Hospitais britânicos queimam corpos de bebês abortados como lixo

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Hospitais britânicos queimam corpos de bebês abortados como lixo
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25/março/ 2014
Edição 1162
CNBB – Regional Sul 2
Hospitais britânicos queimam
corpos de bebês abortados como
lixo para aquecer instalações
Addenbrooke Hospital de Cambridge
VATICANO, 24 Mar. 14 /
(ACI/EWTN Noticias)
Os corpos de milhares
de bebês que morreram
em abortos espontâneos
foram incinerados como
refugos clínicos e muitos
deles utilizados como
combustível biológico para aquecer hospitais na
Grã-Bretanha, assinala
uma reportagem do programa Dispatches do Canal britânico Channel 4.
Segundo a reportagem
do Channel 4, dez centros do Sistema Nacional de Saúde (NHS)
britânico admitiram ter
queimado os restos
fetais junto ao lixo dos
hospitais e dois hospitais utilizaram os corpos
dos não nascidos como
resíduos para queimar
e abastecer a calefação
do local.
A apresentadora
Amanda Holden conhecida por suas participações no jurado do
reality show Britain's Got
Talent- participou de uma
reportagem sobre o que
ocorre com os restos dos
bebês que morrem antes
do parto.
Diante do anúncio da
difusão deste documentário, o Departamento de Saúde britanico emitiu uma proibição imediata desta
pratica que o ministro
da saúde Dan Poulter
considerou "totalmente
inaceitável".
Segundo a investigação,
pelo menos 15.500 restos
fetais foram incinerados
por 27 organismos do
NHS nos ultimos dois
anos. A reportagem
também denuncia que os
pais que sofrem a perda
de um filho por um aborto
espontaneo nas primeiras
fases da gravidez são
tratados frequentemente
sem compaixão e não
foram consultados sobre
o que seria feito com os
restos mortais de seus
filhos.
O hospital Addenbrooke
de Cambridge, um dos
mais importantes do pais,
incinerou os restos de
797 bebês de menos de
13 semanas de gestação
em seu próprio prédio, e
disseram às mães que os
restos de seus filhos haviam sido "cremados".
O mesmo aconteceu no
hospital de Ipswich, onde
1.101 restos fetais foram
incinerados entre 2011 e
2013. Estes restos foram
trazidos de outro hospital.
****
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Aumenta número de profissionais
com ‘carreira consolidada’ e
ótimos salarios que abandonam
tudo para se tornar padres
Rodrigo Cardoso ([email protected]_
OPÇÃO - O médico Sarmento terminou com a namorada, trocou um salário de R$ 17 mil - e uma
carreira promissora para encarar nove anos de estudos e se tornar padre
O paraense Renato Sarmento cresceu cultivando
o sonho de se formar em
medicina. Primogênito de
três filhos de um comerciante e uma contabilista,
só conseguiu concretizá-
lo depois de tirar a sorte
grande. Ele acertou a
quina da Mega Sena, em
2007 e, com os R$ 18 mil
do prêmio, pagou um
semestre inteiro em uma
faculdade privada. Mais
adiante, conseguiu um
financiamento estudantil
para arcar com o restante
do curso. Assim, pôde se
tornar o primeiro médico
da família. Empregado
em dois postos de saúde
ACESSE!
APROVEITE PARA
CURTIR!
ATUALIZE-SE!
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e num hospital público
em sua cidade natal,
Paragominas, o rapaz
tinha carro, um salário
de R$ 17 mil e namorava. Sua carreira ia tão
bem que conseguiu um
estágio no departamento de neurocirurgia do
Hospital Beneficência
Portuguesa, em São
Paulo. Mas Sarmento
não se achava pleno.
“Sentia uma inquietação, um vazio”, diz ele,
sentado no banco de
um seminário católico,
na capital paulista, seu
novo endereço desde o
mês passado.
Sarmento abandonou a
carreira, terminou o
namoro, abriu mão dos
bens materiais e é, hoje, aos 25 anos, um dos
17 seminaristas matriculados no curso de
propedêutica do seminário Nossa Senhora da
Assunção. Seu novo
sonho é ser padre. Foi
na capital paulista, no
silêncio da Catedral da
Sé, em meados de
2013, que ele sentiu
esse chamado, logo
anunciado ao pároco
local. De volta ao Pará,
conheceu um padre que
se tornou uma espécie
de mentor espiritual até
sua mudança definitiva
para o seminário. Histórias como a do jovem
paraense são cada vez
mais frequentes. Reitores das casas diocesanas apontam para um
aumento do número de
seminaristas que, já
com uma faculdade no
currículo, optam por
MUDANÇA
Schwaab era repórter de jornal até o ano passado.
Hoje é requisitado para entrevistar sacerdotes
abandonar suas profissões para dar ouvidos
ao chamado de Deus.
Além do médico, no
seminário paulista há
um dentista, um psicólogo e um pós-graduado
em sociologia que formam um grupo de 13
pessoas com curso superior. Em 2013, havia
oito (leia quadro). “Estamos aprendendo a
lidar cada vez mais com
adultos que já chegam
com uma considerável
bagagem cultural e humana”, diz o padre Lucas Mendes, formador
do seminário São José,
da diocese de Porto
Alegre. Nessa casa, há
oito seminaristas com
curso superior, sete a
mais do que no ano
passado. “Atualmente, o
processo de maturação
é lento, acontece em
idades mais avançadas
e isso reflete na decisão
vocacional tardia.” Seminários como os de
antigamente, nos quais
o candidato se matriculava ainda criança, com
11, 12 anos, são cada
vez mais raros no País.
“Atualmente,
o processo
de maturação
é lento,
acontece em
idades mais
avançadas e
isso reflete na
decisão
vocacional
tardia.”
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Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB).
“Mas decidi
não tomar
nenhuma
decisão antes
de me formar,
para discernir
melhor”
CORAGEM
Passos cursou economia e ganhava R$ 12 mil como executivo
comercial de uma incorporadora. Aos 36 anos, chegou ao seminário
Poucos ainda resistem
em regiões predominantemente rurais.
Foi logo após o Concílio
Vaticano II (1962-1965),
reunião de bispos do
mundo inteiro que provocou profundas mudanças
na Igreja Católica, que
formadores vocacionais
passaram a receber candidatos mais velhos. Ainda assim, naquela época
em que os católicos representavam mais de
90% da população brasileira, a experiência cristã
acontecia já na infância, o
que influenciava vocações religiosas precoces.
Atualmente, pelo fato de
as famílias serem mais
enxutas e em muitas delas a tradição católica não
vir de berço, a vocação
cristã é empurrada para
outros momentos da vida.
“No caso, muitas vezes,
depois de experiências
acadêmicas e no mercado de trabalho”, afirma o
padre Valdecir Ferreira,
assessor dos ministérios
ordenados e vida consagrada da Conferência
A bagagem dos seminaristas
com profissão costuma ser
aproveitada pela Igreja. Em
Porto Alegre, por exemplo, o
jornalista Darlan Schwaab,
24 anos, um dos oito do seminário São José, já foi escalado para entrevistar um padre para o departamento de
comunicação local. Schwaab
era repórter de cultura e gastronomia do jornal “Zero Hora” até o fim do ano passado,
quando decidiu seguir uma
vocação que já despontava
desde pequeno. Nascido no
Acre, ele vai à missa aos
domingos desde 5 anos, foi
coroinha e frequentou retiros
vocacionais. “Mas decidi não
tomar nenhuma decisão antes de me formar, para discernir melhor”, diz. Para o
sacerdote José Luiz da Silva,
formador do seminário Santa
Cruz, em Goiânia, os jovens
de agora não gostam de assumir compromissos duradouros. Ele fala isso tendo
em mente os nove anos de
estudos necessários para
que um aluno seja ordenado
padre. “Mas com o passar do
tempo a nossa existência
cobra isso e, assim, as vocações tardias vão aumentando”, diz.
O pernambucano Adriano
Bezerra dos Passos, 36 anos, matriculou-se neste ano
no seminário paulista, mas
sete anos atrás já havia inici-
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PERFIL
Alunos do Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo: aumento de 45% do número
de seminaristas com ensino superior
ado um período de acompanhamento vocacional com a intenção
de envergar a batina.
Nesse hiato, seguiu
atuando como administrador financeiro de
shopping centers. Os
sinais de sua vocação
eram tão claros que, em
seu último emprego,
numa incorporadora
que lhe pagava R$ 12
mil mensais como executivo comercial, os
colegas o apelidaram
de padre. Passos cursou economia, foi coroinha, participou de comunidades eclesiais de
base e manifestou ao
pai o desejo de ser sacerdote aos 12 anos.
Mas foi só no ano passado, ao ver ao vivo o
discurso do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, que
decidiu mudar os rumos
de sua vida. “Eu cresci
no meio do povo, em
comunidade, faz parte
da minha formação. O
papa tem o poder de
fazer as pessoas se voltarem para a Igreja e eu
resolvi me aproximar
das dores e do sofrimento das pessoas como ele
prega”, afirma.
A decisão do pernambucano, que se candidatou
para recolher o lixo no
seminário, não foi surpresa para as pessoas
“Eu cresci no
meio do povo,
em comunidade,
faz parte da
minha formação.
O papa tem o
poder de fazer
as pessoas se
voltarem para
a Igreja e eu
resolvi me
aproximar das
dores e do
sofrimento das
pessoas como
ele prega”
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“O que choca
as pessoas
não é a minha
escolha, mas
o que abandonei,
a carreira como
médico e o
que poderia
conquistar
financeiramente”
próximas, incluindo a
então namorada, com
quem rompeu para amadurecer os sinais de sua
vocação. Seu companheiro de casa, o médico
Sarmento, ao contrário,
sofreu um pouco mais.
Sua então namorada,
quando comunicada da
decisão de seguir uma
vida religiosa, achou que
ele a estivesse traindo.
