discípulo - Convenção Batista Mineira
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discípulo - Convenção Batista Mineira
ilustradora Expediente “Reflexões Bíblicas II” SENHORINHA GERVÁSIO LOURENÇO BRAGANÇA 2016 Publicação da Convenção Batista Mineira Diretor executivo da Convenção Batista Mineira Pr. Márcio Alexandre de Moraes Santos Coordenadora do comitê do programa para o Crescimento Cristão Tania Oliveira de Araujo Diretoria da Convenção Batista Mineira Pr. Ramon Márcio de Oliveira (Presidente), Pr. Sandro Ferreira (1º vice-presidente), Pr. Danilo Secon (2º vice-presidente), Irmã Laiza Assumpção (3ª vice-presidente), Pr. Jaelson de Oliveira Gomes (1º secretário), Pr. Nicolas Alves Bastos (2º Secretário) Irmã Rosimeire Rosa (3ª secretária), Pr. Jonair Monteiro da Silva (Presidente de Honra), Pr. Muryllo Casséte (in memorian) (Presidente Emérito). Revisão Teológica Pr. Tarcísio Farias Guimarães Primeira Igreja Batista em Divinópolis Pr. Ramon Márcio de Oliveira Igreja Batista Parque Granada – Uberlândia Pr. Sandro Ferreira PIB Coronel Fabriciano Revisão ortográfica Pr. Francisco Mancebo Reis Editoração Tania Oliveira de Araújo Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança Litza Alves Diagramação Adriana Angélica Costa Carvalho Tiragem - 30.000 exemplares Convenção Batista Mineira: Rua Plombagina, 250 - Floresta - 31110-090 Belo Horizonte/MG - Fone: (31) 3429-2000 E-mail: [email protected] Site: www.batistas-mg.org.br Nasceu em Humaitá, município de Mutum em 10 de abril de 1958. Em Belo Horizonte fez o Curso Livre de Educação Religiosa no Seminário Teológico Batista Mineiro, onde foi professora nos anos 1996 a 2002. Casou-se com Wagno Alves Bragança com quem teve três filhos: Bruno Gervásio Bragança, Breno Gervásio Bragança e Wagno Alves Bragança Júnior. Trabalhou na Igreja Batista Central no Palmeiras - BH como educadora nos anos 2004 a 2008, período em que também foi professora no Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto - BH/MG. Cursou na Escola Guignard – UEMG Educação Artística, turma 2000 e foi professora de Artes no Colégio Batista Mineiro - Séries Iniciais, em Belo Horizonte, por um curto período. Cursou na Casa dos Quadrinhos - Técnico em Artes Visuais. Atualmente é membro da Igreja Batista Memorial em Belo Horizonte. Equipe de planejamento • • • • • • • • • • • Ana Lúcia dos Santos Ribeiro Pr. André Luiz Ferreira Silva Elvira M. Gonçalves Rangel Pr. Francisco Mancebo Reis Isabel da Cunha Franco Pr. Joselito Ferreira de Sena Miriam de Oliveira Lemos Santos Mendonça Pr. Reinaldo Arruda Pereira Senhorinha Gervásio Lourenço Bragança Pr. Tarcísio Caixeta de Araújo Pr. Wagno Alves Bragança autorEs ISABEL DA CUNHA FRANCO (autora da 1ª parte - Estudos 1 a 26) Dados Pessoais: Nascida em 08 de dezembro de 1941 numa família batista do Estado do Rio de Janeiro Membro de uma igreja batista desde 12 anos de idade Membro da Igreja Batista do Barro Preto Casada com o Pastor Jonair Monteiro da Silva Membro do Comitê do programa para o Crescimento Cristão Formação: - Graduação em Geografia (1970) e em Psicologia (1991), pela UFMG - Pós-graduação em Educação Religiosa no IBER – RJ - Pós-graduanda em Teologia Sistemática na Faculdade Batista de Minas Gerais - Várias matérias avulsas em Seminários Atividades já exercidas: - Professora no Sistema Público Municipal e Estadual - Professora no Seminário Teológico Batista Mineiro, da Convenção Batista Mineira - Educadora Religiosa na Igreja Batista do Barro Preto e Primeira Igreja Batista do Tupi, ambas em Belo Horizonte. - Diretora do Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte. - Professora de Antigo e Novo Testamentos no Instituto de Liderança Cristã da Igreja Batista do Barro Preto, em Belo Horizonte. Obras: - Livro “O poder do abraço” - 2011 - Revista para EBD - Panorama do Antigo Testamento com 26 estudos - Revista de EBD - Livros Poéticos e Proféticos com 26 estudos - Vários artigos publicados na antiga revista “Mulher Cristã Hoje“ cuja redatora era Nancy Gonçalves Dusilek; Outros: no Jornal “Transformação” da Visão Mundial, no “Batista Mineiro”, etc jOSELItO FERREIRA DE SENA (autor da 2ª parte - Estudos 27 a 52) 63 anos, casado há 39 anos com a irmã Idélia S. Sena, tem dois filhos e cinco netos. É natural de Jitaúna-BA. Tel. (31) 99644-1952. [email protected] ESCOLARIDADE: Bacharel em Teologia pelo Seminário Teológico Batista do Sul do Brasil (Rio de Janeiro), graduado em teologia pela Faculdade Teológica Batista Mineira. Bacharel em Psicanálise pela Academia Brasileira de Psicanálise Clínica (Rio de Janeiro). Pós-graduado em teologia sistemática pela Faculdade Teológica Batista Mineira. Pós-graduado em Psicanálise pela Faculdade Einstein da Bahia. PASTORADO: Igreja Batista Novo Horizonte (Rio de Janeiro); PIB de Muriaé (MG); PIB de Cel. Fabriciano (MG); Igreja Batista de Acari (Rio de Janeiro); PIB do Barreiro (BH); Coordenador de Evangelismo e Missões – Igreja Batista do Barro Preto (BH); atualmente PIB em Lagoa Santa (MG). MAgISTÉRIO: 1ª e 2ª séries do ensino fundamental (Jitaúna – BA); Evangelismo e Missões, Psicologia Pastoral (Faculdade Teológica Batista de Itaperuna - RJ). Diretor do Campus Avançado do Seminário Teológico Batista Mineiro (Cel Fabriciano – MG); onde também lecionou Homilética, Evangelismo e Missões. Teologia Bíblica do Antigo Testamento (campus-avançado do Seminário Batista Brasileiro em Cambridge – EUA). Teologia sistemática na Pós-Graduação da Faculdade Teológica Batista Mineira. Teologia (Faculdade Lagoa Santa - MG). COOPERAÇÃO DENOMINACIONAL Duas vezes presidente da Ordem dos Pastores Batistas de Minas Gerais e uma vez terceiro presidente. Duas vezes escreveu meditações para a revista Manancial da UFBB. Diversas vezes escreveu matéria para a revista Visão Missionária da UFBB. OBRAS PUBLICADAS: Pela Editora Kárita: Classe de Batismos. Classe Vida Nova. Boa Notícia. O Novo Convertido. Estudando a Bíblia. Manual de Treinamento de Discipulado. Manual de Pequenos Grupos. Panorama do Novo Testamento I. Panorama do Novo Testamento II. Estudos no Evangelho de Mateus. Estudos no Evangelho de Marcos. Estudos no Evangelho de Lucas. Estudos no Evangelho de João. Estudos no livro de Atos. Estudos na Carta aos Romanos. Estudos em I e II Coríntios. Estudos em Gálatas e Efésios. Estudos no Livro dos Salmos - Volume I. Estudo no Livro dos Salmos – Volume II. O Mordomo Cristão. O Pescador. Pela JUERP: O Evangelho de Marcos. Atividades Pedagógicas AndrÉ Luiz FERREIRA DA SILVA Bacharel em Teologia pela FBMG - Faculdade Batista de Minas Gerais; Graduado em Teologia pela FACETEN - Faculdade de Ciências, Educação e Teologia do Norte do Brasil; Especialista em exposição Bíblica pela LEADERSHEAP RESOURCES / CDL NPP PIBA; Pós-graduado em psicopedagogia Clínica e Institucional pela - FANS - FACULDADE DE NOVA SERRANA; Mestrando Profissional em Ciências da Religião com especialização em Análise do Discurso Religioso pela FACULDADE UNIDA DE VITÓRIA / ES); Pastor da Igreja Batista Memorial em Uberlândia. Celma Oliveira Araujo Ferreira Silva Graduada em pedagogia - Universidade Norte do Pará Membro da Igreja Batista Memorial em Uberlândia Vice-presidente da UFMBM / Representante das Igrejas Batistas no comitê de Crescimento Cristão Selma Almeida de Morais Bacharel em Pedagogia - Faculdade Anhanguera Professora na E.B.D. da Igreja Batista do Progresso em Belo Horizonte MG. Rosilene Deltiza Turci Oliveira Bacharel em Teologia e Educação Religiosa pela Faculdade Batista de Minas Gerais Professora do Ensino fundamental – Colégio Joaquim Nabuco. Educadora religiosa na Igreja Batista Metropolitana – Contagem Doriceia Alves Pedroso Curso livre de Educação Religiosa – Seminário Teológico Batista Mineiro Educadora Religiosa na Igreja Batista Humaitá – BH Presidente da AECBMG – Associação dos Educadores Cristãos Batistas de Minas Gerais palavra do dirEtor EXEcutivo da cBm jesus, a Verdade que Liberta O evangelista João em seu evangelho 8:32 cita as palavras de Jesus quando diz: “conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. A ênfase desse versículo não está na verdade e sim no conhecereis, a verdade já existe, ela já está presente, ela é um fato. Se nós conhecermos a verdade então alcançaremos a plenitude do objetivo do texto pronunciado por Jesus, logo seremos libertos. Há uma ação de liberdade que vem ao encontro de cada um a mediada que conhece, que se tem acesso e intimidade com a verdade. Já em João 14.6, o próprio Jesus vai nos ensinar que ele é essa verdade. Diante disso, fica muito claro para cada um de nós que a missão que Jesus deixou para igreja é ensinar, ensinar sobre Ele mesmo ou fazer discípulos como nos lembra Mateus 28.19. Toda a palavra de Deus aponta para Jesus, de Gênesis a Apocalipse encontramos uma redação Messiânica que converge para o Cristo, tudo aponta para a Verdade! A Convenção Batista Mineira entendendo sua missão de servir e instrumentalizar a igreja local tem a alegria de entregar gratuitamente um material de alta relevância para todas as igrejas batistas cooperantes do Estado de Minas Gerais. Esse ano iremos falar sobre a vida e o ministério de Jesus e a formação do discípulo, desta forma cada estudante da Palavra de Deus poderá conhecer cada vez mais a verdade e alcançar a liberdade que só encontramos em Jesus. Pr. Marcio Santos REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 5 PALAVRA DA COORDENADORA DO COMITÊ de CRESCIMENTO CRISTÃO Educação que transforma para a Escola Bíblica em nossas igrejas em tempos em que se requer da sociedade pessoas transformadas em sua integridade, coerentes em seu viver e atuantes na comunidade. P ara os batistas a Escola Bíblica tem sido um meio pelo qual o aprendizado da Palavra de Deus se propaga semanalmente, contribuindo para a formação do caráter do cristão. Desde a sua criação ela tem experimentado vários modelos e ênfases, sendo social, evangelística e educacional. Neste novo tempo a união desses valores estão sendo trabalhados de forma total e atual, visando à formação integral da pessoa. Temos experimentado em Minas uma nova proposta 6 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I A Convenção Batista Mineira entrega às igrejas mais uma revista, contendo uma proposta inovadora e atualizada dos estudos sobre a vida de Jesus e seu exemplo para a sociedade. Nos primeiros estudos estaremos focando a pessoa de Jesus em seu ministério e autoridade para exercê-lo. Em um segundo momento estudaremos o discipulado através do exemplo de Cristo através de toda sua caminhada terrena. Vivemos em uma sociedade que necessita de relacionamentos saudáveis para sua integra- ção com o outro. O exemplo de Cristo relatado de forma atual e reflexiva de se permitir ser transformado e assim transformar a sociedade. O apóstolo Paulo em sua carta aos Romanos 12.2 nos convida à transformação pela renovação de nossa mente. Assim nossa esperança é que os estudos realizados na revista do aluno e aplicação das sugestões de atividades propostas no exemplar do professor contribuam para a coerência de vida e assim uma ação transformadora na comunidade. Agradecidos somos a todos que contribuíram para a efetivação desse sonho: autores, ilustradora, editoras, pedagogos, teólogos, revisor ortográfico e diretor executivo. Tania Oliveira de Araujo sumário Jesus Cristo – Vida e Ministério nos Evangelhos ESTUDO 1: Os Evangelhos falam de Jesus.................................................................................................................. 11 ESTUDO 2: A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO........................................................................... 14 ESTUDO 3: ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS................................................................................................... 17 ESTUDO 4: INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS...................................................................................................................... 20 ESTUDO 5: ENTREVISTAS DE JESUS NO INÍCIO DO SEU MINISTÉRIO......................................................................... 23 ESTUDO 6: JESUS e o ESTABELECIMENTO DO REINO .................................................................................................... 27 ESTUDO 7: O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA.............................................................................................................. 30 ESTUDO 8: JESUS COMBATE A RELIGIOSIDADE EXTERIOR............................................................................................ 33 ESTUDO 9: JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS.................................................................................................... 36 ESTUDO 10: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i)........................................................................................................................ 39 ESTUDO 11: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (ii) ...................................................................................................................... 42 ESTUDO 12: A ÉTICA DO REINO DE DEUS (III)........................................................................................................................ 45 ESTUDO 13: ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO ................................................................................................................. 48 ESTUDO 14: O VALOR E O CRESCIMENTO DO REINO DEPENDEM DE SINAIS? ...................................................... 51 ESTUDO 15: PARÁBOLAS DO REINO........................................................................................................................................ 54 ESTUDO 16: A HUMILDADE FAZ PERDOAR........................................................................................................................... 57 ESTUDO 17: jesus se retira para estar a sós com os discípulos (I)............................................................ 60 ESTUDO 18: jesus se retira para estar a sós com os discípulos (II)........................................................... 63 ESTUDO 19: JESUS, O GRANDE MESTRE................................................................................................................................ 66 ESTUDO 20: O DESEJO DE JESUS PARA OS SEUS SEGUIDORES .................................................................................. 69 ESTUDO 21: A SEMELHANÇA COM O CARÁTER DO PAI................................................................................................... 72 ESTUDO 22: JESUS É VIDA QUE LIBERTA................................................................................................................................ 75 ESTUDO 23: JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA............................................................................. 78 ESTUDO 24: ENSINANDO ATÉ O FIM....................................................................................................................................... 81 ESTUDO 25: O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS........................................................................................................... 84 ESTUDO 26: O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS.............................................................................. 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................................................ 91 REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 7 A formação do Discípulo de Jesus Cristo ESTUDO 27: CHAMADO PARA SER DISCÍPULO .................................................................................................................. 92 ESTUDO 28: A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ ......................................................................................................... 96 ESTUDO 29: O DISCÍPULO E O MARAVILHOSO CONVITE DE JESUS..........................................................................100 ESTUDO 30: O DISCÍPULO QUE OLHA PARA CRISTO......................................................................................................103 ESTUDO 31: O ALVO SUPREMO DO DISCIPULADO.........................................................................................................107 ESTUDO 32: O Discípulo E SEU ENCONTRO COM Jesus............................................................................................111 ESTUDO 33: UM PEDIDO ESPECIAL: FICA CONOSCO, SENHOR! . .............................................................................115 ESTUDO 34: O DISCÍPULO APROVADO POR DEUS..........................................................................................................118 ESTUDO 35: MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS ........................................................................121 ESTUDO 36: QUANDO O DISCÍPULO NEGA A CRISTO ...................................................................................................125 ESTUDO 37: O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS ......................................................................................................128 ESTUDO 38: O DISCÍPULO E A ORAÇÃO . ............................................................................................................................131 ESTUDO 39: REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES . ....................................................................................135 ESTUDO 40: VITÓRIA SOBRE O PECADO: “NÃO PEQUES MAIS” .................................................................................139 ESTUDO 41: A COSMOVISÃO DO DISCÍPULO ...................................................................................................................142 ESTUDO 42: O DISCÍPULO E OS ARGUMENTOS DA FÉ ..................................................................................................145 ESTUDO 43: O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (I) . ............................................................148 ESTUDO 44: O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (II)..............................................................152 ESTUDO 45: OS DISCÍPULOS NA TEMPESTADE ................................................................................................................156 ESTUDO 46: A MISSÃO PRECÍPUA DO DISCÍPULO DE CRISTO ...................................................................................159 ESTUDO 47: O DISCÍPULO QUE LEVA O IRMÃO A JESUS...............................................................................................163 ESTUDO 48: A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA .......................................................................................................166 ESTUDO 49: O DISCÍPULO RICO PARA COM DEUS...........................................................................................................170 ESTUDO 50: O DISCÍPULO E SUA FIDELIDADE .................................................................................................................173 ESTUDO 51: DISCIPULADO - QUE TERRENO SOU EU?....................................................................................................177 ESTUDO 52: DISCÍPULO – UM MORDOMO CRISTÃO......................................................................................................181 anotações ..................................................................................................................................................................................185 8 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I APRESENTAÇÕES E sta série de estudos apresenta um panorama da vida e do ministério de Jesus contido nos Evangelhos. Deus se revela através de Sua maior dádiva à humanidade: Jesus Cristo, o Senhor. Os evangelistas Mateus, Marcos, Lucas e João não apresentam os fatos da vida de Jesus em absoluta ordem cronológica. Tentei apresentá-los o mais cronologicamente possível nestes estudos, com a ajuda preciosa do livro de HESTER, H.I., “Introduccion al estudio del Nuevo Testamento”, que consta nas referências bibliográficas ao final. Sei, no entanto, das incertezas com relação ao tempo exato e local em que aconteceram alguns fatos e ensinos no ministério de Jesus. Mas tenho também a convicção de que isto não é o mais importante para o estudioso dos Evangelhos. Os primeiros estudos desta série se relacionam à vida de Jesus desde antes do Seu nascimento até o início do Seu ministério. A seguir vem grande parte dos estudos focalizando Sua obra e ensino na Galileia, onde Ele exerceu a maior parte de suas atividades. Ele realizou milagres, proferiu o Sermão do Monte e contou muitas parábolas. No período do ministério galileu, no entanto, há fatos importantes acontecidos na Judeia que são também mencionados. Após o ministério galileu, virão dois estudos sobre as Suas retiradas, isto é, o Seu afastamento das multidões para estar a sós com os discípulos. A seguir, dois estudos versarão sobre o ministério de Jesus na Judeia e dois sobre o Seu ministério na Pereia. Finalmente, três estudos abrangerão a última semana da vida terrena de Jesus e depois disto virá o último sobre a Sua gloriosa ressurreição. Cada estudo está baseado em um ou mais evangelhos, de acordo com a escolha pessoal da autora. Cada Evangelho, por sua vez, transmite a história de Jesus, conforme os traços pessoais e as preferências do evangelista inspirado. O fato é que Deus não usou os escritores do NT como se fossem máquinas. Ele não os despersonalizou, apossando-se deles independentemente de sua vontade, cultura ou características pessoais. Pelo contrário! Respeitando seu modo de ser, Deus usou de cada um o desejo de escrever, além da inteligência, capacidade e formação. Todavia, segundo o que cremos, cada evangelista escreveu o que Deus queria que soubéssemos. - Mateus destaca Jesus como o Messias que deveria vir. Sendo este evangelho em grande parte dirigido aos judeus, apresenta muitos textos do Antigo Testamento que mostram ser Jesus o Messias esperado por eles. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 9 - Marcos apresenta Jesus sobretudo como servo. Descreve-O, muitas vezes, em ações rápidas, deslocando-se sempre de um lugar para outro a fim de servir às pessoas. - Lucas focaliza Jesus como filho do homem, realçando a sua humanidade. Escrito mais para os gentios, visto ser o autor um gentio, mostra a universalidade do evangelho. - João é o evangelho que realça sobretudo a divindade de Jesus. Apresenta-O desde o início como pré-existente, o Deus que se encarnou. Recomendamos que ao se estudar esta série em grupo, que se leia antes individualmente, para que se aproveite melhor o estudo. Desejamos que, mais uma vez, o estudo da Palavra de Deus ajude você a construir sua vida à semelhança d’Aquele cuja VIDA neste mundo é aqui estudada. Isabel da Cunha Franco MINHA VISÃO SOBRE AS LIÇÕES “O DISCÍPULO DE CRISTO” Fazer discípulos deve ser não somente um alvo do cristão, mas deve ser o seu estilo de vida. Jesus nos chamou para “ser” e “fazer” discípulos. Temos dois objetivos especiais com nossa humilde contribuição ao escrever os estudos sobre o discípulo de Cristo: O primeiro é incentivar aqueles que já estão obedecendo a Jesus na prática do discipulado a prosseguir, porque o Senhor há de recompensá-los com a alegria de voltar trazendo consigo os seus “molhos” (Sl 126.5-6). O segundo é despertar aqueles que desejam obedecer a Deus em tudo, a cultivar a prática do discipulado. Deve-se perceber que discipulado não é apenas tornar alguém num seguidor de Jesus, mas levá-lo a prosseguir para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus: Ser a imagem e semelhança de Deus (Fp 3.12-14 e 1Jo 3.2). 10 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Joselito Ferreira de Sena ESTUDO 1 Os Evangelhos falam de Jesus Introdução Os escritores bíblicos não foram usados pelo Espírito Santo de forma mecânica. Deus não age assim. Ele os inspirou, usando a inteligência, os dons e os talentos que lhes deu, além do próprio desejo deles de investigar e relatar sua boa nova à humanidade. Por isso, os Evangelhos, embora semelhantes, diferem uns dos outros, já que seus autores (Mateus, Marcos, Lucas e João), diferiam em formação e em estilos de personalidade. Os Evangelhos narram vida, obras e ensinos de Jesus. Mateus, Marcos e Lucas são chamados Evangelhos Sinóticos1 porque há muito de comum em seu conteúdo e forma de apresentação. Eruditos pensam que Marcos é o mais antigo, do qual Mateus e Lucas tiraram muito do que escreveram, além de terem pesquisado em outras fontes. O Evangelho de João é diferente. Não tem parábolas e narra alguns milagres que só aparecem nele. O ensino de Jesus neste evangelho é mais sobre Si mesmo e aí são mais destacados os Seus encontros Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias João 5. 36-40 e 6.47-51 Efésios 3.14-21 Mateus 16.13-20 Marcos 1.14-28 Lucas 1.1-4, 26-38 João 1. 1-14 pessoais do que Seus encontros com as multidões. Os textos semelhantes nos evangelhos sinóticos parecem mostrar que eles podem ter se servido um do outro ou de fontes comuns. Algumas aparentes contradições entre os escritores não revelam contradição na mensagem, mas na forma de narrar o acontecimento. O objetivo dos Evangelhos é apresentar a vida ímpar de Jesus neste mundo como encarnação da Divindade, demonstrando o Seu infinito amor no resgate de Sua criação. Aplicação a sua vida: Quando você sabe que Deus usou pessoas tão diferentes para anunciar ao mundo as suas “boas novas”, que sentimentos brotam em seu coração? Veja a seguir um pouco sobre cada um dos Evangelhos. 1. Evangelho segundo Mateus Mateus foi o primeiro Evangelho aceito no cânon sagrado, talvez porque, senREFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES || 11 | O s E v an g el h os falam de J esus do muito didático e com muitos ensinos de Jesus, foi o primeiro a ser usado na igreja nos primeiros séculos. Apresenta mais organizadamente os discursos de Jesus, como por exemplo o Sermão do Monte. Seu autor, Mateus, foi um dos doze discípulos mais próximos de Jesus, cujo nome aparece como Levi por ocasião de sua chamada (Mt.9.9 e Mc.2.14). Era publicano, isto é, cobrador de impostos. O fato de trabalhar com papéis e documentos, pode lhe haver facilitado escrever sobre Jesus. Um propósito importante deste Evangelho é levar os judeus a reconhecer Jesus como o Messias esperado. Por isto tem grande número de menções às profecias do Antigo Testamento. Exemplos: Mateus 1.22-23; 2.5-6; 4.14-16; 12.17-21. Você pode encontrar muitas. É o único evangelho em que aparece a palavra “igreja”. Mateus 16.13-20 Jesus faz uma pergunta aos discípulos: “Quem vocês pensam que eu sou? Estes O alegram através da resposta de Pedro: “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo”. Jesus afirma que tal declaração de Pedro lhe viera do Pai e que sobre esta pedra, este fundamento, edificaria a Sua igreja. Pedro quer dizer pedra. O que significaria esta declaração de Jesus? Alguns pensam que esta declaração tem o significado de que a igreja está edificada sobre Pedro, mas não concordamos com tal interpretação. O que se pode entender e que é confirmado por outros textos bíblicos, é que a igreja está edificada sobre a declaração de Pedro, pois o verdadeiro fundamento é Jesus, como o próprio Pedro declara (I Pe. 2.3-7). E Paulo diz que “ninguém pode lançar outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo”(I Co.3.11). 12 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I A seguir, Jesus afirma que pessoas seriam ligadas ao céu através de Pedro. Realmente, no dia de Pentecostes e muitas vezes depois, milhares de pessoas foram ligadas ao céu através de Pedro e de outros apóstolos. O discípulo do Cristo tem a missão de ligar pessoas ao céu e desligá-las de cadeias demoníacas através da mensagem do amor divino. Pedro, um discípulo como os demais, aprendeu com Jesus a superar suas limitações porque cresceu na dependência do Senhor. Aplicação a sua vida: Se você já é um discípulo de Jesus, de que maneira tem procurado desempenhar sua missão no mundo? Você tem ligado pessoas ao céu, isto é, ao que Deus deseja para elas? 2. Evangelho segundo Marcos É o Evangelho mais curto, não tendo muitos fatos anteriores ao ministério de Jesus. Seu autor, João Marcos, era filho de uma mulher de destaque na igreja primitiva em Jerusalém. Os cristãos se reuniam em sua casa, durante a prisão de Pedro (At.12.12); era parente de Barnabé (Cl.4.10); acompanhou Paulo e Barnabé em sua primeira viagem missionária, voltando da Panfília, na Ásia Menor (At.13.5,13 e 15.36-38); muitos anos depois, João Marcos é mencionado em várias epístolas como cooperador de Paulo e de Pedro (Cl.4.10; Fm.24; II Tm. 4.11; I Pe.5.13). Segundo estudiosos, foi de Pedro que Marcos ouviu muito do que relatou a respeito de Jesus. Marcos apresenta Jesus como servo, sempre fazendo o bem às pessoas. Este evangelho narra ações que se sucedem com rapidez. Marcos 1.14-39 Os acontecimentos se sucedem rapidamente. Aí aparecem muitas vezes, expressões como “logo”, “a seguir” e “imediatamente”. Veja algumas ações de Jesus O s E v an g el h os falam de J esus | neste texto e como elas se sucedem: chama os primeiros discípulos (14-20); ensina na sinagoga e cura um endemoninhado (21-28); cura a sogra de Pedro (29-31); cura muitos enfermos e endemoninhados (32-34); dedica-se à oração (35-37); prega em muitas aldeias (38-39). Apresentando Jesus como servo, este Evangelho faz ver aos discípulos do Cristo que devem se dispor a prestar serviço às pessoas. Aplicação a sua vida: Como você tem, na medida de suas possibilidades, servido aos que estão próximos de você? 3. Evangelho segundo Lucas Lucas 1.1-4 e Atos 1.1 Aplicação a sua vida: Você já pensou no privilégio que tem o seguidor de Jesus de fazer o que lhe é possível para ajudar pessoas e circunstâncias a estarem dentro do propósito de Deus? Como você pode fazer isto? 4. Evangelho segundo João Este Evangelho é diferente na estrutura e no estilo. Não apresenta parábolas e só contém sete milagres, cinco dos quais só aparecem nele. Os discursos de Jesus dizem respeito principalmente à Sua pessoa e não à doutrina ética do reino. Exemplos: Eu sou a luz, a porta, o pastor, o pão, o caminho, a verdade e a vida. São várias as entrevistas pessoais de Jesus. Sua relação com os indivíduos é mais acentuada que Seu contato com o público. Os textos acima indicam que estes dois livros são do mesmo autor. Possivelmente Lucas era um gentio muito culto convertido ao Cristianismo. Com grande capacidade para investigar e escrever, narra com vivacidade e beleza os acontecimentos. Era médico (Cl 4.14) e companheiro de Paulo em suas viagens (II Tm. 4.11). O Evangelho de João é fortemente teológico. Apresenta a natureza divina da pessoa de Jesus e o significado da fé n’Ele. Ele é, ao mesmo tempo, o homem perfeito que tem um papel de exemplo para os Seus discípulos e a encarnação do Deus, diante de quem precisamos nos curvar em adoração. Algumas características do Evangelho de Lucas: Este texto faz uma apresentação clara e belíssima da divindade de Jesus. - aparecem muitos cânticos, como os de Zacarias, de Maria, de Simeão. Conclusão: - Aparecem grupos marginalizados como crianças, mulheres, pobres, publicanos, meretrizes. - É o que mais destaca a universalidade do evangelho. - Narra em maior número e com grande beleza as parábolas. Apresenta Jesus em sua humanidade, estimulando os que O seguem a desempenhar no mundo um papel que ajude pessoas e circunstâncias a se transformarem em direção à vontade de Deus. João 1.1-14 Aplicação a sua vida: Jesus é apresentado pelos evangelistas como Deus, o Messias, o filho do homem e servo de todos... Se você é um dos seus discípulos, que responsabilidade tudo isto lhe dá? Embora diferentes, os quatro evangelhos têm o objetivo de anunciar o Cristo, o Redentor do mundo. Nos estudos a seguir, procuro apresentar em ordem cronológica a vida de Jesus, usando os vários evangelhos. ________ 1. Sinóticos - palavra grega que tem o significado de “ver junto”. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 13 ESTUDO 2 A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO Introdução Neste estudo veremos o nascimento de Jesus, além de alguns fatos que o antecederam e alguns que ocorreram imediatamente depois. Dos quatro evangelhos, Lucas é o que narra maior número de fatos anteriores ao nascimento de Jesus; Mateus narra pouco; Marcos já começa com a pregação de João Batista; e João fala apenas da pré-existência de Jesus, destacando a Sua divindade. Neste estudo, usando vários evangelhos, serão apresentados alguns acontecimentos anteriores ao nascimento de Jesus, mais ou menos em ordem cronológica, de acordo com H.I.Hester. 1. A Preciosidade da dádiva de Deus ao mundo - João 1.1-18 O Evangelho de João tem maravilhosos ensinos a respeito de Jesus, enfatizando especialmente sua divindade. 14 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Isaias 9.2-7 Lucas 1.5-38 Lucas 1.39-56 Lucas 2.1-7 Lucas 2.8-20 Lucas 2.21-38 Este texto majestoso é o prólogo deste evangelho e nos mostra que: 2). - Jesus é pré-existente, é eterno (v.1- - Ele é o Criador e a origem da vida (vs. 3-4); - Ele é o Deus encarnado (v. 14); - Ele veio dar início a um novo tempo (vs. 14, 17); - Ele é a revelação de Deus (v. 18). O apóstolo João fala aí do Deus que se encarnou e veio habitar entre nós. O Cristianismo é a religião que apresenta, não um Deus que devemos buscar com os nossos esforços intelectuais ou de boas obras, mas o Deus que desce até nós em nossos descaminhos e pecados, para resgatar-nos. Um Deus que toma a iniciativa. Que em Cristo se encarna e que por amor se doa, identificando-se conosco. A nós cabe responder ao Seu amor e doação, entrando numa relação com Ele para sermos salvos da alienação em que vive- A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO | mos, ao estar desvinculados da Sua vida e da Sua vontade. Esta relação nos fará ser as pessoas que Ele sempre desejou que sejamos: felizes e que promovem a felicidade, abençoadas e que espalham a bênção por onde vão. Por felicidade, entendo a satisfação do desejo básico mais profundo do ser humano: o de usufruir do amor e da comunhão com Deus, cumprindo em sua vida a vontade do seu Criador. Este desejo em nós se origina do fato de havermos sido criados com este sublime propósito. A satisfação dele dá a alegria, a felicidade, que nada nem ninguém poderá tirar. De posse desta bênção, o ser humano passa a ser bênção para muitos. O cristão tem motivo para celebrar a graça infinita do Deus a quem adora. E é impossível adorá-Lo, sem colocar-se ao lado d’Ele no Seu projeto de tudo fazer para que este mundo esteja mais de acordo com a vontade divina. O evangelista João apresenta Jesus como o Deus encarnado, o Deus Conosco. Você já crê de todo o seu coração nesse Jesus, que é a revelação por excelência de Deus? Que, sendo luz, deseja iluminar sua vida para que você também possa iluminar seu ambiente? Se você quer isto de todo coração, poderá experimentar alegremente os efeitos do Seu amor. Aplicação a sua vida: Que sentimentos brotam em você, como resultado de saberse alvo do amor sacrificial e resgatador do grande e excelso Deus? Que atitudes práticas resultam disso? 2. Fatos que antecedem à chegada de Jesus Lucas 1.5-38 O sacerdote Zacarias cumpria seu serviço no templo, quando foi surpreendido com a notícia que o deixou estupefato e muito alegre, pois a vinda de um filho era o que ele muito desejava. Os versículos 15-17 dizem o que João Batista seria. Alguns meses depois, o anjo Gabriel, que já havia anunciado o nascimento de João Batista, apareceu a Maria (vs. 26-38). Veja no v. 38 como Maria se coloca diante de Deus, após ouvir o anúncio do nascimento de Jesus. Ela se entregou, mesmo correndo grandes riscos, a fim de ser veículo de Deus para abençoar o mundo. Através dela, Deus trouxe seu maior presente à humanidade. Estamos nós dispostos a, mesmo com sacrifícios, servir de veículo da graça de Deus para outros? Após isto, Maria visitou Isabel, que era sua prima e estava grávida de João Batista. Este encontro é cheio de júbilo e poesia. Lucas 1.39-56 Maria visitou Isabel. Nos versículos 41 a 45 temos as belas palavras de Isabel saudando Maria e reconhecendo que Jesus, o bebê que ela esperava, era o Senhor. Você vê aí que é o Espírito Santo quem revelou a Isabel esta preciosa verdade (v.41). A partir do versículo 46 é Maria quem fala, expressando num belo cântico toda a sua alegria e adoração ao Senhor. Este cântico é muito semelhante ao de Ana no Antigo Testamento (I Sm. 2.1-10). Isto mostra que ela conhecia as Escrituras e aguardava o Messias. Este texto mostra sua humildade e consciência do seu privilégio (vs. 48-49). Maria foi uma piedosa serva do Senhor, a quem devemos honrar e imitar. Foi bendita e privilegiada, como veículo da maior dádiva de Deus ao mundo: Jesus Cristo. Pena que no coração de muitos ela tenha tomado o lugar do próprio Deus, os quais desconsideram que Maria exultou em Deus, a quem rendeu graças por poder conhecer o seu Salvador pessoal (vs. 46,47). REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 15 | A CHEGADA DA MAIOR DÁDIVA DE DEUS AO MUNDO Aplicação a sua vida: Em quais circunstâncias você já se percebeu reverenciando mais as pessoas do que o Deus que as fez? sendo que no versículo 23 temos a citação de Isaías. A seguir, a partir do versículo 57, temos o nascimento de João Batista e o cântico de Zacarias, seu pai. - O alistamento de Maria e José em Belém - Lc. 2.1-5. 3. Fatos importantes relacionados à vinda de Jesus ao mundo Mateus 1.18-25 Neste texto, é patente a discrição e sensatez de José, o marido de Maria. Ele era um homem muito nobre e bom. Outros fatos relacionados ao nascimento de Jesus: Este alistamento foi ordenado pelo Império Romano e as profecias diziam que o Messias nasceria em Belém (Mq. 5.2). A história dirige-se para o cumprimento dos propósitos divinos. - o nascimento de Jesus - Lc. 2.6-7; - a visita dos pastores - Lc. 2.8-20 O nascimento de Jesus foi anunciado com alegria a pessoas humildes e discriminadas socialmente. Refletir antes de agir e falar produz resultados positivos. Se temos a vida colocada no altar do Senhor e refletimos antes de agir, colocando diante d’Ele os nossos problemas, com calma e sensatez, como José, naturalmente teremos um maior discernimento para encontrar a Sua vontade. - a apresentação de Jesus no templo - Lc. 2.21-40. O versículo 19 mostra a nobreza do caráter de José. Ao saber que Maria estava grávida, antes que eles se unissem como marido e mulher, José planejou deixá-la sem expô-la publicamente. Depois do sonho que teve, José recebeu a Maria como sua mulher. O último versículo diz que José se manteve afastado dela, como marido, até que ela desse a luz. Cremos que isto deixa claro que após o nascimento de Jesus, eles se tornaram marido e mulher, também no aspecto sexual. A seguir, neste mesmo texto, vemos o cântico de Simeão e as palavras da profetiza Ana. Crer que Maria foi esposa de José no sentido completo, não empana sua honra e dignidade. A relação sexual, dentro da união conjugal, sob a égide do amor e como foi planejada por Deus, é legítima, pura e bela. O autor de Mateus, segundo os eruditos, teve a intenção de dirigir-se de modo prioritário aos judeus. Por isso o Antigo Testamento é tão mencionado por ele, 16 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Este texto nos mostra o espírito de obediência e consagração dos pais de Jesus. Eles circuncidaram Jesus ao oitavo dia e depois O consagraram ao Senhor como mandava a lei. Pais devotados ao Senhor, levam a sério o seu dever de cumprir a vontade de Deus na criação dos seus filhos. Aplicação a sua vida: Ao pensar no dono do universo entrando na história humana com tal simplicidade, como você pensa que deve viver? Conclusão Jesus, o Deus encarnado, nasceu humildemente, entrando em nossa história de maneira muito singela. Ele vai, através da Sua vida e dos Seus ensinos, abrir os olhos de homens e mulheres para perceberem a forma de viver vazia e hipócrita dos seus dias, como veremos nos estudos a seguir. ESTUDO 3 ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS Introdução Os Evangelhos relatam muito pouco a respeito da vida de Jesus antes do Seu ministério de aproximadamente três anos. Depois do que vimos no estudo anterior concernente aos seus primeiros dias após o nascimento, temos poucos fatos. Dois ainda na sua primeira infância: a visita dos magos e a fuga para o Egito; outro aos doze anos de idade, quando ele no templo, conversa com os doutores da lei. Os outros, já próximos do início do ministério, foram o batismo e a tentação. Embora a Bíblia se cale a respeito da maior parte da vida de Jesus, sabemos que toda ela se desenvolveu de modo a que, na época própria, Ele cumprisse o seu sublime propósito. 1. A infância de Jesus Neste tópico, veremos os fatos a que já se fez referência na Introdução. Leia Mateus 2.1-23 Os versículos 1 a 12 falam da visita dos magos do oriente e de como o rei Herodes, o Grande, sentiu-se ameaçado ao Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 2.1-12 Mateus 2.13-23 Lucas 2.39-52 Mateus 3.13-17 Mateus 4. 1-11 Hebreus 1.1-3 saber que eles procuravam uma criança que diziam ser o Rei dos Judeus. O medo de perder o poder fez o rei desejar matar essa criança. Avisado por Deus em sonhos, José fugiu com Maria e Jesus para o Egito. Herodes, não sabendo dessa fuga, mandou matar todas as crianças abaixo de dois anos, para que Jesus fosse atingido. Este é um dos motivos porque alguns pensam que a visita dos magos não foi logo que Jesus nasceu. Este Herodes, segundo registros históricos, foi muito sanguinário, sempre mandando matar os que imaginava que se opunham a ele, inclusive pessoas da sua própria família. Como se vê, Jesus enfrentou a primeira oposição nos Seus primeiros dias e esta foi de alguém que detinha o poder. Assim seria durante toda a Sua vida. Os que detinham o poder político-religioso não gostavam do Seu estilo de vida, nem de sua mensagem, pois estes confrontavam todos os valores que para eles eram muito preciosos. Veja um pouco da situação política no contexto da infância de Jesus. A Palestina estava sob o poder do Império REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 17 || 17 | ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS Romano e Herodes, o Grande, era o rei aí quando Jesus nasceu. Quando Jesus era ainda criança, estando no Egito com Seus pais, Herodes, o Grande, morreu e o seu domínio foi dividido entre seus filhos. Arquelau ficou com a Judeia; Antipas com a Galileia e Pereia; e Filipe com Traconites e regiões adjacentes (1). Destes três herodes, Arquelau, da Judeia, deixou de governar primeiro, tendo sido tirado pelos romanos. Antes disso, Mt. 2.22-23 informa que, por ser ele o governante na Judeia, José, ao voltar do Egito, não desejou ir para lá, indo viver em Nazaré, na Galileia. A partir de Arquelau, os romanos colocaram procuradores seus na Judeia. O procurador na época da morte de Jesus era Pôncio Pilatos. Jesus, portanto, viveu junto com seus pais na cidade de Nazaré. No tempo do ministério de Jesus, Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande, governava a Galileia, sendo muito mencionado nos Evangelhos. Foi ele quem mandou decapitar João Batista. Leia Lucas 2. 39-52 Este fato, narrado apenas por Lucas, é muito interessante e nos revela muito a respeito de Jesus no final da Sua infância. Indo com seus pais a Jerusalém para a festa da páscoa, ele ficou no templo e foi preciso que eles voltassem para buscá-lo. Conversava com ele com os doutores da lei e Sua palavra aos pais já parece revelar a percepção que Ele começava a possuir de Sua relação diferenciada com Deus. Lucas destaca no final do texto que Jesus era uma criança/adolescente, dentro de uma situação normal de vida em submissão a seus pais, em Nazaré. E que Ele se desenvolvia de forma equilibrada, tanto física, quanto intelectual e espiritu18 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I almente. E que sua mãe, discretamente, guardava o que percebia em seu coração. 2. O batismo de Jesus - Mateus 3.13-17 Antes do batismo de Jesus, os evangelhos relatam a aparição de João Batista, o precursor do Cristo, que anuncia a chegada do Reino de Deus. Jesus é a manifestação concreta do Reino de Deus, isto é, da vontade divina sendo realizada de forma absoluta numa vida humana. O texto apresenta o batismo de Jesus. Veja o significado profundo do diálogo entre Jesus e João Batista, e o sinal que Deus dá a Jesus da Sua aprovação àquele ato e também à Sua filiação divina. O batismo de Jesus mostra como Ele assumiu a encarnação, identificando-se com os demais seres humanos, além de colocar-se ao lado dos fiéis, dando apoio à obra de João. Seu batismo, que acontece aos trinta anos, marca o início de uma nova etapa em Sua vida. A partir daí, após a tentação do diabo, tem início o Seu ministério. O batismo significa para o cristão uma declaração pública de sua identificação com Cristo, simbolizando mudança interior, com uma nova vida de obediência a Ele. O ato externo do batismo, símbolo para o cristão de sua morte com Cristo, seu sepultamento e sua ressurreição para uma nova vida, nada significará, se não existirem nele tais realidades espirituais. Aplicação a sua vida: Você já deu, através do batismo, seu testemunho público de que está comprometido com Cristo, como um seguidor d’Ele? Que atitudes suas demonstram a sua fidelidade a esse compromisso? ANTECEDENTES AO MINISTÉRIO DE JESUS | 3. A tentação de Jesus - Mateus 4.1-11 Este texto, rico em significado e lições, apresenta três tentações a Jesus. O diabo procura atingi-Lo em três áreas de vulnerabilidade humana: necessidades físicas, desejo de ser admirado e desejo por poder e glória. Atacado nestas três áreas, Jesus venceu todas as tentações. O que Deus deseja é que, ao enfrentarmos as tentações, a plenitude da Sua graça e do Seu poder nos permitam vencê-las, tornando-nos mais fortes e maduros. Algumas lições que este texto nos ensina: - O diabo está sob a autoridade de Deus (v.1) pois Ele, Deus, é soberano e todos os poderes estão sob Seu controle. Deus deseja usar todas as circunstâncias que nos atingem para o nosso bem e Satanás quer usá-las para o nosso mal. Tudo vai depender da nossa reação. De quem somos cooperadores? - Somos atacados nos nossos pontos vulneráveis. Por isso, é importante nos conhecermos, para que não nos deixemos envolver pelos nossos impulsos para o mal. Quais são os nossos pontos fracos? Conheçamo-los. - O diabo usou a Palavra de Deus (v.6), tentando Jesus a errar o alvo de Sua vida. Esta pode ser usada de forma distorcida para nos fazer duvidar do amor e da santidade de Deus ou para que trilhemos caminhos perigosos. - Jesus se relacionava perfeitamente com Deus Pai e sabia muito bem qual o objetivo de Sua vida. Por isso, usou a Palavra de Deus de forma apropriada. É importante usá-la, não como um amuleto ou objeto com poder mágico, mas como veículo através do qual Deus está nos aconselhando e construindo a nossa vida, tornando-nos fortes para vencer o que nos quer afastar da vontade d’Ele. - As necessidades físicas, o desejo de exibir-nos e a ambição por possuir posições e poder, tudo isto que tem sido tão estimulado pela nossa cultura, tornam-se pontos vulneráveis para nos afastar da vontade divina. Por isso, é importante conhecermos, além de nós mesmos, a mentalidade do mundo no qual vivemos, comparando-a com a mente de Cristo, sob cuja égide devemos viver. - Jesus saiu vitorioso sobre as tentações e enviou-nos Seu Espírito para que nos dê força para vencê-las também. Dependamos d’Ele. Aplicação a sua vida: Se Jesus, como Filho de Deus, foi tentado, podemos, como discípulos seus, pensar que somos imunes às tentações? Quais tentações mais atingem sua vida? Como você poderá vencê-las? Conclusão Jesus enfrentou muitas provas antes e durante o Seu ministério terreno. Nós, como servos d’Ele, não poderemos ter vidas significativas, sendo bênçãos para outros, sem passar pelas tentações com força e coragem, vencendo-as no poder de Jesus Cristo. Se houver queda, olhemos para Ele e seremos reerguidos pela Sua graça. Que sempre tenhamos vidas submissas ao Senhor que, como diz o escritor aos Hebreus, é o nosso sumo-sacerdote que “foi tentado em todas as coisas, porém sem pecado” (Hb. 4.15 ). _______ (1) DANA, H.E. O Mundo do Novo Testamento, págs. 77-82 REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 19 ESTUDO 4 INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS Introdução O ministério de Jesus não é apresentado pelos evangelistas em ordem cronológica e, como a nossa intenção é um estudo panorâmico, veremos apenas alguns fatos principais, ora num, ora noutro Evangelho. Nos estudos 4 e 5 veremos alguns fatos do início do ministério de Jesus que estão no começo dos Evangelhos, conforme apresentados por João e Lucas. 1. A pregação de João Batista João 1.19-37 Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Jo. 1.19-28 João 1.29-37 João 2.1-12 Lucas 4.14-21 Lucas 4.21-30 Colossenses 2.6-10 quem foi João Batista, o precursor de Jesus. Diante da autoridade da pregação de João Batista, uma comissão foi enviada de Jerusalém pelos sacerdotes e levitas para saber quem ele era afinal. Ele declarou que não era o Cristo, mas apenas Seu precursor, que cumpria a profecia de Isaías, sendo “a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor” (v.23). João Batista menciona aí Isaias 40.3. Diz mais: que ele não era digno de desatar a correia das sandálias de Jesus (v.27). Não se poderia começar um estudo do início do ministério de Jesus, sem que se atentasse para esta grande figura que foi João Batista, seu precursor. Este homem do deserto apresentava uma mensagem cheia de autoridade, com veemente ataque ao pecado. Um homem que o próprio Jesus considera grande (Mt.11.11). João Batista, um pouco mais velho que Jesus, apresentou-O como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”(v.29) e disse que Jesus tem a primazia pois existia antes dele (v.30). João Batista reconheceu a pré-existência de Jesus e mostrou-se humilde ao não querer tomar um lugar que não era o dele. Deu também o seu testemunho do que ele vira acontecer quando batizara Jesus (vs.31-37). Já foi apresentado no estudo anterior o batismo de Jesus por João Batista. Este texto, no entanto, nos apresenta melhor Mais tarde, ao saber que muitos estavam seguindo a Jesus, ele declarou: “É necessário que Ele cresça e que eu diminua” 20 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS | (Jo.3.30). Que homem ao mesmo tempo corajoso e humilde! E pensar que, mesmo podendo ocupar altos postos na elite religiosa e política do seu povo, pois era descendente de Arão, seu desejo era estar no centro da vontade de Deus, anunciando a vinda d’Aquele diante de quem se dizia indigno de, curvando-se, desatar-lhe as sandálias. Ah, como necessitamos de tal humildade e submissão a Deus! A vaidade e a inveja são pecados que se relacionam um com o outro e atingem a todos nós. Não há pecado que mais nos afaste do Deus da graça do que o orgulho. Por vezes, até a nossa irritação contra o orgulhoso ou a nossa timidez por algum defeito nosso, podem ser sintomas de um orgulho disfarçado. Como Paulo, exclamamos: “Miserável homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte? ” (Rm. 7.24). Mas Paulo não para aí e nós não podemos parar, pois, a seguir, ele fala da vitória que tem em Cristo Jesus (Rm. 7.25). Coloquemo-nos sempre diante do nosso Redentor para recebermos d’Ele força e perdão. Aplicação a sua vida: “Deus resiste aos soberbos, mas aos humildes dá a sua graça” (Tg. 4.6). Em quais circunstâncias você percebe que a falta de humildade tem prejudicado seu relacionamento com Deus e com os seus semelhantes? 2. O primeiro milagre numa festa de casamento - João 2.1-12 Este texto mostra que Jesus era uma pessoa que fazia questão de conviver com outras pessoas e, com isso, Ele ensina que santidade não significa necessariamente isolamento dos outros, mas uma presença que conduza as pessoas para mais perto da vontade de Deus, sen- do bênção onde estiverem. Jesus se sentia à vontade com outros, sendo Aquele que, onde está, ajuda e ilumina com Sua vida. Quando Maria falou a Jesus de uma dificuldade que estava sendo enfrentada pela família que oferecia a festa, Ele pareceu dar uma resposta grosseira à Sua mãe (v.4). Muitos se têm preocupado com este texto. Alguns pensam que Jesus foi realmente áspero para mostrar que, como um homem adulto e com uma missão tão especial, não poderia deixar que Sua família traçasse os rumos do Seu ministério. Alguns comentaristas argumentam que na palavra “mulher” não há qualquer aspereza, e nós é que julgamos de acordo com o valor da palavra na nossa cultura. Jesus usou a palavra “mulher” ao referir-se à Sua mãe, na crucificação, quando amorosamente se preocupou com ela (Jo. 19.26) e depois de ressurreto, no encontro com Maria Madalena, numa palavra terna de consolação (Jo. 20.15). O que se percebe neste texto (João 2.1-12) é que Jesus parece querer mostrar que Seu ministério e Sua obra não estariam vinculados à presença e à vontade de Sua mãe ou de qualquer outro familiar. A Sua vontade e o Seu agir seriam sempre em resposta às verdadeiras necessidades humanas, segundo a vontade do Pai. Ele sabia a hora de agir. Depois disto, é Maria quem diz que as pessoas devem ser-Lhe obedientes (v.5). Jesus fez o milagre e, conforme esse texto, este fato levou seus discípulos a crerem n’Ele. Interessante! Pensamos que, se já eram discípulos e o seguiam, era porque já criam n’Ele... Mas o conhecer e o crer vão crescendo com a experiência do andar juntos. Não é também assim em nossa vida cristã? Talvez seja por isto que Bonhoeffer diz que “Só o obediente é que crê” (1). À medida que andamos juntos, obedecendo-lhe, vamos conhecendo mais e crendo com maior profundidade. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 21 | INÍCIO DO MINISTÉRIO DE JESUS Aplicação a sua vida: A sua fé tem se desenvolvido em seu caminhar com Jesus? Quais os sinais desse crescimento? O milagre nos faz ver que o vinho que Jesus ofereceu era de muito melhor qualidade do que o anterior. Isto nos transmite algum ensino? Será que percebemos quanto a vida com Cristo é melhor? Devemos ter uma vida de santidade em qualquer lugar em que estejamos. 3. Jesus na sinagoga de Nazaré - Leia Lucas 4.16-30 Foi difícil para Jesus o cumprimento de Sua missão, especialmente em Sua própria terra. Ao entrar na sinagoga em Nazaré, Ele leu o que está nos versículos 18-19 do texto acima. Esta é uma profecia de Isaías. Tinha neste momento a atenção de todos sobre Ele. Quando disse que este texto de Isaías se referia a Ele, muitos olharam incrédulos e escandalizados, perguntando: “Não é este o filho de José? ” (v.22). Temos também muitos preconceitos, não acha? Parece que, para muitos, é mais difícil perceber a presença e a voz de Deus no simples, no cotidiano, pois, querem sempre fatos espetaculares. Quanto podemos perder por causa disto, não acha? Jesus mostrou aí que Sua missão era dirigida aos humildes e necessitados: “pobres, cativos, cegos, oprimidos...” Não àqueles que se orgulhavam de estar no topo da pirâmide social e de cumprirem legalisticamente uma religião que não os tornavam melhores. A declaração de Jesus os enraiveceu. Depois vemos nos versículos 24-30 mais uma palavra de Jesus que provoca uma reação indignada contra Ele. Jesus mencionou como Deus, deixando de atender judeus, abençoou pessoas 22 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I de outros povos através dos Seus profetas. Mostrou assim que Ele se importava mais com a necessidade, a humildade e a fé de alguém, do que com seu sangue ou a qual grupo pertencia. Os judeus ficaram irados, pois, se julgavam depositários das bênçãos de Deus como Seu povo escolhido, enquanto Jesus disse que Deus tem abençoado outras pessoas, deixando-os de lado. Eles se esqueciam que Deus os havia escolhido para transmitir a Sua bênção “a todas as famílias da terra” (Gn.12.3) e não simplesmente para receberem a bênção. Isto pode acontecer conosco? Orgulhar-nos da nossa herança cultural ou religiosa, desprezando outros? Esquecemo-nos que, se somos abençoados, é para sermos canais destas bênçãos a outros? Aplicação a sua vida: Como você considera o seguir a Cristo? Você tem recebido as bênçãos de Deus, procurando abençoar com elas outras pessoas? De quais maneiras você tem feito isto? Conclusão O primeiro milagre e este fato na sinagoga aconteceram na Galileia, respectivamente em Caná e em Nazaré. No próximo estudo veremos alguns acontecimentos na Judeia. Jesus começou logo a enfrentar pressões. Seria assim durante todo o tempo do seu ministério terreno, pois, Ele incomodava os que detinham o poder. O discurso de Jesus despertou muita ira e alguns O expulsaram da cidade, levando-O ao pináculo do templo para de lá O jogarem, mas Ele se desviou deles, escapando. ____________ (1) BONHOEFFER, Dietrich. Discipulado. p. 26 ESTUDO 5 ENTREVISTAS DE JESUS NO INÍCIO DO SEU MINISTÉRIO Introdução Embora estivesse sempre em contato com grupos e grandes multidões, as entrevistas individuais foram muito importantes no ministério de Jesus. Neste estudo veremos o Seu encontro, logo no início do Seu ministério, com Nicodemos e a mulher samaritana. O primeiro foi na Judeia, na cidade de Jerusalém. O segundo foi na cidade de Sicar, em Samaria, quando Ele se dirigia para a Galileia. Foram entrevistas com pessoas muito diferentes: um homem e uma mulher. Ele, doutor da lei, da alta sociedade e membro da mais alta corte judaica, o Sinédrio. Ela, de uma classe desprezada e socialmente baixa. Ele, de uma seita que encarava com a maior seriedade o cumprimento das leis e dos ritos religiosos. Ela, que adotava um comportamento que feria os mais elementares princípios da religião. Os dois, no entanto, eram igualmente importantes para Jesus. Para ambos, Ele tinha uma mensagem relevante. Obser- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias João 3.1-16 João 3.16-21 João 4.1-14 João 4.13-30 Marcos 1. 40-45 João 4.31-42 Romanos 5.1-11 ve como Jesus se dirige a eles de forma diferente, de acordo com a experiência de vida e o contexto de cada um. 1. O encontro de Jesus com Nicodemos - Leia João 3.1-21 Este é um dos textos mais conhecidos do Novo Testamento. Sendo um importante fariseu e doutor da lei, Nicodemos talvez tivesse um sentimento religioso profundo. Já tendo naturalmente ouvido falar do poder e da sabedoria de Jesus, Nicodemos desejou conversar particularmente com Ele. Escolheu a noite para encontrar-se com Ele, talvez para não arriscar sua reputação, já que era uma autoridade civil e religiosa, e Jesus sofria pressões por parte destas autoridades. O Mestre se aproveitou da oportunidade para falar-lhe de temas muito importantes. Nesta conversa temos um dos versículos mais conhecidos do NT: João 3.16. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 23 || 23 | E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O Nesta palavra de Jesus a Nicodemos, temos ensinos importantes sobre a doutrina da salvação. - O novo nascimento - Vs.3-7 O reino de Deus só poderá ser usufruído por alguém através de sua natureza espiritual, que só poderá ser gerada pela ação do Espírito Santo. E Jesus fala sobre isso a Nicodemos. - O Espírito Santo é quem opera o novo nascimento – Vs. 8-12 Esta ação é misteriosa, soberana e não se pode explicar por métodos lógicos e racionais. Jesus compara o Espírito Santo ao vento, mostrando que, como as pessoas em geral não conheciam e nem controlavam o vento, assim também a ação do Espírito Santo ultrapassa a nossa capacidade de compreender e controlar. A nós cabe responder aos anseios que Ele nos dá pelo que é espiritual, indo humildemente a Ele para que seja gerada em nós esta nova vida. - Só a fé em Jesus pode operar o novo nascimento - Vs. 14-18 Usando a alegoria da serpente de cobre levantada no deserto por Moisés (Num.21.8-9), Jesus falou a Nicodemos que só no Filho de Deus há redenção para o pecador. Como aconteceu no deserto, assim também todos que foram picados pela serpente do pecado (todos os seres humanos foram) deverão olhar com fé para o Filho de Deus levantado na cruz, fazendo-se pecado por todos. Só Ele nos poderá transmitir a cura, a salvação. Ao olharmos para Jesus, o Espírito Santo aponta o nosso pecado, fazendonos nascer de novo. 24 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Muitas vezes ficamos olhando para dentro de nós para verificarmos se temos fé. O que Jesus diz é que precisamos olhar e aceitar a providência de Deus: Sua graça infinita, oferecendo-se em nosso lugar. A fé vai chegando e crescendo, à medida que andamos com o Jesus dos Evangelhos, o Cristo vivo que, na pessoa do Seu Espírito, está entre nós. Aplicação a sua vida: Você deseja crer com maior profundidade? Como você demonstra este desejo? - O pecado faz rejeitar a luz - Vs. 19-21 Este é um texto que fala sobre a luz e seus efeitos sobre a vida do pecador. Quem deseja esconder suas más ações, não querendo enxergá-las, não quer a luz em sua vida. Mas quem vive dentro da verdade, quer a luz, desejando enxergar suas más ações para que sejam corrigidas. Jesus proclamou-se como a luz e a verdade. Se não queremos nos ver como pecadores, rejeitaremos a luz e não desejaremos a verdade; por conseguinte, Jesus está fora das nossas vidas. Quando recebemos Jesus, a Sua luz vai clareando a nossa compreensão para perceber melhor o amor, a justiça e a santidade de Deus, cujo caráter vai nos mostrando como devemos ser e nos transformando em direção a este alvo. A Sua luz faz com que enxerguemos a nós mesmos como frágeis pecadores, mas também como grandemente valiosos, amados pelo Senhor do universo, a quem podemos chamar de Pai, que nos quer transformar a cada dia, levantando-nos quan- E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O | do caímos e nos ajudando a caminhar. E se somos Seus discípulos, podemos até falhar e cair, mas voltaremos para a luz, pois não desejaremos nunca mais viver sem ela. Jesus falou a Nicodemos sobre o novo nascimento que nos traz para um mundo de luz. Cada um de nós tem a opção de vir para luz ou rejeitá-la. Não sabemos se o grande Nicodemos se tornou um discípulo de Jesus, mas o fato é que ele foi grandemente tocado pelo ensino do Mestre. Se quer saber mais sobre Nicodemos, veja João 7.50-52 e 19.38-42. 