Percepção e Sentimentos de Ex-Obesos Quanto ao Corpo Obeso.

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Percepção e Sentimentos de Ex-Obesos Quanto ao Corpo Obeso.
o
REVISTA DOS CURSOS DE SAÚDE
CORPVS/Rev. dos Cursos de saúde da Faculdade Integrada do Ceará
FACULDADE INTEGRADA DO CEARÁ
Fortaleza
v.1
n.7
p. 8-47
jul./set. 2008
DIREÇÃO GERAL
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EDITOR-CHEFE CORPVS
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EDITORAÇÃO ELETRÔNICA
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REVISÃO DE TEXTOS
Ms. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos - UECE
Ms.Rosana Cátia Barbosa Terceiro - FIC
Ms. Raimunda Maria do Socorro Sanches de Brito
Esp. Antônio Orion Paiva
NORMALIZAÇÃO
Luiza Helena de Jesus Barbosa - CRB - 830
CORPVS/Revista dos Cursos de saúde da Faculdade Integrada do Ceará.
– v.1, n.1, (jan./mar.2007). – Fortaleza: Faculdade Integrada do
Ceará,2007.
v.: il, 30 cm
Trimestral
ISSN 1980-9166
v.1, n.7, jul./set.2008
1.Saúde,Periódicos
2.Educação Física
Hospitalar I. Título II. Faculdade Integrada do Ceará.
3.Fisioterapia
4.Gestão
CDD 612
v.1 - n. 7 - jul./set. 2008 - ISSN 1980-9166
o
REVISTA DOS CURSOS DE SAÚDE
FACULDADE INTEGRADA DO CEARÁ
Editorial
É com grande satisfação que trazemos ao público mais um número da Revista
Corpvs. Neste numero apresentamos dois artigos de revisão e três estudos originais
nas áreas de Fisioterapia, Nutrição, Saúde Pública e Psicologia. O primeiro artigo de
revisão intitulado Prostituição, gênero e politicas de prevenção as DST/aids: revisão
narrativa da literatura de Chao et al, aborda a questão da prostituição destacando a
vulnerabilidade dos profissionais do sexo às DST.
O segundo artigo de revisão de leite et al trata sobre a A Eficácia Da Assistência
Fisioterápica No Tratamento Da Paralisia Facial Periférica. O estudo apresenta uma
estratégia terapêutica para o tratamento da Paralisia do Nervo Facial periférica (PFP).
Os autores apontam que embora sejam detectáveis os benefícios da fisioterapia para
a melhora do estado funcional na face ainda não há consenso na literatura acerca da
técnica fisioterápica mais adequada a esta patologia.
Os artigos originais versam sobre A Termografia de Contato como Método Avaliativo do Fibro Edema Gelóide em Mulheres Sedentárias e Praticantes de Atividade
Física, Percepção e Sentimentos de Ex-Obesos Quanto ao Corpo Obeso e o Comportamento Acadêmico dos Alunos do Primeiro e Último Semestres do Curso de
Fisioterapia.
No artigo A Termografia de Contato como Método Avaliativo do Fibro Edema
Gelóide em Mulheres Sedentárias e Praticantes de Atividade Física, Magalhães et
al relatam que o exercício físico somado aos hábitos de vida saudáveis minimizam os
efeitos do FEG, contribuindo para a manutenção de um corpo mais saudável e belo,
proporcionando uma melhora significativa na qualidade de vida das mulheres.
Montenegro, Penafort e Oliveira em seu artigo denominado Percepção e Sentimentos de Ex-Obesos Quanto ao Corpo Obeso analisam os significados dos sujeitos
a respeito da obesidade, sendo esta percebida como uma incapacidade, o sentimento
de tristeza, a superação do problema.
O ultimo artigo de Sousa et al, aborda o surgimento do estresse entre acadêmicos
da área da saúde em seu artigo denominado O Estudo Comparativo do Comportamento Acadêmico dos Alunos do Primeiro e Último Semestres do Curso de Fisioterapia
da Faculdade Integrada do Ceará. Ressaltam que as instituições de Ensino Superior
necessitam formar e divulgar programas de apoio aos discentes, para que ofereçam
subsídios para a formação não só acadêmica, mas também humana dos discentes.
Ao apresentar esta edição à comunidade acadêmica, anunciamos nossos agradecimentos aos que contribuíram para a sua efetivação. Desejamos uma leitura agradável
e enriquecedora.
Editores
Sumário
ARTIGOS DE REVISAO
A Eficácia Da Assistência Fisioterápica No Tratamento Da Paralisia Facial Periférica....................... 8
L or ena L im a Ver de L eite , T hi ago B r asileiro de Vasconcelos , Je an ne B atista Josino , R aimun da H er melin da M ai a M acena ,
K alina K elm a O liv eir a de S ous a , M ar i a de Fátim a A rc anjo da P onte Mor eir a , Vasco P inheiro D iógenes B astos .
Prostituiçã
o, gênero e politicas de prevenção as DST/aids: revisão narrativa da literatura............................... 17
G iselle F onsec a C h a O, L igi a R egina F r anco S ansigolo K er R, R ogér io C osta G on dim .
ARTIGOS DE ORIGINAIS
A Termografia de Contato como Método Avaliativo do Fibro Edema Gelóide em Mulheres
Sedentárias e Praticantes de Atividade Física.................................................................................. 26
C l ar iss a B entes de A r aújo M agalh ães , I ngr id C or r ei a Nogueir a , P r iscill a O liv eir a A zev edo , R enata dos S antos Vasconcelos ,
R aquel P into S ales , C r istina de S anti ago Vi ana Falc ão .
Percepção e Sentimentos de Ex-Obesos Quanto ao Corpo Obeso.................................................. 31
A na C arolina C avalc ante Montenegro , A n dr ez a G omes P enafort , T icih ana R ibeiro de O liv eir a .
Estudo Comparativo do Comportamento Acadêmico dos Alunos do Primeiro e Último
Semestres do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará............................................ 38
F r ancisco B runo M arques de S ous a , C r isti ano T eles de S ous a , T er es a M ar i a da S ilva C âm ar a , G ar dêni a M ar i a de O liv eir a
B ar bos a , M ar ineide M eir eles Nogueir a , Vasco P inheiro D iógenes B astos .
Artigos de revisão
Artigos de
revisão
A Eficácia Da Assistência Fisioterápica No Tratamento Da Paralisia Facial
Periférica
L or ena L im a Ver de L eite I
T hi ago Br asileiro de Vasconcelos I
Jeanne B atista Josino I
R aimunda H er melinda M ai a M acena II
K alina K elm a O liveir a de Sousa III
M ar i a de Fátim a A rcanjo da P onte Mor eir a IV
Vasco P inheiro D iógenes B astosV
RESUMO
Esse estudo teve como objetivo principal apresentar a melhor estratégia terapêutica para o tratamento da Paralisia do Nervo Facial
periférica (PFP). Na qual esse paciente apresenta lesão do Nervo Facial afetando a musculatura da mímica facial causando transtornos motores, reflexos, sensitivos e sensoriais afetando de forma negativa a auto-estima e interação social do indivíduo. Seu método
científico compreende um exaustivo levantamento da bibliografia já publicada sobre o tema proposto, as informações foram colhidas
de livros, periódicos, artigos científicos e dissertações e mídia eletrônica. Este trabalho apresenta uma revisão de literatura quanto
aos aspectos fisioterapêuticos no tratamento da PFP, bem como as técnicas e estratégias utilizadas na clínica de fisioterapia. Segundo a literatura várias técnicas fisioterápicas foram propostas para o tratamento da PFP, incluindo eletroestimulação, massagem,
cinesioterapia geral, termoterapia, dentre outros. Todavia, nenhuma dessas modalidades terapêuticas se sobressai como a de maior
eficácia no tratamento da PFP e, na realidade, existem controvérsias acerca de seus efeitos. Embora, haja comprovação científica
acerca dos benefícios da fisioterapia para a melhora do estado funcional na face. Não existe consenso na literatura acerca da técnica
fisioterápica mais adequada a esta patologia. Novas pesquisas são necessárias para determinar o tratamento fisioterapêutico mais
adequado para indivíduos com PFP.
Palavras-chave: Paralisia do Nervo Facial. Fisioterapia, Tratamento.
ABSTRACT
This study aimed to present the best strategy therapy for the treatment of peripheral facial paralysis (PFP). In which the patient
presents face nerve damage affecting the muscles of the face mime causing movement disorders, reflexes, sensory and sensory
affecting so negative self-esteem and social interaction of the individual. His scientific method comprises an exhaustive survey of
the literature already published on the subject proposed, the information was taken from books, journals, papers and dissertations
and electronic media. This paper presents a review of literature on the techiniques physiotherapis in the treatment of PFP, and the
techniques and strategies used in the physical therapy clinic. According to the literature various physiotherapis techniques were
proposed for the treatment of PFP, including Nerve Stimulation, massage, kinesiotherapy general, dry heat therapy, among others.
None of these therapeutic modalities is out as the most effective in the treatment of PFP and, in fact, there are controversies about
its effects. Although, there is scientific evidence about the benefits of physical therapy for the improvement of the functional state
on the face, there is no consensus in the literature about the physioterapy technical more appropriate to this pathology. New research
is needed to determine the most appropriate physiotherapeutic treatment for individuals with PFP.
Keywords: Face Paralysis. Physiotherapy, Treatment.
Discente em Fisioterapia pela Faculdade Estácio do Ceará.
Enfermeira. Doutoranda em Ciências Médicas. Docente da Faculdade Estácio do Ceará.
Fisioterapeuta. Mestrado em Ciências Fisiológicas. Docente da Faculdade Estácio do Ceará.
IV
Fisioterapeuta. Especialista em Gerontologia. Docente da Faculdade Estácio do Ceará.
V
Fisioterapeuta. Doutorando em Farmacologia. Docente da Faculdade Estácio do Ceará.
I
II
III
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Leite et al
Fisioterapia na Paralisia Facial Periférica
INTRODUÇÃO
A paralisia de Bell ou Paralisia do Nervo Facial periférica idiopática (PFP) é uma doença relativamente frequente
em todo o mundo. Acomete todas as faixas etárias, sem predileção sexual, com recuperação total na maioria dos casos.
Entretanto, uma parcela não desprezível de pacientes mantém uma deficiência funcional às vezes definitiva, gerando
alterações psicológicas, sociais e profissionais1.
Decorre principalmente da interrupção do influxo nervoso de qualquer um dos segmentos do Nervo Facial. Seu
acometimento resulta em paralisia completa ou parcial da
mímica facial e pode estar associada a: distúrbios da gustação, salivação e lacrimejamento, hiperacusia e hipoestesia
no canal auditivo externo, quando associado a lesões de outros nervos cranianos2.
Atualmente estima-se que a incidência mundial da paralisia de Bell seja de 20-30 casos por 100 mil habitantes,
com prevalência ligeiramente maior entre as mulheres. É
rara antes dos 10 anos de idade e sua incidência é bimodal
com picos na terceira e oitava décadas de vida, dependendo
da distribuição etária da população3.
A privação dos movimentos faciais limita, de forma
dramática, a integração do ser humano com seu próximo
e com o meio. A compreensão da origem deste distúrbio
e a sua mais breve recuperação favorecem o reequilíbrio
psíquico e a reintegração do indivíduo ao seu ambiente de
convívio4.
A maioria dos pacientes com Paralisia do Nervo Facial periférica apresenta cura espontânea, contudo alguns
apresentam dificuldade em controlar a expressão da face,
dificuldade para comer, falar e fechar os olhos. A paralisia
da musculatura facial acarreta uma deformidade estética e
funcional grave, consequentemente, o estado psicológico do
paciente fica bastante comprometido, por isso a Paralisia do
Nervo Facial requer um cuidado especializado5.
O grau de recuperação da função do Nervo Facial depende da idade do paciente, do tipo de lesão, da etiologia,
nutrição do nervo, comprometimento neuromuscular e terapêutica instituída. A recuperação da lesão do Nervo Facial
pode ocorrer entre algumas semanas, até quatro anos. O
tratamento da Paralisia do Nervo Facial periférica requer
abordagem médica, fisioterapêutica e fonoaudiológica5.
A relevância deste estudo centra-se nos múltiplos benefícios que a fisitoterapia pode trazer para os pacientes
acometidos por esta patologia. Ressalta-se que este estudo,
longe de pretender esgotar as questões analisadas, se propõe acima de tudo, a contribuir com a produção científica
acadêmica sobre o tema em pauta, através das reflexões nele
contidas e consideradas emergentes na prática fisioterápica.
Tendo como objetivo geral apresentar a melhor estratégia terapêutica para o tratamento da Paralisia do Nervo
Facial idiopática e específicos: descrever aspectos clínicos e
evolutivos da Paralisia do Nervo Facial Periférica; identificar
as prováveis causas da PFP; identificar o tipo de tratamento
fisioterapêutico mais adequado preconizado pela literatura
a cerca da PFP e destacar o papel do fisioterapeuta no processo de cura.
METODOLOGIA
A metodologia escolhida foi o estudo exploratório por
meio de levantamento bibliográfico. Para Lakatos e Marconi6, o estudo exploratório é utilizado para proporcionar
maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses, cujo objetivo
principal é o aprimoramento de idéias ou a descoberta de
intuições.
Grande parte deste trabalho foi realizado por meio de
consultas nas principais bases eletrônicas internacionais e
nacionais contidas na rede mundial de computadores por
meio das seguintes palavras-chaves: Paralisia do Nervo
Facial periférica, tratamento fisioterápico, lesão do Nervo
Facial.
As principais bases de dados utilizadas foram Medline, Medicine on line, Lilacs, Literatura e Periódicos
Latino-americanos e do Caribe, que é uma base de dados
especializada em Ciências da Saúde; Bireme, Sistema integrado de informações do centro Latino-Americano; Scielo,
Scientific Eletronic Library Online, que reúne artigos científicos brasileiros de diversas áreas do conhecimento.
A coleta de dados ocorreu no período de agosto a outubro de 2007, com a coleta de dados de trabalhos publicados
nos últimos dezesseis anos.
Paralisia do Nervo Facial
A paralisia do Nervo Facial é um distúrbio devastador,
onde poucas afecções têm um efeito tão negativo sobre a
capacidade socioeconômica da vida de um indivíduo, pois
a face revela o íntimo de nossa expressão e é parte essencial da comunicação humana. Há muito, nossa sociedade
dá à estética e à aparência facial uma importância muito
grande, sendo a face é a região do nosso corpo que está
mais exposta ao meio e seus traços, vindo a marcar a nossa
individualidade7.
A mímica facial é importante na comunicação e na
expressão dos sentimentos: é possível dizer se alguém está
alegre, irritado, pensativo, apenas por meio de sua expressão
facial. No momento de diálogo, o olhar é primeiramente direcionado ao rosto da pessoa. Por isso, a paralisa ou paresia
facial gera um impacto estético, emocional e social para o
portador, que percebe-se tolhido na sua auto-imagem e na
sua expressão8.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Leite et al
Fisioterapia na Paralisia Facial Periférica
A Paralisia do Nervo Facial provoca perda dos movimentos da musculatura da face, ou seja, uma paralisia
dos músculos mímicos, podendo ser unilateral ou bilateral acometendo totalmente ou parcialmente a hemiface. A
paralisia ocasiona uma assimetria da face ou imobilidade
modificando a expressão fisionômica do paciente onde se
tem um dano funcional e estético9.
A Paralisia do Nervo Facial pode ser central (supranuclear) ou periférica. Na Paralisia do Nervo Facial central
a raiz do facial superior está preservada, ou só levemente
afetada. Não ocorre acometimento das fibras superiores do
Nervo Facial, sendo preservados os músculos do quadrante superior da face. Portanto, só os músculos do quadrante
inferior estarão afetados10.
Já as paralisias faciais periféricas são decorrentes de
uma lesão do núcleo de origem ou do próprio tronco nervoso, afetando os músculos inervados pelo facial do lado
da lesão. Toda esta hemi face estará comprometida, em
maior ou menor grau de acometimento11.
Anatomia e Fisiopatologia do Nervo Facial
O Nervo Facial, VII par de nervo craniano, é um
nervo misto, sendo 80% de suas fibras motoras, originadas do núcleo motor do facial que constituem um Nervo
Facial, na verdadeira acepção da palavra, e por uma porção menor de fibras denominado nervo intermediário de
Wrisberg, considerado a raiz sensitiva e autonômica do
Nervo Facial12.
O Nervo Facial penetra no meato acústico interno,
em seu interior o nervo intermédio se junta com o facial
propriamente dito formando um tronco nervoso único. O
Nervo Facial encurva-se em sua trajetória formando o genículo do Nervo Facial, onde haverá um gânglio sensitivo
(gânglio geniculado). Seguindo em sua trajetória, o nervo
realiza nova curvatura para baixo, assim saindo do crânio
pelo forame estilomastóideo. Após emergir do crânio ele
distribui vários ramos para os músculos mímicos, músculo
estilo-hióideo e ventre posterior do digástrico. Já as fibras
aferentes do nervo intermédio que sairam do gânglio geniculado irão seguir para o nervo corda do tímpano onde irão
receber impulsos gustativos dos 2/3 anteriores da língua10.
O Nervo Facial também inerva as glândulas salivares,
nasais, lacrimais. Ele controla os músculos da expressão
facial, e a sensação gustativa dos dois terços anteriores da
língua. Também é responsável por levar as fíbras parassimpáticas para as glândulas submandibular e sublingual,
através do nervo corda do tímpano e do gânglio submandibular; e também das glândulas lacrimais através do
gânglio pterigopalatino10.
O Nervo Facial desempenha inúmeras funções, incluindo: motora; autonômica parassimpática, envolvendo
secreção lacrimal e de glândulas das cavidades nasais e
secreção salivar das glândulas submaxilar e sublingual;
gustatória dos dois terços anteriores da língua e sensitiva
de parte do pavilhão auditivo, meato auditivo externo e
membrana timpânica ou zona de Ramsay-Hunt13.
Etiologia
A Paralisia do Nervo Facial decorre da interrupção do
influxo nervoso de qualquer um dos segmentos do Nervo
Facial. Diversas são as causas da Paralisia do Nervo Facial
mencionadas por Vasconcelos14: idiopática, traumática,
infecciosa, metabólica, herpética, tumoral, tóxicas, congênitas, otite dentre outras.
