A tecnologia como aliada da produ
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A tecnologia como aliada da produ
2 CIÊNCIA DIÁRIO POPULAR DOMINGO/SEGUNDA-FEIRA, 8 E 9 DE ABRIL DE 2012 A tecnologia como aliada da produ Laboratório Detecta, de Pelotas, é o único estabelecimento do ramo na Região Sul do Brasil credenciado ao Mapa para trabalhar com identificação genética e material de multiplicação animal; produtores são beneficiados pela vasta gama de serviços oferecidos André Amaral Pelotas. A Zona Sul é forte na pecuária. Quanto a isto, não há quem discorde. E para tornar a atividade ainda mais produtiva e valorizada, Pelotas passou a contar com um forte aliado, capaz de unir tecnologia e produtividade em um só trabalho. Esta é a proposta do Detecta, único laboratório da Região Sul do Brasil (que inclui os estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina) credenciado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para trabalhar com identificação genética e material de multiplicação animal. A empresa, situada bem no centro da cidade, presta uma série de serviços que incluem mapeamento genético de animais de produção, como bovinos, equinos, ovinos e caprinos, e domésticos, como cães. Conforme explica a médica veterinária, doutora em Biotecnologia e proprietária do estabelecimento, Roberta Collares Bessel, no Brasil existem apenas outros 11 laboratórios nesta mesma situação. “Na região Sul somos nós. Depois têm cinco em Minas Gerais, quatro em São Paulo, um em Goiás e outro no Mato Grosso do Sul”, contabiliza. Entre os principais recursos disponibilizados pelo Detecta, que trabalha com o único aparelho sequencial regulamentado pela Comunidade Europeia e Estados Unidos para testes em humanos, está o reconhecimento de paternidade para criadores que utilizam o sistema de Touro Múltiplo, no qual um lote de vacas é colocado junto a um grupo de machos para que se reproduzam. Nestes casos fica difícil, para não dizer impossível, descobrir quem é o pai do terneiro fruto de cada acasalamento. Não à equipe do Detecta que, por meio da análise do material genético do terneiro, da vaca e dos touros presentes no recinto, consegue A partir de uma amostra de pelo, sangue, sêmen ou carne é possível fazer o mapeamento genético dos animais e obter ganhos significativos definir, com 100% de certeza, a paternidade do produto. “Isso não precisa ser feito com todos os terneiros, pode ser aplicado apenas naqueles que se destacam. Isso valoriza o animal e facilita o manejo, já que o produtor não precisa mudar nada em sua rotina de criação”, explica. É importante destacar que o equipamento utilizado no sequenciamento do DNA é totalmente automatizado, o que elimina os riscos de falha humana e confere resultados absolutamente confiáveis. “Afinal, basta um Equipamento totalmente automatizado acaba com as falhas humanas e garante resultados 100% confiáveis simples trocar de letras para que um resultado de paternidade ou maternidade saia incorreto”, justifica. No combate ao abigeato Outra utilidade dos serviços prestados pelo laboratório diz respeito ao combate de crimes de abigeato, ao auxiliar no processo de construção de provas contra os possíveis criminosos. Para exemplificar, Roberta cita um abigeato ocorrido no município de Júlio de Castilhos, onde um produtor denunciou um suspeito de ter cometido o crime. A partir da análise de uma amostra de carne deixada no campo onde o fato foi registrado, tornou-se possível chegar à conclusão de que se tratava do mesmo animal presente na geladeira do indivíduo sob suspeita. Um exemplo prático de como uma simples análise de DNA pode levar à conclusão de crimes contra o produtor. Seleção assistida por marcadores Todo criador busca avanços em seu trabalho de seleção. Neste momento o estabelecimento comprova, novamente, sua utili- DIÁRIO POPULAR 3 ução animal Fotos Jô Folha - DP judicar o touro sem ser realmente filho deste. O exemplar sofre queda na média por filhos que, na verdade, não foram produzidos por ele”, explica. Para comprovar a importância deste controle genético, Roberta cita um dado da literatura mundial que aponta que de 12% a 15% das cabanhas controladas de bovinos têm erro de paternidade. “Erros de inseminação, casos de vacas que voltam a ter cio enquanto estão junto de um macho diferente e transferências de embriões negativos à mãe, como quando é feita a transferência para uma matriz já prenhe. E este dado é referente