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Transcrição

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VidaBosch
abril | maio | junho de 2015 • nº 39
Recicle a informação: passe esta revista adiante
Furor bem
temperado
Na moto, chef
Henrique Fogaça
deixa de lado sua
fama de bad boy
Alexandre Schneider
Receita de refúgio
Cinco princípios
que não podem
faltar em uma casa
de campo
editorial
Chefs para
preparar
nosso aperitivo
Ao longo das últimas 38 edições, você
se acostumou a ler reportagens em que
personalidades falavam sobre os carros
que tiveram, os carros que dirigiam. Desta
vez, decidimos mudar um pouco. O entrevistado, Henrique Fogaça, do reality
show MasterChef (TV Bandeirantes), até
tem um automóvel, que usa para viajar
com a família. Mas o que ele curte mesmo é moto. Sobre esse universo (e sobre
sua Harley-Davidson) ele conversou com
a VidaBosch, como você verá em eu e
minha moto.
Falou em chef? Outra novidade desta
edição envolve justamente as receitas
tradicionalmente publicadas nas páginas finais da revista, em saudável e gostoso. A partir de agora, as delícias virão
de cozinheiras especialmente antenadas:
as que mantêm blog de culinária. Na estreia, Gabriela Rossi (Blog do Bom Gosto)
e Juliana Gonçalez (Limão com Alecrim)
dão dicas para fazer pratos irrecusáveis
de salmão.
Outra pequena alteração aparece em viagem. O tema, desta vez, não é propriamente um destino, mas um caminho: a
Estrada da Graciosa, uma das mais belas
do Brasil, via histórica que liga Curitiba
ao litoral paranaense. Esta é a ideia para
os próximos números: abordar também
estradas e roteiros em qualquer lugar
do mundo aonde seja possível chegar
de carro, moto ou até bicicleta.
Gostou? Então se prepare. Essas novidades são um aperitivo de outras mudanças que você vai saborear na VidaBosch.
Boa leitura!
14
20
30
44
Sumário
02 viagem | No Paraná, história e natureza criaram a estrada mais graciosa do Brasil
08 eu e minha moto | Henrique Fogaça, um easy rider na cozinha e nas estradas
10 torque e potência | Montadoras apostam nos SUVs para continuar crescendo
14 em casa | Os segredos para criar um refúgio aconchegante e seguro no campo
20 tendências | Impressoras 3D abrem caminho para uma nova revolução industrial
26 grandes obras | Vila Olímpica do RJ quer ser a mais sofisticada da história dos Jogos
30 Brasil cresce | Tecnologia no campo mantém café brasileiro no topo do mundo
36 atitude cidadã | Empresas investem em parcerias com as comunidades onde atuam
40 aquilo deu nisso | Há 30 anos, Bosch abria caminho para surgimento dos carros flex
44 saudável e gostoso | Salmão se populariza e vira um hit na mesa do brasileiro
Expediente
VidaBosch é uma publicação trimestral da Robert Bosch Ltda., desenvolvida pelo departamento de Marketing e
Comunicação Corporativa. Se tiver dúvidas, reclamações ou sugestões, fale com o SAC Bosch: 0800-7045446 ou
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Produção, reportagem e edição: Pri­maPagina (www.primapagina.com.br), tel. (11) 3512-2100 / vidabosch@prima
pagina.com.br • Projeto gráfico, direção de arte e diagramação: Buono Disegno (cargocollective.com/buonodisegno),
tel. (11) 3512-2122 • Tratamento de imagem: Paulo Lopes • Acompanhamento gráfico: Paulo Lopes • Impressão:
Gráfica Mundo • Revisão: Marcelo Moura
viagem
| Por Walterson Sardenberg Sº
Marcos Guerra
2 | VidaBosch |
Quando o caminho é o
Na viagem entre Curitiba e o litoral paranaense, a maior atração é o próprio
principal destino
trajeto: a Estrada da Graciosa, uma das mais bonitas do Brasil
te deste caminho sinuoso ainda é calçado
por paralelepípedos, tal como nos idos em
que foi inaugurado, no ano de 1873. Se esta pavimentação obriga a dirigir com mais
atenção e menos velocidade, também remonta aos tempos do império. A Graciosa é
testemunha da história, e uma participante
ativa dela, aliás. Em 20 de maio de 1880, o
imperador Dom Pedro 2º, em pessoa, acompanhado da mulher, Thereza Christina, e
de uma comitiva de sete carros movidos
por tração animal, subiu a estrada, rumo a
Curitiba. À época, o Paraná somava apenas
150 mil habitantes.
A trilha começou a ser destrinchada
ainda no século 16, por índios, jesuítas
e os primeiros colonizadores. Cem anos
mais tarde, tornou-se fundamental para
os chamados tropeiros — pioneiros que
levavam, em tropas (daí o nome), víveres
e artigos em geral das regiões produtoras
aos consumidores. No início do século 19,
a atividade incrementou-se. A Graciosa
passou a servir de rota sistemática para
o escoamento da produção de erva-mate, madeira e, mais tarde, de café para os
A via tortuosa ainda conserva
trechos em paralelepípedo,
como os da época em que foi
inaugurada, em 1873
portos de Antonina e Paranaguá. Em 1853,
quando foi designado governador (àquela altura, dizia-se presidente) do Paraná, Zacarias de Góis e Vasconcelos logo
percebeu que a pavimentação da estrada
seria essencial para a economia. E tratou
de botá-la em prática.
Na orientação das placas, a estrada também é conhecida por PR-410. Mas quem a
percorre com prazer e frequência costuma preferir o velho batismo. A Graciosa,
alguém poderia supor, deve seu nome ao
indiscutível charme com que se delineia
entre montanhas. Não é esta, porém, a origem da denominação. Ela decorre do fato
de a estrada estar encravada na Serra da
Graciosa. O conjunto de montanhas, por
sua vez, ganhou o batismo em razão de seu
formato: a serra, vista de alguns pontos
do litoral, assemelha-se à figura de uma
Dwph/Shutterstock
Estrada da Graciosa, no Paraná, liga
Quatro Barras, na região metropolitana de Curitiba, a Morretes, no litoral. Tem
pouco mais de 33 quilômetros de extensão.
Dito assim, sem adjetivos nem retoques,
parece só mais uma via rodoviária, entre
outras tantas. Mas tratá-la com tal frieza
seria uma injustiça com uma vereda que faz
muito mais do que apenas conectar — na
estrita e impessoal geografia — o planalto,
com seus 1.050 metros de altitude, ao nível
do mar, já próximo da Baía de Paranaguá.
Para quem tem alguma sensibilidade, esta
estrada única liga Curitiba ao melhor da
colorida natureza nativa. Não só. Também
vincula o Brasil moderno ao seu passado
imperial. E mais: interliga o modo de vida
agitado da atualidade a um outro sem pressa, contemplativo, com tempo livre para
estacionar o carro várias vezes no trajeto
e admirar a paisagem. A travessia, no caso,
pode ser o próprio destino — e, para muitos viajantes, funciona exatamente assim.
Embora curta, a Graciosa já foi chamada, sem favor nenhum, de “a estrada mais
bonita do Brasil”. O critério de beleza, como bem sabemos, é sempre subjetivo. Seja como for, basta lembrar que o caminho
serpenteia pela área mais preservada da
Mata Atlântica — e isso foi reconhecido pela Unesco — para começar a dar razão aos
apologistas da Graciosa. Afinal, contando
todo o litoral brasileiro, sobraram somente
7% do que havia em vegetação nativa quando o colonizador aqui jogou suas amarras.
A Graciosa é, assim, uma exceção verde
em um país no vermelho em matéria de preservação ambiental. Neste trecho, a densa
Mata Atlântica recepciona, com toda a fidalguia, a passagem de riachos e cachoeiras
límpidos. Mas o mais impressionante é a
quantidade de flores. Elas estão por quase
todo o trecho. São bromélias, hortênsias,
marias-sem-vergonha, margaridas e, em
especial, orquídeas, para ficar em apenas
cinco espécies. A Graciosa daria um tratado
botânico. Que outra rodovia do país tem
placas onde se lê “Preserve a Natureza:
Não colha flores”? Acima de tudo, eis uma
estrada que cheira bem — no sentido lato
do verbo. E não cobra pedágio!
Além da paisagem, a própria rodovia
está muito bem preservada. A maior par-
viagem | VidaBosch | 5
Luísa Henriqueta/www.laeti.com.br
A
viagem
Luísa Henriqueta/www.laeti.com.br
4 | VidaBosch |
A viagem
até Morretes
(ao alto)
pela Serra
da Graciosa
é um passeio
encantador
em meio às
flores e à bela
vegetação da
Mata Atlântica
esbelta mulher deitada. Uma índia graciosa. Assim também nascem as lendas — e as
nomenclaturas.
A Graciosa faz jus ao nome não só pela
paisagem e pela preservação, mas também
pelas intervenções pontuais da arquitetura. Ali estão alguns casarões históricos
do século 19, embora nem todos em bom
estado de conservação. Um deles, a Casa do Burro Bravo, serviu de armazém e
pousada de tropeiros, que ali amarravam
seus burros ariscos. Mais tarde, tornou-se
um refinado bordel, conhecido por Casa
das Francesas. Dalton Trevisan, o maior
escritor do Paraná — e um dos principais
do país —, faz menção ao imóvel no conto
“Em busca da Curitiba perdida”.
Em tempos mais recentes, a Estrada da
Graciosa ganhou dois parques estaduais
bem cuidados (o da Graciosa e o Roberto
Ribas Lange). Há também pontos do caminho em que se pode parar o automóvel
e contar com a estrutura de banheiros,
quiosques, churrasqueiras e mirantes. Para aproveitar tais lugares, recomenda-se
vir em dias da semana. Ou viajar bem cedo, pois, em épocas mais concorridas, as
vagas já estão preenchidas por volta das
9h30. Evidentemente, é mais fácil arrumar
espaço para estacionar carros menores.
De todo modo, a Graciosa deve ser desbravada durante o dia, até pela sua exuberância de curvas.
Estas, aliás, sucedem-se com frequência.
Algumas são tão fechadas que lembram
um cotovelo. E trata-se de uma estrada
à antiga: uma faixa sobe e a outra desce,
quase sem áreas de escape. Na chuva, o
paralelepípedo fica ainda mais deslizante
que o normal. Perigosa? Nem tanto. Não
há ônibus ou caminhões trafegando. Mas
cabe ao motorista redobrar os cuidados.
A rigor, existem seis lugares para uma
parada nesta vereda da Serra do Mar paranaense. No Engenheiro Lacerda, o primeiro ponto para quem parte de Curitiba,
foi instalado um belvedere. A partir dele
divisam-se as baías de Paranaguá e de Antonina — desde que o céu não esteja encoberto. Na segunda parada, a do Rio Cascata,
viagem
viagem | VidaBosch | 7
Onde comer
LEGENDA
Oficinas da rede
Bosch Car Service
Estrada da Graciosa
116
476
Empório do Largo | Rua Rômulo José
Pereira, 152, tel. (41) 3462-1190 — O
cenário é muito agradável: um deque
sobre um rio. Também faz sucesso a
comida. Além do barreado tradicional,
servem-se pescados e frutos do mar.
Antonina
Caçarola do Joça | Praça Romildo
G. Pereira, 42, tel. (41) 3432-1286 —
Também oferece o onipresente barreado. Mas sua cozinha é variada, com
muitos peixes e frutos do mar.
Onde ficar
Curitiba
Transamérica | Av. do Batel, 1732, tel.
(41) 3071-1700, www.transamerica.
com.br — Um hotel com excelentes instalações e quartos muito espaçosos,
mas com preço mais acessível do que
os de sua categoria. Além disso, está
cercado de bons restaurantes e bares.
Morretes
Pousada Hakuna Matata | Estrada da
Graciosa, km 5, tel. (41) 3462-2388,
www.pousadahakunamatata.com.br —
Funciona em um antigo haras, cuja
área das baias foi transformada em
amplos quartos. Fica em uma região
arborizada e aos fundos passa um rio.
Antonina
Camboa Capela | Av. Valle Porto, tel.
(41) 3432-3267, www.hotelcaboa.com.
br — Instalado em parte de um prédio
histórico à beira-mar, fica perto das
ruínas do antigo armazém do porto.
116
PR - 417
PR - 410
116
PR - 340
Curitiba
PR - 411
PR - 415
Com seu
casario
histórico e o
tradicional
barreado, a
cidade de
Morretes é uma
das atrações
ao longo da
estrada
Antonina
116
Morretes
PR - 408
277
277
376
o divertimento é uma encantadora queda
d’água. Já em Grota Funda, admira-se um
vale profundo, assim como em Bela Vista
descortinam-se, ao longe, a cidade de Paranaguá e o Pico Marumbi (1.547 metros).
Há ainda a parada na curva da Ferradura e,
por fim, o Parque Mãe Catira, onde o programa é nadar no rio. Só neste ponto, aliás,
o viajante pode banhar-se sem restrições.
Um aviso: a água costuma ser um bocado
fria — mas também revigorante.