“O que choca as pessoas não é a minha escolha, mas o que abandonei, a carreira como
médico e o que poderia
conquistar financeiramente”, diz. Posando
para as fotos com o estetoscópio e o jaleco que
trouxe para o seminário,
ele completa, parafraseando o evangelista Lucas,
também um médico: “No
exercício da medicina, eu
indicava remédios, cuidava
do corpo. Aqui, eu trato as
questões da alma, do espírito.”
Fotos:
Kelsen Fermandes/Ag. Istoé; Marcos Nagelstein
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Cardeal Dom Orani Tempesta emite
nota sobre a votação que acontecerá
amanhã na câmara dos deputados
em Brasília
Postado em 25 de Março de 2014 por Carmadélio -
Depois de adiada várias
vezes devido à pressão
popular, a votação do Plano Nacional de Educação
(PNE), a vigorar nos próximos dez anos como
parâmetro ao sistema educacional brasileiro, foi
marcada para a próxima
quarta-feira, dia 26 de
março.
O documento a ser votado contém, no entanto,
uma afronta às famílias
brasileiras responsáveis
pelas novas gerações,
pois introduz, oficialmente, no ensino nacional a revolucionária,
sorrateira e perigosa
“ideologia de gênero”
desmascarada mais de
uma vez por estudiosos
de renome.
É importante saber que a
palavra gênero substitui –
por uma ardilosa e bem
planejada manipulação da
linguagem – o termo sexo.
Tal substituição não se dá,
porém, como um sinônimo,
mas, sim, como um vocábulo novo capaz de implantar na mente e nos
costumes das pessoas conceitos e práticas inimagináveis.
Nesse modelo inovador de
sociedade, não existiria
mais homem e mulher distintos segundo a natureza,
mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro
ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou
mulher, segundo as funções
que lhe oferecer.
Vê-se, portanto, quão arbitrária, antinatural e anticris-
tã é a ideologia de gênero
contida no Plano Nacional
de Educação (PNE) e que
por essa razão merece a sadia reação dos cristãos e de
todas as pessoas de boa vontade a fim de pedir que nossos representantes no Congresso Nacional façam, mais
uma vez, jus ao encargo que
têm de serem nossos representantes e rejeitem, peremptoriamente, a ideologia de
gênero em nosso sistema de
ensino.
As formas de participação –
simples, mas imprescindíveis
– são as seguintes: a) assinatura em uma plataforma
específica no
http://www.citizengo.org/ptpt/5312-ideologia-generona-educacao-nao-obrigado e
b) ligação gratuita pelo telefone 0800 619 619. Tecla
“9” pedindo a rejeição à
ideologia de gênero em nosso sistema educacional.
São José, patrono da família,
rogai por nós!
Rio de Janeiro, RJ, 22 de
março de 2014.
† Orani João, Cardeal
Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano
de São Sebastião do Rio de
Janeiro, RJ.
Tal substituição
não se dá,
porém, como
um sinônimo,
mas, sim,
como um
vocábulo novo
capaz de
implantar na
mente e nos
costumes das
pessoas
conceitos e
práticas
inimagináveis.
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A Igreja e o aborto – Parte IV
Uma síntese histórica
São Paulo, 24 de Março de 2014- Ivanaldo Santos -
Idade Média
Tomás de Aquino
afirma que de
“nenhum modo é
lícito matar ao
inocente [o feto
ainda no ventre da
mãe]”. Além
disso, ele afirma
que o que “fere a
mulher grávida faz
algo ilícito, e, por
esta razão, se
disso resulta a
morte da mulher
ou do feto
anima-do, não
se desculpa do
crime de
homicídio,
sobretudo, quando
a morte segue
certamente a esta
ação violenta”
Na Idade Média Tomás
de Aquino[i], um dos
grandes pensadores da
humanidade, debateu e
condenou o aborto. Inicialmente afirma-se que
Tomás de Aquino não
escreveu um livro ou
tratado sobre a problemática do aborto. Acima
de tudo Tomás é um
pensador preocupado
com as questões metafísicas e éticas que envolvem o ser humano. Por
isso, grande parte de sua
obra versa sobre esses
temas. No entanto, ele
deixou, ao longo de sua
vasta obra, referências
diretas e explícitas sobre
o aborto.
No entanto, Tomás de
Aquino distingue o aborto
em duas categorias, sendo elas: o aborto natural
e o aborto voluntário. No
aborto natural o próprio
organismo humano, por
motivos diversos e expressamente médicos,
expulsa, antes do tempo,
o feto e, com isso, promove a morte do mesmo.
Já o aborto voluntário[ii]
é quando o indivíduo procura, de forma artificial e
propositadamente, expulsar o feto de dentro do
ventre materno, antes do
momento apropriado pa-
ra o nascimento e, com
isso, provocar a morte do
mesmo. Na perspectiva
do Aquinate, o aborto voluntário trata-se de uma
forma de assassinato e
de um tipo de esterilização parcial, pois apesar
do indivíduo continuar, na
maioria dos casos, podendo engravidar e ter
outros filhos, a gravidez
interrompida artificialmente não gera nenhum filho.
meio do aborto ou outro
Adital
método anti-natalidade, o
nascimento dos filhos é
impedir o desenvolvimento
natural da própria família.
No caso explicito do aborto, Tomás de Aquino afirma que de “nenhum modo
é lícito matar ao inocente
[o feto ainda no ventre da
mãe]”[iv]. Além disso, ele
afirma que o que “fere a
mulher grávida faz algo ilícito, e, por esta razão, se
Sem contar que Tomás
disso resulta a morte da
de Aquino condena o uso mulher ou do feto animado veneno da esterilidado, não se desculpa do
de, ou seja, dos anticon- crime de homicídio, sobrecepcionais que ou impe- tudo, quando a morte sedem a gravidez ou então, gue certamente a esta
quando esta já está em
ação violenta”[v].
pleno processo de desenPara ele a prática abortiva
volvimento, impedem o
trata-se, pois, de um pecadesenvolvimento do feto
do gravíssimo, porque não
e, com isso, provocam a
mata somente o corpo,
realização de um aborto
mas também a alma. É
voluntário. Para ele[iii]
uma prática que se enquaquem procura tais métodra dentro do mandamento
dos anti-natalidade, que
bíblico que determina:
atuam contra a natureza,
“Não Matarás” (Êxoto 20,
mesmo sendo legalmente
13; 23, 7; Deuteronômio 5,
casados não podem rece17). Em suas palavras: “alber o nome de cônjuges,
guns matam somente o
pois não buscam conscorpo, mas outros matam
cientemente a realização
a alma, tolhendo-a a vida
plena do casamento, a
da graça, ou seja, arrasqual se dá com a contando-a ao pecado mortal;
cepção e o nascimento
outros, porém, matam a
dos filhos. Uma família só
ambos, o corpo e a alma:
está totalmente formada
são os suicidas e aqueles
quanto existe os cônjuges
que matam as crianças
e os filhos. Impedir, por
que ainda não nasceram
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[por meio da prática do
aborto]”[vi]. Em Tomás
de Aquino o aborto é
uma das possibilidades
de manifestação do homicídio qualificado, ou
seja, é quando há um
assassinato, neste caso
do feto, com a clara intenção de cometer um
crime.
Em grupos e ambientes
que defendem o aborto
e dentro de setores
que, dentro da Igreja,
se alto proclamam de
progressistas, modernos e vanguarda teológica; é comum se encontrar um tipo de argumentação que afirma,
dentre outras coisas,
que Tomás de Aquino
vê o aborto apenas como um ato antiético,
mas que não chega a
condenar a sua prática.
Essa afirmação é uma
tentativa de se buscar
algum fundamento,
mesmo que indireto, para se defender o aborto.
O problema é que esse
tipo de fundamentação
é superficial e, em grande medida, falta de uma
leitura mais atenta e
analítica da obra do
Aquinate. Se a obra de
Tomás de Aquino for li-
da com atenção se verá
que ele coloca dentro
do mandamento do
“Não Matarás” o aborto.
Para ele o aborto é um
assassinato de uma
pessoa e, por isso, deve
ser evitado de todas as
formas.
Sobre a perspectiva do
aborto na Idade Média a
Declaração sobre o
aborto provocado, da
Congregação para a
Doutrina da Fé, afirma:
“É certo que, na altura
da Idade Média em que
era opinião geral não
estar a alma espiritual
presente no corpo senão passadas as primeiras semanas, se fazia uma distinção quanto à espécie do pecado
e à gravidade das
sanções penais. Excelentes autores houve
que admitiram, para esse primeiro período, soluções casuísticas mais
suaves do que aquelas
que eles davam para o
concernente aos períodos seguintes da gravidez. Mas, jamais se negou, mesmo então, que
o aborto provocado,
mesmo nos primeiros
dias da concepção fosse objetivamente falta
grave. Uma tal condenação foi de fato
unânime”[vii].
[i] Sobre a reflexão de
Tomás de Aquino sobre
o aborto, recomenda-se
consultar: SANTOS,
Ivanaldo. Tomás de
Aquino e o aborto. In:
Teologia em Questão, v.
X, p. 43-62, 2012;
FAITANIN, Paulo.
Acepção teológica de
pessoa em Tomás de
Aquino. In: Aquinate,
Niterói, Rio de Janeiro,
v. 3, p. 47-58, 2006.
“É certo que, na
altura da Idade
Média em que era
opinião geral não
estar a alma
espiritual presente
no corpo senão
passadas as
pri-meiras
semanas, se fazia
uma distinção
quanto à espécie
do pecado e à
gravidade das
sanções penais.”
[ii] AQUINO, Tomás. In
IV Sent., d. 31, q.2, a.3,
exp.
[iii] AQUINO, Tomas. In
IV Sent., d. 31, q.2, a.3,
exp.
[iv] AQUINO, Tomas. S.
Theo., II-II, q. 64, a.6, e.
[v] AQUINO, Tomás. S.
