Ebook Final - 29 de Janeiro de 2013
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Ebook Final - 29 de Janeiro de 2013
Miranda do Douro Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior Escola Superior de Saúde / IPB 28 e 29 de Setembro de 2012 LIVRO DE ATAS (EBOOK) COORDENADORES: Adília da Silva Fernandes Carlos Pires Magalhães Maria Augusta Pereira da Mata Maria Helena Pimentel Maria Gorete Baptista FICHA TÉCNICA Título Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior Autores/Editores Adília da Silva Fernandes; Carlos Pires Magalhães; Maria Augusta Pereira da Mata; Maria Helena Pimentel; Maria Gorete Baptista Editora Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança Data Setembro de 2012 ISBN 978-972-745-144-9 2 Esta edição é publicada pela Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança Agência Nacional ISBN Dilemas atuais e desafios futuros - I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior editado por Adília da Silva Fernandes; Carlos Pires Magalhães; Maria Augusta Pereira da Mata; Maria Helena Pimentel; Maria Gorete Baptista ISBN 978-972-745-144-9 Editora: Escola Superior de Saúde, Instituto Politécnico de Bragança Prefixo da Editora: 972-745Livro em 1 volume, 259 páginas Este livro contém informações obtidas de fontes autênticas. A responsabilidade pelo conteúdo dos artigos é única e exclusivamente dos autores. Os artigos publicados neste livro são propriedade da ESSa-IPB. Este livro ou qualquer parte do mesmo, não poderá ser reproduzido ou transmitido em qualquer formato ou por qualquer meio, electrónico ou físico ou por qualquer sistema de armazenamento de informação ou de recuperação, sem autorização prévia por escrito da ESSa-IPB. Todos os direitos reservados. Escola Superior de Saúde | Instituto Politécnico de Bragança Avenida D. Afonso V - 5300-121, Bragança, Portugal Tel: (+351) 273 303 200 / (+351) 273 330 950 Fax: (+351) 273 327 915 © 2012 by ESSa - IPB ISBN 978-972-745-144-9 3 NOTA INTRODUTÓRIA O I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção da Santa Maria Maior de Miranda do Douro, subordinado ao tema “Dilemas Atuais e Desafios Futuros”, tem como objetivos aprofundar o conhecimento e refletir sobre a problemática dos Cuidados Continuados, Paliativos, Geriátricos e de Reabilitação numa perspetiva mais alargada, fomentar a interação entre o contexto de trabalho, a investigação e as políticas públicas de sustentabilidade desta área de intervenção em saúde. O envelhecimento é uma conquista civilizacional. É uma evidência que o crescente aumento do envelhecimento em Portugal contribuirá para o acréscimo do número de pessoas em risco de dependência, quer esta seja transitória ou instalada, pelo que essas pessoas e as suas famílias requerem cuidados adequados e integrados. A organização de um dia e meio de congresso com a manhã do segundo dia dedicada à informação/comunicação e aos cuidadosos paliativos permite responder a dois objetivos. Por um lado, alargar o foco da atenção não apenas ao utente mas também às famílias, por outro, aprofundar o debate sobre a gestão das emoções e as questões ético/legais da sedação e da dignidade em fim de vida. Para assinalar a realização deste evento e congregar sinergias, elaborou-se o presente livro de atas. Este documento assume o compromisso da partilha e da divulgação do conhecimento. Para além da atualidade e relevância científica, constituem pontos de contato de estudiosos destas matérias, que respondendo ao nosso apelo submeteram comunicações sob a forma de posters, que tivemos oportunidade de acompanhar ao longo destes dois dias. Se a produção de qualquer evento, direta ou indiretamente, nunca é um ato isolado, este que aqui apresentamos contou com a colaboração e a conjugação de esforços de muitas pessoas. É de justiça, por isso, que se felicitem as comissões científica e organizadora que, por sua vez, contaram com o envolvimento ativo dos Dirigentes da Unidade de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção da Santa Maria Maior. Saudamos e agradecemos a presença de todos(as) os que quiseram juntar-se a nós, apelando à participação viva e empenhada. 4 ORGANIZAÇÃO Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior | Escola Superior de Saúde | Instituto Politécnico de Bragança COMISSÃO CIENTÍFICA Francisco Centeno (SCM Miranda do Douro) Paula Martins (SCM Miranda do Douro) Elisabete Lavrador (SCM Miranda do Douro) Adília da Silva Fernandes (ESSa-IPB) Carlos Pires Magalhães (ESSa-IPB) Maria Augusta Pereira da Mata (ESSa-IPB) Maria Helena Pimentel (ESSa-IPB) Maria Gorete Baptista (ESSa-IPB) COMISSÃO ORGANIZADORA Equipa Multidisciplinar da Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior 5 ÍNDICE PROGRAMA ……………………………………….………………………………..…. ARTIGOS ……………………………………………………………………………….... 01 - IDENTIFICAÇÃO DE LIMITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO E ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA EM DOENTES COM DPOC …...………. - CARATERIZAÇÃO DOS ACIDENTES DE TRABALHO NOS 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 HOSPITAIS DO DISTRITO DE BRAGANÇA ENTRE 2000 E 2010…………………………………………………………………….…..…….. - REALIDADES DO PROCESSO DE INSTITUCIONALIZAÇÃO - UM OLHAR SOBRE AS EMOÇOES DO IDOSO ………………………………… - CUIDADOS PALIATIVOS EM CUIDADOS CONTINUADOS ….…….…. - PERCEÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE EM IDOSOS SUBMETIDOS A DIÁLISE …………………………………………………………………………. - ANÁLISE DAS QUEDAS QUE RESULTARAM EM FRATURA DA EXTREMIDADE PRÓXIMAL DO FÉMUR …………….…………………… - FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DA CAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS ……………………..……...….… - FUNCIONALIDADE DE IDOSOS COM OSTEOARTRITE ………..…..… - AUTONOMIA DOS UTENTES DE UMA UNIDADE DE CONVALESCENÇA – RESULTADOS PRELIMINARES ………………..… - UM NOVO MODELO DE GOVERNANCE NAS POLÍTICAS PÚBLICAS? ESTUDO DA REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS ………...……………………………………. - EXERCÍCIO FÍSICO EM IDOSOS DIABÉTICOS E PERCEÇÃO DA SUA IMPORTÂNCIA NO CONTROLO DA DOENÇA ………...……..…..… - SOBRECARGA EM CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS DEPENDENTES E SUA RELAÇÃO COM VARIÁVEIS DO CUIDADOR E DEPENDÊNCIA DOS IDOSOS NAS AVD ………………………………..... - REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE OS CUIDADOS CONTINUADOS DO CUIDADOR INFORMAL DE UMA PESSOA DEPENDENTE: EXPERIÊNCIAS DE QUEM CUIDA …………………………………………. - COMPARAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE IDOSOS RESIDENTES EM MEIO RURAL E URBANO...……………………….…... - AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO DOS ESTUDANTES DE ENFERMAGEM NO ÂMBITO DO ENVELHECIMENTO …….…….…….. 16 - O IDOSO E A MEDICAÇÃO …..………………….………………...……….. 17 - AVALIAÇÃO DO CONHECIMENTO REFERENTE À DETEÇÃO PRECOCE E PREVENÇÃO DO ACIDENTE VASCULAR CEREBRAL .... - ADESÃO À DIETA EM IDOSOS EM DIÁLISE ………..……………... - CONTEXTOS DE ENVELHECIMENTO E AVALIAÇÃO FUNCIONAL DE IDOSOS: NECESSIDADES SENTIDAS NO CONCELHO DE BRAGANÇA …………………………………………………………………….. - AUTO-ATUALIZAÇÃO E ACEITAÇÃO DA DOENÇA CRÓNICA ….… - AS TRAJETÓRIAS DE VIDA E AS DOENÇAS NEURO DEGENERATIVAS: DOENÇA DE ALZHEIMER E DOENÇA DE PARKINSON …………………………………………………..……………….. 18 19 20 21 07 10 11 23 36 48 59 77 90 99 111 124 140 149 158 170 178 186 195 206 218 232 245 6 PROGRAMA Sexta, 28 de Setembro 2012 8.30 ‐ Abertura do Secretariado 9.00 ‐ Sessão de Abertura 9.30 ‐ 1ª Mesa - Indicadores Socioeconómicos e Perfil do utente em Cuidados Continuados Unidade de Convalescença/Paliativos Dr.ª Ana Bernardo, Médica, Coordenadora das Unidades de Convalescença e Cuidados Paliativos do Hospital do Mar Unidade de Média Duração e Reabilitação Dr.ª Patrícia Santos, Técnica Superior de Serviço Social da UMDR da Santa Casada Misericórdia de Murça, Pós‐Graduada em Cuidados Continuados e Paliativos Unidade de Longa Duração e Manutenção Dr. Sérgio Vaz, Técnico Superior de Serviço Social da ULDM de Santa Maria Maior, da Santa Casa da Misericórdia de Miranda do Douro Moderação da Mesa Dr.ª Carla Tomé, Ténica Superior de Serviço Social do Serviço Local da Segurança Social de Miranda do Douro, Representante da Segurança Social na ECL de Miranda do Douro 10.45 ‐ Coffee Break 11.15 ‐ 2ª Mesa - Sustentabilidade das Unidades de Cuidados Continuados Sustentabilidade das Unidades de Cuidados Continuados Dr. Manuel Lemos, Presidente do Secretariado Nacional da União das Misericórdias Portuguesas (ou representante designado) Dissertação sobre «Morte Digna» Consultor do Mestrado em Medicina Legal da Universidade do Porto, Professor Catedrático de Psicologia Forense da Universidade Lusíada do Porto e de Medicina Legal da Universidade Portucalense Infante D. Henrique Moderação da Mesa Psicóloga Hermínia Fernandes 13.00 Almoço 7 14.30 ‐ 3ª Mesa - Adequação do perfil do utente à tipologia do seu internamento Processos sub‐agudos no AVC Dr. Jorge Poço, Coordenador da Unidade de AVC da Unidade Local de Saúde do Nordeste (ULSNE) Prestação de cuidados paliativos nas Unidades de Longa Duração e Manutenção Dr. Francisco Centeno, Diretor Clínico da ULDM de St.ª Maria Maior Médico Especialista em Medicina Familiar, Mestre em Cuidados Paliativos Agudizações nas unidades de cuidados continuados Enf. Albino Alonso, Enfermeiro da ECL ACES NORDESTE/Miranda do Douro, Enfermeiro‐Especialista em Saúde Comunitária Moderação da Mesa Dr.ª Graça Aroso, Coordenadora do Centro de Saúde de Miranda do Douro, Especialista em Medicina Familiar, Mestre em Tratamento de Suporte e Cuidados Paliativos no Paciente Oncológico Terminal 16.15 ‐ Coffee Break 16.45 ‐ 4ª Mesa - Problemática atual nos cuidados continuados Gestão de Medicação Eng.ª Suzete Cardoso, Bacharel em Radiologia, Licenciada em Engenharia Industrial, Pós‐Graduada em Gestão de Serviços de Saúde e em Administração Hospitalar, Diretora do Gabinete de Apoio Técnico do Grupo Misericórdias Saúde Nutrição Enteral Dr.ª Iva Adão, Licenciada em Engenharia Alimentar, Pós‐Graduada em Lean Management, representante da empresa «NESTLÉ PORTUGAL» Estado Nutricional dos Utentes das ULDM do Norte de Portugal Dr.ª Vera Lebres, Licenciada em Dietética, Docente na ESSa do IPB, Departamento das Tecnológias Diagnóstico e Terapêutica Internamento Ativo Terapeuta Sofia Lopes, Pós‐Graduada em Cuidados Continuados, Mestre em Bioética, Assistente convidada na Escola Superior de Saúde do Porto e na Escola Superior de Saúde do Vale do Sousa Moderação da Mesa Enf.ª Filipa Xastre, Licenciada em Enfermagem, Pós‐Graduada em Emergência e Cuidados Intensivos, Enfermeira da ECL ACES NORDESTE/Miranda do Douro 8 Sábado, 29 de Setembro 2012 9.00 ‐ 5ª Mesa - Processo de Informação/Comunicação com o utente e família Informação em cuidados diferenciados Dr.ª Maria Zita Lopes, Licenciada e Mestre em Psicologia, especialidade de Psicologia Clínica, Pós‐Graduada em Cuidados Paliativos, Psicóloga Clínica da Unidade Local de Saúde (ULS) do Nordeste Comunicação interdisciplinar com o utente/cuidador Dr.ª Ana Galvão, Psicóloga Clínica, Doutora em Psicologia, Professora Coordenadora do Instituto Politécnico de Bragança (IPB), Coordenadora do Departamento de Ciências Sociais e Gerontologia. Informação/Comunicação em Cuidados Continuados (Apresentação de Estudo) Enf. Paula Martins, Enfermeira‐Coordenadora da ULDM de Santa Maria Maior, Mestre em Tratamento de Suporte e Cuidados Paliativos ao Paciente Oncológico Terminal, Doutoranda em Oncologia Clínica Moderação da Mesa Dr. Valentín Posado, Especialista em Medicina Familiar, Médico do Centro de Saúde de Miranda do Douro, Médico da ECL de Miranda do Douro 10.45 ‐ Coffee Break 11.15 ‐ 6ª Mesa - Cuidados Paliativos nos Cuidados Continuados Aspectos Éticos da Sedação Terminal Alejandro Cuadrado Blanco, Mestre em Medicina Paliativa, Presidente da Associação para o Desenvolvimento dos Cuidados Paliativos, Membro do Comité de Ética do Complexo Assistencial de Zamora (Espanha) Apoio no luto Dr.ª Ana Bernardo, Médica, Coordenadora das Unidades de Convalescença e Cuidados Paliativos do Hospital do Mar Moderação da Mesa Dr. Francisco Centeno, Diretor Clínico da ULDM de St.ª Maria Maior, Médico Especialista em Medicina Familiar, Mestre em Cuidados Paliativos 12.00 – Testamento Vital Professor Doutor Rui Nunes, Doutor em Medicina na área da Bioética, Professor Catedrático e diretor do Serviço de Bioética e Ética Médica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Presidente da Associação Portuguesa de Bioética 9 ARTIGOS 10 01. IDENTIFICAÇÃO DE LIMITAÇÃO PARA O EXERCÍCIO E ATIVIDADES DE VIDA DIÁRIA EM DOENTES COM DPOC 01. IDENTIFICATION OF LIMITATION FOR EXERCISE AND ADLS IN PATIENTS WITH COPD Matilde Delmina da Silva Martins Professora Adjunta Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde. Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano. Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. [email protected] Norberto Aníbal Pires da Silva Enfermeiro Especialista em Enfermagem Médico-cirúrgica – Mestre em Ciências de Enfermagem Unidade Local de Saúde do Nordeste – Unidade Hospitalar de Bragança [email protected] Teresa Isaltina Gomes Correia Professora Coordenadora Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde. Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano. [email protected] 11 Resumo Introdução: A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é uma doença caracterizada pela limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases nocivos. Objetivos: Analisar a capacidade funcional em doentes com diagnóstico de DPOC e identificar limitação para o exercício e atividades de vida diária nestes doentes. Material e Métodos: Foram avaliados 31 doentes, seguidos na consulta de pneumologia de um Centro Hospitalar do norte de Portugal. Os critérios de inclusão foram: ter diagnóstico de DPOC, ter realizado prova de marcha de seis minutos e ter realizado espirometria. A informação foi obtida recorrendo aos registos informatizados da prova de marcha e do teste de espirometria, realizados entre 1 janeiro de 2009 a 1 de maio de 2010, por uma técnica de cardiopneumologia. A recolha de dados foi realizada durante uma semana no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar, após as 18 horas, por uma das investigadoras, que introduziu e codificou os dados em base de dados do programa SPSS®. Resultados: Dos 31 doentes avaliados 22 eram do género masculino, com uma média de idade de 68,8 anos, 16 eram ex-fumadores, verificou-se uma diferença estatisticamente significativa nos hábitos tabágicos e o género (p< 0,00), o Índice Médio de Massa Corporal foi de 27,12 Kg/cm2 +/- 4,3 Kg/cm 2. A média do Volume Expiratório Máximo (VEMS) ao 1º segundo nos homens foi de 72,6% e nas mulheres foi de 47,1% apresentando uma média total de 52,23% +/-20,4%. Dos 31 participantes 17 apresentavam um grau de obstrução grave. Os valores de Saturação Arterial de Oxigénio variaram entre 81 e 96%. Cerca de 58% não necessitou de Oxigénio no início da prova e no final aproximadamente 75% necessitou. A perceção média que os doentes têm da sua dificuldade respiratória, antes e após a prova de marcha, foi maior nos homens 2,64 e 4,55. Discussão/Conclusão: Os doentes com DPOC percorreram uma média de 344 metros o que sugere uma limitação para o exercício físico e para as atividades de vida diária. O género masculino evidenciou maior grau de obstrução e média de perceção de dispneia antes da prova de marcha mais elevada. O exercício e as atividades de vida diária em doentes com DPOC devem ser feito de forma individualizada tendo em conta as suas limitações funcionais. Palavras-chave: Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva; Prova de Marcha de 6 minutos; Exercício; Atividades de Vida Diária. Abstract Introduction: Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD) is a disease characterized by airflow limitation that is not fully reversible. The airflow limitation is usually progressive and associated with an anormal inflammatory response of the lungs to noxious particles or gases. Objectives: To analyze the functional capacity in patients with COPD diagnosis and identify limitations for exercise and daily activities in these patients. Material and Methods: 31 patients were evaluated and followed in pulmonology Hospital Center North of Portugal. Inclusion criteria were: diagnosis of COPD, have conducted test running six minutes and have performed spirometry. The information was obtained using the computerized records of proof of travel and the spirometry test, carried out between 1 January 2009 to 1 may 2010, by a technique cardiopneumology. Data collection was conducted during one week in the Service of Pneumology Hospital Center, after 18 hours, by one of the researchers who introduced and codified in database SPSS ®. Results: Of the 31 evaluable patients, 22 were males, with a 12 mean age of 68.8 years, 16 were ex-smokers, there was a statistically significant difference in smoking habits and gender (p< 0.00), the Body Mass Index Mean of 27.12 Kg/cm2 was + / 4.3 kg / cm 2. The mean forced expiratory volume (FEV) in 1 second in men was 72.6% and in women was 47.1% with an average total of 52.23% + / -20.4%. Of the 31 participants 17 had a degree of severe obstruction. Values of Arterial Oxygen Saturation ranged between 81 and 96%. About 58% did not require oxygen at the beginning and end of the race about 75% required. The average perception patients have of his difficulty breathing, before and after the walk test, was higher in men 2.64 and 4.55. Discussion / Conclusion: Patients with COPD walked an average of 344 meters suggesting a limitation to exercise and activities of daily living. The males showed greater degree of obstruction and average perception of dyspnea before the race marching higher. The exercise and activities of daily living in patients with COPD should be done on an individual basis taking into account functional limitations. Keywords: Chronic Obstructive Pulmonary Disease; Proof of March 6 minutes; Exercise; Activities of Daily Living. 13 Introdução A Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) é caraterizada pela limitação do fluxo aéreo que não é totalmente reversível. A limitação do fluxo aéreo é geralmente progressiva e está associada a uma resposta inflamatória anormal dos pulmões a partículas ou gases nocivos, causada principalmante pelo tabagismo. O tabagismo é o principal fator de risco da DPOC, estando presente em mais de 90% dos casos. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease - GOLD, (2005). A DPOC é descrita como uma doença com consequências sistémicas, com perda progressiva da condição física e da força muscular, que associada à dispneia gera nestes doentes importantes limitações na capacidade funcional. A capacidade funcional é definida como a tolerância ou a capacidade de uma pessoa para realizar determinada atividade, seja esta uma atividade desportiva ou de vida diária, ou a capacidade de realizar atividades que se referem ao autocuidado, como vestir-se, lavar-se, comer, andar, cozinhar, fazer compras, etc. Veloso, (2006); American Thoracic Society/European Respiratory Society. (2005). A DPOC é uma das principais causas de morbilidade crónica, de perda de qualidade de vida e de mortalidade, estando previsto o seu aumento nas próximas décadas. É considerada a quarta causa de morte em todo o mundo e estima-se que em 2020 seja a terceira. DGS, (2005); Pessôa, (2009). A sua prevalência aumenta com a idade, sendo mais elevada no sexo masculino, embora esta esteja a aumentar nas mulheres, decorrente do aumento do consumo de tabaco no sexo feminino. De facto, o tabagismo, para além de ser a principal causa de DPOC, continua a contribuir para a elevada prevalência da doença em Portugal. Pessôa, (2009); DGS, (2005). O diagnóstico de DPOC deve ser considerado em todos os doentes que apresentem tosse ou produção de expetoração frequentes, dispneia ou história de tabagismo. Para confirmar a presença de limitação obstrutiva do fluxo aéreo é necessária a realização de espirometria. Esta limitação ventilatória não é completamente reversível após administração de um broncodilatador. Considera-se que existe obstrução brônquica e, portanto, DPOC quando após a administração de um broncodilatador a relação volume expiratório forçado ao primeiro segundo e a capacidade vital forçada (VEF1/CVF) é menor do que 70%. GOLD, (2005). A espirometria é, assim, fundamental no diagnóstico e na avaliação da DPOC, por ser o meio mais objetivo, padronizado e facilmente reprodutível de medir o grau de obstrução das vias aéreas. Pellegrino; (2005). Os doentes com DPOC apresentam aumento da frequência ventilatória quando expostos às atividades dinâmicas, causando dispneia e cansaço que os 14 leva a evitar essas atividades, gerando consequentemente, diminuição da capacidade funcional. Santos, Rosa e Battagin, (2009). O impacto da DPOC na pessoa, não se dá somente na limitação física para a execução de atividades de vida diária, mas repercute-se também nas relações sociais, afetivas, familiares e laborais. Estes ficam muitas vezes dependentes de outros nos cuidados de vida diária o que lhes provoca um sentimento de dependência e diminuição da sua autoestima. Gutierrez (2007). Neste estudo procuramos analisar a capacidade funcional em doentes em doentes com diagnóstica DPOC e identificar as limitações para o exercício e atividades de vida diária. Material e Métodos Foram avaliados 31 doentes, seguidos na consulta de pneumologia do Centro Hospitalar Nordeste - Unidade de Bragança, com idades compreendidas entre 52 e 79 anos. Os critérios de inclusão foram: ter diagnóstico de DPOC, ter realizado prova de marcha de seis minutos e ter realizado espirometria. A Informação foi obtida recorrendo aos registos informatizados da prova de marcha e do teste de espirometria, realizados entre 1 janeiro de 2009 a 1 de maio de 2010, por uma técnica de cardiopneumologia. A recolha de dados foi realizada durante uma semana no Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar, após as 18 horas, por uma das investigadoras. A Espirometria é considerada o GOLD Sandart para o diagnóstico e avaliação da DPOC, pois é o método mais reprodutível, estandardizado e objetivo de mediação da limitação área. GOLD, (2012). Os testes de difusão e espirometria foram realizados em pletismógrafo MasterScreen Body da JAEGER, e seguiram rigorosamente as indicações do ATS/ERS, (2005) para a sua realização. Os critérios para classificação do grau de obstrução foram revistos e seguiram as orientações da GOLD, (2005) utilizando-se a seguinte classificação VEF1/CVF <70% leve e VEF1> 80% do previsto, moderada 50% <VEF1 <80% do previsto, grave 30% <VEF1 <50% do previsto e muito grave VEF1 <30% do previsto OU VEF1 <50% do previsto associado à insuficiência respiratória crónica. GOLD, (2005), Miller (2005). A prova de Marcha de 6 minutos permite avaliar a capacidade real para o exercício ou atividades de vida diária, através da distância percorrida em metros, consideramos distâncias percorridas inferiores a 500/400 metros limitação para o exercício. A Prova de Marcha de 6 minutos foi realizada num corredor plano, do Laboratório de Fisiologia Respiratória do CHNE – UH Bragança, previamente delimitado com 30 metros de comprimento. Os doentes 15 antes de iniciar a prova foram mantidos em repouso por um mínimo de 10 minutos e foi-lhes explicado o procedimento, informando-os que deviam repetir o percurso durante 6 minutos, se precisassem poderiam descansar, porém deviam permanecer onde pararam até poderem continuar, o mais importante é que percorram a maior distância possível e quando a prova terminar serão avisados. Utilizaram roupas e calçado confortável, realizaram a prova acompanhados de técnica de cardiopenumologia, que ia incentivando e informando do tempo de prova decorrido. Durante toda a prova o doente foi monitorizado nos parâmetros Saturação de Oxigénio (SatO2) e a Pulsação através de oxímetro de pulso marca Elnor ®. A prova foi interrompida sempre que os doentes referiram dor torácica ou dos membros inferiores, dispneia grave e SatO2 inferiores a 85% em ar ambiente ou com Oxigénio suplementar. Tinham disponível uma cadeira caso os doentes precisassem de interromper a prova, Oxigénio transportável que foi utilizado sempre que os doentes apresentavam SatO2 <90% e monitor desfibrilhador. No início e após o término da prova foram registados os valores de SatO2, pulsação e o grau de dispneia percecionado pelo doente através da aplicação da escala de Borg modificada. American Thoracic Society, (2002). Esta é uma escala vertical quantificada de 0 a 10, onde zero representam nenhuma dispneia e 10 dispneia máxima (Quadro 1). Os doentes eram orientados para escolher uma única pontuação que refletisse a perceção do seu grau de dispneia antes e após a PM6. Quadro 1 – Escala de Borg Modificada Fonte: American Thoracic Society, 2002 A investigação foi previamente submetida a aprovação e autorização pela diretora do Serviço de Pneumologia Centro Hospitalar, os dados foram codificados, inseridos e 16 analisados pelo número de identificação do processo de forma a respeitar e a garantir o anonimato dos participantes. Os dados foram inseridos e analisados em base de dados do programa informático SPSS®. (Statistical Package for Social Sciences) versão 18.0 para Windows. Para todas as variáveis foi calculada média, desvio padrão e frequências absolutas e relativas. O teste do Qui quadrado foi utilizado para analisar a relação entre variáveis. Resultados Dos 31 doentes avaliados 22 eram do género masculino e 9 feminino, com uma média de idade de 68,8 anos, sendo a média de idade do género masculino maior 69,8 anos. O Índice Médio de Massa Corporal foi de 27,12 Kg/cm2 +/- 4,3 Kg/cm 2 recaindo também no género masculino o maior Índice de Massa Corporal 29,3 Kg/cm2. A distância média percorrida foi 263,57 metros nos homens e 258 metros nas mulheres, a média total da distância percorrida foi de 344,2 m, variando entre o mínimo de 45m e máximo de 595m. Tabela nº1 – Caraterização da amostra Variáveis Homens Mulheres H/M Doentes (N) 22 9 31(52-79) Idade (anos) 69,8 67,8 68,8 (52 – 79) Altura (cm) 166,1 155,2 163,4 Peso (kg) 81,2 65,8 72,8 (41-91) IMC (kg/cm 2) 29,3 26,8 27,2 (18 -37,4) 263,57 258 344,2 (45-595) Distância Percorrida Resultados apresentados em Média Quanto à caraterização da função pulmonar a média da CVF foi de 69,1% Volume Expiratório Máximo (VEMS) ao 1º segundo foi de 52,2% variando entre o mínimo de 19% e o máximo de 97%, a saturação de oxigénio foi de 92,1% variando entre o mínimo de 87% e o máximo de 97% e a frequência cardíaca em repouso foi de 80 batimentos por minuto. As 17 mulheres apresentaram médias mais elevadas em relação aos homens à exceção da frequência cardíaca. Tabela nº2 – Caraterização da função pulmonar Homens Mulheres H/M Média Média Média % CVF 61,4 81,5 69,1 % VEMS 47,1 72,6 52,2 SatO2 média 93,1 95,4 92,1 FC basal 80,2 76,4 80,2 Variáveis Em relação aos hábitos tabágicos 16 eram ex-fumadores e 1 fumador ativo, verificandose uma diferença estatisticamente significativa nos hábitos tabágicos e o género (p <0,00), apenas uma mulher era ex-fumadora e as restantes nunca fumaram. Tabela nº3 – Distribuição dos doentes por género e hábitos tabágicos. Masculino Feminino Total Sim 1 0 1 Não 6 8 14 Ex. Fumador 15 1 16 22 9 31 Variáveis Háb. Tabágicos Total Dos 31 participantes, 17 apresentavam um grau de obstrução grave e 8 moderado, correspondendo a 13 e a 6 homens respetivamente. Tiveram necessidade de interromper a prova 7 pessoas recaindo 4 interrupções no sexo feminino. 18 Tabela nº4 – Distribuição dos doentes por género, grau de obstrução e interrupção da prova de marcha de 6 minutos. Variáveis Masculino Feminino Total Ligeira 3 3 6 Moderada 6 2 8 Grave 13 4 17 Interrupção da Sim 3 4 7 PM6min Não 19 5 24 22 9 31 Grau de Obstrução Total Os valores de Saturação Arterial de Oxigénio variaram entre 81 e 96% sendo a média antes e após a prova de 94% e 94,5% respetivamente, em ambos os géneros. Cerca de 58% não necessitou de Oxigénio no início da prova e no final aproximadamente 75% necessitou. Tabela nº5 – Médias e variação Basal antes e após a prova de marcha de 6 minutos. Prova de Marcha de 6 min. Variáveis Escala Modificada de Borg Sat O2 (%) O2 ( L) FC (Bat/min) Média Inicial Média Final Variação Masculino 2,64 4,55 1,94 Feminino 1,66 3,55 1,89 Total 2,35 4,19 1,84 Masculino 94 94,5 0,5 Feminino 94,4 94,6 0,2 Total 94,1 94,5 0,4 Masculino 0,68 3,0 2,32 Feminino 0,44 0,94 0,5 Total O, 6 2,4 1,8 Masculino 80,3 97,0 16,7 Feminino 76,4 90,0 13,6 Total 80,3 94,3 14 19 Observou-se uma necessidade maior de oxigénio nos homens principalmente após a prova de marcha, sendo a média de 3 litros de O2. A frequência cardíaca também foi maior mos homens antes e após a prova de marcha de 6 minutos com 80 e 87 batimentos por minuto respetivamente. A perceção média que os doentes têm da sua dificuldade respiratória, antes e após a prova de marcha, foi maior nos homens do que nas mulheres 2,64 e 4,55 nos homens e 1,66 e 3,5 nas mulheres respetivamente. Discussão A DPOC causa prejuízo da função pulmonar, aumentando os sintomas respiratórios e desconforto físico. Estas alterações interferem com a qualidade e com as atividades de vida e dos doentes com DPOC. Santos, Rosa e Battagin, (2009). No nosso estudo a maior frequência observou-se no género masculino e a uma média geral de idades foi de 68,8 anos. No estudo de Santos, Rosa e Battagin, (2009), 20% (6) dos doentes com idades com idades entre 57 e 78 anos, também apresentavam dependência parcial nas atividades de vida diária. Assim, como no estudo de Incalzi [et.al.], (2005) doentes com DPOC apresentavam limitação para as atividades vida diária relacionadas à mobilidade (subir e descer escadas, caminhar, pelo menos 400 metros), associadas a idades avançadas e ao sexo masculino, dados corroborados pelo nosso estudo. Também os estudos nacionais apontam para um aumento da prevalência da DPOC com a idade e associada ao género masculino. Machado, (2007). Verificamos também haver uma relação estatisticamente significativa dos hábitos tabágicos com o género, verificando-se um maior predomínio de fumar nos homens, em 17 fumadores ou ex-fumadores 16 eram homens, o que induz a pensar na interferência de padrões sociais e culturais, pois tradicionalmente, os homens ainda são os grandes consumidores de tabaco. O tabagismo é a principal causa de DPOC, sendo considerada por muitos países, incluindo Portugal, como um problema de saúde pública com tendência de agravamento no futuro, associada ao aumento de consumo de tabaco. É consensual e universalmente aceite, que pelo menos 20% dos fumadores virão a desenvolver limitação ventilatória obstrutiva com tendência progressiva. Direção Geral de Saúde, (2005). Há evidência científica de que a cessação tabágica é a única medida que contraria, efetivamente, a evolução da DPOC e a que tem melhor relação custo/benefício. DGS, (2005), pelo que nos parece importante investir em políticas e programas preventivos antitabágicos. 20 Verificamos que a média de saturação de oxigénio foi menor nos homens 93,1%, a perceção do grau de dispneia antes e após a prova foi maior, bem como a frequência cardíaca e o consumo de oxigénio suplementar, o que se pode associar a um maior esforço por parte dos homens. No nosso estudo os doentes com DPOC percorreram uma média de 344 metros variando entre o mínimo de 45m e máximo de 595m, o que sugere uma limitação para o exercício físico e para as atividades de vida diária. Os homens tiveram uma média de distância percorrida ligeiramente maior que as mulheres, sendo 263,57 metros nos homens e 258 metros nas mulheres. Estes também apresentaram valores de peso, altura e IMC maiores. Dados corroborados pela literatura da área da especialidade que evidencia que pessoas com maior estrutura corporal conseguem percorrer maiores distâncias. Teixeira, (2006); Viular, (2008) Conclusão No nosso estudo os doentes com DPOC percorreram uma média de 344 metros o que sugere uma limitação para o exercício físico e para as atividades de vida diária. O género masculino evidenciou maior grau de obstrução e média de perceção de dispneia antes da prova de marcha mais elevada. O exercício e as atividades de vida diária em doentes com DPOC devem ser feito de forma individualizada tendo em conta as suas limitações funcionais. Existe evidência científica de que os doentes com DPOC beneficiam de programas de exercício físico, os quais melhoram os sintomas de dispneia e reduzem o grau de fadiga. Pelo que se torna importante a implementação destes programas juntos destes doentes no sentido de minimizar as complicações e limitações progressivas da DPOC. Referências Bibliográficas - American Thoracic Society (2002). Committee on Proficiency Standards for Clinical Pulmonary Function Laboratories. ATS statement: guidelines for the six-minute Walk test. Am J respir Crit care Med, 166, 111-7. - American Thoracic Society/European Respiratory Society (2005). Standardization of Spirometry. Am J Respir Crit Care Med, 152(3), 1107-36. - Direção-Geral de Saúde (2005). Programa Nacional de Prevenção e Controlo da Doença Pulmonar Crónica Obstrutiva. Circular Normativa nº 04/GGGG. Ministério da Saúde. Portugal - GOLD (2005) – Global Strategy for the Diagnosis, Management, and Prevention of Chronic Obstructive Pulmonary Disease. Am J Respir Crit Care Med, 163, 1256-76. 21 - Gutierrez, F.J.A. [et al]. (2007). Impacto of Chronic Obstructive Pulmonary Disease on Activities of daily living: results of the EIME Multicenter Study. Arch Bronconeumol, 43, 64-72. - Incalzi, R.A. (2005). Construct Validity of activities of daily living scale. Chest, 127:8308. - Miller, M.R. [et al].(2005). Standardisation of spirometry. 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[email protected] Teresa Isaltina Gomes Correia Professora Coordenadora Instituto Politécnico de Bragança - Escola Superior de Saúde. Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano. [email protected] 23 Resumo Introdução: O ambiente hospitalar é caraterizado pelo elevado número de riscos desde os físicos, os químicos, os biológicos aos psicossociais, que afetam a saúde dos trabalhadores, tanto da prestação de cuidados diretos ao utente como os de serviços de apoio, expondo-os a condições favoráveis à ocorrência de acidentes de trabalho. Objetivos: Caraterizar os acidentes de trabalho nas unidades hospitalares do distrito de Bragança entre 2000 e 2010, descrever o perfil epidemiológico do acidentado e identificar as causas e consequências dos acidentes de trabalho. Material e Métodos: Estudo epidemiológico transversal retrospetivo referente ao período de 1 de janeiro de 2000 e 31 de dezembro de 2010. A informação foi obtida através do inquérito anónimo de notificação dos acidentes, referente a 453 trabalhadores. A recolha de dados foi realizada por uma das investigadoras após autorização do Conselho de Administração durante o mês de janeiro de 2011 nos dias úteis entre as 9:00 e as 17:00 horas no serviço saúde ocupacional. Resultados: A maior prevalência verificou-se no género feminino (83,7%), no grupo profissional dos Técnicos Superiores de Saúde (61,0%), na faixa etária 40-99 anos (33,9%) e com habilitações literárias licenciatura (59,8%). Em trabalhadores com mais de 10 anos de tempo de serviço (77,1%), em regime de nomeação (88,8%) e a praticar horário por turnos (70,7%). O local com maior sinistralidade foi no internamento (40,7%). Em média os acidentes ocorreram às 12,8 horas (s±4,7), à segundafeira (18%), nos dois primeiros dias de trabalho após descanso semanal (55,5%) e entre a 1ª e a 3ª hora de trabalho (36,1%). A principal causa de acidente foi a picada de agulha (34,6%) e o agente de lesão ferramentas/utensílios respondeu por (44,9%). Resultaram em incapacidade (33%) dos acidentes e o nº de dias perdidos foi de 7 931. Os membros superiores foram mais afetados (54,4%) e as feridas foi a lesão mais frequente (43,4%) seguida dos entorses/distensões (21,4%). Discussão/Conclusões: Os achados evidenciaram maior prevalência dos acidentes nos técnicos superiores de saúde, possivelmente pela proximidade conferida pela assistência direta aos pacientes por parte destes técnicos. A picada de agulha foi a causa mais relevante, facto que está associado às características das atividades realizadas por estes profissionais, como preparação/administração de medicação, pesquisa de glicémia capilar, punções venosas, realização de pensos, entre outras. Ressalta, assim, a importância de implementar medidas preventivas/educativas e revisão dos processos de trabalho de forma a minimizar os acidentes e as suas consequências. Palavras-chave: Hospital; Acidentes de Trabalho; Saúde Ocupacional; Risco Ocupacional. Abstract Introduction: The hospital environment is characterized by the large number of risks from physicists, chemists, biological to psychosocial problems that affect the health of workers, both providing direct care to the patient as support services, exposing them to favorable conditions for the occurrence of accidents. Objectives: To characterize workplace accidents in hospitals in the district of Bragança between 2000 and 2010 describe the epidemiological profile of the victims and identify the causes and consequences of accidents. Material and Methods: A retrospective cross-sectional epidemiological study covering the period from January 1, 2000 and December 31, 2010. The information was obtained through anonymous survey for accidents, related to 453 workers. Data collection was performed by one of the investigators after authorization by the Board of Directors during the month of January 2011 on weekdays between 9:00 and 17:00 in the occupational health service. Results: The highest prevalence was found in females (83.7%) in the group of professional Technicians Health (61.0%), aged 40-99 years (33.9%) and educational degree (59.8%). Workers with more than 24 10 years of service time (77.1%) in naming scheme (88.8%) and practice time shift (70.7%). The site with the highest accident rate was in hospital (40.7%). On average the accident occurred at 12.8 hours (± 4.7 s), on Monday (18%) in the first two working days after weekly rest (55.5%) and between the 1st and the 3rd time work (36.1%). The main cause of the accident was pinprick (34.6%) and injury agent tools / utensils accounted for (44.9%). Resulted in disability (33.0%) of accidents and the number of days lost was 7931. The upper limbs were the most affected (54.4%) and the wounds was the most frequent injury (43.4%) followed by sprains / strains (21.4%). Discussion / Conclusions: The findings showed a higher prevalence of accidents in the higher technical health, possibly due to the proximity afforded by direct care to patients by these technicians. A pinprick was the most relevant, because it is associated with features of the activities performed by these professionals, as preparation / administration of medication, research capillary blood glucose, venipunctures, performing dressings, among others. It appears, therefore, the importance of implementing preventive / educational and review of work processes in order to minimize accidents and their consequences. Keywords: Hospital; Workmen's Compensation; Occupational Health; Occupational Risk. 25 Introdução Segundo o estipulado na legislação portuguesa, considera-se “acidente de trabalho aquele que se verifique no local e tempo de trabalho e produza direta ou indiretamente lesão corporal, perturbação funcional ou doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte.”Decreto-lei nº98/2009. O tipo de atividade profissional, as condições em que é desempenhado, as características físicas e psíquicas do trabalhador, o contexto social, económico e político constituem fatores determinantes de risco para a saúde dos trabalhadores. Uva, (2009) e Sêco; [et al], (2008). O ambiente hospitalar é caraterizado pelo elevado número de riscos desde os físicos, os químicos, os biológicos aos psicossociais, que afetam a saúde dos trabalhadores, tanto da prestação de cuidados diretos ao utente como os de serviços de apoio à prestação de cuidados, expondo-os a condições favoráveis à ocorrência de acidentes de trabalho. Uva, (2009) Acresce, ainda, muitas vezes problemas relacionados com a organização e com circunstancias do trabalho, como situações de emergência, horários contínuos e prolongados, provocando stress e fadiga nos trabalhadores. A exploração da força de trabalho, como, sobrecarga de serviço, salários insuficientes, insatisfação e insegurança ocupacional e ainda a exposição a riscos combinados expondo estes trabalhadores, continuamente a agravos à saúde. ACSS (2009). Nishide [et al], (2004) e Ruiz, [et al], (2004). A comunidade científica também tem demonstrado, que muitas vezes a causa do acidente está associada ao não cumprimento das precauções universais, por parte dos trabalhadores destas instituições. Seco, (2008) e Uva, (2007). Os últimos dados, sobre acidentes de trabalho nas instituições de saúde, publicados em Julho de 2009, pela Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS), apontam para um aumento do número de acidentes de trabalho registados desde 1997 a 2007, não só em valores absolutos mas também em valores globais de taxa de incidência, tendo-se registado, em 1997 um total de 3024 e em 2007 um total de 5063 ocorrências com uma taxa de incidência de 27,15% e de 39,28% respetivamente. Do total de acidentes em 2007, resultaram em incapacidades temporárias 1 581 e 87 em incapacidades permanentes, ascendendo a 52 702 o número de dias perdidos. Ao longo destes 10 anos, em média, houve duas pessoas que perderam a vida por ano, ou seja 20 pessoas (ACSS, 2009). Os acidentes de trabalho representam um sério problema para a saúde pública e um problema económico para as instituições e para os países. Enquanto nos sectores industriais houve um decréscimo, na área 26 da saúde ocorreu um incremento destas ocorrências, em especial no ambiente hospitalar, a taxa de acidentes no sector da saúde é superior em 34% á média da EU, exigindo mais investigações e intervenções neste contexto. Guerrini, (2008), ACSS, (2009) e OSHA (2010) A Saúde dos trabalhadores dos hospitais é uma área prioritária de intervenção em Saúde Ocupacional, pelo que exige aprofundar e atualizar o diagnóstico de saúde e desenvolver programas de promoção da saúde destes trabalhadores tanto a nível nacional, regional como local, com o objetivo de proporcionar ambientes laborais saudáveis neste contexto. Geraci (2005) e Uva (2007) A evidência científica tem demonstrado que ambientes de trabalho salutares contribuem para maximizar a saúde dos trabalhadores, o desempenho organizacional e aumentar a qualidade e a segurança dos cuidados que são prestados nestas instituições, ou seja, a qualidade dos cuidados ao doente/família. RNAO, (2006) e Uva, (2007). Apesar da relevância deste problema pouca atenção tem sido dada aos riscos de acidentes de trabalho e à implementação de melhores condições laborais na área da saúde, assim como são poucos os estudos que tratam deste assunto, por forma a ter um conhecimento real da situação e implementar medidas preventivas no sentido de minimizar os acidentes de trabalho, bem como as consequências que deste advêm. Ruiz [et al], (2004). Com este estudo objetivou-se caraterizar os acidentes de trabalho nos hospitais do distrito de Bragança entre 2000 e 2010, descrever o perfil epidemiológico do acidentado e identificar as causas e consequências dos acidentes de trabalho. Material e Métodos Estudo epidemiológico transversal retrospetivo, referente ao período de 1 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2010. Realizado nas três Unidades Hospitalares do Distrito de Bragança, Unidade Hospitalar de Bragança, Unidade Hospitalar de Macedo de Cavaleiros e Unidade Hospitalar de Mirandela. Estas unidades hospitalares prestam serviços de saúde na área médico-cirúrgica, saúde da mulher e da criança, da saúde mental e psiquiátrica, na urgência, emergência e cuidados intensivos, e meios de diagnóstico e terapêutica. A amostra deste estudo foi constituída por 453 trabalhadores que sofreram acidente de trabalho e o notificaram junto dos serviços de recursos humanos, no período do estudo. A informação foi obtida recorrendo ao registo das notificações de acidentes de trabalho, através do inquérito anónimo da Direção Geral dos Recursos Humanos da Saúde, constituído por 3 grupos de questões fechadas. O primeiro diz respeito às características do acidentado (idade, género, habilitações literárias, categoria profissional, tempo de serviço, relação jurídica de 27 emprego e modalidade de horário) o segundo às características do acidente (local, agente de lesão, localização, dia, mês, hora, n.º de horas de trabalho cumpridas no momento do acidente, dia do acidente face ao último dia de descanso semanal, prestação de 1º socorro, e ação que levou á lesão) e o terceiro às consequências do acidente (tipo de lesão, parte do corpo atingida, incapacidade provocada, ausência ao trabalho e nº de dias perdidos). A investigação foi previamente submetida a aprovação e autorização do Conselho de Administração, após parecer da comissão de ética. A recolha de informação foi agendada previamente e realizada por uma das investigadoras nos dias úteis, entre as 9 e as 17 horas, durante o mês de janeiro de 2011 no serviço de Saúde Ocupacional. Os dados foram codificados, inseridos e analisados em base de dados SPSS® (Statistical Package for Social Sciences) versão 18.0 para Windows, de forma a manter o anonimato dos participantes. Recorremos à estatística descritiva, com cálculo de frequências absolutas e relativas, media e desvio padrão. Definimos ausência ao trabalho quando o trabalhador faltou ao trabalho por um período igual ou superior a um dia. Resultados No período do estudo foram notificados 453 acidentes, recaindo a maior proporção de notificação de acidentes nos anos de 2006 (17,4%) e 2004 (15,5%). Na Unidade Hospitalar de Bragança foram notificados (54,4%) dos acidentes, na Unidade Hospitalar de Macedo de Cavaleiros (25,3%) e na Unidade Hospitalar de Mirandela (20,3%). A amostra caraterizou-se por uma maior prevalência de acidentes no género feminino (83,7%), no grupo profissional dos Técnicos Superiores de Saúde (60,8%), entre os quais (50%) recaiu na categoria profissional dos enfermeiros, seguido dos Auxiliares de Acão Médica (26,9%). O grupo etário entre os 40-99 anos foi onde se verificou maior sinistralidade laboral (33,9%) seguido, com uma proporção muito próxima, o grupo etário entre os 50-59 anos (33,1%). Os trabalhadores com um nível habilitacional de licenciatura foram os que tiveram maior notificação de acidentes (59,8%) seguido dos trabalhadores com menos do 9º ano de escolaridade (33,7%), com mais de 10 anos de tempo de serviço (77,1%), em regime de nomeação (88,8%) e a praticar horário por turnos (70,7%), respondendo o turno da manhã (08.00-16.00 horas) por (64,5%) dos acidentes. (Tabela º1) 28 Tabela nº 1 – Caraterização da amostra Variáveis Feminino Género Masculino <9º Ano Habilitações literárias >9º ≤12º Ano Licenciatura TSS* Grupo profissional AAM** Administrativo Outro 20-29 Anos 30-39 Anos Grupo etário 40-49 Anos 50-59 Anos > 60 Anos <5 Anos Tempo de serviço 5 – 10 Anos ≥ 10 Anos Fixo Tipo de horário Turnos N 380 73 153 27 273 276 121 17 39 30 99 154 151 19 48 55 350 132 321 % 83,7 16,3 33,7 6,2 60,1 60,8 26,9 3,7 8,6 6,8 21,8 33,9 33,1 4,2 10,8 12,1 77,1 29,3 70,7 Quanto à caraterização do acidente, o local com maior sinistralidade foi o internamento (40,7%), respondendo o serviço de medicina por 12,9% seguido do serviço de urgência (12,6%) e o bloco operatório (9,9%). Em média os acidentes ocorreram às 12,8 horas (s±4,7), à segunda-feira (18%), nos meses de novembro (11,0%) e de junho (9,7%), nos dois primeiros dias de trabalho após descanso semanal (55,5%) e entre a 1ª e a 3ª hora de trabalho (36,1%). As principais causas de acidente foram a picada de agulha (34,6%), a queda do trabalhador/objetos (24,3%) e os esforços excessivos/movimentos inadequados (17,6%). As ferramentas/utensílios foram o agente de lesão mais frequente (44,9%) seguido da mobilização de doentes (14,5%) e do pavimento (14,1%). (Tabela nº2) 29 Tabela nº 2 – Caraterização do acidente Variável Internamento Serviço de urgência Bloco operatório Zona entre serviços/Exterior Farmácia/laboratório Consulta externa In itinere Outro Picada de agulha Queda do trabalhador/objeto Esforço excessivo/Movimento inadequado Pancada/corte por objeto Outro Ferramentas/instrumentos Pavimento Mobilizar doentes Escadas/Rampas móveis Meios de transporte Outro Local do acidente Ação da lesão Agente da lesão N % 184 58 45 26 19 24 9 88 157 110 80 72 34 204 64 65 15 10 95 40,7 12,8 9,9 5,7 4,2 5,3 2,0 19,4 34,8 24,3 17,6 16,1 7,2 44,9 14,1 14,9 3,3 2,4 11,8 Como principais consequências, observou-se (32,6%) dos acidentes resultaram em incapacidade e o nº de dias perdidos foi de 7 931, variando entre o mínimo de 1 e o máximo de 941, recaindo a média em 17,7 dias de trabalho por acidente. Os membros superiores foram os mais afetados (54,4%), respondendo as mãos por (47,1%) seguido do tronco (16,1%) e os membros inferiores (14,3%). As feridas foi a lesão mais frequente (43,4%) seguida dos entorses/distensões (21,4%). (Tabela nº3) Tabela nº 3 – Consequências dos acidentes Variáveis Tipo de lesão Parte do corpo atingida Ausência ao trabalho Ferida Entorse /distensão Contusão /esmagamento Fratura Luxação Outro Membros Superiores Membros inferiores Tronco Cabeça Múltiplas Sem ausência Com ausência N % 197 97 52 23 16 68 247 65 73 17 51 303 150 43,7 21,4 11,5 5,1 3,5 14,8 54,4 14,3 16,1 3,7 11,5 67,4 32,6 30 Discussão Durante os 10 anos do estudo verificaram-se 453 acidentes de trabalho, registados através do inquérito de notificação dos acidentes de trabalho junto do Serviço de Recursos Humanos da Saúde, num centro hospitalar distrital, constituído por três unidades, onde se prestam cuidados a utentes com diferentes níveis de complexidade. O Inquérito de notificação dos acidentes é um instrumento revelante para os estudos epidemiológicos nesta área, pelas informações que pode dispensar, porem, tornam-se limitados quando os registos dos dados não é feito de forma correta ou as anotações são incompletas. Esta limitação ficou clara na análise epidemiológica de algumas situações, como é o caso da descrição da ocorrência do acidente, do uso ou não de Equipamento de Proteção Individual (EPI), dos procedimentos no Serviço de Urgência e do seguimento do trabalhador, pelo que estas variáveis não poderem ser avaliadas. Quanto à distribuição dos acidentes ao longo dos anos a maior proporção verificou-se no ano de 2006 (17,4%), dados que não corroboram as estatísticas nacionais que apontam para um aumento global dos acidentes ao logo dos anos de aproximadamente de 12%. ACSS, (2009) Estes aumento de notificação nestas instituições, em 2006, pode dever-se à implementação do serviço de Saúde Ocupacional durante o ano de 2005 e consequentemente uma maior sensibilidade dos seus trabalhadores para a notificação destas ocorrências, no entanto, não temos evidência científica. A Unidade Hospitalar de Bragança é a unidade que comporta maior número de trabalhadores e que presta cuidados mais diferenciados e diversificados pelo que justifica uma notificação de mais de metade dos acidentes. O maior predomínio de acidentes neste estudo foi nos técnicos superiores de saúde e particularmente na categoria profissional dos enfermeiros (50%), no sexo feminino (83,7%) e com habilitações literárias de licenciatura (50,1%), o que corrobora os resultados de outros estudos nacionais e internacionais. Ruiz, (2004); ACSS, (2009); Martins, (2009, 2012) e Ribeiro, (2010) É possível entender estes resultados, uma vez que os enfermeiros representam o maior grupo profissional nos hospitais, é constituído maioritariamente por mulheres e a sua formação de base em Portugal é desde 1990 de licenciatura. É este grupo profissional que prestam, de forma ininterrupta, os cuidados diretos, desde os mais simples aos mais complexos, aos doentes/família, recorrendo a um conjunto de tecnologia diversificada e sofisticada, expondo-os a mais a riscos laborais, dados corroborados pela investigação nacional. ACSS, (2009); Martins, (2012) Existem alguns estudos americanos que apontam outros profissionais, como os auxiliares de enfermagem, para os mais acidentados, isto deve- 31 se ao facto de nestes países as categorias profissionais serem distintas bem como as funções inerentes a cada uma, assumindo estes, alguns cuidados prestados em Portugal pelos enfermeiros. Nishide, (2004); Ruiz, (2004) Bakke, (2010) Quanto à variável grupo etário verificou-se um predomínio de (67%) entre os 40 e 59 anos e com mais de 10 anos de serviço, (77%). Dados discordantes com os da ACSS, (2009) que apontam para uma maior frequência de acidentes no grupo etário dos 25-35 anos e outros estudos internacionais referem idades mais jovens entre os 21-50 anos e os 21-40 anos. Ruiz, (2004) e Bakke, (2010). Os nossos resultados podem justificar-se por uma maior sensibilização destes trabalhadores para a notificação destas ocorrências ou por outro lado pela minimização e desvalorização dos riscos laborais por parte destes trabalhadores mais experientes, expondo-os mais a risco de acidente. O praticar horário por turnos foi responsável por (70,7%) e no turno da manhã ocorreram (64,5%), dados coincidentes com outra literatura da área e que se justifica por ser neste turno que se encontra um maior contingente de trabalhadores e se prestam o maior número de cuidados/diretos e indiretos aos utentes. Ribeiro, (2010); Isidoro, (2010); Martins, (2012). No que diz respeito à caraterização do acidente, o local onde se verificou maior sinistralidade foi no internamento (40,7%) nomeadamente o serviço de medicina (12,9%), entre a 1ª e a 3ª hora de trabalho (36,1%). Estes dados podem ser explicados pelo facto de neste serviço os doentes serem maioritariamente idosos, com grandes limitações físicas, muitas vezes obesos, com patologias crónicas associadas, exigindo da parte dos profissionais um maior esforço na dinamização de um conjunto diversificado de meios terapêuticos com recurso a instrumentos perfurocortantes e um esforço físico para a mobilização destes utentes, expondo estes profissionais a um rico acrescido para acidentes. Ribeiro, (2010); Spagnulo, (2011) Também vários estudos indicam o horário de início de trabalho (0-4 horas) como o mais critico para a ocorrência de acidentes pela intensidade e características das atividades realizadas no início do turno, como colheita de espécimes para análises, preparação de doentes para cirurgia ou meios auxiliares de diagnóstico, realização de penso, prestação de cuidados de higiene, mobilização, conforto e alimentação … Nishide, (2004); Bakke, 2010; Spagnulo, (2011) A causa mais referida foi a picada de agulha (34,6%), provocada por ferramentas/utensílios (44,9%), dados que se assemelham aos achados de outros estudos que indicam os acidentes com perfurocortantes como a principal notificação neste contexto, associado mais uma vez às características das atividades desempenhadas, bem como ao uso de 32 práticas de risco, impróprias e inconsequentes como o reencapsulo de agulhas e abandono inadequado. Ruiz, (2004); Ribeiro, (2010); Martins, (2012) Os acidentes que tiveram como causa as quedas ou esforços excessivos, correspondem à segunda e terceira maior causa de notificação (24,3% e 17,6% respetivamente), a grande maioria estava relacionada com o pavimento molhado e a esforços físicos ou pesos excessivos durante a atividade laboral. Sabe-se que a carga excessiva de trabalho provoca acidentes e adoecimento dos trabalhadores, repercutindo-se em períodos de afastamento de trabalhador mais ou menos prolongados. Ruiz, (2004) Quanto às consequências dos acidentes resultaram em incapacidade (32,6%) levando a um total de dias de ausência ao trabalho de 7 931. A realização de atividades que exige destreza e precisão por estes trabalhadores deixaos mais vulneráveis a lesionar os membros superiores, especialmente as mãos. Este facto foi confirmado neste estudo, visto que ocorreram (54,4%) dos acidentes nos membros superiores, dos quais (47,1%) nas mãos, comportamento que corrobora a literatura sobre o assunto. Ruiz, (2004); Machado, (2006); Ribeiro, (2010); Martins, (2012). Conclusão Os resultados evidenciaram uma maior prevalência dos acidentes dentro do grupo dos técnicos superiores de saúde, especialmente o grupo profissional dos enfermeiros, possivelmente pela proximidade conferida pela assistência direta aos pacientes por parte destes técnicos. A picada de agulha foi a causa mais relevante, facto que está associado às características das atividades realizadas pelo grupo profissional dos enfermeiros, como preparação/administração de medicação, pesquisa de glicémia capilar, punções venosas, realização de pensos, entre outras. As consequências evidenciadas, como a parte do corpo mais atingida o tipo de lesão também nos remetem param as características das condições em que estas atividades profissionais são desempenhadas. Ressalta, assim, a importância de implementar medidas preventivas por meio de estratégias educativas e de revisão dos processos de trabalho por forma a minimizar os acidentes de trabalho bem como as consequências que lhe estão associadas. Igualmente importante é o acompanhamento e monitorização da situação de saúde dos trabalhadores dos hospitais através dos serviços de saúde ocupacional. 