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A posse de Joaci Góes na Academia de Letras da Bahia PONTO & VÍRGULA PUBLICAÇÕES Salvador – 2010 © Copyright 2009 por Joaci Góes Todos os direitos reservados Transcrição parcial autorizada, desde que não envolva fins comerciais e seja citada a fonte. Organização, leiaute, capa, editoração e revisão: Sérgio Sinotti (<[email protected]> e <[email protected]>) Fotos: acervo de Joaci Góes Sumário 07 A proposta 11 Discurso de posse de Joaci Góes 39 Saudação a Joaci Góes (I) – por João Carlos Teixeira Gomes 57 Saudação a Joaci Góes (II) – por Edivaldo Boaventura 61 A representatividade das gerações (Edivaldo Boaventura) 65 Imortalidade (JBrito Alves) 69 Breve panorama da ALB 77 Mensagens de congratulações 83 Agradecimentos 89 Imagens da solenidade de posse A proposta João Carlos Teixeira Gomes (*) Rio, 17 de setembro de 2007 Meu caro presidente e confrade Edivaldo Boaventura: Aproveitando o ensejo para parabenizá-lo pela justa ascensão, tomo a liberdade de indicar ao prezado amigo e demais confrades acadêmicos o nome do jornalista, escritor e empresário Joaci Góes para integrar o nosso sodalício. Trata-se, com efeito, de nome amplamente conhecido em todo o nosso Estado e mesmo nacionalmente, pelas múltiplas atividades que vem desenvolvendo ao longo de uma vida laboriosa e fecunda. Como jornalista, foi proprietário do jornal Tribuna da Bahia e o dirigiu durante longo período, num tempo em que o prestigioso jornal, fundado pelo saudoso Elmano Castro, se constituía numa autêntica escola de profissionais da nossa terra, com uma redação em que pontificavam verdadeiros astros da literatura e do jornalismo, com destaque para o escritor João Ubaldo Ribeiro, que foi seu redator-chefe. Como escritor, Joaci Góes destacou-se nos últimos anos pela elaboração de primorosos ensaios sobre os sentimentos humanos de ódio e inveja, na linha da tradição moralizante da grande literatura barroca da Espanha do Século de Ouro, com ênfase na obra consagrada de um pensador do nível de Baltasar Gracián ou mesmo do poeta Francisco de Quevedo. Tais ensaios percorreram todo o Brasil 7 nas magníficas edições da Editora Topbooks, com justa ressonância na imprensa e entre a crítica especializada. Neste particular, tornouse Joaci, com merecimentos, um vexilário do ensaísmo erudito em nosso país. Como empresário, nosso indicado tornou-se responsável por relevantes cometimentos a serviço da dinamização da economia baiana, particularmente nas áreas da urbanização e da construção civil. Nem podemos esquecer que, a este pendor para os negócios materiais, soube arregimentar sua vocação empresarial em benefício do ensino universitário, fundando no extremo sul da Bahia uma Universidade que leva a marca do pioneirismo e da fremente audácia na busca pelo saber. Por fim, não menos relevante, devemos registrar a breve mas vitoriosa passagem de Joaci Góes na esfera da militância política e partidária, como membro do Congresso Nacional, numa época em que essa Casa ainda zelava pela sua imagem como fortaleza democrática, longe de transformar-se no valhacouto do oportunismo, da corrupção, do dilacerante compadrio e da falta de respeito público em que se constituiu nestes últimos anos. Lembremos que, como deputado federal, Joaci Góes foi o relator do Código de Defesa do Consumidor, atividade que por si só marcaria toda a sua proficiente passagem pela Câmara dos Deputados, ao lado de, posteriormente, ter revelado rara desambição política, retirando-se da militância parlamentar ainda no auge das suas melhores expectativas, numa prova de desprendimento e consciência cívica, ante um quadro que se anunciava desalentador, enfim deploravelmente confirmado. Senhor presidente e caro amigo, pelo conjunto dos fatos expostos reitero, com ênfase, a minha indicação, lembrando que, por estar residindo há vários anos no Rio, gostaria de receber informações adicionais, se necessárias, para a formalização regimental dos procedimentos. 8 Reafirmando a minha tradicional admiração, envio ao prezado amigo e a todos os demais confrades o abraço efusivo e as lembranças do João Carlos Teixeira Gomes (*) (Carta enviada ao presidente da ALB) 9 Discurso de posse de Joaci Góes A cadeira que passamos a ocupar nesta augusta Academia tem como patrono e ocupantes algumas das figuras maiores da inteligência nacional, nas pessoas de José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu, o filólogo Ernesto Carneiro Ribeiro, o historiador Francisco Borges de Barros, o jurista Aloísio de Carvalho Filho, o cientista político Nelson de Souza Sampaio e o meu antecessor imediato, o homem de letras e esteta Pedro Moacir Maia, que nos deixou em 8 de janeiro de 2008. É de evidência palmar que o ciclo de notáveis que ocuparam a cadeira número sete sofre interrupção na solenidade desta noite. A admissão de nossa presença meio a tantas figuras ilustres do passado e do presente, na vida intelectual da Bahia e do Brasil, decorre, para mim, de uma afortunada associação entre a generosidade e o culto à diversidade dos membros desta Casa, que fazem dela um corte transversal exemplar da inteligência baiana, em múltiplos campos de ação. Nos idos da adolescência acompanhei com encantamento o pensador católico Gustavo Corção, discorrer em seu livro Nas fronteiras da técnica sobre o caráter necessariamente intelectual de todo obrar humano, não havendo razão, segundo sustentava, para a distinção corrente entre trabalho físico e trabalho intelectual. O trabalho do operário, do ourives, do cientista, do escritor, do empresário, do artista ou do filósofo, seria igualmente intelectual, 11 variando, apenas, o modo de aplicação da inteligência e o nível de qualidade da atividade executada. Aos membros desta Academia que sufragaram nosso nome, a quem nunca terei como ser suficientemente reconhecido, certamente não se aplica a advertência de Ludwig von Mises, luminar da escola de Economia de Viena, cada vez mais reconhecido como um dos maiores economistas de todos os tempos – sucessor de Carl Menger e mestre do Nobel Frederick Hayek –, ao verberar em A mentalidade capitalista que: “a inútil arrogância dos escritores e dos artistas boêmios considera as atividades dos homens de negócios como pouco intelectuais e enriquecedoras. A verdade é que os empresários e os organizadores de empresas comerciais demonstram maior capacidade intelectual e intuitiva do que o escritor e o pintor médios. A inferioridade de muitos intelectuais se manifesta exatamente no fato de não reconhecerem o quanto de capacidade e raciocínio é necessário para desenvolver e fazer funcionar com sucesso uma empresa comercial... A corrupção moral, a licenciosidade e a esterilidade intelectual de uma classe de pretensos autores e artistas é o preço que a humanidade deve pagar a fim de que pioneiros inventivos não sejam impedidos de concluir seus trabalhos”. Não terá sido como empresário, apenas, que fomos admitidos nessa confraria de mulheres e homens notáveis. Nossa já longa experiência empresarial haverá de ter somado ao conjunto dos atributos que compõem nossa modesta biografia, seja como jornalista ou político que não cederam quando o guante da intolerância se abateu sobre a alma da Bahia, emasculando-a, seja como articulista e conferencista, seja, ainda, como relator do Código do Consumidor, a lei mais popular do País, ou como autor de alguns ensaios. Essas pequenas credenciais, suficientes para manter em bom nível minha autoestima, nem de longe se aproximam do mínimo necessário para emparelhar com meus notáveis antecessores. Ainda que não possam ser avaliados para ingresso em academias, há outros fatores em minha vida largamente contributivos para a elevação de minha autoestima. A começar pela qualidade dos pais 12 de quem nasci – João Góes, o velho e bom Seu Gosinho, e Mariana, a extraordinária D. Zilu –, exemplos incomparáveis de retidão, amor ao trabalho e dedicação à família. Deles absorvi, por síntese osmótica, o exercício do entendimento intuitivo de que integridade é obediência ao que não é exigido, de tal modo que se o mundo fosse feito de gente como eles, não haveria, então, necessidade do aparato de instituições como a polícia e o Poder Judiciário. Seguiu-se a comunidade de meus irmãos, caldo de cultura simulador e antecipatório das alegrias e dores do mundo, comunidade composta pelo primogênito e saudoso Joilson, há seis meses tragado pela gratuita, cruel e crescente violência das ruas; Jacira, Jéferson, Julival e os gêmeos Joildo e Joilda. Desse núcleo, já considerável, formou-se família numerosa de cunhados e sobrinhos que aí estão, para satisfação do outono de minha existência, concorrendo com sua criatividade e trabalho diversificado e fecundo para o progresso de nossa terra. Sinto-me feliz também por ter nascido na fazenda São Bento, no município de Ipirá, berço, dentre outros homens e mulheres ilustres, de Eugênio Gomes, um dos mais sofisticados críticos literários do País e membro da Academia Brasileira de Letras, bem como do desembargador Carlos Dultra Cintra, com quem a Bahia contraiu o débito irresgatável de haver libertado o seu Poder Judiciário da submissão a forças que desnaturaram e comprometeram sua missão, ao lado de outros magistrados, a quem homenageio na pessoa do irrepreensível Ministro do Superior Tribunal de Justiça Paulo Furtado, aqui presente na pessoa de sua mulher, a competente juíza Verônica Furtado. Em Lídice, companheira querida de toda a vida, encontrei o destino do meu coração, e com ela tive os amados filhos Joaci, que me substitui com a vantagem de muitos corpos na atividade empresarial, e Alex, poeta, cantor e compositor dos melhores. Por último, fui premiado com a indizível felicidade do nascimento de Maria Eduarda e Daniel – Duda e Dan –, a quem dediquei o meu último livro, A força da vocação, estendendo a dedicatória aos pais 13 Jô e Gabriela e a todos que concorrem para o aprimoramento da educação deles e de todas as crianças do Brasil. E como classificar o bem que faz a minh’alma a legião dos amigos queridos aqui presentes? Voltemos, porém, à memória dos meus antecessores na cadeira n° 7, começando pelo patrono. José da Silva Lisboa, figura notória nos livros de História do Brasil, como o visconde de Cairu, nasceu em Salvador a 16 de julho de 1756 e faleceu na cidade do Rio de Janeiro a 20 de agosto de 1835, aos setenta e nove anos, portanto. Como a enriquecer a moldura de sua excepcional biografia, ele que conquistou o baronato em 1825, e o viscondado no ano seguinte, aos setenta anos, nasceu na capital do Brasil-colônia e morreu na capital do Brasil-império. O visconde de Cairu, patrono dos economistas brasileiros, é reconhecido como um dos maiores vultos do Brasil em todos os tempos, tendo se distinguido como economista, historiador, publicista, jurista e político eminente, com acentuada vocação para o exercício das relações humanas, de que são testemunho as ações diplomáticas que empreendeu com êxito. Segundo Alceu de Amoroso Lima, o Tristão de Ataíde, Cairu foi o “verdadeiro patriarca da independência moral e intelectual do Brasil”. Filho do arquiteto português Henrique da Silva Lisboa e de Helena Nunes de Jesus, aqui fez os estudos preparatórios, com ênfase em Filosofia, Música e Piano, como era o padrão da época. Seguiu para Portugal, aos dezoito anos, onde se graduou em Filosofia e Direito, aos vinte e dois, em 1778, na Universidade de Coimbra. No mesmo ano de sua formatura, foi nomeado professor assistente das cadeiras de Grego e de Hebraico do Colégio das Artes de Coimbra e designado professor de Filosofia nacional e moral para a cidade do Salvador, na Bahia, cadeira que regeu por 19 anos, paralelamente ao ensino de grego, ao longo de cinco anos. Na sequência de sua formatura, bacharelou-se em Cânones pela Universidade de Coimbra, onde concluiu os cursos de Filosofia e Medicina. 14 Atento ao surgimento das teorias que agitavam o Século XVIII, José da Silva Lisboa aderiu ao pensamento liberal do pai da Economia, o escocês Adam Smith, seu contemporâneo, trinta e três anos mais velho, ainda hoje aclamado como o maior dos economistas, cujas ideias centrais permanecem atuais. Na linha da arguição do autor do conceito da mão invisível a guiar a conduta do homo economicus, o visconde de Cairu pregava que um país só progride se seus agentes econômicos dispuserem do máximo de liberdade para acumular riqueza e gastar o que ganharem como quiserem. Sob a inspiração dessa crença, tão logo D. João desembarcou no Brasil em 1808, Cairu pediu-lhe audiência para propor a abertura dos portos brasileiros ao comércio internacional. O Visconde desconhecia que, por razões estratégicas, ditadas pela guerra contra Napoleão, a corte portuguesa, em sintonia com a Inglaterra, sua aliada histórica, já se decidira pela abertura dos portos na denominada “Convenção Secreta de Londres”. Aos quarenta e cinco anos, em 1801, José da Silva Lisboa publicou, em Portugal, o primeiro de sete volumes de sua obra inaugural, sob o caudaloso título de Princípios do Direito Mercantil e Leis da Marinha para uso da mocidade portuguesa, que compreende o seguro marítimo, o câmbio marítimo, as avarias, as letras de câmbio, os contratos mercantes, os tribunais e as causas de comércio. Os outros seis tomos viriam a lume até 1808, quando publicou, também, as Observações sobre o comércio franco no Brasil, em dois volumes. Em sua obra máxima, o tratado Princípios de Economia Política, primeiro livro do gênero escrito em língua portuguesa, publicada em 1804, abraçou, pioneiramente, as ideias expostas por Smith em A riqueza das nações, sendo, portanto, o primeiro a divulgar os princípios clássicos da Economia liberal. Nessa obra, entre as várias causas da infelicidade dos povos, destacou as seguintes: 1) “A crença de que os metais preciosos constituem a única e verdadeira riqueza dos indivíduos e países”; 2) “A esperança de que será mais seguro e vasto 15 emprego quanto menores forem as trocas internacionais”; 3) “A opinião de que os Estados são como os jogadores e que um não pode ganhar sem que o outro perca, nem ser rico sem que os mais se empobreçam”; 4) “A persuasão de que a quantidade de trabalho mecânico e penoso e o esforço de viver – e não a inteligência que bem dirige e alivia o trabalho com auxílio de instrumentos e máquinas e o esforço de melhorar a condição e ter gozos da vida – são as principais causas da indústria e riqueza das Nações”. Aos seus múltiplos títulos como hebraísta, helenista, economista e jurista, o patrono da cadeira que passamos a ocupar era, também, adepto da ortodoxia católica em matéria de política. Nesse mesmo ano escreveu Observações apologéticas acerca da crítica que faz contra Smith o autor das Memórias Políticas sobre as verdadeiras bases da grandeza das nações. Nessa obra, Silva Lisboa invectivava as críticas que então Rodrigues de Brito dirigira ao pai da Economia, no terceiro volume de sua obra intitulada Memórias Políticas. Quando o Príncipe Regente D. João chegou à Bahia, em 1808, José da Silva Lisboa era funcionário da Mesa de Inspeção da Agricultura e Comércio. A ele os comerciantes de Salvador incumbiram de redigir e fundamentar as razões pelas quais pleiteavam a suspensão do embargo do comércio com Portugal, então sob ocupação francesa. A Carta Régia de 24 de janeiro de 1808 oficializou a medida. Um mês depois de chegar ao Rio de Janeiro, na comitiva de D. João, José da Silva Lisboa foi nomeado desembargador do Paço e da Consciência e Ordens. Quatro meses mais tarde tornou-se deputado da Real Junta do Comércio, Agricultura, Fábricas e Navegação do Estado do Brasil. Em 1809 recebeu a incumbência de organizar um código de comércio. Em 1810 foi agraciado com a mercê do hábito de Cristo. Em 1815 foi encarregado das obras para a impressão. Em 1821 integrou a lista dos membros da junta para o exame das leis constitucionais e inspetor-geral dos estabelecimentos literários. Para colaborar no seu propósito de evitar a separação do Brasil de Portugal, Silva