aspectos clínico-patológicos da demodiciose canina e o uso do

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aspectos clínico-patológicos da demodiciose canina e o uso do
Alm. Med. Vet. Zoo. 26
ASPECTOS CLÍNICO-PATOLÓGICOS DA DEMODICIOSE CANINA E O
USO DO TRATAMENTO DE DORAMECTINA ATRAVÉS DA
EXTRAPOLAÇÃO ALOMÉTRICA INTERESPECÍFICA
CLINICAL PATHOLOGICAL ASPECTS OF CANINE DEMODICOSIS AND
THE DORAMECTIN TREATMENT OF THE USE THROUGH
EXTRAPOLATION INTERSPECIFIC ALLOMETRIC
Camila Zanon Gonçalves* Freddi Bardela de Souza†
RESUMO
A demodiciose canina é uma das dermatopatias mais comumente encontradas nas clínicas
veterinárias, sendo que a forma generalizada é a manifestação mais grave dessa doença
nos cães, principalmente nos jovens, devido a uma imunodeficiência hereditária que leva
a proliferação excessiva do ácaro Demodex. Com o insucesso no tratamento através do
amitraz, sendo que este se estabeleceu como padrão terapêutico por mais de 20 anos, e
por suas consecutivas recidivas e efeitos colaterais, que uma nova classe terapêutica vem
ganhando espaço, a doramectina, uma avermectina do grupo das lactonas macrocíclicas.
A doramectina é extremamente eficiente no tratamento da demodiciose, quando
empregada semanalmente por via subcutânea, em doses calculadas por meio de
extrapolação alométrica interespecífica, sem apresentar quaisquer efeitos colaterais.
Palavras-chave: cão; Demodex; doramectina; extrapolação alométrica
ABSTRACT
Canine demodectic mange, or canine demodiciosis, is one of the most commonly found
skin diseases in veterinary practice, and the general shape is the most severe manifestation
of this disease in dogs, especially in the young due to an inherited immunodeficiency
disease leads to excessive proliferation Demodex canis mite. After the failure of treatment
with amitraz that had been established as a therapeutic standard for over 20 years, and in
consecutive relapses and side effects, new therapeutic class has been increasing, the
Doramectin, an avermectin of Macrocyclic lactones family. Doramectin is extremely
efficient in treating demodiciose, when used weekly subcutaneously at doses calculated
by interspecific allometric extrapolation, without showing any side effects.
Keywords: dog; Demodex; doramectin; allometric scaling
INTRODUÇÃO
A demodiciose canina consiste em uma dermatopatia primária inflamatória, não
contagiosa, causada pela excessiva proliferação do Demodex canis, que é um ácaro
comensal da microbiota cutânea canina (1). Também podem ser mencionadas outras
novas espécies de ácaros, não tão frequentes, como Demodex cornei e Demodex injai (2).
A doença é classificada como localizada (DCL) ou generalizada (DCG), E
dependendo das primeiras manifestações clínicas, pode ser classificada como juvenil ou
adulto (3).
*
Discente do Curso de Medicina Veterinária. Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO, Ourinhos, São
Paulo, Brasil. E-mail: [email protected]
†
Docente, Disciplina de Patologia Veterinária. Faculdades Integradas de Ourinhos - FIO, Ourinhos, São
Paulo, Brasil.
Alm. Med. Vet. Zoo. 27
O diagnóstico é feito a partir dos sinais dermatológicos e por exame microscópico
para pesquisa do ácaro no material colhido do exame parasitológico cutâneo (4).
Devido ao insucesso no tratamento da demodiciose com o uso de amitraz (5),
atualmente, a terapia com doramectina, uma avermectina, vem sendo preconizada devido
ao seu perfil farmacocinético prolongado e sua alta potência contra nematódeos e
artrópodes (6).
Nos cães, seu uso é através de doses por extrapolação alométrica interespecífica
(7). As doses são calculadas com base na massa corporal do paciente, e expressas de
maneira unidimensional, como quantidade por unidade de massa (mg/Kg). Dessa
maneira, a quantidade total do fármaco aumenta de maneira linear à elevação do peso
corporal do animal (8).
