Caderno Maria Curie
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Caderno Maria Curie
e i r u C a i r Ma TEAT EMO R T X RO E ação 34ª cri 2 ulo M/1 Espectác Índice Ficha Artística e Técnica 02 Sinopse 03 EmCena a Ciência 04 O Processo 05 Mulheres Cientistas 07 Palavras do Encenador 08 Biografia de Maria Curie 10 Enquadramento Histórico e Cronologias 12 Cientistas Portugueses colaboradores de Maria Curie 22 Maria Curie e a Imprensa 25 Notas Biográficas 28 O papel de substituição 34 As Criações 38 urie ia C 01 r a M O EM TRO TEA R EXT tística e Ficha ar Técnica Texto Mira Michalowska Tradução Katarzyna Pereira Versão Portuguesa Isabel Leitão Encenação e Dramaturgia Sylvio Zilber Interpretação Isabel Leitão Cenografia e Assistência de Encenação Fernando Jorge Lopes Desenho de Luz Paulo Correia Adereços e Assistência de Cenografia Pedro Godinho Figurinos Arminda Pereira Selecção Musical e Sonoplastia António Vitorino Rocha Grafismo Ringue Fotografia Sandra Ramos Web Master Filipe Oliveira Produção Executiva Sofia Oliveira Assistência de Produção Paula Almeida Divulgação e Assessoria de Imprensa Nádia Santos Monteiro Promoção Vítor Pinto Ângelo ie Cur 2 a i 0 Mar TRO TEA R EXT O EM sinopse O texto da jornalista e autora polaca Mira Michalowska, discorre sobre a vida de Maria Curie através de Mary Mattingley Meloney. “Missy” Meloney, uma jornalista americana, fascinada por Maria Curie, a cientista que descobriu o rádio e a radioactividade e que recebeu por duas vezes o prémio Nobel, deseja conhecê-la e fazer-lhe uma entrevista. O objectivo é a publicação de um artigo sobre a cientista na revista “The Delyneator”. E apesar de Maria Curie ter aversão aos jornalistas, aceitou ser entrevistada por “Missy” Meloney várias vezes. À medida que o tempo vai evoluindo a cientista vai exercendo um fascínio cada vez maior na jornalista ao ponto de esta descobrir que encontrou o objectivo para a sua vida. Nasce então uma grande amizade entre estas duas mulheres. Esta amizade forjada em nome da ciência mudará a vida das duas e também a de mil ou talvez cem mil pessoas. urie ia C 03 r a M TRO TEA R EXT O EM a Ciência EmCena EmCena a Ciência é um projecto desenvolvido pelo Teatro Extremo, baseado no conceito de proximidade entre arte e ciência, seja pela complementaridade, seja pela influência recíproca. A proximidade entre arte e ciência pode ser traçadada de muitas formas diferentes no decorrer da história. Leonardo da Vinci afirmava que ciência e arte se complementam constituindo a actividade intelectual. A literatura de ficção científica, por sua vez, pode ser compreendida como uma antecipação, nas e pelas artes, de futuros feitos da ciência. Ambas têm a capacidade de questionar o mundo e os indivíduos, utilizando como ponto de par tida a criatividade e a inovação, elementos reveladores da capacidade de abstracção intrínseca ao ser humano, o porquê da nossa existência, de onde vimos, para onde vamos, e também a de inventar outros possíveis e utópicos mundos, abrindo novos caminhos ao conhecimento. Através do projecto “EmCena a Ciência”, pretendemos desmontar os códigos do teatro e da ciência, ao ponto de perderam o seu carácter hermético, rígido e sem ligação com a vida do cidadão comum e equacionar a arte e a ciência através das suas dimensões sociais e individuais. Como o teatro é um espaço de fraternidade ie Cur 4 a i 0 Mar TRO TEA R EXT O EM -se, l” mpletame intelectua o c e t r d a a d Vinci e i v a i i t Leonardo da “Ciênc tuindo a ac consti e de mescla de culturas, lugar de valores humanistas por excelência, está numa posição privilegiada para equacionar a ciência, responsabilizando a humanidade, como género e como indivíduo, para as consequências dos seus avanços, e contrastando e relacionando uma sociedade iluminista e humanista, com uma sociedade tecnológica sem alma e sem rosto. Através do Teatro, com a sua imensa capacidade de envolver, emocionar e provocar, procura-se traduzir pelo “sentir” e pelo “pensar” os conflitos éticos da ciência, despertando o público para as responsabilidades e consequências dos avanços da ciência na vida das pessoas. A evolução tecnológica é de todos nós. Os seus resultados fazem parte do nosso dia-a-dia. Compreender os seus princípios é fundamental para uma perfeita harmonia entre o indivíduo e imensidão do Universo. Por último e não menos importante, com este projecto, como diria Brecht, queremos fazer um teatro para um tempo científico, para um mundo em transformação. uma mário de Breve su frutuosa relação Há cerca de 6 anos o Teatro Extremo deslocou dois criadores seus ao Brasil, para levar à cena, em co-produção com a companhia Harém de Teatro, de Teresina, Capital do Estado nordestino do Piauí, a peça de Plínio Marcos “Dois Perdidos Numa Noite Suja”. Durante essa estadia os nossos elementos assistiram, entre outras peças, a uma montagem do texto “Einstein” do autor canadiano Gabriel Emanuel representada por Carlos Palma e encenada por Sylvio Zilber. Nessa altura, tínhamos já representado textos de Umberto Eco que apontavam, ainda de forma difusa é certo, para o projecto – EmCena a Ciência – que agora temos vindo a materializar e sobre o qual nos debruçamos mais amiúde noutro texto deste caderno. Pensámos, pois, que este “Einstein” era uma obra que fazia todo o sentido integrar no nosso repertório. Desvalorizando e ultrapassando a retórica às nossas expensas, pois nunca tivemos nenhum apoio especialmente dirigido a uma demanda luso-brasileira, quer da parte do Governo, Instituto Camões ou Cena Lusófona, a nossa companhia tem, ao longo dos anos, vindo a apostar numa for te cooperação com o Brasil, não só com a vinda de companhias brasileiras ao festival que organizamos: “Sementes – Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público”, mas igualmente com a integração de criadores brasileiros nas nossas equipas artísticas, como foi o caso da co-produção acima referida e da montagem de “Os Saltimbancos”, de Chico Buarque dirigido pelo encenador e director artístico do Harém de Teatro, Arimatan Martins. Então, porque não convidar também neste caso o encenador que tinha dirigido “Einstein” com tanto talento ali no Brasil. Uma vez mais, convidaríamos um encenador brasileiro para trabalhar connosco. A obra foi posta em cena com o Sylvio, revelando-se, para nossa felicidade, uma peça que ainda hoje é representada e aplaudida. Depois de uma peça sobre um grande homem e um grande cientista, sentimos, porque a ciência e a humanidade não se têm escrito apenas no masculino, que faltava a outra face da moeda. A mulher cientista e o seu paradigma “Madame Curie”: a única pessoa que ganhou duas vezes um prémio Nobel. Mais tarde, e no meio dos vários textos que fomos lendo que tinham como urie ia C 05 r a M TRO TEA R EXT O EM ie Cur 6 a i 0 Mar TRO TEA referência Maria Curie, encontrámos uma peça de Mira Michalowska, que pela sua qualidade e pela própria carpintaria do texto faria com “Einstein”, um díptico de excelência. Como estas duas obras tinham, no nosso entender, de obedecer a uma linguagem comum e a uma visão estética muito semelhante convidámos de novo o Sylvio para dirigir a encenação. E assim, em breves palavras, se escreveu e inscreveu mais uma ponte lusófona. R EXT O EM Ciência eres na s h l u m s A bridora As desco Desde o início dos tempos, homens e mulheres têm-se apaixonado por compreender o mundo que os rodeia. No entanto, a participação das mulheres no desenvolvimento científico tem sido dificultada por inúmeros preconceitos. As cientistas que ultrapassaram as limitações que lhes foram impostas, conseguindo deixar importantes legados para a posteridade, são pessoas verdadeiramente extraordinárias. Consideremos Hypatia de Alexandria (n. 370 A.C.) que nos deixou, entre outras invenções, o astroláio plano, ou Dorothy Hodgkin (n. 1910), a cristalógrafa que determinou as estruturas da penicilina e da insulina, abrindo caminho para o conhecimento de outras moléculas, Maria Curie (n. 1887), cujos estudos sobre a radioactividade lhe valeram dois prémios Nobel e a honra de ser a primeira mulher a ensinar na Sorbonne. Estas e outras mulheres, hoje reconhecidas como expoentes máximos nas suas áreas, não deixaram de experimentar a sombra da discriminação. As gigantescas contribuições científicas feitas por Maria Curie não foram suficientes para que fosse eleita para a Academia Francesa de Ciências, que admitiu a primeira mulher apenas em 1979. Nas últimas décadas, muitos obstáculos foram suprimidos, mas a discriminação no meio académico, com base no género, ainda não está totalmente ultrapassada. Hoje em dia, e em diferentes partes do mundo, as mulheres continuam a não ter as mesmas oportunidades para desenvolverem uma carreira científica. Em Por tugal, as mulheres são já uma forte presença na ciência. Contudo, a discriminação continua a