FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Enfermagem Luciana
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FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Enfermagem Luciana
FACULDADE DE PARÁ DE MINAS Curso de Enfermagem Luciana de Souza Pereira UTILIZAÇÃO INCORRETA, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS Pará de Minas 2014 1 Luciana de Souza Pereira UTILIZAÇÃO INCORRETA, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS Monografia apresentada à Coordenação de Enfermagem da Faculdade de Pará de Minas, como requisito parcial para a conclusão do curso de Enfermagem. Orientadora: Profª. Ms. Marisa Gonçalves Brito Menezes. Pará de Minas 2014 2 Luciana de Souza Pereira UTILIZAÇÃO INCORRETA, ABUSO E DEPENDÊNCIA DE MEDICAMENTOS PSICOTRÓPICOS Monografia apresentada à Coordenação de Enfermagem da Faculdade de Pará de Minas, como requisito parcial para a conclusão do curso de Enfermagem. Aprovada em: _____ / _____ / _____ ________________________________________ Prof. Ms. Marisa Gonçalves Brito Menezes ________________________________________ Prof. Dra. Ms. Meiriele Tavares de Araujo 3 RESUMO A dependência por drogas lícitas e ilícitas tem se tornado um dos maiores problemas de saúde publica no mundo. Dentre essas drogas estão as substâncias psicotrópicas, que abrangem tanto entorpecentes quanto medicamentos. Este estudo teve como objetivo conhecer no ponto de vista do usuário, o consumo, a dependência e a influência do medicamento psicotrópico no seu cotidiano, assim como a distribuição dos mesmos em uma ESF. Tratou-se de um relato de experiência de uma jovem adulta dependente de medicamentos psicotrópicos. Os resultados da busca ativa na ESF evidenciaram que as mulheres eram as que mais faziam o uso de medicamentos psicotrópicos. O psicotrópico de uso mais frequente da cliente era da classe das anfetaminas, sendo depende dos medicamentos há 14 anos, o que trazia grande influência em seu convívio familiar e social. A cliente tinha total conhecimento sobre os medicamentos em uso e até mesmo os seus malefícios. Pode-se concluir que a cliente foi totalmente influenciada pelos padrões de beleza impostos pela atualidade, e que fazia uso de medidas drásticas e prejudiciais à saúde para emagrecer, fazendo o uso indiscriminado sem prescrições medicas de inibidores do apetite, ansiolíticos e antidepressivos. Palavras-chaves: Psicotrópicos. Dependência. Abuso. 4 ABSTRACT The dependence on licit and illicit drugs has become a major problem of public health in the world. Among these drugs are psychotropic substances, covering both drugs as medicines. This study aimed to understand the point of view of the user, consumption, dependence and the influence of psychotropic medication in their daily lives as well as their distribution in a ESF (Family Health Strategy) . It was an experience report of a dependent young adult psychotropic drugs. The search results results in the ESF showed that women were the ones that were using psychotropic medications. The more frequent use of psychotropic client was the class of amphetamines, being dependent on drugs 14 years ago, which brought great influence in their family and social life. The client had full knowledge of the drugs in use and even their misdeeds. It can be concluded that the client was totally influenced by the standards of beauty imposed by today, and who used drastic and detrimental health measures to lose weight, making indiscriminate use of prescription medications without appetite suppressants, antidepressants Key words: Psychotropic drugs. Addiction. Abuse. and anxiolytics. 5 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Níveis de referencia para uma pressão arterial normal..................... 44 Quadro 2 - Classificação de IMC.......................................................................... 45 6 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Distribuição do uso de psicotrópicos pelos homens cadastrados no ESF de Leandro Ferreira de acordo com os prontuários médicos em jun. 2014....................................................................................... 29 Tabela 2 - Distribuição do uso de psicotrópicos pelas mulheres cadastradas no ESF de Leandro Ferreira de acordo com os prontuários médicos em jun. 2014....................................................................................... 29 7 LISTA DE SIGLAS ACS: Agente Comunitário de Saúde. ANVISA: Agência Nacional de Vigilância Sanitária. APA: American Psychiatric Association. BDZ: Benzodiazepínicos. CAPS I:Centro de Atenção Psicossocial de Atenção a Criança e Adolescente. CAPS I: Centro de Atenção Psicossocial I. CAPS II: Centro de Atenção Psicossocial II. CAPS III: Centro de Atenção Psicossocial III. CAPS: Centro de Atenção Psicossocial. CAPS-ad: Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas. CEBRID: Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas. COFEN: Conselho Federal de Enfermagem. DCNT: Doenças Crônicas não Transmissíveis. DE: Diagnóstico de Enfermagem. ESF: Estratégia Saúde da Família. FEBEM: Fundação Estadual do Bem Estar do Menor. IMC: Índice de massa corpórea. LSD: Lysergic Acid Diethylamide. NANDA: North American Nursing Diagnosis Association. PE: Prescrição de Enfermagem. RE: Resultado Esperado. SNC: Sistema Nervoso Central. SUS: Sistema Único de Saúde. TCA: Antidepressivos Tricíclicos. TCLE:Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade. 8 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 09 2 OBJETIVOS...................................................................................................... 11 2.1 Objetivo Geral............................................................................................... 11 2.2 Objetivos Específicos.................................................................................. 11 3 REFERENCIAL TEÓRICO................................................................................ 3.1 Drogas Psicotrópicas................................................................................... 3.2 Classificações dos Fármacos Psicotrópicos............................................ 3.2.1 Anestésicos gerais...................................................................................... 3.2.1.1 Anestésicos inalatórios............................................................................. 3.2.1.2 Anestésicos Intravenosos......................................................................... 3.2.2 Ansiolíticos e hipnóticos.............................................................................. 3.2.3 Antidepressivos........................................................................................... 3.2.4 Analgésicos................................................................................................. 3.2.5 Estimulantes Psicomotores......................................................................... 3.3 Dependência e abuso de drogas psicotrópica.......................................... 3.4 O uso cotidiano de psicotrópicos e o reflexo na sociedade.................... 12 12 14 14 15 15 16 17 18 19 20 22 4 PERCURSO METODOLÓGICO....................................................................... 4.1 Abordagem Metodológica........................................................................... 4.2 Cenário da Pesquisa.................................................................................... 4.3 Seleção do sujeito e coleta de dados......................................................... 4.4 Sujeito da Pesquisa...................................................................................... 4.5 Aspectos éticos............................................................................................ 4.6 Tratamentos dos Dados............................................................................... 25 25 25 26 27 28 28 5 RESULTADOS.................................................................................................. 5.1 Busca ativa de usuários de medicamentos psicotrópicos...................... 5.2 Consulta de enfermagem............................................................................. 5.2.1 Entrevista..................................................................................................... 5.2.2 Exame físico................................................................................................ 5.3 Conduta......................................................................................................... 29 29 30 30 42 45 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................. 48 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 50 APÊNDICE……………………………………………………………………………... 59 ANEXO................................................................................................................. 60 9 1 INTRODUÇÃO A dependência por drogas ilícitas e licitas tem se tornado um dos maiores problemas de saúde publica no mundo. Dentre essas drogas estão as substâncias psicotrópicas, que abrangem tanto entorpecentes quanto medicamento. O século XXI torna-se cada vez mais complexo, dinâmico e perturbado, o mundo está se transformando todos os dias de uma forma bastante acelerada e, como reflexo disto, temos uma sociedade cada vez mais conturbada, estressada, depressiva, obcecada pela beleza e pela perfeição. Problemas dentro de um trabalho cada vez mais exaustivo e repetitivo, problemas familiares constantes, pessoas cada vez mais rudes, são apenas algumas características de uma sociedade problemática e conturbada existentes na atualidade. O homem no meio destas desventuras procura e tenta conseguir sempre o seu bem-estar de maneira fácil e agradável, achar meios temporários de se isolar de todos esses “problemas” existentes ao seu redor e, para isso, muitas das vezes faz uso de medicamentos psicotrópicos sem indicações médicas, sem orientações, sem ter qualquer informação que seja sobre esse tipo de substâncias, se irão causar reações ou até mesmo a dependência, o que realmente importa é o bem-estar instantâneo que o medicamento irá proporcionar-lhe. Para que este usuário tenha acesso a estes tipos de medicamentos a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) preconiza várias normas, porém na maioria das vezes estas não são cumpridas pelos profissionais da saúde, e Instituições relacionadas à saúde, que abrangem desde o profissional clínico geral ou outros médicos que não são psiquiatras de receitarem esse tipo de medicamento, muitas vezes por ganância financeira, para ajudar um amigo, ou simplesmente porque o paciente solicita, sem qualquer diagnóstico concreto que necessite realmente utilizar de tais drogas. Existem, ainda, casos de um farmacêutico ou os próprios vendedores da farmácia fazerem a venda ou indicação sem exigir a receita adequada para tais medicamentos, enfim, indicações, consumos e comercialização desenfreada de medicamentos que causam dependência física e psíquica assim como é o caso das drogas ilícitas. A dependência química é muito retratada mundialmente, porém se fala mais na dependência por drogas ilícitas, do tabaco e álcool reconhecidas como drogas 10 licitas. A população em geral não tem total conhecimento de que um medicamento possa levá-las à dependência psíquica e física. (PRUDÊNCIO, 2010). Desta forma, Matias e Silva (2007) informam que conhecer os aspectos que norteiam esta dependência pode levar os profissionais da enfermagem a uma melhor abordagem deste tema em seus atendimentos, assim como conduzir os usuários a uma reflexão do uso de tais substâncias e sobre a dependência que elas podem causar. Torna-se prioritário criar subsídios para educar a população sobre o risco do uso desenfreado dos medicamentos psicotrópicos, sobre a dependência que o mesmo acarreta entre outros aspectos que a substância pode ocasionar, se não usada corretamente. Campos e Soares (2004) revelam que o ensino acadêmico na área da enfermagem é insuficiente para o conhecimento de medicamentos psicotrópicos. Os futuros enfermeiros ou enfermeiros já atuantes não sabem sequer a diferença entre psicotrópicos usados na “rua” e psicotrópicos enquanto medicamento. Desta forma, este estudo pode proporcionar um maior conhecimento a enfermeiros ou profissionais da saúde no âmbito geral sobre os psicotrópicos, qual sua real finalidade e quais os malefícios que tais substâncias podem trazer ao indivíduo. 