“inventador” de histórias em tempo integral? O

Transcrição

“inventador” de histórias em tempo integral? O
a última palavra
em dicionário.
O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, lançamento
da Companhia Editora Nacional, é o único elaborado pela
Academia Brasileira de Letras, instituição responsável
no Brasil pelas normas de ortografia da Língua Portuguesa.
De acordo
com as novas regras da
ortografia da Língua
Portuguesa.
Ele apresenta para os alunos dos Ensinos Fundamental e Médio,
com clareza e precisão, todas as novas normas do Acordo Ortográfico.
Traz ainda um suplemento explicativo sobre esse Acordo, não deixando
margem a controvérsias. Uma ferramenta da maior confiabilidade,
tanto para professores como para alunos. Não tenha dúvidas.
O Dicionário Escolar da Língua Portuguesa é o pai dos dicionários.
• 33 mil verbetes
• Com a nova ortografia da Língua Portuguesa
• Suplemento explicativo sobre o Acordo
• As novas regras para o uso do hífen
• Regionalismos e neologismos
• E muito mais
Uma história a ser viço do futuro
(11) 2799-7799 (São Paulo - Capital) - 08000-17-5678 (demais localidades)
[email protected] - www.editoranacional.com.br
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Panorama
Dezembro 2008
Dezembro 2008
Panorama
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Sumário
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Capa:
Foto: Ali Farid
Arte: Wagner Luiz Santos
Entrevista O deputado Marcelo Al-
meida fala das ações da Frente Parlamentar Mista de Leitura para uma
política pública nacional em favor do
livro e da leitura
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Boa Ideia
Projeto Ler é 10 - Viva Favela leva leitura e conhecimento a crianças de comunidades carentes do Rio de Janeiro
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Reportagem de capa As feiras de li-
vros já fazem parte do calendário cultural de cidades de todo o porte. Só
no Rio Grande do Sul são organizadas cerca de 200 por ano
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Comportamento leitor Norte e Nor32
Políticas Públicas Arca das Letras,
programa de implantação de bibliotecas rurais do Ministério do Desenvolvimento Agrário, já ultrapassa as
fronteiras do Brasil
deste são as regiões com mais cidades sem bibliotecas, aponta a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil
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Panorama
44 Panorama
Dezembro2008/
2008Janeiro 2009
Dezembro
Rotas Literárias Bairros de Salvador e
outras cidades da Bahia têm presença
marcante nas obras de Jorge Amado
Como me apaixonei pelos livros O sociólogo Pedro Demo lê por paixão e
por exigência profissional, também
gosta de ficção e diz que ler é como
respirar
Boa Leitura Mensagem da presidente da CBL
Cadeia Produtiva As notícias das entidades do livro
Ponto de Vista Luís Antonio Torelli
Acontece O que é notícia no mercado de livros
Socialmente Responsável Leitura itinerante no Vale do Paranapanema
Outras Mídias Radio, Intenet e Tv
Pelo Mundo Afora Japão, Alemanha e Estados Unidos
Mercado & Tendências Comércio porta a porta nunca este melhor
Todo Mundo Lê Washigton Olivetto, Bob Wolfson e Erika Palomino
Radiografia Caco Barcelos
Eventos Notícias de feiras pelo Brasil
Prêmios e Concursos No Brasil e na Europa
Livros Sobre Livros Rimas da Vida e da Morte
Cinema e Livros Jane Austin e os finais sem lágrimas
Calendário A agenda dos eventos no Brasil e no mundo
Empresa Amiga do Livro Correios de Campo Grande têm sala de leitura
Vitrine O que há de novo nas prateleiras
Gente que Lê Uma vida lá fora
Imagem Panorâmica Um momento de ler
Dezembro
Dezembro 2008/
Janeiro2008
2009 Panorama
Panorama
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Palavra do Leitor
“A revista é, sem dúvida, a ferramenta
mais importante para o mercado editorial.
Trazendo excelentes matérias e entrevistas,
a Panorama Editorial é, atualmente, uma
indispensável referência para o nosso segmento. Parabéns á toda equipe ! “
Luís Antonio Torelli Presidente da ABDL - Associação
Brasileira de Difusão do Livro
Recebemos e agradecemos a edição 45 da
Panorama Editorial. Estamos muito interessados em receber os exemplares posteriores
para o enriquecimento do acervo da nossa
biblioteca.
Paulo Oliveira, Biblioteca Central
da Universidade Estadual de Santa
Cruz (BA)
“A revista Panorama Editorial é fonte de
consulta em minhas pesquisas literária.
Sou mestranda em literatura da UnB e meu
projeto objetiva construir o mapa cultural da
leitura da literatura no DF. Dessa forma, a
Panorama Editorial tem contribuído de forma positiva em meu trabalho. Antônio Cândido é o teórico principal de meu projeto.
Solicito, inclusive, a possibilidade de receber
exemplar da revista em minha residência.
Integro o grupo de pesquisa LER da Universidade de Brasília 0 UnBm coordenado
pela professora Hilda Lontra. Trabalhamos
com leitura.
No que puder colaborar, estou à disposição”.
Abraços literários
Edna Freitas
Recebemos e agradecemos o recebimento
da edição 45 da revista Panorama. Estamos
muito interessados em continuar a receber
a publicação.
Caros editores,
”Quero parabenizá-los pelo trabalho realizado na revista Panorama Editorial, que
está melhor do que nunca. O novo visual a
deixou muito mais moderna e dinâmica! O
mercado editorial está muito bem pautado
e eu, como leitora, mais satisfeita com as informações trazidas e com as inovações sempre de bom gosto. Parabéns!”
Um ótimo fim de ano,
Lilian Aquino
Revisora da Editora Contexto
“Panorama é uma revista estratégica no cenário nacional. Com matérias inteligentes e
atuais, abre espaço e provoca o debate sobre
temas que ainda necessitam de atenção no
nosso país: o livro e a leitura”.
Patrícia Leão Damaceno
Revisora e jornalista
Editora da ULBRA
Maria Gorete de Jesus Coltinho
Bibliotecaria, Biblioteca Central da
Unimontes - Montes Claros (MG)
Câmara Brasileira do Livro
Presidente Rosely Boschini Vice-Presidentes Bernardo Gurbanov e Íris Odete Borges Diretores Editores Jorge Rodrigues Carneiro,
Luiz Fernando Emediato, Paulo de Almeida Lima e Wagner Veneziani Costa Diretores Livreiros Antonio Erivan Gomes, Marcos Pedri,
Marcus Teles C. de Carvalho e Onófrio Laselva Diretores Distribuidores Celso Soldera, José Luiz França, Luiz Eduardo Severino e
Nassim Batista da Silva Diretores Creditistas Ítalo Amadio, Luiz Antônio de Souza, Mário Fiorentino e Pietro Macera
Rua Cristiano Viana, 91 Tel: (11) 3069 1300 CEP 05411 000 São Paulo SP www.cbl.org.br
Agência de Notícias Brasil Que Lê
Fundação Palavra Mágica Presidente Luciana Paschoalin www.palavramagica.org.br
Observatório do Livro e da Leitura Diretor Galeno Amorim www.observatoriodolivro.org.br
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Conselho Editorial
Bernardo Gurbanov, Cristina Lima, Galeno Amorim, Luis Eduardo Mendes, Luiz Carlos Ramos, Ítalo Amadio, Mário Fiorentino, Oswaldo Siciliano, Pietro Macera, Rosely Boschini e Valter Kuchenbecker
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Diretor de Arte Wagner Luiz Santos ([email protected]) Editor de Fotografia Fanca Cortez ([email protected])
Colaboração Especial Tiago Santana, fotografias em Rotas Literárias
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Circulação
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Panorama
Dezembro 2008
Dezembro 2008
Panorama
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Entrevista
Boa Leitura
Foto: Fanca Cortez
O país avança nos caminho da leitura
O que é uma feira? Desde os tempos medievais, ou bem antes, 500 A.C., as feiras fazem parte
da cultura dos povos, como locais públicos de comércio ou recreação. Mas, acima de tudo,
é um lugar de sociabilidade e de trocas. As feiras de livros não são diferentes e trazem um
componente a mais: cultura, conhecimento, descobertas, relacionamento e incentivo à leitura.
Um espaço democrático, onde autores e público se encontram e até trocam idéias. E essa troca
de experiências que permite o Brasil avançar pelos caminhos da leitura é uma das grandes
metas da CBL, que apóia e orienta organizadores das feiras e outros eventos de livros pelo país.
De um década para cá, o número de feiras cresce diariamente também nas cidades pequenas,
incentivadas pelo agito e pelos balanços das “barracas literárias” das capitais e dos grandes
centros. Bom exemplo é o que acontece no Rio Grande do Sul, como mostra a reportagem
de capa. Inspiradas na grande feira de Porto Alegre, Sônia Maria Zanchetta, integrante da
Comissão Executiva da Câmara Riograndense do Livro, diz que chegou a listar 200 feiras
municipais no estado, além de outros eventos ligados à promoção da leitura. No estado de
São Paulo, a cultura das feiras também se consolida e o grande impulso, sem dúvida, é o apoio
da CBL, onde todos ganham: público, autores, expositores e editoras, e em qualquer parte do
Brasil, as feiras já fazem parte do calendário cultural das cidades.
Mas a busca de novos leitores e de uma política pública de incentivo ao livro e à leitura se dá
também no Congresso Nacional com a Frente Parlamentar Mista de Leitura, presidida pelo
deputado Marcelo Almeida, como mostra a entrevista principal desta edição. E outro projeto,
que vale ressaltar, é o Arca das Letras, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, que já
instalou quase seis mil bibliotecas rurais, levando a possibilidade da leitura ao homem do
campo. São exemplos como esses que trazem uma luz para a difícil questão da falta de leitores
e do analfabetismo. Questões que estão permanentemente na pauta da CBL.
Boa leitura.
Rosely Boschini
Presidente da CBL
([email protected])
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Panorama
Dezembro 2008
Marcelo Almeida
Engenheiro civil pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
Marcelo Beltrão de Almeida, 40 anos,
possui, ainda, formação em Administração de Empresas e Empreendedorismo Cívico, além de especialização
em e-Gov. Foi vereador de Curitiba
por dois mandatos, ocupou a diretoria geral do Departamento de Trânsito do Paraná e a Secretaria de Estado
de Obras Públicas do Paraná. Em 2007,
assumiu o mandato de Deputado Federal pelo PMDB do Paraná. Apaixonado pela literatura, formou um pe-
queno grupo de leitura há quatro anos
em Curitiba, com 12 pessoas - Conversa entre Amigos - que hoje envolve cerca de 600 leitores. A intenção é
levar o projeto para escolas públicas
de Curitiba. Tanta paixão pela leitura,
levou o deputado a presidir a Frente
Parlamentar Mista da Leitura, com o
objetivo de criar o Fundo Pró-Leitura,
que vai financiar as ações previstas no
PNLL (Plano Nacional do Livro e Leitura) que não saíram do papel.
A Frente Parlamentar Mista da Leitura iniciou em novembro a coleta de
assinaturas de deputados federais e senadores em apoio à proposta de criação do Fundo Pró-Leitura e de recriação do Instituto Nacional do Livro
(INL). A decisão foi tomada durante os
debates do I Seminário de Políticas de
Incentivo à Leitura no Brasil, realizado
no final de 2008. O abaixo assinado foi
encabeçado pelos deputados Marcelo Almeida (PMDB-PR), presidente da
Frente, e Geraldo Magela (PT-DF), autor de um requerimento que sugere ao
Executivo a recriação do INL, extinto
no início do governo Collor.
Dezembro 2008
Panorama
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Entrevista
O manifesto ratifica o compromisso
da indústria nacional de livros de destinar 1% do faturamento anual do setor para a formação e manutenção do
Fundo Pró-Leitura, conforme acordado há quatro anos, quando o governo
Lula desonerou o setor do pagamento de PIS/Pasep e Cofins. O setor, representado no seminário pela Câmara
Brasileira do Livro, Instituto Pró-Livro,
Associação Brasileira de Editores de
Livros e Sindicato Nacional dos Editores de Livros, apoiou a declaração.
Segundo o ministro da Cultura, Juca
Ferreira, o Fundo pode ser criado até
por decreto presidencial. Mas sabe que
se o Governo encaminhar uma proposta ao Congresso, contará com o apoio
de senadores e deputados.
Na entrevista a seguir, o deputado fala sobre o assunto e sobre os ca-
“Cada parlamentar vai garimpar em seu
Estado bons exemplos de empreendedores da
leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre
as votações, não teremos qualquer dificuldade
em aprovar os projetos importantes para o
setor. Isso porque o livro e a leitura não têm
partido, não é de direita ou de esquerda, da
situação ou da oposição”
minhos da leitura no Brasil.
Panorama: Como surgiu a idéia da
criação do Clube da Leitura Conversa
entre Amigos?
Marcelo Almeida: O programa
nasceu da iniciativa do cidadão Marcelo Almeida e não do político. Na realidade, o programa nasceu a partir
da leitura do livro “Felicidade”, do
Eduardo Gianetti. Fiquei com uma inveja do bem daquele grupo de amigos
que se reunia para debater assuntos
sobre os quais todos já tinham lido alguma coisa, sem precisar de um copo
de bebida para tornar aquele momento único, com a troca de conhecimento
entre eles. Quis participar de algo assim e criei o Conversa Entre Amigos.
Como, na época, eu trabalhava no De-
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Panorama
Dezembro 2008
tran do Paraná, como diretor geral,
iniciei o programa reunindo colegas
de trabalho. Inicialmente, tínhamos 30
leitores e cerca de 12 pessoas que participavam dos encontros que o programa promove para debater o livro
da vez. Hoje, são mais de 600 leitores cadastrados e mais de 200 pessoas
que participam dos nossos encontros
de conversa. Esse é um programa que
existirá para sempre, independente de
eu estar ou não deputado federal.
Panorama: Por que uma bancada no
Congresso para defender a leitura, um
tema que, historicamente, não tem despertado uma ação política mais forte no
parlamento brasileiro? Em que consiste, exatamente, a atuação da Comissão
Mista Parlamentar de Leitura?
Marcelo Almeida: A Frente Parlamentar Mista da Leitura é conseqüência da minha paixão pela leitura, uma extensão do programa
Conversa Entre Amigos e uma das
marcas do meu mandato. A Leitura
nunca recebeu a atenção que merece porque o assunto sempre foi tratado dentro dos projetos de educação e
cultura. O Governo Federal é hoje o
grande comprador de livros no Brasil, em razão do Programa Nacional
do Livro Didático. Deputados e senadores normalmente ficam atentos
aos valores gastos na compra do livro didático e na distribuição do material para seus redutos eleitorais.
Mas o Plano Nacional do Livro e da
Leitura, dos Ministérios da Cultura e da Educação, por exemplo, passava quase que em branco na pauta
do Congresso Nacional. A necessidade de se ter uma estrutura administrativa para cuidar da política do
livro no País não era debatida pelos
parlamentares. A disseminação das
boas práticas de incentivo à leitura
nunca mereceu um apoio sistemático e integral do Congresso. A Frente
nasceu para mudar isso tudo. Os deputados e senadores que aderiram à
Frente Parlamentar Mista da Leitura
querem apoiar ações concretas de incentivo à leitura, sejam elas de iniciativa do poder público ou da iniciativa privada. Agora, o livro e a leitura
têm um espaço permanente de pro-
moção na pauta política nacional.
Panorama: O senhor espera um envolvimento mais efetivo de deputados
e senadores com o tema ou só um apoio
político e votos favoráveis por ocasião
de votações de projetos importantes
para a área do livro e leitura?
Marcelo Almeida: Com certeza!
Não só o envolvimento nos seminários, reuniões e audiências públicas
que a Frente já começou a promover,
mas também de forma individual, nos
seus Estados. Cada parlamentar da
Frente passa a ser um promotor da leitura em sua região, participando e organizando grupos de contos, concursos de redação, leitura compartilhada e
bibliotecas itinerantes. Cada parlamentar vai garimpar em seu Estado bons
exemplos de empreendedores da leitura e colocar foco nessas iniciativas. Sobre as votações, não teremos qualquer
dificuldade em aprovar os projetos importantes para o setor. Isso porque o livro e a leitura não têm partido, não é
de direita ou de esquerda, da situação
ou da oposição. São temas de domínio
público e de interesse geral e irrestrito. Por isso, os temas importantes e relevantes para o incentivo à leitura no
Brasil terão o apoio dos deputados e
senadores que integram a Frente.
Panorama: Como o senhor imagina
que deva ser o diálogo entre a Frente e
as entidades que representam o negócio do livro no Brasil?
Marcelo Almeida: O diálogo deve
ser mais permanente em Brasília, tanto
no Congresso, como nos Ministérios da
Cultura e da Educação. Além disso, vamos pautar reuniões e audiências públicas com a participação das entidades
do setor para debater e analisar assuntos específicos, que possam gerar ação
concreta em prol do livro e da leitura.
Queremos manter uma agenda positiva de encontros para reunir as entidades do setor, o Congresso e representantes do Governo, além dos próprios
leitores, que têm de ter espaço no trabalho da Frente. Nossa intenção é manter
sempre os canais de comunicação para
aumentar a sinergia e reunir força.
Panorama: Quais os resultados
práticos desse trabalho até aqui e o
que se espera em termos de conquistas substanciais para o livro e a leitura em 2009?
Marcelo Almeida: Nos primeiros
meses de atuação da Frente já tivemos
alguns bons resultados práticos. Primeiramente, conquistamos a confiança do Congresso e do setor de que essa
não é mais uma Frente pra fazer número ou para ser usada eleitoralmente. Esse é o primeiro resultado positivo. Outro resultado importante foi a
repercussão do I Seminário de Políticas de Incentivo à Leitura no Brasil,
que realizamos na Câmara dos Deputados, com a participação de mais de
300 pessoas, incluindo o ministro da
Cultura, Juca Ferreira. O seminário colocou na pauta nacional a necessidade de recriação de uma estrutura ad-
“A Leitura nunca recebeu a atenção que merece
porque o assunto sempre foi tratado dentro
dos projetos de educação e cultura. O Governo
Federal é hoje o grande comprador de livros
no Brasil, em razão do Programa Nacional
do Livro Didático. Deputados e senadores
normalmente ficam atentos aos valores gastos
na compra do livro didático e na distribuição do
material para seus redutos eleitorais”
ministrativa para cuidar da política do
livro e da leitura no Brasil e da criação
do Fundo Setorial do Livro e da Leitura, dentro do Fundo Nacional da Cultura, para o financiamento das ações
de incentivo à leitura no país.
Também recebemos o sinal verde
do Ministério do Planejamento, na pessoa do ministro Paulo Bernardo, para
dar prosseguimento ao processo de
criação do Fundo Setorial do Livro e da
Leitura. Este foi o primeiro passo para
vencer as barreiras existentes dentro do
próprio Executivo em relação ao assunto. A Frente está trabalhando de forma
afinada com o Ministério da Cultura no
andamento desse processo.
Essa Frente será o porto seguro de
todos os que amam o mundo da leitura.
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Panorama
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Entrevista
“Vamos pautar reuniões e audiências públicas
com a participação das entidades do setor para
debater e analisar assuntos específicos, que
possam gerar ação concreta em prol do livro
e da leitura. Queremos manter uma agenda
positiva de encontros para reunir as entidades
do setor, o Congresso e representantes do
Governo, além dos próprios leitores, que têm
de ter espaço no trabalho da Frente”
Panorama: Por que o atraso na criação
do Fundo Pró-Leitura? Quais as dificuldades para que isso aconteça, já que todas
as partes envolvidas apóiam sua criação?
Marcelo Almeida: Trata-se de um
problema de conceitual. A equipe do
Ministério da Fazenda não quer estimular a criação de fundos. De fato, a
criação aleatória de fundos pode enfraquecer a política macroeconômica.
