YOU MUST - PARQ magazine

Transcrição

YOU MUST - PARQ magazine
PARQ
DIRECTOR
Francisco Vaz Fernandes
[email protected]
EDITOR
Francisco Vaz Fernandes
[email protected]
COORDENAÇÃO EDITORIAL
Rui Lino Ramalho
[email protected]
COORDENAÇÃO DE MODA
Daniel Ribeiro
Sérgio Simões
DIRECÇÃO DE ARTE
Valdemar Lamego
[email protected]
www.k-u-n-g.com
PERIOCIDADE: Bimestral
DEPÓSITO LEGAL: 272758/08
REGISTO ERC: 125392
EDIÇÃO
Conforto Moderno Uni, Lda.
NIF: 508 399 289
PARQ
RUA QUIRINO DA FONSECA, 25 – 2 ºESQ.
1000-251 LISBOA
T. 00351.218 473 379
IMPRESSÃO
EURODOIS
12.000 exemplares
48
DEZ. JAN.
TEXTOS
EDITORIAL
Ágata C. Pinho
Ana Rodrigues
Beatriz Teixeira
Carla Carbone
Carlos Alberto Oliveira
Diogo Simão
Francisco Vaz Fernandes
Joana Teixeira
Marcelo Lisboa
Maria São Miguel
Mariana Viseu
Pedro Lima
Roger Winstanley
Rui Lino Ramalho
Rui Miguel Abreu
Sara Bernardino
Teresa Melo
BYE BYE 2015
FOTOS
António Medeiros
Débora Lino
João Paulo
Joelma Aguiar
Silvia Martinez
ST YLING
Diogo Ribeiro
Joana Borger
Morgana Andrade
Sérgio Simões
2015
PARQ
fotografado por JOÃO PAULO
styling de SERGIO SIMÕES
grooming LUCIANO FIALHO
Este 2015, seguramente, não me vai deixar
grandes saudades. Tal como muitos dos
leitores da Parq, aspiro um novo ano cheio de
promessas. Nos últimos anos, tem sido sempre
assim e temo que, pelo andar da carruagem,
um dia vamos ser um daqueles países que
desistiram da memória (ainda que glorioso),
onde só passou a haver espaço para o futuro.
A Parq, obviamente, tenta refletir o que resta
deste país solarengo, onde a falta de meios é
sempre colmatada pelo engenho criativo do
povo. Desta vez, damos grande destaque ao
fenómeno da comida de rua, uma sonoridade
que no passado até fazia arrepiar a espinha.
Hoje chega a ter uma dimensão gourmet e é
um grande exemplo de que os jovens podem
fazer mais e melhor. Leiam, e coragem, que
há sempre espaço para mais uns quantos.
por Francisco Vaz Fernandes
DEZ. JAN.
2015
YOU MUST
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La Mermaid
Miguel Januário
Jennifer Angus
Spray Zero
Girls in my room
Jose Romussi
Kambas Case
Nerve
Patti Smith
Luaty Beirão
Netflix
The Hateful Eight
MOW
Inês Duvale
Arminho
Moda
Nike Flash Pack
Beleza
Shopping
Arte
Arte
Arte
Street Art
Fotografia
Arte
Música
Música
Música
Música
Cinema
Cinema
Moda
Moda
Design
Moda
Running
Beleza
Moda
SOUNDSTATION
A par disso, não queremos deixar passar
ao lado a excelente exposição de um dos
génios da arquitetura portuguesa, João Luís
Carrilho da Graça, prémio Fernando Pessoa. A
excelência da experiência completa na juventude
irreverente dos projetos de Maarten de Ceulaer,
outra inspiração para quem segue a Parq.
Voltamos para o ano, prometendo mais
otimismo. Votos de um excelente 2016
48
34 –35
36 –37
Kelela
Grimes
Música
Música
CENTR AL PARQ
ANDREA @JUST
COM LENÇO NEW YORKER,
CHAPÉU + CASACO INÊS DUVALE
38 – 41
42– 45
46 – 49
Gastronomia
Arquitectura
Design
Street Food
Carrilho da Graça
Maarten de Ceolaer
FASHION
50 – 57
58 – 63
Moda
Moda
City Dreams
The Harder He Falls
PARQ HERE
DISTRIBUIÇÃO
Conforto Moderno Uni, Lda.
A reprodução de todo o material
é expressamente proibida sem
a permissão da Parq.Todos
os direitos reservados.
Copyright © 2008 — 2015 PARQ.
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67
Topo
El Clandestino
Vertigo Climbing Center
Dois Corvos
Leonidas
Restaurante
Restaurante
Diversão
Bebidas
Loja
ASSINATUR A ANUAL
12 euros
MARLON @JUST
COM POLO FRED PERRY
CASACO INÊS DUVALE
PARQ
(2)
www.parqmag.com
PARQ
(3)
www.parqmag.com
YOU MUST
PARQ
N.48
ARTE
L A
MERMAID
TE X TO JOA N A TE I X E I R A
Uma sereia num mar de artistas por
descobrir, NÁDIA DOMINGOS é
uma jovem de 24 anos, licenciada
em Design de moda, que nasceu de
lápis e papel na mão. La Mermaid
é o seu "eu artístico", a sua faceta
"desbocada" que exterioriza
visualmente os seus pensamentos
e experiências do dia‑a-dia. É o
YOU MUST
seu lado revoltado, que sem filtros
se atira para o papel e se espalha
em coloridas imagens e frases
curiosas. Confessa um prazer
especial em desenhar auto-retratos,
gatos humorísticos e personagens
de filmes e literatura. La Mermaid
não pensa duas vezes antes de ser
sarcástica ou agressiva, e NÁDIA
(4)
DOMINGOS faz questão de a deixar
correr à solta pelas redes sociais,
espalhando sátiras simpáticas da
vida real na forma de deliciosas
ilustrações. Sem medo de sofrer
represálias, continuará a nadar pela
internet, a fazer cócegas nos nossos
ecrãs com o seu diário ilustrado.
ARTE
Authentic Store Lisboa
Rua do Ouro, 234
Authentic Store Porto
Arrábida Shopping, Lj 107
FREDPERRY.COM
YOU MUST
MIGUEL
PARQ
ARTE
N.48
ARTE
PARQ
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YOU MUST
J A N UÁ R I O
TE X TO SA R A BER N A R D I NO
FOTOS JO ELM A AGUI A R
A CRÓNICA DE UM FIM ANUNCIADO
A t é 23 Dez. 2015
y
Underdogs Galler ém 56
a, A r m a z
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P
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Fer
a
Ru
et
www.under-dogs.n
“El tiempo es superior al espacio” -
pode ler-se num estandarte
pendurado numa sucata. As palavras
“La realidad es más importante
que la idea” sobre a escultura
Portugal a Banhos de JOANA
VASCONCELOS. As frases são
da autoria do PAPA FRANCISCO,
ARTE
mas MIGUEL JANUÁRIO pediuas emprestadas. A ocasião? O
PRINCÍPIO DO FIM, exposição
patente na Galeria Underdogs entre
6 de novembro a 23 de dezembro.
Esta é a terceira vez que o autor
do projeto ±MAISMENOS± expõe
na Underdogs, desta vez com
(6)
outra perspetiva, “com intenções
mais fortes” afirma. Ao longo do
seu percurso, tem-nos habituado
a uma componente bastante
interventiva –ele já esfaqueou a
estátua de D. Afonso Henriques e
jogou golfe em frente à Assembleia
da República. Com os estandartes
YOU MUST
que citam Sua Santidade, pretende
“um momento de reflexão de fora
para dentro da galeria”. Assim, a
exposição “tenta estimular um pouco
o pensamento crítico, mas com
base numa experiência mais física,
em que as pessoas são induzidas
a percorrer caminhos”, explica o
YOU MUST
artista. O objetivo é causar distância,
desconforto, um jogo de sensações.
Com um pendor quase distópico, O
PRINCÍPIO DO FIM anuncia o fim
“dos valores da europa, os valores
territoriais, a questão da mudança
de paradigma religioso”, esclarece.
Desta forma, põe em causa o
(7)
paradigma atual, numa “sociedade
que se funde com o mercado”, indo
assim em linha com a natureza
contestatária do seu trabalho. “Esta
é uma finalidade possível para onde
estamos a caminhar”, conclui.
ARTE
YOU MUST
PARQ
ARTE
N.48
J E N N I F E R
ANGUS
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
NÃO É INCEPTION. MAS É INSECTION.
JENNIFER ANGUS é uma das
principais figuras por trás da
renovação da Renwick Gallery, em
Washignton DC –primeiro museu de
arte a nascer nos EUA, em 1874. É
melhor prevenires-te com uma lata
de Raid para a leitura deste artigo.
Ouvimos muitas vezes dizer-se que
as paredes têm ouvidos –o que só
por si já é suficientemente insólito.
Mas pronto, lá aceitamos a coisa,
porque a polissemia e falta de
literalidade da língua portuguesa
acabam por nos acalentar o espírito.
Agora, o que é que nos vai acalentar
o espírito quando nos disserem que
as paredes têm insetos, e que não
são dois nem três, mas milhares?
Há uma resposta plausível: a arte.
Em nome dela, JENNIFER ANGUS
percorreu o sudeste asiátio (Malásia
e Tailândia) em busca de insetos
que grande parte de nós nunca
antes viu ou foi capaz de imaginar.
Agora, mais de cinco mil desses
insetos jazem nas paredes de
uma sala cor-de-rosa na Renwick
Gallery. Visto de longe, ainda
se fica com a sensação de não
passar de um mero wallpaper. A
própria artista norte-americana faz
questão de esclarecer as dúvidas:
«Acontece muitas vezes as pessoas
se questionarem se os insetos que
uso no meu trabalho são reais.
Sim, são reais, apesar de estarem
mortos e secos. As cores deles
são naturais. Eu nunca os pinto».
Para esta instalação, intitulada
“The Midnight Garden”, JENNIFER
ANGUS dispôs os insetos de forma
a gerar diversos padrões, como
ARTE
INDIVIDUAL STYLE
UNITED SPIRIT
TASHA VLOGGER
espirais, grelhas, círculos e até...
caveiras. As quatro paredes da
sala estão atulhadas de bicharada
de cima a baixo. Entre as várias
espécies utilizadas por ANGUS,
contam-se, por exemplo, cigarras,
escaravelhos e gorgulhos (‘que
porra é essa’ perguntam vocês).
Quanto a questões de foro mais
ético, JENNIFER ANGUS garante
que nenhuma das espécies com
que costuma trabalhar está em risco
de extinção, e chama mesmo a
atenção para aquele que considera
ser o verdadeiro problema: «Nós
reconhecemos que as florestas são
os pulmões do planeta, mas não
se está a fazer o suficiente para
proteger este recurso precioso.
Apesar de nenhuma destas espécies
(8)
estar em perigo, é importante frisar
que o seu habitat está a ser atacado.
As florestas estão subordinadas à
demanda humana pela agricultura
e urbanização». Além disso, a
artista tem o hábito de reutilizar
os insectos que já colecionou
em cada exposição que faz.
YOU MUST
*Estilo Individual | Espírito unido
YOU MUST
PARQ
STREET ART
N.48
S P R AY
Z E RO
TE X TO M A R I A N A V I SEU
Dos Jogos Olímpicos de 1992 ao nascimento da marca
MONTANA. Dos anos dourados dos graffiti até à sua
radicalização e punição. Barcelona foi das primeiras
cidades europeias a dar vida e voz às paredes,
embora hoje seja apenas palco e testemunho da
opressão a esta cultura. Para uns, serão só rabiscos
feitos por vândalos, para outros, serão tags e arte.
Mas há, com unanimidade, um antes e um depois
do spray ter chegado à Catalunha. Agora, numa
altura em que o turismo atinge recordes imbatíveis,
é tempo de falar e recordar com quem sabe e viveu
na primeira fila a arte de rua, o que ela foi um dia, o
que podia ter sido e o que talvez ainda venha a ser.
graffiti em Espanha. Se era ilegal? Era, mas a História
sempre se fez dessas pequenas anarquias e elegâncias.
Das grutas pré-históricas às paredes dos subúrbios de
uma metrópole, ou a um simples portão no centro de
Barcelona, a vontade de ilustrar por onde habitamos
não esvaneceu ao longo dos séculos. A assinatura
ou ícone, em spray, marcador ou stencil, é um grito
silencioso e bem visível de um “eu estive aqui”. É uma
impressão digital (ou visual) que às vezes reclama
por mais do que uns minutos de fama: reclama pela
atualidade. Vandalismo ou arte? A fronteira é ténue e
indeterminável. Delimitá-la seria delimitar a condição
Poblenou
Revista Game Over
Seriam as três da manhã. A cidade dormia, não se via
ninguém. Tinham mentido às mães para que pudessem
sair de casa. E ali estavam eles, de mochila às costas,
de capuz na cabeça; a passo apressado, quase a
correr. Queriam chegar à estação, trepar a vedação
e fazer bombing numa carruagem de comboio. Não
interessava por onde começavam, queriam apenas
escrever aquela caligrafia tão treinada e que depois
os seus nomes viajassem pela cidade inteira. E nessa
rebeldia de adolescentes, eram só e apenas a ambição
de serem alguém maior, de através de um tag, algures
em meados dos anos 80, implantarem a cultura do
STREET ART
do próprio graffiti. É uma guerra nas e entre as paredes
e que, por não se ler como quem a escreveu um dia,
pode ser mal amada e desafiar o status quo. O graffiter
é, por isso, alguém com uma noção de tempo e espaço
bem precisa, que ao provocar a efemeridade da sua
obra, a espalha, publicitando-se gratuitamente.
Anti herói ou não, arte ou pretensão, o que está em
risco é uma multa que pode ascender à quantia de seis
mil euros. Barcelona, a cidade catalã por excelência,
era nos últimos anos da década de 90 e no início dos
anos 2000, a Meca do grafiti, o lugar de passagem
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YOU MUST
STREET ART
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obrigatória para apresentar uma obra. O mesmo
‘Ayuntamiento’ que deu muros e paredes aos writers e
artistas, foi aquele que fez demolir um mural do KEITH
HARING no centro da cidade. Hoje é capaz de gastar,
através do seu gabinete especialmente direcionado para
a limpeza de paredes e mobiliário urbano grafitado,
quatro milhões de euros anualmente. As pessoas
passam, as crianças crescem e a ilustração da rua
não dura mais do que umas horas, apagada para
sempre por uns braços invisíveis do poder que não
preservam o que poderíamos chamar de memória.
