em PDF - Cristina Gutierrez

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em PDF - Cristina Gutierrez
MATILDE CARONE SLAIBI CONTI
HELENA
- Memórias -
HOMENAGEM
no seu
centenário
Niterói
2010
Para seus netos
Carlos Eduardo, Ricardo Augusto, Rodrigo Otávio,
Lenise, Themis Alexandra, Carlos, Poliana,
Nathalia Cristina, Endrich, Mariana, Ana Beatriz, Elton
Para seus bisnetos
Thiago, Natália, Leandro, Lucas, Carolina,
Maria Victória, João Maurício, Luiza, Henrique
e,
naturalmente,
Maria Cristina Barros Gutierrez Slaibi
Nagib Slaibi Filho
José França Conti
Niterói
2010
A Thiago,
Primeiro bisneto de Helena, que me
acompanhou na feitura desta obra com
carinho, interesse e dedicação.
EPÍGRAFE
Ponha sua mão na minha e não
haverá mais nada fora do lugar.
(Autor desconhecido.)
5
AGRADECIMENTO
Para Nice Soldati, amiga de todo o
sempre, que supera a deficiência visual,
digna e prestimosa.
SUMÁRIO
PRIMEIRAS PALAVRAS ...................................................................... 9
1. A HISTÓRIA DE HELENA ................................................................ 11
2. O BATIZADO ..................................................................................... 13
3. A CIDADE NATAL ............................................................................ 15
4. MOCIDADE DE HELENA ................................................................. 17
5. HISTÓRIA DE AMOR ........................................................................ 20
6. NAGIB SLAIBI ................................................................................... 23
7. O CASAMENTO ................................................................................. 28
8. A VIDA QUE SEGUE ......................................................................... 32
9. A MORTE DE HELENA .................................................................... 34
PALAVRAS FINAIS ............................................................................... 37
ANEXOS .................................................................................................. 39
1. POESIAS .............................................................................................. 40
2. ESCRITOS DE HELENA ................................................................... 46
3. DESENHOS DE HELENA ................................................................. 52
4. DEPOIMENTOS .................................................................................. 54
5. HELENA (valsa) ................................................................................
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PALAVRAS INICIAIS
O ano de 2010 é pródigo na comemoração de centenários. Entre eles,
incluiu-se o centenário de minha mãe, Helena Carone Slaibi.
Podemos afirmar que o memorialismo é manifestação do sentimento,
em que o escritor elabora os fatos colhidos, recolhidos e constituídos por
suas reminiscências, segundo critério subjetivo, porque toda lembrança é
subjetiva e não pode ser apropriada por outrem.
Nenhum esforço é preciso para evidenciar que a memória é uma
forma de mergulho interior, captando fatos, pensamentos, criando
personagens, extravasando sentimentos e estados de alma. Ainda na seara
da memória, ela é notadamente paixão à verdade. Ela une passado,
presente, futuro, função prospectiva e projetiva, criando mitos identitários,
recriando esperanças, perspectivas e expectativas.
A memória, pode-se dizer, apresenta-se então como um jogo da
trama social, eivadas de subjetivações, de escalas morais e de seletividade.
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O exercício da memória, no seio da trama social, revela as
experiências históricas, aqui entendidas como vivências, e as expectativas
de futuro. Portanto, a memória não está alheia às representações individuais
nem coletivas.
Posto isto, em relevo, ela está balizada pela posição do memorialista
no evento em si e pelas suas representações sociais, culturais e religiosas.
A memória é um campo de observação transdisciplinar e, apesar de
sua relação com o passado, ela atua no presente, na esfera daquilo que se
lembra ou se quer lembrar.
Os literários afirmam que, ao contrário do que parece, não é muito
fácil estabelecer um divisor, do que seja na realidade memória e literatura,
pois todas as artes literárias, na realidade, gozam de atributos semelhantes.
Não há como separar, de todo, o homem da sua obra. E isto já se vê
nas pegadas que deixamos na praia...
A obra a ser apresentada é, assim como eu mesma, apenas um
reflexo do criador.
Fico grata por esta oportunidade e grata também a Deus por me ter
colocado nos caminhos de Helena e de Nagib.
1. A HISTÓRIA DE HELENA
Corria o ano de 1910, eram tempos da Primeira República. Ano este em
que se elegeria presidente do Brasil, Hermes da Fonseca, eleição esta em que
se trouxe à luz a fragilidade da aliança política entre São Paulo e Minas Gerais,
na denominada política café com leite. Hermes da Fonseca foi casado ainda na
presidência com Nair de Tefé.
A política do Café com Leite consistiu em uma preponderância de uma
ou duas forças políticas, mas estas não são suficientes para contar toda a
história, deixando algumas lacunas que devem ser mais bem exploradas, além
do que, ao longo da história, temos a emergência de algumas divergências e
um grande desacerto final, que culminou com a Revolução de 1930.
Contudo, no dia em que Helena nasceu, 16 de abril, um dia outonal,
demasiadamente fecundo, entrava no quarto, através das frestas da persiana,
do casarão alto e imponente, um cântico gregoriano, vindo da igreja matriz
situada ao lado. Era um canto muito harmônico e até mesmo angelical. Talvez,
adveio daí sua inclinação para a música e em especial para o violino,
instrumento musical que ela mais amou.
Helena
entrou
apressada
no
mundo.
Era
prematura,
magra,
pequenininha, com uma carinha redondinha. Tinha os cabelos escuros e lisos
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como sua mãe, Matilde Nonato Pinheiro, e não chorou, mas só olhou em volta
com muita curiosidade e admiração.
Eu vou nascendo um pouco a cada dia.
Ouvindo de manhã, a passarada cantando,
alegre, em doce revoada,
numa eclosão de amor que contagia.
Então, todos que naquele momento estavam presentes, observaram a
cor de seus olhos: cor de âmbar, isto é, amarelos esverdeados, que se
tornaram, durante sua longa vida, verdadeiras estrelas cadentes em noites
fulgurantes; olhar igualzinho ao de seu pai, João Carone, e seu irmão Jorge, o
primogênito da família. Ao todo foram sete irmãos: Jorge, Abrahão, Abdalla,
Helena, Sofia, Agia e João, o mais novo de todos.