Além disso, já temos o Fundo Nacional da Cultura para financiar as políticas de cultura, incluindo a do livro e da leitura. Então, a resistência
pode ser superada a partir do diálogo. Quanto tempo isso vai levar? Não
sabemos. Mas estamos empenhados
nesse processo. A alternativa de criação de um Fundo Setorial dentro do
Fundo Nacional da Cultura tem maior
aceitação da equipe econômica. Vamos resolver esses pontos e criar o
Fundo em 2009.
Panorama: O senhor acredita que
existam setores dispostos a travar a
criação do Fundo? Porque razão?
Marcelo Almeida: A resistência é
apenas de ordem técnica e conceitual.
Não vejo uma oposição direta ao recolhimento de 1% do faturamento anual
do setor editorial para a formação de um
fundo que vai financiar as ações de incentivo ao livro e à leitura no Brasil. Na
minha avaliação, o cenário é positivo.
Panorama: Como a Frente pretende
fazer para que as discussões travadas
em seminários e debates como o realizado no Dia Nacional do Livro (29 de outubro) dêem resultados mais efetivos?
Marcelo Almeida:Os eventos que a
Frente vai promover terão por objetivo
debater assuntos relacionados ao setor.
Algumas discussões poderão ser apenas
teóricas. Outras, demandarão ações mais
práticas e concretas, como aconteceu no
I Seminário de Políticas de Incentivo à
Leitura no Brasil. A partir do seminário,
estabelecemos uma agenda de interlocução com o Governo Federal para a criação do fundo setorial pró-leitura.
Panorama: Como o Congresso pode
ajudar efetivamente na recriação de instituto ou secretária nacional do livro e
leitura, cujo compromisso público já foi
anunciado pelo Ministério da Cultura?
Marcelo Almeida: Isso já está sendo
mostrado na prática. Além de articular
a ação de todos os players, o Congresso
terá que aprovar o projeto de recriação
dessa estrutura administrativa.
Panorama: Que projetos referentes
ao livro e à leitura que tramitam atualmente no Congresso mereceriam um
empurrão da Frente para virarem leis?
Marcelo Almeida: Queremos trabalhar por demanda. Hoje, nossa força tarefa é para a criação do Fundo Setorial do Livro e da Leitura e para a
recriação de uma estrutura administrativa que vai cuidar da política do
Livro de cabeceira
“Leio, no mínimo, quatro livros por
mês. Mas normalmente eu supero a
meta mensal. Acho
que leio cerca
de 60 livros por
ano. Sou eclético
Leio biografias,
ficção e romances.
Só tenho dificuldades em ler autoajuda. Meu livro de cabeceira: “Pequeno tratado das grandes virtudes”,
de André Comte-Sponville.Mais que
um hábito, a leitura é uma necessidade para mim. Isso me ajuda em todas
as áreas da minha vida. Na Câmara
dos Deputados, por exemplo, leio os
pareceres dos projetos de lei com rapidez e isso me ajuda a tomar posição
e definir voto”.
livro e da leitura no País. Depois, analisaremos as demais necessidades.
Panorama: Por que a sociedade precisa de uma bancada do livro nos parlamentos? Como os atores sociais, entidades e todos aqueles interessados no
tema devem contribuir nessa discussão?
Marcelo Almeida: A participação
deve ser cidadã. Todos os eventos organizados pela Frente Parlamentar da Leitura são abertos ao público. Todos os interessados no incentivo à leitura devem
participar. Por meio do site da Frente
(www.frentedaleitura.com.br), pessoas de todo o Brasil podem encaminhar
exemplos de boas práticas de incentivo à leitura, além de apresentar propostas de ações. Pelo site, qualquer cidadão
pode acompanhar a nossa agenda e estabelecer um canal de comunicação direta. Basta ter interesse pelo assunto e
disposição para sair da zona de conforto, que muitas vezes nos impede de participar de forma mais efetiva.
Panorama: Em sua opinião, que me-
didas a sociedade pode adotar para aumentar o número de leitores e incentivar o gosto pela leitura no país?
Marcelo Almeida: A primeira medida é ler mais. Se cada cidadão adotar
como meta de vida pessoal ler mais, seremos um País mais leitor. E podemos
começar lendo jornais e revistas. Se todos trocarem uma hora por dia em frente ao computador ou à TV por um livro,
já teremos um grande avanço. Para estimular isso, quero deixar com todos alguns pensamentos e frases para reflexão.
“O homem que não lê bons livros
não tem nenhuma vantagem sobre o homem que não sabe ler” – Mark Twain.
“Meus filhos terão computadores,
sim. Mas antes terão livros. Sem livros,
sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever, inclusive a própria
história”- Bill Gates.
“De três coisas precisa o homem
para ser feliz: bênção divina, livros e
amigos”- Henri Lacordaire.
Então, que Deus abençoe a todos
nós, que trabalhamos pelo incentivo à
P
leitura no Brasil.
Apontada pela Exame como a 23a empresa que mais cresce
no país, destaca-se pelo atendimento diferenciado focado
nas necessidades do mercado livreiro, grande variedade de
serviços e alto nível de informatização. O cliente usa melhor
o seu tempo com máxima comodidade e lucratividade.
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* Telefonema com custo de ligação local.
Válido para Acre (68); Distrito Federal (61); Minas Gerais
(31); Mato Grosso do Sul (67); Mato Grosso (65); Paraná
(41, 42, 43, 44, 45); Rio de Janeiro (21); Rondônia (69);
Rio Grande do Sul (51, 53, 54, 55); Santa Catarina (48,
[email protected] 47); São Paulo (11, 13, 19);
Para outras2008
localidades,
disque: (11)3472-1888
Dezembro
Panorama
13
4062-6999*
12
Panorama
Dezembro 2008
Fotos: Heitor Costa
Cadeia Produtiva
Eventos
Livrarias
Setor livreiro cresce 10,46%
A Associação Nacional de
Livrarias realizou um levantamento inédito junto às suas associadas, que representam 67%
do setor entre pequenas, médias
e grandes livrarias. O objetivo
foi apresentar uma amostragem
do desenvolvimento do setor livreiro no Brasil
A primeira questão abordou
a expectativa de crescimento
que tinham os livreiros no início
de 2008, em comparação com
2007. O resultado médio foi de
12,12%. Em seguida, um novo
levantamento, realizado nas
duas últimas semanas de novembro de 2008, questionou se a
meta seria atingida. O resultado
foi um crescimento observado
de 10,46%, incluindo o mês de
dezembro.
De acordo com o presidente
da ANL, Vitor Tavares, o estudo teve como objetivo conhecer
melhor os números do segmento livreiro, tendo como base as
associadas da entidade. Com
os dados em mãos, a ANL será
capaz de dirigir suas ações para
o aperfeiçoamento do setor. O
presidente da entidade acredita que as diversas campanhas e
políticas de difusão do livro no
País, muitas delas por iniciativas governamentais, tem fundamental importância no crescimento do setor livreiro.
Para 2009, a expectativa dos
entrevistados é de um crescimento médio de 11,89%, em relação a
2008. Já a ANL acredita que esse
número será inferior em função
dos impactos da crise mundial,
que ainda não havia sido detectada na época do estudo.
Editores Snel prepara Bienal do Rio
Principal acontecimento do mercado editorial brasileiro, a Bienal Internacional
do Livro do Rio de Janeiro faz parte do calendário de grandes eventos da cidade
há mais de 20 anos. Em sua última edição, realizada em 2007, foram vendidos 2,5
milhões de livros.
Este ano, em sua 14ª edição, ela será realizada novamente no Riocentro, entre os
dias de 10 e 20 de setembro. Segundo o Sindicato Nacional dos Editores de Livros,
responsável pelo evento, serão mais de 900 expositores. A expectativa de público
supera o número de 600 mil visitantes.
O objetivo do Snel é realizar, mais uma vez, uma grande festa, repleta de novidades, que possibilite o encontro entre leitores e aqueles que são os grandes protagonistas da bienal: os autores, escritores, poetas e pensadores.
Didáticos Maior apreensão de livros do país
Se depender do resultado da primeira grande apreensão do 2009, vão sobrar motivos para a campanha Comércio do Livro do Professor: Apague essa Ideia comemorar este ano. É que três sebos do Recife tornaram-se, em janeiro, palco da maior apreensão de livros do professor do país. Mais de cinco mil exemplares novos e usados
foram levados por 12 policiais da Delegacia de Prevenção e Repressão à Pirataria.
Criada há três anos pela Associação Brasileira de Editores de Livros (Abrelivros), a campanha tenta combater o comércio ilegal das obras didáticas. As ações
acontecem nas principais capitais. A venda dos livros do professor por atravessadores gera um prejuízo anual para as editoras do país estimado em R$ 40 milhões.
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Panorama
Dezembro 2008
Gráficas
Setor ainda não sente crise
A Associação Brasileira da Indústria
Gráfica (Abigraf) vai conseguir saber,
em fevereiro, se houve ou não retração
no consumo de cadernos e produtos editoriais, especificamente livros, devido à
crise financeira internacional. Segundo o
presidente da entidade, Alfried Plöger, os
pagamentos desses serviços gráficos pelas
papelarias, livrarias e distribuidores são
realizados em fevereiro e março, após o
início das vendas diretas, no período de
volta às aulas (janeiro a março). Assim,
explica, a cadeia depende do comportamento do consumidor final para saber se
houve retração nas vendas de produtos
escolares.
Associações
Instituto Pró Livro participa de
estudo
O Instituto Pró Livro está promovendo, ao lado de outras entidades do setor
do livro e leitura, a pesquisa O Livro no
Orçamento Familiar (LOF). O estudo vai
atender uma antiga demanda do segmento livreiro e editorial: conhecer, de fato, o
seu consumidor. A partir dos dados já coletados sobre a despesa familiar, os dados
efetivos dos gastos com material de leitura
(livros e de outros como jornais, revistas,
fotocópias etc.) permitirão traçar o perfil
do mercado consumidor, por nível de renda, escolaridade, local de compra e outras
variáveis importantes. A pesquisa será finalizada neste primeiro trimestre.
Editores
Uma semana também para a
literatura
A União Brasileira de Escritores está
comemorando a instituição do Dia Nacional da Leitura e da Semana Nacional
da Leitura e da Literatura pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Mas as
comemorações acontecem por um motivo em especial: a inclusão do segundo L
na semana festiva. O presidente da Ube,
Levi Bucalem Ferrrari, conta que desde
a criação da antiga Câmara Setorial do
Livro e da Leitura (CSLL) que a entidade
tem insistido no acréscimo de Literatura, que foi incorporado, ficando CSLLL.
A Ube acredita que esse pode ter sido
um dos motes para o acréscimo da palavra literatura no nome da semana.A
premiação acontecerá em dezembro.
Letras
Posse da nova diretoria da
ABL
Em sessão solene no Salão Nobre
do Petit Trianon, em sua sede no Rio
de Janeiro, a Academia Brasileira de
Letras empossou a sua nova diretoria.
O escritor e jornalista Cícero Sandroni
foi reeleito, por unanimidade, para um
segundo mandato como presidente da
entidade. Logo depois de sua eleição,
Sandroni anunciou que 2009 será o Ano
Euclides da Cunha na ABL, em homenagem ao centenário de morte do autor de
Os sertões, que morreu em 15 de agosto
de 1909. O presidente também afirmou
que a entidade pretende expandir as atividades literárias em 2009 por meio dos
recursos tecnológicos, como a internet.
Papel
Lançado boletim do setor
A Bracelpa publicou a primeira edição do boletim Conjuntura Bracelpa,
nova publicação da Associação Brasileira de Celulose e Papel, que trará
mensalmente os dados mais recentes
sobre o desempenho do setor de celulose e papel do Brasil. O objetivo é oferecer insumos para acompanhamento do
mercado de celulose e papel, facilitando a cobertura de temas do setor. Em
sua primeira edição, o boletim trouxe
uma radiografia do setor, informando
os volumes de produção, vendas domésticas, exportações e importações de
celulose e dos diversos tipos de papéis.
O informativo ainda reúne dados sobre
a balança comercial do setor.
Regionais
Bahia
Câmara do Livro tem nova diretoria
Eleita por unanimidade, a nova diretoria da Câmara Bahiana do Livro tomou posse em Salvador. Presidida por Carlos Vilarinho, a equipe está empenhada em vários projetos, com destaque para uma parceria com a Seg Livros
Representações. O objetivo é dar mais visibilidade ao autor baiano, divulgando
e comercializados livros dos escritores associados em todo o estado. Fundada há
50 anos, a CBaL congrega escritores, livreiros, distribuidores, gráficas, editoras
e profissionais ligados à literatura. A entidade tem por finalidade fomentar o
hábito da leitura e promover a cadeia do livro no estado.
Amazonas
Flifloresta promove debate sobre indígenas
A Câmara Amazonense do Livro e Leitura foi uma das realizadoras do Simpósio Cultura e Natureza na Amazônia, que integrou a programação do primeiro Festival Literário Internacional da Floresta (Flifloresta). Com 400 inscritos,
entre estudantes, professores, pesquisadores, escritores e outros intelectuais, o
aconteceu no município de Presidente Figueiredo (AM), na Cachoeira da Onça,
onde foi lida a Carta da Floresta. O documento, redigido pelos palestrantes e
demais convidados do evento, expressa sentimentos, preocupações e compromissos em relação ao presente a ao futuro da Amazônia e das suas populações.
Rio Grande do Sul
Mais de 400 mil livros
Segundo dados divulgados pela Câmara Rio-Grandense do Livro, foram
vendidos, em toda a 54ª edição da Feira do Livro de Porto Alegre, no ano passado, 424.046 livros, 8% menos que em 2007. Durante os 17 dias do evento, que
é o maior do setor realizado a céu aberto no continente americano, 829 obras
foram lançadas. Desta vez, o tradicional cortejo de encerramento da feira foi
diferente dos anos anteriores. Em vez das rosas vivas, coloridas e perfumadas,
o público recebeu um marcador de páginas que convida para a 55ª edição da
feira, que acontece este ano e já tem data marcada para começar: 30 de outubro.
Ceará
Voz para o Nordeste
Um ciclo de debates sobre livro e leitura esquentou a 8ª edição da Bienal
Internacional do Livro do Ceará. Dividida em cinco mesas, a programação foi
focada especialmente na organização política do setor na região Nordeste. A
opinião do Sindicato do Comércio Varejista de Livros do Estado do Ceará (Sindilivros) é de que o autor local não entra nas listas de livros escolares e, por isso,
toda a cadeia produtiva do livro é prejudicada. A presidente da entidade, Mileide Flores, acredita que as bibliotecas das regiões Norte e Nordeste não têm voz
na escolha dos acervos. “É uma cultura homogeneizante”, diz.
Rio de Janeiro
Salão escolhe livros para escolas estaduais
A Associação dos Representantes de Editoras do Estado do Rio de Janeiro
apoiou, mais uma vez, a realização do Salão do Livro das Escolas Estaduais. No
evento, que aconteceu no Centro de Convenções Sulamérica, no centro do Rio
de Janeiro, durante três dias, representantes das 1.600 escolas dos 92 municípios
fluminenses puderam escolher novos livros para as bibliotecas escolares. 160
editoras ocuparam 126 estandes no evento, que recebeu cerca de cinco mil pessoas por dia. As obram selecionados são adotados como material de apoio, uma
vez que o material didático é fornecido pelo Governo Federal para todo o País.
Dezembro 2008
Panorama
15
Ponto de Vista
Ranking dos maiores revela pujança do porta a porta
Mercado porta a porta surpreende e comemora o terceiro lugar entre os
maiores canais de venda de livros no Brasil.
Sem dúvida, a divulgação dos dados da pesquisa “Produção e Vendas
do Setor Editorial Brasileiro”, realizada pela FIPE – Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas, em acordo com
a CBL – Câmara Brasileira do Livro e
o SNEL – Sindicato Nacional de Editores de Livros, revelou ao grande público uma faceta surpreendente do mercado livreiro. A venda porta a porta de
livros, que para muitas pessoas que
vivem nas grandes metrópoles evoca
lembranças do passado, mostrou que
está presente sim e gozando de muita
saúde em nosso país.
Sua participação, que em 2006 tinha
sido de 5,43% em número de exemplares vendidos, saltou para 9,61%
em 2007, ostentando uma variação de
91,37% em comparação ao mesmo período do ano passado. Ao dobrar sua
participação, ele se tornou o terceiro
maior canal de comercialização de livros do país. O primeiro continua sen16
Panorama
Dezembro 2008
do as livrarias (47,69%), o segundo, as
distribuidoras (21,58%) e os canais restantes respondem por 21,12% do total.
Embora o número de leitores no
Brasil continue acanhado quando comparado ao dos países desenvolvidos, o
desempenho do porta a porta surpreende e, ao mesmo tempo, confirma a
estratégia de compensar este cenário
desfavorável com a busca pelo consumidor e pelo novo leitor.
A criatividade é a principal ferramenta empregada por mais de 30.000
vendedores espalhados por todo o país
para convencer consumidores, principalmente das classes C e D, a comprar
livros, valendo-se de um atendimento diferenciado e personalizado capaz
de tornar o livro um objeto de desejo. É
uma vitória para o porta a porta manter-se tão bem e por tantos anos em um
ambiente tão desfavorável e ainda conseguir expandir seus negócios.
E quanto ao futuro? Não podemos
ignorar os efeitos das turbulências atuais
do mercado financeiro e as ondas de impacto que estão por vir, mas a expectativa para este ano ainda é de crescimento. Uma vantagem preciosa desse setor
sobre a concorrência é que, além de estar capitalizado, ele financia seu negócio
com recursos próprios. Dispondo de um
exército de vendedores que diariamente vai ao encontro do cliente onde quer
que ele esteja, ele é pró-ativo e não depende como os outros segmentos da visita oportuna do cliente em seus estabelecimentos físicos e/ou virtuais.
Esta constatação reforça ainda mais
as ações que estamos desenvolvendo
para o futuro. Através da ABDL – Associação Brasileira de Difusão do Livro,
entidade que representa o setor porta a
porta, apresentamos ao Ministério do
Trabalho e Emprego um projeto para
recrutar e qualificar inicialmente 2.000
vendedores de livros em todo o país. Batizado de PLANSEQ – Agente de Leitura (Plano Setorial de Qualificação), este
é um convênio entre a ABDL e o FAT
(Fundo de Assistência ao Trabalhador)
que será financiado com os recursos orçamentários do exercício de 2009 e tem
por objetivo oferecer às empresas associadas profissionais capacitados, atualizados, com visão estratégica e empreendedora que lhes possibilitem ampliar
suas atuações no mercado.
Além disso, visando abrir uma nova
opção de crédito aos nossos clientes e minimizar a inadimplência, apresentamos
neste ano um projeto para disponibilizar
um cartão de crédito com forte apelo cultural que lhes será oferecido pelo vendedor. Este cartão, que já recebeu aprovação
da bandeira VISA, é mais uma novidade
entre tantas que estamos prospectando.
O aumento do número de vendedores, a melhor qualificação destes profissionais, produtos diferenciados e de
qualidade, controle da inadimplência
em níveis aceitáveis e a manutenção do
padrão de renda das classes C e D vão
promover o crescimento desse segmento como um todo, inclusive pela adesão
de novas empresas.
O gestor moderno deve perceber este
momento favorável e tentar acompanhar
o mais rápido possível as mudanças nesse mercado tão promissor, pois à medida que o consumidor moderno se torna
mais informado, ele tende a exigir formas de comercialização mais flexíveis,
preços mais alinhados à sua realidade e a
melhoria da qualidade dos produtos.
A vista destas realidades, independentemente dos efeitos da crise externa, continuamos muito otimistas e
esperamos que as vendas no porta a
porta sigam o ritmo observado nos úlP
timos anos.