11 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo Geral Conhecer do ponto de vista de um usuário, o consumo, a dependência e a influência do medicamento psicotrópico no seu cotidiano, assim como a distribuição desses medicamentos em uma Estratégia Saúde da Família (ESF). 2.2 Objetivos Específicos a) mostrar como ocorre a distribuição de medicamentos psicotrópicos para os usuários em um ESF; b) verificar o uso de psicotrópicos dos pacientes escritos no ESF; c) determinar o perfil do cliente; d) revelar quais os psicotrópicos de que o cliente faz uso; e) descrever a dependência do medicamento psicotrópico na perspectiva do usuário; f) identificar a influência que o psicotrópico traz para sua vida social e familiar; g) demonstrar o conhecimento do cliente sobre o real uso do medicamento psicotrópico que o mesmo utiliza; h) prestar orientações de enfermagem pertinentes ao caso do usuário. 12 3 REFERENCIAL TEÓRICO 3.1 Drogas Psicotrópicas Segundo Carlini et al. (2001), para entendermos como as drogas psicotrópicas agem no sistema nervoso central (SNC), é necessário realizar ao menos uma demonstração simplificada para se entender este sistema. Os mesmos autores informam que, quando os órgãos de sentido recebem um estimulo, estes enviam uma mensagem ao SNC, onde vai ocorrer um processamento da informação, interpretação, elaboração, memorização, associações entre outros. As transmissões dessas mensagens para o SNC são feitas pelos neurônios, que produzem substâncias químicas chamadas neurotransmissoras. As drogas psicotrópicas agem alterando estas comunicações entre os neurônios, podendo causar diferentes efeitos, dependendo do tipo de neurotransmissor e a forma como a droga atua. As drogas psicotrópicas atuam no SNC e produzem alterações de comportamento, humor e cognição, o que leva à dependência (DIAS et al., 2011). De acordo com Houaiss e Villar a palavra psicotrópica significa: O que atua quimicamente sobre o psiquismo, a atividade mental, o comportamento, a percepção etc. (diz-se de medicamento, droga, substância etc). Alguns psicotrópicos têm efeito sedativo, calmante ou antidepressivo; outros, se usados indevidamente, podem causar perturbações psíquicas [...]. (HOUAISS; VILLAR, 2001, p. 2327). O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo (CEBRID, 2003) complementa ao afirmar que Psico, de origem grega, se refere à dimensão psíquica do homem e trópico, deriva de tropismo, que é atração por algo. Assim sendo, psicotrópico é atração pelo psiquismo, e drogas psicotrópicas são aquelas que agem sobre o SNC e altera a maneira de sentir, de pensar e muitas vezes de agir. As substâncias psicoativas são classificadas em duas classes usadas no status legal em uma sociedade. As lícitas, substâncias que correspondem as de uso e comercialização permitidas pelo estado ou país e as ilícitas que o uso e comercialização não são permitidos pelo estado ou país. (MARTINS, 2011). 13 Segundo o autor supracitado, na classificação das lícitas entram os medicamentos que, apesar de serem liberados, possuem um controle da comercialização, pelo fato do uso abusivo causar danos à saúde, da mesma forma o tabaco e o álcool que são vendidos somente para maiores de 18 anos. De acordo com Brasil (2003) através da lei no 10.702, que altera a Lei no 9.294, de 15 de julho de 1996, fica explícito o movimento do governo contra o fumo, bebidas alcoólicas e medicamentos através de restrições às propagandas que estimulavam o consumo dos mesmos e proibição de venda a menores de dezoito anos de idade destes produtos. Desta forma, os psicotrópicos são utilizados como terapêutica de transtornos mentais, como a ansiedade, depressão, angústia, insônia, agitação e outros. São também conhecidos como sedativos ou tranqüilizantes. (GOLAN, 2009). CEBRID (2003) revela que os psicotrópicos podem ser divididos em três grupos, de acordo com os efeitos sobre a atividade cerebral. As depressoras das atividades do SNC são as que diminuem a atividade cerebral, que faz com que a pessoa fique letárgica, desmotivada, diminui a concentração, ansiedade, capacidade de raciocínio. Podem ser exemplificadas pelo álcool, soníferos e hipnóticos barbitúricos e alguns benzodiazepínicos, ansiolíticos, opiáceos ou narcóticos. (CARLINI et al., 2001). O segundo grupo são as drogas estimulantes da atividade do SNC, estas elevam as atividades do sistema nervoso, gera um estado de alerta exagerado e aceleração de processos psíquicos. As drogas mais conhecidas desse grupo são as anfetaminas, cocaína e crack, tabaco e a cafeína. (MARTINS, 2011). Por último, apresentam-se as drogas perturbadoras, que acarretam uma mudança significante no funcionamento do SNC. Provocam alterações mentais que não fazem parte da normalidade e, por essa razão, são chamadas de piscoticomiméticas, ou seja, drogas que mimetizam psicoses. (CANESIN et al., 2008). As drogas perturbadoras da atividade do SNC causam delírios, alucinações e alterações da percepção. As drogas que proporcionam estes efeitos são maconha, alucinógenos, lysergic acid diethylamide (LSD), (MARTINS, 2011). No entanto, Canesin et al. (2008) esclarecem: êxtase e anticolinérgicos. 14 A ação de cada psicotrópico depende: do tipo da droga, da via de administração, da quantidade, do tempo, da frequência de uso, da absorção e eliminação desta pelo organismo e da associação com outras drogas. (CANESIN et al., 2008, p. 223). 3.2 Classificações dos Fármacos Psicotrópicos Nos tópicos a seguir serão apresentados os principais fármacos psicotrópicos, como agem, para que são usados e os mais conhecidos em cada classe. 3.2.1 Anestésicos gerais De acordo com Saraiva (2002), a ação farmacológica dos anestésicos é observada clinicamente, no entanto, o seu mecanismo até hoje não é explicado de forma clara e objetiva e, por esta razão, não é de fácil compreensão. Atualmente, estudos clínicos e experimentais têm sido desenvolvidos para identificar os locais onde os anestésicos atuam e quais as alterações funcionais que estes fármacos produzem nas estruturas do SNC, tornando-se determinantes no estado de anestesia. (SARAIVA, 2002). O estado anestésico na prática clínica é a perda da consciência, analgesia e relaxamento muscular. Estes efeitos são produzidos com combinações com outros fármacos. (RANG et al., 2012). De acordo com os mesmos autores, em doses supra-anestésicas, todos os anestésicos podem causar morte pela perda dos reflexos cardiovasculares e por paralisia respiratórias. Os anestésicos gerais podem ser administrados em distintas vias, porém as mais usadas são a intravenosa e a inalatória, pelo fato da dosagem ser mais eficaz e o tempo de ação poder ser controlado com maior rigor. (HARDMAN; LIMBIRD, 2005). Os autores citados revelam ainda que os anestésicos dificilmente são administrados sozinhos, sua administração geralmente é concomitante com um benzodiazepínico ou analgésico, o que possibilita doses menores de anestésicos, evitando os seus efeitos colaterais. 15 3.2.1.1 Anestésicos inalatórios De acordo com Hardman e Limbird (2005), o anestésico inalatório se distribui em dois: entre a corrente sanguínea ou através dos pulmões e, quando a pressão parcial do anestésico for igual nos dois tecidos, haverá um equilíbrio. O que irá determinar a velocidade da indução e recuperação de um anestésico inalatório podem ser as propriedades dos anestésicos, ou fatores fisiológicos. (RANG et al., 2012). A inalação de um agente anestésico por alguns minutos em determinada concentração certamente deixará o indivíduo inconsciente e sem reagir a estímulos dolorosos. (SARAIVA, 2002). Os anestésicos inalatórios mais comuns são: Isoflurano que promove a anestesia geral e é usado com outros anestésicos na obstetrícia; Halatono e Desflurano que também causam a anestesia geral e Óxido Nitroso que é usado com outros anestésicos. (GOLAN, 2009). 3.2.1.2 Anestésicos Intravenosos A anestesia intravenosa total pode ser definida como uma técnica anestésica na qual a administração dos fármacos tanto para a indução, quanto para a manutenção anestésica é realizada exclusivamente por via intravenosa e sem a presença de agentes inalatórios. (AUGUSTO, 2010, p. 17). Os anestésicos intravenosos atuam bem mais rapidamente dos que os inalatórios, levando cerca de vinte segundos para surtirem a anestesia. Outros fármacos como os benzodiazepínicos e antagonistas da dopamina são usados concomitantes com anestésicos para causarem sedação e analgesia, onde o paciente permanece responsivo mais não responde a estímulos dolorosos, é utilizado geralmente em procedimentos cirúrgicos simples. (RANG et al., 2012). Segundo os mesmos autores, entre os anestésicos mais utilizados para estes fins estão o Tiopental e Proporfol. O Tiopental, ao atingir o pico de sua concentração sanguínea, é redistribuído para tecidos irrigados por grandes fluxos sanguíneos como fígado, rins, cérebro, coração. Depois de algumas horas, a droga acumula no tecido adiposo, sendo o restante metabolizado. Estes dois fármacos citados possuem curto tempo de ação e rápida duração, além de não possuírem efeito 16 acumulativo, o que faz com que sejam os fármacos de eleição para a administração de forma contínua. (AUGUSTO, 2010). O Proporfol é semelhante ao tiopental, tendo vantagens no seu rápido metabolismo, o que leva a uma recuperação bem mais rápida, não tendo efeitos de “ressaca” como o Tiopental, com isso podendo ser usados como infusão continua para cirurgias. (HARDMAN; LIMBIRD, 2005). De acordo com Golan (2009), o Tiopental é bastante usado em induções anestésicas, narcoanálise, em pacientes que apresentam pressão intracraniana elevada e em quadros de convulsões. Já o Proporfol é utilizado em indução e manutenção de anestesia e sedação de pacientes ventilados mecanicamente. (GOLAN, 2009). 