40ª Edição

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40ª Edição
Centro de Ensino Unificado de Teresina – CEUT
Faculdade de Ciências Humanas, Saúde, Exatas e Jurídicas de Teresina
Coordenação do Curso de Bacharelado em Enfermagem
Publicação Científica do Curso de Bacharelado em Enfermagem do CEUT. Ano 2011. Edição 40
Denize Brito Leite 1
Francisca Aline de Sousa Araújo 1
Luciana Juma Torres Anaisse Lima 1
Márcia Andrea Lial Sertão 2
Esta edição traz como foco de pesquisa a Malária ou pulidismo, uma doença infecciosa aguda
ou crônica causada por protozoários parasita do gênero Plasmodium, mata 781 mil pessoas por ano.
A partir da publicação da matéria Fungos podem ser usados na prevenção da malária, vejamos as
características clínicas e epidemiológicas da doença, seus aspectos clínicos e laboratoriais, bem
como situação em que se encontra a nível mundial, nacional e local.
Fungos podem ser usados na prevenção da malária 3
Um estudo que será publicado na revista Parasites and Vectors indica um método que usa
fungos patogênicos como alternativa para prevenir a proliferação da malária. A proposta é usar
esporos flutuantes para matar as larvas dos mosquitos antes que elas possam transmitir a doença.
De acordo com Tullu Bukhari e sua equipe do Laboratório de Entomologia da Universiidade
Wageningen, na Holanda, um modo alternativo para reduzir o risco de infecção por malária é matar
os mosquitos. Fungos, como as espécies M. anisopliae e B. bassiana, causam uma doença
conhecida como muscardina nas larvas dos mosquitos, levando à morte dos insetos antes que eles se
desenvolvam até o estágio adulto.
Os cientistas empregaram um óleo sintético como base para dispersar esporos fúngicos na
superfície da água. Segundo eles, o óleo melhora a dispersão de esporos e o preparo aumenta tanto a
persistência como a eficácia dos esporos. Nos testes feitos pelo grupo, no Quênia, houve morte de
50% mais larvas do que com esporos sem óleo e uma redução de 20% nos estágios de
desenvolvimento dos mosquitos.
Figura 1 - Esporozoitas- agente etiológico da málaria
1
Acadêmicos do 3º Período de Enfermagem do CEUT
Professor da disciplina de epidemiologia do CEUT e orientador do Observatório Epidemiológico
3
Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias em 22 de Fevereiro 2011.
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Observatório Epidemiológico | Xª Semana Epidemiológica
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Figura 2 – Vetor da Malária do gênero Anopheles
Características Clínicas e Epidemiológicas

Descrição: Doença infecciosa febril aguda, causada por protozoários transmitidos por vetores.
Reveste-se de importância epidemiológica por sua gravidade clínica e elevado potencial de
disseminação em áreas com densidade vetorial que favoreça a transmissão. Causa consideráveis
perdas sociais e econômicas na população sob risco, concentrada na região amazônica.

Sinonímias: Paludismo, impaludismo, febre palustre, febre intermitente, febre terçã benigna,
febre terçã maligna, maleita.

Agente Etiológico: Protozoários do gênero Plasmodium. No Brasil, três espécies causam a
malária em seres humanos: P. vivax, P. falciparum e P. malariae. Uma quarta espécie, o P.
ovale, só é encontrado em áreas restritas do continente africano.

Reservatório:
O homem é o único reservatório com importância epidemiológica para a malária.

Período de Transmissibilidade: O mosquito é infectado ao sugar o sangue de uma pessoa com
gametócitos circulantes. Os gametócitos surgem na corrente sangüínea, em período que varia de
poucas horas para o P. vivax e de 7 a 12 dias para o P. falciparum. Para malária causada por P.
falciparum, o indivíduo pode ser fonte de infecção por até 1 ano; P. vivax, até 3 anos; e P.
malariae, por mais de 3 anos, desde que não seja adequadamente tratado.

Modo de Transmissão: Através da picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada por
Plasmodium. Os vetores são mais abundantes nos horários crepusculares, ao entardecer e ao
amanhecer.Todavia, são encontrados picando durante todo o período noturno, porém em menor
quantidade em algumas horas da noite. Não há transmissão direta da doença de pessoa a pessoa.
Pode ocorrer a transmissão induzida, por meio de transfusão de sangue contaminado ou do uso
compartilhado de seringas contaminadas.
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
Período de Incubação: O período de incubação da malária varia de acordo com a espécie de
plasmódio. Para P. falciparum, de 8 a 12 dias; P. vivax, 13 a 17; e P. malariae, 18 a 30 dias.