Luis Antonio Torelli, presidente da
Associação Brasileira de Difusão
do Livro (ABDL) mailto:torelli@trilhaeducacional.
com.br
Dezembro 2008
Panorama
17
Acontece
Literatura para 1,5
milhão de alunos
O Ministério da Educação vai publicar os dez textos vencedores do 2º
Concurso Literatura para Todos e distribuí-los a 1,5 milhão de estudantes.
Entidades parceiras do Programa Brasil
Alfabetizado, universidades da Rede de
Formação de Alfabetização de Jovens e
Adultos, presídios e núcleos de educação de jovens e adultos de instituições
de educação superior vão receber as
obras. O prêmio é promovido pelo MEC
para estimular a produção literária destinada a jovens e adultos em processo de
alfabetização.
Fundo compra parte
da Cultura
Ibema vai investir no
mercado editorial
Continua debate sobre
direito autoral
Um robô para
digitalizar livros
Maysa nas
livrarias
Após três anos de negociação, a Livraria Cultura anunciou a venda de
parte de suas ações à gestora de recursos Neo Investimentos. O controle acionário da empresa continua nas mãos do
empresário Pedro Herz, que assumirá a
presidência do recém-criado Conselho
de Administração da Cultura. O objetivo é acelerar a expansão da rede, que
tem oito lojas em cinco cidades e prepara-se para inaugurar mais uma em Brasília. Herz diz que há espaço para pelo
menos mais 30 grandes lojas nas principais cidades do País.
Terceira maior fabricante de papelcartão do Brasil, a Ibema, do Paraná,
quer aumentar sua participação no
segmento editorial e livreiro em 2009.
Em 2008, quando o faturamento da
empresa foi de R$ 210 milhões, 11%
de sua produção foi destinada a produtos para o mercado Editorial e Promocional, que engloba livros. Este ano,
a empresa, que possui duas unidades
no Sul do País, quer aumentar a participação para 15%, ao menos. A idéia
é apresentar a Ibema como uma nova
alternativa para as editoras.
Iniciado em dezembro de 2007, o
Fórum Nacional de Direito Autoral,
promovido pelo Ministério da Cultura,
contou com encontros em 2008 e continuará em 2009. A proposta do MinC
para modificar a atual legislação dos
direitos autorais no Brasil tem mobilizado editores, escritores e outros profissionais do livro em um amplo debate. A
mudança na lei ainda será submetida a
uma consulta pública neste primeiro semestre, antes de seguir para o Congresso. Está prevista uma nova discussão
para março, em Salvador.
Para digitalizar as obras doadas
por José Mindlin à biblioteca Brasiliana
USP, cujo prédio é construído na Cidade Universitária, a Universidade de
São Paulo (USP) acaba de adquirir um
scanner robotizado. Segundo o professor István Jancsó, coordenador do projeto, esse é o primeiro equipamento do
gênero no País, adquirido por R$ 1,5
milhão. O dinheiro foi conseguido com
verba da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Mindlin oficializou a doação de 30 mil
volumes de sua biblioteca em 2006.
Na esteira do sucesso da minissérie Maysa: Quando Fala o Coração, de
Manoel Carlos, exibida pela Globo em
janeiro, duas biografias sobre a cantora acabam de ser relançadas. Maysa
(edição independente), de José Roberto
Santos Neves, e Meu Mundo Caiu: A
Bossa e a Fossa de Maysa, de Eduardo
Logullo (Novo Século Editora), estão
de volta às livrarias. Maysa: Só Numa
Multidão de Amores, de Lira Neto
(Editora Globo), que serviu como base
de consulta para o programa, foi parar
direto na lista dos mais vendidos.
Santillana investe mais
em apostilas
ABL lança nova edição
de dicionário
Dona da editora de livros didáticos
Moderna, a editora espanhola Santillana investirá R$ 8 milhões, entre 2009 e
2010, em seu sistema de ensino no Brasil, que engloba apostilas para alunos e
serviços pedagógicos para escolas. Entre 2007 e 2008, o investimento do grupo foi de R$ 2 milhões. O setor de sistemas de ensino movimenta anualmente
cerca de R$ 600 milhões, representando
aproximadamente 30% do faturamento
das publicações educacionais. A Santillana ainda detém as editoras Objetiva
e Salamandra.
A Academia Brasileira de Letras
(ABL) lançou, pela Companhia Editora
Nacional, a 2ª edição do Dicionário Escolar da Língua Portuguesa, executada
pelo seu Setor de Lexicologia e Lexicografia. Com 56 correções, a nova edição,
com 1.312 páginas e 33 mil verbetes, tem
tiragem de 20 mil exemplares. A ABL
também atualizou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp),
que será lançado em março pela Editora
Global. Além de se enquadrar nas regras
do acordo ortográfico, ele incorporará
mais de 10 mil novos verbetes.
18
Panorama
Dezembro 2008
Dezembro 2008
Panorama
19
Socialmente Responsável
Fotos: Arqu
O conhecimento ao
alcance de todos
Projeto Ecoteca proporciona cultura às
comunidades a beira do rio Paranapanema
“Um público comprometido com a
leitura é crítico, rebelde, inquieto, pouco manipulável e não crê em lemas que
alguns fazem passar por idéias”. Tão
sabias palavras foram ditas por Mário
Vargas Llosa, um dos maiores escritores de língua espanhola e reconhecido mundialmente, como romancista,
jornalista, ensaista e político. E foi seguindo o mesmo conceito que a Duke
Energy, empresa multinacional de comercialização, geração, distribuição
e transmissão de eletricidade e transporte de gás, juntamente com a BEÏ
Comunicação implantaram um projeto
de responsabilidade social que leva leitura a vários municípios localizados ao
longo do rio Paranapanema – SP.
A Ecoteca é um projeto cujo principal objetivo é promover a leitura entre
a população. Inspirada pela meta de
“pensar globalmente e agir localmente” a Ecoteca conta com o apoio das diversas Secretarias Municipais da Educação e Prefeituras locais para realizar
oficinas, cursos e eventos de valorização da leitura, nos municípios do vale.
O mundo mágico dos livros é levado
à população através de uma van, que
percorre as cidades, instala-se em esFotos: Arquivo/Duke Energy
20
Panorama
Dezembro 2008
paços públicos e oferece uma biblioteca
de títulos variados como ficção e paradidáticos, destinados a adultos e crianças. Ao mesmo tempo em que promove
rodas de leitura animadas por contadores de histórias que desenvolvem a arte
da narrativa e da leitura compartilhada, capaz de despertar o interesse e o
prazer de ler nos participantes. Outro
objetivo do projeto é a formação de contadores de história locais, por meio de
oficinas desenvolvidas para capacitar
educadores e outros interessados a estimularem a leitura, não só junto à rede
pública de ensino, mas também junto à
comunidade onde estão inseridos. “Há
oito anos desenvolvemos este trabalho.
Já são mais de 15 mil pessoas atendidas. Para nós, é um orgulho poder
contribuir com a educação de crianças
das várias comunidades onde estamos
presentes. É como se ampliássemos o
nosso trabalho e a nossa família.”, afirma com entusiasmo a gerente geral de
Relações Institucionais da Duke Energy Ana Amélia Conti.
Nesses 8 anos de projeto a Ecoteca
já visitou 77 municípios, percorrendo
aproximadamente 45 mil Km ao longo do Paranapanema, onde entregou
cerca de 1.800 livros para bibliotecas e
escolas. Além da participação maciça
das mais de 2.500 pessoas que participaram das oficinas entre educadores e
membros da comunidade.
Para a Duke Energy o estimulo a
leitura é de fundamental importância
porque permite o desenvolvimento das
idéias e da fantasia existentes dentro
de cada ser humano, assim não é ingênuo afirmar que viajamos por meio
da leitura, que mergulhamos em universos inusitados e que, anteriormente
à TV e ao avião, a literatura já diminuiu
as distâncias do mundo.
O exercício da leitura nos faz entender melhor os mecanismos que regem
o mundo e que organizam o modo de
vida das pessoas. A leitura deve se tornar um hábito na vida da população,
não apenas para distrair ou soltar a
imaginação. Na sociedade globalizada em que vivemos hoje, a leitura tem
papel fundamental na vida atuante do
individuo e para pertencermos de fato
à sociedade em que vivemos é necessário que saibamos ler seus códigos, suas
leis, sua regras, suas histórias.
Por isso o projeto Ecoteca trabalha
para a inserção social que se faz hoje,
principalmente, por meio da leitura.
“Vamos avaliar a continuidade das
ações e o início de outras que possam
contribuir para o enriquecimento da
educação e da cultura de nossas cidaP
des”, garante Ana Amélia.
ivo/Duke En
ergy
Evento Pirapozinho:
Monitora monta teatro de fantoches durante
Ecoteca em Pirapozinho, São Paulo
Evento Ribeirão Claro
Monitora conta histórias para crianças
durante Ecoteca em Ribeirão Claro, Paraná
Segundo dados de 2008 o projeto
atingiu 10 municípios da região
do Paranapanema, entre os estados de São Paulo e Paraná.
Bernardino de Campos – SP
Carlópolis – PR
Cerqueira César – SP
Itaí – SP
Jardim Olinda – PR
Paranapoema – PR
Pirapozinho – SP
Ribeirão Claro – PR
Sandovalina – SP
Santana do Itararé – PR
Evento Sandovalina
Crianças lendo em praça de Sandovalina
na tenda da Ecoteca
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Panorama
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Todo mundo lê
Em 2008 o programa cultural Metrópolis completou 20 anos no ar. Lembrado por ser o único programa diário
dedicado exclusivamente as diversas
áreas da cultura e artes em geral, o Metrópolis sempre tem um espaço reservado também para o mundo dos livros,
trazendo resenhas, dicas e informações
sobre lançamentos e eventos ligados ao
meio do livro e leitura. O programa é
apresentado por Cunha Jr, Domingas
Person e Paulo Vinícius e vai ao ar todos os dias às 21h30 na Tv Cultura.
O livro da minha vida
Erika Palomino
(jornalista)
Dica de leitura
Washington Olivetto
(publicitário)
O que eu estou lendo
Bob Wolfenson
(fotógrafo)
O Livro na Internet
O site Verdes Trigos, no ar desde 1998, é um
espaço conhecido e respeitado pelo público interessado por literatura. O principal objetivo do
portal é apresentar ao leitor curioso os principais
lançamentos do mundo editorial por meio de resenhas, textos, comentários, assim como a nossa
produção literária. “O novo leitor não tem o hábito de frequentar livrarias ou bibliotecas. Ele se
informa pelo Google. Portanto, fornecemos aos
nossos visitantes os links para acessar o pensamento contemporâneo, a construção deste pensamento pósmoderno e
digital,
de
forma crítica e ampla”,
afirma o criador do site,
Henrique
Chagas.
22
Panorama
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O livro no rádio
O programa Letras & Leituras, comandado
pela jornalista Mona Dorf na rádio Eldorado,
já completa 2 anos no ar. Segundo a apresentadora, mesmo com um tempo limitado de 10
minutos na AM e um minuto na FM, o Letras
& Leituras consegue alcançar os candidatos a
leitores. ”Tenho tido muito retorno, as pessoas
vem me dizer que leram o livro sobre o qual falamos na entrevista tal ou escrevem para o site
pedindo o nome e o título”, afirma Dorf. Além
disso, Dorf acredita que o rádio seja uma
boa ferramenta de difusão do gosto pela leitura. “Hoje em dia perdemos muito tempo
no trânsito, o rádio é companheiro nessas
horas”, diz. O Letras & Leituras vai ao ar de
segunda à sexta, às 11h45 durante o Panorama Eldorado. Também é possível conferir as
entrevistas na íntegra no site www.letraseleituras.com.br.
ação
Fotos: Divulg
O livro na TV
Foto: Isabel D’Elia
Foto: Fanca Cortez
Outras
Capa Mídias
Grande Sertão: Veredas (João Guimarães Rosa)
“Leio e releio constantemente, integralmente e em
trechos. É uma aula de Brasil, de identidade brasileira
e, principalmente, de literatura, linguagem, ritmo e
pontuação. Minha maior escola de escrita e técnica
literária. Terminei meu primeiro livro com ‘no nada’,
frase que abre o livro. Coincidência: eu nasci no dia e
ano em que João Guimarães Rosa morreu!”
Dez! Nota Dez! Eu Sou Carlos Imperial
(Denilson Monteiro)
“Uma biografia literalmente da pesada, escrita
por um jovem e talentoso jornalista. Imperial foi
uma figuraça que influiu na carreira de nomes como
Roberto Carlos, Tim Maia e Elis Regina. Um livraço.
Divertido e dramático. Não deixem de ler.”
D. Pedro I: Um Herói Sem Nenhum Caráter
(Isabel Lustosa)
“Eu adoro história do Brasil e ler esse livro é bom
porque a gente se acostuma a só aprender sobre o
tema quando está estudando, depois não vê nada
mais a respeito. Nunca aprendi tanto sobre história
quanto com essa leitura.”
Foto: Karlis Smits
Boa Idéia
O incentivo que faltava
Projeto idealizado por jovem de favela carioca vem disseminado o
gosto pela leitura entre comunidades carentes do Rio de Janeiro
Transformar a vida das pessoas
de sua comunidade através do lúdico
mundo da leitura. Esse foi o principal
objetivo de um jovem, nascido e criado no subúrbio do Rio de Janeiro, filho
de uma dona de casa e um pedreiro.
Desde 2003, Otávio César Santiago de
Souza Junior, com muita determinação, vem mudando a realidade de comunidades carentes através do Projeto Ler é 10 – leia favela, que tem como
objetivo promover o hábito da leitura
em comunidades carentes e conflituosas. “Queremos, acima de tudo,
democratizar a leitura e dar acesso a
livros às crianças de comunidades de
baixa renda”, esclarece. Otávio despertou para os livros quando, aos 9
anos, encontrou um livro no meio do
lixo. Mais tarde, decidiu compartilhar
o mundo que descobriu.
Cansado de ver as crianças de sua
comunidade ociosas e sem contato
24
Panorama
Dezembro 2008
com o livro, o jovem decidiu criar um
projeto de incentivo a leitura. Com
os poucos exemplares de seu acervo
pessoal e com idéias obtidas em cursos de promoção de leitura, escrita e
participação em seminários e férias de
livros, o projeto começava a caminhar.
“Quando criança, descobri o prazer
pela leitura por acaso, depois que encontrei um livro no lixo e não desejo
que crianças de comunidades de baixa renda descubram a leitura como eu
descobri”, explica.
Para Otávio, ver o projeto, que teve
inicio em 2003, em andamento é a realização de um sonho. O sonho de ver
as crianças do bairro onde cresceu e
outras comunidades lendo e apreciando literatura. Em menos de dois anos e
meio o número de crianças atendidas
passou de 2500 para 5000. Atualmente o projeto já atende as comunidades
de Vila Cruzeiro, Grota, Fazendinha,
Caracol, além de apoiar ONGs, associações de moradores que já atuam na
comunidade, com atividades lúdicas
e educativas para a promoção da leitura. E através de muito trabalho e dedicação Otávio conseguiu realizar um
sonho antigo de inaugurar o primeiro
espaço de leitura na comunidade que
fica no Parque Proletário da Penha a
200 metros da Vila Cruzeiro. Dentro
do projeto, as comunidades têm acesso a atividades como o “Lanchinho literário”, “Cinema literário” onde são
apresentados filmes adaptados de livros literários, “Maratona de leitura”,
“Pombo-Correio literário” e as oficinas
de produção de livretos.
Apesar dos históricos de violência
dos subúrbios cariocas, Otávio afirma
que o projeto foi aceito muito bem
dentro das comunidades. “As pessoas enxergam as comunidades cariocas
como antros violentos, mas não sofre-
mos retaliação alguma por parte do
crime organizado. Eles não impedem
o nosso trabalho, pois nossa meta é
a inserção da cultura e educação. A
receptividade sempre foi muito boa”,
garante.
Segundo Otávio o que falta para
aumentar o interesse pela leitura é o
incentivo. “Falta investimento de políticas públicas e privadas para a democratização e acesso ao livro. Há várias questões que afastam o brasileiro
do livro, como o alto preço, a falta de
hábito, o avanço de novas tecnologias.
Mas tenho esperanças que esse quadro seja revertido em um curto espaço
de tempo”, afirma.
Aos 24 anos Otávio César já é autor
de duas obras infanto-juvenis, publicadas de maneira independente, além
de autor, contador de histórias, produtor executivo teatral e atua no entretenimento infantil há dez anos.
Dezembro 2008
Panorama
25
Capa
Charles Kiefer, escritor e patrono da 54ª
Bienal de Porto Alegre – “A Bienal do Livro
é um dos fatores que fazem do Rio Grande
do Sul o Estado brasileiro de maior consumo
per capita de livros do Brasil: 5,6 livros por
habitante por ano”.
As feiras ganham o país
De março a novembro, o mercado editorial
movimenta milhões de reais e de livros nas
feiras e bienais, e já fazem parte do calendário
cultural das metrópolis às pequenas cidades
de norte a sul do país
26
Panorama
Dezembro 2008
Fascinada pela leitura, o sonho da
curitibana Aline Cristina de Souza, era
um dia poder conhecer uma Bienal. Aos
19 anos, concretizou este sonho. Durante a viagem a Porto Alegre lembrava-se
das reportagens onde o mundo da leitura desvendava em cada linha que descrevia o evento. Ao chegar na 54ª Bienal, deparou-se, com obras de escritores
que não conhecia, folheou, comprou
lançamentos e apreciou obras de seu escritor preferido, José Saramago.
Aline voltou para casa com oito livros na bagagem e uma sensação de
que faltou algo no evento. “Fui com a
impressão de ser um evento cultural
mais voltado para contagiar o gosto
pela leitura, com palestras, exposições,
enfim, um lado mais estudioso. Embora tenha adquirido vários livros por
preços excelentes, senti falta de um enfoque mais do que é o mundo da literatura”, analisa.
As impressões de quem visita as
feiras são inúmeras, fascínio, encanto,
críticas, descoberta. Em Porto Alegre,
cenário da jovem leitora, a Bienal é visitada por mais de um milhão de pessoas e uma das maiores a céu aberto do
mundo e a mais antiga no Brasil.
Em 1955, o jornalista e diretor do extinto Diário de Notícias, Say Marques,
viajou ao Rio de Janeiro para visitar na
Cinelândia, bairro carioca, onde existia o comércio de livros em 40 barracas
ao ar livre. Ao voltar para Porto Alegre,
adaptou o que tinha visto e criou então
uma feira de livros onde o objetivo seria aumentar as vendas dos livros. Com
20% de desconto, foram comercializados em 14 dias, 35.813 exemplares. Com
o tempo e experiência, o evento foi sendo lapidado e hoje, a capital gaúcha em
sua 54ª edição, contou com 167 expositores livreiros e a venda 600 mil livros.
Patrono nesta edição, Charles Kiefer, 50 anos, autor de clássicos da literatura infanto-juvenil como; Caminhando na Chuva, O Pêndulo do relógio,
Um outro olhar, Antologia Pessoal,
Você Viu Meu Pai por aí?, recebeu por
três vezes o prêmio Jabuti pela Câmara
Brasileira do Livro, acredita que a Bienal de Porto Alegre cumpre seu papel
de difundir e estimular a leitura, contrariando as impressões da jovem estudante Aline. “A Bienal do Livro é um
dos fatores que fazem do Rio Grande do Sul o Estado brasileiro de maior
consumo per capita de livros do Brasil:
5,6 livros por habitante/ano”.
Para o escritor, o evento representa um espaço de prazer e conhecimento, “uma festa da cultura. Um momento
ímpar, nesta que é a maior feira aberta
em torno do livro da América Latina. O
evento, em minha opinião é divulgação,
venda, troca de idéias, tudo isso e muito
mais, já que em Porto Alegre são realizadas mais de 1.500 atividades culturais
como Simpósios, Seminários, Encontros,
Maratonas de Literatura, Oficinas etc.”
