1 Hotéis de selva no Amazonas: ecodesign, meio ambiente e

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1 Hotéis de selva no Amazonas: ecodesign, meio ambiente e
Hotéis de selva no Amazonas: ecodesign, meio ambiente e sustentabilidade?
Luiza Elayne Azevedo Luíndia *
Resumo
O Amazonas possui aproximadamente 40 hotéis de selva e, a maior ia localiza-se perto
da Estação Ecológica de Anavilhanas e da cidade de Manaus. O artigo a valia os hotéis
de selva dentro das perspectivas de eco design, respeito ao meio ambiente e promoção de
sustentabilidade. A pesquisa foi estruturada em: revisão biblio gráfica, visitas e
entrevistas com os gerentes e turistas. Como resultados se obtiveram alguns fatores
determinantes: uma minoria dos hotéis segue o formato redondo, de madeira e cobertura
de palha, como as malocas dos indígenas. Poucos utilizam passarelas elevadas. Raros
mantiveram áreas vegetais adjacentes e edificações esparsas para facilitar o acesso e a
passagem de animais. As dimensões da infraestrutura não são apropriadas à capacidade
do fluxo de turistas e não há gestão de tecnologias limpas a respe ito de: águas, esgoto,
dejetos, energia, transporte, dentre outros. A sustentabilidade econômica e ambiental de
uma atividade turística depende da habilidade da região e de seus atores sociais para
absorver os impactos das atividades sobre o meio ambiente e a cultura local. Neste
sentido, os proprietários dos hotéis de selva do Amazonas estão “insensíveis” à
fragilidade dos ambientes, à arquitetura regional, aos produtos com selo verde e, antes
de tudo, à promoção de sustentabilidade socioambiental dos loca is.
Palavras-chave: hotéis de selva, ecodesign, serviços ambientais
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O presente artigo corresponde a uma versão revisada de trabalho publicado com o mesmo título (cf.
Azevedo 2004) no VIII ENTBL - Encontro Nacional de Turismo com Base Local - 2004, Paraná.
Luiza Elayne Azevedo Luíndia é doutora em Ciências Sócioambiental, Núcleo de Altos Estudos
Amazônicos NAEA/UFPA, jornalista e professora do Departamento de Comunicação Social da
Universidade Federal do Amazonas (Ufam)
E.mail: [email protected]; [email protected]
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INTRODUÇÃO
Os hotéis de selva ou lodges no Amazonas, aproximadamente em número de 40 e
com sua maioria localizada cerca da Estação Ecológica de Anavilhanas e da cidade de
Manaus são um meio de alojamento alternativo, principalmente, para estrangeiros. Estes
empreendimentos mesmo com um alto custo de instalação, têm se relevado rentáveis,
existindo uma demanda consi derável para este produto “confortável e ambientalmente
correto”.
A Lei Federal n˚ 6.505, de 13 de dezembro de 1977 regulamentou os tipos de Meio
de Hospedagem de Turismo Ambiental e Ecológico ( Lodges) e, em seu Art. 2, capítulo
IV, especifica o seguinte: “deve-se oferecer aos usuários instalações, equipamentos e
serviços simplificados, próprios ou contratados, destinados ao transporte para o local,
hospedagem, alimentação e programas voltados à integração com o meio ambiente e o
seu aproveitamento turístico”.
Ainda, pela Normativa n˚ 364, de 6 de agosto de 1996, da Embratur, deve se também:
“facilitar a circulação de portadores de deficiência, prezar pela saúde e higiene do
ambiente, garantir a iluminação natural e ventilação adequada, ter um sistema de
abastecimento, tratamento e filtragem de água, além do tratamento de resíduos e outras
exigências.”
Em termos de legislação, o Brasil se encontra entre os mais avançados países do
mundo ao criarem a maior jurisprudência para controle e preservação dos recursos
naturais. Entretanto, as leis criadas não foram acompanhadas de mecanismos e
fiscalização eficientes para garantirem meio ambiente saudável.