Susceptibilidade e imunidade: Em geral, toda pessoa é susceptível à infecção por malária. Os
indivíduos que desenvolvem atividades em assentamentos na região amazônica e outras,
relacionadas ao desmatamento, exploração mineral, extrativismo vegetal, estão mais expostos à
doença. Indivíduos que tiveram vários episódios de malária podem atingir um estado de
imunidade parcial, apresentando quadro subclínico ou assintomático. Em regiões nãoendêmicas, as áreas de risco são determinadas pelo potencial malarígeno,relacionado com a
receptividade e vulnerabilidade da área. A receptividade se mantém pela presença, densidade
e longevidade do mosquito Anopheles. A vulnerabilidade é causada pela chegada de portadores
de malária, oriundos da região amazônica e de outros países. Com exceção do Rio Grande do
Sul e Distrito Federal, todos os estados são ainda total ou parcialmente receptivos para a
malária.
Figura 3 – Paciente com Malária
Aspectos Clínicos e Laboratoriais

Manifestações Clínicas: O quadro clínico típico é caracterizado por febre alta, acompanhada de
calafrios, sudorese profusa e cefaléia, que ocorrem em padrões cíclicos, dependendo da espécie
de plasmódio infectante. Em alguns pacientes, aparecem sintomas prodrômicos, vários dias
antes dos paroxismos da doença, a exemplo de náuseas, vômitos, astenia, fadiga, anorexia.

Diagnóstico Clínico: O elemento fundamental no diagnóstico clínico da malária, tanto nas
áreas endêmicas como não-endêmicas, é sempre pensar na possibilidade da doença. Como a
distribuição geográfica da malária não é homogênea, nem mesmo nos países onde a transmissão
é elevada, torna-se importante, durante o exame clínico, resgatar informações sobre a área de
residência ou relato de viagens de exposição ao parasita como nas áreas endêmicas (tropicais).
Além disso informações sobre transfusão de sangue, compartilhamento de agulhas em usuários
de drogas injetáveis, transplante de órgãos podem sugerir a possibilidade de malária induzida.