O presidente da ANL – Associação Nacional de Livraria, Vitor Tavares, afirma que as feiras de livros sempre são um bom momento para o
mercado livreiro, principalmente para
a região onde ela se realiza, especialmente se ela for bem planejada tanto por parte dos organizadores como
dos expositores. A realização de eventos paralelos com a presença de autores, livreiros, editores e bibliotecários e,
ainda, uma boa divulgação na mídia
com o envolvimento de toda a comunidade são fundamentais para este sucesso. “É importante destacar que mesmo que as vendas, durante o evento,
não sejam a esperada, números apontam que num período pós-feira — que
pode variar entre 30 e 60 dias — o segmento de livros apresenta, naquela região onde ela aconteceu, um crescimento em suas vendas. Indiscutivelmente,
isso deixa bem claro que um dos principais objetivos de uma feira de livros é o
de difundir e democratizar o acesso ao
livro e, principalmente, formar novos e
fieis leitores”, afirma Tavares.
Democratizar a leitura
Num movimento sem precedentes
na história nacional, nesta década as
feiras se proliferam com incrível rapidez também nas médias e em pequenas
cidades do interior, como é o caso da
cidade de Picada Café, interior do Rio
Grande do Sul. Com uma população
de apenas 5000 habitantes, a 8ª Feira do
Livro, em 2008, vendeu 15 mil exem-
A curitibana Aline Cristina de Souza visitou
a 54ª Bienal de Porto Alegre e voltou com 8
livros na bagagem.
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Capa
Picada do Café, interior do Rio Grande do Sul. Com uma população de apenas 5000 habitantes, a 8ª Feira do Livro vendeu 15 mil exemplares.
plares segundo os organizadores.
Em todas as feiras de livros, o discurso é o mesmo: O objetivo de cada
uma, ou de todas, é consolidar-se como
o maior evento literário da região, estado ou país, popularizar o livro e democratizar a leitura, pois como é de conhecimento público, o Brasil não é país de
tradição de leitura.
Na região sudeste, a média de livros
lidos por ano é de 4.9. Uma das cidades
que compõem esta região, Rio de Janeiro, recebe uma das maiores bienais nacionais, a Bienal Internacional, que recebeu na sua XVIII edição em 2007, mais
de 540 mil pessoas. Entre elas, Kika Carrera, 25 anos, atriz, esteve não só na última Bienal Internacional do Livro no Rio
de Janeiro, que acontece em anos ímpaKika Carrera, a carioca freqüenta a Bienal Internacional do Livro do
Rio de Janeiro desde a infância.
28
Panorama
Dezembro 2008
res, como também nas edições anteriores. “Vou à Bienal desde criança, com a
escola, agora vou sozinha. Prefiro. Assim, chego à hora que quero e vou embora só quando termino de visitar os
stands que me interessam”.
Na última edição, Kika comprou
mais de 10 livros, que somou no faturamento do evento que girou em torno
de R$ 43 milhões, mais que o dobro dos
R$ 20 milhões investidos no evento, segundo a organização.
O que mais chamou a atenção da
leitora foi o romance de Fadia Faqir.
“Meu Nome é Salma é fantástico, adorei. Outro que adorei foi Comer, Rezar
e Amar, da autora americana Elizabeth
Gilbert. Comprei diversos livros sobre
assuntos que me interessam. Teatro,
poesia, romance e, claro, não poderia
faltar de auto-ajuda”.
Ela conta que pode ter acesso à
quase todo material das editoras, e o
preço dos livros é bem acessível. “Pra
mim, o evento é uma ótima oportunidade de interação entre nós leitores
e as editoras”. Embora satisfeita, faz
uma crítica em relação à localidade do
evento.“A Bienal fica distante do centro da cidade. Além de ser longe, o estacionamento é um absurdo! Os R$
10,00 que desembolso poderiam ser
gastos em livros”.
A I Bienal do Livro do Rio de Janeiro aconteceu em 1983 nos salões do Copacabana Palace numa área de um mil
m², porém com a necessidade de ampliar
este espaço, em 1987, o evento mudou-se
para o Riocentro, e aumentou área para
15 mil m² pelo fato de ser o acontecimento editorial mais importante do país.
Mas a distância não é empecilho
para uma leitora assídua como Kika,
que descreve o prazer de ler como “poder compor a minha própria história
dentro do que me é emprestado, quebrar barreiras, não ter idade, preconceito, nem religião”.
Tradição européia
Para o publicitário Miguel Zimmermann Martins, 24 anos, ler é uma forma
de aprender por si mesmo, dependendo apenas da vontade de quem quer
instruir-se “ler é brincar com a imaginação, aprender a interpretar as palavras de um autor e trazer esse conteúdo para o seu dia a dia. Isso faz com
que tarefas de interpretação do cotidiano fiquem mais simples, devida a prática que se adquire com a leitura”.
A 20ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, visitada por
aproximadamente 728 mil pessoas, entre alunos das redes públicas e privadas e visitantes, deixou em Miguel a
impressão de que o tempo do evento é
relativamente curto. “A Bienal me mostrou de forma acessível tudo o que está
acontecendo no mercado literário, mas
fica complicado acompanhar todos os
lançamentos devido o curto espaço de
tempo”, lamenta.
A média de livros lidos pelo publicitário é de um a dois por mês sobre assuntos específicos de caráter técnico,
como fotografia, linguagem e comuni-
cação e biografias. “Apesar de parecer
fútil, como publicitário, fiquei impressionado com a trajetória de vida do Roberto Justus em Construindo uma vidaTrajetória profissional, negócios e O
Aprendiz . Quem vê ele hoje, na posição que ocupa, não faz idéia do caminho que ele teve de percorrer. Outro livro que gostei bastante foi O Vendedor
de Sonhos do Augusto Cury. A Bienal
de São Paulo mostrou pra mim que por
mais que eu aprenda, busque e conheça determinados assuntos, sempre vai
haver mais algo a aprender. O conhecimento não tem limites. É preciso estar
preparado para nunca deixar de aprender”, diz Miguel.
A Bienal de São Paulo teve um início tímido até chegar ao sucesso de
hoje. A então 1ª Feira Popular do Livro
realizada em São Paulo, capital, aconteceu pela primeira vez em 1951 na Praça da República com objetivo de introduzir no Brasil a tradição das feiras de
livros européias. Em 1956, foi realizada
no Viaduto do Chá devido ao número
de pessoas que por ali passavam e em
1961 promoveu-se a 1ª Bienal Internacional do Livro e das Artes Gráficas, em
parceria com o Museu de Arte de São
Paulo. Esses eventos serviram como
projeto para que em 1970 a CBL trouxesse com exclusividade a 1ª Bienal do
Livro Internacional.
Abdala Jamil Abdala, 61 anos, presidente da Francal Feiras afirma que a
Bienal do Livro de São Paulo é o maior
evento cultural da América Latina “ao
reunir as principais editoras do País - e
estrangeiras - num único espaço e promover uma série de atividades culturais paralelas, aproxima pessoas e livros e, com isto, dá uma importante
contribuição para o desenvolvimento
da cultura nacional. Por ser um evento de grande contribuição ao incentivo
à leitura, conta com o apoio da Prefeitura da Cidade de São Paulo (Anhembi), do Ministério da Cultura e também
patrocinadores que colaboraram de sobremaneira na realização dos eventos paralelos que ocorreram na feira:
Volkswagen, Ipiranga, HSBC, Submarino e Visa. Esta última edição foi realizada com grande sucesso”.
Incentivo à leitura
Se as feiras e bienais de livros realmente conseguem atingir o leitor, ainda não existem estatísticas para medir
esse resultado, a não ser pelo número de exemplares vendidos, o que não
se aplica à população de baixa renda.
Mas as administrações públicas tentam se aproximar das camadas sociais
mais simples por meio do cheque livro
ou vale livro, liberando verbas para as
secretarias de educação comprarem livros didáticos e paradidáticos e, assim,
enriquecer as bibliotecas escolares com
mais títulos, o que possibilita maior
acesso dos alunos à leitura.
É o caso de muitas cidades, como
Caxias do Sul, que, em 2007, na 23ª edição da feira, recebeu 210 mil visitantes e
comercializou 52 mil obras, 15% a mais
que no ano anterior. Em parceria com
o poder público, a feira criou o projeto
Passaporte da Leitura, que beneficiou 30
escolas públicas com 30 livros cada uma.
Em Tocantins, o governo do estado
também se encarrega de enviar recursos para que o livro chegue onde o povo
está. Cada professor de rede pública recebe R$150,00 para compras pessoais
de livros na feira e, este ano, o presente
foi estendido aos vigias, serventes e merendeiras das escolas: cada um recebeu
R$ 40,00. “O objetivo é que todos leiam
mais”, diz a secretária de Educação e
Cultura de Tocantins, Maria Auxiliadora
Seabra Rezende, convicta de que o salão
de livros cumpre seu papel de difundir a
leitura, além de ser economicamente viável; “O mercado editorial responde bem
ao comprar espaço e aumentar o número de expositores a cada ano”.
Convidado freqüente de diversas
Feiras do Livro e Bienais Romaric Sulger Büel, francês, veio ao Brasil como
adido cultural e abandonou a carreira
diplomática para garantir sua moradia
no país. Montou uma produtora cultural no Rio de Janeiro, e hoje, além de
produtor é autor dos livros O Lírio e a
Quimera –Mademoiselle de Miry e Do
Leito da Minha Mãe. Ele diz que as Feiras espalhadas no país estimulam a leitura e fazem novos leitores. “ Ggeralmente, as secretarias de educação e os
organizadores de feiras têm uma relação forte entre eles”, opina. Para ele, as
feiras promovem além de integração
entre leitor e escritor, incentivo para
um país com um alto índice de não-leitores. “A Feira do Livro de Porto Alegre
é um dos eventos mais importantes da
vida cultural do Sul do país. A de Ribeirão Preto transforma a cidade, porque
o evento é pretexto para palestras, debates, concertos. Sempre pensei que a
Bienal do Rio era longe demais do Centro, o que me deixa também longe dela,
mas não há dúvidas, de que as Feiras
de Livros são para o Brasil, país pouco
“leitor”, um instrumento indispensável
de incentivo e divulgação, além de ser
momentos importantes para os autores
descobrirem cidades novas e leitores já
conhecidos ou a conhecer”, analisa.
Já João Scortecci, do Grupo Editorial Scortecci, tem outra visão: “Não gosto de ver aquele bando de crianças correndo pelos corredores. É o lado ruim
de uma bienal. Nós precisamos repensar
tudo. Repensar significa apoiar e olhar
o futuro”, avalia. Quanto a ser um bom
negócio para o livreiro, diz: “Sou livreiro
de pequeno porte. Algumas redes participam, outras não. Cada um justifica
do jeito que lhe parece melhor. Dinheiro, garanto que não dá. O leitor não compra livro porque é vantajoso. Compra
Abdala Jamil Abdala –
“A 20ª Bienal de São Paulo foi
realizada com grande sucesso”.
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Panorama
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CALENDÁRIO DAS FEIRAS
Capa
(Fonte: Snel – Sindicato Nacional dos Editores de Livro)
“As feiras são um bom momento para o
mercado livreiro”
porque gosta e quer ler. Um desconto
e uma promoção são “ameixas” na empada. Sair com a sacola cheia é o máximo. Gostaria que todas as pessoas deste
Brasil pudessem comprar muitos livros.
Pena que apenas uma pequena parte
pode fazê-lo. Para quem não pode, deveriam existir mais bibliotecas”, critica
De acordo com o Ministério da Cultura, quase 90% dos municípios brasileiros têm pelo menos uma biblioteca, porém, a pesquisa Retratos da Leitura no
Brasil, revelou que apenas dos 66% dos
entrevistados conhecem esta informação e apenas 10% freqüentam o espaço. (
ver matéria Comportamento Leitor)
Em São José do Rio Preto, interior de
São Paulo, existe uma biblioteca central
e quatro ramais, localizados em bairros da cidade, “Além de uma biblioteca móvel que percorre 15 bairros da cidade. Temos também, grandes livrarias
como a Saraiva e a Nobel, além de outras menores de proprietários rio-pretenses. Não falta estímulo para leitura
na cidade, a prefeitura mesmo inves-
tiu na bienal deste ano cerca de R$ 600
mil”, diz o coordenador geral da 2ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto
e assessor de gabinete na secretaria de
Cultura da cidade, Deodoro Moreira.
Ele alega que o principal objetivo do setor é despertar o gosto pela leitura tanto
em crianças como em adultos. “A prefeitura por meio da Secretaria Municipal da Educação investiu R$ 140 mil na
distribuição de cheques-livros. A Secretaria de Educação repassou cerca de R$
2 mil para cada uma das escolas municipais. Os livros adquiridos foram para o
acervo das bibliotecas das escolas”, diz.
Discutir qual a mais importante,
mais relevante, parece algo sem sentido, ao que parece, pela programação
que contêm, pelo empenho dos organizadores, cada feira cumpre o mesmo
papel, não importa o tamanho do evento. É proporcional. Só no Brasil, existem mais de vinte eventos literários entre feiras e bienais segundo o Sindicato
Nacional dos Editores de Livros, SNEL,
mas parece que tanto incentivo à leitura ainda é pouco para um país com um
índice de 70 milhões de não-leitores.
Bienal de Porto Alegre incentiva cidades do interior do RS
O número de feiras no Rio Grande do Sul cresce a cada ano. Segundo
a coordenadora da área infanto-juvenil
e membro da comissão executiva da
Câmara Riograndense do Livro, Sônia
Maria Zanchetti, um pouco mais 200 cidades do estado realizam feiras de livros todos os anos. “ Surgiram em função da Feira de Porto Alegre e todas
elas têm o apoio da Câmara Riograndense”, afirma. Para ela, a comunicação entre os organizadores e as secretarias de cultura e de educação dos
municípios é muito importante para
a troca de idéias e orientação sobre
que autores convidar. E isso acontece
constantemente. Todos anos, a Câmara envia editais a 496 municípios pedindo as datas dos eventos e, a cada ano,
aumenta o número de adesão às feiras.
Algumas cidades têm outros bons
programas ligados aos livros além da
feira. Em Bento Gonçalves, a prefeitura realiza um programa de leitura para
30
Panorama
Dezembro 2008
alunos das escolas municipais, estaduais e particulares. Sônia cita ainda
programas em Caxias do Sul e São Leopoldo, uma zona de imigrantes italianos, cujo organizador das feiras, Jari
Rocha, levou a experiência de oito
anos na Secretaria de Educação e Cultura de Morro Reuter, cidade a 60 km
ao norte de Porto Alegre, com 5.500
habitantes, que ostenta A pequena cidade gaúcha, colonizada por alemães,
ostenta em frente à prefeitura o Obelisco de Livros, criação do artista Gustavo Nakle, erguido para registrar o
trabalho do município em relação à leitura, a paixão de seus moradores pelos livros. O monumento tem 11 metros de altura é representado por uma
pilha de 72 livros. A feira do livro de
Morro Reuter já está na 14ª edição.
Mas, não somente as feiras do Rio
Grande contribuem para o crescente
número de leitores no estado. Sônia
cita como um fenômeno, a iniciativa
da Santa Casa de Porto Alegre, onde
circulam 33 mil pessoas por dia, com
a criação de uma biblioteca e a realização de uma feira de livros por ano.
ABRIL
SETEMBRO
1º Salão do Livro Infantil e Juvenil de Goiás
Dias: 2 a 6 de abril
Local: Centro de Convenções de Goiânia
Organização: CYA eventos
Tel.: (62) 3941 8307
Inf.: www.salaodolivrogoias.com.br
XII Feira Pan-Amazônica do Livro
Dias: 19 a 28 de setembro
Local: Hangar - Centro de Eventos da
Amazônia
Organização: RPS Eventos
Tel.: (11) 3333-7878
Inf.: www.rpsfeiras.com.br
III Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas
Dias: 2 a 6 de abril
Local: Palace Cassino
Organização: GSC Eventos
Tel.: (35) 3713 9901
Inf.: www.feiradolivropocosdecaldas.com.br
MAIO
4º Salão Internacional do Livro de
Tocantins
Dias: 9 a 18 de maio
Local: Centro de Eventos de Palmas
Organização: RPS Eventos
Tel.: (11) 3333-7878
Inf.: www.rpsfeiras.com.br
10º Salão FNLIJ do Livro para Crianças e Jovens
Dias: 21 a 28 de maio
Local: Museu de Arte Moderna - RJ
Organização: Fundação Nacional de
Literatura Infantil e Juvenil
Inf.: www.fnlij.org.br
3ª Bienal do Livro de São José do Rio Preto
Dias: 9 a 18 de maio
Local: Praça Cívica - Av. Philadelpho Gouveia Netto
Horário: 10h00 às 21h00
Organização: MTS eventos
Inf.: www.mtseventos.com.br
II Encontro Nacional de Leitura e Literatura
Infanto-Juvenil da UESB
Dias: 1º a 4 de maio
Local: Campus de Jequié da UESB
Organização: Centro de Estudos da Leitura
da Universidade Estadual da Bahia
Inf.: http://www.celeitura.com.br/enllij/
apresentacao.php
Bienal do Livro de Minas Gerais
Dias: 15 a 25 de maio
Local: Expominas
Organização: Câmara Mineira do Livro
Tel.: (31) 32413325
Inf.: www.binaldolivrominas.com.br ou
[email protected]
As feiras têm apoio e orientação da Câmara
Riograndense
2° Salão do Livro Sul Mineiro
Dias: 7 a 10 de Maio
Local: Clube Literário Recreativo (Pouso
Alegre, MG)
Organização: Visual Áudio Eventos
Tel.: (35) 3422 7600
Inf.: [email protected]
VII Feira de Rua do Livro e I Feira do Livro
de Florianópolis
Dias: 30 de abril a 10 de maio
Local: Largo da Alfândega (Centro Histórico)
Organização: Câmara Catarinense do Livro
Inf.: (48) 3224-5135
JUNHO
8º Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto
Dias: 6 a 15 de junho
Local: Praça 15
Organização: Fundação Feira do Livro de
Ribeirão Preto e VS Futura Eventos
Tel.: (16) 3911-1050 e (16) 3623-9399
Inf.: www.vsfutura.com.br e www.feiradolivroribeirao.com.br
5ª Bienal do Livro de Campos Goytacazes
Dias: 31 de maio a 8 de junho
Local: Fundação Rural de Campos
Organização: Fundação Cultural e Associação dos Representantes de Editores do Estado do Rio de Janeiro
6ª Feira Literária Internacional de Paraty
Dias: 2 a 6 de julho
Local: Cidade de Paraty, RJ
Organização: Associação Casa Azul
Tel.: (24) 33717082 ou (11) 38850177
Inf.: www.flip.org.br
AGOSTO
3ª Feira do Livro Cultural de Taquara
Dias: 06 a 09 de agosto
Local: Praça Central
Organização: Prefeitura Municipal de Taquara (RS)
Inf.: www.taquara.zipstudio.com.br
20ª Bienal do Livro de São Paulo
Dias: 14 a 24 de agosto
Local: Anhembi
Organização: Câmara Brasileira do Livro e
Francal Feiras
Tel.: (11) 6263100
Inf.: www.cbl.org.br
Feira Internacional do Livro de Foz do Iguaçu
Dias: 5 a 10 de agosto
Organização: Promoção da Prefeitura de
foz de Iguaçu e realização do Instituto da
educação e do Livro
Inf.: feiradolivro@institutofeiradolivro.
com.br
Feira do Livro de Brasília
Dias: 29 de agosto a 7 de setembro
Local: a definir
Organização: Câmara do Livro do Distrito Federal
Tel.: (61) 33446821
Inf.: www.camaradolivrodf.org.br
OUTUBRO
3º Salão do Livro de Ipatinga
Dias: 31 de setembro a 5 de outubro
Local: Centro Cultural Usiminas
Organização: Nascentes Comunicação Estratégica e Paralelo 3
Tel.: (31) 3261 7517 / (31) 3261 3389
Feira do Livro da Baixada Santista (em paralelo com o Salão de Educação e o Conecta Inteligência - Congresso de EnsinoAprendizagem)
Dias: 8 a 12 de outubro, das 14 às 22hs
Local: Mendes Convention Center
Tel: (13) 3261-3131
Inf.: www.fenalba.com.br
2ª Salão do Livro de São Luís
Dias: 9 a 19 de outubro
Organização: RPS Feiras
Tel.: (11) 3333-7878
Inf.: [email protected] ou
www.rpsfeiras.com.br
NOVEMBRO
8ª Bienal Internacional do Livro do Ceará
Dias: 13 a 21 de novembro
Local: Centro de Convenções do Ceará
Organização: RPS Feiras
Tel.: (11) 3333-7878
Inf.: [email protected] ou www.
rpsfeiras.com.br
Feira do Livro de Curitiba
Dias: 4 a 16 de novembro
Local: Praça General Osório
Organização: Instituto da Educação e do Livro
Tel.: (47) 3422-1133
Inf.: [email protected]
54ª Feira do Livro de Porto Alegre
Dias: 31 de outubro a 16 de novembro
Local: Praça da Alfândega
Organização: Câmara Rio-Grandense do Livro
Tel.: (51) 32255096
P
Inf.: www.feiradolivro-poa.com.br
Dezembro 2008
Panorama
31
Foto: Ubirajara Machado
Políticas Públicas
Navegando pela leitura
Programa Arca das Letras leva o mundo dos livros para a
população rural e já ultrapassa as fronteiras do país
Assim como na passagem Bíblica,
quando Noé construiu uma Arca para
salvar a população da época, tanto animal quanto humana de um dilúvio que
durou 40 dias e 40 noites, um projeto
desenvolvido pela Secretaria de Reordenamento Agrário do Ministério do
Desenvolvimento Agrário vem trazendo esperança de dias melhores para famílias das zonas rurais do país.