No ano passado, chuvas fortíssimas causaram o desmoronamento de um trecho
da estrada, no quilômetro 10. Para evitar
futuros deslizamentos, uma estrutura de
concreto foi erguida, obrigando o governo
do Paraná a bloquear a rodovia por seis
meses. Por fim, os paralelepípedos foram
recolocados, para preservar o encanto e
o patrimônio. A Graciosa está novamente
tinindo — e ainda mais graciosa. O bloqueio,
no entanto, atingiu o bolso dos comerciantes de Morretes. Compreende-se. A cidade
vive, sobretudo, do turismo. Não apenas dos
que fazem o caminho de automóvel, mas
também daqueles que descem a serra de
trem, a bordo de um comboio confortável,
preparado para atender turistas.
Morretes, fundada em 1733, tem 16 mil
moradores. Seu casario histórico está razoavelmente bem preservado. Não é ele,
todavia, a principal atração. Eis o grande
chamariz: o prato mais tradicional do Paraná, o barreado, que, segundo os morretenses, teria nascido ali.
A receita consiste em cozinhar em fogo
baixo, numa panela de barro, ao longo de
ao menos 10 horas, cubos de carne de cortes menos nobres do boi — acém, músculo
e patinho — , temperados com cebola, alho,
cominho e louro. A carne se desmancha
no demorado processo de cozimento. Para isso, é preciso vedar — ou “barrear” — a
junção da panela com a tampa, utilizando
uma massa de farinha de mandioca e água.
O barreado, mesmo em versão light, continua sendo um prato pesado, o que desaconselha, depois de consumi-lo, o retorno
no mesmo dia pela Estrada da Graciosa.
A alternativa é uma rodovia moderna, a
BR-277, para retornar a Curitiba rapidamente. Mas alojar-se em Morretes ou, mais
adiante, em Antonina pode ser um desfecho perfeito. E sempre com um assunto
em pauta: a Graciosa é ou não é a estrada
mais bonita do Brasil?
A Bosch na sua vida
Curva tranquila à frente
Para aproveitar ainda mais as belezas
da Estrada da Graciosa, nada melhor do
que se preocupar o menos possível com
suas curvas sinuosas. Dirigir um carro
equipado com controle de estabilidade
faz muita diferença nessas horas. “O sistema é muito indicado, ainda mais em
viagens longas ou com muitas curvas”,
diz Alexandre Pagotto, chefe de marketing da divisão de segurança veicular da
Bosch. A empresa fabrica o Electronic
Stability Program (ESP), que se desdobra em várias funções (foto 1).
Ele faz o controle independente de cada
roda, aplicando ou retirando a pressão dos
freios. Assim, evita tanto que um pneu gire
em falso quanto que trave na frenagem.
“O ESP previne em até 80% os acidentes
por derrapagem”, destaca Pagotto. O
dispositivo também ajuda a evitar acidentes quando o piso está molhado,
algo importante na Graciosa: quando
chove, o paralelepípedo fica especial-
Arquivo Bosch
Morretes
Armazém Romanus | Rua Visconde
do Rio Branco, 41, tel. (41) 3462-1500
— O barreado é o prato mais pedido.
Aqui, a gordura das carnes é retirada
antes de levadas ao fogo. Isso torna
a receita mais leve — mas não menos
saborosa.
Luísa Henriqueta/www.laeti.com.br
6 | VidaBosch |
1
mente escorregadio.
Um sistema associado ao ESP ajuda
quando há neblina, comum nesta região
do Paraná. Trata-se do Adaptive Cruise
Control (ACC), que dispõe de radar no
para-choque (foto 2). “O equipamento
calcula a distância em relação ao veículo da frente e, se percebe que há uma
redução na velocidade, aciona os freios
automaticamente através do ESP”, explica.
O ESP inclui ainda outras funções, como
o controle de tração (TCS) e o assistente
de partida em rampa (HHC). Eles asse-
2
guram que mesmo um eventual congestionamento na Graciosa possa virar
momento de contemplação da natureza.
“Quando o carro parado precisa voltar
a andar, o TCS garante uma melhor aderência na subida, evitando derrapagens.
Se o motorista tirar o pé do freio, seja
na descida ou na subida, o HHC segura
o veículo por cerca de dois segundos
para que ele arranque e não volte para
trás”, diz Pagotto.
Para entender melhor como funciona
o ESP, acesse http://migre.me/pghI6.
eu e minha moto
| Por Frederico Kling
Piloto de
fogões e de motos
Fora da cozinha, Henrique Fogaça, um dos jurados
do MasterChef, faz jus a seu visual todo tatuado: é um
roqueiro que curte suas Harleys
O
chef Henrique Fogaça costuma dizer que suas criações gastronômicas
começam pelo visual — afinal, as pessoas
comem primeiro com os olhos. Se a primeira impressão é a que fica, quem vê o
jurado tatuado do MasterChef, reality show
de culinária da Rede Bandeirantes, pensa
que ele deve ser um motoqueiro encrenqueiro que ouve rock no último volume.
O estereótipo é quase correto. Só não vale a parte do encrenqueiro. “Sou um cara
tranquilo”, diz Fogaça.
Mas o chef não só gosta de rock, como é
vocalista da banda de hardcore Oitão, cujo
nome, aliás, ele traz tatuado de forma nada
discreta no pescoço. Já as motos surgiram
quase de forma natural para quem passou
a infância e a juventude no interior paulista. Fogaça nasceu em Piracicaba e, logo
cedo, mudou-se para Ribeirão Preto. “Eu
acho que até por uma cultura interiorana,
sempre andei muito sobre duas rodas. Costumava andar muito de bicicleta. Depois,
mais velho, de mobilete — meu pai comprou uma para mim e para o meu irmão”.
A primeira moto que comprou foi uma
Suzuki GF 500. “Era um modelo mais
esportivo. Com o tempo, fui mudando um
pouco e, quando comprei minha Harley,
mudei completamente”, diz Fogaça, que
gosta tanto da marca que tem uma HarleyDavidson 1200 e uma 1600.
“Eu gosto de motos com guidão alto, mais
para passeio mesmo. Depois que comprei
essas com esse estilo, me acostumei, agora
fica difícil de trocar”. O chef não se contenta
em ter uma Harley — quer uma que seja a
sua cara: “Costumo colocar rodas traseiras
maiores e coloridas, para-lamas cortados.
Pinto o tanque, levanto o guidão...”.
As grandes motos da fabricante norteamericana Harley-Davidson tornaram-se
um fenômeno cultural, popularizado pelo
filme “Sem destino”, de 1969, que mostrava andanças de dois motoqueiros pelas
estradas dos Estados Unidos. Em parte,
é esse espírito que o chef aprecia. “Gosto
do vento na cara e no corpo, e talvez isso
tenha a ver com a liberdade. Gosto de ser
livre”, define Fogaça, para logo acrescentar: “Mas rebeldia, não”.
O jurado da Band, no entanto, também
considera as motos muito úteis em cidades
assoladas por congestionamentos. “Uso
muito no dia a dia, principalmente por conta do trânsito de São Paulo”. Mas ele não é
de correr riscos ziguezagueando entre os
carros. “Pelo tamanho, minha moto nem
permite que eu faça isso”.
Fogaça não só evita os habituais malabarismos, como cuida periodicamente de
suas motos: “O risco para quem anda de
moto é muito grande e fica ainda maior
se você não costuma fazer manutenção”.
E é na cidade mesmo que ele mais usa sua
Harley. “Quando viajo, costumo ir com minha família, então não há como usar moto”,
explica Fogaça, casado e pai de dois filhos.
Fama
Até 2013, Fogaça era um chef famoso apenas entre os apreciadores da boa comida.
Seus estabelecimentos são um reflexo de
sua personalidade. O lado tranquilo está
presente no Sal Gastronomia, restaurante
que abriu em 2005 e que se destaca pelo
estilo sóbrio e pela cozinha contemporânea.
No andar de cima, fica o Admiral’s Place,
um bar que reproduz os ambientes dos
clubes ingleses e tem como destaque a
carta de whiskies.
Já o Cão Véio é um típico bar de rock.
O estilo predomina não só nas caixas de
som, mas até entre os sócios: além de Fogaça, estão Badauí, vocalista da banda de
hardcore CPM22, e Kichi, promoter que já
trabalhou com a banda de metal Sepultura.
Em 2014, Fogaça se tornou, ao lado de
Paola Carosella e Erick Jacquin, um dos jurados do MasterChef. O sucesso na TV mandou para o espaço o anonimato, e andar de
moto não é exatamente uma maneira eficaz
de evitar o olhar dos curiosos. “Depois do
programa, às vezes, algumas pessoas abaixam o vidro do carro e começam a gritar
‘MasterChef, MasterChef’. Acho engraçado,
é algo com que não estava acostumado”.
No programa, o chef motoqueiro ficou
marcado por ser rígido — às vezes, até ríspido –, mas capaz de se emocionar ao dizer
adeus a um eliminado. O lado rock and roll
e a face tranquila também se encontram
nas panelas: “Cozinha é pressão, correria, vontade de acertar, agilidade. Sou a
mesma pessoa dentro e fora dali. As duas
coisas se combinam”.
A Bosch na sua vida
Arquivo Bosch
Alexandre Schneider
8 | VidaBosch |
Freando sem cair
Muitos acidentes com motos acontecem quando o piloto realiza uma
frenagem de emergência e as rodas travam, causando perda de
controle. Redobrar os cuidados,
como faz Fogaça, ajuda. Mas a
tecnologia pode ser decisiva.
A Bosch oferece um sistema de
freios ABS – que evita o travamento das rodas – para motos. Antes,
esses equipamenos eram iguais
aos dos carros, com pequenas
adaptações. “Por causa do tamanho do equipamento, ele só podia
ser instalado em motos maiores.
A Bosch criou uma linha de ABS
específicos para motos – módulos
leves e pequenos, que podem ser
instalados em qualquer moto que
tenha pelo menos um freio hidráulico”, explica Alexandre Pagotto,
chefe de marketing da divisão de
segurança veicular da Bosch.
Em modelos mais simples, é possível instalar o ABS só na roda
dianteira. Para os modelos maiores, em que o ABS atua nas duas
rodas, a Bosch criou um sistema
para equalizar a força de frenagem
em ambas, o Electronic Combined
Brake System (eCBS). “Na moto,
os freios são independentes, e o
motociclista pode colocar mais
pressão em um do que no outro.
O eCBS equilibra ambos para evitar acidentes”, diz Pagotto. Para
mais informações sobre os freios
ABS da Bosch para motos, acesse
http://migre.me/pGhRJ.
torque e potência
| Por Manuel Alves Filho
TonyV3112/Shutterstock
10 | VidaBosch |
Os SUVs
estão chegando
Indústria automobilística aposta no lançamento
de novos modelos de utilitários esportivos para
continuar crescendo
A
indústria automobilística brasileira
teve um 2014 difícil. Fatores como a
diminuição do crédito ao consumidor, a
grande quantidade de feriados por causa
da Copa do Mundo e a instabilidade econômica global culminaram em uma queda
de 5,9% nas vendas de veículos fabricados
no país em comparação a 2013. Mas um
nicho específico foi na contramão e teve
desempenho digno de bandeira quadriculada: os SUVs, sigla em inglês que designa
os utilitários esportivos — automóveis que
unem a robustez dos utilitários ao conforto
e potência de carros de passeio maiores.
Atuais queridinhos dos brasileiros,
esses fora de estrada assumiram tamanha importância no mercado automotivo
nacional que provocaram uma mudança
nos critérios de classificação da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos
Automotores (Anfavea).
Até dezembro de 2014, eles eram enquadrados como veículos comerciais leves, na companhia de vans e furgões, mas
a partir de janeiro de 2015 foram deslocados para o segmento de automóveis,
o mesmo dos populares e dos sedãs. Ao
explicar a mudança, o presidente da en-
tidade, Luiz Moan, afirmou que o ajuste
foi necessário porque esses carros tornaram-se o fiel da balança na análise da
performance do setor.
Os dados de 2014 ilustram a afirmação
de Moan. Classificados como comerciais
leves, os SUVs contribuíram para o bom
resultado dessa área no ano passado: alta de 1,7% nas vendas. Já os automóveis
amargaram um declínio de 6,7% no mesmo
período, de acordo com dados da Anfavea.
O sucesso dos SUVs não é propriamente uma novidade. A última edição disponível do anuário da Federação Nacional
da Distribuição de Veículos Automotores
(Fenabrave), publicada em 2013, mostra
que o número de SUVs que ganharam as
ruas do país cresceu de modo constante
entre 2009, quando foram comercializadas
167.469 unidades, e 2013, que viu a cifra
chegar a 287.130 — um avanço de 71,45%.
Tal exuberância transformou o segmento
na grande aposta da indústria automobilística para continuar se expandindo em
um cenário de incerteza econômica. De
olho nesse mercado, várias montadoras
estão lançando neste ano no mercado brasileiro modelos novos ou repaginados de
torque e potência
torque e potência | VidaBosch | 13
whatwolf/Shutterstock
A mistura
de espaço
e potência
conquistou
o público
brasileiro
utilitários esportivos. A lista inclui desde
marcas chinesas de pouca tradição, como
Geely, Lifan, Land Wind, Chery e JAC, até
pesos-pesados como Volvo, Land Rover,
Ford, Renault, Peugeot, Honda, Toyota,
Mitsubishi e Suzuki.