Theo., II-II, q. 64, a.8,
ad2.
[vi] AQUINO, Tomás. In
decem pracetis, a.7.
[vii] CONGREGAÇÃO
PARA A DOUTIRNA DA
FÉ. Declaração sobre o
aborto provocado.
Cidade do Vaticano, 18
de novembro de 1974, n.
7.
A Igreja e o aborto – Parte V
Uma síntese histórica
São Paulo, 25 de Março de 2014- Ivanaldo Santos -
Modernidade e
sociedade
contemporânea
Adital
Sobre a relação entre a
Igreja e o aborto, ao
longo da história[i], a
Declaração sobre o
aborto provocado faz a
-
25/MAR/14 – 1162 – Página 10
ram, com a maior clareza,
a mesma doutrina. Assim:
Pio XI respondeu explicitamente às mais graves
Sobre a relação entre a
objeções; Pio XII excluiu
Igreja e o aborto, ao
claramente todo e quallongo da história[i], a
quer aborto direto, ou
Declaração sobre o
seja, aquele que é intenaborto provocado faz a tado como um fim ou coseguinte síntese históri- mo um meio para o
ca: “dentre os muitos do- fim”[ii].
cumentos, bastará recorNo século XX e especifidar apenas alguns. Ascamente na sociedade
sim: o primeiro Concílio
contemporânea, também
de Mogúncia, em 847,
chamada de modernidade
confirma as penas estatardia ou de pós-modernibelecidas por Concílios
dade, a Igreja não cansou
precedentes contra o
de condenar o aborto. Por
aborto; e determina que
exemplo, o Papa João
seja imposta a penitência
XXIII, na Encíclica Mater
mais rigorosa às mulheet Magistra, recordou,
res „que matarem as
com grande precisão, o
suas crianças ou que
ensinamento dos Padres
provocarem a eliminação
da Igreja sobre o caráter
do fruto concebido no
sagrado da vida, “a qual,
próprio seio‟. O Decreto
desde o seu início, exige
de Graciano refere estas
a ação de Deus criapalavras do Papa
dor”[iii]. Por isso, jamais
Estêvão V: „ É homicida
se pode pensar em uma
aquele que fizer perecer,
legalidade para o aborto e
mediante o aborto, o que
para qualquer outra manitinha sido concebido‟.
festação da cultura da
Santo Tomás, Doutor comorte.
mum da Igreja, ensina
que o aborto é um peca- Com relação ao aborto e
do grave contrário à lei
a prática de outras formas
natural. Nos tempos da
de controle da natalidade
Renascença, o Papa
e/ou controle populacioSisto V condena o aborto nal, até o final do século
com a maior severidade. XIX e início do XX a IgreUm século mais tarde,
ja, apesar de sua doutriInocêncio XI reprova as na, quase não pregava
proposições de alguns
contra essas formas. O
canonisas laxistas, que
motivo é que a doutrina
pretendiam desculpar o
católica condenava – e
aborto provocado antes continua a condenar – as
do momento em que cer- práticas que impedem a
tos autores fixavam dar- gravidez e o nascimento
se a animação espiritual (esterilização, uso de ando novo ser. Nos nossos ticoncepcionais, realizadias, os últimos Pontífição do aborto, etc), mas
ces Romanos proclama- naquele momento históriModernidade e
sociedade
contemporânea
o Papa João
XXIII, na Encíclica
Mater et Magistra,
recordou, com
grande precisão,
o ensinamento
dos Padres da
Igreja sobre o
caráter sagrado
da vida, “a qual,
desde o seu início,
exige a ação de
Deus criador”
co havia poucos métodos
anticoncepcionais disponíveis ao grande público,
sem contar que os governos e as empresas privadas, em sua maioria, quase não tinham políticas de
incentivo a anti-natalidade.
Essa postura mudou radicalmente no início do século XX, quando alguns
governos, setores ligados
a empresas privadas e a
indústria farmacêutica,
partidos políticos, grupos
feministas e até mesmo
setores ligados a intelectualidade universitária passaram a incentivar e a financiar a prática e difusão
de métodos e técnicas
anti-natalidade. Nesse
contexto, o aborto foi uma
técnica anti-natalidade amplamente utilizada e
incentivada[iv].
No entanto, já no início do
século XX a Igreja promoveu uma grande mudança
em sua política de orientação para a natalidade, ou
seja, passou a condenar e,
ao mesmo tempo, orientar
os fiéis e a sociedade sobre os males e os perigos
do aborto e dos demais
métodos de controle da
natalidade. Esse processo
teve início, de forma oficial, quando, em 1907, o
padre John R. Ryan,
publicou, na Catholic
Encyclopedia, um artigo
criticando as políticas antinatalidades desenvolvidas
pelo neomalthusianismo,
as quais pregavam – e
continuam a pregar – que
o crescimento da pobreza
é um forte fator de desagregação social e risco de
crises econômicas e polí-
25/MAR/14 – 1162– Página 11
ticas. Para evitar isso é
preciso, entre ou-tras
coisas, combater o
crescimento da pobreza
por meio da eliminação
dos pobres. Entre as
formas de eliminação
defendidas pelo neomalthusianismo encontra-se a realização, de
forma ampla e sem restrições, do aborto.
A Igreja condena o
aborto por se tratar da
“maior de todas as formas de exclusão social
que existem”[v]. E isso
acontece porque ele
promove a exclusão radical, a exclusão da
própria vida, do próprio
ato de viver. E essa
exclusão acontece
justamente numa época
em que a ciência e a
economia conseguem
dispor, em benefício do
ser humano, todos os
recursos necessários e
suficientes para a manuenção da vida.
Até o Concílio Vaticano
II, o qual se esforçou ao
máximo para não condenar nenhuma estrutura humana e social,
mas reserva para o
aborto uma condenação
dura e objetiva, classificando-o de “crime
nefando”[vi].
A Constituição Pastoral
Gaudium et Spes, promulgada pelo Concílio
Vaticano II, condena todas as manifestações
de violência que se
opõem a vida humana.
O aborto é oficialmente
e literalmente colocado
na lista de violências
que se opõem a vida e
que, por isso, são condenadas por essa Constituição. Nas palavras
do documento da Igreja:
“[...] tudo quanto se põe
à vida, como seja toda
espécie de homicídio,
genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário. Todas essas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao
mesmo tempo que corrompem a civilização
humana, desonram
mais aqueles que assim
procedem, do que os
que padecem injustamente; e ofendem
gravemente a honra
devida ao Criador”[vii].
O Catecismo da Igreja
Católica, o qual é a “exposição completa e íntegra da doutrina católica”[viii], deixa bem claro
que a Igreja e o fiel cristão devem sempre condenar o aborto e, por
causa disso, manter
distância dessa prática
nociva a vida humana.
Nas palavras do Catecismo da Igreja Católica
a “vida humana deve
ser respeitada e protegida de maneira absoluta
a partir do momento da
concepção. Desde o
primeiro momento de
sua existência, o ser humano deve ver reconhecido os seus direitos de
pessoa, entre os quais o
direito inviolável de todo
ser inocente à vida”[ix].
É justamente por causa
disso que a “cooperação formal para um
aborto constitui uma
falta grave. A Igreja
sanciona com uma pena
canônica de excomunhão este delito contra a vida humana.
„Quem provoca aborto,
seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão
latae sententiae’ „pelo
próprio fato de cometer
o delito‟"[x]. Além disso,
o Catecismo da Igreja
Católica lembra que
“desde o século I, a Igreja afirmou a maldade
moral de todo aborto
provocado. Este ensinamento não mudou. Continua invariável. O aborto
direto, quer dizer, querido como um fim ou como um meio, é gravemente contrário à lei moral: „Não matarás o embrião por aborto e não
farás perecer o recémnascido‟”[xi].
A condenação ao aborto
chega até o Documento
de Aparecida. Nesse
documento eclesial a
Igreja é apresentada como um “serviço de caridade”[xii]. Por causa disso, o próprio Documento
de Aparecida, constata
que o “aborto faz duas
vítimas: por certo a
criança, mas também a
mãe”[xiii]. Na visão desse documento o aborto é
uma violência brutal,
antiética e mesquinha.
Uma violência causada
por uma série de interesses econômicos, políticos e ideológicos. Na
maioria das vezes, a
mulher, a mãe, e a criança desconhecem a existência desses interesses
antiéticos, dessas formas oriundas da cultura
O Catecismo da
Igreja Católica,
o qual é a
“exposição
completa e
íntegra da
doutrina
católi-ca”, deixa
bem claro que a
Igreja e o fiel
cristão devem
sempre condenar
o aborto e, por
causa disso,
manter distância
dessa prática
nociva a vida
humana.
25/MAR/14 – 1162 – Página 12
da morte. É por causa
disso que o documento
recomenda que a Igreja
deva “acolher com misericórdia aquelas que
abortaram, para ajudálas a curar suas graves
feridas e convidá-las a
serem defensoras da
vida”[xiv].
neopagã.
Vale salientar que uma
das exigências da
sociedade neopagã é a
prática, livre e
indiscriminada, do aborto.
