84 anos e maior
ou igual a 85 anos.
Constatamos que a perceção do estado de saúde, varia no sentido inverso da idade, ou
seja, o grupo com menor idade é o que apresenta maior qualidade de vida.
O teste Anova mostra-nos a existência de diferenças significativas (Quadro 5) entre as
médias dos vários grupos etários (p<0,000).
Numa análise dimensional, parece observar-se um decréscimo da perceção do estado
de saúde à medida que a idade aumenta.
65
Quadro 5 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação à idade.
Perceção do estado de saúde
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
f
p
Idade
65 -74 anos
n=67
75 –84 anos
n=59
> 85 anos
n=24
Test Anova
74,14
11,21
62,15
14,08
55,65
14,64
16,674
0,000
A aplicação do teste Anova mostra-nos que as diferenças são significativas para a
maioria das dimensões (Quadro 6), com exceção da função cognitiva, qualidade da interação
social, apoio social e encorajamento do pessoal da diálise, em que o valor de prova é superior
a 5%.
Quadro 6 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação à idade, por
dimensão.
Dimensão
65 -74 anos
n=67
Média
Desvio
Padrão
75 –84 anos
n=59
Média
Desvio
Padrão
> 85 anos
n=24
Média
Desvio
Padrão
Sintomas/Problemas
Ef. doença na vida diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade inter. social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encoraj. pessoal diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
79,95
68,20
30,67
3,64
83,75
79,44
58,37
70,54
81,42
90,99
86,65
45,59
34,38
62,74
34,73
59,86
60,72
45,29
29,73
64,55
56,75
24,83
2,87
69,79
80,38
57,93
60,85
81,89
92,47
78,27
44,71
33,87
61,66
33,29
58,75
59,79
44,31
28,84
60,88
56,65
24,64
1,57
68,79
72,79
56,33
59,43
74,75
88,53
76,18
43,47
32,08
60,01
32,92
20,83
57,92
42,94
27,32
Idade
11,97
15,52
20,85
36,37
14,45
15,82
12,34
14,49
21,01
17,90
15,43
20,08
22,06
24,46
15,87
18,76
22,42
19,99
18,36
14,74
17,04
18,73
17,50
14,34
15,38
29,24
15,52
28,17
16,60
19,62
30,21
31,57
31,79
16,62
21,41
29,75
29,62
24,17
10,65
14,63
15,77
9,28
10,86
11,66
22,74
14,09
23,36
13,64
16,63
28,72
25,38
24,71
13,72
16,65
22,19
21,13
16,79
Test Anova
f
p
7,762
3,367
9,756
46,773
0,204
0,479
6,675
3,340
0,700
0,235
3,542
13,548
11,785
6,254
3,754
5,863
5,900
17,853
19,322
0,000
0,030
0,000
0,000
0,766
0,543
0,001
0,009
0,389
0,766
0,039
0,000
0,000
0,002
0,019
0,002
0,002
0,000
0,000
Confirma-se que a perceção do estado de saúde diminui à medida que a idade aumenta.
Significa, que são os grupos com indivíduos com menos idade que apresentam maiores
índices. Estes resultados estão em concordância com o referido por Anes e Ferreira e Anes e
Vicente castro, em 2009 e 2010 respetivamente.
66
Para a confrontação da perceção do estado de saúde e o nível de instrução, procedeu-se
ao reagrupamento das habilitações em três grupos: até ao ensino básico, ensino básico e
secundário e ensino médio e superior.
Parecem observar-se pontuações de perceção do estado de saúde mais elevadas para os
indivíduos com maiores habilitações. Os resultados dos testes estatísticos (Anova) mostram
haver diferenças significativas entre as médias dos grupos com diferentes habilitações
(Quadro 7).
Quadro 7 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao nível de
instrução.
Nível de instrução
Perceção do estado de saúde
Até ao ensino básico
n=59
Ensino básico e secundário
n=86
Ensino médio e superior
n=5
Test Anova
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
f
p
52,04
13,54
62,29
13,65
62,83
17,52
20,156
0,000
Analisando as dimensões do KDQOL-SFTM1.3 em relação ao nível de instrução,
parecem observar-se valores mais baixos de perceção do estado de saúde no grupo de
menores habilitações, para grande parte das dimensões. No Quadro 8 podemos observar os
resultados do teste Anova, que nos mostram, que estas diferenças são significativas para a
maioria das dimensões, com exceção da função cognitiva, qualidade da interação social, apoio
social, encorajamento do pessoal da diálise e satisfação do doente, em que o valor de prova é
superior a 5%.
Segundo Neves (2000), o maior nível de instrução significa mais informação, mais
conhecimentos, podendo assim contribuir para melhor promover a saúde e prevenir a doença.
Para verificar a variação da perceção do estado de saúde relacionada com o estado civil
reagruparam-se os respondentes em três grupos: casados, viúvos e solteiros.
Parecem observar-se pontuações mais elevadas para os indivíduos que possuem
companheiro. Os resultados estatísticos do teste t mostram haver diferenças significativas
entre as médias da perceção do estado de saúde em cada grupo, uma vez que o valor de prova
é inferior a 0,05 (Quadro 9).
67
Quadro 8 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao nível de
instrução, por dimensões.
Nível de instrução
Até ao
ensino básico
n=59
Dimensão
Sintomas/Problemas
Efeitos da doença na vida diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade da interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encoraj. do pessoal da diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
Ensino
básico e sec.
Ensino médio
e superior
n=86
teste Anova
n=5
Média
S
Média
S
Média
71,56
62,95
21,50
8,99
73,25
70,31
47,38
65,33
64,16
93,21
80,29
39,11
28,82
51,49
21,48
46,02
50,00
37,16
24,52
14,77
15,37
13,84
11,10
12,73
14,84
29,09
18,89
29,00
13,18
17,86
28,44
26,64
30,87
14,65
16,43
27,57
21,85
19,01
72,53
68,33
27,30
12,86
80,42
71,43
78,33
64,48
67,99
90,72
80,63
44,54
33,64
64,87
28,11
54,16
59,53
58,62
31,69
13,77
16,56
19,76
22,43
15,46
14,65
25,77
15,16
25,12
18,98
20,08
30,01
28,09
26,24
14,51
19,08
22,08
27.43
25,00
74,34
69,53
34,88
28,63
86,86
72,53
80,80
67,60
67,64
83,83
74,46
55,86
42,87
65,03
31,77
58,57
64,32
63,18
35,32
S
17,23
21,08
23,38
55,00
22,00
13,08
19,65
18,56
40,05
11,00
25,03
17,45
33,10
35,16
19,04
24,67
30,34
30,14
24,50
f
11,000
7,009
8,072
21,016
0,231
0,944
5,933
3,297
2,622
1,142
0,297
15,471
17,729
4,296
6,403
5,033
11,229
25,740
21,592
p
0,000
0,003
0,000
0,000
0,844
0,422
0,007
0,040
0,078
0,283
0,654
0,000
0,000
0,010
0,002
0,006
0,000
0,000
0,000
Quadro 9 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao estado civil.
Estado civil
Perceção do estado de saúde
Casados/C. companheiro
n=50
Viúvos
n=90
Solteiros
n=10
Test Anova
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
f
p
62,70
15,22
57,54
16,43
54,43
17,10
3,437
0,009
Analisando os resultados da perceção da qualidade de vida e a relação com o estado
civil por dimensões, verificamos que os utentes que afirmam ter companheiro apresentam
pontuações superiores.
Os resultados da aplicação do teste Anova mostram haver diferenças significativas em
mais de metade das dimensões, à exceção da atividade profissional, função sexual, função
física, desempenho físico e vitalidade (Quadro 10).
68
Quadro 10 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação estado civil por
dimensões.
Estado civil
Dimensão
Sintomas/Problemas
Efeitos da doença vida diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade da interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encoraj. do pessoal da diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
Casado/Com
Companheiro
n=90
Média
S
79,59 14,66
67,52 18,46
28,36 22,15
18,99 34,61
89,58 14,96
80,84 15,92
72,00 35,82
68,77 18,59
74,65 25,54
92,09 18,36
82,11 22,13
59,43 33,06
46,04 33,06
71,42 32,82
34,41 16,96
64,27 20,35
67,46 29,44
56,80 31,34
39,44 25,38
Viúvo
n=50
Média
66,31
65,58
26,28
14,39
89,22
78,90
70,75
67,80
68,97
90,58
80,85
41,78
35,27
64,69
32,19
54,66
58,45
46,57
30,48
S
16,83
17,83
19,46
29,44
12,60
18,32
17,68
20,03
40,21
17,28
20,60
38,20
34,80
33,42
18,41
22,87
33,03
32,69
25,96
Solteiros
n=10
Média
65,44
63,58
26,66
14,00
79,61
74,64
69,57
63,65
65,23
84,65
76,49
39,54
34,65
61,67
30,64
54,93
57,32
44,87
30,12
S
15,45
17,34
20,45
30,59
13,32
17,43
20,00
19,72
35,43
16,66
19,64
31,70
32,63
30,65
17,95
19,60
28,59
28,99
25,60
Teste Anova
f
2,499
-3,408
3,758
1,044
2,176
1,820
-0,612
-2,013
3,058
1,590
-1240
0,403
0,264
2,441
1,905
2,208
2,080
2,275
2,476
p
0,050
0,004
0,002
0,298
0,001
0,002
0,411
0,009
0,003
000,5
0,011
0,101
0,065
0,050
0,043
0,002
0,039
0,024
0,014
As normas Portuguesas do SF-36 em 2003 (Ferreira & Santana; 2003) e Anes e
Ferreira em 2009 corroboram estes resultados, atribuindo melhores pontuações aos indivíduos
com companheiro.
Para verificar a variação da perceção do estado de saúde relacionado com o rendimento
reagruparam-se os participantes em quatro grupos: até 250€, entre 250 e 500€ e superior a
500€.
Parecem observar-se melhores pontuações nos indivíduos com rendimentos mais
elevados. Os resultados estatísticos do teste Anova mostram haver diferenças significativas
entre as médias da perceção do estado de saúde em cada grupo uma vez que o valor de prova
é inferior a 0,05 (Quadro 11).
Numa análise dimensional por grupo de rendimento, parece observar-se um acréscimo
da perceção do estado de saúde à medida que aumenta o rendimento, para grande parte das
dimensões.
69
Quadro 11 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao rendimento.
Rendimento
Perceção do estado de saúde
Até 250€
n=48
Superior a 500€
n=22
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
Teste Anova
f
59,97
15,09
62,96
16,08
66,36
16,77
1,963
p
0,063
Entre 250-500€
n=80
Através da aplicação do teste Anova verificamos que não existem diferenças
significativas entre os vários grupos de rendimento e a perceção do estado de saúde (Quadro
12).
Quadro 12 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao rendimento
por dimensões.
Rendimento
Até 250€
n=48
250-500€
n=80
>500€
n=22
Teste Anova
Dimensão
Média
S
Média
S
Média
S
f
p
Sint./Problemas
E. da doença na vida diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Q da interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
E. do pessoal da diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
77,17
70,58
28,80
11,96
87,39
79,57
82,14
66,74
67,02
90,49
85,07
56,74
39,54
65,00
32,72
60,00
66,30
54,62
31,66
15,39
17,62
18,80
26,21
13,05
16,05
32,79
21,00
39,55
15,85
20,61
35,42
31,18
31,12
15,52
19,17
29,08
31,77
25,12
76,67
66,09
24,39
13,11
88,31
79,45
67,61
68,52
78,50
91,60
82,21
50,66
37,70
67,95
31,64
57,05
55,46
50,41
31,66
16,68
16,65
22,32
28,73
13,70
18,47
36,53
20,90
30,47
17,93
23,15
35,55
31,46
34,29
17,81
19,86
32,95
28,77
22,56
82,13
69,41
30,53
27,88
91,54
82,18
83,55
71,59
91,06
91,83
82,04
61,92
53,85
74,62
40,96
67,60
75,32
60,82
47,35
13,64
21,51
22,78
41,32
15,00
14,45
30,63
14,89
21,98
20,24
21,86
36,44
39,18
31,96
17,80
20,73
29,61
35,18
28,10
1,401
0,793
0,837
2,549
0,905
0,310
1,185
0,573
0,972
0,086
0,345
1,632
2,580
0,738
1,342
2,361
1,116
1,348
2,009
0,243
0,499
0,475
0,057
0,439
0,818
0,321
0,634
0,462
0,968
0,793
0,183
0,054
0,531
0,120
0,072
0,087
0,260
0,064
Anes e Ferreira em 2009 encontraram diferenças significativas em doentes renais
crónicos, com melhores pontuações para os grupos com rendimentos mais elevados.
70
Para a análise da perceção do estado de saúde com o tempo em diálise foram
constituídos apenas três grupos até três meses, de três meses a um ano e mais de um ano,
devido à reduzida dimensão dos grupos abaixo de 3 meses.
Constatamos que a perceção do estado de saúde, aumenta à medida que aumenta o
tempo em diálise (Quadro nº 13). Constatamos através do teste de ANOVA que existem
diferenças significativas entre as médias dos vários grupos (p<0,05).
Quadro 13 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao tempo de
tratamento.
Tempo de tratamento
Perceção do estado de saúde
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
f
p
Até três meses
n=35
Três meses a um ano
n=75
Mais de um ano
n=40
Teste Anova
50,18
13,68
57,79
16,98
59,36
15,97
2,467
0,050
Numa análise dimensional por intervalo de tempo de tratamento, parece observar-se
que a variação da perceção do estado de saúde se verifica no mesmo sentido do tempo de
tratamento em diálise, para grande parte das dimensões.
Quadro 14 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao tempo de
tratamento, por dimensão.
Tempo de tratamento
Dimensão
Sintomas/Problemas
Efeitos da doença na vida diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade da interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encoraj. do pessoal da diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
Até três
meses
Média
74,22
58,40
15,23
9,38
87,92
80,00
58,93
68,13
81,31
92,97
87,44
45,94
28,52
55,31
36,56
55,31
43,23
38,28
30,47
S
15,92
14,33
17,23
27,20
13,82
17,38
31,22
16,50
34,33
19,35
15,49
37,20
27,67
32,25
15,68
17,84
33,09
32,10
23,81
Três meses a
um ano
Mais de um
ano
Média
79,40
68,75
28,55
9,10
92,73
80,30
78,41
72,27
69,72
91,48
87,82
53,41
40,34
72,44
35,34
60,00
66,67
48,30
36,65
Média
78,74
68,51
28,66
20,47
88,77
80,23
75,00
67,94
82,11
91,52
80,46
54,71
44,55
69,80
33,95
62,11
66,08
56,36
37,17
S
17,20
18,98
18,94
22,29
11,84
16,45
39,56
21,73
39,45
18,63
17,77
37,32
35,01
34,41
21,20
22,20
29,91
32,53
28,93
S
14,65
18,20
21,95
35,43
14,77
16,80
34,73
18,49
28,81
17,82
22,75
35,18
33,99
32,69
16,61
21,77
30,28
31,55
25,27
Teste Anova
f
0,728
2,343
2,994
2,631
1,459
0,002
0,757
0,919
2,739
0,048
2,537
0,445
1,772
1,657
0,243
0,811
4,256
3,118
0,490
p
0,485
0,098
0,050
0,074
0,235
0,998
0,472
0,400
0,067
0,953
0,081
0,641
0,172
0,193
0,785
0,446
0,015
0,046
0,613
71
Como podemos observar no Quadro 14, a aplicação do teste Anova mostra-nos que as
diferenças são significativas apenas para três dimensões peso da doença renal, desempenho
emocional e função social, em que o valor de prova é inferior a 5%.
Cunqueiro e Castro em estudos diferentes desenvolvidos em 2003, afirmam que o
tempo de tratamento se correlaciona de forma negativa com a perceção do estado de saúde.
Relativamente às doenças associadas, foram constituídos dois grupos. Um não tem
doenças associadas, outro tem doenças associadas.
Em termos globais, os doentes sem outras doenças associadas apresentam melhor nível
de perceção do estado de saúde.
Através dos resultados do teste t, podemos concluir que as diferenças entre os
indivíduos dos dois grupos são estatisticamente significativas, uma vez que os valores de
prova são inferiores a 5% (Quadro 15).
Quadro 15 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação a doenças
associadas.
Doenças associadas
Não tem doenças associadas
n=47
Tem doenças associadas
n=103
Teste t
Perceção do estado de saúde
Média
Desvio Padrão
Média
Desvio Padrão
t
p
64,51
16,06
52,06
15,12
5,100
0,000
Analisando os resultados da perceção do estado de saúde em relação às doenças
associadas de por dimensões, verificamos que a perceção é superior no grupo que não tem
doenças associadas.
Os resultados da aplicação do teste t mostram haver diferenças significativas para a
maioria das dimensões, com exceção da função cognitiva, qualidade da interação social, sono,
encorajamento do pessoal da diálise, satisfação do doente e bem-estar emocional (Quadro 16).
Estes resultados estão em concordância com as conclusões dum estudo desenvolvido
pelo Governo dos EUA (1997), constituindo as comorbilidades fator agravante do estado de
saúde.
72
Quadro 16 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação a doenças
associadas por dimensões.
Doenças associadas
Dimensão
Sintomas/Problemas
Efeitos da doença na vida
diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade da interação
social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encorajamento do pessoal
da diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
Não tem doenças
associadas
n=47
Média
S
Tem doenças
associadas
n=103
Média
S
Teste t
t
p
81,25
72,65
15,21
18,36
76,46
64,13
14,97
17,31
2,396
3,612
0,017
0,000
31,56
26,73
88,98
80,53
22,40
38,45
14,98
17,33
24,71
10,38
89,85
80,00
20,01
26,19
13,67
16,27
2,448
3,664
-0,460
0,238
0,015
0,000
0,646
0,812
81,12
69,55
86,51
91,34
29,13
18,89
24,11
17,92
64,93
68,17
74,40
91,83
40,07
19,16
35,72
18,13
2,045
0,547
3,069
-0,205
0,045
0,585
0,002
0,838
83,96
62,67
52,48
75,82
37,92
63,22
70,46
65,10
43,13
20,96
34,20
35,19
31,48
16,66
23,52
31,83
31,59
27,11
81,09
47,00
35,00
64,23
31,65
59,69
60,06
44,62
31,54
22,11
35,35
30,93
33,54
17,62
19,94
29,36
29,57
23,72
1,000
3,390
3,945
2,675
2,745
1,232
2,573
5,069
3,461
0,318
0,001
0,000
0,008
0,007
0,219
0,011
0,000
0,001
Foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson para verificar a associação entre o
número de complicações e a perceção do estado de saúde. Como R é igual a -0,689 significa
que existe uma moderada1 associação negativa entre as variáveis. A correlação verificada
entre o número de complicações e a qualidade de vida é negativa, indicando que quando o
número de complicações aumenta, a perceção do estado de saúde diminui. Como o nível de
significância do teste é 0,01, valor inferior a 0,05, então a moderada associação linear entre o
número de complicações e a qualidade de vida é estatisticamente significativa.
Numa análise dimensional, verificamos que existe sempre uma associação negativa, o
que nos indica, que à medida que o número de complicações aumenta, diminui a perceção do
estado de saúde em qualquer dimensão. Com a dimensão sintomas/lista de problemas existe
uma associação alta e estatisticamente significativa (o nível de significância do teste é 0,01).
1
A classificação usada é sugerida por Pestana M. H. e Gameiro J.N. no livro Análise de Dados para Ciências
Sociais: a Complementaridade do SPSS (2000).
73
Verifica-se uma associação moderada e estatisticamente significativa (o nível de significância
do teste é 0,01) com as seguintes dimensões: efeitos da doença renal, peso da doença renal,
sono, funcionamento físico, desempenho físico, dor, saúde geral, bem-estar emocional,
desempenho emocional, função social e vitalidade (Quadro 17).
Quadro 17 - Coeficiente de correlação de Pearson entre o número de complicações e a
qualidade de vida.
Dimensão
Sintomas/Problemas
Efeitos da doença na vida
diária
Peso da doença renal
Atividade profissional
Função cognitiva
Qualidade da interação social
Função sexual
Sono
Apoio social
Encorajamento do pessoal da
diálise
Satisfação do doente
Função física
Desempenho físico
Dor
Saúde geral
Função emocional
Desempenho emocional
Função social
Vitalidade
R de Pearson
-0,898 **
-0,499 **
-0,489
-0,300
-0,165
-0,198
-0,289
-0,433
-0,187
-0,079
-0,042
-0,398
-0,384
-0,585
-0,440
-0,459
-0,487
-0,469
-0,596
**
**
*
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
**
* < 0,05
** < 0,01
Elbagir et al em 1999, confirmam a influência negativa das diversas complicações na
qualidade de vida relacionada com a saúde, estando estas complicações estão ligadas a um
contexto de limitações físicas e psicológicas, com impacto negativo nas componentes da
qualidade de vida.
Conclusões
O crescente envelhecimento da população é uma realidade inegável. Fato que
determina em parte o aumento do número de doentes em dialise (Kusumoto, Marques, Haas,
Rodrigues; 2008).
74
A insuficiência renal é uma doença crónica, acarreta imensas alterações e desafios na
vida diária destes doentes, e constitui uma companhia perpétua.
A diminuição da perceção do estado de saúde é mais sentida à medida que pretendem
realizar as suas atividades diárias ou trabalho habitual, devido a problemas na saúde física ou
emocionais e a uma perda nas relações sociais.
Para esta avaliação, são fundamentais e imprescindíveis as perceções dos indivíduos
sobre a sua própria saúde (Bowling, 1995) e não meramente as medidas biológicas
tradicionais. As medidas genéricas do estado de saúde e de domínio específico, constituem
ferramentas e medidas precisas imprescindíveis à avaliação da qualidade de vida. Só assim é
possível monitorizar e conhecer os efeitos ou resultados, quer das doenças, quer dos
tratamentos.
Os resultados da presente investigação demonstram a relação de diversas variáveis na
perceção do estado de saúde dos insuficientes renais crónicos idosos em diálise, as variáveis
sociodemográficas (género, idade, nível de instrução e estado civil) e clínicas (tempo de
tratamento, doenças associadas e complicações).
Referências Bibliográficas
Anes, E. & Ferreira, P.L. (2009) - Qualidade de vida em diálise. Revista Portuguesa de Saúde
Pública; 8, p.67-82
Anes, E. & Vicente Castro, F. (2010) - Percepção da Qualidade de vida na insuficiência renal
crónica. International Journal of Developmental and Educational Psycology ; 4, p.581592
Bowling, A. (1995). Health-Related Quality of Life: A Discussion of the Concept, its use and
Measurement, Measuring Disease. Buckingham: Open University Press; p. 1-19.
Castro M., Caiuby, A.V.S., Draibe, S.A., Canziani, M.E.F.. (2003). Qualidade de vida com
pacientes com insuficiência renal crónica em hemodiálise avaliada através do
instrumento genérico SF-36. Revista Associação Medica Brasileira;49(3):245-9.
Cunqueiro, J.M.G.,, Cortés M.J.G., Foronda, J, Borrego, J.F., Perales, M.C.S., Pérez del
Barrio, P., et al. (2003). Calidad de vida relacionada con la salud en pacientes ancianos
en hemodiálisis. Nefrologia; 23(6):528-37.
Elbagir, M.N. et al. (1999). Health-related Quality of life in insulin-treated diabetic patients in
the Sudan. Diabetes Res Clin Pract; 46(1):65-73.
Ferreira, P.L., Anes, E.J.. (2010). Medição da qualidade de vida de insuficientes renais
crónicos: Criação da versão portuguesa do KDQOL-SF. Revista Portuguesa de Saúde
Pública; Jan-Jun; 28(1): 31-9.
Hayflick L. (1996). Como e porque envelhecemos. Rio de Janeiro (RJ): Campus.
Neves, C.F.S.. (2000). Qualidade de Vida em Pessoas com Diabetes Mellitus [dissertação].
Coimbra. Faculdade de economia da Universidade de Coimbra.
Pestana, M.H., & Gameiro J.N. (2000). Análise de dados para ciências sociais: a
complementaridade do SPSS. Lisboa: Edições Sílabo.
75
Lessa, I. (1998). O adulto brasileiro e as doenças da modernidade. São Paulo (SP):
HUCITEC-ABRASCO.
Smeltzer, S.C., Bare, B.G, Brunner & Suddarth. (1998). Tratado médico-cirúrgico. 8ª ed. Rio
de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan.
76
06.
ANÁLISE
DAS
QUEDAS
QUE
RESULTARAM
EM
FRATURA
DA
EXTREMIDADE PRÓXIMAL DO FÉMUR
Preto, Leonel São Romão – Professor Adjunto na Escola
Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança,
Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso (ESSa/IPB);
[email protected]
Mendes, Maria Eugénia Rodrigues – Professor Adjunto na
Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de
Bragança; [email protected]
Novo, André Filipe Morais Pinto – Equiparado a Assistente
de 1º Triénio na Escola Superior de Saúde do Instituto
Politécnico de Bragança, Núcleo de Investigação e
Intervenção no Idoso (ESSa/IPB); [email protected]
Barreira, Elisabete Maria Gomes – Enfermeira na Unidade
Local de Saúde do Nordeste – Unidade de Bragança;
[email protected]
77
Resumo
Introdução: As quedas constituem uma das principais causas de morbilidade no idoso.
Investigámos fatores de risco e características das quedas que resultaram em fratura da anca,
com base em entrevistas a idosos internados em ortotraumatologia. Objetivos: Identificar
fatores intrínsecos e ambientais e analisar o relato da queda. Avaliar, retrospetivamente, a
independência funcional do idoso antes da queda; e prospectivamente a independência seis
meses após alta. Material e Métodos: Estudo descritivo e correlacional com 18 idosos
participantes; sendo critérios de inclusão apresentarem-se orientados, colaborantes e sem
amnésia para o episódio de queda. A recolha de dados fez-se durante o internamento e seis
meses após alta clínica. Resultados: A amostra foi constituída por 4 homens e 14 mulheres
com média de idade de 82,39±5,33 anos. O membro lesado foi maioritariamente o esquerdo
(n=7) e predominou a fratura do colo (n=9), seguindo-se a trocantérica (n=6), subtrocantérica
(n=2) e intratrocantérica (n=1). Todos os idosos foram submetidos a cirurgia. As fraturas
resultaram na sua maioria (n=13) de quedas da própria altura ocorridas em casa (n=13). Os
idosos relataram fatores que, isoladamente ou em conjunto, precipitaram a queda; entre os
quais as perturbações do equilíbrio (n=11), diminuição da força (n=6), calçado mal ajustado
(n=4) e barreiras arquitetónicas (n=4). Relativamente ao mecanismo do trauma,
frequentemente a queda deu-se para o lado em que ocorreu a fratura (n=13), sem utilização
das mãos como defesa (n=10). Quase todos os participantes (n=16) referiram ter medo de cair
novamente após deixarem o hospital. Discussão e Conclusão: As quedas resultaram da
combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos. O padrão mais comum foi a queda da própria
altura, sem uso de reflexos protetores, impactando no solo com o quadril do lado fraturado.
Após a alta a grande maioria dos idosos regressou ao domicílio. Na avaliação após 6 meses
constatou-se que 5 faleceram, dos quais 3 com AVC. Comparando a funcionalidade antes da
queda e seis meses após alta, através da Escala de Lawton e Índice de Katz, concluímos que
as fraturas da anca conduziram a uma diminuição acentuada da independência funcional.
Palavras-chave: Idosos; Fratura da anca; Característica da queda; Funcionalidade.
Abstract
Background: Falls are a major cause of morbidity in elderly. We investigated risk factors and
characteristics of falls that led to hip fractures in Elderly. Objectives: Identify intrinsic and
extrinsic factors and analyze the report of the fall. Evaluate the functionality before the fall
and the functional independence six months after discharge. Material and Methods:
Descriptive and correlational study with 18 elderly participants. Inclusion criteria were:
participants must be conscious, oriented and without amnesia to the fall episode. Data
collection was made during hospitalization and six months after discharge. Results: Sample
consisted of 4 men and 14 women, admitted in the Trauma and Orthopedic department, with
mean age was 82.39 ± 5.33 years. Proximal femur fractures mainly occurred in the left leg.
All patients were treated surgically. Fractures resulted mostly (n = 13) of falls from own
height occurred at home (n = 13). Elderly had reported factors that, individually or together,
precipitated the fall, including balance disorder (n = 11), decreased strength (n = 6), ill-fitting
footwear (n = 4) and architectural barriers (n = 4). Regarding the mechanism of injury, often
the fall took place on the side where the fracture occurred (n = 13) without the use of hands as
a defense (n = 10). Almost all participants (n = 16) reported fear of falling after discharge.
Discussion and Conclusion: Falls resulted from combination of intrinsic and extrinsic
78
factors. The most common pattern was a fall from own height, without protective reflexes,
impacting the ground with the fractured hip side. 6 months after discharge we found that 5
died. Comparing functionality before the fall and six months after discharge with the Lawton
Scale and Katz Index, we conclude that hip fractures have led to a sharp decline in functional
independence.
Keywords: Elderly; Hip fracture; Fall; Functionality.
79
Introdução
As fraturas proximais do fémur apresentam uma elevada incidência em pessoas com
mais de 65 anos. Embora nos países desenvolvidos o prognóstico tenha vindo a melhorar
graças ao desenvolvimento dos cuidados de emergência pré-hospitalar e das técnicas
cirúrgicas e anestésicas (Pedersen, et al., 2008), estas fraturas apresentam ainda taxas de
mortalidade e morbilidade significativas em idosos. Segundo dados da Direção Geral da
Saúde (DGS), durante o ano de 2006 ocorreram em Portugal 9523 fraturas do colo do fémur,
as quais foram responsáveis por gastos hospitalares na ordem dos 52 milhões de euros. A
mesma fonte estima a mortalidade entre 20% a 30% durante um ano após fratura, referindo
que a incapacidade grave atingi uma prevalência de 40% no mesmo período.
Epidemiologicamente a evidência científica realça que as fraturas do quadril, tendem a
ocorrer mais frequentemente em idosos, sobretudo a partir dos 85 anos (Marks, Allegrante,
MacKenzie, & Lane, 2002), e são mais comuns em mulheres (Cummings & Melton, 2002).
Há um incremento da incidência de fraturas do fémur proximal com a idade, devido aos
fatores intrínsecos aumentados, à funcionalidade diminuída (Bloch, et al., 2010) e à perda de
densidade mineral e massa óssea associada ao envelhecimento (Wei., Hu., Wang., & Hwang,
2001). As estratégias de tratamento diferem conforme a natureza das fraturas (intracapsulares
ou extracapsulares) e o tipo de fraturas interfere na morbilidade e mortalidade (Cornwall,
Gilbert, Koval, Strauss, & Siu, 2004). A fratura proximal do fémur conduz frequentemente a
uma perda de independência funcional (Reuling, et al., 2012).
Os episódios de queda no idoso resultam da interação de fatores extrínsecos e
intrínsecos. Entre os extrínsecos, associados ao meio ambiente, referimos a título de exemplo
a iluminação inadequada, as superfícies escorregadias, os tapetes soltos ou com dobras, piso
irregular, pequenos objetos ou obstáculos no solo, estado dos degraus ou inexistência de
corrimãos de apoio. Os fatores intrínsecos, mais difíceis de controlar, estão associados a
alterações decorrentes de patologias ou do processo normal de envelhecimento (Messias &
Neves, 2009).
É útil acentuar que uma queda pode ter múltiplas causas e quedas repetidas podem ter
diferentes etiologias. Daí a importância de avaliar corretamente um idoso que sofreu queda.
Grosso modo, a queda é um marcador de distúrbios subjacentes apenas identificáveis por uma
cuidadosa avaliação pós-queda, com o objetivo de prevenir recorrências, reduzir
incapacidades e custos do tratamento.
80
Acreditamos que a descrição das características da queda, por parte de quem caiu,
poderá melhora a nossa compreensão sobre a biomecânica deste processo. Nesta linha de
análise, e Segundo Cummings & Nevitt (1989), algumas condições devem estar presentes
para que uma queda num idoso resulte em fratura da anca: um primeiro fator seria o ponto de
impacto do corpo com o solo, quanto mais próximo do quadril maior a probabilidade de
fratura; o segundo fator a ter em conta seria a falha nas respostas de proteção; o terceiro a
capacidade dos tecidos moles envolvidos absorver forças de impacto e o quarto e último fator
a resistência óssea e seu limiar de fratura. As pesquisas destes autores mostraram que o idoso
tem um padrão de queda diferente da população jovem, caindo com mais frequência sobre o
lado e não usando as mãos como defesa eficaz contra quedas.
Tendo em conta este referencial teórico foi nosso objetivo principal avaliar as
circunstâncias em que decorreram as quedas que resultaram em fratura da extremidade
proximal do fémur. Pretende-se identificar fatores intrínsecos e ambientais presentes na queda
e analisar o relato desse acontecimento por parte do doente, para assim entender a
biomecânica da queda. Finalmente quisemos avaliar, de forma retrospetiva, a independência
funcional do doente antes da queda e a segurança do doente para o desempenho de atividades
de vida diária seis meses após a sua alta hospitalar.
Material e Métodos
Este estudo incluiu pacientes com mais de 65 anos internados no serviço de
ortotraumatologia da Unidade Hospitalar de Bragança (Unidade Local de Saúde do Nordeste)
com o diagnóstico de fratura proximal do fémur entre Junho e Dezembro de 2011. Os
seguintes critérios de inclusão foram observados: a fratura ter resultado de uma queda, os
sujeitos apresentarem-se orientados, conscientes e colaborantes, não ter havido perda de
consciência anterior à queda e não existir amnésia relativamente ao episódio de queda.
O estudo foi conduzido após aprovação do protocolo de investigação pela Comissão de
Ética da instituição hospitalar onde o mesmo decorreu e os idosos participaram de forma
voluntária após terem sido esclarecidos relativamente aos objetivos e assinado consentimento
informado. Os dados foram recolhidos em dois momentos de avaliação distintos. O primeiro
momento decorreu durante o período de internamento, por entrevista estruturada, e o segundo
seis meses após a alta clínica, por contacto telefónico realizado pelos investigadores.
A informação sociodemográfica recolhida incluiu o sexo, o estado civil e o concelho de
origem. As seguintes variáveis clínicas foram tidas em conta: classificação da fratura,
81
perímetro da cintura abdominal, membro afetado e tipo de tratamento efetuado
(cirúrgico/conservador). A informação pré-queda fez-se durante a entrevista através de
questões que aludiam aos últimos 30 dias antes da queda. Para avaliar a independência
funcional antes da queda utilizámos a Escala de Lawton (na realização das atividades
instrumentais de vida diária: usar o telefone, fazer compras, executar atividades domésticas,
usar transporte, tomar medicamentos, controlar as finanças, preparar refeições e andar fora de
casa) e a autonomia pré-queda foi avaliada através do Índice de Katz. Os instrumentos
anteriormente referidos foram igualmente usados para avaliar a capacidade funcional seis
meses após a alta clínica.
Na entrevista o doente era convidado a relatar a queda sofrida tendo em conta o local
onde ocorreu e a forma como ocorreu. Neste aspeto pesquisámos fatores intrínsecos e
ambientais que na opinião do idoso poderiam ter precipitado a queda e anotámos informações
respeitante ao mecanismo de trauma e direção da queda. Na entrevista telefónica seis meses
após alta; conseguimos apenas reunir dados sobre 9 idosos; já que 4 se mostraram
incontactáveis, e 5 tinham falecido.
Após recolha da informação a mesma lançada num ficheiro de dados em programa
estatístico. A análise foi realizada por meio da estatística descritiva, utilizando medidas de
frequência absoluta e relativa, tendência central e dispersão.
Resultados
Dados de caracterização sociodemográfica
A tabela seguinte apresenta os participantes do estudo distribuídos por sexo, idade e
estado civil. Como se denota, a maioria são mulheres (n=14). A idade variou dos 73 aos 92
anos (82,39±5,33). Os idosos eram maioritariamente viúvos (n=8).
Relativamente ao concelho de origem, obtivemos registos para o concelho de Alfândega da Fé
(n=2), Bragança (n=2), Carrazeda de Anciães (n=3), Mirandela (n=4), Mogadouro (n=1),
Torre de Moncorvo (n=3), Vinhais (n=2) e Valpaços (n=1).
82
Tabela 1- Distribuição dos inquiridos segundo o sexo, a idade e estado civil
Variáveis Sociodemográficas
Sexo (N=18)
Masculino
Feminino
Idade (N=18)
73 Anos
74 Anos
79 Anos
80 Anos
81 Anos
82 Anos
83 Anos
84 Anos
85 Anos
86 Anos
87 Anos
89 Anos
92 Anos
Estado civil (N=18)
Solteiro/a
Casado (a)/União de facto
Divorciado (a)
Viúvo (a)
Frequências
n
%
4
14
22,2
77,8
1
2
1
3
1
1
1
1
1
1
3
1
1
5,6
11,1
5,6
16,7
5,6
5,6
5,6
5,6
5,6
5,6
16,7
5,6
5,6
3
6
1
8
16,7
33,3
5,6
44,4
Fatores de risco
Na tabela subsequente expomos os fatores de risco mais presentes nos participantes do
estudo. A presença de patologias associadas verificou-se em 13 casos e já tiveram fraturas
anteriores 3 idosos. Realçamos o facto de 3 mulheres terem tido menopausa anterior à idade
de 45 anos.
Tabela 2- Fatores de risco para fratura na amostra estudada
Fatores de risco
Presença de patologias associadas
História de fratura de baixo impacto
História familiar de fratura, designadamente a mãe ter tido fratura da anca
Hábitos tabágicos
Presença de artrite reumatoide
Presença de insuficiência renal
Menopausa precoce (antes dos 45 anos de idade)
Problemas de visão
n
%
13
3
1
1
1
1
3
16
72,2
16,7
5,6
5,6
5,6
5,6
21,4*
88,9
*Percentagem calculada em função do número de mulheres
83
Caracterização das quedas
Setenta e dois por cento dos participantes no estudo tiveram queda da própria altura, e a
mesma percentagem de idosos caiu sobre o lado em que a fratura ocorreu.
Tabela 3- Dados sobre as características das quedas na amostra em estudo
Frequências
n
%
Queda da própria altura
13
72,2
Queda de altura superior a 50cm
2
11,1
Quedas em degraus ou escadas
3
16,7
Caíram sobre o lado em que ocorreu a fratura
13
72,2
Caíram sobre o lado contrário em que ocorreu a fratura
1
5,6
Caíram para a frente
1
5,6
Ocorrência de rotação sobre o corpo aquando da queda (N=18)
4
22,2
Utilização das mãos para aliviar o impacto da queda (N=18)
8
44,4
Características das quedas
A fratura resultou de: (N=18)
Tipo de queda e ponto de impacto do corpo com o solo (N=18)
Caíram para trás
Na tabela abaixo caracterizamos as quedas segundo o local em que as mesmas
ocorreram. Podemos verificar que a via pública foi o local menos registado (n=2). Caíram no
quintal ou jardim 3 idosos e os restantes 13 caíram em casa/ edifícios.
Quanto aos que caíram em casa observamos que o quarto e a cozinha foram as divisões
da casa onde mais quedas se verificaram, cada uma delas com três registos. Significativas
foram também as quedas em cozinhas e corredores, cada uma destas categorias com duas
quedas observadas.
Partindo do relato que os idosos fizeram da queda foi-nos possível identificar fatores
ambientais que isolados ou conjuntamente contribuíram para o acontecimento. Por exemplo a
“má iluminação” não foi realçada em nenhum dos casos. Quanto ao piso molhado ou
escorregadio o mesmo for referido por três idosos da amostra. Os auxiliares de marcha
inadequados foram citados em dois casos. As barreiras arquitetónicas e dificuldades de
acesso/ movimentação foram salientadas por quatro indivíduos. O calçado mal ajustado foi
referido em quatro situações. Contudo foram os fatores intrínsecos como a falta de força nos
membros inferiores (n=6) e os problemas de equilíbrio postural (n=11) os fatores que os
idosos mais atribuem como causa das quedas que sofreram.
84
Tabela 4 Caracterização das quedas conforme o local em que ocorreram
Frequências
n
%
Via pública
2
11,1
No quintal ou jardim
No interior de um edifício
Local da casa em que ocorreu a queda (N=13)
Corredor
3
13
16,7
72,2
2
15,4
Cozinha
Lagar
Quarto
Terraço
Wall
WC
3
1
3
1
1
2
23,1
7,7
23,1
7,7
7,7
15,4
Local das quedas
Local em que ocorreu a queda: (N=18)
Destino dos pacientes após alta clínica e mortalidade após seis meses
Seis meses após a alta clínica os participantes foram contactados através de ligação para
o número telefónico dado pelo paciente e/ou família à equipe de investigação. Após várias
tentativas não conseguimos estabelecer contacto com quatro idosos ou suas famílias. Tendo
em conta os restantes (n=14) concluímos que a quase totalidade dos idosos regressou ao seu
domicílio (n=13) e apenas um ingressou numa Unidade de Cuidados Continuados. Um
paciente teve complicações decorrentes do tratamento da fratura; e ao fim de seis meses 5
participantes tinham falecido. Os motivos de falecimento foram o AVC (n=3), a pneumonia
(n=1) e a sepsis (n=1). Assim a taxa de mortalidade ao meio ano foi de 28% na amostra em
estudo.
Independência para a realização de Atividades de Vida antes da queda e após alta
Na tabela seguinte comparamos as descritivas encontradas para a escala de Lawton e
índice de Katz, (variáveis operacionalizadas pelo somatório das pontuações nos vários itens)
para os dois momentos de avaliação da independência funcional. Como se denota,
comparando as médias da Escala de Lawton antes da queda e meio ano após a alta (5,56±3,01
pontos e 3,33±3,84 pontos, respetivamente) verificamos uma diminuição da independência
funcional significativa em termos estatísticos (p=0,03) pelo teste não paramétrico de
Wilcoxon.
85
Após a alta foram também encontradas pontuações médias mais baixas para o Índice
de Katz (17,17±1,29 pontos antes da queda e 13,78±3,76 pontos seis meses pós-alta), com
significância estatística (p=0,03).
Tabela 5- Descritivas para o Lawton e Katz antes da queda e seis meses depois da alta
Independência funcional antes da queda
M
DP
σ2
Mínimo
Máximo
Lawton (N=18)
5,56
3,01
9,09
0
8
Katz (N=18)
17,17
1,29
1,68
14
18
Independência funcional seis meses após a alta
M
DP
σ2
Mínimo
Máximo
Lawton (N=9)
3,33
3,84
14,75
0
8
Katz (N=9)
13,78
3,76
14,19
9
18
Analisando as correlações das medidas de independência funcional usados no estudo
nos vários momentos de avaliação, que apresentamos na tabela seguinte, podemos verificar
que a idade está negativamente correlacionada com a independência funcional, sobretudo
após alta clínica, o que poderá significar que a fratura da anca interfere mais fortemente com a
autonomia dos muito idosos.
Tabela 6- Correlações de Spearman entre a idade e as medidas de independência funcional,
nos dois momentos de avaliação
Idade
Idade
Lawton antes
Katz antes
Lawton depois
Katz depois
Lawton antes
Katz antes
Lawton depois
Katz depois
r
p
N
r
p
N
r
p
N
r
p
N
r
1
.
18
-,414
,088
18
-,576*
,012
18
-,658*
,006
9
-,824**
1
.
18
,620**
,006
18
,447
,228
9
,355
1
.
18
,389
0,301
9
,370
,889**
p
,006
,348
,327
,001
.
N
9
9
9
9
9
1
.
9
1
86
Discussão e Conclusões
A maioria dos participantes no estudo eram mulheres. A literatura tem vindo a realçar as
diferenças entre géneros na incidência deste tipo de lesões, sendo que a maioria dos estudos
epidemiológicos referem serem as mulheres mais acometidas por fraturas da anca (Kannus, et
al., 1995; Sterling, 2011)) sendo as complicações pós-fratura e a mortalidade maiores no sexo
masculino (Endo, Aharonoff, Zuckerman, Egol, & Koval, 2005).
Neste estudo predominou a fratura do colo (n=9), seguindo-se a trocantérica (n=6),
subtrocantérica (n=2) e intratrocantérica (n=1). Dados de Michelson, et al., (1995) referem
que 49% das fraturas da anca são intertrocantéricas, que 37% são intracapsulares e 14%
subtrocantéricas.
Relativamente ao tipo de tratamento destacamos o facto de nenhum elemento da
amostra ter sido submetido a tratamento conservador, o que em nossa opinião poderá ser
entendido como um reflexo da evolução das técnicas anestésicas e cirúrgicas registada nas
últimas décadas.
Concluímos que 72% dos idosos caíram para o lado em que ocorreu a fratura. Aizen.,
Dranker., Swartzman., & Michalak (2003) encontraram uma prevalência de cerca de 52%
para quedas homolaterais à fratura; já Parkkari., et al (1999) encontraram uma prevalência de
76% para o mesmo padrão de queda. A literatura salienta que as quedas laterais e
posterolaterais, com impacto no grande trocânter, são as mais responsáveis pela ocorrência de
fratura do fémur proximal. Concluímos ainda que a grande maioria dos isosos não conseguiu
utilizar as mãos para quebrar o impacto da queda; resultados em consonância com a literatura
(Parkkari., et al., 1999; Aizen., Dranker., Swartzman., & Michalak, 2003).
Tendo em conta os locais em que as quedas ocorreram e o relato do evento concluímos
pela importância da implementação de programas de intervenção e prevenção de quedas que
tenha como objetivo principal a correção dos fatores ambientais e arquitetónicos no domicílio
do doente, e sobretudo a reeducação funcional e reabilitação em questões como a força
muscular e o equilíbrio. Num estudo conduzido por Rossini, et al (2010) os autores
concluíram que numa grande percentagem dos seus pacientes (86%) a queda era explicada por
fatores de risco ambientais e individuais.
Se tomarmos em conta todos os participantes no estudo (N=18) obtivemos uma taxa de
mortalidade aos 6 meses após fratura de 28%. No entanto, convém realçar que não
conseguimos contactar quatro idosos, pelo que a taxa poderá ser maior do que a constatada
pela estatística. Os nossos resultados entroncam nos trabalhos de Dzupa, Bartonícek, Skála-
87
Rosenbaum, & Príkazský (2002) que encontraram uma taxa de mortalidade de 35% um ano
após lesão. A evidência tem vindo a realçar muitas variáveis correlacionadas com a
mortalidade pós-fratura da anca, entre as quais a idade, o sexo, o tempo que decorre desde a
lesão à intervenção cirurgica, complicações pós-operatórias, a demência, a doença
cardiovascular, o indíce de massa corporal e os níveis de hemoglobina e albumina sérica.
Os nossos resultados seis meses após a alta apontam para o declínio funcional dos
idosos com fratura da anca, mais marcado nos participantes mais velhos. Um estudo por nós
consultado relativamente a esta temática (Lin & Chang, 2004) concluiu que apenas 58% dos
doentes com fratura conseguem caminhar na rua um ano após fratura, uma das atividades
intrumentais de vida mais difíceis de alcançar para estes doentes em termos de independência
funcional.
As fraturas da extremidade proximal do fémur são um evento que colocam em causa a
saúde e a qualidade de vida dos idosos. Uma variedade de fatores afecta o prognóstico
funcional. Este facto desafia os profissionais de saúde que trabalham em cuidados primários e
diferenciados no objetivo de optimizar a prevenção de quedas, o tratamento e a reabilitação
destes idosos.
Referências Bibliográficas
Aizen, E., Dranker, N., Swartzman, R., & Michalak, R. (2003). Risk factors and
characteristics of falls resulting in hip fracture in the elderly. Isr Med Assoc J, 5(5), 333336.
Bloch, F., Thibaud, M., Dugué, B., Brèque, C., Rigaud, A. S., & Kemoun, G. (2010).
Episodes of falling among elderly people: a systematic review and meta-analysis of
social and demographic pre-disposing characteristics. Clinics (Sao Paulo), 65(9), 895903.
Cornwall, R., Gilbert, M. S., Koval, K. J., Strauss, E., & Siu, A. L. (2004). Functional
outcomes and mortality vary among different types of hip fractures: a function of
patient characteristics. Clin Orthop Relat Res(425), 64-71.
Cummings, S. R., & Melton, L. J. (2002). Epidemiology and outcomes of osteoporotic
fractures. Lancet, 359(9319), 1761-1767. doi: 10.1016/S0140-6736(02)08657-9
Cummings, S. R., & Nevitt, M. C. (1989). A hypothesis: the causes of hip fractures. J
Gerontol, 44(4), M107-111.
Saúde, D. G. d. (2008). Orientação técnica sobre suplemento de Cálcio e Vitamina D em
pessoas idosas | Circular Informativa | Nº: 13/DSCS/DPCD/DSQC.
Dzupa, V., Bartonícek, J., Skála-Rosenbaum, J., & Príkazský, V. (2002). [Mortality in
patients with proximal femoral fractures during the first year after the injury]. Acta Chir
Orthop Traumatol Cech, 69(1), 39-44.
Endo, Y., Aharonoff, G. B., Zuckerman, J. D., Egol, K. A., & Koval, K. J. (2005). Gender
differences in patients with hip fracture: a greater risk of morbidity and mortality in
men. J Orthop Trauma, 19(1), 29-35.
88
Kannus, P., Parkkari, J., Sievänen, H., Heinonen, A., Vuori, I., & Järvinen, M. (1996).
