a teoria dos tipos psicológicos de jung e sua
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A TEORIA DOS TIPOS PSICOLÓGICOS DE JUNG E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO THE THEORY OF PSYCHOLOGICAL TYPES OF JUNG AND THEIR CONTRIBUTION TO THE TEACHER-STUDENT RELATIONSHIP Ricardo Eleutério dos Anjos Psicólogo e mestre em Educação Escolar pela UNESP – Araraquara, SP. RESUMO Este artigo tem por objetivo apresentar algumas contribuições da teoria dos tipos psicológicos de C. G. Jung para a relação professor-aluno. Por meio de uma análise bibliográfica, apresenta uma discussão sobre o desafio que tem a educação em adequar seus métodos de ensino às diferentes características dos alunos, bem como a necessidade do professor em conhecer esta diversidade e interagir diante dela. Conclui-se que, se o professor tiver em mãos um recurso que o possibilite entender os vários estilos de personalidade de seus alunos e, inclusive, seu próprio estilo, poderá criar um ambiente reflexivo onde será possível a extinção de um ensino unilateral, promovendo assim, o desenvolvimento da personalidade e a individuação de seus alunos. Palavras-chave: Tipos individualização. psicológicos. Relação professor-aluno. Processo de ABSTRACT This article aims at presenting some contributions of the theory of psychological types of C. G. Jung for the teacher-student relationship. Through a literature review, presents a discussion on the challenges that have to fit education into their teaching methods to the different characteristics of the students and the teacher need to know this diversity and interact before her. We conclude that, if the teacher has at hand a feature that allows to understand the different personality styles of their students, and even their own style, you can create a reflective environment where it will be possible extinction of a unilateral education, thus promoting , personality development and individuation of their students. Keywords: Psychological Types. Teacher-student relationship. Individuation process. INTRODUÇÃO A necessidade de adequação do ensino às diferentes características dos alunos tem sido um desafio para a educação. Segundo Coll e Miras (1996), a necessidade de o professor conhecer seus alunos e interagir diante de suas diferentes personalidades é algo que há muito tempo se procura solução, Contudo, ainda que a idéia abstrata de um ensino adaptado às diferenças individuais passa a ser rastreada ao longo de toda a teoria da educação, poucas foram as tentativas de formular procedimentos explícitos e sistemáticos para levá-la a cabo, até o início do presente século. (COLL; Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 80 MIRAS, 1996, p. 362). Se os professores tiverem em mãos um recurso que os possibilite entender os vários estilos de personalidade de seus alunos, poderão utilizar mais de um método de ensino, com a finalidade de conhecê-los e motivá-los, criando um ambiente onde todos possam participar. Isso contribuiria não só para uma boa comunicação, mas, sobretudo, ao que é proposto neste trabalho: contribuir para uma melhor relação professor-aluno. Pois, “[...] a função mais importante do professor é reconhecer a individualidade de cada um de seus discípulos e favorecer o desenvolvimento equilibrado de tal individualidade.” (HALL; NORDBY, 2005, p. 76). Lessa (2008) diz que os alunos e professores podem encontrar dificuldades em se relacionarem com pessoas de estilos de personalidade diferentes dos seus. Cita também a importância e a necessidade do professor desenvolver um autoconhecimento para observar, inclusive, os pontos fortes e as armadilhas de seu próprio estilo. Ao desenvolver a teoria tipológica e expor sua importância na compreensão da própria personalidade e da de outrem, Jung ressalta que o estudo dos tipos psicológicos é útil quando é “preciso explicar as reações dos pais aos filhos, as dos maridos às mulheres e vice-versa. Ajudam-nos também a compreender nossos próprios preconceitos.” (JUNG, 1977, p. 61). OS TIPOS PSICOLÓGICOS DE JUNG E A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO Jung (1991) assevera que, mesmo aqueles que não têm o conhecimento em psicologia, podem observar que há aquelas pessoas fechadas, introspectivas, pensativas, quietas, tímidas em contraste com aquelas outras pessoas que são abertas, tagarelas, populares, que fazem amizades com muita facilidade, briguentas, que persuadem e são persuadidas. Ao primeiro grupo de pessoas Jung denominou de introvertidos e ao segundo, extrovertidos. Estes são os tipos gerais de atitude. A diferença entre os introvertidos e os extrovertidos está no movimento da libido, ou seja, da energia psíquica. O introvertido busca o que é intrínseco, busca