cultura | ARTES CÊNICAS
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cultura | ARTES CÊNICAS Divulgação Encantamento está no script das encenações no Globe Theatre inglês, como deve acontecer no Globe mineiro: ineditismo e atores mais próximos da plateia Shakespeare à mineira Pela primeira vez na história será construído fora de Londres um autêntico Globe Theatre. Além de sediar a réplica do espaço físico, com capacidade para 1.500 espectadores, Minas Gerais vai abrigar um grandioso “corredor cultural”, que permitirá ao estado entrar na rota de um dos mais importantes festivais de artes cênicas da atualidade 150 |Encontro ENC134CUL_artescenicas.indd 150 29/06/12 20:18 Divulgação ]Tereza Rodrigues Se tem uma coisa que o típico mineiro faz bem é noticiar seus grandes feitos somente quando as cortinas do espetáculo estão prestes a se abrir para a plateia. Não foi diferente com a conquista da chancela do Shakespeare Theatre Association para que a Arte Brasil Produção Cultural, que tem sede em Belo Horizonte, promova em terras mineiras um dos mais ambiciosos projetos de artes cênicas em curso no país. Depois de mais de quatro anos trabalhando para tornar real o “Globe Theatre Brasileiro”, o produtor cultural Mauro Maya, fundador da Arte Brasil e do Instituto Gandarela (criado com esta finalidade), acaba de assinar o convênio que o torna representante da associação shakespeariana na América Latina. “É uma conquista sem precedentes, porque não é simplesmente uma permissão para construir a réplica do teatro fora de Londres. O projeto promove um intercâmbio espetacular entre Brasil e Inglaterra, além de expandir a universalidade da obra de Shakespeare”, explica Maya. De fato, o que a dramaturgia de William Shakespeare permite para a formação do ser humano vai além de um intercâmbio de culturas – e agora esta representação ganha forma em Minas Gerais. A ideia é abrir um “corredor cultural” que circunda a Serra da Gandarela, abrangendo cerca de 25 municípios próximos a BH, e trazer, além de espetáculos teatrais, formação. O projeto tem como frente a construção de um segundo Globe Theatre, previsto para ser inaugurado em 2016, quando serão celebrados os 400 anos da morte do grande mestre do drama. Mas o foco recai, principalmente, em ações que começam a sair do papel já no mês que vem, em agosto: o treinamento de atores, diretores, cenógrafos, iluministas, designers, marceneiros, músicos e administradores de extensões desse universo. Ou seja, a parceria está sendo firmada para dar condições de se produzir por aqui espetáculos tão grandiosos e emocionantes quanto os que podem ser vistos atualmente na terra da rainha – é o que garante Mauro Maya. “Estamos reunindo uma equipe de primeira para fazer jus ao Mesmo com características tropicais, o Globe daqui seguirá o modelo do original, representado na maquete: estrutura única e inconfundivelmente oval A inspiração vem de onde? O primeiro Globe Theatre foi construído em 1598, pelo ator James Burbage, que chamou quatro membros da companhia de teatro Lord Chemberlain´s Men – William Shakespeare, inclusive – para serem acionistas, no intuito de cobrir os custos e manter o espaço funcionando. Foi lá que, por 14 anos, muitas das mais famosas peças do Bardo foram encenadas. Durante uma apresentação de Henrique VIII, em 1612, um canhão do palco atirou por engano e incendiou o teto do teatro. O Globe ficou totalmente destruído em menos de duas horas. Mesmo sendo reconstruída depois, a estrutura não resistiu às ordens do governo puritano, em 1642, de fechar todos os teatros de Londres. O novo teatro foi derrubado dois anos mais tarde para dar lugar a casas. Mais de três séculos do “fim” do compromisso de oferecer, antes de tudo, qualidade”, diz o idealizador. Segundo ele, ainda estão sendo definidas a programação e a equipe de professores que conduzirá as oficinas na primeira fase (que envolve cursos e apresentações). Representantes da Shakespeare Theatre Association estarão presentes em praticamente todas as etapas do projeto; e, entre os brasileiros, o projeto já conta com a colaboração de nomes como Aimara Resende, Gabriel Villela, Babaya, Orquestra de Ouro Preto e Alceu Valença. Globe, o ator, produtor e diretor americano Sam Wanamaker quis reconstruir o teatro. Em 1970, iniciou um fundo dedicado à iniciativa, mas ele morreu em 1993 sem ver seu projeto concluído. Foi em junho de 1997 que o Shakespeare´s Globe Theatre – que fica a 800 metros de distância do local original – foi inaugurado pela rainha Elizabeth II. Atualmente, o espaço recebe mais de um milhão de visitantes por ano. Há poucos dias, entre os meses de abril de junho, foi promovido no novo teatro o festival Globe to Globe, em que 37 companhias de diferentes países apresentaram 37 peças de Shakespeare em 37 línguas. O nosso Grupo Galpão, com a peça Romeu e Julieta, foi o representante brasileiro no evento e a única trupe, entre as 37, que já havia representando na casa anteriormente. Paralelamente, está sendo pensada a curadoria para promover em Belo Horizonte, em data próxima à Copa do Mundo de 2014, o festival Globe to Globe, que reúne grupos