Muitos anos depois, Jorge tornou-se advogado e casou-se com Ducília,
que era do Rio de Janeiro; Abrahão, que era médico, morreu jovem ainda;
Abdalla formou-se em Farmácia, vindo a casar-se com Judith.
Das suas duas irmãs, Sofia casou-se com Fuád, professor e advogado,
e Agia com Antonio, que era construtor; João, advogado, fez concurso para juiz
de Direito, casando-se com Aurea, uma moça da vizinha cidade de Ubá.
João Carone sentia grande orgulho de seus filhos, pois todos
conseguiram seu diploma: havia advogados, médico e farmacêutico, sendo que
as moças eram todas professoras.
2. O BATIZADO
Helena logo foi batizada.
Temia-se que a menina morresse do mal dos sete dias e fosse direto
para o limbo, conforme pensavam na época, e não para o céu, para onde vão
os inocentinhos, em seus caixãozinhos azuis, quando morriam e já tivessem
sido batizados pelo pároco do local. Mas sua proteção foi muito grande desde o
dia do seu nascimento, ela nunca mais ficou sozinha, conforme a pureza dos
anjos que a acompanharam, durante toda a sua vida.
A camisola do batismo era branca, feita pelas mãos prendadas de sua
mãe, toda de Ponto Paris, da forma que nem se usa mais, bordada e
rebordada com muitos babados e entrelaçada com fitas de cetim e veludo. Na
cabeça, uma touca, e nos pezinhos um minúsculo sapatinho de crochê
parecendo de boneca.
Seu nome, Helena, foi uma homenagem a sua avó paterna, nascida em
Istambul e que veio a falecer muito jovem, em um desastre de carruagem no
Líbano, juntamente com o seu filho menor, conforme sempre contava seu pai,
com os olhos umedecidos pelas lágrimas da saudade e de fatos ocorridos em
uma terra tão distante.
João Carone, como tantos outros imigrantes, nunca mais voltou a sua
terra natal.
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Apesar de todos os receios, porque na época havia poucas vacinas e
nenhum antibiótico, Helena cresceu, como crescem todas as menininhas, cheia
de graça e encantos mil, alegre, radiante e buliçosa. Mesmo porque, em
Guiricema, a vacinação contra a febre amarela, apregoada pelo médico
sanitarista Oswaldo Cruz, nem sequer chegou.
Ainda mais porque a população do Rio de Janeiro, no princípio do
século, lá pelo ano de 1904, tinha se insurgido contra as autoridades sanitárias,
provocando uma insurreição que ficou conhecida como A Revolta da Vacina.
Merece alusão aqui, pois, no batizado de Helena, o dia mostrava-se
claro e o vento outonal começava a soprar pela terra, flamejando, com um
resquício do calor do verão, antes de mergulhar na estação invernal.
3. A CIDADE NATAL
No início do século XIX, José de Lucas Pereira dos Santos, desbravador
português, com título militar de Furriel, visitando essa região, deliberou nela
instalar-se com seus familiares e escravos, tal a fertilidade do solo. Mais tarde,
construiu uma capela que serviu de marco inicial do povoado.
O cenário da cidade natal de Helena, Guiricema, situada na Zona da
Mata de Minas Gerais, era uma localidade quase rural. Poucas ruas e
travessas, algumas vielas, nenhum calçamento, um amontoado de pequenas
casas, carroças, carros de boi, parelhas de burros e verde, muito verde ao
redor, pois a terra era boa para a plantação e a lavoura.
Guiricema, cujo nome é de origem indígena, significando, subida de
Bagres, foi a terra dos índios Coroados e Puri, fazendo hoje parte do
importante pólo moveleiro, cuja data comemorativa é 15 de agosto, muito
importante na região. Toda a cidade se encontra sob a proteção da padroeira
Nossa Senhora da Encarnação, em cuja igreja, da sua casa paroquial, se
encontram hoje os móveis antigos de estilo manuelino, doados por sua irmã
Agia Carone Martins.
Eu era igual a toda meninada
Quanta travessura que eu fazia
Jogos de botões sobre a calçada
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Eu era feliz e não sabia
Aos domingos havia missa na matriz. E, ainda hoje, a bela construção
da igreja debruça-se sobre a Praça Luis Coutinho, assim denominada numa
justa homenagem ao Coronel que foi seu primeiro prefeito, empossado em 12
de
fevereiro
de
1939,
pois
o
Município
havia
se
emancipado
administrativamente em dezembro de 1938.
Guiricema tem se desenvolvido bastante.
Lá, existe um lugar denominado Santa Montanha, aonde é um povoado
extremamente religioso, seguindo o catolicismo, onde há um convento, e a
primeira missa de cada mês é realizada em Latim, de costa para o público,
exatamente como antes do Concílio Vaticano II.
Toalhas de renda tecem o passado distante que se foi... entrelaçam
recordações de jasmins, dálias, rosas e o perfume da vida no casarão que
acabou, não existe mais. E Helena nem podia imaginar que, em um futuro
muito distante, aquele casarão se transformaria, para ser o prédio do ginásio
de que a cidade tanto necessitava.
O vento, os bem-te-vis, canários e sanhaços afloram o êxtase de um
tempo distante. Memórias e histórias se cruzam e se entrelaçam.
Vale a pena rememorar que Nossa Senhora da Encarnação ficava a
contemplar a cidade, enquanto as bençãos do Senhor enchiam de graça a vida
de Helena.
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4. A MOCIDADE DE HELENA
Alegre, cheia de graça, rodeada de parentes e amigos, com os
folguedos próprios da infância e da adolescência, assim Helena tornou-se
mocinha.
Eu fui no Itororó
Beber água não achei
Achei bela morena
Que no Itororó deixei
....................................
Ó menina linda
Ó menina linda
Ficarás na roda
Ficarás sozinha
As crianças eram felizes. Muitas vezes, em dias de sol maravilhoso,
Helena e suas irmãs iam cantarolando, acompanhando sua mãe, que ia fazer
visitas, lá pelos lados da Taboa.
Helena, como era de costume, levava uma bandeja com quitutes, para
os amigos, como sempre mandou a cortesia. Era tudo uma alegria só.