Idiopática: Lesões do Nervo Facial em qualquer parte
do seu percurso, desde a saída do núcleo facial na ponte até
a musculatura, resultam em paralisia da musculatura da
face, metade lesada (tanto da parte inferior como da superior da face), ou seja, as paralisias periféricas se manifestam
homolateralmente à lesão. A simples inspeção pode se observar uma assimetria do rosto tanto em repouso como nas
tentativas de movimentos voluntários. O paciente apresenta perda do tônus dos músculos da face acometida, na
Paralisia do Nervo Facial periférica bilateral a face torna-se imóvel, amímica e o lábio inferior invertido15.
Infecciosa: Podemos ter algumas lesões do Nervo
Facial de origem infecciosa, como Meniginte: com comprometimento da bainha do nervo craniano, as reações
inflamatórias ou exudativas causam Paralisia do Nervo
Facial e Otite: ocorre compressão, inflamação ou mesmo
destruição do Nervo Facial, pois a otite pode se apresentar
desde uma leve supuração até a necrose dos ossos11.
Traumática: As paralisias faciais traumáticas são a
segunda causa mais frequente de suas etiologias, somente
ficando atrás dos casos ditos idiopáticos. Dentre as causas
de traumas mais comuns estão os provocados por traumatismos cranianos, por projéteis de arma de fogo, por
ferimentos cortantes da face e por lesões iatrogênicas em
diversas regiões do nervo e em diversas situações previstas
e imprevistas16.
Neoplasias: Uma neoplasia pode comprimir ou invadir o nervo em qualquer ponto de seu trajeto. Massas
parotídeas associadas com disfunção facial constituem
um sinal de malignidade. As duas principais neoplasias
responsáveis por Paralisia do Nervo Facial são: carcinoma
adenóide cístico e carcinoma indiferenciado17.
Doença de Lyme: É uma infecção causada pela espiroqueta transmitida por picada de carrapato. A Paralisia
do Nervo Facial pode ser uni ou bilateral11.
Metabólica: Aparece em indivíduos com diabetes, hipotiroidismo, ou durante a gravidez18.
Congênita: Existem casos de Paralisia do Nervo
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
10
Leite et al
Fisioterapia na Paralisia Facial Periférica
Facial decorrentes de malformação congênita. Sua ocorrência, no entanto, não é frequente. Não apresentam evolução
do processo após o nascimento. Em crianças com distúrbio
de desenvolvimento, a paralisia é permanente e geralmente
associada a malformações da orelha ou da cadeia ossicular11.
Vascular: Um bloqueio na circulação arterial que nutre
o nervo pode causar a Paralisia do Nervo Facial19.
Tóxicas: Em relação à Paralisia do Nervo Facial tóxica, somente a Toxicose pode causar lesão isolada do Nervo
Facial, pois as demais lesões por agentes tóxicos fariam com
que o Nervo Facial fosse mais um nervo afetado, já que há
um quadro de polineuropatia11.
História familiar: Notada em 10% dos casos, assim
como existem relatos esporádicos de famílias com vários
indivíduos afetados. No entanto, isto é insuficiente para se
determinar, de forma conclusiva, se há influência genética 20.
Tipos de lesões
Lesões do Nervo Facial levam ao aparecimento de
paralisias faciais de grau variado, dependendo do nível da
lesão. No Nervo Facial, são conhecidos dois tipos distintos
de lesões: uma do neurônio motor superior ou supranuclear,
ou seja, a Paralisia do Nervo Facial central e outra no neurônio motor inferior, nuclear ou infranuclear, a Paralisia do
Nervo Facial periférica21.
Lucena20 acredita que quando o Nervo Facial está lesionado em todo o seu trajeto ou em parte do mesmo, desde
o núcleo de origem bulboprotuberancial até a periferia,
caracteriza-se a Paralisia do Nervo Facial periférica, que,
dependendo do ponto onde ocorreu a lesão, o quadro clínico
assume características próprias, como:
Quando a lesão se apresenta na emergência do forâmen
estilomastóideo, ocorre a paralisia de Bell bem caracterizada. O quadro clínico é bastante rico, mostrando toda a
musculatura de uma hemiface comprometida.
Quando a lesão acomete o Nervo Facial no trajeto pelo
aqueduto de falópio, por baixo do gânglio geniculado, observa–se, além do acometimento da musculatura de uma
hemiface, a afetação do corda do tímpano e a perda do gosto
nos dois terços anteriores da língua. Pode, também, ocorrer
hiperacusia (sensibilidade auditiva, principalmente aos sons
agudos), se houver lesão no nervo do estribo.
Quando o Nervo Facial é lesionado em sua raiz motriz,
entre o gânglio geniculado e a emergência do neuroeixo,
o quadro clínico apresenta toda a sintomatologia de Bell,
sendo que a sensação do gosto não fica afetada, face à preservação do nervo intermédio de Wrisberg.
Quando a lesão se dá na protuberância, o quadro clínico apresenta a Paralisia do Nervo Facial total, com afecção
do facial inferior e superior.
Diagnóstico
Na Paralisia do Nervo Facial o rosto fica assimétrico
tanto no repouso como durante os movimentos. Os sulcos
da testa somem, o olho afetado não fecha, o globo ocular levanta-se na tentativa de fechar a pálpebra (sinal de
Bell). Os cílios do lado afetado ficam mais evidentes do
que do lado sadio quando os olhos se fecham e a fenda
palpebral aumenta. No lado comprometido, o sulco nasogeniano encontra-se apagado e há queda da comissura
labial. A boca e a língua são desviadas para o lado sadio.
Falar, assobiar, inflar a bochecha, representam dificuldade. Hiperacusia encontra-se presente e há diminuição de
secreções lacrimais e salivares. Os dois terços anteriores da
língua perdem a sensação gustativa8.
A avaliação criteriosa destes pacientes é fundamental
para a elaboração de um programa de tratamento a partir
dos problemas e disfunções observados. O conhecimento
detalhado da história clínica, a análise dos exames realizados (eletromiografia), o exame de tônus muscular de toda
a musculatura facial, testes de sensibilidade e de coordenação são subsídios que permitem um tratamento adaptado e
personalizado em função dos “déficits” e da capacidade do
paciente para controlar seus músculos22.
Na anamnese, devem-se obter dados detalhados sobre o início da disfunção, a rapidez com que começou, os
sintomas e doenças sistêmicas associadas, para ajudar a
estabelecer uma causa traumática, neoplásica, infecciosa,
dentre outras causas18.
O exame físico inicia-se ao primeiro contato com o
paciente, uma vez que a assimetria facial chama logo atenção. Após avaliar o paciente com fisionomia em repouso,
passa-se a execução de vários testes, tais como, franzir a
testa, aproximar o supercílio do outro, fechar os olhos, expirar e inspirar rapidamente, abrir a boca, fazer caretas e
insuflar bochechas. Ressalta-se que o exame físico inicial
pode documentar a gravidade da paralisia, mas ele não
revela o estado neurofisiológico do Nervo Facial, a progressão da doença, o prognóstico ou a indicação para outra
intervenção23.
Na inspeção, em repouso, é necessário observar: assimetria de sobrancelhas, desvios dos traços fisionômicos
para o lado são, piscar ausente ou menos evidente do lado
comprometido, sulcos da pele menos pronunciados do
lado paralisado, assim como rima palpebral mais aberta
do mesmo lado, ausência do sulco nasomentoniano, flacidez ou não da bochecha, dificuldade em enrugar a testa
do lado comprometido e diminuição do lacrimejamento
do lado comprometido24.
O exame otorrinolaringológico, a história clínica e a avaliação otoneurológica devem ser minuciosos e
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
11
Leite et al
Fisioterapia na Paralisia Facial Periférica
acompanhados, também, de exames subsidiários como
avaliação audiológica, exame neurológico, exames complementares (hemograma, glicemia, VDRL e raio-X), e ainda,
exames específicos para o Nervo Facial: topodiagnóstico,
medida do grau de excitabilidade do nervo – Hilger, condução motora, eletromiografia (EMG), eletroneurografia,
estudo por imagem e análises bioquímicas1,22.
Essas medidas permitem um diagnóstico etiológico
preciso nos casos não-idiopáticos, o que permite uma indicação terapêutica específica. Usualmente, as informações
clínicas são direcionadas para a tentativa de se estabelecer
o diagnóstico etiológico, sendo o prognóstico da paralisia
determinado pelos testes elétricos, especialmente pela eletroneuronografia (ENoG)22.
A Ressonância nuclear magnética (RNM) é o exame
com maior acurácia para detecção de tumores. Pacientes
com PFP tem realce do gânglio geniculado ou do segmento timpânico-mastoídeo em 91% dos casos contra
21% dos controles normais. Além disso, pacientes que não
recuperam completamente a função do Nervo Facial têm
significativamente maior aumento na intensidade do sinal
ao contraste que pacientes com recuperação completa 20.
Ressalta-se que o diagnóstico da Paralisia do Nervo
Facial se tornará clinicamente difícil se o paciente for examinado algumas horas após o trauma e houver formação
de edema na face. Este edema quando intenso dificulta
bastante o movimento da face, mesmo que a função do
Nervo Facial seja normal14.
Tratamento Clínico e Reabilitatório
O tratamento da Paralisia do Nervo Facial periférica
deve ser precoce, tanto do ponto de vista médico, fisioterápico e fonoaudiológico, devendo iniciar assim que os
exames complementares indicarem a altura, a forma e a
intensidade da lesão. Além disso, a atuação interdisciplinar nestes casos, contribui para um tratamento integral e
efetivo8.
Estudos sugerem que, em pacientes adultos, o uso
de corticosteróides associado à Aciclovir está relacionado
com melhor recuperação funcional. Este tratamento deve
ser instituído nos primeiros sete dias do quadro, sendo os
melhores resultados observados quando iniciado até o 4°
dia 25.
Alguns médicos acreditam que corticosteróides (p.e.
prednisona) devem ser administrados antes do segundo
dia após o surgimento dos sintomas e a sua administração deve ser continuada por uma a duas semanas. Não foi
demonstrado que esse tratamento é eficaz no controle da
dor ou que ele melhora as possibilidades de recuperação.
Se a paralisia dos músculos faciais impedir o fechamento
completo do olho, deve-se evitar o seu ressecamento26.
Medidas preventivas podem ser tomadas para evitar
lesão de córnea, como uso de colírios (lágrima artificial)
para evitar ressecamento do olho e aplicações de pomadas oftálmicas apropriadas à noite com oclusão do olho
acometido são fundamentais. Em caso de dor ocular ou
sinais de irritação está indicada uma avaliação oftalmológica de urgência para afastar a possibilidade de úlcera
de córnea 25.
Quando o tratamento convencional clínico e reabilitatório não traz efeito eficaz e eficiente, pode-se recorrer
ao tratamento cirúrgico. Dentre os tratamentos cirúrgicos, os mais indicados são a descompressão do Nervo
Facial, o enxerto, a anastomose hipoglosso-facial e a suturo térmico-terminal de lesões extracranianas do nervo
ou de seus ramos20.
O tratamento cirúrgico precoce está indicado nas seguintes circunstâncias: paralisia imediata, sem evidências
clínicas de retorno da função e ausência de respostas elétricas por uma semana; paralisia imediata com declínio
progressivo de respostas elétricas, menos de 10% do lado
normal; paralisia imediata com rotura do osso temporal
indicando laceração severa do Nervo Facial ou secção
completa, acompanhado de saída de líquor pelo ouvido21.
Tratamento Fisioterápico
Muito antes de 1927, o tratamento fisioterápico da
paralisia do Nervo Facial foi iniciado, principalmente
com o uso das técnicas chamadas conservadoras ou tradicionais como os exercícios faciais globais, a estimulação
elétrica contínua e a massagem 23.
A PFP requer tratamento especializado e a atuação
fisioterapêutica tem como objetivo restabelecer a expressão da mímica facia l5. Segundo Beurskens e Heymans27
a fisioterapia é indispensável com o objetivo principal
de restabelecer o trofismo, a força e a função muscular.
Os recursos sugeridos pela literatura são: cinesioterapia,
massagem e eletrotermoterapia, confirmados por ensaio
clínico aleatório e revisão sistemática.
Existem vários tipos de tratamento fisoterapêutico
para a paralisia do Nervo Facial. A conduta fisioterápica
deve-se procurar o equilíbrio entre os músculos agonistas
e antagonistas para favorecer a dissociação dos movimentos da parte inferior e superior da face21. A cinesioterapia, como recurso fisioterapêutico, constitui uma ajuda valiosa e indispensável na reabilitação de
pacientes com Paralisia do Nervo Facial, independente
da sua etiologia e do tratamento médico ou cirúrgico. Nas
diversas fases de evolução: flácida, de recuperação parcial
ou de sequelas (hipertonias e sincinesias), a fisioterapia
dispõe de recursos para intervir com o objetivo principal
de restabelecer a função e o trofismo muscular22.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Leite et al
Fisioterapia na Paralisia Facial Periférica
Tanto o uso do calor como da crioterapia são indicados
como recursos terapêuticos na Paralisia do Nervo Facial.
A crioterapia tem como principal objetivo a estimulação
de pontos motores para a obtenção da contração muscular,
na fase flácida da paralisia em um período de aproximadamente 15 minutos. Por outro lado, o calor aplicado através
de irradiação infra-vermelha ou bolsas quentes proporciona o relaxamento muscular na fase de hipertonia 21.
Manobras Fisioterápicas Manuais e exercícios miofuncionais também são indicados para todos os pacientes
com Paralisia do Nervo Facial. Mesmo que não se perceba
movimento facial, fibras nervosas intactas serão ativadas,
auxiliando a manter o tônus muscular. Informação, automassagem, exercícios de relaxamento e respiração além
de exercícios específicos para coordenação e controle de
sincinesias demonstraram melhoras na qualidade de vida,
dor, movimentos involuntários, além de melhora em dificuldades para alimentação e fala17.
Várias técnicas compreendem a terapia manual, dentre as quais se podem destacar a manipulação articular,
mobilização neuromeníngea, facilitação neuromuscular
proprioceptiva (FNP), reeducação postural global, massoterapia, massagem transversa profunda, técnica de energia
muscular, conceitos Mulligan e Maitland. Após uma
avaliação clínica criteriosa e baseado na compreensão dos
mecanismos fisiológicos da terapia manual, o fisioterapeuta utiliza as técnicas mais eficazes para melhora do quadro
clínico28.
A massoterapia também apresenta resultados satisfatórios, pois produz redução de edema, melhora circulação
na fase flácida e relaxamento na fase de hipertonia 21.
O exercício terapêutico constitui-se em uma das
ferramentas chaves para o Fisioterapeuta restaurar e melhorar a função muscular é um aspecto importante no
tratamento de muitas disfunções neurológicas. Esta é a
medida terapêutica mais eficaz para um paciente com neuropatia periférica, tanto naqueles que sofreram uma lesão
grave, quanto nas formas mais leves, pois estarão recebendo auto-estimulação e, portanto, sem riscos e com maior
eficiência dentro dos limites fisiológicos12.
Na fase inicial da paralisia, basicamente flácida, com
pouco ou nenhum esboço de movimento, o trabalho consiste em exercícios isométricos com massagens indutoras
no sentido do movimento, na hemiface paralisada. As
massagens, sempre indutoras, devem ser exclusivamente
manuais, lentas e simétricas, com pressão profunda. O
efeito circulatório eleva o metabolismo celular e estimula o
trofismo muscular. Elas também estimulam os receptores
proprioceptivos, preservando o esquema corporal da face29.
Quanto ao uso de eletroterapia no tratamento da PFP,
é um assunto ainda muito controvertido, pois muitos autores condenam essa prática, por acreditarem que a mesma
pode levar a contraturas, além de não haver evidências que
ela possa melhorar a função de músculos reinervados17.
A eletroterapia é um método de tratamento não muito indicado, pois os estímulos podem causar espasmos e
contraturas, mas a mesma pode ser utilizada quando o
paciente se encontrar em uma fase flácida, mas deve ser
interrompida quando surgir movimentos voluntários. Por
outro lado, o programa de eletroestimulação neuromuscular pode reverter parcialmente os déficits motores e as
sequelas da Paralisia do Nervo Facial periférica, se combinados com um programa de exercícios específicos5.
É importante mencionar que após oito semanas da
instalação da Paralisia do Nervo Facial periférica, alguns
autores reforçam que a eletroterapia é importante para a
reabilitação do paciente, pois proporciona a manutenção
do trofismo muscular e realizando a propriocepção por estar em déficit 21.
Ressalta-se que em casos com recuperação incompleta,
podem-se encontrar os seguintes sinais residuais: fraqueza da musculatura da mímica facial (30%), contraturas
com acentuação de sulcos (20%), sincinesias (movimentos involuntários que ocorrem num grupo de músculos
quando outro se contrai voluntariamente) e lágrimas de
crocodilo decorrentes de reinervação anômala (50% e 6%
respectivamente)25.
O grau de recuperação da função do Nervo Facial depende de inúmeros fatores. Para Valença, Valença e Lima 3
a idade do paciente, o tipo de lesão, a etiologia, a nutrição
do nervo, o comprometimento neuromuscular e a terapêutica instituída representam os fatores determinantes do
prognóstico terapêutico.
Um estudo comparativo de 149 pacientes com Paralisia do Nervo Facial de Bell demonstrou recuperação
funcional completa mais rápida em 77 pacientes tratados
com eletroestimulação neuromuscular, comparado aos 72
pacientes tratados apenas com prednisona30.
De forma geral, Campos e Brito21 afirmam que 71%
dos casos, com ou sem tratamento, apresentam uma recuperação completa; 13% mantém uma disfunção moderada
e 16% permanecem com uma função pobre ou ausente.
As chances de recuperação espontânea em pacientes que
apresentem degeneração maior que 95% dentro das duas
a três semanas do início do quadro não ultrapassam 50%,
recomendando-se descompressão cirúrgica. O uso destes critérios tem mostrado benefícios em limitar paresias,
assimetria e defeitos secundários. Após as primeiras três
semanas do início do episódio de paralisia, a observação
clínica é recomendada por 6 a 8 meses ou até retorno máximo da paralisia.
A respeito da eficácia do tratamento, Valença3 acompanhou 180 sujeitos com PFP, onde concluiu que, 41 dos
180 sujeitos apresentaram sequelas ao final do tratamento
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Leite et al
Fisioterapia na Paralisia Facial Periférica
com acompanhamento medicamentoso e Fisioterapia.
Destacando como principais complicações, os espasmos
da musculatura facial, a persistência do déficit motor, as
contraturas musculares e a recuperação parcial da função
motora da face.