33 Referências Bibliográficas Administração Central do Serviços de Saúde - ACSS, (2009) - Acidentes de Trabalho 2007. Unidade Funcional de Estudos e Planeamento dos Recursos Humanos. Lisboa. julho. Bakke, H.A.; Araújo, N.M.C. (2010). Acidentes de trabalho com profissionais de saúde de um hospital universitário. Ver. Produção. Out/Dez.Vol.20(4):669-76. Doi: 10.1590/so10365132010005000015. 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Contacto: [email protected], telefone: 913504398. 3 - Enfermeira Especialista em Saúde Comunitária, ULSNE Contacto: [email protected], telefone: 962785244. 4 - Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, ULSNE Contacto: alí[email protected], telefone: 919943427. 5 - Enfermeiro Especialista em Saúde Comunitária, ULSNE Contacto: [email protected], telefone: 934897365. 36 Resumo Introdução: Quando já não é possível a manutenção dos idosos no seu meio familiar ou social, a institucionalização é a única forma de garantir ao idoso uma vida confortável, respeitando tanto quanto possível a sua independência. O afastamento prolongado da família pode ocasionar, depressão, angústia e solidão. Este sentimento de rejeição, a sensação de inutilidade que pode advir do facto dos filhos já terem a sua vida e a sensação de já não ser preciso, de “estar a dar trabalho” e de ter perdido a razão de viver, é um factor de descompensação e de desinteresse pela vida. Objectivo: Esta investigação procurou: caracterizar a população idosa residente, identificar o apoio da família para com o idoso, avaliar o apoio da instituição para com o idoso, detectar sentimentos de solidão/ abandono por parte do idoso. Material e Métodos: Face ao tema em estudo e aos objectivos traçados, optamos por um estudo exploratório, descritivo e transversal, recorrendo ao método quantitativo. A presente investigação foi realizada numa instituição de terceira idade do Nordeste Transmontano, em Novembro de 2011, a uma amostra de 26 idosos institucionalizados. O instrumento de recolha de dados seleccionado foi o formulário. Resultados: Os inquiridos, têm idades compreendidas entre 73 e 92 anos. Relativamente ao género, 73.08% são do sexo feminino e 26.92% do sexo masculino. No que diz respeito à existência de um confidente para falar dos seus problemas, 15.38% dos idosos institucionalizados diz nunca ter ninguém com quem falar. O nosso estudo mostra que 73% dos idosos vivia com a família antes da sua institucionalização. Relativamente à frequência ideal para a visita dos familiares, 34.15% referem que gostariam de ser visitados semanalmente. Do total de inquiridos, 61.54% referem não ter contacto com pessoas externas à instituição. Discussão e Conclusão: Alguns idosos têm a percepção de que a família e a instituição não lhes fornecem o apoio que eles gostariam de ter, quer ao nível de assistência recebida, comunicação, crescimento emocional, afectos e resolução de problemas. Assim sendo, achamos pertinente a implementação de um Projecto de Intervenção Comunitária, por forma a: favorecer a reconstrução de laços familiares; sensibilizar as famílias para um maior e melhor apoio ao Idoso institucionalizado; promover junto das instituições algumas medidas que visem o desenvolvimento de talentos, competências e capacidades para que os idosos aumentem a sua auto-estima, e fortifiquem as suas relações de amizade. Palavras-chave: Idoso; Institucionalização; Sentimentos. Abstract Introduction: When it is no longer possible to maintain the elderly persons in their family environment or social, institutionalization is the only way to ensure a comfortable life for the elderly persons, as much as possible, respecting their independence. The family separation can cause depression, anxiety and loneliness. This feeling of rejection, the sense of worthlessness that may arise from the fact that the children already have their life and feeling no longer need, "to be paying job" and have lost the reason to live, is a factor of bewilderment and disinterest in life. Objective: This study characterizes the elderly persons resident; identify family support to the elderly; the institution's support to the elderly persons; experience feelings of loneliness / abandonment by the elderly persons. Material and Methods: We chose an exploratory, descriptive and cross-sectional, using the quantitative method. This research was developed in a northeastern home in November 2011, to a sample of 26 institutionalized elderly persons. The instrument data collection was selected was a 37 form. Results: The respondents are aged between 73 and 92 years. As for sex, 73.08% are female and 26.92% male. Our study shows that 73% of the elderly persons lived with his family before his institutionalization. 15.38% answered that they do not have a family confidant. 30.77% reported that they would like to be visited by their families daily. 61.54% reported not having contact with people outside the institution. 15.38% of the institutionalized elderly persons says never have anyone to talk to. Discussion and Conclusion: Some older people have the perception that the family and the institution does not provide them the support they would like to have, whether at the level of care received, communication, emotional growth, affection and troubleshooting. We find relevant implementing a Community Intervention Project in order to: promote the reconstruction of family ties; sensitize families to a greater and better support for institutionalized elderly; promote the institutions some measures aimed at developing talent , skills and abilities for older people increase their self-esteem, and fortify their friendly relations. Keywords: Elderly persons; Institutionalization; Feelings. 38 Introdução A velhice é um fenómeno biológico, psicológico e cultural, difícil de ser circunscrito, pois cada aspecto da velhice reage sobre todos os outros e é afectado por eles, e é nesse movimento que é preciso apreendê-la. O idoso é visto como o principal membro da comunidade familiar, pois ele representa uma história de vida, a história daquela família, como se codificasse um gene, a biografia. É na família que o idoso necessita de cuidados, apresenta as suas manias e acaba por envolver a família em torno de si, leva os mais jovens a olhar não só para si como também para tudo a sua volta. É neste contexto que ele realiza as suas relações afectivas e significativas, e é da família que ele espera a segurança e o apoio necessário para que continue a viver a sua velhice autonomamente, de modo bem-sucedido (Néri, 1999). O aumento relativo e absoluto do número de pessoas idosas, característico da nova realidade demográfica que se evidenciou a partir do último século, surge em paralelo com alterações nos padrões de mortalidade e morbilidade. Daqui resultam várias problemáticas, associadas à progressiva dependência das pessoas idosas. Segundo Silva, Bessa e Oliveira (2004), 43% dos idosos não institucionalizados acima de 85 anos de idade necessitam de assistência nas actividades básicas de vida diária e estas são, geralmente, providas pelos seus familiares. O afastamento prolongado da família pode ocasionar, depressão, angústia e solidão. Este sentimento de rejeição, a sensação de inutilidade que pode advir do facto dos filhos já terem a sua vida e a sensação de já não ser preciso, de “estar a dar trabalho” e de ter perdido a razão de viver é um factor de descompensação e de interesse pela vida. O descuido da família para com o idoso, a inadequação de moradia, a ocupação profissional com a consequente falta de pessoas para o ajudar no auto cuidado e o padrão de relacionamento entre os membros da família, na maioria das vezes, são precipitantes para a institucionalização do idoso, excluindo o idoso do convívio familiar harmonioso. Segundo Caldas (2002, p.51) "A família e os amigos são a primeira fonte de cuidados. O maior indicador para a institucionalização de longa duração entre idosos é a falta de suporte familiar". As sociedades não estão a preparar os seus cidadãos para o processo de envelhecimento e nem para oferecer qualidade de vida aos seus idosos, o que deixa como ultima instancia os lares de idosos (Santos, 1990). 39 Nesta perspectiva o idoso institucionalizado, necessita de atenção e de aproximação à família para ter um equilíbrio harmonioso e de entreajuda. Ao sentir-se isolado e privado da sua auto identificação, de objectos pessoais e de escolhas incapaz de fazer, torna-se urgente que a família e a instituição preencham este vazio e o ajudem a recuperar o seu bem-estar. Quando já não é possível a manutenção dos idosos no seu meio familiar ou social, os lares proporcionam uma habitação de forma a garantir ao idoso uma vida confortável, respeitando tanto quanto possível a sua independência. Prestam serviços de alojamento e todo o apoio permanente que assegure ao idoso a satisfação das suas necessidades. Torna-se importante referir que a instituição não substitui a família, mas deve ser vista como a ampliação desta, com laços e vínculos igualmente significativos. A relação entre o idoso e a família é muito diversificada, podemos encontrar aqueles que mantém vínculos significativos como aqueles que por circunstâncias diversas, romperam o seu vínculo familiar ou mantém uma relação distante e muitas vezes ausente. Como enfermeiros, e com experiência profissional em lares de idosos, constatamos pela simples observação, que existem idosos que não têm um acompanhamento familiar adequado e que sofrem no seu dia a dia com esse afastamento. Objectivos O conhecimento da funcionalidade familiar, bem como o apoio da instituição são importantes para o desenvolvimento de estratégias de assistência ao idoso, visto que o suporte familiar contribui de maneira significativa para a manutenção e integridade física e psicológica do indivíduo. Surgiu então a curiosidade científica para abordar o tema: realidades do processo de institucionalização - um olhar atento sobre as emoções do idoso. Os objectivos deste estudo são: • • • • caracterizar a população idosa residente, identificar o apoio da família para com o idoso, avaliar o apoio da instituição para com o idoso, detectar sentimentos de solidão/ abandono por parte do idoso. Material e métodos Face ao tema em estudo e aos objectivos traçados, optamos por um estudo exploratório, descritivo e transversal, recorrendo ao método quantitativo, realizado numa instituição de 40 terceira idade. Na altura da realização do estudo, encontravam-se institucionalizados vinte e seis idosos, sendo 19 mulheres e 7 homens, que corresponderam à nossa amostra. Foi feita uma reunião de esclarecimento sobre o estudo e todos os idosos, decidiram participar voluntariamente no mesmo. A colheita de dados foi realizada em Novembro de 2011. O instrumento de recolha de dados seleccionado foi o questionário, dado que os idosos apresentam alguma dificuldade em interpretar e responder às questões. Antes de se proceder à aplicação do formulário foram previamente explicados os objectivos do estudo e garantido o anonimato e o respeito aos princípios éticos. Foi feito um pedido por escrito à instituição, o qual foi concedido. O questionário é constituído por duas partes: Parte I - dados de identificação, caracterização dos idosos e das suas famílias e instituição; Parte II - escala de APGAR Familiar, que possui cinco questões. Estas permitem medir a satisfação dos membros da família em relação a cinco componentes considerados básicos na unidade e funcionalidade de qualquer família: adaptação, participação/companheirismo, grau de desenvolvimento, afectividade e capacidade resolutiva. Através do somatório da pontuação dada a cada uma das questões obtém-se uma pontuação que nos remete para, a funcionalidade familiar. Os dados recolhidos foram tratados com recurso à estatística descritiva que para o efeito e recorreu ao programa informático SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) versão 19.0. Resultados Foi aplicado um questionário, a vinte e seis idosos que correspondem á totalidade dos utentes institucionalizados. Dos 26 idosos que compunham a amostra, observou-se uma predominância do sexo feminino (73,08%) em relação ao masculino (26,92%). Relativamente à idade dos inquiridos verificamos que: 23,08% dos idosos têm idades compreendidas entre 70-80 anos; 65,38% dos idosos inqueridos apresentam idades compreendidas entre 81-90 anos, 11,54% inquiridos apresentam idades superiores a 91 anos. Relativamente ao estado civil, verificamos que a maioria é viúvo 57,69%, 26,92% é casado, 11,54% é solteiro e 3,84% é divorciado. No que concerne à presença do cônjuge no 41 lar, verificamos que 76.92% afirma que não está presente, enquanto 23.08% afirma que o mesmo se encontra no lar. No que diz respeito à proveniência dos idosos, 65,38% são das aldeias, enquanto 23,08% residem na cidade, e os restantes 11,54% residem em vilas. Na questão se viviam só ou acompanhados, verificamos que 73,08% dos inquiridos responderam que viviam acompanhados, enquanto 26,92% viviam sós. Relativamente à escolaridade, verificamos que 46,25% possuem o ensino primário incompleto, 30,77% têm o ensino primário completo e os restantes 23,08% não sabem ler nem escrever. No que concerne à profissão exercida pelos inquiridos, 69,23% eram domésticas, 15,38% dedicavam-se à agricultura, 7,70% eram empregados fabris, e em igual percentagem, 3,85%, dedicavam-se ao comércio e eram funcionários da GNR. Em relação aos problemas de saúde (gráfico I), 38,46% apresentam diabetes, em igual numero, 19,23% são hipertensos e possuem problemas do foro cardíaco, 7,70% sofrem de depressão, 3,84% têm neoplasia da mama e em igual percentagem, sofrem de doença pulmonar crónica obstrutiva. 42 A relação do idoso com a família antes de entrar para o lar, verificamos que, 38, 46% dizem ser muito boa, seguidos de 26,92% referirem ser nem boa nem má, 23,8% acham que é boa, 7,69% dizem ser má e os restantes 3,8% consideram a sua relação familiar muito má (gráfico II). Do total de inquiridos, verificamos que 84,62% têm filhos enquanto 15,38% não possuem filhos. Dos idosos com filhos 73,08% não residem no distrito e 26,92% residem no mesmo. No que diz respeito à disponibilidade de alguém com quem falar dos seus problemas, 50% dos inquiridos referem que geralmente têm alguém, seguido de 26,92% refere ter alguém disponível ás vezes e é de salientar que 15,38% diz nunca ter ninguém com quem falar. Em relação ao convívio com pessoas externas à instituição, 61,54% refere não conviver com pessoas que não sejam funcionários do lar, e 38,46% refere ter contacto com visitas externas. Em relação à pergunta, qual seria a situação ideal, de contacto com a família, 46,15% dos inquiridos referem que a situação ideal seria semanalmente, enquanto 30,77% gostariam de ser visitados diariamente e os restantes 23,08% gostariam de ser visitados mensalmente. Relativamente aos resultados da escala APGAR familiar constatamos que 50% possuem uma família com moderada disfunção, 42,31% possuem uma família altamente funcional e os restantes 7,69% apresentam uma disfunção acentuada (gráficoIII). O nosso estudo mostra que 73% dos idosos vivia com a família antes da sua institucionalização o que revela alterações no conceito de família, com potencial negativo para a relação com o idoso. 43 Estes dados vão de encontro à caracterização de Caldas (2002, p.51), “ A família e os amigos são a primeira fonte de cuidados. O maior indicador para a institucionalização de longa duração entre idosos é a falta de suporte familiar”. Gráfico IV- Género/Apgar No nosso estudo em relação ao género, existe predomínio do feminino (73,6%), que refere bom funcionamento familiar (36,84%). Estudos já realizados avaliaram vários factores que poderão influenciar a funcionalidade das famílias. Mercedes Zavala G et, al. (2006), divulgam resultados em que existe predomínio de mulheres (68%). 84% desses idosos afirmaram ter um bom funcionamento familiar, descrevendo como altamente positivo o funcionamento da sua família. Este estudo contrapõe os nossos dados porque na nossa amostra são os homens que apresentam em maior percentagem em relação ao funcionamento familiar (57,14%). Esses dados são corroborados pela pesquisa realizada em São Paulo, num estudo levado a cabo por Duarte YAO (2001). Verificamos, no nosso estudo, que 57,69% das mulheres também apresentam moderada disfunção familiar e os homens só em 28,57%. Estes dados corroboram o estudo de Duarte YAO (2001), quanto ao género, os resultados foram estatisticamente significativos, os quais mostraram que as mulheres estão mais insatisfeitas do que os homens em relação à funcionalidade familiar. O aparecimento de doenças, tais como diabetes mellitus, hipertensão arterial, depressão, distúrbios psicóticos, AVC, entre outras, que normalmente são fatores preponderantes na debilitação da pessoa com idade avançada, estes factos verificam-se nos idosos deste estudo, em que a predominância de patologias referidas são a diabetes e doenças cardíacas com uma 44 percentagem de 38,46% e 19,23% respectivamente, no entanto embora a ausência familiar seja marcante na vida de cada idoso, observou-se que esta lacuna é parcialmente preenchida pelo tratamento recebido por esta instituição, assim o verbalizaram. Estes fatos são divulgados em alguns estudos, de âmbito qualitativo, Messora (2006). De referir ainda, que o facto de os idosos terem ou não filhos a residir no distrito influencia a funcionalidade familiar dado que: 57,14% dos idosos apresentam uma relação altamente funcional e têm filhos a residir no distrito. Podemos tecer algumas considerações que podem de alguma forma contribuírem para a moderada disfunção ou disfunção familiar acentuada: - 57,69% dos residentes são viúvos, isto ocasiona fragilidade, solidão, isolamento social, problemas de comunicação, podendo levar á depressão e que pode culminar no afastamento da família. - Aproximadamente 38% referem que antes de serem admitidos na instituição, tinham uma fraca ou má relação com a família, o que indica deficiente suporte familiar. - 15,38% dos idosos não tiveram filhos e 84,62% dos que tem filhos, 73% vivem fora do Distrito, o que promove o afastamento da família e a escassez de visitas. - À pergunta, se tem alguém para falar dos seus problemas, 15,38% responderam que não, o que denota ausência de confidente ou familiar. - 30,77% referem que gostariam de ser visitados pelos seus familiares diariamente que pode representar ausência ou saudade de familiares e amigos. - Tendo em conta o convívio com pessoas externas à instituição é de salientar que 61,54% referem não terem esse contacto, levando-nos a pensar que existem fracos laços familiares e de amizade. - O afastamento dos vínculos familiares está patente na nossa amostra já que 73% viviam acompanhados e foram institucionalizados. Discussão e Conclusão Esta pesquisa procurou compreender as relações afectivas entre idosos institucionalizados e os seus familiares, realizada no lar de castelãos. O objectivo após a caracterização dessa população, foi saber qual o apoio que estes idosos tinham da família, e da instituição. 45 Com a elaboração deste estudo, e após a determinação do APGAR familiar verificamos que 50% das famílias destes idosos apresentam moderada disfunção, ou seja, estes idosos tem a percepção de que a família não lhe dá o apoio que eles gostariam de ter, quer ao nível de assistência recebida, comunicação, crescimento emocional, afectos e resolução de problemas. Assim sendo, achamos pertinente a implementação de um Projecto de Intervenção Comunitária, não só à família, mas também à instituição, porque esta interage directamente com a família e o idoso, além de fazer todo o acompanhamento do processo é o vínculo de ligação prioritário nas relações que se estabelecem entre eles. Esta intervenção terá como objectivos: - Favorecer a reconstrução de laços familiares; - Incutir nas famílias maior e melhor apoio ao Idoso institucionalizado; - Promover junto das instituições algumas medidas que visem o desenvolvimento de talentos, competências e capacidades para que os idosos aumentem a sua autoestima, e fortifiquem as suas relações de amizade. Referências Bibliográficas ALVES, J. (1977). Direito Romano. Rio: Forense BEAUVIOR, S. (1990). A velhice. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. CALDAS (2002). Memória, trabalho e velhice: um estudo das memórias de velhos trabalhadores. In: VERAS, Renato P. (Org.) Terceira Idade: desafios para o terceiro milénio. Rio de Janeiro: Relume-Dumará: UnATIUERJ, p. 121-142. DUARTE, Y. (2001). Família: rede de suporte ou fator estressor: a ótica de idosos e cuidadores familiares [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo. Programa de Pós-Graduação em Enfermagem. GANINE, M. R. (2000). Envelhecimento. 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O tema por é “Os Cuidados Paliativos em Cuidados Continuados”, por ser um tema actual e com cada vez mais interesse no âmbito dos Cuidados Continuados. Fazendo referência aos vários tipos de cuidados existentes no nosso País, vamos neste trabalho aprofundar, tanto quanto nos é possível, o tema dos Cuidados Continuados Integrados e os Cuidados Paliativos. Este trabalho tem como objectivos saber definir cuidados continuados e paliativos e a quem se destinam; saber diferenciar cuidados continuados integrados e cuidados paliativos e conhecer a realidade dos cuidados paliativos dentro dos cuidados continuados integrados. O material e recursos utilizados para elaboração deste trabalho foram a consulta bibliográfica de alguns documentos e livros acerca de cuidados continuados e cuidados paliativos e revisão de matéria leccionada na Pós Graduação de Cuidados Continuados e Paliativos. Após pesquisa e elaboração do trabalho podemos concluir que para se conseguirem atingir os objetivos de dar resposta a todas as necessidades que surjam, e porque partimos de uma situação de escassez de respostas nesta área, há que fazer um percurso ambicioso e num período de longo investimento. Tendo em conta as naturais dificuldades de implementação de serviços, que fazem parte das recomendações da OMS e outras organizações, prevê-se que só dentro de um período de 5 a 10 anos sejam implementados todos esses objetivos. À medida que os serviços de cuidados se forem desenvolvendo, o conhecimento da realidade permitirá uma visão mais apurada das necessidades e dos recursos, permitindo uma resposta mais equitativa e eficaz às necessidades da população. Palavras-chave: Cuidados de saúde; Cuidados continuados e cuidados paliativos. Abstract The number of patients with cancer and other chronic diseases continues to increase and, in the last decade, there was a growing concern for the chronically ill and terminal. This number is large and will increase with the aging population and advances in medicine that allow individuals to live longer, but a quality of life questionable. This work was conducted as part of a poster presentation to the First Congress of Continuous Care Unit of Miranda do Douro with the theme "Current Dilemmas and Future Challenges." The theme is a "Palliative Care in Long Term Care", because it is a topical issue and with increasing interest within the Continuing Care. Referring to the various types of care available in our country, we will deepen this work as much as we can, the theme of Continuous Care and Palliative Care. This work aims to define more continuing care and palliative care and to whom they are intended; know differentiate continued care and palliative care and know the reality of palliative care within the integrated continuous care. The materials and resources used for preparation of this work were the bibliographic some documents and books about continuing care and palliative care and review of subjects taught in Graduate and Continuing Care Hospice. After research and development work we can conclude that to achieve the goals of 49 achieving respond to any needs that may arise, and because we start from a shortage of answers in this area, we must make an ambitious journey and a long investment period. Given the natural difficulties of implementing services that are part of the recommendations of the WHO and other organizations, it is anticipated that only within a period of 5 to 10 years are implemented all of these goals. As care services are developed, knowledge of reality will allow a more accurate view of the needs and resources, enabling a more equitable and effective response to the needs of the population. Keywords: Health care; Continuing care and palliative care. 50 Introdução “ Os cuidados de enfermagem consistem em ajudar o indivíduo a cumprir as suas tarefas de que ele próprio se ocuparia se tivesse a força, a vontade e o conhecimento, de forma a ajudálo a reconquistar a sua independência.” Virgínia Henderson O número de doentes com cancro e outras doenças crónicas continua a aumentar e, na última década, surgiu uma crescente preocupação com os doentes crónicos e terminais. Aproximadamente 50% das mortes na Europa são de doentes crónicos que, ao longo do tempo, foram ficando dependentes e em sofrimento durante meses e até anos antes de morrerem. Este número é vasto e irá aumentar com o envelhecimento da população e com os avanços na medicina que permitem aos indivíduos uma maior longevidade mas, uma qualidade de vida questionável (European Association for Palliative Care, 2007). Este trabalho foi realizado na âmbito da apresentação de um póster para o I Congresso da Unidade de Cuidados Continuados Integrados de Miranda do Douro a realizar no dia 28 e 29 de Setembro de 2012, em Miranda do Douro, com o tema “Dilemas Actuais e Desafios Futuros”. O tema por nós escolhido foi “Os Cuidados Paliativos em Cuidados Continuados”, por ser um tema actual e com cada vez mais interesse no âmbito dos Cuidados Continuados. Fazendo referência aos vários tipos de cuidados existentes no nosso País, vamos neste trabalho aprofundar, tanto quanto nos é possível, o tema dos Cuidados Continuados Integrados e os Cuidados Paliativos. Este trabalho tem como objectivos saber definir cuidados continuados e paliativos e a quem se destinam; saber diferenciar cuidados continuados integrados e cuidados paliativos e conhecer a realidade dos cuidados paliativos dentro dos cuidados continuados integrados. Os Cuidados de Saúde Os Cuidados de Saúde não são apenas um nível de atenção do sistema de saúde ou um procedimento técnico; dizem respeito ao tratar, cuidar, respeitar, acolher e atender o ser humano com qualidade para resolução dos seus problemas. É uma atitude interactiva que incluiu o envolvimento e relacionamento entre duas partes: o utente e a equipa de saúde. 51 Com o desenvolvimento tecnológico e científico, os cuidados de saúde passaram a ser um foco central para o bem-estar e felicidade do ser humano; como também foi uma boa contribuição para o progresso económico, já que se a longevidade da população aumentasse, aumentava também a produtividade do país. Para o desenvolvimento dos cuidados de saúde tiveram que se conceber alguns princípios fundamentais para que tal prosperasse. Um desses princípios seria a equidade em saúde e o direito fundamental de acesso a cuidados de saúde por qualquer indivíduo independentemente da sua cor, religião ou condição social. Aos nossos dias, corre a necessidade de prestar cuidados de saúde com qualidade e para isso foram criados vários tipos de cuidados e serviços de saúde adaptados não só ao ciclo vital mas também à condição de cada utente. Existem vários tipos de cuidados de saúde a prestar aos nossos utentes: • • • Cuidados de Saúde Primários; Cuidados de Saúde Diferenciados; Cuidados Continuados Integrados; • Cuidados Paliativos. Cuidados Continuados Integrados O aparecimento dos Cuidados Continuados deu-se com a necessidade de haver prestação de cuidados de saúde e cuidados sociais de qualidade a cidadãos em situação de dependência e fragilidade. Mas com o aparecimento de problemas complexos em relação à disponibilização desses mesmos cuidados, nasceu a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, que se articula com os Cuidados de Saúde Diferenciados, Cuidados de Saúde Primários, sector social, utente e família, com vista a dar resposta às suas necessidades. Os Cuidados Continuados Integrados centram-se na recuperação global da pessoa, promovendo a sua autonomia e melhorando a sua funcionalidade, no âmbito da situação de dependência em que se encontra. Têm valores como prestação individualizada e humanizada de cuidados; continuidade de cuidados entre os diferentes serviços; equidade no acesso e mobilidade entre os diferentes tipos de unidades; proximidade na prestação de cuidados; multidisciplinaridade e interdisciplinaridade na prestação de cuidados; eficiência e qualidade na prestação de cuidados; optimização e conforto, função e suporte social aos doentes e familiares. 52 Dentro dos Cuidados Continuados Integrados há vários tipos de unidades funcionais, tanto em unidades de internamento, ambulatório, como unidades domiciliárias: Unidades internamento: Unidade de Curta Duração ou Convalescença; Unidade de Média Duração e Reabilitação, Unidade de Longa Duração e Manutenção e Unidade de Cuidados Paliativos. Unidade Ambulatório: Unidades de Dia e Promoção de Autonomia. Unidade de Apoio Domiciliário: Equipa de Cuidados Continuados Integrados e Equipa de Comunitária de Suporte Paliativo. Unidades de convalescença Segundo o art.13º do Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de Junho, “ A unidade de convalescença é uma unidade de internamento, independente, integrada num hospital de agudos ou noutra instituição se articulada com um hospital de agudos, para prestar tratamento e supervisão clínica, continuada e intensiva, e para cuidados clínicos de reabilitação, na sequência de internamento hospitalar originado por situação clínica aguda, recorrência ou descompensação de processo crónico.” Tem como finalidade a estabilização clínica e funcional, a avaliação e reabilitação integral da pessoa com perda da autonomia por um curto período de tempo e com possibilidade de recuperação, mas que não tenha necessidade de cuidados e hospitalização em unidades de agudos. Unidades de Média Duração ou Reabilitação A unidade de média duração e reabilitação é uma unidade de internamento, com espaço físico próprio, articulada com o hospital de agudos para a prestação de cuidados clínicos, de reabilitação e apoio psicossocial, por situação clínica decorrente de recuperação de um processo agudo ou descompensação de processo patológico crónico, a pessoas com perda transitória de autonomia potencialmente recuperável. In art.13º do Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de Junho. Tem por finalidade a estabilização clínica, a avaliação e a reabilitação integral da pessoa que se encontre na situação prevista no número anterior. 53 Unidade de Longa Duração e Manutenção "A unidade de longa duração e manutenção é uma unidade de internamento, de carácter temporário ou permanente, com espaço físico próprio, para prestar apoio social e cuidados de saúde de manutenção a pessoas com doenças ou processos crónicos, com diferentes níveis de dependência e que não reúnam condições para serem cuidadas no domicílio." (art. 13.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho). A Unidade de Internamento de Longa Duração e Manutenção tem por finalidade proporcionar cuidados que previnam e retardem o agravamento da situação de dependência, favorecendo o conforto e a qualidade de vida, por um período de internamento superior a 90 dias consecutivos. Unidade de ambulatório: Unidades de dia e promoção de autonomia Prestam cuidados integrados de suporte, de promoção de autonomia e apoio social, em regime ambulatório, a pessoas com diferentes níveis de dependência que não reúnam condições para ser cuidadas no domicílio (n.º 1 do Art.º 21.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho) Unidades de Apoio Domiciliário: Equipas de Cuidados Continuados Integrados Equipa multidisciplinar da responsabilidade dos cuidados de saúde primários e das entidades de apoio social, que presta serviços domiciliários, a pessoas em situação de dependência funcional, doença terminal ou em processo de convalescença, cuja situação não requer internamento, mas que não podem deslocar-se do domicílio (n.º 1 do Art.º 27.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho). Equipas Comunitárias de Suporte em Cuidados Paliativos Equipa multidisciplinar que presta apoio e aconselhamento diferenciado em cuidados paliativos (n.º 2 do Art.º 29.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho 54 Cuidados Paliativos "Cuidados Paliativos consistem na assistência promovida por uma equipa multidisciplinar, que objetiva a melhoria da qualidade de vida do paciente e seus familiares, diante de uma doença que ameace a vida, por meio da prevenção e alívio do sofrimento, da identificação precoce, avaliação impecável e tratamento de dor e demais sintomas físicos, sociais, psicológicos e espirituais". (Organização Mundial de Saúde) Os princípios dos Cuidados Paliativos são: · Fornecer alívio para dor e outros sintomas stressantes como astenia, anorexia, dispneia e outras emergências oncológicas. · Reafirmar vida e a morte como processos naturais. · Integrar os aspectos psicológicos, sociais e espirituais ao aspecto clínico de cuidado do paciente. · Não apressar ou adiar a morte. · Oferecer um sistema de apoio para ajudar a família a lidar com a doença do paciente, em seu próprio ambiente. · Oferecer um sistema de suporte para ajudar os pacientes a viverem o mais ativamente possível até sua morte. · Usar uma abordagem interdisciplinar para acessar necessidades clínicas e psicossociais dos pacientes e suas famílias, incluindo aconselhamento e suporte ao luto. A Unidade de Cuidados Paliativos é uma unidade de internamento, com espaço físico próprio, preferencialmente localizada num hospital, para acompanhamento, tratamento e supervisão clínica a doentes em situação clínica complexa e de sofrimento decorrentes de doença severa e/ou avançada, incurável e progressiva, nos termos do consignado no Programa Nacional de Cuidados Paliativos do Plano Nacional de Saúde. Presta acompanhamento, tratamento e supervisão clínica de doentes em situação clínica complexa e de sofrimento decorrente de doença severa e/ou avançada, incurável e progressiva (n.º 1 do Art.º 19.º do Decreto-Lei n.º 101/2006, de 6 de Junho). 55 Realidade dos Cuidados Paliativos nos Cuidados Continuados Para dar uma resposta correta dos serviços de saúde em Cuidados Paliativos, é necessário reconhecer quem são os doentes que necessitam deste mesmo tipo de cuidados. A oferta de Cuidados Paliativos faz-se com base no tipo de necessidades na comunidade. Em Portugal com a existência da RNCCI (Rede Nacional Cuidados Continuados Integrados) a evolução dos Cuidados Paliativos teve um grande passo: Unidades de internamento de Cuidados Paliativos Unidades de equipas de apoio domiciliário Por haver lotação das Unidades de Cuidados Continuados, muitas vezes são as Unidades de Longa Duração e Manutenção que prestam esses cuidados, bem como as equipas domiciliárias. A nossa realidade, por motivos sociais, culturais ou religiosos, muitas vezes é outra e acabam por ser as equipas domiciliárias que mais prestam os cuidados em fim de vida. No distrito de Bragança existe apenas uma Unidade de Cuidados Paliativos para servir a toda a comunidade distrital; sendo a unidade de Paliativos mais próxima, a do IPO Porto. Existem ainda várias unidades de internamento, na sua maioria de longa duração e as ECCI, dirigidas em convénio com os Cuidados de Saúde Primários, mais a UDCP (Unidade Domiciliaria de Cuidados Paliativos), criada através de um projeto apresentado à Fundação Calouste Gulbenkian e financiado pela mesma, a funcionar em todo o Planalto Mirandês, com o objetivo principal de prestar cuidados paliativos à população dessa área geográfica. As ECCI’S prestam sobretudo cuidados continuados integrados, como o próprio nome indica, mas nas zonas do país, onde as Unidades de Cuidados Paliativos são muito poucas, são estas equipas que tentam cuidar e apoiar o utente e família em situação de doença grave crónica e/ou terminal. São equipas com profissionais devidamente preparados para prestar cuidados paliativos em contexto que não o de internamento, capaz de oferecer apoio estruturado de forma programada e em qualquer intercorrência, que estão disponíveis no maior período de tempo possível, muitas vezes 24 horas. Existe uma boa articulação entre RNCCI e Cuidados de Saúde Primários para que todos estes cuidados possam ser prestados. Como fazer estimativas sobre o número de pessoas que irão necessitar de cuidados paliativos? 56 Não se podem fazer com clareza mas segundo a OMS, calcula-se que 60% do total de pessoas falecidas necessitavam de cuidados paliativos. Atendendo que os cuidados paliativos também são prestados à família, além do próprio utente, podemos dizer que existem milhares de pessoas a necessitar deste tipo de cuidados. Em Portugal, no ano de 2001 morreram 104990 pessoas, 60% desta cifra dá 62994, tendo em conta que são prestados cuidados ao próprio utente e a 3 ou 4 elementos da família, dá uma estimativa de 250 000 pessoas que necessitam de cuidados paliativos, anualmente, em Portugal. São necessárias, em média 100 camas de cuidados paliativos por 1.000.000 de habitantes. Conclusão Se prestar cuidados à pessoa que sofre de doença crónica ou sintomas associados, continua a ser, nos dias de hoje, uma parte importante e essencial do nosso trabalho; devemos desenvolver e dar a conhecer tudo aquilo, que no nosso saber-estar e no nosso saber-fazer, constituí a parte do cuidar. Com o evoluir das doenças crónicas, maior será o número de pessoas a necessitar de internamento hospitalar. Assim o utente e os seus próximos serão confrontados com problemas complexos, de ordem médica, social e afetiva, que uma única unidade de cuidados não pode gerir sozinha. Daí o benefício da criação de unidade de cuidados que presta um acompanhamento global e contínuo tendo em conta as necessidades de cada indivíduo. Para se conseguirem atingir os objetivos de dar resposta a todas as necessidades que surjam, e porque partimos de uma situação de escassez de respostas nesta área, há que fazer um percurso ambicioso e num período de longo investimento. Tendo em conta as naturais dificuldades de implementação de serviços, que fazem parte das recomendações da OMS e outras organizações, prevê-se que só dentro de um período de 5 a 10 anos sejam implementados todos esses objetivos. À medida que os serviços de cuidados se forem desenvolvendo, o conhecimento da realidade permitirá uma visão mais apurada das necessidades e dos recursos, permitindo uma resposta mais equitativa e eficaz às necessidades da população. 57 Bibliografia Ahya, P., Bahuau, A., Beguin, M.A., Bernard, MF. Bevan, S., Bonnefond-Leurs, I. … Warren, L. Sociedade Francesa de Acompanhamento e Cuidados Paliativos, (1999).Desafios da Enfermagem em Cuidados Paliativo, Masson, Paris; Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, (2006). Recomendação para a Organização de Serviços de Cuidados Paliativos, p. 18. Organização Mundial de Saúde (2012). Palliative care. Acedido em 20 de Setembro de 2012 em http://www.who.int/cancer/palliative/en/. Organização Mundial de Saúde (2012). Primary health care. Acedido em 20 de Setembro de 2012 em http://www.euro.who.int/en/what-we-do/health-topics/Healthsystems/primary-health-care/main-terms-used. Pinheiro, R. (2009). Dicionário da Educação Profissional em Saúde, Cuidado em Saúde. Acedido em 20 de Setembro de 2012 em http://www.epsjv.fiocruz.br/dicionario/verbetes/cuisau.html Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, Constituição da RNCCI. Acedido em 20 de Setembro de 2012, em http://www.rncci.minsaude.pt/rncci/constituicao/Paginas/default.aspx. 58 05. PERCEÇÃO DO ESTADO DE SAÚDE EM IDOSOS SUBMETIDOS A DIÁLISE Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1, Maria de Fátima Pereira Geraldes2. Maria Isabel Fernandes Praça2, Sandra Cristina Mendo Moura2, Manuel Alberto Morais Brás1 1 2 Escola Superior de saúde, NIII, Instituto Politécnico de Bragança. Enfermeira ULSNE. 59 Resumo O crescimento da população idosa é uma realidade crescente dos países desenvolvidos, começando também a verificar-se nos países em desenvolvimento. O envelhecimento populacional constitui um dos determinantes que justificam o aumento do número de doentes em dialise (Kusumoto, Marques, Haas, Rodrigues; 2008). A doença tem impacto em várias áreas: a nível relacional e social, esquema terapêutico rigoroso, mudança de hábitos de vida, dependência de uma máquina, além de limitações na sua vida diária como perda do emprego, alterações da imagem corporal, restrições dietéticas e hídricas. As limitações e complicações resultantes desta prática tendem a aumentar com a idade. Os resultados da avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde, tentam quantificar as consequências da doença e dos tratamentos, de acordo com diversas dimensões, para as quais se podem e devem direcionar ações específicas dos cuidados de saúde. Justificando-se assim, a pertinência da investigação da qualidade de vida nos idosos em hemodiálise. Pretendeu-se avaliar a perceção da qualidade de vida relacionada com a saúde dos idosos em hemodiálise e verificar a sua relação com as variáveis sociodemográficas e clínicas. Desenvolveu-se um estudo não experimental, transversal e correlacional. Desenvolvido numa amostra de 150 doentes em hemodiálise no Nordeste de Portugal. A colheita de dados decorreu em 2007. O instrumento de colheita de dados utilizado para caracterização da população foi o Kidney Disease and Quality of Life-Short Form (KDQOL-SFTM), ao qual foram associadas questões sociodemográficas e clínicas. Foram encontradas diferenças entre os escores médios em relação ao sexo e à idade, com significância estatística nas dimensões do KDQOL-SFTM: Funcionamento físico, Função física, emocional, saúde geral e vitalidade; em relação às habilitações, em todas as dimensões com exceção da dor, saúde geral e função emocional; em relação ao tempo em diálise, doenças associadas e complicações, existem diferenças com significância estatística em todas as dimensões físicas, dor e saúde geral. Nos idosos, os escores de qualidade de vida são inferiores aos encontrados na população de dialise, em praticamente todas as dimensões. Com exceção da variável rendimento, foi encontrada relação significativa entre as variáveis sociodemográficas e clínicas e a perceção da qualidade de vida relacionada com a saúde. Os resultados da presente investigação são corroborados por Kusumoto, Marques, Haas e Rodrigues em 2008 e Anes em 2011. Justificando-se a importância da utilização deste indicador na avaliação da prática dos cuidados. Palavras-chave: Perceção do estado de saúde; Qualidade de vida; Diálise; Insuficiencia renal crónica; Idosos. Abstrat The growth of the elderly population is a growing reality in developed countries, but are beginning to occur in developing countries. Population aging is one of the determinants that justify the increased number of patients on dialysis (Kusumoto, Marques, Haas, Roberts, 2008). The disease has impact on several areas: the social and relational level, therapeutic regimen, changing lifestyle habits, dependence on a machine, and limitations in their daily lives as job loss, changes in body image, dietary restrictions and liquids. The limitations and complications resulting from this practice tend to increase with age. The results of the assessment of quality of life related to health, try to quantify the consequences of the disease 60 and treatments, according to several dimensions, for which they can to direct specific actions of healthcare. Justifying thus the relevance of the research in quality of life in elderly hemodialysis. It was intended to evaluate the perception of quality of life related to health of elderly patients on hemodialysis and verify their relationship to sociodemographic and clinical variables. We developed a non-experimental, correlational and transversal study, in a sample of 150 patients on hemodialysis in the Northeast of Portugal. Data collection took place in 2007. The data collection instrument used to characterize the population was the Kidney Disease Quality of Life - Short Form (KDQOL-SFTM), which were completed with sociodemographic and clinical issues. Differences were found between the mean scores in relation to gender and age, with statistical significance in the KDQOL-SFTM dimensions: physical functioning, role physical, emotional, general health and vitality; regarding qualifications, in all dimensions except pain, general health and emotional function, in relation to time on dialysis, associated diseases and complications, there are diference of statistical significance in all physical dimensions, pain and general health. In the elderly, quality of life scores are lower than those found in the dialysis general population, in almost all dimensions. With the exception of the variable income, a significant relationship was found between the sociodemographic and clinical variables and the perception of quality of life related to health. The results of this study are corroborated by Kusumoto, Marques, Haas and Roberts in 2008 and Anes in 2011. Justifying the use of this important indicator in assessment of health care. Keywords: Perception of health status; Quality of life; Dialysis; Chronic renal failure; Seniors. 61 Introdução Desde meados do século XX tem-se verificado um crescimento astronómico do envelhecimento da população. Imensos fatores têm contribuído para esta realidade, como sejam as alterações demográficas, baixa fecundidade, aumento da longevidade e esperança de vida. O envelhecimento da população acarretou alterações epidemiológicas no perfil de morbi-mortalidade da população, onde se verificou a substituição das doenças infectocontagiosas por doenças crônicas não-transmissíveis, com implicações ao nível do estado de saúde dos idosos. As alterações inerentes ao processo de envelhecimento não significam doença, mas a probabilidade de seu aparecimento aumenta com a idade, uma vez que o envelhecimento torna as pessoas mais vulneráveis aos processos patológicos, caracterizando a senilidade (Hayflick, 1996). Alguns destes processos patológicos predispõem à doença renal no idoso. E as alterações anatômicas e fisiológicas nos rins, decorrentes do processo de envelhecimento renal, constituem um agravante para a patologia renal no idoso, aumentando a suscetibilidade da disfunção renal com o passar dos anos (Lessa , 1998; Smeltzer, Bare, Brunner & Suddarth, 1998). A IRC é o resultado final de múltiplos sinais e sintomas decorrentes da incapacidade renal de manter a homeostasia interna do organismo (Riella, 1996), necessitando por conseguinte de tratamento de substituição da função renal. Nesta prática são frequentes as angústias, os medos e inseguranças e, também a presença de outras doenças e complicações causadas pelas limitações da própria doença e do tratamento, com consequentes implicações ao nível emocional e físico. Procuramos nesta investigação identificar qual a perceção do estado de saúde dos idosos em diálise, através da sua relação com fatores sociodemográficos e clínicos. Método Foi desenvolvido um estudo não experimental, analítico e transversal numa amostra de 150 idosos (77,58% da população), com insuficiência renal crónica em tratamento dialítico em unidades de diálise do Nordeste Transmontano, os quais obedeciam aos critérios de inclusão. 62 Foi efetuado um contacto pessoal com todos os idosos. Foram apresentados os objetivos e propósitos da investigação, foi explicada a importância da contribuição de cada um, realçando o carácter voluntário da participação, a garantia de confidencialidade, disponibilidade de esclarecimento de qualquer dúvida e agradecimento pela participação. A colheita de dados foi precedida da obtenção do consentimento informado. O instrumento de colheita de dados foi constituído por uma medida específica de avaliação da qualidade de vida, validado para a população portuguesa o Kidney Disease Quality of Life - Short Form (KDQOL-SFTM) (Ferreira & Anes, 2010). Para melhor caracterização dos doentes, foram associadas algumas questões sociodemográficas e clínicas. Resultados/Discussão Dos 150 participantes no estudo, a maioria eram homens (58%), viúvos (60%), viviam sós (26%), tinham um baixo nível de escolaridade (39% analfabetos) e rendimentos (32% com rendimento abaixo de 250€. A idade dos inquiridos varia entre los 65 e 88 anos. O tempo de tratamento em diálise oscila entre los 6 meses e 20 anos. A maioria dos doentes refere outras doenças associadas (65%), sendo a diabetes a doença mais mencionada (49%). Todos os doentes referem complicações resultantes da doença ou dos tratamentos. Em termos de caracterização global para a perceção do estado de saúde, obtivemos um valor médio de 62,56, com desvio padrão de 12,45 e o valor da mediana encontra-se muito próximo da média (62,49). O valor mínimo encontrado foi 21,03 e o máximo foi 92,10 (Quadro 1). Quadro 1 - Caracterização global da perceção do estado de saúde. N 150 Média 62,56 DP 12,45 Mediana 62,49 Min. 21,03 Max. 92,10 Por dimensões, a perceção do estado de saúde (Quadro 2) do KDQOL-SFTM evidencia limitações em áreas de desempenho pessoal, como seja a atividade profissional, o peso da doença renal, a saúde em geral, a vitalidade e o desempenho físico. Com resultados intermédios ressaltam a função social e o funcionamento físico. As restantes dimensões apresentam valores médios superiores a 60. Castro, Caiuby, Draibe e Canziani, em 2003 utilizando o questionário genérico SF-36 em 184 pacientes, concluíram que os menores valores médios observados se verificavam nas dimensões aspetos físicos e vitalidade. Resultados que também foram corroborados por Anes & Ferreira em 2009 e Anes & Vicente Castro em 2010. 63 Quadro 2 - Médias relativas às dimensões do KDQOL-SFTM1.3. Dimensão Sintomas/problemas Efeitos da doença renal Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade de interação social Função sexual Sono Apoio social Encorajamento do pessoal da diálise Satisfação doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade Média 73,6 65,7 22,4 10,65 87,8 79,2 73,9 68,4 78,6 89,6 81,9 53,5 38,76 68,3 29,34 60,2 63,6 51.9 34,67 Relativamente à perceção do estado de saúde em relação ao género, em termos globais, os homens apresentam melhores pontuações do que as mulheres. Através dos resultados do teste t, podemos concluir que as diferenças entre os dois sexos são estatisticamente significativas, pois os valores de prova são inferiores a 5% (Quadro 3). Analisando os resultados da perceção do estado de saúde em relação ao género por dimensões, verificamos que os valores médios são superiores no sexo masculino (Quadro 4). Quadro 3 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao género. Género Feminino N=63 Masculino N=87 Teste t Perceção do estado de saúde Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão t p 56,10 12,56 64,17 12,01 -4,790 0,000 64 Quadro 4 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao género por dimensões. Género Dimensão Sintomas/lista problemas Efeitos da doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade da interação social Função sexual Sono Apoio social Encoraj. do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade Feminino n=63 Média S 70,45 15,65 62,24 14,12 22,23 19,42 12,79 24,29 74,34 15,00 75,44 16,21 64,64 34,43 62,83 17,78 76,52 30,65 89,23 18,65 80,63 20,65 41,28 31,11 30,02 29,89 59,00 31,57 29,42 15,34 54,74 21,30 55,59 29,84 42,76 29,57 29,18 24, 37 Masculino n=87 Média S 79, 10 12,53 68,31 15,51 29,54 18,75 18,48 28,90 75,53 14,46 78,79 16,33 69,67 33,16 68,73 17,36 78,35 30,62 90,12 17,98 82,36 19,80 58,97 30,63 49,18 33,38 71,44 29,73 33,47 16,53 61,32 19,34 68,35 28,31 60,15 27,36 39,49 24,84 Teste t t -6,176 -3,254 -2,364 -0,978 -0,488 -1,860 -0,453 -3,428 -0,485 -0,345 -3,229 -4,786 -4,057 -3,989 -4,167 -3,331 -3,538 -4,200 -4,489 p 0,000 0,020 0,053 0,848 0,736 0,193 0,624 0,002 0,670 0,673 0,050 0,000 0,000 0,000 0,000 0,001 0,000 0,000 0,000 Os resultados da aplicação do teste t mostram haver diferenças significativas para a maioria das dimensões, à exceção da atividade profissional, função cognitiva, qualidade da interação social, função sexual, apoio social e encorajamento do pessoal da diálise. Estes resultados são corroborados por Cunqueiro, Cortés, Foronda, Borrego, Perales, Pérez del Barrio, et al, em 2003 e Anes e Ferreira em 2009, que também referem nos idosos serem as mulheres quem apresentam piores, com significado estatístico na dimensão função física, desempenho físico, dor, função social e vitalidade. Para a idade foram constituídos três grupos etários: 65 - 74 anos, 75 - 84 anos e maior ou igual a 85 anos. Constatamos que a perceção do estado de saúde, varia no sentido inverso da idade, ou seja, o grupo com menor idade é o que apresenta maior qualidade de vida. O teste Anova mostra-nos a existência de diferenças significativas (Quadro 5) entre as médias dos vários grupos etários (p<0,000). Numa análise dimensional, parece observar-se um decréscimo da perceção do estado de saúde à medida que a idade aumenta. 65 Quadro 5 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação à idade. Perceção do estado de saúde Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão f p Idade 65 -74 anos n=67 75 –84 anos n=59 > 85 anos n=24 Test Anova 74,14 11,21 62,15 14,08 55,65 14,64 16,674 0,000 A aplicação do teste Anova mostra-nos que as diferenças são significativas para a maioria das dimensões (Quadro 6), com exceção da função cognitiva, qualidade da interação social, apoio social e encorajamento do pessoal da diálise, em que o valor de prova é superior a 5%. Quadro 6 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação à idade, por dimensão. Dimensão 65 -74 anos n=67 Média Desvio Padrão 75 –84 anos n=59 Média Desvio Padrão > 85 anos n=24 Média Desvio Padrão Sintomas/Problemas Ef. doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade inter. social Função sexual Sono Apoio social Encoraj. pessoal diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade 79,95 68,20 30,67 3,64 83,75 79,44 58,37 70,54 81,42 90,99 86,65 45,59 34,38 62,74 34,73 59,86 60,72 45,29 29,73 64,55 56,75 24,83 2,87 69,79 80,38 57,93 60,85 81,89 92,47 78,27 44,71 33,87 61,66 33,29 58,75 59,79 44,31 28,84 60,88 56,65 24,64 1,57 68,79 72,79 56,33 59,43 74,75 88,53 76,18 43,47 32,08 60,01 32,92 20,83 57,92 42,94 27,32 Idade 11,97 15,52 20,85 36,37 14,45 15,82 12,34 14,49 21,01 17,90 15,43 20,08 22,06 24,46 15,87 18,76 22,42 19,99 18,36 14,74 17,04 18,73 17,50 14,34 15,38 29,24 15,52 28,17 16,60 19,62 30,21 31,57 31,79 16,62 21,41 29,75 29,62 24,17 10,65 14,63 15,77 9,28 10,86 11,66 22,74 14,09 23,36 13,64 16,63 28,72 25,38 24,71 13,72 16,65 22,19 21,13 16,79 Test Anova f p 7,762 3,367 9,756 46,773 0,204 0,479 6,675 3,340 0,700 0,235 3,542 13,548 11,785 6,254 3,754 5,863 5,900 17,853 19,322 0,000 0,030 0,000 0,000 0,766 0,543 0,001 0,009 0,389 0,766 0,039 0,000 0,000 0,002 0,019 0,002 0,002 0,000 0,000 Confirma-se que a perceção do estado de saúde diminui à medida que a idade aumenta. Significa, que são os grupos com indivíduos com menos idade que apresentam maiores índices. Estes resultados estão em concordância com o referido por Anes e Ferreira e Anes e Vicente castro, em 2009 e 2010 respetivamente. 