Muito bolo de laranja, brevidades, broa de fubá e de aipim, em grande
quantidade. Tudo coberto com toalhinhas de linho, bordado a máquina de
manivela, com lindos modelos de flores, pássaros e borboletas, que somente
sua mãe sabia fazer.
Helena adorava ouvir e inventar histórias, brincar com o jogo da
amarelinha, a peteca, as cantigas de roda, como também bonecas, muitas
bonecas ou bruxinhas de pano feitas pelas tias Lulú e Bebé, que haviam
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chegado da Bahia, lá de Santo Amaro da Purificação. Cidade esta, hoje tão
famosa, por ser a terra de Caetano Veloso e Maria Betânia. Suas tias eram
viúvas. Elas vieram fazer companhia a mãe de Helena, trazendo pelas mãos
duas crianças: os priminhos Pedro e Lamartine.
Honra, virtude e bons costumes, princípios tão caros aos mineiros,
Helena aprendeu em casa, pois a casa de João Carone vivia sob o esteio da
ética e da moral.
Seus estudos foram iniciados com os professores da sua cidade natal.
Mas um dia, já mocinha, tomou o trem que passava em Visconde do Rio
Branco e foi levada pelas mãos de seu pai, até a cidade vizinha de Ponte Nova.
Nenhum outro meio de transporte ilustrou tão bem o desejo de expansão do
que o trem de ferro. As ferrovias atravessavam montanhas, túneis e pontes
suspensas no ar, avançando sempre sob as paisagens. As chamadas mariasfumaça não mediam esforços para ampliar seu território, levando de um lado a
outro pessoas, mercadorias e um novo estilo de vida.
A fumaça e o vapor fizeram parte do século XIX e início do século XX.
Centenas de milhões de toneladas de carvão vegetal e mineral foram
queimados para por as máquinas em movimento em todo o mundo. Na época,
nem se pensava ainda em “desenvolvimento sustentável”. Florestas eram
depredadas, o solo explorado e grandes quantidades de dióxido de carbono
jogados no ar sem a ameaça do aquecimento global ou preocupações com a
camada de ozônio, pois ainda não se tinha a noção das consequências do
progresso indiscriminado.
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Estudou no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, pertencente às Irmãs
Salesianas, onde conseguiu seu diploma de professora. Apesar dos exames
exaustivos e da rigidez de um colégio católico muito austero, Helena sempre foi
uma aluna educada e disciplinada, recebendo assim muitas medalhas e
incentivo das bondosas freiras.
Apesar do tradicionalismo da Igreja, foi inegavelmente um bom curso.
Amava as tarefas escolares e gostava das aulas de religião, português e
literatura. Fazia trova e poesias.
(...) Minhas poesias não tem rima,
vem do meu olhar sobre os fatos,
o tempo, a natureza e a vida.
Minha poesia é a morada
do meu ser,
Como uma estrela distante recondita,
perdida nas matrizes
da constelação poética.
Minha poesia não tem rima
e me inspira,
e te inspira.
Helena nos legou também vários escritos, trabalhos manuais e lindos
álbuns de desenhos enriquecidos artisticamente, como só se fazia nos tempos
de antigamente.
5. HISTÓRIA DE AMOR
O calendário corria, chegando o ano de 1928. Acontecia o décimo
período do governo republicano sob a presidência de Washington Luis
Pereira de Sousa, macaense de nascimento e que anos depois veio a ser
deposto pelo movimento revolucionário. Mais tarde, em 1930, chega ao
poder Getúlio Vargas, que havia sido ministro do presidente deposto.
Com a ascensão de Getúlio Vargas, passou-se a valorizar
determinados elementos da nacionalidade em sintonia com a conjuntura
política da época: os desfiles cívicos; as homenagens à bandeira; as
festividades pelo dia do trabalho; o dia da raça; o dia da pátria; o
aniversário do presidente Vargas; fatores que também compuseram aquele
cenário nacionalista.
Para Helena, este ano foi de grande importância. Ela conseguiu seu
diploma de professora. Foi somente em 1931 que o Ministro Francisco
Campos instituiu a Reforma do Ensino.
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“Esta mulher amável, carinhosa, que traz no rosto plácida ternura, é
a professora amiga, fervorosa, sempre bondosa e meiga criatura.”
É a primeira professora formada de sua cidade natal, tendo sido até
mesmo indicada para vir a ser diretora do Grupo Escolar existente naquela
época, em Guiricema, sendo que este primeiro Grupo Escolar foi criado em
1927.
Helena moça viveu numa época mística: do amor romântico, das
palavras não ditas substituídas por um olhar, dum roçar de mãos, talvez um
rubor ou mesmo um silêncio prenunciando um grande amor.
Era o tempo de Belle Époque, das coquetes e melindrosas, onde as
moças casadoiras sonhavam então com um grande amor. Em seus
devaneios pensavam que o príncipe encantado chegaria em um cavalo
branco, alado, e as arrebatariam para todo o sempre, para as terras da eterna
paixão e do encantamento. A Belle Époque foi construída sobre o glamour
de uma sociedade burguesa, cujo maior modelo de inspiração foi Paris,
denominada a Cidade Luz.
Na realidade, o princípio do século passado foi cheio de estereótipos,
que permaneceram, chegando até nós, merecendo sim uma releitura
melhor.
O amor é algo estranho e muito mágico. E um dia, sempre tem um
dia, o amor chegou também para Helena.
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Vestida de azul e branco
Trazendo um sorriso franco
E um rostinho encantador
Então a linda normalista rapidamente conquistou o coração que
estava fechado dentro do peito, muito guardado, daquele por quem também
se enamorou.
6. NAGIB SLAIBI
O seu príncipe encantado veio personificado na figura de um grande
e dileto amigo de seu pai, João Carone. Encontraram-se durante um
carnaval. A alegria era geral. Havia muita música, serpentinas e confete.
Foi no tempo em que as modinhas e canções falavam do amor romântico.
(...) Helena, Helena vem me consolar...
Mesmo baixinho o teu nome eu chamava.
Helena dos meus encantos
Vem me fazer um carinho...
O dia já vem raiando, e a minha Helena
Não vem.
Por que será?
Nagib Slaibi não veio montado em um cavalo árabe, mas veio
também de muito longe, de um país longínquo, situado no Oriente Médio.
Veio do Líbano, país encantado, das mil e uma noites, das histórias de
Sherazade.