a subjetividade e tende a deslocar sua libido do objeto como se defendesse do que está exterior de suas reflexões. O extrovertido, ao contrário, se lança para o objeto aceitando-o com facilidade. Segundo Lessa (2008), os alunos introvertidos gostam de preparar-se para as Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 81 aulas. São reflexivos, concentrados e sabem ouvir mais. Os introvertidos preferem estudar em locais quietos onde possam concentrar-se e aprofundar assuntos. Gostam de realizar trabalhos em grupos pequenos ou até mesmo sozinhos. Por preferir a reflexão e a análise de diversos temas, os alunos introvertidos preferem trabalhos mais demorados, que requerem maior tempo de elaboração. Lessa (2008) chama a atenção do docente para o fato de que, como sabem que o estudante introvertido gosta de se preparar antecipadamente para as aulas, o professor poderá passar para ele informações de consulta, bibliografias adicionais – com antecedência – para que este participe melhor das aulas. Segundo esta autora, faz-se necessário que o professor perceba a timidez dos introvertidos e tente auxiliá-los, pois, são independentes e individualistas nos trabalhos em grupo. Deve-se ter o cuidado de não rotular os introvertidos de soberbos ou egoístas. Esta aparente individualidade acontece porque, na maioria das vezes, eles têm dificuldades em expor seus pensamentos em público, são tímidos e deixam de manifestar-se a respeito de assuntos que dominam, prejudicando assim a atuação em classe. O estudo da tipologia junguiana irá fornecer dados que auxiliarão o professor na dinâmica da relação em classe bem como no lidar com as peculiaridades dos alunos. Por exemplo, deve-se tomar o cuidado de não interpretar erroneamente os introvertidos como se fossem lentos ou despercebidos. A mesma velocidade que tem o extrovertido em colocar para fora suas ideias, tem o introvertido em captar as ideias. Vale lembrar que essa é uma diferença de movimento da libido e não uma dificuldade de aprendizagem, como poderia ser interpretada. Diante da tentação que pode haver em rotular o introvertido, Jung explica que: “geralmente estamos mal informados sobre o introvertido, pois não conseguimos vê-lo. Não podendo reagir imediatamente para fora, também não aparece sua personalidade.” (JUNG, 1991, p. 311). Jung (2006) sugere que na formação docente deveriam ser incluídos temas psicológicos, porém, mais importante do que isso é a necessidade premente que tem o professor em conhecer sua própria personalidade. Nas palavras de Jung: Certamente seria de desejar que os professores tivessem conhecimento desses métodos; mas esse conhecimento seria desejável não no sentido de ser aplicado na educação das crianças, mas no de ser aproveitado para a própria educação do professor. A educação do próprio professor, porém, reverterá indiretamente em benefício das crianças. (JUNG, 2006, p. 61). Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 82 Assim, o professor deve conhecer em primeiro lugar seu próprio tipo, suas habilidades, suas virtudes e, por outro lado, suas fraquezas, suas limitações e seus preconceitos, a fim de promover uma educação de si mesmo. Deste modo, faz-se necessária também uma reflexão das principais características do professor, com isso, ele conhecerá mais sua personalidade a fim de melhorar sua atividade docente e sua vida como ser humano. Jung (1991) faz um paralelo entre os introvertidos e extrovertidos com os tipos românticos e os clássicos denominados por Ostwald. Para Jung os românticos eram os extrovertidos e os clássicos, os introvertidos. Ostwald compara dois tipos de professores: Helmholtz é o professor clássico e Gauss, o romântico. Para Ostwald, o tipo romântico – ou extrovertido para Jung – fornece melhores professores. “O romântico empatiza com o aluno e sabe usar a palavra certa no momento certo. O clássico, porém, está às voltas com suas idéias e problemas e não percebe as dificuldades de compreensão de seus alunos”. (JUNG, 1991, p. 312). Jung faz uma critica a respeito de como Ostwald vê Helmholtz, o professor introvertido. Na visão de Ostwald, o professor introvertido, apesar de seu vasto conhecimento, nunca foi um bom professor, pois não reagia imediatamente às necessidades de seus alunos, mas só após certo tempo. Dizia que este era lento e por isso não era um bom professor. “A explicação de Ostwald, em termos de lentidão da reação do introvertido, parece-me insuficiente. Não se pode provar que Helmholtz possuísse menos rapidez de reação. Só não reagia para fora, mas para dentro” (JUNG, 1991, p. 313). Este autor explica que o professor introvertido: Não empatizava com o aluno e, por isso, não entendia o que o aluno queria. Por estar completamente