manifestar-se, sobretudo nos níveis hierárquicos mais elevados, ainda maioritariamente masculinos, onde o acesso das mulheres continua a ser limitado por razões que não têm a ver com o mérito científico. Quem tem poder de decisão tende a recrutar e promover com base na sua prória imagem, perpetuando a desigualdade. O mundo continua repleto de mulheres cheias de potencial, talento e entusiasmo, às quais deverão ser asseguradas condições para que possam vir a concretizar esse potencial e a pô-lo ao serviço da humanidade. Joana Barros, Pós-doutoranda em Comunicação de Ciência, Associação Viver a Ciência. Actualmente envolvida na produção de um livro sobre mulheres cientista de países lusófonos urie ia C 07 r a M TRO TEA EXT O REM do en palavras cenador Um espectáculo de Teatro, mesmo um monólogo, é sempre uma arte de muitos: autor, director, cenógrafo, figurinista, iluminador, sonoplasta, mas, essencialmente, é a arte do actor. No caso, da actriz. Os outros são passíveis de serem descartados. Sem ao menos um actor/actriz e um espectador(a) não se dá o facto teatral. Neste espectáculo é ela, Isabel Leitão, quem vai defender perante o público o acto colectivo criado. Como director/participante deste colectivo, coube-me coordenar este processo. Meu primeiro passo foi desenvolver um trabalho de dramaturgia sobre o texto moldando-o às características e aos objetivos de nossa encenação. O universo da peça tem duas protagonistas, Mme. Curie e Missy. E somente uma actriz para “defende-las”. A etapa dos ensaios foi um processo “esquizóide-sadio” intenso. Digo “esquizóide” porquê um(a) actor (actriz) é sempre um duplo dividido e simultâneo de actuante e personagem. E digo “sadio” porque lhe cabe controlar as “passagens” de um para outro. Neste caso, acresça-se que temos uma actuante e duas personagens. Contam que, maravilhado diante da escultura do David, de Michelangelo, um contemporâneo lhe perguntou: “Como o senhor conseguiu tanta perfeição?” ie Cur 8 a i 0 Mar TRO TEA EXT O REM Michelangelo, simplesmente, respondeu: “Eu olhei para aquele enorme bloco de mármore e imaginei, vi o meu David. Depois, somente tive o trabalho braçal de retirar do bloco o que não era David”. Na fase de ensaios, procurei “esculpir” as duas personagens em Isabel, buscando que ela descobrisse, dentro de si, com o mínimo de apoio externo, as duas personas destas mulheres, semelhantes e diferentes, complexas e singulares. Trabalho de dupla escultura, exigindo uma doação plena e uma flexibilidade extrema da actuante, que procurei apoiar e ajudar a des-cobrir em si mesma (“Quem somos eu?”). A concepção de cenário de Fernando Jorge, bem como figurino, iluminação e som, vieram somar-se à nossa proposta cénica, enriquecendo-a e completando-a. Eis nosso espectáculo. Esperamos que você enxergue nestas mulheres, como nós neste processo descobrimos, um universo pleno de efervescência científica e humana mas, também, de mesquinharia e de solidariedade. A manipulação dos meios de comunicação não é um fenômeno recente; nem o é o jogo de intrigas e preconceitos a serviço de causas alheias aos interesses colectivos. Que possamos refletir sobre a postura desta Mulher, frágil na aparência mas um rochedo inabalável nas suas convicções. Desejamos-lhe um bom espectáculo. Sylvio Zilber urie ia C 09 r a M TRO TEA EXT O REM de mar biografia ia curie ie Cur 0 a i 1 Mar TRO TEA EXT O REM Cientista francesa de origem polaca, Maria Sklodowska-Curie, nasce em Varsóvia a 7 de Novembro de 1867. Foi laureada com o Prémio Nobel da Física, em 1903, pelas suas descober tas no campo da radioactividade e com o Prémio Nobel da Química, em 1911, pelas descober tas dos elementos químicos, rádio e polónio. de uma nova substância radioactiva. Faleceu em Sallanches, no dia 4 de Julho de 1934. Após vários anos de trabalho constante, através da concentração de várias classes de pechblenda, isolaram dois novos elementos químicos. Chamaram ao primeiro, polónio, em homenagem à terra natal de Maria e ao segundo, rádio devido à sua intensa radioactividade. Nascida em Varsóvia, à época par te do Império Russo, com o auxílio financeiro da irmã mais velha, Bronia, instalou-se em Paris, onde se matriculou na Faculdade de Ciências da Sorbonne, no curso de Ciências, Matemáticas e Físicas. Em 1903, Maria Curie, Pierre Curie e Henri Becquerel recebem o Prémio Nobel da Física, “em reconhecimento pelos extraordinários serviços obtidos nas suas investigações conjuntas sobre os fenómenos da radiação”. Em 1895 casou com Pierre Curie, professor de Física na Sorbonne. Em 1906, depois da morte de Pierre, sucede-lhe na cátedra da cadeira de Física Geral, na Sorbonne. Foi a primeira mulher a leccionar neste prestigiado estabelecimento de ensino. Em 1896, juntamente com o marido, começou a estudar os materiais radioactivos, procurando novos elementos radioactivos, que, segundo a hipótese que os dois defendiam, deveriam existir em determinados minérios como a pechblenda (que tinha a curiosa característica de ser mais radioactiva que o urânio que dela era extraído). Em Dezembro de 1898, anunciavam à Academia de Ciências de Paris a existência Oito anos depois, em 1911, Maria Curie recebe o Prémio Nobel da Química “em reconhecimento pelos serviços prestados para o avanço da ciência, pela descober ta dos elementos rádio e polónio, pelo isolamento do rádio e pelo estudo da natureza dos compostos deste elemento”. Em 1914, durante a Primeira Guerra Mundial, Maria Curie propôs o uso da rádiografia móvel para o tratamento dos soldados feridos. Foi fundadora do Instituto do Rádio, em Paris, onde se formaram cientistas de reconhecido mérito. Em 1922 tornou-se membro associado livre da Academia de Medicina. Em 1934, Maria Curie morreu per to de Salanches, França, vítima de leucemia, devida seguramente à exposição maciça a radiações ocorrida durante todos os seus anos de trabalho. Em 1935, um ano após o falecimento de Maria, a sua filha mais velha, Irene Joliot Curie recebe, juntamente com o marido, o Prémio Nobel de Química, pela descoberta da radioactividade artificial. urie ia C 11 r a M TRO TEA EXT O REM TÓRIA ÓRIA E HIS PRÉ-HIST NUCLEAR DA FÍSICA A Física Nuclear começou no fim do século passado por um duplo acaso feliz. O primeiro acto de "seripendidade" (do nome do príncipe Seripe da ilha de Ceilão, um indivíduo a quem a sorte repetidamente vinha ter sem ele fazer nada por isso!) consistiu na descoberta dos raios X, pelo alemão Wilhelm Roentgen, na cidade bávara de Wuerzburg. Quando um dia trabalhava com um tubo de raios catóicos, Roentgen verificou que um écran um pouco distante ficava fluorescente: era o choque do feixe de electrões no tubo com as paredes deste que dava origem a uma radiação invisível tornada visível no écran. O acontecimento deu-se no ano de 1895, tendo devido a ele Roentgen ganho justamente o primeiro Prémio Nobel da Física, no ano de 1901. O segundo acto aleatório ocorreu no ano seguinte, em 1896, com uma questão que se debateu à volta dos raios X. Na Academia Francesa de Ciências, o grande matemático Henri Poincaré (velhos tempos, quando os matemáticos metiam a colher na sopa da Física!) sugeriu que se analisasse a relação dos fenómenos de fluorescência com a radiação X. Se o tubo de raios X ficava fluorescente, talvez outros materiais com a mesma propriedade fossem capazes de emitir a mesma radiação misteriosa. Um físico e académico francês - Henri Becquerel, cujo pai tinha sido também académico- tentou avaliar da correcção da conjectura de Poincaré. Um sal de urânio era conhecido por ficar fluorescente sob ie Cur 2 a i 1 Mar TRO TEA EXT O REM a acção da luz solar. Tratava-se agora de saber se era também emissor de raios X. Quis o acaso que ele tivesse deixado o sal de urânio dentro de uma gaveta juntamente com uma chapa fotográfica. Aconteceu então que a amostra, mesmo não exposta aos raios solares, impressionou a chapa fotográfica. Em questões de acaso, não basta ser alvo dele, sendo necessário recebê-lo dignamente: Becquerel deduziu logo que havia uma nova radiação, proveniente do urânio, ainda mais misteriosa que os raios X, e, com tal conclusão, mereceu o Prémio Nobel de 1903. Os raios X vinham, sabe-se hoje, dos electrões do átomo. Os raios de Becquerel, por sua vez, provinham do interior do núcleo atómico, objecto de que nessa altura não se suspeitava a existência. Começou então a Física Nuclear, ainda que apenas na sua fase pré-histórica. A história iniciou-se apenas 15 anos mais tarde, quando se identificou sem margem para dúvidas o pequeno núcleo no centro do átomo. A pré-história da Física Nuclear ficou marcada, além de Becquerel, por duas outras personagens, que com ele por várias vezes privaram: o casal Pierre e Maria Curie. Pierre Curie fez nome na Física antes da sua esposa, que é hoje talvez mais conhecida do grande público. Tinha