Ortopedia out 12 - Centro Hospitalar São João
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Ortopedia out 12 - Centro Hospitalar São João
SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO 54 anos de trabalho em prol do doente ortopédico Criado há quase 55 anos, o Serviço é composto por três vertentes, a assistencial, a de ensino – pré e pós-graduado – e a de investigação. Além disso, e não fosse este um Serviço central que abrange toda a área do Norte, está internamente organizado por grupos funcionais. “São unidades de estudo e tratamento de várias patologias ou áreas. Estamos divididos em Grupo Funcional da Coluna, do Ombro e Cotovelo, do Punho e Mão, da Anca, do Joelho, do Tornozelo e Pé e, ainda, de Ortopedia Infantil”, explica. Ao referir que trabalham atualmente neste espaço 45 médicos, dos quais 12 são internos, 61 enfermeiros e quatro assistentes/secretárias, o Dr. Rui Pinto conta que o Serviço conheceu apenas, para além dele próprio, quatro diretores. O primeiro foi o Prof. Carlos Lima (também fundador), que assumiu o cargo de direção durante 32 anos, tendo-se seguido os Profs. Doutores José de Oliveira, Luís de Almeida e Abel Trigo Cabral. Resposta mais célere à necessidade dos doentes Com diferentes áreas de diferenciação e caracterizado pelo seu diretor como central e polivalente, o Serviço de Ortopedia e Traumatologia do Centro Hospitalar de São João, no Porto, dá resposta a todo o tipo de patologias ortopédicas dos doentes da zona Norte. “O Serviço de Ortopedia e Traumatologia está integrado num hospital central e dá resposta a uma multiplicidade de patologias, desde a área pediátrica à de adultos, desde a Traumatologia às artroplastias, aos tumores e às infeções.” Quem o afirma é o Dr. Rui Pinto, 4 diretor deste Serviço há cerca de dois anos, em entrevista ao Mundo Médico®, explicando que o mesmo é constituído por três espaços físicos: dois setores de adultos, um dedicado à Ortopedia, outro à Traumatologia e uma área Pediátrica, de Ortopedia Infantil. Quando questionado acerca dos objetivos a que se propôs ao assumir o cargo de diretor, o Dr. Rui Pinto responde que os seus passos iniciais foram dados com a finalidade de “melhorar a performance de funcionamento do Serviço”. “Modifiquei algumas normas, nomeadamente a nível da chamada dos doentes, da sua revisão e do internamento, de forma a sermos mais céleres na resposta”, menciona o entrevistado. Resultante destas alterações, o Serviço tem parâmetros “muito bons” em termos de serviço de hospital central. “Temos já uma média de internamento de 5,4 dias, o que é já inferior à média de valor nacional, o que é ótimo para o tipo de assistência que damos. São casos complicados, que obrigam a uma maior permanência no hospital.” De facto, os números tendem a subir. O ano passado, o Serviço efetuou um total de 32.189 consultas e a expectativa para 2012 é, de acordo com o seu diretor, de 36.500. Parece ser uma meta alcançável, uma vez que, no início de julho, tinham sido já realizadas 18.000. Em termos de cirurgias, em 2011, foram feitas 4611 e o expectável para este ano é de 5576. O Serviço regista, ainda, um número de doentes saídos (tratados), à data de dezembro de 2011, de 3551. Os pacientes operados foram 3338. “Isto significa que, durante um ano, cerca de 250 doentes foram internados para procedimentos conservadores. Contudo, este é um serviço eminentemente cirúrgico e esse valor é de apenas 10%”, explica. Para este ano, estima-se que sejam operados 4465 doentes. PRODUÇÃO CIENTÍFICA O Dr. Rui Pinto menciona que foi feito, este ano, “um grande investimento em cirurgia de ambulatório”. Existem agora dois polos, um no Hospital de São João e outro no Hospital de Valongo, onde só se faz este tipo de cirurgia. Próximo objetivo: banco de tecidos Dr. Rui Pinto Os transplantes de tecido dentro da Ortopedia é uma das áreas que se encontra já em desenvolvimento. “Estamos num processo de acreditação do banco de tecidos da zona Norte e gostaríamos de concretizar esta