“O facto de existir muita permissividade e de a polícia
não dizer absolutamente nada enquanto estavas
a pintar, contribuíu para que o graffiti aumentasse
impressionantemente em Barcelona. Até que se
implementou a Ordenanza Cívica, e aí houve todo
um decréscimo. Agora está a chegar ao fundo
de verdade”, quem o diz é JUSTIN CASE, artista,
escritor de graffiti e Barcelonês de coração. Fala
com aquela voz magoada, de quem já sentiu que
um dia o panorama era muito gracioso mas, claro,
“nunca vai voltar a ser o que era”. Assegura que
pensou que “com o novo Ayuntamiento, com a nova
presidente ADA COLAU, existisse uma mudança
no mundo do graffiti, mas não houve até agora”.
Barcelona, para ele, deixou-se morrer nessa promessa
que foi um dia, no potencial de uma capital do graffiti.
“Aos políticos diriam que não tem sentido nenhum
gastarem tanto dinheiro a pintar os muros de cinzento:
que invistam na educação, na saúde ou em outras
mil coisas que necessitamos. É uma estupidez pagar
mensalmente a pessoas para que nos pintem a cidade
de cinzento”. Por que o que é que pressupõe uma
cidade gris? “Nada de bom para ninguém, apenas uma
cidade mais triste, mais aborrecida. Não tem sentido”.
E nas primeiras palavras que disse nesta entrevista
cabe toda a realidade do graffiti em Barcelona: “há
um antes e um depois da MONTANA, mas também
há um antes e um depois da Ordenanza Cívica”.
Por isso, KAPI é o nome incontornável e incontestável
para falar do panorama que ele próprio criou: do seu filho
graffiti e da rainha MONTANA. Onde o esperamos, no
café/galeria ao lado da atual loja MONTANA, a História
também se sabe escrever em 14 caracteres da password
do Wi-Fi: Art is not a crime. E isso basta para entender
toda a envolvência. KAPI chega com aquela energia
vibrante e com um sorriso rasgado de quem acredita
na felicidade e na harmonia na vida. Fala com um à
vontade genuíno, de quem a cada frase sente aquela
paixão intensa a correr-lhe pelas veias. Ele é o cérebro
e o cool hunter. KAPI é como um dos seus tags: que
El Pez, em St. Adriá
Edição limitada Montana 10 anos
Barcelona dos últimos anos do século passado era, para
JUSTIN, um paraíso no mundo para pintar. “Não era
um turismo do tipo adquisitivo, de ir a lojas muito caras
e de gastar muito dinheiro, mas era o que podíamos
chamar de turismo cultural”. Recorda os verões com
enchentes estrangeiras, gente que percorria quilómetros
com o único intuito de poder pintar livremente e a
céu aberto. Mas, em 2007, tudo mudou. No mesmo
ano em que proíbem de pintar o espaço público,
mendigar, andar de skate e beber álcool na rua.
YOU MUST
YOU MUST
vai e vem, mas que permanece nessa mesma viagem
que pode superar qualquer tempo de vida. Ele é esse
miúdo que no primeiro dia que pôde sair de casa à noite
foi pintar um comboio, o primeiro em toda a Espanha.
Quando tinha 15 anos recebeu o livro “The Subway
Art”, sobre os metros de Nova Iorque nos inícios
dos anos 80. Por aí, entendeu a estética e o conceito
que antes chegavam escassamente pelos fanzines
a preto e branco. Agora confessa, quase em tom de
anedota, que no início, quando tinha o seu grupo de
graffiti de três pessoas, “para que parecesse que
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marcadas, para não as repetirmos. Era tudo super
organizado, simulávamos um cenário que não existia”.
Zosen e Nina
Poble Sec
existia mais gente em Barcelona, tínhamos outro
grupo com outros nomes, totalmente secreto.” Ou seja,
de dia para dia, mudavam de identidade para que o
panorama se assemelhasse, de facto, ao de uma grande
metrópole. “Saíamos todas as noites com os nossos
mapas, com as ruas que tínhamos bombardeado já
Mas KAPI foi crescendo, apercebendo-se que queria e
podia viver do graffiti. Decoração, publicidade, eventos
fizeram com que ele se fosse profissionalizando cada
vez mais e que se apercebesse de uma falha no
mercado: não havia tintas especializadas. Os únicos
sprays que existiam eram de automóveis e a maioria
roubava-os devido ao seu preço exorbitante. A palete
de cores disponíveis também era bastante reduzida.
Por isso, nos inícios dos anos 90, quando KAPI já tinha
a GAME OVER MAGAZINE, a primeira revista que
exportava o graffiti Espanhol para o mundo, pensou
exatamente no que faltava: páginas a cores e tintas
feitas especialmente para graffiters. A ideia explode
o boom foi imediato: “500 latas por
semana, o que para a fábrica foi
muito difícil de controlar. Mas que
lhe dávamos em troca desta ajuda?
Melhorávamos a marca. A ideia era
que a marca pudesse realmente
encaixar nas nossas necessidades
e é aí que nasce o conceito de uma
marca especialmente focada para o
graffiti”. Conta que foi aí que tiveram
que começar do zero, que foi nesse
momento que uniram todas as
forças, que JORDI deixou a FELTON
PARQ
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dia”. E em poucos anos, MONTANA
exporta para o mundo inteiro e é a
marca mais copiada no mercado.
A democratização da graffiti havia
chegado definitivamente: “tinham
o ginásio a cada domingo, com as
mil pesetas de cada semanada que
lhes davam as mães, os miúdos
compravam cinco latas e podiam
fazer várias peças”. E assim,
sem que muitos passassem pelo
getting up, a cidade explodiu em
novos writers e novos ícones. A
Chimeneas del Poble Sec
e a ele junta-se MOOCKIE e o director comercial da
marca de tintas FELTON, JORDI RUBIO. Os três criam
uma primeira loja onde a “tinta fosse tão barata que
não seria necessário roubá-la; com a marca FELTON
fizemos uma loja onde se podiam comprar as latas mais
baratas do que as lojas compravam à própria marca”. E
(12)
YOU MUST
pensado antes, responde com a
rapidez de quem viveu, deu alma
e sangue a um panorama novo
que hoje tem tanto de banal como
de romântico: “o graffiti não é
anónimo, é totalmente egocêntrico.
O tag é a essência do getting up.
O hashtag posiciona-te dentro de
um grupo de um modo anónimo,
muito mais próximo das crews. Ou
seja, tu sente-se identificado com
um conceito ou um termo e usalo. Na rua se queres pertencer a
Zosen
e criaram a marca MONTANA em
1994. E desde a planificação da
loja com as tintas atrás do balcão
para que ninguém as pudesse
roubar, ao ar de galeria para que
passasse em todas as inspeções
ou até mesmo com as inovações
como o spray de baixa pressão, a
marca MONTANA implementou-se
com toda a legitimidade necessária.
De mãos dadas a esta nova
marca esteve também o primeiro
evento internacional de graffiti em
Barcelona, em junho de 1994, onde
foram apresentadas as primeiras
latas com o mítico 94 na embalagem.
“Começam a chegar muitos
estrangeiros que vêm unicamente
para comprar tintas, encher a
mochila e ir embora. Esse era o
valor da pintura”. Lembra-se que
uma vez parou à porta um mini bus
de matrícula alemã “para comprar as
três mil latas que tínhamos na loja
e voltar à Alemanha nesse mesmo
Opus e MVIN
STREET ART
STREET ART
YOU MUST
YOU MUST
época dourada começava agora.
A partir de aqui é pulsar uma marca,
uma loja, uma filosofia e uma paixão.
O que tinha nascido anos antes no
seio da cultura do Hip-hop espandese como projeto. Com MONTANA
“é onde nasce tudo”, diz KAPI e,
de uma outra maneira, “um certo
poder”. E para ele isso significa
“a sensação de missão cumprida”.
Decide, a princípio dos anos 2000,
deixar o cargo de Product Manager
para reencontrar a sua criatividade.
Hoje podemos encontrá‑lo algures
a reunir informação para escrever
um livro seu; algures no mundo
dos Dj’s, no do break e também no
do graffiti, claro, porque “ nunca é
permanente o abandono, mas às
vezes nem tiro fotografia nem nada”.
um grupo tens que ganhar isso:
porque bombardeias mais que
ninguém, tens um estilo brutal,
fizeste algo perigoso. Nas redes,
com o hashtag tudo isto não existe”.
Mas mudam-se os tempos,
mudam-se as vontades e a rua
resiste. Calada, rejuvenesce
cada noite, a cada aerossol que
se aproxima e lhe toca. E mais
uma vez, são três da manhã para
que se possa voltar a escrever.
E numa era em que a imagem vive
num scroll diário na palma da nossa
mão, perguntamos se poderá haver
algum paralelismo entre o tag e o
hashtag. E sem que o houvesse
(13)
STREET ART
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N.48
G I R L S
FOTOGRAFIA
I N
M Y BEDROOM
TE X TO JOA N A TE I X E I R A
FOTOS I VO L Á Z A RO
b
w w w .g i r l s i n m y
Um quarto, uma luz natural e
uma mulher sem tabus são os
ingredientes do projeto Girls In
My Bedroom do fotógrafo IVO
LÁZARO. Em 2013, começou a
convidar raparigas a despirem‑se
de preconceitos para a sua
câmara, numa experiência que
se transformou num autêntico
FOTOGRAFIA
boom de sensualidade nas redes
sociais. Inspirado pela rebeldia
visual do incontornável TERRY
RICHARDSON, IVO criou um novo
sinónimo de sexy em Portugal:
imagens de mulheres ao natural,
à vontade com o seu corpo, que
se despem à frente da sua câmara
porque se sentem confiantes na
(14)
edroom.nu
sua pele e são tão poderosas
vestidas como despidas –sem
vulgaridades. Procura fotografar
mulheres diferentes, mas sempre
com aquele travo a "girl next door".
Tudo muito "simples e natural",
porque para bom entendedor,
uma boa fotografia basta.
YOU MUST
YOU MUST
R
PARQ
ARTE
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J O S E
O
M
U
S
S
MÚSICA
PARQ
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K
A
M
B
A
S
I
C A S E
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
FOTO JO ELM A AGUI A R
UMA CAIXA QUE DÁ CORPO À MÚSICA
TE X TO JOA N A TE I X E I R A
Quando linhas e agulhas se
encontram com fotografias, o
resultado são imagens bordadas a
cor que desafiam as leis da arte. O
artista chileno JOSÉ ROMUSSI é
especializado em quebrar as regras
ARTE
bordando com linhas coloridas sobre
imagens antigas a preto e branco
e fotografias contemporâneas de
moda. Os desenhos e palavras
bordados pelo artista expressam a
sua perceção individual de beleza,
(16)
a qual funde com as fotografias,
criando obras com uma nova
identidade e uma estética diferente,
que ganham novas emoções através
da reinterpretação do conceito
de beleza pela arte de bordar.
YOU MUST
O músico português FRED FERREIRA
apadrinhou um novo projeto que
pretende facilitar a venda de discos e
merchandising. Senhoras e senhores:
eis a Kambas Case (Caixa de Som).
Numa altura em que, cada vez
mais, se enraízam o download e os
serviços de streaming de música,
FRED FERREIRA decidiu pensar
fora da caixa. Mas, curiosamente,
fê‑lo dentro da caixa. A Kambas Case
é uma pequena loja ambulante, com
um formato idêntico a uma caixa
de produção, destinada à venda de
música em suporte físico (CD’s, discos
em vinil, edições especiais de álbuns),
para além de t-shirts e merchandising.
YOU MUST
A ideia do baterista português é que,
mediante iniciativas como sessões de
autógrafos e outras, estas lojas-caixa
estejam presentes em concertos,
festivais, digressões e até mesmo
na rua, com o intuito de «fortalecer e
divulgar mais ainda a música feita no
nosso país». Os artistas e editoras
com os quais FRED faz parceria
estarão representados nas várias
lojas existentes, sendo que «todos os
artigos serão vendidos nos concertos
de todos». Atrás de cada Kambas Case,
em todas as suas deslocações, estará
um vendedor especializado, com
conhecimento de todos os artigos.
(17)
As primeiras quatro lojas portáteis
foram estreadas no passado mês
de setembro, no âmbito do NOS
em D’Bandada, no Porto, mas
FRED não se quer ficar por aqui.
Além de artistas nacionais, o filho
de KALÚ (Xutos & Pontapés)
planeia vender outros discos,
nomeadamente de artistas brasileiros
não representados em Portugal.
Ex-baterista dos BURAKA SOM
SISTEMA, FRED FERREIRA
participa atualmente em projetos
como a BANDA DO MAR,
5-30 e ORELHA NEGRA.
MÚSICA
YOU MUST
PARQ
NERVE
TE X TO ÁGATA C. PI NHO
FOTO CH I KOL A E V
Depois do álbum de estreia Eu Não das Palavras Troco a Ordem,
o rapper NERVE apresenta Trabalho & Conhaque ou A Vida
Não Presta & Ninguém Merece a Tua Confiança, editado pela
Mano a Mano. Coleção de músicas cheias –de apontamentos sonoros, de palavras que falam sobre a ordem desordenada das coisas–, esta pode ser a receita ideal para agitar a
rotina dos dias e combater a claustrofobia do sentido pré-​​​​processado. A PARQ esteve à conversa com o artista.
P: A música e as letras que escreves demonstram uma
densidade bastante interessante, que traz algo de novo ao
cenário do rap em Portugal. Como funciona o teu processo criativo?
N: Com o passar dos
anos, tem-​​​​se tornado um
processo mais demorado, ou pelo menos mais
trabalhoso. A componente escrita, onde reside a
maior parte do meu esforço, nem sempre, mas em
muitos casos, (principalmente no novo álbum) funciona à base de “puzzles”
construídos com ideias
soltas que por acaso me
lembrei e registei mais
tarde no computador,
numa pasta com dezenas de ficheiros. Começa
com uma espécie de processo de “colheita”. Escolho uma
ideia solta, começo a explorá-​​​​la e a tentar conjugá-​​​​la com
outras que tenha registado e se enquadrem na mesma temática. O objetivo é transmitir o máximo de informação,
mantendo o máximo de linhas de impacto e o mínimo de
“palha”. Quanto ao “encaixe” da letra no instrumental, tanto
acontece escrever para um instrumental específico como
escrever sem ter ainda um instrumental definido. Neste
último caso, frequentemente acontece ver-​​​​me obrigado a
produzir o instrumental com a sonoridade específica que
idealizei para a letra.
