- Nova Cartografia Social

Transcrição

- Nova Cartografia Social
Seminário reúne em Havana participantes de seis países americanos
para discutir perspectivas de mobilizações identitárias no continente,
com foco em Cuba, Brasil e Canadá
Havana, 20 de abril de 2015.
Mais de cento e cinquenta participantes de universidades, institutos de pesquisa, coletivos da sociedade
civil, e representantes de governo, oriundos do México, Estados Unidos, Cuba, Brasil, Venezuela e
Canadá, circularam pelos Institutos Cubanos de Investigação Cultural Juan Marinello e de Antropologia
nos três dias do Seminário Identidades e Mobilizações Coletivas: perspectivas desde contextos
americanos. Realizado entre os dias 14 a 16 de abril de 2015, na cidade de Havana, Cuba, o seminário foi
coordenado por Bárbara Oliveira Souza (Universidade de Brasília - UnB), por Daniel Brasil (University of
British Columbia - UBC e UnB), e por Caridad Masón (Instituto Cubano de Investigação Cultural Juan
Marinello - ICIC). O seminário também contou com o apoio das Embaixadas do Canadá e Brasil em
Havana.
Temas relacionados com o universo de comunidades quilombolas, palenqueras, tradicionais, santeras,
abacuá e dos povos indígenas, somados a questões vinculadas às relações raciais e mobilizações negras
e afrodescendentes, proporcionaram uma ampla discussão ainda inédita de forma sistematizada em
Cuba. Justamente os encontros e desencontros do discurso racial cubano abriram os debates do
primeiro dia do Seminário com a conferência inaugural de Zuleika Romay, presidenta do Instituto
Cubano do Livro.
Foto 1: Participantes do Seminario durante abertura. Foto 2: Zuleika Romay.
Esse panorama cubano deu base para a discussão das mobilizações coletivas de quilombos, palenques e
santeiros, numa perspectiva histórica e da contemporaneidade. Destaque para a apresentação do
Coordenador do Projeto Nova Cartografia Social, Alfredo Wagner, que abordou o papel da cartografia
social na colaboração às demandas identitárias de comunidades tradicionais por direitos e suas lutas
relacionadas à garantia de seus territórios coletivos. Agregaram-se perspectivas sobre estudos
arqueológicos em palenques cubanos, e habitações de escravizados africanos (bohíos e barracones) no
período colonial por Jorge Garcell Domínguez e Lisette Roura Alvarez (Patrimonio Nacional de Cuba). As
relações de gênero na Santeria foram foco da palestra de Lazara Menéndez Vásquez (Universidad de La
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Habana - UH). A apresentação de uma visão panorâmica do conceito de “cimarronage” esteve presente
na intervenção de Tomás Fernandez Robaina (Biblioteca Nacional de Cuba).
Fotos da Mesa Quilombos, Palenques e outras manifestações afrodescendentes nas Américas. Foto 3: Exposição do Alfredo Wagner de
Almeida. Foto 4: Composição da Mesa. Foto 5: Apresentação Lazara Menendez. Foto 6: Apresentação Jorge Garcell.
O debate sobre mobilizações indígenas foi bastante amplo e abarcou olhares sobre distintos processos
com impactos sobre o território, como a incorporação do tema em constituições latino-americanas, a
presença indígena na composição genética nacional-cubana, a conjuntura atual da questão indígena no
Brasil, os impactos de empreendimentos turísticos e industriais nos territórios indígenas do nordeste
brasileiro, nas intervenções de Dulce María O’Halloran González (Instituto de Antropologia - ICAN),
Rolando Julio Rensoli Medina (Universidad de Ciencias Médicas de Cuba), Stephen Grant Baines (UnB) e
de Isis Maria Cunha Lustosa (Laboter-Universidade Federal de Goiás). A apresentação da construção do
Atlas Histórico de Cuba, segundo Pedro Pablo Godo (ICAN), ainda carente nos estudos arqueológicos e
antropológicos no país, foi foco da palestra centrada no resgate da história indo-americana no país.
Bruce Granville Miller(UBC), salientou a participação de especialistas antropólogos em casos judiciais
relativos aos povos indígenas da costa noroeste canadense.
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Foto 7: Apresentação do Bruce Miller na Mesa Territórios e Mobilizações Indígenas. Foto 8: Dulce Maria e Rolando Julio. Foto 9: Stephen
Baines. Foto 8: Isis Lustosa.
