Projecto SIAM-SINTRA Foto: Parque Natural Sintra

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Projecto SIAM-SINTRA Foto: Parque Natural Sintra
 Projecto SIAM‐SINTRA Foto: Parque Natural Sintra‐Cascais Plano Estratégico do Concelho de Sintra face às Alterações Climáticas
Biodiversidade PLANO ESTRATÉGICO DO CONCELHO DE SINTRA FACE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS Equipa de trabalho: David Avelar, Alexandra Correia, Márcia Santos e Sónia Domingos
Coordenação: João Santos Pereira, Ricardo Aguiar e Filipe Duarte Santos 1 PLANO ESTRATÉGICO DO CONCELHO DE SINTRA FACE ÀS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS BIODIVERSIDADE ÍNDICE 1 Introdução ............................................................................................................................. 6 1.1 – Importância da Biodiversidade ................................................................................... 6 1.2 ‐ Estado da Biodiversidade no concelho de Sintra ........................................................ 7 1.2.1 ‐ Fauna ................................................................................................................... 8 1.2.2‐ Flora ............................................................................................................................ 9 1.2.3 – A evolução ................................................................................................................. 9 1.3 1.3.1 – Efeitos directos ................................................................................................. 10 1.3.2 – Efeitos indirectos .............................................................................................. 11 1.4 2 – Efeitos das Variáveis Climáticas na Biodiversidade .................................................. 10 – Aprendendo com o passado ..................................................................................... 12 Metodologia ........................................................................................................................ 15 2.1 – Opções para avaliar os Impactos na Biodiversidade ................................................ 15 2.2 – Descrição da abordagem seleccionada .................................................................... 15 2.2.1 3 Espécies Invasoras ............................................................................................... 16 Impactos .............................................................................................................................. 18 3.1 – Lista de Impactos ...................................................................................................... 18 3.2 – Zonas Costeiras ......................................................................................................... 20 3.3 – A Serra ...................................................................................................................... 21 3.4 Casos de Estudo .......................................................................................................... 23 3.4.1 Caso de estudo 1 – Incêndios sucessivos e propagação de invasoras na encosta sul da serra de Sintra. .......................................................................................................... 23 4 5 3.4.2 Caso de estudo 2 – A Boga‐portuguesa, um endemismo em perigo. ................. 26 3.4.3 Caso de estudo 3 – Os endemismos florísticos. .................................................. 29 Medidas de Adaptação........................................................................................................ 32 4.1 Opções de adaptação .................................................................................................. 32 4.2 Zonas Costeiras ........................................................................................................... 34 4.3 A Serra ......................................................................................................................... 35 Planos .................................................................................................................................. 36 5.1 PROGRAMA NACIONAL DA POLÍTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO............... 37 2 5.2 PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA ................................................................................................................................ 38 5.3 PLANO ESTRATÉGICO SINTRA 2015 ............................................................................. 39 5.4 PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL SINTRA‐CASCAIS ........................ 40 5.5 PLANO MUNICIPAL DO AMBIENTE .............................................................................. 43 5.6 PLANO VERDE DO MUNICÍPIO DE SINTRA ................................................................... 44 6 Conclusões .......................................................................................................................... 46 7 Referências Bibliográficas ................................................................................................... 48 3 SUMÁRIO EXECUTIVO A biodiversidade é bastante importante à espécie humana pois fornece matéria‐prima, inúmeros serviços e concede segurança contra as flutuações climáticas. Sintra tem um vasto património natural, tanto em extensão como em diversidade, com bastantes endemismos, resultado da topografia, microclima e localização geográfica. Destacam‐se a sua zona costeira e a serra de Sintra como as duas zonas com características únicas. Os efeitos das variáveis climáticas podem ser directos ou indirectos e eventos passados ocorridos em Sintra podem‐no comprovar. A avaliação dos impactos potenciais das alterações climáticas na biodiversidade pode ter várias abordagens. No âmbito deste trabalho, para além da revisão bibliográfica e de análise comparativa com outros estudos em regiões semelhantes, fizeram‐se estudos de campo que visaram compreender a alteração do regime de incêndios e a propagação de espécies invasoras. Os principais resultados apontam para alguma alteração na estrutura e composição da vegetação com consequência para a restante biodiversidade. Também se prevê que haja um aumento de áreas inóspitas sobretudo nas zonas mais interiores. Os ecossistemas ripícolas são os mais vulneráveis à diminuição da precipitação e aumento da temperatura esperados, bem como as espécies endémicas que se fazem representar por populações pequenas e isoladas. É de esperar que haja um aumento da frequência e extensão dos incêndios, com consequente destruição e fragmentação do habitat. A propagação de espécies invasoras é uma das maiores ameaças à biodiversidade do município e espera‐se que venha a aumentar. Da população animal, as espécies de morcegos poderão ser bastante afectadas com o aumento das ondas de calor. Quanto aos insectos é difícil prever qualquer impacto, se bem que é esperado que ocorram. Nas zonas costeiras poderão existir consequências a nível da zona de intertidal, grutas e nos cordões dunares. Na serra de Sintra, os principais impactos serão o aumento invasões biológicas e da extensão dos incêndios. Como medidas de adaptação salienta‐se: a necessidade de reduzir outras ameaças (pressão urbana e turística); a criação de corredores Verdes como veículos de dispersão; a prevenção contra incêndios; a prevenção, remoção e controlo das espécies invasoras; as espécies endémicas devem ser monitorizadas; e deve haver um incentivo a estudos que objectivam a conservação das mesmas. Destacaram‐se os pontos mais importantes dos planos do município em matéria de alterações climáticas e, a título de conclusão, referiu‐se a necessidade de sincronização dos mesmos, tendo como alicerces princípios de conservação. 4 EXECUTIVE SUMMARY Biodiversity is very important to the human species because it provides raw material, numerous services and security against climatic fluctuations. Sintra has a vast natural heritage, in both length and diversity, with many endemics species, as a result of it topography, microclimate and geographic location. It was made a highlight to the coastal zone and to the Serra de Sintra because they unique characteristics. The effects of climatic variables may be direct or indirect and past events occurring in Sintra can prove it. The assessment of potential impacts of climate change on biodiversity may have different approaches. As part of this work, in addition to the literature review and benchmarking analysis with other studies in similar regions, have been made specific studies that aimed to understand the change on fire regimes and the spread of invasive species. The main results point to a change in the structure and composition of the vegetation with consequences to the remaining biodiversity. It is also expected that there will be an increase in inhospitable areas especially in the furthest from the ocean. Riparian ecosystems are the most vulnerable to the expected decreased of precipitation and increased of temperatures, as well as endemic species that are represented by small and isolated populations. It is expected that there will be an increase in the frequency and extent of fires, with consequent destruction and fragmentation of habitat. The spread of invasive species is one of the greatest threats to biodiversity and is expected to come to increase. In the animal population, the species of bats might be very affected by the increase in heat waves. As for insects is difficult to predict any impact, although it is expected to occur. In coastal areas there may be consequences in the intertidal zone, caves and ridges dunes. In the Serra de Sintra, the main impacts are the increasing of biological invasions species and the extent of fires. As adaptations measures we stress: the need to reduce other threats (urban and tourist pressure); the creation of greens corridors as vehicles of dispersal; the prevent fires; prevention, removal and control of invasive species; the endemic species must be monitored; and there should be an incentive for studies that specify the conservation of species. It was mentioned the most important points of the council's plans on climate change and, by way of conclusion, it was referred the need it synchronization, with the foundation in conservation principles. 5 1 Introdução A Convenção para a Diversidade Biológica (CBD) define diversidade biológica (ou biodiversidade) como “a variabilidade de organismos vivos de todas as formas, incluindo, inter alia, terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; isto inclui a diversidade dentro das espécies, entre espécies e dos ecossistemas”. A necessidade humana de analisar a biodiversidade por subconjuntos (e.g. espécies, populações) deve‐se a limitações intrínsecas à nossa espécie, mas é importante não perder a noção de conjunto, pois as propriedades do sistema natural, não podem ser explicadas apenas pela soma dos seus componentes. Para esta análise holística, a unidade a utilizar deverá ser o ecossistema, e este pode ser definido como um complexo dinâmico de comunidades de plantas, animais e micro‐organismos, e o ambiente não vivo envolvente, interagindo como uma única unidade funcional (Millennium Ecosystem Assessment, 2005). 1.1
– Importância da Biodiversidade “Não ponhas todos os ovos debaixo da mesma galinha” Este provérbio popular incorpora na sua mensagem, o senso comum de aprendizagem de que a diversidade em termo lato, fornece segurança contra os meandros da natureza e do dia‐a‐
dia. Esta sabedoria empírica que resultou do conjugar de saberes de várias gerações de seres pensantes, é mais um reforço para quem confia e aplica medidas para a conservação da mesma. A biodiversidade de um Ecossistema, desempenha importantes serviços e produção de bens na perspectiva humana. O Quarto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC) esquematiza‐os da seguinte forma: i)
ii)
iii)
iv)
Serviço de Suporte como a produção primária e secundária e biodiversidade, um recurso que é cada vez mais reconhecido por sustentar muito dos bens e serviços que os humanos aproveitam do ecossistema. Isto fornece uma base para os três outros níveis. Serviços de Provisionamento, tal como comida, fibra e produtos medicinais e de cosmética. Serviços de Regulação que têm uma importância primordial para a sociedade humana, tal como sequestro de carbono (ver secção das Florestas e Agricultura), regulação do clima e do ciclo hidrológico (ver secção dos Recursos Hídricos), protecção contra fenómenos extremos como cheias e avalanches, purificação da água e do ar e regulação de doenças e pestes. Serviços culturais que satisfazem o espírito humano bem como a sua apreciação estética do ecossistema e dos seus componentes. (e.g., os jardins Monte Lua) Também ao nível urbano, a biodiversidade ai existente como as árvores de rua, relvados, parques, florestas urbanas, terras cultivadas, zonas húmidas, lagos, mar e ribeiras desempenha importantes serviços: filtragem do ar (70% a 85% segundo Bernatzky (1983)), a micro‐
regulação climática a nível da rua e da cidade (uma única árvore grande pode transpirar 450 l de água por dia o que consome 1000 MJ de energia calorífica para conduzir o processo de evaporação baixando significativamente as temperaturas do verão (Hough, 1989).), a redução do ruído (pode abafar a propagação de som de 1 a 6 dB(A) (Bolund e Hunhammar, 1999), a 6 drenagem de águas pluviais (em áreas com vegetação apenas 5‐ 15% da água pluvial não é evaporada ou infiltrada no solo (Bolund e Hunhammar, 1999)), o tratamento de efluentes além das actividades recreativas e culturais. Sabendo da importância dos serviços prestados gratuitamente pela Natureza e dos poupanças económico inerentes aos mesmos (duas vezes o produto interno bruto mundial segundo Constanza (1997)) a sua preservação parece ser a atitude mais racional. Sobretudo no caso de Sintra, uma vez que os ecossistemas mediterrânicos, estão identificados como dos mais vulneráveis às alterações climáticas e sofrerá teoricamente os impactos ecológicos mais severos (Parry et al, 2007 – 4AR WGII Tecnical Report). Assim, num contexto de Alterações Climáticas, tem vindo a ser proposto que a biodiversidade funcione como uma espécie de “seguro” contra as flutuações ambientais (Yachi e Loreau, 1999) pois diferentes espécies respondem de forma diferente a essas flutuações lidando de melhor forma. Proposta essa que vem confirmar o saber popular expresso no provérbio popular referido no início. 1.2 ‐ Estado da Biodiversidade no concelho de Sintra O Município de Sintra e em particular o Parque Natural Sintra‐Cascais (PNSC) tem particularidades físicas que lhe conferem uma especificidade potenciadora da existência de uma grande diversidade de habitats, nomeadamente 5 habitats prioritários para a conservação da natureza e 21 habitats não prioritários (Directiva Habitats ‐ Decreto‐Lei n.º 140/99, de 24 de Abril), alguns deles escassos no contexto nacional, o que permite ainda grande diversidade biológica, embora nem sempre facilmente observável. Não se pretende fazer uma descrição pormenorizada da biodiversidade do Município de Sintra, pois esses estudos já existem e podem ser consultados através do Instituto de Conservação da 7 Figura 1.2‐1 – Algumas das espécies que constituem o ecossistema de Sintra.