66 Para a confrontação da perceção do estado de saúde e o nível de instrução, procedeu-se ao reagrupamento das habilitações em três grupos: até ao ensino básico, ensino básico e secundário e ensino médio e superior. Parecem observar-se pontuações de perceção do estado de saúde mais elevadas para os indivíduos com maiores habilitações. Os resultados dos testes estatísticos (Anova) mostram haver diferenças significativas entre as médias dos grupos com diferentes habilitações (Quadro 7). Quadro 7 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao nível de instrução. Nível de instrução Perceção do estado de saúde Até ao ensino básico n=59 Ensino básico e secundário n=86 Ensino médio e superior n=5 Test Anova Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão f p 52,04 13,54 62,29 13,65 62,83 17,52 20,156 0,000 Analisando as dimensões do KDQOL-SFTM1.3 em relação ao nível de instrução, parecem observar-se valores mais baixos de perceção do estado de saúde no grupo de menores habilitações, para grande parte das dimensões. No Quadro 8 podemos observar os resultados do teste Anova, que nos mostram, que estas diferenças são significativas para a maioria das dimensões, com exceção da função cognitiva, qualidade da interação social, apoio social, encorajamento do pessoal da diálise e satisfação do doente, em que o valor de prova é superior a 5%. Segundo Neves (2000), o maior nível de instrução significa mais informação, mais conhecimentos, podendo assim contribuir para melhor promover a saúde e prevenir a doença. Para verificar a variação da perceção do estado de saúde relacionada com o estado civil reagruparam-se os respondentes em três grupos: casados, viúvos e solteiros. Parecem observar-se pontuações mais elevadas para os indivíduos que possuem companheiro. Os resultados estatísticos do teste t mostram haver diferenças significativas entre as médias da perceção do estado de saúde em cada grupo, uma vez que o valor de prova é inferior a 0,05 (Quadro 9). 67 Quadro 8 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao nível de instrução, por dimensões. Nível de instrução Até ao ensino básico n=59 Dimensão Sintomas/Problemas Efeitos da doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade da interação social Função sexual Sono Apoio social Encoraj. do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade Ensino básico e sec. Ensino médio e superior n=86 teste Anova n=5 Média S Média S Média 71,56 62,95 21,50 8,99 73,25 70,31 47,38 65,33 64,16 93,21 80,29 39,11 28,82 51,49 21,48 46,02 50,00 37,16 24,52 14,77 15,37 13,84 11,10 12,73 14,84 29,09 18,89 29,00 13,18 17,86 28,44 26,64 30,87 14,65 16,43 27,57 21,85 19,01 72,53 68,33 27,30 12,86 80,42 71,43 78,33 64,48 67,99 90,72 80,63 44,54 33,64 64,87 28,11 54,16 59,53 58,62 31,69 13,77 16,56 19,76 22,43 15,46 14,65 25,77 15,16 25,12 18,98 20,08 30,01 28,09 26,24 14,51 19,08 22,08 27.43 25,00 74,34 69,53 34,88 28,63 86,86 72,53 80,80 67,60 67,64 83,83 74,46 55,86 42,87 65,03 31,77 58,57 64,32 63,18 35,32 S 17,23 21,08 23,38 55,00 22,00 13,08 19,65 18,56 40,05 11,00 25,03 17,45 33,10 35,16 19,04 24,67 30,34 30,14 24,50 f 11,000 7,009 8,072 21,016 0,231 0,944 5,933 3,297 2,622 1,142 0,297 15,471 17,729 4,296 6,403 5,033 11,229 25,740 21,592 p 0,000 0,003 0,000 0,000 0,844 0,422 0,007 0,040 0,078 0,283 0,654 0,000 0,000 0,010 0,002 0,006 0,000 0,000 0,000 Quadro 9 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao estado civil. Estado civil Perceção do estado de saúde Casados/C. companheiro n=50 Viúvos n=90 Solteiros n=10 Test Anova Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão f p 62,70 15,22 57,54 16,43 54,43 17,10 3,437 0,009 Analisando os resultados da perceção da qualidade de vida e a relação com o estado civil por dimensões, verificamos que os utentes que afirmam ter companheiro apresentam pontuações superiores. Os resultados da aplicação do teste Anova mostram haver diferenças significativas em mais de metade das dimensões, à exceção da atividade profissional, função sexual, função física, desempenho físico e vitalidade (Quadro 10). 68 Quadro 10 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação estado civil por dimensões. Estado civil Dimensão Sintomas/Problemas Efeitos da doença vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade da interação social Função sexual Sono Apoio social Encoraj. do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade Casado/Com Companheiro n=90 Média S 79,59 14,66 67,52 18,46 28,36 22,15 18,99 34,61 89,58 14,96 80,84 15,92 72,00 35,82 68,77 18,59 74,65 25,54 92,09 18,36 82,11 22,13 59,43 33,06 46,04 33,06 71,42 32,82 34,41 16,96 64,27 20,35 67,46 29,44 56,80 31,34 39,44 25,38 Viúvo n=50 Média 66,31 65,58 26,28 14,39 89,22 78,90 70,75 67,80 68,97 90,58 80,85 41,78 35,27 64,69 32,19 54,66 58,45 46,57 30,48 S 16,83 17,83 19,46 29,44 12,60 18,32 17,68 20,03 40,21 17,28 20,60 38,20 34,80 33,42 18,41 22,87 33,03 32,69 25,96 Solteiros n=10 Média 65,44 63,58 26,66 14,00 79,61 74,64 69,57 63,65 65,23 84,65 76,49 39,54 34,65 61,67 30,64 54,93 57,32 44,87 30,12 S 15,45 17,34 20,45 30,59 13,32 17,43 20,00 19,72 35,43 16,66 19,64 31,70 32,63 30,65 17,95 19,60 28,59 28,99 25,60 Teste Anova f 2,499 -3,408 3,758 1,044 2,176 1,820 -0,612 -2,013 3,058 1,590 -1240 0,403 0,264 2,441 1,905 2,208 2,080 2,275 2,476 p 0,050 0,004 0,002 0,298 0,001 0,002 0,411 0,009 0,003 000,5 0,011 0,101 0,065 0,050 0,043 0,002 0,039 0,024 0,014 As normas Portuguesas do SF-36 em 2003 (Ferreira & Santana; 2003) e Anes e Ferreira em 2009 corroboram estes resultados, atribuindo melhores pontuações aos indivíduos com companheiro. Para verificar a variação da perceção do estado de saúde relacionado com o rendimento reagruparam-se os participantes em quatro grupos: até 250€, entre 250 e 500€ e superior a 500€. Parecem observar-se melhores pontuações nos indivíduos com rendimentos mais elevados. Os resultados estatísticos do teste Anova mostram haver diferenças significativas entre as médias da perceção do estado de saúde em cada grupo uma vez que o valor de prova é inferior a 0,05 (Quadro 11). Numa análise dimensional por grupo de rendimento, parece observar-se um acréscimo da perceção do estado de saúde à medida que aumenta o rendimento, para grande parte das dimensões. 69 Quadro 11 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao rendimento. Rendimento Perceção do estado de saúde Até 250€ n=48 Superior a 500€ n=22 Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Teste Anova f 59,97 15,09 62,96 16,08 66,36 16,77 1,963 p 0,063 Entre 250-500€ n=80 Através da aplicação do teste Anova verificamos que não existem diferenças significativas entre os vários grupos de rendimento e a perceção do estado de saúde (Quadro 12). Quadro 12 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao rendimento por dimensões. Rendimento Até 250€ n=48 250-500€ n=80 >500€ n=22 Teste Anova Dimensão Média S Média S Média S f p Sint./Problemas E. da doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Q da interação social Função sexual Sono Apoio social E. do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade 77,17 70,58 28,80 11,96 87,39 79,57 82,14 66,74 67,02 90,49 85,07 56,74 39,54 65,00 32,72 60,00 66,30 54,62 31,66 15,39 17,62 18,80 26,21 13,05 16,05 32,79 21,00 39,55 15,85 20,61 35,42 31,18 31,12 15,52 19,17 29,08 31,77 25,12 76,67 66,09 24,39 13,11 88,31 79,45 67,61 68,52 78,50 91,60 82,21 50,66 37,70 67,95 31,64 57,05 55,46 50,41 31,66 16,68 16,65 22,32 28,73 13,70 18,47 36,53 20,90 30,47 17,93 23,15 35,55 31,46 34,29 17,81 19,86 32,95 28,77 22,56 82,13 69,41 30,53 27,88 91,54 82,18 83,55 71,59 91,06 91,83 82,04 61,92 53,85 74,62 40,96 67,60 75,32 60,82 47,35 13,64 21,51 22,78 41,32 15,00 14,45 30,63 14,89 21,98 20,24 21,86 36,44 39,18 31,96 17,80 20,73 29,61 35,18 28,10 1,401 0,793 0,837 2,549 0,905 0,310 1,185 0,573 0,972 0,086 0,345 1,632 2,580 0,738 1,342 2,361 1,116 1,348 2,009 0,243 0,499 0,475 0,057 0,439 0,818 0,321 0,634 0,462 0,968 0,793 0,183 0,054 0,531 0,120 0,072 0,087 0,260 0,064 Anes e Ferreira em 2009 encontraram diferenças significativas em doentes renais crónicos, com melhores pontuações para os grupos com rendimentos mais elevados. 70 Para a análise da perceção do estado de saúde com o tempo em diálise foram constituídos apenas três grupos até três meses, de três meses a um ano e mais de um ano, devido à reduzida dimensão dos grupos abaixo de 3 meses. Constatamos que a perceção do estado de saúde, aumenta à medida que aumenta o tempo em diálise (Quadro nº 13). Constatamos através do teste de ANOVA que existem diferenças significativas entre as médias dos vários grupos (p<0,05). Quadro 13 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao tempo de tratamento. Tempo de tratamento Perceção do estado de saúde Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão f p Até três meses n=35 Três meses a um ano n=75 Mais de um ano n=40 Teste Anova 50,18 13,68 57,79 16,98 59,36 15,97 2,467 0,050 Numa análise dimensional por intervalo de tempo de tratamento, parece observar-se que a variação da perceção do estado de saúde se verifica no mesmo sentido do tempo de tratamento em diálise, para grande parte das dimensões. Quadro 14 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação ao tempo de tratamento, por dimensão. Tempo de tratamento Dimensão Sintomas/Problemas Efeitos da doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade da interação social Função sexual Sono Apoio social Encoraj. do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade Até três meses Média 74,22 58,40 15,23 9,38 87,92 80,00 58,93 68,13 81,31 92,97 87,44 45,94 28,52 55,31 36,56 55,31 43,23 38,28 30,47 S 15,92 14,33 17,23 27,20 13,82 17,38 31,22 16,50 34,33 19,35 15,49 37,20 27,67 32,25 15,68 17,84 33,09 32,10 23,81 Três meses a um ano Mais de um ano Média 79,40 68,75 28,55 9,10 92,73 80,30 78,41 72,27 69,72 91,48 87,82 53,41 40,34 72,44 35,34 60,00 66,67 48,30 36,65 Média 78,74 68,51 28,66 20,47 88,77 80,23 75,00 67,94 82,11 91,52 80,46 54,71 44,55 69,80 33,95 62,11 66,08 56,36 37,17 S 17,20 18,98 18,94 22,29 11,84 16,45 39,56 21,73 39,45 18,63 17,77 37,32 35,01 34,41 21,20 22,20 29,91 32,53 28,93 S 14,65 18,20 21,95 35,43 14,77 16,80 34,73 18,49 28,81 17,82 22,75 35,18 33,99 32,69 16,61 21,77 30,28 31,55 25,27 Teste Anova f 0,728 2,343 2,994 2,631 1,459 0,002 0,757 0,919 2,739 0,048 2,537 0,445 1,772 1,657 0,243 0,811 4,256 3,118 0,490 p 0,485 0,098 0,050 0,074 0,235 0,998 0,472 0,400 0,067 0,953 0,081 0,641 0,172 0,193 0,785 0,446 0,015 0,046 0,613 71 Como podemos observar no Quadro 14, a aplicação do teste Anova mostra-nos que as diferenças são significativas apenas para três dimensões peso da doença renal, desempenho emocional e função social, em que o valor de prova é inferior a 5%. Cunqueiro e Castro em estudos diferentes desenvolvidos em 2003, afirmam que o tempo de tratamento se correlaciona de forma negativa com a perceção do estado de saúde. Relativamente às doenças associadas, foram constituídos dois grupos. Um não tem doenças associadas, outro tem doenças associadas. Em termos globais, os doentes sem outras doenças associadas apresentam melhor nível de perceção do estado de saúde. Através dos resultados do teste t, podemos concluir que as diferenças entre os indivíduos dos dois grupos são estatisticamente significativas, uma vez que os valores de prova são inferiores a 5% (Quadro 15). Quadro 15 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação a doenças associadas. Doenças associadas Não tem doenças associadas n=47 Tem doenças associadas n=103 Teste t Perceção do estado de saúde Média Desvio Padrão Média Desvio Padrão t p 64,51 16,06 52,06 15,12 5,100 0,000 Analisando os resultados da perceção do estado de saúde em relação às doenças associadas de por dimensões, verificamos que a perceção é superior no grupo que não tem doenças associadas. Os resultados da aplicação do teste t mostram haver diferenças significativas para a maioria das dimensões, com exceção da função cognitiva, qualidade da interação social, sono, encorajamento do pessoal da diálise, satisfação do doente e bem-estar emocional (Quadro 16). Estes resultados estão em concordância com as conclusões dum estudo desenvolvido pelo Governo dos EUA (1997), constituindo as comorbilidades fator agravante do estado de saúde. 72 Quadro 16 - Perceção do estado de saúde: KDQL-SFTM1.3 em relação a doenças associadas por dimensões. Doenças associadas Dimensão Sintomas/Problemas Efeitos da doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade da interação social Função sexual Sono Apoio social Encorajamento do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade Não tem doenças associadas n=47 Média S Tem doenças associadas n=103 Média S Teste t t p 81,25 72,65 15,21 18,36 76,46 64,13 14,97 17,31 2,396 3,612 0,017 0,000 31,56 26,73 88,98 80,53 22,40 38,45 14,98 17,33 24,71 10,38 89,85 80,00 20,01 26,19 13,67 16,27 2,448 3,664 -0,460 0,238 0,015 0,000 0,646 0,812 81,12 69,55 86,51 91,34 29,13 18,89 24,11 17,92 64,93 68,17 74,40 91,83 40,07 19,16 35,72 18,13 2,045 0,547 3,069 -0,205 0,045 0,585 0,002 0,838 83,96 62,67 52,48 75,82 37,92 63,22 70,46 65,10 43,13 20,96 34,20 35,19 31,48 16,66 23,52 31,83 31,59 27,11 81,09 47,00 35,00 64,23 31,65 59,69 60,06 44,62 31,54 22,11 35,35 30,93 33,54 17,62 19,94 29,36 29,57 23,72 1,000 3,390 3,945 2,675 2,745 1,232 2,573 5,069 3,461 0,318 0,001 0,000 0,008 0,007 0,219 0,011 0,000 0,001 Foi utilizado o coeficiente de correlação de Pearson para verificar a associação entre o número de complicações e a perceção do estado de saúde. Como R é igual a -0,689 significa que existe uma moderada1 associação negativa entre as variáveis. A correlação verificada entre o número de complicações e a qualidade de vida é negativa, indicando que quando o número de complicações aumenta, a perceção do estado de saúde diminui. Como o nível de significância do teste é 0,01, valor inferior a 0,05, então a moderada associação linear entre o número de complicações e a qualidade de vida é estatisticamente significativa. Numa análise dimensional, verificamos que existe sempre uma associação negativa, o que nos indica, que à medida que o número de complicações aumenta, diminui a perceção do estado de saúde em qualquer dimensão. Com a dimensão sintomas/lista de problemas existe uma associação alta e estatisticamente significativa (o nível de significância do teste é 0,01). 1 A classificação usada é sugerida por Pestana M. H. e Gameiro J.N. no livro Análise de Dados para Ciências Sociais: a Complementaridade do SPSS (2000). 73 Verifica-se uma associação moderada e estatisticamente significativa (o nível de significância do teste é 0,01) com as seguintes dimensões: efeitos da doença renal, peso da doença renal, sono, funcionamento físico, desempenho físico, dor, saúde geral, bem-estar emocional, desempenho emocional, função social e vitalidade (Quadro 17). Quadro 17 - Coeficiente de correlação de Pearson entre o número de complicações e a qualidade de vida. Dimensão Sintomas/Problemas Efeitos da doença na vida diária Peso da doença renal Atividade profissional Função cognitiva Qualidade da interação social Função sexual Sono Apoio social Encorajamento do pessoal da diálise Satisfação do doente Função física Desempenho físico Dor Saúde geral Função emocional Desempenho emocional Função social Vitalidade R de Pearson -0,898 ** -0,499 ** -0,489 -0,300 -0,165 -0,198 -0,289 -0,433 -0,187 -0,079 -0,042 -0,398 -0,384 -0,585 -0,440 -0,459 -0,487 -0,469 -0,596 ** ** * ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** ** * < 0,05 ** < 0,01 Elbagir et al em 1999, confirmam a influência negativa das diversas complicações na qualidade de vida relacionada com a saúde, estando estas complicações estão ligadas a um contexto de limitações físicas e psicológicas, com impacto negativo nas componentes da qualidade de vida. Conclusões O crescente envelhecimento da população é uma realidade inegável. Fato que determina em parte o aumento do número de doentes em dialise (Kusumoto, Marques, Haas, Rodrigues; 2008). 74 A insuficiência renal é uma doença crónica, acarreta imensas alterações e desafios na vida diária destes doentes, e constitui uma companhia perpétua. A diminuição da perceção do estado de saúde é mais sentida à medida que pretendem realizar as suas atividades diárias ou trabalho habitual, devido a problemas na saúde física ou emocionais e a uma perda nas relações sociais. Para esta avaliação, são fundamentais e imprescindíveis as perceções dos indivíduos sobre a sua própria saúde (Bowling, 1995) e não meramente as medidas biológicas tradicionais. As medidas genéricas do estado de saúde e de domínio específico, constituem ferramentas e medidas precisas imprescindíveis à avaliação da qualidade de vida. Só assim é possível monitorizar e conhecer os efeitos ou resultados, quer das doenças, quer dos tratamentos. Os resultados da presente investigação demonstram a relação de diversas variáveis na perceção do estado de saúde dos insuficientes renais crónicos idosos em diálise, as variáveis sociodemográficas (género, idade, nível de instrução e estado civil) e clínicas (tempo de tratamento, doenças associadas e complicações). Referências Bibliográficas Anes, E. & Ferreira, P.L. (2009) - Qualidade de vida em diálise. Revista Portuguesa de Saúde Pública; 8, p.67-82 Anes, E. & Vicente Castro, F. (2010) - Percepção da Qualidade de vida na insuficiência renal crónica. International Journal of Developmental and Educational Psycology ; 4, p.581592 Bowling, A. (1995). Health-Related Quality of Life: A Discussion of the Concept, its use and Measurement, Measuring Disease. Buckingham: Open University Press; p. 1-19. Castro M., Caiuby, A.V.S., Draibe, S.A., Canziani, M.E.F.. (2003). Qualidade de vida com pacientes com insuficiência renal crónica em hemodiálise avaliada através do instrumento genérico SF-36. Revista Associação Medica Brasileira;49(3):245-9. Cunqueiro, J.M.G.,, Cortés M.J.G., Foronda, J, Borrego, J.F., Perales, M.C.S., Pérez del Barrio, P., et al. (2003). Calidad de vida relacionada con la salud en pacientes ancianos en hemodiálisis. Nefrologia; 23(6):528-37. Elbagir, M.N. et al. (1999). Health-related Quality of life in insulin-treated diabetic patients in the Sudan. Diabetes Res Clin Pract; 46(1):65-73. Ferreira, P.L., Anes, E.J.. (2010). Medição da qualidade de vida de insuficientes renais crónicos: Criação da versão portuguesa do KDQOL-SF. Revista Portuguesa de Saúde Pública; Jan-Jun; 28(1): 31-9. Hayflick L. (1996). Como e porque envelhecemos. Rio de Janeiro (RJ): Campus. Neves, C.F.S.. (2000). Qualidade de Vida em Pessoas com Diabetes Mellitus [dissertação]. Coimbra. Faculdade de economia da Universidade de Coimbra. Pestana, M.H., & Gameiro J.N. (2000). Análise de dados para ciências sociais: a complementaridade do SPSS. Lisboa: Edições Sílabo. 75 Lessa, I. (1998). O adulto brasileiro e as doenças da modernidade. São Paulo (SP): HUCITEC-ABRASCO. Smeltzer, S.C., Bare, B.G, Brunner & Suddarth. (1998). Tratado médico-cirúrgico. 8ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan. 76 06. ANÁLISE DAS QUEDAS QUE RESULTARAM EM FRATURA DA EXTREMIDADE PRÓXIMAL DO FÉMUR Preto, Leonel São Romão – Professor Adjunto na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso (ESSa/IPB); [email protected] Mendes, Maria Eugénia Rodrigues – Professor Adjunto na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança; [email protected] Novo, André Filipe Morais Pinto – Equiparado a Assistente de 1º Triénio na Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança, Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso (ESSa/IPB); [email protected] Barreira, Elisabete Maria Gomes – Enfermeira na Unidade Local de Saúde do Nordeste – Unidade de Bragança; [email protected] 77 Resumo Introdução: As quedas constituem uma das principais causas de morbilidade no idoso. Investigámos fatores de risco e características das quedas que resultaram em fratura da anca, com base em entrevistas a idosos internados em ortotraumatologia. Objetivos: Identificar fatores intrínsecos e ambientais e analisar o relato da queda. Avaliar, retrospetivamente, a independência funcional do idoso antes da queda; e prospectivamente a independência seis meses após alta. Material e Métodos: Estudo descritivo e correlacional com 18 idosos participantes; sendo critérios de inclusão apresentarem-se orientados, colaborantes e sem amnésia para o episódio de queda. A recolha de dados fez-se durante o internamento e seis meses após alta clínica. Resultados: A amostra foi constituída por 4 homens e 14 mulheres com média de idade de 82,39±5,33 anos. O membro lesado foi maioritariamente o esquerdo (n=7) e predominou a fratura do colo (n=9), seguindo-se a trocantérica (n=6), subtrocantérica (n=2) e intratrocantérica (n=1). Todos os idosos foram submetidos a cirurgia. As fraturas resultaram na sua maioria (n=13) de quedas da própria altura ocorridas em casa (n=13). Os idosos relataram fatores que, isoladamente ou em conjunto, precipitaram a queda; entre os quais as perturbações do equilíbrio (n=11), diminuição da força (n=6), calçado mal ajustado (n=4) e barreiras arquitetónicas (n=4). Relativamente ao mecanismo do trauma, frequentemente a queda deu-se para o lado em que ocorreu a fratura (n=13), sem utilização das mãos como defesa (n=10). Quase todos os participantes (n=16) referiram ter medo de cair novamente após deixarem o hospital. Discussão e Conclusão: As quedas resultaram da combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos. O padrão mais comum foi a queda da própria altura, sem uso de reflexos protetores, impactando no solo com o quadril do lado fraturado. Após a alta a grande maioria dos idosos regressou ao domicílio. Na avaliação após 6 meses constatou-se que 5 faleceram, dos quais 3 com AVC. Comparando a funcionalidade antes da queda e seis meses após alta, através da Escala de Lawton e Índice de Katz, concluímos que as fraturas da anca conduziram a uma diminuição acentuada da independência funcional. Palavras-chave: Idosos; Fratura da anca; Característica da queda; Funcionalidade. Abstract Background: Falls are a major cause of morbidity in elderly. We investigated risk factors and characteristics of falls that led to hip fractures in Elderly. Objectives: Identify intrinsic and extrinsic factors and analyze the report of the fall. Evaluate the functionality before the fall and the functional independence six months after discharge. Material and Methods: Descriptive and correlational study with 18 elderly participants. Inclusion criteria were: participants must be conscious, oriented and without amnesia to the fall episode. Data collection was made during hospitalization and six months after discharge. Results: Sample consisted of 4 men and 14 women, admitted in the Trauma and Orthopedic department, with mean age was 82.39 ± 5.33 years. Proximal femur fractures mainly occurred in the left leg. All patients were treated surgically. Fractures resulted mostly (n = 13) of falls from own height occurred at home (n = 13). Elderly had reported factors that, individually or together, precipitated the fall, including balance disorder (n = 11), decreased strength (n = 6), ill-fitting footwear (n = 4) and architectural barriers (n = 4). Regarding the mechanism of injury, often the fall took place on the side where the fracture occurred (n = 13) without the use of hands as a defense (n = 10). Almost all participants (n = 16) reported fear of falling after discharge. Discussion and Conclusion: Falls resulted from combination of intrinsic and extrinsic 78 factors. The most common pattern was a fall from own height, without protective reflexes, impacting the ground with the fractured hip side. 6 months after discharge we found that 5 died. Comparing functionality before the fall and six months after discharge with the Lawton Scale and Katz Index, we conclude that hip fractures have led to a sharp decline in functional independence. Keywords: Elderly; Hip fracture; Fall; Functionality. 79 Introdução As fraturas proximais do fémur apresentam uma elevada incidência em pessoas com mais de 65 anos. Embora nos países desenvolvidos o prognóstico tenha vindo a melhorar graças ao desenvolvimento dos cuidados de emergência pré-hospitalar e das técnicas cirúrgicas e anestésicas (Pedersen, et al., 2008), estas fraturas apresentam ainda taxas de mortalidade e morbilidade significativas em idosos. Segundo dados da Direção Geral da Saúde (DGS), durante o ano de 2006 ocorreram em Portugal 9523 fraturas do colo do fémur, as quais foram responsáveis por gastos hospitalares na ordem dos 52 milhões de euros. A mesma fonte estima a mortalidade entre 20% a 30% durante um ano após fratura, referindo que a incapacidade grave atingi uma prevalência de 40% no mesmo período. Epidemiologicamente a evidência científica realça que as fraturas do quadril, tendem a ocorrer mais frequentemente em idosos, sobretudo a partir dos 85 anos (Marks, Allegrante, MacKenzie, & Lane, 2002), e são mais comuns em mulheres (Cummings & Melton, 2002). Há um incremento da incidência de fraturas do fémur proximal com a idade, devido aos fatores intrínsecos aumentados, à funcionalidade diminuída (Bloch, et al., 2010) e à perda de densidade mineral e massa óssea associada ao envelhecimento (Wei., Hu., Wang., & Hwang, 2001). As estratégias de tratamento diferem conforme a natureza das fraturas (intracapsulares ou extracapsulares) e o tipo de fraturas interfere na morbilidade e mortalidade (Cornwall, Gilbert, Koval, Strauss, & Siu, 2004). A fratura proximal do fémur conduz frequentemente a uma perda de independência funcional (Reuling, et al., 2012). Os episódios de queda no idoso resultam da interação de fatores extrínsecos e intrínsecos. Entre os extrínsecos, associados ao meio ambiente, referimos a título de exemplo a iluminação inadequada, as superfícies escorregadias, os tapetes soltos ou com dobras, piso irregular, pequenos objetos ou obstáculos no solo, estado dos degraus ou inexistência de corrimãos de apoio. Os fatores intrínsecos, mais difíceis de controlar, estão associados a alterações decorrentes de patologias ou do processo normal de envelhecimento (Messias & Neves, 2009). É útil acentuar que uma queda pode ter múltiplas causas e quedas repetidas podem ter diferentes etiologias. Daí a importância de avaliar corretamente um idoso que sofreu queda. Grosso modo, a queda é um marcador de distúrbios subjacentes apenas identificáveis por uma cuidadosa avaliação pós-queda, com o objetivo de prevenir recorrências, reduzir incapacidades e custos do tratamento. 80 Acreditamos que a descrição das características da queda, por parte de quem caiu, poderá melhora a nossa compreensão sobre a biomecânica deste processo. Nesta linha de análise, e Segundo Cummings & Nevitt (1989), algumas condições devem estar presentes para que uma queda num idoso resulte em fratura da anca: um primeiro fator seria o ponto de impacto do corpo com o solo, quanto mais próximo do quadril maior a probabilidade de fratura; o segundo fator a ter em conta seria a falha nas respostas de proteção; o terceiro a capacidade dos tecidos moles envolvidos absorver forças de impacto e o quarto e último fator a resistência óssea e seu limiar de fratura. As pesquisas destes autores mostraram que o idoso tem um padrão de queda diferente da população jovem, caindo com mais frequência sobre o lado e não usando as mãos como defesa eficaz contra quedas. Tendo em conta este referencial teórico foi nosso objetivo principal avaliar as circunstâncias em que decorreram as quedas que resultaram em fratura da extremidade proximal do fémur. Pretende-se identificar fatores intrínsecos e ambientais presentes na queda e analisar o relato desse acontecimento por parte do doente, para assim entender a biomecânica da queda. Finalmente quisemos avaliar, de forma retrospetiva, a independência funcional do doente antes da queda e a segurança do doente para o desempenho de atividades de vida diária seis meses após a sua alta hospitalar. Material e Métodos Este estudo incluiu pacientes com mais de 65 anos internados no serviço de ortotraumatologia da Unidade Hospitalar de Bragança (Unidade Local de Saúde do Nordeste) com o diagnóstico de fratura proximal do fémur entre Junho e Dezembro de 2011. Os seguintes critérios de inclusão foram observados: a fratura ter resultado de uma queda, os sujeitos apresentarem-se orientados, conscientes e colaborantes, não ter havido perda de consciência anterior à queda e não existir amnésia relativamente ao episódio de queda. O estudo foi conduzido após aprovação do protocolo de investigação pela Comissão de Ética da instituição hospitalar onde o mesmo decorreu e os idosos participaram de forma voluntária após terem sido esclarecidos relativamente aos objetivos e assinado consentimento informado. Os dados foram recolhidos em dois momentos de avaliação distintos. O primeiro momento decorreu durante o período de internamento, por entrevista estruturada, e o segundo seis meses após a alta clínica, por contacto telefónico realizado pelos investigadores. A informação sociodemográfica recolhida incluiu o sexo, o estado civil e o concelho de origem. As seguintes variáveis clínicas foram tidas em conta: classificação da fratura, 81 perímetro da cintura abdominal, membro afetado e tipo de tratamento efetuado (cirúrgico/conservador). A informação pré-queda fez-se durante a entrevista através de questões que aludiam aos últimos 30 dias antes da queda. Para avaliar a independência funcional antes da queda utilizámos a Escala de Lawton (na realização das atividades instrumentais de vida diária: usar o telefone, fazer compras, executar atividades domésticas, usar transporte, tomar medicamentos, controlar as finanças, preparar refeições e andar fora de casa) e a autonomia pré-queda foi avaliada através do Índice de Katz. Os instrumentos anteriormente referidos foram igualmente usados para avaliar a capacidade funcional seis meses após a alta clínica. Na entrevista o doente era convidado a relatar a queda sofrida tendo em conta o local onde ocorreu e a forma como ocorreu. Neste aspeto pesquisámos fatores intrínsecos e ambientais que na opinião do idoso poderiam ter precipitado a queda e anotámos informações respeitante ao mecanismo de trauma e direção da queda. Na entrevista telefónica seis meses após alta; conseguimos apenas reunir dados sobre 9 idosos; já que 4 se mostraram incontactáveis, e 5 tinham falecido. Após recolha da informação a mesma lançada num ficheiro de dados em programa estatístico. A análise foi realizada por meio da estatística descritiva, utilizando medidas de frequência absoluta e relativa, tendência central e dispersão. Resultados Dados de caracterização sociodemográfica A tabela seguinte apresenta os participantes do estudo distribuídos por sexo, idade e estado civil. Como se denota, a maioria são mulheres (n=14). A idade variou dos 73 aos 92 anos (82,39±5,33). Os idosos eram maioritariamente viúvos (n=8). Relativamente ao concelho de origem, obtivemos registos para o concelho de Alfândega da Fé (n=2), Bragança (n=2), Carrazeda de Anciães (n=3), Mirandela (n=4), Mogadouro (n=1), Torre de Moncorvo (n=3), Vinhais (n=2) e Valpaços (n=1). 82 Tabela 1- Distribuição dos inquiridos segundo o sexo, a idade e estado civil Variáveis Sociodemográficas Sexo (N=18) Masculino Feminino Idade (N=18) 73 Anos 74 Anos 79 Anos 80 Anos 81 Anos 82 Anos 83 Anos 84 Anos 85 Anos 86 Anos 87 Anos 89 Anos 92 Anos Estado civil (N=18) Solteiro/a Casado (a)/União de facto Divorciado (a) Viúvo (a) Frequências n % 4 14 22,2 77,8 1 2 1 3 1 1 1 1 1 1 3 1 1 5,6 11,1 5,6 16,7 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 5,6 16,7 5,6 5,6 3 6 1 8 16,7 33,3 5,6 44,4 Fatores de risco Na tabela subsequente expomos os fatores de risco mais presentes nos participantes do estudo. A presença de patologias associadas verificou-se em 13 casos e já tiveram fraturas anteriores 3 idosos. Realçamos o facto de 3 mulheres terem tido menopausa anterior à idade de 45 anos. Tabela 2- Fatores de risco para fratura na amostra estudada Fatores de risco Presença de patologias associadas História de fratura de baixo impacto História familiar de fratura, designadamente a mãe ter tido fratura da anca Hábitos tabágicos Presença de artrite reumatoide Presença de insuficiência renal Menopausa precoce (antes dos 45 anos de idade) Problemas de visão n % 13 3 1 1 1 1 3 16 72,2 16,7 5,6 5,6 5,6 5,6 21,4* 88,9 *Percentagem calculada em função do número de mulheres 83 Caracterização das quedas Setenta e dois por cento dos participantes no estudo tiveram queda da própria altura, e a mesma percentagem de idosos caiu sobre o lado em que a fratura ocorreu. Tabela 3- Dados sobre as características das quedas na amostra em estudo Frequências n % Queda da própria altura 13 72,2 Queda de altura superior a 50cm 2 11,1 Quedas em degraus ou escadas 3 16,7 Caíram sobre o lado em que ocorreu a fratura 13 72,2 Caíram sobre o lado contrário em que ocorreu a fratura 1 5,6 Caíram para a frente 1 5,6 Ocorrência de rotação sobre o corpo aquando da queda (N=18) 4 22,2 Utilização das mãos para aliviar o impacto da queda (N=18) 8 44,4 Características das quedas A fratura resultou de: (N=18) Tipo de queda e ponto de impacto do corpo com o solo (N=18) Caíram para trás Na tabela abaixo caracterizamos as quedas segundo o local em que as mesmas ocorreram. Podemos verificar que a via pública foi o local menos registado (n=2). Caíram no quintal ou jardim 3 idosos e os restantes 13 caíram em casa/ edifícios. Quanto aos que caíram em casa observamos que o quarto e a cozinha foram as divisões da casa onde mais quedas se verificaram, cada uma delas com três registos. Significativas foram também as quedas em cozinhas e corredores, cada uma destas categorias com duas quedas observadas. Partindo do relato que os idosos fizeram da queda foi-nos possível identificar fatores ambientais que isolados ou conjuntamente contribuíram para o acontecimento. Por exemplo a “má iluminação” não foi realçada em nenhum dos casos. Quanto ao piso molhado ou escorregadio o mesmo for referido por três idosos da amostra. Os auxiliares de marcha inadequados foram citados em dois casos. As barreiras arquitetónicas e dificuldades de acesso/ movimentação foram salientadas por quatro indivíduos. O calçado mal ajustado foi referido em quatro situações. Contudo foram os fatores intrínsecos como a falta de força nos membros inferiores (n=6) e os problemas de equilíbrio postural (n=11) os fatores que os idosos mais atribuem como causa das quedas que sofreram. 84 Tabela 4 Caracterização das quedas conforme o local em que ocorreram Frequências n % Via pública 2 11,1 No quintal ou jardim No interior de um edifício Local da casa em que ocorreu a queda (N=13) Corredor 3 13 16,7 72,2 2 15,4 Cozinha Lagar Quarto Terraço Wall WC 3 1 3 1 1 2 23,1 7,7 23,1 7,7 7,7 15,4 Local das quedas Local em que ocorreu a queda: (N=18) Destino dos pacientes após alta clínica e mortalidade após seis meses Seis meses após a alta clínica os participantes foram contactados através de ligação para o número telefónico dado pelo paciente e/ou família à equipe de investigação. Após várias tentativas não conseguimos estabelecer contacto com quatro idosos ou suas famílias. Tendo em conta os restantes (n=14) concluímos que a quase totalidade dos idosos regressou ao seu domicílio (n=13) e apenas um ingressou numa Unidade de Cuidados Continuados. Um paciente teve complicações decorrentes do tratamento da fratura; e ao fim de seis meses 5 participantes tinham falecido. Os motivos de falecimento foram o AVC (n=3), a pneumonia (n=1) e a sepsis (n=1). Assim a taxa de mortalidade ao meio ano foi de 28% na amostra em estudo. Independência para a realização de Atividades de Vida antes da queda e após alta Na tabela seguinte comparamos as descritivas encontradas para a escala de Lawton e índice de Katz, (variáveis operacionalizadas pelo somatório das pontuações nos vários itens) para os dois momentos de avaliação da independência funcional. Como se denota, comparando as médias da Escala de Lawton antes da queda e meio ano após a alta (5,56±3,01 pontos e 3,33±3,84 pontos, respetivamente) verificamos uma diminuição da independência funcional significativa em termos estatísticos (p=0,03) pelo teste não paramétrico de Wilcoxon. 85 Após a alta foram também encontradas pontuações médias mais baixas para o Índice de Katz (17,17±1,29 pontos antes da queda e 13,78±3,76 pontos seis meses pós-alta), com significância estatística (p=0,03). Tabela 5- Descritivas para o Lawton e Katz antes da queda e seis meses depois da alta Independência funcional antes da queda M DP σ2 Mínimo Máximo Lawton (N=18) 5,56 3,01 9,09 0 8 Katz (N=18) 17,17 1,29 1,68 14 18 Independência funcional seis meses após a alta M DP σ2 Mínimo Máximo Lawton (N=9) 3,33 3,84 14,75 0 8 Katz (N=9) 13,78 3,76 14,19 9 18 Analisando as correlações das medidas de independência funcional usados no estudo nos vários momentos de avaliação, que apresentamos na tabela seguinte, podemos verificar que a idade está negativamente correlacionada com a independência funcional, sobretudo após alta clínica, o que poderá significar que a fratura da anca interfere mais fortemente com a autonomia dos muito idosos. Tabela 6- Correlações de Spearman entre a idade e as medidas de independência funcional, nos dois momentos de avaliação Idade Idade Lawton antes Katz antes Lawton depois Katz depois Lawton antes Katz antes Lawton depois Katz depois r p N r p N r p N r p N r 1 . 18 -,414 ,088 18 -,576* ,012 18 -,658* ,006 9 -,824** 1 . 18 ,620** ,006 18 ,447 ,228 9 ,355 1 . 18 ,389 0,301 9 ,370 ,889** p ,006 ,348 ,327 ,001 . N 9 9 9 9 9 1 . 9 1 86 Discussão e Conclusões A maioria dos participantes no estudo eram mulheres. A literatura tem vindo a realçar as diferenças entre géneros na incidência deste tipo de lesões, sendo que a maioria dos estudos epidemiológicos referem serem as mulheres mais acometidas por fraturas da anca (Kannus, et al., 1995; Sterling, 2011)) sendo as complicações pós-fratura e a mortalidade maiores no sexo masculino (Endo, Aharonoff, Zuckerman, Egol, & Koval, 2005). Neste estudo predominou a fratura do colo (n=9), seguindo-se a trocantérica (n=6), subtrocantérica (n=2) e intratrocantérica (n=1). Dados de Michelson, et al., (1995) referem que 49% das fraturas da anca são intertrocantéricas, que 37% são intracapsulares e 14% subtrocantéricas. Relativamente ao tipo de tratamento destacamos o facto de nenhum elemento da amostra ter sido submetido a tratamento conservador, o que em nossa opinião poderá ser entendido como um reflexo da evolução das técnicas anestésicas e cirúrgicas registada nas últimas décadas. Concluímos que 72% dos idosos caíram para o lado em que ocorreu a fratura. Aizen., Dranker., Swartzman., & Michalak (2003) encontraram uma prevalência de cerca de 52% para quedas homolaterais à fratura; já Parkkari., et al (1999) encontraram uma prevalência de 76% para o mesmo padrão de queda. A literatura salienta que as quedas laterais e posterolaterais, com impacto no grande trocânter, são as mais responsáveis pela ocorrência de fratura do fémur proximal. Concluímos ainda que a grande maioria dos isosos não conseguiu utilizar as mãos para quebrar o impacto da queda; resultados em consonância com a literatura (Parkkari., et al., 1999; Aizen., Dranker., Swartzman., & Michalak, 2003). Tendo em conta os locais em que as quedas ocorreram e o relato do evento concluímos pela importância da implementação de programas de intervenção e prevenção de quedas que tenha como objetivo principal a correção dos fatores ambientais e arquitetónicos no domicílio do doente, e sobretudo a reeducação funcional e reabilitação em questões como a força muscular e o equilíbrio. Num estudo conduzido por Rossini, et al (2010) os autores concluíram que numa grande percentagem dos seus pacientes (86%) a queda era explicada por fatores de risco ambientais e individuais. Se tomarmos em conta todos os participantes no estudo (N=18) obtivemos uma taxa de mortalidade aos 6 meses após fratura de 28%. No entanto, convém realçar que não conseguimos contactar quatro idosos, pelo que a taxa poderá ser maior do que a constatada pela estatística. Os nossos resultados entroncam nos trabalhos de Dzupa, Bartonícek, Skála- 87 Rosenbaum, & Príkazský (2002) que encontraram uma taxa de mortalidade de 35% um ano após lesão. A evidência tem vindo a realçar muitas variáveis correlacionadas com a mortalidade pós-fratura da anca, entre as quais a idade, o sexo, o tempo que decorre desde a lesão à intervenção cirurgica, complicações pós-operatórias, a demência, a doença cardiovascular, o indíce de massa corporal e os níveis de hemoglobina e albumina sérica. Os nossos resultados seis meses após a alta apontam para o declínio funcional dos idosos com fratura da anca, mais marcado nos participantes mais velhos. Um estudo por nós consultado relativamente a esta temática (Lin & Chang, 2004) concluiu que apenas 58% dos doentes com fratura conseguem caminhar na rua um ano após fratura, uma das atividades intrumentais de vida mais difíceis de alcançar para estes doentes em termos de independência funcional. As fraturas da extremidade proximal do fémur são um evento que colocam em causa a saúde e a qualidade de vida dos idosos. Uma variedade de fatores afecta o prognóstico funcional. Este facto desafia os profissionais de saúde que trabalham em cuidados primários e diferenciados no objetivo de optimizar a prevenção de quedas, o tratamento e a reabilitação destes idosos. Referências Bibliográficas Aizen, E., Dranker, N., Swartzman, R., & Michalak, R. (2003). Risk factors and characteristics of falls resulting in hip fracture in the elderly. Isr Med Assoc J, 5(5), 333336. Bloch, F., Thibaud, M., Dugué, B., Brèque, C., Rigaud, A. S., & Kemoun, G. (2010). 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A FORÇA DE PREENSÃO MANUAL COMO INDICADOR DA CAPACIDADE FUNCIONAL EM IDOSOS André Filipe Morais Pinto Novo Doutor em Ciências da Atividade Física e do Desporto Professor Equiparado a Assistente Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso E-mail: [email protected] || Tlm: 917972163 Leonel São Romão Preto Doutor em Cultura e Psicossociologia da Comunicação Professor Adjunto Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso E-mail: [email protected] Maria Eugénia Rodrigues Mendes Doutoranda em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa Professora Adjunta Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa E-mail: [email protected] 90 Resumo Introdução: A avaliação da força da mão é uma ferramenta relevante no planeamento e avaliação dos cuidados em geriatria e reabilitação. Fornece informações valiosas sobre a funcionalidade do indivíduo e ajuda a implementar e monitorizar estratégias com o objetivo de preservar ou recuperar a força muscular global. Objectivos: Perceber a relação existente entre a idade, os valores obtidos através de dois métodos de avaliação da força de preensão da mão e do teste de avaliação funcional up and go. Material e métodos: Desenhou-se um estudo de carácter descritivo, quantitativo e transversal. Para avaliar a força de preensão manual utilizou-se um dinamómetro de pêra aneróide da marca Dinatest® e outro de sistema hidráulico da marca Jamar®. Foi considerado o melhor resultado de duas tentativas (peak force isométrico). Para avaliação da funcionalidade e aptidão física dos idosos utilizámos o protocolo do teste Timed Up and Go (levantar e andar), cuja confiabilidade está bem estudada pela literatura. Resultados: A amostra foi constituída por 77 idosos (49 mulheres) e a média de idades foi de 81,40 anos, sem diferenças significativas entre sexos. O idoso mais novo apresentava 65 anos e o mais velho 97. Em ambos os métodos de avaliação, a mão direita obteve melhores resultados que a esquerda. Os homens obtiveram valores de força superiores aos das mulheres. Constatámos que a força da mão declina com a idade, como se denota pelas correlações negativas encontradas. Pudemos ainda observar que o teste up and go se correlaciona negativamente com todas as formas de avaliação da força de preensão manual, o que significa que quem tem mais força executa o teste de levantar e andar em menos tempo. De referir ainda que o teste up and go se correlaciona positivamente com a idade (os indivíduos mais velhos necessitam de mais tempo para executar o teste). Discussão e Conclusão: Encontrámos associações estatisticamente significativas entre os dois tipos de avaliação objetiva da força de preensão da mão em idosos. Verificámos ainda associações muito semelhantes quando comparámos as diferentes formas de avaliação da força de preensão manual e um teste de avaliação funcional (teste up and go). Concluímos pela validade do uso de qualquer destes equipamentos na prática clínica especializada, devendo a opção por um ou por outro ter em conta os custos dos mesmos. Palavras-chave: Força isométrica; Dinamometria; Força da mão; Idosos; Levantar e andar; Funcionalidade. Abstract Introduction: The assessment of handgrip strength is an important tool in the planning and evaluation of geriatric and rehabilitation care. Provides valuable information about the functionality of the individual and helps to implement and monitor strategies aiming to preserve or restore muscle strength. Objectives: Understand the relationship between age, the values obtained by two methods of assessment of the handgrip strength and up and go test (functional evaluation). Material and Methods: We designed descriptive quantitative and cross study. To evaluate the handgrip strength we used a Dinatest® dynamometer and a Jamar® hydraulic dynamometer. We selected the best result of two attempts (peak isometric force). To evaluate the functionality and physical fitness of the elderly we used the test Timed Up and Go Test, whose reliability is well studied in the literature. Results: The sample consisted of 77 older adults (49 women) and the mean age was 81.40 years, without significant differences between genders. The youngest had 65 years and the oldest 97. In both evaluation methods, the right hand yielded better results than the left. Men showed strength values higher than women. We found that hand strength declines with age, as is 91 denoted by the negative correlations found. We could also observe that the test up and go correlates negatively with all forms of assessment of hand grip strength, which means that whoever has more power runs the test up and go in less time. Note also that the test up and go is positively correlated with age (older individuals need more time to run the test). Discussion and Conclusion: We found statistically significant associations between the two kinds of assessment of hand grip strength in the elderly. We also have very similar associations when compared the different tests to assess hand grip strength and a functional assessment (up and go test). We conclude by the validity of using any of these devices in clinical practice and the choice of one or another should take into account the costs thereof. Keywords: Isometric strength; Dynamometry; Handgrip strength; Elderly; Up and go; Functionality. 92 Introdução A mão é um segmento complexo, capaz de desempenhar funções motoras e sensoriais que contribuem para a sobrevivência e a autonomia do ser humano. Tradicionalmente muito usada em medicina do trabalho, a força de preensão voluntária da mão tem vindo a ser descrita como um dos métodos mais rápidos, simples e objectivos para avaliar a aptidão física, a função muscular global e a presença de sarcopenia. Esta medida tem sido também utilizada na avaliação do estado nutricional de indivíduos em situações de fragilidade, como doentes ou idosos, institucionalizados ou não e, recentemente, a força de preensão manual foi relatada como importante preditor de morbilidade e mortalidade em indivíduos de meia-idade e idosos (Sasaki, Kasagi, Yamada, & Fujica, 2007). Numa época de crescente envelhecimento populacional, este teste não nos dá apenas informações sobre a força da mão ou a funcionalidade do membro superior; ele tem várias indicações clínicas e tornou-se uma ferramenta relevante no planeamento e avaliação dos cuidados em geriatria e reabilitação, já que nos pode fornecer informações valiosas sobre a funcionalidade do indivíduo e ajudar-nos a monitorizar estratégias levadas a cabo com o objectivo de preservar ou recuperar a força muscular global. Neste trabalho damos a conhecer os resultados da avaliação da força isométrica de preensão palmar em 77 idosos institucionalizados, através de dois métodos de avaliação: com um dinamómetro universal de sistema hidráulico e com um manómetro de pêra aneróide. Foi nosso objectivo correlacionar os valores obtidos através destes dois métodos; e comparar os resultados com o teste de avaliação da funcionalidade e aptidão Timed Up and Go (Podsiadlo & Richardson, 1991). Metodologia Este estudo é de carácter descritivo, quantitativo e transversal, cujo trabalho de campo decorreu em cinco instituições de terceira idade do distrito de Bragança. Todos os idosos foram avaliados de acordo com protocolos específicos seguidos na maioria dos estudos que conhecemos sobre esta temática. Em ambos os métodos de avaliação os participantes do estudo encontravam-se em posição de sentado o mais correctamente possível em cadeira com assento rígido e sem descanso de braços e com os ombros em posição neutra (Fig 1). Para todos os sujeitos foi ajustada a pega do dinamómetro hidráulico de acordo com o tamanho da mão. Foram realizadas duas avaliações em cada mão com dinamómetro de sistema hidráulico (Jamar*), intervaladas por três minutos de repouso; 93 idêntica metodologia e períodos de recuperação foram utilizados na avaliação por dinamómetro aneróide (Dinatest*). Por cada método de recolha de dados, escolhemos o melhor dos resultados (peak force isométrico) conseguidos nas duas tentativas. Constituíram critérios de exclusão os seguintes: ter idade inferior a 65 anos; sofrer de patologias que afectassem a força de uma das mãos como por exemplo Acidente Vascular Cerebral; incapacidade funcional para a realização da avaliação segundo o protocolo e ter história de patologia isquémica cardíaca não estabilizada. Fig 1 – Dinamómetros utilizados para avaliar a força de preensão palmar * Os autores declaram não existir conflito de interesses ou possuírem qualquer ligação aos equipamentos utilizados. Para avaliação da funcionalidade e aptidão física dos idosos utilizámos o protocolo do teste Timed Up and Go (Levantar e andar), cuja confiabilidade está bem estudada pela literatura. A prova consiste em determinar o tempo que um indivíduo gasta para, partindo da posição de sentado, levantar-se de uma cadeira, percorrer a distância de 3 metros, contornar um pequeno obstáculo no solo e regressar à posição inicial de sentado. Realizámos correlações entre os resultados obtidos no Up and Go e as forças de preensão manual aferidas pelo tipo de dinamómetros que utilizámos. Desenvolvimento A amostra ficou assim constituída por 77 idosos, na sua maioria mulheres (n=49). A média de idades rondou os 81 anos, sem diferenças estatisticamente significativas entre sexos. O idoso mais novo apresentava 65 anos e o mais velho 97 anos de idade. Cerca de 25% dos participantes no estudo apresentavam 86 ou mais anos de idade. 94 A média do peso foi de 69,97 kg e a estatura de 1,52 m e Índice de Massa Corporal de 29, 51 kg m2 (Tabela 1). Quase todos os participantes referiram que a mão direita era a dominante (n=73). Tabela 1 – Idade média dos participantes no estudo, por sexo Idade Altura (m) Peso (Kg) IMC 81,37 1,47 65,22 29,15 49 45 41 38,00 Desvio padrão 7,59 0,05 13,39 4,73 Média 81,46 1,60 77,17 30,04 28 28 27 26,00 Desvio padrão 7,84 0,06 13,50 4,40 Média 81,40 1,52 69,97 29,51 77 73 68 64,00 7,63 0,08 14,58 4,59 Média Feminino Masculino Total N N N Desvio padrão Em ambos os métodos de avaliação da força de preensão a mão direita obteve resultados superiores à esquerda. Verificamos que os homens obtiveram valores de força superiores aos das mulheres (Tabela 2). São também os homens que obtêm valores mais elevados na estatística desvio padrão, o que significa maior variabilidade dos dados relativamente à média. Tabela 2 – Médias dos testes de força de preensão palmar de acordo com o sexo e o tipo de dinamómetro utilizado Sexo Feminino Média± DP Masculino Média± DP Total Média± DP Hand-grip mão direita (Kgf) Hand-grip mão esquerda (Kgf) Dinamómetro aneróide Dinatest 13,68±5,56 24,41±7,05 17,54±8,00 12,52±5,45 23,7±6,45 16,56±7,93 Hand-grip mão direita (bar) Hand-grip mão esquerda (bar) 0,24±0,11 0,41±0,17 0,30±0,16 0,23±0,10 0,39±0,14 0,29±0,14 Dinamómetro hidráulico Jamar 95 Pela tabela 3 podemos constatar que, grosso modo, a força da mão declina com a idade, como se denota pelas correlações negativas encontradas entre estas variáveis. Como era de esperar, a força de ambas as mãos está associada entre si. Estatísticas muito significativas foram encontradas entre os resultados obtidos através dos dois tipos de equipamento que utilizámos pelo teste de associação de Spearman's. Assim, a força de preensão da mão direita medida pelo dinamómetro hidráulico Jamar correlacionase de um modo muito forte com a força da mesma mão medida pelo dinamómetro aneróide Dinatest (R= 0,896; p=0,000). Quanto à mão esquerda os resultados encontrados seguem a mesma tendência (R=0,845; p=0,000). Tabela 3 – Correlações obtidas entre a idade e os valores de força, na mão direita e esquerda, aferidos pelos dois tipos de dinamómetros Idade Mão direita Jamar Mão esquerda Jamar R 1 Si . Idade g N 77 R -,186 1 Mão direita Si ,111 . Jamar g N 75 75 R -,218 ,826** 1 Mão Si ,060 ,000 . esquerda g Jamar N 75 75 75 R -,327** ,896** ,777** Mão direita Si ,004 ,000 ,000 Dinatest g N 76 75 75 ** ** R -,322 ,727 ,845** Mão Si ,005 ,000 ,000 esquerda g Dinatest N 76 75 75 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Mão direita Dinatest Mão esquerda Dinatest 1 . 76 ,802** ,000 1 . 76 76 96 A tabela seguinte expõe as correlações entre os tempos obtidos no Up and Go e os valores de força das mãos em ambas as avaliações por dinamometria. Note-se que as correlações apresentam valores negativos entre as variáveis o que significa que quanto mais tempo os idosos demoraram para realizar o Up and Go, menores valores forem registados para a força de preensão manual. Obtivemos coeficientes de correlação muito semelhantes entre as duas metodologias utilizadas para avaliar a força e os valores do teste de aptidão física Up and Go. As correlações para a prova Up and Go e a força da mão direita foram: R= -0,434 e R= 0,473; para a avaliação com dinamómetro Jamar e dinamómetro Dinatest, respectivamente. Para a mão esquerda, a correlação foi: R= -0,478 e R= -0,444. Tabela 4 – Correlações obtidas entre o Up and Go e os valores de força, na mão direita e esquerda, aferidos pelos dois tipos de dinamómetros Up and Go Mão direita Jamar Mão esquerda Jamar R 1,000 Si Up and Go . g N 72 R -,434** 1,000 Mão direita Si ,000 . Jamar g N 71 75 ** R -,478 ,826** 1,000 Mão Si esquerda ,000 ,000 . g Jamar N 71 75 75 R -,473** ,896** ,777** Mão direita Si ,000 ,000 ,000 Dinatest g N 72 75 75 ** ** R -,444 ,727 ,845** Mão Si esquerda ,000 ,000 ,000 g Dinatest N 72 75 75 **. Correlation is significant at the 0.01 level (2-tailed). Mão direita Dinatest Mão esquerda Dinatest 1,000 . 76 ,802** 1,000 ,000 . 76 76 97 Conclusão Este trabalho encontrou associações estatisticamente significativas entre dois tipos de avaliação objectiva da força de preensão da mão em idosos institucionalizados: avaliação por dinamómetro hidráulico e dinamómetro de pressão aneróide. Entre os resultados aferidos por estes dois equipamentos e uma prova de avaliação funcional que aplicámos aos participantes no estudo (Up and Go) as associações foram também muito semelhantes. Concluímos pela validade do uso de qualquer destes equipamentos na prática clínica especializada; devendo a opção por um ou por outro ter em conta os custos económicos dos mesmos, e não tanto pela fiabilidade dos resultados obtidos. Salientamos contudo que o dinamómetro hidráulico é considerado universal, existindo muita evidência publicada sobre o seu uso e valores de referência; pelo que estes aspectos devem também ser levados em linha de conta na prática clínica. Referências Bibliográficas Garcial, P., Dias, J., Dias, R., Santos, P., & Zampa, C. (2011). A study on the relationship between muscle function, functional mobility and level of physical activity in community-dwelling elderly. Rev Bras Fisioter , 15, 15-22. Geraldes, A., Oliveira, A., Alboquerque., Carvalho, J., & Farinatti, P. 