voltado para suas idéias, não reagia na direção do desejo pessoal de seu aluno, mas na direção das idéias que a pergunta do aluno nele despertavam; e isso tão rápida e profundamente que logo se dava conta de um contexto maior, mas impossível de ser examinado naquele momento e apresentado de forma abstrata e bem elaborada; portanto, não foi por ser muito lento no pensar, mas por impossibilidade objetiva de captar num piscar de olhos toda a extensão do problema e reduzi-lo a uma fórmula pronta. (JUNG, 1991, p. 313). Este comentário de Jung retoma a preocupação de Saiani (2003) em considerar apenas um tipo como o correto. Jung (1991), diz que, não apenas entre os alunos, mas também entre os colegas de profissão, os professores introvertidos são vistos numa ótica deturpada: Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 83 Esta atitude peculiar do professor introvertido é, do ponto de vista do ensino, muito inconveniente e, do ponto de vista da impressão pessoal, desfavorável. Dá a impressão de ser lerdo, excêntrico e até mesmo limitado intelectualmente; muitas vezes é subestimado não só pelo grande público, mas também por seus colegas mais chegados, até que seu trabalho intelectual seja, mais tarde, reexaminado, reelaborado e traduzido por outros pesquisadores. (JUNG, 1991, p. 314). Diante destas explicitações, é importante dizer que tal asserção não pode ser utilizada pelo professor introvertido como uma justificativa para não mudar algumas atitudes que poderiam melhorar a relação professor-aluno, bem como a sua prática docente. Para Jung, tanto o introvertido como o extrovertido não deve permanecer estacionado numa zona de conforto, mas sim evitar alguns choques e estabelecer uma relação saudável com pessoas de outros tipos. Aconselha que “a ação do introvertido não seja constantemente inibida por preocupações e hesitações e que o extrovertido possa meditar sobre si mesmo, sem prejudicar suas relações” (JUNG, 2004, p. 51). Segundo Lessa (2008), em relação à extroversão, os alunos extrovertidos, diferente dos introvertidos, são comunicativos e populares entre os colegas. Sua atenção se volta às tarefas e atividades extraclasses e sentem dificuldade de concentração em tarefas longas e detalhadas que exigem reflexão. São impulsivos e exibicionistas. Os extrovertidos preferem ação e trabalhos em grupo. Segundo Lessa (2008), a aprendizagem dos extrovertidos se dá pela obtenção de conhecimento em grupo. O extrovertido, por exemplo, vai adotar sempre o ponto de vista da maioria; o introvertido há de rejeitá-lo, justamente por ser “o que está na moda” (JUNG, 1977, p. 60). Cabe ao professor perceber que “os extrovertidos podem enturmar contra os introvertidos, e os introvertidos não são bons em formar grupos e equipes” (STEIN, 2006, p. 37). Os professores devem tomar o cuidado de não rotularem os alunos extrovertidos. Jung cita algumas características específicas do extrovertido, para o autor, “o extrovertido não tem dificuldades em sua expressão pessoal, faz valer sua presença quase involuntariamente, pois, de acordo com sua natureza, tende a transferir-se para o objeto”. (JUNG, 1991, p. 310). O professor deve ter uma atitude crítica diante das diversidades de personalidades e auxiliar seus alunos na compreensão mútua. O estudo sobre os Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 84 tipos psicológicos leva o professor a entender que “o extrovertido se caracteriza por sua constante doação e intromissão em tudo [...]” (JUNG, 1991, p. 317). O extrovertido tem a necessidade de transparecer sua personalidade o que pode haver uma interpretação, por parte do professor leigo a este assunto, que este tem mais entusiasmo do que os introvertidos. Porém, Jung explica que ambos possuem entusiasmo. O que acontece é que o extrovertido “verte pela boca aquilo que lhe enche o coração, ao passo que o entusiasmo do introvertido lhe fecha a boca”. (JUNG, 1991, p. 312). Mostrando as diferenças do movimento da libido entre o professor extrovertido e o introvertido, bem como a relação com seus alunos e com a disciplina que ministra, Saiani diz “o professor extrovertido encontra em sua sala de aula um ambiente que não lhe é estranho, enquanto o professor introvertido necessita de todo um trabalho interior para lidar com uma turma de adolescentes.” (SAIANI, 2003, p. 38). O autor acrescenta que, por outro lado, um professor extrovertido talvez tenha dificuldades em lidar com seus alunos introvertidos, “a quem talvez classifique como sonhadores, distraídos ou egocêntricos. Pode também achar difícil assumir a solidão necessária para seu próprio estudo e para a preparação de suas aulas”. Para Jung, “um encarrega-se da reflexão; o outro, da iniciativa e da ação prática [pois] o