Portanto, a lei sobre os Meios de Hospedagem de Turismo Ambiental e Ecológico
não assegura projetos dedicados à conservação e à proteção do meio ambiente, visto em
grande parte as experiências localizadas em zonas costeiras, fluviais, urbanas e áreas
situadas ou próximas de Unidades de Conservação . Para a construção das instalações e
desenvolvimento das atividades turís ticas não se percebe avaliação dos impactos
ambientais e a implementação de projetos de paisagismo que busque a ecoeficiencia das
infraestrutura com o ambiente e a flora originais. Indaga-se, portanto, em que condições
há investimentos em proporcionar o us o de tecnologias de baixo impacto e serviços
ambientais sustentáveis?
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O artigo avalia dois hotéis de selva, Ariaú Towers, no Amazonas e o Ecolodge
Kapawi no Equador dentro das seguintes perspectivas: utilização de ecodesign,
aplicação de práticas ambientais no planejamento, instalações e desenvolvimento das
atividades turísticas, serviços ambientais através de formas renováveis de energia, coleta
seletiva de lixo e reciclagem, uso de tecnologia de ponta nos motores , tratamento de
água, esgoto e dejetos e reutilização de materiais. A pesquisa foi estruturada a partir de
revisão bibliográfica, visitas, observação participante e entrevistas com os gerentes e
turistas.
Lodges, fluxo e mercado no Amazonas e no Equador
Os lodges, palavra de origem inglesa, têm como significado “casa do guarda”, sendo
denominada aos pequenos alojamentos situados em áreas protegidas do Kenia e que
objetivavam atender a um número reduzido de turistas. Segundo Peréz de las Heras
(1998) desde os primeiros lodges até os dias de hoje, a gama de alojamentos para
ecoturismo tem se ampliado tanto, de tal forma, que se torna impossível falar de
características dos ecolodge em geral.
Tais alojamentos têm evoluído para desde hotéis de cinco estrelas, a exemplo dos
ecoresort à beira mar, localizados no Brasil (Bahia), Costa Rica e Belize, a cabanas
confortáveis e com no Peru, Equador e Brasil, especificamente no Amazonas e no
Pantanal. Os lodges voltados ao segmento soft, onde se incluem o Araú Towers e
Kapawi são construídos em madeira, palha e adobe, habitações com banheiro privado
com ducha quente, transporte e logística apropriados, uso de eletroeletrônicos,
ventiladores, bebidas geladas, cozinha de padrão regional e internacional, espaço de
descanso e socialização, pequena biblioteca com livros e mapas sobre a região, botes
equipados com motores de alta potência, traslado desde o aeroporto para os estrangeiros,
guias bilíngües e, até heliportos ( Ariau Towers-Am).
Dentre os atrativos estão passeios etnobotânicos, visitas às comunidades, observação
de aves e animais, fotografias, pesca, passeios de canoa, focagem de jacaré e venda de
artesanato. Tanto no Brasil quanto na Costa Rica e Equador os lodges atendem a um
segmento de mercado muito próspero de estrangeiros, pessoas de alto poder aquisitivo,
com instrução a nível superior, com estilo de vida ao consumo de produtos verdes.
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Na ótica da WWF (2003) o mercado corresponde ao perfil de pessoas interessadas
em viagens na natureza em ambientes frágeis. Para Wepler Wood (2002, 2003) são
independentes, experientes, com nível superior e com alto poder aquisitivo, evitam os
pacotes de férias normais, viajam sozinhos ou em dupla e a maioria é do sexo feminino.
Em grande parte, são motivados por experimentarem aventura s e/ou algo novo no
mercado.
Conforme McKercher (2002) estima-se o crescimento deste mercado entre 10% a
30% ano no mundo. Estimativas gerais sobre o mercado do ecoturismo no Brasil
apresentam cerca de meio milhão de pessoas em todo país, com crescimento a nual de
10%; enquanto, pesquisas da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estipulam 6% ao ano.
Segundo Kinker (2002) a participação do Brasil nesse mercado ainda é muito
pequena, considerando que o país tem potencial para desenvolver vários segmentos do
turismo de natureza. Ressalta-se, portanto, a dificuldade de saber com exatidão a
grandeza desse mercado. Contudo, o ecoturismo teve seu crescimento acelerado em
países, apenas, que conseguiram demonstrar legislações e regulamentos mais eficientes,
a exemplo da Austrália, Costa Rica e do Equador (Azevedo, 2005).