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FUNCTIONALITY OF ELDERLY WITH OSTEOARTHRITIS Maria Eugénia Rodrigues Mendes Doutoranda em Enfermagem na Universidade Católica Portuguesa Professora Adjunta Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa E-mail: [email protected] || Tlm: 939067128 André Filipe Morais Pinto Novo Doutor em Ciências da Atividade Física e do Desporto Professor Equiparado a Assistente Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso E-mail: [email protected] || Tlm: 917972163 Leonel São Romão Preto Doutor em Cultura e Psicossociologia da Comunicação Professor Adjunto Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso E-mail: [email protected] 99 Resumo Introdução: A osteoartrite (OA) é um processo involutivo que afeta as articulações. Do ponto de vista histológico, o processo degenerativo altera a cartilagem articular que perde elasticidade natural após anos de desgaste intenso. Atinge principalmente as articulações dos joelhos, anca e dedos, mas pode ocorrer em todas as articulações que permitem mobilidade, designadamente as da coluna vertebral. Apresenta taxas de prevalência mais elevadas a partir da quarta década de vida e é uma das patologias mais comuns na população idosa. A doença tem uma maior prevalência e incidência no sexo feminino a partir da menopausa, onde a severidade, sobretudo na artrose do joelho, é também maior. Objectivos: Caracterizar, nos aspetos clínico e sociodemográfico, os idosos com OA da amostra em estudo; avaliar o impacto da OA na capacidade funcional de idosos institucionalizados. Material e Métodos: Para a recolha de dados foi utilizado: questionário de caracterização sociodemográfica, clínica (antecedentes familiares de artrose, índice de massa corporal, existência de traumatismos anteriores, tempo de diagnóstico de artrose, tipo e localização da artrose) e da autonomia funcional nas Atividades de Vida Diária (higiene e conforto, vestir e despir, usar sanitários, levante cama/cadeira, alimentação, eliminação e deambulação); a Escala Visual Numérica de avaliação da dor e a Escala de Avaliação Funcional de Lysholm. Resultados: Avaliaram-se 60 idosos, com OA diagnosticada em média há 9 anos, com média de idade de 77±7,6 anos, dos quais 53.3% são mulheres. A maioria dos inquiridos (53.3%) tem história de trauma articular prévio e antecedentes familiares de artrose (58.3%). Relativamente ao tipo de OA, 67% dos inquiridos apresentam artrose primária e 25% artrose secundária. A localização mais frequente (20%) é o joelho, e identificou-se poliartrose em 21.7% casos. A avaliação funcional do joelho aplicando a escala de Lysholm, identificou 49 utentes com má função. Referiram dificuldades em movimentar-se 98% da amostra e 63% refere coxear ligeira ou periodicamente. Os participantes apresentavam maioritariamente excesso de peso com 46,7% de pré-obesidade e 21,7% de obesidade. No que diz respeito à situação de saúde, 80% dos idosos sofrem de patologias associadas ao processo artrósico e no que concerne à prática de exercício físico apenas 33.3% mencionou fazê-lo. Discussão e Conclusão: Concluímos que a maioria dos participantes apresentou um nível de capacidade razoável na realização das atividades de vida diária avaliadas, mas relativamente à funcionalidade do joelho alterações importantes foram observadas. Palavras-chave: Osteoartrite; Idosos; Capacidade funcional. Abstract Introduction: Osteoarthritis (OA) is an involutive process that affects the joints. Histologically the degenerative process changes the articular cartilage and leads to lose natural elasticity after years of intense wear. Mainly affects the joints of the knees, hip and fingers, but may occur in all joints that allow mobility, particularly those of the spine. Presents highest prevalence rates after the fourth decade of life and is one of the most common diseases in the elderly. The disease has a higher prevalence and incidence in women after menopause, and its severity, especially in osteoarthritis of the knee, is also higher. Objectives: Characterize the clinical and sociodemographic aspects in the elderly patients with OA of the sample under study; assess the impact of OA on the functional capacity of the institutionalized elderly. Material and Methods: For data collection was used: questionnaire 100 of sociodemographic and clinical characteristics (family history of arthritis, body mass index, presence of previous trauma, time since diagnosis of osteoarthritis, type and location of arthrosis) and functional autonomy in Activities of Daily Living (health and comfort, dressing and undressing, using toilet, lift bed / chair, feeding, elimination and ambulation); Numerical Pain Rating Scale and the Lysholm Knee Scoring Scale. Results: We evaluated 60 elderly patients with OA diagnosed on average 9 years, with a mean age of 77±7.6 years, 53.3% of whom are women. Most respondents (53.3%) have history of prior joint trauma and family history of osteoarthritis (58.3%). Regarding the type of OA, 67% of respondents have primary osteoarthritis and 25% secondary osteoarthritis. The most common location (20%) is the knee, and it was identified polyarthritis in 21.7%. The functional evaluation of the knee by applying the Lysholm Scale, identified 49 users with poor function. Reported difficulties in moving 98% of the respondents and 63% relates slight or periodically limp. The participants were mostly overweight with 46.7% of overweight and 21.7% obese. Regarding to health status, 80% of elderly had comorbidities and only 33.3% mentioned do physical exercise. Discussion and Conclusion: We conclude that most participants showed a reasonable level of ability in performing activities of daily living assessed but regarding the functionality of the knee significant changes were observed. Keywords: Osteoarthritis; Elderly; Functional capacity 101 Introdução A artrose, também designada por osteoartrose ou osteoartrite (OA), é uma doença crónica caracterizada por um processo degenerativo não-inflamatório que afeta as articulações que permitem movimento e sustentação do peso do corpo. Atinge principalmente as articulações dos joelhos, da anca e dos dedos, mas poderá ocorrer em todas as articulações que permitem mobilidade, designadamente as da coluna vertebral. É uma das patologias mais comuns, sobretudo na população idosa, já que do ponto de vista histológico o processo degenerativo altera a cartilagem articular que perde elasticidade natural após anos de desgaste intenso. A doença tem uma maior prevalência e incidência no sexo feminino sobretudo a partir da menopausa, onde a severidade, sobretudo na artrose do joelho, é também maior (Srikanth et al, 2005). A artrose primária surge devido ao envelhecimento prematuro das estruturas articulares; na artrose secundária é possível estabelecer um ou mais fatores etiológicos, estando a doença relacionada com traumatismos anteriores na articulação afetada, patologia inflamatória, tarefas laborais que requerem movimentos repetitivos, elevada carga articular, causas endócrinas e metabólicas. Embora a OA varie consideravelmente de pessoa para pessoa, a sintomatologia iniciase, normalmente de forma lenta e discreta, por uma sensação passageira de aperto ou ardor articular que melhora com o movimento ou desaparece de forma espontânea. A desvalorização destes sintomas subjetivos iniciais é comum na maioria das situações. À medida que o tempo avança a dor é sentida mais intensamente. Assim, em muitos casos, quando o paciente recorre aos serviços de saúde, a artrose já se encontra instalada há muito, fazendo com que o seu tratamento (mesmo que ainda não exista rigidez ou deformação articular) seja menos eficaz. Nesta patologia involutiva a dor é então o sintoma predominante, sendo desencadeada com o movimento ou uso excessivo da articulação e melhorando com o repouso. É habitual, no entanto, a dor persistir com o repouso, ou exacerbar após períodos de posturas estáticas. A dor, a rigidez e a deformidade estão associados à perda da função articular de que resultam variados graus de incapacidade. A incapacidade física e a perda de autonomia funcional para a realização de atividades de vida diária no doente com artrose foram objeto de estudo do presente trabalho. A investigação incidiu sobre uma amostra de idosos institucionalizados portadores desta patologia. Tivemos como objetivos: caracterizar, nos aspetos clínico e sociodemográfico, os 102 idosos com OA da amostra em estudo e avaliar o impacto da OA na capacidade funcional de idosos institucionalizados. Método O problema de investigação que norteou esta pesquisa foi: “Em que medida a artrose influencia a capacidade funcional dos idosos estudados?”. Considerando a natureza do problema formulado e os processos metodológicos seguidos, o estudo é de natureza descritiva. Como os dados foram recolhidos num único momento, o estudo é também de carácter transversal. Instrumentos Aplicou-se um questionário sóciodemográfico e um questionário clínico onde se operacionalizaram, entre outras, as seguintes variáveis: Antecedentes familiares de artrose; Índice de Massa Corporal; Existência de traumatismos anteriores; Tempo de diagnóstico de artrose; Tipo e localização da artrose. Aplicou-se, ainda, um instrumento de mensuração unidimensional da dor – a Escala Visual Numérica que consiste numa régua dividida em onze partes iguais, numeradas de 0 a 10, sendo que 0 corresponde à classificação “sem dor” e 10 à classificação “dor máxima” (Direcção Geral da Saúde; Circular Normativa nº 9/2003). Para avaliação da função articular do joelho utilizou-se a Lysholm Knee Scoring Scale (Lysholm & Gillquist, 1985) traduzida e validada para português por Peccin, Ciconelli e Cohen (2006). A Escala Lysholm privilegia a avaliação subjetiva do doente relativamente ao seu joelho, cumprindo ao mesmo tempo critérios de validade e reprodutibilidade. É composta por oito questões cujo somatório final poderá atingir 100 pontos, e em que se considera que a função é “excelente” se a pontuação final for de 95 a 100 pontos; “boa” se for de 84 a 94 pontos; “regular” se for de 65 a 83 pontos e “má” se for inferior a 64. Os indicadores avaliados são os seguintes: Coxear; Carga ou apoio; Subir escadas; Agachar; Bloqueio; Instabilidade; Dor e Edema. Avaliou-se, ainda, em escalas tipo Likert a autonomia funcional nas Atividades de Vida Diária (AVDs): Higiene e conforto; Vestir e despir; Usar sanitários; Levante cama/cadeira; Alimentação; Eliminação e Deambulação. 103 Participantes A amostra foi constituída por 60 idosos portadores de artrose, institucionalizados em dois lares do concelho de Bragança (30 utentes no Lar da Santa Casa da Misericórdia e 30 no Lar Betânia). Para além da presença da patologia foram requisitos de inclusão na amostra os participantes apresentarem-se conscientes, orientados e colaborantes. Para avaliar a presença de patologia, consultaram-se processos, obteve-se confirmação positiva interrogando os utentes, e, nos casos que nos levantaram dúvidas, seguimos os critérios do Colégio Americano de Reumatologia, designadamente existirem pelo menos dois dos seguintes sinais e sintomas: sensibilidade dolorosa à palpação, rigidez pós-repouso menor do que 30 minutos, crepitação, aumento articular, ausência de aumento da temperatura local. Resultados e Discussão Os sujeitos apresentavam idades que variaram dos 60 aos 90 anos. A média de idades situou-se nos 77 anos para um desvio padrão de 7,6 anos. Verificámos que 53.3% são mulheres e 37 utentes são viúvos. Das variáveis sociodemográficas alvo de outros estudos destacamos a idade e o sexo. A idade é um fator de risco importante para o desenvolvimento de OA, e a estabilização da incidência só parece ocorrer a partir dos 80 anos de idade (Oliveira, Felson, Reed, Cirillo & Walker, 1995). Relativamente ao sexo, a meta-análise de Srikanth et al, (2005) demonstra a presença de diferenças na prevalência e incidência da OA entre sexos, com as mulheres a obterem um risco mais elevado de desenvolvimento da patologia, sobretudo a partir dos 50 anos de idade. Esta relação é mais marcada na OA do joelho, o que sugere a influência de fatores hormonais, nomeadamente a diminuição dos níveis de estrogénio. Neste enquadramento, Felson et al, (1995) referem que a doença incide 1,7 vezes mais em mulheres do que em homens. Relativamente às variáveis clínicas, e em concreto para o IMC, contactou-se que a população inquirida se encontrava maioritariamente com excesso de peso. Com efeito, apresentavam situação de pré-obesidade 46,7% dos utentes e obesidade 21,7%. A associação entre obesidade e osteoartrite tem sido alvo de diversos estudos. Grotle, Hagen, Natvig, Dahl e Kvien (2008) referem que a obesidade é o fator de risco mais importante para o desenvolvimento da patologia. Estes autores desenvolveram um estudo longitudinal numa amostra de 1854 indivíduos concluindo que um IMC elevado estava 104 associado com artrose do joelho e da mão, mas não era notória a sua relação com a anca. Idênticas conclusões foram reportadas por Reijman et al, (2007) a partir do follow-up de 3585 doentes. Com base nos resultados das avaliações radiológicas desses indivíduos a investigação concluiu que o IMC estava associado com a incidência e a progressão da OA do joelho, mas não do quadril. O papel desta variável no surgimento e progressão da patologia baseia-se no facto de o peso corporal causar um aumento de sobrecarga articular o que leva ao colapso e falência das estruturas de suporte (Backer, 2006). No que diz respeito à situação de saúde, 48 indivíduos sofrem de patologias associadas ao processo artrósico, sendo as doenças cardiovasculares e as endócrino-metabólicas as mais prevalentes. Em média a OA foi diagnosticada há cerca de 9 anos. A questão “Há quanto tempo lhe foi diagnosticada artrose?” apresenta uma considerável dispersão dos valores em torno da média (DP= 7.98 anos), o que traduz a grande variabilidade de registos observados. Assim, o caso mais recente foi diagnosticado há 2 anos e o caso mais antigo há 30 anos. A maioria dos indivíduos (cerca de 52%) não iniciou tratamento imediato aquando do diagnóstico da patologia. Aqueles que iniciaram logo tratamento fizeram-no com Anti-inflamatórios não esteroides e analgésicos. Relativamente às variáveis clínicas verificou-se que a maioria dos inquiridos tem história de trauma articular prévio (53.3%). Quando questionados acerca de antecedentes familiares de artrose, 58.3% dos sujeitos referiu que o pai, mãe ou irmãos padeciam da patologia. Segundo a literatura, os indivíduos com história familiar de OA têm maior probabilidade para desenvolver a patologia. Isto pode ser devido a anomalias hereditárias das articulações. Por exemplo, a OA dos dedos da mão tem uma prevalência três vezes maior entre irmãos que na população geral. Em um estudo epidemiológico levado a cabo por Neame, Muir, Doherty e Doherty (2004) concluiu-se que na OA do joelho a hereditariedade apresentava um fator de risco de 0.62. No que concerne à prática de exercício físico, apenas 33.3% mencionou fazê-lo. Sobre esta questão a evidência realça que o exercício físico moderado ajuda a reduzir a dor (Blackham, Garry, Cummings, Russell & Dealleaume; 2008). O exercício regular no doente com artrose é recomendado pelo Colégio Americano de Reumatologia e pela Sociedade Americana de Geriatria. Relativamente à variável “Tipo e localização da artrose, constatou-se que cerca de 67% dos inquiridos padecem de artrose primária, enquanto que 25% sofre de artrose secundária. Nos restantes casos, não foi possível classificar com precisão o tipo de OA. Relativamente à 105 localização, 20% localizam-se apenas no joelho e identificou-se poliartrose em 21.7% casos. Verificaram-se também prevalências para OA na coluna, se bem que nos casos em que isso aconteceu estava associada a outras articulações (mãos, ancas, joelho ou olecrâneo). A artrose com menção de mais de uma localização (poliartrose) foi a característica dominante do estudo, e entre as articulações afetadas o joelho foi a mais referida. Efetivamente, a maioria dos estudos identifica a artrose do joelho como a mais prevalente (Majani, Giardini & Scotti, 2005; Peat, McCarney & Croft, 2001). A maioria dos indivíduos apresentou um nível razoável de capacidade funcional na realização das AVDs avaliadas. Assim, 28 são independentes no cumprimento da sua própria higiene e conforto, contra 32 que apresentaram diferentes níveis de dependência. Em relação ao vestir-se e despir-se metade dos sujeitos apresentava dependência em diferentes graus. Quanto ao uso de sanitários, 60% dos sujeitos referiu ser independente. Para efetuar o levante e a transferência para o cadeirão cerca de 62% não necessitam de nenhum tipo de ajuda para o fazer. Em relação à avaliação funcional do joelho segundo a escala de Lysholm, verificou-se que do total de inquiridos cerca de 98% refere sentir dificuldades em movimentar-se e, especificamente, 63% da amostra refere coxear ligeira ou periodicamente. A maioria dos utentes que participaram no estudo (68%) usa meios auxiliares de marcha (bengala ou canadiana) para efetuarem movimentos com carga. Subir escadas é algo que 17% não consegue fazer. Uma percentagem muito significativa (58%) só consegue subir escadas degrau a degrau. Quando têm necessidade de se agachar 38% dos indivíduos referem dificuldades, não conseguindo ultrapassar os noventa graus de flexão. No que concerne à sensação de bloqueio articular, esta foi apenas referida por 12 indivíduos; já quanto á instabilidade articular o número aumentou para 29. Quanto à dor, 35% afirmaram sentir dor marcada durante o esforço físico e 30% afirmaram sentir dor constante ao nível da articulação do joelho. Peat et al, (2001) referem-nos que 25% das pessoas acima dos 55 anos teve um episódio de dor persistente no joelho. A prevalência da osteoartrite do joelho dolorosa e incapacitante em pessoas com mais de 55 anos é de 10%, dos quais um quarto apresenta incapacidade grave. 106 A partir das respostas aos itens da Escala de Lysholm, foi possível elaborar o gráfico subsequente. Verificamos que 49 utentes apresentam má função do joelho, uma função regular é manifestada por 10, enquanto um utente apresenta boa funcionalidade funcionalidade da articulação avaliada. Gráfico 1 – Classificação da Escala Lysholm A avaliação funcional do joelho mostrou-se mostrou se um bom preditor para o uso de meios auxiliares de marcha. Com efeito, utilizam com frequência meios auxiliares 41 utentes, a maioria dos quais recorre à bengala (n=23) ou ao uso de uma canadiana (n=5). Em oposição, o andarilho é usado por 7 indivíduos e a cadeira de rodas por um idoso. A partir dos resultados obtidos para a Escala Visual Numérica da Dor, a primeira nota prende-se com o facto de não terem sido encontrados registos para a categoria “sem dor”. A “dor de fraca intensidade” foi relatada por 19 utentes. A “dor de intensidade moderada” foi a mais prevalente no estudo, com 24 registos. Descreveram a sintomatologia álgica como sendo se de “forte intensidade” 13 indivíduos e, finalmente, 4 classificam-na classificam na como insuportável. Relativamente ao tratamento efetuado para a dor, apenas 29 indivíduos, estão medicados para esta sintomatologia. Os fármacos usados pertencem ao grupo dos analgésicos analgésic clássicos e anti-inflamatórios inflamatórios não esteroides (AINES). Não se obtiveram registos para as categorias da variável “aplicação de frio ou calor” e “eletroterapia”. Em relação à existência de rigidez articular, esta obteve uma prevalência de 91.7% (o que corresponde responde a 55 doentes). Tomando em conta os sujeitos que referiram rigidez articular (n=55), afirmaram que ela predominava ao acordar 25 utentes; durante o período da manhã 16 utentes; à tarde 5 utentes, e ao deitar 9 indivíduos. 107 No questionário clínico os participantes foram também interrogados acerca da sintomatologia se agravar consoante a época do ano. Nesta variável, assinalamos o facto de 51 indivíduos terem referido que a sintomatologia se agravava durante o Inverno. Conclusão A artrose implica alterações na qualidade de vida. Através deste trabalho foi possível constatar que, de facto, a OA é uma doença incapacitante dos membros superiores, inferiores e da coluna, que afeta a maneira como se realizam determinadas atividades diárias. Para além disso, o portador de OA não vê apenas o seu estado físico alterado como também o seu estado psicológico, já que com a dor, a rigidez e a deformidade a autoestima está muitas vezes diminuída. Estes mesmos sintomas conduzem à perda de independência funcional, acabando por causar frustração ao paciente e esse facto influencia a relação familiar e profissional. O processo degenerativo que subjaz à OA encontra-se por excelência associado à idade; daí que na população idosa a patologia atinja maiores taxas de prevalência. Na amostra analisada a média de idades rondou os 77 anos. Se bem que se tenha observado a existência de elevado número de traumatismos anteriores na amostra inquirida, foi difícil classificar com precisão os dois tipos de artrose citados na literatura (primária versus secundária) com os métodos e instrumentos de que dispúnhamos. Neste enquadramento, se é verdade que fatores de ordem traumática e malformações podem desencadear artrose secundária, também é verdade que a existência de um traumatismo não é um dado adquirido para a ocorrência de artrose. Estudos radiológicos longitudinais de indivíduos vítimas de trauma osteomioarticular poderão ajudar a esclarecer a epidemiologia da OA e a diferenciação entre os dois tipos. Através da determinação do IMC, constatou-se que os participantes no estudo se encontravam maioritariamente com excesso de peso, e esse aspeto é citado pela literatura como um fator etiológico relevante, sobretudo na OA da articulação do joelho. Nesta linha de pensamento é fácil compreender que se existir obesidade as articulações serão sobrecarregadas, mas também que se existir magreza excessiva as articulações se tornarão mais frágeis à carga e ao possível traumatismo. Assim, uma alimentação equilibrada, juntamente com a prática de atividade física regular, torna-se recomendável na população idosa. Como a OA é uma patologia involutiva os profissionais que cuidam de idosos institucionalizados devem ter em consideração que o exercício físico no indivíduo portador de artrose deve ter uma intensidade moderada, em que o repouso articular tem igualmente 108 indicações terapêuticas, sendo esta regra extensível às atividades de recreio e lazer. É o exemplo do tricot e do crochet, em senhoras portadoras de patologia osteoartrítica da mão. O local mais afetado pela OA neste estudo foi, em concordância com outras investigações, a articulação do joelho. Pela avaliação funcional da articulação, através de um instrumento específico, a Escala de Lysholm, efetuou-se o cálculo da prevalência para alguns sintomas. Assim, concluímos que a claudicação e a dor afetam a maioria dos utentes que participaram no estudo. Em conformidade com os resultados, auxiliares da marcha, essencialmente a bengala e a canadiana unilateral, são usados na maioria dos utentes inquiridos. Avanços farmacológicos têm sido propostos recentemente para a melhoria dos sintomas na OA, entre os quais drogas condroprotectoras, substâncias viscosuplementadoras do líquido sinovial ou transplante de condrócitos para regeneração da cartilagem. Para além destes tratamentos biológicos os tratamentos cirúrgicos eletivos, incluindo a osteotomia ou a artroplastia, são considerados de extrema importância, já que diminuem a dor e melhoram a qualidade de vida do doente. No entanto, não obtivemos registos para estes tratamentos na amostra estudada. A terapêutica feita pelos pacientes baseia-se nos tratamentos farmacológicos clássicos que visam controlar a dor, como os analgésicos e os AINES, apesar apenas 29 utentes estão medicados para a dor. A prevenção primária, secundária e terciária são componentes essenciais nesta patologia. Cuidados de saúde apropriados, com recurso à reabilitação poderiam diminuir o impacto da patologia e melhorar a qualidade de vida destes utentes. Referências Bibliográficas Backer, R. (2006). Prevalência de osteoartrite de joelho na população acima de 50 anos usuária da unidade local de saúde Saco Grande. Monografia (Graduação). Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. Consultada em 3/04/2010 a partir de: http://www.bibliomed.ccs.ufsc.br/SP0135.pdf. Blackham, J., Garry, J., Cummings, D., Russell, R., & Dealleaume L. (2008). Does regular exercise reduce the pain and stiffness of osteoarthritis? The Jornal of Family Practice, 57(7), 476-477. Cunha, R. (2009). 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Osteoarthritis Cartilage, 13 (9), 769-81. 110 09. AUTONOMIA DOS UTENTES DE UMA UNIDADE DE CONVALESCENÇA – RESULTADOS PRELIMINARES Rui Miguel Soares Liberal Mestrando em Cuidados Continuados Enfermeiro Unidade Local de Saúde do Nordeste Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança E-mail: [email protected] André Filipe Morais Pinto Novo Doutor em Ciências da Actividade Física e do Desporto Professor Equiparado a Assistente Escola Superior de Saúde da Escola Superior de Saúde de Bragança Centro de Investigação em Desporto, Saúde e Desenvolvimento Humano Núcleo de Investigação e Intervenção no Idoso E-mail: [email protected] || Tlm: 917972163 Maria José Almendra Gomes Mestre em Saúde Pública Professora Adjunta Escola Superior de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança E-mail: [email protected] 111 Resumo Introdução: Ao longo das décadas, vários têm sido os termos utilizados para as unidades de convalescença, nomeadamente: convalescent homes, nursing homes e rest homes. As convalescent homes foram desenhadas de forma a criar um ambiente idêntico ao do domicílio e destinam-se a pessoas que recuperam de uma doença de evolução prolongada. O conceito de capacidade funcional representa uma forma de medir se um indivíduo é capaz ou não, de forma independente, desempenhar as atividades necessárias para o seu autocuidado e, caso não seja, confirmar se tal necessidade de ajuda é parcial ou total. Objectivos: • Avaliar o nível de dependência para as Atividades de Vida Diária à entrada, a meio do internamento e na alta da Unidade de Convalescença da ULS – Macedo de Cavaleiros; • Avaliar as alterações ao nível da locomoção e da cognição desde a entrada até à alta da Unidade de Convalescença da ULSNE – Macedo de Cavaleiros Material e Métodos: A população foi constituída por todos os utentes internados na Unidade de Convalescença do ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, em 2010. Assim, a amostra é constituída por 173 utente. Como critério de inclusão para o estudo definimos a obrigatoriedade do utente ter três momentos de avaliação: à entrada, a meio do internamento e na alta. Para a recolha de dados foi utilizado o instrumento de avaliação integrada – aplicativo de Monitorização da RCCI. Resultados: Pela análise dos resultados podemos concluir que a Unidade de Convalescença de Macedo de Cavaleiros teve uma predominância do sexo feminino, sendo que a média de idades foi de 74,35±12,81. A patologia de base mais presente foi a ortopédica, foi a Unidade Hospitalar de Bragança que referenciou mais utentes e o domicílio foi o destino após alta mais comum. Houve uma melhoria significativa na autonomia dos utentes, nas variáveis avaliadas. Discussão e Conclusão: Podemos concluir que os utentes melhoraram a sua autonomia durante a estadia na Unidade de Convalescença de Macedo de Cavaleiros, resultado da filosofia inerente à prática de cuidados diária que se verifica. Palavras-chave: Funcionalidade; Capacidade funcional; Atividades de vida diária. Abstract Introduction: Over the decades, many have been the terms used to convalescent units, including: convalescent homes, nursing homes and rest homes. The convalescent homes were designed to create an environment similar to the home and are aimed at people who recover from a prolonged course of illness. The concept of functional capacity is a way of measuring whether an individual is capable or not of performing activities necessary for their care independently and, if not, confirm that such help is needed in partial or total mean. Objectives: • Assess the level of dependence for Activities of Daily Living in admission, in the middle of the stay and at discharge, Unit of Convalescence of ULSNE – Macedo de Cavaleiros; • Evaluate changes in locomotion and cognition from admission to discharge of Unit of Convalescence ULSNE – Macedo de Cavaleiros. Material and Methods: The study population consisted of all users admitted to the Unit of Convalescence of ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, in 2010. Thus, the sample is comprised of 173 patients. As inclusion criteria for the study we defined the obligation of the 112 user to have three evaluations: admission, mid-stay and discharge. For data collection the instrument used was the integrated assessment –Monitoring Application RCCI. Results: Based on these results we conclude that the Convalescent Unit of Macedo de Cavaleiros had a female predominance and the mean age was 74,35 ± 12,81. The pathology more present was the orthopedic and the Hospital Unit of Bragança was the institution with more users referenced. Home after discharge was the most common destination. There was a significant improvement in the autonomy of users in almost the variables. Discussion and Conclusion: We can conclude that users improved their autonomy during their stay in Unit Convalescence Macedo de Cavaleiros, result of the philosophy inherent in the practice of daily care that exists. Keywords: Functionality; Functional Capacity; Activities of daily living. 113 Introdução A rede de cuidados continuados visa fundamentalmente prestar cuidados continuados integrados a doentes que se encontrem em situação de dependência, independentemente da idade. Quanto aos tipos de serviços existentes ao nível da rede, a prestação de cuidados continuados integrados pode ser assegurada por unidades de internamento e ambulatório, equipas hospitalares e domiciliárias. Focando-nos nas unidades de internamento, estas são constituídas por unidades de convalescença (doentes dependentes por perda temporária da autonomia), de média duração e reabilitação (doentes com doença de base aguda ou crónica em processo de reabilitação), de longa duração e manutenção (doentes dependentes com doença crónica e sem condições para serem atendidos no domicílio) e de cuidados paliativos (doentes co doença terminal e sem condições para serem atendidos no domicílio). Atendendo ao facto de o nosso estudo ter sido efectuado na unidade de convalescença de Macedo de Cavaleiros, procedemos a uma análise mais aprofundada da referida unidade. Ao longo das décadas, vários têm sido os termos utilizados para as unidades de convalescença, nomeadamente: convalescent homes, nursing homes e rest homes. As convalescent homes foram desenhadas de forma a criar um ambiente idêntico ao do domicílio e destinam-se a pessoas que recuperam de uma doença de evolução prolongada. Em Portugal a unidade de convalescença é uma unidade de internamento, independente, integrada num hospital de agudos ou noutra instituição, se articulada com hospital de agudos, presta tratamento e supervisão clínica, continuada e intensiva, e cuidados clínicos de reabilitação, na sequência de internamento hospitalar originado por situação clínica aguda, recorrência ou descompensação de processo crónico (art.º13, do decreto-lei n.º101 de 6 de junho de 2006). O conceito de capacidade funcional representa uma forma de medir se um indivíduo é capaz, de forma independente, de desempenhar as atividades necessárias para o seu autocuidado e, caso não seja, verificar se a necessidade de ajuda é parcial ou total (Duarte et al., 2007). Objetivos • Avaliar o nível de dependência para as Atividades de Vida Diária à entrada, a meio do internamento e na alta da Unidade de Convalescença da ULS – Macedo de Cavaleiros; • Avaliar as alterações ao nível da locomoção e da cognição desde a entrada até à alta da Unidade de Convalescença da ULSNE – Macedo de Cavaleiros. 114 Material e Métodos Para este estudo, a população foi constituída por todos os utentes internados na Unidade de Convalescença do ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, no período de 1 de Janeiro até 31 de Dezembro de 2010 (primeiro ano de funcionamento da Unidade). Assim a amostra é constituída por 173 utentes internados na Unidade de Convalescença do ULSNE – Unidade de Macedo de Cavaleiros, uma vez que definimos como critério de inclusão para o estudo a obrigatoriedade do utente ter três momentos de avaliação: à entrada, a meio do internamento e na alta. Para a recolha de dados foi utilizado o instrumento de avaliação integrada – aplicativo de Monitorização da RCCI. Através do aplicativo de monitorização da RCCI foi possível recolher todos os dados relacionados com o utente, nomeadamente os dados sóciodemográficos, a data de entrada e saída da unidade, o estado cognitivo e fazer a avaliação do grau de dependência através das atividades de vida diária. Esta avaliação permitiu-nos fazer uma estimativa do grau de dependência da pessoa. Resultados Feminino Masculino Amostra total N 112 61 173 Média 76,68 70,08 74,35 Desvio Padrão 11,19 14,51 12,81 Mínimo 40 39 39 Máximo 94 97 97 Tabela 1 – Distribuição da amostra por idade e por sexo Como podemos observar na Tabela 1, este estudo foi desenvolvido tendo como base uma amostra de 173 utentes, sendo 112 do sexo feminino e 61 do sexo masculino. A média de idades da nossa amostra foi de 74,35±12,81 (70,68±11,19anos vs. 70,08±14,51anos de mulheres e homens, respetivamente), sendo que o utente mais jovem apresentava 39 anos e o mais velho 97. Apesar desta diferença, o resultado não apresenta significado estatístico. 115 Unidade Hospitalar de Macedo de Cavaleiros Unidade Hospitalar de S. João (Porto) Undade Hospitalar de Bragança Unidade Hospitalar de Mirandela Unidade Hospitalar de Vila Real Domicílio Hospital da Povoa de Varzim/Vila do Conde Total Proveniência N % 57 32,9 1 0,6 76 43,9 30 17,3 1 0,6 7 4 1 0,6 173 100 Tabela 2 – Proveniência dos utentes Conforme nos mostra a Tabela 2, a Unidade Hospitalar de Bragança é a unidade hospitalar que referencia mais utentes com 43,9%, seguindo-se a Unidade Hospitalar de Macedo de Cavaleiros com 32,9%, aparecendo em terceiro lugar a Unidade Hospitalar de Mirandela com 17,3% de utentes referenciados. As restantes proveniências conjugam um total de 5,8% dos utentes referenciados para a Unidade de Convalescença. Domicilio Hospital Agudos Lar Outra Resposta Total Destino após alta N % 131 75,7 9 5,2 9 5,2 24 13,9 173 100 Tabela 3 – Destino dos utentes após alta Na Tabela 3 podemos conferir que o principal destino dos utentes internados na Unidade de Convalescença após a alta clínica desta unidade é o Domicilio com 75,7% dos casos. Os Lares e as restantes tipologias da Rede Nacional de Cuidados Continuados comportam 19,1% dos utentes. De referir ainda que 5,2% dos utentes tem como destino o Hospital de Agudos, o que tem por base um agravamento da sua situação clínica ou alguma intercorrência inesperada durante o internamento. 116 Patologia de base 6% 7% Ortopédica 26% 61% Neurológica Cirúrgica Outra Gráfico 1 – Patologia de base dos utentes No gráfico 1 podemos concluir que a patologia Ortopédica é a mais incidente com 61% dos casos, seguindo-se a Neurológica com 26% e a Cirúrgica com 7%. Existem ainda outras patologias que representam 6% dos casos. Uso da casa de banho 140 120 115 100 76 80 68 60 63 54 40 20 31 32 12 10 22 14 0 Entrada incapaz Meio do Internamento dependente de terceiros dependente de meios Alta independente Gráfico 2 – Uso da casa de banho (N=173) No uso da casa de banho, o Gráfico 2 mostra-nos que dos 115 utentes que dependiam de terceiros para o seu uso no início do internamento 63 mantiveram esse grau de dependência. De salientar ainda um aumento dos utentes independentes no uso da casa de banho sendo que na entrada eram apenas 14 e no momento da alta 68 utentes já utilizavam a casa de banho sem qualquer tipo de ajuda. 117 Vestir-se 160 134 140 120 99 100 83 80 60 41 41 42 40 22 20 24 14 3 Entra da 0 inca pa z 7 9 Meio do Internamento dependente de terceiros Alta dependente de meios independente Gráfico 3 – Vestir-se (N=173) No Gráfico 3, verificamos que dos 134 utentes que dependiam de terceiros para se vestir só 83 no momento da alta mantinham essa dependência. Os utentes incapazes também diminuíram de 22 para 7. O aumento dos independentes também foi relevante já que à entrada eram apenas 3 utentes que não necessitavam de qualquer ajuda no vestir e no momento da alta já 42 utentes se vestiam pelos seus próprios meios. Sentar e Levantar 140 123 120 100 77 80 60 60 57 46 48 40 29 44 20 11 0 6 8 10 Entra da inca pa z Meio do Internamento dependente de terceiros dependente de meios Alta independente Gráfico 4 – Sentar e Levantar (N=173) No que respeita ao sentar e levantar, no Gráfico 4 podemos observar que 123 utentes à entrada eram dependentes de terceiros para realizar estas actividades sendo que na alta já só 57 necessitavam desta ajuda. Quanto aos independentes aumentaram significativamente de 10 para 60 utentes que conseguiam sentar-se e levantar-se sem ajuda. 118 Banho 150 134 111 94 100 50 25 11 0 39 33 7 27 3 8 Entrada Meio do Internamento Alta incapaz dependente de terceiros dependente de meios independente Gráfico 5 – Banho (N=173) No banho o Gráfico 5 mostra que 25 utentes eram incapazes de se higienizar no início do internamento e apenas 7 utentes mantiveram essa incapacidade aquando da alta. Os que necessitavam de ajuda de terceiros também diminuíram de 134 para 94. Dos 3 utentes que eram independentes no banho à entrada verificamos que 39 conseguiam realizar esta actividade sem qualquer ajuda no fim do internamento. Deitar e Levantar 140 128 120 100 90 80 71 60 56 39 40 20 39 38 21 16 7 0 8 Entrada incapaz 6 Meio do Internamento dependente de terceiros dependente de meios Alta independente Gráfico 6 – Deitar e Levantar (N=173) No Gráfico 6, podemos observar que 128 utentes à entrada na unidade necessitavam de ajuda de terceiros para se deitar e levantar passando para 71 no momento da alta. Nesta actividade os independentes voltam a ter um grande relevo aumentando de 8 para 56 utentes que se deitavam e levantavam do leito já sem qualquer ajuda. 119 Controlo de fezes 140 124 120 128 108 100 80 60 40 20 28 21 23 14 19 3 9 0 Entrada incapaz Meio do Internamento dependente de terceiros 22 20 dependente de meios Alta independente Gráfico 7 – Controlo de fezes (N=173) No Gráfico 7 os independentes que eram 108 à entrada passaram para 128 no momento da alta, recuperando esta capacidade. Nos restantes níveis de dependência as alterações foram reduzidas, ainda que os utentes que necessitavam de ajuda de terceiros passaram de 14 para apenas 3. Controlo da urina 140 113 120 118 102 100 80 60 40 20 30 30 27 31 21 14 5 9 0 Entrada incapaz Meio do Internamento dependente de terceiros 19 dependente de meios Alta independente Gráfico 8 – Controlo da urina (N=173) O Gráfico 8 correspondente ao controlo de urina. Os utentes independentes sofreram um aumento de 102 para 118 utentes. Os utentes incapazes de controlar a urina diminuíram de 30 para 19. Nos restantes níveis de dependência as alterações foram mínimas mantendo assim as limitações. 120 Escadas 140 115 120 100 89 80 79 60 62 51 40 28 30 25 20 22 5 3 10 0 Entrada Meio do Internamento incapaz dependente de terceiros Alta dependente de meios independente Gráfico 9 – Escadas (N=173) No Gráfico 9, os utentes incapazes de subir e descer escadas diminuíram de 115 para 79 sendo esta diferença um bom pronúncio de promoção de autonomia. Dos utentes que já eram dependentes de meios neste item houve um acréscimo como nos confirma o gráfico, de 25 para 62 utentes, que no subir e descer escadas utilizavam meios auxiliares de marcha. Locomoção 120 100 80 103 106 99 74 69 67 60 40 20 0 Entrada Meio do Internamento dependente de meios Alta independente Gráfico 10 – Locomoção (N=173) No Gráfico 10 podemos observar que na locomoção houve ganhos por parte dos utentes, já que os independentes passaram de 99 para 106 e os dependentes de meios diminuíram de 74 para 67 deixando de necessitar de meios auxiliares de marcha e readquirindo independência total no deambular. 121 Estado cognitivo 150 133 130 138 100 43 40 Entrada Meio do Internamento 50 35 0 Desorientado T/E Alta Orientado T/E Gráfico 11 – Estado cognitivo (N=173) No que diz respeito ao estado cognitivo, o Gráfico 11 revela nos que houve 8 utentes que conseguiram restabelecer as suas capacidades cognitivas, readquirindo o sentido de orientação no tempo e no espaço físico. Alimentação 160 131 140 135 120 90 100 80 70 60 31 40 30 10 20 7 0 3 Entrada inca pa z 5 4 Meio do Internamento dependente de terceiros dependente de meios 3 Alta independente Gráfico 12 – Alimentação (N=173) Como podemos observar no gráfico 12, na alimentação também ouve progressos. De 90 utentes independentes à entrada passamos para 135 utentes que conseguiam alimentar se pelos seus próprios meios. Os dependentes de terceiros também diminuíram bastante já que de 70 utentes que necessitavam de ajuda de terceiros para se alimentar, no momento da alta só 30 é que careciam desta. 122 Discussão e Conclusões As Unidades de Convalescença têm ganho um papel cada vez mais importante na promoção da autonomia dos utentes, sempre que é identificada essa necessidade. Pela análise dos resultados que apresentamos, podemos concluir que, no ano de 2010, a Unidade de Convalescença de Macedo de Cavaleiros teve uma predominância do sexo feminino, sendo que a média de idades foi de 74,35±12,81 (Tabela 1). A patologia de base mais presente foi a ortopédica (Gráfico 1), foi a Unidade Hospitalar de Bragança que referenciou mais utentes (Tabela 2) e o domicílio foi o destino após alta mais comum (Tabela 3). Pela análise dos gráficos 2 a 13 podemos concluir que os utentes melhoraram a sua autonomia durante a estadia na Unidade de Convalescença de Macedo de Cavaleiros, resultado da filosofia inerente à prática de cuidados diária que se verifica. Referências Bibliográficas Decreto-Lei n.º 101/2006 de 6 de Junho. Diário da República n.º 109 – I Série-A. Ministério da Saúde. Lisboa Duarte, Y., de Andrade, C., & Lebrão, M. (2007). O Índice de Katz na avaliação da funcionalidade dos idosos. Rev Esc Enferm USP, 41(2), pp. 317-325. Figueiredo, D. (2007). Cuidados Familiares ao Idoso Dependente. Lisboa: Climepsi Editores. 123 10. UM NOVO MODELO DE GOVERNANCE NAS POLÍTICAS PÚBLICAS? ESTUDO DA REDE NACIONAL DE CUIDADOS CONTINUADOS INTEGRADOS Maria Patrocínia Ferreira Sobrinho Correia, Assistente, Instituto Politécnico de Bragança (EsACT) [email protected] 124 Resumo O Welfare State Europeu entrou em declínio devido às suas características despesistas. Aos graves problemas financeiros, outros se juntaram, evidenciando debilidades estruturais que reequacionam o inteiro sistema das políticas de bem-estar e sociais.Que novos paradigmas estão a emergir para fazer face às debilidades existentes? Como o Estado pode actuar para enfrentar novos desafios? São questões a que o presente trabalho procura dar resposta ilustrando o processo de implementação de uma política pública. À emergência de políticas sociais associa-se uma nova política de saúde e a coordenação de actores com culturas e responsabilidades sociais diferentes. O presente artigo procurará analisar a discussão teórica em torno do conceito de Governança, em particular da Governança em Rede refletindo, analiticamente, numa política pública social e de saúde. Palavras-chave: Estado Providência; Governança; Redes; Implementação; Políticas Públicas. Abstract The European Welfare State, began to decline due to its characteristics expenses and difficulty in recovering from the financial crisis in 2009 that shook the United States. To the serious financial problems, others joined in, showing which structural weaknesses rethink the entire political system of welfare and social. What new paradigms are emerging to address the existing weaknesses? How the State can act to meet new challenges? These are questions that this paper seeks to answer illustrating the process of implementing a policy. To the emergence of social policies joins a new health policy and coordination of actors with different cultures and social responsibilities. This paper analyzes the theoretical discussion around the concept of governance, in particular the Governance as Network, reflecting analytically, a social and heath public policy. Keywords: WelFare State; Governance; Networks; Implementation; Public Policy. 125 Introdução O Welfare State Europeu entrou em declínio devido às suas características despesistas, não conseguindo recuperar da crise financeira, em 2009, que abalou os EUA. Aos graves problemas financeiros, outros se juntaram, evidenciando debilidades estruturais que reequacionam o inteiro sistema das políticas de bem-estar e sociais. Da temática introduzida, resultam várias questões de interesse vasto: Que novos paradigmas estão a emergir para fazer face às debilidades existentes? Como o Estado pode atuar para enfrentar novos desafios? São questões a que o presente trabalho procura dar resposta ilustrando o processo das políticas públicas. Neste contexto, propomo-nos a analisar uma politica publica que pretende romper com os quadros tradicionais governamentais, decompondo uma nova política de saúde cuja coordenação resultará de culturas e responsabilidades sociais de diferentes atores. O presente trabalho procura analisar a discussão teórica em torno do conceito de Governance, em particular da Network Governance (Redes) refletindo, analiticamente, numa politica pública social e de saúde. A Rede Nacional de Cuidados Continuados (RNCCI), criada em 2006, assumiu um novo modelo de governança, integrado e articulado, que envolve a implementação de políticas públicas sociais e de saúde através de uma teia de relações entre atores públicos (Estado), parceiros sociais e Sociedade Civil. Políticas Estruturais em Contexto de Crise Ocorreram numerosas tentativas, nas últimas décadas, para classificar os sistemas do Estado Providência (Ellison, 2006). O autor Titmuss (1963) foi um dos primeiros investigadores a tentar classificar o sistema do estado providência baseado em duas definições – sistema residual e institucional, referindo que no primeiro sistema o estado apenas protege os seus cidadãos das consequências das falhas de mercado. A investigação mais recente, analisa, por um lado, a relação existente entre a natureza dos bens sociais e a forma de entrega desse bem estar e por outro, no desenvolvimento histórico de instituições económicas, sociais e políticas que compõem o amplo sistema de governação. O Estado Providência é um regime de práticas institucionais conjuntas que constroem um sistema de governação social. Segundo Caeiro (2008: 214) é o “Estado cuja intervenção se dirige de forma especifica para a melhoria do bem-estar da população e insere no essencial, quatro tipos de intervenção: i. As transferências sociais… ii. Os serviços públicos… 126 iii. As intervenções normativas… iv. As intervenções públicas… Assumindo que o welfare state é como que um chapéu que cobre um vasto numero de actividades governamentais com características distintas podemos considerar alguns elementos que o caracterizam (Pierson, 2001: 11): 1. Intervenção em “direitos sociais”; 2. Intervenção na constituição de políticas públicas sociais a partir de uma vigorosa ação do Estado; 3. Relação entre o Estado e o mercado, submetendo este último alguns “limites” e outros critérios, como padrões mínimos de rendimento ou educação; 4. Maior burocratização do aparelho de Estado; 5. Intervenção de forças sociais ativas (sindicatos, associações) que constituem estruturas de pressão e apoio ao welfare; 6. Persistência dos modelos de proteção ao longo do tempo, delimitando comportamentos e construindo instituições. A consideração do estudo das características e significado do processo de concertação social fundamenta tanto os factores de sucesso do Estado Providência como a situação de desadequação das mesmas funções face aos problemas mais contemporâneos da sociedade (Mozzicafredo, 1994). As críticas ao Estado-Providência, na economia, podem ser resumidas nas seguintes ideias relativas aos seus efeitos: • Antieconómico: elimina a disciplina do mercado e os incentivos ao investimento e ao trabalho; • Antiprodutivo: retira recursos em capital e trabalho do sector privado da economia para o sector não produtivo burocrático; • Ineficiente: patrocina interesses e sectores especiais, promovendo um sistema que favorece os produtores organizados em detrimento dos consumidores (Pierson, 2006: 48). O Estado-Providência Em Portugal Quando Portugal entrou na Comunidade Económica Europeia (CEE), em 1986, a sociedade portuguesa alcançou um objectivo comum: pôr fim a um longo ciclo de subdesenvolvimento histórico que começou com a conservadora e corporativista ditadura do “Estado Novo” que apenas teve um fim a 1974, com a revolução do 25 de Abril. Enquanto 127 que por toda a Europa os modelos de Estado Providência foram desenvolvidos, Portugal permaneceu com uma organização económica e social tradicionalista e subdesenvolvida. Após a Revolução de 25 de Abril de 1974, com a constituição de 1976, foram estabelecidos um conjunto de direitos sociais que constituíram a ferramenta formal do Estadoprovidência português, em muitos aspectos similar com outros países europeus. O período de 1976 a 1986 define a preparação da adesão à CEE como prioridade nacional. Isto significa que Portugal teve de estabilizar e consolidar as suas instituições democráticas mas também adoptar medidas macroeconómicas austeras que conduziram a uma retracção do mercado nas condições de vida, aumentando o desemprego e diminuindo o poder de compra dos salários e pensões. Um dos passos mais importantes foi a criação do Sistema Nacional de Saúde em 1979. São, também, criados o Ministério do Trabalho e da Segurança Social, o Ministério da Saúde e o Conselho Permanente de Concertação Social e o Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, visando “a institucionalização da participação e responsabilidade de forças e organizações ligadas a interesses económicos e sociais. (Rodrigues, 2010: 207). Fatores Pressionantes da Mudança das Políticas Sociais Três décadas após a revolução, a estrutura das actividades alterou passando de uma sociedade rural a uma sociedade baseada nos serviços. Este processo não foi linear nem homogéneo. Domingues (2005) analisa quatro desafios como fatores pressionantes da mudança de políticas sociais: alterações demográficas, globalização, flexibilização e desregulação laboral e emergência de novas tendências de governação. O desafio invocado pelas alterações na demografia é devido, em primeiro lugar, ao nível das mudanças de natureza e quantitativas da população. Em segundo lugar, o peso desta mudança na sustentabilidade dos sistemas públicos de reforma. Segundo Martins (2001), com tal realidade espera-se a dupla pressão do lado da despesa e do financiamento nas contas dos sistemas de protecção social. Em relação à globalização existem distintas perspectivas no sentido de esta ser ou não compatível com o Estado-Providência. Neste segundo factor, no processo de globalização, será difícil concretizar a implementação de politicas sociais sem realizar ajustamentos que resultam do detrimento da satisfação das necessidades humanas. Esta visão refere que o surgimento de políticas de bem-estar foram o resultado do processo de globalização cujo início assenta no capitalismo industrial. O terceiro - flexibilização, anda indissociavelmente ligado com o processo de globalização uma vez que este viabiliza inovação e adaptação a um mercado 128 global em mutação. As mudanças examinadas indicam que, embora gradualmente, os regimes de Welfare State começam a adoptar políticas que contêm elementos de liberalização, enquanto que o poder de instituições tradicionais vai diminuindo (quarto e último factor). GOVERNANÇA: UM NOVO MODELO CONCEPTUAL? É importante considerar quais os limites que estão por detrás da crescente liberalização do Estado-Providência. Termos como reformulação, ajustamento e reajustamento são utilizados para descrever como os Estados-Providência se adaptam a novas transformações. Os investigadores sobre o futuro do regime de previdência argumentam que existem novas formas emergentes de governação na Europa que preservam princípios nucleares do Estado Social e que desenvolvem novos métodos de formulação e coordenação de políticas. Devido ao seu grau de desenvolvimento e características estruturais e institucionais, o Estado-Providência Português está numa situação particularmente vulnerável para lidar com esses desafios. Continuando a ser o país da Europa com baixo nível de despesas de protecção social e com um caminho dificultado pelas fragilidades institucionais e económicas, apesar de tais constrangimentos, Portugal tem encontrado “ …nos últimos anos, políticas indutoras de um novo fôlego e um conjunto de respostas inovadoras" ( Rodrigues, 2010: 211). Sobre estas políticas inovadoras, Reis (2004) refere que o caminho não pode assentar em dicotomias Estado/Mercado; Mercado/Empresa-organização; Estado/ Sociedade Civil mas sim em complementaridades. Parte-se da visão bipolar do Estado/mercado para uma perspectiva plural de governação assente em “várias estruturas, vários actores, vários processos, várias capacidades, vários vocabulários e, sobretudo, vários mecanismos” (Reis, 2007: 39) Estes mecanismos, para além do Estado e do mercado, assentam em formas de poder distintos do Estado Providência “inicial” como o conhecíamos, participando também as redes, as comunidades e as associações. De acordo com Ewalt (2001), a maioria da literatura sobre Governança descreve o modelo de serviço público que reflecte uma forma “reinventada” de governo, melhor gerido e que delineia os seus objectivos não a partir da teoria democrática mas a partir dos mercados económicos (Stocker, 1998a). O conceito de Governança é um conceito amplo, complexo e pode ser aplicado em diversos contextos. O termo reflecte a mudança nas condições de governação de uma sociedade (Rhodes, 1997, Stoker, 1998). Para obtermos conhecimento sobre se a governança é ou não uma teoria, é da maior importância defini-la claramente. Uma vez que a Governança é utilizada em variadíssimas 129 disciplinas (economia institucional, relações internacionais, estudos organizacionais, estudos de desenvolvimento, ciência política e analise política) torna-se difícil a concretização de uma definição coerente. Os vários investigadores ao adoptarem a ideia de governança a uma nova forma de reflexão sobre as capacidades do estado e as suas relações com a sociedade, identificaram diferentes versões do termo, que passam por: • uma mudança do estado burocrático para o estado orientador (Milward & Provan 2000; Rhodes 1997). • uma abordagem de mercado ao governo (Kettl, 1993); • Um desenvolvimento do capital social, sociedade civil e altos níveis de participação dos cidadãos (Hirst 2000; Sorensen 2004); • O managerialismo ou New Public management atribuído aos modos de governação mais empresariais (Kernaghan et al,2000); • Uma supervisão corporativa, com normas de controlo e de transparência (Monks & Minow 2004); • A gestão de Redes (O'Toole 2003; Peters & Pierre, 1998). Governança em Rede Tal como referido nos pontos anteriores, desde o início do Estado-Providência que os sectores publico, privado e voluntário são envolvidos na implementação de políticas públicas sociais e de saúde. Este novo modelo de Governança através de Redes fez despoletar a expressão do seu envolvimento juntamente com o Estado. Para explicar como as Redes funcionam, para Rhodes (1997: 660, 2000:61) estas devem possuir determinadas características: • Interdependência entre organizações; • Existência de interacções contínuas entre membros das Redes; • Estabelecimento de interacções do jogo enraizadas na confiança mútua e em regras de jogo reguladas e acordadas pelos participantes da Rede; • Autonomização significativa em relação ao Estado. O que é interessante é como este modelo é utilizado em diversas ferramentas académicas que procuram capturar a mudança e capacidade de implementação de politicas por parte do Estado. Stoker (1998: 18-26) identifica cinco elementos ou macrotendências que caracterizam este fenómeno: 1) a existência de um conjunto complexo de actores e instituições dentro e fora da esfera governamental; 2) o desvanecimento das fronteiras e 130 responsabilidades na resolução de assuntos económicos e sociais; 3) novas relações de poder entre actores na acção colectiva; 4) redes autónomas e auto-governação dos seus actores; e 5) a capacidade de alcançar e atingir resultados independentemente da autoridade governamental através de novos instrumentos e técnicas de decomposição e coordenação, direcção, integração e regulação. De forma resumida, podemos caracterizar o modelo de Network Governance através da tabela seguinte: Tabela 3: Gestão Clássica vs Gestão por Redes Gestão Tradicional / Clássica • Interacção complexa dos processos entre diferentes actores • A autoridade das estruturas não é clara porque depende das regras e recursos das redes • Os problemas constituem a base do processo político • Problemas vão sendo resolvidos durante o processo político Papel do Estado (gestor) • Controla o sistema • Mediador / gestor do processo • Top-down (trabalho feito e organizado) • Molda e modifica as condições para o sucesso das interacções entre actores Actividades do Estado (gestor) • Planeamento / formulação da estratégia • procura acordos entre actores • selecção de actores • criação e sustentação de canais de comunicação entre todos os actores. Processos • Formulação de problemas, especificação de alternativas e decisão Gestão por Redes • Processos caracterizados pela autoridade das estruturas • Organização • liderança Fonte: Adaptada de Klijn (1996: 106) Como já foi referido, a gestão das políticas publicas não é exclusiva de um só actor – Estado. Esta é assumida como uma actividade desempenhada por um actor, vários actores em simultâneo ou, até mesmo, um outsider. Cada actor, contudo, tem diferentes possibilidades de gerir o processo politico nas Redes. Sendo assim, a dinâmica de governance assume diferentes formas. Mais, enquanto conceito analítico oferece uma forma de analisar como o executivo central se modificou ou se a sua capacidade de agir foi reduzida. Por outras palavras, perderá o estado central poder para as redes? Fatores-chave para desfiar o modelo – sua discussão O Artigo 3.