Liturgia Dominical (síntese e sugestões)
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Liturgia Dominical (síntese e sugestões)
Sugestões para Liturgia Dominical 10 de agosto de 2014 | 19º Domingo do Tempo Comum – Ano A Na crise, manifesta-se o poder e a proximidade de Deus Textos Bíblico-litúrgicos: 1Rs 19,9a.11-13a; Sl 84; Rm 9,1-5; Mt 14,22-33 Antífona de Entrada: “Considerai, Senhor, vossa aliança, e não abandoneis para sempre o vosso povo. Senhor, defendei vossa causa, e não desprezeis o clamor de quem vos busca.” Oração do dia: Dai-nos, ó Pai, um coração de filhos para alcançarmos a herança que prometestes. Oração sobre as oferendas: Acolhei os dons que concedestes à vossa Igreja. Antífona da comunhão: O pão que eu darei é a minha carne para a vida do mundo. Oração depois da comunhão: O vosso sacramento nos confirme na vossa verdade. 1. Teofania e Cristofania. A primeira leitura e o trecho do Evangelho que nos são propostos neste domingo têm nítidos pontos de contato. Elias enfrenta a tirania do rei Acab e da rainha Jezabel. É perseguido por causa de sua luta intransigente em favor de uma justa relação entre a fé no Deus de Israel e a justiça (1Rs 17-18). Cheio de medo, foge para o Horeb, a montanha da aliança, a montanha de Deus, a fim de salvar a própria vida. Abatido e desesperado pelo peso da dor, pede a morte (1Rs 19,1-8). No Horeb, refazendo os passos de Moisés e do próprio povo de Israel, à boca da caverna em que se encontra, ele faz uma experiência da manifestação de Deus que foge a todos os esquemas conhecidos. Na experiência da aliança no Sinai, Deus se revela como o Deus dos trovões, dos relâmpagos, do barulho ensurdecedor, do terremoto (Ex 19,16-18). A Elias, ele se revela na brisa suave. Assim, a fuga se transforma num itinerário de descoberta da face do próprio Deus, pois também o profeta precisa ser educado na fé, não mais somente segundo os esquemas clássicos das teofanias barulhentas do Sinai, mas a partir de uma experiência pessoal do Deus que se revela na plena liberdade da brisa suave.1 Ao mesmo tempo em que se revela, Deus também mantém o mistério insondável de sua identidade profunda. Mistério, contudo, não é algo hermético e inacessível. É algo que se experimenta às apalpadelas, mas nunca é esvaziado. Assim, o desespero da fuga de Elias se transforma em aliança, em confiança renovada, em processo pedagógico do discipulado, em ação de graças, pois “Deus lhe concedeu a sua salvação”. 2 Os discípulos de Jesus fizeram experiência semelhante à de Elias. Quando o Evangelho de Mateus foi escrito, em torno do ano 80, as comunidades cristãs estavam vivendo uma profunda crise de fé e de identidade. O relacionamento com o Judaísmo, especialmente depois do ano 70, não era tarefa fácil. Não havia clareza sobre a presença do Ressuscitado em meio às dificuldades da inserção na história. Jesus Cristo parece um fantasma. Por isso, a barca é agitada em meio às ondas revoltas. Antes de revelar-se aos discípulos, Jesus ora na solidão do monte, lugar tradicional da revelação de Deus. A oração serena de Jesus, na intimidade com o Pai, contrasta com a agitação dos discípulos em meio ao mar, que é símbolo das forças caóticas e, de algum modo, demoníacas. Já é quase aurora, mas os discípulos continuam vendo fantasmas noturnos e tremendo de medo. À tempestade e ao vento impetuoso, ao medo e ao terror, contrapõe-se a Cristofania, a manifestação do Cristo que caminha sobre o caos. Como ajudar estas comunidades a refazer o itinerário da fé? Aí reside a enorme tarefa catequética de Jesus e hoje da Igreja. Por isso, ele se revela com as expressões típicas do ressuscitado: “Sede corajosos! Sou eu! Não tenhais medo!” (Mt 14,27). 2. O Pedro que habita em todos nós Entra em cena o apóstolo Pedro. A manifestação de Cristo é esquematizada como uma aparição pascal.3 Pedro se dirige a Jesus com o título de Kyrios (Senhor). Pedro pretende caminhar sobre o mar. Até tenta, mas começa a afundar. O texto se torna uma catequese pascal sobre o temor e a fé. Pedro afunda porque tem medo. É Jesus quem o agarra pela mão, socorre, ampara e o recoloca no seio da comunidade simbolizada pela barca. Mateus tem uma predileção especial por temas eclesiais e pelo papel de Pedro no seio desta comunidade de discípulos. Ele nos remete ao tema do primado e à missão do atual papa. Francisco, o papa que vem “do fim do mundo”, não tem medo de