Sobre as expectativas em
torno da eleição do Papa
Francisco, o jornalista
Reinaldo Azevedo
O mais recente capítulo esclarece: “a imprensa
da luta e do processo de mundial, a brasileira
conscientização
também, pôs na cabeça
histórico-social
da
Igreja
que Jorge Bergoglio se
No livro El Jesuita,
contra
o
aborto
foi
à
transformou no Papa
o então cardeal
eleição, no dia
Francisco com o objetivo
Jorge
13/03/2013, do cardeal
de destruir os valores da
MarioBergoglio,
argentino Jorge Mario
Igreja Católica e
citou a luta contra Bergoglio para exercer a transformá-la, quem
função de pontífice. O
sabe?; numa dessas
o aborto como a
cardeal
Bergoglio
adotou
ONGs consideradas
“batalha a favor da
o nome de Papa
progressistas. E, como
vida desde a
Francisco. Setores da
todos sabemos, as
concepção até a
grande mídia, da
pessoas só são
morte digna e
universidade, pró-aborto progressistas hoje em dia
e até mesmo dentro da
se defenderem o
natural". "Uma
Igreja
viram
a
eleição
do
casamento gay, a
mulher grávida não
leva no ventre uma Papa Francisco como um descriminação das
momento de renovação e drogas e, acima de todas
escova de dentes, de modernização da
essas causas, o
tampouco um
Igreja. São setores que
aborto”[xvi].
tumor. A ciência
desejam uma Igreja
No entanto, uma análise
ensina que, desde próxima da cultura da
das declarações e
morte (infanticídio,
o momento da
documentos publicados
eutanásia, pena de
pelo então cardeal Jorge
concepção, o novo morte, aborto, etc) e
Mario Bergoglio
ser tem todo o
longe do evangelho e da
código genético". luta em prol da dignidade desmente radicalmente
qualquer possibilidade
da pessoa humana. Por
dele ser algum defensor,
exemplo, dentro da Igreja
mesmo que
os setores que se alto
indiretamente, do aborto.
proclamam de
Ainda como cardeal, o
progressistas, modernos
Papa Francisco deixou
e de vanguarda teológica
claro que "percebe-se
viram na eleição do Papa
mais uma vez que se
Francisco um momento
avança deliberadamente
de “descongelar o
para limitar e eliminar o
Concílio [Vaticano II]”[xv]
valor supremo da vida e
e, com isso, flexibilizar a
ignorar os direitos das
doutrina da Igreja,
crianças que nascerão.
adaptando-a as
Quando falamos de uma
exigências da sociedade
mãe grávida, falamos de
duas vidas, ambas devem
ser preservadas e
respeitadas, porque a vida
tem valor absoluto"[xvii].
No livro El Jesuita[xviii], o
então cardeal Jorge
MarioBergoglio, citou a
luta contra o aborto como
a “batalha a favor da vida
desde a concepção até a
morte digna e natural".
"Uma mulher grávida não
leva no ventre uma escova
de dentes, tampouco um
tumor. A ciência ensina
que, desde o momento da
concepção, o novo ser tem
todo o código genético".
Na condição de pontífice,
durante a benção
apostólica que o Papa
Francisco enviou aos fiéis,
comunidades e paróquias
que participam, no Brasil,
da Semana Nacional da
Família, realizada entre os
dias 11 e 17 de agosto de
2013, ele criticou o aborto
e defendeu a dignidade da
pessoa humana, desde a
concepção até a morte
natural. Nas palavras do
pontífice: “[...] diante da
cultura do descartável, que
relativiza o valor da vida
humana, os pais são
chamados a transmitir aos
seus filhos a consciência
de que esta deva sempre
ser defendida, já desde o
ventre materno,
reconhecendo ali um dom
de Deus e garantia do
futuro da
humanidade”[xix].
Na conclusão da missa do
dia 12 de maio de 2013 na
praça de São Pedro
quando canonizou os
Martires de Otranto e duas
religiosas latino-
25/MAR/14 – 1162– Página 13
americanas, o Papa
Francisco disse que é
“importante manter viva
a atenção ao respeito
pela vida humana
desde o momento da
concepção”. Na ocasião
declarou apoio
expresso à iniciativa
europeia Um de nós,
para garantir a tutela
jurídica do embrião, e
lembrou que "um
momento especial para
quantos fazem questão
de defender a
sacralidade da vida
humana será o Dia da
Evangelium vitae, que
terá lugar no Vaticano,
no contexto do Ano da
Fé, a 15 e 16 de junho
de 2013"[xx].
Já no dia 13/01/2014,
na tradicional
mensagem de início de
ano aos embaixadores
de seus respectivos
países junto a Santa
Sé, o Papa Francisco
fez uma dura
condenação do aborto,
que chamou de parte
da “cultura do descarte”
e, por causa disso,
“causa horror o simples
pensamento de que
existam crianças que
jamais poderão ver a
luz do dia, vítimas do
aborto”[xxi].
Ao contrário do que
esperavam alguns
setores da sociedade e
lamentavelmente da
própria Igreja, setores
que lutam arduamente
em prol do aborto e de
outros fatores que
compõem a cultura da
morte, o Papa
Francisco não é um
modernista radical, que
deseja, a qualquer
custo, destruir a Igreja
e, com isso, legalizar e
estimular a prática do
aborto. Pelo contrário, o
Papa Francisco é um
guardião da defesa da
vida, da dignidade da
pessoa humana e dos
valores inegociáveis,
tais como: vida, família
e a educação dos filhos.
Por isso, ele é um
incansável defensor da
“promoção da vida
humana, de sua
concepção até o final
natural, a tutela da
família fundada no
casamento entre um
homem e uma mulher e
a educação dos
filhos"[xxii].
O Papa Francisco se
encontra dentro da
longa tradição, que
remonta aos apóstolos
de Jesus Cristo, de
defesa da vida e da
família. Dentro dessa
tradição existem direitos
que não podem ser
negociados, justamente
porque são direitos
inalienáveis da vida e
da pessoa humana.
Sobre essa questão, o
Papa João Paulo II, na
famosa mensagem
pelas comemorações do
XXXII Dia Mundial da
Paz, enfatiza, de forma
muito específica, que
entre os direitos
específicos o “primeiro é
o direito fundamental à
vida. A vida humana é
sagrada e inviolável
desde a sua concepção
até seu fim natural. [...].
O desenvolvimento de
uma cultura orientada
nesse sentido estendese a todos as
circunstancias da
existência e assegura a
promoção da dignidade
humana”[xxiii].
Ainda sobre os valores
inegociáveis, dos quais
a vida é o primeiro e
mais importante valor
que não pode ser
negociado, o Papa João
Paulo II, na encíclica
Evangelium Vitae,
afirma que “urge, pois,
redescobrir a existência
de valores humanos e
morais essenciais e
congênitos que derivam
da própria verdade do
ser humano, e exprimem
e tutelam a dignidade da
pessoa: valores que
nenhum indivíduo,
nenhuma maioria e
nenhum Estado poderá
jamais criar, modificar ou
destruir, mas apenas os
deverá reconhecer,
respeitar e
promover”[xxiv]. Entre
os valores
inegociáveis, como
bem salientou o Papa
João Paulo II, que os
grupos sociais e o
Estado devem
reconhecer, respeitar e
promover; se encontra
a vida humana. É por
isso que jamais se
deve pensar em se
legalizar o aborto. O
aborto é uma forma
radical, extremista, de
negar o direito
inegociável à vida.
Na sociedade
contemporânea,
especialmente a partir
da década de 1970 que
A encíclica
Evangelium Vitae,
afirma que “urge,
pois, redescobrir
a existência de
valores humanos
e morais
essenciais e
congênitos que
derivam da própria
verdade do ser
humano, e
exprimem e
tutelam a
dignidade da
pessoa: valores
que nenhum
indivíduo,
nenhuma maioria e
nenhum Estado
poderá jamais
criar, modificar ou
destruir, mas
apenas os deverá
reconhecer,
respeitar e
promover”
25/MAR/14 – 1162 – Página 14
“pelo seu ensino,
a Igreja Católica
contribuiu na
difusão de uma
responsabilidade
coletiva em favor
da dignidade
humana. Ela o faz
em escala mundial
em favor de todo o
ser humano”
a Igreja, de forma mais
acalorada, vem
debatendo sobre o
aborto. Em várias partes
do mundo (Europa, EUA,
América Latina, etc) a
Igreja vem debatendo,
quase que
constantemente, o
aborto. Esse debate tem
ajudado a vários ramos
das ciências humanas a
tomarem uma maior
consciência e, ao mesmo
tempo, formularem novas
posturas e reflexões
críticas sobre a temática
do aborto.
e materialização da
cultura da morte.
Lamentavelmente o
aborto aparece como o
centro e o coroamento da
cultura da morte. Por
isso, para derrotar a
cultura da morte e
proteger a vida e a
dignidade da pessoa
humana é necessário que
a Igreja, dia e noite, lute
contra toda e qualquer
forma de aborto.
humano em Tomás de
Aquino. In: Coletânea, Rio
de Janeiro, v. 2, n.6, 2004,
p. 167.
[i] Sobre a relação entre a
Igreja e o aborto, ao
longo da história,
encontra-se um grande
Apesar disso a palavra
numero de documentos
que muitos setores da
eclesiais, que
sociedade esperam da
demonstram que a Igreja
Igreja, ou seja, uma
sempre condenou e lutou
permissão teológica para contra o aborto, em:
a prática do aborto, ainda CAPRILE G. Non
não foi – e nunca será – uccidere. Il Magistero
proferida. A Igreja, fiel
della Chiesa sull'aborto,
aos ensinamentos de
Parte II, p. 47-300, Roma
Jesus Cristo e dos
1973.
apóstolos, tem
[ii] CONGREGAÇÃO
reiteradamente
PARA A DOUTIRNA DA
defendido toda e
FÉ. Declaração sobre o
qualquer forma de vida
aborto provocado. op., cit,
humana, incluindo a vida
n. 7.
não nascida, o feto ainda
[iii] PAPA JOÃO XXIII.
no ventre da mãe[xxv].
Carta Encíclica Mater et
Por fim, é preciso frisar
Magistra. Cidade do
que “pelo seu ensino, a
Vaticano, 15 de maio de
Igreja Católica contribuiu
1961, n. 42.
na difusão de uma
responsabilidade coletiva [iv] SULLOWAY, A. W. O
controle da natalidade e a
em favor da dignidade
doutrina católica. In:
humana. Ela o faz em
escala mundial em favor HARDIN, G. População,
evolução, controle da
de todo o ser
natalidade. São Paulo:
humano”[xxvi]. É uma
Companhia Editora
das principais formas
Nacional, 1967, p. 219.
que a Igreja possui de
promover a dignidade
[v] FAITANIN, Paulo.
humana é justamente
Embriologia tomista:
combatendo todas as
doutrina da animação e
formas de manifestação individuação do embrião
[viii] PAPA JOÃO PAULO
II. Carta Apostólica
Laetamur Magnopere,
Cidade do Vaticano, 15 de
agosto de 1997.