º do Decreto – lei n.º 101/2006 de 6 de Junho define os Cuidados Continuados Integrados como sendo o “conjunto de intervenções sequenciais integradas de 131 saúde e apoio social, decorrente de avaliação conjunta, visando a recuperação global da pessoa entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo e contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social”. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), este tipo de cuidados constitui um conjunto de actividades que se dirigem a indivíduos que se encontram numa situação de incapacidade, podendo as actividades de desenvolvimento autónomo dos seus cuidados básicos serem asseguradas por cuidadores formais ou informais, proporcionando a um indivíduo em situação de dependência maior qualidade de vida, maior grau de independência, autonomia, participação, auto-realização e dignidade humana. As principais características destes cuidados assentam em dois conjuntos de conceitos: Integração e Multidisciplinaridade - Interdisciplinaridade. Com o primeiro, a Integração de Cuidados pretende que se conjuguem intervenções de saúde e apoio social acordadas com o planeamento e avaliação das intervenções conjuntas. No segundo, decorre a complementaridade de actuações de diversas áreas profissionais que fazem parte da equipa de cuidados continuados, tendo por base a definição de objectivos comuns para a satisfação das necessidades do indivíduo. De acordo com o paradigma da Governança, os cuidados continuados representam um papel determinante na prestação de cuidados de saúde, procurando assumir-se como uma resposta inovadora, alternativa e adaptada às necessidades reais da população. Figura 1: Principais Características dos Cuidados Continuados Integrados Intervenção Intervenção Interdisciplinar Integrada Intervenção Intervenção Multidisciplinar Contínua PROMOÇÃO Apoio Social DA Cuidados de AUTONOMIA Saúde Fonte: Própria. As sociedades têm vindo a enfrentar diversas e profundas alterações que conduzem ao aumento da população em situação de dependência. Podem-se resumir a três os factores 132 responsáveis pelo aumento da população em situação de dependência em Portugal, nomeadamente: 1. Transformações demográficas: os efeitos cumulativos da diminuição da mortalidade, da taxa de natalidade e o aumento da esperança média de vida, têm-se traduzido em Portugal, no progressivo envelhecimento populacional; 2. Mutações do padrão epidemiológico: o predomínio de doenças crónicas e incapacitantes e o aparecimento de novas doenças; 3. Transformações a nível da dinâmica e estrutura familiar: o afastamento da família enquanto cuidadora tradicional. Este novo quadro acarretou um conjunto de mudanças que fizeram emergir um conjunto de carências sociais e de saúde que requerem novas respostas, nomeadamente, em termos de pessoas com dependência funcional transitória, dependência funcional prolongada, idosos com critérios de fragilidade, pessoas com incapacidade grave ou doença severa. Para a sua prossecução foi essencial um novo modelo de governança, integrado e articulado, que envolvesse a implementação de políticas públicas sociais e de saúde através de uma teia de relações entre actores públicos (Estado), parceiros sociais e Sociedade Civil, com a criação da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados (RNCCI) através do DL. 101/2006 de 6 de Junho, no âmbito do Ministério da Saúde e do Ministério do Trabalho e da Solidariedade Social. O modelo de intervenção da RNCCI assenta nos seguintes princípios de funcionamento: • Intervenção com base na elaboração de um plano individual de cuidados; • Articulação entre o sistema de saúde e os serviços da segurança social; • Articulação, em Rede, das equipas e unidades; • Modelos de gestão que visem a prestação de cuidados efectivos e eficazes. (Guia da RNCCI – Unidade de Missão para os Cuidados Continuados, vários anos) Neste sentido, de acordo com os princípios, a RNCCI é coordenada a diferentes níveis, processando-se a nível nacional, coexistindo uma coordenação operativa a nível regional e local. É neste âmbito que surgem as diferentes Áreas Regionais de Saúde (ARS), as Equipas de Coordenação Regional (ECR) e as Equipas de Coordenação Local (ECL), tendo cada uma delas competências e áreas de actuação específicas. 133 - A nível nacional a Rede é coordenada segundo as definições existentes, em termos de constituição e competências, através da orientação dos Ministérios da Solidariedade e da Segurança Social e Ministério da Saúde. - A nível regional, a coordenação da Rede fica ao cargo de equipas constituídas, por representantes de cada administração regional de saúde e dos centros distritais de segurança social, segundo o que é definido pelos dois Ministérios referidos. - A nível local, esta é assegurada por uma ou mais equipas, de âmbito concelhio, constituídas por representantes da administração regional de saúde e da segurança social, devendo sempre integrar esta equipa, um médico, um enfermeiro, e um assistente social. Todo este modelo de gestão e coordenação da RNCCI propõe-se a, através de uma articulação eficaz das diferentes equipas coordenadoras o bom funcionamento da Rede, garantir a adequação das respostas às inúmeras carências existentes na área da saúde. A nível de composição, existem diferentes tipos de unidades e equipas para a prestação de cuidados continuados integrados, abrangendo hospitais, centros de saúde, serviços de segurança social, rede solidária e a autarquia local. Figura2: Hierarquização da Coordenação da RNCCI Coordenação Nacional Coordenação Regional ECR Coordenação Local ECL Fonte: Adaptada de Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (vários anos). 134 A Prestação de Cuidados Continuados Integrados é assegurada pela seguinte tipologia de Unidades e Equipas que integram a RNCCI (tabela 4). Tabela 4: Tipologias de respostas previstas para a RNCCI Tipologias Previstas Unidades Internamento Unidades Ambulatório Equipas Hospitalares Equipas Domiciliárias de de • Unidades de Convalescença; • Unidades de Média Duração e Reabilitação; • Unidades de Longa Duração e Manutenção; • Unidades de Cuidados Paliativos; • Unidades de Dia e Promoção da Autonomia • Equipas de Gestão de Altas; • Equipas Intra-hospitalares de Suporte em Cuidados Paliativos; • Equipas de Cuidados Continuados Integrados; • Equipas Comunitárias de suporte em Cuidados Paliativos. Fonte: Adaptada de Unidade de Missão para os Cuidados Continuados Integrados (vários anos) Assim, é urgente e necessário responder a velhos e novas desafios consequentes do novo paradigma de políticas públicas e sua gestão, bem como a identificação de pontos críticos, definição e configuração desta nova política face aos seus destinatários. A RNCCI é uma política recente, inovadora e que está em plena ascensão, prevendo-se que esteja em pleno funcionamento no ano de 2016. A estrutura fragmentada e descentralizada que a implementação desta Rede apresenta e o envolvimento de variados stakeholders no decorrer da mesma significa que estamos na presença de um cenário de governance mais do que evidente. Assim, o trabalho em equipa e a constituição destas Redes torna-se essencial. É, neste âmbito, que surge a necessidade de se criarem perfis de avaliação das relações entre os diferentes actores da Rede (tabela 5). De acordo com a avaliação da Rede, a sua organização dependerá de múltiplos motivos e estes dependerão do grau de maturidade e desenvolvimento da Rede. Uma vez que a Rede esteja instalada, a organização entre múltiplos atores goza de qualidade na prestação de serviços e torna-se mais eficiente (Provan & Milward, 2001). 135 Tabela 5: Avaliação das relações entre Actores da Rede Níveis de análise Região Grupos de stakeholders Critérios (exemplos) • Políticos • Custos para a comunidade • Público (em geral) • Construção do capital social • Grupos de interesse • Percepção do problema resolvido por parte do publico • Indicadores agregados de bem-estar • Organização administrativa da Rede Redes • Membros das organizações • Crescimento dos membros da Rede • Leque de prestação de serviços • Fortalecimento de relações • Criação e manutenção da organização administrativa da rede • Integração/Coordenação dos serviços • Custos da manutenção da Rede • Compromisso com os objectivos da Rede Organização • Quadro de gestores da organização • Staff da organização • Clientes individuais • Sobrevivência • Legitimidade • Custo dos serviços • Acesso aos serviços • Outcomes • Conflito mínimo entre as múltiplas redes das múltiplas organizações Fonte: Adaptada de Provan e Milward (2001) Considerações Finais Através da análise da diversidade de abordagens do conceito de governança, a perspetiva da Rede revelou-se transversal a todas. Rodrigues (2010) refere Rede como “um fenómeno observável, e não a uma ideia pré-existente ou metáfora, sendo composto por padrões de interacção entre os actores presentes na rede (Rodrigues, 2010: 29). Interessa explicar o funcionamento das Redes de governança, emergindo da análise teórica realizada um conjunto de rompimentos analíticos, ao nível da gestão e da estrutura, a ter em conta quando analisada a RNCCI: • Gestão - Activação da Rede - Organização - Arbitragem de conflitos 136 • Estrutura - Formulação da política - Ligações, conteúdos e intensidades entre níveis - Estrutura e tipologia dessas ligações (directas, indirectas),… - Distribuição de recursos entre níveis - Actividades de colaboração e/ou competição entre actores Em suma, a maior ou menor capacidade de governança dependerá, por um lado, da capacidade operacional da burocracia do Estado tradicional e por outro lado, da elaboração e implementação desta politica pública, pelo novo papel do Estado, através da criação eficiente de canais de mobilização e envolvimento de todos os actores da Rede. O presente trabalho procura estimular a busca pelo funcionamento das Redes de governança em políticas de cuidados continuados. Estudar a colaboração entre os actores da Rede poderá não ser tão fácil como possa parecer, até porque não se pode concluir que o Modelo de Redes se afirma como a solução perfeita (Cardim et al, 2011: 533). Para este quadro de implementação de uma política de Rede baseada em multi-actores, são necessárias estratégias ao nível da atenção de discrepâncias entre práticas, adaptabilidade às condições locais e aos processos de partilha de práticas entre actores, de forma a garantir que a RNCCI funcione. Todavia, a presente abordagem mostrou que a governança da RNCCI é marcada por uma forte inovação institucional e por um complexo sistema de relações inter-governamentais – níveis central, regional e local. Tais inovações ocorreram, desde o início, a partir dos compromissos assumidos pelo Estado e impulsionados pelo Terceiro Sector. É com o envolvimento do sector voluntário que ocorre a maior indicação que aponta para as mudanças na forma como a governança está a ocorrer. Com base neste envolvimento devemos sustentar um modelo empírico que permita uma efectiva investigação e aprofundamento do fenómeno resultante da RNCCI. Sob os alicerces destes elementos analíticos sustentar-se-á um modelo conceptual de governança em rede que possibilite uma investigação continuada da politica pública e um aprofundamento do saber que dela temos. Referências Bibliográficas Barr, N. (2004). Economics of Welfare State. Fourth edition. New York: Oxford University Press. Caeiro, J. C. (2008). Políticas Públicas, Política Social e Estado Providência. Universidade Lusiada Editora; Lisboa: Colecção manuais. 137 Cardim, M.E., Mota, L., & Pereira, L. (2011), Será tudo da Crise, ou devemos repensar o estado social?: A emergência de novos paradigmas. Sociologia on-line, 2, Abril, 517550. Domingues, L. H. (2005). Políticas Sociais em Mudança. O Estado, as Empresas e a Intervenção Social. Lisboa: Universidade Técnica de Lisboa, Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. 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PHYSICAL EXERCISE IN ELDERLY WITH DIABETES AND ITS PERCEIVED IMPORTANCE IN THE CONTROL OF THE DISEASE Adília Maria Pires da Silva Fernandes 1,3,4; Carlos Pires Magalhães1,3,4; Maria Augusta Pereira da Mata1,3,4; Maria Helena Pimentel 2,3,4. 1 Professor Adjunto, PhD. 2 Professor Coordenador, PhD. 3 Escola Superior de Saúde do IPB. Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança. Tel.: (+351) 273 330 950 4 Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII) 140 Resumo Introdução: A diabetes Mellitus caracteriza-se por uma hiperglicemia crónica com distúrbios no metabolismo dos hidratos de carbono, lípidos e proteínas, resultante de deficiências da secreção da insulina e/ou da sua ação (Tahrani, 2009), sendo responsável pelo aparecimento de várias complicações que afetam a qualidade de vida. A prevalência desta doença aumenta com a idade (OND, 2011). Estudos destacam a importância do exercício físico no controlo glicémico (Silva & Lima, 2002; Araújo, Prada, Córdova & Prada, 2009), bem como no retardar da ocorrência de incapacidades e dependências. Objetivo: Identificar práticas de exercício físico em idosos diabéticos dos centros de saúde do distrito de Bragança e conhecer a perceção da amostra em estudo acerca da importância do exercício físico no controlo da doença. Metodologia: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. Amostragem não probabilística com 356 idosos com diabetes Mellitus. Recolha de dados por entrevista estruturada. Resultados/Discussão: 52,5% dos diabéticos são do sexo feminino. Idade média = 74,22±6,43anos. A maioria reside em ambiente rural e apresenta baixos níveis de habilitações literárias. Apenas uma pequena proporção refere praticar exercício físico com regularidade (25,8%). No entanto, a maioria (61%) concorda que a prática do exercício físico regular é importante para melhorar o controlo da diabetes. Conclusão: É necessário implementar medidas que articularem o tratamento farmacológico, atividade física regular e alimentação equilibrada. Diabéticos e família necessitam de informações objetivas para ajustamento à doença. Palavras-chave: Exercicio físico; Diabetes; Perceção; Controlo. Abstract Introduction: Mellitus diabetes is characterized by a chronic hyperglycaemia with disturbances in the metabolism of carbohydrates, lipids and proteins as a result of deficiencies in insulin secretion and / or in its action (Tahrani, 2009), being responsible for the onset of several complications that affect patients’ quality of life. The prevalence of this disease increases with age (OND, 2011). Several studies highlight the importance of physical exercise in the control of glycaemia (Silva & Lima, 2002; Araújo, Prada, Córdova & Prada, 2009), as well as in the delay of the beginning of disabilities and dependencies. Objective: To identify practices of physical exercise in elderly with diabetes users of the health centers of Bragança district and get acquaintance with the sample’s perception about the importance of physical exercise in the disease control. Methodology: A quantitative, descriptive and cross-sectional study was developed in a non-probabilistic sample of 356 old people who suffer of Mellitus diabetes. Data collection was made by a structured interview. Results/discussion: 52,5% of the sample are female. Average of age=74,22±6,43 years. Most of them live in rural environment and have low levels of academic qualifications. Only few of them refer to practice physical exercise regularly (25,8%). However, the most of them (61%) agree that the regular practice of physical exercise is important to improve diabetes’ control. Conclusion: It is necessary to implement measures that articulate pharmacological treatment, regular physical activity and balanced nutrition. Diabetic patients and their families have the need of objective information so that they can adjust themselves to the disease. Keywords: Physical exercise; Diabetes; Perception; Control. 141 Introdução A diabetes Mellitus (também designada por diabetes tipo II) é uma doença crónica degenerativa. Constitui a forma mais comum de diabetes, representando 90 a 95% dos casos totais de diabetes (Zimmet, 2001; ADA, 2011). Pela posição epidemiológica que ocupa com altas taxas de incidência e prevalência e, pelas suas repercussões sociais e económicas, traduzidas em mortes prematuras, incapacidade para o trabalho e custos elevados associados ao seu controle e/ou tratamento das suas complicações agudas é considerada, na atualidade, como um problema de saúde pública. Um estudo de âmbito nacional mostrou que em Portugal a prevalência desta doença era de 11,7% na população com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos, no entanto, pensa-se que este valor esteja subestimado (Sociedade Portuguesa de Diabetologia, 2009). De acordo com a mesma fonte, haverá uma proporção de diabetes não diagnosticada de aproximadamente 45%. A região do Alentejo poderá apresentar uma menor proporção de diabéticos não diagnosticados. A doença resulta de alterações na ação ou secreção de insulina e envolve dois processos patogénicos primários: declínio progressivo da função produtora de insulina pelas células dos Ilhéus de Langerhans pancreáticos e inadequada supressão da secreção de glucagon (hormona responsável pelo aumento da glicemia) e resistência à insulina, por diminuição da resposta tecidular à mesma (Tahrani, 2009). Daí a necessidade de adoção de comportamentos de alguma complexidade que devem ser integrados na rotina diária do doente e na gestão de aspetos tão diversos e complexos como os cuidados com a alimentação, exercício físico, medicação e monitorização glicémica. O primeiro passo no tratamento do diabético consiste em conseguir que este adira a um plano alimentar cuidado e/ou a um esquema de exercício físico adequado às suas características físicas. O recurso à terapêutica hipoglicemiante só deve ser considerado após o insucesso das medidas não farmacológicas. O esquema terapêutico na diabetes assenta, basicamente, na chamada tríade terapêutica (Figura 1) que integra a alimentação, o exercício físico e a medicação. Estes três pilares assumem igual importância e o desequilibro de um deles reflete-se diretamente nos outros, impedindo que o tratamento seja eficaz (Caldeira & Osório, 2002). 142 Figura 1 – Tríade terapêutica Dieta Educação Medicação Exercício Insulina Higiene Fonte: Caldeira, J. & Osório, I. (2002), Alimentação – Noções práticas (p.79), In R. Duarte, Diabetologia Clínica (3.ª ed.). Lisboa: Lidel. A alimentação é um componente integrante da prevenção, manutenção e educação do diabético para o autocontrolo (ADA, 2011). Todos os diabéticos deverão ter aconselhamento relativo aos hábitos alimentares, com particular enfoque numa dieta saudável e equilibrada, visando evitar o excesso de peso, ou a redução do mesmo (Benhalima at al, 2011). Sabe-se que a obesidade e o excesso de peso estão fortemente associados ao desenvolvimento da doença e podem dificultar a sua manutenção, uma vez, que a obesidade é o mais importante determinante isolado para a insulinorresistência (Tahrani at al, 2009), para além de ser um fator de risco independente para a hipertensão e dislipidémia, bem como para a doença cardiovascular, a qual constitui a principal causa de morte entre os diabéticos. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam atualmente 1,1 bilião de pessoas com excesso de peso e espera que este total aumente para mais de 1,5 biliões em 2015 (WHO, 2006; referida por Monteiro, Frederico & Torre, 2007). De acordo com a mesma fonte, o perímetro da cintura ou o rácio cintura anca são alguns indicadores de risco e poderão ser melhores indicadores de risco que o índice de massa corporal (IMC), pois refletem a gordura visceral. Assim, reduções de peso melhoram o controlo glicémico, reduzem o risco cardiovascular e podem prevenir o desenvolvimento da doença, nas pessoas pré-diabéticas. Desta forma, só por si, a perda de peso é uma estratégia terapêutica importante, uma vez que está associada a uma diminuição da resistência à insulina (Klein et al, 2004; ADA, 2011). Por sua vez, o sedentarismo, traduzido na diminuição dos níveis de atividade física, tem vindo a contribuir para o aumento global da obesidade, nas últimas décadas. Eriksson e Lindgarde (1991), Sigal et al, (2004) e Benhalima et al, (2011) elegeram o exercício físico 143 como uma das armas mais poderosas para melhorar a sensibilidade à insulina. Na primeira fase do exercício físico intenso há um consumo de glicogénio muscular. À medida que a duração do exercício aumenta verifica-se um aumento do consumo da glicose circulante, que acompanha o lento e constante declínio das reservas de glicogénio muscular. E, apesar da resposta metabólica ao exercício físico ser condicionada por diferentes fatores (ex: alimentação, idade, tipo de exercício e condição física), o que, de uma forma geral, condiciona mais o consumo energético é a intensidade e duração do mesmo (Sigal et al, 2004). Os diabéticos devem fazer pelo menos 150 minutos por semana de atividade física aeróbica de intensidade moderada (ADA, 2011). Na ausência de contraindicações, deveriam fazer treino de resistência pelo menos 3 vezes por semana. Contudo, esta medida sem efeitos adversos e da qual se pode esperar uma redução de 1- 2% nos valores de HbA1C (Benhalima et al, 2011) é das componentes menos explorada da abordagem terapêutica da diabetes, razão me nos levou a aprofundar esta temática. Numa patologia como a diabetes em que o doente tem um papel fundamental no seu controlo, a tríade clássica de abordagem terapêutica: medicação, exercício físico e dieta ficará enormemente enriquecida com a introdução da componente educação, tal como proposto por Duarte e Caldeira (2002). Um doente informado tem a capacidade de compreender a sua doença, o que melhora a probabilidade de a controlar de forma mais eficiente. Metodologia Objetivo: Identificar práticas de exercício físico em idosos diabéticos dos centros de saúde do distrito de Bragança e conhecer a perceção da amostra em estudo acerca da importância do exercício físico no controlo da doença. Tipo de estudo: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. Amostragem não probabilística em 356 idosos com diabetes. Recolha de dados por entrevista estruturada. Resultados Da totalidade da amostra 52,5% pertenciam ao sexo feminino e 47,5% ao masculino. A idade dos indivíduos varia entre os 65 e 94 anos. A média de idades situa-se nos 74,22±6,43 anos. A maioria da amostra é casada ou vive em união de facto (62,9%), seguindo-se os 144 viúvos (28,1%). Residem maioritariamente em ambiente rural (67,4%) e apresentam baixos níveis de habilitações literárias. No que se reposta às variáveis relacionada com com a prática desportiva, apenas 92 indivíduos (25,8%) referiram praticar exercício físico com regularidade (gráfico 1). Gráfico 1 – Prática Desportiva 25,8% 74,2% Sim Não A caminhada (gráfico 2) é o exercício físico mais praticado (94,6%) pelos inquiridos. inquiridos Gráfico 2 – Tipo de Exercício Físico 2,2%2 2,2% 1% 94,6% Caminhada Natação Bicicleta Mais que um exercício físico Uma periodicidade diária na prática de exercício físico foi referenciada por 46,7% da amostra (gráfico 3). Como nos refere Ramalho (2009) a prática regular de exercício físico contribui para a prevenção e controlo da diabetes, aumentando aumentando simultaneamente a sensação de bem estar físico e psíquico através da redução do stress psicossocial. A duração média da prática diária do exercício é de aproximadamente 50 minutos (51,58±29,1), o que vai de encontro às recomendações da ADA (2011) para a esta população, sustentando a prática de exercício físico moderada e gradual, com uma duração média de 30 a 45 minutos e uma 145 frequência de 3 a 5 dias por semana. Ter em conta o ajustamento às capacidades físicas individuais de cada diabético. Gráfico 3 – Periodicidade do exercício físico praticado 1,1% diáriamente 12,0% 46,7% 21,7% Cinco xs/ semana Quatro xs/ semana 8,7% Três xs/ semana 9,8% Duas xs/ semana Uma vez/ semana Pelo gráfico 4 constata-se constata se que 61% da amostra concorda que a prática do exercício físico regular é importante para melhorar o controlo da diabetes e 21,3% apresenta opinião muito concordante, de realçar, lçar, no entanto que 0,6% apresenta opinião discordante e 14,3% não expressam opinião sobre esta questão. Gráfico 4 – Periodicidade da prática do exercício físico 2,8% 0,6% 14,3% 21,3% 61,0% Não responde/Não sabe Concordo muito Concordo Não concordo nem discordo Discordo Discussão dos Resultados Da totalidade da amostra 52,5% pertenciam ao sexo feminino e 47,5% ao masculino. A idade dos indivíduos varia entre os 65 e 94 anos. A média de idades situa-se situa nos 74,22±6,43 146 anos, o que vai de encontro à situação demográfica do distrito e do país (INE, 2008). Residem maioritariamente em ambiente rural (67,4%) e apresentam baixos níveis de habilitações literárias. No que se reposta às variáveis relacionada com a prática desportiva, apenas 92 indivíduos (25,8%) referiram praticar exercício físico com regularidade. Tendo em conta os autores consultados (Eriksson e Lindgarde, 1991; Duarte e Caldeira, 2002; WHO, 2004; Sigal et al, 2004; Benhalima et al, 2011; Tahrani at al, 2009) o exercício físico tem um papel importante na prevenção da diabetes. Perante esta constatação, torna-se necessário dinamizar cada vez mais a atividade física na população em geral e, particularmente, nos indivíduos com a doença. No entanto, a implementação da atividade física como uma medida preventiva e terapêutica é um processo de difícil cumprimento na maioria utentes estudados. Esta dificuldade poderá resultar da ação simultânea de diferentes fatores: declínio da atividade física espontânea que ocorre naturalmente com a idade, habitual sedentarismo, problemas ortopédicos e/ou cardiovasculares, entre outros. Conclusão Considerando a elevada prevalência da diabetes na população portuguesa e, particularmente, na população em estudo, torna-se fulcral consciencializar as pessoas para a necessidade da alteração de comportamentos, orientados por estilos de vida mais ativos e saudáveis. A mudança de atitudes conduzirá a uma redução da incidência da doença, bem como a uma melhoria na qualidade de vida daqueles que já a possuem, obtendo-se desta forma ganhos em saúde. De resto, como refere a WHO (2006) o incremento da qualidade de vida é preconizado como um objetivo fulcral do processo do envelhecimento ativo, que contempla não unicamente indivíduos saudáveis e ativos, mas também indivíduos frágeis, fisicamente incapacitados ou que necessitem de cuidados. De realçar a promoção e a educação para a saúde dos doentes e família, tendo em consideração o controlo da doença. Estas medidas devem articular os pilares fundamentais do agir (ou intervenção em saúde): autocontrolo diário, tratamento farmacológico, atividade física regular e alimentação equilibrada. Diabéticos e família necessitam de informações objetivas, seguras e cientificamente válidas para fazerem frente às dificuldades que lhe são inerentes. 147 Referências Bibliográficas American Diabetes Association (ADA) (2011). Diagnosis and Classification of Diabetes Mellitus. Diabetes Care , 34 Suppl 1, pp.S11-61. Benhalima, K., Standl, E., & Mathieu, C. (2011). The importance of glycemic control: how low should we go with HbA1c? Start early, go safe, go low. Journal of Diabetes and Its Complications, 25 (3), pp. 202-207. Caldeira, J., & Osório, I. (2002). Alimentação: Noções práticas. In R. Duarte, Diabetologia Clínica. (3.ª ed.) (p. 79-87). Lisboa: Lidel. 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Sigal, R.J., Kenny, G.P., Wasserman, D.H., & Castaneda-Sceppa, C. (2004). Physical activity/exercice and type 2 diabetes. Diabetes Care, 27, pp. 2518-2539. Sociedade Portuguesa de Diabetologia (2009). Estudo de monitorização da implementação regional e nacional do rastreio sistemático e tratamento da retinopatia e nefropatia diabéticas e dos cuidados do pé diabético (DIACOMP). Disponível em: www.minsaude.pt/NR/rdonlyres/4747F2BE-D534.../i012326.pdf Tahrani, A., Piya, M., & Barnett, A. (2009). Saxagliptin: a new DPP- 4 inhibitor for the treatment of type 2 diabetes mellitus. Advanced Therapeutics, 26(3), pp. 249-262. World Health Organization (2006). Highlights on health in Portugal, 2004. Geneve: World Health Organization. Zimmet, P., Alberti, K., & Shaw, J. (2001). Global and societal implications of the diabetes epidemic. Nature, 414, pp. 782-787. 148 12. SOBRECARGA EM CUIDADORES INFORMAIS DE IDOSOS DEPENDENTES E SUA RELAÇÃO COM VARIÁVEIS DO CUIDADOR E DEPENDÊNCIA DOS IDOSOS NAS AVD Maria Augusta Pereira da Mata1,3,4; Maria Helena Pimentel2,3,4; Adília Maria Pires da Silva Fernandes1,3,4; Carlos Pires Magalhães1,3,4; Manuel Alberto Brás1,3,4 1 Professor Adjunto, PhD. 2 Professor Coordenador, PhD. 3 Escola Superior de Saúde do IPB. Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança. Tel.: (+351) 273 330 950 4 Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII) 149 Resumo Introdução: Inúmeros estudos reportam diversos problemas sentidos pelos cuidadores informais, principalmente quando o cuidado se prolonga no tempo. Ribas et al. (2000) afirmam que o cuidador principal enfrenta diariamente desafios imprevisíveis e sofre perdas de controlo pessoal que se vão reflectir na sua saúde física e emocional. Zarit e Zarit (1983), Zarit, Orr e Zarit (1985), Zarit, Todd e Zarit (1986), Zarit (1997), referem que a intensidade da sobrecarga constitui melhor predictor de institucionalização do que o estado mental ou conductual da pessoa cuidada, pelo que, consideraram a carga do cuidador como sendo a chave para a manutenção na comunidade, das pessoas com demência. Metodologia: Com o objectivo de analisar a sobrecarga do cuidador informal de idosos dependentes e verificar a sua relação com variáveis do cuidador e com a dependência dos idosos cuidados nas AVD, desenvolveu-se um estudo descritivo e analítico junto de 268 cuidadores informais do distrito de Bragança, com aplicação de um formulário com inclusão da Entrevista de Carga do Cuidador de Zarit e aplicação dos índices de Barthel e de Lawton para avaliar as dependências nos idosos cuidados. Os dados foram submetidos a uma análise descritiva e de comparação de proporções pela aplicação do teste do Qui-quadrado. Resultados: Verificaram-se proporções mais elevadas de carga nos cuidadores com idades superiores a 40 anos (p=0,009); Nos cuidadores que percecionam a sua saúde como muito má e má, existem proporções mais elevadas de sobrecarga intensa, e nos que têm uma perceção boa ou muito boa há proporções mais elevadas de cuidadores sem sobrecarga (p=0,001). A sobrecarga do cuidador relaciona-se ainda com os níveis de dependência dos idosos nas ABVD (p<0,001), e nas AIVD (p<0,001). Conclusão: Os resultados obtidos mostram claramente a importância das redes sociais na prevenção e no controlo da sobrecarga do cuidador, bem como na aplicação da entrevista de carga como rotina na avaliação da saúde do cuidador. Palavras-chave: Cuidador informal; Sobrecarga; Dependência. Abstract Introduction: Several problems felt by informal caregivers mainly when care is developed during many time are related in many studies. Ribas et al. (2000) say that main caregiver faces daily unpredictable challenges and suffers losses of personal control that will reflect in his/her physical and emotional health. Zarit e Zarit (1983), Zarit, Orr e Zarit (1985), Zarit, Todd e Zarit (1986), Zarit (1997), reported that the intensity of burden is best predictor of institutionalization than the behavioral or mental state of the cared person, for what they considered the caregiver’s burden as being the key to maintaining the persons with dementia in the community. Methodology: With the aim of analyzing the informal caregiver’s burden of dependent elderly and to determine their relationships with caregiver’s variables and elderly’s dependency in DLA, a descriptive and analytical study was developed in a sample of 268 informal caregivers living in the district of Bragança, by applying a questionnaire which included the Caregiver’s Burden Interview developed by Zarit and the Barthel and Lawton Indexes to evaluate the dependencies in the elderly . Data were submitted to a descriptive analyze and comparison of proportions with the application of qui-scare. Results: Caregivers older than 40 years showed higher proportions of burden (p=0,009); Those caregivers who classify their health as bad or very bad have higher proportions of burden and in those who classify it as good or very good there are higher proportions of caregivers without burden .(p=0,001). Caregiver’s burden is still related to dependency levels both in BDLA (p<0,001), and in IDLA (p<0,001). Conclusion: Results show clearly the importance of social nets in the prevention of caregiver’s burden as well as the application of Caregiver’s Burden interview as a routine in caregiver’s health evaluation. Keywords: Informal Caregiver; Burden; Dependency. 150 Introdução A literatura evidencia que se assiste, na sociedade actual, a um aumento sem precedentes das situações relacionadas com a dependência e, logicamente com o conjunto de pessoas que necessita de algum tipo de ajuda para o desenvolvimento da sua vida, de forma a poder ajustar-se ao meio e interagir com ele. De acordo com o IMSERSO (2007), as alterações demográficas e sociais estão a produzir um aumento progressivo da população em situação de dependência. Associado ao aumento contínuo das pessoas com 65 e mais anos, está ainda o fenómeno demográfico denominado por “envelhecimento do envelhecimento”, conceito que pretende traduzir o crescente aumento do número de pessoas com 80 e mais anos e que, segundo os mesmos autores, duplicou nos últimos vinte anos. Assim, estas duas situações demográficas fazem com que exista maior número de idosos em situação de dependência nas últimas etapas da sua vida. O Decreto-Lei nº 101/2006 de 6 de Junho define dependência como sendo a situação em que se encontra a pessoa que, por falta ou perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, resultante ou agravada por doença crónica, demência orgânica, sequelas pós-traumáticas, deficiência, doença severa e/ou incurável em fase avançada, ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra natureza, não consegue, por si só, realizar as actividades da vida diária. Face a situações de total ou parcial dependência, impõe-se a ajuda de alguém que faculte os cuidados à pessoa que deles necessita, sendo em muitos casos assegurados por um elemento da família que adquire assim a função de cuidador principal. No caso de não usufruir de remuneração pela tarefa executada, então este cuidador assume a função de cuidador informal. O conceito de cuidador informal obteve nos últimos anos particular relevo, quer ao nível da literatura, quer ao nível da investigação em gerontologia. No contexto português, à semelhança de outros países, os cuidados de saúde primários constituem o polo de complemento e ajuda aos serviços prestados pelos cuidadores informais, embora nem sempre de forma efectiva e, como afirma Bermejo (2005), os cuidadores representam uma peça chave na tríade terapêutica equipa de saúde – utente dependente – cuidador. 151 Cuidar de alguém representa um dos maiores desafios a ultrapassar, envolvendo longos períodos de tempo dispensados ao familiar, desgaste físico, custos financeiros, sobrecarga emocional, riscos mentais e físicos. O cuidador enfrenta diariamente situações imprevisíveis e sofre perdas de controlo pessoal que vão provocar alterações na sua saúde física e emocional. Ribas et al. (2000) referem que essas alterações não se manifestam apenas na saúde, já que também estão implicados aspectos sociais e económicos. Hung, Sànchez e Bello (2003) afirmam que, em resultado da sua função, o cuidador pode apresentar um conjunto de problemas físicos, mentais e sócio–económicos, a que geralmente se dá o nome de carga e que pode ser objectiva ou subjectiva. Afirmam que a sobrecarga objectiva se refere à disrupção da vida social do cuidador, à quantidade de tempo e dinheiro investido no cuidado ao familiar, assim como aos problemas de conduta que este apresente, enquanto a sobrecarga subjectiva diz respeito à percepção que o cuidador apresenta da repercussão emocional e das necessidades e problemas relacionados com o acto de cuidar. A intensa dedicação que o cuidador dirige ao idoso dependente, faz com que num futuro mais ou menos próximo, ele venha a padecer de alterações na sua saúde física e mental, transformando-se naquilo a que diversos autores apelidam de “paciente oculto” (Flórez, 2002; Linde, Velasco & Velasco, 2005). O estudo desenvolvido por Larrinoa, Martínez, Ortiz, Carrasco, Solabarrieta e Gómez (2011) evidenciou que a autoperceção da saúde física e mental dos cuidadores era pior que a autoperceção de saúde da população geral. Com o objectivo de analisar a sobrecarga do cuidador informal de idosos dependentes e verificar a sua relação com variáveis do cuidador e com a dependência dos idosos cuidados nas Atividades de Vida Diária, foi desenvolvido o presente estudo. Material e Métodos Desenvolveu-se um estudo descritivo e analítico junto de 268 cuidadores informais do distrito de Bragança informais de idosos com dependência física e/ou mental residentes no distrito de Bragança. Procedimentos Os casos foram identificados através de enfermeiros dos centros de saúde que 152 desenvolvem visitação domiciliária, e directores técnicos de instituições de idosos que possuem a valência de apoio domiciliário. Obteve-se ainda a colaboração destes técnicos para a colheita de informação, a quem foi previamente apresentado o objectivo do estudo, definidos termos e clarificados os conceitos. Os cuidadores que preenchiam os critérios de inclusão (serem cuidadores de pelo menos um idoso com dependência física e/ou mental, e que não auferissem qualquer remuneração pelo cuidado prestado) foram convidados a participarem no estudo, sendo elucidados acerca do objectivo do mesmo, e garantidos o anonimato e confidencialidade dos dados. Posteriormente os dados foram submetidos a tratamento estatístico com recurso ao programa informático SPSS (PASW) versão 1.8 utilizando-se a estatística descritiva e inferencial com cálculo de proporções e sua comparação através do teste do Qui-quadrado. Os cuidadores foram integrados em grupos de carga de acordo com os pontos de corte apresentados por Sequeira (2010) Resultados Os cuidadores estudados apresentam uma média de idades de 55,41 anos (min: 22; máx: 87 anos). Na tabela 1, é possível verificar ainda que, além dos idosos cuidadores, o grupo etário a seguir mais representado é o dos 50 – 59 anos, seguido do das pessoas com idades compreendidas entre os 40 – 49 anos. Os resultados evidenciam o predomínio do género feminino (apesar da prevalência de 15,3% de indivíduos do género masculino), a prevalência acentuada de pessoas casadas (77,2%), com habilitações literárias ao nível do ensino básico (51,9%), realçando-se no entanto, um percentual de 10,4% de cuidadores sem escolaridade. Os cuidadores são maioritariamente filhas da pessoa cuidada com uma prevalência de 51,9%, seguindo-se as esposas com 16,4% e as noras com 9,3%. De realçar a existência de 1,9% de cuidadores que não possuem laços familiares com a pessoa cuidada: são amigos ou vizinhos que, por questões de solidariedade decidiram prestar ajuda. 153 Tabela 1 – Distribuição dos cuidadores segundo as características sociodemográficas n % Feminino 227 84,7 Masculino 41 15,3 <40 anos 33 12,3 40-60 anos 138 51,5 >= 60 anos 97 36,2 Solteiro 39 14,6 Casado/União de facto 207 77,2 Divorciado/Separado 11 4,1 Viúvo 11 4,1 Sem escolaridade 28 10,4 1º Ciclo 91 34,0 2º Ciclo 28 10,4 3º Ciclo 20 7,5 Ensino Secundário 40 14,9 Ensino Superior 61 22,8 Filha 139 51,9 Marido 13 4,9 Esposa 44 16,4 Filho 19 7,1 Nora 25 9,3 Sobrinha 2 0,7 Neta 11 4,1 Amigo(a)/vizinho(a) 5 1,9 Outros 10 3,7 Género (n=268) Idade – anos (n=268) Estado Civil (n=268) Habilitações académicas (n=268) Parentesco (n=268) Mais de metade dos cuidadores (56,0%) evidencia níveis de sobrecarga distribuídos por: sobrecarga intensa (31,0%) e sobrecarga ligeira (25%). 154 No que concerne à autopercepção de saúde, verificou-se que 19,8% dos cuidadores classificaram a sua saúde como má ou muito má e 43,3% entendiam a sua saúde como regular. Verificaram-se proporções mais elevadas de carga nos cuidadores com idades superiores a 40 anos (X2=13,581; p=0,009). Verificou-se ainda que nos cuidadores que percecionam a sua saúde como muito má e má, existem proporções mais elevadas de sobrecarga intensa, enquanto que naqueles que têm uma perceção boa ou muito boa há proporções mais elevadas de cuidadores sem sobrecarga.(X2=26,891; p=0,001). A sobrecarga do cuidador relaciona-se ainda com os níveis de dependência dos idosos nas Atividades Básicas da Vida Diária onde existe maior proporção de cuidadores que evidenciaram sobrecarga intensa é maior nos que cuidavam de idosos totalmente dependentes, e a proporção dos que não evidenciam sobrecarga é mais elevada naqueles que cuidam de idosos independentes nestas AVD (X2=48,300; p <0,001), verificando-se situação idêntica quando se relacionou a sobrecarga com a dependência nas Atividades Instrumentais da Vida Diária (X2=23,278; p <0,001). Discussão Tradicionalmente, o cuidado prestado a familiares é desenvolvido maioritariamente por mulheres, tarefa que lhes está acometida desde tempos imemoriais. Mas será que essa realidade persiste numa sociedade em que a mulher tem adquirido um papel cada vez mais activo e produtivo? A representatividade das mulheres no presente estudo ascende a 84,7%. Estes valores estão alinhados pelos encontrados nos inúmeros estudos acerca da temática, nomeadamente no estudo de Rodríguez, Echanagorria e Castello (2005), que referem que 83,6% dos cuidadores informais de idosos pertencem ao género feminino. Tobio, Tomás, Gómez e Palomo (2010), afirmam que persiste um discurso conservador ou tradicional de interiorização e conformismo face ao acto de cuidar. Estes investigadores mencionam ainda que os homens vão sendo progressivamente implicados no acto de cuidar de um familiar, sobretudo quando se trata de uma criança. Esse cuidado é menos evidente na velhice mais frágil, salvo quando são reformados e cuidam das suas esposas doentes. Tal poderá ser o caso dos cuidadores masculinos encontrados no presente estudo, onde a proporção destes cuidadores ascende a 15,3%. 155 A amostra de cuidadores estudada apresenta uma média de idades próxima dos 55,41 anos (min: 22; máx: 87 anos), é casada (77,2%), filha da pessoa cuidada (51,9%) epossui habilitações literárias ao nível do ensino básico, Esta realidade vai de encontro ao concluído por González-Valentin e Calvez-Romero (2009:15) onde numa amostra de 128 cuidadores, o perfil encontrado foi “… mulher casada que não trabalha, filha da pessoa incapacitada, com estudos primários, e uma idade média de 56 anos…”. A análise da relação entre variáveis permitiu verificar a existência de relação entre a dependência da pessoa cuidada com a sobrecarga percepcionada elo cuidador, resultados contrariam os obtidos por González, Graz, Pitiot e Podestá (2004) que, concluíram que não haver evidências de relação entre a sobrecarga e o grau de dependência das pessoas cuidadas, mas corroboram os resultados de Bocchi (2004), num estudo onde procedeu à análise de artigos publicados sobre a sobrecarga dos cuidadores de pessoas acometidas de Acidente Vascular Cerebral, onde concluiu que a sobrecarga está frequentemente associada ao nível de dependência física e mudanças comportamentais das pessoas cuidadas. A autoperceção de saúde corroboram os resultados obtidos por Larrinoa, Martínez, Ortiz, Carrasco, Solabarrieta e Gómez (2011) que concluiram que a autoperceção da saúde física e mental dos cuidadores era pior que a autoperceção de saúde da população geral. Conclusões Os resultados obtidos evidenciam a necessidade da utilização da entrevista de carga do cuidador como rotina na entrevista de avaliação do seu estado de saúde. Esta avaliação conduziria necessariamente à inclusão de conteúdos (em termos de educação para a saúde individual) que contribuíssem para a aquisição de competências no cuidar, e consequente prevenção e/ou redução da sobrecarga. Entende-se que, aquando da avaliação da situação de saúde dos idosos dependentes, deve ter-se sempre em consideração a díade cuidador/pessoa cuidada. Parecem também evidenciar a importância das redes sociais no apoio ao cuidador, pelo que seria de extrema utilidade o incentivo à constituição de grupos de voluntários, ou grupos de ajuda mútua que pudessem cooperar nesta prestação informal de cuidados, servindo como agentes de suporte instrumental e emocional do cuidador informal de idosos dependentes. 156 Referências Bibliográficas Bermejo, C. (2005). 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REPRESENTAÇÃO SOCIAL SOBRE OS CUIDADOS CONTINUADOS DO CUIDADOR INFORMAL DE UMA PESSOA DEPENDENTE: EXPERIÊNCIAS DE QUEM CUIDA 13. SOCIAL REPRESENTATION ABOUT LONG TERM CARE OF INFORMAL CAREGIVER OF A DEPENDENT PERSON: EXPERIENCES OF THOSE WHO CARE Maria Augusta Pereira da Mata1,2,3,; Maria Filomena Sousa 1,2,; Adília Maria Pires da Silva Fernandes 1,2,3 1 Professor Adjunto, PhD. 2 Escola Superior de Saúde do IPB. Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança. Tel.: (+351) 273 330 950 3 Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII) 158 Resumo Introdução: Desde sempre a família tem estado na primeira linha da prestação de cuidados a um familiar portador de dependências e incapacidades, tornando-se essa realidade muito visível na actualidade atendendo à situação demográfica global. A maioria destas dependências estão associadas a doenças crónicas e o seu cuidado conduz necessariamente a repercussões que se irão refletir a diferentes níveis como o familiar, social e/ou económico. Na sequência destas necessidades surgem os cuidados continuados integrados que, de acordo com o o Decreto-Lei nº 101/2006 constituem “o conjunto de intervenções sequenciais de saúde e ou de apoio social, decorrente de avaliação conjunta, centrado na recuperação global entendida como o processo terapêutico e de apoio social, activo e contínuo, que visa promover a autonomia melhorando a funcionalidade da pessoa em situação de dependência, através da sua reabilitação, readaptação e reinserção familiar e social”. Face ao exposto emergiu a ideia de conhecer as experiências dos cuidadores de familiares dependentes, que mudanças vivenciam no seu quotidiano e qual a sua representação social face aos Cuidados Continuados. Metodologia: estudo de carater fenomenológico, com a realização de uma entrevista não-estruturada a 4 pessoas cuidadores informais da cidade de Bragança. Resultados: Apesar das alterações das funções e estruturas familiares registadas nas últimas décadas, os cuidadores que apoiam os familiares dependentes continuam a ser na sua grande maioria, os familiares directos do sexo feminino. Os significados que estes atribuem aos Cuidados Continuados vão de encontro ao preconizado pela legislação que regulamenta esta rede de cuidados, realçando-se o desejo da existência de uma unidade no seu concelho de residência. Das experiências vividas no ato de cuidar e mudanças ocorridas na sua vida realçam-se o prazer e gratificação pela função que exercem, mas também a revolta, solidão, cansaço, bem como alterações na economia doméstica, na dinâmica familiar e redefinição de prioridades, repercussões essas que podem ser indutoras da sobrecarga do cuidador. Conclusão: As redes de suporte social assumem um importante papel no apoio às famílias, pois constituem agentes facilitadores no controlo de situações problemáticas a que o cuidador informal está exposto. A manutenção da pessoa cuidada na família/comunidade relaciona-se com a situação de saúde e bem estar do cuidador pelo que a sua promoção deve merecer particular atenção por parte dos profissionais. Palavras chave: Cuidados Continuados; Cuidadores de familiares dependentes. Abstract Introduction: Family has always been at the forefront of providing care to a dependent or disabled family member, and according to the global demographic situation, this reality becomes more and more visible. Most of these dependencies are linked with chronic diseases and their care necessarily lead to repercussions at different levels as the family, social and / or economic ones. Following these needs arise the long term care, which according to the Dec.Lei n º 101/2006 are “the set of sequential health and social support interventions, due to a joint evaluation, focusing on the global recovery understood as the therapeutic process and social support, active and continuous, which aims to promote autonomy by improving the functionality of the person in a situation of dependency through her rehabilitation, readaptation and family and social reintegration”. In this point of view , emerged the idea of getting acquaintance with the experiences of caregivers of dependent relatives, which changes have they experience in their daily lives and what are their social representation about long term care. Methodology: phenomenological character study conducted by a non-structural interview to 4 informal caregivers who live in the town of Bragança. Results: Despite the changes in the structure and family functions that occurred in the last decades, caregivers who care dependent relatives are still female family members. The meanings that they attribute to long term care are similar to the one presented in legislation highlighting their desire of a unit in their place of residence. From the experiences in caring and changes in caregiver’s life we 159 enhance the pleasure and gratification by performing that function, but also anger, loneliness, and fatigue as well as changings in domestic economy, family dynamic and redefinition of priorities, repercussions that can induce the caregiver burden. Conclusion: Social support networks play an important role in supporting families, because they are facilitators to control problematic situations to which informal caregiver is exposed. The maintenance of the cared person in the family / community is related to the health status and well-being of the caregiver and so its promotion deserves particular attention from professionals. Keywords: Long Term Care; Family caregivers of dependent relatives. 160 Introdução O aumento da esperança de vida e o envelhecimento da população são uma realidade nos nossos dias. Dados do Ministério da Saúde (MS) de 2006, revelam que a população portuguesa com 65 ou mais anos representava cerca de 16,5%. As previsões demográficas indicam que Portugal será em 2050 um dos países da União Europeia com maior percentagem de idosos (32%), o que significará perto de 2,7 milhões de pessoas com 65 ou mais anos. Verifica-se, também, um aumento, tanto das doenças crónicas não transmissíveis como das situações de morbilidade por acidentes, o que contribui para que a pessoa sobreviva, contudo, por vezes em situações de morbilidade e dependência de outros. Se por um lado é verdade que os indivíduos vivem mais, para Paúl e Fonseca (2005), fazem-no frequentemente acompanhados de incapacidade e patologias múltiplas mesmo antes dos 65 anos. As alterações demográficas em Portugal, traduzem-se, hoje, na existência de uma população cada vez mais idosa com um correspondente acréscimo de situações de dependência que criam novas necessidades em saúde. Desta conjuntura emerge a exigência real e potencial de cuidados complexos por longos períodos de tempo, onde as redes informais ocupam um lugar privilegiado nos cuidados à pessoa idosa, para o qual o contributo do cuidador informal é fundamental na manutenção da sua qualidade de vida. O cuidado informal sobrevém da prestação de cuidados a pessoas dependentes por parte de família, amigos, vizinhos ou outros grupos de pessoas, não remunerados economicamente pelos cuidados que prestam, assumindo assim o papel de cuidador informal. Este último torna-se o “profissional oculto” dos cuidados ao idoso dependente, experienciando consequências que se repercutem quer na sua qualidade de vida, quer na do idoso. Face ao exposto, adotando uma perspetiva qualitativa de carater fenomenológico desenvolvemos um estudo para conhecer o que representa/significa para os familiares cuidadores de pessoas dependentes o modelo de cuidados continuados e quais as mudanças quotidianas vivenciadas por estes cuidadores? Desta forma, adotamos como objeto deste estudo, especificamente, as representações sociais dos cuidadores de familiares dependentes, no intuito de possibilitar o esclarecimento das questões acima enunciadas e caminhar no sentido de constituir propostas de intervenção mais integradas com a realidade e deste modo contribuir na construção do conhecimento que resulte em condutas e comunicações mais humanizadas. 161 Metodologia Seguindo a abordagem de pesquisa qualitativa de carater fenomenológico, fundamentamo-nos no referencial teórico das representações sociais por admitir que tal opção possibilita-nos a aproximação pretendida neste estudo. Tendo em conta os objetivos do estudo, optou-se pela utilização do método fenomenológico, método que se adequa à natureza do problema em causa e que permite descrever as representações sociais, as experiências e as mudanças no quotidiano dos cuidadores de familiares dependentes. No sentido de dar resposta a estes objetivos foram selecionados 4 cuidadores através de uma amostragem de seleção racional, deste modo o julgamento dos investigadores levou a que fossem entrevistados os informantes que melhor representassem o fenómeno. Os informantes são cuidadores familiares muito próximos da pessoa dependente, todos eles são mulheres e uma delas conjuga os cuidados ao seu familiar com a sua situação laboral (quadro 1). Quadro1- Carateristicas da amostra Informantes Género Grau de Idade (anos) Situação profissional parentesco 1ª- Feminino 60 Filha Reformada 2ª- Feminino 64 Filha Reformada 3ª- Feminino 46 Filha No ativo 4ª- Feminino 66 Filha Reformada Colheita da informação A colheita de informação neste estudo foi realizada através de entrevista, utilizando um guião estruturado, com questões que nos permitiram descrever o objeto desta investigação. 