3.2.2 Ansiolíticos e hipnóticos De acordo com Canesin et al. (2008), os hipnóticos são substâncias que proporcionam graus variados de depressão do SNC e esta depressão vai se diversificar com alguns fatores, como a via de administração, dose da substância hipnótica e maior ou menor sensibilidade do paciente à droga. Este fármaco vai ocasionar sedação, que é um grau mais leve de depressão e que corresponde a uma sonolência acompanhada de discreto relaxamento muscular, com diminuição da ansiedade. (CANESIN et al., 2008). O ansiolítico diminue a atividade, tranquiliza e modera a hesitação, já o hipnótico causa sonolência, simula o sono natural, sendo que, assim, o paciente pode ser facilmente acordado. (HARDMAN; LIMBIRD, 2005). Os autores supracitados afirmam ainda que existe uma ampla variedade de agentes que deprimem a funçao do SNC, provocando sedação, porém os mais usados são os benzodiazepínicos e barbitúricos. Antes de os benzodiazepínicos serem descobertos, os barbitúricos eram bastante utilizados para o tratamento de insônia ou ansiedade, porém na atualidade os barbitúricos foram substituídos em grande parte pelos benzodiazepínicos, pelo fato deste último ser mais seguro, causar menos tolerância e sintomas de abstinência. Os barbitúricos ainda são usados como anestésico geral, antiepiléticos e para neuroproteção. (GOLAN, 2009). 17 Para Rang et al. (2012), os benzodiazepínicos, quando administrados por via oral, são bem absorvidos e atinge o pico de concentração plasmática em aproximadamente em uma hora. Ao serem metabolizados, são excretados pela urina como conjugados de glicuronídio. Esta classe de medicamentos são medicamentos utilizados quase que unicamente para ansiedade e tensão, donde se origina a nomenclatura de ansiolíticos. (CARLINI et al., 2001). Os mais conhecidos e comercializados como ansiolíticos são: Diazepam, Lorazepam, Midazolam e o Clonazepam e como hipnóticos são: Stilnox, Imovane e o Sonata. Todos estes benzodiazepínicos são usados para convulsões parciais e tônico-clônicas, crise de ausência, estado epilético, abstinência do álcool e, principalmente, para a ansiedade, enquanto os hipnóticos são utilizados para induzir o sono. (GOLAN, 2009). 3.2.3 Antidepressivos A depressão ou distúrbios afetivos podem ser manifestados como uma patologia branda, a uma depressão severa, que pode estar acompanhada por alucinações ou delírios. Para o tratamento das depressões consideradas severas, utilizam-se os antidepressivos que pertencem às seguintes categorias: inibidores da captação de monoaminas, como antidepressivos tricíclicos (TCA) que são inibidores não seletivos, inibidores seletivos da captação de serotonina, inibidores da monoamino oxidase e antidepressivos variados. (RANG et al., 2012). Os TCA bloqueiam a captação de aminas pelas terminações nervosas e nos indivíduos não deprimidos causam sedação, confusão e descoordenação motora, efeitos que também são observados no início do tratamento em pacientes deprimidos. (ANDRADE; ANDRADE; SANTOS, 2004). Golan (2009) esclarece que essa classe de medicamentos pode causar sérios efeitos adversos, uns dos mais perigosos é o que atinge o sistema cardiovascular, por isso os TCA devem ser sempre prescritos com cautela, sob uma avaliação cautelosa do paciente que vai fazer o uso do mesmo, principalmente naqueles com passado de tentativas de suicídios, com indicação de realização eletrocardiograma, para se afastar qualquer possibilidade de cardiopatias. de 18 O uso de um TCA concomitante com outros fármacos e substâncias podem ser potencializado, como por exemplo, o uso com anti-hipertensivos e o álcool pode ser letal a uma pessoa. (ANDRADE; ANDRADE; SANTOS, 2004). De acordo com Moreno, Moreno e Soares (2001) os TCA são absorvidos completamente pelo trato gastrintestinal, metabolizados em grande parte pelo efeito de primeira passagem. O pico plasmático é atingido mais rapidamente por aminas terciárias do que com aminas secundárias. São altamente lipofílicos, concentrandose principalmente no miocárdio e em tecidos cerebrais, se ligam a proteínas plasmáticas e sofrem metabolismo primariamente hepático. Muitos TCA apresentam farmacocinética linear, isto é, mudanças na dose levam a alteração proporcional no nível plasmático. A vida média de eliminação varia e o estado de equilíbrio é atingido em cerca de cinco dias. A farmacocinética pode variar entre os sexos e a concentração pode diminuir antes da menstruação. (MORENO; MORENO; SOARES, 2001). Os antidepressivos possuem uma grande demanda no mercado, os mais comuns são: Amitriptilina, Clomipramina, Nortripritilina, Trimipramina, que são utilizados em caso de depressão, fadiga crônica, e transtorno obsessivo compulsivo. Já o Citalopram, Fluoxetina e a Sertralina são usados em depressão, ansiedade, transtorno do estresse traumático e síndromes de dor. (GOLAN, 2009). 3.2.4 Analgésicos Os analgésicos agem ligando-se aos receptores opioides, promovendo a inibição do segundo mensageiro, altera o transporte do cálcio na membrana celular e atua pre-sinapticamente impedindo a liberação de neurotransmissores. (BIDÔ, 2011). A morfina, codeína e seus derivados semissintéticos são os opioides mais usados para o controle da dor. Porém a morfina é considerada o opioide de referência comparada com os outros. (GOLAN, 2009). A absorção da morfina é irregular e lenta, já a codeína que é um fármaco derivado da morfina é mais bem absorvida, a meia-vida dos análogos da morfina é de três a seis horas, o metabolismo é feito no fígado, sendo excretada pela urina em forma de glicuronídeos, estes também passam pelo intestino por meio da excreção biliar, reabsorvendo a maior parte da morfina. (RANG et al., 2012). 19 De acordo com Golan (2009), estes analgésicos são utilizados em caso de dores moderadas ou intensas. Os mais comuns são derivados sintéticos e semissintéticos da morfina, o Fentanil, o Alfentanil, e Sulfentanil, e a própria morfina, e os derivados da codeína, que são os Oxicodona e Hidrocodona. 3.2.5 Estimulantes Psicomotores Mais conhecido pelas anfetaminas, estes fármacos possuem uma grande semelhança farmacológica com as “drogas de rua”, como por exemplo, o ecstasy. (RANG et al., 2012). “As anfetaminas são um grupo de compostos com ação estimulante em nível periférico e central com alto potencial para gerar dependência”. (MARCON et al., 2012, p. 248). Segundo Andrade, Andrade e Soares (2004) os estimulantes exercem um grande efeito sobre a função mental e o comportamento, pois produzem excitação e euforia, sensação diminuída de fadiga, aumento na atividade motora, dilatação na pupila, aumento do número de batimentos cardíacos e da pressão arterial. A anfetamina foi criada para controlar o apetite das pessoas com obesidade mórbida, porém sua venda em vários países foi suspensa pelo fato de os efeitos benéficos não suprirem os maléficos. Os nomes comerciais mais utilizados para se comercializar a anfetamina são: Amfepramona, Femproporex e Mazindol. (SANCHEZ, 2011). Este grupo de fármacos é absorvido pelo sistema gastrointestinal, penetrando na barreira hematoencefálica, são também bem absorvidos pela mucosa nasal, são excretados da mesma forma que foram absorvidos pela urina. Sua meia-vida é de aproximadamente de cinco a 30 horas dependendo do fluxo e do pH urinário. (RANG et al., 2012). Os mais conhecidos dessa classe são a própria anfetamina e metlfenidato que é o mesmo que Ritalina. Estes dois medicamentos são indicados em caso de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). (GOLAN, 2009). O autor supracitado afirma que todos estes medicamentos psicotrópicos causam dependência física e psíquica se utilizados de maneira abusiva e errônea, e consequentemente, causam um grande impacto na vida social e familiar do individuo dependente de tais substâncias. 20 3.3 Dependência e abuso de drogas psicotrópicas Golan (2009) afirma que a dependência de substâncias é uma nomenclatura criada pela American Psychiatric Association (APA), que é definida como uma má adaptação pelo uso da substância, que causa prejuízo ou sofrimento clínico importante. Para denominar um ser dependente, é preciso que o mesmo apresente três ou mais características, incluindo, tolerância, abstinência e abandono ou diminuição de significantes atividades sociais, ocupacionais ou lúdicas. Cassol et al. (2012), complementam ao afirmarem: A dependência de drogas está descrita como um conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais, psicológicos e fisiológicos que indicam perda do controle sobre o uso da substância psicoativa e um uso continuado desta apesar dos problemas significativos relacionados à droga. (CASSOL et al., 2012, p. 133). Já o termo “abuso” está relacionado com o uso das substâncias não prescritas, como por exemplo o álcool e a cocaína, dentre muitas outras consideradas lícitas e ilícitas, porém com uso comum na sociedade. (NASCIMENTO; SAKATA, 2011). Sanchez (2011) afirma que as drogas de abuso são bastante diferentes em termos farmacológicos, porém podem ser dividas em três classes de efeitos: a de reforço, euforia e neuroadaptação crônica do organismo, efeitos estes que são comuns entre todas as drogas de abuso. A autora supracitada informa também que as drogas de abuso têm a capacidade de serem reforçadoras, ou seja, sustentam e aumentam a chance de ocorrência de comportamentos relacionados ao consumo da droga. O organismo se acostuma com a droga, torna-se dependente dela e este não mais funciona sem a mesma, como se a substância fizesse parte do corpo. Todas as drogas de abuso causam um efeito euforizante, mesmo as denominadas depressoras do SNC, proporcionando uma sensação de bem-estar intenso, sem ser necessariamente agitação ou estímulo. (CEBRID, 2003). Um fator que se atribui para uma pessoa deixar de fazer o uso controlado pra o uso abusivo são as alterações geradas no SNC chamadas neuroadaptação crônica do organismo causadas por essas drogas. Estas alterações são produzidas pelo organismo como um mecanismo compensatório à presença constante da 21 droga, de forma que o organismo se adapta a funcionar com a droga, causando a tolerância e sensibilidade dessas drogas. (SANCHEZ, 2011). Segundo Campos e Soares (2004) a tolerância acontece quando há uma diminuição do efeito de uma droga com o uso contínuo. A primeira administração de uma droga produz uma curva como resposta, depois de repetidas administrações esta curva de resposta desvia-se para a direita, sendo necessário doses maiores para se obter o mesmo resultado. Já a sensibilidade é o efeito oposto da tolerância, a curva de resposta se desvia para a esquerda, de modo que a administração repetida proporciona um aumento do efeito da dose ou a necessidade de uma dose menor da substância em uso para alcançar o mesmo efeito. (CAMPOS; SOARES, 2004). A dependência se divide em dependência física e dependência psicológica. A dependência física ou fisiológica caracteriza-se pelos sinais e sintomas físicos adversos provocados pela abstinência que são náusea, vômitos, diarreia, dor muscular, ansiedade, aumento da temperatura, pressão arterial e débito cardíaco, pupilas dilatadas, entre outros. Os pontos de referência homeostáticos, assim como na tolerância, são alterados para compensar a presença da droga. Se o uso da droga for interrompido, os pontos de referência alterados causam efeitos contrários àqueles que ocorrem na presença da droga. (GOLAN, 2009). De acordo com Nascimento e Sakata (2011) vício é uma síndrome psicológica e comportamental caracterizada pela evidência de dependência com uso aberrante de substância psicoativa, perda de controle e uso compulsivo, apesar dos efeitos adversos. Esta dependência se manifesta quando a droga atinge o sistema de recompensa encefálico. Quando há a interrupção da droga, as adaptações do sistema de recompensa manifestam-se com disforia e fissura pela droga. (NASCIMENTO; SAKATA, 2011). A retirada brusca da droga de um indivíduo dependente pode proporcionar aparecimento de vários sinais e sintomas que constituem a síndrome de abstinência, como a fraqueza, irritação, tremores, insônia, cólicas, vômitos, hipertermia, hipotensão e convulsões violentas podendo ser confundidas com crises epilépticas. (CANESIN et al., 2008). Os psicofármacos, que são o foco deste estudo, são medicamentos necessários e seguros, mas podem causar dependência física e/ou psíquica. A dependência psíquica favorece o desenvolvimento da procura compulsiva do 22 fármaco, surgindo o vício, o que leva à distorção dos valores pessoais e sociais do indivíduo, prejudicando o seu comportamento social. (ANDRADE; ANDRADE; SOARES 2004). 