Epidemiology of hip fractures. Bone, 18(1 Suppl), 57S-63S.
Lin, P. C., & Chang, S. Y. (2004). Functional recovery among elderly people one year after
hip fracture surgery. J Nurs Res, 12(1), 72-82.
Marks, R., Allegrante, J. P., Ronald MacKenzie, C., & Lane, J. M. (2003). Hip fractures
among the elderly: causes, consequences and control. Ageing Res Rev, 2(1), 57-93.
Messias, M. G., & Neves, R. d. F. (2009). The influence of behavior and domestic
enviromental factors in elderly falls. Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., 12(2), 275-282.
Michelson, J. D., Myers, A., Jinnah, R., Cox, Q., & Van Natta, M. (1995). Epidemiology of
hip fractures among the elderly. Risk factors for fracture type. Clin Orthop Relat
Res(311), 129-135.
Parkkari, J., Kannus, P., Palvanen, M., Natri, A., Vainio, J., Aho, H., . . . Järvinen, M. (1999).
Majority of hip fractures occur as a result of a fall and impact on the greater trochanter
of the femur: a prospective controlled hip fracture study with 206 consecutive patients.
Calcif Tissue Int, 65(3), 183-187.
Pedersen, S. J., Borgbjerg, F. M., Schousboe, B., Pedersen, B. D., Jørgensen, H. L., Duus, B.
R., . . . Hospital, H. F. G. o. B. (2008). A comprehensive hip fracture program reduces
complication rates and mortality. J Am Geriatr Soc, 56(10), 1831-1838. doi:
10.1111/j.1532-5415.2008.01945.x
Reuling, E. M., Sierevelt, I. N., van den Bekerom, M. P., Hilverdink, E. F., Schnater, J. M.,
van Dijk, C. N., . . . Raaymakers, E. L. (2012). Predictors of functional outcome
following femoral neck fractures treated with an arthroplasty: limitations of the Harris
hip score. Arch Orthop Trauma Surg, 132(2), 249-256. doi: 10.1007/s00402-011-14240
Rossini, M., Mattarei, A., Braga, V., Viapiana, O., Zambarda, C., Benini, C., . . . Adami, S.
(2010). [Risk factors for hip fracture in elderly persons]. Reumatismo, 62(4), 273-282.
Sterling, R. S. (2011). Gender and race/ethnicity differences in hip fracture incidence,
morbidity, mortality, and function. Clin Orthop Relat Res, 469(7), 1913-1918. doi:
10.1007/s11999-010-1736-3
Wei, T. S., Hu, C. H., Wang, S. H., & Hwang, K. L. (2001). Fall characteristics, functional
mobility and bone mineral density as risk factors of hip fracture in the communitydwelling ambulatory elderly. Osteoporos Int, 12(12), 1050-1055
89
07. A FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DA CAPACIDADE
FUNCIONAL EM IDOSOS
André Filipe Morais Pinto Novo
Doutor em Ciências da Atividade Física e do Desporto
Professor Equiparado a Assistente
Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano
Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso
E-mail: [email protected] || Tlm: 917972163
Leonel São Romão Preto
Doutor em Cultura e Psicossociologia da Comunicação
Professor Adjunto
Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança
Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso
E-mail: [email protected]
Maria Eugénia Rodrigues Mendes
Doutoranda em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa
Professora Adjunta
Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança
Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa
E-mail: [email protected]
90
Resumo
Introdução: A avaliação da força da mão é uma ferramenta relevante no planeamento e
avaliação dos cuidados em geriatria e reabilitação. Fornece informações valiosas sobre a
funcionalidade do indivíduo e ajuda a implementar e monitorizar estratégias com o objetivo
de preservar ou recuperar a força muscular global. Objectivos: Perceber a relação existente
entre a idade, os valores obtidos através de dois métodos de avaliação da força de preensão da
mão e do teste de avaliação funcional up and go. Material e métodos: Desenhou-se um
estudo de carácter descritivo, quantitativo e transversal. Para avaliar a força de preensão
manual utilizou-se um dinamómetro de pêra aneróide da marca Dinatest® e outro de sistema
hidráulico da marca Jamar®. Foi considerado o melhor resultado de duas tentativas (peak
force isométrico). Para avaliação da funcionalidade e aptidão física dos idosos utilizámos o
protocolo do teste Timed Up and Go (levantar e andar), cuja confiabilidade está bem estudada
pela literatura. Resultados: A amostra foi constituída por 77 idosos (49 mulheres) e a média
de idades foi de 81,40 anos, sem diferenças significativas entre sexos. O idoso mais novo
apresentava 65 anos e o mais velho 97. Em ambos os métodos de avaliação, a mão direita
obteve melhores resultados que a esquerda. Os homens obtiveram valores de força superiores
aos das mulheres. Constatámos que a força da mão declina com a idade, como se denota pelas
correlações negativas encontradas. Pudemos ainda observar que o teste up and go se
correlaciona negativamente com todas as formas de avaliação da força de preensão manual, o
que significa que quem tem mais força executa o teste de levantar e andar em menos tempo.
De referir ainda que o teste up and go se correlaciona positivamente com a idade (os
indivíduos mais velhos necessitam de mais tempo para executar o teste). Discussão e
Conclusão: Encontrámos associações estatisticamente significativas entre os dois tipos de
avaliação objetiva da força de preensão da mão em idosos. Verificámos ainda associações
muito semelhantes quando comparámos as diferentes formas de avaliação da força de
preensão manual e um teste de avaliação funcional (teste up and go). Concluímos pela
validade do uso de qualquer destes equipamentos na prática clínica especializada, devendo a
opção por um ou por outro ter em conta os custos dos mesmos.
Palavras-chave: Força isométrica; Dinamometria; Força da mão; Idosos; Levantar e andar;
Funcionalidade.
Abstract
Introduction: The assessment of handgrip strength is an important tool in the planning and
evaluation of geriatric and rehabilitation care. Provides valuable information about the
functionality of the individual and helps to implement and monitor strategies aiming to
preserve or restore muscle strength. Objectives: Understand the relationship between age, the
values obtained by two methods of assessment of the handgrip strength and up and go test
(functional evaluation). Material and Methods: We designed descriptive quantitative and
cross study. To evaluate the handgrip strength we used a Dinatest® dynamometer and a
Jamar® hydraulic dynamometer. We selected the best result of two attempts (peak isometric
force). To evaluate the functionality and physical fitness of the elderly we used the test Timed
Up and Go Test, whose reliability is well studied in the literature. Results: The sample
consisted of 77 older adults (49 women) and the mean age was 81.40 years, without
significant differences between genders. The youngest had 65 years and the oldest 97.
In both evaluation methods, the right hand yielded better results than the left. Men showed
strength values higher than women. We found that hand strength declines with age, as is
91
denoted by the negative correlations found. We could also observe that the test up and go
correlates negatively with all forms of assessment of hand grip strength, which means that
whoever has more power runs the test up and go in less time. Note also that the test up and go
is positively correlated with age (older individuals need more time to run the test). Discussion
and Conclusion: We found statistically significant associations between the two kinds of
assessment of hand grip strength in the elderly. We also have very similar associations when
compared the different tests to assess hand grip strength and a functional assessment (up and
go test). We conclude by the validity of using any of these devices in clinical practice and the
choice of one or another should take into account the costs thereof.
Keywords: Isometric strength; Dynamometry; Handgrip strength; Elderly; Up and go;
Functionality.
92
Introdução
A mão é um segmento complexo, capaz de desempenhar funções motoras e sensoriais
que contribuem para a sobrevivência e a autonomia do ser humano.
Tradicionalmente muito usada em medicina do trabalho, a força de preensão voluntária
da mão tem vindo a ser descrita como um dos métodos mais rápidos, simples e objectivos
para avaliar a aptidão física, a função muscular global e a presença de sarcopenia. Esta
medida tem sido também utilizada na avaliação do estado nutricional de indivíduos em
situações de fragilidade, como doentes ou idosos, institucionalizados ou não e, recentemente,
a força de preensão manual foi relatada como importante preditor de morbilidade e
mortalidade em indivíduos de meia-idade e idosos (Sasaki, Kasagi, Yamada, & Fujica, 2007).
Numa época de crescente envelhecimento populacional, este teste não nos dá apenas
informações sobre a força da mão ou a funcionalidade do membro superior; ele tem várias
indicações clínicas e tornou-se uma ferramenta relevante no planeamento e avaliação dos
cuidados em geriatria e reabilitação, já que nos pode fornecer informações valiosas sobre a
funcionalidade do indivíduo e ajudar-nos a monitorizar estratégias levadas a cabo com o
objectivo de preservar ou recuperar a força muscular global.
Neste trabalho damos a conhecer os resultados da avaliação da força isométrica de
preensão palmar em 77 idosos institucionalizados, através de dois métodos de avaliação: com
um dinamómetro universal de sistema hidráulico e com um manómetro de pêra aneróide. Foi
nosso objectivo correlacionar os valores obtidos através destes dois métodos; e comparar os
resultados com o teste de avaliação da funcionalidade e aptidão Timed Up and Go (Podsiadlo
& Richardson, 1991).
Metodologia
Este estudo é de carácter descritivo, quantitativo e transversal, cujo trabalho de campo
decorreu em cinco instituições de terceira idade do distrito de Bragança.
Todos os idosos foram avaliados de acordo com protocolos específicos seguidos na
maioria dos estudos que conhecemos sobre esta temática. Em ambos os métodos de avaliação
os participantes do estudo encontravam-se em posição de sentado o mais correctamente
possível em cadeira com assento rígido e sem descanso de braços e com os ombros em
posição neutra (Fig 1). Para todos os sujeitos foi ajustada a pega do dinamómetro hidráulico
de acordo com o tamanho da mão. Foram realizadas duas avaliações em cada mão com
dinamómetro de sistema hidráulico (Jamar*), intervaladas por três minutos de repouso;
93
idêntica metodologia e períodos de recuperação foram utilizados na avaliação por
dinamómetro aneróide (Dinatest*). Por cada método de recolha de dados, escolhemos o
melhor dos resultados (peak force isométrico) conseguidos nas duas tentativas. Constituíram
critérios de exclusão os seguintes: ter idade inferior a 65 anos; sofrer de patologias que
afectassem a força de uma das mãos como por exemplo Acidente Vascular Cerebral;
incapacidade funcional para a realização da avaliação segundo o protocolo e ter história de
patologia isquémica cardíaca não estabilizada.
Fig 1 – Dinamómetros utilizados para avaliar a força de preensão palmar
* Os autores declaram não existir conflito de interesses ou possuírem qualquer ligação aos
equipamentos utilizados.
Para avaliação da funcionalidade e aptidão física dos idosos utilizámos o protocolo do
teste Timed Up and Go (Levantar e andar), cuja confiabilidade está bem estudada pela
literatura. A prova consiste em determinar o tempo que um indivíduo gasta para, partindo da
posição de sentado, levantar-se de uma cadeira, percorrer a distância de 3 metros, contornar
um pequeno obstáculo no solo e regressar à posição inicial de sentado.
Realizámos correlações entre os resultados obtidos no Up and Go e as forças de
preensão manual aferidas pelo tipo de dinamómetros que utilizámos.
Desenvolvimento
A amostra ficou assim constituída por 77 idosos, na sua maioria mulheres (n=49). A
média de idades rondou os 81 anos, sem diferenças estatisticamente significativas entre sexos.
O idoso mais novo apresentava 65 anos e o mais velho 97 anos de idade. Cerca de 25%
dos participantes no estudo apresentavam 86 ou mais anos de idade.
94
A média do peso foi de 69,97 kg e a estatura de 1,52 m e Índice de Massa Corporal de
29, 51 kg m2 (Tabela 1).
Quase todos os participantes referiram que a mão direita era a dominante (n=73).
Tabela 1 – Idade média dos participantes no estudo, por sexo
Idade
Altura (m)
Peso (Kg)
IMC
81,37
1,47
65,22
29,15
49
45
41
38,00
Desvio padrão
7,59
0,05
13,39
4,73
Média
81,46
1,60
77,17
30,04
28
28
27
26,00
Desvio padrão
7,84
0,06
13,50
4,40
Média
81,40
1,52
69,97
29,51
77
73
68
64,00
7,63
0,08
14,58
4,59
Média
Feminino
Masculino
Total
N
N
N
Desvio padrão
Em ambos os métodos de avaliação da força de preensão a mão direita obteve
resultados superiores à esquerda. Verificamos que os homens obtiveram valores de força
superiores aos das mulheres (Tabela 2). São também os homens que obtêm valores mais
elevados na estatística desvio padrão, o que significa maior variabilidade dos dados
relativamente à média.
Tabela 2 – Médias dos testes de força de preensão palmar de acordo com o sexo e o tipo de
dinamómetro utilizado
Sexo
Feminino
Média± DP
Masculino
Média± DP
Total
Média± DP
Hand-grip mão direita (Kgf)
Hand-grip mão esquerda
(Kgf)
Dinamómetro aneróide Dinatest
13,68±5,56
24,41±7,05
17,54±8,00
12,52±5,45
23,7±6,45
16,56±7,93
Hand-grip mão direita (bar)
Hand-grip mão esquerda
(bar)
0,24±0,11
0,41±0,17
0,30±0,16
0,23±0,10
0,39±0,14
0,29±0,14
Dinamómetro hidráulico Jamar
95
Pela tabela 3 podemos constatar que, grosso modo, a força da mão declina com a idade,
como se denota pelas correlações negativas encontradas entre estas variáveis. Como era de
esperar, a força de ambas as mãos está associada entre si.
Estatísticas muito significativas foram encontradas entre os resultados obtidos através
dos dois tipos de equipamento que utilizámos pelo teste de associação de Spearman's. Assim,
a força de preensão da mão direita medida pelo dinamómetro hidráulico Jamar correlacionase de um modo muito forte com a força da mesma mão medida pelo dinamómetro aneróide
Dinatest (R= 0,896; p=0,000).
Quanto à mão esquerda os resultados encontrados seguem a mesma tendência
(R=0,845; p=0,000).
Tabela 3 – Correlações obtidas entre a idade e os valores de força, na mão direita e esquerda,
aferidos pelos dois tipos de dinamómetros
Idade
Mão direita
Jamar
Mão
esquerda
Jamar
R
1
Si
.
Idade
g
N
77
R
-,186
1
Mão direita Si
,111
.
Jamar
g
N
75
75
R
-,218
,826**
1
Mão
Si
,060
,000
.
esquerda
g
Jamar
N
75
75
75
R
-,327**
,896**
,777**
Mão direita Si
,004
,000
,000
Dinatest
g
N
76
75
75
**
**
R
-,322
,727
,845**
Mão
Si
,005
,000
,000
esquerda
g
Dinatest
N
76
75
75
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Mão direita
Dinatest
Mão
esquerda
Dinatest
1
.
76
,802**
,000
1
.
76
76
96
A tabela seguinte expõe as correlações entre os tempos obtidos no Up and Go e os
valores de força das mãos em ambas as avaliações por dinamometria.
Note-se que as correlações apresentam valores negativos entre as variáveis o que
significa que quanto mais tempo os idosos demoraram para realizar o Up and Go, menores
valores forem registados para a força de preensão manual.
Obtivemos coeficientes de correlação muito semelhantes entre as duas metodologias
utilizadas para avaliar a força e os valores do teste de aptidão física Up and Go. As
correlações para a prova Up and Go e a força da mão direita foram: R= -0,434 e R= 0,473;
para a avaliação com dinamómetro Jamar e dinamómetro Dinatest, respectivamente. Para a
mão esquerda, a correlação foi: R= -0,478 e R= -0,444.
Tabela 4 – Correlações obtidas entre o Up and Go e os valores de força, na mão direita e
esquerda, aferidos pelos dois tipos de dinamómetros
Up and Go
Mão direita
Jamar
Mão
esquerda
Jamar
R
1,000
Si
Up and Go
.
g
N
72
R
-,434**
1,000
Mão direita Si
,000
.
Jamar
g
N
71
75
**
R
-,478
,826**
1,000
Mão
Si
esquerda
,000
,000
.
g
Jamar
N
71
75
75
R
-,473**
,896**
,777**
Mão direita Si
,000
,000
,000
Dinatest
g
N
72
75
75
**
**
R
-,444
,727
,845**
Mão
Si
esquerda
,000
,000
,000
g
Dinatest
N
72
75
75
**. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed).
Mão direita
Dinatest
Mão
esquerda
Dinatest
1,000
.
76
,802**
1,000
,000
.
76
76
97
Conclusão
Este trabalho encontrou associações estatisticamente significativas entre dois tipos de
avaliação objectiva da força de preensão da mão em idosos institucionalizados: avaliação por
dinamómetro hidráulico e dinamómetro de pressão aneróide. Entre os resultados aferidos por
estes dois equipamentos e uma prova de avaliação funcional que aplicámos aos participantes
no estudo (Up and Go) as associações foram também muito semelhantes.
Concluímos pela validade do uso de qualquer destes equipamentos na prática clínica
especializada; devendo a opção por um ou por outro ter em conta os custos económicos dos
mesmos, e não tanto pela fiabilidade dos resultados obtidos. Salientamos contudo que o
dinamómetro hidráulico é considerado universal, existindo muita evidência publicada sobre o
seu uso e valores de referência; pelo que estes aspectos devem também ser levados em linha
de conta na prática clínica.
Referências Bibliográficas
Garcial, P., Dias, J., Dias, R., Santos, P., & Zampa, C. (2011). A study on the relationship
between muscle function, functional mobility and level of physical activity in
community-dwelling elderly. Rev Bras Fisioter , 15, 15-22.
Geraldes, A., Oliveira, A., Alboquerque., Carvalho, J., & Farinatti, P. (2008). A Força de
Preensão Manual é Boa Preditora do Desempenho Funcional de Idosos Frágeis: um
Estudo Correlacional Múltiplo. Rev Bras Med Esporte , 14, Nº 1.
Giampaou, S., Ferrucci, L., Noce, F., Poce, A., Dima, F., Santaquilani, A., et al. (1999).
Hand-grip strength predicts incident disability in non-disabled older men. Age and
Ageing , 28, 282-288.
Ling, C., Taekema, D., Craen, A., Gussekloo, J., Westendorp, R., & Maier, A. (2010).
Handgrip strength and mortality in the oldest old population: the Leiden 85-plus study.
CMAJ , 429-35.
Podsiadlo, D., & Richardson, S. (1991). The timed "Up & Go": a test of basic functional
mobility for frail elderly persons. Journal of the American Geriatrics Society , 142-148.
Sasaki, H., Kasagi, F., Yamada, M., & Fujica, S. (2007). Grip strength predicts cause-specific
mortality in middle-aged and elderly persons. Journal of Medicine , 120, 337-342.
98
08. FUNCIONALIDADE DE IDOSOS COM OSTEOARTRITE
08. FUNCTIONALITY OF ELDERLY WITH OSTEOARTHRITIS
Maria Eugénia Rodrigues Mendes
Doutoranda em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa
Professora Adjunta
Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança
Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa
E-mail: [email protected] || Tlm: 939067128
André Filipe Morais Pinto Novo
Doutor em Ciências da Atividade Física e do Desporto
Professor Equiparado a Assistente
Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano
Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso
E-mail: [email protected] || Tlm: 917972163
Leonel São Romão Preto
Doutor em Cultura e Psicossociologia da Comunicação
Professor Adjunto
Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança
Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso
E-mail: [email protected]
99
Resumo
Introdução: A osteoartrite (OA) é um processo involutivo que afeta as articulações. Do ponto
de vista histológico, o processo degenerativo altera a cartilagem articular que perde
elasticidade natural após anos de desgaste intenso. Atinge principalmente as articulações dos
joelhos, anca e dedos, mas pode ocorrer em todas as articulações que permitem mobilidade,
designadamente as da coluna vertebral. Apresenta taxas de prevalência mais elevadas a partir
da quarta década de vida e é uma das patologias mais comuns na população idosa. A doença
tem uma maior prevalência e incidência no sexo feminino a partir da menopausa, onde a
severidade, sobretudo na artrose do joelho, é também maior. Objectivos: Caracterizar, nos
aspetos clínico e sociodemográfico, os idosos com OA da amostra em estudo; avaliar o
impacto da OA na capacidade funcional de idosos institucionalizados. Material e Métodos:
Para a recolha de dados foi utilizado: questionário de caracterização sociodemográfica, clínica
(antecedentes familiares de artrose, índice de massa corporal, existência de traumatismos
anteriores, tempo de diagnóstico de artrose, tipo e localização da artrose) e da autonomia
funcional nas Atividades de Vida Diária (higiene e conforto, vestir e despir, usar sanitários,
levante cama/cadeira, alimentação, eliminação e deambulação); a Escala Visual Numérica de
avaliação da dor e a Escala de Avaliação Funcional de Lysholm. Resultados: Avaliaram-se
60 idosos, com OA diagnosticada em média há 9 anos, com média de idade de 77±7,6 anos,
dos quais 53.3% são mulheres. A maioria dos inquiridos (53.3%) tem história de trauma
articular prévio e antecedentes familiares de artrose (58.3%). Relativamente ao tipo de OA,
67% dos inquiridos apresentam artrose primária e 25% artrose secundária. A localização mais
frequente (20%) é o joelho, e identificou-se poliartrose em 21.7% casos. A avaliação
funcional do joelho aplicando a escala de Lysholm, identificou 49 utentes com má função.
Referiram dificuldades em movimentar-se 98% da amostra e 63% refere coxear ligeira ou
periodicamente. Os participantes apresentavam maioritariamente excesso de peso com 46,7%
de pré-obesidade e 21,7% de obesidade. No que diz respeito à situação de saúde, 80% dos
idosos sofrem de patologias associadas ao processo artrósico e no que concerne à prática de
exercício físico apenas 33.3% mencionou fazê-lo. Discussão e Conclusão: Concluímos que a
maioria dos participantes apresentou um nível de capacidade razoável na realização das
atividades de vida diária avaliadas, mas relativamente à funcionalidade do joelho alterações
importantes foram observadas.
Palavras-chave: Osteoartrite; Idosos; Capacidade funcional.
Abstract
Introduction: Osteoarthritis (OA) is an involutive process that affects the joints.
Histologically the degenerative process changes the articular cartilage and leads to lose
natural elasticity after years of intense wear. Mainly affects the joints of the knees, hip and
fingers, but may occur in all joints that allow mobility, particularly those of the spine.
Presents highest prevalence rates after the fourth decade of life and is one of the most
common diseases in the elderly. The disease has a higher prevalence and incidence in women
after menopause, and its severity, especially in osteoarthritis of the knee, is also higher.
Objectives: Characterize the clinical and sociodemographic aspects in the elderly patients
with OA of the sample under study; assess the impact of OA on the functional capacity of the
institutionalized elderly. Material and Methods: For data collection was used: questionnaire
100
of sociodemographic and clinical characteristics (family history of arthritis, body mass index,
presence of previous trauma, time since diagnosis of osteoarthritis, type and location of
arthrosis) and functional autonomy in Activities of Daily Living (health and comfort, dressing
and undressing, using toilet, lift bed / chair, feeding, elimination and ambulation); Numerical
Pain Rating Scale and the Lysholm Knee Scoring Scale. Results: We evaluated 60 elderly
patients with OA diagnosed on average 9 years, with a mean age of 77±7.6 years, 53.3% of
whom are women. Most respondents (53.3%) have history of prior joint trauma and family
history of osteoarthritis (58.3%). Regarding the type of OA, 67% of respondents have primary
osteoarthritis and 25% secondary osteoarthritis. The most common location (20%) is the knee,
and it was identified polyarthritis in 21.7%. The functional evaluation of the knee by applying
the Lysholm Scale, identified 49 users with poor function. Reported difficulties in moving
98% of the respondents and 63% relates slight or periodically limp. The participants were
mostly overweight with 46.7% of overweight and 21.7% obese. Regarding to health status,
80% of elderly had comorbidities and only 33.3% mentioned do physical exercise. Discussion
and Conclusion: We conclude that most participants showed a reasonable level of ability in
performing activities of daily living assessed but regarding the functionality of the knee
significant changes were observed.
Keywords: Osteoarthritis; Elderly; Functional capacity
101
Introdução
A artrose, também designada por osteoartrose ou osteoartrite (OA), é uma doença
crónica caracterizada por um processo degenerativo não-inflamatório que afeta as articulações
que permitem movimento e sustentação do peso do corpo. Atinge principalmente as
articulações dos joelhos, da anca e dos dedos, mas poderá ocorrer em todas as articulações
que permitem mobilidade, designadamente as da coluna vertebral. É uma das patologias mais
comuns, sobretudo na população idosa, já que do ponto de vista histológico o processo
degenerativo altera a cartilagem articular que perde elasticidade natural após anos de desgaste
intenso. A doença tem uma maior prevalência e incidência no sexo feminino sobretudo a
partir da menopausa, onde a severidade, sobretudo na artrose do joelho, é também maior
(Srikanth et al, 2005).
A artrose primária surge devido ao envelhecimento prematuro das estruturas articulares;
na artrose secundária é possível estabelecer um ou mais fatores etiológicos, estando a doença
relacionada com traumatismos anteriores na articulação afetada, patologia inflamatória,
tarefas laborais que requerem movimentos repetitivos, elevada carga articular, causas
endócrinas e metabólicas.
Embora a OA varie consideravelmente de pessoa para pessoa, a sintomatologia iniciase, normalmente de forma lenta e discreta, por uma sensação passageira de aperto ou ardor
articular que melhora com o movimento ou desaparece de forma espontânea. A
desvalorização destes sintomas subjetivos iniciais é comum na maioria das situações. À
medida que o tempo avança a dor é sentida mais intensamente. Assim, em muitos casos,
quando o paciente recorre aos serviços de saúde, a artrose já se encontra instalada há muito,
fazendo com que o seu tratamento (mesmo que ainda não exista rigidez ou deformação
articular) seja menos eficaz. Nesta patologia involutiva a dor é então o sintoma predominante,
sendo desencadeada com o movimento ou uso excessivo da articulação e melhorando com o
repouso. É habitual, no entanto, a dor persistir com o repouso, ou exacerbar após períodos de
posturas estáticas.
A dor, a rigidez e a deformidade estão associados à perda da função articular de que
resultam variados graus de incapacidade.
A incapacidade física e a perda de autonomia funcional para a realização de atividades
de vida diária no doente com artrose foram objeto de estudo do presente trabalho. A
investigação incidiu sobre uma amostra de idosos institucionalizados portadores desta
patologia. Tivemos como objetivos: caracterizar, nos aspetos clínico e sociodemográfico, os
102
idosos com OA da amostra em estudo e avaliar o impacto da OA na capacidade funcional de
idosos institucionalizados.
Método
O problema de investigação que norteou esta pesquisa foi: “Em que medida a artrose
influencia a capacidade funcional dos idosos estudados?”. Considerando a natureza do
problema formulado e os processos metodológicos seguidos, o estudo é de natureza
descritiva. Como os dados foram recolhidos num único momento, o estudo é também de
carácter transversal.
Instrumentos
Aplicou-se um questionário sóciodemográfico e um questionário clínico onde se
operacionalizaram, entre outras, as seguintes variáveis: Antecedentes familiares de artrose;
Índice de Massa Corporal; Existência de traumatismos anteriores; Tempo de diagnóstico de
artrose; Tipo e localização da artrose.
Aplicou-se, ainda, um instrumento de mensuração unidimensional da dor – a Escala
Visual Numérica que consiste numa régua dividida em onze partes iguais, numeradas de 0 a
10, sendo que 0 corresponde à classificação “sem dor” e 10 à classificação “dor máxima”
(Direcção Geral da Saúde; Circular Normativa nº 9/2003).
Para avaliação da função articular do joelho utilizou-se a Lysholm Knee Scoring Scale
(Lysholm & Gillquist, 1985) traduzida e validada para português por Peccin, Ciconelli e
Cohen (2006). A Escala Lysholm privilegia a avaliação subjetiva do doente relativamente ao
seu joelho, cumprindo ao mesmo tempo critérios de validade e reprodutibilidade. É composta
por oito questões cujo somatório final poderá atingir 100 pontos, e em que se considera que a
função é “excelente” se a pontuação final for de 95 a 100 pontos; “boa” se for de 84 a 94
pontos; “regular” se for de 65 a 83 pontos e “má” se for inferior a 64. Os indicadores
avaliados são os seguintes: Coxear; Carga ou apoio; Subir escadas; Agachar; Bloqueio;
Instabilidade; Dor e Edema.
Avaliou-se, ainda, em escalas tipo Likert a autonomia funcional nas Atividades de Vida
Diária (AVDs): Higiene e conforto; Vestir e despir; Usar sanitários; Levante cama/cadeira;
Alimentação; Eliminação e Deambulação.
103
Participantes
A amostra foi constituída por 60 idosos portadores de artrose, institucionalizados em
dois lares do concelho de Bragança (30 utentes no Lar da Santa Casa da Misericórdia e 30 no
Lar Betânia). Para além da presença da patologia foram requisitos de inclusão na amostra os
participantes apresentarem-se conscientes, orientados e colaborantes. Para avaliar a presença
de patologia, consultaram-se processos, obteve-se confirmação positiva interrogando os
utentes, e, nos casos que nos levantaram dúvidas, seguimos os critérios do Colégio Americano
de Reumatologia, designadamente existirem pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas:
sensibilidade dolorosa à palpação, rigidez pós-repouso menor do que 30 minutos, crepitação,
aumento articular, ausência de aumento da temperatura local.
Resultados e Discussão
Os sujeitos apresentavam idades que variaram dos 60 aos 90 anos. A média de idades
situou-se nos 77 anos para um desvio padrão de 7,6 anos. Verificámos que 53.3% são
mulheres e 37 utentes são viúvos.
Das variáveis sociodemográficas alvo de outros estudos destacamos a idade e o sexo.
A idade é um fator de risco importante para o desenvolvimento de OA, e a estabilização
da incidência só parece ocorrer a partir dos 80 anos de idade (Oliveira, Felson, Reed, Cirillo
& Walker, 1995). Relativamente ao sexo, a meta-análise de Srikanth et al, (2005) demonstra a
presença de diferenças na prevalência e incidência da OA entre sexos, com as mulheres a
obterem um risco mais elevado de desenvolvimento da patologia, sobretudo a partir dos 50
anos de idade. Esta relação é mais marcada na OA do joelho, o que sugere a influência de
fatores hormonais, nomeadamente a diminuição dos níveis de estrogénio. Neste
enquadramento, Felson et al, (1995) referem que a doença incide 1,7 vezes mais em mulheres
do que em homens.
Relativamente às variáveis clínicas, e em concreto para o IMC, contactou-se que a
população inquirida se encontrava maioritariamente com excesso de peso. Com efeito,
apresentavam situação de pré-obesidade 46,7% dos utentes e obesidade 21,7%.
A associação entre obesidade e osteoartrite tem sido alvo de diversos estudos. Grotle,
Hagen, Natvig, Dahl e Kvien (2008) referem que a obesidade é o fator de risco mais
importante para o desenvolvimento da patologia. Estes autores desenvolveram um estudo
longitudinal numa amostra de 1854 indivíduos concluindo que um IMC elevado estava
104
associado com artrose do joelho e da mão, mas não era notória a sua relação com a anca.
Idênticas conclusões foram reportadas por Reijman et al, (2007) a partir do follow-up de 3585
doentes. Com base nos resultados das avaliações radiológicas desses indivíduos a
investigação concluiu que o IMC estava associado com a incidência e a progressão da OA do
joelho, mas não do quadril. O papel desta variável no surgimento e progressão da patologia
baseia-se no facto de o peso corporal causar um aumento de sobrecarga articular o que leva ao
colapso e falência das estruturas de suporte (Backer, 2006).
No que diz respeito à situação de saúde, 48 indivíduos sofrem de patologias associadas
ao processo artrósico, sendo as doenças cardiovasculares e as endócrino-metabólicas as mais
prevalentes.
Em média a OA foi diagnosticada há cerca de 9 anos. A questão “Há quanto tempo lhe
foi diagnosticada artrose?” apresenta uma considerável dispersão dos valores em torno da
média (DP= 7.98 anos), o que traduz a grande variabilidade de registos observados. Assim, o
caso mais recente foi diagnosticado há 2 anos e o caso mais antigo há 30 anos. A maioria dos
indivíduos (cerca de 52%) não iniciou tratamento imediato aquando do diagnóstico da
patologia. Aqueles que iniciaram logo tratamento fizeram-no com Anti-inflamatórios não
esteroides e analgésicos.
Relativamente às variáveis clínicas verificou-se que a maioria dos inquiridos tem
história de trauma articular prévio (53.3%). Quando questionados acerca de antecedentes
familiares de artrose, 58.3% dos sujeitos referiu que o pai, mãe ou irmãos padeciam da
patologia. Segundo a literatura, os indivíduos com história familiar de OA têm maior
probabilidade para desenvolver a patologia. Isto pode ser devido a anomalias hereditárias das
articulações. Por exemplo, a OA dos dedos da mão tem uma prevalência três vezes maior
entre irmãos que na população geral. Em um estudo epidemiológico levado a cabo por
Neame, Muir, Doherty e Doherty (2004) concluiu-se que na OA do joelho a hereditariedade
apresentava um fator de risco de 0.62.
No que concerne à prática de exercício físico, apenas 33.3% mencionou fazê-lo. Sobre
esta questão a evidência realça que o exercício físico moderado ajuda a reduzir a dor
(Blackham, Garry, Cummings, Russell & Dealleaume; 2008). O exercício regular no doente
com artrose é recomendado pelo Colégio Americano de Reumatologia e pela Sociedade
Americana de Geriatria.
Relativamente à variável “Tipo e localização da artrose, constatou-se que cerca de 67%
dos inquiridos padecem de artrose primária, enquanto que 25% sofre de artrose secundária.
Nos restantes casos, não foi possível classificar com precisão o tipo de OA. Relativamente à
105
localização, 20% localizam-se apenas no joelho e identificou-se poliartrose em 21.7% casos.
Verificaram-se também prevalências para OA na coluna, se bem que nos casos em que isso
aconteceu estava associada a outras articulações (mãos, ancas, joelho ou olecrâneo). A artrose
com menção de mais de uma localização (poliartrose) foi a característica dominante do
estudo, e entre as articulações afetadas o joelho foi a mais referida. Efetivamente, a maioria
dos estudos identifica a artrose do joelho como a mais prevalente (Majani, Giardini & Scotti,
2005; Peat, McCarney & Croft, 2001).
A maioria dos indivíduos apresentou um nível razoável de capacidade funcional na
realização das AVDs avaliadas. Assim, 28 são independentes no cumprimento da sua própria
higiene e conforto, contra 32 que apresentaram diferentes níveis de dependência. Em relação
ao vestir-se e despir-se metade dos sujeitos apresentava dependência em diferentes graus.
Quanto ao uso de sanitários, 60% dos sujeitos referiu ser independente. Para efetuar o levante
e a transferência para o cadeirão cerca de 62% não necessitam de nenhum tipo de ajuda para o
fazer.
Em relação à avaliação funcional do joelho segundo a escala de Lysholm, verificou-se
que do total de inquiridos cerca de 98% refere sentir dificuldades em movimentar-se e,
especificamente, 63% da amostra refere coxear ligeira ou periodicamente. A maioria dos
utentes que participaram no estudo (68%) usa meios auxiliares de marcha (bengala ou
canadiana) para efetuarem movimentos com carga. Subir escadas é algo que 17% não
consegue fazer. Uma percentagem muito significativa (58%) só consegue subir escadas
degrau a degrau. Quando têm necessidade de se agachar 38% dos indivíduos referem
dificuldades, não conseguindo ultrapassar os noventa graus de flexão. No que concerne à
sensação de bloqueio articular, esta foi apenas referida por 12 indivíduos; já quanto á
instabilidade articular o número aumentou para 29. Quanto à dor, 35% afirmaram sentir dor
marcada durante o esforço físico e 30% afirmaram sentir dor constante ao nível da articulação
do joelho.
Peat et al, (2001) referem-nos que 25% das pessoas acima dos 55 anos teve um episódio
de dor persistente no joelho. A prevalência da osteoartrite do joelho dolorosa e incapacitante
em pessoas com mais de 55 anos é de 10%, dos quais um quarto apresenta incapacidade
grave.
106
A partir das respostas aos itens da Escala de Lysholm, foi possível elaborar o gráfico
subsequente. Verificamos que 49 utentes apresentam má função do joelho, uma função
regular é manifestada por 10, enquanto um utente apresenta boa funcionalidade
funcionalidade da articulação
avaliada.
Gráfico 1 – Classificação da Escala Lysholm
A avaliação funcional do joelho mostrou-se
mostrou se um bom preditor para o uso de meios
auxiliares de marcha. Com efeito, utilizam com frequência meios auxiliares 41 utentes, a
maioria dos quais recorre à bengala (n=23) ou ao uso de uma canadiana (n=5). Em oposição,
o andarilho é usado por 7 indivíduos e a cadeira de rodas por um idoso.
A partir dos resultados obtidos para a Escala Visual Numérica da Dor, a primeira nota
prende-se com o facto de não terem sido encontrados registos para a categoria “sem dor”. A
“dor de fraca intensidade” foi relatada por 19 utentes. A “dor de intensidade moderada” foi a
mais prevalente no estudo, com 24 registos. Descreveram a sintomatologia álgica como sendo
se
de “forte intensidade” 13 indivíduos e, finalmente, 4 classificam-na
classificam na como insuportável.
Relativamente ao tratamento efetuado para a dor, apenas 29 indivíduos, estão
medicados para esta sintomatologia. Os fármacos usados pertencem ao grupo dos analgésicos
analgésic
clássicos e anti-inflamatórios
inflamatórios não esteroides (AINES). Não se obtiveram registos para as
categorias da variável “aplicação de frio ou calor” e “eletroterapia”.
Em relação à existência de rigidez articular, esta obteve uma prevalência de 91.7% (o
que corresponde
responde a 55 doentes). Tomando em conta os sujeitos que referiram rigidez articular
(n=55), afirmaram que ela predominava ao acordar 25 utentes; durante o período da manhã 16
utentes; à tarde 5 utentes, e ao deitar 9 indivíduos.
107
No questionário clínico os participantes foram também interrogados acerca da
sintomatologia se agravar consoante a época do ano. Nesta variável, assinalamos o facto de 51
indivíduos terem referido que a sintomatologia se agravava durante o Inverno.
Conclusão
A artrose implica alterações na qualidade de vida. Através deste trabalho foi possível
constatar que, de facto, a OA é uma doença incapacitante dos membros superiores, inferiores
e da coluna, que afeta a maneira como se realizam determinadas atividades diárias. Para além
disso, o portador de OA não vê apenas o seu estado físico alterado como também o seu estado
psicológico, já que com a dor, a rigidez e a deformidade a autoestima está muitas vezes
diminuída. Estes mesmos sintomas conduzem à perda de independência funcional, acabando
por causar frustração ao paciente e esse facto influencia a relação familiar e profissional.
O processo degenerativo que subjaz à OA encontra-se por excelência associado à idade;
daí que na população idosa a patologia atinja maiores taxas de prevalência. Na amostra
analisada a média de idades rondou os 77 anos.
Se bem que se tenha observado a existência de elevado número de traumatismos
anteriores na amostra inquirida, foi difícil classificar com precisão os dois tipos de artrose
citados na literatura (primária versus secundária) com os métodos e instrumentos de que
dispúnhamos. Neste enquadramento, se é verdade que fatores de ordem traumática e
malformações podem desencadear artrose secundária, também é verdade que a existência de
um traumatismo não é um dado adquirido para a ocorrência de artrose. Estudos radiológicos
longitudinais de indivíduos vítimas de trauma osteomioarticular poderão ajudar a esclarecer a
epidemiologia da OA e a diferenciação entre os dois tipos.
Através da determinação do IMC, constatou-se que os participantes no estudo se
encontravam maioritariamente com excesso de peso, e esse aspeto é citado pela literatura
como um fator etiológico relevante, sobretudo na OA da articulação do joelho. Nesta linha de
pensamento é fácil compreender que se existir obesidade as articulações serão
sobrecarregadas, mas também que se existir magreza excessiva as articulações se tornarão
mais frágeis à carga e ao possível traumatismo. Assim, uma alimentação equilibrada,
juntamente com a prática de atividade física regular, torna-se recomendável na população
idosa. Como a OA é uma patologia involutiva os profissionais que cuidam de idosos
institucionalizados devem ter em consideração que o exercício físico no indivíduo portador de
artrose deve ter uma intensidade moderada, em que o repouso articular tem igualmente
108
indicações terapêuticas, sendo esta regra extensível às atividades de recreio e lazer. É o
exemplo do tricot e do crochet, em senhoras portadoras de patologia osteoartrítica da mão.
O local mais afetado pela OA neste estudo foi, em concordância com outras
investigações, a articulação do joelho. Pela avaliação funcional da articulação, através de um
instrumento específico, a Escala de Lysholm, efetuou-se o cálculo da prevalência para alguns
sintomas. Assim, concluímos que a claudicação e a dor afetam a maioria dos utentes que
participaram no estudo. Em conformidade com os resultados, auxiliares da marcha,
essencialmente a bengala e a canadiana unilateral, são usados na maioria dos utentes
inquiridos.
Avanços farmacológicos têm sido propostos recentemente para a melhoria dos sintomas
na OA, entre os quais drogas condroprotectoras, substâncias viscosuplementadoras do líquido
sinovial ou transplante de condrócitos para regeneração da cartilagem. Para além destes
tratamentos biológicos os tratamentos cirúrgicos eletivos, incluindo a osteotomia ou a
artroplastia, são considerados de extrema importância, já que diminuem a dor e melhoram a
qualidade de vida do doente. No entanto, não obtivemos registos para estes tratamentos na
amostra estudada. A terapêutica feita pelos pacientes baseia-se nos tratamentos
farmacológicos clássicos que visam controlar a dor, como os analgésicos e os AINES, apesar
apenas 29 utentes estão medicados para a dor.
A prevenção primária, secundária e terciária são componentes essenciais nesta
patologia. Cuidados de saúde apropriados, com recurso à reabilitação poderiam diminuir o
impacto da patologia e melhorar a qualidade de vida destes utentes.
Referências Bibliográficas
Backer, R. (2006). Prevalência de osteoartrite de joelho na população acima de 50 anos
usuária da unidade local de saúde Saco Grande. Monografia (Graduação). Faculdade
de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. Consultada em
3/04/2010 a partir de: http://www.bibliomed.ccs.ufsc.br/SP0135.pdf.
Blackham, J., Garry, J., Cummings, D., Russell, R., & Dealleaume L. (2008). Does regular
exercise reduce the pain and stiffness of osteoarthritis? The Jornal of Family Practice,
57(7), 476-477.
Cunha, R. (2009). Considerações sobre sistema articular, artrose e exercício físico: um
estudo de revisão. Revista Digital, 14 (135). Consultada em 10/04/2010 a partir de:
http://www.efdeportes.com/efd135/sistema-articular-artrose-e-exercicio-fisico.htm.
Felson, D., Zhang, Y., Hannan, M., Naimark, A., Weissman, B., Aliabadi, P., & Levy, D.
(1995). The incidence and natural history of knee osteoarthritis in the elderly. The
Framingham Osteoarthritis Study. Arthritis & Rheumatism, 38 (10), 1500-1505.
109
Grotle, M., Hagen K., Natvig, B., Dahl, F., Kvien, T. (2008). Obesity and osteoarthritis in
knee, hip and/or hand: an epidemiological study in the general population with 10 years
follow-up. BMC Musculoskelet Disord, 2 (9), 132.
Majani, G., Giardini, A., Scotti, A. (2005). Subjective impact of osteoarthritis flare-ups on
patients quality of live. Health and Quality of Life Outcomes, 3 (14). Consultada
em10/04/2010 a partir de: http://www.ncbi.nim.gov/pmc/articles/PMC555754/.
Neame, R., Muir, K., Doherty, S., Doherty, M. (2004). Genetic risk of knee osteoarthritis: a
sibling study. Ann Rheum Dis, 63, 1022-1027.
Oliveria, S., Felson, D., Reed, J., Cirillo, P., Walker, A. (1995). Incidence of symptomatic
hand, hip, and knee osteoarthritis among patients in a health maintenance organization,
Arthritis & Rheumatism, 38 (3), 1134-1141.
Peat, G., McCarney, R., Croft, P. (2001). Knee pain and osteoarthritis in older adults: a
review of community burden and current use of primary health care. Ann Rheum Dis,
60, 91-97.
Reijman, M., Pols, H., Bergink, A., Hazes, J., Belo, J., Lievense, A., Bierma-Zeinstra, S.
(2007). Body mass index associated with onset and progression of osteoarthritis of the
knee but not of the hip: the Rotterdam Study. Ann Rheum Dis, 66 (2), 158-62.
Srikanth, V., Fryer, J., Zhai, G., Winzenberg, T., Hosmer, D., Jones, G. (2005). A metaanalysis of sex differences prevalence, incidence and severity of osteoarthritis.
Osteoarthritis Cartilage, 13 (9), 769-81.
110
09. AUTONOMIA DOS UTENTES DE UMA UNIDADE DE CONVALESCENÇA –
RESULTADOS PRELIMINARES
Rui Miguel Soares Liberal
Mestrando em Cuidados Continuados
Enfermeiro
Unidade Local de Saúde do Nordeste
Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança
E-mail: [email protected]
André Filipe Morais Pinto Novo
Doutor em Ciências da Actividade Física e do Desporto
Professor Equiparado a Assistente
Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança
Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano
Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso
E-mail: [email protected] || Tlm: 917972163
Maria José Almendra Gomes
Mestre em Saúde Pública
Professora Adjunta
Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança
E-mail: [email protected]
111
Resumo
Introdução: Ao longo das décadas, vários têm sido os termos utilizados para as unidades de
convalescença, nomeadamente: convalescent homes, nursing homes e rest homes. As
convalescent homes foram desenhadas de forma a criar um ambiente idêntico ao do domicílio
e destinam-se a pessoas que recuperam de uma doença de evolução prolongada. O conceito de
capacidade funcional representa uma forma de medir se um indivíduo é capaz ou não, de
forma independente, desempenhar as atividades necessárias para o seu autocuidado e, caso
não seja, confirmar se tal necessidade de ajuda é parcial ou total.
Objectivos:
• Avaliar o nível de dependência para as Atividades de Vida Diária à entrada, a meio do
internamento e na alta da Unidade de Convalescença da ULS – Macedo de Cavaleiros;
• Avaliar as alterações ao nível da locomoção e da cognição desde a entrada até à alta
da Unidade de Convalescença da ULSNE – Macedo de Cavaleiros
Material e Métodos: A população foi constituída por todos os utentes internados na Unidade
de Convalescença do ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, em 2010. Assim, a
amostra é constituída por 173 utente. Como critério de inclusão para o estudo definimos a
obrigatoriedade do utente ter três momentos de avaliação: à entrada, a meio do internamento e
na alta. Para a recolha de dados foi utilizado o instrumento de avaliação integrada – aplicativo
de Monitorização da RCCI. Resultados: Pela análise dos resultados podemos concluir que a
Unidade de Convalescença de Macedo de Cavaleiros teve uma predominância do sexo
feminino, sendo que a média de idades foi de 74,35±12,81. A patologia de base mais presente
foi a ortopédica, foi a Unidade Hospitalar de Bragança que referenciou mais utentes e o
domicílio foi o destino após alta mais comum. Houve uma melhoria significativa na
autonomia dos utentes, nas variáveis avaliadas. Discussão e Conclusão: Podemos concluir
que os utentes melhoraram a sua autonomia durante a estadia na Unidade de Convalescença
de Macedo de Cavaleiros, resultado da filosofia inerente à prática de cuidados diária que se
verifica.
Palavras-chave: Funcionalidade; Capacidade funcional; Atividades de vida diária.
Abstract
Introduction: Over the decades, many have been the terms used to convalescent units,
including: convalescent homes, nursing homes and rest homes. The convalescent homes were
designed to create an environment similar to the home and are aimed at people who recover
from a prolonged course of illness. The concept of functional capacity is a way of measuring
whether an individual is capable or not of performing activities necessary for their care
independently and, if not, confirm that such help is needed in partial or total mean.
Objectives:
• Assess the level of dependence for Activities of Daily Living in admission, in the
middle of the stay and at discharge, Unit of Convalescence of ULSNE – Macedo de
Cavaleiros;
• Evaluate changes in locomotion and cognition from admission to discharge of Unit of
Convalescence ULSNE – Macedo de Cavaleiros.
Material and Methods: The study population consisted of all users admitted to the Unit of
Convalescence of ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, in 2010. Thus, the sample is
comprised of 173 patients. As inclusion criteria for the study we defined the obligation of the
112
user to have three evaluations: admission, mid-stay and discharge. For data collection the
instrument used was the integrated assessment –Monitoring Application RCCI. Results:
Based on these results we conclude that the Convalescent Unit of Macedo de Cavaleiros had a
female predominance and the mean age was 74,35 ± 12,81. The pathology more present was
the orthopedic and the Hospital Unit of Bragança was the institution with more users
referenced. Home after discharge was the most common destination. There was a significant
improvement in the autonomy of users in almost the variables. Discussion and Conclusion:
We can conclude that users improved their autonomy during their stay in Unit Convalescence
Macedo de Cavaleiros, result of the philosophy inherent in the practice of daily care that
exists.
Keywords: Functionality; Functional Capacity; Activities of daily living.
