Hospitais britânicos queimam corpos de bebês abortados como lixo
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Hospitais britânicos queimam corpos de bebês abortados como lixo
BOLETIM ON LINE 25/março/ 2014 Edição 1162 CNBB – Regional Sul 2 Hospitais britânicos queimam corpos de bebês abortados como lixo para aquecer instalações Addenbrooke Hospital de Cambridge VATICANO, 24 Mar. 14 / (ACI/EWTN Noticias) Os corpos de milhares de bebês que morreram em abortos espontâneos foram incinerados como refugos clínicos e muitos deles utilizados como combustível biológico para aquecer hospitais na Grã-Bretanha, assinala uma reportagem do programa Dispatches do Canal britânico Channel 4. Segundo a reportagem do Channel 4, dez centros do Sistema Nacional de Saúde (NHS) britânico admitiram ter queimado os restos fetais junto ao lixo dos hospitais e dois hospitais utilizaram os corpos dos não nascidos como resíduos para queimar e abastecer a calefação do local. A apresentadora Amanda Holden conhecida por suas participações no jurado do reality show Britain's Got Talent- participou de uma reportagem sobre o que ocorre com os restos dos bebês que morrem antes do parto. Diante do anúncio da difusão deste documentário, o Departamento de Saúde britanico emitiu uma proibição imediata desta pratica que o ministro da saúde Dan Poulter considerou "totalmente inaceitável". Segundo a investigação, pelo menos 15.500 restos fetais foram incinerados por 27 organismos do NHS nos ultimos dois anos. A reportagem também denuncia que os pais que sofrem a perda de um filho por um aborto espontaneo nas primeiras fases da gravidez são tratados frequentemente sem compaixão e não foram consultados sobre o que seria feito com os restos mortais de seus filhos. O hospital Addenbrooke de Cambridge, um dos mais importantes do pais, incinerou os restos de 797 bebês de menos de 13 semanas de gestação em seu próprio prédio, e disseram às mães que os restos de seus filhos haviam sido "cremados". O mesmo aconteceu no hospital de Ipswich, onde 1.101 restos fetais foram incinerados entre 2011 e 2013. Estes restos foram trazidos de outro hospital. **** 25/MAR/14 – 1162 – Página 2 Aumenta número de profissionais com ‘carreira consolidada’ e ótimos salarios que abandonam tudo para se tornar padres Rodrigo Cardoso ([email protected]_ OPÇÃO - O médico Sarmento terminou com a namorada, trocou um salário de R$ 17 mil - e uma carreira promissora para encarar nove anos de estudos e se tornar padre O paraense Renato Sarmento cresceu cultivando o sonho de se formar em medicina. Primogênito de três filhos de um comerciante e uma contabilista, só conseguiu concretizá- lo depois de tirar a sorte grande. Ele acertou a quina da Mega Sena, em 2007 e, com os R$ 18 mil do prêmio, pagou um semestre inteiro em uma faculdade privada. Mais adiante, conseguiu um financiamento estudantil para arcar com o restante do curso. Assim, pôde se tornar o primeiro médico da família. Empregado em dois postos de saúde ACESSE! APROVEITE PARA CURTIR! ATUALIZE-SE! 25/MAR/14 – 1162– Página 3 e num hospital público em sua cidade natal, Paragominas, o rapaz tinha carro, um salário de R$ 17 mil e namorava. Sua carreira ia tão bem que conseguiu um estágio no departamento de neurocirurgia do Hospital Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Mas Sarmento não se achava pleno. “Sentia uma inquietação, um vazio”, diz ele, sentado no banco de um seminário católico, na capital paulista, seu novo endereço desde o mês passado. Sarmento abandonou a carreira, terminou o namoro, abriu mão dos bens materiais e é, hoje, aos 25 anos, um dos 17 seminaristas matriculados no curso de propedêutica do seminário Nossa Senhora da Assunção. Seu novo sonho é ser padre. Foi na capital paulista, no silêncio da Catedral da Sé, em meados de 2013, que ele sentiu esse chamado, logo anunciado ao pároco local. De volta ao Pará, conheceu um padre que se tornou uma espécie de mentor espiritual até sua mudança definitiva para o seminário. Histórias como a do jovem paraense são cada vez mais frequentes. Reitores das casas diocesanas apontam para um aumento do número de seminaristas que, já com uma faculdade no currículo, optam por MUDANÇA Schwaab era repórter de jornal até o ano passado. Hoje é requisitado para entrevistar sacerdotes abandonar suas profissões para dar ouvidos ao chamado de Deus. Além do médico, no seminário paulista há um dentista, um psicólogo e um pós-graduado em sociologia que formam um grupo de 13 pessoas com curso superior. Em 2013, havia oito (leia quadro). “Estamos aprendendo a lidar cada vez mais com adultos que já chegam com uma considerável bagagem cultural e humana”, diz o padre Lucas Mendes, formador do seminário São José, da diocese de Porto Alegre. Nessa casa, há oito seminaristas com curso superior, sete a mais do que no ano passado. “Atualmente, o processo de maturação é lento, acontece em idades mais avançadas e isso reflete na decisão vocacional tardia.” Seminários como os de antigamente, nos quais o candidato se matriculava ainda criança, com 11, 12 anos, são cada vez mais raros no País. “Atualmente, o processo de maturação é lento, acontece em idades mais avançadas e isso reflete na decisão vocacional tardia.” 25/MAR/14 – 1162 – Página 4 Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). “Mas decidi não tomar nenhuma decisão antes de me formar, para discernir melhor” CORAGEM Passos cursou economia e ganhava R$ 12 mil como executivo comercial de uma incorporadora. Aos 36 anos, chegou ao seminário Poucos ainda resistem em regiões predominantemente rurais. Foi logo após o Concílio Vaticano II (1962-1965), reunião de bispos do mundo inteiro que provocou profundas mudanças na Igreja Católica, que formadores vocacionais passaram a receber candidatos mais velhos. Ainda assim, naquela época em que os católicos representavam mais de 90% da população brasileira, a experiência cristã acontecia já na infância, o que influenciava vocações religiosas precoces. Atualmente, pelo fato de as famílias serem mais enxutas e em muitas delas a tradição católica não vir de berço, a vocação cristã é empurrada para outros momentos da vida. “No caso, muitas vezes, depois de experiências acadêmicas e no mercado de trabalho”, afirma o padre Valdecir Ferreira, assessor dos ministérios ordenados e vida consagrada da Conferência A bagagem dos seminaristas com profissão costuma ser aproveitada pela Igreja. Em Porto Alegre, por exemplo, o jornalista Darlan Schwaab, 24 anos, um dos oito do seminário São José, já foi escalado para entrevistar um padre para o departamento de comunicação local. Schwaab era repórter de cultura e gastronomia do jornal “Zero Hora” até o fim do ano passado, quando decidiu seguir uma vocação que já despontava desde pequeno. Nascido no Acre, ele vai à missa aos domingos desde 5 anos, foi coroinha e frequentou retiros vocacionais. “Mas decidi não tomar nenhuma decisão antes de me formar, para discernir melhor”, diz. Para o sacerdote José Luiz da Silva, formador do seminário Santa Cruz, em Goiânia, os jovens de agora não gostam de assumir compromissos duradouros. Ele fala isso tendo em mente os nove anos de estudos necessários para que um aluno seja ordenado padre. “Mas com o passar do tempo a nossa existência cobra isso e, assim, as vocações tardias vão aumentando”, diz. O pernambucano Adriano Bezerra dos Passos, 36 anos, matriculou-se neste ano no seminário paulista, mas sete anos atrás já havia inici- 25/MAR/14 – 1162– Página 5 PERFIL Alunos do Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo: aumento de 45% do número de seminaristas com ensino superior ado um período de acompanhamento vocacional com a intenção de envergar a batina. Nesse hiato, seguiu atuando como administrador financeiro de shopping centers. Os sinais de sua vocação eram tão claros que, em seu último emprego, numa incorporadora que lhe pagava R$ 12 mil mensais como executivo comercial, os colegas o apelidaram de padre. Passos cursou economia, foi coroinha, participou de comunidades eclesiais de base e manifestou ao pai o desejo de ser sacerdote aos 12 anos. Mas foi só no ano passado, ao ver ao vivo o discurso do papa Francisco na Jornada Mundial da Juventude, que decidiu mudar os rumos de sua vida. “Eu cresci no meio do povo, em comunidade, faz parte da minha formação. O papa tem o poder de fazer as pessoas se voltarem para a Igreja e eu resolvi me aproximar das dores e do sofrimento das pessoas como ele prega”, afirma. A decisão do pernambucano, que se candidatou para recolher o lixo no seminário, não foi surpresa para as pessoas “Eu cresci no meio do povo, em comunidade, faz parte da minha formação. O papa tem o poder de fazer as pessoas se voltarem para a Igreja e eu resolvi me aproximar das dores e do sofrimento das pessoas como ele prega” 