valor de um é o desvalor do outro.” (JUNG, 2004, p. 47). Porém, vale lembrar que, para Jung, não existe o introvertido ou extrovertido puro, mas a inclinação a uma destas atitudes é que determinará o tipo (JUNG, 1991). O propósito deste estudo é que os educadores tenham em mãos um material científico que poderá facilitar a compreensão da singularidade de cada um de seus alunos. Neste contexto, “ser compreendido na sua singularidade possivelmente livraria muitos desses alunos de rótulos estereotipados procedentes da desconsideração da forma diversa que eles têm de compreender e de se posicionar frente ao conhecimento”. (TACCA; REY, 2008, p. 145). Após várias pesquisas, Jung concluiu que não havia simplesmente pessoas introvertidas e extrovertidas. Declarou que “existem tipos funcionais introvertidos ou extrovertidos, como tipos pensamento, tipos sentimento, [tipos sensação e tipos intuição]. Disso resulta um mínimo de oito tipos perfeitamente distintos.” (JUNG, 1991, p. 481). AS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 85 As funções psicológicas são: pensamento, sentimento, sensação e intuição. Estas funções podem ser extrovertidas ou introvertidas. Jung as divide em duas classificações: as funções racionais e as funções irracionais. As funções racionais são pensamento e sentimento, pois, são funções de julgamento. O pensamento permite que se conheça o que está presente e o sentimento constata qual é o seu valor, por exemplo, se é bom ou mau (JUNG, 1991). Por outro lado, as funções irracionais ou pré-racionais são assim chamadas porque são funções de percepção, ou seja, as pessoas percebem e só depois julgam. Estas funções são: sensação e intuição. “A sensação constata o que realmente está presente [...]; a intuição aponta as possibilidades do ‘de onde’ e do ’para onde’ que estão contidas neste presente.” (JUNG, 1991, p. 497). Von Franz (1971) sinaliza a presença da função superior e da função inferior ou inconsciente na pessoa. Assim, uma pessoa do tipo pensamento extrovertido, conseqüentemente, terá como função inferior, o tipo sentimento introvertido. O mesmo acontece com as funções irracionais, isto é, uma pessoa do tipo sensação introvertida, terá - inconscientemente - como função inferior, a intuição extrovertida. Jung (1991) afirma que, além da função inferior, o indivíduo dispõe das chamadas funções auxiliares ou secundárias que ficam acessíveis no consciente para auxiliar a função superior ou principal. Para Jung, “só pode ser função secundária aquela cuja natureza não está em oposição à função principal.” (JUNG, 1991, p. 382). Por exemplo, se uma pessoa é do tipo sentimento, a função pensamento não será uma função auxiliar, pois também é uma função de julgamento e, neste caso, inconsciente. Segundo este autor, para este indivíduo do tipo sentimento, a função secundária ou auxiliar seria a sensação ou a intuição. De acordo com Goto, Kamei e Fujii, A função superior é aquela que uma pessoa usa com mais freqüência e a função inferior refere-se àquela função utilizada em menor grau pelo indivíduo. A segunda função mais usada é chamada de função auxiliar, e a natureza desta (percepção ou julgamento) se difere da função dominante. Por exemplo, quando a função pensamento for a dominante, o sentimento não poderá ser a função secundária e vice-versa, pois ambos são funções de julgamento. (GOTO; KAMEI; FUJII, 2007, p.31). Para Lessa (2008), os alunos que utilizam mais as funções de julgamento – a função pensamento e a função sentimento – têm mais facilidade de planejar, pois seu foco está nos resultados. Por outro lado, os que utilizam mais as funções perceptivas, sensação e intuição, costumam apresentar grande flexibilidade e são Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 86 mais adaptáveis a situações novas. Os alunos que utilizam a função pensamento são objetivos e críticos. Estas pessoas tendem a ser impessoais e racionais para as tomadas de decisões. Tanto alunos como professores cuja função principal é o pensamento, utilizam mais a objetividade para lidar com os problemas (LESSA, 2008). Os alunos e professores cuja função principal é o sentimento, têm foco em pessoas e consideram os valores para tomar suas decisões. São mais sensíveis aos problemas dos colegas e podem encontrar dificuldades para lidar com conflitos, pois é possível que levem para o lado pessoal uma crítica de um professor ou colega. Os sentimentais agem de forma a agradar e não movidos pela lógica. Sua lógica é a lógica do coração e não da razão (LESSA, 2008; MAGALHÃES, 1984). Comumente, o tipo sentimento tem dificuldade de relacionamento com o tipo pensamento, pois não aceita bem a falta de tato no convívio. Os alunos e professores do tipo pensamento