missão, de forma a recolhermos também tecidos, para além do osso, que possam ser implantados Neste capítulo, estão em curso vários trabalhos de investigação científica que fazem parte de teses de doutoramento. Além destes, a produção científica do Serviço tem permitido apresentar e publicar múltiplos trabalhos em congressos e revistas nacionais e internacionais, alguns galardoados com prémios a nível nacional. secundariamente”, indica, desenvolvendo que este é um processo que tem vindo a evoluir e afirmando acreditar que, “até ao fim do ano”, será possível implementar esta colheita. Por fim, o Dr. Rui Pinto aponta também algumas das dificuldades do Serviço, que se prendem essencialmente com a aquisição de novos materiais e equipamentos e, ainda, com a contratação de novos especialistas. “Os quadros hospitalares têm de ser renovados. É impossível continuar a geri-los quando a média de idades é de 50-60 anos. Temos de pensar que quando formos embora alguém tem de ficar a ‘tomar conta da casa’”, desabafa. E conclui: “Temos um Serviço polivalente, que tem a capacidade de dar uma ótima preparação aos internos e, com a criação dos grupos funcionais, consegue também apostar na evolução cirúrgica dos especialistas, uma vez que as pessoas se dedicam mais a um determinado tipo de cirurgia.” 5 SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO Traumatologia e Consulta Externa: duas vertentes essenciais e em constante evolução Fazendo parte integrante da equipa do Serviço de Ortopedia e Traumatologia desde 1982, o Dr. Sérgio Silva é, desde há três anos, responsável por Trauma 8 e, há 10 anos, pela Consulta Externa e fala-nos um pouco acerca do funcionamento e das características de cada uma destas vertentes. Dr. Sérgio Silva No que diz respeito às Consultas Externas, o ortopedista conta que um dos seus primeiros objetivos, desde que assumiu a coordenação desta área, foi diminuir o tempo de espera dos doentes pelas consultas. “A demora média era de oito meses. Atualmente, estamos com cerca de seis semanas 6 e aumentámos significativamente o número de primeiras consultas, em relação aos doentes externos ao hospital”, indica. As formas de referenciação para a Consulta Externa são diversas. Pode, segundo o Dr. Sérgio Silva, ser externa ou interna. A primeira é normalmente efetuada pelo médico de família, das diversas unidades de saúde que fazem parte da área de referência do hospital. A interna pode ser feita por outros serviços do hospital, incluindo o de Urgência e, ainda, pelo Internamento. A Traumatologia está, logicamente, dividida em dois setores, um masculino e um feminino. “Os doentes são internados através do Serviço de Urgência e todos os dias é feita uma visita em grupo, para que possamos avaliar cada um dos doentes, ver a orientação a dar e o timming mais adequado para a realização dos tratamentos”, explica. As patologias mais frequentes internadas em Traumatologia, segundo o seu responsável, são, em função do envelhecimento da população, e principalmente nas mulheres, as fraturas do colo do fémur. “Além destes casos, são internados doentes com lesões traumáticas resultantes dos mais variados acidentes. Merecem especial referência os acidentes rodoviários com fraturas a vários níveis. O Serviço de Ortopedia e Traumatologia está localizado em dois pisos: um novo, onde se situa a Ortopedia, e outro mais antigo, da Traumatologia. “Um dos projetos futuros seria termos um serviço remodelado, com instalações novas para a Traumatologia”, refere o Dr. Sérgio Silva, ao falar dos seus objetivos enquanto responsável por esta vertente. E termina: “Nos últimos meses, houve melhoria da assistência prestada, com a inclusão, no corpo de enfermagem, de enfermeira de reabilitação, para ensino e reabilitação dos doentes.” Profissionais diferenciados dão apoio a uma multiplicidade de patologias São sete os Grupos Funcionais que constituem o Serviço: Coluna, Ombro, Punho e Mão, Anca, Joelho, Tornozelo e Pé e Ortopedia Infantil. Não são subespecialidades, mas áreas de diferenciação, que permitem manter a especialização técnica e a capacidade de atuar e responder de forma eficaz a situações extremas, exigentes e rigorosas. Grupo da Coluna: uma área com tradição O Serviço de Ortopedia e Traumatologia tem quase 55 anos e, segundo o Dr. Vitorino Veludo, assistente hospitalar graduado e responsável pelo Grupo Funcional de Coluna, sempre teve e mantém uma “tradição tremenda” no que diz respeito à cirurgia da coluna. 