P: Lanças agora o teu segundo álbum, sete anos depois
do primeiro. Que direção vês para a tua obra?
N: Durante os últimos sete anos, todo o meu tempo livre
foi dedicado à música, tanto para colaborar em álbuns/ep’s/
mixtapes de outros músicos como a escrever, reescrever,
gravar, regravar e misturar este álbum. Também tratei da
parte gráfica, que só por si também representou um longo processo. O facto de ter dedicado esse tempo à música nestes anos torna esta ideia de “ausência” meio amarga, embora eu compreenda. Não acredito que um artista
tenha de celebrar cada par de Primaveras com um álbum,
mas daqui para a frente quero definitivamente lançar mais
MÚSICA
N.48
MÚSICA
projetos, mais pequenos, mas mais regulares. Tentar que,
ao contrário deste álbum, a coisa não interfira tanto com
as outras áreas da minha vida. Só isso. Não tenho planos
de conquista mundial.
P: És muito metódico na produção das músicas?
N: Sim. A componente criativa é rápida, mas como referi na primeira resposta, a componente técnica (o método)
representa um processo mais longo. As ideias que incluo
nas letras surgem espontaneamente, em qualquer momento durante o dia, sem hora marcada. O que faço é apontá-​​​​
las num papel ou no telemóvel e esperar não me esquecer de as registar no computador quando chegar a casa.
Depois, na componente técnica, de conjugação de várias
ideias soltas, é onde recorro a um ou vários métodos para
construir o tal “puzzle” que referi. Mesmo na gravação das
letras, tenho uma ideia muito específica de como quero
soar e da quantidade de vozes de fundo que quero utilizar
em cada momento. Regra geral, acabo por utilizar muitas
camadas de voz. Na produção de instrumentais, talvez por
ser a área que menos explore das três (escrita, gravação,
produção), o processo é mais experimental, mais livre e
menos metódico.
P: Que bandas/​​artistas te
inspiraram?
N: Dentro deste género,
qualquer artista que tenha uma abordagem só
sua. Tenho referências
bastante díspares entre
si em termos de temática ou sonoridade, mas
qualquer uma delas tem
uma identidade muito própria. Estamos a falar de
imensas bandas, desde
o Reino Unido ao Brasil,
mas as referências basilares vêm essencialmente daquela escola de editoras norte-​​​​ a mericanas
independentes, como a Definitive Jux, a Rhymesayers ou
a Anticon, que na primeira década dos anos 2000 apresentaram várias mãos cheias de abordagens alternativas
dentro deste género. Falava-​​​​se de um “indie rap”, na altura. Essas bandas tiveram um grande impacto na definição
do que faço hoje.
P: Falas sobre a procura do equilíbrio e na paz que pode
resultar da aceitação do fracasso em atingi-​​​​lo. A música
pode ser um interveniente que salva?
N: Qualquer escape à rotina pode salvar, seja ele escrever
umas linhas ou cuidar de orquídeas. Para mim, é essencial
encontrar um escape fora da rotina. Se nesse escape conseguir encontrar alguma realização, ainda melhor. Nos últimos anos de produção deste álbum, esse escape tornou-​​​​
se uma espécie de auto-​​​​obrigação que já muito pouco se
parecia com desanuvio ou prazer. No entanto, o cansaço
e frustração que advieram do processo foram canalizados
para escrever algumas faixas mais negativas que acabaram por integrar o disco e ajudaram a chegar ao produto final. Neste caso, a aceitação de que há momentos em
que “a vida não presta”, aliada à vontade de produzir música, pode ter sido o que me “salvou” de uma prisão perpétua a procurar sei lá o quê.
(18)
YOU MUST
MÚSICA
PARQ
N.48
PAT T I
SM ITH
TE X TO TER ESA M ELO
No aniversário dos quarenta anos
do seu álbum mais simbólico, PATTI
SMITH vai à procura da miúda
que um dia disse “Jesus died for
somebody’s sins, but not mine”.
“Oh, to be reborn within the pages of
a book”, é a frase que exala da sua
ideia inconsolável de permanência.
Mas não será a transformação,
por si só, uma perda invariável? O
mistério da continuidade que une o
passado, o presente, e eventualmente
o futuro, mantém-se como uma das
grandes perplexidades e mistérios
mais recente obra M Train (2015).
Numa entusiasmante meditação
sobre o tempo, a transformação e a
capacidade esplendorosa do amor
em contrariar a inevitabilidade da
perda, PATRICIA SMITH reflete
sobre a vida, ou melhor, a morte: do
seu marido FRED SMITH, do irmão
TODD SMITH, do seu melhor amigo
ROBERT MAPPLETHORPE, do
pianista RICHARD SOHL, assim como
tantos outros. Ora mnemónico, ora
sonhador, no fundo, o que emerge é
um estranho mas sublime alívio da
da vida e SMITH contempla esta
desorientação com a fluidez singular
das suas palavras. O livro, embora
já publicado nos Estados Unidos,
só chega às livrarias portuguesas
no início do próximo ano.
PATTI SMITH tornou-se numa espécie
de ritual, de experiência fervorosa
perante uma geração ao rubro.
Posiciona-se no mundo artístico
e social, como um repositório de
dever, de resiliência e de ternura,
revelado sobretudo em Just Kids
(2010), onde recorda a inebriante
YOU MUST
(19)
YOU MUST
cidade de Nova York na década de
70 e especialmente a amizade com
o fotógrafo e companheiro daquela
época, MAPPLETHORPE. Em
agosto de 2015, foi anunciado que
este livro já estava a ser adaptado
a série televisiva pela Showtime,
tornando-se numa oportunidade
única para aprofundar detalhes muito
curiosos do percurso da cantora.
Artista icónica, SMITH viaja na
efemeridade dos grandes artistas para
nutrir-se de inspiração. A máquina
de escrever de HERMAN HESSE, o
chapéu de palha de ROBERT GRAVE,
a cadeira de ROBERT BOLAÑO, os
talheres de RIMBAUD, a cama de
VIRGINA WOLF. Com uma penetrante
devoção da sua memória, a poetisa
trá-los à terra, eternizando-os. No
total, são setenta fotografias que
unem os objetos à literatura e foram
exibidas na sua maior exposição de
fotografia até à data: Camera Solo.
Foi em 2001 que PATTI tocou pela
primeira vez em Portugal. Em 2007
voltou para promover o álbum
Twelve. Este ano, depois de uma
passagem pelo NOS Primavera
Sound, no Porto, SMITH e a sua
banda subiram ao palco do Coliseu
dos Recreios na véspera do equinócio
de Outono para mostrar a dramatis
personae de Horses (1975).
No palco, os decibéis libertam-se,
a linguagem é muscular. Na plateia,
sente-se uma telepatia ainda muito
presente, descoberta num período
onde o rock se libertara finalmente
das correntes. As nuances, os twists,
os arranjos, cada canção possuía
uma fúria de continuar viva. Gloria
trouxe consigo a juventude. Johnny,
o enigmático protagonista de Land,
saiu das suas surreais e cinemáticas
aventuras, qual reflexo da periferia
obscura de Manhattan. Redondo Beach
surpreendeu-nos com o seu reggae.
Birdland confundiu-nos com o desejo
de um filho, a ausência do seu pai
e uma visita alienígena. Break It Up
recordou-nos JIM MORRISON.
Ela era a raiva, a fuga, a miúda
andrógena que conversou com
ALLEN GINSBERG, escreveu para
a JANIS JOPLIN e teve um romance
com MAPPLETHORPE. Aos 68
anos, PATTI SMITH –uma das
mulheres mais poderosas da história
do rock– ainda busca a alegria, a
abertura, o desejo das coisas. Mais
do que uma lenda, PATTI SMITH já
é imortal, tal como os seus heróis.
MÚSICA
YOU MUST
PARQ
N.48
MÚSICA
MÚSICA
PARQ
YOU MUST
N.48
L U AT Y
B E I R ÃO
TE X TO A N A RO DR IGUES
FOTOS DÉBO R A LI NO
Luaty beirão, enquanto Ikonoklasta, no seu único concerto em Lisboa, a 6 de dezembro
de 2014, nas comemorações do oitavo aniversário do Musicbox
A história recontada do músico e ativista que despertou o
mundo para a realidade sócio-política angolana
No passado dia 20 de Junho, 15 jovens ativistas angolanos
foram detidos, sob suspeita de prepararem uma rebelião
contra o líder angolano. De todos eles, LUATY BEIRÃO foi
quem levou mais longe as suas convicções.
Prolongada e reforçada a rigidez das medidas preventivas,
LUATY BEIRÃO declarou uma greve de fome que duraria
36 dias –período crucial para atrair a atenção internacional
sobre a situação político-social em Angola e denegrir irremediavelmente a imagem do Presidente JOSÉ EDUARDO
DOS SANTOS. Quem é este “Kamikaze angolano” que quer
acordar um país inteiro?
O artista é elitista
O artista é narcisista
O artista faz canções de amor
Mas, mano, está só a ser artista
É autista, não se liga
Quando incorre na heresia
Vestindo símbolos de opressão
Enquanto reclama justiça
“A morte do artista” –Ikonoklasta
Ter adoptado o alter ego IKONOCLASTA foi obra do acaso. A escolha do nome é conhecida, repetida em diversas
entrevistas, e multiplicada pelo rodopio mediático, como se
se tratasse de uma premonição acerca dos eventos mais
recentes. Numa altura em que LUATY se costumava apresentar como BRIGADEIRO MATA FRAKUZX, reparou na
MÚSICA
entrada “iconoclasta” enquanto consultava um dicionário.
IKONOKLASTA encara o peso histórico do combate à idolatria das imagens, a gíria juvenil e o ADN do ativista contemporâneo –consciente, pacifista, mediático, subversivo.
O gosto pelas rimas surgiu ainda durante a adolescência,
mas o ativismo, esse, veio com outras dores de crescimento: o inteletual. LUATY partiu para Plymouth aos 18 anos,
para se licenciar em Engenharia Electrotécnica, onde encarou a realidade do seu país de um ponto de vista externo, informado pelo contato com ações de ativistas ingleses. Mais tarde, a conselho do seu pai, estudou Economia
e Gestão em França, onde assistiu ao bloqueio da universidade de Montpellier. Todos estes eventos redefiniram as
convicções de LUATY, então determinado a erguer as rimas
como arma pacífica de mobilização da juventude angolana.
O trabalho de longa data com o produtor MCK foi fundamental para estabelecer IKONOKLASTA como uma das mais importantes vozes angolanas. Enquanto BRIGADEIRO MATA
FRAKUXZ ou IKONOKLASTA, nunca foi lançado um único
álbum no circuito comercial –o propósito nunca foi o de vender, mas sim o prazer de fazer música e de a fazer chegar
às pessoas. Lê-se numa troca de mensagens pública entre
LUATY e MCK, acerca de uma futura colaboração: «Vamos
lá fazer magia, sendo a única condição que me permito exigir
a de que A MÚSICA/A ARTE e o prazer de fazê-la deverá ser
o nosso único compromisso com este objetivo que agora nos
fixamos. Não os ouvintes, não o retorno financeiro, mas unicamente a música e o prazer de fazê-la!». Por isso, a maioria dos temas são distribuídos em ficheiros que podem ser
descarregados e partilhados gratuitamente; os vídeos (sejam
(20)
YOU MUST
músicas, atuações ou mensagens suas) circulam sem barreiras pelas redes sociais.
Igualmente determinante foi a relação com o produtor e músico
PEDRO COQUENÃO (também conhecido como DJ MPULA),
figura por trás da FAZUMA, plataforma de criação e produção
de artistas lusófonos com sonoridades reggae, hip-hop, kuduro…, que mantém duas rubricas semanais, “Música Enrolada”
e “Música Quebrada” (na RDP África e Antena 3). Foi através
da FAZUMA que PEDRO contactou com LUATY, uma amizade
que acabaria por se transformar numa colaboração transversal a vários projetos. Em 2009, BATIDA assinava o seu disco
de estreia, Dance Mwangolê, descrito como um encontro entre a música angolana da década de 60 e o ritmo da eletrónica contemporânea. Falar deste projeto é, sem dúvida, falar
de PEDRO COQUENÃO, mas também da colaboração de outros músicos, entre os quais IKONOKLASTA. Apesar de outras passagens anteriores por Portugal, foi na companhia de
BATIDA, que LUATY se estreou enquanto IKONOKLASTA em
palcos nacionais, no quadro do 8º aniversário do Musicbox,
onde também contou com a companhia de ALINE FRAZÃO,
XEG, SIR SCRATCH e VALETE.
Em 2010, a FAZUMA produziu também o documentário “É
Dreda Ser Angolano”, inspirado pelo álbum Ngonguenhação, do
COLECTIVO NGONGUENHA, outro projecto com a participação de IKONOKLASTA. Neste «mambo tipo documentário» faz-se um ponto de situação sobre a música angolana, destacando o seu papel interventivo e as formas de
produção e circulação que permite. Sublinha-se o papel da
rádio como forma popular de acesso à música e informação, mesmo nas camadas mais desfavorecidas. Percebe‑se
YOU MUST
que vozes como Ikonoklasta ou MCK são apenas a fração
mais conhecida de um coro muito extenso, vozes como a
de Shunnoz Fiel dos Santos, que no documentário se apresenta como «pensólogo», seguidor da «carreira de sofredor profissional» e »adepto da pobreza clássica».
Acredito nas palavras, não no conflito armado
Porque numa guerra os inocentes são sempre os mais lesados
Mas não se combatem canhões com discursos musculares
Por isso frequentemente tento imaginar-me fardado
Evito sempre descrever-me como um revolucionário
Porque o discurso é bonito, mas saberei materializá-lo?
Das palavras aos actos, será que aceitaria ser torturado?
Ou se algum membro da minha família fosse ameaçado?