Sendo assim, prognóstico é bom, em mais de 95% dos casos apresentam cura e
sem recidivas, como também é o único método eficaz para as raças Collie, já que esta
apresenta sensibilidade a outras classes de fármacos, como a ivermectina (9).
O objetivo deste trabalho é descrever sobre os aspectos clínico-patológicos da
demodiciose canina e o uso do tratamento com doramectina através da extrapolação
alométrica interespecífica.
REVISÃO DE LITERATURA
Etiologia
O Demodex canis é um parasito obrigatório da pele de cães e morre facilmente
fora desta, pela dissecação (10). O parasito habita o interior dos folículos pilosos, e
ocasionalmente as glândulas sebáceas e glândulas sudoríparas apócrinas (11), e se
alimenta de secreção sebácea, de escamas e de células vivas (12). O Demodex injai possui
opistossoma mais longo, enquanto o Demodex cornei possui um corpo mais curto que os
demais (13).
As fêmeas fecundadas depositam seus ovos no folículo piloso. Ao eclodirem, as
larvas deslocam-se para a superfície, alimentam-se e mudam para protoninfa, e depois
para deutoninfa. As larvas e as ninfas se movimentam pelo fluxo sebáceo para a entrada
do folículo, onde alcançam o estágio adulto e repetem o ciclo, que é completado em até
35 dias (16).
Epidemiologia
A demodiciose canina é mais comum em regiões tropicais e subtropicais, onde
tende a seguir um curso mais agressivo e ocorre em igual freqüência em cães de pêlos
longos e pêlos curtos (17).
As raças mais comum de serem vistas nas clínicas veterinárias são o Boxer,
Buldog Inglês, Collie, Dálmata, Dachshund, Lhasa Apso, Pug, Rottweiller, Shar-Pei
Chinês, Pit Bull Terrier e Shi Tzu (18).
A demodiciose não é contagiosa para o homem. Acomete animais tanto na fase
jovem com aproximadamente dezoito meses, como na fase adulta com idade geralmente
superior a quatro anos (19).
Existem alguns fatores predisponentes para a manifestação da demodiciose como
estresse, desnutrição, traumatismo, estro, parto, lactação, ou até mesmo doenças
imunossupressoras, como diabetes mellitus, doenças hepáticas, neoplasia,
hipotireoidismo e hiperadrenocorticismo (14). A administração de drogas
imunossupressoras também pode predispor à doença (20).
Patogenia e Transmissão
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Supõe-se que certas cadelas transportem um fator geneticamente transmitido que
resulta em imunodeficiência em seus filhotes, tornando-os mais suscetíveis á invasão por
ácaros (22). Além disso, supõe-se que o próprio Demodex canis cause uma
imunodeficiência mediada por células que suprime a resposta normal de células T (14).
A transmissão ocorre da cadela para os neonatos lactantes por contato direto nos
dois ou três primeiros dias de vida neonatal, uma vez que o Demodex canis é residente
normal da pele canina. Os ácaros são observados primeiramente na face dos filhotes, e
quando atingem 16 horas de vida são evidenciados nos folículos pilosos (17). Quando os
filhotes nascem por cesária, recebem a alimentação sem ser pela mãe infectada, eles não
albergam os ácaros, assim como nos filhotes natimortos o que demonstram que a
transmissão in útero não ocorre (12).
Sintomatologia Clínica
A demodiciose pode ser reconhecida em dois tipos: a localizada, ou escamosa e a
generalizada, ou pustular (16). Também há relato da pododemodiciose (6).
Os sinais clínicos da demodiciose causada pelo Demodex. injai são semelhantes
àqueles ocasionados pelo Demodex canis, como alopecia, descamação, eritema,
hiperpigmentação e prurido variável (23).
Demodiciose Canina Localizada
A demodiciose canina localizada (DCL), ou demodiciose escamosa, é a forma
mais comum da doença e acomete cães jovens de menos de um ano, (geralmente entre os
3 a 6 meses de idade) (24), e se caracteriza pela presença de menos de seis lesões cutâneas
circulares, alopécicas, escamosas e mais ou menos inflamadas, sendo na maioria das
vezes autolimitante (22).