Natureza e Biodiversidade (ICNB) via PNSC ou através dos documentos e planos fornecidos pela Câmara Municipal de Sintra. Assim, num quadro de alterações climáticas, destacam‐se duas zonas do concelho com particular vulnerabilidade nos seus ecossistemas e que merecem uma atenção especial: ‐ Zonas Costeiras, sobretudo as grutas e o litoral marinho, pois são extremamente sensíveis às perturbações marítimas futuras como alteração da salinidade, aquecimento da água, aumento do nível médio do mar, aumento no tamanho e frequência das ondas, aumento do risco de doença da vida marinha, decréscimos do pH e concentração do ião carbonato da superfície oceânica e erosão costeira provocado por eventos extremos de precipitação (ver secção das Zonas costeiras). ‐ A Serra de Sintra, é um maciço eruptivo com características de ilha biogeográfica, fenómeno resultante da existência de um clima distinto da plataforma sedimentar enquadrante, o que confere uma menor variabilidade genética à biodiversidade existente (Jansson, 2003) conferindo por isso maior vulnerabilidade. 1.2.1 ‐ Fauna No que respeita à fauna, no PNSC já foram identificadas mais de 200 espécies de vertebrados: 33 de mamíferos, 159 de aves, 12 de anfíbios 20 de répteis e 9 peixes de água doce (ICNB, 2008), entre elas a Boga‐portuguesa (Chondrostoma lusitanicum) uma espécie rara com estatuto “criticamente em perigo”, sendo relativamente abundante apenas na Ribeira da Samarra (Rede Natura 2000). ‐ Zonas Costeiras, uma linha extensa de arribas costeiras permite a ocorrência de uma avifauna de nidificação ripícola diversificada, dadas as boas condições de abrigo a salvaguarda de predadores. ‐ A Serra de Sintra, existem outras espécies raras e ameaçadas em Portugal, 8 protegidas por legislação internacional, como a águia de Bonelli (Hieraaetus fasciatus), a víbora‐cornuda (Vipera latastei) ou o morcego‐pequeno‐de‐ferradura (Rhinolophus hipposideros). 1.2.2‐ Flora Estima‐se que actualmente apenas persista 1% da vegetação arbórea natural pré‐glaciar, existindo aproximadamente 900 plantas autóctones (Silva, 1991). Destas, destacam‐se os endemismos sintranos cuja bibliografia refere que é o único local para Coincya cintrana, Cravinha (Silene longicilia), Miosótis‐das‐praias (Omphalodes kuzinskyanae) e Cravo‐de‐Sintra (Diathus cintranus subsp. Cintranus). Os endemismos supra‐sintranos de elevada importância são o Feto‐de‐folha‐de‐hera (Asplenium hemionitis ) e para o Cravo‐romano (Armeria pseudarmeria). ‐ Zonas Costeiras ‐ o seu elenco florístico é muito variado devido à diversidade de habitats. Segundo o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) esta faixa pode‐se subdividir em: a Foz do Falcão, Praia da Samarra, Praia da Adraga e Espinhaço, pois são consideradas áreas de valor máximo do ponto de vista da conservação devido à presença do miosótis‐das‐praias (Omphalodes kuzinskyanae); no Cabo da Roca ocorre alguns dos maiores núcleos do Cravo‐romano (Armeria pseudarmeria), de Dianthus cintranus cintranus e de Coyncia cintrana sendo por isso considerada área de elevado interesse de conservação; a Norte do Magoito também de elevado interesse de conservação com alguns núcleos de Herniaria maritima, de Limonium dodartii lusitanicum e uma grande área de ocorrência de Verbascum litigiosum. ‐ A Serra de Sintra ‐ compreende uma faixa rochosa, entrecortada por areais, de aproximadamente 30 km de extensão. Apresenta uma vegetação rasteira constituída, acima de tudo, por vegetação tipicamente mediterrânea ‐ os matos. Tendo sofrido ao longo dos anos intenso uso é, hoje, ocupada na vertente norte por vegetação densa ora exótica ora espontânea, de que se destaca os carvalhais. A vertente oeste e sul é, sobretudo, constituída por matos, pinhal, eucaliptal, cupressal e acacial. Esta tem sido também a zona mais atingida por fogos florestais, aos quais, está associada uma forte infestação de acácias. Assume valor máximo do ponto de vista da conservação devido à presença de populações de Asplenium hemionitis, Daphne laureola, Ionopsidium acaule e Ilex aquifolium. Apesar da exuberância, a vegetação da serra encontra‐se de facto profundamente alterada relativamente à vegetação natural 1.2.3 – A evolução 9 Apesar da extinção de espécies sempre ter ocorrido como parte do processo de evolução, a situação pós‐revolução industrial é alarmante pois observa‐se taxas de extinção de espécies de Figura 1.2.3‐1 – Gráfico comparativo da taxa de extinção no Passado Distante, Passado Recente e Futuro. Fonte: Millennium Ecosystem Assessment.
1% por ano, o que é 100‐1000 vezes superior à taxa “normal” (Begon e tal., 1996). Ignora‐se a actual taxa de extinção de espécies no município devido à falta de estudos nesse sentido, mas sabe‐se da ocorrência de espécies emblemáticas que já se extinguiram devido à crescente pressão urbano‐turística, a presença constante de fogos florestais e a expansão das espécies exóticas nomeadamente da invasora oportunista acácia (Acacia spp.) que ameaçam pôr em risco um rico património histórico‐natural e o equilíbrio de uma paisagem única caracterizada pela sua biodiversidade. 1.3 – Efeitos das Variáveis Climáticas na Biodiversidade A vasta maioria de estudos efectuados em sistemas biológicos terrestres revelam impactos notáveis nas últimas três a cinco décadas devido ao aquecimento global (Rosenzweig et al, 2007), que são consistentes entre os grupos taxonómicos de plantas e animais: ‐ Adiantamento da fenologia de primavera e de verão e aumento da época de crescimento, aumento da escala de distribuição, algumas evidencias do declínio populacional, vulnerabilidade das espécies com distribuições limitadas e extinções locais. ‐ Factores sinérgicos não climáticos podem limitar significativamente as capacidades de migração e de aclimatização das espécies. 1.3.1 – Efeitos directos O clima desempenha um papel importantíssimo nas alterações da biodiversidade. Existe um gradiente da diversidade biológica desde das zonas quente dos trópicos até às regiões frias das 10 latitudes mais elevadas (Pereira, 2002). Uma das razões apresentadas para esta elevada diversidade nos ecossistemas equatoriais e tropicais está relacionada com a elevada taxa de produtividade primária que resulta de temperaturas quentes e elevada precipitação (Cox e Moore, 2000). A distribuição das espécies está muitas vezes correlacionada com as variáveis climáticas, normalmente com a temperatura e precipitação média. No entanto, ocasionalmente, os eventos extremos poderão ser mais importantes do que as condições médias (Pereira, 2002). Isto porque a ocorrência de temperaturas extremas pode ultrapassar os limites letais de algumas espécies ou poderá modificar as interacções biológicas entre espécies levando à extinção de algumas. As extinções locais poderão não ser um grande problema para a biodiversidade, caso a especiação ou migração possa ocorrer a uma taxa comparável. O problema põe‐se quando a velocidade de alteração climática é superior às taxas de adaptação, podendo ter grande impacto na biodiversidade. É sabido que as plantas e os animais podem reproduzir‐se, crescer e sobreviver sobe uma gama de condições climáticas e ambientais específicas. Se essas condições se alterarem para lá da tolerância das espécies, então elas poderão responder através: ‐ Alteração do tempo dos eventos de ciclo de vida (e.g. afloramento, migração) ‐ Alteração das fronteiras de distribuição ou da densidade de indivíduos na mesma zona. ‐ Alterações morfológicas, da reprodução ou genéticas; ‐ Exterminação ou extinção; 1.3.2 – Efeitos indirectos Destruição e fragmentação do habitat ‐ A fragmentação de habitat pode ser causado por processos naturais (ex. fogo) ou por actividades antropogénicas (urbanismo) e pode interagir com o clima. Esta fragmentação reduz a distribuição de determinada espécie ou população a um local restrito e com a alteração das variáveis meteorológicas, está impedida de se deslocar (migração), podendo acabar por se extinguir. Este problema é ainda maior, caso a espécie tenha um reduzido efectivo populacional, e por isso uma baixa variabilidade genética, o que lhe confere um fraco poder de adaptação. Invasoras ‐ Uma importante consequência indirecta das alterações climáticas está relacionada com a propagação de espécies invasoras, i.e., espécies exóticas ou naturalizadas trazidas pelo Homem, que têm descendências abundantes visto estarem em desequilíbrio com o meio envolvente. Este impacto é reconhecido a nível das reuniões internacional, tais como a Convenção da Diversidade Biológica (Princípios para a prevenção, introdução e mitigação de impactes em espécies exóticas que ameaçam ecossistemas, habitats ou 11 Figura 1.3‐1‐ Impactos das espécies invasoras. Fonte: http://www1.ci.uc.pt/invasoras/
espécies, The Hague, Abril 2002), o Conselho da Europa (Convenção de Berna para uma Estratégia Europeia sobre Plantas Exóticas Invasoras, Estrasburgo, Dezembro 2003), a Convenção Internacional de Protecção de Plantas (IPCC), a Organização Europeia e Mediterrânea de Protecção de Plantas (EPPO), a Declaração de Paris (Conferência sobre Ciências da Biodiversidade e Governação, Janeiro 2005), o Programa Global sobre Espécies Invasoras (GISP), a Declaração de Baltimore (Encontro Técnico para a Implementação de uma Rede Global de Informação sobre Espécies Invasoras (GISIN) Baltimore, EUA, Abril 2004) e a Declaração de Mèze (Plantas Exóticas Invasoras nas Regiões Mediterrânicas do Mundo, 2005). As espécies invasoras tornaram‐se tão familiares que se tomamos muitas vezes por espécies nativas. Muitas vezes, a sua beleza leva a uma atitude empática, outras vezes, passam simplesmente despercebidas no meio de tantas espécies. No entanto, de forma silenciosa, estão a invadir os ecossistemas e a expulsar as espécies que os caracterizam (INVADER, 2008). Estas espécies estão desconectadas da teia trófica local não tendo predadores, ocupam nichos ecológicos livres e de têm estratégias evolutivamente mais competitivas do que as espécies nativas. Estas espécies beneficiam de outros impactos provocados pelas alterações climáticas, tais como o aumento das deposições de azoto, alteração dos regimes perturbadores, aumento da fragmentação de habitat e a própria alteração das variáveis meteorológicas (Dukes e Mooney, 1999). A Convenção da Diversidade Biológica reconhece as invasões biológicas como sendo uma das principais causas da perca de biodiversidade porque: 1) afectam os processos dos ecossistemas (ex: ciclo dos nutrientes, disponibilidade dos nutrientes), 2) competem directamente com as autóctones (ex: território, luz, nutrientes, água, etc), 3) interferem com o valor económico de outras espécies e outros serviços do ecossistema (ex: competem e deslocam espécies lenhosas nativas). Uma vez estabelecidas, as espécies invasoras podem alterar os regimes de incêndio (D’Antonio e Vitousek, 1992) promovendo uma preocupante resposta positiva, pois geralmente estas espécies beneficiam com os incêndios (ex: despoletam a germinação de sementes de Acacia spp) e depois de estabelecidas aumentam a carga de combustível aos mesmos, aumentando assim a intensidade de futuros incêndios. Interacções biológicas ‐ Alterações meteorológicas afectam as interacções biológicas alterando por isso a disponibilidade de recursos de espécies em patamares superiores da cadeia trófica. Isto pode acontecer quando a produtividade primária diminui ou se extingue uma espécie de planta como resultado da seca, acabando com essa fonte de comida de outras espécies. Alterações na disponibilidade de recursos também pode ocorrer quando, devido às alterações meteorológicas, os ciclos de vida animal ficam dessincronizados. Em resumo, a biodiversidade depende directamente do clima (Pereira, 2002). Em Sintra, a interacção entre o seu microclima, topografia, habitats e o historial da ocupação dos solos, determinam a sua biodiversidade. 1.4 – Aprendendo com o passado Apesar de não podermos prever o futuro da biodiversidade unicamente baseado no que aconteceu no passado, pois as forças indutoras da alteração do clima eram outras, bem como os ecossistemas e as espécies, podemos, no mínimo, aprender com ele: 1‐ As alterações biológicas significativas, incluindo extinção de espécies, foram acompanhadas de grandes perturbações climáticas no passado. Isto mostra que a 12 biodiversidade, e os ecossistemas que integram, têm uma resiliência (a perturbação que um ecossistema pode suportar antes de se alterar para estádio diferente) que os permite adaptarem‐se naturalmente a alteração moderadas, mas em relação aos eventos extremos, estes podem causar transformações significativas. 2‐ A Biodiversidade endémica está concentrada em regiões, e em zonas como Sintra, que presenciaram uma menor variabilidade climática durante o Pleistocénico (Jansson, 2003) e os últimos 1,8 milhões de anos aproximadamente, durante o qual, condições glaciares e inter‐glaciares se fizeram alternar. Estes endemismos, são portanto, espécies mais vulneráveis a perturbações climáticas e os ecossistemas têm uma menor resiliência às mesmas. A biodiversidade de Sintra, merece portanto uma atenção especial, dada a sua vulnerabilidade acrescida devido ao que foi referido. Examinando as últimas décadas do município, os seus ecossistemas têm vindo a ser submetidos a outras pressões induzidas por influência humana, devido à necessidade de crescimento económico, tal como o turismo e o urbanismo, dada a sua localização geográfica privilegiada. É de se esperar que a médio termo (décadas), esta pressão induzida pelo Homem venha a ser exacerbada pelas alterações climáticas, causando progressivamente o declínio da biodiversidade (Lovejoy e Hannah, 2005). Um dos principais factores perturbadores da biodiversidade na região de Sintra, são os incêndios. Estes causam não só perturbações nos ecossistemas promovendo a propagação de espécies invasoras (Lake e Leishman, 2004), como podem também ter impactos Figura 1.4‐1 – Imagens de um Incêndio na serra de Sintra no verão de 2007. Fonte: www.meteoiberia.com