“Revolução”
–Ikonoklasta com Jimmy a.k.a. Supremo G
Menos activo em termos musicais, LUATY BEIRÃO vem recentemente a repartir-se entre o ativismo e o papel de pai,
acompanhando de perto os primeiros anos da sua filha.
Daqui em diante, a sua história é demais conhecida e reproduzida pelo aparato mediático que se seguiu às detenções de Junho passado.
A sua greve de fome foi noticiada internacionalmente e a
sua imagem, já no hospital-prisão, reproduzida por órgãos
de comunicação e redes sociais um pouco por todo o mundo. Tamanha exposição poderá ter sido uma das mais pesadas ações contra o governo Angolano, denegrindo irremediavelmente a imagem de JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS. O
IKONOKLASTA fez-se ouvir.
(21)
MÚSICA
N E T F LI X
YOU MUST
PARQ
N.48
CINEMA
TE X TO D I OGO SI M ÃO
De certeza que o nome NETFLIX
já te passou à frente. De certeza
que o seu logótipo vermelho te
suscitou algum tipo de interesse.
Afinal de contas, filmes e séries são
parte intrínseca da tua vida. Quer
tenhas feito parte da geração dos
videoclubes ou te consideres um
perigoso ciberpirata, o NETFLIX
tem algo para ti. Quer sejas um
estudante universitário à procura
da maneira mais rápida de te
atualizares em relação às séries
de que todos falam, ou uma
mãe que quer rever com o filho
os programas da sua infância,
o NETFLIX tem algo para ti.
Quatrocentos e oitenta e cinco
séries, desenhos animados,
filmes, espetáculos de comédia e
documentários para todos os gostos
e feitios. Queres rever clássicos
do cinema como Grease, Goodfellas
e Edward Scissorhands? Talvez te
apeteça ouvir alguma barbaridade
vinda do humorista KEVIN HART
ou redescobrir alguns episódios de
POKEMON totalmente dobrados
em português. Talvez passar uma
noite na companhia de Sherlock ou
CINEMA
Dexter? O NETFLIX proporciona‑te
uma miríade de conteúdos de grande
qualidade, sempre com legendas
(e no caso de desenhos animados,
dobragens) em português.
Outra das grandes vantagens do
serviço é a possibilidade de acesso
em qualquer lado. Imaginemos que
estás a ver uma série no computador
em casa e tens de ir às finanças.
Enquanto esperas pela tua vez,
caso tenhas acesso à internet,
podes continuar a ver a série no teu
telemóvel ou tablet, exatamente a
partir do momento onde paraste. O
mesmo se aplica se saíres do teu
país de origem: basta fazer login e
tens toda a programação ao dispor.
O próprio serviço de streaming
produz os seus conteúdos originais,
tais como as séries Orange is the New
Black, Bloodline, Daredevil, Narcos,
e filmes como o recente Beasts of
no Nation, que tem sido aplaudido
pela crítica. Este investimento
em conteúdo próprio pode gerar
oportunidades para novos criadores
nacionais, que vejam esta plataforma
como um meio interessante para
divulgarem o seu trabalho.
(22)
Não obstante, o pacote de
conteúdos disponível no nosso
mercado é minúsculo, quando
comparado com, por exemplo,
o do Reino Unido (3065), o do
Brasil (3786) e, obviamente, o dos
EUA (7230). Sim, existem muitos
filmes, mas quantos clássicos
indispensáveis ficaram de fora? E as
séries da HBO como Game of Thrones
e True Detective? A omissão mais
gritante é a da série mais celebrada
do NETFLIX, House of Cards, que
está a ser transmitida pela SIC.
O serviço parece um investimento
no futuro: pagamos a taxa (7,99€ p/
mês) pelo serviço e pelo trabalho
dos criadores, mas sem realmente
termos assim tantos conteúdos de
início. Estamos é, sem dúvida, a
estimular a exploração do mercado
nacional e a proporcionar a
disponibilização de mais conteúdos
internacionais no futuro.
E se o primeiro mês de assinatura
é grátis, não se perde nada
em experimentar! Talvez o
NETFLIX tenha algo para ti.
YOU MUST
CINEMA
PARQ
YOU MUST
N.48
THE H AT E F U L
E I G H T
TE X TO D I OGO SI M ÃO
Janeiro. Um mês que,
em Portugal, o cine‑
ma chega a outro pa‑
tamar. Depois da es‑
treia na América do
Norte, os principais
concorrentes aos pré‑
mios da Academia
de Holly wood ata‑
cam os mercados in‑
ternacionais. É assim
todos os anos: mas
não é todos os anos
que podemos com‑
prar um bilhete para
um filme de QUENTIN
TARANTINO.
O nativo do Tennessee
apresenta‑nos The Hateful Eight, a sua
oitava película e segundo western. O
filme –que esteve quase para não ser
feito devido à partilha prematura do
guião na internet– chega-nos com um
elenco magnífico e uma banda so‑
nora composta pelo lendário ENNIO
MORRICONE (e que contará, certa‑
mente, com algumas adições da co‑
leção pessoal do realizador).
TARANTINO tem, desde Reservoir Dogs,
em 1992, encontrado um nicho muito
especial para libertar toda a sua ex‑
travagante criatividade. A violência, o
humor, a música, a ação, o diálogo e
as personagens memoráveis fazem
dele uma das maiores lendas vivas da
7ª arte. No entanto, há um aspeto que
nem todos os apreciadores das suas
obras sabem: muito antes de existir um
Universo Cinemático da Marvel, onde
todas as histórias de super-heróis se
cruzam de uma maneira ou de outra,
o rebelde realizador começou a cons‑
truir o seu próprio Universo.
Cada filme que escreveu passa‑se numa
realidade paralela à nossa, estando in‑
terligados por pequenos easter-eggs
que os fãs mais atentos têm vindo a des‑
cobrir ao longo dos anos. Isto confere
uma tridimensionalidade e profundidade
YOU MUST
product placement,
acaba por fazê-lo com
marcas do seu univer‑
so. Quem não se lem‑
bra do hamburguer Big
Kahuna que é masca‑
do por Jules Winnfield
(SAMUEL L. JACKSON)
em Pulp Fiction, ou da
marca de cigarros Red
Apple, cujas publicida‑
des aparecem em Kill
Bill? Estas marcas sur‑
gem um pouco por todo
o lado, mas principal‑
mente nos chamados
“filmes dentro de filmes”.
enorme a toda a filmografia do realiza‑
dor americano.
Começando pelo mais óbvio: Vicent
Ve g a , i nte r p r et a d o p o r J O H N
TRAVOLTA em Pulp Fiction, é irmão do
“cortador de orelhas” mais famoso do
cinema: o Mr. Blonde de Reservoir Dogs,
Vic Vega, interpretado por MICHAEL
MADSEN. Ficou no ar a hipótese de
um futuro filme retratar as aventuras
dos dois irmãos, mas nunca se che‑
gou a concretizar devido à idade avan‑
çada dos atores.
Este talvez seja o con‑
ceito mais complexo e interessante do
universo TARANTINO. Algumas das
suas fitas, nomeadamente Kill Bill e
From Dusk Till Dawn, são filmes que
existem dentro da realidade parale‑
la. Nunca achaste a conversa de Mia
Wallace (UMA THURMAN em Pulp
Fiction) acerca da série em que partici‑
pou, Fox Force Five, um tanto ou quanto
familiar? Nunca achaste a parte “fan‑
tasiosa” de From Dusk Till Dawn um
pouco irregular para um filme com a
assinatura do realizador americano?
O xerife Earl McGraw, papel desempe‑
nhado pelo actor MICHAEL PARKS, apa‑
rece em vários filmes do realizador. No
caótico From Dusk Till Dawn (comanda‑
do por ROBERT RODRIGUEZ, mas com
guião de TARANTINO), em Death Proof
e nos dois volumes da saga Kill Bill.
Est a liberdade desmedida que
QUENTIN concede a si próprio é ali‑
cerçada na sua inigualável escrita e
imaginação sem limites. De que outra
forma poderia prestar homenagem a
todos os homens e mulheres que o ins‑
piraram a ser quem é hoje?
E por falar em Kill Bill, a sepultura
de onde a Noiva escapa é a de Paula
Schultz, falecida em 1893. Sem uma
confirmação oficial, a suposição geral
é que este poderá ser o túmulo da mu‑
lher de Dr. King Schultz (CHRISTOPH
WALTZ) de Django Unchained.
Por isso, e porque o fim da sua carrei‑
ra está “para breve”, faz um favor a ti
próprio: compra um bilhete para o novo
filme de TARANTINO. Deixa-te relaxar
confortavelmente na poltrona e segue‑
-o para o seu Universo. Tens acesso
direto a uma das mentes mais contro‑
versas (e geniais) dos nossos tempos:
sem filtros, sem distrações, sem nada.
Só tu e ele. E sangue… Muito sangue.
Para além de personagens, existem tam‑
bém crossovers de marcas. Enquanto
TARANTINO repudia tudo o que seja
(23)
CINEMA
M O W
YOU MUST
PARQ
MODA
N.48
MODA
Há uma nova marca de roupa em
Lisboa. Mas não é uma marca
de roupa como as outras. Para
a Man or Woman (MOW) não
existe a palavra género. Mas
existe –e muito– uma palavra
alternativa a essa: adaptabilidade.
A MOW nasceu em março de 2015,
por iniciativa de JOÃO PATRÍCIO
e MAURO CORDEIRO, com a
ambição de se tornar uma das
primeiras marcas de roupa gender-​​
free em Portugal. Uma peça MOW
tanto pode ser vestida por homens,
como por mulheres, embora
não tenha sido feita a pensar
neles ou nelas em particular.
MODA
www
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
FOTOS M A R I A N A SI LVA
(24)
cial.
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YOU MUST
N.48
I N Ê S
D U VA L E
UMA MARCA DE ROUPA DEMOCRÁTICA
criadores
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Ler entre .parqmag.com
e m www
PARQ
TE X TO TER ESA M ELO
FOTOS JOÃO PAULO
M A K E- UP LUCI A NO FI A LHO
YOU MUST
M O DELO M A R LO N @J UST M O DELS
coordenados INÊS DUVALE e sapatos DR. MARTENS
com
Ultrapassando o conceito de
unissexo, os criadores pautam
todo o seu trabalho por práticas
de design alternativas, focadas
em modelagem inclusiva e
sistemas de adaptabilidade.
Atualmente, a marca opera a
partir do Mouraria Creative Hub
(Centro de Inovação da Mouraria),
a primeira incubadora de Lisboa
a apoiar projetos e ideias de
negócio das indústrias criativas,
em especial nas áreas de Design,
Media, Moda, Música, Azulejaria,
Joalharia, entre outras. O espaço
situa-​​se na Rua dos Lagares, 23
Travessa dos Lagares, 1 Mouraria.
ST Y LI NG SÉRG I O SI M Õ ES
Uma vanguarda de designers
questiona a identidade de género e a
sexualidade, os papéis e as posições
do indivíduo masculino e moderno. A
imagem do homem passivo torna‑se
complexa e convence-nos de que,
mais do que nunca, é transgressiva
ao que foi concebido até hoje.
Em Portugal, essa mudança
sente-se quando chega INÊS
DUVALE. Formada em Design
de Moda pela UBI, na Covilhã,
esta jovem trouxe à passerelle da
plataforma Sangue Novo (Moda
Lisboa, outubro 15) a sua mais
recente coleção: La Résistence.
Chegou, resistiu e revolucionou.
YOU MUST
O seu trabalho é uma espécie de
narrativa e move-nos em torno
da identidade, do realismo e do
comentário social. O sport e street
wear assinam as suas coleções,
caracterizadas especialmente
pela fluidez das peças oversized,
sobreposição de tecidos e uma
especial ênfase na conceptualização
do acessório como algo elementar,
identitário. Se os brincos de
Karma e os originais óculos
de Dreamers se destacaram, o
chapéu de La Résistence define
precisamente essa busca pela
singularidade do resistente.
(25)
Com apenas 24 anos, INÊS traz
consigo o prémio de melhor
coleção masculina na 9ª edição
do Concurso Acrobatic, três
apresentações na Moda Lisboa
e uma participação no Fashion
Clash em Maastricht, na Holanda.
As raízes das mais poderosas
revoluções são, geralmente,
silenciosas. DUVALE, na vanguarda
pela liberalização dos conceitos
obsoletos no mundo da moda,
está a construir, gradualmente,
um modelo novo que se opõe aos
limites do poder institucionalizado:
a liberdade para assumirmos o que
realmente somos, sem limites.
MODA
ARMINHO
YOU MUST
PARQ
N.48
DESIGN
MODA
w w w.a r m i n h o. p t
TE X TO TER ESA M ELO
Dr. M
A DR.MARTENS colaborou com
MARK WIGAN para criar uma
coleção cápsula para este outono/
inverno. A coleção, que conta
com ilustrações do artista visual
britânico feitas exclusivamente
Da união entre o amor, a
criatividade, a vontade e o gosto
pelo vintage, nasce a ARMINHO,
marca especializada em tipografia,
encadernação e ilustração.
Procurar e evidenciar a riqueza
escondida em velharias e
antiguidades é a motivação de
RAQUEL e JOÃO. Ela é de Viseu
e formou-se em artes plásticas.
Ele, alentejano, é designer gráfico.
Depois, foi a intuição. Fascinados
pela roupa, decoração e, sobretudo,
pelos cadernos originais produzidos
durante décadas de 40 e 50, o
casal transportou a inspiração
handmade para a concretização de
uma ideia muito peculiar, resolvendo
adotar um conceito único: criar
capas diferentes das vulgares por
impressão digital. Como se de um
regresso às origens se tratasse!
Saíram das Caldas da Rainha e
montaram um atelier no Porto,
deliciosamente decorado com
móveis antigos e restaurados,
máquinas fabris obsoletas e
muitas plantas. Neste espaço tão
acolhedor, através da utilização de
técnicas de impressão puramente
tradicionais e artesanais, e sem
recorrer à electricidade, nascem
DESIGN
(26)
ARTENS
PARQ
N.48
TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL
para a DR.MARTENS, é composta
por seis botas, sete sapatos com
três estampas diferentes, t-shirts,
meias e uma mochila de nylon.