trabalhado em piezoelectricidade e em magnetismo, antes de se virar para a radioactividade. A sua consorte, uma jovem estudante de origens modestas que tinha vindo da Polónia cursar Física em Paris, interessou-se pela radioactividade de Becquerel, tendo sido assistente deste. O casal Curie conseguiu identificar os vários elementos químicos que eram responsáveis pela radiação misteriosa. A origem da radioactividade natural residia nos elementos químicos urânio, tório, polónio e rádio. Se o urânio e o tório já eram conhecidos antes, o polónio e o rádio foram reconhecidos e baptizados pelos Curie (a síntese do rádio foi completada em 1898). O nome do polónio surgiu como homenagem ao país natal de Maria Sklodoswka Curie e o nome de rádio veio do termo latino para raio (este elemento for neceu a r aiz do neologismo "radioactividade"). Hoje sabe-se que estes núcleos são a origem das chamadas séries radioactivas de elementos pesados, que têm todas fim no chumbo, praticamente o maior dos elementos estáveis. Foi um trabalho difícil, demorado e exigente aquele que os Curie efectuaram num barracão, em condições precárias: para isolar 1 mísero miligrama de rádio tiveram de tratar toneladas de minério, proveniente de minas austríacas. Essa proeza ainda hoje serve de exemplo de perseverança e devoção à causa científica sem atender a quaisquer compensações de ordem material. Em 1903, o casal Curie recebeu, em conjunto com Becquerel, o Prémio Nobel da Física e, em 1911, Madame Curie recebia o seu segundo Prémio Nobel, desta vez da Química (muito poucas pessoas haveriam de repetir essa façanha). Madame Curie sucedeu na cátedra da Sorbonne a seu marido, falecido em 1906 num estúpido acidente de caleche numa rua parisiense. O "Tratado de Radioactividade" de Madame Curie, editado em 1910 pela Gauthiers - Villars e que sumariava o conhecimento da época sobre o assunto, tinha significativamente uma fotografia de Pierre no frontispício. A senhora Curie teve uma ligação particular com Portugal. Com efeito, Mário Silva, professor de Física da Universidade de Coimbra, efectuou o doutoramento no Instituto do Rádio em Paris, tendo aí estagiado de 1925 a 1929. Foram ainda alunos de Maria Curie Manuel Valadares e Branca Marques, esta uma das primeiras mulheres cientistas em Por tugal. urie ia C 13 r a M TRO TEA EXT O REM ie Cur 4 a i 1 Mar TRO TEA Em finais de 1910 realizava-se num laboratório de Manchester a descoberta do núcleo. Esse resultado, embora obtido na práctica pelas interpostas pessoas de Geiger e Marsden (o primeiro assistente e o segundo estudante), foi obra do Professor Ernest Rutherford. Quando descobriu o núcleo, Rutherford já tinha nome feito na física dos fenómenos radioactivos, tendo recebido o Prémio Nobel da Química em 1908. Em particular, contribuiu decisivamente para o esclarecimento da natureza da radioactividade. Um campo eléctrico permitia dividir a radiação em raios alfa, carregados positivamente (e que, segundo concluiu Rutherford em 1909, mais não eram do que núcleos de hélio), raios beta (que mais não eram do que electrões como aqueles no tubo de raios catódicos de Roentgen) e raios gama, uma forma de radiação muito parecida com a de Roentgen mas muito mais penetrante. A descoberta de Rutherford foi apresentada à Manchester Literary and Philosophical Society, em 7 de Março de 1991. Em 1911, uma fotografia dos participantes do 1º Congresso Solvay, em Bruxelas, mostra Rutherford per to de Madame Curie (que está em diálogo com Henri Poincaré). Perto deles aparece Albert Einstein, por cuja teoria da relatividade nem Madame Curie nem Rutherford se interessaram (Rutherford manifestou até um certo desdém por tal teoria). O facto de serem os únicos físicos nucleares no retrato de grupo testemunhava EXT O REM que esse ramo da Física estava ainda a emergir. Na fotografia ainda não aparece uma personagem que haveria de marcar a Física do século XX, incluindo a nuclear, e que teria um papel muito activo em vários Congressos Solvay posteriores: Niels Bohr, que em 1913 consolidou a descober ta de Rutherford propondo o modelo planetário do átomo, segundo o qual os electrões giravam em torno do núcleo. A primeira reacção nuclear (isto é, uma experiência de colisão em que os parceiros perdem, durante o processo, a sua identidade inicial) foi observada em 1919 por Rutherford. A experiência consistiu em enviar partículas alfa para cima de azoto, verificando-se que saía oxigénio e hidrogénio. Rutherford procedeu à identificação do hidrogénio dentro dos núcleos (mais tarde, Rutherford chamou protão ao núcleo do hidrogénio). Além dos protões, que mais partículas há no núcleo do azoto e dos outros elementos? Como os electrões escapam dos núcleos nos processos radioactivos beta pensou-se durante algum tempo que existiam, de facto, electrões nos núcleos, tal como existem cá fora. Os electrões, contudo, aparecem à porta do núcleo sem estarem antes no núcleo. Eram o resultado do declínio de uma partícula, de cuja existência suspeitaram várias pessoas (entre elas o próprio Rutherford), mas que só foi identificada experimentalmente em 1932 por um discípulo de Rutherford, James Chadwick, que ganhou justamente o Prémio Nobel da Física de 1935. Na experiência de Chadwick, um núcleo de berílio, bombardeado com partículas alfa, originava carbono e libertava um neutrão. Este neutrão era depois absorvido por azoto, saindo finalmente novas partículas alfa e ficando um núcleo de boro. 1932 foi o "annus mirabilis" da Física Nuclear: nesse ano foi construído o primeiro acelerador circular (por Ernest Lawrence, em Berkeley, Califórnia), foi realizada a primeira reacção nuclear num acelerador (por John Cockcroft e Ernest Walton, em Cambridge) e descobriu-se o neutrão. Se as duas primeiras proezas foram percursoras de importantes técnicas experimentais para a exploração dos núcleos, a última veio completar o elenco dos principais componentes do núcleo: o núcleo atómico é uma colecção de protões e neutrões (genericamente nucleões), sendo a soma deles igual ao número de massa e o número de protões, ou número atómico, igual ao número de electrões no átomo. Em 1933 reunia mais um Congresso Solvay em Bruxelas. Desta vez a percentagem de físicos nucleares era bastante maior. Apareciam, da velha geração, Ernest Rutherford e Maria Curie, e da nova, Niels Bohr, James Chadwick, Ernest Lawrence, John Cockcroft, Enrico Fermi, George Gamow, Rudolf Peierls, Irène e Fréderic Joliot Curie, Lise Meitner, Werner Heisenberg, etc. A Física Nuclear entrava na sua idade adulta. A mecânica quântica, estabelecida em finais dos anos 20, é a teoria que explica os fenómenos que ocorrem no átomo o no núcleo. A radioactividade alfa só pode ter lugar devido a um efeito quântico chamado efeito túnel, tal como o físico de origem russa George Gamow concluiu em 1928. Os processos radioactivos beta, por sua vez, foram teorizados pelo italiano Enrico Fermi em 1934, usando ainda a mecânica quântica. A teoria apareceu nestes casos bem depois da experiência. Em 1934 é descoberta a radioactividade artificial por Fréderic e Irène Joliot Curie, esta última filha do casal Curie. Núcleos leves em configurações anormais, por exemplo com grande excesso de neutrões, podiam ser a origem de processos radioactivos, tal como os núcleos pesados. Os novos Curie bombardearam alumínio com partículas urie ia C 15 r a M TRO TEA EXT O REM ie Cur 6 a i 1 Mar TRO TEA alfa, obtendo uma modalidade radioactiva de fósforo e provocando emissão de neutrões. Fréderic e Irène Curie receberam por esta descoberta o Prémio Nobel da Química em 1935. De 1935 a 1945, Enrico Fermi foi o principal intérprete dos desenvolvimentos da Física Nuclear. Uma vez descoberto o neutrão, Fermi começou por efectuar numerosas experiências de bombardeamento de outros núcleos por neutrões, desencadeando assim várias reacções nucleares. Ganhou o Prémio Nobel da Física de 1938. Usando ainda a colisão de neutrões, os alemães Otto Hahn e Fritz Strassman descobriram em 1938 a cisão do urânio, num laboratório em Berlim. O urânio 235, quando bombardeado com neutrões, dava origem a núcleos de crípton e bário, muito mais leves que o urânio, e libertava neutrões. A cisão nuclear foi logo explicada por uma física sueca de origem austríaca, Lise Meitner, e por um seu sobrinho, Otto Frisch. Um tal processo pode ser induzido por neutrões ou mesmo aparecer espontaneamente, sendo neste caso, tal como acontece no declínio alfa, resultado de um efeito túnel. A cisão, descoberta no limiar da Segunda Guerra Mundial, viria a provocar o seu termo, como é bem sabido. Em 1942, Enrico Fermi punha a funcionar debaixo da bancada de um estádio de Chicago a primeira reacção em cadeia no urânio. O urânio bombardeado com neutrões lentos fazia libertar novos EXT O REM neutrões que, por sua vez, cindiam outros núcleos de urânio. Em 