2. O encontro de Jesus com a mulher samaritana - Leia João 4.1-30 Este encontro de Jesus, tão diferente do encontro que vimos no item anterior, também nos ensina grandes e preciosas lições. - Versículos 4 a 6 Aí vemos a humanidade de Jesus se expressando em Seu cansaço junto ao poço de Jacó. Ao se despojar de Sua glória, Jesus carregou todo o fardo da nossa humanidade: fome, sede, cansaço, dores, etc. A hora sexta era meio-dia, pois, os judeus contavam o dia, de seis horas da manhã às seis horas da tarde. Jesus estava cansado. Ali, todavia, Ele travaria contato com alguém muito importante. - Versículos 7 a 9 Esta mulher pouco valia para os judeus, mas vemos aí como Jesus age com as pessoas. Para Deus é o valor intrínseco do ser humano que importa, e não o valor que lhe dá a sociedade. Aplicação a sua vida: Como você valoriza o ser humano? De acordo com o valor que lhe dá o mundo, ou de acordo com o valor que Jesus lhe dá? Jesus quebrou aí vários tabus. Ele era um homem, um judeu, um rabi ou mestre. Um rabi não podia conversar publicamente com uma mulher; ela era samaritana, com quem os judeus não se comunicavam, a ponto de não usarem as vasilhas dos samaritanos (v.9); levava uma vida moral irregular, arriscando a reputação de quem tivesse contato com ela. Jesus conversou com aquela mulher por reconhecer ali um coração faminto do verdadeiro amor. - Versículos 10 a 15 Que sabedoria! Jesus parte de um tema conhecido e corriqueiro, chegando ao tema desejado: a água que satisfaz permanentemente. A mulher não percebe a alegoria, achando que Jesus está falando de uma água que substituiria a água que ela viera buscar. - Versículos 16 a 18 Jesus toca na ferida profunda da mulher porque a amava. Ela precisava saber que Ele conhecia sua vida e que mesmo assim não a desprezava. Que sua busca constante por novos parceiros podia significar sede de um amor muito mais profundo. Ou talvez, já havendo sido rejeitada muitas vezes (o mais provável naquela época), sentia-se frustrada com o amor humano. Jesus sabia que só uma abertura ao amor de Deus, poderia mudar sua vida. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 25 | E N T R E V I S TA S D E J E S U S N O I N Í C I O D O S E U M I N I S T É R I O - Versículos 19 a 26 A mulher busca um tema mais confortável e procura descobrir quem é Jesus. Às vezes é mais fácil trafegar pela via do conhecimento teológico do que encarar honestamente a nossa interioridade. Jesus responde à mulher, ensinando-nos muitas lições, inclusive que a adoração não depende de lugar, nem de tempo, que Deus deseja adoradores sinceros, que O adorem em espírito e em verdade. Percebendo que a mulher estava pronta para ir adiante, Jesus lhe declara o que está no versículo 26. Será que nós temos a sabedoria de abordar a pessoa de acordo com sua circunstância? De conduzir a mensagem de modo que ela perceba o cerne do Evangelho, que é livrar o ser humano da alienação em que vive, levando-o a conhecer a Deus e a si mesmo? Ao chegarem, os discípulos se admiraram de que Jesus conversasse com uma mulher, mas não lhe fizeram perguntas (v.27). E a mulher samaritana convidou muitos da sua cidade a virem a Jesus. E eles não apenas vieram, como alguns creram ser Jesus o Salvador do mundo (vs. 30,39,40,41). 26 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Aplicação a sua vida: Os discípulos aprendiam a cada dia, em seu caminhar com Jesus. E você, o que tem aprendido? Como deseja vivenciar tal aprendizado? Conclusão - Jesus se dirige a cada um, respeitando a sua individualidade ao lhe transmitir os ensinamentos do Evangelho. Temos nós procurado apresentar o Evangelho de acordo com as características pessoais daqueles a quem nos dirigimos? - Pensar que Jesus, tão reticente como era, não desejando revelar logo a sua identidade, revelou-a a esta mulher (v.26) ... Aplicação a sua vida: Percebendo a forma de agir de Jesus, é possível a um seguidor Seu tratar a qualquer ser humano com desprezo ou discriminações? Como você vê seu modo de agir, diante disso? Viver na luz nem sempre é cômodo, mas produz correção, crescimento, alegria... “Deus é luz e n’Ele não há treva alguma” (I Jo. 1.5). ESTUDO 6 JESUS e o ESTABELECIMENTO DO REINO (O ministério galileu: curas e sinais - 1ª Parte) Introdução Jesus desempenhou o Seu ministério em várias regiões da Palestina, mas foi na Galileia que Ele esteve a maior parte do tempo. Era a Sua terra. Ali viveu a infância com os pais, na cidade de Nazaré. Ali realizou seu primeiro milagre, em Caná. Ali estabeleceu a base do Seu ministério, em Cafarnaum, à margem do mar da Galileia. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 4.12-25 Marcos 1.21-28 Marcos 1. 29-39 João 1.40-45 Marcos 2.1-12 Atos 10.34-38 1. O início do ministério galileu - Leia Mateus 4.12 a 25 Vemos neste texto que depois da prisão de João Batista, Jesus foi para a Galileia. Deixando a cidade de Nazaré, foi para Cafarnaum, onde estabeleceu sua residência (v.13). Ele não tinha casa propriamente sua. Estudiosos creem que em Cafarnaum, ele ficou na casa de Pedro que devia morar aí, pois pescava no mar da Galileia quando Jesus o chamou. E foi aí que Jesus curou a sogra de Pedro. Na Galileia Jesus começou a pregar a chegada do reino de Deus, que n’Ele tinha o seu cumprimento (vs.14-17), segundo Isaias 9.1-2. Muito se tem discutido a respeito do que significa reino de Deus ou reino do Céu. Estudiosos esclarecem que reino de Deus ou reino do Céu significa o governo divino sobre nós e em nenhum ser humano o governo de Deus se estabeleceu de forma absoluta, como na pessoa de Jesus. E onde há o governo de Deus, aí se estabelecem a paz, o amor, a justiça, a misericórdia e tudo que faz parte do caráter e do agir de Deus. Vejamos neste estudo alguns feitos de Jesus na Galileia. O reino de Deus tem uma dimensão passada, presente e futura. O reino já REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 27 || 27 | J E S U S E O E S TA B E L E C I M E N T O D O R E I N O veio, está vindo e virá. Já veio, ao revelar-se Deus de forma crescente, até à Sua manifestação plena e absoluta na pessoa de Seu Filho Jesus. Está vindo sempre que alguém permite que Deus reine sobre a sua vida ou que contribui para que a vontade d’Ele se estabeleça no mundo. E virá um dia, quando o reino se estabelecer em plenitude, no final dos tempos. A missão dos cristãos é lutar para que o reino de Deus se estabeleça nos corações e na sociedade em geral. Aplicação a sua vida: Como seguidor de Jesus Cristo, que atitudes suas demonstram seu desejo de que a vontade de Deus se estabeleça no meio em que você vive? Logo no início do Seu ministério na Galileia, Jesus chamou quatro discípulos que eram pescadores - dois pares de irmãos: Pedro e André e também Tiago e João (vs.18-22). Eles deixaram suas atividades para seguir a Jesus. Seriam preparados para ajudar no estabelecimento do reino de Deus nos corações. de ver satisfeitas suas necessidades físicas. Outros, no entanto, queriam saciar necessidades emocionais e espirituais. Ele não os separava, a todos atendendo com compaixão, pois, o reino de Deus visa ao benefício do ser humano em todos os seus aspectos. Aplicação a sua vida: Você é um representante do reino de Deus, desejando estabelecê-lo onde está? Como você pode fazer isto? 2. Jesus atendeu o ser humano em sua integralidade - Leia Marcos 1.21 - 45 - 1.21 - Uma parte importante da missão de Jesus era o ensino. Ele se dirigia à mente das pessoas, falando-lhes muitas vezes por parábolas ou fazendolhes perguntas que as levavam a pensar. Deus quer o desenvolvimento da nossa mente, pois foi Ele mesmo quem a criou. Se a nossa religiosidade se baseia apenas em emoções ou numa credulidade ingênua, desvinculada do nosso pensar, alguma coisa nela está errada. O versículo 23 faz como que um resumo do ministério na Galileia.: ensino, pregação e cura das pessoas em geral. O trabalho de Jesus sempre visou ao alívio dos sofrimentos físicos e emocionais do ser humano, o desenvolvimento de sua mente e, sobretudo, o benefício de sua vida espiritual pela comunhão com o Pai Eterno. Esta deve ser a plataforma de trabalho dos Seus seguidores, para ver cumprida a vontade de Deus de que o Seu reino de justiça e paz vá se estabelecendo por este mundo, mesmo em meio a tantos males resultantes do pecado. - 1.22 - A autoridade de Jesus era reconhecida por todos. As pessoas estavam acostumadas com mestres que sabiam de cor as Escrituras e as recitavam mecanicamente, mas não com alguém em quem religião e vida se misturavam tão profundamente. Os últimos versículos deste texto falam que as multidões seguiam a Jesus. Muitos O seguiam apenas com o desejo Temos nós a autoridade de quem crê, sente e vive aquilo que prega? É assim com você? 28 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Aplicação a sua vida: Está você interessado em desenvolver seu conhecimento de Deus, do mundo, de você mesmo? O que você está fazendo, para que isto aconteça? J E S U S E O E S TA B E L E C I M E N T O D O R E I N O | - 1.23-28 - Jesus confrontava os demônios que revelavam saber muito bem quem Ele era. E Sua fama se espalhava (V. 28). - 1.29-45 - Neste texto, podemos observar coisas importantes. a) Jesus curou a sogra de Pedro e muitos outros (vs. 29-34). b) Em meio a tantas atividades, Jesus se dedicava à oração para cumprir o Seu ministério (v.35-39). c) Jesus era sempre impulsionado pela compaixão que sentia pelas pessoas que sofriam (vs.40-41). O leproso era discriminado e ninguém se aproximava dele. Jesus tocou-o sem qualquer discriminação. d) Jesus mandou que o leproso curado não divulgasse a sua cura e fosse ao sacerdote para que este atestasse a ausência de lepra nele (v.44). Era a orientação judaica na época. O sacerdote fazia o papel do médico. O suspeito de estar com lepra deveria ficar isolado, ser examinado até que o sacerdote desse o seu veredito, declarando-o curado; após as ofertas e rituais, ele o liberava para o convívio social (Nm.13.9-11). Hoje as pessoas deveriam ser enviadas aos médicos para que se averiguasse a autenticidade de supostos milagres, você não acha? e visando à cura espiritual do paralítico, Jesus perdoa os seus pecados. Estaria Jesus desejando mostrar a possibilidade de a paralisia daquele homem ser resultante de seus sentimentos de culpa pelos pecados? Jesus não encarava a doença como resultante do pecado do doente ou de seus familiares. Ele disse isso em João 9.2-3. O que Jesus parece mostrar aqui é que mais do que da sua cura física, aquele homem precisava ser liberto do seu pecado. Os escribas, então, O acusam de blasfêmia. Realmente, para quem não cria na divindade de Jesus, só restava achá-lo presunçoso e blasfemo. Não é este um argumento com o qual se pode combater a ideia de que Jesus foi um ser iluminado, de grandes virtudes morais e espirituais, mas não era Deus? Ou Ele era Deus, ou mentiu a respeito de Si mesmo, enganando as pessoas. Neste caso, onde estariam Suas virtudes morais? Conclusão 3. Cresce a popularidade de Jesus Leia Marcos 2.1-12 Vimos neste estudo o começo do ministério de Jesus na Galileia, onde Ele passou o maior tempo de Sua vida. Nesta terra está o Mar de Tiberíades ou da Galileia, cenário de muitos acontecimentos da Sua vida ministerial. Ali Ele proferiu o Sermão do Monte e muitos outros ensinos. Ali estão cidades como Cafarnaum, Nazaré, Caná, Betsaida, Naim, etc, onde fatos importantes ocorreram. A popularidade de Jesus crescia e as multidões O cercavam por onde fosse. Neste texto, um paralítico é trazido até Jesus pelos seus solidários amigos que o desceram pelo telhado. Vendo a fé deles Jesus começou o Seu ministério dizendo que o Reino de Deus havia chegado. A Sua vida acompanhada de todos os Seus sinais e também do Seu ensino, atestava isto. Quantas lições para nós neste texto, hein? REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 29 ESTUDO 7 O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA (O ministério galileu: curas e sinais - 2ª Parte) Introdução Veremos neste estudo, em alguns textos de Marcos e Lucas, mais alguns sinais do ministério de Jesus na Galileia: milagres envolvendo tanto a área física quanto a área espiritual do ser humano, tanto judeus como gentios, tanto ricos como pobres, tanto o homem como a mulher. O Filho de Deus não discriminava pessoas, espalhando entre todos as Suas bênçãos. Jesus sempre sentia compaixão pelos sofredores e era está a Sua motivação para agir em favor deles. Não esperava agradecimentos, nem que as pessoas O apreciassem ou se tornassem artificialmente suas seguidoras. Muitas vezes, recomendava que não divulgassem Seus atos. Muitos se tornaram Seus discípulos atraídos pela Sua compaixão, seu 30 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Lucas 7.1-17 Marcos 3.13-19 Marcos 4.35-41 Marcos 5. 21-43 Marcos 6. 30-44 Marcos 3.31-35 modo de viver e Seus ensinos. O bem que Ele praticava, no entanto, era sempre resultante do Seu coração amoroso e compassivo. Assim deveriam sempre ser aqueles que pertencem ao Seu reino, você não acha? 1. A compaixão de Jesus - Leia Lucas 7.1-17 O centurião era um capitão que comandava cem soldados. Vemos aí que ele estava com um servo muito doente e enviou alguns emissários para pedir a Jesus que fosse curá-lo. Vejamos algumas coisas que nos podem impressionar neste centurião: - Sua humildade e interesse por um servo doente; - Sua fé elogiada pelo próprio Jesus. Quando o Senhor foi se aproximando da casa do centurião, veja o que ele lhe mandou dizer nos versículos 6 a 8. Jesus elogiou então a sua fé, principalmente pelo fato de ele não pertencer a Israel, povo O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA | que se orgulhava de seu relacionamento com Deus. Como tal fato nos ensina! A partir do versículo 11 deste mesmo texto, Lucas relata um outro milagre que Jesus efetuou, levando alegria ao coração de uma mãe que chorava. Seu coração terno e misericordioso se enchera de compaixão por essa mãe. Jesus não veio nos revelar o Pai? Pois é assim o nosso Deus. A morte e a vida se encontraram naquele lugar - a vida representada por Jesus e a morte representada por aquele féretro. Mas, em Jesus, a vida sempre vence a morte. No sentido espiritual, vivemos sempre cercados por aspectos de vida e morte. O que é mal e contrário à vontade de Deus é sempre uma manifestação da morte. Como discípulos de Jesus, devemos levar a vida e seus sinais por onde formos. 2. Jesus acalma a tempestade - Leia Marcos 4.35-41 Este fato, relatado também por Mateus e Lucas, mostra Jesus e Seus discípulos passando de um lado para outro do Mar da Galileia, talvez para estarem mais sozinhos e isolados da multidão, talvez para acharem um outro campo missionário. Vemos neste texto uma demonstração da humanidade de Jesus, quando Ele se mostra cansado e dorme sobre a almofada. Quando ocorre uma tempestade, o que era comum no Mar da Galileia, os discípulos assustados O chamam. Temos aí uma visão da autoridade de Jesus sobre as forças da natureza. Com o fato ocorrido, podemos aprender algumas lições: - Mesmo quando estamos junto com o Mestre e seguimos o caminho da obediência, não estamos livres de sofrer dificuldades; - Nas nossas horas de aperto, Jesus poderá nos acudir em nossos temores, acalmando as tempestades da nossa vida. 3. O amor que não discrimina - Leia Marcos 5.1-43 Neste texto de Marcos, temos três fatos importantes: a cura do endemoninhado gadareno, a cura da mulher que tinha um fluxo de sangue e a ressurreição da filha de Jairo. Vejamos um pouco sobre cada um. - O endemoninhado gadareno - Versículos 1 a 20 Este homem vivia entre os mortos, despido, ferindo-se e atordoado por espíritos demoníacos. Curado por Jesus, estava agora assentado, vestido e em perfeito juízo. Quem antes não era contido por grilhões e cadeias, estava agora calmo e equilibrado, sem que alguém o subjugasse. Muitos males neste mundo não serão debelados por forças externas, mas somente por uma transformação interior produzida pelo Espírito de Deus. Quantos criminosos que nenhuma força policial consegue deter, poderão ser transformados pela força divina em suas vidas! Jesus, com Seu ato, causou prejuízo a criadores de porcos, que trabalhavam naquela região predominantemente habitada por gregos. Será que tal fato nos faz refletir que o valor da vida humana é superior ao dos bens materiais? O povo da cidade em geral não compreendeu isso. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 31 | O AMOR DE JESUS NÃO DISCRIMINA Aplicação a sua vida: Você se dispõe a sacrificar bens materiais para ver o reino de Deus se estender, beneficiando as pessoas? Quais atitudes suas demonstram isso? - A ressurreição da filha de Jairo e a cura de uma mulher - Versículos 21-43 Jairo era um homem socialmente muito importante (v.22). Sua angústia e temor pela morte da filha levaram-no a se prostrar, cheio de humildade e fé, aos pés de Jesus (vs.22-23). Ao atendê-lo, Jesus caminhou em direção à casa dele, mas demorou muito a chegar, por causa da grande multidão que o acompanhava e porque foi interrompido pela necessidade de uma mulher enferma que Ele curou. Temos lições muito preciosas nesses dois fatos entrelaçados: - Jesus trata a todos sem discriminações. Aquele homem era, social e culturalmente, muito mais importante do que aquela mulher. Mas não do ponto de vista de Jesus. - Deve ter sido muito difícil para aquele homem suportar a aflição e a demora de Jesus em atender seu pedido. Era muito difícil não se impacientar ou não desistir. Temos nós paciência de esperar as respostas de Deus às nossas necessidades? - Por outro lado, enquanto ele caminhava com Jesus em direção à sua bênção, outra pessoa era muito abençoada e ele podia, em sua caminhada, aprender muitas lições. A humildade e a fé daquela mulher, bem como o cuidado amoroso 32 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I do Mestre pelas pessoas, lhe ensinaram muito. Aplicação a sua vida: As expectativas quanto ao final da caminhada impedem você de aproveitar a beleza e os ensinos que Deus tem para sua vida durante o percurso? Como você pode agir para evitar isso? - A bênção que ele esperava demorou a realizar-se, mas valeu a pena esperar, pois, ela se tornou muito maior e recebida com muito maior alegria e gratidão do que o esperado. - A mulher, que desejava não ter seu ato tornado público, pois, sua doença lhe dava um sentimento de inferioridade que a acompanhava há muitos anos, foi elogiada por Jesus e saiu dali curada, não apenas física, mas espiritualmente. Deus tem o seu modo próprio de agir e não vê como vê o homem. Conclusão - Cremos na soberania e no poder de Deus? - O que sentimos ao perceber a demora de Deus em nos atender? - Não é verdade que muitas vezes perdemos as bênçãos da nossa caminhada, porque ficamos aguardando o que Deus nos dará ao final, em vez de usufruir da alegria e beleza de cada trecho do percurso? Oremos para que tenhamos um coração sempre disposto a aprender. ESTUDO 8 JESUS Combate A RELIGIOSIDADE EXTERIOR (Controvérsias do ministério galileu - 1ª Parte) Introdução Sabemos que Jesus, muitas vezes, com Seu estilo de vida e Seus ensinos, feriu os preconceitos de muitas pessoas, especialmente daqueles que detinham maior poder na época: os chefes políticos e religiosos. Muitos sacerdotes, escribas e fariseus pertenciam ao Sinédrio, que era um tribunal civil e religioso na Palestina. No tempo de Jesus, o Sinédrio tinha grande influência política. O próprio sumo-sacerdote, que era o presidente do Sinédrio, passou a ser um cargo, cuja nomeação se dava por influência política (1). Como você pode perceber, o poder político e religioso estavam entrelaçados. Com seu modo de viver e ensinar, Jesus ameaçava a situação cômoda em que muitos se encontravam, ao acumularem riquezas e prestígio, des- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Marcos 2.13-28 Marcos 3.1-12 João 5.1-18 João1.1-7 I João 2.1-6 Efésios 3.17-21 prezando e discriminando as classes marginalizadas. Neste estudo, veremos alguns confrontos de Jesus com pessoas que defendiam a observância das leis, acima do amor a Deus e ao próximo. 1. Jesus combate o legalismo - Leia Marcos 2.13-28 Encontramos neste texto a censura que Jesus recebeu pelo seu modo de agir e também pelo comportamento de Seus discípulos. Nos versículos 13 a 17 vemos dois fatos: - Jesus chama um publicano para segui-lo - Os cobradores de impostos, ou publicanos, eram considerados desonestos, sendo odiados pelo povo e desprezados pelos fariseus, pois, serviam aos dominadores romanos e tinham muito contato com os gentios. O chamado de REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 33 || 33 | J E S U S combate A R E L I G I O S I D A D E E X T E R I O R Jesus era para todos, qualquer que fosse a atividade, a posição política ou reputação na sociedade. Qualquer mudança após o chamado deveria vir de dentro para fora e como resultante da convivência com o Mestre. - Jesus é criticado pelos escribas e fariseus por estar entre publicanos e pecadores – Levi, o novo discípulo, talvez tenha dado uma recepção para Jesus, chamando muitos daqueles com os quais ele possuía relações. O partilhar de uma mesma mesa de refeição para o judeu simbolizava comunhão, amizade. Por isso, eles estranharam Jesus estar ali entre as pessoas a quem eles julgavam impuras. Ele declarou então que sempre estará onde estão os que necessitam d’Ele (v.17). Jesus foi sempre censurado pelas pessoas para quem a religião estava baseada no cumprimento de ritos externos. Isto pode acontecer conosco? Valorizar mais o externo e aparente do que a comunhão com Deus e a mudança interior? Valorizar mais as pessoas pelo que fazem do que pelo que são? Do versículo 18 em diante temos dois fatos que receberam a censura dos fariseus: os discípulos de Jesus que não jejuavam como os discípulos de João Batista; e a colheita de espigas que eles realizaram num sábado. Dando Sua resposta, Jesus transmite ensinos de duas naturezas: - Vs. 23-28 - Ele fala a respeito do valor do ser humano, que é maior do que o de cumprimento de ritos religiosos. Diz que as leis não têm valor em si mesmas, pois, foram feitas para beneficiar as criaturas de Deus. Estas sim têm um valor incalculável. - Vs. 21-22 - Com esta alegoria, Jesus transmite o ensino de que o Evangelho não caberia dentro de uma religiosidade 34 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I externa e legalista. Ele dá o exemplo dos odres que eram feitos de couro e guardavam o vinho. Como o vinho novo colocado dentro de odres velhos, que já não tinham flexibilidade, fazia com que os odres se rompessem, assim a espiritualidade verdadeira romperia as estruturas religiosas rígidas e inflexíveis que caracterizavam a religião daquelas pessoas. Que pena! Às vezes as estruturas se rompem, desperdiçando grande parte daquilo que Deus quer dar a todos, porque não se adaptam ao novo agir de Deus no mundo ou no meio do Seu povo. Aplicação a sua vida: Quais atitudes você pretende tomar para viver de acordo com os valores percebidos em Jesus? Deixemo-nos guiar pelo Espírito Santo, tendo uma vida que honre e glorifique ao Senhor. 2. A pressão sobre Jesus aumenta Leia Marcos 3.1-12 Jesus sabia que era observado. Podia deixar de curar o homem, não se confrontando com autoridades que acabariam por tirar-lhe a vida. Resolveu, todavia, dar testemunho daquilo por cuja causa Ele entregaria a sua vida: o valor do ser humano, acima de rituais religiosos. Jesus mandou o homem vir para o meio (v.3). Apesar de, às vezes, por prudência, não querer a divulgação do que fazia, já que Sua vida corria risco, Jesus não escondia por covardia Seus posicionamentos. Logo mostrou que estava do lado dos que sofrem e não do lado do cumprimento de regulamentos que, embora formulados com o objetivo de beneficiar o ser humano, pela sua prática mecânica e inflexível acabavam por prejudicá-lo. J E S U S C ombate A R E L I G I O S I D A D E E X T E R I O R | No versículo 6 vemos que as confabulações já começavam para tirar a vida de Jesus. Por que os líderes religiosos desejavam tanto eliminá-lo? Talvez a vida de Jesus desmascarasse aquilo que era o seu orgulho: a prática de uma religião ritualista, que não atingia o seu interior. Além disso, eles tinham uma posição social e política que era ameaçada por Jesus, ao atrair tantas pessoas, levando-as a questionar o que para eles era tão importante. Se Jesus vivesse fisicamente em nosso mundo, não encontraria a mesma resistência por parte de muitos de nós? Não desejariam muitos religiosos, que se dizem cristãos, eliminá-lo também? 3. A cura de um paralítico - Leia João 5.1-18 Jesus vai rapidamente a Jerusalém. Coloco o fato no ministério galileu porque, mesmo acontecido na Judeia, foi dentro do período do ministério galileu. Ele foi a Jerusalém e logo voltou. Mais uma vez Jesus efetua uma cura no sábado. Entre os que ali estavam, havia este homem há 38 anos paralítico. Jesus perguntou se ele desejava ficar são. Parece uma pergunta sem sentido, já que aquele paralítico estava sempre ali. Mas Jesus gostava de fazer as pessoas pensarem. Estaria ali por desejar realmente a cura? Para despertar piedade ou conseguir algo? Queria mostrar como as outras pessoas são egoístas? Já teria pedido ajuda? Estaria acomodado com sua imobilidade? Tal pergunta, cuja resposta nos parece óbvia, várias vezes foi feita por Jesus. Talvez para nos ensinar que o nosso desejo verdadeiro é condição para o agir de Deus em nossa vida. Jesus curou o paralítico e ele carregou seu leito, sendo criticado por ser aque- le dia um sábado. Interessante é que o homem curado, ao ser interrogado, não identificou o seu benfeitor (vs. 10-13). Jesus curava por compaixão e não para receber notoriedade ou mesmo agradecimentos. Aplicação a sua vida: Quais são os seus sentimentos quando suas boas ações não são reconhecidas? Ao encontrar-se com o curado, Jesus disse o que está no versículo 14. Sabemos que Jesus não relacionava a doença de alguém ao seu pecado pessoal, como Ele disse aos discípulos em João 9.2-3. Mas nesse caso específico, Jesus pareceu ver a doença daquele homem como resultante de algum pecado dele e, por isso, advertiu-o para que não continuasse no seu pecado, a fim de que não lhe acontecesse coisa pior. Ou essa coisa pior podia também ser a separação de Deus? O versículo 16 diz que os judeus agora procuravam matar Jesus. Era a hostilidade aberta que começava. Conclusão Lemos em Atos que Jesus andou por toda a parte fazendo o bem (10.38b). Discípulos Seus devem espalhar o bem onde estejam, mas sempre cuidando para que a sua conduta resulte da atuação do Espírito Santo em suas vidas. Esta produzirá amor e compaixão, sem qualquer interesse por visibilidade ou retribuições de qualquer tipo. (1) O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1979. p.1535 REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 35 ESTUDO 9 JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS (Controvérsias do ministério galileu - 2ª Parte) Introdução Este estudo trata um pouco mais das controvérsias de Jesus enquanto desempenhava Seu ministério na Galileia. Com Seus atos, Jesus estava sempre desrespeitando tabus e ideias religiosas que prejudicavam as pessoas a quem Ele viera resgatar. Por isso, a hostilidade e a oposição a Ele iam crescendo. Ele teve sempre de escolher entre o cumprimento de Sua missão e o “estar bem” com todos. Não foi esta a tentação que o Homem Jesus recebeu a Sua vida inteira? Deixar de lado a Sua missão, para se “dar bem” em tudo? Não foi isto que o diabo lhe ofereceu: “Eu te darei tudo isto, se prostrado me adorares? ” (Mt.4.9). Jesus resistiu. A Bíblia diz que Ele foi “obediente até à morte e morte de cruz. Por isso, Deus também O exaltou com soberania e Lhe deu o nome que está acima de qualquer outro nome” (Fl. 2.8-9). 36 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Lucas 7.36-50 Mateus 12.9-21 Mateus 12.22-30 Mateus 9.35-38 Mateus 10.1-15 Marcos 6.1-6 Quando desobedecemos a Deus, deixando de cumprir a nossa missão para receber as glórias do mundo, estamos nos submetendo à tentação de Satanás. Pense sobre isto! 1. Um jantar surpreendente - Leia Lucas 7.36-50 Jesus foi jantar na casa de Simão, um fariseu. No estudo anterior nós O vimos na casa de um publicano, pessoa desprezada pelos fariseus. Jesus surpreendeu por não respeitar os preconceitos sociais e religiosos de Sua época, amando antes a todos os seres humanos. Os fariseus pertenciam a uma seita muito exigente quanto ao cumprimento de leis e rituais religiosos. Muitos valorizavam mais o cumprimento de tais leis do que as qualidades internas do caráter. Ali compareceu uma prostituta, expondo-se ao desprezo social e religioso. Ela derramava não apenas o perfume, mas suas lágrimas sobre os pés de JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS | Jesus. Por que ela chorava? Pela dor que tal vida lhe provocava? Por sentir que Jesus a amava, tendo consciência de que só este amor seria capaz de resgatá-la da vida promíscua e infeliz? O fariseu ficou chocado por ver Jesus aceitando que tal mulher O tocasse (V.39). Era o toque de uma pessoa considerada grandemente impura pela sua sociedade. Talvez aquele fariseu fosse sincero, ao defender rigidamente tabus religiosos que aprendera desde criança. Era escravo dos seus preconceitos. Quais são os nossos preconceitos? Jesus mostrou que Ele sabia quem era a mulher e que aceitava a sua homenagem. Em vez de olhar simplesmente a reputação dela, Seu olhar viu um coração cheio de humildade e uma vida que podia ser resgatada. A seguir, Jesus ensinou a Simão sobre o amor e o perdão (vs. 40-47). Pensamos nós que temos sido pouco ou muito perdoados pelo Senhor? A nossa noção estreita de pecado, simplesmente como descumprimento de deveres e tabus, pode nos fazer pensar que somos pouco pecadores. Desconsideramos o nosso egoísmo, o nosso orgulho e a nossa vaidade, nossa falta de amor e compaixão pelo próximo e tantas outras mazelas do nosso caráter, deixando de perceber o quão longe da vontade de Deus estamos. Em consequência disso, somos menos gratos pelo perdão divino, além de mais orgulhosos e condenadores daqueles que, a nosso ver, tem mais pecados que nós. E a nossa “santificação” passa a basear-se simplesmente em cumprimento de rituais religiosos e deveres morais. Novamente ali Jesus perdoou pecados, causando admiração. Aplicação a sua vida: Em quais situações você tem julgado as pessoas simplesmente pelo seu comportamento, desconsiderando suas dificuldades e sofrimentos? 2. O rei manso e sofredor - Leia Mateus 12.14-30 Depois de uma cura no sábado e vendo a oposição a Ele crescer, Jesus se retirou, sendo sempre acompanhado pelas multidões. Por um lado, Jesus procurava não se expor à morte e ao perigo, mas, por outro lado, nunca fugia de Sua missão. Pedia que as pessoas não O divulgassem, mas não deixava de falar e fazer o que era preciso. Neste texto, Mateus mencionou uma profecia de Isaías referente ao Messias (vs.18-21). Ele cumpriria Sua missão sem estardalhaço (v.19), protegendo os fracos (v.20) e não fazendo acepção de pessoas (v.21). Depois da menção a esta profecia (Is. 42.1-4), Mateus fala da expulsão de um demônio que causou admiração a toda a multidão. Para os incrédulos, que não desejam crer, os sinais não adiantam, pois, eles tratam de explicá-los de uma maneira que satisfaça sua incredulidade. Não são as obras espetaculares que farão nascer em alguém a fé, mas a humildade e a fome de justiça de um coração que deseja a sabedoria de Deus. Jesus fala então de dois reinos: o de Satanás e o de Deus. Mateus é o Evangelho que mais usa a expressão “reino dos céus” e o que mais se refere a Jesus como Rei. O autor tem por objetivo convencer os judeus da messianidade de Jesus. Reino dos céus e reino de Deus significam a mesma coisa. Mateus é o evangelista que evita usar a expressão “reino de Deus”, usando sempre “reino dos céus”. Segundo os estudiosos, como ele se dirige especialmente aos judeus, não quer ferir a suscetibilidade deles usando a palavra Deus. Estes evitavam usar tal vocábulo por ser sagrado demais. O que significa reino de Deus ou reino dos céus? Estudiosos discutem sobre isto e alguns pensam que é o governo de Deus sobre nós, podendo ser visto em três tempos: REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 37 | JESUS SEMPRE SURPREENDE AS PESSOAS a) o Reino já chegou, plenamente trazido por Jesus com Sua vida de absoluta submissão a Deus Pai e, especialmente, com Sua ressurreição que anuncia a vitória final do reino. Pertencem ao reino aqueles que seguem a Cristo, o Rei, vivendo de acordo com os valores desse reino e lutando pelo seu estabelecimento no mundo. tribuindo na solução das necessidades físicas, emocionais e espirituais de tantos que sofrem. Podemos orar “Venha a nós o teu reino e seja feita a tua vontade” se vivemos vidas fúteis e egoístas, cuidando apenas dos nossos interesses pessoais, sem nada fazer pelo estabelecimento da vontade de Deus neste mundo? b) o Reino chega a cada vez que novas pessoas se submetem ao Senhorio de Jesus como Rei em suas vidas. Também quando valores como o amor, a justiça, a solidariedade, a paz, etc, que são valores do reino de Deus, penetram onde antes havia os valores contrários. Aplicação a sua vida: Como a sua maneira de viver tem mostrado seu desejo de que o Reino de Deus venha a nós? c) o Reino chegará em plenitude, quando não houver mais a presença do pecado, mas o domínio do Rei Jesus for completo. Como súditos do Reino de Deus não podemos nos conformar, vendo prevalecer em nosso mundo o que é contrário aos valores divinos. Devemos lutar pela disseminação nos corações humanos de tudo que faz parte do coração do nosso Rei: amor, justiça, paz, enfim, todo o desejo de Deus. Seja qual for a nossa atividade diária ou profissão, que trabalhemos dentro dos princípios do reino de Deus e para o benefício das pessoas que Ele ama. 3. Um pedido de oração - Leia Mateus 9.35-38 e Marcos 6.1-6 Após relatar vários fatos do ministério de Jesus, Mateus fala que Ele, vendo tantas necessidades, faz a Seus discípulos um pedido de oração que é para nós ainda hoje (v.38). Recebemos pedidos de oração das pessoas, mas recebê-lo de Jesus é uma grande responsabilidade, não acha? Oremos para que muitos se levantem, con- 38 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I No capítulo seguinte de Mateus, vemos Jesus investindo Seus discípulos de autoridade para executar a Sua obra. A mensagem aí é não apenas orar, mas ir. Oração e trabalho andam juntos! O segundo texto (Mc.6.1-6) mostra Jesus ensinando na sinagoga em Nazaré, a Sua cidade. Vendo a Sua sabedoria e o Seu poder, as pessoas se escandalizavam por ser Ele filho de uma família simples e conhecida. A incredulidade criou obstáculos às obras de Jesus naquela cidade. Teremos nós os mesmos preconceitos, desvalorizando pessoas perto de nós, através de quem Deus quer promover nosso crescimento? Conclusão As obras de Jesus abençoavam muitas pessoas, enquanto produziam rancor e ódio em muitas outras. Os sofredores e os humildes que desejavam a verdadeira sabedoria, queriam estar perto d’Ele. Os que se sentiam prejudicados em seus interesses mesquinhos, queriam acabar com Sua vida. Creio que um bom teste para sabermos se, como igreja, temos um ministério semelhante ao de Jesus é este: a quem estamos agradando ou desagradando? ESTUDO 10 A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i) (Sermão do Monte: 1ª Parte) Mateus 5. 1 - 16 Introdução O Sermão do Monte, que está em Mateus 5-7, conhecido como a ética do reino de Deus, possui vários trechos do seu conteúdo, dispersos em vários contextos da narrativa de Lucas. É um sermão magistral que torna os súditos deste reino humildes, pela consciência de sua incapacidade de cumpri-lo em suas vidas, sem a graça proveniente do exemplo de vida do seu Rei, e o poder do Seu Santo Espírito, já habitando naqueles O seguem. O destaque que Mateus dá ao fato de que o sermão foi feito no monte, pode ter sido motivado pelo desejo de comparar Jesus com Moisés, que trouxe a lei do monte Sinai. É bom lembrar que, segundo muitos estudiosos, Mateus dirigiu seu Evangelho de modo especial aos judeus. Jesus, no entanto, “tanto maior que Moisés, quanto maior que a casa é aquele que a edificou”, como diz o escritor aos Hebreus (3.3), dá uma nova ética aos que pertencem ao Seu reino, isto é, aqueles que vivem sob a Sua autoridade. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 5.1-12 Romanos 8.1-8 Romanos 12.9-21 Gálatas 5.16-23 Efésios 4.1-7 Mateus 5.13-16 O Sermão do Monte não se constitui de um código de regras exteriores, mas de princípios e valores do reino de Deus. Em quatro estudos (10 a 13), serão considerados os princípios gerais do Sermão do Monte, não se estudando particularmente cada ensinamento, já que, o que se pretende nesta série de estudos, é uma visão panorâmica da vida e ministério de Jesus com Seus grandes ensinos. Neste estudo veremos, em duas partes, o texto de Mateus 5.1-16. 1. Os bem-aventurados Leia Mateus 5.1-12 Este trecho do sermão é conhecido como “As bem-aventuranças”, que tem o sentido de “felicidade”. Cada uma começa com a expressão “Bem-aventurados...”, que tem o significado de “felizes...” Todas as bem-aventuranças apresentam os valores que podem tornar alguém feliz. Jesus relaciona aí qualidades de caráter que Ele deseja ver na vida de todos que O seguem, para que possam servir de sal e luz neste mundo. São virtudes interiores, isto é, que caracterizam o ser e não simplesmente o fazer. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 39 || 39 | A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i) Ser humilde de espírito, sensível, manso, sedento de justiça, misericordioso, limpo de coração, pacificador, capaz de sofrer perseguição e continuar cultivando estas virtudes, é o que Jesus deseja de Seus discípulos. Veja de forma bem sucinta o significado de cada bem-aventurança encontrada neste texto: - Os humildes de espírito - Não são presunçosos, pois, se julgam extremamente pobres e necessitados da graça de Deus. Não se julgam sábios, estando sempre dispostos a reconhecer os seus erros, a aprender. - Os que choram - São sensíveis ao sofrimento de outros, à sua própria iniquidade e ao mal e sofrimento encontrados no mundo. - Os mansos - Não respondem à violência com violência. Estão dispostos a não revidar, sabendo que a vingança não é caminho para o bem. - Os que tem fome e sede de justiça - Desejam ardentemente a justiça em sua própria vida, na sociedade e no mundo. - Os misericordiosos - Sentem uma compaixão que os impulsiona a agir em favor do próximo. - Os limpos de coração - Reconhecem e confessam suas falhas, não cultivando sentimentos negativos ou dúbios em seu coração... - Os pacificadores - Estando em paz com Deus, procuram promover a paz onde estiverem. - Os que são perseguidos por causa da justiça - Não se curvam diante dos valores injustos da sociedade. Por viverem uma vida que se contrapõe à injustiça, são perseguidos e sofrem. Não é verdade que no mundo em que vivemos, tudo parece anunciar que as pessoas felizes são justamente as que vivem valores contrários aos que estão sendo ensinados por Jesus? Através do 40 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I estilo de vida e das propagandas que presenciamos, os que parecem felizes no mundo são os orgulhosos, vaidosos, insensíveis, os que revidam o mal que recebem, os que não se importam com a justiça, os que não têm misericórdia, os que não têm o coração limpo e nem buscam a paz. Estes nunca serão perseguidos por viverem os valores anunciados por Jesus Cristo, pois se ajustam aos valores do meio em que vivem. E então? Teria Jesus razão? Podem ser felizes as pessoas que desejam as virtudes pregadas por Ele? Depende do que se entende por felicidade. Se por felicidade, entende-se prazer momentâneo, superficial e barato, talvez não se possa realmente chamar de felizes os que praticam tais virtudes. Mas, se por felicidade entende-se a satisfação do desejo humano mais profundo, que é parecer-se com o Pai, isto é, se por felicidade entende-se uma alegria profunda, espiritual, duradoura, que nada nem ninguém poderá tirar, então, a resposta é SIM. Só tais pessoas conseguirão ser realmente felizes, pois, estão começando a ser aqui aquilo para o qual foram criadas. Estão cumprindo o propósito de suas vidas. E um dia, fora deste mundo mau e injusto, terão com fartura tudo pelo qual as suas almas mais anseiam. As virtudes encontradas nas bemaventuranças não podem ser vistas de forma legalista, pois, não são leis a serem obedecidas, mas alvos a serem desejados com sinceridade de coração. Jesus destaca aí não o fazer, mas o ser. Embora as nossas ações sejam muito importantes, até mesmo para construir o nosso ser, o desejo de Jesus é que o nosso fazer se torne, cada vez mais, resultante da nossa forma de ser. Podemos praticar atos de misericórdia sendo até cruéis, mas não é isto o que Deus quer. O que Ele deseja é que a aquisição dessas virtudes seja o nosso mais caro alvo. Tal alvo só poderá ir sendo alcançado mediante o domínio do Espírito Santo nas nossas vidas. A ÉTICA DO REINO DE DEUS (i) | Aplicação a sua vida: Você deseja as virtudes anunciadas aí por Jesus? Se a sua resposta é sim, quais atitudes você deverá tomar para que isto aconteça? O Evangelho verdadeiro sempre fará com que nossos pontos de vista se aproximem dos pontos de vista de Deus. Estejamos atentos, no entanto, pois os valores não cristãos em nossa cultura entram tão sorrateiramente em nós, contaminando-nos, que podem se tornar o estilo de vida que vivemos e transmitimos, sem que percebamos a sua contradição com o evangelho. 2. Sendo sal e luz - Leia Mateus 5.13-16 Veja que belas figuras Jesus usa para comparar Seus discípulos. Estes são os que levam a sério ser as pessoas que o seu Mestre quer neste mundo, de acordo com os ensinos dos versículos anteriores. Pense nas funções do sal e da luz... As funções do sal têm sido principalmente conservar e dar sabor. Não deixar que os alimentos entrassem em estado de putrefação foi uma importante função do sal quando não se possuía geladeira. E dar sabor aos alimentos é algo pelo qual muito valorizamos o sal. A função da luz é clarear, mostrar a realidade. Estando na luz, a pessoa percebe onde está, como está, para onde deve ir, etc. Se há algo errado, a luz ajuda a encontrar a solução. Aplicação a sua vida: Como você poderá ser sal, dando sabor ao ambiente em que vive? Como ser luz para facilitar às pessoas encontrar a direção correta? O v.16 diz que não basta proceder bem. É preciso ter motivação correta: a glória do Pai. Não podemos fazer o bem com atitude de orgulho e vaidade, pois, tal modo de agir nos afasta de Deus e das pessoas. Lembremo-nos: “Bem-aventurados os humildes de espírito.” Só a Deus, a honra e a glória! Só com a atuação do Espírito Santo em nós, podemos caminhar cada dia na direção de ser as pessoas sonhadas por Jesus, sendo “sal e luz” nesta sociedade que está tão perdida. Como sal, que evitemos a sua deterioração e que lhe demos um melhor sabor. Como luz, que lhe facilitemos a visão do caminho a seguir. Tudo isto com muita humildade e dependência do Espírito Santo. Que propósito sublime e desafiador! Conclusão Quem não cultiva em seu coração o desejo de ser o que Jesus ensina nas bem-aventuranças, não pode se proclamar seguidor de Cristo. É difícil? Sim! Mas quem disse que o cristão é chamado para o que é fácil? A vida cristã é desafiadora. Este é o ideal de Deus para nós e por isso deve ser também o nosso ideal. Na medida em que nos reconhecermos falhos em alcançar tais virtudes, a humildade deve nos cobrir e devemos reconhecer no Senhor a perfeição absoluta. O que Ele quer de nós é o desejo profundo de nos assemelharmos a Ele, dependendo do Seu Santo Espírito. A cada vez que falharmos, teremos a graça perdoadora de Deus e a força estimuladora do Espírito Santo para que continuemos. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 41 ESTUDO 11 A ÉTICA DO REINO DE DEUS (ii) (Sermão do Monte - 2ª Parte) Mateus 5.17 a 6.18 Introdução Desejaria Jesus frustrar as pessoas com as demandas do texto acima? Não! Jesus vivia rodeado por pessoas que obedeciam rigidamente a leis e normas religiosas, se sentiam orgulhosas e, por isso, desprezavam os que não as cumpriam. Jesus queria que as pessoas, ao perceberem as demandas de Deus, se tornassem humildes, sabendo que satisfazê-Lo não era fácil. Que não podiam julgar outros simplesmente pelo fazer, pois, as demandas divinas vão muito além disso. Só numa relação estreita com Deus, pode alguém buscar ser a pessoa segundo o Seu ideal. “A ética do “Sermão do Monte”, como disse C. H. Dodd, é a ética absoluta do reino de Deus”.1 Este estudo está dividido em três partes: na primeira, Jesus apresenta Sua posição de defensor e não de destruidor da lei; na segunda, Jesus apresenta a su42 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 5.17-26 Mateus 5.27-37 Mateus 5.38-48 Mateus 6.1-18 Romanos 13.8-14 Romanos 11.33 – 12.2 perioridade entre Seu ensino e a lei mosaica, conforme as interpretações literais e legalistas dos escribas e fariseus; na terceira, Jesus faz ver que o que importa na vida espiritual não é a aparência, mas a atitude do coração. 1. O Deus da justiça Leia Mateus 5.17-20 Jesus diz aqui que a verdadeira justiça vai muito além do cumprimento frio das leis. Estas estavam sendo cumpridas, em seu verdadeiro espírito, através de Sua vida. Ele chama à responsabilidade aqueles que, além de violar a lei, ensinam isto a outros, bem como elogia os que fazem o contrário. Jesus não combate a lei. O que Ele combate aí é a interpretação da lei que destaca o fazer e não o ser, o que motiva os seus praticantes a ficarem cheios de orgulho e presunção e a julgarem os demais como inferiores e dignos de desprezo. A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( ii ) | No versículo 20 Jesus diz que a justiça de quem O segue deve superar à dos escribas e fariseus. Isto tanto podia se referir à conduta que Deus deseja, como à noção de justiça que o Seu seguidor deveria ter. Como seguidores de Jesus, tanto o nosso proceder como a nossa noção de justiça, devem ir além de preceitos legais, buscando o nosso modelo no caráter de Deus espelhado em Jesus. 2. Além do cumprimento de leis - Leia Mateus 5.21-48 Neste texto fica claro que Jesus não está desvalorizando a lei, mas indo muito além dela. Ele apresenta a superioridade entre o ideal de Deus e o cumprimento frio e formal da lei. a) Não apenas não matar, mas estar bem com o próximo, amando-o e considerando-o (vs.21-26). b) Não apenas não praticar o ato de adultério, mas ter um coração puro (vs. 27-28). c) Não apenas legalizar a situação ao separar-se da mulher, mas não separarse dela por razões pequenas e egoístas (vs.31-32). d) Não apenas cumprir os juramentos, mas ter uma palavra tão séria e respeitada que não seja preciso jurar (vs. 33-37). e) Não apenas não se vingar, mas agir com paz e misericórdia, dando sempre mais do que é exigido (vs. 38-42). f ) Não apenas amar o próximo, mas amar o inimigo (vs. 43-47). Depois de proclamar a diferença entre a antiga e a nova aliança, Jesus diz que nosso modelo é Deus, a quem devemos imitar (vs. 45-48). É fácil? Não!!! Mas um Deus perfeito poderia se contentar com algo menor que a perfeição? Ele espera que n’Ele busquemos a perfeição, desejando-a para as nossas vidas. E Ele nos ajudará em nossas fragilidades na busca de tão grandioso alvo! Não vamos discutir no âmbito deste estudo o conteúdo de cada uma das orientações dadas, pois, o que visamos aqui é um estudo mais panorâmico e cada orientação destas exigiria um estudo especial. Nosso desejo é mostrar que a religião de Jesus não é uma religião de aparência, mas, de conteúdo interior. A característica interna é que deve se refletir nos atos externos. SER é mais que simplesmente FAZER. Alguém poderia perguntar: “Por que Jesus colocou alvos tão difíceis de se alcançar? ” Como os religiosos do tempo de Jesus que cumpriam os preceitos da lei ficavam presunçosos e cheios de justiça própria, isto pode acontecer conosco também. Estabelecendo alvos tão grandiosos, Jesus nos “puxa o tapete”, fazendo-nos cair em Seus braços, inteiramente dependentes de Sua graça. Só ela nos perdoa e nos ajuda a viver dentro dos Seus padrões. O padrão de Jesus é muito alto e sempre estaremos em débito com Ele. Isto deve nos tornar humildes, não julgadores de outros, além de mais dependentes do Espírito- Santo. Desejar parecer-se mais com o seu Mestre é a suprema ambição do verdadeiro discípulo. Parecer-se com Jesus não é fácil. Mas se esta for realmente a nossa ambição, Deus nos ajudará a caminhar nessa direção, pois, este é também o Seu querer. Aplicação a sua vida: Como você demonstra que, mais do que cumprir deveres, você quer SER a pessoa que Deus deseja? REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 43 | A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( ii ) 3. As motivações que agradam a Deus - Leia Mateus 6.1-18 Jesus diz que Seus discípulos não deveriam nunca fazer algo para serem vistos pelos homens. Ele ensina que práticas religiosas com finalidade exibicionista não tem qualquer valor diante de Deus. A verdadeira santidade é interior, podendo se revelar exteriormente, é claro, mas sem qualquer intenção de receber admiração e louvor. Dentro deste texto estão as esmolas, o jejum e a oração, que eram importantes expressões da piedade judaica e que, conforme eram praticadas, poderiam provocar da parte de muitos a observação: “Como ele é religioso!”; “Como ele é santo!” E muitos praticavam tais ações para serem admirados. Tal motivação para agir, conforme o ensinamento de Jesus, não deveria nunca ser a atitude de alguém que O segue. Por isso, Ele manda fazer tudo de uma forma secreta (v.1). As esmolas (vs.2-4) - A ajuda material ou qualquer outra ajuda a alguém por parte de um cristão não deveria ser resultante simplesmente de sentimentalismo, mas consequência de atitudes como compaixão, responsabilidade, justiça e consideração. Nunca poderemos nos julgar superiores por estarmos em condição de ajudar alguém, pois, tudo que temos é fruto da graça de Deus. Além disso, muitas vezes, as diferenças entre as pessoas que podem ajudar e as pessoas que precisam de ajuda, são consequência da injustiça do nosso mundo de pecado. E não deveríamos então, se temos condições favoráveis, ajudar os desfavorecidos? As nossas boas ações podem também contribuir para a construção do nosso caráter e isto agrada ao Senhor. Com espírito exibicionista, no entanto, elas não nos ajudarão nisto. A oração (vs.5-15) - Jesus ensina aí a oração que se conhece como “Pai Nosso”. 44 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Tal oração tem ensinamentos muito preciosos. Que os primeiros pedidos devem expressar o desejo profundo de que o nome de Deus seja por todos considerado santo, que o Seu governo (reino) justo e santo possa atingir esta terra e que nela a vontade d’Ele seja feita. O discípulo cuja oração sincera é esta terá sua vida gasta na conquista desses desafios. Depois destes, o pedido é pela provisão das necessidades físicas e espirituais, sabendo-se que Deus é o grande provedor de todas as carências. O jejum (vs.16-18) - Era uma prática da religião judaica também feita muitas vezes com espírito de orgulho e exibição, e Jesus orienta aí a alguém que deseje jejuar, como fazê-lo. Aplicação a sua vida: Quais atitudes suas podem contribuir para que o nome de Deus seja santificado, para que o Seu reino possa imperar nos corações e a Sua vontade seja feita na terra? Conclusão O Evangelho tem a ver com aquilo que somos. Nosso viver deve ir além do que a lei preconiza e a nossa motivação ao cumprir os preceitos da lei, nunca deverá ser apresentar-nos diante de outros. Jesus, no entanto, quer a nossa prática de boas ações e admite que elas possam ser vistas por outros. Você viu isto em textos do próprio Sermão do Monte, como Mateus 5.16. Ele deseja, no entanto, que em tudo que façamos, a motivação seja honrar o nosso Pai. Na dependência da graça de Deus, cresçamos na direção de ser as pessoas que Ele deseja. ________ (1) Tasker. Mateus, Introdução e Comentário, p. 48 ESTUDO 12 A ÉTICA DO REINO DE DEUS (iii) (Sermão do Monte - 3ª Parte) Mateus 6. 19 – 34 Introdução Nos dois estudos anteriores, vimos como Jesus estimula o desejo de se ter um caráter semelhante ao de Deus e que se valorize não a aparência, mas o crescimento em direção ao alvo de se parecer com Aquele que foi a encarnação de Deus no mundo. Jesus muda a ordem de valores deste mundo pecador. Neste estudo, serão apresentados textos em que Ele fala do valor das riquezas e de como devem ser elas consideradas por aqueles que pertencem ao Reino de Deus. Ele nos adverte sobre as verdadeiras e as falsas riquezas e sobre o que deve ocupar o centro das nossas vidas. Nos dois estudos anteriores, vimos sobretudo como um seguidor de Jesus deve ser. Neste, Jesus fala-nos como devemos agir em determinadas circuns- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 6.19-24 Mateus 6.25-34 Romanos 15.1-7 I Timóteo 6.11-12, 17-21 I Tessalonicenses 5.15-23 Hebreus 12.1-4 tâncias, dando-nos orientações que nos ajudarão na vida prática. 1. Os verdadeiros valores Leia Mateus 6. 19-24 Nos versículos 19 a 21 Jesus compara as riquezas materiais e as espirituais, sendo que as primeiras são transitórias (as da terra), não podendo ser levadas para além desta vida. As últimas, no entanto, são aquelas que poderão ser usufruídas em toda a vida futura, pois, fazem parte de nós, sendo valores internos e duradouros. As nossas virtudes de caráter, o nosso agir como fruto do domínio do Espírito Santo em nós, as pessoas que ganhamos como novos súditos do reino de Deus, todos estes são valores eternos. Mas o dinheiro e a aparência são coisas que ficarão aqui. Por isso, Ele nos recomenda ajuntar tesouros no céu e ter aí o nosso coração. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 45 || 45 | A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( iii ) Uma vez ouvi sobre isto, uma ilustração que achei muito interessante. O conferencista, um líder indiano que trabalhava na Visão Mundial, disse que, se no livro de Apocalipse lemos que as ruas no céu são de ouro, a mensagem que deveríamos receber é que lá o ouro não valerá nada, sendo pisado por nós. O que devemos, disse o conferencista, não é levar os valores daqui para lá, dizendo: “Que bom! Lá teremos ruas de ouro!” Em vez disso, deveríamos trazer os valores de lá para cá pensando: “Se o ouro de nada valerá na vida futura, por que valorizá-lo tanto aqui?” O que Jesus destaca é que devemos priorizar o que tem valor permanente. Isto não significa sermos indolentes, não nos preocupando com o progresso nosso e dos que estão sob nossa responsabilidade. A questão é onde colocamos o nosso coração, a nossa paixão, o primeiro lugar em nossas vidas. Jesus teve seguidores ricos. Ele não pediu a Zaqueu que deixasse os seus bens. Quando Jesus disse a Zaqueu “Hoje a salvação chegou a esta casa”, Ele mostrava que a salvação já estava operando na vida de Zaqueu, mudando o valor que ele dava às riquezas. Ele, que parecia querer tanto ficar rico, agora queria distribuir seus bens. Se você ainda não leu ou não se lembra do encontro de Zaqueu com Jesus, leia Lucas 19.1-10. A salvação de Jesus em nós muda os nossos pontos de vista, a respeito de nós mesmos e a respeito do mundo que nos cerca. E isto nos leva ao próximo texto. - Vs. 22-23 - Se os nossos olhos espirituais forem bons, dar-nos-ão um ponto de vista correto a respeito das coisas e assim todo o nosso ser terá luz. Quem valoriza mais a aparência do que a essência, está tendo um ponto de vista que contraria o Evangelho. Está em trevas! 46 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Este texto termina com a advertência de que não podemos servir a dois senhores (v.24). Se servimos a Jesus, não podemos servir a Mamon (as riquezas). Naturalmente, neste mundo, temos coisas que prezamos: dons, capacidade, influência, amigos, familiares e mesmo bens materiais. Mas, todas estas coisas devem estar sob o senhorio de Jesus, sendo usadas para o nosso bem e colocadas a serviço das pessoas que Ele ama. Do contrário, se tornarão ídolos para nós, empobrecendo-nos dos valores permanentes. Aplicação a sua vida: O que você mais ambiciona para a sua vida? Este é o valor que domina o seu coração! 2. Vivendo com sabedoria Leia Mateus 6.25-34 Neste texto, Jesus fala sobre os cuidados e inquietações provenientes da ansiedade pelos bens materiais: “Não andeis inquietos... A vida e o corpo valem mais do que o alimento e o vestido. Olhai os lírios que não trabalham, nem fiam e são vestidos de forma tão esplendorosa... Os pássaros não trabalham e Deus os alimenta”. Será que Jesus está condenando aí o trabalho, a produção, o cuidado com o futuro? Claro que não! A Bíblia deve ser vista no seu todo e não através de textos isolados. Há nela condenação à preguiça e à imprudência. O que Jesus recomenda aqui é que não deixemos que a ansiedade e a inquietação tomem o nosso tempo e roubem as nossas energias, a ponto de prejudicar a nossa vida espiritual, os nossos relacionamentos, a nossa saúde e até o nosso trabalho. Trabalhar sim! Prover nossas necessidades, é claro que precisamos! Devemos ser responsáveis. Deus nos deu talentos A É T I C A D O R E I N O D E D E U S ( iii ) | e inteligência, para que os empreguemos providenciando o bem-estar nosso e daqueles que estão sob os nossos cuidados. Que não nos descuidemos disso. O que Ele nos adverte, no entanto, é que não devemos gastar o nosso tempo e as nossas emoções, inquietando-nos por coisas que muitas vezes não estão sob o nosso controle, ou que acontecerão a seu tempo, independentemente de nós. Muitas vezes, as preocupações além da medida certa, não apenas não nos ajudam a conquistar nossos alvos, mas também nos impedem de enxergar os caminhos e as oportunidades que Deus coloca à nossa frente. A ansiedade só é útil em certa medida, ao nos impulsionar a agir positivamente. A ansiedade, da qual fala o texto, é aquela que prejudica as nossas ações. Que nos desorganiza e tolhe nossos movimentos. Jesus diz, então, que seus discípulos devem buscar em primeiro lugar o reino de Deus e a Sua justiça (v.33). Buscar o reino de Deus significa buscar o domínio de Deus na nossa vida, tendo como objetivo viver os valores do reino de Deus proclamados neste sermão, especialmente nas bem-aventuranças, bem como lutar pelo estabelecimento deles neste mundo. Este texto termina com a recomendação do seu início: “Não andeis inquietos” (v.34). O que Jesus deseja é que o amanhã não seja a causa de nossas preocupações hoje. Devemos sim, ser prudentes com o amanhã, fazendo hoje o que é possível e necessário para viver bem os dias futuros. Não podemos, no entanto, viver ansiosos com o que só poderemos resolver amanhã. Isto nos tornará incapazes para as lutas de hoje. A ansiedade, além de ser inútil, demonstra incredulidade. O que compete ao cristão é ser trabalhador e prudente no dia de hoje, sabendo, contudo, que as inquietações só poderão lhe roubar a paz, sem acrescentar qualquer coisa à sua vida. Aplicação a sua vida: Há tendência à ansiedade em você? Isto pode até fazer parte do seu estilo de personalidade, mas não é o que Deus quer. Ele deseja o seu bem e isto prejudica você. É possível trabalhar por uma mudança em seus pontos de vista e em seu modo de agir? Como? Conclusão Devemos trabalhar, fazendo tudo que estiver ao nosso alcance, dentro dos princípios do reino de Deus, para termos um viver digno neste mundo. As inquietações pelo futuro, no entanto, não devem roubar-nos a paz, dificultando as nossas ações. Se dermos prioridade ao reino de Deus e à Sua justiça em nossas vidas, as riquezas espirituais valerão mais para nós que os bens materiais. Tal prioridade já será capaz de diminuir a nossa ansiedade, tornando-nos mais felizes e entregues à vontade de Deus. Além disso, reconheceremos que tudo o que temos e somos deve ser usado, não de forma egoísta, mas de uma maneira que beneficie o reino de Deus e glorifique aquele que é o Rei da nossa vida. Que os tesouros mais importantes para nós sejam aqueles que estão onde nem a traça, nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não conseguem roubar. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 47 Estudo 13 ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO (Sermão do Monte - 4ª Parte) Mateus 7.1-29 Introdução Neste estudo você refletirá sobre a última parte do Sermão do Monte. Em Mateus, lemos sobre os vários assuntos sobre os quais Jesus falou: julgamento, práticas religiosas, falsos profetas e, no final, como um encerramento do sermão, a advertência sobre a importância de não construirmos a nossa vida sobre valores falsos e transitórios. Esta construção da nossa vida sobre valores verdadeiros e permanentes, vai nos dar base, inclusive, para reconhecer a falsidade daquilo com que muitas vezes somos confrontados em nosso mundo, que tenta solapar a nossa edificação. Vejamos os assuntos finais do Sermão do Monte: 48 48 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 7.1-6 Mateus 7.7-23 Mateus 7.24-29 I Pedro 2.1-9 I Coríntios 3.10-15 I Coríntios 13.16-20 1. O julgamento - Leia Mateus 7.1-6 Neste texto, Jesus discorre sobre o julgamento. Diante do que foi visto do Sermão do Monte nos estudos anteriores, isto é, de como as virtudes espirituais e internas foram destacadas, quem poderá se sentir capaz de julgar? Não estamos, todos nós, em débito com o nosso Pai? Diante da demanda de Jesus de que Seus discípulos sejam humildes, mansos, sensíveis, misericordiosos, pacificadores, etc, como julgar aqueles que se encontram à nossa volta? Devemos, no entanto, fazer distinção entre julgar atos e julgar pessoas. É bastante diferente uma coisa da outra. Julgar um ato é considerar o ato praticado por alguém como mau ou bom, tendo por base padrões morais absolutos. Não apenas podemos, mas muitas vezes precisamos fazer tais julgamentos. Não fazê-lo, nos qualificaria como seres ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO amorais. A própria Bíblia nos estimula a discernir, a avaliar, a julgar... Julgar uma pessoa, no entanto, é dizer o quanto ela é má em si mesma, impetrando sobre ela uma condenação que só Deus, como justo juiz, poderá impetrar. Ao julgarmos alguém, nós a comparamos conosco, não vendo muitas vezes maldades maiores que carregamos no coração. Mesmo quando julgamos atos hediondos, devemos pensar que só Deus conhece a história de alguém, sua carga genética, suas doenças, seus medos, seus traumas, podendo julgar com absoluta justiça e equidade. Não há aqui, todavia, qualquer defesa de impunidade. Cada pessoa, em princípio, deve ser responsabilizada pelos seus atos. Do que se fala aqui é do julgamento em última instância, quando condenamos as pessoas, seguindo nossas avaliações pessoais e nossas emoções diante dos fatos. E quando pensamos que, se nós agimos melhor que tais pessoas, é simplesmente por nossos próprios méritos pessoais. No versículo 6 Jesus faz outra recomendação: a de que se tenha o bom senso de não apresentar as verdades preciosas de Jesus Cristo a pessoas que as ridicularizam e desprezam. Aplicação a sua vida: É possível a você julgar as pessoas com justiça? Por quê? 2. Recomendações especiais Leia Mateus 7. 7-23 - Vs. 7-12 - Jesus ressalta a necessidade de persistência na oração, fazendonos ver que Deus sempre quer dar o melhor a Seus filhos (vs.7-11). No versículo 12 encontramos o que parece um sumá- | rio de tudo que foi dito anteriormente neste capítulo e em todo o sermão. Ele é chamado de regra-áurea para os relacionamentos. - Vs. 13-14 - mostram que, se você cumprir o que está no versículo 12 e em todo o ensino destes capítulos, você estará trilhando o caminho estreito, pois, o caminho largo é o daqueles que não se importam com o cumprimento da vontade de Deus em sua vida. - Vs. 15-23 - Jesus recomenda aí que seus discípulos tomem cuidado com os falsos profetas. O caminho estreito não é apenas difícil de ser trilhado, mas, muitas vezes, achá-lo se torna mais difícil, por causa da existência de falsos profetas que anunciam o falso como verdadeiro. Observemos alguns ensinos deste texto sobre os falsos profetas: - Os falsos profetas não podem ser conhecidos pela aparência (v.15). - Nos versículos 16-20 temos a recomendação de julgar para saber se os profetas são falsos ou não. Será que esta recomendação não contradiz o que lemos em 7.1? Não! O que devemos julgar não é a pessoa, mas se o que ela faz e diz contraria a vontade de Deus. Para isso, todavia, é preciso conhecer a Deus e a Sua Palavra. Só sabemos o que é falso, comparando com o legítimo. O que nos faz conhecer o legítimo é o estudo, a oração e a reflexão, tendo por base a Palavra e o caráter de Deus, sempre na dependência do Espírito Santo. Os versículos 21-23 mostram que os profetas do Senhor não serão identificados por discursos inflamados ou milagres, mas por sua vida e ensino em consonância com a vontade de Deus. Vida íntegra, coração humilde e amoroso, simREFLEXÕES BÍBLIC AS II | 49 | ALICERCES FIRMES, É O SEGREDO plicidade no viver são alguns dos sinais. Não foi assim a vida de Jesus? 3. Edificando com segurança Leia Mateus 7.24-29 Neste texto, Mateus fecha o sermão proferido por Jesus com uma bela e significativa ilustração. Temos dois tipos de pessoas aqui: o homem sensato, isto é, o prudente, o que tem juízo; e aquele que é louco, imprudente ou sem juízo. O homem prudente edifica sua casa sobre alicerce firme, embora possa isto lhe custar mais tempo e mais dinheiro. O insensato se preocupa com o imediato. O importante é a pressa em fazer ou a aparência da edificação, e não sua firmeza e resistência às intempéries. O resultado nós sabemos. Enquanto a casa do homem sensato resiste às intempéries, a do homem imprudente não suporta qualquer tormenta. Aplicação a sua vida: Sobre quais alicerces você está construindo sua vida, sua família, seus valores? É preciso mudanças? Quais? Jesus nos mostrou aí que nossa vida tem de estar sobre alicerces firmes, isto é, sobre valores que permanecem como fé, amor, desprendimento. Assim, ela não ruirá diante das procelas que lhe sobrevierem. Nos últimos versículos deste texto, vemos que as pessoas se admiravam ao verem a autoridade de Jesus, pois, Ele não ensinava como os escribas. Os escribas eram doutores da lei, que sabiam de cor muito da Palavra de Deus, mas, 50 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I muitas vezes, ensinavam de uma forma mecânica e legalista, pois, não tinham o desejo intenso de ver a vontade de Deus se cumprindo em sua própria vida e no mundo em que viviam. Por isso, eles falavam com frieza e não como Jesus, que estava disposto a oferecer a sua própria vida para ver cumprida toda a vontade do Pai. Conclusão O Sermão do Monte não poderá nunca ser considerado de forma legalista, pois, segundo cremos, ele foi proferido, dentre outras coisas: - para tornar-nos humildes, pelo reconhecimento da nossa incapacidade de cumprir tudo que aí está posto de forma plena; - para tornar-nos conscientes da nossa necessidade de dependência do Espírito Santo de Deus, para alcançarmos estes ideais; - para que não sejamos julgadores dos nossos irmãos, sabendo que, com o rigor com que julgarmos as falhas deles, seremos julgados pelas nossas; - para que lancemos o nosso olhar e o nosso desejo para muito além da letra morta da lei, desejando ser o que Deus é. Jesus nos apresenta no Sermão do Monte princípios que, indo muito além de códigos legais de comportamento, atingem a interioridade do ser humano. Reconheçamos, humildemente, que não podemos ir por este caminho sozinhos. Andar sob o poder e a graça do Espírito Santo é o segredo. ESTUDO 14 Leituras Diárias Mateus 12.38-42 Mateus 13.44-46 Mateus 13.31-33 e Mc.4.26-29 Mateus 3.1-2; 4.23-25 e 6.33 Lc.4.43; 17.20-21; Jo. 18.36-37 Romanos 12.9-16 O VALOR E O CRESCIMENTO DO REINO DEPENDEM DE SINAIS? Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Jesus continua o ministério galileu - (1ª Parte) rar as pessoas em dois grupos - o grupo constituído das pessoas que já aceitaram o governo divino em suas vidas e buscam como prioridade lutar pelo estabelecimento desse reino, e o grupo das pessoas que vivem alienadas do plano de Deus para elas. Introdução As parábolas foram recursos muito usados por Jesus em seus ensinos. Elas atingiam as pessoas conforme as suas condições, necessidades e desejo de apreender a mensagem. Através delas, Jesus levava os ouvintes a elaborarem suas próprias conclusões a respeito do que Ele ensinava. Por outro lado, Ele estava sempre disponível para dialogar com aqueles que quisessem aprender mais, refletindo sobre os Seus ensinos. 1. Um sinal é pedido - Leia Mateus 12.38-42 Neste e no próximo estudo, veremos algumas parábolas conhecidas como “parábolas do reino”. Já vimos anteriormente que “reino de Deus” significa o governo divino sobre as pessoas, as instituições, a sociedade em geral. Estas parábolas eram assim chamadas pelo fato de apresentarem o reino de Deus: seu valor, seu poder de crescimento, como participar dele e como o reino acaba por sepa- Jesus desejava que as Suas obras e os Seus ensinos, por si só, falassem a eles da necessidade de uma vida de arrependimento e fé, pois, nisto é que consiste o reino de Deus. Onde a vontade de Deus prevalece, aí está em exercício o reino de Deus. Ao pedirem um sinal, estes homens pareciam querer um sinal diferente dos milagres que Jesus estava fazendo. Talvez quisessem ver um sinal do céu, como é pedido no incidente similar em Mateus 16.1. Arrependimento significa mudança de modo de pensar, com o reconheciREFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 51 || 51 | O V A LO R E O C R E S C I M E N T O D O R E I N O D E P E N D E M D E S I N A I S ? mento do pecado e o desejo profundo de viver uma vida dentro do sublime propósito de Deus. A fé desejada por Jesus significa crer que a vontade de Deus é perfeita, o que leva à obediência a Ele sob o poder do Espírito Santo. Ao falar de Jonas neste texto, Jesus parece referir-se à Sua permanência no túmulo e, após os três dias, à Sua ressurreição. A seguir, Jesus falou dos ninivitas e, depois da rainha de Sabá, como pessoas que tinham saído da situação ou do lugar em que estavam por causa de alguém muito menos importante do que Ele. A rainha de Sabá (I Reis 10) saiu do seu reino e mudou o seu modo de pensar a respeito de Salomão; os ninivitas saíram de uma acomodação ao pecado e se arrependeram com a pregação de Jonas (Jn. 3.4-5). E as pessoas com quem Jesus convivia continuavam insensíveis ao Messias de Deus, muito maior do que Salomão ou Jonas. O que Jesus desejava era fazê-los enxergar que eles não precisavam de sinais, além dos que lhes eram dados através de Sua vida e do Seu ensino. Quem precisa de fatos sensacionalistas para crer em Deus vai acabar não crendo, ou adotando uma fé infantil e equivocada, que não é a fé que Deus deseja. Pode, por exemplo, ver Deus como um grande fazedor de milagres, e não como quem deseja de nós a fé que resulta em compromissos éticos e espirituais neste mundo. Aplicação a sua vida: Sua fé se baseia em sinais exteriores ou na perfeição dos ensinos de Jesus, o que levará você a obedecer? Como você demonstra isso em sua vida? 52 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I 2. O valor do Reino Leia Mateus 13.44-46 Aí temos duas pequenas parábolas que falam do grande valor do reino de Deus. Elas mostram homens que acharam importantes tesouros. Na parábola do tesouro escondido (v.44), o homem parecia não estar procurando, mas ao encontrar o grande tesouro, reconheceu-o e trocou tudo que tinha por ele. Parece ilustrar aqueles que, mesmo tendo sede de Deus, não O estão procurando de forma muito consciente. Quando o encontram, no entanto, reconhecem a preciosidade do que encontraram. Na parábola da pérola (vs.45-46), temos um homem que estava procurando até achar uma pérola de grande preço. Ao reconhecer o seu grande valor, vendeu tudo que tinha para adquiri-la. Esta parábola parece exemplificar aqueles que estão procurando o grande tesouro, que é o reino de Deus e, ao achá-lo, o reconhecem e o valorizam prontamente. Os dois homens (o do tesouro escondido e o da pérola), ao acharem riqueza tão preciosa, souberam valorizá-la. Reconheceram-na como algo pelo qual abririam mão de tudo que haviam possuído antes. Já vimos que o reino de Deus ou reino dos Céus é a presença e o domínio do Senhor em nossas vidas. Trocaríamos a presença d’Ele em nós e o pertencimento a Ele por qualquer outra coisa? Temos nós considerado o pertencimento ao reino de Deus como algo de extraordinário valor? Estamos nós dispostos a sacrificar outros valores, pagando o preço do discipulado, por considerálo um privilégio incomparável? Aplicação a sua vida: Quais valores em sua vida você se dispõe a abandonar pelo reino de Deus? O V A LO R E O C R E S C I M E N T O D O R E I N O D E P E N D E M D E S I N A I S ? 3. O crescimento do Reino Leia Mateus 13.31-33 e Marcos 4.26-29 Se as parábolas do tópico anterior ilustram o grande valor do reino dos Céus, as três parábolas destes dois textos ilustram o seu poder de crescimento e expansão. Estas parábolas mostram que o reino de Deus, uma vez chegado, tem em si mesmo o poder de crescer, de penetrar, de se expandir. Este é o poder da Vida de Deus! A parábola do fermento (Mt.13.33) mostra que os valores do reino de Deus penetram de forma invisível; as outras (Mt.13.31-32 e Mc.4.26-29) falam de sementes muito pequenas que, misteriosamente, se transformam, tornando-se plantas ou árvores que fornecem alimento ou abrigo aos que precisam. Assim é o reino de Deus. O amor de Deus pode permear a vida dos cristãos e, através deles, penetrar de tal maneira a sociedade, que as suas leis e costumes podem ser influenciados, atingindo até os que não são declaradamente cristãos. É a árvore que cresce e dá alimento e abrigo. A parábola que está em Marcos destaca os mistérios do nascimento, crescimento e da frutificação que ultrapassam em muito a ação, a capacidade e a compreensão de quem semeia. “A semente brota e cresce sem que o semeador saiba como” (v.27b). Jesus nos mostra aí que não conseguimos penetrar o mistério da conversão ou do crescimento do discípulo de Cristo. Nosso papel é semear e aguardar sem ansiedade, pois, é Deus quem opera a frutificação. A semente tem em si mesma o poder de brotar e crescer. O seu germinar e desenvolver-se não é obra do semeador. Vem da parte de Deus. Sem ansiedade, cumpramos nossa missão: semear atra- | vés do que somos, do que fazemos, do que falamos. Aplicação a sua vida: Você crê no poder da semente que se transforma numa grande árvore? No poder do fermento que penetra a massa? Quais atitudes suas, mesmo pequenas, podem fazer crescer o Reino de Deus em seu ambiente? “O reino de Deus é justiça, paz e alegria no Espírito Santo. ” (Rm. 14.17b) Conclusão Se pertencemos ao reino de Deus, reconheçamos o seu valor, conscientes de que podemos, com as nossas palavras e atitudes, penetrar o ambiente em que vivemos, purificando-o, melhorando-o. Jesus gostava de usar figuras de linguagem: sal, luz, semente, fermento. Tudo isto podemos significar na sociedade em que vivemos. No início deste estudo, vimos que Jesus mostrou que o reino de Deus não deve ser reconhecido por sinais miraculosos ou fatos sensacionais. Nestas parábolas, Ele ensina que Seu reino tem de ser reconhecido pelo seu poder silencioso, que o faz crescer como a semente que se transforma numa árvore; que penetra como o fermento. Os sinais mais espetaculares do reino são vidas misteriosamente transformadas, que atuam para a transformação do mundo em que vivem. Importa viver o Evangelho e não praticar feitos que provoquem sensações, pois, Jesus disse que, no julgamento, muitos lhe dirão: “Em teu nome não fizemos muitos milagres?” e Ele lhes dirá: “Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais o mal.” (Mt. 7. 22c - 23 ). Viver sob o governo de Deus, eis o maior sinal do reino em nós! REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 53 ESTUDO 15 PARÁBOLAS DO REINO Jesus continua o ministério galileu - (2ª Parte) Introdução No estudo anterior, algumas parábolas nos mostraram o grande valor e o poder de crescimento do reino de Deus. Nosso papel é semear a bendita semente, sem ansiedade sobre o seu germinar e crescer. O importante é semear com o nosso modo de ser, falar e agir, aquilo que faz parte do caráter divino: a paz, o amor, a justiça, a santidade, a salvação. Como é maravilhoso, depois de semeada uma pequena semente, ver uma árvore imensa, dando abrigo aos seres que dela precisam. Neste estudo, veremos outras parábolas de Jesus que nos ensinam sobre o reino de Deus. 1. A semeadura - Leia Marcos 4.1-20 Encontramos esta parábola também em Mateus e Lucas. O semeador espa54 54 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Marcos 4.1-20 Mateus 13.24-30 e 36-43 Mateus 13.47-51 Mateus 18.1-5 Salmo 93.1-5 Salmo 99.1-9 lha a semente, que é a palavra de Deus (Lc. 8.11). Os ensinos de Jesus devem ser semeados neste mundo. Quem é o semeador? Podemos considerar que este seja o Espírito Santo, que coloca nos corações a semente. Mas, também podemos considerar como semeadores aqueles homens e aquelas mulheres que atuam como veículos Seus, semeando aquilo que receberam de Deus. Temos sido semeadores do Evangelho e de tudo quanto ele significa, como diferentes formas de ser, de pensar e de agir? A semente tem valor e poder em si mesma, pois, é ela que cresce, que produz os frutos. Os tipos de solo são, no entanto, variados, podendo favorecer ou não a frutificação da semente. Não vamos explicar o significado de cada um PA R Á B O L A S D O R E I N O | dos quatro tipos de terreno, pois, isto foi explicado pelo próprio Jesus na parábola (vs. 14 a 20). A semente que o Espírito Santo lança no coração produz de acordo com o tipo de terreno em que é semeada. Não é só o não crente que recebe a palavra de Deus como um tipo especial de solo. Os que se proclamam cristãos também. Todos nós estamos constantemente, através de vários meios, recebendo a palavra de Deus e apresentando, ou não, as condições para que ela produza em nós os seus frutos. Que tipo de terreno temos sido para a bendita semente que Deus quer plantar em nós? Um terreno pedregoso em que ela não pode nascer e ter raízes? Um terreno à beira do caminho em que a semente é arrebatada logo? O terreno entre espinhos em que a semente é sufocada pelos cuidados deste mundo? Ou somos a terra boa, onde a vontade de Deus tem frutificado em abundância? Aplicação a sua vida: Você tem estado consciente de que o Espírito Santo tem lançado sementes preciosas em sua vida? Que tipo de terreno você tem sido para elas? 2. A separação - Leia Mateus 13.24-30, 36-43, 47-50 Já vimos anteriormente sobre o valor e o crescimento do reino dos Céus, bem como sobre os tipos de terreno que recebem a sua semente. Nos textos acima, vemos a separação entre os que participam e os que não participam do Reino. A parábola da rede parece mostrarnos, figuradamente, que a mensagem do evangelho lança a rede, trazendo todo tipo de pessoas, mas que algumas não estão preparadas para ficar. Isto é uma figura do que acontecerá na consumação dos séculos, quando a separação será feita. O próprio Senhor, como grande juiz, separará o que pertence ao Seu reino daquilo que é antagônico a ele. A parábola do trigo e do joio traz-nos muitas lições. Vejamos algumas: 1. No campo, que é o mundo, são semeados dois tipos de semente: um tipo é semeado pelo dono do campo e outro por um inimigo. Quando semeamos o que é mau, estamos a serviço do inimigo de Deus, pois, Deus é o dono do campo e só semeia o que é bom. 2. Neste mundo, é inevitável que tenhamos trigo e joio crescendo juntos. Jesus Cristo adverte que não devemos nos apressar em julgar, querendo separá-los, pois, isto só Deus é capaz de fazer. Só Ele, que conhece o interior de cada um, poderá efetuar a separação. 3. Há joio e trigo no mundo e também na igreja. O importante a considerarmos é: estamos sendo trigo ou joio? 4. Também dentro de nós pode haver joio, pois, mesmo sendo resgatados, somos pecadores. Cooperemos com o Espírito Santo, para que Ele retire de nossa vida o que não foi plantado por Ele. A disciplina na igreja deve ser exercida para fins de ensino, para evitar escândalos, mas sempre com muito amor e paciência, sem precipitação ou qualquer sentimento de partidarismo. Afinal, as pessoas são mais importantes que qualquer instituição. Precisamos estar sempre conscientes de que somos frágeis e imperfeitos, e de que nunca conseguiremos separar verdadeiramente o trigo do joio. Deixemos isto para o justo e perfeito juiz. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 55 | PA R Á B O L A S D O R E I N O Aplicação a sua vida: Você acha mais fácil ver os seus erros ou ver os erros dos outros? Em quais circunstâncias você se percebe julgando e condenando as pessoas? Ele mesmo nos ensina a medir as consequências dos nossos atos com maturidade. Por isso, o apóstolo Paulo diz em I Coríntios 14.20: “Quanto ao mal, contudo, sede como criancinhas, mas adultos quanto ao entendimento.” 3. O cidadão do Reino - Leia Mateus 18.1-5 A ética do reino dos céus é muito diferente da ética do reino deste mundo, como vimos no Sermão do Monte. Ela é proveniente de valores do interior do coração, que resultam em atitudes externas. No texto de Mateus vemos Jesus, diante de alguns que querem saber quem é o maior no reino do céu, tomar uma criança para ilustrar como deve ser o cidadão desse reino. A criança em geral não tem orgulho, não faz discriminações, é simples e humilde na sua dependência e fragilidade. Os que desejam o Reino dos Céus nas suas vidas, devem se revestir de tais atitudes. A grandeza, segundo os valores do “reino”, não resulta de poder econômicosocial ou de aparência, mas de humildade e graça. Por isso, segundo Jesus, o maior no reino dos céus é o que é servo de todos (Mc.10.44) ou que tem a humildade de uma criança. Jesus, no entanto, não está dizendo que devemos ser como crianças em tudo. 56 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Conclusão Que como veículos do Espírito Santo, semeemos a boa semente, enchendo o mundo dos valores do “reino” como paz, amor e todo o fruto do Espírito que encontramos em Gálatas 5.22. Que tenhamos a consciência, no entanto, de que no mundo teremos sempre sementes que não pertencem ao reino de Deus. Que não nos arvoremos em juízes, querendo separar as más das boas sementes, pois, somos incapazes para tal tarefa. Que tenhamos sempre o espírito de uma criança, para aprender com o nosso Pai e para não nos julgarmos nunca autossuficientes. Que nossa missão no mundo seja servir e não ser servido, a exemplo do nosso Mestre e Senhor. Que sejamos o bom solo para a semente que Deus deseja plantar em nosso coração. ESTUDO 16 A HUMILDADE FAZ PERDOAR Jesus termina o ministério na Galileia Introdução A ética vivida na sociedade em geral é muitas vezes oposta à ética sonhada por aqueles que pertencem ao reino do Senhor. A vida do nosso Rei atesta isto. Por opor-se muitas vezes à religiosidade hipócrita da Sua época e ao comportamento daqueles que lideravam a sociedade; por viver uma vida que punha em cheque o modo de viver da maioria, especialmente dos poderosos; por nunca ter trocado a fidelidade à Sua missão redentora por qualquer glória deste mundo, Jesus, o Rei, foi rejeitado e perseguido. Jesus sempre destacou a necessidade da mudança interior, que traria como resultado um viver amoroso e produtivo na sociedade. Após a apresentação neste estudo de uma importante exigência para o súdito do reino de Deus, veremos alguns fatos que marcaram a finalização do grande ministério de Jesus na Galileia. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 18.21-35 Mateus 13.54-58 Marcos 6.14-29 João 1.27-34 Mateus 11.25-30 Colossenses 3.12-17 1. Quantas vezes perdoar? Leia Mateus 18.21-35 Pedro, o apóstolo, fez uma pergunta. Queria saber quantas vezes deveria perdoar. Tal indagação parece mostrar uma falta de percepção do que Jesus sempre ensinava. Para os discípulos, devia ser muito difícil desvincular a religiosidade das regras e dos tabus aos quais estavam acostumados. Talvez, Pedro estivesse ainda muito preso ao legalismo e, por isso, queria regras bem claras e definidas quanto ao que fazer ou deixar de fazer. Estas o fariam saber se agira ou não segundo a lei e, no caso de ter agido dentro da lei, poderia sentir-se satisfeito consigo mesmo e até, quem sabe, poderia condenar outros, como faziam muitos legalistas do seu tempo. Mesmo sendo boas as regras, o espírito legalista é sempre perigoso, pois, pode nos afastar de Deus. O legalista, ao se perceber como bom cumpridor de reREFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 57 || 57 | A H U M I L D A D E FA Z P E R D O A R gras exteriores, torna-se orgulhoso e, por vezes, condena os que não agem como ele. Pode até ser sincero, mas não vive conforme a vontade de Deus. Jesus queria que seus discípulos fossem sobretudo guiados pela lei do amor (Jo. 15.12). O desejo de amar verdadeiramente, como Jesus, sempre nos tornará humildes e ligados a Deus, pois, sabemos o quanto somos incapazes de consegui-lo. Também nos deixará sem condições para condenar outras pessoas, por reconhecermos quão distantes estamos sempre do nosso tão maravilhoso alvo. Pedro ainda não entendera isto. Para responder à pergunta de Pedro, Jesus contou a parábola indicada neste texto bíblico. Alguém devia ao seu senhor uma quantia exorbitante e não tinha como pagar. Após muitos rogos do servo para que não o enviasse para a prisão, seu senhor o perdoou. Logo depois, ele encontrou um conservo seu que lhe devia uma importância insignificante. Embora ouvisse as suas súplicas pedindo-lhe perdão, foi insensível a isso, mandando-o para a cadeia. Sabendo do ocorrido, o senhor mandou chamá-lo e negou-lhe o seu perdão, encerrando-o na prisão. Esta parábola nos ensina o que outros textos bíblicos também nos mostram. Que seremos julgados com o mesmo rigor com que julgamos. Que o usufruir o perdão e o saber perdoar, andam juntos. O servo que recebeu o perdão não tinha noção da dimensão de sua dívida. Você vê no versículo 26 que ele prometeu pagar a dívida ao seu senhor. Como se isso fosse possível! Ele devia dez mil talentos!!! Isto correspondia ao valor de 60 milhões de denários, sendo um denário o equivalente a um dia de trabalho braçal. Sua vida de trabalho ininterrupto daria para pagar apenas uma parte muito insignificante de tal dívida. Como aquele servo não tinha a dimensão do tamanho do perdão recebido do seu senhor, não sentiu a alegria de 58 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I haver sido perdoado e, por isso, foi duro com quem lhe devia. Jesus colocou a dívida da parábola com valor tão alto para nos ajudar a compreender quão monstruosa é a nossa dívida para com Deus. Foi terrível o que fizemos. Usamos mal o livre arbítrio que nos tornava criaturas muito especiais. Corrompemos o universo criado. Degradamos a imagem de Deus em nós. Trouxemos o mal para o nosso mundo. E Deus nos perdoou em Cristo. A percepção da enormidade do nosso pecado faz-nos ver com gratidão a infinitude da graça divina. Isto amacia o nosso coração em direção aos que nos tem ofendido. Quem somos nós para negar o perdão a quem quer que seja? O coração que não perdoa, na verdade não tomou posse do perdão. Continua carregando a culpa pela sua dívida. E não conseguindo perdoar, torna-se prisioneiro. A solução para cada um é reconhecer a monstruosidade do seu pecado contra Deus, receber com alegria o Seu perdão e com o coração cheio da graça divina, espalhar com outros, a começar dos mais próximos, o perdão e o amor do Senhor. Aplicação a sua vida: Liste pessoas a quem você não tem conseguido perdoar. Reconheça o pecado inominável que você cometeu contra Deus e o quanto Ele lhe perdoou. Tome posse desse perdão e depois libere o seu perdão às pessoas que lhe têm ofendido. Agora mesmo ore e peça a Deus para abençoá-las. Jesus, que conhece as leis espirituais, declara que, para sermos perdoados, precisamos perdoar. Por outro lado, se abrirmos o nosso coração, reconhecendo a hediondez do nosso pecado e a grandeza do perdão, do amor e da graça de Deus, nós canalizaremos toda esta preciosidade que recebemos de Deus para os nossos semelhantes. A H U M I L D A D E FA Z P E R D O A R 2. Jesus em Nazaré - Leia Mateus 13. 54-58 O grande ministério de Jesus na Galileia está chegando ao fim. Ele vai agora, mais uma vez, à sua cidade natal. Vai dar ao Seu povo outra oportunidade de recebê-lo. Mas, o resultado novamente foi desanimador. Diz o texto: “E escandalizavam-se por causa d’Ele. ” (...) “E não realizou muitos milagres ali, por causa da incredulidade deles” (vs. 57a, 58). Deus está sempre dando-nos novas oportunidades. Novamente, o preconceito fez com que muitos O rejeitassem. “Não é este o filho do carpinteiro? Sua mãe não se chama Maria, e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? ” (V. 55). Os preconceitos são sempre perniciosos ao nosso desenvolvimento. Podem eles nos tornar insensíveis aos veículos que Deus quer usar para nos transmitir sabedoria e maturidade. Julgamos que a sabedoria está atrelada a títulos, status ou tempo de vida cristã? Como os preconceitos podem nos tornar insensíveis à mensagem de Deus! | “Este é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo.1.29). Depois de batizar Jesus, declarou: “Vi o Espírito descer do céu como pomba e permanecer sobre ele” (Jo.1.32). Este foi João Batista. Um homem humilde e corajoso. Humilde para nunca pretender ser algo além daquilo que era: o precursor do Messias. Corajoso a ponto de desafiar o tetrarca(1) da Galileia, como você viu neste texto. Este tetrarca era Herodes Antipas, filho de Herodes, o Grande. Neste texto, temos o relato do que aconteceu com o corajoso João Batista. Interessante como Herodes, ao ouvir a fama de Jesus, pensa que João Batista houvera ressuscitado. Como pode sofrer uma consciência atormentada! É triste o sentimento de culpa associado ao orgulho. O pecado sem arrependimento sempre traz consequências desastrosas. Aplicação a sua vida: Ser humilde verdadeiramente é mais difícil do que cumprir regras exteriores. Quais atitudes orgulhosas você percebe em si mesmo (a)? 3. A morte de João Batista - Leia Marcos 6.14-29 Conclusão Já dissemos anteriormente que os evangelhos não relatam os fatos ocorridos no ministério de Jesus em ordem cronológica. Este fato (a morte de João Batista) parece estar relacionado ao fim do ministério de Jesus na Galileia. Jesus terminou assim o seu grande ministério na Galileia. Dois anos, aproximadamente, são passados desde o Seu batismo. Sua popularidade crescia e, na mesma medida, as resistências a Ele por parte das autoridades religiosas e políticas. João Batista foi uma pessoa muito valorizada por Jesus. Ele disse que, dentre os nascidos de mulher, ninguém houvera maior do que João Batista (Mt. 11.11). Ele foi o precursor de Jesus. Anunciando a Sua chegada, disse que não era digno de desamarrar a correia das sandálias de Jesus (Jo. 1.27). Ao saber que Jesus estava fazendo mais discípulos do que ele, declarou: “É necessário que ele cresça e que eu diminua” (Jo.3.26,30). Às pessoas que viram Jesus se aproximar, ele disse: Terminado o ministério na Galileia, Ele começou uma curta etapa conhecida como “as retiradas de Jesus”, que veremos nos próximos estudos. Ele vai procurar estar mais a sós com seus discípulos. __________ (1) Tetrarca - título usado para denotar o governante da quarta parte de uma região e mais tarde para qualquer soberano sujeito a outro país (Davis - Dicionário da Bíblia) REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 59 ESTUDO 17 jesus se retira para estar a sós com os discípulos (I) (Primeira Parte) Introdução Com este estudo começaremos a ver a parte do ministério de Jesus conhecida como “as retiradas”, tempo em que Ele procura se afastar um pouco das grandes multidões e passa a instruir Seus discípulos com maior intensidade. Sabemos que os Evangelhos não registram tudo que Jesus fez e ensinou, pois, aquilo que está registrado é suficiente para que O conheçamos como Messias e creiamos n’Ele (Jo. 20.30-31). Vejamos alguns fatos registrados: Durante o grande ministério na Galileia, a fama de Jesus havia se espalhado e grandes multidões O seguiam. Os fariseus e outros líderes com influência política se opunham aos seus ensinos e a pressão sobre Ele crescia muito. Sua vida e Seus ensinos sempre contrariavam os interesses dos que exerciam o poder. Jesus então resolveu retirar-se um pouco de cena, afastando-se para estar 60 60 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 14.13-21 Mateus 14.22-36 João 6.22-40 João 6. 41-59 João 6.60-71 Mateus 15.1-20 mais a sós com os discípulos. Precisava intensificar o ensino a eles, para que estivessem mais preparados para desempenhar a Sua missão quando Ele não mais estivesse aqui. As retiradas de Jesus são classificadas em quatro: A primeira: para o outro lado do mar da Galileia, região de Betsaida-Júlia, na parte oriental; A segunda: na terra de Tiro e Sidon, na antiga Fenícia; A terceira: na região de Decápolis, a sudeste do mar da Galileia; A quarta: em Cesareia de Felipe, ao norte do mar da Galileia. Veremos neste estudo apenas a primeira retirada. 1. Os discípulos aprendem sobre o poder e a missão de Jesus - Leia Mateus 14.13-36 A primeira retirada foi rápida e para um local bem próximo. Jesus foi com J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( i ) | Seus discípulos para um lugar deserto, a leste do mar da Galileia, mas, ao chegar lá, já encontrou uma grande multidão buscando a Sua ajuda. Mesmo vendo frustrado o Seu plano de estar a sós com os discípulos, Jesus sentiu compaixão por aquela gente que O procurava. Aí aconteceu a multiplicação dos pães. Diante deste milagre, um grande perigo ocorreu: muitos queriam fazer de Jesus um rei político, conforme o relato de João 6.15. Mas Jesus se recusou, pois, isto seria trair Sua missão, caindo na tentação que o diabo lhe apresentara no deserto (Mt. 4.8-9). A compaixão de Jesus e o Seu atendimento amoroso às necessidades humanas foram lições muito fortes para os discípulos. Não será esta uma importante parte do ministério da Igreja como corpo de Cristo no mundo? Será possível falar do amor de Cristo, sem viver tal compaixão? Aplicação a sua vida: Quais atitudes práticas de amor você tem dirigido ao próximo, por ser um seguidor do Cristo que veio, não para ser servido, mas para servir? Temos aí outros ensinos que Jesus transmite aos discípulos com Sua vida. Vemos que Jesus os compeliu a entrar no barco (v.22) e Ele sozinho subiu a um monte para orar (v.23). Que lição importante! A seguir, neste mesmo texto, vemos que uma tempestade atingiu a embarcação em que os discípulos estavam e Jesus lhes apareceu, dando uma lição de fé, especialmente a Pedro. Este fato na vida de Pedro ilustra algo muito importante para nós. Veja o versículo 30. Não foi o vento, mas foi o medo, que fez com que Pedro começasse a afundar. Às vezes não são as circunstâncias que nos afundam, mas a nossa atitude frente a elas. Olhos fitos em Jesus e coragem são elementos indispensáveis para a vitória. Quantas lições para os discípulos! 2. Os discípulos aprendem sobre as dificuldades do discipulado - Leia João 6.22-71 Vemos neste texto que a multidão procurou Jesus no dia seguinte e foi por Ele acusada de procurá-lo apenas com interesse nas bênçãos materiais, já que havia sido atendida anteriormente em suas necessidades físicas (v. 26). A seguir, Jesus fez um discurso muito duro para a multidão e que ensinou muito aos Seus discípulos. Ele operara antes a multiplicação dos pães e agora lhes fala do pão espiritual. Diz que eles deverão beber o Seu sangue e comer a Sua carne (vs. 51-58). Este discurso era duro (v. 60), pois, significava ter a Sua vida, alimentarse d’Ele, viver como Ele. Ele diz ser o pão da vida (v. 35). Diz ainda que, para que alguém tenha a vida eterna, será preciso que se alimente d’Ele (vs. 53-57). Diante de tão duro discurso (v. 60), muitos discípulos O abandonaram (v. 66). Seus discípulos mais próximos aprendiam com estes fatos. Jesus lhes ensinou que as condições do discipulado não podem ser abrandadas para atrair as multidões. Não poderá forçá-los também a permanecer com Ele, se não quiserem atender às suas condições. Por isso, lhes faz a pergunta que está no versículo 67. É Pedro, em nome dos discípulos, quem responde o que está no versículo 68, satisfazendo assim a Jesus. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 61 | J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( i ) Não é preciso ser perfeito para ser discípulo de Cristo. Ele está sempre disposto a, com amor e paciência, ensinar, corrigir, perdoar e levantar-nos quando caímos. O que Ele quer de nós é que tenhamos um desejo muito forte de satisfazer as condições do discipulado, reconhecendo que, fora dos Seus propósitos para nós, a vida não tem realmente sentido, como disse Pedro no versículo 68. Aplicação a sua vida: Qual deve ser a sua atitude ao chamar pessoas para seguirem a Jesus? 3. Os discípulos aprendem mais uma vez que Jesus quer vida interior e não cumprimento de ritos - Leia Mateus 15.1-20 Este fato acontecido no ministério de Jesus trouxe grandes ensinos aos Seus discípulos. Eles foram acusados de não lavar as mãos antes das refeições. Jesus então os defendeu, acusando os líderes judaicos de muitas vezes transgredirem os mandamentos de Deus por causa da sua tradição. Para os judeus, o lavar as mãos às refeições não significava simplesmente um ato de higiene, mas um ritual de purificação, para afastar a possibilidade de participar da refeição contaminado por alguém religiosamente impuro - um gentio ou um judeu impuro. A refeição tinha um aspecto sagrado de comunhão que devia ser com os “iguais” Jesus atacou tais tradições religiosas, falando que, na realidade, eles não cumpriam os mandamentos de Deus por causa das suas tradições, e dá o exemplo do mandamento “Honra a teu pai e a tua 62 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I mãe”, que eles substituíam por uma oferta no templo chamada corbã. Os filhos deveriam amparar financeiramente os pais, pois, isto era o mesmo que honrálos; mas se eles dessem essa oferta no templo (corbã), ficavam desobrigados de ampará-los. Jesus via isso como algo que contrariava a vontade de Deus. Jesus então combateu a tradição do lavar as mãos, dizendo que o que entra pela boca não contamina o ser humano (v. 11). Jesus sempre combateu o legalismo frio e hipócrita que tornava a religião mecânica, ao expressar-se apenas pelo comportamento exterior. O legalismo pode se manifestar em nossa vida cristã de muitas formas como: - quando avaliamos a nossa situação com Deus baseados, não na Sua graça, mas nos nossos atos externos; - quando nos comparamos a outros pelo que fazemos ou deixamos de fazer, desconsiderando a nossa maldade interior, como o egoísmo, o desamor, o desrespeito; - quando avaliamos pessoas pela aparência ou pelo aspecto externo do seu comportamento, sem considerar a sua história ou as circunstâncias que nos são desconhecidas. Conclusão Os discípulos de Jesus tiveram grandes lições com os fatos vistos neste estudo. Aprenderam com as atitudes e palavras do seu Mestre a respeito da fé, do preço do discipulado, da necessidade de se alimentar da vida de Jesus e também a respeito dos perigos do legalismo. O que temos aprendido em nossas horas a sós com Jesus? ESTUDO 18 jesus se retira para estar a sós com os discípulos (II) (Segunda Parte) Introdução Neste estudo veremos as últimas retiradas de Jesus: uma para os lados de Tiro e Sidon (Mc. 7.24); outra para Decápolis (Mc.7.31); e a última para Cesareia de Felipe (Mc.8.27). Os episódios acontecidos aí e os ensinos ministrados marcariam os discípulos para sempre. Jesus queria estar a sós com os discípulos. Sabia que não teria muito tempo para ensinar-lhes. 1. Os discípulos aprendem que a graça de Deus é para todos - Leia Marcos 7.24-30 O fato relatado por este texto pertence à segunda retirada, que foi para as regiões de Tiro e Sidon. Não sabemos quanto tempo Jesus ficou nesta área nem quais foram Suas atividades. A maior parte do tempo provavelmente foi empregado em instruir Seus discípulos. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Marcos 7.24-30 Mateus 16.13-28 Lucas 9. 28-36 Lucas 9. 37-45 Atos 2. 37-43 I Pedro 2.1-9 O texto de Marcos diz que Jesus queria ficar a sós com os discípulos. Isto se fazia quase impossível. Foi nessa segunda retirada que Ele foi abordado pela mulher siro-fenícia, a que pediu a cura de sua filha. Jesus disse que “não era justo tomar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorrinhos” (v. 27). Alguns comentaristas dizem que Jesus aqui procurou ser cortês, expressando delicadamente o modo como os judeus consideravam os gentios. A palavra cão no N.T. designa todos quantos são incapazes de apreciar o que é santo e elevado. Os judeus chamavam de cães os gentios, por serem declarados (1) impuros pela lei cerimonial . Com sua atitude, Jesus queria realçar a graça de Deus que se estende a todos. Aquela mulher sabia que, sendo uma estrangeira, não pertencia ao considerado povo de Deus. Expressou, no entanto, sua humildade e, por isso, teve a sua fé enaltecida por Jesus, conforme relato de Mateus 15.28. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 63 || 63 | J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( ii ) A missão de Jesus era realmente para todos, embora durante o Seu ministério terreno fosse, primariamente, dirigida aos judeus. A fé e a humildade desta mulher O tocaram profundamente. Segundo alguns comentaristas, na terceira retirada não estão registrados fatos de grande destaque ou diferentes dos já acontecidos em outros períodos do ministério de Jesus. Por isso, não comentaremos a terceira retirada e veremos, nos dois próximos tópicos, dois acontecimentos que julgamos importantes na quarta retirada. 2. Os discípulos aprendem sobre Cristo e a missão da igreja Leia Mateus 16.13-28 Nesta quarta retirada, Jesus seguiu para a região de Cesareia de Filipe. Depois de saber a opinião de outros a Seu respeito, Jesus perguntou aos discípulos o que eles pensavam d’Ele. Era muito importante para o Mestre, a esta altura do Seu ministério, saber o que os Seus discípulos pensavam a Seu respeito, porque Ele voltaria para o Pai e Sua missão continuaria através deles. Como poderiam cumpri-la se não tivessem clareza a respeito de quem era Jesus? Pedro respondeu pelo grupo apostólico: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (v.16). Sua palavra satisfez a Jesus, que lhe disse que aquela resposta se originara na própria revelação do Pai a ele. Jesus fez então a declaração dos versículos 18 e 19 (releia-os). A Igreja Católica Romana interpreta que a pedra aí refere-se a Pedro, que teria sido o principal líder da igreja primitiva. Embora concordem que Pedro foi realmente um dos grandes líderes da igreja em seus primeiros anos, os evangélicos não aceitam tal interpretação. Eles veem aqui um jogo de pala64 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I vras, pois, Pedro significa pedra. Creem eles que a afirmação de Jesus: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja” refere-se à declaração de Pedro:“Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo”. Esta é a pedra fundamental da fé cristã - a convicção a respeito da identidade de Jesus como Filho de Deus. E o próprio Pedro diz isso em sua primeira carta (I Pe. 2.3-4). De certa forma, no entanto, os apóstolos são pedras importantes na edificação da igreja, pois, foram testemunhas oculares da vida e obra de Jesus, assim como foram os primeiros divulgadores do Evangelho. O próprio apóstolo Pedro diz aos cristãos, em sua primeira carta, que Cristo é a pedra angular e que todos os cristãos são pedras na edificação da igreja (I Pedro 2.3-5). Paulo, em I Coríntios 3.11, diz que o único alicerce ou fundamento é Cristo. Jesus diz ainda a Pedro que lhe daria as chaves dos céus e tudo que ele ligasse ou desligasse na terra, seria confirmado pelos céus. O poder das chaves é dado a todo verdadeiro súdito do reino de Deus. É o poder de, através do testemunho da vida de Deus em si, abrir o reino de Deus às pessoas que vivem em sofrimento e desesperança. Pedro o abriu a milhares de pessoas no dia de Pentecostes (At.2.38-41) e de um modo especial aos gentios na casa de Cornélio (At. 10). Quem comunica a mensagem de Deus, isto é, a vida verdadeira e plena de amor que há em Jesus, pode ligar pessoas ao céu e pode desligá-las das prisões demoníacas. O que o cristão faz, na autoridade dada por Jesus, é confirmado pelo céu. A seguir, no texto indicado de Mateus 16, Jesus mostrou aos discípulos que Ele deveria sofrer, morrer e ressuscitar (v. 21). Pedro procurou convencê-lo a não deixar J E S U S S E R E T I R A PA R A E S TA R A S Ó S C O M O S D I S C Í P U LO S ( ii ) | que isto acontecesse. (v.22). Jesus considerou tal palavra de origem maligna (v. 23). Esta foi sempre a tentação que Jesus sofreu durante a Sua vida: fugir da cruz, desviando-se de Sua missão. Pedro, que há tão pouco tempo fizera uma declaração inspirada por Deus, agora era usado pelo inimigo para desviar Jesus da cruz. Este fato ensina como somos vulneráveis e podemos, após declarações sábias, ser por vezes insensatos. Temos sempre de ser humildes e dependentes de Deus. Pedro aconselhou Jesus a fugir da cruz. Não é esta também uma tentação para todo o cristão: sacrificar o propósito de sua vida pelo seu próprio bem-estar, com a satisfação de motivos egoístas? Jesus ensinava a Pedro e aos demais discípulos que não é possível um cristianismo sem cruz (vs. 24-25). Qual é a missão da Igreja? Qual é a cruz da qual Satanás deseja que nos desviemos? Aplicação a sua vida: O propósito de sua vida é tornar-se mais semelhante a Jesus, servindo de bênção para o ambiente em que você vive? Quais fatos em seu viver demonstram que você deseja isso? 3. Os discípulos aprendem que contemplação e serviço andam lado a lado Leia Lucas 9.28-45 Vemos aí que, na transfiguração de Jesus à vista de Pedro, Tiago e João, apareceram Moisés e Elias. Estes falavam com Jesus a respeito de sua morte e ressurreição. Diante do esplendor do acontecimento, Pedro sugeriu que permanecessem ali. Realmente, é muito mais prazeroso participar de um momento de adoração e contemplação junto com aqueles em cuja companhia sentimos grande prazer e afinidade espiritual, do que com pessoas que passam por dificuldades e a quem precisamos ajudar. Ao descerem do monte, Jesus e Seus discípulos encontraram um jovem possesso por demônio, que precisava de libertação. Estamos sempre a transitar entre as alegrias produzidas em nós, pela consciência da presença de Deus nos momentos de enlevo espiritual, e as tristezas ocasionadas pelas situações muitas vezes dolorosas do cotidiano, que são um desafio à nossa fé. Os momentos de nossa comunhão com o Pai não nos devem alienar da vida com suas tensões e desafios. Pelo contrário! Tais momentos devem servir de alimento para tornar-nos mais fortes, servindo de bênção dentro das circunstâncias em que vivemos. Estamos prontos a responder aos desafios que enfrentamos, ou queremos apenas as situações que nos agradam? Foi assim a vida d’Aquele a quem dizemos seguir? Aplicação a sua vida: Qual serviço seu às pessoas tem sido demonstração do amor de Jesus através de sua vida? Conclusão Jesus gastou tempo para ensinar os discípulos. Nada podemos fazer, se não tivermos o nosso aprendizado aos pés de Jesus. _____ (1) - Davis, John, D - Dicionário da Bíblia , S. Paulo: Ed. Vida Nova, 1965. p.105 REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 65 ESTUDO 19 JESUS, O GRANDE MESTRE O Ministério de Jesus na Judeia (Primeira Parte) Introdução João, o Evangelho que será usado neste estudo, é o que mais realça a divindade de Jesus, desde o seu prólogo em João 1.1-14. Neste Evangelho, Jesus fala mais de si mesmo do que da ética do Seu reino. Neste estudo, vemos que, após as retiradas, Jesus volta à Judeia e exerce parte do Seu ministério ali. Através de alguns fatos e ensinos deste período, usufruímos de grandes lições. Ao dizermos que aceitamos Jesus, estamos anunciando que O reconhecemos como Mestre, desejando viver de acordo com Seus ensinos. 1. O ensino de Jesus - Leia João 7.1418, 30-32 e 37-52 O ministério de Jesus está caminhando para o seu final. Ele foi para Jerusalém, indo ao templo na festa dos tabernáculos e ali ensinava. Enquanto isso, o cerco a Jesus se apertava. Havia uma grande agitação entre o povo por causa de Jesus. A 66 66 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias João 7.14-18 e 30-32 João 7. 37-52 João 8. 1-11 João 9. 1-21 João 9. 18-41 Atos 10.34-42 questão era: Ele falava a verdade a respeito de si mesmo ou não? Jesus, então, adverte no versículo 17 que aquele que quiser fazer a vontade de Deus conhecerá se o que Ele fala é de Deus ou não. Quantas vezes a falta de percepção de uma verdade espiritual, com impedimento à fé, pode vir de uma resistência em querer fazer a vontade de Deus! Coração aberto e desejo de estar em comunhão com a vontade de Deus são condições para perceber as verdades de Deus. Guardas foram enviados para prender Jesus, mas não O levaram por se sentirem extasiados ante a sabedoria e a autoridade d’Ele (vs. 32, 45-46). O fato é que a pressão sobre Jesus estava aumentando muito. Aqueles, no entanto, que eram sinceros, desejando a luz para as suas vidas, percebiam que algo na palavra e na vida d’Ele atraia-os chamando-os a um posicionamento diante de Deus. Somos honestos em nossa relação com Deus? É interessante como Nicodemos, aquele que já conhecemos por haver es- JESUS, O GRANDE MESTRE | tado à noite com Jesus (Estudo 5), toma a defesa dele perante os fariseus (vs. 4752). Jesus declara muitas vezes o Seu poder, mas as pessoas em geral não desejam crer. Muitas vezes o nosso impedimento à fé resulta da falta de vontade de obedecer, como já foi dito. Se isso está acontecendo conosco, talvez precisemos tomar algumas atitudes: - confessar essa dificuldade ao próprio Deus, com a certeza de que Ele nos ajudará a vencê-la; - obedecer naquilo que já sabemos ser a Sua vontade como amar, perdoar, trabalhar em favor do próximo e tantas outras coisas. - lidar com os nossos preconceitos e resistências, para estarmos mais disponíveis para ouvirmos a voz do Senhor. Aplicação a sua vida: Qual resistência em seu coração pode estar sendo obstáculo para você crer na palavra de Jesus? 2. Todos são pecadores, ensina Jesus aos fariseus - Leia João 8.1-11 Os fariseus levaram esta mulher a Jesus, não por serem zelosos pela lei ou pela moral da sociedade em que viviam. O que eles queriam era pegar Jesus em alguma contradição, para terem de que O acusar (vs. 4-6). Se Jesus dissesse que deveriam apedrejá-la, estaria sendo contrário à sua própria mensagem de amor e perdão. Se dissesse que a mulher deveria ser perdoada, estaria indo flagrantemente contra a lei de Moisés e atrairia a reação do povo contra Ele. Jesus, então, deu uma resposta que deixou aqueles homens estupefatos, pois, não a estavam esperando. Jesus os surpreendeu como sempre. Ele amava a todas aquelas pessoas e desejava resgatá-las. Tanto a mulher, como os escribas e fariseus. A resposta d’Ele, “Quem dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (v. 7), fez com que aqueles homens se retirassem. Mas a Sua palavra poderia também resgatá-los, levando-os a pensar e perceber a si mesmos como pecadores, também necessitados da graça de Deus. A graça de Deus é para todos nós, mas só a alcança quem reconhece o seu pecado e a sua necessidade de perdão. Aplicação a sua vida: Qual pecado separa mais a criatura do seu Criador: o pecado daquela mulher ou o pecado daqueles homens tão religiosos? Por quê? Após ficar sozinho com a mulher, Jesus se dirigiu a ela com ternura e compaixão. “Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou? ” E após a resposta dela, Jesus disse: “Nem eu te condeno. Vai e não peques mais” (vs.10b e 11.b) Jesus queria salvar ali, tanto a mulher quanto os homens, todos vivendo em pecado, embora manifesto de formas diferentes. A mulher vivendo uma vida de adultério e aqueles homens vivendo cheios de orgulho, de interesses egoístas e vazios de misericórdia. Jesus trata a cada um de acordo com sua condição. À pessoa que está humilhada, Ele tenta, através do seu amor e da sua graça, levá-la a perceber a sua dignidade e a desejar viver uma vida íntegra. Os orgulhosos, cheios de justiça própria e condenação aos outros, Jesus tenta aproximar de Deus, fazendo-os perceber a estupidez do seu orgulho, que os torna insensíveis e sem misericórdia. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 67 | JESUS, O GRANDE MESTRE Que bom é entender que Jesus veio para todos. Que nos ama e está sempre disposto a nos perdoar, ajudando-nos a viver uma vida de acordo com a Sua vontade. 3. Jesus ensina através de uma cura Leia João 9.1-41 O acontecimento central deste capítulo é a cura de um cego de nascença. Há todo um processo de investigação por parte dos escribas e fariseus para saberem como havia acontecido aquele milagre. Eles queriam achar um motivo para prender Jesus. Com este milagre importante no ministério de Jesus, muitas lições podemos aprender: - O sofrimento de alguém nem sempre é resultado do seu próprio pecado ou do pecado de algum de seus antepassados (vs. 2-3). - O cego não sabia muita coisa a respeito de Jesus, mas o que ele sabia era o suficiente para dar aos outros o seu testemunho: “Eu era cego e agora estou enxergando! ” (Vs.24-25). Também nós, muitas vezes, não sabemos muitas coisas, mas o que sabemos é que o conhecimento e a presença de Jesus dão à nossa vida significado e sentido de eternidade. Nesse caso, podemos dar o nosso testemunho. - Jesus aí desafiou mais uma vez os legalistas religiosos e curou num sábado (v.14). Mais uma vez mostrou que as leis são feitas por causa do ser humano e devem sempre estar a serviço dele. - No versículo 5 Jesus diz: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo. ” Jesus possuía um sentido de urgência, pois, tinha uma missão a ser cumprida 68 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I durante o Seu tempo de vida. Não poderia deixar para depois. Será que temos consciência de que, como discípulos seus, também temos uma missão a cumprir, que não deve ser deixada para depois? Também nós fomos comissionados por Jesus para sermos luz do mundo. E só podemos cumprir esta missão enquanto estamos no mundo. Conscientizemonos de que nossa vida é breve e que não podemos deixar de cumprir o propósito divino para o qual estamos aqui. Aplicação a sua vida: Você tem consciência de que Jesus deseja servir às pessoas através de você? De que maneira isto está acontecendo ou poderá acontecer? - Jesus fez um trocadilho nos versículos 39 a 41, para mostrar que nem sempre os cegos eram apenas aqueles pobres que viviam marginalizados à beira do caminho. Nem sempre também, o espiritualmente cego é aquele que tem menor conhecimento, mas aquele que não quer enxergar o que Deus quer lhe mostrar. Queremos nós enxergar verdadeiramente? Aprender com Jesus? Isto nos dará maiores responsabilidades, mas também maiores privilégios. Conclusão Nestes textos, Jesus mostra que Ele é o Deus encarnado, que veio para libertar o ser humano de sua ignorância e do seu pecado. Veio perdoá-lo e abrir-lhe os olhos para enxergar sua dignidade, mas também sua pequenez; sua grandeza, mas também sua dependência de Deus. ESTUDO 20 O DESEJO DE JESUS PARA OS SEUS SEGUIDORES O ministério de Jesus na Judeia (Segunda Parte) Introdução Jesus está chegando ao fim do Seu ministério terreno. Trabalhara longo tempo na Galileia. Teve depois suas retiradas com os discípulos para que os instruísse (estudos dezessete e dezoito). Agora estamos vendo, desde o estudo anterior, alguns fatos do Seu ministério na Judeia. 1. Jesus deseja que Seus seguidores cumpram sua missão - Lucas 10.1-12 Jesus enviou setenta discípulos para trabalharem no anúncio do reino de Deus. Anteriormente, Ele havia enviado os doze com mais ou menos as mesmas recomendações. Jesus deu-lhes várias instruções. Vejamos essas instruções e o que elas ensinam para o desempenho da nossa missão hoje: Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Lucas 10.1-12 Lucas 10. 17-24 Lucas 10. 25-37 Lucas 10. 38-42 Filipenses 2.5-11 Efésios 6.10-18 - A missão era grande (v.2) - Hoje o nosso mundo é maior ainda. - A missão seria difícil (v.3) - Seus discípulos seriam como ovelhas no meio de lobos. Haveria oposição. Também hoje, o anúncio do reino de Deus nunca será recebido sem oposição, embora seja esta muito maior em alguns lugares do que em outros. Afinal, os seguidores de Jesus devem ter uma vida semelhante à do seu Mestre, contrapondo-se ao que é mal e injusto. Se não há oposição alguma, de ninguém, devemos prestar atenção se não estamos enfraquecendo o nosso testemunho cristão para que sejamos mais aceitos. Ou se não estamos perdendo a consciência de que todo o cristão, seja qual for a sua atividade, deve procurar viver dentro de padrões que satisfaçam a justiça e a santidade de Deus, inclusive em seu relacionamento com as pessoas. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 69 || 69 | O D E S E J O D E J E S U S PA R A O S S E U S S E G U I D O R E S - A missão era urgente (v.4) - não deveriam ficar gastando tempo e energia com o que não era importante. Cumprimentos ou bagagem não deveriam atrapalhar a caminhada. Também nós, não devemos carregar coisas em nossa bagagem que a tornem pesada demais e nos impeçam de caminhar. Tiremos dela os cuidados deste mundo, as vaidades, o luxo, as inimizades, o formalismo, etc... Caminhemos com leveza, dando importância àquilo que é realmente importante. - Sobre o sustento, Jesus diz que digno é o trabalhador do seu salário (v.7) - Deus providenciaria pessoas que os sustentassem e eles deveriam viver com simplicidade e sem ambições materiais. Ainda hoje, devemos estar dispostos a sustentar os obreiros do Senhor, que gastam a sua vida exclusivamente no anúncio da Palavra de Deus ou na preparação do povo de Deus para que cumpra a sua missão no mundo. Estes obreiros são dignos de duplicada honra (I Tm. 5:17,18). Devemos ter a consciência, no entanto, de que todos os cristãos são chamados a representar o reino de Deus onde estiverem, defendendo seus princípios, vivenciando um estilo de vida dentro dos valores que pertencem a tal reino. Precisamos viver dentro do espírito do reino de Deus, testemunhando que tal reino manifestou-se em Jesus e já chegou em nossa vida. Que vivamos dentro dos valores do reino de Deus, os quais são humildade, simplicidade, paz, amor, honestidade, pureza e tudo que caracterizou a vida do nosso Mestre. Aplicação a sua vida: Como você pode anunciar às pessoas com quem convive que sua vida é um sinal do reino de Deus entre elas? 70 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I 2. Jesus deseja que ajudemos os semelhantes, sem preconceito - Leia Lucas 10.25-37 Esta parábola é muito conhecida: a do samaritano que socorre o homem assaltado. Através dela, Jesus respondeu à pergunta de um religioso que queria vêlo cair em contradição. Isto sempre acontecia com os escribas, que eram doutores da lei, e com os fariseus. Queriam pegar Jesus em contradição, para terem de que acusá-lo perante o povo. Jesus, então, proferiu esta parábola, o que deve ter deixado irados os doutores da lei ali presentes, pois ela, além de ter deixado em posição desfavorável os religiosos, colocou como herói um samaritano. Jesus lhes ensinou várias lições. Vejamos: - Muitos escribas e fariseus valorizavam o cumprimento rígido de todas as práticas religiosas, mas desprezavam a justiça, a misericórdia e a fé (Mt. 23.23), inclusive menosprezando os samaritanos. Nesta história, foi o samaritano quem cumpriu o maior de todos os mandamentos. - Jesus ensinou que o que importa para Deus não é simplesmente o cumprimento de ritos religiosos, mas a fé que tem por expressão o amor, o que leva à ação. “Deveis fazer estas coisas e não omitir aquelas”, disse Jesus (Mt. 23.23). O ensino de Jesus e o Seu confronto com os fariseus mostraram o quanto Ele era corajoso. Sabendo os riscos que corria, falava-lhes a verdade, mesmo que isso lhes provocasse incômodo ou raiva. Queria salvá-los de uma religião legalista e de uma justiça própria, que os tornava rígidos com os outros e os impedia de enxergar os próprios pecados. Jesus os amava e sabia que o jeito deles de ver a O D E S E J O D E J E S U S PA R A O S S E U S S E G U I D O R E S | lei de Deus os impedia de receber a graça do Senhor. Jesus! Que Mestre cheio de coragem e amor! 3. Jesus deseja crescimento para aqueles que O seguem - Leia Lucas 10. 