Patricia Faermann – Rudge Ramos Jornal

4 - Rudge Ramos Jornal
meio ambiente
sexta-feira - 13 de maio de 2011
Fotos: patrícia faerman/RRj
Veículo movido a
hidrogênio precorre
trechos do Corredor Metropolitano
ABD,entre São Bernardo e Diadema
Ônibus a hidrogênio já transporta
passageiros na região
PATRICIA FAERMANN
q Sem poluir, um ônibus
movido a hidrogênio já transita
comercialmente em trechos do
Corredor Metropolitano ABD. Do
escapamento, não sai fumaça
preta, mas vapor d’água. O projeto foi desenvolvido pela empresa
EMTU/SP (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos),
com recursos do Ministério das
Minas e Energia e das Nações
Unidas, por meio da GEF (Global
Environmental Facility) e da Finep (Financiadora de Estudos e
Projetos). Para o programa foram
destinados US$ 16 milhões.
Desde a fase inicial de testes,
no final de 2009, o veículo já
percorreu cerca de 7.800 km.
Em dezembro do ano passado,
o ônibus passou a circular co-
mercialmente, conduzindo, até
hoje, aproximadamente 1.200
passageiros.
O Corredor Metropolitano
ABD liga São Mateus, na zona
Leste, ao Jabaquara, na zona
Sul de São Paulo, passando por
Mauá, Santo André, São Bernardo e Diadema. Apesar de já
prestar serviço nesse corredor, o
veículo percorre trechos curtos,
de Diadema a São Bernardo.
Cada vez que o veículo sai
para rodar, retorna à sede da
EMTU, em São Bernardo, para
recolher e analisar os dados de
funcionamento mecânico e operacionais, como o consumo de
hidrogênio e o gasto financeiro.
“Nós escolhemos esse trecho
porque é o que tem as características adequadas para testarmos essa tecnologia”, afirmou
o gerente de Desenvolvimento e
Planejamento da EMTU-SP, Ivan
Carlos Regina.
Além desse, outros três ônibus, construídos com estrutura
otimizada para uso comercial,
estão em fase de aquisição. De
acordo com o gerente, os veículos deverão ficar prontos para
operar em 15 meses. “Este é um
protótipo porque é o primeiro
que foi feito. Os outros três nós
chamamos de cabeça de série:
já começa em um regime de
produção, que permita depois a
compra em larga escala.”
Estados Unidos, Canadá,
Japão e Alemanha já possuem
a tecnologia. O Brasil é um dos
cinco países e o único do Hemisfério Sul a dominar a técnica.
Apesar de possuir peças importadas, o projeto de engenharia
deste ônibus é genuinamente
brasileiro.
O modelo de veículo que
mais se assemelha ao do Brasil
é o alemão, que custou US$ 2,5
milhões. O objetivo é alcançar
menor custo. As próximas três
compras serão as mais baratas
do mundo: US$ 1 milhão por
veículo.
A produção em nível industrial poderá baratear o custo, por
meio da nacionalização de componentes do ônibus. A EMTU/
SP declarou que o processo de
nacionalização já está em andamento.
Quando se trata de econo-
Online
mia, a opção de transporte não é a mais
rentável. Comparativamente, para rodar 100
km, são necessários 50
litros de diesel no ônibus convencional. Com
a mesma distância, é
preciso 15 kg de hidrogênio. O preço, porém, é
aproximadamente 50%
mais caro.
Segundo o analista
técnico do projeto, Marcos Lopes, cada vez que
abastecido, é capaz de andar
300 km por dia, enquanto que
o transporte a diesel percorre
cerca de 220 km diários. “Ele só
tem um custo um pouco maior
porque não existe em escala
comercial ainda”, disse.
Além disso, de acordo com o
analista técnico, a manutenção
eletrônica do ônibus é mais sofisticada que a dos veículos convencionais. Em contrapartida,
ele estima que a durabilidade é
grande e o investimento fornecido pela ONU (Organização das
Nações Unidas) cobre a reposição de peças eletrônicas durante
a vida útil do transporte. “A economia está na correção de saúde
no futuro: isso justifica qualquer
investimento”, afirmou.
O baixo nível de ruídos
é outra vantagem do ônibus
movido a hidrogênio. A motorista da empresa Metra (Sistema
Metropolitano de Transportes) Andrea Maria Fazolin é
a primeira mulher do mundo
q Reportagem do RRJ andou no ônibus para conhecer o sistema. Assista no www.metodista.br/rronline
a dirigir o veículo e
percebe diferença na
novidade tecnológica.
“A gente sente que ele
é mais leve.”
A funcionária pública Edna Dias da
Silva Oliveira utiliza
os ônibus dessa linha,
pelo menos uma vez
por semana, para ir à
consulta médica. Na
primeira vez que utilizou esse transporte, sentiu diferenças.
