v.7, n.18, 2013
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ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria Renata Cristina Morgado da Silva – Faculdade Anhanguera de São José Carine Leal Fraga Paiva – Faculdade Anhanguera de São José Monica Antoniny Mendes Sales – Faculdade Anhanguera de São José Regina Celli Santana Jardim – Faculdade Anhanguera de São José RESUMO: Observando o cenário brasileiro, percebe-se que uma grande quantidade de aposentados continua no mercado de trabalho devido o fato de o valor recebido por meio do benefício da previdência social não ser suficiente para garantir qualidade de vida percebida enquanto era trabalhador ativo. Sabendo-se que muitos não investem por falta de conhecimento do mercado financeiro e que não há uma cultura de planejamento financeiro pessoal, verificou-se a necessidade de fazer um estudo abordando diversos tipos de investimentos como alternativa para complementação de renda na aposentadoria. Neste estudo demonstrou-se e comparou-se os principais investimentos e suas respectivas rentabilidades, a fim de motivar e esclarecer dúvidas para facilitar o investidor a optar pelo melhor plano que enquadre em seu poder econômico. Palavras-chave: investimentos, aposentadoria, planejamento financeiro Keywords: investments, retirement, personnel financial planning ABSTRACT: Analyzing the Brazilian society, it’s noticeable that a significant amount of retired people is still working, and this situation is caused by the fact that the value offered by the social security system isn´t enough to guarantee the same life quality as they were used to. Being aware of the country social problems, where most people don´t use investments because of lack of knowledge about the financial system and the absence of a personal financial planning culture, it´s possible to verify the necessity of a study explaining the variety of possible investments as an alternative of supplementary income after retirement. In this study, the most important investments are demonstrated and compared, such as each of their returns, intending to motivate and clarify any possible doubts, and assist investors to opt for plans that will suit better their profile and life style. Artigo Original Recebido em: 31/10/2013 Avaliado em: 07/12/2013 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 09-20 Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria 1. Introdução O padrão de vida futura que um indivíduo deseja será aquele capaz de manter ou até mesmo melhorar seu nível de consumo (GARCIA; KLOECKNER, 2005). Sabe-se, todavia, que somente a previdência social, benefício oferecido pelo governo aos contribuintes, não é suficiente para manter a mesma qualidade de vida que o beneficiário possuía enquanto trabalhador ativo, percebendo então a necessidade de complementar a renda. De acordo com Booth (apud GARCIA; KLOECKNER, 2005), a renda pode ser complementada por meio de planos de previdência ocupacional (previdência fechada); poupança pessoal do indivíduo; e renda obtida pelo aposentado que ainda está ativo no mercado de trabalho. Assim sendo, o presente estudo pretende explanar os planos de previdência privada bem como analisá-los, objetivando facilitar a visualização e decisão de investidores. 2. HISTÓRICO DO SISTEMA PREVIDENCIÁRIO BRASILEIRO A ideia de previdência é antiga e teve origem no século XVII, na Inglaterra, sob o impulso do processo de industrialização e se fortaleceu à medida que as sociedades se tornavam mais complexas. O sistema previdenciário foi criado devido à necessidade de que os trabalhadores tinham de garantir a tranqüilidade daqueles que se tornavam incapazes de promover o próprio sustento e o de suas famílias, devido à idade, falecimento do responsável pelo sustento da família ou incapacidade física (BAIMA, 1998). A Previdência Social no Brasil teve seus primeiros rumores no período colonial, ano de 1543, quando foram criadas as primeiras instituições de caráter assistencial, como a Casa de Misericórdia de Santos. E, em 2 de setembro de 1795, foi criado pelo Príncipe D. João, no Palácio Queluz, em Lisboa, o Montepio dos Órfãos e Viúvas dos Oficiais da Marinha (BAIMA, 1998). No ano de 1821 foi escrito o primeiro texto legal registrado sobre o tema Previdência Social no Brasil. Tratava-se de um decreto escrito pelo Príncipe Regente Pedro de Alcântara. Já a primeira medida legal de proteção social surgiu em 15 de agosto de 1919, com a criação da Lei n◦ 3.724, que estabelecia o seguro de acidentes pessoais de trabalho, tornando obrigatória a indenização, por parte do empregador, de acidentes ocorridos na execução do trabalho (NAZEBERG,1999). Em 1923 com a Lei Eloy Chaves (decreto lei n◦ 4.682 de 24 de janeiro de 1923) foram criadas as Caixas de Aposentadorias e Pensões para as empresas de estrada de ferro, com abrangência a todos os seus funcionários (BAIMA, 1998). Em 1933, paralelamente as Caixas, proliferavam os Institutos de Aposentadoria e 10 Anuário da Produção Acadêmica Docente Renata Cristina Morgado da Silva, Carine Leal Fraga Paiva, Monica Antoniny Mendes Sales, Regina Celli Santana Jardim Pensões, restritos aos funcionários urbanos: Instituto Aposentadoria e Pensões Marítimas (IAPM) e Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Comerciários (IAPC), (NAZEBERG,1999). Em 1943, o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Bancários (IAPB), em 1936, o Instituto de Aposentadoria e Pensões Industriais (IAPI), em 1938, o Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado (IPASE) e em 1939, o Instituto de Reassegurados do Brasil (IRB). No entanto, havia uma grande disparidade entre os benefícios, pois cada instituto possuía uma estrutura específica de benefícios e contribuições (BAIMA, 1998). Por este motivo, no final dos anos de 1930, a relação entre o Estado e a classe operária foi organizada mediante a interligação de três sistemas: Sindicato, Justiça do Trabalho e política Previdenciária (NAZEBERG,1999). No ano de 1950, o capital acumulado pela Previdência Social foi utilizado para financiar a construção da atual capital brasileira, Brasília. Esse financiamento foi provavelmente o maior investimento imobiliário do Instituto e garantiu uma construção rápida e sem grandes ônus para o Tesouro Nacional (BAIMA, 1998). Em 26 de agosto de 1960 houve a unificação dos Institutos por meio da Lei Orgânica da Previdência Social (LOPS), que estabeleceu a uniformidade das contribuições e planos d benefícios dos diversos institutos. Em 1966 ocorreu a criação do Instituto Nacional da Previdência Social (INPS). Na década de 1990, o Ministério da Previdência e Assistência Social passou por uma alteração estrutural e foi extinto o antigo INPS, que deu lugar ao atual Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) (BAIMA, 1998). 3. previdência social O Decreto 4.682, de 24 de Janeiro de 1923, também conhecido como Lei Eloy Chaves, autor do projeto respectivo, é considerado o ponto de partida, no Brasil, da Previdência Social propriamente dita (ROCHA; CAETANO, 2008). Desde então, o sistema passou por diversas mudanças, desde a criação de novos decretos, ou até mesmo o aprimoramento dos já criados anteriormente, chegando ao formato ao qual conhecemos hoje. No Brasil, o sistema previdenciário adotado é o de repartição simples, onde a contribuição arrecadada pela população ativa é utilizada para o pagamento do benefício aos inativos (LIMA, 2009). Existem dois regimes de previdência social: o Regime Geral de Previdência Social (RGPS) e o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS). O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) é administrado pelo Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) e cobre fundamentalmente os trabalhadores da iniciativa privada. Já o Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) é administrado pela União, v.7 • n.18 • 2013 • p. 09-20 11 Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria Estados e Municípios e destina-se aos servidores públicos (ROCHA; CAETANO, 2008). No RGPS, a idade mínima do indivíduo para usufruir do benefício é 16 anos desde que este esteja exercendo algum tipo de atividade remunerada. Os jovens que participam do programa Menor Aprendiz, apesar de terem 14 anos, também podem usufruir deste benefício, sendo esta então a única exceção de faixa etária mínima. O aposentado pelo RGPS que volta a exercer atividades remuneradas deve voltar a contribuir para o benefício (ROCHA; CAETANO, 2008). Nesse modelo (RGPS) não há idade mínima para aposentadoria por tempo de contribuição, sendo consideradas então as aposentadorias proporcionais (que permitem aposentadoria com 30 anos de contribuição para homens e 25 anos para mulheres) (ROCHA; CAETANO, 2008). De acordo com a Lei n◦ 9.876, de 26 de novembro de 1999, que instituiu o cálculo do fator previdenciário, o indivíduo optante pelo RGPS receberá um beneficio maior à medida que se aposentar com maior tempo de contribuição (GUERZONI, 1999). No RPPS, até novembro de 1993, os servidores públicos não contribuíam para o recebimento do benefício; este era pago pela sociedade. Segundo Guerzoni (1999), a lógica utilizada no RPPS era a de que os servidores tinham direito a aposentadoria como extensão do fato de trabalharem para o serviço público, ou seja, por já contribuírem com seu trabalho não precisariam contribuir para o recebimento da aposentadoria, o que judicialmente se caracteriza como pro labore facto. Posteriormente neste mesmo ano, os servidores passaram a contribuir, sem que, no entanto, houvesse qualquer relação entre o valor contribuído e o valor a ser recebido futuramente na aposentadoria (NAJEBERG; IKEDA, 1999). A idade mínima para aposentadoria pelo RPPS é de 60 anos para homens e de 55 anos para mulheres, de acordo com a emenda constitucional n◦ 20, de 15 de dezembro de 1998. O valor do benefício a ser recebido é calculado com base nos últimos 36 (trinta e seis) meses de contribuição do INSS (com exceção do RGPS, que baseado na Lei n◦ 9.876, de 26 de novembro de 1999, o valor do benefício a ser recebido é calculado com base em todos os salários do participante desde julho 1994 até a data da aposentadoria – (ROCHA; CAETANO, 2008). É estipulado pelo governo um valor piso e um teto onde, seja qual for o montante contribuído, o valor a receber não poderá ser inferior a um salário mínimo e nem superior à R$ 3.689,66 (três mil, seiscentos e oitenta e nove reais, e sessenta e seis centavos), que é o valor teto estipulado para o ano de 2011. Assim sendo, o trabalhador que contribui mais receberá consequentemente mais, mas não será na mesma proporção a qual estava acostumado a acumular quando trabalhador ativo, devido ao teto estipulado previamente pelo governo. 12 Anuário da Produção Acadêmica Docente Renata Cristina Morgado da Silva, Carine Leal Fraga Paiva, Monica Antoniny Mendes Sales, Regina Celli Santana Jardim 4. PREVIDÊNCIA PRIVADA OU COMPLEMENTAR A Previdência Privada ou Complementar é um investimento facultativo que objetiva complementar a renda a longo prazo, visto que os valores recebidos na Previdência Social não são suficientes para garantir estabilidade financeira na aposentadoria. É o tipo de investimento utilizado por quem não quer depender exclusivamente do benefício do INSS, sendo então uma alternativa para complementar a renda futura de maneira flexível e independente dos órgãos públicos. Além disso, os optantes pela previdência complementar desfrutam de benefícios fiscais que ajudam a rentabilizar o capital. Conforme consta no artigo 1º da Lei 6435/77, as entidades de previdência privada são as que têm por objetivo instituir planos privados de concessão de pecúlios ou de rendas, de benefícios complementares ou assemelhados aos da previdência social, mediante contribuição de seus participantes, dos respectivos empregadores ou de ambos (RODRIGUES, 2006). A Previdência Privada pode ser dividida em Renda Mensal Temporária e Renda Mensal Vitalícia, sendo esta última dividida em: vitalícia, vitalícia com reversão a um beneficiário, e vitalícia com prazo mínimo garantido (RODRIGUES, 2006). A Renda Mensal Vitalícia diz respeito a renda mensal que será recebida por toda a vida do contribuinte. O Valor é corrigido conforme o contrato. Apresenta como vantagem a certeza de que se receberá o valor contratado sem prazo definido. Entretanto, em caso de morte prematura, o dinheiro previamente aplicado ficará em posse da seguradora. A Renda Mensal Vitalícia com Reversão a um Beneficiário tem o mesmo objetivo que a Renda Vitalícia, porém, em caso de morte do contribuinte, o valor investido é estendido a um beneficiário pré-determinado, que pode ser o cônjuge ou os demais dependentes deste. Apresenta como desvantagem, todavia, o fato de que o valor que será recebido será calculado baseando-se na idade dos beneficiários inclusos no contrato. Ou seja, o valor mensal a ser recebido será inferior ao que seria recebido caso não houvesse a extensão a um beneficiário. A Renda Mensal Vitalícia com Prazo Mínimo Garantido segue os mesmos preceitos das anteriores, porém com prazo pré-estabelecido. Diferentemente da Renda Vitalícia, em caso de morte antes do prazo contratado, a família se beneficia com a renda em um período que varia de 5 a 15 anos. Porém, ao escolher essa modalidade, o valor mensal a ser recebido tende a ser menor (RODRIGUES, 2006). A Renda Mensal Temporária é bastante semelhante a Renda Mensal Vitalícia com Prazo Mínimo garantido, contudo, se diferencia pelo fato de que, ao falecimento do contratante, o benefício não se estenderá a família. Apesar disso, a vantagem deste plano é que o valor recebido é superior ao valor pago pela renda vitalícia comum. (RODRIGUES, 2006). v.7 • n.18 • 2013 • p. 09-20 13 Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria A Previdência Privada oferece diversos tipos de planos de fundos de investimento, tais como: • Plano de Remuneração Garantida e Performance (PRGP), • Plano com Atualização Garantida e Performance (PAGP), • Vida com Remuneração Garantida e Performance (VRGP), • Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL) • Vida de Gerador de Benefício Livre (VGBL) Dos planos acima citados, os mais comercializados são o PGBL e o VGBL, os quais serão abordados mais detalhadamente nos próximos itens. Existe, ainda, o FAPI (Fundo de Aposentadoria Programada Individual). Apesar de objetivar a acumulação de recursos, esse plano não tem benefício de renda na aposentadoria. O FAPI teve sua criação em 1997, e foi perdendo espaço no mercado um ano após sua inserção quando se começou a comercialização o PGBL. O público alvo desse tipo de investimento são pessoas físicas que não dispõem de fundos de pensão, como por exemplo, profissionais liberais, empresários e funcionários de pequenas empresas (ANDREATTA, PIGOSSO E BADIA, 2009). A frequência de aplicação pode ser mensal e/ou esporádica. Pode-se deduzir até 12% do rendimento bruto no Importo de Renda, sendo somente tributado no momento do saque (FORTUNA, 2005). O participante só poderá desfrutar de todos os benefícios fiscais, tais como isenção de IOF no momento do saque, se mantiver o plano pelo prazo mínimo de 1 ano. Caso o saque seja efetuado antes desse período, haverá incidência de 5% de IOF, salvo pelos saques devido a morte, aposentadoria ou invalidez, onde o governo isenta a cobrança dos impostos (PEREIRA, 2003). Diferentemente dos fundos de previdência aberta, esse tipo de aplicação não possui rentabilidade mínima prevista; entretanto, todo o rendimento é repassado ao investidor. No ano de 2011, a previdência privada obteve crescimento de 16,62% comparado ao ano de 2010, arrecadando cerca de R$ 11,7 bilhões, segundo levantamento da Fenaprevi (Federação Nacional de Previdência e Vida). Pode-se destacar também um crescimento dos planos PGBL e VGBL em 2011, sendo de 20,66% e 18,91% respectivamente. 5. tipos de investimentos – um comparativo entre poupança, cdb, ibovespa, pgbl e vgbl A Tabela 1 demonstra as médias mensais e anuais de diferentes tipos de investimentos alternativos para complementação da aposentadoria. As médias mensais são utilizadas como base de juros para o cálculo comparativo do desempenho de investimentos. 14 Anuário da Produção Acadêmica Docente Renata Cristina Morgado da Silva, Carine Leal Fraga Paiva, Monica Antoniny Mendes Sales, Regina Celli Santana Jardim Tabela 1 Rentabilidade média anual e mensal de diferentes investimentos no período de 2010 à 2012 Planos Poupança CDB Ibovespa PGBL VGBL Anual 7,28% 11,25% 22,62% 17,25% 15,78% Mensal 0,58% 0,89% 1,71% 1,33% 1,22% FONTE: D&F Investor Agentes Autônomos de Investimentos Ltda. Como taxa para a análise, optou-se por uma média obtida por meio de dados históricos já que não é possível fixar uma taxa real, pois está sendo feita uma projeção de valores. O período escolhido para a obtenção da média englobou os anos de 2010 a 2012. No Gráfico 1, é possível visualizar de maneira mais clara o desempenho dos investimentos por meio de análise das diferentes rentabilidades apresentadas anualmente. Gráfico 1: Comparativo entre taxas anuais e mensais de diversos investimentos. A fim de tornar o estudo mais consistente, foram feitas simulações de depósitos uniformes dentro de um período de 30 anos. As taxas foram adquiridas por meio de contato com a empresa “D&F Investor Agentes Autônomos de Investimentos Ltda.”, e calculada uma taxa média para os investimentos mais utilizados, sendo eles: • Poupança • CDB • Ibovespa • PGBL • VGBL Por meio de uma projeção, calculou-se o montante acumulado após 30 anos de contribuição. Os valores são projetados para os diferentes tipos de investimentos utilizando a rentabilidade média mensal apresentada na Tabela 1. O cálculo utilizado tem como base a formula de juros compostos. O valor do pagamento periódico é denominado “PMT”, o valor presente é designado “PV”, o período v.7 • n.18 • 2013 • p. 09-20 15 Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria de acúmulo de “n”, a taxa de juros média mensal caracterizada por “i”, e o valor acumulado é denominado “Valor Futuro” ou “FV”. Para a realização dos cálculos utilizou-se uma calculadora financeira. As projeções adotarão os mesmos dados descritos a seguir: O “n” corresponderá ao período de 360 meses (30 anos) de contribuição; o “i” se baseará nas taxas médias mensais conforme Tabela 1 e serão adotados 3 valores para “PMT”, representando parcelas de R$ 100,00, R$ 300,00 e R$ 500,00. 5.1. Projeções para os diferentes tipos de investimentos Poupança: A Tabela 2 demonstra os rendimentos encontrados para a Poupança com parcelas de R$ 100,00, R$ 300,00 e R$ 500,00. Tabela 2 Projeções financeiras para Poupança com parcelas diferenciadas Parcelas de R$100,00 Parcelas de R$300,00 Parcelas de R$500,00 [f] [CLx] [f] [CLx] [f] [CLx] 100 [CHS] [PMT] 300 [CHS] [PMT] 500 [CHS] [PMT] 0 [PV] 0 [PV] 0 [PV] 360 [n] 360 [n] 360 [n] 0,58 [i] 0,58 [i] 0,58 [i] [FV] = 121.038,58 [FV] = 363.115,76 [FV] = 605.192,94 Certificado de Depósito Bancário (CDB): A Tabela 3 demonstra os rendimentos encontrados para o CDB com parcelas de R$ 100,00, R$ 300,00 e R$ 500,00. Tabela 3 Projeções financeiras para CDB com parcelas diferenciadas 16 Parcelas de R$100,00 Parcelas de R$300,00 Parcelas de R$500,00 [f] [CLx] [f] [CLx] [f] [CLx] 100 [CHS] [PMT] 300 [CHS] [PMT] 500 [CHS] [PMT] 0 [PV] 0 [PV] 0 [PV] 360 [n] 360 [n] 360 [n] 0,89 [i] 0,89 [i] 0,89 [i] [FV] = 261.620,30 [FV] = 784.860,92 [FV] = 1.308.101,53 Anuário da Produção Acadêmica Docente Renata Cristina Morgado da Silva, Carine Leal Fraga Paiva, Monica Antoniny Mendes Sales, Regina Celli Santana Jardim Ibovespa: A Tabela 4 demonstra os rendimentos encontrados para Ibovespa com parcelas de R$ 100,00, R$ 300,00 e R$ 500,00. Tabela 4 Projeções financeiras para Ibovespa com parcelas diferenciadas Parcelas de R$100,00 Parcelas de R$300,00 Parcelas de R$500,00 [f] [CLx] [f] [CLx] [f] [CLx] 100 [CHS] [PMT] 300 [CHS] [PMT] 500 [CHS] [PMT] 0 [PV] 0 [PV] 0 [PV] 360 [n] 360 [n] 360 [n] 1,71 [i] 1,71 [i] 1,71 [i] [FV] = 2.611.849,44 [FV] = 7.835.548,34 [FV] = 13.059.274,25 PGBL: A Tabela 5 demonstra os rendimentos encontrados para o PGBL com parcelas de R$ 100,00, R$ 300,00 e R$ 500,00. Tabela 5 Projeções financeiras para o PGBL com parcelas diferenciadas Parcelas de R$100,00 Parcelas de R$300,00 Parcelas de R$500,00 [f] [CLx] [f] [CLx] [f] [CLx] 100 [CHS] [PMT] 300 [CHS] [PMT] 500 [CHS] [PMT] 0 [PV] 0 [PV] 0 [PV] 360 [n] 360 [n] 360 [n] 1,33 [i] 1,33 [i] 1,33 [i] [FV] = 867.150,16 [FV] = 2.601.450,48 [FV] = 4.335.750,80 VGBL: A Tabela 6 demonstra os rendimentos encontrados para o VGBL com parcelas de R$ 100,00, R$ 300,00 e R$ 500,00. Tabela 6 Projeções financeiras para o VGBL com parcelas diferenciadas Parcelas de R$100,00 Parcelas de R$300,00 Parcelas de R$500,00 [f] [CLx] [f] [CLx] [f] [CLx] 100 [CHS] [PMT] 300 [CHS] [PMT] 500 [CHS] [PMT] 0 [PV] 0 [PV] 0 [PV] 360 [n] 360 [n] 360 [n] 1,22 [i] 1,22 [i] 1,22 [i] [FV] = 636.744,35 [FV] = 1.910.233,07 [FV] = 3.183.721,78 6. discussão dos resultados A tabela 7 mostra o Valor Futuro obtido por meio do cálculo de valor futuro de uma sequencia de pagamentos uniformes postecipados com 3 diferentes tipos de parcelas. v.7 • n.18 • 2013 • p. 09-20 17 Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria Tabela7 Comparativos dos resultados de diferentes investimentos em diferentes parcelas Valor Parcela 100,00 300,00 500,00 Poupança 121.038,58 363.115,76 605.192,94 CDB 261.620,30 784.860,92 1.308.101,53 Investimento Ibovespa 2.611.849,44 7.835.548,34 13.059.247,25 PGBL 867.150,16 2.601.450,48 4.335.750,80 VGBL 636.744,35 1.910.233,07 3.183.721,78 Confrontando os resultados identificados e tabulados na presente pesquisa, podese afirmar que, neste âmbito, o investimento que mostra-se mais rentável é a ibovespa e, conforme se vê na Tabela 7, a poupança é o que apresenta o menor resultado. É relevante destacar que, no contexto da ibovespa, faz-se necessário que o investidor, além de acompanhar as mutações do mercado acionário e financeiro, capacitar-se quanto aos conhecimentos relacionados com risco versus retorno nesse mercado. Em relação à poupança, no que pese trazer um retorno menor nas comparações com as demais formas de investimento tratadas nesse trabalho, pode-se afirmar que o grau de exigência de conhecimento relacionado ao mercado financeiro é menor, haja vista que os índices de remuneração deste tipo de investimento são publicados pelas entidades governamentais, não demandando outra ação por parte do investidor, além do acompanhamento de tais divulgações. Ainda no contexto dos valores obtidos na presente pesquisa e apresentados na Tabela 7, constata-se que o pgbl, na comparação com os demais investimentos aqui analisados, traz o segundo maior retorno e, quando contemplado as três parcelas constantes da Tabela 7, é possível afirmar que tal modalidade de investimento pode-se mostrar financeiramente atraente, uma vez que, nos termos da legislação pertinente ao imposto de renda, pode apresentar benefício fiscal ao contribuinte, como fator de dedução do imposto de renda devido na declaração de ajuste anual. Entretanto, ressalta-se por oportuno que, para aplicações mensais de valores diferentes dos aqui mencionados, dever-se-á proceder novas análises para obtenção de dados comparativos consistentes àqueles valores, a fim de que se constate, em escalas de valores mais ampliadas, o tipo mais adequado ao perfil de cada investidor, bem como para demonstrar um rol de maior amplitude de possibilidades ante as proposituras individuais contempladas nesse trabalho. Observa-se no gráfico 2 que, independentemente do plano escolhido, quanto maior o valor das parcelas, maior será o retorno. 18 Anuário da Produção Acadêmica Docente Renata Cristina Morgado da Silva, Carine Leal Fraga Paiva, Monica Antoniny Mendes Sales, Regina Celli Santana Jardim 14.000.000,00 12.000.000,00 10.000.000,00 8.000.000,00 Aplicação de R$ 100,00 Aplicação de R$ 300,00 6.000.000,00 Aplicação de R$ 500,00 4.000.000,00 2.000.000,00 0,00 Poupança CDB Ibovespa PGBL VGBL Gráfico 2 Comparativo entre diferentes parcelas em diversos investimentos. 7. Considerações FINAIS Visto o que foi exposto, percebe-se então a importância do planejamento financeiro pessoal como ferramenta de controle e aumento de patrimônio a longo prazo, recursos estes que podem complementar a renda no período pós-aposentadoria. Outro aspecto relevante é a melhora da qualidade de vida dos brasileiros e, consequentemente, o aumento da média estimada de vida destes, fazendo com que a previdência social tenha que distribuir mais benefícios. Fica claro também que, devido ao histórico de problemas socioeconômicos do Brasil, a maioria da população ainda não possui uma cultura de planejamento financeiro ou mesmo conhecimento do sistema financeiro nacional. Apesar das simulações dos planos de investimentos através dos cálculos, e da demonstração gráfica dos montantes, não é possível determinar qual plano é a melhor opção a se escolher. Isso porque cada indivíduo tem um perfil; uns mais conservadores, outros mais arrojados. Logo, a decisão cabe ao próprio investidor, pois este sabe qual o risco e o valor de comprometimento que está disposto a aplicar. Assim sendo, é de extrema importância que as pessoas passem a adotar uma visão financeira adequada a sua realidade, percebendo que somente a Previdência Social não é suficiente para manter o padrão financeiro semelhante ao obtido enquanto trabalhador ativo, e comecem a amadurecer a ideia de utilizar investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria. v.7 • n.18 • 2013 • p. 09-20 19 Análise da rentabilidade de investimentos como alternativa de complementação de renda na aposentadoria Referências ANDREATTA, Anna Paula; PIGOSSO, Denise; BADIA, Maurício. Alternativas de investimentos destinados a pessoa física. Pato Branco, 2009. Monografia (Bacharel em Contabilidade). Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Paraná. BAIMA, F. R. Análise de desempenho dos investimentos dos fundos de pensão no Brasil. Florianópolis, 1998. 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Buscamos com isso levantar as diferentes percepções no que se refere à fase de iniciação à docência em Matemática sob a ótica de docentes em fase inicial e final de carreira, e verificar o comportamento e desenvolvimento das dificuldades e superações, mediante o que a literatura apresenta hoje em termos de fase inicial da docência. Palavras-chave: fase inicial da docência; formação docente em Matemática; desenvolvimento profissional do professor. Keywords: process of the beginning of the carrier; teaching degree in Mathematics; teachers’ professional process. ABSTRACT: This is a qualitative research whose the objective is increase knowledge about teachers’ beliefs and beliefs about the process of the beginning of the carrier. For this objective, we did interviews with initial and experienced teachers of Mathematics. Whit this, we search to find the different perception about the beginning of teachers’ carrier and verify if the difficult are the same when they started and today. And also, to interpret these date through studies of teaching degree and teaching degree in Mathematics. Artigo Original Recebido em: 07/11/2013 Avaliado em: 12/12/2013 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 21-31 A fase inicial da docência em matemática sob diferentes olhares: professores iniciantes e professores experientes 1. Introdução Neste estudo, objetivamos ampliar a discussão sobre as percepções e crenças que norteiam o processo de iniciação à docência em termos das interações sociais estabelecidas a partir do momento em que os professores se inserem no contexto escolar; e, ainda, estabelecer quais as especificidades da prática de ser professor de Matemática eles revelam, a partir de um passado já vivido, no caso dos experientes, e de um passado ainda muito recente e presente, no caso dos iniciantes. Para tanto, coletamos dados por meio de entrevistas semi-estruturadas com quatro professores de Matemática da rede estadual de ensino, da cidade de Leme/SP, onde dois deles são professores iniciantes e dois são professores experientes1. Na intenção de obter aspectos da realidade pesquisada e compreendê-los como tal, a metodologia utilizada baseia-se na abordagem qualitativa de pesquisa, e trabalhamos com análise de conteúdo destas entrevistas para construção dos dados. Buscamos com isso levantar as diferentes percepções no que se refere à fase de iniciação à docência em Matemática e verificar se dificuldades e superações são comuns, ou não, aos dois grupos de professores pertencentes ao universo da pesquisa, além de interpretá-las à luz de estudos teóricos relativos à formação docente, em particular, em Matemática. O referencial teórico nos permitiu identificar as categorias temáticas, as quais elucidaram a construção e interpretação dos dados. Dois eixos de análise foram propostos: i) 1º Eixo engloba categorias temáticas relativas à formação inicial do professor de Matemática, escolha e percurso profissional, contexto atual de trabalho, como e porque ensinam Matemática, como ensinam, como concebem e interagem com seus alunos e, por fim, experiências relativas à formação continuada; ii) 2º Eixo engloba categorias temáticas relativas às dificuldades e superações no início de carreira. 