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Líbano significa terra do mel e do leite, das montanhas cobertas de
neve eternamente. Ponte entre o Ocidente e o Oriente.
Líbano, país nascido dos fenícios. Foi berço do alfabeto. Foram os
introdutores do uso da moeda e da navegação, de riquíssima literatura e
extraordinário prestígio no campo da arte, da Filosofia, do Direito sendo
patrimônio cultural da humanidade. O então menino fez seus estudos em
árabe e francês na denominada Escola da Sabedoria, dirigida por bispos
católicos maronitas, de longa tradição, no Oriente Médio.
Nagib Slaibi veio adolescente de sua terra natal. Saiu de Beirute
através do Porto de Marselha, na França, e de Dakar na África, chegando
ao Brasil, na cidade do Rio de Janeiro no ano de 1912. Durante toda a
viagem se fez acompanhar pelo casal Abílio Aad, que havia se casado no
Líbano.
Conta-nos a história que esta foi a época das grandes imigrações.
Aqui chegaram italianos, espanhóis, japoneses e árabes, muitos com
incentivo do próprio governo. Aqui já trabalhava seu irmão, Youssef, vindo
também o Said, o Chicrala e, depois, sua irmã Haifa, todos esperançosos
com a terra da promissão e da liberdade.
Chegaram, lutaram e venceram.
Essa emigração livre, espontânea, sem intervenção de agenciadores
ou contratos feitos pelo governo brasileiro, foi a responsável pela chegada
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de um enorme contingente de italianos, portugueses, espanhóis, sírios e
libaneses, judeus, franceses. Os grupos mais numerosos, sem dúvida,
foram, respectivamente, os portugueses, italianos, espanhóis e libaneses.
Os estrangeiros deixaram suas marcas na sociedade brasileira não só
caminhando conjuntamente com o crescimento e modernização das
principais cidades, como contribuindo para essa modernização. A
miscigenação racial e cultural brasileira, certamente, tem muito a ver com a
chegada desses povos.
Entretanto, se as diferenças de língua e estilo de vida dificultavam a
rápida adaptação dos imigrantes, a expansão do sistema capitalista em
direção à periferia do Ocidente garantia-lhes uma identidade comum com a
cultura na qual logo estariam inseridos.
Nagib Slaibi foi comerciante, fazendeiro e químico industrial da
usina de açúcar São João, então existente na cidade, e o primeiro presidente
da Associação Comercial e co-fundador da extinta Associação Beneficente
Libanesa.
Aqui se naturalizou, tornando-se Riobranquense, e a bandeira de
Minas Gerais, com o seu dístico de liberdade, igualdade e fraternidade,
embalou o seu coração. Tinha estatura mediana, pele clara, cabelos lisos,
mas seus olhos eram dotados de grande gentileza e simpatia.
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Hoje seu nome é nome de rua, importante porta de entrada da cidade
de Visconde de Rio Branco, mais precisamente no trevo entre Ubá,
Guiricema, São Geraldo. Aí, encontramos em destaque um monumento em
sua homenagem, constando a seguinte inscrição: Rua Nagib Slaibi –
Riobranquense por opção.
Como ensina Cléber Lima: “Ser Rio-branquense não é apenas
privilégio de nesta terra ter nascido, mas a consciência de assumir este
estado de espírito”.
Sua vida transitou entre o Cedro do Líbano e o Angico: “O cedro é o
símbolo nacional de seu país, sendo uma árvore de copa frondosa e raízes
profundas, cuja madeira levou os barcos fenícios além-mar e à descoberta
dos novos mundos, pois foram eles grandes navegadores”.
Estas palavras foram pronunciadas por seu filho, Nagib Slaibi Filho,
por ocasião da inauguração do monumento em homenagem a seu pai.
A História nos conta que a cadeira do imperador Pedro II foi feita de
Cedro, oferecida pelos libaneses que aqui já estavam.
O angico ao qual se refere o orador no seu discurso, por sua vez, é
árvore portentosa, acolhedora, nativa da América, encontrado nas regiões
montanhosas, como nas belas montanhas de Minas Gerais.
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Com o Cedro do Líbano que ficou na saudade, Nagib fez a opção
pelo Brasil, representado pelo Angico e sob cuja dimensão optou por viver
o restante de sua existência.
“Ser Riobranquense é viver o presente, cultuando o passado,
resgatando sua memória e acreditando no futuro.”
Na antiga fazenda Santa Matilde, de sua propriedade, está ainda hoje
o antigo Angico, que, com seus galhos frondosos, o abrigava nas suas
viagens para Guiricema.
Entre os produtos da sua fazenda, estava a festejada aguardente
Preferida de Rio Branco, que tantos prêmios obteve nas exposições
agropecuárias.
Tinha espírito progressista e sempre se interessou pela política,
tendo integrado o Partido Republicano, levado que foi pelas mãos de Artur
Bernardes. Participou sempre intensamente da vida riobranquense, sendo
muito amigo daquele que viria a se tornar seu cunhado, Jorge Carone, e que
se elegeu, na década de quarenta, prefeito de Visconde do Rio Branco e
mais tarde seu filho, Jorge Carone Filho, seguiu o mesmo caminho.
Foi na bela mansão dos Carone que Nagib e Helena vieram a se
casar, como também suas duas irmãs, Sofia e Agia.
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7. O CASAMENTO
Em nenhum outro momento da história ocidental, apostou-se tanto e
com tantos meios na comunicação de massa. Pode-se dizer que o período
foi pródigo na criação de apelos visuais cada vez mais chamativos, capazes
de expor, para os transeuntes mais distraídos, os produtos e os espetáculos
feitos na medida exata do conforto e do deleite burgueses.
Os cartazes publicitários começavam a ser habituais na paisagem das
cidades, mostrando belas dançarinas e divulgando a última novidade em
luvas, bengalas e cartolas. Também houve uma constante preocupação de
tornar a arte objeto de consumo cotidiano, adequando as formas estéticas
tanto à arquitetura externa dos prédios como aos objetos do dia-a-dia,
tornando-os agradáveis e úteis.
Movimentos artísticos, como o estilo decorativo da art nouveau
adornavam a vida burguesa, aliando os processos de produção industrial
com a confecção de utensílios domésticos. Porém, nenhuma destas
iniciativas foi tão impactante como a invenção do cinema, criado em 1895,
pelos irmãos Lumière.