[vi] DOCUMENTOS DO
CONCÍLIO VATICANO II.
Gaudium et Spes. São
Paulo: Paulinas, 2013, n.
51.
[vii] DOCUMENTOS DO
CONCÍLIO VATICANO II.
Gaudium et Spes. op., cit,
n. 27.
[ix] CATECISMO DA
IGREJA CATÓLICA. 5 ed.
São Paulo: Loyola, 2002, §
2270.
[x] CATECISMO DA
IGREJA CATÓLICA. op.,
cit, § 2272.
[xi] CATECISMO DA
IGREJA CATÓLICA. op.,
cit, § 2271.
[xii] CELAM. Documento
de Aparecida. São Paulo:
Paulinas, 2007, n. 98.
[xiii] CELAM. Documento
de Aparecida. op., cit, n.
469.
[xiv] CELAM. Documento
de Aparecida. op., cit, n.
469.
[xv] QUEIRUGA, Andrés
Torres. A atitude de
Francisco é uma autêntica
revolução, um vendaval de
Espírito renovador.
Entrevista concedida a
José Manuel Vidal. In:
Instituto Humanas
Unisinos, Notícias, 17 de
julho de 2013, p. 2.
[xvi] AZEVEDO, Reinaldo.
25/MAR/14 – 1162– Página 15
O papa, o aborto e as
coisas estúpidas que se
escreveram e se
escrevem a respeito. In:
Blog do Reinaldo
Azevedo. Disponível em
http://veja.abril.com.br/b
log/reinaldo/geral/opapa-o-aborto-e-ascoisas-estupidas-quese-escreveram-e-seescrevem-a-respeito/.
Acessado em
14/01/2014.
[xvii] Sobre o
pensamento do Papa
Francisco sobre temas
morais, como, por
exemplo, o aborto,
recomenda-se
consultar: SAIBA O
QUE O NOVO PAPA
PENSA DE CELIBATO,
ABORTO,
CASAMENTO GAY,
ETC. In: Folha de São
Paulo, 14/03/2013;
AZEVEDO, Reinaldo.
Esse blog fica satisfeito;
papa Francisco diz: “A
Igreja não é uma ONG”.
Vocês já leram isso! In:
Blog do Reinaldo
Azevedo. Disponível em
http://veja.abril.com.br/b
log/reinaldo/geral/esseblog-fica-satisfeitopapa-francisco-diz-aigreja-nao-e-uma-ongvoces-ja-leram-isso/.
Acessado em
22/01/2014; UM PAPA
PROGRESSISTA NO
SOCIAL E
CONSERVADOR NA
DOUTRINA. In: Notícias
Uol, 14/03/2013.
Disponível em
http://noticias.uol.com.b
r/ultimasnoticias/afp/2013/03/14/
um-papa-progressista-
no-social-econservador-nadoutrina.htm. Acessado
em 22/01/2014.
[xviii] Bergoglio, Jorge
Mario. El jesuita:
conversaciones con el
cardenal Jorge
Bergoglio, sj. Entrevista
concedida a Sergio
Rubin y Fracesca
Ambrogetti, 2008.
[xix] PAPA
FRANCISCO.
Mensagem para os fiéis,
comunidades e
paróquias que
participam, no Brasil, da
Semana Nacional da
Família. In: Boletim
CNBB, Disponível em
http://www.cnbb.org.br/s
ite/comissoesepiscopais/vida-efamilia/12594-papafrancisco-enviamensagem-e-bencaoaos-participantes-dasemana-nacional-dafamilia-2013. Acessado
em 13/08/2013
[xx] L'OSSERVATORE
ROMANO, n. 20, 19 de
maio de 2013, versão
portuguesa, p. 9.
[xxi] PAPA FRACISCO.
Mensagem ao corpo
diplomático sediado na
Santa Sé. Cidade do
Vaticano, 13/01/2014.
Sobre a repercussão
das declarações do
Papa Fracisco contra o
aborto, recomenda-se
conultar: PAPA FAZ
CRÍTICA AO ABORTO
E DIZ QUE A PRÁTICA
EVIDENCIA A
'CULTURA DO
DESCARTE'. In:
Agência O Globo,
13/01/2014; PAPA
FRANCISCO DIZ QUE
ABORTO SIGNIFICA
“DESCARTAR
SERES HUMANOS”. In:
Folha de São Paulo,
13/01/2014.
[xxii] VATICANO
DEFENDE
INTERFERÊNCIA EM
'VALORES
INEGOCIÁVEIS'. In: DCI
Digital, Internacional,
01/10/2008.
[xxiii] JEAN PAUL II.
Message pour La
célébration de La XXXII
leme jourmée mundiale
de la paix. Janivier 1999,
n. 4. In: Documentation
Catholique, n. 96, 1999,
p. 1-6.
[xxiv] JOÃO PAULO II,
Papa. Evangelium Vitae.
São Paulo: Paulinas,
1999, n. 71.
[xxv] ROXO, Roberto
Mascarenhas. Teologia
e métodos
contraceptivos. In:
Revista Eclesiástica
Brasileira, v. 27, fasc. 1,
março de 1967, p. 69.
[xxvi] AGOSTINI, Nilo.
Afirmação cristã da
dignidade humana. In:
SANTOS, Ivanaldo;
POZZOLI, Lafayette
(Orgs.). Direitos
humanos e
fundamentais e doutrina
social. São Paulo:
Boreal, 2012, p.23.
Entre os valores
inegociáveis, como
bem salientou o
Papa João Paulo II,
que os grupos
sociais e o Estado
devem reconhecer,
respeitar e
promover; se
encontra a vida
humana. É por isso
que jamais se deve
pensar em se
legalizar o aborto.
O aborto é uma
forma radical,
extremista, de
negar o direito
inegociável à vida.
25/MAR/14 – 1162 – Página 16
O silêncio também é homofóbico?
Organização italiana Sentinelas em Pé se manifesta em Imperia,
La Spezia e Chiavari
Roma, 24 de Março de 2014- Redação -
O segundo
aspecto
destacado pelas
Sentinelas é "o
grande engano que
este projeto leva
em frente: a
contraposição
entre
homossexuais e
heterossexuais.
Não há um „nós‟ e
um „vocês‟ em
mútuo combate;
não para as
Sentinelas em Pé,
que se recusam a
catalogar as
pessoas com base
em orientação
sexual, já que não
é este aspecto o
que constitui a
integridade da
pessoa".
Mais uma vez, na Itália, o
silêncio das Sentinelas em
Pé [Sentinelle in Piedi] é
acusado de homofobia. A
última acusação veio do
site agregador de notícias
Huffington Post, que publicou uma carta aberta ao
jornal italiano Avvenire
culpando-o de divulgar uma
carta das próprias Sentinelas, e mais ainda, de ter corajosamente disparado o
alarme contra a intromissão
da ideologia de gênero nas
escolas do país. A carta
aberta do Huffington Post
tacha as Sentinelas de
"pessoas homofóbicas e
transfóbicas, que, de maneira cada vez mais visível
e óbvia, se recusam a ceder às mudanças sociais".
“A acusação destaca duas
coisas”, comentam as
Sentinelas em um comunicado recém-publicado. “Por
um lado, confirma a necessidade urgente de nos mobilizarmos contra o liberticida projeto de lei
Scalfarotto, que trata da homofobia. Se hoje somos
acusados de homofobia
apenas por ficar em silêncio
nas ruas e praças a fim de
expressar a nossa legítima
dissensão diante de uma
medida legislativa, o que
acontecerá amanhã, se a
lei entrar em vigor?".
“Não nos cansaremos nunca de afirmar que este
texto”, continua o comunicado das Sentinelas, “apresentado como necessário
para impedir atos de
violência contra pessoas
com tendências homossexuais, é na verdade
inconstitucional, já que não
especifica o que se entende
por homofobia e, portanto,
deixa aberta a possibilidade
de que simples opiniões
estejam sujeitas a processos, como hoje já são
passíveis de acusações.
Com essa lei, poderia ser
processado qualquer um
que se dissesse contrário às
adoções de crianças por
parceiros do mesmo sexo,
bem como qualquer um que
sustentasse que a família se
baseia na união entre um
homem e uma mulher".
sexual. Muitas dessas
pessoas nos acompanham
nas manifestações de rua.
Não só isso: com essa
mesma abordagem, as
próprias Sentinelas em Pé
são pejorativamente
catalogadas com o preguiçoso e velho rótulo de
„reacionárias católicas‟ ou
„fanáticas‟”.
"O quanto isso é falso é
demonstrado pela realidade
das nossas vigílias: a nossa
rede é uma organização
apartidária e aconfessional,
e, entre as Sentinelas em Pé,
há, por exemplo, cidadãos
católicos, muçulmanos, não
crentes e mórmons. Basta vir
às ruas conosco para consO segundo aspecto destaca- tatá-lo em primeira pessoa".
do pelas Sentinelas é "o
"Isto deveria bastar para
grande engano que este
deixar claro que a liberdade
projeto leva em frente: a
de expressão se aplica a
contraposição entre homostodos e não conhece cores
sexuais e heterossexuais.
políticas, religião ou
Não há um „nós‟ e um
orientação sexual. Quem é
„vocês‟ em mútuo combate;
verdadeiramente livre de
não para as Sentinelas em
preconceitos não pode deixar
Pé, que se recusam a catade reconhecê-lo e de sair às
logar as pessoas com base
ruas conosco".
em orientação sexual, já que
não é este aspecto o que
No último sábado, 22 de
constitui a integridade da
março, as Sentinelas
pessoa".
realizaram a sua
manifestação silenciosa nas
“Por trás da reclamação de
cidades italianas de Chiavari,
supostos direitos negados, o
La Spezia e Imperia.
lobby LGBT se arroga o
"Fizemos a nossa vigília em
direito de falar em nome de
silêncio hoje para garantir a
todos os homossexuais e
nossa liberdade de
transexuais, sem considerar
expressão de amanhã",
que, entre eles, há pessoas
encerra o comunicado.
completamente contrárias à
sua pretensão de direitos
baseados em orientação
****
-
25/MAR/14 – 1162– Página 17
Respeitarás a sexualidade do
próximo e não discriminarás
A peleja dos homossexuais que querem
exercer sua religiosidade sem ser discriminados.