“É mais macio para
andar e tem pouco
barulho, menos que
os outros.” A promotora Mariângela
Gomes dos Santos também
achou o veículo silencioso e
mais confortável. Mas não é
a primeira vez ela que ouviu
falar no transporte. “Outro
dia minha filha fez um trabalho para a escola sobre o
meio ambiente. Pesquisando
na internet, encontramos
esse ônibus. Falei para ela
que, em um final de semana,
vamos andar com ele. Mas eu
não sabia que já estava em
circulação. Gostei muito.”
patrícia faerman/RRj
q Proprietários de veículos
movidos a diesel podem levar
os automóveis para a inspeção
veicular gratuita que começa a
partir de segunda-feira (16) e
vai até dia 20 de maio. O projeto Orientar ocorre uma vez
por mês, durante uma semana,
em diferentes lugares de São
Bernardo.
Ao contrário da inspeção que
é realizada em São Paulo, a ação
em São Bernardo é voluntária.
Mas, de acordo com o coordenador do programa e chefe de
projetos da Secretaria de Gestão
Ambiental, Jefersson Salvador
de Moraes, a ideia é tornar a
proposta obrigatória daqui a
cerca de um ano e meio.
“Além disso, estamos trabalhando este projeto com
o Consórcio Intermunicipal
Grande ABC para fazer com
que a inspeção seja ampliada
para os sete municípios”, disse
o coordenador.
6 como funciona
8 Para se transformar em energia elétrica, o hidrogênio abastecido
passa por uma reação interna de eletrólise da água. A eletricidade
movimenta o motor, gerando energia mecânica.
8 Com esse procedimento, o veículo não emite gás de efeito estufa nem material particulado. No caso do motor a diesel, a energia
térmica é transformada em mecânica e o combustível queimado
libera resíduos poluentes.
8 Além dessa, existem outras formas para obter hidrogênio. “É o
processo mais caro, porém o mais limpo, por isso que foi escolhido
para o projeto”, disse o analista técnico, Marcos Lopes.
8 O transporte possui também três baterias de tração de alto de
sempenho, que viabiliza o veiculo operar por 40 quilômetros sem
utilizar o combustível hidrogênio, evitando gastos, por exemplo, na
hora de manobrar.
Abastecimento
O projeto do ônibus movido a hidrogênio prevê a
instalação de uma estação de
abastecimento na garagem da
EMTU/SP, em São Bernardo.
Por enquanto, a Petrobras
fornece o combustível, levando
em caminhões os cilindros da
refinaria de Cubatão até São
Bernardo.
De acordo com o gerente
de Desenvolvimento e Planejamento da EMTU-SP, a previsão
Inspeção veicular é
retomada em
São Bernardo
Caroline Garcia
Rudge Ramos Jornal - 5
meio ambiente
sexta-feira - 13 de maio de 2011
De acordo com Moraes, com
a inspeção voluntária, mais
pessoas se conscientizaram em
fazer a manutenção do veículo.
“A maioria dos proprietários
que tiveram os veículos reprovados fez os reparos e está nos
procurando novamente para
ver se o automóvel está dentro
dos padrões”, falou Moraes.
O Orientar foi implantado
em 2010 e atendeu, até este
mês, 3.476 veículos movidos
a diesel, que, segundo o coordenador, são os que têm maior
rotatividade, como caminhões e
ônibus, e, consequentemente,
são os maiores poluidores.
Segundo dados do Denatran
(Departamento Nacional de
Trânsito), até março, a frota de
São Bernardo era de 455.256
veículos, sendo que 11.145
eram caminhões, 2.145 microônibus e 3.146 ônibus.
Apesar de ser um programa
de São Bernardo, os veículos
de outros municípios também
podem ser vistoriados.
Hidrogênio é fornecido
pela Petrobras, que traz
os cilindros da refinaria de
Cubatão até São Bernardo
é que a estação esteja pronta
no começo do segundo semestre deste ano.
Segundo o gerente, a empresa canadense Hydrogenics
vem para terminar a instalação
e ensinar o uso a uma equipe
da Petrobras. g
8 Os tubos de hidrogênio comprimido ficam instalados na parte
superior do ônibus. São nove tanques de 5 kg cada, totalizando 45
kg de hidrogênio. Essa quantidade possibilita que se percorra uma
distância de até 300 km.
8 O veículo tem características estruturais para rodar em corredores metropolitanos, com três portas no lado direito, além de distância entre eixos maior que os veículos convencionais, não sendo
possível circular em trânsito compartilhado.
8 De acordo com Lopes, esse ônibus com tração elétrica tem
melhor rendimento que a de um veículo a diesel e os equipamentos mais modernos embarcados. E para a segurança, dispositivos
de armamento foram instalados dentro do transporte. “É tão seguro
quanto o carro. Os riscos são os mesmos.”
Arquivo/RRJ
Programa atende, gratuitamente, proprietários de veículos a diesel a partir de segunda-feira
serviço:
Inspeção veicular - de 16 a
20 de maio, na avenida do Taboão, altura do nº 555. g
Online
q Site www.metodista.br/rronline traz
lista com datas da inspeção veicular
até o final do ano