Retinopatia diabética - Liga de Oftalmologia
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Retinopatia diabética - Liga de Oftalmologia
MANIFESTAÇÕES OCULARES DE DOENÇAS SISTÊMICAS RETINOPATIA DIABÉTICA 1 Ricardo Evangelista Marrocos de Aragão 2 Bruno Fortaleza de Aquino Ferreira 2 Hugo Siquera Robert Pinto OBJETIVOS DE APRENDIZADO Conhecer os fa tores de ri s co e a fi s i opa tol ogi a ; Identi fi ca r pa ci entes com perfi l de ri s co a tra vés de a na mnes e e exa me fís i co; Reconhecer a s pri nci pa i s a l tera ções fundos cópi ca s e s ua s compl i ca ções ; Rea l i za r o di a gnós ti co di ferenci a l com outra s reti nopa ti a s ; Compreender os pri ncípi os do tra ta mento. RELEVÂNCIA A reti nopatia é a 3ª ca usa de cegueira em adultos no Brasil, s endo a princi pa l em pes s oa s em i da de produti va (16 a 64 a nos). É uma das complicações mais comuns da diabetes mellitus, encontrada, após 20 a nos, em mais de 90% no tipo 1 e em 50%80% no ti po 2, tendo aumentado bastante a incidência com o crescimento da expectativa de vi da dos pa ci entes . As a l tera ções va s culares da retina costumam progredir de modo semelhante em outros órgãos como ri m, cora çã o e cérebro, de modo que a reti nopatia têm correlação direta com a s obrevi da des s es pa ci entes . Detecçã o precoce e tra ta mento a dequa do reduzem cons i dera vel mente os ca s os de ceguei ra . INFORMAÇÕES GERAIS A di abetes mellitus (DM) é uma alteração metabóli ca ca ra cterizada por hiperglicemia crônica, cujas compl i ca ções s ã o primariamente mi crova s cul a res , a pes a r de a cometer va s os ma i ores – QUADRO 1. QUADRO 1. PRINCIPAIS COMPLICAÇÕES DO DIABETES MELLITUS. Agudas Cetoacidose diabética, Estado hiperglicemico osmolar Crônicas Microvasculares PATOGÊNESE Fatores de risco. Pode-s e divi dir em genéticos e nã o genéticos. Os componentes heredi tá ri os a i nda nã o fora m compl etamente elucidados, mas s abe-se que é funda menta l pa ra o curs o cl íni co da doença . Dentro os fa tores nã o genéti cos , o tempo de doença (a ci ma de 5-10 a nos ) é o pri ncipal fator determinante para o desenvolvimento da RD. Por outro l a do, nívei s pres s óri cos el eva dos , control e gl i cêmico inadequado e gra videz es tã o ma i s rel a ci ona dos com s ua progres s ã o – QUADRO 2. Retinopatia , Neuropatia , Nefropatia QUADRO 2. FATORES DE RISCO NÃO GENETICOS PARA RETINOPATIA DIABÉTICA. Macrovasculares Coronariopatia, cerebrovascular Doença vascular periférica, Doença O número de i ndivíduos diabéticos está aumentando à s custas do crescimento e do envelhecimento populaciona l , da ma ior urbanização, da crescente prevalência de obesidade e s edentarismo e da maior sobrevida de paci entes com DM. Al ém da reti nopa ti a di a béti ca (RD), a DM es tá rel a cionada a uma ma i or preva l ênci a de outra s doença s ocul ares, como ca tarata, glaucoma, perda de s ens i bi l i da de cornea na e déficit motor da musculatura extrínseca ocular. É, a i nda , a pri nci pa l ca us a de doença rena l termi na l e a mputa ções nã o tra umá ti ca s de membros i nferi ores . 1. PROFESSOR DA DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 2. ACADÊMICO DE MEDICINA – UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ Tempo de doença Nefropatia diabética Glicemia mal controlada Sexo masculino Hipertensão arterial Tabagismo Idade do diagnóstico Dislipidemia Puberdade Obesidade Gestação Fisiopatologia. As l es ões da RD ocorrem em progres s ã o cronol ógi ca , exceto pel o edema ma cul a r. A hi perglicemia crônica desvia o metabolismo da gl i cos e pa ra vi a s a l terna ti va s , forma ndo fa tores i nfl a ma tóri os , trombogênicos e va s ocons tri ctores , a l ém de a umenta r a TEXTO REVISADO EM 18/02/2013. DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ s us cetibilidade a o estresse oxidativo, resultando em ocl us ã o e fra gilidade vascular com perda de pericitos. Ess e proces s o de enfraquecimento dos capilares causa a quebra da barreira hema torreti ni a na , o que pos s i bi l i ta forma çã o de mi croa neuri s ma s (a cha dos ma i s precoces da RD) e extra va samento de plasma para o i nterstício, resulta ndo em hemorra gi a s e edema . QUADRO 3. CLASSIFICAÇÃO DA RETINOPATIA ACHADOS CARACTERÍSTICOS. Fase DIABÉTICA E SEUS Achados Não proliferativa Precoce Microaneurismas, exudatos duros Avançada (pré-proliferativa) Manchas algodonosa, alterações