162 A colheita envolveu apenas um dos investigadores, de forma a evitar diferenças significativas na condução da mesma. O número de entrevistas terminou quando se considerou que o material recolhido era suficiente para descrever o fenómeno. Na realização das entrevistas foram tidos em conta os aspetos éticos inerentes ao processo, para obter o consentimento informado foi dado a conhecer aos entrevistados a natureza e objetivos do estudo. Análise da informação A análise de conteúdo da informação iniciou-se com a leitura com o intuito de apreender o sentido global do fenómeno. De seguida, foi feita a identificação e delimitação das unidades naturais de significado (códigos) que foram organizadas em temas e definidos por determinados perfis construtivos com referência às representações sociais e significados/ experiências vivenciadas pelos cuidadores de familiares dependentes. Apresentação e análise dos resultados O material aqui apresentado, constituiu-se da síntese extraída dos conteúdos dos discursos dos cuidadores participantes no estudo, tendo o conteúdo sofrido primeiramente uma análise individual e tendo sido posteriormente agrupado, de acordo com os critérios referidos. Seguindo a abordagem de pesquisa qualitativa fundamentamo-nos no referencial teórico das representações sociais por admitir que tal opção possibilita-nos a aproximação pretendida neste estudo. Ou seja, identificar as experiencias e as mudanças no quotidiano dos cuidadores de familiares dependentes e conhecer as representações sociais que estes atribuem aos cuidados continuados. Permitindo- nos desta forma, olhar sob outra perspectiva as relações que se estabelecem entre estes serviços e estes cuidadores. Representação social dos cuidadores de familiares dependentes sobre os cuidados continuados O prestador de cuidados a familiares dependentes, é, segundo (Rica & Hernando, 1994) a pessoa próxima do doente que olha por ele, que o apoia e cuida no dia-a-dia, cujo esforço depende para manter este a ser cuidado no domicílio, sendo responsável por um conjunto de tarefas que vão muito além da satisfação das actividades de vida diária a quem os anglosaxónicos designam de “caregiver” ou “carer”, cuidador primário ou cuidador familiar. 163 Por Dependência entende-se (Decreto-Lei nº 101/2006, de 6 de Junho) a situação em que se encontra a pessoa que, por falta ou perda de autonomia física, psíquica ou intelectual, resultante ou agravada por doença crónica, demência orgânica, sequelas pós traumáticas, deficiência, doença severa e ou incurável em fase avançada, ausência ou escassez de apoio familiar ou de outra natureza, não consegue, por si só, realizar as actividades da vida diária. Geralmente, são membros da família ou comunidade, mulheres (mãe, filha, nora, esposa, neta), o que se confirma com o presente estudo, que prestam cuidados de forma parcial ou integral, a pessoas com dificuldades ou incapacitadas de se auto-cuidarem, e diferenciam-se dos formais pela natureza da motivação (afetos e obrigação) para ajudar, pelas habilidades trazidas para as tarefas e pelo facto de não serem remunerados por essa atividade (Rica & Hernando, 1994). Moscovici (1987) salienta que a representação social engloba fenómenos presentes no quotidiano dos grupos sociais, tem as suas raizes nos conceitos elaborados pelo senso comum, nas interações contínuas e na objetivação realizada por cada grupo e que se concretiza num campo específico de conhecimento. Da mesma forma, Spink (1993) sustenta que as representações sociais dizem respeito ao pensamento do senso comum, que por sua vez permeiam as relações humanas nas diferentes instâncias sociais, acreditando ser a compreensão do senso comum uma condição muito importante senão essencial para a compreensão da realidade social, quando se considera que os sujeitos dessas relações são agentes ativos no processo de criação e recriação da mesma. Ao assumir o papel de cuidador, o sujeito vê-se confrontado com uma situação sem alternativa de escolha, modelada por uma forte obrigação moral e social, a qual, raramente, é partilhada com outros elementos. As representações sociais sobre os cuidados continuados destes cuidadores reproduzem a prática assistencial segundo o D.L. nº 101/2006 constituindo-se no conjunto de intervenções sequenciais de saúde e ou de apoio social, realçando-se o desejo da existência de uma unidade no seu concelho de residência. Prestar cuidados a pessoas dependentes não constitui uma experiência somente desgastante. O papel de cuidador de familiar dependente desencadeia sentimentos de desamparo pois os cuidadores sentem-se muitas das vezes entregues a si próprios. Sentem necessidade de trocar informações, com a finalidade de se preparar, de forma a poderem 164 responder às exigências que a situação lhes impõe (Schumacher, 2000, citado por Pereira e Silva, 2012). Alguns cuidadores familiares realçam a necessidade de informação sobre os cuidados, mas também de treino específico no sentido da continuidade dos cuidados em casa “também havia a algália e a sonda e, sabe, eu assustava-me muito quando me parecia que alguma coisa não estava bem”(E1) . Na realidade, todos os cuidadores precisam de preparação, encorajamento e suporte, estando os enfermeiros numa posição privilegiada para satisfazer as suas necessidades (Andrade, 2009 citado por Cruz, Loureiro, Silva & Fernandes, 2010) Os cuidados continuados de saúde têm como objectivo apoiar as pessoas em situação de dependência física, mental e/ou social, que estão no seu domicílio. A maioria destas dependências está associada a doenças crónica, sendo esta por si só uma ameaça à estabilidade e homeostesia do indivíduo com repercussões a nível económico, social e familiar. As dificuldades económicas são identificadas nestes cuidadores “Passei a ter mais despesas” (E2);” As despesas aumentaram(…)as fraldas, cremes, empregada (…) e tudo o resto” (E1). Tendo em conta que estas situações de dependência tendem a aumentar, colocando graves problemas a nível do sistema de saúde e protecção social, as famílias são hoje cada vez mais solicitadas a desempenhar o papel prestador de cuidados, mantendo o indivíduo dependente no seu ambiente. Em Portugal a Rede de Cuidados Continuados, surgiu em 2006, apresentou-se como um novo paradigma ao nível dos cuidados de saúde e sociais, o que levou a que os profissionais inseridos nesta nova área tenham tido que modificar o seu modo de prestação de cuidados. O facto da população portuguesa estar a envelhecer, e, com previsão de continuar no mesmo ritmo nos próximos 50 anos, faz com que haja necessidade de aperfeiçoar a prestação dos cuidados de saúde a ela dirigidos. Nas últimas décadas, as necessidades crescentes de recursos a nível da saúde e do apoio social têm sido significativas levando à emergência de políticas governamentais direccionadas às mesmas. A Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados de Saúde e Apoio Social é uma parceria entre os Ministérios da Saúde e do Trabalho e Solidariedade Social, com o objectivo de promover a continuidade dos cuidados de saúde e apoio social a todo o cidadão que sofra, temporária ou indefinidamente, de algum grau de dependência (Portugal, DL. nº 101,2006). A Rede de Cuidados Continuados surgiu, como projeto prioritário do Ministério de Saúde Português, a partir da constatação e conscientização da mudança do perfil demográfico 165 da população portuguesa, fazendo com que as necessidades de saúde e os modelos de prestação de cuidados sofressem significativas alterações com o objetivo de acompanhar essa mudança. Este modelo de cuidados tenta responder com efetividade às necessidades das pessoas que se encontram em situação de perda de funcionalidade ou de dependência. Completam, reorientam e adaptam os equipamentos de saúde para que se garanta a cobertura adequada destas necessidades que emergiram em tão pouco tempo. A Rede consubstancia uma verdadeira lógica de continuidade de cuidados e de promoção da autonomia, em desfavor de outras lógicas que assentam na pressão para a libertação de camas nos hospitais de agudos. De acordo com Pignatelli (2005), citado por Figueirinha, Marques e Simões (2012) a competência e dedicação dos profissionais da saúde e da segurança social são imprescindíveis para a melhoria dos cuidados. Mudanças e experiências no quotidiano do cuidador de familiar dependente Segundo Paùl (1997) entre outros autores, é redutor pensar que a tarefa de cuidar de pessoas dependentes se limita à satisfação das atividades de vida diária, como cuidados com a alimentação, higiene, mobilidade e eliminação, facilmente mensuráveis e observáveis. Cuidar de alguém é muito mais do que as tarefas observáveis pois requer um esforço contínuo ao nível cognitivo, emocional e físico, é esgotante e, por vezes, uma pessoa chega ao desespero”(E1); muitas vezes não reconhecido e que, por vezes, constitui um “fardo pesado”, chegando mesmo a levar o cuidador à doença, à fadiga ao cansaço (E4) há também aquele nervosismo que sentimos, a solidão com que temos de viver… E1); A transição para o papel de prestador de cuidados é considerada uma transição situacional, tal como é definida por Schumacher (2000, citado por Pereira & Silva, 2012). Esta situação exigiu dos cuidadores familiares a necessidade de organizarem o quotidiano da vida de modo diferente, exigiu redefinição de prioridades, foi necessário reestruturar a vida pessoal e redefinir prioridades”(E3); a nossa vida passa a rodar sempre em volta daquilo que temos de fazer ”(E1);” Exigiu a adoção de um novo ritmo no desenvolvimento das atividades diárias, levando-os a abdicar de alguns aspetos que consideravam importantes para o seu bem-estar. O quotidiano da vida destes cuidadores sofreu mudanças, manifestado por sentimentos de perda, deixei de ter vida própria; (E4); deixei de fazer planos; às vezes sinto que estou a perder o controlo da minha vida” (E4), que se traduziu no deixar de ter o que consideravam ser uma vida própria, dadas as repercussões nas diferentes Atividades de Vida Diária, em 166 particular na vida pessoal e familiar, deixei de ter tempo para mim própria e para o resto da minha família (E2); falta de tempo para fazer o que eu gosto (E4); deixei de ter vida social (E4). A falta de tempo passou a ser uma preocupação constante, imprimindo ao quotidiano da vida novas exigências dando origem a novos significados. O sentimento de perda de liberdade, por não poderem sair de casa, deixei de ter vida social (E4), traduz uma das preocupações que também condiciona o quotidiano do cuidador e que o pode conduzir a um isolamento e diminuição dos contactos sociais pelo que, um sistema de apoio social tem uma importância primordial (Paúl, 1997). O estado de saúde e as solicitações do familiar dependente podem absorver de tal forma o cuidador, que deixa de ter tempo livre para descansar o suficiente, para desenvolver actividades de que gostava e lhe davam prazer. O cuidador por vezes vê - se confrontado com uma grande e contínua sobrecarga física e emocional, traduzindo-se o cuidado numa experiência desgastante, às vezes sinto raiva e ansiedade; sinto-me revoltada e angustiada, ” (E4); com sentimentos de tristeza, e instabilidade emocional” (E4). A experiência desgastante, exige dos cuidadores familiares terem de abdicar de vários aspetos considerados importantes no seu quotidiano da vida, tendo impacto na saúde e bem-estar, no apoio dado aos membros da família e também com repercussões no trabalho, levando-os a antecipar a reforma ou a terem de se desempregar. Os cuidados exigidos pela pessoa dependente são sentidos pelas famílias, principalmente, pelo prestador de cuidados, como uma enorme sobrecarga que os leva muitas vezes aos limites das suas capacidades, tanto físicas e psicológicas como emocionais (Martins, 2002). Eles são vítimas de um enorme stress e têm imensa dificuldade em se adaptarem tanto física como psicologicamente, à situação que a pessoa dependente lhe exige. O exercício como cuidador do familiar dependente pode traduzir também uma experiência compensadora, “foi um prazer cuidar da minha mãe”(E1); “…está a ser gratificante perceber que o esforço desenvolvido tem valido a pena”(E3). É gratificante quando no decorrer de um cuidado ela me devolve um sorriso; sinto-me tranquila”(E4). Atribuição de sentimentos de satisfação e bem-estar durante o exercício do papel de cuidador pode tornar-se uma experiência de cuidar, em termos de ser uma experiência que os faz ter orgulho, pela importância e reconhecimento que os cuidados poderão ter para a pessoa cuidada e pelo reconhecimento que os profissionais e amigos fizeram da pessoa se apresentar bem cuidada. 167 Para os cuidadores cuidar do familiar dependente significa “ter de aprender” a prestar cuidados; o “ter de adaptar-se” à nova situação; o “ter que conseguir” superar as dificuldades e integrar o exercício do papel de cuidador no quotidiano de vida. Como nos refere Aleixo (2002), a manutenção do doente dependente em casa/comunidade está estreitamente relacionada com o apoio familiar que este tem. A sua institucionalização poderá estar mais relacionado com as atitudes e o bem-estar do cuidador do que com o seu grau de incapacidade, isto é, a família entra em stress e tenta encontrar alternativas, contudo, apesar de existirem serviços públicos que prestam algum apoio formal aos cuidadores informais nos cuidados a doentes e/ou idosos dependentes, estes são marcadamente insuficientes, já que na maioria dos casos este é o único apoio com que podem contar quando se encontram em suas casas em situação de dependência pelo que, as redes de apoio informal são estruturas que têm de ser valorizadas. O deficiente apoio domiciliário fornecido pelas instituições, quer pela escassez das mesmas, quer pelo tipo de apoio que prestam, deveria ser mais abrangente, incluindo não só os serviços de alimentação mas também apoio na higiene e conforto dos doentes, limpeza e arranjo da unidade habitacional, permitindo, nomeadamente aos idosos, uma maior autonomia e, simultaneamente criar as condições mínimas para que estes permanecessem nas suas residências. Conclusão Apesar das alterações das funções e estruturas familiares registadas nas últimas décadas, os cuidadores que apoiam os familiares dependentes continuam a ser na sua grande maioria, os familiares diretos do sexo feminino. Os significados que estes atribuem aos Cuidados Continuados vão de encontro ao preconizado pela legislação que regulamenta esta rede de cuidados, realçando-se o desejo da existência de uma unidade no seu concelho de residência. Das experiências vividas no ato de cuidar e mudanças ocorridas na sua vida realça-se o prazer e gratificação pela função que exercem, mas também a revolta, solidão, cansaço, bem como alterações na economia doméstica, na dinâmica familiar e redefinição de prioridades, repercussões essas que podem ser indutoras da sobrecarga do cuidador. Em suma, apesar do aparente sucesso que o modelo de cuidados continuados tem revelado, surge a necessidade de respostas ajustadas, que venham satisfazer a crescente procura de cuidados de saúde por parte deste grupo de pessoas. Estas respostas devem contemplar os diferentes momentos da evolução da doença e as diferentes situações sociais, 168 bem como a promoção da autonomia e “o reforço das capacidades e competências das famílias para lidar com essas situações, nomeadamente, no que concerne à conciliação das obrigações da vida profissional com o acompanhamento familiar” (Portugal, DL. nº 101,2006). Bibliografia Augusto, B. M., & Rogério, C. (2002). Cuidados Continuados – Família, Centro de Saúde e Hospital como parceiros no Cuidar. Coimbra: Editora Formasau. Aleixo, S. (2002). A intervenção do serviço social hospitalar face ao idoso. Servir, 50,161164. Bazo, M.T., & Domínguez-Alcon, C. (1998). Los cuidados familiares de salud en las personas ancianas y las políticas sociales. Revista Española de Investigaciones, 73, 43-56. Brazil, K., Bolton, C., Ulrichsen, D., & Knott, C. (1998). Substituing home care hospitalization: The role of a quick response service for the elderly. Journal of Community Health [online], 23(1): 29-43. Disponivel em: http://www.proquest.com. Brito, L. (2002). A Saúde Mental dos Prestadores de Cuidados a Familiares Idosos. Coimbra: Quarteto Editora. CIPE/ICNP (2005) – Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem. Versão Beta 2. 3ª ed. Lisboa: IGIF. 227 Cruz, D.C., Loureiro, H.A., Silva, M.A.N., & Fernandes, M.M. (Dezembro, 2010). As Vivências do Cuidador Informal do Idoso Dependente. Revista de Enfermagem Referência, 2, 127-136 Figueirinha, D., Marques, I., & Simões, J. (Março, 2012). Ética na relação do Profissional de Saúde e Idoso nos Cuidados Continuados. Revista Portuguesa de Bioética, 16, 31-45. Imaginário, C. (2004). O Idoso Dependente em Contexto Familiar. Coimbra: Formasau. Martins, M.M.F. P.S. (2002). Uma crise acidental na família. O doente com AVC. Processos familiares/aceitação/dependência. Coimbra: Formasau. Formação e Saúde, Lda. Mendonça, F., Martinez, M., & Rodrigues, M. (2000). Avaliação das Necessidades dos Prestadores Informais de Cuidados de Saúde. Geriatria. XIII (127), 33-49. Moscovici, S. (1987). Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar. Portugal, Decreto-Lei nº 101 (2006). Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados. Diário da República, p.3857-3865. Paúl, M.C. (1997). Lá para o fim da vida. Idosos, família e meio ambiente. Coimbra: Livraria Almedina. Paúl, C., & Fonseca, A.M. (2005). 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COMPARISON OF QUALITY OF LIFE OF ELDERLY RESIDENTS IN RURAL AND URBAN Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1, Adília Maria Pires da Silva Fernandes1, Celeste da Cruz Meirinho Antão1, Carlos Pires Magalhães1, Maria de Fátima Pereira Geraldes2. 1 2 Escola Superior de saúde, NIII, Instituto Politécnico de Bragança. Enfermeira ULSNE, UDEP-Unidade Hospitalar de Bragança. 170 Resumo É real, a crescente representatividade da população idosa. A incidência das doenças crónicas aumenta à medida que a população envelhece, reforçando o seu papel na morbilidade e mortalidade (World Health Organization, 2004). Muitos estudos se têm dedicado a estudar a velhice, sob novas óticas, nomeadamente a qualidade de vida (Martins, Albuquerque, Gouveia, Rodrigues & Neves, 2007). A avaliação da qualidade de vida constitui um instrumento fundamental e indispensável ao planeamento em saúde, em especial, pela sua relação com a adoção de comportamentos promotores de saúde (Araújo, Ramos & Lopes, 2011). Este estudo pretendeu comparar a avaliação da qualidade de vida subjetiva, enquanto perceção individual em idosos residentes em meio urbano e rural de duas freguesias do Nordeste Transmontano de Portugal. Foi utilizado como instrumento de colheita de dados o 36-item shortform health survey (SF-36) (Ferreira & santana, 2003), ao qual foram associadas variáveis sociodemográficas e clínicas. A colheita de dados decorreu em 2012. Foi realizado um estudo comparativo, correlacional e transversal do tipo quantitativo. Neste estudo, foi constituída uma amostra de conveniência, onde participaram 54 idosos, dos quais 32 com residência urbana e 22 rural. Em termos médios os escores de qualidade de vida são superiores nos idosos residentes em zona rural, quer para as dimensões físicas, quer para as psicologicas. Estas diferenças são estatisticamente significativas em relação ao sexo, idade, recurso utilizado quando necessitam de ajuda e à existência de patologias. Verificou-se um exceção, com relação inversa e significativa em relação ao rendimento. Lopes em 2004 e Ferreira em 2009 encontraram resultados concordantes com os da presente investigação, afirmando que a qualidade de vida dos idosos é superior nos residentes em meio rural. Palavras-chave: Qualidade de vida; Idosos; Meio rural; Meio urbano. Abstract It is real the growing representation of the elderly population. And the increase of incidence of chronic diseases, with the population ages, reinforcing its role in morbidity and mortality (World Health Organization, 2004). Many studies have been devoted to studying aging, under new optics, namely the quality of life (Martins, Albuquerque, Gouveia, & Neves Rodrigues, 2007). The evaluation of quality of life is a key and essential to health planning, in particular in the relationship with the adoption of health-promoting behaviors (Araujo & Ramos Lopes, 2011). This study aimed to compare the assessment of subjective quality of life, in the elderly living in two areas urban and rural of northeastern Portugal. Was used as an instrument of data collection the 36-item short-form health survey (SF-36) (Ferreira & Santana, 2003), associated the sociodemographic and clinical variables. Data collection took place in 2012. We conducted a comparative study, correlational and transversal with a quantitative analysis. In this study, the sample is formed of convenience, where 54 elderly participated, of which 32 with urban residence and 22 rural. On average the scores of quality of life is higher in the elderly living in rural areas, for all the physical and psychological dimensions. These differences are statistically significant in relation to sex, age, resource used when they need help and in the existence of pathologies. There was exception, with a inverse relationship in relation to income. Lopes (2004) and Ferreira (2009) found results consistent with the present investigation, saying that the quality of life of elderly residents is higher in rural areas. Keywords: Quality of life; Elderly; Environment rural; Environment urban. 171 Introdução O aumento da população idosa no mundo é uma realidade, com destaque desde o início da década de 50, do século XX. Em Portugal, à semelhança do panorama mundial, o envelhecimento populacional também tem vindo a aumentar, prevendo-se que a proporção de idosos aumente de 17%, em 2007, para 32% em 2050 (Instituto Nacional de Estatística, 2008). A incidência das doenças crónicas tem aumentado à medida que a população envelhece, reforçando o seu papel na morbilidade e mortalidade (World Health Organization, 2004). Muitos estudos se têm dedicado a estudar a velhice, sob novas óticas, nomeadamente a qualidade de vida (Martins, Albuquerque, Gouveia, Rodrigues & Neves, 2007). Procurando meios para melhorar a qualidade de vida dessas pessoas e para controlar as morbidades que mais as acometem (Kusomota, Rodrigues, & Marques, 2004). Sob proposta da Organização Mundial de Saúde, a monitorização do nível de saúde das populações deve ser efetuada através da avaliação da perceção do estado de saúde De Bruin, Picavet & Nossikov, 1996). A perceção do estado de saúde e a qualidade de vida relacionada com a saúde são entendidos inúmeras vezes como sinónimos, constituindo atualmente um dos indicadores positivos mais usados em saúde, uma vez é descrito como um ótimo preditor de morbilidade e mortalidade (Idler & Benyamini, 1997; Bath, 2003). A avaliação da qualidade de vida constitui um instrumento fundamental e indispensável ao planeamento em saúde, em especial, pela sua relação com a adoção de comportamentos promotores de saúde (Araújo, Ramos & Lopes, 2011). Um dos instrumentos mais utilizados na avaliação da perceção do estado de saúde é o questionário 36-item short-form health survey (SF-36), tanto a nível nacional como internacional. Estas avaliações têm sido efetuadas tanto de forma genérica como específica, nomeadamente nos idosos (Ford, Spallek & Dobson, 2008; Sun et al., 2007). O estado de saúde é resultado da adoção de comportamentos promotores de saúde. O local de residência é também um dos condicionantes do estado de saúde. No entanto, não existe grande consenso no que respeita às contribuições deste fator ao nível do estado de saúde. Uns atribuem aos idosos residentes em meio rural baixos rendimentos e maior risco de efetuarem uma alimentação nutricionalmente pobre (Marshall, Stumbo, Warren & Xie, 2001), uma vida mais sedentária (Fogelholm, Valve, Absetz, et al. 2006) e sem oportunidades de participação em programas de exercício físico regular. Outros afirmam existirem geralmente 172 piores níveis de saúde em meio urbano (Watt, Franks & Sheldon, 1994), consequência muitas vezes de um meio ambiente mais degradado e de uma vida menos natural. O objetivo deste estudo pretendeu comparar a avaliação da qualidade de vida subjetiva, enquanto perceção individual em idosos residentes em meio urbano e rural de duas freguesias do Nordeste Transmontano de Portugal. Identificando a relação entre as variáveis sociodemográficas e clínicas com a qualidade de vida. Método Foi realizado um estudo comparativo, correlacional e transversal do tipo quantitativo. Para a colheita de dados foi utilizado o instrumento denominado 36-item short-form health survey (SF-36) (Ferreira & santana, 2003), é um instrumento genérico, constituído por 8 dimensões (função física, desempenho físico, dor, saúde geral, função emocional, desempenho emocional, função social e vitalidade). Ao qual foram associadas variáveis sociodemográficas (género, idade, nível de instrução, estado civil, situação familiar, recurso utilizado quando necessita e rendimento) e clínicas (presença de doenças). A colheita de dados decorreu em 2012. Foi efetuado um contacto pessoal com todos os idosos. Foram apresentados os objetivos e propósitos da investigação, foi explicada a importância da contribuição de cada um, realçando o carácter voluntário da participação, a garantia de confidencialidade, disponibilidade de esclarecimento de qualquer dúvida e agradecimento pela participação. A colheita de dados foi precedida da obtenção do consentimento informado. Neste estudo, foi constituída uma amostra de conveniência, onde participaram 54 idosos (de duas freguesias, uma rural e uma urbana do Nordeste Transmontano), dos quais 32 com residência urbana e 22 com residência rural e que voluntariamente aceitaram participar no estudo. Resultados/Discussão Amostra maioritariamente feminina (58%), com idades compreendidas entre 65 e 98 anos, eram casados aproximadamente 39%, com baixo nível de instrução, possuem habilitações literárias até ao ensino básico aproximadamente 70% dos inquiridos. Vivem sós cerca de 18% e mais de 57% dos idosos não refere a família como recurso a usar quando necessita de ajuda (Quadro 1). 173 Quadro 1 – Caracterização sociodemográfica e Clínica da amostra Amostra - 54 idosos Idade Sexo M/F Nível de Instrução Analf./Sabe ler escrev Ensino Básico Ensino Secundário Médio/Superior Situação familiar Casado c/ ou s/ registo Solteiro/viúvo Separado/divorciado Agregado familiar Vive só Vive com 2 ou mais pessoas Recurso de ajuda utilizado Familiares Amigos Profissionais de saúde Deus Ninguém Rendimentos <= 250€ 250€ - 500€ >500€ Doenças Cardiovasculares Diabetes Osteoarticulares Neoplasias Pulmonares outras Rural - 22 idosos Urbana – 32 idosos Min.65/Max.98 anos Média = 74 anos Desv. Padrão = 4,5 Nº Casos % 9/13 40/60 Min.65/Max.90 anos Média = 73 anos Desv. Padrão = 4,4 Nº Casos % 14/18 43,5/56,5 5 12 4 1 23 55 18 4 5 16 6 5 15,5 50,5 18,5 15,5 8 13 1 36 60 4 13 17 2 40,5 53 6,5 3 19 13,5 86,5 7 25 22 78 11 5 1 5 0 50 23 4 23 0 12 4 9 5 2 38 12,5 27,5 15,5 6,5 20 2 0 91 9 0 23 4 5 72 12,5 15,5 6 4 8 2 2 0 27,5 18 36,5 9 9 0 13 10 4 2 0 3 41 31 12,5 6,5 0 9,5 Relativamente às patologias referidas, as cardiovasculares (41%) e a diabetes (31%) apresentam maior incidência na população urbana, no meio rural são as osteoarticulares (36,5%) e cardiovasculares (27,5%), aquelas que têm maior representatividade.Em termos médios os escores de qualidade de vida são superiores nos idosos residentes em zona rural, estas diferenças são significativas, quer para as dimensões físicas, quer para as psicológicas (Quadro 2). 174 Quadro 2 - Caracterização da perceção do estado de saúde: SF-36v2 em relaçãoà zona de residência por dimensão n=54 Dimensão Média DP Mediana Zona rural Física 72,56 12,45 72,49 Teste Anova f = 4,400 p = 0,000 n=22 Psicológica 73,65 14,87 73,79 f = 3,628 p = 0,000 Zona Urbana Física 68,53 14,54 68,99 f = 4,105 p = 0,000 n=32 Psicológica 65,84 13,54 65,36 f = 2,999 p = 0,000 Encontramos também diferenças estatisticamente significativas em relação ao sexo, idade, recurso utilizado quando necessitam de ajuda, ao rendimento e à existência de doenças (Quadro 3). Os idosos que apresentam melhores scores de perceção do estado de saúde são os do sexo masculino, os mais novos, aqueles que recorrem à família quando necessitam, os de maiores rendimentos e aqueles que referem menor número de doenças. De notar, que relativamente à situação e agregado familiar os idosos que apresentam melhores pontuações são os casados e os que não vivem sós, embora o nível de significância seja marginal. Lopes em 2004 e Ferreira em 2009 encontraram resultados concordantes com os da presente investigação, afirmando que a qualidade de vida dos idosos é superior nos residentes em meio rural. Beltrame, Cader, Cordazzo e Dantas (2012) também obtiveram melhores pontuações de qualidade de vida no grupo rural em relação à saúde e aos aspetos sociais. Quadro 3 – Perceção do estado de saúde: SF-36v2 em relação às variáveis sociodemográficas e clínica na amostra total de idosos Residência Variável Sexo Idade Nível de instrução Situação familiar Agregado familiar Recurso utilizado Rendimentos Doenças Rural / Urbana p p 0,003 0,000 0,232 0,058 0,051 0,000 0,001 0,000 0,002 0,000 0,267 0,057 0,052 0,000 0,002 0,000 175 Conclusões A diminuição da qualidade de vida relacionada com a saúde é sentida à medida que os idosos pretendem realizar as suas atividades da vida diárias ou o trabalho habitual, devido a muitas vezes a problemas na saúde física ou emocionais e a uma perda nas relações sociais. São os idosos residentes no meio rural, aqueles que apresentam melhores médias nas pontuações de qualidade de vida. Tanto no que respeita ao desempenho físico como no desempenho mental. Verificamos relação significativa das variáveis sociodemográficas e clinica com a qualidade de vida dos idosos (sexo, idade, a família, o rendimento e a existência de doenças), consideradas determinantes da qualidade de vida relacionada com a saúde dos idosos. No meio rural, a continuação de alguma atividade e a presença contínua de familiares ou vizinhos, constituem fatores determinantes do envelhecimento com qualidade (Araújo 2011). Referências Bibliográficas Araújo, J., Ramos, E. & Lopes, C. (2011). Estilos de vida e percepção do estado de saúde. Em idosos Portugueses de zonas rural e urbana. Act Med. Port., 24 (S2), pp. 79-88. Bath, P.A. (2003). Differences between older men and women in the self-rated healthmortality relationship. Gerontologist; 4, pp.387-95. Beltrame, V., Cader, S.A., Cordazzo, F., & Dantas, E.H.M. (2012). Qualidade de vida de idosos da área urbana e rural do município de Concórdia, SC. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 15 (2), pp.223-232. 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Fogelholm, M., Valve, R., Absetz, P., Heinonen, H., Uutela, A., Patja, K., Karisto, A., Konttinen, R., Mäkelä, T., Nissinen, A., Jallinoja, P., Nummela, O., & Talja, M. (2006). Rural-urban differences in health and health behaviour: a baseline description of a community healthpromotion programme for the elderly. Scand J Public Health, 34, pp. 632-40. Ford, J., Spallek, M., & Dobson, A. (2008). Self-rated health and a healthy lifestyle are the most important predictors of survival in elderly women. Age Ageing, 37, pp.194-200. Instituto Nacional de Estatística (2008). Estatísticas Demográficas 2007. Lisboa: INE. Lopes, P.A.P.L. (2004). Qualidade de vida e suporte social do idoso no meio rural e no meio urbano: um estudo comparativo e correlacional. Tese de Mestrado. Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). 176 Martins, C.R., Albuquerque, F.J.B., Gouveia, C.N.N.A., Rodrigues, C.F.F. & Neves, M.T.S. (2007). Avaliação da Qualidade de vida subjectiva dos idosos: uma comparação entre os residentes em cidades rurais e urbanas. Estud. Interdiscip. Envelhec., Porto alegre; V. II, pp. 135-154. Kusomota, L., Rodrigues, R.A.P., & Marques, S. (2004). Idosos com insuficiência renal crônica: alterações do estado de saúde. Rev. Latino-Am. Enfermagem [online]. 2004, vol.12, n.3, p. 525-532. Consultado em 2012-12-07, em: http://dx.doi.org/10.1590/S0104-11692004000300011 Idler, E.L., & Benyamini, Y. (1997). Self-rated health and mortality: a review of twenty-seven community studies. J Health Soc Behav, 38: pp.21-37. Marshall, T.A., Stumbo, P.J., Warren, J.J., & Xie, X.J. (2001). Inadequate nutrient intakes are common and are associated with low diet variety in rural, community-dwelling elderly. J Nutr, 131, pp. 2192-6. Sun, W., Watanabe, M., Tanimoto, Y., Shibutani1, T., Kono, R., Saito, M., Usuda, K., & Kono, K. (2007). 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Tel.: (+351) 273 330 950 3 Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII) 178 Resumo O desconhecimento do processo de envelhecimento está na origem de muitos dos estereótipos de cariz negativo. Este é considerado um fenómeno individual, heterogéneo, multidimensional e multidirecional (Baltes, 1987; Birren, 1995; Sánchez & Ulacia, 2005) à semelhança de outras etapas do ciclo vital, nesta podem surgir quer perdas, quer ganhos. Pretende-se com este estudo, avaliar o conhecimento dos estudantes do 1º ano de enfermagem no âmbito do envelhecimento, e facultar os resultados à comunidade científica visando a desmistificação de conceções erradas no âmbito da temática. Optou-se por um estudo quantitativo, descritivo e transversal. Através de uma amostragem não probabilística acidental obteve-se uma amostra de 42 estudantes do 1º ano, 2º semestre, do curso de licenciatura em enfermagem, de uma escola superior de saúde, no ano letivo 2010/2011. A recolha de dados foi efetuada através de um formulário elaborado para o efeito, cujo constructo teve em consideração a bibliografia sobre a temática, bem como os estudos de investigação produzidos neste âmbito. A nossa amostra revelou desconhecer alguns conteúdos que se traduzem em estereótipos negativos. Palavras-chave: Conhecimentos; Estudantes; Envelhecimento. Abstract Ignorance on the aging process is the origin of many negative stereotypes associated with it. Aging is considered an individual, heterogeneous, multidimensional and multidirectional phenomena (Baltes, 1987; Bierren, 1995; Sánchez & Ulacia, 2005) as well as other stages of the vital cycle. It can bring gains or losses. With this study we intended to evaluate the knowledge of the 1st year nursery students on the aging process, and provide the results to the scientific community in order to demystify the wrong conceptions associated with it. It was opted for a quantitative, descriptive and universal study. Through a non-probabilistic accidental sampling process, it was obtained a sample of forty-two 1st year, 2nd semester nursery students of a superior health school, in the year 2010/2011. The data gathering process was executed using a formulary elaborated for that purpose. Its construction had in consideration the bibliography on the theme as well as the studies produced on this subject. Our sample revealed unawareness of some contents that translate into negative stereotypes. Keywords: Knowledge; Students; Aging. 179 Introdução O conceito de envelhecimento desenvolveu-se tendo por base uma pluralidade de elementos tais como: os valores, os padrões de comportamento, o sistema moral, os costumes e as experiências prévias de cada um, sendo que estas resultam da formação dos sujeitos e são fruto do seu contacto social (Almeida, 1999). Para Berger e Mailloux-Poireier (1995), o desconhecimento do processo de envelhecimento está na origem de muitos dos estereótipos e mitos, que associam a velhice “à doença, ao aborrecimento, ao egoísmo, à impotência sexual, à rigidez de carácter, às rugas e aos cabelos brancos” (p. 67). Sánchez e Ulacia (2005) alertam-nos para o facto de que um dos principais contribuintes para a construção social da velhice advém erradamente da representação mental da mesma como um período de deterioração e regressão próprio do modelo biológico, ao considerar que todas as capacidades (físicas, cognitivas, de personalidade, entre outras) seguem uma única direção (são unidirecionais), são universais e irreversíveis. Atualmente sabemos que, enquanto umas capacidades podem sofrer algum grau de deterioração, outras mantêm-se estáveis e outras podem até mesmo enriquecer. O processo de envelhecimento é pois um fenómeno individual, heterogéneo, multidimensional e multidirecional (Baltes, 1987; Birren, 1995; Sánchez & Ulacia, 2005), à semelhança de outras etapas do ciclo vital, na velhice podem surgir perdas ou ganhos. Segundo Nuno Grande (2002, in prefácio Costa, 2002), a pessoa idosa possui uma biologia característica e distinta da do adulto, pelo que “não pode ser considerado no restrito de um padrão de atitudes de diagnóstico e terapêutica, convencionadas sem referência às variáveis próprias da velhice” (p. 14). Pelas considerações tecidas torna-se imperativo que os atores que no âmbito da sua atividade profissional estão mais próximo dos idosos, no decurso do seu processo formativo adquiram competências específicas, pois a especificidade dos cuidados a prestar à pessoa idosa assim o vão exigir. Nesta senda, Santos (2000) particulariza quando defende que os curricula dos cursos de enfermagem devem contemplar o estudo do cuidado da pessoa idosa, assim como dos elementos que compõem o processo de trabalho da Enfermagem Gerontológica “para que as futuras profissionais cuidem dos idosos com competência, procurando melhorar a sua qualidade de vida e ajudando-os a acrescentarem, não dias às suas vidas, mas vida «viva» e agradável aos seus dias” (p. 84). Material e Métodos Objetivos - Avaliar o conhecimento dos estudantes do 1º ano de enfermagem no âmbito do envelhecimento. - Facultar os resultados à comunidade científica visando a desmistificação de conceções erradas no âmbito da temática. 180 Participantes A população em estudo integrou os estudantes do 1º Ano, 2º semestre, do curso de licenciatura em enfermagem, de uma escola superior de saúde, no ano lectivo 2010/2011. Esta população era constituída por 51 estudantes, dos quais 41 eram do sexo feminino (80,39%). Optamos por uma amostragem não probabilística, por conveniência, a quem aplicamos o nosso instrumento de recolha de dados. Obteve-se Ob se uma amostra de 42 indivíduos conforme caracterização que se segue. A nossa amostra (gráfico 1) é constituída por 35 indivíduos do sexo feminino (83,33% da amostra) e 7 do sexo masculino (16,67% da amostra). Esta distribuição verificada no sexo da nossa amostra reflete a predominância, empiricamente constatável nas últimas décadas, do facto dos estudantes do ensino superior serem maioritariamente do sexo feminino, e, por outro lado, do curso de enfermagem ser ainda tradicionalmente uma licenciatura mais frequentada por raparigas. Gráfico 1 – Distribuição da amostra segundo o sexo A idade dos respondentes, como se constata na tabela 1, varia entre os 18 e 32 anos. A média de idades situa-se se nos 19,55±2,481 anos. Estas idades verificadas no 1º ano do curso superior poderão ser explicadas pela frequência dos estudantes trabalhadores trabalhadores e do regime especial maiores de 23 anos. Tabela 1 – Estatísticas descritivas da variável idade Idade dos estudantes N Mínimo Máximo Amplitude Média Desvio Padrão 42 18 32 14 19,55 2,481 Nove dos indivíduos que constituem a nossa amostra (21,4%) já frequentaram outro curso, destes quatro são provenientes de cursos de áreas afins mais precisamente, três de gerontologia e um de educação social. 181 Dos 42 estudantes em análise, análise, 10 (23,8%) vivem com idosos no seu local de proveniência (gráfico 2). Destes, sete possuem no seu agregado familiar uma pessoa idosa e três vivem com duas. Gráfico 2 – Distribuição da amostra em função de residir ou não com idosos Quando questionadoss acerca da perceção do estado de saúde de cada um dos idosos com quem viviam, constatou--se se que a maioria (50%) a considerou razoável, enquanto 10% a classificou de má. Desenho De forma a alcançar os objetivos traçados, optamos por um estudo observacional observaciona descritivo e transversal. Instrumentos A recolha de dados foi efetuada através de um questionário, constituído por duas partes, elaborado para o efeito, em que o seu constructo atendeu a bibliografia sobre a temática e a estudos de investigação produzidos produzidos neste âmbito. A primeira parte é composta por questões que tem como desígnio caracterizar a amostra. A segunda parte visa avaliar o conhecimento dos estudantes relativo ao envelhecimento, é constituído por dez asserções, todas falsas. Foi solicitado aos estudantes uma tarefa de avaliação em que tinham de indicar em cada asserção se era verdadeira ou falsa. Procedimentos Os questionários foram aplicados na primeira aula de uma unidade curricular no âmbito 182 da enfermagem gerontológica e geriátrica. O seu preenchimento por parte dos estudantes foi voluntário e esclarecido. Os objetivos e finalidades do estudo foram transmitidos assim como foi clarificada a importância da contribuição de cada participante, o compromisso de garantia de confidencialidade dos dados e a disponibilidade para esclarecimento de qualquer dúvida. Para o tratamento dos dados foi utilizado o programa SPSS versão 18. Para a análise dos dados recorreu-se à estatística descritiva, nomeadamente frequências absolutas (n) e relativas (%), medidas de tendência central e medidas de dispersão. Recorreu-se à estatística analítica para verificar a relação entre as variáveis “sexo” e “residir ou não com idosos” com a pontuação total obtida no questionário relativo ao envelhecimento. Resultados Como se pode observar na tabela 2, a classificação média alcançada pela nossa amostra no questionário no âmbito do envelhecimento, foi de 13 valores (numa classificação de 0-20 valores), enquadrando-se na categoria “Suficiente”. O valor mínimo obtido foi de 6 valores, o máximo de 18, correspondendo a uma amplitude de 12 valores. Tabela 2 - Pontuação total obtida no questionário no âmbito do envelhecimento Pontuação Total N Mínimo Máximo Amplitude Média Desvio Padrão 42 6 18 12 13 3,036 No respeitante às diferentes asserções do questionário, constata-se pela tabela 3 que 95,2% dos estudantes respondeu incorretamente à questão 2 “Devido ao processo de envelhecimento natural que ocorre ao nível cerebral, a maior parte das pessoas de idade avançada acaba por apresentar uma perda cognitiva elevada”, assim como à questão 3 “As pessoas idosas assemelham-se muito nas suas características físicas”, onde verificamos uma percentagem de erro de 71,4% e ainda à questão 4 “As pessoas idosas assemelham-se muito nos seus comportamentos”, com 50,0% de respostas incorretas. Pela positiva, destacamos que a totalidade dos estudantes acertou na questão 8 “Cuidar de uma Pessoa Idosa é o mesmo que Cuidar de uma Pessoa Adulta não Idosa”. 183 Tabela 3 - Pontuação total obtida no questionário no âmbito do envelhecimento Corretas Asserções Incorretas n % n % 32 76,2 10 23,8 2 4,8 40 95,2 3 - As pessoas idosas assemelham-se muito nas suas características físicas 12 28,6 30 71,4 4 - As pessoas idosas assemelham-se muito nos seus comportamentos 21 50 21 50 37 88,1 5 11,9 34 81 8 19 34 81 8 19 42 100 0 0 32 76,2 10 23,8 28 66,7 14 33,3 1 - A forma como se envelhece é universal, sendo idêntica de homem para homem 2 - Devido ao processo de envelhecimento natural que ocorre ao nível cerebral, a maior parte das pessoas de idade muito avançada acaba por apresentar uma perda cognitiva percetível 5 - O processo de envelhecimento dos vários sistemas do nosso organismo tem início na mesma altura de vida 6 - O processo de envelhecimento ocorre em simultâneo a nível de todos os sistemas do organismo (cérebro; coração; ósseo, articular, entre outros) 7 - Uma doença numa Pessoa Idosa manifesta-se da mesma forma que numa Pessoa Adulta não Idosa 8 - Cuidar de uma Pessoa Idosa é o mesmo que Cuidar de uma Pessoa Adulta não Idosa 9 - Uma mesma doença numa Pessoa Idosa e numa Pessoa Adulta não Idosa pressupõe a mesma dosagem de medicação, ao contrário das crianças 10 - De uma forma geral, cuidar de pessoas idosas é o mesmo que cuidar de crianças de tenra idade De destacar a não existência de relação significativa no cruzamento das variáveis “sexo” e “residir ou não com idosos no seu local de proveniência” com a pontuação total obtida no formulário. Discussão/Conclusões A nossa amostra revelou desconhecimento em determinados conteúdos que se traduzem em estereótipos negativos: - em idades avançadas o envelhecimento natural acarreta perda cognitiva elevada. Berger e Mailloux-Poireier (1995), Belsky (2001), entre outros, referem que o envelhecimento natural não produz alterações de relevo a esse nível, salientando-nos que se estas surgem deve-se ao envelhecimento patológico. 184 - as pessoas idosas assemelham-se muito nas suas características físicas. Tal consideração nega a variabilidade interindividual e a heterogeneidade que se incrementam com o passar dos anos e que pode ocorrer mesmo em idades avançadas, como nos salientam Vega e Bueno (2000). Entendemos como forma de colmatar estas lacunas, ser pertinente incluir conteúdos/programas que promovam uma visão positiva acerca do envelhecimento, da velhice e da pessoa idosa, tal como o preconizado desde 2002 no Plano de Ação para o Envelhecimento ditado pelas Nações Unidas. Como refere Tavares, Ribeiro, Silva e Montanholi (2008), o conhecimento sobre o processo de envelhecimento humano nas suas diferentes dimensões dotará os formandos de qualificações, no sentido de com competência assistirem a um número crescente de idosos nas suas práxis. Referências Bibliográficas - Almeida, M.L. (1999). Crenças acerca do envelhecimento humano. Revista Referência, 3, 7-14. - Baltes, P. B. (1987). Theoretical Propositions of Life-Span Developmental Psychology: On the Dynamics Between Growth and Decline. Developmental Psychology, 23, 611-626. - Belsky, J. (2001). Psicología del envejecimiento. Madrid: Thomson Editores Spain. - Berger, L., & Mailloux-Poireier, D. (1995). Pessoas idosas – uma abordagem global. Lisboa: Lusodidacta. - Birren, J. (1995). Noveaux modèles du vieillissement: dês efforts créatures et de besoin dáller plus loin. La Revue Canadienne du Vielliessement, 14, 4-6. - Costa, M. A. (2002). Cuidar Idosos. 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Madrid: Editorial síntesis, S.A. 185 16. O IDOSO E A MEDICAÇÃO 16. THE ELDERLY AND MEDICATION Adília Maria Pires da Silva Fernandes134; Carlos PiresMagalhães134; Celeste da Cruz Meirinho Antão134; Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1134; Maria Augusta Pereira da Mata1134; Maria Helena Pimentel234 1 Professor Adjunto, PhD. 2 Professor Coordenador, PhD. 3 Escola Superior de Saúde do IPB. Avenida D. Afonso V - 5300-121 Bragança. Tel.: (+351) 273 330 950 4 Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII) 186 Resumo Introdução: Atualmente uma grande percentagem da população depara-se com a necessidade de consumir medicação face ao crescimento acentuado das doenças, necessitando adotar medidas para as controlar e tratar. Esta realidade é acompanhada da toma de vários fármacos em simultâneo, mas, nem sempre lhe é dispensada a atenção devida. A automedicação pode acarretar diversas consequências como resistência bacteriana, dependência e aumento do risco para determinadas neoplasias (Ribeiro et al., 2010). Objetivos: Avaliar o comportamento dos indivíduos na toma da medicação e determinar a prevalência da poli e automedicação. Material e Métodos: Estudo quantitativo, descritivo e transversal. Obteve-se uma amostra não probabilística acidental de 61 indivíduos com 65 ou mais anos. A recolha de dados foi efetuada em maio de 2011 através de um questionário elaborado para o efeito. Resultados: A média de idades dos inquiridos situa-se nos 75, 52 anos ± 7,9. A amostra é constituída por 49,2% de indivíduos do sexo masculino e 50,8% do feminino. Da totalidade dos inquiridos 39,3% consideram a sua saúde como regular; 37,7% consideram-na má ou muito má e 23% boa ou muito boa. Responderam tomar medicação com prescrição 59 indivíduos, dos quais, 33 referem tomar até quatro medicamentos e 9 responderam tomar cinco ou mais. Dos 5 que responderam tomá-la sem prescrição médica, 4 referem tomar até quatro medicamentos. Da totalidade de inquiridos, 55,7% respondeu tomar sempre o medicamento como está prescrito; 41% procura saber os efeitos secundários dos medicamentos e 60,7% verifica sempre a validade; 73,9% assume tomar os medicamentos até finalizar e 45,9% refere recorrer a serviços/profissionais de saúde quando necessita de esclarecer dúvidas sobre medicamentos. Discussão e Conclusão: Uma elevada percentagem de inquiridos consome medicamentos. Na nossa amostra 8,2% assume tomar medicação sem prescrição médica, valor inferior ao encontrado no estudo realizado por Lopes e Sousa (2002) onde 40% dos inquiridos recorria à automedicação. De salientar que a maioria dos inquiridos respeita a prescrição e toma os medicamentos até ao fim, mesmo quando que se sente melhor, contrariando também os resultados encontrados por Lopes e Sousa (2002). Os inquiridos revelaram, em elevada percentagem, possuir sentido de responsabilidade no que respeita à utilização dos medicamentos e à procura de informação. Palavras-chave: Saúde; Medicação; Idosos. Abstract Introduction: Currently a large percentage of the population is faced with the necessity to consume medication against the sharp growth of diseases, requiring to adopt measures to control and treat. This reality is accompanied by intake of several drugs simultaneously, but it is not always given due attention. Self-medication can cause various consequences such as bacterial resistance, dependence and increased risk for certain cancers (Ribeiro et al., 2010). Objectives: To assess the behavior of individuals in taking the medication and to determine the prevalence of poly and self-medication. Material and Methods: It was opted for a quantitative, descriptive and universal study. Obtained a non-probabilistic sample of 61 individuals accidentally with 65 or more years. Data collection was conducted in May 2011 using a form prepared for this purpose. Results: The average age of respondents is situated in 75, 52 years ± 7.9. The sample consists of 49.2% of males and 50.8% females. Of all respondents 39.3% regard their health as fair, 37.7% consider it bad or very bad and 23% good or very good. Answeredto take prescription medication with 59 individuals, of which 33 187 relate take up to four medications and nine responded to take five or more. Of the 5 who responded to take it without prescription, 4 relate to take up to four medications. Of all respondents, 55.7% answered always take the medicine as prescribed, 41% demand to know the side effects of medications and 60.7% always checks the validity; 73.9% assumes to take medications until finalize and 45, 9% referred ensure services / health professionals when need to answer questions about medications. Discussion and Conclusion: A high percentage of respondents consume medicines. In our sample, 8.2% assumes to take medication without prescription, lower than that found in the study by Lopes and Sousa (2002) where 40% of respondents resorted to self-medication. Note that the majority of respondents regarding the prescription and take the medications until the end, even when it feels better, also contradicting the findings of Lopes and Sousa (2002). Respondents revealed in high percentage, owning a sense of responsibility regarding the use of medications and seeking information. Keywords: Health; Medication; Elderly. 188 Introdução Atualmente uma grande percentagem da população depara-se com a necessidade de consumir medicação face ao crescimento acentuado das doenças, necessitando medidas para as controlar e tratar. Com o envelhecimento podem aumentar as doenças crónicodegenerativas com consequente aumento do consumo de fármacos. Roach (2003, p. 117) cita polifarmácia como o “uso de um número excessivo de medicamentos prescritos e de automedicação que muitas vezes são desnecessários e podem interagir dentro do corpo e causar várias reações adversas”. Outros autores consideram a Polimedicação como o uso excessivo de medicamentos não necessários ou o uso de 5 ou mais fármacos (Frazier, 2005; Williams, 2002 citados por De Santis, 2009). As doses de medicamentos utilizadas em idosos não são iguais às ministradas em adultos, o que explica o aumento de reações adversas nesta faixa etária. A polimedicação é o principal fator de risco de efeitos adversos das drogas, podendo ocorrer devido a disfunções de órgãos, alterações na concentração dos medicamentos, alterações farmacodinâmicas e homeostáticas e doenças associadas (Roach, 2003). Esta realidade associada à automedicação, potencializam o risco de reações adversas e/ou interações medicamentosas que aumentam consoante o número de medicamentos administrados. O risco de interação entre fármacos aumenta exponencialmente com o número dos mesmos, sendo de 6% para o uso de dois fármacos e 50% para o uso de 5 e de quase 100% para oito ou mais (Delafuente, 2003; Wyles & Rehman, 2005 citados por Santos & Almeida, 2010). A idade, o número e a diversidade de medicamentos podem ainda condicionar a adesão ao tratamento das diferentes patologias. Sobre esta problemática, De Santis (2009) acrescenta que quanto maior o número de medicações prescritas, maior o custo económico, menor adesão terapêutica e maior será o risco de interações. A baixa adesão ao tratamento compromete os esforços do sistema de saúde, causa complicações da doença e reduz a qualidade de vida dos doentes (International Council of Nursis, 2009). A automedicação pode acarretar diversas consequências como resistência bacteriana, dependência e aumento do risco para determinadas neoplasias (Ribeiro et al., 2010). Material e Métodos Com o presente estudo pretendeu-se, por um lado, avaliar comportamentos dos inquiridos face à medicação, por outro, determinar a prevalência da poli e automedicação. 189 Recorreu-se a um estudo quantitativo, de carácter observacional, descritivo e transversal (Ribeiro, 2007). A colheita de dados foi efectuada em maio de 2011 através de um questionário elaborado para o efeito e aplicado a indivíduos que participaram nas comemorações do Dia Mundial da Saúde em Bragança, cuja temática foi «Resistência aos antimicrobianos: se não actuarmos hoje, não haverá cura amanhã». O referido questionário inclui variáveis sociodemográficas, clínicas e comportamentais relacionadas com procedimentos atinentes à medicação. Efetuou-se um pré-teste a 7 indivíduos, tendo-se posteriormente reformulado algumas questões. Obteve-se uma amostra não probabilística acidental de 61 indivíduos com 65 ou mais anos. A participação foi voluntária, os inquiridos foram informados dos objetivos da investigação e da garantia de confidencialidade dos dados. Procedeu-se ao esclarecimento de dúvidas e por fim, foi assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. Para o tratamento de dados foi utilizado o programa SPSS versão 17. Na análise da informação foi utilizada estatística descritiva, nomeadamente frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e medidas de dispersão. Resultados A média de idades dos inquiridos situa-se nos 75, 52 anos ± 7,9. A amostra é constituída por 49,2% de indivíduos do sexo masculino e 50,8% do feminino. Da totalidade dos inquiridos e como se pode verificar na tabela 1; 24 (39,3%) consideram a sua saúde como regular; 23 (37,7%) consideram-na má ou muito má e 14 (23%) boa ou muito boa. Tabela 1- Distribuição das respostas, por sexo, segundo a autoperceção de saúde Sexo Muito Má Má Regular Boa Muito Boa Total Masculino 0 7 12 9 2 30 Feminino 3 13 12 3 0 31 3 20 24 12 2 61 Total Verifica-se, observando a tabela 2, que são as mulheres que mais tomam medicação com prescrição médica (n=31). Os homens são os que referem recorrer mais a medicação sem prescrição (n=3). 190 Tabela 2 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo a toma de medicação co m/sem prescrição médica Toma medicação com prescrição médica? Sim Sexo Toma medicação sem prescrição médica? Sim Não Total Não Total Masculino 28 2 30 3 26 29 Feminino 31 0 31 2 28 30 59 2 61 5 54 59 Total Dos 59 idosos que tomam medicamentos com prescrição, 33 referem tomar até quatro medicamentos e 9 responderam tomar cinco ou mais. Para os que tomam até quatro medicamentos e sem prescrição médica as respostas dividem-se equitativamente entre o sexo masculino e feminino (tabela 3). Tabela 3 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o número de medicamentos que tomam com/sem prescrição médica Número de medicamentos que toma com prescrição médica Sexo Masculino Feminino Total Até 4 18 5 ou mais 5 Total Número de medicamentos que toma sem prescrição médica Total 23 Até 4 2 2 15 4 19 2 2 33 9 42 4 4 Na tabela 4 podemos verificar que, no que concerne ao cumprimento do horário da medicação tal como está prescrita, o sexo feminino é o que mais cumpre. Da totalidade de idosos inquiridos, 34 responderam respeitar sempre a prescrição e cinco assumem que o fazem raramente. 