Lisboa fundou o jornal O Conciliador do Reino 16 Unido, onde defendeu os direitos do Príncipe e enfatizou as vantagens da monarquia continental. Ao perceber, porém, a irreversível marcha do Brasil pela autonomia política, entregou-se ao combate pela independência, publicando o livro As reclamações, de grande repercussão, onde expôs suas ideias independentistas. Advogado da centralização do poder, combateu através do seu Rebate brasileiro a Confederação do Equador e o Typhis Pernambucano de Frei Caneca, hebdomadário que teve 29 edições, em sua curta vida de sete meses e meio, de dezembro de 1823 a agosto de 1824. É dessa época a publicação do Apelo à honra brasileira contra a facção Federalista de Pernambuco. Mais tarde foi escolhido, sucessivamente, deputado e senador do Império. Em 1832 pugnou pela criação de uma universidade no Rio de Janeiro, fato que só veio a ocorrer quase um século depois. José da Silva Lisboa, o visconde de Cairu, foi ainda um arguto historiador dos fastos do seu tempo. Em 1815 publicou as Memórias sobre a vida de Lord Wellington; em 1818, as Memórias sobre os benefícios políticos de El-Rey Dom João VI; ao longo da década de 1820 trouxe a lume vários volumes de sua inacabada História dos principais sucessos políticos do Império do Brasil. Nosso patrono o é também da última das vinte cadeiras de sócios correspondentes que a Academia Brasileira de Letras criou para corrigir imperdoáveis omissões quando de sua fundação. Ernesto Carneiro Ribeiro, fundador, primeiro ocupante da cadeira n° 7 e primeiro presidente da Academia, autor do clássico Serões Gramaticais, um marco da língua portuguesa, nasceu em 12 de setembro de 1839, na ilha de Itaparica, e morreu em Salvador em 13 de novembro de 1920. Observe-se que, além de Carneiro Ribeiro, a ilha de Itaparica tem sido um berçário de notáveis, a exemplo do frade franciscano e poeta barroco do século XVIII, o Frei Manuel de Santa Maria, conhecido como Frei Itaparica, o historiador Ubaldo Osório, o romancista Xavier Marques e a figura solar de João Ubaldo 17 Ribeiro, um dos maiores romancistas do mundo. Isso sem falar em Maria Felipa de Oliveira, valente mulher negra, envolvida na lenda e na aura de grande e polêmica heroína da Guerra da Independência do Brasil. A crédito de sua existência, militam os registros pioneiros de Ubaldo Osório, em sua História sobre a ilha de Itaparica, e de Xavier Marques, que a fez personagem do seu romance Sargento Pedro. De tal modo Ubaldo Osório se impressionou com as façanhas atribuídas a Maria Felipa, que batizou uma filha, mãe de João Ubaldo, com o nome de nossa heroína. As personagens Maria da Fé, em Viva o Povo Brasileiro, de Ubaldo, e Rosa Palmeirão, em Mar Morto, de Jorge Amado, certamente se inspiraram em nossa Joana D´Arc. Carneiro Ribeiro formou-se em Medicina em 1864. Cursou a ciência de Hipócrates porque à época não havia escola de Direito na Bahia. Os estudos filológicos, porém, a que se dedicou desde cedo, constituíam sua verdadeira vocação, sendo o magistério a profissão de toda a sua vida. Entre seus alunos, além de Francisco Borges de Barros, seu sucessor nesta Academia, destacam-se o oceânico Ruy Barbosa, Euclides da Cunha e o virtuoso homem público Rodrigues Lima. O momento mais alto de sua biografia, sem dúvida, foi a polêmica que sustentou com o mais famoso de seus discípulos, Ruy Barbosa, tendo a língua portuguesa como tema, a partir da redação do novo código civil. Se um dia o Brasil e a língua portuguesa se impuserem ao mundo, essa discussão histórica, composta d´As primeiras impressões, da Réplica e da Tréplica, será reconhecida como o maior monumento filológico de todos os tempos. Francisco Borges de Barros, sucessor do mestre e amigo Ernesto Carneiro Ribeiro, não é um nome conhecido do grande público, não obstante o prestígio que desfrutou junto a seus coevos e que desfruta, hoje, junto aos estudiosos da nossa História. Esta figura singular, cuja biografia contribui para aureolar o município de Santo Amaro, também como berço de notáveis, morreu pobre, depois de prolongada moléstia. O longo tratamento 18 médico a que se submeteu, bem como as despesas dos seus funerais, foi custeado por amigos e instituições a que serviu com competência e desvelo. Morto pouco antes de completar 53 anos, dedicou sua vida íntegra ao trabalho e ao estudo, fazendo quase sempre do seu trabalho, como diretor do arquivo público, o objeto dos estudos que tanto enriqueceram nossa historiografia. Destacou-se pelas pesquisas que realizou nas áreas da História, Geografia e Genealogia. Nascido em 1882, Borges de Barros renunciou às maciezas da aristocracia rural, de que era herdeiro por longa tradição familiar, para graduar-se em Direito em 1903, tendo realizado curso brilhante, ao lado de seu parente ilustre, Moniz Sodré, futuro senador e governador da Bahia, famoso criminalista, autor do clássico As três escolas penais, leitura obrigatória para os estudantes de Direito. Foi dos primeiros a trabalhar pela criação da pinacoteca do Estado, de qualidade reconhecida. Parecia inspirar-se em Leon Tolstoi, que recomendava o conhecimento da própria aldeia, antes de aventurarmonos à exploração do mundo, de tal modo se dedicava ao estudo da realidade à sua volta. Nessa linha de operosidade, legou-nos extensa bibliografia, parte substancial dela em suas contribuições aos jornais O Regenerador, A Tarde, Gazeta do Povo, A Notícia, Jornal de Notícias, A Cidade e outras publicações. Em 1913 publicou seu primeiro livro, O Duque de Caxias na Política do Império, seguindo-se Memória e História de Ilhéus; em 1914, Anais da Capitania de Ilhéus; em 1915, À Margem dos Assuntos e, em 1916, À Margem da História da Bahia. O ano de sua mais copiosa produção foi 1923, com Terras da Bahia, Penetração das terras baianas, Bandeirantes e sertanistas e aquele que é, provavelmente, seu magnum opus, o Dicionário geográfico e histórico da Bahia. Publicou ainda Esboço coreográfico da Bahia; Memória histórica do município de Belmonte; J.J. Seabra; O Castelo da Torre de Garcia d´Ávila; Do Amazonas ao Paraná, obra dedicada à excursão política de Seabra como candidato a vice-presidente da República; Documentos sobre a independência na Bahia; A Revolução de 1798; Antigas capita19 nias da Bahia; Povoadores dos sertões da Bahia; Revolução republicana de 1817; Revolução dos Farrapos; Recursos minerais da Bahia; O comércio da Bahia na época colonial; Confederação dos Guerens; Batalha de Pirajá; Sesmarias da Bahia; Primórdios das sociedades secretas na Bahia. Conquistou o prêmio Caminhoá de literatura histórica. Merece destaque, pelo seu caráter afetivo, o estudo que realizou de seu pago, Patatiba, que ele descreveu como “imensa faixa de terra, que se prolonga do sudoeste ao nordeste do município de Santo Amaro, desde o arraial de São Braz até os engenhos Brejos, Glória, Vitória e Pedra, daí seguindo para o nordeste até as matas seculares que bordam as cabeceiras dos Sergi-mirim e Paraúna”. Borges de Barros foi diretor do Arquivo Público, Inspetor de Monumentos do Estado, presidente da Associação dos Funcionários Públicos, conselheiro interino do Tribunal de Contas, grão-mestre da Maçonaria local e chefe de gabinete nos dois quatriênios do governo de J. J. Seabra. A edição de A Tarde de 16 de fevereiro de 1935, ao noticiar o sepultamento de Borges de Barros, assinala: “Como dissemos ontem, o inditoso escritor morreu paupérrimo, tendo a Maçonaria, de que foi grão-mestre, custeado as despesas dos funerais. Por sua vez, a Associação dos Funcionários Públicos teria avocado outras despesas com a moléstia e tratamento de seu benemérito presidente”. Pelo que transparece dos escândalos em turbilhão que diariamente nos indignam, já não há tantos servidores públicos honrados como antigamente. Aloísio de Carvalho Filho, nascido e morto em Salvador, em 03 de março de 1901 e 28 de fevereiro de 1970, respectivamente, a princípio eleito para a cadeira 26, permutou-a pela 7 com o Monsenhor Francisco de Paiva Marques, com apoio no argumento de que “as afinidades espirituais que, dada a forma de atividade intelectual de cada um, os colocam melhor nos lugares que solicitam”. 20 Aloísio de Carvalho Filho, que já muito antes de sua morte gozava da reputação de ser um dos maiores penalistas brasileiros, foi também jornalista, advogado e um político ilustre. Deputado federal de 1934 a 35, foi colhido pela morte na metade do terceiro mandato de senador da República, sendo substituído pelo seu suplente, Antônio da Silva Fernandes, personalidade modelar como pecuarista inovador e deputado estadual em sucessivas legislaturas. Em paralelo ao brilho invulgar no cumprimento de qualquer dessas atribuições, o jurisconsulto Aloísio de Carvalho Filho primava pela exemplaridade de sua postura. Tenho para mim que o rigor comportamental com que Aloísio de Carvalho Filho vestia sua conduta trazia a subliminar intenção de realçar o contraste entre seu comportamento pessoal e o de seu famoso pai, o jornalista Aloísio de Carvalho, conhecido como Lulu Parola, personalidade singularmente heterodoxa para os costumes do tempo. À frente do coro das mais respeitáveis vozes que proclamam, à unanimidade, o valor moral e intelectual de Aloísio, recordo-me do carinho, admiração, respeito e vigor apologético com que seu discípulo e substituto na cátedra de Direito Penal da Faculdade de Direito, Raul Affonso Nogueira Chaves, meu mestre, paraninfo e amigo querido, referia-se ao louvado comentarista do Código Penal. O saudoso mestre Raul Chaves incorporava ao seu rico acervo pedagógico a prática de apontar em obras da literatura universal situações, passagens e personagens típicas do delito sob exame. Dentre muitas, lá estavam as de Shakespeare, Agatha Christie, Balzac, Dostoyewisky, Morris West e do nosso Machado de Assis. O estudo da galeria de personagens delinquentes na obra machadiana era enormemente facilitado pelos trabalhos produzidos por Aloísio, como Crime e criminosos na obra de Machado de Assis, e o seu delicioso O processo penal de Capitu, que continuam a correr mundo. Nelson de Souza Sampaio foi o amigo e discípulo querido de Aloísio que o substituiu nesta Academia. Amizade e mútua admira21 ção iniciadas quando Nelson, ainda cursando os primeiros anos da Faculdade de Direito, saudou, em nome da classe, o mestre Aloísio, que se ausentaria do magistério, para cumprir mandato de deputado constituinte, como registrou Pedro Moacir Maia, meu eminente antecessor, no seu magnífico discurso de posse nesta Casa, estampado no número 48 da Revista da Academia de Letras da Bahia, cujo pleno teor subscrevo e incorporo a esta arenga. Um pequeno trecho do discurso, então proferido por Nelson, que contava, apenas, dezenove anos, serve para dar a medida do intelectual erudito, culto, refinado e preciso que viria a enriquecer a Ciência Política em nosso País: “Queremos que a lei traga em si o sentido dinâmico que lhe permita acompanhar a evolução sem pôr em risco a sua estabilidade; a lei que traga em si as forças de sua contínua adaptação”. E numa demonstração do espírito de tolerância que estava na base da inabalável higidez democrática que o acompanhou ao túmulo: “Pregamos, sim, o justo equilíbrio entre as forças renovadoras e as forças conservadoras da sociedade, no sentido de uma colaboração recíproca para a criação e a seleção de valores”. Fui aluno de Ciência Política do professor Nelson Sampaio, no primeiro ano do curso de Direito da Universidade Federal da Bahia. Nele, todos admirávamos o scholar, excepcionalmente dotado de pendor para as lides acadêmicas, além do cavalheiro de gestos pausados, impecavelmente vestido, dono do tempo, de tal modo a lufa-lufa não fazia parte de sua vida. Meio a extensa e qualificada bibliografia que nos legou, sendo o excelente Ideologia e Ciência Política o título mais conhecido, há uma monografia que merece destaque especial. Antes de mencionala, narrarei sugestivo episódio. Corriam o ano de 1987 e os trabalhos da Constituinte para a qual me elegera. Encontrava-me jantando, em Brasília, com o deputado Miro Teixeira, quando se aproxima o advogado Saulo Ramos, então Consultor Geral da República do governo Sarney, com o qual o PMDB baiano começava a se desentender. Feitas as apresentações, 22 Saulo Ramos exclamou: “Bahia! Terra do jurista brasileiro de maior prestígio internacional”. Em lugar dos esperados Augusto Teixeira de Freitas, o jurisconsulto do Império, Ruy Barbosa ou Orlando Gomes, Saulo arrematou: – Nelson de Souza Sampaio! Fiquei muito surpreso. Nome reconhecido como grande autoridade em Ciência Política, Nelson não figurava entre nossos maiores juristas. Seguiu-se a explicação de Saulo: “Participei de um congresso de Direito Constitucional em Paris, em que o nome do professor Nelson Sampaio foi unanimemente aclamado como autor de trabalho definitivo sobre os limites do poder de reforma constitucional. Não sei de outro brasileiro que tenha realizado façanha semelhante para a formação de um dos ramos do conhecimento jurídico.” Se, em 1980, não tivesse prevalecido o viés burocrático de nossa universidade ao indeferir requerimento de Nelson Sampaio para dedicar-se em regime de tempo integral, durante, apenas, um ano, à preparação de um tratado, a partir do desenvolvimento de seu conhecido estudo Prerrogativas do Poder Legislativo, em lugar de um, possivelmente teríamos dois clássicos de sua autoria de reconhecimento universal. Sucedendo a Nelson Sampaio, tragicamente desaparecido em 20 de dezembro de 1985, Pedro Moacir Maia toma posse da cadeira n° 7 em 10 de março de 1987, sendo saudado pelo inesquecível Jorge Calmon Moniz de Bittencourt. Ao chegar a esta Academia, Pedro Moacir juntou-se ao seu querido irmão, já acadêmico, e o melhor dos seus amigos, o consagrado contista Carlos Vasconcelos Maia, de saudosa memória. Filho caçula do comerciante Manoel de Almeida Maia e Asterolina Vasconcelos Maia, Pedro Moacir nasceu em Salvador, a 27 de junho de 1929. Órfão de mãe em plena infância, a avó e a tia Zeca dividiram com seu pai a tarefa de criá-lo e educá-lo. Ingressou na escola de Direito, em atenção às solicitações paternas, abandonando-a dois anos depois de frequentá-la, para graduar-se em Línguas Neolatinas e Letras, em 1956, pela Faculdade de Filosofia Ciências e 23 Letras da Universidade Federal da Bahia, onde mais tarde ensinaria Literatura Portuguesa, paralelamente ao ensino de Português, entre 1957 e 1960, no Colégio Estadual da Bahia, onde cursou o secundário. Entre 1959 e 1960, publicou artigos no Jornal da Bahia, sob a rubrica comum de “Livros e revistas de arte”. Dedicou toda sua existência fecunda aos labores intelectuais vinculados à educação e à cultura em geral, como professor, contista, crítico literário, cronista, tradutor e historiador da arte. No exercício desse variado mister, encontrou o leito de sua verdadeira vocação. Iniciou sua atividade magisterial pelo Colégio Estadual da Bahia, o mesmo velho Central de Abílio César Borges, Carneiro Ribeiro, Castro Alves, Rui Barbosa e de tantas personalidades ilustres que integram a História da Bahia contemporânea em suas múltiplas dimensões, algumas delas integrantes desta Academia e muitas outras presentes a esta solenidade. Foi aí que tive a honra de ser seu aluno, integrando uma de suas primeiras turmas. Logo depois ocupou a secretaria do Instituto de Estudos Portugueses da faculdade em que se formou, daí seguindo para lecionar no Senegal, na Faculté de Lettres et Sciences Humaines, da Université de Dakar, de janeiro de 1961 a julho de 1970, encarregando-se, paralelamente, dos assuntos culturais da Embaixada do Brasil naquele país africano, entre 1964 e 1970. Suas atividades em Dakar incluíam conferências, a publicação de artigos e a organização e montagem de exposições diversas sobre assuntos brasileiros, na Universidade e em outras instituições senegalesas. Fazendo coro com o regozijo expresso pelo reitor Edgard Santos por havê-lo recomendado ao professor Pierre Nardin, diretor da Faculdade de