15 de Julho de 1945 num sítio chamado "Trinity Zero", no deserto do Novo México e no maior segredo, era realizada a primeira explosão de uma bomba atómica no planeta. O chefe da notável equipa do Projecto Manhattan, que concebeu e experimentou a bomba foi Robert Oppenheimer, um jovem e brilhante físico norte-americano que haveria nos anos 50 de conhecer a suspeita e a perseguição. A história do fabrico da bomba é por demais conhecida: a fuga rocambolesca de Niels Bohr da Europa com uma garrafa de água pesada que afinal continha cerveja, as travessuras de Richard Feynman nos cofres de Los Alamos, a exclamação de Oppenheimer de que "nós os físicos conhecemos o pecado", o facto insólito de um dos descobridores da cisão ter tomado conhecimento da explosão sobre Hiroshima num campo de prisioneiros em Inglaterra (tinha recebido o Prémio Nobel da Química em 1944). Curiosamente, já tinha havido uma premonição de Pierre Curie, no seu discurso Nobel em 1911, sobre os perigos do material nuclear: "pode-se imaginar que em mãos criminosas o rádio se torne uma arma terrível". Vale a pena distinguir duas linhas essenciais de evolução da Física Nuclear: uma tem a ver com a descober ta da estrutura e da dinâmica nuclear e a outra com a descoberta da constituição das partículas do núcleo e da natureza das forças nucleares. À proposta do japonês Hideki Yukawa, em 1935, de que existiam no núcleo mesões, partículas com massa intermediária entre a do electrão e a dos nucleões e que serviriam de meio de troca para manter a coesão nuclear, seguiu-se a identificação em 1947 dessa partícula no laboratório (a teoria, desta vez, aparecia à frente da experiência...), a descoberta de várias mesões "estranhos" assim como de parentes "estranhos" dos nucleões e, finalmente, a introdução dos constituintes fundamentais tanto dos mesões como dos nucleões - os famosos "quarks" - , propostos pelo norte-americano Murray Gell-Mann em 1964. “UMA BREVE HISTÓRIA DO FUTURO” Hoje em dia, o estudo do comportamento do núcleo e a análise das forças nucleares prosseguem, já que são ainda inúmeros os problemas em aberto. Se quisermos então fazer uma "breve história do futuro", referiremos sucintamente a síntese de novos núcleos, a tentativa de isolamento dos quarks e o empreendimento para imitar na Terra a produção energética das longínquas estrelas: 1) A tabela periódica, que a identificação do núcleo e a introdução do modelo planetário ajudaram a compreender, mostrava algumas lacunas imediatamente antes da Segunda Guerra Mundial. Não eram nessa altura conhecidos os elementos com números atómicos 43, 85 e 87, assim como não eram conhecidos quaisquer elementos com número atómico superior ao do urânio (92). No ano de 1940 o norte-americano Glenn Seaborg descobriu o neptúnio e o plutónio, os primeiros transuranianos (note-se que os planetas Neptuno e Plutão estão para além de Urano). No fim da guerra já se conheciam outros transuranianos, tendo-se também identificado o elemento 87. Os outros "buracos" for am entretanto colmatados. Nos anos 50 e 60 assistiu-se a uma autêntica competição entre equipas nor te-americana e soviética, para produzir novos elementos transuranianos (A. Ghiorso e G. Flerov dirigiam urie ia C 17 r a M E TRO TEA O EM XTR ie Cur 8 a i 1 Mar E TRO TEA respectivamente os grupos norte-americano e soviético em disputa). A prioridade da descoberta dos elementos 101, 102, 103, 104 e 105 foi reclamada ora por um, ora por outro, ora pelos dois ao mesmo tempo. Em 1981 os europeus, com experiências realizadas no Laboratório de Iões Pesados de Darmstadt, na Alemanha, entraram na corrida. O elemento mais pesado conhecido (109) foi nessa data sintetizado. No entanto, os físicos não se contentaram com chegar aí. Continuam a "conquistar" novos núcleos nas margens da estabilidade (com protões ou neutrões a mais), tendo-se até detectado novas formas de radioactividade (por exemplo, emissão de protões). Por outro lado, existem desde os anos 60 especulações sobre a existência de elementos superpesados, com números atómicos 114 e 164 e números de neutrões 190 e 318. O futuro da tabela periódica reserva-nos talvez surpresas, sendo talvez necessária uma nova Madame Curie que estenda a física a novas regiões. 2) Os nucleões são feitos de quarks. A chamada cromodinâmica quântica é a doutrina que explica a coesão dos quarks. Mas será que eles podem ser libertados do interior dos nucleões? A realidade dos quarks foi reconhecida em experiências um pouco semelhantes à de Rutherford: electrões rápidos que batem em protões foram desviados por "grãos duros" no seu interior, aos quais de início se chamou "partões" (os partões foram estudados por O EM XTR Richard Feynman). Hoje, procuram-se liber tar os quarks por meio de experiências de artilharia mais pesada, nomeadamente por colisões a alta energia entre núcleos pesados, que se realizam no CERN, Centro Europeu de Pesquisa Nuclear. Há quem julgue que já se conseguiu formar durante um inter valo de tempo diminuto um plasma de quarks na zona de choque entre dois núcleos, mas não existe a certeza absoluta. Novas experiências são necessárias. A dificuldade extrema do empreendimento exige o esforço prolongado de equipas numerosas e com competências diversificadas. 3) Por volta da data em que a cisão nuclear era descoberta, Hans Bethe teorizava que a energia das estrelas era obtida por meio da fusão de núcleos leves. Hoje sabe-se que uma estrela como o nosso Sol, que tem cinco mil milhões de anos (formou-se cerca de quinze mil milhões depois do "Big Bang"), não é mais do que uma "fogueira" onde se queima hidrogénio, para produzir hélio, libertando-se nesse processo uma grande quantidade de energia. Quatro núcleos de hidrogénio (protões) dão origem, por uma série de reacções nucleares, a um núcleo de hélio, dois positrões (antipartículas do electrão) e dois neutrinos. A partir de três núcleos de hélio 4 é possível, embora em geral pouco provável, criar um núcleo de carbono 12. O Sol, quando se esgotar o hidrogénio, queimará um dia hélio para originar carbono. A par tir do carbono ainda é possível, em estrelas maiores que o Sol, fabricar por fusão elementos mais pesados, até ao ferro. Os elementos mais pesados que o ferro obtêm-se por captura de neutrões. O urânio natural, de cujo estudo partiu a ciência nuclear, teve de ser feito no interior de alguma superestrela anterior ao Sol. Assiste-se hoje a uma ligação profunda da Física Nuclear com a Astrofísica, ajudando a primeira a esclarecer alguns dos mistérios do nosso passado cósmico. Actualmente, e embora as dificuldades técnicas sejam inúmeras, procura-se imitar no laboratório os processos de fusão que ocorrem nas estrelas, de modo a aproveitar em benefício humano a energia libertada. O Laboratório Europeu de Fusão (JET), sedeado na Inglaterra e líder mundial nesse tipo de investigação, anuncia para meados do próximo século reactores economicamente rentáveis. Rutherford, o genial físico das primeiras reacções nucleares, não acreditava que a energia nuclear pudesse algum dia ser usada. Hoje já é empregue em larga escala (em França a energia nuclear cobre cerca de 80% dos consumos energéticos), sendo previsível que, com a domesticação da fusão quente, ainda o venha a ser mais no futuro. Os génios, afinal, também se enganam, incluindo sobre o futuro do assunto em que se tornaram geniais. Carlos Fiolhais Departamento de Física da Universidade de Coimbra urie ia C 19 r a M E TRO TEA O EM XTR Física logia da Nuclear Crono PRÉ- HISTÓRIA 1896 - Descoberta da radioactividade (Becquerel) 1898 - Isolamento do rádio (M. Curie e P. Curie) 1909 - Natureza das partículas alfa (Rutherford) O INÍCIO DA HISTÓRIA 1911 - Descoberta do núcleo (Rutherford) 1913 - Modelo atómico planetário (N. Bohr) 1919 - Primeira reacção nuclear (Rutherford) 1928 - Teoria da radioactividade alpha (Gamow) 1932 - O "annus mirabilis" da Física Nuclear: Primeiro acelerador circular (Lawrence) Primeira reacção num acelerador (Cockcroft e Walton) Descoberta do neutrão (Chadwick) Descoberta da água pesada (Urey) OS ANOS DA GUERRA 1934 - Teoria da radioactividade beta ( Fermi) Radioactividade artificial (I. e F. Joliot Curie) ie Cur 0 a i 2 Mar O EM TRO TEA R EXT 1935 - Hipótese dos mesões (Yukawa) 1936 - Modelo de gota líquida (N. Bohr e Kalkar) 1938 - Descoberta da cisão nuclear (Hahn e Strassman) Fusão nuclear nas estrelas (Bethe) 1940 - Primeiro elemento transuraniano (Seaborg) 1942 - Primeira reacção em cadeia (Fermi) 1945 - Bomba atómica (Oppenheimer, etc.) OS ANOS APÓS A GUERRA 1947 - Datação por radioacarbono (Libby) Descoberta do mesão pi (Powell) 1949 - Modelo em camadas (Mayer, Jensen, etc.) 1952 - Modelo colectivo (A. Bohr e Mottelson) A HISTÓRIA MODERNA 1964 - Modelo de quarks (Gellman) ALGUNS PRÉMIOS NOBEIS DA FÍSICA E QUÍMICA LIGADOS À FÍSICA NUCLEAR A. H. Becquerel (1852-1908) Prémio Nobel em 1903 P. Curie (1859- 1906) Prémio Nobel em 1903 M. Curie (1867- 1934) Prémio Nobel em 1903 e 1911 E. Rutherford (1871- 1937) Prémio Nobel em 1909 N. Bohr (1885- 1962) Prémio Nobel em 1922 J. Chadwick (1891- 1974) Prémio Nobel em 1935 F. Joliot- Curie (1900 - 1938) Prémio Nobel em 1935 I. Joliot- Curie (1900- 1938) Prémio Nobel em 1935 C. Powell (1903-1969) Prémio Nobel em 1950 J. Cockcroft (1897-1967) Prémio Nobel em 1951 E. Walton (1903- ) Prémio Nobel em 1951 M. Mayer (1906- 1972) Prémio Nobel em 1963 J. Jensen (1907- 1979) Prémio Nobel em 1963 H. Bethe (1906- ) Prémio Nobel em 1967 M. Gell- Mann (1929- ) Prémio Nobel em 1969 A. Bohr (1922- ) Prémio Nobel em 1975 B. Mottelson (1926 - ) Prémio Nobel em 1975 E. Fermi (1901- 1954) Prémio Nobel em 1938 E. Lawrence (1901-1958) Prémio Nobel em 1939 O. Hahn (1879 - 1968) Prémio Nobel em 1944 H.Yukawa (1907-1981) Prémio Nobel em 1949 urie ia C 21 r a M TRO TEA R EXT O EM ueses s portug a t is t n ie c Mário Augusto da Silva foi uma personalidade de estatura invulgar. Aluno brilhante, investigador que privou com Madame Curie e outros grandes cientistas deste século, catedrático aos 30 anos, grande pedagogo, haveria de ser afastado da Universidade de Coimbra pelo governo de Salazar e impedido de contribuir para o desenvolvimento da ciência portuguesa. No fim da vida, assistiu ainda à queda do fascismo e voltou a prestar os seus serviços ao país. Alguns dos seus projectos, nomeadamente o Museu de Físicas da Universidade e o Museu Nacional da Ciência e da Técnica, continuam hoje a ser construídos. Mário Augusto da Silva nasceu em Coimbra, em 7 de Janeiro de 1901. Proveniente de uma família republicana que acarinhava a educação, licenciou-se na Universidade de Coimbra em 1922.Tanto no liceu como na universidade obteve a classificação final de 19 valores. Ainda estudante, foi nomeado assistente da universidade. Em 1925 partiu para Paris, onde ambicionava prosseguir os seus estudos e trabalhar no Instituto do Rádio, criado e dirigido por Madame Curie (1867-1934). Na altura, esse era um dos centros de investigação mais activos e prestigiados do mundo. Ao ambicionar prosseguir os seus estudos com Maria Curie, Mário Silva lançava-se numa aventura que espíritos menos fortes teriam receado. Chegado a Paris, o jovem físico foi ie Cur 2 a i 2 Mar TRO TEA R EXT O EM apoiado por Afonso Costa, na altura exilado na capital francesa, e apresentado a Paul Langevin e a Maria Curie. Apesar de ter passado o prazo de matrícula para os estudos de pósgraduação, a famosa cientista acolheu-o, tornando-o seu assistente no laboratório. Em diversos escritos que nos deixou, Mário Silva fala com justificado entusiasmo dos tempos em que acompanhou a intensa e extr aordinár ia investigação desenvolvida por Madame Curie e pelos seus colaboradores. De início, o físico português sentiu as insuficiências da sua preparação científica e seguiu as lições de física e matemática então dadas na Sorbonne e no Collège de France. Estudou com os célebres matemáticos Édouard Goursat (1858-1936), Jacques Hadamard (1865-1963) e Émile Borel (1871-1956) e com os famosos físicos Paul Langevin (1872-1946) e Louis de Broglie (1892-1987). Lamentava-se muito em especial do atraso do curso que tinha seguido em Coimbra, onde nem sequer a Teoria da Relatividade tinha sido referida. O seu esforço deu frutos, e Mário Silva viria a realizar vários trabalhos de investigação e a publicar os seus resultados. Em 1928 concluiu o doutoramento, tendo a honra de ter no júri, além da própria Madame Curie, o físico Jean Perrin (1870-1942), que tinha sido galardoado com o Nobel de Física em 1926 pela sua confirmação experimental da hipótese atómica. Terminado o seu doutoramento, Mário Silva foi convidado a continuar em Paris, tendo Maria Curie insistido em atrasar o seu regresso a Coimbra, de forma a poder integrar-se em vários projectos de investigação em curso. Passados muitos anos, o físico português retrataria assim o seu dilema: " de Coimbra começaram a exigir […] o meu imediato regresso […] e para quê Santo Deus!… para dar aulas na velha universidade… Conformei-me e parti". Mário Silva sabia que estava a deixar um dos centros de investigação mais activos que a história até hoje conheceu para regressar a uma universidade envelhecida. Percebia que poderia dar um contributo muito maior à ciência por tuguesa se continuasse o seu treino científico em Paris e viesse posteriormente a estabelecer no seu país uma colaboração internacional. Mas decidiu regressar. Não sabia ainda na altura que o fascismo se iria estabelecer por muito tempo em Portugal e liquidar dramaticamente a sua carreira de investigador e professor. Em Coimbra, Mário Silva dedicou-se com entusiasmo a constituir um centro de investigação em radioactividade, o Instituto do Rádio da Universidade de Coimbra. O seu projecto iniciou-se e foi instalado algum equipamento mas, no dizer do próprio físico, "todos estes esforços se quebraram perante uma inexplicável e odienta teimosia, invejosamente desenvolvida na sombra". O instituto nunca foi oficializado, as suas portas fecharam e, no fim dos anos trinta, um tremor de terra destruiu parte fundamental do equipamento existente. O projecto morreu. Entretanto, a situação política nacional e internacional agravava-se. A guerra iniciou-se e passaram por Coimbra alguns físicos conhecidos de Mário Silva, que os tentou integrar na universidade. Apesar dos benefícios extraordinários que daí poderiam advir para a ciência portuguesa, esses cientistas de craveira internacional não foram acolhidos. Tiveram de partir para outros países, onde uma política mais aber ta os admitiu em universidades e centros de investigação. São hoje bem conhecidos os benefícios que as universidades dos Estados Unidos, que constituem o exemplo mais conhecido, ganharam com o acolhimento urie ia C 23 r a M TRO TEA R EXT O EM ie Cur 4 a i 2 Mar TRO TEA que prestaram a cientistas e académicos, em especial os que deixaram a Europa central por altura da guerra. O que é extraordinário é que o nosso país, que se manteve neutro e por onde passaram tantos intelectuais de valor, não os tenha acolhido. Nos anos em que leccionou em Coimbra, Mário Silva preocupou-se em actualizar o saber transmitido pela universidade. Como docente, preocupou-se com a elaboração de manuais universitários de qualidade e publicou as suas lições.Traduziu alguns livros e escreveu muitos ensaios sobre a ciência moderna. A sua actividade pedagógica seria interrompida bruscamente em 1946, quando foi preso pela polícia política do antigo regime. Mário Silva esteve na prisão da PIDE no Porto, sem culpa formada, como represália pelo seu envolvimento no movimento democrático, ao lado do general Norton de Matos. Em 1947, seria expulso da universidade, tal como Ruy Luís Gomes e tantos académicos e investigadores de valor, que o regime impediu de prestar o seu contributo à universidade portuguesa. Muito mais tarde, em 1961, referir-se-ia à sua situação dizendo-se "afastado do serviço docente há muitos anos, por motivos políticos que muito me honram". Depois desse afastamento, chegou a ser vendedor de vinho espumante, para sobreviver, até que foi contratado pela Philips Portuguesa como "conselheiro científico". Mário Silva só seria reintegrao em 1976, quase dois anos depois da revolução de 25 R EXT O EM de Abril. Viria a falecer em 13 de Julho de 1977, mas prestaria ainda serviços à ciência e à cultura portuguesas. Em 1971, o professor de física seria nomeado para a comissão de planeamento do Museu Nacional da Ciência e da Técnica que ele projectou. Pouco tempo antes de morrer, o referido museu seria criado oficialmente e Mário Silva nomeado seu director. Enquanto esteve à frente deste projecto, lutou com falta de meios e incompreensões várias, mas lançou as sementes de um museu que hoje renasce em Coimbra, no antigo edifício do Colégio das Artes e no Palácio Sacadura Botte. Ainda antes de ser demitido, Mário Silva tinha recuperado também o que restava da colecção de instrumentos de física pombalinos que estavam abandonados na sua universidade. Ao descobrir e divulgar esse valioso espólio, criou um museu que manteve e desenvolveu enquanto aí trabalhou. Nos longos anos que se seguiram, esse museu esteve abandonado e só seria reaber to em 1997. O Museu de Física da Universidade de Coimbra é hoje uma das jóias da velha universidade e um dos mais visitados museus de ciência do país. Se hoje regressasse a Coimbra, Mário Silva teria algumas razões para ficar contente. E outras, muitas mais, para ter esperança no futuro. Artigo de Nuno Crato ncia sa e a Ciê A Impren Quer já nos finais do séc. XIX, quer agora no séc. XXI, existe uma forte ligação entre os media e a ciência. Ainda que a profissionalização do jornalismo científico tenha avançado