VIDEO-ON-DEMAND Tiago Barroso Nº52164 Instituto Superior

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VIDEO-ON-DEMAND Tiago Barroso Nº52164 Instituto Superior
VIDEO-ON-DEMAND
Tiago Barroso Nº52164
Instituto Superior Técnico
Av. Rovisco Pais, 1049-001 Lisboa, Portugal
E-mail: [email protected]
ABSTRACT
interface de um destes serviços de VoD a partir do qual o
cliente selecciona o conteúdo pretendido.
Este artigo de divulgação é sobre o serviço de televisão
interactiva Video-on-Demand. Bastante utilizado pelos
operadores de redes de cabo/fibra, este artigo descreve a sua
história, evolução e utilização actual. São tidos em conta
aspectos gerais do serviço, os diferentes tipos existentes,
aspectos técnicos e também modelos de negócio possíveis
para a sua utilização. Posteriormente é feito um panorama
do serviço em Portugal. Para além disso também se dá uma
perspectiva da evolução do serviço nos próximos anos.
1. INTRODUÇÃO
Numa altura em que a maioria das pessoas têm um serviço
de TV quer por cabo, quer através da internet (IPTV), os
operadores, numa tentativa de angariar novos clientes e dar
uso aos avanços tecnológicos na área do transporte de
informação, criam novos serviços cada vez mais
interactivos. Um desses serviços interactivos é o serviço de
Video-on-Demand (VoD), ou serviço de videoclube, que
traz a possibilidade de aceder a vários tipos de conteúdo,
como por exemplo, filmes mais ou menos recentes ou
documentários, apenas com a utilização de um comando e
sem que o cliente saia do conforto do seu lar. Este serviço
tem evoluído nos últimos anos com o cliente a ter cada vez
mais controlo sobre o que está a ver.
2. O QUE É O VIDEO-ON-DEMAND
O sistema de VoD é um serviço interactivo de televisão que
usa uma ligação de banda larga e que proporciona a
possibilidade de escolher, encomendar e receber, de forma
remota, qualquer tipo de conteúdo (filmes, programas de
TV, eventos desportivos, música, etc.) de uma biblioteca
posta à disposição pelo operador que oferece o serviço. O
VoD substitui completamente os leitores de cassetes ou
DVDs ao incluir todas as suas funcionalidades (play, stop,
pause, rewind, forward) no terminal do cliente, a Set-Top- Box (STB). O serviço funciona como uma loja virtual de
conteúdo video/multimédia onde o cliente tem acesso a itens
que lhe interessem sem sair de casa [1]. A figura 1 mostra o
Fig.1 – Exemplo de um interface de um sistema de VoD
3. HISTÓRIA DO VIDEO-ON-DEMAND [3]
3.1. Primeiro serviço de VoD
Em Setembro de 1994, o serviço de Video-on-Demand
(VoD) começou a ser testado no Cambridge Interactive TV
trial em Inglaterra. Este serviço chegou a providenciar vídeo
e dados a 250 casas e escolas ligadas à rede de cabo de
Cambridge (mais tarde esta rede faria parte da NTL e hoje
em dia da Virgin Media). Os vídeos eram codificados em
MPEG-1 e enviados através de uma rede ATM desde o
servidor ICL media até às set-top-boxes (STB) feitas pela
Acorn Online Media. Estes testes começaram com uma
velocidade de serviço de 2 Mbit/s por casa sendo depois
aumentado para 25Mbit/s. Os conteúdos eram
providenciados pela BBC e Anglia Television. Apesar de ter
sido um sucesso a nível técnico, dificuldades a nível de
conteúdos levaram ao encerramento do projecto em 1996.
A arquitectura do sistema, que se manteve na sua raiz até
hoje, é mostrada na figura 2.
1
anteriormente. Outras companhias acabaram por criar
também as suas próprias versões. Um dos grandes projectos
para este serviço mais rápido vinha de uma junção da BBC,
ITV e Channel 4 que planeavam lançar uma plataforma
conjunta em 2008. O nome deste projecto era Kangaroo e
quando foi proposto à comissão de competição foi
chumbado uma vez que a comissão acreditava que uma
plataforma conjunta seria demasiado poderosa.