MARK WIGAN, que confessa usar
DR.MARTENS há mais de 40 anos,
cadernos de receitas, blocos,
listas de compras, cadernos de
viagens e reproduções de cartazes
com ilustrações em aguarela, que
captam a mesma essência dos
livros antigos de história natural.
Das baleias aos cactos, das
algas às rochas…a natureza é a
matéria‑prima de um resultado
tão súbtil quanto delicado. O
processo é feito com muito cuidado
e o material utilizado é sempre
o papel reciclado e português.
As vendas são sobretudo
online e para o estrangeiro,
nomeadamente, países nórdicos,
EUA e Austrália. Em Portugal,
a ARMINHO está representada
na loja Coração Alecrim, na
Travessa de Cedofeita, no Porto.
YOU MUST
YOU MUST
explica que a coleção «explora o
tema ‘a cidade à noite’, desde as
ruas de néon de Shinjuku após o
anoitecer às warehouse parties
dos anos 80 em Londres».
w w w.d r m a r t e n s ,c o m
YOU MUST
(27)
MODA
KO M O N O
N.48
artista nascido na
República Democrática do
Congo, que desenvolveu
quatro modelos de óculos
que exploram a elegância
africana interpretada
a partir de um legado
colonial. Em acetato, a
imitar a malaquita com
apontamentos dourados,
esta coleção releva um
certo luxo e ostentação
para qualquer momento.
Como em outros modelos,
a KOMONO aposta
num design clean, que
MODA
GARRETT MCNAMARA
regressa ao canhão
da Nazaré com novas
pranchas de cortiça,
uma iniciativa do projeto
Mboard, liderado pela
Mercedes-Benz, que
conjuga o recurso a
MODA
U
R
AND C O R K
tecnologia de ponta e a
utilização de materiais de
excelência, com o objetivo
de desenvolver pranchas
de alto rendimento. O
material usado “blank”
nas novas pranchas
pertence à gama Corecork
e foi desenvolvido pela
Amorim Cork Composites
para oferecer resistência e
flexibilidade às pranchas,
atributos essenciais que
lhes permitem suportar,
com segurança, o impacto
das ondas gigantes. Para
(28)
PARQ
L
N.48
YOU MUST
H
TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL
conjuga tendências ao
nível global, produzido
com um acetato italiano
de grande qualidade.
E tudo isso com uma
política de preços baixos,
o que tornou a marca num
fenómeno de crescimento.
TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL
S
A P A
MODA
F
GARRETT MCNAMARA,
“stringer” em cortiça vai
certamente revolucionar
a indústria do surf,
dado que responde às
necessidades da prática
do surf e vai permitir
salvar muitas árvores.
YOU MUST
Verdadeiros ícones do
american sport style, os
Khaki da DOCKERS são
os mais conhecidos do
mundo, preferidos por
se adaptarem tanto a um
look de trabalho, como de
lazer. Mas manter-se como
YOU MUST
Alpha Skinny
Assente na qualidade e no
design belga, a KOMONO
apresenta coleções de
óculos contemporâneos
onde os detalhes são tudo.
Neste inverno, o destaque
vai para a parceria que
celebraram com BALOJI,
PARQ
w w w.d oc k e r s .c o m
YOU MUST
modelo de referência exige
pequenas adaptações
no corte, que deram
origem a três modelos
distintos: os Extra Slim –
levemente mais justos que
os clássicos–, Alpha Slim
–com stretch– e os Alpha
Skinny que respondem às
exigências da moda atual.
Qual o modelo que melhor
te favorece? Simples,
basta ir a uma loja da
DOCKERS experimentar
a excelência do corte.
(29)
CAT
A mais recente coleção
outono/inverno da CAT
aposta no seu passado,
bebendo inspiração nos
anos 90. Para mulher,
a aposta clara é a
reinvenção do modelo
colorado, um modelo
masculino por excelência,
revestido de padrões
e cor que conferem
feminidade a um look que
se quer andrógeno. Já
os modelos masculinos
vêm carregados de
testosterona, tendo
como referência o
universo do trabalho.
MODA
YOU MUST
PARQ
N.48
RUNNING
PIAGGIO E - B I K E
A PIAGGIO, companhia
italiana que criou a
célebre Vespa, estreia‑se
na produção de
bicicletas elétricas, com
a PIAGGIO E-Bike.
O projeto resulta da
já larga experiência
da PIAGGIO no
desenvolvimento de
CVT (Continuously
Variable Transmission).
A energia é fornecida por
uma bateria Samsung
lithium-ion de 250W.
A bicicleta está equipada
com um módulo GPS
que pode ser utilizado
como sistema anti-roubo
e enquanto dispositivo de
transmissão de dados,
através da conexão a um
smartphone. Desta forma,
o utilizador pode definir
percursos, verificar a
carga da bicicleta e criar
programas de treino.
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
BELEZA
PARQ
N.48
TE X TO BE ATR I Z TE I X E I R A
ACQUA DI PARMA
Para homem e para mulher, os coffrets de Natal da
ACQUA DI PHARMA incluem uma colónia, um shampoo
e um gel de banho numa caixa especial de Natal. O
coffret colonia Essenza, pensado para os gentlemen
mais sofisticados, conta ainda com um after-shave
balm, num packaging tão elegante quanto um smoking.
FLASH
YOU MUST
GWEN
GWEN STEFANI juntou-se à URBAN DECAY para
ajudar a compor uma nova paleta de sombras para os
olhos, de edição limitada. Para celebrar o casamento
perfeito entre música e maquilhagem, cada sombra tem
o nome de uma das canções da artista e no espelho
pode até ler-se “Magic’s in the Make up”, um dos temas
dos No Doubt. À venda na Sephora por 51 euros.
PACK 2 0 1 5
Com a chegada dos meses
mais frios e escuros, a
NIKE empenhou-se em
garantir aos amantes
do running uma corrida
segura e confortável. Para
isso, a coleção Flash Pack
RUNNING
deste ano é composta
por peças –vestuário e
calçado– multicolores e
refletoras, indicadas para
sinalizar a presença dos
atletas em ambientes de
fraca visibilidade
e/ou iluminação. Marcado
pelos pretos, azuis, verdes
e roxos, em homenagem
às auroras boreais, o
Flash Pack inclui o colete
Aeroloft Flash, os casacos
Shield Flash Max Running e
(30)
Shieldrunner Flash Running,
e as collants Epic Lux Flash
Running, para além das
sapatilhas LunarGlide 7,
Air Zoom Pegasus 32, Air
Zoom Structure 19 e Free 5.0.
YOU MUST
KISS&LOVE
Coberta pelos famosos lábios SAINT LAURENT, a
gama de edição limitada Kiss&Love vem celebrar o
natal, em tons de vermelho e dourado. Um batom,
uma paleta para os lábios e um touch éclat compõem
a coleção que está a venda a partir dos 33 euros.
YOU MUST
DECADENCE
O frasco fala por si. Em tons de ouro, verde esmeralda
e preto, esta fragrância traz mais uma personalidade
à família perfumada da MARC JACOBS: Daisy é
doce, Lola é excêntrico e Decadence surge marcante,
luxuoso e sensual. Só para as mais glamorosas.
(31)
BELEZA
YOU MUST
PARQ
SHOPPING
N.48
SHOPPING
PARQ
YOU MUST
N.48
EUREKA X LUÍS CARVALHO
DR. MARTENS
CHEAP MONDAY
LACOSTE
PEPE JEANS
PEPE JEANS
CAMPER
GOLDMUD
HUNTER
SHOPPING
CAT
NOBRAND
FRED PERRY
FRED PERRY
CAT
EXCEED
H WOOD
UGG
(32)
YOU MUST
DR.MARTENS
YOU MUST
(33)
SHOPPING
SOUNDSTATION
PARQ
N.48
KELELA
KELELA
PARQ
N.48
A artista americana tem uma visão global da música:
ascendência etíope, raízes no r&b americano, paixão
pelo grime britânico. É absolutamente singular.
mas há outro modo que tenho conseguido atingir –
momentos em que se grava alguma coisa e logo de
seguida se está aos saltos no estúdio. Atingi esse
estado com ARCA quando fizemos A Message".
KELELA acaba de editar o EP Hallucinogen, trabalho
que sucede à mixtape de apresentação Cut For
Me, que já data de 2013. Este novo conjunto de
canções, que documenta o encontro da cantora com
alguns dos mais relevantes produtores do momento,
é sem dúvida um dos acontecimentos do ano.
Apesar de ter nítidas ambições pop, KELELA não está
propriamente interessada em atalhos: tem contrato
com a marginal Warp, crucial selo por onde passa
muita da modernidade electrónica, mas que é uma
microscópica operação no magno esquema da música
que move montanhas, playlists e tabelas de vendas;
tem uma óbvia paixão por modelos incontornáveis
como BJORK, DRAKE ou KANYE, mas nunca cede
à tentação de mimetismo; quer escrever canções
sobre amor e sexo, mas prefere usar as letras para
questionar as próprias fundações da sua identidade
e os mecanismos da sua insegurança. E para fazer
tudo isso tem recrutado aliados de peso: neste EP,
KELELA
TE X TO RUI M IGUEL A BR EU
KELELA
(34)
FOTO TI M SACCENTI
SOUNDSTATION
SOUNDSTATION
O novo EP é variado, ousa despir a voz de KELELA
do habitual manto de efeitos com que se mascara,
oferece em Rewind um tom festivo que é inédito
na paleta emocional que a cantora habitualmente
explora, cita a malograda AALIYAH –talvez uma das
primeiras estetas a projetar futuro no então estafado
modelo R&B–, inspira-se em WEEKND –ele mesmo
um cantor de ascendência etíope– e faz tudo isto
sobre uma música que nunca oferece concessões à
transparência pop, preferindo antes antecipar o futuro
por via de uma fluída ideia de experimentação.
KELELA sabe perfeitamente para onde vai, é uma
artista de corpo inteiro e com a cabeça no sítio.
Só não está interessada em seguir pelos mesmos
caminhos da maior parte da presente geração pop.
E quem ganha com essa opção somos nós.
volta a trabalhar com os produtores KINGDOM
ou NGUZUNGUZU, mas beneficia também das
ultra requisitadas assinaturas de ARCA (produtor
venezuelano que já imprimiu a sua singular visão em
trabalhos de KANYE, FKA TWIGS ou BJORK) ou de
Dj DAHI (que se pode encontrar nas fichas técnicas
de trabalhos de KENDRICK LAMAR ou DRAKE).
Não se trata, no entanto –e KELELA faz questão de
frisar isso em entrevistas–, de simples compra de
beats como quem entra numa loja Prada à procura
de novos acessórios, mas de uma colaboração em
idêntico plano criativo, com KELELA a conseguir
resultados impossíveis de obter em modo solitário. À
Complex a cantora confidenciou algumas ideias sobre
este processo: "Claro que escrever sozinha sentada ao
meu computador pode ser uma experiência fantástica,
SOUNDSTATION
(35)
KELELA
SOUNDSTATION
PARQ
N.48
GRIMES
GRIMES
PARQ
N.48
Percebe-se imediatamente pela capa do disco Art
Angels, desenhado pela própria artista, que o universo
vibrações. Poderia ser a LANA DEL REY a cantar, ou
até mesmo a RHIANNA num estilo diferente, mas a
verdade é que GRIMES, ao explorar aqui os limites da
maleabilidade da sua voz, distingue-se de qualquer
outra performance das suas contemporâneas.
bizarro de GRIMES está de volta. A surpresa, porém,
é que desta vez o bizarro é colorido, como se um
filme de terror pudesse ter tantas cores quanto um
conto de fadas. Mais uma vez, a produção do disco
esteve a seu cuidado e cada música foi pensada
ao ínfimo pormenor para ser um potencial single
e ter uma execução irrepreensível ao vivo.
Em Venus Fly, a artista chama a si JANELLE MONÁE,
num dueto que, em despique pelo protagonismo
da canção, dá o mote para batidas fortes, tribais
dir-se-ia, numa espiral de sons que parecem
sair dos seus próprios batimentos cardíacos.
A sua complexidade e a riqueza de conjugação de
elementos sonoros tão dispares, mas ao mesmo
tempo tão concertados, justifica o tempo que dista
de Visions. Afinal, tratam-se de quase quatro anos,
que num mundo Pop podem significar uma paragem
demasiado arriscada. Contudo, com GRIMES, não
foi esse o caso. Este foi o tempo necessário para
construir um mundo suficientemente amplo, onde o
belo pode ser o monstro e o mostro pode ser o belo.
GRIMES
TE X TO CA RLOS A LBERTO OLI V E I R A w w w.punc h.pt
GRIMES
(36)
SOUNDSTATION
SOUNDSTATION
Já Artangels e, de certa forma, World Princess part II
inscrevem-se na tradição Pop dançante dos finais dos
anos 80 e princípios dos anos 90, desencadeando
memórias de personalidades como os ACE OF
BASE, LISA STANSFIELD ou até mesmo GEORGE
MICHAEL. Contudo, é como se todas as lições de
géneros músicas fossem escritas a giz branco numa
ardosia e GRIMES os apagasse com um apagador
já gasto e cheio de pó de giz de outras cores.
A faixa inicial do disco Laughing and not being normal
dá o pontapé de saída para uma espécie de
playlist à semelhança de um programa de rádio.
É como se dissesse bem-vindo ao estranho
e belo mundo de GRIMES, numa atmosfera
barroca com camadas Pop açucarada, e
elementos sonoros dignos de um filme Sci-Fi.
Se fosse outro álbum, seria estranho encontrar
Easily no seu alinhamento, sobretudo a seguir à faixa
Artangels mas, nesta Pop invertida e convertida, faz
todo o sentido. Quando pensamos que dominamos
a estrutura da música, GRIMES faz uma inversão de
marcha e conclui o tema num patamar completamente
diferente, mas estranhamente delicioso.
O mais recente single Flesh without Blood, visceralmente
POP e contagiante, foi desenhado para dançar. A sua
aparente simplicidade poderá induzir que a artista,
anteriormente underground, produziu um produto
fácil. Porém, os sons são poderosos, luminosos,
arrojados e muito bem orquestrados. Nada foi
deixado ao acaso. Ainda que de uma forma mais
moderada, se é que isso é possível neste universo,
Realiti é o tema mais próximo deste panorama.