113
Introdução
A rede de cuidados continuados visa fundamentalmente prestar cuidados continuados
integrados a doentes que se encontrem em situação de dependência, independentemente da
idade. Quanto aos tipos de serviços existentes ao nível da rede, a prestação de cuidados
continuados integrados pode ser assegurada por unidades de internamento e ambulatório,
equipas hospitalares e domiciliárias. Focando-nos nas unidades de internamento, estas são
constituídas por unidades de convalescença (doentes dependentes por perda temporária da
autonomia), de média duração e reabilitação (doentes com doença de base aguda ou crónica
em processo de reabilitação), de longa duração e manutenção (doentes dependentes com
doença crónica e sem condições para serem atendidos no domicílio) e de cuidados paliativos
(doentes co doença terminal e sem condições para serem atendidos no domicílio). Atendendo
ao facto de o nosso estudo ter sido efectuado na unidade de convalescença de Macedo de
Cavaleiros, procedemos a uma análise mais aprofundada da referida unidade.
Ao longo das décadas, vários têm sido os termos utilizados para as unidades de
convalescença, nomeadamente: convalescent homes, nursing homes e rest homes. As
convalescent homes foram desenhadas de forma a criar um ambiente idêntico ao do domicílio
e destinam-se a pessoas que recuperam de uma doença de evolução prolongada. Em Portugal
a unidade de convalescença é uma unidade de internamento, independente, integrada num
hospital de agudos ou noutra instituição, se articulada com hospital de agudos, presta
tratamento e supervisão clínica, continuada e intensiva, e cuidados clínicos de reabilitação, na
sequência de internamento hospitalar originado por situação clínica aguda, recorrência ou
descompensação de processo crónico (art.º13, do decreto-lei n.º101 de 6 de junho de 2006). O
conceito de capacidade funcional representa uma forma de medir se um indivíduo é capaz, de
forma independente, de desempenhar as atividades necessárias para o seu autocuidado e, caso
não seja, verificar se a necessidade de ajuda é parcial ou total (Duarte et al., 2007).
Objetivos
•
Avaliar o nível de dependência para as Atividades de Vida Diária à entrada, a meio do
internamento e na alta da Unidade de Convalescença da ULS – Macedo de Cavaleiros;
•
Avaliar as alterações ao nível da locomoção e da cognição desde a entrada até à alta da
Unidade de Convalescença da ULSNE – Macedo de Cavaleiros.
114
Material e Métodos
Para este estudo, a população foi constituída por todos os utentes internados na Unidade
de Convalescença do ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, no período de 1 de Janeiro
até 31 de Dezembro de 2010 (primeiro ano de funcionamento da Unidade).
Assim a amostra é constituída por 173 utentes internados na Unidade de Convalescença
do ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, uma vez que definimos como critério de
inclusão para o estudo a obrigatoriedade do utente ter três momentos de avaliação: à entrada,
a meio do internamento e na alta.
Para a recolha de dados foi utilizado o instrumento de avaliação integrada – aplicativo
de Monitorização da RCCI. Através do aplicativo de monitorização da RCCI foi possível
recolher todos os dados relacionados com o utente, nomeadamente os dados sóciodemográficos, a data de entrada e saída da unidade, o estado cognitivo e fazer a avaliação do
grau de dependência através das atividades de vida diária. Esta avaliação permitiu-nos fazer
uma estimativa do grau de dependência da pessoa.
Resultados
Feminino
Masculino
Amostra total
N
112
61
173
Média
76,68
70,08
74,35
Desvio Padrão
11,19
14,51
12,81
Mínimo
40
39
39
Máximo
94
97
97
Tabela 1 – Distribuição da amostra por idade e por sexo
Como podemos observar na Tabela 1, este estudo foi desenvolvido tendo como base
uma amostra de 173 utentes, sendo 112 do sexo feminino e 61 do sexo masculino. A média de
idades da nossa amostra foi de 74,35±12,81 (70,68±11,19anos vs. 70,08±14,51anos de
mulheres e homens, respetivamente), sendo que o utente mais jovem apresentava 39 anos e o
mais velho 97. Apesar desta diferença, o resultado não apresenta significado estatístico.
115
Unidade Hospitalar de Macedo de Cavaleiros
Unidade Hospitalar de S. João (Porto)
Undade Hospitalar de Bragança
Unidade Hospitalar de Mirandela
Unidade Hospitalar de Vila Real
Domicílio
Hospital da Povoa de Varzim/Vila do Conde
Total
Proveniência
N
%
57
32,9
1
0,6
76
43,9
30
17,3
1
0,6
7
4
1
0,6
173
100
Tabela 2 – Proveniência dos utentes
Conforme nos mostra a Tabela 2, a Unidade Hospitalar de Bragança é a unidade
hospitalar que referencia mais utentes com 43,9%, seguindo-se a Unidade Hospitalar de
Macedo de Cavaleiros com 32,9%, aparecendo em terceiro lugar a Unidade Hospitalar de
Mirandela com 17,3% de utentes referenciados. As restantes proveniências conjugam um total
de 5,8% dos utentes referenciados para a Unidade de Convalescença.
Domicilio
Hospital Agudos
Lar
Outra Resposta
Total
Destino após alta
N
%
131
75,7
9
5,2
9
5,2
24
13,9
173
100
Tabela 3 – Destino dos utentes após alta
Na Tabela 3 podemos conferir que o principal destino dos utentes internados na
Unidade de Convalescença após a alta clínica desta unidade é o Domicilio com 75,7% dos
casos. Os Lares e as restantes tipologias da Rede Nacional de Cuidados Continuados
comportam 19,1% dos utentes. De referir ainda que 5,2% dos utentes tem como destino o
Hospital de Agudos, o que tem por base um agravamento da sua situação clínica ou alguma
intercorrência inesperada durante o internamento.
116
Patologia de base
6%
7%
Ortopédica
26%
61%
Neurológica
Cirúrgica
Outra
Gráfico 1 – Patologia de base dos utentes
No gráfico 1 podemos concluir que a patologia Ortopédica é a mais incidente com 61%
dos casos, seguindo-se a Neurológica com 26% e a Cirúrgica com 7%. Existem ainda outras
patologias que representam 6% dos casos.
Uso da casa de banho
140
120
115
100
76
80
68
60
63
54
40
20
31
32
12
10
22
14
0
Entrada
incapaz
Meio do Internamento
dependente de terceiros
dependente de meios
Alta
independente
Gráfico 2 – Uso da casa de banho (N=173)
No uso da casa de banho, o Gráfico 2 mostra-nos que dos 115 utentes que dependiam
de terceiros para o seu uso no início do internamento 63 mantiveram esse grau de
dependência. De salientar ainda um aumento dos utentes independentes no uso da casa de
banho sendo que na entrada eram apenas 14 e no momento da alta 68 utentes já utilizavam a
casa de banho sem qualquer tipo de ajuda.
117
Vestir-se
160
134
140
120
99
100
83
80
60
41
41
42
40
22
20
24
14
3
Entra da
0
inca pa z
7
9
Meio do Internamento
dependente de terceiros
Alta
dependente de meios
independente
Gráfico 3 – Vestir-se (N=173)
No Gráfico 3, verificamos que dos 134 utentes que dependiam de terceiros para se
vestir só 83 no momento da alta mantinham essa dependência. Os utentes incapazes também
diminuíram de 22 para 7. O aumento dos independentes também foi relevante já que à entrada
eram apenas 3 utentes que não necessitavam de qualquer ajuda no vestir e no momento da alta
já 42 utentes se vestiam pelos seus próprios meios.
Sentar e Levantar
140
123
120
100
77
80
60
60
57
46
48
40
29
44
20
11
0
6
8
10
Entra da
inca pa z
Meio do Internamento
dependente de terceiros
dependente de meios
Alta
independente
Gráfico 4 – Sentar e Levantar (N=173)
No que respeita ao sentar e levantar, no Gráfico 4 podemos observar que 123 utentes à
entrada eram dependentes de terceiros para realizar estas actividades sendo que na alta já só
57 necessitavam desta ajuda. Quanto aos independentes aumentaram significativamente de 10
para 60 utentes que conseguiam sentar-se e levantar-se sem ajuda.
118
Banho
150
134
111
94
100
50
25
11
0
39
33
7
27
3
8
Entrada
Meio do
Internamento
Alta
incapaz
dependente de terceiros
dependente de meios
independente
Gráfico 5 – Banho (N=173)
No banho o Gráfico 5 mostra que 25 utentes eram incapazes de se higienizar no início
do internamento e apenas 7 utentes mantiveram essa incapacidade aquando da alta. Os que
necessitavam de ajuda de terceiros também diminuíram de 134 para 94. Dos 3 utentes que
eram independentes no banho à entrada verificamos que 39 conseguiam realizar esta
actividade sem qualquer ajuda no fim do internamento.
Deitar e Levantar
140
128
120
100
90
80
71
60
56
39
40
20
39
38
21
16
7
0
8
Entrada
incapaz
6
Meio do Internamento
dependente de terceiros
dependente de meios
Alta
independente
Gráfico 6 – Deitar e Levantar (N=173)
No Gráfico 6, podemos observar que 128 utentes à entrada na unidade necessitavam
de ajuda de terceiros para se deitar e levantar passando para 71 no momento da alta. Nesta
actividade os independentes voltam a ter um grande relevo aumentando de 8 para 56 utentes
que se deitavam e levantavam do leito já sem qualquer ajuda.
119
Controlo de fezes
140
124
120
128
108
100
80
60
40
20
28
21
23
14
19
3
9
0
Entrada
incapaz
Meio do Internamento
dependente de terceiros
22
20
dependente de meios
Alta
independente
Gráfico 7 – Controlo de fezes (N=173)
No Gráfico 7 os independentes que eram 108 à entrada passaram para 128 no momento
da alta, recuperando esta capacidade. Nos restantes níveis de dependência as alterações foram
reduzidas, ainda que os utentes que necessitavam de ajuda de terceiros passaram de 14 para
apenas 3.
Controlo da urina
140
113
120
118
102
100
80
60
40
20
30
30
27
31
21
14
5
9
0
Entrada
incapaz
Meio do Internamento
dependente de terceiros
19
dependente de meios
Alta
independente
Gráfico 8 – Controlo da urina (N=173)
O Gráfico 8 correspondente ao controlo de urina. Os utentes independentes sofreram
um aumento de 102 para 118 utentes. Os utentes incapazes de controlar a urina diminuíram de
30 para 19. Nos restantes níveis de dependência as alterações foram mínimas mantendo assim
as limitações.
120
Escadas
140
115
120
100
89
80
79
60
62
51
40
28
30
25
20
22
5
3
10
0
Entrada
Meio do Internamento
incapaz
dependente de terceiros
Alta
dependente de meios
independente
Gráfico 9 – Escadas (N=173)
No Gráfico 9, os utentes incapazes de subir e descer escadas diminuíram de 115 para
79 sendo esta diferença um bom pronúncio de promoção de autonomia. Dos utentes que já
eram dependentes de meios neste item houve um acréscimo como nos confirma o gráfico, de
25 para 62 utentes, que no subir e descer escadas utilizavam meios auxiliares de marcha.
Locomoção
120
100
80
103
106
99
74
69
67
60
40
20
0
Entrada
Meio do Internamento
dependente de meios
Alta
independente
Gráfico 10 – Locomoção (N=173)
No Gráfico 10 podemos observar que na locomoção houve ganhos por parte dos
utentes, já que os independentes passaram de 99 para 106 e os dependentes de meios
diminuíram de 74 para 67 deixando de necessitar de meios auxiliares de marcha e
readquirindo independência total no deambular.
121
Estado cognitivo
150
133
130
138
100
43
40
Entrada
Meio do
Internamento
50
35
0
Desorientado T/E
Alta
Orientado T/E
Gráfico 11 – Estado cognitivo (N=173)
No que diz respeito ao estado cognitivo, o Gráfico 11 revela nos que houve 8 utentes
que conseguiram restabelecer as suas capacidades cognitivas, readquirindo o sentido de
orientação no tempo e no espaço físico.
Alimentação
160
131
140
135
120
90
100
80
70
60
31
40
30
10
20
7
0
3
Entrada
inca pa z
5
4
Meio do Internamento
dependente de terceiros
dependente de meios
3
Alta
independente
Gráfico 12 – Alimentação (N=173)
Como podemos observar no gráfico 12, na alimentação também ouve progressos. De 90
utentes independentes à entrada passamos para 135 utentes que conseguiam alimentar se pelos
seus próprios meios. Os dependentes de terceiros também diminuíram bastante já que de 70
utentes que necessitavam de ajuda de terceiros para se alimentar, no momento da alta só 30 é
que careciam desta.
122
Discussão e Conclusões
As Unidades de Convalescença têm ganho um papel cada vez mais importante na
promoção da autonomia dos utentes, sempre que é identificada essa necessidade. Pela análise
dos resultados que apresentamos, podemos concluir que, no ano de 2010, a Unidade de
Convalescença de Macedo de Cavaleiros teve uma predominância do sexo feminino, sendo
que a média de idades foi de 74,35±12,81 (Tabela 1). A patologia de base mais presente foi a
ortopédica (Gráfico 1), foi a Unidade Hospitalar de Bragança que referenciou mais utentes
(Tabela 2) e o domicílio foi o destino após alta mais comum (Tabela 3). Pela análise dos
gráficos 2 a 13 podemos concluir que os utentes melhoraram a sua autonomia durante a
estadia na Unidade de Convalescença de Macedo de Cavaleiros, resultado da filosofia
inerente à prática de cuidados diária que se verifica.
Referências Bibliográficas
Decreto-Lei n.º 101/2006 de 6 de Junho. Diário da República n.º 109 – I Série-A. Ministério
da Saúde. Lisboa
Duarte, Y., de Andrade, C., & Lebrão, M. (2007). O Índice de Katz na avaliação da
funcionalidade dos idosos. Rev Esc Enferm USP, 41(2), pp. 317-325.
Figueiredo, D. (2007). Cuidados Familiares ao Idoso Dependente. Lisboa: Climepsi Editores.
123
10. UM NOVO MODELO DE GOVERNANCE NAS POLÍTICAS PÚBLICAS?
ESTUDO DA REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS
Maria Patrocínia Ferreira Sobrinho Correia,
Assistente, Instituto Politécnico de Bragança (EsACT)
[email protected]
124
Resumo
O Welfare State Europeu entrou em declínio devido às suas características despesistas.
Aos graves problemas financeiros, outros se juntaram, evidenciando debilidades estruturais
que reequacionam o inteiro sistema das políticas de bem-estar e sociais.Que novos
paradigmas estão a emergir para fazer face às debilidades existentes? Como o Estado pode
actuar para enfrentar novos desafios? São questões a que o presente trabalho procura dar
resposta ilustrando o processo de implementação de uma política pública. À emergência de
políticas sociais associa-se uma nova política de saúde e a coordenação de actores com
culturas e responsabilidades sociais diferentes. O presente artigo procurará analisar a
discussão teórica em torno do conceito de Governança, em particular da Governança em Rede
refletindo, analiticamente, numa política pública social e de saúde.
Palavras-chave: Estado Providência; Governança; Redes; Implementação; Políticas Públicas.
Abstract
The European Welfare State, began to decline due to its characteristics expenses and
difficulty in recovering from the financial crisis in 2009 that shook the United States. To the
serious financial problems, others joined in, showing which structural weaknesses rethink the
entire political system of welfare and social. What new paradigms are emerging to address the
existing weaknesses? How the State can act to meet new challenges? These are questions that
this paper seeks to answer illustrating the process of implementing a policy. To the emergence
of social policies joins a new health policy and coordination of actors with different cultures
and social responsibilities. This paper analyzes the theoretical discussion around the concept
of governance, in particular the Governance as Network, reflecting analytically, a social and
heath public policy.
Keywords: WelFare State; Governance; Networks; Implementation; Public Policy.
125
Introdução
O Welfare State Europeu entrou em declínio devido às suas características despesistas,
não conseguindo recuperar da crise financeira, em 2009, que abalou os EUA. Aos graves
problemas financeiros, outros se juntaram, evidenciando debilidades estruturais que
reequacionam o inteiro sistema das políticas de bem-estar e sociais.
Da temática introduzida, resultam várias questões de interesse vasto: Que novos
paradigmas estão a emergir para fazer face às debilidades existentes? Como o Estado pode
atuar para enfrentar novos desafios? São questões a que o presente trabalho procura dar
resposta ilustrando o processo das políticas públicas. Neste contexto, propomo-nos a analisar
uma politica publica que pretende romper com os quadros tradicionais governamentais,
decompondo uma nova política de saúde cuja coordenação resultará de culturas e
responsabilidades sociais de diferentes atores.
O presente trabalho procura analisar a discussão teórica em torno do conceito de
Governance, em particular da Network Governance (Redes) refletindo, analiticamente, numa
politica pública social e de saúde. A Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI),
criada em 2006, assumiu um novo modelo de governança, integrado e articulado, que envolve
a implementação de políticas públicas sociais e de saúde através de uma teia de relações entre
atores públicos (Estado), parceiros sociais e Sociedade Civil.
Políticas Estruturais em Contexto de Crise
Ocorreram numerosas tentativas, nas últimas décadas, para classificar os sistemas do
Estado Providência (Ellison, 2006). O autor Titmuss (1963) foi um dos primeiros
investigadores a tentar classificar o sistema do estado providência baseado em duas definições
– sistema residual e institucional, referindo que no primeiro sistema o estado apenas protege
os seus cidadãos das consequências das falhas de mercado. A investigação mais recente,
analisa, por um lado, a relação existente entre a natureza dos bens sociais e a forma de entrega
desse bem estar e por outro, no desenvolvimento histórico de instituições económicas, sociais
e políticas que compõem o amplo sistema de governação. O Estado Providência é um regime
de práticas institucionais conjuntas que constroem um sistema de governação social.
Segundo Caeiro (2008: 214) é o “Estado cuja intervenção se dirige de forma especifica para
a melhoria do bem-estar da população e insere no essencial, quatro tipos de intervenção:
i. As transferências sociais…
ii. Os serviços públicos…
126
iii. As intervenções normativas…
iv. As intervenções públicas…
Assumindo que o welfare state é como que um chapéu que cobre um vasto numero de
actividades governamentais com características distintas podemos considerar alguns
elementos que o caracterizam (Pierson, 2001: 11):
1. Intervenção em “direitos sociais”;
2. Intervenção na constituição de políticas públicas sociais a partir de uma vigorosa ação
do Estado;
3. Relação entre o Estado e o mercado, submetendo este último alguns “limites” e outros
critérios, como padrões mínimos de rendimento ou educação;
4. Maior burocratização do aparelho de Estado;
5. Intervenção de forças sociais ativas (sindicatos, associações) que constituem estruturas
de pressão e apoio ao welfare;
6. Persistência dos modelos de proteção ao longo do tempo, delimitando
comportamentos e construindo instituições.
A consideração do estudo das características e significado do processo de concertação
social fundamenta tanto os factores de sucesso do Estado Providência como a situação de
desadequação das mesmas funções face aos problemas mais contemporâneos da sociedade
(Mozzicafredo, 1994). As críticas ao Estado-Providência, na economia, podem ser resumidas
nas seguintes ideias relativas aos seus efeitos:
•
Antieconómico: elimina a disciplina do mercado e os incentivos ao investimento e ao
trabalho;
•
Antiprodutivo: retira recursos em capital e trabalho do sector privado da economia
para o sector não produtivo burocrático;
•
Ineficiente: patrocina interesses e sectores especiais, promovendo um sistema que
favorece os produtores organizados em detrimento dos consumidores
(Pierson, 2006: 48).
O Estado-Providência Em Portugal
Quando Portugal entrou na Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986, a
sociedade portuguesa alcançou um objectivo comum: pôr fim a um longo ciclo de
subdesenvolvimento histórico que começou com a conservadora e corporativista ditadura do
“Estado Novo” que apenas teve um fim a 1974, com a revolução do 25 de Abril. Enquanto
127
que por toda a Europa os modelos de Estado Providência foram desenvolvidos, Portugal
permaneceu com uma organização económica e social tradicionalista e subdesenvolvida.
Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, com a constituição de 1976, foram
estabelecidos um conjunto de direitos sociais que constituíram a ferramenta formal do Estadoprovidência português, em muitos aspectos similar com outros países europeus.
O período de 1976 a 1986 define a preparação da adesão à CEE como prioridade
nacional. Isto significa que Portugal teve de estabilizar e consolidar as suas instituições
democráticas mas também adoptar medidas macroeconómicas austeras que conduziram a uma
retracção do mercado nas condições de vida, aumentando o desemprego e diminuindo o poder
de compra dos salários e pensões. Um dos passos mais importantes foi a criação do Sistema
Nacional de Saúde em 1979. São, também, criados o Ministério do Trabalho e da Segurança
Social, o Ministério da Saúde e o Conselho Permanente de Concertação Social e o Instituto de
Gestão Financeira da Segurança Social, visando “a institucionalização da participação e
responsabilidade de forças e organizações ligadas a interesses económicos e sociais.
(Rodrigues, 2010: 207).
Fatores Pressionantes da Mudança das Políticas Sociais
Três décadas após a revolução, a estrutura das actividades alterou passando de uma
sociedade rural a uma sociedade baseada nos serviços. Este processo não foi linear nem
homogéneo.
Domingues (2005) analisa quatro desafios como fatores pressionantes da mudança de
políticas sociais: alterações demográficas, globalização, flexibilização e desregulação laboral
e emergência de novas tendências de governação. O desafio invocado pelas alterações na
demografia é devido, em primeiro lugar, ao nível das mudanças de natureza e quantitativas da
população. Em segundo lugar, o peso desta mudança na sustentabilidade dos sistemas
públicos de reforma. Segundo Martins (2001), com tal realidade espera-se a dupla pressão do
lado da despesa e do financiamento nas contas dos sistemas de protecção social. Em relação à
globalização existem distintas perspectivas no sentido de esta ser ou não compatível com o
Estado-Providência. Neste segundo factor, no processo de globalização, será difícil
concretizar a implementação de politicas sociais sem realizar ajustamentos que resultam do
detrimento da satisfação das necessidades humanas. Esta visão refere que o surgimento de
políticas de bem-estar foram o resultado do processo de globalização cujo início assenta no
capitalismo industrial. O terceiro - flexibilização, anda indissociavelmente ligado com o
processo de globalização uma vez que este viabiliza inovação e adaptação a um mercado
128
global em mutação. As mudanças examinadas indicam que, embora gradualmente, os regimes
de Welfare State começam a adoptar políticas que contêm elementos de liberalização,
enquanto que o poder de instituições tradicionais vai diminuindo (quarto e último factor).
GOVERNANÇA: UM NOVO MODELO CONCEPTUAL?
É importante considerar quais os limites que estão por detrás da crescente liberalização
do Estado-Providência. Termos como reformulação, ajustamento e reajustamento são
utilizados para descrever como os Estados-Providência se adaptam a novas transformações.
Os investigadores sobre o futuro do regime de previdência argumentam que existem novas
formas emergentes de governação na Europa que preservam princípios nucleares do Estado
Social e que desenvolvem novos métodos de formulação e coordenação de políticas.
Devido ao seu grau de desenvolvimento e características estruturais e institucionais, o
Estado-Providência Português está numa situação particularmente vulnerável para lidar com
esses desafios. Continuando a ser o país da Europa com baixo nível de despesas de protecção
social e com um caminho dificultado pelas fragilidades institucionais e económicas, apesar de
tais constrangimentos, Portugal tem encontrado “ …nos últimos anos, políticas indutoras de
um novo fôlego e um conjunto de respostas inovadoras" ( Rodrigues, 2010: 211).
Sobre estas políticas inovadoras, Reis (2004) refere que o caminho não pode assentar
em dicotomias Estado/Mercado; Mercado/Empresa-organização; Estado/ Sociedade Civil mas
sim em complementaridades. Parte-se da visão bipolar do Estado/mercado para uma
perspectiva plural de governação assente em “várias estruturas, vários actores, vários
processos, várias capacidades, vários vocabulários e, sobretudo, vários mecanismos” (Reis,
2007: 39) Estes mecanismos, para além do Estado e do mercado, assentam em formas de
poder distintos do Estado Providência “inicial” como o conhecíamos, participando também as
redes, as comunidades e as associações.
De acordo com Ewalt (2001), a maioria da literatura sobre Governança descreve o
modelo de serviço público que reflecte uma forma “reinventada” de governo, melhor gerido e
que delineia os seus objectivos não a partir da teoria democrática mas a partir dos mercados
económicos (Stocker, 1998a). O conceito de Governança é um conceito amplo, complexo e
pode ser aplicado em diversos contextos. O termo reflecte a mudança nas condições de
governação de uma sociedade (Rhodes, 1997, Stoker, 1998).
Para obtermos conhecimento sobre se a governança é ou não uma teoria, é da maior
importância defini-la claramente. Uma vez que a Governança é utilizada em variadíssimas
129
disciplinas (economia institucional, relações internacionais, estudos organizacionais, estudos
de desenvolvimento, ciência política e analise política) torna-se difícil a concretização de uma
definição coerente. Os vários investigadores ao adoptarem a ideia de governança a uma nova
forma de reflexão sobre as capacidades do estado e as suas relações com a sociedade,
identificaram diferentes versões do termo, que passam por:
•
uma mudança do estado burocrático para o estado orientador (Milward & Provan
2000; Rhodes 1997).
•
uma abordagem de mercado ao governo (Kettl, 1993);
•
Um desenvolvimento do capital social, sociedade civil e altos níveis de participação
dos cidadãos (Hirst 2000; Sorensen 2004);
•
O managerialismo ou New Public management atribuído aos modos de governação
mais empresariais (Kernaghan et al,2000);
•
Uma supervisão corporativa, com normas de controlo e de transparência (Monks &
Minow 2004);
•
A gestão de Redes (O'Toole 2003; Peters & Pierre, 1998).
Governança em Rede
Tal como referido nos pontos anteriores, desde o início do Estado-Providência que os
sectores publico, privado e voluntário são envolvidos na implementação de políticas públicas
sociais e de saúde. Este novo modelo de Governança através de Redes fez despoletar a
expressão do seu envolvimento juntamente com o Estado. Para explicar como as Redes
funcionam, para Rhodes (1997: 660, 2000:61) estas devem possuir determinadas
características:
•
Interdependência entre organizações;
•
Existência de interacções contínuas entre membros das Redes;
•
Estabelecimento de interacções do jogo enraizadas na confiança mútua e em regras de
jogo reguladas e acordadas pelos participantes da Rede;
•
Autonomização significativa em relação ao Estado.
O que é interessante é como este modelo é utilizado em diversas ferramentas
académicas que procuram capturar a mudança e capacidade de implementação de politicas
por parte do Estado. Stoker (1998: 18-26) identifica cinco elementos ou macrotendências que
caracterizam este fenómeno: 1) a existência de um conjunto complexo de actores e
instituições dentro e fora da esfera governamental; 2) o desvanecimento das fronteiras e
130
responsabilidades na resolução de assuntos económicos e sociais; 3) novas relações de poder
entre actores na acção colectiva; 4) redes autónomas e auto-governação dos seus actores; e 5)
a capacidade de alcançar e atingir resultados independentemente da autoridade governamental
através de novos instrumentos e técnicas de decomposição e coordenação, direcção,
integração e regulação.
De forma resumida, podemos caracterizar o modelo de Network Governance através da
tabela seguinte:
Tabela 3: Gestão Clássica vs Gestão por Redes
Gestão Tradicional / Clássica
•
Interacção complexa dos processos
entre diferentes actores
•
A autoridade das estruturas não é clara
porque depende das regras e recursos
das redes
• Os problemas constituem a
base do processo político
•
Problemas vão sendo resolvidos
durante o processo político
Papel do Estado
(gestor)
• Controla o sistema
•
Mediador / gestor do processo
• Top-down (trabalho feito e
organizado)
•
Molda e modifica as condições para o
sucesso das interacções entre actores
Actividades do
Estado (gestor)
• Planeamento / formulação da
estratégia
•
procura acordos entre actores
•
selecção de actores
•
criação e sustentação de canais de
comunicação entre todos os actores.
Processos
• Formulação de problemas,
especificação de alternativas e
decisão
Gestão por Redes
• Processos caracterizados pela
autoridade das estruturas
• Organização
• liderança
Fonte: Adaptada de Klijn (1996: 106)
Como já foi referido, a gestão das políticas publicas não é exclusiva de um só actor –
Estado. Esta é assumida como uma actividade desempenhada por um actor, vários actores em
simultâneo ou, até mesmo, um outsider. Cada actor, contudo, tem diferentes possibilidades de
gerir o processo politico nas Redes. Sendo assim, a dinâmica de governance assume
diferentes formas. Mais, enquanto conceito analítico oferece uma forma de analisar como o
executivo central se modificou ou se a sua capacidade de agir foi reduzida. Por outras
palavras, perderá o estado central poder para as redes?
Fatores-chave para desfiar o modelo – sua discussão
O Artigo 3.º do Decreto – lei n.º 101/2006 de 6 de Junho define os Cuidados
Continuados Integrados como sendo o “conjunto de intervenções sequenciais integradas de
131
saúde e apoio social, decorrente de avaliação conjunta, visando a recuperação global da
pessoa entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo e contínuo, que visa
promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência,
através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social”. Segundo a
Organização Mundial de Saúde (OMS), este tipo de cuidados constitui um conjunto de
actividades que se dirigem a indivíduos que se encontram numa situação de incapacidade,
podendo as actividades de desenvolvimento autónomo dos seus cuidados básicos serem
asseguradas por cuidadores formais ou informais, proporcionando a um indivíduo em situação
de dependência maior qualidade de vida, maior grau de independência, autonomia,
participação, auto-realização e dignidade humana.
As principais características destes cuidados assentam em dois conjuntos de conceitos:
Integração e Multidisciplinaridade - Interdisciplinaridade. Com o primeiro, a Integração de
Cuidados pretende que se conjuguem intervenções de saúde e apoio social acordadas com o
planeamento
e
avaliação
das
intervenções
conjuntas.
No
segundo,
decorre
a
complementaridade de actuações de diversas áreas profissionais que fazem parte da equipa de
cuidados continuados, tendo por base a definição de objectivos comuns para a satisfação das
necessidades do indivíduo.
De acordo com o paradigma da Governança, os cuidados continuados representam um
papel determinante na prestação de cuidados de saúde, procurando assumir-se como uma
resposta inovadora, alternativa e adaptada às necessidades reais da população.
Figura 1: Principais Características dos Cuidados Continuados Integrados
Intervenção
Intervenção
Interdisciplinar
Integrada
Intervenção
Intervenção
Multidisciplinar
Contínua
PROMOÇÃO
Apoio Social
DA
Cuidados de
AUTONOMIA
Saúde
Fonte: Própria.
As sociedades têm vindo a enfrentar diversas e profundas alterações que conduzem ao
aumento da população em situação de dependência. Podem-se resumir a três os factores
132
responsáveis pelo aumento da população em situação de dependência em Portugal,
nomeadamente:
1. Transformações demográficas: os efeitos cumulativos da diminuição da mortalidade,
da taxa de natalidade e o aumento da esperança média de vida, têm-se traduzido em
Portugal, no progressivo envelhecimento populacional;
2. Mutações do padrão epidemiológico: o predomínio de doenças crónicas e
incapacitantes e o aparecimento de novas doenças;
3. Transformações a nível da dinâmica e estrutura familiar: o afastamento da família
enquanto cuidadora tradicional.
Este novo quadro acarretou um conjunto de mudanças que fizeram emergir um conjunto
de carências sociais e de saúde que requerem novas respostas, nomeadamente, em termos de
pessoas com dependência funcional transitória, dependência funcional prolongada, idosos
com critérios de fragilidade, pessoas com incapacidade grave ou doença severa.
Para a sua prossecução foi essencial um novo modelo de governança, integrado e
articulado, que envolvesse a implementação de políticas públicas sociais e de saúde através de
uma teia de relações entre actores públicos (Estado), parceiros sociais e Sociedade Civil, com
a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) através do DL.
101/2006 de 6 de Junho, no âmbito do Ministério da Saúde e do Ministério do Trabalho e da
Solidariedade Social.
O modelo de intervenção da RNCCI assenta nos seguintes princípios de funcionamento:
• Intervenção com base na elaboração de um plano individual de cuidados;
• Articulação entre o sistema de saúde e os serviços da segurança social;
• Articulação, em Rede, das equipas e unidades;
• Modelos de gestão que visem a prestação de cuidados efectivos e eficazes.
(Guia da RNCCI – Unidade de Missão para os Cuidados Continuados, vários anos)
Neste sentido, de acordo com os princípios, a RNCCI é coordenada a diferentes níveis,
processando-se a nível nacional, coexistindo uma coordenação operativa a nível regional e
local. É neste âmbito que surgem as diferentes Áreas Regionais de Saúde (ARS), as Equipas
de Coordenação Regional (ECR) e as Equipas de Coordenação Local (ECL), tendo cada uma
delas competências e áreas de actuação específicas.
133
-
A nível nacional a Rede é coordenada segundo as definições existentes, em termos de
constituição e competências, através da orientação dos Ministérios da Solidariedade e
da Segurança Social e Ministério da Saúde.
-
A nível regional, a coordenação da Rede fica ao cargo de equipas constituídas, por
representantes de cada administração regional de saúde e dos centros distritais de
segurança social, segundo o que é definido pelos dois Ministérios referidos.
-
A nível local, esta é assegurada por uma ou mais equipas, de âmbito concelhio,
constituídas por representantes da administração regional de saúde e da segurança
social, devendo sempre integrar esta equipa, um médico, um enfermeiro, e um
assistente social.
Todo este modelo de gestão e coordenação da RNCCI propõe-se a, através de uma
articulação eficaz das diferentes equipas coordenadoras o bom funcionamento da Rede,
garantir a adequação das respostas às inúmeras carências existentes na área da saúde.
A nível de composição, existem diferentes tipos de unidades e equipas para a prestação
de cuidados continuados integrados, abrangendo hospitais, centros de saúde, serviços de
segurança social, rede solidária e a autarquia local.
Figura2: Hierarquização da Coordenação da RNCCI
Coordenação Nacional
Coordenação Regional
ECR
Coordenação Local
ECL
Fonte: Adaptada de Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (vários anos).
134
A Prestação de Cuidados Continuados Integrados é assegurada pela seguinte tipologia
de Unidades e Equipas que integram a RNCCI (tabela 4).
Tabela 4: Tipologias de respostas previstas para a RNCCI
Tipologias Previstas
Unidades
Internamento
Unidades
Ambulatório
Equipas Hospitalares
Equipas Domiciliárias
de
de
•
Unidades de Convalescença;
•
Unidades de Média Duração e Reabilitação;
•
Unidades de Longa Duração e Manutenção;
•
Unidades de Cuidados Paliativos;
•
Unidades de Dia e Promoção da Autonomia
•
Equipas de Gestão de Altas;
•
Equipas Intra-hospitalares de Suporte em Cuidados
Paliativos;
•
Equipas de Cuidados Continuados Integrados;
•
Equipas Comunitárias de suporte em Cuidados Paliativos.
Fonte: Adaptada de Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (vários anos)
Assim, é urgente e necessário responder a velhos e novas desafios consequentes do
novo paradigma de políticas públicas e sua gestão, bem como a identificação de pontos
críticos, definição e configuração desta nova política face aos seus destinatários. A RNCCI é
uma política recente, inovadora e que está em plena ascensão, prevendo-se que esteja em
pleno funcionamento no ano de 2016. A estrutura fragmentada e descentralizada que a
implementação desta Rede apresenta e o envolvimento de variados stakeholders no decorrer
da mesma significa que estamos na presença de um cenário de governance mais do que
evidente. Assim, o trabalho em equipa e a constituição destas Redes torna-se essencial. É,
neste âmbito, que surge a necessidade de se criarem perfis de avaliação das relações entre os
diferentes actores da Rede (tabela 5).
De acordo com a avaliação da Rede, a sua organização dependerá de múltiplos motivos
e estes dependerão do grau de maturidade e desenvolvimento da Rede. Uma vez que a Rede
esteja instalada, a organização entre múltiplos atores goza de qualidade na prestação de
serviços e torna-se mais eficiente (Provan & Milward, 2001).
135
Tabela 5: Avaliação das relações entre Actores da Rede
Níveis de análise
Região
Grupos de stakeholders
Critérios (exemplos)
• Políticos
• Custos para a comunidade
• Público (em geral)
• Construção do capital social
• Grupos de interesse
• Percepção do problema resolvido por
parte do publico
• Indicadores agregados de bem-estar
• Organização administrativa da
Rede
Redes
• Membros das organizações
• Crescimento dos membros da Rede
• Leque de prestação de serviços
• Fortalecimento de relações
• Criação e manutenção da organização
administrativa da rede
• Integração/Coordenação dos serviços
• Custos da manutenção da Rede
• Compromisso com os objectivos da
Rede
Organização
• Quadro de gestores da
organização
• Staff da organização
• Clientes individuais
• Sobrevivência
• Legitimidade
• Custo dos serviços
• Acesso aos serviços
• Outcomes
• Conflito mínimo entre as múltiplas redes
das múltiplas organizações
Fonte: Adaptada de Provan e Milward (2001)
Considerações Finais
Através da análise da diversidade de abordagens do conceito de governança, a
perspetiva da Rede revelou-se transversal a todas. Rodrigues (2010) refere Rede como “um
fenómeno observável, e não a uma ideia pré-existente ou metáfora, sendo composto por
padrões de interacção entre os actores presentes na rede (Rodrigues, 2010: 29). Interessa
explicar o funcionamento das Redes de governança, emergindo da análise teórica realizada
um conjunto de rompimentos analíticos, ao nível da gestão e da estrutura, a ter em conta
quando analisada a RNCCI:
•
Gestão
-
Activação da Rede
-
Organização
-
Arbitragem de conflitos
136
•
Estrutura
-
Formulação da política
-
Ligações, conteúdos e intensidades entre níveis
-
Estrutura e tipologia dessas ligações (directas, indirectas),…
-
Distribuição de recursos entre níveis
-
Actividades de colaboração e/ou competição entre actores
Em suma, a maior ou menor capacidade de governança dependerá, por um lado, da
capacidade operacional da burocracia do Estado tradicional e por outro lado, da elaboração e
implementação desta politica pública, pelo novo papel do Estado, através da criação eficiente
de canais de mobilização e envolvimento de todos os actores da Rede.
O presente trabalho procura estimular a busca pelo funcionamento das Redes de
governança em políticas de cuidados continuados. Estudar a colaboração entre os actores da
Rede poderá não ser tão fácil como possa parecer, até porque não se pode concluir que o
Modelo de Redes se afirma como a solução perfeita (Cardim et al, 2011: 533). Para este
quadro de implementação de uma política de Rede baseada em multi-actores, são necessárias
estratégias ao nível da atenção de discrepâncias entre práticas, adaptabilidade às condições
locais e aos processos de partilha de práticas entre actores, de forma a garantir que a RNCCI
funcione.
Todavia, a presente abordagem mostrou que a governança da RNCCI é marcada por
uma forte inovação institucional e por um complexo sistema de relações inter-governamentais
– níveis central, regional e local. Tais inovações ocorreram, desde o início, a partir dos
compromissos assumidos pelo Estado e impulsionados pelo Terceiro Sector. É com o
envolvimento do sector voluntário que ocorre a maior indicação que aponta para as mudanças
na forma como a governança está a ocorrer. Com base neste envolvimento devemos sustentar
um modelo empírico que permita uma efectiva investigação e aprofundamento do fenómeno
resultante da RNCCI. Sob os alicerces destes elementos analíticos sustentar-se-á um modelo
conceptual de governança em rede que possibilite uma investigação continuada da politica
pública e um aprofundamento do saber que dela temos.
Referências Bibliográficas
Barr, N. (2004). Economics of Welfare State. Fourth edition. New York: Oxford University
Press.
Caeiro, J. C. (2008). Políticas Públicas, Política Social e Estado Providência. Universidade
Lusiada Editora; Lisboa: Colecção manuais.
137
Cardim, M.E., Mota, L., & Pereira, L. (2011), Será tudo da Crise, ou devemos repensar o
estado social?: A emergência de novos paradigmas. Sociologia on-line, 2, Abril, 517550.
Domingues, L. H. (2005). Políticas Sociais em Mudança. O Estado, as Empresas e a
Intervenção Social. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de
Ciências Sociais e Políticas.
Ellison, N. (2006). The Transformation of welfare States?. New York: Routledge Taylor &
Francis Group.
Ewalt, J. A. G. (2001). Theories of Governance and New Public Management: Links to
Understanding Welfare Policy Implementation. Newark: .Eastern Kentuchky
University.
Hirst, P. (2000). “Democracy and Governance.” in Debating Governance: Authority, Steering,
and Democracy, Jon Pierre, ed., Oxford: Oxford University Press, 13-35.
Kernaghan, K., Marson, B., & Borins, S. (2000). The New Public Organization. Toront:
Institute of Public Administration of Canada.
Kettl, D. (1993). Sharing Power: Public Governance and Private Markets. Washington: The
Brookings Institution.
Klijn, E. (1996). Theoretical Examination of the Concept Policy Network and Its Analyzing
and Managing Policy Processes in Complex Networks : A Theoretical Examination of
the Concept Policy Network and Its Problems. Administration & Society, 28: 90-119.
Martins, V. (2001). “Protecção Social” IN INE, Portugal Social: 1991-2001, 7º Capítulo.
Lisboa: INE, pp 156.
Milward, H., & Provan, K. (2000). “Governing the Hollow State.” Journal of Public
Administration Research and Theory, 10:359-79.
Monks, R. A., & Minow, N. (2004). Corporate Governance 3rd edition. New York:
Blackwell.
Mozzicafreddo, J. (1994). “O estado providência em transição”. In Sociologia - Problemas e
Práticas, 16, pp. 11-40.
O’Toole, L. Jr. (2003). “Intergovernmental Relations in Implementation” In Guy Peters and
Jon Pierre (EDS) Handbook of Public Administration, Thousand Oaks, CA: SAGE.
Peters, B. G., & Pierre, J. (1998). “Governance Without Government? Rethinking Public
Administration.” Journal of Public Administration Research and Theory 8: 227-43.
Pierson, C. (2006). Beyond the welfare state? The new political economy of welfare. Third
Edition. Cambridge: Polity Press. First edition 1991,
Pierson, P. (2001). The new politics of the welfare state. Oxford University Press. New York.
Provan, K., & Milward, H.(2001), “Do Networks Really Work? A Framework for Evaluating
Public-Sector Organizational Networks”, Public Administration Review, 61 (4), 414423.
Reis, J. (2004). “Governação e Territórios na Europa: Hipóteses sobre um sub-federalismo
europeu”, In Ribeiro, Maria Manuela T. (coord.). Ideias de Europa: Que fronteiras?
Coimbra: Quarteto, 13-27.
Reis, J. (2007). A Economia Impura. Coimbra: Almedina.
Rhodes, R. A. (1996). The New Governance: Governing without Government. Political
Studies (1996) XLIV, 652-667.
Rhodes, R. A. W. (1997). Understanding Governance: Policy Networks, Governance,
Reflexivity, and Accountability. Buckingham: Open University Press.
Rhodes, R. A. (2000). Governance and Public Administration. IN PIERRE, Jon (ed) Debating
Governance Authority, Steering and Democracy” Oxford: Oxford University Press. Pp
54-90.
Rhodes, R.A.W (2007). Understanding Governance: Tem years On. Organization Studies, 28,
138
8,1243-64.
Rodrigues, M. (2010b), Governança em rede: da metáfora ao objecto de investigação.
Administração Pública Interface, 165, EDIÇÃO 55, Setembro 2010. 24-30.
Sorensen, G. (2004). The Transformation of the State: Beyond the Myth of Retreat. London:
Palgrave Macmillan.
Stoker G. (1998): Governance as theory: five propositions, International Social Science
Journal, Vol. 50.
Titmuss, R. (1963). “The social division of welfare”, In Titmuss, R. Essays on the Welfare
State, London: Allen and Unwin.
Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (UMCCI), vários anos. Guia da
Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, Lisboa, Portugal.
139
11. EXERCÍCIO FÍSICO EM IDOSOS DIABÉTICOS E PERCEÇÃO DA SUA
IMPORTÂNCIA NO CONTROLO DA DOENÇA
11. PHYSICAL EXERCISE IN ELDERLY WITH DIABETES AND ITS PERCEIVED
IMPORTANCE IN THE CONTROL OF THE DISEASE
Adília Maria Pires da Silva Fernandes 1,3,4; Carlos Pires Magalhães1,3,4;
Maria Augusta Pereira da Mata1,3,4; Maria Helena Pimentel 2,3,4.
1
Professor Adjunto, PhD.
2
Professor Coordenador, PhD.
3
Escola Superior de Saúde do IPB.
Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança.
Tel.: (+351) 273 330 950
4
Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII)
140
Resumo
Introdução: A diabetes Mellitus caracteriza-se por uma hiperglicemia crónica com distúrbios
no metabolismo dos hidratos de carbono, lípidos e proteínas, resultante de deficiências da
secreção da insulina e/ou da sua ação (Tahrani, 2009), sendo responsável pelo aparecimento
de várias complicações que afetam a qualidade de vida. A prevalência desta doença aumenta
com a idade (OND, 2011). Estudos destacam a importância do exercício físico no controlo
glicémico (Silva & Lima, 2002; Araújo, Prada, Córdova & Prada, 2009), bem como no
retardar da ocorrência de incapacidades e dependências. Objetivo: Identificar práticas de
exercício físico em idosos diabéticos dos centros de saúde do distrito de Bragança e conhecer
a perceção da amostra em estudo acerca da importância do exercício físico no controlo da
doença. Metodologia: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. Amostragem não
probabilística com 356 idosos com diabetes Mellitus. Recolha de dados por entrevista
estruturada. Resultados/Discussão: 52,5% dos diabéticos são do sexo feminino. Idade média
= 74,22±6,43anos. A maioria reside em ambiente rural e apresenta baixos níveis de
habilitações literárias. Apenas uma pequena proporção refere praticar exercício físico com
regularidade (25,8%). No entanto, a maioria (61%) concorda que a prática do exercício físico
regular é importante para melhorar o controlo da diabetes. Conclusão: É necessário
implementar medidas que articularem o tratamento farmacológico, atividade física regular e
alimentação equilibrada. Diabéticos e família necessitam de informações objetivas para
ajustamento à doença.
Palavras-chave: Exercicio físico; Diabetes; Perceção; Controlo.
Abstract
Introduction: Mellitus diabetes is characterized by a chronic hyperglycaemia with
disturbances in the metabolism of carbohydrates, lipids and proteins as a result of deficiencies
in insulin secretion and / or in its action (Tahrani, 2009), being responsible for the onset of
several complications that affect patients’ quality of life. The prevalence of this disease
increases with age (OND, 2011). Several studies highlight the importance of physical exercise
in the control of glycaemia (Silva & Lima, 2002; Araújo, Prada, Córdova & Prada, 2009), as
well as in the delay of the beginning of disabilities and dependencies. Objective: To identify
practices of physical exercise in elderly with diabetes users of the health centers of Bragança
district and get acquaintance with the sample’s perception about the importance of physical
exercise in the disease control. Methodology: A quantitative, descriptive and cross-sectional
study was developed in a non-probabilistic sample of 356 old people who suffer of Mellitus
diabetes. Data collection was made by a structured interview. Results/discussion: 52,5% of
the sample are female. Average of age=74,22±6,43 years. Most of them live in rural
environment and have low levels of academic qualifications. Only few of them refer to
practice physical exercise regularly (25,8%). However, the most of them (61%) agree that the
regular practice of physical exercise is important to improve diabetes’ control. Conclusion: It
is necessary to implement measures that articulate pharmacological treatment, regular
physical activity and balanced nutrition. Diabetic patients and their families have the need of
objective information so that they can adjust themselves to the disease.
Keywords: Physical exercise; Diabetes; Perception; Control.
141
Introdução
A diabetes Mellitus (também designada por diabetes tipo II) é uma doença crónica
degenerativa. Constitui a forma mais comum de diabetes, representando 90 a 95% dos casos
totais de diabetes (Zimmet, 2001; ADA, 2011). Pela posição epidemiológica que ocupa com
altas taxas de incidência e prevalência e, pelas suas repercussões sociais e económicas,
traduzidas em mortes prematuras, incapacidade para o trabalho e custos elevados associados
ao seu controle e/ou tratamento das suas complicações agudas é considerada, na atualidade,
como um problema de saúde pública.
Um estudo de âmbito nacional mostrou que em Portugal a prevalência desta doença era
de 11,7% na população com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos, no entanto,
pensa-se que este valor esteja subestimado (Sociedade Portuguesa de Diabetologia, 2009). De
acordo com a mesma fonte, haverá uma proporção de diabetes não diagnosticada de
aproximadamente 45%. A região do Alentejo poderá apresentar uma menor proporção de
diabéticos não diagnosticados.
A doença resulta de alterações na ação ou secreção de insulina e envolve dois processos
patogénicos primários: declínio progressivo da função produtora de insulina pelas células dos
Ilhéus de Langerhans pancreáticos e inadequada supressão da secreção de glucagon (hormona
responsável pelo aumento da glicemia) e resistência à insulina, por diminuição da resposta
tecidular à mesma (Tahrani, 2009).
Daí a necessidade de adoção de comportamentos de alguma complexidade que devem
ser integrados na rotina diária do doente e na gestão de aspetos tão diversos e complexos
como os cuidados com a alimentação, exercício físico, medicação e monitorização glicémica.