3.4 O uso cotidiano de psicotrópicos e o reflexo na sociedade Com o avanço da ciência e da tecnologia, e o advento da globalização, o homem contemporâneo busca novos meios para burlar a solidão, insegurança e contínuos estresses, buscando nas drogas a solução para estes problemas. (SOUZA; KANTORSKI; MIELKE, 2006). Loyola et al. (2009) afirmam que os fatores predisponentes para o uso de substâncias psicoativas são provenientes do grau de escolaridade, classe social inferior, desemprego, familiares e meio social. Um estudo realizado na Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM) da cidade de Ribeirão Preto revela que uma grande porcentagem dos entrevistados não possuía o ensino fundamental completo e não estavam estudando quando foram internados, isso é, possuíam baixa escolaridade. (MARTINS; PILLON, 2008). As autoras acima citadas concluem que tais resultados evidenciam que a escolaridade é um importante fator de proteção contra o envolvimento dos adolescentes com situações de risco. Esse fato faz supor que outros fatores possam estar associados ao abandono escolar ou ao desinteresse dos adolescentes pelo ensino. Embora os professores tenham formação acadêmica, podem não estar capacitados para lidar com problemas de comportamento que impedem os adolescentes a se envolverem com situações de risco, como o uso de drogas. Conclui-se, então, que quanto mais baixo é o nível de escolaridade, mais cedo os adolescentes se envolvem com comportamentos de risco. Reis, Uchimura e Oliveira (2013) afirmam que o baixo nível de renda familiar se correlaciona com o uso de drogas de abuso, consequentemente os mesmos tonam-se vulneráveis aos problemas originários do consumo e da comercialização de drogas de abuso e criminalidade direta ou indiretamente. Em um estudo realizado em seis hospitais psiquiátricos na cidade de São Paulo, em 2003, foi evidenciado que metade dos usuários de drogas não tinha fonte de renda, e entre os usuários de crack, a proporção de desempregados era maior e estavam desempregados há mais de um ano. (FERREIRA FILHO et al., 2003). 23 Soldera et al. (2004) afirmam que uma família bem estruturada é um grande fator positivo para que seus membros não façam o uso de drogas. Estes autores afirmam também que o risco para a drogatição é aumentado quando existe o fato de os pais serem separados ou apresentarem um relacionamento bastante deteriorado. Oliveira, Bittencourt e Carmo (2008) apontam ainda como fatores predisponentes para o uso de drogas, o uso prévio por membros familiares, que têm como consequência a falta de diálogo sobre os riscos e malefícios que tais substâncias podem trazer. Com isso, os filhos veem como uma coisa normal e inofensiva, tornando-se usuários. O consumo de substâncias psicoativas está interligado ao âmbito social, com as mais diversas finalidades e práticas. Desconhece-se uma sociedade que não tenha utilizado tais substâncias, seja para fins religiosos ou terapêuticos. (ROEHRS; LENARDT; MARFTUM; 2008). Pratta e Santos (2009) relatam que a droga como qualquer outro substância existente na sociedade, progride juntamente com a cultura, modificando-se de geração para geração de acordo com as condições socioculturais existentes. Ainda segundo os autores, existem modificações da drogadição do passado para atual. A droga, que era um elemento integrado na sociedade, passou a ser um elemento desintegrado, sendo uma substância desencadeadora de uma doença crônica, ou seja, a dependência química. Esta dependência faz com que o dependente se afaste de sua vida social, familiar e profissional, levando-o a um estado vegetativo, aumentando ainda mais o vício, sem qualquer autoestima ou vontade de viver. Souza, Kantorski e Mielke (2006) afirmam que existe a vontade dos próprios dependentes de voltarem a participar de sua comunidade, de onde foram excluídos por serem rotulados como “drogados”, “viciados”, adjetivos impostos pela própria sociedade. Existem vários meios de se reinserir esse indivíduo na sociedade, dentre eles o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS-ad) que possui um importante papel na retomada da vida social do dependente de psicoativos. (SOUZA; KANTORSKI; MIELKE, 2006). O CAPS-ad foi criado após o movimento da reforma psiquiatra no Brasil, na década de 70 pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Juntamente com o CAPS-ad foram criados também os Centros de Atenção Psicossocial I (CAPS I), Centro de 24 Atenção Psicossocial II (CAPS II), Centro de Atenção Psicossocial III (CAPS III) e Centro de Atenção Psicossocial de Atenção a Criança e Adolescente (CAPS I). O CAPS-ad é especializado no atendimento de pessoas que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, funciona durante cinco dias úteis da semana, e tem capacidade para realizar o acompanhamento de cerca de 240 pessoas por mês. (BRASIL, 2005). Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS’s) em geral foram criados para prestar atendimento clínico em regime diário, evitando assim as internações em hospitais psiquiátricos, por meios de promover a inserção social das pessoas com transtornos mentais através de ações inter-setoriais, regulando a porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua área de atuação e dar suporte a atenção à saúde mental na rede básica (BRASIL, 2005). Porém há uma grande dificuldade dos profissionais em lidar com estes usuários, pelo fato de que suas formações serem inadequadas, consequentemente a assistência prestada é ineficiente. (SOUZA; KANTORSKI; MIELKE, 2006). 25 4 PERCURSO METODOLÓGICO 4.1 Abordagem Metodológica Tratou-se de um estudo qualitativo descritivo, tipo relato de experiência. Turano (2005) refere-se a um estudo qualitativo como aquele capaz de agrupar a questão do significado e da intencionalidade como essenciais aos atos, às relações, e às estruturas sociais, sendo essas últimas tomadas tanto no seu começo quanto na sua transformação, como construções humanas significativas. Os métodos qualitativos são métodos das ciências humanas que pesquisam, explicitam, analisam fenômenos (visíveis ou ocultos). Esses fenômenos, por essência, não são passíveis de serem medidos (uma crença, uma representação, um estilo pessoal de relação com o outro, uma estratégia face um problema, um procedimento de decisão [...]), eles possuem as características específicas dos “fatos humanos”. O estudo desses fatos humanos se realiza com as técnicas de pesquisa e análise que, escapando a toda codificação e programação sistemáticas, repousam. (HOLANDA, 2006, p. 363). Segundo Marconi e Lackatos (2002) os estudos descritivos consistem em investigações de pesquisa empírica, cuja finalidade é o delineamento ou análise das características de fatos e fenômenos, a avaliação de programas, ou o isolamento de variáveis principais ou chave. O relato de experiência trata-se de um trabalho no qual o pesquisador compartilhará a sua experiência vivenciada. Essa experiência tem que ser significativa para o campo do qual o trabalho se pauta. (LUCHESI; CARDOSO, 2012). Santana et al. (2014) revelam também que o relato de experiência é um documento onde se deve armazenar todo o percurso de uma experiência em estágio, pesquisa de iniciação científica, projeto de extensão, participação em movimento estudantil/associativo ou quaisquer outras experiências vivenciadas pelo acadêmico. 4.2 Cenário da Pesquisa O encontro aconteceu em uma unidade de ESF na cidade de Leandro Ferreira-MG, onde a consulta foi realizada com conforto, tranquilidade e discrição. 26 Leandro Ferreira está situada no interior do centro-oeste mineiro, a 150 km da capital Belo Horizonte, com 3.296 habitantes, sendo que um terço dessa população não é alfabetizado, tendo como maior fonte de renda a agropecuária. A cidade também é conhecida popularmente como “a Cidade da Fé”, denominação dada por fiéis da Igreja católica, pelo fato de ter na cidade o mausoléu de Padre Libério, por quem os fiéis da região centro-oeste deste estado têm uma grande adoração. (PREFEITURA DE LEANDRO FERREIRA, 2013) A estrutura física da unidade de ESF de Leandro Ferreira é composta por quatro consultórios multiprofissionais, um consultório de odontologia, um consultório de pré e pós-consulta, uma sala específica para vacinação, um espaço que é utilizado para realizar medicações e atendimentos de urgência, duas salas para observação, uma sala destinada à realização de eletrocardiograma, uma sala específica para curativos, uma sala exclusiva para nebulização, uma sala onde funciona a epidemiologia, um laboratório, um espaço para realização de exercícios físicos, almoxarifado, recepção e sala de espera para os pacientes. A unidade ESF de Leandro Ferreira possui 1.101 famílias cadastradas, totalizando 3.331 pessoas registradas. 4.3 Seleção do sujeito e coleta de dados Com a finalidade de otimizar a coleta de dados, a mesma ocorreu em três momentos: no primeiro momento a pesquisadora e as sete agentes de saúde comunitárias (ACS’s) realizaram uma busca ativa nos prontuários de clientes com idade superior a 18 anos, identificando quantos e quais eram os clientes usuários de psicotrópicos escritos no ESF de Leandro Ferreira, perfazendo um total de 12 horas de atividades, no dia 26 de junho e nos dia 02 a 04 de julho de 2014, sendo então realizada a escolha do sujeito que preenchia os seguintes requisitos de inclusão: ser brasileiro; ter idade superior a 18 anos; ser alfabetizado; fazer uso indiscriminado de psicotrópicos de acordo com os prontuários médicos; concordasse em participar do estudo e para isso assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (ANEXO I). No segundo momento, dia 29 de junho, a pesquisadora entrou em contato com o sujeito da pesquisa, apresentou os objetivos do trabalho e formalizou o convite e o mesmo assinou o TCLE. Finalmente, no dia 30 de junho, terceiro 27 momento, no período de 17 horas às 19 horas, fez-se a consulta de enfermagem sendo, então, realizada a coleta de dados e o exame físico. Houve, neste encontro, a oportunidade da pesquisadora orientar o sujeito sobre os malefícios do uso indiscriminado de psicotrópicos. A consulta de enfermagem foi gravada e posteriormente transcrita com a finalidade de não haver perda de dados. A consulta de enfermagem é legalizada pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) onde é possível realizar atividade de observação. (MACHADO; LEITÃO; HOLANDA, 2005). Os mesmos autores ainda definem: A consulta de enfermagem é uma atividade independente, realizada pelo enfermeiro, cujo objetivo propicia condições para melhoria da qualidade de vida por meio de uma abordagem contextualizada e participativa. Além da competência técnica, o profissional enfermeiro deve demonstrar interesse pelo ser humano e pelo seu modo de vida, a partir da consciência reflexiva de suas relações com o indivíduo, a família e a comunidade. (MACHADO; LEITÃO; HOLANDA, 2005, p.724). Gomes e Oliveira (2005) afirmam também que na consulta de enfermagem acontece à educação em saúde por parte do enfermeiro, o momento proporciona a ralação entre profissional/cliente com orientações exclusiva do enfermeiro, a consulta de enfermagem é uma forma de relacionamento entre o enfermeiro e a equipe de saúde assim como o enfermeiro e a população. Segundo Polit, Beck e Hungler (2004), na pesquisa de Enfermagem, os métodos de observação têm ampla aplicação, principalmente nas investigações clínicas. Os métodos de observação podem ser usados para reunir informações sobre as características e as condições dos indivíduos, a comunicação verbal e nãoverbal. 