Letras e Ciências Humanas da Universidade de Dakar, que logo reconheceu o grande valor do jovem mestre brasileiro, o jornalista Márcio Moreira Alves publicou na revista Visão, em 14 de setembro de 1962, artigo sob o título “O magricela de Dacar” em que exaltou a atuação de Pedro Moacir no continente africano, 24 conforme reproduzido pela A Tarde, em março de 2008. Moreira Alves dá testemunho da inteligência e do empenho diuturno de Pedro Moacir em promover as coisas brasileiras, fazendo de sua sala um mostruário de fotos, de artes plásticas e de livros, entre os quais centenas de obras dos principais romancistas, poetas e sociólogos brasileiros. Moreira Alves, o mesmo que em 1968, como deputado federal, deu a justificativa que os militares queriam para editar o AI 5, ao concitar as jovens brasileiras a não namorarem os integrantes das Forças Armadas, nem comparecerem às festas do sete de setembro, destacou a indignação de Pedro Moacir contra quatro dos seis outros brasileiros que também lá se encontravam, por gazetear o trabalho e dar vazão a velhos preconceitos, inclusive raciais. Observou Moreira Alves que Pedro Moacir fazia do campus da própria universidade onde residia, “um escritório de propaganda unitário e móvel”. Da África, o difusor maior do significado histórico e valor estético de nossa azulejaria migrou para a embaixada do Brasil na Argentina, onde respondeu, de 1970 a 1976, como diretor do Centro de Estudos Brasileiros, ensinou Português, deu cursos diversos sobre as artes no Brasil, organizou e montou exposições de variada temática, particularmente de autores argentinos e brasileiros. É oportuno destacar os cursos que ofereceu, sobre a literatura do Nordeste brasileiro, para graduados no Instituto de Letras da Facultad de Letras de la Universidad de Buenos Aires, as conferências que proferiu sobre arte e literatura brasileiras, bem como cursos sobre o nosso Modernismo e sobre Castro Alves. Completou Pedro Moacir seu périplo diplomático-cultural na América Latina como diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Embaixada do Brasil em Santiago do Chile, entre setembro de 1976 e dezembro de 1981, onde, além de ensinar Português, deu vários cursos, como “Algunos momentos o aspectos del arte em Brasil”, no Departamento de História da Universidade do Chile, em 1978; “Cristianismo y Barroco”, na Facultad de Teologia de la Universidad 25 Católica de Chile, em 1980, repetindo-o em 1981. A exemplo do que fizera em Buenos Aires, organizou e montou diversas exposições de artistas ou temas brasileiros e chilenos, deu entrevistas, escreveu artigos e proferiu conferências para difundir a cultura brasileira. Foram, portanto, vinte anos de vida no exterior, dedicados a atividades como professor, conferencista, tradutor, curador de exposições e organizador de seminários e congressos. Foi membro da College Art Association of América, da American Society for Hispanic Art and Historical Studies, da Tile Heritage Foundation, dos Estados Unidos e da Tiles and Architectural Ceramics Society da Inglaterra. Foi condecorado pelos governos do Brasil, Senegal, Argentina, Chile e Portugal. Acrescido dessa rica bagagem, Pedro Moacir retornou a Salvador, querido torrão natal, onde assumiu a direção do Museu de Arte Sacra, aí permanecendo de 1982 a 1989, e reassumiu o magistério no Instituto de Letras, até sua aposentadoria. Foi no momento do retorno que se deu o acontecimento maior de sua vida: a realização do grande e velho amor com a desde sempre eleita do seu coração, Celeste Aída Galeão, mulher exemplar pela beleza, inteligência, caráter, erudição, a mais de reconhecida pela sua qualificada germanofilia. Para merecer este encontro definitivo de su’alma, Pedro Moacir esperou vinte e um anos, sete a mais do que Jacob serviu a Labão para merecer Raquel, serrana bela. A atividade intelectual de Pedro Moacir à frente do Museu de Arte Sacra, mais uma vez, evidenciou-se intensa. Já a partir de 1982, aí organizou encontros, conferências, cursos diversos como um sobre “A arte paleocristã”, exposições, lançamentos de livros e discos, concertos ao vivo. Instituiu o (novo) Livro do Tombo do acervo artístico do Museu, além da fototeca completa dessas mesmas obras de arte. Esta figura exemplar de nossas letras, a exemplo de Freud, em lugar de fazer da publicação de livros seu objetivo principal, preferiu entregar-se à produção de textos específicos, sob a forma de artigos, destinados a publicações especializadas – livros, revistas ou jornais –, 26 com marcante presença no caderno cultural de A Tarde, nos últimos vinte e cinco anos da vida. Sua produção como editor-amador compreende dezessete livros e cerca de cento e vinte plaquettes, sob a marca Edição Dinamene, entre 1949 e 1981, fim do seu périplo no exterior. Entre 1982 e 2005, a partir de quando sua saúde começou a declinar, produziu cinco livros sobre artes na Bahia. A fotografia, como arte, integrava o amplo leque de seus interesses intelectuais, de que é exemplo a grande quantidade de livros, estatuetas e quadros sobre o assunto que enriqueciam seu habitat estético. Em 1987, sob o patrocínio de importante organização bancária, editou o melhor trabalho existente sobre o Museu de Arte Sacra, com textos e fotos que enchem os olhos e esclarecem o significado dos seus altares, pinturas e afrescos, lápides tumulares, azulejaria, esculturas, crucifixos, calvários, ourivesaria e prataria, utensílios religiosos, móveis e diferentes ângulos de sua exuberante arquitetura. São de 1990 seus textos sobre “Os cinco sentidos, os trabalhos dos meses e as quatro partes do mundo em painéis de azulejos, no Convento de São Francisco em Salvador”. Data de 1995 o livro Adoração dos Pastores e dos Magos em Painéis de Azulejos. Em 2002, publicou Vistas e festas lisboetas em azulejos na Bahia, em que faz um estudo completo da azulejaria inspirada no tema do título, encontradiça na Ordem Terceira de São Francisco, seu claustro e seu consistório. Muito no estilo de sua vocação de infatigável caçador de manifestações estéticas, participou, em 2003, da reedição do livro Azulejos – Reitoria da Universidade Federal da Bahia, como editor e autor das legendas explicativas da azulejaria daquele palácio universitário. Membro altamente participativo da vida da ALB, como seu segundo-secretário, no biênio 1989/90, e primeiro-secretário em biênios seguintes, organizou exposições de livros raros e/ou ilustrados de autores como Jorge Amado (1985), Manuel Bandeira (1986), 27 Castro Alves (1986) e Machado de Assis (1989). Ainda na sede da ALB, proferiu conferências sobre obras e autores brasileiros, tendo, igualmente, organizado e escrito textos para catálogos de diversas exposições. Graças à vitoriosa iniciativa do poeta Fernando da Rocha Peres, autor do prefácio, veio a lume, postumamente, em maio de 2008, o livro Cartas inéditas de Graciliano Ramos a seus tradutores argentinos Benjamin de Garay e Raúl Navarro, com introdução, ensaios e notas de Pedro Moacir, que adquiriu essa correspondência quando exercia o cargo de adido cultural na embaixada brasileira na Argentina. Impresso na Ufba, foi lançado aqui mesmo, nesta Academia. Prova adicional de seu gosto requintado é o preito dedicado a dois vasos sang-de-boeuf, em porcelana rubra, de sua propriedade, reputados seu bem mais valioso, conforme testemunho de Celeste Aída Galeão, que escreveu a orelha, companheira e musa nos derradeiros 25 anos de uma existência dedicada à fruição dos valores e prazeres da estética. Pedro Moacir deixou alguns trabalhos inéditos, como uma Antologia comentada de Manuel Botelho de Oliveira, O Movimento Caderno da Bahia (1948-1952) e O tema da natividade em azulejos portugueses na Bahia. Consoante seu desejo, sua biblioteca foi doada ao Mosteiro de São Bento. Meio à rica galeria de vultos das artes cujas obras reverenciava, Pedro Moacir nutria especial admiração pelos artistas plásticos austríacos Gustav Klimt e Egon Schiele que, à exceção do talento, nada tinham em comum. Enquanto Klimt exaltava a beleza de delicadas e frágeis figuras humanas, Schiele dilacerava tragicamente as figuras de suas construções pictóricas. Produto de sua infatigável vocação de esteta, as artesanais edições Dinamene tiveram tiragens limitadas, de acesso restrito a amigos e colecionadores, dentre os quais o empresário e seu admirador José Mindlin, o mais famoso bibliófilo brasileiro, que afirmou serem 28 elas “pequenos primores gráficos que celebram a supranacionalidade da poesia”. José Mindlin recorda, no caderno cultural de A Tarde de 29 de março de 2008, em memória de Pedro Moacir, os trinta anos de amizade com ele, amizade construída a partir do interesse comum sobre o livro, seu conteúdo e formatos gráficos: “Nossos encontros, tanto em Salvador como em São Paulo, sempre foram fonte de prazer, agradáveis, estimulantes. Admirava-o de longa data, como excelente artista gráfico e polivalente homem de cultura. O amor aos livros é um poderoso fator de união espiritual; e ele nos uniu desde o longínquo primeiro encontro. Antes mesmo de conhecê-lo pessoalmente, admirava suas plaquetas avulsas da Dinamene, caprichosamente impressas, sempre em tipo uniforme, com que divulgou poesias preferidas de Bandeira, Drumond e João Cabral, entre outros... A existência de Pedro Moacir foi profícua para o meio cultural brasileiro e vai fazer muita falta a nós, seus amigos, e ao desenvolvimento da sensibilidade baiana”. Entre os amigos referidos por Mindlin encontravam-se o médico memorialista Pedro Nava e o crítico baiano Wilson Rocha. O historiador e acadêmico Waldir Freitas Oliveira, ao ensejo da morte de Pedro Moacir, observou: “Que posso dizer dele, senão que sempre o considerei um dos mais sérios intelectuais da minha geração? Não fazia alardes do seu vasto conhecimento. Não era de falar muito. Mas como sabia das coisas! Poucos eram os assuntos sobre os quais não tivesse opinião formada.” Segundo a consagradora expressão de Carlos Drummond de Andrade, na conhecida crônica escrita no já remoto 1973, sob o título “Dinamene e seu anjo músico”, as edições Dinamene seriam “ourivesaria gráfica”. Advertiu, ainda, Drummond: “Bibliófilos, já sei que estais excitadíssimos, de gula e olhos acesos. As tiragens são limitadíssimas, e eu preveni que Maia não vende”... “Como um príncipe, oferece as edições aos amigos do verbo, que são também seus amigos”. A escritora austríaca Glória Kaiser, no seu discurso de posse como Membro Correspondente Estrangeira desta Academia, em 29 maio de 2006, disse que “os ensaios de Pedro Moacir Maia sobre azulejos são preciosos e conduzem nosso olhar para obras muito especiais da cultura lusitana. Além disso, os textos escritos pelo professor Pedro Moacir são obras de arte que podem ser lidas e relidas com prazer. Cada uma de suas frases é carregada de sentido profundo e de poesia. Trazem-me à lembrança um ensaio maravilhoso sobre Antônio Vieira e Christina da Suécia.” Mas é com a opinião da psicanalista Urânia Maria Tourinho que mais me identifico, ao arrematar em feliz síntese: “Para mim, Pedro foi um professor da beleza”. Dinamene foi a pranteada amante chinesa de Luís Vaz de Camões que naufragou com ele na viagem que o transportava para ser julgado em Goa pelos delitos administrativos que teria cometido em Macau, onde se encontrava. Segundo a lenda, entre salvar os manuscritos dos Lusíadas ou a amante, Camões preferiu a literatura. Atormentado pelo remorso de sua “escolha de Sofia”, passou a dedicar o melhor do seu estro a cantar a desditosa amada. A esse conjunto de manifestações públicas, apropriadamente laudatórias de Pedro Moacir, gostaria de acrescentar algumas memórias do tempo em que dele fui aluno, em 1958, no Colégio Central, no curso de literatura que deu aos que concorreriam ao vestibular daquele ano. A admiração que provocava em seus alunos o então jovem professor, formado há apenas dois anos, era unânime, pela didática, pela capacidade de despertar genuíno interesse pelo tema exposto, pela espontânea camaradagem da convivência e, sobretudo, pela enorme sensibilidade para identificar o belo em contextos triviais ou incomuns. Intuitivamente, Pedro Moacir orientava o seu magistério pelo reconhecimento da supremacia da compreensão sobre o aprendizado papagueado, irrefletido, consoante a distinção piagetiana entre o simples aprender e o compreender profundo. 30 Registre-se que o Central regurgitava de animação cultural, com a presença de jovens talentosos que logo despontariam para as letras e as artes, como João Ubaldo Ribeiro, Milze Soares, Raymundo Pinto, Raimundo Laranjeira, Ciro Matos, Antônio Guerra Lima, João Carlos Teixeira Gomes, Hélio Contreiras, Glauber e Anecy Rocha, Fernando da Rocha Peres, Affonso Manta Alves Dias e muito mais. A Jogralesca e a geração Mapa saíram dessa tropa de elite que enchia as paredes do Central com murais que abrigavam suas criações, sob a forma de crônicas, artigos e poesias. Recordo-me de um verso de Iracy Celestino, em que ela falava do sofrimento pelo contraste entre seu abatimento emocional “enquanto a natureza arrebenta lá fora em gargalhadas de sol”. No dia seguinte, o seu namorado e depois marido Joca escrevia: “Que os teus ouvidos sejam como esponjas às minhas palavras molhadas de amor”. Pedro Moacir vibrava com a atmosfera intelectual do velho Central. Em uma aluna do primeiro ano, Ana Maria, Pedro pespegou o apelido de Capitu, que permanece até hoje, referindo-se sucessivas vezes a ela para explicar o que Machado de Assis queria dizer quando se referia aos olhos de ressaca de sua mais famosa personagem. De outra feita, amigavelmente questionado no dia seguinte à eleição, pelo seu voto de Minerva, da miss Primavera do Central, argumentou: “Entendo que vocês prefeririam aquela garota morena, dotada de curvas generosas, no que teriam razão se as candidatas desfilassem nuas. Como desfilaram vestidas, não podemos excluir do julgamento o todo formado pela beleza do corpo, o vestuário e suas cores, incluindo as meias, os sapatos, o penteado, os adereços, o modo de andar, a dicção, o conteúdo da conversa e o modo de falar. O sentido de beleza que se deve valorizar não pode estar dissociado da harmonia do conjunto”. Ali se manifestava, naquele pequeno episódio, na plenitude de sua vocação primeira, o refinado esteta que seria por toda vida. O jovem poeta Affonso Manta, então com dezessete anos, que dividia comigo a tarefa de editar o mural O Alvorada, me mostrava, diariamente suas criações poéticas. Ao ler algumas poesias de Affonso, 31 a meu pedido, Pedro Moacir concluiu que o garoto de Poções era um bom poeta. Elogiou particularmente uma em que Affonso inquiria à mãe e ao mundo onde ficara o seu segredo, aquele momento mágico e indefinível que molda o destino dos homens. E, às tantas, Affonso indagava, “Onde ficou meu segredo, minha mãe, onde ficou? Será que ficou no monte, nas cercanias, na fonte? Será que ficou no sino, no sino do velho Jacó? Jacó Sineiro era velho, morreu de triste, coitado, era quem batia o sino nas festas do povoado. Com seu jornal de notícias, estridente e galhofeiro, celebrava casamento de Janeiro até Janeiro. E quanta noiva feliz Jacó não levou no sino, quanto velho, quanta velha, quanto corpo de menino. Um dia a notícia veio e espalhou-se pelo outeiro. Quem bateu o sino velho que enterrou Jacó Sineiro?” Inspirado na sensibilidade de Pedro Moacir e em homenagem a ele, Affonso escreveu em nosso O Alvorada estes versos: “A beleza, poeta, existe na aparência das coisas mais sutis, das brisas mais caladas, existe no mistério incluso da inocência, no despudor das rosas desfolhadas”. Em outra oportunidade, quando se falava dos grandes romancistas vivos, veio à baila o nome de William Somerset Maugham, à época com 84 anos de idade, cujo romance Servidão Humana, figurava, desde 1915, ano de sua publicação, como uma das obras mais aplaudidas do século XX. Para estupefação geral, Pedro Moacir, serenamente, como sempre, disse que à exceção de alguns contos integrantes do