3.4. Até à actualidade
Fig.2 – Primeiro sistema de VoD
3.2. Primeiros operadores a utilizar VoD
Em 1998, a Kingston Communications tornou-se na primeira
companhia inglesa a lançar comercialmente um serviço de
VoD assim como a primeira a integrar TV e Internet através
de uma única STB utilizando IP numa ligação ADSL. Três
anos depois a Kingston Interactive TV já tinha cerca de
15000 assinantes.
Em 1999, depois de fazer os testes necessários, a
HomeChoice também lançou um serviço de VoD embora
fosse restrito a Londres. Em 2006, depois de conseguir
angariar cerca de 40000 assinantes, foi comprada pela
Tiscali.
3.3. Crescimento e evolução
As companhias de TV Cabo Telewest e NTL (hoje Virgin
Media) lançaram o seu serviço de VoD em Inglaterra em
2005, passando a competir com a BSkyB, o distribuidor de
TV paga tradicional da altura, que respondeu lançando o
serviço Sky by broadband, mais tarde renomeado para Sky
Anytime on PC. Este serviço foi lançado a 2 de Janeiro de
2006 e utiliza uma forma legal de peer-to-peer para
distribuir os seus conteúdos de uma forma mais rápida. Em
vez de se fazer o download dos conteúdos somente dos
servidores da Sky, este é feito também a partir de outros
clientes que fizeram o download do mesmo conteúdo
Hoje em dia existe bastante oferta de serviços de VoD. As
companhias de TV por cabo e IPTV oferecem um serviço de
VoD em streaming que utiliza a largura de banda de
downstream dos sistemas de transporte para oferecer aos
clientes filmes e programas de televisão. Normalmente, nos
filmes provenientes de VoD, é possível fazer pausa, fast-forward e rewind devido a uma baixa latency e à natureza
da tecnologia de transporte por cabo (ou fibra).
A grande distribuição de um único sinal torna o sistema de
VoD em streaming impraticável nos sistemas de TV por
satélite. No entanto, a companhia EchoStar tinha planos para
oferecer um serviço de VoD aos seus clientes que tivessem
gravadores de vídeo digital. Neste serviço os conteúdos
seriam armazenados pelos clientes que posteriormente os
poderiam ver tendo completo controlo na forma de pausa,
fast-forward, rewind e ainda a possibilidade de começar a
ver o conteúdo em qualquer ponto.
De acordo com o European Audiovisual Observatory
existiam 142 serviços pagos de VOD a operar na Europa no
final de 2006.
4. TIPOS DE VIDEO ON DEMAND
Baseado no nível de interactividade, os serviços interactivos
podem ser classificados em diversas categorias [2] que se
passam a descrever e que se encontram por ordem de
dificuldade de implementação, onde o Pay-per-view (PPV) é
o mais simples e o True-VoD (T-VoD) o mais complicado
de implementar. O PPV e o Quasi-VoD são serviços usados,
por exemplo, para ver filmes, onde o controlador local, a
STB, filtra os múltiplos canais existentes para providenciar
o conteúdo escolhido. Já o T-VoD necessita de um sinal
bidireccional entre o utilizador e o controlador central.
4.1. Broadcast (No-VoD)
Este serviço de TV é o mais comum e o primeiro a aparecer,
onde o utilizador é um mero participante passivo e não tem
qualquer controlo sobre o que está a ver com excepção de
poder mudar o canal.
4.2. Pay-per-view (PPV)
2
Um serviço onde o utilizador se inscreve e efectua um
pagamento para ter acesso a programas específicos que
passam numa determinada altura.
4.3. Quasi Video-on-Demand (Q-VoD)
Serviços em que os utilizadores são agrupados por conteúdo
e têm um controlo temporal muito simplista, conseguido
através da mudança de grupo para um onde o conteúdo
esteja a ser transmitido mais à frente ou mais atrás no tempo.
4.4. Near Video-on-Demand (N-VoD)
Serviços onde estão presentes funções como forward e
reverse mas onde estas são simuladas por transições em
intervalos de tempo discretos (por exemplo, 5 minutos). Isto
pode ser conseguido através da utilização de múltiplos
canais com a mesma programação desfasada no tempo.