teatrais de diferentes países para apresentar peças de Shakespeare em suas línguas nativas. “Entraremos em uma rota inédita. Além de receber as companhias que melhor encenam os espetáculos shakespearianos, queremos dar todas condições de despontarem daqui peças imperdíveis também. Por isso a formação não é só para os atores, mas Encontro | 151 ENC134CUL_artescenicas.indd 151 29/06/12 20:18 cultura | ARTES CÊNICAS Guto Muniz/divulgação O diretor Gabriel Villela, com atores do Galpão no ensaio de Romeu e Julieta: “Para nós, Shakespeare é deus, e agora teremos uma capela” contempla técnicos, figurinistas e toda a equipe que pensa e faz o teatro”, explica Mauro Maya. O diretor, cenógrafo e figurinista Gabriel Villela (que dirigiu o Grupo Galpão nas duas montagens do grupo da premiada peça Romeu e Julieta) se mostra animado com a ideia e conta que o que está sendo conseguido pelo Instituto Gandarela é bem mais que a conquista de um palco: É uma escola ambiciosa, um conceito renascentista de fazer teatro. O Mauro é parecido comigo, quando põe uma coisa na cabeça vai até o fim”, conta o diretor. Ele compara o Globe Brasileiro ao trabalho que é feito na Escola do Teatro Bolshoi, que chegou a Joinville (SC) em 2000 e, ainda hoje, é a única escola do Bolshoi fora da Rússia. “Mudou a completamente a forma de conduzir a formação dos jovens bailarinos no Brasil”, exemplifica. Nas palavras de Villela, o que está vindo para Minas é mais que a arquitetura e a experiência da equipe de um dos teatros mais importantes do mundo, é a transferência de um conceito. “Para nós, Shakespeare é deus, e aqui teremos uma ca- Perspectiva do complexo cultural que será erguido em Ouro Preto ou em Rio Acima: o plano é construir teatros e escolas e desenvolver projetos culturais e educacionais pela”, sintetiza. Arquiteta responsável pela construção da “capela”, a (também) mineira Du Leal esteve por dois meses em Londres estudando de perto as particularidades do Globe. “Para ter a chancela deles, precisamos respeitar regras minuciosas, mas daremos brasilidade ao espaço. Teremos cores nossas, o pau-a-pique, e referências ao barroco”, conta a arquiteta, que planeja um complexo cultural com pelo menos dois teatros – um com 1.500 lugares e outro com 300 – e uma escola. Também “encantada” com o projeto, Du Leal destaca o que mais a impressionou: “O Globe permite um encontro mais próximo com a plateia. Trará experiências únicas para os atores e para os espectadores”. Ainda não foi definida a localização do teatro maior, que pode ser construído em Ouro Preto ou em Rio Acima, na região metropolitana de BH. A primeira proposta foi para Rio Acima, onde o Instituto Gandarela já conseguiu um terreno de 20 mil metros quadrados. Mas como ambas são consideradas cidades-polo do corre- 152 |Encontro ENC134CUL_artescenicas.indd 152 29/06/12 20:18 Divulgação O produtor Mauro Maya entre os ingleses Jon Greenfield, arquiteto, e Peter Mccurdy, engenheiro: união de esforços pela construção do Globe Theatre brasileiro dor cultural, o interesse por Ouro Preto também é grande, com a possibilidade de aproveitar o terreno onde antes funcionava a fábrica de tecidos Ouro-Pretana, e devido à infraestrutura já existente na cidade para receber turistas. “Não chega a ser uma disputa; estamos trabalhando várias possibilidades para levantar o complexo, mas o polo de formação está acertado para começar em Rio Acima”, diz Mauro Maya. A secretária de Turismo e Cultura de Rio Acima, Jordânia Iglesias, comemora a parceria: “A cidade tem paisagens belíssimas, um circuito de 84 cachoeiras e um potencial enorme para o turismo, a ser alavancado pelo trenzinho que começa a funcionar no final de julho. Mas um projeto como este com certeza tem muito a acrescentar”, diz. Em Ouro Preto, o ex-secretário de Cultura e Turismo, Chiquinho de Assis, é um dos maiores entusiastas do Instituto Gandarela. “Ganha o turismo, a educação, o meio ambiente e a sociedade como um todo. Imagine trabalhar dramaturgia, folclore, música... ancorados em Shakespeare, Gui- marães Rosa e Drummond?” Segundo Chiquinho, a cidade tem recebido visitas de representantes do teatro elizabetano: “Eles já fizeram contato com mestres de ofícios da região e se interessaram pelo que temos de rico também, especialmente o nosso Teatro Municipal”. E não é por acaso, a Casa da Ópera de Vila Rica é considerada a mais antiga sede de teatro em funcionamento das Américas – foi inaugurada em 1770. Para o mais representativo teatro mineiro também faz planos Mauro Maya, que, antes de ser empresário e publicitário, é ator por formação. Ele participou do primeiro Oficinão do Galpão, em 1998, e pretende voltar a vestir a roupa do inesquecível tio Tobias, o personagem bêbado que o aproximou do universo shakespeariano na peça Noite de Reis: “Meu plano é viabilizar uma ótima estrutura para as artes cênicas em Minas e poder atuar nos palcos que estimulam que eu corra atrás de sonhos como este”, diz. ] Colaborou Marina Dias www.jey.com.br www.blogdajey.wordpress.com facebook.com/jeyloja ENC134CUL_artescenicas.indd 153 29/06/12 20:18
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