Para a WWF (2003), o crescimento do ecoturismo no Brasil é interessante e ao
mesmo tempo preocupante: os princípios de conservação e benefício comunitário não
seguem a velocidade de sua disseminaç ão e crescimento como negócio, no tocante à
fragilidade de ambientes e comunidades diretamente envolvidas e às dificuldades
humanas e materiais dos diferentes órgãos públicos responsáveis pelo controle da
atividade.
Recentemente, o Brasil tem recebid o poucos estrangeiros, principalmente, norte americanos e canadenses, em virtude, do marketing de visibilidade e do processo de
certificação desenvolvidos por empresas privadas e govern amentais em torno da
Austrália, da Costa Rica e do Equador (WWF, 2003).
Na Amazônia, a partir de 1997 foi instituída oficialmente a Política de Ecoturismo da
Amazônia, responsável pelo delineamento d os primeiro passos à implantação do
Programa de Desenvolvimento do Ecoturismo da Amazônia Legal (PROECOTUR). Seu
objetivo era de transformar os recursos naturais da Amazônia em produto de forma a
garantir-lhe desenvolvimento sustentável, criar condições para o setor privado investir
com segurança e formatar produtos e roteiros competitivos internacionalmente.
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No início, procurou atrair a classe empresarial e também melhorar a qualidade de
vida da população local ; em seguida, trabalhou com a perspectiva de realizar
capacitação para as comunidades envolvidas .
De
acordo
com
os
resultados
da
Empresa
Amazonense
de
Turism o
(NGP/Amazonastur, 2006) nos municípios do Amazonas se destacam a realização de
associações e movimentos de sensibilização a respeito da atividade turística e propostas
de novos empreendimentos turísticos na região. O convênio se extingue em agosto de
2007, entretanto, independente da ausência de continuidade do programa, o ecoturismo
já foi semeado, possibilitando, assim, sua proliferação em diversas localidades da região.
Contrariando o otimismo do órgão estadual de turismo, se argumenta os seguintes
fatores: apesar do Amazonas ser o primeiro estado do Brasil a dispor de hotéis de selva
e ter recebido em 1996, através do Ministério do Meio Ambiente, o título como Estado
de Referência para o Ecoturismo , há uma clara ausência de um Plano Estratégico
visando a estabelecer Diagnósticos, Ações, Programas , Regulamentações e o processo
de certificação destinados ao desenvolvimento de práticas mais sustentáveis dos hotéis
de selva da região.
O Plano deveria ser voltado à formação e à capacitação dos proprietários dos hotéis
de selva para uma necessária mudança dos índices de desempenho através de processos
de certificação, da implantação de serviços ambientais para reduzir os impactos
decorrentes das instalações e atividades, da significativa melhoria d os padrões de
atendimento e qualidade dos produtos ecológicos já existentes e dos futuros .
Assim, este processo implica em mecanismos de certificação, aplicação de
programas ambientais, fiscalização, estratégias de marketing, oferta de produtos e
serviços qualificados e diferenciais, investimentos na conservação dos ambientes,
capacitação e melhoria na qualidade de vida dos locais.
Na ausência destes mecanismos, os hotéis de selva no Amazonas vêm apresentando
diminuição considerável de visitante s. Segundo indicadores da Amazonastur , os
melhores anos foram 2001: 36.635; 2002: 25.413; em seguida, há uma diminuição
relevante, com um pequeno crescimento em 2004, 17.872.
Conforme Azevedo (2005) os maiores empecilhos à expansão dessa atividade
tanto no Amazonas quanto no Mato Grosso do Sul são os altos preços das passagens
aéreas, a ausência de vôos diretos e os custos de logística, estes nem sempre
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proporcionais à qualidade e ao confort o dos equipamentos e serviços oferecidos.
Contudo, salienta-se que o Pantanal e Bonito já estão à frente do Amazonas, com o
início do processo de certificação em alguns empreendimentos.