7 SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO “Este espaço conheceu apenas cinco diretores de serviço até hoje e alguns deles marcaram a cirurgia da coluna em Portugal, como os Profs. José Oliveira e Luís Almeida e, agora, o Dr. Rui Pinto, que é o presidente da SPOT e da SPC”, observa. “Ao longo dos anos, e à medida que o Serviço foi evoluindo, verificou-se uma necessidade crescente, até pela especificidade das situações, de haver uma diferenciação das várias áreas”, afirma o Dr. Vitorino Veludo. E explica: “Não há subespecialidades na Ortopedia, existem sim pessoas que, durante a sua formação, se diferenciaram numa determinada área. Eu fui direcionado para a cirurgia da coluna.” “Um hospital com esta grandeza sofre grande pressão em termos de pedidos de consultas”, observa, concluindo haver uma grande vantagem nesta diferenciação: “É possível manter uma capacidade de especialização técnica, que não conseguiríamos ter se nos mantivéssemos na generalidade da Ortopedia.” Dr. Vitorino Veludo Atualmente, com oito especialistas a fazer Consulta de Coluna, o Grupo efetua uma média de 200 consultas e quatro tempos de bloco por semana. “As patologias mais frequentes são as deformidades da coluna vertebral, isto é, as escolioses, as cifoses idiopáticas, 8 as consequências das doenças neuromusculares e as deformidades congénitas”, enumera o Dr. Vitorino Veludo, acrescentando que seguem, também, as patologias degenerativas da coluna, as situações de infeção e os processos tumorais da coluna. Grupo do Ombro: um futuro “centro de referência” “Formação e evolução técnica” são, segundo o seu coordenador, Prof. Doutor Manuel Gutierres, as imagens de marca do Grupo do Ombro. “É um desafio estimulante recorrer às técnicas mais atuais no tratamento das patologias”, afirma o também docente da cadeira de Ortopedia e responsável pelos internos. E acrescenta: “Daí o interesse da diferenciação por áreas, de forma a ser possível acompanhar o que de mais avançado se pratica, podendo depois tratar um número suficiente de casos/ /ano para acumular experiência.” Referindo que a profissão médica e a paixão pela Ortopedia são para si “um fator de felicidade”, o entrevistado, que trabalha no Serviço desde 1992, recorda como nasceu este grupo. “Lecionámos na faculdade as aulas referentes à patologia do joelho e ombro. Nessa altura, fomos obtendo o domínio da técnica de artroscopia através do treino que adquirimos no joelho e que pretendíamos alargar também ao ombro. Assim, solicitámos ao responsável da consulta externa, o Dr. Sérgio Silva, que efetuasse uma triagem dos doentes com patologia do ombro e os dirigisse para nós. Os restantes colegas do serviço e de outras especialidades também colaboraram”, conta. O futuro é aguardado com expectativa e confiança. O Prof. Doutor Manuel Gutierres diz acreditar que, com a experiência que estão a acumular, podem tornar-se “num centro de referência” e ajudar os colegas de outros hospitais a tratar os casos mais complicados, assim como recebê-los em estágios na área. O ortopedista faz ainda referência à candidatura à coordenação da Secção do Ombro da Sociedade de Ortopedia, com a colaboração dos Drs. Marco Sarmento e Pedro Lemos. Grupo do Punho e Mão: jovem, mas com história Prof. Doutor Manuel Gutierres Com o passar dos anos, foi-lhes atribuído um bloco extra e, mais recentemente, com a entrada em funcionamento do Centro de Cirurgia Ambulatório, o grupo teve a possibilidade de ter mais uma manhã semanal dedicada à cirurgia artroscópica do ombro. Atualmente, em