O primeiro passo no tratamento do diabético consiste em conseguir que este adira a um plano
alimentar cuidado e/ou a um esquema de exercício físico adequado às suas características
físicas. O recurso à terapêutica hipoglicemiante só deve ser considerado após o insucesso das
medidas não farmacológicas.
O esquema terapêutico na diabetes assenta, basicamente, na chamada tríade terapêutica
(Figura 1) que integra a alimentação, o exercício físico e a medicação. Estes três pilares
assumem igual importância e o desequilibro de um deles reflete-se diretamente nos outros,
impedindo que o tratamento seja eficaz (Caldeira & Osório, 2002).
142
Figura 1 – Tríade terapêutica
Dieta
Educação
Medicação
Exercício
Insulina
Higiene
Fonte: Caldeira, J. & Osório, I. (2002), Alimentação – Noções práticas (p.79), In R. Duarte,
Diabetologia Clínica (3.ª ed.). Lisboa: Lidel.
A alimentação é um componente integrante da prevenção, manutenção e educação do
diabético para o autocontrolo (ADA, 2011). Todos os diabéticos deverão ter aconselhamento
relativo aos hábitos alimentares, com particular enfoque numa dieta saudável e equilibrada,
visando evitar o excesso de peso, ou a redução do mesmo (Benhalima at al, 2011). Sabe-se
que a obesidade e o excesso de peso estão fortemente associados ao desenvolvimento da
doença e podem dificultar a sua manutenção, uma vez, que a obesidade é o mais importante
determinante isolado para a insulinorresistência (Tahrani at al, 2009), para além de ser um
fator de risco independente para a hipertensão e dislipidémia, bem como para a doença
cardiovascular, a qual constitui a principal causa de morte entre os diabéticos. A Organização
Mundial de Saúde (OMS) estima que existam atualmente 1,1 bilião de pessoas com excesso
de peso e espera que este total aumente para mais de 1,5 biliões em 2015 (WHO, 2006;
referida por Monteiro, Frederico & Torre, 2007). De acordo com a mesma fonte, o perímetro
da cintura ou o rácio cintura anca são alguns indicadores de risco e poderão ser melhores
indicadores de risco que o índice de massa corporal (IMC), pois refletem a gordura visceral.
Assim, reduções de peso melhoram o controlo glicémico, reduzem o risco
cardiovascular e podem prevenir o desenvolvimento da doença, nas pessoas pré-diabéticas.
Desta forma, só por si, a perda de peso é uma estratégia terapêutica importante, uma vez que
está associada a uma diminuição da resistência à insulina (Klein et al, 2004; ADA, 2011).
Por sua vez, o sedentarismo, traduzido na diminuição dos níveis de atividade física, tem
vindo a contribuir para o aumento global da obesidade, nas últimas décadas. Eriksson e
Lindgarde (1991), Sigal et al, (2004) e Benhalima et al, (2011) elegeram o exercício físico
143
como uma das armas mais poderosas para melhorar a sensibilidade à insulina. Na primeira
fase do exercício físico intenso há um consumo de glicogénio muscular. À medida que a
duração do exercício aumenta verifica-se um aumento do consumo da glicose circulante, que
acompanha o lento e constante declínio das reservas de glicogénio muscular. E, apesar da
resposta metabólica ao exercício físico ser condicionada por diferentes fatores (ex:
alimentação, idade, tipo de exercício e condição física), o que, de uma forma geral,
condiciona mais o consumo energético é a intensidade e duração do mesmo (Sigal et al,
2004). Os diabéticos devem fazer pelo menos 150 minutos por semana de atividade física
aeróbica de intensidade moderada (ADA, 2011). Na ausência de contraindicações, deveriam
fazer treino de resistência pelo menos 3 vezes por semana. Contudo, esta medida sem efeitos
adversos e da qual se pode esperar uma redução de 1- 2% nos valores de HbA1C (Benhalima
et al, 2011) é das componentes menos explorada da abordagem terapêutica da diabetes, razão
me nos levou a aprofundar esta temática.
Numa patologia como a diabetes em que o doente tem um papel fundamental no seu
controlo, a tríade clássica de abordagem terapêutica: medicação, exercício físico e dieta ficará
enormemente enriquecida com a introdução da componente educação, tal como proposto por
Duarte e Caldeira (2002). Um doente informado tem a capacidade de compreender a sua
doença, o que melhora a probabilidade de a controlar de forma mais eficiente.
Metodologia
Objetivo: Identificar práticas de exercício físico em idosos diabéticos dos centros de saúde do
distrito de Bragança e conhecer a perceção da amostra em estudo acerca da importância do
exercício físico no controlo da doença.
Tipo de estudo: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. Amostragem não probabilística
em 356 idosos com diabetes. Recolha de dados por entrevista estruturada.
Resultados
Da totalidade da amostra 52,5% pertenciam ao sexo feminino e 47,5% ao masculino. A
idade dos indivíduos varia entre os 65 e 94 anos. A média de idades situa-se nos 74,22±6,43
anos. A maioria da amostra é casada ou vive em união de facto (62,9%), seguindo-se os
144
viúvos (28,1%). Residem maioritariamente em ambiente rural (67,4%) e apresentam baixos
níveis de habilitações literárias.
No que se reposta às variáveis relacionada com
com a prática desportiva, apenas 92
indivíduos (25,8%) referiram praticar exercício físico com regularidade (gráfico 1).
Gráfico 1 – Prática Desportiva
25,8%
74,2%
Sim
Não
A caminhada (gráfico 2) é o exercício físico mais praticado (94,6%) pelos inquiridos.
inquiridos
Gráfico 2 – Tipo de Exercício Físico
2,2%2 2,2%
1%
94,6%
Caminhada
Natação
Bicicleta
Mais que um exercício físico
Uma periodicidade diária na prática de exercício físico foi referenciada por 46,7% da
amostra (gráfico 3). Como nos refere Ramalho (2009) a prática regular de exercício físico
contribui para a prevenção e controlo da diabetes, aumentando
aumentando simultaneamente a sensação de
bem estar físico e psíquico através da redução do stress psicossocial. A duração média da
prática diária do exercício é de aproximadamente 50 minutos (51,58±29,1), o que vai de
encontro às recomendações da ADA (2011) para a esta população, sustentando a prática de
exercício físico moderada e gradual, com uma duração média de 30 a 45 minutos e uma
145
frequência de 3 a 5 dias por semana. Ter em conta o ajustamento às capacidades físicas
individuais de cada diabético.
Gráfico 3 – Periodicidade do exercício físico praticado
1,1%
diáriamente
12,0%
46,7%
21,7%
Cinco xs/ semana
Quatro xs/ semana
8,7%
Três xs/ semana
9,8%
Duas xs/ semana
Uma vez/ semana
Pelo gráfico 4 constata-se
constata se que 61% da amostra concorda que a prática do exercício
físico regular é importante para melhorar o controlo da diabetes e 21,3% apresenta opinião
muito concordante, de realçar,
lçar, no entanto que 0,6% apresenta opinião discordante e 14,3%
não expressam opinião sobre esta questão.
Gráfico 4 – Periodicidade da prática do exercício físico
2,8%
0,6%
14,3%
21,3%
61,0%
Não responde/Não sabe
Concordo muito
Concordo
Não concordo nem discordo
Discordo
Discussão dos Resultados
Da totalidade da amostra 52,5% pertenciam ao sexo feminino e 47,5% ao masculino. A
idade dos indivíduos varia entre os 65 e 94 anos. A média de idades situa-se
situa nos 74,22±6,43
146
anos, o que vai de encontro à situação demográfica do distrito e do país (INE, 2008). Residem
maioritariamente em ambiente rural (67,4%) e apresentam baixos níveis de habilitações
literárias.
No que se reposta às variáveis relacionada com a prática desportiva, apenas 92
indivíduos (25,8%) referiram praticar exercício físico com regularidade. Tendo em conta os
autores consultados (Eriksson e Lindgarde, 1991; Duarte e Caldeira, 2002; WHO, 2004; Sigal
et al, 2004; Benhalima et al, 2011; Tahrani at al, 2009) o exercício físico tem um papel
importante na prevenção da diabetes. Perante esta constatação, torna-se necessário dinamizar
cada vez mais a atividade física na população em geral e, particularmente, nos indivíduos com
a doença. No entanto, a implementação da atividade física como uma medida preventiva e
terapêutica é um processo de difícil cumprimento na maioria utentes estudados. Esta
dificuldade poderá resultar da ação simultânea de diferentes fatores: declínio da atividade
física espontânea que ocorre naturalmente com a idade, habitual sedentarismo, problemas
ortopédicos e/ou cardiovasculares, entre outros.
Conclusão
Considerando a elevada prevalência da diabetes na população portuguesa e,
particularmente, na população em estudo, torna-se fulcral consciencializar as pessoas para a
necessidade da alteração de comportamentos, orientados por estilos de vida mais ativos e
saudáveis. A mudança de atitudes conduzirá a uma redução da incidência da doença, bem
como a uma melhoria na qualidade de vida daqueles que já a possuem, obtendo-se desta
forma ganhos em saúde. De resto, como refere a WHO (2006) o incremento da qualidade de
vida é preconizado como um objetivo fulcral do processo do envelhecimento ativo, que
contempla não unicamente indivíduos saudáveis e ativos, mas também indivíduos frágeis,
fisicamente incapacitados ou que necessitem de cuidados.
De realçar a promoção e a educação para a saúde dos doentes e família, tendo em
consideração o controlo da doença. Estas medidas devem articular os pilares fundamentais do
agir (ou intervenção em saúde): autocontrolo diário, tratamento farmacológico, atividade
física regular e alimentação equilibrada. Diabéticos e família necessitam de informações
objetivas, seguras e cientificamente válidas para fazerem frente às dificuldades que lhe são
inerentes.
147
Referências Bibliográficas
American Diabetes Association (ADA) (2011). Diagnosis and Classification of Diabetes
Mellitus. Diabetes Care , 34 Suppl 1, pp.S11-61.
Benhalima, K., Standl, E., & Mathieu, C. (2011). The importance of glycemic control: how
low should we go with HbA1c? Start early, go safe, go low. Journal of Diabetes and Its
Complications, 25 (3), pp. 202-207.
Caldeira, J., & Osório, I. (2002). Alimentação: Noções práticas. In R. Duarte, Diabetologia
Clínica. (3.ª ed.) (p. 79-87). Lisboa: Lidel.
Direcção-Geral da Saúde (2000). Educação Terapêutica na Diabetes Mellitus. Circular
Normativa Nº14/DGCG, de 12/12/2000. Lisboa: Direcção-Geral da Saúde, DGS.
Eriksson, K.F., & Lindgarde, F. (1991). Prevention of type 2 (non-insulin-dependent)
diabetes mellitus by diet and physical exercise. The 6-year Malmo feasibility study.
Diabetologia, 34(12), pp. 891-8.
Klein, S., Sheard, N. F., Pi-Sunyer, X., Dany, A., Wylie-Rosett, J., Kulkarni, K., & Clark,
N.G. (2004). Weight Management Through Lifestyle Modification for the Prevention
and Management of Type 2 Diabetes: Rationale and Strategies. A statement of the
American Diabetes Association, the North American Association for the Study of
Obesity, and the American Society for Clinical Nutrition. Diabetes Care, 27, pp. 20672073.
Ramalho, S. M. B. (2009). Diabetes Mellitus. Uma nova abordagem terapêutica da Diabetes
Tipo 2. Dissertação de Mestrado, Universidade Fernando Pessoa, Faculdade de Ciências
da Saúde, Porto.
Sigal, R.J., Kenny, G.P., Wasserman, D.H., & Castaneda-Sceppa, C. (2004). Physical
activity/exercice and type 2 diabetes. Diabetes Care, 27, pp. 2518-2539.
Sociedade Portuguesa de Diabetologia (2009). Estudo de monitorização da implementação
regional e nacional do rastreio sistemático e tratamento da retinopatia e nefropatia
diabéticas e dos cuidados do pé diabético (DIACOMP). Disponível em: www.minsaude.pt/NR/rdonlyres/4747F2BE-D534.../i012326.pdf
Tahrani, A., Piya, M., & Barnett, A. (2009). Saxagliptin: a new DPP- 4 inhibitor for the
treatment of type 2 diabetes mellitus. Advanced Therapeutics, 26(3), pp. 249-262.
World Health Organization (2006). Highlights on health in Portugal, 2004. Geneve: World
Health Organization.
Zimmet, P., Alberti, K., & Shaw, J. (2001). Global and societal implications of the diabetes
epidemic. Nature, 414, pp. 782-787.
148
12. SOBRECARGA EM CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS DEPENDENTES E
SUA RELAÇÃO COM VARIÁVEIS DO CUIDADOR E DEPENDÊNCIA DOS
IDOSOS NAS AVD
Maria Augusta Pereira da Mata1,3,4; Maria Helena Pimentel2,3,4;
Adília Maria Pires da Silva Fernandes1,3,4; Carlos Pires Magalhães1,3,4; Manuel Alberto Brás1,3,4
1
Professor Adjunto, PhD.
2
Professor Coordenador, PhD.
3
Escola Superior de Saúde do IPB.
Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança.
Tel.: (+351) 273 330 950
4
Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII)
149
Resumo
Introdução: Inúmeros estudos reportam diversos problemas sentidos pelos cuidadores informais,
principalmente quando o cuidado se prolonga no tempo. Ribas et al. (2000) afirmam que o
cuidador principal enfrenta diariamente desafios imprevisíveis e sofre perdas de controlo pessoal
que se vão reflectir na sua saúde física e emocional. Zarit e Zarit (1983), Zarit, Orr e Zarit (1985),
Zarit, Todd e Zarit (1986), Zarit (1997), referem que a intensidade da sobrecarga constitui melhor
predictor de institucionalização do que o estado mental ou conductual da pessoa cuidada, pelo
que, consideraram a carga do cuidador como sendo a chave para a manutenção na comunidade,
das pessoas com demência. Metodologia: Com o objectivo de analisar a sobrecarga do cuidador
informal de idosos dependentes e verificar a sua relação com variáveis do cuidador e com a
dependência dos idosos cuidados nas AVD, desenvolveu-se um estudo descritivo e analítico junto
de 268 cuidadores informais do distrito de Bragança, com aplicação de um formulário com
inclusão da Entrevista de Carga do Cuidador de Zarit e aplicação dos índices de Barthel e de
Lawton para avaliar as dependências nos idosos cuidados. Os dados foram submetidos a uma
análise descritiva e de comparação de proporções pela aplicação do teste do Qui-quadrado.
Resultados: Verificaram-se proporções mais elevadas de carga nos cuidadores com idades
superiores a 40 anos (p=0,009); Nos cuidadores que percecionam a sua saúde como muito má e
má, existem proporções mais elevadas de sobrecarga intensa, e nos que têm uma perceção boa ou
muito boa há proporções mais elevadas de cuidadores sem sobrecarga (p=0,001). A sobrecarga do
cuidador relaciona-se ainda com os níveis de dependência dos idosos nas ABVD (p<0,001), e nas
AIVD (p<0,001). Conclusão: Os resultados obtidos mostram claramente a importância das redes
sociais na prevenção e no controlo da sobrecarga do cuidador, bem como na aplicação da
entrevista de carga como rotina na avaliação da saúde do cuidador.
Palavras-chave: Cuidador informal; Sobrecarga; Dependência.
Abstract
Introduction: Several problems felt by informal caregivers mainly when care is developed during
many time are related in many studies. Ribas et al. (2000) say that main caregiver faces daily
unpredictable challenges and suffers losses of personal control that will reflect in his/her physical
and emotional health. Zarit e Zarit (1983), Zarit, Orr e Zarit (1985), Zarit, Todd e Zarit (1986),
Zarit (1997), reported that the intensity of burden is best predictor of institutionalization than the
behavioral or mental state of the cared person, for what they considered the caregiver’s burden as
being the key to maintaining the persons with dementia in the community. Methodology: With
the aim of analyzing the informal caregiver’s burden of dependent elderly and to determine their
relationships with caregiver’s variables and elderly’s dependency in DLA, a descriptive and
analytical study was developed in a sample of 268 informal caregivers living in the district of
Bragança, by applying a questionnaire which included the Caregiver’s Burden Interview
developed by Zarit and the Barthel and Lawton Indexes to evaluate the dependencies in the
elderly . Data were submitted to a descriptive analyze and comparison of proportions with the
application of qui-scare. Results: Caregivers older than 40 years showed higher proportions of
burden (p=0,009); Those caregivers who classify their health as bad or very bad have higher
proportions of burden and in those who classify it as good or very good there are higher
proportions of caregivers without burden .(p=0,001). Caregiver’s burden is still related to
dependency levels both in BDLA (p<0,001), and in IDLA (p<0,001). Conclusion: Results show
clearly the importance of social nets in the prevention of caregiver’s burden as well as the
application of Caregiver’s Burden interview as a routine in caregiver’s health evaluation.
Keywords: Informal Caregiver; Burden; Dependency.
150
Introdução
A literatura evidencia que se assiste, na sociedade actual, a um aumento sem
precedentes das situações relacionadas com a dependência e, logicamente com o conjunto de
pessoas que necessita de algum tipo de ajuda para o desenvolvimento da sua vida, de forma a
poder ajustar-se ao meio e interagir com ele.
De acordo com o IMSERSO (2007), as alterações demográficas e sociais estão a
produzir um aumento progressivo da população em situação de dependência. Associado ao
aumento contínuo das pessoas com 65 e mais anos, está ainda o fenómeno demográfico
denominado por “envelhecimento do envelhecimento”, conceito que pretende traduzir o
crescente aumento do número de pessoas com 80 e mais anos e que, segundo os mesmos
autores, duplicou nos últimos vinte anos. Assim, estas duas situações demográficas fazem
com que exista maior número de idosos em situação de dependência nas últimas etapas da sua
vida.
O Decreto-Lei nº 101/2006 de 6 de Junho define dependência como sendo
a situação em que se encontra a pessoa que, por falta ou perda de autonomia
física, psíquica ou intelectual, resultante ou agravada por doença crónica,
demência orgânica, sequelas pós-traumáticas, deficiência, doença severa e/ou
incurável em fase avançada, ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra
natureza, não consegue, por si só, realizar as actividades da vida diária.
Face a situações de total ou parcial dependência, impõe-se a ajuda de alguém que
faculte os cuidados à pessoa que deles necessita, sendo em muitos casos assegurados por um
elemento da família que adquire assim a função de cuidador principal. No caso de não
usufruir de remuneração pela tarefa executada, então este cuidador assume a função de
cuidador informal. O conceito de cuidador informal obteve nos últimos anos particular relevo,
quer ao nível da literatura, quer ao nível da investigação em gerontologia.
No contexto português, à semelhança de outros países, os cuidados de saúde primários
constituem o polo de complemento e ajuda aos serviços prestados pelos cuidadores informais,
embora nem sempre de forma efectiva e, como afirma Bermejo (2005), os cuidadores
representam uma peça chave na tríade terapêutica equipa de saúde – utente dependente –
cuidador.
151
Cuidar de alguém representa um dos maiores desafios a ultrapassar, envolvendo longos
períodos de tempo dispensados ao familiar, desgaste físico, custos financeiros, sobrecarga
emocional, riscos mentais e físicos.
O cuidador enfrenta diariamente situações imprevisíveis e sofre perdas de controlo
pessoal que vão provocar alterações na sua saúde física e emocional. Ribas et al. (2000)
referem que essas alterações não se manifestam apenas na saúde, já que também estão
implicados aspectos sociais e económicos.
Hung, Sànchez e Bello (2003) afirmam que, em resultado da sua função, o cuidador
pode apresentar um conjunto de problemas físicos, mentais e sócio–económicos, a que
geralmente se dá o nome de carga e que pode ser objectiva ou subjectiva. Afirmam que a
sobrecarga objectiva se refere à disrupção da vida social do cuidador, à quantidade de tempo e
dinheiro investido no cuidado ao familiar, assim como aos problemas de conduta que este
apresente, enquanto a sobrecarga subjectiva diz respeito à percepção que o cuidador apresenta
da repercussão emocional e das necessidades e problemas relacionados com o acto de cuidar.
A intensa dedicação que o cuidador dirige ao idoso dependente, faz com que num futuro mais
ou menos próximo, ele venha a padecer de alterações na sua saúde física e mental,
transformando-se naquilo a que diversos autores apelidam de “paciente oculto” (Flórez, 2002;
Linde, Velasco & Velasco, 2005). O estudo desenvolvido por Larrinoa, Martínez, Ortiz,
Carrasco, Solabarrieta e Gómez (2011) evidenciou que a autoperceção da saúde física e
mental dos cuidadores era pior que a autoperceção de saúde da população geral.
Com o objectivo de analisar a sobrecarga do cuidador informal de idosos dependentes e
verificar a sua relação com variáveis do cuidador e com a dependência dos idosos cuidados
nas Atividades de Vida Diária, foi desenvolvido o presente estudo.
Material e Métodos
Desenvolveu-se um estudo descritivo e analítico junto de 268 cuidadores informais do
distrito de Bragança informais de idosos com dependência física e/ou mental residentes no
distrito de Bragança.
Procedimentos
Os casos foram identificados através de enfermeiros dos centros de saúde que
152
desenvolvem visitação domiciliária, e directores técnicos de instituições de idosos que
possuem a valência de apoio domiciliário. Obteve-se ainda a colaboração destes técnicos para
a colheita de informação, a quem foi previamente apresentado o objectivo do estudo,
definidos termos e clarificados os conceitos.
Os cuidadores que preenchiam os critérios de inclusão (serem cuidadores de pelo menos
um idoso com dependência física e/ou mental, e que não auferissem qualquer remuneração
pelo cuidado prestado) foram convidados a participarem no estudo, sendo elucidados acerca
do objectivo do mesmo, e garantidos o anonimato e confidencialidade dos dados.
Posteriormente os dados foram submetidos a tratamento estatístico com recurso ao
programa informático SPSS (PASW) versão 1.8 utilizando-se a estatística descritiva e
inferencial com cálculo de proporções e sua comparação através do teste do Qui-quadrado. Os
cuidadores foram integrados em grupos de carga de acordo com os pontos de corte
apresentados por Sequeira (2010)
Resultados
Os cuidadores estudados apresentam uma média de idades de 55,41 anos (min: 22; máx:
87 anos). Na tabela 1, é possível verificar ainda que, além dos idosos cuidadores, o grupo
etário a seguir mais representado é o dos 50 – 59 anos, seguido do das pessoas com idades
compreendidas entre os 40 – 49 anos.
Os resultados evidenciam o predomínio do género feminino (apesar da prevalência de
15,3% de indivíduos do género masculino), a prevalência acentuada de pessoas casadas
(77,2%), com habilitações literárias ao nível do ensino básico (51,9%), realçando-se no
entanto, um percentual de 10,4% de cuidadores sem escolaridade.
Os cuidadores são maioritariamente filhas da pessoa cuidada com uma prevalência de
51,9%, seguindo-se as esposas com 16,4% e as noras com 9,3%. De realçar a existência de
1,9% de cuidadores que não possuem laços familiares com a pessoa cuidada: são amigos ou
vizinhos que, por questões de solidariedade decidiram prestar ajuda.
153
Tabela 1 – Distribuição dos cuidadores segundo as características sociodemográficas
n
%
Feminino
227
84,7
Masculino
41
15,3
<40 anos
33
12,3
40-60 anos
138
51,5
>= 60 anos
97
36,2
Solteiro
39
14,6
Casado/União de facto
207
77,2
Divorciado/Separado
11
4,1
Viúvo
11
4,1
Sem escolaridade
28
10,4
1º Ciclo
91
34,0
2º Ciclo
28
10,4
3º Ciclo
20
7,5
Ensino Secundário
40
14,9
Ensino Superior
61
22,8
Filha
139
51,9
Marido
13
4,9
Esposa
44
16,4
Filho
19
7,1
Nora
25
9,3
Sobrinha
2
0,7
Neta
11
4,1
Amigo(a)/vizinho(a)
5
1,9
Outros
10
3,7
Género (n=268)
Idade – anos (n=268)
Estado Civil (n=268)
Habilitações académicas (n=268)
Parentesco (n=268)
Mais de metade dos cuidadores (56,0%) evidencia níveis de sobrecarga distribuídos por:
sobrecarga intensa (31,0%) e sobrecarga ligeira (25%).
154
No que concerne à autopercepção de saúde, verificou-se que 19,8% dos cuidadores
classificaram a sua saúde como má ou muito má e 43,3% entendiam a sua saúde como
regular.
Verificaram-se proporções mais elevadas de carga nos cuidadores com idades
superiores a 40 anos (X2=13,581; p=0,009). Verificou-se ainda que nos cuidadores que
percecionam a sua saúde como muito má e má, existem proporções mais elevadas de
sobrecarga intensa, enquanto que naqueles que têm uma perceção boa ou muito boa há
proporções mais elevadas de cuidadores sem sobrecarga.(X2=26,891; p=0,001).
A sobrecarga do cuidador relaciona-se ainda com os níveis de dependência dos idosos
nas Atividades Básicas da Vida Diária onde existe maior proporção de cuidadores que
evidenciaram sobrecarga intensa é maior nos que cuidavam de idosos totalmente dependentes,
e a proporção dos que não evidenciam sobrecarga é mais elevada naqueles que cuidam de
idosos independentes nestas AVD (X2=48,300; p <0,001), verificando-se situação idêntica
quando se relacionou a sobrecarga com a dependência nas Atividades Instrumentais da Vida
Diária (X2=23,278; p <0,001).
Discussão
Tradicionalmente, o cuidado prestado a familiares é desenvolvido maioritariamente por
mulheres, tarefa que lhes está acometida desde tempos imemoriais. Mas será que essa
realidade persiste numa sociedade em que a mulher tem adquirido um papel cada vez mais
activo e produtivo?
A representatividade das mulheres no presente estudo ascende a 84,7%. Estes valores
estão alinhados pelos encontrados nos inúmeros estudos acerca da temática, nomeadamente
no estudo de Rodríguez, Echanagorria e Castello (2005), que referem que 83,6% dos
cuidadores informais de idosos pertencem ao género feminino. Tobio, Tomás, Gómez e
Palomo (2010), afirmam que persiste um discurso conservador ou tradicional de
interiorização e conformismo face ao acto de cuidar. Estes investigadores mencionam ainda
que os homens vão sendo progressivamente implicados no acto de cuidar de um familiar,
sobretudo quando se trata de uma criança. Esse cuidado é menos evidente na velhice mais
frágil, salvo quando são reformados e cuidam das suas esposas doentes. Tal poderá ser o caso
dos cuidadores masculinos encontrados no presente estudo, onde a proporção destes
cuidadores ascende a 15,3%.
155
A amostra de cuidadores estudada apresenta uma média de idades próxima dos 55,41
anos (min: 22; máx: 87 anos), é casada (77,2%), filha da pessoa cuidada (51,9%) epossui
habilitações literárias ao nível do ensino básico, Esta realidade vai de encontro ao concluído
por González-Valentin e Calvez-Romero (2009:15) onde numa amostra de 128 cuidadores, o
perfil encontrado foi “… mulher casada que não trabalha, filha da pessoa incapacitada, com
estudos primários, e uma idade média de 56 anos…”.
A análise da relação entre variáveis permitiu verificar a existência de relação entre a
dependência da pessoa cuidada com a sobrecarga percepcionada elo cuidador, resultados
contrariam os obtidos por González, Graz, Pitiot e Podestá (2004) que, concluíram que não
haver evidências de relação entre a sobrecarga e o grau de dependência das pessoas cuidadas,
mas corroboram os resultados de Bocchi (2004), num estudo onde procedeu à análise de
artigos publicados sobre a sobrecarga dos cuidadores de pessoas acometidas de Acidente
Vascular Cerebral, onde concluiu que a sobrecarga está frequentemente associada ao nível de
dependência física e mudanças comportamentais das pessoas cuidadas.
A autoperceção de saúde corroboram os resultados obtidos por Larrinoa, Martínez,
Ortiz, Carrasco, Solabarrieta e Gómez (2011) que concluiram que a autoperceção da saúde
física e mental dos cuidadores era pior que a autoperceção de saúde da população geral.
Conclusões
Os resultados obtidos evidenciam a necessidade da utilização da entrevista de carga do
cuidador como rotina na entrevista de avaliação do seu estado de saúde. Esta avaliação
conduziria necessariamente à inclusão de conteúdos (em termos de educação para a saúde
individual) que contribuíssem para a aquisição de competências no cuidar, e consequente
prevenção e/ou redução da sobrecarga.
Entende-se que, aquando da avaliação da situação de saúde dos idosos dependentes,
deve ter-se sempre em consideração a díade cuidador/pessoa cuidada.
Parecem também evidenciar a importância das redes sociais no apoio ao cuidador, pelo
que seria de extrema utilidade o incentivo à constituição de grupos de voluntários, ou grupos
de ajuda mútua que pudessem cooperar nesta prestação informal de cuidados, servindo como
agentes de suporte instrumental e emocional do cuidador informal de idosos dependentes.
156
Referências Bibliográficas
Bermejo, C. (2005). Factores, necesidades y motivaciones de los cuidadores principales que
influyen en el mantenimiento del cuidado de las personas dependientes en el núcleo
familiar. Nure Investigación, ( 11), pp. 1-7.
Bocchi, S. C. (2004). Vivenciando a sobrecarga ao vir-a-ser um cuidador familiar de pessoa
com acidente vascular cerebral (AVC): uma análise do conhecimento. Rev Latino-am
Enfermagem; 12(1), pp. 115-121
Flórez L., J.A. (2000). El síndrome del cuidador. JANO, 58, pp.46-50.
González, F., Graz, A., Pitiot, D., & Podestá, J. (2004). Sobrecarga del cuidador de personas
con lesiones neurologicas. Obtido em 17 de Agosto de 2011, de Revista del Hospital
J.M. Ramos Mejía: http://www.ramosmejia.org.ar/
González-Valentin, A., & Gálvez-Romero, C. (2009). Características sociodemográficas,de
salud y utilización de recursos sanitarios de cuidadores de ancianos atendidos en
domicilio. GEROKOMOS 20 (1), pp. 15-21.
Hung, G. J., Sànchez, B. R., & Bello, A. M. (2003). Red Latinoamericana de Gerontologia.
Obtido em 7 de Agosto de 2009, de Red Latinoamericana de Gerontologia:
http://www.gerontologia.org/noticia.php?id=143
IMSERSO (2007). Nace un Derecho para Todos. Dossier. Minusval. (6) número especial.
Enero/Febrero.
Larrinoa, P.F., Martínez, S., Ortiz, N., Carrasco, M., Solabarrieta, J. & Gómez, I. (2011).
Autopercepción del estado de salud en familiares cuidadores y su relación con el nivel
de sobrecarga. Psicothema, 23 (3), pp. 388-393.
Linde J.M.M., Velasco M.A.I.,& Velasco, B. I. (2005). El apoyo social como modulador de la
carga del cuidador de enfermos de Alzheimer. Psicologia y salud, enero-junio, 15 (1),
pp.33-43.
Portugal, Decreto-Lei nº 101 (2006). Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.
Diário da República, pp.3857-3865.
Ribas, J., Castel, A., Escalada, B., Ugas, L., Grau, C., Magarolas, R., Puig, J., Carulla, J., &
Pi, J. (2000). Transtornos Psicopatológicos del cuidador Principal no Profesional de
Pacientes Ancianos. Revista Psiquiatría Fac. Medicina Barna; 27 (3), pp.131-134.
Rodriguez, P. R., Echanagorria, A. M., & Castello, M. S. (2005). Cuidados a las personas
Mayores en los hogares Españoles; el entorno Familiar. Madrid: IMSERSO.
Sequeira, C.(2010). Cuidar de idosos com dependência física e mental. Lisboa: Lidel.
Tobío, C., Tomás, M. S., Gómez, M. V., & Palomo, M. T. (2010). El cuidado de las
personas; Un reto para el siglo XXI. Barcelona: Fundación "la Caixa".
Zarit, S., & Zarit, J. (1983). The Memory and behaviour problems checklist - and the burden
Interview. Technical Report: Pennsylvania State University.
Zarit, S., Orr, N., & Zarit, J. M. (1985). The Bidden victims of Alzheimer's disease. Families
under stress. New York: New York University Press.
Zarit, S., Todd, P.A., & Zarit, J.M. (1986). Subjective Burden of Husbands and Wives as
Caregivers: A Longitudinal Study. The Gerontologist, 26 (3), pp.260-266.
157
13. REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE OS CUIDADOS CONTINUADOS DO
CUIDADOR INFORMAL DE UMA PESSOA DEPENDENTE: EXPERIÊNCIAS DE
QUEM CUIDA
13. SOCIAL REPRESENTATION ABOUT LONG TERM CARE OF INFORMAL
CAREGIVER OF A DEPENDENT PERSON: EXPERIENCES OF THOSE WHO
CARE
Maria Augusta Pereira da Mata1,2,3,; Maria Filomena Sousa 1,2,;
Adília Maria Pires da Silva Fernandes 1,2,3
1
Professor Adjunto, PhD.
2
Escola Superior de Saúde do IPB.
Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança.
Tel.: (+351) 273 330 950
3
Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII)
158
Resumo
Introdução: Desde sempre a família tem estado na primeira linha da prestação de cuidados a um
familiar portador de dependências e incapacidades, tornando-se essa realidade muito visível na
actualidade atendendo à situação demográfica global. A maioria destas dependências estão associadas
a doenças crónicas e o seu cuidado conduz necessariamente a repercussões que se irão refletir a
diferentes níveis como o familiar, social e/ou económico. Na sequência destas necessidades surgem os
cuidados continuados integrados que, de acordo com o o Decreto-Lei nº 101/2006 constituem “o
conjunto de intervenções sequenciais de saúde e ou de apoio social, decorrente de avaliação conjunta,
centrado na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo e
contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de
dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social”. Face ao exposto
emergiu a ideia de conhecer as experiências dos cuidadores de familiares dependentes, que mudanças
vivenciam no seu quotidiano e qual a sua representação social face aos Cuidados Continuados.
Metodologia: estudo de carater fenomenológico, com a realização de uma entrevista não-estruturada a
4 pessoas cuidadores informais da cidade de Bragança. Resultados: Apesar das alterações das funções
e estruturas familiares registadas nas últimas décadas, os cuidadores que apoiam os familiares
dependentes continuam a ser na sua grande maioria, os familiares directos do sexo feminino. Os
significados que estes atribuem aos Cuidados Continuados vão de encontro ao preconizado pela
legislação que regulamenta esta rede de cuidados, realçando-se o desejo da existência de uma unidade
no seu concelho de residência. Das experiências vividas no ato de cuidar e mudanças ocorridas na sua
vida realçam-se o prazer e gratificação pela função que exercem, mas também a revolta, solidão,
cansaço, bem como alterações na economia doméstica, na dinâmica familiar e redefinição de
prioridades, repercussões essas que podem ser indutoras da sobrecarga do cuidador. Conclusão: As
redes de suporte social assumem um importante papel no apoio às famílias, pois constituem agentes
facilitadores no controlo de situações problemáticas a que o cuidador informal está exposto. A
manutenção da pessoa cuidada na família/comunidade relaciona-se com a situação de saúde e bem
estar do cuidador pelo que a sua promoção deve merecer particular atenção por parte dos profissionais.
Palavras chave: Cuidados Continuados; Cuidadores de familiares dependentes.
Abstract
Introduction: Family has always been at the forefront of providing care to a dependent or
disabled family member, and according to the global demographic situation, this reality
becomes more and more visible. Most of these dependencies are linked with chronic diseases
and their care necessarily lead to repercussions at different levels as the family, social and / or
economic ones. Following these needs arise the long term care, which according to the Dec.Lei n º 101/2006 are “the set of sequential health and social support interventions, due to a
joint evaluation, focusing on the global recovery understood as the therapeutic process and
social support, active and continuous, which aims to promote autonomy by improving the
functionality of the person in a situation of dependency through her rehabilitation,
readaptation and family and social reintegration”. In this point of view , emerged the idea of
getting acquaintance with the experiences of caregivers of dependent relatives, which changes
have they experience in their daily lives and what are their social representation about long
term care. Methodology: phenomenological character study conducted by a non-structural
interview to 4 informal caregivers who live in the town of Bragança. Results: Despite the
changes in the structure and family functions that occurred in the last decades, caregivers who
care dependent relatives are still female family members. The meanings that they attribute to
long term care are similar to the one presented in legislation highlighting their desire of a unit
in their place of residence. From the experiences in caring and changes in caregiver’s life we
159
enhance the pleasure and gratification by performing that function, but also anger, loneliness,
and fatigue as well as changings in domestic economy, family dynamic and redefinition of
priorities, repercussions that can induce the caregiver burden. Conclusion: Social support
networks play an important role in supporting families, because they are facilitators to control
problematic situations to which informal caregiver is exposed. The maintenance of the cared
person in the family / community is related to the health status and well-being of the caregiver
and so its promotion deserves particular attention from professionals.
Keywords: Long Term Care; Family caregivers of dependent relatives.
160
Introdução
O aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população são uma realidade
nos nossos dias. Dados do Ministério da Saúde (MS) de 2006, revelam que a população
portuguesa com 65 ou mais anos representava cerca de 16,5%. As previsões demográficas
indicam que Portugal será em 2050 um dos países da União Europeia com maior percentagem
de idosos (32%), o que significará perto de 2,7 milhões de pessoas com 65 ou mais anos.
Verifica-se, também, um aumento, tanto das doenças crónicas não transmissíveis como
das situações de morbilidade por acidentes, o que contribui para que a pessoa sobreviva,
contudo, por vezes em situações de morbilidade e dependência de outros. Se por um lado é
verdade que os indivíduos vivem mais, para Paúl e Fonseca (2005), fazem-no frequentemente
acompanhados de incapacidade e patologias múltiplas mesmo antes dos 65 anos.
As alterações demográficas em Portugal, traduzem-se, hoje, na existência de uma
população cada vez mais idosa com um correspondente acréscimo de situações de
dependência que criam novas necessidades em saúde. Desta conjuntura emerge a exigência
real e potencial de cuidados complexos por longos períodos de tempo, onde as redes
informais ocupam um lugar privilegiado nos cuidados à pessoa idosa, para o qual o contributo
do cuidador informal é fundamental na manutenção da sua qualidade de vida.
O cuidado informal sobrevém da prestação de cuidados a pessoas dependentes por parte
de família, amigos, vizinhos ou outros grupos de pessoas, não remunerados economicamente
pelos cuidados que prestam, assumindo assim o papel de cuidador informal. Este último
torna-se o “profissional oculto” dos cuidados ao idoso dependente, experienciando
consequências que se repercutem quer na sua qualidade de vida, quer na do idoso.
Face ao exposto, adotando uma perspetiva qualitativa de carater fenomenológico
desenvolvemos um estudo para conhecer o que representa/significa para os familiares
cuidadores de pessoas dependentes o modelo de cuidados continuados e quais as mudanças
quotidianas vivenciadas por estes cuidadores?
Desta forma, adotamos como objeto deste estudo, especificamente, as representações
sociais dos cuidadores de familiares dependentes, no intuito de possibilitar o esclarecimento
das questões acima enunciadas e caminhar no sentido de constituir propostas de intervenção
mais integradas com a realidade e deste modo contribuir na construção do conhecimento que
resulte em condutas e comunicações mais humanizadas.
161
Metodologia
Seguindo a abordagem de pesquisa qualitativa de carater fenomenológico,
fundamentamo-nos no referencial teórico das representações sociais por admitir que tal opção
possibilita-nos a aproximação pretendida neste estudo. Tendo em conta os objetivos do
estudo, optou-se pela utilização do método fenomenológico, método que se adequa à natureza
do problema em causa e que permite descrever as representações sociais, as experiências e as
mudanças no quotidiano dos cuidadores de familiares dependentes.
No sentido de dar resposta a estes objetivos foram selecionados 4 cuidadores através de
uma amostragem de seleção racional, deste modo o julgamento dos investigadores levou a
que fossem entrevistados os informantes que melhor representassem o fenómeno. Os
informantes são cuidadores familiares muito próximos da pessoa dependente, todos eles são
mulheres e uma delas conjuga os cuidados ao seu familiar com a sua situação laboral (quadro
1).
Quadro1- Carateristicas da amostra
Informantes
Género
Grau de
Idade (anos)
Situação profissional
parentesco
1ª-
Feminino
60
Filha
Reformada
2ª-
Feminino
64
Filha
Reformada
3ª-
Feminino
46
Filha
No ativo
4ª-
Feminino
66
Filha
Reformada
Colheita da informação
A colheita de informação neste estudo foi realizada através de entrevista, utilizando
um guião estruturado, com questões que nos permitiram descrever o objeto desta
investigação.
162
A colheita envolveu apenas um dos investigadores, de forma a evitar diferenças
significativas na condução da mesma. O número de entrevistas terminou quando se
considerou que o material recolhido era suficiente para descrever o fenómeno.
Na realização das entrevistas foram tidos em conta os aspetos éticos inerentes ao
processo, para obter o consentimento informado foi dado a conhecer aos entrevistados a
natureza e objetivos do estudo.
Análise da informação
A análise de conteúdo da informação iniciou-se com a leitura com o intuito de
apreender o sentido global do fenómeno. De seguida, foi feita a identificação e delimitação
das unidades naturais de significado (códigos) que foram organizadas em temas e definidos
por determinados perfis construtivos com referência às representações sociais e significados/
experiências vivenciadas pelos cuidadores de familiares dependentes.
Apresentação e análise dos resultados
O material aqui apresentado, constituiu-se da síntese extraída dos conteúdos dos
discursos dos cuidadores participantes no estudo, tendo o conteúdo sofrido primeiramente
uma análise individual e tendo sido posteriormente agrupado, de acordo com os critérios
referidos.
Seguindo a abordagem de pesquisa qualitativa fundamentamo-nos no referencial teórico
das representações sociais por admitir que tal opção possibilita-nos a aproximação pretendida
neste estudo. Ou seja, identificar as experiencias e as mudanças no quotidiano dos cuidadores
de familiares dependentes e conhecer as representações sociais que estes atribuem aos
cuidados continuados. Permitindo- nos desta forma, olhar sob outra perspectiva as relações
que se estabelecem entre estes serviços e estes cuidadores.
Representação social dos cuidadores de familiares dependentes sobre os cuidados
continuados
O prestador de cuidados a familiares dependentes, é, segundo (Rica & Hernando, 1994)
a pessoa próxima do doente que olha por ele, que o apoia e cuida no dia-a-dia, cujo esforço
depende para manter este a ser cuidado no domicílio, sendo responsável por um conjunto de
tarefas que vão muito além da satisfação das actividades de vida diária a quem os anglosaxónicos designam de “caregiver” ou “carer”, cuidador primário ou cuidador familiar.
163
Por Dependência entende-se (Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de Junho)
a situação em que se encontra a pessoa que, por falta ou perda de autonomia física,
psíquica ou intelectual, resultante ou agravada por doença crónica, demência orgânica,
sequelas pós traumáticas, deficiência, doença severa e ou incurável em fase avançada,
ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra natureza, não consegue, por si só,
realizar as actividades da vida diária.
Geralmente, são membros da família ou comunidade, mulheres (mãe, filha, nora,
esposa, neta), o que se confirma com o presente estudo, que prestam cuidados de forma
parcial ou integral, a pessoas com dificuldades ou incapacitadas de se auto-cuidarem, e
diferenciam-se dos formais pela natureza da motivação (afetos e obrigação) para ajudar, pelas
habilidades trazidas para as tarefas e pelo facto de não serem remunerados por essa atividade
(Rica & Hernando, 1994).
Moscovici (1987) salienta que a representação social engloba fenómenos presentes no
quotidiano dos grupos sociais, tem as suas raizes nos conceitos elaborados pelo senso comum,
nas interações contínuas e na objetivação realizada por cada grupo e que se concretiza num
campo específico de conhecimento.
Da mesma forma, Spink (1993) sustenta que as representações sociais dizem respeito ao
pensamento do senso comum, que por sua vez permeiam as relações humanas nas diferentes
instâncias sociais, acreditando ser a compreensão do senso comum uma condição muito
importante senão essencial para a compreensão da realidade social, quando se considera que
os sujeitos dessas relações são agentes ativos no processo de criação e recriação da mesma.
Ao assumir o papel de cuidador, o sujeito vê-se confrontado com uma situação sem
alternativa de escolha, modelada por uma forte obrigação moral e social, a qual, raramente, é
partilhada com outros elementos.
As representações sociais sobre os cuidados continuados destes cuidadores reproduzem
a prática assistencial segundo o D.L. nº 101/2006 constituindo-se no conjunto de intervenções
sequenciais de saúde e ou de apoio social, realçando-se o desejo da existência de uma unidade
no seu concelho de residência.
Prestar cuidados a pessoas dependentes não constitui uma experiência somente
desgastante. O papel de cuidador de familiar dependente desencadeia sentimentos de
desamparo pois os cuidadores sentem-se muitas das vezes entregues a si próprios. Sentem
necessidade de trocar informações, com a finalidade de se preparar, de forma a poderem
164
responder às exigências que a situação lhes impõe (Schumacher, 2000, citado por Pereira e
Silva, 2012).
Alguns cuidadores familiares realçam a necessidade de informação sobre os cuidados,
mas também de treino específico no sentido da continuidade dos cuidados em casa “também
havia a algália e a sonda e, sabe, eu assustava-me muito quando me parecia que alguma
coisa não estava bem”(E1) . Na realidade, todos os cuidadores precisam de preparação,
encorajamento e suporte, estando os enfermeiros numa posição privilegiada para satisfazer as
suas necessidades (Andrade, 2009 citado por Cruz, Loureiro, Silva & Fernandes, 2010)
Os cuidados continuados de saúde têm como objectivo apoiar as pessoas em situação de
dependência física, mental e/ou social, que estão no seu domicílio. A maioria destas
dependências está associada a doenças crónica, sendo esta por si só uma ameaça à
estabilidade e homeostesia do indivíduo com repercussões a nível económico, social e
familiar. As dificuldades económicas são identificadas nestes cuidadores “Passei a ter mais
despesas” (E2);” As despesas aumentaram(…)as fraldas, cremes, empregada (…) e tudo o
resto” (E1).
Tendo em conta que estas situações de dependência tendem a aumentar, colocando
graves problemas a nível do sistema de saúde e protecção social, as famílias são hoje cada vez
mais solicitadas a desempenhar o papel prestador de cuidados, mantendo o indivíduo
dependente no seu ambiente.
Em Portugal a Rede de Cuidados Continuados, surgiu em 2006, apresentou-se como um
novo paradigma ao nível dos cuidados de saúde e sociais, o que levou a que os profissionais
inseridos nesta nova área tenham tido que modificar o seu modo de prestação de cuidados. O
facto da população portuguesa estar a envelhecer, e, com previsão de continuar no mesmo
ritmo nos próximos 50 anos, faz com que haja necessidade de aperfeiçoar a prestação dos
cuidados de saúde a ela dirigidos.
Nas últimas décadas, as necessidades crescentes de recursos a nível da saúde e do apoio
social têm sido significativas levando à emergência de políticas governamentais direccionadas
às mesmas.
A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados de Saúde e Apoio Social é uma
parceria entre os Ministérios da Saúde e do Trabalho e Solidariedade Social, com o objectivo
de promover a continuidade dos cuidados de saúde e apoio social a todo o cidadão que sofra,
temporária ou indefinidamente, de algum grau de dependência (Portugal, DL. nº 101,2006).
A Rede de Cuidados Continuados surgiu, como projeto prioritário do Ministério de
Saúde Português, a partir da constatação e conscientização da mudança do perfil demográfico
165
da população portuguesa, fazendo com que as necessidades de saúde e os modelos de
prestação de cuidados sofressem significativas alterações com o objetivo de acompanhar essa
mudança.
Este modelo de cuidados tenta responder com efetividade às necessidades das pessoas
que se encontram em situação de perda de funcionalidade ou de dependência. Completam,
reorientam e adaptam os equipamentos de saúde para que se garanta a cobertura adequada
destas necessidades que emergiram em tão pouco tempo. A Rede consubstancia uma
verdadeira lógica de continuidade de cuidados e de promoção da autonomia, em desfavor de
outras lógicas que assentam na pressão para a libertação de camas nos hospitais de agudos.
De acordo com Pignatelli (2005), citado por Figueirinha, Marques e Simões (2012) a
competência e dedicação dos profissionais da saúde e da segurança social são imprescindíveis
para a melhoria dos cuidados.
Mudanças e experiências no quotidiano do cuidador de familiar dependente
Segundo Paùl (1997) entre outros autores, é redutor pensar que a tarefa de cuidar de
pessoas dependentes se limita à satisfação das atividades de vida diária, como cuidados com a
alimentação, higiene, mobilidade e eliminação, facilmente mensuráveis e observáveis. Cuidar
de alguém é muito mais do que as tarefas observáveis pois requer um esforço contínuo ao
nível cognitivo, emocional e físico, é esgotante e, por vezes, uma pessoa chega ao
desespero”(E1); muitas vezes não reconhecido e que, por vezes, constitui um “fardo pesado”,
chegando mesmo a levar o cuidador à doença, à fadiga ao cansaço (E4) há também aquele
nervosismo que sentimos, a solidão com que temos de viver… E1);
A transição para o papel de prestador de cuidados é considerada uma transição
situacional, tal como é definida por Schumacher (2000, citado por Pereira & Silva, 2012).