2. Dificuldades e superações nos anos iniciais da docência em matemática sob diferentes olhares Objetivando compreender como os professores enfrentam(ram) as dificuldades inerentes à fase inicial da docência e como buscam(ram) superações, realizamos as quatro entrevistas que nos serviram de fonte para construção dos dados de nosso trabalho. Percebemos que todas elas apontaram para uma mesma direção, ou seja, embora passem os anos, os problemas inerentes ao início de carreira ainda persistem, permanecem inalterados e nada tem sido feito no contexto escolar no sentido de buscar melhorias. No aprofundamento de nosso estudo, pudemos destacar diversos indícios relativos ao contexto escolar, como a receptividade na escola, as condições de trabalho, a falta de 1 Para efetuarmos divisão destas duas classes buscamos apoio nos trabalhos de Hubermam (1998) e (2000) – vide referências bibliográficas. 22 Anuário da Produção Acadêmica Docente Aline Mide Romano de Barros materiais didático-pedagógicos, a incoerência nas políticas públicas em relação ao currículo exigido e avaliado, os investimentos na profissão e os apoios recebidos. Com relação à questão dos cursos de licenciatura, percebemos que persistem dois grandes problemas sérios. O primeiro deles diz respeito à falta de re-elaborações conceituais por parte dos formadores, ou seja, os professores universitários de Matemática. Em função disso, verificamos em nas entrevistas a enorme dificuldade que nossos protagonistas enfrentam em transformar conteúdos matemáticos em conteúdos potencialmente significativos para a aprendizagem dos alunos. O segundo grande problema percebido neste trabalho com relação à formação inicial refere-se ao estágio obrigatório e às práticas de ensino, ou seja, a forte presença da relação dicotômica entre teoria e prática. Percebemos que o estágio, da forma como vem sendo desenvolvido, está longe de cumprir com sua função de inserir o futuro professor na atividade docente. Acreditamos que são necessárias reformulações em sua estrutura, pois ele é o primeiro passo para o início da atuação docente e da formação de uma identidade profissional, a qual irá acompanhar esses iniciantes durante toda sua atuação profissional. Sendo assim, podemos afirmar que a função primordial do estágio, a qual seria apresentar e introduzir o futuro professor ao contexto escolar, em todos os seus amplos aspectos, está longe de ser atingida, causando desastrosas conseqüências, como o aumento do “choque com a realidade”, tão discutido neste trabalho. Essa dicotomia teoria-prática, típica da racionalidade técnica, também é responsável por outro grande problema identificado em nosso trabalho: a baixa eficácia de ações de formação continuada pautadas na racionalidade técnica, as quais desconsideram os problemas dos professores. Percebemos claramente esse fato durante nossas entrevistas diante da enorme desmotivação de dois de nossos quatro entrevistados frente à idéia de participar desses cursos de formação continuada. Acreditamos que estes seriam ótimos meios para a busca de superações dos problemas destacados e vividos por nossos protagonistas, uma vez que percebemos que estes acreditam que tanto a relação quanto a troca entre seus pares, sejam estes iniciantes ou experientes, configuram-se como uma das melhores escolas para a melhoria da prática pedagógica. Assim, repensar essas ações significa escutar os anseios de nossos professores, os quais são os maiores interessados nesta busca por melhorias da prática. Na verdade, não se trata de excluir os cursos de formação continuada, mas repensálos, uma vez que estes não estão dando conta de seu propósito. Em relação a este assunto, Gama (2008) vem nos mostrar a viabilidade de novas propostas fundamentadas em buscas por parcerias fora da escola. No Brasil, o olhar sobre o contexto escolar revela-se importante no processo de socialização, visto que há enorme complexidade na realidade escolar na qual são desenvolvidas as práticas pedagógicas docentes, e os aspectos que envolvem esta realidade v.7 • n.18 • 2013 • p. 21-31 23 A fase inicial da docência em matemática sob diferentes olhares: professores iniciantes e professores experientes podem limitar ou potencializar o processo de desenvolvimento profissional. Dessa forma, quando falamos em realidade ou contexto escolar, estamos considerando a infra-estrutura da escola, a disponibilização de materiais e recursos didáticos, os espaços adequados ou não para o exercício da prática docente, as condições físicas da escola, a carga horária didática atribuída aos professores, o número de alunos por classe, os salários, entre outros. Essas condições de contexto têm fortes implicações no desenvolvimento profissional docente, sobretudo na realização de projetos coletivos na escola, na realização de reflexões coletivas ou disponibilidade de tempo para formação continuada. De maneira geral, os professores iniciantes procuram os professores mais experientes e colegas de trabalho com mais afinidade para trocar idéias, enquanto se registrou pequena recorrência aos professores universitários, aos coordenadores ou aos diretores de escola. Nossas entrevistas apontam para o pouco interesse por apoios externos e um possível receio ou cuidado em admitir essa necessidade, por questões de insegurança, de adaptação à escola, entre outras já citadas anteriormente. Esses apoios são buscados normalmente de forma criteriosa, pois percebemos que normalmente preferem pessoas de sua confiança. Gama (2008) afirma que essa necessidade de apoio tem conduzido uma parcela crescente de professores iniciantes a integrar-se em grupos de estudo, os chamados grupos colaborativos, os quais objetivam desenvolver um processo de formação continuada em um paradigma que coloca como centro de preocupação o desenvolvimento profissional dos docentes, articulado à compreensão e à transformação da prática pedagógica em Matemática nas escolas (GAMA, 2008, p. 140). Nestes grupos há disponibilidade e abertura para receber diferentes membros que se interessem pela formação e pela qualidade do processo de ensino e aprendizagem de Matemática, o que potencializa a reflexão e o desenvolvimento de diferentes olhares e significações sobre o trabalho e a vida docente. Gama (2008) encontrou indícios de que a dinâmica desses grupos tem auxiliado os iniciantes, uma vez que possibilita desenvolver a confiança do professor em arriscar novas práticas, a discutir e refletir sobre essas iniciativas, a voltar a estudar, entre outras. A dinâmica de investigação, reflexão e de escrita no grupo sobre suas práticas mostrou-se elemento fundamental para o desenvolvimento profissional dos professores. Ao analisar essas dinâmicas, percebemos o valor desses ambientes alternativos para o processo de construção de identidades individuais e grupais, favorecendo o desenvolvimento profissional. O grupo pode proporcionar aprendizagens distintas, como a importância das interações e negociações dos processos educativos, dos conteúdos matemáticos e das próprias dinâmicas de aula. Uma adesão aos grupos, por parte dos professores, talvez seja um primeiro passo para tentar superar as questões impostas pela cultura escolar vigente, como o isolamento 24 Anuário da Produção Acadêmica Docente Aline Mide Romano de Barros docente e o distanciamento entre experientes e iniciantes, tão destacado nas falas de nossos protagonistas. As parcerias entre os participantes do grupo para desenvolvimento de atividades ou pequenos projetos em suas salas de aula também podem propiciar novo modelo de formação continuada em um contexto colaborativo. Acreditamos que o processo de iniciação à docência torna-se mais ameno quando mediado pela colaboração de grupos ou pelo apoio dos pares, incluindo a coordenação e a direção. Esses apoios evidenciaram-se fundamentais para o enfrentamento dos desafios e dos problemas que os iniciantes encontram, uma vez que os ajudam a construir uma postura mais segura, reflexiva, inovadora e transformadora na forma de ensinar Matemática. Embora Gama (2008) tenha identificado nos iniciantes uma participação periférica nos grupos, isso foi apenas uma questão de tempo para que eles se sentissem membros autênticos e que se identificassem plenamente com a nova comunidade de prática. Além disso, acreditamos que membros periféricos possuem papel significativo na evolução, pois podem proporcionar desequilíbrios, com novos olhares sobre a prática. Suas contribuições evidenciam que estes também podem ser protagonistas na discussão, abrindo espaços para re-significações do conceito e da relação existente entre experientes e iniciantes. Pudemos constatar, dessa forma, a complexidade da prática docente enfrentada no Brasil. Assim, a busca de parcerias revela-se instâncias de reflexão sobre a prática e a promoção do desenvolvimento profissional dos iniciantes, pois ajudam a promover uma melhor compreensão do contexto onde atuam, abrindo possibilidades para transformá-lo. Porém, isso não exime o importante papel e a obrigação do Estado de desenvolver políticas públicas de formação profissional em serviço, e, juntamente com a própria escola, garantir apoio e condições de trabalho aos professores. As universidades também possuem papel fundamental nesse processo, tanto na realização de pesquisas quanto na promoção de espaços diferenciados de formação profissional; espaços estes que devem possibilitar aos professores construir e desenvolver os conhecimentos da prática docente em diferentes contextos. Todos os entrevistados foram unânimes em apontar a necessidade de uma valorização maior de disciplinas pedagógicas e estágios, pois eles os reconhecem como espaços ou instâncias importantes para a formação docente. De maneira geral, além das condições de trabalho, a indisciplina, os problemas burocráticos, a relação com os pais, o conteúdo e a falta de motivação foram as principais dificuldades encontradas no início da carreira docente. Já no início nos era clara a necessidade de apoio aos iniciantes. O que percebemos com este estudo foi uma maior preocupação dos professores em relação aos itens relacionados v.7 • n.18 • 2013 • p. 21-31 25 A fase inicial da docência em matemática sob diferentes olhares: professores iniciantes e professores experientes à sala de aula, com destaque aos recursos e aos materiais didático-pedagógicos, além do apoio à docência por parte de experientes, coordenação e direção. Encontramos em todas as nossas entrevistas denúncias da falta de programas de integração e apoio ao professor iniciante nas escolas públicas. Ao contrário, parece haver, por parte da gestão escolar, um tratamento menos privilegiado ao professor iniciante, pois, como relatam estudos específicos e também nossas entrevistas, são atribuídas a eles geralmente as classes mais difíceis e problemáticas da escola. A questão da falta de recursos didáticos, bem como a falta de idéias para confeccionar atividades diferenciadas, também pode ser superada com a participação em grupos (GAMA, 2008). Por desenvolverem uma postura colaborativa, estes grupos proporcionam a troca de experiências e informações através de materiais disponíveis na web e e-mails, por exemplo, o que nos revela que a dinâmica colaborativa do grupo não necessariamente precisa da presença física, minimizando, assim, problemas como a falta de tempo, resultado da excessiva carga horária dos professores. Em relação à procura por cursos de formação continuada, os iniciantes nessa fase parecem buscar mais apoio e discussão sobre a prática do que cursos de atualização. Parece evidente a necessidade que eles demonstram em refletir sobre a prática, e os grupos colaborativos apresentam como característica exatamente isso, ou seja, estão centrados na prática coletiva do estudo e na reflexão sobre a prática pedagógica nas escolas, objetivando a construção de conhecimentos voltados ao desenvolvimento profissional e pessoal dos professores. Porém, devido à excessiva carga horária, cria-se uma barreira em participar de grupos de estudos ou procurar outros momentos de reflexão. Por isso, acreditamos que uma das formas de proporcionar essa reflexão é repensar o Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo (HTPC), transformando-o em espaço de estudo para discutir, desabafar e compartilhar experiências sobre a prática docente em Matemática, pois, dessa forma, os iniciantes se sentirão pertencentes a essa comunidade profissional. Dessa forma, os professores iniciantes têm a oportunidade de perceber que todos têm problemas na prática pedagógica, mesmo os mais experientes, e que essa própria diversidade pode potencializar a ajuda mútua. Ao receberem apoio desses grupos, a tendência é que se amenize o choque de realidade, pois esta troca certamente dará subsídios para enfrentarem os problemas e as dificuldades nos momentos em que eles ocorrem, já que haverá uma participação contínua. Outro ponto que acreditamos merecer destaque é a importância do contato com a pesquisa. No cenário atual, não é comum nas faculdades particulares o incentivo à pesquisa, como, por exemplo, a iniciação científica. Ao referir-se à importância da pesquisa durante a formação inicial, Gama (2008) destaca que ela proporciona aos professores a coragem e a 26 Anuário da Produção Acadêmica Docente Aline Mide Romano de Barros segurança necessárias para que eles se aventurem em novas experiências, com atividades diferenciadas. Acreditamos que o contato com pesquisas já existentes, além da realização de suas próprias pesquisas, sirva inicialmente como motivação para o novo professor, além de proporcionar uma prematura socialização com a profissão, pois ele estará mantendo contato com estudos que descrevem seus contextos de trabalho. Isso pode lhes proporcionar maior segurança com relação à escolha profissional, uma apropriação de diferentes tipos de práticas pedagógicas, em diferentes contextos, facilitando a construção da sua própria prática. Além disso, estabelecer contato com a pesquisa pode apresentar ao futuro professor uma postura investigativa, fundamental para a aprendizagem de conhecimentos da prática docente, visto que ele tende a se desenvolver como professor-pesquisador da própria prática. Outra consideração a ser feita é a necessidade de investimento na escrita de narrativas na formação inicial. Nenhum de nossos professores teve contato com a escrita, porém, acreditamos que ao refletir não só oralmente, mas também por escrito, o professor interpreta e produz sentido aos episódios de sua prática, re-significa e reconstrói saberes e percebe-se também como produtor de conhecimentos. Freitas (2006), ao investigar o papel da escrita discursiva e reflexiva na formação de professores de Matemática, também verificou que a narrativa escrita representou uma “oportunidade de se atentar para outras possibilidades de práticas, em que formas diversas de expressão de idéias se fazem presentes, para completar e produzir significados no ambiente de ensino e aprendizagem” (FREITAS, 2006, p. 275). O desenvolvimento e a utilização da escrita também podem contemplar uma parte questionada por nossos protagonistas: a falta de atividades diferenciadas para serem utilizadas em sala de aula. Essas narrativas podem contemplar o desenvolvimento de um material pedagógico, constituindo uma estratégia importante que une interação, sistematização e produção de conhecimento, além de dar visibilidade a esse conhecimento, uma vez que ele pode ser publicado e difundido no meio, permitindo o acesso de outros professores. Portanto, destacamos o papel da escrita para a reflexão e o enfrentamento dos problemas e desafios do início de carreira porque ela permite, de um lado, que o próprio professor perceba e compreenda melhor os problemas da prática docente e, de outro, que seus pares tenham maior visibilidade dos dilemas e dificuldades que enfrentam na prática pedagógica docente. Por fim, outro grande problema percebido está relacionado às HTPC’s. Essas reuniões foram, por todos os entrevistados, questionadas e criticadas, isto é, nem iniciantes nem experientes os consideram construtivos da forma com vêm acontecendo. Para tanto, torna-se urgente que os HTPC’s sejam repensados, pois acreditamos ser indispensável tornar a escola um locus adequado da formação continuada dos professores, enfatizando v.7 • n.18 • 2013 • p. 21-31 27 A fase inicial da docência em matemática sob diferentes olhares: professores iniciantes e professores experientes trocas e apoios mútuos, o que todos os nossos protagonistas, sem exceção, gostariam que acontecessem durante as reuniões de HTPC. Transformar esses HTPC’s em reuniões com padrões colaborativos, com as características dos grupos acima discutidos, seria uma forma de transformar a escola em espaço de aprendizagens e trocas, via colaboração mútua, e também uma forma de começar a superar a cultura escolar vigente, a qual vimos ser uma das grandes responsáveis pela grande maioria dos problemas vivenciados na prática. O que destacamos neste estudo é que a multiplicidade de fatores e aprendizagens formais, informais e sociais influencia na socialização e na constituição da identidade profissional. Em função disso, fica evidente a importância do apoio ao iniciante e, mais que isso, um acompanhamento sistemático para seu desenvolvimento profissional. Assim, estudos mostram que o caminho está na busca por práticas colaborativas, ou seja, necessitamos dar os primeiros passos na busca de superação desta cultura escolar vigente, e organizar grupos, sejam eles dentro ou fora da escola, pequenos ou grandes, em horários específicos ou durante os HTPC’s, mas grupos centrados em estudos, investigações e discussões, que despertem nos professores essa interação, inerente à cultura de colaboração. 3. Considerações Finais Todos os problemas que, a princípio, elencamos como problemas relativos à fase inicial da docência, e agora acreditamos que são mais constitutivos da profissão docente do que exclusivos à fase inicial, parecem estar sendo relativizados com a participação nesses grupos. A questão da sobrevivência e descoberta, os sentimentos de medo e insegurança, os indícios de isolamento e de centra-se em si mesmo, o choque com a realidade e o “mal-estar docente” tendem a ser minimizados, pois a todo momento os participantes são instigados a realizar novas experiências e a compartilhá-las com o grupo. Desta forma, sentem-se valorizados, mais seguros em expor suas idéias, problemas, angústias. Discutem temas que são sugeridos por eles próprios e sentem-se mais à vontade, pois encontram amigos críticos de confiança que os apóiam e os ajudam a desenvolver aprendizagens sobre o processo de ensinar, aprender e avaliar a Matemática na escola e o seu papel enquanto professor em processo de aprendizagem (GAMA, 2008). Em concordância com estes estudos, acreditamos que a participação em grupos com princípios colaborativos tende a ser uma saída para minimizar a cultura individualista da profissão docente, pois através da prática da reflexão compartilhada e potencializada pela escrita, os professores podem se tornar pesquisadores da própria prática, socializando seus aprendizados em sua comunidade profissional. Dessa forma, teremos professores que desenvolvem práticas de intervenção questionadoras, preocupados em ouvir os alunos, além de valorizar as interações em sala de aula, o que acreditamos ser uma necessidade para a adaptação do docente às demandas atuais da educação. 28 Anuário da Produção Acadêmica Docente Aline Mide Romano de Barros Assim, o presente estudo traz contribuições às pesquisas que tratam da formação inicial, do período de iniciação à docência e da socialização docente na medida em que, a partir da realidade educacional brasileira, faz uma reflexão sobre as etapas do ciclo de vida do professor (o tempo em que elas ocorrem), particularmente a entrada na carreira e as dificuldades vivenciadas pelo professor nesse período. Permite, também, além de uma reflexão quanto ao estabelecimento de estratégias para amenizar aspectos do “choque de realidade”, uma maior compreensão das diferentes percepções e dos diferentes problemas enfrentados pelos professores em suas etapas de trabalho. Não estamos aqui afirmando que teremos professores melhores formados se estes iniciarem a docência ainda na graduação. Entretanto, acreditamos que esse contanto com a docência ainda na graduação, talvez por meio de reformulação e busca de superações da atual cultura docente, poderia amenizar alguns problemas dessa fase inicial. Aliás, verificamos na literatura da área que esta é uma tendência cada vez mais freqüente nos cursos de formação de professores no Brasil. Por fim, vale destacar que, a partir da perspectiva dos próprios docentes, foi possível conhecer melhor os problemas que os iniciantes vivenciam no exercício da docência e verificar que tanto os que estão iniciando quanto os já experientes, enfrentaram as mesmas situações-problema. Percebemos que o que difere é a forma como essas duas classes de professores lidam com estes problemas. Em nossas entrevistas, no que se refere aos problemas de cunho institucional, em especial a condição de Admitidos em Caráter Temporário (ACT), encontramos: um iniciante que enfrentou essa dificuldade, um iniciante que não sofreu esse tipo específico de problema, e uma experiente que sofre com essa condição até hoje. Isso nos fornece valiosas pistas para contestarmos os chamados “ciclos” (HUBERMAN, 1989; 2000) ou “etapas” (SILKES, 1985), uma vez que percebemos que muitos problemas não estão relacionados a fases específicas da docência, sejam elas classificadas por tempo de docência ou idade, mas à própria profissão, sendo gerados pela forma de organização da escola e pela cultura escolar. Além disso, com o apoio de grupos de estudos, os iniciantes constroem novas experiências e produzem outras características para a fase inicial da carreira docente, sendo induzidos a mudar ou mesmo a alterar as fases da carreira descritas por Hubermam e Silkes, ou seja, mais um indício de que esse processo de evolução na carreira não é linear, como propõem esses trabalhos. Assim, encontramos elementos para reestruturar tanto os currículos de formação inicial quanto continuada, e compreender melhor o processo de aprender a ensinar, o que acreditamos não se limitar apenas aos primeiros anos de docência, uma vez que os problemas jamais deixam de existir. v.7 • n.18 • 2013 • p. 21-31 29 A fase inicial da docência em matemática sob diferentes olhares: professores iniciantes e professores experientes Então, com base na análise desenvolvida, podemos concluir que a colegialidade na escola e, principalmente, a busca de apoio exterior, como a participação em grupos de estudo, representam instâncias fundamentais e contributivas para o desenvolvimento profissional do professor iniciante, que, com a mediação do outro, do amigo crítico, pode refletir e compreender melhor o próprio processo de socialização profissional e intervir na prática escolar, vindo a ser protagonista da renovação e do desenvolvimento do currículo escolar. Referências ABARCA, J. C. 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El proceso de llegar a ser profesor: un análisis de la formación inicial. In: VILLA, A. (Coord.). Perspectivas y problemas de la función docente. Madrid, p. 39-68, 1988. v.7 • n.18 • 2013 • p. 21-31 31 ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE ESTUDO COMPARATIVO DAS DIMENSÕES EM SUPERVISÃO DA PSICOLOGIA CLÍNICA PROCESSO DA PESQUISA Fernanda Doretto Barbosa – Faculdade Anhanguera de Campinas - unidade 3 Miguel Mello Silva – Faculdade Anhanguera de Indaiatuba Maria Aparecida Laurenti – Centro Universitário Anhanguera de Santo André - UniA Rosani Gardin – Faculdade de Americana Gil Gonçalves Junior – Universidade do Grande ABC - UniABC / Centro Universitário Anhanguera de Santo André - UniA RESUMO: Este artigo priorizou o processo de pesquisa empreendida por um grupo de pesquisadores para investigar as práticas pedagógicas da supervisão clínica. O objetivo foi avaliar as vivências das dimensões de supervisão levantadas em estudo anterior, comparando-as no 9º e no 10º semestres. Objetivos específicos: comparar as vivências no tocante os campos da teoria, da técnica, da vida pessoal, do relacionamento com os colegas do grupo de supervisão, do relacionamento do supervisor com os seus colegas e dos aspectos da tarefa da supervisão em si e propor melhorias ao processo de ensinoaprendizagem da formação clínica. A metodologia utilizada foi estudo descritivo observacional das expectativas e vivências, por meio de escala Likert. A amostra foi de estagiários de 9º e 10º semestres de Psicologia na clínica-escola. Os resultados foram positivos e fundamentaram propostas de melhorias. Palavras-chave: Formação de psicólogos; Transição universidade e mundo de trabalho; Supervisão; Psicologia Clínica; Vivência Keywords: Psychotherapists formation; Transition university-work; Supervision; Clinical Psychology; Experience. ABSTRACT: This article focused on the process of a research about educational practices in clinical supervision aiming to assess dimensions of supervision experience raised in prior study, comparing them in the 9th and 10th semesters. Particularly, it compares supervisees’ experiences in the fields of theory, technique, personal life, relationship with supervision group peers, supervisor’s relationship with supervisees, aspects of the supervision and to present suggestions of educational improvements for the clinical formation. The method used was observational-descriptive of expectations and experiences using a Likert scale. The sample was made of interns of 9th and 10th semesters of three clinic-schools of Psychology. The results were positive and supported suggestions of improvements. Artigo Original Recebido em: 20/12/2013 Avaliado em: 02/02/2014 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa 1. Introdução O propósito desta publicação é ela funcionar como um informe da pesquisa que empreendemos, sendo apresentada de forma sintética. Esta pesquisa foi empreendida durante o segundo ano do programa de pesquisa da Anhanguera Educacional, em cujo grupo de pesquisadores foi acrescido mais um componente, professor da instituição e uma professora externa na consultoria de estatística, totalizando cinco pesquisadores. A composição do grupo de pesquisa cresceu em qualidade e o rendimento foi ótimo, pois o cronograma previsto foi cumprido com bastante envolvimento em todas as etapas. Quanto à definição do tema de pesquisa, a partir dos resultados da pesquisa “Significados do estágio em psicologia Clínica: percepção do aluno”, do período anterior desse programa institucional, que proporcionou um conhecimento exploratório profundo sobre a percepção dos alunos de 9º e 10º semestres quanto ao início da prática da clínica psicológica (os significados dados pelos alunos à experiência do estágio, as percepções relacionadas com a supervisão e as possíveis relações entre a experiência de estágio e uma futura escolha de atividade profissional em clínica), houve o interesse de os pesquisadores focalizarem, particularmente, os resultados obtidos no campo “supervisão”, por meio de um estudo que investigasse as práticas pedagógicas na supervisão clínica enfocando a percepção do estagiário quanto ao seu desenvolvimento teórico e técnico. Na pesquisa atual, objeto desta descrição, decidimos focalizar as vivências das dimensões de supervisão levantadas em estudo anterior como sendo importantes para o processo formativo, comparando-as no 9° e no 10° semestres. Especificamente, comparar as vivências dos estagiários no 9º e 10º semestres no tocante aos campos da teoria, da técnica, da vida pessoal, do relacionamento com os colegas do grupo de supervisão, do relacionamento do supervisor com os seus colegas e dos aspectos da tarefa da supervisão em si e propor intervenções de melhoria para o processo de ensino-aprendizagem da formação clínica. Um projeto de pesquisa foi elaborado e submetido à Fundação Nacional de Desenvolvimento do Ensino Superior Particular (FUNADESP) que, após avaliação e melhorias, foi aceito como objeto de fomento. Posteriormente, o mesmo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Anhanguera Educacional. Para a coleta de dados em campo, obtivemos apoio formal e colaboração das direções e coordenações das unidades e cursos envolvidos, bem como dos próprios estagiários que se mostraram muito interessados em relatar as suas próprias experiências. A seguir, discorreremos sobre os estudos feitos sobre o tema escolhido, a proposta da pesquisa, os aspectos metodológicos com ênfase na etapa de campo e a discussão dos resultados principais. Para detalhamento desta parte, sugerimos a leitura de nossa outra publicação sobre a pesquisa. 