O cinema pode ser considerado a arte-síntese do período. Criado a
partir das inúmeras pesquisas científicas no ramo da ótica, da química e da
fisiologia, resultou em um produto cultural extremamente poderoso para
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exprimir as transformações que vinham ocorrendo no mundo. Numa época
em que a velocidade com que a locomotiva atravessava continentes e com
que o telégrafo fazia circular a informação, o cinematógrafo captava
imagens em movimento, algo impensável com a pintura e a fotografia,
mostrando a ação acontecendo no tempo. Sem papel dentro de um projeto
de cultura de massa também foi crucial, sendo um dos pilares principais do
que seria futuramente chamado de indústria cultural. Nos Estados Unidos,
desde o início do século XX, os pequenos empresários do ramo do
entretenimento vinham apostando no cinema como arte popular,
promovendo sessões a preços baratos, chamando a atenção dos
frequentadores de circo, vauevilles e teatro de variedades.
30 de abril de 1941.
Naquele dia, todos os cinemas anunciavam o filme com o maior
número de indicações ao Oscar, E o vento levou...
Ficou famosa em Hollywood a disputa das atrizes pelo papel de
Scarlet O´Hara, que foi conseguido pela atriz inglesa Vivien Leigh, casada
com o ator Sir Laurence Olivier. O ator principal foi Clark Gable, que
atuou como Rhett Butler no filme que se tornou um clássico, adaptado do
livro homônimo, da autoria de Margaret Mitchell.
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Contudo, não se pode deixar de assinalar que, do outro lado do
Atlântico, uma grande guerra acontecia, a Segunda Guerra Mundial, que
tinha se iniciado em 1939, com a invasão da Polônia pela Alemanha.
Mas, para Helena, 30 de abril de 1941 foi um dia de transcendental
importância em sua vida, era o dia de seu casamento. Aquele dia, para
sempre foi diferente de todos os outros. Era uma manhã tão bonita que a
vida parecia uma nova canção, embrulhada numa nuvem cor de rosa.
Mais uma vez
vesti o meu vestido
mais bonito,
Soltei os meus cabelos,
refiz o meu sorriso
e você notou.
Mais uma vez
Me fiz presença (...)
Quando Helena surgiu toda de branco, linda muito linda, seu longo
véu caía em cascata, todo enfeitado com miçangas, vidrilhos e muitos
cristais. Os cristais faziam a luz se decompor, não em sete cores como o do
arco-íris, mas em infinitas cores inexistentes. Era tanto amor a transbordar,
que o noivo ficou hipnotizado, escutando o farfalhar daquele longo e belo
vestido de noiva, de seda pura, alvíssima, entrecortado de rendas.
Parecia que o mundo todo havia parado. Só havia ele e ela. Mais
ninguém. Mais nada, só o amor a os unir.
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Muitos anos se passaram, e ele, o noivo, ouvia ainda o alarido dos
convidados e o vozerio das crianças que ficou para sempre, no céu das suas
lembranças, nos detalhes trançados na sua memória, daquela tarde de
sonhos e muito afeto.
Esses detalhes nunca morreram, na longa estrada.
Seu coração batia forte, acelerado diante da noiva, a sua Helena
diáfana, etérea quase mítica, com seus cabelos pretos, olhos claros e as
faces muito rosadas, sorrindo-lhe ternamente.
Só nós dois é que sabemos
Quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Não havia nada que lhes faltassem, desde que tivessem um ao outro.
O sonho havia se tornado realidade, com as bençãos de Deus e de toda a
sociedade.
8. A VIDA QUE SEGUE
Helena e Nagib trilharam juntos o novo caminho, passo a passo
seguindo juntos pela mesma estrada.
Helena viveu todos os encantos de um amor sincero, num lar onde a
dignidade, o carinho e o respeito abençoaram a vida familiar. Tiveram dois
filhos: Matilde Carone Slaibi e Nagib Slaibi Filho.
Assim, ela tinha tudo para ser feliz: a educação de primeira, a
presença constante da família, dos amigos, dos filhos, como também um
marido sensível, sempre preocupado com o país, pois ele tinha fortes
sentimentos democráticos, além de ser uma pessoa extraordinária. Nagib
era um conversador nato, mas muito mais, um ouvinte atencioso. Teve uma
longa existência de muitos amigos e muita respeitabilidade. Assim, a vida
continuou...
Aconteceu o ano de 1979. Ano este em que passou a governar o país
o presidente militar João Batista Figueiredo.
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O governo do general Figueiredo foi marcado por uma enorme crise
econômica e pelo processo de reabertura política do País. Uma das
principais medidas tomadas por esse novo governo foi abolir o sistema
bipartidário e realizar a anistia política dos militares e perseguidos
políticos. Inicialmente, o projeto de anistia não iria beneficiar todos os
envolvidos com crimes políticos. Nas eleições de 1985, o processo eleitoral
foi disputado por dois candidatos civis. Tancredo Neves, candidato apoiado
pelos grupos democráticos, venceu o pleito, mas, por motivo de doença,
não foi empossado Presidente do Brasil, pois veio a falecer na véspera.
Assim, toma posse na presidência da República José Sarney.
Contudo, para Nagib Slaibi o outono do tempo se aproximava.
Nagib Slaibi veio a falecer em agosto daquele ano, com oitenta e
três anos de idade.
Adeus, adeus, chegou a hora da partida.
Não derrames o pranto assim minha querida.
Do sono térreo passou para o sono eterno. Tudo é igual a nada. Tudo
se tornou escuro, silencioso e vazio.
Simplesmente segurou na mão de Deus e foi...
9. A MORTE DE HELENA
Tudo passou.
Passou o sol, passou a chuva, passou a noite, passou o dia, passou a
aurora e o crepúsculo, só não passava a lembrança de tudo o que Helena
tinha vivido. Nunca quis deixar a sua cidade e nem os seus amigos de
sempre tão queridos.
Foi seu desejo continuar no casarão, pois amava aquela casa, a sua
rua e seus vizinhos. Mas, agora, estava sozinha: o marido morto e os filhos
vivendo longe, em outra cidade. A perda do amado se fazia presente na
solidão e na saudade. Assim, a vida foi sendo de pequenas e grandes
nostalgias, entremeada de névoas da recordação das coisas passadas. Tão
distante dela, estava ele agora.