25/MAR/14 – 1162 – Página 6 “O que choca as pessoas não é a minha escolha, mas o que abandonei, a carreira como médico e o que poderia conquistar financeiramente” próximas, incluindo a então namorada, com quem rompeu para amadurecer os sinais de sua vocação. Seu companheiro de casa, o médico Sarmento, ao contrário, sofreu um pouco mais. Sua então namorada, quando comunicada da decisão de seguir uma vida religiosa, achou que ele a estivesse traindo. “O que choca as pessoas não é a minha escolha, mas o que abandonei, a carreira como médico e o que poderia conquistar financeiramente”, diz. Posando para as fotos com o estetoscópio e o jaleco que trouxe para o seminário, ele completa, parafraseando o evangelista Lucas, também um médico: “No exercício da medicina, eu indicava remédios, cuidava do corpo. Aqui, eu trato as questões da alma, do espírito.” Fotos: Kelsen Fermandes/Ag. Istoé; Marcos Nagelstein 25/MAR/14 – 1162– Página 7 Cardeal Dom Orani Tempesta emite nota sobre a votação que acontecerá amanhã na câmara dos deputados em Brasília Postado em 25 de Março de 2014 por Carmadélio - Depois de adiada várias vezes devido à pressão popular, a votação do Plano Nacional de Educação (PNE), a vigorar nos próximos dez anos como parâmetro ao sistema educacional brasileiro, foi marcada para a próxima quarta-feira, dia 26 de março. O documento a ser votado contém, no entanto, uma afronta às famílias brasileiras responsáveis pelas novas gerações, pois introduz, oficialmente, no ensino nacional a revolucionária, sorrateira e perigosa “ideologia de gênero” desmascarada mais de uma vez por estudiosos de renome. É importante saber que a palavra gênero substitui – por uma ardilosa e bem planejada manipulação da linguagem – o termo sexo. Tal substituição não se dá, porém, como um sinônimo, mas, sim, como um vocábulo novo capaz de implantar na mente e nos costumes das pessoas conceitos e práticas inimagináveis. Nesse modelo inovador de sociedade, não existiria mais homem e mulher distintos segundo a natureza, mas, ao contrário, só haveria um ser humano neutro ou indefinido que a sociedade – e não o próprio sujeito – faria ser homem ou mulher, segundo as funções que lhe oferecer. Vê-se, portanto, quão arbitrária, antinatural e anticris- tã é a ideologia de gênero contida no Plano Nacional de Educação (PNE) e que por essa razão merece a sadia reação dos cristãos e de todas as pessoas de boa vontade a fim de pedir que nossos representantes no Congresso Nacional façam, mais uma vez, jus ao encargo que têm de serem nossos representantes e rejeitem, peremptoriamente, a ideologia de gênero em nosso sistema de ensino. As formas de participação – simples, mas imprescindíveis – são as seguintes: a) assinatura em uma plataforma específica no http://www.citizengo.org/ptpt/5312-ideologia-generona-educacao-nao-obrigado e b) ligação gratuita pelo telefone 0800 619 619. Tecla “9” pedindo a rejeição à ideologia de gênero em nosso sistema educacional. São José, patrono da família, rogai por nós! Rio de Janeiro, RJ, 22 de março de 2014. † Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist. Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ. Tal substituição não se dá, porém, como um sinônimo, mas, sim, como um vocábulo novo capaz de implantar na mente e nos costumes das pessoas conceitos e práticas inimagináveis. 25/MAR/14 – 1162 – Página 8 A Igreja e o aborto – Parte IV Uma síntese histórica São Paulo, 24 de Março de 2014- Ivanaldo Santos - Idade Média Tomás de Aquino afirma que de “nenhum modo é lícito matar ao inocente [o feto ainda no ventre da mãe]”. Além disso, ele afirma que o que “fere a mulher grávida faz algo ilícito, e, por esta razão, se disso resulta a morte da mulher ou do feto anima-do, não se desculpa do crime de homicídio, sobretudo, quando a morte segue certamente a esta ação violenta” Na Idade Média Tomás de Aquino[i], um dos grandes pensadores da humanidade, debateu e condenou o aborto. Inicialmente afirma-se que Tomás de Aquino não escreveu um livro ou tratado sobre a problemática do aborto. Acima de tudo Tomás é um pensador preocupado com as questões metafísicas e éticas que envolvem o ser humano. Por isso, grande parte de sua obra versa sobre esses temas. No entanto, ele deixou, ao longo de sua vasta obra, referências diretas e explícitas sobre o aborto. No entanto, Tomás de Aquino distingue o aborto em duas categorias, sendo elas: o aborto natural e o aborto voluntário. No aborto natural o próprio organismo humano, por motivos diversos e expressamente médicos, expulsa, antes do tempo, o feto e, com isso, promove a morte do mesmo. Já o aborto voluntário[ii] é quando o indivíduo procura, de forma artificial e propositadamente, expulsar o feto de dentro do ventre materno, antes do momento apropriado pa- ra o nascimento e, com isso, provocar a morte do mesmo. Na perspectiva do Aquinate, o aborto voluntário trata-se de uma forma de assassinato e de um tipo de esterilização parcial, pois apesar do indivíduo continuar, na maioria dos casos, podendo engravidar e ter outros filhos, a gravidez interrompida artificialmente não gera nenhum filho. meio do aborto ou outro Adital método anti-natalidade, o nascimento dos filhos é impedir o desenvolvimento natural da própria família. No caso explicito do aborto, Tomás de Aquino afirma que de “nenhum modo é lícito matar ao inocente [o feto ainda no ventre da mãe]”[iv]. Além disso, ele afirma que o que “fere a mulher grávida faz algo ilícito, e, por esta razão, se Sem contar que Tomás disso resulta a morte da de Aquino condena o uso mulher ou do feto animado veneno da esterilidado, não se desculpa do de, ou seja, dos anticon- crime de homicídio, sobrecepcionais que ou impe- tudo, quando a morte sedem a gravidez ou então, gue certamente a esta quando esta já está em ação violenta”[v]. pleno processo de desenPara ele a prática abortiva volvimento, impedem o trata-se, pois, de um pecadesenvolvimento do feto do gravíssimo, porque não e, com isso, provocam a mata somente o corpo, realização de um aborto mas também a alma. É voluntário. Para ele[iii] uma prática que se enquaquem procura tais métodra dentro do mandamento dos anti-natalidade, que bíblico que determina: atuam contra a natureza, “Não Matarás” (Êxoto 20, mesmo sendo legalmente 13; 23, 7; Deuteronômio 5, casados não podem rece17). Em suas palavras: “alber o nome de cônjuges, guns matam somente o pois não buscam conscorpo, mas outros matam cientemente a realização a alma, tolhendo-a a vida plena do casamento, a da graça, ou seja, arrasqual se dá com a contando-a ao pecado mortal; cepção e o nascimento outros, porém, matam a dos filhos. Uma família só ambos, o corpo e a alma: está totalmente formada são os suicidas e aqueles quanto existe os cônjuges que matam as crianças e os filhos. Impedir, por que ainda não nasceram 25/MAR/14 – 1162– Página 9 [por meio da prática do aborto]”[vi]. Em Tomás de Aquino o aborto é uma das possibilidades de manifestação do homicídio qualificado, ou seja, é quando há um assassinato, neste caso do feto, com a clara intenção de cometer um crime. Em grupos e ambientes que defendem o aborto e dentro de setores que, dentro da Igreja, se alto proclamam de progressistas, modernos e vanguarda teológica; é comum se encontrar um tipo de argumentação que afirma, dentre outras coisas, que Tomás de Aquino vê o aborto apenas como um ato antiético, mas que não chega a condenar a sua prática. Essa afirmação é uma tentativa de se buscar algum fundamento, mesmo que indireto, para se defender o aborto. O problema é que esse tipo de fundamentação é superficial e, em grande medida, falta de uma leitura mais atenta e analítica da obra do Aquinate. Se a obra de Tomás de Aquino for li- da com atenção se verá que ele coloca dentro do mandamento do “Não Matarás” o aborto. Para ele o aborto é um assassinato de uma pessoa e, por isso, deve ser evitado de todas as formas. Sobre a perspectiva do aborto na Idade Média a Declaração sobre o aborto provocado, da Congregação para a Doutrina da Fé, afirma: “É certo que, na altura da Idade Média em que era opinião geral não estar a alma espiritual presente no corpo senão passadas as primeiras semanas, se fazia uma distinção quanto à espécie do pecado e à gravidade das sanções penais. Excelentes autores houve que admitiram, para esse primeiro período, soluções casuísticas mais suaves do que aquelas que eles davam para o concernente aos períodos seguintes da gravidez. Mas, jamais se negou, mesmo então, que o aborto provocado, mesmo nos primeiros dias da concepção fosse objetivamente falta grave. Uma tal condenação foi de fato unânime”[vii]. [i] Sobre a reflexão de Tomás de Aquino sobre o aborto, recomenda-se consultar: SANTOS, Ivanaldo. Tomás de Aquino e o aborto. In: Teologia em Questão, v. X, p. 43-62, 