económicos. Um bom exemplo foi a onda de calor de 2003, caracterizada por temperaturas mínimas e máximas muito altas, níveis de humidade extremamente baixos e velocidade do vento relativamente intenso, que provocou uma sequencia de grandes incêndios, consumindo 5% do território português (450.000 ha) que corresponde aproximadamente a 4 vezes mais do que a média observada entre 1980 e 2004 (Pereira et al, 2005) e que se calcula que teve um impacto económico de 1 bilião de euros (De Bono et al., 2004). 13 Em Sintra, devido aos efeitos dos maiores incêndios ocorridos em 1966 (262ha), 1979 (230ha), 1981 (137ha), 1989 (373ha), 2000 (385ha) e 2007 (257ha) (DGF, ICNB, 2008) verifica‐se uma forte infestação por quase a maior parte da serra de três espécies distintas de acácias: acácia‐
austrália (Acacia melanoxylon), acácia‐das‐espigas (Acacia longifolia) e mimosa (Acacia dealbata), com destaque para as duas primeiras, assim como de pitosporo (Pittosporum undulatum). Outras espécies igualmente exóticas e com carácter invasor têm vindo a tomar lugar cativo na serra, quase sempre numa primeira fase ao longo de caminhos ou linhas de água, como a cana (Arundo donax), a robínia (Robinia pseudoacacia) ou a erva‐das‐pampas (Cortaderia selloana) sendo que esta última tem sofrido uma expansão desde 2001, quer por todo o concelho, quer na serra (PPIFF_PNSC, 2008). 14 2 Metodologia A avaliação dos impactos potenciais das alterações climáticas na biodiversidade pode ter vários tipos de abordagens. Estas, tem por base o conhecimento das próprias alterações climáticas futuras do município (ver secção dos Cenários) bem como da sua biodiversidade. O caminho mais comum da monitorização da biodiversidade de ecossistemas terrestres pressupõe o levantamento da diversidade biológica da área em estudo através de índices de riqueza específica (numero de espécies) e diversidade específica (número de espécies e abundância) por exemplo. A diversidade de plantas num ecossistema tem sido comummente usada como uma medida substituta da diversidade do ecossistema total (Pereira, 2002). Existe uma correlação positiva entre a diversidade de plantas e a diversidade total bem como as suas interacções biológicas (ex: insectos e plantas), o que se assume estar correlacionado positivamente por sua vez, com a diversidade animal. Por outro lado, existe um vasto grupo de espécies animais que estão vinculadas a espécies de plantas. Assim sendo, é de esperar que as alterações que ocorram na vegetação, sejam um reflexo das alterações na diversidade total (assumindo a inexistência de outros factores limitativos). 2.1 – Opções para avaliar os Impactos na Biodiversidade Para projectar os impactos das alterações climáticas na biodiversidade, o IPCC define basicamente três tipos de abordagens: correlativas, mecanicistas e por analogia (Parry et al, 2007 – 4AR WGII Tecnical Report). Estas abordagens têm por base vários tipos de estudos. As experiências laboratoriais com controlo das variáveis ambientais são uma das formas de avaliar os impactos na Biodiversidade. Estas mostram‐se muito úteis para desvendar princípios básicos, mas têm as suas limitações em termos de perceber fenómenos entre grupos de organismos, além dos limites quer de escala quer temporais. Outra forma será o estudo de cronossequências ou seja, conjunto de áreas que se encontram em diferentes estágios sucessionais mas que podem ser comparadas visto que se considera terem condições bióticas e abióticas iniciais similares. Apesar de este tipo de estudo incorporar todas as variáveis, nem sempre cumpre os pressupostos iniciais e tem como limitação a incapacidade de discernir qual o peso de cada variável no processo em estudo. A aplicação de modelos tem sido cada vez mais utilizada e, por isso, tem tido avanços significativos. A modelação pode se dar ao nível global (e.g. Global Vegetation Models) ou ao nível regional (e.g. Species‐based Models). Este tipo de abordagem pode revelar os impactos gerais do clima na biodiversidade, mas geralmente não conseguem ter em conta todos os níveis de interacção biológica, uma vez que estes ainda não são bem conhecidos. Outra limitação deste tipo de abordagem, é a inaptidão da maioria dos modelos incorporarem os efeitos das medidas antropogénicas (Pereira, 2002). 2.2 – Descrição da abordagem seleccionada A abordagem seleccionada neste estudo foi revisão bibliográfica, análise comparativa, opinião de especialistas, análises de cronossequências e cálculo de dominância de espécies invasoras. 15 Um estudo de duração tão limitada como este, quando comparado com a escala temporal das alterações climáticas, fornece informações com algum grau de incerteza, mas foi o melhor compromisso encontrado no âmbito deste projecto. Efectuou‐se uma revisão bibliográfica exaustiva de todo o tipo de informação relativa às espécies existentes no Município de Sintra. A quase inexistência de cartografia exacta dessas mesmas espécies levantou alguns problemas na projecção da distribuição futura das mesmas, em cenários climáticos futuros. A análise comparativa com outros estudos efectuados em ecossistemas semelhantes (com clima mediterrânico) e a opinião de especialistas possibilitou chegar a algumas conclusões por analogia. As regiões mediterrânicas, por se prever que irão ser uma das mais fatigadas pelas alterações climáticas conforme foi explicado na parte introdutória, têm sido alvo de bastantes estudos. Assim, aproveitando as descobertas que têm vindo a ser encontradas nesta área e em ecossistemas semelhantes ao de Sintra, tentou‐se avaliar os impactos potenciais dadas as espécies existentes e as características morfológicas do município. A biodiversidade é sensível a outro tipo alterações antropogénicas para além das alterações climáticas que quando conjugadas têm efeitos ampliados que devem ser alvo de uma análise mais cuidada e atenta. Por isso, seleccionou‐se a propagação de espécies invasoras, pois pensa‐se que quando conjugado com as alterações climáticas pode intensificar de forma significativa a perda de biodiversidade. Também o distúrbio de regimes naturais, como os incêndios, é uma força de alteração da biodiversidade muito importante e sensível à mudança climática. Projectar o impacto do seu efeito sinergético é um grande desafio, devido à potencial resposta dos sistemas ecológicos que parece ser súbita, rápida e não linear. Este tema foi explorada na secção das Florestas. 2.2.1 Espécies Invasoras Efectuaram‐se estudos relativos às espécies invasoras, uma vez que estas são uma das principais ameaças à biodiversidade endémica e nativa em sistemas terrestres (Fischlin et al., 2007). O objecto de estudo que pareceu mais adequado ao âmbito deste projecto foi espécies de plantas invasoras, dada a maior facilidade de identificação e quantificação, em comparação com outros grupos de seres vivos. A análise de cronossequências foi a metodologia escolhida para se perceber qual a evolução destas espécies ao longo das várias fases das sucessões ecológicas do município, uma vez que os resultados obtidos ajudam a perceber qual a consequência do abandono de terrenos agrícolas ou as consequências da perturbação do regime de incêndios fortemente influenciado pelas alterações climáticas. Para isso, analisaram‐se áreas em diferentes fases de sucessão ecológica, tendo como início dessa sucessão o ano em que a área ardeu. Quantificou‐se a percentagem de espécies invasoras em relação à totalidade de espécies e compararam‐se os valores médios das várias fases de sucessão nas 16 áreas estudadas na serra de Sintra. 16 Figura 2.2‐1 – Ilustração de um exemplo de cronossequência com três fases da sucessão ecológica. Sabe‐se que as causas das invasões biológicas são várias, complexas e que existe uma interacção com outras forças de mudança. Assim, utilizaram‐se Modelos Lineares Generalizados para se perceber quais os parâmetros que melhor explicam a existência de uma maior percentagem de invasoras nas áreas estudadas. Utilizou‐se o índice de Akaike como critério de selecção para o melhor ajuste. A alterações no regime de incêndio pode promover a propagação de espécies invasoras de plantas, uma vez que estas espécies são tolerantes ou podem mesmo beneficiar com este distúrbio. Deste modo, também se tentou perceber qual a relação da frequência de incêndios na ultima serie de 30 anos, com a propagação de espécies de plantas invasoras no município. 17 3 Impactos As alterações climáticas irão ter impactos em todos os organismos vivos, no seu meio ambiente e nas interacções entre ambos. Para analisar os seus impactos é importante considerar que: ‐ É de esperar que os ecossistemas tolerem um certo nível de alterações climáticas devido à sua resiliência. Essas alterações climáticas irão persistir como já tem vindo a acontecer no passado. ‐ A compreensão do desfasamento entre as alterações climáticas e a resposta da biodiversidade ainda está a ser desenvolvida, pelo que existe alguma incerteza associada ao tempo de resposta. ‐ É de esperar que passando os níveis críticos de alterações e o desencadeamento de respostas não lineares, pode desenvolver respostas positivas do próprio ecossistema levando este a novos estados de desenvolvimento ainda pouco conhecidos. ‐ A Biodiversidade de Sintra está continuadamente a ser sujeita a outro tipo de pressões humanas que ampliam sinergicamente as pressões das Alterações climáticas. ‐ Os impactos podem ocorrer e serem analisados nos diferentes níveis de biodiversidade: ecossistema, comunidade, espécie e genética. 3.1 – Lista de Impactos ‐ Alteração da vegetação ‐ Vários são os estudos que indicam que as alterações climáticas estão a afectar a fisiologia, fenologia e distribuição das plantas e animais na Europa. O quarto relatório de avaliação do IPCC baseou‐se em estudos feitos com 1350 espécies de plantas sobe vários cenários sócio‐económicos (SRES) indicando que “mais de metade das espécies modeladas podem tornar‐se vulneráveis, em perigo, perigo crítico ou em risco de extinção se impedidas de dispersar”. Este poderá ser o caso de Sintra, uma vez que existe uma forte fragmentação de habitat o que poderá impedir que as comunidades ecológicas se desloquem quer para norte (em latitude) quer para a serra (em altitude). No entanto, as comunidades mais sensíveis estão dentro do Parque Natural Sintra‐Cascais (nomeadamente na serra de Sintra) o que é uma vantagem dado que ai as barreiras geográficas (e.g. estradas, zonas urbanas) não são tão comuns, apesar da urbanização massiva que se faz sentir nas zonas tampão e de transição do PNSC (UNESCO, 2006). ‐ Aumento de áreas inóspitas ‐ Como se pode constatar da análise dos cenários SRES (ver secção dos Cenários), é de se esperar que a temperatura máxima de verão e as ondas de calor sejam mais frequentemente e a precipitação no verão decresça bastante o que poderá aumentar as áreas inóspita. Assim, as comunidades que habitam estas áreas podem desaparecer caso não consigam migrar. Espera‐se que a zona mais afectada seja a zona interior, nomeadamente a serra da Carregueira, uma vez que não beneficia do efeito atenuador climático do oceano. 18 ‐ Ecossistemas sobe stress ‐ Ecossistemas que já se encontram sob algum grau de stress, são os que serão mais afectados pelas alterações climáticas. Em Sintra algumas linhas de água e zonas húmidas (ver figura 3.1‐1) tendem a secar durante um curto período de tempo no verão, as galerias ripícolas que aí se alojam são formações de vegetação muito importantes, pois funcionam não só como um sistema depurador das águas pluviais dado a sua elevada riqueza específica e alta produtividade primária, como também são importantes corredores biológicos, tanto a nível transversal (entre o ambiente aquático e terrestre) como longitudinal (entre Figura 3.1‐1 – Cartografia das linhas de água e das zonas húmidas de Sintra. Fonte: Plano Verde de Sintra