4.4 Sujeito da Pesquisa O sujeito da pesquisa era uma jovem adulta de 34 anos, cor parda, natural de Bom Despacho-MG, ensino fundamental incompleto, solteira, residente em Leandro Ferreira. Foi escolhida por ser brasileira, já ter atingido a maioridade, ser usuária de medicamentos psicotrópicos e ter aceitado o convite de participar do trabalho, assinando o TCLE, obedecendo assim aos critérios de inclusão. 28 4.5 Aspectos éticos Como se tratou de um estudo que envolveu seres humanos foi observado os aspectos éticos vigorantes na Resolução nº 466/2012. Brasil (2012) que revela os códigos éticos, garantindo o anonimato e o sigilo dos indivíduos pesquisados e determina que o clieente deveria assinar o TCLE. Foi também solicitada a autorização ao enfermeiro do ESF (APÊNDICE A) para a realização da consulta de enfermagem. Em relação aos nomes citados pelo sujeito, os mesmos foram trocados com a finalidade de preservar a identidade dos envolvidos. 4.6 Tratamentos dos Dados Após transcrição dos dados coletados e avaliação do exame físico, os dados foram considerados e embasados com literatura específica pertinente ao tema publicado em um tempo máximo de 13 anos e foi utilizado um total de 36 publicações. 29 5 RESULTADOS Os resultados foram revelados, tendo a finalidade de atingir os objetivos propostos pelo estudo. 5.1 Busca ativa de usuários de medicamentos psicotrópicos Sabendo-se que o município de Leandro Ferreira possuía 434 inscritos no ESF com maior idade que eram usuários de psicotrópicos, ao realizar a busca ativa, foram detectadas que as mulheres eram as que mais faziam uso de medicamentos psicotrópicos, enquanto que os homens eram os maiores usuários de drogas lícitas, desconsiderando o uso de medicamentos, como pode ser detectado nas tabelas 1 e 2. TABELA 1 - Distribuição do uso de psicotrópicos pelos homens cadastrados no ESF de Leandro Ferreira de acordo com os prontuários médicos em jun. 2014. Total Idade Medicamentos Drogas lícitas Drogas ilícitas N % N % N % N % 18 –l 30 anos 82 49,1 2 5,1 1 100 85 41,0 30 –l 40 anos 11 6,6 4 10,2 0 0 15 7,2 40 –l 50 anos 21 12,6 11 28,2 0 0 32 15,5 50 –l 60 anos 14 8,4 10 25,7 0 0 24 11,6 ≥ 60 anos 39 23,3 12 30,8 0 0 51 24,7 Total 167 100 39 100 1 100 207 100 Fonte: dados ESF de Leandro Ferreira, 2014. TABELA 2 - Distribuição do uso de psicotrópicos pelas mulheres cadastradas no ESF de Leandro Ferreira de acordo com os prontuários médicos em jun. 2014. Total Idade Medicamentos Drogas lícitas Drogas ilícitas N % N % N % N % 20 18 –l 30 anos 18 9,0 2 7,4 0 0 8,8 22 30 –l 40 anos 19 9,6 2 7,4 1 50 9,7 61 40 –l 50 anos 47 23,8 13 48,2 1 50 26,9 52 50 –l 60 anos 45 22,7 7 26,0 0 0 22,9 72 ≥ 60 anos 69 34,9 3 11,0 0 0 31,7 Total 198 100 27 100 2 100 227 100 Fonte: dados do ESF de Leandro Ferreira, 2014. É importante salientar que 100% dos clientes averiguados eram usuários de um tipo de droga, sejam as lícitas, representadas pelo cigarro e bebidas alcoólicas, 30 as ilícitas ou medicamentosas, porém, apenas três, um homem e duas mulheres, revelaram ser usuários de drogas ilícitas. Em estudo realizado por Neves Junior e Bitar em um centro universitário de Minas Gerais no ano de 2009, foi detectado que 20,3% das mulheres e em contrapartida 28,8% dos homens pesquisados já haviam feito uso de drogas ilícitas, sendo importante revelar que dentre as drogas utilizadas estavam as de uso oral, injetável e as de consumo através das vias respiratórias. (NEVES JUNIOR; BITAR, 2013). Já em estudo realizado por Frantz et al. (2011) com 1.326 adolescentes estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental de uma escola estadual em Porto Alegre, houve um maior consumo de drogas ilícitas por adolescentes do sexo feminino, e o álcool foi a droga mais utilizada pelos dois gêneros. 5.2 Consulta de enfermagem A consulta de enfermagem foi transcrita na sua integralidade e o exame físico revelado a seguir, sendo importante salientar que as observações pertinentes e relevantes serão realizadas quando necessário: 5.2.1 Entrevista 30/06/2014; Identificação: C. R. M.; DN: 11/11/79; 34 anos; parda; solteira; ensino fundamental incompleto. Queixa principal: Sem queixas no momento da consulta. História pregressa: Negou patologias, esteve internada há oito anos por ingerir uma grande quantidade de medicamentos. Relatou ter tido “alergia do femproporex”, mas mesmo assim, não interrompeu o uso. Em busca de maiores informações, detectou-se no prontuário preenchido pelo médico, que a mesma havia tido pitiríase rósea. 31 Azevedo e Dultra (2012) evidenciaram em seu estudo realizado em Goiânia, no período de janeiro a junho de 2012, que estatisticamente as internações por grande ingestão de medicamentos provêm de tentativas de autoextermínio, no seguinte estudo eles observaram que 67% dos casos foram diagnosticados pacientes depressivos, e grande maioria correlacionada com término de namoro. Beers e Berkow (2001) afirmam que pitiríase rósea é uma dermatose inflamatória, leve, de causa desconhecida, caracterizada por lesões descamativas e curso autolimitado. Seus sinais e sintomas são placas, geralmente localizadas no tronco, essas erupções podem ocorrer de cinco a dez dias. A lesão inicial é discretamente eritematosa, de coloração rósea ou castanho-clara, com um formato oval. As lesões podem persistir até dois meses, porém é raro, o desaparecimento espontâneo leva cerca de quatro a cinco semanas. História familiar: mãe e irmã hipertensa, pai cardiopata, negou patologias oncológicas. As doenças cardiovasculares são as causas mais comuns de mortalidade e morbidade no Brasil e no mundo, tendo vários fatores de risco, dentre eles a hereditariedade. O histórico familiar de várias patologias reflete uma hereditariedade multifatorial em que a susceptibilidade determina-se pelo conjunto de números de genes que vão interagir com o estilo de vida que a pessoa leva. (LEITE, et al., 2013). Baseando-se nas citações acima, pode-se inferir o risco da cliente um dia evoluir com algum tipo de patologia cardíaca, uma vez que possui parentes de primeiro grau portadores de doenças cardiovasculares e era usuária de medicamentos psicotrópicos. Marques e Ribeiro (2006) informam que o uso crônico de psicotrópicos, em especial as anfetaminas, levam a complicações clínicas, como infarto agudo do miocárdio, cardiopatias irreversíveis, vaso espasmos sistêmicos e edema agudo de pulmão. História obstétrica: G(0) P(0) A(0). Relatou que era sexualmente ativa, usava como contraceptivo “condom masculino”. Estava em dia com o exame citopatológico. 32 Hábito, costume e social: Fazia três refeições diárias, sendo café da manhã, às 6:30 horas (café preto, pão com presunto e muçarela), almoço 11:00 horas (bife e salada), e um lanche à tarde (pão com manteiga e café preto), informou que não fazia refeições fora de casa. Trabalhava em uma fábrica de calçados, com carga horária de nove horas diárias, estava exposta a ruídos, e agentes químicos como: cola, solvente, halogênio e todas as atividades eram executadas em pé. Não praticava atividade física, era etilista social, negou tabagismo, e uso de drogas ilícitas, exceto medicamentos. Caderneta vacinal em dia e revelou que sofria períodos de insônia. Fazia uso contínuo dos seguintes medicamentos: Femproporex 25 mg; Sibutramina 15 mg; Alprazolam 1 mg; Fluoxetina 20 mg. As Doenças Crônicas não Transmissíveis (DCNT) na maioria das vezes são ocasionadas por fatores modificáveis como tabaco, alimentações inadequadas, uso de álcool, obesidade e a inatividade física. As DCNT são responsáveis por aproximadamente 60% dos óbitos e estimativas indicam que estas doenças podem ser prevenidas com a realização de um volume suficiente de atividade física. (MALTA et al., 2009). Fernandes e Morata (2002) afirmam que agentes físicos como ruído, calor, vibrações, pressões e radiações e agentes químicos, como poeira, gases e vapores são alguns do estressores encontrados no ambiente de trabalho e estes podem trazer vários malefícios à saúde do trabalhador, como alteração no funcionamento de todo o organismo e no sono, a sensibilidade a estes agentes aumenta podendo causar acidentes de trabalho. Estes agentes combinados podem trazer uma série de efeitos maléficos sobre a saúde e bem-estar do trabalhador. Segundo Souza e Rau (2010) o femproporex e sibutramina são medicamentos anorexígenos, indicados como moderadores de apetite para pessoas com obesidade mórbida. Femproporex é um anorexígeno anfetamínico que no organismo é metabolizado em anfetamina, é absorvido no trato gastrointestinal e se distribui por 33 todos os tecidos, porém se encontra em grande concentração no SNC. (CERQUEIRA, et al., 2011). Pode causar reações adversas como tensão, insônia, ansiedade, arritmia cardíaca, hipertensão, boca seca, alteração na libido e, além disso, seu uso crônico pode causar dependência psíquica ou tolerância. (DESOBESI-M, 2009). A sibutramina bloqueia a recaptação da noradrenalina, de serotonina e da dopamina, proporciona a saciedade e aumenta o gasto energético termogênico. É uma amina terciária que foi primeiramente desenvolvida como um antidepressivo. Por causa de seu mecanismo de inibição da recaptação de noradrenalina, a sibutramina tem o potencial de elevar a pressão arterial. (SOUZA; RAU, 2010). O alprazolam é uma medicação do grupo benzodiazepínico (BDZ), um análogo triazolo 1,4 benzodiazepina. É considerado um BDZ de alta potência e meia vida intermediária de 12 a 16 horas. (STOPPE, 2004). O alprazolam é indicado para tratamento de ansiedade e outras manifestações, como a abstinência do álcool, tratamento do transtorno do pânico, com ou sem agorafobia. (ALPRAZOLAM, 2012). A fluoxetina é indicada no tratamento da depressão, associada ou não com ansiedade, bulimia nervosa e distúrbio obsessivo-compulsivo. (CLORIDATO, 2005). Carlini et al. (2009) relatam que a fluoxetina é um antidepressivo que, quando administrado concomitantemente com pelo menos 94 substâncias medicamentosas, entre elas carbamazepina, alprazolam, diazepam e sibutramina, pode trazer interações