4.5. True Video-on-Demand (T-VoD)
Serviços onde o utilizador tem completo controlo sobre o
que está a ver como se de um leitor de cassetes/DVDs se
tratasse. Este controlo inclui as funções de forward, reverse
play, freeze e random positioning, entre outras. O T-VoD só
precisa de um canal por utilizador.
5. ARQUITECTURA DE UM SISTEMA DE VOD[4]
Um sistema de VoD, como se pode ver na figura 3, é
constituído por três blocos que são o(s) servidor(es) onde
estão armazenados os conteúdos, a rede que transporta os
mesmos até à Set-Top-Box (STB) do cliente e a STB do
cliente que recebe o stream, descodificando-o e passando o
conteúdo para o cliente ver.
Fig.3 – Arquitectura base de um sistema de VoD
5.1. Cliente
O cliente de um serviço de VoD possui equipamento para
ver os conteúdos (por exemplo, uma televisão ou um
monitor e colunas) mas para interagir com o sistema tem de
ter um controlador que envie os seus comandos para o
servidor através da rede. Este controlador, a STB, para além
de transmitir os comandos do cliente também armazena os
sinais de vídeo recebidos do servidor, descodifica os sinais
comprimidos e envia os sinais descodificados na altura certa
para o equipamento de visualização. Na figura 4 pode verse um esquema de uma STB com o processador e
descodificador e os diversos interfaces necessários.
Fig.4 – Esquema de uma STB
5.2. Rede
Um serviço de VoD necessita que os conteúdos alugados
pelo cliente sejam visualizados em tempo real. O stream de
vídeo consiste em frames de imagens, sons correspondentes
às imagens e texto associado. Esta quantidade de informação
tem de ser enviada ao cliente de modo contínuo com o
mínimo de atraso e este é o grande requisito da rede que
suporta o serviço. Uma rede de VoD deve ser de alta
velocidade sem que hajam grandes erros de transmissão
visto que a retransmissão não é uma opção.
Actualmente, as redes já atingem velocidades altas de bébito
(por exemplo 20Mbit/s) e com a implementação de redes
que utilizam fibra óptica até casa do cliente, este tem já
acesso a velocidades ainda mais altas (por exemplo
100Mbit/s).
5.3. Servidor
O servidor de um serviço de VoD processa comandos dos
clientes. Aceita e rejeita pedidos com base no estado do
sistema e da rede. Também recebe data dos clientes activos.
Ligado ao servidor há um arquivo multimédia que contém a
biblioteca de conteúdos disponíveis aos clientes.
Dependendo dos requisitos do sistema e do capital
disponível, há vários tipos de equipamento de
armazenamento que podem ser utilizados como cache
(RAM) que, sendo a mais cara, tem os tempos de acesso
mais baixos, conjuntos de discos, etc. Um sistema típico de
armazenamento utiliza uma combinação de diferentes tipos
de equipamento de modo a optimizar a relação
custo/eficiência.
Um servidor, actualmente, tem os vários tipos de
compressão ao seu dispor (MPEG-1, MPEG-2, MPEG-4 e
MP3 para o som), tem grandes capacidades (por exemplo
150 horas) e consegue ter um grande número de streams em
simultâneo.
6. IMPLEMENTAÇÃO DE UM SISTEMA DE VOD
Um sistema de VoD assente numa rede híbrida de cabo/fibra
(HFC) consiste em vários blocos [5] como se pode observar
na figura 5.
3
A terceira opção é colocar os servidores e as funções de
modulação QAM e RF upconversion na central e mover os
streams de vídeo para o hub, ou através do hub, utilizando
um transporte analógico com recurso a Dense Wavelength
Division Multiplexing (DWDM). Para além disso, com vista
a maximizar a eficiência do servidor centralizado, os vídeos
são transportados em formato pronto para as STBs do
cliente desde a central o que faz com que haja um
processamento mínimo, ou mesmo não existente, no hub.
Fig.5 – Blocos de um sistema de VoD
Da perspectiva do operador, estes blocos devem ser
implementados com o menor custo possível mas de modo a
que seja de confiança. Um dos aspectos principais para um
sistema eficaz do ponto de vista do custo é o uso de
interfaces com standards abertos entre os blocos. Deste
modo, é possível utilizar componentes que são os melhores
da sua classe, em particular servidores, adaptadores de rede
interactivos (INA) e os componentes do acesso condicional.