Na América Latina, especificamente, no Equador, Peru e Bolívia, e m resposta à
demanda para o Ecoturismo com base em Comunidades (EBC), a Organização
Internacional do Trabalho (O IT) tem planejado um programa junto ao Serviço de
Desenvolvimento Empresarial (SDE) e à Rede do Turismo Sustentável ( REDTURS)
para o turismo comunitário . A rede é composta pela Bolívia, Peru e Equador e mais
recentemente, o Brasil.
De acordo com a OIT (2001) o EBC consiste na oferta de serviços aos viajantes com
alto poder aquisitivo para compartilhar experiências vivenciais com comunidades
indígenas em seu hábitat natural. Para a WWF (2003) o EBC é uma nova tendência de
turismo,
aonde
a
comunidade
tem
controle
significativo,
envolvimento,
desenvolvimento, administração e os benefícios permanecem no local.
O EBC foi uma estratégia de turismo desenvolvida nos anos 90 com as etnias
Kichwa (Napo e Pastaza), Huaorani, Cofan, Ashuar na Amazônia equatoriana; estes
povos se especializaram em mostrar seus modos prod utivos e reprodutivos. Segundo a
Coordenação COICA/CONFENIAE, 1993) é um tipo de turismo localizado em terras
indígenas, operado pelos povos, organizações e federações indígenas em parceria com
organismos internacionais e Ong’s visando à conservação de territórios e da cultura.
Servem para enfrentar a pressão acelerada sobre terras indígenas por parte de petroleiras
e mineradoras e organizar as atividades de turismo desenvolvidas de modo
desorganizado.
No Equador, conforme Wesche e Drumm (1999) e Smith (2002) o ecoturismo
começou oficialmente em 1969, nas Ilhas Galápagos, com ênfase na sua proteção e
conservação. Na Amazônia equatorian a, começou em 1976 em Limoncocha, através do
Instituto Lingüístico de Verão. Napo e Coca se constituem as regiões mais propícias do
desenvolvimento de atividade de ecoturismo por apresenta rem abundantes recursos
naturais, áreas de conservação e população i ndígena. Atualmente, as atividades de
ecoturismo na Amazônia equatoriana, se centralizam em 72% dos projetos de EBC.
Ecodesign x hotéis de selva
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Segundo Peréz de las Heras (1999) tendo-se em conta os diferentes tipos de
ecoturistas e seus gostos e exigências, o mais importante é conseguir o mínimo de
impacto ambiental possível e conforto adequado dependendo das expectativas e das
necessidades dos visitantes potenciais. D estaca, ainda, um conjunto de medidas
necessárias para o desenvolvimento de infraestruturas sustentáveis, a saber:
a) construções simples que não rompam com a harmonia do lugar;
b) utilização de materiais regionais;
c) o estilo das construções deve se assemelhar às casas dos residentes;
d) a construção deve ser em lugare s escondidos da passagem dos animais;
e) as facilidades turísticas devem se localizar próximas entre si;
f) evitar a construção em lugares situados no curso natural de rios;
g) uso de ecodesign para uma melhor sustentabilidade em todas as instalaç ões.
Segundo Andersen (1990) proporcionar um alojamento confortável, com baixo
impacto ecológico é a chave de sucesso de instalações ecoturísticas, porém estas
deveriam também servir como “janelas para o mundo natural e como meios para
conhecer e compreender a natureza”. Dentro desta perspectiva, acrescenta ser necessári a
certa “sensibilidade” dos responsáveis como arquitetos, construtores e gestores
objetivando conseguir instalações compatíveis com os frágeis limites da natureza.
O autor declara, ainda, serem necessários códigos de ética ambiental e de critérios
gerais para projetos em ecoturismo, pois estes são passos positivos para garantir que
essa sensibilização esteja de fato, presente.
Endossa-se a proposta acima e utilizando-a para se estabelecer um paralelo entre
alojamentos com baixo impacto ecológico e a dimensão de ecodesign, entendida, a
partir da concepção de Fiksel (1996) ao salientar que o projeto deve ter respeito aos
objetivos ambientais, de saúde e segurança, ao longo de todo ciclo de vida de um
produto ou processo, tornando -os ecoeficientes.