As mobilizações nos bairros e comunidades locais também foram tema do primeiro dia do seminário,
centrando-se em questões relacionadas à articulação em rede, institucionalização de demandas,
resistência e vulnerabilidades de segmentos sociais.Maritza López McBean (Red Barrial
Afrodescendiente), abordou o processo de construção da rede de projetos comunitários, tendo como
exemplos articulações estabelecidas o "Muñeca Negra" e o projeto "Transe". Ambos os projetos
expuseram seus trabalhos durante o seminário. A vulnerabilidade social de jovens nos bairros de Havana
foi o foco da palestra de Elaine Morales Chuco (ICIC). Kimbo, abacuá e líder comunitário do bairro de La
Marina, Matanzas-Cuba, destacou os desafios de institucionalização do Proyecto La Marina: Identidad y
Barrio e seus principais resultados relativos à articulação política, ao fortalecimento identitário e ao
regaste e à reconstrução da história do bairro. O bairro de La Marina também é parte do estudo
comparado entre Brasil, Canadá e Cuba apresentado por Daniel Brasil (UnB-UBC). A ideia da pesquisa
em curso é comparar políticas de reconhecimento e não-reconhecimento dos Estados nacionais, onde
se localizam estratégias de resistência de comunidades como o povo indígena Hwlitsum, na Canadá, ou
a comunidade quilombola de Periperi, no Brasil.
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Foto 9: Exposição de Maritza Lopez. Foto 10: Pergunta feita no debate da mesa por Tato Quiñones. Foto 11: Exposição de Daniel Brasil. Foto 12:
Palestra de Kimbo, de La Marina.
As reflexões sobre perspectivas interculturais e inclusão étnico-racial na educação trouxeram
abordagens sobre o histórico de inclusão da população negra no sistema educacional cubano. Ambos os
estudos apresentados por Yulexis Almeida (UH) e Rodrigo Espina Prieto (ICIC), destacam a ampliação das
desigualdades nos últimos anos, nas universidades cubanas, e no acesso ao ensino. A experiência do
Programa de Pós Graduação em Cartografia Social e Política na Amazônia foi o tema da palestra de Rosa
Elizabeth Acevedo Marin, da Universidade Federal do Pará, destacando as estratégias para a
participação indígena, quilombola e de outras comunidades tradicionais, o que foi também objeto da
intervenção de Bruce G. Miller (UBC), enfocando os mecanismos na sua universidade para a participação
de indígenas.
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Foto 13: Exposição Yulexis Almeida. Foto 14: Pergunta feita no debate por Isabela Sales. Foto 15: Exposição feita por Rosa Acevedo. Foto 6:
Palestra de Rodrigo Spina.
A incorporação dos debates sobre a igualdade racial nas políticas públicas e a questão dos múltiplos
conceitos e perspectivas sobre raça, racismo, negro, cor, e afrodescendente foram o foco das discussões
apresentadas por Matilde Ribeiro (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira
- UNILAB), e Bárbara Oliveira (UnB). Essas questões permearam também as intervenções sobre
organizações negras em Cuba de Tato Quiñones, escritor e Babalawo, de Irene Ester (Afrocubanas), e
Roberto Zurbano (Casa de las Américas). Os palestrantes cubanos enfocaram memórias e perspectivas
da mobilização coletiva negra nos bairros de Havana, a organização do coletivo de mulheres negras em
torno da articulação com projetos locais, e a investigação sobre a comunidade de haitianos em Havana.
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Foto 17: Palestra de Matilde Ribeiro. Foto 18: Fala de Bárbara Oliveira. Foto 19: Participação de Irene Ruiz. Foto 20: Exposição de Roberto
Zurbano.
O ultimo tema do seminário foi a questão das fronteiras e os desafios que representam para a
construção e afirmação de identidades coletivas. Perspectivas sobre as dificuldades de indígenas do
mundo Coast Salish na fronteira entre os Estados Unidos e o Canadá e de povos Macuxi e Wapishana na
fronteira entre Brasil e Guiana foram apresentadas por Bruce G. Miller e Stephen Baines, assim como os
desafios para a incorporação das demandas por territorialização nos ordenamentos jurídicos nacionais,
por Daniel Viegas, do Projeto Nova Cartografia Social. Pablo Rodríguez Ruiz, do Instituto de
Antropologia, ainda enfocou os dilemas provocados pelas remessas de cubano-americanos para a
desigualdade social na Ilha.
Foto 21: Exposição de Daniel Viegas no Seminario.