Também é possível agrupar certas funções num circuito de
modo a baixar o custo e tamanho dos componentes. Isto
pode ser observado na figura 5 na caixa Stream
Conditioning onde se juntam as funções de scrambling,
multiplexagem,
filtragem,
routing,
modulação
e
upconversion num só aparelho.
O operador da rede HFC tem duas opções no que diz
respeito à localização dos servidores – nos hubs ou nas
centrais. Ambas as opções são válidas e utilizadas por vários
operadores em todo o mundo, mas há certas vantagens em
centralizar o equipamento dos servidores. Na figura 6 são
mostradas as diversas opções para a colocação do
equipamento de VoD.
6.1. Opções de colocação dos equipamentos
Uma primeira opção é colocar os servidores e equipamento
de condicionamento nos hubs. São depois utilizadas Wide
Area Networks (WAN) de baixa ou média velocidade para
colocar nos servidores os conteúdos mais recentes. Isto
minimiza o custo de transporte mas tem como desvantagem
o facto de serem precisos vários equipamentos no hub.
Numa rede com diversos hubs, o custo sobe bastante.
A segunda opção consiste em colocar os servidores na
central e transportar os streams de vídeo desde a central até
ao hub utilizando redes de transporte de alta velocidade e
colocar a modulação QAM e a RF upconversion no hub. Ao
centralizar os servidores pode diminuir-se a sua capacidade
total – tanto no aspecto de se copiarem conteúdos muito
procurados como no aspecto de se tornar o sistema mais
tolerante a falhas. Aqui também se pode explorar a
eficiência das redes de transporte de baixo custo e alta
capacidade pois os sinais só são transmitidos para um
determinado receptor depois de passarem pelo hub.
Fig.6 – Posicionamento do equipamento
6.2. Modelo mais utilizado actualmente [7]
O melhor modelo em uso conhecido nos nossos dias, pelas
grandes redes de operadores, é o modelo SHE-VHO-VSO.
Este modelo pode dividir-se em três partes: uma, que agrupa
os conteúdos de uma grande área ou mesmo a nível nacional
e entrega conteúdos nacionais a uma grande área, usando
tipicamente uma rede de IP, chamado de Super Headend
(SHE); uma parte que trabalha com o SHE para integrar
conteúdos locais ou regionais na biblioteca, garantindo
assim conteúdos nacionais e locais no serviço, chamada de
Video Hub Office (VHO) e ainda uma terceira chamada de
Video Switching Office (VSO), responsável por registar os
conteúdos e a sua localização no access domain para
distribuição pelos clientes.
O modo tradicional de fazer o streaming de média, como se
pode ver na figura 7, é entregar o conteúdo a partir de um
servidor que pertence normalmente a uma Content Delivery
Network (CDN). Neste ambiente, os pedidos de conteúdos
são transmitidos para uma central que supervisiona todo o
processo. Assim que o pedido é validado, a central
transmite-o a um servidor proxy dentro da rede que por sua
vez entrega o conteúdo ao cliente.
4
um serviço melhor e mais variado e pode ganhar novos
clientes que estejam interessados nos novos serviços mais
modernos[1].
7.2. Vantagens do cliente em aderir a um serviço VoD
Fig.7 – Modelo tradicional SHE-VHO-VSO
7. MODELO DE NEGÓCIO [5]
O serviço de VoD traz grandes vantagens competitivas aos
operadores de redes HFC.
Conteúdos de vídeo por encomenda requerem grande
largura de banda para suportar todas as comunicações
narrowcast - largura de banda essa, que as redes dos
operadores HFC podem providenciar com um custo
relativamente baixo quando comparado com tecnologias
concorrentes como por exemplo a comunicação via satelite.
Este serviço tem uma procura bem conhecida, no sentido em
que é possível ter conhecimento do comportamento dos
consumidores se se tiver acesso às lojas de aluguer de vídeos
da zona. É por estas razões que o serviço de VoD está no
topo da lista de novos serviços que os operadores de
cabo/fibra querem implementar.