Segundo Fiksel (1996) o ecodesign possui duas vertentes: a ecoeficiência e a
ecocidadania. A ecoeficiência objetiva promover um sentido de melhoria econômica das
empresas ao eliminarem resíduos e ao usar os recursos de forma mais coerente . As
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empresas ecoeficientes reduz em custos, mais competitivas, obtêm vantagens em novos
mercados, utiliza tecnologias limpas e segue conceito do “ciclo de vida” do produto de
maneira ecologicamente correta do nascimento ao descarte.
A segunda vertente, a ecocidadania diz respeito ao uso do design de objetos na
utilização de resíduos ou materiais recicláveis ou de exploração sustentável, para
compor peças com identidade regional. O eco design significa uma mudança de
mentalidade, representando desse modo, a materialização de uma estratégia de início de
processo. Portanto, concebe-se um produto não somente como um conjunto de
elementos tangíveis, mas também com um agrega do de serviços que ajudarão ao
consumidor na satisfação de suas necessidades e desejos.
Verifica-se, então, que ecoeficiência e a ecocidadania estão interligadas aos
princípios do ecoturismo, pois o conjunto visa proporcionar o envolvimento das
comunidades e melhoria da qua lidade de vida local, reduzindo os impactos ambientais.
O ecodesign quando aplicado às instalações ecoturísticas pode contribuir muito para
criar um cenário propício e favorável aos objetivos de conservação e geração de
qualidade de vida tanto para o turista quanto para o residente.
A partir das concepções de Anderson (1990), de Fiskel (1996), se estabeleceu oito
critérios de ecoeficiência e ecocidadania para instalações ecoturísticas dos projetos
pesquisados, descritas a seguir:
1. Uso de zoneamento econômico ecológico: aplicação de modelos planejamento e
gestão de localidades; de controle de visitação; limites no acesso a determinadas áreas
no período de reprodução das espécies ; distância mínima à observação de animais;
capacidade de carga com instalação de pontos de acesso e recepções para o c ontrole do
número de visitantes; caminhos sinalizados e uso de passarelas;
2. Instalações de alojamentos adequados à localidade: a arquitetura seguirá a realidade
regional, utilizará materiais e mão -de-obra locais. Uso de madeira local e/ou de madeira
certificada, pesquisa de ocorrência de enchentes, das condições climáticas, das
condições adequadas de solo e de sua capacidade de suportar edificações ; instalação de
torres e postos de observação de animais;
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3. Usos de técnicas de gestão de consu mo de água e produção de esgot os adequados ao
meio ambiente: os filtros podem ser sistemas alternativos para reduzir o escoamento de
sedimentos e entulhos. As fontes potenciais de som ou mau odor devem ser examinados;
deve-se utilizar reciclagem e reutilização de toalhas e lençóis para reduzir o consumo de
água, sabão e energia;
4. Usos de formas renováveis de energia: utilização de formas renováveis de energia s
(solar, bio e hídrica) e aplicação de instrumentos de c ontenção de energia. A iluminação
externa do local deve ser limitada e controlada a fim de se evitar interferência nos
ritmos dos animais;
5. Desenvolvimentos de sistemas de transportes mais ecológicos: os transportes devem
respeitar os ambientes, proporcionar soluções alternativas para a redução de emissão de
gases e de ruídos; estímulo de motores com tecnologia de ponta;
6. Utilização de trilhas e caminhos existente s à prática de trekking: a construção de
trilhas deverá considerar a excessiva destruiçã o da vegetação, incluir curvas para torná las mais atrativas, com extensão regular e com construção circular, para que os turistas
regressem ao ponto de partida por outra área e não passem duas vezes pelo mesmo sítio .