diferentes habitats), ajudando o estabelecimento de novas comunidades e aumentando o sucesso migratório das espécies (Pereira et al., 2002). O efeito das intervenções humanas (e.g. construção de estradas, drenagem, poluição acumulada) somado à diminuição da precipitação no verão, pode afectar este tipo de ecossistemas bem como a sua riqueza específica. ‐ Espécies endémicas ‐ Estudos de modelação bioclimática baseada em nichos ecológicos projectam uma redução da extensão geográfica das espécies endémicas. Essa redução geográfica pode levar ao aumento do risco de extinção em mais de 30‐50% até 2050 e, por isso, 15‐37% das espécies do sul da europa estarão em “risco de extinção” (Thomas et al., 2004). Os endemismos vegetais de Sintra como o Miosótis‐das‐praias (Omphalodes kuzinskyanae) o Cravo‐de‐Sintra (Diathus cintranus subsp. Cintranus), o Cravo‐romano (Armeria pseudarmeria) e o Feto‐de‐folha‐de‐hera (Asplenium hemionitis ) são raros e estão representadas por populações isoladas em habitats fragmentados sendo por isso um exemplo de grande vulnerabilidade às alterações climáticas. O facto de estarem pouco representados, faz com que estas espécies corram um maior risco probabilístico de não suportar fenómenos extremos futuros não conseguindo dispersar dado o seu isolamento correndo o risco de extinção. Caso ocorra, haverão consequências negativas nos serviços prestados pelo ecossistema (ver introdução), nomeadamente com prejuízos económicos para o turismo de Sintra (ver secção do turismo). Outro endemismo que está criticamente em perigo e que pode vir a sofrer consequências com as alterações climáticas é a Boga‐portuguesa (C. lusitanicum)(ver caso de estudo nº2). ‐ Espécies invasoras ‐ Conforme já foi referido, as espécies invasoras são uma das mais preocupantes ameaças à biodiversidade. A sua disseminação é influenciada por diversos factores, um dos principais é humano, pois estes servem como veículo inicial de “contaminação” ao trazer essas espécies de outros pontos do planeta (onde estão em equilíbrio com o ecossistema) até locais como Sintra. Uma vez instaladas, estão desconectadas da teia trófica local não tendo predadores, ocupando nichos ecológicos livres e tendo estratégias evolutivamente mais competitivas do que as espécies nativas. Estas espécies beneficiam de outros impactos provocados pelas alterações climáticas (Dukes e Mooney, 1999), tais como o aumento das deposições de azoto, alteração dos regimes perturbadores como é o caso do regime de incêndios apresentado anteriormente, aumento da fragmentação de habitat (espécies que se adaptam bem aos distúrbios causados pela presença de estradas) e a própria alteração das variáveis meteorológicas (como o aumento do número de ondas de calor e diminuição acentuada da precipitação de verão). 19 ‐ População animal ‐ As alterações climáticas podem afectar directamente induzindo stress ambiental, ou indirectamente através das alterações na vegetação. Espécies animais como o ouriço‐cacheiro (Erinaceus europaeus), a população isolada de musaranho‐de‐dentes‐vermelhos (Sorex granarius) e os carnívoros doninha (Mustela nivalis) e o toirão (Putorius putorius) são bastante sensíveis dados os seus requisitos específicos alimentares e de habitat que irão sofrer alterações. Da comunidade de mamíferos mais ameaçadas no PNSC sete espécies são morcegos. Tem havido pouca investigação dos efeitos das alterações climáticas em morcegos, nenhum deles directamente na Europa (EUROBATS, s.d.). No entanto alguns estudos indicam que os morcegos podem sofrer consequências directas como é o caso das ondas de calor que impedem os mesmos de baixar a temperatura, provocando a sua morte, como foi observado em 2002 na Austrália, quando a temperatura atingiu os 42ºC provocando a morte de 6% da população num só dia (Bat Conservation times, 2007). Uma vez que no caso de Sintra as espécies são maioritariamente caverniculas, poderão não estar tão vulneráveis às ondas de calor. Assim, os efeitos indirectos poderão ser os mais preocupantes, nomeadamente com as alterações na comunidade de insectos (base de alimentação dos morcegos). ‐ Insectos, como o coleóptero cabra‐loura (Lucanus cervus), cuja ocorrência poderá corresponder à situação mais meridional de Portugal (Plano Sectorial da Rede Natura 2000, Sitio Sintra‐Cascais), têm forte relação com o clima, mas é difícil prever os impactos devido à complexidade de interacções com o ambiente envolvente. Sabe‐se que em termos gerais, as espécies de insectos vivem no limiar de temperatura que suportam (Parry et al, 2007 – 4AR WGII Tecnical Report) e como tal, é de esperar que ocorram impactos negativos sobre os mesmos. 3.2 – Zonas Costeiras ‐ Linha de maré ‐ Os impactos das alterações climáticas nos ecossistemas marinhos podem provir do aquecimento do oceano, aumento do nível médio do mar, aumento no tamanho e frequência das ondas, aumento do risco de doença da vida marinha, decréscimos do pH e concentração do ião carbonato da superfície oceânica (Parry et al, 2007 – 4AR WGII Tecnical Report). A zona intertidal (entre marés) que se situa entre as linhas de maré poderá sofrer consequências, sobretudo quando somado com a forte pressão antropogénica. A existência de grutas não exploradas pelo turismo permite a presença do Crustáceo endémico Prosaellus assaforensis. Essas grutas estão ameaçadas devido aos efeitos indirectos das alterações climáticas, como é o caso da diminuição do pH da água do mar, e como consequência, toda a fauna ai existente poderá vir a estar em perigo. ‐ Cordões dunares ‐ Segundo o Plano de Ordenamento do PNSC, o endemismo litoral Misótis‐
das‐praias, apenas contava em 2005 com 9 núcleos populacionais, restritos a uma área de 5,2 hectares com tendências de regressão muito acentuada. As acções de monitorização do ICNB durante cinco anos de cinco núcleos populacionais indicavam que um tinha extinguido e três apresentavam taxas de regressão superior a 90%, entre 1998 e 2003. Com as alterações 20 climáticas prevê‐se que, a menos que se tomem medidas de adaptação e que os outros factores de pressão sobre estas espécies (e.g. pisoteio) sejam neutralizados, o declínio do efectivo populacional continuará. Os estudos indicam que também a zona costeira de Sintra tem sido alvo de propagação de espécies invasoras e por isso foi alvo deste estudo. Nas zonas fortemente humanizadas (junto às praias) a percentagem de coberto média de invasoras, maioritariamente o chorã), é de 35% relativamente à totalidade de plantas. Estes valores seriam mais preocupantes caso a sua predominância fosse de acácias pois o chorão parece ter uma coexistência pacífica com as espécies autóctones além de que nas zonas de menor acessibilidade a percentagem de ocupação de invasoras é bastante menor variando com o local. 3.3 – A Serra Na serra ocorre grande riqueza de anfíbios e répteis prioritários para a conservação (e.g. Víbora‐cornuda (Vipera latastei) e Lagarto‐de‐água (Lacerta schreiberi)), uma vez que é uma área mais húmida, onde a poluição dos cursos de água é menor e existe menos pressão antropogénica. Com a previsão da diminuição da precipitação e aumento de temperatura é de esperar alterações na distribuição destas espécies. Os estudos indicam que a maioria das espécies de anfíbios (45‐69%) e répteis (61‐89%) poderiam expandir a sua distribuição na Europa caso a dispersão fosse ilimitada (sem barreiras). No entanto, se impedidas de dispersar, a distribuição da maioria das espécies (> 97%) ficariam menores, especialmente no caso da Península Ibérica (Araujo et al, 2006). No que respeita ao Concelho de Sintra, representando actualmente o limite sul de distribuição de algumas espécies como o lagarto‐de‐água, Lacerta schreiberi, ou o sapo‐parteiro, Alytes obstreticans e populações isoladas de outras espécies como a lagartixa Podarcis carbonelli, ou o licranço, Anguis fragilis, a probabilidade de haver extinções locais é naturalmente bastante elevada. Também a vegetação da serra de Sintra está sobe ameaça. Da análise das cronossequências efectuadas na Serra de Sintra, encontrou‐se uma correlação estatisticamente significativa entre os estádios iniciais e a abundância das espécies invasoras (índice de pearson = (‐)0,77). Isto indica que quanto mais jovem é um estádio da sucessão ecológica, maior é a abundância de espécies invasoras (abundância de invasoras de 56% em estádios até 10 anos). Há medida que a sucessão ecológica vai avançando, as espécies autóctones parecem tender a dominar as invasoras, possivelmente pelo efeito de sombra (abundância de invasoras de 3% em estádios com mais de 30 anos). No entanto, estas determinações têm de ser analisadas com precaução pois não foi possível distinguir se a correlação é causada pelo avançar da sucessão ecológica se pelo facto destes estádios iniciais terem uma maior banco de sementes de espécies invasoras uma vez que o seu início de sucessão é mais recente. Utilizaram‐se Modelos Lineares Generalizados (Generalized linear models, SPSS versão 16.0) com as variáveis em estudo e da análise multivariada verifica‐se que os parâmetros explicativos da dominância de espécies invasoras que melhor se ajustam aos dados, são a “Idade” da sucessão (ou seja, número de anos desde o último incêndio) e a “Distância” ao foco de propagação (distância mínima a um possível foco de propagação de espécies invasoras, como estradas ou casas) uma vez que o modelo com estas duas variáveis obteve o melhor 21 ajuste (índice Akaike = 188,6, Sakamoto and Akaike, 1978). Isto indica que em Sintra, os incêndios mais recentes e que ocorreram em locais perto de possíveis focos de disseminação de sementes de plantas invasoras, são os locais com maior percentagem de espécies de plantas invasoras, na sua maioria Acacia spp. Por último, da análise efectuada, observou‐se uma correlação entre a frequência de incêndios e a dominância de espécies de plantas invasoras (índice de pearson = 0,75). Isto vem corroborar um dos impactos previstos pelo último relatório do IPCC mostrando que o município de Sintra não é excepção, ou seja, a recorrência de incêndios aumenta a propagação de espécies invasoras. Nos locais onde ocorreram dois incêndios nos últimos 30 anos existe maior dominância (56%) de espécies invasoras, do que em locais onde não ocorreu (3%), ou apenas ocorreu um incêndio (8%). 22 3.4
Casos de Estudo 3.4.1
Caso de estudo 1 – Incêndios sucessivos e propagação de invasoras na encosta sul da serra de Sintra. As espécies invasoras, são uma das principais ameaças à biodiversidade e a sua propagação parece estar bastante relacionada com a ocorrência de incêndios (ver secção 3.1). De todos os incêndios ocorridos na serra de Sintra no período de 1975 a 2005, 71% dos incêndios ocorreram na encosta sul, consumindo 85% da área total ardida. Assim, para se perceber melhor este fenómeno, seleccionou‐se uma zona específica na encosta sul da Serra de Sintra (38°45'30.55"N; 9°26'22.80"W), onde ocorrera dois incêndios faseados por mais de 15 anos (ver figura 3.4.1‐1). Incêndio
ocorrido em 1989
Incêndio ocorrido em 2005
Incêndio ocorrido em 1989
Figura 3.4‐1 ‐ – Fotografias aéreas da área de estudo. A primeira datada de 1998 e a segunda datada de 2005.
Estes dois incêndios têm a particularidade de estarem contíguos permitindo haver um gradiente de estádios de sucessão ecológica conforme se pode ver na figura. Com o propósito de se analisar o efeito da recorrência de incêndios e/ou de diferentes estádios de sucessão ecológica na propagação de espécies invasoras, fizeram‐se 3 transeptos de 150 metros cada, que cruzaram as 3 zonas e registaram‐se todas as espécies vegetais superiores a 1 metro, medindo‐
se a sua altura e diâmetro. Calculou‐se o Índice de Valor de Importância (IVI) das Figura 3.4‐2 – Perfil vertical das áreas abrangidas pelos transeptos.
espécies invasoras que corresponde ao somatório de Na Zona 0 não ocorreu nenhum incêndio desde 1975, na Zona 1
valores relativos (Densidade Relativa (DR), acorreu um em 1989 e na Zona 2 ocorreram dois incêndios em 1989 e
em 2005.