revelar sua fraqueza, sua singeleza e sua simplicidade, pois nelas residem a força da graça de Deus que não decepciona. O itinerário espiritual de Pedro é o mesmo caminho feito por Francisco e por nós: em sua fragilidade, expressa-se a generosidade da resposta ao chamado. Ao mesmo tempo, Pedro nos dá a consciência da importância deste ministério de unidade e comunhão para a Igreja, uma vez que a presença de Cristo e de Pedro na barca tem como consequência a calmaria e a adoração reverente da parte dos outros discípulos. A profissão de fé é a mesma do centurião romano diante da cruz: “Verdadeiramente, és o Filho de Deus” (Mt 14,33; 27,54). Assim, a liturgia de hoje praticamente se torna uma aparição do Cristo ressuscitado, que confirma a fé dos apóstolos e de toda a Igreja. Somente com a consciência de que ele não é um fantasma é que haverá salvação para as comunidades mateanas em crise. 3. Passado e futuro se encontram Há, contudo, um elemento novo muito importante na liturgia desse domingo: a relação entre as promessas feitas por Deus a Israel e o cumprimento das promessas em Cristo e em sua Igreja. Em Rm 9,1-5, Paulo, depois de afirmar sua dor imensa por causa do endurecimento de Israel, faz a lista dos privilégios do povo eleito: a Israel pertencem a filiação adotiva, a glória, as alianças, a legislação, o culto, as promessas e os patriarcas, dos quais descende Cristo. Este rico tesouro oferecido a Israel não foi renegado, pois os dons de Deus não irrevogáveis (Rm 11,29). A Igreja cristã não simplesmente substitui Israel. Não. Mas, em Cristo, e de maneira absolutamente nova e qualitativa, fomos inseridos nestes dons e promessas, porque ele é o pleno cumprimento das promessas e a plenitude da revelação. É bom, contudo, nestes tempos de escalada da violência na Terra Santa, com centenas de mortes de mulheres e crianças, não confundir o povo eleito Israel com um projeto de poder histórico e atual. A Igreja Cristã toma parte na mesma promessa que Deus havia feito aos nossos pais, mas não anula, nem substitui Israel. A tenda foi alargada: também nós nos alimentamos da mesma seiva e da mesma raiz (Rm 11,16-24). Por isso, oramos: “Dainos, ó Pai, um coração de filhos para alcançarmos a herança que prometestes”. 4 Nas crises e intempéries, nas tempestades e mares bravios que a comunidade enfrenta, é bom não esquecer que foi Jesus quem forçou os discípulos a embarcar. Ora, se ele nos colocou em meio às ondas revoltas da história, ele não abandonará a sua Igreja em meio à dor e às dificuldades. Navegar é preciso... 1. RAVASI, G. Celebrare e vivere la Parola. Milano: Ancora, 1997. p. 184. 2. Refrão do Salmo Responsorial (Sl 84). 3. RAVASI, G. Celebrare e vivere la Parola. Milano: Ancora, 1997. p. 185. 4. Oração do dia. Sugestões litúrgicas 1. Deus convoca seu povo para que se reúna para celebrar o Mistério Pascal de Jesus, do qual somos partícipes desde o batismo. A assembleia, porque confia no seu Senhor, atende ao apelo e forma o Corpo de Cristo. Sabemos que Deus não deixa de ser fiel à aliança que nos fez, definitivamente, em Jesus. O canto de abertura proposto para esta celebração é o “Acolhe os oprimidos”, com refrão próprio para este domingo. 2. Sugerimos a opção “d” para a saudação: “O Deus da esperança, que nos cumula de toda alegria e paz em nossa fé, pela ação do Espírito Santo, esteja convosco”. Ela retoma elementos importantes que serão proclamados na II Leitura. 3. Depois de ter ouvido e meditado a Palavra de Deus, a comunidade é chamada a fazer sua adesão à fé no Deus uno e trino. Em um gesto de entrega, a assembleia seja convidada a proclamar sua fé, com os braços erguidos ao céu. 4. Na celebração, ofertamos a Deus os dons do pão e do vinho que servirão para nossa própria santificação, depois de santificados e transformados pelo Espírito. O canto para a apresentação dos dons, “A mesa santa”, deve ser executado somente até que os dons cheguem ao altar. O presidente da celebração pode rezar as orações de preparação das oferendas em voz alta, para que a assembleia responda com o “Bendito seja Deus para sempre!”. 5.O canto de comunhão para este domingo é o “É bom estarmos juntos”. Esse e os outros sugeridos para abertura e apresentação dos dons podem ser encontrados no Cd Liturgia VI. Homilia: Pe. Paulo Jackson Nóbrega de Sousa | Sugestões litúrgicas Felipe Magalhães Francisco | Revisão: Maria Lúcia Carvalho Alves