indesejáveis. Mediante ao relato do uso contínuo e indiscriminado de psicotrópicos relatados no prontuário, foram feitas as perguntas a seguir: Há quanto tempo você faz o uso deste medicamento psicotrópico? “Deixa eu ver....eu tinha 17 anos quando eu comecei, 17!” Lungwtz e Gerenutti (2012) esclarecem que o tempo de uso recomendado para anfetamínicos é de quatro meses, pois o uso crônico desta substância pode trazer graves consequências, como o desenvolvimento de esquizofrenia paranoide, alucinações táteis, auditivas ou visuais. Os efeitos adversos causados pelos 34 anorexígenos incluem convulsões, alterações no eletroencefalograma, psicoses, ansiedade, euforia, depressão, disfonia, irritabilidade, tensão, insônia, tremor, midríase, dor de cabeça, hipertensão ou hipotensão, angina e colapso circulatório. Qual a quantidade utilizada diariamente? “O que eu tomo mesmo? Uma semana eu tenho o femproporex, aí passam, vamos dizer uns quinze dias, eu já não tenho, aí vem o outro, vem o sibutramina, tem dia que eu tomo até três comprimidos, depende, o dia que eu tô com muita fome o dia que eu tô mais nervosa... é isso que acontece [...] Alprazolam eu não tô tomando porque eu não tô indo no posto pegar, ele é de uso contínuo, porque foi a Dra. Joana que me passou, por conta da minha pressão. Aí eu tinha que tomar todo dia, mas só que ele me deixa triste, eu choro, é muito ruim, então, eu não tomo ele não”. Henning, Wiens e Sanches (2011) afirmam que a subdosagem dos medicamentos citados, femproporex e sibutramina, priva o consumidor de um tratamento adequado e pode interferir na resposta desejada. Plavnik (2002) afirma que a hipertensão de origens secundárias estão relacionadas a várias causas modificáveis, como por exemplo, as induzidas por substâncias ou drogas. Entre estas substâncias ou drogas estão as anfetaminas, os antidepressivos, esteroides, e esteroides sexuais. Auchewski et al. (2004) informam que a depressão e a distimia que é diferenciada das demais depressões por apresentar sintomas mais leves e contínuos, como falta de prazer, divertimento na vida e pelo constante sentimento de negatividade, podem ocorrer consequentemente ao uso de alprazolam e clonazepam. Como você teve conhecimento dos mesmos? “Eu fui ao médico, ele era um clínico geral, eu fiquei sabendo que ele estava passando remédio pra emagrecer, então marquei uma consulta e ele me receitou os medicamentos. Ia 35 todo mês, fiz o controle direitinho, durante anos, só que depois proibiram, [...] agora eu tenho um pouco de dificuldade, porque tá em falta a sibutramina, não tem, o femproporex ele vem lá [...] de fora do Brasil lá [...] do Paraguai, vem fácil, muito fácil, eu nem sei se é original. Tomo!!!” De acordo com a RDC Nº 52, de 6 de outubro de 2011, foi decretada a proibição do uso das substâncias anfepramona, femproporex e mazindol, seus sais e isômeros, bem como intermediários e medidas de controle da prescrição e dispensação de medicamentos que contenham a substância sibutramina. (BRASIL, 2011). Silva (2012) afirma que apesar de existirem legislações e órgão de vigilância, as falsificações e contrabando ocorrem com grande frequência e, principalmente, em países menos desenvolvidos, a maior parte dos medicamentos falsificados vem do Paraguai ou Bolívia, já que no Brasil não foram encontrados fabricantes de medicamentos falsificados. A autora também assegura que nesses produtos existem substâncias tóxicas e inócuas que podem trazer sérios danos à saúde. Hoje, como você tem acesso a este medicamento psicotrópico? “Eu tenho acesso através de um amigo meu de Belo Horizonte que manda pra mim, sempre quando eu preciso é só ligar pra ele, agora eu não vou a médico mais, já compro, compro também na farmácia do José, lá em Nova serrana, e os de uso contínuo, eu pego receita no posto.” O ideal seria que a cliente fizesse o acompanhamento médico e o mesmo receitasse os medicamentos indicados com as dosagens corretas mediante as necessidades da cliente, e que essa não tivesse acesso aos medicamentos sem receita nas farmácias, impossibilitando-a assim de fazer o uso indiscriminado desses medicamentos psicotrópicos. A busca pelo ’’corpo perfeito’’ não requer apenas a seleção minuciosa de alimentos, é necessário também associação com medicamentos para emagrecer, fazendo com que a busca por estes medicamentos seja cada dia mais preocupante, 36 pois nem sempre estes medicamentos são adquiridos de forma correta, aumentando ainda mais o risco à saúde. (PRIMO; SILVA, 2011). Silva e Mella (2008) alegam que algumas farmácias ainda infringem a lei, visando no medicamento um meio de ganhar dinheiro, não dando a mínima importância aos graves riscos que o mesmo possa trazer para o usuário. De acordo com o Andrade, Andrade e Santos (2004), o receituário médico concebe a tradução por escrito da autorização médica, permitindo ao paciente obter o medicamento e serve também para instruir sobre o tratamento. A receita é um documento legal que obedece a legislações específicas. O que te motivou a fazer o uso deste medicamento psicotrópico? “Odeio ser gorda, tenho muita vontade de emagrecer e tomo só por causa disso [...].” Henning, Wiens e Sanches (2011) relatam que as mulheres são grandes consumidoras de medicamentos anorexígenos por existir uma sociedade que cultua um padrão de beleza com corpos esculturais. Já fez o uso de outros medicamentos psicotrópicos? “Não, sempre usei somente estes. A fluoxetina, tomo de vez em quando, não é todo dia não, esse eu pego no posto, eu não, a minha irmã pega, eu vou lá e pego dela.” Segundo Caramelli (2001) para encurtar os caminhos para obtenção do alívio para os incômodos, diante de quaisquer sintomas, o brasileiro se vê impulsionado a utilizar medicamentos populares, prescritos a familiares ou de indicações leigas, feitas por amigos, parentes mais próximos ou mesmo do farmacêutico. Hoje você conseguiria viver sem fazer uso desse medicamento psicotrópico? “Não, porque eu fico triste, choro, fico desanimada, eu fico falando demais, e, quando eu tô tomando ele, eu fico tranquila, sem ele eu fico me achando mais gorda, esses dias não tô 37 conseguindo nem me olhar no espelho, minhas costas, tá cheia de gordura, minha barriga tá dobrando, não consigo ficar sem ele [...].” A distorção da imagem corporal foi mencionada pela primeira vez por um psiquiatra entre as décadas de 60 e 70, como um distúrbio de uma paciente com anorexia nervosa na percepção de seu corpo, a partir dai pacientes avaliadas clinicamente demonstravam um receio exagerado de ganhar peso, sendo este o primeiro passo para incorporar o “medo doentio de engordar” como característica psicopatológica da anorexia nervosa, juntamente com o emagrecimento, a distorção da imagem corporal. (ABREU; CANGELLI FILHO, 2004). Você já tentou interromper o uso deste medicamento psicotrópico? “Muitas vezes, não consigo, porque eu fico me sentindo gorda, muito desanimada, um sono que só Jesus, dá muita preguiça de levantar, de trabalhar, de tudo, pra mim, esse remédio é muito bom!” Tiengo, Nogueira e Marques (2013) observaram que a maioria dos usuários de psicotrópicos tenta suspender o uso sem orientação médica, o que leva ao insucesso da interrupção dos medicamentos. Quais foram as dificuldades encontradas na abstinência dos medicamentos? “Às vezes eu ficava tremendo, tinha dor de cabeça, nervosa e não conseguia dormir, já fiz tratamento com psicóloga e não consegui, fiz durante oito meses quase um ano, fui no psiquiatra, porém eu não via resultados, não tinha paciência para continuar com o tratamento, na verdade nem nesse período eu parei de tomar o remédio porque o psiquiatra me indicou para um endocrinologista, eu fiz a dieta direitinho, só que a própria médica falou que eu não poderia tirar os remédios de uma vez [...].” 38 Os sinais e sintomas que na abstinência de anfetaminas são caracterizados por ansiedade, agitação, redução de energia, lentificação e humor depressivo. Já com os ansiolíticos e hipnóticos a abstinência trará exatamente os sinais e sintomas que eles combatem, isto é, abstinência com fortes crises de angústia e insônia, além da distonia do sistema nervoso autônomo, acompanhados de tonturas, tremores, hipersudorese e queixas digestivas. (SOUZA, 2011). Os efeitos colaterais de psicotrópicos originam a dependência, surge um vicio difícil de ser controlado, o que logo se resulta em intervenções de profissionais da saúde, incluindo além do psiquiatra sessões de terapia com psicólogos. (SPILLERE, 2011). Você associa o uso de outro psicotrópico, como por exemplo: tabaco, álcool ou até mesmo outro medicamento? “Não, só álcool.” A interação de álcool e benzodiazepínicos pode ocasionar depressão respiratória grave e fatal devido ao sinergismo do efeito depressor. Quando usados em um mesmo momento, pode evoluir com quadro de intoxicação grave, mesmo que o indivíduo beba socialmente. (AUCHEWSKI et al., 2004). O uso decorrente deste medicamento psicotrópico afetou o seu convívio familiar? “Sim... Fico muito nervosa quando eu não tô tomando ele, então fica difícil, minha irmã pede pra eu parar, e o pessoal lá de casa, eles veem que eu tô gorda, eu sei que eu tô e eles não me falam, eles falam que assim não tá bom, porque eles tem medo deu ficar igual a uma época, em que eu tomava muito comprimido, eu tomava assim oito comprimidos por dia, eu chegava lá em casa de tarde, eu andava dopada, dopada mesmo,[...] eu namorava e ele falava: você tá tão ruim hoje, eu ficava assim, parada de tão dopada que eu ficava, porque eu tinha muito remédio, ele era muito fácil de conseguir, principalmente porque onde eu trabalhava tinha farmácia 39 embaixo, o farmacêutico conseguia três quatro caixas pra mim, e eu tomava elas assim, em [...] quinze dias, eu tomava três caixa de comprimido, eu pesei 58 kg, e eu me sentia muito realizada, muito feliz nossa, e minha família não queria me ver assim, dopada, eu dormia, deitava na cama seis horas da tarde, eu não queria namorar, quando eu to tomando esse remédio meu libido cai, só queria ficar aqui em casa quietinha, de boa no meu canto, sem mexer com ninguém, e ninguém gosta de ver a gente assim, o femproporex não tira muito não, mais a sibutramina, tira tudo, eu só queria viver dentro do quarto, e tava super satisfeita.” Segundo Kawashima e Rumin (2011) as pessoas com transtornos alimentares tendem a ser mais passivas, isoladas, não estabelecem um convívio social de maior proximidade, deixam de frequentar a casa de amigos, familiares e não os recebem em casa. Assim como a fluoxetina e a sertralina, os anorexígenos, sibutramina possuem diversos efeitos colaterais como por exemplo a diminuição da libido. (RIBEIRO; CARVALHO, 2009). Você tem conhecimento para que realmente esse medicamento psicotrópico é utilizado? “Não é pra emagrecer não? Então pra que é então?” Ossovski et al. (2010) afirmam que sobre a utilização de antidepressivos, sedativos e anorexígenos, a maioria dos usuários fazem uso destes medicamentos sem ter indicação médica e por consequência sem nenhum conhecimento sobre o medicamento. Você se sente dependente deste medicamento psicotrópico? “Sinto [...]