Diagnóstico Diferencial: O diagnóstico diferencial da malária é feito com a febre tifóide, febre
amarela, leptospirose, hepatite infecciosa, calazar e outros processos febris. Na fase inicial,
principalmente na criança, a malária confunde-se com outras doenças infecciosas dos tratos
respiratório, urinário e digestivo, quer de etiologia viral ou bacteriana. No período de febre
intermitente,as principais doenças que se confundem com a malária são as infecções urinárias,
tuberculose miliar, salmoneloses septicêmicas, calazar, endocardite bacteriana e as leucoses.
Todas apresentam febre e, em geral, esplenomegalia. Algumas delas apresentam anemia e
hepatomegalia.
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
Diagnóstico Laboratorial: O diagnóstico laboratorial específico de rotina é realizado mediante
demonstração de parasitos, através do método da gota espessa (usado preferencialmente) ou
esfregaço ou testes imunocromatográfi cos (testes rápidos) em áreas de baixa endemicidade ou
difícil acesso. Existem ainda os testes de imunodiagnóstico, como a imunofluorescência indireta
(IFI), imunoabsorção enzimática (Elisa), aglutinação, precipitação e radiodiagnóstico, não
utilizados na prática diária. Dentre os métodos de imunodiagnóstico, o IFI e o Elisa são mais
factíveis operacionalmente.
Prevenção e Tratamento: A quimioterapia da malária tem como objetivos: interromper a
esquizogonia sangüínea responsável pela patogenia e manifestações clínicas da infecção;
proporcionar a erradicação de formas latentes do parasito (hipnozoítas) das espécies P. vivax e
P. ovale no ciclo tecidual, evitando as recaídas; e reduzir as fontes de infecção para os
mosquitos, eliminando as formas sexuadas dos parasitos. O tratamento adequado e oportuno da
malária previne o sofrimento humano, a ocorrência do caso grave, o óbito e elimina a fonte de
infecção. As principais drogas antimaláricas são assim classificadas:
• pelo grupo químico – quinolinometanóis (quinina e mefloquina); 4-aminoquinolinas
(cloroquina); 8-aminoquinolinas (primaquina); peróxido de lactona sesquiterpênica (derivados
da artemisinina) antibióticos (tetraciclina, doxiciclina e clindamicina);
• pelo alvo de ação no ciclo biológico do parasito – esquizonticidas teciduais ou
hipnozoiticidas (cura radical do P. vivax e P. ovale); esquizonticidas sangüíneos (promovem a
cura clínica); gametocitocidas (bloqueiam a transmissão).
Aspectos Epidemiológicos
É uma das doenças mais importantes para a humanidade, devido ao seu impacto e custos, e constitui
um fardo extremamente pesado para as populações dos países atingidos, principalmente em África,
incomparável aos custos sociais de qualquer doença ocidental. A malária existe potencialmente em
todas as regiões onde existem humanos e mosquitos Anopheles em quantidade suficiente, o que
inclui todas as regiões tropicais de todos os continentes e muitas regiões subtropicais. Hoje em dia,
a África é particularmente atingida, estando poupadas apenas o norte e a África do Sul. Na América
existe em toda a região central (México e países do istmo) e norte da América do Sul, incluindo
mais de metade do território do Brasil (todo o Nordeste e Amazônia) e ainda nas Caraíbas (não
existe no Sul incluindo Sul do Brasil). Na Ásia está presente em todo o subcontinente indiano,
Médio Oriente, Irão, Ásia central, Sudeste asiático, Indonésia, Filipinas e sul da China. A malária já
existiu mas foi erradicada no século XX da região mediterrânea, incluindo Sul da Europa: Portugal,
Espanha, Itália, sul da França e Grécia; e no Sul e Oeste dos EUA. Ao todo, vivem quase 3 bilhões
de pessoas em regiões endémicas (ou seja, metade da humanidade) em mais de 100 países.
Málaria no Mundo
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, advertiu que a malária
é responsável pela morte de quase 500 mil pessoas por ano no mundo. Segundo ele, pelo menos 3,3
bilhões – a metade da população mundial – vive em situação de risco por causa da doença. De
acordo com a ONU, a cada ano cerca de 250 milhões novos de casos de malária são registrados em
todo o mundo. Em geral, os mais vulneráveis à doença vivem em países pobres ou em
desenvolvimento."O desafio agora é garantir que todos os que são expostos à malária recebam o
diagnóstico de qualidade garantida e tratamento. Os avanços dos últimos anos mostram que a
malária pode ser vencida", afirmou Ban Ki-moon. Segundo ele, desde 2003, os compromissos
internacionais de controle da malária cresceram mais de cinco vezes, "elevando os investimentos no
combate e controle da doença em um total de US $ 1,7 bilhão apenas em 2009". O secretário-geral
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acrescentou, no entanto, que os resultados obtidos até o momento ainda estão "muito aquém do que
é exigido"."A malária é um adversário tenaz. Para manter os ganhos atuais temos de estar
vigilantes. É necessário ficar em alerta porque há a resistência aos medicamentos antimalária, o que
é uma ameaça considerável", disse ontem (25) o secretário-geral das Nações Unidas, no Dia
Mundial de Combate à Malária.
A Organização Mundial da Saúde, ligada às Nações Unidas, informou que foi constatado que há
uma forma de parasita resistente da malária que é frequente na região fronteiriça entre o Camboja e
a Tailândia. De acordo com a OMS, esse transmissor pode prejudicar as atividades de controle da
doença. A recomendação é utilizar uma combinação à base de artemisinina terapias (ACT)."A
campanha global contra a malária tem mostrado que é possível combater a doença quando a
comunidade internacional se une em várias frentes para enfrentar o mais pesado pedágio nas
populações pobres e carentes", disse Ban Ki-moon."O compromisso forte provocou inovação:
iniciativas criativas têm facilitado a entrega de um número maciço de mosquiteiros, parcerias
inovadoras estão desenvolvendo novos medicamentos contra a malária e tornando mais acessíveis
os medicamentos existentes", completou.
Malária no Brasil
No Brasil, aproximadamente 99% dos casos de malária se concentram na região amazônica. A
região é considerada a área endêmica do país para malária. A maioria dos casos ocorre em áreas
rurais, mas há registro da doença também em áreas urbanas.
Na série temporal, a partir dos anos 60 pode ser observado que até 1976 foram registrados menos
de 100 mil casos de malária por ano. A partir daquele ano, houve forte tendência na elevação da
doença em função da ocupação desordenada da região amazônica.Este incremento deveu-se
também à implantação, na região, de projetos de colonização e mineração. Em 1983, registrou-se
300 mil casos. No período de 1984 a 1986, a malária se manteve na faixa dos 400 mil casos. De
1987 a 1995, foram registrados 500 mil casos em média. Em 1996 e 1997 houve redução importante
nos registros da doença, 21,3% e 28,1%, respectivamente, se comparados a 1995. Nos anos de 1998
e 1999, a malária aumentou de forma preocupante, atingindo seu limite, em 1999, com 637.472
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casos. Em 2000, a doença volta a apresentar nova queda, para 615.245 casos. Em 2001, foi
observado o maior declínio na ocorrência da malária nos últimos 40 anos. Neste ano, registrou-se
389.775 casos, o que representou 38,5% de queda em relação a 2000. Em 2003 registrou-se um
aumento de 15,8% em relação ao número de casos de 2002 (348.259 casos). Até a década de 80,
houve relativa equivalência entre as espécies parasitárias (P. vivax e P. falciparum). A partir de
então, nota-se um distanciamento no número de registro das duas espécies, que culminou com a
predominância do P. vivax, responsável por cerca de 78% dos casos notificados em 2003.
Figura 4. Registro de casos de malária e espécies parasitárias (P.falciparum e P. vivax). Brasil, 1961-2003
Piauí
A malária havia sido erradicada na década de 80 e em 2000 reapareceu e houve um surto da doença
em 2004 no Piauí com o aparecimento de casos em seis municípios. O coordenador do Programa de
Controle da Malária do Estado, Mauro Fernando, explicou que foram casos surgidos na própria
localidade, ou seja, são pessoas que chegam infectadas e como o mosquito existe em todo o Estado,
há o aparecimento da doença.
Referências
BRASIL, Ministério da Saúde. Guia de Vigilância Epidemiológica. 7 ed. – Brasília: Ministério
da Saúde, 2009.
portal.saude.gov.br/portal/saude/
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