Localização e natureza dos empreendi mentos
Ariaú Amazon Towers
O Ariaú Amazon Towers foi inaugurado em 1987, é de caráter privado e se localiza a
60 quilômetros noroeste de Manaus (AM), ao longo da margem direita do Rio Negro,
no Parque Nacional do Rio Negro e no começo do Arquipé lago das Anavilhanas. O
hotel é acessível por barco regional (2 horas), helicóptero (15 min.) e lancha rápida (50
min.). O hotel é considerado o maior do mundo e conhecido por ser o “hotel na copa das
árvores”, possui 269 unidades habitacionais (apartament os e suítes) em palafitas,
interligados por um sistema passarelas à altura da copa das árvores , com quase oito
quilômetros. Possui 08 torres e as “fantásticas casas do Tarzan”.
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Dispõe, ainda, de uma estrutura de lazer e entretenimento (sala de ginástica, piscina,
salões de convenções, fitness, salão de beleza quadra de futebol society, pista de cooper
e caminhada através dos 8 Km de passarelas) além de restaurantes, bares, cyber café,
bicicletas, carrinhos elétricos (golf cards), helicópteros, lanchas, canoas, barcos
regionais, iate com 42 metros.
Ecolodge Kapawi
Kapawi foi construído em 1993, pertence à empresa privada de ecoturismo
Canodros S.A. e à Federação Indígena de Nacionalidades Achuar do Equador (FINAE)
se localiza no rio Capahuari, dentro de um bosque úmido tropical com ambientes de
várzea, combinando difícil aces sibilidade e logística. O lodge é acessível por via área
Quito-Shell (1 h), 15 min. em bote, caminhada de 10 min. O s atrativos naturais e
culturais estão baseados nos a ntigos e atuais modos de produção e reproduç ão dos
Achuar: visita as comunidades, jardim de plantas medicinais, caminhadas etnobotânicas,
navegação e banho no rio, focagem de jacaré, ch amamismo, jogos de arco e flecha,
artesanato, visita aos saladeros 1 e observação de animais e aves. Sua ênfase é na
observação de animais (nutria gigante), 11 espé cies de macacos inventariados e mais de
562 espécies de aves.
A infraestrutura turística (20 cabanas duplas e triplas com capacidade máxima de 50
turistas) utilizou uma combinação de técnicas de ecoalbergues confortáveis com
materiais tradicionais e tecnologias de baixo impacto ambiental com banho privado,
ducha quente, eletricidade proporcionada por um sistema de painéis solares. Cada
habitação possui uma varanda, com mesa e cadeiras e redes. Os serviços incluem
comida internacional e local, lavanderia, exibição de vídeos, amplo espaço para
descansar e socializar, bebidas internaciona is e típicas, livros e mapas sobre a historia e
cultura da região.
O projeto tem desenvolvido um conjunto de medidas para controlar e reduzir os
impactos negativos do turismo: as atividades turísticas e as instalações turísticas estão
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Locais à beira de rio onde araras, papagaios e periquitos vão comer os minerais contidos na argila ; no Peru se
utiliza o termo collpas
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longe da área de ocupação intensiva indígena ; aplicação de sistema híbrido de
eletricidade (painéis solares e baterias de última geração); os resíduos plásticos,
metálicos e baterias são levados de avião para Shell -Mera; o papel é incinerado e o
resíduo orgânico é enterrado; todos os motores de popa são de 4 tempos ou elétricos;
80% da energia são provenientes de painéis solares; uso de água da chuva para o banho
e rega das plantas; tratamento de água y e dejetos; separação de lixo, uso de produtos
biodesagradáveis e um código de comportam ento e
proibições.
Todo lodge está
equipado com um sistema híbrido de energia solar e um gerador a diesel. Os 75 watts
são obtidos de painéis solares que cobrem em 60% das necessidades de energia do lodge.
As duchas têm água quente oriunda do sist ema de energia solar, proporcionan
diariamente 5 galões de água dependendo das condições do clima.
O lodge foi construído à beira do Lago Kapawi para minimizar o impacto da
vegetação ciliar, das cabanas foram construídas sobre palafitas de madeira, as águas
residuais cumprem um processo de drenagem de três passo s (primeiro em uma piscina
escura), o excesso é drena do para uma segunda e resto, a ú ltima, onde finalmente é
bombeada. Por último se levadura por el suelo para acelerar la descomposición.