191 Tabela 4 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o horário de toma do medicamento Respeita o horário da toma do medicamento tal como está prescrito? Sempre Quase Sempre Raramente 14 5 2 Masculino Sexo Feminino Total Total 21 20 2 3 25 34 7 5 46 No que concerne à verificação da validade dos medicamentos, a nossa amostra revelou, em função do sexo, uma proximidade nos resultados para as classes “Sempre” e “Raramente”. Pode ainda constatar-se que quatro elementos do sexo feminino referiram não ter por hábito realizar essa verificação (tabela 5). Tabela 5 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o hábito de verificar a validade do medicamento Tem por hábito verificar a validade do medicamento? Sempre Raramente Nunca Sexo Total Masculino 18 1 2 21 Feminino 19 1 4 24 37 2 6 45 Total Verifica-se que a procura de informação, quando surgem dúvidas na toma dos medicamentos, recai predominantemente sobre os serviços de saúde em ambos os sexos. O sexo feminino é o que mais procura esclarecer-se com familiares/amigos/vizinhos (n=7). Tabela 6 – Distribuição das respostas, por sexo, segundo o recurso para esclarecer dúvidas relativamente ao medicamento Quando possui dúvidas relativamente ao medicamento que necessita tomar, a quem costuma recorrer? Total Familiar/Vizinho/ Serviço Farmácia Outro Amigo de Saúde 1 14 4 2 21 Masculino Sexo Total Feminino 7 14 3 1 25 8 28 7 3 46 192 Discussão / Conclusão Uma elevada percentagem de inquiridos consome medicamentos. Na nossa amostra, 8,2% assume tomar medicação sem prescrição médica, valor inferior ao encontrado no estudo realizado por Lopes e Sousa (2002) onde 40% dos inquiridos recorria à automedicação. O sexo masculino, embora com pouca diferença, é aquele que mais recorre à automedicação, situação também encontrada nos estudos de Mendes et al., (2004). De salientar que a maioria dos inquiridos respeita a prescrição e toma os medicamentos até ao fim, mesmo quando que se sente melhor, contrariando também os resultados encontrados por Lopes e Sousa (2002). Os inquiridos revelaram, em elevada percentagem, possuir sentido de responsabilidade no que respeita à utilização dos medicamentos e à procura de informação. Neste âmbito os serviços de saúde foram a primeira escolha para o esclarecimento de dúvidas. Esta realidade não foi encontrada em estudos realizados por Mendes et al., (2004), onde as farmácias portuguesas evidenciaram ser um local privilegiado para a recolha de informação. As reacções medicamentosas são frequentes na poulação idosa, cujo risco advem das diferentes patologias e comobilidades, assim como da polimedicação (Relvas, 2006). O referido risco pode ser minimizado com a correcção de alguns erros de automedicação clássica, ao nível da dosagem, do cumprimento da prescrição, da descontinuidade ou continuidade necessária. Parece importante evidenciar os resultados sobre a perceção que a própria pessoa tem do seu estado de saúde. Este estudo revela que as mulheres são as que têm uma pior autoperceção do seu estado de saúde comparativamente com os homens, tal como a investigação realizada por De Santis (2009), onde se verificou que as pessoas com autoperceção do estado de saúde mais elevada utilizaram um menor número de fármacos. Verificou-se, no estudo de De Santis (2009), haver maior prevalência de polimedicação nos homens tal como o encontrado nesta investigação, embora com pequena diferença entre sexos. Os medicamentos por si só, não são capazes, de promover a saúde dos cidadãos. Todo medicamento apresenta risco ao ser consumido, devendo ser usado de forma racional. De acordo com a OMS (2002) mais de 50% de todos os medicamentos são prescritos ou vendidos de forma inadequada e 50% dos usuários utilizam-nos de forma incorreta. Neste sentido, e tal como este Organismo recomenda, para evitar o uso irracional do medicamento é importante 193 supervisionar o tipo de medicamentos, o volume da medicação prescrita e ainda os motivos da prescrição. Referências Bibliográficas De Santis, T.P.L.S. (2009). Polimedicação e Medicação Potencialmente Inapropriada no Idoso: estudo descritivo de base populacional em cuidados de saúde primários. Dissertação de mestrado em Geriatria, apresentada à Universidade de Coimbra, Faculdade de Medicina Coimbra, consultada a 20/09/2012, em: htts://estudogeral.sib.uc.pt/handel/10316/14808. International Council of Nurses (2009). Delivering quality, serving communities: nurses leading chronic care. Geneve: ICN, consultada a 15/09/2012, em: http://www.ghdonline.org/uploads/Delivering_Quality_Serving_Communities__Nurses_Leading_Chronic_Care.pdf Lopes, M. & Sousa, R. M. ( 2002). O idoso e a Medicação “Que dor de cabeça!”. Revista Sinais Vitais, 45, pp. 62-66. Mendes, Z., Martins, A.P., Miranda, A.C., Soares, M.A., Ferreira1, A. P., & Nogueira, A. (2004). Prevalência da automedicação na população urbana portuguesa. Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences, 40 (1), pp. 21-25, consultada a 20/02/2012, em: http://www.scielo.br/pdf/rbcf/v40n1/05.pdf. Relvas, J. (2006). Psicofarmacologia das pessoas idosas In H. Firmino. Psicogeriatria. Coimbra: Psiquiatria Clínica. Ribeiro, J.L.P. (2007). Metodologia de Investigação em Psicologia da Saúde. Porto: Legis Editora. Ribeiro, M. I., Oliveira, A., Silva, H., Mendes, M., Almeida, M., & Silva, T. (2010). Prevalência da automedicação na população estudantil do Instituto Politécnico de Bragança. Revista Portuguesa de Saúde Pública, 28 (1), consultado a 20-09- 2012 em: http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?pid=S087090252010000100005&script=sci_arttext Santos, M., & Almeida, A. (2010). Polimedicação no idoso. Revista de. 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Tel.: (+351) 273 330 950 3 Membro do Núcleo de Investigação e Intervenção do Idoso (NIII) 195 Resumo Este estudo procurou investigar qual o nível de conhecimento dos sinais e sintomas do acidente vascular cerebral. Optou-se por um estudo quantitativo, descritivo e transversal. Participaram 171 indivíduos. Os dados foram recolhidos em 2009, utilizando-se a técnica de amostragem não probabilística acidental. A maioria da amostra revela desconhecimento dos três sinais de alerta primordiais na deteção precoce do acidente vascular cerebral, pois 34 indivíduos (19,9%) selecionaram as três opções corretas relativas aos primeiros sinais de alerta (dificuldade em falar; menos força no braço; desvio da comissura labial), 20 dos respondentes (11,7%) não identificaram corretamente qualquer manifestação. Palavras-chave: Acidente Vascular Cerebral; Avaliação; Conhecimento; Sintomas. Abstract This study was performed to investigate the level of knowledge of the signs and symptoms of stroke. We chose to perform a quantitative, descriptive and transversal study. 171 individuals participated. The data was collected in 2009, using the non-probability accidental sampling technique. Most of the sample revealed ignorance of the three primary warning signs for early detection of stroke, for 34 individuals (19.9%) selected the correct options on the three early warning signs (difficulty speaking, less strength in the arm; deviation of labial commissure), 20 respondents (11.7%) did not correctly identify any manifestation. Keywords: Stroke; Evaluation; Knowledge; Symptoms. 196 Introdução O acidente vascular cerebral (AVC) reporta-se a “um complexo de sintomas de deficiência neurológica, durando pelo menos vinte e quatro horas e resultantes de lesões cerebrais provocadas por alterações da irrigação sanguínea” (Mausner & Bahn, 1990, p.27). A longo prazo na Europa, o AVC constitui a causa mais importante de morbilidade e incapacidade (European Stroke Organization, 2008). Na atualidade, em Portugal, o AVC constitui uma das principais causas de morte. Segundo Correia (2006), tendo por base a avaliação da incidência por regiões, Trás-os-Montes apresenta a maior taxa, 3,05 por mil habitantes. Na opinião de Campos (2007), a maioria das mortes, cerca de 70%, ocorre fora ou antes da chegada ao hospital, tal, deve-se, na ao facto dos indivíduos desvalorizarem os sinais e tardiamente solicitarem ajuda. No tratamento do AVC foram encontrados atrasos no reconhecimento da sintomatologia e em contactar os serviços de emergência. As principais causas responsáveis pelo atraso englobam não só a falta de conhecimento dos sintomas de AVC e do reconhecimento da sua gravidade, como também a negação da doença e a esperança de que seja uma situação passageira (European Stroke Organization, 2008). Por outro lado, a recuperação completa das sequelas do acidente vascular encefálico depende de distintos fatores, onde se destaca o tempo que medeia o aparecimento dos sinais e o seu atendimento (Costa et al., 2010). Tal realça a importância e a necessidade de se consciencializar a população sobre o que é o AVC e de que se trata de uma emergência médica, pelo que a população deve ser orientada no sentido de reconhecer os seus principais sinais e sintomas e como devem proceder perante a sua presença (Pereira, Alvarenga, Júnior & Barbosa, 2009). Foram efectuadas recomendações relacionadas com programas de educação para aumentar a sensibilização da população e a consciencialização dos profissionais de saúde, para a problemática do AVC. Existem várias escalas pré-hospitalares de identificação de AVC, fundamentámos o nosso estudo com base na Escala pré-hospitalar para AVC de Cincinnati (Kothari, Pancioli, Liu, Brott & Broderick, 1999). Os primeiros sinais de alerta apontados são: “dificuldade em falar”; “boca ao lado”; “menos força no braço” (Direcção Geral da Saúde, 2007). Identificar os primeiros sinais e acionar rapidamente os meios de socorro é deveras importante para contribuir para a redução da incidência da morbilidade e da mortalidade desta doença. Em Portugal algumas campanhas promovidas por várias organizações de saúde salientam a 197 importância de saber detectar precocemente os primeiros sintomas com o objectivo de agilizar os recursos para uma intervenção o mais possível. Método Constitui objetivo do presente estudo avaliar o nível de conhecimentos em relação aos sinais de alerta do acidente vascular cerebral. Recorreu-se a um estudo quantitativo, tipo descritivo e transversal (Ribeiro, 2007) A colheita de dados foi efectuada através da aplicação de um questionário aos indivíduos (transeuntes) que voluntariamente aceitaram participar no estudo, com idades superiores a 18 anos, conscientes e orientados no tempo e no espaço, na Rua D. João V, junto à porta oeste do Centro de Saúde de Bragança Unidade da Sé, nos fins-de-semana e feriados do mês de Novembro de 2009 das 9 às 19 horas. Obteve-se uma amostra não probabilística, acidental, de 171 inquiridos. Aplicou-se o questionário, elaborado para o efeito, na presença do investigador, do qual fizeram parte questões sociodemográficas, clínicas, perceção das manifestações do AVC e estilos de vida conducentes à prevenção da doença. Efetuou-se um pré-teste a 20 indivíduos que permitiu a reformulação semântica de algumas questões. A participação foi voluntária, foram esclarecidos os objetivos e finalidades da investigação, efetuado esclarecimento sobre a importância da contribuição de cada participante, o compromisso de garantia de confidencialidade dos dados e a disponibilidade para esclarecimento de qualquer dúvida e assinado o termo de consentimento livre e esclarecido. Para o tratamento de dados foi utilizado o programa SPSS versão 17. Na análise de dados foi utilizada estatística descritiva, nomeadamente frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e medidas de dispersão. Resultados Na caracterização da amostra (quadro 1) são apresentadas as variáveis sexo, idade, estado civil e habilitações literárias. Dos indivíduos estudados 87 são do sexo masculino (50,9%) e 84 do sexo feminino (49,1%). A idade varia entre os 18 e os 81 anos, apresentando uma média de 46 ± 12,62 anos. A classe com maior predomínio reporta-se ao grupo etário dos 40-49 anos (56 indivíduos; 32,7%). Quanto ao estado civil, a maioria dos sujeitos é casado (71,3%), seguindo-se o grupo dos solteiros (12,9%). Analisadas as habilitações literárias, 65 198 indivíduos (38%) possuíam o 12º ano de escolaridade e 41 (24%) o ensino superior. De referir ainda que 4 indivíduos (2,3%) não possuíam o 1º ciclo. Quadro 1 – Caracterização da amostra por sexo, idade em classes, estado civil e habilitações literárias Sexo Masculino Feminino Idade 18-19 20-29 30-39 40-49 50-59 ≥ 60 Estado Civil Solteiro(a) Casado(a) União de facto Viúvo(a) Separado(a) Divorciado(a) Habilitações Literárias Não sabe ler nem escrever Sabe ler e/ou escrever, mas não tem o primeiro ciclo. Básico-1.º ciclo (4.º ano) Básico-2.º ciclo (6.º ano) Básico-3.º ciclo (9.º ano) Secundário (12.ºano) Bacharelato Licenciatura Mestrado Doutoramento Total n 87 84 n 1 10 41 56 38 22 n 22 122 6 4 1 16 n 2 2 22 9 30 65 8 27 2 4 % 50,9 49,1 % 0,6 5,8 24 32,7 22,2 12,9 % 12,9 71,3 3,5 2,3 0,6 9,4 % 1,2 1,2 12,9 5,3 17,5 38 4,7 15,8 1,2 2,3 171 100% Quando questionados sobre a existência de doenças, 133 dos respondentes (77,8%) afirmaram não possuir qualquer doença. Segue-se a apresentação dos resultados relativos à perceção das manifestações do AVC e estilos de vida conducentes à prevenção da doença. Verificámos que 34 dos inquiridos (19,9%) selecionaram as três opções corretas relativas à identificação dos primeiros sinais de alerta (dificuldade em falar; menos força no braço; desvio da comissura labial). De salientar que 20 respondentes (11,7%) não identificaram corretamente qualquer manifestação (fig. 1). 199 Figura 1 - Manifestações selecionadas corretamente Constatámos que a maioria dos inquiridos (61,4%) referiu a diminuição da força no braço e 46,8% a dificuldade ldade em falar, como manifestação de AVC. De salientar ainda que 87 indivíduos (50,9%) da amostra referiram dor no peito como um sintoma de AVC (quadro 2). Quadro 2 – Manifestações atribuídas ao início de um AVC Manifestações atribuídas (solicitado 3 respostas) respo n % Febre 3 1,8 Cefaleias 36 21,1 Dor no peito 87 50,9 Menos força no braço 105 61,4 Dificuldade em falar 80 46,8 Tonturas 44 25,7 Náuseas/vómitos 11 6,4 Dificuldade em respirar 23 13,5 Alterações da visão 24 14 Desvio da comissura labial 90 52,6 Relativamente à procura de informação, 157 indivíduos referiram fazê-lo fazê de acordo com as opções apresentadas no quadro 3, sendo dada a possibilidade de selecionar mais do que uma opção de resposta. Dos respondentes, 111 (64,9%) utilizaram os profissionais de saúde como primeira opção, seguindo-se seguindo se a internet e a televisão com 80 (46,8%) e 69 (40,4%) respetivamente. A opção menos selecionada foi a dos familiares com 3 respostas (1,8%). 200 Quadro 3 – Fontes de informação sobre saúde Fonte de informação n % Rádio 12 7 Jornais 38 22,2 Revistas 62 36,3 Televisão 69 40,4 Internet 80 46,8 Amigos 43 25,1 Profissionais de saúde 111 64,9 Familiares 3 1,8 A dieta saudável, a prática de exercício físico e a ausência de stress stress foram os estilos de vida mais apontados por 156 respondentes (91,23%), 137 (80,12%) e 40 (23,39%) respetivamente. Constatámos que um reduzido número de inquiridos (5,85%) não indicou qualquer opção (fig. 2). Figura 2 - Estilos de vida saudáveis apontados apontados pela amostra para a prevenção do AVC 201 Discussão Da totalidade dos inquiridos 34 seleccionaram as três opções corretas relativas à identificação dos primeiros sinais de alerta. Um estudo realizado nos Estados Unidos, entre 2003 e 2005, que pretendia avaliar o conhecimento sobre os sintomas do AVC, inquiriu por telefone 16104 mulheres não institucionalizadas, com idades entre os 45 e os 54 anos, que se identificaram como Caucasianas, Afro-Americanas ou Hispânicas, mais de 98% das inquiridas identificaram corretamente os referidos sinais (Lutfiyya, Lauren, Asner & Lipsky, 2009). Um estudo realizado em 2008, por regiões, em Portugal, encontrou resultados superiores (82,4%) aos desta investigação, para as três opções corretas (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, 2008). No presente estudo, constatámos que 61,4% da amostra identificou como manifestação de AVC, a diminuição da força no braço e 46,8% a dificuldade em falar. Num estudo realizado na população portuguesa, verificaram que na zona Norte, 87,6% dos respondentes identificaram a dificuldade em falar como sintoma de alerta de AVC, enquanto que 90,8% identificaram a diminuição da força do braço (Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, 2008). Um estudo norte-americano publicado em 2003 por Fisher, Casey e Melnik, revelou a dormência ou fraqueza súbita da face, braço ou perna como um sinal de um AVC, reconhecido por 92% dos adultos. Bell et al. (2009) desenvolveram um estudo na Georgia entre 2006 e 2007, tendo constatado numa primeira avaliação, que 86% dos inquiridos identificaram as alterações da fala; 87% as alterações da face, diminuição da força das pernas e braços, como sinais preditivos de AVC. Após intervenção educativa, numa segunda avaliação, foram encontrados resultados superiores. A dor no peito foi identificada, no nosso estudo, como sintoma de AVC por 50,9% dos respondentes. Este sintoma foi apontado por 40% dos inquiridos num estudo realizado por Ennen e Zerwic (2010) nos Estados Unidos entre 1996 e 2006. Também Lutfiyya, Lipsky, Bales, Cha e McGrath (2008), noutro estudo realizado entre 2003 e 2005 nos EUA, procuraram avaliar, entre outros, o conhecimento acerca dos sintomas que sugerem a presença de um AVC entre homens adultos, verificaram que a dor no peito foi um sintoma incorretamente apontado por uma elevada percentagem dos inquiridos (49,6% dos homens caucasianos e 62,2% dos homens afro-americanos). Lutfiyya et al. (2009) no seu estudo, verificam que aproximadamente 50% das mulheres inquiridas consideraram a dor no peito ou desconforto como um sintoma de AVC. No estudo realizado pelo Instituto Nacional de Saúde 202 Dr. Ricardo Jorge (2008) foram encontrados resultados que corroboram a presente investigação (51,1%). Quando questionados acerca da procura de informação, 64,9% dos respondentes referiram recorrer aos profissionais de saúde. Realçamos as repostas obtidas para os meios de comunicação social. Num estudo elaborado por Gonçalves (2009), visando entre outros, identificar o conhecimento acerca do AVC em pessoas leigas com mais de 60 anos, concluiu que a fonte de informação mais desejada pelos inquiridos para a obtenção de conhecimentos no âmbito do AVC, foi a comunicação social. Os estilos de vida apontados como forma de prevenir o AVC vão de encontro ao referido na literatura. A dieta saudável, a prática de exercício físico e a ausência de stress foram os estilos de vida mais sugeridos. Estes dados vão de encontro aos resultados do estudo de Gonçalves (2009), pois quando questionados sobre como reduzir o risco de AVC, 72,8% dos inquiridos selecionou ser relevante “comer corretamente e fazer exercício regularmente; assegurar que a pressão arterial não está muito elevada; e vigiar os níveis de colesterol”. Numa pesquisa de Ennen e Zerwic (2010), numa amostra norte-americana de 517 elementos obtiveram como fatores de risco mais referidos a hipertensão, colesterol elevado e o fumar com 96,2%, 85,3% e 84,7% respetivamente, dados superiores aos da nossa amostra. Conclusões Apesar de inúmeras campanhas de divulgação, a maior parte da nossa amostra revela desconhecimento acerca da sintomatologia de deteção precoce do AVC, o que nos sugere a necessidade de uma maior reflexão sobre as estratégias a utilizar na divulgação da informação. Apenas cerca de 1/5 da amostra selecionou corretamente as três opções. Quanto às manifestações apontadas incorretamente, a “dor no peito” foi referenciada por mais de 50% dos inquiridos. Embora as cefaleias, as tonturas e as alterações da visão surjam por vezes citadas na literatura como sinais preditivos de AVC, não foram considerados como válidos atendendo aos critérios inicialmente definidos (em função da deteção precoce). Constatou-se ainda que os inquiridos não identificam na globalidade os estilos de vida conducentes a prevenção do AVC. No entanto os estilos de vida identificados pelos nossos respondentes encontram-se citados na literatura. 203 Referências Bibliográficas - Bell, M., Lommel, T., Fischer, J.G., Lee, J.S., Reddy, S., & Johnson, M.A.(2009). Improved recognition of heart attack and stroke symptoms after a community-based intervention for older adults, Georgia, 2006-2007. Prev Chronic Dis, 6(2), A41. Consultado a 11 de agosto de 2010. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2687847/?tool=pubmed - Campos, A.C. (2007). Portal da Saúde. Divulgação da campanha das Vias Verdes Coronárias e AVC do Alentejo: Intervenção do Ministro da Saúde na divulgação da campanha das Vias Verdes Coronárias e AVC do Alentejo. Consultado a 10 de novembro de 2009. 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ADHERENCE TO DIET IN ELDERLY PATIENTS ON DIALYSIS Eugénia Maria Garcia Jorge Anes1, Maria Augusta Pereira da Mata1, Maria Helena Pimentel1. 1 Escola Superior de Saúde, NIII, Instituto Politécnico de Bragança. 206 Resumo O envelhecimento populacional constitui um dos determinantes que justificam o aumento do número de doentes em dialise (Kusumoto, Marques, Haas & Rodrigues; 2008).A insuficiência renal crónica emerge atualmente como uma epidemia em crescimento (Madeiro, Mechado, Bonfim, Braqueais & Lima; 2010). As limitações e complicações são de vária ordem. A adesão terapêutica constitui um determinante primário da efetividade do tratamento (Cramar, 1998; WHO, 2002). A repercussão positiva da adesão sobre o estado de saúde nos doentes em diálise inclui ganhos diretos relacionados com o menor uso dos serviços de saúde, menores gastos e ganhos indiretos relacionados com a melhor preservação da qualidade de vida em geral. O regime alimentar exige fortes restrições, implicando o seu incumprimento, nefastas implicações ao nível do estado de saúde do doente renal. Nesta investigação pretendemos avaliar o nível de adesão à dieta dos idosos em hemodiálise e verificar a sua relação com as variáveis sociodemográficas e clínicas. É um estudo não experimental, transversal e analítico. Desenvolvido numa amostra de 150 doentes em hemodiálise em cinco serviços de diálise do Norte de Portugal. A colheita de dados decorreu em 2007. O instrumento de colheita de dados utilizado para caracterização da população foi o RAAQ (Renal Adherence Attitudes Questionnaire), ao qual foram associadas questões sociodemográficas e clínicas. A amostra é constituída por 150 participantes, é maioritariamente masculina (58%), com idades compreendidas entre os 65 e os 88 anos. A grande maioria são viúvos (60%), com um nível de instrução e rendimentos muito baixos, com 39% de analfabetos e 32 de doentes com rendimentos abaixo de 250 euros. O tempo de tratamento varia entre seis meses e 20 anos. Cerca de 65% dos doentes afirma ser portador de outras doenças, sendo a diabetes a mais referida (49%). Todos os inquiridos referem complicações da doença. Foram encontradas diferenças entre os escores médios de adesão em relação à idade, ao tempo em diálise, doenças associadas e complicações com significância estatística em todas as dimensões do RAAQ.O doente idoso apresenta níveis de adesão superiores, quando comparado com a população geral em diálise (Anes, 2011). Palavras-chave: Adesão à dieta; Insuficiente renal crónico; Diálise. Abstrat Population aging is one of the determinants that justify the increased number of patients on dialysis (Kusumoto, Marques, Haas & Roberts, 2008). The chronic renal failure currently emerges as a growing epidemic (Madeiro, Mechado, Bonfim, Braqueais & Lima; 2010). The limitations and complications are of the various kinds. The adherence is a primary determinant of treatment effectiveness (Cramar, 1998; WHO, 2002). The positive impact of adherence on health status in dialysis patients includes direct gains related to lower use of health services, lower costs and indirect gains related to better preservation of quality of life in general. The diet requires strong restrictions, implying their noncompliance, adverse implications for the health status of the patient's kidney. In this research we intend to evaluate the level of adherence to the diet of the elderly on hemodialysis and verify their relationship to sociodemographic and clinical variables. It is a non-experimental, cross-sectional analytical. Developed in a sample of 150 hemodialysis elderly patients, in five dialysis services in northern Portugal (2007). The data collection instrument used to characterize the population was the Renal Adherence Attitudes Questionnaire (RAAQ), which were associated with sociodemographic and clinical issues. 207 The sample consisted of 150 participants, is mostly male (58%), aged between 65 and 88 years. The vast majority are widowed (60%), with a level of education and very low incomes, with 39% illiterate and 32 patients with incomes below 250 euros. The treatment time varies between six months and 20 years. About 65% of patients having other diseases, diabetes being the most reported (49%). All respondents related complications of the disease. Differences were found between the mean values of acceptance in relation to age, time on dialysis, associated diseases and complications, with statistical significance in all dimensions of RAAQ. The elderly patient presents higher levels of adherence when compared with the general population on dialysis (Anes, 2011). Keywords: Adherence to diet; Renal chronic disease; Dialysis. 208 Introdução A estatística mostra que a incidência em dialise tem vindo a aumentar em Portugal, consequência direta do aumento de la insuficiência renal crónica O estado nutricional constituiu um dos principais determinantes da morbilidade e mortalidade em diálise. Os benefícios da adesão são de vários tipos e relacionam-se com a prevenção de recaídas, alívio de sintomas e melhoria geral do estado de saúde (Sousa, 2003). A não adesão, além de reduzir o nível de saúde dos doentes contribui obrigatoriamente a um aumento dos gastos ao nível dos cuidados de saúde e a um aumento da dependência, consequência da deterioração do seu estado de saúde. Na insuficiência renal crónica, a adesão à dieta implica enormes mudanças e adaptações face às restrições impostas pela doença. A adaptação à nova dieta implica um corte com hábitos e costumes e em especial com o conceito adquirido de uma alimentação considerada normal. Esta adaptação pode ser avaliada pelas atitudes e comportamentos dos doentes face ao novo regime alimentar (Rush & McGee, 1998). O objetivo enunciado para a presente investigação é avaliar a Adesão à dieta em idosos com insuficiência renal crónica em diálise face às enormes restrições alimentares e hídricas imposta pela doença. Método Foi desenvolvido um estudo não experimental, analítico e transversal numa amostra de 150 idosos (77,58% da população), com insuficiência renal crónica em tratamento dialítico em unidades de diálise do Nordeste Transmontano, os quais obedeciam aos critérios de inclusão. Foi efetuado um contacto pessoal com todos os idosos. Foram apresentados os objetivos e propósitos da investigação, foi explicada a importância da contribuição de cada um, realçando o carácter voluntário da participação, a garantia de confidencialidade, disponibilidade de esclarecimento de qualquer dúvida e agradecimento pela participação. A colheita de dados foi precedida da obtenção do consentimento informado. O instrumento de colheita de dados foi constituído por uma medida específica de adesão à dieta el RAAQ (Renal Adherence Attitudes Questionnaire), validado para a população portuguesa. O questionário é composto por 26 itens abrangendo quatro dimensões, as atitudes face às restrições sociais, as atitudes face ao bem-estar, as atitudes face ao autocuidado e a 209 aceitação. Para melhor caracterização dos doentes, foram associadas algumas questões sociodemográficas e clínicas. Resultados/Discussão Nos participantes estudados, a maioria eram homens (58%), viúvos (60%), viviam sós (26%), tinham um baixo nível de escolaridade (39% analfabetos) e rendimentos (32% com rendimento abaixo de 250€. A idade dos inquiridos varia entre los 65 e 88 anos. O tempo de tratamento em diálise oscila entre los 6 meses e 20 anos. A maioria dos doentes refere outras doenças associadas (65%), sendo a diabetes a doença mais mencionada (49%). Todos os doentes referem complicações resultantes da doença ou dos tratamentos. Importa referir que a estudos nesta área, indicam uma prevalência de não adesão de 30% para a dieta e 50%, para de líquidos e medicamentos (Christensen & Moran, 1998). No que respeita à variável sexo (Quadro 1), os resultados não confirmam a existência de diferenças significativas entre a adesão à dieta e o sexo. No entanto Almeida (2003) concluiu, serem os homens, aqueles que demostraram maior adesão ao tratamento. Quadro 1 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao sexo por dimensões. Sexo Dimensão Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação Feminino n=63 Media S Masculino n=87 Media S 26,10 41,70 17,20 38,80 30,30 45,30 16,30 39,90 6,30 4,40 2,40 3,60 5,50 6,40 1,90 5,10 Teste t t -1,322 0,345 -0,334 -1,080 p 0,123 0,458 0,561 0,165 Test Mann Whitney U Sig.(2-tailed) 0,165 0,530 0,564 0,128 Relativamente à idade (Quadro 2), os resultados confirmam a hipótese de relação entre as variáveis. Verificou-se uma relação estatisticamente significativa em todas as dimensões do RAAQ. Esta relação indica que o nível de adesão à dieta aumenta ao mesmo tempo que a idade avança, sendo portanto o nível de adesão à dieta mais satisfatório nos doentes mais velhos. Estes resultados são corroborados por Santin, Ceresér e Rosa (2005), pois compreendem a idade, como um de muitos determinantes que tentam explicar o fenómeno da não adesão ao tratamento. 210 Quadro 2 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação à idade por dimensiones. 65 -74 anos n=67 Idade 75 –84 anos n=59 > 85 anos n=24 Media S Media S Media S 26,74 40,43 14,67 34,84 6,61 3,41 2,33 5,03 27,45 40,99 15,01 35,27 4,31 5,51 2,44 6,22 29,59 42,04 16,30 37,49 5,55 5,79 2,87 6,09 Test Mann Whitney U Sig (2-tailed) Test Anova f p Dimensão Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação 2,130 1,806 4,397 3,241 0,050 0,311 0,011 0,039 0,056 0,042 0,010 0,048 Para o nível de educacional (Quadro 3), os resultados não confirmam relação estatística significativa com as médias de adesão à dieta por dimensões. No entanto e, segundo Valenzuela, Giffoni, Cuppari e Canziani (2003) os doentes com maior nível educativo possuem recursos intelectuais que lhe permitem uma maior adaptação emocional ao tratamento. Quadro 3 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação às habilitações por dimensões. Até ao ensino Ensino básico básico e secundário n=59 n=86 Ensino media e superior n=5 Dimensão Media S Media S Media S Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação 25,53 39,99 15,84 34,96 5,70 6,43 2,76 7,14 25,76 40,61 14,87 35,13 6,99 6,92 2,68 7,48 30,00 42,65 15,66 38,47 6,38 3,39 2,76 4,48 Habilitações Test Anova f 1,953 0,650 1,769 0,878 p 0,168 0,445 0,154 0,378 Test Kruskal Wallis Asymp. Sig. 0,133 0,547 0,148 0,279 Em relação ao estado civil (Quadro 4), parecem observar-se melhores pontuações nos indivíduos casados, no entanto, não se confirma a existência de relação estatisticamente significativa com as dimensiones da adesão. Cooper et al (2005) afirmam que o estado civil constitui um determinante negativo ao nível da adesão sendo considerada por estes autores um previsor da não adesão. Quadro 4 – Adesão à dieta em relação ao estado civil por dimensões. Estado Civil Dimensão Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação Casados n=50 Media 26,45 41,44 15,98 35,86 S 5,50 6,19 2,34 6,11 Viúvos n=90 Media 24,39 38,04 13,34 31,86 S 5,65 6,26 2,01 6,07 Solteiros n=10 Media 23,27 39,26 14,62 32,76 S 6,01 5,12 1,21 4,69 Test Anova f 1,932 1,453 1,436 1,554 p 0,099 0,373 0,185 0,188 Test Kruskal Wallis Asymp.Sig. 0,060 0,293 0,147 0,128 211 Para a variável situação familiar (Quadro 5), os resultados também não corroboram a hipótese de relação, pois confirma-se não existirem diferenças significativas com a adesão à dieta. Segundo Santín, Ceresér e Rosa (2005), a história e a estrutura familiar encontram-se entre os muitos fatores que explicam o fenómeno da não adesão ao tratamento. Dellepiane e Bós (2008) realçam a importância da família ao nível da adesão. Quadro 5 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação à situação familiar por dimensões. Situación Familiar Dimensão Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação Vivem c/ 1 ou mais pessoas n=111 Media S Vivem sós n=39 Media S 25,42 40,55 15,99 35,67 26,23 40,01 15,41 35,87 5,36 6,07 2,73 6,82 Teste Kruskal Wallis Teste t t -0,543 -0,843 -0,183 -0,084 5,78 6,01 2,43 6,33 p Asymp. Sig. 0,537 0,323 0,763 0,832 0,547 0,339 0,789 0,824 Para a variável rendimento (Quadro 6), parece observar-se um acréscimo da adesão à dieta à medida que aumenta o rendimento. No entanto e, de acordo com os resultados do teste Anova, verificamos que não são significativas as diferenças verificadas entre os vários grupos de rendimentos e a adesão à dieta. Diversos autores são unânimes em considerar esta variável como determinante da adesão, apontando melhores níveis de adesão nos doentes de classes sociais mais elevadas, com maiores rendimentos (Muhlhauser, Overmann, Bender, Bott, Jorgens, Trautner, Siegrist & Berger, 1998; Anes, 2011). Quadro 6 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao rendimento por dimensões. Rendimento Dimensão Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidados Aceitação Até 250€ n=48 250-500€ n=78 >500€ n=24 Media S Media S Media S 24,90 40,13 15,23 34,46 5,49 6,01 2,31 6,18 25,99 40,93 15,82 35,64 6,20 5,33 2,54 6,00 27,87 41,98 15,99 36,87 5,93 6,29 2,78 7,04 Teste Anova p f 2,301 0,828 2,175 0,661 0,065 0,460 0,093 0,445 Test Mann Whitney U Sig. (2-tailed) 0,059 0,476 0,063 0,427 No que respeita ao tempo em diálise (Quadro 7), constata-se um aumento da adesão á dieta a partir dos três meses de tratamento. Os resultados do teste Anova confirmam a existência de diferenças significativas entre o nível de adesão e os diferentes intervalos de 212 tempo de tratamento. Estes resultados são corroborados por Anes (2011). Em termos de adaptação à dialise, são descritas diversas fases de adaptação e, é essencialmente a partir dos três meses de tratamento que surge a chamada fase de adaptação e a tomada de consciência das limitações impostas pela doença e tratamento (Wauters, 1980; Delgado, 1997). Quadro 7 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao tempo em diálise por dimensão. Tempo de tratamento Dimensão Até três meses Media S Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação 25,03 40,07 14,22 34,92 6,68 6,53 2,76 8,51 Test Anova 3 meses - 1 + de 1 ano ano Media Media S S 24,88 40,08 15,10 35,12 6,71 6,76 2,49 6,55 26,54 40,93 15,59 35,97 6,33 6,12 2,56 6,47 Teste Kruskal Wallis f p Asymp. Sig. 1,972 0,075 0,845 0.067 0,056 0,055 0,050 0,049 0,058 0,056 0,052 0,054 Relativamente à relação da variável doenças associadas com a adesão à dieta, os resultados corroboram a hipótese da existência de relação significativa para grande maioria das dimensões. Confirma-se que o grupo de doentes que afirma ter outras doenças (Quadro 8) apresenta maiores pontuações de adesão à dieta para quase todas as dimensões, com exceção da dimensão aceitação. Significa então, que são os grupos de indivíduos com outras doenças associadas, aqueles que apresentam maiores índices de adesão à dieta. Quadro 8 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação a outras doenças associadas por dimensões. Doenças associadas Dimensão Atitudes restri. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação Não tem doenças associadas n=52 Media S 26,99 5,61 40,90 6,01 15,73 2,90 35,35 6,66 Tem uma doença associadas n=98 Media S 30,72 5,54 41,90 6,07 16,76 2,64 39,54 6,89 Test t t 1,982 -1,983 -2,734 -0,094 p 0,051 0,050 0,007 0,925 Test Mann Whitney U Sig. (2-tailed) 0,049 0,047 0,003 0,853 Em relação ao número de doenças associadas e adesão à dieta (Quadro 9), esta varia no mesmo sentido que o número de doenças. As diferenças são significativas em praticamente todas as dimensões do RAAQ, com exceção da dimensão aceitação. São portanto, os 213 indivíduos com maior número de doenças associadas, aqueles que presentam maiores índices de adesão à dieta. Quadro 9 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao número de doenças associadas por dimensão. Nº doenças associadas Dimensão A rest. sociais A bem-estar A auto-cuidado Aceitação Não tem doenças associadas n=52 1 doença associada n=79 2 doenças associadas n=48 ≥ três doenças associadas n=22 Test Anova Test Kruskal Wallis Media S Media S Media S Media S f p Asymp. Sig. 26,99 40,90 15,73 35,35 5,61 6,01 2,90 6,66 27,30 40,99 15,97 35,76 5,56 5,45 2,53 6,54 29,73 41,57 16,00 36,04 6,35 7,02 2,63 6,53 30,04 41,98 16,54 36,87 4,46 5,47 2,30 4,32 0,098 0,769 3,350 0,184 0,961 0,512 0,020 0,907 0,957 0,432 0,012 0,954 Também se confirma, relação entre a adesão à dieta e a doença mais referenciada a diabetes (Quadro 10). A adesão à dieta é em média superior no grupo de indivíduos com diabetes, para todas as dimensões. As diferenças são significativas em praticamente todas as dimensões, à exceção da dimensão aceitação. Quadro 10 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação à diabetes por dimensão. Diabetes Dimensão Atitudes rest. sociais Atitudes bem-estar Atitudes autocuidado Aceitação Não tem diabetes associada n=76 Media S 25,76 5,59 40,54 5,99 15,27 2,76 35,35 7,50 Tem diabetes associada n=74 Media S 26,70 6,16 41,87 6,39 15,75 2,53 35,67 8,40 Test t t -3,797 -1,909 -1,116 -0,086 p 0,052 0,050 0,051 0,932 Test Mann Whitney U Sig. (2-tailed) 0,050 0,037 0,043 0,702 A relação verificada entre as comorbilidades e a adesão à dieta pode ser explicada pelo facto de os doentes que apresentam maior número de doenças, serem aqueles que apresentam mais idade. Según Margalho, Vélez, Guzmán, Oliveira, Saraiva da Cunha e Meliço-Silvestre (2007) as comorbilidades constituem um fator de interferência ao nível da adesão. Também poderia justificar-se pelo facto de serem estes indivíduos aqueles que perderam um nível significativo de saúde e por conseguinte são eles que atribuem mais valor à saúde que perderam e, à adesão terapêutica (Anes, 2011). 214 No que respeita à relação da adesão à dieta e as complicações (Quadro 11), os resultados confirmam a existência de relação estatisticamente significativa. Confirma-se la existência de diferencias significativas entre las médias de adesão à dieta nos diversos grupos de complicações em todas as dimensões. Assim apresentam melhores medias de adesão á dieta os doentes que afirmam possuir entre 4 a 9 complicações. Com menores médias de adesão encontra-se o grupo que apresentam entre zero a três complicações. Em paralelo às doenças associadas, as complicações constituem também fator de interferência ao nível da adesão à dieta (Margalho, Velez, Guzmán, Oliveira, Saraiva da Cunha & Meliço Silvestre, 2007). Quadro 11 – Adesão à dieta (RAAQ) em relação ao número de complicações por dimensões. Número Complicações De 0 a 3 n=32 De 4 a 6 n=49 De 7 a 9 n=41 De 10 a 12 n=28 Test Kruskal Wallis Test Anova Dimensão Media S Media S Media S Media S f p Asymp. Sig. Atit. Rest. sociais Atit. Bem-estar Atit. autocuidado Aceitação 23,23 38,85 14,54 33,41 5,40 5,02 2,24 5,17 26,76 41,93 15,73 35,60 6,02 5,40 2,51 7,02 26,87 42,65 15,84 36,52 5,22 5,84 2,54 6,21 27,34 39,76 14,91 35,42 6,03 6,72 2,13 7,04 4,453 4,871 3,659 2,901 0,005 0,004 0,014 0,049 0,006 0,012 0,018 0,033 Em termos globais, os doentes insuficientes renais crónicos idosos em diálise (Quadro 12) apresentam valores de adesão superiores aos encontrados por Anes (2011) na população geral dos doentes insuficientes renais crónicos em diálise (Quadro 13). Quadro 12 – Caracterização global do índice adesão à dieta nos doentes idosos em diálise (RAAQ). RAAQ n=150 Média 130 DP 18 Mediana 119 Min. 92 Max. 168 Min-34; Máx-170; Média-102 Quadro 13 – Caracterização global do índice adesão à dieta nos doentes em diálise (RAAQ). RAAQ n=263 Média 117 DP 21 Mediana 116 Min. 57 Max. 165 Min-34; Máx-170; Média-102 Fonte: Anes, E.M.G.J. (2011). Adhesíon a la dieta y calidad de vida en insuficientes renales crónicos en diálisis del Nordeste Transmontano. Tese de Doutoramento. Departamento de Pssicología y Antropología. Universidad de Extremadura. 215 Conclusões A adesão à dieta na insuficiência renal crónica, exige mudanças drásticas e difíceis adaptações a um novo regime alimentar, difícil da adotar. Vai contra todos os princípios considerados normais para a população em geral e, implica uma adaptação constante e uma rutura com o conceito adquirido de alimentação normal. Existem no entanto, muitos fatores ou variáveis são preditores da adesão à dieta. A interpretação dos resultados deste trabalho permitem-nos concluir que alguns fatores sociodemográficos e clínicos (idade, tempo de tratamento, doenças associadas e complicações) têm efetivamente implicações ao nível da adesão à dieta nos insuficientes renais crónicos idosos em diálise. O doente idoso apresenta níveis de adesão superiores, quando comparado com a população geral em diálise (Anes, 2011). Concluímos também, que alguns dos determinantes considerados com relação significativa, podem ser controlados ou evitados. Nesta área, um bom desempenho ao nível dos cuidados de saúde poderá ter um contributo especial. Este facto realça a importância da avaliação da adesão à dieta, constituindo un indicador de excelência na práctica da prestação dos cuidados de saúde, utilizando para tal a perceção individual de cada doente. Referências Bibliográficas Almeida, J. P. C. (2003). 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CONTEXTOS DE ENVELHECIMENTO E AVALIAÇÃO FUNCIONAL DE IDOSOS: NECESSIDADES SENTIDAS NO CONCELHO DE BRAGANÇA Maria Patrocínia Ferreira Sobrinho Correia1; Adília Maria Pires da Silva Fernandes2; Celeste da Cruz Meirinho Antão3 1 Assistente, Instituto Politécnico de Bragança (EsACT) [email protected] 2 Professora Adjunta, Instituto Politécnico de Bragança (ESSa) [email protected] 3 Professora Adjunta, Instituto Politécnico de Bragança (ESSa) [email protected] 218 Resumo Portugal está passar um processo natural de transformação populacional, devido ao envelhecimento demográfico. Este, gera contrastes a nível regional, refletidos na inversão da pirâmide etária. Neste cenário, os idosos estão mais vulneráveis devido às limitações do próprio processo de envelhecimento, doenças generativas e acesso aos cuidados e serviços de saúde. O instrumento utilizado foi um questionário estruturado, versão portuguesa do OARS (Older Americans Resources and Services) realizada por Rodrigues (2007), traduzida no Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional de Idosos. A recolha de dados foi realizada através de entrevista, no mês de Março de 2011, em 33 indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, utentes dos Centros de Saúde de Bragança (Sé) e Vimioso. Foi realizada pela autora e pelos estagiários de 3º e 4º anos, da licenciatura em Enfermagem, do Instituto Politécnico de Bragança. Todos os inquiridos foram informados a respeito da pesquisa e dos objetivos que lhe estavam relacionados. Após o esclarecimento de todas as dúvidas, o idoso assinou um termo de consentimento informado, livre e esclarecido. Realizada a recolha de dados, foi necessário interpretar os dados quantitativos através do programa Estatístico SPSS, recorrendo a métodos de índole descritiva. O questionário define três elementos de avaliação funcional da população idosa (avaliação funcional do indivíduo, serviços sociais e de saúde e descrição do serviço de acordo com o nível funcional) e possui cinco domínios (saúde física, recursos económicos, atividades de vida diária, recursos sociais e saúde mental). O presente trabalho centrar-se-á somente nos primeiros três blocos: Saúde Física, Recursos Económicos e Atividades de Vida Diária (AVD). Palavras-chave: Envelhecimento; Saúde; Avaliação Funcional; Idoso. 219 Introdução Portugal está passar um processo natural de transformação populacional, devido ao envelhecimento demográfico. Este, gera contrastes a nível regional, refletidos na inversão da pirâmide etária. Neste cenário, os idosos estão mais vulneráveis devido às limitações do próprio processo de envelhecimento, doenças generativas e acesso aos cuidados e serviços de saúde. Estudos populacionais demonstram que cerca de 45% da população com idade superior a 65 anos necessitam de ajuda para realizar tarefas como fazer compras, preparar refeições ou limpar da casa (Santos et al., 2010). À medida que a idade avança as limitações face às atividades de vida diária (AVD) também aumentam. ~ O instrumento utilizado foi um questionário estruturado, versão portuguesa do OARS (Older Americans Resources and Services) realizada por Rodrigues (2007), traduzido no Questionário de Avaliação Funcional Multidimensional de Idosos. Este instrumento investiga as condições individuais, familiares e sociais do idoso. O questionário define três elementos de avaliação funcional da população idosa (avaliação funcional do indivíduo, serviços sociais e de saúde e descrição do serviço de acordo com o nível funcional) e possui cinco domínios (saúde física, recursos económicos, atividades de vida diária, recursos sociais e saúde mental). O presente trabalho centrar-se-á somente nos primeiros três blocos: Saúde Física, Recursos Económicos e Atividades de Vida Diária (AVD). Abordagem do Envelhecimento Portugal está a envelhecer. Os dados estatísticos referem previsões que apontam um envelhecimento demográfico. Prevê-se que, em 2050, o número de idosos por indivíduo em idade ativa possa triplicar. (INE, vários anos). O fenómeno do envelhecimento da população, caracterizado pelo aumento da população idosa e pela redução da população jovem encontrase bem vincado nos resultados dos Censos 2011. Há 30 anos, em 1981, cerca de 25% da população pertencia ao grupo etário mais jovem (0-14 anos), e apenas 11,4% estava incluída no grupo etário dos mais idosos (com 65 ou mais anos). Em 2011, Portugal apresenta cerca de 15% da população no grupo etário mais jovem (0-14 anos) e cerca de 19% da população tem 65 ou mais anos de idade (Censos, 2011). As causas assentes neste fenómeno de envelhecimento demográfico estão apoiadas nos seguintes fatores: 220 • Melhoria socioeconómica das qualidades de vida das populações; • Diminuição da taxa de natalidade A conjugação simultânea destes dois fatores faz com que o envelhecimento seja sempre automático porque os “sobreviventes nas idades mais elevadas pertencem a gerações mais plenas e passam, por isso, a ser mais numerosos em proporção relativamente aos mais jovens” (Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2012: 6). Encontrando-se determinado que o avançado declínio das populações envelhecidas e com um potencial de substituição de gerações muito reduzido, a preocupação atual centralizar-se-á nos efeitos do envelhecimento sobre o aumento da esperança de vida depois dos 65 anos. Tabela: Populações mais envelhecidas, em 2010. País Japão Alemanha Itália Grécia Bulgária Lituânia Portugal Áustria Grupos Dependentes > 65 anos < 15 anos 22,6 13 20,5 14 20,4 14 18,3 14 17,6 14 17,4 14 17,9 15 17,6 15 Índice de Envelhecimento 2010 173,8 146,4 145,7 130,7 125,7 124,3 119,3 117,3 Índice de Envelhecimento 2011 129 - Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012: 8) Relação entre Envelhecimento do interior e emigração Entre 1950 e 1981, o índice de envelhecimento iniciou o período de galopagem. Até esta época, a fecundidade mantinha-se próxima de 3 filhos por mulher. Todavia, muitos estudiosos referem que o processo de envelhecimento não inicia com a quebra da natalidade. Em Portugal, a vaga de emigração atingiu o seu pico em meados da década de 1960 até 1970. Tal fato pareceu coincidir com o início do envelhecimento demográfico. Esta relação é confirmada com o aumento do envelhecimento mais acentuado nas regiões do interior do país, como por exemplo, Portalegre, Guarda, Beja, Bragança, Castelo Branco, entre outros que possuem elevados fluxos migratórios. 221 Fig. 1. Índices de Envelhecimento dos distritos de Braga e Bragança, 1950 e 1981. Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012: 11) Relação entre Envelhecimento, recuo da mortalidade e sistema de Saúde A relação entre o recuo da mortalidade e o envelhecimento é outra questão essencial para o entendimento deste fenómeno. Fig. 2. Taxa de Mortalidade Infantil, Portugal, 1960-2009. Fonte: Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012: 19) 222 O sistema de saúde representa um dos setores sobre o qual está a ser exercida uma elevada pressão. Como anteriormente analisados, o aumento da esperança de vida, melhoria das condições de vida e o acesso mais facilitado aos cuidados de saúde e consequentemente os avanços na medicina origina, inevitavelmente, um incremento da prevalência de incapacidades crónicas (Oliveira, 2007). De acordo com Pimentel (2002), desta reflexão resultam um conjunto de orientações para os Estados Membros da U.E.: • Equilíbrio das finanças públicas: problema do financiamento dos sistemas de proteção social e diminuição da população ativa; • Valores das pensões: relação entre os valores monetários e a sustentabilidade das finanças públicas. • Mão de obra mais envelhecida e reduzida: adaptação a estas características da mãode-obra com o aumento da idade da reforma e revalorização profissional • Acesso a cuidados de saúde: garantia deste acesso bem como de cuidados de qualidade. Conjuntamente ao agrupado de reflexões, segundo Martin et al. (2006), deve-se apresentar um conjunto de politicas sociais para a população idosa com vista a: • Promover o envelhecimento ativo, com a adoção de estilos de vida mais saudáveis; • Promover o envelhecimento produtivo através da participação do idoso na sociedade; • Promover o cuidado com medidas que assegurem cuidados a sujeitos que manifestem um elevado grau de dependência. Método OARS O presente estudo visa identificar e analisar a capacidade funcional do individuo idoso. Os conhecimentos gerados podem transformar-se em conhecimentos essenciais para a formulação e implementação e politicas públicas através de estratégias de intervenção adequadas à realidade do país e mais concretamente, à realidade regional de Trás-os-Montes. Instrumento para Avaliação Multidimensional O questionário implementado é a versão Portuguesa de Rodrigues (2007) resultante do instrumento original Older Americans Resources and Services Program (OARS) e dos trabalhos desenvolvidos pelo Center for the Study of Aging and Human Development, da Duke University. 223 Este instrumento define três elementos de avaliação: 1. Avaliação da capacidade funcional; 2. Utilização dos serviços sociais e de saúde: utilização atual vs necessidades sentidas; 3. Avaliação de serviços de acordo com o nível funcional De acordo com os anteriores iores elementos, possui cinco domínios: • Recursos sociais • Recursos económicos • Saúde física • Saúde mental • Atividades de vida diária (AVD) O presente trabalho centrar-se-á, centrar á, somente, em três blocos: recursos económicos, saúde física e AVD. 224 Metodologia e Recolha de dados O presente estudo foi baseado em informações obtidas a partir de entrevistas realizadas nos centros de saúde do conselho de Bragança – Sé e Vimioso, realizado no mês de Março de 2011, em 33 indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos. Para minimizar dificuldades no contato com os utentes, estes foram abordados por alunos estagiários da Escola de Saúde do Instituto Politécnico de Bragança. Os idosos foram devidamente informados em relação à pesquisa aos objetivos que lhe estavam relacionados. Após o esclarecimento de todas as dúvidas, o idoso assinou um termo de consentimento informado, livre e esclarecido, ficando para si o duplicado e o original para o trabalho das autoras2. foi iniciada a avaliação. Realizada a recolha de dados, foi necessário interpretar os dados quantitativos através do programa Estatístico SPSS, recorrendo a métodos de índole descritiva (Pestana & Gageiro, 2003). As questões realizadas foram divididas em quatro seções. 1ª seção: identificação do entrevistado, endereço e contato telefónico; 2ª seção: identificação pessoal (género, idade, local de nascimento, tempo de residência no local, estado civil) 3ª seção: Saúde física (existência de alguma patologia, doença cronica, ocular, auditiva); 4ª seção: Perfil socioeconómico (escolaridade, atividade, condições da habitação, rendimento mensal); 4ª seção: Atividades de Vida Diária (grau de dependência) Apresentação de Resultados Caracterização da Amostra – fatores demográficos A amostra resultante da população consiste em 33 indivíduos dos quais 16 do sexo feminino e 17 do sexo masculino. 2 Parecer Nº 45/2010 da CES – ARSN favorável à autorização deste estudo. 225 Tabela 1: Caraterização dos indivíduos idosos Variáveis Média Idades Situação Conjugal • Solteiro • Casado • viúvo Escolaridade • não sabe ler/escrever • sabe ler/escrever • ensino básico • ensino preparatório • secundário • NS/NR Situação Profissional • Reformado idade • Reformado invalidez F M Total (N= 33) 72 anos 1 (3%) 11 (33,3%) 4 (12,1%) 2 (6,1%) 13 (39,4%) 2 (6,1%) 3(9,1%) 24 (72,7%) 6 (18,2%) 8 (24,2%) 4 (12,1%) 2 (6,1%) 0 1 (3%) 1 (3%) 3 (9,1%) 5 (15,2%) 6 (18,2%) 3 (9,1%) 0 0 11 (33,3%) 9 (27,3%) 8 (24,2%) 3 (9,1%) 1 (3%) (3%) 12 (36,4%) 4 (12,1%) 15 (45,5%) 2 (6,1%) 27 (81,8%) 5 (18,2) Embora conste da tabela 1 a amostra desagregada por sexos (dentro de cada grupo etário e para o total da amostra) esta não fará parte da restante interpretação dos dados. Tal justificação prende-se com o fato da amostragem dos inquiridos ser reduzida, não apresentando diferenças significativas entre homens e mulheres. Desta forma, o tratamento estatístico será realizado, conjuntamente, para ambos os géneros. Foram agregados em quatro escalões etários (65-70 anos, 71-76 anos; 76-81 anos e igual ou superior a 82 anos). Assim, o primeiro e o segundo grupos etários (65-70 e 71-76) são constituídos por 36,4% dos inquiridos cada. No primeiro estão representados 5 homens (15,2%) e 7 mulheres (21,2%). No segundo, cada género representa 18,2% (também 36,4% dos inquiridos). O terceiro grupo etário 76-81 anos é composto por 5 inquiridos (15,1%), 3% feminino (1) e 12,1% masculino (4). O último grupo etário de idade superior ou igual a 82 anos, representa 12,1%, constituindo-se com 2 homens (6,1%) e 2 mulheres (6,1%) (Tabela 1, Figura 3) 226 Figura 3 - Distribuição etária da amostra 8 nº de indivíduos 7 6 5 4 3 2 1 0 H M H 65-70 M H 71-76 M H 77-81 M >82 Grupos etários O estado civil apresenta, na amostra, três situações: solteiro, solteiro, casado e viúvo. A situação de solteiro surge com 9,1%, a segunda – casado com 72,7% e o estado de viúvo com 18,2% (Tabela 1) Quanto às habilitações literárias encontradas observamos na Figura 4, uma maior frequência de analfabetismo (33,3%) até à situação situação de 4 anos de escolaridade (27,3% sabe ler e escrever e 24,2% possui o ensino básico). Nenhum elemento da amostra possuía formação de nível superior. 0% Figura 4: Habilitações literárias 3% 9% 3% Não sabe ler/escrever 33,3% 24,2% Sabe ler/escrever Ensino básico 27,3% Ensino preparatório 227 Entre os inquiridos não existe nenhum que possua uma atividade remunerada. Todos são pensionistas (quer por velhice quer por invalidez) (Tabela 1). Avaliação Funcional do Idoso Saúde Física Os inquiridos são questionados sobre doenças que os afetem no momento e a forma como as patologias interferem nas suas atividades. No processo regular de envelhecimento está incluída a diminuição da capacidade visual devido a alterações fisiológicas, deficit do campo visual e problemas na retina. Cerca de 66,7% (22) dos idosos referiram problemas na qualidade da sua visão, referindo que esta se encontrava entre “má e regular”. A existência das patologias é outro dos aspetos avaliados na área da saúde física. A hipertensão arterial é a patologia mais referida, correspondendo a 66,7% do total. A diabetes é referida em 27,3% dos casos, seguidamente a dor e artrite com 21,2%. Segundo Rodrigues (2007), estas são as patologias mais referidas nas doenças crónicas prevalentes no Programa Nacional para as Pessoas Idosas. Os valores apresentados vão ao encontro de que as causas mais comuns de morbilidade são hipertensão arterial, insuficiência cardíaca e a diabetes. Relacionando a patologia e a toma de medicamentos, verifica-se que 69,7% dos idosos não toma outros medicamentos para além dos direcionados às suas doenças. Recursos Económicos O estudo desta área funcional centra-se na situação laboral e avaliação dos recursos económicos. • Situação Laboral Entre os inquiridos não existe nenhum que possua uma atividade remunerada, restringindo-se a situação laboral encontrada a uma única possibilidade - reformado por invalidez (100%). 