das vênulas, hemorragias em “chama-de-vela”, AMIR Proliferativa pontos hemorrágicos Neovasos AMIR: Anormalidade microvasculares intrarretinianas. QUADRO 4. ACHADOS FUNDOSCÓPICOS NA RETINOPATIA DIABÉTICA. FIGURA 1. Formação de edema retiniano (por quebra da barreira hematorretiniana) e microaneurismas (por oclusão vascular). Na vi gência de oclus ões , podem-s e forma r s hunts a rteri ovenosos. Ocorrendo i squemia, há liberação de fatores a ngi ogêni cos com prol i fera çã o de neova s os , cujo rompi mento res ul ta em hemorra gi a s i ntra vítrea s . CLASSIFICAÇÃO A RD é di vidida em doi s es tá gi os pri nci pa i s : nã o prol i fera ti va (RDNP) e prol i fera ti va (RDP) – QUADRO 3. A RDNP é ca ra cteri za da por a umento da permeablidade capilar e à ocl us ã o va s cul a r. É di vi di da em reti nopa ti a precoce (RDNPP) e a va nça da (RDNPA). Na RDNPP encontra-se microaneurismas e exuda tos duros , sendo esperados em praticamente todo diabético com 25 a nos ou mais de doença. Pode evoluir com surgimento de á rea s i s quêmi ca s ca ra cteri s ti ca s da RDNPA, tendo a a ngiografia como exame padrão-ouro para seu di a gnós ti co. A pres ença de neova s os ca ra cteri za a RDP. As compl i ca çõe s es tã o a a s s oci a da s a es s a fa s e da RD. Achados Comentários Microaneurismas Pequenos pontos vermelhos bem delimitados. São os achados mais precoces da doença Podem romper, causando pequenas hemorragias intrarretinianas. Hemorragias intrarretinianas Quando puntiformes são indistinguíveis dos microaneurismas sem auxílio da angiografia. Quando ocorrem na camada de fibras nervosas, podem configurar imagem semelhante a uma "chama-de-vela". Deve-se pesquisar hipertensão, por ser um achado comum em ambas as doenças. Edema macular Principal causa de cegueira legal na diabetes. O paciente pode apresentar metamorfopsia, borramento visual, escotoma central e baixa visual. Exsudatos duros Lesões amareladas, pequenas, com margens definidas, formadas por lipídios. Ocorrem por extravasamento de plasma, resolvendo sem danos em 2-3 semanas. Quando depositados na camada plexiforme externa podem formar “estrela macular”. Anormalidades microvasculares intrarretinianas Linhas vermelhas finas que partem das arteríolas em direção às vênulas. Correspondem à circulação colateral. Manchas algodonosos Manchas esbranquiçadas, relativamente grandes, mal delimitadas. Correspondem a infarto de áreas retinianas, desaparecem em 3-6 semanas com perda permanente de fibras nervosas. Dilatações venosas Podem apresentar forma de alça, aspecto de rosário e segmentação tipo “salsicha”. Neovasos Definem retinopatia diabética proliferativa. Geralmente originam-se do disco óptico ou das vênulas proximais. ABORDAGEM AO PACIENTE MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS A pri ncipal manifestação cl íni ca da RD é a ba i xa de a cui da de vi s ua l (BAV), que pode s er s úbi ta (a guda ) ou progres s i va (crôni ca ). A BAV a guda, na maioria da vezes uni l a tera l , ocorre por doi s meca ni s mos pri nci pa i s : hemorra gi a vítrea e des col a mento de reti na do ti po tra ci ona l . A BAV crôni ca deve -s e pri nci pa l mente a o edema ma cul a r, podendo a i nda s er provoca do por outra s compl i ca ções , como o gl a ucoma neova s cul a r. O a cometimento é geralmente bilateral e a s s i métri co, s endo um s i ntoma ta rdio da doença. Desse modo, muitos pacientes nã o s ão diagnosticados, mesmo na presença de lesões graves e i rrevers ívei s . Ao exa me cl íni co, a l ém dos a cha dos reti ni a nos , podem ocorrer ca tarata subcapsular posterior, rubeose de íris RETINOPATIA DIABÉTICA | 40 DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ e probl emas neurológicos, como défici ts na movi menta çã o ocul a r, res ul ta ndo em es tra bi s mo. DIAGNÓSTICO O di agnóstico da RD se fa z pelo exa me de fundo de ol ho. Idealmente, todo paciente com DM deve s er a va l i a do por um ofta lmologista anualmente. Porém, em decorrênci a do enorme número de doentes e da di fi cul da de de a ces s o pa ra todos, é recomendada a realização de tria gem pa ra RD por todo médico. Todo paciente DM1 a cima de 12 a nos deve s er a valiado a pós 5 a nos de doença. Por outro lado, o ra streio em pa ci entes com DM2 deve ocorrer a o di a gnós ti co. A a va liação engloba medida da a cuida de vi s ua l pa ra l onge e pa ra perto e ofta l mos copi a . Na dependênci a dos