Há algo muito caro ao
advogado carioca
Ricardo Pinheiro, 40
anos. Trata-se de sua
espiritualidade. Ele
diz que a sua vida seria impraticável sem a
fé. E que assim pavimentou o caminho na
carreira em defesa
dos direitos humanos
e no ativismo como
líder comunitário.
Nascido e criado em
família protestante,
Ricardo abraçou valores do cristianismo
e fez deles sua bandeira. Chegou a estudar Teologia e liderou
jovens, discutindo
textos bíblicos em
praças públicas. A
chegada da maioridade, porém, assim
como nos anos seguintes o dilema da
orientação sexual
passaram a ocupar
espaço importante:
fugir da realidade ou
assumir a homossexualidade. Ele decidiu que não se tra-
tava de enfrentar a si
mesmo e seu dilema,
mas o preconceito.
A reportagem é de
Marcelo Santos e
publicada pela Rede
Brasil Atual, 24-032014.
Na época, Ricardo
frequentava uma igreja presbiteriana no Rio
de Janeiro, e começou a colecionar as
antipatias dos pastores da região, que o
viam como um semeador de “confusões”. Recebeu
ameaças, mas foi
adiante no propósito
de seguir anunciando
o que acreditava ser a
mensagem cristã “que
liberta verdadeiramente o ser de um
homem, de uma
mulher”. Aos 32 anos,
deixou para trás sua
antiga igreja por não
querer mais conviver
com preconceitos e
intolerâncias pregadas e ensinadas de
púlpito. Mas ressentia-se de se afastar
das atividades mais
banais, como os cultos e os estudos bíbli-
cos.
Foi assim que se
aproximou da Igreja
Episcopal Anglicana,
que tem causado
polêmica por sua posição mais respeitosa
às uniões homoafetivas. A instituição foi a
primeira a se pronunciar oficialmente em
apoio à decisão do
Supremo Tribunal
Federal (STF) que
equiparou, em 2011,
as uniões homoafetivas às demais uniões
estáveis, o que culminou nas mudanças
feitas por meio de resolução do Conselho
Nacional de Justiça
(175/2013), autorizando o casamento civil
com base nos
princípios constitucionais de igualdade e de
não-discriminação.
“Fui vendo que, ao
contrário do que a
Igreja pensa e vê, por
não querer enxergar, a
sexualidade faz parte
de uma individuação
que não é e não pode
ser formatada. Faz
parte da beleza da
diversidade criada.”
-
Recebeu ameaças,
mas foi adiante no
propósito de seguir anunciando o
que acreditava ser
a mensagem cristã
“que liberta verdadeiramente o ser
de um homem, de
uma mulher”
25/MAR/14 – 1162 – Página 18
Hoje, Ricardo diz estar
de bem consigo mesmo. “Abracei a fé que
não teme o diferente
de mim, nem o demoniza.” Tornou-se líder
do movimento Episcopaz, pastoral de direitos humanos ligada
à paróquia da
Santíssima Trindade,
na Diocese Anglicana
do Rio. “Defendemos a
inclusão numa perspectiva ligada à diversidade”, resume. AsA Igreja Católica
não vê a homosse- sim como ele, não são
poucos os homosxualidade como
sexuais que desejam
uma aberração ou vivenciar sua espirituapossessão demo- lidade. Ao contrário do
níaca e prevê ainda que faz parecer o truque as pessoas
culento discurso de
devem ser acolhi- alguns líderes religiodas com respeito, sos, para boa parte da
compaixão e deli- comunidade de gays,
lésbicas, bissexuais,
cadeza
travestis e transgêneros a fé é fundamental.
cas de outras denominações pentecostais.
Com reuniões espontâneas, músicas e
orações idênticas a
qualquer outra igreja
evangélica, estima-se
que 10 mil fiéis, entre
héteros e gays, frequentem os cerca de
40 templos pelo país.
Francisco disse: “Se
alguém é gay e busca o
Senhor com sinceridade,
quem sou eu para julgálo?”.
Apesar da repercussão,
o papa apenas seguiu o
catecismo. A Igreja
Católica não vê a homossexualidade como
uma aberração ou posO movimento nasceu
sessão demoníaca e
em 1968, em Los
prevê ainda que as pesAngeles. Coube ao
soas devem ser acolhireverendo Troy Perry, das com respeito, comum ex-pastor batista
paixão e delicadeza.
norte-americano, des- Evitando todo sinal de
casado e com dois
discriminação injusta.
filhos, reunir 12 pes“No atual pensamento
soas para o primeiro
da Igreja, os homosculto da Metropolitan
sexuais devem viver em
Community Churches, castidade. Porém isso
as Igrejas Metropolita- não é um dogma, ou
nas que atualmente
seja, uma verdade absoreúnem 43 mil pessoas luta. Quer dizer, é um
em 37 países. No
campo em que as coisas
Brasil, há oito templos podem mudar. Assim
da denominação
como mudou e vêm muevangélica, com apro- dando temas como a
ximadamente 500
escravidão, o papel da
Igrejas inclusivas
pessoas.
mulher, além de outros,
A Igreja Evangélica
Entre os fiéis católicos como o celibato dos papossui curiosidades.
dres, que são frequenSe entre os cristãos os há também esperança temente questionados”,
de que o discurso mais
evangélicos são os
explica Lucas Paiva,
contemporizador do
mais radicais no que
28, um dos líderes do
chamam de “defesa da argentino Jorge Mario Diversidade Católica,
Bergoglio, o papa
família tradicional” –
um grupo que acredita
Franscisco, possa
nos parlamentos ou
ser possível viver duas
aproximar a comuninas telas da TV –, foi
dade LGBTT (de lésbi- identidades aparentejustamente entre os
mente antagônicas: ser
protestantes que nas- cas, gays, bissexuais, católico e ser gay.
travestis e transgêneceu o fenômeno das
ros) das paróquias. Em O IBGE ajuda a confirigrejas inclusivas,
comunidades lideradas julho passado, após a mar isso. Entre os caJornada Mundial da
sais homoafetivos conpor homossexuais e
Juventude,
realizada
tados no Censo de
que carregam as
no Rio de Janeiro,
2010, 47,4% se declaramesmas característiram católicos, enquanto
25/MAR/14 – 1162– Página 19
20,4% diziam não
possuir nenhuma religião.
O Vaticano tem percebido esse rebanho
e incluiu perguntas
sobre famílias homoafetivas no questionário enviado às
Conferências Episcopais para o documento preparatório da
Assembleia Geral
Extraordinária do
Sínodo dos Bispos,
que será realizada
em outubro. “Apesar
de não acreditar em
uma alteração doutrinal agora, creio que
a mudança no tom e
um aprofundamento
da ação pastoral para
acolhida de gays, divorciados, mães e
pais solteiros poderá
trazer bons frutos e
derrubar os argumentos dos preconceituosos¬ que agem em
nome de Deus. Isso
de condenar os outros se apoiando em
Deus é para mim o
mais grave problema.
Um grande pecado”,
diz Lucas.
De família religiosa,
ele viveu por um tempo recluso de sua
relação com a igreja.
Em 2009, no entanto,
sentiu o que chama
de “reflorescimento
da fé”. A experiência
levou o jovem gerente
de call center a pro-
curar as reuniões do
Diversidade Católica, que em São Paulo
acontecem na Casa
de Clara, um centro
franciscano localizado
no bairro da Bela
Vista, na região central. “Existem muitas
pessoas que vivem
escondidas, infelizes,
porque se sentem
rejeitadas. Nosso grupo, além de ser um
espaço para encontro
e expressão, é
também um lugar de
acolhida. Sobretudo
para pessoas machucadas e com dificuldade de aceitação.”
Paralelamente, representantes de religiões,
especialmente as
cristãs, e movimentos
gays, vivem em clima
de tensão. Em 2011,
a organização da Parada do Orgulho
LGBT de São Paulo,
em uma resposta aos
constantes ataques
que vinha recebendo
de religiosos e, sobretudo, a ação de fundamentalistas que
bloqueavam uma legislação mais inclusiva e igualitária, saiu
às ruas com imagens
erotizadas de santos
de devoção católica.
Sob o tema “Amaivos uns aos outros:
basta de homofobia!”, a parada cobrava bom senso e respeito aos direitos hu-
manos. A estratégia
levou à fúria personalidades controversas,
como o pastor televisivo Silas Malafaia,
líder das Assembleias de Deus
Vitória em Cristo: “Os
caras na Parada Gay
ridicularizaram símbolos da Igreja Católica e
ninguém fala nada. É
pra Igreja Católica „entrar de pau‟ em cima
desses caras, sabe?
„Baixar o porrete‟ em
cima pra esses caras
aprender”, vociferou
em seu programa de
TV.
Mais comedido, o cardeal dom Odilo
Scherer publicou no
jornal da Arquidiocese
de São Paulo um artigo dizendo-se entristecido com o que considerou “deboche”.
Lucas Paiva também
desaprovou a ação:
“Apenas serviu para
reforçar um clima de
rivalidade entre os
gays e as religiões”.