O bom momento dos SUVs também
atraiu novas montadoras ao país. A Jeep
abriu este ano sua primeira fábrica no Brasil, localizada no município de Goiana, em
Pernambuco. A inauguração da planta foi
acompanhada pelo lançamento do Jeep Renegade, primeiro SUV compacto com motor a diesel no mercado nacional (ver boxe
ao lado). A pretensão da marca não é nada
modesta: liderar as vendas no segmento.
Paixão nacional e internacional
O sucesso dos SUVs não é um fenômeno
exclusivamente brasileiro. Esses carrões
foram igualmente a tábua de salvação da
indústria automobilística da Europa nos
últimos anos. De acordo com matéria publicada pelo “The Wall Street Journal”, o
mercado automotivo europeu amargou declínio entre 2007 e 2013, com exceção dos
utilitários esportivos, que apresentaram
um crescimento da ordem de 6,7% no período. Lá, um dos modelos mais populares
é bastante conhecido do consumidor brasileiro: o Ecosport, uma espécie de ícone
da categoria no país, por ter dado, por assim dizer, a arrancada para o sucesso dos
“jipinhos” modernos por aqui.
Mas qual é o segredo do sucesso dos
SUVs? No mercado brasileiro, a primeira
explicação está na falta de opções de veículos capazes de transportar uma família
com conforto e ainda oferecer um portamalas espaçoso. “Se você observar com
cuidado, vai ver que há poucos modelos
à venda com essas características, sendo
que alguns deles, como as station wagons
(peruas), representam projetos ultrapassados”, afirma o engenheiro e consultor
Paulo Pedro Aguiar Jr, sócio da Engin Engenharia Automotiva, de São Paulo.
Outros dois atrativos são o design es-
portivo e o status. “Diferentemente do que
ocorre em outros países, o automóvel no
Brasil é considerado muito mais um símbolo
de prestígio que um meio de transporte”,
avalia Aguiar Jr. Os utilitários esportivos
agradam principalmente às mulheres, que
se sentem mais seguras ao dirigir um automóvel alto — portanto, com visibilidade melhor e mais ampla que a dos demais
modelos — e de visual robusto, afirma o
experiente jornalista Antônio Fraga, membro da Associação Brasileira da Imprensa
Automotiva (Abiauto).
O consumidor, no entanto, tem de analisar detidamente os prós e contras no momento da compra de um desses “jipinhos”,
afirma o jornalista. As grandes dimensões,
por exemplo, podem dar uma sensação de
segurança, mas se tornam um problema
na hora de estacionar o carro — inclusive
em garagens de apartamentos.
Outro fator que deve ser colocado na
balança é o tipo de motor do veículo. Quem
compra um utilitário esportivo pode optar
por modelos movidos a diesel, alternativa
que não está disponível para os demais automóveis de passeio no país. Os modelos
a diesel são mais econômicos na hora de
abastecer. Por outro lado, costumam ser
mais caros. “Em relação aos motores, muita
gente considera ser vantajoso adquirir um
SUV a diesel, porque o combustível é mais
barato. Entretanto, esse carro custa cerca
de 30% a mais que os de motores flex e paga um valor de IPVA proporcionalmente
maior”, alerta Fraga.
O preço do combustível e o valor inicial, no entanto, não devem ser os únicos
critérios a serem levados em conta na hora da escolha. “O grande diferencial que
tem que ser considerado na equação é o
consumo. Em um veículo do porte de um
SUV, o motor a diesel vai consumir uma
quantidade de combustível significativamente menor do que o motor a gasolina ou
flex. As estimativas apontam uma economia que pode variar de 30% a 50%”, afirma
Mário Massagardi, diretor de engenharia
da divisão Diesel Systems da Bosch e presidente da Aprove Diesel, associação de
empresas criada em 2013 para divulgar os
benefícios da tecnologia de motores a diesel, sobretudo para veículos de passeio.
Além disso, o preço mais alto dos modelos a diesel se deve ao fato de que esses
carros são equipados com motores mais
robustos, que duram mais e que têm mais
tecnologia, acrescenta Massagardi.
A combinação entre potência e economia levou a esta onda de lançamentos de
SUVs a diesel no Brasil nos últimos anos.
Segundo Massagardi, o avanço se deve ao
esforço das montadoras para se enquadrar nas metas de consumo de combustível
estipuladas pelo programa Inovar-Auto.
Elas são facilmente atendidas por carros
pequenos, mas causam problemas para
modelos mais pesados, como os utilitários
esportivos. Assim, os motores a diesel são
uma saída para as montadoras produzirem veículos ao mesmo tempo potentes
e econômicos. “Eu interpreto essa onda
de lançamentos de SUVs a diesel que está
ocorrendo no Brasil como uma iniciativa
das montadoras para colocar uma motorização mais econômica e ter mais chances de atingir as metas do Inovar-Auto”,
conclui Massagardi.
A Bosch na sua vida
Queima eficiente
Graças a uma tecnologia de injeção desenvolvida pela Bosch e inédita no Brasil,
o Jeep Renegade chega ao país como um
dos utilitários mais econômicos e modernos do mercado. Lançado oficialmente em
10 de abril, o carro traz como principal
novidade um motor a diesel com funções
encontradas apenas nos modernos modelos europeus. “Ele é equipado com um
sistema Common Rail capaz de executar
até oito injeções por ciclo de combustão. Isso permite aproveitar da melhor
maneira todas as etapas da queima do
combustível no motor”, explica Gustavo
Castagna, chefe de desenvolvimento de
produto e coordenador do laboratório
de teste de motores da Bosch.
A otimização da queima de combustível
é realizada por uma unidade de coman-
do que faz a leitura em tempo real dos
sensores de gerenciamento do motor e
adapta o sistema de injeção às condições
de operação do carro. “Isso possibilita
corrigir a curva de trabalho do motor para que ele opere sempre da forma mais
otimizada, de acordo com as diferentes
condições a que é exposto, sejam elas
de condução ou de temperatura e altitude, por exemplo”, acrescenta Castagna.
Esses recursos permitem que os SUVs
ofereçam o conforto e o espaço valorizados pelos brasileiros, consumindo e
poluindo menos.
“No Brasil, temos uma legislação que
só permite motor a diesel em veículos
com capacidade de carga acima de uma
tonelada ou 4x4 com marcha reduzida
na transmissão. Por estes motivos, eles
são carros relativamente pesados, o que
Arquivo Bosch
12 | VidaBosch |
demanda uma adequação no motor, que
é um dos trabalhos desenvolvidos pela
Bosch”, finaliza o chefe de desenvolvimento de produto da companhia.
Saiba mais sobre o sistema Common
Rail em http://migre.me/ptnVa. Para
comparar os benefícios das versões a
gasolina e a diesel de vários modelos
de carros, acesse www.fuel-pilot.de.
em casa
| Por Letícia Liñeira
Spectral-Design/Shutterstock
14 | VidaBosch |
Arquitetos e decoradores dão dicas para construir ou decorar
Os cinco pilares da
casa de campo
um repouso de fim de semana
16 | VidaBosch |
N
em casa
ão são apenas Tavito e Zé Rodrix –
ou mesmo Elis Regina, que tornou
famosos os versos dos dois primeiros. Todo mundo quer “uma casa no campo”. E
há milhares de anos: na Roma Antiga, o
poeta Horácio já adotava o princípio do
fugere urbem (fugir da cidade). No século 18, os poetas neoclássicos brasileiros
retomaram o lema e, mesmo vivendo em
um país ainda tão pouco urbanizado, faziam versos idealizando vaqueiros, riachos,
campinas e prados onde “pasta alegre o
manso gado”.
Hoje, então, quando nada menos que
85% da população brasileira mora de frente
para o asfalto, fugir da muvuca e dar um
em casa | VidaBosch | 17
descanso para desacelerar e recarregar
o corpo e a mente é praticamente uma
questão de sobrevivência. Tanto melhor
se isso puder ser feito em seu próprio canto, desenhado de acordo com seus próprios planos, ornamentado segundo seu
próprio gosto.
A VidaBosch conversou com arquitetos e decoradores que mostram os fundamentos para caprichar nesses repousos
campestres. O mais importante é conviver com a vida silvestre, integrar-se a ela.
Tanto na decoração quanto na construção.
Nem precisa ser um casarão. Basta, como
diz a canção imortalizada por Elis, ser o
suficiente para “ficar no tamanho da paz”.
Abuse de janelas. O lado de fora
ajuda a compor o lado de dentro. A
iluminação natural é uma maneira
de integrar a natureza à decoração
Olhar para fora
Uma das motivações de quem vai a um
sítio ou chácara é passar tardes preguiçosas admirando a paisagem — montanhas,
pastos verdinhos, um pomar com frutas
caindo do pé ou mesmo um quintal bucólico. Por isso, abuse de janelas, enormes
janelas. No campo, o lado de fora ajuda
muito a compor o lado de dentro.
“A iluminação natural é uma maneira
de integrar a natureza à decoração”, comenta a decoradora de interiores Marília
Veiga, de São Paulo, que há mais de 30
anos mantém um trabalho caracterizado por linhas neutras, sempre alinhando
design e aconchego.
Convém, entretanto, que essa escolha
seja acompanhada de contrapartidas. Como se sabe, grandes aberturas podem significar, em alguns horários do dia, forte
incidência de sol. “É recomendado, por
exemplo, o uso de cortinas e persianas
para filtrar e não danificar o piso e os móveis”, sugere a decoradora.
André Eisenlohr usou sobras de madeira nas paredes internas da casa Eucaliptus
Em casas de campo, cai especialmente bem
uma decoração despojada. O importante, como resume Marília, é criar espaços
que transmitam aquela vontade de não
sair dali, de se sentir acolhido, à vontade.
Em todos os ambientes, dê preferência a
móveis com fibras naturais, como palha,
de bambu ou madeiras de demolição. As
arquitetas Andrea Teixeira e Fernanda
Negrelli, também de São Paulo, aconselham o uso de tecidos naturais (palhas de
seda, couro) em tons claros, com toques
de cores alegres e contrastes de destaque.
O predomínio de um estilo rústico não
dispensa o aconchego. Para reforçar o conforto, uma boa pedida é colocar tapetes
e lareiras, sobretudo se o sítio ficar em
região fria. Se não quiser correr riscos,
opte por lareiras ecológicas, abastecidas
com fluido. “Coloque flores: além de refrescar, transmitem uma sensação de ar
André Eisenlohr/Divulgação
André Eisenlohr/Divulgação
Aderir ao rústico
Na casa Pinus, Eisenlohr usou pilares e vigas suspensas para preservar o terreno
em casa
em casa | VidaBosch | 19
novo. Almofadas também dão aconchego”,
complementa Marília.
O projeto de iluminação é outro aliado na criação de espaços convidativos.
“Misturar embutidos no teto com abajur
favorece o local. A luz mexe bastante com
o clima do ambiente”, diz a decoradora.
Respeitar o verde
Um refúgio no meio do verde é local mais
que propício para subir o patamar de respeito à natureza. O arquiteto André Eisenlohr, do escritório paulistano Cabana
Arquitetos, tem projetos premiados nessa área, como as já famosas casas Pinus
e Eucaliptus.
Uma das bases de suas obras é evitar,
por exemplo, processos de construção que
danificam as características originais do
terreno. É preciso respeitar o entorno e
(re)aproveitar o máximo possível de materiais. “Os resíduos de madeira gerados
durante a obra podem compor paredes
internas, prateleiras e móveis, atribuindo uma aparência rústica”, exemplifica.
Outro princípio é recorrer a itens que
não agridam o meio ambiente. Suas casas
são basicamente de madeira. “A casa fica mais confortável, atingindo níveis de
desempenho termoacústico melhores, se
comparados aos de uma alvenaria comum”,
argumenta. Mas as espécies que costuma
usar, como eucalipto, pínus, garapeira e
muiracatiara, são de áreas de reflorestamento ou de manejo sustentável.
Técnicas de captação de água da chuva e painéis solares para colher energia
e aquecer a água também são levados em
conta na criação do projeto.
Marília Veiga/Divulgação
Descansar pra valer
Dê preferência a móveis feitos com madeira de demolição, aconselha Marília Veiga
Se a ideia é relaxar, convém que a casa
contribua para isso. As arquitetas Andrea
Teixeira e Fernanda Negrelli sugerem fazer um espaço zen, que funciona como
um refúgio para se desconectar dos problemas. Num dos projetos que fizeram,
o recanto ficava ao lado da lareira. “Um
tatame, feito em freijó cimentado e com
futon, convidava a pessoa a apreciar a
bela vista ou brincar com os filhos. A iluminação foi pensada estrategicamente
para que desse continuidade à lareira
em relação aos demais elementos do espaço, além de conferir conforto”, conta
Fernanda.
Para a parte externa, elas sugerem um
bangalô de madeira cumaru e sapé no telhado — um toque aconchegante na área da
piscina. A ideia é tentar criar uma espécie
de santuário de tranquilidade e equilíbrio,
em que os detalhes são concebidos para
que se possa usufruir de momentos de
quietude. “O espaço com deck, também
em cumaru, em conjunto com poltronas
típicas de Bali, confere ao ambiente serenidade, leveza e elegância. Um convite
para desfrutar tardes de leitura, descanso
e longas conversas com amigos e familiares”, explica Andrea.