2012; FAITANIN, Paulo. Acepção teológica de pessoa em Tomás de Aquino. In: Aquinate, Niterói, Rio de Janeiro, v. 3, p. 47-58, 2006. “É certo que, na altura da Idade Média em que era opinião geral não estar a alma espiritual presente no corpo senão passadas as pri-meiras semanas, se fazia uma distinção quanto à espécie do pecado e à gravidade das sanções penais.” [ii] AQUINO, Tomás. In IV Sent., d. 31, q.2, a.3, exp. [iii] AQUINO, Tomas. In IV Sent., d. 31, q.2, a.3, exp. [iv] AQUINO, Tomas. S. Theo., II-II, q. 64, a.6, e. [v] AQUINO, Tomás. S. Theo., II-II, q. 64, a.8, ad2. [vi] AQUINO, Tomás. In decem pracetis, a.7. [vii] CONGREGAÇÃO PARA A DOUTIRNA DA FÉ. Declaração sobre o aborto provocado. Cidade do Vaticano, 18 de novembro de 1974, n. 7. A Igreja e o aborto – Parte V Uma síntese histórica São Paulo, 25 de Março de 2014- Ivanaldo Santos - Modernidade e sociedade contemporânea Adital Sobre a relação entre a Igreja e o aborto, ao longo da história[i], a Declaração sobre o aborto provocado faz a - 25/MAR/14 – 1162 – Página 10 ram, com a maior clareza, a mesma doutrina. Assim: Pio XI respondeu explicitamente às mais graves Sobre a relação entre a objeções; Pio XII excluiu Igreja e o aborto, ao claramente todo e quallongo da história[i], a quer aborto direto, ou Declaração sobre o seja, aquele que é intenaborto provocado faz a tado como um fim ou coseguinte síntese históri- mo um meio para o ca: “dentre os muitos do- fim”[ii]. cumentos, bastará recorNo século XX e especifidar apenas alguns. Ascamente na sociedade sim: o primeiro Concílio contemporânea, também de Mogúncia, em 847, chamada de modernidade confirma as penas estatardia ou de pós-modernibelecidas por Concílios dade, a Igreja não cansou precedentes contra o de condenar o aborto. Por aborto; e determina que exemplo, o Papa João seja imposta a penitência XXIII, na Encíclica Mater mais rigorosa às mulheet Magistra, recordou, res „que matarem as com grande precisão, o suas crianças ou que ensinamento dos Padres provocarem a eliminação da Igreja sobre o caráter do fruto concebido no sagrado da vida, “a qual, próprio seio‟. O Decreto desde o seu início, exige de Graciano refere estas a ação de Deus criapalavras do Papa dor”[iii]. Por isso, jamais Estêvão V: „ É homicida se pode pensar em uma aquele que fizer perecer, legalidade para o aborto e mediante o aborto, o que para qualquer outra manitinha sido concebido‟. festação da cultura da Santo Tomás, Doutor comorte. mum da Igreja, ensina que o aborto é um peca- Com relação ao aborto e do grave contrário à lei a prática de outras formas natural. Nos tempos da de controle da natalidade Renascença, o Papa e/ou controle populacioSisto V condena o aborto nal, até o final do século com a maior severidade. XIX e início do XX a IgreUm século mais tarde, ja, apesar de sua doutriInocêncio XI reprova as na, quase não pregava proposições de alguns contra essas formas. O canonisas laxistas, que motivo é que a doutrina pretendiam desculpar o católica condenava – e aborto provocado antes continua a condenar – as do momento em que cer- práticas que impedem a tos autores fixavam dar- gravidez e o nascimento se a animação espiritual (esterilização, uso de ando novo ser. Nos nossos ticoncepcionais, realizadias, os últimos Pontífição do aborto, etc), mas ces Romanos proclama- naquele momento históriModernidade e sociedade contemporânea o Papa João XXIII, na Encíclica Mater et Magistra, recordou, com grande precisão, o ensinamento dos Padres da Igreja sobre o caráter sagrado da vida, “a qual, desde o seu início, exige a ação de Deus criador” co havia poucos métodos anticoncepcionais disponíveis ao grande público, sem contar que os governos e as empresas privadas, em sua maioria, quase não tinham políticas de incentivo a anti-natalidade. Essa postura mudou radicalmente no início do século XX, quando alguns governos, setores ligados a empresas privadas e a indústria farmacêutica, partidos políticos, grupos feministas e até mesmo setores ligados a intelectualidade universitária passaram a incentivar e a financiar a prática e difusão de métodos e técnicas anti-natalidade. Nesse contexto, o aborto foi uma técnica anti-natalidade amplamente utilizada e incentivada[iv]. No entanto, já no início do século XX a Igreja promoveu uma grande mudança em sua política de orientação para a natalidade, ou seja, passou a condenar e, ao mesmo tempo, orientar os fiéis e a sociedade sobre os males e os perigos do aborto e dos demais métodos de controle da natalidade. Esse processo teve início, de forma oficial, quando, em 1907, o padre John R. Ryan, publicou, na Catholic Encyclopedia, um artigo criticando as políticas antinatalidades desenvolvidas pelo neomalthusianismo, as quais pregavam – e continuam a pregar – que o crescimento da pobreza é um forte fator de desagregação social e risco de crises econômicas e polí- 25/MAR/14 – 1162– Página 11 ticas. Para evitar isso é preciso, entre ou-tras coisas, combater o crescimento da pobreza por meio da eliminação dos pobres. Entre as formas de eliminação defendidas pelo neomalthusianismo encontra-se a realização, de forma ampla e sem restrições, do aborto. A Igreja condena o aborto por se tratar da “maior de todas as formas de exclusão social que existem”[v]. E isso acontece porque ele promove a exclusão radical, a exclusão da própria vida, do próprio ato de viver. E essa exclusão acontece justamente numa época em que a ciência e a economia conseguem dispor, em benefício do ser humano, todos os recursos necessários e suficientes para a manuenção da vida. Até o Concílio Vaticano II, o qual se esforçou ao máximo para não condenar nenhuma estrutura humana e social, mas reserva para o aborto uma condenação dura e objetiva, classificando-o de “crime nefando”[vi]. A Constituição Pastoral Gaudium et Spes, promulgada pelo Concílio Vaticano II, condena todas as manifestações de violência que se opõem a vida humana. O aborto é oficialmente e literalmente colocado na lista de violências que se opõem a vida e que, por isso, são condenadas por essa Constituição. Nas palavras do documento da Igreja: “[...] tudo quanto se põe à vida, como seja toda espécie de homicídio, genocídio, aborto, eutanásia e suicídio voluntário. Todas essas coisas e outras semelhantes são infamantes; ao mesmo tempo que corrompem a civilização humana, desonram mais aqueles que assim procedem, do que os que padecem injustamente; e ofendem gravemente a honra devida ao Criador”[vii]. O Catecismo da Igreja Católica, o qual é a “exposição completa e íntegra da doutrina católica”[viii], deixa bem claro que a Igreja e o fiel cristão devem sempre condenar o aborto e, por causa disso, manter distância dessa prática nociva a vida humana. Nas palavras do Catecismo da Igreja Católica a “vida humana deve ser respeitada e protegida de maneira absoluta a partir do momento da concepção. Desde o primeiro momento de sua existência, o ser humano deve ver reconhecido os seus direitos de pessoa, entre os quais o direito inviolável de todo ser inocente à vida”[ix]. É justamente por causa disso que a “cooperação formal para um aborto constitui uma falta grave. A Igreja sanciona com uma pena canônica de excomunhão este delito contra a vida humana. „Quem provoca aborto, seguindo-se o efeito, incorre em excomunhão latae sententiae’ „pelo próprio fato de cometer o delito‟"[x]. Além disso, o Catecismo da Igreja Católica lembra que “desde o século I, a Igreja afirmou a maldade moral de todo aborto provocado. Este ensinamento não mudou. Continua invariável. O aborto direto, quer dizer, querido como um fim ou como um meio, é gravemente contrário à lei moral: „Não matarás o embrião por aborto e não farás perecer o recémnascido‟”[xi]. A condenação ao aborto chega até o Documento de Aparecida. Nesse documento eclesial a Igreja é apresentada como um “serviço de caridade”[xii]. Por causa disso, o próprio Documento de Aparecida, constata que o “aborto faz duas vítimas: por certo a criança, mas também a mãe”[xiii]. Na visão desse documento o aborto é uma violência brutal, antiética e mesquinha. Uma violência causada por uma série de interesses econômicos, políticos e ideológicos. Na maioria das vezes, a mulher, a mãe, e a criança desconhecem a existência desses interesses antiéticos, dessas formas oriundas da cultura O Catecismo da Igreja Católica, o qual é a “exposição completa e íntegra da doutrina católi-ca”, deixa bem claro que a Igreja e o fiel cristão devem sempre condenar o aborto e, por causa disso, manter distância dessa prática nociva a vida humana. 