O Programa de Bibliotecas Rurais
ARCA DAS LETRAS foi criado em
2003 para incentivar a leitura e facilitar
o acesso aos livros em assentamentos,
comunidades de agricultura familiar e
de remanescentes de quilombos. Cada
biblioteca possui cerca de 200 títulos
obtidos por doação, entre literatura
infantil, literatura para jovens e adultos, livros didáticos, de pesquisa e
técnicos -cidadania, saúde, agricultu32
Panorama
Dezembro 2008
ra- incluindo assuntos de interesse das
populações rurais e suas necessidades.
Segundo a coordenadora nacional do
programa Cleide Cristina Soares, os
resultados positivos podem ser conferidos em relação ao desenvolvimento
comunitário, já que parte do acervo é
destinada a livros que fazem parte da
realidade rural, como publicações sobre agricultura, por exemplo. “O que
podemos destacar também é a diminuição da evasão escolar depois da
chegada dos livros às comunidades”,
destaca.
Instalada na casa de um morador
ou na sede de uma associação rural é a
própria comunidade que escolhe os assuntos que formam os acervos, o local
onde a biblioteca será instalada e indica os moradores que serão capacitados
como Agentes de Leitura, voluntários
que são responsáveis pela organização
do programa e pelo incentivo à leitura na comunidade. E de acordo com
a coordenadora, os ótimos resultados
obtidos desde a implantação em 2003,
se dá pelo envolvimento da comunidade no projeto. “Eles participam ativamente do planejamento das bibliotecas, dão sugestões e isso proporciona
uma aproximação maior dela com os
livros”, afirma.
Através de um trabalho bem artesanal a biblioteca é organizada em um
móvel de madeira fabricado em marcenarias de penitenciárias por trabalhadores sentenciados, que recebem
bolsas de trabalho e redução de suas
penas. São confeccionadas também na
Fundação Pão dos Pobres no Rio Grande do Sul, no Centro de Profissionalização Integrado do Piauí - Secretária
de Estado da Educação e em alguns
municípios por iniciativa das Prefeituras.
Em todo o Brasil, o Arca das Letras,
já implantou mais de 5.800 bibliotecas
rurais em mais de 1,7 mil municípios
brasileiros. Até o momento, mais de 1,2
milhões de livros foram distribuídos,
beneficiando cerca de 700 mil famílias
do campo. O trabalho de atendimento
oferecido nas bibliotecas é feito por 12
mil agentes de leitura, que contribuem
para melhorar os índices educacionais
de suas comunidades, além de apoiar
o trabalho e valorizar a cultura no
meio rural. O programa já ultrapassou
fronteiras implantando três Bibliotecas
Arca das Letras em Díli noTimor Leste
e na capital cubana Havana, como cooperação solidária.
Para Cleide, apresentar o mundo
da leitura para as crianças e fazer com
que ela se interesse não é a tarefa difícil. “Nosso maior desafio é incentivar
a leitura entre os jovens e adultos, por
isso apresentamos primeiro publicações que tenham a ver com a realidade
daquelas pessoas, assim estamos conseguindo atingir nossas metas e a leitura acaba se tornando um hábito na vida
dessas pessoas”, conclui.
Depois de implantadas na comunidade, as mais de 5.800 bibliotecas do programa Arca das Letras são visitadas pela equipe
do programa na intenção de
acompanhar o seu desenvolvimento junto a comunidade.
“Pelas nossas contas nós entregamos cerca de três bibliotecas
por dia, desde 2003. Depois
de implantado o programa,
voltamos a comunidade para
acompanhar o trabalho e os resultados dele. Cada encontro
dura em média 2 dias, quando
discutimos os avanços e as sugestões de toda comunidade
participante. No meio rural o
livro chega e é lido”, garante
Cleide.
A Arca da Letras conta
com o apoio do Projeto Banco
do Brasil/Fome Zero, Banco
do Nordeste, MME Luz para
todos e por meio dos Centros Culturais Banco do Brasil
(DF/SP/RJ), Missão Criança,
“A maior importância do projeto para
mim é auxiliar a comunidade na qual
eu resido, atendendo principalmente
o estudante, que vem para cá depois
da aula para fazer pesquisas e receber
ajudar nos deveres de casa”, ressalta.
A atitude altruísta do jovem Agente,
que disponibiliza parte do seu tempo
as necessidades de sua comunidade
tem proporcionado a ele um melhor
convívio social. “Além de ajudar pessoas aqui eu consegui aumentar meu
circulo de amizades e isso é muito gratificante”, confirma.
Outra apaixonada pela Arca das
Letras é a professora Simone Regina
Del Belo Rodrigues, Agente da comunidade Aparecida do Bonito em Santa Rita D’oeste, São Paulo. Antes do
Os capitães da Arca
programa ela já realizava um trabalho
voltado para a leitura, mas com a cheO sucesso do programa não segada da Arca as coisas mudaram. “O
ria possível sem a preciosa ajuda dos
programa Arca das Letras chegou aqui
Agentes de Leitura, que voluntariaem maio de 2008 e veio somar com o
mente dão o apoio necessário as cotrabalho que eu já realizava na minha
munidades beneficiadas pela Arca. São
comunidade, deu uma injeção de âniaproximadamente 12 mil em todo Bramo”, garante.
sil e o jovem de apenas 24 anos, Welton
Para ela a importância do projeto
Pinote Rozetta é um deles. Atuante no
vem diretamente ao encontro das neprograma desde 2007 na comunidade
cessidades da comunidade rural. “Essa
de São João da Barra Seca em Colatina é uma população carente de informaEspírito Santo, ele garante que ajudar a
ção, que necessita de conhecimento
comunidade onde vive é fundamental.
para poder gerar renda no loFoto: Regina Santos
cal onde eles residem. Por isso
adorei o projeto, porque ele
vem ao encontro de nossas necessidades.
Mas Simone sabe que o
trabalho nem sempre é fácil e
aceito prontamente, é por isso
que ela trabalha constantemente para tornar o programa
cada vez mais atrativo. “Eu
sempre falo que não basta ler
livros a gente tem que montar
estratégias, essa é a parte mais
difícil para que a população se
interesse pela leitura. Diante
dessas necessidades eu desenvolvo várias atividades para
que a biblioteca seja visitada.
Hoje minha comunidade usa
a biblioteca folheando livros
e para mim isso é importanEletrosul e Furnas. Em Petrolina/PE,
Mossoró/RN e Fortaleza/CE conta
com o apoio do Ministério da Justiça/
DEPEN. Além da parceria com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da
Educação do Ministério da Educação
(FNDE/MEC); Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da
Justiça; Ministério da Cultura e outros
órgãos públicos federais, estaduais e
municipais. Também participam os
movimentos sociais e sindicais, editoras, artistas e a população urbana - que
contribui com a doação de livros. Toda
sociedade de mãos dadas para levar
mais cultura e conhecimento às comunidades necessitadas.
Dezembro 2008
Panorama
33
Foto: Silvia Souza
Políticas Públicas
Feira da Agricultura Familiar - RJ
EUA
Obama ajuda a vender livros
da nossa origem, ainda mais por ser de
uma comunidade quilombola”, explica.
Atuante na Arca das Letras desde
2006, Valdinéia afirma que muitas mudanças aconteceram na comunidade
depois do programa. “O pessoal das
comunidades estão adquirindo mais
conhecimento, os estudantes tem facilidade em fazer trabalhos e pesquisas.
As crianças, os jovens e os adultos se
distraem, se divertem e aprendem com
os livros”, conta. Valdinéia diz ainda,
cheia de orgulho que a Arca não mudou só a vida da Comunidade Gravatá. “Estou muito feliz com o projeto foi
através dele que participei e ganhei
um computador no primeiro concurso em homenagem a MACHADO DE
ASSIS realizado pelo Ministério da
Cultura. Foi a realização de um sonho,
pois nunca tive condições de comprar
e com este prêmio, conquistado graças
a meu trabalho com o programa, vou
poder ajudar muito mais a minha comunidade”, justifica.
Apesar das dificuldades que enfrenta, numa das regiões mais necessitadas
do país, Valdinéia sabe da importância
da leitura e tenta passar para a comunidade. “Hoje minha maior dificuldade e
atingir o publico adulto, pois eles estão
sempre ocupados, trabalhando. Muitos deles não tiveram muitas oportunidades em aprender a ler e a escrever
quando jovens. Mas devagar eu vou
incentivando e tenho certeza que um
dia todos vão descobrir o quanto é bom
se apaixonar com um livro”, finaliza. P
Foto: Divulgação
te porque mesmo que ela chegue e só
“passe” a mão nos livros já é um contato que elas não tinham”, explica.
Interessada em agregar ainda mais
valor ao seu trabalho, Simone fez um
curso de especialização em projetos
e através disso vai levar Arca das Letras para fora da sua comunidade. “Eu
apresentei o projeto numa escola no
município vizinho e a diretora se interessou muito, agora é só correr atrás e
botá-lo para funcionar”, diz.
Emocionada com todo resultado
obtido até agora a Agente se diz apaixonada pelo que faz. “Às vezes eu me
emociono quando vejo as crianças vindo de tão longe, debaixo do sol para
participar do programa. Para mim,
esse é o melhor projeto que eu já vi em
termos de incluir a população rural nos
projetos sociais, é muito gratificante.
Por isso que eu sempre digo que a gente tem que ler para alcançar o conhecimento”, completa.
Valdinéia Soares Moreira também
disponibiliza parte do seu tempo para
auxiliar a Comunidade Gravatá, na
Chapada do Norte -Vale do Jequitinhonha. Lá a Agente desenvolve o programa numa comunidade quilombola.
“Eu considero este projeto importantíssimo, pois me trouxe uma grande
oportunidade de adquirir experiência
e muito mais conhecimento a respeito
Panorama
Em janeiro, quando Barack Hussein
Obama tomou posse como o 44º presidente dos Estados Unidos, o País passou a ter o presidente mais pop de sua
história. Porém, já desde muito antes
dele se mudar para a Casa Branca que
tudo o que ele lê, ouve, joga ou vê têm
despertado o interesse dos americanos.
Não é novidade, assim, que os livros preferidos do presidente estejam
provocando uma verdadeira corrida
até as prateleiras das livrarias.
Acostumado a ler obras de pensado-
Dezembro 2008
res como Maquiavel e Thomas Hobbes,
além dos clássicos da literatura jurídica,
o livro favorito de Obama, segundo o
jornal britânico The Daily Telegraph, é
Moby Dick, do escritor americano Herman Melville, publicado pela primeira
vez em 1851. Desde que a sua predileção pela obra foi divulgada, a procura
tem sido tanta que o clássico voltou às
livrarias dos EUA em uma nova edição.
O efeito tem sido sentido também
no Brasil. A editora Cosac Naify, que
lançou uma nova tradução da versão
integral de Moby Dick em abril do ano
passado, não está dando conta dos pedidos de reposição das livrarias. Isso
apesar das quase 700 páginas do livro.
Além de garantir ter lido todos
os volumes da série Harry Potter, de
J.K. Rowling, quando ainda estava em
campanha o novo presidente também
divulgou uma lista de livros preferidos com títulos de James Baldwin,
Doris Lessing e Toni Morrison. Não
deu outra: os clássicos voltaram a ser
procurados nas livrarias americanas.
Japão
Literatura para celular se espalha
Não é de hoje que os japoneses e sua
fissura por tecnologia decidiram usar o
telefone móvel, tão popular como dispositivo de entretenimento e comunicação no País, como ferramenta de leitura.
Nos últimos anos, enquanto a indústria
do livro discute para encontrar um formato apropriado para distribuir, em
mídia eletrônica, o tradicional conteúdo impresso, lá os romances de celular
se consagraram como uma tendência.
No início, a mania fez sucesso principalmente entre adolescentes e jovens.
Isso porque ela se caracterizava por
uma narrativa ágil, com influência direta dos mangás - as histórias em quadrinhos japonesas – e marcadas por
frases curtas, próprias para o formato
de leitura na tela do celular. Mas, pouco a pouco, as editoras ampliaram o
leque de ofertas e passaram a oferecer
títulos variados no formato.
Diante disso, nada mais natural que
a ideia ser exportada e ganhar novos
adeptos. No ano passado, a moda se
estendeu a outros países, onde os celu-
lares estão sendo cada vez mais usados
para transmitir dados, incluindo vídeo,
fotos digitais e música.
Agora, a novidade vem da editora americana Ravenous Romance, de
e-books e audiobooks. Ela decidiu se
inspirar na mania criada no Japão para
comercializar um outro gênero literário pelo celular: o erótico. Para quem
concorda que nada valida mais uma
tecnologia emergente do que o envolvimento da indústria pornográfica com
ela, foi a gota d´água.
Alemanha
Bibliotecas ao ar livre na Alemanha incentivam a leitura no país
De acordo com uma pesquisa recente realizada pela Fundação Lesen,
de Mainz, na Alemanha, enquanto em
2000 um terço da população adulta e
adolescente ainda lia entre 12 e 50 livros
por ano, em 2008 apenas um quarto
cumpre o mesmo volume de leitura. Outros 25% da população nem encostam o
dedo num livro, uma proporção que se
manteve constante nos últimos anos.
Para incentivar a leitura no país,
algumas alternativas estão surgindo,
como as bibliotecas ao ar livre, com o
Taracatu - PE
34
Pelo mundo afora
intuito também de popularizar leitura entre os alemães. Quem passa pela
Alameda Poppelsdorfer Allee, uma das
ruas mais charmosas e luxuosas da cidade de Bonn, onde foi implantado o
projeto, pode aproveitar para ler um livro, ao ar livre. As bibliotecas ficam sem
controle, recepcionista ou cadeados. É
um armário de madeira com portas de
vidro, onde quem quiser pode pegar livros emprestados. Tudo na base da confiança. Escolheu, pegou emprestado, leu,
devolveu. Se a pessoa gostar muito do
livro pode levar para casa, com a condição de colocar outro no lugar.
A iniciativa dos armários com livros é resultado de uma competição
para promover a vida cívica e cultural
na cidade, realizada pela Fundação Cidadãos de Bonn (Bürgerstiftung Bonn),
em 2002. Mais de 130 propostas foram
apresentadas, entre elas este projeto do
então estudante de design de interior
Trixi Royek. Desde o início de seu funcionamento, os armários ganharam espaço no coração dos cidadãos de Bonn.
Dezembro 2008
Panorama
35
Mercado & Tendências
Os mascates das letras
Muita gente não sabe que ele ainda existe, mas o mercado
de livros porta a porta continua faturando (e muito! – só
em 2007 foi quase R$ 1 bilhão) e permitindo o acesso de
milhares de brasileiros à leitura
Foto: Divulgação
O vendedor de livros Ivan
Gama entrega certificado do
concurso de redação para Kelly
Cristina Pereira de Oliveira
Lissoni, junto à seus pais
36
Panorama
Dezembro 2008
A estudante Kelly Cristina Pereira
de Oliveira Lissoni conheceu o vendedor Ivan Netzker Gama no ano passado, quando ele bateu na porta de sua
casa, em Campinas, interior de São
Paulo. Depois de ouvir o homem dizer
que vendia livros, a menina, de dez
anos, insistiu para que a mãe o deixasse entrar.
Naquele dia, Kelly falou a ele sobre a sua paixão pela leitura. Lembrou
dos livros que já havia lido, dos que tinha vontade de ler, da sua dificuldade
em encontrar obras em braille e também dos altos custos cobrados por livros nesse formato. Deficiente visual,
Kelly fez Gama prometer que, quando
voltasse, traria uma bíblia em braille
para lhe vender.
Mas a menina não precisou pagar
pelo livro. Alguns meses depois, em
São Paulo, ela recebeu o Gênesis e os
Salmos da bíblia no formato braille e
o Novo Testamento em MP3 das mãos
do mesmo vendedor. Dali em diante, a
cada três meses, ela receberia, em casa,
um novo livro até completar os 38 volumes das escrituras sagradas. O presente, oferecido pela Sociedade Bíblica do Brasil, foi entregue no evento
em comemoração aos 21 anos da Associação Brasileira de Difusão do Livro
(ABDL), entidade que congrega o setor
porta a porta que vende e divulga livros em domicílio.
A exemplo de Kelly, cuja redação
que conta a história da visita inesperada foi uma das vencedoras do concurso “O amigo do meu melhor amigo”, organizado pela entidade, a maior
parte dos brasileiros não imagina que
ainda exista uma legião de caixeirosviajantes vendendo livros de porta em
porta pelo Brasil adentro. Nas pequenas cidades, principalmente nas regiões mais carentes do País, onde não
existem livrarias ou bibliotecas, esse
tipo de venda tem papel ainda mais relevante no acesso das pessoas aos livros.
De acordo com a Pesquisa do Setor
Porta a Porta, divulgada em novembro
do ano passado, em 2007, o setor faturou, por meio dos associados da entidade, R$ 650 milhões. Com base em
informação de que, do setor porta a
porta, 70% são associados da ABDL, a
entidade estimou, partindo da premissa de que os não-associados têm per-
fil similar aos associados, um faturamento global de R$ 930 milhões no ano
passado. O setor vendeu, no período,
cerca de 65 milhões de livros.
Estima-se que o porta a porta tenha
mobilizado, em 2007, quase 3 mil pessoas, exceto no ramo de vendas. É que
um mesmo vendedor de livros pode
ter mais de um fornecedor, inclusive
de diferentes ramos. Portanto, de acordo com a ABDL, não faz sentido somar
as quantidades de vendedores por conta da superposição. Separadamente, o
levantamento mostrou que os editores
do segmento contam com 1.292 vendedores empregados, os atacadistas com
2.738 e os crediaristas com 5.476.