Ficar seguro
Sossego, bucolismo, repouso, distância
do corre-corre. Uma casa no campo pode
oferecer tudo isso. Mas você só vai descansar de fato se estiver prevenido contra um
problema que, embora seja mais comum
Instalar sistemas de alarme e de
monitoramento no interior e no
entorno da residência ajuda a
garantir descanso de fato no campo
no meio urbano, também acossa a zona
rural. Há algum tempo furtos e assaltos
preocupam donos de sítios e chácaras —
até porque esses locais geralmente ficam
isolados e, durante a semana, inabitados.
Há como se precaver, porém. Antes
de comprar um imóvel desse tipo ou um
terreno para construí-lo, pesquise a região onde ele está situado. Verifique, por
exemplo, se há grande incidência de crimes
por lá. “Prefira casas ou terrenos dentro
de associações com segurança privada,
em vez de casas em ruas”, sugere Samuel
Rubens Pereira, diretor operacional do
Grupo Haganá, uma das maiores empresas
de segurança patrimonial de São Paulo.
A fim de diminuir as situações de vulnerabilidade, alguns proprietários prefe-
rem manter um caseiro no local. “Antes de
contratá-lo, pesquise seus antecedentes”,
recomenda o especialista.
Utilizar materiais bem resistentes nas
portas, nas janelas e no teto e instalar sistemas de alarme e de monitoramento no
interior e no entorno da residência são
outros cuidados que auxiliam no reforço
da segurança. “Além de serem preventivas, essas precauções ajudam a detectar
possíveis invasões. Utilize, inclusive, recursos de segurança eletrônica, tais como
cercas elétricas e proteção perimetral”,
sugere Pereira. “Evite deixar objetos de
valor — entre eles equipamentos de som,
bicicletas e até mesmo botijão de gás — nas
áreas externas da casa”, adverte o diretor
operacional do Grupo Haganá.
É aconselhável que os vizinhos tenham
seu telefone, principalmente se forem moradores da região. E, se a casa ficar em
loteamentos fechados, tenha os contatos
dos responsáveis pela gestão da segurança e dos administradores.
A Bosch na sua vida
Segurança no campo
Sítios e chácaras são ótimos refúgios
para escapar dos problemas da cidade
grande, mas o isolamento dessas propriedades muitas vezes gera preocupação
com a segurança. Um modo de reforçar
a proteção é colocar sistemas de segurança como os da Bosch, que trabalham
com transmissão de dados via sinal de
celular, o que permite o monitoramento
remoto de localidades afastadas.
Um dos grandes desafios para fazer o
monitoramento remoto de sítios e chácaras é a transmissão dos dados, afirma
Renato de Araújo Lima, especialista da
linha de produtos de intrusão da Bosch no Brasil. Segundo ele, as informações podem trafegar por linha telefônica
convencional, sinal de celular, internet
a cabo ou 3G. “Nós trabalhamos com
todas essas possibilidades, mas a que
tem maior alcance no território nacional
é o sinal de celular.”
Entre as soluções fornecidas pela Bosch
está um sensor de perímetro que forma
uma cerca virtual por meio de feixes de
luz infravermelha. Assim, um alarme será acionado se qualquer pessoa cruzar
essa linha.
“Dá para fazer ajustes de sensibilidade
por conta de neblina e fumaça de queimada, que são comuns nessas localidades rurais. Também contamos com
sensores para portas e janelas, e todos
eles funcionam sem fio, o que agiliza a
instalação”, diz Lima.
Os sistemas de intrusão da Bosch também permitem o acesso à transmissão
de dados de áreas remotas por meio de
um aplicativo para dispositivos móveis
(foto). Além disso, o usuário ainda pode
contar com a possibilidade de monitoramento por vídeo, integrado no mesmo
sistema, caso possua câmeras no local.
Assim, se alguma movimentação estranha
for captada pelos sensores ou visualizada
Arquivo Bosch
18 | VidaBosch |
pelas câmeras, a pessoa é informada e
poderá tomar as medidas necessárias,
como chamar a polícia ou ligar para
que alguém que more próximo cheque
o lugar. “O mesmo aplicativo permite ao
usuário receber as informações sobre
os sensores de intrusão e imagens de
até quatro câmeras ao mesmo tempo”,
ressalta Lima.
Saiba mais sobre sistemas de segurança
da Bosch em http://migre.me/pgkf4.
tendência
| Por Tiago Cordeiro
nikkytok/Shutterstock
20 | VidaBosch |
Imprimindo o futuro
Após três décadas restritas a centros de pesquisa, as impressoras 3D estão prestes
a conduzir uma revolução industrial marcada pela autonomia e pela criatividade
22 | VidaBosch |
tendência
tendência | VidaBosch | 23
Sergi Lopez Roig/Shutterstock
D
esde a Idade da Pedra, a humanidade
conhece essencialmente duas formas de produzir: a manufatura (baseada
na fabricação artesanal e autoral, mas em
pequena escala) e a indústria (baseada em
maquinário que cria mercadorias padronizadas em grande escala). Uma invenção
da década de 1980, no entanto, abriu caminho para uma terceira modalidade, que
tem potencial para desencadear uma nova
revolução: as máquinas que imprimem em
três dimensões.
Em 1984, o engenheiro eletrônico norteamericano Charles W. Hull desenvolveu
um sistema capaz de transformar modelos
digitais 3D em objetos concretos, da mesma
forma que uma impressora comum converte
uma imagem virtual em um documento
escrito ou visual.
Devido à complexidade de operação e
aos altos custos, por três décadas esses
equipamentos ficaram restritos a laboratórios científicos e grandes empresas,
mas com o avanço tecnológico ao longo
desse período, agora esses dispositivos
parecem prontos para levar o mundo a um
novo estágio: o da produção personalizada
e replicável em massa.
“A impressão em três dimensões reúne
as melhores qualidades do artesanato — que
são a autonomia e a liberdade criativa do
indivíduo — e acrescenta a capacidade de
produzir com precisão e, se necessário,
em quantidades industriais”, afirma o professor Hod Lipson, diretor do Laboratório
de Máquinas Criativas, da Universidade
Cornell, nos Estados Unidos.
Funcionamento complexo
O princípio operacional de uma impressora
3D é simples: assim como um aparelho em
duas dimensões, ela faz a leitura de uma
imagem digital e a recria em um suporte material. A diferença é que, em vez de
lançar tinta sobre uma folha de papel, a
impressora 3D usa plástico, aço, titânio,
ouro, cerâmica, papel, açúcar, borracha,
areia ou mesmo células humanas para moldar objetos tridimensionais. No limite, as
possibilidades oferecidas por esse tipo de
tecnologia são infinitas.
Se o conceito é simples, o funcionamento, nem tanto. Primeiro, o usuário
Em vez de transpor uma imagem digital para uma folha de papel, a impressora 3D a recria num suporte material
24 | VidaBosch |
tendência
cos para criar cada camada do objeto. Na
sinterização, um processo mais complexo,
a máquina forma pó de metal ou plástico
e usa um rolo aquecido para formar as camadas. Por fim, jatos de ar comprimido, ou
escovas próprias, removem o excesso de pó.
Todas essas técnicas seguem um mesmo princípio: moldam objetos por meio da
adição de fatias sucessivas de material. Por
isso, toda impressora 3D funciona com uma
plataforma móvel que desloca o elemento
conforme cada camada é completada. Também por isso, esse processo produtivo foi
batizado de manufatura aditiva.
Mil e uma utilidades
Se, por décadas, as impressoras 3D foram
utilizadas apenas para criar protótipos de
instrumentos, equipamentos e maquetes de obras, hoje elas são empregadas
em empreitadas cada vez maiores e mais
variadas. Na China, na Holanda, na Inglaterra e nos Estados Unidos, arquitetos já
desenvolvem projetos experimentais de
construção de casas inteiras a partir de material pré-moldado feito por impressoras
Stefano Tinti/Shutterstock
cria no computador um projeto usando
um aplicativo de modelagem em 3D. Na
sequência, o software da impressora decompõe a imagem em camadas e envia
essas informações para um dispositivo
que vai “imprimir” o objeto. Assim como
acontece com a resolução de uma imagem
impressa em 2D, quanto mais camadas,
maior a qualidade do objeto e mais demorada a impressão, que pode demorar
várias horas.
A partir do “fatiamento” da imagem digital
em camadas, existem diferentes técnicas
de impressão. A primeira foi a criada por
Hull em 1984, batizada de estereolitografia. Consiste em projetar um feixe de laser
ultravioleta sobre um recipiente cheio de
uma resina líquida que se solidifica ao reagir com esse raio de luz. Assim, o laser
vai “desenhando” sucessivas camadas na
resina líquida, até formar o objeto.
De lá para cá surgiram procedimentos
diferentes. A modelagem por fusão e depósito, mais simples e muito usada para
modelos domésticos, usa um bico injetor
para aquecer e modelar filamentos plásti-
tendência | VidaBosch | 25
3D. Em 2013, a empresa norte-americana
Kor Ecologic terminou a montagem do
Urbee, o primeiro carro feito com esse
tipo de ferramenta.
Na moda, o designer italiano Francis
Bitonti criou no computador e imprimiu
sapatos, maiôs de natação e um vestido
inteiro, todos sem costura (uma das maiores vantagens do método). Na culinária,
os equipamentos podem ser usados na
produção de pizzas, massas e chocolates caseiros, e estão em andamento pesquisas para desenvolver carne sintética.
Na decoração, a nova tecnologia permite
personalizar modelos, tamanhos e cores
de móveis e enfeites.
De todas as áreas, a medicina é uma das
mais promissoras. Com a disseminação
das impressoras 3D, a produção de próteses se torna mais rápida e barata, e as
cirurgias ficam mais ágeis — o que acelera
a recuperação e diminui os riscos de infecção por parte dos pacientes. Além disso,
as pesquisas para o desenvolvimento de
remédios usando a tecnologia estão bem
adiantadas. “Num futuro muito próximo,
será possível enviar a fórmula do medicamento por e-mail, e o paciente vai imprimi-la em casa, em pílulas adequadas à
sua necessidade”, afirma o professor Lee
Cronin, do Departamento de Química da
Universidade de Glasgow, na Escócia, líder de um grupo de pesquisa na área de
impressão de medicamentos.
Uma equipe da Universidade Hangzhou
Dianzi, na China, já se mostrou capaz de
criar tecidos de fígado e de ouvidos, e
pesquisadores da Universidade Wake
Forest, nos Estados Unidos, conseguiram recriar sete bexigas.
São passos gigantescos no caminho dos
transplantes mais acessíveis. A odontologia está bem adiantada na criação de
próteses sob medida, e os laboratórios
universitários se mostram muito avançados na produção de tecidos vivos para
transplantes de pele e testes farmacêuticos, um processo que já funcionou para
desenvolver partes de crânios, mandíbulas e até mesmo um quadril novo. E mais:
o geneticista norte-americano J. Craig
Venter, um dos pioneiros no sequencia-
mento do DNA, trabalha num projeto de
impressão 3D de vacinas.
Futuro promissor
Nos últimos anos, o surgimento de modelos
mais baratos abriu o mundo das impressoras 3D para o consumidor doméstico. Hoje,
um equipamento de ponta custa em torno de US$ 2 mil, ao passo que há dez anos
custava mais de US$ 20 mil. Além disso,
há modelos caseiros simples, de eficácia
muito mais limitada, mas preço muito mais
acessível — na casa dos US$ 300.
Com isso, um relatório da empresa britânica de pesquisa de mercado ReportBuyer prevê que a demanda mundial por
produtos impressos desta forma deverá
crescer 20% por ano, até atingir US$ 5 bilhões em 2017.
Mesmo quem ainda não consegue ter
um equipamento próprio em casa pode
se reunir a outros fabricantes em espaços
comunitários, que fornecem maquinário e
permitem que os criadores compartilhem
ideias e experiências. Os chamados espaços makers são uma onda no Japão, já se
espalharam por vários países do mundo
desenvolvido e também existem no Brasil.
Em São Paulo, o Garagem Fab Lab, por exemplo, recebe mais de 100 pessoas todo mês.
Diante de todas essas possibilidades,
não é difícil projetar o tamanho do alcance
da revolução que as impressoras 3D estão apenas iniciando. Carros fabricados
em casa. Vacinas enviadas pela internet
para serem impressas em lugares pobres.
Órgãos produzidos a partir de células dos
próprios pacientes. Robôs projetados para
necessidades específicas, como o trabalho humanitário em campos minados ou
no atendimento a portadores de doenças
contagiosas.
“Em termos de tecnologia, promessas
nem sempre são cumpridas. Faltam décadas de pesquisa para que se torne possível,
por exemplo, criar robôs caseiros, e muitos obstáculos técnicos precisam ser superados”, ressalva o professor Hod Lipson.
“Mas parece claro que as impressoras 3D
vieram para ficar e logo terão um impacto
muito mais vasto do que apenas imprimir
capas de smartphones”.
Hoje já é possível conectar um dispositivo a um laptop e imprimir objetos em casa
Experiência para criar o futuro
Há décadas, a Rexroth, divisão de tecnologias de acionamento e controle do
Grupo Bosch, fornece equipamentos de
ponta para o mercado mundial. Agora,
a empresa está pronta para desempenhar um papel de destaque na nova revolução industrial desencadeada pelas
impressoras 3D.