25/MAR/14 – 1162 – Página 12 da morte. É por causa disso que o documento recomenda que a Igreja deva “acolher com misericórdia aquelas que abortaram, para ajudálas a curar suas graves feridas e convidá-las a serem defensoras da vida”[xiv]. neopagã. Vale salientar que uma das exigências da sociedade neopagã é a prática, livre e indiscriminada, do aborto. Sobre as expectativas em torno da eleição do Papa Francisco, o jornalista Reinaldo Azevedo O mais recente capítulo esclarece: “a imprensa da luta e do processo de mundial, a brasileira conscientização também, pôs na cabeça histórico-social da Igreja que Jorge Bergoglio se No livro El Jesuita, contra o aborto foi à transformou no Papa o então cardeal eleição, no dia Francisco com o objetivo Jorge 13/03/2013, do cardeal de destruir os valores da MarioBergoglio, argentino Jorge Mario Igreja Católica e citou a luta contra Bergoglio para exercer a transformá-la, quem função de pontífice. O sabe?; numa dessas o aborto como a cardeal Bergoglio adotou ONGs consideradas “batalha a favor da o nome de Papa progressistas. E, como vida desde a Francisco. Setores da todos sabemos, as concepção até a grande mídia, da pessoas só são morte digna e universidade, pró-aborto progressistas hoje em dia e até mesmo dentro da se defenderem o natural". "Uma Igreja viram a eleição do casamento gay, a mulher grávida não leva no ventre uma Papa Francisco como um descriminação das momento de renovação e drogas e, acima de todas escova de dentes, de modernização da essas causas, o tampouco um Igreja. São setores que aborto”[xvi]. tumor. A ciência desejam uma Igreja No entanto, uma análise ensina que, desde próxima da cultura da das declarações e morte (infanticídio, o momento da documentos publicados eutanásia, pena de pelo então cardeal Jorge concepção, o novo morte, aborto, etc) e Mario Bergoglio ser tem todo o longe do evangelho e da código genético". luta em prol da dignidade desmente radicalmente qualquer possibilidade da pessoa humana. Por dele ser algum defensor, exemplo, dentro da Igreja mesmo que os setores que se alto indiretamente, do aborto. proclamam de Ainda como cardeal, o progressistas, modernos Papa Francisco deixou e de vanguarda teológica claro que "percebe-se viram na eleição do Papa mais uma vez que se Francisco um momento avança deliberadamente de “descongelar o para limitar e eliminar o Concílio [Vaticano II]”[xv] valor supremo da vida e e, com isso, flexibilizar a ignorar os direitos das doutrina da Igreja, crianças que nascerão. adaptando-a as Quando falamos de uma exigências da sociedade mãe grávida, falamos de duas vidas, ambas devem ser preservadas e respeitadas, porque a vida tem valor absoluto"[xvii]. No livro El Jesuita[xviii], o então cardeal Jorge MarioBergoglio, citou a luta contra o aborto como a “batalha a favor da vida desde a concepção até a morte digna e natural". "Uma mulher grávida não leva no ventre uma escova de dentes, tampouco um tumor. A ciência ensina que, desde o momento da concepção, o novo ser tem todo o código genético". Na condição de pontífice, durante a benção apostólica que o Papa Francisco enviou aos fiéis, comunidades e paróquias que participam, no Brasil, da Semana Nacional da Família, realizada entre os dias 11 e 17 de agosto de 2013, ele criticou o aborto e defendeu a dignidade da pessoa humana, desde a concepção até a morte natural. Nas palavras do pontífice: “[...] diante da cultura do descartável, que relativiza o valor da vida humana, os pais são chamados a transmitir aos seus filhos a consciência de que esta deva sempre ser defendida, já desde o ventre materno, reconhecendo ali um dom de Deus e garantia do futuro da humanidade”[xix]. Na conclusão da missa do dia 12 de maio de 2013 na praça de São Pedro quando canonizou os Martires de Otranto e duas religiosas latino- 25/MAR/14 – 1162– Página 13 americanas, o Papa Francisco disse que é “importante manter viva a atenção ao respeito pela vida humana desde o momento da concepção”. Na ocasião declarou apoio expresso à iniciativa europeia Um de nós, para garantir a tutela jurídica do embrião, e lembrou que "um momento especial para quantos fazem questão de defender a sacralidade da vida humana será o Dia da Evangelium vitae, que terá lugar no Vaticano, no contexto do Ano da Fé, a 15 e 16 de junho de 2013"[xx]. Já no dia 13/01/2014, na tradicional mensagem de início de ano aos embaixadores de seus respectivos países junto a Santa Sé, o Papa Francisco fez uma dura condenação do aborto, que chamou de parte da “cultura do descarte” e, por causa disso, “causa horror o simples pensamento de que existam crianças que jamais poderão ver a luz do dia, vítimas do aborto”[xxi]. Ao contrário do que esperavam alguns setores da sociedade e lamentavelmente da própria Igreja, setores que lutam arduamente em prol do aborto e de outros fatores que compõem a cultura da morte, o Papa Francisco não é um modernista radical, que deseja, a qualquer custo, destruir a Igreja e, com isso, legalizar e estimular a prática do aborto. Pelo contrário, o Papa Francisco é um guardião da defesa da vida, da dignidade da pessoa humana e dos valores inegociáveis, tais como: vida, família e a educação dos filhos. Por isso, ele é um incansável defensor da “promoção da vida humana, de sua concepção até o final natural, a tutela da família fundada no casamento entre um homem e uma mulher e a educação dos filhos"[xxii]. O Papa Francisco se encontra dentro da longa tradição, que remonta aos apóstolos de Jesus Cristo, de defesa da vida e da família. Dentro dessa tradição existem direitos que não podem ser negociados, justamente porque são direitos inalienáveis da vida e da pessoa humana. Sobre essa questão, o Papa João Paulo II, na famosa mensagem pelas comemorações do XXXII Dia Mundial da Paz, enfatiza, de forma muito específica, que entre os direitos específicos o “primeiro é o direito fundamental à vida. A vida humana é sagrada e inviolável desde a sua concepção até seu fim natural. [...]. O desenvolvimento de uma cultura orientada nesse sentido estendese a todos as circunstancias da existência e assegura a promoção da dignidade humana”[xxiii]. Ainda sobre os valores inegociáveis, dos quais a vida é o primeiro e mais importante valor que não pode ser negociado, o Papa João Paulo II, na encíclica Evangelium Vitae, afirma que “urge, pois, redescobrir a existência de valores humanos e morais essenciais e congênitos que derivam da própria verdade do ser humano, e exprimem e tutelam a dignidade da pessoa: valores que nenhum indivíduo, nenhuma maioria e nenhum Estado poderá jamais criar, modificar ou destruir, mas apenas os deverá reconhecer, respeitar e promover”[xxiv]. Entre os valores inegociáveis, como bem salientou o Papa João Paulo II, que os grupos sociais e o Estado devem reconhecer, respeitar e promover; se encontra a vida humana. É por isso que jamais se deve pensar em se legalizar o aborto. O aborto é uma forma radical, extremista, de negar o direito inegociável à vida. Na sociedade contemporânea, especialmente a partir da década de 1970 que A encíclica Evangelium Vitae, afirma que “urge, pois, redescobrir a existência de valores humanos e morais essenciais e congênitos que derivam da própria verdade do ser humano, e exprimem e tutelam a dignidade da pessoa: valores que nenhum indivíduo, nenhuma maioria e nenhum Estado poderá jamais criar, modificar ou destruir, mas apenas os deverá reconhecer, respeitar e promover” 25/MAR/14 – 1162 – Página 14 “pelo seu ensino, a Igreja Católica contribuiu na difusão de uma responsabilidade coletiva em favor da dignidade humana. Ela o faz em escala mundial em favor de todo o ser humano” a Igreja, de forma mais acalorada, vem debatendo sobre o aborto. Em várias partes do mundo (Europa, EUA, América Latina, etc) a Igreja vem debatendo, quase que constantemente, o aborto. Esse debate tem ajudado a vários ramos das ciências humanas a tomarem uma maior consciência e, ao mesmo tempo, formularem novas posturas e reflexões críticas sobre a temática do aborto. e materialização da cultura da morte. Lamentavelmente o aborto aparece como o centro e o coroamento da cultura da morte. Por isso, para derrotar a cultura da morte e proteger a vida e a dignidade da pessoa humana é necessário que a Igreja, dia e noite, lute contra toda e qualquer forma de aborto. humano em Tomás de Aquino. In: Coletânea, Rio de Janeiro, v. 2, n.6, 2004, p. 167. [i] Sobre a relação entre a Igreja e o aborto, ao longo da história, encontra-se um grande Apesar disso a palavra numero de documentos que muitos setores da eclesiais, que sociedade esperam da demonstram que a Igreja Igreja, ou seja, uma sempre condenou e lutou permissão teológica para contra o aborto, em: a prática do aborto, ainda CAPRILE G. Non não foi – e nunca será – uccidere. Il Magistero proferida. A Igreja, fiel della Chiesa sull'aborto, aos ensinamentos de Parte II, p. 47-300, Roma Jesus Cristo e dos 1973. apóstolos, tem [ii] CONGREGAÇÃO reiteradamente PARA A DOUTIRNA DA defendido toda e FÉ. Declaração sobre o qualquer forma de vida aborto provocado. op., cit, humana, incluindo a vida n. 7. não nascida, o feto ainda [iii] PAPA JOÃO XXIII. no ventre da mãe[xxv]. Carta Encíclica Mater et Por fim, é preciso frisar Magistra. Cidade do que “pelo seu ensino, a Vaticano, 15 de maio de Igreja Católica contribuiu 1961, n. 42. na difusão de uma responsabilidade coletiva [iv] SULLOWAY, A. W. O controle da natalidade e a em favor da dignidade doutrina católica. In: humana. Ela o faz em escala mundial em favor HARDIN, G. População, evolução, controle da de todo o ser natalidade. São Paulo: humano”[xxvi]. É uma Companhia Editora das principais formas Nacional, 1967, p. 219. que a Igreja possui de promover a dignidade [v] FAITANIN, Paulo. humana é justamente Embriologia tomista: combatendo todas as doutrina da animação e formas de manifestação individuação do embrião [viii] PAPA JOÃO PAULO II. Carta Apostólica Laetamur Magnopere, Cidade do Vaticano, 15 de agosto de 1997. [vi] DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et Spes. São Paulo: Paulinas, 2013, n. 51. [vii] DOCUMENTOS DO CONCÍLIO VATICANO II. Gaudium et Spes. op., cit, n. 27. [ix] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. 