Tolerância
Na opinião do teólogo
Carlos Bregantim,
58, líder do Caminho
da Graça, grupo protestante alternativo, a
homofobia nada tem a
ver com os escritos da
Bíblia. “A comunidade
de Jesus de Nazaré é
a do amor. Não tenho
dúvidas de que homoafetivos ou qual-
“Apesar de não
acreditar em uma
alteração doutrinal
agora, creio que a
mudança no tom
e um aprofundamento da ação
pastoral para acolhida de gays, divorciados, mães e
pais solteiros poderá trazer bons
frutos e derrubar
os argumentos dos
preconceituosos
que agem em nome de Deus. Isso
de condenar os
outros se apoiando
em Deus é para
mim o mais grave
problema. Um
grande pecado”
25/MAR/14 – 1162 – Página 20
“Atendo muitos
jovens que
pensam em se
suicidar. Já fui
socorrer um garoto
que estava
prestes a pular
de um viaduto.
Ser religioso pode
facilitar a
auto-homofobia”
quer outra pessoa
pode ter acesso a
Deus.” Para ele, vozes
como a de Malafaia ou
de parlamentares como o deputado federal
Marco Feliciano
(PSC-SP) não representam a comunidade
cristã. Pastor há 30
anos, ele conta que em
sua congregação há
homoafetivos que cooperam na organização
dos cultos. “Há pessoas nessa condição
em muitas igrejas.
Mas, geralmente, elas
não têm coragem ou
não são encorajadas a
se assumir.”
Se entre os cristãos há
ainda resistência à
homossexualidade, o
mesmo não ocorre em
religiões como o budismo, espiritismo ou
mesmo as religiões
afro-brasileiras. “Claro
que são pessoas diferentes e não existe um
cânone na umbanda
ou candomblé. Mas
nunca presenciei nenhum ato discriminatório
nos terreiros, e já vi
pai-de-santo incorporar
entidades homossexuais”, relata a professora Maria Elise
Rivas, da Faculdade
de Teologia Umbandista, em São Paulo.
Segundo ela, as religiões afro-brasileiras
possuem diversas entidades bissexuais,
conhecidas como
Edês. “Há uma perspectiva diferente da
ocidental e cristã, que
polariza homens e
mulheres.”
suicídio, quando soube
que o filho é gay. “Foi
como uma punhalada no
peito”, conta a mãe, que
não quis se identificar.
Pais religiosos, filhos Edith afirma que, assim
gays
como os pais conservaNo consultório da tera- dores, filhos homospeuta Edith Modesto, sexuais religiosos geralmente também pen77, dia sim, dia não,
pais a procuram deses- sam numa saída definitiva aos seus dramas.
perados após descobrir
“Atendo muitos jovens
que seus filhos são
homoafetivos. “De mo- que pensam em se suicidar. Já fui socorrer um
do geral, os evangéligaroto que estava
cos são os pais com
maior dificuldade e os prestes a pular de um
que mais sofrem quan- viaduto. Ser religioso
do descobrem que tem pode facilitar a autohomofobia”.
um filho ou filha homossexual. Mas
também há católicos
ortodoxos que ainda
sentem muita dificuldade. Ainda há pais
que dizem que o filho
tem o demônio no corpo, como se dizia na
Idade Média”, relata.
A terapeuta coordena o
Grupo de Pais de
Homossexuais, iniciativa que começou a
partir de sua própria
experiência ao descobrir que o caçula de
seus sete filhos é gay.
Hoje, ela se reúne com
cerca de 30 pais no seu
consultório e conversa
com outras centenas
pela internet sobre preconceito e aceitação.
Entre relatos, gente
aflita como a psicóloga
evangélica de 54 anos
que pensou em
Mesmo que o processo
de aceitação em ambiente religioso seja
mais penoso, ela não
aconselha pais nem
filhos a abandonar suas
comunidades de fé. “A
culpa pode ser pior.
Acompanhamos a
família, tentamos mostrar que a homossexualidade não é escolha, não é doença,
nem é um pecado. É
uma condição”, argumenta. E, se mesmo
assim pais e filhos ficarem reticentes, ela orienta: “Conversem diretamente com Deus. Deus
é amor, pai de todos
nós. Independentemente
da orientação sexual
que tenhamos. O amor
vence”.
****
25/MAR/14 – 1162– Página 21
A arte de gerar não se esgota
em dar à luz aos filhos
doxo: "Nunca atingimos níveis de
liberdade tão elevados na história,
mas não sabemos o que fazer
com essa liberdade".
Giaccardi diz que começou a
pensar na generatividade há
muitos anos. Ou, melhor, reivindica que foi ela que refletiu, antes
ainda que o marido, sobre a
potencialidade muito forte da sua
maternidade (o casal tem cinco
filhos, mais um em processo de
adoção): "Eu não podia limitar a
minha experiência de generatividade unicamente ao aspecto
biológico".
"Um exemplo de generatividade
no mundo de hoje? O Papa Francisco. Ele encontrou uma Igreja
cheia de problemas e a está
enfrentando de modo corajoso,
para levar o cristianismo à genera- Magatti ouve e resume de modo
tividade das origens".
mais conciso a questão: "Colocar
um filho no mundo depois de uma
Chiara Giaccardi, socióloga, não
hesita um segundo ao identificar a relação sexual não basta para ser
testemunha do movimento que ela generativo. Depois, é preciso
cuidar das crianças, acompanháe o seu marido, Mauro Magatti,
las, cultivá-las, para depois, um
decidiram desenvolver. Ou, melhor, fecundar. E que está escrito dia, deixá-las ir embora".
mento que está na base do seu
manifesto é que a crise que atra- vessamos tem uma origem precisa: os anos 1960. É a partir dessa
data que começa a era do bemestar, do crescimento, dos direitos,
do pluralismo cultural, em um
contexto de liberdade absoluta.
"Porém, devemos nos perguntar
como conseguimos construir uma
democracia tão frágil. A ideia
individualista extrema de que cada
um de nós tem o direito ao prazer
não se sustenta mais".
A receita do movimento generativo? "Um modelo de crescimento
que faça do consumo não mais o
seu centro. O consumo deve ser
uma consequência da produção de
valor através da inovação e da
pesquisa";
Marido e mulher, porém, tendem a
se distanciar de certas teorias do
decrescimento, à la Serge Laem claras letras no título do seu
Mas o que acontece hoje? "As
touche, por exemplo, que enconlivro: Generativi di tutto il mondo pessoas de 30 ou 40 anos pentraram muito espaço na mídia
unitevi [Generativos de todo o
sam nos filhos como uma coisa a durante os anos da crise. "Demundo, uni-vos] (Ed. Feltrinelli,
mais, uma experiência a mais,
fendemos o crescimento. Devemos
148 páginas).
como algo para se colecionar,
ser consumidores. Se comemos,
acrescentar. A generatividade não vivemos. A primeira fase da liberA reportagem é de Agostino
é satisfação pessoal, e ponto
dade de massa insistiu em pôr
Gramigna, publicada no jornal
final.
Não
pode
ser
reduzida
ao
para dentro, explorar, consumir,
Corriere della Sera, 22-03-2014.
desejo
do
prazer".
pegar. Não não condenamos esse
A tradução é de Moisés Sbardemovimento de pôr para dentro.
lotto.
Generativo é o empresário que
Pensamos que o ser humano
Mas o que é a generatividade? O não se ocupa apenas com o lucro, também deve pôr para fora, essa é
mas faz crescer a própria empreconceito provém da medicina,
a generatividade".
relacionado com a capacidade de sa; o artesão e o artista que
acrescentam beleza ao mundo; o Os sujeitos? O potencial generatigerar de um casal. Adaptado à
vo? Giaccardi diz que é transversociologia, ele assume outro valor, profissional que faz triunfar a
justiça;
o
professor
que
não
se
sal. O seu marido, ao invés, está
o de imaginar e de repensar a
queixa
dos
seus
alunos
e
os
fazer
convencido de vez que as mulheprópria liberdade. Porque o socrescer,
ouvindo-os.
res têm um forte impulso generaticiólogo Magatti está convencido,
vo. Assim como os jovens. Eles
como bom generativo, que o
Generativo é quem transforma um
são conscientes disso? "Não",
cerne da crise que estamos atratrauma em energia positiva. Perresponde seco. Não é por nada
vessando (econômica, política e
sonalidades generativas sempre
que marido e mulher lançaram um
democrática) reside em um para- existiram, diz Magatti. O argumanifesto.
"Colocar um filho
no mundo depois
de uma relação sexual não basta para ser generativo.
Depois, é preciso
cuidar das crianças, acompanhálas, cultivá-las, para depois, um dia,
deixá-las ir embora".
25/MAR/14 – 1162 – Página 22
‘Solução Kasper’ para os
divorciados provoca tempestade
“Não é, talvez, uma
instrumentalização
da pessoa que sofre e pede a ajuda
se fazemos dela
um sinal e uma advertência para os
outros? Deixamos
que morra sacramentalmente de
fome para que outros vivam?”
Está se registrando uma
formidável tempestade que
poderíamos denominar de
solução Kasper para os
divorciados recasados. O
cardeal alemão Walter
Kasper, que acaba de completar 81 anos, a expôs no
Consistório de cardeais de
fevereiro passado e de lá
para cá não há dia em que
outros cardeais ou altos
eclesiásticos não manifestem que sua proposta é
absolutamente impossível
de ser colocada em prática.
Por outro lado, têm o apoio
dos bispos alemães e em
algum momento será preciso analisar a causa “material” desse empenho
germânico, que também se
estende a outros países
centro-europeus.
A reportagem é de Javier
Mora e publicada no jornal
La Coruña, 23-03-2014. A
tradução é de André
Langer.
Pois bem, apesar das surradas nada discretas que a
solução Kasper recebe –
que está em sintonia com
as ideias do Papa
Bergoglio –, este temporal
em relação a um dos fundamentos da Igreja, isto é,
a indissolubilidade do matrimônio, mal chega aos
meios de comunicação.