No entanto, para que o VoD seja implementado em grande
escala, o serviço tem de dar um retorno do investimento
necessário que seja atractivo quando comparado com outras
possibilidades de investimento.
O parâmetro principal a determinar quando se projecta um
modelo de VoD é o custo de transporte por stream de vídeo.
À medida que a tecnologia vai avançando este preço tem
tendência a descer mas cabe aos operadores decidir quais as
soluções mais eficientes para as suas necessidades imediatas
e futuras. A utilização de standards abertos e transporte
DWDM possibilita que custos mais baixos sejam atingidos.
Tão importante como baixar os custos de transporte é
conseguir ter uma infra-estrutura narrowcast flexível que vá
para além das necessidades actuais do VoD de modo que
esteja preparado para a evolução e a procura por conteúdo
digital mais variado.
Também bastante importante para um operador é poder
oferecer um serviço o mais competitivo possível e o mais
diferenciado dos restantes operadores possivel, de
preferencia um que os restantes não consigam igualar.
7.1. Vantagens do operador em criar um serviço VoD
Ao criar um serviço VoD o operador passa a receber um
maior retorno por parte dos seus clientes devido à oferta de
O cliente, ao ter acesso a um serviço VoD, passa a ter a
possibilidade de encomendar e ver um filme escolhido ou
outro conteúdo sem sair de casa. É um modo muito mais
confortável de obter um filme do que ir a uma loja e ainda se
poupa tempo.
Para além disso o cliente tem acesso individual e remoto ao
item que escolheu da biblioteca posta ao seu dispor a
qualquer altura do dia, o que é uma grande vantagem em
relação à tradicional loja de vídeo.
O cliente pode ainda ver o filme ou outro conteúdo como se
estivesse a vê-lo num leitor de DVD com as suas
funcionalidades (play/stop/pause/rewind/forward) [1].
8. COMPETITIVIDADE [6]
Apesar do sucesso do VoD e dos vários serviços já
disponíveis, os analistas avisam que a continuação deste
sucesso não é garantida, especialmente se pensarmos na
competição com outras formas de entretenimento.
Para começar, o serviço de VoD só pode ser utilizado numa
rede de cabo/fibra digital, não estando, portanto, disponível
a quem tenha serviço de cabo analógico ou satélite. Isto
limita o número de pessoas que pode aceder ao serviço de
VoD.
Para além disso, das casas capazes de aceder ao serviço
VoD, apenas cerca de 27% o faz.
Com estes dados pode concluir-se que o VoD não vai acabar
com os clubes de vídeo, os cinemas ou a maneira tradicional
de ver TV nos próximos tempos.
9. O VOD EM PORTUGAL
Os serviços de VoD são relativamente recentes em Portugal.
Segundo um relatório de 2007 [8] mais de 99% das casas no
país tinham TV mas apenas cerca de 37% eram clientes de
um serviço de TV por cabo e só cerca de 42% tinham
computador pessoal (um dos valores mais baixos da
Europa). No final de 2005 havia uma penetração do serviço
de banda larga de 32.2%.
Em 2001 a TV Cabo lançou o serviço de televisão
interactiva TV Cabo Interactiva dando início a este tipo de
serviços em Portugal e sendo o primeiro a nível mundial a
utilizar a plataforma Microsoft TV.
Em 2006 foram lançados os primeiros serviços de VoD,
nomeadamente o serviço “Destaques Video-on-Demand” da
TV Cabo e o “Home Video Service” da Clix SmartTV. O
primeiro, era um serviço assente em televisão por cabo que
oferecia aos seus clientes 6 filmes que iam rodando numa
base semanal mais os títulos para adultos enquanto o
segundo era um serviço de IPTV que oferecia já cerca de
5
500 filmes. Ambos os serviços davam a possibilidade aos
seus clientes de alugar um filme por 24h, podendo visualizálo as vezes que se quisesse, e a sua distribuição era feita em
streaming.
Entretanto os operadores foram-se alterando e os serviços
evoluindo e hoje em dia há três operadores principais, um de
TV por cabo, a ZON TV Cabo e dois de IPTV, o MEO e a
Clix Fibra. Todos eles mantiveram o modo de distribuição
por streaming e também o período de aluguer de 24h. O
número de conteúdos oferecido por todos eles é de cerca de
2000 e para além de filmes já existem documentários, séries,
concertos etc.