5 ed. São Paulo: Loyola, 2002, § 2270. [x] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. op., cit, § 2272. [xi] CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. op., cit, § 2271. [xii] CELAM. Documento de Aparecida. São Paulo: Paulinas, 2007, n. 98. [xiii] CELAM. Documento de Aparecida. op., cit, n. 469. [xiv] CELAM. Documento de Aparecida. op., cit, n. 469. [xv] QUEIRUGA, Andrés Torres. A atitude de Francisco é uma autêntica revolução, um vendaval de Espírito renovador. Entrevista concedida a José Manuel Vidal. In: Instituto Humanas Unisinos, Notícias, 17 de julho de 2013, p. 2. [xvi] AZEVEDO, Reinaldo. 25/MAR/14 – 1162– Página 15 O papa, o aborto e as coisas estúpidas que se escreveram e se escrevem a respeito. In: Blog do Reinaldo Azevedo. Disponível em http://veja.abril.com.br/b log/reinaldo/geral/opapa-o-aborto-e-ascoisas-estupidas-quese-escreveram-e-seescrevem-a-respeito/. Acessado em 14/01/2014. [xvii] Sobre o pensamento do Papa Francisco sobre temas morais, como, por exemplo, o aborto, recomenda-se consultar: SAIBA O QUE O NOVO PAPA PENSA DE CELIBATO, ABORTO, CASAMENTO GAY, ETC. In: Folha de São Paulo, 14/03/2013; AZEVEDO, Reinaldo. Esse blog fica satisfeito; papa Francisco diz: “A Igreja não é uma ONG”. Vocês já leram isso! In: Blog do Reinaldo Azevedo. Disponível em http://veja.abril.com.br/b log/reinaldo/geral/esseblog-fica-satisfeitopapa-francisco-diz-aigreja-nao-e-uma-ongvoces-ja-leram-isso/. Acessado em 22/01/2014; UM PAPA PROGRESSISTA NO SOCIAL E CONSERVADOR NA DOUTRINA. In: Notícias Uol, 14/03/2013. Disponível em http://noticias.uol.com.b r/ultimasnoticias/afp/2013/03/14/ um-papa-progressista- no-social-econservador-nadoutrina.htm. Acessado em 22/01/2014. [xviii] Bergoglio, Jorge Mario. El jesuita: conversaciones con el cardenal Jorge Bergoglio, sj. Entrevista concedida a Sergio Rubin y Fracesca Ambrogetti, 2008. [xix] PAPA FRANCISCO. Mensagem para os fiéis, comunidades e paróquias que participam, no Brasil, da Semana Nacional da Família. In: Boletim CNBB, Disponível em http://www.cnbb.org.br/s ite/comissoesepiscopais/vida-efamilia/12594-papafrancisco-enviamensagem-e-bencaoaos-participantes-dasemana-nacional-dafamilia-2013. Acessado em 13/08/2013 [xx] L'OSSERVATORE ROMANO, n. 20, 19 de maio de 2013, versão portuguesa, p. 9. [xxi] PAPA FRACISCO. Mensagem ao corpo diplomático sediado na Santa Sé. Cidade do Vaticano, 13/01/2014. Sobre a repercussão das declarações do Papa Fracisco contra o aborto, recomenda-se conultar: PAPA FAZ CRÍTICA AO ABORTO E DIZ QUE A PRÁTICA EVIDENCIA A 'CULTURA DO DESCARTE'. In: Agência O Globo, 13/01/2014; PAPA FRANCISCO DIZ QUE ABORTO SIGNIFICA “DESCARTAR SERES HUMANOS”. In: Folha de São Paulo, 13/01/2014. [xxii] VATICANO DEFENDE INTERFERÊNCIA EM 'VALORES INEGOCIÁVEIS'. In: DCI Digital, Internacional, 01/10/2008. [xxiii] JEAN PAUL II. Message pour La célébration de La XXXII leme jourmée mundiale de la paix. Janivier 1999, n. 4. In: Documentation Catholique, n. 96, 1999, p. 1-6. [xxiv] JOÃO PAULO II, Papa. Evangelium Vitae. São Paulo: Paulinas, 1999, n. 71. [xxv] ROXO, Roberto Mascarenhas. Teologia e métodos contraceptivos. In: Revista Eclesiástica Brasileira, v. 27, fasc. 1, março de 1967, p. 69. [xxvi] AGOSTINI, Nilo. Afirmação cristã da dignidade humana. In: SANTOS, Ivanaldo; POZZOLI, Lafayette (Orgs.). Direitos humanos e fundamentais e doutrina social. São Paulo: Boreal, 2012, p.23. Entre os valores inegociáveis, como bem salientou o Papa João Paulo II, que os grupos sociais e o Estado devem reconhecer, respeitar e promover; se encontra a vida humana. É por isso que jamais se deve pensar em se legalizar o aborto. O aborto é uma forma radical, extremista, de negar o direito inegociável à vida. 25/MAR/14 – 1162 – Página 16 O silêncio também é homofóbico? Organização italiana Sentinelas em Pé se manifesta em Imperia, La Spezia e Chiavari Roma, 24 de Março de 2014- Redação - O segundo aspecto destacado pelas Sentinelas é "o grande engano que este projeto leva em frente: a contraposição entre homossexuais e heterossexuais. Não há um „nós‟ e um „vocês‟ em mútuo combate; não para as Sentinelas em Pé, que se recusam a catalogar as pessoas com base em orientação sexual, já que não é este aspecto o que constitui a integridade da pessoa". Mais uma vez, na Itália, o silêncio das Sentinelas em Pé [Sentinelle in Piedi] é acusado de homofobia. A última acusação veio do site agregador de notícias Huffington Post, que publicou uma carta aberta ao jornal italiano Avvenire culpando-o de divulgar uma carta das próprias Sentinelas, e mais ainda, de ter corajosamente disparado o alarme contra a intromissão da ideologia de gênero nas escolas do país. A carta aberta do Huffington Post tacha as Sentinelas de "pessoas homofóbicas e transfóbicas, que, de maneira cada vez mais visível e óbvia, se recusam a ceder às mudanças sociais". “A acusação destaca duas coisas”, comentam as Sentinelas em um comunicado recém-publicado. “Por um lado, confirma a necessidade urgente de nos mobilizarmos contra o liberticida projeto de lei Scalfarotto, que trata da homofobia. Se hoje somos acusados de homofobia apenas por ficar em silêncio nas ruas e praças a fim de expressar a nossa legítima dissensão diante de uma medida legislativa, o que acontecerá amanhã, se a lei entrar em vigor?". “Não nos cansaremos nunca de afirmar que este texto”, continua o comunicado das Sentinelas, “apresentado como necessário para impedir atos de violência contra pessoas com tendências homossexuais, é na verdade inconstitucional, já que não especifica o que se entende por homofobia e, portanto, deixa aberta a possibilidade de que simples opiniões estejam sujeitas a processos, como hoje já são passíveis de acusações. Com essa lei, poderia ser processado qualquer um que se dissesse contrário às adoções de crianças por parceiros do mesmo sexo, bem como qualquer um que sustentasse que a família se baseia na união entre um homem e uma mulher". sexual. Muitas dessas pessoas nos acompanham nas manifestações de rua. Não só isso: com essa mesma abordagem, as próprias Sentinelas em Pé são pejorativamente catalogadas com o preguiçoso e velho rótulo de „reacionárias católicas‟ ou „fanáticas‟”. "O quanto isso é falso é demonstrado pela realidade das nossas vigílias: a nossa rede é uma organização apartidária e aconfessional, e, entre as Sentinelas em Pé, há, por exemplo, cidadãos católicos, muçulmanos, não crentes e mórmons. Basta vir às ruas conosco para consO segundo aspecto destaca- tatá-lo em primeira pessoa". do pelas Sentinelas é "o "Isto deveria bastar para grande engano que este deixar claro que a liberdade projeto leva em frente: a de expressão se aplica a contraposição entre homostodos e não conhece cores sexuais e heterossexuais. políticas, religião ou Não há um „nós‟ e um orientação sexual. Quem é „vocês‟ em mútuo combate; verdadeiramente livre de não para as Sentinelas em preconceitos não pode deixar Pé, que se recusam a catade reconhecê-lo e de sair às logar as pessoas com base ruas conosco". em orientação sexual, já que não é este aspecto o que No último sábado, 22 de constitui a integridade da março, as Sentinelas pessoa". realizaram a sua manifestação silenciosa nas “Por trás da reclamação de cidades italianas de Chiavari, supostos direitos negados, o La Spezia e Imperia. lobby LGBT se arroga o "Fizemos a nossa vigília em direito de falar em nome de silêncio hoje para garantir a todos os homossexuais e nossa liberdade de transexuais, sem considerar expressão de amanhã", que, entre eles, há pessoas encerra o comunicado. completamente contrárias à sua pretensão de direitos baseados em orientação **** - 