Minha vida é muito triste,
Meu coração sofredor,
Dentro do meu peito existe
Saudade de um grande amor.
36
Mas, professava a fé com a força de todas as crenças e nunca
esquecia da sua devoção, o querido Santo Antonio, no seu nicho, dentro de
um grande oratório, que tinha no casarão, cheio de volteios na madeira,
verdadeiro estilo rococó, banhado pela luz azulada que sempre permanecia
acesa.
Na quietude de sua solidão conversava sempre com Deus, pois sabia
o que era o próximo, no exercício da oculta caridade. Conhecia a força da
oração, orou a vida toda e tudo conseguiu orando. E os anos assim
transcorreram lentos e solitariamente.
Deus deu-lhe a graça de chegar ao fim da vida sem o menor sinal de
senilidade. Seu cabelo estava grisalho, orvalhado, mas sua cabeça era
límpida e clara.
Ela bem merecia aquilo que Manuel Bandeira escreveu sobre Irene
no céu: Pode entrar você não precisa pedir licença.
No dia dezesseis de novembro, assistida por seu médico de toda a
vida, José Slaibi, que era também seu sobrinho, seus olhos se fecharam e
veio a falecer no Hospital São João Batista. Agora, rezam-lhe ofícios
tecendo-lhes os anjos lindas grinaldas, no divino paraíso.
Sobre ela, o jubilo dos anjos e dos santos
Sobre ela a face iluminada de Deus!
37
Envolta no manto sagrado, na atmosfera densa e mística, feita de
amor e de sonho, na mais intensa fé, Helena mergulhou, bem mais feliz,
porque Deus a abençoava e os arcanjos entoavam o estribilho de uma
música sacra, muito cantada na Igreja de Santo Antonio, que ela tanto
frequentou:
E me convidaram, vamos para casa
Vamos para a Casa do Amor.
Assim, ela foi.
PALAVRAS FINAIS
Ao evitar os ardis de uma memória sempre fluida e apaixonada,
podemos afirmar que a história de Helena não acabou. Ela continua com a
Matilde e o Conti, o Nagib e a Cristina, com todos os seus netos e bisnetos.
As Sagradas Escrituras, através do insigne Mestre, nos leciona:
“Olha para os céus e conta as estrelas, assim será a tua descendência”.
Sherazade, a princesa Das Mil e Uma Noites, contava as suas
histórias intermináveis para o rei, seu marido. Helena, muito mais que
Sherazade, que narrava suas histórias acontecidas lá nas Arábias, Helena
sim, viveu um grande amor, vindo de lá, pois Nagib veio dessa terra, linda,
e encantada narrada pelos contos de fada, o maravilhoso e eterno Líbano.
Tudo igualzinho como Helena havia tanto sonhado.
Um dia, quem sabe, talvez um dia, muito longínquo, um neto de seu
neto contará também uma história:
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“Era uma vez, uma avozinha de lindos olhos esverdeados e que
nasceu lá pelas bandas da Mata Mineira, nas antigas terras dos
índios Coroados e Puri.
Seu nome era Helena.
Essa avozinha gostava de tocar violino e amava a todos, guardando
consigo uma grande fé. Viveu numa cidade hospitaleira que tem uma
marca de glória indelével em seu nome, pois carrega um título
majestoso e honorífico: Visconde do Rio Branco”.
Não há como negar que a história vai continuar...
Para sempre, eternamente.
ANEXOS
1. POESIAS
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ADEUS VIDA COLEGIAL
Helena Carone
Tudo passa, passou também
A nossa vida estudiosa
Só nos resta deste tempo
Uma lembrança saudosa.
Depois que estamos formados
Adeus Irmãs minhas queridas
Adeus colegas, discursos...
Que jamais serão esquecidos
Findará a vida folgazã
Dos jogos e também das rodas
Levaremos só orações.
E o saber, de nossos lábios
Sairão pra educar e elevar
As almas e os corações!
43
ELZA1
Helena Carone
Conserva tua alma pura
Pura como o clarão do luar!
Nas tuas orações a Jesus,
Pede-lhe sempre para te guiar!
Que vale o mundo querida
Com seus processos e seduções
Pede a Jesus que te guie...
Pede-lhe a luz em tuas orações.
Promete guardar sempre Elza
Os sãos conselhos das Irmãs!
Elza não os esqueça jamais...
1
Elza era sua colega no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora e morava em Abre Campos, Minas Gerais.
44
A vida é flor efêmera
Dela só vale a virtude!
Guarda-a junto ao amor de teus pais.
45
MÃE2
Helena Carone
Era feliz, pois te possuía
Ó minha mãe, ignorava o sofrer
Tudo para tua filha sorria
Feito era o mundo de prazer.
Mas quando te vi um dia
No leito pálida, a morrer,
A minha alma em dor enlouquecia
Sabendo, mãe, que ia te perder.
Mãe, fala a desilusão
Ao inexperiente coração
Que o mundo não é só de gozar...
2
Poesia feita por ocasião da morte de sua mãe, na cidade do Rio de Janeiro, em 1928.
46
Eu provando, da orfandade,
O cálice da tenra idade,
Sinto-me triste, senti, ó luar!
2. ESCRITOS DE HELENA
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CHOPIN
François Frederic Chopin, 1810-1849 – nasceu em Zelazowa Wola,
na Polônia.
Estudou no conservatório de Varsóvia.
Com a idade de 14 anos, iniciou sua carreira de compositor,
compondo sua primeira obra, um rondó para dois pianos; e, daí em diante,
firmou sua reputação como criador de melodias.
Aos 20 anos, deixa definitivamente seu país natal, indo para Viena, e
depois se estabeleceu em Paris, onde foi professor de renome e como
pianista brilhou nos salões parisienses.
Liszt apresentou Chopin, a famosa romancista George Rand.
Chopin dedicou-se mais ao piano, porque este instrumento musical
lhe oferecia mais recursos para interpretar seus pensamentos, com
linguagem mais rica e variada, adaptando-se mais para execuções de seus
trabalhos de música.