termos de cirurgia aberta, são aqui efetuadas todo o tipo de artroplastias do ombro, assim como osteossínteses complicadas ou mesmo transferências musculares. Quanto à cirurgia mini-invasiva, o grupo trata por artroscopia não só instabilidades glenoumerais, como também roturas da coifa e patologia traumática ou degenerativa da acromioclavicular. O docente faz questão de referir a importância dos elementos mais novos que colaboram ou já colaboraram com o grupo, afirmando serem um constante estímulo e “veículo de nova informação e experiência”. “O Grupo do Punho e Mão surgiu há quatro anos, por iniciativa do Dr. Rui Pinto, que considerava ser importante a existência de um grupo que se dedicasse em especial a este tipo de cirurgia, muito com o objetivo de haver alguma diferenciação no tratamento da patologia da mão”, lembra o Dr. Rui Milheiro Matos, assistente graduado e responsável por este Grupo. Esta criação foi, também, uma forma de homenagear o Prof. José de Oliveira, que dedicava parte do seu tempo a esta área. Foi então, há quatro anos, que nasceu o grupo e que o Dr. Rui Milheiro Matos, que trabalha no Serviço há 20, Dr. Rui Milheiro Matos abraçou o projeto, que conta com três especialistas em Ortopedia e um interno da especialidade. Ali se realizam muitas cirurgias, quer da Mão Traumática, quer da Mão Ortopédica, sendo nestas as mais frequentes as artroplastias, tanto do punho, como das interfalângicas, das metacarpofalângicas e das trapeziometacarpianas. “Temos trabalhado em colaboração com a Neurologia e a Medicina, por causa das mãos espásticas, para permitir uma melhor qualidade de vida a estes doentes”, conta. E menciona: “Os números da cirurgia de ambulatório, neste último ano, desde que abriu a Unidade em Valongo, integrada no Centro Hospitalar desde 2011, têm sido cada vez mais elevados.” O grupo está agora, como informa o Dr. Rui Milheiro Matos, empenhado em poder ter os materiais mais recentes, de forma a fazer uso das técnicas mais avançadas de artroplastia para as diferentes patologias. Grupo da Anca: resposta eficaz a casos difíceis Constituído por três especialistas e dois internos, o Grupo da Anca dedica-se em particular, e segundo o Dr. António Mateus, seu responsável, à resolução das situações mais complicadas de patologia da anca. “Os casos mais difíceis que nos aparecem, e começando pela ‘cirurgia mais exigente’, são as revisões das próteses totais da anca, em que, nas situações de grande perda óssea, temos de utilizar enxerto ósseo e recorrer a diversos tipos de material apropriado a cada caso”, afirma o Dr. António Mateus. E conta: “Por se tratar de uma cirurgia complexa, por vezes, temos dificuldades e limitações, quer pela duração da cirurgia, pelas perdas hemáticas, quer ainda pelas diversas e frequentes comorbilidades que os doentes apresentam.” Por outro lado, continua, as próteses primárias são geralmente simples de realizar, contudo, as secundárias a doenças como a displasia do desenvol- 9 SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO vimento da anca são mais complicadas, uma vez que a reconstrução se torna difícil. Desde há alguns anos, este grupo faz também a denominada cirurgia conservadora da anca, “o tratamento do conflito femoroacetabular (CFA), pela técnica mista de Ribas, onde há uma miniabordagem complementada por artroscopia”. “Estamos também a avançar na cirurgia artroscópica, que já fazemos, assim como na cirurgia conservadora da anca, nomeadamente com as osteotomias periacetabulares”. Segundo o responsável do Grupo, que trabalha no Serviço há 20 anos, os profissionais da área da anca realizam cerca de 100 cirurgias por ano e uma média de 400 consultas. Dr. António Mateus O tempo de internamento pode ser prolongado, dependendo do tipo de cirurgia e se ocorreu ou não alguma complicação. “Muitas vezes são tratamentos prolongados, porque recebemos neste hospital casos difíceis de tratar, como infeções, muitas por bactérias resistentes aos antibióticos”, refere. E conclui: “Para