valorizam a transparência e não se preocupam muito com a diplomacia, despertando antipatias. Segundo Lessa (2008), estas dificuldades de relacionamento acontecem porque os sentimentais são mais inclinados a levarem as críticas para o lado pessoal. Os alunos e professores do tipo sensação são realistas, detalhistas e concentrados no presente. Tais pessoas não se interessam muito em teorias, preferem as tarefas práticas. Aulas ministradas com um conteúdo teórico sem uma atividade prática, geralmente, não agradam aos alunos do tipo sensitivo. As crianças do tipo sensitivo, por exemplo, se interessam mais por tarefas onde possam manipular, desmontar e tocar em objetos. Não são muito interessadas em contos de fadas como as intuitivas (LESSA, 2008). Diferentes dos alunos e professores do tipo sensação, os do tipo intuição valorizam a inspiração e os pressentimentos. Não são detalhistas e são pouco práticos. São curiosos e sua linha de interesse repousa em teorias e livros de ficção. O lado prático das aulas, sem muito conteúdo teórico, pode parecer monótono e sem interesse para os alunos do tipo intuição (LESSA, 2008). Porém, é necessário destacar que a tarefa dos professores é observar o tipo de seus alunos e ajudá-los a fortalecer seus elementos mais fracos. Ou seja, devem proporcionar situações onde não só incentivem a função principal de seus alunos, mas sim, fazer com que experimentem um ambiente onde possam utilizar todas as Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 87 outras funções para o bom desenvolvimento de sua personalidade. Por exemplo, um aluno sensorial precisa desenvolver sua intuição, como o aluno pensador precisa desenvolver sua função sentimento (HALL; NORDBY, 2005; LESSA, 2008). Segundo Sharp, Para que haja uma perfeita orientação, as quatro funções devem contribuir igualmente: o pensamento deve facilitar a cognição e o julgamento; o sentimento deve nos dizer como e em que grau uma coisa é ou não importante para nós; a sensação deve transmitir a realidade concreta através da visão, da audição, do paladar, etc; e a intuição deve capacitar-nos a pressentir as possibilidades ocultas, que se encontram em segundo plano, já que estas também fazem parte do quadro completo de uma determinada situação. (SHARP, 1987, apud GOTO; KAMEI; FUJII, 2007, p. 30) Tal asserção reforça a importância da relação professor-aluno, inclusive para proporcionar o processo de individuação do aluno. A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO E O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO Individuação é um conceito central na teoria de Jung. Caracteriza-se pelo processo em que uma pessoa tenta, de uma maneira consciente, compreender e desenvolver as possibilidades individuais e inatas de sua psique. A individuação consiste no fator importante da “personalidade está sendo fiel às suas próprias potencialidades mais profundas, em vez de simplesmente ceder às tentativas egocêntricas e narcisistas ou de se identificar com papéis culturais coletivos.” (HALL, 2007, p. 25). Para Jung, a pessoa só pode individuar-se na medida em que o ego permitir que conteúdos inconscientes tornem-se conscientes. Pois, o processo da individuação faz-se a partir da união dos opostos entre consciente e inconsciente. A individuação caracteriza-se quando o ego experimenta conteúdos arquetípicos que estão no inconsciente coletivo. Também pode ser entendido como um diálogo entre o ego e o Self (HALL, 2007; HUMBERT, 1985). Individuação é diferente de individualidade. Individuação é tornar-se uma personalidade unificada, mas também única. Em relação à importância da escola e da relação professor-aluno para processo de individuação, é fundamental destacar que: Para Jung, estava fora de dúvida que os professores constituem as influências mais poderosas sobre a individuação da criança, sobrepujando até mesmo as dos pais. Os professores são, ou deveriam ser, treinados para trazer para o consciente o ego inconsciente dos alunos. [...] os Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 88 professores estão [ou deveriam estar] em condições de identificar as desarmonias da personalidade de uma criança e de ajudá-la a fortalecer os elementos mais fracos. O aluno que se inclui na categoria do pensador superdesenvolvido pode ser estimulado a expressar a função indiferenciada do sentimento, o introvertido será encorajado a desenvolver a pouca extroversão. (HALL; NORDBY, 2005, p. 76) É importante que o professor observe se a relação professor-aluno tem propiciado ou não a individuação e não apenas preocupar-se em transmitir conteúdos programáticos para seus alunos. A tarefa do professor “não consiste apenas em meter na cabeça das crianças certa quantidade de ensinamentos, mas