. Teve época que eu vivia tomando remédio, eu tomava remédio nove horas da manha, depois meio dia outro, depois duas horas outro, qualquer coisa que me abalava, igual eu estou hoje, eu vou direto aos remédios, eu penso assim, eu 40 vou tomar o remédio, eu vou ficar ótima, vai passar eu vou esquecer isso, isso não tá na gente, igual eu falo, julgar é muito fácil, difícil é viver, eu já tomei vinte femproporex de uma vez em um dia, quando eu terminei com o meu namorado, eu não queria morrer, eu queria ficar bem, eu queria esquecer aquilo, então eu fui tomando, tomando, aí na hora que eu vi que eu tava ruim demais, eu tive que pedir ajuda e eu fui levada para o pronto-socorro, fizeram lavagem em mim e eu fiquei três dias internada, quase morri. Isso é porque, quando acontece um problema comigo, eu vou no remédio, eu acho que eu vou ficar bem, que ele vai me ajudar a ficar controlada e não é, aí, quanto mais eu tomo, mais eu fico nervosa e agitada. Porém hoje eu não faço isso porque ele é difícil de conseguir, porque senão eu fazia, hoje eu não esperdiço ele, antigamente não, eu não tava nem aí, porque ele vinha tão fácil pra mim, ano passado ele tava muito fácil pra mim, porque a polícia prendeu um monte de sibutramina, aí esse meu amigo me mandou dez caixa, eu tomei ela e em três meses eu emagreci 08 kg e eu achei o máximo.” Segundo Spillere (2011) os inibidores de apetite derivados das anfetaminas são medicamentos que atuam no SNC, podendo levar à dependência química e, consequentemente, mudanças no comportamento do indivíduo que utiliza esta medicação. Partindo deste aspecto, esta questão envolve diversas transformações de cunho social, psicológico e neurológico que podem afetar a vida do indivíduo. A mesma autora ainda informa que diante do exposto, pode-se verificar que a falta de controle público sobre o acesso de medicamentos anorexígenos tende a desencadear a dependência por meio do consumo contínuo da medicação, pois os indivíduos procuram o modo de tratamento mais rápido devido as várias identidades exercidas na sociedade, o que acaba gerando um desequilíbrio emocional, sendo que estes são ocultos por meio de uma aparência de cura específica e não uma transformação a longo prazo. 41 Você já recebeu alguma orientação dos profissionais da saúde sobre o uso deste medicamento psicotrópico? ”Já, tenho uma amiga que é enfermeira, ela já falou muito pra mim, ela já pesquisou, mandou e-mail pra mim, e eu já vi muitas reportagem que falava tudo que eu passei, que no começo você começa a tomar um comprimido, aí você acha que você tá bem e depois você vai aumentando tudo, a médica e até o farmacêutico já me falaram que isso prejudica demais, faz o cabelo cair, faz um monte de coisa, mais só que pra mim, falar isso comigo é mesma coisa de não tá falando nada.” Na assistência de enfermagem, o enfermeiro tem um desempenho importante na orientação quanto ao uso indiscriminado de medicamentos anorexígenos, sobretudo sem indicações para o tratamento de obesidade, orientando também quanto aos efeitos adversos e complicações que estes fármacos podem causar além de estimular o paciente a aderir às mudanças necessárias no estilo de vida. (COSTA; MOURA; GOMES, 2008). O papel do farmacêutico é de orientar o paciente sobre a ação de determinado medicamento e as consequências de um uso indiscriminado do mesmo, uma vez que a maioria dos medicamentos para obesidade são fórmulas que visam à diminuição da hiperfagia. (BORSATO et al., 2008). O uso destes medicamentos psicotrópicos já te trouxe algum tipo de malefício? ”Já sim [...], vários, só o fato de ficar nervosa, às vezes não tinha dinheiro pra comprar porque eles são caros, agora não porque esse moço consegue pra mim de graça, mais um tempo atrás nossa, eu já paguei até 500 reais em farmácia [...], ele já me deu mancha, um monte de manchinha branca que coça, aí o medico descobriu uma doença que chama tiriça rósea, acho que isso [...]. Por conta de medicamentos demais, fiquei uns seis anos vomitando, agora que eu parei, tem um tempinho que eu parei, eu não consigo me olhar no espelho, essa semana, por exemplo, eu nem olhor direto no espelho, minhas calças 42 ficam apertadas, às vezes nem tá [...], sei que é da minha cabeça, minha perna fica muito grossa, minha bunda eu odeio, e teve uma época que eu não comia nada.” De acordo com Abreu e Cangelli Filho (2004) a bulimia nervosa é uma patologia onde após a ingestão dos alimentos, geralmente exacerbada, o paciente auto-induz vômitos devido a um sentimento de culpa. O que você diria para uma pessoa que está querendo iniciar, ou iniciou o uso de um medicamento psicotrópico sem orientação médica ou de forma indiscriminada? “Pra nunca tomar, nunca tomar, eu acho que não deveria, porque é tão bom ser normal, não ter que tomar esse remédio todos os dias, não ter essa obsessão de ter que tomar, dá nove horas, minha boca parece que vai ficando seca, de sete até nove, depois, meio dia, quatro horas da tarde, quando dá horário, eu fico doida, às vezes nem é ele, se eu tomar um remédio qualquer às vezes passa, entendeu?” Chaves et al. (2011) referem-se à fissura pela droga como uma necessidade indispensável do corpo, para vida comparada com a fome. A impossibilidade de saciá-la causa forte sofrimento e o indivíduo é tomado por pensamentos obsessivos que envolvem maneiras de obtenção da droga ou até mesmo o dinheiro para consegui-la. De acordo com Oliveira (2008, p. 10) placebo é: “[...] substância ou preparação inativa administrada para satisfazer a necessidade simbólica do paciente por terapia com medicamentos, [...].” 5.2.2 Exame físico Bom estado geral, higienizada, corada, hidratada com umidade, textura, elasticidade e tugor da pele preservados. Ausência de cicatrizes, edemas e lesões elementares. 43 Consciente, alerta, orientada no tempo e espaço, algo agitada, força muscular de membros superiores inferiores e deambulação preservadas. Sensibilidade dolorosa ao toque e calor. Não apresentou alterações à realização dos testes dos nervos cranianos. Cabeça simétrica, couro cabeludo íntegro e limpo, cabelos com implantação normal, distribuição e quantidade dos cabelos uniforme de cor preta. Face atípica, pápulas difusas, com expressão de desânimo. Sobrancelhas alinhadas e contínuas, pálpebras sem alterações, cílios presentes, conjuntiva palpebral rósea e bulbar transparente, olhos simétricos, córneas translúcida, pupilas isocóricas, globo ocular sem alterações, acuidade visual preservada. Orelhas com implantação simétrica e boas condições higiênicas do pavilhão auricular, acuidade auditiva preservada, linfonodos auriculares impalpáveis. Nariz simétrico, bom estado higiênico, seios paranasais sem alterações. Lábios e mucosa oral corada, gengivas íntegras e hidratadas, dentes naturais preservados em bom estado, língua levemente úmida, róseo-avermelhada com protusão simétrica. Garganta com ausência de exsudato. Hálito dentro da normalidade. Pescoço com mobilidade ativa, glândulas salivares e linfáticas não perceptíveis à palpação. Pulso carotídeo presentes e simétricos, sem engurgitamento de jugulares. Tórax com ausência de abaulamento e retrações. Expansividade torácica simétrica, amplitude da respiração superficial, eupneica, frêmito torocovocal presente, som fisiológico, murmúrio vesiculares preservados, tosse sem expectoração. Normocardica, bulhas normorítmicas normofonéticas, pulsos ritmos e cheios. 44 Mamas simétricas, sem presença de nódulos e excreção mamilar. Abdome plano, cicatriz umbilical levemente retraída, ruídos hidroaéreos positivos, ausência de massas, líquidos, e queixa de dor. Fígado e baço não palpáveis e indolor à manipulação, sinais de Piparote e Giordano negativos. Eliminações intestinais e diurese características. Sem queixas nenhuma queixa referente ao sistema geniturinário. Movimentações articulares totais, deambulação sem anormalidade. PA = 140 x 10 mmHg. FR = 18 irpm. FP = 74 bpm. TAX = 36,3 ºC. Peso = 68 Kg. Altura = 1,70 m. IMC = 23,52 Kg/m2. Após a realização do exame físico céfalo caudal foi identificado um índice de massa corpórea (IMC) de 23,52 e como anormalidade os níveis pressóricos que eram de 140 x 100 mmHg, considerados elevados. De acordo com Brasil (2006) o IMC é a medida para se detectar obesidade e é muito utilizado na prática clínica. Estes índices se dão pela relação entre o peso e a altura e expresso em Kg/m2 como revelado no QUAD. 1: QUADRO 1 – Classificação de IMC. CLASSIFICAÇÃO Baixo Peso Normal Sobrepeso Obesidade VALORES IMC <18,5, Entre 18,5 e 24,9 Entre 25 e 29,9 ≥ 30 FONTE: BRASIL, 2006 Os níveis pressóricos normais tanto em crianças quanto em adultos são de suma importância, uma vez que já se sabe de longas datas que são vastas 45 complicações decorrentes dos níveis elevados da pressão arterial, quando recorrentemente causam morbidades e mortalidades significativas (VIEIRA NETO, 2001). O mesmo autor defende que a classificação em adultos é fundamentada em duas ou mais medidas, depois da triagem inicial, os níveis de referência estão expostos no QUAD. 2: QUADRO 2 - Níveis de referencia para uma pressão arterial normal Considerada como ótima Normal Normal alta: Pressão sistólica < 120mmHg 120 mmHg a 129 mmHg 130 mmHg a 130 mmHg Pressão diastólica < 80 mmHg 80 mmHg a 84 mmHg; 85 mmHg a 89 mmHg. FONTE: VIEIRA NETO, 2011. 5.3 Conduta A cliente foi orientada quanto ao uso de medicação sem indicação médica, uso abusivo dos medicamentos, assim como aconselhada a procurar profissionais que irão lhe auxiliar no abandono dos medicamentos psicotrópicos, e fazer um controle clínico para criar hábitos saudáveis, proporcionando a si mesma, melhores condições de vida. O enfermeiro desempenha função importante para a população, pois participa de programas e atividades de educação em saúde, visando à melhoria da saúde do indivíduo, da família e da população em geral. Sendo ele um educador, está inserido no contexto que norteia a educação em saúde, visto que é necessário orientar a população, e mostrar alternativas para que esta tome atitudes que lhe proporcionem saúde em seu sentido mais amplo. (OLIVEIRA; GONÇALVES, 2004, p.762). Mediante aos levantamentos realizados através doa entrevista e exame físico, foram priorizados os seguintes diagnósticos de enfermagem (DE) baseados no North American Nursing Diagnosis Association (NANDA), 2012-2014, assim como os respectivos resultados esperados e as prescrições de enfermagem pertinentes aos DE: 46 DE: Distúrbios da identidade pessoal caracterizados por verbalização de sentimentos que refletem uma visão alterada do próprio corpo na aparência, estrutura ou função, relacionado a fatores psicossociais ou cognitivos/ perceptivos. RE: Que a cliente consiga se olhar no espelho e não tenha mais o sentimento de que sua reflexão esteja alterada, em até 60 dias. PE: Prestar apoio emocional e estimular a se olhar no espelho por tempo gradativo, de acordo com sua aceitação semanalmente. DE: Estilo de vida sedentário, caracterizado por escolher uma rotina diária sem exercícios físicos, relacionado à falta de interesse. RE: Que a cliente adquira o hábito de realizar alguma atividade física em até duas semanas. PE: Fazer alongamentos e realizar caminhadas, usando roupas e calçado confortáveis, em lugares planos por 30 min. três vezes por semana. DE: Ansiedade caracterizada por agitação, relacionada a abuso de substâncias. RE: Que a cliente se apresente mais calma em dez dias. PE: Realizar atividades como ioga, massagens relaxantes nos ombros, costas e pés, usando óleo de amêndoa, três vezes por semana ou sempre que necessário. DE: Nutrição desequilibrada menos do que as necessidades corporais caracterizadas por relato de ingestão inadequada de alimentos, menos que a porção diária recomendada, relacionado à incapacidade de ingerir ou digerir comida por fatores psicológicos. RE: Que a cliente faça a ingesta de alimentos nutritivos e saudáveis, nas horas corretas e em porções corretas, em no máximo três dias. PE: Fazer refeições ricas em nutrientes, em pequenas quantidades de três em três horas, diariamente. DE: Padrão de sono perturbado caracterizados por insônia de manutenção do sono, relacionado a medicações. RE: Que a cliente consiga ter noites de sono adequado e durma no mínimo oito horas por noite, em até uma semana. 