Beurskens e Heymans27 estudaram 50 pacientes (25
no grupo de tratamento – média idade = 43 anos e 25 no
grupo controle – média idade = 44 anos), com tempo médio de lesão de 16 meses, durante três meses. Duas perdas
foram relatadas. Os desfechos foram: rigidez, mobilidade
labial, aspectos físicos e sociais. O grupo de tratamento
realizou terapia de mímica facial (exercícios de expressão
facial), uma vez por semana, com duração de 45 minutos,
totalizando 10 sessões para cada participante. Os exercícios também foram orientados para serem realizados em
domicílio. O grupo controle não realizou algum tipo de
tratamento. A conclusão dos autores foi que a terapia por
mímica facial é uma boa escolha para o tratamento da PFP
nos desfechos redução da rigidez e mobilidade labial.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao iniciar-se esta revisão de literatura, estabeleceu-se como principal meta apresentar a melhor estratégia
terapêutica para o tratamento da Paralisia do Nervo Facial
idiopática na tentativa de contribuir para a divulgação da
importância da fisioterapia na situação citada acima.
Segundo a literatura várias técnicas fisioterápicas foram propostas para o tratamento da Paralisia do Nervo
Facial Periférica, incluindo eletroestimulação, massagem,
cinesioterapia geral, termoterapia, dentre outros, todas
trazem benefícios para o paciente. Todavia, nenhuma dessas modalidades terapêuticas se sobressai como a de maior
eficácia no tratamento da PFP e, na realidade, existem
controvérsias acerca de seus efeitos.
Na Paralisia do Nervo Facial Periférica o tempo de
recuperação é variável conforme a causa e o tipo da lesão.
Não se poder dizer qual é o período de melhora na primeira consulta, mas se o paciente seguir estritamente as
orientações médicas, na grande maioria das vezes, o retorno à normalidade será em tempo rápido.
Conclui-se através deste estudo que a eficácia da fisioterapia foi comprovada em vários estudos, apresentando
efeito benéfico nos doentes, no sentido de evitar deformidades e manter a flexibilidade e a elasticidade muscular
durante o período de paralisia.
Entretanto, os efeitos das diversas técnicas fisioterápicas ainda são controversos. Faz-se necessário mais estudos
para se conhecer as particularidades da anatomia da musculatura facial e da patofisiologia da PFP, assim como a
contribuição de diferentes recursos no tratamento fisioterápico dessa alteração neurológica.
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Submissão : 03/07/2008
Aceite:
19/09/2008
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Prostituição, gênero e politicas de prevenção as DST/aids: revisão narrativa
da literatura
G iselle Fonseca C h aoi
L igi a R egina F r anco S ansigolo K err i i
Rogér io C osta G ondim i i i
RESUMO
O artigo estruturado sob a forma de revisão narrativa da literatura aborda a questão da prostituição abordando a permissão de atos sexuais visando recompensas materiais, poder-se-ia considerar a versão masculina, dentro dos padrões atuais, como uma forma recente
de prostituição. Destaca a vulnerabilidade dos profissionais do sexo às doenças sexualmente transmissíveis, devido a fatores relacionados diretamente ao ato da prostituição como múltiplos parceiros e envolvimento em práticas e situações associadas às relações sexuais
de risco como uso de drogas, sejam elas lícitas ou ilícitas, baixo nível sócio-econômico. Aponta o Programa Nacional de DST e aids
como estratégia governamental para reduzir a incidência de HIV/AIDS e melhorar a qualidade de vida das pessoas vivendo com aids.
Palavras-chaves: Aids. Prevenção. Prostituição.
ABSTRACT
The article in the form of structured narrative review addresses the issue of prostitution addressing the sexual acts in order to permit material rewards, power would be considered the male version, within the current
standards, as a recent form of prostitution. Highlights the vulnerability of sex workers for sexually transmitted diseases, due to
factors directly related to the act of prostitution as multiple partners and engaging in practices and situations associated with
sexual risk and drug use, whether legal or illegal, low socio and economic. Points to the National STD and AIDS as a government strategy to reduce the incidence of HIV / AIDS and improve the quality of life of people living with AIDS.
Key words: Aids. Prevention. Prostitution.
INTRODUÇÃO
A palavra prostituir vem do verbo latino “prostituere”,
que significa expor publicamente, por à venda, referindo-se às cortesãs de Roma que se colocavam na entrada das
casas de libidinagem. A palavra sempre esteve acompanhada historicamente de uma conotação negativa.
A prostituição, segundo Abreu1, também pode ser
definida como a “entrega carnal”, desde que reiterada e
sem escolha de clientes por interesse de libidinagem, haja
ou não interesse de lucro.
I
Enfermeira, mestranda pela UFC
II
Médica, doutora e professora adjunta da UFC
III
Enfermeiro, doutor, Sesa/CE.
Apesar de comumente a prostituição consistir em
uma relação de troca entre sexo e dinheiro, esta não é uma
regra. Podem-se trocar relações sexuais por favorecimento
profissional, bens materiais, por informação, dentre outras
coisas. O termo prostituição, devido a grande variedade de
manifestações, abrange vários conceitos vinculados ao ato
de comercialização do sexo. Existe a prostituição feminina
e masculina, adulta e infantil, bem como homossexual e é
tão antiga quanto à própria civilização humana.
Historicamente há registros da existência de prostitutas desde a antiguidade, quando havia o predomínio do
matriarcado. Segundo Roberts2 em torno de 25 mil anos
atrás, havia a adoração à deusa Ishtar, tida como provedora da vida e das atividades vitais. Na pré-história, a
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Chao, Kerr e Gondim
Prostituição, Gênero E Politicas De Prevenção
cultura, a religião e a sexualidade eram interligadas, por
isso, o sexo era sagrado. Devido a esse contexto, a deusa
Ishtar era identificada como uma prostituta, que no antigo
Oriente Médio centralizava o poder religioso, político e
econômico. Naquele período as mulheres que exerciam a
prostituição não sofriam repressões e isso preocupava os
homens interessados em derrubar o poder que elas possuíam. A saída encontrada foi criar um novo código moralista
de repressão ao sexo, colocando-o como algo negativo.
O primeiro registro da separação de prostitutas das
esposas data de 2.000 anos a.c, na Suméria. De acordo
com Roberts2, naquela época os homens deveriam sustentar a prostituta que lhe tivesse dado filhos, porém esta
nunca poderia ter nenhum tipo de contato com a esposa,
enquanto ela fosse viva.
No Brasil, ao contrário do que ocorria nas antigas civilizações, a imagem da prostituta esteve sempre vinculada
à falta de valorização da mulher, associada geralmente, à
aquisição de doenças sexualmente transmissíveis (DST).
Este estereótipo predomina até hoje na mente da maioria
das pessoas.
Segundo Melo et a l3 a prostituição foi identificada na
sociedade brasileira desde o século XIX. A cada ano que
passa, o número de prostitutas tem aumentado significativamente, estando a cidade de Fortaleza entre os quatros
maiores centros do tráfico de mulheres no Brasil, perdendo apenas para São Paulo, Rio de Janeiro e Goiânia4.
Na Grécia Antiga existia também uma grande quantidade de “pórnoi”, prostitutos. Uma parte deles trabalhava
para uma clientela feminina, encontrando-se documentada a existência de gigolôs desde a antiguidade. Entretanto
a maioria dos prostitutos trabalhava para uma clientela
masculina. Existia também, naquela época, o ritual de iniciação sexual masculina por um homem idoso que tinha a
função simbólica do repasse do saber e inserção do jovem
nas responsabilidades de cidadão5, 6.
Ao contrário da prostituição feminina, que envolvia mulheres de todas as idades, a prostituição masculina
encontrava-se praticamente confinada ao grupo dos adolescentes. O período durante o qual os adolescentes eram
considerados desejáveis estendia-se entre a puberdade e o
aparecimento da barba, mesmo conhecidos casos de homens que tinham como amantes homens mais jovens que
se mantinham depilados. Da mesma maneira que acontecia com a versão feminina, a prostituição masculina não
era objeto de escândalo para os gregos. Os bordéis de rapazes existiam por toda a Atenas. Um dos mais célebres
destes jovens prostitutos é sem dúvida Fédon de Élis. Feito
escravo durante a tomada da sua cidade, o jovem trabalhou
num bordel até que Sócrates o conheceu, tendo o filósofo
comprado a sua liberdade e o tornado seu discípulo7.
É importante ressaltar que a questão da prostituição,
independente do tipo de enfoque, carrega consigo um
estigma. Segundo Garcia8 pode-se encontrar base para
uma melhor compreensão sobre a prostituição. Segundo
este autor, as atitudes das pessoas com estigma possuem
características peculiares. Em geral, essas atitudes são
perpassadas por vários tipos de discriminação. Elas fundamentam-se numa teoria de estigma e numa ideologia
que servem para racionalizar, entre outros, dois aspectos
centrais: a inferioridade de quem é estigmatizado e o perigo que essa pessoa representa.
A prostituição é freqüentemente uma única opção
de vida, podendo ser, também, uma escolha, mas sempre
fortemente discriminada pela sociedade. Apesar de toda
a discriminação, a mesma é necessária ser levada em consideração para melhor compreender os aspectos interiores
da prostituição e suas relações com a vida social em geral. Não considerar isso significa, no mínimo, reforçar o
preconceito que impede um entendimento melhor da temática em questão9 .
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo descritivo qualitativo do tipo
revisão narrativa. A pesquisa foi realizada durante os meses de fevereiro e março de 2008 atraves de livros e de
pesquisa em quatro bases de dados eletrônicas: SciELO,
Bireme, PEDro e PubMed, através da consulta isolada
pelos seguintes descritores: “prostituição”, “aids” e “prevenção”, bem como de suas combinações.
Da busca inicial resultaram 3.322 textos relacionados
ao tema abordado, sob os quais foram aplicados os critérios
para inclusão. Os artigos identificados pela estratégia de
busca foram avaliados, de forma independente e cegas, por
dois pesquisadores (autores), obedecendo rigorosamente
aos critérios de inclusão: texto na íntegra, tempo de busca
(sem delimitação), população-alvo (adulto), tipo de estudo
(sem delimitação) e idioma (português, inglês e espanhol).
Tais táticas foram tomadas com o intuito de maximizar os
resultados da pesquisa, uma vez que foi constatada escassez de literatura.
Os tópicos foram agrupados nas seguintes categorias:
prostituição e gênero; prostituição, doenças sexualmente
transmissíveis, HIV e AIDS.
Prostituição masculina
A expressão profissional do sexo segundo Roberts2
derivou dos encontros nacionais das prostitutas. O primeiro deles foi realizado em 1987, na cidade do Rio de janeiro.
Esta expressão designa uma pessoa que faz sexo, de forma
impessoal, por uma determinada quantia de dinheiro ou
troca-o por qualquer outro bem10.
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Prostituição, Gênero E Politicas De Prevenção
Tendo em vista o conceito usual de prostituição, ou seja,
permissão de atos sexuais visando recompensas materiais,
poder-se-ia considerar a versão masculina, dentro dos padrões atuais, como uma forma recente de prostituição. Mas,
na verdade não é assim, desde antes da existência da cultura
cristã ocidental essa prática já existia, o que não existia era o
formato em que ela se apresenta hoje11.
De acordo com a literatura, o fator determinante mais
comum para o ingresso na prostituição é o fator econômico,
sendo seguido pelo abandono familiar, associados à dificuldade de integração no mercado de trabalho12.
Geralmente existe a expectativa, por parte das mulheres, de que a permanência na prostituição seja transitória,
alimentada pela esperança de conseguir outro tipo de trabalho, voltar a estudar, encontrar um companheiro e casar,
mas para grande parte dos profissionais do sexo, a prostituição é ainda considerada como uma estratégia de curta
duração, coincidindo com a transitoriedade das dificuldades
encontradas na manutenção pessoal.
A baixa escolaridade somada às dificuldades financeiras ou à pobreza absoluta integra os obstáculos, quase
intransponíveis, para a integração dos profissionais do sexo
no mercado oficial do trabalho. Para aqueles que pertencem
às camadas sociais mais baixas, as perspectivas de mudança
de atividade ainda são menos viáveis em virtude da baixa
(ou nenhuma) escolaridade e a falta de qualquer qualificação profissional1.
A partir dos anos 80, começaram a surgir divulgações
sobre a prostituição masculina, causando ao mesmo tempo
perplexidade e curiosidade. A mídia, as artes, a ciência passaram a trazer à tona a existência desta prática, durante tanto
tempo negligenciada. No início desta década, a prostituição
masculina, geralmente, se dava no interior dos sanitários,
nos cinemas e bares de “pegação” onde o homossexual procurava mostrar sua condição de Prostituto ou Pederasta
receptivo, ou seja, homossexual receptivo. Escolhiam então, profissões que tivessem maior contato com homens.
Alfaiate, garçom, barbeiro, arrumador de apartamento
eram as mais constantes. Os mais ousados vestiam-se como
mulheres. Mesmo assim, a prostituição masculina daquela
época era meio que envergonhada. Hoje, não sentem mais
vergonha de sua condição, fazem “programas” pelas ruas,
avenidas e praças da cidade, disputando os melhores pontos
com as prostitutas e sempre levam vantagem11,13.
Podemos reconhecer, segundo Vitiello14, duas formas
em que a prostituição masculina incide na atualidade, sendo
seus praticantes denominados de “travestis” e de “michês”.
A população alvo da pesquisa foi a categoria dos michês,
por entendermos que esta categoria apresenta características
bem peculiares e diferenciadas dos “travestis” é importante
fazermos algumas considerações sobre a mesma.
O michê, sendo atualmente este termo usado como
referência aos garotos de programa, este título foi trazido
da França. É denominado “prostituto viril” e exerce sua
atividade na qualidade de penetrante, tanto de homens,
quanto de mulheres. Apresentam-se como másculos, colocam anúncios nos jornais e revistas ou na internet, já
delimitam a clientela a que se deseja. São rapazes de nível
cultural um pouco mais elevado, às vezes estudantes universitários. Alguns atuam nas ruas, outros em lugares mais
sofisticados e por isso cobrando valores mais elevados14.
A categoria michê pode ser subdividido atualmente,
conforme Garcia8, em quatro subgrupos: 1) Os “boys de
rua” trabalham com um tipo de vestuário que ressalta as
forma volumosas do corpo. A sedução está diretamente
incorporada às vestimentas; 2) Os “garotos de sauna” ou
“acompanhantes”, que trabalham a beleza. O corpo, normalmente, é utilizado como elemento de sedução. Neste
sentido, a visualidade produz encantamento eficaz. Assim,
o pênis argumenta como sendo um outro corpo, um outro
objeto que também deve estar explicitamente demonstrado; 3) Para os “garotos do telefone”, a voz será utilizada
como elemento fundamental para o efeito, ou seja, a sedução funciona a partir da expressividade fonética (tom,
timbre, volume), além da qualidade dos termos utilizados
no diálogo. Faz-se necessário, neste grupo, um nível maior
de escolaridade, bem como a manutenção das despesas de
telefone, anúncio em jornais, resultando numa tabela de
preço mais elevada; 4) Por fim, os “garotos digitais” que
utilizaram o advento da internet para desenvolver um trabalho de sedução através da escrita. O objeto de sedução
é a escrita, formulada a partir das propostas surgidas no
vídeo-monitor do computador. É importante saliente que
os michês podem transitar por estes subgrupos, dependendo do momento e da oportunidade.
Prostituição masculina enquanto prática
Existem três conflitos, segundo Garcia8 que padronizam as relações no mercado da prostituição masculina.
São elas: O conflito de identidade, O conflito social, e o
conflito econômico.
O conflito de identidade engloba todo o discurso da
sexualidade, em que tenta estabelecer a diferenciação entre
o gênero do michê heterossexual, bissexual e homossexual,
os quais são termos que estão presentes no questionamento
acerca desses indivíduos. Por outro lado, não há questionamentos quanto à figura do usuário - o cliente. O qual
aparece como “espectador noturno” para solicitar a prestação de serviço do garoto de programa.
O conflito social está inserido no discurso do ato
sexual, comercializado como uma profissão. Portanto,
há certa ligação que perpassa as questões sociais, e que
englobam a participação do sujeito e do outro. É correto
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Chao, Kerr e Gondim
Prostituição, Gênero E Politicas De Prevenção
afirmar, então, que essas representações são acompanhadas de valores estabelecidos socialmente, de preconceitos
e estigmas.
O conflito econômico está vinculado como justificativa para o exercício pleno desta profissão. O crescente
número de desempregados cria, por outro lado, novas fontes informais de obter capital. Assim, o mercado da
prostituição masculina não está alheio a essa realidade, ou
seja, existe a lei da oferta e da procura que abrange esse
mercado na ótica capitalista. Seguindo essas regras, cabe
no mercado de negócio empenhar-se na luta pela competitividade, nesse caso, a sexual.
O negócio do michê situa-se na interseção de uma
multiplicidade de coordenadas sociais. O interesse homossexual dos jovens pobres não diz respeito apenas ao
plano do desejo, mas também a crescente pauperização
dos adolescentes da classe baixa, principais vítimas do
desemprego13.
Em um estudo realizado em Belém do Pará com garotos de programa, estes reconheciam que a prostituição
era uma maneira rápida e relativamente fácil de obter dinheiro, mas 80% dos participantes afirmaram ter outros
empregos, ou seja, a prostituição não era a única fonte de
renda. O nível de escolaridade estava compreendido entre o ensino médio e o ensino superior. Observou-se que
os garotos não apresentavam um nível de escolaridade tão
baixo para que exercessem a prostituição11.
Gênero e Prostituição
Fatores biológicos, psíquicos, sociais, entre outros,
podem interferir no desenvolvimento e expressão da sexualidade. O que é ser homem e/ou ser mulher tem suscitado
inúmeras interpretações em diversos campos do saber. As
atitudes dos homens e das mulheres estão intimamente
ligadas às representações simbólicas da masculinidade e
da feminilidade que se constroem historicamente, as quais
são mutáveis e relacionais.
A discussão das diferenças entre homem e mulher
deu-se a partir da construção de uma nova imagem feminina política e econômica nos séculos XVIII e XIX.
Inicialmente gênero era utilizado praticamente como sinônimo de mulher. A emergência da polêmica cultural
em torno da natureza e função da mulher na sociedade
provocou uma nova ótica de significação da sexualidade
humana. O conceito de gênero foi introduzido primeiramente nos Estados Unidos na década de 70 no campo da
antropologia pelo movimento feminista. Este, ao longo
dos tempos, foi se transformando.
Considerando as distintas simbolizações de masculino
e feminino no âmbito sexual, Scott15 afirma que “gênero é
um elemento constitutivo das relações sociais baseado nas
diferenças percebidas entre os sexos. O gênero é uma forma primária de dar significado às relações de poder”. Já
Garcia8 afirma que gênero consiste na dimensão principal
da construção social e dos significados que se relacionam
ao sexo e à reprodução, variando de uma cultura para outra, em diferentes tempos históricos e também ao longo da
vida de um indivíduo.