consideravelmente nas últimas décadas, essa actividade permanece alvo de variadas críticas e controvérsias, muitas das quais no âmbito da própria comunidade científica. Por um lado, há os que defendem que o jornalismo científico, por requerer um adequado manuseamento da linguagem jornalística, exigindo assim habilidades específicas, dever ia ser realizado exclusivamente por profissionais de comunicação e não por cientistas. Do outro lado, muitos cientistas são contrários a esse ponto de vista, por discordarem dos critérios utilizados por jornalistas na selecção de notícias e no tipo de abordagem de suas reportagens sobre ciência. Critérios esses que seriam prórios à imprensa convencional (mas não à lógica científica), tais como sentido de oportunidade, timing, impacto e interesse social. Argumenta-se, ainda, que o jornalismo científico reflecte a ideologia que vem dominando o jornalismo em geral desde o século XIX, uma ideologia mercantilista, marcada pelo sensacionalismo (para vender notícias, é necessário provocar emoções no público consumidor) e pela atomização: o real é percebido não em sua totalidade, mas em fragmentos, contribuindo, em última análise, para o fortalecimento de algumas ideologias dominantes: - o mito da ciência (a ciência como um poder supremo); - a neutralidade da ciência (a ciência e os factos e fenómenos que ela descreve, sendo autónomos e independentes dos contextos políticos, sociais e culturais); - o preconceito no âmbito da própria ciência (enfatizando a big science e suas aplicações tecnológicas, minimizando pequenos projectos, oferecendo menos espaço nos media para as ciências humanas e sociais). A peça que agora levamos à cena está marcada indelevelmente pela relação entre o jornalismo e a ciência, especialmente pela relação entre Maria Curie e a imprensa marcada por um intenso amor-ódio. Depois do trabalho de Maria Curie começar a ser reconhecido, com a atribuição do primeiro Prémio Nobel (partilhado com o seu marido, Pierre Curie, e com o físico Bequerel), urie ia C 25 r a M TRO TEA R EXT O EM ie Cur 6 a i 2 Mar TRO TEA EXT O REM começaram, também, os jornais a debruçar-se sobre as suas pesquisas divulgando a sua actividade científica mas era “sol de pouca dura”. Após a morte de Pierre, ela foi perseguida por disputar uma vaga na Academia Francesa de Ciências com o também físico Edouard Branly, em 1910. Os jornais indagavam se uma mulher poderia ocupar a vaga e analisavam os seus traços, “acusando-a” de ter uma origem judaica e de não ter uma conduta adequada à religião católica. Já nessa altura, os media estavam organizados como máquinas de fazer dinheiro. Passado 5 anos após a morte do marido, o ataque realizado por jornais, revistas cor-de-rosa, sérias e sensacionalistas foi de tal maneira feroz que quase destruíram a vida e a carreira de Maria Curie. Descobrem que Maria Curie tem um caso amoroso com o cientista Paul Langevin. Até aí nada que pudesse despertar o interesse dos jornais. Só que Langevin era casado. Estava dado o mote para que os media se lançassem, com uma senha persecutória, numa campanha de injúrias, calúnias e acusações. Deixando de lado Langevin, que era homem e, como tal, aventuras fora do casamento não tinham qualquer gravidade, a perseguição que a imprensa moveu a Curie foi de tal forma intensa que ela foi acusada de tudo, de ser estrangeira, polaca, germanófila, outra vez de judia, de ser ladra de maridos alheios e de profanar o “bom nome” do seu falecido marido, insinuando mesmo que ela teria algo a ver com a sua morte. Este ataque cerrado abalou-lhe seriamente a saúde ficando muito magra devido ao seu desequilíbrio nervoso. O escândalo mediático rebentou precisamente na altura em que Maria Curie se preparava para ir receber o seu segundo prémio Nobel. A Academia Sueca escreve-lhe mostrando a sua consternação pela atribuição do prémio, apelando, inclusive, a que Mar ia Cur ie desistisse “cavalheirescamente” do mesmo.Tal não aconteceu e Maria Curie foi receber o seu prémio argumentando que o seu trabalho científico não tinha nada que ver com a sua vida pessoal. No entanto, não se livrou da perseguição, de tal forma que para se afastar um pouco dessa polémica passa, a partir daí, a adoptar o seu nome polaco de solteira até o assunto ter arrefecido. Este ódio deu mais tarde lugar ao amor, encadernado, é certo, de novo pelo sentido do lucro. Os patrões dos media percebiam que a divulgação científica lhes dava cada vez mais dinheiro a ganhar e assim, divulgando intensamente o trabalho de Maria Curie, jornais e revistas, das mais sérias publicações à imprensa mais sensacionalista, concorreram para que a angariação, nomeadamente nos Estados Unidos da América, do dinheiro suficiente para a aquisição de um grama de Rádio, primeiro para o seu laboratório de Paris e depois para o Instituto de radiologia em Varsóvia. Sem este contributo, Maria Curie dificilmente conseguiria continuar as suas pesquisas e deixar-nos, assim, a sua marca profunda no univer so científico e humano. urie ia C 27 r a M TRO TEA EXT O REM ie Cur 8 a i 2 Mar gráficas Notas Bio TRO TEA EXT O REM SYLVIO ZILBER ENCENADOR, ACTOR Consultor do MVC - Instituto MVC Estratégia e Humanismo. Professor de Inovação e Criatividade na Pós-Graduação da ESPM (São Paulo). Diploma em Adult Training and Development pela Universidade de Toronto – Canadá. Fundador e Facilitador do ILACE (Instituto Latino Americano de Criatividade e Estratégia). Actor, Director e Professor de Teatro pela USP (Universidade de São Paulo). Graduado e Pós-graduado em Psicodrama. Membro associado da World Future Society. Facilitador e Palestrante com muitos Programas, Cursos, Seminários e Palestras de Criatividade ministrados no Brasil e no exterior. Autor de diversos ar tigos sobre Criatividade e Inovação em revistas especializadas em RH. Dramático de Évora, Teatro Personna, Escola da Noite, Teatro da Malaposta, Teatro Nacional de São João e em produções independentes no Teatro Nacional D. Maria II, Teatro Académico Gil Vicente/Centro Cultural de Belém, Teatro Maria Matos. Par ticipou em diversas produções de televisão. É actriz residente do Teatro Extremo desde de 2003. Foi ainda uma das fundadoras do Teatro do Tejo. FERNANDO JORGE LOPES D RAMATURGO , ACTOR , ENCENADOR , DIRECÇÃO ARTÍSTICA ISABEL LEITÃO A CTRIZ , ASSISTÊNCIA DE ENCENAÇÃO É licenciada em Engenharia do Ambiente pela Universidade de Aveiro. Na área de teatro frequentou ateliers com António Nóvoa, Victor Valente, Pierre Voltz, Mark Dornford – May, Jorge Silva Melo, Konrad Zhiedricht entre outros. Foi fundadora do Grupo Experimental de Teatro da Universidade de Aveiro. Como actriz trabalhou na Companhia de Teatro de Almada,Teatro da Rainha, Centro Iniciou a sua actividade teatral como actor em 1980. Possui o Curso de Formação de Actores da Companhia de Teatro de Almada e o 1º curso livre de Iniciação ao Cinema da Universidade Nova de Lisboa. Concluí o 1º ano do curso de pós-graduação em Teatro, na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa. É fundador do Teatro Extremo, onde exerce as funções de encenação e direcção artística, onde trabalha, também, como actor. KARTARZYNA PEREIRA Katarzyna Szymanska Pereira, nascida a 8 de Abril de 1975, natural de Polónia é mestre em Composição e Teoria da Música pela Academia Superior da Música de Lodz, frequentou curso de Pedagogia e Psicologia da Música na mesma Academia. Em 1997-99 professora de Formação Musical e Piano na Escola de Música de Tomaszow Mazowiecki-Polónia. Actualmente é orientadora de Sessões Musicais para recém-nascidos e crianças pequenas e professora de Iniciação Musical na Academia de Amadores de Música, Academia de Música de Santa Cecilia e Colégio do Largo. Professora convidada na Escola Superior de Educação de Almada (Instituto Piaget) onde lecciona Atelier de Prática Instrumental (piano). Participou na apresentação no Seminário de Orientações Musicais para Crianças em Idade Pré-escolar orientado pelo prof. E. Gordon, promovido pelo Departamento de Ciências Musicais da FCSH-UNL (Fundação Calouste Gulbenkian - Lisboa) Participou como formadora no Encontro de Orientações Musicais para Primeira Infância integrado no programa de actividades da Bebeteca (biblioteca municipal de Sintra Polo-Tapada das Mercês). Em 2003-2006 adjunto do director musical e participante no espectáculo para bebés “Miauzz”-Ratsódia para Todos. Em 2006-2007 participante no espectáculo “Viva Zapato” produção Armadilha. Tradutora oficial do Conselho Português para Refugiados. PAULO CORREIA Nasceu em Agosto em 1976 em Lisboa. Possui a carteira profissional de electricista e o curso de técnico de iluminação e robótica. Trabalhou como electricista e técnico de iluminação em diversos espaços culturais/teatros e recreativos do País. Colabora como responsável de montagem técnicas e manutenção de