Nesta altura, estes serviços estão todos a mudar para fibra
óptica até casa do cliente, o que dá novas possibilidades de
evolução para o seu serviço de VoD.
10. FUTURO DO VOD [7]
Há cada vez mais procura por conteúdos digitais e serviços
interactivos e os avanços em tecnologias de compressão
fazem com que as larguras de banda necessárias para o
transporte de média sejam menores. Para além disso, as
velocidades dos serviços de cabo/fibra estão a aumentar.
Estes dois factos aliados às avançadas tecnologias no campo
das telecomunicações e aos conteúdos cada vez mais ricos
estão a mudar a natureza dos serviços de entrega ondemand.
Devido à facilidade com que, hoje em dia, se tem acesso a
variados conteúdos, os clientes destes tipos de serviços
começaram a esperar a entrega de conteúdos de alta
qualidade a qualquer altura e em qualquer lugar, tanto nos
equipamentos fixos como nos móveis.
Para além disso os operadores estão à procura de novas e
melhores maneiras de levar os seus conteúdos até cada vez
mais pessoas e fazer o máximo de lucro com isso.
A grande quantidade de conteúdos disponíveis, as
capacidades
tecnológicas,
a
infra-estrutura
de
telecomunicações mais acessível e com velocidades
superiores, abriu a porta aos serviços de VoD em larga
escala, numa base mais lucrativa para os operadores.
As mudanças nos sectores de média, tecnologia e das
telecomunicações garantem que o serviço de VoD vai
tornar-se um dos melhores serviços de entrega de conteúdos
de média nos próximos anos. A seguir vão ser analisados
cada um dos sectores em mais pormenor.
10.1. Média
Em última análise, a indústria de média é exactamente isto –
entregar todas as formas de conteúdo ao maior número
possível de tipos de equipamento. E é necessário um grande
esforço para conseguir isso num mundo super competitivo
como é o da venda de média. A colocação de média tem de
ser estudada, analisada e muito bem planeada para se ter
sucesso. Para maximizar o potencial de vendas futuras é
preciso haver um conhecimento acerca da história de
compras do cliente, preferências de downloads assim como
tecnologias e modos de entrega de dados preferidos. Ao
analisar as compras passadas num longo período de tempo e
comparando os resultados, é possível criar profiles para
clientes individuais que depois podem ser utilizados por
motores de busca e de recomendações para prever compras
futuras do cliente de um modo mais preciso.
É também bastante importante que as organizações
percebam a economia da indústria de média. Ao contrário do
que se pensa, a maior parte do valor de conteúdos de um
proprietário de média não está nos últimos filmes que estão
no cinema ou nos filmes que acabam de chegar aos
videoclubes. Ironicamente, está no vasto número de filmes
antigos que se forem apresentados a um determinado cliente
num determinado momento podem gerar um grande número
de vendas. A habilidade de recolher e analisar dados sobre
vendas em massa, determinar e fazer recomendações
acertadas é, portanto, crítico para se ter um crescimento de
receitas no negócio de média. Este modelo é chamado de
Long Tail Economics e está representado na figura 8.
Fig. 8 – Representação do modelo Long Tail Economics
Segundo este modelo, a cauda amarela representa cerca de
80% do valor de uma biblioteca de conteúdos que são os
conteúdos mais antigos enquanto a zona cor-de-laranja, mais
densa, representa os novos conteúdos que estão em menor
número. O operador que conseguir vender mais conteúdos
da longa zona amarela é aquele que, normalmente, obtem as
melhores receitas.
Um fenómeno que pode ser adaptado para ser utilizado neste
contexto é a Zipf’s Law, que originalmente descrevia a
natureza repetitiva da linguagem e através da qual se podia
saber a frequência com que uma palavra era dita. Utilizada
no contexto do VoD, uma ferramenta baseada na Zipf’s Law
pode observar em qualquer altura se um certo conteúdo é
muito ou pouco requisitado. Normalmente o mais
requisitado tem o dobro das requisições do segundo mais
requisitado que por sua vez tem o dobro das requisições do
quarto, etc. Estas observações podem ser usadas para criar
modelos de probabilidades para pedidos de conteúdos e
também para determinar o grau de compressão que um certo
conteúdo pode ter para ser armazenado.