228 • Avaliação de recursos económicos O valor médio das reformas é de 300€ sendo este valor atribuído ao casal, logo o valor de rendimento poer capita é de 150€. Relativamente á avaliação dos recursos económicos, esta centra-se na forma como os rendimentos cobrem as necessidades dos idosos. A grande maioria dos inquiridos, cerca de 80%, refere que os seus rendimentos são apenas suficientes para os seus gastos cobrindo, apenas, as suas necessidades. Um fato preocupante surge no questionário quando cerca de 63,6% refere a necessidade de ajuda económica. Atividades de Vida Diária (AVD) A incapacidade no desempenho destas atividades tem sido identificada como fator de risco para quedas e institucionalização. Estas atividades dizem respeito às capacidades do idoso nas funções básicas quotidianas como tomar banho, vestir-se, caminhar, entre outras (Sirena, 2002). Neste grupo, avalia-se a capacidade dos idosos realizarem atividades de vida diária (AVD) sem qualquer tipo de ajuda, com alguma ajuda e com incapacidade total. Tabela 2: Atividades da Vida Diária (AVD) Atividade Sem Ajuda (%) Com ajuda (%) NS /NR (%) Uso do telefone 72,7 24,3 3 Pode ir a locais a pé 51,5 48,5 - Fazer compras 81,8 18,2 - Preparação de refeições 69,7 27,3 3 Tarefas de casa 78,8 18,2 3 Toma de medicamentos 93,9 6,1 - Gerir dinheiro 66,7 30,3 3 Aparência 90,9 6,1 3 Incontinência 81,8 18,2 - Os resultados demonstram que mais de 65% dos inquiridos prescindem de qualquer tipo de ajuda. No entanto, os valores de AVD com ajuda também referem percentagens elevadas, o que demonstra a evidencia de dependência por parte dos idosos. Esta dependência atinge um 229 valor muito elevado (48,5%) na deslocação a locais sozinhos refletindo, também, a reduzida mobilidade dos idosos. Nas questões sobre a capacidade de preparação de refeições e gestão do dinheiro os resultados também realçam a dependência, uma vez que assumem valores de 27,3% e 30,3%, respetivamente. Reflexões Finais O panorama para Portugal, bem como para todos os países mundiais, prevê o grupo dos muito idosos (com 80 anos ou mais) como o grupo etário de maior crescimento (OMS, 2001). As vertentes económicas, sociais e de saúde do fenómeno do envelhecimento populacional estão unidas com o processo de desenvolvimento que ocorre no mundo. A definição do estado de saúde pode ser quantificado através da dimensão da doença como também pela dimensão do estado funcional do indivíduo. Uma avaliação multidimensional baseia-se no empenho constante de organização do número de informações recolhidas do processo de investigação com vista a verificar os problemas complexos e interativos do paciente idoso. O OARS é um instrumento completo de avaliação multidimensional de idosos, incorporando vários elementos: capacidade funcional, analise aos serviços de saúde e o impacto de serviços alternativos no estado funcional dos idosos. As dimensões tratadas no presente estudo foram a saúde física, recursos monetários e Atividades de Vida Diária. No que diz respeito à área física, as patologias mais referidas são doenças crónicas, sendo por isso as que influenciam a capacidade das pessoas idosas viverem o seu dia-a-dia sem limitações. A capacidade funcional para as AVD está relacionada com o risco de dependência. Os resultados alcançados indicam a ausência de necessidade de ajuda por parte dos idosos. Esta baixa limitação dos idosos inquiridos é compatível com valores esperados para idosos não institucionalizados. No entanto, a necessidade apontada na deslocação a pé evidencia dependência por cerca de 50% dos idosos. Em relação aos recursos económicos constata-se que 39,4% dos idosos aufere um montante inferior ao mediano. A maior preocupação dos inquiridos é relativa ao fato dos recursos económicos não aguentarem os custos relativos às suas necessidades mais urgentes, 230 evidenciando a necessidade de ajuda económica. Os meios financeiros são determinantes importantes na auto-perceção de saúde e de comportamentos de saúde. BIBLIOGRAFIA Censos (2011). Resultados Provisórios. Lisboa: INE. Fundação Francisco Manuel dos Santos (2012). Dinâmicas demográficas e envelhecimento da população portuguesa: evolução e perspectivas. Instituto do Envelhecimento da Universidade de Lisboa. Lisboa: Universidade de Lisboa. INE – Instituto Nacional de Estatística (vários anos).Lisboa: INE. Martin, I; Gonçalves, D.; Paúl, C.; Pinto, F. (2006). Políticas Sociais para a Terceira Idade em Portugal. In R. Osório (Ed.) Pessoas Idosas: Contexto social e intervenção educativa. Lisboa: Edições Piaget. Oliveira, L. M. (2007). Contextos de serviço de apoio domiciliário. Tese de Mestrado. Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal. 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Avaliação Multidimensional do idoso: uma abordagem em atenção primária à saúde. Pós-graduação. Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Brasil. 231 20. AUTO-ATUALIZAÇÃO E ACEITAÇÃO DA DOENÇA CRÓNICA 20. AUTO-ACTUALIZATION AND ACCEPTANCE OF CHONIC DISEASE Maria Gorete de Jesus Baptista Professora-adjunta na Escola Superior de Saúde-IPB [email protected] 232 Resumo O interesse teórico e prático deste estudo, situa-se na perspetiva de encontrarmos alguns subsídios que nos permitam compreender a importância da auto-actualização na aceitação da doença crónica. Foi desenvolvido um estudo exploratório descritivo, numa amostra de quarenta doentes crónicos (IRC em tratamento de hemodiálise). Não se verificaram correlações estatisticamente significativas (p > 0,05) entre as variáveis sócio-demográficas e clínicas e a auto-actualização e aceitação da doença. A correlação entre as variáveis auto-actualização e aceitação da doença revelou-se estatisticamente significativa, sendo positiva e moderada (r = -.724) ou seja, um aumento nos scores de auto-actualização provoca um aumento nos scores da aceitação da doença e vice-versa. Em termos gerais, os resultados deste estudo remetem-nos para a importância da compreensão de factores emocionais que afectam o doente crónico e de como conseguem, ou não, lidar com as dificuldades que vão surgindo. Ao vivenciar a sua doença e tratamentos, o indivíduo depara-se com problemas existenciais e necessita de encontrar soluções para minorar o sofrimento, redefinindo objectivos e encontrando um novo sentido para a sua vida, ou seja, aceitando a sua nova condição de homem da doença. Palavras-chave: Auto-atualização; Aceitação; Doença crónica. Abstract The theoretical and practical interest of this study lies in the prospect of finding some subsidies that allow us to understand the importance of self-actualization in acceptance of chronic illness. We developed a descriptive exploratory study, a sample of forty chronically ill (CKD on hemodialysis). There were no statistically significant correlations (p> 0.05) between the sociodemographic and clinical and self-actualization and acceptance of the disease. The correlation between the self-actualization and acceptance of the disease was statistically significant, positive and moderate (r = - .724), an increase in scores of self-updating causes an increase in disease scores of acceptance and vice versa. Overall, the results of this study lead us to the importance of understanding the emotional factors that affect the chronically ill and how can, or not, to deal with the difficulties that arise. In experiencing their disease and treatments, the individual is faced with existential problems and need to find solutions to alleviate suffering, redefining goals and finding a new direction for your life, or accepting their new status as man's disease. Keywords: Auto-actualization; Acceptance; Chronic disease. 233 Introdução As doenças crónicas representam um dos maiores problemas de saúde no mundo industrializado e constituem as primeiras causas de incapacidade e morte prematura. A Insuficiência Renal Crónica é uma dessas doenças, com grande impacto no indivíduo. É caracterizada, principalmente, por uma perda considerável da função homeostática do organismo. Os rins perdem a sua capacidade funcional de forma irreversível, não eliminando os produtos tóxicos por eles normalmente excretados, acumulando-se no sangue. Tornam-se então incapazes de manter o meio interno com uma composição compatível com a vida. E como a evolução técnica e científica, nomeadamente na área da química, física e biologia, veio incrementar o desenvolvimento da medicina, o seu tratamento representa um grande sucesso no desenvolvimento da Medicina nas últimas décadas. Segundo Malpique (1995), a doença crónica vai deixando de ser uma fatalidade, para ser um outro estilo de vida, uma forma de aprender a viver com um corpo doente e, felizmente numa sociedade que também cada vez mais se prepara para integrar essas pessoas. Sem dúvida planteiam-se reflexões de extenso significado, traduzindo a necessidade de uma análise psicossocial e de comportamentos dos pacientes que sofrem com a situação de cronicidade de doença e dos seus tratamentos. Nos momentos de crise ao longo do ciclo vital do indivíduo, nomeadamente a doença e o sofrimento que ela acarreta, poderão ser uma oportunidade e uma motivação do sistema de valores próprio, mobilizando as capacidades pessoais e a rede social de apoio disponíveis para procurar novas formas de estar na vida e em interacção com os outros. O Homem busca continuamente a sua realização e o desenvolvimento das suas potencialidades, pela tendência à auto-actualização (Guerra, 1994). A presente investigação realiza-se assim dentro deste novo paradigma para a saúde na doença, procurando avaliar em que medida a auto-actualização e as experiências de sofrimento na doença se encaminham na compreensão do fenómeno "aceitação da doença", numa perspetiva de reconhecimento e compreensão das limitações pelo IRC em tratamento de hemodiálise. Mais concretamente, em que medida os respondentes aceitam a sua doença, sem experienciarem sentimentos ou respostas negativas. 234 Material e Métodos Foi feito um estudo exploratório, descritivo em doentes em tratamento de hemodiálise na Unidade de Hemodiálise do Centro Hospitalar de Bragança e no Centro de Hemodiálise de Mirandela. Para a determinação dos participantes no estudo, tivemos em consideração alguns critérios de inclusão, determinados de acordo com os objetivos do estudo e as características dos instrumentos de colheita de dados (Idade adulta, entre 24 e 65 anos; Tempo em hemodiálise superior a 6 meses; Saber ler e escrever em português; Sem patologia mental). Atendendo às limitações determinadas pelos critérios de inclusão e devido a incorreções no preenchimento dos questionários, deparamo-nos com uma amostra populacional de 40 sujeitos para participarem no nosso estudo, numa população-alvo de 162 utentes. A média de idades da população em estudo é de 43,58 anos, tendo o indivíduo mais novo 26 anos e o mais velho 65 anos. A maior percentagem dos indivíduos encontra-se incluída na classe etária dos 36-41 anos (27,5 %), seguida da classe etária dos 42-47 anos (22,5 %), podendo dizer que é uma amostra populacional de adultos maduros. No que concerne ao estado civil, 75% dos indivíduos são casados, 22,5% são solteiros e apenas um (2,5%) é divorciado, não existindo viúvos na nossa amostra. De todos os indivíduos da amostra, apenas 5% vivem sozinhos (um solteiro e o divorciado), e a maioria (95%) vive acompanhado por familiares, que são os cônjuges, os pais, os irmãos e os filhos. A maior percentagem dos indivíduos da amostra tem como o o habilitações literárias o 3 ciclo (35%), seguida do 1 ciclo (30%). Com o ensino secundário ( até o 12° ano), temos apenas quatro indivíduos (10%), dois dos quais se encontram a frequentar o ensino superior politécnico. Relativamente à formação profissional, verificamos que a amostra se distribui em maior percentagem pelo sector terciário com 48,0 % (científico, administrativos, comércio e outras profissões similares) e apenas 3,0 % se encontra no sector primário (agricultor); relativamente às domésticas constatamos que são a grande maioria, com 49,0%. A maioria dos indivíduos da amostra mantém um padrão de atividade normal, ocupando-se a tempo inteiro (57,5 %). Alguns (17,5 %) mantêm uma ocupação em tempo parcial e 25% não têm nenhuma ocupação. A maior percentagem realiza sessões de hemodiálise há menos de dois anos (40%), seguida dos indivíduos em tratamento entre três e cinco anos (35%). Há mais de 6 anos em tratamento, encontram-se 25%. Podemos predizer que, potencialmente, os sujeitos 235 da amostra em estudo já se encontram adaptados às limitações causadas pelo tratamento de hemodiálise. Face ao objetivo proposto no presente estudo e dada a natureza íntima dos fenómenos que se pretendiam estudar, utilizámos instrumentos que permitissem uma recolha de dados, que constituem a matéria-prima de qualquer análise estatística. Foram obtidos dados primários através de questionários de auto-relato. Os instrumentos selecionados, estruturados sob a forma de questionários, são específicos para medir a intensidade dos fenómenos que pretendemos avaliar: - AIS- "Acceptance of Illness Scale" – A escala de aceitação da doença, de Felton's (1984). Trata-se de um questionário que enfoca directamente qual a dimensão da aceitação da doença, ou até que ponto os respondentes podem aceitar a sua doença sem experimentar sentimentos ou respostas negativas (Keogh & Feehally, 1999). Esta escala foi construída e usada numa investigação, nos USA, em adultos com doença crónica e avaliava o sucesso dos doentes em sentirem aceitação e valor, apesar da incapacidade, dependência e sentimentos de inutilidade que a doença ocasiona. - "Escala de Auto-Atualização", de Guerra (1998) - A escala de auto-actualização foi construída pela autora para avaliar o indivíduo quanto ao desenvolvimento das suas potencialidades. Abrange quatro dimensões essenciais na sua caracterização: Sentido de vida, orientação interior, vida criativa e dimensão existencial. As questões foram elaboradas tendo subjacentes os conceitos teóricos que as representam, apresentando um português claro e acessível a vários níveis de escolaridade, mas visando somente uma faixa etária de maiores de 18 anos. Esta última escala já tinha sido testada e usada com fiabilidade na população portuguesa e a AIS nunca tinha sido utilizado em nenhuma investigação feita em Portugal, sendo validada no presente estudo. Após a recolha dos dados, estes foram lançados e processados no programa de estatística SPSS (Statistical Package for the Social Sciences). Resultados Verificação da consistência interna das escalas utilizadas Os resultados para a fiabilidade dos dados obtidos com cada escala, nesta amostra, utilizando o alfa de Cronbach (Reliability Analysis), foram os seguintes: • 0,795 para a AIS 236 • 0,893 para a escala de auto-actualização Todos os valores de alfa obtidos estão acima do valor considerado aceitável (0,7), podendo admitir-se que estas escalas medem de forma consistente os conceitos para os quais foram elaboradas. Caracterização descritiva das escalas O Quadro 1, apresenta as estatísticas descritivas obtidas na amostra para cada escala. Os valores máximo e mínimo de cada escala estão dentro do intervalo esperado para cada escala. Os valores da razão assimetria/erro padrão assimetria devem estar dentro do intervalo -2 a 2 para que a distribuição se aproxime de uma distribuição normal. O mesmo é válido para a curtose (grau de achatamento) da distribuição. Analisando os valores, a curtose de cada distribuição será idêntica à da distribuição normal correspondente. Por outro lado, a distribuição para a auto-atualização tem assimetria acentuada à direita (1,090/0,374 = 2,91), afastando-se por isso de uma distribuição normal. Para a escala de aceitação a assimetria não é acentuada. Quadro 1 - Estatísticas descritivas para cada escala AIS Auto-Actualização Intervalo de variação esperado: 8 a 40 33 a 165 Intervalo de variação observado: 14 a 39 98 a 161 Média ± 1 Desvio Padrão 25,73 ± 6,23 178,70 ± 15,33 Assimetria 0,361 1,090 Erro padrão da assimetria 0,374 0,374 Curtose -0,559 0,908 Erro padrão da Curtose 0,733 0,733 Modelo de regressão Considerando a aceitação da doença a variável dependente e a variável autoatualização como variável explicativa, calculou-se o Coeficiente de Determinação (R2), ou seja, a percentagem de variação da variável dependente que é explicada pela variação da variável independente. 237 Tabela 1 - Coeficiente de Determinação (R2) entre a variável Aceitação da doença e a variável Auto-Atualização Model R 1 R quadrado ajustado R quadrado ,992 ,985 Erro padrão ,984 3,38 O resultado obtido indica que 98,5% da aceitação da doença avaliada pela escala de Felton é explicada pela auto-atualização (Tabela 1). A análise de variância, como podemos ver na Tabela 2, indica relação estatisticamente significativa entre as variáveis, tendo sido obtido um valor-P < 0,01. Tabela 2 - Análise de variância (ANOVA) entre a variável Aceitação da doença e a variável Auto-Actualização ANOVA Soma de quadrados Modelo 1 Regression Residual Total Graus liberdade Estimadores de variância 27551,264 2 13775,632 433,736 38 11,414 27985,000 40 F 1206,896 Valor de prova ,000 Discussão/Conclusões A influência da auto-atualização na aceitação da doença Reportando-nos aos resultados estatísticos obtidos entre estas variáveis, encontramos uma correlação positiva, moderada a forte, estatisticamente significativa entre a autoatualização e a aceitação da doença (R= 0,753), ou seja, um aumento nos níveis de autoatualização permite um aumento significativo da aceitação da doença. Ao longo da realização deste estudo, verificamos que estes conceitos estão intrinsecamente ligados, tanto ao nível da conceptualização teórica que lhe deu corpo, como ao nível dos seus achados. Verificou-se que o aumento no score da auto-actualização implica um aumento no score da aceitação e, desta forma, não poderemos separar tais conceitos, pelo 238 que tentaremos perspetivar uma forma de relacionar tais fenómenos, sem desmembrar o sentido da sua conceptualização fenomenológica. Ao estudarmos a aceitação da doença no adulto com IRC em hemodiálise, os resultados globais confirmam que os pacientes que se mantém auto-atualizados e que não vivenciam com grande intensidade ou de forma negativista as experiências decorrentes do seu estado, aceitam melhor a sua doença. Podemos inferir que, reagindo positivamente à sua situação de doença e seu tratamento, os indivíduos conseguem enfrentar, no seu dia-a-dia, as limitações a que estão sujeitos, sem no entanto se desvalorizar. Atendendo ao conceito de auto-atualização defendido por Guerra (1994), que traduz as movimentações do homem na busca da sua realização e desenvolvimento das suas potencialidades, pensamos que realmente, uma situação de rompimento brusco com a vida normal, como acontece com o aparecimento de uma IRC sentida como uma crise, implica que o indivíduo tenha de confrontar-se com a sua nova realidade, adotando estratégias de luta que lhe permitam o desenvolvimento do seu continuum de vida e, dessa forma, sentir-se como pessoa que realiza e busca a sua realização. Os resultados do nosso estudo vão de encontro à perspetiva de Dembo e col. (1956), ao dizerem-nos que uma pessoa para aceitar ou superar uma incapacidade, não significa ter de se reconciliar com uma situação infeliz, devendo antes, existir um processo de "reconversão de valor". Este envolve a aceitação da perda como pré-requisito para o passo seguinte da aceitação da diferença como algo de não desvalorização. Este conceito é visto pelos autores como um processo onde as limitações e os sentimentos associados, como o sofrimento, se tornam menos negativos, diminuindo de intensidade. Sem dúvida que uma doença crónica é um obstáculo ou limitação nos interesses e na satisfação das necessidades de qualquer indivíduo. Constitui uma fonte de sofrimento, de insatisfações e problemas de adaptação a uma situação nova e irreversível. Face a uma perda grave, como é a perda de um órgão vital, a pessoa inicia um percurso de sofrimento que inclui a experiência de emoções e sentimentos de mal-estar e tristeza, mas que normalmente evolui para uma consciencialização da perda como um facto irreversível e, de forma gradual, para a sua aceitação (Gameiro, 1999). Assim sendo, a resolução saudável deste processo de sofrimento, nunca é o seu esquecimento, mas a capacidade de redefinir os objetivos da vida e voltar a sentir prazer de viver (Parkinson, 1986; Serrão, 1995). De facto, o indivíduo diagnosticado com IRC, deve experienciar grande sofrimento, necessitando de uma reorganização psicológica. Passa por um processo de readaptação faseada que, segundo Parkinson pode evoluir para um estádio elevado de desenvolvimento. 239 Claro que esse processo varia de acordo com as características do indivíduo, no entanto, parece existir uma ligação comum de etapas que a maior parte dos doentes crónicos atravessam durante algum tempo. As perspetivas de vários autores parecem coincidir na forma como caracterizam esse processo de adaptação à doença crónica. Primeiramente surge um período de desorganização caracterizado por uma grande ansiedade e esforços para negar ou minimizar o impacto, sendo quase ineficazes para enfrentar o stress; seguidamente acontece um período de reintegração em que há uma considerável utilização de defesas com vista á passagem para a última fase, em que os indivíduos mostram a reação adequada à confrontação com a realidade, ou seja, a adaptação à sua nova situação (Carlson, 1984; Nolasco, 1982; Levine, 1985). Este último período perspetiva a aceitação da doença, em que há um reconhecimento e entendimento das limitações e perdas impostas pela doença (Felton et al, 1984), lidando com mudanças sem perda de metas a longo prazo (Beckman Murray e Proctor Zenter, 1989). Estas teorias vão de encontro à perspetiva de Blank (1961) que descreveu as reações normais de uma personalidade sã perante a incapacidade, dizendo-nos que após o choque imediato surge a recuperação. Há uma direção de energia psíquica para a resolução dos problemas reais da vida (reeducação em comunicação, mobilidade e trabalho) e aceitação das limitações como um handicap. Pesquisas feitas por Devins e col.(1997), mostraram que os indivíduos com IRC que se identificaram com o auto-conceito de um doente renal crónico, são mais fracos, tem mais fadiga e queixam-se mais do que indivíduos cujo auto-conceito é menos influenciado pelo seu papel de doente. As pessoas que aceitam a sua perda sofrerão menos nas suas relações interpessoais não se desvalorizando e vendo-se como membros dignos e iguais de um grupo. Reportando-nos às características que o indivíduo com algum tipo de incapacidade deverá ter para aceitar a sua perda, apontadas por Dembo (1956) e Wright (1960): alargamento do espectro de valores, subordinação do psíquico, contenção dos efeitos da incapacidade e transformação de valores comparativos em valores próprios e, transportando-as às características que os indivíduos auto-actualizados deverão ter, representadas pelas dimensões da auto-actualização, conceptualizadas por Guerra (1998): sentido de vida, orientação interior, vida criativa e dimensão existencial, pensamos que são adequadas para explicar as relações significativas que encontramos no presente estudo. O indivíduo afetado por uma IRC, sofre a perda de função de um órgão vital, de forma irreversível, só sobreponível à morte pela utilização de um tratamento crónico, por sua vez também agressivo, o que significa uma forma de incapacidade para toda a vida que se traduz em mudanças brutais nos seus hábitos que provocam grande sofrimento, às quais terá de se 240 adaptar para conseguir "continuar a viver...". Esta possibilidade passa, segundo Dembo e Wright, pelo "alargamento do espectro de valores", em que o indivíduo deverá ter capacidade para ver outros valores que não aqueles diretamente relacionados com o conflito resultante da perda. Guerra, comunga da mesma opinião, quando se refere à importância da "dimensão existencial" da auto-actualização, definindo o homem como "ser, capaz de interagir harmoniosamente com a humanidade e o Universo, respeitando os valores dos outros, mas mantendo a liberdade de ser como é..." (p.108), permitindo aceitar a ansiedade da morte como um processo natural, entendendo a vida humana como finita. Segundo Frankl (1999), a mais humana entre as necessidades humanas, é a de encontrar e dar um sentido à vida, chamandolhe de "desejo de significado", na teoria motivacional. Cada situação da vida quotidiana com que o indivíduo se depara, confronta-o com exigências, com questões a que deve dar resposta, apelando à sua responsabilidade e autonomia. Para Agra (1990) a doença em si não transforma o homem em doente. A doença reside no indivíduo que não tem criatividade e que não adota mecanismos de adaptação perante alterações de regras preexistentes para ele, sejam de natureza biológica, psicológica ou social. Então, a saúde reside no equilíbrio que o indivíduo manifesta nas suas interações com o meio, avaliando as suas possibilidades e necessidades, os impulsos e as forças vitais e as realizações dos seus atos. Para Guerra (1998), a "vida criativa" é fundamental na resolução de uma crise. "Ser capaz de apresentar várias leituras para uma mesma situação, ou utilizar os mesmos recursos para os combinar de maneira diferente…” (p:108). É importante que a pessoa não alargue a sua incapacidade além da real incapacidade física em relação aos outros aspetos do próprio funcionamento. Assim, deve ser encorajado pelos profissionais que o assistem, pela família e amigos, a levar uma vida tão normal quanto for capaz, aceitando a diminuição da função. Nos espaços compreendidos entre os tratamentos, pode disfrutar de uma vida familiar e socioprofissional, utilizando os seus recursos, só que, como diz Guerra (1998) quando se refere à vida criativa, combinando-os de forma diferente. A autora também reviu que situações ameaçadoras podem tornar o indivíduo capaz de improvisar novas alternativas para a resolução dos seus problemas, e que muitas vezes têm repercussão na tendência altruísta de contribuir para a humanidade com a sua criatividade para benefício de pessoas em situações semelhantes. Podemo-nos reportar à existência de várias Ligas ou Associações, que mobilizam os seus recursos em prol da ajuda aos doentes por elas representados, como o caso da APIR (Associação Portuguesa dos Insuficientes Renais). 241 Assim sendo, a resolução saudável dos processos de sofrimento, nunca é o seu esquecimento, mas a capacidade de redefinir os objetivos de vida e voltar a sentir prazer de viver (Parkinson, 1986; Serrão, 1995; Gameiro, 1999). O sentido de vida não reflete só uma satisfação pessoal para atingir determinados objetivos, mas pode refletir também uma dimensão altruísta, como foi proposta por Frankl (1999), ao apontar três caminhos que levam ao encontro de um sentido para a vida: primeiro, cumprindo um dever ou criando algo, que será a perspetiva da criatividade necessária à auto-actualização, apresentada por Guerra (1998); o segundo caminho pode ser, experimentando algo ou encontrando alguém, ou seja, pode-se encontrar um sentido não só no trabalho, mas também no amor, dos outros e pelos outros, traduzindo-se na dimensão do sentido de vida da pessoa auto-atualizada (ibidem); mas o terceiro caminho, é considerado por Frankl, o mais importante. Aponta para uma transcendência do ser humano, ao dizer que "...quando enfrentamos um destino que não podemos mudar, somos chamados a dar o melhor de nós mesmos, elevando-nos acima de nós mesmos e crescendo mais além de nós mesmos; em uma palavra, através da transformação de nós mesmos" (p.189). Esta perspetiva vai de encontro às dimensões - orientação interior e existencial - que devem existir, segundo Guerra (1998), para que a auto-actualização seja possível. Na mesma linha de pensamento, McIntyre (1995 b) teoriza que o sofrimento pode ser um estímulo e uma oportunidade de reconstrução criativa, resultando no crescimento humano (criatividade), apontando ainda outros aspetos positivos que se podem considerar no sofrimento humano: a motivação para a busca de significados (sentido de vida), a motivação para os outros e a abertura à dimensão espiritual ou transcendente (dimensão existencial). Estes aspetos podem ser considerados fatores particulares de reconstrução e crescimento pessoal, uma vez que a busca de significados permite rever o valor da vida e da coerência do projeto pessoal, a motivação para os outros disponibiliza os recursos dos sentimentos de solidariedade e de amor permitindo aceitar e pedir ajuda e a abertura a uma dimensão espiritual ou transcendente, baseada na fé, permite relativizar a dimensão temporal da vida e transcender a sua vivência terrestre como uma participação passageira, em que o sofrimento assume um sentido espiritual. O ser humano deve buscar constantemente a sua realização e desenvolvimento das suas potencialidades. A doença e o sofrimento que acarreta, poderão ser uma oportunidade e uma motivação para a reorganização do sistema de valores próprio, mobilizando as capacidades pessoais e o suporte social disponível para procurar novas formas de estar na vida em relação com os outros. 242 Béfécadu (1993), defende que mais do que a gravidade objetiva de uma doença, de uma perda ou de um acontecimento promotor de sofrimento, importa aferir qual a significação que a pessoa atribui à experiência. Pensamos ser útil para os profissionais que contactam com os doentes em hemodiálise, analisar estas perspetivas apresentadas. Como referem Felton e col (1984), a consistência da relação entre bem-estar físico e emocional, reforça a ideia de que indivíduos, agindo com as suas solitárias capacidades, podem fazer relativamente pouco para alterar a angústia que a doença crónica tantas vezes ocasiona, sugerindo uma adaptação psicológica pobre. Os significados pessoais e as expressões do sofrimento são únicas, e é nessa perspetiva que deve ser entendido. Poderemos citar Barry & Malinovski (1965) que nos estudos que fizeram sobre a motivação para a reabilitação, notaram que a motivação do indivíduo para participar no processo de reabilitação e aceitação da doença, é fortemente influenciado pela interação "face-to-face" entre o doente e a equipa terapêutica. Concluem que o grau de aceitação, afeto e o reconhecimento mostrado por outros significativos, influenciam a re-motivação na reabilitação do doente. Tincher (1961), diz que é necessário que o indivíduo, de alguma forma incapacitado, aceite a sua incapacidade, se ele quiser ser realista na sua necessidade de auto-realização" (p.24). O ser humano, por natureza, tende e busca a realização. A ajuda de profissionais competentes é, sem dúvida necessária a estes doentes, pois sem apoio poderão ficar bloqueados pela negação da situação, fixar-se em recompensas alternativas ou deixar-se dominar pelos aspetos emocionais e persistir em comportamentos desajustados de descarga emocional ou de "aceitação resignada" (Ribeiro, 1995). Nestes casos, de acordo com Stedeford (1986) e Ribeiro (1995), observam-se com frequência quadros patológicos do foro psiquiátrico, necessitando da respetiva ajuda psicoterapêutica e medicamentosa. Portanto, não poderemos encarar as pessoas com limitações, apenas no ponto de vista da sua incapacidade, ou seja, a abordagem multidisciplinar deve ser possível. As necessidades do indivíduo com IRC, vão para além das estritamente médicas. Os seus problemas exigem o uso de fontes múltiplas de auxílio, que só após uma avaliação estrita das necessidades, sentimentos, motivações e comportamentos, poderão ser objeto de uma intervenção cuidada e dirigida à sua pessoa, no sentido da sua autonomia e capacidade de confronto para aceitar a sua situação, podendo dessa forma redefinir e prosseguir os seus objetivos de vida. 243 Referências Bibliográficas - Agra, C. (1990). Sujet Autopoiétique et Transgression. In: Acteur Social et Délinquence. Bruxelles, Mardaga. - Barry, J. R., & Malinowsky, M. R. (1965). Client motivation for rehabilitation: a review. University of Florida, Rehabilit. Res. Monogr., Nº 1. - Beckman, M. R., & Proctor, Z. J. (1989). Nursing concepts for heath promotion. Hertfordshire: Prentice Hall. - Béfékadu, E. (1993). La souffrance: Clarification Conceptuelle. Revue Canadiene de Recherche en Sciences Infirmières, vol. 25, nº 1, 7-21. - Carlson, C. E. (1984). La perte. 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Atualmente, as doenças de Alzheimer e de Parkinson são as formas mais comuns da neuro degeneração. A doença de Alzheimer afeta 15 milhões de pessoas no mundo e o número de pessoas afetadas deverá triplicar até o ano 2050, sendo 13,2 milhões para os Estados Unidos da América e 16,2 milhões para a Europa. Além disso, estima-se que até essa data 50% das pessoas com idade igual ou superior a 85 anos serão afetadas por esta doença. A Doença de Parkinson é a segunda doença neuro degenerativa mais comum. Afeta 1 a 2% das pessoas com idade superior a 65 anos. Este trabalho de revisão da literatura tem como objetivo analisar de que forma o perfil socioeconómico está relacionado com o aparecimento destas doenças. Visa, ainda, identificar que escalas da caracterização do perfil socioeconómico foram utilizadas em estudos científicos anteriores. A metodologia utilizada consistiu na revisão da literatura científica publicada em bases de dados PubMed/MedLine, no período de Novembro de 2011 até Maio de 2012. Nesta revisão foram estudadas distintas populações tendo em conta o conjunto de variáveis em análise. Os dados recolhidos permitem concluir que o aparecimento destas doenças se relaciona com muitas das variáveis de caraterização dos sujeitos em estudo e que fazem parte da sua trajetória de vida. Numa sociedade cada vez mais envelhecida, com uma acentuada diminuição da população jovem e perante a atual crise económica torna-se necessário traçar um perfil que permita prever o risco de incidência e prevalência destas doenças. Com efeito, se continuarmos a evoluir no mesmo sentido podemos inferir que estas doenças terão enorme relevância nas sociedades ocidentais e no contexto da saúde, tornando-se doenças a valorizar nas próximas décadas. Palavras-chave: Doenças neuro degenerativas; Doença de Alzheimer; Doença de Parkinson; Fatores sociodemográficos; Diagnóstico. Abstract Neurodegenerative diseases are important in society; they are associated with loss of functional capacity of the individual and have great economic impact. These article objectives are: analyze through a systematic review of scientific literature that forms the socio demographic, psychosocial and environmental is related to the onset of neurodegenerative diseases. The methodology consists in the review of the literature in the PubMed / MedLine, from November 2011 until May 2012. In this review, different populations were studied taking into account all the variables under analysis. The data collected allow us to conclude that the onset of these diseases is related to many of the variables characterizing the subjects under study and that part of his life story. In an increasingly aging society, with a marked decrease in young population and given the current economic crisis it is necessary to draw a profile that allows predicting the risk of incidence and prevalence of these diseases. Indeed, if we continue to evolve in the same sense we can infer that these diseases have enormous relevance in western societies and in the context of health, disease became a value in the coming decades. 246 Introdução As doenças neuro degenerativas adquirem uma enorme importância na sociedade, uma vez que estão associadas à diminuição ou perda da capacidade funcional do indivíduo com grande impacto socioeconómico (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004). Contudo, é difícil determinar com exatidão a ação dos fatores socioeconómicos quando se avalia a sua influência no aparecimento da doença (Holmes, 2002) . Para uma mais precisa compreensão destes fatores torna-se essencial recorrer à escala de Graffar. Atualmente, as doenças de Alzheimer e de Parkinson são as formas mais comuns da neuro degeneração (Forman et al., 2004). Este artigo de revisão da literatura tem como objetivo analisar de que forma o perfil socioeconómico está relacionado com o aparecimento destas doenças. Visa, ainda, identificar que escalas da caracterização do perfil socioeconómico foram utilizadas em estudos científicos anteriores. O sistema nervoso central (SNC) é composto pela massa branca e cinzenta. Microscopicamente, a massa cinzenta corresponde à região de maior densidade de corpos neuronais, enquanto a massa branca possui alguns tipos neuronais, como as células diaforase positiva e uma grande quantidade de axónios mielinizados, estruturas condicionantes do aspeto esbranquiçado. Estas regiões, além de neurónios possuem grande quantidade de células gliais, tanto da macróglia (astrócitos e oligodendrócitos), como da micróglia (macrófagos residentes). Os oligodendrócitos são mais frequentes na massa branca, onde formam as células de Schwann de mielina constituindo assim o sistema nervoso periférico (Lima et al.,2006; Fruhbeis, Frohlich, & Kramer-Albers, 2012; Kettenmann, Hanisch, Noda, & Verkhratsky, 2011; Kim et al., 2012). Os mecanismos de apoptose em condições neuropatológicas agudas e crónicas envolvem a ativação de recetores glutamatérgicos do tipo AMPA/ kainato e NMDA. As alterações metabólicas levam à acumulação excessiva de glutamato no meio extracelular, induzindo a ativação de recetores glutamatérgicos nas membranas celulares de neurónios e células gliais, como subsequente influxo de cloreto (Cl-), iões sódio (Na+) e cálcio (Ca2+) para o meio intracelular. O influxo excessivo de Na+ induz a tumefação intracelular e alterações do equilíbrio osmótico (Lima et al.,2006; Costa, & Leal., 2007). A neuro degeneração consiste na perda progressiva da estrutura ou funcionamento dos neurónios, incluindo a destruição dos mesmos. Este processo ocorre devido a alterações na conformação de proteínas, por oxidação proteica ou dano oxidativo de ADN. O aumento da quantidade destas proteínas ou a diminuição da sua degradação conduz à formação de fibrilas, 247 que são consideradas marcadores de neuro degeneração. Em doenças neuro degenerativas agudas do SNC, uma lesão primária pode propagar-se, induzindo lesão axonal e aumentar drasticamente o défice funcional (Barbosa, & Fernandez et al., 2007). A demência é uma doença crónica associada a uma progressiva perda de capacidade cognitiva e intelectual, como a memória, a avaliação e o pensamento. Afeta cerca de 7% da população com idade superior a 65 anos e 30% da população com idade superior a 80 anos. De acordo, com o critério NINCDS-ADRDA a Doença de Alzheimer foi diagnosticada como possível demência, representando cerca de 50% a 80% das demências (Andersen et al., 2010; Dormont et al., 2008). A doença de Alzheimer consiste numa doença neuro degenerativa, autossómica dominante, que destrói, de forma lenta e progressiva, células do cérebro. Esta doença afeta a memória e o funcionamento neurológico (p.ex: pensamento, fala…), podendo também conduzir a alterações como: confusão, mudanças de humor e desorientação no tempo e no espaço (Costa et al., 2007a) Atualmente, a hipótese mais aceite que explica o aparecimento desta doença é a Cascata Amilóide que é caracterizada por lesões nas placas senis e na NFTS (intracelular neurofibrillary tangles). As placas senis são formadas pela β-amilóide, sendo esta uma clivagem do produto da proteína percursora amilóide (APP), por sua vez o NFTS é uma proteína associada aos microtúbulos (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Duff et al., 2004; Rothenberg et al., 2010). Existem três genes mutados associados à doença Alzheimer familiar (FAD): APP que se encontra no cromossoma 21, PS1 (presenilina 1) que está presente no cromossoma 14 e PS2 (presenilina 2) que está presente no cromossoma 1 (Holmes, 2002; Fridman et al., 2004; Bertram et al., 2012). O gene APP é caracterizado pelas enzimas secretases α, β e γ. Quando as mutações FAD alteram o processamento proteolítico normal deste gene, promovem a produção mais prolongada da β- amilóide 42. Quando ocorrem mutações nos genes PS1 e PS2 há uma alteração do local de clivagem da γ- secretase, alterando a APP específica c-terminal, promovendo a formação da β- amilóide 42 (Fridman et al., 2004). Assim as mutações nos genes que codificam tanto a APP como a presenilina aumentam a produção da β- amiloide levando à neuro degeneração (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004). A doença de Alzheimer afeta 15 milhões de pessoas no mundo e o número de pessoas afetadas deverá triplicar até o ano 2050, sendo 13,2 milhões para os Estados Unidos da América e 16,2 milhões para a Europa. Além disso, estima-se que até essa data 50% das 248 pessoas com idade igual ou superior a 85 anos serão afetadas por esta doença (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Duff et al., 2004). Esta doença é rara em indivíduos com menos de 60 anos de idade, uma vez que aumenta progressivamente com a idade, afetando 40% de indivíduos com mais de 85 anos de idade (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Junior et al,. 2011; Kloft et al,. 2007). A presença do gene ApoE4 (Apoliproteína E4 haplótipo) é considerado um fator de risco genético associado a esta doença. Estudos realizados em ratos transgénicos em que a ApoE4 foi induzida, houve a formação da β- amilóide. Este gene existe na forma de ApoE2, 3 e -4. O aparecimento tardio deste gene na doença está associado à herança no gene ApoE4, no entanto a causa ainda é desconhecida (Forman, Trojanowski, & Lee, 2004; Duff et al., 2004; Fridman et al., 2004; Bennet et al., 2010). Para o diagnóstico desta doença recorre-se a um exame minucioso do estado físico e mental do paciente e a exames complementares, tais como: ressonância magnética nuclear e tomografia axial computorizada (Anghinah et al,. 2005). Relativamente à área laboratorial, a introdução de novos biomarcadores de diagnóstico para a DA visa a deteção de patologia cerebral. Para encontrar um marcador bioquímico específico para AD devemos concentrarnos em produtos metabólicos específicos formados no cérebro, tais como moléculas lipofílicas especificas do cérebro, CP, CSF, BCSFB que podem difundir-se para a corrente sanguínea, onde são detetadas. Recentemente estudos demonstram que as alterações no metabolismo do ferro incluindo a transferrina e ferritina podem ter impacto no aparecimento e progressão desta patologia, pois a redução do Fe(III) a Fe(II) leva à libertação de radicais livres que induzem o stress oxidativo na célula, provocando danos irreversíveis (Antonell et al., 2012; Hort et al., 2012; Ferreira et al., 2012). Além dos fatores genéticos a doença acima mencionada também se encontra associada a outros fatores como: sexo, idade e raça. Contudo, é difícil determinar com exatidão a ação dos fatores socioeconómicos quando se trata de determinar o modo como influenciam o aparecimento de determinadas doenças (Holmes, 2002). Sabe-se da sua relação com a capacidade de obter melhores e mais meios de aceder à saúde, isto é, compreendem a capacidade económica e cognitiva de adquirir bens e serviços de saúde (Araújo et al., 2011). Por sua vez, a doença de Parkinson é a segunda doença neuro degenerativa mais comum. Afeta 1 a 2% das pessoas com idade superior a 65 anos e apresenta como sintomas: tremor durante o repouso, rigidez no corpo e postura errada. Patologicamente, a doença é caracterizada pela perda de neurónios dopaminérgicos da massa cinzenta e pela presença de 249 inclusões intracelulares conhecidos como corpos de Lewy (Araújo et al., 2011; Ikuko et al., 2006; Razali, et al., 2011; Claudio et al., 2010; Álvares et al., 2010). Existem fatores genéticos relacionados com o risco de doença e 10% dos pacientes com doença de Parkinson têm uma história familiar positiva. Atualmente são conhecidos cinco genes nas famílias com esta doença: α-synuclein, parkin, UCH-L1, DJ-1 e NR4A2. No genoma foram identificados seis tipos de loci: PARK3, PARK4, PARK6, PARK8, PARK9 e PARK10 (Dekker et al., 2003; Aguiar et al., 2010; Bekris et al., 2010). As manifestações do início desta doença surgem com o aparecimento de sintomatologia relacionada com os processos de envelhecimento. Este fato deve-se a um aumento da vulnerabilidade dos neurónios dopaminérgicos, em que há uma diminuição progressiva e gradual das células normais e dos processos bioquímicos (Dekker et al., 2003). Existe também uma relação direta entre a disfunção mitocôndrial e a doença de Parkinson, em que há um aumento do stress oxidativo e de níveis elevados de ferro no cérebro. Esta relação foi reforçada pela identificação de mutações específicas de genes. A tomografia computadorizada constitui um bom exame auxiliar, podendo melhorar a precisão do diagnóstico (Lyons et al., 2011). Fatores como a industrialização, a exposição a pesticidas e metais tóxicos foram já demonstrados como potenciais fatores de risco no aparecimento desta doença (Dekker et al., 2003) Material e Métodos A metodologia deste artigo consiste na revisão da literatura publicada através da pesquisa bibliográfica na base de dados PubMed/MedLine, no período de Novembro de 2011 até Junho de 2012, de modo a atender aos objetivos propostos. Após o levantamento do material bibliográfico, procedeu-se à leitura e ao reconhecimento dos artigos a contemplar, de forma a selecionar as referências que atendiam aos propósitos da pesquisa. Posteriormente procedeu-se à síntese e à interpretação dos textos, bem como à organização das informações para a sua apresentação. 250 Resultados Os resultados da vasta revisão sistemática da literatura na área publicada em bases de dados PubMed/MedLine, no período de Novembro de 2011 até Maio de 2012 permitem aferir acerca da influência que as variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais possam ter indivíduos portadores de doenças neuro degenerativas como as doenças de Alzheimer e de Parkinson (Tabela 1). Tabela 1. Influência das variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais nas doenças neuro degenerativas: doenças de Alzheimer e Parkinson. Objetivo Conclusões Observações Referências Bibliográficas Avaliação do perfil socioeconómico A maioria possuía baixa escolaridade A DA está presente em idosos com idade superior a 81 (JUNIOR ET AL,. 2011) anos e do sexo feminino Avaliar a funcionalidade Numa faixa etária de 49 a 87 anos, 75% dos indivíduos de pertencem ao sexo masculino e 25% ao feminino. indivíduos com DP Relação entre a atividade social e o Um maior nível de atividade social conduz a um menor nível de função cognitiva declínio da função cognitiva Estudar de que forma o nível Maior nível de escolaridade apresenta um menor risco educacional influência a DP de deterioração cognitiva Examinar de que forma a emissão A emissão de metais conduz ao desenvolvimento de Os fatores socioeconómicos não variam entre o nível de de metais leva ao aparecimento da DP; ensino, casados, salário, ou indivíduos abaixo da linha doença de Parkinson Maior incidência no sexo masculino e população da pobreza (CLAÚDIO 2010) (BARNES 2011A) ET (TANAKA 2011) AL., ET (KAŹMIERSKI 2011 ) AL., ET AL., ET AL., caucasiana Verificar a ocorrência de DP em Indivíduos do sexo masculino com DP têm menor indivíduos probabilidade de ser fumadores fumadores e não (CHEN ET AL., 2010) fumadores 251 Conhecer as dificuldades e desafios O diagnóstico de casos típicos não oferece maiores no dificuldades mas, em situações atípicas o diagnóstico diagnóstico de doença de Parkinson diferencial é mais amplo Fatores de risco ambientais Menor risco de DA associado ao consumo moderado (BARBOSA 2005) se realizadas ao as ar profissões livre estão AL., (CAMPDELACREU AL., 2012) de álcool Verificar ET Trabalhadores expostos à luz solar têm um menor risco Os níveis inadequados de vitamina D estão associados a para a DP um maior risco da doença A acumulação de stress não conduz ao aparecimento Há um maior risco de DP observada entre as mulheres e de sintomas da doença homens que nunca se casaram (KENBORG 2011) ET ET AL., associadas a um risco de DP Relação entre marcantes da momentos vida e o (ROD ET AL., 2010) aparecimento de DP Relação entre o nível Aumento de hospitalização de DP que exercem socioeconómico e hospitalização de profissões de professores, doentes com DP agricultores, agentes de vendas e auxiliares de (LI ET AL., 2009) administradores, enfermagem Associação entre nível socioeconómico e a prevalência de Maior prevalência de DP em áreas rurais e com poucos (LIX ET AL., 2010) recursos económicos DP Atividade de fumar na meia-idade Aumento na incidência dos indivíduos que fumam na e o risco de demência 2 a 3 décadas meia-idade Idosos do sexo feminino com menor escolaridade; (CHARLES 2011) ET AL., Afro-americanos são mais propensos a ter DA do que os mais tarde asiáticos; Maior percentagem entre divorciados e viúvos Estudo de aspetos gerais sobre a A frequência da DA entre a população rural é maior A DA é prevalente em mulheres; Maior nas pessoas que morbilidade que a população urbana têm um baixo nível de ensino escolarização (IOVA ET AL., 2009) 252 Avaliar de que forma um espaço A frequência da DA entre a população rural é maior de vida restrito, poderá estar que a população urbana e em pessoas que têm que têm associada a um aumento AD; um baixo nível de ensino escolarização. Relação entre o stress no trabalho e O stress nas profissões está associado a um maior risco o risco de demência de demência Atividades que ajudem prevenirem o avanço da demência a (BARNES 2011) ET AL., (ANDEL ET AL., 2012) A demência é menor nos indivíduos que apresentam Atividades que envolvam o homem na jardinagem e a atividades lúdicas mulheres no desporto (HIRAI, ET AL., 2010) 253 LIVRO DE ATAS Discussão dos resultados De acordo com a análise efetuada através da revisão sistemática da literatura, as variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais evidenciam relevância no aparecimento das doenças neuro degenerativas. Em relação à doença de Parkinson verifica-se que indivíduos com um maior nível de escolaridade apresentam um menor risco de deterioração cognitiva, principalmente nos indivíduos do sexo masculino (Barnes et al., 2011; Kaźmierski et al., 2011; Tanaka et al., 2011), sendo que na faixa etária de 49 a 87 anos, 75% dos indivíduos pertencem ao sexo masculino e 25% ao feminino (Claúdio et al., 2010; Tanaka et al., 2011). A taxa de incidência da doença é maior na população caucasiana (Willis et al., 2010). Comparando uma população com e sem c, afirma-se que os indivíduos do sexo masculino com esta doença têm menor probabilidade de consumir cafeína e de ser fumadores, ou seja, estes parâmetros não influenciam o aparecimento da doença. Constatou-se que pessoas sem a doença quando expostas a uma emissão de metais passam a desenvolver parkinsonismo, num período de 3-5 anos (Chen et al., 2010; Barbosa et al., 2005; Skeie et al., 2010; Liu, et al., 2012; Campdelacreu et al., 2012). Em profissões em que os homens estão expostos à luz solar, têm um menor risco para a doença de Parkinson, uma vez que os níveis inadequados de vitamina D têm sido associados a um maior risco da doença (Kenborg et al., 2011; Knekt, et al., 2010). Alguns dos acontecimentos da vida, como o divórcio ou a morte de um cônjuge são stressantes para a maioria das pessoas, no entanto esta carga de stress não leva ao aparecimento de sintomas da doença. Em contraste, há um maior risco maior de doença em mulheres e homens que nunca se casaram (Rod et al., 2010). Os fatores socioeconómicos não variam significativamente entre escolaridade, estado civil e salário (Tanaka et al., 2011; Li et al., 2009). Contudo, outros estudos referem que há uma maior prevalência de doença de Parkinson em indivíduos oriundos de meios rurais e com poucos recursos económicos, bem como um maior número de hospitalização de portadores da doença em indivíduos que exercem ou exerceram as profissões de professores, administradores, agricultores, agentes de vendas e auxiliares de enfermagem (Li et al., 2009; Lix et al., 2010; Cubo et al., 2012). O diagnóstico de casos típicos não oferece grandes dificuldades mas, em situações em que há elementos atípicos justifica-se o diagnóstico diferencial. Deve considerar-se, ainda, Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior 254 LIVRO DE ATAS que os conhecimentos a respeito das doenças degenerativas como o caso da doença de Parkinson têm aumentado de forma exponencial (Barbosa et al., 2005). Relativamente à doença de Alzheimer evidenciam-se acentuadas e progressivas restrições que comprometem a independência dos indivíduos, com predominância em idosos acima de 81 anos e em indivíduos do género feminino. A maioria é detentora de baixa escolaridade (Junior et al., 2011; Charles et al., 2011; Sánchez, et al., 2011; Lopez et al., 2012). Verifica-se, ainda, um incremento da doença em indivíduos fumadores de meia-idade. A incidência da doença de Alzheimer na população rural é mais elevada, comparativamente à população urbana (Iova et al., 2009; Barnes et al., 2011). No entanto, há um menor risco de doença associado ao consumo moderado de bebidas alcoólicas (Campdelacreu et al., 2012). Verificaram-se também diferenças na ocorrência de demência entre os grupos raciais. Em comparação com a população caucasiana, os afro-americanos são mais propensos a ter um diagnóstico de demência, enquanto os asiáticos são menos propensos. Além disso, há uma maior percentagem da doença nos divorciados e viúvos (Charles et al., 2011). O stress no trabalho ao longo da vida caracterizada pela grande exigência das profissões mencionadas, está associado a um maior risco de demência nestes indivíduos em idades mais avançadas (Andel et al., 2012; Wang et al., 2012). Por sua vez, a demência é menor nos indivíduos que mantêm atividades lúdicas ao longo da vida, como por exemplo, a prática desportiva e a jardinagem (Campdelacreu et al., 2012; Hirai, et al., 2010). Conclusão A temática que envolve as doenças de Alzheimer e de Parkinson têm sido alvo de vários estudos mundialmente, visto que estas patologias incidem num grande número de indivíduos e o seu aparecimento tende a tornar-se exponencial nos próximos anos. Nesta revisão literária foram estudadas populações distintas de acordo com as variáveis sociodemográficas, psicossociais e ambientais. Pode afirmar-se que estas variáveis se encontram relacionadas com o aparecimento das doenças neuro degenerativas em estudo. Estamos perante uma evolução constate das sociedades e um agravamento dos diversos fatores a elas associados. Contudo, esta constante evolução torna este conjunto de variáveis insuficientes para a definição de um perfil relacionado com o aparecimento destas doenças. Com efeito, muitos fatores podem surgir em fases iniciais da vida, outros podem tornar-se mais evidentes como Dilemas atuais e desafios futuros | I Congresso de Cuidados Continuados da Unidade de Longa Duração e Manutenção de Santa Maria Maior 255 LIVRO DE ATAS resultado da interação destes fatores com a componente genética. Atendendo ao envelhecimento populacional, à diminuição do número de jovem e à atual crise económica torna-se difícil traçar um futuro relacionado com o aparecimento destas doenças. Não obstante, se continuarmos a evoluir do mesmo sentido, podemos prever o enorme impacto destas doenças nas sociedades ocidentais, nas próximas décadas. Referências Bibliográficas Aguiar, P.M.C. & Severino P. (2010). Biomarcadores na doença de Parkinson: avaliação da expressão génica no sangue periférico de pacientes com e sem mutações nos genes PARK2 e PARK8. Einstein, 8(3), pp. 291-7. Álvares, L.M.R.S., Cardoso, F.E., Goulart, F.R.P., Lana, R.C., Nasciutti, P.C. & Teixeira, S.L.F. (2007). Percepção da qualidade de vida de indivíduos com doença de Parkinson através do PDQ-39. Revista brasileira: Fisioterapia São Carlos, 11(5), pp.397-402. Andel, R., Crowe, M., Hahn, E.A., Mortimer, J.A., Pedersen, N.L., Fratiglioni, L., Johansson, B. & Gatz, M. (2012). Work-related stress may increase the risk of vascular dementia. J Am Geriatr Soc, 60(1), pp.60-7. Andersen, C.K., Wittrup, J.K.U., Lolk, A., Andersen, K. & Kragh, S.P. (2004). 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