A Bosch Rexroth fornece um pacote de
componentes para a fabricação de máquinas do gênero utilizadas em ambientes industriais. “É possível fazer uma impressora praticamente completa com os
produtos da Bosch Rexroth – uma tecnologia consistente que já está presente
há várias décadas no ambiente industrial
em máquinas-ferramenta, na robótica e
nas linhas de montagem”, afirma o chefe
de aplicações para automação fabril da
companhia, Paulo Zanini.
Os componentes eletrônicos, mecânicos
e eletromecânicos que a Bosch Rexroth
fornece para impressoras 3D movimentam a cabeça de impressão do aparelho
ao longo de três eixos, para recriar um
modelo digital tridimensional.
Tudo começa com os motion controllers,
pequenos computadores responsáveis
por enviar comandos para os servomotores que colocam em funcionamento os
atuadores eletromecânicos. Estes transmitem os movimentos dos servomotores
para a cabeça de impressão. Finalmente,
esta é posicionada por guias lineares no
ponto exato para moldar a matéria-prima
em cada etapa do processo.
“Geralmente, são diferentes empresas que
fornecem cada componente. Ao trabalhar
com a Rexroth, o fabricante obtém todos
eles de um único fornecedor”, explica Zanini.
Essa tecnologia foi testada e aprovada
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
pela empresa alemã Voxeljet, que utilizou componentes da Bosch Rexroth
em sua impressora 3D, a VX 1000. O
equipamento foi usado para imprimir
réplicas do Aston Martin DB5, o clássico carro de James Bond, utilizadas nas
filmagens de “Operação Skyfal”, último
longa-metragem do agente 007.
Saiba mais sobre as tecnologias de impressão da Rexroth em http://migre.me/pggHg.
26 | VidaBosch |
grandes obras
| Por Cláudia Zucare Boscoli
Olimpo à beira-mar
ambiciosos empreendimentos imobiliários da história do Rio após os Jogos
Divulgação
Vila que receberá os atletas nas Olimpíadas de 2016 se transformará em um dos mais
E
m 1969, o arquiteto e urbanista Lúcio
Costa apresentou seu plano piloto
para a Baixada de Jacarepaguá, apostando
que a cidade do Rio de Janeiro — em crescimento e espremida entre mar e montanha — só teria um caminho a seguir: o
da Zona Oeste. Um de seus amigos, Carlos Fernando de Carvalho, levou a sério a
previsão. Passou a adquirir uma série de
terrenos a preços módicos no então grande areal que era a Barra da Tijuca. Hoje,
sua construtora está por trás de alguns
dos empreendimentos de maior suces-
so na região. É dele também um terreno
de 800 mil metros quadrados na avenida
Salvador Allende, local de construção da
Vila dos Atletas, alojamento dos esportistas que disputarão os Jogos Olímpicos e
Paralímpicos de 2016.
Palco do primeiro Rock in Rio, em 1985,
a área foi escolhida pelo Comitê Olímpico
Internacional (COI) em razão da proximidade com o Parque Olímpico, local de
provas erguido sobre o que um dia foi o
Autódromo de Jacarepaguá. Até março do
ano que vem, a Vila dos Atletas contará
com 3.064 apartamentos, divididos em
31 prédios de 17 andares.
Inicialmente, em agosto de 2016, os
mais de 10 mil quartos hospedarão os 18
mil atletas que participarão das competições. A pretensão dos organizadores é
apresentar ao mundo “a Vila dos Atletas
de mais alto padrão da história dos Jogos”.
Em setembro, será a vez dos paralímpicos
ocuparem o local.
No início de 2017, a Vila dará lugar ao
bairro planejado Ilha Pura. Os apartamentos, aliás, já estão à venda — a preços que
superam a casa dos R$ 9 mil por metro
quadrado.
Dez anos em quatro
A Carvalho Hosken, empresa do dono do
terreno, e a Odebrecht Realizações, sua
parceira na empreitada, calculam que um
projeto semelhante demoraria ao menos
dez anos para ser concluído em condições
normais. Como deve estar pronto para as
Olimpíadas, garantem que entregam tudo
antes do fim do quarto ano de obras. Até
agora, 70% do prometido ao COI foi feito.
Para acelerar o processo, há 7 mil operários divididos em sete equipes, trabalhando simultaneamente no mesmo canteiro — uma média de mil homens para
cada um dos sete condomínios independentes que compõem o empreendimento.
Até dezembro de 2014 foram usados 370
mil metros cúbicos de concreto (o suficiente para encher 180 piscinas olímpicas), 37 mil toneladas de aço (o que daria
para construir cinco torres Eiffel) e 800
mil metros quadrados de tijolos. Isso tudo sem falar nas máquinas: são 27 gruas
trabalhando ao mesmo tempo.
Na área ambiental, a Vila dos Atletas/
Ilha Pura recebeu duas certificações, uma
internacional, do Green Building Council, e outra nacional, da Fundação Vanzolini. Ao adotar práticas como instalação de usina de concreto e implantação
de coleta seletiva no próprio canteiro, o
projeto deixou de emitir 39 mil toneladas
de gás carbônico nos dois primeiros anos
de obras — o equivalente à preservação
de uma área florestal do tamanho de 65
campos de futebol.
grandes obras
grandes obras | VidaBosch | 29
Fotos Divulgação
Cidade dentro da cidade
Os apartamentos, adaptados para pessoas
com deficiências e mobiliados para receber atletas com mais de 2 metros de altura,
têm metragens que vão de 77 a 230 metros quadrados, com opção de dois, três
ou quatro quartos. A Vila contará ainda
com um centro de treinamento para 11
esportes olímpicos e oito paralímpicos,
um refeitório para 5 mil pessoas e a Zona
Internacional, onde serão realizadas as
cerimônias de boas-vindas. Haverá uma
rua para confraternizações, com cafés,
restaurantes e loja. E o Parque Ilha Pura
— projetado pelo escritório Burle Marx —
contará com 72 mil metros quadrados de
verde e uma ciclovia de 4,5 quilômetros
ligada aos condomínios.
Quando virar um loteamento, o local
deve abrigar mais de 12 mil moradores.
Mas a promessa é crescer muito mais. Dos
800 mil metros quadrados totais, 200 mil
estão sendo utilizados. Ou seja, há espaço
para erguer pelo menos mais 60 novas
torres. A previsão é abrigar mais de 50
mil moradores nos próximos dez anos.
Esses planos, porém, esbarram no desaquecimento do mercado imobiliário do
Rio de Janeiro: dos 600 apartamentos do
Ilha Pura já colocados à venda, apenas
231 haviam sido vendidos até o primeiro
trimestre de 2015.
Legado polêmico
Após os Jogos, o local vira um loteamento com potencial para abrigar 50 mil pessoas
Diferentemente da maioria das vilas olímpicas, a carioca não tem contrapartida pública
(o único caso semelhante é o de Sydney,
nos Jogos Olímpicos de 2000). Todo investimento é das duas incorporadoras —
que não revelam os valores envolvidos. A
prefeitura participa com as obras de infraestrutura interna, como pavimentação de
ruas, saneamento básico e eletricidade.
Os investimentos em infraestrutura
externa, também a cargo da prefeitura
e considerados o grande legado da Vila
dos Atletas para a cidade, privilegiam a
mobilidade urbana e vêm de recursos do
BNDES. Compreendem a duplicação de duas avenidas, o aumento da oferta de BRTs
(Bus Rapid Transit, em inglês, ou ônibus
rápidos em faixa segregada) e a integração
destes com a Linha 4 do metrô — que liga
A obra em números
Ipanema ao Jardim Oceânico, único local
da Barra a contar com estação desse tipo.
Quem defende a escolha da Barra da
Tijuca como principal polo olímpico alega que tais investimentos precisariam ser
feitos em algum momento nessa região,
tamanho seu potencial de crescimento. Os
Jogos teriam apenas acelerado o processo.
Os críticos, por sua vez, apontam falta de
discussão e de transparência nas escolhas.
“As Olimpíadas deveriam ser uma
oportunidade de tornar a cidade menos
desigual. O dinheiro público deveria ser
aplicado pensando no todo, mas priorizaram a Barra da Tijuca por interesses
do mercado imobiliário”, afirma o professor Orlando Santos Junior, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e
Regional da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ). Já o arquiteto e urba-
31
prédios residenciais
de 17 andares cada
7
condomínios
3.064
apartamentos
7 mil
trabalhadores
370 mil
metros cúbicos de concreto
800 mil
metros quadrados de tijolos
27 gruas
trabalhando ao mesmo tempo
nista Sérgio Magalhães, coautor do livro
“Depois dos Jogos – Pensando o Rio para o
pós-2016”, diz que foi um erro concentrar
os investimentos olímpicos no transporte
rodoviário, como previa o plano de Lúcio
Costa, traçado há mais de quatro décadas
e, por isso mesmo, ultrapassado.
O problema é que alguns críticos esperam das Olimpíadas algo que a competição
não pode dar, contrapõe o professor de
marketing esportivo Marcelo Weishaupt,
da Unicamp, autor do livro “Jogos Olímpicos: Impactos econômicos de megaeventos
esportivos”. As expectativas com eventos
desse porte são sempre superdimensionadas, afirma. “Parece plausível supor que
haverá efeitos positivos para a cidade. Mas
alguns segmentos sociais e econômicos
são beneficiados, e outros não. No Rio, os
efeitos positivos devem se concentrar em
turismo e na construção civil”.
A Bosch na sua vida
Tecnologia para acelerar as obras
A menos de 500 dias do início das Olimpíadas do Rio de Janeiro, a rapidez é
fator fundamental nas obras da Vila dos
Atletas. E a Bosch tem várias ferramentas que dão muito mais agilidade aos
serviços no gigantesco empreendimento.
O nível a laser GLL 3-80 P (foto 3), por
exemplo, possibilita que uma pessoa faça,
sozinha, o trabalho que antes demandava,
no mínimo, duas. “O equipamento emite
raios laser em todo o cômodo no qual
está sendo feita a obra, permitindo, assim, ajustar diversos níveis, tanto no solo
quanto no teto, facilitando trabalhos como
ajuste de piso e instalação de azulejos”,
explica o consultor técnico comercial da
Bosch, Luiz Cláudio Theophilo.
Outra ferramenta que usa a tecnologia
para facilitar o trabalho de construção
é a trena a laser GLM 80+R60 (foto 1).
“Geralmente, usam-se trenas de bambu,
que precisam ser esticadas e recolhidas,
mas, com este equipamento, basta encostá-lo em uma parede para que ele
calcule distâncias e até volumes de um
cômodo”, diz Theophilo.
Arquivo Bosch
28 | VidaBosch |
2
1
Já a parafusadeira elétrica GSR 6-25 TE
(foto 2) é, nas palavras de Theophilo, uma
“ajuda no trabalho”. O equipamento é especialmente útil para quem precisa lidar
com muitos parafusos. “Ela é bastante
usada na instalação de pisos, telhados e
estruturas metálicas”, afirma o consultor.
Para facilitar ainda mais a vida dos operários que estão construindo a Vila dos
Atletas, a Bosch fornece parafusadeiras
3
elétricas sem fio, alimentadas por baterias. “A GSR 14,4 V-LI e a GSR 1800LI são portáteis e servem para trabalhos mais rápidos ou em áreas de difícil
acesso. Além disso, também podem ser
usadas como furadeira sem impacto”,
conta Theophilo.
Se quiser saber mais sobre a niveladora
a laser e vê-la em funcionamento, acesse http://migre.me/phd1h.
brasil cresce
| Por Gabriel Ferreira
B. and E. Dudzinscy/Shutterstock
30 | VidaBosch |
Crescimento
com sabor e aroma
Indústria brasileira de café investe em tecnologia
e produtos de melhor qualidade
para manter liderança mundial do setor
32 | VidaBosch |
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 33
SOMMAI/Shutterstock
P
ara acordar melhor, para enfrentar
um dia de trabalho, para colocar a
conversa em dia com os amigos... O brasileiro sempre encontra um bom motivo
para tomar café — em casa, no trabalho
ou em lojas especializadas. Tamanha é a
tradição e tantos são os momentos em que
a bebida pode ser apreciada, que o Brasil
consome 1,6 bilhão de quilos do grão por
ano — um dos maiores volumes no mundo.
Trata-se da segunda bebida mais consumida no país, atrás apenas da água: 79%
das famílias brasileiras bebem café, segundo
a última Pesquisa de Orçamentos Familiares, realizada pelo IBGE em 2008 e 2009.
“É um hábito que vem de família e passa
de geração para geração”, afirma o diretor
executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz. O
levantamento do IBGE mostra que outras
bebidas têm penetração menor: sucos são
consumidos por 40% das famílias; refrigerantes, por 23%; e leite integral, por 12%.
Os grandes números também predominam na produção: o Brasil é líder mundial
desde meados do século 19. Uma a cada
três xícaras de café ingeridas no planeta tem origem em alguma fazenda nacional. O cultivo é de tal dimensão que não
só garante os bebericos de uma enorme
quantidade de brasileiros como ainda sobra para o exterior: o país exporta cerca
de 60% dos grãos que nascem por aqui.