Igualmente importante é o papel crescente que o VoD
começa a desempenhar nos mercados. Se no inicio era
considerado o grande inimigo da entrega de media devido à
6
percepção que iria canibalizar as vendas de DVDs e
cassetes, hoje é reconhecido pelo sector de media como
sendo viável e um aliado na batalha pelo reconhecimento de
qualquer operador. O VoD também facilita a entrega dos
serviços ‘triple play’ de voz, vídeo e data.
Como é espectável nos Estados Unidos que a indústria de
streaming de conteúdos cresça até aos 27 mil milhões de
dólares até 2011, é obvio que o VoD é um sistema a ter em
conta no futuro.
10.2. Tecnologia
O sector da tecnologia tem também um papel muito
importante na entrega de VoD. Consideram-se os elementos
do sistema que estão entre o cliente e o conteúdo pretendido.
Hoje em dia os conteúdos estão armazenados em
equipamentos de armazenamento, normalmente DVDs que
estão na posse dos clientes. À medida que a tecnologia
evolui e o VoD começa a ser aceite como uma realidade
lucrativa, pode acontecer uma transição. Os conteúdos que
tradicionalmente estão na posse dos clientes podem começar
a migrar para a rede e ficar armazenados em servidores a
partir dos quais são enviados em streams para os clientes, a
pedido dos mesmos. Isto implica a existência de sistemas de
armazenamento maciços, interacções complexas entre
servidores
próximos,
capacidades
avançadas
de
processamento de pacotes, bons algoritmos de recolha de
dados e pagamentos, e uma rede capaz de transportar grande
volume de conteúdos mais ricos.
Claro que nada disto é relevante se não for possível entregar
os conteúdos pretendidos ao cliente de uma forma expedita e
com boa qualidade. Tem de ser garantida uma medida de
qualidade de serviço (QoS) e numa rede e ambiente
dependente de processamento, o controlo de tráfego é
essencial. Por isto é necessária uma boa arquitectura de
entrega de dados que tenha em conta os piores cenários
possíveis e tenha soluções para os circunscrever.
10.3. Telecomunicações
Cada um dos três sectores está ligado aos outros dois e isso
é ainda mais verdade para o sector das telecomunicações. Os
melhores e mais ricos conteúdos e os modelos de recolha de
dados, armazenamento e pagamentos mais complexos e
capazes não servem de nada se não houver uma infraestrutura de banda larga de confiança por trás. Vários
avanços no domínio das telecomunicações permitiram
reinventar o papel das redes, particularmente no que diz
respeito a conteúdos por encomenda.
A maior mudança foi a evolução de uma rede baseada em
multiplexagem por divisão no tempo (TDM) para uma rede
baseada em IP. Com esta evolução apareceram serviços
como IPTV, VoIP e IMS. Este último vai ter um papel
fundamental na entrega de conteúdos de VoD num futuro
não muito distante. Originalmente pensado como uma
maneira de entregar conteúdos a equipamentos móveis pela
Third-Generation Partnership Project (3GPP), o IP
Multimedia Subsystem (IMS) é hoje considerado a principal
plataforma tecnológica para entrega de conteúdos
multimédia em todas as redes. A promessa do IMS é
arrojada – Quando estiver implementado na sua totalidade
um operador vai ser capaz de entregar qualquer conteúdo a
qualquer utilizador em qualquer parte do mundo, através de
qualquer rede e utilizando qualquer modalidade de acesso a
qualquer tipo de equipamento e o preço será de acordo com
as preferências do cliente que vão estar armazenadas numa
base de dados na rede. Esta capacidade é a essência do
streaming de vídeo e do VoD como negócio.
10.4. Novas arquitecturas
10.4.1. Modelo de servidores distribuídos
Na secção 6.2 falou-se do modelo de arquitectura mais
usado hoje em dia, o modelo SHE-VHO-VSO. Este é um
bom modelo para a distribuição tradicional de conteúdos
mas à medida que o interesse em serviços on-demand for
crescendo e esses serviços se tornarem numa maior fonte de
receitas, começa a ser necessário repensar os modelos em
uso.