34 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior 1.1. Estudos Sobre o Tema Escolhido Estudos demonstram que a dimensão central do estágio é a dupla: supervisor e aluno. (ALARCÃO e TAVARES, 2003; CAIRES, 2001, 2003; CAIRES e ALMEIDA, 2001a; HAWKEY, 1997; RYAN e COLS., 1996). A alquimia da dupla propícia novas formas de pensar, sentir e agir (SOARES, 1995). Embora o processo da supervisão tenha uma importância inquestionável, Moreira (2003) salienta que ainda não há uma uniformização de procedimentos nesta prática; o que ocasiona uma diversidade de métodos pedagógicos ocasionados por inúmeros fatores, como, por exemplo: a linha teórica, formação pessoal do supervisor, ausência de avaliação do processo supervisionado e a própria falta de um modelo já consagrado. A escassez de pesquisa no campo da supervisão clínica favorece o referencial teórico e pessoal do supervisor no processo de ensino e aprendizagem. (MOREIRA, 2003). Através de uma revisão da literatura, Lima (2007) aponta algumas funções que deveriam fazer parte do repertório didático do supervisor. São elas: informar aspectos técnicos, teóricos e científicos atuais relevantes para o campo da psicoterapia; desenvolver nos alunos a dialética reflexiva relativa às questões apresentadas na supervisão; sugerir caminhos práticos e éticos para a condução do caso clínico; encorajar o estagiário à realização de intervenções; saber ouvir e entender os aspectos positivos e negativos do aluno, no sentido formativo e não terapêutico. A supervisão deve constituir-se em um processo educativo capaz de promover aprendizagem necessária, para que o estagiário receba um treinamento adequado que o habilite a exercer funções terapêuticas, enriquecendo desta forma suas próprias capacidades. (ROTH e PILLING; 2007). Alguns fatores são apontados pela literatura como interventores nesta relação: o próprio grupo que também participa da supervisão e a relação que se estabelece entre todos. (EIZIRIK, NUNES, ZASLAVSKY, 2003; PADESKY, 2004; DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2006, MONTEIRO e NUNES, 2008) Aguirre e cols., (2000) afirmaram que o futuro psicólogo encontra-se em um complexo rito de passagem, às voltas com sobreposição de papéis, na medida em que ele é, ao mesmo tempo, aluno frente ao seu supervisor e profissional frente ao seu cliente. A pesquisa “Significados do estágio em psicologia Clínica: percepção do aluno” foi concluída satisfatoriamente com resultados que possibilitaram um conhecimento exploratório profundo sobre a percepção dos alunos de 9º e 10º semestres quanto ao início da prática da clínica psicológica, os significados dados pelos alunos à experiência do estágio, as percepções relacionadas com a supervisão e as possíveis relações entre a experiência de estágio e uma futura escolha de atividade profissional em clínica. A partir disto, houve o interesse de os pesquisadores focalizarem, particularmente, os resultados obtidos no campo “supervisão”, por meio de um estudo que investigasse as v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 35 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa práticas pedagógicas na supervisão clínica enfocando a percepção do estagiário quanto ao seu desenvolvimento teórico e técnico, a partir de dimensões levantadas no estudo anterior. Isto permitiria um dimensionamento sobre as práticas específicas durante a formação de psicólogos clínicos, em um momento constatadamente crucial da formação da identidade do profissional e que é realizada nas instituições de ensino. Portanto, nesta pesquisa, o objetivo geral foi avaliar as vivências das dimensões de supervisão levantadas em estudo anterior como sendo importantes para o processo formativo, comparando-as no 9° e no 10° semestres. Especificamente, comparar as vivências dos estagiários no 9º e 10º semestres no tocante aos campos da teoria, da técnica, da vida pessoal, do relacionamento com os colegas do grupo de supervisão, do relacionamento do supervisor com os seus colegas e dos aspectos da tarefa da supervisão em si e propor intervenções de melhoria para o processo de ensino-aprendizagem da formação clínica. 1.2. A Proposta de Pesquisa Isto permitiria um dimensionamento sobre as práticas específicas durante a formação de psicólogos clínicos, em um momento constatadamente crucial da formação da identidade do profissional e que é realizada nas instituições de ensino, embasando o mapeamento de competências e a composição de um guia para orientar os supervisores clínicos da instituição de ensino em suas práticas profissionais, aprimorando as práticas pedagógicas existentes. Assim, esta pesquisa possui valor acadêmico ao abrir possibilidade reflexiva acerca de assunto tão importante para o processo educacional de formação do psicólogo. 2. método A pesquisa foi realizada por meio de um estudo descritivo-observacional – série de casos, que descreve características observadas em um determinado grupo. Nessa pesquisa, a princípio, foram apresentados dados sobre as expectativas dos estagiários em dois momentos da supervisão, no 9º e 10º semestres, com as suas respectivas vivências. Após descrever essas expectativas, fizemos uma comparação entre essas vivências apresentadas nesses dois semestres. Os estudos descritivos são utilizados para descrever, identificar, o mais detalhadamente possível, uma realidade através de seus fatos e fenômenos (TRIVIÑOS,1987). Sujeitos: Estagiários de 9º e 10º semestre do curso de Psicologia em estágio de atendimento psicológico na clínica-escola, do ano letivo de 2013, de ambos os sexos, escolhidos por conveniência, por estarem disponíveis e que aceitarem livremente o convite para participarem da pesquisa e assinarem o termo de consentimento livre e esclarecido. Após as coletas, foram feitas a tabulação, a análise dos dados e a discussão dos resultados. 36 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior 2.1. Campo da Pesquisa O campo da pesquisa foram às clínicas-escolas de três unidades da Anhanguera Educacional onde havia alunos em fase de estágio de Psicologia Clínica: Faculdade Anhanguera de Campinas 3, Centro Universitário Anhanguera de Santo André I (UNIA) e Universidade do Grande ABC (UniABC). Essa escolha se justificou em razão das clínicas serem o ambiente natural de relevância do fenômeno a ser estudado. 2.2. Técnica para Coleta de Dados Foram feitas duas coletas programadas para o fim do nono e décimo semestres, durante as atividades de grupos de supervisão de psicologia clínica, quando era distribuído o instrumento descrito na próxima seção deste relato, momentos nos quais o pesquisador estava presente para dirimir eventuais dúvidas de preenchimento. A primeira coleta era mais sensível para obter dados quanto as expectativas dos estagiários; enquanto que a segunda coleta, perto do final do estágio focalizava as efetivas experiências deles. 2.3. Instrumento O instrumento utilizado foi um questionário desenvolvido a partir dos resultados obtidos em pesquisa anterior. Ele contemplou dados de identificação, dados sociodemográficos, dados relativos a teoria, área de atuação psicológica e as ações do supervisor, estas serão avaliadas em uma escala tipo Likert (NUNNALLY e BERNSTEIN, 1994). Como o foco principal da pesquisa recaiu sobre as ações do supervisor, foram investigadas as seguintes dimensões: aproveitamento das vivências dos alunos; apresentação de casos modelares trazidos pelo supervisor; apontamento de eventuais identificações do estagiário com o caso atendido; valorização da supervisão; postura do supervisor facilitadora da aprendizagem; estratégias de manejo; reasseguramento do aluno; oportunidade de participação; criação de clima de espontaneidade na supervisão; manejo da dinâmica intergrupal e flexibilidade com os estilos pessoais dos alunos. O questionário foi validado por especialistas da área quanto a: 1) opções apresentadas; 2) qualidade das perguntas feitas na escala (concisão, clareza, objetivo, singularidade da questão e poder da pergunta). As perguntas estavam dispostas no formato Likert (discordo totalmente, discordo parcialmente, indiferente, concordo parcialmente, concordo totalmente), na seguinte ordem: v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 37 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa Ele descreveu trechos de casos clínicos para comparar com meu paciente. Ele vinculou o caso atendido com a teoria ensinada. Mostrou várias formas de intervenção. O supervisor deu apoio emocional ao transmitir a técnica. Ele apontou as minhas reações pessoais frente ao problema do paciente. Auxiliou a perceber eventuais diferenças entre o que é pessoal (meu) e do paciente. O supervisor permite intervenções diferentes da que ele orienta. Liderou o grupo para todos colaborarem. Considerou a minha maneira pessoal de ver o caso. O bom humor dele ajudou a aprender tanto sobre mim como sobre o caso. O bom humor dele ocorria mantendo o respeito. Ele me inspirou confiança. Ele me mostrou que também erra. Ele pediu e cobrou relatórios Ele buscou saber a opinião de todos sobre o caso. Ele fez bom uso do tempo da supervisão. Ele valorizou a espontaneidade. Ele mostrou como o caso evoluiu. Ele me ajudou a agir com segurança. Ele me ajudou emocionalmente sem fazer disso uma terapia. 2.4. Aspectos Éticos da Pesquisa Como parte do procedimento, foram obtidas autorização institucional para a entrada no campo de pesquisa e aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa 240.981 de 05/04/2013. Os entrevistados assinaram o termo de consentimento livre esclarecido, garantindolhes o anonimato, ficando claro que seus nomes não seriam divulgados. 2.5. Etapas da Pesquisa: Compondo as etapas da pesquisa tivemos: 1. Organização da equipe de trabalho; 2. Escolha do tema e do método da pesquisa; 3. Levantamento bibliográfico. 4. Elaboração do instrumento de pesquisa; 5. Obtenção de autorização das instituições campo de pesquisa; 6. Submissão do projeto de pesquisa ao comitê de ética em pesquisa resolução (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1996); 38 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior 7. Inserção em campo – 1a coleta - Abordagem dos sujeitos: explicação da finalidade da pesquisa, leitura do termo de consentimento livre e esclarecido, obtenção da assinatura do termo, assinatura do pesquisador, entrega de uma via do termo assinada para o sujeito, coleta de dados pessoais de identificação do entrevistado. 8. Análise preliminar dos dados; redação preliminar: metodologia, resultados, discussão preliminar e introdução; 9. Inserção em campo – 2a coleta (nos moldes da 1a coleta) 10. Redação final da pesquisa; 11. Adequação da pesquisa ao formato de artigo científico; 12. Submissão do artigo para a publicação. 2.6. Análise dos Dados Os sujeitos entrevistados eram 78% do sexo feminino e 22% do sexo masculino. A faixa etária mais presente é entre 26 a 35 anos seguidos (41,9%) pela faixa de 18 a 25 anos (37,8%). O maior percentual é de solteiro (a) (58,1%) seguido pelo casado (a) (34,9%). Católicos (35,5%) são em maior percentual, seguidos pelos protestantes (28,5%). A maioria dos entrevistados trabalha (77,9%) e faz psicoterapia (62,8%). As teorias com as quais mais se identificavam eram: a psicanálise freudiana (29,3%), terapia comportamental cognitivista (14,1%) e terapia rogeriana (12,4%). Os campos de atuação pretendidos eram, preferencialmente, clínica (37,9%) seguida de hospitalar (15,4%) e organizacional (14,3%). De maneira geral, houve grande concentração das respostas no grau mais elevado de concordância. Inferimos disso que os respondentes viam a situação de estágio como um momento muito privilegiado em relação ao contexto prévio de ensino-aprendizagem, contexto que agora tem nova configuração: turmas bem menores que nas séries anteriores, efetivo exercício da prática clínica, a individualidade, maior autonomia e feedback pessoal, análoga ao contexto da prática profissional futura. 3. DISCUSSÃO Apresentamos, a seguir, uma síntese da discussão feita em artigo pormenorizado submetido para publicação na Encontro: Revista de Psicologia A maioria dos supervisionandos vai terminar a etapa de supervisões sem dominar completamente a estrutura teórica complexa, compreensiva e cheia de nuances da teoria, pois esta, para ser compreendida e aplicada, requer estudo intensivo, anos de prática e muitas leituras. (LERNER, 2008) v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 39 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa Mesmo assim, o supervisor deve empreender o estudo de caso como estratégia de apresentação da mesma em variados contextos de pacientes, bem como para alargar da visão do aluno. A estratégia de estudo-de-caso já é uma tradição dentro do campo da saúde como, por exemplo, desde a relação entre Freud com os seus discípulos e ela propicia um interjogo positivo entre o caso, o docente expert-professor e o grupo de supervisão, enfocando o essencial da teoria que, com a discussão, pode ser ampliada (STAKE, 1994). Dessa forma, os casos serviriam não apenas de modelo de replicação, mas também de modelo de questionamento da validade da teoria empregada. No grupo estudado, a descrição de trechos de casos clínicos modelares foi bastante apreciada enquanto estratégia facilitadora da aprendizagem. Inclusive, houve uma variação positiva da utilidade atribuída a ela entre o primeiro e o segundo momentos de coleta de dados da pesquisa (de 86,0% para 87,4%) com os supervisionandos, sugerindo que eles se tornaram mais críticos e maduros em relação à importância dessa estratégia. Técnica (TC1) Em relação às várias formas de intervenção que o supervisor aponta para os alunos, aumentou a expectativa dos alunos em relação às técnicas de intervenção recomendadas pelo supervisor (de 93,% na primeira aplicação pra 96,9% na segunda). Seguindo a premissa de Winnicott (1990) “Faço análise porque é do que o paciente necessita, senão, então faço alguma outra coisa”. O supervisor, a partir da problemática do paciente, também deve possuir competência para propor manejos respeitando a sua abordagem teórica que, quando insuficiente, permitirá apontar formas diferentes de intervenção (CAMPBELL, 2006). Técnica (TC2) Essa dimensão avaliada apresentou um dos maiores valores de respostas na opção “indiferente” (13,4% na primeira coleta e 10,7% na segunda). A se considerar o aumento na opção “discordo parcialmente” na segunda coleta (de 3,5% para 6,9%), podemos inferir que, diante da responsabilidade pela tarefa do cuidar e aumento de conscientização da participação dos aspectos emocionais do cuidador, passaram a se sentir mais desprovidos do apoio emocional do supervisor. Na supervisão, ocorre o apoio emocional, mas não na intensidade que o aluno desejaria. Se tivesse que ocorrer demasiadamente, indicaria incapacidade do aluno para ser terapeuta. Nesse sentido existe a complexa questão do duplo papel do supervisionando: de ser aluno e de precisar funcionar como um psicoterapeuta com condições de autorreflexividade (autoanálise, autocrítica), colocando a si próprio entre parênteses no contato com o paciente. A decisão do supervisor quanto ao grau em que deve oferecer o apoio emocional depende de o quanto a sua empatia e congruência com os alunos indicam isso ser necessário. Nesse 40 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior sentido, confiança, autenticidade, genuinidade, abertura, tolerância, respeito, empatia e flexibilidade, aliados à capacidade de confrontação são competências necessárias ao bom supervisor. (CAMPBELL, 2006; ROGERS, 1991). Vida pessoal (EI 1) Em relação a apontar as atitudes individuais dos estagiários frente ao problema do paciente, os resultados excedem 80% de concordância nos dois momentos da aplicação da escala, sendo que houve um aumento disto na segunda coleta (de 1,6%). Estes valores evidenciam a percepção de uma efetividade do supervisor nesse quesito. A partir disto, inferimos que os alunos são iniciantes na prática psicoterapêutica e a autopercepcão fica facilitada para os alunos que fazem psicoterapia, pois usam dessa experiência como uma situação vivencial adicional de apoio para aquilo que experimenta pessoalmente com o paciente (FLEMING e BENEDEK, 1996; HESS, A. 2008), aprovando as iniciativas do supervisor em apontar as reações emocionais deles frente ao problema do paciente. Vida pessoal (EI 2) Os resultados indicam uma migração maior (de 7,6% para 10,7%) das respostas para o grau indiferente que, situado no meio da escala, pode representar dúvida quanto ao escopo da questão, porquanto a diferença entre o que esta avalia e o que é avaliado pela pergunta anterior - é bastante tênue. Na pergunta anterior, o supervisor estimula a autorreflexão nos alunos e, nesta pergunta, ele estimula a aceitação das idiossincrasias dos pacientes atendidos, que provem de realidades culturais não-idênticas. (CAMPBELL, 2006) Vida pessoal (EI 3) Sobre a questão de o supervisor permitir ou não intervenções diferentes da que ele orienta, um percentual bem significativo de respostas apareceu nos graus “discordo totalmente” (11,9%) e “indiferente” (12,6%) na primeira coleta, diminuindo a discordância na segunda coleta (de 15,1% para 11,9%). Esses resultados seriam indicativos de narcisismo ou rigidez do supervisor ou a inconsistência do que é sugerido pelo aluno para aquele caso? A interpretação dos números pode recair sobre o vértice tanto do supervisor como do aluno. O processo de supervisão é um tanto quanto pantanoso para o supervisor que conhece o paciente apenas através de relatos feitos pelos alunos e que são passíveis de distorções. As informações dependem da capacidade de o aluno perceber bem o paciente e de relatar fielmente o que vivencia com ele, sem querer se apresentar como perfeito, estudioso e bem comportado (ZIMERMAN, 1999) Em razão disso, o supervisor pode optar por reduzir a v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 41 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa incerteza, restringindo a variedade das intervenções feitas pelos supervisionandos. O aluno, ao longo do curso, entrou em contato com várias formas de intervenção. Quando ele se depara com a realidade do paciente, muitas vezes pela ansiedade de resultados, quer resolver-lhe os sintomas com técnicas pontuais, arriscando fazer da psicoterapia uma colcha de retalhos de diversas técnicas desconexas que conhece apenas superficialmente. Diante da negativa ou reticência do supervisor justificadas pela cautela, o aluno presume uma rigidez ou inflexibilidade dele. No entanto, a postura do supervisor advém de uma confiança na técnica, sustentada no tempo, que aguarda os seus efeitos no desenrolar do processo psicoterapêutico. Essa confiança o aluno ainda não alcançou, especialmente no timing pessoal do paciente que faz progressos nem sempre tão linear. Relação com os colegas e grupo (GP 1) Os resultados sugerem que alunos inicialmente escolheram a opção indiferente (8,7% na primeira coleta), mas depois mudaram para as opções menos favoráveis de “discordo totalmente” e “discordo parcialmente” (1,3% e 4,4%, respectivamente, na segunda coleta). No entanto, nos dois momentos fica indicado que eles percebiam a liderança do supervisor favorecendo a participação e a colaboração de todos durante a supervisão (88,3% de concordância na primeira aplicação e 86,7% na segunda). Considerando que os grupos organizam-se em função de tarefas para cuja estruturação o papel do líder é decisivo (ROBBINS, 1998), os resultado indicam que os supervisores exerceram uma liderança eficaz porque influenciavam o comportamento de todos para a participação na situação dos encontros de supervisão psicoterapêutica. Relação supervisor-grupo (RL 1) Quanto ao supervisor aceitar a maneira pessoal de o supervisionando compreender o caso, apesar do pequeno decréscimo de 2,3% no segundo momento, a avaliação geral foi muito positiva 87,2% e 84,9% de concordância na primeira e na segunda aplicação, respectivamente). Considerando o resultado do quesito EI2, a maneira pessoal de ver o caso era aceita sem, contudo, implicar em uma personalização da questão do paciente. Possivelmente, neste caso, a atuação do supervisor aproximou-se do exercício proposto por Zimerman (2004): o de ajudar o supervisionando a discriminar que ele pode ser flexível assim como forte e firme, sem que implicar em radicalismo ou rigidez que, pela falta de isenção, poderia distorcer o que é inerente ao caso e aquilo que deveria ser, portanto, assimilado. Relação supervisor-grupo (RL 2) Os resultados deste item (concordância de 87,2% na primeira coleta e de 83,1% na segunda) revelam que o supervisor recorreu ao humor durante as supervisões. Truett (2011) aponta 42 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior a importância do humor na criação de um clima caloroso para superar resistências frente a conteúdos emocionalmente mobilizadores. O humor é capaz de introduzir elementos novos nos esquemas prontos, favorecendo uma subversão criativa da ordem e estimulando a curiosidade. Ele opera como releitura da percepção que o grupo tem de um caso particular atendido, rompendo com a obviedade, ao dar-lhe um sentido intrigante, jocoso, exagerado, anedótico, às vezes até um pouco contraditório sem, no entanto, se distanciar demais do fato original, apenas demonstrando ser alguém humano vulnerável. Além de ser uma característica do humano, o humor é útil para a prática pedagógica e ajuda o supervisionando a aprender sobre si próprio e sobre o caso, inclusive nos termos auscultados pelos itens RL1 e El2. Relação supervisor-grupo (RL 3) Os supervisionandos estão muito satisfeitos com o respeito que acompanhava o bom humor. Esse item foi avaliado com grau bem alto de concordância na primeira coleta (90,7%), sendo que a ligeira queda na segunda coleta (-0,7%) deveu-se em maior medida à migração para a opção “indiferente”, que cresceu 0,5%. Esse, portanto, é um aspecto do desempenho do supervisor avaliado como de alta qualidade, útil à produtividade grupal, à flexibilidade funcional de papéis e ao maior envolvimento. Contudo, o uso do humor exige que aconteça dentro de parâmetros nem sempre explicitados, sutilmente inferidos pelo gestual ou pelas expressões de aprovação dos demais integrantes, ao aceitável para certo grupo de pessoas e capaz de comunicar valores grupais, evitar situações constrangedoras e favorecer o convívio grupal (CHEN e COLS., 2002) Relação supervisor-grupo (RL 4) Os alunos apresentaram estar muitíssimo satisfeitos com a confiança que o supervisor lhes inspirou, esse aspecto ao ser avaliado atingiu o maior índice de concordância (95,3% na primeira coleta e 93,1% na segunda). A competência técnica do aluno se apoia na confiança que ele criou quando o supervisor acolheu seus eventuais erros. Por isso, o ambiente da supervisão requer do supervisor a tarefa de inspirar confiança. Uma das estratégias implica em o supervisor se autorrevelar, apoiar e não se superproteger (JOHNSON, 1997). Estes elementos criam um clima de confiança para as experiências do aluno com o paciente que, quando discutidas, possibilitam a percepção da própria eficácia, maior autoconfiança mais capacitação técnica. v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 43 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa Relação supervisor-grupo (RL 5) Quando ao aluno é perguntado se o supervisor mostra que também erra, há uma concordância alta e crescente (85,5% na primeira coleta e 87,4% na segunda). Isso indica que o supervisor era percebido como alguém afetivamente próximo. Nos termos de Fleming e Benedek (1996), pouco idealizado, facilitador da aprendizagem pela conexão emocional criadora de uma aliança com os alunos e capaz de lhes promover autoconfiança e melhoria da capacidade técnica. O comportamento de o supervisor apontar os próprios erros se conecta com os valores de trabalho que ele possui. Conforme Campbell (2006) e Zimerman (2004), as atitudes pessoais e crenças do supervisor sobre êxito, sucesso e fracasso influenciam, às vezes negativamente, o processo de supervisão com expectativas irrealistas sobre os alunos: rigidez, dificuldade de delegação e onipotência. Supervisão (SU 1) Os resultados indicam que entre as duas coletas aumentou a cobrança do supervisor quanto à apresentação dos relatórios (de 83,1% para 91,8% de concordância), o que é consonante com as exigências internas e externas desse processo. Do ponto de vista interno, os relatórios são o prontuário com a evolução dos pacientes, necessários à boa governança administrativa da clínica-escola e educacional, pois a escrita do relatório possibilita a reflexão da situação vivenciada com o paciente, sistematizando as consultas segundo a teoria empregada em um plano de tratamento que seja coerente, não residindo unicamente na memória do aluno que, inclusive, pode deixar a escola, fazendo-se necessário ser substituído por outro a fim de não prejudicar o atendimento em curso. A maioria dos estagiários se depara com a dificuldade inerente da escrita, que exige pré-requisitos pessoais, educacionais e de planejamento da rotina pessoal para ser feita a contento. Do ponto de vista externo, esses relatórios vão integrar o prontuário do paciente, que é uma exigência legal brasileira sobre o estágio de estudantes (BRASIL, Lei nº 11.788, 25 de setembro de 2008) e do Conselho Federal de Psicologia (CFP, Resolução 001/2009) sobre a obrigatroriedade do registro documental dos serviços de psicologia, aplicável às clínicasescolas para controle da conformidade da conduta ética e legal dos