25/MAR/14 – 1162– Página 17 Respeitarás a sexualidade do próximo e não discriminarás A peleja dos homossexuais que querem exercer sua religiosidade sem ser discriminados. Há algo muito caro ao advogado carioca Ricardo Pinheiro, 40 anos. Trata-se de sua espiritualidade. Ele diz que a sua vida seria impraticável sem a fé. E que assim pavimentou o caminho na carreira em defesa dos direitos humanos e no ativismo como líder comunitário. Nascido e criado em família protestante, Ricardo abraçou valores do cristianismo e fez deles sua bandeira. Chegou a estudar Teologia e liderou jovens, discutindo textos bíblicos em praças públicas. A chegada da maioridade, porém, assim como nos anos seguintes o dilema da orientação sexual passaram a ocupar espaço importante: fugir da realidade ou assumir a homossexualidade. Ele decidiu que não se tra- tava de enfrentar a si mesmo e seu dilema, mas o preconceito. A reportagem é de Marcelo Santos e publicada pela Rede Brasil Atual, 24-032014. Na época, Ricardo frequentava uma igreja presbiteriana no Rio de Janeiro, e começou a colecionar as antipatias dos pastores da região, que o viam como um semeador de “confusões”. Recebeu ameaças, mas foi adiante no propósito de seguir anunciando o que acreditava ser a mensagem cristã “que liberta verdadeiramente o ser de um homem, de uma mulher”. Aos 32 anos, deixou para trás sua antiga igreja por não querer mais conviver com preconceitos e intolerâncias pregadas e ensinadas de púlpito. Mas ressentia-se de se afastar das atividades mais banais, como os cultos e os estudos bíbli- cos. Foi assim que se aproximou da Igreja Episcopal Anglicana, que tem causado polêmica por sua posição mais respeitosa às uniões homoafetivas. A instituição foi a primeira a se pronunciar oficialmente em apoio à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que equiparou, em 2011, as uniões homoafetivas às demais uniões estáveis, o que culminou nas mudanças feitas por meio de resolução do Conselho Nacional de Justiça (175/2013), autorizando o casamento civil com base nos princípios constitucionais de igualdade e de não-discriminação. “Fui vendo que, ao contrário do que a Igreja pensa e vê, por não querer enxergar, a sexualidade faz parte de uma individuação que não é e não pode ser formatada. Faz parte da beleza da diversidade criada.” - Recebeu ameaças, mas foi adiante no propósito de seguir anunciando o que acreditava ser a mensagem cristã “que liberta verdadeiramente o ser de um homem, de uma mulher” 25/MAR/14 – 1162 – Página 18 Hoje, Ricardo diz estar de bem consigo mesmo. “Abracei a fé que não teme o diferente de mim, nem o demoniza.” Tornou-se líder do movimento Episcopaz, pastoral de direitos humanos ligada à paróquia da Santíssima Trindade, na Diocese Anglicana do Rio. “Defendemos a inclusão numa perspectiva ligada à diversidade”, resume. AsA Igreja Católica não vê a homosse- sim como ele, não são poucos os homosxualidade como sexuais que desejam uma aberração ou vivenciar sua espirituapossessão demo- lidade. Ao contrário do níaca e prevê ainda que faz parecer o truque as pessoas culento discurso de devem ser acolhi- alguns líderes religiodas com respeito, sos, para boa parte da compaixão e deli- comunidade de gays, lésbicas, bissexuais, cadeza travestis e transgêneros a fé é fundamental. cas de outras denominações pentecostais. Com reuniões espontâneas, músicas e orações idênticas a qualquer outra igreja evangélica, estima-se que 10 mil fiéis, entre héteros e gays, frequentem os cerca de 40 templos pelo país. Francisco disse: “Se alguém é gay e busca o Senhor com sinceridade, quem sou eu para julgálo?”. Apesar da repercussão, o papa apenas seguiu o catecismo. A Igreja Católica não vê a homossexualidade como uma aberração ou posO movimento nasceu sessão demoníaca e em 1968, em Los prevê ainda que as pesAngeles. Coube ao soas devem ser acolhireverendo Troy Perry, das com respeito, comum ex-pastor batista paixão e delicadeza. norte-americano, des- Evitando todo sinal de casado e com dois discriminação injusta. filhos, reunir 12 pes“No atual pensamento soas para o primeiro da Igreja, os homosculto da Metropolitan sexuais devem viver em Community Churches, castidade. Porém isso as Igrejas Metropolita- não é um dogma, ou nas que atualmente seja, uma verdade absoreúnem 43 mil pessoas luta. Quer dizer, é um em 37 países. No campo em que as coisas Brasil, há oito templos podem mudar. Assim da denominação como mudou e vêm muevangélica, com apro- dando temas como a ximadamente 500 escravidão, o papel da Igrejas inclusivas pessoas. mulher, além de outros, A Igreja Evangélica Entre os fiéis católicos como o celibato dos papossui curiosidades. dres, que são frequenSe entre os cristãos os há também esperança temente questionados”, de que o discurso mais evangélicos são os explica Lucas Paiva, contemporizador do mais radicais no que 28, um dos líderes do chamam de “defesa da argentino Jorge Mario Diversidade Católica, Bergoglio, o papa família tradicional” – um grupo que acredita Franscisco, possa nos parlamentos ou ser possível viver duas aproximar a comuninas telas da TV –, foi dade LGBTT (de lésbi- identidades aparentejustamente entre os mente antagônicas: ser protestantes que nas- cas, gays, bissexuais, católico e ser gay. travestis e transgêneceu o fenômeno das ros) das paróquias. Em O IBGE ajuda a confirigrejas inclusivas, comunidades lideradas julho passado, após a mar isso. Entre os caJornada Mundial da sais homoafetivos conpor homossexuais e Juventude, realizada tados no Censo de que carregam as no Rio de Janeiro, 2010, 47,4% se declaramesmas característiram católicos, enquanto 25/MAR/14 – 1162– Página 19 20,4% diziam não possuir nenhuma religião. O Vaticano tem percebido esse rebanho e incluiu perguntas sobre famílias homoafetivas no questionário enviado às Conferências Episcopais para o documento preparatório da Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, que será realizada em outubro. “Apesar de não acreditar em uma alteração doutrinal agora, creio que a mudança no tom e um aprofundamento da ação pastoral para acolhida de gays, divorciados, mães e pais solteiros poderá trazer bons frutos e derrubar os argumentos dos preconceituosos¬ que agem em nome de Deus. Isso de condenar os outros se apoiando em Deus é para mim o mais grave problema. Um grande pecado”, diz Lucas. De família religiosa, ele viveu por um tempo recluso de sua relação com a igreja. Em 2009, no entanto, sentiu o que chama de “reflorescimento da fé”. A experiência levou o jovem gerente de call center a pro- curar as reuniões do Diversidade Católica, que em São Paulo acontecem na Casa de Clara, um centro franciscano localizado no bairro da Bela Vista, na região central. “Existem muitas pessoas que vivem escondidas, infelizes, porque se sentem rejeitadas. Nosso grupo, além de ser um espaço para encontro e expressão, é também um lugar de acolhida. Sobretudo para pessoas machucadas e com dificuldade de aceitação.” Paralelamente, representantes de religiões, especialmente as cristãs, e movimentos gays, vivem em clima de tensão. Em 2011, a organização da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo, em uma resposta aos constantes ataques que vinha recebendo de religiosos e, sobretudo, a ação de fundamentalistas que bloqueavam uma legislação mais inclusiva e igualitária, saiu às ruas com imagens erotizadas de santos de devoção católica. Sob o tema “Amaivos uns aos outros: basta de homofobia!”, a parada cobrava bom senso e respeito aos direitos hu- manos. A estratégia levou à fúria personalidades controversas, como o pastor televisivo Silas Malafaia, líder das Assembleias de Deus Vitória em Cristo: “Os caras na Parada Gay ridicularizaram símbolos da Igreja Católica e ninguém fala nada. É pra Igreja Católica „entrar de pau‟ em cima desses caras, sabe? „Baixar o porrete‟ em cima pra esses caras aprender”, vociferou em seu programa de TV. Mais comedido, o cardeal dom Odilo Scherer publicou no jornal da Arquidiocese de São Paulo um artigo dizendo-se entristecido com o que considerou “deboche”. Lucas Paiva também desaprovou a ação: “Apenas serviu para reforçar um clima de rivalidade entre os gays e as religiões”. Tolerância Na opinião do teólogo Carlos Bregantim, 58, líder do Caminho da Graça, grupo protestante alternativo, a homofobia nada tem a ver com os escritos da Bíblia. “A comunidade de Jesus de Nazaré é a do amor. Não tenho dúvidas de que homoafetivos ou qual- “Apesar de não acreditar em uma alteração doutrinal agora, creio que a mudança no tom e um aprofundamento da ação pastoral para acolhida de gays, divorciados, mães e pais solteiros poderá trazer bons frutos e derrubar os argumentos dos preconceituosos que agem em nome de Deus. Isso de condenar os outros se apoiando em Deus é para mim o mais grave