As lesões são mais frequentemente observadas na face, na região periocular, nos
lábios, nas comissuras labiais, no queixo e condutos auditivos externos (otodemodiciose)
(19). Estas regiões são mais frequentemente acometidas em razão da sua densidade
elevada de glândulas sebáceas, de umidade mantida pela lágrima e pela saliva trazida
pelas lambeduras e, também, por serem zonas de maior contato com a mãe no momento
do aleitamento (24).
As lesões são caracterizadas por graus variados de eritema, descamação, alopecia
e hiperpigmentação com comedões, com ou sem prurido. As áreas afetadas tornam-se
“quentes ao toque”, ásperas e espessadas, podendo apresentar-se recobertas por escamas
prateadas (12).
Demodiciose Canina Generalizada
A demodiciose canina generalizada (DCG) acomete mais os jovens, entre 3 a 18
meses de idade. No cão adulto, às vezes é observada em animais que tiveram ocorrência
branda da sarna quando jovens, mas sem diagnóstico ou sem resolução da doença (6).
As lesões são frequentemente dolorosas e com mais de cinco áreas de alopecia
focal, especialmente na cabeça, nas pernas e no tronco (25), mas podem afetar toda a
região corpórea, com envolvimento dos espaços interdigitais de duas ou mais patas
(pododemodiciose) (19).
A alopecia generalizada difusa é a única anormalidade cutânea no curso inicial da
afecção. Em pouco tempo podem ser observadas eritema, descamação, formação de
crostas e tamponamento folicular que resultam na forma escamosa da DCG. Alguns cães,
em especial os adultos, exibem manchas multifocais de hiperpigmentação (13).
As lesões de pele ocasionadas pelo D. canis em sua forma generalizada permitem
que a flora bacteriana normal da pele se torne patogênica. A piodermite gerada por essa
Alm. Med. Vet. Zoo. 29
proliferação é ocasionada principalmente pelo Staphylcoccus intermedius, uma bactéria
gram-positiva que está envolvida em aproximadamente 90% dos casos (16-22).
As infecções oportunistas podem levar ao quadro de demodiciose pustular
caracterizada pela presença de pápulas, pústulas e foliculite, com secreção
sanguinopurulenta, além de edema e comprometimento geral do paciente. Podem ocorrer
piodermite profunda com formação de crostas, ulceração e exsudação das lesões (19).
Prurido, que não é uma característica comum na demodiciose, pode estar presente, em
decorrência de uma reação de hipersensibilidade e infecções secundárias. O animal pode
apresentar odor desagradável e uma ampla descaracterização da pele (17).
Pododemodiciose
Esta forma da doença ocorre nas extremidades dos membros do animal, sem que
ocorram lesões generalizadas. Podem-se observar lesões digitais e interdigitais,
susceptíveis às piodermites secundárias. Em alguns cães, a pododemodiciose pode
cronificar, tornando-se extremamente resistente à terapia (12).
As lesões caracterizam-se por prurido interdigital, dor, eritema, alopecia,
hiperpigmentação, liquenificação, descamação, edema, crostas, pústulas, bolhas e
comedões (19).
Diagnóstico
Devemos suspeitar de demodiciose canina se houver uma história de demodiciose
familiar. Temos sempre que questionar os proprietários uma série de eventos ou situações
poderiam descompensar a capacidade do animal de controlar a proliferação de ácaros (3).
Deve-se realizar um exame físico completo para identificar fatores ou doenças
predisponentes (16). São utilizados os testes laboratoriais para triar quanto às doenças
predisponentes, especialmente quando se encontra presente a demodiciose generalizada
canina. Perfil bioquímico sérico, urinálise e hemograma completo, constituem os testes
de triagem básicos (26). Se juntarmos a anamnese, o exame físico e os testes laboratoriais
de triagem e os mesmos indicarem uma disfunção endócrina ou disfunção interna
possível, deve-se então realizar testes mais específicos, como por exemplo, testes para o
diagnóstico do hiperadrenocorticismo (27).
Geralmente a técnica de primeira escolha para o diagnóstico de demodiciose é o
exame parasitológico de raspado cutâneo o qual apresenta fácil execução, baixo custo e
alta sensibilidade (3).