livro Contos dos mares do sul, tudo o mais produzido por Maugham não passava de bem composta subliteratura. Muitos anos decorridos daquela que me pareceu uma afirmação pretensiosa, tomei conhecimento de que o diagnóstico literário de Pedro Moacir passou a ser o conceito assentado por parcela ponderável da crítica revisionista da obra do famoso escritor inglês nascido em Paris. Personalidade avessa aos extremos, Pedro Moacir era moderado no aplauso como na crítica. Amante de uma boa piada, sorria, no entanto, com a discrição dos pudorosos. Não obstante sua circuns32 pecção, certa vez, ao falar da poesia brasileira do Século XIX, com a expressão revestida da habitual seriedade descontraída, disse que o pernambucano (Antonio Peregrino) Maciel Monteiro (1804-1868), médico, político, diplomata e poeta bissexto, considerado o introdutor da sensualidade e do lirismo erótico em nossa poesia, discípulo de Lamartine e Victor Hugo, autor do conhecido soneto “formosa, qual pincel em tela fina”, apesar do caráter circunstancial de sua poesia, era muito invejado pelo sucesso que fazia com as mulheres, a ponto de Silvio Romero ter dito dele que “trazia as mãos calosas de arribar saias de seda”. Senhoras e senhores acadêmicos, senhoras e senhores convidados: Consciente do muito que tenho a fazer para reduzir a distância abissal que me separa dos vultos ilustres que me antecederam nesta cadeira de n° 7, assumo nesta noite, tão grata aos meus sentimentos, o solene compromisso de fazer dela o púlpito para continuar defendendo, com ênfase crescente, o significado da educação para a redenção dos povos, a nossa redenção. O primeiro passo consiste em assoalhar a denúncia do continuado declínio do prestígio cultural e político de nossa terra, nas últimas décadas, em compasso com a queda da qualidade do ensino no estado. As sucessivas avaliações do MEC vêm apontando a Bahia como detentora de um dos mais baixos rendimentos educacionais no Brasil. Consectário inelutável desse panorama desolador é a própria Universidade Federal da Bahia que caiu de uma das primeiras posições, quando a cursei, para o 37° lugar entre as universidades brasileiras. Quero observar que nunca uma Faculdade de Direito reuniu, a um só tempo, em qualquer lugar ou época, no Brasil, uma plêiade de professores com a qualidade dos mestres do meu tempo, do nosso tempo, a exemplo de Orlando Gomes, de quem no corrente ano a Bahia e o Brasil cultos celebram o centenário de nascimento. Temos 33 aqui, nesta noite, os dois remanescentes daquele time de notáveis, os professores e queridos amigos Edson O´Dwyer e Luís Viana Neto. O pior de tudo é que estamos em baixa, na qualidade e na quantidade, já que à exceção da Universidade Federal do Recôncavo, em implantação, contamos, apenas, com a UFBa, ao tempo em que estados como Pernambuco e Minas Gerais contam, respectivamente, com três e sete universidades federais. A prestação jurisdicional em nossa terra vem de ser considerada pelo CNJ como a de mais baixo desempenho entre as vinte e sete unidades da Federação. A segurança em nosso estado saiu do plano da preocupação para um clima de alarme permanente e geral, de tal modo se agigantam o crime e a violência em suas mais torpes e cruéis modalidades. Enquanto não formos capazes de dar consequência ao entendimento de que fora da educação não há solução possível para os males que nos afligem, e de que a educação é o caminho mais curto entre a pobreza e a prosperidade, a barbárie em que nos encontramos e o patamar de civilidade que almejamos, seremos, desgraçadamente, condenados a conviver com o inquietante cisma social que ameaça e compromete quando não destrói nossa paz individual e coletiva. Já em 1989, no discurso de posse na cadeira 15, João Carlos Teixeira Gomes, o Joca, romancista, crítico literário, grande poeta maior e um dos mais talentosos jornalistas brasileiros, denunciando nossa perda de prestígio cultural, observava que “as instituições de cultura da Bahia têm uma responsabilidade muito grande. Vivemos numa terra apontada como centro cultural importante em todo o país, mas há muitos anos não temos sabido justificar essa fama. Tudo nos falta. Não temos editoras, raras são as revistas especializadas, entre as quais merecem louvor a da Empresa Gráfica da Bahia e a da Fundação Casa de Jorge Amado, as bibliotecas enfrentam dificuldades para preservar e atualizar seu acervo. Nossa vida cultural é fragmentária e dispersa, com suas manifestações tratadas como se fossem algo de supérfluo, mero luxo ou adorno de civilização.” 34 Decorridos vinte anos do diagnóstico de Joca, o cenário para o livro e o escritor no Brasil, em geral, e na Bahia, em particular, se afigura ainda mais difícil, como se depreende da inteligente análise da excepcional poeta Myriam Fraga, no seu discurso de saudação ao ingresso de Evelina Hoisel nesta Academia: “Frente aos surpreendentes avanços das artes ditas industriais, no seio de uma sociedade que parecia mais disposta a privilegiar as manifestações culturais protagonizadas através do espetáculo, alicerçando assim uma postura que conduzia à festa, à carnavalização, às manifestações coletivas, o livro, como instrumento tradicional de veiculação de literatura, parecia estar cada vez mais condenado à marginalidade e à exclusão. Protagonistas do solitário ato de recriar o mundo através do silêncio, aos escritores caberia apenas o lado escuro do palco.” É oportuno lembrar que das três maiores fontes de poder – a força, a riqueza e o conhecimento –, a força predominou dos primórdios da História até o início da Revolução Industrial, a partir de quando o dinheiro assumiu a supremacia como a principal fonte de poder, liderando até o começo da década de 1970. Desde então, o conhecimento desbancou a força e o dinheiro como o centro do poder. Hoje, como nunca, em função do conhecimento, os ricos, pessoas, empresas e povos, podem ser os pobres de amanhã e vice-versa. A baixa prioridade atribuída na prática à educação pública, em gritante conflito com os discursos eleitoreiros, como o meio mais confiável para vencermos nossas crescentes desigualdades, a corrupção e a violência, caracteriza fenômeno merecedor de diagnóstico no campo da psiquiatria social, uma vez que insistimos na perseguição de resultados diferenciados a partir das mesmas causas, atitude característica dos portadores de doenças mentais. Todas as pessoas esclarecidas sabem, no Brasil e no mundo, que nesta quadra da História em que vivemos, o conhecimento é, acima da força e das riquezas materiais, a principal fonte de poder, 35 dos indivíduos e dos povos, como nos ensinam países como o Japão, a Coreia do Sul e todos os países europeus. As exceções são Estados Unidos e Noruega, que têm feito uso inteligente de suas riquezas naturais, particularmente o petróleo, ao aplicarem os recursos delas originados no desenvolvimento de sua infraestrutura física e educacional, entendida a educação como o amálgama de conhecimento e valores éticos e morais. Ao partilhar com moderado entusiasmo das prometidas riquezas do pré-sal, atento para a experiência histórica que adverte que as riquezas naturais podem ser uma maldição, a exemplo dos países do Oriente Médio e da vizinha Venezuela, que nada, absolutamente nada, conseguem produzir, além do óleo que jorra do subsolo. Exauridas as reservas ou condenado o petróleo à obsolescência, o que restará desses povos infelizes será uma multidão errante e esfomeada a clamar por abrigo e esmolas internacionais. Atuar na contramão desta verdade universal constitui, sim, caso que reclama ajuda da psiquiatria social. Senhoras e senhores, Menos de dois lustros separam esta augusta Casa do seu centenário. “Servir à Pátria, honrando as letras”, este o nosso comando supremo. Penso que serviremos com vigor redobrado a esses dois elevados valores, se fizermos da educação o objetivo maior de nossa ação coletiva. Até porque o processo educacional exige atenção permanente, o que significa dizer que sua boa condução depende da compreensão e da sensibilidade de cada um dos sucessivos e passageiros governos. A Academia de Letras da Bahia é uma instituição comprometida com a perenidade. A docemente ilusória imortalidade dos seus membros será alcançada na medida do significado de suas obras para a construção sólida do presente e do futuro. E nada há que possa competir com o compromisso com a educação como meio para alcançá-la. Aí, então, a Academia poderia passar a incluir, como prática, na lápide tumular de cada um dos seus saudosos membros, 36 a iniciar-se pela de Pedro Moacir Maia, que dedicou toda a sua vida à educação, o imortal verso de Horácio: Exegi monumentum aere perenius (“Eu construí um monumento mais duradouro do que o bronze”). 37 Saudação a Joaci Góes (I) Por João Carlos Teixeira Gomes (*) Prezado amigo e confrade, Prof. Edivaldo Boaventura, eficiente e devotado presidente desta instituição; Demais componentes da ilustre mesa que preside os trabalhos; Caro e operoso amigo Joaci Góes, que neste momento aqui se empossa; senhoras e senhores, Hoje é mais um dia de festa para a nossa Academia, tradicional centro aglutinador das tradições humanísticas da Bahia, bem mais do que um simples cenáculo de cultivadores da literatura. É oportuno destacar este fato no início do meu discurso, pois não devemos esquecer nunca, nesta época de amargo empobrecimento da vida cultural baiana, se comparada a décadas ainda tão próximas, que a Bahia sempre foi considerada um centro irradiador de cultura no plano nacional, reverente aos seus valores. Mas, já dizia Camões que mudam-se os tempos, mudam-se as vontades. Hoje, convivemos mais com zoada do que com refinamento. Entretanto, não sejamos nunca resignados. A Academia abre suas portas para receber o seu mais novo integrante, Joaci Góes, baiano de Ipirá, de prestigioso currículo, e cuja personalidade tem-se projetado, ao longo de uma vida laboriosa, sobre os múltiplos vetores de empresário, político, jornalista e escritor. Ocupa hoje a vaga aberta com o falecimento do nosso sempre lembrado e querido amigo Pedro Moacir Maia, em cadeira 39 que tem a pródiga tradição dos luminares já mencionados pelo nosso homenageado, ao me preceder na tribuna. É pois uma data de alegria para sua vasta legião de admiradores e amigos. Autor de dois livros sobre a inveja e o ódio, raros na bibliografia brasileira, em ambos Joaci Góes esmiúça, com competência e erudição, os desvãos da misteriosa alma humana, sob o embate de algumas das suas emoções mais perturbadoras e violentas. Nada mais precisaria escrever para que ingressasse nesta Casa, mas já nos brinda com opulenta obra sobre vocação. Ao completar a leitura dos dois volumes citados, tomei, pois, do Rio de Janeiro, a iniciativa de indicar o nome de Joaci Góes a uma das vagas existentes na Academia, sem favorecimentos, pelo critério exclusivo do mérito. Foi um compromisso de elementar justiça. Atentei para o fato de que vivemos hoje na Bahia e no Brasil uma lamentável época de retração da crítica, de pobreza de bons resenhistas de suplementos literários, que aliás escasseiam, da perda de qualidade dos leitores interessados em comentar os livros importantes, muitas vezes negligenciados. Já não temos hoje em nosso universo de leitores nomes do porte de Carlos Chiacchio, Pinto de Aguiar, que de tão obcecado leitor acabou transformando-se em grande editor, fundador da memorável editora baiana Progresso, Carvalho Filho, Godofredo Filho e Hélio Simões, que, sendo escritores, tanto dignificavam também o exercício da leitura, com preciosas críticas e sugestões aos autores, nascidas de conhecimento e de sensibilidade humanística. Reina frequentemente nos meios literários a insidiosa conspiração do silêncio, morte da literatura. Era preciso vencê-la, e por isso fiz a presente indicação, afinal vitoriosa, numa decisão que honra a Academia. Não posso nem devo alongar-me, porque a festa é do confrade que chega. Mas, para evitar a pecha de usurpador, não quero incorrer na de omisso. É da praxe acadêmica que falemos ao público sobre os aspectos mais destacados da vida e da obra do novo conviva, por mais 40 conhecidas e louvadas sejam as suas qualificações. Tenho o dever protocolar de fazê-lo, mas esta obrigação é também um prazer e um privilégio, pela causa da boa literatura. E já que falei em praxe, não pretendo observá-la, entretanto, no tratamento, suprimindo as “excelências” e os “ilustríssimos”. A Academia é sobretudo uma amorável reunião de pessoas dedicadas às letras e às humanidades, que se organizam para perpetuar a tradição do saber e da escrita. Os credos e as distâncias aqui se anulam. É, enfim, uma confraria de iguais, que detestam a retumbância das etiquetas e o desnivelamento das hierarquias. Se os fatos ligados a mim são hoje e aqui irrelevantes, quero iniciar, contudo, com uma confissão pessoal. Jornalista como Joaci Góes, também, como ele, em determinado momento da minha vida, quis ser político. E isto porque Joaci encarnou, para mim, o ideal do político em seu mais alto sentido, em seu significado mais profundo: o daquele que, sacralizado na carreira pelo voto do povo, soube colocar-se a serviço das aspirações públicas, com uma atitude inédita, eu diria mesmo assombrosa, nos dias que correm: no auge do seu prestígio, tendo à sua disposição a força eleitoral e os votos que quisesse para reeleger-se à Câmara Federal, Joaci Góes renunciou à vida pública, desiludido com o que testemunhara na convivência parlamentar. E olhem que ele integrava a Constituinte que tinha o dever de levar o Brasil à redemocratização, após a longa noite política da ditadura de 64. Fazia parte de um grupo de deputados comprometidos com a abertura, alguns devotados e até mesmo heroicos nos seus compromissos para com os destinos do País, outros uns oportunistas que iludiram a consciência democrática da Nação. Assim, entretanto, é a vida pública, numa dualidade que, mais, talvez, do que uma realidade política, traduz as oscilações do frágil caráter humano, quando confrontado com seus interesses. Joaci Goés integrava, ao lado de Ulysses Guimarães, Teotônio Vilela, Leonel Brizola, Mário Covas, Tancredo Neves, Sobral Pinto, 41 Barbosa Lima Sobrinho, Rômulo Almeida, Waldir Pires e outros pró-homens da resistência ao militarismo recalcitrante, apoiado pela subserviência e pelo oportunismo dos políticos beneficiários do golpe, a grei ilustre dos combatentes que fustigavam a opressão e se recusavam a viver sob as trevas. Espero não ter resvalado nas omissões indesejáveis, mas não era certamente muito mais extensa essa lista de bravos. No âmago daquelas duras lutas políticas, em anos de ainda dúbia e dificultosa definição de rumos para o país angustiado, destacou-se, inclusive, como coordenador da bancada federal do PMDB da Bahia, que iria ajudar nossa terra a libertar-se da tirania local, e sobretudo como o relator do Código de Defesa do Consumidor, cuja Comissão presidiu no Parlamento, obtendo-lhe, enfim, a aprovação, para o que foi decisiva sua presença em debates e palestras realizados em todo o País, em 1989 e 1990. Foi o itinerante cruzado da defesa do bolso do povo, num país que apenas privilegiava o interesse de quem produzia e vendia, mesmo produzindo com defeito e vendendo sem ética. Só essa notável vitória seria em si mesma suficiente para consagrá-lo como representante da sociedade brasileira no Congresso. Tendo ajudado a redefinir os caminhos do País após o regime de exceção, prestigiado como o parlamentar que obteve a elevação de recursos orçamentários de modestos onze por cento para quarenta, destinados especificamente ao Nordeste, conhecido pela ampla difusão do Código de Defesa do Consumidor e com seu nome sempre lembrado para o Senado ou para o governo do Estado, certos rumos da vida congressual ainda assim não se coadunavam com a sua visão da função social e dos objetivos da política, e por isso mesmo Joaci Góes encerrou por moto próprio a militância. Foi cuidar dos negócios privados e fundar uma universidade. Já antes, em 