Chopin dedicou-se exclusivamente às forças pianísticas mais
modestas, atribuindo a si mesmo a tarefa de tornar-se mestre nessas forças,
e adaptá-las às suas múltiplas exigências artísticas.
Chopin compôs 169 obras para piano. Entre elas, destacamos suas
obras-primas: célebres estudos, prelúdios, valsas, polonaises, mazurcas,
sonatas, baladas, fantasias, improvisos etc.
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Nas, suas polonaises e mazurcas, músicas profundas recordam a
alma vibrante do povo polaco.
Chopin, na história do seu país, é o único nome marcante que se
imortalizou na arte musical.
Ele mostrou ser poeta dos sons no gênero musical das célebres
baladas e noturnos, como filho sentimental do Romantismo do século XIX.
Quanto às valsas, Chopin como pianista, apresenta encantamento e
magia no teclado, fascinando, com suas execuções musicais, os salões de
Paris.
A sua valsa AP 69, n° 1, dedicada à Maria Wodzinska, foi inspirada
na hora da separação, devido à resistência dos pais da jovem, recusando seu
pedido de casamento.
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ORQUESTRA ANTIGA
A palavra orquestra designava antigamente a parte do teatro ocupada
pelos músicos; mais tarde passou a ser considerada o conjunto de músicos
quando se reuniam para executar obras de grande envergadura, tais como
óperas, ou peças sinfônicas.
Tem a orquestra sofrido profundas transformações, dado o desejo dos
compositores de aumentar-lhe o poder sonoro, enriquecendo-a com grande
número de instrumentos de timbres, bem diversos.
A orquestra empregada por Claudio Monteverdi, em 1607, para
acompanhar sua peça “Orfeu”, considerada a primeira grande obra
dramática: 2 cravos, 2 órgãos de madeira, 2 violinos, 10 violas, 2
contrabaixos, 2 guitarras, 1 harpa, 1 flauta, 2 cornetas, 1 clarino (trombeta
da qual se originou o trompete), 3 trombetas, 4 trombones, 1 regale
(espécie de realejo).
Observa-se nesta orquestra antiga a presença da guitarra.
Outros instrumentos desse tipo eram também usados com alaúde e
liras; tais instrumentos, de sonoridade muito seca e fraca, foram
desaparecendo dos conjuntos orquestrais, reforçando-se no seu lugar o
número de instrumentos de arco (violino, violas, violoncellos, contrabaixo).
Para isso concorreram em grande parte Carissimi na Itália e Luly na
França.
51
SCHUMANN
Roberto Schumann nasceu em 1810, na cidade de Iwickau, na
Soxonia.
Começou a carreira de Direito, mas depois se inclinou para a música,
ser sua vocação natural.
Em 1830, foi para Leipsig dedicar-se exclusivamente aos estudos de
música, criando suas primeiras composições musicais.
Schumann mereceu o título de poeta da música, devido aos seus
escritos musicais, cheios de imaginação poética, sentimentalismo, ternura e
fantasia.
Em formas menores, foi mestre, quer pela técnica, quer pela
inspiração, apresentando belas obras musicais para piano ou para voz
humana, salientando assim seu talento e força criadora.
Estas formas menores, repletas de maravilhosas fantasias, seu gênio
criador apresentava-as, ora poéticas e crônicas, ora nostálgicas e heróicas.
Nessas miniaturas é que ele mais se salientava em composições para
piano ou para voz humana, pois expandia em inspirações, nesse campo
musical, todo o seu gênio criador e talento.
Ele se sentia menos à vontade, era em desenvolver suas obras
musicais, em sinfonias, quarteto de cordas, concerto.
52
Antes de 1840, Schumann só apresentou criações musicais para
piano, depois dessa época, seu gênio compositor ofereceu variadas
composições de música sobre todas as formas.
De tempos em tempos – ele aperfeiçoava um ramo de sua arte, de
cada vez uma forma de música, ora canções ou sinfonias, ora música de
câmara.
3. DESENHOS DE HELENA
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4. DEPOIMENTOS
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Visconde do Rio Branco, 19/03/2010
Falar sobre Dona Helena Carone Slaibi é gratificante, uma vez que
ela fez parte da minha história de vida, na vizinhança, na comunidade de fé,
nas alegrias e tristezas que a vida nos oferece; mas pessoa de fé madura,
muito amor, supera com a firmeza que lhe era peculiar, e com ela aprendi
lições de vida.
Entusiasmada, inteligente, esposa e mãe exemplar, sempre se
preocupava com a Educação dos Filhos, e, assim, atravessava a rua para me
contar o sucesso que Matilde fazia nos estudos e, posteriormente,
Nagibinho.
Seu testemunho de fé, sua devoção a Santo Antônio era vivenciado
através das caridades que praticava. Por isso fez sempre doação de
enxovais para as noivas carentes da comunidade.
Conhecimento, nós adquirimos com as pessoas, e, com Dona Helena
eu os adquiri e ficaram acumulados em minha vida.
Obrigada, valeu a pena tê-la conhecido!
Maria Tartaglia de Souza
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Visconde do Rio Branco, 16/03/2010
D. Helena morava na Rua Dr. Linch, nº 529, rua que era conhecida
pelo tradicional nome de Carrapicho.
D. Helena era muito querida por todos os vizinhos.
Ao lado de sua casa, moravam a Marta e o Santinho, casal que teve
dois filhos: Alarcon e Silvano. Marta pedia sempre à D. Helena para rezar
pelos seus filhos, pois dizia que não tinha fé.
D. Geny, esposa do Dr. Cícero, era outra vizinha que também teve
dois filhos: Luiz Gonzaga, conhecido como Luiz Violão e Edmur.
Luiz Violão era músico famoso, de muito sucesso no Rio de Janeiro.
D. Laila Salomão morava mais abaixo, com suas filhas: Chafia, Sara
e Emília. Chafia chefiava um atelier de alta costura e fazia os mais belos
vestidos de festa para as moças da sociedade riobranquense. Inclusive
costurava para a filha de D. Helena: a Matilde, tendo feito seu vestido da
festa dos 15 anos e seu vestido de noiva.
Ao lado morava o Sr. Peron e D. Gilda com sua família: Peron, que
fundou e chefiou a Filarmônica Rio Branco por toda sua vida; Hilda e
Luiza suas filhas, como também o Zé Zueira, que era filho adotivo e hoje é
um grande empresário.