Segundo Strey16, gênero não é sexo. Sexo diz respeito
às características físicas relativas à reprodução biológica e
gênero consiste numa construção cultural que depende de
como a sociedade transforma um macho num homem e
uma fêmea numa mulher. A análise da vida sexual envolve
a dupla referência dos impulsos biológicos e da regulamentação social17. Daí o enfoque de gênero numa perspectiva
interrelacional com a classe social, raça, etnia, diferenças
de geração, cultura etc. O gênero, portanto, é um sistema
que atua no campo social às vezes de modo contraditório
para mulheres e homens em variadas situações.
A análise do gênero contribuiu enormemente na discussão da sexualidade nas últimas décadas por meio da
crítica ao determinismo biológico, na superioridade masculina18. Apesar da ocorrência de grandes transformações
no século passado nas relações entre os gêneros pelas
conquistas das mulheres (entrada no mercado de trabalho, direito ao voto, maior escolaridade e separação entre
sexualidade e reprodução), ainda hoje persiste um quadro
de “dominação masculina”. Atualmente no ocidente, a
tradição patriarcal identifica o masculino com razão, regulação, liberdade de exercício sexual e conhecimento da
sexualidade feminina. Já a mulher é marcada fortemente
pela inexperiência sexual, pelo silêncio e pelo conformismo, Guimarães e Merchan-Hamann19.
O gênero imprime normas, valores, percepções, representações que acompanham a vida do sujeito legitimando
sua identidade, Corrêa 20. De acordo com Foucault 21 a sexualidade pode ser considerada como um dispositivo de
poder nas relações entre homens e mulheres.
É importante salientar que muitas vezes para cumprir
os padrões de gênero impostos pela sociedade, do que é
ser homem e/ou mulher, ambos têm de desempenhar uma
prática sexual que lhes é nociva do ponto de vista do risco
às DST e à própria vida. Por um lado, os homens lançam-se em situações perigosas e freqüentemente recorrem à
violência contra sua parceira por desejo de poder e controle. Por outro lado, as mulheres se submetem a eles, muitas
vezes em detrimento da própria saúde, como no caso das
relações sexuais em que seu parceiro se recusa a usar o
preservativo.
Os jovens se mostram insatisfeitos com os papéis
de gênero a desempenhar. As consultas médicas devido
a dificuldades de ereção, ejaculação precoce, necessidade de bebidas alcoólicas para se consumar o ato sexual e
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
20
Chao, Kerr e Gondim
Prostituição, Gênero E Politicas De Prevenção
preocupações com o tamanho do pênis são freqüentes. As
moças, por sua vez, sentem-se pressionadas, pelo namorado, a iniciar sua vida sexual alegando “ser uma prova de
amor” e não conseguem muitas vezes negociar o uso do
preservativo22.
Prostituição, doenças sexualmente transmissíveis,
HIV e AIDS
No século vinte, as questões relativas à prostituição
passaram a ser pauta da saúde mundial, de modo que no
final dos anos 40, as Organizações das Nações Unidas
(ONU) denunciou e tentou tomar medidas para o controle
da prostituição no mundo. Desde o início do século XX
os países ocidentais tomaram medidas visando a retirar a
prostituição da atividade criminosa onde se tinha inserido no século anterior, quando a exploração sexual passou
a ser executada por grandes grupos do crime organizado;
portanto, havia a necessidade de desvincular prostituição
propriamente dita de crime, de forma a minimizar e diminuir o lucro dos criminosos e melhorar a condição de vida
e saúde destas pessoas.
Os profissionais do sexo representam uma população altamente vulnerável ao risco de doenças sexualmente
transmissíveis, devido a fatores relacionados diretamente
ao ato da prostituição como múltiplos parceiros e envolvimento em práticas e situações associadas às relações
sexuais de risco como uso de drogas, sejam elas lícitas ou
ilícitas, baixo nível sócio-econômico23.
As Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’S)
são caracterizadas como doenças cujo agente etiológico é
vivo e transmissível, principalmente, por contato sexual
sem o uso de preservativos, com uma pessoa que esteja infectada e, geralmente, se manifestam por meio de feridas,
corrimentos, bolhas ou verrugas24.
Dentre as DST, a sífilis é uma doença infecto-contagiosa, transmitida pela via sexual e verticalmente durante
a gestação. Esta doença acompanhou as mudanças comportamentais da sociedade e nos últimos dias e tornou-se
mais importante ainda, devido à possibilidade de aumentar o risco de transmissão da aids. A incidência de sífilis
e das demais doenças de transmissão sexual tem aumentado nos últimos anos em países com sistemas confiáveis
de registro de enfermidades. No Brasil houve um rápido
declínio no pós-guerra e ressurgimento nos anos 60 e 70
como problema de saúde pública 25,26.
As mudanças ocorridas nas últimas décadas têm
alterado o perfil das DST’S, principalmente após o
agravamento da epidemia da Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (AIDS), transformando seu controle em
um problema de saúde pública, não apenas por sua alta
incidência e prevalência, mas por suas conseqüências,
como as complicações psicossocias, pois acometem a grande parcela da sociedade em idade reprodutiva 27.
As DST’S favorecem a infecção pelo HIV. Do total
de casos de AIDS, segundo as categorias de exposição,
a via de transmissão sexual é a predominante (53%). De
acordo com o Ministério da Saúde, o maior número de notificações acumuladas entre 1980 e 1999 (67.267 casos, ou
seja, 43,23% do total) concentra-se na faixa etária entre 15
e 24 anos. Como o tempo de latência da doença é longo,
chegando até 11 anos, podemos deduzir que grande parte
destes deve ter se infectado na adolescência.
No que se refere ao HIV/AIDS, estudos têm apontado para mudanças no contorno da epidemia de AIDS no
Brasil. As tendências mais acentuadas de mudança nesse
perfil indicam um padrão de crescimento acelerado entre
mulheres, jovens e pobres, traduzindo como feminização,
juvenescimento e pauperização, assim sendo os trabalhadores do sexo são pessoas expostas e vulneráveis ao risco
de contaminação pelas DST/AIDS, tendo em vista que,
muitas vezes, utilizam de sua sexualidade para garantir
sua única renda mensal 28.
Os primeiros casos de AIDS foram descritos nos Estados Unidos da América em 1981 e, ainda que naquele
momento não se conhecesse a causa, a nota editorial que
acompanhava a publicação sugeria “uma disfunção da
imunidade celular relacionada à uma exposição comum” e
“uma patologia adquirida por contato sexual”. Na primeira
metade da década de 80, o vírus da imunodeficiência humana (HIV) foi isolado e relacionado à AIDS.
Embora inicialmente vinculado aos homens que fazem sexo com outros homens (HSH), particularmente
nos países industrializados e na América Latina, o HIV
se disseminou rapidamente entre os diversos segmentos da
sociedade, alcançando paulatinamente mulheres, crianças
e homens com prática heterossexual.
Essa disseminação se deu não só, embora principalmente, pela via sexual, mas também por via sangüínea,
através do compartilhamento de seringas e agulhas por
usuários de drogas injetáveis, em transfusões sangüíneas
e de hemoderivados, e ainda, pela via materno-infantil
(transmissão da mãe para a criança na gestação, no parto
ou durante o aleitamento materno), na medida em que as
mulheres foram sendo atingidas.
No Brasil, os primeiros casos de AIDS foram diagnosticados em 1982 e, apesar da importância relativa da
região Sudeste na epidemia, a AIDS já foi notificada em
todos os estados brasileiros. Suas dimensões continentais
fazem com que este país apresente diferenças regionais
importantes no que concerne ao perfil da epidemia, Brasil
28,29
.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
21
Chao, Kerr e Gondim
Prostituição, Gênero E Politicas De Prevenção
Política do Programa Nacional de DST e AIDS X Prostituição
O Principal objetivo do Programa Nacional de DST
e aids é reduzir a incidência de HIV/AIDS e melhorar a
qualidade de vida das pessoas vivendo com aids. Dentre
as diretrizes do Programa estão a melhoria da qualidade
dos serviços públicos oferecidos às pessoas portadoras de
AIDS e outras DST e o aumento das ações de prevenção
em mulheres e populações com maior vulnerabilidade
para o HIV e demais DST.
Em fevereiro do presente ano ocorreu um encontro
promovido pelo Programa Nacional de DST e AIDS
onde se reuniram 80 pessoas, dentre estas representantes
do Governo Federal, Estadual e Municipal, sociedade
civil e movimento das prostitutas, travestis e transexuais
que teve como pauta principal a criação de um grupo de
trabalho para discutir aspectos relacionados à prostituição, HIV, AIDS e direitos humanos, Brasil 28,29.
O Governo dos estados Unidos declarou que não iria
financiar programas de combate a AIDS em paises em
desenvolvimento sem que estes fizessem uma declaração
explícita de oposição à prostituição e ao tráfico sexual.
Segundo O diretor do Programa de AIDS do governo
brasileiro, Pedro Chequer, afirmou que a aceitação desta declaração prejudicaria o programa do ponto de vista
da credibilidade científica, valores éticos e compromisso
social 29.
Concordamos com a afirmação de Chequer, pois
acreditamos que todas as ações para promoção da saúde
e prevenção de DST, HIV e AIDS são pertinentes, principalmente quando realizadas para grupos vulneráveis a
estas infecções.
Em relação ao comportamento de risco para DST/
HIV foi encontrado em um estudo realizado no Quênia
com profissionais do sexo que 69% destes profissionais
usam condom com clientes regulares, e que 90% destes
usam com clientes casuais, demonstrando um comportamento de risco para DST, HIV e AIDS, Ferguson e
Morris30. Já na Argentina existem diferenças entre trabalhadores do sexo masculino que atuam na rua e os que
atuam em outros locais (independentes) para a negociação
de práticas sexuais seguras, isto pode estar relacionado ao
nível educacional e econômico31.
que não só se previnam destas infecções com também
previnam suas parcerias, sejam elas do sexo masculino e/
ou feminino, além de reduzir as chances da reinfecção de
DST/HIV.
Constatamos a relevância deste estudo, através dos
dados apresentados e dos aspectos que permeiam a prática da prostituição masculina, mais especificamente a
prostituição masculina no Estado do Ceará. Percebemos,
também, a necessidade da realização de novas pesquisas empregando-se novas técnicas de abordagem, uma
vez que ainda há muito a se conhecer e a se aprofundar
sobre este tema. Aspectos importantes podem não ter
sido abordados por desconhecimento prévio da realidade
destes homens como pela metodologia que não foi capaz de atingir um maior número de homens empregando
em sua análise métodos que tenham uma abordagem
probabilística.
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CONCLUSÃO
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Salientamos que, mesmo a informação sendo essencial, não basta apenas conhecer os preservativos, as
formas de transmissão para o HIV e as doenças sexualmente transmissíveis. É necessário instrumentalizar estes
indivíduos de forma a viverem sua sexualidade de forma
6.Silva VG. Visibilidade do suposto passivo: uma atitude
revolucionária do homossexual masculino. Rev. Mal-Estar Subjetividade [Internet]. [acesso 2007 Mar [acesso
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CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Submissão : 09/08/2008
Aceite:
05/09/2008
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
23
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
24
de originais
ArtigosArtigos
originais
A Termografia de Contato como Método Avaliativo do Fibro Edema Gelóide
em Mulheres Sedentárias e Praticantes de Atividade Física
C l ar issa Bentes de A r aújo M agalh ães I
I ngr id C orr ei a Nogueir a I
P r iscill a O liveir a A zevedo I
R enata dos S antos Vasconcelos I
R aquel P into S ales II
C r istina de S anti ago Vi ana Falcão III
RESUMO
O fibro edema gelóide (FEG) é uma afecção multifatorial, que acomete e preocupa a maioria das mulheres. Através da termografia de contato pode-se avaliar o grau do FEG de acordo com a temperatura cutânea superficial, sendo este método diagnóstico
não invasivo e de fácil aplicação. O objetivo do estudo foi avaliar o FEG através da termografia e averiguar a correlação deste
acometimento com a atividade física. Trata-se de um estudo transversal de abordagem quantitativa com finalidade diagnóstica e
exploratória. A amostra foi composta por 80 mulheres, sendo 40 sedentárias (grupo A) e 40 praticantes de atividade física (grupo
B). A coleta de dados foi realizada através de um questionário, que se complementava pela termografia e pelo exame físico. As regiões avaliadas foram os glúteos e as porções posteriores das coxas. Com relação ao grau de FEG avaliado através da termografia
de contato constatamos que, as mulheres sedentárias (grupo A) apresentaram maiores índices de FEG grau II nas coxas direita e
esquerda, sendo 70% (n=28) e 80% (n=32), respectivamente. Enquanto que as mulheres que praticam atividade física (grupo B)
apresentaram maiores índice de FEG grau I com 63% (n=25) na coxa direita e 55 % (n=22) na coxa esquerda. Na região do glúteo
observou-se que as mulheres sedentárias apresentaram maiores índices de FEG grau II com 50% (n=20) à direita e 55% (n=22) a
esquerda, já as mulheres praticantes de atividade física apresentaram 80 % (n=32) e 78% (n=31) nos glúteos direito e esquerdo, respectivamente. Acredita-se que o exercício físico somado aos hábitos de vida saudáveis minimizam os efeitos do FEG, contribuindo
para a manutenção de um corpo mais saudável e belo, proporcionando uma melhora significativa na qualidade de vida das mulheres,
aumentando assim a auto-estima das mesmas.
Palavras-chave: Fibro edema gelóide. Termografia de contato. Fisioterapia.
ABSTRACT
The fibro gelóide edema (EGF) is a multifactorial disease that affects and concerns most women. Through contact thermography
can evaluate the degree of EGF according to the skin surface temperature, and this diagnostic method is noninvasive and easy to
apply. The aim of this study was to evaluate the EGF through thermography and to determine the correlation of this involvement
with physical activity. This is a cross-sectional study of a quantitative approach for diagnostic purposes and exploratory. The sample
comprised 80 women and 40 sedentary (group A) and 40 physically active (group B). Data collection was conducted through a
questionnaire, which was complemented by thermography and physical examination. The regions studied were the buttocks and
posterior portions of the thighs. Regarding the degree of EGF assessed by contact thermography found that sedentary women
(group A) had higher rates of grade II EGF thighs left and right, 70% (n = 28) and 80% (n = 32 ), respectively. While women who
practice physical activity (group B) had higher rate of EGF grade I with 63% (n = 25) in the right thigh and 55% (n = 22) in the
left thigh. In the region of buttock showed that sedentary women had higher EGF level II with 50% (n = 20) right and 55% (n =
22) left, while women engaged in physical activity had 80% (n = 32) and 78% (n = 31) in right and left buttocks, respectively. It is
believed that exercise coupled with healthy lifestyles minimize the effects of EGF, contributing to maintaining a healthier body and
beautiful, providing a significant improvement in quality of life of women, thereby increasing self-esteem of the same.
Key words: Cellulits. Contact thermography. Physical Therapy Specialty.
I
II
III
Acadêmicas do Curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR
Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Faculdade Estácio do Ceará (ESTÁCIO FIC).
Fisioterapeuta, Professora do Curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza – UNIFOR, Especialista em Fisioterapia Dermato – funcional – Estácio FIC
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
26
Magalhães et al
Termografia De Contato no Fibro Edema Gelóide
INTRODUÇÃO
METODOLOGIA
O fibro edema gelóide (FEG) conhecido, popularmente, como celulite afeta cerca 80-90% das
mulheres após a puberdade trata-se de uma alteração das
características da pele, que atinge os membros inferiores,
principalmente nas regiões de glúteos e coxas, e, menos
freqüentemente, o abdômen, e que modifica o aspecto e a
função normal da pele naquele local, além de determinar
sérias alterações psicológicas e sociais 1,2,3.
A etiologia da FEG é de caráter multifatorial, podendo ser influenciada por fatores genéticos, somado a
fatores endógenos (sexo, idade, desequilíbrios hormonais,
disfunção hepática, diabetes, distúrbios circulatórios) e
exógenos (stress, fumo, sedentarismo, dieta desequilibrada) 4,5,6.
A termografia de contato é um dos métodos diagnósticos do FEG. Este exame avalia o grau de alterações
funcionais dos pacientes com doenças vasculares, tratando-se de um método diagnóstico não invasivo, de fácil
aplicação e que não requer o uso de contraste. Como o
FEG está diretamente relacionado com alterações circulatórias, a termografia tem a capacidade de avaliá-lo e
classificá-lo de acordo com a temperatura cutânea superficial 7.
O exame é realizado através de placas flexíveis, compostas de cristais termossensíveis de colesterol. Quando
essas placas são colocadas em contato com a pele do
paciente por alguns segundos surge um mapa de cores,
mostrando cores diferenciadas de temperatura em áreas
localizadas da superfície cutânea. A imagem que aparece
pode ser homogênea ou não. Quanto mais uniforme for a
imagem, menor será o envolvimento circulatório da área,
o que corresponderia ao grau 1 ou ausência do FEG. As
zonas indicadoras de hipotermia (zonas escuras ou “buracos negros”) diagnosticam um grau mais avançado8.
O exercício físico parece ser um fator importante no
controle da FEG por ter efeito benéfico na prevenção
da obesidade, diabetes, dislipidemias, doenças cardíacas, hipertensão arterial, na diminuição do estresse, na
melhora da função cardiorrespiratória, na remoção de fatores como o tabagismo e a reeducação alimentar 9.
O exercício contribui para a redução do hematócrito
(ao aumentar a volemia) e ocasiona elevação da plasticidade do eritrócito, promovendo acréscimo do fluxo
sanguíneo e melhor distribuição do oxigênio na interface célula-capilar, resultando na melhora da circulação
sistêmica10.
Diante do exposto, o objetivo dessa pesquisa foi
avaliar o fibroedema gelóide através da termografia de
contato em mulheres sedentárias e praticantes de exercício físico.
Foi realizado um estudo transversal de abordagem
quantitativa com finalidade diagnóstica e exploratória. Os
dados foram coletados no período de março a abril de 2007.
A amostra foi constituída de 80 mulheres, sendo 40
sedentárias (grupo A) e 40 praticantes de atividade física
(grupo B), estudantes do curso de Fisioterapia da Universidade de Fortaleza e alunas da Academia Espaço de Meta,
respectivamente. Foram incluídas no estudo mulheres com
faixa etária entre 20 e 30 anos e com IMC entre 18,5 e 30.