38-42 Jesus estava em Betânia, na casa de Maria e Marta. Maria ficava aos pés do Cristo, ouvindo-O, enquanto Marta se preocupava em servi-lo com uma boa refeição. No meu entender, as duas praticavam atividades importantes, pois, precisamos tanto do alimento material quanto do espiritual. O que havia era uma preocupação excessiva de Marta com o alimento material, no que ela foi repreendida delicadamente por Jesus, o qual focalizou a questão da prioridade. É importante o fato de Jesus ter valorizado o desejo de Maria de aprender aos pés de um Mestre, especialmente num tempo em que isto era, em grande parte, negado à mulher. Para Jesus, era muito mais importante repartir com as pessoas o alimento que Ele possuía (o ensino), do que usufruir de uma mesa farta ou de uma casa bem arrumada. Esta era a Sua comida, como Ele disse aos seus discípulos - fazer a vontade do Pai (Jo. 4.34). Será que hoje, em nossa vida cristã, pessoal ou comunitária, não podemos, mesmo com as melhores intenções, como aconteceu com Marta, gastar muito mais do nosso tempo com o que é material ou social? Preparamos ambientes, programações, homenagens e banquetes para agradar a Jesus, e não gastamos tempo em estar a Seus pés, aprendendo d’Ele como viver uma vida verdadeira, profunda e significativa neste mundo. Aplicação a sua vida: Quais são as suas prioridades? Quais atitudes suas mostram o seu desejo de aprender com Jesus? Com nossos trabalhos domésticos e práticos, podemos realmente servir a Deus, pois, de acordo com o ensino de Jesus, servimos também a Ele quando servimos com amor às pessoas que Ele ama. Não devemos separar a nossa vida “religiosa” da nossa vida cotidiana, como se só estivéssemos servindo ao Senhor quando estamos lendo a Bíblia, orando ou em algum trabalho com a igreja. Devemos ter cuidado, no entanto, para não inverter prioridades. Jesus quer que desenvolvamos nossa compreensão d’Ele, de nós mesmos e do mundo em que vivemos, para que possamos atuar em Seu nome. Conclusão Estejamos atentos para viver de forma equilibrada, tanto servindo aos outros, quanto tendo uma íntima e produtiva comunhão com o Cristo dos Evangelhos. Assim se desenvolverá em nós o Seu modo de ver a vida, o mundo e as pessoas. Como consequência, teremos o Seu jeito de ser e a Sua forma de agir, servindo de luz para o mundo. E, seguindo o exemplo d’Ele, nosso alimento poderá se tornar também fazer a vontade de Deus. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 71 ESTUDO 21 A SEMELHANÇA COM O CARÁTER DO PAI O Ministério de Jesus na Pereia Parábolas Introdução O ministério de Jesus na Pereia, onde Ele se deteve enquanto viajava para Jerusalém, inclui também acontecimentos em outras cidades fora dessa região, onde Ele passou rapidamente. Este tempo do Seu ministério está narrado em Lucas 13.22 a 19.28(1) e em textos menores de outros evangelhos. Neste estudo, destaco algumas parábolas e, no próximo, alguns acontecimentos desta fase do ministério de Jesus. 1. Parábolas do ministério na Pereia Leia Lucas 13.22 a 19.26 Lucas é, dos evangelistas, o principal narrador de parábolas. Nos capítulos aí referidos, você encontra muitas delas. Mesmo sem ler todo o texto indicado, procure reconhecer as parábolas aí con72 72 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Lucas 15.1-10 Lucas 15.11-32 Lucas 18.9-14 II Coríntios 2. 14-15 II Coríntios 5.17-20 Efésios 5.3-6 tidas. Jesus era um grande Mestre. Ele contava histórias do cotidiano porque, assim, as pessoas que tinham real interesse em absorver as lições das parábolas, percebiam os seus ensinos. Ao mesmo tempo, as pessoas que tinham resistência a Ele, as que não queriam segui-lo ou as que não estavam suficientemente maduras para entender as parábolas, não as entendiam naquele momento, podendo vir a entendê-las mais tarde. Por outro lado, os que O perseguiam e queriam prendê-lo, não se sentiam suficientemente autorizados para isso, já que Ele falava por parábolas. las. Veja a seguir algumas destas parábo- 2. O perdido é encontrado - Leia Lucas 15.1-32 Leia primeiro o texto todo, percebendo o que há de comum nas três parábolas que aí se encontram. A S E M E L H A N Ç A C O M O C A R ÁT E R D O PA I | Nos primeiros versículos (1-3) nós encontramos a razão por que Jesus contou estas três parábolas. Os fariseus e escribas O criticavam por receber pessoas que não cumpriam as leis religiosas. Tais pessoas eram consideradas por eles como “os pecadores”. Jesus, então, conta estas parábolas, mostrando em todas que algo está perdido e é procurado, havendo grande alegria ao se encontrar o que estava perdido. Jesus queria que os fariseus e escribas entendessem o quanto é alegre para Deus que o ser humano perdido se deixe achar por Ele. Receber a pessoa que se volta para Ele é o Seu desejo e a Sua alegria. Vejamos algumas semelhanças e diferenças entre estas parábolas: - Nas duas primeiras, quem toma a iniciativa para o reencontro com o que estava perdido é o dono. Isto mostra que a graça de Deus vem sempre primeiro. Ele nos busca antes mesmo de O procurarmos. - Na parábola da dracma, o que está perdido não tem consciência da sua perdição e nem sofre por isso. Na parábola da ovelha perdida, ela já sofre como consequência do seu afastamento do pastor. O filho já tem plena consciência do seu afastamento do pai. Cada pecador pode ter um grau diferente de consciência do seu afastamento de Deus, mas todos estão perdidos enquanto não houver o reencontro com o Pai. - Na parábola do filho pródigo, vemos o filho voltando arrependido e o pai que o espera. Isto nos mostra que há uma parte a ser feita pelo homem afastado de Deus. Este deve reconhecer o seu estado de filho desgarrado e desejar a comunhão com o Pai, expressando-se tudo isto na sua atitude de voltar. É maravilhoso saber que ao filho basta o reconhecimento da sua condição e a atitude de voltar, para que possa restabelecer sua condição junto ao pai. Não é preciso melhorar o aspecto para se voltar para Deus. As mudanças acontecerão com o restabelecimento da condição de filho e pela comunhão com o Pai (vs. 2122). Assim aconteceu com o filho pródigo. A volta para Deus é aquilo que a alma do pecador mais almeja, tenha ele consciência disso ou não. Pena que muitos continuem em estado de rebelião, resistindo à sua própria necessidade de voltar. Não percebem que nesta volta estaria sua possibilidade de ter uma vida feliz e com propósito. Outra lição que a parábola do filho pródigo nos ensina é o perigo de sermos como o filho mais velho que, embora vivendo em casa, tinha o coração cheio de amargura e distante da comunhão com o pai. Não se aproveitava de sua riqueza. Parecia mais ser um empregado, cumprindo fielmente todos os seus deveres, sem afinidade com o seu pai. Não sofreu com ele e nem partilhou da alegria do pai com a volta do seu irmão. Jesus falava aos fariseus, lembra-se? (vs.1-3). Eles cumpriam a lei, mas não tinham misericórdia. Por isso, condenavam Jesus, por aceitar aqueles que eles julgavam “grandes pecadores”. Será que podemos ser como o filho mais velho? Estar na “casa do Pai” e apenas cumprir as nossas obrigações, sem qualquer alegria? Se não amamos o Pai Celeste e nem temos comunhão íntima com Ele, não nos alegraremos em Sua casa e nem teremos um caráter parecido com o d’Ele: amoroso e perdoador. Com o coração livre e feliz, recebamos com alegria as pessoas na nossa família REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 73 | A S E M E L H A N Ç A C O M O C A R ÁT E R D O PA I espiritual, pois, somos todos pecadores perdoados. Aplicação a sua vida: Você se alegra no seu convívio com Deus? Quais efeitos esse convívio tem produzido em sua vida? Seu coração está cheio de amor e espírito perdoador como o coração do Pai? 3. O fariseu e o publicano - Leia Lucas 18.9-14 No versículo 9, Lucas declara que Jesus contou esta parábola aos religiosos, aqueles que confiavam em sua própria justiça. Ele queria fazê-los compreender que, o reconhecimento humilde de que se é pecador, é agradável a Deus. Não o sentimento de orgulho e de desprezo a outros. Ali estavam o fariseu e o publicano no templo. O publicano era considerado impuro diante de Deus, pois, não praticava os deveres e rituais religiosos. Era, no entanto, humilde, reconhecendo-se pecador e necessitado da misericórdia de Deus. O fariseu, no entanto, que cumpria com rigor as regras da lei mosaica, julgava-se superior e desprezava aqueles que não tinham o seu modo de viver. Talvez aquele fariseu fosse até sincero. Julgavase realmente melhor por cumprir a lei. Só que ele mostrava com isso que não conhecia a Deus e que julgava apenas de acordo com a aparência exterior, não percebendo o orgulho, a falta de misericórdia, e a pobreza de amor que habitavam o seu coração. O publicano, cheio de humildade, reconhecia o quanto necessitava da graça de Deus, o que não acontecia com o fariseu. Lemos na Bíblia: “Deus se opõe aos 74 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I arrogantes, porém dá graça aos humildes (Tg. 4.6) Esta parábola nos mostra o perigo de agirmos como o fariseu. Agimos assim quando consideramos pecado apenas a quebra das leis exteriores, sendo pessoas interiormente abaixo do padrão de Deus. E existe alguém que não esteja muito abaixo? Estamos abaixo quando nos faltam humildade, justiça, amor, compaixão, coragem para viver o que é correto. Quando, em vez de nos considerarmos pecadores, sentimos orgulho porque cumprimos exteriormente os nossos deveres religiosos. Quantas vezes agimos como o fariseu da parábola! Isto é abominável a Deus, pois, nos afasta d’Ele, impedindo o nosso crescimento espiritual. Aplicação a sua vida: É possível crescer no relacionamento com Deus sendo como o fariseu? Por quê? O reconhecimento do nosso pecado, e a nossa contrição, com desejo profundo de ser o que Deus quer de nós, fará com que Ele nos tome nos braços e nos ajude a crescer em direção ao Seu ideal. Conclusão Vimos neste estudo algumas parábolas contadas por Jesus nesta parte do seu ministério, quando Ele estava na Pereia ou indo para Jerusalém. No próximo estudo veremos alguns fatos do Seu ministério nesta região. Que Deus nos dê a humildade que nos abra à Sua graça! _________ (1) Gioia Egídio. Notas e Comentários à Harmonia dos Evangelhos. RJ: JUERP, 1969 ESTUDO 22 JESUS É VIDA QUE LIBERTA O Ministério de Jesus na Pereia Fatos importantes Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Lucas 17.11-19 João 11.1-14 João 11.14-27 João 11.28-44 Lucas 18.18-24 Lucas 19.1-10 Introdução No estudo anterior, dissemos que o ministério de Jesus na Pereia está narrado principalmente em Lucas 13.22 a 19.28, havendo poucos fatos relacionados e esta fase em outros evangelhos. Enquanto no estudo anterior vimos algumas parábolas ensinadas por Jesus, agora veremos alguns fatos desta parte do seu ministério, alguns narrados em Lucas e um contado pelo evangelista João. Antes de passarmos ao estudo dos fatos que serão vistos neste estudo, examine o texto de Lucas indicado acima e identifique todos os fatos encontrados aí. 1. Jesus faz o bem, sem visar gratidão Leia Lucas 17.11-19 Vemos aí que Jesus não curava para receber qualquer forma de retribuição, nem mesmo para receber agradecimen- tos. Ele curava por sentir compaixão das pessoas. Ele satisfazia a necessidade das pessoas e não Suas próprias necessidades, como pode acontecer hoje com muitos de nós que desejam com suas obras atrair audiências, receber agradecimentos, atenção, notoriedade, etc. Com Jesus nunca acontecia isto. Neste milagre, vemos que apenas um voltou para agradecer, o que nos ensina que o grupo dos que não revelam gratidão é sempre maior do que o grupo dos agradecidos. Jesus se agrada de um coração grato, não em Seu próprio benefício, mas por saber que a pessoa agradecida receberá bênçãos maiores. Aplicação a sua vida: Em qual grupo você está? Quais bênçãos você tem recebido sem agradecer e, às vezes, sem mesmo notar? REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 75 || 75 | J E S U S É V I D A Q U E L I B E R TA Muitas pessoas não recebem as bênçãos mais preciosas de Deus (as espirituais) por não terem o coração preparado para isso. Dos que receberam a cura, o samaritano foi mais abençoado, pois, não apenas o seu corpo, mas sua alma foi tocada, além de ter tido mais um contato com Jesus. 2. Jesus é a Vida - Leia João 11.1-48 Quando Jesus estava na Pereia, soube que seu amigo Lázaro estava enfermo. Foi, então, à Betânia, na Judeia. Jesus estava numa fase de grande popularidade e de grande pressão em Seu ministério. Era perigoso para Ele voltar à Judeia, pois, poderia ser perseguido e talvez até morto. Os discípulos sabiam disso e o próprio Tomé disse aos outros no versículo 16: “Vamos nós também para morrer com Ele”. Ao chegar à casa dos Seus amigos e encontrar Lázaro já morto, Jesus realizou o grande milagre de trazer à vida alguém já morto há quatro dias. Isto causou grande sensação. Este texto faz-nos ver não apenas o poder de Jesus ao realizar este milagre, mas outros aspectos a respeito d’Ele. - Ele é vida. Quem está n’Ele não experimentará a morte eterna (vs. 25-26). - Ele tinha emoções como qualquer ser humano: comovia-se, chorava, sofria (vs. 33-35, 38). - Ele tinha uma dependência profunda de Deus e disso dava sempre testemunho (vs. 41-42). Muitos creram n’Ele após este milagre (v. 45). Outro resultado do milagre, no entanto, foi que os fariseus e sacerdotes passaram a desejar mais ainda matar a Jesus (vs. 47-48). A presença e as ações 76 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I do Filho de Deus ameaçavam as suas atividades e posições. A presença de Jesus em nossas vidas sempre ameaçará aquilo que para nós é ídolo. Mas os ídolos escravizam, não nos dão a verdadeira alegria, e um dia nos deixarão totalmente desamparados. Aplicação a sua vida: Quais ídolos você ainda percebe em sua vida? Apesar de ter estado em Betânia, Jesus se dirigiu depois para longe de Jerusalém, pois, ainda não era chegada a Sua hora, embora esta já estivesse muito próxima. 3. Jesus quer a nossa libertação - Leia Lucas 18.18-24 e 19.1-10 Temos aí dois fatos interessantes desse período do ministério de Jesus: o encontro d’Ele com duas pessoas muito diferentes uma da outra. O jovem rico e o publicano Zaqueu. Façamos um paralelo ligeiro entre essas duas pessoas tão diferentes do ponto de vista social e religioso, mas ambas tão profundamente necessitadas da graça do Senhor. - O jovem era corretíssimo e guardava criteriosamente toda a lei de Moisés, desde muito cedo em sua vida. Zaqueu era um homem de péssima reputação na sociedade e acumulara muitas riquezas, cobrando impostos do seu povo - o judeu - para o povo romano que oprimia os judeus. E cobrava além do devido, através daqueles a quem ele chefiava. Era considerado um “pecador”. J E S U S É V I D A Q U E L I B E R TA | - O jovem rico era muito correto, parecendo confiar na sua própria bondade e correção, não percebendo o seu profundo egoísmo. Preso às riquezas, não estava disposto a renunciar uma posição confortável em favor de outros. Não se deixou tocar pela graça, talvez por se julgar muito correto. Zaqueu talvez se considerasse um pecador e, por isso, a presença de Jesus na sua casa o tocou profundamente. Ele estava pronto a ser tocado pela graça e a renunciar aquilo que até ali ele julgara tão importante. O toque da graça o transformou. - O jovem rico confiava em sua justiça, julgando-se bom porque cumpria a lei. Zaqueu considerava-se um pecador e sabia que, para ser perdoado, precisava da misericórdia de Deus. Muitas lições podemos tirar desses dois encontros de Jesus. Do encontro de Jesus com o jovem rico, aprendemos que: - Precisamos ter cuidado com as coisas que consideramos preciosas em nossas vidas, pois, estas poderão fazer com que percamos o que é muito mais valioso. Não devemos inverter os valores, desprezando o espiritual em função do material, trocando o essencial e eterno pelo que é secundário e transitório. - Jesus quer nos libertar da escravidão. Aquele moço era um escravo de suas riquezas e infeliz por causa disso. Saiu triste. Veio buscar segurança e alegria, e saiu sem elas. No encontro com Zaqueu, o publicano, observamos que: - As pessoas murmuravam, isto é, falavam mal de Jesus por haver Ele entrado na casa de um homem de má reputação na sociedade. Novamente, Jesus valoriza mais o ser humano que está disponível para a transformação e o crescimento, do que a opinião de pessoas legalistas que acabam se tornando desumanas. O que é ser verdadeiramente humano, senão ser o humano conforme o ideal de Deus? E qual é o ideal de Deus para nós? Não é que tenhamos a Sua imagem em nós, que foi danificada na queda, o mais restaurada possível? E qual o modelo de ser humano perfeito, senão Jesus? - Ninguém que é tocado pela graça deixa de sentir, como efeito da transformação que ela causa, além da alegria, o desejo de corrigir-se e de doar de si aos outros. Como você percebe, tudo isto aconteceu aí com Zaqueu. Conhecer verdadeiramente a Jesus provoca transformações que nos humanizam e nos alegram! Aplicação a sua vida: O que está impedindo que Deus opere transformações em sua vida? Conclusão Jesus termina o Seu ministério na Pereia. Aproximam-se agora seus últimos dias sobre a terra. Veremos nos próximos estudos sua última semana de vida terrena. Caminhará para Jerusalém como a ovelha que vai para o matadouro. Sabe que ali estarão Seus dias de agonia, sofrimento e morte. Mas, era necessária a Sua submissão ao Pai, isto é, ao cumprimento do projeto divino, que era o Seu próprio projeto, já que Ele e o Pai, em Suas próprias palavras, são UM (Jo.10.30 e 14.9 e 11). Ir a Jerusalém significava levar a termo a sua dolorosa e sublime missão até o fim. Isso significaria a Sua vitória e o nosso supremo bem. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 77 ESTUDO 23 JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA A Última semana na vida de Jesus - Domingo e Segunda-feira Introdução Neste e nos dois próximos estudos, veremos a última semana da vida terrena de Jesus. Eles foram divididos pelos dias da semana. Para isto, consultei o livro “Introduccion al estudio del Nuevo Testamento” do autor H. I. Hester, que consta das Referências Bibliográficas, ao final. Esta última semana foi de muitas atividades e de trágicos sofrimentos na vida de Jesus. A páscoa dos judeus foi na sexta-feira em que Jesus foi crucificado. Como o dia judaico começa com o pôr do sol do dia anterior, a partir do pôr do sol de quinta-feira já a páscoa era celebrada. Em João 12.1 lemos que Jesus foi a Betânia seis Dias antes da páscoa. Provavelmente foi na sexta-feira da semana anterior e aí Ele passou o sábado. Enquanto isto, em Jerusalém muitos co78 78 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias João 12.12-19 Marcos 11.12-19 João 12. 20-30 João 14.15-17 João 15.1-5 João 14.6-11 gitavam se Ele iria ou não à festa. O cerco se apertava em torno de Jesus (Leia João 11.55-57). Este estudo abrangerá o domingo e a segunda-feira. Jesus chegou no final da semana anterior à páscoa, na casa de Seus amigos Marta, Maria e Lázaro, em Betânia, e ali passou o sábado. Ali foi homenageado por Maria, que lhe perfumou os pés com um caríssimo perfume (Jo. 12.1-3). Betânia distava de Jerusalém, aproximadamente, três quilômetros. No domingo e na segunda-feira, vários fatos tiveram lugar na vida de Jesus, na cidade de Jerusalém. Vejamos tais fatos. 1. A entrada triunfal - Leia João 12.1219 Após passar o sábado em Betânia, Jesus corajosamente foi no dia seguinte a Jerusalém. Foi quando se deu a Sua JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA | entrada triunfal. Chegou montado num jumentinho. Assim se cumpriu o que lemos em Zacarias 9.9. A multidão O aclamara, espalhando ramos de palmeira. Era a semana da páscoa e a cidade estava cheia. A Sua fama se espalhara de forma estrondosa, especialmente depois da ressurreição de Lázaro. Muitos ainda estavam esperando que Ele fosse o líder político que libertaria Israel do Império Romano. Ao vir montado num simples jumento em vez de montar num imponente cavalo, Ele anunciava que vinha numa missão de paz, pois este era o significado do Seu ato. E, ao chegar cumprindo uma profecia, estava proclamando ser o Messias. Acabado o domingo, Jesus voltou a Betânia, indo passar a noite na casa de Seus amigos (Mc. 11.11). 2. Dois fatos ocorridos na segunda-feira - Leia Marcos 11.12-19 Na segunda-feira, novamente Jesus foi a Jerusalém. O primeiro fato narrado neste texto foi a maldição da figueira. Este milagre tem sido criticado por alguns porque esta não era época de figos. “Contudo consta que na Palestina a figueira dá fruto temporão, verde e imaturo, que aparece antes das folhas e serve de alimento para os camponeses. A ausência desse fruto seria evidência inegável da esterilidade da árvore”.(1) Este fato era uma lição para os israelitas, pois, a figueira era símbolo da nação. A nação, embora abundante em folhas de aparência religiosa, não produzia frutos de justiça. O segundo fato dessa segundafeira, narrado por Marcos, foi a purificação do templo. Transcrevemos aqui um texto do Novo Comentário da Bíblia: “Ele agia mais uma vez na Sua função de Messias. Nesta ocasião o pátio dos gentios serviu de palco para a cena. Naquele pátio havia um mercado para a venda de objetos necessários ao templo, e um câmbio onde se obtinha dinheiro judaico, visto que não se aceitava no recinto sagrado, tributo pago em moedas pagãs. Estas provisões aparentemente razoáveis abriram, no entanto, uma porta para a hierarquia extorquir dinheiro e, ao mesmo tempo, para o povo regatear os animais como se fosse bazar oriental, com o consequente prejuízo dos peregrinos. Parece que alguns usavam o recinto como atalho entre a cidade e o Monte das Oliveiras (v.16), minúcia esta notada somente por Marcos. ”(2) Na época da páscoa, havia muita gente em Jerusalém e os animais vendidos no templo tinham a garantia de serem aceitos para o sacrifício, pois, estes deveriam ser animais sadios e perfeitos. Os vendedores exploravam, por isso, especialmente os que vinham de longe. Isto provocou a indignação, a ira de Jesus, pois, via que, por motivos egoístas da classe mais alta, muitas criaturas amadas por Deus eram prejudicadas. Aplicação a sua vida: Quando você se ira, isto é sempre resultante do seu senso de justiça ao ver outras pessoas sendo prejudicadas, ou tem por causa motivos egoístas e pecaminosos, como o orgulho ferido ou interesses pessoais prejudicados? Examinese nos momentos de ira para se conhecer melhor. Talvez este seja um caminho para as transformações que Deus quer operar em sua vida. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 79 | JESUS SOFRE, RECONHECENDO O QUE O AGUARDA 3. Gregos querem ver Jesus - Leia João 12. 20-30 Jesus foi procurado por alguns gregos que desejavam vê-lo, ainda na segundafeira, segundo H. I. Hester. Estes gregos eram prosélitos (3), pois, o v. 20 diz que eles também foram adorar. Eles procuraram a Filipe, talvez por ser este de Betsaida da Galileia, onde havia muitos gregos. Filipe falou a André e ambos se dirigiram a Jesus. O Mestre, então, dirigiu-lhes a palavra, expressando-lhes o que lhe iria acontecer nos próximos dias, como também a grande angústia que tomava conta de Sua alma. Disse-lhes que a hora de Sua glorificação chegara (v. 23), mas que, antes disto, haveria muita humilhação e sofrimento (v. 24). Parece que Jesus viu na vinda dos gregos as primícias da grande colheita que virá a partir de Seu sofrimento, morte e ressurreição. Por isso, Ele proclamou a grande verdade do versículo 24: “Na verdade, na verdade vos digo que, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto”. A grande colheita de almas remidas, entre judeus e gentios, deveria ser precedida de Sua morte. Jesus falou da sua angústia e declarou que para isso Ele veio, não podendo pedir ao Pai que O salvasse dessa hora. Em intenso sofrimento, recebeu a confirmação dos céus de que era necessário o cumprimento de Sua missão. 80 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Nos versículos 24-26, embora falando do Seu próprio sofrimento e morte, Jesus está falando também daquele que deseja segui-lo, conforme Mateus 10.39. A vida que se doa é a vida que produz. É preciso renunciar para ter. O ser humano pecador está dividido. Deseja a comunhão com Deus e ter uma vida que O sirva, mas sente também atração pelas solicitações vindas de um mundo pecador. Ele precisa perder o que deseja a sua natureza pecaminosa, para tomar posse daquilo que vai satisfazê-lo plenamente. Aplicação a sua vida: Em quais circunstâncias você tem demonstrado que se dispõe a perder para ganhar? Conclusão Este estudo apresentou algumas coisas que aconteceram no domingo e na segunda-feira da última semana da vida terrena de Jesus. No final do dia, Ele novamente foi repousar na casa de Seus amigos, em Betânia. Marcos diz apenas que Ele se retirou da cidade (11.19) e Mateus diz que Ele foi para Betânia (21.17). _______ (1) O Novo Comentário da Bíblia - Vol. II - Ed Vida Nova - Pag. 1012 (2) O Novo Comentário da Bíblia - Vol. II - Ed Vida Nova - Pág. 1013 (3) Prosélitos - Palavra que no NT se aplica aos pagãos convertidos ao judaísmo. Estudo 24 ENSINANDO ATÉ O FIM A última semana na vida de Jesus Terça, Quarta e Quinta-feira Introdução Veremos neste estudo a terça, quarta e quinta feiras da última semana de Jesus neste mundo. A terça-feira foi um dia cansativo e de muitos confrontos, quando Jesus ensinou através deles. Muitos são os relatos bíblicos sobre acontecimentos e ensinos na terça-feira. Por isso, há neste estudo referências a muitos capítulos de Mateus, apenas para que você tenha uma visão geral da intensidade das atividades de Jesus na terça-feira. À tardezinha foi novamente para Betânia, onde esteve à noite e todo o dia de quarta-feira, voltando a Jerusalém somente na quinta-feira. Os evangelhos não falam de nenhuma atividade na quarta-feira. Ele deve ter passado esse dia em oração e reflexão, preparando a Si mesmo e aos Seus discípulos para o que aconteceria a seguir. Na quinta-feira, Jesus foi outra vez para Jerusalém, celebrou a páscoa com Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 23.12-15 Mateus 23.23-28 Mateus 26. 17-30 João 13.1-20 Mateus 26. 36-46 Mateus 26.47-56 Seus discípulos e transmitiu-lhes muitos ensinamentos. Dali não sairia mais, enfrentando todos os horrores do final de Sua vida terrena entre nós. 1. Muitos ensinos na terça-feira Terça-feira foi um dia exaustivo e penoso. Jesus chegou cedo a Jerusalém, havendo ensinado aos Seus discípulos sobre a fé, quando estes viram a figueira que fora amaldiçoada na véspera (Mc. 11.20-24). Foi um dia de confronto, de controvérsias. Os inimigos tudo fizeram para pegá-lo em alguma armadilha. Regressou a Betânia tarde. No domingo e na segunda-feira, Jesus havia assumido sua posição de Messias. Isto precipitou o desejo dos líderes judaicos de pegá-lo nalguma falta, para terem de que O acusar, condenando-O à morte. Membros do sinédrio, como também vários outros fariseus, herodianos e saduceus, através de perguntas capcioREFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 81 || 81 | E N S I N A N D O AT É O F I M sas, embora aparentemente ingênuas, puseram Jesus à prova. Tudo fizeram para deixá-lo mal diante do povo. Examine ligeiramente os textos indicados a seguir, para que você tenha ideia da intensidade das atividades de Jesus neste dia. a) Em Mateus 21.23 a 22.40 temos algumas das perguntas feitas a Jesus. - A primeira foi sobre sua autoridade (21.23-27). Ele contou, então, três parábolas que ilustravam a atitude dos líderes judaicos (21.28 - 22.14). - A segunda foi sobre o pagamento de tributo a César (22.15-22). - A terceira foi sobre a ressurreição (22.23-33). - A quarta foi sobre o principal dos mandamentos (22.34-40). Jesus respondeu a todas com sabedoria, de tal maneira que deixou a multidão admirada e encantada. b) Em Mateus 23.1-39 Jesus fez pesado discurso, denunciando a hipocrisia dos escribas e fariseus. Depois, Ele observou e elogiou a oferta da viúva pobre, fato observado apenas por Marcos e Lucas (Mc. 12.41-44 e Lc. 21.1-4). c) Em Mateus 24-25, temos três discursos de Jesus. 1º) Sobre a destruição de Jerusalém (Mt. 24.1-35). Isto veio a ocorrer mais ou menos trinta anos depois. 2º) Sobre sua vinda, com exortação à vigilância através das parábolas das dez virgens e dos talentos (Mt.24.36 - 25.30). 3º) Por último, sobre o último julgamento (Mt. 25.31-46). Foi um dia emocionalmente muito difícil. Depois disto foi para Betânia. Em Mateus 26.1-16, vemos, ainda na terça-feira, primeiro Jesus preparando 82 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I seus discípulos para o que lhe aconteceria na quinta e sexta-feiras. Enquanto isso, os líderes judaicos planejavam pegá-lo para O matarem. Mais tarde, vemos Jesus, já em Betânia, sendo ungido por uma mulher, que João parece identificar como Maria, irmã de Marta e Lázaro (Jo. 12.2-3). Houve crítica por parte dos discípulos ao uso de um perfume tão caro ali. João identifica o autor da crítica como Judas e diz que ele, como tesoureiro, queria depositar dinheiro na bolsa do grupo para roubá-lo (Jo. 12.4-6). O relato de Mateus e o de João referem-se ao mesmo fato. O dia de terça-feira foi, portanto, muito cheio. Desde cedo, na vinda, com os ensinamentos sobre a figueira que havia secado; depois, os confrontos e ensinamentos no templo; por fim, a volta para Betânia, sendo ungido na casa de Simão. Quarta-feira foi um dia sobre o qual não temos nenhum fato registrado nos evangelhos. Foi um dia, talvez em Betânia mesmo, de preparação para o que viria. Nos dois próximos ítens veremos fatos que ocorreram na quinta-feira. 2. Ceia do Senhor com lição de humildade, despedidas, ensinos e oração sacerdotal - Leia Mateus 26.17-30 e João 13.1-20 Jesus celebrou a ceia pascal, que se transformou em Ceia do Senhor para os cristãos. Aqueles que já eram Seus discípulos e outros milhares, que O seguiriam após a Sua morte e ressurreição, tem celebrado a Ceia do Senhor com todo o simbolismo cristão que conhecemos, o qual nos foi transmitido pelo próprio Jesus e seus primeiros seguidores. O Evangelho de João nos mostra, durante a ceia, Jesus lavando os pés dos discípulos - a grande lição de humildade e E N S I N A N D O AT É O F I M | de serviço que eles jamais esqueceriam. Para os discípulos, foi chocante ver Jesus fazendo um trabalho de escravo. Mas, Ele ensinava com isso que no Seu reino os valores são diferentes dos valores deste mundo. O maior é o que serve. Devia-se procurar servir e não ser servido. A partir do versículo 21 de João 13, o traidor é revelado e Pedro é avisado de que negaria o Senhor. João, nos capítulos 14 a 17 do seu Evangelho, nos mostra Jesus, ao se despedir de Sua vida terrena, transmitindo outros ensinos a Seus discípulos e orando por eles. Aplicação a sua vida: Jesus, o grande Mestre, ensinou o tempo todo, com Seu modo de viver e Seus pronunciamentos. Quais atitudes demonstram em você o desejo de aprender com Jesus? E como você tem demonstrado em sua vida esse aprendizado? 3. Jesus no Getsêmane - Leia Mateus 26. 36-56 Aqui vemos o sofrimento de Jesus atingindo uma intensidade indescritível. A hora final se aproximava, quando Ele se ofereceria como holocausto pelos nossos pecados. A Sua alma estava extremamente angustiada. Seu desejo era fugir da cruz. Mas, para isso veio. Durante toda a Sua vida, Jesus foi tentado a desviar-se da cruz. Para isso, o diabo lutou com Ele na tentação após o batismo; para isso, usou o povo que quis fazê-lo rei; para isso, usou até Pedro quando aconselhou Jesus a não deixar que coisas tão penosas lhe acontecessem. E agora esta agonia, esta angústia, esta dor inominável... Mas Jesus tinha plena consciência de Sua missão e iria cumprila. Ele mesmo disse: “Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a Sua vida pelas ovelhas” (Jo. 10.11). No Getsêmane, Jesus recomendou aos Seus seguidores: “Vigiai e orai para que não entreis em tentação” (v. 41). Deus tem propósitos para a nossa vida, dos quais somos sempre tentados a nos desviar. Temos nós resistido a tais tentações? Depois da terceira vez que orou em extrema angústia as mesmas palavras, Jesus serenamente anunciou aos Seus discípulos que Sua hora era chegada. Então Judas se aproximou com muitas pessoas da parte dos líderes do povo judeu. Jesus foi preso. Um dos discípulos, identificado como Pedro por João (Jo. 18.10), feriu o servo do sumo-sacerdote, sendo repreendido por Jesus. O nosso Mestre nos ensina a trilharmos o caminho da não violência, a sermos pacificadores. Conclusão Assim passaram-se terça, quarta e quinta feiras daquela fatídica semana. Lembra-se dos principais acontecimentos desde o domingo? Veja: - domingo: entrada triunfal em Jerusalém; - segunda-feira: a figueira é amaldiçoada, a purificação do templo, os gregos procuram Jesus; - terça-feira: os discípulos se admiram de que a figueira haja secado, respostas a perguntas e ensinamentos no templo, Jesus é ungido em Betânia; - quarta-feira: provavelmente, oração e contato com os discípulos em Betânia; busca de força para enfrentar os momentos finais; - quinta-feira: celebração da ceia, muitos ensinamentos, despedidas, oração sacerdotal, Jesus ora no Getsêmane e ali é traído e preso. Aproxima-se o doloroso final. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 83 ESTUDO 25 O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS A última semana na vida de Jesus - Sexta-feira e Sábado Introdução No estudo anterior, vimos que na quinta-feira Jesus celebrara a Páscoa com Seus discípulos e se despedira deles com uma grande lição de humildade, e depois com vários ensinos e oração (Jo. 14-17). A seguir, ainda na quinta-feira, Jesus sofreu a Sua agonia no Getsêmane, sendo preso e entregue às autoridades por uma multidão chefiada por Judas Iscariotes. Neste estudo, veremos a sexta-feira e o sábado. Sexta-feira, o dia tenebroso em que o maior sofrimento já enfrentado por um ser humano aconteceu. Sábado, o dia em que o corpo de Jesus passou no túmulo. Para os discípulos, dia de silêncio, de espanto, de desamparo, de desolação, de decepção, de tristeza, de medo. O dia de sofrimento que antecedeu ao maior e mais surpreendente acontecimento já visto sobre a terra. 84 84 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 26.57-75 Mateus 27.1-31 Mateus 27.32-44 Mateus 27.45-56 Mateus 27. 57-61 Filipenses 2.5-11 1. Jesus perante as autoridades judaicas - Mateus 26.57-75 Apanhado na quinta-feira à noite por guardas e outras pessoas, todos enviados pelos líderes judaicos e guiados por Judas Iscariotes, Jesus foi levado até Caifás. Só João narra que, antes de ser conduzido a Caifás, que era o sumo-sacerdote, levaram-no a Anás, o sogro de Caifás. Os membros do Sinédrio se reuniram para julgar Jesus. Foi um julgamento, segundo os estudiosos, totalmente ilegal, já que além das testemunhas contra Jesus serem completamente tendenciosas, não havia testemunha favorável a Ele. Além disso, Jesus fora arrastado até ali, sem que pesasse sobre Ele uma acusação formal. Durante aquela madrugada, um fato envolveu o apóstolo Pedro e que nos traz muitas lições - Leia Mateus 26.69-75 Ali no pátio, perto de onde Jesus estava, Pedro foi indagado, por várias vezes, O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS | se pertencia ao grupo de Jesus, ao que ele negou categoricamente. Após negar por três vezes que era um seguidor de Jesus e ouvir o galo cantar, Pedro se lembrou de que Jesus lhe dissera que ele O negaria três vezes (Mt. 26.33-35). Jesus mandou que ele apascentasse Suas ovelhas. Deus nos usa quando desejamos de coração a Sua vontade, reconhecendo, no entanto, as nossas fragilidades e entregando-nos a Quem pode nos encher de poder e graça. Algumas observações sobre Pedro: Mais tarde, cheio do Espírito Santo, Pedro se tornou corajoso, mas sabia que esta coragem não vinha dele e, por isso, não poderia ficar vaidoso. - Pedro seguia Jesus de longe. Estava amedrontado. Quando seguimos Jesus de longe, nossa fé se enfraquece, nossos temores aumentam. - Pedro estava na companhia de inimigos de Jesus. Se, principalmente em nossos momentos mais vulneráveis, andamos com aqueles que amam a Jesus, nossa fé se fortalece e nos sentimos encorajados. Mas, ele estava com estranhos e adversários. Lucas registra que Jesus, após Pedro lhe haver negado pela terceira vez, olhou para ele. Isto quebrantou o coração de Pedro, que saiu para chorar fora dali. Estava arrependido e decepcionado consigo mesmo. Pedro estava se confrontando com o que havia feito e conhecendo-se melhor. Ele, que dissera a Jesus que o seguiria até à morte, sem negá-lo (Mt. 26.35), agora teve que admitir sua fragilidade e covardia. Depois da ressurreição, num diálogo com Pedro (Jo. 21.15-17), Jesus lhe perguntou por três vezes (tantas vezes quantas ele O negara), se ele O amava. Pedro hesitou em responder e, quando respondeu que o amava, usou em grego, um verbo diferente do que Jesus usou. Este não significava amar profundamente, a ponto de se sacrificar por Ele. Pedro estava agora quebrantado, humilde. Amava a Jesus, mas não confiava em si mesmo, como antes. Precisaria depender de Deus para isso. Somos fracos e temos de viver sempre sob a graça de Deus. Aplicação a sua vida: É apenas para executar algum trabalho extraordinário que devemos confiar na força que Deus dá ou em qualquer área do nosso viver, seja em casa ou na sociedade? Em quais ocasiões você tem se percebido cheio de confiança em sua própria força e capacidade? 2. Jesus perante Pilatos - Mateus 27.131 Pela manhã, bem cedo, o Sinédrio se reuniu para julgar Jesus e, após O julgarem digno de morte, mesmo sem nenhuma acusação formal contra Ele, O enviaram a Pilatos. Vemos neste texto que Pilatos concordou com a morte de Jesus, apesar de saber que Ele era justo. Tinha medo da multidão e das autoridades judaicas. Queria estar bem com todos e conservar seu poder. Lucas diz que Pilatos enviou Jesus a Herodes Antipas, que governava a Galileia e estava em Jerusalém naqueles dias. Nenhum crime foi visto em Jesus e Ele foi novamente enviado a Pilatos que, pressionado pela multidão, O entregou à morte (Lc. 23.6-25). Depois que Pilatos se dobrou aos desejos da multidão e das autoridades judaicas, Jesus foi açoitado e entregue REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 85 | O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS aos soldados romanos que d’Ele escarneceram. Quando interesses mesquinhos e pecaminosos nos levam a tomar decisões, estas acabam nos trazendo a infelicidade. Foi o caso de Pilatos que, embora alertado pela mulher dele, teve medo de perder o poder. Foi o caso de Judas, que traiu a Jesus por dinheiro. Será que podemos acusar Judas, Pilatos e autoridades religiosas, ou temos de nos sentir todos, como diz Sttot.(1), culpados pela morte de Jesus? Quantas vezes já traímos a Jesus, deixando de defender os interesses do Seu reino, por motivos egoístas e covardes muito mais fáceis de resistir do que os motivos de Pilatos, Judas e das autoridades religiosas? Nesse caso, podemos garantir que não faríamos o mesmo se estivéssemos no lugar dessas pessoas? O que precisamos é reconhecer nossas fragilidades e depender do Espírito de Jesus para nos dar a força necessária para vivermos uma vida sincera e íntegra, que O alegre e dê testemunho d’Ele a este mundo tão carente. Se nos sentirmos melhores que qualquer pessoa, nosso acesso à infinita graça de Deus fica prejudicada, pois, Ele rejeita os soberbos, mas aos humildes dá graça (Tg. 4.6). Todos nós fazemos parte desta humanidade pecadora e, de alguma forma, por ação ou omissão, somos culpados por todos os pecados que acontecem no mundo. Se em alguns aspectos nos portamos melhor que outros, isto nos acontece pela graça divina. Pense nisto! O inimigo das nossas almas não deseja que reconheçamos quem somos, porque só quando o fizermos em verdadeira e completa humildade, estaremos 86 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I prontos para usufruir da superabundante graça do Senhor. Só quando reconhecermos a nossa fraqueza, é que nos tornaremos mais fortes. Aplicação a sua vida: O que em você o está impedindo de ser tocado pela graça de Deus? 3. A crucificação - Mateus 27.32-66 Neste texto, temos a crucificação de Jesus. Esta era uma forma de condenar à morte os piores criminosos. A crucificação, além de humilhante, era inenarravelmente dolorosa. Os pés e as mãos do criminoso eram pregados com cravos e o corpo pendurado ficava em agonia até à morte. Foi este o tipo de morte do nosso Senhor amado. Alguns fatos sobre a crucificação são narrados por um e não por outros evangelistas. Se você quiser fazer um estudo mais completo, deve consultar os quatro Evangelhos. Jesus é maltratado aí por três grupos, como diz Tasker: os pecadores ignorantes (vs. 39-40), os pecadores religiosos (vs. 41-43) e os pecadores condenados (vs. 44).(2) Alguns fenômenos depois da morte de Jesus foram: - Trevas da hora sexta à hora nona: de meio-dia às três da tarde (v. 45). - O véu do templo que dava acesso ao Santo dos Santos, onde só o sumo sacerdote, apenas uma vez por ano, entrava para ser o mediador entre Deus e os homens, se rasgou (v. 51). O fato é relatado também por Marcos e tem grande significado para os cristãos. O véu, que interditava ao povo o lugar mais sagrado do O FINAL DA VIDA TERRENA DE JESUS | templo, estava rasgado. A barreira que separa os pecadores de Deus foi desfeita pela morte vicária de Jesus. - A visão de pessoas ressurretas (vs. 52-53). Alguns parecem profundamente impressionados e reconhecem Jesus como Filho de Deus. Já no final do dia de sexta-feira, Jesus foi colocado no sepulcro novo de José de Arimateia, que era um homem importante, um senador, membro do sinédrio e que Mateus diz ser um discípulo de Jesus (Mt. 27.57-60). João, ao narrar este fato, diz também que ele era um discípulo, mas ocultava isto por medo dos judeus e acrescenta que Nicodemos estava junto com ele, levando especiarias para preparar o corpo de Jesus para a sepultura (Jo. 19.38-40). As autoridades, então, mandaram guardar bem o sepulcro (vs. 62-66). Não queriam que os discípulos roubassem o corpo. Conclusão Os fatos relacionados aqui e que mostram o sacrifício de Jesus aconteceram até o final da sexta-feira. No sábado não acontece nada especial. Há certa ansiedade e temor por parte das autoridades que mandaram guardar bem o sepulcro de Jesus. Há tristeza, frustração e medo no coração dos discípulos. É sábado. Aproxima-se o domingo. O acontecimento mais extraordinário, mais admirável, mais espantoso está para acontecer na manhã do dia seguinte. É o que veremos no próximo estudo. _______ (1) STOTT John. A Cruz de Cristo. p.61 (2) TASKER, R.V.G. “Mateus - Introdução e Comentário. pp 210-211 REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 87 ESTUDO 26 O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS A ressurreição de Cristo Introdução Este é o último estudo desta série e focalizará a ressurreição de Cristo e várias de Suas aparições durante os quarenta dias, até a Sua ascensão. Serão usados textos dos vários evangelhos. A ressurreição de Cristo, diz Paulo, é o acontecimento que dá razão à nossa fé (I Co.15.14). Embora seja questionada pelos céticos, há sobejas razões para que a aceitemos como fato histórico. O maior, o mais sublime, o mais extraordinário acontecimento de todos os tempos, quando a eternidade invadiu a história humana. Não crer na ressurreição é negar, além dos registros dos evangelhos, fatos históricos que, sem dúvida, foram resultantes dela. É acreditar que, mesmo sem convicção de que Jesus ressuscitou, os cristãos primitivos continuaram se reunindo a cada Domingo para celebrarem a ressurreição de Jesus (Jo. 20:1,19,26; I CORÍNTIOS 16:2). É acreditar ainda que, os 88 88 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Leituras Diárias Mateus 27.62-65 Mateus 28.1-10 Mateus 28.11-15 Lucas 24.13-27 Lucas 24. 28-35 Lucas 24. 36-43 e Mateus 28.16-20 discípulos de Jesus, planejaram ganhar o mundo inteiro, arriscando suas vidas, em prol de uma mensagem falsa e de um evento acerca do qual não eram testemunhas oculares. Jesus anunciou, antes de Sua morte, que ressuscitaria e depois, como disse Lucas, apresentou-se vivo, com muitas provas incontestáveis (Atos 1.3). Os discípulos, que antes de verem Jesus ressurreto, eram covardes e medrosos, escondendo-se com medo dos judeus, adquiriram novo ânimo e, depois do Pentecostes, espalharam o Evangelho com tal vigor que, em pouco tempo, todo o mundo conhecido por eles tinha sido alcançado. Muitos foram martirizados e Pedro disse que não podiam deixar de falar daquilo que tinham visto e ouvido (Atos 4.20). Será que alguém se deixaria martirizar por algo do qual não tivesse certeza? Acreditamos na ressurreição de Cristo como um fato histórico. Este teve um impacto tão grande sobre todos os discípulos, que a igreja cristã se espalhou logo O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS | por todo o Império Romano, apesar de todas as perseguições que sofreu. 1. As primeiras aparições - Lucas 24. 1-45 Os evangelistas narram diferentemente as primeiras aparições de Jesus. O que vemos é que as mulheres são as primeiras a saber da ressurreição e vão correndo contar aos discípulos (vs. 1-12). Que privilégio! As mulheres foram as primeiras a ver e a anunciar a ressurreição de Cristo. Como disse alguém, se a narração da ressurreição fosse uma história arranjada, nunca se poderia registrar as mulheres como as primeiras a saber da ressurreição, já que eram pessoas menos dignas de crédito na sociedade, além de consideradas mais sugestionáveis. Estas mulheres foram anunciar aos onze e a outros, mas eles acharam que elas estavam delirando. Devemos estar conscientes de que os discípulos não esperavam que Jesus ressuscitasse dos mortos (Jo.20.9). A primeira missão de Jesus após a ressurreição foi fazer Seus discípulos acreditarem que Ele estava vivo. Ao chegarem em casa, eles convidaram o viajante para entrar. Na hora da refeição, quando Jesus abençoou e partiu o pão, eles O reconheceram, mas Jesus desapareceu. Naquele momento, eles recordaram que, ao ouvi-lo no caminho, algo lhes tocou o coração. O cansaço e a tristeza foram embora e eles voltaram para Jerusalém. Precisavam compartilhar a nova. Ao chegarem ali, encontraram os onze juntamente com outros. Já corria entre eles a notícia da ressurreição de Jesus e de uma aparição d’Ele a Pedro. Jesus teve que provar que estava vivo. Que não era apenas um espírito, mas podia ser tocado. Seu corpo, em uma outra dimensão, podia aparecer em lugares fechados, embora fosse concreto, real. Jesus apareceu aos discípulos várias vezes. A ressurreição para eles já era um fato. Suas vidas começaram a tomar novo rumo. 2. Outras aparições - João 20.24 a 21.14 Estes textos nos mostram outras aparições de Jesus. Lucas relata aí a aparição aos dois no caminho para Emaús, que era uma aldeia distante, aproximadamente, 11 quilômetros de Jerusalém. É uma narração linda e emocionante (Lucas 24.13-35). A aparição registrada nos versículos anteriores a este texto (vs. 19-23) parece ser a mesma registrada por Lucas, após a volta a Jerusalém dos dois que iam para Emaús. Tomé não estava com eles. Tristes e desanimados, os dois conversavam sobre o que acontecera a Jesus Sua crucificação. Eis que o próprio Jesus apareceu e se pôs a caminhar e conversar com eles, como se fosse um simples companheiro de caminhada. Eles falavam de sua decepção e tristeza, pelo que havia acontecido com Aquele em quem eles haviam depositado tanta esperança. Afirmaram até que alguns diziam tê-lo visto. Naturalmente, eles não acreditavam nisto. Sem que O reconhecessem, Jesus lhes anunciou as Escrituras. Em João 20.24-28 temos outra aparição aos discípulos, estando Tomé presente. Ele, que não acreditara e que dissera que precisava de provas concretas, se viu agora frente a frente com Jesus e exclamou: “Senhor meu e Deus meu” (v. 28). Às vezes, só acreditamos no que vemos. Mas, Jesus disse: “Bem-aventurados os que não viram e creram” (v. 29b). Uma outra aparição foi a sete discípulos que estavam na praia (Jo. 21.1-14). Depois, Jesus apareceu várias outras veREFLEXÕES BÍBLIC AS II | 89 | O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS zes. Paulo fala de algumas dessas aparições em I Co. 15.4-8. Aqueles discípulos tiveram o testemunho destas aparições. Nós temos, além das Escrituras (Antigo e Novo Testamentos), todo um testemunho cristão de dois mil anos de história, que nos falam à mente e ao coração. Deus se revela a nós especialmente através de Jesus Cristo, a expressão máxima do Seu amor e da Sua superabundante graça para com os pecadores. Recebamos a Sua bendita mensagem. 3. Jesus, que é UM com o Pai, quer que a igreja cumpra sua missão - Leia Mateus 28.16-20, Lucas 24.44-53 e Atos 1.1-11 No texto de Mateus, vemos mais uma aparição de Jesus. Pode ser a aparição à qual Paulo se referiu em I Co. 15.6. Aí Jesus transmite a chamada “Grande Comissão” aos discípulos. Este é o comissionamento para que eles espalhem o Evangelho por todo o mundo. Promete também que estaria com eles sempre. No texto de Atos 1.1-11, vemos a ascensão de Jesus, após ter recomendado aos discípulos que ficassem em Jerusalém, pois, um acontecimento muito importante ocorreria, inaugurando o ministério do Espírito Santo e preparando a igreja para o início de sua atuação no mundo, a partir daí. Jesus continuaria com eles, não mais em forma humana e limitada como em Sua encarnação, mas na pessoa do Seu Espírito, que conforme Ele mesmo falou, lhes ensinaria e lhes transmitiria poder para fazerem coisas maiores ainda (Jo. 14.12). O texto de Atos tem algumas lições importantes para nós. - No versículo 11, os homens de branco que viram as pessoas olhando para cima disseram: “Por que estais olhando para o céu?” Quão significativa pode ser esta observação! É como se eles estives90 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I sem dizendo: “vocês tem de olhar para a terra onde há muitas necessidades a serem supridas por aqueles que constituem a igreja do Senhor. ” Será que até hoje não há muitos cristãos mais preocupados e curiosos em descobrir sobre o futuro do que responsáveis por saber sobre o seu próprio papel no presente? Nos versículos 4-8 temos uma mensagem semelhante. Os discípulos se mostram preocupados com o tempo em que Jesus restauraria o Reino de Israel. Jesus diz, então, que eles não deveriam estar preocupados com as coisas futuras, que estão apenas no poder de Deus realizar. Que eles deveriam sim, receber a virtude do Espírito e ser testemunhas d’Ele aqui e agora, agindo sempre em benefício das pessoas. Temos nós meras curiosidades sobre coisas que não estão em nossas mãos realizar, deixando de cumprir o que é a nossa missão? Aplicação a sua vida: Você faz parte da igreja de Jesus Cristo neste mundo? Como você tem demonstrado que deseja conhecer a vontade de Deus para sua vida, para que a igreja, através de você, cumpra a sua missão? Conclusão A ressurreição de Cristo tem um grande significado para os cristãos, sendo Ele as primícias dos que dormem (I Co. 15.20-22). Isto significa que ressuscitaremos também porque Ele venceu a morte (I Co. 15.54-56). Aleluia! Não temos um Senhor morto. Ele apareceu a João na ilha de Patmos e disse “... fui morto mas agora estou aqui, vivo para todo o sempre” (Ap. 1.18). O MAIOR ACONTECIMENTO DE TODOS OS TEMPOS | Antes de Sua morte, Jesus havia dito a Seus discípulos: “Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós.” (Jo. 14.18). E foi em Jerusalém que o grande fato da manifestação do Espírito Santo, o Consolador, aconteceu, como lemos em Atos 2. Jesus veio aos seus seguidores, na pessoa do Espírito Santo, para ficar com eles para sempre. Reconheçamos essa bênção! Os discípulos, cheios de alegria e coragem, após o Pentecostes, passaram a anunciar aquilo que eles tão bem já sabiam: Jesus estava vivo! A divulgação tão rápida e poderosa do Cristianismo poderia ter acontecido sem a ressurreição de Jesus? Daí para frente, ninguém os seguraria mais na divulgação desta mensagem que continua sendo a base da fé cristã até os dias atuais. Glória a Deus! Jesus está vivo e, através do Seu Espírito Santo, está entre nós. Aleluia! E como seus seguidores, somos chamados a reproduzir a Sua vida, o Seu ensino, a Sua pregação, os Seus atos, sendo sinais da Sua graça neste mundo tão necessitado. Aplicação a sua vida: Você deseja atender o Seu chamado, cumprindo esta sublime missão? REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - A Bíblia - versões diversas - BONHOEFFER, Dietrich. O discípulo. Tradução de Ilson Kaiser. São Leopoldo, sinodal, 2004. 208 págs. - CARSON, D.A., MOO, Douglas J. e MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento. Tradução de Márcio Loureiro Redondo. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1997. 556 páginas - DANA, H.E. O mundo do Novo Testamento. Tradução de Jabes Torres. Rio de Janeiro: JUERP, 1977. 215 págs. - DAVIS, John D. Dicionário da Bíblia, S.Paulo: Ed. Vida Nova, 1965. - GIOIA, Egídio. Notas e Comentários à Harmonia dos Evangelhos. RJ: JUERP, 1969. 412 págs. - GUNDRY, Robert H. Panorama do Novo Testamento. Tradução de João Marques Bentes. São Paulo: Edições Vida Nova, 1ª edição, 1978. 445 páginas - HESTER, H.I. Introduccion al estudio del Nuevo Testamento. Casa Bautista de Publicaciones, 1986. 354 páginas - DOUGLAS, J.D. (Editor Organizador). O Novo Comentário da Bíblia - Volume II - São Paulo: Ed. Vida Nova, 1987, - SHEDD, Russel P. (Responsável pela edição em Português). O Novo Dicionário da Bíblia - São Paulo: Ed. Vida Nova, 198 - TASKER, R.V.G. Mateus, introdução e comentário. Tradução de Odair Olivetti. Série Cultura Cristã. São Paulo: Ed. Vida Nova, 1980, 229 págs. - STOTT, John. A Cruz de Cristo. Tradução João Batista. São Paulo: Ed. Vida, 2006, 367 págs. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 91 ESTUDO 27 CHAMADO PARA SER DISCÍPULO Marcos 1.14-20; 3.13-19 Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mc 1.14-20 Mc 3.13-19 Lc 4.18-19 Mc 16.15-16 Mt 6.33; Mc 1.15 Hb 3.7-8 Fp 1.1-6 Introdução O que é um discípulo? Como ele se forma? Qual é sua missão? Este estudo procura responder a estas perguntas, mas também apontar como cada um de nós pode se tornar um discípulo de Jesus. A palavra grega para discípulo é μαθητης mathetes, definida como “aprendiz, pupilo, aluno, discípulo” (Strong).1 “Aquele que recebe ensino de alguém; aquele que aprende; aluno” (O Dicionário Português).2 “Pessoa que segue os ensinamentos de um mestre. No NT se refere tanto aos apóstolos (Mt 10.1) como aos cristãos em geral (At 6.1)” (O Dicionário Almeida). “O conceito de discípulo — aquele que aprende de um mestre — surgiu no judaísmo do Segundo Templo. De fato, no Antigo Testamento a palavra só aparece uma vez (1 Cr 25.8). Nos evangelhos, o termo indica a pessoa chamada por Jesus (Mc 3.13; Lc 6.13; 10.1) para segui-lo 92 92 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II (Lc 9.57-62), fazendo a vontade de Deus, a ponto de aceitar a possibilidade de enfrentar uma morte vergonhosa como era a condenação à cruz (Mt 10.25 e 37; 16.24; Lc 14.25ss). Os discípulos de Jesus são conhecidos pelo amor existente entre eles (Jo 13.35; 15.13). A fidelidade ao chamado do discípulo exige uma humildade confiante em Deus e uma disposição total para renunciar a tudo que impeça seu pleno seguimento (Mt 18.1-4; 19,23ss.; 23.7). Mesmo que, tanto os apóstolos como o grupo dos setenta (Mt 10.1; 11.1; Lc 12.1) tenham recebido a designação de discípulos, o certo é que não pode restringir-se somente a esses grupos. Discípulo é todo aquele que crê em Jesus como Senhor e Messias e segue-o (At 6.1; 9.19)” (O Dicionário de Jesus). Além da definição dicionarizada, compreende-se que discípulo é todo C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO aquele que se parece com Jesus, alguém que reflete a imagem de Cristo na sua vida. Um excelente exemplo foi o que aconteceu com os discípulos de Antioquia: Eles encarnaram tanto a imagem de Jesus que passaram a ser chamados “cristãos” (At 11.26). Jesus deu-nos o exemplo de liderança, formando o seu grupo de discipulado. Esses homens teriam uma missão específica, mas precisavam ser submetidos a um treinamento que, principalmente, implicaria no relacionamento com o seu Mestre. Aplicação a sua vida: relembrando o momento em que Deus o convidou a participar do Seu Reino e você aceitou, reflita agora em quais aspectos você tem se assemelhado a Ele. O DISCÍPULO É CHAMADO PARA PREGAR O EVANGELHO E ANUNCIAR QUE O REINO DE DEUS CHEGOU (Mc 1.14 17). Jesus iniciou o seu ministério sendo batizado por João Batista e tentado por Satanás. Ele venceu todas as tentações do inimigo e prosseguiu em seu ministério pregando o Evangelho de Deus. Sua mensagem era de que veio trazer boas novas e esperança para os cansados e oprimidos (Lc 4.18-19). Essa preocupação divina para conosco é maravilhosa, mas nos desafia a fazer o mesmo que Jesus fez. O verdadeiro discípulo de Jesus faz outros discípulos e glorifica o Pai através da produção de “muito fruto”, conforme João 15.8, onde Jesus diz: “Nisto é glorificado meu Pai, em que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos”. Por este motivo o discípulo de Jesus tem a missão de anunciar o evangelho a toda criatura | (Mc 16.15-16). Alguém que se intitule discípulo de Cristo, mas não prega o evangelho, está negando sua identidade. O Reino e a justiça de Deus devem estar em primeiro lugar na missão do discípulo (Mt 6.33), daí a necessidade de arrependimento e fé (o evangelho, isto é, as boas novas divinas). Mc 1.15 nos assegura que Deus cumpre o que promete e o tempo para arrependermos é chegado, portanto, não pode ser adiado para amanhã (Hb 3.7-8). Ao ouvir o evangelho cada pessoa deve arrepender-se e crer. Esta é a única resposta aceitável a Deus. Este tipo de mensagem era revolucionária e demandava escolha de pessoas especiais para transmiti-las. O DISCÍPULO DE JESUS É CHAMADO PARA SER MOLDADO POR ELE (Mc 1.16-17) Simão e André, os dois primeiros discípulos chamados por Jesus, eram pescadores; pessoas simples e iletradas, que podiam ser “moldadas” por ele. Observe que, ao convidá-los, Jesus acrescenta “eu vos farei pescadores de homens”. Um discípulo de Jesus é mais que um seguidor do Mestre. Ele é moldado como “pescador de vidas”. Para Deus, não importa a posição social ou intelectual de uma pessoa, mas, sim, o quanto ela se deixa ser usada por Ele. O Senhor tinha um plano para os dois irmãos (Simão e André): Eles seriam “feitos” por Jesus em pescadores de homens. Jesus iria trabalhar e moldar suas vidas, seu caráter e sua visão do Reino de Deus. Mas eles tinham que vir após Ele. O que o Senhor vai fazer em nossas vidas só o experimentaremos quando nos deixarmos moldar por Ele. Deus começou uma “boa obra” na vida de cada um de nós, e a está aperfeiçoando, porém, é REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 93 | C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO importante lembrar que esse processo durará até “o dia do Senhor” (Fp 1.6). Aplicação a sua vida: Deus quer nos moldar conforme Jesus fez com Simão e André. Qual é a sua contribuição para que isso aconteça? O DISCÍPULO CHAMADO POR JESUS DEIXA IMEDIATAMENTE “SUAS REDES” (Mc 1.18-20) Quando Jesus chama, não podemos continuar envolvidos com as “redes” da vida. Não há desculpa, não pode haver demora! Temos que deixar tudo e seguilo imediatamente. O mesmo fizeram os outros dois irmãos, Tiago e João. Eles deixaram o pai, os empregados e os barcos para seguir Jesus. Nada neste mundo (nem bens materiais, nem sentimentos familiares) deve nos impedir de atender ao chamado de Jesus (Mt 19.27-29). O escritor da Carta aos Hebreus nos concita ao desembaraço de tudo o que nos rodeia e a corrermos com firmeza em busca do alvo proposto, sempre com os olhos fitos em Jesus (Hb 12.1-2). Cabe a cada um de nós verificar no que está enredado, embaraçado, bem como quais são os laços familiares, de trabalho ou qualquer pecado que nos impede de atender a chamada para ser “feito” no discípulo que Jesus quer que sejamos. Em Hb 12.16 somos alertados a não trocarmos o nosso direito de primogenitura por um prato de lentilhas. Aplicação a sua vida: Como você tem demonstrado que é um discípulo chamado por Deus? 94 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I A LISTA DOS DISCÍPULOS CHAMADOS POR JESUS (Lc 6.13-16) Jesus escolheu os seus discípulos após uma noite de oração. O texto bíblico acima nos apresenta a seguinte lista: “Simão, ao qual também chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago e João; Filipe e Bartolomeu; Mateus e Tomé; Tiago, filho de Alfeu, e Simão, chamado Zelote; e Judas, irmão de Tiago, e Judas Iscariotes, que foi o traidor”. Note que Jesus não chamou a liderança religiosa e nem a elite da sociedade do seu tempo. Na verdade, essas pessoas foram alcançadas e envolvidas mais tarde. Dessa maneira, Jesus demonstrou que o discipulado não precisa ser iniciado com os melhores e mais renomados homens e mulheres. Muitos obreiros procuram se justificar, dizendo que não tem pessoas realmente empenhadas no discipulado, que o grupo envolvido na evangelização é muito pequeno etc. Lembremos que Jesus não chamou para o discipulado uma multidão, mas, sim, apenas doze e que (aos olhos humanos) não seriam os melhores homens de então. Dificilmente escolheríamos pescadores, cobradores de impostos (alguns deles pessoas temperamentais e incultas) para um projeto que alcançaria governadores, presidentes, reis e revolucionaria o mundo. Cremos que essa opção de Jesus não se deu porque Ele desprezava quem fosse culto ou de alto poder aquisitivo. Entendemos que Ele desejava demonstrar que o reino de Deus pode ser expandido através de qualquer pessoa, de qualquer classe social, religiosa, política, de estatura ou de cor, que se coloque em suas mãos e se deixe usar por Ele. Tanto é verdade que, depois, vamos ter na lista dos cristãos, C H A M A D O PA R A S E R D I S C Í P U LO pessoas como Lucas, Paulo, Barnabé e outras personalidades cultas e de elevada posição social (At 13.1 e 17.12; Cl 4.14; Lc 8.3). Na verdade todos são chamados a fazer parte da lista de discípulos de Jesus e a ter um relacionamento especial com Ele. O DISCÍPULO CHAMADO E O SEU RELACIONAMENTO COM JESUS (Mc 3.14) Observe que, primeiramente, os discípulos foram chamados “para estar com Jesus”. Relacionamento é a chave do discipulado. Discipulado não é estudo bíblico, não é pregação, não é doutrinamento. DISCIPULADO É RELACIONAMENTO. O discípulo chamado precisa primeiro ter relacionamento especial com Jesus. Sem relacionar-se com Jesus ninguém é “feito” discípulo e muito menos pescador de vidas. É a partir do relacionamento com Jesus que o discípulo sai a pregar. Talvez aqui resulte o fracasso de muitos pregadores que enfrentam “as portas do inferno” (Mt 16.18) sem ter estado com Jesus. É verdade que Jesus começou com homens simples e incultos, mas também é verdade que o segredo do sucesso no discipulado é o tempo que se passa com ele. Quando você investe tempo para estar com Deus em oração; quando você é suficientemente humilde para deixar-se ensinar (treinar), então você tem uma mensagem de Deus para os corações famintos da Palavra! Aplicação a sua vida: Como cristão que busca um relacionamento profundo com Jesus, preciso ter uma vida ajustada conforme seus valores, para fazer a vontade de Deus. | CONCLUSÃO O objetivo de nossa missão no reino de Deus é repartir com outros a mensagem do evangelho (das boas novas). É transmitir a outros o que recebemos de Jesus, através daqueles que nos discipularam (2Tm 2.2). O exemplo de Jesus demonstra isso e também indica a importância da estratégia na chamada e capacitação dos discípulos. Ele iniciou o seu ministério pela Galileia, e não pela Judeia. Seu critério de escolha também foi singular. Ele o fez chamando homens simples, pessoas comuns, e não os líderes políticos ou religiosos. Jesus queria pessoas que pudessem ser moldadas, discipuladas por Ele. Jesus primeiramente nos chama para nos relacionarmos com Ele, e só então sermos enviados a pregar, a repartir com os outros o que recebemos dele (1Co 11. 