23 Dominância Relativa (DoR) e Frequência Relativa (FR)), com a finalidade de se perceber a importancia das mesmas dentro da comunidade vegetal estudada e se existe diferença entre zonas com diferentes características (recorrencia de incêndios e estádios de sucessão ecológica). Assim, calculou‐se a DR das espécies invasoras através da contagem do número de indivíduos de espécies invasoras, em relação ao total de indivíduos de todas as espécies identificadas nos transeptos. A DoR foi calculada apartir da razão do volume do tronco total de cada espécie (área basal * altura), pelo volume do tronco total das árvores de todas as espécies, por unidade de área. A FR é o percentual de ocorrência das espécies invasoras nos vários transeptos, em relação à soma das frequências absolutas de todas as espécies. Analisando o gráfico da figura 3.4.1‐2, é fácil perceber que a zona 2, onde ocorrera 2 incêndios, tem um IVI de espécies invasoras (IVI = 185) superior ao da zona 1 (IVI = 146) onde só ocorrera um incêndio, e bastante superior ao da Figura 3.4‐3 – Gráfico referente ao Índice de Valor de Importância (IVI) das Zona 0 (IVI = 101) onde espécies invasoras para cada zona estudada.
nunca ocorrera incêndios desde 1975. Uma vez que os dados correspondem ao padrão esperado caso fossem retirados de população com distribuição normal (teste de normalidade Kolmogorov‐Smirnov = 0,293) utilizou‐se a correlação do Momento de Produto de Pearson para se perceber qual a correlação entre a recorrência de incêndios e o IVI de espécies invasoras. O resultado (índice de pearson = 0,99) sugere que existe uma forte correlação positiva entre a recorrência de incêndios e o IVI de espécies invasoras. Ou seja, quantos mais incêndios ocorridos num determinado lugar, maior o impacto de espécies invasoras na comunidade. Com este caso de estudo não se pretende dar uma visão catastrofista, mas sim alertar para o que pode estar a acontecer em certas zonas do município de Sintra. Estas espécies passam por várias fases de invasão (Brooks et al, 2004): 1ª quando ainda não foi introduzida; 2ª quando foi introduzida, porém ainda não causou impactos significativos; 3ª quando já causou impactos significativos, mas ainda não alterou certos regimes, como o dos incêndios; 4ª quando já está instalada e alterou regimes naturais locais. Em alguns locais da Serra de Sintra, as espécies invasoras, sobretudo Acacias spp parecem já estar em fases adiantadas de invasão e requerem por isso um tratamento especial. Uma vez que a sua propagação parece estar correlacionadas com a ocorrência de incêndios, medidas de adaptação como a requalificação vegetal após incêndios são de extrema importância. O futuro da propagação das espécies invasoras depende, em parte, dos factores socioeconómicos, das políticas e das medidas que irão ser tomadas pelos decisores, que neste estudo estão representadas pelos cenários SRES. Prevê‐se um aumento da probabilidade de 24 ocorrência de incêndios, o que se pode traduzir no aumento da propagação das espécies invasoras em todos os cenários SRES sendo o mais grave o cenário A1, e o menos grave o cenário B2 (ver figura 3.4.‐4). É de salientar que a região da serra e as zonas costeiras, apresentam um risco de incêndio meteorológico inferior ao das zonas urbanizadas na zona Este da região, no entanto é evidente que a perigosidade é superior nas zonas florestadas 0 dias FWI ≥ moderado 25 dias FWI ≥ moderado 50 dias FWI ≥ moderado 75 dias FWI ≥ moderado Figura 3.4‐4 – Ilustrações referentes aos dados observados da série 1961 – 1990 e aos cenários SRES A1 e B2 (2070 – 2099) com resolução 1 km, para o número médio anual de dias com índice de risco meteorológico de incêndio moderado ou superior, no município de Sintra. 25 3.4.2
Caso de estudo 2 – A Boga‐portuguesa, um endemismo em perigo. A Boga‐portuguesa (C. lusitanicum) é um endemismo que está criticamente em perigo já com uma forte redução das suas populações que pode ter atingido 80% (Plano Sectorial Rede Natura 2000, 2006) devido a uma elevada fragmentação das suas populações e que pode vir a sofrer sérias consequências com as alterações climáticas. A diminuição da precipitação de verão prevista nos cenários SRES aponta para um decréscimo de 32‐51% para final do século e de 16‐25% para meados do século (ver secção do Clima) sendo o cenário A1 o pior dos casos e o Figura 3.4‐5 – Boga‐portuguesa (Chondrostoma B1 o menos pessimista. Esta diminuição de lusitanicum). Fonte: ICNB, Daniel
precipitação vai provocar a diminuição dos caudais das ribeiras devido à diminuição da escorrência superficial (ver secção dos Recursos hídricos), reduzindo drasticamente o habitat disponível, nomeadamente para a realização de posturas. Veja‐se que com a diminuição dos caudais de montante, irá aumenta a concentração das substâncias poluentes e alterar profundamente as características do habitat (velocidade da corrente, aumento da temperatura, oxigenação, concentração de diversas substâncias e nutrientes, etc.) adequadas à espécie. O destino desta espécie passará pelas decisões tomadas pelo município. Se as políticas e comportamentos forem no sentido dos cenários socioeconómicos A1 e A2 (ver secção cenários) onde haverá maior prevalência de valores económicos, resultando uma série de externalidade negativas para o meio ambiente como: ‐ poluição resultante de descargas de efluentes não tratados de origem industrial ou urbana, a par com fontes de poluição difusa devidas à intensificação da utilização de pesticidas e fertilizantes na agricultura que cria situações de elevada eutrofização do meio, com a consequente perda da qualidade da água, podendo levar a situações de elevada toxicidade, com maior repercussão nos períodos de verão. ‐ destruição da vegetação ribeirinha ‐ nomeadamente associada a acções de limpeza das margens e leito dos cursos de água, extracção de inertes e aumento das áreas agricultadas ‐ diminui o grau de ensombramento dos cursos de água, com consequências ao nível da temperatura e oxigenação da água. Provoca ainda a redução dos locais de abrigo e alimentação dos peixes. ‐ sobre‐exploração dos recursos hídricos, nomeadamente através de captações de água para rega ou da implementação de transvases, provoca a diminuição dos caudais, reduzindo drasticamente o habitat disponível, nomeadamente para a realização de posturas. ‐ introdução ou expansão de espécies animais não autóctones de valor comercial ou desportivo (lúcio, achigã e perca‐sol) origina situações de competição (alimentar ou espacial) ou mesmo predação sobre as posturas, juvenis ou adultos de C. lusitanicum. As espécies 26 introduzidas poderão ainda ser vectores de doenças, podendo vir a tornar‐se numa praga como é, por exemplo, o caso do lagostim‐vermelho (Collares‐Pereira et al., 2000). Figura 3.4‐6 ‐ – Fotografia da Ribeira da Samarra. Fonte: Google Earth Figura 3.4‐7 – Fotografia da Ribeira de Colares. Fonte: Google Earth Por outro lado, se as politicas do município de Sintra forem no sentido dos cenários socioeconómicos B1 e B2 (ver secção dos Cenários) haverá uma maior prevalência dos valores ambientais, logo maior dedicação à preservação das zonas mais sensíveis para a conservação da Boga‐portuguesa, principalmente a Ribeira da Samarra e de Colares. Os decisores, para aumentar os efectivos populacionais da Boga‐portuguesa, irão tomar medidas de gestão no sentido de: 27 ‐ manter ou melhorar a qualidade da água a um nível favorável à conservação da espécie, restringir para isso o uso de agro‐químicos, promovendo técnicas alternativas, como a protecção integrada e outros métodos biológicos, em áreas contíguas ao habitat da espécie, fiscalizando as emissões de efluentes e monitorizando a mesmas. ‐ condicionar a extracção de inertes em qualquer época do ano nos locais conhecidos e/ou com grande probabilidade de coincidirem com áreas de reprodução da espécie. Nos locais em que se venha a efectuar a extracção, esta deverá ser efectuada fora das épocas de desova (normalmente coincidente com a Primavera, dependendo das condições hidrológicas de ano para ano), na medida em que esta alterará as condições a jusante. Prever a recuperação das áreas intervencionadas logo após desactivação da exploração e/ou paralelamente à evolução espacial da exploração. ‐ proteger as margens das linhas de água, promovendo a conservação e/ou recuperação da vegetação ribeirinha autóctone, sem prejuízo das limpezas necessárias ao adequado escoamento. ‐ condicionar a captação de água nas zonas de reprodução, alimentação e abrigo de juvenis da espécie e durante os meses de menor escoamento e a construção de novos açudes. ‐ realização de acções de repovoamento, desde que se assegure a integridade genética das populações (e.g. como é o caso do “Projecto de Conservação Ex Situ de Organismos Fluviais”). ‐ informar e sensibilizar o público para a importância da espécie bem como da conservação do seu habitat, promover estudos e elaborar e implementar um Plano de Acção para a conservação da espécie, de forma a concertar a actuação dos diversos intervenientes nesta problemática. 28 3.4.3 Caso de estudo 3 – Os endemismos florísticos. Em termos gerais, as espécies endémicas de Sintra são raras, têm uma baixa variabilidade genética intra‐específica, são alvo de grande pressão humana dado o seu carácter único e estão representadas por populações pequenas e isoladas em habitats fragmentados sendo por isso um exemplo de grande vulnerabilidade às alterações climáticas. Neste caso de estudo escolheram‐se três das espécies mais emblemáticas e em perigo de se extinguirem, como representantes da situação geral dos endemismos florísticos. O caso do feto‐de‐folha‐de‐hera (Asplenium hemionitis), cuja totalidade da sua população continental se encontra no PNSC, tem sido objecto de estudo do projecto LIFE – “Conservação de Espécies e Habitats na Costa Oeste Portuguesa” (LIFE04NAT/PT/000212). Segundo este projecto, o efectivo populacional desta espécie teve um crescimento acentuado entre 2004 a 2006 (aumento de 9 núcleos com cerca de 6300 indivíduos em 2004, para 20 Figura 3.4‐8 ‐ feto‐de‐folha‐de‐hera (Asplenium núcleos com cerca de 10700 indivíduos em hemionitis). Fonte: PNSC, 2008. 2006). Analisou‐se algumas das necessidades abióticas da espécie e as variáveis abióticas ocorridas nesse período para se tentar perceber qual a causa do aumento populacional. Da análise efectuada conclui‐se que a razão para o aumento do efectivo populacional parece estar relacionado, não só pela maior consciencialização por parte das entidades gestoras dos espaços onde a espécie ocorre, mas também devido às condições meteorológicas muito favoráveis, nomeadamente devido à elevada precipitação verificadas em 2006 (952 mm de precipitação acumulada). Analisando os cenários referentes a esta variável meteorológica, é de prever que haja um decréscimo da precipitação acumulada anual para meio do século (663‐752mm para cenários A2‐B2 respectivamente) e mais acentuado para o final de século (534‐711mm para cenários A2‐B2) segundo os cenários SRES (ver secção do Clima). Espera‐se portanto que a população do feto‐de‐
folha‐de‐hera possa sofrer uma redução de população, caso não sejam adoptadas medidas de adaptação. Sobretudo se as outras forças de pressão continuarem a persistir, como sejam o desconhecimento da importância ecológica da espécie, que Figura 3.4‐9‐ Distribuição feto‐de‐folha‐de‐hera (Asplenium hemionitis) no PNSC. Fonte: POPNSC, 2003.