equipamento nas produtoras televisivas, como a Fealmar, NBP, Multicena. Actualmente encontra-se envolvido em vários projectos como iluminador/director técnico. Acompanha a digressão dos Dazkarieh entre muitas outras. Colabora com o Teatro Extremo desde 2005. PEDRO GODINHO Aluno finalista do curso de Design de Cena da ESTC, frequentou ainda urie ia C 29 r a M TRO TEA EXT O REM ie Cur 0 a i 3 Mar TRO TEA EXT O REM o curso de Design de Interiores no ESAD. Fez a cenografia e figurinos da peça de teatro”Força do Hábito”, apresentado na sala-estúdio do teatro nacional D. Maria II, da peça de teatro “Cómicos, Assustados, Guerreiros” ambas no âmbito de projectos curriculares da ESTC. Realizou ainda a concepção plástica do vídeo-instalação “OM-571”. Em 2007 começou a colaborar com o Teatro Extremo. figurinos e adereços para o projecto Armadilha, do qual é co-fundadora, para o espectáculo musical para crianças, com autoria de António Rocha,“ Miauzz Uma Ratsódia para Todos”, uma co-produção com o Teatro Extremo em 2003. ARMINDA ROSA MOISÉS COELHO CENOGRAFIA ANTÓNIO VITORINO ROCHA MÚSICO E COMPOSITOR Cenógrafa, figurinista e aderecista, licenciada no Curso de Realização Plástica do Espectáculo da Escola Superior de Teatro e Cinema, do Instituto Politécnico de Lisboa. Criou figurinos e concebeu o espaço cénico para o bailado do Conservatório Nacional de Dança, no Teatro Camões Estagiou no Teatro Nacional de São Carlos, onde fez adereços para Robert Wilson, Nuno Carinhas e António Lagarto. Desenvolveu figurinos para As Vozes Alfonsinas. Foi responsável pela peça teatral, para além de produção, cenografia, adereços, figurinos e cartaz, para “A Armadilha de Medusa” de Erik Satie, subsidiado pelo IPAE – MC, no Teatro Extremo, em Almada. Trabalhou na criação de figurinos e adereços para o Teatro da Universidade Técnica com encenação de Jorge Listopad. Criação do espaço cénico, Flautista, Director Musical e Professor de Música. Participou em espectáculo dirigidos por Jorge Listopad e Silvina Pereira. Participou no filme de Paulo Rocha “Camões – Tanta Guerra, Tanto Engano”. Consultor musical da peça “A Armadilha de Medusa” de Erik Satie, do projecto Armadilha, com encenação de Fernando Jorge Lopes e produção de Arminda Moisés Coelho. Foi autor do projecto de teatro-musical “Miauzz – Ratsódia para todos” co-produção Armadilha e Teatro Extremo, estreado no Festival Sementes, em Almada. É Licenciado em Ensino, variante de Educação Musical pela Escola Superior Jean Piaget de Almada – Instituto Piaget. Frequenta a parte escolar do Mestrado em Ciências Musicais, área de Psicologia e Pedagogia Musical, no Departamento de Ciências Musicais da F.C.S.H. – U.N.L. Coordena o projecto de “Música para Bebés”, na Academia dos Amadores de Música em Lisboa, desde 2001. Professor de Iniciação Musical na Academia de Música de Santa Cecília, em Lisboa. É professor provisório do quadro de zona pedagógica no grupo de Educação Musical, 2º Ciclo de Ensino Básico. É Colaborador da Escola Superior de Educação Jean Piaget – Almada, tendo leccionado a disciplina de Didáctica Especifica, Licenciatura em Ensino – Educação Musical e Atelier de Expressão Musical, na Licenciatura de Educação de Infância. Consultor na área Musical do Teatro Extremo. RINGUE GRAFISMO Ringue é um atelier de design gráfico que aposta na construção de imagens e soluções gráficas alternativas, desde 2001. Tendo por base uma estrutura flexível, construímos uma aposta que permite uma melhor rentabilização e eficiência de cada projecto em que nos envolvemos. Âmbito de serviços prestados: identidade corporativa; mailling empresarial; package design; soluções multimédia;vídeo; ilustração. SANDRA RAMOS FOTOGRAFIA Sandra Ramos é Almadense desde 1972. Desde muito cedo se aliou à criação artística e produção cultural, tendo estado ligada à associação cultural e juvenil KOYZA, a indústria das ideias está ligada à fotografia, centrando o seu trabalho na área do espectáculo, musicais e teatrais, arquitectura, reportagem e estúdio. Frequentou o curso de fotografia do IPF e do AR.CO e licenciou-se em Marketing e Publicidade pela UAL. Colaborou como redactora e fotógrafa no jornal Expresso, na redacção dos Cadernos Especiais, esteve integrada numa equipa redactorial na Câmara Municipal de Almada, onde coordenava a agenda cultural e realizava fotografia. Desde 2003, associa-se a várias companhias de teatro, nas áreas de assessoria de imprensa e fotografia: O Teatro Extremo, O Bando, Praga, Companhia de Teatro de Almada e Teatro do Tejo. Colabora com Teatro Extremo desde o VIII Sementes, tendo desenvolvido com este grupo um largo trabalho de repor tagem, aquando urie ia C 31 r a M TRO TEA EXT O REM ie Cur 2 a i 3 Mar TRO TEA EXT O REM das descentralizações, e de fotografia de cena para a divulgação dos espectáculos FILIPE OLIVEIRA WEB MASTER Nasceu em França em 1975. Iniciou o Curso de Sociologia no ISCTE tendo enverdado mais tarde pelo Curso de Técnicos de Multimédia ministrado pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, o qual se formou com distinção. Desde Fevereiro de 2000 que desempenha o cargo de Web-Designer e Programador Multimédia na empresa Autor, Tecnologias Multimédia S.A., onde tr abalha predominantemente com o software Macromedia Flash. Colabora com o Teatro Extremo como Webmaster desde 1999. SOFIA OLIVEIRA DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO Concluiu o 2º ano do Curso de Línguas e Literaturas Modernas da Faculdade de Letras de Lisboa em 1992/93. Realiza o Curso de Produção e Manegement da Escola de Artes Interpretativas – Ártico (1993/4). Frequentou o wor kshop de “Produção de Espectáculos” coordenado por Miguel Abreu e o seminário “Economy, Culture, Art” ministrado por Jack L. Amariglio (E.U.A.) e Arjo Klamer (Holanda) realizado no Centro Cultural de Belém. Colaborou na área de produção, promoção e divulgação com o Teatro do Caixote, Teatro da Rainha, Grupo Pim,Teatro Inconveniente e José Meireles. É fundadora do Teatro Extremo da qual é Presidente da Direcção da Associação e responsável pela Direcção de Produção e Gestão. PAULA ALMEIDA SECRETÁRIA DE PRODUÇÃO Possui o 4º ano de Direito da Universidade Moderna de Lisboa. Passou por vár ias empresas multinacionais tendo sido Agente Comercial e Relações Públicas. Foi responsável operacional de Recursos Humanos nos Recreios Desportivos da Amadora em 1997. Em 1999 integra a equipa de os “Artistas Unidos”, sob a direcção de Jorge Silva Melo, onde desempenhou funções de secretariado de produção, contabilidade e assessoria de imprensa. Actualmente, desempenha as funções de secretariado de produção no Teatro Extremo em Almada. NÁDIA SANTOS MONTEIRO PSICÓLOGA Nasceu em 1979 possui a licenciatura em Psicologia na área de Clínica do Instituto Superior de Psicologia Aplicada concluído em 2003. Realizou o seu estágio Académico na “ Ajuda de Mãe”. Fez várias formações complementares como: Psicoterapia de orientação Psicanalítica, Psicologia da gravidez e da maternidade; Neurose Infantil/Neurose da Criança;TécnicasTemáticas T.A.T e C.A.T.; O Exame Psicológico da Criança e a Consulta Diagnóstico e Clínica das Per turbações da Personalidade. É responsável para divulgação, publicidade e assessoria de imprensa do Teatro Extremo. D. Quixote de La Mancha, O Valente Soldado Sveick entre outras. Foi o fundador do Grupo PIPA-PAPAS – Teatro de Fantoches onde participou nas peças: As Fabulosas Aventuras do Anão Gigante, 1,2,3.....Todos de Uma Vez. É membro do Teatro Extremo desde 2001 sendo o responsável por toda a área de promoção. ViTOR PINTO ÂNGELO PROMOÇÃO Nasceu no ano de 1957 em Albergaria-a-Velha. Possui o Curso Geral de Liceus e Curso Complementar dos Liceus. Em 1974 participa no projecto de Alfabetização em Trás-os-Montes com o Professor Paulo Freire da Faculdade de Letras de Coimbra. Foi membro fundador do Centro Cultural de Alcácer do Sal. Em 1989 entra para a Companhia de Teatro de Almada onde participou em várias peças como: D. Afonso VI, D.Filipa de Lencastre, Marco Milhão, Felicidade e Erva-doce; Dias Inteiros nas Árvores, Os Lusos da Ribalta, urie ia C 33 r a M TRO TEA EXT O REM ituição de subst l e p a p O Quando, enquanto colectivo, imaginámos criar uma estrutura artística cujos princípios artísticos e filosóficos estivessem desalinhados com a situação do teatro de então, principalmente com os seus mecanismos de poder, estavam também a nascer em Portugal outros projectos que constituiriam um novo fôlego para o teatro estabelecido nos finais dos anos 90. Alguns transformaramse em estruturas artísticas de produção permanente e ainda hoje existem, tais como o Teatro Extremo. Estes projectos ar tísticos, um deles apadrinhado e conduzido por um criador com obra feita, foram, no entanto, na sua maioria, impulsionados por jovens criadores que, salvo raras excepções, apostavam