Esta situação exigiu dos cuidadores familiares a necessidade de organizarem o quotidiano da
vida de modo diferente, exigiu redefinição de prioridades, foi necessário reestruturar a vida
pessoal e redefinir prioridades”(E3); a nossa vida passa a rodar sempre em volta daquilo
que temos de fazer ”(E1);” Exigiu a adoção de um novo ritmo no desenvolvimento das
atividades diárias, levando-os a abdicar de alguns aspetos que consideravam importantes para
o seu bem-estar.
O quotidiano da vida destes cuidadores sofreu mudanças, manifestado por sentimentos
de perda, deixei de ter vida própria; (E4); deixei de fazer planos; às vezes sinto que estou a
perder o controlo da minha vida” (E4), que se traduziu no deixar de ter o que consideravam
ser uma vida própria, dadas as repercussões nas diferentes Atividades de Vida Diária, em
166
particular na vida pessoal e familiar, deixei de ter tempo para mim própria e para o resto da
minha família (E2); falta de tempo para fazer o que eu gosto (E4); deixei de ter vida social
(E4). A falta de tempo passou a ser uma preocupação constante, imprimindo ao quotidiano da
vida novas exigências dando origem a novos significados. O sentimento de perda de
liberdade, por não poderem sair de casa, deixei de ter vida social (E4), traduz uma das
preocupações que também condiciona o quotidiano do cuidador e que o pode conduzir a um
isolamento e diminuição dos contactos sociais pelo que, um sistema de apoio social tem uma
importância primordial (Paúl, 1997).
O estado de saúde e as solicitações do familiar dependente podem absorver de tal forma
o cuidador, que deixa de ter tempo livre para descansar o suficiente, para desenvolver
actividades de que gostava e lhe davam prazer. O cuidador por vezes vê - se confrontado com
uma grande e contínua sobrecarga física e emocional, traduzindo-se o cuidado numa
experiência desgastante, às vezes sinto raiva e ansiedade; sinto-me revoltada e angustiada,
” (E4); com sentimentos de tristeza, e instabilidade emocional” (E4). A experiência
desgastante, exige dos cuidadores familiares terem de abdicar de vários aspetos considerados
importantes no seu quotidiano da vida, tendo impacto na saúde e bem-estar, no apoio dado
aos membros da família e também com repercussões no trabalho, levando-os a antecipar a
reforma ou a terem de se desempregar.
Os cuidados exigidos pela pessoa dependente são sentidos pelas famílias,
principalmente, pelo prestador de cuidados, como uma enorme sobrecarga que os leva muitas
vezes aos limites das suas capacidades, tanto físicas e psicológicas como emocionais
(Martins, 2002). Eles são vítimas de um enorme stress e têm imensa dificuldade em se
adaptarem tanto física como psicologicamente, à situação que a pessoa dependente lhe exige.
O exercício como cuidador do familiar dependente pode traduzir também uma
experiência compensadora, “foi um prazer cuidar da minha mãe”(E1); “…está a ser
gratificante perceber que o esforço desenvolvido tem valido a pena”(E3). É gratificante
quando no decorrer de um cuidado ela me devolve um sorriso; sinto-me tranquila”(E4).
Atribuição de sentimentos de satisfação e bem-estar durante o exercício do papel de
cuidador pode tornar-se uma experiência de cuidar, em termos de ser uma experiência que os
faz ter orgulho, pela importância e reconhecimento que os cuidados poderão ter para a pessoa
cuidada e pelo reconhecimento que os profissionais e amigos fizeram da pessoa se apresentar
bem cuidada.
167
Para os cuidadores cuidar do familiar dependente significa “ter de aprender” a prestar
cuidados; o “ter de adaptar-se” à nova situação; o “ter que conseguir” superar as
dificuldades e integrar o exercício do papel de cuidador no quotidiano de vida.
Como nos refere Aleixo (2002), a manutenção do doente dependente em
casa/comunidade está estreitamente relacionada com o apoio familiar que este tem. A sua
institucionalização poderá estar mais relacionado com as atitudes e o bem-estar do cuidador
do que com o seu grau de incapacidade, isto é, a família entra em stress e tenta encontrar
alternativas, contudo, apesar de existirem serviços públicos que prestam algum apoio formal
aos cuidadores informais nos cuidados a doentes e/ou idosos dependentes, estes são
marcadamente insuficientes, já que na maioria dos casos este é o único apoio com que podem
contar quando se encontram em suas casas em situação de dependência pelo que, as redes de
apoio informal são estruturas que têm de ser valorizadas.
O deficiente apoio domiciliário fornecido pelas instituições, quer pela escassez das
mesmas, quer pelo tipo de apoio que prestam, deveria ser mais abrangente, incluindo não só
os serviços de alimentação mas também apoio na higiene e conforto dos doentes, limpeza e
arranjo da unidade habitacional, permitindo, nomeadamente aos idosos, uma maior autonomia
e, simultaneamente criar as condições mínimas para que estes permanecessem nas suas
residências.
Conclusão
Apesar das alterações das funções e estruturas familiares registadas nas últimas décadas,
os cuidadores que apoiam os familiares dependentes continuam a ser na sua grande maioria,
os familiares diretos do sexo feminino. Os significados que estes atribuem aos Cuidados
Continuados vão de encontro ao preconizado pela legislação que regulamenta esta rede de
cuidados, realçando-se o desejo da existência de uma unidade no seu concelho de residência.
Das experiências vividas no ato de cuidar e mudanças ocorridas na sua vida realça-se o
prazer e gratificação pela função que exercem, mas também a revolta, solidão, cansaço, bem
como alterações na economia doméstica, na dinâmica familiar e redefinição de prioridades,
repercussões essas que podem ser indutoras da sobrecarga do cuidador.
Em suma, apesar do aparente sucesso que o modelo de cuidados continuados tem
revelado, surge a necessidade de respostas ajustadas, que venham satisfazer a crescente
procura de cuidados de saúde por parte deste grupo de pessoas. Estas respostas devem
contemplar os diferentes momentos da evolução da doença e as diferentes situações sociais,
168
bem como a promoção da autonomia e “o reforço das capacidades e competências das
famílias para lidar com essas situações, nomeadamente, no que concerne à conciliação das
obrigações da vida profissional com o acompanhamento familiar” (Portugal, DL. nº
101,2006).
Bibliografia
Augusto, B. M., & Rogério, C. (2002). Cuidados Continuados – Família, Centro de Saúde e
Hospital como parceiros no Cuidar. Coimbra: Editora Formasau.
Aleixo, S. (2002). A intervenção do serviço social hospitalar face ao idoso. Servir, 50,161164.
Bazo, M.T., & Domínguez-Alcon, C. (1998). Los cuidados familiares de salud en las personas
ancianas y las políticas sociales. Revista Española de Investigaciones, 73, 43-56.
Brazil, K., Bolton, C., Ulrichsen, D., & Knott, C. (1998). Substituing home care
hospitalization: The role of a quick response service for the elderly. Journal of Community
Health [online], 23(1): 29-43. Disponivel em: http://www.proquest.com.
Brito, L. (2002). A Saúde Mental dos Prestadores de Cuidados a Familiares Idosos. Coimbra:
Quarteto Editora.
CIPE/ICNP (2005) – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem. Versão
Beta 2. 3ª ed. Lisboa: IGIF. 227
Cruz, D.C., Loureiro, H.A., Silva, M.A.N., & Fernandes, M.M. (Dezembro, 2010). As
Vivências do Cuidador Informal do Idoso Dependente. Revista de Enfermagem Referência,
2, 127-136
Figueirinha, D., Marques, I., & Simões, J. (Março, 2012). Ética na relação do Profissional de
Saúde e Idoso nos Cuidados Continuados. Revista Portuguesa de Bioética, 16, 31-45.
Imaginário, C. (2004). O Idoso Dependente em Contexto Familiar. Coimbra: Formasau.
Martins, M.M.F. P.S. (2002). Uma crise acidental na família. O doente com AVC. Processos
familiares/aceitação/dependência. Coimbra: Formasau. Formação e Saúde, Lda.
Mendonça, F., Martinez, M., & Rodrigues, M. (2000). Avaliação das Necessidades dos
Prestadores Informais de Cuidados de Saúde. Geriatria. XIII (127), 33-49.
Moscovici, S. (1987). Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar.
Portugal, Decreto-Lei nº 101 (2006). Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.
Diário da República, p.3857-3865.
Paúl, M.C. (1997). Lá para o fim da vida. Idosos, família e meio ambiente. Coimbra: Livraria
Almedina.
Paúl, C., & Fonseca, A.M. (2005). Envelhecer em Portugal- Psicologia, Saúde e Prestação de
Cuidados. Lisboa: CLIMEPSI.
Palma, E.M. (1999). A Família com Idosos Dependentes – Que Expectativas?. Revista de
Enfermagem,15(2),27-40.
Pereira, I., & Silva, A. (2012). Ser Cuidador Familiar: A Perceção do Exercício do Papel.
Pensar Enfermagem, 16 (1).
Polit, D. F., & Hungler, B.P. (1995). Fundamentos de Pesquisa em Enfermagem (3ª ed.).
Porto Alegre: Artes Médicas.
Rica, M., & Hernando, I. (1994). Cuidadores del Anciano demente. Rol. Barcelona. 187: 3540.
Spink, M. J. P. (1993). O conhecimento do cotidiano: as representações sociais na perspectiva da
psicologia social. São Paulo: Brasiliense.
169
14. COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS RESIDENTES EM
MEIO RURAL E URBANO
14. COMPARISON OF QUALITY OF LIFE OF ELDERLY RESIDENTS IN RURAL
AND URBAN
Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1, Adília Maria Pires da Silva Fernandes1, Celeste da Cruz Meirinho
Antão1, Carlos Pires Magalhães1, Maria de Fátima Pereira Geraldes2.
1
2
Escola Superior de saúde, NIII, Instituto Politécnico de Bragança.
Enfermeira ULSNE, UDEP-Unidade Hospitalar de Bragança.
170
Resumo
É real, a crescente representatividade da população idosa. A incidência das doenças
crónicas aumenta à medida que a população envelhece, reforçando o seu papel na morbilidade e
mortalidade (World Health Organization, 2004). Muitos estudos se têm dedicado a estudar a
velhice, sob novas óticas, nomeadamente a qualidade de vida (Martins, Albuquerque, Gouveia,
Rodrigues & Neves, 2007). A avaliação da qualidade de vida constitui um instrumento
fundamental e indispensável ao planeamento em saúde, em especial, pela sua relação com a
adoção de comportamentos promotores de saúde (Araújo, Ramos & Lopes, 2011).
Este estudo pretendeu comparar a avaliação da qualidade de vida subjetiva, enquanto
perceção individual em idosos residentes em meio urbano e rural de duas freguesias do Nordeste
Transmontano de Portugal. Foi utilizado como instrumento de colheita de dados o 36-item shortform health survey (SF-36) (Ferreira & santana, 2003), ao qual foram associadas variáveis
sociodemográficas e clínicas. A colheita de dados decorreu em 2012.
Foi realizado um estudo comparativo, correlacional e transversal do tipo quantitativo. Neste
estudo, foi constituída uma amostra de conveniência, onde participaram 54 idosos, dos quais 32
com residência urbana e 22 rural.
Em termos médios os escores de qualidade de vida são superiores nos idosos residentes em
zona rural, quer para as dimensões físicas, quer para as psicologicas. Estas diferenças são
estatisticamente significativas em relação ao sexo, idade, recurso utilizado quando necessitam de
ajuda e à existência de patologias. Verificou-se um exceção, com relação inversa e significativa
em relação ao rendimento. Lopes em 2004 e Ferreira em 2009 encontraram resultados
concordantes com os da presente investigação, afirmando que a qualidade de vida dos idosos é
superior nos residentes em meio rural.
Palavras-chave: Qualidade de vida; Idosos; Meio rural; Meio urbano.
Abstract
It is real the growing representation of the elderly population. And the increase of
incidence of chronic diseases, with the population ages, reinforcing its role in morbidity and
mortality (World Health Organization, 2004).
Many studies have been devoted to studying aging, under new optics, namely the quality
of life (Martins, Albuquerque, Gouveia, & Neves Rodrigues, 2007). The evaluation of quality of
life is a key and essential to health planning, in particular in the relationship with the adoption of
health-promoting behaviors (Araujo & Ramos Lopes, 2011).
This study aimed to compare the assessment of subjective quality of life, in the elderly
living in two areas urban and rural of northeastern Portugal. Was used as an instrument of data
collection the 36-item short-form health survey (SF-36) (Ferreira & Santana, 2003), associated
the sociodemographic and clinical variables. Data collection took place in 2012.
We conducted a comparative study, correlational and transversal with a quantitative analysis.
In this study, the sample is formed of convenience, where 54 elderly participated, of which 32 with
urban residence and 22 rural.
On average the scores of quality of life is higher in the elderly living in rural areas, for all the
physical and psychological dimensions. These differences are statistically significant in relation to
sex, age, resource used when they need help and in the existence of pathologies. There was
exception, with a inverse relationship in relation to income. Lopes (2004) and Ferreira (2009) found
results consistent with the present investigation, saying that the quality of life of elderly residents is
higher in rural areas.
Keywords: Quality of life; Elderly; Environment rural; Environment urban.
171
Introdução
O aumento da população idosa no mundo é uma realidade, com destaque desde o início
da década de 50, do século XX. Em Portugal, à semelhança do panorama mundial, o
envelhecimento populacional também tem vindo a aumentar, prevendo-se que a proporção de
idosos aumente de 17%, em 2007, para 32% em 2050 (Instituto Nacional de Estatística,
2008).
A incidência das doenças crónicas tem aumentado à medida que a população envelhece,
reforçando o seu papel na morbilidade e mortalidade (World Health Organization, 2004).
Muitos estudos se têm dedicado a estudar a velhice, sob novas óticas, nomeadamente a
qualidade de vida (Martins, Albuquerque, Gouveia, Rodrigues & Neves, 2007). Procurando
meios para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas e para controlar as morbidades que
mais as acometem (Kusomota, Rodrigues, & Marques, 2004).
Sob proposta da Organização Mundial de Saúde, a monitorização do nível de saúde das
populações deve ser efetuada através da avaliação da perceção do estado de saúde De Bruin,
Picavet & Nossikov, 1996).
A perceção do estado de saúde e a qualidade de vida relacionada com a saúde são
entendidos inúmeras vezes como sinónimos, constituindo atualmente um dos indicadores
positivos mais usados em saúde, uma vez é descrito como um ótimo preditor de morbilidade e
mortalidade (Idler & Benyamini, 1997; Bath, 2003).
A avaliação da qualidade de vida constitui um instrumento fundamental e indispensável
ao planeamento em saúde, em especial, pela sua relação com a adoção de comportamentos
promotores de saúde (Araújo, Ramos & Lopes, 2011).
Um dos instrumentos mais utilizados na avaliação da perceção do estado de saúde é o
questionário 36-item short-form health survey (SF-36), tanto a nível nacional como
internacional. Estas avaliações têm sido efetuadas tanto de forma genérica como específica,
nomeadamente nos idosos (Ford, Spallek & Dobson, 2008; Sun et al., 2007).
O estado de saúde é resultado da adoção de comportamentos promotores de saúde. O
local de residência é também um dos condicionantes do estado de saúde. No entanto, não
existe grande consenso no que respeita às contribuições deste fator ao nível do estado de
saúde. Uns atribuem aos idosos residentes em meio rural baixos rendimentos e maior risco de
efetuarem uma alimentação nutricionalmente pobre (Marshall, Stumbo, Warren & Xie, 2001),
uma vida mais sedentária (Fogelholm, Valve, Absetz, et al. 2006) e sem oportunidades de
participação em programas de exercício físico regular. Outros afirmam existirem geralmente
172
piores níveis de saúde em meio urbano (Watt, Franks & Sheldon, 1994), consequência muitas
vezes de um meio ambiente mais degradado e de uma vida menos natural.
O objetivo deste estudo pretendeu comparar a avaliação da qualidade de vida subjetiva,
enquanto perceção individual em idosos residentes em meio urbano e rural de duas freguesias
do Nordeste Transmontano de Portugal. Identificando a relação entre as variáveis sociodemográficas e clínicas com a qualidade de vida.
Método
Foi realizado um estudo comparativo, correlacional e transversal do tipo quantitativo.
Para a colheita de dados foi utilizado o instrumento denominado 36-item short-form
health survey (SF-36) (Ferreira & santana, 2003), é um instrumento genérico, constituído por
8 dimensões (função física, desempenho físico, dor, saúde geral, função emocional,
desempenho emocional, função social e vitalidade). Ao qual foram associadas variáveis
sociodemográficas (género, idade, nível de instrução, estado civil, situação familiar, recurso
utilizado quando necessita e rendimento) e clínicas (presença de doenças). A colheita de
dados decorreu em 2012.
Foi efetuado um contacto pessoal com todos os idosos. Foram apresentados os objetivos
e propósitos da investigação, foi explicada a importância da contribuição de cada um,
realçando o carácter voluntário da participação, a garantia de confidencialidade,
disponibilidade de esclarecimento de qualquer dúvida e agradecimento pela participação. A
colheita de dados foi precedida da obtenção do consentimento informado.
Neste estudo, foi constituída uma amostra de conveniência, onde participaram 54 idosos
(de duas freguesias, uma rural e uma urbana do Nordeste Transmontano), dos quais 32 com
residência urbana e 22 com residência rural e que voluntariamente aceitaram participar no
estudo.
Resultados/Discussão
Amostra maioritariamente feminina (58%), com idades compreendidas entre 65 e 98
anos, eram casados aproximadamente 39%, com baixo nível de instrução, possuem
habilitações literárias até ao ensino básico aproximadamente 70% dos inquiridos. Vivem sós
cerca de 18% e mais de 57% dos idosos não refere a família como recurso a usar quando
necessita de ajuda (Quadro 1).
173
Quadro 1 – Caracterização sociodemográfica e Clínica da amostra
Amostra - 54 idosos
Idade
Sexo M/F
Nível de Instrução
Analf./Sabe ler escrev
Ensino Básico
Ensino Secundário
Médio/Superior
Situação familiar
Casado c/ ou s/ registo
Solteiro/viúvo
Separado/divorciado
Agregado familiar
Vive só
Vive com 2 ou mais pessoas
Recurso de ajuda utilizado
Familiares
Amigos
Profissionais de saúde
Deus
Ninguém
Rendimentos
<= 250€
250€ - 500€
>500€
Doenças
Cardiovasculares
Diabetes
Osteoarticulares
Neoplasias
Pulmonares
outras
Rural - 22 idosos
Urbana – 32 idosos
Min.65/Max.98 anos
Média = 74 anos
Desv. Padrão = 4,5
Nº Casos
%
9/13
40/60
Min.65/Max.90 anos
Média = 73 anos
Desv. Padrão = 4,4
Nº Casos
%
14/18
43,5/56,5
5
12
4
1
23
55
18
4
5
16
6
5
15,5
50,5
18,5
15,5
8
13
1
36
60
4
13
17
2
40,5
53
6,5
3
19
13,5
86,5
7
25
22
78
11
5
1
5
0
50
23
4
23
0
12
4
9
5
2
38
12,5
27,5
15,5
6,5
20
2
0
91
9
0
23
4
5
72
12,5
15,5
6
4
8
2
2
0
27,5
18
36,5
9
9
0
13
10
4
2
0
3
41
31
12,5
6,5
0
9,5
Relativamente às patologias referidas, as cardiovasculares (41%) e a diabetes (31%)
apresentam maior incidência na população urbana, no meio rural são as osteoarticulares
(36,5%) e cardiovasculares (27,5%), aquelas que têm maior representatividade.Em termos
médios os escores de qualidade de vida são superiores nos idosos residentes em zona rural,
estas diferenças são significativas, quer para as dimensões físicas, quer para as psicológicas
(Quadro 2).
174
Quadro 2 - Caracterização da perceção do estado de saúde: SF-36v2 em relaçãoà zona
de residência por dimensão
n=54
Dimensão
Média
DP
Mediana
Zona
rural
Física
72,56
12,45
72,49
Teste Anova
f = 4,400
p = 0,000
n=22
Psicológica
73,65
14,87
73,79
f = 3,628
p = 0,000
Zona
Urbana
Física
68,53
14,54
68,99
f = 4,105
p = 0,000
n=32
Psicológica
65,84
13,54
65,36
f = 2,999
p = 0,000
Encontramos também diferenças estatisticamente significativas em relação ao sexo,
idade, recurso utilizado quando necessitam de ajuda, ao rendimento e à existência de doenças
(Quadro 3). Os idosos que apresentam melhores scores de perceção do estado de saúde são os
do sexo masculino, os mais novos, aqueles que recorrem à família quando necessitam, os de
maiores rendimentos e aqueles que referem menor número de doenças. De notar, que
relativamente à situação e agregado familiar os idosos que apresentam melhores pontuações
são os casados e os que não vivem sós, embora o nível de significância seja marginal.
Lopes em 2004 e Ferreira em 2009 encontraram resultados concordantes com os da
presente investigação, afirmando que a qualidade de vida dos idosos é superior nos residentes
em meio rural. Beltrame, Cader, Cordazzo e Dantas (2012) também obtiveram melhores
pontuações de qualidade de vida no grupo rural em relação à saúde e aos aspetos sociais.
Quadro 3 – Perceção do estado de saúde: SF-36v2 em relação às variáveis
sociodemográficas e clínica na amostra total de idosos
Residência
Variável
Sexo
Idade
Nível de instrução
Situação familiar
Agregado familiar
Recurso utilizado
Rendimentos
Doenças
Rural / Urbana
p
p
0,003
0,000
0,232
0,058
0,051
0,000
0,001
0,000
0,002
0,000
0,267
0,057
0,052
0,000
0,002
0,000
175
Conclusões
A diminuição da qualidade de vida relacionada com a saúde é sentida à medida que os
idosos pretendem realizar as suas atividades da vida diárias ou o trabalho habitual, devido a
muitas vezes a problemas na saúde física ou emocionais e a uma perda nas relações sociais.
São os idosos residentes no meio rural, aqueles que apresentam melhores médias nas
pontuações de qualidade de vida. Tanto no que respeita ao desempenho físico como no
desempenho mental.
Verificamos relação significativa das variáveis sociodemográficas e clinica com a
qualidade de vida dos idosos (sexo, idade, a família, o rendimento e a existência de doenças),
consideradas determinantes da qualidade de vida relacionada com a saúde dos idosos.
No meio rural, a continuação de alguma atividade e a presença contínua de familiares ou
vizinhos, constituem fatores determinantes do envelhecimento com qualidade (Araújo 2011).
Referências Bibliográficas
Araújo, J., Ramos, E. & Lopes, C. (2011). Estilos de vida e percepção do estado de saúde. Em
idosos Portugueses de zonas rural e urbana. Act Med. Port., 24 (S2), pp. 79-88.
Bath, P.A. (2003). Differences between older men and women in the self-rated healthmortality relationship. Gerontologist; 4, pp.387-95.
Beltrame, V., Cader, S.A., Cordazzo, F., & Dantas, E.H.M. (2012). Qualidade de vida de idosos da
área urbana e rural do município de Concórdia, SC. Revista Brasileira de Geriatria e
Gerontologia, 15 (2), pp.223-232. Consultado em 08 de Dezembro de 2012, disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1809-98232012000200005&script=sci_arttext
De Bruin, A., Picavet, H.S., & Nossikov, A. (1996). Health interview surveys. Towards
international harmonization of methods and instruments. WHO Reg Publ Eur
Ser,
58, pp. 1-161. Consultado em 2012-12-07, disponível em:
http://www.euro.who.int/__data/assets/pdf_file/0017/111149/E72841.pdf
Ferreira, A.L.C.B.M. (2009). A qualidade de vida em idosos em diferentes contextos
habitacionais: a perspectiva do próprio e do seu cuidador. Tese de Mestrado. Faculdade
de Psicologia e Ciências de Educação. Universidade de Lisboa.
Ferreira, P.L., Santana, P. (2003). Percepção de estado de saúde e de qualidade de vida da
população activa: contributo para a definição das normas portuguesas. Revista Portuguesa
de saúde Pública, 27, (2), p. 15-30.
Fogelholm, M., Valve, R., Absetz, P., Heinonen, H., Uutela, A., Patja, K., Karisto, A., Konttinen, R.,
Mäkelä, T., Nissinen, A., Jallinoja, P., Nummela, O., & Talja, M. (2006). Rural-urban
differences in health and health behaviour: a baseline description of a community healthpromotion programme for the elderly. Scand J Public Health, 34, pp. 632-40.
Ford, J., Spallek, M., & Dobson, A. (2008). Self-rated health and a healthy lifestyle are the
most important predictors of survival in elderly women. Age Ageing, 37, pp.194-200.
Instituto Nacional de Estatística (2008). Estatísticas Demográficas 2007. Lisboa: INE.
Lopes, P.A.P.L. (2004). Qualidade de vida e suporte social do idoso no meio rural e no meio
urbano: um estudo comparativo e correlacional. Tese de Mestrado. Instituto Superior de
Psicologia Aplicada (ISPA).
176
Martins, C.R., Albuquerque, F.J.B., Gouveia, C.N.N.A., Rodrigues, C.F.F. & Neves, M.T.S.
(2007). Avaliação da Qualidade de vida subjectiva dos idosos: uma comparação entre os
residentes em cidades rurais e urbanas. Estud. Interdiscip. Envelhec., Porto alegre; V. II,
pp. 135-154.
Kusomota, L., Rodrigues, R.A.P., & Marques, S. (2004). Idosos com insuficiência renal
crônica: alterações do estado de saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2004,
vol.12,
n.3,
p.
525-532.
Consultado
em
2012-12-07,
em:
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692004000300011
Idler, E.L., & Benyamini, Y. (1997). Self-rated health and mortality: a review of twenty-seven
community studies. J Health Soc Behav, 38: pp.21-37.
Marshall, T.A., Stumbo, P.J., Warren, J.J., & Xie, X.J. (2001). Inadequate nutrient intakes are
common and are associated with low diet variety in rural, community-dwelling elderly. J Nutr,
131, pp. 2192-6.
Sun, W., Watanabe, M., Tanimoto, Y., Shibutani1, T., Kono, R., Saito, M., Usuda, K., & Kono, K.
(2007). Factors associated with good self-rated health of non-disabled elderly living alone in
Japan: a cross-sectional study. BMC Public Health, 7, p. 297.
Watt, I.S., Franks, A.J., & Sheldon, T.A. (1994). Health and health care of rural populations in the
UK: is it better or worse? J Epidemiol Community Health, 48, pp.16-21.
World Health Organization (2004). Active ageing: towards Age-Friendly primary health care.
WHO. Geneva.
177
15. AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM NO
ÂMBITO DO ENVELHECIMENTO
15. EVALUATION OF THE NURSERY STUDENT’S KNOWLEDGE IN THE PROCESS OF
AGING
Adília Maria Pires da Silva Fernandes 1,2,3; Ana Fernanda Ribeiro Azevedo 1,2;
Carlos Pires Magalhães1,2,3; Celeste da Cruz Meirinho Antão1,2,3; Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1,2,3.
1
Professor Adjunto, PhD.
2
Escola Superior de Saúde do IPB.
Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança.
Tel.: (+351) 273 330 950
3
Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII)
178
Resumo
O desconhecimento do processo de envelhecimento está na origem de muitos dos estereótipos
de cariz negativo. Este é considerado um fenómeno individual, heterogéneo,
multidimensional e multidirecional (Baltes, 1987; Birren, 1995; Sánchez & Ulacia, 2005) à
semelhança de outras etapas do ciclo vital, nesta podem surgir quer perdas, quer ganhos.
Pretende-se com este estudo, avaliar o conhecimento dos estudantes do 1º ano de enfermagem
no âmbito do envelhecimento, e facultar os resultados à comunidade científica visando a
desmistificação de conceções erradas no âmbito da temática. Optou-se por um estudo
quantitativo, descritivo e transversal. Através de uma amostragem não probabilística acidental
obteve-se uma amostra de 42 estudantes do 1º ano, 2º semestre, do curso de licenciatura em
enfermagem, de uma escola superior de saúde, no ano letivo 2010/2011. A recolha de dados
foi efetuada através de um formulário elaborado para o efeito, cujo constructo teve em
consideração a bibliografia sobre a temática, bem como os estudos de investigação
produzidos neste âmbito. A nossa amostra revelou desconhecer alguns conteúdos que se
traduzem em estereótipos negativos.
Palavras-chave: Conhecimentos; Estudantes; Envelhecimento.
Abstract
Ignorance on the aging process is the origin of many negative stereotypes associated with it.
Aging is considered an individual, heterogeneous, multidimensional and multidirectional
phenomena (Baltes, 1987; Bierren, 1995; Sánchez & Ulacia, 2005) as well as other stages of
the vital cycle. It can bring gains or losses. With this study we intended to evaluate the
knowledge of the 1st year nursery students on the aging process, and provide the results to the
scientific community in order to demystify the wrong conceptions associated with it. It was
opted for a quantitative, descriptive and universal study. Through a non-probabilistic
accidental sampling process, it was obtained a sample of forty-two 1st year, 2nd semester
nursery students of a superior health school, in the year 2010/2011. The data gathering
process was executed using a formulary elaborated for that purpose. Its construction had in
consideration the bibliography on the theme as well as the studies produced on this subject.
Our sample revealed unawareness of some contents that translate into negative stereotypes.
Keywords: Knowledge; Students; Aging.
179
Introdução
O conceito de envelhecimento desenvolveu-se tendo por base uma pluralidade de elementos tais
como: os valores, os padrões de comportamento, o sistema moral, os costumes e as experiências
prévias de cada um, sendo que estas resultam da formação dos sujeitos e são fruto do seu contacto
social (Almeida, 1999).
Para Berger e Mailloux-Poireier (1995), o desconhecimento do processo de envelhecimento está
na origem de muitos dos estereótipos e mitos, que associam a velhice “à doença, ao aborrecimento, ao
egoísmo, à impotência sexual, à rigidez de carácter, às rugas e aos cabelos brancos” (p. 67). Sánchez e
Ulacia (2005) alertam-nos para o facto de que um dos principais contribuintes para a construção social
da velhice advém erradamente da representação mental da mesma como um período de deterioração e
regressão próprio do modelo biológico, ao considerar que todas as capacidades (físicas, cognitivas, de
personalidade, entre outras) seguem uma única direção (são unidirecionais), são universais e
irreversíveis. Atualmente sabemos que, enquanto umas capacidades podem sofrer algum grau de
deterioração, outras mantêm-se estáveis e outras podem até mesmo enriquecer. O processo de
envelhecimento é pois um fenómeno individual, heterogéneo, multidimensional e multidirecional
(Baltes, 1987; Birren, 1995; Sánchez & Ulacia, 2005), à semelhança de outras etapas do ciclo vital, na
velhice podem surgir perdas ou ganhos. Segundo Nuno Grande (2002, in prefácio Costa, 2002), a
pessoa idosa possui uma biologia característica e distinta da do adulto, pelo que “não pode ser
considerado no restrito de um padrão de atitudes de diagnóstico e terapêutica, convencionadas sem
referência às variáveis próprias da velhice” (p. 14).
Pelas considerações tecidas torna-se imperativo que os atores que no âmbito da sua atividade
profissional estão mais próximo dos idosos, no decurso do seu processo formativo adquiram
competências específicas, pois a especificidade dos cuidados a prestar à pessoa idosa assim o vão
exigir. Nesta senda, Santos (2000) particulariza quando defende que os curricula dos cursos de
enfermagem devem contemplar o estudo do cuidado da pessoa idosa, assim como dos elementos que
compõem o processo de trabalho da Enfermagem Gerontológica “para que as futuras profissionais
cuidem dos idosos com competência, procurando melhorar a sua qualidade de vida e ajudando-os a
acrescentarem, não dias às suas vidas, mas vida «viva» e agradável aos seus dias” (p. 84).
Material e Métodos
Objetivos
- Avaliar o conhecimento dos estudantes do 1º ano de enfermagem no âmbito do envelhecimento.
- Facultar os resultados à comunidade científica visando a desmistificação de conceções
erradas no âmbito da temática.
180
Participantes
A população em estudo integrou os estudantes do 1º Ano, 2º semestre, do curso de
licenciatura em enfermagem, de uma escola superior de saúde, no ano lectivo 2010/2011. Esta
população era constituída por 51 estudantes, dos quais 41 eram do sexo feminino (80,39%).
Optamos por uma amostragem não probabilística, por conveniência, a quem aplicamos o
nosso instrumento de recolha de dados. Obteve-se
Ob
se uma amostra de 42 indivíduos conforme
caracterização que se segue.
A nossa amostra (gráfico 1) é constituída por 35 indivíduos do sexo feminino (83,33%
da amostra) e 7 do sexo masculino (16,67% da amostra). Esta distribuição verificada no sexo
da nossa amostra reflete a predominância, empiricamente constatável nas últimas décadas, do
facto dos estudantes do ensino superior serem maioritariamente do sexo feminino, e, por outro
lado, do curso de enfermagem ser ainda tradicionalmente uma licenciatura mais frequentada
por raparigas.
Gráfico 1 – Distribuição da amostra segundo o sexo
A idade dos respondentes, como se constata na tabela 1, varia entre os 18 e 32 anos. A
média de idades situa-se
se nos 19,55±2,481 anos. Estas idades verificadas no 1º ano do curso
superior poderão ser explicadas pela frequência dos estudantes trabalhadores
trabalhadores e do regime
especial maiores de 23 anos.
Tabela 1 – Estatísticas descritivas da variável idade
Idade dos estudantes
N
Mínimo
Máximo
Amplitude
Média
Desvio Padrão
42
18
32
14
19,55
2,481
Nove dos indivíduos que constituem a nossa amostra (21,4%) já frequentaram outro
curso, destes quatro são provenientes de cursos de áreas afins mais precisamente, três de
gerontologia e um de educação social.
181
Dos 42 estudantes em análise,
análise, 10 (23,8%) vivem com idosos no seu local de
proveniência (gráfico 2). Destes, sete possuem no seu agregado familiar uma pessoa idosa e
três vivem com duas.
Gráfico 2 – Distribuição da amostra em função de residir ou não com idosos
Quando questionadoss acerca da perceção do estado de saúde de cada um dos idosos
com quem viviam, constatou--se
se que a maioria (50%) a considerou razoável, enquanto 10% a
classificou de má.
Desenho
De forma a alcançar os objetivos traçados, optamos por um estudo observacional
observaciona
descritivo e transversal.
Instrumentos
A recolha de dados foi efetuada através de um questionário, constituído por duas partes,
elaborado para o efeito, em que o seu constructo atendeu a bibliografia sobre a temática e a
estudos de investigação produzidos
produzidos neste âmbito. A primeira parte é composta por questões
que tem como desígnio caracterizar a amostra. A segunda parte visa avaliar o conhecimento
dos estudantes relativo ao envelhecimento, é constituído por dez asserções, todas falsas. Foi
solicitado aos estudantes uma tarefa de avaliação em que tinham de indicar em cada asserção
se era verdadeira ou falsa.
Procedimentos
Os questionários foram aplicados na primeira aula de uma unidade curricular no âmbito
182
da enfermagem gerontológica e geriátrica. O seu preenchimento por parte dos estudantes foi
voluntário e esclarecido. Os objetivos e finalidades do estudo foram transmitidos assim como
foi clarificada a importância da contribuição de cada participante, o compromisso de garantia
de confidencialidade dos dados e a disponibilidade para esclarecimento de qualquer dúvida.
Para o tratamento dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 18. Para a análise
dos dados recorreu-se à estatística descritiva, nomeadamente frequências absolutas (n) e
relativas (%), medidas de tendência central e medidas de dispersão. Recorreu-se à estatística
analítica para verificar a relação entre as variáveis “sexo” e “residir ou não com idosos” com a
pontuação total obtida no questionário relativo ao envelhecimento.
Resultados
Como se pode observar na tabela 2, a classificação média alcançada pela nossa amostra
no questionário no âmbito do envelhecimento, foi de 13 valores (numa classificação de 0-20
valores), enquadrando-se na categoria “Suficiente”. O valor mínimo obtido foi de 6 valores, o
máximo de 18, correspondendo a uma amplitude de 12 valores.
Tabela 2 - Pontuação total obtida no questionário no âmbito do envelhecimento
Pontuação Total
N
Mínimo
Máximo
Amplitude
Média
Desvio Padrão
42
6
18
12
13
3,036
No respeitante às diferentes asserções do questionário, constata-se pela tabela 3 que
95,2% dos estudantes respondeu incorretamente à questão 2 “Devido ao processo de
envelhecimento natural que ocorre ao nível cerebral, a maior parte das pessoas de idade
avançada acaba por apresentar uma perda cognitiva elevada”, assim como à questão 3 “As
pessoas idosas assemelham-se muito nas suas características físicas”, onde verificamos uma
percentagem de erro de 71,4% e ainda à questão 4 “As pessoas idosas assemelham-se muito
nos seus comportamentos”, com 50,0% de respostas incorretas.
Pela positiva, destacamos que a totalidade dos estudantes acertou na questão 8 “Cuidar
de uma Pessoa Idosa é o mesmo que Cuidar de uma Pessoa Adulta não Idosa”.
183
Tabela 3 - Pontuação total obtida no questionário no âmbito do envelhecimento
Corretas
Asserções
Incorretas
n
%
n
%
32
76,2
10
23,8
2
4,8
40
95,2
3 - As pessoas idosas assemelham-se muito nas suas características físicas
12
28,6
30
71,4
4 - As pessoas idosas assemelham-se muito nos seus comportamentos
21
50
21
50
37
88,1
5
11,9
34
81
8
19
34
81
8
19
42
100
0
0
32
76,2
10
23,8
28
66,7
14
33,3
1 - A forma como se envelhece é universal, sendo idêntica de homem para
homem
2 - Devido ao processo de envelhecimento natural que ocorre ao nível
cerebral, a maior parte das pessoas de idade muito avançada acaba por
apresentar uma perda cognitiva percetível
5 - O processo de envelhecimento dos vários sistemas do nosso organismo
tem início na mesma altura de vida
6 - O processo de envelhecimento ocorre em simultâneo a nível de todos
os sistemas do organismo (cérebro; coração; ósseo, articular, entre outros)
7 - Uma doença numa Pessoa Idosa manifesta-se da mesma forma que
numa Pessoa Adulta não Idosa
8 - Cuidar de uma Pessoa Idosa é o mesmo que Cuidar de uma Pessoa
Adulta não Idosa
9 - Uma mesma doença numa Pessoa Idosa e numa Pessoa Adulta não
Idosa pressupõe a mesma dosagem de medicação, ao contrário das
crianças
10 - De uma forma geral, cuidar de pessoas idosas é o mesmo que cuidar
de crianças de tenra idade
De destacar a não existência de relação significativa no cruzamento das variáveis “sexo”
e “residir ou não com idosos no seu local de proveniência” com a pontuação total obtida no
formulário.
Discussão/Conclusões
A nossa amostra revelou desconhecimento em determinados conteúdos que se traduzem
em estereótipos negativos:
- em idades avançadas o envelhecimento natural acarreta perda cognitiva elevada.
Berger e Mailloux-Poireier (1995), Belsky (2001), entre outros, referem que o
envelhecimento natural não produz alterações de relevo a esse nível, salientando-nos que se
estas surgem deve-se ao envelhecimento patológico.
184
- as pessoas idosas assemelham-se muito nas suas características físicas. Tal
consideração nega a variabilidade interindividual e a heterogeneidade que se incrementam
com o passar dos anos e que pode ocorrer mesmo em idades avançadas, como nos salientam
Vega e Bueno (2000).
Entendemos como forma de colmatar estas lacunas, ser pertinente incluir
conteúdos/programas que promovam uma visão positiva acerca do envelhecimento, da
velhice e da pessoa idosa, tal como o preconizado desde 2002 no Plano de Ação para o
Envelhecimento ditado pelas Nações Unidas.
Como refere Tavares, Ribeiro, Silva e Montanholi (2008), o conhecimento sobre o
processo de envelhecimento humano nas suas diferentes dimensões dotará os formandos de
qualificações, no sentido de com competência assistirem a um número crescente de idosos nas
suas práxis.
Referências Bibliográficas
- Almeida, M.L. (1999). Crenças acerca do envelhecimento humano. Revista Referência, 3,
7-14.
- Baltes, P. B. (1987). Theoretical Propositions of Life-Span Developmental Psychology: On
the Dynamics Between Growth and Decline. Developmental Psychology, 23, 611-626.
- Belsky, J. (2001). Psicología del envejecimiento. Madrid: Thomson Editores Spain.
- Berger, L., & Mailloux-Poireier, D. (1995). Pessoas idosas – uma abordagem global.
Lisboa: Lusodidacta.
- Birren, J. (1995). Noveaux modèles du vieillissement: dês efforts créatures et de besoin
dáller plus loin. La Revue Canadienne du Vielliessement, 14, 4-6.
- Costa, M. A. (2002). Cuidar Idosos. Lisboa: Faculdade de Psicologia e Ciências de
Educação.
- Nações Unidas (2002). Informe de la Segunda Asamblea Mundial sobre el Envejecimiento.
Acedido
em
10
Fevereiro
de
2012,
em
Nações
Unidas:
http://www.un.org/spanish/envejecimiento/documents.htm
- Sánchez, F.L., & Ulacia, J. C. (2005). Sexualidad en la Vejez (2.ª ed.). Madrid: Ediciones
Pirámide.
- Santos, S. S. C. (2000). Enfermagem Gerontológica: reflexão sobre o processo de trabalho.
Revista Gaúcha de Enfermagem, 21, 2, p. 70-86. Acedido em 10 de Agosto de 2012 em:
http://seer.ufrgs.br/RevistaGauchadeEnfermagem/article/view/4318.
- Tavares, D.M.S., Ribeiro, K.B., Silva, C.C., & Montanholi (2008). Ensino de gerontologia
e geriatria: uma necessidade para os acadêmicos da área de saúde da universidade
federal do triângulo mineiro? Acedido em 20 de abril de 2012 em:
http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewFile/6671/3921
- Vega, J., & Bueno, B. (2000). Desarrollo Adulto y Envejecimiento. Madrid: Editorial
síntesis, S.A.
185
16. O IDOSO E A MEDICAÇÃO
16. THE ELDERLY AND MEDICATION
Adília Maria Pires da Silva Fernandes134; Carlos PiresMagalhães134;
Celeste da Cruz Meirinho Antão134; Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1134;
Maria Augusta Pereira da Mata1134; Maria Helena Pimentel234
1
Professor Adjunto, PhD.
2
Professor Coordenador, PhD.
3
Escola Superior de Saúde do IPB.
Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança.
Tel.: (+351) 273 330 950
4
Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII)
186
Resumo
Introdução: Atualmente uma grande percentagem da população depara-se com a necessidade
de consumir medicação face ao crescimento acentuado das doenças, necessitando adotar
medidas para as controlar e tratar. Esta realidade é acompanhada da toma de vários fármacos
em simultâneo, mas, nem sempre lhe é dispensada a atenção devida. A automedicação pode
acarretar diversas consequências como resistência bacteriana, dependência e aumento do risco
para determinadas neoplasias (Ribeiro et al., 2010). Objetivos: Avaliar o comportamento dos
indivíduos na toma da medicação e determinar a prevalência da poli e automedicação.
Material e Métodos: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. Obteve-se uma amostra
não probabilística acidental de 61 indivíduos com 65 ou mais anos. A recolha de dados foi
efetuada em maio de 2011 através de um questionário elaborado para o efeito. Resultados: A
média de idades dos inquiridos situa-se nos 75, 52 anos ± 7,9. A amostra é constituída por
49,2% de indivíduos do sexo masculino e 50,8% do feminino. Da totalidade dos inquiridos
39,3% consideram a sua saúde como regular; 37,7% consideram-na má ou muito má e 23%
boa ou muito boa. Responderam tomar medicação com prescrição 59 indivíduos, dos quais,
33 referem tomar até quatro medicamentos e 9 responderam tomar cinco ou mais. Dos 5 que
responderam tomá-la sem prescrição médica, 4 referem tomar até quatro medicamentos. Da
totalidade de inquiridos, 55,7% respondeu tomar sempre o medicamento como está prescrito;
41% procura saber os efeitos secundários dos medicamentos e 60,7% verifica sempre a
validade; 73,9% assume tomar os medicamentos até finalizar e 45,9% refere recorrer a
serviços/profissionais de saúde quando necessita de esclarecer dúvidas sobre medicamentos.
Discussão e Conclusão: Uma elevada percentagem de inquiridos consome medicamentos. Na
nossa amostra 8,2% assume tomar medicação sem prescrição médica, valor inferior ao
encontrado no estudo realizado por Lopes e Sousa (2002) onde 40% dos inquiridos recorria à
automedicação. De salientar que a maioria dos inquiridos respeita a prescrição e toma os
medicamentos até ao fim, mesmo quando que se sente melhor, contrariando também os
resultados encontrados por Lopes e Sousa (2002). Os inquiridos revelaram, em elevada
percentagem, possuir sentido de responsabilidade no que respeita à utilização dos
medicamentos e à procura de informação.
Palavras-chave: Saúde; Medicação; Idosos.
Abstract
Introduction: Currently a large percentage of the population is faced with the necessity to
consume medication against the sharp growth of diseases, requiring to adopt measures to
control and treat. This reality is accompanied by intake of several drugs simultaneously, but it
is not always given due attention. Self-medication can cause various consequences such as
bacterial resistance, dependence and increased risk for certain cancers (Ribeiro et al., 2010).
Objectives: To assess the behavior of individuals in taking the medication and to determine
the prevalence of poly and self-medication. Material and Methods: It was opted for a
quantitative, descriptive and universal study. Obtained a non-probabilistic sample of 61
individuals accidentally with 65 or more years. Data collection was conducted in May 2011
using a form prepared for this purpose. Results: The average age of respondents is situated in
75, 52 years ± 7.9. The sample consists of 49.2% of males and 50.8% females. Of all
respondents 39.3% regard their health as fair, 37.7% consider it bad or very bad and 23%
good or very good. Answeredto take prescription medication with 59 individuals, of which 33
187
relate take up to four medications and nine responded to take five or more. Of the 5 who
responded to take it without prescription, 4 relate to take up to four medications. Of all
respondents, 55.7% answered always take the medicine as prescribed, 41% demand to know
the side effects of medications and 60.7% always checks the validity; 73.9% assumes to take
medications until finalize and 45, 9% referred ensure services / health professionals when
need to answer questions about medications. Discussion and Conclusion: A high percentage
of respondents consume medicines. In our sample, 8.2% assumes to take medication without
prescription, lower than that found in the study by Lopes and Sousa (2002) where 40% of
respondents resorted to self-medication. Note that the majority of respondents regarding the
prescription and take the medications until the end, even when it feels better, also
contradicting the findings of Lopes and Sousa (2002). Respondents revealed in high
percentage, owning a sense of responsibility regarding the use of medications and seeking
information.
Keywords: Health; Medication; Elderly.
188
Introdução
Atualmente uma grande percentagem da população depara-se com a necessidade de
consumir medicação face ao crescimento acentuado das doenças, necessitando medidas para
as controlar e tratar. Com o envelhecimento podem aumentar as doenças crónicodegenerativas com consequente aumento do consumo de fármacos. Roach (2003, p. 117) cita
polifarmácia como o “uso de um número excessivo de medicamentos prescritos e de
automedicação que muitas vezes são desnecessários e podem interagir dentro do corpo e
causar várias reações adversas”. Outros autores consideram a Polimedicação como o uso
excessivo de medicamentos não necessários ou o uso de 5 ou mais fármacos (Frazier, 2005;
Williams, 2002 citados por De Santis, 2009). As doses de medicamentos utilizadas em idosos
não são iguais às ministradas em adultos, o que explica o aumento de reações adversas nesta
faixa etária. A polimedicação é o principal fator de risco de efeitos adversos das drogas,
podendo ocorrer devido a disfunções de órgãos, alterações na concentração dos
medicamentos, alterações farmacodinâmicas e homeostáticas e doenças associadas (Roach,
2003). Esta realidade associada à automedicação, potencializam o risco de reações adversas
e/ou interações medicamentosas que aumentam consoante o número de medicamentos
administrados. O risco de interação entre fármacos aumenta exponencialmente com o número
dos mesmos, sendo de 6% para o uso de dois fármacos e 50% para o uso de 5 e de quase
100% para oito ou mais (Delafuente, 2003; Wyles & Rehman, 2005 citados por Santos &
Almeida, 2010).
A idade, o número e a diversidade de medicamentos podem ainda condicionar a adesão
ao tratamento das diferentes patologias. Sobre esta problemática, De Santis (2009) acrescenta
que quanto maior o número de medicações prescritas, maior o custo económico, menor
adesão terapêutica e maior será o risco de interações.
A baixa adesão ao tratamento compromete os esforços do sistema de saúde, causa
complicações da doença e reduz a qualidade de vida dos doentes (International Council of
Nursis, 2009). A automedicação pode acarretar diversas consequências como resistência
bacteriana, dependência e aumento do risco para determinadas neoplasias (Ribeiro et al.,
2010).
Material e Métodos
Com o presente estudo pretendeu-se, por um lado, avaliar comportamentos dos
inquiridos face à medicação, por outro, determinar a prevalência da poli e automedicação.
189
Recorreu-se a um estudo quantitativo, de carácter observacional, descritivo e transversal
(Ribeiro, 2007).