11 e 23). Que este exemplo nos leve a ter critérios divinos no momento de escolher aqueles que servirão ao Senhor no seu reino, e que todos vejam em nós o caráter de Jesus e assim nos imitem! ____________ Bíblica eletrônica Word. Bíblica eletrônica Word. 3 Bíblica eletrônica Word. 1 2 REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 95 ESTUDO 28 A TEOLOGIA DO DISCÍPULO DA CRUZ Lucas 23.33-43 INTRODUÇÃO Jesus disse que Deus ocultou conhecimentos aos sábios e entendidos e os revelou aos pequeninos (Mt 11.25). Jesus foi crucificado entre dois ladrões e um deles se tornou seu último seguidor, discípulo que Jesus fez antes de sua morte. Quem eram esses ladrões? A tradição os denomina de Gestas e Dimas.4 Em Dimas vemos profunda demonstração de arrependimento e conhecimento teológico nunca esperados de um ladrão prestes a morrer. Vamos chamá-lo neste estudo de “O Discípulo da Cruz”. Esse conhecimento e sua atitude naqueles últimos momentos abriram-lhe a porta do paraíso. Ele revelou o verdadeiro coração de um discípulo de Jesus. Sua coragem, confissão e transformação podem ser identificadas como “A Teologia do Discípulo da Cruz”. TEMOR A DEUS (Lc 23.39-40; Pv 14.27) O temor a Deus é uma das chaves para a vida eterna (Sl 111.10). Muitos 96 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 23.33-43 Sl 111.10 Lc 19.40 Lc 23.40 2Co 5.19 Rm 10.9-10 1Co 2.9-13 hoje, entretanto, vivem insolentemente, blasfemam de Deus (Lc 23.39), brincam ou escarnecem dele. O resultado é a colheita do que se planta (Gl 6.7). Apesar de sua vida de crimes, nos últimos momentos de sua vida Dimas caiu em si, como o fez o “filho pródigo” (Lc 15.17). Dimas viu que chegara o momento de temer a Deus e se tornou “O Discípulo da Cruz”. Suas primeiras palavras a Gestas, o outro ladrão crucificado, foi: “tu ainda não temes a Deus (v. 40)? ”. Apesar de crucificado, Dimas não se calou, pelo contrário, ante a insolência de Gestas, ele tomou a posição de confrontá-lo e confessar seu temor a Deus. Aplicação a sua vida: Nos dias de hoje, temos enfrentado situações parecidas com a de Dimas e Gestas, momentos quando temos de crucificar sonhos e desejos. Como temos respondido a Deus diante dos sacrifícios? A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z | CONFRONTO AO ERRO (Lc 23.40) O discípulo de Jesus não pode ser conivente com o erro, com o pecado. Paulo recomenda a Timóteo a não ser participante dos pecados alheios (1Tm 5.22). Há uma hora em que a pessoa errada precisa ser confrontada. O discípulo de Jesus contesta o conselho dos ímpios (Sl 1.1). Se nos calarmos, até as pedras clamarão (Lc 19.40). Dimas, o Discípulo da Cruz, poderia racionalizar, dizendo: “Não tenho nada a ver com isto; estou morrendo e ninguém me ajuda... e, talvez Gestas tenha razão... por que Jesus não salva a si mesmo e a nós também? ”. A teologia do Discípulo da Cruz nos ensina que não precisamos permanecer no erro; que todos têm oportunidade de arrependimento e conversão. Aquela era sua última oportunidade e ele não a desperdiçou. Além de confrontar o seu companheiro de infortúnio, Dimas fez a seguinte confissão: CONFISSÃO DE QUE JESUS É DEUS (Lc 23.40) Repreendendo Gestas, Dimas perguntou: “Tu não temes a Deus?”. Quem lhe ensinou que Jesus era Deus? Ele disse que a vida eterna é conhecer a Deus e ao próprio Jesus (Jo 17.3). Comparar com Jo 10.30; 14.8-9. Durante o período da crucificação, Dimas ouvira diversos títulos de Jesus, dentre eles, “o Cristo” (isto é, o Messias); “o rei dos judeus”, mas houve um que era a maior revelação da pessoa de Jesus: Ele era “o Filho de Deus” (Lc 22.70). Dimas era criminoso, estava condenado, mas seu coração se abriu para conhecer a Jesus como o Filho de Deus. Para ele, Gestas foi insolente para com Deus. É interessante que Dimas reconheceu que Jesus é “o Deus condenado”. Ele perguntou a Gestas: “Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?”. Isto nos reporta a Paulo, ao afirmar que Jesus se tornou maldito em nosso lugar, e que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (Gl 3.13; 2 Co 5.19). Moltmann1 diz que Jesus é “O Deus Crucificado”. Dimas teve pouco tempo com Jesus, mas percebeu sua divindade e demonstrou profundo reconhecimento dos próprios pecados, bem como das consequências dos mesmos. Aplicação a sua vida: De qual modo podemos confessar a Cristo diante do mundo hoje? Compartilhe quais são suas maiores dificuldades, ou como tem feito. O PECADOR E SUA CONDENAÇÃO (Lc 23.40-41) O discípulo de Jesus não justifica os seus pecados; não transfere responsabilidade para os outros. Não condena o sistema político ou a sociedade pelos seus erros. Dimas confessou que sua condenação era justa, porque a merecia. Quando uma pessoa confessa o seu pecado e apela para a misericórdia divina, essa pessoa é atendida. A Bíblia diz que Deus não rejeita o coração quebrantado e contrito (Sl 51.17). O coração do verdadeiro discípulo de Cristo é reconhecedor de que é salvo pela graça, por meio da fé (Ef 2.8). Uma das funções do Espírito é, justamente, convencer o ser humano do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). Dimas se tornou o Discípulo da Cruz, exatamente por ter sido conduzido a Cristo pelo Espírito Santo, daí ter experimentado tão profunda transformação. Deus não espera que justifiquemos os nossos pecados, mas se os confessarmos, Ele nos purifica de todo pecado e nos justifica pela fé em Jesus (1 Jo 1.9 e Rm 5.1). Faça como “o Discípulo da Cruz”. Abra o seu coração, confesse seus pecados e desfrute de perdão e justificação do Senhor. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 97 | A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z Prosseguindo em sua confissão de fé, Dimas fez mais uma declaração surpreendente a respeito de Jesus. Dimas, além de confessar que era pecador, teve a coragem de afirmar que Jesus era imputável de erro. Aplicação a sua vida: Temos a certeza que, diferentemente de Jesus, somos pecadores. Como você tem trabalhado com essa realidade? JESUS NÃO PECOU (Lc 23.41) Como ele podia ter certeza de que Jesus não praticou qualquer coisa errada? Os judeus o acusaram de variadas transgressões: Quebrar o sábado, dizerse Filho de Deus, ser pecador, enganar o povo, e ser um falso Messias (Jo 5.18; 9.24; 7.12 e 27). Jesus foi rejeitado pelos seus (o povo, a nação), pelos sacerdotes (a religião oficial), e pelos governantes (o poder político), foi traído por Judas e negado por Pedro. O último de seus discípulos, aquele “gerado” na cruz, é quem o inocenta. E aquele era de fato um momento propício, porque acontecia a execução de condenados. Na teologia do “Discípulo da Cruz”, ele e Gestas eram culpados, e Jesus inocente. Naquela execução, o justo levava a culpa que devia ser dos pecadores. Jesus não pecou, mas conhece todas as tentações pelas quais passamos e pode nos socorrer em nossas tentações (Hb 2.18; 7.25; 4.15-16). A inocência de Jesus foi declarada por um pecador condenado. Isto é extraordinário! Porém, “o Discípulo da Cruz” surpreendeu mais uma vez, pois, até este momento, seu discurso fez parte da reprimenda a 98 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Gestas. Entretanto, ao dirigir-se a Jesus, ele fez mais uma declaração teológica. Aplicação a sua vida: Diante do fato de que Jesus não pecou, mas foi tentado em todas as áreas nas quais também somos tentados, qual é a sua sugestão para, como discípulo d’Ele, buscar esse ideal de vida? JESUS É O REI ETERNO (Lc 23.42) Quem ensinou para aquele homem moribundo que Jesus tinha um reino? Com estas palavras, “o Discípulo da Cruz” demonstrou crer na imortalidade da alma e na vida eterna. Ora, se ele estava morrendo, como poderia esperar ou crer num “reino”? Ele superou a teologia dos saduceus, que não criam na ressurreição (Mc 12.18). Quando nos tornamos discípulos de Jesus, o Espírito Santo nos conduz “a toda a verdade” (Jo 16.13). Para Dimas, não somente havia vida após a morte, como Jesus entraria no seu reino. Note que o reino era de Jesus. “O Discípulo da Cruz” não tinha mais dúvida de que estava ao lado do Rei Eterno. Esta é a visão que todos precisamos ter de Jesus: Ele é o Rei dos reis e o Senhor dos Senhores (1 Tm 6.15; Ap 17.14). Ele está no comando. Se morrermos com Ele, haveremos de ressuscitar com Ele (2 Tm 2.11-12). É importante lembrar que é a fé na morte e ressurreição de Jesus que nos assegura a salvação (Rm 10.9-10). Jesus não respondeu a Gestas, mas atendeu a Dimas. O Senhor se manteve em silêncio enquanto era tripudiado por Gestas, mas falou quando “o Discípulo da Cruz” lhe dirigiu uma oração. A T E O LO G I A D O D I S C Í P U LO D A C R U Z | A resposta de Jesus: “Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso”, nos assegura que o Paraíso perdido por Adão e Eva é restituído na cruz. A morte, que triunfou no Éden, é vencida no Calvário. É através de Cristo que todo pecador arrependido tem sua condenação eterna anulada (Rm 8.1). Observe que o Paraíso era para “hoje” (Lc 23.43). Neste caso, a oportunidade para a salvação de cada um de nós é também para “hoje” (2 Co 6.2). Paulo diz que Deus releva os tempos da ignorância e convida todos ao arrependimento (At 17.30). Adúlteros, ladrões ricos e pobres, não importa a condição, todos podem ser perdoados, crescer na graça e no conhecimento de Jesus, e penetrar nas mais profundas verdades espirituais reservadas aos discípulos de Cristo (2 Pe 3.18 e 1 Co 2.9-13). Seja você também a pessoa que, pela fé, entrará hoje no paraíso. E então, que discípulo é você? Jesus disse que qualquer pessoa que desejar ser seu discípulo, precisa tomar sua cruz e segui-lo. Não foi a cruz que salvou Dimas, mas sim o Messias crucificado que ele confessou ser Justo, ser o Rei que podia lembrar-se dele. Enfim, foi o arrependimento dos pecados e a fé na pessoa de Jesus que o fez um discípulo, um seguidor, não somente naquele momento de crucificação, mas acompanhou Jesus ao Paraíso. Aplicação a sua vida: Que você também confesse a Jesus como Senhor e Salvador de sua vida, independente das circunstâncias. Faça isto e Jesus o confessará diante do Pai que está no céu (Mt 10.32-33). ___________ 4 http://www.escribacafe.com/dimas-e-gestas-ladroes-crucificados. Acesso em 19/06/2015. 5 MOLTMANN, Jürgen – O Deus crucificado. Santo André, SP. Academia Cristã. 2011. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 99 ESTUDO 29 O DISCÍPULO E O MARAVILHOSO CONVITE DE JESUS Mateus 11.28-30 INTRODUÇÃO Já vimos em estudos anteriores que Jesus veio buscar e salvar o que estava perdido (Lc 19.10). Acontece que a salvação é oferecida através de um convite, em respeito ao livre arbítrio de cada pessoa. Aquele que aceita o convite de Jesus se torna um discípulo dele e assume compromissos nessa caminhada com o Senhor. Apesar de todos serem convidados ao discipulado cristão, este texto bíblico nos aponta um grupo específico a quem Jesus dirige o respectivo convite. Vejamos as lições que podemos aprender do maravilhoso convite de Jesus. JESUS CONVIDA PARA VIR A ELE (Mt 11.28) Ele diz “vinde a mim”. Talvez sua vida continue cansada e oprimida porque você tem ido a outras pessoas ou lugares. Você precisa de uma experiência pessoal com Jesus. Seu maravilhoso convite demanda resposta da parte de cada pessoa convidada. É preciso atendê-lo. Enquan100 100 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mt 11.28-30 1Jo 5.18 Fp 4.6-7 Lc 7.48 Jo 8.11 Jo 5.14 Hb 8.12 to você permanecer onde está, significa rejeição ao convite de Jesus. Quando diz “vinde a mim”, Jesus chama para si a responsabilidade do convite. Em Mc 10.4650 vemos que Jesus iria curar o homem cego e o convidou a vir a Ele: “E Jesus, parando, disse que o chamassem; e chamaram o cego, dizendo-lhe: Tem bom ânimo; levanta-te, que ele te chama. E ele, lançando de si a sua capa, levantouse, e foi ter com Jesus. ” Você percebe que Jesus quer ter um encontro com você, mas você precisa ir a ele? É maravilhoso observar que o cego, após sua cura, seguiu a Jesus pelo caminho (Mc 10.52). Você também é convidado agora a vir a Jesus e se tornar um discípulo dele. Aqui vemos duas situações que podem sobrevir a um discípulo de Cristo: cansaço e opressão. Há muitas áreas do cotidiano que nos cansam, desde o estresse pelo excesso de trabalho e pelas preocupações da vida, até nas questões religiosas, no que diz respeito ao anseio por um encontro pessoal com Deus. Uma religiosidade vazia angustia a alma e resulta em desesperança. A sensação que se tem é de um cansaço, muitas vezes ge- O D I S C Í P U LO E O M A R AV I L H O S O C O N V I T E D E J E S U S | neralizado. Se você se sente assim, então o convite de Jesus é extensivo a você. O convite é também para os oprimidos. As opressões da vida têm origem nas pressões da sociedade, da família, mas podem ser oriundas de cobranças pessoais sobre alvos não alcançados. Jesus disse que veio pôr em liberdade os oprimidos (Lc 4.18-19): “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me a curar os quebrantados do coração, a pregar liberdade aos cativos, e restauração da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor. ” O desejo de Jesus é que você venha a Ele e O experimente para ter uma nova qualidade e perspectiva de vida. Que seja aliviado de todo cansaço e liberto de toda opressão. Qual é o seu cansaço e o que o oprime? Observe que o convite é bem específico: “cansados e oprimidos”. Se você se sente assim, então você está na lista dos convidados por Jesus. Aplicação a sua vida: o convite feito por Jesus aos seus discípulos se estende a nós. Para tanto, se você se encontra em alguma situação de cansaço e opressão, é hora de aceitar o Seu convite. A PROMESSA DO MARAVILHOSO CONVITE DE JESUS (Mt 11.28) Mais uma vez Jesus chama a responsabilidade para si: “Eu vos aliviarei”. Ele empenha sua própria palavra e sua pessoa. Observe que a promessa está condicionada a ação de vir a Ele. Cabe a você aceitar ou não ter um encontro com Jesus. Ele disse que muitas pessoas perderam a vida eterna porque não vieram a Ele (Jo 5.40). Só Jesus pode aliviar as nossas cargas e nos proteger de toda e qualquer opressão. O fato de Jesus querer os seus discípulos perto d’Ele é porque Ele é o “Bom Pastor” e nós somos ovelhas do seu pasto. Quem está fora ou longe de Jesus leva sozinho, e inutilmente, suas cargas, e sofre a opressão do inimigo. Para quem está perto do Senhor, fica a certeza de que o inimigo não lhe toca (1 Jo 5.18). Torne-se um discípulo de Jesus e seja aliviado de toda carga e opressão! Aplicação a sua vida: atender ao convite de Jesus implica em cumprimento de promessa. Você tem experimentado essa promessa em sua vida? COMPROMISSOS DOS CONVIDADOS POR JESUS (Mt 11.29) Discipulado implica em comprometimento. Jesus foi claro ao afirmar que, aquele que O quisesse seguir, deveria renunciar a si mesmo e tomar a sua cruz. Porém, neste texto de Mt 11.29, Ele lista outros compromissos dos seus seguidores: a) Tomar sobre si o jugo de Jesus. A ideia do jugo tem significados muito importantes: Primeiro, leva a pessoa a estar comprometida com Jesus e a andar lado a lado com Ele. Jugo ou canga é um instrumento colocado no pescoço de dois bois para que ambos levem a mesma carga. Um não pode ir à frente e nem ficar para trás do outro. Ambos têm que andar lado a lado. Isso significa que a canga é divida entre os dois. Segundo, você deve tomar o jugo de Jesus, e não o seu próprio ou de outrem. Jesus diz que a razão disto é que o seu jugo é suave e o seu farde é leve. É a promessa de que, ao se tornar um discípulo de Jesus, Ele suaviza todo peso e opressão que há na sua vida. b) Aprender de Jesus. No meio rural, quando alguém quer treinar um boi novo para levar uma carga, ele é colocado junto com um boi treinado e experiente. Estando atrelado ao boi experiente, o novo boi “aprende” a andar com o boi treinado. Aqui está em foco uma figura similar. Ao recebermos o jugo de Jesus, aprendemos a andar com Ele. Jesus quer nos ensinar todas as coisas concernentes a sua pessoa e ao seu reino (Mt 28.19-20). Isto, entretanto, só é possível quando estamos REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 101 | O D I S C Í P U LO E O M A R AV I L H O S O C O N V I T E D E J E S U S atrelados a Ele através do seu jugo. O cristão deve fazer de sua vida uma escola de aprendizado a respeito de Jesus. Observe que Jesus diz que devemos aprender d’Ele porque é manso e humilde de coração. Mansidão e humildade são virtudes que norteiam o caráter cristão. Nisso consiste um dos segredos da felicidade (Mt 5.3): “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus. ” O RESULTADO DE APRENDERMOS COM JESUS (Mt 11.29) Note que o “descanso” é para as nossas “almas”. O termo grego usado aqui é “psuche” e pode referir-se também a alma, no sentido de nossas emoções. O discipulado de Jesus alcança diretamente a alma do discípulo e resulta em livramento de toda ansiedade (Mt 6.25): “Por isso vos digo: Não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? ”. Leia ainda Fp 4.6-7: “Não andeis ansiosos por coisa alguma; antes em tudo sejam os vossos pedidos conhecidos diante de Deus pela oração e súplica com ações de graças; e a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus. ” A ansiedade obstrui a fé e adoece o corpo. Jesus quer tratar diretamente nossa alma, porque uma alma cansada e oprimida resulta em muitas doenças psicossomáticas. Tome, agora mesmo, o jugo de Jesus e deixe que Ele cuide de suas ansiedades e alivie sua alma (1 Pe 5.7). Aplicação a sua vida: Aceitar o convite de Jesus não significa término total das dificuldades ou problemas. Significa que, ao dividirmos com Ele, o nosso julgo fica suave. 102 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I O JUGO E A CARGA DE JESUS Jesus assegura que o jugo dele é suave e sua carga é leve. Ele não aumenta nossa carga. Ele nos alivia dela. Jesus não nos escraviza. Ele nos liberta e suaviza nossa alma. O mundo escraviza, mas Jesus liberta. O mundo aflige, porém Jesus dá alívio. O mundo não tem paciência com os nossos problemas, entretanto, Jesus nos acolhe (os cansados e oprimidos). O mundo tira a paz, porém Jesus nos dá sua paz (Jo 14.27). O convite de Jesus é para virmos a Ele; é para desfrutarmos de sua companhia e sermos aliviados de nossas cargas. Cabe a você atender o maravilhoso convite de Jesus. Acreditamos que uma das maiores cargas do ser humano é o sentimento de culpa. Mas para todos que atenderam o convite de Jesus, Ele disse: Filho, filha, estão perdoados os teus pecados. Exemplos: a) O paralitico de Cafarnaum: “E Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: Filho, perdoados são os teus pecados.” (Lc 5.20) b) A mulher que ungiu os pés de Jesus: “E disse a ela: Perdoados são os teus pecados” (Lc 7.48) c) A mulher adúltera: “Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai- te, e não peques mais” (Jo 8.11) d) O paralítico de Betesda: “Depois Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe: Olha, já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (Jo 5.14) Conclusão A cada um de nós, a Bíblia afirma que Deus jamais se lembrará dos nossos pecados: “Porque será misericordioso para com nossas iniquidades, e dos nossos pecados não se lembrará mais” (Hb 8.12) Agora só depende de você: atender o maravilhoso convite de Jesus, assumindo o compromisso de ser um discípulo d’Ele e, consequentemente, desfrutar de todoas as bênçãos dispensadas àqueles que o seguem. ESTUDO 30 O DISCÍPULO QUE OLHA PARA CRISTO Hebreus 12.1-17 INTRODUÇÃO Ser discípulo de Jesus é segui-lo, mantendo os olhos fitos n’Ele. A recomendação de Hb 12.2 é: “olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus.” Em Isaías 45.22, também somos convidados a olhar para Deus a fim de sermos salvos. Este estudo aponta os motivos e resultados de uma vida focada em Cristo. OLHAR PARA JESUS POR CAUSA DOS QUE VENCERAM (Hb 12.1) “Portanto, também nós, visto que temos a rodearnos tão grande nuvem de testemunhas. ” A “nuvem de testemunhas” à qual o autor se refere é a lista de “heróis da fé” do capítulo anterior. Por esse motivo, o após- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Hb 12.1-17 Sl 139.23-24 2 Tm 4.7-8 2 Cr 7.14 Hb 12.14 Hb 12.16-17 Rm 8.18 tolo Paulo diz que os discípulos de Cristo foram postos como espetáculo “ao mundo, aos anjos e aos homens” (1 Co 4.9). No verso primeiro, Paulo espera que os homens nos considerem como ministros de Cristo. Jesus disse que devemos ser suas testemunhas (At 1.8). Se olharmos para nós mesmos, certamente fracassaremos. Os heróis da fé são testemunhas de que é possível vencer, mas não é para eles que devemos olhar, nem para os anjos, muito menos para o mundo. Nosso foco tem que ser Cristo. Se assim o fizermos, não decepcionaremos a ninguém, muito menos ao nosso Senhor. Aplicação a sua vida: é muito importante sabermos que, ao olharmos para Jesus, temos a vitória garantida. Para isso, temos uma nuvem de testemunhas. Mas, nosso foco não pode ser desviado de Jesus. Apesar dos inúmeros exemplos de vencedores, onde está firmado seu olhar? REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 103 || 103 | O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O OLHAR PARA JESUS E REMOVER OS EMBARAÇOS (Hb 12.1): “Desembaraçando-nos de todo peso e do pecado que tenazmente nos assedia” Assim que Jesus ressuscitou a Lázaro, recomendou: “Desligai-o, e deixai-o ir” (Jo 11.44). O autor de Hebreus reconhece que lidamos com embaraços e somos tenazmente assediados pelo pecado. Jesus recomendou que devemos nos livrar de qualquer coisa que nos sirva de tropeço (Mt 5.29-30). Hoje, um dos maiores embaraços do discípulo de Cristo é justamente a “rede”, tradução da palavra “net”, do Inglês. Apesar de sua inestimável contribuição à informação, a Internet tem se constituído num grande embaraço quando mal utilizada ou quando se torna um vício. Essa forma de embaraço tem destruído não apenas famílias, como principalmente a alma de muitas pessoas. Você não vai remover a Internet da sua vida, mas pode usá-la para o seu bem e de outras pessoas que o rodeiam. Há muitos outros embaraços que somente pela oração sincera podemos detectá-los e removê-los de nossa vida. Para tanto, oremos como o salmista: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração; provame, e conhece os meus pensamentos. E vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno” (Sl 139.2324). Aplicação a sua vida: temos em nosso viver alguns embaraços que nos impedem o crescimento. Jesus deixa claro que precisamos fazer a nossa parte. Qual é a sua contribuição? OLHAR PARA JESUS E CORRER PARA O ALVO (Hb 12.1): “Corramos, com perseverança, a carreira que nos está proposta” O nosso alvo é a soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (Fp 3.14). O alvo é o 104 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I próprio Cristo, pois que “nele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência” (Cl 2.3). O desejo divino é que nos tornemos semelhantes a Cristo e cheguemos à sua estatura (Ef 4.13; 2 Co 3.18). Esta é a razão pela qual o discípulo de Cristo não pode tirar os olhos d’Ele! Nos próximos estudos, desenvolveremos melhor o tema do supremo alvo do discípulo de Cristo. OLHAR PARA JESUS E SUPORTAR A CRUZ (Hb 12.2): “Olhando firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz” Não existe discipulado sem crucificação diária. Jesus disse que aquele que quiser ser seu discípulo deve tomar, a cada dia, sua cruz (Lc 19.23). Paulo dizia que estava crucificado com Cristo (Gl 2.20); e que em nós se cumpre o resto das aflições de Cristo (Cl 1.24). Nossa crucificação diária não é para pagar ou purificar pecados, porque Jesus já o fez por nós. A crucificação diária de um discípulo faz parte de sua santificação, no sentido de abandonar os pecados e consagrar sua vida ao Reino de Deus e à sua justiça (Rm 6.13 e 19). É a apresentação do corpo em sacrifício a Deus, de que fala Rm 12.1. Somente com os olhos fitos em Jesus é que o discípulo suportará, a cada dia, sua cruz. Aplicação a sua vida: O que significa livrarse de tudo o que atrapalha, inclusive do pecado, e correr com perseverança, mantendo os olhos fitos em Jesus? OLHAR PARA JESUS E NÃO DESANIMAR (Hb 12.3, 4 e 12): “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O | desmaiando em vossa alma. Ora, na vossa luta contra o pecado, ainda não tendes resistido até ao sangue. Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos. ” Por estas palavras, o discípulo de Cristo tem consciência de que sua caminhada pode lhe custar o sangue ou a própria vida, como muitos cristãos da “Igreja Primitiva” deram a vida por amor a Cristo. Quando, porventura, lhe vier o desânimo, os joelhos ficarem trôpegos e as mãos descaírem, olhe para Jesus e você encontrará forças para se levantar e estar de pé Sl 20.8. Aquele que for fiel até ao ponto de morrer, receberá a “coroa da vida”: Ap 2.10; 2Tm 4.7-8; Ap 3.11. OLHAR PARA JESUS E FAZER CAMINHO DIREITO PARA OS PÉS (Hb 12.13): “E fazei caminhos retos para os pés, para que não se extravie o que é manco; antes, seja curado. ” Os versos cinco a onze de Hebreus, capítulo doze, falam do modo como Deus nos trata como filhos, corrigindo-nos, como o pai corrige ao filho que ama. Em Hb 12.10 diz que a correção do Senhor é para sermos participantes de sua santidade. E 1 Co 11.31 diz que a disciplina do Senhor é para não sermos condenados com o mundo. Daí a recomendação de Hb 12.12, que apreciamos no ponto anterior. Porém no verso treze, Ele recomenda fazermos “caminhos retos”. Não podemos andar com Deus se não estivermos de acordo com Ele (Am 3.3). Quem é discípulo, seguidor de Jesus, anda pelos caminhos de Jesus, e os caminhos d’Ele são retos. Observe que a responsabilidade de fazer caminhos retos é nossa. É uma ordem divina. Essa determinação pessoal nos livrará do extravio e nos trará a cura. Isto combina com 2 Cr 7.14, onde é prometido que, se nos convertermos dos maus caminhos, o Senhor nos ouvirá e trará saúde à terra. O discípulo de Cristo precisa ter a consciência de que é membro do corpo de Cristo; de que Ele age na terra também através dos membros desse corpo. OLHAR PARA JESUS E SEGUIR A SANTIFICAÇÃO (Hb 12.14): “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. ” Não é possível nos determos aqui na questão de “seguir a paz com todos”, mas nos ateremos à segunda parte do versículo: “Seguir a santificação”. É impossível não seguir a santificação e andar com Deus. Observe que não diz que você chegou ao “topo” da santificação. Você a segue, no sentido de procurar santificar-se a cada dia. E ela se dá pela crucificação diária, conforme vimos anteriormente. Aliás, Paulo diz que não julga haver alcançado o alvo, mas que prossegue para ele (Fp 3.13-14). É a ideia de não se conformar com o mundo e nem amá-lo (Rm 12.1-2; 1 Jo 2.15). Santificação é um processo. Ela começa na aceitação de Jesus como Senhor e Salvador e prossegue por toda a vida. É uma obra começada por Deus e aperfeiçoada até o dia do nosso encontro com o Senhor (por nossa morte, ou pela volta de Jesus). Leia Fp 1.6. OLHAR PARA JESUS E EVITAR RAIZ DE AMARGURA (Hb 12.15): “Atentando, diligentemente, para que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados. ” Uma vida que não prima pela santificação, tem efeitos letais: Primeiro, nos priva da graça de Deus. Segundo, faz brotar raiz de amargura. Aquele que não REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 105 | O D I S C Í P U LO Q U E O L H A PA R A C R I S T O confia na graça de Deus não pode ser um discípulo de Cristo. A Bíblia admite que cometemos pecados, mas recomenda confessá-los, crendo no poder purificador do sangue de Jesus (1 Jo 2.1 e 1.7-9). O perigo é abusar da graça de Deus, pois, significa que pisa o sangue de Jesus e faz agravo ao Espírito da graça (Hb 10.26 e 29). Deus está pronto a nos perdoar e a se “esquecer” dos nossos pecados (Is 55.7; Hb 8.12). Esse desprezo para com o sangue de Cristo e o agravo ao Espírito da graça, produz na pessoa raiz de amargura contra todos e até contra Deus. Daí a recomendação bíblica para não sermos vagarosos no cuidado e para cuidarmos quando estamos em pé, pois, corremos o risco de cair (Rm 12.11; 1 Co 10.12). A única maneira de evitarmos tudo isso é mantendo os olhos fixos em Jesus. Aplicação a sua vida: o que você já descobriu que o ajuda a manter os olhos fixos em Jesus? OLHAR PARA JESUS E NÃO PERDER A BÊNÇÃO MAIOR (Hb 12.16-17): “Nem haja algum impuro ou profano, como foi Esaú, o qual, por um repasto, vendeu o seu direito de primogenitura.” 106 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Esaú desprezou o seu direito de primogenitura por um prazer momentâneo. O autor sagrado nos adverte para não sermos como ele. O primogênito tinha direito a herança dobrada e, dependendo da preferência do pai, era também especialmente abençoado. Acontece que a Bíblia nos assegura que somos herdeiros de Deus e coerdeiros de Cristo (Rm 8.17). Este é o sentido maior da salvação. Ser salvo não é apenas ser livre do inferno. Inferno é uma consequência para quem não foi salvo. Até mesmo porque o inferno foi preparado para o diabo e seus anjos (Mt 25.41). A bênção maior de um discípulo de Jesus é ser transformado na mesma imagem de Jesus (1 Jo 3.1-2). Mas, esta é matéria para o próximo estudo. CONCLUSÃO Deixamos aqui o desafio de que o verdadeiro discípulo de Cristo mantenha seus olhos fitos em Jesus. Por esta razão, ele procura se desembaraçar dos pecados e busca a santificação. A caminhada pode lhe custar a vida, mas ele entende que a verdadeira vida não é aqui, pois, está na glória que está para ser revelada (Rm 8.18). ESTUDO 31 O ALVO SUPREMO DO DISCIPULADO Filipenses 3.1-21 INTRODUÇÃO O capítulo onze da Carta aos Hebreus fala dos “heróis da fé”. Eles tinham um alvo para o qual olharam de longe e foram capazes de passar pelo fogo, serem serrados ao meio ou submetidos a muitas outras formas de sofrimento por causa de algo que esperavam do futuro. Paulo, em Fp 3.13-14, fala do “alvo pelo prêmio da vocação celestial de Deus em Cristo Jesus”. Que alvo é esse? Antes de nos concentrarmos no alvo supremo de Cristo para nós, reflitamos nos versículos que precedem o texto em foco. CONSIDERA LUCRO COMO PERDA (Fp 3.7): “Mas o que para mim era ganho reputei-o perda por Cristo.” O passo inicial do discipulado cristão é a renúncia por amor a Cristo. Jesus disse que, quem não renunciar a tudo quanto Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Fl 3.13-14 Fl 3.1-6 2 Co 12.2-4 1 Co 3.11-15 1 Co 2.10-14 Ef 3.19 1 Jo 3.1-2 tem não pode ser seu discípulo (Lc 14.33). Em Fp 3.1-6, Paulo está falando dos “cães”, que se introduziam no seio da igreja ensinando doutrinas falsas. Um dos grandes perigos do cristianismo mal interpretado é o entendimento equivocado de que somos aceitos por Deus mediante nossa ascendência religiosa ou por méritos pessoais. Paulo fala de sua condição anterior ao cristianismo. Ele era descendente de Israel, fariseu, circuncidado ao oitavo dia, zeloso da lei (chegando a ser irrepreensível) e perseguidor da igreja. Mas, quando conheceu a graça do Senhor Jesus Cristo, o que para muitos era lucro, Paulo o reputou como perda, por amor a Cristo. O nosso passado sem Cristo não deve ser nenhum motivo de satisfação ou orgulho, mas como refugo (Fp 3.9). No verso oito, ele diz que essas perdas foram pela “excelência do conhecimento de Cristo”, isto é, o supremo alvo que tinha diante de si. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 107 || 107 | O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O Aplicação a sua vida: como discípulo, o que você tem perdido em sua vida por amor a Deus e ao próximo? ESTÁ ADIANTE, NÃO DIANTE (Fp 3.13): “Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim. ” Paulo reconhecia que ainda não havia alcançado o supremo alvo, ou que fosse perfeito, mas prosseguia para aquilo para o que também fora alcançado por Cristo. Observe que Cristo nos salvou não apenas para irmos para o céu, mas também para termos uma vida abundante aqui na terra. Há uma vocação celestial, um “prêmio” que transpõe a capacidade dos sentidos físicos ou de um homem natural compreendê-la (1 Co 2.9 e 14). Paulo reconhecia que há um propósito maior para o discípulo de Cristo. Ele tivera uma aparição especial de Jesus e passara por uma revelação no “terceiro céu”, tão sublime que não podia ser relatada aos homens (Gl 1.12 e 16; 2 Co 12.2-4). Apesar de tudo isto, e de servir a Cristo e ao seu Reino, não julgava estar no topo da vida espiritual. Ele reconhecia que ainda havia um caminho a ser percorrido e, nesse sentido, prosseguia, pois, “o alvo estava adiante, não diante dele. ” Nada conquistado deve servir de merecimento espiritual. Não podemos olhar para trás (vitórias ou derrotas). O alvo supremo está adiante e precisamos prosseguir até que recebamos ou alcancemos esse “prêmio”. Aplicação a sua vida: Nosso alvo é Cristo. Cada batalha vencida nos fortalece, mas ainda temos uma caminhada a seguir. As vitórias ou derrotas do caminho precisam nos dar força para continuar. Como você tem tratado essas situações em sua vida? 108 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I O “LUGAR” DO ALVO (Fp 3.14): “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. ” Observe que a “soberana vocação de Deus” é “em Cristo Jesus”. N’Ele estão todos os tesouros da sabedoria (Cl 2.2-3). Então, o “segredo” está em Cristo Jesus. Daí a necessidade de crescermos na graça e no conhecimento de Cristo (2 Pe 3.18). Paulo chega mesmo a dizer que isso é um “mistério” (1 Co 1.27). Bem, como, então, alcançar esse mistério? Continuemos esse estudo e, quem sabe, teremos um “vislumbre” do que poderá ser esse alvo. Tenhamos sempre em mente que o alvo é de Deus para nós. Há uma vontade de Deus que precisa ser cumprida em nossa vida. Precisamos conhecê-la para sabermos como chegar a ela. SEMELHANÇA DE DEUS EM CRISTO (Fp 3.14 e 1 Jo 3.2b): “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus (...); seremos semelhantes a Ele; porque assim como é o veremos.” a) A soberana vocação de Deus é para ser conforme a imagem de Jesus (Rm 8.29): “Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos.” A imagem de Deus idealizada em Adão é concluída na pessoa de Cristo. O texto é claro em afirmar que Deus nos predestinou para ser conforme a imagem do seu Filho. Cristo é o modelo a ser atingido e o propósito divino é nos tornar semelhantes a Ele. b) O processo de transformação na mesma imagem de Jesus (2 Co 3.18): O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O “Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor.” A transformação é um processo: “De glória em glória”. O alvo é a imagem de Cristo: “Na mesma imagem”. O Agente transformador é o “Espírito do Senhor”. Enquanto a boa obra que foi iniciada em nós é processada, o Espírito Santo nos conduz a toda verdade até o dia em que nos entregará a Cristo “sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante” (Fp 1.6; Jo 16.13; Ef 5.27; 1.13-14; Ap 22.17). Esta é uma das razões da importância da santificação a que somos submetidos pela disciplina do Senhor, e as provações pelo fogo das tribulações (Hb 12.10; 1 Co 11.32; 1 Pe 4.12; Rm 8.18; 1 Co 3.11-15). c) Participantes da natureza divina (2 Pe 1.3-4): “Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; pelas quais Ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo. ” Pedro disse que Paulo escreveu coisas difíceis de compreendermos, mas ele também não ficou atrás, quando fala de nossa participação da “natureza divina”. A palavra grega “participantes” é “koinonoi”, de “koinonos”, que significa comunhão, companheirismo enfim, a ideia de manter comunhão com a natureza divina. Podemos associar essa ideia ao que Paulo diz sobre o homem natural não compreender as coisas do Espírito, mas | Deus no-las dá a conhecer pelo Espírito Santo (1 Co 2.10-14). Na mesma linha de pensamento, devemos entender a afirmação paulina de que “temos a mente de Cristo” (1 Co 2.16). Mesmo entendendo que a participação da natureza divina tem a ver com nossa comunhão com Ele, sabemos que essa comunhão é num nível que transpõe a capacidade humana de compreensão (1 Co 2.9; Ef 3.19). Observe que o final de Ef 3.19 diz “para que sejais cheios da plenitude de Deus. ” Então, lembre-se que este é o supremo alvo da vocação de um discípulo de Cristo. Ainda não o alcançamos, mas caminhamos para ele. d) Veremos a Deus e seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3.1-2): “Vede quão grande amor nos tem concedido o Pai, que fôssemos chamados filhos de Deus. Por isso o mundo não nos conhece; porque não o conhece a Ele. Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é o veremos. ” Somente na volta de Cristo esse alvo supremo se cumprirá em nossa vida. Veremos como Deus é! Então, estaremos prontos para andar com Ele, pois, seremos semelhantes a Ele. Não tem alvo ou recompensa maior do que ver e ser semelhante a Deus. Observe que não é igual, mas, semelhante. Isto também não é por nossos méritos, mas através de Cristo (Jo 14.6). Então, a plenitude de Deus se cumprirá em nossas vidas. Por esta razão, dissemos em estudos anteriores que, ser salvo, é muito mais que não ir para o inferno ou apenas ir para o céu. Eu quero ir para o céu, porém, muito mais que ser REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 109 | O A LV O S U P R E M O D O D I S C I P U L A D O livre do inferno, o céu que entendo é poder ver a Deus, ter comunhão com sua natureza divina e ser cheio de sua plenitude. Para isso Ele nos criou, para isso nos salvou e para isso nos está transformando de glória em glória. Aplicação a sua vida: Se você fosse comparar sua vida em Cristo a uma corrida, qual seria a sua posição: sentado á margem da pista, no aquecimento, à espera do sinal de largada ou já em disparada dando tudo de si? CONCLUSÃO O supremo alvo de Deus para cada discípulo é torná-lo participante da natureza divina, no sentido de ter perfeita comunhão com Deus; é que tenha a mente de Cristo, no que diz respeito a ser usado pelo Espírito Santo no conhecimento do “mistério de Deus”, que é o próprio Cristo. Por esta razão é que o discípulo está 110 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I sendo transformado de glória em glória na mesma imagem de Cristo e que, por fim, será semelhante a Deus. Tudo isto, entretanto, culminará na volta de Jesus, quando os mortos ressuscitarão e os salvos que estiverem vivos serão arrebatados para encontrar com o Senhor nas nuvens. Todos os salvos (ressuscitados e arrebatados) serão transformados na mesma imagem de Cristo (1 Co 15.5152). Em 1 Jo 3.2, lemos: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando Ele se manifestar, seremos semelhantes a Ele; porque assim como é O veremos” (grifo nosso). Por enquanto, estamos na caminhada em busca desse alvo, por isso, como vimos no estudo anterior, é necessário que o discípulo mantenha os olhos fixos em Jesus, pois, é n’Ele que se cumpre a vocação de Deus! Então, firme como propósito este tipo de vida com Deus e você verá que ser crente é muito mais que ter o céu; é ser semelhante a Deus. Aleluia! ESTUDO 32 O Discípulo E SEU ENCONTRO COM Jesus Lucas 19.1-10 INTRODUÇÃO: O estudo de hoje mostra como um homem por nome Zaqueu buscou e encontrou Jesus, sendo salvo e levando salvação também a toda sua casa. Zaqueu, aparentemente, tinha um bom emprego, pois, era o chefe dos cobradores de impostos a serviço do império romano, e era muito rico. Nos padrões de hoje, ele poderia ser considerado uma pessoa bem-sucedida. Mas, sua busca por Jesus demonstrou que seu emprego e condição financeira não eram suficientes para trazer salvação para si mesmo e sua família. Nossa esperança é que você também possa ter um encontro pessoal com Jesus e desfrutar da mesma alegria que Zaqueu desfrutou. APROVEITA BEM CADA OPORTUNIDADE (Lc 19.1; Is 55.6-7; Ef 5.16) Esta era a última vez que Jesus passaria por Jericó. Era imprescindível que Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 19.1-10 Is 55.6-7 Hb 3.7-8 Rm 12.11 Mt 16.24-26 At 17.27-28 Ap 3.20 Zaqueu aproveitasse aquela oportunidade. O sentido de Ef 5.16 é que devemos aproveitar bem cada oportunidade. Para Deus, o dia de nossa salvação é sempre “hoje” (Hb 3.7-8; 2 Co 6.2). Não temos o direito de adiá-lo. Não devemos perder a oportunidade de buscar ao Senhor. Apesar de ser um homem perdido e, possivelmente, estar em caminhos ímpios, havia chegado o momento de Zaqueu encontrar-se com o Salvador e de ajustar sua vida como um novo discípulo de Cristo. O quadro é interessante: Zaqueu procurava por Jesus e este queria “pousar” em sua casa. Caso você também precise de um encontro com Jesus, não deixe passar essa oportunidade. Daí a importância de superar eventuais obstáculos. SUPERA OBSTÁCULOS (Lc 19.3-4) Encontrar-se com Jesus não é tão simples como parece. Enquanto a pesREFLEXÕES BÍBLIC AS II | 111 | O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S soa está longe do Senhor, não enfrenta certos obstáculos, mas, ao aproximar-se d’Ele, aparecem os mais diferentes obstáculos. Observemos a experiência de Zaqueu: Sua estatura o impedia de ver Jesus entre a multião; sua função o estigmatizava perante seus conterrâneos; sua conduta como chefe dos publicanos, isto é, dos cobradores de impostos a serviço do império romano, era reprovada. Jesus foi censurado por ir à casa de Zaqueu e comer com ele, porque na avaliação dos seus críticos, este era pecador. Mas ele tomou as decisões certas para superar os obstáculos que o impediam de ver a Jesus e de se tornar um discípulo do Mestre. Porém, observe, ele foi diligente: Correu, subiu numa árvore e ficou aguardando a aproximação de Jesus. Mais à frente, veremos que ele tomou outras decisões que motivaram Jesus a dizer que ele também era filho de Abraão. percebeu a multidão, ele correu na frente e subiu numa árvore. A Bíblia diz que há tempo para todo propósito debaixo do céu (Ec 3.1). Aquele que deseja ser um discípulo de Jesus não deve ser “moroso”. É preciso agir depressa. O escritor de Hebreus diz que devemos correr com perseverança (Hb 12.1). Paulo nos exorta a não sermos vagarosos no cuidado (Rm 12.11). Ninguém tem o direito de retardar a busca por Jesus. O verso seis diz que Zaqueu, apressando-se, recebeu Jesus alegremente. Nossa diligência em buscar e em receber Jesus resulta em grande alegria (Jo 15.11; Lc 10.20). É AMADO POR ELE (Lc 19.5) É DILIGENTE (Lc 19.3-8) Observe que Jesus foi ao encontro de Zaqueu, olhou para ele e ordenou que descesse depressa porque iria a sua casa. Mais um detalhe: Jesus o chamou pelo nome. Jesus disse que as ovelhas dele ouvem sua voz e ele as conhece (João 10.27). Quando damos o primeiro passo em direção a Deus, descobrimos que Ele já vem ao nosso encontro. Deus realmente se importa conosco. Ele está procurando você, apenas esperando que você tome a iniciativa de ir em busca d’Ele. Quando você fizer isto, descobrirá que é Jesus quem o está procurando. Ponha isto no coração: Jesus a ama, sabe o seu nome e deseja fazer de você um discípulo d’Ele. Zaqueu “procurou ver Jesus”. A visão e o conhecimento de Jesus são fatores preponderantes na obtenção da vida eterna (Jo 17.3). Zaqueu não se contentou em apenas ouvir falar de Jesus, ou saber que ele havia passado por sua cidade. Sua procura o levou a muito mais que um conhecimento meramente visual. Ela redundou em bênçãos para sua vida e sua família (Lc 19.9). O verso quatro diz que ele “correu adiante”. No verso cinco, Jesus ordena para Zaqueu descer “depressa”. Na sua busca por Jesus, quando Em Lc 19.7, Jesus é acusado de ser hóspede de um pecador. Aqui talvez esteja um dos grandes mistérios do amor de Deus. Ele não procura “justos” arrogantes, mas pecadores humildes e dispostos a recebê-lo e, assim, se tornar um discípulo dele. As demais pessoas presentes na casa de Zaqueu censuraram Jesus. Perderam, assim, a oportunidade de também se tornarem discípulos dele e, deste modo, não somente serem salvas, como também levarem a salvação para sua família. Aplicação a sua vida: Quais são os obstáculos que o impedem de ser um discípulo de Jesus? Você sente-se perdido, discriminado ou estigmatizado? Anime-se! Jesus o procura e quer fazer de você um discípulo. 112 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S Em Lc 19.9-10, Jesus declara: “Hoje veio a salvação a esta casa, pois, também este é filho de Abraão. Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido. ” Jesus quer buscar e salvar o que está perdido na sua vida. Tudo aquilo que o pecado tem destruído. Sua paz, sua alegria da salvação e sua família. Jesus quer fazer de você um discípulo e, desta forma, usufruir de todas as bênçãos prometidas àqueles que o seguem (1 Co 2.9): “Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. ” É importante salientar, entretanto, que Jesus só pôde fazer isso na vida e casa de Zaqueu quando este procurou Jesus e o levou para sua casa. Aplicação a sua vida: Jesus aproveitava todas as oportunidades para fazer o bem e levar salvação às pessoas. Como discípulo d’Ele, tenho aproveitado as oportunidades para fazer outros discípulos? QUER A SALVAÇÃO DE SUA FAMÍLIA (Lc 19.9) Cada momento do encontro de Zaqueu com Jesus, nos transmite uma mensagem especial sobre a salvação da família. A promessa divina a Abraão é que, nele, seriam benditas todas as famílias da terra (Gn 12.3). Paulo assegurou ao carcereiro de Filipos que, se ele cresse em Jesus, seria salvo ele e toda a casa dele (At 16.30-31). O plano divino é que você seja o instrumento do Senhor para que sua família experimente a graça salvadora do Senhor Jesus Cristo. É importante salientar, entretanto, que o discípulo de Cristo precisa tomar a iniciativa de conhecer Jesus e levá-lo | para sua família (Lc 19.3). Na história do cristianismo, Deus sempre começa por uma ou mais pessoas de uma família e a Palavra vai alcançando os corações dos demais familiares. Aliás, esta é a ordem divina para cada seguidor de Jesus (Mc 5.19). Aplicação a sua vida: O que está perdido na sua vida ou na sua casa? Observe que Jesus está procurando exatamente o que está perdido. Seu objetivo é salvá-lo. Peça para Jesus entrar em sua casa, curar suas feridas, perdoar seus pecados e salvar sua família. AJUSTA A VIDA PARA SEGUI-LO (Lc 19.7-8) Jesus foi claro com os seus seguidores, ao dizer-lhes que não existe discipulado sem crucificação do ego (Mt 16.24-26). No discipulado, há renúncias e perdas; há valores a serem refeitos. Sobre este assunto, a irmã Isabel Monteiro já escreveu no semestre passado, ao falar sobre as instruções de Jesus aos seus discípulos, nos capítulos cinco a sete de Mateus. Entretanto, o exemplo de Zaqueu, evidencia que os valores do Reino de Deus, apresentados por Jesus, eram agora encarnados por aqueles que decidiram se tornar seus discípulos. O verdadeiro arrependimento produz mudança. Aquele homem, antes ávido por cobrar impostos e, possivelmente, um defraudador, revela-se agora um altruísta, honesto e mais que justo para com o próximo, ao decidir devolver quatro vezes mais no que tivesse defraudado alguém. Zaqueu estava disposto a reparar os seus erros. Ele não argumentou contra aqueles que o acusavam. Ele tomou uma decisão que demonstra mudança de vida. Deus espera que nossa fé vá além REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 113 | O D I S C Í P U LO E S E U E N C O N T R O C O M J E S U S de nossas intenções. O discípulo de Jesus precisa reconhecer seus pecados, tomar decisões que demonstrem sincero arrependimento e conversão. Aplicação a sua vida: sabemos que Jesus nos chama como estamos, mas para ser seu discípulo, temos que fazer alguns ajustes em nossa vida que refletirão em nosso relacionamento com Ele. Conclusão Uma das extraordinárias revelações de “O Novo Testamento” é que o “Deus Santo” procura o “homem pecador” e lhe faz o convite para vir após Ele, isto é, ser um discípulo d’Ele. Todo pecador perdi- 114 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I do está sendo procurado por Jesus para ser salvo. Ele está bem perto. Na verdade, “n’Ele vivemos, nos movemos e existimos” (At 17.27-28). Quando o “homem pecador” dá o primeiro passo em busca do “Deus Santo”, descobre que ele está à sua procura. Uma das pessoas convertidas no meu ministério no Rio de Janeiro, compôs uma música que diz: “Me arrependo, meu Deus, eu não sabia... que a felicidade estava em Cristo!... eu não sabia. Eu vivia agarrado ao mundo, sem para Cristo olhar. É que eu fugia de Cristo, e Ele queria me achar”. Jesus está também à sua procura. Dê o primeiro passo para segui-lo, e descobrirá que Ele está bem juntinho de você, na verdade, batendo à porta do seu coração (Ap 3.20). ESTUDO 33 UM PEDIDO ESPECIAL: FICA CONOSCO, SENHOR! Lucas 24.13-31 INTRODUÇÃO O pedido dos dois discípulos a Caminho de Emaús retrata a realidade de cada um de nós hoje, também discípulos do Senhor. Se eu lhe perguntasse qual é a sua maior necessidade neste momento, o que você me diria? A maior necessidade de uma pessoa não é de saúde, de emprego, alimento, casa, escola, segurança, dinheiro ou outros bens materiais. Nossa maior necessidade hoje é de Deus mesmo, como diz o salmista: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus? ” (Sl 42.2). Aqueles discípulos caminhavam tristes, mas a companhia de Jesus lhes fez tanto bem que O convidaram para ficar com eles. Jesus atendeu ao pedido deles e, no partir do pão, revelou-se como Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 24.13-31 Sl 119.126 Ap 3.20 Lc 24.16 e 31 Rm 10.9-10 At 3.15 Lm 3.19-21 o Cristo Ressurreto. Então, toda tristeza e sentimento de derrota desapareceram da vida daqueles discípulos e eles foram anunciar que viram Jesus ressuscitado. Aplicação a sua vida: tudo muda quando convidamos Jesus para entrar em nossa vida e ficar conosco. Quais motivos o levariam a convidar Jesus para ficar com você, hoje? PORQUE É TARDE E JÁ DECLINOU O DIA! (Lc 24.13-29) Aqueles discípulos no caminho de Emaús estavam sob domínio romano, e na hora em que o livramento parecia ter chegado, o que eles viram foi a tragédia do julgamento e da crucificação de Jesus. Suas mentes estavam entorpecidas; eles não perceberam que tudo aquilo estava no plano de Deus, exatamente para livráREFLEXÕES BÍBLIC AS II | 115 | U M P E D I D O E S P E C I A L : F I C A C O N O S C O, S E N H O R ! los de uma escravidão mais aguda, a escravidão do pecado. A noite passara, mas eles não perceberam. A companhia de Jesus naquele momento lhes fazia bem, e eles pediram-lhe: Fica conosco. A Bíblia nos adverte que “a noite vem” (Jo 9.4). Todos nós vivemos experiências de noites que parecem intermináveis! Às vezes temos a sensação de que o tempo e a esperança se vão e não acontece o livramento. Porém, devemos nos lembrar de que, se a Bíblia nos assegura que “a noite vem”, também nos promete que o “choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5). Pode ser que você se identifique com os discípulos que pediram para Jesus fazer-lhes companhia porque estavam tristes (Lc 24.17). Pode ser que você julgue que a oportunidade está passando e não percebe que veio ajuda divina. Pode ser que você sinta que não há mais esperança e nem qualquer expectativa para sua vida, como compartilharam os discípulos no caminho de Emaús. Então, peça para Jesus ficar com você, porque já é tarde. Aplicação a sua vida: Que horas são na sua existência? Já lhe ocorreu de refletir sobre o quanto a vida passa rápido? O que está passando “da hora” na sua vida? Onde, na sua vida, você entende que já é tempo de Deus atuar? PORQUE PRECISAMOS DA TUA COMPANHIA! (Lc 24.29) Uma das grandes bênçãos da igreja é a experiência da presença de Jesus no meio da mesma (Mt 18.20). A Igreja de Laodicéia deixou Jesus do lado de fora de sua vida, mas ele batia à porta, esperando ser ouvido, para entrar e ter comunhão com eles (Ap 3.20). 116 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Da mesma forma, Jesus bate à porta do nosso coração; seu maior desejo é que ouçamos sua voz e abramos a porta, para desfrutarmos de sua doce comunhão. Aplicação a sua vida: Você percebe Jesus batendo à porta do seu coração, desejoso de lhe fazer companhia? Ele espera que seus discípulos ouçam sua voz e O convidem para entrar e estar com eles. Porque queremos VER QUE ESTÁS CONOSCO! (Lc 24.16 e 31) Observe que o verso dezesseis diz que os discípulos estavam “como que com os olhos fechados”. E no verso trinta e um é dito que “abriram-se-lhes então os olhos, e o conheceram”. Eles estavam com Jesus mas não viam que era Jesus. Somente depois que Jesus lhes abriu os olhos, foi que O reconheceram. A visão correta de Jesus, ou o relacionamento com Ele, é que dá vida eterna (Jo 17.3). Então, precisamos pedir que Jesus nos abra os olhos. a) Quando Jesus nos abre os olhos, entendemos melhor as escrituras. Aqueles discípulos não sabiam, mas sua experiência ficaria registrada nas páginas sagradas. Da mesma forma, cada um de nós faz parte dos planos de Deus na história da Igreja. Sua vida, amado irmão, está sendo escrita nesta nova etapa da história do povo de Deus. Aplicação a sua vida: De qual modo você permitirá que sua história seja registrada? O que vão dizer de você quando Deus te chamar para a eternidade? U M P E D I D O E S P E C I A L : F I C A C O N O S C O, S E N H O R ! | b) Para vermos que Jesus morreu, mas ressuscitou. Ele vive para todo o sempre (Ap 1.18). Paulo diz que a mensagem dele era que Cristo foi crucificado, morto e sepultado, mas ressuscitou ao terceiro dia (1 Co 15.2-4). A certeza da ressurreição de Cristo é que nos assegura a vida eterna (Rm 10.9-10). A tristeza daqueles discípulos era porque, para eles, o seu Cristo estava morto. Você deve remover toda tristeza e lembrança de derrotas de sua vida, pois, Cristo é Aquele que venceu a morte e nos conduz em vitória (1 Co 15.54 e 57; Rm 8.37). c) Para vermos que Jesus é o autor da vida (At 3.15). Jesus nos dá vida abundante e eterna porque Ele é o AUTOR DA VIDA. Os discípulos caminhavam com a imagem de um Jesus morto e nem percebiam que Ele estava vivo e com eles. Paulo nos recomenda a tomarmos posse da vida eterna (1 Tm 6.12). Não permita que imagens destrutivas e de morte dominem sua mente. Traga à memória o que lhe pode dar esperança (Lm 3.19-21). Somente assim, você poderá exercitar a fé e perceber que Deus está no controle de sua vida. Conclusão Se você ainda não convidou Cristo para ficar com você, este é o momento de fazê-lo. Se já fez este convite, identifiquese com aqueles discípulos a caminho de Emaús e abra os olhos, perceba que Ele está com você para mudar a sua vida. Peça a Ele que lhe abra os olhos para ver como você poderá participar mais significativamente do reino. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 117 ESTUDO 34 O DISCÍPULO APROVADO POR DEUS Lucas 13.1-9 INTRODUÇÃO O discípulo de Cristo deve reavaliar seus conceitos de “culpa e castigo”, bem como quando trata da questão sobre quem é mais pecador: aquele que comete um crime bárbaro ou aquele que não se arrepende de outros pecados, por julgá-los menos graves que os pecados do próximo. Na condição de discípulos de Jesus, somos responsáveis pela divulgação do Reino de Deus e de sua justiça, conforme o Senhor nos recomenda em Mt 6.33. De acordo com esse padrão de justiça, o que é um discípulo aprovado por Deus? Este estudo aprecia valores divinos que nos tornam aprovados por Deus. É AQUELE QUE RECONHECE OS VALORES DO REINO (Lc 13.1-3) Os “galileus” aos quais Jesus se refere neste texto bíblico, foram mortos a 118 118 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 13.1-9 Mt 27.24-25 Is 55.8-9 Lc 18.9-14 Gl 5.19-23 Hb 3.7-8 2Co 6.2 mando de Pilatos, enquanto ofereciam sacrifícios a Deus. O sangue deles fora misturado com os próprios sacrifícios oferecidos ao Senhor. Pilatos os considerava insurgentes contra o governo e, por isso, os mandara matar. As palavras de Jesus nos dão a entender que aqueles galileus eram julgados pela sociedade como grandes pecadores. Entretanto, Jesus redireciona o mérito da questão para a realidade de que o maior pecado de uma pessoa é a rejeição do Reino de Deus. Ele os adverte de que, se não se arrependessem, de igual modo pereceriam. Isto nos faz lembrar que esta palavra de Jesus literalmente aconteceu quando da destruição do templo de Jerusalém e da morte de milhares de judeus no ano setenta da era cristã. No julgamento de Jesus, Pilatos disse que era “inocente do sangue deste justo”, então, o povo respondeu: “O seu sangue caia sobre nós e sobre os nossos filhos. ” (Mt 27.24-25). Aquele que se torna um discípulo de Jesus, precisa rever os O D I S C Í P U LO A P R O V A D O P O R D E U S | seus valores em comparação com os valores do mundo (Rm 12.1-2). Em Is 55.8-9, aprendemos que a escala de valores de Deus é elevada; a nossa é baixa. Aplicação a sua vida: os valores de Deus são diferentes dos valores humanos, pois, Deus busca a essência da pessoa. De qual forma os valores humanos tem influenciado a sua vida? É AQUELE QUE SE ARREPENDE (Lc 13. 