Ivan Netzker Gama, responsável
por visitar a garota Kelly, é um desses
vendedores. Morador de Mauá, na região metropolitana de São Paulo, ele
inicia sua jornada na venda de livros
porta a porta todos os dias às oito da
manhã, quando se reúne com outros
vendedores na sede da Espaço Editorial. O trabalho só vai terminar cerca
de doze horas mais tarde, quando ele
já terá visitado cerca de 20 casas.
Gama começou a trabalhar no
ramo há 22 anos, por indicação da mulher, que viu o anúncio de uma vaga
no jornal. No primeiro dia, não gostou do serviço. Ele chegou a pedir para
deixar o cargo, mas por insistência do
gerente foi ficando. Anos depois, a editora fechou as portas e ele chegou a
se aventurar em um negócio próprio,
no mesmo ramo, antes de entrar para
a Espaço Editorial, onde trabalha há
nove anos.
“Eu não gostava de livros e ainda
não gosto muito de ler, mas aos poucos foi despertando o interesse. A gente precisa ler para poder mostrar para
os clientes que conhece o produto”, explica o vendedor, que estudou até o Ensino Médio.
Com vendedores trabalhando para
diferentes fornecedores, há diversas
formas de atuação no segmento porta a porta. Muitos profissionais trabalham por conta própria e organizam
suas próprias agendas de visitas. Na
empresa onde Gama trabalha, há diversas equipes atuando juntas. Para
cada uma delas, um supervisor fica
responsável por acompanhar cada
grupo de vendedores, que visita casas
em diferentes cidades da Grande São
Paulo e até no interior do estado.
Apesar dos tempos de violência e
insegurança, Gama diz que é sempre
muito bem recebido por onde passa
oferecendo livros. “O que mais marca nesse trabalho são as amizades que
nós fazemos. Eu sempre tento uma
aproximação com o cliente em vez de
só bater na casa dele. Tem gente que
me convida para almoçar na casa e até
liga depois convidado para festas e casamentos”, conta.
De acordo com o presidente da
ABDL, Luís Antonio Torelli, o segmento do livro porta a porta é fundamental para o fomento à leitura no Brasil.
“Nada foi descoberto que substitua esses homens e mulheres que atravessam o País divulgando o hábito de ler”,
afirma. O presidente diz que os resultados da Pesquisa do Setor Porta a Porta já permitem à entidade traçar planos
estratégicos para o setor quanto à sua
eficiência e lucratividade.
De acordo com Torelli, a ABDL está
desenvolvendo, juntamente com o Ministério do Trabalho e Emprego, um
programa para formar vendedores de
livros porta a porta. Além de preparar novos profissionais para a atividade, o programa vai capacitar vendedores que já atuam no setor.
Em outubro do ano passado, a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro 2007, realizada pela
Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e divulgada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e Sindicato Nacional de Editores de Livros
(Snel), mostrou que a participação do
segmento porta a porta no total de livros vendidos pelas editoras foi de
9,6% em 2007. O número representa
uma evolução de 91,3% em relação ao
ano anterior.
Em tempos de internet, a pesquisa mostrou que quase 20 milhões de
exemplares foram vendidos pelas editoras a vendedores porta a porta, o
que faz dele o terceiro canal de vendas mais importante para as editoras,
ficando atrás apenas das livrarias e dos
próprios distribuidores.
Dezembro 2008
Panorama
37
Foto: Fanca Cortez
Comportamento Leitor
Biblioteca em São Paulo
Sem acesso aos livros
O número de cidades sem bibliotecas no Brasil revela a falta de
interesse do poder público com a questão do livro e da leitura
no país. Os estados do Norte Nordeste são os mais precários
Em Teresina, Piauí, o professor de
geografia e webdesigner Igor Soares,
de 26 anos recebeu a notícia de que o
estado onde mora possui o maior índice
de municípios sem bibliotecas no país.
“Fico triste em saber esta informação”.
O Piauí aparece em primeiro lugar
no ranking da lista de municípios sem
bibliotecas, de acordo com números do
Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas. “Mas para falar a verdade, essa notícia não me surpreende, porque tenho
que lidar diariamente com isso. Percebo
que a leitura em casa também é deficiente. No geral, o hábito de ler é algo raro,
independente da região”, diz.
Só no estado do Piauí, são 79 municí38
Panorama
Dezembro 2008
pios sem bibliotecas. “É importante dar
a oportunidade do cidadão ter acesso a
este “equipamento público”, mas é importante que exista também um trabalho de estímulo à leitura. Construir uma
biblioteca e encher a mesma de livros
não é suficiente”, completa Igor.
Dados levantados pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas mostram
que ainda existem 361 municípios sem
bibliotecas. As regiões mais críticas estão no Nordeste e Norte, onde também
é conseqüentemente registrado o menor
índice de leitores, segundo a pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil.
Em segundo lugar no ranking aparece a Bahia, com 67 cidades do Estado
sem bibliotecas públicas. “É vergonhoso
um Estado que tem 417 cidades e 15 milhões de habitantes estar numa situação
dessas” diz o estudante de jornalismo,
Ítalo Oliveira de Jesus, que costuma freqüentar a biblioteca da faculdade onde
estuda. “A UFBA tem uma biblioteca
grande e completa. Quase não uso outras e desconheço quantas bibliotecas
públicas existem em Salvador”. Ele diz
que vai à biblioteca da faculdade pelo
menos uma vez por semana à procura
de livros de economia ou de literatura
“busco livros de economia por interesse
próprio e literatura quando preciso pra
trabalhos”.
Já Lucelmo Oliveira, 20 anos, não
teve a sorte de nascer na capital. Em
Araci, interior da Bahia, desde pequeno
sonhava em ser pianista. Começou a estudar música como autodidata até perceber que sozinho não conseguiria chegar onde pretendia. “Encontrei muitas
dificuldade no início, quando ainda não
estudava como acadêmico. Por várias
vezes procurei por livros que pudessem
me dar os primeiros passos, onde eu
pudesse pesquisar, aprender, mas não
os encontrei. Isso fez com que cada vez
mais eu me deslocasse para cidades vizinhas com um porte estrutural maior,
já que em Araci não existia e não existe
até hoje uma biblioteca pública”.
Lucelmo mudou-se para Salvador
para continuar os estudos e hoje cursa o
terceiro ano de música na Faculdade Católica de Salvador, onde encontra livros
e todo material que precisa para estudar,
coisa que não acontecia na pequena cidade onde nasceu. “Apesar da cidade dispor de um Centro Cultural hoje com uma
pequena melhoria no quadro de livros,
na época em que eu estudava, não existia
nenhum espaço para estudarmos. Deveria haver em nossa cidade, uma biblioteca estruturada, na qual pudesse proporcionar aos habitantes de Araci uma gama
maior de conteúdos necessários para a
formação não só de estudantes, mas de
indivíduos de uma sociedade”.
Muitas histórias parecidas com a de
Lucelmo certamente existem na Paraíba
que aparece na lista suja com 48 municípios desprovidos de uma biblioteca pública assim como o estado do Rio Gran-
de do Norte que hoje, possui 28 cidades
sem o espaço.
Mesmo com toda tradição de ser
o estado com maior índice de leitores, o Rio Grande do Sul aparece como o único da região que deixa de atender todos os municípios.
Faltam bibliotecas em 13 cidades.
Na região sudeste do Brasil, Rio de Janeiro e Espírito Santo estão bem equipados. Em Minas Gerais restam 4 cidades
para zerar o déficit enquanto em São
Paulo aparece a surpresa. Segundo a
Fundação Biblioteca Nacional, 15 municípios do estado estão sem bibliotecas.
O Amazonas lidera na região norte,
a falta de bibliotecas, são 24 cidades. Em
seguida aparece Goiás, região centrooeste, com 25 municípios sem elas.
No município de Santo Antônio do
Iça, Amazonas, a locutora Adry Gomes
de 30 anos preocupa-se com o fato da
pequena cidade não ter acesso à leitura.
“Deveria existir mais preocupação com
a educação de nossas crianças, alunos e
todos que precisam de um ambiente de
leitura”, diz.
Na cidade, não existe biblioteca
pública. Leitora assídua, quando quer
ler, procura um livro na estante de
casa.“Falta interesse dos políticos da cidade em trazer uma biblioteca pra cá”,
diz. Segundo Adry, os estudantes da cidade têm como opção a internet para realizar pesquisas escolares “facilita muito, já que não podem ter o prazer em ter
um acervo bibliotecário aqui, mas nem
todos têm acesso.”
De acordo Com Ilce Carvalho, coordenadora geral do Sistema Nacional
de Bibliotecas Públicas, o SNBP da Fundação Biblioteca Nacional, usou vários
critérios para chegar aos 361 municípios
sem bibliotecas públicas, “consulta na
Base de Dados do SNBP, consulta ao
site do IBGE, consulta no MinC para
averiguação se o município em algum
momento já recebeu verba do Ministério, informações recebidas das Coordenadorias dos Sistemas Estaduais de Bibliotecas Públicas, etc”, diz.
Segundo Ilce Cavalcanti, o valor
anual investido em bibliotecas públicas
varia de ano para ano, em decorrência
da alta de preço no mercado. “Em 2007,
Fotos: Divulgação
O professor Igor Soares
Dezembro 2008
Panorama
39
Comportamento Leitor
o valor unitário do kit de Implantação
ficou por R$61.600,00”.
Nas 361 cidades onde não existem as
bibliotecas públicas, o SNBP está tomando providencias. “Foi remetido ofício,
e-mail, fax, para as Prefeituras, comunicando que aquele determinado município não possui Biblioteca Pública. Desta
forma, solicitamos o envio do formulário
preenchido do Programa Livro Aberto
com a documentação exigida a fim de
que o município seja contemplado”.
Para Ilce, a existência de bibliotecas
Bibliotecas
e Retratos
da Leitura
no Brasil
Foto: Fundação Santillana
Mônica Messenberg Guimarães
diretora da Fundação Santillana
40
Panorama
Dezembro 2008
A biblioteca está associada com
estudos e escola, revela a pesquisa
Retratos da Leitura no Brasil ao questionar aos entrevistados com qual
freqüência a visitam. Afirmam que
não estão na escola, por isso não fazem uso deste espaço.
Em 2005 o Ministério da Cultura revelou que quase 90% dos
municípios brasileiros têm pelo
menos uma biblioteca apesar de
apenas 66% dos entrevistados da
pesquisa conhecer essa informação.
O músico carioca César Lago de 32
anos, não costuma visitar bibliotecas
“não sei ao certo, quantas bibliotecas
públicas existem na cidade. Pra dizer
a verdade, nem me lembro quando
foi a última vez que fui a uma. Costumo pegar livros emprestados com
amigos, além de ter um imenso acervo em casa. Deveria existir campanhas para população freqüentar e ter
conhecimento deste espaço disponível no Rio de Janeiro, porque ler,
é uma excelente forma aprender”,
diz César que prefere a leitura de
revistas especializadas em música.
Dados da pesquisa mostram que
40% dos 94 milhões dos entrevistados vão à biblioteca em busca de
livros, 12% de revistas, 6% jornais,
3% para consultar a Internet e os
58% não costumam ir a biblioteca.
Seria necessário criar, premiar e
apoiar projetos voltados para pessoas que não tem tempo de ler e também para aqueles que se queixam da
dificuldade de acesso às bibliotecas.
A Fundação Nacional do Livro In-
Radiografia
públicas nos municípios é de grande
importância, “ já que este espaço irá disponibilizar a informação para todos os
cidadãos da comunidade, sem distinção
de raça, idade e nível econômico e social. A Biblioteca Pública é o alicerce que
dá apoio ao desenvolvimento cultural e
educacional do cidadão brasileiro, pois
o livro é o elemento de inclusão social”.
Apesar de encontrar-se na lista da
Fundação Biblioteca Nacional, alguns
estados alegam ter zerado seu déficit de
bibliotecas.
fantil e Juvenil e o Prêmio Vivaleitura premiam projetos dessa natureza.
Diretora da Fundação Santillana,
Mônica Messenberg Guimarães, fala
sobre a importância de projetos como
Rodas de Leitura, de Serra Pelada,
no Pará, “são um exemplo de como
o livro pode chegar em áreas desprovidas de bens culturais. Nesse caso,
a biblioteca tem um acervo de três
mil exemplares e está em uma região
onde a livraria mais próxima está há
quatro horas de distância”.
Outro exemplo citado por Mônica, é do Ônibus-Biblioteca da cidade
de São Paulo, “leva um acervo importante para zonas da cidade que
não têm acesso a bibliotecas”.
Segundo ela, o Prêmio Vivaleitura pode contribuir ao incentivar e
mostrar iniciativas que levam o livro
e o prazer de ler à comunidades ou
grupos de pessoas que não tenham
acesso regular a bibliotecas ou livrarias. “Muitos dos mais de 7 mil projetos registrados são ações que estimulam a formação de leitores em áreas
com essas características. Nosso esforço é em fomentar a multiplicação
dessas experiências para minimizar
esse problema. O Prêmio Vivaleitura
já está em sua terceira edição, caminhando agora para o seu quarto ano.
Nesse período, temos observado que
muitas das iniciativas servem de inspiração para outras ações pelo país.
A carência de bibliotecas públicas é
de fato um problema que precisa ser
enfrentado. Até lá, cabe à sociedade
P
buscar alternativas”, diz.
Os livros na vida do jornalista
Caco Barcellos
15 aos 20 anos
Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)
Foi um livro importante para mim
C
M
Y
CM
MY
CY
CMY
20 aos 30 anos
K
Aos olhos da multidão (Gay Talese)
Foi quando eu comecei no jornalismo e este foi um mestre do News Jornalism.
30 aos 40 anos
México rebelde - John Reed
Eu escrevi sobre a América Central e o autor era um escritor que me inspirava
bastante, estava influenciado por escritores que cobriam esse tema.
40 aos 50 anos
O Negociador (Frederick Forsyth)
É um exemplo de ficcionista que usa métodos de pesquisa de não-ficção, e usa a
pesquisa da realidade com grande precisão e eficácia para fazer romance. A realidade é muito mais interessante que a ficção.
Hoje
Cem dias em Bagdá (Asne Seierstad)
É um exemplo de uma autora corajosa que optou por cobrir a guerra por uma ótica
do mais fraco.
Dezembro 2008
Panorama
41
Foto: Divulgação
Eventos
Prêmios & Concursos
Uma foto para um verso
Fundação espanhola promove
concurso internacional de fotografia
para jovens de 14 a 20 anos
Leitores para ler o mundo
Fundação Caloustre Gulbenkian reúne, em Portugal, especialistas
de vários países para discutir teorias e práticas de leitura
O primeiro Congresso Internacional de Promoção da Leitura foi realizado nos dias 22 e 23 de Janeiro de 2009,
em Lisboa, na seda da Fundação, pela
iniciativa dos responsáveis pelo projeto Gulbenkian Casa da Leitura, com o
tema Formar leitores para Ler o mundo.
O objetivo foi o de seguir as áreas que
estruturam o portal Casa da Leitura,
ou seja, a literatura infanto-juvenil, as
questões teóricas da leitura e as boas
práticas e estratégias de promoção da
leitura. O fio condutor dos temas abordados foram as políticas, estratégias,
metodologias e instrumentos para a
formação de novos públicos leitores.
O evento desenvolveu-se em três
painéis principais, com a presença de
investigadores e especialistas de Portugal, França, EUA, Suécia, Canadá, Reino
Unido (País de Gales) e Brasil. Realizado
com tradução simultânea, o Congresso
foi aberto pelo especialista em Literatura para a Infância, Peter Hunk, professor
Catedrático na Universidade de Cardiff
(Reino Unido), com o painel Literatura
para a Infância e Formação de Leitores.
Teresa Colomer, da Universidade Autónoma de Barcelona (Espanha), fez a
apresentação principal no painel Estratégias de Leitura e Compreensão Leitora e o Reitor da Universidade de Lisboa,
António Nóvoa, dirigiu o painel Projectos de Promoção de Leitura.
O Congresso foi encerrado com
42
Panorama
Dezembro 2008
um debate moderado pelo conhecido
jornalista português António José Teixeira, sobre a leitura como experiência
de vida – três reflexões protagonizadas
por José Barata-Moura (Universidade
Clássica de Lisboa), Fernando Savater
(Universidade Complutense de Madrid) e Eduardo Marçal Grilo (Fundação Calouste Gulbenkian).
Os participantes tiveram oportunidade de debater, em salas separadas, e
durante 90 minutos os temas de cada
um dos painéis com os congressistas de
cada uma das mesas.
Para falar sobre formação de públicos, estratégias de leitura e projetos para
a promoção da leitura foram convidados, por exemplo, o escritor espanhol
Fernando Savater e o brasileiro Galeno
Amorim, diretor do Observatório do
Livro e da Leitura. Ele apresentou a conferência Retratos da Leitura no Brasil:
Como Construir um País de Leitores.
Dolores López-Casero, do Centro
Internacional do Livro Infantil e Juvenil
de Espanha, e António Nóvoa, reitor da
Universidade de Lisboa, também marcaram presença no Congresso de Lisboa
“Foi a primeira grande conferência
em Portugal sobre a promoção da leitura
e trouxe os melhores especialistas para
falar sobre o tema com uma linguagem
que fugiu ao jargão acadêmico”, disse
António Prole, responsável pela Casa
da Leitura, à agência Lusa. “As pessoas sentiram que levaram para casa um
algo mais, que se abriram perspectivas,
que levaram interrogações, que lhe foram dadas novas formas de olhar velhos
problemas. Uma pequena editora, mas
de grande qualidade no seu site titulava
Obrigado Casa da Leitura “, relata Prole.
Mais informações no site: www.
P
gulbenkian.pt
A Fundação Blas de Otero, sediada
em Bilbao, na Espanha, promove
o concurso de fotografía Imágenes
para unos versos com o obetivo de
difundir a obra do poeta Blas de
Otero entre os jovens e vincurlar sua
poesia com a realidade cotidiana.
Podem participar jovens entre 14 e
20 anos, de qualquer nacionalidade,
e as fotografias devem fazer
referência a algum dos versos da
obra poética do autor, disponível
no site da fundação, assim como
o regulamento e o formulário de
inscrição do concurso. As inscrições
vão até à meia noite do dia 06 de
março de 2009. As fotos podem ser
enviadas pelo correio ou por e-mail
em formato JPEG. Cada participante
poderá concorrer com até três fotos.
O prêmio para cada modalidade ( de
14 a 17 e de 18 a 20 anos) será uma
câmera digital de 10 megapixels
Blas Otero nasceu em Bilbao, em
1916 e morreu em Madri, em 1979.
Sua obra, que parte da angústia
metafícia para desembocar no social
e no testemonial é uma das mais
importantes da lírica pós guerra
lírica e um exemplo do chamado
“exílio interior”, que caracterizou
boa parte da resistência espanhola
contra o franquismo.
Quem quiser participar encontra todas
as informações e regulamento no site
www.fundacionblasdeotero.org
Prêmio Governo de Minas
Gerais de Literatura.
Concurso Banco Real
Talentos da Maturidade
Mais informações: (31) 3213.1072
Mais informações:
www.bancoreal.com.br
5º Prêmio Barco a Vapor
Prêmio Cruz e Sousa
de Literatura
Mais informações:
www.edicoessm.com.br
Mais informações:
[email protected]
Estão abertas até o dia 30 de janeiro
de 2009, as inscrições para a segunda
edição do Prêmio Governo de Minas
Gerais de Literatura. A premiação
total será de R$ 212 mil, distribuída
em quatro categorias: Conjunto da
Obra, Jovem Escritor Mineiro, Poesia e
Ficção. As inscrições podem ser feitas
no Suplemento Literário, localizado
na Superintendência de Museus da
Secretaria de Estado de Cultura de
Minas Gerais.