A colheita de dados foi efectuada em maio de 2011 através de um questionário
elaborado para o efeito e aplicado a indivíduos que participaram nas comemorações do Dia
Mundial da Saúde em Bragança, cuja temática foi «Resistência aos antimicrobianos: se não
actuarmos hoje, não haverá cura amanhã». O referido questionário inclui variáveis
sociodemográficas, clínicas e comportamentais relacionadas com procedimentos atinentes à
medicação.
Efetuou-se um pré-teste a 7 indivíduos, tendo-se posteriormente reformulado algumas
questões. Obteve-se uma amostra não probabilística acidental de 61 indivíduos com 65 ou
mais anos.
A participação foi voluntária, os inquiridos foram informados dos objetivos da
investigação e da garantia de confidencialidade dos dados. Procedeu-se ao esclarecimento de
dúvidas e por fim, foi assinado o termo de consentimento livre e esclarecido.
Para o tratamento de dados foi utilizado o programa SPSS versão 17. Na análise da
informação foi utilizada estatística descritiva, nomeadamente frequências absolutas e
relativas, medidas de tendência central e medidas de dispersão.
Resultados
A média de idades dos inquiridos situa-se nos 75, 52 anos ± 7,9. A amostra é
constituída por 49,2% de indivíduos do sexo masculino e 50,8% do feminino. Da totalidade
dos inquiridos e como se pode verificar na tabela 1; 24 (39,3%) consideram a sua saúde como
regular; 23 (37,7%) consideram-na má ou muito má e 14 (23%) boa ou muito boa.
Tabela 1- Distribuição das respostas, por sexo, segundo a autoperceção de saúde
Sexo
Muito Má
Má
Regular
Boa
Muito Boa
Total
Masculino
0
7
12
9
2
30
Feminino
3
13
12
3
0
31
3
20
24
12
2
61
Total
Verifica-se, observando a tabela 2, que são as mulheres que mais tomam medicação
com prescrição médica (n=31). Os homens são os que referem recorrer mais a medicação sem
prescrição (n=3).
190
Tabela 2 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo a toma de medicação co m/sem
prescrição médica
Toma medicação com
prescrição médica?
Sim
Sexo
Toma medicação
sem prescrição
médica?
Sim
Não
Total
Não
Total
Masculino
28
2
30
3
26
29
Feminino
31
0
31
2
28
30
59
2
61
5
54
59
Total
Dos 59 idosos que tomam medicamentos com prescrição, 33 referem tomar até quatro
medicamentos e 9 responderam tomar cinco ou mais. Para os que tomam até quatro
medicamentos e sem prescrição médica as respostas dividem-se equitativamente entre o sexo
masculino e feminino (tabela 3).
Tabela 3 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o número de
medicamentos que tomam com/sem prescrição médica
Número de medicamentos
que toma com prescrição
médica
Sexo
Masculino
Feminino
Total
Até 4
18
5 ou mais
5
Total
Número de
medicamentos que
toma sem prescrição
médica
Total
23
Até 4
2
2
15
4
19
2
2
33
9
42
4
4
Na tabela 4 podemos verificar que, no que concerne ao cumprimento do horário da
medicação tal como está prescrita, o sexo feminino é o que mais cumpre. Da totalidade de
idosos inquiridos, 34 responderam respeitar sempre a prescrição e cinco assumem que o
fazem raramente.
191
Tabela 4 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o horário
de toma do medicamento
Respeita o horário da toma do medicamento
tal como está prescrito?
Sempre
Quase Sempre
Raramente
14
5
2
Masculino
Sexo
Feminino
Total
Total
21
20
2
3
25
34
7
5
46
No que concerne à verificação da validade dos medicamentos, a nossa amostra revelou,
em função do sexo, uma proximidade nos resultados para as classes “Sempre” e “Raramente”.
Pode ainda constatar-se que quatro elementos do sexo feminino referiram não ter por hábito
realizar essa verificação (tabela 5).
Tabela 5 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o hábito de verificar
a validade do medicamento
Tem por hábito verificar a validade do
medicamento?
Sempre
Raramente
Nunca
Sexo
Total
Masculino
18
1
2
21
Feminino
19
1
4
24
37
2
6
45
Total
Verifica-se que a procura de informação, quando surgem dúvidas na toma dos
medicamentos, recai predominantemente sobre os serviços de saúde em ambos os sexos. O
sexo feminino é o que mais procura esclarecer-se com familiares/amigos/vizinhos (n=7).
Tabela 6 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o recurso para esclarecer dúvidas
relativamente ao medicamento
Quando possui dúvidas relativamente ao medicamento que
necessita tomar, a quem costuma recorrer?
Total
Familiar/Vizinho/
Serviço
Farmácia Outro
Amigo
de Saúde
1
14
4
2
21
Masculino
Sexo
Total
Feminino
7
14
3
1
25
8
28
7
3
46
192
Discussão / Conclusão
Uma elevada percentagem de inquiridos consome medicamentos. Na nossa amostra,
8,2% assume tomar medicação sem prescrição médica, valor inferior ao encontrado no estudo
realizado por Lopes e Sousa (2002) onde 40% dos inquiridos recorria à automedicação. O
sexo masculino, embora com pouca diferença, é aquele que mais recorre à automedicação,
situação também encontrada nos estudos de Mendes et al., (2004).
De salientar que a maioria dos inquiridos respeita a prescrição e toma os
medicamentos até ao fim, mesmo quando que se sente melhor, contrariando também os
resultados encontrados por Lopes e Sousa (2002). Os inquiridos revelaram, em elevada
percentagem, possuir sentido de responsabilidade no que respeita à utilização dos
medicamentos e à procura de informação. Neste âmbito os serviços de saúde foram a primeira
escolha para o esclarecimento de dúvidas. Esta realidade não foi encontrada em estudos
realizados por Mendes et al., (2004), onde as farmácias portuguesas evidenciaram ser um
local privilegiado para a recolha de informação.
As reacções medicamentosas são frequentes na poulação idosa, cujo risco advem das
diferentes patologias e comobilidades, assim como da polimedicação (Relvas, 2006). O
referido risco pode ser minimizado com a correcção de alguns erros de automedicação
clássica, ao nível da dosagem, do cumprimento da prescrição, da descontinuidade ou
continuidade necessária.
Parece importante evidenciar os resultados sobre a perceção que a própria pessoa tem
do seu estado de saúde. Este estudo revela que as mulheres são as que têm uma pior
autoperceção do seu estado de saúde comparativamente com os homens, tal como a
investigação realizada por De Santis (2009), onde se verificou que as pessoas com
autoperceção do estado de saúde mais elevada utilizaram um menor número de fármacos.
Verificou-se, no estudo de De Santis (2009), haver maior prevalência de
polimedicação nos homens tal como o encontrado nesta investigação, embora com pequena
diferença entre sexos.
Os medicamentos por si só, não são capazes, de promover a saúde dos cidadãos. Todo
medicamento apresenta risco ao ser consumido, devendo ser usado de forma racional. De
acordo com a OMS (2002) mais de 50% de todos os medicamentos são prescritos ou vendidos
de forma inadequada e 50% dos usuários utilizam-nos de forma incorreta. Neste sentido, e tal
como este Organismo recomenda, para evitar o uso irracional do medicamento é importante
193
supervisionar o tipo de medicamentos, o volume da medicação prescrita e ainda os motivos da
prescrição.
Referências Bibliográficas
De Santis, T.P.L.S. (2009). Polimedicação e Medicação Potencialmente Inapropriada no
Idoso: estudo descritivo de base populacional em cuidados de saúde primários.
Dissertação de mestrado em Geriatria, apresentada à Universidade de Coimbra,
Faculdade de Medicina Coimbra, consultada a 20/09/2012, em:
htts://estudogeral.sib.uc.pt/handel/10316/14808.
International Council of Nurses (2009). Delivering quality, serving communities: nurses
leading chronic care. Geneve: ICN, consultada a 15/09/2012, em:
http://www.ghdonline.org/uploads/Delivering_Quality_Serving_Communities__Nurses_Leading_Chronic_Care.pdf
Lopes, M. & Sousa, R. M. ( 2002). O idoso e a Medicação “Que dor de cabeça!”. Revista
Sinais Vitais, 45, pp. 62-66.
Mendes, Z., Martins, A.P., Miranda, A.C., Soares, M.A., Ferreira1, A. P., & Nogueira, A.
(2004). Prevalência da automedicação na população urbana portuguesa. Brazilian
Journal of Pharmaceutical Sciences, 40 (1), pp. 21-25, consultada a 20/02/2012, em:
http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v40n1/05.pdf.
Relvas, J. (2006). Psicofarmacologia das pessoas idosas In H. Firmino. Psicogeriatria.
Coimbra: Psiquiatria Clínica.
Ribeiro, J.L.P. (2007). Metodologia de Investigação em Psicologia da Saúde. Porto: Legis Editora.
Ribeiro, M. I., Oliveira, A., Silva, H., Mendes, M., Almeida, M., & Silva, T. (2010).
Prevalência da automedicação na população estudantil do Instituto Politécnico de
Bragança. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 28 (1), consultado a 20-09- 2012 em:
http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S087090252010000100005&script=sci_arttext
Santos, M., & Almeida, A. (2010). Polimedicação no idoso. Revista de. Enfermagem
Referência, III (2), consultada a 06/10/2012, em:
<http://www.scielo.gpeari.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S087402832010000400016&lng=pt&nrm=iso>.
Roach, S. (2003). Introdução à enfermagem gerontológica. Rio de Janeiro: Guanabara.
OMS (2002). Promoción del uso racional de medicamentos: componentes centrales,
consultada a 20/09/2012, em: http://apps.who.int/medicinedocs/pdf/s4874s/s4874s.pdf.
194
17. AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO REFERENTE À DETEÇÃO PRECOCE E
PREVENÇÃO DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL
17. EVALUATION OF KNOWLEDGE CONCERNING STROKE EARLY DETECTION AND
PREVENTION
Adília Maria Pires da Silva Fernandes 1,2,3; Ana Fernanda Ribeiro Azevedo 1,2;
Carlos Pires Magalhães1,2,3; Celeste da Cruz Meirinho Antão1,2,3;
Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1,2,3.
1
Professor Adjunto, PhD.
2
Escola Superior de Saúde do IPB.
Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança.
Tel.: (+351) 273 330 950
3
Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII)
195
Resumo
Este estudo procurou investigar qual o nível de conhecimento dos sinais e sintomas do
acidente vascular cerebral. Optou-se por um estudo quantitativo, descritivo e transversal.
Participaram 171 indivíduos. Os dados foram recolhidos em 2009, utilizando-se a técnica de
amostragem não probabilística acidental. A maioria da amostra revela desconhecimento dos
três sinais de alerta primordiais na deteção precoce do acidente vascular cerebral, pois 34
indivíduos (19,9%) selecionaram as três opções corretas relativas aos primeiros sinais de
alerta (dificuldade em falar; menos força no braço; desvio da comissura labial), 20 dos
respondentes (11,7%) não identificaram corretamente qualquer manifestação.
Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral; Avaliação; Conhecimento; Sintomas.
Abstract
This study was performed to investigate the level of knowledge of the signs and symptoms of
stroke. We chose to perform a quantitative, descriptive and transversal study. 171 individuals
participated. The data was collected in 2009, using the non-probability accidental sampling
technique. Most of the sample revealed ignorance of the three primary warning signs for early
detection of stroke, for 34 individuals (19.9%) selected the correct options on the three early
warning signs (difficulty speaking, less strength in the arm; deviation of labial commissure),
20 respondents (11.7%) did not correctly identify any manifestation.
Keywords: Stroke; Evaluation; Knowledge; Symptoms.
196
Introdução
O acidente vascular cerebral (AVC) reporta-se a “um complexo de sintomas de
deficiência neurológica, durando pelo menos vinte e quatro horas e resultantes de lesões
cerebrais provocadas por alterações da irrigação sanguínea” (Mausner & Bahn, 1990, p.27).
A longo prazo na Europa, o AVC constitui a causa mais importante de morbilidade e
incapacidade (European Stroke Organization, 2008). Na atualidade, em Portugal, o AVC
constitui uma das principais causas de morte. Segundo Correia (2006), tendo por base a
avaliação da incidência por regiões, Trás-os-Montes apresenta a maior taxa, 3,05 por mil
habitantes. Na opinião de Campos (2007), a maioria das mortes, cerca de 70%, ocorre fora ou
antes da chegada ao hospital, tal, deve-se, na ao facto dos indivíduos desvalorizarem os sinais
e tardiamente solicitarem ajuda.
No tratamento do AVC foram encontrados atrasos no reconhecimento da sintomatologia
e em contactar os serviços de emergência. As principais causas responsáveis pelo atraso
englobam não só a falta de conhecimento dos sintomas de AVC e do reconhecimento da sua
gravidade, como também a negação da doença e a esperança de que seja uma situação
passageira (European Stroke Organization, 2008).
Por outro lado, a recuperação completa das sequelas do acidente vascular encefálico
depende de distintos fatores, onde se destaca o tempo que medeia o aparecimento dos sinais e
o seu atendimento (Costa et al., 2010). Tal realça a importância e a necessidade de se
consciencializar a população sobre o que é o AVC e de que se trata de uma emergência
médica, pelo que a população deve ser orientada no sentido de reconhecer os seus principais
sinais e sintomas e como devem proceder perante a sua presença (Pereira, Alvarenga, Júnior
& Barbosa, 2009). Foram efectuadas recomendações relacionadas com programas de
educação para aumentar a sensibilização da população e a consciencialização dos
profissionais de saúde, para a problemática do AVC.
Existem várias escalas pré-hospitalares de identificação de AVC, fundamentámos o
nosso estudo com base na Escala pré-hospitalar para AVC de Cincinnati (Kothari, Pancioli,
Liu, Brott & Broderick, 1999). Os primeiros sinais de alerta apontados são: “dificuldade em
falar”; “boca ao lado”; “menos força no braço” (Direcção Geral da Saúde, 2007). Identificar
os primeiros sinais e acionar rapidamente os meios de socorro é deveras importante para
contribuir para a redução da incidência da morbilidade e da mortalidade desta doença. Em
Portugal algumas campanhas promovidas por várias organizações de saúde salientam a
197
importância de saber detectar precocemente os primeiros sintomas com o objectivo de agilizar
os recursos para uma intervenção o mais possível.
Método
Constitui objetivo do presente estudo avaliar o nível de conhecimentos em relação aos
sinais de alerta do acidente vascular cerebral.
Recorreu-se a um estudo quantitativo, tipo descritivo e transversal (Ribeiro, 2007)
A colheita de dados foi efectuada através da aplicação de um questionário aos
indivíduos (transeuntes) que voluntariamente aceitaram participar no estudo, com idades
superiores a 18 anos, conscientes e orientados no tempo e no espaço, na Rua D. João V, junto
à porta oeste do Centro de Saúde de Bragança Unidade da Sé, nos fins-de-semana e feriados
do mês de Novembro de 2009 das 9 às 19 horas.
Obteve-se uma amostra não probabilística, acidental, de 171 inquiridos. Aplicou-se o
questionário, elaborado para o efeito, na presença do investigador, do qual fizeram parte
questões sociodemográficas, clínicas, perceção das manifestações do AVC e estilos de vida
conducentes à prevenção da doença. Efetuou-se um pré-teste a 20 indivíduos que permitiu a
reformulação semântica de algumas questões.
A participação foi voluntária, foram esclarecidos os objetivos e finalidades da
investigação, efetuado esclarecimento sobre a importância da contribuição de cada
participante, o compromisso de garantia de confidencialidade dos dados e a disponibilidade
para esclarecimento de qualquer dúvida e assinado o termo de consentimento livre e
esclarecido.
Para o tratamento de dados foi utilizado o programa SPSS versão 17. Na análise de
dados foi utilizada estatística descritiva, nomeadamente frequências absolutas e relativas,
medidas de tendência central e medidas de dispersão.
Resultados
Na caracterização da amostra (quadro 1) são apresentadas as variáveis sexo, idade,
estado civil e habilitações literárias. Dos indivíduos estudados 87 são do sexo masculino
(50,9%) e 84 do sexo feminino (49,1%). A idade varia entre os 18 e os 81 anos, apresentando
uma média de 46 ± 12,62 anos. A classe com maior predomínio reporta-se ao grupo etário dos
40-49 anos (56 indivíduos; 32,7%). Quanto ao estado civil, a maioria dos sujeitos é casado
(71,3%), seguindo-se o grupo dos solteiros (12,9%). Analisadas as habilitações literárias, 65
198
indivíduos (38%) possuíam o 12º ano de escolaridade e 41 (24%) o ensino superior. De referir
ainda que 4 indivíduos (2,3%) não possuíam o 1º ciclo.
Quadro 1 – Caracterização da amostra por sexo, idade em classes,
estado civil e habilitações literárias
Sexo
Masculino
Feminino
Idade
18-19
20-29
30-39
40-49
50-59
≥ 60
Estado Civil
Solteiro(a)
Casado(a)
União de facto
Viúvo(a)
Separado(a)
Divorciado(a)
Habilitações Literárias
Não sabe ler nem escrever
Sabe ler e/ou escrever, mas não tem o primeiro
ciclo.
Básico-1.º ciclo (4.º ano)
Básico-2.º ciclo (6.º ano)
Básico-3.º ciclo (9.º ano)
Secundário (12.ºano)
Bacharelato
Licenciatura
Mestrado
Doutoramento
Total
n
87
84
n
1
10
41
56
38
22
n
22
122
6
4
1
16
n
2
2
22
9
30
65
8
27
2
4
%
50,9
49,1
%
0,6
5,8
24
32,7
22,2
12,9
%
12,9
71,3
3,5
2,3
0,6
9,4
%
1,2
1,2
12,9
5,3
17,5
38
4,7
15,8
1,2
2,3
171
100%
Quando questionados sobre a existência de doenças, 133 dos respondentes (77,8%)
afirmaram não possuir qualquer doença.
Segue-se a apresentação dos resultados relativos à perceção das manifestações do AVC
e estilos de vida conducentes à prevenção da doença. Verificámos que 34 dos inquiridos
(19,9%) selecionaram as três opções corretas relativas à identificação dos primeiros sinais
de alerta (dificuldade em falar; menos força no braço; desvio da comissura labial). De
salientar que
20
respondentes
(11,7%)
não
identificaram
corretamente
qualquer
manifestação (fig. 1).
199
Figura 1 - Manifestações selecionadas corretamente
Constatámos que a maioria dos inquiridos (61,4%) referiu a diminuição da força no
braço e 46,8% a dificuldade
ldade em falar, como manifestação de AVC. De salientar ainda que 87
indivíduos (50,9%) da amostra referiram dor no peito como um sintoma de AVC (quadro 2).
Quadro 2 – Manifestações atribuídas ao início de um AVC
Manifestações atribuídas (solicitado 3 respostas)
respo
n
%
Febre
3
1,8
Cefaleias
36
21,1
Dor no peito
87
50,9
Menos força no braço
105 61,4
Dificuldade em falar
80
46,8
Tonturas
44
25,7
Náuseas/vómitos
11
6,4
Dificuldade em respirar
23
13,5
Alterações da visão
24
14
Desvio da comissura labial
90
52,6
Relativamente à procura de informação, 157 indivíduos referiram fazê-lo
fazê de acordo com
as opções apresentadas no quadro 3, sendo dada a possibilidade de selecionar mais do que
uma opção de resposta. Dos respondentes, 111 (64,9%) utilizaram os profissionais de saúde
como primeira opção, seguindo-se
seguindo se a internet e a televisão com 80 (46,8%) e 69 (40,4%)
respetivamente. A opção menos selecionada foi a dos familiares com 3 respostas (1,8%).
200
Quadro 3 – Fontes de informação sobre saúde
Fonte de informação
n
%
Rádio
12
7
Jornais
38
22,2
Revistas
62
36,3
Televisão
69
40,4
Internet
80
46,8
Amigos
43
25,1
Profissionais de saúde
111 64,9
Familiares
3
1,8
A dieta saudável, a prática de exercício físico e a ausência de stress
stress foram os estilos de
vida mais apontados por 156 respondentes (91,23%), 137 (80,12%) e 40 (23,39%)
respetivamente. Constatámos que um reduzido número de inquiridos (5,85%) não indicou
qualquer opção (fig. 2).
Figura 2 - Estilos de vida saudáveis apontados
apontados pela amostra
para a prevenção do AVC
201
Discussão
Da totalidade dos inquiridos 34 seleccionaram as três opções corretas relativas à
identificação dos primeiros sinais de alerta. Um estudo realizado nos Estados Unidos, entre
2003 e 2005, que pretendia avaliar o conhecimento sobre os sintomas do AVC, inquiriu por
telefone 16104 mulheres não institucionalizadas, com idades entre os 45 e os 54 anos, que se
identificaram como Caucasianas, Afro-Americanas ou Hispânicas, mais de 98% das
inquiridas identificaram corretamente os referidos sinais (Lutfiyya, Lauren, Asner & Lipsky,
2009). Um estudo realizado em 2008, por regiões, em Portugal, encontrou resultados
superiores (82,4%) aos desta investigação, para as três opções corretas (Instituto Nacional de
Saúde Dr. Ricardo Jorge, 2008).
No presente estudo, constatámos que 61,4% da amostra identificou como manifestação
de AVC, a diminuição da força no braço e 46,8% a dificuldade em falar. Num estudo
realizado na população portuguesa, verificaram que na zona Norte, 87,6% dos respondentes
identificaram a dificuldade em falar como sintoma de alerta de AVC, enquanto que 90,8%
identificaram a diminuição da força do braço (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge,
2008). Um estudo norte-americano publicado em 2003 por Fisher, Casey e Melnik, revelou a
dormência ou fraqueza súbita da face, braço ou perna como um sinal de um AVC,
reconhecido por 92% dos adultos.
Bell et al. (2009) desenvolveram um estudo na Georgia entre 2006 e 2007, tendo
constatado numa primeira avaliação, que 86% dos inquiridos identificaram as alterações da
fala; 87% as alterações da face, diminuição da força das pernas e braços, como sinais
preditivos de AVC. Após intervenção educativa, numa segunda avaliação, foram encontrados
resultados superiores.
A dor no peito foi identificada, no nosso estudo, como sintoma de AVC por 50,9% dos
respondentes. Este sintoma foi apontado por 40% dos inquiridos num estudo realizado por
Ennen e Zerwic (2010) nos Estados Unidos entre 1996 e 2006. Também Lutfiyya, Lipsky,
Bales, Cha e McGrath (2008), noutro estudo realizado entre 2003 e 2005 nos EUA,
procuraram avaliar, entre outros, o conhecimento acerca dos sintomas que sugerem a presença
de um AVC entre homens adultos, verificaram que a dor no peito foi um sintoma
incorretamente apontado por uma elevada percentagem dos inquiridos (49,6% dos homens
caucasianos e 62,2% dos homens afro-americanos). Lutfiyya et al. (2009) no seu estudo,
verificam que aproximadamente 50% das mulheres inquiridas consideraram a dor no peito ou
desconforto como um sintoma de AVC. No estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde
202
Dr. Ricardo Jorge (2008) foram encontrados resultados que corroboram a presente
investigação (51,1%).
Quando questionados acerca da procura de informação, 64,9% dos respondentes
referiram recorrer aos profissionais de saúde. Realçamos as repostas obtidas para os meios de
comunicação social. Num estudo elaborado por Gonçalves (2009), visando entre outros,
identificar o conhecimento acerca do AVC em pessoas leigas com mais de 60 anos, concluiu
que a fonte de informação mais desejada pelos inquiridos para a obtenção de conhecimentos
no âmbito do AVC, foi a comunicação social.
Os estilos de vida apontados como forma de prevenir o AVC vão de encontro ao
referido na literatura. A dieta saudável, a prática de exercício físico e a ausência de stress
foram os estilos de vida mais sugeridos. Estes dados vão de encontro aos resultados do estudo
de Gonçalves (2009), pois quando questionados sobre como reduzir o risco de AVC, 72,8%
dos inquiridos selecionou ser relevante “comer corretamente e fazer exercício regularmente;
assegurar que a pressão arterial não está muito elevada; e vigiar os níveis de colesterol”.
Numa pesquisa de Ennen e Zerwic (2010), numa amostra norte-americana de 517 elementos
obtiveram como fatores de risco mais referidos a hipertensão, colesterol elevado e o fumar
com 96,2%, 85,3% e 84,7% respetivamente, dados superiores aos da nossa amostra.
Conclusões
Apesar de inúmeras campanhas de divulgação, a maior parte da nossa amostra revela
desconhecimento acerca da sintomatologia de deteção precoce do AVC, o que nos sugere a
necessidade de uma maior reflexão sobre as estratégias a utilizar na divulgação da
informação. Apenas cerca de 1/5 da amostra selecionou corretamente as três opções. Quanto
às manifestações apontadas incorretamente, a “dor no peito” foi referenciada por mais de 50%
dos inquiridos. Embora as cefaleias, as tonturas e as alterações da visão surjam por vezes
citadas na literatura como sinais preditivos de AVC, não foram considerados como válidos
atendendo aos critérios inicialmente definidos (em função da deteção precoce). Constatou-se
ainda que os inquiridos não identificam na globalidade os estilos de vida conducentes a
prevenção do AVC. No entanto os estilos de vida identificados pelos nossos respondentes
encontram-se citados na literatura.
203
Referências Bibliográficas
- Bell, M., Lommel, T., Fischer, J.G., Lee, J.S., Reddy, S., & Johnson, M.A.(2009). Improved
recognition of heart attack and stroke symptoms after a community-based intervention for older
adults, Georgia, 2006-2007. Prev Chronic Dis, 6(2), A41. Consultado a 11 de agosto de 2010.
Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2687847/?tool=pubmed
- Campos, A.C. (2007). Portal da Saúde. Divulgação da campanha das Vias Verdes Coronárias e
AVC do Alentejo: Intervenção do Ministro da Saúde na divulgação da campanha das Vias
Verdes Coronárias e AVC do Alentejo. Consultado a 10 de novembro de 2009. Disponível em:
http://www.portaldasaude.pt/portal/conteudos/a+saude+em+portugal/ministerio/comunicacao/di
scursos+e+intervencoes/arquivo/viaverde+alentejo.htm
- Correia, M. (2006). A epidemiologia dos AVC em Portugal. Revista Portuguesa de Saúde Pública.
Consultado
8
de
Março
de
2010.
Disponível
em:
http://www.spavc.org/Imgs/content/article_42/sp5.pdf
- Costa, A.G.S., Oliveira, A.R.S., Alves, F.E.C., Chaves, D.B.R., Moreira, R.P., & Araújo, T,L.
(2010). Diagnóstico de enfermagem: mobilidade física prejudicada em pacientes acometidos por
acidente vascular encefálico. Rev Esc Enferm USP, 44(3), 753-8. Consultado a 21 de Março de
2012. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v44n3/29.pdf
- Direcção Geral da Saúde. Coordenação Nacional para as doenças cardiovasculares. (2007).
Recomendações clínicas para o enfarte do miocárdio e o acidente vascular cerebral. Alto
Comissariado para a Saúde. Lisboa.
- Ennen, K.A., & Zerwic, J.J. (2010). Stroke knowledge: how is it impacted by rural location, age, and
gender?. Journal of Rural Nursing & Health Care, 10, 9-21. Consultado a10 de Setembro de
2010. Disponível em:
http://www.thefreelibrary.com/Stroke+knowledge%3A+how+is+it+impacted+by+rural+locatio
n,+age,+and...-a0230151146
- European Stroke Organization (2008). Guidlines for Manegement of ischaemic stroke. Consultado
em 10 de novembro de 2009. Disponível em:
http://www.eso-stroke.org/recommendations.php?cid=9&sid=1
- Fisher, B.D., Casey, M., & Melnik, T. (2003). Heart attack and stroke: signs & symptoms
behavioral risk factor surveillance system. New York State, Department of health. 10(1), 1-11.
Consultado a 11 de agosto de 2010. Disponível em:
http://www.health.ny.gov/statistics/brfss/reports/docs/brfss_volume_10_number_1.pdf
- Gonçalves, V. (2009). O conhecimento da doença de alzheimer e do acidente vascular cerebral
apresentado por pessoas com mais de 60 anos. Tese de mestrado em Ciências da Educação,
apresentada à Universidade de Lisboa: Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação.
Lisboa.
Consultada
em
11
de
Agosto
de
2010.
Disponível
em:
http://repositorio.ul.pt/handle/10451/956
- Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge. Departamento de Epidemiologia. (2008). Sinais de
alarme de enfarte agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral: uma observação sobre
conhecimentos e atitudes. Consultado a 11 de Agosto de 2010. Disponível em:
http://www.insa.pt/sites/INSA/Portugues/Publicacoes/Outros/Documents/Epidemiologia/EAM_
AVC_15-12-2008.pdf
- Kothari, R.U., Pancioli, A., Liu, T., Brott, T., & Broderick, J. (1999). Cincinnati Prehospital Stroke
Scale: Reproducibility and Validity. Annals of Emergency Medicine, 33(4). Consultado a 27 de
outubro de 2010. Disponível em:
http://www.sciencedirect.com/science?_ob=ArticleURL&_udi=B6WB0-4HJYV3P1&_user=2460258&_coverDate=04%2F30%2F1999&_rdoc=1&_fmt=high&_orig=search&_or
igin=search&_sort=d&_docanchor=&view=c&_searchStrId=1560172266&_rerunOrigin=googl
e&_acct=C000057407&_version=1&_urlVersion=0&_userid=2460258&md5=2f3baf4c6e1a34
59dd93743c0a2a5512&searchtype=a.
- Lutfiyya, M.N., Lipsky, M.S., Bales, R.W., Cha, I., & McGrath, C. (2008). Disparities in knowledge
of heart attack and stroke symptoms among adult men: an analysis of behavioural risk factor
surveillance survey data. Journal of the National Medical Association, 100 (10), 1116-24.
204
Consultado
a
10
de
setembro
de
2010.
Disponível
em:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/18942272
- Lutfiyya, M.NgL., Lauren, Ng., Asner, N., & Lipsky, M. (2009). Disparities in stroke symptomology
knowledge among US midlife women: an analysis of population survey data. Journal of Stroke
and Cerebrovascular Diseases, 18(2), 150-57. Consultado a 27 de Outubro de 2010. .
Disponível em:
http://www.sciencedirect.com/science?_ob=MImg&_imagekey=B6WM4-4VPWFMK-G1&_cdi=6924&_user=2460258&_pii=S1052305708002176&_origin=search&_coverDate=04%
2F30%2F2009&_sk=999819997&view=c&wchp=dGLzVlzzSkWb&md5=95a495c1c00bcb5d2edd61c66b444015&ie=/sdarticle.pdf
- Mausner, J., & Bahn, A. (1990). Introdução à epidemiologia. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian.
- Pereira, A.B.C., Alvarenga, H., Júnior, R.S.P., & Barbosa, M.T.S. (2009). Prevalência de acidente
vascular cerebral em idosos no Município de Vassouras, Rio de Janeiro, Brasil, através do
rastreamento de dados do Programa Saúde da Família. Cad. Saúde Pública, 25(9), 1929-36.
- Ribeiro, J.L.P. (2007). Metodologia de Investigação em Psicologia da Saúde. Porto: Legis Editora.
205
18. ADESÃO À DIETA EM IDOSOS EM DIÁLISE
18. ADHERENCE TO DIET IN ELDERLY PATIENTS ON DIALYSIS
Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1, Maria Augusta Pereira da Mata1, Maria Helena Pimentel1.
1
Escola Superior de Saúde, NIII, Instituto Politécnico de Bragança.
206
Resumo
O envelhecimento populacional constitui um dos determinantes que justificam o
aumento do número de doentes em dialise (Kusumoto, Marques, Haas & Rodrigues; 2008).A
insuficiência renal crónica emerge atualmente como uma epidemia em crescimento (Madeiro,
Mechado, Bonfim, Braqueais & Lima; 2010). As limitações e complicações são de vária
ordem. A adesão terapêutica constitui um determinante primário da efetividade do tratamento
(Cramar, 1998; WHO, 2002). A repercussão positiva da adesão sobre o estado de saúde nos
doentes em diálise inclui ganhos diretos relacionados com o menor uso dos serviços de saúde,
menores gastos e ganhos indiretos relacionados com a melhor preservação da qualidade de
vida em geral. O regime alimentar exige fortes restrições, implicando o seu incumprimento,
nefastas implicações ao nível do estado de saúde do doente renal.
Nesta investigação pretendemos avaliar o nível de adesão à dieta dos idosos em
hemodiálise e verificar a sua relação com as variáveis sociodemográficas e clínicas.
É um estudo não experimental, transversal e analítico. Desenvolvido numa amostra de
150 doentes em hemodiálise em cinco serviços de diálise do Norte de Portugal. A colheita de
dados decorreu em 2007. O instrumento de colheita de dados utilizado para caracterização da
população foi o RAAQ (Renal Adherence Attitudes Questionnaire), ao qual foram associadas
questões sociodemográficas e clínicas.
A amostra é constituída por 150 participantes, é maioritariamente masculina (58%),
com idades compreendidas entre os 65 e os 88 anos. A grande maioria são viúvos (60%), com
um nível de instrução e rendimentos muito baixos, com 39% de analfabetos e 32 de doentes
com rendimentos abaixo de 250 euros. O tempo de tratamento varia entre seis meses e 20
anos. Cerca de 65% dos doentes afirma ser portador de outras doenças, sendo a diabetes a
mais referida (49%). Todos os inquiridos referem complicações da doença. Foram
encontradas diferenças entre os escores médios de adesão em relação à idade, ao tempo em
diálise, doenças associadas e complicações com significância estatística em todas as
dimensões do RAAQ.O doente idoso apresenta níveis de adesão superiores, quando
comparado com a população geral em diálise (Anes, 2011).
Palavras-chave: Adesão à dieta; Insuficiente renal crónico; Diálise.
Abstrat
Population aging is one of the determinants that justify the increased number of patients
on dialysis (Kusumoto, Marques, Haas & Roberts, 2008). The chronic renal failure currently
emerges as a growing epidemic (Madeiro, Mechado, Bonfim, Braqueais & Lima; 2010). The
limitations and complications are of the various kinds. The adherence is a primary
determinant of treatment effectiveness (Cramar, 1998; WHO, 2002). The positive impact of
adherence on health status in dialysis patients includes direct gains related to lower use of
health services, lower costs and indirect gains related to better preservation of quality of life
in general. The diet requires strong restrictions, implying their noncompliance, adverse
implications for the health status of the patient's kidney.
In this research we intend to evaluate the level of adherence to the diet of the elderly on
hemodialysis and verify their relationship to sociodemographic and clinical variables.
It is a non-experimental, cross-sectional analytical. Developed in a sample of 150
hemodialysis elderly patients, in five dialysis services in northern Portugal (2007). The data
collection instrument used to characterize the population was the Renal Adherence Attitudes
Questionnaire (RAAQ), which were associated with sociodemographic and clinical issues.
207
The sample consisted of 150 participants, is mostly male (58%), aged between 65 and
88 years. The vast majority are widowed (60%), with a level of education and very low
incomes, with 39% illiterate and 32 patients with incomes below 250 euros. The treatment
time varies between six months and 20 years. About 65% of patients having other diseases,
diabetes being the most reported (49%). All respondents related complications of the disease.
Differences were found between the mean values of acceptance in relation to age, time on
dialysis, associated diseases and complications, with statistical significance in all dimensions
of RAAQ. The elderly patient presents higher levels of adherence when compared with the
general population on dialysis (Anes, 2011).
Keywords: Adherence to diet; Renal chronic disease; Dialysis.
208
Introdução
A estatística mostra que a incidência em dialise tem vindo a aumentar em Portugal,
consequência direta do aumento de la insuficiência renal crónica O estado nutricional
constituiu um dos principais determinantes da morbilidade e mortalidade em diálise. Os
benefícios da adesão são de vários tipos e relacionam-se com a prevenção de recaídas, alívio
de sintomas e melhoria geral do estado de saúde (Sousa, 2003). A não adesão, além de reduzir
o nível de saúde dos doentes contribui obrigatoriamente a um aumento dos gastos ao nível dos
cuidados de saúde e a um aumento da dependência, consequência da deterioração do seu
estado de saúde.
Na insuficiência renal crónica, a adesão à dieta implica enormes mudanças e adaptações
face às restrições impostas pela doença. A adaptação à nova dieta implica um corte com
hábitos e costumes e em especial com o conceito adquirido de uma alimentação considerada
normal. Esta adaptação pode ser avaliada pelas atitudes e comportamentos dos doentes face
ao novo regime alimentar (Rush & McGee, 1998).
O objetivo enunciado para a presente investigação é avaliar a Adesão à dieta em idosos
com insuficiência renal crónica em diálise face às enormes restrições alimentares e hídricas
imposta pela doença.
Método
Foi desenvolvido um estudo não experimental, analítico e transversal numa amostra de
150 idosos (77,58% da população), com insuficiência renal crónica em tratamento dialítico
em unidades de diálise do Nordeste Transmontano, os quais obedeciam aos critérios de
inclusão.
Foi efetuado um contacto pessoal com todos os idosos. Foram apresentados os objetivos
e propósitos da investigação, foi explicada a importância da contribuição de cada um,
realçando o carácter voluntário da participação, a garantia de confidencialidade,
disponibilidade de esclarecimento de qualquer dúvida e agradecimento pela participação. A
colheita de dados foi precedida da obtenção do consentimento informado.
O instrumento de colheita de dados foi constituído por uma medida específica de adesão
à dieta el RAAQ (Renal Adherence Attitudes Questionnaire), validado para a população
portuguesa. O questionário é composto por 26 itens abrangendo quatro dimensões, as atitudes
face às restrições sociais, as atitudes face ao bem-estar, as atitudes face ao autocuidado e a
209
aceitação. Para melhor caracterização dos doentes, foram associadas algumas questões
sociodemográficas e clínicas.
Resultados/Discussão
Nos participantes estudados, a maioria eram homens (58%), viúvos (60%), viviam sós
(26%), tinham um baixo nível de escolaridade (39% analfabetos) e rendimentos (32% com
rendimento abaixo de 250€. A idade dos inquiridos varia entre los 65 e 88 anos. O tempo de
tratamento em diálise oscila entre los 6 meses e 20 anos. A maioria dos doentes refere outras
doenças associadas (65%), sendo a diabetes a doença mais mencionada (49%). Todos os
doentes referem complicações resultantes da doença ou dos tratamentos. Importa referir que a
estudos nesta área, indicam uma prevalência de não adesão de 30% para a dieta e 50%, para
de líquidos e medicamentos (Christensen & Moran, 1998).
No que respeita à variável sexo (Quadro 1), os resultados não confirmam a existência de
diferenças significativas entre a adesão à dieta e o sexo. No entanto Almeida (2003) concluiu,
serem os homens, aqueles que demostraram maior adesão ao tratamento.
Quadro 1 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao sexo por dimensões.
Sexo
Dimensão
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
Feminino
n=63
Media
S
Masculino
n=87
Media
S
26,10
41,70
17,20
38,80
30,30
45,30
16,30
39,90
6,30
4,40
2,40
3,60
5,50
6,40
1,90
5,10
Teste t
t
-1,322
0,345
-0,334
-1,080
p
0,123
0,458
0,561
0,165
Test Mann
Whitney U
Sig.(2-tailed)
0,165
0,530
0,564
0,128
Relativamente à idade (Quadro 2), os resultados confirmam a hipótese de relação entre
as variáveis. Verificou-se uma relação estatisticamente significativa em todas as dimensões do
RAAQ. Esta relação indica que o nível de adesão à dieta aumenta ao mesmo tempo que a
idade avança, sendo portanto o nível de adesão à dieta mais satisfatório nos doentes mais
velhos. Estes resultados são corroborados por Santin, Ceresér e Rosa (2005), pois
compreendem a idade, como um de muitos determinantes que tentam explicar o fenómeno da
não adesão ao tratamento.
210
Quadro 2 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação à idade por dimensiones.
65 -74 anos
n=67
Idade
75 –84 anos
n=59
> 85 anos
n=24
Media
S
Media
S
Media
S
26,74
40,43
14,67
34,84
6,61
3,41
2,33
5,03
27,45
40,99
15,01
35,27
4,31
5,51
2,44
6,22
29,59
42,04
16,30
37,49
5,55
5,79
2,87
6,09
Test
Mann
Whitney U
Sig
(2-tailed)
Test Anova
f
p
Dimensão
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
2,130
1,806
4,397
3,241
0,050
0,311
0,011
0,039
0,056
0,042
0,010
0,048
Para o nível de educacional (Quadro 3), os resultados não confirmam relação estatística
significativa com as médias de adesão à dieta por dimensões. No entanto e, segundo
Valenzuela, Giffoni, Cuppari e Canziani (2003) os doentes com maior nível educativo
possuem recursos intelectuais que lhe permitem uma maior adaptação emocional ao
tratamento.
Quadro 3 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação às habilitações por dimensões.
Até ao ensino Ensino básico
básico
e secundário
n=59
n=86
Ensino media e
superior
n=5
Dimensão
Media
S
Media
S
Media
S
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
25,53
39,99
15,84
34,96
5,70
6,43
2,76
7,14
25,76
40,61
14,87
35,13
6,99
6,92
2,68
7,48
30,00
42,65
15,66
38,47
6,38
3,39
2,76
4,48
Habilitações
Test
Anova
f
1,953
0,650
1,769
0,878
p
0,168
0,445
0,154
0,378
Test
Kruskal
Wallis
Asymp. Sig.
0,133
0,547
0,148
0,279
Em relação ao estado civil (Quadro 4), parecem observar-se melhores pontuações nos
indivíduos casados, no entanto, não se confirma a existência de relação estatisticamente
significativa com as dimensiones da adesão. Cooper et al (2005) afirmam que o estado civil
constitui um determinante negativo ao nível da adesão sendo considerada por estes autores
um previsor da não adesão.
Quadro 4 – Adesão à dieta em relação ao estado civil por dimensões.
Estado Civil
Dimensão
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
Casados
n=50
Media
26,45
41,44
15,98
35,86
S
5,50
6,19
2,34
6,11
Viúvos
n=90
Media
24,39
38,04
13,34
31,86
S
5,65
6,26
2,01
6,07
Solteiros
n=10
Media
23,27
39,26
14,62
32,76
S
6,01
5,12
1,21
4,69
Test Anova
f
1,932
1,453
1,436
1,554
p
0,099
0,373
0,185
0,188
Test
Kruskal
Wallis
Asymp.Sig.
0,060
0,293
0,147
0,128
211
Para a variável situação familiar (Quadro 5), os resultados também não corroboram a
hipótese de relação, pois confirma-se não existirem diferenças significativas com a adesão à
dieta. Segundo Santín, Ceresér e Rosa (2005), a história e a estrutura familiar encontram-se
entre os muitos fatores que explicam o fenómeno da não adesão ao tratamento. Dellepiane e
Bós (2008) realçam a importância da família ao nível da adesão.
Quadro 5 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação à situação familiar por dimensões.
Situación Familiar
Dimensão
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
Vivem c/ 1 ou
mais pessoas
n=111
Media
S
Vivem sós
n=39
Media
S
25,42
40,55
15,99
35,67
26,23
40,01
15,41
35,87
5,36
6,07
2,73
6,82
Teste
Kruskal
Wallis
Teste t
t
-0,543
-0,843
-0,183
-0,084
5,78
6,01
2,43
6,33
p
Asymp. Sig.
0,537
0,323
0,763
0,832
0,547
0,339
0,789
0,824
Para a variável rendimento (Quadro 6), parece observar-se um acréscimo da adesão à
dieta à medida que aumenta o rendimento. No entanto e, de acordo com os resultados do teste
Anova, verificamos que não são significativas as diferenças verificadas entre os vários grupos
de rendimentos e a adesão à dieta. Diversos autores são unânimes em considerar esta variável
como determinante da adesão, apontando melhores níveis de adesão nos doentes de classes
sociais mais elevadas, com maiores rendimentos (Muhlhauser, Overmann, Bender, Bott, Jorgens,
Trautner, Siegrist & Berger, 1998; Anes, 2011).
Quadro 6 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao rendimento por dimensões.
Rendimento
Dimensão
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidados
Aceitação
Até 250€
n=48
250-500€
n=78
>500€
n=24
Media
S
Media
S
Media
S
24,90
40,13
15,23
34,46
5,49
6,01
2,31
6,18
25,99
40,93
15,82
35,64
6,20
5,33
2,54
6,00
27,87
41,98
15,99
36,87
5,93
6,29
2,78
7,04
Teste Anova
p
f
2,301
0,828
2,175
0,661
0,065
0,460
0,093
0,445
Test Mann
Whitney U
Sig.
(2-tailed)
0,059
0,476
0,063
0,427
No que respeita ao tempo em diálise (Quadro 7), constata-se um aumento da adesão á
dieta a partir dos três meses de tratamento. Os resultados do teste Anova confirmam a
existência de diferenças significativas entre o nível de adesão e os diferentes intervalos de
212
tempo de tratamento. Estes resultados são corroborados por Anes (2011). Em termos de
adaptação à dialise, são descritas diversas fases de adaptação e, é essencialmente a partir dos
três meses de tratamento que surge a chamada fase de adaptação e a tomada de consciência
das limitações impostas pela doença e tratamento (Wauters, 1980; Delgado, 1997).
Quadro 7 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao tempo em diálise por dimensão.
Tempo de
tratamento
Dimensão
Até três
meses
Media
S
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
25,03
40,07
14,22
34,92
6,68
6,53
2,76
8,51
Test Anova
3 meses - 1 + de 1 ano
ano
Media
Media
S
S
24,88
40,08
15,10
35,12
6,71
6,76
2,49
6,55
26,54
40,93
15,59
35,97
6,33
6,12
2,56
6,47
Teste
Kruskal
Wallis
f
p
Asymp.
Sig.
1,972
0,075
0,845
0.067
0,056
0,055
0,050
0,049
0,058
0,056
0,052
0,054
Relativamente à relação da variável doenças associadas com a adesão à dieta, os
resultados corroboram a hipótese da existência de relação significativa para grande maioria
das dimensões. Confirma-se que o grupo de doentes que afirma ter outras doenças (Quadro 8)
apresenta maiores pontuações de adesão à dieta para quase todas as dimensões, com exceção
da dimensão aceitação. Significa então, que são os grupos de indivíduos com outras doenças
associadas, aqueles que apresentam maiores índices de adesão à dieta.
Quadro 8 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação a outras doenças associadas por
dimensões.
Doenças associadas
Dimensão
Atitudes restri. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
Não tem
doenças
associadas
n=52
Media
S
26,99
5,61
40,90
6,01
15,73
2,90
35,35
6,66
Tem uma
doença
associadas
n=98
Media
S
30,72
5,54
41,90
6,07
16,76
2,64
39,54
6,89
Test t
t
1,982
-1,983
-2,734
-0,094
p
0,051
0,050
0,007
0,925
Test Mann
Whitney U
Sig. (2-tailed)
0,049
0,047
0,003
0,853
Em relação ao número de doenças associadas e adesão à dieta (Quadro 9), esta varia no
mesmo sentido que o número de doenças. As diferenças são significativas em praticamente
todas as dimensões do RAAQ, com exceção da dimensão aceitação. São portanto, os
213
indivíduos com maior número de doenças associadas, aqueles que presentam maiores índices
de adesão à dieta.
Quadro 9 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao número de doenças associadas por
dimensão.
Nº doenças
associadas
Dimensão
A rest. sociais
A bem-estar
A auto-cuidado
Aceitação
Não tem
doenças
associadas
n=52
1
doença
associada
n=79
2
doenças
associadas
n=48
≥ três
doenças
associadas
n=22
Test Anova
Test
Kruskal
Wallis
Media
S
Media
S
Media
S
Media
S
f
p
Asymp. Sig.
26,99
40,90
15,73
35,35
5,61
6,01
2,90
6,66
27,30
40,99
15,97
35,76
5,56
5,45
2,53
6,54
29,73
41,57
16,00
36,04
6,35
7,02
2,63
6,53
30,04
41,98
16,54
36,87
4,46
5,47
2,30
4,32
0,098
0,769
3,350
0,184
0,961
0,512
0,020
0,907
0,957
0,432
0,012
0,954
Também se confirma, relação entre a adesão à dieta e a doença mais referenciada a
diabetes (Quadro 10). A adesão à dieta é em média superior no grupo de indivíduos com
diabetes, para todas as dimensões. As diferenças são significativas em praticamente todas as
dimensões, à exceção da dimensão aceitação.
Quadro 10 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação à diabetes por dimensão.
Diabetes
Dimensão
Atitudes rest. sociais
Atitudes bem-estar
Atitudes autocuidado
Aceitação
Não tem
diabetes
associada
n=76
Media
S
25,76
5,59
40,54
5,99
15,27
2,76
35,35
7,50
Tem
diabetes
associada
n=74
Media
S
26,70
6,16
41,87
6,39
15,75
2,53
35,67
8,40
Test t
t
-3,797
-1,909
-1,116
-0,086
p
0,052
0,050
0,051
0,932
Test Mann
Whitney U
Sig. (2-tailed)
0,050
0,037
0,043
0,702
A relação verificada entre as comorbilidades e a adesão à dieta pode ser explicada pelo
facto de os doentes que apresentam maior número de doenças, serem aqueles que apresentam
mais idade. Según Margalho, Vélez, Guzmán, Oliveira, Saraiva da Cunha e Meliço-Silvestre
(2007) as comorbilidades constituem um fator de interferência ao nível da adesão. Também
poderia justificar-se pelo facto de serem estes indivíduos aqueles que perderam um nível
significativo de saúde e por conseguinte são eles que atribuem mais valor à saúde que
perderam e, à adesão terapêutica (Anes, 2011).