problema. Um grande pecado” 25/MAR/14 – 1162 – Página 20 “Atendo muitos jovens que pensam em se suicidar. Já fui socorrer um garoto que estava prestes a pular de um viaduto. Ser religioso pode facilitar a auto-homofobia” quer outra pessoa pode ter acesso a Deus.” Para ele, vozes como a de Malafaia ou de parlamentares como o deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) não representam a comunidade cristã. Pastor há 30 anos, ele conta que em sua congregação há homoafetivos que cooperam na organização dos cultos. “Há pessoas nessa condição em muitas igrejas. Mas, geralmente, elas não têm coragem ou não são encorajadas a se assumir.” Se entre os cristãos há ainda resistência à homossexualidade, o mesmo não ocorre em religiões como o budismo, espiritismo ou mesmo as religiões afro-brasileiras. “Claro que são pessoas diferentes e não existe um cânone na umbanda ou candomblé. Mas nunca presenciei nenhum ato discriminatório nos terreiros, e já vi pai-de-santo incorporar entidades homossexuais”, relata a professora Maria Elise Rivas, da Faculdade de Teologia Umbandista, em São Paulo. Segundo ela, as religiões afro-brasileiras possuem diversas entidades bissexuais, conhecidas como Edês. “Há uma perspectiva diferente da ocidental e cristã, que polariza homens e mulheres.” suicídio, quando soube que o filho é gay. “Foi como uma punhalada no peito”, conta a mãe, que não quis se identificar. Pais religiosos, filhos Edith afirma que, assim gays como os pais conservaNo consultório da tera- dores, filhos homospeuta Edith Modesto, sexuais religiosos geralmente também pen77, dia sim, dia não, pais a procuram deses- sam numa saída definitiva aos seus dramas. perados após descobrir “Atendo muitos jovens que seus filhos são homoafetivos. “De mo- que pensam em se suicidar. Já fui socorrer um do geral, os evangéligaroto que estava cos são os pais com maior dificuldade e os prestes a pular de um que mais sofrem quan- viaduto. Ser religioso do descobrem que tem pode facilitar a autohomofobia”. um filho ou filha homossexual. Mas também há católicos ortodoxos que ainda sentem muita dificuldade. Ainda há pais que dizem que o filho tem o demônio no corpo, como se dizia na Idade Média”, relata. A terapeuta coordena o Grupo de Pais de Homossexuais, iniciativa que começou a partir de sua própria experiência ao descobrir que o caçula de seus sete filhos é gay. Hoje, ela se reúne com cerca de 30 pais no seu consultório e conversa com outras centenas pela internet sobre preconceito e aceitação. Entre relatos, gente aflita como a psicóloga evangélica de 54 anos que pensou em Mesmo que o processo de aceitação em ambiente religioso seja mais penoso, ela não aconselha pais nem filhos a abandonar suas comunidades de fé. “A culpa pode ser pior. Acompanhamos a família, tentamos mostrar que a homossexualidade não é escolha, não é doença, nem é um pecado. É uma condição”, argumenta. E, se mesmo assim pais e filhos ficarem reticentes, ela orienta: “Conversem diretamente com Deus. Deus é amor, pai de todos nós. Independentemente da orientação sexual que tenhamos. O amor vence”. **** 25/MAR/14 – 1162– Página 21 A arte de gerar não se esgota em dar à luz aos filhos doxo: "Nunca atingimos níveis de liberdade tão elevados na história, mas não sabemos o que fazer com essa liberdade". Giaccardi diz que começou a pensar na generatividade há muitos anos. Ou, melhor, reivindica que foi ela que refletiu, antes ainda que o marido, sobre a potencialidade muito forte da sua maternidade (o casal tem cinco filhos, mais um em processo de adoção): "Eu não podia limitar a minha experiência de generatividade unicamente ao aspecto biológico". "Um exemplo de generatividade no mundo de hoje? O Papa Francisco. Ele encontrou uma Igreja cheia de problemas e a está enfrentando de modo corajoso, para levar o cristianismo à genera- Magatti ouve e resume de modo tividade das origens". mais conciso a questão: "Colocar um filho no mundo depois de uma Chiara Giaccardi, socióloga, não hesita um segundo ao identificar a relação sexual não basta para ser testemunha do movimento que ela generativo. Depois, é preciso cuidar das crianças, acompanháe o seu marido, Mauro Magatti, las, cultivá-las, para depois, um decidiram desenvolver. Ou, melhor, fecundar. E que está escrito dia, deixá-las ir embora". mento que está na base do seu manifesto é que a crise que atra- vessamos tem uma origem precisa: os anos 1960. É a partir dessa data que começa a era do bemestar, do crescimento, dos direitos, do pluralismo cultural, em um contexto de liberdade absoluta. "Porém, devemos nos perguntar como conseguimos construir uma democracia tão frágil. A ideia individualista extrema de que cada um de nós tem o direito ao prazer não se sustenta mais". A receita do movimento generativo? "Um modelo de crescimento que faça do consumo não mais o seu centro. O consumo deve ser uma consequência da produção de valor através da inovação e da pesquisa"; Marido e mulher, porém, tendem a se distanciar de certas teorias do decrescimento, à la Serge Laem claras letras no título do seu Mas o que acontece hoje? "As touche, por exemplo, que enconlivro: Generativi di tutto il mondo pessoas de 30 ou 40 anos pentraram muito espaço na mídia unitevi [Generativos de todo o sam nos filhos como uma coisa a durante os anos da crise. "Demundo, uni-vos] (Ed. Feltrinelli, mais, uma experiência a mais, fendemos o crescimento. Devemos 148 páginas). como algo para se colecionar, ser consumidores. Se comemos, acrescentar. A generatividade não vivemos. A primeira fase da liberA reportagem é de Agostino é satisfação pessoal, e ponto dade de massa insistiu em pôr Gramigna, publicada no jornal final. Não pode ser reduzida ao para dentro, explorar, consumir, Corriere della Sera, 22-03-2014. desejo do prazer". pegar. Não não condenamos esse A tradução é de Moisés Sbardemovimento de pôr para dentro. lotto. Generativo é o empresário que Pensamos que o ser humano Mas o que é a generatividade? O não se ocupa apenas com o lucro, também deve pôr para fora, essa é mas faz crescer a própria empreconceito provém da medicina, a generatividade". relacionado com a capacidade de sa; o artesão e o artista que acrescentam beleza ao mundo; o Os sujeitos? O potencial generatigerar de um casal. Adaptado à vo? Giaccardi diz que é transversociologia, ele assume outro valor, profissional que faz triunfar a justiça; o professor que não se sal. O seu marido, ao invés, está o de imaginar e de repensar a queixa dos seus alunos e os fazer convencido de vez que as mulheprópria liberdade. Porque o socrescer, ouvindo-os. res têm um forte impulso generaticiólogo Magatti está convencido, vo. Assim como os jovens. Eles como bom generativo, que o Generativo é quem transforma um são conscientes disso? "Não", cerne da crise que estamos atratrauma em energia positiva. Perresponde seco. Não é por nada vessando (econômica, política e sonalidades generativas sempre que marido e mulher lançaram um democrática) reside em um para- existiram, diz Magatti. O argumanifesto. "Colocar um filho no mundo depois de uma relação sexual não basta para ser generativo. Depois, é preciso cuidar das crianças, acompanhálas, cultivá-las, para depois, um dia, deixá-las ir embora". 25/MAR/14 – 1162 – Página 22 ‘Solução Kasper’ para os divorciados provoca tempestade “Não é, talvez, uma instrumentalização da pessoa que sofre e pede a ajuda se fazemos dela um sinal e uma advertência para os outros? Deixamos que morra sacramentalmente de fome para que outros vivam?” Está se registrando uma formidável tempestade que poderíamos denominar de solução Kasper para os divorciados recasados. O cardeal alemão Walter Kasper, que acaba de completar 81 anos, a expôs no Consistório de cardeais de fevereiro passado e de lá para cá não há dia em que outros cardeais ou altos eclesiásticos não manifestem que sua proposta é absolutamente impossível de ser colocada em prática. Por outro lado, têm o apoio dos bispos alemães e em algum momento será preciso analisar a causa “material” desse empenho germânico, que também se estende a outros países centro-europeus. A reportagem é de Javier Mora e publicada no jornal La Coruña, 23-03-2014. A tradução é de André Langer. Pois bem, apesar das surradas nada discretas que a solução Kasper recebe – que está em sintonia com as ideias do Papa Bergoglio –, este temporal em relação a um dos fundamentos da Igreja, isto é, a indissolubilidade do matrimônio, mal chega aos meios de comunicação. Não obstante, tal vazio informativo seria outra prova de como a popularidade do Papa absorve todo o conteúdo informativo sobre a Igreja, e de tal modo que o Pontífice e sua boa imagem agem como escudo dissipador de notícias sobre a marcha real do catolicismo. Isto também mereceria outra análise detalhada. Em todo o caso, a solução