ultrapassar as dificuldades e desafios que vão surgindo, fazemos a necessária atualização constante dos nossos conhecimentos, frequentando cursos e fazendo 10 estágios no estrangeiro com experts na matéria.” Grupo do Joelho: “prevenção” é a palavra-chave Responsável pelo Grupo do Joelho desde 2001, o Dr. Paulo Oliveira explica que o mesmo é constituído por três elementos, que se dedicam ao tratamento da patologia do joelho nas suas várias vertentes, desde a Traumatologia Desportiva à Patologia Degenerativa. “Trabalhamos com uma equipa multidisciplinar, no sentido da recuperação funcional e da integração socioeconómica e familiar do doente”, indica. Para tal, foi instituído um programa ao nível da anca e do joelho para tratamento da patologia degenerativa. Também responsável por este projeto, o Dr. Paulo Oliveira frisa consistir em ações de formação junto dos doentes, dadas por uma equipa composta por um cirurgião, um anestesista, um enfermeiro de reabilitação e um assistente social. “O programa visa apresentar ao doente, de forma explícita, todo o seu percurso no serviço, perante a hipótese de uma substituição da anca ou do joelho.” Na ótica deste especialista em Ortopedia, esta iniciativa permite que o doente tenha uma compreensão mais abrangente do problema e uma adesão mais integrada ao projeto, que inclusivamente permite a diminuição do tempo de internamento. “Isto é muito importante. Neste momento, estamos nos quatro dias, enquanto antigamente a média era de seis a sete dias”, salienta. O Grupo do Joelho desenvolveu, ainda, um programa na área da prevenção da artrose, onde são identificados os mecanismos subjacentes a este problema e cujo objetivo é atuar em conformidade, corrigindo as alterações possíveis, tentando atrasar de forma significativa a evolução natural da patologia degenerativa do joelho. Além deste, o grupo tem um programa de estudo na área dos transplantes meniscais e de enxertos osteoligamentares, nomeadamente para as reconstruções de ligamento cruzado anterior. No entanto, e segundo o Dr. Paulo Oliveira, está ainda dependente da validação por parte da entidade competente do banco de osso. çar a identificar de forma mais precoce os problemas e agir em conformidade”, remata. Grupo do Tornozelo e Pé: técnica e dedicação Dr. Paulo Oliveira “O Serviço teve sempre uma área de Tornozelo e Pé com especialistas dedicados”, afirma o Dr. António Moura, chefe de serviço e responsável por este Grupo Funcional, que trabalha no Serviço desde 1981. Esta área conta com a colaboração de dois ortopedistas e de alguns internos da especialidade. “Damos formação a praticamente todos os internos do Serviço. Ensinamos-lhes o que sabemos e motivamo-los para que partam para novas técnicas”, refere. O Grupo tem, segundo o Dr. António Moura, dois grupos de consultas semanais e um dia dedicado apenas à cirurgia de tornozelo e pé. “O grande futuro da Medicina está na Biomedicina. A patologia do joelho passa muito mais pela prevenção do que pela atuação curativa. Temos de come- Dr. António Moura “Abrangemos todas as patologias. Fazemos as cirurgias comuns e também a supra especializada do tornozelo e pé, normalmente em doentes que tiveram complicações em episódios anteriores ou que recorreram tardiamente ao tratamento”, menciona o responsável. E refere: “Damos ainda apoio de retaguarda na área do pé diabético e a todos os casos complicados que nos aparecem, encaminhados de outros serviços do hospital ou até mesmo de fora. São normalmente doentes com recidivas ou provenientes da área da Reumatologia.” Questionado acerca do tempo médio de internamento, responde que, na grande maioria dos casos, a alta é dada nas primeiras 48 horas após a cirurgia, à exceção das próteses do tornozelo, em que o pós-operatório é mais demorado, cerca de cinco dias. O Dr. António Moura afirma ter alguns objetivos delineados para o Grupo. “Temos de trazer gente nova para a área do Tornozelo e Pé. É importante dar formação aos mais novos e, se possível, levá-los para centros europeus de referência, à semelhança de casos anteriores, para que tragam novas técnicas para o Serviço”, indica. E termina: “No futuro, temos de aumentar o número de procedimentos das cirurgias percutânea e de ambulatório, diminuindo assim o tempo de internamento.” 