214
No que respeita à relação da adesão à dieta e as complicações (Quadro 11), os
resultados confirmam a existência de relação estatisticamente significativa. Confirma-se la
existência de diferencias significativas entre las médias de adesão à dieta nos diversos grupos
de complicações em todas as dimensões. Assim apresentam melhores medias de adesão á
dieta os doentes que afirmam possuir entre 4 a 9 complicações. Com menores médias de
adesão encontra-se o grupo que apresentam entre zero a três complicações. Em paralelo às
doenças associadas, as complicações constituem também fator de interferência ao nível da
adesão à dieta (Margalho, Velez, Guzmán, Oliveira, Saraiva da Cunha & Meliço Silvestre,
2007).
Quadro 11 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao número de complicações por
dimensões.
Número
Complicações
De 0 a 3
n=32
De 4 a 6
n=49
De 7 a 9
n=41
De 10 a 12
n=28
Test
Kruskal
Wallis
Test
Anova
Dimensão
Media
S
Media
S
Media
S
Media
S
f
p
Asymp. Sig.
Atit. Rest. sociais
Atit. Bem-estar
Atit. autocuidado
Aceitação
23,23
38,85
14,54
33,41
5,40
5,02
2,24
5,17
26,76
41,93
15,73
35,60
6,02
5,40
2,51
7,02
26,87
42,65
15,84
36,52
5,22
5,84
2,54
6,21
27,34
39,76
14,91
35,42
6,03
6,72
2,13
7,04
4,453
4,871
3,659
2,901
0,005
0,004
0,014
0,049
0,006
0,012
0,018
0,033
Em termos globais, os doentes insuficientes renais crónicos idosos em diálise (Quadro
12) apresentam valores de adesão superiores aos encontrados por Anes (2011) na população
geral dos doentes insuficientes renais crónicos em diálise (Quadro 13).
Quadro 12 – Caracterização global do índice adesão à dieta nos doentes idosos em
diálise (RAAQ).
RAAQ
n=150
Média
130
DP
18
Mediana
119
Min.
92
Max.
168
Min-34; Máx-170; Média-102
Quadro 13 – Caracterização global do índice adesão à dieta nos doentes em diálise
(RAAQ).
RAAQ
n=263
Média
117
DP
21
Mediana
116
Min.
57
Max.
165
Min-34; Máx-170; Média-102
Fonte: Anes, E.M.G.J. (2011). Adhesíon a la dieta y calidad de vida en insuficientes renales crónicos en diálisis del Nordeste
Transmontano. Tese de Doutoramento. Departamento de Pssicología y Antropología. Universidad de Extremadura.
215
Conclusões
A adesão à dieta na insuficiência renal crónica, exige mudanças drásticas e difíceis
adaptações a um novo regime alimentar, difícil da adotar. Vai contra todos os princípios
considerados normais para a população em geral e, implica uma adaptação constante e uma
rutura com o conceito adquirido de alimentação normal.
Existem no entanto, muitos fatores ou variáveis são preditores da adesão à dieta. A
interpretação dos resultados deste trabalho permitem-nos concluir que alguns fatores
sociodemográficos e clínicos (idade, tempo de tratamento, doenças associadas e
complicações) têm efetivamente implicações ao nível da adesão à dieta nos insuficientes
renais crónicos idosos em diálise.
O doente idoso apresenta níveis de adesão superiores, quando comparado com a
população geral em diálise (Anes, 2011).
Concluímos também, que alguns dos determinantes considerados com relação
significativa, podem ser controlados ou evitados. Nesta área, um bom desempenho ao nível
dos cuidados de saúde poderá ter um contributo especial. Este facto realça a importância da
avaliação da adesão à dieta, constituindo un indicador de excelência na práctica da prestação
dos cuidados de saúde, utilizando para tal a perceção individual de cada doente.
Referências Bibliográficas
Almeida, J. P. C. (2003). Impacto dos factores psicológicos associados à adesão terapêutica,
ao controlo metabólico e à qualidade de vida em adolescentes com diabetes tipo I.
Dissertação de doutoramento, Universidade do Minho, Departamento de Psicologia,
Braga.
Anes, E.M.G.J. (2011). Adhesíon a la dieta y calidad de vida en insuficientes renales crónicos
en diálisis del Nordeste Transmontano. Tese de Doutoramento. Departamento de
Pssicología y Antropología. Universidad de Estremadura.
Bezerra, K. V. (2006). Estudo do cotidiano e qualidade de vida de pessoas com insuficiência
renal crónica (IRC), em hemodiálise. Dissertação, Ribeirão Preto. Consultado em20 de
Abril de 2008. Disponível em: http://www.tesesusp.br/teses/disponiveis/17/17139 tde19092006-112400/
Christensen, A. J., & Moran, P. J. (1998). Psychological aspects of end‐stage renal disease. In
D. W. Johnston & M. Johnston (Eds.), Comprehensive clinical psychology. Amsterdam:
Pergamon. 321‐335.
Christensen, A. J., Benotsch, E., Wiebe, J., & Lawton, W. J. (1995). Coping with treatment
‐related stress: effects on patient adherence in hemodialysis. Journal of Consulting and
Clinical Psichology, 63, 454‐459.
Cooper, C. et al (2005). The AdHOC study of older adults’s adherence to medication in 11
Countries.Am J Geriatr Psychiatric, 13(12), 1067-76
216
Cramar, J.A. (1998). Consequences of intermitente treatment for hypertension: the case for
medication compliance and persistence. American Journal of Managed Care, 4, p.
1563-1568.
Delgado, L. (1997). Os aspectos psicológicos do insuficiente renal crónico em hemodiálise.
In: Manual de hemodiálise. Lisboa: Edição Clínica de Doenças Renais, 203-206.
Dellepiane, L. B. & Bós, A. J. G. (2008). Participação da familia na adesão à restrição de
sódio em adultos e idosos hipertensos: estudo de intervenção randomizada. Revista
Brasileira de Ciencias do Envelhecimento Humano, 5 (1), 32-42.
Henriques, M. A. P. (2006). Adesão ao regime terapêutico em idosos: revisão sistemática.
Universidade de Lisboa.
Kusumoto, L.;Marques,S.; Haas, V.J & Rodrigues R.A.P. (2008). Adultos e idosos em
hemodialise: avaliação da qualidade de vida relacionada à saúde. Acta Paul. Enferm. 21
(Número Especial), p. 152-159
Machado, M. M. P. (2009). Adesão ao Regime Terapêutico: Representações das pessoas com
IRC sobre o contributo dos enfermeiros. Tese de Mestrado. Universidade do Minho,
Instituto de Educação e Psicologia.
Madeiro, A.C.; Mechado, P.D.L.C.; Bonfim, I.M.; Braqueais, A.R. & Lima, F.E.T. (2010).
Adesão de portadores de insuficiência renal crónica ao tratamento dialítico. Acta Paul.
Enferm.23 (4), p. 546-551.
Margalho, Velez, Guzmán, Oliveira, Saraiva da Cunha & Meliço-Silvestre (2007).
Determinantes da adesão em doentes infectados pelo VIH. Cosultado em 18 de Agosto
de 2010. Disponível em: http://www.psicologia.com.pt/artigos/textos/A0363.pdf
Muhlhauser, I., Overmann, H., Bender, R., Bott, U., Jorgens, V., Trautner, Ch., Siegrist, J. &
Berger, M. (1998): Social status and the quality of care for adult people with type 1
(insulin-dependent) diabetes mellitus – a population–based study. Diabetologia, 41,
1139-1150.
Nascimento, M. M. & Riella, M. C. (2001). Metabolismo da água, sódio, potássio e magnésio
na insufuciência renal crónica. In M. C. Riella & C. Martins. Nutrição e o rim. Rio de
Janeiro: Editora Guanabara Koogan, 27-32.
Rushe, H. & McGee, H. (1998). Assessing adherence to dietary recommendations for
hemodialysis patients: the renal adherence attitudes questionnaire (RAAQ) and the renal
adherence behaviour questionnaire (RABQ), Journal of Psychosomatic Research, 45
(2), 149-157.
Santin, A., Ceresér, K. & Rosa, A. (2005). Adesão ao tratamento no transtorno bipolar.
Revista Psiquitria Clínica, 32 (supl 1), 105-109.
Serafino, E. P. (1990). Health Psychology Biopsychosocial Interactions. New York: Jhon
Wiley & Sons.
Sousa, M. R. G. (2003). Estudo dos conhecimentos e representações de doença associados à
adesão terapêutica nos diabéticos tipo 2. Tese de Mestrado. Universidade do Minho .
Braga.
Valenzuela, R. G. V., Giffoni, A.G., Cuppari, L., Canziani, M. E. F. (2003). Estado
nutricional de pacientes com insuficiência renal crônica em hemodiálise no Amazonas.
Rev Assoc Med Bras, 49 (1), 72–8.
Wauters JP. (1980). A Psicologia do doente em diálise crónica. Revista folia Psychopractica,
(Lisboa: Roche Farmacêutica.
WHO (2002). The world health report 2002: reducing risks, promoting healthy life. Geneva:
WHO.
217
19. CONTEXTOS DE ENVELHECIMENTO E AVALIAÇÃO FUNCIONAL DE IDOSOS:
NECESSIDADES SENTIDAS NO CONCELHO DE BRAGANÇA
Maria Patrocínia Ferreira Sobrinho Correia1; Adília Maria Pires da Silva Fernandes2;
Celeste da Cruz Meirinho Antão3
1
Assistente, Instituto Politécnico de Bragança (EsACT)
[email protected]
2
Professora Adjunta, Instituto Politécnico de Bragança (ESSa)
[email protected]
3
Professora Adjunta, Instituto Politécnico de Bragança (ESSa)
[email protected]
218
Resumo
Portugal está passar um processo natural de transformação populacional, devido ao
envelhecimento demográfico. Este, gera contrastes a nível regional, refletidos na inversão da
pirâmide etária. Neste cenário, os idosos estão mais vulneráveis devido às limitações do
próprio processo de envelhecimento, doenças generativas e acesso aos cuidados e serviços de
saúde. O instrumento utilizado foi um questionário estruturado, versão portuguesa do OARS
(Older Americans Resources and Services) realizada por Rodrigues (2007), traduzida no
Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional de Idosos.
A recolha de dados foi realizada através de entrevista, no mês de Março de 2011, em 33
indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, utentes dos Centros de Saúde de Bragança
(Sé) e Vimioso. Foi realizada pela autora e pelos estagiários de 3º e 4º anos, da licenciatura
em Enfermagem, do Instituto Politécnico de Bragança. Todos os inquiridos foram informados
a respeito da pesquisa e dos objetivos que lhe estavam relacionados. Após o esclarecimento
de todas as dúvidas, o idoso assinou um termo de consentimento informado, livre e
esclarecido. Realizada a recolha de dados, foi necessário interpretar os dados quantitativos
através do programa Estatístico SPSS, recorrendo a métodos de índole descritiva. O
questionário define três elementos de avaliação funcional da população idosa (avaliação
funcional do indivíduo, serviços sociais e de saúde e descrição do serviço de acordo com o
nível funcional) e possui cinco domínios (saúde física, recursos económicos, atividades de
vida diária, recursos sociais e saúde mental). O presente trabalho centrar-se-á somente nos
primeiros três blocos: Saúde Física, Recursos Económicos e Atividades de Vida Diária
(AVD).
Palavras-chave: Envelhecimento; Saúde; Avaliação Funcional; Idoso.
219
Introdução
Portugal está passar um processo natural de transformação populacional, devido ao
envelhecimento demográfico. Este, gera contrastes a nível regional, refletidos na inversão da
pirâmide etária. Neste cenário, os idosos estão mais vulneráveis devido às limitações do
próprio processo de envelhecimento, doenças generativas e acesso aos cuidados e serviços de
saúde.
Estudos populacionais demonstram que cerca de 45% da população com idade superior
a 65 anos necessitam de ajuda para realizar tarefas como fazer compras, preparar refeições ou
limpar da casa (Santos et al., 2010). À medida que a idade avança as limitações face às
atividades de vida diária (AVD) também aumentam. ~
O instrumento utilizado foi um questionário estruturado, versão portuguesa do OARS
(Older Americans Resources and Services) realizada por Rodrigues (2007), traduzido no
Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional de Idosos. Este instrumento investiga
as condições individuais, familiares e sociais do idoso.
O questionário define três elementos de avaliação funcional da população idosa
(avaliação funcional do indivíduo, serviços sociais e de saúde e descrição do serviço de
acordo com o nível funcional) e possui cinco domínios (saúde física, recursos económicos,
atividades de vida diária, recursos sociais e saúde mental). O presente trabalho centrar-se-á
somente nos primeiros três blocos: Saúde Física, Recursos Económicos e Atividades de Vida
Diária (AVD).
Abordagem do Envelhecimento
Portugal está a envelhecer. Os dados estatísticos referem previsões que apontam um
envelhecimento demográfico. Prevê-se que, em 2050, o número de idosos por indivíduo em
idade ativa possa triplicar. (INE, vários anos). O fenómeno do envelhecimento da população,
caracterizado pelo aumento da população idosa e pela redução da população jovem encontrase bem vincado nos resultados dos Censos 2011. Há 30 anos, em 1981, cerca de 25% da
população pertencia ao grupo etário mais jovem (0-14 anos), e apenas 11,4% estava incluída
no grupo etário dos mais idosos (com 65 ou mais anos). Em 2011, Portugal apresenta cerca de
15% da população no grupo etário mais jovem (0-14 anos) e cerca de 19% da população tem
65 ou mais anos de idade (Censos, 2011).
As causas assentes neste fenómeno de envelhecimento demográfico estão apoiadas nos
seguintes fatores:
220
•
Melhoria socioeconómica das qualidades de vida das populações;
•
Diminuição da taxa de natalidade
A conjugação simultânea destes dois fatores faz com que o envelhecimento seja sempre
automático porque os “sobreviventes nas idades mais elevadas pertencem a gerações mais
plenas e passam, por isso, a ser mais numerosos em proporção relativamente aos mais jovens”
(Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012: 6).
Encontrando-se determinado que o avançado declínio das populações envelhecidas e
com um potencial de substituição de gerações muito reduzido, a preocupação atual
centralizar-se-á nos efeitos do envelhecimento sobre o aumento da esperança de vida depois
dos 65 anos.
Tabela: Populações mais envelhecidas, em 2010.
País
Japão
Alemanha
Itália
Grécia
Bulgária
Lituânia
Portugal
Áustria
Grupos Dependentes
> 65 anos
< 15 anos
22,6
13
20,5
14
20,4
14
18,3
14
17,6
14
17,4
14
17,9
15
17,6
15
Índice de Envelhecimento
2010
173,8
146,4
145,7
130,7
125,7
124,3
119,3
117,3
Índice de Envelhecimento
2011
129
-
Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012: 8)
Relação entre Envelhecimento do interior e emigração
Entre 1950 e 1981, o índice de envelhecimento iniciou o período de galopagem. Até esta
época, a fecundidade mantinha-se próxima de 3 filhos por mulher. Todavia, muitos estudiosos
referem que o processo de envelhecimento não inicia com a quebra da natalidade. Em
Portugal, a vaga de emigração atingiu o seu pico em meados da década de 1960 até 1970. Tal
fato pareceu coincidir com o início do envelhecimento demográfico. Esta relação é
confirmada com o aumento do envelhecimento mais acentuado nas regiões do interior do país,
como por exemplo, Portalegre, Guarda, Beja, Bragança, Castelo Branco, entre outros que
possuem elevados fluxos migratórios.
221
Fig. 1. Índices de Envelhecimento dos distritos de Braga e Bragança, 1950 e 1981.
Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012: 11)
Relação entre Envelhecimento, recuo da mortalidade e sistema de Saúde
A relação entre o recuo da mortalidade e o envelhecimento é outra questão essencial para o
entendimento deste fenómeno.
Fig. 2. Taxa de Mortalidade Infantil, Portugal, 1960-2009.
Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012: 19)
222
O sistema de saúde representa um dos setores sobre o qual está a ser exercida uma
elevada pressão. Como anteriormente analisados, o aumento da esperança de vida, melhoria
das condições de vida e o acesso mais facilitado aos cuidados de saúde e consequentemente
os avanços na medicina origina, inevitavelmente, um incremento da prevalência de
incapacidades crónicas (Oliveira, 2007). De acordo com Pimentel (2002), desta reflexão
resultam um conjunto de orientações para os Estados Membros da U.E.:
•
Equilíbrio das finanças públicas: problema do financiamento dos sistemas de proteção
social e diminuição da população ativa;
•
Valores das pensões: relação entre os valores monetários e a sustentabilidade das
finanças públicas.
•
Mão de obra mais envelhecida e reduzida: adaptação a estas características da mãode-obra com o aumento da idade da reforma e revalorização profissional
•
Acesso a cuidados de saúde: garantia deste acesso bem como de cuidados de
qualidade.
Conjuntamente ao agrupado de reflexões, segundo Martin et al. (2006), deve-se
apresentar um conjunto de politicas sociais para a população idosa com vista a:
•
Promover o envelhecimento ativo, com a adoção de estilos de vida mais saudáveis;
•
Promover o envelhecimento produtivo através da participação do idoso na sociedade;
•
Promover o cuidado com medidas que assegurem cuidados a sujeitos que manifestem
um elevado grau de dependência.
Método OARS
O presente estudo visa identificar e analisar a capacidade funcional do individuo idoso.
Os conhecimentos gerados podem transformar-se em conhecimentos essenciais para a
formulação e implementação e politicas públicas através de estratégias de intervenção
adequadas à realidade do país e mais concretamente, à realidade regional de Trás-os-Montes.
Instrumento para Avaliação Multidimensional
O questionário implementado é a versão Portuguesa de Rodrigues (2007) resultante do
instrumento original Older Americans Resources and Services Program (OARS) e dos
trabalhos desenvolvidos pelo Center for the Study of Aging and Human Development, da
Duke University.
223
Este instrumento define três elementos de avaliação:
1. Avaliação da capacidade funcional;
2. Utilização dos serviços sociais e de saúde: utilização atual vs necessidades
sentidas;
3. Avaliação de serviços de acordo com o nível funcional
De acordo com os anteriores
iores elementos, possui cinco domínios:
• Recursos sociais
• Recursos económicos
• Saúde física
• Saúde mental
• Atividades de vida diária (AVD)
O presente trabalho centrar-se-á,
centrar á, somente, em três blocos: recursos económicos, saúde
física e AVD.
224
Metodologia e Recolha de dados
O presente estudo foi baseado em informações obtidas a partir de entrevistas realizadas
nos centros de saúde do conselho de Bragança – Sé e Vimioso, realizado no mês de Março de
2011, em 33 indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos.
Para minimizar dificuldades no contato com os utentes, estes foram abordados por
alunos estagiários da Escola de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança. Os idosos foram
devidamente informados em relação à pesquisa aos objetivos que lhe estavam relacionados.
Após o esclarecimento de todas as dúvidas, o idoso assinou um termo de consentimento
informado, livre e esclarecido, ficando para si o duplicado e o original para o trabalho das
autoras2. foi iniciada a avaliação.
Realizada a recolha de dados, foi necessário interpretar os dados quantitativos através
do programa Estatístico SPSS, recorrendo a métodos de índole descritiva (Pestana & Gageiro,
2003).
As questões realizadas foram divididas em quatro seções.
1ª seção: identificação do entrevistado, endereço e contato telefónico;
2ª seção: identificação pessoal (género, idade, local de nascimento, tempo de
residência no local, estado civil)
3ª seção: Saúde física (existência de alguma patologia, doença cronica, ocular,
auditiva);
4ª seção: Perfil socioeconómico (escolaridade, atividade, condições da habitação,
rendimento mensal);
4ª seção: Atividades de Vida Diária (grau de dependência)
Apresentação de Resultados
Caracterização da Amostra – fatores demográficos
A amostra resultante da população consiste em 33 indivíduos dos quais 16 do sexo feminino
e 17 do sexo masculino.
2
Parecer Nº 45/2010 da CES – ARSN favorável à autorização deste estudo.
225
Tabela 1: Caraterização dos indivíduos idosos
Variáveis
Média Idades
Situação Conjugal
• Solteiro
• Casado
• viúvo
Escolaridade
• não sabe ler/escrever
• sabe ler/escrever
• ensino básico
• ensino preparatório
• secundário
• NS/NR
Situação Profissional
• Reformado idade
• Reformado invalidez
F
M
Total (N= 33)
72 anos
1 (3%)
11 (33,3%)
4 (12,1%)
2 (6,1%)
13 (39,4%)
2 (6,1%)
3(9,1%)
24 (72,7%)
6 (18,2%)
8 (24,2%)
4 (12,1%)
2 (6,1%)
0
1 (3%)
1 (3%)
3 (9,1%)
5 (15,2%)
6 (18,2%)
3 (9,1%)
0
0
11 (33,3%)
9 (27,3%)
8 (24,2%)
3 (9,1%)
1 (3%)
(3%)
12 (36,4%)
4 (12,1%)
15 (45,5%)
2 (6,1%)
27 (81,8%)
5 (18,2)
Embora conste da tabela 1 a amostra desagregada por sexos (dentro de cada grupo
etário e para o total da amostra) esta não fará parte da restante interpretação dos dados. Tal
justificação prende-se com o fato da amostragem dos inquiridos ser reduzida, não
apresentando diferenças significativas entre homens e mulheres. Desta forma, o tratamento
estatístico será realizado, conjuntamente, para ambos os géneros.
Foram agregados em quatro escalões etários (65-70 anos, 71-76 anos; 76-81 anos e
igual ou superior a 82 anos). Assim, o primeiro e o segundo grupos etários (65-70 e 71-76)
são constituídos por 36,4% dos inquiridos cada. No primeiro estão representados 5 homens
(15,2%) e 7 mulheres (21,2%). No segundo, cada género representa 18,2% (também 36,4%
dos inquiridos). O terceiro grupo etário 76-81 anos é composto por 5 inquiridos (15,1%), 3%
feminino (1) e 12,1% masculino (4). O último grupo etário de idade superior ou igual a 82
anos, representa 12,1%, constituindo-se com 2 homens (6,1%) e 2 mulheres (6,1%) (Tabela 1,
Figura 3)
226
Figura 3 - Distribuição etária da amostra
8
nº de indivíduos
7
6
5
4
3
2
1
0
H
M
H
65-70
M
H
71-76
M
H
77-81
M
>82
Grupos etários
O estado civil apresenta, na amostra, três situações: solteiro,
solteiro, casado e viúvo. A situação
de solteiro surge com 9,1%, a segunda – casado com 72,7% e o estado de viúvo com 18,2%
(Tabela 1)
Quanto às habilitações literárias encontradas observamos na Figura 4, uma maior
frequência de analfabetismo (33,3%) até à situação
situação de 4 anos de escolaridade (27,3% sabe ler
e escrever e 24,2% possui o ensino básico). Nenhum elemento da amostra possuía formação
de nível superior.
0%
Figura 4: Habilitações literárias
3%
9%
3%
Não sabe ler/escrever
33,3%
24,2%
Sabe ler/escrever
Ensino básico
27,3%
Ensino preparatório
227
Entre os inquiridos não existe nenhum que possua uma atividade remunerada. Todos
são pensionistas (quer por velhice quer por invalidez) (Tabela 1).
Avaliação Funcional do Idoso
Saúde Física
Os inquiridos são questionados sobre doenças que os afetem no momento e a forma
como as patologias interferem nas suas atividades.
No processo regular de envelhecimento está incluída a diminuição da capacidade visual
devido a alterações fisiológicas, deficit do campo visual e problemas na retina. Cerca de
66,7% (22) dos idosos referiram problemas na qualidade da sua visão, referindo que esta se
encontrava entre “má e regular”.
A existência das patologias é outro dos aspetos avaliados na área da saúde física. A
hipertensão arterial é a patologia mais referida, correspondendo a 66,7% do total. A diabetes é
referida em 27,3% dos casos, seguidamente a dor e artrite com 21,2%.
Segundo Rodrigues (2007), estas são as patologias mais referidas nas doenças crónicas
prevalentes no Programa Nacional para as Pessoas Idosas. Os valores apresentados vão ao
encontro de que as causas mais comuns de morbilidade são hipertensão arterial, insuficiência
cardíaca e a diabetes.
Relacionando a patologia e a toma de medicamentos, verifica-se que 69,7% dos idosos
não toma outros medicamentos para além dos direcionados às suas doenças.
Recursos Económicos
O estudo desta área funcional centra-se na situação laboral e avaliação dos recursos
económicos.
•
Situação Laboral
Entre os inquiridos não existe nenhum que possua uma atividade remunerada, restringindo-se
a situação laboral encontrada a uma única possibilidade - reformado por invalidez (100%).
228
•
Avaliação de recursos económicos
O valor médio das reformas é de 300€ sendo este valor atribuído ao casal, logo o valor
de rendimento poer capita é de 150€.
Relativamente á avaliação dos recursos económicos, esta centra-se na forma como os
rendimentos cobrem as necessidades dos idosos. A grande maioria dos inquiridos, cerca de
80%, refere que os seus rendimentos são apenas suficientes para os seus gastos cobrindo,
apenas, as suas necessidades. Um fato preocupante surge no questionário quando cerca de
63,6% refere a necessidade de ajuda económica.
Atividades de Vida Diária (AVD)
A incapacidade no desempenho destas atividades tem sido identificada como fator de
risco para quedas e institucionalização. Estas atividades dizem respeito às capacidades do
idoso nas funções básicas quotidianas como tomar banho, vestir-se, caminhar, entre outras
(Sirena, 2002).
Neste grupo, avalia-se a capacidade dos idosos realizarem atividades de vida diária
(AVD) sem qualquer tipo de ajuda, com alguma ajuda e com incapacidade total.
Tabela 2: Atividades da Vida Diária (AVD)
Atividade
Sem Ajuda (%)
Com ajuda (%)
NS /NR (%)
Uso do telefone
72,7
24,3
3
Pode ir a locais a pé
51,5
48,5
-
Fazer compras
81,8
18,2
-
Preparação de refeições
69,7
27,3
3
Tarefas de casa
78,8
18,2
3
Toma de medicamentos
93,9
6,1
-
Gerir dinheiro
66,7
30,3
3
Aparência
90,9
6,1
3
Incontinência
81,8
18,2
-
Os resultados demonstram que mais de 65% dos inquiridos prescindem de qualquer tipo
de ajuda. No entanto, os valores de AVD com ajuda também referem percentagens elevadas, o
que demonstra a evidencia de dependência por parte dos idosos. Esta dependência atinge um
229
valor muito elevado (48,5%) na deslocação a locais sozinhos refletindo, também, a reduzida
mobilidade dos idosos.
Nas questões sobre a capacidade de preparação de refeições e gestão do dinheiro os
resultados também realçam a dependência, uma vez que assumem valores de 27,3% e 30,3%,
respetivamente.
Reflexões Finais
O panorama para Portugal, bem como para todos os países mundiais, prevê o grupo dos
muito idosos (com 80 anos ou mais) como o grupo etário de maior crescimento (OMS, 2001).
As vertentes económicas, sociais e de saúde do fenómeno do envelhecimento populacional
estão unidas com o processo de desenvolvimento que ocorre no mundo. A definição do estado
de saúde pode ser quantificado através da dimensão da doença como também pela dimensão
do estado funcional do indivíduo.
Uma avaliação multidimensional baseia-se no empenho constante de organização do
número de informações recolhidas do processo de investigação com vista a verificar os
problemas complexos e interativos do paciente idoso. O OARS é um instrumento completo de
avaliação multidimensional de idosos, incorporando vários elementos: capacidade funcional,
analise aos serviços de saúde e o impacto de serviços alternativos no estado funcional dos
idosos. As dimensões tratadas no presente estudo foram a saúde física, recursos monetários e
Atividades de Vida Diária.
No que diz respeito à área física, as patologias mais referidas são doenças crónicas,
sendo por isso as que influenciam a capacidade das pessoas idosas viverem o seu dia-a-dia
sem limitações.
A capacidade funcional para as AVD está relacionada com o risco de dependência. Os
resultados alcançados indicam a ausência de necessidade de ajuda por parte dos idosos. Esta
baixa limitação dos idosos inquiridos é compatível com valores esperados para idosos não
institucionalizados. No entanto, a necessidade apontada na deslocação a pé evidencia
dependência por cerca de 50% dos idosos.
Em relação aos recursos económicos constata-se que 39,4% dos idosos aufere um
montante inferior ao mediano. A maior preocupação dos inquiridos é relativa ao fato dos
recursos económicos não aguentarem os custos relativos às suas necessidades mais urgentes,
230
evidenciando a necessidade de ajuda económica. Os meios financeiros são determinantes
importantes na auto-perceção de saúde e de comportamentos de saúde.
BIBLIOGRAFIA
Censos (2011). Resultados Provisórios. Lisboa: INE.
Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012). Dinâmicas demográficas e envelhecimento
da população portuguesa: evolução e perspectivas. Instituto do Envelhecimento da
Universidade de Lisboa. Lisboa: Universidade de Lisboa.
INE – Instituto Nacional de Estatística (vários anos).Lisboa: INE.
Martin, I; Gonçalves, D.; Paúl, C.; Pinto, F. (2006). Políticas Sociais para a Terceira Idade
em Portugal. In R. Osório (Ed.) Pessoas Idosas: Contexto social e intervenção
educativa. Lisboa: Edições Piaget.
Oliveira, L. M. (2007). Contextos de serviço de apoio domiciliário. Tese de Mestrado.
Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal.
OMS, Organização Mundial da Saúde (2001). Relatório Mundial da Saúde. Genebra,
Organização Mundial da Saúde.
Pestana, M. H; Gageiro, J.N (2003). Análise de Dados para Ciências Sociais. A
complementaridade do SPSS. 3ª edição. Lisboa: Edições Sílabo.
Pimentel, L. (2002). A Protecção Social às Pessoas Idosas: Da Proclamação à Efectivação
dos Direitos. Coimbra.
Rodrigues, R. (2007). Avaliação comunitária de uma população de idosos: da
funcionalidade à utilização de serviços. Tese de Doutoramento. Universidade do Porto,
Porto, Portugal.
Rosa, T.; Benício, M.; Latorre, M.; Ramos, L. (2003). Fatores determinantes da capacidade
funcional entre idosos. Revista Saúde Pública, 37 (1): 40-8.
Santos, S.; Cavalheiro, B.; Silva, B.; Barlem, E.; Feliciani, A.; Valcarenghi, R. (2010).
Avaliação Multidimensional do idoso por enfermeiros brasileiros: uma revisão
integrativa. Ciência, Cuidado e Saúde Jan/Mar; 9(1): 129-136.
Sirena, S. A (2002). Avaliação Multidimensional do idoso: uma abordagem em atenção
primária à saúde. Pós-graduação. Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto
Alegre. Brasil.
231
20. AUTO-ATUALIZAÇÃO E ACEITAÇÃO DA DOENÇA CRÓNICA
20. AUTO-ACTUALIZATION AND ACCEPTANCE OF CHONIC DISEASE
Maria Gorete de Jesus Baptista
Professora-adjunta na Escola Superior de Saúde-IPB
[email protected]
232
Resumo
O interesse teórico e prático deste estudo, situa-se na perspetiva de encontrarmos
alguns subsídios que nos permitam compreender a importância da auto-actualização na
aceitação da doença crónica. Foi desenvolvido um estudo exploratório descritivo, numa
amostra de quarenta doentes crónicos (IRC em tratamento de hemodiálise).
Não se verificaram correlações estatisticamente significativas (p > 0,05) entre as variáveis
sócio-demográficas e clínicas e a auto-actualização e aceitação da doença. A correlação entre as
variáveis auto-actualização e aceitação da doença revelou-se estatisticamente significativa, sendo
positiva e moderada (r = -.724) ou seja, um aumento nos scores de auto-actualização provoca um
aumento nos scores da aceitação da doença e vice-versa.
Em termos gerais, os resultados deste estudo remetem-nos para a importância da compreensão
de factores emocionais que afectam o doente crónico e de como conseguem, ou não, lidar com as
dificuldades que vão surgindo. Ao vivenciar a sua doença e tratamentos, o indivíduo depara-se com
problemas existenciais e necessita de encontrar soluções para minorar o sofrimento, redefinindo
objectivos e encontrando um novo sentido para a sua vida, ou seja, aceitando a sua nova condição de
homem da doença.
Palavras-chave: Auto-atualização; Aceitação; Doença crónica.
Abstract
The theoretical and practical interest of this study lies in the prospect of finding some
subsidies that allow us to understand the importance of self-actualization in acceptance of
chronic illness. We developed a descriptive exploratory study, a sample of forty chronically
ill (CKD on hemodialysis).
There were no statistically significant correlations (p> 0.05) between the sociodemographic and clinical and self-actualization and acceptance of the disease. The correlation
between the self-actualization and acceptance of the disease was statistically significant,
positive and moderate (r = - .724), an increase in scores of self-updating causes an increase in
disease scores of acceptance and vice versa.
Overall, the results of this study lead us to the importance of understanding the
emotional factors that affect the chronically ill and how can, or not, to deal with the
difficulties that arise. In experiencing their disease and treatments, the individual is faced with
existential problems and need to find solutions to alleviate suffering, redefining goals and
finding a new direction for your life, or accepting their new status as man's disease.
Keywords: Auto-actualization; Acceptance; Chronic disease.
233
Introdução
As doenças crónicas representam um dos maiores problemas de saúde no mundo
industrializado e constituem as primeiras causas de incapacidade e morte prematura.
A
Insuficiência Renal Crónica é uma dessas doenças, com grande impacto no indivíduo. É
caracterizada, principalmente, por uma perda considerável da função homeostática do
organismo. Os rins perdem a sua capacidade funcional de forma irreversível, não eliminando
os produtos tóxicos por eles normalmente excretados, acumulando-se no sangue. Tornam-se
então incapazes de manter o meio interno com uma composição compatível com a vida. E
como a evolução técnica e científica, nomeadamente na área da química, física e biologia,
veio incrementar o desenvolvimento da medicina, o seu tratamento representa um grande
sucesso no desenvolvimento da Medicina nas últimas décadas.
Segundo Malpique (1995), a doença crónica vai deixando de ser uma fatalidade, para
ser um outro estilo de vida, uma forma de aprender a viver com um corpo doente e, felizmente
numa sociedade que também cada vez mais se prepara para integrar essas pessoas.
Sem dúvida planteiam-se reflexões de extenso significado, traduzindo a necessidade de
uma análise psicossocial e de comportamentos dos pacientes que sofrem com a situação de
cronicidade de doença e dos seus tratamentos.
Nos momentos de crise ao longo do ciclo vital do indivíduo, nomeadamente a doença e
o sofrimento que ela acarreta, poderão ser uma oportunidade e uma motivação do sistema de
valores próprio, mobilizando as capacidades pessoais e a rede social de apoio disponíveis para
procurar novas formas de estar na vida e em interacção com os outros. O Homem busca
continuamente a sua realização e o desenvolvimento das suas potencialidades, pela tendência
à auto-actualização (Guerra, 1994).
A presente investigação realiza-se assim dentro deste novo paradigma para a saúde na
doença, procurando avaliar em que medida a auto-actualização e as experiências de
sofrimento na doença se encaminham na compreensão do fenómeno "aceitação da doença",
numa perspetiva de reconhecimento e compreensão das limitações pelo IRC em tratamento de
hemodiálise. Mais concretamente, em que medida os respondentes aceitam a sua doença, sem
experienciarem sentimentos ou respostas negativas.
234
Material e Métodos
Foi feito um estudo exploratório, descritivo em doentes em tratamento de hemodiálise
na Unidade de Hemodiálise do Centro Hospitalar de Bragança e no Centro de Hemodiálise de
Mirandela.
Para a determinação dos participantes no estudo, tivemos em consideração alguns
critérios de inclusão, determinados de acordo com os objetivos do estudo e as características
dos instrumentos de colheita de dados (Idade adulta, entre 24 e 65 anos; Tempo em
hemodiálise superior a 6 meses; Saber ler e escrever em português; Sem patologia mental).
Atendendo às limitações determinadas pelos critérios de inclusão e devido a incorreções no
preenchimento dos questionários, deparamo-nos com uma amostra populacional de 40
sujeitos para participarem no nosso estudo, numa população-alvo de 162 utentes.
A média de idades da população em estudo é de 43,58 anos, tendo o indivíduo mais
novo 26 anos e o mais velho 65 anos. A maior percentagem dos indivíduos encontra-se
incluída na classe etária dos 36-41 anos (27,5 %), seguida da classe etária dos 42-47 anos
(22,5 %), podendo dizer que é uma amostra populacional de adultos maduros. No que
concerne ao estado civil, 75% dos indivíduos são casados, 22,5% são solteiros e apenas um
(2,5%) é divorciado, não existindo viúvos na nossa amostra.
De todos os indivíduos da amostra, apenas 5% vivem sozinhos (um solteiro e o
divorciado), e a maioria (95%) vive acompanhado por familiares, que são os cônjuges, os
pais, os irmãos e os filhos. A maior percentagem dos indivíduos da amostra tem como
o
o
habilitações literárias o 3 ciclo (35%), seguida do 1 ciclo (30%). Com o ensino secundário (
até o 12° ano), temos apenas quatro indivíduos (10%), dois dos quais se encontram a
frequentar o ensino superior politécnico.
Relativamente à formação profissional, verificamos que a amostra se distribui em
maior percentagem pelo sector terciário com 48,0 % (científico, administrativos, comércio e
outras profissões similares) e apenas 3,0 % se encontra no sector primário (agricultor);
relativamente às domésticas constatamos que são a grande maioria, com 49,0%. A maioria
dos indivíduos da amostra mantém um padrão de atividade normal, ocupando-se a tempo
inteiro (57,5 %). Alguns (17,5 %) mantêm uma ocupação em tempo parcial e 25% não têm
nenhuma ocupação. A maior percentagem realiza sessões de hemodiálise há menos de dois
anos (40%), seguida dos indivíduos em tratamento entre três e cinco anos (35%). Há mais de
6 anos em tratamento, encontram-se 25%. Podemos predizer que, potencialmente, os sujeitos
235
da amostra em estudo já se encontram adaptados às limitações causadas pelo tratamento de
hemodiálise.
Face ao objetivo proposto no presente estudo e dada a natureza íntima dos fenómenos
que se pretendiam estudar, utilizámos instrumentos que permitissem uma recolha de dados,
que constituem a matéria-prima de qualquer análise estatística. Foram obtidos dados
primários através de questionários de auto-relato. Os instrumentos selecionados, estruturados
sob a forma de questionários, são específicos para medir a intensidade dos fenómenos que
pretendemos avaliar:
- AIS- "Acceptance of Illness Scale" – A escala de aceitação da doença, de Felton's
(1984). Trata-se de um questionário que enfoca directamente qual a dimensão da aceitação da
doença, ou até que ponto os respondentes podem aceitar a sua doença sem experimentar
sentimentos ou respostas negativas (Keogh & Feehally, 1999). Esta escala foi construída e
usada numa investigação, nos USA, em adultos com doença crónica e avaliava o sucesso dos
doentes em sentirem aceitação e valor, apesar da incapacidade, dependência e sentimentos de
inutilidade que a doença ocasiona.
- "Escala de Auto-Atualização", de Guerra (1998) - A escala de auto-actualização foi
construída pela autora para avaliar o indivíduo quanto ao desenvolvimento das suas
potencialidades. Abrange quatro dimensões essenciais na sua caracterização: Sentido de vida,
orientação interior, vida criativa e dimensão existencial. As questões foram elaboradas tendo
subjacentes os conceitos teóricos que as representam, apresentando um português claro e
acessível a vários níveis de escolaridade, mas visando somente uma faixa etária de maiores de
18 anos.
Esta última escala já tinha sido testada e usada com fiabilidade na população portuguesa
e a AIS nunca tinha sido utilizado em nenhuma investigação feita em Portugal, sendo
validada no presente estudo.
Após a recolha dos dados, estes foram lançados e processados no programa de
estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences).
Resultados
Verificação da consistência interna das escalas utilizadas
Os resultados para a fiabilidade dos dados obtidos com cada escala, nesta amostra, utilizando
o alfa de Cronbach (Reliability Analysis), foram os seguintes:
• 0,795 para a AIS
236
• 0,893 para a escala de auto-actualização
Todos os valores de alfa obtidos estão acima do valor considerado aceitável (0,7),
podendo admitir-se que estas escalas medem de forma consistente os conceitos para os quais
foram elaboradas.
Caracterização descritiva das escalas
O Quadro 1, apresenta as estatísticas descritivas obtidas na amostra para cada escala.
Os valores máximo e mínimo de cada escala estão dentro do intervalo esperado para cada
escala.
Os valores da razão assimetria/erro padrão assimetria devem estar dentro do intervalo -2
a 2 para que a distribuição se aproxime de uma distribuição normal. O mesmo é válido para a
curtose (grau de achatamento) da distribuição.
Analisando os valores, a curtose de cada distribuição será idêntica à da distribuição normal
correspondente. Por outro lado, a distribuição para a auto-atualização tem assimetria acentuada à
direita (1,090/0,374 = 2,91), afastando-se por isso de uma distribuição normal. Para a escala de
aceitação a assimetria não é acentuada.
Quadro 1 - Estatísticas descritivas para cada escala
AIS
Auto-Actualização
Intervalo de variação esperado:
8 a 40
33 a 165
Intervalo de variação observado:
14 a 39
98 a 161
Média ± 1 Desvio Padrão
25,73 ± 6,23
178,70 ± 15,33
Assimetria
0,361
1,090
Erro padrão da assimetria
0,374
0,374
Curtose
-0,559
0,908
Erro padrão da Curtose
0,733
0,733
Modelo de regressão
Considerando a aceitação da doença a variável dependente e a variável autoatualização como variável explicativa, calculou-se o Coeficiente de Determinação (R2), ou
seja, a percentagem de variação da variável dependente que é explicada pela variação da
variável independente.
237
Tabela 1 - Coeficiente de Determinação (R2) entre a variável Aceitação da doença
e a variável Auto-Atualização
Model
R
1
R quadrado
ajustado
R quadrado
,992
,985
Erro padrão
,984
3,38
O resultado obtido indica que 98,5% da aceitação da doença avaliada pela escala de
Felton é explicada pela auto-atualização (Tabela 1). A análise de variância, como podemos
ver na Tabela 2, indica relação estatisticamente significativa entre as variáveis, tendo sido
obtido um valor-P < 0,01.
Tabela 2 - Análise de variância (ANOVA) entre a variável Aceitação da doença
e a variável Auto-Actualização
ANOVA
Soma de
quadrados
Modelo
1
Regression
Residual
Total
Graus
liberdade
Estimadores
de variância
27551,264
2
13775,632
433,736
38
11,414
27985,000
40
F
1206,896
Valor de
prova
,000
Discussão/Conclusões
A influência da auto-atualização na aceitação da doença
Reportando-nos aos resultados estatísticos obtidos entre estas variáveis, encontramos
uma correlação positiva, moderada a forte, estatisticamente significativa entre a autoatualização e a aceitação da doença (R= 0,753), ou seja, um aumento nos níveis de autoatualização permite um aumento significativo da aceitação da doença.
Ao longo da realização deste estudo, verificamos que estes conceitos estão
intrinsecamente ligados, tanto ao nível da conceptualização teórica que lhe deu corpo, como
ao nível dos seus achados. Verificou-se que o aumento no score da auto-actualização implica
um aumento no score da aceitação e, desta forma, não poderemos separar tais conceitos, pelo
238
que tentaremos perspetivar uma forma de relacionar tais fenómenos, sem desmembrar o
sentido da sua conceptualização fenomenológica.
Ao estudarmos a aceitação da doença no adulto com IRC em hemodiálise, os resultados
globais confirmam que os pacientes que se mantém auto-atualizados e que não vivenciam
com grande intensidade ou de forma negativista as experiências decorrentes do seu estado,
aceitam melhor a sua doença. Podemos inferir que, reagindo positivamente à sua situação de
doença e seu tratamento, os indivíduos conseguem enfrentar, no seu dia-a-dia, as limitações a
que estão sujeitos, sem no entanto se desvalorizar.
Atendendo ao conceito de auto-atualização defendido por Guerra (1994), que traduz as
movimentações do homem na busca da sua realização e desenvolvimento das suas
potencialidades, pensamos que realmente, uma situação de rompimento brusco com a vida
normal, como acontece com o aparecimento de uma IRC sentida como uma crise, implica que
o indivíduo tenha de confrontar-se com a sua nova realidade, adotando estratégias de luta que
lhe permitam o desenvolvimento do seu continuum de vida e, dessa forma, sentir-se como
pessoa que realiza e busca a sua realização.
Os resultados do nosso estudo vão de encontro à perspetiva de Dembo e col. (1956), ao
dizerem-nos que uma pessoa para aceitar ou superar uma incapacidade, não significa ter de se
reconciliar com uma situação infeliz, devendo antes, existir um processo de "reconversão de
valor". Este envolve a aceitação da perda como pré-requisito para o passo seguinte da
aceitação da diferença como algo de não desvalorização. Este conceito é visto pelos autores
como um processo onde as limitações e os sentimentos associados, como o sofrimento, se
tornam menos negativos, diminuindo de intensidade.
Sem dúvida que uma doença crónica é um obstáculo ou limitação nos interesses e na
satisfação das necessidades de qualquer indivíduo. Constitui uma fonte de sofrimento, de
insatisfações e problemas de adaptação a uma situação nova e irreversível. Face a uma perda
grave, como é a perda de um órgão vital, a pessoa inicia um percurso de sofrimento que inclui
a experiência de emoções e sentimentos de mal-estar e tristeza, mas que normalmente evolui
para uma consciencialização da perda como um facto irreversível e, de forma gradual, para a
sua aceitação (Gameiro, 1999). Assim sendo, a resolução saudável deste processo de
sofrimento, nunca é o seu esquecimento, mas a capacidade de redefinir os objetivos da vida e
voltar a sentir prazer de viver (Parkinson, 1986; Serrão, 1995).
De facto, o indivíduo diagnosticado com IRC, deve experienciar grande sofrimento,
necessitando de uma reorganização psicológica. Passa por um processo de readaptação
faseada que, segundo Parkinson pode evoluir para um estádio elevado de desenvolvimento.
239
Claro que esse processo varia de acordo com as características do indivíduo, no entanto,
parece existir uma ligação comum de etapas que a maior parte dos doentes crónicos
atravessam durante algum tempo. As perspetivas de vários autores parecem coincidir na
forma como caracterizam esse processo de adaptação à doença crónica. Primeiramente surge
um período de desorganização caracterizado por uma grande ansiedade e esforços para negar
ou minimizar o impacto, sendo quase ineficazes para enfrentar o stress; seguidamente
acontece um período de reintegração em que há uma considerável utilização de defesas com
vista á passagem para a última fase, em que os indivíduos mostram a reação adequada à
confrontação com a realidade, ou seja, a adaptação à sua nova situação (Carlson, 1984;
Nolasco, 1982; Levine, 1985).
Este último período perspetiva a aceitação da doença, em que há um reconhecimento e
entendimento das limitações e perdas impostas pela doença (Felton et al, 1984), lidando com
mudanças sem perda de metas a longo prazo (Beckman Murray e Proctor Zenter, 1989).
Estas teorias vão de encontro à perspetiva de Blank (1961) que descreveu as reações
normais de uma personalidade sã perante a incapacidade, dizendo-nos que após o choque
imediato surge a recuperação. Há uma direção de energia psíquica para a resolução dos
problemas reais da vida (reeducação em comunicação, mobilidade e trabalho) e aceitação das
limitações como um handicap. Pesquisas feitas por Devins e col.(1997), mostraram que os
indivíduos com IRC que se identificaram com o auto-conceito de um doente renal crónico,
são mais fracos, tem mais fadiga e queixam-se mais do que indivíduos cujo auto-conceito é
menos influenciado pelo seu papel de doente. As pessoas que aceitam a sua perda sofrerão
menos nas suas relações interpessoais não se desvalorizando e vendo-se como membros
dignos e iguais de um grupo. Reportando-nos às características que o indivíduo com algum
tipo de incapacidade deverá ter para aceitar a sua perda, apontadas por Dembo (1956) e
Wright (1960): alargamento do espectro de valores, subordinação do psíquico, contenção dos
efeitos da incapacidade e transformação de valores comparativos em valores próprios e,
transportando-as às características que os indivíduos auto-actualizados deverão ter,
representadas pelas dimensões da auto-actualização, conceptualizadas por Guerra (1998):
sentido de vida, orientação interior, vida criativa e dimensão existencial, pensamos que são
adequadas para explicar as relações significativas que encontramos no presente estudo.