O Luiz Rocha tinha uma oficina mecânica à frente da casa deles, de
grande movimento.
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O Sr. João Durso e D. Maria que moravam ao lado, tiveram os filhos:
Rui, Eli, Dalva, Terezinha e Maria Esther. Ele era alfaiate e D. Maria
costureira.
Mais à frente moravam os irmãos: Arquimedes, Zezinha e Nica, três
solteirões, cuja casa ficava praticamente em frente da ponte.
D. Ofélia, outra vizinha, fazia festa no dia de seu aniversário e todos
os anos convidava a todos os vizinhos, para homenageá-la. Ela adorava a
festa!
Seguindo, tinha a casa do sapateiro Sr. Chichico, casado com a
Sinhá, que eram os pais da Marta e sogros do Santinho.
O Sr. José Equi e D. Ziza moravam ali perto. Ele trabalhava na Casa
Teles e D. Ziza, mãe de Clarisse e da Terezinha, fazia lindo trabalhos de
tricô. Os Equi eram descendentes de italianos que vieram da Toscana.
Lembramos ainda de D. Bárbara Siqueira, que tinha um grande lote
ao lado de sua casa, onde eram armados os circos, sendo um deles o Circo
do Bartolo e que era bisavó da Marisa Nascimento, que morava no Rio de
Janeiro. Muitos anos mais tarde, ela veio a se tornar madrinha do Carlos
Eduardo, filho da Matilde, que é médico em Mato Grosso do Sul.
Na esquina da rua, perto da ponte, morava o Sr. Chaim, comerciante
libanês, que teve os filhos: Chaim, Abdo, Asise, Anísio, Alberto e Adma.
Ao lado morava D. Mariquinha Filó, mãe do dentista Lélio, entre
outros.
A seguir, tinha a fábrica de macarrão São José, pertencente ao Sr.
José Vicente Soldati, casado com D. Zinha, casal que tinha cinco filhos:
Nilton, Neuza, Nicinha, José Luiz e Carlos Ivan, sendo riobranquenses só
os dois últimos, já que o casal veio de Sant`Ana de Campestre, município
de Astolfo Dutra, no ano de 1943.
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D. Zinha Soldati e sua filha Nicinha eram muito amigas de D.
Helena. Nicinha brincava com Matilde, quando criança, e continuam
amigas até hoje. Quando o Sr. Nagib faleceu, Nicinha dormia com D.
Helena para fazer-lhe companhia.
Havia uma venda do Sr. José de Souza, casado com a professora
Maria Tartaglia. Esta venda é que surtia as despesas de nossas casas,
fazendo as anotações nas devidas cadernetas.
À frente da casa de D. Helena, tinha o engenho do Sr. Antônio
Soares de Souza, onde eram realizadas as festas anuais de São João Batista,
padroeiro da cidade, que eram prestigiadas por toda a população local, pois
lá se podia dançar, ver os meninos subirem no pau de sebo, comer canjica e
outras guloseimas juninas e pular a fogueira. Era muito bom!
Lá no alto da rua morava D. Cidinha Mesquita, pianista e professora
de música da Escola Normal. Tinha como companhia a Judith que também
se tornou professora. Seus pais já haviam falecidos há muito tempo, por
isso, elas moravam sozinhas.
D. Helena era muito caridosa, ajudava os pobres, tinha muita fé e
carinho com seus vizinhos. Ia toda terça-feira na Igreja Santo Antônio,
quando pegava carona com a Neuza Soldati, que ia de carro trabalhar na
escola da Colônia. Ela gostava muito de conversar com a D. Zinha Soldati
sobre receitas culinárias e assuntos familiares.
Foi assim, por muitos e muitos anos.
Neuza e Nicinha Soldati
60
Visconde do Rio Branco, 22/03/2010
Cresci ouvindo minha mãe tecer comentários sempre elogiosos sobre
sua amiga D. Helena, mãe do meu estimado colega de “primário”
Nagibinho.
Ela foi uma pessoa muito religiosa e as duas sempre se encontravam
nas missas de terça-feira da Igreja de Santo Antônio.
Quando retornei para minha terra, passei também a admirar D.
Helena, e me tornei sua amiga.
Demorei muito a engravidar.
D. Helena sempre muito católica, a pedido de minha mãe, iniciou
também orações para este fim, pois percebera a angústia de sua amiga de
querer e não conseguir engravidar.
Assim minha mãe e a querida D. Helena muito rezaram para eu
conseguir alcançar este desejo, e quando meu filho Jorge Augusto nasceu,
eu já ia completar 11 anos de casada.
Logo que engravidei, tratei de levar a notícia a minha amiga, que
ficou muito feliz e rezou mais uma vez para que minha gravidez fosse
saudável e tranquila.
Assim é a lembrança que tenho desta pessoa maravilhosa que foi
dona Helena.
Maria Ângela Candido Carvalho
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Visconde do Rio Branco, 03/04/2010
Atendendo ao honroso pedido de Matilde, aqui deixo suaves
lembranças da sua querida mãe e minha grande amiga.
Foi uma amizade antiga de muitos anos.
Helena era uma jovem sonhadora e que fazia poesias. Sempre lia
para mim seus sonetos, mas nunca permitiu que eu mesma lesse seus versos
no papel que ela me mostrava. Era coisa de seus versos. Tão zelosa que
ninguém podia saber que ela era poetisa. Modéstia? Humildade?
Passaram-se anos.
Nós duas já estávamos casadas e um dia lhe perguntei:
- Você ainda faz poesias?
- Ah! Hoje faço bolos, quibes e adoro cantigas de ninar... Gosto de
cantar para as crianças dormirem... – respondeu Helena.
Mais alguns anos se passaram. Num de nossos encontros Helena me
disse:
- Estou novamente fazendo poesias... Família criada... Casa grande...
Só eu e Nagib... Filhos longe... Sobra tempo e muita saudade.
Será que voltou a inspiração, os versos foram surgindo e Helena
escrevendo e os escondendo?
Maria Soares Lima da Silva
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5. HELENA (valsa)
63
* Foram utilizados poemas e músicas do cancioneiro popular. Os
personagens e os fatos narrados são verdadeiros.

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