Considerações Mesa redonda

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Considerações Mesa redonda
“Cidade sem Carros & Fiscalidade Verde”
Novembro 2014
Oradores:
- Sousa Campos, diretor da divisão de marketing e vendas da Toyota Caetano Portugal
- Mafalda Sousa, da associação ambientalista Quercus
- António Cavaco, da Associação Automóvel de Portugal (ACAP)
Moderador: Paula Arriscado, diretora de comunicação e marketing da Toyota Caetano
Portugal
Convidados: Orgão de Comunicação Social
Duração: 1h30
Principais ideias abordadas:
•
Cidades sem carros é algo utópico e que não faz sentido, pois a mobilidade é fundamental
para o desenvolvimento económico e social e os veículos automóveis são um elemento
imprescindível para esse desenvolvimento e criação de riqueza. Existe, sim, a necessidade de
encontrar um plano global de mobilidade, em Portugal.
•
O nível médio das emissões das viaturas vendidas em Portugal é dos mais baixos da Europa
devido ao fraco poder económico do País e consequente incapacidade dos consumidores
adquirirem viaturas de segmentos superiores e não devido a uma apurada consciência
ambiental e suposto bom comportamento ambiental…
•
A Fiscalidade e os subsídios não devem ser absolutos… ou seja, devem ser adaptados ao tipo
de viatura e ao local onde vai circular. Os problemas e as necessidades são distintos entre os
grandes meios urbanos e o interior. Deve haver uma diferenciação positiva em termos de
impostos…
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Mais do que alterar a fiscalidade, talvez fosse melhor a adaptação de todas as frotas de
transportes públicos e táxis para combustíveis alternativos como como o GPL / GN / Elétrico.
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Necessário a utilização massiva de combustíveis alternativos nos transportes públicos, pois
seria um bom incentivo para baixar custos, baixar emissões e permitir alargar as redes de
ligação entre ofertas de transporte público.
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O plano global de mobilidade deveria incluir os transportes públicos, não apenas os
rodoviários, mas também os ferroviários e os náuticos, para oferecer uma resposta capaz de
desencorajar o uso do transporte privado nas cidades.
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Não há um plano estratégico de transportes em Portugal. O comboio Alfa Pendular liga
apenas Lisboa-Porto-Braga. Houve um desinvestimento e abandono das linhas ferroviárias.
As políticas são contraditórias com a promoção dos transportes públicos, incentivando e não
deixando outra alternativa que não seja o transporte individual.
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Custos pesados de viver no interior, devido à falta de alternativas de transportes que não o
carro privado (falta de soluções de transporte económico e eficaz no interior do País)
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Um dos intervenientes recordou que da Guarda a Lisboa, em transporte individual, a viagem
dura menos de três horas e de transportes públicos mais de quatro horas.
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A rede rodoviária é excecional, com elevado número e densidade de autoestradas, mas falta
um plano de rodoviário para as cidades. O problema não está nos automóveis, mas na gestão
da mobilidade e do espaço urbano (exemplo dado por António Cavaco – cidades do norte da
Europa, com elevada densidade automóvel por habitante e trânsito fluido e regulado, versus
Luanda, com pouca densidade automóvel e transito caótico…)
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Ao contrário do que diz a Quercus, a ACAP salienta que o IUC em Portugal é dos mais altos
que existem, quando se considera a parte que vai para o Estado Central (inscrita no
Orçamento de Estado) e a que é dos Municípios (não visível no Orçamento de Estado).
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O Estado continua a apostar tudo nas autoestradas um pouco por todo o lado, permitindo
que Portugal tenha uma das melhores redes viárias da Europa, o que acaba por incentivar o
uso do transporte privado, apesar das cada vez mais onerosas portagens.
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Muitas vezes é mais barato utilizar um carro velho, com um grupo de amigos, para se deslocar
p.e. para o trabalho, até ele “morrer” e, depois, comprar outro igual e assim sucessivamente,
do que utilizar os transportes públicos.
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Existe a necessidade de um plano rodoviário nacional para as cidades.
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O facto da energia produzida durante a noite, vinda das torres eólicas, ser desperdiçada é um
fator negativo que impede a redução das tarifas, pois esse excesso não é utilizado de forma
eficaz.
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Há estudos que dizem que os transportes pesam 14 por cento no orçamento familiar.
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Mais de 75% das deslocações em território nacional são feitas com apenas um ocupante.