O indivíduo afetado por uma IRC, sofre a perda de função de um órgão vital, de forma
irreversível, só sobreponível à morte pela utilização de um tratamento crónico, por sua vez
também agressivo, o que significa uma forma de incapacidade para toda a vida que se traduz
em mudanças brutais nos seus hábitos que provocam grande sofrimento, às quais terá de se
240
adaptar para conseguir "continuar a viver...". Esta possibilidade passa, segundo Dembo e
Wright, pelo "alargamento do espectro de valores", em que o indivíduo deverá ter capacidade
para ver outros valores que não aqueles diretamente relacionados com o conflito resultante da
perda. Guerra, comunga da mesma opinião, quando se refere à importância da "dimensão
existencial" da auto-actualização, definindo o homem como "ser, capaz de interagir
harmoniosamente com a humanidade e o Universo, respeitando os valores dos outros, mas
mantendo a liberdade de ser como é..." (p.108), permitindo aceitar a ansiedade da morte como
um processo natural, entendendo a vida humana como finita. Segundo Frankl (1999), a mais
humana entre as necessidades humanas, é a de encontrar e dar um sentido à vida, chamandolhe de "desejo de significado", na teoria motivacional. Cada situação da vida quotidiana com
que o indivíduo se depara, confronta-o com exigências, com questões a que deve dar resposta,
apelando à sua responsabilidade e autonomia.
Para Agra (1990) a doença em si não transforma o homem em doente. A doença reside
no indivíduo que não tem criatividade e que não adota mecanismos de adaptação perante
alterações de regras preexistentes para ele, sejam de natureza biológica, psicológica ou social.
Então, a saúde reside no equilíbrio que o indivíduo manifesta nas suas interações com o meio,
avaliando as suas possibilidades e necessidades, os impulsos e as forças vitais e as realizações
dos seus atos. Para Guerra (1998), a "vida criativa" é fundamental na resolução de uma crise.
"Ser capaz de apresentar várias leituras para uma mesma situação, ou utilizar os mesmos
recursos para os combinar de maneira diferente…” (p:108). É importante que a pessoa não
alargue a sua incapacidade além da real incapacidade física em relação aos outros aspetos do
próprio funcionamento.
Assim, deve ser encorajado pelos profissionais que o assistem, pela família e amigos, a
levar uma vida tão normal quanto for capaz, aceitando a diminuição da função. Nos espaços
compreendidos entre os tratamentos, pode disfrutar de uma vida familiar e socioprofissional,
utilizando os seus recursos, só que, como diz Guerra (1998) quando se refere à vida criativa,
combinando-os de forma diferente. A autora também reviu que situações ameaçadoras podem
tornar o indivíduo capaz de improvisar novas alternativas para a resolução dos seus
problemas, e que muitas vezes têm repercussão na tendência altruísta de contribuir para a
humanidade com a sua criatividade para benefício de pessoas em situações semelhantes.
Podemo-nos reportar à existência de várias Ligas ou Associações, que mobilizam os seus
recursos em prol da ajuda aos doentes por elas representados, como o caso da APIR
(Associação Portuguesa dos Insuficientes Renais).
241
Assim sendo, a resolução saudável dos processos de sofrimento, nunca é o seu
esquecimento, mas a capacidade de redefinir os objetivos de vida e voltar a sentir prazer de
viver (Parkinson, 1986; Serrão, 1995; Gameiro, 1999). O sentido de vida não reflete só uma
satisfação pessoal para atingir determinados objetivos, mas pode refletir também uma
dimensão altruísta, como foi proposta por Frankl (1999), ao apontar três caminhos que levam
ao encontro de um sentido para a vida: primeiro, cumprindo um dever ou criando algo, que
será a perspetiva da criatividade necessária à auto-actualização, apresentada por Guerra
(1998); o segundo caminho pode ser, experimentando algo ou encontrando alguém, ou seja,
pode-se encontrar um sentido não só no trabalho, mas também no amor, dos outros e pelos
outros, traduzindo-se na dimensão do sentido de vida da pessoa auto-atualizada (ibidem); mas
o terceiro caminho, é considerado por Frankl, o mais importante. Aponta para uma
transcendência do ser humano, ao dizer que "...quando enfrentamos um destino que não
podemos mudar, somos chamados a dar o melhor de nós mesmos, elevando-nos acima de nós
mesmos e crescendo mais além de nós mesmos; em uma palavra, através da transformação de
nós mesmos" (p.189).
Esta perspetiva vai de encontro às dimensões - orientação interior e existencial - que
devem existir, segundo Guerra (1998), para que a auto-actualização seja possível. Na mesma
linha de pensamento, McIntyre (1995 b) teoriza que o sofrimento pode ser um estímulo e uma
oportunidade de reconstrução criativa, resultando no crescimento humano (criatividade),
apontando ainda outros aspetos positivos que se podem considerar no sofrimento humano: a
motivação para a busca de significados (sentido de vida), a motivação para os outros e a
abertura à dimensão espiritual ou transcendente (dimensão existencial). Estes aspetos podem
ser considerados fatores particulares de reconstrução e crescimento pessoal, uma vez que a
busca de significados permite rever o valor da vida e da coerência do projeto pessoal, a
motivação para os outros disponibiliza os recursos dos sentimentos de solidariedade e de
amor permitindo aceitar e pedir ajuda e a abertura a uma dimensão espiritual ou
transcendente, baseada na fé, permite relativizar a dimensão temporal da vida e transcender a
sua vivência terrestre como uma participação passageira, em que o sofrimento assume um
sentido espiritual.
O ser humano deve buscar constantemente a sua realização e desenvolvimento das suas
potencialidades. A doença e o sofrimento que acarreta, poderão ser uma oportunidade e uma
motivação para a reorganização do sistema de valores próprio, mobilizando as capacidades
pessoais e o suporte social disponível para procurar novas formas de estar na vida em relação
com os outros.
242
Béfécadu (1993), defende que mais do que a gravidade objetiva de uma doença, de uma
perda ou de um acontecimento promotor de sofrimento, importa aferir qual a significação que
a pessoa atribui à experiência. Pensamos ser útil para os profissionais que contactam com os
doentes em hemodiálise, analisar estas perspetivas apresentadas. Como referem Felton e col
(1984), a consistência da relação entre bem-estar físico e emocional, reforça a ideia de que
indivíduos, agindo com as suas solitárias capacidades, podem fazer relativamente pouco para
alterar a angústia que a doença crónica tantas vezes ocasiona, sugerindo uma adaptação
psicológica pobre. Os significados pessoais e as expressões do sofrimento são únicas, e é
nessa perspetiva que deve ser entendido. Poderemos citar Barry & Malinovski (1965) que nos
estudos que fizeram sobre a motivação para a reabilitação, notaram que a motivação do
indivíduo para participar no processo de reabilitação e aceitação da doença, é fortemente
influenciado pela interação "face-to-face" entre o doente e a equipa terapêutica. Concluem
que o grau de aceitação, afeto e o reconhecimento mostrado por outros significativos,
influenciam a re-motivação na reabilitação do doente.
Tincher (1961), diz que é necessário que o indivíduo, de alguma forma incapacitado,
aceite a sua incapacidade, se ele quiser ser realista na sua necessidade de auto-realização"
(p.24).
O ser humano, por natureza, tende e busca a realização. A ajuda de profissionais
competentes é, sem dúvida necessária a estes doentes, pois sem apoio poderão ficar
bloqueados pela negação da situação, fixar-se em recompensas alternativas ou deixar-se
dominar pelos aspetos emocionais e persistir em comportamentos desajustados de descarga
emocional ou de "aceitação resignada" (Ribeiro, 1995). Nestes casos, de acordo com
Stedeford (1986) e Ribeiro (1995), observam-se com frequência quadros patológicos do foro
psiquiátrico, necessitando da respetiva ajuda psicoterapêutica e medicamentosa.
Portanto, não poderemos encarar as pessoas com limitações, apenas no ponto de vista da sua
incapacidade, ou seja, a abordagem multidisciplinar deve ser possível. As necessidades do
indivíduo com IRC, vão para além das estritamente médicas. Os seus problemas exigem o uso
de fontes múltiplas de auxílio, que só após uma avaliação estrita das necessidades,
sentimentos, motivações e comportamentos, poderão ser objeto de uma intervenção cuidada e
dirigida à sua pessoa, no sentido da sua autonomia e capacidade de confronto para aceitar a
sua situação, podendo dessa forma redefinir e prosseguir os seus objetivos de vida.
243
Referências Bibliográficas
- Agra, C. (1990). Sujet Autopoiétique et Transgression. In: Acteur Social et Délinquence. Bruxelles,
Mardaga.
- Barry, J. R., & Malinowsky, M. R. (1965). Client motivation for rehabilitation: a review. University
of Florida, Rehabilit. Res. Monogr., Nº 1.
- Beckman, M. R., & Proctor, Z. J. (1989). Nursing concepts for heath promotion. Hertfordshire:
Prentice Hall.
- Béfékadu, E. (1993). La souffrance: Clarification Conceptuelle. Revue Canadiene de Recherche en
Sciences Infirmières, vol. 25, nº 1, 7-21.
- Carlson, C. E. (1984). La perte. In : Les Comportements humains : concepts et applications aux soins
infirmiers, Paris, Le Centurion, 127-151.
- Dembo, T. ; Leviton, G. L. & Wright, B. A. (1956). Adjustment to misfortune - a problem of socialpsychological rehabilitation. Artificial Limbs, 3, 4-62.
- Devins GM, Mann J, Mandin H, Paul LC, Hons RB, Burgess ED, et al (1990). Psychosocial
predictors of survival in end-stage renal disease. J Nerv Ment Dis, 178(2), 127-33.
- Felton, B. J., Revenson, T. A. & Hinrichsen, G. A. (1984). Stress and coping in the explanation of
psychological adjustment among chronically ill adults. Social Science and Medicine, 18, 889898.
- Frankl, V. E. (1978),Psychotherapy and existencialism selected papers on Logotherapy, Middlesex,
England, Penguin Books Harmondsworth.
- Frankl, V. E. (1999). El Hombre en busca del sentido último: El análisis existencial y la conciencia
espiritual del ser humano. Barcelona, Paidós.
- Gameiro, M. H. (1999). O sofrimento na doença. Coimbra: Quarteto Editora.Grand (1961
- Guerra, M. P. (1992). Conceito de auto-actualização, elaboração de uma escala e avaliação das suas
qualidades psicométricas. Psychologica, 7, 95-102.
- Guerra, M. P. (1994). Avaliação da adaptação do ser humano à Seropositividade ao Vírus HIV.
Análise Psicológica, vol.12, n.º 2-3, 381-388.
- Guerra, M. P. (1998). Sida: Implicações Psicológicas. Lisboa: Fim de século.
- Hegelson, V. (1999). Applicability of cognitive adaptation theory to predicting adjustment to heart
disease after coronary angioplasty. Health Psychology, 6, 561-569.
- Levine, D. Z. (1985). Nefrologia: Cuidados do paciente com doenças renais. São Paulo, Livraria
Roca.
- McIntyre, T. M. (1995 b). Aspectos Positivos do Sofrimento. In McIntyre, T. M.; Vila-Chã, C. O
Sofrimento do Doente: Leituras Multidisciplinares. Braga: Associação Portuguesa de
Psicólogos Clínicos (APPORT), 125-131.
- Nolasco, F. (1982). Patologia do hemodialisado, in Manual de hemodiálise para enfermeiros. Lisboa:
Clínica de doenças Renais, 157-160.
- Parkinson, H. M. (1986). Coping with Loss and other Changes. In: Sorensen, K.C.; Luckmann, J. Basic Nursing: a Psychophysiologic Approach, 2ª ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company,
125-134.
- Perry, P. A. & Potter, A.G. (1999). Fundamentos de Enfermagem: Conceitos, Processo e Prática. Rio
de Janeiro, Ed Guanabara Koogan, Vol. 1, 4ª ed., 341-448.
- Ribeiro, J. P. (1997). A promoção da saúde e da qualidade de vida em pessoas com doenças crónicas.
In: Actas - 2º Congresso Nacional de Psicologia da Saúde. Braga: Ed. José Luís pais Ribeiro,
253-282.
- Serrão, D. (1995). A Eutanásia e o Direito de não Sofrer. In Cadernos de Bioética: Sofrimento e Dor.
Coimbra, Edição CEB, (9), Abril, 29-34.
- Stedeford, A. (1991). Encarando a morte - uma abordagem ao relacionamento com o paciente
terminal. Porto Alegre: Artes Médicas
- Tincher, D. H. (1961). Self-realization for the handicapped. J. Rehab, 27, 24-25.
- Wright, B. A. (1960). Physical disability: a psychological approach. New York: Harper and Row.
244
21. AS TRAJETÓRIAS DE VIDA E AS DOENÇAS NEURO DEGENERATIVAS:
DOENÇA DE ALZHEIMER E DOENÇA DE PARKINSON
Daniela Monteiro1; Liliana Rocha1; Maria Seabra 1; Tânia Meireles1; Josiana Vaz1,2,3,4; Maria Helena
Pimentel1
1- ESSA-IPB - Escola Superior de Saúde de Bragança, Instituto Politécnico de
Bragança
2- CIMO - Instituto Politécnico de Bragança
3- IPATIMUP- Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do
Porto
4- CEQUIMED- Centro de Química Medicinal da Universidade do Porto
Josiana Vaz – Professora Eq. Assistente da ESSa; [email protected]
Maria Helena Pimentel – Professora Coordenadora da ESSa; [email protected]
245
Resumo
As doenças neuro degenerativas adquirem importância na sociedade, uma vez que estão
associadas à perda de capacidade funcional do indivíduo e possuem grande impacto
socioeconómico. Atualmente, as doenças de Alzheimer e de Parkinson são as formas mais
comuns da neuro degeneração. A doença de Alzheimer afeta 15 milhões de pessoas no mundo
e o número de pessoas afetadas deverá triplicar até o ano 2050, sendo 13,2 milhões para os
Estados Unidos da América e 16,2 milhões para a Europa. Além disso, estima-se que até essa
data 50% das pessoas com idade igual ou superior a 85 anos serão afetadas por esta doença. A
Doença de Parkinson é a segunda doença neuro degenerativa mais comum. Afeta 1 a 2% das
pessoas com idade superior a 65 anos.
Este trabalho de revisão da literatura tem como objetivo analisar de que forma o perfil
socioeconómico está relacionado com o aparecimento destas doenças. Visa, ainda, identificar
que escalas da caracterização do perfil socioeconómico foram utilizadas em estudos
científicos anteriores.
A metodologia utilizada consistiu na revisão da literatura científica publicada em bases
de dados PubMed/MedLine, no período de Novembro de 2011 até Maio de 2012. Nesta
revisão foram estudadas distintas populações tendo em conta o conjunto de variáveis em
análise.
Os dados recolhidos permitem concluir que o aparecimento destas doenças se relaciona
com muitas das variáveis de caraterização dos sujeitos em estudo e que fazem parte da sua
trajetória de vida. Numa sociedade cada vez mais envelhecida, com uma acentuada
diminuição da população jovem e perante a atual crise económica torna-se necessário traçar
um perfil que permita prever o risco de incidência e prevalência destas doenças. Com efeito,
se continuarmos a evoluir no mesmo sentido podemos inferir que estas doenças terão enorme
relevância nas sociedades ocidentais e no contexto da saúde, tornando-se doenças a valorizar
nas próximas décadas.
Palavras-chave: Doenças neuro degenerativas; Doença de Alzheimer; Doença de Parkinson;
Fatores sociodemográficos; Diagnóstico.
Abstract
Neurodegenerative diseases are important in society; they are associated with loss of
functional capacity of the individual and have great economic impact. These article objectives
are: analyze through a systematic review of scientific literature that forms the socio
demographic, psychosocial and environmental is related to the onset of neurodegenerative
diseases. The methodology consists in the review of the literature in the PubMed / MedLine,
from November 2011 until May 2012. In this review, different populations were studied
taking into account all the variables under analysis. The data collected allow us to conclude
that the onset of these diseases is related to many of the variables characterizing the subjects
under study and that part of his life story. In an increasingly aging society, with a marked
decrease in young population and given the current economic crisis it is necessary to draw a
profile that allows predicting the risk of incidence and prevalence of these diseases. Indeed, if
we continue to evolve in the same sense we can infer that these diseases have enormous
relevance in western societies and in the context of health, disease became a value in the
coming decades.
246
Introdução
As doenças neuro degenerativas adquirem uma enorme importância na sociedade, uma
vez que estão associadas à diminuição ou perda da capacidade funcional do indivíduo com
grande impacto socioeconómico (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004).
Contudo, é difícil determinar com exatidão a ação dos fatores socioeconómicos quando
se avalia a sua influência no aparecimento da doença (Holmes, 2002) . Para uma mais precisa
compreensão destes fatores torna-se essencial recorrer à escala de Graffar.
Atualmente, as doenças de Alzheimer e de Parkinson são as formas mais comuns da
neuro degeneração (Forman et al., 2004). Este artigo de revisão da literatura tem como
objetivo analisar de que forma o perfil socioeconómico está relacionado com o aparecimento
destas doenças. Visa, ainda, identificar que escalas da caracterização do perfil
socioeconómico foram utilizadas em estudos científicos anteriores.
O sistema nervoso central (SNC) é composto pela massa branca e cinzenta.
Microscopicamente, a massa cinzenta corresponde à região de maior densidade de corpos
neuronais, enquanto a massa branca possui alguns tipos neuronais, como as células diaforase
positiva e uma grande quantidade de axónios mielinizados, estruturas condicionantes do
aspeto esbranquiçado. Estas regiões, além de neurónios possuem grande quantidade de células
gliais, tanto da macróglia (astrócitos e oligodendrócitos), como da micróglia (macrófagos
residentes). Os oligodendrócitos são mais frequentes na massa branca, onde formam as
células de Schwann de mielina constituindo assim o sistema nervoso periférico (Lima et
al.,2006; Fruhbeis, Frohlich, & Kramer-Albers, 2012; Kettenmann, Hanisch, Noda, &
Verkhratsky, 2011; Kim et al., 2012).
Os mecanismos de apoptose em condições neuropatológicas agudas e crónicas
envolvem a ativação de recetores glutamatérgicos do tipo AMPA/ kainato e NMDA. As
alterações metabólicas levam à acumulação excessiva de glutamato no meio extracelular,
induzindo a ativação de recetores glutamatérgicos nas membranas celulares de neurónios e
células gliais, como subsequente influxo de cloreto (Cl-), iões sódio (Na+) e cálcio (Ca2+)
para o meio intracelular. O influxo excessivo de Na+ induz a tumefação intracelular e
alterações do equilíbrio osmótico (Lima et al.,2006; Costa, & Leal., 2007).
A neuro degeneração consiste na perda progressiva da estrutura ou funcionamento dos
neurónios, incluindo a destruição dos mesmos. Este processo ocorre devido a alterações na
conformação de proteínas, por oxidação proteica ou dano oxidativo de ADN. O aumento da
quantidade destas proteínas ou a diminuição da sua degradação conduz à formação de fibrilas,
247
que são consideradas marcadores de neuro degeneração. Em doenças neuro degenerativas
agudas do SNC, uma lesão primária pode propagar-se, induzindo lesão axonal e aumentar
drasticamente o défice funcional (Barbosa, & Fernandez et al., 2007).
A demência é uma doença crónica associada a uma progressiva perda de capacidade
cognitiva e intelectual, como a memória, a avaliação e o pensamento. Afeta cerca de 7% da
população com idade superior a 65 anos e 30% da população com idade superior a 80 anos.
De acordo, com o critério NINCDS-ADRDA a Doença de Alzheimer foi diagnosticada como
possível demência, representando cerca de 50% a 80% das demências (Andersen et al., 2010;
Dormont et al., 2008).
A doença de Alzheimer consiste numa doença neuro degenerativa, autossómica
dominante, que destrói, de forma lenta e progressiva, células do cérebro. Esta doença afeta a
memória e o funcionamento neurológico (p.ex: pensamento, fala…), podendo também
conduzir a alterações como: confusão, mudanças de humor e desorientação no tempo e no
espaço (Costa et al., 2007a)
Atualmente, a hipótese mais aceite que explica o aparecimento desta doença é a Cascata
Amilóide que é caracterizada por lesões nas placas senis e na NFTS (intracelular
neurofibrillary tangles). As placas senis são formadas pela β-amilóide, sendo esta uma
clivagem do produto da proteína percursora amilóide (APP), por sua vez o NFTS é uma
proteína associada aos microtúbulos (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Duff et al., 2004;
Rothenberg et al., 2010).
Existem três genes mutados associados à doença Alzheimer familiar (FAD): APP que se
encontra no cromossoma 21, PS1 (presenilina 1) que está presente no cromossoma 14 e PS2
(presenilina 2) que está presente no cromossoma 1 (Holmes, 2002; Fridman et al., 2004;
Bertram et al., 2012).
O gene APP é caracterizado pelas enzimas secretases α, β e γ. Quando as mutações
FAD alteram o processamento proteolítico normal deste gene, promovem a produção mais
prolongada da β- amilóide 42. Quando ocorrem mutações nos genes PS1 e PS2 há uma
alteração do local de clivagem da γ- secretase, alterando a APP específica c-terminal,
promovendo a formação da β- amilóide 42 (Fridman et al., 2004).
Assim as mutações nos genes que codificam tanto a APP como a presenilina aumentam
a produção da β- amiloide levando à neuro degeneração (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004).
A doença de Alzheimer afeta 15 milhões de pessoas no mundo e o número de pessoas
afetadas deverá triplicar até o ano 2050, sendo 13,2 milhões para os Estados Unidos da
América e 16,2 milhões para a Europa. Além disso, estima-se que até essa data 50% das
248
pessoas com idade igual ou superior a 85 anos serão afetadas por esta doença (Forman,
Trojanowski, & Lee, 2004; Duff et al., 2004).
Esta doença é rara em indivíduos com menos de 60 anos de idade, uma vez que aumenta
progressivamente com a idade, afetando 40% de indivíduos com mais de 85 anos de idade
(Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Junior et al,. 2011; Kloft et al,. 2007).
A presença do gene ApoE4 (Apoliproteína E4 haplótipo) é considerado um fator de
risco genético associado a esta doença. Estudos realizados em ratos transgénicos em que a
ApoE4 foi induzida, houve a formação da β- amilóide. Este gene existe na forma de ApoE2, 3 e -4. O aparecimento tardio deste gene na doença está associado à herança no gene ApoE4,
no entanto a causa ainda é desconhecida (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Duff et al.,
2004; Fridman et al., 2004; Bennet et al., 2010).
Para o diagnóstico desta doença recorre-se a um exame minucioso do estado físico e
mental do paciente e a exames complementares, tais como: ressonância magnética nuclear e
tomografia axial computorizada (Anghinah et al,. 2005). Relativamente à área laboratorial, a
introdução de novos biomarcadores de diagnóstico para a DA visa a deteção de patologia
cerebral. Para encontrar um marcador bioquímico específico para AD devemos concentrarnos em produtos metabólicos específicos formados no cérebro, tais como moléculas
lipofílicas especificas do cérebro, CP, CSF, BCSFB que podem difundir-se para a corrente
sanguínea, onde são detetadas. Recentemente estudos demonstram que as alterações no
metabolismo do ferro incluindo a transferrina e ferritina podem ter impacto no aparecimento e
progressão desta patologia, pois a redução do Fe(III) a Fe(II) leva à libertação de radicais
livres que induzem o stress oxidativo na célula, provocando danos irreversíveis (Antonell et
al., 2012; Hort et al., 2012; Ferreira et al., 2012).
Além dos fatores genéticos a doença acima mencionada também se encontra associada a
outros fatores como: sexo, idade e raça. Contudo, é difícil determinar com exatidão a ação dos
fatores socioeconómicos quando se trata de determinar o modo como influenciam o
aparecimento de determinadas doenças (Holmes, 2002). Sabe-se da sua relação com a
capacidade de obter melhores e mais meios de aceder à saúde, isto é, compreendem a
capacidade económica e cognitiva de adquirir bens e serviços de saúde (Araújo et al., 2011).
Por sua vez, a doença de Parkinson é a segunda doença neuro degenerativa mais
comum. Afeta 1 a 2% das pessoas com idade superior a 65 anos e apresenta como sintomas:
tremor durante o repouso, rigidez no corpo e postura errada. Patologicamente, a doença é
caracterizada pela perda de neurónios dopaminérgicos da massa cinzenta e pela presença de
249
inclusões intracelulares conhecidos como corpos de Lewy (Araújo et al., 2011; Ikuko et al.,
2006; Razali, et al., 2011; Claudio et al., 2010; Álvares et al., 2010).
Existem fatores genéticos relacionados com o risco de doença e 10% dos pacientes com
doença de Parkinson têm uma história familiar positiva. Atualmente são conhecidos cinco
genes nas famílias com esta doença: α-synuclein, parkin, UCH-L1, DJ-1 e NR4A2. No
genoma foram identificados seis tipos de loci: PARK3, PARK4, PARK6, PARK8, PARK9 e
PARK10 (Dekker et al., 2003; Aguiar et al., 2010; Bekris et al., 2010).
As manifestações do início desta doença surgem com o aparecimento de sintomatologia
relacionada com os processos de envelhecimento. Este fato deve-se a um aumento da
vulnerabilidade dos neurónios dopaminérgicos, em que há uma diminuição progressiva e
gradual das células normais e dos processos bioquímicos (Dekker et al., 2003).
Existe também uma relação direta entre a disfunção mitocôndrial e a doença de
Parkinson, em que há um aumento do stress oxidativo e de níveis elevados de ferro no
cérebro. Esta relação foi reforçada pela identificação de mutações específicas de genes.
A tomografia computadorizada constitui um bom exame auxiliar, podendo melhorar a
precisão do diagnóstico (Lyons et al., 2011). Fatores como a industrialização, a exposição a
pesticidas e metais tóxicos foram já demonstrados como potenciais fatores de risco no
aparecimento desta doença (Dekker et al., 2003)
Material e Métodos
A metodologia deste artigo consiste na revisão da literatura publicada através da
pesquisa bibliográfica na base de dados PubMed/MedLine, no período de Novembro de 2011
até Junho de 2012, de modo a atender aos objetivos propostos.
Após o levantamento do material bibliográfico, procedeu-se à leitura e ao
reconhecimento dos artigos a contemplar, de forma a selecionar as referências que atendiam
aos propósitos da pesquisa. Posteriormente procedeu-se à síntese e à interpretação dos textos,
bem como à organização das informações para a sua apresentação.
250
Resultados
Os resultados da vasta revisão sistemática da literatura na área publicada em bases de dados PubMed/MedLine, no período de Novembro
de 2011 até Maio de 2012 permitem aferir acerca da influência que as variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais possam ter
indivíduos portadores de doenças neuro degenerativas como as doenças de Alzheimer e de Parkinson (Tabela 1).
Tabela 1. Influência das variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais nas doenças neuro degenerativas: doenças de Alzheimer e Parkinson.
Objetivo
Conclusões
Observações
Referências
Bibliográficas
Avaliação do perfil socioeconómico
A maioria possuía baixa escolaridade
A DA está presente em idosos com idade superior a 81
(JUNIOR ET AL,. 2011)
anos e do sexo feminino
Avaliar
a
funcionalidade
Numa faixa etária de 49 a 87 anos, 75% dos indivíduos
de
pertencem ao sexo masculino e 25% ao feminino.
indivíduos com DP
Relação entre a atividade social e o
Um maior nível de atividade social conduz a um menor
nível de função cognitiva
declínio da função cognitiva
Estudar de que forma o nível
Maior nível de escolaridade apresenta um menor risco
educacional influência a DP
de deterioração cognitiva
Examinar de que forma a emissão
A emissão de metais conduz ao desenvolvimento de
Os fatores socioeconómicos não variam entre o nível de
de metais leva ao aparecimento da
DP;
ensino, casados, salário, ou indivíduos abaixo da linha
doença de Parkinson
Maior incidência no sexo masculino e população
da pobreza
(CLAÚDIO
2010)
(BARNES
2011A)
ET
(TANAKA
2011)
AL.,
ET
(KAŹMIERSKI
2011 )
AL.,
ET AL.,
ET
AL.,
caucasiana
Verificar a ocorrência de DP em
Indivíduos do sexo masculino com DP têm menor
indivíduos
probabilidade de ser fumadores
fumadores
e
não
(CHEN ET AL., 2010)
fumadores
251
Conhecer as dificuldades e desafios
O diagnóstico de casos típicos não oferece maiores
no
dificuldades mas, em situações atípicas o diagnóstico
diagnóstico
de
doença
de
Parkinson
diferencial é mais amplo
Fatores de risco ambientais
Menor risco de DA associado ao consumo moderado
(BARBOSA
2005)
se
realizadas
ao
as
ar
profissões
livre
estão
AL.,
(CAMPDELACREU
AL., 2012)
de álcool
Verificar
ET
Trabalhadores expostos à luz solar têm um menor risco
Os níveis inadequados de vitamina D estão associados a
para a DP
um maior risco da doença
A acumulação de stress não conduz ao aparecimento
Há um maior risco de DP observada entre as mulheres e
de sintomas da doença
homens que nunca se casaram
(KENBORG
2011)
ET
ET
AL.,
associadas a um risco de DP
Relação
entre
marcantes
da
momentos
vida
e
o
(ROD ET AL., 2010)
aparecimento de DP
Relação
entre
o
nível
Aumento de hospitalização de DP que exercem
socioeconómico e hospitalização de
profissões
de
professores,
doentes com DP
agricultores, agentes de vendas e auxiliares de
(LI ET AL., 2009)
administradores,
enfermagem
Associação
entre
nível
socioeconómico e a prevalência de
Maior prevalência de DP em áreas rurais e com poucos
(LIX ET AL., 2010)
recursos económicos
DP
Atividade de fumar na meia-idade
Aumento na incidência dos indivíduos que fumam na
e o risco de demência 2 a 3 décadas
meia-idade
Idosos do sexo feminino com menor escolaridade;
(CHARLES
2011)
ET
AL.,
Afro-americanos são mais propensos a ter DA do que os
mais tarde
asiáticos; Maior percentagem entre divorciados e viúvos
Estudo de aspetos gerais sobre a
A frequência da DA entre a população rural é maior
A DA é prevalente em mulheres; Maior nas pessoas que
morbilidade
que a população urbana
têm um baixo nível de ensino escolarização
(IOVA ET AL., 2009)
252
Avaliar de que forma um espaço
A frequência da DA entre a população rural é maior
de vida restrito, poderá estar
que a população urbana e em pessoas que têm que têm
associada a um aumento AD;
um baixo nível de ensino escolarização.
Relação entre o stress no trabalho e
O stress nas profissões está associado a um maior risco
o risco de demência
de demência
Atividades
que
ajudem
prevenirem o avanço da demência
a
(BARNES
2011)
ET
AL.,
(ANDEL ET AL., 2012)
A demência é menor nos indivíduos que apresentam
Atividades que envolvam o homem na jardinagem e a
atividades lúdicas
mulheres no desporto
(HIRAI, ET AL., 2010)
253
LIVRO DE ATAS
Discussão dos resultados
De acordo com a análise efetuada através da revisão sistemática da literatura, as
variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais evidenciam relevância no
aparecimento das doenças neuro degenerativas.
Em relação à doença de Parkinson verifica-se que indivíduos com um maior nível de
escolaridade apresentam um menor risco de deterioração cognitiva, principalmente nos
indivíduos do sexo masculino (Barnes et al., 2011; Kaźmierski et al., 2011; Tanaka et al.,
2011), sendo que na faixa etária de 49 a 87 anos, 75% dos indivíduos pertencem ao sexo
masculino e 25% ao feminino (Claúdio et al., 2010; Tanaka et al., 2011). A taxa de incidência
da doença é maior na população caucasiana (Willis et al., 2010).
Comparando uma população com e sem c, afirma-se que os indivíduos do sexo
masculino com esta doença têm menor probabilidade de consumir cafeína e de ser fumadores,
ou seja, estes parâmetros não influenciam o aparecimento da doença. Constatou-se que
pessoas sem a doença quando expostas a uma emissão de metais passam a desenvolver
parkinsonismo, num período de 3-5 anos (Chen et al., 2010; Barbosa et al., 2005; Skeie et al.,
2010; Liu, et al., 2012; Campdelacreu et al., 2012).
Em profissões em que os homens estão expostos à luz solar, têm um menor risco para a
doença de Parkinson, uma vez que os níveis inadequados de vitamina D têm sido associados a
um maior risco da doença (Kenborg et al., 2011; Knekt, et al., 2010).
Alguns dos acontecimentos da vida, como o divórcio ou a morte de um cônjuge são
stressantes para a maioria das pessoas, no entanto esta carga de stress não leva ao
aparecimento de sintomas da doença. Em contraste, há um maior risco maior de doença em
mulheres e homens que nunca se casaram (Rod et al., 2010).
Os fatores socioeconómicos não variam significativamente entre escolaridade, estado
civil e salário (Tanaka et al., 2011; Li et al., 2009). Contudo, outros estudos referem que há
uma maior prevalência de doença de Parkinson em indivíduos oriundos de meios rurais e com
poucos recursos económicos, bem como um maior número de hospitalização de portadores da
doença em indivíduos que exercem ou exerceram as profissões de professores,
administradores, agricultores, agentes de vendas e auxiliares de enfermagem (Li et al., 2009;
Lix et al., 2010; Cubo et al., 2012).
O diagnóstico de casos típicos não oferece grandes dificuldades mas, em situações em
que há elementos atípicos justifica-se o diagnóstico diferencial. Deve considerar-se, ainda,
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade
de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
254
LIVRO DE ATAS
que os conhecimentos a respeito das doenças degenerativas como o caso da doença de
Parkinson têm aumentado de forma exponencial (Barbosa et al., 2005).
Relativamente à doença de Alzheimer evidenciam-se acentuadas e progressivas
restrições que comprometem a independência dos indivíduos, com predominância em idosos
acima de 81 anos e em indivíduos do género feminino. A maioria é detentora de baixa
escolaridade (Junior et al., 2011; Charles et al., 2011; Sánchez, et al., 2011; Lopez et al.,
2012). Verifica-se, ainda, um incremento da doença em indivíduos fumadores de meia-idade.
A incidência da doença de Alzheimer na população rural é mais elevada,
comparativamente à população urbana (Iova et al., 2009; Barnes et al., 2011). No entanto, há
um menor risco de doença associado ao consumo moderado de bebidas alcoólicas
(Campdelacreu et al., 2012).
Verificaram-se também diferenças na ocorrência de demência entre os grupos raciais.
Em comparação com a população caucasiana, os afro-americanos são mais propensos a ter um
diagnóstico de demência, enquanto os asiáticos são menos propensos. Além disso, há uma
maior percentagem da doença nos divorciados e viúvos (Charles et al., 2011).
O stress no trabalho ao longo da vida caracterizada pela grande exigência das profissões
mencionadas, está associado a um maior risco de demência nestes indivíduos em idades mais
avançadas (Andel et al., 2012; Wang et al., 2012). Por sua vez, a demência é menor nos
indivíduos que mantêm atividades lúdicas ao longo da vida, como por exemplo, a prática
desportiva e a jardinagem (Campdelacreu et al., 2012; Hirai, et al., 2010).
Conclusão
A temática que envolve as doenças de Alzheimer e de Parkinson têm sido alvo de vários
estudos mundialmente, visto que estas patologias incidem num grande número de indivíduos
e o seu aparecimento tende a tornar-se exponencial nos próximos anos.
Nesta revisão literária foram estudadas populações distintas de acordo com as variáveis
sociodemográficas, psicossociais e ambientais. Pode afirmar-se que estas variáveis se
encontram relacionadas com o aparecimento das doenças neuro degenerativas em estudo.
Estamos perante uma evolução constate das sociedades e um agravamento dos diversos
fatores a elas associados.
Contudo, esta constante evolução torna este conjunto de variáveis insuficientes para a
definição de um perfil relacionado com o aparecimento destas doenças. Com efeito, muitos
fatores podem surgir em fases iniciais da vida, outros podem tornar-se mais evidentes como
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade
de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
255
LIVRO DE ATAS
resultado da interação destes fatores com a componente genética. Atendendo ao
envelhecimento populacional, à diminuição do número de jovem e à atual crise económica
torna-se difícil traçar um futuro relacionado com o aparecimento destas doenças. Não
obstante, se continuarmos a evoluir do mesmo sentido, podemos prever o enorme impacto
destas doenças nas sociedades ocidentais, nas próximas décadas.
Referências Bibliográficas
Aguiar, P.M.C. & Severino P. (2010). Biomarcadores na doença de Parkinson: avaliação da
expressão génica no sangue periférico de pacientes com e sem mutações nos genes
PARK2 e PARK8. Einstein, 8(3), pp. 291-7.
Álvares, L.M.R.S., Cardoso, F.E., Goulart, F.R.P., Lana, R.C., Nasciutti, P.C. & Teixeira,
S.L.F. (2007). Percepção da qualidade de vida de indivíduos com doença de Parkinson
através do PDQ-39. Revista brasileira: Fisioterapia São Carlos, 11(5), pp.397-402.
Andel, R., Crowe, M., Hahn, E.A., Mortimer, J.A., Pedersen, N.L., Fratiglioni, L., Johansson,
B. & Gatz, M. (2012). Work-related stress may increase the risk of vascular dementia. J
Am Geriatr Soc, 60(1), pp.60-7.
Andersen, C.K., Wittrup, J.K.U., Lolk, A., Andersen, K. & Kragh, S.P. (2004). Ability to
perform activities of daily living is the main factor affecting quality of life in patients
with dementia. Health Qual Life Outcomes, 2, pp. 52.
Anghinah, R,. Bottino, C.M.C., Brucki, S.M.D., Caramelli, P., Damasceno, B.P. & Nitrini, R.
(2005). Diagnosis of Alzheimer’s disease in Brazil: diagnostic criteria and auxiliary
tests. Arq Neuropsiquiatr, 63(3), pp. 713-719.
Antonell, A., Balasa, M,. Gispert, J.D., Lladó, A., Molinuevo, J.L., Pujol, J., Rami, L., Rojas,
S. & Sánchez-Valle, R. (2012). A new approach to the Alzheimer's disease diagnosis
with biomarkers: description of the AD-CSF. Rev Neurol, 54(9), pp.513-22.
Araújo, S.S.C., Baldisserotto, J., Freire, D.B.L. & Padilha, D.M.P. (2011). Suporte social,
promoção de saúde e saúde bucal na população idosa no Brasil. Ciência Saúde
Colectiva, 16(6).
Barbosa, E.R. & Sallem, F.A.Z. (2005). Doença de Parkinson – Diagnóstico. Rev
Neurosciences, 13 (3), pp. 158-165.
Barbosa, M.V., Fernandez, L.L., Fornari, L.H.T. & Schroder, N. (2007). Ferro e
Neurodegeneração, Scientia Medica, 17(4), pp. 218-224.
Barnes, L.L., Bennett, D.A., Boyle, P.A., Buchman, A.S. & James, B.D. (2011). Espaço de
vida e risco de doença de Alzheimer, transtorno cognitivo leve, e declínio cognitivo na
velhice. Am J Geriatr Psychiatry, 19(11), pp.961-9.
Barnes, L.L., Bennett, D.A., James, B.D. & Wilson, R.S. (2011a). Late-Life Social Activity
and Cognitive Decline in Old Age. J Int Neuropsychol Soc, 17(6), pp. 998– 1005.
Bekris, L.M., Mata, I.F. & Zabetian, CPM. (2010). The Genetics of Parkinson Disease.
Journal of Neuroscience, 23(4), pp.28-42.
Bennet, A.M., Dickman, P.W., Eriksson, U.K., Gatz, M. & Pedersen, N.L. (2010). NonStroke Cardiovascular Disease and Risk of Alzheimer's Disease and Dementia.
Alzheimer Dis Assoc Disord, 24(3), pp.213-9.
Bertram, L. & Tanzi, R.E. (2012). The genetics of Alzheimer's disease. Prog Mol Biol Transl
Sci, 107, pp. 79-100.
Campdelacreu J. (2012). Parkinson disease and Alzheimer disease: environmental risk
factors. Sociedad Española de Neurología.
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade
de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
256
LIVRO DE ATAS
Charles, P., Jufen, M.S.Z., Kivipelto, M.D., Quesenberry, J., Rachel, A. & Rusanen, M.D.
(2011). Tabagismo pesado na meia-idade e risco a longo prazo da doença de Alzheimer
e demência vascular. Arch Intern Med, 171(4), pp.333-339.
Chen, H., Huang, X., Guo, X., Mailman, R.B., Park, Y., Kamel, F., Umbach, D.M., Xu, Q.,
Hollenbeck, A., Schatzkin, A. & Blair, A. (2010). Smoking duration, intensity, and risk
of Parkinson disease. Neurology, 74(11), pp.878-84
Claudio, H.M., Mascarenhas, L. & Souza, M.P. (2010). Functional evaluation of individuals
with Parkinson’s disease. Arq Ciênc Saúde, 17(4), pp.179-84.
Costa, A.M.R., Leal, W.G., Lima, R.R. & Souza, R.D. (2007). Degeneração Neuronal
Secundária e Excitotoxicidade. Revista Paraense de Medicina, 21(1).
Costa, A.M.R., Leal, W.G., Lima, R.R. & Souza, R.D. (2007a). Inflamação em doenças
neurodegenerativas. Revista Paraense de Medicina, 21.
Cubo, E., Benito-León, J., Coronell, C. & Armesto, D. (2012). Clinical correlates of apathy in
patients recently diagnosed with Parkinson's disease: the ANIMO study.
Neuroepidemiology, 38(1), pp.48-55.
Dekker, M.C.J., Bonifati, V. & Duijn, C.M. (2003). Parkinson's disease: piecing together a
genetic jigsaw. Wiley-Blackwell Online Open, 126(8), pp.1722-33.
Dormont, D. & Seidenwurm, D.J. (2008). Dementia and Movement Disorders. American
Journal Neuroradiology, 29, pp. 204-206.
Duff, K. &Suleman, F. (2004). Transgenic mouse models of Alzheimer’s disease: How useful
have they been for therapeutic development? Briefings in functional genomics and
proteomics, 3(1), pp. 47–59.
Ferreira, A.C., Marques, F., Mesquita, S.D., Palha, J.A., Santos, N.C., Sousa, J.C., Sousa, N.
& Neves, M.C. (2012). Modulation of iron metabolism in aging and in Alzheimer’s
disease: relevance of the choroid plexus. Front Cell Neurosci, 6(25).
Forman, M.S., Trojanowski, J.Q. & Lee, V.M.Y. (2004). Nature Medicine, 10(10), pp. 105563.
Fridman, C., Gregório, S.P., Neto, E.D. & Ojopi, E.P.B. (2004). Alterações genéticas na
doença de Alzheimer. Rev. Psiq. Clín, 31(1), pp. 19-25.
Frühbeis, C., Fröhlich, D. & Krämer, A. (2012). Emerging roles of exosomes in neuron-glia
communication. Front Physiol, 30, pp. 3:119.
Hirai, H., Kondo, K., Takeda, T. & Zasshi, N.K.E. (2010). Psychosocial risk factors
involved in progresssive dementia-associated senility among the elderly residing at
home. AGES project-three year cohort longitudinal study. Nihon Koshu Eisei Zasshi,
57(12), pp.1054-65.
Holmes, C. (2002) Genotype and phenotype in Alzheimer disease. The British Journal of
Psychiatry, 180, pp. 131-13.
Hort, J. & Skoumalová, A. (2012). Blood markers of oxidative stress in Alzheimer's disease. J
Cell Mol, 16(10), pp.2291-300.
Ikuko, M., Wataru, S., Yuko, N., Chiyomi, I., Satoko, S., Yoshio, M., Yoshitaka, N., Akira,
O., Hidetoshi, I., Jiro, F., Yuko, S., Motoji, S., Shigeo, M., Mitsutoshi, Y., Nobutaka,
H., Miho, M. & Tatsushi, T. (2006). Multiple candidate gene analysis identifies asynuclein as a susceptibility gene for sporadic Parkinson’s disease. Human Molecular
Genetics, 15(7).
Iova, A., Mihancea, P. & Sabau, M. (2009). Aspectos gerais da morbidade na demência de
Alzheimer no período 2003-2005 na Neurologia e Psiquiatria Clínica Hospital Oradea.
Rev Med Chir Soc Med Nat Iasi, 113(4), pp.1089-92.
Junior, P.R.R., Pacheco, C.R.S,. Pacheco S.C.S,. Santos, B.M. & Thaís, S.L. (2011). Análise
do perfil socioeconómico e condições de saúde de idosos com doença de Alzheimer do
município de Assis – SP. J Health Sci Inst, 29(3), pp. 202-4.
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade
de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
257
LIVRO DE ATAS
Kaźmierski, R., Kierzynka, A. & Kozubski, W. (2011). Nível educacional e disfunção
cognitiva em pacientes com doença de Parkinson. Revista de educação física – UNESP,
45(1), pp.24-31.
Kenborg, L., Lassen, C.F., Ritz, B., Schernhammer, E.S., Hansen, J., Gatto, N.M. & Olsen,
J.H. (2011). Outdoor work and risk for Parkinson's disease: a population-based casecontrol study. Occup Environ Med, 68(4), pp.273-8.
Kettenmann, H., Hanisch, U.K., Noda, M. & Verkhratsky, A. (2011). Physiology of
microglia. Physiol. 91(2), pp. 461-553.
Kim, Y., Remacle, A.G., Chernov, A.V., Liu, H., Shubayev, I., Lai, C., Dolkas, J., Shiryaev,
S.A., Golubkov, V.S., Mizisin, A.P., Strongin, A.Y. & Shubayev, V.I. (2012).The
MMP-9/TIMP-1 axis controls the status of differentiation and function of myelinforming Schwann cells in nerve regeneration. Plos one, 7(3).
Kloft, C., Lehr, T., Schaefer, H.G. & Tillmann, C. (2007). Trommeshauser D. Population
pharmacokimetic modeling of NS2330 (tesofensine) and its major metabolite in patients
with Alzheimer’s disease. British Journal of Clinical Pharmacology, 64(1), pp. 36-48.
Knekt, P., Kilkkinen, A., Rissanen, H., Marniemi, J., Sääksjärvi, K. & Heliövaara, M. (2010).
Serum vitamin D and the risk of Parkinson disease. Arch Neurol, 67(7), pp.808-11.
Li, X., Sundquist, J. & Sundquist, K. (2009). Socioeconomic and occupational groups and
Parkinson's disease: a nationwide study based on hospitalizations in Sweden.
International Archives of Occupational and Environmental Health, 82(2), pp.235-41.
Lima, R.R., Costa, A.M.R., Souza, R.D., Santos, C.D., Silva, J.G. & Leal, W.G. (2006).
Lesão da substância branca e doenças neurodegenerativas. Revista Paraense de
Medicina, 20 (4).
Liu, R., Guo, X., Park, Y., Huang, X., Sinha, R., Freedman, N.D., Hollenbeck, AR., Blair, A.
& Chen, H. (2012). Caffeine intake, smoking, and risk of Parkinson disease in men and
women. Annals of Neurology. 175(11), pp.1200-7.
Lix, L.M., Hobson, D.E., Azimaee, M., Leslie, W.D., Burchill, C. & Hobson, S. (2010).
Socioeconomic variations in the prevalence and incidence of Parkinson's disease: a
population-based analysis. J Epidemiol Community Health, 64(4), pp.335-40.
Lopez, O.L., Becker, J.T. & Kuller, L.H. (2012). Patterns of Compensation and Vulnerability
in Normal Subjects at Risk of Alzheimer's disease. J Alzheimers Dis, 33(0), pp.427-38.
Lyons, K.E. & Pahwa, R. (2011). Diagnosis and initiation of treatment in Parkinson's disease.
Int J Neurosci, 2, pp.27-36.
Razali, R., Ahmad, F., Rahman, F.N.A. & Midin, M. (2011). Burden of care among
caregivers of patients with Parkinson disease: A cross-sectional study. Clinical
Neurology and Neurosurgery, 113(8), pp.639-43.
Rod, N.H., Hansen, J., Schernhammer, E. & Ritz, B. (2010). Major life events and risk of
Parkinson's disease. Mov Disord, 25(11), pp.1639-45.
Rothenberg, K., K., Bonda, D.J., Lee, H.G., Lerner, A., Perry, G., Smith, M.A. & Zhu, X.
(2010). Biomarkers in Alzheimer’s disease: past, present and future. Biomark Med,
4(1), pp.15-26.
Sánchez, J.L., Torrellas, C., Martín, J. & José, F.M. (2011). Cognitive reserve and lifestyle in
Spanish individuals with sporadic Alzheimer's disease. Am J Alzheimers Dis Other
Demen, 26(7), pp.542-54.
Skeie, G.O., Muller, B., Haugarvoll, K., Larsen, J.P. & Tysnes, O.B. (2010). Differential
effect of environmental risk factors on postural instability gait difficulties and tremor
dominant Parkinson's disease. Movement Disorders, 25(12), pp.1847-5.
Tanaka, K., Miyake, Y., Fukushima, W., Sasaki, S., Kiyohara, C., Tsuboi, Y., Yamada, T.,
Oeda, T., Miki, T., Kawamura, N., Sakae, N., Fukuyama, H., Hirota, Y. & Nagai, M.
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade
de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
258
LIVRO DE ATAS
(2011). Occupational risk factors for Parkinson's disease: a case-control study in Japan.
BMC Neurol, 11(83).
Wang, H.X., Wahlberg, M., Karp, A., Winblad, B. & Fratiglioni, L. (2012). Psychosocial
stress at work is associated with increased dementia risk in late life. Alzheimers Dement,
8(2), pp.114-20.
Willis, A.W., Evanoff, B.A., Galarza, A., Lian, M., Wegrzyn, A., Racette, B.A. &
Schootman, M. (2010). Metal Emissions and Urban Incident Parkinson Disease: A
Community Health Study of Medicare Beneficiaries by Using Geographic Information
Systems. Am J Epidemiol, 172(12), pp.1357-63.
Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade
de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior
259