Os raspados de pele devem ser profundos e realizados na direção do crescimento
dos pelos, realizando em diferentes regiões do corpo, especialmente em áreas de transição
de pele saudável e a lesão, e com presença de comedões (15). Deve-se pinçar a pele para
tentarmos expor os ácaros para fora dos folículos pilosos, e realizar o raspado com uma
lâmina de bisturi cirúrgico, bem profundo, até que ocorra sangramento capilar (27). O
material coletado deverá ser colocado em uma lâmina e observado ao microscópio no
aumento de 40X e 100X (16).
De acordo com Mueller (15), o diagnóstico é feito quando se observa grande
número de ácaros adultos ou pelo achado de uma relação aumentada de ovos, larvas ou
ninfas em relação aos adultos. Mas como é difícil achar um ácaro no raspado de um
animal, quando visualizado em pequena quantidade, não devemos descartar a hipótese do
animal estar com a doença; portanto o melhor seria realizar vários raspados antes de se
excluir o diagnóstico.
Em áreas delicadas como região periocular, podemos optar pela técnica da
impressão em fita adesiva, que é realizada através do beliscamento da pele lesionada para
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externação dos ácaros do folículo piloso e posterior decalque da face adesiva da fita sobre
a área pressionada (19).
O exame histopatológico é indicado em casos onde há suspeita de demodiciose, e
os raspados cutâneos rotineiros deram negativos (12). Isto é, particularmente comum em
pacientes com lesões crônicas ou cicatrizes, como as da pododemodiciose. Cães da raça
Shar Pei também são relatados por serem difíceis de realizar raspado cutâneo devido a
suas dobradiças na pele e assim requererem exame histopatológico (6). A biópsia cutânea
relata graus variáveis de perifoliculite, foliculite e furunculose. Os folículos afetados
estão repletos de ácaros, restos queratinosos em número variável de alguns tipos de
células inflamatórias. É comum aparecer infecção secundária bacteriana (27).
O diagnóstico diferencial para DCG é feito principalmente para foliculite e a
furunculose causadas por outros agentes que não sejam o Demodex spp. Ainda quando há
esfoliação é importante diferenciar de seborréia (25). Já a DCL deve ser diferenciada de
dermatofitoses ou trauma localizado (28). Em cães adultos, as doenças de base devem ser
investigada especialmente as que levam a quadros de imunossupressão, com ênfase aos
casos de hiperadrenocorticismo (3).
Tratamento
A demodiciose canina localizada e a generalizada devem ser consideradas como
duas entidades patológicas distintas, exigindo avaliação clínica e tratamento diferentes
(6). As possibilidades de cura são maiores quando controladas as causas primárias da
imunossupressão em animais adultos (16), sendo que o insucesso terapêutico se deve,
basicamente, à tríade composta por localização profunda dos ácaros,
imunocomprometimento e piodermites secundárias (10). Os tratamentos mais usados
atualmente são o amitraz e as lactonas macrocíclicas (15).
O amitraz é um acaricida/inseticida da família da formamidina, e foi o primeiro
produto licenciado para tratamento de demodiciose canina generalizada, constituindo um
passo significativo na terapia, e permanecendo por mais de 20 anos como padrão
terapêutico (20).
A eficácia do tratamento com amitraz apresenta grande variação, em estudos com
acompanhamento de 12 meses, ocorreu recidiva diagnosticada por raspagens cutâneas em
29 de 254 cães (11%) (15). Os efeitos adversos observados no tratamento com amitraz
foram depressão, sonolência, ataxia, polifagia/polidipsia, êmese/diarreia, além de eritema
generalizado, descamação e odor desagradável (26).
Ao longo de duas décadas de uso do amitraz no tratamento da demodiciose foi
possível observar indícios de resistência parasitária, sendo que provavelmente a seleção
de ácaros resistentes decorreu do uso incorreto da aplicação do produto (20). Assim, como
consequência da resistência e dos inconvenientes da utilização do amitraz, moléculas com
ação sistêmica passaram a ser testadas, destacando-se as lactonas macrocíclicas (LM),
como a doramectina (15).
Os primeiros estudos sugeriam que as LM atuavam somente na modulação da
neurotransmissão mediada pelo ácido gama-aminobutírico (GABA), mas atualmente
sabe-se que as LM se ligam seletivamente aos canais de cálcio mediados por glutamato,
pelos quais têm grande afinidade, potencializando-os ou ativando-os diretamente,
resultando em aumento da permeabilidade celular aos íons cloro e causando bloqueio
neuromuscular, que resulta em paralisia e morte do parasito (6, 15, 22).