29 leva à alteração dos métodos de construção e à limpeza de muros de sustentação e taludes sem especiais cuidados.  Miosótis‐das‐Praias (Omphalodes kuzinskyanae) é considerada uma espécie em Perigo de Extinção (Lista de Espécies Botânicas a Proteger em Portugal Continental ‐ SNPRCN, 1990). Segundo o Plano de Ordenamento do PNSC (POPNSC) subsistiam 9 núcleos populacionais restritos a uma área de cerca de 5,2 hectares. O Figura 3.4‐10 ‐ Miosótis‐das‐Praias (Omphalodes kuzinskyanae). Fonte: PNSC, efectivo populacional calculado para 2003 foi de 2008
36.830 plantas, das quais cerca de 94 % se encontram localizadas no Abano. As acções de monitorização efectuadas pelo ICN ao longo de cinco anos mostravam uma regressão rápida e acentuada. Dos cinco núcleos monitorizados um extinguiu‐se e três apresentaram uma taxa de regressão superior a 90 %, entre 1998 e 2003. De facto, o único núcleo relativamente estável parece ser o do Abano. Neste caso, a taxa de regressão não parece ter sido muito influenciada por variáveis climáticas mas sim pela intensa construção no litoral o excessivo pisoteio devido ao aumento da frequência de turistas em alguns locais, e a erosão dos solos de areia. Neste caso, segundo os cenários climáticos SRES não é de esperar repercussões directas significativas Figura 3.4‐11‐ Distribuição de Miosótis‐das‐praias
sobre esta espécie. Espera‐se no (Omphalodes kuzinskyanae) no PNSC. Fonte: POPNSC, 2003.
entanto que hajam impactos negativos indirectos, não só pelo efeito sinergético que as alterações climáticas venham a ter com outras forças impactantes (ex.: aumento da pressão turística), mas também pelo possível aumento da erosão (ver secção das zonas costeiras). Mais uma vez prevê‐se que os piores cenários para esta espécie sejam o A1 e o A2 e, por oposição, os cenários B1 e B2 sejam os mais favoráveis. 30  O Cravo‐Romano (Armeria pseudarmeria) é um endemismo da Península de Lisboa e está referido no anexo I da Convenção de Berna e anexo II da Directiva Habitats. Em 2003 contava com um efectivo populacional elevado, com um núcleo importante avaliado em mais de 80.000 plantas (POPNSC). Esta espécie ocupa fundamentalmente dois tipos de habitat distintos: um habitat semi‐halófito em arribas marítimas e outro em terrenos agrícolas (com densidades populacionais mais elevadas). Figura 3.4‐12 ‐ Cravo‐Romano (Armeria pseudarmeria). Fonte: PNSC, 2008. Pensa‐se que não tem ocorrido decréscimos populacionais alarmantes, no entanto, pode ter ocorrido pontualmente, alguma diminuição de densidades nas zonas afectadas pela expansão do Chorão (Carpobrotus edulis), particularmente em torno do Cabo da Roca. As principais ameaças são a existência de condições de elevado ensombramento provocado pelo desenvolvimento do coberto vegetal arbóreo e arbustivo correspondente ao normal desenvolvimento das sucessões ecológicas bem como a propagação de espécies de acácias e chorão que conduzem à perda de habitat disponível para o cravo romano. Os cenários climáticos SRES de uma forma geral mostram que é de prever que haja um aumento das temperaturas, sobretudo no verão, e diminuição da precipitação. Com esta alteração meteorológica é de prever que haja um aumento na taxa de propagação de espécies invasoras no geral e do chorão nos sistemas dunares em particular. Figura 3.4‐13 ‐ Distribuição do Cravo‐Romano (Armeria pseudarmeria) no PNSC. Fonte: POPNSC, 2003. Em geral, é de esperar que haja impactos negativos nas espécies endémicas florísticas, ampliados nos cenários A1 e A2, onde não se espera investimento em medidas quer de mitigação, quer de adaptação. 31 4 Medidas de Adaptação O Millennium Ecosystem Assessment (2005) prevê que a degradação dos ecossistemas e dos seus sistemas, irão não só ter os impactos já referidos (ver Impactos), mas também irão exacerbar a pobreza, fome e doenças, e impedir o desenvolvimento sustentável. Por outro lado, tem havido um crescente interesse em desenvolver técnicas de contabilidade ambiental. Há inclusive quem defenda que, a não ser que os valores dos ecossistemas sejam reconhecidos em termos económicos, o seu declínio irá continuar, colocando a ecologia do planeta em jogo. Há estudos que têm ido neste sentido, com resultados bastante interessantes. Veja‐se o estudo de Balmford et al (2002) onde estimou que o ratio do custo‐
benefício para programas de conservação globais efectivos seria de 1:100. Já o famoso relatório Stern (2007) indica que os impactos das alterações climáticas terão consequências negativas com custos financeiros elevados nas florestas, sistemas costeiros marinhos, bem como nos sistemas de gestão agrícola. Assim, parece sensato reconhecer que o investimento em medidas de adaptação é justificável e que, apesar das alterações climáticas serem um assunto global, o esforço local pode ajudar a manter e aumentar a resiliência e limitar de certa forma os impactos de longo termo. 4.1 Opções de adaptação Várias são as técnicas de gestão dos recursos naturais que podem ser aplicadas no sentido de aumentar a resiliência dos ecossistemas e sua biodiversidade. Isto consiste na aplicação de uma estratégia de gestão do solo, água e recursos vivos que promove a conservação e o uso sustentável de uma forma equitativa. Segundo o último relatório do IPCC (2007), existem várias oportunidades para aumentar esta resiliência. No entanto, só serão eficazes para baixos níveis de alterações climáticas (até 3ºC). Reduzir outras ameaças ‐ A primeira estratégia de adaptação às alterações climáticas é reduzir e gerir outras pressões nas espécies e ecossistemas, tais como a destruição e fragmentação de habitat, sobre‐exploração de recursos, eutroficação das ribeiras, desertificação das zonas agrícolas. Neste sentido, a via mais sensata será por em práticas várias das ferramentas que o Município de Sintra já possui, como sejam o Plano Verde de Sintra e o Plano Municipal do Ambiente. Corredores Verdes ‐ A existência destes corredores é fundamental para a adaptação às alterações climáticas. Assim, uma das medidas mais relevantes será manter e melhorar a Estrutura Ecológica Fundamental constituído pela Rede Agrícola Nacional (RAN) e pela Rede Ecológica Nacional (REN), como é proposto no Plano Verde de Sintra. Isto inclui, entre outros locais, preservar os importantes sistemas húmidos, secos e litorais: ‐ Sistemas húmidos incluem as linhas de água e uma faixa de protecção de 10 metros bem como a preservação dos sistemas húmidos. Estes locais, além de sensíveis às alterações climáticas como explicado anteriormente (ver “Ecossistemas sobe stress”) poderão funcionar como corredores verdes fundamentais para a dispersão animal e vegetal. ‐ Sistemas secos incluem os solos de muito elevado e elevado valor ecológico. Estas zonas poderão ter uma dupla função de produção agrícola e de corredores verdes. As condições que 32 estes solos apresentam para a produção de biomassa é praticamente impossível de substituir ou imitar sendo uma óptima oportunidade ‐ Sistema litoral inclui as praias, arribas e respectiva faixa de protecção de 200 metros e dunas. Toda esta zona costeira deve ser preservada não só pela sua fragilidade (ver secção Zonas costeiras) mas também porque são bons corredores verdes dada a sua baixa pressão urbanística e além de ligarem o concelho em toda a sua latitude. Incêndios ‐ Um dos pontos fulcrais para a preservação da biodiversidade será a prevenção dos incêndios. Isto terá de passar por campanhas de sensibilização e educação (reduzir ignições), fiscalização das zonas de maior risco de incêndio (ver Plano Prévio de Intervenção em Fogos Florestais no Parque Natural de Sintra‐Cascais), vigilância e eficaz intervenção no caso de incêndio, a transformação dos espaços florestais contíguos numa paisagem constituída por mosaicos com diferentes ocupações (promover prados e pastagens, misturando vegetação alta e rasteira, conforme proposto no Plano Sectorial da Rede Natura 2000 – PTCON0008), promovendo a descontinuidade das manchas, delimitadas por faixas (e.g. aceiros) em áreas estrategicamente definidas, maximizando‐se a eficácia e eficiência dos meios de combate ou das operações de contra‐fogo. A redução do combustível pode ser feita com recurso ao fogo controlado, ao corte mecânico ou através de pastoreio. O pastoreio é uma forma criativa de transformar o problema da remoção dos combustíveis numa oportunidade. Está prevista no 1º pilar da Política Agrícola Comum (PAC) e nas medidas agro‐ambientais e seria uma forma de revitalizar desenvolvimento rural, um suporte das fileiras da carne e leite e uma forma de conservação da natureza. A monitorização das variáveis meteorológicas, que estão claramente relacionadas com a extensão das áreas ardidas, também é uma medida importante a implementar. Por último, a melhoria continua das acções de combate aos incêndios terá de estar sempre presente. Invasoras ‐ A prevenção, remoção e controlo de espécies invasoras é uma matéria delicada sem solução definitiva. Sendo uma das principais ameaças à biodiversidade do município, não pode ser menosprezada. A solução existente passa por acções de: Prevenção – Através de projectos de educação e sensibilização ambiental que ensinem a identificação das espécies invasoras, que sensibilizem para a não libertação de animais exóticos e incentivem a criação jardins privados de espécies nativas. Existe legislação em Portugal que regula a introdução na natureza de espécies não indígenas (Decreto‐lei 565/99). Este decreto, lista as espécies exóticas já introduzidas e proíbe a introdução de outras, a detenção, a criação, o cultivo e a comercialização das espécies consideradas invasoras. Remoção ‐ as espécies com elevado potencial invasor que já foram introduzidas, a solução passa pela monitorização, especialmente nas áreas com elevado valor ecológico e em áreas que tenham sido percorridas por incêndios, de forma a detectar a sua presença precocemente. Espera‐se que assim se detectem possíveis invasoras com distribuições muito limitadas e quando ainda é possível, com custos relativamente baixos, erradicá‐las. Controlo – nas áreas em que as espécies já se encontram muito disseminadas (como na serra de Sintra e zonas litorais) a resolução do problema passa pelo estabelecimento de prioridades (quais as espécies e áreas prioritárias) para posterior aplicação de metodologias de controlo. 33 Essas metodologias podem passar por controlo físico (incentivando acções de controlo destas espécies), químico, biológico, fogo controlado ou, normalmente mais eficaz, uma combinação de várias metodologias. Espécies endémicas ‐ Estas espécies, por terem um cariz especial e por serem mais vulneráveis às alterações climáticas, merecem uma atenção e esforço de adaptação especial. O estudo continuado da distribuição destas espécies é essencial para se perceber qual a evolução populacional das mesmas e para prevenir a extinção das mesmas por antecipação. Mais uma vez, a educação e sensibilização ambiental é fundamental para reduzir algumas das ameaças como o pisoteio e remoção de exemplares. O investimento em medidas de conservação dos habitats onde estas estão presentes será vantajoso para estas espécies e toda a fauna e flora associada. Outra importante medida é o incentivo e cooperação em projectos de conservação de Espécies e Habitats como o LIFE04NAT/PT/000212 (Intervenção Asplenium hemionitis) e o projecto de Estações de Esforço Constante da Peninha e “Avaliação da situação de espécies ameaçadas do PNSC”. No caso da Boga‐portuguesa, além das medidas já propostas no caso de estudo 2 nos cenários B1 e B2, a promoção de projectos que visam a reprodução ex situ (como é o caso do “Projecto de Conservação Ex Situ de Organismos Fluviais”) parece ser fundamental, visto esta espécie ser única e estar em risco de extinção. 4.2 Zonas Costeiras Este ponto está bem desenvolvido na secção das Zonas Costeiras, no entanto, numa perspectiva da conservação da Biodiversidade, destaca‐se o Plano de Ordenamento da Orla Costeira Sintra‐Sado como a ferramenta por excelência de gestão territorial, que propõe algumas acções consideradas aqui como medidas de adaptação às alterações climáticas: ‐ Respeitar as Capacidades de Carga calculadas para as praias do concelho, com vista a limitar o número máximo de visitas/dia que as áreas naturais podem suportar. Sabendo que à partida a magnitude do impacto da pressão turística não é necessariamente condicionada pelo número de pessoas, esta pode ser uma ferramenta possível. ‐ Respeitar as Faixas de Risco e de Protecção definidas para o litoral com arribas, baixos arenosos e planos de praia. Sendo estes habitats bastante vulneráveis às alterações climáticas, é fundamental a sua protecção em prol da conservação das espécies ai existentes (e.g. armeria welwitschii) ‐ Executar as Unidade Operativas de Planeamento e Gestão (UOPG) com especial atenção às seguintes áreas problemáticas: Pedreira da Samarra e Norte do Magoito, e as suiniculturas e aviários de Casal dos Pianos/Lombo dos Pianos. Estas áreas têm consequências negativas para algumas espécies como por exemplo a Boga‐portuguesa. 34 4.3 A Serra Apesar de estática, a conservação da zona nuclear e da zona tampão e de transição é fundamental, conforme recomendado no ultimo relatório da Paisagem Cultural de Sintra (UNESCO, 2006). Para isso terá de existir um espaço livre de edificações ou em alternativa com o mínimo possível de área construída ‐ Zona Tampão. Esta Zona Tampão terá de se estender em todo o perímetro das principais manchas urbanas actuais do Corredor Urbano, para que estas sejam áreas estanques entre si (ver figura 4.3‐1). Para a conservação a médio‐logo prazo, conforme a escala das alterações climáticas, as reservas têm de ser dinâmicas com vista à dispersão das espécies, comunidades e em ultima análise o ecossistema. No caso da serra as espécies tenderão a deslocar‐se em altitude, sendo necessário a existência dos já referidos corredores verdes Figura 4.3‐1 – Mapa ilustrativo do zonamento do PNSC. Zona Nuclear como vias de dispersão. a verde, Zona de Transição a rosa e Zona Tampão a laranja. Fonte: Relatório da UNESCO, 2006. 35 5
