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OGLOBO
SEGUNDO
CADERNO
Vera Fischer
lança um novo
livro, ‘Lucíola’,
título tirado da
heroína de José
de Alencar
MÚSICA
Gente Boa pág. 3
JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS
TERÇA-FEIRA 5.3.2013
oglobo.com.br
ECLETISMO
MARCA O
NOVO CD DE
DEVENDRA
BANHART
pág. 2
HISTÓRIA OCULTA
Livro lançado por escritora britânica reúne objetos capazes de contar a
trajetória da Humanidade, mas que não podem ser vistos pelo público
CRISTINA TARDÁGUILA
G
uardados a sete chaves na Royal Society
de Londres estão três pedaços da macieira que um dia inspirou o físico e matemático inglês Isaac Newton (1643-1727) a formular a Lei da Gravidade. Com menos de dez
centímetros de comprimento, os pedacinhos da
árvore que sombreava a casa em que o cientista
cresceu, em Lincolnshire, estão nos arquivos da
famosa sociedade científica desde 1800, quando a macieira foi derrubada. De lá, no entanto,
nunca saíram. No Museu Van Gogh, em Amsterdã, também inacessíveis, estão quatro cadernos
de rascunho do famoso pintor holandês. Van
Gogh (1853-1890) gostava de desenhar imagens
que o impressionassem “no ato”, caso da igreja
de Nuenen, que, mais tarde, apareceu numa de
suas pinturas.
Essas e outras 58 peças que contam parte da
história do mundo e da arte, mas seguem distantes dos olhos do público, mobilizaram a escritora e roteirista da BBC Molly Oldfield durante todo o ano passado. E agora ganham os
holofotes em “The secret museum” (“O museu
secreto”). Lançado na última quinta-feira, o livro foi parar na lista dos cem mais vendidos da
Amazon em menos de 24 horas.
— Existe um universo de objetos que o grande
público simplesmente não pode ver — diz
Molly, em entrevista ao GLOBO, por telefone,
de Londres. — Há muito mais peças guardadas
do que à mostra. E não há nada que possa ser
feito em relação a isso.
Em sua pesquisa, Molly encontrou diversas
razões para a existência dos “museus secretos”:
do valor das peças à sua fragilidade, passando
pela vontade dos curadores.
— Há objetos, como a maravilhosa cruz de
pedras preciosas do Museu de Arte Sacra de
Salvador, na Bahia, que são simplesmente valiosas demais para serem postas à mostra sem
um superesquema de segurança. Existem ainda peças que já estão tão frágeis que não podem nem ver a luz. É o caso do “The Diamond
Sutra”, a impressão mais antiga do mundo (de
868 a.C). Ela está numa caixa arquivada pela
British Library.
COMANDANTE NELSON X PRÍNCIPE CHARLES
Em “The secret museum”, cada uma das 60 peças toma um capítulo inteiro e traz uma historinha. No caso da bandeira espanhola usada na
Batalha de Trafalgar, que envolveu França, Espanha e Inglaterra, em 1805, Molly conta que,
em 2005, durante uma exposição em homenagem ao comandante Horatio Nelson (vencedor
do conflito e considerado um dos maiores estrategistas navais do mundo), o National Maritime
Museum tomou coragem e decidiu desenrolála em seu saguão. Chamou os jornalistas para
registrar o momento, mas, na hora combinada,
o príncipe Charles anunciou seu casamento
com Camilla Parker Bowles e capturou a atenção de todos.
Molly visitou cem instituições pelo mundo.
— No Brasil, achei incrível a estátua “Exu boca
de fogo” feita em madeira, que está guardada no
Museu Afro-brasileiro, em Salvador. Os curadores não a expõem porque acham que ela passa a
impressão de que o orixá é uma figura ameaçadora, com língua e chifre. No Rio, fiquei impressionada com seis telas do pintor naïf Ricardo de
Ozias. Feitas com a ponta dos dedos e com escovas de dente, elas representam o sofrimento da
escravidão. Estão guardadas porque o Lucien
Finkelstein (fundador do Museu Internacional
de Arte Naïf, no Cosme Velho) morreu (em 2008)
antes de decidir quando exibi-las.
Em São Paulo, a escritora encontrou a cabeça
do menor dinossauro da América do Sul. E todas essas peças também estão em “The secret
museum”. Unem-se, por exemplo, aos três fragmentos comprovadamente vindos de Marte
que fazem parte do acervo do Observatório do
Vaticano.
— Meu livro é apenas a minha seleção de peças ocultas. Quem percorrer o mesmo caminho
encontrará muitas outras — conclui Molly. l
CADERNO DE RASCUNHO DE VAN GOGH
DIVULGAÇÃO/MOLLY OLDFIELD
O que é: O pintor
holândes Vincent Van
Gogh carregava sempre
ao menos um
caderninho de rascunho
em seu bolso. Queria
fisgar “no ato” qualquer
imagem que o
impressionasse. Um
desses cadernos —
ainda com a capa
original azulada — pode
ser visto na imagem à
esquerda. Na primeira
página, uma igreja da
cidade holandesa de
Nuenen que acabou
sendo pintada a óleo,
por ele mesmo, anos
mais tarde. Onde está:
Guardado na seção de
desenhos e impressões
do Museu Van Gogh, em
Amsterdã. Por que não
pode ser exibido: O
caderno de Van Gogh,
de valor incalculável,
está em estado muito
frágil.
A MACIEIRA DE ISAAC NEWTON
DIVULGAÇÃO/THE ROYAL SOCIETY
O que são: Com menos de dez centímetros de largura, os pedaços
de madeira vistos na foto acima vieram da macieira que um dia inspirou o inglês Isaac Newton a descrever a Lei da Gravidade. A árvore foi derrubada em 1800 pelo então dono da casa onde o cientista
cresceu. Onde estão: Esses fragmentos estão numa gaveta refrigerada no porão da Royal Society, em Londres. Por que não podem
ser exibidos: Por serem de material orgânico, extremamente frágil,
explicam os cientistas.
UNIFORME LUNAR
O que é: Trata-se da
roupa usada por
Harrison Schmitt, o
primeiro cientista a
explorar a Lua, em
1972. Durante a missão Apolo 17, ele foi
responsável por recolher muitas rochas lunares e, para
tanto, sujou bastante o traje. O material
cinzento que recobre a vestimenta à
direita é poeira lunar. Onde está: Deitado, numa prateleira do Smithsonian
National Air and
Space Museum, em
Massachusetts, Estados Unidos. Por que
não pode ser exibido: Por que a exposição provavelmente
levaria à perda da
poeira lunar que o
recobre.
DIVULGAÇÃO/MARK AVINO/ SMITHSONIAN’S NATIONAL AIR AND SPACE MUSEUM
[email protected]
BANDEIRA ESPANHOLA DA BATALHA DE TRAFALGAR
DIVULGAÇÃO/THE NATIONAL MARITIME MUSEUM
O que é: Com dez metros de altura por
14,5 metros de comprimento, a bandeira
à esquerda identificou um dos navios
franco-espanhóis que lutaram contra os
britânicos no confronto naval conhecido
como Batalha de Trafalgar (1805). Com a
vitória dos britânicos, sob o comando de
Horatio Nelson (morto no conflito), ela foi
içada na Catedral de Saint Paul e
tremulou durante os funerais do
comandante. Onde está: Enrolada em
papel-seda na reserva do The National
Maritime Museum, em Greenwich. Por
que não pode ser exibida: A bandeira
é enorme e pesada. Se pendurada no
museu, toca o chão. Além disso, seu
tecido já sofre um elevado grau de
fragilidade, avisam os curadores.