também em influir sobre as crianças, em favor de sua personalidade total”. (JUNG, 2006, p. 59). O professor deve ter o cuidado para não incentivar apenas a atitude consciente do aluno, sem que este seja incitado e motivado a utilizar suas outras funções psicológicas. É necessário que o professor tenha um bom relacionamento com alunos de tipos psicológicos diferentes para completar e suprir o que falta no outro. O professor deve encorajar seus alunos a utilizarem as funções psicológicas que não estão sendo utilizadas porque “[...] o que completa uma pessoa não é o que é igual a ela, mas sim aquele que é diferente, que tem algo que o outro não tem. O que nos completa é aquilo que nos falta para desenvolver”. (GOTO; KAMEI; FUJII, 2007, p. 36). Destarte, cabe ao professor incitar a utilização das outras funções psicológicas que não são as principais em seus alunos, a fim de que haja um desenvolvimento de todas as funções e não apenas num sentido unilateral. “Esta unilateralidade levaria a uma completa perda de equilíbrio se não fosse psiquicamente compensada por uma atitude inconsciente oposta”. (JUNG, 1991, p. 478) Segundo Von Franz (1971), um dos primeiros passos para o desenvolvimento psíquico é a assimilação das duas funções auxiliares e só depois a pessoa alcança o estágio de lidar com a função inferior. Segundo Von Franz, este processo funciona da seguinte maneira: O ego assimila a primeira função por algum tempo, até que consiga arrancar do inconsciente a segunda função auxiliar e, posteriormente, a terceira função. O mesmo não acontece com a quarta função, ou função inferior. Ela não pode ocupar o mesmo nível que as outras funções. Quando se chega ao estágio de lidar com a quarta função, a única solução possível é alcançar a região intermediária. Deste modo, na região intermediária não Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 89 há quatro funções, mas sim, “um fenômeno total da vida psíquica” (FRANZ, 1971, p. 91). Neste estágio, a pessoa utiliza suas funções à vontade para serem postos para cima ou para baixo. O ego não está mais identificado com nenhuma das funções e estas já não agem mais de forma automática. As funções, neste estágio, tornam-se instrumentos de uma consciência que não é mais dirigida por elas, pois “a consciência passa a ter a sua base de operação em outra dimensão, dimensão essa que só pode ser criada pelo mundo da imaginação. É por essa razão que Jung chama isso de função transcendente.” (FRANZ, 1971, p. 96). A individuação não é perfeição, mas sim uma plenitude, ou seja, uma totalidade. É necessário um abaixamento relativo do nível da personalidade consciente para que haja a interação com a função inferior que se elevará à região intermediária. Von Franz (1971) diz que a melhor maneira de lidar com a quarta função é através do que Jung chamou de imaginação ativa, ou seja, a melhor maneira de exteriorizar a quarta função seria através da escrita, do desenho, da pintura, da dança, entre outros recursos semelhantes a estes. SENTIMENTO: UMA FUNÇÃO DE RELACIONAMENTO Segundo Hillman (1971), a escola desenvolve mais as funções pensamento e sensação e, em alguns testes de inteligência estruturados na rapidez e adivinhação, a função intuição tende a desenvolver-se também. Entretanto, este autor chama a atenção de que a educação do sentimento, caracterizado nos valores, relacionamentos e gostos, não são alvos da escolarização, pois, “a música, a arte, os esportes, os clubes sociais, a religião, a política, o teatro e a leitura por prazer são eletivas e extracurriculares.” (HILLMAN, 1971, p. 188). A função sentimento é uma função de julgamento, uma função racional, todavia, mal interpretada pela cultura ocidental. Segundo Magalhães (1984) esta estranheza em relacionar o sentimento como racional se dá porque há uma supervalorização do pensamento e sua lógica, classificando de irracional toda função que não seja o pensamento. Saiani (2003) cita que muitos alunos dizem não gostar de matemática porque é uma disciplina que desenvolve a função pensamento, invocando, desta forma, seu oposto – a função sentimento – de uma forma primitiva, inconsciente. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 90 Outra observação de Saiani foi a questão das avaliações escolares em relação às funções pensamento e sentimento. Segundo ele, as provas objetivas constituídas de testes de múltipla escolha são embasadas no princípio do pensamento, ou seja, trata-se de [...] uma elaboração correta seguida de um erro de cálculo conduz à alternativa “errada”, enquanto um raciocínio errado pode levar à alternativa correta. Na correção de uma prova desse tipo, não se considera o estilo pessoal, as tentativas frustradas, as quase-conquistas: o que vale é o número de testes com a alternativa “certa”. (SAIANI, 2003, p. 176) Por outro lado, quando um professor corrige uma prova escrita e julga como meio certo a questão respondida, está utilizando sua função sentimento, “já que se relaciona com cada resposta de modo pessoal, julgando-a segundo os critérios que ele mesmo coloca.” (SAIANI, 2003, p. 176). A função sentimento é uma função de relacionamento, Na qualidade de processo em andamento que dá ou recebe cargas de sentimento – mesmo uma carga de indiferença –, essa função vincula tanto o sujeito ao objeto (ao atribuir valor) como o objeto ao sujeito (ao receber o objeto no sistema subjetivo de valores). Funciona, pois, como uma relação, sendo muitas vezes chamada “função de relacionamento”. [...] o sentimento estabelece relações entre o sujeito e o objeto, entre o sujeito e os conteúdos da sua psique – na forma de valores – e entre o sujeito e a sua própria subjetividade – na forma de uma carga emocional e de um estado de espírito. (HILLMAN, 1971, p. 131). A função sentimento é responsável pela criação da atmosfera do ambiente, o que vai propiciar, segundo Saiani (2003), o desenvolvimento do aluno em sala de aula. Meira (2003), ao falar sobre as várias reclamações e queixas que as escolas traziam para os psicólogos – como problemas de aprendizagem, violência nas escolas, desrespeito com os professores, entre outras – destaca que, A atividade educacional em sala de aula se constrói nas e pelas relações sociais: por isto há uma clara correspondência entre a qualidade das práticas pedagógicas e os diferentes tipos de relações interpessoais que se estabelecem cotidianamente entre professores e alunos. (MEIRA, 2003, p. 24-5). Essa autora acrescenta a precípua responsabilidade do professor em promover tais relações interpessoais a fim de não se esperar o aluno ideal, mas sim, trabalhar nas relações com o aluno real. É preciso ter claro que relações interpessoais humanas e humanizadoras não emergem de forma espontânea ou natural no cotidiano das salas de aula; elas precisam ser intencionalmente construídas. Parece, no entanto, Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 91 que estas questões não estão claras para a maioria dos educadores, que continua a esperar um aluno “naturalmente disciplinado”. (BOARINI, 2002, apud MEIRA, 2003, p. 25). De acordo com Saiani (2003), o conhecimento da teoria dos tipos psicológicos é útil a ponto de tornar-se um instrumento que auxiliará o professor a manter a qualidade desta relação. A tipologia junguiana pode responder a questão de como o professor irá construir intencionalmente as relações interpessoais no cotidiano das salas de aula. Este aspecto que demonstra a importância das relações interpessoais, geralmente, é negligenciado pelos educadores. “[...] na prática dos professores e nos currículos dos cursos de formação, em diversas universidades brasileiras, as relações afetivas ainda não encontraram um lugar de equilíbrio no que concerne à dimensão cognitiva”. (RIBEIRO; JUTRAS, 2006, p. 40). No entanto, consideram que o aspecto afetivo contribui para a aprendizagem cognitiva dos alunos na sala de aula. De acordo com Ribeiro e Jutras (2006), a relação afetiva abre a relação com o saber. O processo ensino-aprendizagem realiza-se por meio das relações afetivas e muitas das dificuldades de aprendizagem ocorrem pelo não ajustamento entre professores e alunos na sala de aula. Diante de pesquisas realizadas com educadores a respeito das representações sociais de professores sobre a afetividade, “[...] os professores confirmam que os cursos de formação de professores na universidade não atribuem à competência afetiva na relação educativa o devido destaque”. (RIBEIRO; JUTRAS, 2006, p. 44). Uma pesquisa realizada por Bariani e Pavani (2008), sobre as relações interpessoais na sala de aula, revela que muitos professores não reconhecem sua verdadeira função no processo ensino-aprendizagem, pois, preocupando-se mais com a técnica, esquecem o valor das relações interpessoais. Evidenciando a importância da função sentimento para propiciar um ambiente agradável e favorável para a aprendizagem. [...] um último aspecto a considerar na fala dos alunos é o valor que eles dão ao prazer de aprender, algo que se poderia traduzir como um clima positivo na sala de aula. O senso de humor do professor, o “gosto de ensinar”, “o tornar a aula agradável, interessante”, são aspectos que eles apontam como fundamental. (CUNHA, 1991, p. 149). Outra pesquisa realizada por Tacca e Rey (2008), revela que: Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 92 [...] pela experiência em pesquisa e em atuação nas escolas, podemos afirmar que os aspectos subjetivos dos alunos, sua emotividade