O momento mais calmo chega com Life in the Vivid
Dream, quase a fechar o disco, como que a marcar um
fim pacificado para a festividade vivida ao longo do
disco. Assim seria, não fosse a chegada de Butterfly,
que, num contínuo espírito festivo, encerra Art Angels.
Atenção, nenhum tema de GRIMES deverá ser
ouvido sem se conectar ao seu universo. Ao fazê-lo,
facilmente acreditamos que os anjos podem ser Elfos
com asas e que estão entre nós. A grandeza de Art
Angels reside na riqueza da sua diversidade musical.
Uma vez premido o play, não desejamos consumir
nada mais do que este mundo de Alice no País das
Maravilhas distorcido, um universo encantatório e
viciante. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.
Em Belly of the Beat, ilude-nos ou ilumina-nos
–dependendo da perspetiva– de que tudo o que
ouvimos já tinha forma neste plano astral, graças
às suas guitarras escorreitas, aos Yeah-Yeah do
refrão e aos breakbeats à anos 90, ainda que
tudo idealizado de forma bem diferente do que
estávamos habituados. Gloriosamente, Pin poderia
ter saído do mesmo caldeirão de referências.
O imaginário da artista é tão rico quanto o poder de
estruturar uma música, como é o caso de Kill V Maim,
que veste a pele de Michael, papel interpretado por AL
PACINO no filme The Godfather 2, com a particularidade
de que o ator pode mudar de género e viajar pelo
espaço, como referiu a artista à revista Q. A completar
o ramalhete, evoca um cenário habitado por um bando
de cheerleaders coreanas ao som de Heavy Metal.
A delícia da estranheza de GRIMES não seria
melhor conseguida do que no tema Scream, com a
participação do rapper Taiwanês ARISTOPHANES,
transformando a música num macabro assalto aos
filmes de terror, culminando num frenético jogo
melódico de ping-pong entre guitarras e breakbeats.
Não seria de espantar encontrar California numa
banda‑sonora sobre os EUA, devido às suas solarengas
SOUNDSTATION
(3 7)
GRIMES
Street
CENTRAL PARQ
PARQ
N.48
antecâmaras da futebolada ao cachorro na ressaca da
saída à noite, passando pelo churro e pela fartura nas
festas da junta de freguesia, a mítica roulotte sempre
ocupou um lugar na tradição gastronómica portuguesa.
Na opinião de MARIA JOÃO SANTOS, da organização
do Str.EAT Fest, os últimos dois anos foram decisivos
na modernização da comida ambulante e consequente
enraizamento da Street Food em Portugal. A roulotte,
embora ainda sirva estes propósitos, tem vindo a dar
lugar às mais atrativas ‘food trucks’ customizadas,
motas de três rodas (sobretudo as célebres Piaggio),
bicicletas e até... caixotes do lixo reciclados. É, sem
dúvida, a imagem que faz a primeira ponte entre
cliente e produto, mas só a qualidade deste último
poderá fidelizar o primeiro. Por cá, e um pouco por
toda a Europa, a expansão deste conceito deve-se ao
surgimento de um novo perfil de consumidor, que exige
«uma cozinha económica, original e rápida», sublinha
MARIA JOÃO. O Str.EAT Fest é um dos vários festivais
de comida (e bebida) de rua que têm elevado este
fenómeno a um novo patamar, ao criar «espaços únicos
de convívio, onde os visitantes podem experimentar
vários conceitos que normalmente estão espalhados
pelas cidades». Num futuro não tão longínquo assim,
os eventos esporádicos poderão vir a ser substituídos
por localizações permanentes, onde coexistam vários
conceitos. Mas, para isso, diz Maria João, é preciso que
haja concertação entre todos os envolvidos: os conceitos
de Street Food, as organizações e as autarquias.
Por agora, estes restaurantes sobre rodas vão-se
atravessando no caminho dos portugueses. Há melhor
sítio para se comer do que na rua? (o sofá não conta).
Food
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
FOTOS SI LV I A M A RTI NE Z
Da fast-food, herdou o pragmatismo, a imediatidade
e a aversão aos talheres, à mesa posta e ao
assento. Da cozinha gourmet, herdou a qualidade
dos ingredientes, o rigor estético e a autenticidade.
Mas quem sai aos seus também degenera.
A Street Food nasceu com o melhor de dois
mundos, mas pôs os maus genes na borda do
prato: a plasticidade e sendentarismo, da fast-food,
e o empratamento microscópico, elitismo e preços
upa‑upa, da cozinha gourmet. Desde os couratos nas
F
STREET FOOD
r
u
a
Fruta de Rua ou como transformar um castigo em recompensa
Todos nós tivemos as nossas embirrações com a peça
de fruta (já para não falar na sopa). Quem nos dera que
fosse só a chicha com a batata frita e, para finalizar,
o gelado ou o chocolate. A fruta era o elo mais fraco,
adeus. No verão de 2014, CARINA OLIVEIRA, CARLOS
RELVA e VERA LEIRIA quiseram torná-la no elo mais
forte dos nossos dias. Pegaram numa Piaggio 200,
pintaram-na de verde e framboesa, apelidaram-na de
‘Alfacinha’ e transformaram-na num autêntico pomar
ambulante. A Frua pretende reinventar a nossa forma de
comer fruta (e vegetais), levando-a para a rua de forma
divertida, e acabar com os estigmas que a ela estão
associados. Com o avançar dos anos, todos nós também
começámos a pensar nas verdadeiras razões que nos
levavam a rejeitar a fruta. Foi aí que surgiram as avós
a descascá-la perfeitinha para nós –porque os pais já
nem isso faziam. A nossa nova avó chama‑se Frua e
quer combater a nossa preguiça com taças e sumos de
fruta (para além das espetadas). Além disso, CARINA
OLIVEIRA acredita que tudo depende da apresentação
e da forma como a fruta é consumida: «o que cativa as
crianças é ver as frutas coloridas num pau de espetada
STREET FOOD
STREET FOOD
CENTRAL PARQ
N.48
On
the
CENTRAL PARQ
Wayffle
O Waffle que poderia ter sido Waste
“Ueifal”, “Ueifar”, “Eifal”, “Veifal”, “crepe”... Quando
se trata de um waffle, a fonética dos portugueses
deixa muito a desejar. Para outros, a dúvida reside
no género do substantivo. O cientificamente correto
seria um “Uáfell”. Mas, em caso de dúvida, o melhor
mesmo é não lhe chamar “crepe” –que é ofensivo. A
pronúncia de On the Wayffle é diferente, mas isso devese ao trocadilho entre “waffle” e a expressão inglesa
“on the way” (“a caminho de” ou “no caminho para”).
O nome foi ideia de LUÍS CRESPO, de 23 anos, que
ou num copo em que podem escolher a cor do garfo
ou beber um sumo com uma palhinha super colorida».
O comportamento do cliente Frua varia consoante a
localização da própria ‘Alfacinha’: «em eventos com
outras food trucks, a maioria das pessoas procura um
produto complementar (bebida, sobremesa), enquanto
que no nosso ponto fixo (junto ao Oceanário de Lisboa),
as pessoas procuram algo para se refrescar, desfrutar
do passeio ou lanchar», frisa VERA LEIRIA. A oferta
de frutas e legumes nacionais da época é variada,
complementada com algumas frutas tropicais, como a
manga e o abacaxi. Cada sumo de fruta tem o nome de
uma rua de Lisboa e cada taça o nome de uma praça
lisboeta também. CARLOS RELVA recomenda que a
PARQ desfrute –literalmente– da Rua Augusta (laranja,
limão e gengibre) e da Praça Camões (laranja, mel e
canela). Mais do que as máquinas, dentro da Piaggio
200 tem de haver amor e alegria. Já comeram fruta hoje?
(38)
PARQ
CENTRAL PARQ
iniciou este projeto ainda quando estudava na Escola
Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril, na altura
com uma identidade totalmente diferente da atual.
Em maio de 2015, On The Wayffle volta às ruas de
Lisboa, numa alusão clara a Lavoisier: um contentor
do lixo não se perde, transforma‑se. É verdade que o
cheirinho das waffles não passa despercebido, mas
muitos dos que se aprochegam pela primeira vez são
levados pela perplexidade: “Isto são mesmo caixotes
do lixo?”. Sim, são. Mas não se preocupem, «todos os
contentores sofreram um tratamento minucioso e a única
característica que persiste é o formato», garante LUÍS
CRESPO. A receita On The Wayffle é original de Bruxelas,
diferenciando-se dos waffles habitualmente encontrados
em Portugal por se tratar de uma massa sem adição
de açúcar. Tudo o que LUÍS nos pode desvendar é
que «o segredo de um bom waffle está na massa,
cuja receita não se diferencia pelo uso de ingredientes
extraordinários, mas pela quantidade utilizada». Depois,
vêm as coberturas, que –à exceção do chocolate Nutella
– são todas caseiras: Mel, Doce de Morangos Frescos,
Doce de Leite inspirado numa receita argentina e, o
melhor para o fim, Creme de Pastel de Nata (acanelado
ou não). A escolha é compreensivelmente penosa, mas
o que vale é que nos deixam pôr todos os molhos e fé
nos intestinos. Metade Nutella, metade Creme de Pastel
de Nata seria a waffle perfeita para adocicar uma leitura
da PARQ, segundo LUÍS CRESPO. Nos bastidores dos
contentores e waffles mágicos, estão inevitavelmente
a batedeira, o fogão, a waffle maker e o sorriso dos
que recebem. Até ao momento, os waffles On The
Wayffle têm estado pelo caminho em vários eventos
públicos, mas «a localização fixa é um dos objetivos».
(39)
STREET FOOD
CENTRAL PARQ
PARQ
N.48
STREET FOOD
Focaccia
in
Giro
STREET FOOD
PARQ
N.48
CENTRAL PARQ
The
Skinny
Bagel
Giro, giro era papar uma focaccia
O Bagel nosso de cada dia
Uma coisa é comer clementina. Outra é comer na
Clementina, onde encontramos uma bela focaccia. A
Clementina é basicamente uma Ape Piaggio laranja,
feita com materiais ecológicos e reciclados, na qual
se move a Focaccia in Giro. O projeto surgiu há cerca de
dois anos, por iniciativa de ENRICO POSTIGLIONI e
ANGÉLICA PADUA, embora houvesse outra mão por
trás –a da Avó GIOVANNA, nada mais, nada menos
que a avó de ENRICO. «É a pessoa com quem aprendi
a fazer a focaccia e que me inspirou no momento de
iniciar este projeto. Quando comecei a preparar a
focaccia baseei‑me no antigo livro de receitas que ela
me deixou», revela o neto babado. A composição da
focaccia é simples ‑farinha, água, sal, fermento, azeite e
alecrim‑, mas o segredo da confeção «está na paciência
e na qualidade dos ingredientes». No caso da Focaccia in
Giro, a levedação dura 24 horas, o que permite cortar na
quantidade de fermento e «obter um produto mais leve e
fragrante», explica ENRICO. Apesar de se tratar de uma
especialidade tipicamente transalpina, ENRICO encontra
muitas semelhanças entre a gastronomia italiana e a
portuguesa, semelhanças essas que procura harmonizar
nas suas diferentes focaccias –a Melanzana, com
STREET FOOD
húmus, beringela e espinafres; a Funghi, com paté de
cogumelos, queijo brie, amêndoas e rúcula; a Caponata,
uma mistura agridoce de beringelas com pimentos,
cebola, alcaparras, aipo e azeitonas; a Napoletana, com
tomate, mozarella e pesto artesanal; e a Prosciutto, com
presunto de Parma, Philadelphia e rúcula selvagem.
À PARQ, ENRICO aconselha a Funghi, «elegante,
ligeira, mas ao mesmo tempo cheia de conteúdo». As
preocupações ambientais são apanágio da Focaccia
in Giro, a começar pela construção da Clementina e
pelo seu tejadilho autossustentável com uma horta
da qual se retiram ervas aromáticas para a focaccia,
e culminando na grande aproximação aos pequenos
produtores locais, que usam menos químicos, para
além da qualidade do produto ser «indiscutivelmente
melhor». Uma rápida pesquisa no Google por “Ape
Piaggio” vai ajudar qualquer um a perceber a perícia
necessária para cozinhar no seu interior. Enrico diz
que «a limitação do espaço obriga a uma organização
quase maníaca que ajuda a ter tudo sob controlo».
O mais impressionante é que este cubículo andante
ainda tem frigorífico, forno, despensa e armazém.
(4 0)
CENTRAL PARQ
Tem formato de donuts, pode ser comido como
hambúrguer e sabe, mais ou menos, a pão, mas não é
nenhum dos três. O bagel é –vamos chamar‑lhe sem
qualquer desprimor– um ‘coiso’ redondo de origem
judaica. É à boleia de uma Citroen H Van, de 1974,
laranja na base e branca no topo, que os bagels vão
fazendo sucesso por Lisboa. CATARINA PYRRAIT,
mentora do The Skinny Bagel, conta-nos de que é feito
e como se faz um bom bagel: «Primeiro juntam‑se os
ingredientes, a base é farinha de trigo e água. Não
leva ovos nem manteiga, como um croissant ou pão
brioche. Depois, o pão é fervido em água, numa calda
com mate e sal, cerca de dez segundos de cada lado,
e depois de levedar vai ao forno. Os nossos bagels
são caseiros e feitos com farinhas biológicas». Este
bagel magricelas é extremamente multifacetado, já
que calha bem ao pequeno-almoço, enquanto refeição
principal ou até como sobremesa, dependendo se
a combinação de ingredientes é doce ou salgada.
Apesar de já bastante americanizado, o bagel pode
muito bem conquistar os portugueses, quanto mais
não seja pela nossa vocação generalizada para
devorar pão. «Acredito e tenho esperança que fique
CENTRAL PARQ
enraizado em Portugal», afirma CATARINA. Quem
visita o The Skinny Bagel pode escolher entre sete bagels
diferentes: os salgados –salmão fumado, pastrami,
peito de frango e vegetariano– e os doces –nutella,
manteiga de amendoim e frutos vermelhos. À PARQ,
CATARINA PYRRAIT não teve dúvidas em sugerir
o Smoked Bagel (salmão fumado). O The Skinny Bagel
encontra-se diariamente, até final do ano, no Jardim
da Praça do Império, em Belém. Dentro da velhinha
Citroen, não podem faltar um ponto de eletricidade,
frigorífico, tostadeira, máquina de café, computador
e depósito de água, para além da boa disposição.