As inscrições para o maior prêmio
existente no País para originais de
literatura infantil e juvenil estão
abertas de 27/8/2008 a 28/2/2009. As
obras devem ser inéditas e se encaixar
em uma das quatro séries da coleção
Barco a Vapor, das Edições SM:
leitor iniciante (6 e 7 anos), leitor em
processo (8 e 9 anos), leitor fluente (10
e 11 anos) e leitor crítico (12 e 13 anos).
Já estão abertas as inscrições para
o Concurso Banco Real Talentos
da Maturidade. O concurso chega
a sua 10ª edição, consolidando-se
como uma das mais importantes
iniciativas privadas do país que
busca a valorização das pessoas com
mais de 60 anos. Nesta década de
história, o concurso vem revelado
e reconhecendo uma infinidade de
potenciais artísticos.
O Prêmio Cruz e Sousa 2008-2009
destina-se a romances inéditos,
escritos por brasileiros em língua
portuguesa, residentes no País ou
no Exterior, em duas categorias de
premiação – Categoria Nacional e
Categoria Catarinense. As inscrições
poderão ser realizadas do dia 21 de
outubro de 2008 até o dia 5 de março
de 2009.
Dezembro 2008
Panorama
43
Livros sobre Livros
Rotas Literárias
Teia de histórias
Seria o ficcionista um eterno sonhador?
Ou um “inventador” de histórias em
tempo integral? O israelense Amós Oz
pode falar disso com extrema autoridade,
depois de tantas letras escritas em sua
bem-sucedida carreira de romancista.
Com Rimas da vida e da morte
(Cia. das Letras, 120 pp., R$ 31, trad.
Paulo Geiger) Oz trilha por uma teia
narrativa que viaja entre a história da
criatividade de um romancista, a história que ele está criando em sua mente e a história da vida desse autor. É,
como você está vendo, tudo se mistura. Mas de uma forma muito interessante, a narrativa varia da terceira
para a primeira pessoa com suavidade e fluidez, proporcionando uma leitura ágil e inteligente. Com discrição e
astúcia, Amós Oz parece nos dizer que
por trás de cada indivíduo anônimo
existe um manancial de dramas e comédias possíveis.
O livro narra a história de um romancista medianamente famoso que
se prepara para dar uma palestra e
participar de um debate sobre sua
obra num centro cultural de bairro, em
Tel Aviv. Enquanto faz hora num café
– remoendo as mesmas e eternas perguntas que são repetidas a todo autor
em uma entrevista ou palestra –, passa
a imaginar uma história para cada indivíduo que vê à sua volta. A atraente garçonete que o serve, por exemplo,
vira ex-namorada do goleiro reserva
do time de futebol Bnei Iehudá. Dois
44
Panorama
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homens que conversam numa mesa
próxima se convertem, na sua fantasia, em mafiosos discutindo a situação
de um terceiro homem, um ricaço que
agora definha na UTI de um hospital.
A compulsão ficcional do escritor
prossegue durante e após a palestra,
resultando numa teia de histórias imaginárias que começam a se embaralhar com a trajetória do protagonista,
a ponto de não sabermos, por exemplo, se ele foi ou não para a cama com
a moça solitária que leu para o público, trechos de suas obras no evento do
centro cultural.
O próprio título, Rimas da vida e
da morte, é tirado do livro fictício de
um autor também inventado, o poeta
Tsefania Beit-Halachmi, cujos versos o
protagonista e outros personagens vivem citando.
As perguntas que também pressionam a mente do autor enquanto
toma o seu café e imagina sua história
revelam, de certa maneira, a mente
de um escritor diante da expectativa
de uma entrevista ou uma palestra; e
parece desvendar além disso a mente
imaginativa de um romancista. Certamente vários escritores se identificaP
rão com ele.
Título: Rimas Da Vida E Da Morte
Isbn: 9788535913156
Idioma: Português.
Encadernação: Brochura | Formato: 14 X 21
| 120 Págs.
Ano Edição: 2008
Autor: Amos Oz
Tradutor: Paulo Geiger
Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado
POR RICARDO COSTA, DO PUBLISH NEWS
A Bahia de Jorge Amado
Em meio às plantações amareladas de cacau da Fazenda Auricídia em
Ferradas, interior da Bahia, nascia Jorge Amado. Naquele dia, 10 de agosto
de 1912, João Amado de Faria e Eulália Leal Amado carregavam nos braços
aquele que viria a ser um dos maiores romancistas brasileiros
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Rotas Literárias
Jorge Amado de Ilhéus, Sergipe, Rio
de Janeiro, Manaus, América, Europa.
Jorge Amado do mundo. Mas antes
de tudo, Jorge Amado da Bahia. É em
Salvador, que “Lívia olha o mar morto
de águas de chumbo. Mar sem ondas,
pesado, mar de óleo. Onde estão os navios, os marinheiros e os náufragos?
Mar morto de soluços, quedê as
mulheres que não vêm chorar os maridos perdidos?
Onde estão as crianças que morreram na noite do temporal?
Onde está a vela do saveiro que o
mar engoliu?
E o corpo de Guma que boiava com
longos cabelos morenos na água que
era azul?
Na água plúmbea e pesada do mar
morto de óleo corre como uma assombração a luz de uma vela à procura de
um afogado.
É o mar que morreu, é o mar que
está morto, que virou óleo, ficou parado, sem uma onda.
Mar morto que não reflete as estrelas nas sua águas pesadas.
Se a Lua vier, se a Lua vier com sua
luz amarela, correrá por cima do mar
morto e procurará como aquela vela
o corpo de Guma, o de longos cabelos
morenos, o que marchou pela estrada
do mar para o caminho das Terras do
Sem Fim, das costas da Arocá.”
Jorge Amado escreveu Mar Morto, olhando para o mar de Gamboa de
Cima, Salvador. Contou a triste história
de uma criança criada no cais da Bahia,
e o cenário que inspirou Jorge Amado,
continua o mesmo, claro que com algumas modificações que a modernização
trouxe e refletiu não só na cidade como
também nos moradores. O velho malandro, as prostitutas e homossexuais
que habitavam as ladeiras hoje trazem
um contexto diferente. A Bahia revolucionária de Jorge Amado não existe
mais, porém o sincretismo de religiões
ainda vive e respira em cada esquina
onde ecoam os tambores do candomblé
misturados aos gritos de súplicas das
igrejas evangélicas e o silêncio dos católicos ajoelhados nas mais de 300 igrejas espalhadas pela cidade.
Este cenário religioso da Bahia serviu para retratar a luta de Antonio Balduíno pela integração do negro na so-
“Cidade religiosa, cidade colonial, cidade negra da Bahia.
Igrejas suntuosas bordadas de ouro, casas de azulejos azuis
e antigos, sobradões onde a miséria habita, ruas e ladeiras
calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais,
principalmente o cais, tudo pertence ao negro Antônio Balduíno. Só ele é dono da cidade porque só ele a conhece toda,
sabe de todos os seus segredos, vagabundeou em todas as
suas ruas, se meteu em quanto barulho, em quanto desastre
aconteceu na sua cidade”. (Jubiabá)
vagabundeou em todas as suas ruas, se
meteu em quanto barulho, em quanto
desastre aconteceu na sua cidade”.
Segundo Myriam de Castro Lima
Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, a partir de Jubiabá, terceiro
romance da fase urbana, publicado em
1935, começa a adensar-se a relação de
Jorge Amado com a cidade do Salvador,
“ou cidade da Bahia, como ele preferia
chamá-la. Alargando os limites do território onde se movem os personagens,
o cenário vai aos poucos se definindo,
ganhando contornos, fazendo-se mais e
mais presente na narrativa”, analisa.
Para Mirian, é difícil dizer qual obra
de Jorge Amado é mais importante principalmente para um autor que escreveu
o encanto e o sabor de suas narrativas”,
descreve.
De acordo com Myrian Fraga, o
primeiro romance publicado por Jorge
Amado, em 1931, O País do Carnaval
“põe em relevo o Largo do Pelourinho
e seu entorno: o Tabuão, a Baixa dos Sa-
pateiros e o Terreiro de Jesus, cercado de
igrejas centenárias. Publicado em 1934,
Suor repete o mesmo ambiente, num cenário limitado ao centro da cidade”, diz.
Ela ainda conta que um ano após a
publicação de Mar Morto veio a público
o livro Capitães da Areia, romance que
Foto: Zélia
Fotos: Divu
lgação
Ilustrações:
Gattai/Funda
Calasans Ne
ção Casa de
Jorge Amad
o
to
Foto: Divulgação
Ilustrações do livro Tieta do Agreste pastora de cabras;
Elevador Lacerda e Jorge Amado com o Afoxé Filhos
de Gandhi no Pelourinho
O Pelourinho em Salvador; capa do livro: A Cidade da
Bahia no romance de Jorge Amado; Cidade Baixa
Guma, que apaixonou-se pela meiga
Lívia. Nesta obra, a ação se desenrola
principalmente na Cidade Baixa, na
estreita faixa de terra entre o mar e a
montanha, entre as vielas apertadas do
comércio e os grandes espaços abertos
do oceano Atlântico, onde vive Inaê, a
“Começou a subir a ladeira
de S. Bento vagarosamente. Tomou por São Pedro,
atravessou o Largo da
Piedade, subiu o Rosário,
agora estava nas Mercês”.
(Capitães da Areia)
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mãe d’Água, senhora do mar, da vida e
da morte de marinheiros e navegantes.
Foi também na Bahia, nas ladeiras
do Pelourinho que Dona Flor se entregou
aos encantados do malandro Vadinho.
A biografia de Jorge Amado mostra
a inquietude que trazia na alma pelas
inúmeras viagens que fez. Ainda menino, fugiu do colégio e viajou por dois
meses até chegar em Itaporanga, Sergipe, na casa do avô. Essa seria apenas o
inicio de uma série de viagens que ele
faria. Porém, ter morado no Pelourinho,
centro histórico de Salvador, Bahia,
marcou definitivamente suas obras.
Mais de oitenta anos se passaram,
ciedade brasileira. Jubiabá, é o primeiro
romance do autor que traz elementos
do candomblé, religião afro-brasileira
que cultua os orixás, através da figura
do pai-de-santo Jubiabá, guia espiritual de Antonio Balduíno. “Cidade
religiosa, cidade colonial, cidade negra
da Bahia. Igrejas suntuosas bordadas
de ouro, casas de azulejos azuis e antigos, sobradões onde a miséria habita,
ruas e ladeiras calçadas de pedras, fortes velhos, lugares históricos, e o cais,
principalmente o cais, tudo pertence
ao negro Antônio Balduíno. Só ele é
dono da cidade porque só ele a conhece toda, sabe de todos os seus segredos,
não apenas romances, como também
biografias e memórias. “Tratando apenas dos romances relacionados com a
cidade do Salvador, vamos encontrar:
O país do carnaval, Suor, Jubiabá, Mar
Morto, Capitães da Areia, Os Pastores
da Noite, Dona Flor e seus Dois Maridos, Tenda dos milagres, Tereza Batista
Cansada de Guerra e o Sumiço da Santa”, enumera. “O mais característico na
obra de Jorge Amado é sua fidelidade
às fontes populares, onde vai buscar
inspiração, a partir da observação e do
conhecimento, para construir uma saga
de grande realismo, embora envolta
sempre num manto de fantasia, que faz
teve um início de vida atribulado, “com
a primeira edição apreendida e exemplares queimados em praça publica de
Salvador por autoridades da ditadura
do Estado Novo, o que não impediu
que logo se tornasse um grande sucesso. Desde então, até hoje, as edições se
sucedem atingindo a cifra espantosa
de 98 edições e 16 traduções, sendo este
o livro de Jorge Amado com maior número de exemplares vendidos”.
Depois desse livro, são publicados,
sucessivamente, mais seis romances
cuja ação se desenvolve na área urbana de Salvador: A Morte e a morte de
Quincas Berro d’Água, que segundo
a diretora da Fundação Casa de Jorge
Amado na verdade não é considerado
um romance, mas uma novela, Os Pastores da noite, Dona Flor e seus dois
maridos, Tenda dos Milagres, Tereza
Batista Cansada de Guerra e o Sumiço
da Santa.
Para Myriam, dessas obras, a mais
importante talvez seja Tenda dos Milagres, “embora Dona Flor seja a de
maior sucesso, já que foi adaptada para
cinema, teatro e televisão. Em Tenda
dos Milagres, Jorge Amado retoma os
temas anteriormente abordados em Jubiabá, traçando um painel mais aprofundado das relações inter-raciais na
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Foto: Zélia Gattai/Acervo da Fundação Casa de Jorge Amado
Como me apaixonei pelos livros
Rotas Literárias
Pedro Demo
Por que gosto de ler
Jorge Amado na Rampa do Mercado Modelo
Foto: Divulgação
sociedade baiana. Talvez tenha sido
também o romance preferido de Amado que confessou várias vezes que reconhecia no protagonista, Pedro Arcanjo, seu alter ego”, revela.
Já em Tereza Batista Cansada de
Guerra, romance de mais de trezentas
páginas, quase inteiramente dedicado
à narrativa dos infortúnios da protagonista, a cidade de Salvador só será
resgatada, já quase no final do romance
quando, depois de percorrer meio mundo, Tereza Batista reencontra o grande
amor de sua vida, Januário Gereba, na
beira do cais da Baía de Todos os Santos.
O Sumiço da Santa é o último dos
romances urbanos escritos por Jorge
Amado. “São referidos temas gratos ao
autor como: miscigenação, preconceito
racial, sincretismo religioso; a memória
do povo, suas histórias, suas criações,
a tristeza e as alegrias do cotidiano de
uma comunidade”, diz Myriam.
Ao perguntar para a diretora da
Fundação quem foi o ser humano Jorge
Amado, ela o define como uma pessoa
que sempre foi generosa, “no mais amplo sentido, fiel às suas crenças e amiza-
“Pedro Bala enquanto sobe a ladeira da Montanha, vai pensando que não existe nada melhor no mundo que andar assim,
ao azar, nas ruas da Bahia. Algumas destas ruas são asfaltadas,
mas a grande, a imensa maioria é calçada de pedras negras.
Moças se debruçam nas janelas dos casarões antigos e ninguém
pode saber se é uma costureira que romanticamente espera
casar com noivo rico ou se é prostituta que o mira de um balcão
velhíssimo, enfeitado apenas de flores. Entram mulheres de
negros véus nas igrejas. O sol bate nas pedras ou no asfalto do
calçamento, ilumina os telhados das casas. Na sacada de um
sobradão, flores medram em pobres latas. São de diversas cores
e o sol lhes dá seu diário alimento de luz.” (Capitães de Areia)
Myriam Fraga - Diretora da
Fundacao casa de Jorge Amado
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des, que não tinha medo de proclamar
os seus afetos, mesmo que com isso
pudesse contrariar opiniões e julgamentos. Incondicionalmente dedicado
à literatura, aos amigos e à família, teve
em sua mulher Zélia Gattai, com quem
viveu uma intensa e duradoura história
de amor, uma companheira constante e
uma interlocutora permanente. Poucos
escritores brasileiros tiveram uma vida
tão plena de realizações, participando
ativamente dos acontecimentos mundiais, que redesenharam o mapa da
P
história no século vinte”.
“Ler é como respirar”, dia o PhD em
Sociologia pela Universidade de Saarbrücken, Alemanha, e pós-doutor pela
University of California at Los Angeles
(UCLA), Pedro Demo. Autor de, atualmente, é professor titular aposentado
da Universidade de Brasília (UnB), Departamento de Sociologia. Suas áreas
de atuação sistemáticas são: política social e metodologia científica, o que faz
com que ele se dedique mais à leitura de obras técnicas, para produção cinetífica. Mas, isso não quer dizer que
ele não se interesse por outros gêneros. “Também gosto desta leitura (leio
ficção freqüentemente), mas, por dever de ofício dedico-me intensamente
à leitura exigida para atualizar-me em
meu campo de trabalho”, afirma, no
relato sobre sua relação com os livros.
“Lembro três razões mais decisivas
para gostar de ler. A primeira é meu
tempo de seminário com os Franciscanos, onde sempre havia biblioteca com
incentivos imensos para ler, inclusive
gincanas ou coisa parecida. Em Agudos,
o seminário tinha mais de 300 alunos,
em três alas, cada uma com biblioteca
própria. A segunda foi o tempo de teologia em Petrópolis (três anos), onde já
comecei a publicar alguns artigos e fazia
resenha de livros. Iniciava-se aí o prenúncio do interesse por textos científicos e que demandam farta leitura (estudo).
A terceira foi meu doutorado na Alemanha
(1967-1971), onde aprendi a aprender, por
conta do sistema de estudo universitário
alemão: quase sem aula, a aprendizagem
baseava-se na produção de textos próprios
fundamentados na leitura mais ampla e
profunda possível. Tais textos eram apresentados em público, discutidos e avaliados pelos professores. Entendi, então, que
aprender é pesquisar e elaborar, e leitura
passaria a fazer parte decisiva de minha
vida acadêmica. Trata-se aqui de um tipo
específico de leitura: leitura para produção
científica, diferente de outra literatura alimentada pela curiosidade/interesse literário. Também gosto desta leitura (leio ficção
freqüentemente), mas, por dever de ofício
dedico-me intensamente à leitura exigida
para atualizar-me em meu campo de trabalho. Já não é o caso de leitura opcional,
mesmo freqüente, mas de leitura pratica-
ral, quando se fala de paixão por livros, entende-se o gosto por literatura como conceito
vinculado a autores que produzem livros literários. Esta paixão deveria ser despertada
e cultivada na escola, desde que esta incluísse leitura como fundamento da aprendizagem. Para nós, o fundamento da aprendizagem ainda é aula, quase sempre aquela aula
instrucionista, copiada de alguma apostila e
repassada para o aluno. O aluno não perFoto/Arte: Divulgação
cebe a necessidade de ler, porque vê que o
professor também não lê. Para dar conta
da prova, não recorremos à leitura, mas às
anotações sumárias das aulas, até porque,
como regra, só isso “cai” na prova. Então,
para que ler?
A leitura tomou hoje outros rumos,
em particular na tela. As pessoas leem
mais, ainda que isto não implique melhor
qualidade da leitura. Em certo sentido, os
internautas leem muito, porque o manejo
da internet se faz através de textos, ao lado
de imagens. Tudo, afinal, é “texto”, também um jogo eletrônico. Esta praxe acentua a leitura útil, aquela necessária para
dar conta do que se quer resolver. O exemplo exacerbado deste tipo de leitura é a prática de procurar na internet precisamente
aquilo que se exige na prova, nada mais
e, se possível, de modo plagiado. Aquela
leitura maiúscula, alimentada por autores
reconhecidos, capaz de implicar reflexão,
fantasia, inspiração, parece que vai ficanmente obrigatória, uma vez que na Alemado para alguns poucos. Ler para alimentar
nha compreendi claramente que professor
o espírito soa como estranho ou pouco pernão se faz por título ou aula, mas por autinente. No entanto, não é assim que os jotoria. Torna-se professor na universidade
vens não leem. Leem muito, desde que seja de
alemã quem, para além da titulação, se torseu interesse ou caia no campo de suas mona autor renomado, o que exige publicação
tivações. Não podemos mais imaginar que
e leitura realmente intensa e atualizada.
as motivações de gerações mais velhas sejam
Professor não escapa de ter sua biblioteca
as únicas que cabem. Talvez tenhamos que
própria, além de exibir uma lista notável
aprender a envolver nossas tradições mais
de livros publicados. Ler é como respirar.
antigas de leitura em ambientes virtuais que
Existem muitas espécies de paixão por
possam atrair os jovens. Talvez pudessem
livros. Minha paixão é de sentido mais técapreciar também sonetos de Camões, desde
P
nico, porque produzo livros técnicos. Em geque reestruturados digitalmente...”