Foram excluídas da pesquisa mulheres que estavam fora
da faixa etária e do IMC determinado, mulheres portadoras
de diabetes, doenças circulatórias, hipotireoidismo, aumento do estrógeno, gestantes, usuárias de medicamentos a base
de corticóides e que estejam no período menstrual.
A população da amostra foi selecionada de forma aleatória e voluntária através de convite verbal, e assinaram o
termo de consentimento livre e esclarecido da Resolução
196/96 do CNS/NS do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos, com aprovação no
comitê de ética da Universidade de Fortaleza (parecer Nº
032/2007).
As voluntárias responderam a um questionário
consistindo de identificação, hábitos de vida (uso de medicamentos), quantidade de partos e atividade física.
Inicialmente, as participantes foram avaliadas através
da inspeção e palpação (teste da casca de laranja, presença
de nódulos e dor). Posteriormente as participantes foram
submetidas a avaliação com a termografia de contato, cuja
marca era Cell metier, foi o instrumento utilizado para avaliar os graus do fibro edema gelóide, sendo realizado nos
glúteos e nas regiões posteriores das coxas. A termografia
de contato trata-se de um método que mede a emissão infravermelha da superfície cutânea. O método utiliza placas
flexíveis, compostas de cristais termossensíveis de colesterol,
cuja função é avaliar e classificar o fibro edema gelóide de
acordo com a temperatura cutânea superficial, diretamente
relacionada com alterações circulatórias ocasionadas pelo
distúrbio. A avaliação foi realizada num ambiente climatizado a uma temperatura de 20º C.
Foi realizada uma análise descritiva, através do Microsoft Office Excel® versão 2003, sendo os resultados
apresentados em forma de gráficos e tabelas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A média de idade das participantes do estudo do grupo A (sedentárias) foi de 21,5 e no grupo B (praticantes de
atividade física) foi de 23 anos, já o IMC médio no grupo
A foi de 21,3 e no grupo B foi de 20,9. Segundo Guirro e
Guirro (2002) afirmam que com o passar da idade,
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Magalhães et al
Termografia De Contato no Fibro Edema Gelóide
razões de ordens exógenas e endógenas podem levar a condições de agravamento e expansão, tanto do FEG quanto
do estado de obesidade11.
A tabela 1 mostra a distribuição das participantes do
estudo quanto aos antecedentes familiares e ao uso de anticoncepcional dos grupos A e B.
Antecedentes Familiares
Uso de Anticoncepcional
Sim
Sim
Não
80% (n=32), respectivamente. Enquanto que as mulheres que praticam atividade física (grupo B) apresentaram
maiores índice de FEG grau I com 63% (n=25) na coxa
direita e 55 % (n=22) na coxa esquerda (figura 1).
Não
Grupo A 90% (n = 36) 10% (n=4)
50 % (n= 20) 50 % (n= 20)
Grupo B 78% (n = 31) 22% (n= 9)
55% (n = 22) 45% (n = 18)
Tabela 1 - Distribuição das participantes do estudo quanto ao histórico familiar e uso de
anticoncepcional nos grupos A e B.
Em relação aos antecedentes familiares verificou-se
que 90% (n=36) das participantes sedentárias apresentavam história familiar de FEG em parentes de 1° grau.
Segundo estudos realizados observou-se que existe uma
tendência genética ao desenvolvimento do FEG encontrando um aumento considerável em pacientes com
antecedentes familiares, sendo agravado pela ausência de
atividade física12.
Quanto ao uso de anticoncepcionais observou-se que
55% (n=22) das mulheres praticantes de atividade física
confirmaram o uso desse medicamento. Rossi e Vergnanini (2000) relatam que o estrógeno é uma causa significativa
no surgimento do FEG justificando a alta incidência nas
mulheres que utilizam medicamentos a base de esteróides,
porém acredita-se que esse efeito pode ser atenuado pela
prática de atividade física regularmente13.
As figuras 1 e 2 mostram os graus de FEG na coxa
direita e esquerda e glúteo direito e esquerdo em ambos os
grupos.
Figura 2 - Grau de FEG no glúteo direito e esquerdo do grupo A (sedentárias) e grupo B
(praticantes de atividade física).
Na região do glúteo observou-se que as mulheres sedentárias apresentaram maiores índices de FEG grau II
com 50% (n=20) à direita e 55% (n=22) a esquerda, já as
mulheres praticantes de atividade física apresentaram 80 %
(n=32) e 78% (n=31) nos glúteos direito e esquerdo, respectivamente (figura 2). A diferença de resultados entre os dois
glúteos pode ser devido ao próprio biotipo da participante
com assimetria da microcirculação e distribuição do fibro
edema gelóide.
O exercício físico regular é um meio de atingir o bem
estar físico e cognitivo, produzindo efeitos antidepressivos e
ansiolitícos, protegendo o organismo dos efeitos prejudiciais
do estresse na saúde física e mental. Alem disso o sedentarismo diminui a auto-estima, aumentando a ansiedade,
podendo ainda contribuir para o agravamento de quadros
de depressão14,15.
Há evidências de que a prática exercício físico pode
retardar e, até mesmo, atenuar o processo de declínio das
funções orgânicas. Durante a realização de exercício físico,
ocorre liberação da b-endorfina e da dopamina pelo organismo, propiciando um efeito tranqüilizante e analgésico no
praticante regular, que freqüentemente se beneficia de um
efeito relaxante pós-esforço e, em geral, consegue manter-se
um estado de equilíbrio psicossocial mais estável 16,17,18.
CONCLUSÃO
Figura 1 - Grau de FEG na coxa direita e esquerda do grupo A (sedentárias) e grupo B
(praticantes de atividade física).
Com relação ao grau de FEG avaliado através da
termografia de contato constatamos que, as mulheres sedentárias (grupo A) apresentaram maiores índices de FEG
grau II nas coxas direita e esquerda, sendo 70% (n=28) e
Acredita-se que o exercício físico somado a hábitos
de vida saudável minimiza os efeitos do FEG, contribuindo para a manutenção de um corpo mais saudável e belo,
proporcionando uma melhora significativa na qualidade de
vida das mulheres, aumentando assim a auto-estima das
mesmas.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Magalhães et al
Termografia De Contato no Fibro Edema Gelóide
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Submissão : 18/08/2008
Aceite:
06/09/2008
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Percepção e Sentimentos de Ex-Obesos Quanto ao Corpo Obeso.
A na C arolina C avalcante Montenegroi
A ndr ez a G omes P enafort i
T icih ana R ibeiro de O liveir a i
RESUMO
Uma característica importante em pacientes obesos é a depreciação da própria imagem física. Devido à supervalorização da estética
e conseqüente rejeição social sofrida pelo obeso, com freqüência estas pessoas desenvolvem depressão emocional entre outros distúrbios de comportamento e auto-imagem. O presente estudo trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo. Participaram do estudo
quatro indivíduos ex-obesos mórbidos ainda em tratamento para a obesidade. Foi adotado como instrumento de coleta a entrevista
semi-estruturada com uma questão norteadora: “O que significava para você ser obeso?”. Após análise e reflexão das unidades de
significados dos sujeitos convergimos na redução e classificação de quatro categorias: a obesidade como uma incapacidade, o sentimento de tristeza, a superação do problema. Ao longo da análise percebemos que as categorias apresentam-se interligadas e, muitas
vezes complementa-se uma a outra fazendo parte de todo um processo psicológico sofrido pelo obeso caracterizado por uma baixa
auto-estima e depreciação do corpo obeso, sentimentos esses vivenciados pelos sujeitos estudados que só foram superados após a
perda do excesso de peso.
Palavras-chave: Obesidade. Imagem corporal. Percepção do peso.
ABSTRACT
An important feature in obese patients is the physical depreciation of the image itself. Due to the consequent overvaluation of
aesthetic and social rejection suffered by obese, these people often develop depression and other emotional behavior disorders and
self-image. This study deals with a qualitative research. The study included four former morbidly obese subjects still in treatment
for obesity. It was adopted as a tool for collecting semi-structured interview with a question: “What do you mean to be obese?”.
Upon review and consideration of the meanings of the subject units converged on the reduction and classification of four categories: obesity as a disability, feelings of sadness, overcoming the problem. Throughout the analysis we realize that the categories are
shown interconnected and often complemented each other as part of a whole psychological process suffered by obese characterized
by low self-esteem and depreciation of the obese body, these feelings experienced by the subjects studied which were overcome only
after the loss of excess weight.
Key words: Obesity. Body image. Weight perception
INTRODUÇÃO
De uma forma geral, a obesidade pode ser definida como uma doença resultante do acúmulo anormal ou
excessivo de gordura sob a forma de tecido adiposo, de
forma que possa resultar em prejuízos à saúde 1,2
Fisberg3 ressalta que a obesidade está entre as situações nutricionais cujas estatísticas mais crescem, não
só nas nações ricas, como também nos países em desenvolvimento. Assim, enquanto a moda atual investe
a postura de “ser saudável” e adota a estética do manequim esquelético, milhares de pessoas sofrem com o peso
I
Alunas do Mestrado Acadêmico de Saúde Pública
excessivo que juntamente com a obesidade são considerados
problemas de saúde pública no Brasil.
vem sendo associada a fortes valores culturais. Os
corpos grandes e arredondados em dados períodos foram
considerados sinais de opulência e poder, tendo, assim,
uma valorização positiva, em contraste com a desvalorização e cobrança que marcaram as últimas décadas,
tendentes a valorizar corpos esbeltos e esguios. Nesse
sentido, a obesidade tem sido considerada uma condição
estigmatizada pela sociedade e associada a características negativas, favorecendo discriminações e sentimentos
de insatisfação Gittelsohn et al 4 Segal Isaacson 5 Sarwer,
Wadden & Foster6.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Percepção E Sentimentos De Ex-Obesos Quanto Ao Corpo
Sob esta perspectiva, a percepção do tamanho corporalPara Gomes7 uma característica importante em
pacientes obesos é a depreciação da própria imagem física,
sentindo-se inseguros em relação aos outros e imaginando que estes os vêem com hostilidade e desprezo. Além
disso, o mesmo autor cita que pessoas com sobrepeso freqüentemente referem ao peso como um fator agravante na
interação social, sofrendo discriminações que interferem
em seus relacionamentos sociais e afetivos.
Cash8 afirma que a imagem corporal refere-se à experiência psicológica de alguém sobre a aparência e o
funcionamento do seu corpo. Segundo o autor, o descontentamento relacionado ao peso que muitas vezes leva a
uma imagem corporal negativa, advém de uma ênfase cultural na magreza e estigma social da obesidade.
Estudos realizados em países em diferentes estágios
de desenvolvimento sugerem que grupos jovens, especialmente do sexo feminino, apresentam com freqüência
insatisfação com a imagem corporal e mesmo uma imagem negativa, temor à obesidade e tendência a utilizarem
diferentes técnicas para controle do peso.9
Devido à supervalorização da estética e conseqüente rejeição social sofrida pelo obeso, com freqüência estas
pessoas desenvolvem depressão emocional entre outros
distúrbios de comportamento e auto-imagem. Considerando-se a problemática descrita o presente estudo
objetivou compreender a percepção e os sentimentos que o
ex-obeso tem sobre o corpo obeso.
METODOLOGIA
Trata-se de uma pesquisa de cunho qualitativo. A opção por essa natureza de pesquisa baseia-se no fato de que
ela se preocupa com um nível de realidade que não pode
ser quantitativo, ou seja, a pesquisa qualitativa entende os
meandros das relações sociais e afetivas, trabalhando com
o universo de significados, crenças e valores, compreendendo e explicando essa dinâmica. Participaram do estudo
quatro indivíduos ex-obesos mórbidos ainda em tratamento para a obesidade. Foi adotado como instrumento
de coleta a entrevista semi-estruturada com uma questão norteadora: “O que significava para você ser obeso?”.
Após leituras sucessivas, as entrevistas foram organizadas
e analisadas extraindo as unidades de significado apontadas pela experiência/consciência do sujeito. Para realizar
a redução foi preciso uma leitura atenciosa de cada um
dos discursos para nos interarmos com o conteúdo na sua
totalidade. Em seguida lemos novamente cada um dos discursos procurando identificar as partes significativas em
que os sujeitos expressavam seus sentimentos e vivência
com o tema. Após análise e reflexão as unidades de significados dos sujeitos convergiram na redução e classificação
Montenegro Andreza , Penafort e Oliveira
das seguintes categorias: a obesidade como uma incapacidade, o sentimento de tristeza, a superação do problema.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O sentimento de tristeza em relação ao corpo obeso.
O sentimento de tristeza foi encontrado no discurso
de todos os sujeitos. Percebe-se que os informantes relatam expressões desse sentimento, quando vivenciavam a
obesidade mórbida (antes da realização da cirurgia), o que
pode ser evidenciado nas seguintes falas:
“ [..] E você se sente péssima, não existe essa coisa de
ah, gordinho é feliz e tudo mentira! Aquilo é uma máscara, ninguém tá satisfeita porque a própria sociedade ela te
impõe regras (...) então, tudo isso são coisas que deprimem
a pessoa [...]” (Sujeito 1).
“Muito ruim, muito decadente, muito, uma coisa
muito, muito ruim, muito sei lá, muito ruim. Bom, todo
gordo ele tem aquela, é..., aquele ditado que diz que o
gordo é feliz, o gordo não é feliz nada [...]” (Sujeito 2)
“ [...] E digo é mulher, é triste. Quer dizer, eu não
tinha eu não tinha aquela coisa de chegar numa loja e
dizer eu quero essa roupa [...]” (Sujeito 3).
“ [...] Eu pelo menos era uma pessoa triste, porque
eu não podia fazer nada, não tinha condições de fazer
nada, eu não saia, eu não tinha vida própria assim [..]”
(Sujeito 4)
Autores como Labronici, 2002 relatam que a nossa
sociedade supervaloriza a magreza, o corpo belo produzido
nas academias, ou ainda produzido pela modelagem terapêutica mediante implantes de silicone, cirurgias plásticas,
entre outros, revelando o culto ao corpo belo. Este fato ao
mesmo tempo, produz julgamentos sociais negativos em relação ao corpo obeso, mostrando o quanto às pessoas obesas
vivenciam sentimentos de fracasso, tristeza, culpa e insatisfação consigo mesmos.
A auto-imposição do padrão estético da “beleza magra”
e a conseqüente insatisfação com a própria imagem corporal demonstram sentimentos de tristeza e baixa auto-estima
que pode ser constatado em estudo de Zottis & Labronici10,
que estudando obesos em relação à percepção de si, puderam concluir que esses sentimentos identificados nas falas
dos sujeitos entrevistados são comportamentos predominantes e patológicos de depressão presente na maioria deles.
Os mesmos autores ressaltam ainda que os sintomas depressivos e ansiosos são freqüentemente identificados em corpos
obesos, e encontram-se principalmente nas várias formas
comportamentais de baixa auto-estima. O sofrimento moral produzido no corpo obeso devido à baixa auto-estima, é
um sentimento de menos-valia, acompanhado de autodepreciação, e auto-acusação, ou seja, culpa, fraqueza, rejeição,
inferioridade e fragilidade.
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Percepção E Sentimentos De Ex-Obesos Quanto Ao Corpo
Os sentimentos de tristeza observados em diversos
estudos semelhantes ao presente trazem como conseqüência sua relação com a insatisfação e inadequação de
auto-imagem. De acordo com Paul e
Brownell11 ,
as normas sociais de magreza são responsáveis pela associação entre gordura e atributos negativos como preguiça,
auto-indulgência e lentidão, podendo-se pensar que a insatisfação com o corpo, principalmente entre as mulheres,
esteja associada à manifestação do desejo de alcançar um
peso corporal mais aceitável para si e para os outros, já que
o corpo magro, em geral, está associado a atributos positivos como sucesso, atratividade, controle, entre outros.
Diante de tanta discriminação e preconceito, fica
difícil manter uma imagem corporal e uma auto-estima positiva sem a presença da depressão e outras perturbações10.
Além disso, o sucesso nas terapias contra a obesidade,
quanto à sua perda de peso e sua manutenção, é atingido por poucos, aumentando ainda mais sentimentos dessa
natureza.
A obesidade como uma incapacidade e uma limitação
A maioria dos sujeitos entrevistados relatou a obesidade como um problema que lhes tornava indivíduos
incapazes e limitados a exercerem diversas ações rotineiras na vida da maioria das pessoas, sendo esses talvez uns
dos principais sentimentos que causavam todos os demais.
Esses sentimentos podem ser compreendidos através das
seguintes falas:
“ [...] quando você viu você já tá lá, você já é
obesa e você já faz parte daquele quadro de pessoas
que tem uma série de limitações e pronto. [...] você
não tem roupa, as cadeiras são pequenas, você vai
fazer uma viagem de avião você não se sente confortável, você vai sentar numa cadeira na praia você
não cabe, como aconteceu comigo, você vai passar
numa roleta de ônibus você não passa [...] você não
pode usar um salto alto, num pode usar uma roupa
bonita porque não tem, roupa de gorda é tudo fechada, é tudo pra velho [...]” (Sujeito 1).
“ Então é..quem usa ônibus não passa na catacra, vai passar entre dois carros, se tiver um carro
juntinho, não passa, tem que dá a volta.” (Sujeito 2)
“ Eu tentava fazer regime, mas eu não
conseguia perder. Então, eu procurava não ter vergonha.” (Sujeito 3)
Para Franques12, o indivíduo obeso experimenta diversos tipos de tratamento para a redução de peso, e tudo
que for prometido a ele, em se tratando de emagrecimento, é aceito sem o menor cuidado com os possíveis efeitos
Montenegro Andreza , Penafort e Oliveira
adversos. Estes fatos tornam-se importantes, uma vez que
mostra como o sentimento de incapacidade e de fracasso
permeia a mente de pessoas com esse problema.
As inúmeras tentativas de perda ou de manutenção de
peso, muitas vezes sem resposta e algumas vezes até com
recuperação do peso perdido, leva ao sentimento de culpa
e fracasso, visto por muitos como incapacidade, como demonstrado no discurso dos sujeito 1 e 3.
O mesmo autor ainda relata que apesar do empenho
nas terapias contra a obesidade, quanto à perda de peso e
sua manutenção, os dados da literatura ainda não são nada
animadores; apenas 20% dos indivíduos que reduzem seu
peso corporal conseguem mantê-lo por mais de um ano,
entretanto 5% dos clientes conseguem manter seu peso
dentro dos limites normais.
Os discursos do sujeito 1 e 2 mostram as conseqüências
do excesso de peso no convívio com a sociedade, ocasionando prejuízos nos relacionamentos sociais, somando-se
a isso sentimentos de impotência.