atendimentos feitos pelos supervisionandos e também a qualquer profissional, independente de sua área de atuação. Supervisão (SU 2) Quanto ao supervisor buscar conhecer a opinião de todos sobre o caso, houve uma ligeira variação das respostas para grau indiferente (de 7,0% na primeira aplicação para 8,2% na 44 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior segunda) sem, contudo, alterar o sentido de uma percepção positiva do comportamento do supervisor (84,9% de concordância na primeira aplicação e 83,7% na segunda), Buscar conhecer as opiniões dos alunos é uma estratégia pedagógica para estimular a participação, produzindo conteúdos úteis para o supervisor confirmar, ampliar e problematizar a compreensão dos alunos sobre os relatos que eles trazem. Ao mesmo tempo, isso cria um contexto em que a participação é incluída como comportamento esperado dos alunos, favorecendo ao supervisor o feedback do processo de desenvolvimento dos mesmos. Hersey e Blanchard (apud Robbins, 1998, pág. 225) afirmam que, para aumentar a participação, o comportamento específico do líder é o de estreitar o relacionamento e favorecer a comunicação sobre a tarefa. Os resultados do item GP1, conjuntamente com os deste item, indicam que a liderança exercida pelo supervisor foi no sentido de garantir a participação e aceitação recíproca de todos. Supervisão (SU 3) Quanto ao uso que o professor fez do tempo da supervisão, os resultados mostram que a avaliação continuou boa (concordância de 83,6% na segunda aplicação contra 87,2% na primeira), mas que os alunos solicitavam mais tempo de supervisão. Possivelmente esta maior demanda de tempo por parte deles se deveu ao fato de que ganharam maior complexidade na análise dos casos (itens anteriores), passando a sentir mais necessidade de acompanhamento do supervisor, impossível de ser oferecida em razão da carga horária da disciplina. Uma alternativa paliativa seria o supervisor propor leitura extraclasse útil ao caso. Supervisão (SU 4) Quanto à valorização da espontaneidade dos alunos pelos supervisores, houve uma queda de 5,5% de aprovação na segunda coleta, com uma reversão na apreciação da espontaneidade, indo do “concordo” (86,7% na primeira aplicação e 81,2% na segunda) para o “discordo” (1,2% na primeira e 3,8% na segunda). Os sujeitos sentiram que houve um corte ou desestímulo à espontaneidade, que se subordinou à limitação de tempo. Isto é, para o supervisor propiciar uma discussão complexa e detalhada dos casos (os alunos anseiam isso), ele reduz o espaço da pessoalidade do narrador que, em curto tempo, deve trazer a sua compreensão embasada teoricamente para, então, o supervisor fazer-lhe as considerações pertinentes. Como o embasamento das reflexões é crescente, surge um rigor maior no campo da oralidade e da escrita Hyman (2008) que concorre com a espontaneidade dos integrantes, que precisa ficar menor. v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 45 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa Supervisão (SU 5) Ao serem questionados se o supervisor demonstrava como o caso evoluiu, na segunda aplicação, houve uma concordância ligeiramente menor (-2,6%) em relação a esse desempenho do supervisor que, no entanto, permaneceu alta (81,1%). O apontamento sobre a evolução do caso é uma das atividades centrais da supervisão. Em relação à ligeira diminuição da concordância, é possível fazer duas considerações: 1) a tensão entre a crescente complexidade do caso e o aumento da capacidade terapêutica do supervisionando com limitação do tempo de supervisão, algo já percebido em outras questões; e 2) a insistente expectativa do aluno de esperar do supervisor a mesma atenção da fase inicial, enquanto este, como estratégia pedagógica, espera do aluno evidências de autonomia crescente no caso, para reforçar-lhe positivamente o desempenho clínico. Supervisão (SU 6) No que se refere ao supervisor ajudar os alunos a agirem com segurança, houve a maior variação (- 5,6%) no sentido da diminuição da concordância nos dois momentos da aplicação (de 91,9% na primeira para 86,2% na segunda), conquanto ainda permaneça uma das mais altas em relação aos demais itens. Aqui há a necessidade de o supervisor, conforme já indicado nos comentários ao resultado de quesitos anteriores, ir gradativamente conferindo maior protagonismo ao aluno, justamente para que ele conquiste autonomia no caso, mas essa nova atribuição delegada, não é facilmente assimilada por ele e, contrariamente, resulta em se sentir menos seguro. A tarefa de formar em alguém o sentido de identidade profissional de terapeuta é cercada da extrema complexidade trazida por Lerner (2008), que demanda do supervisor uma postura cuidadosa da busca do equilíbrio entre o ensino de técnicas psicoterapêuticas, teorias de tratamento, raciocínio clínico, valores e atitudes conversíveis nas capacidades de o aluno ouvir, observar, acolher e tolerar os pacientes. Supervisão (SU 7) As respostas quanto ao item, ele (o supervisor) me ajudou emocionalmente sem fazer disso uma terapia, no segundo momento, apresentaram uma migração para alternativa indiferente (de 3,8% na primeira aplicação para 12,2% na segunda), mas os valores continuaram caracterizando uma concordância bastante alta (80,2% na primeira aplicação e 78,7% na segunda), o que é coerente com os resultados apresentados nos itens EI1 e EI2, que guardam relação com este. O apoio emocional pareceu estar sempre presente na relação supervisorsupervisionando, indicando aquilo que Weatherford, O’Shaughnessy e Kaduvettoor (2008) escreveram sobre a importância de abordar a reação emocional do terapeuta frente ao cliente 46 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior (contratransferência) visando a auto-reflexão, encorajamento, aprendizagem, comparações e contrastamento futuros. Para eles, as reações contratransferenciais, ao serem interpretadas, deterioraram a supervisão em psicoterapia. Abordá-la e comunicá-la adequadamente pelo supervisor é algo trabalhoso visto a limitação do enquadre da supervisão e também por abarcar o que é pessoal do terapeuta (também aluno), mas que precisa ser incluído na supervisão do caso (ETCHEGOYEN, 1987). Apesar de ser um item mobilizador, os resultados nesse item e em outros relacionados (EI1 e EI2), indicam que os supervisores alcançavam um equilíbrio necessário à questão. Propostas de intervenções de melhoria para o processo de ensino-aprendizagem da formação clínica No que se refere à dimensão da teoria, a partir dos resultados, seria adequado o contato com uma variedade de casos atendidos pelo grupo, de forma a alargar o contato dos alunos com diversos adoecimentos psicológicos, indo além do diagnóstico, visto que os adoecimentos incluem as determinações socioculturais dos sujeitos atendidos. Para favorecer essa experiência, o supervisor poderia ajudar a selecionar o conjunto de casos de seu grupo. Outra estratégia para enriquecer o campo teórico é vincular os atendimentos a casosexemplares da teoria, de modo a estimular um interjogo producente entre caso-docentegrupo que possibilite uma relação crítica com a validade da teoria. Em relação às várias formas de intervenção (técnicas) que o supervisor emprega para indicar a ação (manejo) dos alunos com os pacientes, o supervisor deve empregar a sua competência, propondo manejos variados que levem em conta a abordagem teórica que ele segue e, quando esta se tornar insuficiente para o caso em questão, indicar formas diferentes de intervenção. Ao transmitir a técnica, o supervisor também precisa dar o devido apoio emocional aos alunos. O grau em que esse apoio é oferecido deve ser suficiente para que os alunos sejam capazes de atuar como terapeutas com autorreflexividade, autoanálise e autocrítica. Para tanto, o supervisor precisa, para transmitir a técnica, construir relação de confiança, autenticidade, genuinidade, abertura, tolerância, respeito, empatia e flexibilidade, aliados à capacidade de confrontação são competências necessárias ao bom supervisor. Quanto a participação da vida pessoal dos alunos no processo de atendimento e de supervisão, o supervisor precisa apontar as reações pessoais do estagiário frente ao problema do paciente que ele atende. Na realidade, é preciso insistir na importância da psicoterapia como um dos pilares da formação e processo facilitador da prática terapêutica porque edifica a autopercepção. Na prática, essa insistência deve ocorrer por meio de orientação individual daqueles alunos emocionalmente mais necessitados de suporte terapêutico, sendo que estes podem ser encaminhados pelo supervisor a alguém externo do banco de psicoterapeutas dispostos a atender a um preço módico. v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 47 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa Também é importante conduzir os alunos à reflexão sobre diferentes formas de se viver, presentes nas vidas dos pacientes. Essa estratégia do supervisor auxiliaria os alunos a serem socialmente sensíveis, aceitando realidades culturais não-idênticas às deles. A liberdade do aluno em decidir qual intervenção fazer com o paciente é algo angustiante tanto para o supervisor que conhece o paciente apenas por relatos, como para o próprio aluno que, diante dessa eventual liberdade, pode duvidar sobre estar fazendo a escolha correta ou não. Em resumo, o paciente é do aluno e se ressente da excessiva cautela do supervisor restringindo-lhe a ação com o seu paciente. Em razão disto, propomos que o supervisor compreenda que o aluno é o protagonista e que lhe impute o sentido de liberdade responsável pelo paciente de forma a torná-lo preocupado com as decisões que toma com ele. Nesse sentido, supervisor e aluno não mais se rivalizam, mas se complementam quanto a decisão de quais estratégias são pertinentes ao caso, a partir da teoria que é adotada na supervisão. O supervisor deve funcionar como um líder estimulador da participação e da colaboração de todos os integrantes do grupo. Ao supervisor recomendamos aceitar a maneira pessoal de o aluno ver o caso sem, contudo, isto implicar em uma personalização da questão do paciente, isto é, distorcer o que há de inerente ao caso e que deve ser assimilado. Da mesma forma, o supervisor sempre que possível, deve empregar o bom humor em favor de um clima caloroso para favorecer a superação de eventuais resistências frente a conteúdos emocionais mobilizadores. Nesse sentido, o humor deve ocorrer dentro dos parâmetros aceitos pelo grupo, evitando situações constrangedoras. Não menos importante, o supervisor precisa se autorrevelar: mostrar que também erra, que é humano, inspirando sem se idealizar, sendo afetivamente próximo, propiciando condições para que o aluno perceba a própria eficácia que lhe trará maior autoconfiança e busca de maior capacitação técnica. Dentro dos itens relativos à supervisão, relatórios de acompanhamentos devem ser cobrados pelo supervisor solicitando informações concisas sobre a dinâmica do paciente (defesas, angústias, etc.), sua adaptação pessoal, condição psicossomática, condições sócio-familiares, ou seja, itens abreviados que permitam uma síntese útil a compreensão da evolução do caso que, inclusive, utilizará na vida profissional. Ainda nesse campo, o supervisor deve sempre estimular a participação ativa dos alunos na discussão dos casos atendidos pelo grupo (não somente o seu) como estratégia pedagógica de ampliar e problematizar os relatos que trazem. Essa cobrança se refletiria também nas questões da prova, que podem exigir o conhecimento dos casos dos colegas. Para compensar o pouco tempo de supervisão e a exigência crescente de mais tempo pelos alunos, o supervisor poderia propor extraclasses úteis aos casos do grupo. Para manter a espontaneidade mesmo dentro de um tempo exíguo, o supervisor deve, gradativamente, 48 Anuário da Produção Acadêmica Docente Fernanda Doretto Barbosa, Miguel Mello Silva, Maria Aparecida Laurenti, Rosani Gardin, Gil Gonçalves Junior ajustá-la a um maior rigor científico ainda que presente a espontaneidade pueril típica dos alunos. O supervisor precisa mostrar que o aumento da competência terapêutica ocorre com a assimilação de técnicas, teorias, raciocínio clínico, valores e atitudes que se expressam no ouvir, observar, acolher e tolerar os pacientes e que isto, quando está se desenvolvendo, automaticamente aponta para novas necessidades de desenvolvimento que não podem ser supridas durante o curso e devem ser enfrentadas com aperfeiçoamento contínuo por meio de leituras, grupos-de-estudo e cursos de pós-graduação. Nesse sentido, o supervisor valoriza o protagonismo do aluno que, para ter maior segurança profissional, deve se tornar sujeito de sua própria aprendizagem ao logo de toda a vida profissional (formação continuada). O supervisor deve apoiar emocionalmente os alunos sem deteriorar a supervisão em uma psicoterapia. Deve, portanto, apontar (sem interpretar) a contratransferência do aluno frente ao caso visando a auto-reflexão, encorajamento, aprendizagem, comparações e contrastamento futuros. Conforme observado, muitos itens são necessários ao bom desempenho do supervisor e ele também precisa receber apoio para desempenhar a contento suas funções. Nesse sentido, para completar a melhoria do processo de ensino-aprendizagem, propomos que o tamanho dos grupos de supervisão seja apropriado às complexas tarefas inerentes à ela. Não menos importante é que o processo de recrutamento e seleção atraia candidatos com o alto grau de especialização requerido, através da oferta de uma remuneração condizente. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Em consonância com os objetivos e nos termos da metodologia adotada, a realização desta pesquisa permitiu observar as vivências dos estagiários no 9º e 10º semestres no tocante aos campos da teoria, da técnica, da vida pessoal, do relacionamento com os colegas do grupo de supervisão, do relacionamento do supervisor com os seus colegas e dos aspectos da tarefa da supervisão em si e propor intervenções de melhoria para o processo de ensinoaprendizagem da formação clínica, para o ambiente e as relações de trabalho. A análise dos resultados aponta para uma variação pequena na primeira e na segunda coletas dos itens pesquisados, que receberam apreciação bastante positiva, cuja análise foi feita de maneira pormenorizada na discussão. A pesquisa revela o alto grau de especialização requerida ao bom desempenho dos supervisores clínicos que, para tanto, também necessitam do suporte do ambiente de trabalho, conforme apontado. A partir desse estudo é possível compor um guia para orientar os supervisores clínicos dessa instituição de ensino superior em suas práticas profissionais. v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 49 Estudo comparativo das dimensões em supervisão da psicologia clínica: processo da pesquisa Conforme mencionado anteriormente, este artigo focalizou a proposta da pesquisa, os aspectos metodológicos com ênfase na etapa de campo e a discussão dos resultados principais. Para detalhes dos resultados desta pesquisa, oferecemos outra publicação cuja leitura recomendamos. Referências Bibliográficas AGUIRRE, A.M.B.; HERZBERG, E.; PINTO, E.B.; BECKER, E.; CARMO, H.M.S.; SANTIAGO, M.D.E. A formação da atitude clínica no estagiário de Psicologia. Psicologia USP, v. 11 n.1, p.49-62, 2000. ALARCÃO, I.; TAVARES, J. 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Porto Alegre: Artmed, 1999. v.7 • n.18 • 2013 • p. 33-51 51 ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE OS RECURSOS HUMANOS E SUA POLÍTICA DE ATRAÇÃO E RETENÇÃO DE TALENTOS Denise Ribeiro – Faculdade Anhanguera de Taubaté - unidade I Alisson Oliveira Machado – Faculdade Anhanguera de Taubaté - unidade 1 Felipe Macedo de Faria – Faculdade Anhanguera de Taubaté - unidade 1 Juliana de Almeida Prado – Faculdade Anhanguera de Taubaté - unidade 1 Kátia Andreza Pereira Duarte – Faculdade Anhanguera de Taubaté - unidade 1 Laerte Marcos Rezende – Faculdade Anhanguera de Taubaté - unidade 1 RESUMO: Diante do cenário atual será visto que a importância do talento e do capital intelectual em uma organização é incontestável, mas é preciso que uma empresa saiba identificá-lo, desenvolvê-lo e que consiga mantê-lo por um longo prazo. Este é o novo desafio dos Recursos Humanos, fazer com que toda a organização se conscientize que mais importante que atrair o talento é saber mantê-lo motivado e produtivo. Este artigo tem como objetivo entender como foi a evolução da administração e quais são os aspectos que atraem e mantém um talento motivado. Atualmente este é com toda certeza o maior diferencial competitivo que uma organização pode ter. A partir do entendimento dessa evolução são tomadas as ações necessárias para manter este talento sempre empenhado e disposto a colaborar para o crescimento da empresa. Palavras-chave: Recursos Humanos; Talento; Motivação. Keywords: Human Resources; Talent; Motivation. ABSTRACT: Given the current scenario will be seen that the importance of taslow and intellectual capital in an organization is undeniable, but it takes a company know identify it, develop it and can keep it for a long term. This is the new challenge of human resources, to make the whole organization is aware that more important than attracting talent is knowing keep you motivated and productive. This article aims to understand how was the evolution of management and what are the aspects that attract and keep talent motivated. Currently this is surely the greatest competitive advantage an organization can have. From the understanding of this evolution are taking the actions necessary to keep this talent always committed and willing to contribute to the growth of the company. Informe Técnico Recebido em: 08/08/2013 Avaliado em: 26/08/2013 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos 1. Introdução Na história dos negócios empresariais nunca fora tão proveitoso e útil um profissional que administre pessoas numa organização como nos tempos atuais, Franco (2009) afirma que a mudança tem sido a palavra de ordem do administrador moderno, pois por meio de seus serviços a empresa tem o domínio de um dos seus recursos mais valiosos, os seres humanos, o autor ainda cita como as empresas atuais estão dando mais voz aos seus colaboradores, com políticas de sugestões e comunicação mais aberta, e diz que isto está acontecendo porque os recursos físicos já não são os mais importantes da organização, pois eles não têm capacidade de inovação tão pouco de criação, o único elemento organizacional que possui esta habilidade são as pessoas. O administrador, ao analisar o mercado de trabalho, constata que existe um considerável desequilíbrio na relação entre a mão-de-obra qualificada e a oferta de empregos disponíveis. Dessa forma, ao se deparar com profissionais realmente preparados, o administrador percebe que reter talentos para a organização passou a ser um desafio, pois fatores como a alta especialização do profissional, aliado à facilidade de mover-se geograficamente no contexto atual de empresas globais, contribuem para que inúmeras ofertas de emprego sejam apresentadas ao funcionário qualificado; assim as empresas devem desenvolver técnicas que atraiam e mantenham um talento por um longo período de tempo, para que este seja um parceiro e se torne peça indispensável para lidar com esse novo mercado que está cada vez mais competitivo. Apesar dessa problemática, muitas empresas ainda acreditam de maneira simplória que cobrir ofertas de salário para manter um colaborador produtivo seja o suficiente para a sua permanência na empresa, da mesma forma como se apregoava na Escola Tradicionalista, que para o funcionário ganhar mais, o mesmo deveria produzir mais, o que em relação aos tempos atuais é uma teoria completamente ultrapassada, pois esta submetia o homem como um ser tão significante quanto um recurso que serviria apenas como um apêndice das máquinas. Contudo, esta pesquisa propõe estudar prioritariamente o conceito de talento; o comportamento destes que os fazem ser considerados talentos organizacionais ou empreendedores corporativos; de que forma as empresas estão utilizando as ferramentas disponíveis na atualidade para reter esses talentos e; a participação do setor de Recursos Humanos (RH) nesta missão. Como o desafio para a empresa neste momento é saber como reter talentos mantendo a sua empresariedade, o objetivo geral desta pesquisa passa então a ser, justamente, descobrir a política de atração e retenção de talentos que seja mais adequada para a organização atual, que proporcione compreender melhor o que e como deve ser feito para que o colaborador se sinta atraído por um longo período de tempo na empresa. Para isso os objetivos específicos 54 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. são avaliar e compreender a importância do departamento de RH na criação de uma política atual que vise à atração e à retenção de talentos. Porquanto, serão abordados os seguintes temas: • A perspectiva humana dentro da organização. • Definir o conceito e características de um talento. • A função de gerenciar pessoas ao longo dos tempos. • O dinamismo do mercado empresarial e as mudanças velozes advindas no novo contexto de organizações globais. • O papel do RH na gestão de pessoas. • Identificar os tipos de liderança que existem e quais têm sucesso na atração e retenção de talentos. • Conhecer o conceito e a importância da empresariedade para a atração de talentos. • A importância do Clima Organizacional para a retenção de talentos. • Identificar quais aspectos da organização são vitais para a atração e retenção dos talentos. Este tema é de suma importância no campo administrativo e a quem interessar, uma vez que verificará a relevância de um colaborador estar motivado e satisfeito com a organização em que trabalha para perceber como esta satisfação pode se tornar um diferencial para a empresa na retenção de talentos perante os seus concorrentes; pois para um profissional capacitado sempre haverá novas oportunidades no mercado de trabalho, isso fará com que ele se sinta atraído a aceitar novas ofertas de emprego, principalmente se a organização a que ele pertence não estiver em sintonia com seus ideais profissionais. Compreende-se que um colaborador-talento precisa ter liberdade, autonomia e condições que o favoreçam e que lhe permitam crescer e se expandir profissionalmente dentro da organização, partindo dessa ideia e da que, hoje em dia, se por um lado muitas pessoas são verdadeiros empreendedores dentro das organizações (intraempreendedores ou empreendedores corporativos) que precisam de apoio contínuo para concretizar os seus objetivos, por outro lado observa-se um cenário onde predomina uma acirrada disputa entre empresas concorrentes pelo mercado consumidor mostrando que é preciso fortalecer todos os setores da empresa. Desse modo, deve haver entre as empresas atuais uma percepção sobre a importância da perspectiva humana dentro da organização, em que os colaboradores não podem ser mais tratados como meros funcionários, mas sim como dignos portadores do sucesso organizacional. v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 55 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos 2. Conceito da Gestão de Pessoas Cada indivíduo é único. É capaz de aprender e é possuidor de habilidades que, quando devidamente estimuladas e desenvolvidas, podem trazer contribuições para o grupo e para a organização como um todo (FRANCO 2009 p. 23). Quando se fala em atração e retenção de talentos é preciso considerar antes de qualquer coisa que todo funcionário é um ser humano que vive em sociedade e têm necessidades e desejos pessoais a serem preenchidos. Chiavenato (2006) afirma que a gestão de pessoas está dividida em seis processos: agregar pessoas, aplicar pessoas, recompensar pessoas, desenvolver pessoas, manter pessoas e monitorar pessoas. Dutra (2009) considera a gestão de pessoas como um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação das expectativas entre a organização e as pessoas para que ambas possam realizar-se ao longo do tempo. Este conceito é muito pertinente para a pesquisa, pois é na relação entre funcionário versus empresa que vamos observar e perceber quais são as atitudes corretas para a retenção dos talentos. 2.1. A perspectiva humana dentro da organização - O funcionário como um ser social Para definir como atrair e reter talentos se faz necessário entender o que motiva as pessoas a viver em organizações sociais, quais os motivos pelos quais as pessoas entram em uma organização, o que buscam e o que esperam encontrar nessas organizações. Segundo Dias, “da necessidade humana, desde tempos remotos, em superar perigos externos, surgiram as primeiras instituições e organizações sociais. Essas instituições eram baseadas e estruturadas em interações sociais” (DIAS, 2005 p. 85). Por meio dessas interações o homem criou infinitos números de organizações e grupos sociais. Para o autor, o homem já nasce inserido e um grupo social e pela transmissão cultural herda costumes, valores, crenças e aprende a viver em sociedade passando a ser aceito dentro do grupo social a que pertence, desse modo, o homem pode ser definido como um ser social. Segundo Chiavenato (2005) a sociedade atual pode ser considerada uma sociedade de organizações, pois nelas passamos boa parte de nossas vidas, podemos estudar em organizações educacionais, pagar nossas contas em organizações financeiras e principalmente trabalhar em organizações dos mais variados tipos. Para o autor, tentar separar o trabalho da vida das pessoas é tarefa quase impossível, visto o impacto que o trabalho nelas provoca. As pessoas ao entrarem em uma organização buscam atingir objetivos pessoais e individuais que seriam impossíveis de alcançarem sozinhos, ou seja, as organizações são meios pelos quais as pessoas podem atender seus objetivos com custos mínimos de tempo e esforço, para essas pessoas crescer na vida e ser bem-sucedido, na maioria das vezes significa crescer dentro das organizações. 56 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. 2.2. A sociologia e a retenção de talentos A vida em organizações se intensificou a partir da Revolução Industrial (final do século XVIII, primeiro na Inglaterra, depois se espalhou por todo o mundo), quando teve início a organização industrial, onde camponeses e artesãos viram suas vidas mudar radicalmente. Eles foram forçados a abandonar seus postos de pequenos produtores e entrar em um mercado de trabalho, tal fato gerou grande resistência por parte dessas pessoas, que antes eram pessoas que possuíam habilidades raras e controlavam o processo de trabalho, por serem donos do próprio negócio e que, de repente, se tornaram apenas parte do processo de produção, não necessitando de quase nenhuma habilidade especial, pois o conhecimento de produção era exclusivo do capitalista proprietário da fábrica (DIAS, 2005). Segundo Dias (2005), os recursos humanos não podem simplesmente serem comprados, coletados ou controlados, pois os seres humanos desenvolvem tradições, identidades e laços que não podem ser substituídos e abandonados facilmente, isso fez com que os proprietários das indústrias criassem estratégias de recrutamento de trabalhadores, visando controlar aspectos sociais da existência humana. 2.3. Mas afinal o que é talento? Dutra (2009) conceitua em sua obra que talento é competência aliada com a capacidade de entrega da pessoa e, também, como um conjunto de qualificações que a pessoa possui para entregar. Com este conceito podemos concluir que os talentos são as pessoas providas de conhecimentos capazes de desempenhar as suas funções com competência. Ferreira define talento como: “dom natural ou adquirido; inteligência excepcional” (FERREIRA, 2010, p. 725). Já Chiavenato diz que “um talento é sempre um tipo especial de pessoa” (CHIAVENATO, 2005, p. 53) e que nem todas as pessoas são talentos em potencial. Já Almeida (2009) defende que pessoas talentosas são aquelas que colocam em prática suas competências para obter resultados superiores para a organização, desde que esta motive as pessoas e permita a manifestação de talentos. Com estas definições pode-se concluir que o talento é um profissional com habilidades e conhecimentos adequados à organização e que a organização deve saber estimular o talento para que este evolua cada vez mais, trazendo retorno para a empresa. 