Resultados
Na verdade, as restrições no orçamento rarame nte permitem a participação de
projetistas competentes. O tamanho limitado de um empreendimento ecoturístico típico
exclui a participação de grandes corporações hoteleiras, colocando as tarefas de projeto
e construção nas mãos de pequenos empreendedores. O característico enfoque “prático
e simples” na gestão de instalações para o ecoturismo é prova cabal de que as
construções podem adaptar -se às mudanças do ambiente natural para o qual elas
oferecem sucesso. Os tradicionais hotéis de primeira classe precis ar ter, no mínimo 50
apartamentos para compensar os gastos com funcionários e infraestrutura. Já um
pequeno proprietário pode sobreviver economicamente e aplicar recursos em serviços
ambientais com vinte habitações, como requer o principio do ecoturismo???
O ideal é que a instalação ecoturística seja criada a partir do diálogo entre a
comunidade local e o empreendedor por três motivos: o conhecimento cultural
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ecológico da população local pode contribuir para o projeto; é importante fomentar a
participação e os benefícios locais para assegurar apoio, em longo prazo para o
ecoturismo; a participação dos moradores para reduzir impactos culturais negativos.
Também
é importante trabalhar o máximo possível dentro da estrutura da
comunidade/cultura, reconhece ndo os valores da população local, bem como o tipo e a
disponibilidade de recursos humanos na região.
Conclusões
Atualmente, grande parte dos lodges atende ao perfil soft, consumidores interessados
em um ambiente privado, com conforto e acessibilidad e através de logística própria do
empreendimento, mas rodeado de “paisagens”, animais e aves, a maioria dificilmente de
serem contempladas em outros ambientes, a exemplo da lontra, do boto cor de rosa,
capivara, anta, araras, louros e periquitos das mais v ariadas espécies, dentre outros.
A arquitetura, em geral, rompe com a ecologia e opta por recintos fechados à
paisagem e pelo uso de mobílias industrializadas. Geradores barulhentos movimentam
os eletroeletrônicos e a iluminação noturna. O desmatamento da mata ciliar no entorno,
o assoreamento e poluição de rios através de refugos demonstram a ausência de
tratamento adequado aos detritos.
Uma minoria dos hotéis segue o formato redondo, de madeira e cobertura de
palha, como as malocas dos indígenas. A maior ia utiliza o formato quadrado, de
madeira e telha de amianto. Poucos utilizam passarelas elevadas. As madeiras utilizadas
não têm selo verde, com exceção da Pousada Aldeia dos Lagos. Raros mantiveram áreas
vegetais adjacentes e edificações esparsas para fa cilitar o acesso e a passagem de
animais. As dimensões ultrapassam 20 habitações. Os banhos não foram colocados
longe das cabanas para se assegurar que as águas servidas não entrem nos rios ou
quebradas.
As comunidades já habitavam as localidades e, raramente, envolvida, o único
auxilio é na venda de artesanato. Com a exploração do turismo iniciada após construção
de hotéis de selva, alguns comunitários passaram a se dedicar mais à fabricação de
artesanato para serem comercializados aos turistas. Apesar da introdução de uma nova
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fonte de renda não houve mudanças significativas na melhoria da qualidade de vida da
população em relação ao acesso à educação, à saúde, à capacitação e à cidadania.
Dos hotéis pesquisados, a Pousada Ecológica Aldeia dos Lagos, em Silves
destaca-se pelo viés da sustentabilidade. Na maioria, constatou -se: arquitetura nociva à
ecologia, ausência de infraestrutura adequada, não -oferta de serviços de qualidade,
mínima capacitação de recursos humanos, alto custo dos pacotes, roteiros ‘ig uais’,
pouca divulgação, subempregos para os locais, ausência de zoneamento econômico
ecológico e de um estudo dos impactos socioculturais, falta de tratamento dos detritos e
não efetiva participação das populações. Esses elementos reforçam a noção de que a
natureza é mercantilizada, apenas, como um “meio” que dá oportunidade de uma
minoria ter uma relativa experiência com as culturas e povos diferentes, sem que o
referido processo traga efetivamente benefícios p ara as populações receptoras.
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