Nos discursos dos sujeitos percebe-se que além das
dificuldades físicas experimentadas pelo indivíduo que
está obeso este sentimento de incapacidade e limitação é
agravada pelo preconceito e restrições impostas pela sociedade tanto nos relacionamentos como para transporte,
locomoção, vestuário e no trabalho10.
O preconceito social sofrido pelo corpo obeso propicia
que mensagens e atributos negativos sejam internalizados
e passem a constituir fatores desencadeadores de problemas psicológicos observados nessa população13. Todo esse
sofrimento devido ao preconceito social vivenciado por esses indivíduos gera conflitos internos geralmente ligados à
incapacidade de modificar essa realidade. Muitas vezes o
individuo obeso se sente condenado e culpado pala situação em que se encontra.
Como se percebe através das falas dos sujeitos, o corpo obeso atrapalha as relações sociais comuns do dia-dia
como, por exemplo, na vida, no trabalho e nos relacionamentos sociais14, revelando-se como uma limitação para a
ascensão social, ou seja, o obeso seria incapaz de se divertir, de manter relações interpessoais, sendo constante alvo
de criticas e preconceitos.
A vergonha e a humilhação sentidos pela ostentação
de um corpo “fora dos padrões”.
Como outros sentimentos encontrados nos discursos
analisados, destacam-se os sentimentos de humilhação e
vergonha passados pelos sujeitos quando obesos.
O drama psicológico vivenciado pelo corpo obeso,
devido ao forte preconceito social imposto os levava a
sentimentos de vergonha e humilhação que pode ser observado nas falas a seguir:
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Percepção E Sentimentos De Ex-Obesos Quanto Ao Corpo
“[...] É tem aquelas piadinhas, como aconteceu comigo, a pessoa uma amiga minha chegou pra mim e disse...
ela tava comprando os ingressos lá pra uma determinada
festa, essa pessoa foi e disse, não o ... tem que comprar duas
que é pra entrar na festa, então 2 ingressos pro ... entrar na
festa. Então, são essas coisas, essas brincadeiras, ás vezes,
que chateia , que machuca né? [...]” (Sujeito 2).
“[...]Então, eu procurava não ter vergonha. Nem
quando eu entrava na piscina que as crianças mangavam
dizendo que a piscina ia secar (risos). Era incrível [...]Eu
procurava não sentir vergonha daquilo. Mas eu não era
feliz. Entendeu? Deu me sentir assim é...muito humilhada. Eu fui pra recife né ... e a minha filha me levou numa
loja de obeso, né, no setor de obeso. Aí ela pegou uma calça
56 e a calça não passou no meu quadril, e não passou no
meu quadril [...]” (Sujeito 3).
“[...]É vergonhoso [...] Assim você não podia pedir
mais do que 1 copo d’água que a pessoa já ficava de olho,
olha já tá bebendo outro copo. Então você se escondia. Eu
tomava 1 e escondia ali, eu não comia na frente de ninguém. Comia mais só. [...] praticamente eu não tinha nem
espelho no meu quarto. [...]”
(Sujeito 4).
Observa-se que a vergonha e humilhação são encontrados em todos os discursos analisados, mostrando que
esses sentimentos são unânimes no corpo obeso em diversas
situações.
Sallet13 refere que há uma desvantagem social evidente
para o corpo obeso. Mesmo uma condição leve de sobrepeso
confronta-se com o ideal de magreza e beleza culturalmente
estabelecido pela sociedade, conduzindo, de tal forma, que
essas pessoas se envergonhem de sua condição e sintam o
preconceito e a discriminação.
Notamos que em uma das falas (sujeito 4) o sujeito sente a vergonha até mesmo de se olhar no espelho. Ferriani et
al.15 relata que o receio em ver a própria imagem corporal é
justificado pela vergonha que sentem de si, manifestando
a rejeição pelo próprio corpo, bem como uma interferência
direta da não aceitação do corpo com relação ao fator psico-emocional. O mesmo autor estudou a percepção corporal
em adolescentes e identificou a vergonha e a humilhação
como sentimentos também presentes neste grupo.
No mesmo discurso, observamos a vergonha até mesmo de alimentar-se na frente de outras pessoas, com medo
de sofrer críticas e discriminações.
Estudo realizado por Nunes et. al.9 mostrou que pessoas com índices de massa corporal (IMC) maiores sugestivos
de sobrepeso e obesidade não satisfeitas com o corpo apresentaram maiores desvios no comportamento alimentar.
Nos dias atuais, é consenso que a satisfação corporal influencia no comportamento alimentar.
Montenegro Andreza , Penafort e Oliveira
A ênfase que, atualmente, tem sido dada aos corpos
magros, os quais têm se tornado sinônimos de beleza, normalidade e saúde podem ser considerados um dos motivos
para tais sentimentos adquiridos, podendo ser constatado
em estudo de Almeida et. al.16 . O autor avaliou a auto-imagem de mulheres portadoras de obesidade mórbida,
utilizando entrevista para complementar os dados de avaliação individual do Desenho da Figura Humana (DFH).
Os dados referentes à entrevista descrevem auto-relatos
de sentimentos de vergonha e humilhação, por exemplo,
quando elas relataram, que não saem de casa porque sentem vergonha de serem gordas. É importante ressaltar que
tais conseqüências negativas foram sempre atribuídas ao
excesso de peso corporal.
A superação do problema após a perda do excesso de
peso
Nas falas seguintes é bem explicito a satisfação naqueles pacientes que já atingiram uma parcela de sucesso
na perda de peso, ou seja, ocorre uma inversão de sentimentos, onde a incapacidade e a satisfação são trocados
por sentimento de orgulho e provação, onde fica demonstrado a superação do indivíduo em ter alcançado algo antes
impossível para ele. Em uma das falas percebe-se também
que o ex-obeso é uma pessoa mais sensível ao problema
do outro, assim, esse ex-obeso nunca vai discriminar um
indivíduo que enfrenta o problema da obesidade.
“[...] Que hoje eu ainda não atingi ainda o meu peso
e eu fui numa determinada loja, peguei uma calça e eu
disse eu pego agora só pra saber se entra, né? (risos). E eu
não comprei porque a calça entrou e não prestou porque a
cintura ficou ô um salto sobrando. Entendeu? E eu não
tinha vontade de comprar uma roupa feita, um bucho olha
isso aqui e eu não usava porque não cabia e hoje olha aqui
pra aqui ô. Eu já posso comprar um, que já fica boa a M,
tá vendo? E a GG não entrava. [...]” (Sujeito 3)
“[...] Hoje não, hoje tem aquelas piadas ainda, ah tu
não tá de regime não? Vai engordar tudo, mas isso aí não
me afeta mais como me afetava antes, né? [...] Quando
eu vejo uma pessoa obesa eu vejo uma pessoa doente. [...]”
(Sujeito 4)
De acordo com Garrido Júnior17 a cirurgia bariátrica representa a última esperança para os obesos mórbidos,
porque é capaz de recuperá-los física, psicológica e socialmente. Indiretamente, isso fica comprovado através das
falas dos sujeitos. De uma maneira geral, estudos
e relatos de caso mostram uma consistente melhora da
qualidade de vida dos pacientes pós-operação bariátrica e
melhora de quadros depressivos, ansiosos, alimentares e
de insatisfação com a imagem corporal18. Estes pacientes
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Percepção E Sentimentos De Ex-Obesos Quanto Ao Corpo
apresentam maior associação com quadros psiquiátricos,
sendo fundamental o atendimento multidisciplinar para
garantir que esses pacientes tenham apoio em todos os
setores fundamentais para o sucesso do tratamento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os discursos analisados no presente estudo mostram que os obesos experimentam diversos sentimentos
em relação ao seu modo de ver a obesidade. Percebemos
que todos eles estão interligados entre si, e muitas vezes
complementam um ao outro, sendo aliviados após a realização da cirurgia, mostrando satisfação em relação aos
resultados cirúrgicos mostrados através da superação do
problema presente em todos os discursos. Notamos que
todos o sentimentos averiguados apresentam como provável causa de base às determinações impostas pela sociedade
em relação ao corpo “perfeito”, movidos pela discriminação e preconceito.
Estes tipos de sentimentos relatados nos discursos
são fenômenos marcantes na trajetória da depressão, uma
perturbação profunda no humor que compartilha algumas
características com a tristeza, sendo uma elaboração patológica com duração prolongada, grave e progressivamente
incapacitante.
Ao consideramos a pressão e o julgamento que a sociedade exerce sobre os homens, especialmente sobre os
padrões estéticos, constatamos que a percepção do corpo obeso encontra-se alterada devido à imagem corporal
negativa.
A obesidade apesar de ser encarada como um problema de saúde pública de abrangência mundial, no que tange
a diversas categorias profissionais, parece estar desamparada e abandonada, visto que o número de estudos que
abrangem estas temáticas ainda é bastante escasso.
Assim, faz-se necessário que uma equipe multidisciplinar coexista com o corpo obeso e transcenda as
ações de cuidado instrumentais (técnicas). Esta transcendência irá possibilitar um mergulho no mundo
privado do corpo obeso, possibilitando percebê-lo na sua
multidimensionalidade.
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Submissão : 03/08/2008
Aceite:
01/09/2008
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Estudo Comparativo do Comportamento Acadêmico dos Alunos do Primeiro
e Último Semestres do Curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará
F r ancisco Bruno M arques de Sousa I
C r isti ano T eles de Sousa II
T er esa M ar i a da S ilva C âm ar a III
G ar dêni a M ar i a de O liveir a B arbosa IV
M ar ineide M eir eles Nogueir aV
Vasco P inheiro D iógenes B astosVI
RESUMO
Fatores como trabalhos, estágios, formaturas, podem ocasionar o surgimento do estresse, não só psicológico, mas também físico, fazendo
com que o acadêmico, principalmente o da área da saúde, tenha um comportamento diferenciado. Este trabalho tem como objetivo geral
analisar o comportamento acadêmico dos alunos do primeiro e último semestres do curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará,
e como objetivo específico conhecer e comparar o comportamento acadêmico dos acadêmicos do primeiro e último semestres do curso de
Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará e analisar a necessidade de formação de programas de apoio aos discentes pelas IES para que
ofereçam subsídios para a formação não só acadêmica, mas também humana dos discentes. Este estudo trata-se de uma pesquisa de caráter
descritivo e transversal, baseado em estratégias de análise quantitativa e qualitativa. A amostra foi formada por acadêmicos do 1º semestre,
onde foi possível coletar dados de 74% dos mesmos e acadêmicos do 9º semestre, onde foi possível coletar dados de 34% dos mesmos. O
instrumento de coleta de dados utilizado foi um questionário contendo perguntas em três etapas: sobre informações pessoais, informações
acadêmicas e informações extras. Nesta etapa foi feito uma categorização das perguntas do questionário em quatro dimensões que são:
envolvimento acadêmico, depressão, estresse e auto-estima. Os dados coletados permitem verificar que os acadêmicos do último semestre
mostram um maior envolvimento acadêmico em relação aos acadêmicos do primeiro semestre. Assim como demonstram também ter um
maior tempo de estudo, tendo assim, menor tempo de convívio com a família, menos tempo para lazer, para prática de atividades físicas,
para terem bons hábitos alimentares e até sono regular. Sendo estes fatores que podem contribuir para estados de estresse, depressão e, se
não apoiados, terem uma baixa auto-estima. Fica, portanto, evidenciada a necessidade das instituições de Ensino Superior formar e divulgar programas de apoio aos discentes, para que ofereçam subsídios para a formação não só acadêmica, mas também humana dos discentes.
Palavras-chave: Acadêmico. Comportamento. Estresse. Depressão.
ABSTRACT
Factors as works, apprenticeships, graduations, they can cause the appearance of the stress, not only psychological, but also physical, doing
with that the academic, mainly the one of the area of the health, have a differentiated behavior. This work has as general objective to
analyze the students’ of the first and last semesters of the course of Physiotherapy of Integrated University of Ceará academic behavior,
and as specific objective to know and to compare the academics’ of the first and last semesters of the course of Physiotherapy of Integrated
University of Ceará academic behavior and to analyze the need of formation of support programs to the students for IES so that they offer
subsidies for the formation not only academic, but also human of the students. This study is treated of a research of descriptive and traverse
character, based on strategies of quantitative and qualitative analysis. The sample was formed by academics of the 1st semester, where it
was possible to collect data of 74% of the same and academic of the 9th semester, where it was possible to collect data of 34% of the same
ones. The instrument of collection of data used it was a questionnaire containing questions in three stages: on personal information, academic information and extra information. In this stage it was made a categoryzation of the questions of the questionnaire in four dimensions
that are: academic involvement, depression, stress and self-esteem. The collected data allow to verify that the academics of the last semester
show a larger academic involvement in relation to the academics of the first semester. As well as they also demonstrate to have a larger time
of study, tends like this, smaller time of conviviality with the family, less time for leisure, for practice of physical activities, for us to have
good alimentary habits and even regular sleep. Being these factors that can contribute to stress states, depression and, if not leaning, they
have a low self-esteem. It is, therefore, evidenced the need of the higher education institutions to form and to publish support programs to
the students, so that they offer subsidies for the formation not only academic, but also human of the students.
Key Word: Academic. Behavior. Stress. Depression.
Fisioterapeuta graduado pela Faculdade Integrada do Ceará
Fisioterapeuta, Mestre em Farmacologia e Professor da Faculdade Integrada do Ceará.
Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia cardio-respiratoria e Professora da Faculdade Integrada do Ceará
IV
Psicóloga, Doutora em Educação e Professora da Faculdade Integrada do Ceará
V
Fisioterapeuta, Mestre em Educação e Professora da Faculdade Integrada do Ceará.
VI
Fisioterapeuta, Mestre em Farmacologia e Administração e Professor da Faculdade Integrada do Ceará
I
II
III
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Sousa et al
Comportamento Acadêmico
INTRODUÇÃO
Podemos definir comportamento como uma reação
global ou um conjunto de reações do organismo que podem ser observadas objetivamente. Um comportamento,
normalmente, implica uma seqüência de atividades orientadas para um objetivo. E para isso podemos passar por
momentos de estresse, depressão, ansiedade.
Todos nós experimentamos estresses, ocasionalmente. Os estudantes podem sentir estresses quando seu
relacionamento com colegas não esta indo bem, quando
devem optar por um curso de estudo, ou quando chegam
os exames finais. O ritmo rápido da sociedade atual cria
estresse para muitos de nós. Somos pressionados constantemente para realizarmos cada vez mais, em um tempo
cada vez menor. Contudo, as reações das pessoas a eventos
estressantes de vida diferem amplamente; algumas pessoas frente a um evento estressante desenvolvem sérios
problemas psicológicos ou físicos, enquanto outras, frente
ao mesmo evento estressante, não desenvolvem problemas e podem até mesmo considerar o evento desafiador
e interessante.
A Síndrome de Burnout é uma resposta ao estresse
ocupacional crônico e caracterizada pela desmotivação, ou
desinteresse, mal estar interno ou insatisfação ocupacional
que parece afetar, em maior ou menor grau, alguma categoria ou grupo profissional. Trata-se de um conjunto de
condutas negativas como, por exemplo, a deterioração do
rendimento, a perda de responsabilidade, atitudes passivo-agressivas com os outros e perda da motivação, onde se
relacionariam tanto fatores internos, na forma de valores
individuais e traços de personalidade, como fatores externos, na forma das estruturas organizacionais, ocupacionais
e grupais.
Segundo Ballone1, a Síndrome de Burnout traz conseqüências não só do ponto de vista pessoal, senão também
do ponto de vista institucional, como é o caso do absenteísmo, da diminuição do nível de satisfação profissional,
aumento das condutas de risco, inconstância de empregos
e repercussões na esfera familiar.
Fatores como trabalhos, estágios, formaturas, podem
ocasionar o surgimento do estresse, não só psicológico,
mas também físico, fazendo com que o acadêmico tenha
um comportamento diferenciado.
A importância deste trabalho para a sociedade
científica será de analisar a necessidade de formação de
programas de apoio aos discentes pelas Instituições de Ensino Superior para que ofereçam subsídios para a formação
não só acadêmica, mas também humana dos discentes.
Para tanto o objetivo geral deste estudo é analisar a
necessidade de formação de programas de apoio aos discentes pelas IES para que ofereçam subsídios para a formação
não só acadêmica, mas também humana dos discentes. E
os objetivos específicos são conhecer o comportamento
acadêmico dos estudantes do primeiro e último semestres
do curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada do Ceará;
Analisar, em quatro etapas, a forma de comportamento
com relação ao envolvimento acadêmico e aos estados de
depressão, estresse e auto-estima; comparar o comportamento acadêmico dos acadêmicos do primeiro e último
semestres do curso de Fisioterapia da Faculdade Integrada
do Ceará; e verificar a existência de programas de apoio
aos discentes.
COMPORTAMENTO HUMANO
O comportamento é uma estrutura, ou seja, é o resultado da união dos elementos que chamamos de situação,
pois tem sido definido como o conjunto das relações ou
respostas que um organismo apresenta às estimulações do
ambiente2.
Há dois tipos básicos de comportamento, o consumatório e o instrumental. Para Teles3, o comportamento
instrumental e consumatório são interdependentes. Depois da atividade instrumental, segue normalmente a
consumatória. A atividade instrumental é dirigida para o
objetivo e a consumatória é a execução e a consumação do
objetivo visado pela primeira. A intensidade da atividade
instrumental aumenta à medida que se aproxima o objeto.
Na atividade consumatória dá-se o contrário, a intensidade
decai à medida que ocorre o consumo.
O ESTRESSE
Alem do comportamento, outro fator a se estudar
para se conhecer o comportamento do acadêmico é o estresse, que vem se tornando um tópico popular nos dias de
hoje. Os meios de comunicação freqüentemente atribuem
o comportamento incomum ou a doença em pessoas, ao
esgotamento por estresse ou colapso nervoso resultante do
estresse.
Em suas vidas cotidianas, os estudantes universitários
freqüentemente falam sobre os níveis de estresse uns dos
outros. “Estou estressado!” é uma afirmação comum. Mas,
o que é o estresse? Em termos gerais, o estresse ocorre
quando as pessoas enfrentam eventos que percebem como
perigosos para seu bem-estar físico ou psicológico. Esses
eventos, geralmente são chamados de estressantes, e as reações das pessoas a elas são respostas ao estresse4.
O estresse também pode ser causado por processos
internos – conflitos não resolvidos, que podem ser conscientes ou inconscientes. O conflito ocorre quando uma
pessoa deve optar entre objetivos ou cursos incompatíveis,
ou mutuamente exclusivos. Muitas das coisas desejadas
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Sousa et al
Comportamento Acadêmico
pelas pessoas provam ser incompatíveis. Mesmo se dois
objetivos são igualmente atraentes – por exemplo, você recebe duas boas ofertas de emprego – você pode agonizar
para chegar a uma decisão e experienciar arrependimento
após fazer a escolha. Este estresse não teria ocorrido se
você tivesse recebido apenas uma oferta de emprego.