essencialmente na procura da reprodução de uma arte pós-moderna, surgindo assim um movimento que chegou a ser considerado tão importante que foi erigido como modelo quase exclusivo para a crítica e escola artística deste país. Criou-se, então, um outro poder, que sem beliscar o já instituído e cristalizado, criava novas redes de interesses. Estas assegurariam, pelos grémios de jurados arregimentados pelo estado, veiculando em conjunto mais ou menos a mesma ideologia, reflectida na ar te que patrocinavam com ardor e saboreando com gosto o papel de um autêntico príncipe mecenas, a distribuição das várias migalhas do bodo. ie Cur 4 a i 3 Mar TRO TEA EXT O REM O Teatro Extremo fundado ao arrepio destas convenções e tutelas, delas se manteve afastado, dando origem a um caminho muito próprio de democratização artística estabelecida como um processo sem fim à vista, com a consciência de que o teatro não obriga só ao movimento, mas que nele próprio deve transparecer um propósito, nem que seja a sua decomposição. Com este objectivo, considerou que a sua estrutura teria de escolher como factor valorativo o trabalho do actor como grau zero da escrita teatral e eleger as camadas mais frágeis da sociedade, como são especialmente as crianças, em inter locutores privilegiados desta aventura cultural que insiste em transformar o mundo que nos rodeia. Desde o nosso começo para cá muito se alterou e muito se manteve na mesma, em relação ao teatro em Portugal, nomeadamente no que diz respeito ao papel do estado e ao da própria sociedade dita “civil”. Do lado das alterações assistiu-se a uma pulverização descentralizada de novos projectos, mudança iniciada já no novo milénio e que veio esbater as indicações para que o teatro prosseguisse apenas numa única postura estética, pois cada estrutura havia de trabalhar com o “seu” público. Verificou-se, também, uma grande alteração com a criação de estruturas associativas, juntando os criadores e emprestando-lhes uma voz há muito sonegada. Estas tiveram início no Movimento dos 31 e passam necessariamente pela REDE da dança e pela criação recente da ATINJ – Associação Por tuguesa de Teatro para a Infância e Juventude. Mudaram-se também as regras dos concursos do estado. Regras mais exigentes, pelas quais pugnávamos, mas que ainda assim não deixaram de criar engulhos e atropelos. No passado recente alguns desses concursos, de tão atribulados, ainda não se encontram concluídos, com processos judiciais pendentes. Outros nem sequer se iniciaram, por falta de verbas. Cá estaremos para ver o que se segue. Do que ficou na mesma, podemos constatar que continua a concentração das magras dotações orçamentais nos grandes equipamentos: CCB, Casa da Música, Museu de Serralves, Teatros Nacionais; e em meia dúzia de outras estruturas. S a b e m o s q u e n e s t e mu n d o contemporâneo a cultura é constantemente atravessada pela economia e pela ideologia. Mas as acusações de subsídio-dependentes aos trabalhadores da cultura em geral e do teatro em particular, caem por ter r a quando se sabe que a recomendação da Unesco vai no sentido dos países inscreverem pelo menos 1% do seu PIB na cultura. O que contrasta flagrantemente com o valor de 0,47% do PIB inscrito no orçamento de estado para a cultura deste governo e quando os dados disponíveis estimam que a riqueza gerada pelo sector cultural neste país é de 2,6% do PIB. O que está em causa nesta acusação que faz uma feroz defesa do mercado da massificação cultural, é a necessidade de assegurar que a arte e a cultura sejam um dos meios de reprodução da sociedade actual e não um factor de emancipação social, individual e colectivo da humanidade, uma ferramenta de enriquecimento perceptivo e sensorial. O poder hegemónico e asfixiante das indústrias urie ia C 35 r a M TRO TEA EXT O REM ie Cur 6 a i 3 Mar E TRO TEA culturais massificadas, que padronizam hábitos e preferências de consumo, prescreve uma só narrativa do mundo e a formação de públicos é feita como forma de padronizar valores que são impostos a indivíduos passivos. O mercado do entretenimento preenche, assim, o da cultura através da massificação necessariamente acrítica, não solicitando a participação dos públicos como agentes da sua própria formação. Nesta linha de pensamento e porque os vários governos que desde então têm dirigido o estado, se têm comprometido ideologicamente com esta visão das coisas da cultura, ontem como hoje, tem existido uma atabalhoada explicação do conceito de servido público. Entretanto, entrevê-se na sombra uma redução sistemática da importância do papel do estado no fomento da cultura. Um estado cujo objectivo final seja apenas assegurar os serviços mínimos. Cabe pois perguntar com alguma suspeita: e se houvesse mais dinheiro, a política seria outra? Num país onde à cultura tem cabido ornamentar as elites, que subalternizam e subestimam o papel dos objectos artísticos feitos para todos os públicos, são efectivamente os colectivos ar tísticos espalhados por esse país que desempenham O EM XTR o papel do estado, o qual, por falta de comparência, é desta forma substituído nas suas obrigações para com as populações. Essas estruturas tomam para si a tão necessária tarefa da democratização da cultura. Quem vive dentro de gabinetes, vê o mundo pela sua janela, ou Portugal por um canudo, está bem longe da realidade, que muitas vezes passa tão só por alfabetizar os públicos, sensibilizar autarcas e empresas, exercer para além da condição de ar tista a função de animador cultural. Também, tudo continua na mesma no que diz respeito às iniciativas tr ansfor mador as do chamado movimento de educação pela arte. Esse pensamento está praticamente erradicado no discurso de qualquer responsável político e, mais grave ainda, tudo se mantém igual na exasperante falta de qualquer coordenação de políticas e iniciativas entre o Ministério da Cultura e o Ministério da Educação, para já não falar entre estes e o Ministério da Ciência. Não queremos acabar estas breves reflexões sem falar dos intercâmbios e da promoção da cultura portuguesa nos países lusófonos e no mundo. Estes também se encontram estagnados. Quando existem, encontram-se, depois de bonitas palavras e grandes discursos, a espreguiçar em iniciativas que não produzem quaisquer mais-valias artísticas, que não conduzem a resultado nenhum nem trazem benefício a ninguém. A não ser, é claro, àqueles que deles usufruem pessoalmente, refastelados em esplanadas à beira-mar numa qualquer cidade tropical, ou deitados nos lençóis de seda dos belos hotéis de Roma, Paris ou Nova Yorque. Teatro Extremo urie ia C 37 r a M E TRO TEA O EM XTR Teatro Criações 1994/2007 ie Cur 8 a i 3 Mar Extremo E TRO TEA O EM XTR “OS INFERNOS DA BARCA” criação colectiva, 1994 “O CAPUCHINHO BRANCO-SUJO” criação colectiva, 1995 “OS GNOMOS DE GNU, UMA AVENTURA ECOLÓGICA” de Umberto Eco, 1996 “XTC” criação colectiva, 1997 “OS TRÊS COSMONAUTAS” de Umberto Eco, 1997 “VOZES DE BURRO NÃO CHEGAM AO CÉU” criação colectiva, 1997 “ROMEU” de Romeu Correia, 1997 “GIRALDO” 2º episódio do ciclo “Sem Rei nem Roque” criação colectiva, 2002 “BRINQUEDOS.COM” Fernando Jorge Lopes, 2002 “AMIGOS E SARILHOS” de Antónia Terrinha, em co-produção com Antónia Terrinha, Fernando Ascensão, José Graça e Arménio Teixeira, 2003 “A COISA MAI LINDA...” criação colectiva, co-produção com Piajio, 2003 “MAL D’AMOR” criação colectiva, 1998 “MIAUZZ – RATSÓDIA PARA TODOS” de António Rocha, co-produção com Armadilha, 2003 “A EXCEPÇÃO E A REGRA” de Bertolt Brecht, 1998 “CONT.ACT” criação colectiva, 2003 “A TERRA DO DIA ANTES” criação colectiva, 1999 “HISTÓRIAS DENTRO DE UMA MALA” (2º Acto) criação colectiva, 2003 “O COMÍCIO” de Miguel Morillo, 1999 “VELHO PALHAÇO PRECISA-SE” de Mátei Visniec, 2003 “DOIS PERDIDOS NUMA NOITE SUJA” de Plínio Marcos, co-produção com Harém de Teatro (Teresina, Piauí, Brasil), 1999 “ÁGUA” de Antónia Terrinha, 2004 “O PESCADOR E A SUA ALMA” de Oscar Wilde, 1999 “HISTÓRIA CÓMICO-MARÍTIMA” 3º episódio do ciclo “Sem Rei nem Roque” criação colectiva, 2000 “A VOLTA AO MUNDO EM 80 DIAS” de Júlio Verne, em co-produção com Snap Theatre (Reino Unido), 2000 “CIDADE ESMERALDA” de António Cabrita, 2000 “HISTÓRIAS DENTRO DE UMA MALA” (1º Acto) criação colectiva, 2001 “CABARET DA COXA” criação colectiva, 2001 “NÃNÃ & TALITAL” criação colectiva, 2001 “LUSITÂNEA” 1º episódio do ciclo “Sem Rei nem Roque” criação colectiva, 2004 "OS SALTIMBANCOS" de Chico Buarque, com encenação de Arimatan Martins, espectáculo de digressão na iniciativa "Sorriso de Natal" (estreia a 23 de Novembro), XXXX(Qual o ano?) “EINSTEIN” de Gordon Wiseman, com encenação de Sylvio Zilber, 2005 “CORRIDA MIRABOLANTE” criação colectiva, 2006 “MAÇAS VERMELHAS” de Luís Matilha, com encenação de Fernando Jorge Lopes, 2006 “MARIA CURIE” de Mira Michalowska, com encenação de Sylvio Zilber, 2007