e os sentidos que produzem no âmbito das situações de aprendizagem não são percebidos e não alcançam a preocupação dos professores na relação diária vivida em sala de aula. (TACCA; REY, 2008, p. 143-4) Diante destes resultados surge a necessidade do educador se ater mais aos processos subjetivos e afetivos que ocorrem na sala de aula. Conforme diz Jung (2006), o educador deve ser também educado, o que significa que este deve buscar o desenvolvimento de sua personalidade, a fim de chegar à individuação. Fase esta onde, segundo Von Franz (1971), a pessoa poderá utilizar suas funções psicológicas como ferramentas do ego. Sendo assim, o professor poderia utilizar a função sentimento, sempre quando necessário, para a criação de uma atmosfera favorável para o relacionamento com e entre os alunos em sala de aula ou fora dela. Outro ponto importante para o educador é saber que a função sentimento lida com o tempo de uma maneira diferente de como faz a função pensamento. Hillman (1971) diz que o sentimento da forma ao tempo. Saiani (2003) lembra que essa maneira de vivenciar o tempo possibilita julgar qual é o momento propício para ensinar um determinado conceito ou qual é a melhor hora de mudar o patamar de dificuldade. A função sentimento pode ser aliada do professor, dando-lhe a sensibilidade de não utilizar todo o tempo da aula com métodos expositivos. Poderá julgar o melhor momento para realização de trabalhos em grupos ou a utilização de recursos audiovisuais como a TV, por exemplo. A função sentimento possibilita compreender que uma aula expositiva, um momento com trabalhos distribuídos em grupos, uma apresentação de seminário ou uma aplicação de uma prova, mesmo que se utilize um tempo idêntico, há qualidades diferentes. Por outro lado, A mesma atividade, para diferentes alunos, tem “sabores” distintos, podendo ser um simples instante para uns e uma eternidade para outros. [...] Saber equilibrar essa visão de processo com o tempo expresso em calendários e cronogramas é também atribuição do professor que, para tal mister, necessita de sua função sentimento. (SAIANI, 2003, p. 180-1). Diante desta reflexão, fica evidente que a teoria tipológica junguiana é um importante instrumento para o professor conhecer – não apenas o tipo psicológico de seus alunos – mas, sobretudo, conhecer seu próprio tipo, no objetivo de propiciar uma melhor relação professor-aluno. A busca pela individuação é uma necessidade premente para que o educador utilize as funções psicológicas no momento que lhe for útil. Universitári@ - Revista Científica do Unisalesiano – Lins – SP, ano 4., n.8, jan/jun de 2013 93 Outro importante ponto é a oportunidade, diante deste conteúdo, que o professor tem em despertar uma discussão sobre a necessidade do respeito às diferenças. CONCLUSÃO Conclui-se que a relação professor-aluno é um dos principais elementos que contribuem para o processo de ensino e aprendizagem e uma educação voltada para os diferentes tipos de personalidade é um premente desafio do educador. A teoria tipológica junguiana foi apresentada como um instrumento importante para que o educador conheça de uma maneira científica, as diferentes personalidades de seus alunos, bem como a sua própria personalidade. Tal conhecimento possibilita o professor a trabalhar seus pontos fortes e fracos a fim de propiciar aos seus alunos um ambiente de relacionamento sadio que promova o desenvolvimento da personalidade e o respeito pela diversidade humana. O conhecimento da tipologia junguiana capacita o professor a ter um olhar sobre o outro de uma maneira ainda não considerada em sua formação pedagógica, tornando assim, uma possibilidade da criação de vínculo e de relacionamentos. Vale ressaltar que a aplicabilidade deste trabalho se dará a partir da presença de um psicólogo que acompanhará esse processo de formação docente. É fundamental que o professor tenha um autoconhecimento para, a partir deste ponto, fornecer subsídios que auxiliarão seus alunos na busca de conteúdos ainda não conscientes e não desenvolvidos em sua psique e, consequentemente, a busca pela individuação. Fica evidente que o professor é o responsável por promover, dentro da sala de aula, um clima favorável à aprendizagem e, neste artigo, é encorajado a conhecer e utilizar conteúdos que nem sempre estão disponíveis em sua formação acadêmica. Portanto, uma visão interdisciplinar se faz necessário para que não haja o inútil e fútil trabalho do reducionismo intelectual e da unilateralidade. Nossa intenção, neste artigo, não foi esgotar o conteúdo deste tema, mas sim, chamar a atenção sobre a necessidade de se focar nesta questão e contribuir para a discussão deste contexto. 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