1969, por seu convite, o arquiteto Lúcio Costa, um dos construtores de Brasília, veio a Salvador para projetar o bairro Patamares, uma das mais significativas realizações da Goés-Cohabita, 42 por ele fundada e presidida, dentro do espírito empreendedor legado pelo seu pai, o Sr. João Góes, o estimado “Sêo” Gosinho. Tempos depois, tendo realizado um curso, em 1975, em Stanford, construiu em Porto Seguro uma universidade, tomando como modelo o campus norte-americano, cujo funcionamento observou nos EUA. O primeiro complexo das Faculdades do Descobrimento, esse o nome da nova instituição, recebeu o nome de Roberto Santos, em homenagem ao grande governador, padrão de moralidade política e de respeito à coisa pública. Não satisfeito, Joaci doou ainda a Porto Seguro uma magnífica biblioteca aberta ao público, a que deu o nome de “João Ubaldo Ribeiro”, numa homenagem ao escritor já prestigiado nacionalmente. O lugar comum do jargão político costuma definir o Parlamento como “o eixo da democracia”, “o suporte da democracia” e coisas do mesmo gênero. Mas não são necessárias tantas palavras: o Parlamento É a democracia. Até os piores regimes autoritários que o mundo já conheceu, como o nazismo de Hitler e o comunismo stalinista, não dispensavam o ornamento e a simulação de presumíveis casas congressuais, como o Reichstag e a Duma, para fingir que ouviam representantes do povo, todos silenciados pela obediência servil ou pelo medo do chicote opressor, o látego dos tiranos. Por isso, senhoras e senhores, já encerrada a minha atividade jornalística numa redação, pensei certo dia em candidatar-me a deputado federal. Movia-me o idealismo. Achava digno continuar a dura luta jornalística de toda a minha vida – mais de 20 anos de presença diuturna num matutino, em tempos temerários, como lembrava o belo título do livro de Nestor Duarte – no cenário do Parlamento Nacional. Peço licença ao nosso homenageado, que lá esteve e não quis continuar, para ampliar esta breve confissão, pela primeira vez tornada pública: no início dos anos 90, agendei, no Rio de Janeiro, uma reunião com Leonel Brizola para discutir as bases da minha candidatura. Eu o admirava pela coerência política e pela bravura 43 revelada no episódio traumático da deposição de Jango. O breve sonho logo se dissipou. Um dia antes do encontro, com prazo definido e generoso, Brizola anunciava em jornais cariocas que apoiaria, na Bahia, forças políticas que eu considerava retrógradas e abomináveis, com as quais nunca subiria num palanque. Acabei ficando de uma vez no Rio, para não ter que testemunhar no plano baiano o retorno da hipocrisia, da impostura e da opressão. Não tive, pois, a ventura de Joaci Góes e não pude tornar-me deputado em luta pela consolidação democrática. Mas confesso que, em meus livros e artigos de jornal, sempre usei a palavra “democracia” no Brasil com grandes reservas. Nem sei mesmo ainda hoje se, salvo de referência ao curto hiato do governo Juscelino, podemos empregá-la no País sem constrangimento conceitual. Não me refiro à democracia formal, aquela fundada na presumível partição dos poderes e no ambivalente jogo das simulações institucionais, no jogo, enfim, do faz de conta. Penso efetivamente na democracia como o predomínio do império das leis a serviço da plenitude da cidadania e das aspirações coletivas. Já escrevi em meu livro Memórias das Trevas, e o repeti várias vezes em artigos, que no Brasil o poder não está nunca a serviço da sociedade, mas sim do grupo que o detém. É uma contrafacção histórica, cujo desdobramento levou à degradação que todos os brasileiros estão testemunhando nos dias que correm, sob o espanto da desmoralização progressiva do Parlamento, incluindo Câmara e Senado, da derrocada das instituições, sem excluir parte da imprensa, e dos tribunais. Predomina hoje no País, mais do que nunca, a ideologia do oportunismo, acintosa e corrosiva, promovida por conhecidos (e diariamente citados) políticos desavergonhados, íntimos dos cofres públicos e privados. Só não os cito nominalmente aqui porque, além de notoriamente conhecidos, não pretendo perturbar com revelações óbvias este clima de confraternização e de festa. Mas todo momento é importante quando se trata de denunciar e combater a fraude das instituições e o esvaziamento 44 da democracia. A consciência social não pode acomodar-se e deve agir como um instrumento de libertação. Creio, meu bravo amigo Joaci Góes, que não estou deslustrando a sua investidura ou tampouco importunando o auditório que veio ouvi-lo, pois, afinal, estou evocando fatos que em sua trajetória política foram tenazmente combatidos. Da sua atividade no Congresso recebemos um legado de realizações e decência parlamentar, coroado pela autodesejada e refletida interrupção de uma carreira vitoriosa, como protesto. Neste particular, pôde o amigo mostrar-se digno das lições de compostura e honradez pessoal historicamente legadas à Bahia pelo grande líder Otávio Mangabeira, o “democrata irredutível”, como bem o definiu Paulo Segundo da Costa, na biografia que lhe dedicou, e do qual o ágil poeta Sílvio Valente disse, com graça, nestes tercetos: Jamais no peito a grande voz calou-se! E árvore antiga, hoje se enflora e exulta, Dando a mangaba cada vez mais doce. São de Otávio Mangabeira estas palavras proféticas: “Amaldiçoada a corrupção, desgraçadamente a grande lepra da atualidade na República!”. Se vivo estivesse e avaliasse a vida nacional, estou convencido de que acharia ter despencado, hoje, num leprosário. Não nos esqueçamos de que dele também é a frase famosa, segundo a qual “pense em um absurdo, na Bahia há um precedente”. Basta evocarmos a inconcebível mudança do nome do aeroporto Dois de Julho, data sagrada e intocável dos baianos, para sentirmos a dura veracidade da frase. Nenhuma terra esquece o que deve aos seus heróis. Preciso agora falar do nosso homenageado como o jornalista que, durante tantos anos, a partir de 1975, orientou e dirigiu, num clima de ameaças da ditadura, sempre hostil à imprensa, o jornal Tribuna da Bahia, fundada em 1969 pelo saudoso Elmano Castro, 45 com sentido renovador. Foi a Tribuna, suplantando o veículo cuja redação eu comandava, o Jornal da Bahia, iniciado em 1958, o primeiro órgão da imprensa baiana a usar o sistema off-set de impressão, considerável avanço tecnológico para a época. Sua redação era integrada por jovens competentes e dedicados, sob a chefia, primeiro, do saudoso jornalista Quintino de Carvalho e, tempos depois, por João Ubaldo Ribeiro, que já começava a trajetória literária que o consagraria como romancista. Foi a Tribuna, sob a direção de Joaci Góes, o jornal pelo qual respirava o governo democrático de Waldir Pires, acossado noite e dia pelo desrespeito e pelas agressões, não só políticas como pessoais, do seu rival e implacável opositor, derrotado nas urnas. Mas, através de uma transação indecente, conseguira este retransmitir na Bahia a programação de poderosa emissora de TV, cujo noticiário local usava para difamar o novo governo. Eu o integrava, então, como discreto assessor, mas, incomodado com a falta de reação, inclusive na Assembleia Legislativa da Bahia, fui procurar um dia Joaci Góes, que me recebeu gentilmente em seu apartamento na Federação. Disse-lhe que estava acontecendo um desastre e que era preciso reagir com firmeza às seguidas tentativas de humilhação e deboche. Propus, então, escrever na Tribuna uma série de artigos contestando as infâmias. Como se tratava de iniciativa exclusivamente pessoal, deveria fazê-lo sob pseudônimo. Essa velha prática do jornalismo brasileiro não me agradava, e eu jamais a utilizara antes na minha carreira, mas a ela precisava recorrer, porque não tinha nenhuma autorização oficial para lançar-me àquele tipo de luta. Joaci Góes entendeu minha posição, concordou e organizamos ali, espontaneamente, uma espécie de complô embrionário da resistência. São fatos trazidos a público pela primeira vez e engrandecem a trajetória do jornalismo independente. Lembro outro episódio: foi a Tribuna o jornal que noticiou com mais destaque a vitória que obtive em 1972 – um dos anos mais tenebrosos da ditadura, com mortes seguidas nas prisões – triunfan46 do, num Tribunal Militar, sobre os arreganhos do então governador da Bahia, desejoso de encarcerar-me numa das masmorras do golpe. Escapei graças à competência do advogado Heleno Fragoso, em julgamento de grande repercussão nacional. Também Joaci Góes teve que enfrentar as intimidações do governador e do regime que o sustentava, particularmente no momento em que assinou um manifesto contra a cassação do deputado Francisco Pinto, alvo da fúria castrense porque se colocara contra a vinda, ao Brasil, do general Pinochet, o nazista que comandava o Chile, depois de matar Allende. Essa ocorrência impediu que o nosso homenageado pudesse inscrever-se num curso na Escola Superior de Guerra, por veto do Serviço Nacional de Informações, o SNI, órgão ativo da repressão. Eram assim tratados os jornalistas independentes, naqueles tempos selvagens. Lutávamos como podíamos, pois, segundo a frase de Leonor Roosevelt, que nosso homenageado gosta de lembrar, “ninguém é capaz de humilhá-lo sem o seu consentimento”. Não consentíamos, nunca consentimos, mas a luta era muito perigosa e desigual. Entretanto, lutamos. Não nos deve preocupar o medo de perder as batalhas, mas sim o de não participar delas. É preciso registrar, inclusive, fato pouco divulgado, que a censura se tornava bem mais intolerante e drástica em relação à imprensa do Norte e Nordeste, pois o golpe era mais cauteloso ao vigiar os jornais do Sul, para evitar a repercussão internacional das interdições e dos vetos. Um grupo de homens despóticos se julgava no direito, que jamais pode existir numa sociedade civilizada, de dizer aos cidadãos o que eles deviam pensar ou fazer. A tirania é a mais repulsiva das manifestações do poder. Mas certas discriminações, sobretudo no plano cultural, continuam presentes na vida do Brasil. Os valores regionais, e são muitos em variados domínios, precisam deixar suas áreas para triunfar nacionalmente. A Bahia, por exemplo, quase não existe hoje para os jornais, os suplementos, as editoras e as iniciativas culturais do 47 Rio e de São Paulo, a não ser como a terra extravagante do acarajé, do coco e do axé. Não há duvida de que vamos perdendo, há anos, densidade cultural. E se somos propositadamente isolados, pois é óbvio o intuito de colonialismo interno, era o caso de reagirmos, fazendo do nosso rincão uma comunidade cada vez mais sólida, independente e determinada, social e culturalmente. É o momento de falarmos de Joaci Góes como escritor, prestigiado por suas duas obras básicas, os livros A inveja nossa de cada dia e Anatomia do ódio, respectivamente de 2001 e 2004, ambos editados pela Topbooks de José Mario Pereira, aqui presente, o editor do qual o reputado crítico Wilson Martins disse ser o único, no Brasil, com visão e competência cultural, presentes em tantas obras já divulgadas, inclusive de autores do passado. O grosso volume de 526 páginas que o nosso homenageado dedicou ao estudo da inveja é livro que lemos com delícia e ... temor. A cada passo receamos identificar-nos naquelas páginas recheadas de invejas e invejosos célebres nas crônicas do mundo, imemorialmente. Nas ciências, na literatura, nas artes, na música, nos esportes, nas universidades, nos laboratórios, na política, nas administrações públicas e privadas, nas academias, é claro, não há quem já não tenha sentido inveja de uma descoberta, um livro, um soneto, um quadro, uma melodia inspirada, uma jogada magistral, uma conquista, um avanço, uma excepcional realização, qualquer maravilha, em suma, que tenha sido concebida já não diríamos por um rival, mas por um simples mortal que nos superou em capacitação, fantasia, força criadora, inventividade, domínio dos seus meios de expressão. A república das letras e das artes, por exemplo, costuma ser povoada não por convictos democratas, mas por monarcas absolutistas, cada qual desejoso de impor a todos as suas leis (por isto são implacáveis as teorias e as escolas) e levantar todos os troféus. É no 48 terreno da criação artística, das letras e das humanidades, sempre propensas a exaltar formalmente a dignidade da convivência humana, que a inveja costuma espalhar suas tropas mais aguerridas. Um romance de excepcional êxito de público e crítica pode fulminar um rival ou levá-lo a uma longa depressão. O grande Borges lembrou, com exatidão, que diante de um belo verso sentimo-nos inclinados a recitá-lo em voz alta. Eis uma forma sutil de apropriação, pois, na verdade, gostaríamos de tê-lo escrito. Já os pastiches, por sua vez, são invejas dissimuladas. Joaci Góes começa o seu alentado livro, elogiado pelo prefaciador José Ângelo Gaiarsa, psicanalista afamado, que logo o considerou exemplo de “documentação e argumentação impecáveis”, lembrando que “a inveja é o mais presente e o mais nocivo de todos os sentimentos (...), o maior segredo (...) e o mais inconfessável de todos os pecados”. Também “um modo de ver carregado de amargura”, presente desde os tempos bíblicos, pois nos Evangelhos ficamos sabendo que Lúcifer acabou sendo um anjo amaldiçoado e decaído por revelar-se enciumado com o poder de Deus. O demônio nasceu da inveja. Efetuando exaustivo levantamento da longa crônica da inveja em todos os tipos de atividade, estudando o que sobre ela escreveram ou como a ela reagiram filósofos, publicistas, poetas, músicos, chefes de Estado e uma densa relação de fontes estudadas, Joaci a revelou como uma realidade transistórica, imutável e permanente na vida humana. Ela se instala como um lobo feroz no universo emocional de homens e mulheres, em geral com efeitos devastadores. Mostra o nosso homenageado, com pena detalhista, que à inveja não ficaram imunes os mais altos poetas, os mais inspirados pintores e músicos, cientistas, descobridores, gênios de todas as épocas e lugares. É um fenômeno que transcende os homens para instaurar-se entre nações, citando o autor o antijudaísmo de Hilter como expressão de antiga inveja da Alemanha para com as práticas e as tradições dos judeus, execrados longo tempo pelo cristianismo. 