3-5) A Bíblia diz que Deus não rejeita o coração quebrantado e contrito. Deus não leva em conta o quanto nós pecamos, mas o quanto nos arrependemos. Deus se importa não com o nosso passado, mas com o que somos e como estamos agora (At 17.30; Hb 8.12). Na parábola do fariseu e do publicano (Lc 18.9-14), Jesus disse que o fariseu se gabava de sua religiosidade e “justiça”, enquanto que o publicano apenas clamava: “Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador”. Jesus concluiu afirmando que o publicano desceu justificado, enquanto que o fariseu não. O problema dos ouvintes a quem Jesus dirigiu as palavras de Lc 13.3-5 é que eles julgavam os outros e não se arrependiam dos próprios pecados. Se você quer ser um discípulo aprovado por Deus, deixe de apontar os pecados do próximo e se arrependa dos seus. Porém, o verdadeiro arrependimento produz resultados. Aplicação a sua vida: para Deus, o arrependimento é sempre na “primeira pessoa”. Deus se importa com o meu tempo presente. Qual ou quais situações você ainda precisa colocar diante de Deus? É AQUELE QUE TEM O FRUTO DO ESPÍRITO E RENEGA A OBRA DA CARNE (Gl 5.19-23) Neste texto bíblico, o apóstolo Paulo nos apresenta uma lista das obras da carne e o fruto do Espírito. Em Gl 5.19, ele menciona “prostituição, impureza, lascívia”. O termo grego para a palavra prostituição é “porneia”, que significa “relação sexual ilícita, adultério, fornicação, homossexualidade, lesbianismo, relação sexual com animais, relação sexual com parentes próximos, relação sexual com um homem ou mulher divorciada” (Mc 10.11,12). O termo “impureza” é “akayarsia”, que significa “impureza física; impureza moral; impureza proveniente de desejos sexuais, luxúria, vida devassa. Já o termo lascívia é “aselgeia”, que significa: “luxúria desenfreada, excesso, licenciosidade, libertinagem, caráter ultrajante impudência, desaforo, insolência; adoração de ídolos”. Precisamos ser honestos para, ao detectarmos em nós qualquer uma dessas atitudes, termos a coragem de renunciá-la e buscarmos o fruto do Espírito Santo. Gl 5.21 aponta: “invejas, bebedices, orgias, e coisas semelhantes a estas.” É impressionante verificar que o invejoso não herdará o Reino de Deus. Na mesma lista, entram as bebedeiras, as orgias e coisas similares. Por esta “lista” de impedimentos apontados por Paulo, fica caracterizado que, para Deus, não existe um “jeitinho” para ninguém na eternidade. Todas essas manifestações são obras da carne, diferentes do “fruto do Espírito”, conforme veremos a seguir. Diferentemente de “obras da carne”, a partir de Gl 5.22, Paulo fala sobre o “fruto do Espírito”, que é: “amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 119 | O D I S C Í P U LO A P R O V A D O P O R D E U S fidelidade. ” O amor é o primeiro produto (fruto) do Espírito, que deve ser traduzido em atitude, e não somente em palavra. Todo estilo de vida deve ser pautado no amor. Quem é possuído pelo Espírito Santo, desfruta ainda de alegria e paz; ele é longânimo (tem o ânimo longo), busca o bem do próximo, é bom e fiel. A infidelidade é uma deturpação do caráter e evidencia a ausência do Espírito Santo. Em Gl 5.23, temos “mansidão e domínio próprio”. Mansidão e domínio próprio estão relacionados e nos identificam com Jesus, que disse: “Sou manso e humilde de coração” (Mt 11.29). Na sequência de Gl 5.23, Paulo diz que contra essas coisas não há lei. No verso 24, ele justifica por que o discípulo de Cristo age diferente daqueles que não seguem a Jesus: “E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências”. O fruto do Espírito é a evidência clara de que nascemos de novo, nascemos do Espírito Santo (Jo 3.3-5). Quem não tem o Espírito Santo não está ligado a Deus, não é de Cristo (Rm 8.9). É AQUELE QUE PRODUZ FRUTOS (Lc 13.6-9 e Jo 15.2 e 6) É inadmissível para Deus que alguém “plantado” no seu Reino não produza frutos para o mesmo. É inadmissível para Deus que alguém ligado à “Videira Verdadeira” não produza frutos verdadeiros. Então, o que Deus faz? Remove esse “intruso” do Reino (ou da Videira). João Batista, ao iniciar o seu ministério, conclamava a todos para produzirem fruto digno de arrependimento (isto é, fruto que demonstrasse sincero arrependimento), conforme Mt 3.8-10. João os alertava para que não confiassem na sua tradição religiosa (religião dos seus pais), mas que dessem evidência de verdadeira mudança, conforme se pode ler nos versos seguintes de Mateus, capítulo três. 120 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Tanto João quanto o próprio Jesus, afirmaram que, aquele que não desse fruto, seria cortado. Em Lc 13.6-9, Jesus conta a “Parábola da Figueira” plantada numa vinha. Durante três anos, o dono da vinha procurou figo na figueira e não a encontrou, então, recomentou que fosse cortada. A alegação era que a figueira ocupava o lugar “inutilmente”. O vinhateiro pediu mais um ano de prazo; se, após aquele período não desse fruto, seria cortada e lançada fora. Vale lembrar ainda o episódio da figueira frondosa na qual Jesus procurou fruto e, não o encontrando, a amaldiçoou e ela secou imediatamente (Mt 21.18-19). O texto de Jo 15.2 e 6, diz que o galho de uma videira que não dá fruto é cortado, lançado fora, seca, é colhido, é lançado no fogo e arde. O discípulo aprovado por Deus, não se contenta com uma vida de aparência. Ele leva a sério a vida cristã, produz fruto e cada vez mais é limpo, isto é, santificado, para que dê mais fruto. Quando percebe que não está com sua vida aprovada por Deus, ele se arrepende e demonstra isto na prática. Conclusão O discípulo aprovado Deus não retarda suas decisões (Hb 3.7-8; 2 Co 6.2). A posição bíblica é que o momento de buscar o Senhor é sempre agora, hoje. Toda a nossa vida terrena é uma oportunidade dada por Deus para produzirmos frutos para a vida eterna. Deus não aceita nossa aparência ou meras palavras. Deus quer vidas transformadas e produtivas. Deus tolera os nossos pecados, mas tem um limite. Pode ser que este seja também o seu último ano de oportunidade, como foi o da figueira que não produzia fruto. Então, busque ao Senhor e produza fruto digno de arrependimento. Seja um discípulo aprovado por Deus! ESTUDO 35 MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS 1 Coríntios 4.1-4 INTRODUÇÃO Considerando que Jesus, ao comissionar seus discípulos, lhes recomendou que fizessem discípulos e lhes ensinassem todas as coisas que ele tinha ensinado (Mt 28.19), reflitamos sobre o desejo de Paulo, expresso em 1 Co 4.1-2, onde lemos: “Que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus”. Aplicação a sua vida: O que é um “ministro de Cristo” e o que significa ser despenseiro desses “mistérios divinos”? DISCÍPULO E MINISTRO DE CRISTO (1 Co 4.1-2) A palavra “ministro”, no grego υπερετης (huperetes), significa “aquele que serve, ajudante”. Ela substitui a palavra δουλος (doulos), que significa “servo”.6 Todo cristão deve ter a CONS- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias 1Co 4.1-2 2Rs 4.8-9 Hb 2.17-18 Gl 5.19-21 2Co 11.28-29 2Tm 4.7-8 1Co 4.9 CIÊNCIA, isto é, “estar com a ciência” de que é preciso servir ao “corpo de Cristo”, a Igreja. Deste modo, vemos de imediato que, na condição de ministro de Cristo, cada discípulo tem funções básicas, a fim de que desempenhe bem o seu ministério. Aurélio7 define “ministro” como “título genérico para qualquer empregado ou funcionário público de nível mais elevado: secretário de Estado; membro de Tribunal. Aquele que executa os desígnios de outrem: medianeiro, intermediário, executor, auxiliar; do evangelho (...) Membro de um ministério; (...) Categoria diplomática abaixo da de embaixador. Aquele que, em nome da Igreja, exerce certas funções sagradas, como pregar, administrar os sacramentos. Pastor protestante. Designação comum aos juízes do Supremo Tribunal Federal, do Superior Tribunal Militar, do Tribunal de Contas da União, do Tribunal Federal de Recursos, do Tribunal Superior do Trabalho e dos tribunais eleitorais”. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 121 || 121 | MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS O apóstolo Paulo espera que os homens nos considerem como “ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus”. A função do ministro é servir. O discípulo está a serviço de Cristo entre os homens, e é necessário que seja reconhecido por eles. Isso nos faz lembrar de Eliseu, que foi reconhecido como um santo homem de Deus (2 Rs 4.8-9). Lembremo-nos ainda que, em Antioquia, os discípulos foram chamados, pela primeira vez, de “cristãos” (At 11.26). Observe que eles não se denominaram cristãos, mas foram reconhecidos como tais em virtude de suas vidas refletirem o exemplo de Cristo. O que diferencia um discípulo de Cristo dos demais homens precisa ser o mesmo sentimento que houve em Cristo (Fp 2.58). Observe de que modo Jesus nos serve de exemplo: “De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus”. a) “Sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus”. Jesus era Deus, mas não reivindicou “seus direitos divinos”. Sendo rico, se fez pobre, a fim de nos enriquecer (2 Co 8.9). O discípulo de Cristo não busca o seu interesse pessoal; seu objetivo é o bem do próximo (1 Co 10.24). b) “Esvaziou-se a si mesmo”. O discípulo de Cristo não se ufana de nada. Ele se esvazia de si mesmo, e só deve gloriar-se na cruz de Cristo (Gl 6.14). c) “Tomou a forma de servo”. Jesus disse que basta ao discípulo ser igual ao seu Mestre (Lc 6.40). O discípulo é chamado para servir aos homens e a Deus (Cl 3.23). d) “Fez-se semelhante aos homens”. O discípulo somente entende o próximo quando procura se colocar “no seu lugar”. Jesus veio viver como homem, sentir como homem, ser tentado e morrer como homem. O escritor da Carta 122 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I aos Hebreus diz que, por assim viver, Ele pode nos compreender e nos ajudar (Hb 2.17-18; 4.15-16). Ponha-se no lugar do próximo e você se assemelhará ao mesmo que Jesus fez. Jesus tomou a iniciativa de humilhar-se a si mesmo. Ele não esperou ser humilhado. Aliás, Ele assegurou que, somente quem se humilhar, será exaltado (Mt 23.12). A Bíblia diz que Jesus “sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo obediente até à morte, e morte de cruz” (Fp 2.6-8). E porque Ele se humilhou, Deus o exaltou soberanamente, e lhe deu um nome que é sobre todo o nome” (Fp 2.9). Se você se humilhar, Deus o exaltará e honrará o seu nome. e) “Foi obediente até à morte”. A questão aqui não é ser obediente até quando morrer, mas até a ponto de morrer. Este também é o significado de Ap 2.10: “(...) Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida”. O discípulo, mesmo ante a ameaça e concretização da morte, permanece fiel. f ) “Teve morte de cruz”. Jesus nos chamou para, a cada dia, tomarmos a nossa cruz (Lc 9.23). Paulo disse que estava crucificado com Cristo (Gl 2.20). O verdadeiro discípulo de Cristo está crucificado com Ele, e é desta forma que serve o próximo e glorifica a Deus. Vida sem crucificação da carne e dos prazeres mundanos não é vida cristã. Em Gl 5.1921, Paulo lista quais são esses prazeres ou paixões da carne: “Adultério, prostituição, impureza, lascívia, idolatria, feitiçaria, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias, e coisas semelhantes a estas”. MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS | g) “Veio para servir” (Mt 20.28). Quando o mundo enxergar essa predisposição em cada um de nós, teremos dado o primeiro passo de um despenseiro dos mistérios de Deus. Somos administradores da despensa divina aos homens, e eles mesmos é que devem nos considerar como discípulos e ministros, isto é, a serviço de Cristo neste mundo. Aplicação a sua vida: Ter o mesmo sentimento de Cristo é o que diferencia um discípulo de Cristo dos demais homens. Assim, as qualidades apresentadas no caráter de Cristo devem ser evidenciadas em nós. Identifique em seu viver diário quando você apresenta essas qualidades. DISCÍPULO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS Os “mistérios de Deus” não se referem a coisas “misteriosas”, mas tem a ver com o suprimento espiritual que Deus nos confia, como o discernimento e a pregação da Palavra, bem como a intercessão, o ensino, o cuidado recíproco, o amor não fingido e o ensino a respeito da própria pessoa de Jesus. Quando explicou o significado da “Parábola do Semeador”, Jesus disse que aquele era um mistério do Reino de Deus revelado aos discípulos (Mt 13.11). Paulo disse que a salvação estendida aos gentios era um mistério que foi revelado (Cl 1.27). É desta forma que o discípulo de Cristo é um despenseiro dos mistérios de Deus. Isto é, tem a incumbência de ministrar as verdades da Palavra a todas as pessoas. O que é um despenseiro? É o encarregado da despensa; ecônomo. “É a tradução do vocábulo grego οικονομος; oikonomos – que significa distribuir, determinar, dirigir”. O despenseiro “indica alguém que tinha por função contro- lar uma casa, determinando a cada um quais os seus deveres específicos (...). Essa palavra indicava também aquele que geria os negócios externos de uma casa”.8 O discípulo despenseiro é aquele que administra a despensa divina em benefício não somente à Igreja, como corpo de Cristo, mas também a todas as demais pessoas do mundo. Paulo, em 2 Co 11.28-29, diz: “Além das coisas exteriores, há o que pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas. Quem enfraquece, que também eu não enfraqueça? Quem se escandaliza, que eu não me inflame?”. Na condição de despenseiros desses mistérios de Deus, o discípulo de Cristo é desafiado, diariamente, a exercer essa função. Desse modo, o discípulo está consciente de que cuida da despensa de Deus a favor dos homens. Exemplo: Daniel e o despenseiro de Babilônia (Dn 1.11): “Então disse Daniel ao despenseiro a quem o chefe dos eunucos havia constituído sobre Daniel, Hananias, Misael e Azarias (...)”. Assim como o homem que cuidava dos amigos de Daniel tinha a responsabilidade de mantê-los bem alimentados e saudáveis, da mesma forma somos responsáveis pela alimentação e saúde espiritual daqueles que Deus nos tem confiado. a) O discípulo de Cristo é um despenseiro da Casa de Deus (Tito 1.7): “Porque convém que o bispo seja irrepreensível, como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância. ” b) O discípulo de Cristo é um despenseiro dos mistérios de Deus. Aqui cabe uma pergunta: como ter acesso a esses mistérios? É através da Palavra de Deus, a chave da despensa divina (Sl 119.105; Jo 5.39; 2Tm 3.16-17). c) O discípulo de Cristo é um despenseiro da graça de Deus a corações feridos, REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 123 | MINISTRO E DESPENSEIRO DOS MISTÉRIOS DE DEUS vidas arruinadas e aprisionadas pelo inimigo (1 Pe 4.10): “Cada um administre aos outros o dom como o recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus”. d) Quanto ao tema “mistérios de Deus”, não nos deteremos nele, mas lembremos que Paulo mesmo nos informa que esse “mistério” é o próprio Cristo em nós (Ef 3.9; 1Co 2.7; 1 Tm 3.16; Cl 4.3, 2.2, 1.29). Aplicação a sua vida: O despenseiro de Cristo é aquele que guarda a Palavra e a distribui ordenadamente àqueles que necessitam de alimento. Você tem sido fiel a essa verdade? FIDELIDADE DO DISPENSEIRO: DISCÍPULO E DESPENSEIRO FIEL (1 Co 4.2) Na condição de ministro e despenseiro dos mistérios de Cristo, o discípulo deve “ser achado fiel”. Todos havemos de “dar conta” da administração (mordomia), do que tivermos feito com o “estoque” da despensa divina (Lc 16.2; Mt 25.19). A despensa não é do discípulo, é de Deus. Ele deve administrá-la com fidelidade e segundo a expectativa divina (Mt 25.27). Todos vamos comparecer ante o tribunal divino para julgamento de nossas ações (2 Co 5.10). Nossa fidelidade será não apenas reconhecida pelos homens, mas 124 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I principalmente pelo Senhor (Mt 25.21 e 23). O discípulo fiel receberá a coroa da justiça, a coroa da vida (2 Tm 4.7-8; Ap 2.10). A questão de nossa fidelidade é tão significativa que Paulo diz que “somos feitos espetáculo ao mundo, aos anjos, e aos homens” (1 Co 4.9). A aprovação de nossa fidelidade é o maior diploma de um discípulo e despenseiro de Cristo. Aplicação a sua vida: como tem sido seu comportamento de um discípulo despenseiro? Quanto da Bíblia (versículos) você tem guardado em sua memória? CONCLUSÃO: O discípulo e despenseiro fiel precisa estar ciente de que não vive para si, e que deve olhar para Cristo, seu maior exemplo. Tudo o que fizer deverá ser na condição de servo, e para a glória de Deus. Tem que ser por amor a Jesus, sabendo que, tudo o que fizer a um dos seus pequeninos, é ao Senhor que está fazendo (Mt 25.40). ________________ 7 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda – Novo Aurélio o dicionário da língua portuguesa – Século XXI – Dicionário eletrônico. 8 CHAMPLIN, - Russell Norman - O novo testamento interpretado versículo por versículo. Vol. IV. Milênium. SP. Pag. 57. ESTUDO 36 QUANDO O DISCIPULO NEGA A CRISTO Lucas 22.31-34 Introdução Veremos neste estudo quais são as condições em que um discípulo de Cristo pode ser tentado, os motivos da tentação (no caso de Pedro), bem como os resultados da negação a Cristo e a oportunidade do arrependimento que é dada por Deus. É vencido pelo TENTADOR (Lc 22.31; Tg 1.13-15) Ainda que o diabo ande ao nosso derredor, “rugindo como leão, e procurando a quem possa tragar” (1 Pe 5.8), sabemos também que “o anjo do Senhor acampa-se ao redor dos que o temem e os livra” (Sl 34.7). Satanás só poderá atingir um discípulo de Cristo sob a permissão de Deus, ou se o discípulo der lugar à tentação (Ef 4.27). A experiência de Jó é uma clara demonstração de que Satanás só pode tocar um filho de Deus sob sua permissão (Jó 1.8-12). Em 1 Jo 5.18, é dito que o inimigo não toca naqueles que são nascidos de Deus. Entretanto, este versículo diz Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 22.31-34 Tg 1.13-15 Lc 22.55-58 2 Tm 2.13 Jo 21.15-19 Mt 10.32-33 1 Pe 4.8 também que a pessoa nascida de Deus não vive na prática do pecado. Contudo, o “cair em tentação” pode ser uma realidade (Mt 6.13; 26.41). Por esta razão, veremos a seguir o que acontece ao discípulo de Cristo ante as tentações. JESUS INTERCEDE POR ELE (Lc 22.3132) No caso de Pedro, temos uma revelação do que aconteceu antes dele negar ao Senhor: Satanás pediu permissão para cirandá-lo, isto é, peneirá-lo como se peneirava o trigo. Depreende-se do texto que Satanás obteve essa permissão, mas temos a revelação de que Jesus, sabendo da tentação à qual Pedro seria submetido, orou mesmo antes que acontecesse, para que aquele discípulo não desfalecesse. Jesus intercede por nós e pode socorrer os que são tentados porque em “tudo foi tentado” (Hb 2.18; 4.15-16; 7.25). Como Jesus é maravilhoso! O que acontece nas esferas espirituais é algo que, muitas vezes, não temos conhecimento. Mas, o fato REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 125 || 125 | Q U A N D O O D I S C I P U LO N E G A A C R I S T O de Jesus Saber do que estava acontecendo e interceder em favor de Pedro, só vem a confirmar o que vimos nos textos bíblicos mencionados anteriormente: Jesus intercede pelos que são tentados. Tiago diz que, quando caímos em tentação, é por causa de nossa cobiça (Tg 1.14-15). O discípulo de Cristo deve resistir ao diabo e, no caso de cair em tentação, confessar o seu pecado e crer na intercessão de Jesus. Pedro não admitiu a possibilidade de cair em tentação e deu passos em direção à sua queda, conforme pontuado a seguir. Aplicação a sua vida: o discípulo de Jesus não está imune às tentações, mas temos exemplo a seguir, para não cairmos e, quando cairmos em tentação, sabermos o que fazer. PASSOS PARA A NEGAÇÃO A CRISTO NEGLIGÊNCIA À ORAÇÃO (Lc 22.33). Pedro foi advertido de que negaria ao Senhor, porém se achou mais forte que todos os outros. Ele alimentava uma falsa fidelidade (muito mais “bravata” que verdade). Quando nos estribamos na autoconfiança, damos o primeiro passo para a queda. Daí a recomendação aos que estão em pé para terem cuidado para não cair (1 Co 10.12). SONOLÊNCIA NA TENTAÇÃO (Lc 22.4546). Apesar da advertência do Senhor, enquanto Jesus orava em agonia, os discípulos dormiam. Jesus os adverte para orarem a fim de não entrarem em tentação, mas eles estavam tão vencidos pela tristeza que não atentaram para as palavras do Senhor. Quando leio estes versículos fico envergonhado, porque é fácil julgar os outros, porém, quantas vezes, eu mesmo não me deixo abater pela tristeza e “durmo”? Descuido assim do momento em que deveria estar vigilante e em oração. VIOLÊNCIA NA AÇÃO (Lc 22.50). Somos assim: quando nossa fraqueza espiritual vem à tona, usamos da violência física (ou verbal) para encobrir nossos verdadeiros 126 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I motivos secretos. Jesus havia prevenido que seria preso, julgado, morto e que ressuscitaria. A cegueira e surdez espiritual daqueles discípulos os privavam de se colocarem à mercê da vontade do Senhor. A visão espiritual verdadeira sabe que não deve ser “por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos exércitos” (Zc 4.6). DISTÂNCIA NA RELAÇÃO: (22.54). O discípulo que não ora e tenta defender o Reino de Deus pela força, não tem firmeza para acompanhar de perto o seu Senhor. Segue o Senhor de longe, isto é, sem compromisso. Essa pessoa está prestes a dar um passo ainda mais perigoso FINALMENTE, NEGAÇÃO AO SENHOR (Lc 22.55-58). O discípulo que não ora, que usa de violência para defender o Reino de Deus e que segue a Jesus sem compromisso, na hora em que deveria dar o seu testemunho, senta-se com os escarnecedores e diz que não conhece a Cristo. Como você pode ver, a princípio, Pedro afirmava que estaria disposto até a morrer por amor a Cristo, mas sua negligência à oração, apelo à violência e excesso de autoconfiança o levaram a cometer o maior erro de sua vida: negar a Cristo. O pecado é assim: vai minando nossas forças, nossa resistência e, por fim, cometemos coisas absurdas! Nossa infidelidade, entretanto, não torna Deus infiel (2 Tm 2.13). O amor de Cristo por seus discípulos, alertou Pedro da tentação e lhe fez a recomendação de que, quando se convertesse, confortasse a seus irmãos (Lc 22.32). Este texto nos leva à compreensão de que Pedro teria uma queda em sua vida espiritual, mas que teria também a oportunidade de conversão (não que ele ainda não fosse convertido ao Senhor), mas que haveria uma “reviravolta” tremenda na sua vida e que, após essa experiência, poderia ajudar os seus irmãos. É comum querermos “atirar pedras” ou “puxar a espada” quando não admitimos nossas fraquezas e pecados. Porém, quando reconhecemos que somos tão humanos quanto os outros, choramos, amargamente, os nossos pecados. Q U A N D O O D I S C I P U LO N E G A A C R I S T O | RESULTADO DA NEGAÇÃO A JESUS? (Lc 22.61-62) fessarmos diante dos homens, Ele também nos confessará diante do Pai (Mt 10.32-33). A previsão de Jesus se cumprira. Ele olha para Pedro. Esse estremece. Suas “bravatas” desvaneceram, sua fé esmaeceu, sua alegria tornou-se amargo pranto. Olhar para Jesus como Salvador tem um significado; mas olhar para Jesus como Juiz, deve ser terrível. Eu acredito que o olhar de Jesus foi de uma amorosa advertência, mas o suficiente para desmantelar o apóstolo Pedro. Ele saiu dali e chorou amargamente. A confissão de Pedro levou Jesus a fazerlhe a revelação de como havia de glorificar a Deus através de sua morte (21.18-19). Jesus disse que os que choram são bemaventurados e serão consolados (Mt 5.4). A pecadora que ungiu os pés de Jesus chorava, e Jesus disse que os seus muitos pecados foram perdoados (Lc 7.38, 44 e 47-48). Paulo diz que a tristeza segundo Deus opera arrependimento para a salvação (2 Co 7.10). O discípulo de Jesus que, sinceramente, chorar por causa dos seus pecados, terá o perdão do Senhor e será reintegrado à sua missão. Após a ressurreição, Jesus procurou a Pedro e o reconduziu à função apostolar. Aplicação a sua vida: segundo o estudo, o pecado é consequência de alguns fatores que culminam com a prática dele. Você tem praticado algum desses passos? Reflita e reconsidere a sua jornada de vida. OPORTUNIDADE DE REABILITAÇÃO (Jo 21.15-19) Jesus, pessoalmente, foi ao encontro de Pedro. Esse voltara de Jerusalém para a Galileia e fora novamente pescar (Jo 21.1-7). Nos versos 15 a 17, Jesus indaga Pedro se ele O amava. Pedro desconversou, dizendo que gostava de Jesus e que Ele sabia disso. Apelou para o conhecimento de Jesus, dizendo: “Tu sabes que te amo”. Jesus reformulou a pergunta e Pedro reafirmou sua resposta por três vezes. Deus sabe todas as coisas, mas é necessário confessar com a boca (Rm 10.9-10). Há implicações espirituais que exigem a confissão de nosso amor a Jesus. Pedro precisava confessar o seu amor a Jesus, porque anteriormente havia até jurado que não O conhecia. Jesus disse que, se O con- Aplicação a sua vida: Pode ser que você algumas vezes tenha negado seu amor a Jesus, mas hoje Ele lhe dá nova oportunidade de provar que O ama. Segundo a tradição, Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo, em Roma. Na hora da crucificação, ele teria dito que era indigno de morrer como o seu Senhor morreu, então, Pedro teria pedido para ser crucificado de cabeça para baixo. O que, entretanto, nos chama a atenção nesse registro bíblico de João, capítulo vinte e um, é a preocupação de Jesus em reabilitar Pedro. Isto faz parte do discipulado. Quando alguém fraquejar e negar a fé, devemos, com todo amor, dar-lhe nova oportunidade. E, foi com essa oportunidade, que Pedro se tornou uma bênção no Reino de Deus e veio a escrever depois que o amor cobre uma multidão de pecados (1 Pe 4.8). Conclusão Acreditamos que todos temos “um Pedro” dentro de nós. Queremos servir a Jesus, porém, muitas vezes, nos vemos afundando nas empoladas ondas do mar da vida. Dizemos que somos fiéis a Jesus, porém é comum nos vermos em situação de perigo e, ante alguma ameaça, fraquejamos e fingimos não conhecer o nosso Mestre, ou agimos como se não O conhecêssemos. Cremos também que, no processo do crescimento espiritual e do discipulado cristão, devemos detectar atitudes que reflitam arrogância, negligência na oração, omissão no compromisso de seguir a Jesus e, finalmente, percebermos o desfecho ou resultado de tudo isso: negar a Cristo. Caso você reconheça que tem falhado para com o seu Senhor, confesse isto agora mesmo. Lembre-se de que Ele também está à sua procura, desejando reabilitá-lo à comunhão com Ele e no serviço cristão. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 127 ESTUDO 37 O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS Mateus 9.9-13 INTRODUÇÃO O comportamento cristão tende a oscilar entre alguns extremos tremendamente perigosos. Exemplo: Há o extremo de alguém ter prazer no sofrimento alheio. Por outro lado, alguém pode ir ao extremo de ter prazer no sofrimento pessoal. Outros extremos podem ser o “farisaísmo” (falso pietismo) ou o ceticismo (aquele que faz da dúvida sua filosofia de vida). Todos nós sabemos que os extremos são perigosos. Deus espera que sejamos moderados, equilibrados e justos quando fizermos qualquer juízo de valor. O Estudo de hoje nos mostra o que Deus mais quer de nossa vida (no que diz respeito à misericórdia e ao sacrifício). Que este seja uma grande bênção em sua vida, levando-o a olhar o próximo como Jesus olha: com misericórdia. UM OLHAR DIFERENCIADO (Mt 9.9) Assim como Zaqueu (Lc 19.1-10), Mateus também estava a serviço do império romano na cobrança de impostos. Os judeus consideravam-no um grande pe128 128 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 22.31-34 Tg 1.13-15 Lc 22.55-58 2 Tm 2.13 Jo 21.15-19 Mt 10.32-33 1 Pe 4.8 cador, porque viam a função de Mateus como uma traição ao povo judeu. Mas não foi assim que Jesus “viu” Mateus. O texto diz que Jesus “viu” Mateus e o convidou para segui-lo. Ele olhou para aquele homem com um olhar misericordioso. É assim também que Ele nos vê: com olhos misericordiosos. Ele olha para o coração (1 Sm 16.7). Os homens viam em Mateus um cobrador de impostos, mas Jesus via nele um discípulo, alguém que viria a escrever um dos evangelhos. Da mesma forma devemos olhar o próximo, não acusando-o por seus pecados, mas convidando-o ao arrependimento e a ser um discípulo de Cristo. Não importa como os homens o veem. Deus o olha com misericórdia. Ele vê o seu coração e o que poderá fazer de você no reino d’Ele. Aplicação a sua vida: nos acostumamos a ver os índices de violência, de corrupção, de desigualdade, de pecado e não temos uma atitude de mudança. O discípulo de Jesus deve, como Ele, ter um olhar diferenciado diante destas questões. O olhar diferenciado é saber que temos a mensagem de mudança destas situações. O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS | UM OLHAR INCLUSIVO (Mt 9.9) O texto diz que Mateus, assim que recebeu o convite de Jesus, “levantandose, o seguiu”. Mateus não engendrou desculpas, como por exemplo: estou muito ocupado; tenho que dar satisfações ao governo... Ele simplesmente obedeceu. Jesus não quer saber qual é sua religião; se você é bom ou mal. O que Ele quer saber é se você está disposto a levantar-se e segui-lo. Enquanto os opositores de Jesus O espreitavam e questionavam Sua palavra, Mateus atendeu de pronto o convite de Jesus. Percebemos que Mateus rompeu completamente com o seu compromisso para com o governo romano. Jesus chama pecadores, sim, mas estes que atendem o convite de Jesus mudam seu estilo de vida, passam a ser discípulos, seguidores de Jesus. Quem segue a Jesus se torna uma nova criatura. Deixa “as coisas” velhas e tudo se torna novo (2 Co 5.17). Esta mudança na vida de um seguidor de Jesus, proporciona algo extraordinário. Aplicação a sua vida: segundo o estudo, o pecado é consequência de alguns fatores que culminam com a prática dele. Você tem praticado algum desses passos? Reflita e reconsidere a sua jornada de vida. UM OLHAR RELACIONAL (Mt 9.10-11; Mc 2.15) mostra que Jesus frequentou a casa de pessoas da alta sociedade. Jesus era um homem social, e não fazia acepção de pessoas (ricas ou pobres). Os publicanos e pecadores viram na pessoa de Jesus a esperança de perdão dos seus pecados. É reconfortador saber que o nosso Mestre “come conosco”, pecadores! Jesus gostava de ir às casas das pessoas. Quando Zaqueu procurou vê-lo, Ele disse: Hoje vou pousar na sua casa (Lc 19.5). Jesus tinha como intenção estabelecer o seu reino através dos lares. Quando enviou os setenta discípulos, de dois a dois, Ele orientou que os mesmos, ao chegarem numa cidade, deveriam procurar uma casa onde houvesse um homem de paz (Lc 10.1, 5-6). Isto combina com a profecia de Is 54.2, 3 e 12, onde Deus promete que expandiria o seu reino através dos lares. No livro de Atos, ao referir-se ao crescimento da Igreja, Lucas diz que os cristãos primitivos se reuniam no templo e nas casas (At 5.42). No versículo seguinte, At 6.1, vemos o resultado da reunião da Igreja nos lares: crescia o número de discípulos. Não importa como esteja sua casa, peça para Jesus olhar com misericórdia para ela e estabelecer o seu reino através dos seus moradores. Jesus deseja ter um relacionamento especial com o seu lar; Ele quer ter comunhão com você e sua família. Ele quer olhar para você de modo misericordioso. Mateus leva Jesus para sua casa e lhe oferece uma refeição. Mateus omite que a casa era a dele próprio mas, em Lc 5.29, diz que Levi (Mateus) “deu a Jesus um lauto banquete em sua casa”. Isto nos faz lembrar de Ap 3.20, onde Jesus diz que aquele que ouve sua voz e abre a porta, Ele entra nessa casa, tem comunhão com a pessoa e esta com Ele. UM OLHAR MISERICORDIOSO (Mt 9.12) Este episódio de Jesus indo à casa de Mateus (e também de Zaqueu), nos Marcos acrescenta que “eram em grande número e o seguiam” (Mc 2.15). Aplicação a sua vida: o nosso olhar diferencial e inclusivo é fruto de um relacionamento maior com Deus. Relacionamento requer investimento no tempo. Qual o tempo que tenho dedicado a Deus e ao próximo? REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 129 | O OLHAR MISERICORDIOSO DE JESUS Os publicanos e pecadores percebiam na pessoa de Jesus a esperança de perdão dos seus pecados. tão seja um instrumento de Jesus no tratamento dele. Isto porque... Jesus via na família e convidados de Mateus almas e corações feridos, vidas arruinadas pelo pecado, consciências carregadas de culpa. Você pode imaginar o estigma que aquelas pessoas traziam, classificadas como “pecadoras” diante da “sociedade farisaica”? Devemos aprender, entretanto, que onde houver um coração ferido, uma alma angustiada, uma vida humilhada, ali estará o Senhor: “Porque assim diz o Alto e o Sublime, que habita na eternidade, e cujo nome é Santo: Num alto e santo lugar habito; como também com o contrito e abatido de espírito, para vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar o coração dos contritos.” (Is 57.15) UM OLHAR QUE ALCANÇA A FELICIDADES: Mt 9.13; Os 6.6; Mt 12.7. Na condição de discípulos de Jesus, precisamos olhar o próximo com o mesmo olhar misericordioso de Jesus. Na ótica divina, quem se considera “são” não tem necessidade de Jesus. Ele foi categórico em afirmar que os sãos não necessitam de médico. Ele disse que veio curar os quebrantados de coração (Lc 4.18; Sl 143.3). É importante refletir sobre esta palavra de Jesus, para termos paciência com aqueles que estão sendo tratados por Jesus. Cada um de nós precisa, de alguma maneira, estar sob o tratamento de Jesus. Jesus disse que os sãos não necessitam de médico, em virtude da acusação dos fariseus de que Ele comia com pecadores. Devemos ter cuidado para não assumirmos uma posição farisaica em relação ao próximo, colocando-nos superiores a eles, justificando-nos aos nossos próprios olhos. Precisamos perguntar a Deus se a nossa “doença” não é vista por Ele como mais perigosa do que a do semelhante (Lc 6.41-42; Rm 14.1-4; 15.1-3; 8.33-34; Fp 3). Enfim, se você entende que o seu irmão precisa de médico, en130 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Ao dizer que Deus quer misericórdia e não sacrifícios, Jesus cita Oséias 6.6. Em Mateus 12.7, Jesus volta ao tema, complementando que se eles entendessem “o que significa misericórdia quero, e não sacrifícios, não condenariam os inocentes. ” Não devemos julgar segundo a aparência, mas segundo a reta justiça: João 7.24. O exercício da misericórdia nos leva a também alcançar a misericórdia divina: Mt 5.7. Um dos significados da palavra misericórdia é “pôr o coração na miséria do próximo”. É deste modo que Deus nos vê e é assim que Ele vem à nossa casa e nos convida à comunhão com Ele. Deus espera que, da mesma forma, seus discípulos se relacionem com o próximo. A misericórdia é tão importante que Deus a renova a cada manhã (Lm 3.22-23). Jesus disse que o misericordioso é feliz e alcançará misericórdia. Aprenda a ter olhar de misericórdia quando desejar condenar alguém. Olhe com misericórdia e você amará profundamente aquela pessoa. Quando fizer isto, todos também o olharão com misericórdia. É a promessa de Jesus (Mt 5.7). Conclusão Neste estudo, pudemos observar que Jesus tinha uma forma toda especial de olhar para o outro. Como seus discípulos, forjados sob seu ensino, devemos cultivar a cada dia um olhar misericordioso. Um olhar que inclui, relaciona, traz felicidade. Esse olhar me fará perceber o quanto o mundo precisa de mim, para fazer a diferença e levar a única mensagem que traz libertação. ESTUDO 38 O DISCÍPULO E A ORAÇÃO Lucas 11.1-4; Mateus 6.9-13 INTRODUÇÃO Uma das principais lições dessa série de estudos é que Jesus ensinou os seus discípulos a orar. Esse ensino nasceu de um pedido dos próprios seguidores do Senhor ao observarem como Ele orava. Jesus atendeu o pedido e lhes apresentou os princípios da oração. ORAÇÃO – ENSINO E EXEMPLO (Lc 11.1) Os apóstolos, ao observarem Jesus orando, reconheceram que precisavam aprender a orar. Nossa vida de oração deve constituir-se num exemplo a ser seguido. Paulo desafiou os cristãos de Corinto a imitá-lo, assim como ele imitava a Cristo (1 Co 11.1). Antes de pedirem que Jesus os ensinasse a orar, os discípulos observaram como Ele orava. Então, ore de tal maneira que outros sejam desafiados a aprender a orar como você ora. O texto de Lc 11.1 nos faz uma revelação: João Batista ensinou os seus discípulos a orar. O exercício da oração é uma prática que precisa ser aprendida. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 11.1-4 Mt 6.9-13 Rm 8.26 1Co 11.1 Tg 4.2-3 Mt 6.9-12 Hb 8.12 ORAÇÃO – A INTERCESSÃO DO ESPÍRITO (Rm 8.26 e Tg 4.2-3) Paulo diz que não sabemos orar convenientemente, por isso, o Espírito Santo nos ajuda em nossas fraquezas (Rm 8.26). Precisamos da ajuda do Espírito Santo quando oramos porque a oração errada não tem resposta de Deus (Tg 4.2-3). Tiago nos descortina duas implicações de orarmos erradamente: pedir mal e ter objetivos errados. Em Ef 6.18, Paulo recomenda que oremos no Espírito Santo e com vigilância. Em Gl 5.16 e 18, lemos que a pessoa guiada pelo Espírito Santo não anda segundo os desejos da carne, mas segundo o Espírito. Orar certo é orar segundo a vontade de Deus, isto é, dirigido pelo Espírito Santo. Esta oração tem resposta (1 Jo 5:14). Os discípulos perceberam que precisavam aprender a orar porque viram o modo como Jesus orava. E Jesus atendeu o pedido deles. REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 131 || 131 | O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O Aplicação a sua vida: o pedido dos apóstolos para que Jesus os ensinasse a orar foi baseado no Seu exemplo. Como tenho agido com referência à oração que tem despertado o interesse de outros a esse relacionamento? ORAÇÃO – MODELO A SEGUIR (Lc 11.2 e Mt 6.9-13) Lucas parece resumir o ensino de Jesus sobre a oração, por este motivo vamos nos basear na oração ensinada por Jesus em Mt 6.9-13. Em Mateus, antes de ministrar o ensino da “Oração do Pai Nosso”, Jesus já havia ensinado como não se deve e como se deve orar, no que diz respeito à postura: evitar orar para exibição aos homens. Neste estudo, nos ateremos sobre o que dizemos na oração. Em Mt 6.9, Jesus ensina: “Portanto, vós orareis assim. ” Observe que, apesar de Jesus dizer “vós orareis assim”, em nenhum lugar do Novo Testamento lemos que alguém tenha recitado a “Oração do Pai Nosso”. Os discípulos entenderam que o ensino de Jesus sobre a oração se constituía num modelo, em princípios a serem seguidos e não em palavras a serem decoradas e repetidas. Aplicação a sua vida: a oração deve ser baseada nos princípios do “Pai Nosso”. Ela não é para ser repetida. Sigamos esse exemplo e façamos nossas orações sob esses princípios! ORAÇÃO - PRINCÍPIOS A OBSERVAR Pontuamos a seguir os itens que devem constar de uma oração dirigida pelo Espírito Santo e, portanto, com resposta assegurada. 132 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I a) Temos um Pai Celestial: “Pai nosso que estás nos céus” (Mt 6.9) Não somos bastardos e nem órfãos espiritualmente. Em Cristo Jesus, todos somos filhos de Deus e isto tem significados que extrapolam a capacidade do entendimento humano (1 Co 2.9 e Fp 4.6-7). Ser filho de Deus é ser herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo (Rm 8.17). Orar reconhecendo a Deus como Pai Celestial é um dos modos de começarmos bem uma oração. É a ideia de um filho que se agrada da presença do pai, e isto tem promessas (Sl 103.13-14 e 37.4). Pensamos que não há termo mais doce e apropriado para se começar uma oração do que se dirigindo a Deus como Pai, porém há um detalhe a não ser esquecido... b) A Santidade do Nome de Deus: “Santificado seja o teu nome” (Mt 6.9) A ideia aqui é dirigirmo-nos a Deus com a devida reverência. Não há desculpas para se usar o nome de Deus irreverentemente (Ex 20.7). Ele não terá por inocente quem tomar o seu santo nome em vão, isto é, quem fizer brincadeiras ou for irreverente para com o nome de Deus. Não é por se estar feliz e se agradar da presença de Deus que ficamos desobrigados da exaltação ao seu santo nome. Isso nos leva a ser mais cautelosos quando nos referirmos ao Senhor e usarmos o seu santo nome. Na oração, você deve exaltar o nome e a pessoa bendita do Pai Eterno. c) A prioridade do Reino de Deus: “Venha o teu reino” (Mt 6.10 e 33) Observe que o primeiro “pedido” nesta oração é pelo Reino de Deus. A busca pelo Reino de Deus deve estar em primeiro lugar na vida de um discípulo de Cristo. Se na oração, ele coloca em primeiro lugar “as demais coisas”, esta oração não é O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O segundo a vontade do Senhor. Deus quer reinar em nossos corações, em nossa mente, em todo o nosso corpo, em toda a nossa vida e em todo o mundo. Quando oramos para que o Reino de Deus venha, estamos pedindo também que Jesus venha finalmente reinar. Que Ele volte, conforme prometeu (Jo 14.3; At 1.11; Ap 22.20). É dizer para Deus que aceitamos o seu reino absoluto sobre tudo o que somos e temos. Se o Reino de Deus for buscado em primeiro lugar, é certo que as demais coisas serão acrescentadas. d) Rendição à Vontade Divina: “Seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu” (Mt 6.10) Uma vez convidado para reinar sobre tudo o que temos e somos, evidenciamos nossa dependência do Senhor e desejamos que sua vontade seja feita aqui na terra, do mesmo modo como é feita no céu. Somente quem se rende à vontade de Deus pode conhecer também qual é sua “boa, agradável e perfeita vontade” (Rm 12.1-2). Até este ponto, estamos falando da pessoa de Deus, do seu reino e da sua vontade. A partir de então, começamos a pedir pessoalmente por nós. e) Dependência do Pão Cotidiano: “O pão nosso de cada dia nos dá hoje” (Mt 6.11). A oração começou reconhecendo a Deus como Pai, portanto, o Supridor da família, da vida. Realça a santidade do seu nome, o domínio do seu reino, a importância do cumprimento de sua vontade, agora demonstra a completa dependência do Senhor: pede o pão para cada dia. É Deus quem dá o sustento. Não pede o pão da semana que vem; é o pão de cada dia. Isso evita ansiedade e exercita a fé na certeza de que o Senhor não faltará com o pão cotidiano, como o fez com o povo de Israel durante quarenta anos no deserto (Ex 16.35). | f) Confissão de Pecados: “E perdoanos as nossas dívidas” (Mt 6.12). É impossível ter um encontro com Deus e não reconhecer que se está em falta, que se é pecador. Esta foi a experiência de Isaías (Is 6.1-7; Lc 5.1-8). Ele confessou qual era o seu pecado: era um homem de lábios impuros e habitava no meio de um povo de impuros lábios. Pedro não os especificou, mas reconheceu que era um homem pecador. É importante confessarmos pecados específicos quando formos orar. Exemplo: Senhor, eu menti; eu fui agressivo; eu faltei com os meus compromissos ou deveres na seguinte área. Devemos evitar as célebres frases, como por exemplo, perdoa a multidão dos meus pecados. Ao confessarmos determinado pecado, devemos lembrar que o Senhor realmente perdoa e não precisamos ficar nos martirizando com o pecado confessado, visto que Deus o esqueceu (1 Jo 1.9 e Hb 8.12). Na confissão dos pecados, está implícito o perdão a quem nos tem ofendido. Aquele que não perdoa não tem direito a perdão. Uma vez confessado o pecado, vem o próximo pedido. g) Livramento da Tentação e do Mal: “E não nos deixes entrar em tentação; mas livra-nos do mal” (Mt 6.13; 26.41). Há duas petições que fazemos nesta parte da “Oração do Pai Nosso”. A primeira é para que o Senhor não nos deixe “entrar em tentação”. Ele pode nos alertar sobre algum perigo ou armadilha do inimigo. A tentação poderá vir, mas não chegará a nos envolver. A segunda é para que o Senhor nos livre do mal. Deus não somente nos guardará de entrar em tentação, mas também nos dará livramento do mal. Esta palavra “mal” significa livramento do maligno. É a proteção que o salvo tem, por Jesus, contra as hostes de Satanás (Sl 91.3; 1 Jo 5.18). Observe que, na “oração modelo”, o único pedido material REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 133 | O D I S C Í P U LO E A O R A Ç Ã O foi pelo pão cotidiano. Jesus nos adverte ainda contra os “tesouros da terra”, contra a ansiedade pela comida, pela bebida e pelo vestuário. Ele nos assegura que, se buscarmos em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, as demais coisas nos serão acrescentadas (Mt 6.19-33). h) O “Clímax” da Oração: “Porque teu é o reino e o poder, e a glória, para sempre” (Mt 6.13). A oração é concluída reafirmando que o reino e o poder pertencem a Deus. Reconhece também a Sua glória e a Sua eternidade, ao dizer “para sempre”. Como você percebe, Jesus não acrescentou mais nada a esta oração, porque os princípios nela contidos pontuam verdades a respeito de Deus e das necessidades do ser humano. Mais uma vez, chamamos sua atenção, entretanto, para o fato de que Jesus só falou esta oração uma vez, e não 134 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I consta que algum dos discípulos a tenha repetido em qualquer momento. Ela não era para ser objeto de recitação decorada. Seus princípios é que deveriam fazer parte de nossa oração, conforme acabamos de expor. Com base nessa compreensão, quando formos orar, devemos ter bem definidos os motivos pelos quais devemos orar. Conclusão O discípulo de Jesus precisa ter vida de oração, mas com base nos princípios ensinados pelo Senhor. Caso contrário, pode incidir no risco de pedir e não receber, porque pede errado ou por motivos errados. O discípulo deve crer que, se ele se deixar ser guiado pelo Espírito Santo, orará segundo a vontade de Deus e terá resposta a tudo o que pedir. Esta é uma questão de obediência e de fé. ESTUDO 39 REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES João 11.1-5; 25-46 INTRODUÇÃO Esse milagre da ressurreição de Lázaro demonstra que, apesar de não sermos do mundo, estamos no mundo e, portanto, sujeitos aos males do mesmo (Jo 17.11-16). Somente Jesus pode livrar-nos do mal, daí ele ter ensinado na oração do Pai Nosso que deveríamos pedir o livramento do mal (Mt 6.13). Deus tinha um propósito na enfermidade e morte de Lázaro. Ele era discípulo (seguidor) de Cristo, juntamente com suas irmãs, Marta e Maria. Estes eram moradores de Betânia, aldeia próxima a Jerusalém. Eles, entretanto, não sabiam desse propósito divino. A experiência da enfermidade e morte de Lázaro contribuiu para o crescimento espiritual de Marta não somente em “saber”, mas principalmente em “crer” que Jesus é a ressurreição e a vida. Serviu também de testemunho do poder de Jesus sobre a morte. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Jo 11.1-5;25-46 Rm 8.18;37-39 2Co 4.16-17 Jo 11.44 Hb 12.1-2 2Co 1.3-7 Jo 13.7 FÉ ANTE A ENFERMIDADE (Jo 11.1-3 e 5) Marta e Maria mandaram dizer a Jesus: “Está enfermo aquele a quem Tu amas”. É linda a afirmação dos sentimentos de Jesus para com Lázaro. O verso cinco diz que Jesus amava àqueles três irmãos. Possivelmente, o pai e a mãe dos amigos do Senhor já tivessem morrido. Marta e Maria temiam por mais um duro golpe na família e, por isso, mandaram avisar a Jesus da doença de Lázaro. Este fato nos ensina que, por sermos discípulos de Cristo e Ele nos amar, não estamos isentos de enfermidades e outros males deste mundo. Aliás, Cristo mesmo nos alerta que no mundo teremos aflições, mas que devemos ter bom ânimo, porque Ele venceu o mundo (Jo 16.33). Deus tem propósitos específicos com tudo o que nos acontece. EFERMIDADE PARA A GLÓRIA DE DEUS (Jo 11.4) Ao ouvir que o seu amigo e amado discípulo (Lázaro) estava doente, Jesus REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 135 | REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES afirmou: “Esta enfermidade não é para morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela” (Jo 11.4). Esse é mais um caso na Bíblia em que uma enfermidade foi para a glória de Deus. O outro está em Jo 9.3, onde Jesus diz que a deficiência visual daquele homem era para que nele se manifestasse “as obras de Deus. ” Fica evidente que, apesar de Deus amar, Ele permite enfermidades e outros males na vida de seus discípulos (e até permite a morte), tudo contribuindo para o bem daqueles que o amam (Rm 8.28). Nossa parte é procurar compreender o propósito de Deus em nos permitir qualquer situação adversa, e crer que tudo é para o nosso bem. O discípulo de Cristo deve lembrar-se sempre que, sua momentânea tribulação, resultará na revelação da glória de Deus através de sua vida e vai torná-lo mais do que vencedor (Rm 8.18, 37-39; 2 Co 4.1617). Além de “saber”, você deve “crer” que Deus está operando através de sua vida para a glória d’Ele, mesmo que a resposta divina pareça demorar. Aplicação a sua vida: estamos todos sujeitos a adoecer, mas sabemos que Deus é soberano em nossas vidas. Qual tem sido sua experiência nessa área e como você tem enfrentado essa situação? FÉ ANTE A DEMORA DIVINA NA RESPOSTA A UM DISCÍPULO (Jo 11.6) Quando o mensageiro chegou a Jesus, Lázaro já estava morto (Jo 11.11). Jesus sabia, mas os discípulos não. Muitas vezes, não entendemos por que Deus parece demorar quando vivemos uma situação angustiante. A recomendação é orarmos sempre e nunca desfalecer (Lc 18.1). Deus sempre tem um propósito de bem até mesmo quando demora em nos 136 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I responder. No caso específico de Lázaro, a demora de Jesus era porque Ele desejava levar os discípulos a crer (Jo 11.11-15): “E folgo, por amor de vós, de que eu lá não estivesse, para que acrediteis. ” Observe que diz “por amor de vós. ” Mesmo a demora divina é porque Ele nos ama e quer que a bênção que tem para nossa vida seja mais e mais significativa. Porém, lembre-se: Muito mais do que “saber”, o discípulo precisa “crer”. Reconhecemos, entretanto, que existe grande distância entre saber e crer. Aplicação a sua vida: mesmo firmados em Cristo, muitas vezes chegamos a perder as forças e esperanças. Como trabalhar diante da demora na resposta divina? SABER X CRER (Jo 11.20-26) A paciência de Jesus no processo de crescimento espiritual de Marta é impressionante. Ela, primeiro chega lamentando a ausência de Jesus, alegando que se Ele estivesse presente, Lázaro não teria morrido. Jesus inicia, então, um processo de despertamento da fé em Marta (v. 23). Ela disse que “sabia”, mas Jesus queria que ela “cresse” (v. 25-26). Sua confissão de fé, no v. 27, demonstra progresso espiritual, porém, Jesus queria operar algo extraordinário naquela família. Ele, realmente, iria ressuscitar Lázaro naquele dia. Mais adiante, quando Jesus manda tirar a pedra e Marta alega que o corpo de Lázaro cheirava mal, Jesus volta a reafirmar a questão da fé para ela ver a glória de Deus (v. 40). A revelação de Jesus de que Ele é a ressurreição e a vida (v. 25-26) é uma das mais extraordinárias da Bíblia. Ela responde à dúvida de Jó, quando questiona se alguém tornaria a viver depois de morto (Jó 14.14). Jesus não apenas diz que ressuscita os mortos, mas que REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES | Ele próprio é a ressurreição e a vida. Fico impressionado que, algumas das mais impressionantes revelações de sua pessoa, Jesus tenha feito a mulheres. Vimos isto, neste particular, a Marta; à samaritana, quando foi claro em dizer que ele era o Messias (Jo 4.25-26); quando ressuscitou, Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, e não a um dos apóstolos (Mc 16.9). Não há tempo e espaço para nos determos nesses “motivos divinos”, mas, nos concentramos no cuidado de Jesus em transpor Marta do nível do saber para o nível da fé, isto é, crer. Quando alguém crê, move o coração de Jesus. Aplicação a sua vida: Por muitas vezes, parece que Jesus está longe e se esqueceu de nós. Mas Ele é DEUS! Resta-nos recorrer a Ele, para que possamos aprender a ser dependentes d’Ele. JESUS CHORA POR SEU DISCÍPULO (Jo 11.35) Quando Jesus pergunta a Marta se ela cria que Ele é a ressurreição e a vida, ela confessa crer em Jesus como o Filho de Deus, e sai para chamar sua irmã Maria (Jo 11.26-28). Ela disse à sua irmã que Jesus a chamava. Maria, sim, era uma mulher que sabia e cria. Observe que, ao ir ao encontro do Senhor, disse as mesmas palavras que Marta, porém, prostrada aos pés de Jesus (Jo 11.28-32). Jesus não precisava transpor Maria do “saber” para o “crer”; Ele apenas perguntou: “Onde o pusestes? ” Então, se comoveu e chorou (Jo 11.34-35). Para a viúva de Naim, que chorava a morte do seu filho, Jesus disse: “Não chores”, porém, agora, com a morte do seu amigo, Ele se emocionou muito (Jo 11.33) e chorou. Este lado humano de Jesus é algo que nos comove e conforta. Deus compreende os nossos senti- mentos e, muitas vezes, “chora” conosco. Nessa atitude de Jesus, vemos também que não é errado chorarmos a morte dos nossos entes queridos. O v. 36 registra o testemunho dos judeus sobre o amor de Jesus para com Lázaro. Porém, o processo de levar Marta do “saber” para o “crer” ainda teria mais uma etapa. Ela precisava remover... JESUS PEDE QUE REMOVA A PEDRA DA INCREDULIDADE (Jo 11.39-40) Aquela pedra na entrada da caverna que servia de túmulo para Lázaro, não seria retirada por Jesus, apesar do seu poder, mas, sim, pelas pessoas presentes. Marta temia pelo desconforto que poderia causar àqueles que vieram consolálas, pelo mau cheiro, em virtude do estado de decomposição do corpo de Lázaro. Aquele era um momento para a fé e não para se olhar ou “sentir” as circunstâncias físicas. As pedras de nossa vida, que obstruem a manifestação do poder de Deus, devem ser removidas por nós mesmos. Isso é uma questão de fé. Ante o temor de Marta, Jesus lembra o que lhe dissera há pouco: Para ver a glória de Deus, é preciso mais que saber, é preciso crer (Jo 11.40). O processo do discipulado de Marta foi doloroso, mas se tornou glorioso, porque, ao permitir a remoção da pedra do túmulo do irmão, Jesus ordenou que Lázaro saísse do sepulcro. Esta ordem de Jesus nos leva a mais um passo no discipulado. Aplicação a sua vida: o fato de Jesus ter pedido que removessem a pedra nos adverte sobre o nosso envolvimento no processo de realizações de Deus em nossa vida. Como você tem removido as pedras que te separam da vontade d’Ele? REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 137 | REAFIRMANDO A FÉ ANTE AS ADVERSIDADES JESUS ORDENA: VENHA PARA FORA! (Jo 11.43) Jesus não foi lá dentro e nem impôs as mãos sobre a cabeça do defunto. Ele apenas ordenou que Lázaro viesse para fora, e ele veio. A decomposição do corpo foi revertida, seu espírito voltou; apesar de se encontrar todo amarrado, Lázaro veio andando (v. 44). Isso nos faz lembrar que Jesus disse que virá à hora em que todos os mortos ouvirão a voz do filho de Deus e ressuscitarão (Jo 5.28-29). Jesus realmente tem o comando sobre a morte e sobre a vida. Ele próprio é a ressurreição e a vida, conforme vimos anteriormente. Como é bom crer em Jesus! Porém, aprendemos com esse episódio que precisamos despertar da morte na qual nossa vida pode estar presa, nos levantarmos e, assim, Cristo nos iluminará (Ef 5.14). Assim como Lázaro ouviu a voz de Jesus e veio para fora, todo discípulo de Cristo deve tomar consciência de onde está e “vir para fora”. É interessante que a palavra “igreja” no grego é “ekklesia”, que significa vir de dentro para fora. Aplicação a sua vida: Após a ressurreição Jesus pediu que desatassem as faixas que encobriam o corpo de Lázaro. No discipulado vemos a importância do outro para nos ajudar nesse momento de desatar os nós que nos impedem de crescer. JESUS MANDA: DASATEM AS FAIXAS (Jo 11.44) Novamente, vem a parte do homem. Eles precisaram retirar a pedra e, agora, desembaraçar Lázaro das faixas de morto que o prendiam. Em Hb 12.1-2, somos recomendados a deixar os embaraços que 138 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I nos rodeiam e a corrermos, olhando para Jesus. Apesar de ressuscitado, Lázaro precisava ser desembaraçado. Também nós devemos descobrir quais são os embaraços de nossa vida espiritual e nos livrarmos deles. Esta é uma clara demonstração do discipulado, que devemos fazer com todos os que “saem da morte para a vida”. Uma pessoa, mesmo convertida, precisa de cuidados especiais, de alguém que a ajude a desembaraçar-se. Conclusão Deus permitiu doença e morte naquela família de Betânia e pode permitir o mesmo em qualquer um dos seus discípulos (seguidores). Precisamos ter sabedoria para que, quando isso nos acontecer, procurarmos entender os propósitos divinos, que são sempre para o nosso bem. Muitas tragédias acontecem provocadas por nós mesmos ou por outros. Isso já entra na esfera da irresponsabilidade e maldade do coração humano e não, necessariamente, que Deus tenha planejado isso para as nossas vidas. Entretanto, quando somos vitimados por algo dessa natureza, devemos entender que foi permissão de Deus, e que Ele nos consolará e julgará os culpados. Entretanto, seu amor e soberania poderão converter em bem o que nos parece mal. Ele nos recompensará se nos mantivermos firmes e O glorificarmos em tudo. Nossa firmeza servirá também como testemunho e ajuda para outros (2 Co 1.3-7). Precisamos detectar as pedras, ou embaraços, que obscurecem nossa fé e obstruem a manifestação da glória de Deus em nossas vidas. Creia sempre que o que você não entende agora, entenderá depois (Jo 13.7). ESTUDO 40 VITÓRIA SOBRE O PECADO: “NÃO PEQUES MAIS” João 5.1-14 e 8.12 INTRODUÇÃO Por que Jesus teria recomendado, tanto ao paralítico curado quanto à “mulher adúltera”, para que não pecasse mais? O que acontece a quem, depois de perdoado, permanece no pecado? O presente estudo procura responder a estas perguntas e propõe ações concretas para que o discípulo de Cristo viva em santidade. Jesus era um homem social, um homem do povo. Ele foi ao casamento em Caná da Galileia, compareceu a diversas festas do seu povo e comeu com os pecadores. O fato de estarmos no mundo e sermos santos, não significa isolamento social. Viver em santidade, isto é, não pecar, não é viver distante dos momentos sociais do povo. Jesus ia às festas e não pecava. Aonde Ele ia, causava impacto positivo nos que viam e ouviam o Senhor. Nesse sentido, o discípulo de Cristo pode ir a qualquer lugar, desde que transforme pessoas e mude o ambiente para a glória Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Jo 5.1-14 e 8.12 Lc 16.19-21 Sl 37.5, 7 Fp 4.13 2 Rs 20.1-7 1 Tm 5.23 1 Co 11.30 de Deus. Quando a luz chega, as trevas têm que ser dissipadas (Jo 1.5). Apesar de ir a uma festa, Jesus não ignorou a miséria dos que sofriam. Talvez, este fosse um dos grandes problemas do homem rico que vivia em festas, mas ignorava o mendigo, o enfermo Lázaro que vivia à sua porta (Lc 16.19-21). Aplicação a sua vida: a experiência de Jesus nos mostra que devemos ter uma vida social que abençoe o outro. Como tem sido essa área da sua vida? O DISCÍPULO E OS ENFERMOS (Jo 5.2-4) Impressiona-nos, em primeiro lugar, o número de pessoas enfermas nos alpendres do tanque de Betesda (v. 3): grande multidão de enfermos. O problema da enfermidade e outros males físicos tem assolado a humanidade. O importante de tudo isso é que Jesus veio ao encontro daquelas pessoas. A palavra Betesda significa Casa de Misericórdia. Aqui há duas lições que precisamos aprender com JeREFLEXÕES BÍBLIC AS II | 139 | VITÓRIA SOBRE O PEC ADO: “NÃO PEQUES MAIS” sus. A primeira é que, na condição de seus discípulos, não podemos ser indiferentes às enfermidades e miséria do povo. A segunda é que Jesus curou apenas uma pessoa de toda aquela multidão. Como discípulos dele, não podemos atender a todos. O discípulo de Cristo não é insensível, mas também precisa estar atento à direção do Espírito Santo sobre o momento oportuno de quando e a quem deve ajudar. Quanto à crença sobre a descida de um anjo que agitava a água, e quem descesse primeiro ficaria curado, os comentaristas bíblicos apresentam, entre outros argumentos, o fato desse relato não constar nos mais antigos manuscritos. Admitem, entretanto, que algo extraordinário acontecia ali para atrair tanta gente. Uma das explicações plausíveis é que, aquela fonte era afetada por um fenômeno natural, que causava a intermitência das águas, e as pessoas criam tratar-se de um ato sobrenatural e milagroso. Um dado importante é que Jesus não comentou o argumento do paralítico (v. 7). Vamos nos ater, entretanto, ao que é pertinente na cura daquele homem e na recomendação de Jesus para que ele não pecasse mais. UMA BÊNÇÃO ESPECIAL (Jo 5.5) Não sabemos há quanto tempo o paralítico estava junto ao tanque de Betesda. Mas, o texto nos informa que sua paralisia já durava trinta e oito anos. E isto devia ser uma experiência angustiante. Há quanto tempo você ou um ente querido seu está enfermo e você busca por um milagre? A pedagogia divina recomenda duas atitudes básicas ao discípulo de Cristo: crer e esperar com paciência no Senhor (Sl 37.5, 7 e 40.1). O aprendizado no discipulado é progressivo (Jo 16.12 e 13.7). O fato de Jesus advertir aquele homem para que não pecasse mais, a fim de que algo pior não lhe acontecesse, sugere que aquela doença era resultado de um pecado específico. Somente trinta e oito anos depois é que ele foi curado. Ele esperava que sua cura viria 140 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I ao ser colocado no tanque de Betesda, mas Deus tinha um plano melhor para sua vida: viria na pessoa do seu Filho para encontrarse pessoalmente com ele. Há quanto tempo você está esperando pela sua cura, pela intervenção divina em sua vida? Creia que, assim como Jesus foi ao encontro daquele homem, Ele virá também ao seu encontro e realizará algo acima de suas expectativas (Ef 3.20): “Ora, àquele que é poderoso para fazer tudo muito mais abundantemente além daquilo que pedimos ou pensamos, segundo o poder que em nós opera”. VOCÊ QUER SER CURADO? (Jo 5.6) A pergunta de Jesus pode parecer absurda. Porém, lembremos, a enfermidade daquele homem era resultado de pecado (v. 14). A pergunta de Jesus em João 5.6 deve ser comparada com o verso quatorze e com Tg 5.15. Mais à frente, apreciaremos a questão da relação entre enfermidade e pecado, mas vamos nos ater à pergunta de Jesus: Você quer ser curado? Deus quer saber exatamente qual é o desejo do íntimo do nosso coração. Pergunta semelhante Ele fez ao cego Bartimeu: “O que você quer que eu lhe faça? ” (Lc 18.41). Bartimeu foi objetivo: “Eu quero enxergar”. Já o paralítico não percebeu que era Jesus quem estava diante dele, e falou sobre as dificuldades de não ter quem o descesse ao tanque (Jo 5.7). Muitos de nós também ficamos esperando nos fenômenos desta vida e nos esquecemos de que temos o Senhor de todos os fenômenos! Jesus conhece o nosso tempo de sofrimento; Ele sabe, exatamente, há quanto tempo temos lidado com determinada adversidade. Ele ignorou os argumentos do paralítico e deu-lhe uma ordem poderosa, conforme veremos a seguir. Aplicação a sua vida: Lembremos que havia ali uma multidão de enfermos (v. 3 e 13), mas Jesus curou apenas esse homem. O que o diferenciou dos demais? O que pode fazer a diferença entre você e uma multidão de enfermos? Você, de fato, quer o perdão e a bênção do Senhor? VITÓRIA SOBRE O PEC ADO: “NÃO PEQUES MAIS” LEVANTE-SE E ANDE! (Jo 5.8) Mas se ele era paralítico, como poderia levantar-se, tomar o leito e andar? A ordem era para que ele fizesse o que não fazia há trinta e oito anos. O verso nove diz que “imediatamente, o homem se viu curado e, tomando o leito, pôs-se a andar”. Imagine se ele continuasse a argumentar com Jesus: “Mas, Senhor, não posso andar! Estou aqui há trinta e oito anos nesta cama... será que o Senhor poderia me descer às águas quando o anjo viesse? ” Porém, ante a ordem de Jesus, o paralítico se viu curado. Ele, que até aquele dia era carregado num leito, agora era incumbido de carregar o seu leito. Quando Jesus opera em nossa vida, deixamos de ser um peso para os outros e começamos a agir. Esta mesma ordem lhe é dada hoje: Levante-se! Anime-se! Deixe de viver preso a um leito, a uma depressão, ao sentimento de “não posso” (Sl 27.14 e Fp 4.13). Esta é outra questão a aprendermos no processo de discipulado que reafirmamos aqui: Deus age, mas nossa parte Ele não faz. Também há providências a serem tomadas após as manifestações divinas e que fazem parte do processo da santificação, conforme Jesus advertiu o recém-curado. Aplicação a sua vida: em muitas áreas de nossas vidas, estamos esperando a ação de Deus, mas não fazemos nada em prol dessa ação. Deus pode estar lhe dizendo: “ levanta, toma a tua cama e anda”. CUIDADO COM O PIOR (Jo 5.14) Sabemos que não é toda enfermidade que tem origem direta do pecado (Jo 9.1-3), contudo o caso desse homem, em particular, tinha a ver com pecado, tanto é verdade que Jesus o advertiu para que não pecasse mais. Tiago nos recomenda confessarmos os nossos pecados uns aos outros para que saremos (Tg 5.16). Devemos pedir discernimento a Deus quanto à origem de nossas enfermidades para que, caso sejam oriundas de pecados, possamos nos arrepender e sermos curados. Se a enfermidade tem outra origem, também devemos pedir | orientação ao Senhor sobre sua vontade a respeito da mesma: vai ser curada diretamente através da oração, de uma cirurgia ou de um medicamento? Ezequias, mesmo tendo a promessa de que seria curado e viveria mais quinze anos, precisou aplicar uma pasta de figos para restauração da saúde (2 Rs 20.1-7). Paulo recomendou a Timóteo não beber somente água, em virtude de suas “constantes enfermidades” (1Tm 5.23). O próprio Paulo lidou com o seu “espinho na carne” e Jesus lhe disse que não o curaria, mas que a graça d’Ele lhe bastava (2 Co 12.9). Por outro lado, os cristãos de Corinto estavam adoecendo, e alguns tinham até morrido por causa da irreverência na celebração da Ceia do Senhor (1 Co 11.30). O importante firmarmos aqui é que a vigilância nos livra de muitas consequências ruins em nossa vida. Então, na medida do possível, evitemos o pior! CONCLUSÃO Tanto para a mulher flagrada em adultério quanto para este homem curado por Jesus, a ordem foi que não pecasse mais. Deus sabe das consequências do pecado. O pecado traz enfermidades, tristezas, desavenças, dá lugar ao diabo e, finalmente, produz a morte. O desejo do Senhor é que não pequemos, contudo, se pecarmos, e, sinceramente, nos arrependermos, temos Jesus como o nosso suficiente advogado (1 Jo 2.1). No presente estudo, vimos que nem toda enfermidade tem origem no pecado, mas o pecado sempre gera algum tipo de enfermidade: desde a doença e a morte da alma (condenação eterna da pessoa, conforme Ap 21.8), até doenças psicossomáticas, distúrbios psicológicos, emocionais, além de abrir espaço para o inimigo de nossas almas. Aplicação a sua vida: Evitar o pecado é a vontade do Pai para cada um de nós. Caso você tenha consciência de que tem pecado contra Deus, a primeira atitude deve ser arrependimento e conversão. Confesse ao Senhor, tome posse do perdão e desfrute da graça redentora de Cristo. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 141 ESTUDO 41 A COSMOVISÃO DO DISCÍPULO João 9.1-12, 24-25 INTRODUÇÃO Há um provérbio popular que diz: “O maior cego é aquele que não quer ver”. Na discussão dos fariseus com Jesus, sobre quem é o verdadeiro cego nesta vida, Jesus disse que eles pecavam porque afirmavam ver, mas não criam Jo (9.3941). Esta declaração de Jesus nos aponta para a cosmovisão da fé. A cura deste cego de nascença vem a descortinar-nos outro ângulo da revelação divina: os motivos de certos problemas e enfermidades em nossa vida. No capítulo cinco de João, vimos um homem que, se voltasse a pecar, lhe aconteceria alguma coisa pior. Já a experiência deste homem que nasceu cego, mostra que sua enfermidade não era consequência de um pecado pessoal ou hereditário. Desse modo, há uma visão no discipulado que transpõe as concepções e limites materiais, e nos aponta um novo caminho a seguir. A VISÃO DO PECADO (9.1-3) No “Sermão do Monte”, Jesus interpreta a lei mosaica e ensina que pecado 142 142 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Jo 9.1-12, 24-25 Tg 5.15-16 Ef 5.8-13 Am 8.11-12 2 Rs 6.16-17 Hb 11.1 e 6 Sl 119.18 não significa um ato consumado, mas uma intenção, como num olhar impudico, ou num desprezo exacerbado para com o irmão (Mt 5.21-22 e 27-28). A palavra pecado, “hamartia”, no grego, indica que pecado não é “errar o alvo” , no sentido de quem atira em algo e erra, mas deixar de atingir o alvo proposto por Deus para as nossas vidas. Desse modo, Jesus nos direciona para uma visão diferente de pecado. A ótica humana enxergava no homem que nascera cego um castigo divino, em virtude de um pecado pessoal ou hereditário. Jesus aproveitou a oportunidade para alargar a visão discipular, para a manifestação das obras de Deus em todas as circunstâncias de nossa vida. Não podemos negar que todo pecado traz consequências, muitas vezes físicas, porém nem toda enfermidade é de origem direta do pecado. A deficiência visual deste homem tinha um objetivo espiritual: manifestar as obras de Deus. O mesmo objetivo é revelado na morte de Lázaro (Jo 11.4). Entretanto, há casos de enfermidades em que sua origem é de pecado (Jo 5.14; Tg. 5.15-16). Daí a necessidade de redefinirmos o que é pecado e A C O S M O V I S Ã O D O D I S C Í P U LO | quais suas reais consequências na vida de um pecador. Aplicação a sua vida: Diante da afirmação de que o pecado é errar o alvo proposto por Deus para o ser humano, como você identifica o pecado na atualidade? A VISÃO da obra de Deus (Jo 9.4) “Os filhos da luz” devem fazer as obras de Deus enquanto é possível. Assim como Davi, cada pessoa deve servir a Deus na sua geração, isto é, aproveitando bem cada oportunidade. É preciso cumprir as obras de Deus enquanto as trevas não cobrem a terra (Is 60.1-2; Ef 5.8-13; At 26.18). A noite vem para todos, mas há de vir de um modo especial, pelo que cremos, num tempo bem próximo. Precisamos agir enquanto temos “luz”! No mundo físico, quando não há luz, não podemos ver, nosso deslocamento é perigoso e o trabalho é quase impossível. Realmente, na completa escuridão é difícil alguém conseguir trabalhar, exceto em casos especiais, em modalidades de trabalho que podem ser realizados no escuro como, por exemplo, aqueles realizados em câmaras escuras na revelação de fotografias. Da mesma forma, quando há escuridão espiritual, o trabalho de Deus não pode ser realizado, a menos que venha alguém com a luz do evangelho e resplandeça. O que Jesus queria dizer é que não devemos perder as oportunidades que Deus nos dá. Isto combina com a recomendação de Isaías para buscarmos o Senhor enquanto podemos achá-lo (Is 55.6). Amós diz que haverá um tempo em que Deus enviará fome, não de pão, e sede, não de água, mas de ouvir a Palavra de Deus. Muitos, diz o profeta, buscarão a Palavra, mas não a acharão (Am 8.11-12). A “Idade Média” é também denominada de “Idade das Trevas”, em virtude do marasmo e da cegueira espiritual da Igreja, bem como da rejeição ao conhecimento científico por parte de muitos religiosos. A “Reforma Protestante” reacendeu a luz da graça de Deus e possibilitou a expansão do evangelho no mundo. Entretanto, nos últimos tempos, percebemos que o ateísmo, as “religiões radicais”, o misticismo e a frouxidão moral da igreja chamada de “evangélica” parece ter feito com que a Igreja tenha perdido a visão de Deus, de sua santidade e dos valores morais do cristianismo. As trevas voltam a cobrir a terra na “Idade Moderna”. Necessitamos, desesperadamente, da “Luz do Mundo”, conforme apreciaremos a seguir. A VISÃO DA “LUZ MUNDO” (Jo 9.5 e 8.12) João disse que Jesus é a luz que ilumina todos que vêm ao mundo (Jo 1.9). Paulo nos convida ao despertamento e à iluminação de Cristo (Ef 5.14). Cego não é ser desprovido de visão física. Cego é não ver a Deus. Porém, somente os limpos de coração, os que seguem a paz com todos e a santificação, é que verão a Deus (Mt 5.8 e Hb 12.14). Somente aquele que segue a Jesus não anda em trevas (Jo 8.12). Talvez tenhamos que orar para que o Senhor nos abra os olhos espirituais para vermos as maravilhas da sua lei, ou até vermos que mais são os que estão conosco do que os que estão com o inimigo (Sl 119.18; 2 Rs 6.16-17). Para tanto, é preciso que Jesus opere algo especial em nossa vida, como operou na vida do homem que era cego. Aplicação a sua vida: como discípulos neste mundo, temos o desejo de levar a luz ao mundo. Você, como discípulo, está envolvido na obra de clarear o mundo que está em trevas? VISÃO DA OBEDIENCIA (Jo 9.6-7) Modo estranho de Jesus curar este cego. Jesus usou de diferentes processos REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 143 | A C O S M O V I S Ã O D O D I S C Í P U LO de cura: para uns, Ele simplesmente ordenou a cura; para outros, fez lodo ou aplicou saliva; e, para outros, mandou ir para casa. O resultado foi a restauração física de todos. No caso deste cego, após fazer lodo e passar nos olhos do cego, o mandou ir e se lavar no tanque de Siloé. Ele obedeceu e voltou vendo. O tanque de Siloé “era um grande reservatório, que recebia água mediante um canal subterrâneo que corria de nordeste para sudoeste (...) provavelmente o tanque de Betesda” (O NT versículo por versículo, vol. 2, pág. 427). Percebemos que a obediência do cego resultou na sua cura. Enquanto ele ia não foi curado, e sim quando voltou. Precisamos ver o que Jesus está esperando no que diz respeito à obediência de nossa parte, para que sua obra se manifeste em nossa vida. Aplicação a sua vida: A obediência a Deus é muito importante para mantermos o foco na visão de transformação que o mundo precisa. Você tem sido obediente e procurado mudar a visão de mundo? Jesus promove um segundo encontro com o ex-cego e se revela como Aquele que o curou. Aplicação a sua vida: qual é sua visão de Deus e de sua revelação na pessoa de Jesus? O PECADO E A COSMOVISÃO (Jo 9.3941) O homem que foi curado, reconheceu que era cego e creu em Jesus como o Filho de Deus. Os fariseus estavam presos às questões da lei (guarda do sábado) e, apesar de verem o milagre de Jesus, não queriam ver que Ele era o Messias. Apesar da visão física, eram cegos espiritualmente, e isto os tornava culpados diante de Deus. Eles precisavam confessar seus pecados, sua ignorância e cegueira espirituais. Precisavam tomar a decisão pessoal de “ver” a Luz (Jo 3.19; Jo 9.4-5). Era preciso dizer como o salmista: “Desvenda os meus olhos, para que eu veja as maravilhas da tua lei” (Sl 119.18). VISÃO, UMA QUESTÃO DE FÉ (Jo 9.8-14) Os opositores de Jesus não acreditaram que um cego de nascença pudesse ser curado. Para eles, era um milagre inacreditável. Sem a visão da fé, corremos o risco de interpretarmos tudo a partir de nossa ótica pessoal, de “valores” que nos passaram ou desenvolvemos, mas sem sustentação bíblica. Não podemos bitolar as ações divinas. Deus é soberano e criativo. As ações divinas devem ser entendidas a partir do fundamento da fé (Hb 11.1 e 6). Analisemos, entretanto, o processo e o desenvolvimento da fé do “ex-cego” (João 9): Nos versos 11-12, para ele Jesus era “um homem” e não sabia onde ele estava. No verso 17, Jesus “é profeta”. Nos versos 29 a 33, Jesus não é pecador, pois, foi ouvido por Deus; Jesus é “homem de Deus” pelo que fez. Nos versos 35-38, Jesus é “o Filho do Homem”, é o “Senhor”, é Deus, por isso, “o adorou”. É impressionante que o próprio 144 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Conclusão A maior visão que alguém pode ter é a visão da graça e da misericórdia de Deus. Realmente Deus tem um propósito para a vida de cada um de nós. Um homem era cego de nascença porque através dele haveria de manifestarem-se as obras de Deus. Ao chegar o momento de sua cura, Jesus veio ao seu encontro e lhe concedeu a visão. Este ex-cego passou a ter uma visão progressiva de Jesus: a princípio era um homem, depois, um profeta e, finalmente, Jesus era o Messias, o Deus que se fez carne, digno de ser adorado. Apesar de tantos anos sem a visão física, aquele homem pode ver através da fé, enquanto que os fariseus não tinham uma visão divina, e enxergavam apenas através de valores pessoais ou da interpretação equivocada da lei mosaica. Eles não quiseram ver em Jesus o Cristo de Deus. ESTUDO 42 O DISCÍPULO E OS ARGUMENTOS DA FÉ Mateus 15.21-28 INTRODUÇÃO A experiência desta mulher siro-fenícia retrata o que muitos discípulos de Cristo vivem no cotidiano de suas famílias. Aponta também para a importância de buscarmos solução com a pessoa certa e no lugar certo. O que mais chamou a atenção de Jesus foi o argumento de fé exercido por uma mulher que não era do povo de Israel. O fato de Cristo tê-la atendido nos transmite preciosas lições e nos desafiam a uma nova postura como discípulos de Cristo. Quais seriam os argumentos de fé que um discípulo do Senhor poderia usar hoje nas adversidades e tribulações da vida? TENHO UM GRANDE PROBLEMA, MAS EU CREIO! (Mt 15.21-22) “E, partindo Jesus dali, foi para as partes de Tiro e de Sidom. E eis que uma mulher cananeia, que saíra daquelas cercanias, clamou, dizendo: Senhor, Filho de Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mt 15.21-28 Sl 121.1-2 Tg 4.6-7 Rm 4.17-18 Jo 4.46-50 At 10.34-35 Mc 7.29-30 Davi, tem misericórdia de mim, que minha filha está miseravelmente endemoninhada.” Marcos diz que ela era siro-fenícia (Mc 7.26). Ela não era judia, nascera na divisa da Síria com a Fenícia. Apesar das tribulações, ao invés de buscar ajuda entre os feiticeiros ou exorcistas da época, a sirofenícia reuniu forças para buscar o auxílio de Jesus. Não importam as circunstâncias, o socorro está em Deus (Sl 121.1-2). Somente quem já lidou com alguém com desequilíbrio mental, possessão demoníaca ou doença incurável, entende a magnitude desse problema. Um discípulo de Cristo não está imune aos problemas do mundo, e pode vir a lidar com um problema pessoal ou na família que parece insolúvel, uma montanha intransponível. Mas ele pode usar o seguinte argumento da fé hoje: Meu problema parece insolúvel, mas eu creio! REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 145 | O D I S C Í P U LO E O S A R G U M E N T O S D A F É Conta-se que um empresário mantinha uma placa na sua mesa de escritório, onde estava escrito: “Deus é maior que todos os meus problemas”. A mulher sirofenícia não tinha um problema qualquer: sua filha era afligida pelo demônio; estava “miseravelmente endemoninhada”. A Bíblia diz que Jesus veio para “desfazer as obras do diabo” (1 Jo 3.8). O discípulo de Cristo precisa avaliar as possíveis áreas nas quais tenha dado lugar ao diabo. A Bíblia recomenda: “Não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27); também deve lembrar que, se resistir ao diabo, o mesmo fugirá dele (Tg 4.6-7). Tudo isto é importante, porque a Bíblia diz que o diabo anda ao nosso derredor, buscando a quem possa tragar (1 Pe 5.8). Porém, se entregarmos nossa vida a Jesus, Ele nos libertará (João 8.32 e 36) e desfará as obras do diabo (1 Jo 3.8). Não existe problema maior que a fé no poder de Deus para resolvê-lo. Aplicação a sua vida: a mulher siro-fenícia tinha um grande problema e procurou a Jesus para resolvê-lo. Qual seria o seu “grande problema”, que precisa de uma intervenção divina? DEUS ESTÁ EM SILÊNCIO, MAS EU CREIO! (Mt 15.23) “Mas ele não lhe respondeu palavra. E os seus discípulos, chegando ao pé dele, rogaram-lhe, dizendo: Despede-a, que vem gritando atrás de nós. ” A Bíblia diz que Abraão creu contra a esperança (Rm 4.18): “O qual, em esperança, creu contra a esperança, tanto que ele tornou-se pai de muitas nações, conforme o que lhe fora dito: Assim será a tua descendência.” A siro-fenícia clamou, mesmo quando as evidências eram desfavoráveis. A fé argumenta que o discípulo de Cristo deve insistir, mesmo quando 146 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Deus parece indiferente, que não está ouvindo. Jesus nos anima a nunca desistirmos (Lc 18.1): “Contou-lhes uma parábola sobre o dever de orar sempre e nunca desfalecer.” Isto nos faz lembrar do que Jesus disse a Jairo quando lhe trouxeram a notícia de que sua filha havia morrido (Lc 8.49): “Ao que Jesus lhe disse: Não temas! Crê somente. ” O silêncio divino sempre tem objetivos para o nosso bem, porém, reconhecemos, ele é um desafio à nossa fé. Daí a decisão do salmista em esperar confiantemente no Senhor, com a certeza de que Ele o ouviria (Sl 40.1 e 27.14). Se Deus lhe parece em silêncio, persista, porque Ele quer lhe ensinar algo muito especial. Aplicação a sua vida: há sempre em nossa vida momentos em que sentimos que Deus está em total silêncio. O que devemos fazer nesses momentos? EU NÃO MEREÇO, MAS EU CREIO! (Mt 15.24-28) “E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel. Então chegou ela, e adorou-o, dizendo: Senhor, socorre-me! Ele, porém, respondendo, disse: Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos. E ela disse: Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores. Então, respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher, grande é a tua fé! Seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã. ” Esta resposta de Jesus parece-nos estranha, entretanto, em lugar de procurarmos entendê-la, inspiremo-nos na humildade da siro-fenícia. Ela não se revoltou, não desistiu, mas, pelo contrário, fez das palavras de Jesus um motivo para de- O D I S C Í P U LO E O S A R G U M E N T O S D A F É monstrar sua humildade e fé. O resultado foi a vitória que tanto desejava. Ela sabia que, por não ser judia, não teria o merecimento da atenção de Jesus. Os israelitas acreditavam que os povos de outras nações não eram herdeiros das promessas feitas a Abraão. Até mesmo a Igreja Primitiva censurou Pedro por ter ido à casa de um gentio (At 11.1-3). Mas, o argumento da fé ignora as leis e preconceitos dos homens; a fé contraria a lógica. Um discípulo de Cristo não se firma em merecimentos pessoais; ele apenas crê, mesmo que seja “contra a esperança” (Rm 4.17-18). Jesus quebrou muitos paradigmas etnológicos. Apesar dos judeus não se darem com os samaritanos, Jesus se aproximou de uma samaritana e fez dela uma missionária para o seu povo. Em seguida, entrou na cidade deles e ficou ali dois dias, levando muitos a crerem n’Ele (Jo 4.9, 28-29 e 39-42). Ele curou outras pessoas de origem romana (Mt 8.8-12; Jo 4.46-50). Quando Pedro foi à casa de Cornélio, disse que “Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (At 10.34,35). A mulher siro-fenícia não retrucou as palavras de Jesus, mas se humilhou, dizendo que até mesmo os cachorrinhos “comem das migalhas que caem da mesa dos seus senhores”. Quem se humilha na presença do Senhor, Ele o exalta (1 Pe 5.6). Em Tg 4.6, é dito que “Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes”. CREIO E OBEDEÇO! (Mc 7.29-30) “Então ele disse-lhe: Por essa palavra, vai; o demônio já saiu de tua filha. E, indo ela para sua casa, achou a filha deitada sobre a cama, e que o demônio já tinha saído” | Marcos acrescenta este texto no qual Jesus manda que a mulher volte porque a filha dela já estava libertada. A siro-fenícia buscou a Jesus porque cria, persistiu porque confiava e obedeceu sem questionar. Jesus mandou que ela voltasse, que a filha estaria curada, e ela o fez. A fé não deve ser exercida apenas para pedir, mas também, para obedecer. Se você quer ser vitorioso na fé, além de buscar, deve persistir e, ao obter a confirmação da palavra de Jesus, deve fazer o que Ele mandar. É comum, em muitas ações divinas, cada um de nós precisar fazer sua parte. Aquela mulher teria que voltar, crendo que encontraria sua filha liberta, e ela o fez, encontrando a filha exatamente como Jesus prometeu. O discípulo de Cristo precisa examinar quais áreas de sua vida precisam ser submetidas à obediência a Cristo. Jesus foi taxativo em afirmar que somente é amigo d’Ele quem obedece a suas palavras (Jo 15.14). Conclusão Deus vê a aflição de cada discípulo seu, mas espera a manifestação de obediência e fé do mesmo. Ele quer que não confiemos em nossos merecimentos ou virtudes. O escritor aos hebreus diz que Deus é galardoador dos que O buscam com fé (Hb 11.6). Se você tem um grande problema, creia que Deus é maior que os seus problemas. Deus parece em silêncio? Ele está apenas ajudando-o a crescer na fé. Você não tem nenhum merecimento? Cristo morreu para usar os merecimentos d’Ele em favor daqueles que não têm nenhum. Se for necessário, veja qual área de sua vida precisa ser submetida à obediência a Cristo. Use sempre os argumentos da fé e o Senhor o honrará! REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 147 ESTUDO 43 O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (I) PARTE 1 - Jo 13.34 - 35 INTRODUÇÃO A reciprocidade e a mutualidade são atitudes imperativas a todos os discípulos de Cristo. É raro acontecer algo positivo que não tenha reciprocidade e mutualidade. Exemplo: Quando adquirimos um produto, somos beneficiados, mas também beneficiamos a dezenas e até a milhares de pessoas. Quem presta algum serviço, é também servido por alguma forma de retribuição. A seguir, compartilhamos como um discípulo de Cristo pode cumprir os mandamentos recíprocos no relacionamento com os outros. Considerando que o número de textos é muito extenso, fizemos pequenos comentários sobre a maioria deles, porém, cabe a você aplicar esses mandamentos à sua vida. 148 148 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mt 14.22-36 Rm 4.10, 13 Ef 4.2 Tt 3.10-11 Sl 23.1; Dt 32.11-12 Tg 5.19-20 Ef 4.12-13; Fp 1.6. AMAR UNS AOS OUTROS (Jo 13.34; 15.12; Rm 12.10; 1Ts 4.9; Rm 13.8; 1Pe 1.22) O amor é o principal elo do cristianismo. Se não amamos o próximo, também não amamos a Deus (1 Jo 4.8, 20-21). É o amor que nos faz conhecidos como discípulos de Cristo (Jo 13.35). Quem não ama o irmão, permanece na morte (1Jo 3.14). De acordo com esta palavra, você está morto ou vivo? Ver ainda João 15.17 e 1Jo 3.11, 23. Cumprir o mandamento de Jo 15.12, “O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”, constitui-se num grande desafio para o discípulo de Cristo. Observe o modelo de amor proposto: “Assim como eu vos amei”. De que forma Jesus provou o amor de Deus para conosco? (Rm 5.8) “Cristo morreu por nós”. O amor verdadeiro se consuma em nossa morte em favor do irmão (1Jo 3.16). E essa morte não é apenas a física, é a morte do “ego”, das O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I ) | “vantagens” pessoais em benefício do irmão. Conforme Rm 12.10, o amor fraternal nos leva a honrar o nosso irmão. Neste caso, sempre que buscarmos a honra, a preferência deve ser para o irmão e não para nós. Será maravilhoso o dia em que alguém possa nos dizer o mesmo que Paulo disse para os discípulos de Tessalônica (1Ts 12.10): “Nem preciso falar sobre o amor fraternal, porque vocês já estão instruídos por Deus nessa questão”. Estas palavras de Paulo combinam com João 13.35, quando Jesus diz que todos conhecerão que somos discípulos d’Ele, se tivermos amor uns para com os outros. De acordo com Rm 13.8, a maior dívida que um discípulo de Cristo deve ter é a dívida do amor para com o próximo. Pedro nos instrui que o amor recíproco deve ser não fingido, mas de coração, e isto “ardentemente” (1 Pe 1.22). O termo grego para “ardentemente” é “ektenos” e significa “seriamente, fervorosamente, intensamente”, de um verbo que significa “estender a mão.”9 O mandamento do amor é determinante para todos os demais, porque quem ama obedece ao mandamento recíproco de “não julgar uns aos outros”. Aplicação a sua vida: nos tempos atuais, a prática do amor está cada dia mais difícil de ser realizada devido à falta de limite das pessoas. Como exercer o amor de forma integral sem, em contrapartida, estar prejudicando o irmão, criando dependência? NÃO JULGAR UNS AOS OUTROS (Rm 14.13) Jesus recomenda que, antes de olharmos o “cisco” no olho de um irmão, devemos remover a “trave” que está no nosso olho (Mt 7.3). Quando assumimos a postura de juízes, usurpamos o lugar de Deus (Tg 4.11; 1.20); Somente Deus pode exercer o juízo, porque julga justamente (Rm 14.10, 13). O fato de que não devermos julgar uns aos outros, não exclui a confrontação daquele que estiver errado. O ideal é que, ao se ter dúvida sobre uma atitude de um irmão, procurá-lo e esclarecer a referida dúvida. Em caso positivo, de ele estar errado, procurar levá-lo à correção de sua atitude. Se ele for contumaz e não aceitar a repreensão, seguir o que a Bíblia recomenda em Tt 3.10-11: “Ao homem herege, depois de uma e outra admoestação, evita-o, sabendo que esse tal está pervertido, e peca, estando já em si mesmo condenado”. O escritor da carta aos Hebreus nos recomenda a exortação mútua (Hb 12.25). Advertir não é julgar. O julgamento é também perigoso porque podemos estar equivocados. Nossos sentidos e, muitas vezes, certos valores, nos enganam. Jesus disse para não julgarmos segundo a aparência, mas conforme a reta justiça (Jo 7.24). Outro perigo de julgarmos uns aos outros é que, quando julgo, dou o direito de ser julgado na mesma medida (Mt 7.2). Agora, reflita, se julgamos alguém por um erro que ele não cometeu, que direito de julgamento estamos dando a outrem? Daí a importãncia de procurarmos o irmão quando “julgarmos” que ele está errado. Isto pode corrigir muitos equívocos e evitar muitos danos aos outros, a nós e à Igreja de Cristo. Aplicação a sua vida: o julgamento faz parte da nossa velha natureza e convivemos com ela diariamente. A matriz de referência tem sido sempre nós. O não julgar é um exercício diário. O que você tem feito para diminuir o seu julgamento em relação ao próximo? REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 149 | O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I ) ACOLHER E ADMOESTAR UNS AOS OUTROS (Rm 15.7 e 14) A palavra “acolher” no grego é “proslambano”, e significa “levar a, pegar a mais, tomar para si mesmo; tomar como companheiro; (...) conceder acesso ao coração”.10 O sentido para os relacionamentos cristãos é dar guarida, abrigar ou proteger. Esse acolhimento tem mais a ver com o lado emocional do que com o físico. Todos nós sentimos necessidade de aceitação e compreensão. Daí as metáforas bíblicas de Deus como refúgio e fortaleza (Sl 46.1); Deus como Pastor que protege o rebanho, ou como uma ave que abriga os seus filhotes (Sl 23.1; Dt 32.11-12; Sl 91.4). Jesus se apresentou como o Bom Pastor que dá a vida pelas suas ovelhas (Jo 10.11). No cristianismo, esse abrigo deve ser realizado também pelos discípulos de Cristo, uma vez que devem imitar o seu Mestre (Mt 23.37; 1Pe 2.21; Mt 10.25). Quando acolhemos uns aos outros no coração, vivemos o mais profundo significado do cristianismo. O maior desejo de Deus é que mantenhamos uns aos outros no próprio coração. A palavra “admoestar” é “noutheteo” e significa “admoestar, advertir, exortar. ” Observe que o discípulo de Cristo deve praticar essa admoestação “cheio de bondade”. Tiago diz que, ao convertermos um irmão do erro do seu caminho, cobrimos uma multidão de pecados e salvamos uma vida da morte (Tg 5.19-20). Como vimos no ponto anterior, não devemos julgar, mas admoestar, isto é, chamar a atenção daquele que estiver errado e procurar levá-lo ao caminho do arrependimento e da conversão. É o sincero desejo de trazer o seu irmão para perto de você, na verdade para dentro do coração, conforme vimos no verso anterior. 150 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Aplicação a sua vida: nos tempos atuais, a prática do amor está cada dia mais difícil de ser realizada devido à falta de limite das pessoas. Como exercer o amor de forma integral sem, em contrapartida, estar prejudicando o irmão, criando dependência? NÃO PRIVAR UNS AOS OUTROS (1Co 7.5) Paulo trata aqui do relacionamento conjugal, recomendando que marido e mulher cumpram os deveres sexuais recíprocos. A razão dessa recomendação é para evitar a tentação de Satanás. No original, a palavra usada para privar é “apostereo”, derivada de “stereo” (destituir), e significa “defraudar, roubar, despojar”. Quando um cônjuge “priva” o outro de suas obrigações conjugais, significa que está defraudando, roubando e despojando bens e direitos do outro. Por esta razão, as relações íntimas têm interferência na resposta às orações e podem dar lugar a Satanás (Hb 13.4; 1Pe 3.7; 1Ts 4.3-5). É muito importante que você leia estes textos bíblicos e os aplique à sua vida pessoal. Como se percebe, essa questão é muito séria, porque não se trata apenas do relacionamento entre cônjuges, mas das consequências de quando esse mandamento não é observado: Julgamento divino, dar lugar à tentação e a Satanás, e ainda interferência na resposta às orações. NÃO PROVOCAR UNS AOS OUTROS (Gl 5.26) O verbo “provocar”, no grego, é “prokaleomai” e significa “trazer à tona, extrair; extrair para si mesmo; desafiar a um combate ou disputa com alguém; provocar, irritar”. Neste caso, provocamos o próximo quando “trazemos à tona” algo que inco- O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I ) | moda, que humilha, que irrita, ou quando desafiamos alguém para uma discussão (ou até uma briga). Jesus disse que os pacificadores serão chamados filhos de Deus (Mt 5.9). Se você é filho de Deus, ao invés de instigar a intriga, você promove a paz, busca sempre a reconciliação, a melhor maneira de resolver um ponto conflitante. No entendimento do apóstolo Paulo, quando nos vangloriamos ou temos inveja, provocamos uns aos outros. Daí a recomendação de que devemos considerar os outros superiores a nós mesmos (Fp 2.2). Quando nossa atitude é humilde e pensamos sempre no bem do outro, evitamos o orgulho e a provocação ao próximo. Deste modo, cumprimos o próximo mandamento recíproco. Aplicação a sua vida: nos tempos atuais, a prática do amor está cada dia mais difícil de ser realizada devido à falta de limite das pessoas. Como exercer o amor de forma integral sem, em contrapartida, estar prejudicando o irmão, criando dependência? SUPORTAR E PERDOAR UNS AOS OUTROS (Ef 4.2) A palavra suportar no grego é “anechomai”. Significa “levantar; manter-se ereto e firme; sustentar, carregar (...).”11 É a ideia não apenas no sentido de tolerar, mas também de dar suporte. Cada pessoa tem motivos de ser o que é. Cada discípulo de Cristo deve ver a área na qual o próximo é mais fraco e, ao invés de criticá-lo, buscar um modo de lhe dar suporte, que pode ser até através da amo- rosa exortação. Observe que Paulo diz que o “suporte” deve ser feito com “toda humildade e mansidão, com longanimidade”. Se houver esse sentido recíproco, todos podemos ser suportes para que o próximo não caia. Comparar com Cl 3.13. Quanto à segunda recomendação de Ef 4.2, que é “perdoar uns aos outros”, apreciaremos no próximo estudo. CONCLUSÃO Os valores cristãos devem superar os valores do mundo. Jesus disse que nossa justiça deve exceder a justiça do farisaísmo (Mt 5.20). O primeiro passo deve ser o do exercício do amor mútuo, tendo como modelo o amor sacrificial de Cristo em nosso favor. Quem ama, não julga (1Co 13.5), mas aconselha, exorta, acolhe, não prova, pelo contrário, dá suporte. Os mandamentos recíprocos levam em conta o bem-estar do próximo. O maravilhoso de tudo isso é que, no sentido positivo, sempre que exercemos os mandamentos recíprocos, somos beneficiados na mesma medida. Está na hora de avaliarmos nossos valores e ver onde temos falhado, para corrigirmos, e onde temos acertado, para melhorarmos. O desejo divino para cada um de nós é o aperfeiçoamento, até que os propósitos divinos sejam plenamente cumpridos em nós (Ef 4.12-13; Fp 1.6) ______________ 9 Bíblia eletrônica Word. 10 Bíblia eletrônica Word. 11 Bíblia eletrônica Word. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 151 ESTUDO 44 O DISCÍPULO E OS MANDAMENTOS DA MUTUALIDADE (II) Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Ef 4.32-5.2 1 Co 13.4; Gl 5.22 Mt 6.14-15 Mt 18.15-35 Ef 5.14-21 Cl 3.9 1 Ts 4.18; 5.11 PARTE 2 - Efésios 4.32-5.2 INTRODUÇÃO A questão da mutualidade é tão importante que até a Trindade se revelou existindo como três pessoas, mas um só Deus. Antes de ser preso, Jesus orou por nossa unidade, da mesma forma que Ele era um com o Pai (Jo 17.11 e 21). O apóstolo Paulo disse que as divisões são evidências de carnalidade na vida da igreja de Jesus (1 Co 3.3). O salmista diz que é bom e agradável que os irmãos vivam em união (Sl 133.1). Os mandamentos sobre a mutualidade são a “bússola” de como seguir nessa direção e alcançar esse alvo. No estudo anterior, pontuamos alguns desses mandamentos. Neste estudo, apreciaremos outros. SER BENIGO, COMPASSIVO E PERDOAR UNS AOS OUTROS (Ef 4.32) Benignidade é uma das características e fruto do amor (1 Co 13.4; Gl 5.22). 152 152 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II A Bíblia diz que Jesus andou fazendo o bem a todos (At 10.38). O discípulo de Cristo deve seguir os passos do seu Senhor, sempre visualizando o bem “uns dos outros”. Se não é benigno, não pode ser discípulo de Jesus. Além de benigno, o discípulo de Cristo deve ser compassivo. No grego, a palavra “compassivo” é “eusplagchnos”, e significa “ter fortes entranhas; compassivo; de bom coração”. A ideia é a do envolvimento do coração para com o próximo. Quando olhamos o próximo com o coração, no sentido de “sofrer com”, pois, esta é outra maneira de compreendermos a palavra compassivo (com+paixão), temos uma postura amorosa para com ele. Daí a necessidade de obedecer à outra recomendação de Ef 4.32, que nos manda “perdoar uns aos outros”. O perdão é tão determinante nos relacionamentos que Jesus afirma que, se não perdoarmos a quem nos ofender, também não seremos perdoados por Deus (Mt 6.14-15). Observe que o perdão O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I ) | não é para quem foi benigno ou compassivo, mas para quem nos ofendeu. Em Mt 18.15-35, Jesus fala sobre como tratar alguém quando tivermos algo contra ele, ou quando ele tiver uma dívida para conosco. Chamamos sua atenção para o servo que não quis perdoar o conservo, apesar de perdoado pelo seu senhor. Este servo foi entregue “aos atormentadores, até que pagasse tudo o que lhe devia”. No verso 35, Jesus conclui: “Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas”. Não há desculpas para os ressentimentos e a falta de perdão, pois, quebra os relacionamentos e obstrui um dos maiores alvos divinos para a vida de um discípulo de Cristo: A unidade do seu povo. Aplicação a sua vida: a lição descrita nos adverte quanto à forma como devemos lidar com as pessoas que nos magoam ou as que magoamos. Você tem perdoado de coração e não voltado a incorrer no mesmo erro? SUJEITAR UNS AOS OUTROS (Ef. 5.21) Desde Ef 5.14 que Paulo nos convoca a um despertamento do sono, a nos levantarmos dentre os mortos, pois, somente assim seremos esclarecidos por Cristo sobre sua vontade (Ef 5.17). A seguir, no verso 18, nos exorta a sermos cheios do Espírito Santo. Nos versos 19 a 20, ele nos orienta como: “compartilhando a Palavra uns com os outros e entoando cânticos espirituais”. Ef 5.21 é a continuação desse despertamento espiritual, conhecimento da vontade de Deus e enchimento do Espírito Santo: a sujeição uns aos outros. Observe que essa “sujeição” é no temor de Cristo. Não significa que devamos nos submeter à tirania de alguém que se diga cristão. O princípio aqui é o de uma comunidade de amor, de benignidade e de valorização recíproca. Quando alguém pretende ser tirano, deve ser confrontado e chamado ao caminho do amor e do respeito cristãos (Rm 16.17; Mt 18.15; 1Ts 3.14-15; Gl 2.11). Tudo, entretanto, deve ser feito com amor e no temor de Deus. É por essa razão que Paulo nos recomenda a respeitar as autoridades (Rm 13.1-2). Essas autoridades não são apenas as civis e militares, mas também no nosso trabalho, em nossa comunidade (religiosa ou não) e na família (Ef 6.1-6; 1 Tm 5.17-19; Hb 13.7,17). A humilde sujeição, no sentido de respeito e obediência, é uma maneira de testemunharmos que somos discípulos de Cristo (1 Pe 2.12-21). NÃO MENTIR UNS AOS OUTROS (Cl 3.9) Acredita-se que evitar a mentira é um dos maiores desafios no discipulado cristão. Jesus foi taxativo em afirmar que os mentirosos são filhos do diabo e que estes não entrarão no Reino de Deus (Jo 8.44; Ap 21.8 e 22.15). Mas, o que nos impressiona é a nossa tendência para mentir. A recomendação divina é que cada um fale a verdade com o seu próximo (Ef 4.25). A mentira é como uma máscara que pomos no rosto e escondemos nossa verdadeira face. Acontece que ninguém se sente confortável quando descobre que a outra mente. As pessoas nos amam quando somos verdadeiros e nos rejeitam quanto encobrimos a verdade e mentimos. Falar a verdade, por mais que doa, nos torna mais aceitáveis e acreditados. Um dos recursos para evitar a mentira e, consequentemente, falar a verdade, é buscar a direção de Deus, porque Ele ama a verdade no íntimo. Uma das funções do Espírito Santo é nos guiar e conduzir em toda a verdade (Jo 16.13). Aplicação a sua vida: a mentira tomou um caminho tão amplo que já há música pedindo para que o amado minta, mas diga coisas lindas. Como temos tratado essa relação com a mentira em nossas igrejas? Temos achado palavras mais brandas para explicar ações e palavras mentirosas? REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 153 | O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I ) CONSOLAR UNS AOS OUTROS (1Ts 4.18) O verbo “consolar”, no grego, é “parakaleo”, e significa “chamar para o (meu) lado, chamar, convocar; dirigir-se a, falar a, (recorrer a, apelar para), o que pode ser feito por meio de exortação, solicitação, conforto, instrução etc.; admoestar, exortar (...)”. Impressiona-nos a ideia de que consolar tem a ver com chamar a pessoa para perto, a fim de desfrutar de nosso calor humano e ter um ombro amigo. É nesse sentido que o Espírito Santo é o nosso Consolador (Jo 15.26). Em nossas tribulações, Ele nos chama para perto de si e nos oferece seu “ombro amigo”. O discípulo de Cristo tem o Espírito e, portanto, deve consolar uns aos outros. As tribulações têm a finalidade de nos preparar para consolar a quem passa por semelhante experiência (2 Co 1.37). Deus nos usa como instrumentos d’Ele na edificação uns dos outros, objetivando levar-nos à estatura de Cristo, à medida do homem perfeito (Ef 4.11-16). Ao invés de criticar o seu irmão, pelo pouco crescimento que ele tem em Cristo, ajude-o na edificação nessas áreas na vida dele. EDIFICAR UNS AOS OUTROS (1 Ts 5.11) Deus começou uma obra maravilhosa em nossas vidas e estamos sendo construídos até a volta de Cristo (Fp 1.6). Somos edificados das mais diferentes maneiras por Deus: através da Palavra, da oração, do serviço no Reino, mas Deus usa a cada um de nós nesse processo de edificação mútua (Ef 2.22). O surpreendente é que essa edificação é para a morada de Deus. Pedro diz que estamos sendo edificados em casa espiritual (1 Pe 2.5). A edificação é mútua. Neste caso, quando deixamos de “pôr um tijolo” na construção do outro, ficamos também atrofiados em alguma área de nossa construção. Daí 154 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I a importância do discipulado, quando cuidamos uns dos outros e nos suprimos mutuamente. Esta é também uma das importâncias da Escola Bíblica Dominical, dos cultos e demais atividades espirituais que realizamos em conjunto. Cada um edifica o outro com o seu dom (Ef 4.16). Aplicação a sua vida: nosso crescimento em Cristo está diretamente ligado ao relacionamento com Ele e com o próximo. Assim crescemos, quando nos relacionamos bem com Ele e com o outro. À medida que tratamos o outro como gostamos de ser tratados, crescemos juntos diante de Deus. Temos contribuído para a edificação do próximo com os dons que Deus nos deu? CONFESSAR UNS AOS OUTROS (Tg 5.16) Acreditamos que a melhor aplicação deste texto seria o pecado que cometemos contra o nosso próximo. Neste caso, devemos procurá-lo e pedir-lhe perdão. Não é recomendável procurar uma pessoa que nos tenha ofendido e dizer-lhe que estávamos com raiva dela, mas que a perdoamos. Há muitas pessoas que levam um susto com esse tipo de “pietismo” daquele que se julgou ofendido. Quando isto acontece, é melhor perdoar o ofensor em nosso coração e não precisar informá-lo do fato. Se o ressentimento persistir, é recomendável procurar aquele que nos ofendeu e indagá-lo sobre o motivo de ter agido assim. Na maioria das vezes, houve um equívoco de nossa parte e interpretamos mal a palavra ou atitude do outro. Isto é, o problema pode ser nosso e não do próximo. Quanto à confissão de pecados pessoais contra outra pessoa, esta questão não é simples, até mesmo pelo grau de confiabilidade que precisa haver entre os“confessores”. A recomendação é que devemos abrir o coração com alguém comprovadamente confiável. A primeira pessoa a quem devemos confessar O D I S C Í P U LO E O S M A N D A M E N T O S D A M U T U A L I D A D E ( I I ) | os nossos pecados é a Deus, porque Ele não somente nos perdoa como se “esquece” dos nossos pecados (Hb 8.12). Há pessoas, entretanto, que sentem necessidade de abrir o coração com alguém de confiança. Tiago recomenda isto com fins terapêuticos “para serdes curados. ” É importante salientar que a confissão deve ser específica: Exemplo: “Ó Deus, perdoa aquela palavra que disse indevidamente; perdoa a mentira que falei hoje; perdoa a atitude grosseira que tive para com aquela pessoa”. É sempre viável mencionar ocasião, nomes de pessoas etc. Deve-se evitar a confissão generalizada, como: “Perdoa a multidão dos meus pecados”. Ora, se você confessa diariamente seus pecados, não é multo compreensível dizer que tem “multidão de pecados”. Pecado confessado não precisa ser “reconfessado”, a menos que você não o tenha feito sinceramente. Lembre-se: Deus esquece os nossos pecados, e o sangue de Jesus purifica a nossa consciência de pecado (Jr 31.34 e Hb 9.14). Mais um lembrete: Se você sinceramente confessou o pecado a Deus e experimentou o seu perdão, não há necessidade de que procure alguém para confessar o mesmo pecado. SERVIR UNS AOS OUTROS (1 Pe 4.10) Este mandamento é regulado pelo “amor uns aos outros”: servir, e não apenas ser servido. Jesus disse que nos deu o exemplo de como servir uns aos outros e que devemos fazer o mesmo (Jo 13.15). Ele disse que não veio para ser servido, mas para servir. Acontece, entretanto, que esse serviço não se restringe a fazer algo por alguém, mas em servir com a própria vida, se necessário (1 Jo 3.16): “Conhecemos o amor nisto: que Ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos”. Pedro disse que de- vemos servir “uns aos outros conforme o dom que recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. ” Já vimos este assunto, no estudo sobre o discípulo como ministro e despenseiro dos mistérios de Deus. Cabe realçar aqui que o serviço deve ser conforme o dom de cada um. Deus capacita a cada um de nós com, pelo menos, um dom espiritual, visando o serviço ao próximo. Precisamos descobrir qual é o nosso dom e servir de modo fiel (1 Co 4.1-2). Aplicação a sua vida: temos que ressaltar nesse ponto que, em várias ocasiões, o servir tem dado lugar ao serviçal. Servir o outro é utilizar-nos dos dons que Deus nos deu em favor do próximo, seja ele familiar ou não. Como tenho usado os dons que Deus me deu? Qual é a minha participação no corpo de Cristo? CONCLUSÃO Discipulado é relacionamento. Por esta razão, a prática dos mandamentos recíprocos é o mais elevado exercício do discipulado. Sua maior motivação deve ser o amor. Seu maior modelo é o exemplo do Senhor Jesus. A culminação de sua prática deve ser a predisposição de dar a vida uns pelos outros. Eles devem fazer parte do estilo de vida do discípulo de Cristo: viver para servir e não para ser servido. A partir do momento em que os discípulos de Cristo fizerem dos “mandamentos recíprocos” o seu estilo de vida, a plenitude do cristianismo será experimentada e Cristo será manifestado ao mundo, conforme Jo 13.35: “Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 155 ESTUDO 45 OS DISCÍPULOS NA TEMPESTADE Mateus 14.22-36 INTRODUÇÃO O presente estudo retrata realidades da experiência cotidiana de um discípulo de Cristo e também nos aponta o que devemos fazer mesmo após grandes manifestações divinas em nossa vida. Neste, procuramos entender como lidar com as adversidades e tempestades da vida. O estudo nos revela ainda a divindade de Jesus no controle da natureza, e sua prontidão de vir em nosso socorro quando estamos em perigo. Começamos com a intrigante ordem de Jesus aos seus discípulos. OBRIGADOS A ENTRAR NO BARCO (Mt 14.22-23) O verso 22 diz que Jesus obrigou os discípulos a entrarem no barco e passarem adiante dele para o outro lado. O complemento do verso 23 diz que Ele “subiu ao monte para orar à parte. Ao anoitecer, estava ali sozinho”. Apesar do milagre 156 156 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mt 14.22-36 Lm 3.26-29 Sl 30.1-5 Sl 46.1-11 Hb 13.1-6 Jo 16.33 e Mt 28.20 Tg 1.2-8 da multiplicação dos pães, Jesus sentiu necessidade de orar. Ele preferiu ficar sozinho, porém na comunhão com o Pai. Cada um de nós deve evitar contentar-se a viver apenas de milagres e manifestações do poder de Deus no passado. Precisamos reabastecer nossa alma. Haverá momentos em que necessitaremos criar condições para que a comunhão com o Pai seja desfrutada, quando estivermos inteiramente sozinhos. Uma das grandes bênçãos em nossas vidas é o momento do “a sós com Deus”, conforme nos sugere Mt 6.5-6. Comparar com Lm 3.26-29. Porém, além de querer ficar sozinho com o Pai, Jesus levou os discípulos a serem testados na fé. Ele os obrigou a entrarem no barco. Isto fazia parte da “pedagogia de Jesus aos seus discípulos”. Deus nos submete a tempestades na vida, a fim de aprendermos que, não importando as circunstâncias, Ele está sempre presente. Ele é o “socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1). O S D I S C Í P U LO S N A T E M P E S TA D E O BARCO AÇOITADO PELAS ONDAS (Mt 14.24-25; Sl 30.5) A vida tem muitas surpresas. Após um milagre, pode vir uma tempestade. O fato de sermos seguidores de Jesus não nos isenta de revoltosas ondas e adversidades na vida. Eles estavam ali em obediência a Jesus, mesmo assim, foram apanhados por uma violenta tempestade. O verso 24 diz que eles eram “açoitados pelas ondas; porque o vento era contrário”. Quando servimos a Jesus, mesmo que encontremos empoladas ondas e ventos adversos, sempre teremos Jesus vindo ao nosso encontro. Comparar com Jo 16.33 e Mt 28.20. Primeiro, ressaltamos que Jesus tinha orado desde o cair da tarde (verso 23) até à 4ª vigília da noite. A 1ª vigília era das 18h às 21h; a 2ª era das 21h à meia noite; a 3ª era de zero hora às 3h da manhã; a 4ª vigília era das 3h às 6h da manhã. Já passava, portanto, das 3h da manhã quando Jesus veio ao encontro dos discípulos em meio à tempestade. Eles haviam remado a noite toda. Mesmo parecendo demorar, Jesus veio em socorro deles. Isso reafirma a promessa de que “o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã”. O próprio Jesus disse que devemos “orar sempre e nunca desfalecer” (Lc 18.1). Permaneça firme; não se desespere porque, a qualquer momento, Jesus virá em seu socorro, sobrepujando o mar revoltoso e vencendo os ventos contrários que açoitam sua vida! Aplicação a sua vida: quais áreas da sua vida representam tempestade e pelas quais você sente-se açoitado? ADVERTIDOS A NÃO TEMER (Mt 14.2627) A falta de ânimo conduz ao medo; o medo traz confusão da mente (os discí- | pulos pensaram que Jesus fosse um fantasma); o medo leva ao estado de pânico. O desânimo, muitas vezes, ofusca a visão da presença e do poder do Senhor. Jesus disse: “sou eu”. O discípulo de Cristo deve lançar fora os temores de sua vida (Hb 13.6). Resista aos medos de sua vida e renove sua confiança na presença e no poder de Jesus! Por toda a Bíblia, percebemos o empenho divino em despertar o ânimo no seu povo (Sl 27.14; Lc 8.48). Observe que não é Deus quem nos anima, mas Ele recomenda que nos animemos. O ânimo é uma predisposição interior de não se entregar à derrota. Não é algo que vem de fora, mas do nosso coração, e o desejo sincero de não ser vencido. Daí a recomendação divina a não temermos, mas termos ânimo. BUSCA PELA SALVAÇÃO (Mt 14.28-30) Pedro pediu que Jesus provasse que era ele mesmo, permitindo-lhe que fosse ao encontro do Senhor, andando sobre as águas. Jesus o convidou. Pedro começou muito bem, mas depois, “sentindo o vento forte, teve medo”. Pedro nos representa perfeitamente em nossas “aventuras de fé”: pedimos provas a Deus, recebemos sua aprovação, iniciamos a jornada e, depois, tememos. Ao temer, o apóstolo começou a submergir. Se em alguma área de sua vida você está afundando é porque fez algo errado, ou porque não exercitou fé suficiente para manter os olhos em Jesus. Você está olhando para sentimentos pessoais e não para Jesus (Hb 12.1-2). Ao submergir, Pedro deu um grito de desespero, pedindo que o Senhor o salvasse. Jesus o salvou, mas repreendeu o apóstolo, pela falta de fé. Aplicação a sua vida: Clame agora pela salvação do Senhor, para a área de sua vida ou família que você percebe que está afundando. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 157 | O S D I S C Í P U LO S N A T E M P E S TA D E EXERCITANDO A FÉ (Mt 14.31) Ainda que o nosso “afundamento” seja por falta de fé, contudo, ao clamarmos pela salvação de Jesus, Ele estende a mão e nos segura. Deus trata a incredulidade ou a dúvida com muita firmeza. Duvidar é ofender a Deus, para quem tudo é possível (Jo 20.24-29; Tg 1.2-8). Deus recompensa, isto é, galardoa, a quem se aproxima dele com fé (Hb 11.6). Observe que o Senhor espera que seu discípulo “exerça” fé. Os homens e as mulheres “heróis” da fé foram aceitos por Deus porque demonstraram fé, e não porque pediram fé. Não se deve confundir a fé para crer no poder de Deus, isto é, a fé que Deus espera que a exerçamos, com o dom da fé, concedida pelo Espírito Santo (1 Co 12.7). O dom da fé é uma capacitação sobrenatural, concedida a algumas pessoas quando se convertem. Esse dom tem a finalidade de suprir necessidades especiais na vida da Igreja ou no Reino de Deus (Ef 4.11-12). A fé que Jesus cobrou dos seus discípulos é aquela que deve ser exercida por todos para a salvação, ou no relacionamento pessoal de cada um de nós com Deus. Aplicação a sua vida: Deus está sempre pronto a nos atender. Você crê ou duvida? Mas, só depende da sua intimidade de fé com Ele para que você seja atendido! ADORANDO O SENHOR DE TODAS AS COISAS (Mateus 14.32-33) Aprecio muito o texto do hino 328 do Cantor Cristão, que diz: “Tais águas não podem a nau tragar, que leva o Senhor, Rei do céu e mar!”. Quando os discípulos perceberam o senhorio de Cristo sobre os ventos, sobre as ondas, enfim, sobre a tempestade, eles 158 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I transformaram o temor em adoração. Só Deus deve ser adorado. Ao reconhecerem que Jesus era o Filho de Deus, os discípulos confessaram também sua divindade. Ele foi adorado e recebido como o Filho de Deus. Crer que o Deus Eterno gerou um Filho entre os homens, é algo que aviva nossa fé e nos leva a experimentar o verdadeiro amor de Deus por nós. O exemplo de Jesus orando após o milagre da multiplicação dos pães, demonstra a necessidade de continuarmos a orar, mesmo após grandes manifestações do poder de Deus em nossas vidas. O fato de obedecermos a Jesus, não nos isenta de tragédias e adversidades. Nessas circunstâncias, devemos ter a certeza de que “Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente na angústia” (Sl 46.1). A desconfiança é uma atitude que desagrada e ofende a Deus. Sempre que houver perigo, Jesus virá em nosso socorro e, quando clamarmos “Senhor, salva-nos”, Ele estenderá a mão e, mesmo que nos repreenda, contudo nos livrará e conduzirá em segurança. Aplicação a sua vida: Você já confessou a Jesus como o verdadeiro Filho de Deus? Já O recebeu no seu coração como único Senhor, Salvador e Mediador? Então, adore-O sempre; louve-O sempre, independente das circunstâncias. Creia que Ele virá ao seu encontro em meio às tempestades da vida. Conclusão Precisamos ter sempre em mente que Jesus é Deus. Ele deve ser adorado e cultuado. Caso sua vida esteja como a daqueles homens, no meio do mar, açoitados pelo vento, clame também agora a Jesus para que o salve! ESTUDO 46 A MISSÃO PRECÍPUA DO DISCÍPULO DE CRISTO Mateus 28.18-20 INTRODUÇÃO Neste estudo, objetivamos chamar os discípulos de Cristo a uma releitura do Novo Testamento, à avaliação de como tem cumprido a ordem de Jesus para fazer discípulos. Vejamos, a seguir, exemplos de pessoas que causaram impacto na sua geração pelo cumprimento de sua missão precípua: No Século XIX, Edward Kimball se empenhou em discipular os alunos da EBD, e deu especial atenção a um jovem recém-chegado da roça (era Dwight L. Moody), que veio emocionar milhões de pessoas na América do Norte e na Europa com suas poderosas mensagens. Moody influenciou F. B. Meyer, que influenciou J. W. Chaman, que influenciou Billy Sunday. Liderado por Billy Sunday, um grupo de oração se empenhou em ganhar toda a cidade para Cristo. Durante as reuni- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mt 28.18-20 Sl 126.6 Jo 4.25-26 Js 1.8 Lc 14.26-33 Lc 6.12-13 Jo 15.8 ões nas quais pregava Mordecai Ham (o evangelista Cowboy), converteu-se Billy Graham. Essas experiências são comoventes, porém, muitas vezes, nos parecem de outra realidade que não a nossa ou, então, nos sensibilizam e nos constrangem, mas parecem não funcionar conosco. Então, nos perguntamos: Poderíamos também ser usados assim por Deus? E por que muitas pessoas não o conseguem? Teria Deus ainda hoje homens e mulheres que se tornariam poderosos instrumentos discipuladores em suas mãos? Waylon Moore, em seu livro “Multiplicando Discípulos”, diz que sim. Que Deus tem esses homens e mulheres hoje. E sabem quem são eles? Exatamente eu e você! Quer saber como? SAIA DO DISCURSO PARA A PRÁTICA (Mt 28.19): “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 159 | A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O Não me preocupo com a interpretação gramatical do texto bíblico, se é “ide e fazei” ou “indo, fazei”. O importante é que discípulos sejam feitos quando se foi ou quando se ia. Para se fazer discípulo, é preciso agir imediatamente. De nada vale fazer discursos, pregações e estudos sobre discipulado, se você não for. Enquanto você não agir, nada acontecerá. Há pessoas que discutem sobre quais são os métodos mais eficazes de fazer discipulado. Na verdade, é raro um método que não funcione. O melhor método é aquele que se pratica. Conhecemos uma senhora que fazia evangelização e discipulado escrevendo cartas a presidiários. Dezenas deles se converteram, inclusive o carteiro que levava e trazia as cartas. Houve um pastor que simplesmente saía, todos os dias, conversando com a vizinhança e muitas pessoas foram levadas a Cristo. Por isto, cremos que uma das melhores definições para discipulado é “relacionamento”. O resultado dos relacionamentos de discipulado é a construção de vidas para obedecer e viver com Deus. Se você obedecer a Jesus e for, Ele promete que estará com você todos os dias (Mt 28.20). A Bíblia nos assegura que, “aquele que leva a semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126.6). Então, deixe de “conversa mole” e haja! do com eles o Senhor, e confirmando a palavra com os sinais que se seguiram”. Amém. Aplicação a sua vida: na zona de conforto onde estamos, muitas são as vezes em que a rotina diária nos afasta de nossa missão. Como você pode conciliar sua missão à pratica diária? Os homens de Deus que investiram em vidas e nos seus sucessores tiveram a continuação de seu ministério. Exemplo: Moisés e Josué; Elias e Eliseu; Jesus e os seus apóstolos; Paulo e Timóteo. Diz-se que Barnabé foi o maior discipulador do Novo Testamento. Ele discipulou Paulo e João Marcos; e João Marcos escreveu o Evangelho de Marcos. Este evangelho INVISTA NA TAREFA DE FAZER DISCÍPULOS (Mc 16.20): “E eles, tendo partido, pregaram por todas as partes, cooperan160 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Observe que o texto diz “cooperando com eles o Senhor”. K. Bruce Miller diz: “Você despenderia o mesmo tempo, para se preparar a fim de atender as necessidades de uma pessoa, que usaria para se preparar a fim de pregar um sermão para cinco mil pessoas? Quanto você crê no potencial de uma pessoa? ”. Há muitos casos em que os discípulos de Cristo estão envolvidos na igreja com “ensaios” e reuniões para os mais diferentes objetivos, que até tem o seu valor, mas poucos resultam na produção de frutos e no cuidado para com os novos convertidos ou interessados no evangelho. Impressiona-nos o tempo que Jesus investiu no encontro com “a mulher samaritana”, mas principalmente com os seus discípulos que O acompanhavam. A samaritana se tornou a primeira missionária do Novo Testamento, conforme veremos num estudo mais adiante. Foi para ela que o Senhor fez uma das mais surpreendentes revelações de sua pessoa: “Eu sou o Messias, que fala contigo” (Jo 4.25-26). Horatius A. Bonar nos conclama a investir nossas vidas em favor dos perdidos e faz uma oração: “Senhor, ponha em nossos olhos as suas lágrimas, porque os nossos corações estão endurecidos. ” A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O serviu de fonte para Lucas e Mateus escreverem os seus evangelhos. Paulo escreveu treze cartas do Novo Testamento e foi um dos maiores missionários da história da Igreja. Waylon Moore diz que “quando a igreja exala discípulos inala convertidos; desta forma ela cresce. O discipulado é a forma mais rápida de multiplicar líderes que apressarão tanto a evangelização quanto o discipulado. ” Para tanto, é necessário o investimento de tempo, de recursos e de capacitação para discipular. O PREÇO DO DISCIPULADO (Mt 16.24) Billy Graham disse que “salvação é de graça, mas o discipulado custa tudo o que temos. ” Para Waylon Moore “discípulo é alguém que dá a sua vida pelos outros. ” Então, para cumprir sua missão precípua, o discípulo deve “pagar” os seguintes preços: a) Renúncia (Mt 16.24): Além de renunciar a si mesmo, cada discípulo de Cristo sofre perdas ou podas em áreas de sua vida que são infrutíferas. Então, ele precisa renunciar também aos “galhos infrutíferos de sua vida” (Jo 15.1-2). b) Crucificação diária (Lc 9.23): Já vimos anteriormente que a crucificação diária é o processo da santificação, ao qual todo discípulo de Cristo é submetido. Todo discípulo de Cristo precisa estar “crucificado com Cristo”, e não mais viver, mas Cristo viver nele (Gl 2.20). Sem crucificação diária não há discipulado. c) Tempo com Jesus (João 15.5): Discipulado não é algo mecânico ou “estratégico”. Discipulado é o resultado de como se vive em e com Cristo. Quando Jesus chamou os seus discípulos, Ele o fez “para | que estivessem com Ele” (Mc 3.14). O discípulo de Cristo tem que investir tempo para estar com Ele em oração, ouvindo e meditando na sua Palavra (Js 1.8). d) Tempo com o discipulando: Jesus investiu cerca de três anos com os seus discípulos. Ele sempre investia tempo naqueles que o procuravam. Exemplo: Nicodemos, Zaqueu, Maria e Marta, e muitos outros. Se discipulado é relacionamento, é necessário se ter tempo para investir naqueles que pretendemos discipular. Discipular é também construir vidas, e isto demanda tempo! e) Lágrimas (At 20.19; 2 Co 2.4; 2 Tm 1.4): Discipulado custa lágrimas. Paula fala das lágrimas que derramou por aqueles que ele evangelizou. Você terá de fazer as contas de “quanto custa” ser um discípulo de Cristo (Lc 14.26-33). John Knox orava, dizendo: ”Dáme a Escócia, senão eu morro! ” O discipulado é como o processo da gestação, do nascimento e do desenvolvimento de uma criança (Gl 1.19; Fm 1.10). Essa negligência de priorizar os novos convertidos tem levado muitos discípulos de Cristo a gerar frutos imperfeitos (conforme sua espécie), que gera outros frutos imperfeitos, uma geração doente (Lc 8.14). Muitas igrejas pagam um alto valor para realizações de mega shows, chamados de cultos, mas abandonam as criancinhas espirituais nos seus primeiros momentos de nascimento. Então, elas morrem ou se tornam “deficientes espirituais”. Convidamos você a pagar o preço do discipulado, gerando discípulos que estejam prontos a também pagarem o seu preço e prosseguirem para o alvo da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus. REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 161 | A M I S S Ã O P R E C Í P U A D O D I S C Í P U LO D E C R I S T O Aplicação a sua vida: para sermos discipuladores, temos um preço a pagar. Diante dos tópicos apresentados, a qual deles você precisa recorrer? A GERAÇÃO DE DISCÍPULOS MULTIPLICADORES (2 Tm 2.2) A recomendação de Paulo a Timóteo foi para que ele produzisse discípulos que fizessem outros discípulos. Discípulo que não se multiplica deixa de cumprir sua missão. Waylon Moore diz que “Este ministério perdurará através de toda a eternidade, se você investir na vida de indivíduos que, por seu turno, se disponham a alcançar outros, que alcançarão outros”. Como isto pode acontecer? Comece imediatamente, ainda hoje! Aplicação a sua vida: você pode considerar-se como parte de uma geração de discipuladores? O que você precisa buscar ou deixar para ser um discipulador? 