A força do setor faz com que ele consiga expandir-se mesmo em anos mais austeros. Em 2014, por exemplo, enquanto
o país debatia-se em meio à pasmaceira
econômica, o café registrou o maior aumento entre os itens mais exportados. Segundo o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, a alta foi de
26,1% (enquanto as vendas totais a outras
nações tombaram 7%).
Maior e melhor
Ainda que produção e exportação coincidam nas cifras exuberantes, por muito
tempo houve discrepância entre o que
ficava e o que saía. Não em quantidade,
mas em qualidade. Como acontecia em
muitos outros setores, o naco mais sofisticado emigrava. Restava ao mercado in-
Tischenko Irina/Shutterstock
terno o que não tinha propriedade ou aparência boas o suficiente para ser vendido
aos clientes internacionais. “O que ficava
por aqui tinha qualidade tão baixa que
os grãos precisavam ser muito torrados,
dando origem àquele café extremamente
forte, para mascarar os problemas que
apresentava”, diz Ensei Neto, especialista
no assunto e autor do site Coffee Traveler.
Essa história começou a mudar em
meados da década de 1990, quando uma
conjunção de fatores fez com que o cafeicultor nacional passasse a investir no
aprimoramento de suas mercadorias também para o mercado interno. Foi então que
o setor passou a adquirir os contornos
atuais: expressiva diversidade de grãos,
com variedades planejadas para agradar
incontáveis gostos e bolsos.
Um dos primeiros fatores foi uma grande
crise global de preços. O baque levou as
cotações aos menores índices da história
— inferiores até às registradas na crise de
1929, quando o governo comprou sacas
para que o setor não fosse para o buraco.
“A crise dos anos 90 foi tão intensa que
muita gente começou a arrancar os pés de
café para plantar outras culturas”, afirma
Herszkowicz.
Para agravar a situação, no final da década, ainda sob efeito do mergulho dos
preços, diversas regiões do Brasil foram
afetadas por uma geada severa, que comprometeu a safra. “Para combater a crise,
a saída encontrada pelos cafeicultores foi
investir na qualidade. Era o jeito de fugir
dos valores baixos”, diz Ensei Neto. Em
paralelo, surgiram as primeiras certificações e os primeiros concursos de qualidade, trazendo maior rigor ao mercado.
Stokkete /Shutterstock
Daqui para fora
Exportação brasileira do grão (em milhões de sacas de 60 kg)
2012
28
2013
31
2014
36
Sempre à mesa
Consumo interno no Brasil (em milhões de sacas de 60 kg)
1999
18,4
Tecnologia
Os aportes para combater a crise se deram
principalmente em tecnologia, em todos
os estágios da produção. No campo, boa
parte dos aportes ocorreu em melhoramento genético. Estudos conduzidos tanto
por grandes cooperativas como pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) geraram frutos melhores e
árvores mais produtivas. Além disso, as
fazendas investiram em maior mecani-
2010
2011
19,1
19,7
2012
20,3
2013
20,1
2014
20,3
Fonte: Abic
34 | VidaBosch |
brasil cresce
brasil cresce | VidaBosch | 35
O café foi o produto que liderou os
avanços das exportações brasileiras
em 2014: as vendas externas caíram
7%, mas as do grão saltaram 26%
as embalagens se dá de forma automática,
com equipamentos capazes de finalizar
mais de mil pacotes por hora.
Resultados
zação da lavoura, com grandes colheitadeiras e maquinário para secagem dos
grãos. “A colheita e a secagem são duas
etapas fundamentais na preservação da
qualidade, então essa maior mecanização ajuda muito”, aponta Herszkowicz.
Do lado da indústria, a aposta em equipamentos sofisticados também tem papel
relevante para que o cliente final receba
um produto melhor. Há máquinas mais
modernas, por exemplo, para torrar café,
processo em que o grão ganha o aspecto
final para consumo. “É possível controlar
melhor esse processo, liberando todo o
potencial de aromas e sabores de cada
grão”, diz o executivo da Abic. Outro ponto muito relevante para a indústria são
os processos de embalagem, que, quanto
mais modernos, melhor preservam as características da mercadoria. Atualmente,
todo o processo de encher, pesar e selar
A principal consequência dessa evolução foi uma maior sofisticação da bebida comercializada no país. “Hoje não há
mais diferença entre o café que o brasileiro consome e o que vai para o exterior”,
afirma Herszkowicz. As prateleiras dos
supermercados são um bom indicativo
desta mudança. Se até há pouco tempo
encontravam-se apenas grãos dos tipos
tradicionais, agora é possível levar para
casa uma variedade muito maior — inclusive iguarias que chegam a custar 20 vezes
mais do que o cafezinho comum. Só entre
as marcas registradas na Abic há mais de
150 cafés especiais.
“Há uma mudança cultural, com as pessoas aprendendo que café é um item de
características tão complexas e variadas
quanto os vinhos”, compara Ensei Neto.
Ele estima que, das 20 milhões de sacas
consumidas por aqui todos os anos, pelo
menos 500 mil sejam de produtos especiais.
“Já é um número bastante significativo”.
Mesmo para quem não está disposto a
gastar R$ 300 por um quilo, há opções mais
em conta com perfil elaborado. Os intermediários, com preços na casa dos R$ 40,
têm se estabelecido como um importante
ponto de acesso do consumidor médio a
grãos de melhor qualidade. Exemplo disso
são as máquinas caseiras de café em cápsula, que contribuem muito para a divulgação de tipos diferentes, sendo muitas
vezes as responsáveis por apresentar ao
brasileiro especialidades da bebida com
as quais ele não está acostumado, e até
a cafés processados em outras nações.
Além do esforço da indústria, o que torna este tipo de produto mais popular é a
maior diversidade de cafeterias especiais
nas grandes cidades e a maior divulgação
da profissão de barista — o profissional
que prepara cafés de maneiras não muito habituais. “Isso só mostra que, mesmo
que o café já tenha grande penetração no
país, esse é um mercado com grande potencial para crescer. Se não fosse assim,
não surgiam novas empresas investindo
no segmento a cada ano”, conclui Neto.
AFNR/Shutterstock
O próximo passo
Um dos grandes saltos tecnológicos que
contribuíram para que os cafeicultores
brasileiros superassem a crise dos anos
90 foi a mecanização da produção. Agora,
o Grupo Bosch está ajudando os agricultores nacionais a darem o próximo passo
na modernização da indústria cafeeira.
A primeira geração de tratores e colhedoras
de café que chegou ao campo brasileiro
promoveu um primeiro salto na produtividade, mas operava com uma tecnologia
relativamente simples. Nos últimos anos,
porém, novos componentes e sistemas
desenvolvidos pela Rexroth – divisão de
tecnologias de acionamento e controle
do Grupo Bosch – têm levado as máquinas agrícolas a um patamar diferente. “Em
um primeiro momento tivemos um salto
que foi a mecanização da lavoura. Agora,
estamos dando um segundo passo, que é
a adoção de uma tecnologia muito mais
inteligente, chamada load sensing”, afirma
Denis Kluge, chefe de gerenciamento de
produtos mobil da Bosch Rexroth.
A empresa fornece componentes hidráulicos
– como bombas de engrenagem, bombas
de pistões, cilindros e blocos com válvulas
de controle –, responsáveis por acionar
partes das máquinas a partir da energia
gerada pelo motor. Com a tecnologia load
sensing, esses componentes se tornam peças inteligentes que identificam quando a
máquina precisa de potência hidráulica e
só entram em funcionamento nos momentos necessários. Com isso, o consumo de
diesel da máquina cai, reduzindo custos e
diminuindo o impacto ambiental.
Além dos componentes mecânicos, a
Bosch Rexroth também fornece um pacote de sistemas eletrônicos que ajuda a
otimizar a operação das máquinas agríco-
Arquivo Bosch
A Bosch na sua vida
las. O pacote BODAS (foto) é formado
por sensores, processadores, softwares
e equipamentos de vídeo que permitem
coordenar os movimentos da colhedora
e do trator, entre outras funções.
Saiba mais sobre as tecnologias da
Bosch Rexroth para máquinas agrícolas em: http://migre.me/pRbE0
36 | VidaBosch |
atitude cidadã
De bem com a comunidade
Ivelin Radkov/Shutterstock
Empresas percebem que é preciso conquistar a confiança dos moradores da região onde
| Por Claudia Zucare Boscoli
D
atuam e garantir uma licença social para operar
esde que o licenciamento ambiental foi instituído no Brasil, em 1981,
as empresas que aqui atuam vêm se preocupando cada vez mais com o futuro
de seus negócios e adotando medidas
para reduzir possíveis impactos negativos sobre o seu entorno. O problema
é que muitas delas ainda se preocupam
apenas com os efeitos de suas atividades
na natureza e se esquecem de outro elemento fundamental para a sustentabilidade de qualquer empreendimento: as
consequências sobre a vida das pessoas
que vivem ao redor. Por isso, um outro
tipo de licença, ainda pouco conhecido
no Brasil, começa a ser debatido e levado em consideração no país, a chamada
“licença social para operar”.
Ao contrário do licenciamento ambiental, não é um documento emitido por governos ou instituições. Não é uma obrigação prevista em lei, nem um conjunto
de regras detalhadas a ser seguido. Não
é um certificado, um ISO, um selo de qualidade. Trata-se de um conceito abstrato
cada vez mais utilizado no meio corporativo para medir o grau de aceitação de um
empreendimento pela região na qual está
inserido. “É um processo de construção
de legitimidade, de aceitação e de confiança”, define a economista Ana Letícia
Silva, gerente de articulação do Grupo de
Institutos, Fundações e Empresas (Gife),
organização sem fins lucrativos de incentivo ao investimento social privado.
O termo social license to operate foi usado
pela primeira vez em 1997, durante uma
conferência do Banco Mundial sobre mineração e comunidades realizada em Quito, no Equador. A partir de então, passou
a ser usado para descrever uma situação
em que um empreendimento conquista a
confiança dos moradores do entorno, que
“concede” uma espécie de permissão tácita para ele operar na região. “Não existe um documento comprovando a boa-fé
da empresa. O reconhecimento nasce da
boa relação com a sociedade”, afirma o
engenheiro Cláudio Boechat, professor
atitude cidadã
atitude cidadã | VidaBosch | 39
portes. “A mercearia da esquina também
vai sofrer consequências se for denunciada por contaminação de comida ou maus
tratos contra os funcionários”, exemplifica o consultor.
Se a reputação ficar manchada perante a sociedade, corre-se o risco de ter a
licença social para operar “cassada” pela
comunidade, e o processo para recuperar
a credibilidade costuma ser longo e penoso. “O prejuízo é quase imediato, mas
o gerenciamento da crise pede resiliência e persistência. As práticas da empresa
nunca podem ser contrárias aos valores
que ela diz possuir”, sentencia Boechat.
Diálogo e parceria
Um bom exemplo de companhia que soube
construir sua licença social para operar
é a Fibria, maior produtora mundial de
papel e celulose. Surgiu em 2009, fruto
da fusão da Votorantim Celulose e Papel
(VCP) com a Aracruz Celulose e metade
da Veracel Celulose. Herdou uma série
de conflitos de posse de terra no norte
do Espírito Santo e no sul da Bahia, envolvendo indígenas, sem-terra e quilombo-
e pesquisador do Núcleo de Sustentabilidade da Fundação Dom Cabral.
Para uma companhia “obter” essa licença, não basta cumprir requisitos burocráticos ou fazer marketing. Ela precisa
realizar um trabalho sério e de longo prazo de modo a conquistar a confiança da
localidade onde atua. “O reconhecimento
pela ética e pelas boas ações não é algo que
surge da noite para o dia. É um processo
demorado, de empenho no relacionamento
com a comunidade”, explica o engenheiro
agrônomo Marco Antonio Fujihara, consultor do Banco Mundial e diretor da Key
Associados, consultoria especializada em
sustentabilidade. “A licença social para
operar legitima a atividade, e isso se dá
por alianças com todos os stakeholders”,
complementa, referindo-se aos atores que
impactam ou são impactados direta ou
indiretamente pelo negócio.
Pessoas, planeta e lucro
De acordo com o moderno conceito de
sustentabilidade, as empresas devem se
preocupar com um tripé formado por pessoas, planeta e lucro. Em outras palavras,
para ser sustentável, uma organização ou
um empreendimento deve ser financeiramente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável.
Como recebem regulação de legislações específicas, as questões contábeis e
ambientais já são monitoradas por meio
de relatórios de atividades e outros instrumentos de avaliação que analisam
questões objetivas. Mas as medidas de
relacionamento com a comunidade que
garantem a licença social para operar são
de mensuração mais difícil. “O que vejo
acontecer em larga escala é a licença social para operar ficar a cargo dos departamentos de marketing ou de comunicação,
e estes tentarem maquiar ações e resultados, o que é um erro”, avalia Fujihara. A
maquiagem, avisa, é facilmente percebida
pelo consumidor final, que está cada vez
mais consciente ao escolher produtos e
serviços com valores agregados.
“O marketing deve ser apenas consequência de processos reais, que têm respaldo social e ambiental e a chancela da
comunidade. Se não, fica vazio de sentido
e não se sustenta no longo prazo”, complementa Ana Letícia, do Gife. Ou seja:
a fim de conseguir a licença social para
operar, é necessário construir uma boa
reputação junto à população do entorno,
o que exige credibilidade.