49 Em trecho relevante, a investigação nos adverte que é unicamente em virtude dos mecanismos sociais de convivência que o ser humano invejoso (potencialmente, todos nós) contêm os seus impulsos destrutivos diante do objeto que o subjuga. Diz ele: “A convivência social exerceria um papel imperativamente repressivo do qual nasce o conformismo”. Quer dizer: invejosos... mas conformados com o êxito alheio, fato que não se manifesta apenas na órbita das altas criações, mas nas simples relações entre vizinhos, em que um lamenta e deseja o carro novo do outro... Num plano mais ambicioso, a inveja seria até mesmo, no rol das reações humanas em escala universal, “um modelador em grande medida da História”. Fato curioso: na longa lista de personalidades citadas no livro para fundamentar a ampla conceituação da inveja e suas consequências, nosso autor relaciona apenas homens, todos luminares e famosos. Não surpreende a sua generosidade para com as mulheres, desde quando, entre as suas teses mais estimulantes, está a de que a inveja do homem nasce basicamente da rivalidade que eles exercitam entre si, levados pelo instinto de competição e de dominação “de coisas e pessoas”, o que naturalmente inclui a luta pela posse das fêmeas. “O macho” – diz ele – “encararia a vida como se fosse um campeonato interminável”, com o objetivo do “controle da hierarquia”. Controle, enfim, nos negócios, na política, na guerra, na criação, na vida e, naturalmente, no amor, que exacerba sentimentos de disputa, confronto e posse. Não devo mais, como é claro, por questões de limite de tempo, estender-me sobre o livro de estreia do nosso homenageado, que assim começou onde muita gente acaba. Mas se há uma palavra que define com absoluta propriedade o que acabei de analisar, só me cabe dizer: é uma obra ... invejável! Gostaria de ressaltar que não me movem, neste discurso, as obrigações acadêmicas de recipiendário, mas sim a formação e o interesse do obstinado leitor e crítico literário que sempre fui, no 50 jornalismo, nos livros e no magistério, fato que me levou a indicar o nome de Joaci Góes para a Academia como um ato de justiça intelectual e cultural. Seu segundo livro, o também alentado Anatomia do ódio, de compactas 471 páginas, constitui a reafirmação das suas qualidades de ensaísta, integrando-se numa linha pouco usual na literatura brasileira, onde são raras as obras de reflexão sobre a condição humana no quadro das suas emoções fundamentais, fora, naturalmente, da ficção. Por este aspecto, de certa forma Joaci vincula-se a uma tradição que vem da literatura ibérica dos chamados Séculos de Ouro, na vertente do ensaísmo moralizante, em que se destacou, por exemplo, Baltasar Gracián, com projeções na poesia cáustica de Francisco de Quevedo. Reformadores da alma, empenhados em neutralizar-lhe os venenos com o antídoto da literatura, numa tradição que remonta ao estoicismo de Sêneca. Não se preocupem, porém, que não vim aqui para fazer crítica literária. O que desejo é apenas destacar o interesse pela leitura de um livro que nos fala do ódio com uma profundidade e vastidão rara em nossas letras (ou em outras, certamente), além de trazer sobre o tema, no final, uma relação de breves pensamentos, alguns deliciosos, como este de Byron: “O ódio é, de longe, o prazer que dura mais. Os homens amam com pressa, mas odeiam devagar”. Reflitam também sobre esta joia de Gandhi: “Olho por olho e o mundo acabará cego”. E, no entanto, apesar de tanto sabermos do mal que esse sentimento nos causa, não há dúvida de que a história do mundo, desde os tempos primitivos, é uma história de ódios. Esta lição eu e nosso homenageado aprendemos diariamente à frente de um jornal, onde nos acostumamos a conviver com “a cobiça e a desordem do mundo”, para usar a expressão de Gay Talese, ao estudar a trajetória do New York Times. Raro era o dia em que não nos obrigávamos a noticiar uma agressão, um homicídio tenebroso, a irrupção de uma guerra ou de um atentado, egoísmos, injustiças de governos, perseguições 51 religiosas ou políticas, racismo, discriminações etárias, supressão de direitos, expansão do terrorismo e dos crimes políticos ou habituais. Nossa experiência jornalística já nos havia revelado a intensidade do ódio político que se voltou contra nós na Bahia. Joaci Góes, pois, ao escrever seu livro, não se entregou a um mero exercício intelectual, mas sim exprimiu o que lhe foi dado apreender no enfrentamento pessoal do rancor e da intimidação. Livros assim nascidos ajudam a compreender melhor a condição humana com o objetivo de aperfeiçoá-la. O grande reformador Luís Calvino, em sua obra fundamental A instituição da religião cristã, asseverou que Deus permitiu aos homens as guerras, os crimes e a violência para que eles percebessem que este mundo é falso, precário e fugaz, e se voltassem para a vida eterna. Mas não é possível esquecer que a pátria do homem é antes o mundo físico e que ele tem aqui um compromisso com a dignidade e a decência da vida. Anatomia do ódio é uma codificação da trajetória da violência humana sobre os destinos do mundo, pontilhado de crueldades, permanentes conflitos devastadores, acumulação progressiva dos arsenais de destruição e dos aparelhos repressivos de governos, instauração de regimes despóticos com seus sistemas institucionalizados de tortura e morte, esmagando os princípios universais do Direito e da dignidade humana, sempre aviltados pelas tiranias. Vivemos sob o temor de que a vastidão dos arsenais atômicos acabe rompendo o equilíbrio mantido a custo pelo ser humano, dilacerado entre o impulso da violência e o instinto de sobrevivência que as guerras neutralizam. A insânia do homem já o fez despejar duas bombas atômicas sobre populações civis. Milhares de pessoas morreram carbonizadas ou se evaporaram em segundos, sob o impacto de um turbilhão de fogo e radiotividade. Esse hediondo crime levou quem o autorizou a ser considerado herói em seu país, da mesma forma que as praças do mundo inteiro estão repletas de estátuas de guerreiros, invasores e assassinos. Não espanta que seja assim, se o homem, semeador de 52 desertos e de mundos mortos, é também capaz de destruir os santuários da natureza de que ele precisa para sobreviver. “O ódio é uma das emoções mais dolorosas e das mais difíceis de lidar com sabedoria”, diz-nos Joaci, para, mais adiante, analisar o ódio que nasce da opressão, não apenas a política, mas a que se instaura também nas relações familiares ou de trabalho, além dos ódios universais nascidos das guerras e das invasões, como a recente, do Iraque, pelos Estados Unidos, que plantaram no mundo árabe um caldeirão de ódios e de ressentimentos, embriões de retaliação e vingança. O ódio é a usina de ódios, mostra-nos a história dos povos, inclusive nas nações mais cultas. A notável França de escritores, pintores e filósofos, eixo da cultura universal, foi também a sanguinária França dos massacres dos protestantes, na noite de São Bartolomeu, e dos banhos de sangue do Grande Terror revolucionário, quando, como canibais, os cidadãos de Paris, entusiastas da guilhotina, também decapitavam cabeças “lentamente, com serras”, marchavam com elas na ponta de chuços e estacas, obrigavam as vítimas “a beber o sangue dos mortos” e promoviam “estupros em série”, segundo revela David Andress no livro O Terror. No seu famoso Dicionário Filosófico, Voltaire faz uma revelação surpreendente: o rei judeu David, o “Ungido do Senhor”, vencedor de Golias, era um homem que, dominado pela violência, degolava “crianças de peito”, chefiava 600 bandidos invadindo terras dos aliados e matando velhos, mulheres e meninos, traía amigos e espalhava a morte e a carnificina nas disputas tribais, revelando uma personalidade desequilibrada e agressiva. Com maior ou menor amplitude, Joaci Góes assinala os confrontos nascidos das discriminações políticas, religiosas, étnicas, econômicas, gerando os guetos da miséria e da exclusão social. Parte relevante é aquela em que aborda os efeitos da socialização sobre a maneira com que homens e mulheres reagem ao sentimento de ódio, os condicionamentos do sexo no contexto das reações violentas, não raro traduzindo bloqueios e interdições religiosas, éticas ou 53 históricas. Em suma, efetua um levantamento exaustivo, mas sempre aliciante, da humana condição diante das solicitações extremas do ódio, da raiva, da ira e da cólera, sob cujo influxo, diríamos nós, o homem libera a sua congênita animalidade de predador. Em alguns momentos, nosso homenageado aproxima as preocupações de análise presentes nos dois livros citados, quando diz, por exemplo: “A inveja (...) é um tipo de ódio contínuo, secreto, ardendo em banho-maria”. Ou ainda: “A ira interage com muitas emoções, tais como: temor, compaixão, arrependimento, alegria, vergonha, remorso, amor, culpa, tristeza, ciúme, cobiça, ressentimento, inveja. Estas emoções tanto podem preceder quanto suceder o sentimento de cólera”. Busquei, pois, passar ao público uma ideia do conteúdo dos livros iniciais de Joaci Góes, seus salvo-condutos para a cadeira que hoje assume, e bem sei que outros estão chegando, inclusive A força da vocação, em que, lembrando Confúcio, ele nos diz que “escolha bem sua profissão, e você não terá que trabalhar um dia sequer em sua vida”. Em gestação já se encontra o seu livro de memórias, que pressupõe o registro de uma vida dinâmica, completada nas atividades de articulista e comentarista. Nós o saudamos, pois, com emoção e com alegria, desejando que, no convívio acadêmico, possa encontrar novos estímulos à sua vocação de escritor, empenhado em transformar a educação num fator de elevação moral e intelectual do povo brasileiro, como é do seu confessado propósito. Minhas senhoras e meus senhores, caro homenageado: O homem tem a obsessão de tudo catalogar, classificar e dividir. Até o seu breve percurso existencial é fracionado em idades, a última das quais recebe as ultrajantes palavras com que se execram a velhice e a proximidade da morte inapelável. Mas a idade do homem, a partir de quando ele adquire a consciência do mundo, é uma só, inconsútil. Todo o tempo fugaz do ser humano deve ser o tempo do 54 amor e da amizade, da reverência à beleza e ao impulso mágico que nos impele ao grande balé da vida, como frágeis dançarinos do acaso. Não nascemos para a lamúria, para a renúncia ou para o desespero. E nós, escritores, que de alguma forma fomos contemplados com o dom da palavra, devemos procurar usá-la para iluminar a obscura consciência do homem, sempre indecifrável em seus desvãos. Por mais irrelevantes que sejam esse dom e o nosso papel, temos todos o dever de, com a magia e o mistério do verbo, conduzir para além essa luz abençoada, farol do mundo, que nos ajuda a dilatar as nossas esperanças e construir os nossos destinos, sob o império dos sonhos, matriz das utopias, mas também da lucidez e da vontade soberana. Muito obrigado a todos os presentes e ao nosso homenageado, o novo acadêmico Joaci Góes. Discurso de saudação ao ingresso de Joaci Góes na ALB – Sessão solene em 24 de setembro de 2009. 55 Saudação a Joaci Góes (II) Edivaldo M. Boaventura, Presidente da Academia de Letras da Bahia Companheiros da mesa alta, Caras confreiras e estimados confrades, Senhoras e Senhores, Escritor João Ubaldo Ribeiro, Senhora Lídice Góes, Meu prezado acadêmico Joaci Fonseca de Góes, A Cadeira de número 7, patrocinada pelo grande Cairu, está novamente plena. Joaci Fonseca de Góes entra nesta Companhia pela iniciativa e pela palavra de João Carlos Teixeira Gomes, jornalista destemido, escritor notável e articulista vibrante. A Academia agradece ao confrade Teixeira Gomes a resposta ao recipiendário. Caro acadêmico de número 7 Joaci Góes, Diria que a Academia repete a Universidade? Não. A universidade se continua na Academia. A nossa alma mater, a Universidade Federal da Bahia, está inclusa nesta Companhia, liderada moralmente pelo nosso reitor de sempre, Roberto Figueira Santos. Conhecemos Joaci ainda na Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, em 1959, ano consagrado ao centenário de 57 Clovis Bevilacqua. Foi o último do nosso curso jurídico e a primeira série da sua turma, concluída em 1963. Foram os derradeiros anos dourados, marcados pelo otimismo do desenvolvimento de JK. Dentre os seus colegas, destaco o advogado João Carlos Teles, consultor jurídico deste sodalício para reforma dos estatutos. Com inteligência enérgica, capacitado pela Faculdade, então dirigida por Orlando Gomes, que este ano completa festejado centenário, Joaci ingressou no mundo empresarial, para o qual estava vocacionado. Cria e preside o grupo Góes-Coabita, complexo composto de empresas que operam em distintos campos de atividade: construção civil e rodoviária, imobiliário, comércio de veículos, hotelaria, comunicação, agropecuária, mercado financeiro, educacional e jornalístico. Dirige a Tribuna da Bahia, de 1970 a 1997, hoje comandada por Walter Pinheiro. O empresário vitorioso agrega o sucesso político com a eleição para a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Marca a atividade parlamentar a contribuição ao Código de Defesa do Consumidor. O nome de Joaci Góes é uma associação ao respeito democrático ao cidadão consumidor. A atividade do empresário direciona-se à educação e se aproxima espiritualmente desta Companhia. Recentemente, deu à estampa A força da vocação no desenvolvimento das pessoas e dos povos. “Mais que um livro”, no dizer de Luciano Trigo, “trata-se da formulação de um programa político para educação, a um tempo simples e ambicioso.” A prática empresarial, política e educativa levam-no ao exercício de uma vertente moralizante, eticamente concebida. A reflexão sobre costumes, virtudes, comportamentos, atitudes, tendências e motivações expressa-se no robustecimento do filão que descobriu e o explora com a força do seu potente talento manifestado nas obras: A inveja nossa de cada dia, como lidar com ela; Anatomia do ódio na família, no trabalho e na sociedade; e A força da vocação para o desenvolvimento das pessoas e dos povos. 58 Indaguei-lhe como se descobriu um cultor da ética? Respondeu-me: – A integridade é obediência ao que não é exigido. Com coragem, tem um marcante senso de autonomia e confessou-me: – Nunca humilhei ninguém e também nunca permiti que me humilhassem. Na trajetória de sucesso, Joaci é um vencedor, Deus Louvado! Caro confrade e amigo Joaci Góes, É uma alegria tê-lo conosco! Você vem com o seu talento verbal, inteligência brilhante e capacidade de trabalho, no momento em que a Academia se abre para todo o território baiano. Academia é honraria e é serviço, também, na síntese de Maurice Druon. Soube bem se preparar para a chamada acadêmica, consagrada pela eleição para suceder ao nosso querido Pedro Moacir Maia, que primava em tudo pela qualidade, pelo requinte e pela distinção. Haja vista a delicadeza das edições Dinamene. E nessa recordação chamo Celeste Aída Galeão. Aqui, na Academia, a sua reflexão ética sobre os costumes será aquecida pela convivência na disseminação do conhecimento. O nosso ofício é a convivialidade. A Academia é bem o remanso da cordialidade sem dispensar o humor e por vezes até a ironia, corretora inigualável dos excessos. Caro Joaci, Devidamente empossado, tudo que você precisa fazer agora é acomodar-se na cadeira de Cairu, fundada por Ernesto Carneiro Ribeiro, ilustrada por Borges de Barros, pelos nossos professores 59 Aloísio de Carvalho Filho e Nelson Sampaio e pelo bom gosto de Pedro Moacir Maia. Bem haja, meu caro confrade. Seja bem-vindo. Gratos a todos pela presença e mais ainda pela atenção. Salvador, 24 de setembro de 2009. 60 A representatividade das gerações Edivaldo M. Boaventura (*) Toda tomada de posse é um momento solar na vida das academias. Provoca efeitos para a frente e para trás. Preencher uma cadeira acadêmica é o final de um longo processo de escolha. Recorde-se que toda eleição consagra, confirma Max Weber. A cadeia sucessória é vivificada do patrono ao último ocupante no discurso do novo acadêmico. A tomada de posse do empresário e escritor Joaci Góes, em 24 de setembro de 2009, foi um previsível sucesso. O solar Góes Calmon encheu-se de gente e de emoções. O brilho da noite de posse recordou momentos históricos passados quando era residência da família do governador Francisco Marques de Góes Calmon. Recordese a recepção a Afonso Pena, candidato à presidência da República, assim também a visita dos navegadores portugueses Gago Coutinho, Sacadura Cabral e do príncipe Umberto de Sabóia. Do mesmo modo, a mansão histórica abriu suas portas para receber Joaci Góes com os seus familiares, amigos, colegas de faculdade e convidados. Sob os tetos impressionistas de Presciliano Silva, só alegria! Para começar a cerimônia, coube ao reitor Roberto Santos, juntamente com as charmantes acadêmicas Consuelo Pondé de Sena, presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, e Myriam Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, introduzi-lo no sodalício. 