a cha dos fundos cópi cos do pa ci ente, há necessidades diferentes de encaminhamento a o es peci a l i s ta – QUADRO 5. QUADRO 5. RECOMENDAÇÕES DIABÉTICA. PARA TRIAGEM DA RETINOPATIA Descrição do exame Conduta Fundo de olho normal ou RDNPP assintomático Revisão anual do generalista RDNPP com BAV ou RDNPA ou Maculopatia Encaminhamento ao oftalmologista RDP ou Hemorragia pré-retiniana ou vítrea ou RI ou DR Encaminhamento urgente ao oftalmologista RDNPP: Retinopatia diabética não proliferativa precoce; RDNPA: Retinopatia diabética não proliferativa avançada; RI: Rubeose de íris; DR: Descolamento de retina. Diagnóstico diferencial. O pri nci pa l di a gnós ti co di ferencial da RD é a retinopatia hi pertens i va (RH). Apes a r dos cruzamentos arteriovenosos patológicos fa zerem pa rte a penas da fisiopatologia da RH, diabetes e hi pertens ã o s ã o condi ções comumente a s s oci a da s , torna ndo i mporta nte s empre correlacionar os achados fundoscópicos a hi s tóri a e exa me cl íni cos – QUADROS 6 e 7. QUADRO 6. DIAGNÓSTICOS DIFERENCIAIS DA RETINOPATIA DIABÉTICA. Retinopatia hipertensiva Retinopatia por oclusões venosas Síndrome ocular isquêmica Retinopatia por irradiação COMPLICAÇÕES As pri ncipais complicações da RD s ã o a quel a s que l eva m à deficiência vi sual a guda: hemorragias, descolamento da reti na e rubeose de íri s . Hemorragias. Va s os neoformados são mais frágeis e, porta nto, ma i s s us cetívei s a s a ngra mentos , a ma i ori a ocorrendo durante o sono. Quando surgem entre a retina e o vítreo, podem ra pidamente causar descolamento tracional da reti na . Descolamento tracional da retina. Acomete cerca de 5-10% dos diabéticos. O tecido fibrovascular tende a cres cer em di reção a l oca i s com menor res i s tênci a , como a fa ce pos terior do vítreo. Desse modo, tra ções vítrea s podem s er tra ns mitida s à reti na , ca us a ndo des col a mento. A reti na a pres enta -s e com s uperfíci e es ti ca da , bri l ha nte, s em des locamento de fluido subrretiniano. Se houver proliferação fi brovascular na superfície do nervo óptico, ele também pode s er tra ci ona do, ca us a ndo ba i xa vi s ua l . Rubeose da íris. É a prol i fera çã o a nteri or de neovasos, alcançando a íris. Ocorre na retinopatia di a béti ca prol iferativa, sendo mais comum em paciente com isquemi a s evera ou descolamento de retina persistente à vi trectomi a vi a pa rs pl a na . Pode ca us a r gl a ucoma neova s cul a r. CONDUTA O tra ta mento da RD depende do estágio da doença. A prevenção de deficiência vi sual se baseia na tría de: tri a gem (pos s i bi l i ta o di a gnós ti co), control e ri goros o dos nívei s gl i cêmi cos e pres s óri cos (l enti fi ca m a progres s ã o) e tra ta mento precoce (es ta bi l i za a perda vi s ua l ). Prevenção. O tra ta mento pa ra RD ma i s efi ca z é o preventivo, is to é, o control e rígi do do nívei s gl i cêmi cos . Es tudos mos tra ra m que a ma nutençã o de hemogl obi na gl i cosilada em níveis i nferiores a 7% está melhor relaciona da a um melhor prognóstico. retinopatia . Ca da 1% de reduçã o da hemoglobina glicada reduz o ri s co de a pa reci mento da reti nopa ti a em 35% e de progres s ã o em 39%. Laserterapia. A fotocoa gul a çã o é o pri nci pa l tra ta mento na redução da perda de vi são da RDP, reduzi ndo em a té 95% a cha nce de ceguei ra . Es tá i ndi ca da qua ndo houver hemorra gia vítrea ou prerretiniana, neovascularização (a ti ngindo 1/3 ou mais do di s co ópti co) e edema ma cul a r cl i nicamente s ignificati vo. Anti a ngi ogêni cos e corti coi des i ntra vítreos estão sendo desenvolvidos como a l terna ti va s à fotocoa gul a çã o. Vitrectomia. O pri nci pal tratamento pa ra a s forma s compl icados é a vi trectomi a vi a pa rs pl a na , i ndi ca da na s hemorra gi a s vítrea s e no des col a mento de reti na . QUADRO 7. DIFERENCIAL DE RH E RDNP AVANÇADA. Achado RH RDNP avançada CAV patológicos +++ - Hemorragias + +++ Exsudatos duros + +++ Exsudatos algodonosos + +++ RETINOPATIA DIABÉTICA | 41 DISCIPLINA DE OFTALMOLOGIA FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ REFERÊNCIAS 1. BRADFORD, C. A. Basic ophthalmology. San Francisco: American Academy of Ophthalmology, 2004. 2. KANSKI, J. J. Oftalmologia clínica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 3. REY, L. Dicionário de Termos Técnicos de Medicina e Saúde . 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