3. Gestão de pessoas: O processo de retê-las Segundo Dutra (2009), a gestão de pessoas seria uma espécie de conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação das expectativas entre a organização e as pessoas para que ambas possam realizar-se ao longo do tempo. Ou seja, consiste na relação entre funcionário versus empresa, o ponto-chave a ser considerado para a retenção dos talentos. v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 57 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos Figura 1. Os objetivos organizacionais e os objetivos individuais Fonte: Chiavenato (2005, p. 6). A figura 1 mostra os principais objetivos e expectativas organizacionais comparadas aos individuais. Hoje, para a função do RH de recrutar e manter uma boa força de trabalho é preciso considerar o termo capital intelectual na organização, o foco da pesquisa concentra-se nesse processo de como o RH procede para reter talentos. Observando atentamente o mercado de trabalho, é possível afirmar que todas as empresas precisam de talentos em seu corpo de funcionários, pois o reflexo de empresas bem sucedidas deve-se ao fato de essas terem funcionários multiplicadores de boas ideias e atitudes. Nesse cenário de empresas bem sucedidas e de funcionários fieis altamente produtivos, procuramos desenvolver a nossa pesquisa para compreender profundamente as diferentes maneiras encontradas pelas empresas de como manter seus talentos continuamente interessados e empenhados em suas funções. Para que haja maior entendimento de como a gestão de pessoas chegou à fase atual, é preciso conhecer as fases da administração e a forma como os funcionários eram tratados. 58 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. Quadro 1 - A evolução da gestão de pessoas Teoria Surgimento Fundador Teoria de gestão Adm. Científica Início século XX Frederick W. Taylor Os patrões lucravam ao máximo. Alta produtividade, benefício sempre salarial. Especialização e funções repetitivas. Clássica Após Primeira Guerra Mundial Henry Fayol Organização da empresa prega obediência e autoridade. Conscientização do funcionário para que colocasse os objetivos da empresa acima dos objetivos pessoais. Relações Humanas 1927 Elton Mayo O operário não reage como indivíduo, e sim como membro de um grupo. A administração deve ser composta de pessoas que sejam capazes de compreender e comunicar bem com os funcionários. O que motiva um funcionário é a vontade de fazer parte de um grupo e ser reconhecido nele. Neoclássica 1954 Peter Drucker APO, descentralização das decisões e fixação de objetivos departamentais. Estruturalista Meados do século XX Max Weber Divisão do trabalho baseado na especialização funcional; Hierarquia de autoridade; Sistema de regras e regulamentos; Formalização das comunicações; Impessoalidade no relacionamento entre as pessoas; Seleção e promoção baseadas na competência técnica. Comportamental Final da década de 1940. Hebert A. Simon Teoria da motivação de Maslow. Teoria dos dois fatores de Herzberg. Teoria de X e Y de McGregor;Sistemas de Administração de Likert. Teoria das decisões de Hebert A. Simon. Desenvolvimento Organizacional. Início da década de 1960. Vários autores Abordagem sistêmica. Promove mudanças por meio da mudança da cultura e melhora do clima organizacional. Trabalhava a solução de problemas, o desenvolvimento do grupo e a importância do retorno (feedback). Teoria de Sistemas Década de 1950 Ludwig Von Bertalanffy Integração de ciências naturais e sociais. Qualquer mudança em qualquer unidade afeta todo o sistema. Sistemas abertos e fechados. Cada organização cria sua cultura e clima, e estes são passados a todos os seus membros. No quadro 1 é possível perceber a evolução da gestão de pessoas e as mudanças que ocorreram com o passar do tempo e, também, retrata que no início o colaborador era visto como um bem ou uma ferramenta da empresa, tudo que ele fazia era cumprir metas e a empresa tinha como obrigação pagá-lo por seu serviço. Com o passar do tempo percebeu-se um novo funcionário muito mais complexo, e a administração teve que se adequar às novas necessidades deste colaborador. Assim a gestão de pessoas se deparou com novos desafios, muito além de fazer folhas de pagamento e controles de frequência. 4. Aspectos e Conceitos Relacionados com Atração e Retenção de Talentos Após conhecermos as principais teorias da administração e perceber como se comportavam no passado os funcionários e as empresas, se faz necessário descobrir em que momento o mercado de trabalho se encontra e conceituar alguns pontos pertinentes à retenção de v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 59 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos talentos, como será visto a seguir. 4.1. O Dinamismo do mercado empresarial e as mudanças velozes advindas do novo contexto de organizações globais De acordo com Dutra “o mercado de trabalho é constituído por relações complexas entre pessoas que ofertam sua capacidade de trabalho e organizações que oferecem oportunidades de trabalho” (DUTRA, 2011, p. 71). O mercado de trabalho mudou muito nestes últimos tempos, isto aconteceu devido às mudanças ocorridas no mundo, a tecnologia, o aumento do emprego informal, a globalização o aumento do desemprego e do subemprego contribuíram muito para estas mudanças. Com isso a organização, principalmente o RH foi obrigado a se atualizar para saber lidar com este novo cenário, e foi neste momento que surgiram os conceitos de talento e de capital humano, então se descobriu que este seria o novo diferencial competitivo das organizações. 5. Os novos desafios da gestão de pessoas Chiavenato (2005) cita três aspectos fundamentais para a moderna Gestão de Pessoas: a) As pessoas como seres humanos: Considerar pessoas como pessoas e não como mais um recurso da organização, e sim com suas habilidades, personalidades, histórias pessoais e diferenças, e ter total consciência de sua importância para a organização; b) As pessoas como ativadores inteligentes de recursos organizacionais: Considerálas impulsionadores da organização, que podem dotá-la de inteligência, talento e habilidades, tornando-se indispensáveis para o crescimento da empresa; c) As pessoas como parceiras da organização: É preciso saber que todo investimento apenas é válido se houver um bom retorno, por isso deve haver reciprocidade entre empresa e colaborador. Sempre que a empresa obtiver retorno por conta do trabalho de seus colaboradores eles devem ser recompensados para que continuem se empenhando. Portanto o novo desafio do RH é atrair, recrutar, aplicar, desenvolver, recompensar e manter os talentos. A seguir identificaremos quais são as ferramentas e conhecimentos necessários para que este trabalho seja realizado de maneira eficaz. 5.1. Processo de atração e recrutamento A atração de pessoas é chamada por Chiavenato (2005) de processo de agregar pessoas, que ele define como meio de servir as necessidades organizacionais a longo prazo. A empresa deve manter uma boa relação com a sociedade, meio ambiente e com a mídia, pois ter uma boa imagem de empresa responsável atrai funcionários qualificados. Chiavenato (2005) afirma que as pessoas e organizações não nasceram juntas que as 60 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. organizações escolhem o colaborador que deseja e que as pessoas escolhem a empresa em que desejam trabalhar e aplicar seus esforços. Esta mão dupla de desejos e necessidades deve ser considerada no momento da atração de talentos, quando uma empresa vai divulgar uma vaga deve pensar no perfil de funcionário que deseja e onde podem encontrá-lo e este pensamento deve acontecer desde a divulgação da vaga. 5.2. Aplicação do talento Após a contratação do colaborador é preciso inseri-lo na organização. Este período é necessário para que o funcionário conheça a empresa e sua cultura. Ao mesmo tempo este período é importante para que empresa utilize os serviços do funcionário da melhor maneira, Chiavenato diz que “a organização possui postos de trabalho que devem ser ocupados e exigem qualificações necessárias que devem ser especificadas detalhadamente” (CHIAVENATO, 2005, p. 160). Portanto depois de encontrados os funcionários certos para a função adequada é preciso aplicá-lo, ou seja, verificar se o perfil escolhido realmente é ideal para o cargo e passar as funções. Para o autor o desenvolvimento profissional pode ser entendido como o aumento da capacidade da pessoa em agregar valor para a organização. A maior capacidade das pessoas em agregar valor está ligada à capacidade da pessoa em lidar com atribuições e responsabilidades de maior complexidade. De acordo com o autor existem dois tipos de desenvolvimento de pessoas: o desenvolvimento de habilidades no cargo e fora do cargo. Os principais métodos de desenvolvimentos no cargo atual são: a) Rotação de cargo – pode ser vertical – quando a pessoa é promovida temporariamente ou horizontal – quando a pessoa se transfere temporariamente para outro cargo, ambos têm o objetivo de proporcionar novas experiências ao funcionário. b) Posições de assessoria – como assistente de staff a pessoa pode desempenhar diversas funções, sempre supervisionadas por um gerente bem-sucedido. c) Aprendizagem prática – quando a pessoa treinada trabalha junto em projetos que exigem cooperação. d) Atribuição de comissões – oportunidades de participar de comissões para a tomada de decisão e solução de problemas. e) Participação em cursos e seminários externos – forma tradicional de desenvolvimento que permite adquirir conhecimentos e habilidades analíticas e conceituais. f) Exercícios de simulação – estudos de caso, simulações e jogos de empresas. g) Treinamento (outdoor) fora da empresa – buscam novos conhecimentos e v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 61 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos atitudes que não são encontrados dentro da organização, geralmente é oferecido por empresas especializadas. g) Estudo de casos – ao se defrontar com problemas organizacionais de forma escrita é possível apresentar alternativas de soluções que permitem ao funcionário desenvolver habilidades de comunicação, análise e persuasão. h) Jogos de empresas – jogos de competição virtual onde gerentes e equipes se defrontam com situações reais e simuladas de empresas. i) Centros de desenvolvimento interno – desenvolve habilidades pessoais ao expor gerentes e pessoas a exercícios realísticos em centros dentro da própria organização. j) Coaching – o gerente pode se transformar em um líder renovador, preparador, orientador e impulsionador. 5.3. Recompensando pessoas Para Chiavenato “a recompensa é um elemento fundamental como forma de reconhecimento, retribuição e ou prêmio pelos serviços prestados pelos funcionários” (CHIAVENATO, 2005, p. 253). Portanto as empresas devem desenvolver sistemas de recompensas que sejam capazes de atrair, motivar e reter o funcionário (talento). Segundo Dutra (2009) a recompensa é a forma como são valorizadas as pessoas em relação aos serviços prestados à organização e de acordo com o autor essas recompensas não devem ser apenas econômicas (salários e bonificações), e sim ser entendidas como uma tentativa de atender a necessidades como: crescimento pessoal e profissional, segurança, projeção social, reconhecimento, entre outras. Para Dutra (2009) as pessoas que têm maior capacidade de agregar valor (contribuição ou entrega) para a organização são as mais valorizadas e para o autor as organizações devem adotar padrões internos de equidade para garantir um tratamento justo para a contribuição de cada funcionário à organização. Esses padrões devem tentar atender os seguintes critérios simultaneamente: • Devem ser capazes de traduzir com fidelidade a contribuição de cada pessoa; • Devem ser mensuráveis, tanto para as pessoas, como para a organização; • Devem ser coerentes e consistentes no tempo, mesmo em ambientes turbulentos; • Devem ser simples e acessíveis a todos; • Devem ser aceito por todos como justo e adequado. 62 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. 5.4. Tipos de recompensas As recompensas oferecidas pela organização podem ser classificadas em financeiras e não financeiras. As financeiras podem ser diretas (salários) e indiretas (férias, gratificações, etc.). As recompensas não financeiras são as oportunidades de desenvolvimento, o orgulho, a autoestima, o reconhecimento, a segurança no trabalho, etc., elas afetam de forma direta a satisfação do funcionário com relação ao sistema de remuneração (CHIAVENATO, 2005). 5.5. Remuneração Existem várias definições à respeito do conceito de remuneração, segundo Dutra “A remuneração é a contrapartida econômica e/ou financeira de um trabalho realizado pela pessoa”(DUTRA, 2009, p. 181). Segundo Dutra (2009) a remuneração fixa é o principal elemento de diferenciação das pessoas dentro da empresa e é por ela que as pessoas conseguem enxergar sua posição, tanto na empresa como no mercado de trabalho. Já para Chiavenato a remuneração “é o pacote de recompensas quantificáveis que um empregado recebe pelo seu trabalho. Inclui três componentes: remuneração básica, incentivos salariais e remuneração indireta/benefícios” (CHIAVENATO, 2005, p. 260). 6. Retenção de talentos Após o processo de aplicação do colaborador, ele se torna parte da organização, ciente de suas funções e da cultura empresarial, a convivência com os colegas de trabalho já não é novidade e então chega a hora da organização manter o bom colaborador consigo, pois como vimos, o mercado de trabalho está muito concorrido sempre à procura dos melhores profissionais, portanto se a organização está com um dos melhores deve manter seu interesse na empresa e fidelizá-lo, como se fosse um bom cliente. Para que este talento seja mantido na organização são usadas diversas ferramentas, aqui vamos citar as mais comuns entre as empresas: a)Relação com funcionários: Deve ser positiva e a comunicação deve ser livre de ruídos. b) Programas de Sugestões: As sugestões devem ser avaliadas e quando aplicadas, o funcionário deve ser recompensado. c) Programa de Reconhecimento: Pode ser feito financeiramente ou em forma de reconhecimento público, como um destaque ou uma promoção. d) Empowerment: Maximiano apud Franco (2009) cita o Empowerment, como uma ferramenta de gestão que atribui poderes a alguém, ou seja, transfere o v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 63 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos poder decisório para um funcionário ou equipe. e) Higiene do trabalho: Devem ser observados os aspectos físicos, ou seja, as instalações da empresa e como isso pode colaborar para a execução do trabalho. Além destas ferramentas, há outros pontos importantes que podem manter um colaborador na organização, para Barduchi (2008) aspectos como: ambiente incentivador e saudável; salário competitivo; benefícios iguais ou acima do mercado; clima organizacional positivo; política de recursos humanos voltada para o indivíduo; metas que permitam o crescimento individual; lideranças proativas; feedback que aponte soluções além de; reconhecimento e respeito às diferenças, representam a empresariedade de uma empresa, ou seja, a sua capacidade em reter seus talentos. Nesse contexto pode-se destacar o clima organizacional como um dos aspectos mais importantes e inerentes à retenção de talentos. Para Chiavenato (2009) o clima organizacional está intimamente relacionado com o grau de motivação de seus participantes e fatores como: estrutura da organização; responsabilidade; riscos; recompensas; calor e apoio e; conflitos influenciam e são decisivos para o clima organizacional afetando diretamente o desempenho dos funcionários. De acordo com o autor, outros aspectos influenciam para que um bom funcionário (talento) permaneça na empresa, ele destaca três aspectos: 1. Sociais - o funcionário tem que se sentir dentro da organização e pertencente ao grupo; 2. Autoestima - tem que estar com a autoestima boa e se sentindo autoconfiante; 3. Realização – obtendo os dois aspectos anteriores, o funcionário terá plenas condições de atingir o almejado sucesso profissional, portanto será respeitado e reconhecido por seus esforços. O tipo de gestão também influencia diretamente na retenção de talentos. Segundo Chiavenato (2007) o administrador deve desempenhar funções ativadoras como liderança, por exemplo, ele também precisa conhecer a motivação humana e saber conduzir as pessoas, isto é, liderar. O autor define liderança como a capacidade de influenciar as pessoas e essa definição envolve duas dimensões: a primeira é a capacidade do líder em motivar as pessoas a fazerem o que precisa ser feito; e a segunda é a tendência das pessoas seguirem o líder com a finalidade de satisfazer suas necessidades e objetivos pessoais. Mas nem sempre o administrador (gestor) é necessariamente um líder, Franco (2009) diz que o gestor deve desenvolver habilidades para compreender as mais diversas situações e segundo Chiavenato apud Almeida (2009, p. 46), o administrador pode desempenhar outros papéis como: • Interpessoais – representação em cerimônias, liderando pessoas e mantendo uma 64 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. comunicação livre e acessível; • Informacionais – monitora, dissemina e é porta-voz de diversas informações e; • Decisoriais – empreende, resolve conflitos, reloca recursos e negocia. Já Bertero apud Franco (2009) aborda três tipos de administradores, são eles: 1)Burocrata: formal e previsível. 2)Executivo: com habilidades sociais, como catalisador no gerenciamento de equipes e como núcleo de comunicação. 3)Empreendedor: inovador, eficaz, visionário e capaz de identificar oportunidades. Outra forma de estimular o funcionário a se tornar um parceiro da empresa aumentando sua fidelidade e consequentemente a sua retenção, é aplicar o Empowerment. Como já fora abordado anteriormente, o Empowerment é uma excelente ferramenta de retenção de talentos, contudo é preciso dizer que o gestor deve saber aplicar esta prática. Segundo Franco (2009), para que as pessoas assumam riscos é preciso trocar limitações por estímulos e manter um clima aberto para as novas ideias. O autor defende que o gestor deve ter uma visão sistêmica do negócio e ter bom relacionamento interpessoal e cita dez chaves para a transformação de um local ou pessoa para que se adaptem ao Empowerment e às novas ferramentas de gestão: 1. Conscientização: consciência da necessidade de mudança. 2. Envolvimento: todos devem compartilhar a mesma missão. 3. Segurança interior: sentimento de permanência e segurança. 4. Legitimação: saber dos custos de uma mudança e estar disposto a pagá-los. 5. Responsabilidades pelos resultados: apoiar e impulsionar as pessoas para que alcancem o sucesso. 6. Enterre o velho: abandonar os velhos hábitos e incorporar os novos. 7. Abrace o novo caminho com espírito de aventura: isto cria uma visão comum e diminui as forças limitadoras. 8. Espírito aberto: ter em mente a meta, buscar alternativas e soluções criativas. 9. Sinergia: colabora muito para as transformações. 10. Propósito transcendental: fazer com que os interesses gerais prevaleçam sobre os individuais e particulares. Chiavenato (2009) afirma que é muito mais fácil e vantajoso para as empresas manter um funcionário bom (talento) dentro da empresa do que tentar encontrar um fora dela. Quando uma empresa abre mão de um talento especial, outra empresa vai trazê-lo para trabalhar com ela, portanto na maioria das vezes, será mais fácil para a empresa identificar, treinar e remunerar bem o funcionário do que ficar procurando fora da organização, uma vez que, um funcionário realizado não terá nenhuma vontade de sair da empresa, por isso hoje em dia muitas empresas estão fazendo todo o possível para que os seus funcionários v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 65 Os recursos humanos e sua política de atração e retenção de talentos sintam-se bem trabalhando. 7. Considerações Finais A evolução das teorias administrativas nos mostra que com os elevados níveis de complexidade exigidos pelas organizações atuais em um ambiente dinâmico e competitivo característico (ou pertinente a) da Era da Informação, a tendência é que haja um destaque com relação à competitividade das organizações por meio da gestão de talento no qual o capital mais valioso de uma empresa passa a ser o intelectual, pois é por meio desse capital que a organização conseguirá vantagem competitiva perante seus concorrentes. O RH tem grande participação na retenção de talentos, sendo que cabe a este departamento definir estratégias de remunerações, desenvolvimento, motivação e tipo de gestão. Também abordamos o fato de que o colaborador atual não deseja apenas uma remuneração à altura de seu trabalho, ele como um ser social sente necessidade de reconhecimento, de estima e de autorrealização, além de expor suas opiniões e ter poder decisório. Esta pesquisa mostrou as ferramentas e condições de trabalho que apresentam melhores resultados para manter um colaborador competente motivado na empresa, diminuindo a rotatividade, destacando o clima organizacional e a liderança que têm grande importância para essa diminuição da rotatividade. Também foi observado que as empresas devem ser atraentes e ter a chamada empresariedade para se destacar no mercado de trabalho, pois o real talento tem o poder de escolher em que empresa deseja trabalhar. Pode-se concluir que as empresas necessitam de gestores flexíveis e com visão de futuro para o crescimento da empresa por meio do crescimento de cada colaborador, é preciso entender que com os recursos ambientais e tecnológicos trabalhando com máxima eficiência e eficácia, os colaboradores podem ser um diferencial para a organização e desenvolvê-los e aplicá-los não deve ser apenas função do RH e sim de toda a organização, por isso os objetivos alcançados devem ser considerados méritos não só da alta gerência, mas sim de todos os colaboradores. Referências ALMEIDA, Walnice. Captação e seleção de talentos com foco em competências. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2009. BARDUCHI. Ana Lúcia Jankovic (org.). Desenvolvimento pessoal e profissional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. CHIAVENATO, Idalberto. Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. ______. Princípios da Administração: o essencial em teoria geral da administração. Rio de Janeiro: 66 Anuário da Produção Acadêmica Docente Denise Ribeiro et al. Elsevier, 2006. CHIAVENATO, Idalberto. Administração: teoria, processo e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ______. Administração de recursos humanos. Rio de Janeiro: Manole, 2009. DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson Education, 2009. DUTRA, Joel Souza. Gestão de Pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. São Paulo: Atlas, 2011. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. Curitiba: Positivo, 2010. FRANCO, Décio Henrique; RODRIGUES (org.). Tecnologias e Ferramentas de Gestão. Campinas: Alínea, 2009. v.7 • n.18 • 2013 • p. 53-67 67 ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE NOÇÕES DE COMBATE A PRINCÍPIOS DE INCÊNDIO PARA ENFERMEIROS DO TRABALHO Ednei Fernando dos Santos – Universidade Anhanguera de São Paulo Eliseu Aleixo – Centro Universitário Anhanguera de Santo André - UniA Adriano Nunes França – Hospital Universitario Maria Aparecida Pedrossian RESUMO: O conhecimento do enfermeiro e seus colaboradores, somado à dedicação e à eficácia, constituem os principais aspectos do patrimônio da empresa moderna. Vale destacar que os ambientes de trabalho apresentam elevado número de riscos ocupacionais para seus profissionais, dentre eles o risco e controle do incêndio, no qual o papel do enfermeiro é possuir os conhecimentos necessários para a rápida extinção e controle da situação, caso contrário, poderá ocorrer danos das mais variadas naturezas. Objetivo: sistematizar informações sobre noções de combate a princípio de incêndio para enfermeiros do trabalho por meio de uma pesquisa de revisão de literatura envolvendo o tema proposto, descritiva, de abordagem qualitativa. Atualmente os incêndios impõem às grandes instituições perdas significativas, gerando custos altíssimos devido à vulnerabilidade da tecnologia de ponta. Palavras-chave: Papel do Enfermeiro, Controle do incêndio, Teoria do fogo, Prevenção, Extintor. Keywords: Role of the Nurse, Fire Control, Fire Theory, Prevention, Extinguisher. ABSTRACT: Knowledge of nursing and its employees, coupled with the dedication and efficiency are the main aspects of the heritage of the modern enterprise. Note that work environments have a high number of occupational hazards to its employees, including the risk and control of fire, in which the role of the nurse is to possess the knowledge required for the rapid extinction and control of the situation, otherwise, you can cause damage of various natures. Objective: To systematize information about notions of fighting fire principle for nurses work through a literature review of research involving the theme, descriptive, qualitative approach. Currently the fires to large institutions impose significant losses, generating high costs due to the vulnerability of the technology. Informe Técnico Recebido em: 04/06/2013 Avaliado em: 07/09/2013 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 69-77 Noções de combate a princípios de incêndio para enfermeiros do trabalho 1. INTRODUÇÃO O enfermeiro atuante na enfermagem do trabalho pode se deparar com ocorrências de incêndios na empresa ou hospital a qual presta serviços e com isto terá que atuar no controle extinção, orientação, instrução e coordenação dos brigadistas. Para tanto se objetivou com esse estudo sistematizar as informações necessárias sobre o combate a princípio de incêndios para enfermeiros do trabalho evitando-se que um pequeno foco de incêndio se transforme em grandes proporções, trazendo prejuízos materiais e principalmente perda de vidas, condições estas irreparáveis para todos (CAMILLO JUNIOR, 2006). Com os conhecimentos adequados e a utilização correta dos extintores portáteis, o enfermeiro atuará de forma segura e confiante nas ocorrências com fogo na empresa a qual presta serviços, pois como determina a Redação dada pela Portaria da SIT (Secretaria de Inspeção do Trabalho) n.º 221, de 06 de maio de 2011 (publicado no diário oficial da União em 10 maio 2011), “Todos os empregadores devem adotar medidas de prevenção de incêndios, em conformidade com a legislação estadual e as normas técnicas aplicáveis sendo que a responsabilidade pelas questões de segurança está necessariamente atrelada aos funcionários”. Com base em dados recentes, pesquisadores identificaram os custos diretos gerados pelos incêndios nos EUA, que estão estimados em US$ 115 bilhões, no Brasil esse valor é aproximado. É importante ressaltar que estas ocorrências derivam de complexas interrelações e não devem ser analisadas de forma isolada, portanto o enfermeiro do trabalho deverá possuir os conhecimentos técnicos sobre a extinção do incêndio, pois na primeira necessidade ele será chamado para intervir. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura, descritiva, de abordagem qualitativa. Foi realizado o levantamento e seleção de textos por meio dos descritores teoria do fogo, controle de incêndios e enfermagem do trabalho, sendo selecionados textos em português dos anos de 1989 a 2012. Fizeram parte desse estudo teses de doutorado, dissertações de mestrado, normas regulamentadoras, protocolos de serviço, manuais técnicos e artigos científicos. A escassez de literatura específica sobre a temática fez com que poucos artigos científicos de bases de dados indexadas fossem apresentados nesta pesquisa. 70 Anuário da Produção Acadêmica Docente Ednei Fernando dos Santos, Eliseu Aleixo, Adriano Nunes França 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. Prevenção contra incêndio Hoje em dia devido a necessidade constante de se garantir a segurança das pessoas e de seus bens, as legislações vigentes obrigam o proprietário dos imóveis existentes e ou de novas construções a instalar os equipamentos e sistemas de segurança e prevenção contra incêndio. Sem estes imperativos legais, seriam poucos os edifícios construídos que teriam medidas efetivas de proteção ao incêndio. (JOÃO EMÍLIO; ANTONIO LEÇA, 2007) Portanto, no ambiente de trabalho pode ocorrer incêndios de difícil solução e não havendo estudos adequados das medidas preventivas necessárias, as consequências poderão ser desastrosas. Segundo a Secretaria de Inspeção do Trabalho (2011), a primeira preocupação da instituição deve ser o cumprimento das imposições legais estaduais e municipais e as legislações específicas do corpo de bombeiros estadual. Segundo Schwab e Stefano (2007), a prevenção de acidentes e doenças do trabalho é o meio mais adequado para a proteção da integridade dos colaboradores. Com medidas preventivas, as organizações além de prevenir perdas elevam a qualidade de vida dos seus funcionários e dos produtos produzidos. Com isto, fica claro que o enfermeiro pode se deparar com incêndios em qualquer área do hospital como por exemplo, segundo Almeida et al. (2012), estima-se que nos Estados Unidos ocorram aproximadamente 100 casos de incêndio em salas cirúrgicas a cada ano, mas a real incidência é difícil de ser determinada, pois são descritos apenas casos específicos ou com resultados fatais. 3.2. Noções básicas sobre o comportamento do fogo Segundo Carvalho (2003), a combustão é uma reação físico - química na qual um determinado combustível reage com o oxigênio após uma elevação de temperatura, emitindo luz, calor e produto residuais, podendo ser classificada em combustão incompleta (não provoca liberação de energia luminosa nem aumento de temperatura), combustão completa (libera energia luminosa e calor sem aumento significativo de pressão no ambiente), Combustão espontânea (libera energia e calor numa velocidade muito rápida com elevado aumento de pressão no ambiente). Então, para que esta combustão ocorra são necessários quatro elementos, chamado didaticamente por “tetraedro do fogo”, onde cada ponta representa um elemento desta reação, sendo o combustível, o comburente (Oxigênio), Calor (Temperatura de Ignição) e a reação em cadeia (sustentação). (CARVALHO, 2003) v.7 • n.18 • 2013 • p. 69-77 71 Noções de combate a princípios de incêndio para enfermeiros do trabalho O combustível é toda substância capaz de queimar servindo para a propagação e sustentação do fogo. Podem ser encontrados no estado sólido, líquido ou gasoso, sendo que a grande maioria precisa passar para o estado gasoso para então se combinar com o comburente e gerar uma combustão (FUNDAÇÃO PARA O DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO, 2009) Já o comburente (o mais comum é o oxigênio) é o elemento que reage com o combustível participando da reação química da combustão, possibilitando as chamas e intensidade da combustão, sendo plena na concentração de 21% e deixando de existir abaixo dos 4% (CAMILLO, 2006) Quanto ao calor é uma forma de energia gerada da transformação de outra energia através de processo físico ou químico (nuclear, química, elétrica ou mecânica). A energia inicial serve como condição favorável para que haja a reação de combustão, elevando a temperatura ambiente fazendo com que o combustível reaja com o comburente em uma reação exotérmica (CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006). Por fim, na reação em cadeia, o combustível ao receber calor se aquece até chegar a uma temperatura que começa a desprender gases (os combustíveis inflamáveis normalmente já desprendem gases a temperatura ambiente). Esses gases se misturam com o oxigênio do ar e em contato com uma chama ou até mesmo uma centelha, dá início à queima. Devido a este fenômeno, é de extrema importância o controle da temperatura em ambientes com combustíveis, pois cada combustível emana gases numa temperatura específica, podendo desta forma, em contato com uma simples centelha dar início a um princípio de incêndio. (CAMILLO, 2006) 3.3. Classes e propagação de incêndio Para Piolli (2003) os incêndios são classificados de acordo com as características dos materiais e as condições em que se queimam, sendo classificados como incêndios classe A, B, C ou D. Classe A: São incêndios que envolvem combustíveis sólidos comuns, geralmente de natureza orgânica como a madeira, tendo como características básicas queimar em razão do seu volume (queimam em superfície e profundidade) e deixar resíduos fibrosos (cinzas). Classe B: São incêndios envolvendo os líquidos inflamáveis, graxas e gases combustíveis. É caracterizado por não deixar resíduos e queimar apenas na superfície exposta (queimam somente em superfície). Classe C: É qualquer incêndio envolvendo combustíveis energizados. Alguns combustíveis energizados (aqueles que não possuem algum tipo de armazenador de energia) podem se tornar classe A ou B se forem desligados da rede elétrica. Classe D: São os incêndios resultantes da combustão de metais pirofóricos, sendo ainda caracterizados pela queima em altas temperaturas e reagirem com alguns agentes extintores (principalmente a água). 72 Anuário da Produção Acadêmica Docente Ednei Fernando dos Santos, Eliseu Aleixo, Adriano Nunes França Em relação à propagação do incêndio, Segundo o Manual de Fundamentos do Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo (2006), esta ocorrerá em virtude da transmissão do calor liberado para outra parte do combustível ainda não incendiado, ou até mesmo para outro corpo combustível distante, também não incendiado, podendo ocorrer sob três formas, a condução, convecção e a irradiação. Na condução a transferência de calor ocorre de um ponto a outro, sendo de forma contínua, sem que haja transporte da matéria de uma região para outra. Quanto a convecção, é a transferência do calor de uma região para outra através do transporte de matéria (ar ou fumaça). O ar quente sempre subirá, tendo com exemplo clássico o calor se propagando através das galerias ou janelas dos edifícios em chamas. Já na Irradiação, a transferência do calor se dá através de ondas eletromagnéticas, ou seja, ondas calorífica são movimentadas para outro local sem necessidade de suporte material ou transporte de matéria (exemplo, quando uma residência esta em chamas, pode ocorrer da residência vizinha em poucos minutos também começar a pegar fogo). (CORPO DE BOMBEIROS DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2006). 3.4. Métodos e aparelhos de extinção de incêndios Para a correta extinção do incêndio, o Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo (2006) orienta que este fenômeno poderá ser extinto através dos métodos de isolamento que consiste simplesmente na retirada ou diminuição do combustível ainda não queimado, do abafamento que ocorre após a redução ou retirada do oxigênio, bem como o resfriamento após a retirada ou diminuição do calor do material em chama. Portanto, para que a extinção do incêndio seja eficaz, Lemos (2005) orienta que existem normas nacionais e internacionais aplicáveis à seleção e distribuição dos agentes extintores corretamente, sendo adequado que se saiba realizar a escolha certa do extintor portátil correto para cada situação, protegendo desta forma o ambiente e principalmente vidas humanas. Existe hoje no mercado diversos agentes extintores disponíveis para compra, porem é necessário que o profissional envolvido na compra saiba selecioná-lo de acordo com a necessidade de cada ambiente. Segundo as Normas Brasileiras de Regulamentação 11715 (2003), o agente extintor mais comum e abundante é a água que age principalmente por resfriamento e abafamento. O efeito do abafamento é obtido em decorrência da água, quando transformada em vapor, ter o seu volume aumentado cerca de 1.700 vezes. Este volume gerado vai deslocar um volume igual de ar (oxigênio) para fora do ambiente em chamas, proporcionando assim o abafamento do fogo. A água apresenta excelente resultado no combate aos incêndios de classe A, podendo ser utilizada na classe B, não podendo ser utilizada na classe C, pois conduz corrente elétrica. v.7 • n.18 • 2013 • p. 69-77 73 Noções de combate a princípios de incêndio para enfermeiros do trabalho A espuma mecânica é formada por uma mistura de água com uma pequena porcentagem (1% a 6%) de concentrado gerador de espuma. Essa mistura ao ser submetida a uma turbulência produz um aumento do volume da solução (de 10 a 100 vezes) formando a espuma, agindo principalmente por abafamento e tendo uma ação secundária de resfriamento, face à existência da água na sua composição (NBR 11751, 2003). Outro grupo específico e o de agentes extintores de finíssimas partículas sólidas, conhecidos com pó químico seco (PQS), tendo como características principais não serem abrasivos e não tóxicos, atuar por abafamento e não conduzir corrente elétrica. Podem danificar o equipamento eletrônico devido sua forma (pó), além de provocar asfixia se utilizado em local fechado (NBR 10721, 2004). Os extintores de PQS são classificados conforme a sua correspondência com as classes de incêndios: abafamento (NBR 10721, 2004). a) Pó ABC – Composto a base de fosfato de amônio, sendo chamado de polivalente, pois atua nas classes A, B e C; b) Pó BC – À base de bicarbonato de sódio ou de potássio, indicados para incêndios classes B e C; c) Pó D – usado especificamente na classe D de incêndio, sendo a sua composição variada, pois cada metal pirofórico terá um agente especifico, tendo por base a grafita misturada com cloretos e carbonetos. Existe ainda outro agente extintor que age por abafamento e apresenta excelente resultado no combate à incêndios das Classes B e C, conforme as Normas Brasileiras de Regulamentação 11716 (2004), sendo conhecido como Dióxido de Carbono (CO2 - Gás Carbônico) e sendo um gás incombustível, inodoro e incolor, mais pesado que o ar, dissipa-se rapidamente quando aplicado em locais abertos e não tóxico, mas sua inalação pode provocar asfixia. Não conduz corrente elétrica, não suja o ambiente nem danifica equipamentos eletrônicos. Os agente extintores relacionados serão acondicionados em recipientes adequados e chamados de aparelhos extintores, que geralmente levam o nome do agente extintor, por exemplo extintor de PQS, extintor de água ou extintor de CO2. Este equipamentos são essenciais para o estágio inicial das ações de combate ao incêndio (ALVES DOS SANTOS, 2008). Segundo Gill, Alfonso Antonio; Ono, Rosaria (2006), o êxito no emprego dos aparelhos extintores de incêndio depende dos seguintes fatores basicamente: a) Aplicação correta do agente extintor para cada tipo de combustível (sólido ou líquido) e sua composição química; b) Manutenção periódica adequada e eficiente; c) Conhecimentos específicos de maneabilidade do equipamento e técnicas de combate a incêndio pelo usuário. 74 Anuário da Produção Acadêmica Docente Ednei Fernando dos Santos, Eliseu Aleixo, Adriano Nunes França O profissional de enfermagem do trabalho envolvido na prevenção de incêndios deverá ter conhecimentos que existem outras formas de combate ao incêndio (hidrantes, mangueiras, esguichos), e que os extintores são exclusivamente para o início do incêndio. (DUARTE, DAYSE; LEITE, MARIA DO SOCORRO; PONTES, ROSEMERI, 2009) Conforme Almeida, Carlos Eduardo David de; e,tal (2012), o sucesso no combate ao incêndio no seu estágio incipiente depende da seleção correta do tipo de extintor e a utilização de extintores impróprios poderá, além de não conseguir extinguir o fogo, colocar em risco a vida de quem for utilizá-los, o meio ambiente e o patrimônio. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O enfermeiro do trabalho tem participação efetiva sobre a formação de diversos tipos de opiniões em virtude de estar constantemente ao lado dos profissionais da empresa na qual atua, portanto, dentro de uma situação que envolva o risco ou o início de um incêndio, sempre será solicitado para auxiliar ou intervir neste tipo de situação, pois para os colaboradores da empresa o simples fato do enfermeiro participar do grupo de enfermagem do trabalho já deve saber atuar em qualquer tipo de situação. Também se deve levar em consideração e não se esquecer em nenhum momento a classe de fogo que possa ocorrer no local com mais frequência, área a ser protegida por determinado extintor, tamanho e local do princípio de incêndio, pois será um fator primordial para a escolha correta do aparelho e de sua capacidade extintora bem como o alcance ideal deste equipamento pois irá permitir uma rápida intervenção para cessar o processo da evolução do incêndio devendo estar facilmente visíveis por meio de sinalização, bem distribuídos para cobrir a área protegida, fácil acesso e levando-se em conta a portabilidade e obstáculos até o local de utilização e principalmente próximo aos locais de entrada e saída. Para combater princípios de incêndio em equipamentos energizados, o extintor selecionado deve ser de classe C, não sendo admitido outro extintor que não tenha a classificação C, pois a corrente elétrica é a fonte de ignição de outros materiais combustíveis, e o operador pode sofrer choque elétrico se utilizar o aparelho incorreto. Após o desligamento da eletricidade, o fogo que se tem é, em geral, da classe A e em alguns casos da classe B (plásticos que derretem), e a partir de então, poderá ser utilizado outro tipo de agente como por exemplo os do tipo classe A. Talvez a questão básica seja definir uma estratégia de educação para todas as pessoas envolvidas na área, sejam autoridades públicas, projetistas ou gerenciadores de hospitais, com o objetivo de se aproveitar todos os recursos e as ferramentas que vêm sendo desenvolvidos pelos países que realizam pesquisas em segurança contra incêndio. Dentro do conhecimento o qual este trabalho teve o objetivo de orientar, as experiências profissionais na atuação de prevenção e combate a incêndio nos possibilita identificar que o v.7 • n.18 • 2013 • p. 69-77 75 Noções de combate a princípios de incêndio para enfermeiros do trabalho conhecimento sobre os equipamentos e seu uso, tornando-se primordial para intervenções rápidas e de forma segura e eficaz, sendo conquistado através do constante treinamento teórico e prático o que levará a evitar perdas humanas e materiais. REFERÊNCIAS ALVES DOS SANTOS, C. J. Projeto de Melhoria do Sistema de Prevenção e Combate à Incêndio nos Almoxarifados da Itaipu Binacional – Estudo de Caso, Monografia apresentada ao curso de Engenharia Civil, UDC – União Dinâmica de Faculdades Cataratas, Paraná, 2008. Disponível em:<www.udc.edu.br/monografia/monocivil16.pdf>. Acesso em: 23 out 2011. ALMEIDA, CARLOS EDUARDO DAVID de; CURI, ERICK FREITAS; BREZINSCKI, RENATO; FREITAS, RAFAELA CLAUDINO de. 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Mendes – Centro Universitário Anhanguera de São Paulo - Unibero Vila Mariana Tacilane Santos Viana – Centro Universitário Anhanguera de São Paulo - Unibero Vila Mariana Rafaela Santos Oliveira – Centro Universitário Anhanguera de São Paulo - Unibero Vila Mariana Rivaldo Teles de Menezes Junior - Centro Universitário Anhanguera de São Paulo - Unibero Vila Mariana José Cesar Viana da Silva – Centro Universitário Anhanguera de São Paulo - Unibero Vila Mariana RESUMO: Objetivo: Apresentar os grandes riscos que são originados do consumo do cigarro, tendo como principal exemplo os casos de câncer pulmonar que veem apresentando altos números de mortes em diversas faixas etárias. Materiais e Métodos: Este estudo foi realizado através de pesquisas em artigos, livros, trabalhos acadêmicos, vídeo com explicações dos casos do tabagismo e câncer de pulmão realizado pelo Dr. Artur Katz, oncologista clínico do Hospital Sírio Libanês de São Paulo, e visualização de site com a publicação de um capitulo de um livro sobre tratamento do tumor de pulmão realizada pelo Dr Antonio V. Malucelli, CRM 11502-Paraná/ Professor e mestre em cirurgia, cirurgião torácico, pós graduado na Harvard University (Boston) e no memorial Sloan Kettering Câncer Center (New York). Resultado: Vários meios de diagnósticos podem ser usados para detectar a presença de um câncer pulmonar, que são: raio x; tomografia torácica; broncoscopia, cintilografia óssea; cintologia do escarro; ultrassom endobronquial e transofagiana, entre outros. O tratamento do câncer pulmonar é realizado através de alguns métodos como a cirurgia, quimioterapia, e radioterapia. Conclusão: De acordo com o levantamento de pesquisas realizadas, a conscientização da população sobre os riscos de câncer de pulmão causado pelo tabagismo continua sendo a melhor maneira de prevenção do câncer pulmonar para os fumantes e também os não-fumantes, pois não se trata de um problema individual mas sim coletivo. ABSTRACT: Various means of diagnostics can be used to detect the presence of a lung cancer, which are: x-ray; thoracic CT; bronchoscopy, bone scintigraphy; cintologia of sputum; Ultrasound endobronquial and transofagiana, among others. The lung cancer treatment is accomplished via a few methods such as surgery, chemotherapy, and radiotherapy. Conclusion: according to the survey of surveys conducted, the awareness of the population about the risks of lung cancer caused by smoking is still the best way to prevent lung cancer for smokers and non-smokers, because this is not an individual but a collective problem. Palavras-chave: Radiologia, Câncer, Diagnóstico, Tabagismo. Keywords: Role of the Nurse, Fire Control, Fire Theory, Prevention, Extinguisher. Informe Técnico Recebido em: 03/12/2013 Avaliado em: 03/03/2014 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 79-87 Câncer pulmonar originados do consumo do cigarro, meios de diagnósticos e tratamentos 1. Introdução Câncer é o nome dado a doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, estas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores (acúmulo de células cancerosas) ou neoplasias malignas. As causas de câncer são variadas, podendo ser externas ou internas ao organismo, estando ambas inter-relacionadas. As causas externas relacionam-se ao meio ambiente e aos hábitos ou costumes próprios de um ambiente social e cultural. As causas internas são, na maioria das vezes, geneticamente pré-determinadas, estão ligadas à capacidade do organismo de se defender das agressões externas. Esses fatores causais podem interagir de várias formas, aumentando a probabilidade de transformações malignas nas células normais. O surgimento do câncer depende da intensidade e duração da exposição das células aos agentes causadores de câncer. Por exemplo, o risco de uma pessoa desenvolver câncer de pulmão é diretamente proporcional ao número de cigarros fumados por dia e ao número de anos que ela vem fumando. De todos os casos, 80% a 90% dos cânceres estão associados a fatores ambientais. Um deles é bem conhecido o cigarro pode causar câncer de pulmão. O tabagismo representa um grande perigo à saúde da população, a queima de um cigarro dá origem a mais de 4.700 substâncias químicas, que são produtos tóxicos e com propriedades cancerígenas. Algumas substâncias originadas da fumaça do cigarro são: Nicotina (Alcalóide existente nas folhas do tabaco, provoca a dependência química); alcatrão (mistura de diversos componentes, negra, líquida, viscosa, obtida na destilação de várias substâncias orgânicas, e possuem substâncias cancerígenas); monóxido de carbono (de fórmula química (CO) é um gás tóxico inflamável, inodoro, e incolor de extrema periculosidade); fenóis (substâncias sólida de odor característico, encontrada no alcatrão, são de caráter ácido e são tóxicos);e a acroleína (formada pela quebra de vários poluentes que se encontram no meio ambiente, derivada da queima de tabaco e outras plantas)entre outras. O uso do tabaco desencadeia mais de 50 doenças distintas, comprovadamente no Brasil por ano acontecem 200 mil óbitos em virtude do tabagismo (aproximadamente 23 pessoas por hora); 25% dos óbitos são dadas por doenças coronárias, angina e infarto da camada média e mais espessa da parede do coração (Miocárdio); 45% dos óbitos por infarto do miocárdio são de pessoas com idade abaixo dos 65 anos; 85% são óbitos por bronquite crônica e efisema pulmonar; 90% de aparecimento de câncer no pulmão; 25% de patologias de vascularização, uma delas é o AVC (acidente vascular cerebral) que pode ser de duas formas: AVC Isquêmico, congestionando os vasos que levam o sangue ao cérebro e o AVC hemorrágico. Pesquisas sobre o câncer realizadas mundialmente apontam 7,6 milhões de óbitos causados pelo câncer em geral, e o que apresenta maior número de mortes é o câncer de pulmão responsável por 1,3 milhões de falecimentos. 80 Anuário da Produção Acadêmica Docente Dalila Freitas dos Santos et al. 2. TABAGISMO PASSIVO O tabagismo pode ser também prejudicial aos não-fumantes, principalmente quando esses convivem com pessoas que fumam ativamente. Os não-fumantes inspiram a fumaça do cigarro que está sendo tragado juntamente com a fumaça expirada do fumante. Na queima de um cigarro 75% do produto total penetram no ar, e são encontradas na fumaça passiva algumas toxinas como: nitrosaminas, formaldeído, e amônia. O tabagismo passivo é responsável por 3.000 mortes por ano nos Estados Unidos da América (EUA) entre os não-fumantes, e seus efeitos em mulheres gestantes são nocivos ao feto que fica exposto e sem defesa devido ao consumo de tabaco pela mãe, assim pode ocorrer aborto, nascimento prematuro, pouco peso ao nascer, prejudicando a funções dos pulmões da criança, QI(quociente de inteligência) reduzida e apnéia do sono. Nas crianças o tabagismo passivo age causando infecções respiratórias e manifestações de asma e os sintomas respiratórios são: tosse, falta de ar e catarro. Nos adultos aumentam consideravelmente as chances de desenvolvimento de um efisema pulmonar, bronquite crônica, complicações na vascularização cardíaca e o câncer de pulmão. 3. SINTOMAS Os sintomas mais comuns do câncer de pulmão são a tosse e o sangramento pelas vias respiratórias. Nos fumantes, o ritmo habitual da tosse é alterado e aparecem crises em horários incomuns para o paciente. Pneumonia de repetição pode, também, ser a manifestação inicial da doença. 4. DIAGNOSTICO A maneira mais fácil de diagnosticar o câncer de pulmão é através de raio-X do tórax complementado por tomografia computadorizada. A broncoscopia (endoscopia respiratória) deve ser realizada para avaliar a árvore traquebrônquica que anatomicamente é a extremidade inferior da traqueia (carina) divide-se nos brônquios principais esquerdo e direito que vão para os respetivos pulmões. apresenta 2 zonas distintas às quais correspondem também funções diferentes. Na primeira região, chamada zona de condução, os brônquios principais esquerdo e direito dividem-se progressivamente em brônquios secundários (ou lobares), terciários (ou segmentares) e sucessivamente até aos bronquíolos e por fim aos bronquíolos terminais. Ao longo deste trajeto, as paredes dos diferentes segmentos vão perdendo as cartilagens das suas paredes e aumentando as fibras musculares lisas até chegarem à zona respiratória. A sua função é fundamentalmente de condução do ar até à zona respiratória. v.7 • n.18 • 2013 • p. 79-87 81 Câncer pulmonar originados do consumo do cigarro, meios de diagnósticos e tratamentos A zona respiratória é composta pelos bronquíolos terminais e pelos alvéolos. Aqui processam-se as trocas gasosas: passagem do oxigénio para os vasos capilares e passagem, em sentido inverso, de dióxido de carbono que será expirado. A este nível existem numerosas células de defesa (macrófagos). e, eventualmente, permitir a biópsia. É fundamental obter um diagnóstico de certeza, seja pela citologia ou patologia. Uma vez obtida a confirmação da doença, é feito o estadiamento, que avalia o estágio de evolução, ou seja, verifica se a doença está restrita ao pulmão ou disseminada por outros órgãos. O estadiamento é feito através de vários exames de sangue e radiológicos, como dosagens enzimáticas e ultrassonografia, respectivamente. Como mais de 85% dos pacientes com câncer de pulmão morrem nos primeiros cinco anos pós-diagnóstico, a importância do diagnóstico precoce, em estádio inicial, especialmente no estádio I, onde a sobrevivência é de 60 a 90% com o tratamento cirúrgico, deve ser realçada. http://revista.fmrp.usp.br/1998/vol31n2/cancer_de_ pulmao.pdf pag. 268 Dados mostram a importância do diagnóstico do câncer de pulmão está baseado nos sintomas e na história de consumo de tabaco do paciente. Sob suspeita da doença, inicialmente será realizado um exame físico completo. Posteriormente serão solicitados exames de imagem como a Radiografia de tórax e a Tomografia Computadorizada com o objetivo de identificar o local do câncer. Em caso de identificação positiva de imagem compatível com uma lesão cancerígena, serão solicitados exames adicionais para estabelecer o tipo específico de câncer de pulmão e a extensão da doença. Como por exemplo alguns tipos de exames que ajudam a investigar mais profundamente. Exame de escarro: É um exame no qual o muco contido dentro do pulmão é examinado no laboratório para determinar a presença de células cancerígenas. Biópsia: A biópsia é um exame no qual uma amostra de tecido pulmonar é retirada do corpo e examinada no laboratório por um especialista (Patologista) para determinar ou não a existência de câncer. Em caso de evidenciar a presença de células cancerígenas, o patologista definirá qual tipo de câncer de pulmão se trata. A biópsia pulmonar pode ser feita por meio de uma broncoscopia ou por meio de uma cirurgia. Broncoscopia: A broncoscopia é um procedimento invasivo que utiliza um broncoscópio que é um instrumento tubular com uma mini câmera na ponta e que é inserido através das vias aéreas (pelo nariz ou boca) do paciente até chegar ao local da lesão suspeita de câncer. Tem por objetivo procurar e identificar dentro dos pulmões a lesão cancerígena e a obtenção de uma amostra de biópsia para um diagnóstico confirmatório. O s exames mais comum que são indicados pelos médicos são em primeiro lugar o raio-x convencional, que é o carro forte para os próximos exames é através do raio-x que será realizados os outros exames, para avaliar uma suspeita de acordo com os sintomas descritos pelo paciente de inicial e posteriormente analisando se irá identificar o que ocorre, no caso se observar algumas anormalidades do pulmão, indicando um possível tumor. 82 Anuário da Produção Acadêmica Docente Dalila Freitas dos Santos et al. Após feito, o exame de raio-x para maior investigação e determinar se realmente possa se tratar de um tumor o médico indicara um exame de para melhor ser observado e se realmente confirmado através da biopsia, será o exame de tomografia computadoriza. O exame de tomografia realizara mais profundamente, mas só será confirmado pela biopsia. 5. TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA A tomografia computadorizada (TC) é um exame de diagnóstico por imagem que, por meio da utilização dos raios-X e de um processamento computadorizado, produz imagens do paciente em fatias transversais. Desde a sua introdução a tomografia tornou-se uma das ferramentas diagnósticas mais importantes da prática médica. O exame é solicitado quando há necessidade de obter informações anatômicas detalhadas do corpo humano. Os novos equipamentos permitem a aquisição rápida de imagens de alta qualidade, produzindo resolução próxima da realidade com reconstruções tridimensionais e estudos vasculares, indicado para todas as etapas do tratamento do câncer, desde o seu rastreamento, diagnóstico, ou mesmo durante e depois do tratamento. Trata-se de um exame seguro e eficaz, que produz imagens de excelente qualidade. Essas imagens são avaliadas por uma equipe médica especializada. Descoberto o câncer o paciente será indicado para o tratamento através da quimioterapia, radioterapia ou a cirurgia. Preparo pré-exame: Os pacientes devem: - ingerir bastante líquido na véspera do exame, permanecer em jejum por 4 horas, tomar a medicação de forma habitual, cuidados pós-exame: Os pacientes devem tomar bastante líquido após o exame. Nódulo espiculado de ápice pulmonar direito (tem forma de espiga). http://www.cirurgiatoracica.med.br/cancer-de-pulmao.html v.7 • n.18 • 2013 • p. 79-87 83 Câncer pulmonar originados do consumo do cigarro, meios de diagnósticos e tratamentos Nódulo espiculado de lobo inferior esquerdo. ( espiculado tem forma de espiga). http://www.cirurgiatoracica.med.br/cancer-de-pulmao.html Tomografia Corte axial Tomografia Corte coronal Tomografia Corte sagital 84 Anuário da Produção Acadêmica Docente Dalila Freitas dos Santos et al. Nódulo de lobo superior esquerdo com grande captação (O PET CT é a associação de uma cintilografia com glicose radioativa associada com uma tomografia de tórax, que permite avaliar o metabolismo das lesões encontradas na tomografia convencional. Lesões capitantes sugerem metabolismo alto e tem maior probabilidade de serem malignas do que as lesões que não são captantes). http://www.cirurgiatoracica.med.br/cancer-de-pulmao.htm. 6. TRATAMENTOS COM RADIOTERAPIA Antes que o tratamento seja definido, existem avaliações que os médicos realizam para indicar a melhor forma de se tratar o câncer pulmonar, pois existem os pós e os contras, ou seja, será avaliado os benefícios e os riscos com reações adversas que cada paciente pode apresentar de acordo com o tratamento indicado. Há vários tipos de câncer pulmonar e eles estão divididos em dois grupos: câncer de células não-pequenas: são comuns e formadas por três subtipos: carcinoma de células grandes, carcinomas de células escamosas, e adenocarcinomas. Câncer de células pequenas: são poucos frequentes e se comportam de forma agressiva. A radioterapia é uma das formas que se utiliza para o tratamento de câncer pulmonar, por meio de irradiação tumoral, e só é indicada quando o paciente se encontra com o tumor local em um estado avançado, o qual não se pode mais ser removido pela cirurgia. A radioterapia é utilizada juntamente com a quimioterapia, ela pode oferecer ao paciente um tratamento curativo, relativo a cura, ou apenas paliativo, com eficácia momentânea nos casos de dor e sangramento. E quanto mais doses radioativas se aplicam no tumor, aumenta-se a possibilidade de extermina-lo, mas essas doses devem ser limitadas, pois existem ao redor tecidos normais que são sensíveis, mas os avanços tecnológicos esperam diminuir esses riscos de atingir tecidos sadios e assim utilizar da dose adequada para eliminar o tumor. A associação dos exames de tomografia computadorizada e PET-CT é uma forma eficiente para o planejamento radioterápico. As radiações ionizantes são carregadas de energia eletromagnética e quando entram em contato com os tecidos formam elétrons que tem a capacidade de ionizar o meio criando um efeito químico como por exemplo a hidrólise da água e rompimento das cadeias de ADN, podendo causar a inatividade das funções vitais celulares e assim causar a morte celular impedindo que estas células se reproduzam. Existem dentro da radioterapia duas modalidades de tratamento: a braquiterapia e a teleterapia. Na braquiterapia ou terapia de radiação intersticial se utiliza implantes de sementes radioativas é um procedimento menos invasivo, essas sementes são do tamanho de grãos de arroz que permanecem dentro do tumor, emitindo assim uma radiação localizada durante um determinado tempo com o intuito de destruir o câncer. Na teleterapia ( Tele=Distante/ Terapia=Tratamento) o paciente fica distante da fonte emissora de radiação, ou seja, emprega-se uma fonte de radiação externa onde se utiliza unidades de Cobalto 60 ou aceleradores lineares. v.7 • n.18 • 2013 • p. 79-87 85 Câncer pulmonar originados do consumo do cigarro, meios de diagnósticos e tratamentos 7. CONCLUSÕES Com este estudo foi verificado que a exposição ao tabagismo deve ser evitada, pois este é o melhor e método de prevenção. As campanhas antitabagismo veem desenvolvendo um importante papel na conscientização dos fumantes a deixarem o vício, de forma com que haja a percepção dos danos causados pelo cigarro a sua própria saúde e também comprometendo a saúde dos que não são fumantes. O câncer de pulmão quase não existiria, seria raridade se não fosse o consumo do tabaco. Os projetos organizados mundialmente evidenciando os danos do consumo ativo e passivo do tabaco são ótimos recursos para essa luta na conscientização. Através de palestras, exposições de imagens, desenvolvimentos de projetos antitabagismo com a participação da população, são pontos fortes que devem ser desenvolvidos de forma contínua, com investimentos na informação. Muitas pessoas ainda não dão tanta importância às informações sobre os problemas e riscos de vida que o cigarro traz, tendo como exemplo principal o câncer de pulmão, com este fato deve-se trabalhar também a questão psicológica do individuo, pois se trata de um vício. Ainda assim a palavra chave e motivadora para a redução e suspensão do tabagismo é “Força de vontade”, pois é ela que determina os nossos objetivos, parar de fumar não é um processo fácil e nem é de repente que se encerra o vício, todas essas questões devem ser trabalhadas, visando a saúde, qualidade de vida e bem estar de todos os indivíduos. REFERÊNCIAS Cecil-Tratado de Medicina interna-Edited by Lee Goldman, Dennis Ausiello-Tradução da 22ª Edição, editora Elsevier 2005. Tabagismo: Doença que tem tratamento-By Luiz Carlos Corrêa da Silva-Editora Artmed 2012. Rotinas em Oncologia- By José Luiz M. Guimarães/Daniela D. Tosa-Editora Artmed 2008. Fundamentos em Toxicologia de Cesarett e Doull-By Curtis D. Klaaassen/John B. Watkins2ºEdição, editora Artmed e Mc Graw Hill 2012 Tabagismo o que você precisa saber-By Blancard Santos Torres-Editora Universitária UFPE 2005 Current Medicina Diagnóstico e Tratamento-By Stephen J. McPhee/ Maxine A. Papadakis/ Michael W. Rabow- 51º Edição, editora Artmed e Mc Graw Hill 2013 Diagnóstico e Tratamento Volume 2-By Antonio Carlos Lopes, editora Manole 2006 SBPT(Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia). Pesquisa. [acessado em 28 de outubro de 2013]. Disponível em: http://www.sbpt.org.br/downloads/arquivos/COM_CP/Fact%20 Sheet%20Cancer%20de%20Pulmao_2013.pdf Diagnóstico Precoce do Câncer - Encontro com Especialistas - A.C. Camargo Center. Informações. [acessado em 28 de outubro de 2013]. Disponível em: http://www.accamargo.org.br/diagnosticoprecoce-do-cancer-palestra Radioterapia no Câncer de Pulmão. Informações. [acessado em 28 de outubro de 2013]. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jpneu/v28n6/a10v28n6.pdf 86 Anuário da Produção Acadêmica Docente Dalila Freitas dos Santos et al. Tipos de Câncer Detalhes – A.C. Camargo Center. Pesquisa. [acessado em 29 de outubro de 2013]. Disponível em: http://www.accamargo.org.br/tudo-sobre-o-cancer/pulmao/33/ Tabagismo - INCA – Ministério da saúde. Pesquisa. [acessado em 27 de outubro de 2013]. Disponível em: http://www.inca.gov.br/tabagismo/frameset.asp?item=atento&link=doencas.htm Série Saúde - Câncer de Pulmão – Vídeo. Pesquisa. [acessado em 30 outubro de 2013]. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=L0p1RGkhegI Câncer-Oncologia do tórax/Dr. Malucelli. Pesquisa. [acessado em 27 de outubro de 2013]. Disponível em: http://www.drmalucelli.com.br/Cancer-Oncologia-Do-Torax/conteudo. php?cat=7&pg=025 v.7 • n.18 • 2013 • p. 79-87 87 ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE INTOXICAÇÃO POR CHUMBO EM AVES DE COMPANHIA REVISÃO DE LITERATURA Rodrigo Monteiro – Universidade do Grande ABC - UniABC Ivan Fernandes Malateaux – Clínica Veterinária 3 Filhotes Lígia Mazzaro Muniz – Universidade do Grande ABC - UniABC RESUMO: A intoxicação por chumbo em aves de companhia é umas das afecções mais comuns na clínica veterinária. Como agente neurotóxico potente, o chumbo promove alterações comportamentais graves e significativas, como incoordenação motora, fraqueza muscular, asas caídas e incapacidade para o voo, déficits de aprendizado e de memória, hematúria, comprometimento cardiorrespiratório e digestório. As convulsões tornam-se mais frequentes e graves quanto mais exposto ao chumbo o animal se encontrar. O diagnóstico de uma toxicidade no paciente aviário é por vezes um desafio. É baseado principalmente nos sinais clínicos, em uma boa anamnese, exames laboratoriais, hemograma e bioquímico, e de imagem, como o raio-x. Palavras-chave: saturnismo, aves, intoxicação por chumbo, metais pesados, quelante. Keywords: saturnism, birds, lead poisoning, heavy metals, chelating agents. ABSTRACT: Lead poisoning in pet birds is one of the most common disorders in veterinary practice. As a potent neurotoxic agent, lead causes severe and significant behavioral changes, such as incoordination, muscle weakness, drooping wings and inability to flight, memory and learning deficits, hematuria, impaired cardiac and digestive system. Seizures become more frequent and severe the longer the exposure of the animal to lead. The toxicological diagnosis of an aviary patient is often a challenge. It is mainly based on clinical signs, in a good clinical history (anamnesis), biochemical analysis, cell count and imaging diagnosis, as the x-ray. Informe Técnico Recebido em: 13/11/2013 Avaliado em: 13/02/2014 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 89-102 Intoxicação por chumbo em aves de companhia: revisão de literatura 1. INTRODUÇÃO A classe dos psitacídeos se caracteriza por terem bicos encurvados e especializados para quebrarem e descascarem sementes na natureza. São coloridas e exuberantes. Sua distribuição geográfica é mundial, mas principalmente em regiões onde o clima é quente e temperado como o Brasil. Com a aproximação do homem essas aves começaram a ser bichos de estimação. Entre as espécies mais conhecidas estão os papagaios, as araras, as calopsitas, os periquitos, os ringnecks, as aratingas, as cacatuas, agapornis, entre outras. Uma das principais características dessas aves é o seu comportamento curioso. Devido a esse comportamento é que estão os perigos. A intoxicação exógena por chumbo (saturnismo) vem sendo uma das principais afecções que acometem esses animais na clínica médica. As aves são mastigadores por natureza e por vezes, são atraídas por objetos estranhos, chamativos, que brilham. E pelo simples fato de ficarem bicando tal objeto onde em sua composição tenha o metal chumbo é que acabam se intoxicando. Soldas de gaiolas, tintas de parede velhas, gesso de parede, pesos de cortinas, massa de vidraceiro, cerâmicas, bijuterias, brinquedos para aves entre outros, são fontes de chumbo. Uma vez ingerido, o chumbo acaba acometendo vários sistemas do organismo. Como o sistema nervoso, sistema renal, o sistema disgestório e o sistema hematopoiético. O chumbo compete ou substitui vários elementos fundamentais para o funcionamento das células, como o cálcio, ferro, magnésio e zinco. O chumbo tem maior afinidade de ligar-se aos grupos sulfidrilas (-SH), e menos afinidade pelos grupos carboxílicos (-COOH) e grupos aminas (NH₂), importantes compostos orgânicos para formação de proteínas e catalização de enzimas. Quando isso ocorre há inativação ou deformação desses grupos e consequente prejudicando a função de proteínas e enzimas. Um dos sinais clínicos observados é letargia, anorexia, depressão, emagrecimento, hematúria, dierréia, ataxia, fraqueza muscular, “heald tilt”, paralisia de membros, convulsões e morte. O diagnóstico às vezes não é fácil, pois nem sempre o proprietário viu o que o animal ingeriu. Uma anamnese minuciosa, exames de raio-x, de sangue como o hemograma e bioquímico são métodos usados para o diagnóstico. O tratamento consiste principalmente na remoção do chumbo através da terapia de quelação. Os quelantes mais usados são o EDTA cálcico, D-penicilamina, o Dimercaprol, e o DMSA. O uso de catárticos é recomendado para melhor eliminação do metal. Porém às vezes partículas grandes poderão ser retiradas com endoscopia, lavagem gástrica ou até mesmo com procedimentos cirúrgicos (ingluviotomia) para retirar fragmentos de chumbo. Muitas vezes a ave necessita de um suporte suplementar como administração de fluidoterapia para repor os eletrólitos que foram perdidos no vômito e na diarréia, de vitaminas do complexo B para evitar deposição de chumbo nos tecidos, ferro para anemia, 90 Anuário da Produção Acadêmica Docente Rodrigo Monteiro, Ivan Fernandes Malateaux, Lígia Mazzaro Muniz em casos muito graves até mesmo transfusão sanguínea poderá ser necessária. Recomendase uso de antibióticos para evitar infecções secundárias. O uso do corticoide é controverso devido ser imunossupressor. Diazepan é usado para as convulsões. A recuperação depende de vários fatores. A quantidade de chumbo ingerido pela ave, de quanto o chumbo afetou os sistemas do organismo e como o animal vai responder aos fármacos utilizados. Tendo todos esses fatores citados acima esclarecidos e respondendo bem ao tratamento as chances de recuperação é alta. A maneira mais óbvia de se evitar intoxicação por esse metal é minimizar a exposição do animal a objetos que contenham chumbo. 2. EPIDEMIOLOGIA A intoxicação exógena por chumbo (saturnismo) vem sendo uma das principais afecções na clínica médica que acometem os animais de companhia, principalmente nas aves. O acometimento se dá em maior escala em psitacídeos, que se caracterizam por ter bico curvo onde os mais conhecidos são as araras, papagaios, cacatuas, agapornis, calopsitas, periquitos, aratingas, ringnecks entre outros. Sem predileção de sexo. Por serem curiosas estão sempre prontamente a mastigar ou ingerir objetos estranhos e chamativos (brilhantes). 3. PATOGENIA O chumbo liga-se principalmente aos grupos sulfidrilas (sequência de aminoácidos que formam proteínas), e com muitas enzimas contendo o grupo sulfidrila, assim deformando ou inativando essas proteínas e enzimas que são importantes nas reações metabólicas no organismo. O chumbo compete ou substitui os elementos cálcio (Ca+²), magnésio (Mn+²), zinco (Zn+²) e ferro (Fe+²). Relativamente o chumbo é insolúvel em água, mas uma pequena porcentagem é absorvida através do trato gastrointestinal. Cerca de 90% do chumbo absorvido estão contidos nas células vermelhas do sangue, aumentando a fragilidade e retardando maturação dos eritrócitos, inibe a síntese do grupo heme resultado a inibição da síntese da enzima ácido-aminolevulínico-desidratase (ALAD). O chumbo é amplamente distribuído nos tecidos moles, rins, fígado, cérebro, no tecido ósseo. E neste último serve como um local de armazenamento a longo prazo. A meia-vida do chumbo é multifásico por causa da sua redistribuição dentro de vários compartimentos do corpo. Por exemplo, a meia-vida de chumbo no sangue total é de aproximadamente 35 dias, enquanto que no tecido cerebral e nos ossos podem chegar a dois anos. Remodelação óssea avançada associada com a postura ou desbalanço de cálcio e fósforo na dieta podem mobilizar o chumbo desses órgãos de deposição reagudizando a toxicose. v.7 • n.18 • 2013 • p. 89-102 91 Intoxicação por chumbo em aves de companhia: revisão de literatura O chumbo causa alterações na síntese de neurotransmissores, armazenagem e liberação, alterações na expressão e no funcionamento dos receptores, tais como o glutamato e N-metil-D-aspartato (NMDA). Como se podem ver os efeitos tóxicos ou degenerativos da intoxicação por chumbo ocorrem no sistema nervoso, trato gastrointestinal, sistema renal e sistema hematopoiético. 3.1. Efeitos nos diversos sistemas: Sistema Nervoso Central e Periférico No Sistema Nervoso há desmielinização segmentar do tecido nervoso, aumento do fluído cérebro espinhal, edema perivascular, competição de cálcio nas junções mioneural, mudanças no metabolismo neural, degeneração do nervo motor. Os sinais neurológicos decorrem, tanto nas intoxicações agudas como crônicas. Rins Como dito anteriormente, o chumbo é depositado por um breve período nos tecidos moles. Nos rins formam-se complexos de proteínas. E posteriormente causando nefropatia tubular. Trato Gastrointestinal No trato gastrointestinal causa necrose dos enterócitos, levando a estase gastrointestinal ou íleo paralítico incluindo dilatação ventricular. No fígado ocasiona degeneração e necrose. Sistema Hematopoiético No sistema hematopoiético os efeitos da intoxicação de chumbo incluem destruição prématura e diminuição da produção dos eritrócitos, interferência na síntese da heme levando a anemia e consequente a hipóxia. E eventualmente em casos crônicos aplasia de medula. 4. SINAIS CLÍNICOS Os sinais clínicos da intoxicação por chumbo dependem da quantidade ingerida e absorvida pela ave e inclui letargia, depressão, anorexia, emagrecimento progressivo, vômito, regurgitação, diarreia. O urato das aves em sua maioria apresentam hematúria ou hemoglobinúria, a coloração pode variar do rosa, vermelha ou bege, chamada também vulgarmente de “chocolate milk” - leite com chocolate (figuras 1 e 2 ). Outras colorações podem também serem encontradas, como amarelo, verde, amarelo-limão devido ao aumento da excreção da biliverdina pela bile. 92 Anuário da Produção Acadêmica Docente Rodrigo Monteiro, Ivan Fernandes Malateaux, Lígia Mazzaro Muniz Fig. 1 – “chocolate milk”. Fonte: foto cedida por Dr. Ivan Fernandes Malateaux. Fig. 2 - Excrementos de uma ave (papagaio). Note a coloração do urato avermelhado e ao fundo a gaiola totalmente enferrujada sem nenhuma proteção. Fonte: foto cedida por Dr. Ivan Fernandes Malateaux. Algumas penas podem ficar espetadas ou sujas devido a repetidas regurgitações. Poliúria e polidipsia estão presentes. Em relação ao estado mental a ave fica responsiva ou pouca responsiva. Apresentam asas caídas, ataxia, fraqueza muscular, paresia de membros, tremores de cabeça, andar em círculos, cabeça inclinada “head tilt” (inclinação lateral da cabeça), paralisia, cegueira, contrações musculares, convulsões e morte. 5. FONTES DE CHUMBO Soldas de gaiolas com chumbo, tinta velha de paredes, pesos de cortina, brinquedos de aves a base de metais, papel laminado de algumas garrafas de champanhe e vinho, gesso, massa de vidraceiro, linóleo (material utilizado no revestimento de pavimentos com adição de chumbo), partes traseiras de espelho, solda de janelas de vidro colorido, luminárias de vidro iridescente, bijuterias, invólucros de ferragens, isca de pesca, arame galvanizado, pesos de pesca de chumbo, sinos com badalos de chumbo, cerâmicas inapropriadamente esmaltadas, projétil, balas de chumbinho, pilhas elétricas, baterias, vapores de gasolina, alimentos (sementes) e farinha de ossos contaminados. v.7 • n.18 • 2013 • p. 89-102 93 Intoxicação por chumbo em aves de companhia: revisão de literatura 6. DIAGNÓSTICO O diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, anamnese e exames complementares como o raio-X de primeira escolha (figuras 3 e 4), devido partículas do metal serem radiodensas e de fácil observação e exames laboratoriais, como hemograma (sangue total com heparinalítica e não em tubos com EDTA) e bioquímico. No hemograma observa-se anemia severa regenerativa, hipocrômica, mudanças morfológicas das células incluindo marginação de hemoglobina, policromasia e anisocitose. Eritrócitos anucleados (o normal de células de aves é ser nucleada), basófilos pontilhados e vacuolização intracitoplasmática (figura 5). Fig. 3 – Observam-se fragmentos do metal no ventrículo da ave. Animal (cacatua) ingeriu bijuteria contendo chumbo em sua composição. Fonte: http://www.village-vets.com/services_radiog.htm. Fig. 4 – Observam-se estruturas arredondadas com aumento de radiopacidade no trato gastrointestinal. Animal (papagaio africano) ingeriu bolinhas de chumbinho. Fonte: http://www.village-vets.com/afrigrey.htm. 94 Anuário da Produção Acadêmica Docente Rodrigo Monteiro, Ivan Fernandes Malateaux, Lígia Mazzaro Muniz Fig. 5 – Setas indicam células jovens lançadas na corrente sanguínea. A coloração com o citoplasma basófilo é evidenciado. Note a vacuolização formada pela toxicose e nas células maduras ao lado observa-se células hipocrômicas. Fonte: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1094919408000248. Têm se relatado níveis aumentados da LDH (desidrogenase lática), AST (aspartato aminotransferase), CPK (creatinofosfoquinase), creatinina, ácido úrico e proteína total (proteinúria). Em todas as aves afetadas, há uma concentração normal do nível de chumbo no sangue 6μg/dL (0,06 ppm) e há também uma variação das concentrações usadas para definir uma toxicose. Mas geralmente níveis acima de 20μg/dL (0,20 ppm) de chumbo sanguíneo são sugestivos de intoxicação (figura 6), enquanto níveis séricos acima de 50μg/ dL (0,50 ppm) confirmam o diagnóstico. Os sinais podem ser vistos com níveis de chumbo tão baixos quanto o valor citado acima, existem aves que com 10μg/dL (0,10 ppm) que já apresentam os sinais de intoxicação, mas independente dos valores a ave deve ser tratada. Outra enzima usada ocasionalmente acusando a intoxicação por chumbo é a enzima ácido-aminolevulínico-desidratase (ALAD) que participa na biossíntese da heme e metabolismo do zinco. Na intoxicação por chumbo essa enzima é inibida. Protoporfirina (PP) - precursor da heme, também pode ser monitorada, na intoxicação por chumbo estará aumentada. A mensuração é feita PP total de amostra de sangue, PP livre ou PP zinco. E é expressa em μg proto/dL eritrócito. Elevação do PP livre indica intoxicação aguda. PP zinco indica intoxicação crônica. Na necropsia o diagnóstico vai depender do histórico anterior e dos sinais clínicos compatíveis com a intoxicação de chumbo. A detecção de partículas metálicas e medição das concentrações de chumbo nos tecidos como rins, fígado ou cérebro é um meio de diagnóstico. Níveis entre 3 e 6 ppm de peso úmido são indicativos. Níveis de 6 ppm de peso úmido é confirmado. v.7 • n.18 • 2013 • p. 89-102 95 Intoxicação por chumbo em aves de companhia: revisão de literatura Fig. 6 – Exame de sangue indicando níveis de intoxicação por chumbo em uma ave. Fonte: http://www.lbah.com/word/lead-toxicity. 7. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL Trato Gastro Intestinal: cococcidiose, afecções do fígado, pâncreas e rins, enterites, mudança na dieta, alimento que contenha o pigmento vermelho. Sistema Nervo: traumas, infecção do ouvido, toxinas, tumores, deficiência de componentes essenciais para o metabolismo celular, por exemplo, selênio, vitamina E, cálcio. 8. TRATAMENTO 8.1. Mecanismo geral de ação dos quelantes: O método mais eficaz de tratamento de intoxicações por metais é a quelação (quando já estiver no ventrículo e fígado). O termo “quelação” provém do inglês “chelation”, que por sua vez vem do grego, a partir de khélê, que significa pinça ou mandíbula. O latim também fornece “chêle”, derivado do grego, significando “os braços da constelação de escorpião”. Assim, o sentido do termo usado em química está ligado à ação de pinçar, agarrar, e é utilizado como o processo de transformação de uma substância (o quelante) e um metal qualquer num quelato, que é um complexo químico no qual o metal é pinçado ou agarrado quimicamente, numa ligação covalente com o agente quelante. Abaixo (figura 7) está representado um metal “X” aprisionado pelo agente quelante EDTA. Fig. 7 – Complexo do agente quelante EDTA aprisionando o metal “X”. 96 Anuário da Produção Acadêmica Docente Rodrigo Monteiro, Ivan Fernandes Malateaux, Lígia Mazzaro Muniz Quimicamente, o quelato é um sal ou íon complexo, no qual os ligantes se coordenam com o íon ou átomo do metal através de duas ou mais ligações covalentes, na forma de anel. Os metais exercem seus efeitos tóxicos através da ligação com um ou mais grupamentos reativos de enzimas e proteínas constituintes da estrutura ou do metabolismo normal. Os agentes quelantes, também chamados de antídotos, são compostos que competem especificamente com esses grupamentos promovendo a ligação química do metal consigo e não com as enzimas ou proteínas normais do organismo. Os metais podem reagir com os seguintes grupos: sulfidrilas, carboxílicos e aminas. Um agente quelante possui dois ou mais desses grupamentos em sua estrutura química, permitindo a ligação covalente do cátion metálico, formando um anel heterocíclico bastante estável, que será então eliminado, sem sofrer biotransformação significativa, através da urina ou fezes. Essa estabilidade química vai variar de acordo com o metal e com o agente quelante. 8.2. A eficácia de um agente quelante vai depender de pelo menos três fatores: a)a afinidade química pelo metal causador da intoxicação; b)as características toxicocinéticas; c) capacidade de excreção do complexo quelado (quelato). 