61 Adentrado, acercou-se da mesa alta para a investidura. A sua esposa, Lídice, colocou-lhe o colar, e o acadêmico nacional João Ubaldo Ribeiro entregou-lhe o diploma. Assinado o termo de posse, já como recipiendário, proferiu o discurso. Mas Joaci não leu o que escreveu. Preferiu evocar o patrono da cadeira número 7, José da Silva Lisboa, Visconde de Cairu, pai do liberalismo brasileiro, e rememorar a cadeia sucessória, que começa com o fundador, Ernesto Carneiro Ribeiro, primeiro presidente desta Academia. Carneiro Ribeiro foi o responsável pela mais famosa polêmica gramatical havida neste país. Bateu-se com Rui Barbosa, seu antigo aluno, resultando A réplica e A tréplica. A polêmica acentuou o gosto baiano pela discussão do vernáculo. Carneiro Ribeiro foi sucedido pelo historiador Francisco Borges de Barros Os seguintes ocupantes da cadeira de Cairu pertencem a uma geração que está mais próxima de nós e que nos formou. Foram eles Aloysio de Carvalho Filho, senador e professor de Direito Penal, em suma, um democrata, e Nelson Sampaio, deputado e professor de Teoria Geral do Estado, um dos fundadores da Ciência Política, na Bahia. Nelson pode-se dizer que foi um scholar, espécie muito rara entre nós. Joaci sucede diretamente ao último ocupante, Pedro Moacir Maia, que já é da nossa geração. Literato, adido cultural no Senegal, Chile e Argentina, Pedro Moacir, estudioso das letras e da pintura. Cuidou bem dos nossos azulejos e editou a requintada coleção Dinamene. É para a cadeira do inolvidável Carneiro Ribeiro que escolhemos Joaci Fonseca de Góes. A prática empresarial e política levam-no ao exercício de uma vertente moralizante, eticamente concebida. A reflexão sobre os costumes manifesta-se nas obras: A inveja nossa de cada dia, como lidar com ela; Anatomia do ódio; e A força da vocação para o desenvolvimento das pessoas e dos povos. Na atividade empresarial, como na intelectual, Joaci é um vitorioso. Criou um grupo econômico com um complexo de empresas 62 que operam em distintos campos: construção civil e rodoviária, imobiliário, comércio de veículos, hotelaria, comunicação, agropecuária, mercado financeiro, educação e jornal. Foi igualmente diretor da Tribuna da Bahia Indaguei-lhe como se descobriu um cultor da ética? Respondeu-me: – A integridade é obediência ao que não é exigido. Na Companhia, a sua reflexão sobre os costumes será aquecida pela convivência na disseminação do conhecimento. A convivialidade é o nosso ofício. Com coragem e energia, tem um marcante senso de autonomia e confessou-me: nunca humilhei ninguém e também nunca permiti que me humilhassem. Contamos com Joaci para incrementar a abertura da Academia para todo o território baiano e para novos programas. A Academia é bem o remanso da cordialidade sem dispensar o humor e por vezes até a ironia, corretora inigualável dos excessos. (*) Artigo publicado no jornal A Tarde, em 09.10.2009. 63 Imortalidade JBrito Alves (*) O Aurélio dá como exemplos de imortais os membros da Academia Francesa e da Academia Brasileira de Letras. Ora bolas, os membros da Academia de Letras da Bahia são, também, imortais, por merecimento, pelos fatos e feitos de suas vidas, como é a de Pedro Moacir Maia, que cedeu sua cadeira a Joaci Góes. Sei que as letras que estão no nome da academia são um tesouro da tradição, mas esses homens somente vivem sua imortalidade nos espaços celestiais depois que dedicam a vida finita a cavoucar as minas das oportunidades e do conhecimento, indo além das letras para atingir o degrau mais alto e sublime do nirvana existencial. A finitude que sedia a beleza da vida é o espaço entre o nascimento e a morte que delimita o ser e o não ser, mas a imortalidade instituída pelas Academias altera o fato natural da morte como o fim de um ciclo. Seria melhor reencarnar? Mas o reencarnado não sabe que está reencarnado. E o morto não sabe que está morto. Imortal é melhor! Um poeta escreveu que “No céu você encontra os chatos de todas as gerações, enquanto o mortal convive apenas com os chatos de uma geração”. Mas lá você pode também escolher suas amizades. Assim também é com os inimigos e desafetos não redimidos que estão no inferno. Mas e as perdas? A maior delas são os amigos; são melhores do que admiradores, pois estes cobram mais, enquanto os amigos são carteiros do afeto. O imortal vê a despedida dos velhos amigos de cada geração. Seu é o suplício de Sísifo. Quando faz uma porção 65 deles, os novos amigos vão fazer festa no céu, quando começa de novo a faina interminável do imortal para conquistar novas amizades. A eternidade pode ser cansativa, do lado de cá e do lado de lá! Nas duas situações, é preciso ascender, elevar-se sempre. É o que fazem os melhores, pois dos piores não vamos falar, mas a estes a menor pena imputável seria a leitura de todos os incunábulos legítimos, naquele sentido de Friedrich Wilhelm Nietzsche para quem todo o mal que lhes fizermos será para o bem deles, para que relinchem vida afora! “A morte é comparável ao pôr-do-sol que representa ao mesmo tempo o nascer do sol em outro lugar”, escreveu Schopenhauer. A fé das pessoas religiosas fixa a possibilidade de suas características individuais serem conservadas numa alma imortal, como o começo de um novo ciclo da vida, não extensivo aos ateus, mesmo imortalizados, equivalente ao prêmio concedido pelas Academias de Letras. A morte e a imortalidade têm algo em comum. Uma e outra são eternas, mas se a morte iguala os homens, a imortalidade produz diferenças. O homem renega a mortalidade assim como tem essa birra bizarra com as diferenças, medidas pelo tamanho do ego de cada um, pois enquanto uns querem construir o castelo, outros querem destruí-lo. Todavia, os acadêmicos ainda não subtraíram a imortalidade de um de seus pares. Imortal não tira a imortalidade de outro imortal – não se trata de corporativismo –, mas o próprio imortal pode querer ir embora, como o fez o inesquecível professor Pedro Moacir quando decidiu fazer festa no céu. Mudou de casa! Joaci Góes vai desatar nós na sua incomum rede neural para substituir o Pedro e suar e molhar a camisa para representá-lo. Epicuro dizia que “Quando nós estamos, a morte não está; quando a morte está, nós não estamos”. Se o imortal é inesquecível, nem sempre é aquele que vive sempre. Matusalém ainda é lembrado, mas seu feito maior foi ter vivido centenas de anos. Queremos mais dos imortais, eis que a sua gravação eterna na lembrança dos homens teria de emanar dos seus feitos, mas que uma parcela das coisas que faz seja feita em benefício público, para transformar a graça da 66 imortalidade individual em prêmio dado tanto pela coletividade como pela posteridade, naquilo que você ganha dos outros e que a história registra porque foi merecido. Advogado brasileiro, admirador quase devoto de Vila Lobos, morreu já ocotogenário, ao ouvir pelo sistema de som uma música do mestre no auditório onde palestraria sobre o mesmo. Uma boa morte? Os homens santos se despediam dos mortais para cavalgar o cavalo de São Jorge. Os orientais não temem a morte e o ocidental não convive bem com a ideia da finitude das coisas e da vida. O cinema traz histórias dos Highlanders, homens que somente morreriam se tivessem a cabeça cortada; no fim existiria apenas um deles agraciado com a mortalidade como o prêmio supremo. A imortalidade acadêmica resolve o dilema, alimenta o ego, reforça a autoestima, cria um estado de espírito que de velho torna o homem mais novo, cheio de energias, mais forte para os embates da mortalidade. Como os grandes homens que acabam acreditando nas próprias petas, o imortal de classe é aquele que acredita na sua imortalidade! (*) JBrito Alves, ex-secretário da Fazenda, é PHD em Economia pela Columbia University (USA). Artigo publicado na Tribuna da Bahia, edição de 9/10/2009. 67 Breve panorama da ALB Constituída e instalada oficialmente em 7 de março de 1917, a Academia de Letras da Bahia realizou sua sessão de instalação em 10 de abril daquele ano, sob a presidência do governador Antônio Moniz. Em 3 de julho de 1917 o governador sancionou lei que considerava a ALB de utilidade pública, comprometendo-se o governo a dar-lhe instalação permanente em um edifício público, o que, anos depois, se cumpriu, quando o interventor Landulfo Alves de Almeida doou a sede que a Academia ocupou no Terreiro de Jesus. Mais tarde, o então governador Antônio Carlos Magalhães ofereceu a magnífica sede atual da ALB, no bairro de Nazaré (foto na contracapa desta publicação). A proposta de criação da ALB previa a instalação de 40 cadeiras. Durante a assembléia de constituição, porém, o dr. Américo Garcez Fróes ponderou ser inadmissível a ausência, entre os fundadores, do nome do dr. Arlindo Fragoso, razão pela qual renunciava à indicação para corrigir aquela falha. Uma solução alternativa resolveu a pendência. Foi criada, excepcionalmente, uma 41ª cadeira, provisória, a ser extinta assim que surgisse a primeira vaga, o que veio a acontecer em 27 de setembro de 1917. A seguir, a relação completa das cadeiras, com os respectivos patronos, fundadores e atuais titulares (em fevereiro de 2010): 69 Cadeira nº 1 Patrono: Frei Vicente do Salvador Fundador: José de Oliveira Campos Titular atual: Luís Henrique Dias Tavares Cadeira nº 2 Patrono: Gregório de Matos Fundador: Aloísio de Carvalho (Lulu Parola) Titular atual: Paulo Ormindo de Azevedo Cadeira nº 3 Patrono: Manuel Botelho de Oliveira Fundador: Artur G de Sales Titular atual: Anna Amélia Vieira Nascimento Cadeira nº 4 Patrono: Sebastião da Rocha Pita Fundador: Braz H. do Amaral Titular atual: Geraldo Machado Cadeira nº 5 Patrono: Luiz Antônio de Oliveira Mendes Fundador: Carlos Chiacchio Titular atual: Carlos Ribeiro Cadeira nº 6 Patrono: Alexandre Rodrigues Ferreira Fundador: Manuel A. Pirajá da Silva Titular atual: Cleise Mendes Cadeira nº 7 Patrono: José da Silva Lisboa, barão de Cairu Fundador: Ernesto Carneiro Ribeiro 70 Titular atual: Joaci Góes Cadeira nº 8 Patrono: Cipriano J. Barata Fundador: Luiz Anselmo da Fonseca Titular atual: Paulo Costa Lima Cadeira nº 9 Patrono: Antônio Ferreira França Fundador: José A. de Campos França Titular atual: Cláudio Veiga Cadeira nº 10 Patrono: José Lino dos S. Coutinho Fundador: Antônio Moniz Sodré de Aragão Titular atual: Mons. Gaspar Sadoc Cadeira nº 11 Patrono: Francisco Gê Acaiaba de Montezuma, visconde de Jequitinhonha Fundador: Antônio F. Moniz de Aragão Titular atual: Yeda Pessoa de Castro Cadeira nº 12 Patrono: Miguel Calmon du Pin e Almeida, marquês de Abrantes Fundador: Miguel Calmon du Pin e Almeida Titular atual: Aramis Ribeiro Costa Cadeira nº 13 Patrono: Francisco Moniz Barreto Fundador: Egas Moniz Barreto de Aragão Titular atual: Myriam Fraga 71 Cadeira nº 14 Patrono: Francisco Gonçalves Martins, visconde de São Lourenço Fundador: Bernardino José de Souza Titular atual: Epaminondas Costa Lima Cadeira nº 15 Patrono: Ângelo Moniz da Silva Ferraz, barão de Uruguaiana Fundador: Otaviano Moniz Barreto Titular atual: João Carlos Teixeira Gomes Cadeira nº 16 Patrono: José Tomás Nabuco de Araújo Fundador: Eduardo Godinho Espínola Titular atual: João Eurico Matta Cadeira nº 17 Patrono: Antônio Ferrão Moniz Fundador: Gonçalo Moniz Sodré de Aragão Titular atual: Ruy Espinheira Filho Cadeira nº 18 Patrono: Zacarias de Góes e Vasconcelos Fundador: José Joaquim Seabra Titular atual: Waldir Freitas de Oliveira Cadeira nº 19 Patrono: João Maurício Wanrderley, barão de Cotegipe Fundador: Severino dos Santos Vieira Titular atual: Cid Teixeira Cadeira nº 20 Patrono: Augusto Teixeira de Freitas Fundador: Carlos Gonçalves Fernandes Ribeiro 72 Titular atual: Aleilton Fonseca Cadeira nº 21 Patrono: Francisco Bonifácio de Abreu, barão da Vila da Barra Fundador: Filinto J. F. Bastos Titular atual: Antônio Brasileiro Cadeira nº 22 Patrono: José Maria da Silva Paranhos, visconde do Rio Branco Fundador: Rui Barbosa Titular atual: Clóvis Lima Cadeira nº 23 Patrono: Antônio Januário de Faria Fundador: João Américo Garcez Fróes Titular atual: Samuel Celestino Silva Filho Cadeira nº 24 Patrono: Demétrio Ciríaco Tourinho Fundador: Luiz Pinto de Carvalho Titular atual: Francisco Senna Cadeira nº 25 Patrono: Pedro Eunápio da Silva Deiró Fundador: Júlio Afrânio Peixoto Titular atual: Fernando da Rocha Peres Cadeira nº 26 Patrono: D. Antônio de Macedo Costa Fundador: Cônego José Cupertino de Lacerda Titular atual: Roberto Santos 73 Cadeira nº 27 Patrono: Francisco Rodrigues da Silva Fundador: Frederico de Castro Rebelo Titular atual: James Amado Cadeira nº 28 Patrono: Luiz J. Junqueira Freire Fundador: Francisco Torquato Bahia Titular atual: Consuelo Ponde de Sena Cadeira nº 29 Patrono: Agrário de S. Menezes Fundador: Antônio Borges dos Reis Titular atual: Hélio Pólvora Cadeira nº 30 Patrono: Joaquim Monteiro Caminhoá Fundador: Antônio do Prado Valadares Titular atual: Paulo Furtado Cadeira nº 31 Patrono: Belarmino Barreto Fundador: Ernesto Simões da S. F. Filho Titular atual: Florisvaldo Mattos Cadeira nº 32 Patrono: André P. Rebouças Fundador: Teodoro F. Sampaio Titular atual: Gérson Pereira dos Santos Cadeira nº 33 Patrono: Antônio de Castro Alves Fundador: Francisco Xavier F. Marques 74 Titular atual: Ubiratan Castro Cadeira nº 34 Patrono: Domingos Guedes Cabral Fundador: José Virgílio de Lemos Titular atual: Evelina Hoisel Cadeira nº 35 Patrono: Manoel Vitorino Pereira Fundador: Antônio Pacífico Pereira Titular atual: Vago, em função do falecimento de Rubem Nogueira, em janeiro de 2010 Cadeira nº 36 Patrono: Joaquim J. Fernandes da Cunha Fundador: Afonso de Castro Rebelo Titular atual: José Carlos Capinan Cadeira nº 37 Patrono: João Batista de Castro Rebelo Jr. Fundador: Almáquio Diniz Gonçalves Titular atual: Dom Emanuel d’Able do Amaral Cadeira nº 38 Patrono: Alfredo Tomé de Brito Fundador: Oscar Freire de Carvalho Titular atual: Armando Avena Cadeira nº 39 Patrono: Francisco de Castro Fundador: Clementino Rocha Fraga Jr. Titular atual: Edivaldo M. Boaventura 75 Cadeira nº 40 Patrono: Francisco C. Mangabeira Fundador: Octávio C. Mangabeira Titular atual: Consuelo Novais Sampaio Cadeira nº 41 (extinta) Patrono: Manuel Alves Branco, visconde de Caravelas Fundador: Arlindo Coelho Fragoso Sérgio Sinotti (jornalista, editor) Obs.: Dados históricos compilados do livro Breviário da Academia de Letras da Bahia — 1917 — 1994, de Renato Berbert de Castro, 2ª ed., Conselho Estadual de Cultura, 1994. 76 Mensagens de congratulações Sua presença na Academia de Letras da Bahia vem enriquecer o já brilhante quadro de Acadêmicos da ALB e será motivo de orgulho para todos nós. Deputado Mário Negromonte (líder do Partido Progressista) g Na Academia de Letras, como em todas as outras atividades exercidas pelo prezado amigo, você deixará a marca de sua excepcional inteligência e sua marcante dedicação à causa pública e engrandecimento da Bahia. Adalberto Coelho g Dirijo-me ao prezado amigo para manifestar imensa satisfação pela sua posse na cadeira nº 7 da Academia de Letras da Bahia. Aproveito a oportunidade para externar votos de sucesso, felicidade e desejo de uma profícua atuação na cadeira que ora assume. Luiz Henrique da Silveira (governador do Estado de Santa Catarina) g Cumprimentando-o pela filiação no tradicional sodalício, faço votos de que a solenidade se revista do maior brilhantismo. 77 Aécio Neves da Cunha (governador do Estado de Minas Gerais) g O Tribunal de Contas do Estado da Bahia aprovou Moção de Congratulações e Aplauso, de iniciativa do Exmo. Senhor Conselheiro Antônio Honorato, em razão da posse de V. Sa. na Academia de Letras da Bahia. Na oportunidade, S. Exa. se pronunciou enaltecendo os relevantes aspectos da vida profissional e pessoal de V. Sa., com manifestações expressas da Presidência da Sessão, que exercia naquela ocasião, e do Exmo. Senhor Conselheiro França Teixeira, que a subscreveram. Filemon Matos (conselheiro vice-presidente, no exercício da Presidência). g Sua posse na cadeira nº 7 dessa Academia de Letras da Bahia a enriquece enormemente com a chegada de tão respeitado escritor e empresário. Ellen Gracie (ministra do STF). g Quero parabenizá-lo por sua posse na cadeira nº 7 da Academia de Letras da Bahia. Sua alegria em se tornar o mais novo acadêmico é compartilhada por todos aqueles que o admiram e o respeitam. Tenho pelo Estado da Bahia e também pelos baianos imenso respeito e admiração. Saiba que os aplausos não são apenas meus, mas de todos que o têm como amigo. Jarbas Vasconcelos (senador – Pernambuco) g Cumprimento com orgulho estimado amigo, por tão nobre acontecimento. Porto Seguro faz parte desta história. Lembramos do amigo 78 como precursor do desenvolvimento desta cidade, com elevadas decisões e ações, desde os idos de 70, como até hoje acontece. É tempo e momento de riqueza cultural e nos causaria especial regozijo, se vossa palestra sobre “A Inveja” pudesse ser assistida por seus amigos desta cidade. A cadeira 7 está mais engrandecida e imortalizada. Vivaldo Rêgo g A imortalidade que a Bahia lhe confere atribuindo-lhe merecido assento na Academia de Letras da Bahia enche de justo orgulho os cidadãos da terra de Ruy Barbosa e a nós outros todos brasileiros. Levamos aos amigos e aos acadêmicos baianos o abraço da comunidade jurídica de Minas Gerais, do Instituto dos Advogados de Minas, do Colégio de Presidentes dos Institutos dos Advogados do Brasil e da JASA Advocacia. José Anchieta da Silva Gustavo Henrique de Souza e Silva (advogados ) g O espírito do Barão e Visconde de Cairu, patrono da cadeira nº 7, ficará mais iluminado com o brilho do novo ocupante dessa cadeira na Academia de Letras da Bahia. Ganha a Academia, ganha a Bahia e, o principal, ganha a educação. Alexandre Brust g Para ocupar a cadeira em que o Patrono é o Visconde de Cairu, ninguém melhor que um homem público, político, escritor e empresário cuja história é marcada pela coragem, dinamismo e seriedade. 