As situações emocionais variam desde a alegre vivacidade (quando a tarefa é pesada, mas manejável) até às
emoções comuns de ansiedade, raiva, desânimo e depressão. Se a situação estressante continua, nossas emoções
podem oscilar entre quaisquer dessas, dependendo do sucesso de nossos esforços para o enfrentamento5,6.
A resposta mais comum a um fator de estresse é a ansiedade. Por ansiedade, pode-se entender como a emoção
desagradável caracterizada por termos tais como “preocupação”, “apreensão”, “tensão” e “medo”, que todos nós
sentimos, ocasionalmente, em variados graus.
Uma outra reação comum a uma situação estressante
é a raiva, que pode levar à agressão. As crianças freqüentemente tornam-se zangadas e exibem comportamento
agressivo quando experimentam frustração. A hipótese
de frustração-agressão presume que, sempre que o esforço de uma pessoa para alcançar um objetivo é bloqueado,
um impulso agressivo é induzido, motivando o comportamento para danificar o objeto – ou pessoa – que causou a
frustração. Embora as pesquisas tenham mostrado que a
agressão não é uma resposta inevitável para a frustração,
ela certamente é uma delas.
Um homem que recebe uma reprimenda no trabalho
pode exibir o ressentimento não-expressado para sua família. Um estudante, com raiva do professor por uma nota
injusta, pode dar um soco em seu colega de quarto. Uma
criança frustrada por experiências na escola pode recorrer
ao vandalismo sobre propriedades da escola.
Além das reações ao estresse, que recém discutimos,
as pessoas frequentemente mostram um prejuízo cognitivo substancial quando enfrentam fatores de estresse sérios.
A concentração e a organização lógica dos pensamentos
tornam-se difíceis. Elas podem ser facilmente distraídas
e, como resultado, seu desempenho em tarefas, particularmente aquelas complexas, tende a deteriorar-se.
Esse prejuízo cognitivo pode vir de duas fontes. Altos níveis de excitação emocional podem interferir com o
processamento de informações da mente. Quanto mais ansiosos, zangados ou deprimidos estamos, após um evento
estressante, mais provavelmente experienciamos prejuízos
cognitivo. O prejuízo cognitivo também pode resultar dos
pensamentos distraídos que passam por nossas mentes
quando enfrentamos um fator de estresse. Contemplamos
as possíveis ações, preocupamo-nos com as conseqüências
de nossos atos e podemos rebaixar a nós mesmos por não
sermos capazes de lidar melhor com a situação.
O prejuízo cognitivo durante períodos estressantes
frequentemente leva as pessoas a adotar rigidamente certos padrões de comportamento, porque não conseguem
considerar padrões alternativos. Algumas pessoas já ficaram presas em prédios em chamas porque insistiram em
pressionar contra portas que se abriam para dentro; em seu
pânico, elas não consideram a possibilidade de uma ação
alternativa. Algumas pessoas recorrem a padrões antigos
e infantis de comportamento, que não são apropriados à
situação. A pessoa cautelosa pode tornar-se ainda mais
cuidadosa e retrair-se inteiramente, enquanto a pessoa
agressiva pode perder o controle e atacar imprudentemente em todas as direções.
Numerosos estudos indicam que as pessoas com muitos vínculos sociais (cônjuge, amigos, parentes e afiliações
a grupos) vivem mais e estão menos propensas a sucumbir
a doenças relacionadas ao estresse do que as pessoas com
poucos contatos sociais apoiadores.
Amigos e familiares podem oferecer apoio de muitas
formas. Eles podem amparar a auto-estima amando-nos,
apesar de nossos problemas. Eles podem oferecer informações e conselhos, companhia para distrair-nos de nossas
preocupações e auxílio financeiro ou material. Tudo isto
tende a reduzir os sentimentos de impotência e aumentar
nossa confiança em nossa capacidade de enfrentamento.
Para Atkinson7, o estresse é mais facilmente tolerado
quando sua causa é dividida com outros. Desastres comunitários (inundações, terremotos, vendavais, guerras)
frequentemente parecem trazer à superfície o que há de
melhor nas pessoas. As ansiedades e conflitos do indivíduo
tendem a ser esquecidos quando as pessoas estão trabalhando juntas contra um inimigo comum ou na direção
de um objeto comum. Por exemplo, durante o bombardeio
intensivo a Londres na Segunda Guerra Mundial, houve
um declínio acentuado no número de pessoas que buscavam ajuda para problemas emocionais.
Ocasionalmente, entretanto, a família e os amigos
podem aumentar o estresse. A minimização da seriedade
do problema, ou o oferecimento de garantias vãs de que
tudo dará certo podem produzir mais ansiedade do que o
fracasso para o oferecimento de apoio. Um estudo de alunos universitários frente a exames cruciais sugere que os
cônjuges realisticamente apoiadores (“Estou preocupado,
mas sei que você fará o melhor possível”) são mais úteis do
que aqueles que negam qualquer possibilidade de fracasso
(“Não estou preocupada; tenho certeza que você será aprovado”). No último caso, o estudante precisa preocupar-se
não apenas com a reprovação no exame, mas também
com perde o respeito aos olhos do cônjuge. Outras pessoas também podem fazer exigências a criar cargas sobre
um indivíduo no exato momento em que ele está lidando
com outros fatores de estresse. Por exemplo, uma pessoa
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Sousa et al
Comportamento Acadêmico
que está cuidando de um membro parental com doença
terminal mais propensa a sofrer de depressão se também
é criticada e perturbada por irmãos pelo modo como está
cuidando do pai ou mãe.
A DEPRESSÃO
Quase todas as pessoas sentem-se ocasionalmente deprimidas. A maioria delas tem períodos em que se sente
triste, letárgica e desinteressada por quaisquer atividades –
até mesmo aquelas agradáveis. A depressão é uma resposta
normal a muitos dos estresses da vida. Entre as situações
que mais frequentemente precipitam a depressão está o
fracasso na escola, faculdade ou no emprego, a perda de
alguém amado e a percepção de que uma doença ou o envelhecimento estão exaurindo os recursos do indivíduo. A
depressão é considerada anormal apenas quando está fora
de proporção com o evento e continua além do ponto no
qual a maioria das pessoas começa a recuperar-se.
Embora a depressão seja caracterizada como um
transtorno de humor, existem, na verdade, quatro conjuntos de sintomas. Alem dos sintomas emocionais (de
humor), existem sintomas cognitivos, motivacionais e físicos. Um indivíduo não precisa ter todos esses sintomas
para ser diagnosticado como deprimido, mas quanto mais
sintomas apresentar, quanto mais intensos eles forem,
mais certamente podemos afirmar que ele está sofrendo
de depressão.
A tristeza e o abatimento são os sintomas emocionais mais salientes na depressão. O indivíduo sente-se
desesperançado e infeliz, frequentemente tem crises de
choro e pode contemplar o suicídio. Igualmente existente na depressão é a perda da gratificação e prazer com a
vida. As atividades que costumam trazer satisfação parecem aborrecidas e entediantes. A pessoa deprimida perde
gradualmente o interesse pelos passatempos, recreação e
atividades familiares. A maioria dos pacientes deprimidos relata que não mais adquire gratificação de coisas que
costumavam ser seus maiores interesses na vida, e muitos
deles relatam a perda do interesse e de afeição por outras
pessoas.
Os sintomas cognitivos consistem primariamente de
pensamentos negativos. Os indivíduos deprimidos tendem
a ter baixa auto-estima, e sentirem-se desesperançados
quanto ao futuro e são pessimistas quanto a poderem fazer
algo para melhorar suas vidas.
A motivação está baixa na depressão. A pessoa deprimida tende a ser passiva e tem dificuldades para iniciar
suas atividades.
Os sintomas físicos da depressão incluem perda do
apetite, perturbações no sono, cansaço e perda de energia.
Uma vez que os pensamentos de uma pessoa deprimida
estão voltados para o seu interior, ao invés de voltar-se para
eventos externos, ela pode ampliar as dores e sofrimentos e
se preocupar com sua saúde.
Como vemos, a partir desta descrição de seus muitos
sintomas, a depressão pode ser um transtorno debilitante.
Felizmente, a maior parte dos episódios depressivos tem
uma duração relativamente curta. As pessoas deprimidas recuperam-se gradualmente, com ou sem tratamento.
Cerca de um quarto dos episódios de depressão duram menos de um mês, metade duram menos de três meses e um
quarto deles duram um ano ou mais. Apenas cerca de 10%
do último grupo não se recuperam e permanecem cronicamente deprimidos. Infelizmente, os episódios depressivos
tendem a apresentar recorrência. Cerca de metade dos
indivíduos com um episódio depressivo experenciará um
outro. Geralmente, quanto mais estável a pessoa era antes
do primeiro episódio, menos provavelmente a depressão
ocorrerá novamente.
A AUTO-ESTIMA
Auto-estima é a opinião e o sentimento que cada um
tem por si mesmo. É ter consciência de seu valor pessoal,
acreditar, respeitar e confiar em si. Coisas nem sempre tão
simples assim.
A auto-estima, juntamente com o amor-próprio, é a
base para o ser humano. É a cura para todas as dificuldades e sofrimentos. E mais, é a cura para todas as doenças
de origem emocional e relações destrutivas.
A auto-estima começa a se formar na infância, a
partir de como as outras pessoas nos tratam. Ou seja, as
experiências do passado exercem influência significativa
na auto-estima quando adultos. Perde-se a auto-estima
quando se passa por muitas decepções, frustrações, em
situações de perda, ou quando não se é reconhecido por
nada que faz. O que abala não é só a falta de reconhecimento por parte de alguém, mas principalmente a falta de
reconhecimento por si próprio.
Quando a auto-estima está baixa a pessoa se sente
inadequada, insegura, com dúvidas, incerta do que realmente é, com um sentimento vago de não ser capaz. Não
acredita ser capaz de ter alguém que a ame, de fazer aquilo
que quer, de se cuidar, desenvolvendo assim um sentimento de insegurança muito profundo, desistindo facilmente
de tudo que começa.
Como ela mesma não se ama se sujeita a qualquer tipo
de relação para ter alguém ao seu lado, tornando-se dependente de relações destrutivas e não conseguindo forças
para sair delas. Vale lembrar que esse processo acontece inconscientemente. A pessoa não tem consciência do
por quê está agindo assim, apenas sente o sofrimento que
pode se expressar em forma de angústia, dor no peito,
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Sousa et al
Comportamento Acadêmico
choro, pesadelos, vazio, agressividade, depressão, punição,
doenças.
Culpam os outros pelos próprios erros, encaram
todas as críticas como ataques pessoais e tornam-se dependentes de relações doentes. O maior indicador de
uma pessoa com baixa auto-estima é quando sente intensa necessidade de agradar, não consegue dizer “não”,
busca aprovação e reconhecimento por tudo o que faz,
sempre querendo se sentir importante para as pessoas,
pois na verdade, não se sente importante para si mesma.
Com isso, se abandona cada vez mais.
Para Zago8, a auto-estima também influencia a
escolha dos relacionamentos. Aqueles com elevado
amor-próprio em geral atraem pessoas com a mesma
característica, gerando uniões saudáveis, criativas e
harmoniosas. Já a baixa auto-estima acaba atraindo ou mantendo relacionamentos destrutivos e dolorosos.
Quando há amor-próprio não se deixa envolver nem
manter relações destrutivas.
A auto-estima influencia tudo que fazemos, pois é
o resultado de tudo que acreditamos ser, por isso o autoconhecimento é de fundamental importância para
aumentar a auto-estima. Ou seja, confiar em si mesmo,
ouvir sua intuição, acreditar em sua voz interior, respeitar seus limites, reconhecer seus valores, expressar seus
sentimentos sem medo, sentir-se competente, capaz e se
tornar independente da aprovação dos outros, tudo isso
faz com que a auto-estima se eleve. Mas é um processo
gradativo que exige trabalho e conscientização.
SÍNDROME DE BURNOUT
A chamada Síndrome de Burnout é definida por
alguns autores como uma das conseqüências mais marcantes do estresse profissional, e se caracteriza por
exaustão emocional, avaliação negativa de si mesmo,
depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e
todos (até como defesa emocional)1.
O termo Burnout é uma composição de burn=queima
e out=exterior, sugerindo assim que a pessoa com esse
tipo de estresse consome-se física e emocionalmente,
passando a apresentar um comportamento agressivo e
irritadiço1,9.
Essa síndrome se refere a um tipo de estresse ocupacional e institucional com predileção para profissionais
que mantêm uma relação constante e direta com outras
pessoas, principalmente quando esta atividade é considerada de ajuda (médicos, enfermeiros, fisioterapêutas,
professores).
Outros autores, entretanto, julgam a Síndrome de
Burnout algo diferente do estresse genérico. Para nós,
de modo geral, vamos considerar esse quadro de apatia
extrema e desinteresse, não como sinônimo de algum
tipo de estresse, mas como uma de suas conseqüências
bastante sérias.
De fato, esta síndrome foi observada, originalmente, em profissões predominantemente relacionadas a um
contacto interpessoal mais exigente, tais como médicos,
psicanalistas, carcereiros, assistentes sociais, comerciários, professores, atendentes públicos, enfermeiros,
funcionários de departamento pessoal, telemarketing e
bombeiros. Hoje, entretanto, as observações já se estendem a todos profissionais que interagem de forma ativa
com pessoas, que cuidam e/ou solucionam problemas de
outras pessoas, que obedecem técnicas e métodos mais
exigentes, fazendo parte de organizações de trabalho
submetidas à avaliações.
Definida como uma reação à tensão emocional
crônica gerada a partir do contato direto, excessivo e
estressante com o trabalho, essa doença faz com que a
pessoa perca a maior parte do interesse em sua relação
com o trabalho, de forma que as coisas deixam de ter
importância e qualquer esforço pessoal passa a parecer
inútil.
Entre os fatores aparentemente associados ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout está a pouca
autonomia no desempenho profissional, problemas de
relacionamento com as chefias, problemas de relacionamento com colegas ou clientes, conflito entre trabalho e
família, sentimento de desqualificação e falta de cooperação da equipe.
Os autores que defendem a Síndrome de Burnout
como sendo diferente do estresse, alegam que esta doença envolve atitudes e condutas negativas com relação
aos usuários, clientes, organização e trabalho, enquanto
o estresse apareceria mais como um esgotamento pessoal
com interferência na vida do sujeito e não necessariamente na sua relação com o trabalho. Entretanto, julgamos
que essa Síndrome de Burnout seria a conseqüência mais
depressiva do estresse desencadeado pelo trabalho.
Para Ballone1, os sintomas básicos dessa síndrome
seriam, inicialmente, uma exaustão emocional onde a
pessoa sente que não pode mais dar nada de si mesma.
Em seguida desenvolve sentimentos e atitudes muito negativas, como por exemplo, um certo cinismo na relação
com as pessoas do seu trabalho e aparente insensibilidade
afetiva.
Finalmente o paciente manifesta sentimentos de falta
de realização pessoal no trabalho, afetando sobremaneira
a eficiência e habilidade para realização de tarefas e de
adequar-se à organização.
Ballone1 também afirma que esta síndrome é o
resultado do estresse emocional incrementado na interação com outras pessoas. Algo diferente do estresse
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Sousa et al
Comportamento Acadêmico
genérico, a Síndrome de Burnout geralmente incorpora
sentimentos de fracasso. Seus principais indicadores são:
cansaço emocional, despersonalização e falta de realização pessoal.
METODOLOGIA
O estudo realizado foi de caráter descritivo e transversal, baseado em estratégias de análise qualitativa e
quantitativa, desenvolvido na Faculdade Integrada do Ceará – Sede Via Corpvs, situada à rua Elizeu Uchoa Beco,
600 – Água Fria, Fortaleza, Ceará, no período de agosto a
outubro de 2006.
A amostra foi composta pelos acadêmicos do primeiro
e nono semestres do curso de Fisioterapia dessa Instituição
de Ensino num total de aproximadamente 54 alunos.
Foram incluídos no estudo os acadêmicos do primeiro
semestre que estavam cursando a disciplina de Fundamentos
e História da Fisioterapia, que é uma disciplina obrigatória para os alunos que iniciam o curso de Fisioterapia, e os
acadêmicos do nono semestre que estavam cursando a disciplina de Prática de Fisioterapia Supervisionada II. Todos
os participantes assinaram o termo de consentimento livre
esclarecido. Sendo excluído do estudo os que não estavam
matriculados nas disciplinas anteriormente citadas e os que
recusaram a assinar o termo de consentimento.
As variáveis estudadas foram: Idade, sexo, participação
em monitoria, em iniciação científica, em cursos, em projetos, se pratica atividade física, se faz uso de medicamentos,
estresse, depressão, auto-estima, o estilo de vida.
Como estratégia para a coleta de dados foi solicitada a
listagem completa dos alunos matriculados nas disciplinas
de Fundamentos e História da Fisioterapia e Pratica de Fisioterapia Supervisionada II, à Secretaria Geral de Alunos
da Faculdade. Depois, foi entrado em contato com os alunos e explicado os objetivos da pesquisa para em seguida
ser solicitado à assinatura do termo de consentimento livre
esclarecido em duas vias e logo após iniciado a pesquisa com
os alunos que aceitaram participar.
O instrumento de coleta de dados utilizado foi um
questionário contendo perguntas em três etapas: sobre informações pessoais, informações acadêmicas e informações
extras. Nas informações extras foram colocadas perguntas
com relação ao envolvimento acadêmico do aluno, depressão, estresse e auto-estima.
A estratégia para análise dos dados foi de forma descritiva e os resultados apresentados em gráficos e quadros.
O estudo seguiu os aspectos éticos que envolvem a
pesquisa com seres humanos, como garantia da confidencialidade, do anonimato, da não utilização das informações
em prejuízo dos indivíduos e do emprego das informações
somente para os fins previstos na pesquisa.
A coleta de dados ocorreu, após aprovação do estudo
pelo Comitê de Ética em pesquisa da Faculdade Integrada do Ceará e seguiu as normas da Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde – pesquisa envolvendo seres
humanos, assim como da resolução do COFFITO 10/78.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Foram avaliados acadêmicos do 1º semestre (Grupo
1), cursando e devidamente matriculados na disciplina
de Fundamentos e História da Fisioterapia, num total
de 74% do total de alunos matriculados e acadêmicos
do 9º semestre (Grupo 2), cursando e devidamente matriculados na disciplina de Práticas Supervisionada II,
num total de 34% dos amtriculados.