11 SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO Ortopedia Infantil Técnicas inovadoras no tratamento das diversas patologias Atualmente dirigido pelo Prof. Doutor Gilberto Costa, chefe de serviço de Ortopedia e regente da cadeira de Ortopedia e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, o Grupo Funcional de Ortopedia Infantil conta com a colaboração dos Drs. Jorge Coutinho, Nuno Alegrete e Joana Freitas. Situa-se, por força da lei, na Unidade Pediátrica, um espaço à parte fora do corpo central do hospital, conhecido como “Um lugar para o Joãozinho”, onde dispõe de duas enfermarias, com um total de oito camas. Tem uma sala de operações semanal, duas a três salas 12 de Cirurgia de Ambulatório por mês e quatro períodos de Consulta Externa por semana. “O Joãozinho” coloca ainda à disposição das crianças duas coloridas salas com brinquedos, livros, filmes e diferentes tipos de jogos para distrair e acolher os mais pequenos que têm de ficar internados. No entanto, e mostrandose expectante quanto à construção do Hospital Pediátrico do S. João, o Prof. Doutor Gilberto Costa refere que o facto de as crianças estarem neste espaço “fora do hospital” acaba por colocar alguns problemas logísticos, como, por exemplo, o transporte para as cirurgias Prof. Doutor Gilberto Costa ou exames subsidiários, que, apesar do curto trajeto dentro do perímetro do Hospital, sempre que necessário, tem de ser efetuado de ambulância. “O grupo foi criado em 1984, na altura constituído pelo Prof. Doutor Trigo Cabral, pelo Dr. Cid Teles e por mim, dispondo inicialmente de quatro camas no Serviço de Ortopedia e Traumatologia”, recorda o atual coordenador do grupo. E desenvolve: “Foi, entretanto, evoluindo na especificidade dos serviços prestados à sua área de influência, que neste momento abrange toda a população pediátrica do Norte do País.” De acordo com o Prof. Doutor Gilberto Costa, este grupo funcional desenvolve técnicas inovadoras no tratamento de alguns tumores ósseos com recessão da massa tumoral e substituição da mesma através de “transporte ósseo”. “Depois do Dr. Nuno Alegrete ter realizado um estágio no Serviço do Dr. Ponseti, nos EUA, aplicamos, desde há vários anos, o Método de Ponseti para o tratamento dos pés botos, com excelentes resultados”, conta, acrescentando que, no campo das malformações congénitas, o grupo tem atualmente uma experiência acumulada no tratamento da doença do desenvolvimento da anca. “Estas patologias são-nos enviadas de todo o Norte do País, como ‘serviço de fim de linha’”, menciona. Por outro lado, e de acordo com o ortopedista, os profissionais do Grupo adquiriam, ao longo dos anos, uma grande experiência no tratamento das sequelas da doença de Perthes, nomeadamente, com a reconstrução acetabular (acetabuloplastias). O diagnóstico e tratamento das deformidades da coluna é também um dos vetores do grupo, com alta diferenciação na patologia. No que confere à atividade assistencial, o coordenador do grupo indica que, em 2011, foram efetuadas um total de 3578 consultas. “Fizemos 1740 primeiras consultas, 1836 de seguimento e tratámos 497 crianças em internamento.” Relativamente aos doentes operados, em Bloco Central, foram contabilizados 195 com uma média de 3,9 por período cirúrgico (6 horas), em ambulatório 78 e 248 no Serviço de Urgência. Foram ainda registados 823 episódios em Hos- pital de Dia, com uma média de 5,2 por período de 6 horas. Falando um pouco acerca da atividade científica destes profissionais que se dedicam à Ortopedia Infantil, o Prof. Doutor Gilberto Costa afirma que, além da participação anual nos eventos internacionais de maior relevo, “este é um dos três serviços com maior número de conferências e comunicações científicas nas Jornadas Nacionais de Ortopedia Infantil, que se realizam todos os anos no âmbito da Sociedade Portuguesa de Ortopedia e Traumatologia”. E conclui: “O Serviço organizou, com êxito assinalável, as Jornadas Nacionais de 2006 e de 2010.” 