O primeiro passo na construção dessa credibilidade é levantar todos os personagens envolvidos com o negócio da
empresa — desde investidores, bancos,
fornecedores e funcionários diretos ou
terceirizados até vizinhos e consumidores finais. E ouvi-los. “É preciso fazer um
mapeamento sério, levantar demandas,
ouvir o que estes atores têm a dizer e fazer políticas de relacionamento”, recomenda Fujihara.
E essa é uma preocupação que deve
estar presente em empresas de todos os
Fábrica de celulose no sul
da Bahia fez parceria com MST
e indígenas para reverter impacto
negativo na região do entorno
las (moradores de áreas remanescentes
de quilombos).
Diante do impacto às comunidades onde atuava, a Fibria passou a implementar
uma série de programas para melhorar as
relações com os vizinhos. O mais ousado
foi o Projeto Alvorecer, no sul baiano. Em
uma iniciativa inédita no Brasil, a partir
de agosto de 2011 a empresa começou a
desenvolver um programa de implantação
de assentamentos rurais sustentáveis em
parceria com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Os assentamentos foram criados em uma
área de 12 mil hectares no município de
Prado (BA), onde ficavam cinco fazendas
da Fibria ocupadas pelo MST desde 2000.
Os terrenos foram desapropriados, com
indenização aos proprietários, pelo Instituto Nacional de Reforma Agrária (Incra),
em 2012, e passaram a abrigar 1.127 famílias
camponesas acampadas na região. Assim,
a Fibria transformou um foco de tensão
social em uma parceria inédita com a comunidade local, que ganhou impulso ainda maior em 2013, quando foi inaugurado
um centro de formação em agroecologia
construído por meio da parceria entre a
fábrica de papel e celulose e o MST.
Além dessa iniciativa pioneira, a Fibria
abriu canais de diálogo com indígenas e
quilombolas que reivindicam terras nos
arredores da unidade fabril do Espírito
Santo. “Ela mapeou os atores de seu negócio e identificou suas necessidades, mas
não se ateve ao primeiro momento apenas.
Mantém um processo de relacionamento
constante”, diz Boechat.
Entre outras ações, a Fibria permite o
uso de suas fontes de água pela comunidade e oferece orientação aos pequenos
produtores, transformando-os em parceiros do negócio. “Isso é o que faz a diferença, demonstra as boas intenções”,
completa o professor da Fundação Dom
Cabral. Graças a essas iniciativas, a Fibria
conquistou uma licença social para operar que seria impensável até poucos anos.
A Bosch na sua vida
Estratégia global, benefício local
Há muitos anos a Bosch trabalha para
contribuir com o desenvolvimento social
das comunidades onde atua. Esta é uma
diretriz da empresa, conduzida no Brasil
pelo Instituto Robert Bosch, que desde
2000 coordena os projetos sociais no entorno das unidades da companhia. “Nós
trabalhamos em parceria com o poder
público e com as comunidades para criar
um mapa social, que identifica as necessidades das regiões nas quais estamos
instalados”, explica o coordenador do
instituto, Dirceu Puehler, destacando o
envolvimento de diversos atores: “Nunca
entramos sozinhos na comunidade: ela
precisa nos aceitar antes”.
O braço social da empresa mantém foco
na educação, trabalha em contato com
instituições públicas de ensino e tem
como uma de suas metas aproximar a
família do ambiente escolar.
O Instituto Robert Bosch atua nos municípios em que a Bosch tem unidades
de negócio: Curitiba (Paraná), Campinas
(São Paulo), Aratu (Bahia), Pomerode
e Joinville (Santa Catarina). Em todos
os lugares, a estratégia é a mesma: dar
autonomia às comunidades para que
elas identifiquem seus problemas e proponham soluções.
“Nós fazemos reuniões com professores
e diretores. Depois, damos a eles um
treinamento para o desenvolvimento de
projetos”, diz Puehler. São os próprios
professores, portanto, que propõem
as iniciativas que melhor se adaptem
a suas necessidades. “Eles escrevem os
projetos e nos apresentam, e, caso haja
aprovação, nós financiamos a iniciati-
Arquivo Bosch
Monkey Business Images/Shutterstock
38 | VidaBosch |
va”, afirma o coordenador do instituto.
Com esse método, o Instituto Robert
Bosch apoia cerca de 40 projetos por
ano. “Avaliamos o impacto de nossas
ações e percebemos que onde trabalhamos há uma melhor qualidade de
vida, um poder público mais presente
e jovens mais preparados para o mercado de trabalho”, finaliza Puehler. Saiba
mais sobre o Instituto Robert Bosch
em www.institutorobertbosch.org.br.
40 | VidaBosch |
aquilo deu nisso
| Por Bruno Meirelles
H
O laboratório do flex
Arquivo Bosch
Há 30 anos, a Bosch inaugurava no Brasil sua divisão Gasoline Systems, berço da tecnologia
que revolucionou a indústria automobilística nacional
oje, quase todo brasileiro que tem
um carro pode parar em um posto e escolher com que combustível quer
abastecer o veículo: álcool ou gasolina.
A prática se tornou tão corriqueira que
pouca gente se lembra que esta é uma das
maiores conquistas brasileiras no campo
da ciência e tecnologia. Graças a décadas
de pesquisas e inovações, os engenheiros
nacionais deixaram sua marca na história
da indústria automobilística mundial ao
criarem o sistema flex fuel, que permite
a um carro rodar com dois combustíveis
diferentes, de acordo com a preferência
do motorista. E esta tecnologia revolucionária nasceu nos laboratórios da divisão
Gasoline Systems da Bosch, que em 2015
completa 30 anos de existência no Brasil.
A própria fundação da divisão está ligada
a uma invenção da indústria automobilística
brasileira: os carros totalmente movidos
a álcool. O primeiro modelo do gênero foi
lançado em 1979, na esteira do Programa
Nacional do Álcool (Proálcool), iniciativa
do governo brasileiro adotada em 1975 para
estimular a produção de etanol e diminuir
a dependência do país por gasolina.
Durante a primeira metade da década
de 80, as vendas de carros a álcool dispararam no Brasil, e em 1985 a Bosch criou
uma divisão que realizava testes e adaptações de componentes desenvolvidos para carros movidos a gasolina, mas que no
Brasil teriam de trabalhar com o álcool.
Inicialmente, o setor se chamava K3, mas
logo foi rebatizado de Gasoline Systems.
“A Bosch estava em processo de desenvolvimento de componentes que suportassem o uso do álcool. Tais componentes
deveriam em um primeiro momento suportar gasolina com álcool e depois motores
exclusivamente a álcool”, lembra o atual
presidente da Bosch na América Latina,
Besaliel Botelho, que participou da criação
da divisão Gasoline Systems. Entre as peças testadas nessa época estavam bombas
de combustível, reguladores de pressão,
filtros de combustível, bicos injetores e as
galerias onde é distribuído o combustível.
“Ninguém no mundo falava de etanol,
apenas o Brasil. Isso nos obrigou a desenvolver novos materiais e fazer tratamentos
superficiais nas peças que chegavam ao
42 | VidaBosch |
aquilo deu nisso
mercado nacional, para que elas resistissem
ao contato com o álcool”, lembra Marcos
Araújo, responsável regional por bombas
de combustível da Bosch.
aquilo deu nisso | VidaBosch | 43
Na década de 80, no entanto, ainda existiam
limitações tecnológicas que comprometiam o funcionamento dos carros movidos
a álcool. O maior problema era na hora de
dar a partida em dias frios. O combustível
demorava muito para esquentar, e por isso foi preciso equipar os veículos com um
tanque auxiliar de gasolina para partida a
frio. Como os sistemas de alimentação dos
veículos fabricados no Brasil ainda funcionavam apenas com carburador, a quantidade de gasolina injetada para iniciar a
combustão no motor a álcool era controlada
manualmente, o que criava dificuldades para ligar o carro no inverno. A solução para
esse problema foi uma tecnologia criada
pela Bosch: a injeção eletrônica.
Em meados da década de 80, ela já era
uma realidade em outras partes do mundo,
mas ainda não havia chegado ao Brasil. A
principal barreira era a chamada Lei da
Informática, criada para fomentar a indústria nacional do setor. Na prática, ela
impedia a importação de bens eletrônicos
finais e não permitia que as multinacionais
produzissem tais componentes no Brasil.
“Nesta época nossos carros eram carburados e movidos a álcool, o que trazia vários problemas, como dificuldade de dar
partida em baixas temperaturas”, afirma
Fábio Ferreira, responsável regional pelas
unidades de controle e calibração da Bosch.
A saída para elevar o padrão tecnológico do mercado automotivo nacional sem
infringir a legislação foi trazer ao Brasil a
injeção analógica, que era de uma geração anterior à eletrônica, mas superior aos
carburadores então usados no país. E foi
justamente nesta época que a divisão da
Bosch passou a se chamar Gasoline Systems. “A estreia da injeção analógica se
deu com o Gol GTI 1.8L, em 1988, e trouxe
grandes melhorias. No entanto, a evolução
das legislações de controle de emissão de
Arquivo Bosch
Volkswagen divulgação
Superando barreiras
As limitações tecnológicas não foram as
únicas barreiras para a consolidação dos
carros movidos a álcool no país. A partir
de 1986, o governo brasileiro começou a
cortar os estímulos à produção de álcool,
o que levou a uma grave crise de abastecimento. Com isso, ficou cada vez mais difícil
encontrar etanol nas bombas dos postos, o
que praticamente acabou com o mercado
de carros a álcool nos anos 90.
Nesse período, porém, a divisão Gasoline Systems da Bosch já trabalhava na
tecnologia que ressuscitaria a utilização
de biocombustíveis no Brasil: o sistema
flex fuel. “Fizemos um protótipo em 1994
e apresentamos às montadoras. Porém,
era uma tecnologia mais cara do que a dos
carros convencionais, e nenhuma se interessou à época”, revela Marcos.
As condições ideais para a aceitação
do novo conceito só surgiriam em 2003,
quando o Brasil debatia sua matriz energética e os benefícios do etanol voltaram
a ganhar destaque. Nesta mesma época,
a Bosch conseguiu baratear os custos de
produção dos modelos flex por meio da
criação de uma tecnologia que dispensava
o uso de sensores de etanol, que eram caros. “A grande questão que envolve o carro
flex é o sistema saber com qual combustível
ele está trabalhando. Criamos um algoritmo para fazer esta detecção por meio da
quantidade de oxigênio presente na combustão, que é diferente para o etanol e a
gasolina”, explica o especialista em bombas de combustível da Bosch.
Para completar, o governo brasileiro
concedeu subsídios por meio da diminuição da alíquota do IPI dos carros flex,
Novas tecnologias
Apesar de todos esses saltos evolutivos,
alguns problemas antigos ainda persistiam
nos veículos nacionais, como o uso do tanquinho de gasolina para dar a partida no
motor em dias frios. Para acabar com a necessidade desse dispositivo, a divisão Gasoline Systems desenvolveu o sistema Flex
Start, tecnologia exclusiva da Bosch. “Ele é
acionado em dias frios e esquenta o etanol
na galeria de combustível. O álcool aquecido proporciona melhor queima, melhor
dirigibilidade e menor emissão de gases
poluentes. Assim, garante maior conforto
ao consumidor final, que não tem mais que
se preocupar em lembrar de abastecer o
tanquinho”, afirma Marcos.
O know-how e o pioneirismo da Bosch
no desenvolvimento da tecnologia flex fuel
também facilitaram o desenvolvimento e
preparo dos componentes para uso específico em outra novidade: os sistemas de
injeção direta, que proporcionam uma melhor queima de combustível.
Além disso, a Bosch fornece componentes
para outro sistema que traz benefícios
semelhantes, o Advanced-PFI. “A Bosch
oferecesoluçõesparaasdiferentesestratégias
das montadoras, como o Advanced-PFI,
também chamado de A-PFI. Esse sistema une
em um único motor diferentes tecnologias,
proporcionando uma maior economia de
combustível e performance próxima a de
um motor semelhante com injeção direta.
Dentre essas tecnologias está o Sistema
DECOS, que controla a vazão da bomba
de combustível conforme a necessidade
do veículo”, explica Marcos.
Arquivo Bosch
Arquivo Bosch
Arquivo Bosch
Arquivo Bosch
poluentes passou a exigir dos carros uma
precisão ainda maior, que só seria possível
com a injeção eletrônica”, completa Fábio.
Para viabilizar a fabricação em território nacional do sistema digital, a Bosch
e o Bradesco criaram uma joint venture
chamada Digilab. Assim, em 1992, o Vectra se tornou o primeiro carro produzido
no Brasil a contar com injeção eletrônica.
Revolução no mercado
compensando os custos maiores. Com isso,
as montadoras concordaram em produzir
modelos com essa tecnologia, e eles conquistaram o mercado nacional. “No Brasil, os postos já trabalhavam com etanol
na época do Proálcool. A infraestrutura
já estava pronta, e com a chegada do flex
essas bombas foram reativadas, gerando
um enorme volume de vendas de veículos.
Hoje os flex representam 90% do nosso
mercado”, completa Fábio.