A doramectina é uma avermectina que passou a ser usada com sucesso tratamento
da demodiciose a partir de 1999 (9). O medicamento também já foi empregado de forma
preliminar no tratamento de sarna sarcóptica canina e sarna notoédrica felina (6).
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No Brasil, o produto comercial chama-se Dectomax®, e a doramectina é
produzida a partir da fermentação por uma nova cepa de Streptomyces avermitilis, sendo
escolhida para produção industrial, em função de seu perfil farmacocinético prolongado
e sua alta potência contra nematódeos e artrópodes (27).
Em um estudo feito por PACHALY et al., (9), onde 18 cães portadores da
demodiciose, empregando o uso da doramectina durante seis a doze semanas, com doses
semanais calculadas por meio da extrapolação alométrica interespecífica, obteve-se
resultado de quase 95% de cura, e 15 destes animais acompanhados em um período de 12
meses após término do tratamento, não apresentaram nenhuma recidiva. Assim a
doramectina apresenta uma eficiência comparável à da milbemicina oxima e superior à
ivermectina. Outro estudo com 15 cães portadores da doença, tratados durante cinco a
quinze semanas, durante a primeira e décima terceira semana de tratamento já obteve o
raspado negativo, não evidenciando o ácaro. Com isso, os resultados mostraram que todos
os animais apresentaram cura (100%), e sem recidivas, logo após 12 meses do fim do
tratamento (6).
No que diz respeito ao emprego da doramectina em raças que têm notória
hipersensibilidade à ivermectina, existe um relato de administração experimental da
doramectina em um Collie adulto (29), utilizando doses calculadas por meio de
extrapolação alométrica interespecífica. Naquele caso, o fármaco foi administrado
semanalmente durante cinco semanas, sendo as doses ajustadas também semanalmente,
uma vez que houve expressivo ganho de peso à medida que o paciente recuperava,
observando-se ausência de efeitos colaterais e excelente recuperação (29).
Segundo Silva (6), a partir da dose de doramectina de 0,02 mg/kg, recomendada
para um bovino doméstico com peso de 500 kg, foram feitos cálculos de extrapolação
alométrica interespecífica. Tendo em vista a concentração 10 mg/mL do produto
comercial Dectomax®, tais cálculos geraram tabelas referentes às doses em mL para
administrar em cães domésticos pesando entre 1,0 e 89,5 kg (tabela 1 e 2). Sendo em via
subcutânea e o intervalo de administração semanal (sete dias). As doses devem ser
reajustadas semanalmente, de acordo com a variação de peso apresentada pelos pacientes.
Tabela 1 - Doses de doramectina a 1%, em mL, a administrar semanalmente, por via
subcutânea, para tratamento de demodicose, cães pesando de 1,0 a 10,1 kg (5)
Peso (kg)
1,00
1,10
1,20
1,30
1,40
1,50
1,60
1,70
1,80
1,90
2,00
2,10
2,20
2,30
2,40
2,50
Dose
(mL)
0,095
0,102
0,108
0,115
0,122
0,128
0,135
0,141
0,147
0,153
0,159
0,165
0,171
0,177
0,182
0,188
Peso (kg)
3,30
3,40
3,50
3,60
3,70
3,80
3,90
4,00
4,10
4,20
4,30
4,40
4,50
4,60
4,70
4,80
Dose
(mL)
0,232
0,237
0,242
0,247
0,252
0,257
0,262
0,267
0,272
0,277
0,282
0,287
0,292
0,297
0,302
0,307
Peso (Kg)
5,60
5,70
5,80
5,90
6,00
6,10
6,20
6,30
6,40
6,50
6,60
6,70
6,80
6,90
7,00
7,10
Dose
(mL)
0,344
0,349
0,353
0,358
0,363