Planos Os planos e programas considerados neste estudo, cuja alçada de intervenção contém o município de Sintra e cuja abordagem interessa à perspectiva da Biodiversidade e do Ambiente, foram: ‐ PROGRAMA NACIONAL DA POLÍTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO ‐ PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA ‐ PLANO ESTRATÉGICO SINTRA 2015 ‐ PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL SINTRA‐CASCAIS ‐ PLANO MUNICIPAL DO AMBIENTE ‐ PLANO VERDE DO MUNICÍPIO DE SINTRA Estes planos assentam em várias linhas estratégicas e algumas delas incidem na componente da Biodiversidade. Os planos devem ser interpretados do geral (linhas estratégicas gerais) para o particular (medidas de acção concretas) e na componente da Biodiversidade, pode ser esquematizado da seguinte forma: Figura 4.3‐1 ‐ Figura ilustrativa da integração dos Planos De seguida, apresentam‐se os programas e planos mencionados caso a caso com especial atenção na componente da Biodiversidade. 36 5.1 PROGRAMA NACIONAL DA POLÍTICA DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO O Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) é o instrumento estratégico que enquadra todos os demais Instrumentos de Gestão Territorial. Como é sabido, o PNPOT constitui o guia orientador do sistema de gestão territorial e da política de ordenamento do território, e também um instrumento chave de articulação desta política com a política de desenvolvimento económico e social, em coerência com a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável (ENDS) e com as diversas intervenções com incidência territorial, designadamente as consideradas no Quadro de Referência Estratégico Nacional para o próximo período de programação financeira comunitária (QREN 2007‐2013). Segundo o PNPOT, as políticas de ordenamento e de desenvolvimento do território no horizonte 2025 deverão contribuir de forma inovadora e duradoura para que Portugal seja: 1. Um espaço sustentável e bem ordenado; 2. Uma economia competitiva, integrada e aberta; 3. Um território equitativo em termos de desenvolvimento e bem‐estar; 4. Uma sociedade criativa e com sentido de cidadania. Objectivos Estratégicos A linha de rumo que o Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território (PNPOT) pretende imprimir ao país sistematiza‐se em seis Objectivos Estratégicos, que se complementam e reforçam reciprocamente, donde se destaca o primeiro como aquele que mais interessa à componente da Biodiversidade: 1. Conservar e valorizar a biodiversidade e o património natural, paisagístico e cultural, utilizar de modo sustentável os recursos energéticos e geológicos, e prevenir e minimizar os riscos. As medidas de acção propostas para a concretização deste objectivo são: 1. Desenvolver os sistemas de conhecimento e informação sobre o ambiente e os recursos naturais. 2. Aperfeiçoar e consolidar os regimes, os sistemas e as áreas fundamentais para proteger e valorizar a biodiversidade e os recursos naturais. 3. Definir e executar uma Estratégia Nacional de Protecção do Solo. 4. Promover o ordenamento e a gestão sustentável da silvicultura e dos espaços florestais. 5. Executar a política de gestão integrada da água. 6. Definir e executar uma política de ordenamento e gestão integrada da zona costeira, nas suas componentes terrestre e marítima. 7. Executar a Estratégia Nacional para o Mar. 37 8. Definir e executar uma política de gestão integrada dos recursos geológicos. 9. Executar a Estratégia Nacional para a Energia e prosseguir a política sustentada para as alterações climáticas. 10. Proteger e valorizar as paisagens e o património cultural. 11. Avaliar e prevenir os factores e as situações de risco, e desenvolver dispositivos e medidas de minimização dos respectivos efeitos. 5.2
PLANO REGIONAL DE ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO DA ÁREA METROPOLITANA DE LISBOA Os princípios, objectivos e orientações consagrados no PNPOT foram desenvolvidos no Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT‐AML), o qual constitui um quadro de referência estratégico para o PDM de Sintra. Prioridades O PROT que se apresenta para a AML fundamenta‐se em quatro prioridades essenciais, das quais se destaca a primeira por ter maior relevância para a Biodiversidade: 1. Sustentabilidade ambiental – encarando a preservação e a valorização ambiental como premissas fundamentais de criação de oportunidade de desenvolvimento, adopta‐se uma visão sistémica das vertentes ambientais, propondo‐se que a "Estrutura Metropolitana de Protecção e Valorização Ambiental" constitua a rede fundamental de áreas, corredores e ligações ecológicas, de valorização ambiental do sistema territorial. A (re)valorização da água como elemento de sustentabilidade ambiental e de valorização da paisagem, e a revitalização do meio rural como elemento do equilíbrio metropolitano são também objectivos fundamentais do PROT‐AML; Estratégias Gerais A visão estratégica e o objectivo global é: “Dar dimensão e centralidade europeia e ibérica à Área Metropolitana de Lisboa, espaço privilegiado e qualificado de relações euroatlânticas, com recursos produtivos, científicos e tecnológicos avançados, um património natural, histórico, urbanístico e cultural singular, terra de intercâmbio e solidariedade, especialmente atractiva para residir, trabalhar e visitar.” Para alcançar este objectivo, desenvolveram‐se 6 Linhas Estratégicas de Desenvolvimento para a AML, donde se destaca a última: 6. Potenciar as condições ambientais da AML A concretização destas Linhas Estratégicas assenta em 12 Medidas das quais se destaca: 1. qualificação do território, elegendo o ambiente e o património como factores de competitividade; 38 Estratégia Ambiental Do Plano, salienta‐se ainda a Estratégia Ambiental onde é realçado que o ambiente “constitui elemento central da estratégia de elaboração do modelo de desenvolvimento para a AML.” Assume também que “AML possui condições de excelência ambiental, ao nível dos recursos, das áreas classificadas, das áreas agrícolas, florestais e das condições naturais, que devem ser potenciadas, colocando as questões do ambiente como factores de desenvolvimento e competitividade metropolitana” e admite que “possui disfunções ambientais e urbanísticas que põem em causa a qualidade dos sítios, dos ecossistemas e dos territórios metropolitanos”. Segundo o plano, a estratégia apresentada para travar a degradação ambiental passa por: ‐ manter o litoral como área preferencial de recreio e lazer, garantindo a manutenção das suas características naturais. ‐ investir na manutenção das linhas de água superficiais no seu estado natural. ‐ protecção e apoio às actividades agrícolas e florestais. ‐ criar e dar origem a espaços urbanos mais qualificados e ambientalmente mais eficazes e sustentáveis, investindo na criação de espaços públicos e espaços verdes urbanos. 5.3
PLANO ESTRATÉGICO SINTRA 2015 O Plano Estratégico de Sintra, tem uma visão clara que o século XXI será essencialmente o século do Ambiente, onde se procurará a compatibilização entre os quatro vértices: o Económico (ao nível da produção de bens e serviços) o Social (na perspectiva da qualidade de vida), o Político‐Institucional (Governo Central, Câmaras Municipais) e o Ambiente (em termos de conservação da natureza). Todas e quaisquer medidas que vão neste sentido, são as medidas acertadas para uma boa adaptação às Alterações Climáticas. De todo o plano, destaca‐se as orientações estratégicas que garantam a sustentabilidade ambiental, potenciando o Património Natural e Paisagístico de Sintra. Destacam‐se as seguintes medidas: 
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Implementar a Rede Ecológica proposta no Plano Verde do Concelho (articulada com a Rede da AML). Requalificar os Espaços Verdes existentes e criar novos espaços, em especial nas áreas urbanas com elevada densidade populacional e problemas ambientais e socio‐
económicos. Incentivar a Manutenção das Áreas Agrícolas do Concelho e o Desenvolvimento de uma Agricultura Sustentável, através da organização e/ou Apoio de Mostras e Feiras de Produtos de Qualidade Certificados produzidos no concelho (Vinho de Colares, Pêra Rocha do Oeste, Produtos da Agricultura Biológica), pois estes poderão servir como corredores verdes essenciais à dispersão animal e vegetal. Manter e dinamizar as quintas e hortas urbanas do concelho, associando‐as a actividades pedagógicas. 39 
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Criar centros de observação da natureza e parques ecológicos, em parceria com Organizações Não Governamentais e Administração Central, nomeadamente nas Unidades Operativas de Planeamento e Gestão do POOC Sintra‐Sado. Incentivar a qualificação, rentabilização e valorização da utilização multifuncional do espaço florestal nas vertentes de produção (florestal, agrícola e agro‐pecuária), apoio à produção (desenvolvimento de actividades de turísticas, de recreio e lazer) e regulação ambiental (e.g. preservação da biodiversidade, fixação do carbono, favorecimento da infiltração). Elaborar o Plano Municipal de Defesa contra Incêndios Florestais, documento que deverá incluir uma estratégia integrada e operacional de planeamento, prevenção e combate aos incêndios florestais, de defesa dos aglomerados populacionais, do edificado disperso e de locais de interesse específico (e.g. geológico, arqueológico, arquitectónico). Este instrumento delineará ainda acções de recuperação de áreas ardidas e de mitigação dos impactes ambientais dos incêndios (e.g. retenção dos processos erosivos e de propagação de espécies invasoras). Este Plano poderá ser o resultado prático do Plano Prévio de Intervenção em Incêndios Rurais 2008 da responsabilidade do ICNB. Criar o Gabinete de Apoio Técnico Florestal para aconselhamento técnico aos proprietários florestais e a programas de apoio à gestão e sustentabilidade do espaço florestal. Este Gabinete será também responsável pela promoção e execução de um Plano Municipal de Defesa contra Incêndios Florestais e pelo desenvolvimento e aplicação das acções de planeamento e prevenção previstas pelo Plano Nacional de Defesa da Floresta contra Incêndios Florestais e pelo Plano de Desenvolvimento Sustentável da Floresta Portuguesa. Promover a realização de workshops, acções de formação e campanhas de informação dirigidas à população sobre os procedimentos a adoptar em caso de incêndio florestal. Realizar os estudos necessários à aferição da viabilidade técnica e económica de uma política integrada de promoção da reutilização das águas residuais em actividades industriais diversas (rega de jardins e de outros espaços públicos, lavagem de ruas, lavagem de contentores de lixo, lavagem de automóveis e outros veículos ou armazenamento) e ulterior utilização no combate a incêndios, entre outras utilizações. Proteger a Orla Costeira, através da eliminação de construções ilegais e a contenção da pressão imobiliária/turística. Elaborar um Plano de Desenvolvimento Turístico que deverá estudar as formas de compatibilização entre o Ambiente e as actividades de Turismo e Lazer do Concelho, através da determinação das capacidades de carga ambiental (como já calculado no POOC Sintra‐Sado) e a sugestão de formas de turismo sustentáveis. Criar um Quadro Infra‐Estrutural do Concelho (abastecimento de Água, Saneamento, Resíduos Sólidos Urbanos e Energia) que seja orientado pelos princípios gerais: ‐ Eficácia e Eficiência das Infra‐estruturas. ‐ Adopção dos Princípios da Redução, Reutilização e Reciclagem. ‐ Utilização das Energias Renováveis. 5.4 PLANO DE ORDENAMENTO DO PARQUE NATURAL SINTRA‐CASCAIS Existe uma convergência de objectivos entre o Plano de Ordenamento do Parque Natural Sintra‐Cascais (POPNSC) e o PROT‐AML relativos à preservação e defesa dos valores ambientais em presença, bem como a necessidade de contenção do solo urbano e necessidade de requalificação de algumas áreas. Este POPNSC assenta em orientações postuladas pelo PROT‐AML, nomeadamente: 40 