(4 1)
STREET FOOD
CENTRAL PARQ
PARQ
N.48
CARRILHO DA GRAÇA
Carrilho
da
Graça
CARRILHO DA GRAÇA
PARQ
N.48
Do chão ao teto, uma parede branca recortada
com símbolos aparentemente sem sentido: são na
verdade linhas de código utilizado para representar
texto. A estrutura que nos guarda, o Pavilhão do
Conhecimento dos Mares, veio pela mão de CARRILHO
DA GRAÇA, cuja exposição se encontra agora no
Centro Cultural de Belém, até ao próximo dia 14 de
fevereiro. Carrilho da Graça: Lisboa reflete o olhar do
arquiteto sobre a cidade e a sua topografia acidentada
e de linhas de território bem marcadas. Tudo a
partir dos projetos que o próprio criou ao longo dos
mais de 30 anos em que tem trabalhado a capital.
Uma carreira extensa que vale a pena analisar.
P: Como é que começou o interesse pela arquitetura?
CG: Se quer que lhe diga não me lembro, porque
sempre pensei que ia ser arquiteto, raramente tive
dúvidas, sempre pensei nisso e pronto. Eu gostava
muito de desenhar e pintar. Mas ao mesmo tempo
gostava de observar os edifícios e de imaginar como é
que seria construir e quase naturalmente… de repente
tinha 17 anos, vim para Lisboa e comecei a fazer o
curso de Arquitetura na Escola de Belas Artes.
P: Dos projetos que já realizou, qual foi
aquele que lhe deu mais gosto fazer?
CG: Eu normalmente nem penso muito nisso, nem
gosto muito do tema porque penso que é um pouco
como os filhos, nós não vamos preferir porque todos
têm características diferentes e todos são excecionais
e extraordinários. Os projetos são processos muito
longos, em média duram cerca de 10 anos, portanto
quando eu começo as coisas são de uma maneira,
depois vão evoluindo, são sempre relações muito
longas. Este pavilhão foi começado a pensar em '95,
há 20 anos. E quando comecei a pensar no Pavilhão,
que era o Pavilhão do Conhecimento dos Mares, ainda não
havia nenhuma ideia sobre a imagem que iria ter e a
presença dos outros edifícios aqui na Expo, era assim
uma espécie de mistério. E eu tentei fazer um edifício
muito simples porque tinha estado na Expo de Sevilha
em que havia uma colisão e uma grande confusão, uma
tentativa de chamar a atenção e de prender as pessoas
com imagens e coisas espantosas, e eu pensei que
isso ia acontecer aqui em Lisboa, e que depois também
aconteceria no interior do Pavilhão com a exposição que
viesse cá ser montada. Portanto, eu quis que o Pavilhão
fosse uma espécie de pausa, uma espécie de intervalo
entre esses universos, o interior e o exterior. E eu queria
fazer uma coisa muito mais simples, que fosse universal
e curiosamente hoje o edifício mantém a sua presença,
é extremamente simples e intenso, digamos assim.
em
(42)
as linhas de festo, são as mais percorridas desde
sempre, desde que o Homem habita o Planeta.
P: Sempre utilizou muito estas linhas altas. Porquê?
CG: Porque elas têm visão para dois vales, têm uma
certa continuidade, e portanto em termos de segurança
são mais interessantes e dão mais visibilidade. E se
imaginarmos, na pré-história, são já muito percorridas
e foram sempre percorridas até hoje. Em Lisboa, estão
muito marcadas e fazem uma espécie de estrutura.
E essa estrutura nunca pode ser alterada, porque
mesmo as propriedades, mesmo a possibilidade de
privatizar espaços, passa sempre entre estas linhas
de água e estas linhas de festo. E essas propriedades
são depois a base da expansão da cidade, são essas
propriedades que são trabalhadas e desenvolvidas em
sentido de urbanização. Portanto, é um pouco essa
história que eu conto através de maquetes e de plantas
antigas, plantas que nós fizemos especificamente e
projeções em cima de maquetes com a topografia.
P: Ao longo da exposição são representados
vários projetos que não foram concluídos.
CG: Para os arquitetos claro que é fundamental
conseguir construir, mas muitas vezes há projetos
que ficam no papel, uma espécie de arquitetura do
papel ou do cartão, mas que do ponto de vista das
ideias e daquilo que se pensou para a situação, têm
uma grande importância. Por isso é que eu apresento
lá projetos que não se chegaram a realizar mas que
são muito importantes para mim como reflexão, como
experiência e como resultado. Todos os projetos são
para os arquitetos uma forma de comunicação, ou
seja, nós comunicamos com os não arquitetos ou
com os outros arquitetos através da arquitetura.
P: Qual foi o impacto da última nomeação, como
membro honorário da Ordem dos Arquitetos, tendo
em conta que já foi reconhecido tantas vezes?
CG: Fiquei contente. Este é um reconhecimento
interessante porque em certa medida é um
reconhecimento dos colegas, da Ordem dos Arquitetos.
Já me disseram que normalmente costumam
atribuir esta distinção a arquitetos mais velhos do
que eu… Acho interessante ter recebido agora.
P: Qual é que acha que é/foi o seu contributo
para a arquitetura em Portugal?
CG: Talvez este esforço por revelar em
certo sentido os sítios onde vou fazer as
intervenções, mas que não é invenção minha,
mas que eu tentei sempre levar à prática.
P: Em relação à exposição…
CG: A exposição tem a ver com o meu olhar sobre a
retroespectiva
CARRILHO DA GRAÇA
CENTRAL PARQ
CENTRAL PARQ
cidade de Lisboa, em que eu vivo desde os 17 anos. E é
a maneira como eu olho para a cidade, naturalmente a
partir de uma metodologia de observação do território,
da paisagem, das cidades, que é universal e que
se poderá aplicar a qualquer outro sítio, a qualquer
outra cidade. Portanto, é uma maneira de olhar para
o território e para a cidade. Basicamente há certas
linhas, uma delas é o caminho da água. Isso são linhas
que existem em qualquer território. E depois as linhas
altas, que são normalmente as mais percorridas,
CENTRAL PARQ
(4
TE X TO SA R A BER N A R D I NO
FOTO JO ELM A AGUI A R
Fotos d os p roj etos c edi d a s p o r Fer nand o Gu er r a
Fotos d a exp osiç ão c edi d a s p elo CCB
CARRILHO DA GRAÇA
3)
CENTRAL PARQ
PARQ
N.48
CARRILHO DA GRAÇA
CARRILHO DA GRAÇA
PARQ
N.48
CENTRAL PARQ
Pavilhão do Conhecimento, Lisboa
Exposição Carrilho da Graça no CCB
Exposição Carrilho da Graça no CCB
Edifício Santa Catarina, Lisboa
CARRILHO DA GRAÇA
Edifício Habitacional, Lisboa
(44)
CENTRAL PARQ
CENTRAL PARQ
(45)
CARRILHO DA GRAÇA
CENTRAL PARQ
PARQ
N.48
MAARTEN
MAARTEN
PARQ
N.48
MAARTEN DE CEULAER (MC) foi contactado em
Bruxelas, para uma pequena entrevista. O lugar para a
conversa poderia ser um qualquer café ou esplanada,
virados para uma praça ou jardim da cidade, mas o
designer surpreendeu com a sua simpatia deliciosa
ao convidar-nos para aparecer no seu atelier, situado
no coração da cidade. À chegada, esperava um café
e umas largas janelas com vista para a cidade. Ao
contemplar a vista, uma longa luz dourada perpassava
as vidraças e os edifícios evidenciavam o seu brilho,
devido à cor acinzentada do céu, que é permanente na
cidade. Ao longe, o Atomium, prateado, conferia um ar
de modernidade ao horizonte. Lá fora, o ambiente é de
trabalho, uma cidade que pulsa, e parece não dormir.
A oportunidade era única. Por fim, ver as
peças, in loco, entre conversas, era o ideal
para conhecer o trabalho do designer.
CENTRAL PARQ
Gosto da atividade escultórica: começa-se do zero,
de uma estrutura quadrada vazia, ou de uma forma
orgânica, que cresce organicamente do nada, insere‑se
uma bola aqui, inserem-se duas bolas ali, achamos
que a estrutura ainda é pequena, então colocamos
mais, e estrutura começa a crescer. É todo um
processo de reflexão, que me agrada bastante.
P: Em Drawers, como em muitos outros trabalhos
seus, a quantidade parece dominar, há muito de
serial neles todos. Muitas gavetas, muitas bolas,
umas grandes, outras pequenas. Muitas dessas
peças surgem agrupadas, coladas. MC repete-as.
Manifesta uma linguagem comum em todas elas.
MC: Sim, é como em “molecule lamp”. É um
candeeiro feito de moléculas separadas. Tratou‑se
de um projeto de curso. São sobretudo pequenos
elementos que se repetem um certo número
de vezes e que depois se tornam objeto.
P: A mesma linguagem,
MC: Sim, a mesma ideia.
P: A mesma agregação.
MC: Sim. Gosto desta maneira modular de trabalhar.
P: Há designers que, quando começam, têm aquela
Mutation Series
Transformations Fendi
Ma rten De Ceulaer
TE X TO CA RL A CA R BO NE
MAARTEN
(4 6)
R ETR ATO TER I RO M K E Y
CENTRAL PARQ
P: A primeira pergunta consistia em debruçar a
atenção sobre várias peças de MAARTEN e de como
assumiam uma propriedade acentuadamente modular.
MC: Após Balloon Balls, um mês ou dois depois da
exposição em Milão, pensei seriamente em fazer peças
de mobiliário maiores, mais complexas, mas eu gosto
de fazer todas as coisas no meu projeto. Nas peças
Suitcase pieces, não podia fazer tudo e dessa forma o
projeto Balloon Balls foi realmente libertador. Então,
pus‑me a pensar o que poderia fazer sozinho. Não sou
um grande perito em carpintaria, não sou um grande
perito em serralharia, não sou um grande estofador.
Então, perguntava a mim mesmo como poderia fazer
um sofá sem ser perito em nenhuma destas áreas. As
coisas surgem de forma espontânea. Assim que tivesse
os conceitos na minha mente, de como fazer mobiliário
que se parecesse com vírus, bactérias, moléculas,
ou um aspeto mutante, começaria a pensar como os
poderia fazer sozinho, sem precisar de mais ninguém.
CENTRAL PARQ
ideia, pensam somente naquela peça, naquele ideal,
como objeto. Como um todo. O que interessa é o
resultado final que idealizaram, que imaginaram
inicialmente. Perseguem uma forma. E depois
trabalham‑na, esculpem-na, em peça única, única no
sentido de forma, isolada, fechada, que deixa pouco
campo para os outros a modificarem, pouco campo
para lhe darem outro cunho. E MC tem uma forma
singular de projetar as coisas, que é muito social,
“tenho isto, tenho aquilo, e mais aquilo, mas posso
juntar todas as coisas ou deixá-las simplesmente
isoladas”. Que podem existir sozinhas, como objetos,
de forma autónoma. MC Deixa-as em aberto,
para que outros possam escolher a sua forma de
interpretação final. Não impõe nada ao utilizador.
MC: Gosto de pensar que somos todos diferentes
e que todos temos diferentes necessidades. Por
isso gosto de desenhar sistemas modulares que me
permitam criar qualquer coisa que seja única para
todos. Este candeeiro pode ter os tamanhos que
eu quiser e o mesmo acontece com “suitcases”, ou
com as peças Mutant pieces, entre outras coisas.
Tento imaginar qualquer coisa e, graças a isso,
posso fazer qualquer coisa que seja única para toda
a gente. Qualquer coisa de único e de diferente.
P: É possível com os sofás?
MC: Sim, porque posso fazer com que o sofá se adeque
ao cliente. Um pouco mais longo aqui, um pouco mais
alto ali, porque o cliente é alto, ou porque o cliente é
pequeno. Posso fazer com que o sofá se adeque a cada
pessoa. O mesmo acontece com o room devider, falamos
novamente de sistemas modulares. O projeto room devider,
que agora desenvolvo, é feito de placas de madeira e de
faixas em tecido. E as propriedades modulares destes
elementos permitem que esses sistemas se tornem
mais longos ou mais pequenos, arquitetonicamente, e
conforme o desejo de cada um. Essa é que é a ideia.
(47)
MAARTEN
CENTRAL PARQ
PARQ
N.48
MAARTEN
MAARTEN
PARQ
P: O Projecto Room Devider, esteticamente,
não parece imediatamente percetível, ou
de fácil compreensão, à partida.
MC: O projeto Room Devider está a ser desenvolvido
para a editora Fendi. Podem ser misturadas
faixas, podem ser unidas. São flexíveis. Podem
ser aplicadas de diferentes maneiras.
P: Criar formas diferentes.
MC: Sim, de fácil transporte. Há placas e faixas, que
podem alongar ou diminuir, podem mudar a cor. Toda
a gente pode criar a sua versão de room devider.
O projeto era para a editora italiana Fendi e a editora
deu-me o briefing deles. O dossier era bastante denso,
com a história toda da editora, o seu background e onde
iam buscar a inspiração, as cores, o uso dos materiais.
Eu tinha que aparecer com um conceito e tinha que
me basear no têxtil Pekin, um padrão de riscas, por
exemplo: de castanho e preto. É muito difícil trabalhar
a partir de um conceito destes. Então, eu surgi com a
ideia de uma linha. Comecei a pesquisar onde a Fendi
ia buscar a sua inspiração, às formas geométricas e
abstratas do Futurismo e de Bauhaus, De Stjil, Mondrian,
Van Doesburg. O que eles todos faziam era desenvolver
padrões bidimensionais. Eu resolvi aproveitar este
conceito e desenvolver padrões tridimensionais. Padrões
que pudessem ser aplicados em objetos e assumir
formas no espaço. Não queria fazer algo chique, mas
algo que fosse conceptual. De maneira que pudesse
ser aplicado em qualquer lado, em caixas, em soalhos.
Fendi Bench
CENTRAL PARQ
N.48
Eindhoven tem bons professores que nos ajudam
a pensar sem analisar demasiado. Gostam de
despertar uma visão mais sensível e calorosa do
design. Também havia muita competição, o que era
bom para mim, de certo modo, mas duro. O que
já não era possível encontrar na Bélgica. Se um
estudante se formar na Bélgica, ninguém vai dar
por ele, mesmo que o seu trabalho seja bom.