Análise das informações pessoais
Quanto a idade analisada, o Grupo 1 obteve a média de 20,9 anos (± 0,8), tendo como menor idade 17
e maior 41 anos, e uma prevalência de 35,1% dos acadêmicos com idade de 18 anos. Já o Grupo 2 obteve a
média de 24,7 anos (±2,2), tendo como menor idade 21
anos e maior 29 anos, e uma prevalência de 29,4% com
idade de 24 anos. Esses dados mostram que essas idades
são comuns para o período de início e término do curso.
Da amostra analisada, verificou-se uma predominância do sexo feminino em relação ao masculino nos
dois grupos, sendo 86% de mulheres no Grupo 1 e 76%
no Grupo 2. Podemos inferir uma preferência desse
sexo pela área de Fisioterapia. Os dados revelam também uma expressiva representação dos solteiros 89,2%
(Grupo 1) e 94% (Grupo 2) sobre os casados 10,8%
(Grupo 1) e 6% (Grupo 2).
Verificou-se também que quanto à atividade profissional tanto o Grupo 1 como o Grupo 2 uma maioria
de 94% (n=35 e n=16, respectivamente) são estudantes e
6% (n=2 e n=1, respectivamente) trabalham em atividades sem vínculo acadêmico. E isso pode ser confirmado
com relação às disciplinas e créditos cursados, pois nos
dois grupos prevalece à maioria de créditos dos seus
respectivos semestres. Com isso nota-se um melhor
envolvimento dos acadêmicos em dar mais atenção à
faculdade.
Quando perguntado aos alunos sobre como esta
seu estado geral de saúde verificou-se que no Grupo
1 em torno de 51% (n=19) estão em ótimo estado de
saúde, 46% (n=17) em bom estado de saúde e 3% (n=1)
em estado regular. No Grupo 2 a prevalência foi de 70%
(n=12) em bom estado de saúde, 24% (n=4) em ótimo
e 6% (n=1) em regular. Nenhum dos dois grupos informou estar em péssimo estado de saúde.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
43
Sousa et al
Comportamento Acadêmico
Podemos dizer que esses dados evidenciam o momento pelo qual os alunos desses dois semestres estão
passando, o Grupo 1 em seu primeiro ano na faculdade e o
Grupo 2 se preparando para o mercado de trabalho, tendo
que enfrentar toda uma rotina de estágios, monografias,
preocupações com a formatura, etc. E estes agentes podem
ser desencadeadores do burnout1,9.
Os dados colhidos também mostram que quanto ao
uso de medicamentos, 40% (n=15) do Grupo 1 e 36%
(n=6) do Grupo 2 afirmaram estarem usando algum
tipo de medicação. Todos os usuários são do sexo feminino e a maioria das medicações está relacionada a
anticoncepcionais e calmantes para insônia.
No questionário foi explorado sob a quantidade
de pessoal que compõe a família de cada acadêmico,
e nos dois grupos prevaleceu a quantidade de 4 ou 5
componentes familiares, com 64% (n=24) e 52% (n=9)
respectivamente.
Análise das informações acadêmicas
Todos os acadêmicos do Grupo 1 cursam o primeiro semestre e estudam no turno da tarde. Já o Grupo 2
é formado por acadêmicos do nono semestre e que 53%
(n=9) estudam no período da tarde e 47% (n=8) estudam
no período da manhã.
Segundo o numero de disciplinas e a quantidade de
créditos cursados é notável que a grande maioria dos acadêmicos nos dois grupos, mostram-se concentrados nos
padrões de normalidade de seus respectivos semestres. O
Grupo 1 apresenta 91% (n=34) dos acadêmicos cursando 8
disciplinas e 26 créditos. O Grupo 2 apresenta 70% (n=12)
dos acadêmicos cursando 2 disciplinas e 28 créditos (Quadros 1 e 2).
Quadro 1 – Distribuição da amostra segundo o número de disciplinas cursadas.
Quadro 2 – Distribuição da amostra segundo a quantidade de créditos cursados.
Também foi abordado no questionário a participação
dos alunos em estágio, monitoria, iniciação científica,
trabalho de conclusão de curso (TCC), programa de
treinamento especial (PTE) e projeto de extensão, com
o intuito de verificar o envolvimento dos alunos com as
atividades extra sala de aula (Gráfico 1).
100%
90%
100%
10%
0%
100%
100%
75%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
100%
G1
G2
24%
9%
estágio
0%
monitoria iniciação
científica
0%
TCC
6%
0%
PTE
9%
projeto de
extensão
Gráfico 1 – Distribuição da amostra segundo a participação acadêmica extra sala de aula.
É possível notar que o envolvimento acadêmico entre os dois grupos é bem distinto. Em todos os quesitos o
Grupo 2 é superior, mostrando uma grande participação
nas atividades extra sala de aula dos concludentes, porém
é normal em se tratando dos temas como estágio, iniciação científica, TCC e PTE, pois não são atividades ainda
selecionadas para os alunos que iniciam o curso. Porém,
em relação a monitoria, verifica-se uma certa proximidade
entre os dois grupo visto que a procura pelos monitores no
primeiro semestre é muito grande nas disciplinas de anatomia humana e histologia, citologia e embriologia. Mas,
mesmo assim o Grupo 1 poderia ser mais participativo
devido a apenas 6% (n=2) trabalharem, não tendo assim
como freqüentar as aulas de monitoria.
Análise dos dados nas dimensões de estudo dos dois
grupos
Foi feito uma categorização do questionário, na parte
de informações extras, em quatro dimensões que são: envolvimento acadêmico, depressão, estresse e auto-estima.
Foram colocadas perguntas no questionário de maneira
a não informar o tipo de exploração que cada uma questionava para não induzir o entrevistado a nenhum tipo de
resposta. As informações acadêmicas também fazem parte
do estudo de desenvolvimento acadêmico.
Análise dos dados na dimensão do envolvimento
acadêmico
Foi avaliada a quantidade de aulas e horas de estudo semanais entre os dois grupos de acadêmicos, onde no Grupo
1 cerca de 91% (n=34) assistem entre 25 e 31 aulas semanais,
6% (n=2) entre 19 e 24 aulas semanais e 3% (n=1) entre 7 e
12 aulas semanais, más todos passam entre 25 e 31 horas
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
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Sousa et al
Comportamento Acadêmico
semanais em atividades ligadas a faculdade. No entanto, todos os componentes do Grupo 2 assistem entre 25 e 31 aulas
semanais e passam entre 25 e 31 horas semanais em atividades ligadas a faculdade. Esses dados mostram o maior
grau de envolvimento dos acadêmicos do nono semestre
em relação aos acadêmicos do primeiro.
Quando perguntado se investem em cursos verificou-se que no Grupo 1 cerca de 51% (n=19) demonstraram
investir em cursos enquanto que no Grupo 2 foram 82%
(n=14). E em relação à participação em eventos científicos
por semestre, 43% (n=16) dos acadêmicos do primeiro semestre afirmaram não participar de eventos científicos e
32% (n=12) participar de 1 ou 2 eventos. Já no Grupo 2 a
maioria 58% (n=10) afirmou participar de 1 ou 2 eventos
científicos e apenas 12% (n=2) não participar de eventos
(Gráfico 2).
70%
58%
60%
50%
43%
40%
20%
G1
32%
30%
G2
24%
13%
12%
10%
9%
3%
0%
nenhum
1 ou 2
3 ou 4
6%
0%
5 ou 6
mais de 7
Gráfico 2 – Distribuição da amostra segundo a participação em eventos científicos por
semestre.
Esses dados também mostram o quão envolvido nas
questões científicas e de aprimoramento profissional os
acadêmicos do nono semestre são sobre os do primeiro
semestre.
Análise dos dados na dimensão do estado depressivo
foi detectado certo equilíbrio entre os dois grupos, pois
todos dois demonstraram prevalência no teste de aptidão,
decisão própria e influência da família (Gráfico 3).
60%
40%
0%
G1
G2
21%
18%
20%
10%
35%
29%30%
30%
9%
6%
0%
amigos
0%
decisão
própria
família
mercado de
trabalho
teste de
aptidão
Gráfico 3 – Distribuição da amostra segundo a escolha pelo curso.
Portanto, mesmo com a maioria dos alunos dos dois
grupos convivendo com a família, parte dos acadêmicos
do Grupo 2 , cerca de 48% (n=8), quase a metade, convive
pouco com a família, pois alguns moram sozinhos ou com
amigos nesta capital enquanto suas famílias vivem no interior do Estado, e também pela própria rotina de ocupações
com a faculdade no dia-a-dia.
Quando perguntado aos acadêmicos se em algum
momento se sentem tristes, houve uma semelhança de
resultados entre os grupos, pois 89% (n=33) do Grupo 1
afirmou as vezes estarem triste e 11% (n=4) de nunca estarem tristes. Já o Grupo 2 demonstrou 88% (n=15) estarem
as vezes tristes e 12% (n=2) (Gráfico 4).
100%
89% 88%
90%
80%
70%
60%
G1
50%
G2
40%
30%
20%
10%
Também foi questionado em relação com quem mora,
no Grupo 1 os que moram coma a família foi 81% (n=30),
com familiares 13% (n=5) e com amigos 6% (n=2), já no
Grupo 2 os que moram com a família representa 76%
(n=13), com amigos 12% (n=2) e sozinhos 12% (n=2).
Quando analisado sobre a freqüência que os alunos
convivem com suas famílias foi verificado que no Grupo
1 cerca de 81% (n=30) convivem diariamente com suas
famílias e 19 % (n=7) tem pouco convívio com a família.
No Grupo 2 constatou-se que 52 % (n=9) convivem diariamente com suas famílias e que 48% (n=8) tem pouco
convívio com a família.
Foi questionado a cerca da escolha pelo curso, onde
52%
50%
11% 12%
0%
0%
nunca
às vezes
0%
sempre
Gráfico 4 – Distribuição da amostra segundo o comportamento de tristeza.
Análise dos dados na dimensão do estado de estresse
Com relação ao lazer todos os componentes dos dois
grupos mostraram ter algum tipo de diversão para se distraírem, relaxarem e se divertirem. O que diferenciou foi
em relação à freqüência. No Grupo 1 cerca de 51% (n=19)
tem lazer apenas nos fins de semana, 29% (n=11) diariamente e 20% (n=7) raramente. Já no Grupo 2 cerca de 76%
(n=13) tem lazer apenas nos fins de semana e 24% (n=4)
afirmaram raramente praticar lazer.
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
45
Sousa et al
Comportamento Acadêmico
Os dados mostram que enquanto o Grupo 1 distribui
o tempo de lazer diariamente e nos fins de semana, o Grupo 2 só tem tempo nos finais de semana. Isto mostra a quão
cheia é a rotina de estudos desses acadêmicos do último
semestre que nem durante a semana possuem tempo para
lazer, sendo a falta deste um evento estressante, que segundo Atkinson7 as reações das pessoas a eles são respostas ao
estresse.
Outro fator abordado foi a prática de atividade física.
A maioria dos componentes dos dois grupos demonstraram
não praticar nenhuma atividade física (Grupo 1 a 41% e
Grupo 2 a 64%) , sendo bem maior a abstenção de atividades pelo Grupo 2, mostrando assim ser o mais sedentário.
É possível notar que o Grupo 2 além de possuírem
uma rotina mais atarefada apresentam pouco tempo tanto
para lazer como para práticas de atividade física. Pois segundo Atkinson (7) uma rotina monótona também é um
fator desencadeante do estresse.
O tempo nas refeições e os hábitos alimentares também foram questionados. O Grupo 1 apresentou 61%
(n=23) dos alunos estarem usando entre 15 à 20 minutos
nas suas refeições. Já o Grupo 2 mostrou 64% (n=11) dos
alunos estarem usando entre 10 à 15 minutos em suas refeições. E quando perguntados se satisfeitos com seus hábitos
alimentares, no Grupo 1 cerca de 65% (n=24) afirmaram
estarem satisfeitos, porém no Grupo 2 somente 46% (n=8)
mostraram estarem satisfeitos.
Com isso, é importante notar também que o Grupo
2 mostra ter menos tempo para suas refeições, até mesmo pela correria do seu dia-a-dia, e quando questionados
porquê insatisfeitos com suas refeições eles relataram justamente o tempo corrido de se alimentar, tendo muitas vezes
que fazerem lanches rápidos como sanduíches no lugar de
refeições.
Quando perguntado aos acadêmicos se tinham momentos de irritação, todos os componentes do Grupo 1
afirmaram que às vezes estão irritados, já no Grupo 2 cerca
de 88% (n=15) demonstraram estarem às vezes irritados e
12% (n=2) estarem sempre irritados.
Ao questionar sobre a qualidade do sono, os acadêmicos do Grupo 1 mostraram que 51% (n=19) apresentam
sono satisfatório, 35% (n=13) sono regular e 14% (n=5) sono
insatisfatório. No Grupo 2 o sono era regular para 46%
(n=8), satisfatório para 30% (n=5) e insatisfatório para 24%
(n=4).
Os dados mostram uma distinção entre os dois grupos.
Enquanto mais da metade do Grupo 1 mostra apresentar
o sono satisfatório, a maioria do Grupo 2 apresenta o sono
regular. Muitos destes acadêmicos relataram que não tem
um sono satisfatório por dormirem muito tarde fazendo
seus trabalhos e monografias, e acordarem muito cedo para
irem à aula.
Foi questionado quanto ao cansaço, sendo observado
que no Grupo 1 cerca de 89% (n=33) afirmou se sentirem
às vezes cansados e 11% (n=4) de estarem sempre cansados. Já o Grupo 2 cerca de 76% (n=13) afirmaram se
sentirem às vezes cansados e 24% (n=4) afirmaram estarem sempre cansados. Evidenciando assim um cansaço
maior entre os acadêmicos do Grupo 2.
Análise dos dados na dimensão de auto-estima
Foi abordado aos alunos quanto a satisfação pelo curso escolhido e todos do Grupo 1 mostraram-se satisfeitos
enquanto apenas 6% (n=1) do Grupo 2 mostraram insatisfação quanto a escolha pelo curso.
Quando questionado sobre as expectativas profissionais em relação ao mercado de trabalho quando se
formarem, para os acadêmicos do Grupo 1 cerca de 59%
(n=22) esperam conseguir emprego rápido, 32% (n=12)
serem excelentes profissionais e 9% (n=3) não pensaram
ainda nisso. Já no Grupo 2 cerca de 41% (n=7) afirmaram
ter medo de não conseguir emprego, 41% (n=7) serem
excelentes profissionais e 18% (n=3) afirmaram que esperam conseguir emprego rápido.
Os dados mostram uma importante diferença em relação às expectativas profissionais entre os dois grupos,
enquanto a maioria dos acadêmicos do primeiro semestre se preocupa em conseguir emprego rápido, uma boa
parte do ultimo semestres demonstra medo em não conseguir emprego.
Quando perguntado aos acadêmicos se possuem
duvida no que são capazes de fazer, os dois grupos mostraram que às vezes não se acham capazes de realizar o
que gostariam. Da mesma forma, quando questionados
sobre serem perfeccionistas nos estudos, os dois grupos
mostraram às vezes serem perfeccionistas.
Foi perguntado aos acadêmicos se a opinião que os
outros fazem a seu respeito é importante e os dois grupos mostraram às vezes dar importância ao que os outros
acham a seu respeito.
E por fim, quando questionado aos alunos se para
eles é difícil receber elogios. Detectamos que no Grupo
1 cerca de 24% (n=9) afirmaram que nunca receberam
elogios e no Grupo 2 às vezes é difícil receber elogios
para 47% (n=8).
CONCLUSÃO
O objetivo deste trabalho foi de analisar a necessidade
da formação de programas de apoio aos discentes pelas Instituições de Ensino Superior para que ofereçam subsídios
para a formação não só acadêmica, mas também humana
dos discentes. Dessa forma analisamos em quatro etapas a
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
46
Sousa et al
Comportamento Acadêmico
forma de comportamento com relação ao envolvimento acadêmico e aos estados de depressão, estresse e auto-estima.
Ao analisar o envolvimento acadêmico, o grupo de
alunos do último semestre se mostra mais envolvidos
em relação à quantidade de aulas e horas de estudo, assim como investimento em cursos.
Em relação ao estado depressivo 24% (n=4) do
Grupo 2 afirmaram não morar com a família, assim
como demonstraram uma pouca freqüência de convívio
familiar, pois moram sozinhos na capital e os pais residem no interior. No entanto, os dois grupos mostram às
vezes estarem tristes.
Outro dado estudado foi em relação ao estado de
estresse. Quando questionados ao lazer os acadêmicos
do ultimo semestre afirmaram terem apenas os finais
de semana ou raramente. Pois tem o tempo na semana
muito ocupado, impedindo até uma alimentação adequada. Também foi possível verificar que o Grupo 2 é
muito sedentário, afirmaram estarem às vezes cansados
e terem o sono apenas regular. Porém a irritação estar
presente nos dois grupos.
Quando analisados sobre a auto-estima foi verificado uma distinção em relação nos dois grupos, pois o
Grupo 1 demonstrou maior preocupação em conseguir
emprego rápido ao se formar já o Grupo 2 afirmou maior
preocupação em ter medo de ficarem desempregados.
Mediante esses dados seria possível sugerir a formação de um programa de apoio aos discentes pelas
Instituições de Ensino Superior para que ofereçam subsídios psicológicos e psicopedagógicos para a formação
não só acadêmica, mas também humana dos discentes.
Assim também orientação e apoio aos recém formados
no que tangem o seu ingresso no mercado de trabalho.
REFERÊNCIAS
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br/cursos/stress4.html
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2.ed. Rio de Janeiro: MEDSI; 2001.
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Médicas do Sul; 1992.
7. Atkinson RL et al. Introdução à psicologia. 11.ed. Porto
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8. Zago R. Valor da auto-estima. [acesso 2006 Maio 20].
Disponível em: http://www1.uol. com.br/cyberdiet/colunas/021129_psy_auto_estima.htm
9. Bastos VPD. Clima organizacional na unidade de Fisioterapia do Instituto Doutor José Frota de
Fortaleza[dissertação]. Fortaleza: Universidade Estadual do
Ceará; 2006.
Submissão : 01/07/2008
Aceite:
29/09/2008
CORPVS/Rev. dos Cursos de Saúde da Faculdade Integrada do Ceará, Fortaleza, 1(7) jul./out. 2008.
47
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CEP: 60810-270 / Fortaleza-Ce
Fone: (85) 40092600
www.fic.br