0,367
0,372
0,376
0,381
0,385
0,389
0,394
0,398
0,403
0,407
0,411
Peso (Kg)
7,90
8,00
8,10
8,20
8,30
8,40
8,50
8,60
8,70
8,80
8,90
9,00
9,10
9,20
9,30
9,40
Dose
(mL)
0,446
0,450
0,454
0,458
0,462
0,467
0,471
0,475
0,479
0,483
0,487
0,491
0,496
0,500
0,504
0,508
Alm. Med. Vet. Zoo. 32
2,60
2,70
2,80
2,90
3,00
3,10
3,20
0,194
0,199
0,205
0,210
0,216
0,221
0,226
4,90
5,00
5,10
5,20
5,30
5,40
5,50
0,311
0,316
0,321
0,326
0,330
0,335
0,340
7,20
7,30
7,40
7,50
7,60
7,70
7,80
0,416
0,420
0,424
0,429
0,433
0,437
0,441
9,50
9,60
9,70
9,80
9,90
10,00
10,10
0,512
0,516
0,520
0,524
0,528
0,532
0,536
Tabela 2 - Doses de doramectina a 1%, em mL, a administrar semanalmente, por via
subcutânea, para tratamento de demodicose, cães pesando de 10,0 a 89,5 kg (5)
Peso
(kg)
10,00
10,50
11,00
11,50
12,00
12,50
13,00
13,50
14,00
14,50
15,00
15,50
16,00
16,50
17,00
17,50
18,00
18,50
19,00
19,50
20,00
20,50
21,00
21,50
22,00
22,50
23,00
23,50
24,00
24,50
25,00
25,50
26,00
26,50
27,00
27,50
28,00
28,50
Dose
(mL)
0,532
0,552
0,571
0,591
0,610
0,629
0,647
0,666
0,684
0,703
0,721
0,739
0,757
0,774
0,792
0,809
0,826
0,844
0,861
0,878
0,894
0,911
0,928
0,944
0,961
0,977
0,993
1,009
1,025
1,041
1,057
1,073
1,089
1,105
1,120
1,136
1,151
1,167
Peso
(kg)
30,00
30,50
31,00
31,50
32,00
32,50
33,00
33,50
34,00
34,50
35,00
35,50
36,00
36,50
37,00
37,50
38,00
38,50
39,00
39,50
40,00
40,50
41,00
41,50
42,00
42,50
43,00
43,50
44,00
44,50
45,00
45,50
46,00
46,50
47,00
47,50
48,00
48,50
Dose
(mL)
1,212
1,227
1,242
1,257
1,272
1,287
1,302
1,317
1,332
1,346
1,361
1,375
1,390
1,404
1,419
1,433
1,447
1,462
1,476
1,490
1,504
1,518
1,532
1,546
1,560
1,574
1,588
1,602
1,616
1,629
1,643
1,647
1,670
1,684
1,698
1,711
1,725
1,738
Peso
(Kg)
50,00
50,50
51,00
51,50
52,00
52,50
53,00
53,50
54,00
54,50
55,00
55,50
56,00
56,50
57,00
57,50
58,00
58,50
59,00
59,50
60,00
60,50
61,00
61,50
62,00
62,50
63,00
63,50
64,00
64,50
65,00
65,50
66,00
66,50
67,00
67,50
68,00
68,50
Dose
(mL)
1,778
1,792
1,805
1,818
1,831
1,845
1,858
1,871
1,884
1,897
1,910
1,923
1,936
1,949
1,962
1,975
1,988
2,001
2,013
2,026
2,039
2,052
2,064
2,077
2,090
2,102
2,115
2,127
2,140
2,152
2,165
2,177
2,190
2,202
2,215
2,227
2,240
2,252
Peso
(Kg)
70,00
70,50
71,00
71,50
72,00
72,50
73,00
73,50
74,00
74,50
75,00
75,50
76,00
76,50
77,00
77,50
78,00
78,50
79,00
79,50
80,00
80,50
81,00
81,50
82,00
82,50
83,00
83,50
84,00
84,50
85,00
85,50
86,00
86,50
87,00
87,50
88,00
88,50
Dose
(ml)
2,289
2,301
2,313
2,325
2,338
2,350
2,362
2,374
2,386
2,398
2,410
2,422
2,434
2,446
2,458
2,470
2,482
2,494
2,506
2,518
2,530
2,542
2,554
2,565
2,577
2,589
2,501
2,512
2,524
2,536
2,548
2,659
2,671
2,682
2,694
2,706
2,717
2,729
Alm. Med. Vet. Zoo. 33
29,00
29,50
1,182
1,197
49,00
49,50
1,752
1,765
69,00
69,50
2,264
2,276
89,00
89,50
2,740
2,752
Além do tratamento acaricida, recomenda-se para uma maior eficácia do
tratamento, tratar casos de piodermite secundárias com xampus antissépticos locais, como
xampu de peróxido de benzoíla a 3%, clorexidine e permanganato de potássio a 3% em
casos de pododemodiciose (3). A cefalexina tem sido o antibiótico de eleição, na dose de
20 a 30 mg/kg duas vezes ao dia, por no mínimo duas a três semanas, e em caso de prurido,
o uso de anti-histamínicos pode ser recomendado (14).