47 PE: Tomar banho morno e prolongado antes de se deitar ouvindo musica relaxante diariamente. Manter o quarto harmonioso, com roupas de camas higienizadas, sem ruídos e em penumbra diariamente. DE: Risco de envenenamento relacionado a fatores externos, contato sem proteção com produtos químicos, tinta, verniz, etc. em áreas pouco ventiladas e sem proteção efetiva. RE: Que a cliente se afaste da exposição dos fatores externos dentro de três dias. PE: Usar equipamentos de proteção individual, máscaras e óculos, diariamente por toda a jornada de serviço. DE: Risco de lesões relacionadas a fatores externos, exposição a agentes químicos (agentes farmacêuticos; álcool e poluentes). RE: Que a cliente não esteja exposta ao risco de lesões em três dias. PE: Favorecer o uso de equipamentos de proteção individual, máscaras e óculos, diariamente por toda a jornada de serviço. Deixar de ingerir medicamentos psicotrópicos sem a devida orientação médica imediatamente. 48 6 CONSIDERAÇOES FINAIS Baseado nos dados coletados, a cliente foi totalmente influenciada pelos padrões de beleza impostos pela atualidade, e que fazia uso de medidas drásticas e prejudiciais à saúde para emagrecer, fazendo uso indiscriminado e sem prescrições médicas de inibidores do apetite, ansiolíticos e antidepressivos. A mídia, exercendo sua influência, torna-se uma grande vilã em vários aspectos, dentre estes quando expõe propagandas de medicamentos que prometem resultados rápidos e perfeitos e, principalmente, estimulam a busca do corpo perfeito, padronizando que, para que uma pessoa seja bela e atraente, esta terá que estar sempre magra, influenciando as pessoas a praticarem medidas radicais e muito pouco saudáveis como o uso de medicamentos inibidores de apetite que causam dependência psíquica e trazem grandes malefícios à saúde. Os inibidores de apetite de que a cliente fazia uso eram as anfetaminas, que foram proibidas para comercialização, devido aos malefícios que provocam. Dentre os danos acarretados pelas anfetaminas está o desenvolvimento de hipertensão arterial, que foi percebido durante a consulta de enfermagem quando a cliente apresentou níveis pressóricos elevados que podem ter ocorrido devido ao uso totalmente indiscriminado desses medicamentos, ou em contrapartida, pode ser influência de uma carga genética evidenciada na mãe e irmã que eram portadoras de hipertensão arterial. Como foi revelada, a comercialização da anfetamina é proibida, porém faz-se necessária fiscalização em instituições de vendas, no caso das farmácias, que efetuam vendas sem receitas médicas e até mesmo dentro dos consultórios médicos, onde geralmente são feitas prescrições equivocadas sem diagnósticos fidedignos e, dessa forma, só assim fará cumprir todos os requisitos que a ANVISA preconiza. Ficou evidente durante a consulta de enfermagem que a cliente era totalmente dependente dos referidos medicamentos, e essa atitude ocasionava um grande impacto na sua vida, pois além da obsessão por ficar magra, a mesma desenvolvia comportamentos que afetavam um convívio familiar e social, como falar desenfreadamente, sempre estava nervosa, ansiosa e, segundo ela mesma, depressiva. 49 Pode-se perceber também que a cliente não tinha capacidade para enfrentar os próprios problemas do dia a dia, nem mesmo permitia ter momentos de tristeza, com isso ela via nos medicamentos, a solução para todas as desesperanças em sua vida. Na atualidade, o ser humano, muitas das vezes, não se permite ter um momento de tristeza, o que é um sentimento normal, ter insônias por problemas comuns do dia a dia, ter até mesmo momentos de desesperos faz parte do cotidiano, muitos não querem ter sofrimentos e angústias, o que leva a uma procura insana de se resolver do jeito mais fácil, isto é, através do uso de medicamentos psicotrópicos, chegando até mesmo a fazer uso indiscriminado. Na busca ativa realizada nos prontuários do ESF, pode-se observar que as mulheres são as maiores consumidoras de medicamentos psicotrópicos em relação aos homens, o que pode sugerir que as várias funções das mulheres do século XXI são revolucionárias, porém podendo ser isso considerado prejudicial à saúde. Ao exercer os vários papéis, as mulheres precisam se desdobrar. Para ser dona de casa, mãe, trabalhadora e mulher, muitas das vezes requer um suporte e muitas delas acabam usufruindo de medicamentos que acalmam, ou até mesmo medicamentos que favoreçam a elevação dos ânimos, como as anfetaminas que são também estimulantes psicomotores. Ficou notório que a cliente necessitava de um acompanhamento psicológico e médico para conseguir se livrar da dependência psíquica e física dos medicamentos psicotrópicos de que fazia uso, além do acompanhamento de um nutricionista para indicar-lhe uma dieta saudável e assim conseguir e manter o peso desejado. Para que houvesse um uso mais consciente, os profissionais das ESF’s deveriam propor a formação de grupos operativos com os usuários de medicamentos psicotrópicos, oferecer atendimentos individualizados de orientações, onde pudesse ser abordada a dependência medicamentosa e vários outros temas relacionados sofre o uso indiscriminado de psicotrópicos. 50 REFERÊNCIAS ABREU, Cristiano Nabuco; CANGELLI FILHO, Raphael. Anorexia nervosa e bulimia nervosa – abordagem cognitivo-construtivista de psicoterapia. Rev. Psiq. Clin., 2004. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rpc/v31n4/22405.pdf>. Acesso em: 28 jul. 2014. ALPRAZOLAM. Responsável Técnico: Miriam Onoda Fujisawa. Campinas: Medley, [2012]. Bula de Remédio. Disponível em: <http://www.medley.com.br/portal/bula/alprazolam.pdf>. Acesso em: 22 jul. 2014. ANDRADE, Marcia de Freitas; ANDRADE, Regina Celia G.; SOARES, Vania. Prescrição de psicotrópicos: avaliação das informações contidas em receitas e notificações. Rev. Bras. Cienc. 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Introdução Você, sendo __________________________________________________ convidado a participar da pesquisa, “Utilização de está medicamentos psicotrópicos” e foi selecionada por ser brasileiro e possuir maior idade, sendo que sua participação ou não, é indiferente ao tratamento recebido, pois o único risco será de se sentir constrangida ao responder questões de ordem pessoal no qual já lhe foram apresentados. Você terá o direito de excluir-se da pesquisa quando bem entender. É preciso entender a natureza e os riscos da sua participação e dar o seu consentimento livre e esclarecido por escrito. 2. Objetivo Conhecer no ponto de vista do usuário o consumo, a dependência, e a influencia do medicamento psicotrópico no seu cotidiano. 3. Procedimento do Estudo Caso concorde em participar deste estudo e responder o questionário sobre dados pessoais, suas respostas serão analisadas e divulgadas através de artigos científicos. 4. Riscos e desconfortos É bom reafirmar que esta pesquisa poderá lhe trazer desconforto ao responder questões de ordem pessoal. 5. Benefícios Sua participação deverá ser espontânea e você não receberá nenhum beneficio por ela, da mesma forma que não estará sujeito a nenhum ônus, a não ser de se beneficiar com as mudanças adotadas a partir da análise deste estudo em experiências futuras. 61 6. Custos/reembolso Reafirmamos que sua participação neste estudo não lhe causará nenhum gasto, da mesma forma em que não receberá pagamento pela sua participação. 7. Responsabilidade Os efeitos indesejáveis possíveis já lhe foram esclarecidos, que é o constrangimento ao responder o questionário, e desta forma fica claro que você não sofrerá nenhuma consequência física. 8. Caráter confidencial Todas as informações obtidas a partir de sua participação neste estudo serão mantidas confidenciais. Ao assinar este consentimento informado, você está autorizando o uso das informações concedidas para a realização deste projeto. 9. Participação Informamos novamente que sua participação nesta pesquisa consistirá em responder o questionário. É importante que você esteja consciente de que a participação neste estudo de pesquisa é completamente voluntária e de que você poderá recusar-se a participar do estudo a qualquer momento. Em caso de você decidir retirar-se do estudo, deverá notificar a pesquisadora. 10. Para obter informações adicionais Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço da pesquisadora principal, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e sua participação, agora ou a qualquer momento. Caso você venha a sofrer danos relacionados ao estudo, ou tenha mais perguntas sobre o estudo, por favor, ligue para Sra. Marisa Menezes no número (37) 99529738, Rua água Marinha, S/N, Capoeira Grande, Onça do Pitangui ou para Srta.: Luciana de Souza Pereira no numero (37) 88337703, Rua Bom Despacho, 647, Bela Vista, Nova Serrana. 11. Declaração de consentimento Li ou alguém leu para mim as informações contidas neste documento antes de assinar este termo de consentimento. Declaro que fui informado sobre os métodos deste estudo a ser utilizado, as inconveniências, riscos, benefícios. 62 Declaro que tive tempo suficiente para ler e entender as informações acima. Declaro também que toda a linguagem técnica utilizada na descrição deste estudo de pesquisa foi satisfatoriamente explicada e que recebi respostas para todas as minhas dúvidas. Confirmo também que recebi uma cópia deste formulário de consentimento. Compreendo que sou livre para me retirar do estudo em qualquer momento, sem perda de benefícios ou qualquer outra penalidade. Dou meu consentimento de livre e espontânea vontade e sem reservas para participar como paciente deste estudo. _______________________________________________________ Nome do participante ou representante legal (em letra de forma) Leandro Ferreira, 03 dejulho 2014. ____________________________________________ Assinatura do participante ou representante legal Atesto que expliquei cuidadosamente a natureza e o objetivo deste estudo, os possíveis riscos e benefícios da participação no mesmo, junto ao participante e/ou seu representante autorizado. Acredito que o participante e/ou seu representante recebeu todas as informações necessárias, que foram fornecidas em uma linguagem adequada e compreensível e que ele/ela compreendeu essa explicação. Leandro Ferreira, 03 de julho 2014. ____________________________________________ Assinatura da pesquisadora Pesquisadora: Luciana de Souza Pereira Discente do Curso de Enfermagem - FAPAM. C I: MG 14 054 492 SSP MG 63