apenas às cabanhas controladas”, salienta. Exemplos que comprovam a importância do trabalho é o que não faltam. Roberta cita um caso onde tanto a maternidade quanto a paternidade estavam equivocadas. Ao ser contatado, o criador alegou que se tratava de um equívoco do técnico responsável pelo registro, já que dois animais haviam nascido no mesmo dia. No entanto, o segundo exemplar, que poderia fazer parte do engano, teve maternidade e paternidade comprovadas, tornando ainda mais incerta a procedência do primeiro animal. “E o exame chegou a ser feito em outros dois laboratórios, que também negaram. Imagina se o teste não tivesse sido feito?”, questiona. Rastreabilidade por DNA dade. Conforme explica a médica veterinária, no genoma existem genes que transmitem determinadas características de produção, como ganho de peso de carcaças, ganho de peso, marmoreio (porção da carne responsável pelo sabor) e área de lombo. Por meio de uma avaliação genética, é possível identificar estes genes no rebanho. “O terneiro nasce e faz o teste para ver se tem o alelo. Com isso o produtor seleciona os animais com potencial e investe naqueles que podem apresentar a característica, proporcionando assim o ganho de peso almejado”, diz. Criadores de gado leiteiro também podem usufruir da técnica, já que existem marcadores relacionados à gordura e à proteína do leite. “Tentamos sempre falar a língua dos produtores e facilitar o trabalho deles, mas sem abrir mão da tecnologia. É só fazer o DNA e ter certeza”, afirma. Promebo Outro ganho proporcionado pelos testes diz respeito ao Programa de Melhoramento de Bovinos de Corte (Promebo), onde o touro é avaliado pela qualidade de seus produtos. De acordo com a médica veterinária, nestes casos, um erro de paternidade pode ser altamente prejudicial ao touro. “Um terneiro não tão bom pode pre- Do pasto ao prato. Todo o percurso envolvido entre estes dois pontos pode ser controlado através da rastreabilidade por DNA. Roberta explica que é possível ter um controle desde o momento que é feito o abate, passando pelo corte e pela desossa, até chegar ao momento de comercialização do produto. Com isto, permite-se saber qual o tipo daquele pedaço de carne (se é angus ou pampa, por exemplo), onde o animal foi criado, em qual região (o que permite saber se foi em alguma área com relatos de aftosa) e até por qual produtor. “Tudo isto após uma simples coleta de sangue antes do abate. Isto agrega valor ao produto”, afirma. Aos criadores de cavalos, também E os benefícios não ficam restritos apenas aos criadores de bovinos. Equinos também têm sua vez. Segundo a doutora em Biotecnologia, o Detecta já tem mais de 20 mil animais da raça crioula genotipados, cumprindo uma norma da Associação Brasileira de Criadores de Cavalos Crioulos (ABCCC) que exige comprovação de paternidade e maternidade de todos os exemplares registrados. “Todo animal que nasce Tentamos sempre falar a língua dos produtores e facilitar o trabalho deles, mas sem abrir mão da tecnologia.” Roberta Bessel, doutora em Biotecnologia Detecta é um dos 12 laboratórios credenciados ao Mapa, sendo o único da Região Sul do Brasil precisa fazer o DNA. Com esta comprovação genética, a criação de cavalos tem maior credibilidade”, opina. Outro caso bastante inusitado e que também certifica a utilidade do exame de DNA é o de uma égua em cio que fugiu de seu brete, sendo encontrada no recinto com seis garanhões. Como saber quem é o padreador? O exame de DNA desvenda o mistério. “O criador mandou, do Rio de Janeiro, material genético do potro, da mãe e dos seis machos. O pai era justamente aquele indesejado”, conta, ao afirmar que o prazo à chegada dos resultados é de 15 dias após a chegada das amostras. Determinação de paternidade com ascendente ausente É raro, mas às vezes acontece de um animal ainda não registrado ser filho de animais já mortos. Até nestes casos é possível determinar a paternidade ou maternidade. Conforme Roberta, basta analisar o material genético do indivíduo em questão, de seu ascendente vivo e o de três irmãos inteiros, ou, se preferir, o de avós pelo lado do ascendente morto ou o de cinco meio-irmãos. “Assim, pode-se determinar se o animal é ou não, filho daquele que já morreu”, afirma. O que é suficiente à realização do exame Pelo com bulbo (no mínimo dez pelos) Sangue em tubo a vácuo com anticoagulante Sêmen (paleta após ser usada) Sêmen peletizado (enviado em nitrogênio líquido) Carne congelada