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Os debates no ICIC terminaram com o espetáculo de Marta Sanchez e do conjunto Obba-Areanle, sob a
direção artística de Deysi Braun, celebrando os 25 anos de carreira da cantora e 20 anos de existência do
grupo musical, que traz em suas canções grande influência da cultura Arara.
Foto 22: Grupo Ob ba Areanle. Foto 23: Homenagem das Mu ñecas Negras aos participantes. Foto 24: Participantes com a cantora Deisy Braun.
Foto 25: Cantora Marta Sanchez. Foto 26: Roda com conjunto musical.
O seminário ainda contou com duas atividades paralelas: a visita ao Bairro La Marina, em Matanzas,
para conhecer o projeto Identidad y Barrio La Marina, e a oficina sobre parcerias sobre o estudos e
pesquisas sobre a diáspora africana nas Américas.
O dia 12 de abril em La Marina começou com uma mesa redonda sobre o projeto, e visita aos pontos de
referencia do bairro, como a casa do artista plástico Fedor Monet, onde culmina a produção do boneco
de San Juan, que na fusão com Ogun, anima a festividade anual na comunidade. No bairro negro
fronteiriço de Simpson, ocorreu o lançamento do livro Asere Núncue Itiá Ecobio Enyene Abacuá:
Algunos documentos y apuntes para una historia de las hermandades abacuá de la ciudad de La Habana,
do Babalawo Tato Quiñones, na Casa Templo Obbeche. Para concluir a visita a Matanzas, a comunidade
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preparou a XII edição do festival de comidas tradicionais, acompanhada pelo espetáculo do grupo
Rumba Timba, tradicional no Bairro.
Com o apoio do governo de Matanzas e da coordenação do grupo gestor do projeto, os participantes
puderam conhecer um pouco sobre a realidade do bairro matancero, sua identidade, manifestações
culturais e a organização comunitária fundada em processos de resistência construídos a partir dessas
mesmas referências identitárias.
Foto 27: Reunião sobre o projeto Identidad y Barrio La Marina, em La Marina, Matanzas. Foto 28: Kimbo na reunião do projeto. Foto 29: Festival de Comida
Tradicional. Foto 30: Espetáculo de Rumba, em La Marina, Matanzas.
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Foto 31: Espetáculo de Rumba em La Marina, Matanzas. Foto 32: Dança Abacuá.
No Instituto de Antropologia, dia 16 de abril, as instituições participantes puderam intercambiar linhas
de pesquisa no sentido da colaboração internacional no tema da diáspora africana e também discutir
possibilidades de parcerias com o projeto da Nova Cartografia Social. Pesquisadores, ativistas, e
intelectuais cubanos apresentaram perspectivas locais e propostas de cooperação a serem melhor
detalhadas a partir do diálogo com as comunidades e coletivos. Matilde Ribeiro (UNILAB) lançou em
Cuba seu livro Políticas de Promoção da Igualdade Racial no Brasil 1980-2010 e Tomás Robaina
apresentou seu livro El Negro en Cuba, celebrando 25 anos de lançamento da obra. Matilde ainda
lançou proposta para a realização de uma segunda edição do seminário Identidades e Mobilizações
Coletivas no Brasil, em sua universidade, no próximo ano.
Foto 33: Ofi cina sobre cooperação de pes quisas sobre a Diáspora Africana nas Américas, com Matilde Ribeiro. Foto 34: Apresentação do Projeto Nova Car tografia
Social com Alfredo Wagner, Daniel Viegas, Rosa Acevedo e Isabela Sales.
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Foto 35: Participação no debate de Deyni, do coletivo Alianza Igualdad Racial. Foto 36: Apresentação de Tomás Fernandez, do Livro El Negro en
Cuba.
Serviço:
Seminário Identidades e Mobilizações Coletivas: perspectivas em diferentes contextos
americanos
Datas: 12 de Abril de 2015 em Matanzas, Cuba / 14 a 16 de Abril de 2015, em La Habana, Cuba
Organização: Instituto Cubano de Investigação Cultural Juan Marinello
Coordenação: Bárbara Oliveira Souza (UnB), Daniel Brasil (UnB e UBC), Caridad Masón (ICIC)
Fotografia e texto: Bárbara Oliveira Souza e Daniel Rodrigues Brasil
Apoio: Embaixadas do Canadá e do Brasil em Cuba, Instituto de Antropologia de Cuba, Universidades de
Brasília (Brasil) e da Columbia Britânica (Canadá)
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La Marina, Matanzas, Cuba.
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