13 SERVIÇO DE ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA DO CENTRO HOSPITALAR DE S. JOÃO Enf.ª Natividade Lourenço: “O enfermeiro é o pivot da equipa multidisciplinar” Com uma presença permanente em qualquer serviço de internamento, a atuação do enfermeiro é de vital importância nos hospitais, tanto no que se refere ao cuidado aos doentes, como outros procedimentos que são de sua responsabilidade. Este profissional de saúde tem atividades muito diversificadas: coordena, supervisiona, controla, presta assistência direta ao paciente e constitui o elo de ligação entre a equipa e a família. “O enfermeiro é o pivot da equipa multidisciplinar. A nossa permanência 24 horas no serviço dá-nos acesso a informações que nos permitem identificar outros problemas que os doentes possam apresentar, além do ortopédico, fazendo parte das nossas atribuições referenciar estes problemas ou providenciar o apoio de outros elementos da equipa”, afirma a enfermeira chefe Natividade Lourenço, ao falar acerca do papel destes profissionais de saúde. Por outro lado, continua, a relação enfermeiro/doente torna-se privilegiada, dada a proximidade estabelecida. “Sou enfermeira há 30 anos e sinto que os doentes desenvolvem uma relação de confiança com o enfermeiro. Falam, sem constrangimentos, sobre os seus problemas de saúde e pessoais e expõem as suas dúvidas”, nota. Integrada no Serviço de Ortopedia há cinco anos, desde sempre como enfermeira chefe, Natividade Lourenço fala um pouco acerca das suas funções como responsável por uma equipa de 31 profissionais. 14 De entre as diversas atividades, a entrevistada destaca a gestão de recursos humanos, de cuidados de enfermagem aos doentes e ainda de recursos materiais. Enf.ª Natividade Lourenço E confessa: “A área que constitui para mim um maior desafio é a gestão de cuidados de enfermagem ao doente. O meu principal objetivo é que os enfermeiros sejam competentes e prestem cuidados de excelência, respeitando os princípios técnicos e a individualidade de cada doente e estabeleçam com eles uma relação terapêutica e humanizante e uma comunicação eficaz.” Do seu ponto de vista, estas são vertentes fundamentais. “O doente pode não ter capacidade de avaliar se tecnicamente o enfermeiro está ou não a desempenhar bem o seu papel. Contudo, o mesmo não se passa em termos de relações humanas e de comunicação.” Outro aspeto que considera essencial na área da Ortopedia é a prevenção de acidentes. Segundo indica, muitos doentes, devido às suas limitações físicas, nomeadamente, na deambulação, apresentam elevado risco de quedas, que constitui um importante problema de Saúde Pública, pela morbilidade e mortalidade que acarretam, principalmente em pessoas idosas. A sua prevenção em ambiente hospitalar é essencial quando se pretende caminhar em busca da excelência dos cuidados. A prevenção de úlceras de pressão, um flagelo dos doentes hospitalizados, é outro dos aspetos para o qual a intervenção do enfermeiro é crucial. Ao ser questionada acerca dos projetos futuros, a Enf.ª Natividade Lourenço refere não lhe faltarem e menciona ter, atualmente, a equipa de enfermagem envolvida num projeto com doentes submetidos à artroplastia total da anca e do joelho. Deste faz parte a realização de reuniões pré-operatórias multidisciplinares, em que estão presentes os doentes e os prestadores de cuidados e onde lhes é transmitida toda a informação relativa aos procedimentos a que serão submetidos durante a cirurgia e internamento. “Com este projeto, pretendemos não só reduzir o tempo de internamento e as suas complicações quando prolongado, mas sobretudo que o doente atinja o máximo de independência e de satisfação com os cuidados prestados”, conclui.
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