79 Receba o meu abraço e transmita meus parabéns a quem também merece: a Academia de Letras da Bahia. Antônio Honorato (conselheiro do Tribunal de Contas do Estado da Bahia) g Sinto-me honrado por tão nobre convite. Viver este momento é, sem dúvida, de muito contentamento para mim e também Porto Seguro, que vive vossa presença, interferência, colaboração e instrução de seu destino. Ronaldo Torres g Alegro-me pela merecida escolha como Imortal da Academia de Letras da Bahia, assumindo significativamente a cadeira nº 7, que teve como patrono Visconde de Cairu. Félix Mendonça (deputado federal) g A Bahia é prolífera em filhos que se destacam por suas obras literárias. A justa homenagem, com a cadeira de imortal, pela Academia de Letras, sela esta vocação. Parabéns. Geraldo Alckmin (ex-governador de São Paulo) g Cumprimento o prezado amigo no momento em que toma posse na cadeira nº 7 da Academia de Letras da Bahia, com votos de continuidade do seu sucesso literário. Profº Manoel J. F. de Barros Sobrinho (reitor da UNIFACS) g Cumprimento V. Exa. pela posse na Academia de Letras da Bahia, desejando-lhe muito sucesso e felicidade. 80 João Otávio de Noronha (ministro do Superior Tribunal de Justiça) g Envio meus cumprimentos pela posse na Academia de Letras da Bahia. Hamilton Carvalhido (ministro do Superior Tribunal de Justiça) g Venho cumprimentá-lo, com todo entusiasmo, pela posse na cadeira nº 7 da Academia de Letras da Bahia. Manifesto a minha certeza de que o notável literato e empresário prosseguirá na sua luminosa trajetória de ser humano comprometido com a mais depurada ética e atualizada competência. Com todo apreço e admiração, Carlos Ayres de Brito (ministro do STF – Supremo Tribunal Federal) g Ganham todos os baianos e nós porto-segurenses por ter V. Exa. no nosso convívio. Vitória Alda (professora) g Meu caro Joaci, Meu abraço de felicitações pelo seu ingresso na Academia Baiana de Letras, engrandecida com seu talento, grande obra e cultura. Camila e Zequinha pessoalmente expressarão nossa alegria, associados às alegrias da recepção e festa. 81 Espero receber os discursos. O abraço do amigo e admirador José Sarney (presidente do Senado Federal, ex-presidente da República), em mensagem grafada de próprio punho, entregue pessoalmente pelo deputado federal Zequinha Sarney. g Trecho do discurso proferido pelo deputado Geraldo Simões (PT-BA), da tribuna da Câmara dos Deputados, na sessão de 29/09/2009: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, O Dr. Joaci Góes assumiu a cadeira que tem como patrono o ilustre Visconde de Cairu. O novo acadêmico é uma das personalidades mais importantes da vida contemporânea baiana, seja pela rica e brilhante trajetória como homem público, empresário, escritor, homem de imprensa e tantas outras atividades às quais tem emprestado o contributo de seu reconhecido talento e operosidade, seja pela participação valorosa, meritória e corajosa na vida recente de nossa terra. A esta Casa, por exemplo, Sr. Presidente, Joaci Góes deu uma contribuição digna dos maiores elogios, como registram os Anais deste Legislativo, com destaque para o Código de Defesa do Consumidor, do qual foi Relator, obra reconhecida como uma das mais importantes, ofertada por este Parlamento à sociedade brasileira em defesa dos interesses e direitos dos brasileiros. 82 Agradecimento Nosso especial agradecimento às pessoas amigas que gentilmente compareceram à sede da ALB para prestigiar nossa posse, com os pedidos de escusas às que não estão mencionadas por ilegibilidade de suas respectivas assinaturas no livro de registro: Abigail Suarez, Adary Oliveira, Adelmo Oliveira, Adriana Lima da Silva, Agenor Bomfim, Aidil Silva Conceição (desembargadora), Aleilton Fonseca, Aleixo Belov, Alex Góes, Aline Ribeiro, Almir de Oliveira, Almir Villas Leão, Almir Villas Leão Júnior, Altamirando Borges, Aluísio Xavier de Albuquerque, Amanda Lorenzo, Américo Paulo Paim e Souza, Ana Lúcia Frank, Ana Maria Moreira Costa, Ana Maria Padilha, Anaiçara Góes, André Góes, André Menezes, André Ney Negreiros Falcão, Andréa Maron Maia, Ângela Chaves, Angélia Suarez Pinheiro, Angelina Garcez, Ângelo Calmon de Sá (exMinistro), Anita Soledade, Anna Paula Sandes de Oliveira, Antônia M. C. Queiroz, Antonieta da Silva Carvalho, Antônio Burity, Antônio Carlos Bastos Baracho, Antônio Carlos Nogueira Reis, Antônio Guerra Lima, Antônio Ivo, Antônio Lomanto Netto, Antônio Moura Percontini, Antônio Moysés, Antônio S. Fernandes (ex-senador), Antônio Walter dos Santos Pinheiro, Armando Cajazeiras Souza Bento, Armênio Santos (diretor da Fundação Ulysses Guimarães), Arquimedes Pedreira Franco, Arquimedes Teles de C. Neto, Arthur Maia (deputado estadual), Artur Vicente Gallo Pedreira, Aurelice O. Moreira, Aurélio Pires; 83 Berenice Ribeiro, Bruno Lopes do Rosário; Camila Serra, Carlos Abreu Filho, Carlos Alberto Dultra Cintra (desembargador), Carlos Alexandre, Carlos Boar, Carlos Sodré, Carmen Mueller, Carmen Regina F. Azevêdo, Ceci Alves, Celeste Aída Galeão, César Lôbo, Cícero Sena, Clarindo Silva, Cláudia Carvalho, Cláudio Mello, Cláudio Veiga, Conceição Maia, Conceição Queiroz, Constança Castro Sales, Consuelo Novais Sampaio, Consuelo Pondé de Sena, Creuza Damasceno; Dalva Lopes Macêdo, Daniela C. de Oliveira, Diana Maria Bezerra Gonçalves, Domingos Fernando Góes, Domingos Leonelli (secretário de Turismo), Douglas de Almeida, Durval Freire de Carvalho Olivieri; Edgard Teles, Edilson Santos, Edilson Vieira dos Santos, Edinei da Silva Gomes, Edison Góes de Araújo, Edith Coutinho Lima, Edivaldo Machado Boaventura, Edlair Góes, Edna Cardoso S. Pedreira, Edna Moysés, Ednalva Mascarenhas Sampaio, Edson Calmon, Edson Dias, Edson O’Dwyer, Edson Piaggio de Oliveira, Eduardo Domingos, Eduardo Guimarães Pereira das Neves, Eduardo Pondé de Sena, Eliana Kértesz, Eliete da Mota Ferreira, Elizama dos Santos Souza, Elizeu Paranaguá, Elquisson Soares, Else Coutinho de Matos, Emilia Maria, Emmanuel Oliveira, Eny Meirelles de Castro, Érica Karina Andrade de Souza, Ernani Pettinati, Eugênio Mascarenhas; Fátima Ruas Pedreira, Fernanda Martins, Fernando Frank, Fernando Gentil, Fernando Moura Neto, Fernando N. Santos, Fernando Schmidt (chefe de gabinete do governador), França Teixeira (conselheiro do Tribunal de Contas), Frances W. Landim, Francisco Aguiar, Francisco Silveira, Francisco Xavier de Albuquerque (ministro do Supremo Tribunal Federal); Gabriela Garcia Mueller Góes, Geddel Vieira Lima (ministro da Integração Nacional), Genaide Anízia Moreira dos Santos, Genebaldo Correia (ex-deputado federal), Genilda de O. Santana, George Carvalhal, Geysa Mata, Giovanni V. Pisani (cônsul da Itália na Bahia), Gorgônio José de Araújo Neto (ex-deputado federal e juiz do Trabalho); 84 Hans Leusen (cônsul da Holanda na Bahia), Helaine Góes, Hélbio Palmeira, Helena Carvalhal, Heleno Mendonça, Heliana Praxedes, Heliane de Souza, Hélio Pólvora, Hermano Adolfo Gottschalck Souto, Hermano Augusto Machado, Hernani Silveira Castro, Horácio Nelson Hastenreiter, Hugo Maia; Iêda Barradas Carneiro, Ildásio Tavares, Ilza Carla Reis de Oliveira, Ioná Carqueijo Scarante, Iris Reis Ferraz, Isidro Otávio do Amaral Duarte, Ismar Lobão Vieira, Itaberaba Lyra, Ivone Tourinho Viana; Jaciara Fonseca de Góes Carvalho, Jacira de Góes Tourinho, Janete Almeida, Jarbas Lopes de Menezes, Jayme Ramos de Queiroz, Jayme Valverde Miranda, Jeferson Fonseca de Góes, Jeferson Góes Filho, Joaci Góes Filho, João Alfredo Figueiredo, João Almeida (deputado federal), João Carlos Teixeira Gomes, João Carlos Telles, João da Costa Pinto Victoria, João Durval Carneiro (senador), João Eurico Mata, João O. Torres, João Ubaldo Ribeiro, Johnson Barbosa Nogueira, Joildo Góes, Jorge Tufic Derzi, José Álvaro de Carvalho Sobrinho, José Araújo Almeida, José Arthur Lobão, José Carlos B. Martins, José Cupertino Aguiar Cunha (promotor público), José Dantas de Magalhães, José de Brito Alves, José de Oliveira Torres, José Geminiano Conceição (desembargador), José Lúcio de Farias, José Nilton Carvalho Pereira, José R. Bahia Sapucaia, José Sarney Filho (deputado federal), Juan Baraúna, Jucilene Barreto Santos, Juliana Melo, Juliana T. R. Cavalcante, Kamila Lopes de Oliveira; Kathia Berbert, Kátia Lorena Piaggio de Oliveira; Lealdina Torreão (desembargadora, primeira vice-presidente do TJ-BA), Lêda Saraiva, Leonardo de Almeida Laroca, Leonor L. Paes da Silva, Lêucio Flavio Moreira de Borges Sampaio, Leur Lomanto, Levi Alves Gomes, Lia Viana Queiros, Lídice da Mata e Souza (deputada federal), Liege M. A. de Brito, Lise Weckerle, Lita Góes, Lívia Amado Simões, Lívia Marta Viana Cohim, Lizin Arcanjo Alves, Lorena Piropo Azevêdo Leite, Lourenço Mueller, Lucas Oliveira Moreira, Lucélia S. B. Mathias, Luciano Tourinho, Luci Barreto dos Santos, Ludmilla Viana Cohim, Luís César Moreira dos Santos, Luís 85 Fernandes, Luís Viana Neto (ex-senador), Luiz Arthur, Luiz Carlos Facó, Luiz Fernando Vilar, Luiz Fortunato Augusto da Silva e Cibele, Luiz Henrique Dias Tavares, Luiz Maurício Costa Santana, Luiz Paulo Eduardo L. Lopes, Luíza Pinheiro, Luzimar Novais; Malba Cabral, Manoel Canário, Manoel Figueiredo Castro (presidente do Tribunal de Contas), Manoel Lorenzo, Marcelo Duarte, Marcelo Gomes, Marcelo Nilo (presidente da Assembleia Legislativa - BA), Marcelo Pessoa, Marcelo Silva Mathias, Marcelo Zarif, Márcia Moura, Márcio Brito, Márcio de Oliveira Gusmão, Márcio Gomes, Marcos Saraiva, Margarida Pereira da Silva, Maria Auxiliadora Figueiredo, Maria Bertine S. Fernandes, Maria das Graças Azevêdo, Maria das Graças Góes Monteiro de Oliveira, Maria de Lourdes L. Macedo, Maria Elisa Nunes, Maria Elizabete Saraiva, Maria Helena Anunciação de Freitas, Maria Helena Póvoas, Maria José Sales Pereira (desembargadora), Maria José Silva, Mariana de Góes Carvalho Baraúna, Maria Pólvora, Maria Solange Alves S. Paula, Maria Sepúlveda, Mariângela Bião, Mariinha Raup (deputada federal pelo Estado de Rondônia), Marilena T. Fonseca, Marilene Simas Góes, Maurício Gonzalez, Meirelucia Ramos de Oliveira, Miguel Kertzman, Mollie Cerqueira, Myriam Barradas, Myriam Fraga, Myrthes Chaves; Nair de Carvalho, Nanci Silva, Nelson Cerqueira, Nelson José de Carvalho, Nelson Teixeira, Nestor Duarte Neto (ex-deputado federal), Neuza Castro, Ney Bianca R. Damasceno, Neyde Silva, Nilson Batista de Souza, Nilson Silva, Nilzo Ribeiro; Ocilene Lima, Oleone Coelho Fontes, Olga Lôpo Hastenreiter, Oscar Santana, Osmar Sepúlveda, Oswaldith B. Fernandes; Paulo Ferreira dos Santos, Paulo Ormindo, Paulo Salvatore, Pedro Daltro, Pedro Dantas de Carvalho Júnior, Perla Andrade, Priscila Castro Sales; Raimundo Carvalho, Raimundo Heráclito de Carvalho, Raimundo Lopes Lisboa, Raimundo Pinto (desembargador, vice-presidente do Tribunal Regional do Trabalho), Ramon Dias Lisboa, Raul Chaves Filho, Regina Cruz Rios, Regina Zobiak, Renata Carvalho, 86 Renato Mesquita Teixeira Gomes, Renato Simões (superintendente do jornal A Tarde), Ricardo d’Ávila (juiz de Direito), Ricardo Paes,Rita Vilar, Roberto Oliva, Roberto Santos (ex-governador da Bahia), Rogério Joaquim de Carvalho, Rogério da Costa Vargens (ex-reitor da UFBa), Rômulo de Andrade Moreira (promotor público), Rômulo Pondé, Rosana Ribeiro, Rozendo F. Neto, Rubem Mário, Ruth Pereira da Silva; Samuel Celestino (presidente da Associação Baiana de Imprensa), Sara Silva de Brito (desembargadora), Sérgio Barradas Carneiro (deputado federal), Sérgio Fraga Santos Faria, Sérgio Gaudenzi (exdeputado federal), Sérgio Sinotti, Sérgio Vieira, Sílvia Zarif (presidente do Tribunal de Justiça), Silvoney Sales, Siomara V. G. da Silva, Sizenor Oliveira Lima, Solange Vianna Neto, Sônia Cansanção, Sônia Jacobina Mesquita, Sônia Lemos Crespo (juíza de Direito), Sonia Maceió, Susan Góes, Suzana Simões, Sylvia Athayde, Sylvio Marback; Tarcila C. de Jesus, Telma Moutinho Ferreira, Tereza Fernanda, Terezinha Cardoso, Terezinha Lima Santos, Terezinha Mendes, Thiara P. S. Gomes,Ticiana Xavier Ferreira; Valdir Raupp de Matos (senador pelo Estado de Rondônia), Valmira Alice Cardoso, Valtécio Filho, Vanessa de Oliveira Barros, Vanessa Santos de Jesus, Vânia de Jesus Dias, Vera Lúcia de Carvalho Almeida, Vera Medauar Moreira (juíza de Direito), Verônica Nonato, Victor Fernando Ollero Ventin (presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia), Vinicius Cansanção (ex-prefeito de Maceió, ex-deputado federal), Virgínia Guimarães Góes; Walter Baptista, Walter Mendonça, William Nascimento, Wilton Silva Mendes; Zélia L. Lôbo, Zuleica Carneiro. 87 Imagens da solenidade de posse A mesa solene da posse, composta, da dir. para a esq., pelo senador João Durval Carneiro, senador Valdir Raupp, desembargadora Sílvia Zarif, ministro Geddel Vieira Lima, Prof. Edivaldo Boaventura, deputado Marcelo Nilo, Fernando Schmidt, deputada Mariinha Raupp e Leonel Leal Neto. Joaci recebe o diploma da imortalidade das mãos do amigo acadêmico, jornalista e escritor João Ubaldo Ribeiro. 89 Em frente à mesa alta, Joaci recebe da esposa, Lídice, o colar de acadêmico da ALB. Joaci e a esposa, Lídice, e os filhos Joaci Filho (à direita) e Alex. 90 Joaci e Lídice Góes, deputada Mariinha Raupp e senador Valdir Raupp. Joaci ladeado pelo deputado federal Zequinha Sarney e esposa, Camila. 91 Joaci, José Bahia Sapucaia, Jeferson Góes e Joildo Góes. Joaci e o presidente do STF, ministro Xavier de Albuquerque. 92 Joaci, cumprimentado pelo ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima. Joaci, Lourenço Mueller e Gabriela Mueller Góes. 93 Joaci e o acadêmico João Eurico Matta e esposa, Geysa. O ex-governador Roberto Santos assina o livro de presença. 94 Ministro Geddel Vieira Lima, Joaci, senador Valdir Raupp e esposa, deputada federal Mariinha Raupp. Joaci e o ex-reitor da UFBa, Rogério da Costa Vargens. 95 Joaci e o acadêmico João Carlos Teixeira Gomes, observados por Edivaldo Boaventura. Joaci e o ex-senador Luiz Viana Neto. 96 Joaci recebe os cumprimentos da desembargadora Lealdina Torreão. Joaci e o presidente da FIEB, Victor Ollero Ventin. 97 Ex-ministro Ângelo Calmon de Sá, Joaci e senador Valdir Raupp. Joaci e o deputado federal Sérgio Barradas Carneiro 98 Ao lado de Joaci, o ex-prefeito de Salvador e presidente do Tribunal de Contas do Estado, Manoel Castro, e esposa, Neusa. Joaci recebe os cumprimentos de Fernando Gentil, presidente do grupo financeiro Darby - Private Equity. 99 Joaci, ladeado pelos acadêmicos Edivaldo Boaventura e João Ubaldo Ribeiro Joaci e o jornalista Walter Pinheiro 100 Joaci e Antônio FrançaTeixeira, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Joaci com Ednalva Sampaio e Marilene Góes. 101 Joaci com Ernani Castro, Priscila Castro Sales e Constança Castro Sales. Mollie Cerqueira, Manoel Castro, Neuza Castro, Nélson Cerqueira e Joaci Góes. 102 Joaci e o colega acadêmico, prof. Cláudio Veiga. Joaci com Fernando Frank e Ana Lúcia. 103 Joaci e sua irmã, Jacira Góes Tourinho. 104