Eindhoven estava demasiado exposta, estava
a pensar no sucesso de MAARTEN BAAS.
P: DE CEAULER foi premiado com o Prémio
de Henry van de Velde, Jovem talento do ano.
Como se sentiu quando recebeu a notícia?
MC: Foi bom, antes disso tinha a sensação que na
Bélgica as pessoas não sabiam muito bem o que
estava a fazer, mas em simultâneo, eu já estava
representado nas feiras em Milão, Miami. Na Bélgica,
ninguém parecia conhecer-me, e este prémio foi uma
forma de dizer: “ok, continua”. É uma boa motivação.
Gostaria de fazer algo que pudesse
crescer por si próprio.
P: Multifuncional? Em diferentes identidades e diferentes
propósitos? Como em todos os outros trabalhos?
MC: Sim, de certo modo, como todo o meu trabalho.
Não tem sido um grande êxito comercial, ainda, mas
combina na perfeição com um projeto de arquitetura.
Transformations Fendi, oak beam puzzle
P: O reconhecimento?
MC: Sim, um reconhecimento.
P: Um projeto que poderia ser usado em
P: E as séries Grid, que tem a dizer sobre elas?
MC: A série Grid apareceu com a ideia de estar, tudo
espaços para crianças brincarem.
MC: Sim, porque não…
à nossa volta, progressivamente, a transformar em
virtual, em digital. Há coisas eletrónicas por todo o
lado e para onde quer que nos viremos. Para onde
quer que se vá, temos dispositivos eletrónicos nas
cadeiras onde nos sentamos, ou microfones nos
nossos casacos. Queria concentrar-me nesta ideia,
de transformar o que é natural, como um pedaço de
madeira, numa coisa digital, virtual, como um cyborg.
O projeto Grid procurou transmitir esta ideia artificial,
exatamente como na realidade virtual. Para mim, isto
é como se trabalhássemos com um computador.
P: O projeto pile of suitcases parece funcionar como um
centro onde todas as outras coisas de MAARTEN se
desenrolaram depois, a mesma paleta de cores.
MC: Sim, reconhecem-se as cores. Foi feito
de propósito, porque quis ter uma linguagem
que fosse imediatamente reconhecível.
P: Aquando do projeto suitcases, estava em Eindhoven?
MC: Sim, estava.
P: Seria um designer diferente se não tivesse
passado pela Academia de Eindhoven?
Fendi Bench
MC: Sim, seria. Eles conduziram-me na direção
certa. Fizeram-me pensar, repensar. Foram muito
exigentes com os estudantes. Antes estava a palmilhar
caminhos. A propriedade modular sempre fez parte
do meu trabalho e os professores da academia nem
sempre compreenderam. Estava um pouco perdido
e eles guiaram-me. Guiaram-me nos materiais, por
exemplo. Nem tudo eram conceitos. Ajudaram‑me
a pensar em diferentes camadas do design.
Fendi Bench
MAARTEN
(48)
CENTRAL PARQ
CENTRAL PARQ
Grid Series
P: Pequenas camadas, layers?
MC: Sim, com divisões, interações.
Não sei se consegui, mas tentei criar um objeto
que parecesse estar a transformar-se em algo. Do
natural ao virtual, digital. Por isso é que o objeto
tem, no seu interior, algumas leds, que podem
ser programadas, e o seu movimento escolhido.
São esculturas de luz e não candeeiros.
Esculturas de luz, numa combinação
de madeira com leds.
(4 9)
MAARTEN
City
M A K E- UP SA R A CASTRO
Agr ad ecim entos V illag e Und erground
FOTO A NTÓ NI O M EDE I ROS
ST Y LI NG DA NI EL BA P TI STA R I BE I RO
ST Y LI NG ASS.: JOA N A BO RG ES & R ITA CERQUE I R A
H A I RST Y LI NG: W ELLI NGTO N DE OLI V E I R A
VESTIDO CAROLINA HERRERA
Dreams
CAMISA DIESEL
(50)
(51)
SOUTIEN EM ALGODÃO INTIMISSIMI
SOUTIEN EM RENDA INTIMISSIMI
SAIAS MIGUEL VIEIRA
ÓCULOS DE SOL FENDI
COLETE MIGUEL VIEIRA
SOUTIEN INTIMISSIMI
ANÉIS ARISTOCRAZY
SAIA E CALÇAS GANT
BOTINS ZILLIAN
(52)
(53)
VESTIDO E CAMISA LACOSTE
CALÇAS PURIFICACIÓN GARCIA
CAMISOLA MIGUEL VIEIRA
MALHA LACOSTE
CALÇAS MIGUEL VIEIRA
CARTEIRA PURIFICACIÓN GARCÍA
(54)
(55)
CASACO PURIFICACIÓN GARCIA
CAMISOLA MIGUEL VIEIRA
PULSEIRA ARISTOCRAZY
CALÇAS MALENE BIRGER
MEIAS HAPPY SOCKS
SAPATOS COS
CAPACETE HARLEY DAVIDSON
CAMISOLA LACOSTE
COLETE ALPHAMOMENT
CULOTES COS
SANDÁLIAS LUÍS ONOFRE
MALA DE VIAGEM MOSCHINO
(56)
(57)
The
Harder
He
Falls
CAP FRANKLIN & MARSHALL
CAMISOLA LEVI'S
FOTO JOÃO PAULO
ST Y LI NG SÉRG I O SI M Õ ES
M O DELO FR A NCI SCO R I PA DO @ wea re mo d el s
M A K E- UP & H A I R LUCI A NO FI A LHO
Agr ad ecim entos à loja Ret roshop
ÓCULOS CUSCUZ, CACHECOL FRED PERRY
T-SHIRT CHEAP MONDAY, CINTO PEPE JEANS
CALÇAS DOCKERS, LEGGINS CHEAP MONDAY
BOTAS PEPE JEANS
(58)
(59)
GORRO FRANKLIN & MARSHALL
COLAR CHEAP MONDAY
CASACO CHEAP MONDAY
CALÇAS DOCKERS
JEANS CHEAP MONDAY
BLAZER DOCKERS
COLAR CHEAP MONDAY
CAMISOLA E LEGGINS FRANKLIN & MARSHALL
TÉNIS NIKE
(60)
(61)
CASACO FRED PERRY
T-SHIRT MANGO
JEANS CHEAP MONDAY
MEIAS FRANKLIN & MARSHALL
TÉNIS CAT
ÓCULOS CUSCUZ
CAMISOLA FRANKLIN & MARSHALL
CALÇAS CHEAP MONDAY
BOTAS PEPE JEANS
(62)
(63)
PARQ HERE
PARQ
N.48
PLACES
T O P O
TE X TO FR A NCI SCO VA Z FER N A NDES
PLACES
PARQ
E L
N.48
PARQ HERE
CLANDESTINO
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
FOTOS JO ELM A AGUI A R
Das 12h00 às 24h00, aos dias de semana.
Das 12h00 às 02h00, aos fins-de-semana.
A cozinha fecha às 23h00.
Encerra à segunda-feira.
TOPO
Centro Comercial do Martim Moniz – 6 o Piso
Praça Martim Moniz , Lisboa
Telef: 215 881 322
Restaurantes em topos
de edifícios com grandes
vistas sobre Lisboa não há
muitos, uma insuficiência
pouco natural dada a
topografia da nossa
capital. Talvez por isso,
o TOPO só venha frisar
essa singularidade.
Diríamos que seria
a primeira, porque é
igualmente singular que
se encontre sobre um
dos centros comerciais
do Martin Moniz, ou
seja, mergulhado
no cosmopolitismo
multicultural da cidade,
PLACES
pagando o preço de
confrontar alguns
preconceitos resistentes.
Mas apanhar o elevador
para esse 6ºandar vale
mesmo pena, tendo já
como garantido que tudo
poderá ser diferente.
Dada a configuração,
o espaço não é de um
restaurante convencional e
convida‑nos, no essencial,
a passar um bom tempo
ao balcão a petiscar as
variadas opções. A versão
bar anda a paredes meias
nessa fusão de conceitos
híbridos, onde até espaço
galerístico é permitido,
tudo isso sempre
acompanhado de uma
vista deslumbrante, se
outra companhia faltasse.
Ainda assim, passado
o primeiro deslumbre, a
cidade aos nossos pés
deixa de ser motivo de
distração, porque temos
muito com que nos
entreter, embalados pela
melhor música dos DJs,
não fosse um dos seus
mentores, JOSÉ REBELO
PINTO, o responsável
pelas tardes Out Jazz.
(64)
Somos surpreendidos por
umas mini chamuças de
cor verde e por sandes
rosas quase fluorescente
de atum braseado, um
apelo a todos os sentidos.
Mais que engraçadinhos,
são pratos de execução
exímia, fora do vulgar, e
uma motivação para nos
fazer voltar. A proposta é
que seja a qualquer hora,
porque a lista de cocktails
e de vinhos é igualmente
tentadora e o terraço será
certamente um ponto de
referência da cidade.
PARQ HERE
El Clandestino
Rua da Rosa, 321,
Príncipe Real, Lisboa
Telef: 912 832 777
Todos os dias das 12h00 às 02h00
Aceitam-se reservas
‘Ceci n’est pas une
restaurante clandestino’
poderia ser a legenda
de uma fotografia do EL
CLANDESTINO. O novo
espaço –que de ilegal
não tem nada– abriu em
novembro, algures na
fronteira entre o Bairro
Alto e o Príncipe Real, em
PARQ HERE
Lisboa. A clandestinidade
é imediatamente desfeita
pela enorme parede
envidraçada que separa a
zona de refeições da própria
cozinha. Dos típicos tacos
mexicanos aos tradicionais
ceviches peruanos, a oferta
do EL CLANDESTINO não
poderia deixar de passar
também pela guacamole,
margarita e tequila. O
acasalamento das duas
gastronomias é feito,
respetivamente, pelos
chefes ANTÓNIO AMORIM
e FÁBIO SOBRAL. Para
além de bar e restaurante,
o EL CLANDESTINO é
também uma galeria de
(65)
arte, expondo trabalhos de
artistas como GONZALO
MARROQUIN, MACIEL e
a incontornável escultura
“A Favela”, da autoria dos
irmãos BETE e GEZO
MARQUES. Colorido e
acolhedor, o espaço foi
decorado por MARIA
FERNANDES THOMAZ.
PLACES
PARQ HERE
PARQ
PLACES
N.48
PLACES
PARQ
D O I S
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
TE X TO RUI LI NO R A M A LHO
Vertigo Climbing Center
Av. Infante D. Henrique - Edifício Beira Rio
Fração S, Lisboa
Telef: 967 890 179
2 a a 5 a das 14h00 às 23h00
Sáb. das 10h00 às 21h00
Dom. das 10h00 às 18h00
PARQ HERE
L
E
O
N
I
D
A
S
CORVOS
V E R T I G O
CLIMBING CENTER
N.48
TE X TO M A R I A SÃO M IGUEL
Chama-se DOIS CORVOS e combina com Sete Colinas.
A nova marca de cerveja artesanal de Lisboa inagurou,
no dia 20 de novembro, o TAP ROOM, onde será
possível degustar e comprar dez variedades de cerveja
no preciso local onde ela é produzida. A fábrica da
DOIS CORVOS é, assim, transformada também numa
loja, onde a cerveja pode ser adquirida em garrafas ou
nuns elegantes growlers em vidro. A marca, lançada
em 2013 por SUSANA CASCAIS e SCOTT STEFFENS,
só este verão começou a ser comercializada em alguns
restaurantes da capital, como o FÁBULAS, o CRUZES
CREDO, a CERVETECA e a CASA AMARELA. A
cerveja, essa, é feita à mão, de acordo com os métodos
tradicionais e com ingredientes naturais. A Avenida
–feita com malte pilsner premium–, a Metropolitan
–a mais forte de todas, com 5,6% de graduação–, a
Galáxia –com sabores de chocolate, café e caramelo–,
a Saison –mais adocicada– e a Matiné –intensa e
aromática– são algumas das tentadoras opções.
Bem a propósito para a época de Natal, a LEONIDAS
–uma das mais conhecidas marcas do famoso
chocolate belga– abre duas lojas em Portugal.
Uma em Lisboa, na Avenida Álvares Cabral,
outra no Porto, no Mercado do Bom Sucesso.
A marca surgiu há mais de 100 anos em Gante, na
Bélgica. Tem mais de mil lojas próprias em todo o
mundo. Nas vitrinas da nova loja, o destaque vai
para as pralines, os bombons de chocolate. Há
mais de 80 variedades para escolher ao peso.
Com recheio, sem recheio, de chocolate branco, negro,
de leite, com nozes, amêndoa, fruta e até álcool.
O difícil será mesmo escolher. Em alturas festivas,
como no Natal ou Páscoa, a marca costuma ter
algumas opções temáticas. Para oferecer, há caixas
mais elegantes que pode encher com pralines.
Dois Corvos Cervejeira
Rua Capitão Leitão, 94 – Lisboa
Telef: 914 440 326
2 a a 5 a das 13h00 às 18h00, 6 a das 13h00 às 23h00
Sáb. das 17h00 às 23h00
Não é apenas o título de
um dos maiores clássicos
do cinema ou de uma
música dos U2. VERTIGO
é também o maior
rocódromo de Lisboa,
senão mesmo de Portugal.
O que é um rocódromo?
É um espaço destinado
PLACES
à prática de escalada.
No caso do VERTIGO
CLIMBING CENTER, esse
espaço tem cerca de 400
m2, é seguro, divertido,
e destina-se a todos
os que procuram uma
forma diferente de fazer
desporto. O projeto foi
idealizado pelos arquitetos
JOÃO QUINTELA e TIM
SIMON, que optaram
por reabilitar um antigo
armazém à beira rio. Além
da prática desportiva,
o VERTIGO CLIMBING
CENTER dispõe também
de uma cafetaria e zona
(66)
de lazer, demarcada por
uma imponente estrutura
avermelhada, também
ela escalável. Uma
boa oportunidade para
vestirmos o nosso melhor
disfarce de João Garcia.
PARQ HERE
PARQ HERE
(6 7)
PLACES

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