Considerando que o objectivo de qualquer modelo de
distribuição de VoD é minimizar o atraso, maximizar a
confiança posta na rede utilizada pelo serviço, criar um
ambiente de serviço facilmente administrável e garantir um
ambiente para o streaming de média previsível e de
confiança, começam a emergir diferentes tipos de
arquitectura. Uma das considerações mais comuns e mais
preocupantes em redes baseadas em servidores são os
estreitamentos de tráfego, logo é natural o aparecimento de
soluções que se afastam dos modelos com apenas um
servidor.
Num mundo perfeito, o modelo SHE-VHO-VSO funcionaria
bem mas devido à grande complexidade das redes, os
conteúdos transmitidos apenas de um servidor podem sofrer
um grande número de problemas. O resultado é a utilização
de uma arquitectura multi-servidor onde os conteúdos são
transmitidos para o cliente a partir de vários servidores. Isso
espalha o potencial de falhas pelos vários equipamentos e
elimina as possibilidades de haver um estreitamento de
banda que prejudique a entrega do conteúdo. Neste modelo,
o download dos conteúdos é comandado pelo receptor e não
pelo transmissor o que elimina a necessidade de
coordenação entre os vários servidores envolvidos. Mais
ainda, os pedidos de conteúdo no servidor ocorrem a um
nível mais simples o que diminui atrasos de processamento.
Adicionalmente a utilização de banda é comandada de forma
adaptativa pelos servidores envolvidos no transporte o que
significa que as cargas nos servidores são aproximadamente
uniformes e a probabilidade de uma falha num servidor
causar uma severa interrupção no serviço é nula.
7
13. BIBLIOGRAFIA
10.4.2. Peer-to-Peer Streaming
O servidor que é responsável, em última instância, pelo
streaming de um conteúdo até ao cliente é normalmente
chamado de streaming engine. Num ambiente peer-to-peer o
streaming engine principal associa-se a outros servidores
(peers) e faz o download de certos blocos para depois
entregar ao cliente. Isto resulta numa partilha da
responsabilidade de transporte por vários servidores e
caminhos da rede, aumentando assim a eficiência do
sistema. O principal desafio em utilizar este modelo é o
facto das entregas de conteúdo não serem reguladas pelo
operador.
Se existirem, num dado momento, problemas de tráfego na
rede, a qualidade de serviço torna-se imprevisível e o cliente
pode ver os conteúdos com menor qualidade que o desejado.
Uma solução para este problema é fazer o streaming do
conteúdo de mais de um servidor em simultâneo como
mostra a figura 9. Nesta situação os pedidos dos clientes vão
até à central de gerenciamento e são posteriormente
transmitidas em simultâneo para vários servidores proxy que
começam a enviar o conteúdo para o cliente em streams
paralelos.
[1]www.vector.pl/en/systems/digital_television_systems/vod
_systems.php
[2] Jari Peltoniemi “Video-on-Demand Overview”
[3] http://en.wikipedia.org/wiki/Video_on_demand
[4] Miranda Ko e Irene Koo “An overview of interactive
Video on Demand”
[5] John Trail, Damn Emms e Dan Goldfarb “Advanced
Optical and Digital Architectures for Video-On-Demand”
em www.harmonicinc.com/view_collateral.cfm?ID=40
[6] Tim Gray “Plenty of Competition for Video on Demand”
num artigo em http://www.internetnews.com/
[7] Deepak Kataria, LSI Corporation “The future of Videoon-Demand” em www.videsignline.com
[8] NPA Conseil “Video-on-Demand in Europe” um
relatório para European Audiovisual Observatory e a
Direction du développement des médias (DDM-France)
Fig.9 – Modelo de streaming em paralelo
11. CONCLUSÃO
Como se pôde constatar neste artigo, o serviço de Video-on-Demand existe há relativamente poucos anos e está em
crescimento e evolução.
Em Portugal o serviço está agora a ser mais utilizado e com
o aparecimento das redes em fibra óptica, mais operadores o
oferecem a um maior número de clientes e com maior
qualidade.
O serviço de VoD poderá mesmo mudar a maneira como as
pessoas vêm televisão uma vez que se torna possível ver os
programas que se quer, quando se quer e as vezes que se
quiser.
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