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A Área Protegida associada à Orla Costeira é identificada na Estratégia Territorial, das Opções Estratégicas, como um valor estratégico Estruturante da AML na Estrutura Metropolitana de Protecção e Valorização Ambiental. A Estrutura Metropolitana de Protecção e Valorização Ambiental é constituída pelos espaços naturais, agrícolas e florestais, e pela rede ecológica metropolitana, que garantam o funcionamento e o equilíbrio biofísico da AML, a preservação e valorização de ecossistemas naturais, e o enquadramento e valorização dos espaços urbanos. O PROT‐AML define um conjunto de normas das quais, com o POPNSC, são claramente viabilizadas as seguintes:  Nas Normas Gerais (1), Orientações Sectoriais (1.2), para a Estrutura Metropolitana de Protecção e Valorização Ambiental (1.2.2), a nível de: ‐ Estrutura metropolitana de protecção e valorização ambiental ‐ Actividades económicas 
Ainda nas Normas Gerais (1), Orientações Territoriais (1.3), são cumpridas as normas para a Serra de Sintra, Litoral Atlântico Norte e Interior Norte Agrícola: ‐ Serra de Sintra ∙ Promover a preservação e valorização do espaço florestal e natural da Serra de Sintra. ∙ Manter a área litoral Colares/Guincho como paisagem e zona única. ∙ Garantir que as intervenções na orla costeira não comprometem nem descaracterizam o espaço serra. ∙ Garantir padrões de elevada exigência urbanística, arquitectónica e paisagística para os núcleos urbanos. ∙ Garantir níveis e padrões de ocupação edificada e turística consentâneos com a salvaguarda e valorização paisagística, ecológica e patrimonial. ‐ Litoral atlântico norte ∙ Assegurar a manutenção da agricultura como factor de qualificação da paisagem e de equilíbrio dos ecossistemas e da ocupação do território. ∙ Preservar e estabilizar a paisagem associada às encostas das ribeiras, atendendo a padrões de qualidade paisagística. ∙ Controlar e enquadrar as pressões urbanas. ∙ Configurar e estruturar a ocupação urbana do eixo Ericeira‐Mafra e do eixo Colares‐Magoito. ‐ Interior norte agrícola 41 
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Contrariar o fenómeno da dispersão da edificação promovendo a concentração em núcleos e em áreas devidamente planeadas e infra‐estruturadas. ‐ medidas de Acção Propostas Colaboração com entidades congéneres que prossigam fins de interesse de desenvolvimento local, conservação do património natural e cultural Apoio a Associações locais de desenvolvimento e conservação do património ∙Acções de conservação e gestão de espécies prioritárias e habitats ∙Monitorização de espécies prioritárias e habitats ∙Projectos de ordenamento, requalificação e valorização das margens de linhas de água ∙Instalação de sebes vivas ∙Arborizações com espécies autóctones ∙Promoção e apoio à constituição de Centros e Postos de Informação e Centros de Interpretação e de Educação Ambiental ∙Promoção e apoio à recuperação de trilhos e percursos de interpretação ∙Promoção e apoio à constituição de Ecomuseus e Núcleos Museológicos ∙Edição e produção de material didáctico‐pedagógico, informativo e de divulgação ∙Estudos e projectos para criação de infraestruturas de apoio à informação / sensibilização ambiental ∙Acções de divulgação e sensibilização ambiental ∙Realização de Encontros e Congressos sobre o PNSC, desenvolvimento local e valores do património ∙Ordenamento e Valorização Paisagística das áreas de “Paisagem Cultural” e “Zona Tampão” da Paisagem Cultural de Sintra ∙Promoção e apoio à constituição de Centros de Acolhimento, Casas de Abrigo e Casas de Retiro ∙Constituição de Parques de Merendas ∙Sinalização do PNSC ∙Recuperação de imóveis degradados para sensibilização ambiental e turismo de natureza ∙Apoio a infraestruturas de suporte às actividades tradicionais ∙Acções de certificação e divulgação de produtos regionais assim como criação das respectivas denominações de origem ∙Apoio técnico aos agricultores e sensibilização para a sustentabilidade das práticas agrícolas biológicas e de protecção integrada ∙Criação de gabinete de apoio aos agricultores no acesso a medidas e fundos comunitários de financiamento ∙Instalação e apetrechamento de Núcleos de Técnicas Artesanais ∙Projectos em sectores de actividade económica, em que o promotor adira ao Sistema Comunitário de Atribuição do Rótulo Ecológico ∙Acções de diversificação paisagística e económica, manutenção de vinha de Colares, implementação de pomares tradicionais ∙Recuperação e melhoria de caminhos e acessos ∙Instalação de uma Rede de Monitorização Hidrográfica ∙Instalação de uma Rede de Monitorização dos Sistemas Aquíferos 42 
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∙Estudos e relatórios técnicos sobre temas directamente ligados à avaliação integrada do ambiente, pressões a que está sujeito, evolução do estado e respostas possíveis ∙Estudos e projectos visando estruturarem a arquitectura do Sistema de Informação para o Ambiente nomeadamente produção de informação geográfica e sistemas de apoio à decisão Autarquias ∙Aquisição de equipamento e software para a reestruturação e ampliação dos sistemas de aquisição, armazenamento e processamento de dados de ambiente e espacialização da informação; produção cartográfica/ambiente SIG ∙Requalificação ambiental de áreas urbanas ∙Projectos de requalificação ambiental de áreas degradadas ∙Acções de controlo de erosão 5.5 PLANO MUNICIPAL DO AMBIENTE Sintra está dotada do Plano Municipal do Ambiente (PMA), do qual faz parte um Plano de Acção onde são sugeridas medidas concretas num horizonte temporal que se estende até 2015. Dessas medidas destacam‐se as que melhor poderão funcionar como medidas de adaptação às Alterações Climáticas: 
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Consolidar uma nova cultura de planeamento e gestão territorial para o concelho de Sintra Consolidar a estrutura ecológica municipal Requalificar as linhas de água a integrar na estrutura ecológica municipal Criar uma estrutura verde urbana Definir uma rede de corredores verdes equipados para usufruto da população Divulgar e promover a estrutura ecológica junto da comunidade Preservar e valorizar as manchas florestais e de matos Promover o conhecimento e a preservação da vegetação autoctone inserida nos sistemas agrícolas, dos habitats prioritários e das espécies raras Reforçar e valorizar a actividade agrícola, a identidade cultural e paisagística na região saloia Desenvolver um projecto de valorização do património paisagístico e cultural da Ribeira da Cabrela Implementar uma rede de percursos de descoberta da natureza na zona costeira. Promover a comunicação, a informação e a formação na estrutura da CMS Implementar sistemas de monitorização e de fiscalização ambiental dentro da CMS Promover a troca de experiências e os projectos demonstrativos na autarquia Gerir a educação ambiental em base informatizada Elaborar programas municipais plurianuais de educação ambiental Criar uma rede de informação sobre ambiente e cidadania Organizar acções de formação e de sensibilização ambiental Promover actividades de grupo que fomentem o conhecimento do concelho 43 
A escola como motor de criação de uma consciência ambiental na comunidade, de promoção da identidade e da participação cívica: projectos escolares piloto. 5.6 PLANO VERDE DO MUNICÍPIO DE SINTRA O Plano Verde do Concelho de Sintra constitui a componente do Plano Director Municipal que confere sustentabilidade ecológica e cultural ao território municipal, contribuindo assim para um planeamento sustentável do território. Considera‐se que a Estrutura Verde Municipal (EVM) sugerida neste plano é uma importante estratégia de adaptação às Alterações Climáticas, por sere uma ferramenta de ordenamento do território que tem em consideração o continuum natural. Esta é composta por dois níveis de desenvolvimento: 1. Estrutura Ecológica Municipal (EEM), constituída por: a) Estrutura Ecológica Fundamental (REN, RAN, Directiva Habitat): Sistemas húmidos, o Sistema Litoral, solos com classes de Muito Elevado e Elevado valor ecológico, áreas declivosas (Classe de declive > 25%), áreas de Máxima Infiltração e áreas de Habitat da Directiva nº 92/43/CE. b) Estrutura Ecológica Urbana (Vazios do Espaço Edificado) 2. Corredores Entre Aglomerados a) Corredor Monsanto ‐ Serra de Sintra (ao nível da Área Metropolitana de Lisboa); b) Corredor de Manique (sopé S‐SE da Serra de Sintra); c) Corredor do Monte da Parada (entre Algueirão‐Mem‐Martins e o Cacém); d) Corredor de Colaride (entre o Cacém e Massamá‐Queluz). Destaca‐se a figura correspondente à Estrutura Ecológica Municipal: 44 Figura 5.6‐1 ‐ Estrutura Ecológica Municipal. Fonte: Plano Verde do Município de Sintra 45 6
Conclusões “Visão não é ver as coisas como elas são, mas sim como irão ser” Nos últimos 50 anos, a espécie humana tem utilizado e modificado os ecossistemas naturais, a uma velocidade e sobre extensões sem precedentes. Sintra é o reflexo dessa alteração, devido à crescente procura pelos espaços naturais, fortemente pressionados pela pressão urbanística e pela pressão turística, que se tem vindo a reflectir num crescimento económico do município e no bem‐estar da sua população, mas resultando na perda irreversível de biodiversidade, na degradação dos ecossistemas e dos seus serviços. Sintra é um município com uma componente ecológica excepcional. Contém 14% do Parque Natural Sintra‐Cascais com uma extensão de 4.468 ha, ocupando 27% do concelho. A sua diversidade a nível de unidades paisagísticas e heterogeneidade de habitats confere‐lhe um carácter único que tem de ser preservado. Alguma incerteza ainda permanece sobre a questão das alterações climáticas, sendo que os cenários climáticos são a melhor ferramenta para o exercício de previsão. Mais incerto ainda, são os impactos que estas alterações vão ter sobre a biodiversidade do município, dada o grau de imprevisibilidade do comportamento das espécies, se bem que para algumas tendências é coerente haver um bom grau de confiança. Assim, não é absurdo de todo dizer que as alterações climáticas irão afectar a biodiversidade do município tanto a nível directo, ameaçando a sobrevivência de algumas espécies ou indirectamente, através do aumento de áreas ardidas ou das invasões biológicas. Algumas populações, especialmente aquelas que têm distribuição geográfica limitada, pequenas áreas de habitat ou reduzido número de indivíduos (e.g. espécies endémicas como o cravo‐romano, feto‐de‐folha‐de‐hera, miosótis‐das‐praias, boga‐portuguesa), poderão não ter capacidades para se adaptarem às rápidas alterações climáticas. A extinção pode ocorrer em populações com baixa taxa de reprodução e capacidade de dispersão. Em muitos casos, os efeitos da alteração de ocupação do uso dos solos induzidos pela sociedade, irão interagir e ampliar os efeitos das alterações climáticas a longo prazo. O papel dos decisores não terá de passar por meros observadores dos impactos. Muitas decisões podem ser tomadas em prole da conservação e medidas concretas foram propostas. As medidas de adaptação devem contradizer activamente estas tendências focando‐se em manter ou melhorar a conectividade entre habitats através de corredores verdes e no controlo dos incêndios e das invasões biológicas. Existem evidências que sugerem que o desenvolvimento de medidas de adaptação para reduzir a vulnerabilidade dos ecossistemas, têm sempre resultados positivos, tanto para os ecossistemas como para os serviços que daí resultam. Se a visão a médio e longo prazo passar por um município (e Mundo) com especial preocupação com a Natureza, além das medidas de Adaptação, também poderão e deverão ser tomadas medidas de Mitigação. Na perspectiva da preservação e conservação da Biodiversidade, as políticas do concelho nas suas várias dimensões e vertentes, bem como todos os seus planos, devem estar sincronizadas e integradas, demonstrando elevadas preocupações sociais e ambientais com vista ao incremento dos recursos naturais e da equidade e educação. Deve haver um rápido desenvolvimento, difusão e investimento em 46 tecnologias com menor uso de recursos (energia e materiais) reduzindo as emissões, bem como o incentivo à redução do consumo, eficiência na utilização e reciclagem de produtos. Um bom cenário para Sintra, será uma economia com mais enfoque em serviços que em bens, e na qualidade em detrimento da quantidade. A nível energético, a redução da sua intensidade, com transição suave de energia fóssil para renovável, será o caminho a seguir, com consequente controlo da poluição e emissões reduzidas. Bastante importante será a elevada atenção aos usos do solo, devendo ser baseados no Plano Estratégico, com vista a cidades compactas, e por isso redução das necessidades de mobilidade urbana e sub‐urbana,. Na sua envolvente a promoção de agricultura sustentável e de baixo impacto bem como extensas áreas naturais protegidas respeitando o zonamento do Parque Natural Sintra‐Cascais. 47 7
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