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Há necessidade de desenvolver o “car sharing”
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As associações ambientalistas defendem muito o carro elétrico, mas não equacionam os
custos ambientais em termos de produção de baterias se o paradigma mudasse para o carro
elétrico.
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A ACAP refere que o custo de produção de uma viatura elétrica (VE) ainda é 2 a 3 vezes
superior à produção de uma viatura convencional com motor de combustão interna, pelo que
são imprescindíveis incentivos para a sua adoção.
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O automóvel do futuro vai estar interligado com as estradas para uma correta gestão do
tráfego… ( já há testes na Holanda)
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A Fiscalidade Verde, ou Negra (como a ACAP lhe chama), não serve e não passa de um
incremento de impostos cobrados aos automobilistas.
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A fiscalidade deveria servir para mudar mentalidades e não para a penalização pura e dura.
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Na Fiscalidade Verde o Governo retirou o incentivo ao abate para carros com emissões abaixo
das 100 gr/km
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A Quercus defende que esse incentivo só deveria ser dado a viaturas abaixo das 95 gr/km
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Os governos é que devem garantir que as energias seja mais “puras”, pois os automóveis
apenas são responsáveis pela utilização da energia e não de onde ela vem…
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Em 2012 Portugal estava abaixo da média de carros por 1.000 habitantes da UE.
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Jornalistas e ACAP criticaram o cálculo do IUC (Imposto Único de Circulação), que continua a
ser demasiado penalizador para as famílias, assim como o facto da fiscalidade verde
concentrar o pacote de benefícios fiscais nas viaturas híbridas “plug-in” e elétricas, não
incluindo sequer os veículos híbridos convencionais, ou seja, concentra os benefícios em
poucos modelos e com um potencial de vendas limitado.
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Os veículos elétricos (VE) não vão ser representativos nas próximas décadas. De acordo com
as projeções da ACEA, os VE representarão 2 a 8% do mercado em 2020. Os motores de
combustão interna serão dominantes até 2020-2030.
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O parque automóvel nacional está, novamente, a envelhecer e a média de idade já vai nos 12
anos.
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Um veículo com 15 anos polui tanto como 20 automóveis novos.
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Não se compreende como a fiscalidade continua a privilegiar a importação de carros com
mais de 10 anos de idade, oferecendo-lhes 80% de desconto no Imposto Sobre Veículos
(ISV).
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Faltam incentivos à reconversão de viaturas a gasolina para GPL.
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É necessário uma massificação das tecnologias amigas do ambiente para elas serem
sustentáveis.
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A Toyota acredita que qualquer tecnologia amiga do ambiente tem de ser massificada para
que tenha impacto. Nesse sentido, a Toyota tem 7 milhões de híbridos comercializados em
todo o mundo, que contribuem significativamente para uma mais-valia ambiental.
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A Toyota tem uma visão global de mobilidade tal como apresentado no projeto de Grenoble,
desenvolvendo um veículo i-Road elétrico para curtas deslocações na cidade, mas que
através de uma aplicação para os Smartphones se encontra interligado ao serviço de
transporte públicos. A Toyota também é responsável pelo desenvolvimento dessa aplicação
facilitando o acesso ao melhor meio de transporte (entre distancia e tempo) através da
interação com a rede de autocarros, metros, comboios e os veículos elétricos i-Road e COMS
disponíveis. Assim, acredita que consegue promover uma utilização mais eficaz do transporte
individual, reduzindo o número de carros no centro da cidade, o tráfego e a poluição.
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A tecnologia a hidrogénio no Toyota Mirai está já testada e disponível, pelo que o primeiro
passo está dado, esperando que os decisores políticos e investidores privados incentivem a
utilização desta tecnologia através da criação de uma rede de abastecimento. A Toyota vai
iniciar a comercialização deste veículo em 2015.
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A desregulação do mercado automóvel leva a que os números de vendas, baseados em
matrículas, não traduzam a realidade, apresentado, este ano, um crescimento superior a 30
por cento. É impossível que o Governo possa apoiar um setor com este crescimento.
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A vontade de fazer volume e quota de mercado não pode justificar tudo.
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A Quercus salienta que o setor automóvel é um grande gerador de emissões poluentes; 12%
das emissões de GEE na Europa são geradas pelo setor dos transportes.
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Se o automóvel é responsável por apenas 25% das emissões produzidas, há que olhar para as
outras indústrias poluentes e penalizá-las.
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O automóvel é, cada vez mais, um veículo limpo, capaz de gerar riqueza.
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A questão não pode ser ideológica. O automóvel não pode ser visto como inimigo.