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Cinema & Livros
A escritora dos finais felizes
Linguagem objetiva e temas
banais fizeram com que Austen se
tornasse sucesso em Hollywood
POR TALISSA BERCHIERI
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O mercado de adaptações literárias
para as telonas sempre foi visto como
aposta quase certa em Hollywood.
Porém, mais que apostas, alguns escritores são garantia de sucesso aos
olhos dos produtores cinematográficos. É o caso da inglesa Jane Austen,
que já teve seus livros adaptados para
o cinema diversas vezes.
Recentemente, chegou às prateleiras das locadoras o longa “Amor e
Inocência” (2007), estrelado por James McAvoy e Anne Hathaway. Dessa
vez, o filme não é baseado nas obras
da escritora inglesa, e sim na própria
vida de Austen. Em “Amor e Inocência” é possível acompanhar um pouco da trajetória pessoal da considerada pelos críticos literários a segunda
mais importante autora da Inglaterra
depois de Shakespeare.
Nascida em 16 de dezembro de
1775, Austen possui seis livros publicados, sendo eles: Razão e Sensibilidade (1811), Orgulho e Preconceito
(1813), Mansfield Park (1814), Emma
(1815), Abadia de Northanger (1818),
Persuasão (1818).
As obras de Austen sempre tiveram grande receptividade no cinema,
sendo que a grande maioria teve sucesso de crítica e público, como é o
caso de “Orgulho e Preconceito” e
“Razão e Sensibilidade”. Segundo
Ademir Pascale, escritor e crítico de
cinema, estes dois longas são fiéis
aos livros. “Os diretores souberam
adaptar com perfeição os dois longametragens, dando vida às obras devido à excelente escolha dos atores,
assim como um roteiro bem trabalhado, fiel figurino, magnífica fotografia
e uma boa trilha sonora. Engraçado
que ao ler as obras da autora, antes
de assistir aos filmes, já imaginava as
mesmas cenas e sons apresentados.
Um excelente escritor nos faz imaginar; viajar.”
Outro longa que também traz as
obras de Austen como tema é “O Clube de Leitura de Jane Austen” (2007).
Nesse filme, todas as obras da escritora são discutidas por um grupo de
pessoas que lêem os livros e refletem
sobre suas próprias vidas após cada
leitura. Segundo Pascale, a reflexão
que os textos de Austen provoca não
fica só na ficção. “A sensibilidade de
Jane é inconfundível. Suas obras são
impregnadas de impressões morais”,
afirma o escritor.
Talvez pela linguagem simples
e por sempre abordar temas atuais
como o amor e o casamento, os livros
tornaram Austen popular e imortal.
“As obras de Jane nos trazem alegria
e melancolia; na realidade, mais alegria do que melancolia, pois os finais
são felizes. Toda boa obra mexe com
nossos sentimentos mais íntimos, o
que não falta nas desta autora. Acredito que este seja um dos principais
motivos das adaptações de suas
obras, além do valor pedagógico
inestimável, pois aprendemos muito
sobre aquela época tão conturbada
do “dote”, além do preconceito, amor
e costumes”, reflete Pascale.
Se na ficção a escritora sempre
buscou finais felizes, na vida real as
coisas não saíram muito bem, Austen
não teve seu próprio final feliz, faleceu prematuramente aos 42 anos e
solitária.
Para quem nunca leu um livro de
Jane Austen ou assistiu a alguma
adaptação da escritora no cinema,
não há dificuldade em achar os filmes
em locadoras e lojas especializadas
na venda de DVDs. “Recomendo os
filmes ‘O Clube da Leitura de Jane
Austen’ e ‘Amor e Inocência’. Este
último, considerado pela produtora
Miramax, e por mim, a maior história
de amor de Jane Austen, a dela próP
pria.”, finaliza Pascale.
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Calendário
No Brasil
Bienal do Livro da Bahia
17 a 26 de abril de 2009,Centro de Convenções da Bahia, Salvador, Bahia.
3° Salão do Livro Sul Mineiro
06 a 09 de Maio, Clube Literário Recreativo, Pouso Alegre, Minas Gerais.
[email protected]
Feira Nacional do Livro de Poços de Caldas
17 e 26 de abril de 2009, Poços de Caldas, Minas Gerais.
www.feiradolivropocosdecaldas.com.br
5º Salão do Livro de Tocantins
08 a 17 de maio de 2009, Praça dos Girassóis, Palmas, Tocantins.
Festival da Mantiqueira: Diálogos com a Literatura
29 e 31 de maio de 2009, São Francisco Xavier - Serra da Mantiqueira, São Paulo.
www.cultura.sp.gov.br/StaticFiles/Mantiqueira/index.html
Bienal do Livro de Sergipe
29 de maio a 7 de junho de 2009, Centro de Convenções de Sergipe, Sergipe.
9ª Feira Nacional do Livro de Ribeirão Preto
18 a 28 de junho de 2009, Ribeirão Preto, São Paulo.
www.feiradolivroribeirao.com.br
III Bienal do Livro de Santa Catarina
29 de junho de 2009 CentroSerra Convention Center, Santa Catarina.
www.bienaldolivrosc.com.br
VII Festa Literária Internacional de Paraty – FLIP
1º a 5 de julho de 2009, Paraty, Rio de Janeiro.
www.flip.org.br
Calendário
No Mundo
Salão do Livro de Paris
13 a 18 de março, Paris, França.
www.salondulivreparis.com
Bologna Children´s Book Fair
23 a 26 de março 2009 - Bolonha, Itália.
http://www.bookfair.bolognafiere.it/
Feira do Livro de Londres
20 a 22 de abril de 2009, Earls Court, Reino Unido.
www.londonbookfair.co.uk
Feira do Livro de Lima – Peru
23 de julho, Centro de Convenciones Jockey Plaza, Lima, Peru.
http://www.filperu.com
Cancelada a Book Expo Canada
Segundo informações veiculadas pela PublishersLunch Deluxe, a Reed Exhibitions anunciou no domingo, 1º de
fevereiro, o cancelamento imediato da Book Expo Canada no próximo mês de junho. Greg Topalian, executive
da Reed, afirmou “ficou claro que um evento tradicional como esse não é o melhor para a dinâmica da indústria
editorial no Canadá.” “Nosso foco no mercado editorial passou a ser o nosso evento de Nova Iorque [BEA], onde
procuraremos atender as necessidades dos nossos clientes de toda a América do Norte num único evento.” BEC
vai devolver o pouco que já foi pago por alguns clientes do evento, mas Topalian ressaltou que “não há muito o
que devolver... “ O interessante é que o cancelamento da tradicional feira escancarou as portas para ideas de um
novo evento, adequado às necessidades dos clientes canadenses.
http://www.publishersmarketplace.com/login.php/lunch/archives/005015.php
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Panorama
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Vitrine
empresa amiga do livro
Dicionário Escolar da Língua
Portuguesa
Esse dicionário apresenta
grande número de acepções
por verbete, novas acepções
para palavras já consagradas, palavras recentemente
incorporadas ao léxico,
separação silábica, parônimos, antônimos, gírias do
dia-a-dia e estrangeirismos com indicação de pronúncia. Com nova ortografia!
Domingos Paschoal Cegalla
Cia Editora Nacional, 960 pág., R$21,90
Livros para os
mensageiros
Projeto do ECT de
Campo Grande
oferece cultura
a funcionários e
beneficiados
Cada vez mais as empresas estão
sentindo a necessidade de apoiar projetos de responsabilidade social, não
só na comunidade onde atuam, como
também dentro da própria empresa
junto aos seus funcionários. Pensando
nessa necessidade, o Centro Operacional dos Correios em Campo Grande, no
Mato Grosso do Sul criou um projeto
de incentivo à leitura em sua sede.
A Sala de Leitura foi implantada
em 2004 no ECT de Campo Grande,
com o objetivo de estimular a leitura
entre os funcionários dos Correios e
seus dependentes. Na Sala são disponibilizados livros, revistas, jornais,
materiais audiovisuais e computadores
para acesso à internet. Sua localização
é estratégica, num grande local de trabalho, por onde passam diariamente cerca de 400 trabalhadores. Com o
sucesso da Sala em Campo Grande, a
diretoria regional dos Correios implantou outra no município de Dourados.
Para seus organizadores e beneficiados
o trabalho é considerado um sucesso,
pois atendem a necessidade dos traba54
Panorama
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lhadores interessados na leitura, seja
por meio da educação formal, leitura
recreativa ou interesse cultural.
Além dos materiais disponíveis, a
Sala tem organizado periodicamente
as “Oficinas de Leitura”, quando são
oferecidas oficinas sobre leitura e assuntos correlatos, tanto para crianças
como para adultos, atividades culturais, gincanas e apresentações artísticas, sempre com participação de funcionários da ECT e seus dependentes.
De acordo com Ana Catarina Cortez, coordenadora do projeto hoje a
Sala conta com 1.200 usuários cadastrados que têm acesso à cerca de 5.000
livros que fazem parte do acervo, além
de revistas e jornais e já foram realizados 15 mil empréstimos. Segundo ela,
os funcionários dos Correios do interior e até de outros estados também
têm realizado empréstimos de livros,
através da internet.
Além da iniciativa à leitura o projeto realiza também outros trabalhos em
beneficio à sociedade como as Gincanas
Culturais que arrecadaram até agora
3.800 kg de alimentos e 1mil exemplares de livros que foram doados, inclusive em presídios. Ações para arrecadação e distribuição de brinquedos,
assim como campanhas de incentivo a
doação de sangue fizeram parte da iniciativa. Com todas as ações realizadas,
estima-se que tenham sido atendidas
aproximadamente 13 mil pessoas.
Uma das frequentadoras assíduas
da Sala de Leitura dos Correios é Neusa Aparecida de Figueiredo Oliveira,
que garante ter passado por muitos lugares através dos livros. “Já viajei muito a bordo deste “avião” que é o livro. A
cada livro que leio, descubro um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas, eu atuo na história, me permito ser
ou estar a cada página virada ou enigma descoberto. Com a leitura podemos
enriquecer nosso vocabulário, obter
conhecimento, dinamizar o raciocínio
e a interpretação. Através dela, somos
estimulados a usar nossa imaginação e
criatividade. A leitura é crucial para a
aprendizagem do ser humano”, afirma.
Para o diretor regional dos Correios, João Rocha, a Sala de Leitura foi
um projeto que deu certo, atendeu uma
necessidade e vem cumprindo seu papel, pois a educação contínua é hoje
uma necessidade até profissional e a
leitura contribui muito. “Estamos contentes que o projeto tenha atendido as
expectativas e isso levou a sua expansão para Dourados. Vamos continuar
investindo no estímulo à leitura entre
os funcionários dos Correios e seus dependentes”, afirma.
E como não poderia ser diferente os
cinco anos do projeto, completados no
último dia 28 de janeiro foi comemorado com um Sarau Cultural repleto de
apresentações musicais, performance
teatral e declamações poéticas, iniciativas de funcionários dos Correios e
P
dependentes.
Antonio Carlos Jobim
Tom Jobim foi muito mais
do que um dos maiores
nomes da música popular
de todos os tempos. Nesta
biografia completa de
Antonio Carlos Jobim,
seu amigo e jornalista
Sérgio Cabral nos aproxima amorosamente
do universo de nosso
“maestro soberano”.
Sérgio Cabral
Cia Editora Nacional, 536 pág., R$48,00
A Viagem do Elefante
O
livro é uma idéia que
Saramago elaborava desde
que, numa viagem a
Salzburgo, na Áustria,
entrou por acaso num
restaurante chamado ‘O
Elefante’. A narrativa
se baseia na viagem de
um elefante chamado
Salomão, que no século XVI cruzou metade
da Europa, de Lisboa a Viena,
por extravagâncias de um rei e
um arquiduque.
Jose Saramago
Companhia das Letras, 264 pág., R$ 42,00
Palmeiras – o Alviverde
Imponente
Ecoeconomia – uma nova
abordagem
Segunda Chance
O livro é rico em informações históricas e ilustrações,
com mais de 100 imagens,
do início do século XX até
hoje, algumas delas raras,
que revelam os primórdios do clube e, de certa
forma, ajudam a contar
a história da cidade de
São Paulo.
O autor, economista chefe do
ABN Amro Bank, mostra
que destruir a natureza,
além de gerar catástrofes
graves,pode ser um péssimo negócio a curto prazo
para toda a humanidade.
As recentes tragédias
mundo afora demonstram o acerto de sua análise. Registra ainda como o mito
do eterno crescimento compromete o futuro do planeta.
Fiona Monaghan, excêntrica
executiva da alta-costura, se
apaixona por John Anderson, um publicitário charmoso e conservador. Duas
pessoas perfeitas uma
para a outra, mas de dois
mundos drasticamente
diferentes.
Orlando Duarte
Cia Editora Nacional, 280 pág., R$36,00
Danielle Steel
Editora Record., 240 pág., R$ 29,00
Hugo Penteado
Cia Editora Nacional, 224 pág., R$40,90
Corinthians – o time da fiel
Organizado cronologicamente,
o livro narra a trajetória do
clube até os dias de hoje,
revelando os craques que
vestiram a sua camisa, os
jogos memoráveis, os campeonatos conquistados, a
paixão da torcida. Inclui
encarte com as emoções
da Série B!
Fran Zabaleta e Luis Astorga
Editora Record, 616 pg., R$ 59,00
Arte do Retrato em
Marcel Proust
O livro é o resultado das dezenas de leituras e releituras que
o autor empreendeu sobre a
obra de Proust, pinçando os
fragmentos que compõem
as descrições físicas ou
temporais - as vestimentas,
os gestos, os olhares – dos
personagens que povoam
o universo da busca do tempo perdido. Desde o mundo provinciano e rural de
Combray, às paisagens normandas de Balbec até às mais altas esferas da aristocracia
e da vida mundana parisiense.
Alberto Xavier
Editora Gryphus, 201 páginas., R$ 45,00.
Nara Leão
Amigo pessoal de Nara Leão e
reconhecido especialista em história
da
música popular brasileira, o
jornalista e escritor Sérgio
Cabral compõe um relato
detalhado e vibrante da
vida da cantora, voz
que não apenas esteve
na linha de frente dos
principais momentos da
moderna música brasileira mas também se
engajou como poucas
na política de seu tempo.
Sérgio Cabral
Cia Editora Nacional, 254 pág., R$36,00
Gomorra
Gomorra – um híbrido entre Camorra e a cidade bíblica destruída
pelo fogo dos céus – virou
filme dirigido por Matteo
Garrone. Consagrou-se com
o Grand Prix em Cannes e
vai representar a Itália no
Oscar. O livro e o filme
receberam a alcunha da
crítica mundial de ressurgimento da arte italiana,
nas letras e nas telas.
Roberto Saviano
Bertrand Brasil, 350 pág., R$ 39,00
Conversas com Woody Allen
O
biógrafo de Woody Allen,
Eric Lax, reuniu 36 anos de
conversas com o cineasta
para publicar esse livro.
Aqui, Allen fala sobre a
elaboração de roteiros,
formação de elenco,
filmagem e, claro, direção. Além de saciar a
curiosidade dos fãs de
Allen, que faz comentários por
vezes hilariantes, o livro é de leitura
obrigatória para os cinéfilos.
Eric Lax e Woody Allen.
Trad. José Rubens Siqueira
Editora Cosac Naify, 512 pág., R$ 65,00
HOMEM QUE ROUBOU
PORTUGAL.
Em 1924, Artur Virgilio Alves Reis,
um comerciante português
falido, trama sozinho o
maior golpe financeiro de
todos os tempos. Em dois
anos, se tornaria o homem
mais rico e poderoso de
seu país. O que parecia
um plano com pouca
eficácia de um homem
com muita imaginação,
acabou causando problemas
macroeconômicos.
MURRAY TEIGH BLOOM.
Trad. SERGIO LOPES
Editora JORGE ZAHAR, 336 pág., R$ 49,00
Dezembro 2008
Panorama
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Gente que lê
Galeno Amorim
www.blogdogaleno.com.br
A pequena Raíssa tem três anos.
Nunca saiu dali. As janelas estão fechadas com grossas grades de ferro chumbadas naquelas paredes incomuns. A
porta que dá para o galpão do andar de
baixo permanece o tempo todo trancada
e tampouco dá esperanças. A luz é escassa. Como as brincadeiras e a liberdade de movimentos. Mas há um punhado
de outras crianças como ela, e alguns bebês, que choram no meio da noite.
A menina jamais esteve lá fora. Não
viu pessoas andando nas ruas. Não conhece praças ou parques. O zoológico
com seus bichos ou o rio imenso que
banha a cidade não soam familiares.
Nunca brincou de correr bestamente,
até a língua ficar de fora e o coração saltar pela boca, como faz a maioria das
crianças. É que no caminho dela e dos
demais, há uma pedra, aparentemente
intransponível e a obstar a passagem
para o lado de lá.
Raissa, no entanto, já esteve em
muitos lugares. Conheceu reis, príncipes, dragões, bruxas e fadas boas. Foi a
castelos, visitou reinos encantados e se
perdeu muitas vezes no meio de florestas. Também descobriu que no mun-do
tem gente boa e gente má.
O que mais gosta mesmo é ouvir falar de outras crianças – de carne e osso,
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Panorama
Dezembro 2008
Arte: Rogério Lance
Uma
vida lá
fora
assim como ela e as amiguinhas! – que
correm, livres, pra todo lado. O que ela
mais sonha é com o dia de sol em que,
já do outro, ainda que não faça muito
idéia do que isso signifique de verdade,
possa conhecer e viver isso tudo.
Raissa, claro, é um nome inventado
de uma pequena personagem pra lá de
real – ela vive com a mãe numa cela do
presídio feminino Madre Pelletier, em
Porto Alegre. Ela nasceu e cresceu ali.
Foi ali que deu os primeiros passinhos
e aprendeu a falar. A história dela é parecida com as histórias de outras três
dezenas de crianças, filhas das detentas
que, em sua maioria, engravidaram lá
mesmo, durante as visitas íntimas dos
parceiros com quem continuaram a
manter uma relação conjugal estável.
O vínculo mais forte dessas crianças
com a vida lá fora se dá pelos li-vros.
Enquanto ouvem as histórias narradas
pelas mães, elas ficam a imaginar como
deve ser aquele outro mundo tão perto
e, ao mesmo tempo, tão distante. Vivem lá seu mundinho de faz-de-conta
enquanto sonham uma liberdade que,
em muitos casos, vai remetê-las para
bem longe das mães – que estão presas
por roubo, furto, estelionato ou envolvimento com drogas, quase sempre por
influência de seus homens.
Os livros chegam lá dentro pelas
mãos benditas de estudantes de Letras e de Pedagogia da UniRitter, centro universitário que criou e mantém
o Projeto Liberdade pela Escrita. Duas
horas por semana, esses jovens lêem
crônicas, poemas e notícias de jornal.
Ensinam às mulheres a arte da contação de histórias e as estimulam a botar
no papel, na forma de prosa ou verso,
suas angústias, inquietudes e sonhos.
Uma delas, Fátima, escreveu:
“Eu não sou presa/Estou presa/
Sou um poeta enclausurado...”.
E a amiga Liz emendou:
“Aqui/Não estamos presas/Mas,
livres para falar/E expressar nossos
sentimentos.”
Outra delas, Juliana, aproveitou
para colocar a correspondência com
Deus em dia, enquanto Kelly faz uma
profissão de fé e promete mudar de
vida quando sair. Uma outra colega
de cela descreve a insônia e as tristezas
que a perseguem no meio da madrugada fria enquanto as companheiras de
infortúnio se deixam levar pelo sono.
Sejam elas filhas ou mães, meninas
ou mulheres já calejadas pela vida,
umas e outras vão buscar nas palavras
e nos livros a sua razão de viver. Isso
não é pouco.
P
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ImagemPanorâmica
Praia Grande, Ubatuba - SP
Foto: Fanca Cortez
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