Não obstante, tal vazio
informativo seria outra prova de como a popularidade
do Papa absorve todo o
conteúdo informativo sobre
a Igreja, e de tal modo que
o Pontífice e sua boa imagem agem como escudo
dissipador de notícias sobre
a marcha real do catolicismo. Isto também mereceria
outra análise detalhada.
Em todo o caso, a solução
Kasper de que um divorciado recasado possa receber
o perdão sacramental e a
comunhão eucarística – do
que hoje são excluídos pela
Igreja – consiste no seguinte, segundo sua própria
intervenção diante dos 150
cardeais: “A um divorciado
recasado:
locais, e por direito consuetudinário havia depois de um
tempo de arrependimento a
prática da tolerância pastoral,
da clemência e da indulgência”. Ou seja, um argumento
de autoridade tomado da
história ou de uma tradição
que teve certa vigência durante um tempo.
Na mesma intervenção,
Kasper também se perguntou sobre o divorciado recasado e penalizado sem sacramentos. “Não é, talvez,
uma instrumentalização da
1. se se arrepende de seu
pessoa que sofre e pede a
fracasso no primeiro maajuda se fazemos dela um
trimônio,
sinal e uma advertência para
os outros? Deixamos que
2. se esclareceu as obrimorra sacramentalmente de
gações do primeiro mafome para que outros vitrimônio e se excluiu de
vam?” São duas perguntasmaneira definitiva voltar
bombas e cujo substrato é
atrás,
tremendamente complexo e
3. se não pode abandonar
muito antigo: a tensão entre o
sem outras culpas os comindivíduo e as normas do
promissos assumidos com o
grupo a que pertence, assim
novo casamento civil,
como a exemplaridade das
penas frente ao perdão e a
4. se se esforça para viver
ao máximo de suas possibi- misericórdia cristã.
lidades o segundo maDiante da proposta de Kastrimônio a partir da fé e edu- per, manifestaram-se com
car seus filhos na fé,
grande contundência os car5. se deseja os sacramentos
como fonte de força em sua
situação, devemos ou podemos negar-lhe, depois de
um tempo de nova orientação, o sacramento da
penitência e depois o da
comunhão?”
Este caminho Kasper baseia no fato de que “não
pode haver alguma dúvida
sobre o fato de que na Igreja
primitiva, em muitas Igrejas
deais Müller, Caffarra,
O’Malley ou Burke, autênticos porta-aviões da frota
católica; e a seu favor o fez o
cardeal Reinhard Marx,
recém eleito presidente da
Conferência dos Bispos da
Alemanha. Passarão mais
dias e temporais e em algum
momento Francisco resolverá. Ou não?
****
-
25/MAR/14 – 1162– Página 23
Consistório secreto: o que
aconteceu nos bastidores
No consistório secreto
em que se discutiu sobre os divorciados em
segunda união e a eucaristia, o "teorema
Kasper" teve poucos
consensos e muitas críticas. Eis uma reconstrução de algumas das
intervenções mais significativas e importantes.
"Seria um erro fatal",
disse alguém, querer
trilhar o caminho da
pastoralidade sem fazer
referência à doutrina.
A reportagem é de
Marco Tosati, jornalista
do jornal La Stampa,
publicada no seu blog
San Pietro e Dintorni,
24-03-2014. A tradução é
de Moisés Sbardelotto.
às intervenções dos cardeais. E talvez não por
acaso, porque depois
que o cardeal Kasper
ilustrou a sua longa (e,
ao que parece, não muito leve quando proferida) conferência, várias
vozes se levantaram para criticá-la. Tanto que,
à tarde, quando o papa
lhe deu a tarefa de responder, muitos acharam
que o tom do pupurado
alemão parecia ressentido, se não aborrecido.
A opinião corrente é de
que o "teorema Kasper"
tenda a fazer com que
os divorciados em segunda união possam
comungar em geral,
sem que o matrimônio
Devia ser secreto o con- anterior seja reconhecisistório do dia 22 de fe- do como nulo. Atualmente, isso não ocorre.
vereiro, para discutir a
família. Mas, ao contra- Com base nas palavras
rio, a partir de cima, de- de Jesus, muito severas
cidiu-se que era oportu- e explícitas sobre o divórcio. Quem tem uma
no tornar público o lonvida matrimonial comgo discurso do cardeal
Walter Kasper sobre o pleta, sem que o primeitema da eucaristia para ro vínculo tenha sido
considerado inválido
os divorciados em segunda união. Provavel- pela Igreja, encontra-se,
segundo a doutrina
mente para abrir caminho à espera do Síno- atual, em uma situação
permanente de pecado.
do de outubro sobre a
família.
Nesse sentido, falaram
Mas metade do consis- claramente o cardeal de
Bolonha, Caffarra, astório permaneceu em
sim como o prefeito da
segredo: e diz respeito
Congregação para a Doutrina da Fé, o alemão
-
Müller. Igualmente explícito foi o cardeal Walter
Brandmüller ("Nem a
natureza humana , nem
os mandamentos, nem o
Evangelho têm uma data
de validade... É preciso
a coragem para dizer a
verdade, mesmo contra
o costume corrente.
Uma coragem que qualquer pessoa que fale em
nome da Igreja deve
possuir, se não quiser
abrir mão da sua vocação... O desejo de obter
aprovação e aplauso é
uma tentação sempre
presente na difusão do
ensinamento religioso...".
E, em seguida, tornou
públicas as suas palavras).
Até o presidente dos bispos italianos, Bagnasco,
se expressou de forma
crítica ao "teorema
Kasper", assim como o
cardeal africano Robert
Sarah, responsável pelo
Cor Unum, que lembrou, no fechamento da
sua intervenção, como,
ao longo dos séculos,
mesmo sobre questões
dramáticas, houve divergências e polêmicas
dentro da Igreja, mas
que o papel do papado
sempre foi o de defender
A opinião corrente
é de que o "teorema Kasper" tenda a
fazer com que os
divorciados em
segunda união
possam comungar
em geral, sem que
o matrimônio anterior seja reconhecido como nulo.
Atualmente, isso
não ocorre.
25/MAR/14 – 1162 – Página 24
a doutrina.
O cardeal Re, um dos
grandes eleitores de
Bergoglio, fez um discurso muito breve, que
pode ser resumido assim: eu tomo a palavra
por um instante, porque
aqui estão os futuros
novos cardeais, e talvez
alguns deles não tenham a coragem de dizer isto: então digo eu:
sou totalmente contrário
à conferência.
É preciso acrescentar que, às críticas levantadas no
consistório ao "teorema Kasper", estão se somando
outras críticas – de
forma privada com
relação ao papa,
ou de forma pública – por parte de
cardeais de todo o
mundo
Até o prefeito da Penitenciaria Apostólica, o
cardeal. Piacenza, se
disse contrário e disse
mais ou menos o seguinte: estamos aqui
agora, e estaremos aqui
em outubro para um Sínodo sobre a família, e,
então, querendo fazer
um Sínodo positivo, não
vejo por que devemos
tocar apenas no tema
da comunhão para os
divorciados. E acrescentou: querendo fazer
um discurso pastoral,
parece-me que devemos reconhecer um
pansexualismo muito
generalizado e uma
agressão por parte da
ideologia de gênero que
tende a confundir a família, como sempre a
conhecemos. Seria providencial se nós fôssemos lumen gentium para explicar em que situação nos encontramos e o que pode destruir a família. Ele concluiu exortando a tomar
novamente nas mãos a
catequese de João
Paulo II sobre a corpo-
reida-de, porque contêm
muitos elementos positivos sobre o sexo, sobre
o ser humano, sobre o
ser mulher e sobre a
procriação e o amor.
mou o purpurado, só
Deus sabe, mas, aparentemente, em grande parte
talvez fosse verdade. Hoje, isso não poderia mais
ser dito de modo absoluto, porque a doutrina não
O cardeal Tauran, do
só não é compartilhada,
Diálogo Inter-Religiomas também é combatiso, retomou o tema da
da. "Seria um erro fatal"
agressão à família, tamquerer trilhar o caminho
bém à luz das relações
da pastoralidade sem facom o Islã. E o cardeal
zer referência à doutrina.
de Milão, Scola, também levantou preocupa- É compreensível, portanções teológicas e doutri- to, que o cardeal Kasper
nais.
parecesse um pouco ressentido à tarde, quando o
Muito crítico também foi
Papa Bergoglio lhe pero cardeal Camillo Ruini,
mitiu responder, mas sem
que acrescentou: não
permitir que se desse orisei se percebi bem, mas
gem a uma verdade conaté agora cerca de 85%
traditória: só Kasper
dos cardeais que se
falou.
manifestaram parecem
ser contrários ao tom da É preciso acrescentar
palestra. Acrescentando que, às críticas levantaque, entre aqueles que das no consistório ao
"teorema Kasper", estão
não disseram nada e
não podem ser classifi- se somando outras críticados, captavam-se
cas – de forma privada
silêncio "que eu acredito com relação ao papa, ou
que são embaraçosos". de forma pública – por
parte de cardeais de todo
O cardeal Ruini, depois,
o mundo. Cardeais alecitou o Papa Bom, dimães, que conhecem
zendo, em essência:
bem Kasper, dizem que
quando João XXIII fez o
é desde os anos 1970
discurso de abertura do
que ele é apaixonado
Concílio Vaticano II, ele
pelo tema.
disse que se podia fazer
um concílio pastoral por- O problema apontado por
que, felizmente, a douvárias vozes críticas é
trina era pacificamente
que, sobre esse ponto, o
aceita por todos e não
Evangelho é muito explíhavia polêmicas. Portan- cito. E não levar isso em
to, era possível fazer um conta – esse é o temor –
corte pastoral sem medo tornaria muito instável e
de ser mal interpretados, modificável à vontade
já que a doutrina perma- qualquer outro ponto de
necia muito clara. Se
doutrina baseado nos
João XXIII tinha razão
Evangelhos.
naquele momento, afir-