O controle de cura com a realização do exame parasitológico cutâneo é de suma
importância no sucesso terapêutico, pois a melhora clínica não pode ser considerada como
parâmetro se um cão está totalmente curado, e as recidivas podem ser mais graves, caso
o proprietário decida desistir do tratamento (15).
Extrapolação Alométrica Interespecífica
. Alometria (alo = diferente, metria = medida), é o estudo da maneira pela qual
uma variável dependente (taxa metabólica), varia em relação a uma variável independente
(massa corporal) (30). Ou seja, é a comparação matemática entre animais de
tamanhos/massas diferentes, colocando-os dentro de um mesmo padrão numérico (7). O
propósito do método alométrico é a extrapolação das doses de drogas entre animais de
forma e/ou tamanhos díspares, possibilitando o uso de dados farmacológicos obtidos em
um animal modelo (animal para o qual o fármaco foi desenvolvido), para a farmacoterapia
em um “animal alvo” (paciente em estudo) (8).
Convencionalmente, as doses de drogas são calculadas com base na massa
corporal do paciente, e expressas de maneira unidimensional, como quantidade por
unidade de massa (mg/Kg) (7). Quando existem grandes diferenças na massa e nas taxas
metabólicas, como acontece quando se comparam animais com dezenas ou centenas de
kg de diferença, como cães e bovinos, por exemplo, as doses empregadas podem variar
tremendamente (30). O método de extrapolação alométrica corrige essa distorção,
empregando um sistema energético (tridimensional ou volumétrico), que permite calcular
e expressar doses como quantidade por energia consumida pelo animal em situação de
metabolismo basal, em mg/Kcal (6). Então, a comparação alométrica permite que se
calculem dosagens e freqüências de administração de drogas para indivíduos diferentes
daqueles para os quais já se realizaram estudos farmacocinéticos, com base em suas
necessidades energéticas (30).
Prognóstico e Controle
O prognóstico depende da genética, da resposta imunológica e das doenças
subjacentes, sendo que a forma localizada, na maioria dos casos apresenta resolução
espontânea, em um período que dura de seis a oito semanas, como também pode evoluir
para a forma generalizada (18).
Com o uso da doramectina o prognóstico é bom, em mais de 95% dos casos
apresentam cura e sem recidivas, como também é o único método eficaz para a raça
Collie, já que esta apresenta sensibilidade a outras classes de fármacos, como a
ivermectina (9).
Para prevenir a demodiciose, deve-se evitar o uso de drogas imunossupressoras,
retirar os machos e as fêmeas portadores da doença da reprodução, e nas fêmeas deve ser
realizada a ovário salpingo histerectomia (OSH), uma vez que estas poderão ter recidivas
quando estiverem em estro, devido a supressão do sistema imunológico (19).
Alm. Med. Vet. Zoo. 34
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A demodiciose canina acomete principalmente cães de raças puras, devido a uma
predisposição genética que estaria relacionada a um defeito primário na imunidade
mediada por células T, podendo ser tanto localizada como generalizada, sendo esta a
forma mais grave. Devido ao insucesso no tratamento com o amitraz, atualmente o uso
da doramectina no tratamento da demodiciose com doses calculadas por extrapolação
alométrica, permite-se um percentual de quase 95% de cura, sem recidivas, e sem
apresentar efeitos colaterais, sendo este o único método eficaz para a raça Collie, já que
esta apresenta hipersensibilidade a outras drogas. Assim o clínico pode oferecer boas
perspectivas de êxito na recuperação de animais acometidos por esta dermatose.
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Recebido em 14 de janeiro de 2015.
Publicado em 02 de março de 2015.

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