162 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Sugestão: Faça uma lista de novos decididos, parentes não crentes, amigos e vizinhos, e experimente visitá-los, orar por eles e se relacionar com eles. Você terá uma grande surpresa: eles estão interessados na salvação deles, sim! Este foi o método de Jesus. Por que há pessoas que querem fazer diferente? Seriam elas mais sábias do que Jesus? Conclusão Quando Jesus chamou os seus discípulos, Ele disse que os faria “pescadores de homens”. Da mesma forma, ao despedir-se deles, recomendou que fossem e fizessem discípulos, que pregassem o evangelho e que fossem suas testemunhas. A missão do discípulo é fazer outros discípulos. Quem assim não está agindo está fora da missão, fora de foco. Então, não há mais desculpa e nem tempo a perder. Obedeça a Jesus e comece a cumprir sua missão ainda hoje! ESTUDO 47 O DISCÍPULO QUE LEVA O IRMÃO A JESUS João 1.35-51 INTRODUÇÃO Nos versículos 35 – 37 João Batista apresenta Jesus como o Cordeiro de Deus. O testemunho de João (de que Jesus era o Cordeiro de Deus) levou aqueles discípulos a deixá-lo e seguir a Jesus. André figura como um dos primeiros discípulos a se interessar por Jesus. A Bíblia fala pouco sobre a atividade apostolar desse irmão de Pedro, porém o que ele fez ao seu irmão serviu de exemplo para um dos princípios do discipulado, conforme veremos mais adiante. O testemunho de João nos impressiona pela sua despretensão pessoal. Desde a primeira vez que viu Jesus, chamou a atenção para a importância do Senhor, sem se importar que os seus discípulos o deixassem e seguissem a Jesus. João tinha o sentimento de que devia diminuir e Jesus crescer (Jo 3.26-30). Este é um dos mais nobres sentimentos que podemos cultivar em relação ao próximo: Diminuir para que o outro cresça! Uma das principais funções do discipulado é apresentar o Cordeiro de Deus aos homens. O foco do discipu- Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Jo 1.35-51 Jo 3.26-30 At 2.37-41 1Co 1.27-29 Gn 28.12-13 Ef 3.20 Jo 13.7 lado deve ser a pessoa de Jesus e não a pessoa do discipulador. João apresenta detalhes, não descritos pelos demais evangelhos, da chamada dos discípulos. Um desses detalhes diz respeito ao modo como André conheceu Jesus e como levou o seu irmão (Pedro) a conhecer o Senhor. Da mesma forma aconteceu com Filipe, que falou de Jesus para Natanael. É sobre a importância de levarmos outros a Jesus que tratamos no presente estudo. ESTÁ EM COMPANHIA DE JESUS (Jo 1.38-39) Por estes versículos, fica evidente que Jesus estava residindo em uma casa, e não era como há quem pense, que ele não tivesse uma residência, vivendo a perambular pelo mundo. O convite de Jesus é para uma experiência pessoal: “Vinde, e vereis”. O texto diz que eles passaram o resto do dia com Jesus. Deve ter sido uma tarde maravilhosa estar na companhia de Jesus! O maior desejo de Jesus é que REFLEXÕES BÍBLIC BÍBLIC AS AS II II REFLEXÕES 163 || 163 | O D I S C Í P U LO Q U E L E V A O I R M Ã O A J E S U S tenhamos comunhão, sejamos um com Ele, assim como Ele é um com o Pai (Jo 17.21). Jesus convidou aqueles dois discípulos para irem com Ele e verem onde Ele morava. Aliás, Ele diz que está à porta do nosso coração e bate. Quando abrimos a porta Ele entra, ceia conosco e nós com Ele (Ap 3.20). LEVANDO O IRMÃO A JESUS (Jo 1.41-42) André compartilhou com Simão o seu “grande achado”. Aquele não era um achado comum. Era uma esperança alimentada desde o Jardim do Éden, quando Adão e Eva pecaram (Gn 3.15), esperança essa reafirmada na promessa a Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, a todo o povo de Israel, e anunciada pelos profetas. Essa notícia deve ter “eletrizado” Simão. O passo seguinte foi ainda mais importante: diz que André o levou a Jesus. Que bênção extraordinária é levar um membro da família a Jesus! É dessa experiência que surgiu a “Operação André”, em que cada pessoa é desafiada a levar alguém a Cristo. Mais tarde, Simão veio a ser instrumento divino para conduzir quase três mil pessoas a Jesus, num só dia (At 2.37-41). Ao encontrar-se com Jesus, Simão teve o seu nome mudado para Cefas (em aramaico) ou Pedro (em grego). Ambos significam “pedra”. Simão significa “audição”. Desse modo, o Senhor lhe dava um novo significado ao seu nome a partir daquele dia. A lição principal aqui é que todo aquele que conhece Jesus como Salvador deve ser instrumento d’Ele para conduzir outros à salvação. Aplicação a sua vida: sempre que experimentamos algo bom, queremos contar para pessoas que amamos, a fim de que todos possam desfrutar. Quando, pela última vez, você levou alguém a Cristo? ACEITA O CONVITE E SEGUE A JESUS (Jo 1.43-49) João nos descortina que Jesus teve um encontro com os seus discípulos an164 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I tes de chamá-los para o apostolado. Esses contatos foram logo após Jesus ser batizado por João e este ter testemunhado que Jesus era o Cordeiro de Deus. A continuação do texto bíblico menciona outros encontros de Jesus com pessoas que vieram mais tarde fazer parte do grupo de apóstolos. Em Jo 1.43, vemos que Filipe teve o chamado especial de Jesus para segui-lo. O mesmo convite é feito a cada um de nós. Jesus tem um plano especial para cada pessoa no seu reino. Talvez você não venha a ser o destaque que foi Pedro, Tiago ou João, entretanto, do mesmo modo como Filipe foi chamado a fazer parte dos doze que seguiam a Jesus, também você é convidado agora a ser um discípulo, isto é, seguidor de Jesus. A seguir, vemos como Filipe também foi instrumento divino para levar Natanael a Cristo. Filipe se torna um evangelista e discipulador de primeira mão (Jo 1.45). Ele compartilha que acabara de achar “aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José”. Primeiramente, Filipe demonstra conhecimento das escrituras e, em seguida, afirma ter achado o Messias prometido. Esse “achado” não é algo comum, pois trata-se do cumprimento de uma promessa feita há séculos e referida nos escritos do Antigo Testamento. Afirmar que havia achado Aquele de quem falaram Moisés e os profetas era algo que revolucionaria a vida daqueles homens! Porém, Natanael tinha uma mente inquiridora, investigativa e duvidou que pudesse vir alguma coisa boa de Nazaré (Jo 1.46). Ele desconfiava de que uma promessa tão auspiciosa pudesse estar se cumprindo naquele momento e vindo de um lugar sem tradição profética (Jo 7.52). É nesse ponto que Deus diz confundir os sábios na sua sabedoria (1 Co 1.27-29) e, “onde foi dito: Vós não sois meu povo, se lhes dirá: Vós sois os filhos do Deus vivo” (Os 1.10). Entretanto, apenas como curiosidade, os fariseus estavam equivocados quanto a vir profeta da Galileia, porque Jonas era de Gate-Hefer, cidade da Gali- O D I S C Í P U LO Q U E L E V A O I R M Ã O A J E S U S leia (2 Rs 14.25). Filipe não entra na provocação de Natanael e o convida para vir e ver Jesus. Não existe argumento maior na evangelização e no discipulado do que levar a pessoa a se relacionar diretamente com Jesus. TORNA-SE DISCÍPULO SEM DOLO (Jo 1.47) A primeira palavra de Jesus sobre Natanael foi que ele era um verdadeiro israelita em quem não havia dolo. Ele não era um trapaceiro e nem corrupto. Ele era sincero na sua vida com Deus, apesar de ainda não conhecer Jesus. Imagine como seria eu e você sermos assim apresentados por Jesus! Esta declaração intrigou Natanael, que perguntou a Jesus de onde ele o conhecia (Jo 1.48). Jesus novamente o surpreende ao dizer que o conhecia antes que Filipe o chamasse, quando ele estava debaixo da figueira. A reação seguinte de Natanael comprova seu grau de discernimento espiritual (Jo 1.49), pois, de pronto, ele confessa que Jesus é “o Filho de Deus, o rei de Israel”. Deus procura homens e mulheres verdadeiros, sinceros e honestos para fazerem parte do seu grupo de discipulado. Aplicação a sua vida: Acrescentamos ainda que esse encontro de Natanael com Jesus, em primeiro lugar, demonstra o poder de Jesus em conhecer os nossos sentimentos e atitudes. Possivelmente, Natanael estava meditando, quando Jesus diz tê-lo visto debaixo da figueira. O elogio de Jesus, de que Natanael era um verdadeiro israelita, em quem não havia dolo, constitui-se num desafio para cada um de nós. Valeu a pena Natanael ser um homem honesto. Todas as nossas atitudes de fidelidade, honestidade etc., são consideradas pelo Senhor. O que Jesus diria a nosso respeito se tivesse que falar sobre nossa honestidade? TEM UMA VISÃO ESPECIAL (Jo 1.50) Natanael creu que Jesus era “o Filho de Deus, o rei de Israel”. Surpreende-nos | que Natanael conhecesse o conceito de “Filho de Deus”, pois, Jesus ainda não havia revelado isto ao mundo. As palavras seguintes de Jesus apontam para o fato de que a reação de Natanael foi o produto da fé e, deduzimos, uma revelação especial de Deus naquele momento. Jesus, então, lhe assegura que seus discípulos veriam “o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem”. Deus honra a nossa fé. Esta palavra de Jesus tem a ver com a experiência de Jacó, quando fugia de Esaú, o qual, dormindo, viu uma escada na qual os anjos subiam e desciam (Gn 28.12-13), mas aponta também para a obra expiatória de Cristo e para o seu retorno a este mundo em glória (Jo 14.6; Mt 25.31). Mais tarde, Jesus assegurou que seus discípulos fariam obras grandiosas (Jo 14.12). Paulo diz que o que Deus reserva aos que o amam está acima da capacidade do conhecimento humano (1 Co 2.9). Deus quer dar uma visão especial a cada um de nós, não no sentido de uma nova revelação, mas nos levar a conhecer e desfrutar bênçãos, realizar obras que estão acima do que pedimos ou pensamos (Ef 3.20). Há muita coisa revelada que não entendemos agora, mas o Espírito Santo nos conduzirá a toda verdade e nos ajudará a compreendê-las depois (Jo 13.7). Conclusão O modo como João Batista falou de Jesus para os seus discípulos, mostra o quanto ele era despretensioso e humilde. Os discípulos de João, ouvindo o seu testemunho a respeito de Jesus, resolvem segui-lo e passam um fim de tarde com Ele. O texto diz que André levou o seu irmão a Jesus, Filipe testemunhou para Natanael e o convidou a vir e ver o Senhor. Foi uma sucessão de atos em que um discípulo falava de Jesus para o outro, experiência essa que bem caracteriza o processo de discipulado. Que este estudo tenha levado você a se empenhar em levar outros a Jesus! REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 165 ESTUDO 48 A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA João 4.1-30 e 7.37-39 INTRODUÇÃO Este estudo está baseado no encontro de Jesus com a “mulher samaritana”. Ele se reveste de especialidade incomum por causa do modo da abordagem e o tempo que lhe foi dedicado pelo Senhor, bem como pela revelação que Jesus lhe fez de sua pessoa como o Messias prometido e, ainda, pelo resultado produzido na vida daquela mulher, indo anunciar aos samaritanos que o homem que ela havia encontrado podia ser o Cristo. Ela se tornou a primeira discípula do Novo Testamento. O VALOR DE UMA VIDA PARA JESUS (Jo 4:3-4) No verso quatro João diz que “era necessário” Jesus passar por Samaria. O significado é que lhe era moralmente necessário. Os judeus não se comunicavam com os samaritanos (v. 9) por questões 166 166 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Jo 4:3-4. Jo 4.6. Jo 4.7 Jo 4.11-14 e 7.37-38. Jo 4.15-18. Jo 4.19-24 Jo 4.25-26 - Jo 4.28-29. políticas e religiosas. É que Samaria foi a capital do Reino do Norte, enquanto que Jerusalém foi a capital do Reino do Sul. Essa divisão aconteceu a partir do reinado de Roboão, filho de Salomão, que se negou a ouvir o pedido de alívio dos impostos feito pelo povo. Jeroboão, filho de Nebate, foi eleito rei das dez tribos dissidentes e elegeu Samaria como a capital do “novo reino”; fez bezerros para o povo adorar, receoso de que o mesmo o abandonasse, para vir adorar a Deus no templo em Jerusalém (1 Rs 12.1-33). Jesus estava acima dessa “pendenga” político-religiosa; Ele veio para todas as ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt 15.24). Ali havia uma vida que tivera cinco casamentos desfeitos, porém poderia se tornar um instrumento d’Ele para levar sua mensagem de amor aos demais samaritanos. Era-lhe necessário passar por Samaria e revelar-se como o Messias prometido, conforme veremos mais adiante. A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA | APROVEITANDO BEM CADA OPORTUNIDADE (Jo 4.6) Jesus se utiliza do momento e das circunstâncias para revelar à samaritana que Ele é a água viva que dessedenta a cada pessoa. Ali havia um poço “dado” por Jacó (v. 12), do qual, segundo a samaritana, ele mesmo bebera e dera de beber ao seu rebanho. Jesus se vale da oportunidade para ensinar que só Ele pode dar a verdadeira água ao seu rebanho. Outro detalhe do v. 6 é que Jesus estava cansado e sentou-se. Isso mostra a humanidade de Jesus e o exemplo de que também devemos separar tempo para o descanso do corpo. Jesus sabia o que era ter fome e cansaço; Ele podia experimentar todos os sentimentos do ser humano, a fim de poder ajudá-lo (Hb 4.15-16). Aplicação a sua vida: podemos observar que toda oportunidade é válida para sermos discípulos de Jesus e levarmos a mensagem salvadora a todos. Como você tem se apropriado desse privilégio e falado do nosso Deus, que é água viva? A SEDE E A FOME DE JESUS (Jo 4.7) Jesus pediu de beber à samaritana. Com qual propósito você pensa que Jesus lhe pediu de beber? Comparar com o v. 10. O desdobramento do relato bíblico mostra que foi para que a mulher soubesse quem era que lhe fazia aquele pedido e lhe pedisse da água viva. Quando o Senhor foi crucificado, também disse que tinha sede (Jo 19.28). Cada palavra ou ação de Jesus tinha uma aplicação circunstancial, mas apontava também para realidades espirituais e eternas. Isto fica claro quando os discípulos tendo voltado da cidade, onde foram comprar pão, insistiram para que Jesus comesse, mas Ele falou de uma comida que eles não conheciam. Ante a dúvida dos discípulos, Ele disse que sua comida era fazer a vontade do Pai (Jo 4.8 e 31-34). A maior sede de Jesus naquele momento, assim como na cruz, não era pelo líquido físico, mas por alcançar e salvar vidas sedentas da água da vida. Como você percebe, o método de evangelização de Jesus é ilustrativo: o poço, as montanhas, a diferença política e religiosa entre samaritanos e judeus, a situação conjugal da mulher etc. De cada situação, Jesus fazia um motivo para usar de sua pedagogia, sempre apontando para realidades espirituais. Aplicação a sua vida: o mundo tem sede e fome. Esse é um fato que acompanha a humanidade. Temos experimentado na atualidade a baixa em nossas reservas de água. Como você tem usado os recursos da natureza e aproveitado para anunciar a Jesus como manancial inesgotável? CANAIS DA FONTE ETERNA (Jo 4.11-14 e 7.37-38) Jesus é a fonte da água da vida, mas espera que sejamos os canais através de quem essa água jorre. Para que isto aconteça é necessário crer em Jesus (Jo 7.37-38). O verso seguinte (39) explica que Jesus estava se referindo àqueles que haviam de crer n’Ele e, portanto, receberiam o Espírito Santo. Jesus, além de salvar-nos da condenação eterna, dános vida abundante (Jo 10.10) e faz de nossas vidas verdadeiros canais de água viva. Aquele que é salvo por Jesus se torna uma referência da fonte eterna, que é o próprio Jesus. Neste caso, esses canais, conectados a Jesus, devem chegar a outros que tem sede. Daí a importância de transmitirmos aos outros aquilo que teREFLEXÕES BÍBLIC AS II | 167 | A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA mos recebido, isto é, praticar o discipulado. COMPROMISSO COM A VERDADE (Jo 4.15-18) Assim que a samaritana demonstrou interesse pela água viva, Jesus a confrontou com a verdade: “Vai, chama o teu marido e vem cá”. A samaritana abriu o coração, revelando não ter marido e Jesus disse que ela falou a verdade. A Bíblia diz que Deus ama a verdade no íntimo (Sl 51.6). Aquela mulher viu que não podia esconder a verdade de Jesus. Ela havia alimentado a esperança de um lar, de uma família, de um marido. Cinco vezes se casara e cinco vezes tivera que enfrentar a realidade de uma separação. Não sabemos quem fora o culpado, mas com toda certeza, ela era uma pessoa muitas vezes ferida. Possivelmente, tenha ferido outros também. A pessoa com quem vivia agora não era o seu marido. Era um relacionamento ilegal. Ao falar a verdade, viu que Jesus já sabia como era a sua vida. Deus nos conhece, mas espera que confessemos os nossos pecados, as nossas fraquezas. A samaritana reconheceu que Jesus era profeta e tratou logo de desviar o foco da conversa para a polêmica sobre o verdadeiro lugar de adoração. Foi neste ponto que Jesus lhe fez uma extraordinária revelação. Aplicação a sua vida: podemos observar que a mulher samaritana abriu o coração para Jesus e foi verdadeira em suas afirmações. Quantas são as vezes que, por medo das consequências ou perda de privilégios, tentamos mudar a verdade ou mentimos deliberadamente? Reflita neste momento e peça perdão a Deus, assumindo novo compromisso com a verdade. 168 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I O VERDADEIRO ADORADOR (Jo 4.1924) Jesus afirma que Deus procura adoradores verdadeiros. Ele não se impressiona com a formalidade, com a liturgia ou com a aparência. Ele olha para o coração. Nossa motivação para adorar é o que fala mais alto para Deus. Encontramos na Bíblia, diversos exemplos de como adorar a Deus em espírito e em verdade (Sl 51.17; Lc 18.10-14). Deus quer humildade e quebrantamento daqueles que se propõem a adorá-lo. Ele procura aqueles que assim estão adorando-O. Isso era diferente, tanto para os samaritanos quanto para os judeus, que estavam afeitos a questões da forma e não da essência da adoração. O que mais os impressionava é que Jesus fez esta revelação particularmente a uma mulher, e esta era uma samaritana. Não foi para uma multidão, nem mesmo para os apóstolos. O assunto se tornou cada vez mais interessante e a samaritana falou de algo que era comum a samaritanos e judeus: a esperança do Messias. Aplicação a sua vida: ser adorador é estilo de vida. Deus tem buscado adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Como tem sido sua adoração? DIANTE DO MESSIAS (Jo 4.25-26) Neste ponto, novamente Jesus nos surpreende. Ele diz para a samaritana que ela está diante do Messias: “Sou eu que falo contigo”. Aquela mulher era uma fracassada em cinco casamentos e vivia com um homem que não era seu marido. Como dissemos no ponto anterior, esta revelação tão sublime não foi assistida por seus discípulos, nem por mais ninguém. As palavras de Jesus se asse- A PRIMEIRA DISCÍPULA MISSIONÁRIA | melham às que Deus disse a Moisés no Monte Sinai: “EU SOU” (Ex 3.14). Elas caíram no coração da samaritana de modo transformador. Visto ser conhecedora de tão especial revelação, ela agora tinha uma missão. MISSÃO INADIÁVEL (Jo 4.28-29) O impacto de Jesus na vida da samaritana foi tão grande que ela deixou de lado o seu objetivo de buscar água, e ainda abandonou o cântaro. Seu testemunho na cidade foi tão convincente que uma grande multidão a acompanhou para vir a Jesus. Dessa maneira, ela se tornava a primeira missionária do Novo Testamento. Jesus investiu nela, revelouse como o Messias prometido a Israel, e possibilitou à samaritana ser a primeira mulher a levar a uma cidade o anúncio de ter encontrado o Cristo. Jesus quebra preconceitos e paradigmas. De fato, Deus não faz acepção de ninguém e pode usar qualquer pessoa para se tornar um canal por onde jorre a água da vida eterna. A samaritana teve uma revelação particular de Jesus, quando este lhe afirmou que Ele era o Messias prometido a Israel. Isso se reveste de uma importância toda especial. É singular também que uma mulher tenha saído a pregar que teria encontrado o Messias, e isso para samaritanos. Nesse sentido, vemos esta mulher como a primeira missionária a ter uma revelação direta de que Jesus era o Messias, e voltar para anunciar essa grande descoberta. Aplicação a sua vida: ser adorador é estilo de vida. Deus tem buscado adoradores que O adorem em espírito e em verdade. Como tem sido sua adoração? Conclusão Cada pessoa que tem um encontro pessoal com Jesus deve ser portadora dessas boas novas, inclusive com a plena convicção de que Jesus é o Filho de Deus, o Senhor e Salvador do Mundo, o Messias prometido. Seja você também um discípulo missionário! REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 169 ESTUDO 49 O DISCÍPULO RICO PARA COM DEUS Lucas 12.13-21 INTRODUÇÃO Humanamente falando, o conceito de riqueza ou de pobreza é avaliado pela renda pessoal ou per capta de uma família. Dessa forma, temos as classes A B, C, D ou E. Não importa como você é classificado socialmente, mas como Deus o vê. A conceituação divina difere da humana. Pensando nisto, considere o seguinte: qual é sua maior riqueza? Sinceramente, o que tem tido maior valor na sua vida? E mais: qual é a maior preocupação dos pais em relação aos seus filhos hoje? Em que as pessoas hoje investem mais tempo? Porém, a pergunta mais contundente é: como vai sua alma? Este texto nos convida a reavaliarmos nossos valores. Ele inicia-se com um pedido equivocado de alguém dentre os ouvintes de Jesus, querendo que o Senhor ordenasse que o irmão dele repartisse a herança com ele. Após questionar aquele homem sobre quem o teria colocado como juiz entre o povo, Jesus conta “a parábola do rico 170 170 || RR EE FF LL EE XÕ XÕ EE SS BB ÍÍ BB LL II CC AA SS II II Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 12.13-21 Tg 4.14 1 Tm 6.17-19 Sl 128.1-2 Mt 7.24-27 Ap 3.18 At 17.30 insensato”. Vejamos os ensinos que podemos aprender sobre o que seria um discípulo rico para com Deus. NÃO TEM O FOCO NA HERANÇA TERRENA (Lc 12.13-14): “E disse-lhe um da multidão: Mestre, dize a meu irmão que reparta comigo a herança. Mas ele lhe disse: Homem, quem me pôs a mim por juiz ou repartidor entre vós?” Observe que Jesus estava instruindo seus discípulos sobre a missão deles neste mundo (Lc 12.11-12). O homem ouvia Jesus, mas seus pensamentos estavam na herança terrena. O objetivo dele em seguir a Cristo era totalmente equivocado. Deus é justo nas questões do direito, mas seu foco é o reino em primeiro lugar (Mt 6.33). Quando o nosso foco está nas “heranças” desta vida, perdemos a visão de Deus, como a pessoa em questão que pediu para Jesus intervir na divisão de herança familiar. Jesus disse O D I S C Í P U LO R I C O PA R A C O M D E U S | que onde estiver o nosso tesouro (isto é, nossa herança) aí estará o nosso coração (Lc 12.34). Aplicação a sua vida: nossas necessidades pessoais são tantas que envolvem todo o tempo que temos. O mundo está cada dia mais informatizado e confortável, assim, estamos precisando trabalhar mais para ter mais. Perdemos a vontade de ser alguém significativo para ter algo significativo. Nesse momento de sua vida, onde estão concentrados os desejos de seu coração? TEM SUA ESPERANÇA EM DEUS (Lc 12.15): “E disse-lhes: Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; porque a vida de qualquer não consiste na abundância do que possui.” A Bíblia nos faz uma pergunta existencial: “O que é a vida?” (Tg 4.14). Paulo diz que, se esperamos em Cristo só nesta vida, somos as mais miseráveis de todas as pessoas (1 Co 15.19). A consistência da vida está na esperança em Deus (Sl 42.5; Hb 10.23). A resposta à pergunta existencial é: a vida consite em estar em Cristo e viver n’Ele (Gl 2.20). Caso contrário, é ser mais que pobre, é ser miserável! Aplicação a sua vida: aqui vale a pergunta: onde está a sua esperança? Qual seu relacionamento com Deus? Em que consistem seus pedidos? EXPERIMENTA A VERDADEIRA RIQUEZA (Lc 12.19-21): “E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga. Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será? Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” A verdadeira riqueza é ser rico para com Deus. A verdadeira riqueza é a que Jesus nos dá (2Co 8.9). A verdadeira riqueza é a acumulada no céu (Mt 6.19-20). A verdadeira riqueza é ser herdeiro de Deus e co-herdeiro de Cristo (Rm 8.17). A verdadeira riqueza é a da fé (1 Tm 6.17-19). Não importa como você é classificado socialmente, mas como é classificado por Deus. Disto independe sua posição social neste mundo. O fato de ser rico materialmente não significa que seja pobre espiritualmente e vice-versa. A questão está no que ou em quem você põe sua confiança. E os discípulos se admiraram destas palavras de Jesus; mas Ele, “tornando a falar, disse-lhes: Filhos, quão difícil é, para os que confiam nas riquezas, entrar no reino de Deus!” (Mc 10.24). E você, é rico ou pobre? EVITA AS RIQUEZAS ILUSÓRIAS (Lc 12.19): “E direi a minha alma: Alma, tens em depósito muitos bens para muitos anos; descansa, come, bebe e folga.” O que seria uma riqueza ilusória? a) Riqueza fácil: Ela é contrária à ordem Divina (Sl 128.1-2; Gn 3.19). O trabalho honesto foi o meio estabelecido por Deus para o ser humano viver bem e ser feliz. b) Expedientes humanos escusos aos olhos de Deus: O discípulo de Cristo deve ter pesos justos e balanças justas, porque o nosso Deus é justo e ama a justiça (Lv 19.36; Pv 11.1; 20.23; Sl 11.7). Precisamos ter cuidado também com os subterfúgios e as desculpas esfarrapadas, para justificar palavras e ações dolosas. c) Amor ao dinheiro (1Tm 6.10): O nosso amor deve ser a Deus e ao próximo. O amor ao dinheiro contribui para pensamentos e atitudes que resultam em males para a própria pessoa, para a família e para a sociedade. O dinheiro é REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 171 | O D I S C Í P U LO R I C O PA R A C O M D E U S necessário, mas não deve ser o principal foco de qualquer pessoa. Riquezas ilusórias não estão apenas na esfera material. Estão também no sentido moral, educacional, familiar, profissional etc. Cabe a cada um de nós avaliar as motivações da vida e detectar se elas são verdadeiras ou ilusórias. Aplicação a sua vida: em um país com tantas injustiças e impunidades, muitas vezes somos levados a buscar caminhos mais curtos e fáceis para conquistar nossos sonhos. Como temos trabalhado com essas riquezas ilusórias que se apresentam a nós todos os dias? É O SÁBIO (Lc 12.20): “Mas Deus lhe disse: Louco! esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” Para Deus, viver somente para esta vida é loucura. Isto nos faz lembrar de outra parábola contada por Jesus sobre a pessoa sábia e a pessoa louca (Mt 7.24-27). O louco é quem ouve a palavra de Deus e não a cumpre. Ele é comparado a quem constrói a casa sobre a areia, a qual não suporta as intempéries da vida. O sábio é quem ouve a palavra de Deus e a cumpre. Ele é semelhante a quem constrói a casa sobre fundamento sólido, a qual não é sequer abalada pelas tempestades deste mundo. Ouvir e praticar a palavra de Deus é construir a casa para a eternidade. Já vimos anteriormente que, quem espera em Cristo somente nesta vida, é a mais miserável de todas as criaturas (1 Co 15.19). Precisamos nos lembrar de que nossa vida está nas mãos de Deus e vivemos na dependência d’Ele. Lc 12.21 diz: “Assim é aquele que para si ajunta tesouros, e não é rico para com Deus.” Por estas palavras de Jesus, vemos que há quem seja rico para com os ho172 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I mens, mas não é rico para com Deus. A Igreja de Laodiceia era assim (Ap 3.17). Aqueles cristãos se consideravam ricos, mas Jesus os considerava desgraçados, e miseráveis, e pobres, e cegos, e nus. Certamente, nenhum de nós gostaria de ter uma avaliação divina assim. Todos queremos ser ricos para com Deus. Então, precisamos ouvir os conselhos de Jesus (Ap 3.18): “Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas”. Isto demanda uma profunda avaliação de como estamos diante de Deus e sincero arrependimento (At 17.30). É preciso pôr o foco ou os olhos em Jesus, conforme vimos em estudo anterior. Aplicação a sua vida: uma pergunta muito oportuna neste momento é a seguinte: Que bem eterno você está propiciando à sua alma com o estilo de vida que tem levado? Deus lhe pergunta: “Se hoje” sua alma for pedida, para quem será o que você tem preparado? Qual é sua resposta? Conclusão Nossa busca a Jesus não deve ser por motivos interesseiros. A prudência da vida precisa conduzir-nos a priorizar os valores eternos, uma vez que a vida é passageira e não podemos levar nada deste mundo. A ambição pela riqueza pode levar-nos ao afastamento de Deus e à supervalorização dos bens materiais, em detrimento dos valores morais. Está na hora de você adquirir realmente uma grande riqueza. A recomendação do Senhor é o arrependimento e o redirecionamento dos olhos unicamente para o Reino de Deus e sua justiça (Mt 6.33). ESTUDO 50 O DISCÍPULO E SUA FIDELIDADE Lucas 19.11-27 Introdução Neste texto Jesus demonstra que, apesar do seu “reino” não ser “deste mundo” (Jo 18.36), contudo foram dados “dons aos homens” (Ef 4.8), e eles darão conta desses dons quando da segunda vinda do Senhor a este mundo. O Senhor ilustra estas verdades através da “parábola das dez minas”. Em Mt 25.14-30 temos uma parábola similar, sendo que ali são mencionados “talentos”. É possível que as duas parábolas tenham sido contadas mesmo em diferentes ocasiões e com detalhes diferentes, mas os “evangelistas” Lucas e Mateus as adaptaram em seus livros. DIANTE DA PROXIMADE DO REINO DE DEUS (Lc 19.11): “E, ouvindo eles estas coisas, Ele prosseguiu, e contou uma parábola; porquanto estava perto de Jerusalém, e cuidavam que logo se havia de manifestar o reino de Deus.” Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Lc 19.11-27 Mt 13.31-33 Mt 14.13-21 1 Co 15.57-58 Lc 19.20-21 Mt 15.7-9 Ec 9.10 Muitas pessoas esperavam que Jesus estabelecesse um reino político e terreno. Porém, Jesus contou esta parábola apontando para as dimensões espirituais do Reino de Deus, bem como para a responsabilidade pessoal de todo aquele que tem recebido “minas” ou “talentos” de Deus. É verdade que o Reino de Deus já havia chegado, mas sua consumação ainda se daria na segunda vinda de Cristo (Lc 10.9, 11; 13.29). Todos devemos buscar o Reino de Deus, isto é, o domínio divino sobre nossas vidas. Porém, haverá um dia em que todos os reinos do mundo virão a ser de Cristo, quando todo o império do mal e da morte for aniquilado (Ap 11.15; 1Co 15.26). Jesus nos advertiu sobre os sinais que apontariam para a proximidade desse reino (Lc 21.31). A incidência crescente de terremotos, tsunamis, epidemias e guerras confirma o cumprimento dos sinais da volta de Cristo. Realmente o Rei Eterno se aproxima. Preparemo-nos! REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 173 | O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E Aplicação a sua vida: diante da afirmativa de que fazemos parte do reino de Deus estabelecido por Cristo, como você está atuando diante da proximidade da Sua volta para nos buscar? DIANTE DAS IMPLICAÇÕES DA VOLTA DE JESUS (Lc 19.12): “Disse pois: Certo homem nobre partiu para uma terra remota, a fim de tomar para si um reino e voltar depois”. Comparar com At 1.11. É maravilhoso saber que Jesus veio libertar-nos do reino das trevas para a sua maravilhosa luz, e do poder de Satanás para o poder de Deus (At 26.18). Agora pertencemos a Jesus e ao seu Reino. Entretanto, Pedro diz que essa libertação tem uma implicação: “Anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). Desse modo, “o reino” agora é tomado através de nós, os discípulos de Cristo. Sendo assim, daremos contas da missão e dos benefícios recebidos: “E muito tempo depois veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles” (Mt 25.19). Por este texto, fica evidente que a volta de Jesus será também para o “acerto de contas”. Entendemos que, em relação aos salvos, o acerto é para conceder galardão (Ap 22.12) porém, quanto aos perdidos, o acerto é para o julgamento final. Cada pessoa neste mundo recebe bênçãos divinas, mas cada uma é responsável e haverá de prestar contas. Mais adiante, veremos que Jesus elogiou aqueles que foram fiéis no sentido de bem administrar o que receberam. DIANTE DA RECOMPENSA Os textos bíblicos a seguir apontam para a recompensa à fidelidade de cada discípulo de Cristo ao que tiver recebido d’Ele: 174 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I a) Investimento dos bens recebidos (Lc 19.13): “E, chamando dez servos seus, deu-lhes dez minas, e disse-lhes: Negociai até que eu venha”. O discípulo de Cristo deve “negociar” o que recebeu até que Ele volte. A palavra grega para “negociai” é “pragmateuomai”, e tem a ver com “estar ocupado com algo; exercer um negócio de banqueiro ou comerciante”. A ideia é que dádivas divinas não são para o nosso benefício exclusivo, nem mesmo para devolvermos apenas o que tivermos recebido. “Minas” (certa quantia em dinheiro (v. 15); um valor não muito alto), contrastando com “talentos” (cada talento pesava 30 kg de prata). A proposta de Jesus para o Reino de Deus é de algo que começa pequeno e se expande. Foi assim na comparação com o grão de mostarda e com o fermento (Mt 13.31-33). O próprio Jesus tomou cinco pães e dois peixes, e alimentou cinco mil homens além das mulheres e crianças (Mt 14.13-21). Também, ao iniciar o seu ministério terreno, convocou apenas doze discípulos que deveriam ser testemunhas por todo o mundo. A questão não é o que ou quanto temos recebido, mas nossa fidelidade para com o que nos foi confiado. b) A multiplicação esperada (Lc 19.16, 18): “E veio o primeiro, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu dez minas. (...) E veio o segundo, dizendo: Senhor, a tua mina rendeu cinco minas”. O primeiro teve resultado decuplicado; o segundo quintuplicado. Tanto na “parábola dos talentos” quando na “parábola das minas¨, o resultado foi a multiplicação dos recursos recebidos. Não podemos devolver apenas o que nos foi confiado (muito menos não devolver nada). Aqui, uma mina rendeu dez minas, e a outra rendeu cinco. Jesus disse que “nisto é glorificado o meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8). Isaías previu que o O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E | menor viria a ser mil (Is 60.22). E, na parábola do semeador, o que produziu menos, produziu trinta. A fidelidade não consiste em devolver qualquer coisa, mas de modo multiplicado. c) Aplicação dos bens recebidos (Lc 19.23): “Por que não puseste, pois, o meu dinheiro no banco, para que eu, vindo, o exigisse com os juros?”. Aqui temos a revelação de que, naquele tempo, havia bancos, aplicações, juros etc. Jesus pergunta ao servo infiel: “por que não puseste, pois o meu dinheiro no banco para que o recebesse com juros quando voltasse? ” Excelente lição de aplicação dos recursos recebidos onde dá resultado. Isto significa que tudo o que Deus nos dá deve ser ampliado e produzir resultados; e daquilo que temos recebido, multiplicar e expandir. Vale salientar que aquele senhor não recriminou o servo que só trouxe cinco minas (a metade do primeiro). A ambos recompensou na proporção que produziu. A cada um dos dois primeiros servos aquele senhor tratou de “servo bom e fiel” que, pelo fato de ter sido fiel no pouco, receberia a recompensa maior. O texto de Mateus diz: “Entra no gozo do teu Senhor! ” (Mt 25.21 e 23). Deus nos testa nas pequenas coisas para nos recompensar com maiores. Se formos fiéis nas mínimas e passageiras coisas, Ele nos confiará a maior e verdadeira herança (Lc 16.10-11). A Bíblia diz que até “um copo de água fresca” dado a um servo de Deus será recompensado na eternidade (Mt 10.42). Deus não pede aquilo que não nos tenha dado, contudo, daquilo que Ele nos der, certamente quererá resultados. Tudo será conforme a capacidade de cada um (Mt 25.15). Fazer parte do Reino de Deus é ter certeza da vitória final de Cristo sobre todas as coisas; de que, através d’Ele, somos vitoriosos (1 Co 15.57-58), mas também que compareceremos ao “tribunal de Cristo, para cada um receber o que fez por meio do corpo, segundo o que praticou, o bem ou o mal” (2 Co 5.10). Aplicação a sua vida: conscientes somos que recebemos alguns talentos, os quais devem ser multiplicados para entregarmos ao nosso rei Jesus na prestação de contas. Como você está se preparando para esse momento? DIANTE DA PROVA DE AMOR (Lc 19.14 e 27): “Mas os seus concidadãos odiavamno, e mandaram após ele embaixadores, dizendo: Não queremos que este reine sobre nós. (...) E quanto àqueles meus inimigos que não quiseram que eu reinasse sobre eles, trazei-os aqui, e matai-os diante de mim.” O texto de Lc 19.14 é colocado logo após o registro da distribuição das minas pelos servos. Ele diz que os seus concidadãos odiavam aquele homem e mandaram embaixadores informando que não queriam que o mesmo reinasse sobre eles. Em Lc 19.27, vemos a sentença do rei sobre os súditos rebeldes: foram trazidos à presença do rei e sentenciados à morte. A “parábola das minas” retrata qual é nosso sentimento para com o nosso Senhor: se O amamos ou O odiamos. É raro alguém dizer que odeia a Jesus. Entretanto, a infidelidade demonstra desprezo para com Ele e seu reino. Odiar a Jesus é rejeitar o seu reino. Cada pessoa precisa decidir se ama ou odeia a Cristo, se aceita ou rejeita o seu reino. Amar a Cristo é fazer a sua vontade, guardar as suas palavras e segui-lo (Jo 14.15; 15.14 e 10.27). Não basta dizer que ama a Deus, se a vida REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 175 | O D I S C Í P U LO E S U A F I D E L I D A D E o contradisser (Mt 15.7-9). Quando não investimos os bens e talentos recebidos no Reino de Deus, isto pode significar contradição entre o que dizemos e praticamos (Lc 19.20-21). Deus não se ilude com palavras ou justificativas fraudulentas. Ele espera ação, resultados: tudo quanto vier às nossas mãos para fazer, devemos fazê-lo conforme as nossas forças (Ec 9.10). Aplicação a sua vida: muitas são as vezes em que os lábios falam o que não vai ao coração. Outras tantas são palavras diferenciadas das ações. Quando afirmamos amar a Deus, temos que estar coerentes com o estilo de vida por Ele determinado. Você é um discípulo fiel no sentir, falar e viver? 176 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I CONCLUSÃO Deus espera que sejamos fiéis tanto no muito quanto no pouco. O fiel não olha para quanto tem, mas para o que deve fazer com o que tem. Deus há de recompensar a cada um de acordo com sua fidelidade. A fidelidade é uma questão de amor a Jesus. Não há desculpa para sermos infiéis. Não podemos negar que temos talento ou que o nosso dom é muito pequeno. O importante é multiplicar o que foi concedido por Deus; e isto é feito quando colocamos o que temos à disposição de Jesus. Assim como o discípulo fiel será recompensado, o discípulo infiel será condenado. É até uma contradição dizer que alguém infiel seja discípulo de Jesus, mas aqui subentende-se que são discípulos nominais, e não verdadeiros. Seja, então, um discípulo fiel e entre no “gozo do seu Senhor”. ESTUDO 51 DISCIPULADO QUE TERRENO SOU EU? Marcos 4.1-20 INTRODUÇÃO No exercício do discipulado, levamos em conta o terreno ou solo onde semeamos a palavra, porém, ao mesmo tempo, fazemos um exame introspectivo, na tentativa de responder: qual terreno sou eu? Jesus fala sobre quatro tipos de solos onde se faz a semeadura, e os respectivos resultados: À beira do caminho vêm as aves do céu e comem a semente. Entre pedregais, a semente nasce viçosa, mas não tem profundidade e o sol mata. Entre espinhos, a planta até nasce, mas é sufocada por espinhos e não produz fruto. A semente na boa terra produz a trinta, a sessenta e a cem por um. Os discípulos pedem a explicação da “parábola do semeador” e Jesus passa a explicá-la conforme vemos a seguir. Aplicação a sua vida: Lembre-se que você deve comparar sua vida a um desses solos no que diz respeito à produção de frutos para o Reino de Deus. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mc 4.1-20 1 Co 2.14-15 At 16.14-15 Mc 4.16-17 Jr 17.9 1 Pe 4.12 1 Co 15.58 À BEIRA DO CAMINHO (Mt 13.19): “Ouvindo alguém a palavra do reino, e não a entendendo, vem o maligno, e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho”. A explicação de Jesus para este tipo de solo é grave em virtude do resultado. Ele representa as pessoas que ouvem a palavra do reino e não a entendem, vem o maligno e lhes arrebata o que foi semeado no coração. Em 2 Co 4.3-4, Paulo diz que as pessoas que não entendem o evangelho são as que se perdem, visto ser o “deus deste século” quem cega o entendimento delas para que não lhes resplandeça o evangelho “da glória de Cristo”. Isto tem a ver também com 1 Co 2.14-15, onde afirma que “o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”. Somente quando o coração está aberto para ouvir a palavra do reino é que o Espírito Santo tem REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 177 | DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU? livre acesso. Isto foi o que aconteceu com Lídia, em Filipos, ao ouvir Paulo: O Senhor lhe abriu o coração, e ela entendeu e recebeu a palavra de Deus, sendo salva juntamente com sua casa (At 16.14-15). Aplicação a sua vida: Em nome de Jesus, não deixe que o maligno arrebate a Palavra do seu coração. Peça agora mesmo para que o Senhor lhe desvende as maravilhas da sua lei (Sl 119.18). SOLO PEDREGOSO (Mc 4.16-17): “Do mesmo modo, aqueles que foram semeados nos lugares pedregosos são os que, ouvindo a palavra, imediatamente com alegria a recebem; mas não tem raiz em si mesmos, antes são de pouca duração; depois, sobrevindo tribulação ou perseguição por causa da palavra, logo se escandalizam”. O solo pedregoso não tem a ver com terra misturada com pedra, mas com aquele que tem uma camada de terra por cima e uma espécie de laje de pedra por baixo. Inicialmente, a semeadura brota viçosa, mas a pedra por baixo impede a penetração da raiz da planta. Então, ela fica sem nutrientes para o seu desenvolvimento. Deste modo, não suporta o calor solar e morre por inanição. A ausência de profundidade espiritual nos leva à superficialidade na fé e no relacionamento com Deus. E, assim, confiamos no entusiasmo e na emoção, e deixamos de nos basear na Palavra. Passamos a confiar no coração e ficamos sem sustentação espiritual. Jeremias diz que o nosso coração é enganoso (Jr 17.9). O discípulo de Cristo não deve confiar no coração, isto é, nos sentimentos, porque a vida é cheia de variantes. Há momentos em que estamos alegres e há outros em que estamos tristes. Quem assim procede, não suporta 178 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I tribulação ou perseguição e, quando esta vem, logo “se escandaliza”. Jesus foi claro com os seus discípulos a respeito das aflições na vida cristã: “No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16.33). Pedro diz para não estranharmos as provas de fogo que vêm para nos tentar, “como se coisa estranha nos acontecesse” (1 Pe 4.12). Aqueles que buscam somente emoções e um cristianismo sem cruz, vivem correndo atrás de “ventos de doutrinas”, por serem meninos em Cristo (1 Co 3.1; 4.14). Aplicação a sua vida: Uma pergunta: Por acaso, você reconhece que é esse terreno superficial? Então, clame ao Senhor agora e peça-Lhe uma vida espiritual profunda, comprometida com Cristo e com Sua Palavra. SOLO ESPINHOSO (Mc 4.18-19): “Outros ainda são aqueles que foram semeados entre os espinhos; estes são os que ouvem a palavra; mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e a cobiça doutras coisas, entrando, sufocam a palavra, e ela fica infrutífera”. Três motivos fazem com que a palavra do reino seja sufocada no terreno “entre espinhos”: “Os cuidados deste mundo, a sedução das riquezas e a cobiça doutras coisas”. As pessoas que não tem tempo para Deus, mesmo tendo ouvido a palavra do reino e tendo assumido, “formalizado” um compromisso, são atraídas pelas “ocupações” e “as riquezas”. Assim, ficam infrutíferas. São crentes nominais. Dizem que são cristãos, mas sua vida é igual à vida das pessoas deste mundo. Observe que esse tipo de solo fica “infrutífero” (Mc 4.19). Lucas diz que são produzidos frutos imperfeitos. Isto é preocupante por dois motivos: primeiro, DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU? | quem não produz muito fruto é cortado da videira verdadeira, é lançado fora, seca, é colhido, é lançado no fogo e queima (Jo 15.2, 5-2). Observe que essa falta de frutificação abundante acontece com aquele que não está ligado à palavra, isto é, ao próprio Jesus. Segundo, o fruto imperfeito, não desfruta da comunhão com o Pai, porque o Pai é perfeito (Mt 5.48). Acreditamos que os dois textos bíblicos mencionados anteriormente não têm a ver com a perda de salvação, até mesmo porque ela não se perde. Pensamos estar em foco aqui a perda de comunhão, resultando no entristecimento do Espírito Santo (Ef 4.30; 1 Ts 5.19). O fruto imperfeito corre o risco de produzir outros frutos segundo sua espécie. Daí a necessidade do discipulado para aprofundar raízes doutrinárias e espirituais na palavra e transformar cada discipulando numa “boa terra”. Aplicação a sua vida: Se você reconhece que tem sido esse tipo de terreno, renuncie agora àquilo que torna sua vida infrutífera no reino de Deus e a consagre ao Senhor. Decida, hoje mesmo, a dar frutos. A BOA TERRA (Mc 4.20): “Aqueles outros que foram semeados em boa terra são os que ouvem a palavra e a recebem, e dão fruto, a trinta, a sessenta, e a cem, por um”. A “boa terra” é qualificada pela quantidade de fruto que produz. Há quem pense que Deus quer qualidade e não quantidade. Na verdade, Deus deseja quantidade com qualidade. Já vimos em estudos anteriores que Jesus disse que o Pai é glorificado por aquele que produz muito fruto, e é isto o que qualifica um discípulo de Cristo (Jo 15.8). Seguir a Cristo e não produzir muito fruto é contraditório à natureza do discipulado. Observe que a “quantidade” começa com trinta, dobra para sessenta e é elevada para cem. Esses números indicam diferentes “quantidades” de frutos, apesar de todos serem da “boa terra”. Deus conhece a realidade dos desafios de quem pratica o discipulado. Ele sabe quem pode e deve produzir nessas proporções. Aliás, Ele diz que devemos fazer conforme nossas forças (Ec 9.10). Há quem diga: “não estou preocupado com números, o que importa é que se pregue a palavra”. Isto também é contraditório ao ensino da palavra, que assegura: “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” (Sl 126.6). Em Jo 15.16, Jesus diz que nos escolheu para irmos e darmos fruto, e fruto que permaneça. Muitas pessoas não voltam com os seus “molhos” porque não praticam o discipulado, não investem em vidas, se limitam a espalhar semente, sem investir no aproveitamento e na edificação dos resultados. Deve-se considerar também que, na parábola do semeador, foram alcançados quatro tipos de solo, e só um foi qualificado como “boa terra”. De onde se deduz que o semeador semeou muito, ainda que o aproveitamento tenha sido de apenas um tipo de solo. Porém, este produziu a trinta, a sessenta e a cem por um. Quem pratica o discipulado, deve ter consciência dessa realidade e não esperar que todos os solos sejam “boa terra”. Contudo, deve confiar que, se dispuser o coração, não somente encontrará, mas ele mesmo será a “boa terra”. Se não fizer isto, ficará como um dos três primeiros terrenos. O primeiro fruto que alguém deve produzir na vida é o fruto “digno de arrependimento” (Mt 3.8). Em seguida, vem o fruto do Espírito, que revela a nova natureza de uma pessoa cujo terreno se REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 179 | DISCIPULADO – QUE TERRENO SOU EU? tornou “boa terra” (Gl 5.22-24). Ainda que esses tipos de fruto estejam implícitos na parábola do semeador, em virtude de Jesus especificar o resultado da “boa terra” (“Produziu a trinta, a sessenta e a trinta por um”), estão explícitas as questões qualitativa e quantitativa. Se a terra é “boa”, isto é, tem qualidade, produz em quantidade. CONCLUSÃO E você, sinceramente avaliando sua vida, levando em conta os frutos que tem produzido, de que modo responderia à pergunta do tema deste estudo? Se você não se enquadra nas qualificações da “boa terra”, ore para que a palavra de Deus penetre completamente em sua vida. Peça para Deus tirar toda falta de 180 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I entendimento, toda superficialidade e todo comprometimento com o mundo de sua vida. Peça para Deus fazer de sua vida uma “boa terra”, uma terra produtiva, uma terra que glorifique o nome do Pai (João 15.8). Se você entende que tem sido uma “boa terra”, pois, tem sido instrumento de Deus para levar dezenas, centenas e milhares a Cristo, não se vanglorie disto, porque é Deus quem opera em nós tanto o querer quanto o efetuar (Fp 2.13). Isto deve ser natural ao discípulo de Cristo, pois, é a produção de muito fruto que o qualifica como tal. Também não se acomode, achando que já alcançou o alvo, porque nem o apóstolo Paulo se julgava assim (Fp 3.12). Apenas prossiga, sendo firme, constante e “sempre abundante na obra do Senhor, sabendo que o seu trabalho não é vão no Senhor” (1 Co 15.58). Amém! ESTUDO 52 DISCÍPULO – UM MORDOMO CRISTÃO Mateus 14.13-21; Marcos 6.3444; Lucas 9.10-17; João 6.1-13. INTRODUÇÃO O estudo de hoje labora sobre o discípulo de Cristo como um mordomo cristão. Procura conscientizá-lo de sua responsabilidade na administração daquilo que tem recebido de Deus. Mostra, ainda, atitudes que o mordomo cristão deve tomar quando estiver em situações desafiadoras da vida. Orienta também sobre como usar, responsavelmente, os recursos de que dispõe em benefício do próximo. Ele tem a ver com a mordomia cristã, isto é, como bem administrar aquilo que Deus coloca nas suas mãos ou diante de si. Muitos desses princípios são encontrados nos registros bíblicos da multiplicação dos pães e peixes. VÊ COMO DEUS VÊ (Mc 6.34): “Ao desembarcar, viu Jesus uma grande multidão e compadeceu-se deles, porque eram como ovelhas que não tem pastor. E passou a ensinar-lhes muitas coisas”. Segunda Terça Quarta Quinta Sexta Sábado Domingo Leituras Diárias Mt 14.13.21 Mc 6.34-44 Lc 9.10-17 Jo 6.1-13 Pv 24.11-12 Mt 14.17-18 Jo 6.12 O mordomo cristão não deve ser indiferente às multidões que Deus coloca diante de si. Ele precisa vê-las como Deus as vê. O texto bíblico diz que Jesus compadeceu-se daquelas pessoas. A palavra grega para “compadeceu-se” é “splagchnizomai”, e significa “mover-se intimamente”. É a ideia de “sofrer com”, isto é, partilhar do sofrimento do outro. Somente quando nos colocamos no lugar do outro é que podemos entender seu sofrimento. Jesus viu ainda que aquela multidão era “como ovelhas sem pastor”. A ovelha sem pastor está desprotegida, desorientada e não é bem alimentada. O discípulo de Cristo, como mordomo cristão, tem o dever de se empenhar por levar as multidões ao Bom Pastor. Essas ovelhas caminham para o “matadouro”, mas o discípulo e mordomo de Cristo não pode dizer que não sabe disto, e se mostrar fraco no esforço para livrá-las (Pv 24.11-12). O final de Mc 6.34 diz que Jesus “passou a ensinar-lhes”. Se as multidões REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 181 | D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O vivem sem Deus e estão caminhando para a matança, é dever do discípulo de Cristo ir a elas e ensiná-las, na esperança de fazer “discípulos de todas as nações” (Mt 28.20). Aplicação a sua vida: a humanidade tem passado por momentos de desesperança. Jesus Cristo nos ensina que devemos levar às pessoas a esperança que liberta. Que temos feito para transpor essa barreira e levar o conhecimento da Palavra de Deus aos cativos? É CHAMADO À REFLEXÃO (Jo 6.5): “Então, Jesus, erguendo os olhos e vendo que grande multidão vinha ter com Ele, disse a Filipe: Onde compraremos pães para lhes dar a comer?”. O Evangelho de João mostra que Jesus viu outra necessidade daquela multidão: sua fome de pão. Em razão disto, Jesus pergunta aos discípulos “onde” comprariam “pães para lhes dar de comer”. Esta pergunta chama os discípulos à reflexão. Há perguntas clássicas que precisamos fazer diante de um projeto ou de uma dificuldade. Exemplo: o que, por que, para que, como, onde, quando, de que forma etc. Neste caso, temos uma multidão faminta (de pão material e espiritual) e desorientada em diversas áreas da vida. Então, Jesus pergunta: “onde compraremos pão”? Como, assim, “compararemos”? Uma mente mais arguta perceberia que Jesus é o pão da vida, que Deus convida todos para virem comer e beber de graça (Is 55.1). Deus quer que descubramos “onde” está a verdadeira resposta para nossos projetos e a real solução para os desafios que se descortinam diante de nós. Deus quer que usemos a razão, pois, Ele nos deu essa capacidade. 182 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I Aplicação a sua vida: o mordomo cristão, antes de agir, para e pensa em como encontrar a resposta de que necessita a cada desafio da vida. Você tem experimentado essa atitude? É APROVADO NO TESTE DIVINO (Jo 6.67): “Mas dizia isto para o experimentar; porque ele bem sabia o que estava para fazer. Respondeu-lhe Filipe: Não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço”. João explica o motivo de Jesus chamar os discípulos à reflexão: para os “experimentar”. Os testes divinos fazem parte da pedagogia de Jesus. O mordomo cristão passa por experiência de aprendizado e precisa descobrir o “como fazer” de Deus. Ele tem seus projetos e sabe como realizá-los, mas o mordomo cristão precisa se juntar a Ele e cumprir Sua vontade. Muitas vezes, nossas sugestões de “como fazer” são totalmente destoantes do propósito divino. Filipe, que era “calculista” e “pragmático”, se apressa em afirmar que “não lhes bastariam duzentos denários de pão, para receber cada um o seu pedaço”. Em Mc 6.36, vemos que os discípulos foram mais radicais: “Despede-os, para que vão aos lugares e aldeias circunvizinhas, e comprem pão para si; porque não tem o que comer”. Porém, a solução não estava no dinheiro e nem em outro lugar, estava entre eles e em Jesus. ASSUME RESPONSABILIDADES (Lc 9.13): “Ele, porém, lhes disse: Dai-lhes vós mesmos de comer. Responderam eles: Não temos mais que cinco pães e dois peixes, salvo se nós mesmos formos comprar comida para todo este povo”. Cada um dos evangelhos nos apresenta o problema e a respectiva solução sob uma ótica. Lucas nos informa que D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O | Jesus responsabiliza os discípulos pela alimentação do povo: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. A gente percebe que “bateu” meio que um desespero neles. Não podemos transferir para os outros o que Deus põe como responsabilidade nossa. Tiago diz que isto é falta de fé (Tg 2.1417). Quando Deus coloca um desafio diante de nós, Ele sabe qual é a solução, porém há providências concretas a serem tomadas. Aplicação a sua vida: você está sendo usado por Deus para levar a mensagem do evangelho como fruto da ação do Espírito Santo em sua vida? DISPÕE DOS SEUS RECURSOS (Mc 6.38): “E ele lhes disse: Quantos pães tendes? Ide ver! E, sabendo-o eles, responderam: Cinco pães e dois peixes”. A resposta dos discípulos no ponto anterior é melhor compreendida quando comparada com Mc 6.38. Eles deveriam fazer um levantamento de quais eram os recursos disponíveis. Se você está endividado ou tem um projeto, então, você sabe “o que” e “onde” estão o seu problema. Agora, você precisa saber “como” encontrar a solução. Então, precisa fazer um levantamento de quais são os recursos disponíveis. O que você tem? Vá ver, recomenda Jesus. Relacione seus recursos e traga-os a Jesus. Não os menospreze, porque você é um “mordomo cristão” e não um incrédulo irresponsável. É PRÁTICO E OTMISTA (Jo 6.8-9): “Um de seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, informou a Jesus: Está aí um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas isto que é para tanta gente? ”. Na verdade, André foi prático, porém pessimista. Mas, vamos nos firmar no fato de que já identificamos o problema ou definimos o projeto, fizemos o levantamento dos recursos e o trouxemos a Jesus. O projeto era alimentar cinco mil homens, sem contar as mulheres e crianças. A dificuldade era que, humanamente, os recursos eram insuficientes. Ficamos impressionados que os recursos não estavam com os discípulos, mas com um “rapaz”; outras versões dizem “um menino”. Os pães eram de “cevada”, pão de pobre; e os peixes eram “peixinhos”, portanto, pequenas tilápias, possivelmente assadas. Humanamente falando, é realmente frustrante se ter um projeto tão grande com recursos tão parcos! É neste ponto que, ao colocarmos o que temos nas mãos de Jesus, faz-se toda diferença! Aplicação a sua vida: uma característica do discípulo de Jesus é ser otimista. Você tem aprendido a ver possibilidades quando surgem as dificuldades? É DADO AO PLANEJAMENTO E À ORGANIZAÇÃO (Mc 6.40): “E assentaram-se repartidos de cem em cem, e de cinquenta em cinquenta”. Esta informação de Marcos, de que a multidão assentou-se em grupos de cinquenta e de cem pessoas nos impressiona. Imagine o que é sair contando milhares de pessoas famintas e agrupando-as dessa forma. E mais um detalhe: deveriam estar assentadas. Certamente, você já viu o que acontece na distribuição de alimento entre grandes multidões famintas. Deus nos abençoa e multiplica o que temos, mesmo pouco, mas precisamos planejar e nos organizar para recebermos a bênção. Gosto da versão dos Salmos 50.23, que diz: “Aquele que oferece REFLEXÕES BÍBLIC AS II | 183 | D I S C Í P U LO – U M M O R D O M O C R I S TÃ O o sacrifício de louvor me glorificará; e àquele que bem ordena o seu caminho eu mostrarei a salvação de Deus”. Deus mostra a porta de saída, o socorro para aquele que “bem ordena o seu caminho”. Se você quer encontrar “a salvação” divina para o momento em que se encontra, haja como um mordomo cristão: planeje e organize-se. Se fizer isto, Deus é poderoso para enviar socorrro sem que você imagine de onde. Quem poderia imaginar que o “lanche” de um menino pudesse alimentar aqueles milhares de pessoas que ouviam Jesus? Experimente! Funciona! COLOCA TUDO NAS MÃOS DE DEUS (Mt 14.17-18; Lc 9.16): “Mas eles responderam: Não temos aqui senão cinco pães e dois peixes. Então, ele disse: Trazei-mos. (...) E, tomando os cinco pães e os dois peixes, erguendo os olhos para o céu, os abençoou, partiu e deu aos discípulos para que os distribuíssem entre o povo”. Você seria capaz de dar graças por tão pouco, para tanta necessidade? Pois é, Jesus o fez. Esta é outra lição, mas não nos deteremos nela aqui. O fato é que trouxeram tudo o que tinham e entregaram nas mãos de Jesus. Faça o mesmo em relação aos projetos de vida e às dificuldades que lhe sobrevêm. Ponha tudo nas mãos de Jesus e permita que Ele abençoe. RESPEITA O MEIO AMBIENTE (Jo 6.12): “E, quando já estavam fartos, disse Jesus aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca”. Observe que, no verso doze, as “sobras” foram recolhidas após todos estarem fartos, e o motivo era para que “nada” 184 | R E F L E XÕ E S B Í B L I C A S I I se perdesse. Jesus nos transmite mais algumas lições com essa recomendação. Primeiro, Deus não aprova o desperdício. Se todos estavam fartos, as sobras deveriam ser recolhidas. E se o motivo era para que “nada” se perdesse, deduz-se que o que foi recolhido teve um destino apropriado, não sabemos qual, mas certamente bem aproveitado; afinal era para que “nada” se perdesse. Segundo, sobras não devem ser abandonadas (jogadas) na natureza. Servir um banquete para milhares de pessoas e preservar a natureza é uma lição que devemos trazer para o nosso estilo de vida: a natureza não deve ser contaminada com nossas “sobras”. Aplicação a sua vida: o maior clamor da modernidade é que destruímos o jardim que Deus esculpiu para a humanidade. O que você tem feito para preservar esse jardim tão maravilhoso chamado planeta terra? CONCLUSÃO Veja as pessoas com a visão compassiva de Deus. Não invente soluções para Deus. Siga sua orientação. Avalie sua realidade (veja quanto ou o que você tem). Traga o que tem para Jesus. Confie n’Ele. Não argumente que é pouco. Apenas creia! Organize-se! Faça planilha; controle os gastos. Lembre-se: a salvação divina é somente para quem bem ordena o seu caminho. Cumpra sua parte: administre o que você tem, distribuindo-o criteriosamente. Não desperdice e nem agrida a natureza, porque tudo é criação divina. ANOTAÇÕES ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ ______________________________________________________________________ _____________________________________________________________________ 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