8.3. O quelante ideal deve preencher alguns pré-requisitos importantes: • ter alta hidrossolubilidade, para garantir excreção urinária; • não sofrer biotransformação significativa; • ter boa distribuição através dos tecidos orgânicos, onde o metal tóxico possa estar depositado ou agindo; • ter especificidade de ligação com o metal em questão e pouca ou nenhuma afinidade com os metais essenciais como zinco, ferro, cobre, magnésio, manganês; • ter pouca afinidade química com o cálcio, por risco de produzir hipocalcemia; • ter capacidade química de formar um quelato estável no pH dos diversos compartimentos corpóreos; • ter boa taxa de excreção renal ou eventualmente hepato-biliar; • ter baixos índices de efeitos colaterais nas doses terapêuticas. Outra maneira eficaz como tratamento é a endoscopia, lavagem gástrica ou até mesmo procedimento cirúrgico (ingluviotomia) podem ser necessárias. v.7 • n.18 • 2013 • p. 89-102 97 Intoxicação por chumbo em aves de companhia: revisão de literatura 9. TERAPIA DE QUELAÇÃO EDTA (Disodium Versenate®, CaNa2EDTA – Versenate®) É um ácido da família dos ácidos poliaminocarboxílicos com afinidade química por diversos metais. Foi introduzido na farmacopéia como quelante em casos de intoxicação por chumbo na década de 50 e é usado para esse fim desde então. A molécula original, sódica, sem cálcio em sua estrutura, tem afinidade por vários metais, incluindo o cálcio, e seu uso terapêutico pode eventualmente causar hipocalcemia levando à tetania. Assim, a molécula do versenato com cálcio não apresenta esse problema potencial, pois a ligação do metal a ser quelado é feita pelo deslocamento do cálcio, que, liberado, não chega a causar efeitos. Trata-se de molécula altamente hidrossolúvel, com um volume de distribuição praticamente igual ao volume do compartimento extracelular. Não sofre biotransformação e é excretado em sua totalidade pelos rins. Deve-se fornecer EDTA cálcico (edetado dissódico de cálcico) na dose de 35mg/ kg intramuscular a cada 12 horas até que os níveis de chumbo diminuam para os valores normais. Reavaliar 3 a 4 dias após o término da terapia. O EDTA cálcico pode ser administrado mesmo se não restar nenhuma partícula metálica, pois o chumbo pode sair dos ossos para o sangue, provocando mais sinais. Como regra, o EDTA cálcico é fornecido por 10 dias, com pausa de 5 a 7 dias até que a condição do paciente esteja estável antes de finalizar a terapia (se necessário) para evitar nefrotoxicidade; sinais incluem poliúria, polidpsia, proteinúria e hematúria. Em pássaros assimtomáticos, o EDTA cálcico pode ser fornecido oralmente em doses duas vezes superior a dose injetável, a cada 8 a 12 horas para evitar absorção de chumbo (é necessária dose maior em razão da pouca absorção do EDTA cálcico fornecido via oral). D-penicilamina (Cuprime®, Depen®) Também conhecida quimicamente como β-dimetilcisteína, obtida a partir da hidrólise da penicilina. Praticamente é toda biotransformada pelo fígado e excretada pelos rins. A D-penicilamina (PA) pode ser fornecida por via oral, opostamente ao EDTA cálcico, que é melhor quando administrado por via parenteral em pássaros assintomáticos. Pode ser dada isolada, conjuntamente com EDTA cálcico ou após as injeções desse fármaco. A D-penicilamina é ministrada na dose de 55mg/kg via oral a cada 12 horas por 1 a 2 semanas, então interrompida por 3 a 5 dias e, a seguir, repetida conforme necessidade. A melhor recomendação é utilizar o EDTA cálcico e a PA por alguns dias até que o pássaro esteja assintomático, a partir disso, a PA sozinha por 3 a 6 semanas para diminuir os efeitos colaterais da terapia. Por sua falta de especificidade, a D-penicilamina pode causar 98 Anuário da Produção Acadêmica Docente Rodrigo Monteiro, Ivan Fernandes Malateaux, Lígia Mazzaro Muniz depleção de elementos essenciais como ferro e zinco. Outra preocupação é a possibilidade de ocorrência de efeitos alérgicos graves em aves sensíveis à penicilina. Dimercaprol (BAL- British Anti-Lewisite) O dimercaprol é um composto formado pelo grupo sulfidrila, altamente lipossolúvel, incolor e tem forte odor de enxofre. Tem excreção renal e considerável excreção hepato-biliar. O Dimercaprol usado sozinho ou em combinação com EDTA cálcico é também uma terapia eficaz. Porém é um agente pouco usado devido o baixo índice de resposta em relação ao PA e CaEDTA. A dose usada é de 2,5 a 5 mg/kg intramuscular a cada quatro horas por dois dias. Em seguida duas vezes ao dia por 10 dias. Succimers DMSA (Chemet®, Succimer®) O DMSA é um derivado hidrossolúvel, análogo do dimercaprol (BAL). Apesar de ser quimicamente similar ao dimercaprol, à molécula do DMSA contém dois ácidos carboxílicos, além dos dois grupamentos sulfidrila (–SH), que modificam a cinética de distribuição e seu espectro de afinidade pelos metais (chumbo, cádmio e mercúrio). É absorvido pelo trato gastrintestinal, biotransformado no fígado e excretado pelos rins. O DMSA (ácido mesodimercaptossuccínico) na dose de 25 a 35mg/kg a cada 12 horas por via oral e administrado por 5 dias por semana durante 3 a 5 semanas ( ou até que os níveis de chumbo retornem ao normal. Apesar de o ETDA cálcico ser seguro e eficaz quando utilizado conforme recomendação, preconiza-se o uso do DMSA. É alternativa mais segura e mais eficaz que o EDTA cálcico e não é nefrotóxico. Pode ser fornecido sozinho ou em combinação com a D-penicilamina. DMPS (Dimaval®, Unithiol®) Assim como o DMSA, trata-se de um quelante análogo e derivado do dimercaprol (BAL), com alta hidrossolubilidade, com baixo volume de distribuição, excretável pelos rins e com menos efeitos colaterais que seu precursor, o BAL. Têm sido usado como agente quelante (além do chumbo) em diversos metais, incluindo mercúrio, arsênio, cádmio, cobre, ouro e níquel. Apresenta boa absorção gastrintestinal e sua biotransformação se dá no fígado. DMPS (2,3-dimercapto-1-propano acido sulfônico, sal de sódio) é administrado por via oral ou parenteral na dose de 3 a 5mg/kg, a cada 24-48 horas. Muito usado na Europa. Não disponível no Brasil. v.7 • n.18 • 2013 • p. 89-102 99 Intoxicação por chumbo em aves de companhia: revisão de literatura Carvão Ativado (enterex®) O carvão ativado tem propriedade adsorvente, ou seja, é capaz de se ligar a substâncias tóxicas e diminuir a quantidade disponível para absorção pelo sistema digestório. Recomenda-se administrar duas horas antes ou duas horas depois com outras medicações. A dose recomendada é de 2 a 8 g/kg por via oral. O carvão ativado nesse caso de intoxicação de chumbo em aves age no que ainda não foi absorvido junto ao quelante (principalmente na moela). É administrado quando a ave não estiver tendo episódios de vômitos ou regurgitando e estiver totalmente consciente. Outra forma de uso é a preventiva. Em forma de pó é adicionado junto à ração, sementes que a ave se alimenta. 10. TRATAMENTO SUPLEMENTAR Pode-se considerar o benzodiazepínico como o diazepan (Dienpax®, Valium®, Diazepan®, Ansileve®) na dose de 05 a 1,0 mg/kg intramuscular ou endovenosa a casa 8 a 12 horas, de acordo com a necessidade, para controlar tremores musculares e convulsões. Dexametasona na dose de 1 a 2 mg/kg intramuscular ou por via subcutânea uma vez podem ser indicado para aumento do edema cerebral. Administrar um catártico osmótico por via oral como o sulfato de sódio ou magnésio na dose de 2g/kg, manteiga de amendoim, parafina líquida ou óleo mineral são eficazes na eliminação intestinal do chumbo. Manter a hidratação com fluidoterapia é importante na recuperação do animal contra a anorexia, solução de Ringer com lactato, dextrose a 5%, vitaminas do complexo B (B12 e B1) e antibióticos é recomendável. Reposição de ferro e transfusão sanguínea pode ser necessária, caso a anemia seja severa. Tiamina (B1) é indicado para prevenir acúmulo de chumbo nos tecidos, usa-se na dose de 30 mg/kg diariamente. Alimentação via sonda poderá ser feita caso o animal não queira comer e realizar após o controle dos vômitos e convulsões. Poleiros e potes de água devem ser retirados da gaiola, a fim de se evitar acidentes. Radiografias devem ser feitas a cada 3 dias para determinar a eficácia da terapia de quelação. 11. PROFILAXIA A profilaxia praticamente baseia-se em restringir o acesso do animal a mexer em materiais que possam conter chumbo em sua composição. Se a ave for um animal que vive fora da gaiola a maior parte do tempo, sempre estar vigiando o que ela possa a vir mexer, ficar brincando, bicar em objetos já citados anteriormente. Na compra da gaiola observar se é revestida, geralmente essas novas gaiolas tem como material de revestimento o epóxi, seguro para aves que ficam toda hora bicando a gaiola. 100 Anuário da Produção Acadêmica Docente Rodrigo Monteiro, Ivan Fernandes Malateaux, Lígia Mazzaro Muniz Com os brinquedos, somente comprar aqueles que não representem risco de intoxicação não somente para as aves, mas para qualquer outro animal que estiver no mesmo ambiente. E sempre observar do que é feito o material. Evitar que a ave fique perto de automóveis. Assim evita-se inalação dos gases que é liberado pela queima do combustível. Comprar somente alimentos destinados a aves. E principalmente em lugares onde a fabricação não seja duvidosa e de armazenamento correto. Tomada certas medidas de cuidados, manejo correto e orientação veterinária adequada à sobrevida desses animais é alta. REFERÊNCIAs ALTMAN, Robert B. et al. Avian Medicine and Surgery. 1ª edição, Philadelphia, editora W.B. Saunders, 1997, p. 604-607 e 860-861. BERGDAHLl, I. A. Lead Binding Proteins - a way to understand lead toxicity? Analusis Magazine. Department of Occupational and Environmental Medicine, Lund University, Sweden, vol. 26, n. 6, p. 81-83, 1998. CAPITANI, Eduardo Mello. Envenenamento por Metais, módulo X - Tratamento por Quelantes. Centro de Controle de Intoxicações de Campinas, São Paulo, 2000. Disponível em:<http://ltc. nutes.ufrj.br/toxicologia/mX.quelantes.htm>. Acessado em 02 de Setembro de 2013. CARPENTER, J. W.; MASHIMA T. Y.; RUPIPER D. J. Exotic Animal Formulary. 2ª edição, Philadelphia, editora W.B. Saunders, 2001, p. 107-194. CUBAS, Zalmir Silvino; Jean, C. R. 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Nesse sentido, o projeto teve como objetivo desvendar a visão da doutrina civil-constitucionalista que nos Direitos Fundamentais transpareceu uma dicotomia, por meio dos direitos à prestação e deveres de abstenção. A análise ocorreu por cotejo da doutrina e de literatura teórica; por método indutivo e comparativo na utilização de casos práticos. Eventuais comentários de jurisprudências e aportes legislativos atuaram como norte para a avaliação da realidade do direito de propriedade e quais são suas perspectivas nos âmbitos fundamentais. Palavras-chave: Direitos fundamentais; Reserva do possível; Eficácia; Direito de propriedade. Keywords: Fundamental rights; Reserve for contingencies; Reserve for contingencies; Property rights. ABSTRACT: Fundamental rights has been one of the biggest issues of contemporary society. Even though people affirms that such rights have immediate effect, it is clear the they need a deeper reflection on, specially about the possible directions for a real efficiency. Perhaps, the effectiveness could be in the “check and balances” or even in reserve for contingencies. In fact, the paper aims to unravel the vision of civilconstitutional doctrine that present a dichotomy in the Fundamental Rights, being appointed as supply rights and duties of abstention. For support, the research uses the collation of the doctrine and theoretical literature, and comparative-inductive method, and also uses the cases studies, reviews of jurisprudence and legislative contributions to the current reality of property rights and what are its prospects in the key areas. Informe Técnico Recebido em: 10/01/2013 Avaliado em: 11/04/2013 Publicado em: 14/07/2014 Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.7 • n.18 • 2013 • p. 103-114 Projeto reserva do possível na eficácia dos direitos fundamentais: em especial no direito de propriedade 1. Introdução A sociedade atual vem se debruçando cada vez mais na problemática dos direitos fundamentais. A Constituição Federal em seu artigo 5º, caput e seus incisos coloca os direitos de primeira, segunda e terceira geração (autores mais modernos já afirmam que se está vivendo uma 6ª geração). Entretanto, ainda que afirmem a existência de tais direitos sob uma eficácia imediata, percebeu-se claramente a necessidade da reflexão aprofundada sobre o atual papel dos Direitos Fundamentais e seus possíveis direcionamentos em busca da real eficiência, sobretudo da eficácia atual do princípio da cedência recíproca, diante ao que se denomina a chamada reserva do possível. Nesse sentido, o presente projeto teve como foco desvendar a visão da doutrina civilconstitucionalista que revela nos Direitos Fundamentais uma dicotomia, sendo apontados como direitos à prestação e deveres de abstenção. Para os primeiros - direitos à prestação -, indicam todos aqueles direitos que devem ser prestados pelo Estado, tais como saúde, educação, enfim, o que o Estado deve prestar ao cidadão como prestações mínimas existenciais e, assim, condicionantes à efetiva socialização, sobretudo ao cumprimento do fundamento do art.1º, inciso III, da CF/88 (dignidade da pessoa humana). De outro lado, para os segundos - deveres de abstenção – que são aqueles deveres de abstenção impostos ao Estado em atenção aos direitos individuais, tais como a liberdade, igualmente como condicionantes à socialização no qual tem se sugerido a intervenção mínima. Foram utilizados os métodos dedutivos, na análise da doutrina e de literatura teórica; método indutivo e comparativo na utilização de casos práticos e eventuais comentários de jurisprudências e cotejos legislativos. O norte seguido foi que tanto os direitos à prestação como os deveres de abstenção encontram-se submetidos (quiçá subordinados), à Reserva do Possível, ou seja, a ‘possibilidade’ de o Estado observar (prestando ou abstendo) esses Direitos Fundamentais e o quanto essa ‘possibilidade’ é atingida pela vontade política do Estado. 2. O projeto O Grupo 07, denominado projeto FUNADESP 5500244, nasceu da junção de docentes de diferentes Unidades do Grupo Anhanguera Educacional (Jacareí – SP: por meio da Coordenadora Profa. Dra. Cristiane A. Martins de Lima Ferrari; Campinas – SP: Prof. Dr. Antonio Isidoro Piacentin; Taguatinga – DF: Prof. Dr. João Rezende A. de Oliveira; e Rio Grande – RS: com Prof. Dr. Enio Duarte Fernandez Jr. e Prof. Dr. Sergio Amaral Campello), 104 Anuário da Produção Acadêmica Docente Cristiane Aparecida Martins de Lima Ferrari com o propósito de analisar a eficácia do Direito da Propriedade sob o prisma dos Direitos Fundamentais. Assim, o desenvolvimento de estudos ocorreu em três perspectivas: • Premissas conceituais dos Direitos Fundamentais, bem como a distinção dos direitos individuais. Premissas. • Limites da reserva legal (econômicos, sociais ou políticos – com a combinação deles) • Nortes da função social da propriedade (o Estado prestacional e o papel da jurisdicionalização dos direitos) Cada pesquisador desenvolveu estudos em suas respectivas linhas de pesquisa, estabelecendo as relações específicas na contribuição dos limites práticos para a aplicabilidade da cláusula da reserva legal. Nesse sentido, os procedimentos de atuação foram compostos por: pesquisas bibliográficas, para ampliação do referencial (conforme supra apresentado), e de campo e documental, no cotejo dos estudos de caso, principalmente dos posicionamentos dos Tribunais a despeito do tema, em amostragem. As análises dos resultados sempre priorizaram a abordagem qualitativa, o que não impediu mostras quantitativas, como exemplificações. Os produtos das atividades realizadas auxiliaram em produções escritas de forma científica, na elaboração dos relatórios e dos artigos finais. Como principal objetivo, os estudos da pesquisa buscaram tornar um instrumento capaz de permitir aos participantes, aos aplicadores do Direito e à sociedade como um todo, condições de conhecer e interagir com os limites da atuação da reserva legal e, sobretudo, alternativas práticas para a eficácia dos Direitos Fundamentais no âmbito da propriedade. Especificamente, o projeto permitiu: revelar um conceito de Direitos Fundamentais, distinguindo-os dos de natureza puramente individual; discutir os parâmetros da Reserva Legal apontada pela Corte Brasileira (Supremo Tribunal Federal); elaborar a eficácia material dos Direitos Fundamentais no seu viés prático e eventual, colidência entre direitos de mesma categoria, frente a reserva do possível; estudar a aplicação da cláusula da reserva do possível pelo poder judiciário, debatendo os problemas da eficácia e de alguns dos direitos fundamentais, em especial aos Direitos Prestacionais por parte do Estado; contribuir com o avanço do conhecimento na área do Direito de Propriedade; comprometer-se com a instauração de princípios interdisciplinares para construção de uma sociedade democrática; e estabelecer paradigmas possíveis à função social da propriedade, à reserva do possível e à eficácia dos direitos deste direito fundamental. v.7 • n.18 • 2013 • p. 103-114 105 Projeto reserva do possível na eficácia dos direitos fundamentais: em especial no direito de propriedade 3. justificativa Como premissa os Direitos Fundamentais caracterizaram-se, inicialmente, por impor ao Estado limites e dever de abstenção, um dever de não-interferência, de não-intromissão na esfera de autodeterminação do indivíduo. Desse modo, formou-se uma amalgama de direitos de defesa tais como os de liberdade de expressão, de religião, de reunião, associação, denominados direitos de primeira dimensão. Os direitos de defesa protegem bens jurídicos do indivíduo contra as incursões do Estado na esfera da privacidade e da propriedade. Mas não é somente a garantia dos direitos de defesa. Aspecto muito importante deve ser salientado. Os Direitos Fundamentais, também, produziram uma limitação ao Estado de não eliminar posições concretas jurídicas intangíveis de mudança. No sistema constitucional brasileiro há previsão de um núcleo irreformável pelo Constituinte Reformador, consubstanciado no que convencionou chamar de cláusulas pétreas. Barroso (2009) ensina que há necessidade, num Estado Democrático de Direito, de consensos mínimos para garantir direitos fundamentais que não ficariam a mercê de maiorias circunstanciais. Insuficiente, no entanto, as prerrogativas atinentes ao indivíduo considerado apenas e tão somente na esfera individual. As necessidades de realização de direitos por meio dos quais o indivíduo busca o bem estar e a felicidade não se arraiga, somente, aos valores citados acima. Ao passo que a abstenção do Estado visam assegurar ao indivíduo um certo status, exige-se do Estado uma prestação que possa reduzir as desigualdades sociais (leiase: desigualdades entre os indivíduos pobres e os ricos) pessoais e regionais. Aliás, esse é um dos objetivos previstos na Constituição Brasileira de 1988, em seu artigo 3º., III. Digase de passagem, que não é uma vã promessa, pois o caráter heterônomo do ordenamento jurídico impõe ações concretas. O Estado e a Sociedade, por força do artigo 3º. I, são co-autores na construção de uma sociedade livre, justa e solidária. Eis o caráter transformador do Estado e do Direito. À evidência, o núcleo norteador dos temas arrolados é a dignidade da pessoa humana (art. 1º, III da CF), que como valor supera dos demais valores fundamentais. Nesse quadrante é que Sarlet (2009) ensina que os Direitos Fundamentais são exigências e concretizações da dignidade da pessoa humana. É certo que, para determinados direitos serem considerados fundamentais é necessário, neles, ter uma projeção desta dignidade, sob de relativizar ou banalizar os tais direitos. Neste mesmo sentido, Facchini Neto (2010) aponta que a socialização, objetivo da Lei Maior de 1988, somente é possível quando houver o compromisso estatal da garantia de um patrimônio mínimo, ao que nomina de o ‘mínimo existencial’, composto de bens e serviços indispensáveis à inserção do ser humano no meio social em que vive. E é justamente referindo a este mínimo existencial, a este patrimônio mínimo, que o projeto abordou os problemas da eficácia e de alguns dos direitos fundamentais, em especial 106 Anuário da Produção Acadêmica Docente Cristiane Aparecida Martins de Lima Ferrari aos Direitos Prestacionais por parte do Estado. Dentre os direitos fundamentais, a propriedade está apresentada não só no artigo 5º inciso XXII, mas especialmente no inciso XXIII da Lei Maior que estabelece a necessidade do cumprimento da função social. Somam-se ainda outros dispositivos esparsos tais como os artigos 182 e 184 do mesmo ordenamento Maior que tratam acerca das políticas públicas urbanas e agrícolas e a necessidade do cumprimento da função social. A pesquisa então recaiu sobre o processo de atuação do Estado no processo intervencionista/prestacional, em especial a atuação jurisdicional e a partir disso tentou estabelecer limites desta atuação, quiçá paradigmas. Portanto, a proposta foi traçar linhas aos aplicadores do Direito de modo objetivo, trazendo sugestões práticas no que concerne à tutela desses direitos fundamentais diante da aplicação da reserva do possível e elucidando com a visão prática, a partir da função social no âmbito do direito da propriedade atrelada à situação do Estado. 4. viabilidade A evolução do Direito e em especial do Direito Constitucional consubstancia-se em novéis pressupostos estruturantes do ordenamento jurídico de um Estado e de uma determinada Sociedade, os quais iniciaram sua trajetória a partir do Estado Moderno. De lá para cá, novos axiomas são aceitos no campo do Direito dentre os mais importantes os Direitos Fundamentais. Esses declarados, reconhecidos, juridicizados e, finalmente, constitucionalizados representam um avanço na proteção de um singular valor que é a dignidade da pessoa humana. No entanto, paradoxalmente, ao avanço da economia, da tecnologia e das novas técnicas jurídicas, os direitos fundamentais encontram barreiras para sua efetividade, ora por sociedades conservadoras, ora pela escassez de recursos orçamentários. Fato é que ao enfrentar tais questões, principalmente, diante da sociedade complexa contemporânea, percebeu-se vários problemas nos Estados, que não se encontram no centro de desenvolvimento global. Neste contexto, foi possível a verificação que este país ainda está localizado à margem do desenvolvimento global, embora todo o processo de redemocratização e a promulgação de uma Constituição generosa no campo dos Direitos Fundamentais, enfrente dificuldades de sua identificação e concretização. O catálogo dos Direitos Fundamentais não é homogêneo, pois vêm se desenvolvendo conforme as exigências específicas de cada momento histórico. Daí uma das dificuldades: como caracterizar os direitos de natureza fundamental? Novos paradigmas surgiram à medida que a sociedade se transforma e inovamse valores culturais, éticos e jurídicos. Por esta razão, a cada dia surge ao aplicador do v.7 • n.18 • 2013 • p. 103-114 107 Projeto reserva do possível na eficácia dos direitos fundamentais: em especial no direito de propriedade direito uma dificuldade prática: a real consecução dos direitos fundamentais nos termos Constitucionais no campo da eficácia imediata; em especial o direito de propriedade que teve seu conceito modificado ao longo do tempo. Assim por mais que a Lei Maior estabeleça uma eficácia plena, não há possíveis direcionamentos em busca da real eficiência, sobretudo da eficácia do princípio da cedência recíproca, frente o que se denomina a chamada reserva do possível. Para tanto a divisão dos núcleos de pesquisa foi crucial tanto na revisão de bibliografia, quanto nos estudos de caso, cumprindo o estabelecido do cronograma prévio. O foco foi a constatação que os direitos à prestação (assim como os deveres de abstenção) encontram-se subordinados, à Reserva do economicamente Possível, ou seja, passa-se a análise para a ‘possibilidade’ de o Estado observar (prestando) esses direitos fundamentais e o quanto essa ‘possibilidade’ é atingida pela vontade política do Estado, no âmbito do direito de propriedade, que muitas vezes só é visto sob o enfoque individual. 5. fundamentação teórica Para uma melhor organização do trabalho, a revisão bibliográfica foi dividida por núcleos e conforme relatório apresentado à coordenadora, foram revistas e sugeridas as seguintes obras: Núcleo São Paulo (Jacareí e Campinas) ALEXY, R. Teoria dos direitos fundamentais, trad. de Virgílio Afonso da Silva. SP: Malheiros, 2008. ARAUJO, L. A. D. & VIDAL SERRANO, L. A. Curso de direito constitucional, 15. ed.. SP: Saraiva, 2011. BACHOF, O. Normas constitucionais inconstitucionais? Trad. José Manuel M. Cardoso da Costa, Lisboa: Almedina, 1994. 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Universidade Vale dos Rio dos Sinos, 2003. 108 Anuário da Produção Acadêmica Docente Cristiane Aparecida Martins de Lima Ferrari ______. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 2ª. Ed. SP: Saraiva, 2011. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 9ª. Ed. SP: Malheiros, 2000. ______. Constituição e Democracia: Estudos em Homenagem ao Professor J.J. Curso de Direito Constitucional: os conceitos fundamentais e a Gomes Canotilho. SP: Malheiros, 2006. ______. Teoria da Constituição da Democracia Participativa: por um Direito Constitucional de luta e resistência por uma nova Hermenêutica por uma repolitização da legitimidade. 2ª Ed. SP: Malheiros, 2003. ______. Temas de Direito Constitucional. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. BRITO, Carlos Ayres. Teoria da Constituição. RJ: Forense, 2006. CAMPILONGO, C. F. Política, Sistema Jurídico e Decisão Judicial. SP: Max Limonad, 2002. ______. 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Nesse sentido, os procedimentos de atuação foram compostos por: pesquisas bibliográficas, para ampliação do referencial (conforme supra apresentado), e de campo e documental, no cotejo dos estudos de caso, principalmente dos posicionamentos de nossos Tribunais a despeito do tema, em amostragem. As análises dos resultados sempre priorizaram a abordagem qualitativa, o que não impediu mostras quantitativas, como exemplificações. Os produtos das atividades realizadas auxiliaram em produções escritas de forma científica, na elaboração dos relatórios e dos artigos finais. 7. produção científica e/ou intelectual O artigo fruto da conclusão do trabalho “A reserva do possível na eficácia dos direitos fundamentais: o direito de propriedade” tornou-se maior que o esperado (uma monografia), que será transformada em pelo menos dois artigos que serão enviados à publicação para a revista eletrônica da Universidade Católica de Brasília (http://portalrevistas.ucb.br/index. php/rvmd) e para a Revista Jurídica da Presidência (https://www.presidencia.gov.br/ revistajuridica) Os alunos de iniciação científica cumpriram o projeto estabelecido e apresentaram os trabalhos “Direitos Humanos Fundamentais” (aluno bolsista Leandro Gomes) e “Aspectos Constitucionais do Direito à Saúde” (aluna bolsista Alda ), artigos enviados para a revista da Universidade Anhanguera. Os pesquisadores participaram ativamente da comunidade acadêmica em seus NDE locais, com o desenvolvimento de orientações de monografia em sua unidade e palestras ministradas por toda IES. Ainda houve a concessão de entrevistas, envio para publicação artigos conforme se depreende do currículo Lattes atualizado de cada um dos bolsistas do projeto. Ademais, todos os pesquisadores que participaram do projeto trabalharam para que o artigo (produto do projeto) fosse útil para discentes e docentes, além de outros formadores de opinião social face da aplicação da reserva do possível e elucidando com a visão prática, a da função social no âmbito do direito da propriedade (paradigmas). v.7 • n.18 • 2013 • p. 103-114 111 Projeto reserva do possível na eficácia dos direitos fundamentais: em especial no direito de propriedade 8. Considerações Finais A pesquisa seguiu o cronograma apresentado. Os trabalhos foram divididos para a melhor consecução, mas foram acompanhados e discutidos em reuniões quinzenais que o grupo realizava via skype e telefone. As discussões para eventuais direcionamentos de pesquisa aconteciam via e-mail. Para a promoção da integração do grupo, e duas vezes por mês, aconteciam via Call Conference reuniões com pauta específica, criadas a partir das dúvidas geradas pelos fóruns de discussão (e-mails), bem como aquelas naturais decorrentes da consecução dos trabalhos. As pesquisas docentes e discentes seguiram conforme previsto no cronograma. A visão prática da reserva do possível, a partir da função social no âmbito do direito da propriedade foi desenvolvida como paradigma de conduta. Na iniciação científica, o aluno Leandro Gomes, produziu o artigo “Direitos Humanos Fundamentais” e a Aluna Alda escreveu “Aspectos Constitucionais do Direito à saúde” que será enviado à revista eletrônica saraivajus e jusnavegandi, além da revista da Anhanguera. Todos os pesquisadores agiram como difusores da pesquisa, à medida que cada núcleo proferiu diversas palestras, além da pesquisa, escreveu artigos, forneceu entrevistas, a fim que não só a comunidade acadêmica tenha conhecimento da pesquisa e sua importância, mas também toda a sociedade; comprometendo-se com a instauração de princípios interdisciplinares para construção de uma sociedade democrática. Das premissas preceituais apresentadas pelo projeto, o grupo conseguiu seguir o norte proposto pelo sumário inicial de pesquisa, mas como qualquer trabalho, ao final surge a sensação de que se poderia desenvolver ainda novas questões que se deixam como sugestão de um projeto futuro. Referências ALEXY, R. Teoria dos Direitos Fundamentais, trad. de Virgílio Afonso da Silva, SP: Malheiros, 2008. ARAUJO FILHO, A.M. Evolução dos direitos humanos: avanços e perspectivas. São Luis: Universidade Federal do Maranhão, 1998. ARAUJO, L.A.D.; VIDAL SERRANO, L.A. Curso de Direito Constitucional, 15.ed. 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