Kasper de que um divorciado recasado possa receber o perdão sacramental e a comunhão eucarística – do que hoje são excluídos pela Igreja – consiste no seguinte, segundo sua própria intervenção diante dos 150 cardeais: “A um divorciado recasado: locais, e por direito consuetudinário havia depois de um tempo de arrependimento a prática da tolerância pastoral, da clemência e da indulgência”. Ou seja, um argumento de autoridade tomado da história ou de uma tradição que teve certa vigência durante um tempo. Na mesma intervenção, Kasper também se perguntou sobre o divorciado recasado e penalizado sem sacramentos. “Não é, talvez, uma instrumentalização da 1. se se arrepende de seu pessoa que sofre e pede a fracasso no primeiro maajuda se fazemos dela um trimônio, sinal e uma advertência para os outros? Deixamos que 2. se esclareceu as obrimorra sacramentalmente de gações do primeiro mafome para que outros vitrimônio e se excluiu de vam?” São duas perguntasmaneira definitiva voltar bombas e cujo substrato é atrás, tremendamente complexo e 3. se não pode abandonar muito antigo: a tensão entre o sem outras culpas os comindivíduo e as normas do promissos assumidos com o grupo a que pertence, assim novo casamento civil, como a exemplaridade das penas frente ao perdão e a 4. se se esforça para viver ao máximo de suas possibi- misericórdia cristã. lidades o segundo maDiante da proposta de Kastrimônio a partir da fé e edu- per, manifestaram-se com car seus filhos na fé, grande contundência os car5. se deseja os sacramentos como fonte de força em sua situação, devemos ou podemos negar-lhe, depois de um tempo de nova orientação, o sacramento da penitência e depois o da comunhão?” Este caminho Kasper baseia no fato de que “não pode haver alguma dúvida sobre o fato de que na Igreja primitiva, em muitas Igrejas deais Müller, Caffarra, O’Malley ou Burke, autênticos porta-aviões da frota católica; e a seu favor o fez o cardeal Reinhard Marx, recém eleito presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha. Passarão mais dias e temporais e em algum momento Francisco resolverá. Ou não? **** - 25/MAR/14 – 1162– Página 23 Consistório secreto: o que aconteceu nos bastidores No consistório secreto em que se discutiu sobre os divorciados em segunda união e a eucaristia, o "teorema Kasper" teve poucos consensos e muitas críticas. Eis uma reconstrução de algumas das intervenções mais significativas e importantes. "Seria um erro fatal", disse alguém, querer trilhar o caminho da pastoralidade sem fazer referência à doutrina. A reportagem é de Marco Tosati, jornalista do jornal La Stampa, publicada no seu blog San Pietro e Dintorni, 24-03-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto. às intervenções dos cardeais. E talvez não por acaso, porque depois que o cardeal Kasper ilustrou a sua longa (e, ao que parece, não muito leve quando proferida) conferência, várias vozes se levantaram para criticá-la. Tanto que, à tarde, quando o papa lhe deu a tarefa de responder, muitos acharam que o tom do pupurado alemão parecia ressentido, se não aborrecido. A opinião corrente é de que o "teorema Kasper" tenda a fazer com que os divorciados em segunda união possam comungar em geral, sem que o matrimônio Devia ser secreto o con- anterior seja reconhecisistório do dia 22 de fe- do como nulo. Atualmente, isso não ocorre. vereiro, para discutir a família. Mas, ao contra- Com base nas palavras rio, a partir de cima, de- de Jesus, muito severas cidiu-se que era oportu- e explícitas sobre o divórcio. Quem tem uma no tornar público o lonvida matrimonial comgo discurso do cardeal Walter Kasper sobre o pleta, sem que o primeitema da eucaristia para ro vínculo tenha sido considerado inválido os divorciados em segunda união. Provavel- pela Igreja, encontra-se, segundo a doutrina mente para abrir caminho à espera do Síno- atual, em uma situação permanente de pecado. do de outubro sobre a família. Nesse sentido, falaram Mas metade do consis- claramente o cardeal de Bolonha, Caffarra, astório permaneceu em sim como o prefeito da segredo: e diz respeito Congregação para a Doutrina da Fé, o alemão - Müller. Igualmente explícito foi o cardeal Walter Brandmüller ("Nem a natureza humana , nem os mandamentos, nem o Evangelho têm uma data de validade... É preciso a coragem para dizer a verdade, mesmo contra o costume corrente. Uma coragem que qualquer pessoa que fale em nome da Igreja deve possuir, se não quiser abrir mão da sua vocação... O desejo de obter aprovação e aplauso é uma tentação sempre presente na difusão do ensinamento religioso...". E, em seguida, tornou públicas as suas palavras). Até o presidente dos bispos italianos, Bagnasco, se expressou de forma crítica ao "teorema Kasper", assim como o cardeal africano Robert Sarah, responsável pelo Cor Unum, que lembrou, no fechamento da sua intervenção, como, ao longo dos séculos, mesmo sobre questões dramáticas, houve divergências e polêmicas dentro da Igreja, mas que o papel do papado sempre foi o de defender A opinião corrente é de que o "teorema Kasper" tenda a fazer com que os divorciados em segunda união possam comungar em geral, sem que o matrimônio anterior seja reconhecido como nulo. Atualmente, isso não ocorre. 25/MAR/14 – 1162 – Página 24 a doutrina. O cardeal Re, um dos grandes eleitores de Bergoglio, fez um discurso muito breve, que pode ser resumido assim: eu tomo a palavra por um instante, porque aqui estão os futuros novos cardeais, e talvez alguns deles não tenham a coragem de dizer isto: então digo eu: sou totalmente contrário à conferência. É preciso acrescentar que, às críticas levantadas no consistório ao "teorema Kasper", estão se somando outras críticas – de forma privada com relação ao papa, ou de forma pública – por parte de cardeais de todo o mundo Até o prefeito da Penitenciaria Apostólica, o cardeal. Piacenza, se disse contrário e disse mais ou menos o seguinte: estamos aqui agora, e estaremos aqui em outubro para um Sínodo sobre a família, e, então, querendo fazer um Sínodo positivo, não vejo por que devemos tocar apenas no tema da comunhão para os divorciados. E acrescentou: querendo fazer um discurso pastoral, parece-me que devemos reconhecer um pansexualismo muito generalizado e uma agressão por parte da ideologia de gênero que tende a confundir a família, como sempre a conhecemos. Seria providencial se nós fôssemos lumen gentium para explicar em que situação nos encontramos e o que pode destruir a família. Ele concluiu exortando a tomar novamente nas mãos a catequese de João Paulo II sobre a corpo- reida-de, porque contêm muitos elementos positivos sobre o sexo, sobre o ser humano, sobre o ser mulher e sobre a procriação e o amor. mou o purpurado, só Deus sabe, mas, aparentemente, em grande parte talvez fosse verdade. Hoje, isso não poderia mais ser dito de modo absoluto, porque a doutrina não O cardeal Tauran, do só não é compartilhada, Diálogo Inter-Religiomas também é combatiso, retomou o tema da da. "Seria um erro fatal" agressão à família, tamquerer trilhar o caminho bém à luz das relações da pastoralidade sem facom o Islã. E o cardeal zer referência à doutrina. de Milão, Scola, também levantou preocupa- É compreensível, portanções teológicas e doutri- to, que o cardeal Kasper nais. parecesse um pouco ressentido à tarde, quando o Muito crítico também foi Papa Bergoglio lhe pero cardeal Camillo Ruini, mitiu responder, mas sem que acrescentou: não permitir que se desse orisei se percebi bem, mas gem a uma verdade conaté agora cerca de 85% traditória: só Kasper dos cardeais que se falou. manifestaram parecem ser contrários ao tom da É preciso acrescentar palestra. Acrescentando que, às críticas levantaque, entre aqueles que das no consistório ao "teorema Kasper", estão não disseram nada e não podem ser classifi- se somando outras críticados, captavam-se cas – de forma privada silêncio "que eu acredito com relação ao papa, ou que são embaraçosos". de forma pública – por parte de cardeais de todo O cardeal Ruini, depois, o mundo. Cardeais alecitou o Papa Bom, dimães, que conhecem zendo, em essência: bem Kasper, dizem que quando João XXIII fez o é desde os anos 1970 discurso de abertura do que ele é apaixonado Concílio Vaticano II, ele pelo tema. disse que se podia fazer um concílio pastoral por- O problema apontado por que, felizmente, a douvárias vozes críticas é trina era pacificamente que, sobre esse ponto, o aceita por todos e não Evangelho é muito explíhavia polêmicas. Portan- cito. E não levar isso em to, era possível fazer um conta – esse é o temor – corte pastoral sem medo tornaria muito instável e de ser mal interpretados, modificável à vontade já que a doutrina perma- qualquer outro ponto de necia muito clara. Se doutrina baseado nos João XXIII tinha razão Evangelhos. naquele momento, afir-