1982
1985
1988
1992
1993
1994
2003
2005
2009
2013
Bosch cria o primeiro
sistema de injeção
eletrônica do mundo,
o KE-Jetronic, uma
evolução do sistema
de injeção mecânica
equipado com sonda
lambda
Fundação da divisão
Gasoline Systems
da Bosch no Brasil,
que passa a adaptar
injetores e bombas
de combustível
e reguladores de
pressão para trabalhar
com etanol puro ou
misturado na gasolina
Lançamento do Gol
GTI 1.8L, primeiro
veículo a circular no
Brasil com injeção
analógica
Divisão Gasoline
Systems da Bosch
começa a desenvolver
o sistema flex fuel
no país
Bosch lança no Brasil
o Motronic, primeiro
sistema de injeção
eletrônica adaptado
para motores a álcool
Lançamento do
primeiro protótipo
movido a álcool e
gasolina. O veículo
foi apresentado para
autoridades, entidades
de classe, montadoras
e imprensa
Começam a circular
no Brasil os primeiros
carros equipados com
sistema flex fuel
Bosch desenvolve
novo conceito de
aquecimento do etanol
dentro do distribuidor
de combustível e
ganha o Prêmio de
Inovação Tecnológica
da Finep (Financiadora
de Estudos e Projetos)
Lançamento do
sistema Flex Start,
que passa a equipar o
Polo E-Flex. Em 2011,
essa inovação da
Bosch começa a ser
produzida em série
no Brasil
Sistemas de injeção
direta flex com
componentes
desenvolvidos pela
Bosch passam a
equipar veículos do
mercado nacional
saudável e gostoso
| Por Débora Yuri
Natalia Klenova/Shutterstock
44 | VidaBosch |
F
Salmão
para todos
Antes restrito a restaurantes sofisticados, o peixe
se popularizou – para o prazer de quem aprecia
alimentação saudável
oi-se o tempo em que ele era artigo de
luxo na cozinha, ingrediente gourmet
nos restaurantes, espécie rara e cara de
pescado — resumindo, um alimento pouquíssimo consumido no Brasil. Dos anos
1980 para cá, o salmão popularizou-se, favorecido pela flexibilização da legislação
nacional sobre importações e, principalmente, pela expansão das fazendas marinhas ao redor do mundo.
Com essa evolução, ganharam o paladar e a saúde dos brasileiros. Da família
das trutas (Salmonidae), o peixe de carne
alaranjada tem sabor marcante, permite
preparos variados no dia a dia e ainda oferece uma série de benefícios ao organismo.
Como todos os peixes, é item essencial
para quem deseja seguir uma dieta saudável, afirma a nutricionista Lígia Martini,
professora da Faculdade de Saúde Pública
da USP e membro da Associação Brasileira
de Avaliação Óssea e Osteometabolismo
(Abrasso). Não só fornece elementos importantes, como vitamina D, ômega 3, selênio e fósforo. “O salmão se destaca pela
quantidade que contém destes nutrientes”, acrescenta.
A vitamina D é fundamental para o metabolismo ósseo: protege contra osteoporose e fraturas. “Age no intestino, no rim,
em ossos e glândulas paratireoides e é fundamental para o uso adequado do cálcio,
contribuindo para a manutenção da massa óssea e do sistema esquelético”, diz a
professora. E também atua na prevenção
de diabetes, doenças cardiovasculares e
alguns tipos de câncer. Uma posta modesta de salmão (100 gramas) supre de 60% a
70% de nossa necessidade de vitamina D,
frisa a nutricionista.
Já o ômega 3 é um tipo de ácido graxo
benéfico à saúde humana. Faz parte do grupo de gorduras poli-insaturadas, também
chamadas de essenciais. O adjetivo não é
Prático e versátil na cozinha
Hoje figura fácil de encontrar em simples
restaurantes por quilo, e queridinho dos
rodízios de comida japonesa espalhados
pelo país, o peixe oriundo das águas frias
do Pacífico e do Atlântico Norte ainda conserva seu charme. Na cozinha, a sugestão
das nutricionistas é evitar a adição de fontes
de gorduras saturadas, como a manteiga.
Sabor real
Veja quem são as blogueiras
responsáveis pelas receitas
desta edição
Arquivo Pessoal
casual: diversos estudos associam a ingestão dessa substância a uma maior proteção
contra problemas cardíacos. Como nosso
corpo não consegue produzi-la, ela precisa ser adquirida por meio da alimentação.
“Os peixes são especialmente ricos em
proteínas de boa qualidade e gorduras
poli-insaturadas, e o salmão pertence ao
grupo de peixes ricos em ômega 3”, explica
a professora Andrea Guerra Matias, do curso
de Nutrição da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
A recomendação de comer salmão com
frequência é especialmente válida para
gestantes. A professora Andrea cita pesquisas que ligam a presença de ômega 3
ao desenvolvimento adequado do sistema nervoso central do bebê. “Isso ajuda a
evitar o parto prematuro e o risco de baixo
peso.” Alguns especialistas, porém, recomendam evitar peixe cru nessa fase, para
não correr risco de contaminação.
Outros nutrientes importantes presentes no pescado alaranjado são o fósforo,
aliado de ossos e dentes, e o selênio — mineral que tem ação antioxidante (contribui
para retardar alguns processos de envelhecimento celular). Cem gramas do peixe atendem a 100% das recomendações
diárias de selênio.
Em alguns sites, discute-se se o salmão
selvagem, comumente capturado no Alasca, é ou não mais nutritivo que o criado em
cativeiro. O primeiro tem maior quantidade de vitamina D. Por outro lado, o espécime criado em fazendas marinhas — como a maior parte do salmão que chega às
mesas do Brasil — movimenta-se menos
e, por isso, apresenta maiores teores de
gordura saudável.
Resumindo: seja qual for o tipo que está
no seu prato, venha de onde venha, vale a
pena comê-lo com gosto.
saudável e gostoso | VidaBosch | 47
Nome Gabriela Rossi
Blog www.blogdobomgosto.com
Formação jornalista
Como aprendeu a cozinhar
Minha primeira lembrança de estar
na cozinha é ao lado de minha avó
materna, já falecida. Eu devia ter 4 ou
5 anos e, em cima de uma cadeira,
ajudava-a a fazer um delicioso mingau
de chocolate. Ela, meu avô e minhas
tias paternas me ensinaram muito.
Nome Juliana Gonçalez
Blog limaocomalecrim.com.br
Formação bacharel em Direito e analista
financeira, cursando gastronomia
Como aprendeu a cozinhar
Com influência da minha família.
Tudo começou com um pão de mel,
que meu pai adora. Entrei no curso
de gastronomia para aprender técnicas
e as razões pelas quais algumas
receitas não davam certo. Todo dia
aprendo: na faculdade, em livros,
em viagens e restaurantes ou em
testes que faço sozinha.
Preparações assadas com ervas ou suco
de laranja e maracujá são menos calóricas.
Retirar a pele do pescado, porém, elimina
boa parte do ômega 3 presente.
Além de saboroso e saudável, o salmão
é um peixe fácil e rápido de fazer em casa.
“Mesmo quem não tem prática na cozinha
consegue prepará-lo assado no alumínio”,
diz Gabriela Rossi, editora do Blog do Bom
Gosto. “Peixes costumam ficar deliciosos
temperados apenas com sal, pimenta-doreino e limão, quando crus, e cozinham
rapidamente, seja no forno ou na grelha.”
Não adianta, porém, caprichar no preparo se o salmão não for de boa qualidade.
Quem quiser comprar o peixe fresco, ensina Gabriela, deve verificar se as guelras
estão vermelhas e brilhantes; se os olhos
estão transparentes como vidro; se a pele
está úmida e as escamas, firmes.
“É melhor consumir o peixe fresco no
mesmo dia ou, se temperado e armazenado
corretamente na geladeira, no dia seguinte.
Quem preferir adquiri-lo congelado deve procurar embalagens bem lacradas e
transparentes, que permitam ver a posta
limpa, sem manchas e com cor salmão”,
diz a blogueira.
Para os mais tarimbados na arte da culinária, a versatilidade do salmão é outro
aliado. Ele pode ser servido como aperitivo
ou entrada, na forma de canapés, tartares,
sashimis ou ceviches; pode ser misturado a uma salada verde básica ou virar a
estrela de um molho para o espaguete do
dia a dia; e vai muito bem marinado com
ervas como tomilho-limão, dill ou alecrim.
Editora do blog Limão com Alecrim, Juliana Gonçalez é fã do pescado e o utiliza
em várias receitas. “Ele faz muito sucesso
quando sirvo assado no papel alumínio ou
papelote, que mantêm o vapor enquanto o
líquido da carne vai se misturando com o
tempero”, conta. “Também costumo fazer
o salmão cru, no estilo japonês, ou grelhado na churrasqueira, que deixa um gosto
de defumado de brasa”.
Com tantas possibilidades de preparo,
Gabriela Rossi e Juliana Gonçalez apresentam duas receitas para ajudar o leitor da
Vida Bosch a preparar pratos saudáveis
e gostosos com esse peixe cada vez mais
popular no Brasil.
Juliana Gonçales/Limão com Alecrim
saudável e gostoso
Arquivo Pessoal
46 | VidaBosch |
Salmão marinado com gengibre e agave
Ingredientes
1 filé de salmão
3 colheres de agave
2 colheres de shoyu light
1/2 dente de alho cortado em
pequenos pedaços
1/2 cebola roxa cortada em
fatias finas
1 cm de gengibre ralado
2 talos de cebolinha picados
1 limão
azeite para grelhar
leite para cobrir o salmão
filme plástico
Modo de preparo
Deixe o filé de salmão coberto com leite por 30 minutos na geladeira. Isso ajudará
a diminuir seu gosto e cheiro fortes. Enquanto ele estiver de molho no leite, corte
a cebola em fatias finas, amasse o alho, picando em pedaços bem pequenos,
e corte a cebolinha. Após marinar o salmão, retire-o do leite e deixe escorrer
(1 porção)
um pouco. Espalhe o alho e o gengibre em todos os lados do peixe, distribua
a cebola e a cebolinha cortadas. Coloque o agave e o shoyu light por cima, até
escorrer. Cubra tudo com filme plástico e leve novamente para marinar por 30
minutos na geladeira. Passado esse tempo, retire toda a cebolinha e todo o alho
que cobrem o peixe, pois eles poderão queimar e amargá-lo. Leve o pescado à
frigideira com um fio de azeite. Grelhe cada lado por 2 a 3 minutos e reserve.
O ponto ideal do salmão é rosado no centro e dourado nas laterais. Ele deve
desmanchar ao toque do garfo, sem ser preciso usar uma faca para cortá-lo.
Verifique o centro do salmão assim: afaste a carne do miolo com uma faca – ela
precisa estar rosada, mas não crua.
Para fazer o molho, use a mistura da marinada, com o suco do limão espremido.
Coloque o molho na frigideira usada para grelhar o salmão e deixe reduzir até
a metade, mexendo sempre, para não queimar. Reduzir significa que a água irá
evaporar, e o molho ficará cremoso.
Receita de Juliana Gonçalez, editora do blog Limão com Alecrim (www.limaocomalecrim.com.br)
saudável e gostoso
Gabriela Rossi/Blog do Bom Gosto
48 | VidaBosch |
Ingredientes
1 posta de salmão com cerca de 1 kg (com
ou sem pele)
8 aspargos verdes frescos
1 cebola grande em rodelas
4 batatas médias em rodelas largas
3 colheres de sopa de alecrim
1 xícara de chá de amêndoas em lascas
200 ml de azeite
2 colheres de sopa de sal
Pimenta-do-reino branca a gosto
Papel alumínio
(4 porções)
Modo de preparo
Unte um refratário grande de vidro com azeite. Corte a cebola em fatias
finas. Coloque os aspargos (sem os talos) em uma panela pequena com
água fria, levando ao fogo alto por 7 minutos (assim, eles não ficam moles
nem despedaçam). Escorra-os e reserve. Corte as batatas em rodelas
com cerca de 1 cm de espessura e coloque em uma panela média com
água. Leve ao fogo alto e deixe cozinhar até que fiquem com consistência
macia. Escorra a água das batatas e reserve. Corte a posta do peixe em
fatias de 3 ou 4 dedos de largura. Nos dois lados de cada fatia, passe
o sal, a pimenta e o alecrim. Corte tiras de papel alumínio com cerca
de 15 cm de largura (corte quantas for utilizar; cada tira comporta 1
pedaço de peixe). No centro de cada tira do papel, faça uma pilha com os
alimentos nesta ordem: batata (4 rodelas por porção), cebola (2 fatias),
fatia de peixe, amêndoas (1 colher de sopa rasa por porção). Antes de
dobrar o papel, coloque dois aspargos ao lado do peixe e regue tudo com
duas colheres de sopa de azeite. Dobre o alumínio de forma a fazer um
“pacotinho” fechado com os alimentos dentro. Ajeite as trouxinhas no
refratário e leve ao fogo médio (200°C) por 35 minutos. Para servir, leve o
refratário à mesa com as trouxinhas semiabertas.
Receita de Gabriela Rossi, editora do Blog do Bom Gosto (www.blogdobomgosto.com)
destaque para colecionar
Salmão assado com legumes e amêndoas
no papel alumínio